Extensão Popular no Brasil: um estudo bibliográfico

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

EXTENSÃO POPULAR NO BRASIL: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

RENAN SOARES DE ARAÚJO

João Pessoa 2018


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RENAN SOARES DE ARAÚJO

EXTENSÃO POPULAR NO BRASIL: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, como requisito obrigatório para a obtenção do título de Bacharel em Nutrição. Orientador: Prof. Dr. Pedro José Santos Carneiro Cruz

João Pessoa 2018


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Catalogação na publicação Seção de Catalogação e Classificação A663e Araujo, Renan Soares de. Extensão Popular no Brasil: um estudo bibliográfico / Renan Soares de Araujo. - João Pessoa, 2018. 111 f. : il. Orientação: Pedro José Santos Carneiro Cruz. Monografia (Graduação) - UFPB/CCS. 1. Educação Popular. 2. Extensão Universitária. 3. Extensão Popular. I. Cruz, Pedro José Santos Carneiro. II. Título. UFPB/BC


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RENAN SOARES DE ARAÚJO

EXTENSÃO POPULAR: NO BRASIL: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, como requisito obrigatório para a obtenção do título de Bacharel em Nutrição. Aprovado em 31 de outubro de 2018.

Banca examinadora:

_______________________________________________ Dr. Pedro José Santos Carneiro Cruz Universidade Federal da Paraíba Orientador

_______________________________________________ Dra. Ana Claudia Cavalcanti Peixoto de Vasconcelos Universidade Federal da Paraíba Membro da banca examinadora

_______________________________________________ Dra. Sonia Acioli de Oliveira Universidade do Estado do Rio de Janeiro Membro da banca examinadora

_______________________________________________ Dra. Vera Lúcia de Azevedo Dantas Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza - CE Membro da banca examinadora

_______________________________________________ Dr. Reinaldo Matias Fleuri Universidade Federal de Santa Catarina Membro da banca examinadora


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AGRADECIMENTOS

Inicialmente, gostaria de agradecer aos meus avós (in memoriam): Joaquim, Rita, Antônio e Josefa. Agradeço, também, ao meu pai (in memoriam), Francisco Soares de Araújo, pelo pai amoroso, carinhoso e dedicado que foi. Não poderia deixar de agradecer a pessoa sem à qual nada disso seria possível, tendo em vista que ela sempre foi uma verdadeira e incansável apoiadora e incentivadora, a minha mãe: Maria Gorete Soares de Araújo. Ainda no nível familiar, também sou grato às minhas irmãs: Mônica, Diana e Luciana; e ao meu irmão Renato. À minha companheira Janaína, a vida ao seu lado é muito mais bonita, feliz e leve. Nesse sentido, gostaria de agradecer, também, a minha filha, Aurora, que me ensina cotidianamente o quanto a vida é bela nas coisas mais simples. O seu sorriso, carinho e felicidade são as coisas que mais me enchem de amor, alegria e realização enquanto ser humano. Aos amigos que a vida me deu e que guardo com alegria em meu coração, os quais em distintos momentos partilharam juntamente comigo de alegrias e tristezas, e que contribuíram, diretamente ou indiretamente, para que eu me tornasse a pessoa que sou hoje, agradeço a Eric, Vinícius, Thiago, Jardiel, Waltinho, Dannilo, Thyago, Aimê, Paulo e Delby. À todos os docentes do Departamento de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), os quais tive a satisfação de conhecer e a felicidade de aprender sobre a Ciência da Nutrição, entre os quais gostaria de agradecer especialmente: Ana Claudia Cavalcanti Peixoto de Vasconcelos, Maria Beatriz Pragana Dantas, Lindemberg Medeiros de Araújo e Sônia Cristina Pereira de Oliveira. À todas as pessoas que fizeram e fazem o Programa de Extensão “Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica (PINAB)”, o qual foi minha porta de entrada no mundo da Educação Popular e que me abriu caminhos para ver que existia, sim, possibilidades concretas de se ter uma formação universitária calcada em um compromisso social verdadeiro com as causas populares. Assim como me oportunizou vivenciar experiências significativas que me mostraram as possibilidades variadas de se


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atuar sob a ótica da Promoção da Saúde e da Segurança Alimentar e Nutricional. Devo em muito ao PINAB, o meu amor e orgulho pela profissão da nutrição, inclusive a minha paixão pelo campo da Saúde Pública e Saúde Coletiva. Entre algumas das pessoas que fizeram parte de minha história enquanto extensionista do PINAB e que contribuíram bastante para minha formação no decorrer desse período, destaco o nome de algumas das quais guardo recordações importantes e especiais, sendo elas: Ana Paula (Aninha), Elina Alice, Luciana Maria, Laís Duarte, Ana Claudia e Pedro Cruz. Em tal sentido, não poderia deixar de agradecer por todos os ensinamentos que adquiri ao conviver com pessoas que conheci a partir de minha inserção no PINAB, no nome de pessoas como dona Palmira Sergio Lopes, Eulina Pereira e Dôra, dentre tantas outras pessoas. À todos os companheiros do Grupo de Pesquisa em Extensão Popular (EXTELAR), os quais contribuíram profundamente para o amadurecimento de muitas das minhas reflexões no campo do Ensino, da Pesquisa e da Extensão numa perspectiva popular. À todos que fazem a Articulação Nacional de Extensão Popular (ANEPOP); bem como à todos os professores e estudantes extensionistas de outros Projetos, Programas e iniciativas de Extensão que tive a honra de conhecer e de compartilhar momentos, indagações e reflexões sobre o trabalho no campo da Extensão em Educação Popular. Ao pessoal do Grupo de Estudos e Pesquisas em Etnografias Urbanas, com o qual pude ampliar a minha compreensão do contexto urbano e de sua complexidade, assim como sobre aspectos da pesquisa etnográfica e da própria Antropologia. Deixo minha sincera gratidão à todos, especialmente para Luciana Maria Ribeiro de Oliveira e Marco Aurélio Paz Tella. À banca examinadora, por todas as sugestões e críticas proferidas em vista de qualificar o meu trabalho. Todas as contribuições foram muito importantes e serviram de forma positiva para o amadurecimento e melhor desenvolvimento do estudo. Por fim, agradeço ao meu querido amigo, companheiro, grande mestre e orientador, Pedro Cruz. Obrigado pelas oportunidades e por todo apoio, incentivo e aprendizado compartilhado ao longo desse tempo de graduação.


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É possível vida sem sonho, mas não existência humana e História sem sonho (FREIRE, 2001). A existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modifica-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão (FREIRE, 2013).


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RESUMO

No contexto universitário coexistem distintas concepções, práticas e intencionalidades no direcionamento das atividades de Extensão. Nesse cenário, distinguem-se práticas que apresentam um enfoque, concepção e perspectiva de concretização da ação extensionista com uma abordagem dialógica e crítica, proficuamente influenciadas pelo conceito teóricometodológico da Educação Popular. No seio dessas iniciativas orientadas pela Educação Popular, encontra-se a concepção de Extensão Popular. Apesar de ser expressivo o número de publicações que abordam a temática da Extensão Popular, é observado que alguns grupos extensionistas apresentam certo desconhecimento sobre o que é a Extensão Popular. Além disso, existem entendimentos que mesmo reconhecendo a existência da Extensão Popular, indicam que essa é uma abordagem observada apenas no estado da Paraíba. Deste modo, o presente estudo objetivou, por meio de uma investigação bibliográfica, pesquisar as publicações que tratam da temática da Extensão Popular disponíveis em bases de dados científicas online, desvelando quais estados brasileiros têm produzido reflexões nesse campo e qual concepção de Extensão Popular essas publicações apresentam. O critério de inclusão das produções foi mediante a respectiva utilização do termo “extensão popular”. Nesse sentido, recorreu-se a realização de um estudo qualitativo, a partir da realização de uma investigação de cunho bibliográfico do tipo exploratória e descritiva, fundamentando-se em uma abordagem dialética. Os resultados indicam que o termo Extensão Popular é realmente mais utilizado por publicações oriundas do estado da Paraíba, contudo, encontrou-se produções de outros estados brasileiros que se reconhecem com tal denominação. Ao analisar a concepção de Extensão Popular das publicações, evidencia-se duas intepretações – que não são excludentes em si, já que se remetem a Educação Popular. A primeira compreende o conceito de Extensão Popular como a realização de um “trabalho social útil” que se orienta pelo referencial teóricometodológico da Educação Popular. A segunda é a de que a Extensão Popular é a prática extensionista orientada pelos aportes teórico-metodológicos da Educação Popular. Concluiu-se que, apesar da expressão “extensão popular” ser uma designação recente e utilizada de forma mais contundente no estado da Paraíba, isso não descarta a possibilidade de que tal perspectiva extensionista venha a ser desenvolvida em outras regiões do Brasil. Palavras-chave: educação popular, extensão universitária, extensão popular.


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ABSTRACT

In the university context different conceptions, practices and intentions exist in the direction of the Extension. In this scenario, practices that present a focus, conception and perspective of the extensionist action with a dialogic and critical approach, are proficuously influenced by the theoretical-methodological concept of Popular Education. Within these initiatives guided by Popular Education, there is the concept of Popular Extension. Although the number of publications dealing with the topic of Popular Extension is significant, it is observed that some extensionist groups present a certain lack of knowledge about what the Popular Extension is. In addition, there are understandings that even recognizing the existence of the Popular Extension, indicate that this is an approach observed only in the state of Paraíba. The present research aimed to map, through a bibliographical research in online scientific databases, the publications that deal with the subject of Popular Extension, revealing which brazilian states have produced reflections in this field and which Popular Extension conception these publications. The criterion of inclusion of the productions was by means of the respective use of the term "popular extension". In this sense, we used a qualitative study, based on an exploratory and descriptive bibliographic research, based on a dialectical approach. The results indicate that the term Popular Extension is actually more used by publications from the state of Paraíba, however, it was found productions of other states that recognize themselves with such denomination. When analyzing the concept of Popular Extension of the publications, it is evident two interpretations - that are not excluding in themselves, since they refer to Popular Education. The first understands the concept of Popular Extension as the accomplishment of a “useful social work” that is guided by the theoreticalmethodological reference of Popular Education. The second is that the Popular Extension is the practice oriented by the theoretical-methodological contributions of Popular Education. It was concluded that, although the expression "popular extension" is a recent designation and used more forcefully in the state of Paraíba, this does not rule out the possibility that such an extension perspective may be developed in other regions of Brazil. Keywords: popular education, university extension, popular extension.


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANEPOP – Articulação Nacional de Extensão Popular ANEPS – Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde CAPES − Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEB’S – Comunidades Eclesiais de Base CEPLAR − Campanha de Educação Popular da Paraíba CCM – Centro de Ciências Médicas CCS – Centro de Ciências da Saúde CNBB – Conferência Nacional de Bispos do Brasil CPC – Centros Populares de Arte e Cultura CPT – Comissão Pastoral da Terra EXTELAR – Grupo de Pesquisa em Extensão Popular FORPROEX − Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior Brasileiras MCP – Movimento de Cultura Popular MEB – Movimento de Educação de Base MOPS-PB – Movimento Popular de Saúde da Paraíba ONG – Organização Não Governamental PINAB – Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica PPGE – Programa de Pós-Graduação em Educação PNEPS-SUS – Política Nacional de Educação Popular em Saúde no Sistema Único de Saúde REDEPOP – Rede de Educação Popular em Saúde SciELO − Scientific Electronic Library Online SENAPOP – Seminário Nacional de Pesquisa em Extensão Popular TCC – Trabalho de Conclusão de Curso UFPB – Universidade Federal da Paraíba UNE – União Nacional dos Estudantes VEPOP-SUS − Vivências de Extensão em Educação Popular e Saúde no Sistema Único de Saúde


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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Exemplo das produções oriundas do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES....................................................................................26 Quadro 2 – Exemplo das produções advindas de periódicos............................26 Quadro 3 − Exemplo das produções com ênfase em suas concepções de Extensão Popular e os autores referenciados...................................................27 Quadro 4 – Produções encontradas na busca efetivada na página eletrônica da SciELO...............................................................................................................62 Quadro 5 – Resultado da busca executada no sítio eletrônico do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES......................................................................63 Quadro 6 – Resultado final da busca efetuada no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES....................................................................................65 Quadro 7 – Resultado da busca operada no Portal de Periódicos CAPES.......67 Quadro 8 – Resultado final da busca empreendida no Portal de Periódicos CAPES...............................................................................................................71 Quadro 9 – Síntese do resultado e sua distribuição por instituição...................72 Quadro 10 – Síntese do resultado final e sua distribuição por instituição.........73 Quadro 11 – Produções com ênfase em suas concepções de Extensão Popular e os autores referenciados….............................................................................76 Quadro 12 – Concepções de Extensão Popular com ênfase na quantidade de publicações e os respectivos estados de origem dos autores...........................79 Quadro 13 – Produções com ênfase em suas respectivas palavras-chave......87


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LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Síntese do resultado final da busca.................................................72 Tabela 2 – Instituições e produções vinculadas................................................74


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LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Distribuição das produções por instituição......................................74


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LISTA DE IMAGENS Imagem 1 – Diagrama representando a diferenciação entre Educação Popular e Universidade e a sua aproximação − momento em que a Extensão Popular acontece............................................................................................................94


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................15 2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO................................24 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................29 3.1 EDUCAÇÃO POPULAR: UMA PERSPECTIVA DE ORGANIZAR O SABER E PLANEJAR A LUTA.......................................................................................29 3.2 APROXIMAÇÕES ENTRE A UNIVERSIDADE E OS TRABALHOS DE EDUCAÇÃO POPULAR....................................................................................33 3.3 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: DIFERENTES CONCEPÇÕES, PRÁTICAS E INTENCIONALIDADES..................................................................................42 3.4 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E O FORTALECIMENTO DE UMA PERSPECTIVA COMPROMETIDA COM A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL..... 53 4 EXTENSÃO POPULAR NO BRASIL: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO…....62 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................97 REFERÊNCIAS...............................................................................................100


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1 INTRODUÇÃO

Ao longo desta monografia, o leitor acompanhará o desenvolvimento de um estudo sobre as práticas de Extensão Universitária orientadas pela concepção teórico-metodológica e perspectiva ético-política da Educação Popular, mais precisamente na elaboração denominada de Extensão Popular. Este manuscrito trata-se de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de graduação em Nutrição da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que busca a partir da realização de uma pesquisa de caráter bibliográfico em bases de dados científicas online, investigar as publicações relacionadas com a temática da Extensão Popular com o intuito de delinear quais estados brasileiros têm produzido reflexões nesse campo e qual concepção de Extensão Popular é expressa nessas publicações. A construção desta pesquisa, desenrolou-se devido a algumas reflexões, discussões e indagações coletivas – empreendidas por mim e meu orientador, assim como em conjunto com outros companheiros e companheiras do campo da Extensão Popular – que foram alimentando cada vez mais a necessidade de realização de um estudo deste cunho, no sentido de gerar contribuições para o debate atual acerca de como estão sendo compreendidas e orientadas as práticas de Extensão Universitária, principalmente aquelas cujas ações são fundamentadas pela Educação Popular. A minha aproximação com essa temática ocorreu logo no início de meu ingresso no curso de graduação em Nutrição, no ano de 2013, quando me inseri no Programa de Extensão Popular “Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica (PINAB)”1 − o qual é vinculado institucionalmente ao Departamento de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e ao Departamento de Promoção da Saúde do Centro de Ciências Médicas (CCM), ambos da UFPB − e tive a oportunidade de mergulhar na realização de trabalhos sociais construídos juntamente com moradores de comunidades, profissionais do setor da saúde e da educação, outros estudantes de graduação (de outros cursos e de outras áreas), docentes

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Iniciativa de Extensão que tem a Educação Popular como referência teórico-metodológica, desenvolvendo ações no campo da Promoção da Saúde e da Segurança Alimentar e Nutricional. Para mais informações, visite o sítio eletrônico: http://projetopinab.blogspot.com.br/


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e demais sujeitos, tendo o respeito, a solidariedade, o diálogo horizontalizado e a problematização da realidade como elementos fundantes de nossa atuação. Foi essa inserção inicial que despertou em mim a necessidade de me debruçar cada vez mais na reflexão sobre a minha própria prática, com o fim de melhor compreendê-la para transformá-la. Em vista disso, mergulhei cada vez mais na leitura e reflexão sobre os aspectos teóricos e metodológicos orientadores das ações de Extensão e de Educação Popular. Considerando a minha participação no Programa PINAB, tive a oportunidade

de

conhecer

outros espaços

e

pessoas,

como

outras

experiências de Extensão desenvolvidas na linha da Educação Popular – tanto da UFPB como de instituições de outros estados do Brasil. Nessa perspectiva, a partir da minha participação em eventos de âmbito local, estadual, regional, nacional e internacional, pude compreender as nuances das distintas concepções, práticas e intencionalidades que permeiam o campo teóricoprático da Extensão Universitária brasileira. A minha atuação no PINAB também possibilitou me aproximar, conhecer e criar vínculo com militantes de movimentos sociais populares, como os que integram o Movimento Popular de Saúde da Paraíba (MOPS-PB) e a Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde da Paraíba (ANEPS-PB), conhecendo um pouco de suas histórias de vida e de luta. Isso mobilizou muitas reflexões sobre a importância da organização popular e da reivindicação e luta pela efetivação de direitos sociais, como de uma saúde pública gratuita e de qualidade. Como forma de aprofundar ainda mais minhas reflexões a respeito da dimensão da Extensão, da função social da Universidade frente à realidade da nossa região, do meu papel como futuro profissional de saúde e nutrição, bem como sobre questões relativas a própria formação universitária e os caminhos para a sua reorientação, eu fui me integrando a outros espaços para além de minha prática local no Programa PINAB. Motivado por essas questões, no ano de 2015 eu comecei a participar do Grupo de Pesquisa em Extensão Popular (EXTELAR)2, que é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) do Centro de Educação da 2

Para conhecer um pouco mais sobre o EXTELAR, acesse o endereço eletrônico: http://www.prac.ufpb.br/copac/extelar/


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UFPB,

onde

progressivamente

venho

debatendo

e

compartilhando

coletivamente com os outros membros reflexões e análises sobre a Educação Popular como um referencial das ações universitárias não somente restrito a dimensão da Extensão, mas como componente dinamizador para as práticas de Ensino e de Pesquisa. Essa minha inquietação e inclinação para encampar reflexões para além de minha atuação local no PINAB, também mobilizou o desejo de participar de espaços de debate sobre a Extensão em uma perspectiva ampliada, fazendo com que eu fosse me aproximando e me envolvendo de forma mais ativa com a Articulação Nacional de Extensão Popular (ANEPOP)3, coletivo que agrega estudantes, professores, militantes de movimentos sociais, entre outras pessoas. Vivenciando e refletindo sobre os espaços disponibilizados pela Universidade (no campo da Extensão, do Ensino e da Pesquisa) ao longo de minha trajetória como graduando do curso de Nutrição (de 2013 a 2018), fui acumulando algumas experiências, reflexões e constatações sobre a importância da Extensão Popular no âmbito da minha formação acadêmica e de como essa experiência tem me oportunizado constituir cotidianamente um olhar e postura cada vez mais crítica, reflexiva e comprometida com a realização de iniciativas alinhadas com a perspectiva da construção de caminhos que contribuam para a edificação de um mundo que seja realmente justo, solidário e democrático, que possibilite que todas as pessoas possam viver com dignidade e qualidade de vida. O que remete à Paulo Freire (2011), ao enfatizar que o verdadeiro compromisso está na solidariedade para com os homens e mulheres que, na realidade concreta, se encontram em uma situação de “coisificação”, sem poder desenvolver plenamente seu potencial de ser mais. Desse modo, não devemos como profissionais julgarmo-nos como donos da verdade e proprietários do saber que deverá ser repassado aos sujeitos dos setores populares, acreditando que esses são ignorantes e incapazes, com a pretensiosa ideia de que somos os salvadores deles.

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Para obter mais detalhes sobre este coletivo, é só acessar o sítio eletrônico da ANEPOP: http://extensaopopular.blogspot.com.br


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Tem sido expressiva a representatividade e importância que a UFPB assume no âmbito da Extensão Universitária brasileira, em virtude de que há muitos anos vêm desenvolvendo variadas iniciativas de Extensão orientadas pela Educação Popular, as quais vêm contribuindo significativamente para a formação de profissionais com uma postura crítica e humanística, nos mais variados campos da ciência, com especial destaque para o setor da saúde (LACERDA; RIBEIRO, 2006; PADILHA, 2007; VASCONCELOS; CRUZ, 2011; CRUZ et al., 2014). Além disso, podem ser destacados estudos que evidenciam diversas possibilidades teórico-práticas na condução das ações extensionistas, tais como na atuação do fisioterapeuta no contexto comunitário (RIBEIRO, 2001), na perspectiva do fortalecimento da atenção à saúde pelo estímulo e apoio ao estabelecimento de redes sociais de solidariedade (RIBEIRO, 2007), na constituição de uma ética no cuidado em saúde e no trabalho profissional (BATISTA, 2012), na atuação da psicologia humanista no contexto da Atenção Primária à Saúde (SILVA, 2013), na promoção da saúde da pessoa idosa no ambiente comunitário (LIRA, 2014) e como um elemento impulsionador de processos

emancipatórios

em

realidades

marcadas

pela

exclusão

e

vulnerabilidade social (FALCÃO, 2014a). No âmbito do curso de Nutrição, vem sendo evidenciado que a participação em projetos de Extensão em Educação Popular têm possibilitado aos graduandos a elaboração de uma concepção crítica, ampliada e problematizadora no tocante as práticas de Educação Alimentar e Nutricional (SOUSA, 2014), assim como tem sido delineado como um referencial estratégico na constituição de um agir crítico para a atuação nesse campo (CRUZ, 2015). De acordo com Falcão (2013), a repercussão dessas experiências de Extensão em Educação Popular se dá pelo fato de que, a partir delas, estudantes e professores têm tido possibilidades concretas para efetivar trabalhos

sociais

significativos,

que

consequentemente

vêm

gerando

contribuições valorosas para a melhoria da sociedade, mediante a colaboração no desenvolvimento tanto das pessoas como de suas comunidades. Segundo Melo Neto (2011a), existe uma evidente intencionalidade política nas ações de


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Extensão Universitária que são orientadas pela Educação Popular, explicitada por uma perspectiva de querer formar profissionais com um novo olhar. Tendo em vista tais constatações no tocante a minha inserção e caminhos percorridos, foi se fortalecendo e delineando a provocação para realizar tal estudo, de forma a contribuir para a discussão e problematização em torno da Extensão Popular. Ademais, soma-se a tal consideração o crescimento e a contínua expansão das práticas de Extensão Popular por todo território brasileiro, o que pode ser observado por meio das três bem sucedidas edições realizadas do Seminário Nacional de Pesquisa em Extensão Popular (SENAPOP), das quatro edições da Mostra Nacional de Experiências em Extensão Popular e da consolidação da ANEPOP, expresso na publicação dos dois volumes do livro Educação Popular na Universidade (CRUZ et al., 2013; SOUSA et al., 2017), que sistematiza a experiência desenvolvida pelo coletivo desde seu surgimento no ano de 2005. Em tal sentido, é de fundamental importância destacar que não existe, à primeira vista, um consenso no campo teórico-prático que engloba as experiências de Extensão orientadas pela Educação Popular. Por exemplo, em alguns momentos é comum ouvir pessoas se referindo a concepção de Extensão Popular como sinônimo indubitável de uma Extensão orientada pela Educação Popular. Ora, observam-se grupos que se intitulam experiências de Extensão Universitária orientadas pela Educação Popular e dizem não se reconhecerem com a denominação de Extensão Popular. Apesar de ser expressiva a produção científica que aborda a temática da Extensão Popular (VASCONCELOS; CRUZ, 2011; CRUZ et al., 2013; MELO NETO, 2014; FALCÃO, 2014b; CRUZ et al., 2017; SOUSA et al., 2017; MELO NETO; CRUZ, 2017; PRADO et al., 2017; CRUZ et al., 2018), ainda é observado que alguns sujeitos e grupos ligados à ações extensionistas apresentam certo desconhecimento sobre o que é a Extensão Popular e, principalmente,

quais

são

os

seus

elementos

teórico-metodológicos

constitutivos. Além disso, existem entendimentos que mesmo reconhecendo a existência da Extensão Popular, indicam que a Extensão Popular é uma abordagem desenvolvida exclusivamente no estado da Paraíba. Já outros, indicam que é um equívoco que uma ação vinculada a Universidade possa ser adjetivada como “popular”.


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Mas, afinal, o que vem a ser uma Extensão Popular? Historicamente, a dimensão da Extensão tem se destacado como o pilar acadêmico por onde diversos trabalhos sociais vêm sendo realizados. Nesse âmbito, as iniciativas orientadas com base no referencial da Educação Popular têm revelado outras possibilidades práticas na condução de atividades no campo da Extensão, em que no transcorrer das décadas foram sendo estruturadas e aperfeiçoadas experiências guiadas pelo ideal de que era preciso direcionar as ações da Universidade com o propósito de fortalecer a construção de trilhas que levassem a transformação social (CRUZ, 2017a; ARAÚJO, 2018). Há um certo tempo, observa-se o incremento da produção científica (LACERDA; RIBEIRO, 2006; PADILHA, 2007; VASCONCELOS; CRUZ, 2011; CRUZ et al., 2013; FALCÃO, 2014b; SILVA; BRÊTAS; SANTANA, 2014; VASCONCELOS; FROTA; SIMON, 2015; SOUSA et al., 2017; CRUZ et al., 2017) que vem refletindo e desvelando a expressiva representatividade e distinção das práticas de Extensão Universitária orientadas pela concepção teórico-metodológica da Educação Popular. Não à toa, essas experiências de Extensão em Educação Popular vêm merecendo destaque em nível nacional, estando elas, inclusive, produzindo conhecimentos relevantes para o atual processo de discussão em torno da Universidade, sua estruturação e sua função social, como pode ser observado em Vasconcelos e Cruz (2011), Cruz et al. (2013), Vasconcelos, Frota e Simon (2015), Sousa et al. (2017), Melo Neto e Cruz (2017), entre outros. No seio dessas iniciativas orientadas pela concepção da Educação Popular, encontra-se a Extensão Popular, que tem se destacado em nível nacional como um dos grandes interlocutores para o fortalecimento de políticas institucionais de fomento as iniciativas de Extensão Universitária orientadas pela Educação Popular, a partir da ANEPOP, que atuou juntamente com outros coletivos nacionais de Educação Popular, tais como ANEPS, Grupo Temático de Educação Popular em Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e Rede de Educação Popular e Saúde (REDEPOP) na construção da Política Nacional de Educação Popular em Saúde no Sistema Único de Saúde (PNEPS-SUS). Tanto é que, entre os quatro eixos estratégicos formulados para a implementação da PNEPS-SUS, destaca-se o eixo de


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Formação,

Comunicação

e

Produção

de

Conhecimento.

Segundo

o

documento, esse eixo visa: [...] a ressignificação e criação de práticas que oportunizem a formação de trabalhadores e atores sociais em saúde na perspectiva da educação popular, a produção de novos conhecimentos e a sistematização de saberes com diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, produzindo ações comunicativas, conhecimentos e estratégias para o enfrentamento dos desafios ainda presentes no SUS. Destaca-se dentre as estratégias as ações de formação, produção de materiais didático-pedagógicos no âmbito acadêmico, dos movimentos populares e no cotidiano dos serviços; ênfase na aprendizagem significativa de novos conhecimentos; na educação permanente dos atores sociais envolvidos no SUS; e no diálogo para as trocas e integração de saberes (BRASIL, 2012, p. 19).

Por esse ângulo, consistindo como uma ação da PNEPS-SUS, conectado ao eixo de Formação, Comunicação e Produção de Conhecimento, foi iniciado no ano de 2013, contando com apoio do Ministério da Saúde, o Projeto de Pesquisa e Extensão Vivências de Extensão em Educação Popular e Saúde no Sistema Único de Saúde (VEPOP-SUS), que visa estimular, apoiar e fortalecer as experiências comprometidas com a formação de trabalhadores com postura humanística, interdisciplinar, crítica e participativa, tendo a Educação Popular como o caminho metodológico para sua constituição. Cruz (2010), ao analisar a pedagogia da participação estudantil no movimento nacional de Extensão Popular, especificamente na trajetória da ANEPOP, indicou que integravam a ANEPOP coletivos de diversos lugares, como Rio Grande− RS, Porto Alegre − RS, Florianópolis − SC, Campinas − SP, São Carlos − SP, Rio de Janeiro − RJ, Dourados − MS, Campo Grande − MS, Cuiabá − MT, Brasília − DF, Belém − PA, São Luís − MA, Fortaleza − CE, Teresina − PI, Natal − RN, João Pessoa − PB, Recife − PE, Aracaju − SE, Salvador − BA. Contudo, apesar de Cruz (2010) assinalar que existem grupos aglutinados em torno dessa proposta, como seria possível averiguar tal aspecto? De fato, não se tem como afirmar que a Extensão Popular é uma abordagem evidenciada apenas na Paraíba, nem há como afirmar que a Extensão Popular seja uma concepção desenvolvida nacionalmente, já que a princípio não temos dados que comprovem uma coisa e nem outra. É preciso


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que se busque possíveis evidências que sejam capazes de subsidiar qualquer uma dessas afirmações. Em realidade, a Extensão Popular é fortemente associada com as experiências de Extensão desenvolvidas no estado da Paraíba, por muitas dessas se reconhecerem como tal, como pode ser observado em algumas publicações (VASCONCELOS; PEREIRA; CRUZ, 2008; LACERDA et al., 2009; RIBEIRO, 2009; LEITE et al., 2014; ARAÚJO et al., 2015; CRUZ; ARAÚJO, 2017). Contudo, também é possível encontrar publicações de outros estados do Brasil que se referem a Extensão Popular, reconhecendo suas experiências com essa perspectiva, em lugares como Santa Catarina (SILVEIRA, 2008), Brasília (FONSECA; COSTA; NARDI, 2014), Rio Grande do Sul (ALMEIDA et al., 2014), Sergipe (BATISTA et al., 2014) e São Paulo (ASSUMPÇÃO; LEONARDI, 2016). Em virtude disso, temos como afirmar que a Extensão Popular seja uma concepção desenvolvida apenas na Paraíba, não havendo em outros estados nenhuma experiência extensionista que se reconheça como uma iniciativa de Extensão Popular? A única certeza, até então, é a de que ao analisar diversificadas publicações do campo da Extensão Popular, constata-se que não há nenhum estudo que se proponha a realizar tal esforço: delinear quais as regiões ou estados brasileiros têm produzido conhecimentos e contribuído com a constituição da concepção de Extensão Popular. Ademais, também não é evidenciado em nenhum estudo a perspectiva de analisar e identificar as possíveis distinções conceituais que existam em torno do conceito de Extensão Popular. Em tal sentido, se faz pertinente questionar: quando nos referimos a concepção de Extensão Popular, ao que estamos nos referindo? Estaria a expressão “extensão popular” sendo utilizada de forma indiscriminada? Diante disso, definiu-se como objetivo do presente estudo esse propósito, com a perspectiva de contribuir com o contínuo debate, reflexão e aperfeiçoamento da concepção de Extensão Popular, realizando uma análise das possíveis contradições existentes no bojo das distintas concepções do que


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venha a ser a Extensão Popular, assim como se essa abordagem é desenvolvida exclusivamente no estado da Paraíba ou não. Em virtude do exposto, o presente estudo estrutura-se a partir dos seguintes objetivos específicos: a) Caracterizar a existência de diferentes concepções e elaborações teóricas (para além da Extensão Popular) que vêm conduzindo o trabalho social universitário; b) Levantar as produções científicas que tratam da temática da Extensão Popular que estejam disponíveis em bases de dados científicas online; c) Identificar quais estados brasileiros têm produzido reflexões e conhecimentos nesse campo; d) Desvelar a concepção de Extensão Popular presente nessas publicações.


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2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO

O presente estudo foi desenvolvido com base em uma perspectiva qualitativa, a partir da realização de uma investigação de cunho bibliográfico do tipo exploratória e descritiva, fundamentando-se em uma abordagem dialética. Para o delineamento da fundamentação teórica, em vista do foco do estudo e da peculiaridade da temática em questão, recorreu-se a consulta de materiais provenientes de variadas fontes, tais como artigos publicados em periódicos científicos e em anais de eventos, livros e capítulos de livros, além de teses de doutoramento e dissertações de mestrado que tratavam da temática da Educação Popular, da Extensão Universitária e da Extensão Popular isoladamente ou em interface. O critério de inclusão desses materiais utilizados na fundamentação teórica foi definido mediante a necessária implicação dos mesmos para a construção do estudo, partindo da aproximação e conhecimento prévio do pesquisador com as temáticas estudadas. Conforme caracterizado por Gil (2002), a pesquisa bibliográfica é constituída a partir da consulta em materiais já elaborados, tendo como sua fonte principal dissertações, teses, livros e artigos provenientes de publicações em periódicos científicos. Na acepção de Marconi e Lakatos (2003), a pesquisa bibliográfica tem como sua principal finalidade a perspectiva de viabilizar o contato direto do pesquisador com o todos ou o máximo possível de material que já foi produzido sobre determinado assunto. De acordo com a interpretação dessas autoras, “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 183). Diante do exposto, cabe evidenciar que o estudo bibliográfico em questão, se enquadra como do tipo exploratório e descritivo. Em conformidade com isso, Gil (2002) delineia que o modelo de pesquisa bibliográfica do tipo exploratória visa: [...] proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que


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estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições (GIL, 2002, p. 41).

Ainda segundo esse autor, as pesquisas do tipo descritiva apresentam como seu principal objetivo a intenção de descrever as características de um determinado fenômeno ou população, podendo ela, também, estabelecer possíveis relações entre alguns elementos ou variáveis (GIL, 2002). No entendimento dele, algumas pesquisas bibliográficas do tipo descritiva: [...] vão além da simples identificação da existência de relações entre variáveis, e pretendem determinar a natureza dessa relação. Nesse caso, tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa. Há, porém, pesquisas que, embora definidas como descritivas com base em seus objetivos, acabam servindo mais para proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias (GIL, 2002, p. 42).

Para efetuar o levantamento das publicações e delinear quais as regiões ou estados brasileiros têm produzido conhecimentos e contribuído com a constituição da concepção de Extensão Popular, recorreu-se como fonte para a investigação, bases de dados eletrônicas de acesso público e gratuito, que comumente são utilizadas para a realização de pesquisas, por concentrarem um número expressivo de produções científicas, qual seja: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Portal de Periódicos CAPES. No tocante a busca, optou-se por deixar em aberto o período de tempo, não delimitando ano de publicação – com a pretensão de abarcar todas as produções existente e disponíveis nessas bases de dados − e essa foi realizada por meio da utilização do termo “extensão popular”, como forma de verificar se ao utilizar tal nomenclatura seria possível localizar alguma produção científica relacionada. Destarte, o critério de inclusão das produções foi conduzido mediante a respectiva utilização do termo Extensão Popular sem adentrar em sua definição a priori. Para esse fim, foi realizada a leitura exploratória dos seguintes pontos das produções provenientes do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES para a realização dessa investigação: título, resumo e palavras-chave. No tocante as produções advindas de periódicos (como dos provenientes da


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página do SciELO e Portal de Periódicos CAPES), essas foram analisadas em: título, resumo, palavras-chave e corpo do texto. Todos os resultados obtidos encontram-se expostos em quadros, contendo informações relativas aos títulos das obras; seus respectivos autores; a instituição de origem dos autores; o modelo de produção do manuscrito; e o ano de sua publicação, conforme está ilustrado no Quadro 1. No caso das produções originárias de revistas científicas, foram mencionados também o nome dos periódicos no qual esses manuscritos foram publicados, como está exemplificado no Quadro 2. Quadro 1 − Exemplo das produções oriundas do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES Título Autoria Instituição Tipo de Ano produção Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Fonte: elaboração própria. Quadro 2 – Exemplo das produções advindas de periódicos Título Autoria Instituição Tipo de Periódico produção Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Texto Fonte: elaboração própria.

Ano Texto Texto

A respeito da caracterização do local/região à que a produção científica pertencia, utilizou-se como suporte para essa definição as informações relativas a instituição em que os autores estavam vinculados quando da publicação. Tais informações estão representadas em quadros, tabelas e gráfico. Em relação ao processo de análise e identificação do que tem sido conceituado por Extensão Popular nas publicações, foram adotados os seguintes procedimentos: 1) realizou-se uma leitura exploratória, objetivando identificar a concepção de Extensão Popular presente no material e as respectivas referências utilizadas para tal conceituação; 2) efetuou-se uma leitura analítica dos materiais, com a ordenação das informações obtidas.


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A síntese dessa análise está destacada em um quadro, onde figuram as concepções e referenciais teóricos relacionados a conceituação de Extensão Popular expressa em cada publicação, como exemplificado no Quadro 3. Quadro 3 − Exemplo das produções com ênfase em suas concepções de Extensão Popular e os autores referenciados Título Autoria Instituição Concepção Referências Texto

Texto

Texto

Texto

Texto

Texto

Texto

Texto

Texto

Texto

Fonte: elaboração própria. Para a construção do presente estudo, recorreu-se a uma abordagem dialética, tendo em vista que, como salientado por Leandro Konder (2008), a dialética está relacionada com o modo que analisamos as contradições da realidade, bem como com a forma que interpretarmos a realidade, sendo essa concebida como substancialmente contraditória e em um processo permanente de transformação. O que corrobora com o entendimento de Gadotti (2003), para o qual a abordagem dialética toma o objeto/fenômeno em análise a partir de suas próprias características (inclusive considerando suas contradições) e conexão com a totalidade, em uma relação de contínuo diálogo e transformação, tendo em vista que o mundo e as coisas estão em um processo contínuo de desenvolvimento. Segundo Jara (2006a), a concepção dialética compreende a realidade como uma articulação de múltiplos elementos que conformam uma totalidade − em um dado contexto histórico-social −, não sendo possível compreender isoladamente as partes sem a devida compreensão do todo. Na acepção desse autor, traduz-se tal perspectiva de análise na diretriz de enxergar o real como um todo integrado, em que as partes (o econômico, o social, o político, o cultural, o individual, o local, o nacional, o internacional, o subjetivo, o objetivo, entre outros) não podem ser entendidas separadamente, senão em sua relação com o conjunto (CRUZ, 2015). Dentre as diretrizes que orientam a análise dialética, Jara (2006a) destaca a compreensão da realidade como processo histórico, onde se vê: [...] a realidade como uma criação dos seres humanos que, com nossos pensamentos, sentimentos e ações, transformamos o mundo


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da natureza e construĂ­mos a histĂłria, outorgando-lhe um sentido (JARA, 2006a, p. 46).


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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 EDUCAÇÃO POPULAR: UMA PERSPECTIVA DE ORGANIZAR O SABER E PLANEJAR A LUTA

Em síntese, pode-se dizer que a concepção de Educação Popular firmou-se em um período histórico no qual as análises teóricas evidenciavam a conexão entre a educação e o Estado, sob a ótica da reprodução das relações econômicas e socioculturais vigentes. Em virtude disso, pretendia-se constituir o processo educativo enquanto uma prática social direcionada para a transformação da realidade, em que a função da educação popular seria o de ação cultural articulada aos processos de luta e resistência dos grupos populares, estabelecendo-se como elo entre o concreto vivido e o projeto futuro de sociedade que se desejava edificar, tendo o povo como expressão política de si, por meio de sua própria auto-organização, aspirando a construção do poder popular (PALUDO, 2015). De tal modo, a perspectiva da Educação Popular surge a partir de um movimento de trabalho político realizado com os setores populares da sociedade, tendo em sua base a educação enquanto instrumento político para alcançar a conscientização e politização das pessoas envolvidas no processo educativo (educador e educando); sendo essa compreendida não como um meio de transmissão de conhecimentos, mas como uma proposta de ação cultural direcionada à busca da libertação através do estabelecimento de uma prática pedagógica dialógica e problematizadora (BRANDÃO; ASSUMPÇÃO, 2009). Conforme destacaram Moacir Gadotti e Carlos Alberto Torres (2003), a Educação Popular é: [...] um paradigma teórico que surge no calor das lutas populares. Trata de codificar e decodificar os temas geradores dessas lutas, busca colaborar com os movimentos sociais e os partidos políticos que expressam essas lutas. Trata de diminuir o impacto da crise social na pobreza e de dar voz à indignação e ao desespero moral do pobre, do oprimido, do indígena, do camponês, da mulher, do afroamericano, do analfabeto e do trabalhador industrial (GADOTTI; TORRES, 2003, p. 14).


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Cabe frisar que a Educação Popular não é um método de conscientização, mas sim um trabalho educativo que toma por base a cultura popular enquanto parte fundante do processo de desvelamento da realidade objetiva e do germinar da consciência das pessoas em quanto pertencentes à um determinado grupo ou classe social (BRANDÃO; ASSUMPÇÃO, 2009). Como fundamentado por Melo Neto (2011b), a Educação Popular é: [...] um fenômeno de produção e apropriação dos produtos culturais humanos, pelo trabalho, expresso por um sistema aberto de ensino e aprendizagem, contendo uma teoria de conhecimento referenciada na realidade e pautada pela “experiência” dos que estão nesse processo (MELO NETO, 2011b, p. 32).

A esse respeito, é interessante destacar que a consciência dos sujeitos das classes populares não se transformam em consciência “crítica” pelo simples desenvolvimento de um processo educativo que se propõe em problematizar a sua realidade. A questão fundamental em um processo de educação popular não é o processo pedagógico em si próprio, mas a intervenção sobre a realidade – que pode ser em alguns momentos mais espontânea ou mais organizada − com a qual se transforma o mundo e constrói a história. Ou seja, a Educação Popular não é um estágio que ocorre anteriormente ao momento da tomada de consciência (o qual, a posteriori, passar-se-ia a ação consciente). A Educação Popular tem a ver com o processo permanente de teorização sobre a prática social, vinculado indissociavelmente com o processo de mobilização e organização dos grupos populares. Sendo assim, as práticas de Educação Popular devem responder as necessidades e exigências objetivas do processo histórico vivenciado pelas classes populares (JARA, 2003). Como salientou Paulo Freire (2001, p. 16), a “Educação Popular é sobretudo o processo permanente de refletir a militância; refletir, portanto, a sua capacidade de mobilizar em direção a objetivos próprios”. Destarte, como bem especificou Oscar Jara (2006b, p. 236), a Educação Popular é um “processo político-pedagógico centrado no ser humano como sujeito histórico transformador, que se constitui socialmente nas relações com os outros seres humanos e com o mundo”. Por conseguinte, tal concepção orienta-se com base em um horizonte de transformação social e pela proposta


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de formação integral das pessoas em vista de construir novas estruturas e relações sociais, as quais sejam fundadas na equidade, solidariedade, justiça, tolerância e respeito ao meio ambiente (JARA, 2006b). Enquanto campo de conhecimento e de prática educativa, a Educação Popular configura-se como um exercício contínuo de crítica ao modelo de sociedade vigente e ao padrão de sociabilidade estabelecida e disseminada. Doravante isso, essa perspectiva educativa relaciona de maneira explícita a educação e a política, esforçando-se para contribuir com a estruturação e fortalecimento de processos de resistência a ordem societária subordinada ao capital, almejando alcançar a emancipação humana (PALUDO, 2015). Como sublinhado por Jara (2003), é imprescindível atentar para as especificidades da concepção de Educação Popular, pois: Mesmo que toda a atividade educativa seja política, a educação popular aparece como eminentemente política, já que não procura conhecer ou contemplar a realidade do lado de fora, mas pretende descobrir seu sentido a partir do interior do movimento histórico, intervindo ativa e conscientemente em sua transformação, fazendo da atividade espontânea das massas uma atividade revolucionária, isto é, uma atividade teórico-prática (JARA, 2003, p. 111-112).

A Educação Popular destaca-se como uma prática político-pedagógica comprometida com a população no projeto de sua própria libertação, partindo de uma intencionalidade que propicie uma nova forma de compreender o mundo e de vivê-lo, para que os indivíduos possam lê-lo com os olhos de sua própria cultura e dialogar uns com os outros como sujeitos conscientes. Para tanto, faz-se imprescindível que os participantes desse processo sejam ativos e responsáveis pela construção e realização de sua própria história, assim como pelas decisões que tem interface com seu destino, estando esses comprometidos com o processo histórico de construção de uma sociedade justa e democrática, fundada em bases de equidade, de respeito às diferenças e não excludente, empenhados na superação das desigualdades existentes, conforme destacado por Brandão e Assumpção (2009). A Educação Popular só é popular na medida em que, de maneira prática e efetiva, seja utilizada enquanto uma ferramenta que possibilite as pessoas dos grupos populares assumirem-se de forma organizada e lúcida o seu papel


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protagônico de sujeitos ativos na transformação da realidade e na construção da história (JARA, 2003). De acordo com Vasconcelos (2011a): [...] a Educação Popular atua como um modo especial de conduzir o processo educativo, cujo objetivo é apurar, organizar e aprofundar o sentir, o pensar e o agir das diversas categorias de sujeitos e grupos oprimidos da sociedade, bem como de seus parceiros e aliados. [Para] [...] superação das estruturas sociais que reproduzem a injustiça e a exclusão. [...] é, portanto, um modo comprometido e participativo de conduzir o trabalho educativo orientado pela perspectiva de realização de todos os direitos do povo, ou seja, dos excluídos e dos que vivem ou viverão do trabalho (VASCONCELOS, 2011a, p. 32-34).

Nesse sentido, como acentuado por Brandão e Assumpção (2009, p. 36), podemos compreender que: [...] a educação popular é uma entre outras práticas sociais cuja especificidade é lidar com o saber, com o conhecimento. Com relações de intercâmbio de saberes entre educadores eruditos e sujeitos populares, que se dão não por meio do “saber em si”, mas da prática de classe que o torna, finalmente, mais do que um saber necessário, aquilo a que pode ser dado o nome de um saber orgânico.

Para Mejía (2006), a Educação Popular constitui-se como uma prática social que aposta no reencontro entre os aspectos político e social, tendo em sua base princípios como: a opção explícita pela transformação das estruturas políticas, sociais, econômicas e culturais; a busca pelo empoderamento dos atores sociais locais; o reconhecimento e valorização dos saberes e culturas populares; os avanços pedagógicos, materializados na diversidade de propostas metodológicas com um horizonte político-pedagógico comum, direcionados à transformação social e; a crítica permanente ao projeto neoliberal, por meio da construção de uma proposta alternativa desde o eixo Sul. Nesse sentido, a Educação Popular deve se direcionar e se unir a esse processo, partindo da prática social e da realidade concreta, por meio do emprego de estratégias, procedimentos e métodos que possibilitem uma capacitação mais profunda em vista das necessidades, aspirações e interesses dos sujeitos e grupos populares. De acordo com Raúl Leis (2006): A Educação Popular tem seu lugar nessas tarefas como processo sistemático e voltado à compreensão da prática social, para transformá-la, conscientemente, em função do processo organizativo


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e na perspectiva de construção de uma sociedade democrática (LEÍS, 2006, p. 73).

O cerne da concepção de Educação Popular é a sua perspectiva metodológica de prática transformadora, vigente não apenas para aos processos educativos, mas principalmente para o contexto global de transformação, tendo em vista que essa é imbuída da diversidade e complexidade

inerente

das

práticas

sociais,

o

que

proporciona

o

reconhecimento, o ordenamento e a compreensão desta, com a prerrogativa de interpretá-la sob um ponto de vista humano, diversificado e transformador (LEIS, 2006). As ações em educação popular tem sua implicação direcionada para todos os sujeitos envolvidos no processo educativo (educador e educando), sob a perspectiva de inquietar, de provocar a problematização e a reflexão sobre nossas próprias práticas cotidianas, com a prerrogativa de questionar o alinhamento entre o nosso discurso e a nossa prática social, de maneira que ambos não sejam incompatíveis, mas que esses estejam ambos dispostos em uma mesma direção, conduzindo para a estruturação das bases do mundo que queremos edificar. Como sintetizou Zúñiga (2018): A educação popular como paradigma de transformação sociopolítico, assume uma opção ético-política a favor dos interesses dos setores excluídos e dominados. Respeita os medos, porém também os toca. Nos provoca, nos convida a questionar proficuamente os privilégios patriarcais que exercemos e com os quais temos convivido por séculos como se fossem naturais. Para concretizar esta mudança radical, é necessário realizar uma leitura crítica de nossas próprias práticas e contextos (ZÚÑIGA, 2018, p. 2, tradução nossa).

3.2 APROXIMAÇÕES ENTRE A UNIVERSIDADE E OS TRABALHOS DE EDUCAÇÃO POPULAR

O encontro entre a Educação Popular e a Universidade não é algo tão atual. Historicamente, variadas iniciativas foram emergindo a partir do anseio que alguns grupos universitários apresentavam em relação a necessidade de agir diante dos inquietantes problemas sociais vivenciados, com a percepção de que a instituição universitária tinha como parte de sua função a responsabilidade de desenvolver iniciativas que contribuíssem com a superação de tal quadro (CRUZ, 2017a; ARAÚJO, 2018). Como expôs Fleuri


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(1989, p. 68): “[...] a história mostra que a luta de classes atravessa todas as instituições sociais”. Em tal sentido, a Universidade não estaria de fora, de modo que a Extensão Universitária se apresenta como um espaço de contradições por comportar a existência de iniciativas com perspectivas distintas (FLEURI, 1989). Não se sabe com exatidão em qual momento em específico a Educação Popular foi acolhida pela Universidade, entretanto, sabe-se que em diferentes momentos políticos, no decorrer das décadas de 1950, 1960, 1970, 1980, 1990 e 2000 houveram intensas e importantes ações extensionistas desenvolvidas por grupos e setores universitários de maneira solidária e comprometida com as

classes

populares

e

seus

movimentos

sociais

(FLEURI,

1988;

VASCONCELOS; CRUZ, 2011; GADOTTI, 2017; ARAÚJO, 2018). Na leitura de Fleuri (1989), o mesmo destaca que o movimento estudantil brasileiro teve papel singular no questionamento da postura elitista da instituição universitária e na consolidação da Extensão Universitária como caminho de apoio aos processos de educação popular junto aos movimentos sociais. De acordo com o mesmo: O questionamento do caráter elitista da universidade e a promoção de práticas vinculadas aos movimentos populares emergem não da universidade enquanto instituição, mas decorrem de iniciativas assumidas principalmente pelo movimento estudantil. A União Nacional dos Estudantes (UNE), fundada em 1938, engaja-se no enfrentamento de questões nacionais a partir de 1956, chegando a estabelecer uma articulação orgânica com os setores do movimento popular emergente no período de 1961-64 (FLEURI, 1989, p. 62).

Nesse

contexto,

houveram

a

formulação

e

implementação

de

campanhas nacionais de alfabetização desenvolvidas pelo governo federal do Brasil que sempre contavam com a participação de estudantes e docentes universitários, à exemplo de 1947 ao fim da década de 1950; a campanha De Pé no Chão também se Aprende a Ler,4 realizada na cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte, no início de 1961; o Movimento de Educação de Base (MEB), constituído pela Igreja Católica – por meio da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) − em 1961, contando com apoio do

4

Campanha de alfabetização lançada pelo Secretário da Educação da cidade de Natal-RN, Moacyr de Góes, na gestão do Prefeito Djalma Maranhão, que compreendia a educação e a cultura como instrumentos de libertação (GADOTTI, 2013).


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governo federal5; o Movimento de Cultura Popular (MCP) originado na cidade de Recife-PE também no ano de 19616; os Centros Populares de Arte e Cultura (CPC) vinculados a União Nacional dos Estudantes (UNE), no período de 19627; a Campanha de Educação Popular da Paraíba (CEPLAR) criada em 1962 na cidade de João Pessoa8; a experiência de Angicos no Rio Grande do Norte; e o Plano Nacional de Alfabetização de 1963 (FLEURI, 1989; GADOTTI, 2013; CANANÉA, 2016). Na década de 1970, as práticas de Educação Popular apresentam-se vinculadas as iniciativas de movimentos sociais, em associações comunitárias, em organizações populares, assim como em setores e ações de base progressista desenvolvidas por grupos e setores da Igreja Católica, por meio das Comunidades Eclesiásticas de Base (CEB’s) e das Pastorais – sobretudo a partir da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Nos anos de 1980, tal perspectiva de atuação evidencia-se como algo crucial para o processo de aglutinação necessário para o fortalecimento do movimento de redemocratização no Brasil e para a elaboração da Constituição Federal de 1988 (CRUZ, 2010). Como evidenciado, de modo singular, muitas iniciativas participativas e horizontais foram sendo desenvolvidas − em momento pregresso e durante o período em que se estabeleceu o regime militar vivenciado no Brasil, que durou de 1964 a 1985 −, no delineamento de trabalhos sociais orientados a partir dos pressupostos teórico-metodológicos da Educação Popular, com o intuito de estabelecer parcerias e ações juntamente com movimentos sociais e com as populações mais empobrecidas, onde lideranças populares, representantes da igreja9, estudantes, professores, entre outros, a partir da mobilização e 5

Tal proposta visava contribuir com o processo de alfabetização de adultos, por meio da utilização da rede de emissoras católicas, com a prerrogativa de promover a valorização do ser humano e o desenvolvimento das comunidades (GADOTTI, 2013). 6 O MCP associava a cultura popular com a luta política, alfabetizando a partir da implementação de círculos de cultura, com a perspectiva de conscientizar as massas (GADOTTI, 2013). 7 O objetivo do CPC era o de produzir e divulgar um tipo de arte popular revolucionária, assim como defendia o compromisso político do artista como forma de superar a alienação e a consciência ingênua das pessoas. Nesse sentido, promovia a apresentação de peças de teatro sob uma perspectiva crítica, as quais eram encenadas em locais como portas de fábricas, ruas e sindicatos (GADOTTI, 2013). 8 Proposta criada por estudantes universitários e profissionais recém-formados para a alfabetização de adultos (GADOTTI, 2013). 9 Em 1961, o Papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II, que visava a renovação da igreja, divulgando as encíclicas Mater et Magistra (Mãe e Mestra) de 1961 e Pacem in Terris (Paz na Terra) de 1963, o que abriu caminhos para uma profícua e decisiva afirmação da


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organização dos setores populares, atuavam de forma conjunta e solidária no enfrentamento de circunstâncias derivadas da conjuntura política e econômica vigente à época (VASCONCELOS, 2011b). Conforme acentua Cruz (2011, p. 47): “[...] a extensão se configurava como uma possibilidade concreta de estar com as classes populares, buscando formas diversas de contribuir para melhor qualidade de vida nesses setores”. Segundo destaca Vasconcelos (2011b), apesar de não ser uma iniciativa oficial das políticas institucionais da Universidade, a perspectiva da Educação Popular estava vigorosamente atrelada a vida universitária, servindo como horizonte de muitos dos trabalhos sociais implementados por estudantes, docentes e intelectuais mais inquietos. A esse respeito, Reinaldo Fleuri (1989) destaca que: A participação maciça de estudantes e professores universitários nestes movimentos caracteriza uma nova proposta de extensão universitária, embora não se tenha conseguido efetivamente envolver a universidade como instituição (FLEURI, 1989, p. 63).

Com o advento do golpe militar, essas práticas começaram a ser sufocadas e consideradas subversivas. Diante de tais circunstâncias, ao entrar em um contexto de clandestinidade, muitas dessas iniciativas foram sendo acolhidas por algumas igrejas cristãs, de forma a serem implementadas juntamente com os trabalhos das pastorais, já que aos militares não tinham legitimidade e poder para reprimir todas as ações sociais desenvolvidas pela Igreja. Como eram práticas julgadas como subversivas, essas iniciativas aconteciam sem ter qualquer ligação direta com a Universidade, de forma que não eram trabalhos oficiais. Devido a isso, tais práticas ocorriam em sua maioria escondidas, e quando descobertas, eram justificadas por ocasião de motivação religiosa dos seus participantes. Ou seja, eram inciativas de Extensão Universitária clandestinas que predominavam na cultura estudantil de diversas instituições universitárias brasileiras (VASCONCELOS, 2011b). Apesar da Universidade se destacar como instrumento de poder em favor das classes dominantes, tal tendência é subvertida pelo movimento estudantil, que sensibilizado com as reivindicações dos setores populares da posição da Igreja Católica em favor dos pobres e oprimidos da sociedade. O que de certa forma ajuda a fortalecer o ideário da corrente teológica latino-americana denominada de Teologia da Libertação.


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sociedade, associa-se as suas lutas, sendo duramente reprimido a partir de 1964. No entanto, com a reorganização e a emergência de variados movimentos de oposição ao regime ditatorial na segunda metade da década de 1970, muitas instituições universitárias vão aderindo a tal mobilização e fazendo eco as pautas sociais reivindicadas, de modo que a Extensão Universitária passa a ser ponderada como um espaço viável de interlocução e possível articulação dos estudantes e docentes universitários com os movimentos sociais populares (FLEURI, 1989). Nas décadas de 1970 e início de 1980, muito grupos universitários estabeleceram significativa relação com movimentos populares, com destaque para os setores da educação, da saúde e dos direitos humanos (CRUZ, 2011). Nesse sentido, nos anos de 1980, podem ser destacados desde os sindicatos, associações de moradores de bairros e organizações populares que se articularam para a luta em defesa da reabertura política do Brasil, junto aos espaços constituídos em conselhos de várias áreas sociais, como à exemplo da educação, saúde e moradia, na manutenção da luta marcada pelos princípios da Educação Popular em busca da edificação de uma outra sociedade. Ainda em meados da década de 1980, com o processo de redemocratização

da

vida

política

brasileira,

muitos

dos

estudantes,

professores, técnicos, intelectuais e lideranças populares, que participaram das experiências semiclandestinas de Educação Popular, no tempo da ditadura militar, passam a assumir cargos e funções de chefia nas instituições públicas. Assim, começa-se a pensar na estruturação de um Estado regido pela participação popular e voltado para a superação das injustiças sociais (VASCONCELOS, 2011b). Não obstante, muitos desses sujeitos e grupos alinhados com a perspectiva emancipatória da Educação Popular, foram constituindo-se nas últimas décadas em movimentos sociais, Organizações Não Governamentais (ONG), fóruns etc. Notadamente, foi por meio dessas diversificadas experiências que foi se fortalecendo a tradição extensionista com uma perspectiva de compromisso com a execução de iniciativas construídas de forma compartilhada com os sujeitos e grupos dos setores populares, pelo prisma de caminhar na direção da transformação social (CRUZ, 2010).


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Com a abertura política em decorrência do fim do regime militar em 1985 e o advento da criação do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior Brasileiras (FORPROEX) em 1987, ocorreu que a concepção de Extensão Universitária formulada e em vigor, passou a aglutinar um número diverso de ações desenvolvidas pela instituição universitária que estabeleciam algum tipo de relação com a sociedade. Nesse período, então, as experiências de Educação Popular recobram uma posição de destaque, sendo não apenas reconhecidas, mas contando, inclusive, com apoio institucional. Em tal sentido, a Extensão Universitária passa a abrigar as ações de Educação Popular enquanto iniciativas institucionais, fazendo parte do conjunto diversificado de práticas extensionistas, até mesmo daquelas de cunho assistencialista (CRUZ, 2017a). Com a chegada da década de 1990, as opressões se tornam mais difusas e difíceis de serem devidamente desveladas e compreendidas. Nessa linha, ocorre uma dissolução propiciada pelo estabelecimento do modelo neoliberal, acarretando na necessidade de enfrentamento do sistema e seus artifícios, que vão diluindo a unidade de lutas contra-hegemônicas instituída no período da ditadura militar, de modo que cada vez mais as bandeiras e lutas defendidas vão se capilarizando, o que acarreta na eclosão dos denominados novos movimentos sociais. Esse advento tem sua devida importância, contudo, tal “divisão” enceta em dificuldades para que os sujeitos e grupos dos setores populares da sociedade possam estruturar iniciativas de enfrentamento que sejam direcionadas para a superação do modelo de sistema que continua favorecendo a exploração da classe trabalhadora e o acúmulo de capital na mão de uma elite (CRUZ, 2010). Na década de 1990, a Educação Popular continua fortemente presente no contexto universitário, principalmente por meio de iniciativas em projetos de Extensão oficializados que contam inclusive com certo apoio institucional. Nesse sentido, o trabalho extensionista junto aos movimentos sociais passa a ser valorizado e estimulado oficialmente no contexto universitário, sendo compreendido como uma iniciativa inovadora e progressista (CRUZ, 2010; VASCONCELOS, 2011b). Como ressaltado entre o leque de princípios básicos que devem nortear as práticas extenionistas em documento elaborado pelo FORPROEX, figura que “a Universidade deve participar dos movimentos


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sociais, priorizando ações que visem à superação da desigualdade e da exclusão social existentes no Brasil” (FORPROEX, 2012, p. 21). Ainda segundo esse mesmo documento: O fortalecimento da Extensão Universitária e seu compromisso com o enfrentamento da exclusão e vulnerabilidade sociais e o combate a todas as formas de desigualdade e discriminação também são favorecidos pela articulação das ações extensionistas com os movimentos sociais que organizam e expressam os interesses dos segmentos que se encontram nessas condições, sejam eles nacionais ou locais. [...] deve também buscar preservar a autonomia desses movimentos, estabelecendo com eles relações horizontais, de parceira, renunciando, assim, a qualquer impulso de condução ou cooptação. [...] Na interação com os movimentos sociais, a Universidade apreende novos saberes, valores e interesses, os quais são importantes para a formação de profissionais mais capazes de promover um desenvolvimento ético, humano e sustentável. Ao mesmo tempo, a Universidade pode contribuir com os movimentos sociais oferecendo cursos de capacitação, atualização e ou de formação de lideranças e quadros. Exemplo de iniciativa nessa direção é a organização de seminários ou encontros destinados a estimular reflexões conjuntas sobre temas da realidade brasileira ou internacional (FORPROEX, 2012, p. 26-27).

Somado a isso, em decorrência da renovação de políticas sociais, principalmente no setor saúde, por consequência da consolidação do Sistema Único de Saúde e das ações de expansão e fortalecimento da estratégia de organização da atenção à saúde sob a perspectiva da Atenção Primária à Saúde, irrompe a demanda por um tipo de profissional diferenciado, que tenha mais experiência e habilidades para lidar com as pessoas e grupos dos setores populares, tendo um perfil mais compreensivo no tocante aos seus interesses e formar de compreender o mundo. Em virtude disso, a participação dos estudantes universitários em projetos de Extensão orientados pela concepção da Educação Popular adquire uma dimensão que vai além da militância política, passando a ser compreendida como uma forma de melhor preparar os futuros profissionais para o nicho do mercado trabalhista criado por essas novas políticas sociais instituídas (VASCONCELOS, 2011b). No fim da década de 1990 e início de 2000, grupos políticos liderados por antigos membros de movimentos sociais e de práticas de educação popular passam a ocupar cargos de prefeitos, governadores, e em 2003, assumindo o governo federal brasileiro. A partir disso, estabelecem-se mais espaços para que a interlocução com os movimentos sociais e a perspectiva da Educação Popular possam ser incorporados como uma estratégia importante na


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organização,

execução

e

coordenação

das

políticas

públicas

(VASCONCELOS, 2011b). A esse respeito, Vasconcelos (2011b) salienta que tal convergência de acontecimentos impactou de forma significativa na vida universitária, de modo que: Os projetos de extensão orientados pela Educação Popular passam a ter espaço político para reivindicar que a política de extensão universitária priorize essa perspectiva teórica e metodológica. Suas lideranças já não se contentam em ser toleradas e até apoiadas como práticas alternativas pontuais e passam a reivindicar que essa forma de conduzir a extensão seja priorizada na vida universitária. Assim, a ação do FORPROEX, com a presença de pró-reitores com experiência em trabalhos comunitários orientados pela Educação Popular, torna possível alguns avanços para o fortalecimento institucional dessas experiências (VASCONCELOS, 2011b, p. 19).

Nessa continuidade, vai se estruturando e ganhado corpo uma proposta teórico-metodológica e política identificada com o conceito de Extensão Popular. Em seu ápice, no ano de 2005, é criado um movimento que agrega tanto estudantes, docentes e técnicos quanto atores de movimentos sociais e lideranças populares comprometidas com tal proposta, batizada de Articulação Nacional de Extensão Popular (ANEPOP). A partir da ANEPOP é estabelecido o engajamento pela conquista de um significativo espaço político para a luta pela valorização dos elementos da concepção da Educação Popular nas políticas de Extensão Universitária (CRUZ, 2010). Apesar do exposto, é importante ressaltar que esse processo de estabelecimento e consolidação da Extensão enquanto dimensão constitutiva do cotidiano universitário não ocorreu a partir de um movimento derivado de uma ação isolada do FORPROEX, mas sim por meio de todo um processo histórico decorrente da ação e articulação de variados atores, grupos e setores sociais e universitários, em que ao longos dos anos foram sendo forjados e aprimorados os caminhos para a consolidação da Extensão enquanto meio de interação e comunicação da Universidade com a sociedade, particularmente por meio de um diálogo crítico, propositivo e comprometido com os setores populares. Nesse tocante, ao consubstanciar com tal entendimento, Cruz (2010) acentua que: [...] esta e outras experiências de ação comunitária desenvolvidas nas décadas de 1960 e 1970 constituíram referencial importante para a


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futura institucionalização de um tipo diferente de extensão, cujas bases remetiam a movimentos estudantis, políticos e religiosos mais antigos. Tratava-se de uma extensão cujas preocupações estavam direcionadas a superação dos problemas sentidos pelas camadas populares, possuindo metodologias participativas e caracterizado pelo diálogo de saberes e pela valorização da cultura popular (CRUZ, 2010, p. 113-114).

Por esse ângulo, Cruz (2017a) ressalta que é necessário evidenciar que o movimento brasileiro pela democratização foi bastante relevante como propulsor de mudanças nas práticas acadêmicas. De acordo com ele: O clima democrático e a participação ativa dos movimentos sociais nos processos de conquistas populares favoreciam a defesa por uma Universidade que abandonasse a posição neutra frente a essa efervescência e passasse a dialogar com esses setores, com vistas a fortalecer e a aperfeiçoar sua capacidade de lutar pela cidadania (CRUZ, 2017a, p. 65).

À proporção que se prosseguia com o processo de elaboração da Constituição Cidadã de 1988, se tornava cada vez mais clara a necessidade de idealização de uma nova consciência para a vida em sociedade. Diante disso, a Universidade enquanto instituição social responsável por possibilitar uma formação cidadã e crítica não poderia permanecer alheia. Principalmente porque muitos daqueles sujeitos e grupos universitários, que antes estavam sujeitados a realização de trabalhos subversivos na clandestinidade, agora poderiam empreender suas iniciativas acadêmicas junto com os setores populares publicamente (CRUZ, 2017a). De tal modo, esses sujeitos e grupos universitários com um perfil mais progressista passaram a situar seus trabalhos sociais e iniciativas de Educação Popular como pauta prioritária e agenda cotidiana de suas iniciativas acadêmicas. Com isso, estabeleceu-se um local para variadas experiências cada vez mais inovadoras, as quais persistiam em afirmar o caráter popular das suas ações e a cobrar da instituição universitária a abertura de canais de diálogo com os setores sociais subalternizados (CRUZ, 2017a). Nesse ponto de vista, mesmo a estrutura acadêmica sendo, ainda, bastante enrijecida e conservadora, a mesma passou, contraditoriamente, a comportar ações de cunho progressista, como das experiências de educação popular. Logo, o discurso acadêmico passou a ter uma outra entonação, com a expressão daquela vertente de perspectiva crítica e transformadora que foi defendida desde a década de 1960 e aperfeiçoada ao longo do tempo nas


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práticas de Educação Popular (CRUZ, 2017a). Conforme delineado por Cruz (2010), fica evidente que: [...] mesmo em face do modelo acadêmico hegemônico, a Educação Popular tem encontrado espaço no complexo cenário universitário atual para ser desenvolvida e abertamente incluída na formação estudantil, principalmente através de projetos de extensão universitária. [De modo que a] [...] Extensão é, historicamente, um dos setores universitários mais abertos para a comunicação desta instituição com a sociedade, assim como para propiciar liberdade para professores, técnicos e estudantes experimentarem novas abordagens educativas e perspectivas de interação acadêmica (CRUZ, 2010, p. 108).

Em síntese, pode-se dizer que as iniciativas extensionistas orientadas pela perspectiva da Educação Popular valorizam e fortalecem a dimensão da Extensão pelo fato desse locus se constituir como um espaço potente e oportuno para a comunicação da Universidade com a realidade social, suas adversidades e desafios, configurando-se como um terreno profícuo para que estudantes, técnicos e professores inquietos e preocupados com a questão social possam elaborar e empregar ações acadêmicas voltadas para a construção e aprimoramento de conhecimentos e tecnologias que viabilizem e garantam a conquista de uma vida realmente plena para todas as pessoas (CRUZ, 2017b; ARAÚJO, 2018).

3.3 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: DIFERENTES CONCEPÇÕES, PRÁTICAS E INTENCIONALIDADES

Apesar de todas as discussões e avanços conceituais no campo da Extensão ao longo de seu percurso histórico, tanto no Brasil como em outros países do continente latino-americano, as perspectivas de enxergar o trabalho extensionista nos moldes europeu e norte-americano do século XIX estão presentes até hoje nas instituições universitárias (NOGUEIRA, 2001). Ambas as experiências, tanto a europeia quanto a norte-americana, tinham em seu escopo o objetivo de interagir e aperfeiçoar a relação da Universidade com os setores subalternizados da sociedade. A europeia com a perspectiva de servir ao povo, com uma visão dominadora, na pretensão de levar o saber intelectual as pessoas desfavorecidas e leigas (MELO NETO,


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2002) e as experiências norte-americanas, desenvolvidas especificamente nas zonas rurais, que concebiam a Extensão como uma pura e simples atividade de prestação de serviços, com a finalidade de informar e esclarecer as camadas populares, disseminando conhecimentos técnicos (MELO NETO, 1997; CANANÉA, 2011). Para além dessas concepções, podem ser observadas no contexto universitário compreensões da prática da Extensão em uma perspectiva altruísta, impulsionadas pela ação desinteressada e de perfil humanitário dos estudantes universitários em benefício das populações pobres (SERNA, 2007). Como exemplo significante dessa compreensão, pode ser destacada a concepção de Extensão expressa pelo movimento estudantil de Córdoba em idos de 1918, o que repercutiu e influenciou estudantes espalhados por todos os países da América Latina. Tal perspectiva permanece viva até hoje em muitos grupos estudantis. A esse respeito, Tünnermann (2008) aponta que, entre algumas experiências desenvolvidas com base no movimento reformista de Córdoba, como no caso das Universidades Populares que foram fundadas em alguns países, o que ocorreu foi que, mesmo com a justa intenção, houveram alguns equívocos. O que fez com que não fosse alcançado o fim proposto. Por exemplo, essas iniciativas aspiravam diminuir a distância entre a Universidade e a sociedade, e ao invés de buscarem conhecer e aprender sobre os problemas reais que os trabalhadores enfrentavam, foram sendo criadas escolas e espaços em que profissionais, docentes e estudantes iam ensinar os trabalhadores, transmitindo à esses o mesmo conteúdo que era ensinado no interior das universidades. Corroborando com tal reflexão, em relação ao conteúdo expresso pelo movimento estudantil de Córdoba, Melo Neto (1996) ressalta que, apesar de tal propósito progressista, marcado pela preocupação da instituição universitária com a questão social, ainda se observava a contemplação de uma relação unívoca entre a Universidade e a sociedade − da instituição que vai até o povo. Em tal panorama, a Universidade ainda era concebida como a detentora dos saberes capazes de resolverem todos os problemas da população. De modo que os acadêmicos eram os sujeitos ativos, devidamente capacitados para direcionar e decidir que caminhos a população e a sociedade deveriam


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seguir; e o povo permanecia sendo passivo, apático, sem fala e sem capacidade de decisão. Segundo Fleuri (1989, p. 61), ao analisar experiências brasileiras de Extensão bem difundidas, o mesmo aponta que: Pressupõe-se que, de uma parte, haveria os universitários, portadores da ciência e da técnica; de outra parte, a comunidade dos necessitados incapazes de compreender seus problemas. Estes têm problemas a resolver, aqueles têm serviços e soluções prontas a oferecer.

Essa perspectiva de enxergar o trabalho extensionista, com um pensamento de vanguarda, ainda presente na contemporaneidade, ficou significativamente conhecida pela interpretação de Extensão como uma via de mão única. De acordo com Freire (2015), em contraposição a tal posicionamento, é significante destacar que a relação que se estabelece no campo prático da Extensão não pode ser reduzida a lógica de um estar adiante, ou a um estar sobre, ou a um estar para. Esse processo deve ser concretizado em um ponto de vista de estar com, fazendo, assim, com que todos os envolvidos sejam sujeitos ativos daquela mudança. Para Gurgel (1986), ao analisar o desenvolvimento da Extensão Universitária no Brasil até a década de 1980 e refletir sobre as variabilidades práticas da atividade extensionista, o mesmo apontou que essas, em sua maioria, eram mais próximas de práticas condizentes com uma ideia de domesticação do que de comunicação, como proposto por Paulo Freire. A esse respeito, no campo de reflexões sobre a concepção da Extensão Universitária, uma importante contribuição de Paulo Freire foi a publicação do livro intitulado Extensão ou Comunicação?, lançado originalmente no ano de 1969, que foi escrito enquanto Freire ainda estava exilado no Chile, por ocasião da perseguição política que ocorria no Brasil devido o golpe militar. Nesse livro Paulo Freire traçou importantes reflexões a respeito da necessidade de execução de um processo educativo dialógico e lançou duras críticas as ações unilaterais e antidialógicas de Extensão que eram desenvolvidas nas áreas rurais (FREIRE, 2015). Tal questionamento de Freire ia de encontro não só as atitudes dos extensionistas que buscavam persuadir os camponeses a replicarem técnicas repassadas

de

forma

vertical

e

domesticadora

substituindo

seus

conhecimentos, forjados a partir de sua ação sobre a realidade concreta, pelos


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conhecimentos estritamente técnicos dos extensionistas −, mas desde a própria concepção e utilização do termo extensão. De acordo com Freire: [...] a ação extensionista envolve, qualquer que seja o setor em que se realize, a necessidade que sentem aqueles que a fazem, de “ir para a outra parte do mundo”, considerada inferior, para, à sua maneira, normalizá-la. Para fazê-la mais ou menos semelhante a seu mundo. Daí que, em seu “campo associativo”, o termo extensão se encontre em relação significativa com transmissão, entrega, doação, messianismo, mecanicismo, invasão cultural, manipulação, etc. (FREIRE, 2015, p. 13).

Em síntese, pode-se destacar que na compreensão da Extensão como uma via de mão única, há a contemplação de uma relação unívoca entre a Universidade e a sociedade − da instituição que vai até o povo, na pretensão de levar o saber intelectual as pessoas “desfavorecidas” e “leigas”. Concebendo a Universidade como a detentora dos únicos conhecimentos socialmente válidos, e que em decorrência disso, arvora-se como a redentora dos saberes capazes de resolverem todos os problemas da sociedade, manifestando sua arrogância ao julgar-se proprietária exclusiva do mesmo (MELO NETO, 2002; ARAÚJO, 2018). Com vistas a possivelmente tentar superar essa problemática do ponto de vista de uma via de mão única, adveio uma nova perspectiva, delineada pelo FORPROEX, com o conceito de Extensão como uma via de mão dupla. Segundo o Fórum: [...] A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento (FORPROEX, 1987, p. 11).

Nessa compreensão, se estabelece que a partir da Extensão, a instituição universitária estaria em uma relação de troca de conhecimentos com a sociedade e a sociedade também esboçaria essa mesma atitude para com a Universidade. Contudo, nessa perspectiva de via de mão dupla, surgem algumas questões, como que, apesar de existir um transito de via dupla, essa possível relação de troca, ao ocorrer, se efetivaria mediante a perspectiva de um conhecimento prontamente estabelecido, cristalizado em ambas as partes, não ocorrendo a elaboração de um novo tipo de conhecimento, resultante


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desse encontro, nem muito menos o questionamento e reformulação das verdades existentes (MELO NETO, 2003). Ao refletir sobre tal concepção, Melo Neto (2004) tece certas críticas: Esse movimento de vai-e-vem, na formulação do Fórum, viabilizaria a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade, ou seja, no buscar e levar conhecimento. Ora, será que a democratização do conhecimento, mesmo aquele acadêmico, resolve-se pela extensão através da perspectiva de mão dupla? Sabe-se que a questão da democratização do conhecimento envolverá a produção e a posse dos resultados, constituindo-se, dessa forma, numa questão muito mais abrangente e complexa (MELO NETO, 2004, p. 13).

Além de que, tal perspectiva sinaliza o retorno à instituição universitária como parte constituinte do processo de elaboração de conhecimento, como se unicamente em seu âmbito houvesse a possibilidade para a reflexão teórica (MELO NETO, 2002) − inviabilizando o exercício da práxis coletiva, ao transladar a possibilidade de reflexão teórica in loco de realização das atividades extensionistas para a Universidade. A esse respeito, Melo Neto (2002) sublinha que é necessário avançar sobre determinado conceito. Segundo o referido autor: A compreensão de extensão, como via de mão dupla, destaca um retorno à universidade como se aí estivesse o espaço para a reflexão teórica. Será que apenas na universidade é que está sendo gerada a reflexão teórica? Os participantes das ações de extensão promovem sua reflexão crítica e têm necessidade dela. Não estará sendo gerada uma dicotomia, inclusive espacial, da condição de reflexão teórica, ao transladá-la para o espaço da universidade? Pode-se perguntar: será a universidade o lugar, por excelência, para a reflexão teórica? Não será no próprio “locus” de realização das atividades de extensão? (MELO NETO, 2002, p. 17).

Possivelmente, como forma de driblar maiores problemáticas relativas a utilização do termo mão dupla, o FORPROEX adotou, posteriormente, a terminologia interação dialógica. Para tanto, assumindo um posicionamento como se houvesse sinonímia entre ambos os termos. Aqui, vale salientar que, o trabalho extensionista, quando discutido no campo pedagógico de sua ação, em uma perspectiva de interação dialógica, deve atentar para a seguinte questão: [...] ser dialógico, para o humanismo verdadeiro, não é dizer-se descomprometidamente dialógico; é vivenciar o diálogo. Ser dialógico é não invadir, é não manipular [...]. Ser dialógico é empenhar-se na transformação constante da realidade. O diálogo é o encontro


47 amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o “pronunciam”, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos (FREIRE, 2015, p. 28).

Atualmente no Brasil, a Extensão Universitária tem sido conceituada pelo referido Fórum como “[...] processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade” (FORPROEX, 2007, p. 17). É uma prática acadêmica que deve ser desenvolvida de forma indissociável com o Ensino e a Pesquisa, com o objetivo de promover e garantir valores democráticos e equânimes, em busca do desenvolvimento da sociedade em suas dimensões: humana, ética, econômica, cultural e social (FORPROEX, 2012). Em suas diretrizes, reforça e deixa explícito o compromisso da instituição universitária com: o impacto e a transformação da sociedade, com vistas a uma atuação transformadora, pautada pelos interesses e necessidades da maioria da população; a interação dialógica entre a Universidade e os setores sociais; a interdisciplinaridade, buscando consistência teórica e operacional; e a indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão, preocupando-se com o processo de formação de pessoas e a produção de conhecimentos (FORPROEX, 2012). No entanto, diante das circunstâncias atuais e das influências sóciopolítico-econômicas, com vistas a corresponder aos interesses da ideologia dominante, nem todos os empreendimentos de Extensão Universitária estão preocupados e/ou comprometidos com a transformação social (CRUZ, 2013a). O próprio modelo atual de Universidade – ainda em hegemonia – está voltado para os setores privilegiados da elite nacional e não para aqueles que dependem exclusivamente de seu próprio esforço cotidiano e trabalho para sobreviverem. De tal maneira, essa perspectiva de Universidade não está contemplando, corretamente, nem o Ensino nem a Pesquisa, conforme os problemas enfrentados na realidade brasileira e as exigências da grande maioria da população (MELO NETO, 2012). Por esse ângulo, é significativo destacar que a Universidade não é uma parte isolada da sociedade. Ela é parte integrante desta e relaciona-se com a mesma,

diferenciando-se

apenas

enquanto

instituição

com

suas


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particularidades (MELO NETO, 1997). Em virtude disso, é imprescindível instaurar debates, reflexões e analises que possam desvelar as ideologias que norteiam a Universidade e as práticas de Extensão, de forma a detectar as possíveis implicações que estas trazem para o contexto universitário na formação dos sujeitos, em suas dimensões pessoal e profissional, em relação aos aspectos de cidadania e tipo de sociedade que buscamos edificar (JEZINE, 2004). Como bem argumentou Cruz (2013a, p. 21): [...] a universidade pode e precisa mudar seu papel na sociedade – de mantenedora da organização social injusta, economicamente desigual, culturalmente autoritária, de relações desumanas e intolerantes, para mais uma colaboradora da construção de uma sociedade com relações econômicas justas, organização estrutural equânime, humanizante, culturalmente diversa, marcada pela cooperação e pela solidariedade, em todos os relacionamentos, na direção da felicidade, não apenas para uns, mas para todos.

Assim como essa pode atuar viabilizando a estruturação hegemônica das ideologias dominantes, a Extensão, também, pode servir como subterfúgio para a efetivação da função social da Universidade ou ainda no emprego de seus serviços a favor daqueles que vivem estritamente de seus esforços para manutenção de sua sobrevivência (MELO NETO, 2002). Nessa acepção, para Freire (2015), toda ação desenvolvida no âmbito da Extensão, em relação pedagógica com os setores populares, tem que estar de acordo com a realidade vivida e ter seu benefício voltado para os sujeitos que trabalham em torno de sua própria realização humana. De acordo com Falcão (2014b), o entendimento do conceito de Extensão não pode estar atrelado a realização de um trabalho qualquer fora do ambiente acadêmico ou a realização de um mero serviço assistencialista as populações desfavorecidas. Conforme esse autor, o propósito maior das ações extensionistas deve ser o de unir o produzido e aprendido na Universidade com o fim de aplicá-lo para o desenvolvimento social, contribuindo efetivamente para a melhoria da sociedade. Com exceção dessa discussão sobre a Extensão como uma via de mão única ou de mão dupla, e mesmo com o seu avançar conceitual, alguns autores tem apontado que no âmbito da Universidade é perceptível a existências de


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dois grandes blocos de práticas extensionistas, a saber: o de perspectiva assistencialista e o de viés mercantilista. Em sua concepção assistencialista, as ações da Extensão Universitária concentram-se primordialmente na aplicação técnica, de forma que nem se cogita a possibilidade de participação ou intervenção dos sujeitos ao longo do processo (CRUZ, 2013b). Nessa perspectiva, as práticas são fragmentadas e descontinuas, voltadas para a resolubilidade parcial de problemas sociais, que em alguns casos são de responsabilidade de instâncias governamentais; sem a devida problematização dos fatores estruturais intervenientes e provocativos de tal circunstância, agindo de forma a manter as condições de precariedade e desigualdade social. Não comprometendo-se, então, com a sensibilização e mobilização das pessoas e grupos populares para a reivindicação de direitos sociais e transformação da realidade concreta, na construção de caminhos que viabilizem a superação de forma permanente de tais dificuldades (JEZINE, 2004; CRUZ, 2013b). Conforme expressa Cruz (2011, p. 44): Em sua dimensão assistencialista, a extensão incorpora a ideia de prestar serviços pontuais, por meio dos quais são sanados problemas específicos (como, por exemplo, a “dor de dente” ou a falta de documentos), com a intenção de não se envolver com suas causas estruturais (correlacionando com o exemplo anterior, a falta de assistência pública à saúde bucal permanente; a exclusão social, que impede diversas famílias de acessarem conscientemente as realizações de cidadania, para além de documentos).

O que ocorre, por exemplo, é que nessa perspectiva, a instituição universitária vai até uma determinada comunidade, presta inúmeros serviços e depois se retira como se todas as problemáticas já houvessem sido resolvidas. Em tal sentido, é bastante comum que a Universidade assuma funções e deveres do Estado, ofertando serviços que em realidade são direitos de todos os cidadãos. Desse modo, ao invés de oportunizar a reflexão dos sujeitos sobre as razões estruturais da débil assistência pública, mantem-se distantes de tal repercussão, assumindo apenas a posição de substitutos do poder público e indo de comunidade em comunidade (CRUZ, 2013b). Outra questão que faz necessário destacar é que, atrelada a essa concepção extensionista, há a disseminação intencional da ideia de que existe


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alguma preocupação para com a sociedade, de modo que a Universidade está concedendo benefícios e ofertando serviços aos setores mais empobrecidos. O que, em realidade, serve como propaganda dos diversos grupos sociais e políticos presentes na instituição (CRUZ, 2013b). Acerca disso, Cruz (2013b) comenta que: Pela dimensão de disseminação de cultura e assistencialismo, fica fortalecida a ideia de extensão como um espaço acadêmico destinado à socialização dos bens culturais, científicos e tecnológicos desenvolvidos na universidade, não numa perspectiva de construção coletiva e superação das desigualdades, mas de aplicação e aprimoramento das técnicas, por meio do exercício e de transmissão, com a intenção de tentar justificar os gastos públicos com a universidade, alegando que está fazendo o seu “papel social” (CRUZ, 2013b, p. 184).

Por meio dessa concepção, reforça-se ainda mais a compreensão de que a Universidade ocupa uma posição cultural superior na sociedade, de forma que, devido a isso, a mesma tem capacidade para resolver todos os problemas sem necessitar de diálogo ou consideração alguma do saber popular. Além de que, é uma perspectiva extenionista que não traz em sua característica a intenção de gerar transformação social (CRUZ, 2013b). Conforme salienta Fleuri (1989), por meio de tal perspectiva de atuação extensionista, não se pretende desvendar as contradições formadoras das problemáticas enfrentadas pela maioria da população, ocasionando o seu contrário: a desarticulação da possibilidade de organização popular para transformação da estrutura social que a condiciona a existência em um regime de dominação e exploração. De tal forma, as ações extensionistas têm contribuído mais para a ocultação da realidade, ajudando a legitimá-la como dado inalterável, do que com o seu desvelamento, na perspectiva de transformá-la. Contudo, é importante salientar que existe um grande diferença entre realizar um trabalho sobre uma perspectiva assistencial ou sobre uma ótica assistencialista. Pelo ponto de vista assistencialista, aliena-se a dimensão assistencial, tendo em vista o seu foco apenas centrado na aplicação da técnica, enquanto pelo prisma de uma ação assistencial a parte técnica está vinculada ao processo, mas não sendo o processo todo. Como por exemplo, na realização de intervenções técnicas em campos como saúde, engenharia, dentre outras, podem ser prestados serviços de caráter estritamente técnico,


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como de assessoria ou consultoria à população, com a pretensão de elucidar problemas bem específicos; o que não necessariamente será utilizado como forma de ocultação de responsabilidades ou alienação de pessoas e grupos. Para tanto, busca-se envolver ao máximo os sujeitos, deixando os mesmos a par sobre tudo o que se está fazendo, bem como para que se faz e porque se faz (CRUZ, 2013b). Por

esse

ângulo,

são

desenvolvidas

ações

relativas

a

ultraespecializações necessárias para o justo desenvolvimento social, assim como para uma melhor vida em sociedade, as quais podem e devem estar à disposição de todos os cidadãos, principalmente dos sujeitos e grupos das classes populares, o que não está diretamente relacionado com autoritarismo ou assistencialismo, principalmente se tais práticas não estiverem com pretensão de substituir o Estado ou em desestruturar as formas de organização e mobilização da população na busca pela efetivação de seus direitos sociais (CRUZ, 2011). A esse respeito, como frisado por Cruz (2013b): [...] a assistência pode compreender, reconhecer e apoiar o saber popular e observar seus limites para a resolução de alguns problemas, assim como ver os limites mesmo da própria ciência e a necessidade de ser aplicada conforme se conheça, saiba e entenda o popular. As práticas de apoio técnico e assistencial não se percebem, necessariamente, melhores ou superiores, mas significativas, e podem contribuir diante de necessidades emergentes, mas sem substituir a ação do popular, conforme possa e deva ser exercida, especialmente na direção da cidadania (CRUZ, 2013b, p. 184).

Todavia, tem se firmado de maneira cada vez mais forte o estabelecimento de iniciativas de vinculação da Universidade com o setor empresarial. Tais práticas tem sido enquadradas em uma outra concepção de Extensão a predominar nas instituições universitárias, que é a denominada de mercantilista. Em tal corrente extensionista, concebe-se a Extensão Universitária como principal meio de interlocução com a sociedade globalizada, na perspectiva da produção de bens e prestação de serviços, por meio do atendimento as demandas do mercado, por meio da realização de parcerias com outros setores sociais, comercializando os produtos gerados pela Universidade, agora transformados em mercadoria, respondendo as pressões econômicas do sistema capitalista, seja na formação de profissionais com perfil competitivo ou


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na elaboração de produtos, voltando a preocupação e responsabilidade da instituição acadêmica não para com o justo desenvolvimento social e humano a favor da grande maioria da população, mas a serviço do capital na geração de lucros, mantendo os privilégios e a riqueza de poucos (JEZINE, 2004; CRUZ, 2013b). Segundo González e Fernández-Larrea (2003), esse exemplo de atividade sob um viés economicista, concebe a Universidade com o perfil de uma empresa que deve estar funcionando de acordo com o mercado. O que faz com que ela adquira em seu papel a função de atuar dando suporte técnico e científico ao setor produtivo, assim como submetendo o conhecimento produzido em função de obter benefícios econômicos. Essa perspectiva que busca o estabelecimento de um vínculo empresarial apresenta o entendimento de que o trabalho desenvolvido no campo da Extensão tem que estar direcionado para satisfazer as demandas de empresas privadas. Como apontado por Jezine (2004), Cruz (2010) e OrtizRiaga e Morales-Rubiano (2011), esse modelo de Extensão começou a ganhar força em boa parte da América Latina na década de 1990, apresentando como uma de suas consequências diretas o fato da instituição universitária obter benefícios financeiros por ocasião da disponibilização de seus serviços a setores privados, sendo essas atividades concretizadas por meio de consultorias técnicas, financiamento de pesquisas de desenvolvimento tecnológico, estruturação de cursos de pós-graduação com um perfil de atender as demandas dos setores empresariais, programas de educação permanente, dentre outros. Em tal sentido, o trabalho extensionista adquire uma configuração e uma intencionalidade distinta, configurado a partir do convênio universidadeempresa. Inclusive, na atualidade, o que se observa é a consolidação de uma conjuntura acadêmica predominantemente direcionada para atender ao mercado, formando profissionais cada vez mais técnicos e especialistas, ao invés de profissionais ético e politicamente comprometidos com os setores sociais excluídos e com o justo desenvolvimento social, econômico e político (CRUZ, 2010). Não obstante, concordante com tal compreensão, Jezine (2004) delineia que:


53

Essa concepção de extensão universitária, caracterizada como mercantilista, traz em seu contexto a formação ideológica de um projeto de privatização da universidade que substitui a possibilidade de igualdade de acesso pelo pagamento de taxas e pela adoção de outros instrumentos que não representam a identidade de uma universidade pública e gratuita (JEZINE, 2004, p. 337).

Entre as principais críticas fundamentadas a esse modelo de atuação extensionista está relacionada com a tendência mercantilista que se estabelece na Universidade, implicando, em consequência, o desvio do sentido social da função da Extensão como foi concebida no continente latino-americano, nesse sentido, orientado pela busca de maior rentabilidade e pela formação de profissionais

com

um

perfil

individualista,

sem

nenhum

tipo

de

comprometimento social (ORTIZ-RIAGA; MORALES-RUBIANO, 2011). De acordo com Serna (2004), esse modelo de vinculação entre Universidade e empresas tem deslocado o sentido categórico da Extensão Universitária, consolidando-a sobre a perspectiva de abertura para uma maior aproximação com o setor econômico. E o mesmo continua, asseverando que não há expectativa nem possibilidade alguma de que as necessidades empresariais sejam correspondentes com as demandas e necessidades sociais.

3.4 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E O FORTALECIMENTO DE UMA PERSPECTIVA COMPROMETIDA COM A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Desde o século XIX, a Universidade assumiu uma posição de centralidade enquanto um espaço privilegiado para a produção de cultura e de avançado conhecimento científico. Não à toa, com o decorrer do tempo, essa instituição conviveu com inúmeros conflitos e pressões, tanto internas como externas (SANTOS, 1999), dado que: O processo de produção do conhecimento no Brasil e no mundo vem sendo fortemente debatido e questionado, principalmente na e pelas universidades. Seu tensionamento, a partir de sua relação com a sociedade e com o Estado, tem demandado críticas expressivas, principalmente às universidades públicas, por serem mantidas exclusivamente com recursos públicos (SERRANO, 2013, p. 202).

Como bem destacou Fleuri (1989), a luta de classes é algo que permeia todas as instituições sociais, dentre elas, a Universidade, que se destaca


54

historicamente como um espaço de contradições. Na intepretação de Serrano (2013, p. 202-203): A história da universidade é marcada por movimentos hegemônicos e contra-hegemônicos à estrutura social e ao seu próprio modelo pedagógico e político. Esse tensionamento entre o hegemônico e o contra-hegemônico demanda reflexões sobre os elementos políticos de fundamentação ideológica para uma prática pedagógica transformadora dessa universidade.

A compreensão e o modelo de instituição universitária é algo que está relacionado intrinsecamente com o modelo de sociedade que se tem e que se deseja estruturar. Na concepção contemporânea de Universidade pública, essa tem sido fundamentada no exercício de três funções consideradas essenciais, que são destacadas como os seus pilares estruturantes: o Ensino, a Pesquisa e a Extensão. Em tal sentido, mais especificamente em relação a dimensão da Extensão, observa-se que essa tem se destacado historicamente como o pilar acadêmico por onde variadas práticas sociais vêm sendo realizadas. No entanto, esse elo de comunicação entre a Universidade e a sociedade, em sua execução, tem sido orientado factualmente por diferentes intencionalidades, ideologias e perspectivas teórico-metodológicas (CRUZ, 2017b; ARAÚJO, 2018). Conforme destacado por Fleuri (1989, p. 68): Embora toda política predominante imponha uma perspectiva conservadora e domesticadora de extensão universitária, esta é considerada um espaço contraditório, onde se pode gestar um novo projeto de universidade articulado com o processo de transformação social.

Diante disso, é relevante explicitar que as primeiras experiências extensionistas do Brasil eram em sua maioria voltadas para uma parcela da elite que estavam frequentando ou que já haviam frequentado a Universidade. E, quando tais iniciativas eram voltadas para as pessoas e grupos oriundos das classes populares, as mesmas eram ignoradas por esses, tendo em vista que essas iniciativas não apresentavam praticamente nenhum alinhamento com as suas necessidades ou com os seus interesses, como salientado por Fleuri (1989). Notoriamente, ao analisar o histórico das dimensões constituintes da instituição universitária, fica evidente que as iniciativas de Extensão


55

Universitária têm sido encaradas como experiências secundárias e pouco valorizadas no ambiente universitário – sobretudo em relação as dimensões do Ensino e da Pesquisa, as quais recebem grande destaque por seu impacto e implicação para a formação de sujeitos (enquanto mão-de-obra “qualificada”) e para a produção de conhecimentos técnico-científicos exigidos pelo mercado capitalista (FLEURI, 2004). É evidente que as ações da instituição universitária têm sido preeminentemente delimitadas por uma atitude de distanciamento dos setores sociais subalternos. Com eventuais exceções, verifica-se que as políticas universitárias de Ensino, Pesquisa e Extensão, em grande monta, não apresentam direcionamento para buscar atender aos interesses e as necessidades das classes populares da sociedade (CRUZ, 2010). Todavia, como espaço contraditório que é, a instituição universitária, com suas exceções, também tem se empenhado na luta pela consolidação de caminhos que possam conduzir a superação das problemáticas vivenciadas pela grande maioria da população. Esforços estes, essenciais para uma melhor percepção da realidade concreta, com vistas a sua transformação, dedicandose a análise, compreensão e enfrentamento da questão social, sem abrir mão da rigorosidade científica. Nas últimas décadas, paulatinamente, a dimensão da Extensão tem ganho cada vez mais força e respaldo institucional, sobretudo a partir das discussões estabelecidas por diversos atores, movimentos e setores universitários, sobre a função da Extensão e o papel social da Universidade, onde pode ser destacado como afluente o FORPROEX, que teve importante papel na elaboração de uma Política Nacional de Extensão e de sua institucionalização, o qual constitui-se como o principal meio interlocutor para estruturação de políticas públicas de fomento as atividades de Extensão em nível nacional. Tal fato, de fortalecimento da dimensão da Extensão, também pode ser observado pelo crescente número de eventos acadêmico-científicos que abordam a temática da Extensão, seja de modo específico (enquanto campo teórico-prático) ou tratando sobre temas de interface com a mesma, como a exemplo de discussões que vão desde a reorientação da formação


56

universitária, ao compromisso social da instituição ou sobre a própria Universidade e suas dimensões constitutivas. No entanto, cabe distinguir que no ambiente universitário coexistem distintas concepções, práticas e intencionalidades no direcionamento e concretização das atividades extensionistas, o que conforma uma verdadeira miscelânea. De modo que podem ser destacadas compreensões da Extensão que vão desde uma via de mão única ou de mão dupla à de uma prática assistencialista ou mercantilista. Conquanto, como delineado por Melo Neto (1996), dentre o leque de concepções sobre a prática concreta na atuação extensionista, é preciso buscar e fortalecer a materialização de uma outra hegemonia, que entenda a Extensão Universitária como o caminho para a verdadeira articulação com as dimensões do Ensino e da Pesquisa, e da relação entre a Universidade e a sociedade, com base em preceitos éticos, morais, culturais e ideológicos, com um horizonte de justiça social. Para esse autor,

faz-se

necessário

consolidar

uma

compreensão

do

trabalho

extensionista que esteja imbuída pela intencionalidade de apoiar: [...] a necessária construção de uma sociedade em que os bens culturais produzidos estejam disponíveis para a sociedade e não somente para aqueles segmentos com recursos financeiros e cujos mecanismos de produção sejam também conduzidos por princípios orientadores da própria ação de produção (MELO NETO, 2014, p. 56).

Em tal sentido, Freire (2015) sugere que a Extensão seja compreendida e praticada sob a perspectiva da comunicação, opondo-se a realização de práticas condizentes com uma ótica de transmissão, superioridade, dominação, invasão cultural, mecanicismo etc. Como foi dito, a Extensão Universitária tem sido concebida e executada de diferenciadas formas, variando de acordo com os sujeitos e grupos que à conduzem – revelando-se como um ambiente onde cabe todo tipo de concepção, prática e intencionalidade. Assim, muitas iniciativas foram emergindo a partir da necessidade que alguns grupos universitários tinham em agir diante dos preocupantes problemas sociais vivenciados em nossa região, com o entendimento de que a Universidade tinha em sua função a responsabilidade de contribuir com a superação de tal quadro.


57

A esse respeito, evidenciam-se as ações de Extensão orientadas pela concepção teórico-metodológica da Educação Popular, as quais apresentam dimensões éticas, filosóficas e práticas que as distinguem das demais perspectivas extensionistas, ancoradas no ideário de que a verdadeira transformação social não viria a partir de atividades assistencialistas ou da ação isolada de algum grupo progressista de vanguarda, mas sim mediante o desenvolvimento

de

trabalhos

sociais

de

conscientização

realizados

juntamente com os sujeitos dos setores populares da sociedade – como consequência de processos de educação popular. De maneira singular, essas atividades orientadas pela perspectiva da Educação Popular foram apontando outras possibilidades no campo de disputas sobre concepções de Extensão, em que ao longo dos anos foi sendo forjada e aprimorada a ideia de que também se pode e deve encaminhar as ações da Universidade no sentido da transformação social. Melo Neto (2014) acentua que, nos últimos anos, foram surgindo cada vez mais experiências de Extensão pautadas numa lógica popular, assumindo uma postura filosófica, política e ideológica diante do mundo, trazendo consigo uma dimensão propositiva-ativa,

pautada

pelos

interesses

das

classes

populares

compreendidas como aquelas que vivem ou viverão de seu próprio esforço para sobreviver. Por esse ponto de vista, Cruz (2010) destaca que: [...] a Educação Popular demarca princípios éticos e teóricos específicos no jeito de pensar, fazer e conduzir as experiências de extensão universitária e a relação da universidade com a sociedade, traduzindo-se em empreendimentos onde os saberes populares e tradicionais são valorizados e constituem a base das ações extensionistas. Para tanto, o diálogo de saberes e a análise crítica da realidade compõem pré-requisitos básicos, na construção de intervenções realizadas preponderantemente de modo coletivo e orientadas a partir dos interesses e anseios dos setores populares. Seu objetivo primordial é a mudança, por meio de ações coletivas e participativas para a transformação das condições objetivas de desconforto, dor e opressão que incomodam estes grupos e lhes alienam as possibilidades de realização de cidadania (CRUZ, 2010, p. 23-24).

Não obstante, dentro dessa linha de experiências extensionistas, há um entendimento diferenciado de Extensão, o qual tem sido identificado como Extensão Popular. Na acepção de Cruz (2017b):


58

A Extensão Popular nasce a partir de movimentos contrahegemônicos, de quem se espanta e se indigna não apenas com a imaginação da universidade/sociedade como seria ou como foi, mas principalmente com a constatação do que é hoje e como será seu futuro caso seus sujeitos não criem saídas para a superação de suas ideologias dominantes (CRUZ, 2017b, p. 24).

Entretanto, essa convivência entre distintas perspectivas extensionistas não é assentada em uma relação harmoniosa, mas sim conflituosa. De modo que variadas iniciativas e movimentos – notadamente alinhados com a concepção da Educação Popular − têm apresentado uma relevante crítica e firme resistência aos modelos hegemônicos de Extensão com perfis assistencialistas e mercantilistas. Como enfatizado por Cruz (2017b, p. 23-24): “Falar de Extensão Popular é falar de um referencial diferente de Extensão − identificado com a busca por um referencial humano, democrático e justo nas relações educativas, independente do espaço no qual estas se deem”. Para esse autor, na essência da perspectiva de Extensão Popular se compatibilizam experiências que alicerçam a sua prática a partir de elementos teóricos, metodológicos e filosóficos dirigidos para o enfrentamento das circunstâncias geradoras de exclusão social, objetivando a transformação das estruturas sociais, políticas e econômicas que tem submetido os setores subalternizados a sobrevivência em condições de vida imorais e injustas (CRUZ, 2017b). Diante disso, evidencia-se que as iniciativas extensionistas orientadas pela perspectiva da Educação Popular têm valorizado e fortalecido a dimensão da Extensão pelo fato dessa se constituir como um espaço potente e oportuno para a comunicação da Universidade com a realidade social, suas adversidades e desafios, configurando-se como um terreno profícuo para que estudantes, técnicos e professores inquietos e preocupados com a questão social possam elaborar e empregar ações acadêmicas voltadas para a construção e aprimoramento de conhecimentos e tecnologias que viabilizem e garantam a consolidação de caminhos que conduzam a conquista de uma vida realmente plena para todas as pessoas (CRUZ, 2017b; ARAÚJO, 2018). Cruz (2010) frisa que, apesar do modelo de atuação universitária hegemônico estar voltado para a manutenção das desigualdades e injustiças sociais, as iniciativas de Educação Popular têm aproveitado de algumas lacunas do multifacetado contexto universitário para ser praticada e


59

publicamente incorporada como um elemento importante para a formação universitária e, exercida, sobretudo, por meio de projetos e programas de extensão universitária. De acordo com esse autor: A Extensão é, historicamente, um dos setores universitários mais abertos para a comunicação desta instituição com a sociedade, assim como para propiciar liberdade para professores, técnicos e estudantes experimentarem novas abordagens educativas e perspectivas de interação acadêmica (CRUZ, 2010, p. 108).

Tendo em vista que a concepção de Educação Popular apresenta em seus aportes teórico-metodológicos elementos importantes, que podem auxiliar na compreensão crítica da realidade objetiva permeada por desigualdades sociais, tal perspectiva pode, muito bem, ter capacidade de desvelar possibilidades de resistência e enfrentamento da questão social (ROSA; SILVA, 2017). Como expresso por Oliveira (2013), o desenvolvimento de habilidades acadêmicas ajustadas ao enfrentamento da realidade social marcada por elementos excludentes, racistas e discriminatórios, engloba a estruturação de experiências que oportunizem a ruptura com o padrão universitário tradicional. Para essa autora, o encontro e diálogo entre as diferentes percepções e visões de mundo ocasionado por meio da perspectiva da Extensão Popular, processo esse, que é conjunto, viabiliza em todos os envolvidos a constituição de uma consciência crítica e a convicção de que: “[...] existir humanamente é pronunciar o mundo e modificá-lo. Não consiste em estar diante da realidade, mas nela estar, na práxis” (OLIVEIRA, 2013, p. 269). Nesse sentido, Cruz (2018) defende que: [...] a Extensão Popular está situada – hoje – como uma das principais alternativas de formação de subjetividades inconformistas no campo acadêmico. Ora, o envolvimento de estudantes com a complexidade da dinâmica social povoada de sofrimentos, opressões e muitas possibilidades de fascinante criação coletiva, pode despertar da alienação individualista e consumista difundida pela sociedade capitalista e que marca tão fortemente a juventude (CRUZ, 2018, p. 24).

Como salientado por Rosa e Silva (2017), o mesmo movimento que estabelece as condições necessárias ao processo de reprodução da sociedade de classes, é o que cria e recria as situações de conflito que se instauram em decorrência dessa relação, oportunizando a estruturação de caminhos para a


60

sua superação. De tal modo, o continente latino-americano, apesar de ser uma região submetida a exploração e o local onde muitas mazelas se materializam de forma a impactar a vida de tantas pessoas, é nesse mesmo território que emerge, a partir dos sujeitos das classes subalternizadas, os saberes e práticas capazes de fortalecer suas identidades e propor alternativas, retomando o poder de decisão, para que esses se configurem como sujeitos da história e da transformação social. Na acepção de Cruz (2018), a Extensão Popular tem se expressado como um símbolo que congrega diversas iniciativas universitárias onde, por meio do trabalho comprometido com as pessoas e grupos das classes populares, aprende-se a ser mais e a elaborar e implementar uma prática edificante da ciência, com uma perspectiva dialógica e emancipadora. Como estacado por Oliveira (2013, p. 268): A extensão popular não trata aqueles a quem se dirige como depositários do conhecimento construído na Academia, não chega à comunidade com um gesto de generosidade, filantropia ou responsabilidade social, mas com uma práxis enraizada em um compromisso social que entende que há uma desumanização em curso e que é necessário agir em seu sentido oposto, em comunhão.

Na acepção de Falcão (2013), ao eleger uma atividade como Extensão Popular,

fala-se

de

uma

Extensão

primordialmente

voltada

para

o

enfrentamento das desigualdades e injustiças sociais, por meio da construção de iniciativas que priorizem a escuta verdadeira dos anseios dos grupos socialmente vulneráveis e marginalizados, e que a partir disso, busca o delineamento e encaminhamento de ações efetivamente direcionados para a superação de tais questões. Na expressão de Assumpção e Leonardi (2016, p. 443): A extensão popular, advinda da entrada da Educação Popular na universidade, se configura como uma possibilidade concreta de estar com os setores populares, através do esforço e desejo de dialogar com esses sujeitos. A extensão, quando realizada na perspectiva da Educação Popular, busca a construção de ações geradoras de leitura de mundo, capacidade crítica e emancipação. Os resultados são identificados no processo, na constante formação, construção e transformação da realidade e dos sujeitos envolvidos.

Entretanto, é relevante salientar que, no tocante ao desdobramento de elaborações teórico-práticas que apresentam um explícito alinhamento com a


61

concepção

latino-americana

da

Educação

Popular

e

tem contribuído

sobremaneira na reorientação das práticas sociais universitárias, para além da Extensão Popular, podem ser ressaltadas outras concepções, como por exemplo Ecologia de Saberes (SANTOS, 2007), Extensão Comunitária (DANTAS, 2009), Extensão Acadêmica (JEZINE, 2006), Conversidade (FLEURI, 2004) e Extensão Crítica (TOMMASINO et al., 2013).


62

4 EXTENSÃO POPULAR NO BRASIL: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Ao pesquisar as publicações científicas sobre Extensão Popular por meio da realização de uma investigação bibliográfica em bases de dados eletrônicas da SciELO, Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e do Portal de Periódicos CAPES, chegou-se ao seguintes resultados. Ao pesquisar na base de dados da SciELO10 no campo de assunto pelo termo extensão popular, sem determinar ano de publicação, foi encontrado apenas 1 resultado, o qual encontra-se exposto no Quadro 4. Quadro 4 – Produções encontradas na busca efetivada na página eletrônica da SciELO Título Autoria Instituição Tipo de Periódico Ano produção Extensão Maria Universidade Artigo Interface 2014 popular na Francilene Federal da (Botucatu) formação Leite; Paraíba profissional Katia em saúde Suely para o SUS: Queiroz refletindo Silva uma Ribeiro; experiência Ulisses Umbelino dos Anjos; Patrícia Serpa de Souza Batista Fonte: elaboração própria. Na busca realizada no Catálogo de Teses & Dissertações da CAPES11, utilizando o termo “extensão popular”, sem delimitar ano de publicação, foram encontrados 14 resultados, conforme podem ser observados no Quadro 5.

10 11

http://www.scielo.br/ http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/


63

Quadro 5 – Resultado da busca executada no sítio eletrônico Teses e Dissertações da CAPES Título Autoria Instituição Tipo de produção O Samara Universidade Dissertação reconhecimento Rafaela da Federal da dos Silva Gomes Paraíba profissionais do sexo como destinatários da tutela sociolaboral Extensão Emmanuel Universidade Dissertação popular: Fernandes Federal da caminhos para Falcão Paraíba emancipação Na práxis da Carla Universidade Dissertação assessoria Miranda Federal da jurídica Paraíba universitária popular: extensão e produção de conhecimento A dialética Hugo Universidade Dissertação entre educação Belarmino de Federal da jurídica e Morais Paraíba educação do campo: a experiência da turma Evandro Lins e Silva da UFG derrubando as cercas do saber jurídico A dimensão Ana Laura Universidade Dissertação colonial do Silva Vilela Federal da conhecimento: Paraíba contribuições teóricas para a educação jurídica desde a América Latina Extensão Wladimir Universidade Dissertação universitária: Nunes Federal da caminhos para Pinheiro Paraíba uma universidade popular

do Catálogo de Ano 2015

2014

2010

2011

2014

2012


64

Contribuições da extensão popular na educação de educadores: experiência, alteridade e dialogo Investigando práticas de extensão popular na Universidade Federal do Rio Grande O trabalho em saúde junto ao SUS a partir da experiência na extensão popular: desafios e potencialidades Extensão popular: a pedagogia da participação estudantil em seu movimento nacional Educação popular e formação em saúde na perspectiva do palhaço cuidador: estudo com base em um projeto de extensão A extensão popular em educação ambiental e seus processos educativos Sobre a história da extensão universitária: o

Andreia Barbosa dos Santos

Universidade Federal da Paraíba

Tese

2015

Nicole Marques Feijó

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Dissertação

2011

Maria Francilene Leite

Universidade Federal da Paraíba

Dissertação

2014

Pedro José Santos Carneiro Cruz

Universidade Federal da Paraíba

Dissertação

2010

Aldenildo Araújo de Moraes Fernandes Costeira

Universidade Federal da Paraíba

Dissertação

2016

Tiago Zanqueta de Souza

Universidade Federal de São Carlos

Tese

2017

Francisco Xavier Dantas Lins

Universidade do Estado do Rio Grande

Mestrado

2017


65

que os textos revelam e a prática desvela? Extensão Bruno Popular: Oliveira de debatendo Botelho autonomia e participação em hortas urbanas no PINAB/UFPB Fonte: elaboração própria.

do Norte

Universidade Federal da Paraíba

Dissertação

2017

Sucessivo a observação dos resultados obtidos, foi realizada uma leitura exploratória do título, resumo e palavras-chave de cada produção. Após a leitura e análise, restaram apenas 10 produções realmente ligadas a temática investigada, de acordo com os critérios de inclusão definidos, que era a utilização do termo extensão popular, os quais estão apresentados no Quadro 6. Quadro 6 – Resultado final da busca efetuada no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES Título Autoria Instituição Tipo de Ano produção Extensão Emmanuel Universidade Dissertação 2014 popular: Fernandes Federal da caminhos para Falcão Paraíba emancipação Na práxis da Carla Universidade Dissertação 2010 assessoria Miranda Federal da jurídica Paraíba universitária popular: extensão e produção de conhecimento Contribuições Andreia Universidade Tese 2015 da extensão Barbosa dos Federal da popular na Santos Paraíba educação de educadores: experiência, alteridade e dialogo Investigando Nicole Universidade Dissertação 2011


66

práticas de extensão popular na Universidade Federal do Rio Grande O trabalho em saúde junto ao SUS a partir da experiência na extensão popular: desafios e potencialidades Extensão popular: a pedagogia da participação estudantil em seu movimento nacional Educação popular e formação em saúde na perspectiva do palhaço cuidador: estudo com base em um projeto de extensão A extensão popular em educação ambiental e seus processos educativos Sobre a história da extensão universitária: o que os textos revelam e a prática desvela? Extensão Popular: debatendo autonomia e

Marques Feijó

Federal do Rio Grande do Sul

Maria Francilene Leite

Universidade Federal da Paraíba

Dissertação

2014

Pedro Jose Santos Carneiro Cruz

Universidade Federal da Paraíba

Dissertação

2010

Aldenildo Araújo de Moraes Fernandes Costeira

Universidade Federal da Paraíba

Dissertação

2016

Tiago Zanqueta de Souza

Universidade Federal de São Carlos

Tese

2017

Francisco Xavier Dantas Lins

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Mestrado

2017

Bruno Oliveira de Botelho

Universidade Federal da Paraíba

Dissertação

2017


67

participação em hortas urbanas no PINAB/UFPB Fonte: elaboração própria. Na busca realizada no Portal de Periódicos CAPES12, utilizando o termo “extensão popular”, sem determinar data de publicação, foram encontrados 14 resultados. Após a exclusão dos resultados repetidos, restaram 13 resultados, que podem ser constatados no Quadro 7. Quadro 7 – Resultado da busca operada no Portal de Periódicos CAPES Título Autoria Instituição Tipo de Periódico Ano produção Extensão Maria Universidade Artigo Interface 2014 popular na Francilene Federal da (Botucatu) formação Leite; Katia Paraíba profissional Suely em saúde Queiroz para o SUS: Silva refletindo Ribeiro; uma Ulisses experiência Umbelino dos Anjos; Patrícia Serpa de Souza Batista Extensão Pedro José Universidade Resumo Interface 2014 popular: a Santos Federal da (Botucatu) pedagogia Carneiro Paraíba da Cruz participação estudantil em seu movimento nacional A Kátia Suely Universidade Artigo Cadernos 2009 experiência Queiroz Federal da Cedes na extensão Silva Paraíba popular e a Ribeiro formação acadêmica em fisioterapia 12

http://www.periodicos.capes.gov.br/


68

Direito e marxismo: a política de qualificação para trabalhador es desemprega dos na experiência do MTD em João Pessoa Políticas nacionais e o campo da Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva: cenário atual Aconselham ento nutricional de crianças menores de dois anos de idade: potencialida des e obstáculos como desafios estratégicos

A contribuição da Educação Popular para a formação profissional em saúde

Ítalo Giovanni Fernandes Correia; Liziane Pinto Correia; José Victor Figueiredo de Lucena

Universidade Federal da Paraíba

Artigo

Revista Direito e Práxis

2012

Elisabetta Recine; Ana Beatriz Vasconcello s

Universidade de Brasília

Artigo

Ciência & Saúde Coletiva

2011

Aline Aparecida de Oliveira Campos; Rosângela Minardi Mitre Cotta; Julicristie Machado de Oliveira; Adriana Kelly Santos; Raquel Maria Amaral Araújo Eymard Mourão Vasconcelo s; Pedro José Santos Carneiro Cruz; Ernande Valentin do Prado

Universidade Federal de Viçosa e Universidade Estadual de Campinas

Artigo

Ciência & Saúde Coletiva

2014

Universidade Federal da Paraíba

Editorial

Interface (Botucatu)

2016


69

Ética nas ações educativas e de cuidado em saúde orientadas pela Educação Popular

Patrícia Serpa de Souza Batista; Eymard Mourão Vasconcelo s; Solange Fátima Geraldo da Costa Educação Franklin interprofissi Delano onal e o Soares programa Forte; de Hannah Gil educação de Farias pelo Morais; trabalho Shirley para a Arruda saúde/Rede Guimarães Cegonha: Rodrigues; potencializa Joyce da ndo Silva mudanças Santos; na formação Priscila acadêmica Farias de Albuquerqu e Oliveira; Maria do Socorro Trindade Morais; Talitha Emanuelle Barbosa Galdino de Lira; Maria de Fátima Moraes Carvalho O ensino de Maria Educação Carmélia Popular em Sales do Saúde para Amaral; o SUS: Andrezza experiência Graziella de Veríssimo

Universidade Federal da Paraíba

Artigo

Interface (Botucatu)

2014

Universidade Federal da Paraíba

Artigo

Interface (Botucatu)

2016

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Artigo

Interface (Botucatu)

2014


70

articulação entre graduandos de enfermage me Agentes Comunitário s de Saúde Problematiz ando a institucionali zação da educação popular em saúde no SUS

Pontes; Jennifer do Vale e Silva

Osvaldo Peralta Bonetti; Muna Muhammad Odeh; Fernando Ferreira Carneiro Pedro José Santos Carneiro Cruz; José Francisco de Melo Neto

Educação popular e nutrição social: consideraçõ es teóricas sobre um diálogo possível Empoderam Cleyciane ento das Cássia mulheres Moreira quilombolas Pereira; : Jaires contribuiçõe Oliveira s das Santos; práticas Maria Isabel mediacionai de Jesus s Sousa desenvolvid Barreira as na ciência da informação Fonte: elaboração própria.

Universidade de Brasília

Artigo

Interface (Botucatu)

2014

Universidade Federal da Paraíba

Artigo

Interface (Botucatu)

2014

Universidade Federal da Paraíba

Artigo

Em questão

2017

Em sequência a obtenção desses resultados, realizou-se a leitura exploratória do título, resumo, palavras-chave e corpo do texto de cada produção. Posterior a esse processo, sobraram apenas 6 produções que de fato correspondiam ao objetivo deste estudo, que era a utilização do termo extensão popular, as quais estão expostas no Quadro 8.


71

Quadro 8 – Resultado final da busca empreendida no CAPES Título Autoria Instituição Tipo de produção Extensão Maria Universidade Artigo popular na Francilene Federal da formação Leite; Katia Paraíba profissional Suely em saúde Queiroz para o SUS: Silva refletindo Ribeiro; uma Ulisses experiência Umbelino dos Anjos; Patrícia Serpa de Souza Batista Extensão Pedro Universidade Resumo popular: a José Federal da pedagogia da Santos Paraíba participação Carneiro estudantil em Cruz seu movimento nacional A experiência Kátia Universidade Artigo na extensão Suely Federal da popular e a Queiroz Paraíba formação Silva acadêmica Ribeiro em fisioterapia Direito e Ítalo Universidade Artigo marxismo: a Giovanni Federal da política de Fernandes Paraíba qualificação Correia; para Liziane trabalhadores Pinto desempregad Correia; os na José Victor experiência Figueiredo do MTD em de Lucena João Pessoa A Eymard Universidade Editorial contribuição Mourão Federal da da Educação Vasconcel Paraíba Popular para os; a formação Pedro

Portal de Periódicos Periódico

Ano

Interface (Botucatu)

2014

Interface (Botucatu)

2014

Cadernos Cedes

2009

Revista Direito e Práxis

2012

Interface (Botucatu)

2016


72

profissional em saúde

José Santos Carneiro Cruz; Ernande Valentin do Prado Ética nas Patrícia Universidade ações Serpa de Federal da educativas e Souza Paraíba de cuidado Batista; em saúde Eymard orientadas Mourão pela Vasconcel Educação os; Popular Solange Fátima Geraldo da Costa Fonte: elaboração própria.

Artigo

Interface (Botucatu)

2014

Em sequência, na Tabela 1, pode ser observada uma síntese da quantidade de produções encontradas que estavam realmente relacionadas com a temática do estudo. Tabela 1 – Síntese do resultado final da busca Bases de dados Quantidade de produções SciELO Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES Portal de Periódicos CAPES

1 10 6

Fonte: elaboração própria. Conforme pode ser visto no Quadro 9, apresenta-se uma caracterização dos resultados obtidos, com ênfase em sua vinculação institucional. Quadro 9 – Síntese do resultado e sua distribuição por instituição Bases de dados Quantidade de Distribuição das produções por produções Instituição 1 produção vinculada à Universidade SciELO 1 Federal da Paraíba Catálogo de 10 7 produções vinculadas à


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Teses e Dissertações da CAPES

Universidade Federal da Paraíba, 1 produção vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1 vinculado à Universidade Federal de São Carlos e 1 vinculada à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Portal de Periódicos

6

CAPES

6 produções vinculadas à Universidade Federal da Paraíba

Fonte: elaboração própria. Como pode ser constatado, foram encontrados no total 17 resultados − provenientes da SciELO, Portal de Periódicos CAPES e Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES. Levando em consideração que a produção encontrada na busca realizada na base de dados da SciELO corresponde à uma das seis publicações encontradas na busca realizada no Portal de Periódicos CAPES, podemos sintetizar o resultado final da busca em apenas 16 resultados, como exposto no Quadro 10. Assim, chegamos a seguinte distribuição, apresentada na Tabela 2, que também pode ser examinada de maneira ilustrada no Gráfico 1. Quadro 10 – Síntese do resultado final e sua distribuição por instituição Bases de dados Quantidade de Distribuição das produções por produções Instituição 7 produções vinculadas à Universidade Federal da Paraíba, 1 Catálogo de produção vinculada à Universidade Teses e Federal do Rio Grande do Sul, 1 10 Dissertações da vinculado à Universidade Federal de CAPES São Carlos e 1 vinculada à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Portal de 6 produções vinculadas à Periódicos 6 Universidade Federal da Paraíba CAPES Fonte: elaboração própria.


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Tabela 2 – Instituições e produções vinculadas Instituição Quantidade de produções Universidade Federal da Paraíba Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal de São Carlos Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

13 1 1 1

Fonte: elaboração própria. Gráfico 1 – Distribuição das produções por instituição

Fonte: elaboração própria. Como pode ser observado, foram encontradas poucas produções sobre Extensão Popular − apenas 16 −, o que pode ser verificado na Tabela 2. Desse resultado identificado, constatou-se que mais de 80% da produção encontrada concentra-se vinculada à UFPB. Tal questão deixa ainda mais explícito o fato de que o termo Extensão Popular é realmente mais utilizado por produções oriundas de pessoas e grupos do estado da Paraíba. Contudo, será que isso representa com tanta concretude que apenas na Paraíba é utilizado o termo Extensão Popular ou que a Extensão Popular seja uma abordagem exclusiva da Paraíba?


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Como foi visto, encontrou-se uma produção vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma vinculada a Universidade Federal de São Carlos e uma à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, o que talvez possa quem sabe indicar que a concepção de Extensão Popular é algo que ainda pode estar sendo assimilado em outros estados. O que não descarta, de pronto, que não possa vir a ocorrer o seu desenvolvimento em outras localidades do Brasil, pois como foi exposto anteriormente, há experiências em lugares como Santa Catarina (SILVEIRA, 2008), Brasília (FONSECA; COSTA; NARDI, 2014), Rio Grande do Sul (ALMEIDA et al., 2014), Sergipe (BATISTA et al., 2014) e São Paulo (ASSUMPÇÃO; LEONARDI, 2016) que se reconhecem com o conceito de Extensão Popular. Como pode ser observado no Quadro 11, ao analisar a concepção de Extensão Popular das publicações, evidencia-se que temos duas intepretações – que não são excludentes em si, já que todas elas se remetem a Educação Popular. A primeira concepção, que aparece em 7 (6 do estado da Paraíba e 1 do estado de São Paulo) das 14 publicações analisadas, é a que compreende o conceito de Extensão Popular como a realização de um trabalho social útil que se orienta pelo referencial teórico-metodológico da Educação Popular. A segunda, que aparece em 6 (4 do estado da Paraíba, 1 do Rio Grande do Norte e 1 do Rio Grande do Sul) das 14 publicações, é a de que a Extensão Popular é a prática extensionista orientada com base nos aportes teóricometodológicos da Educação Popular. No tocante aos autores referenciados na ocasião de delineamento da concepção de Extensão Popular expressa nas publicações analisadas, os nomes de José Francisco de Melo Neto, Pedro José Santos Carneiro Cruz, Eymard Mourão Vasconcelos e Paulo Freire se destacam como os mais referenciados, seguidos por Emmanuel Fernandes Falcão, Katia Suely Queiroz Silva Ribeiro, Rossana Maria Souto Maior Serrano, Roberto Mauro Gurgel Rocha, Alder Julio Ferreira Calado e Maria Waldenez Oliveira.


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Quadro 11 – Produções com ênfase em suas concepções de Extensão Popular e os autores referenciados Título Autoria Instituição Concepção Referências Extensão popular na formação profissional em saúde para o SUS: refletindo uma experiência

Maria Francilene Leite; Katia Suely Queiroz Silva Ribeiro; Ulisses Umbelino dos Anjos; Patrícia Serpa de Souza Batista Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro

Universidade Federal da Paraíba

Extensão Popular como a prática extensionista orientada com base nos preceitos da Educação Popular

Eymard Mourão Vasconcelos; Katia Suely Queiroz Silva Ribeiro; José Francisco de Melo Neto; Pedro José Santos Carneiro Cruz

Universidade Federal da Paraíba

Paulo Freire; José Francisco de Melo Neto

Direito e marxismo: a política de qualificação para trabalhadores desempregados na experiência do MTD em João Pessoa A contribuição da Educação Popular para a formação profissional em saúde

Ítalo Giovanni Fernandes Correia; Liziane Pinto Correia; José Victor Figueiredo de Lucena

Universidade Federal da Paraíba

Extensão Popular como a Extensão pautada nos princípios da Educação Popular No artigo não há caracterização do conceito de Extensão Popular

Ética nas ações educativas e de cuidado em saúde

Patrícia Serpa de Souza Batista;

A experiência na extensão popular e a formação acadêmica em fisioterapia

Eymard Universidade Mourão Federal da Vasconcelos; Paraíba Pedro José Santos Carneiro Cruz; Ernande Valentin do Prado

Universidade Federal da Paraíba

Extensão orientada pela Educação Popular

Não há referência a proposta de Extensão ligada a nenhum autor

José Francisco de Melo Neto; Eymard Mourão Vasconcelos; Emmanuel Fernandes Falcão; Pedro José Santos Carneiro Cruz Extensão José orientada pela Francisco de Educação Melo Neto; Popular Pedro José


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orientadas pela Educação Popular

Extensão popular: caminhos para emancipação

Eymard Mourão Vasconcelos; Solange Fátima Geraldo da Costa Emmanuel Universidade Fernandes Federal da Falcão Paraíba

Na práxis da assessoria jurídica universitária popular: extensão e produção de conhecimento

Carla Miranda

Universidade Federal da Paraíba

Contribuições da extensão popular na educação de educadores: experiência, alteridade e dialogo Investigando práticas de extensão popular na Universidade Federal do Rio Grande

Andreia Barbosa dos Santos

Universidade Federal da Paraíba

Nicole Marques Feijó

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Extensão popular: a

Pedro Jose Santos

Universidade Federal da

Santos Carneiro Cruz

Extensão Popular enquanto um trabalho social útil, que se orienta com base nos princípios da Educação Popular

José Francisco de Melo Neto; Eymard Mourão Vasconcelos; Emmanuel Fernandes Falcão; Pedro José Santos Carneiro Cruz Extensão José Popular Francisco de enquanto um Melo Neto; trabalho social Emmanuel útil, que tem Fernandes na Falcão metodologia da Educação Popular o seu aporte inspirador Extensão José Popular como Francisco de um trabalho Melo Neto; social útil Eymard desenvolvido Mourão na perspectiva Vasconcelos da Educação Popular Extensão Katia Suely Popular como Queiroz Silva uma Extensão Ribeiro; José calcada na Francisco de proposta da Melo Neto; Educação Roberto Popular Mauro Gurgel Rocha; Paulo Freire Extensão Paulo Freire; Popular como José


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pedagogia da participação estudantil em seu movimento nacional

Carneiro Cruz

Paraíba

um trabalho social útil orientado pela concepção teórica, filosófica e metodológica da Educação Popular Extensão Popular como um trabalho social útil, identificado com a Educação Popular freiriana

Educação popular e formação em saúde na perspectiva do palhaço cuidador: estudo com base em um projeto de extensão A extensão popular em educação ambiental e seus processos educativos

Aldenildo Araújo de Moraes Fernandes Costeira

Universidade Federal da Paraíba

Tiago Zanqueta de Souza

Universidade Federal de São Carlos

Extensão Popular como um trabalho social útil atravessado e associado a dimensão do popular

Sobre a história da extensão universitária: o que os textos revelam e a prática desvela?

Francisco Xavier Dantas Lins

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

Extensão Popular: debatendo autonomia e participação em hortas urbanas no

Bruno Oliveira de Botelho

Universidade Federal da Paraíba

Extensão Popular como a ação extensionista inspirada no referencial da Educação Popular freiriana Extensão Popular como a realização de um trabalho social útil apoiado e inspirado na

Francisco de Melo Neto; Emmanuel Fernandes Falcão; Eymard Mourão Vasconcelos Paulo Freire; José Francisco de Melo Neto; Eymard Mourão Vasconcelos; Pedro José Santos Carneiro Cruz Paulo Freire; José Francisco de Melo Neto; Pedro José Santos Carneiro Cruz; Maria Waldenez Oliveira; Rossana Maria Souto Maior Serrano Paulo Freire; Rossana Maria Souto Maior Serrano

José Francisco de Melo Neto; Alder Julio Ferreira Calado; Pedro José


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PINAB/UFPB

concepção da Educação Popular

Santos Carneiro Cruz

Fonte: elaboração própria. Quadro 12 – Concepções de Extensão Popular com ênfase na quantidade de publicações e os respectivos estados de origem dos autores Concepções Estados Rio Grande Rio Grande Paraíba São Paulo do Norte do Sul Extensão Popular como trabalho social útil 6 0 0 1 orientado na perspectiva da Educação Popular Extensão Popular como ação extensionista 4 1 1 0 orientada com base na Educação Popular Fonte: elaboração própria. Diante do exposto, constata-se que as concepções do que vêm a ser uma Extensão Popular nas publicações, apresentam certos alinhamentos. Segundo Miranda (2010) e Souza (2017), a Extensão deve ser compreendida como um trabalho social útil em decorrência de que essa perspectiva pretende produzir novos conhecimentos e se propõe em atuar na ótica de transformar a realidade, por meio da alimentação das dimensões do Ensino e da Pesquisa com temas e demandas que sejam socialmente relevantes. Para Cruz (2013a), a produção de conhecimento deve se dar a partir da articulação entre Ensino, Pesquisa e Extensão, de acordo com os desafios e dificuldades sociais vivenciados pelos setores populares da sociedade. Ou seja, para a construção do conhecimento, é necessário um movimento contínuo de confronto com o mundo, tendo esse como “[...] fonte verdadeira de


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conhecimento, nas suas fases e nos seus níveis diferentes, não só entre os homens, mas também entre os seres vivos em geral” (FREIRE, 2015, p. 15). Nesse mesmo sentido, Falcão (2014a) salienta que, conceituar a Extensão como trabalho social útil, cuja intenção é de integrar as ações de Pesquisa e de Ensino com os desafios da realidade cotidiana em que vive grande parte da população, permite uma maior aproximação e vinculação da Universidade com o contexto de enfrentamento de tais problemáticas, apoiando suas lutas em busca da efetivação de direitos sociais. Na expressão de Botelho (2017, p. 82): [...] essas experiências denominadas de extensão popular se originam na realidade humana e abrem a possibilidade de infinitas ideias críticas para se criar também outro mundo, mais humanizado e com igualdade e justiça social. É o trabalho social transformando a natureza a partir da participação popular, e concomitantemente produzindo educação e cultura.

De acordo com a percepção de Cruz (2018), a dimensão da Extensão deve ser compreendida enquanto ponto de partida das ações acadêmicas, se o que se pretende é a construção de conhecimentos que permitam o delineamento de estratégias de superação dos processos de exclusão, exploração e injustiça social e que estejam verdadeiramente alinhados com um horizonte emancipatório, levando em consideração que a Extensão se constitui como um ambiente singular para a imersão de estudantes, docentes e técnicos no concreto vivido e na complexidade inerente as relações sociais que marcam a vida cotidiana. Além disso, ainda segundo esse autor, tal questão propicia: Um mergulho do qual, saindo encharcados e ensopados (nas palavras de Freire), os sujeitos acadêmicos poderão, de forma compartilhada com os sujeitos e protagonistas da realidade social, construir conjuntamente a definição de temas prioritários para se conhecer, questionar, discutir ou investigar (fazendo, portanto, a pesquisa) e poderão, com os aprendizados desenvolvidos nesses processos estudados, desvelar constatações, descobertas, aprendizados e conhecimentos úteis para o enfrentamento dos desafios da realidade em questão, os quais configurarão um aporte significativo de saberes para o bem viver e para a qualidade de vida, tudo isso através do ensino, pautado esse não pelas prioridades de grandes intelectuais ou pelas narrativas de grandes desbravadores científicos, mas pelos aprendizados e conhecimentos forjados a partir da investigação compromissada socialmente e construída com e não apenas para as pessoas ou até apesar das pessoas (CRUZ, 2018, p. 22-23).


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Segundo acentua Cruz (2010), a base pedagógica das experiências de Extensão Popular está alicerçada, justamente, na vivência de estudantes e professores com a realidade cotidiana das pessoas e grupos das classes populares, com a perspectiva de inserirem-se em distintas frentes de trabalho e interação comunitária, de modo que seja viabilizada a convivência com a comunidade, assim como com os seus sujeitos e suas realidades, e, também, com suas contradições. Como expresso por Oliveira (2013, p. 268-269): A experiência da Extensão Popular nos reafirma que a inserção de pessoas da Academia em outras comunidades significa, de um lado, juntar-se a elas, tomar parte das suas vidas e, de outro, ser por elas admitido. Isso não significa deixar-se anular, desfigurando seu papel e sua identidade, mas os enriquecendo e diversificando.

Para Freire (2015), toda ação desenvolvida no âmbito da Extensão deve ter seu benefício voltado para os reais sujeitos que trabalham para a sua própria realização humana. E que, sendo esse um encontro que apresenta em sua essência aspectos educativos, deve-se atentar para o fato de que toda ação pedagógica precisa estar de acordo com a realidade vivenciada pelo educando. Conforme destaca Cruz (2017a), um elemento metodológico fundamental para essas experiências de Extensão Popular é decorrente do fato de considerar o estudante enquanto sujeito construtor e coautor da experiência, para que ele tenha uma postura ativa, participativa e altiva, mesmo não possuindo conhecimentos técnicos especializados, o importante é valorizar os seus saberes de vida e sobretudo, estimular que esse tenha uma postura baseada no diálogo horizontalizado e no compromisso autêntico, assentado numa atitude de escuta qualificada. Em vista disso, Freire (2001, p. 42) sublinha que: “[...] você só trabalha realmente em favor das classes populares se você trabalha com elas, discutindo com respeito seus sonhos, seus desejos, suas frustrações, seus medos, suas alegrias”. Por conseguinte, consubstanciando e favorecendo esse entendimento, na interpretação de Araújo (2018), a Extensão Popular deve ser compreendida como um trabalho social útil que se efetiva por meio de: [...] uma ação crítica e por uma postura forjada na humildade e na solidariedade para com todos os homens e mulheres que vivem nos setores sociais subalternizados em situação de opressão, exclusão e sofrimento; e que com isto em vista, busca articular ações de ensino e de pesquisa que estejam alinhadas com a apreensão das


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dificuldades contidas na realidade vivenciada no campo popular, mobilizando de modo permanente esforços criativos para estabelecer uma verdadeira interação dialógica (participativa e horizontal), que propicie às pessoas exporem seus pensamentos, sentimentos, saberes e experiências de vida, viabilizando uma construção coletiva permeada pelo tensionamento ocasionado por este encontro e diálogo entre os distintos olhares e compreensões, na elaboração de conhecimentos uteis à construção de estratégias de superação e caminhos emancipatórios (ARAÚJO, 2018, p. 302).

Como destacou Melo Neto (2004), a Extensão Popular deve ser valorizada sob a perspectiva da produção (criação e recriação) de conhecimentos, transpondo a visão exclusiva que estabelece a Extensão enquanto mero momento de troca de seres (acadêmicos e populares). Paulo Freire (2015) já alertava, comentando que algumas ações de Extensão são executadas com base em uma estrutura relacional rígida e vertical, sem espaço algum para o diálogo, onde os sujeitos não têm direito de dizer sua palavra, estando apenas com o dever de escutar e obedecer. Segundo Freire (2013), o diálogo enquanto um fenômeno humano autêntico é a expressão do direito das pessoas de dizerem a sua palavra. A palavra verdadeira é práxis (ação e reflexão), que denuncia as coisas como estão e anuncia o novo, apresentando em seu interior um compromisso radical com a transformação do mundo. A palavra quando inautêntica, apresenta uma dicotomia entre os seus elementos constituintes (ação e reflexão), e quando um desses está ausente, não se pode transformar a realidade. Ao se afastar o elemento da ação, afasta-se também o da reflexão, sem a qual torna a palavra um verbalismo qualquer, um “blábláblá”. Ao se excluir a reflexão, de maneira em que se priorize a ação pela ação, converte-se a palavra em ativismo puro e simples, o qual inviabiliza o diálogo autêntico e o exercício de uma práxis verdadeira (FREIRE, 2013). Para Vasconcelos (2017), o grande desafio de iniciativas alinhadas com a concepção da Educação Popular se deve pelo fato de ser imprescindível a sua realização o estabelecimento de um processo permanente de construção dialógica de propostas, com o entendimento de que o verdadeiro objetivo é, para além de se obter uma resposta adequada para o problema de saneamento básico de uma favela, conseguir promover a ampliação das redes de solidariedade local, fortalecendo o protagonismo social de seus sujeitos e grupos, assim como estimular a elevação da capacidade de análise crítica


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sobre a realidade, com a ótica de apoiá-los no processo de conscientização e capacitação para outras ações e lutas. Para Miranda (2010), a denominação de Extensão Popular se origina por ocasião do crescimento continuo do número de experiências extensionistas que expressam uma clara opção política, alinhada com a ótica de apoiar os processos de organização e fortalecimento da classe trabalhadora. Conforme essa autora: A adjetivação da extensão como popular caracteriza um tipo de extensão desenvolvida com a metodologia da educação popular freireana, ressaltando a intencionalidade em sentido ético libertador e o movimento dialético permanente de compreensão e transformação da realidade (MIRANDA, 2010, p. 134-135).

De acordo com Falcão (2014a), essa perspectiva de Extensão encontra na concepção da Educação Popular elementos filosóficos, teóricos e metodológicos para fundamentar e aprimorar as discussões em torno de como suas ações serão estruturadas, aplicadas e avaliadas. Extensão Popular como a prática extensionista baseada nos preceitos teórico-metodológicos da Educação Popular, com uma intencionalidade política explícita, em que aspectos como o diálogo, a autonomia, o compartilhar de experiências, o respeito a cultura e a valorização do saber popular são tidos como princípios fundantes, como ressaltado também por Ribeiro (2009) e Leite et al. (2014). Na intepretação de Souza (2017), fazer Extensão Popular é alimentar uma

interpretação

teórica

e

epistemológica

no

campo

da Extensão

Universitária, o qual tenha capacidade de suscitar trilhas possíveis para a inauguração de outras realizações a partir da interação universidadesociedade. Extensão Popular compreendida como o direcionamento do pensar e fazer acadêmicos comprometidos socialmente, em vista de efetivar uma mudança significativa em ambos os sentidos dessa relação que se estabelece entre a instituição universitária e a sociedade − seja do ponto de vista dos extensionistas indo ao encontro da população, como da população adentrando os muros da Universidade (FEIJÓ, 2011). Isso quer dizer que a instituição universitária por meio da Extensão Popular obtém um canal de comunicação com a sociedade, espaço em que ocorre a mediação entre os diferentes tipos de saberes (SOUZA, 2017).


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De tal modo, como salienta Melo Neto (1997), a Extensão Popular tem como uma de suas preocupações fundamentais, a devolução dos resultados do trabalho social à comunidade de onde esse se originou, fazendo com que essas pessoas se tornem possuidoras de novos saberes ou de saberes rediscutidos, os quais serão utilizados pelos sujeitos em seus movimentos de reivindicação e emancipação. Superando, assim, a dicotomia existente entre teoria e prática. Devido a isso, justificamos a necessidade de se investir e valorizar a utilização

de

estratégias

metodológicas

que

viabilizem

a

construção

compartilhada de conhecimentos. Em vista disso, o diálogo é um elemento fundante. Contudo, como destacou Vasconcelos (2017), não é um diálogo ardiloso que se abre para a escuta apenas com o intuito de identificar a estratégia e a linguagem mais apropriadas para transferir do modo mais eficaz possível um conjunto de “verdades”, mas sim um diálogo assentado na humildade e no reconhecimento autêntico do educador da limitação de seu saber. Nesse sentido, resulta fundamental estar atento para aspectos como esse, sob a ótica de distanciar-se de possíveis práticas, pois como foi explicitado por Valla (2014, p. 41): Quantas vezes se pede para a população se manifestar numa reunião, como prova do nosso compromisso com a “democracia de classe média”. Mas uma vez passada a fala popular, procuramos voltar “ao assunto em pauta”, entendendo que a fala popular foi uma interrupção necessária, mas com certeza, sem conteúdo e sem valor.

No decorrer da vida, na luta cotidiana pela sobrevivência e na busca de transformação de sua realidade, as pessoas passam a ter entendimento em relação a sua inserção social. Essa bagagem de experiências e conhecimento prévio é ponto de partida e matéria-prima do processo de educação popular. Tal perspectiva de valorização do saber anterior possibilita que o sujeito sintase à vontade e possa manter a sua atitude e espontaneidade, não reproduzindo,

assim,

a

passividade

inerente

das

práticas educativas

tradicionais. Para tanto, cabe destacar que não é suficiente que o conteúdo trabalhado tenha um teor “revolucionário” se em contrapartida o momento de discussão for conduzido de forma vertical, já que tal forma de condução alimentará uma postura e atitude de submissão (VASCONCELOS, 2011a).


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Como salientou Freire (2013), a realidade social em sua concretude é produto da ação do ser humano. Ela não existe por obra do acaso e também não se transformará por acaso. Tendo em vista a compreensão de que são os seres humanos que produzem essa realidade e, se essa realidade, em um movimento inverso se volta sobre os mesmos e os condiciona, buscar a transformação da realidade opressora não é nada mais do que uma tarefa histórica dos homens e das mulheres. Ainda segundo ele: Num pensar dialético, ação e mundo, mundo e ação, estão intimamente solidários. Mas, a ação só é humana quando, mais que um puro fazer, é um que fazer, isto é, quando também não se dicotomiza da reflexão (FREIRE, 2013, p. 57).

A esse respeito, Falcão (2014a) refere que é justamente a essa dimensão de integração entre teoria e prática que deve ser ressaltado ao falar de Extensão Popular. Para ele, o termo popular é: [...] uma adjetivação que explicita também, como práxis, a dimensão teórica de toda prática social, e por isso, a relevância da produção de conhecimento na extensão. É nessa perspectiva que podemos definitivamente refutar práticas assistencialistas na universidade e exigir que ela se reconstrua em relação dialógica no confronto com a realidade concreta (FALCÃO, 2014, p. 50-51).

Consubstanciando com isso, Feijó (2011) indica que: Como popular, a extensão não só transcende os muros institucionais a partir da indignação frente à realidade do oprimido, como acaba com esses muros, não para depositar seu conhecimento no povo, mas sim para construir um conhecimento recíproco envolvendo massas e intelectuais orgânicos, ou educadores e educandos (FEIJÓ, 2011, p. 76).

Nesse sentido, para Melo Neto (2011a, p. 414): “A extensão popular vem trazendo uma ampliação do que mesmo seja o popular, ao permitir a expressão das relações populares dentro da própria universidade”. Ainda, segundo ele: [...] hoje compreendemos que a nossa aula num doutoramento, numa graduação, num mestrado, pode ter sim elementos populares, pois o popular ganha sentido como forma de relacionamento com o outro de forma não autoritária. E aí não há ambiente para não ser autoritário. Qualquer ambiente é útil para que a gente exerça os não autoritarismos (MELO NETO, 2011a, p. 414).

Conforme expôs Feijó (2011), a ação sob a perspectiva da Extensão Popular tem que ser traduzida na estruturação de propostas que contribuam com o processo de organização das pessoas e da também da própria


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instituição universitária, por meio de um trabalho de construção coletiva de novos significados pautado em uma aprendizagem mútua, que seja crítica e que tenha capacidade de promover a constituição de ações que venham a contribuir para a construção de uma sociedade justa, sem discriminações e desigualdades. Na acepção de Ribeiro (2009), a concepção da Extensão Popular busca superar o que Paulo Freire em sua crítica a Extensão denomina de equívoco gnosiológico. Na análise de Freire, o termo “extensão” remete a ideia de que o conhecimento será estendido desde aqueles que se julgam possuidores de um determinado saber que deve ser transferido àqueles que se julgam nada saberem. Em sua crítica, Freire indica que é preciso conceber a prática extensionista como uma prática educativa dialógica, o qual considere as pessoas como sujeitos históricos e de transformação. Como destacado por Ribeiro (2009), a concepção de Extensão Popular parte desse entendimento exposto por Freire, entretanto, avança no que diz respeito a necessidade de uma intencionalidade política. De acordo com Feijó (2011, p. 77-78): [...] a extensão popular pode ser entendida como o conjunto de ações de caráter ético/político orientado para o diálogo e/ou compartilhar de saberes entre comunidade e universidade; a intencionalidade destas ações não se reduz a conectar ensino e pesquisa, mas a propor uma vida mais justa e humana ao mesmo tempo em que torna aqueles que dela participam sujeitos sociais mais autônomos e emancipados.

Como destacou Melo Neto (2014), o elemento marcante de tais processos educativos se deve pela dimensão do comprometimento e do engajamento coletivo de ambos (educandos e educadores) sob um ponto de vista de superação da dominação, articulando os meios e os fins. De acordo com Vasconcelos (2017), não é suficiente que o educador proclame apenas a sua intenção de estabelecer uma ação educativa regida por um ideal dialógico e libertador, faz-se necessário que o mesmo saiba implementá-la de acordo com cada contexto, pois a força da prática educativa reside justamente na correta forma de saber direcioná-la a serviço da busca infida por ser mais que existe no interior de cada um dos educandos, dando a devida importância aos saberes acumulados e reconhecendo os modos bem próprios de cada sujeito em construí-los.


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Dando seguimento, a partir do estudo realizado é possível reconhecer que o termo Extensão Popular não tem sido muito utilizado como forma de identificar tais práticas, em decorrência da pequena quantidade de publicações encontradas, o que pode estar relacionado com o fato de que a terminologia extensão popular não é conceituada como uma palavra-chave ou descritor comum, observado pelo número pequeno de produções encontradas, o que reflete diretamente para que se possa encontrar estudos que utilizem tal termo. Por essa perspectiva, como a expressão não é uma palavra-chave consolidada, podem existir mais publicações que foram subnotificadas pelo fato de não utilizarem o termo. Por exemplo, existem experiências que se identificam com a expressão Extensão Popular, mas que em publicações utilizam descritores como Extensão Universitária e Educação Popular. Como pode ser visto no Quadro 13, ao analisar as palavras-chaves utilizadas por 14 das produções encontradas na investigação realizada, chegamos ao resultado de que apenas 7 das produções utilizam o termo extensão popular como palavra-chave, o que representa um total de 50%.

Quadro 13– Produções com ênfase em suas respectivas palavras-chave Título Autoria Palavras-chave Extensão popular na Maria Francilene Leite; Educação popular; formação profissional Katia Suely Queiroz Extensão popular; em saúde para o SUS: Silva Ribeiro; Ulisses Formação universitária refletindo uma Umbelino dos Anjos; em saúde; Sistema experiência Patrícia Serpa de Souza Único de Saúde Batista A experiência na Kátia Suely Queiroz Fisioterapia; Educação extensão popular e a Silva Ribeiro popular; Extensão formação acadêmica universitária; Atenção em fisioterapia primária Direito e marxismo: a Ítalo Giovanni Assessoria Jurídica política de qualificação Fernandes Correia; Popular; Qualificação para trabalhadores Liziane Pinto Correia; profissional x mercado desempregados na José Victor Figueiredo de trabalho; Políticas de experiência do MTD em de Lucena reserva de mercado João Pessoa Ética nas ações Patrícia Serpa de Souza Ética; Saúde; Cuidado; educativas e de cuidado Batista; Educação Popular em em saúde orientadas Eymard Mourão Saúde pela Educação Popular Vasconcelos; Solange Fátima Geraldo da Costa Extensão popular: Emmanuel Fernandes Extensão;


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caminhos para emancipação Na práxis da assessoria jurídica universitária popular: extensão e produção de conhecimento

Falcão

Contribuições da extensão popular na educação de educadores: experiência, alteridade e dialogo Investigando práticas de extensão popular na Universidade Federal do Rio Grande O trabalho em saúde junto ao SUS a partir da experiência na extensão popular: desafios e potencialidades

Andreia Barbosa dos Santos

Carla Miranda

Nicole Marques Feijó

Maria Francilene Leite

Extensão popular: a Pedro Jose Santos pedagogia da Carneiro Cruz participação estudantil em seu movimento nacional Educação popular e Aldenildo Araújo de formação em saúde na Moraes Fernandes perspectiva do palhaço Costeira cuidador: estudo com base em um projeto de extensão A extensão popular em Tiago Zanqueta de educação ambiental e Souza seus processos educativos Sobre a história da Francisco Xavier Dantas extensão universitária: o Lins que os textos revelam e a prática desvela? Extensão Popular: Bruno Oliveira de debatendo autonomia e Botelho participação em hortas urbanas no PINAB/UFPB Fonte: elaboração própria.

Emancipação; Organização Assessoria Jurídica Universitária Popular; Extensão Popular; Produção de Conhecimento; Metodologia Educação de Educadores; Extensão Popular; Experiência; Alteridade; Diálogo

Universidade; Sociedade; Extensão popular; Educação; Povo Educação Popular; Extensão Popular; Sistema Único de Saúde; Trabalho em Saúde; Análise Multivariada Formação universitária; Extensão universitária; Educação popular; Movimentos sociais Palhaço cuidador; Formação em saúde; Educação popular

Processos educativos; Extensão Popular; Educação Ambiental. Aprendizagem; Extensão Comunitária; Universidade Extensão Popular; Agricultura Urbana; Autonomia e Participação Popular


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No tocante ao número significativo de publicações de Extensão Popular serem oriundas do estado da Paraíba, um aspecto a ser evidenciado é o histórico da instituição, já que tais achados também podem ser justificados por algumas razões, tais como pelo fato de na UFPB existir um Programa de PósGraduação em Educação (PPGE/UFPB) com uma linha de pesquisa específica em Educação Popular, a qual tem produzido muitas dissertações e teses com base em estudos que tem a Extensão enquanto objeto de investigação (RIBEIRO, 2001; 2007; CRUZ, 2010; 2015; BATISTA, 2012; PINHEIRO, 2012; SERRANO, 2012; SILVA, 2013; FALCÃO, 2014a; SANTOS, 2015; BOTELHO, 2017); assim como por na UFPB existir desde o ano de 1997 o Grupo de Pesquisa em Extensão Popular (EXTELAR), que foi criado a partir da confluência de elementos teóricos e práticos imbrincados nas ações de Extensão desenvolvidas tanto pela UFPB como por outras instituições no estado da Paraíba e fora dele. Além disso, foi no estado da Paraíba onde se realizaram os dois Seminários Nordestinos de Pesquisa em Extensão Popular (realizados em novembro de 2006 e outubro de 2007, respectivamente), o Seminário Nordestino de Extensão Popular (em outubro de 2007) e as três edições do Seminário Nacional de Pesquisa em Extensão Popular (em novembro de 2009, novembro de 2013 e novembro de 2016), eventos organizados pelo Grupo EXTELAR juntamente com a ANEPOP, que tem em seu objetivo de aprofundar diálogos e reflexões sobre os caminhos e desafios da produção de conhecimentos a partir do mergulho na realidade social ocasionado pelas experiências de Extensão Popular. A esse respeito, é relevante destacar o salientado por Melo Neto (2011a), segundo ele: Foi na Paraíba que vi maior radicalidade de grupos da extensão, conduzindo para as dimensões políticas da vida social. Um esforço próprio para o encaminhamentos de ações que incentivem as pessoas, elas mesmas a tentarem superar e transcender suas difíceis situações de vida. Uma busca de rompimento com aquele estilo de vida do que está estabelecido e que não se pode modificar. O esforço de transcender suas vidas para melhores ambientes (MELO NETO, 2011a, p. 407).

Outro fato bastante importante a esse respeito, é o de que o termo “Extensão Popular” foi cunhado e fundamentado teoricamente pelo Prof. José


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Francisco de Melo Neto, professor aposentado da UFPB, ex-docente do PPGE e ex-coordenador do EXTELAR. Nesse horizonte, conforme fundamentado por Melo Neto (2014), a atividade de Extensão deve ser compreendida como um trabalho social útil − e sendo a ação extensionista realizada em uma realidade concreta permeada pela dimensão popular, ela precisa ter a sua origem e o seu direcionamento voltado para atender aos interesses desses setores sociais, deixando explícito o seu papel político em favor desses sujeitos e grupos, fundando sua atuação com base em aspectos metodológicos que sejam condizentes com a promoção do diálogo e a realização do exercício crítico de cidadania, calcado em uma atitude propositiva-ativa. Isto é, uma Extensão que tem enquanto fundante de sua atuação a dimensão do popular. Ou seja, uma Extensão Popular. A esse respeito, segundo Melo Neto (2014, p. 47): Ao assumir a dimensão do popular, o conceito de extensão passa a considerar as dimensões fundantes do adjetivo como a origem e o direcionamento das questões que se apresentam; o componente político essencial e norteador das ações; e, com especial destaque, o popular expresso por metodologias que apontem encaminhamentos de ações, acompanhadas de seus aspectos éticos (diálogo, solidariedade, tolerância, coletivo...) e utópicos (autonomia, liberdade...) que, para os dias de hoje, tornam-se uma exigência social.

Não obstante, o que ocorreu em realidade foi que o trabalho realizado pelo Prof. José Francisco de Melo Neto deu maior suporte teórico-metodológico para algo que já vinha sendo desenvolvido por variados atores e grupos universitário por diversos lugares do Brasil, como relatado em Cruz (2010) e Cruz (2013a). À visto disso, o próprio Cruz (2010) expressa que: No início dos anos 2000, avança a produção analítica e crítica deste campo da extensão, repercutindo em debates e produções teóricas, com base principalmente em estudos organizados pelo professor José Francisco de Melo Neto. [...] este autor sistematizou bases filosóficas para uma maior compreensão das bases éticas e teóricas sustentadoras da proposta de extensão popular, situando no campo conceitual as críticas deste modelo às outras perspectivas extensionistas e à universidade como um todo (CRUZ, 2010, p. 124).

Entretanto, na ocorrência da criação da ANEPOP no ano de 2005, o termo Extensão Popular foi utilizado sem ter ligação direta com o que havia sido elaborado pelo Prof. Melo Neto, o que pode ser observado no relato de Cruz (2010):


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[...] mesmo esta denominação tendo sido contemplada em estudos do Prof. José Francisco de Melo Neto, foi com a orientação dos professores presentes que o termo “extensão popular” se tornou bandeira do movimento neste evento. Tanto na mesa redonda, como na reunião de fundação da Articulação, os professores trouxeram elementos teóricos e filosóficos capazes de respaldar a opção do movimento em explicitar a extensão popular como seu jeito e seu tipo de extensão (CRUZ, 2010, p. 140).

Isto é, o processo de delineamento da concepção de Extensão Popular parte de um duplo caminho, que é a partir tanto dos estudos desenvolvidos pelo Prof. Melo Neto quanto das reflexões estabelecidas por outros sujeitos e coletivos envolvidos em práticas extensionistas. Diante disso, Cruz (2010) comenta: Em paralelo, emergiram outras produções teóricas, as quais partiram principalmente de reflexões provindas do concreto das práticas de extensão popular. Ademais, ganharam repercussão também as produções teóricas que davam enfoque a contribuição da extensão popular na ressignificação da atuação profissional em algumas áreas do saber, na medida em que os projetos conseguiam experimentar metodologias e novas ações capazes de ser desenvolvidas não apenas em nível extensionista, mas na atuação profissional cotidiana. (CRUZ, 2010, p. 124).

Todo esse processo, teve um papel importante para o fortalecimento e qualificação permanente das ações reconhecidas com a proposta de Extensão Popular, pois como indica Cruz (2010), essas eram um conjunto de práticas que já vinham sendo desenvolvidas, mas que careciam de subsídios filosóficos e teórico-metodológicos mais sistematizados para fundamentá-las, contribuindo com a sua avaliação crítica e para a reconstrução e qualificação de suas ações. De acordo com Cruz (2010): [...] a propagação nacional da Extensão Popular oportunizada pela ANEPOP trazia consigo uma demanda significativa por elementos teóricos e metodológicos capazes de subsidiar as iniciativas que surgiam em todo o país, especialmente em locais sem muita tradição neste campo. Em outros, onde já havia experimentos na linha da educação popular, era necessário maior aprofundamento, através de análises das metodologias das experiências, gerando subsídios concretos para oferecer aos extensionistas avaliações críticas e contrapontos às suas ações, capazes de lhes permitir galgar avanço e qualificação de suas empreitadas. [Além de que] [...] na medida em que se multiplicavam os debates dos membros da ANEPOP com atores sociais com pensamentos e propostas de extensão distintas da extensão popular, ou semelhante mas com algumas especificidades diferentes, crescia a demanda por ter sistematizados os procedimentos metodológicos, os elementos filosóficos, as balizas


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teóricas e as repercussões concretas destas experiências (CRUZ, 2010, p. 181).

É importante salientar que, dizer que essas ações eram simplesmente orientadas pela concepção da Educação Popular não era algo suficiente. Pois deixava o conceito de Extensão aberto e sem horizontes suficientemente claros. Apesar de ser algo já desenvolvido e aprimorado tanto no Brasil como por vários países da América Latina e Caribe, o conceito de Educação Popular ainda é algo polissêmico, e mesmo fazendo a sua devida conceituação e qualificação,

a

Educação

Popular

se

destaca

enquanto

um

recorte

epistemológico do campo da Educação, com princípios teórico-metodológicos e ético-políticos. Claro que a educação (enquanto processo de ensino-aprendizagem) permeia todos os espaços da vida, no entanto, para a condução das ações de Extensão Universitária é necessário pensar em elementos que sejam condizentes com a sua fundamentação, compreendendo que as práticas de Extensão são variadas, não cabendo apenas sob uma ótica regida pela ideia de ação educativa em stricto sensu. Realiza-se tal pronunciamento em virtude da compreensão de que na Universidade existem três dimensões distintas − que devem manter relação entre si de forma indissociável, mas contudo, essas dimensões precisam ser compreendidas de forma diferenciada −, o Ensino, a Pesquisa e a Extensão. Nessa direção, um aspecto que pôde contribuir para a constituição de uma nova formulação conceitual para a Extensão foi inicialmente caracterizando-a como um trabalho13. Assim, sendo a Extensão concebida como trabalho, pressupõe-se que a partir da execução desse trabalho, que resulta em uma ação deliberada, obtenha-se um produto, que poderá ser direcionado para gerar transformação − em razão de que é pelo trabalho que o ser humano vai transformando a natureza e criando cultura, modificando a realidade humana e construindo um mundo que poderá, deveras, ser mais humano (MELO NETO, 1996). Nessa prospecção é que vai se delineando a compreensão de Extensão

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Tal alusão da Extensão como trabalho pode ser observada na primeira conceituação apresentada pelo FORPROEX, em seu documento de 1987, onde figura que “[...] a extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social” (FORPROEX, 1987, p. 11, grifo nosso).


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como um trabalho social útil, como fundamentado por Melo Neto em livros como Extensão universitária é trabalho (2004) e Extensão popular (2014). Se não é necessário pensarmos a Extensão sob uma perspectiva epistemológica (como uma teoria em construção), na ótica de estruturar uma concepção teórica que lhe sustente e lhe diferencie, deixando apenas estabelecido que é uma iniciativa orientada pela concepção da Educação Popular, não seria como dizer que a dimensão da Extensão é a mesma coisa que a do Ensino? Afinal, o que diferencia uma atividade de Ensino de uma atividade de Extensão? O que é apropriado de ser aplicado no campo do Ensino pode ser replicado da mesma forma (ipsis litteris) no campo da Extensão? Tal fato não deixaria transparecer uma ideia de que a Extensão e o Ensino seriam a mesma coisa? Nesse sentido, há necessidade de chamar com termos distintos o que na prática seria a mesma coisa – denominar de Extensão o que seria igual ao Ensino? Dar nomenclaturas diferentes para a mesma coisa? É importante que façamos uma clara distinção entre o que é Educação Popular e o que é Extensão Popular. Educação Popular e Universidade são entes separados, mas que se entrecruzam. O advento da Extensão Popular só é possível por meio da ocorrência desse encontro e união, como exposto no diagrama contido na Imagem 1. As práticas de Educação Popular podem ser desenvolvidas em qualquer local, não tendo que, necessariamente, ter a participação de pessoas vinculadas a determinadas instituições sociais. Isto é, a Educação Popular existe independente da Universidade. Na acepção de Calado (2014), a Educação Popular pode ser definida como: [...] um processo formativo concernente às camadas populares, que envolve diferentes protagonistas, parceiros e aliados e supostos aliados, animados por diferentes – e, às vezes, antagônicas – motivações, perspectivas, procedimentos e posturas ético-políticos e pedagógicos (CALADO, 2014, p. 359).

Dito isso, podemos compreender a Educação Popular como o esforço de mobilização, organização e capacitação dos setores populares, realizado pelo próprio povo, em que a figura do educador é convidada a participar em contribuição com elementos de seu conhecimento, estando essa relação


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direcionada a serviço de um trabalho político com um horizonte em comum − a prerrogativa de fortalecer o poder popular, por meio da construção coletiva de um saber de classe (FREIRE; NOGUEIRA, 1993; BRANDÃO; ASSUMPÇÃO, 2009). No tocante a Extensão Popular, essa remete a atuação (formal ou informal) de sujeitos ou grupos vinculados a Universidade (ou algum outro tipo de instituição) na realização de um determinado trabalho social que expresse sua utilidade e intencionalidade de forma clara, objetivando desencadear e/ou apoiar processos de educação popular. Para tanto, os aportes teóricometodológicos da concepção de Educação Popular são elementos fundantes para o delineamento dessa atuação. Como salientado por Melo Neto (2011b), em seu aporte teórico e prático, a Educação Popular traz metodologias incentivadoras à participação social e ao empoderamento, tanto individual quanto coletivo. Essa perspectiva apresenta conteúdos próprios e técnicas de avaliação

contínua,

transpassada

por

base

política

estimuladora

de

transformação social e norteada por uma ânsia humana por liberdade, justiça e igualdade. Imagem 1 – Diagrama representando a diferenciação entre Educação Popular e Universidade e a sua aproximação − momento em que a Extensão Popular acontece

Fonte: elaboração própria. Conforme sublinhou Cruz (2017b, p. 23): “Falar de Extensão Popular é falar de um referencial diferente de extensão – identificado com a busca por um referencial humano, democrático e justo”. E continua, asseverando que:


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Falar de Extensão Popular é falar de reflexão crítica sobre as práticas sociais, inclusive sobre nós mesmos. Portanto, estamos nos referindo a uma crítica profunda ao modo dominante como a Extensão vem sendo realizada. E, para além da crítica, já apontamos uma possibilidade, que toma corpo noutro tipo de extensão, a Extensão Popular (CRUZ, 2017b, p. 24).

Por fim, destaca-se que, chamar a Extensão de popular é diferenciá-la de outras concepções e não somente isso, é também qualificá-la. A Educação Popular é uma concepção que apresenta princípios, dimensões teóricas e metodológicas que servem como horizonte, como inspiração, como balizas éticas para as práticas de Extensão, em vista de que essas alcancem seus objetivos sob um ponto de vista popular. A esse respeito, é relevante destacar o mencionado por Cruz (2018) ao salientar que: [...] a denominação Extensão Popular somente veio a ser consolidada há poucos anos. E, ao contrário do que pode parecer, não é apenas uma nova configuração ou qualificação para a extensão ou outro “jeito de fazer” extensão universitária, mas uma perspectiva teórica e um recorte epistemológico da extensão, que traz não apenas metodologias, mas intencionalidades distintas para esse campo acadêmico (CRUZ, 2018, p. 18).

O primeiro registro de utilização do termo “extensão popular” é encontrado no documento da Universidade do Distrito Federal, fundada em 1935. De acordo com tal documento, em seu artigo 2, entre os fins da função da Universidade, se sobressai a prerrogativa de “propagar as aquisições da ciência e das artes, pelo ensino regular de suas escolas e pelos cursos de extensão popular” (DISTRITO FEDERAL, 1935). Contudo, como ressaltou Fleuri (1989), apesar de ser cognominada de “popular”, o que ocorria na prática era que somente quem participava de tais atividades eram pessoas vinculadas à Universidade ou por ela formados. Em tal sentido, ficava evidente que embora a Extensão fosse uma forma de ampliar o compromisso social da instituição universitária, o que ela se tornou, de fato, foi em algo dito ser em nome das classes populares, mas o que ocorreu na prática foi em total benefício das classes dominantes. Ao contrário disso, hoje, a Extensão é adjetivada com o termo popular não para mostrar de modo indicativo que ela seja em sua essência naturalmente “popular”, mas sim de que ela apresenta esse adjetivo para lembrar-nos de que devemos estar permanentemente buscando atingir tal


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objetivo: fazer das práticas de Extensão um exercício crítico de cidadania entendendo o porquê do papel político de estar a favor e em defesa dos direitos e interesses das classes populares, com o direcionamento das ações extensionistas voltadas para beneficiar estas pessoas e grupos, na busca pela edificação de uma sociedade mais solidária, democrática, equânime e banhada pela justiça. Não obstante, reiteramos o mencionado por Melo Neto e Cruz (2017), ao discorrerem sobre a necessidade da compreensão da Extensão enquanto um dos princípios fundantes do quefazer universitário, em decorrência de que por meio dela se faz possível o encontro com as pessoas e com o mundo concreto. Para esses autores: Se compreendermos a extensão como algo muito maior do que um pilar acadêmico, poderemos enxergá-la, como proposto por Paulo Freire, como comunicação, como um encontro com o outro e com a outra para uma confrontação de saberes visando à construção solidária, amorosa, participativa e compartilhada de novos horizontes para a vida. É com base nessa compreensão que defendemos, pela concepção de extensão popular, que a extensão é um ponto de partida do fazer acadêmico. Isso quer dizer que o encontro humano e a inserção compromissada e cotidiana em uma realidade social devem ser o começo de qualquer processo de construção de conhecimentos (MELO NETO; CRUZ, 2017, p. 257).


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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pôde ser observado ao longo deste manuscrito, no contexto acadêmico, apesar de ainda predominarem percepções da Extensão Universitária como uma atividade assistencialista ou com uma perspectiva mercantilista, movimentos contra-hegemônicos vêm apontando a emergência de novas possibilidades e caminhos teórico-práticos na execução de ações nesse âmbito − em que o aporte da Educação Popular tem se destacado como elemento fundante e reorientador do trabalho social universitário. A ação extensionista orientada pela concepção da Educação Popular não é algo que ocorreu há pouco tempo. Essas iniciativas foram sendo constituídas e aperfeiçoadas ao longo de algumas décadas, singularmente, em variados países da América Latina, particularmente inspiradas a partir de iniciativas ligadas a grupos e partidos com perfil político e ideológico de esquerda, assim como setores da Igreja Católica de cunho progressista, tendo como eixo principal a ação comunitária forjada no seio das classes populares, permeada por elementos como: diálogo horizontalizado, problematização da realidade, respeito pela cultura popular, valorização da experiência anterior das pessoas e posição política de cunho crítico direcionada para o enfrentamento de toda e qualquer forma de opressão. Em tal sentido, fica evidente que a Educação Popular tem se apresentado no contexto universitário de forma singular e marcante, apontando dentro do terreno de disputas de concepções de Extensão a consciência de que se faz necessário mirar as iniciativas da instituição universitária no processo de transformação social. Apesar da expressão “Extensão Popular” ser uma designação recente e observada de forma mais contundente no estado da Paraíba, isso não descarta a possibilidade de que tal abordagem venha a ser desenvolvida em outras regiões do Brasil. A Extensão Popular é uma perspectiva extensionista que pode ser desenvolvida em qualquer realidade, já que a mesma não é delimitada territorialmente, mas sim teórico-metodologicamente. Ao analisar a conceituação de Extensão Popular contida nos trabalhos investigados, constata-se que a perspectiva da Extensão Popular tem sido relacionada com aspectos muito caros a Educação Popular, tais como: diálogo;


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autonomia; valorização do saber popular; respeito a cultura; compreensão das pessoas enquanto sujeitos históricos; construção compartilhada; participação popular; intencionalidade política; transformação da realidade etc. No tocante a sua conceituação propriamente dita, nessa tem sido apontada a necessidade da compreensão da Extensão como um trabalho social útil, a importância da articulação das ações extensionistas com as dimensões do Ensino e da Pesquisa, a premência da caracterização da Extensão como “popular”, a primordialidade da integração entre teoria e prática, dentre outros. Em suma, podemos dizer que ao analisar as publicações de Extensão Popular encontradas pelo presente estudo, verifica-se que essas compartilham do mesmo ponto de vista quando apontam a Educação Popular como referencial teórico-metodológico da prática extensionista. De tal modo, concebemos a Extensão Popular enquanto uma teoria em construção – isto é, dotada de um necessário processo contínuo de reflexão, aprofundamento, compreensão e construção. Evidencia-se o caráter de a Extensão ser, efetivamente, um espaço profícuo para o anunciar de novas práticas, da reformulação de abordagens formativas e de experimentações metodológicas. Ainda, enfatiza-se a necessidade do incremento e incentivo a sistematização de experiências e produção de conhecimentos no campo da Extensão Popular. Mesmo reconhecendo a existência e disponibilidade de um número significativo de livros que tratam da temática da Extensão Popular, sabe-se que nem todas as pessoas que venham a se interessar sobre essa temática terão condições de acessar tais produções. Ao buscar estudar sobre determinada temática, é comum que se recorra a bases de dados eletrônicas como as utilizadas no presente estudo. E nesse caso, ficou perceptível que o leque de artigos relacionados com a temática da Extensão Popular disponíveis em periódicos científicos é muito pequeno. Reconhecemos os limites do estudo em questão, no tocante a termos nos restringido em trabalhar apenas com a expressão “extensão popular” e com a busca em três bases de dados. Em vista disso, salientamos que a ampliação futura do presente estudo se faz pertinente, de modo a englobar outras bases de dados e utilizar outras formas de busca e análise, assim como


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acrescentando termos que possam viabilizar um maior aprofundamento sobre a temática, por exemplo cruzando expressões como “movimentos populares”, “cultura popular”, “animação popular”, “ação cultural”, entre outras. Ademais, se sobressai a perspectiva de superação da compreensão da Extensão como tradicionalmente ele foi sendo desenvolvida pela Universidade, de maneira colonizadora, por meio de um movimento que vai de dentro da instituição universitária para fora, em uma ótica de invasão cultural e dominação. Nesse sentido, é preciso repensar e questionar a posição que tem estabelecido o conhecimento acadêmico científico como uma verdade universal, subestimando e desvalorizando as outras formas de saberes existentes. Nenhum saber se constitui de maneira isolada ou de forma autossuficiente, os saberes se constroem de modo relacional e são complementares. Por fim, destacamos que este estudo foi também um exercício de reflexão sobre a temática que ao mesmo tempo possibilitasse a inteligibilidade das possíveis concepções em torno da Extensão Popular. Tal esforço não pretendeu criar distinção ou fragmentações que venham a dificultar a aproximação e diálogo entre as diferentes compreensões sobre a prática extensionista orientada com base na Educação Popular. Muito menos intenciona-se a criação de uma imensidão de especificidades e nomenclaturas que acabem dificultando a nossa aproximação e nos mantendo em espaços próprios de organização. Como foi referido, a Extensão Popular não é a única concepção, nem pretendemos considerá-la como a alternativa mais adequada ou julgá-la como superior.


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