13 minute read

EVOLUÇÃO DO PARTO

Atualmente são realizados os partos normais e cesáreas no Hospital local Maternidade Dona Francisca Cintra, onde é oferecido atendimento para os planos do SUS, particular e convênios privados como Unimed, Cassi, Cabesp, Porto Seguro, São Francisco, entre outros ... No hospital são atendidos não somente as gestantes da cidade como também pacientes das cidades da região como Rio Claro, Descalvado, Ibaté, entre outras. No passado, a cidade era vista como referência no termo de parto normal, mas acabou perdendo espaço para a cidade de Araraquara e Ribeirão Preto, onde hoje conta com uma maternidade baseada na rede de cuidado à mulher denominado desde de 2011 como Rede Cegonha, que é assistida pela portaria 1.459/GM/MS

“Art. 1°A Rede Cegonha, instituída no âmbito do Sistema Único de Saúde, consiste numa rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis, denominada Rede Cegonha.”

Advertisement

Desde o início dos tempos entre o grupo de mamíferos, é necessário um parto para gerar uma vida, seja ela humana ou animal, é algo do qual as mulheres já nascem sabendo, é instinto, é natural, é o ciclo da vida terrena, o corpo humano é sábio em todos os sentidos, basta olhar para ele, ouvir o que ele tem a dizer, e acima de tudo, respeitar o que ele sente. No ciclo da vida, o corpo feminino abriga um embrião por longos meses, enquanto essa vida vai criando forma, então surge o momento único, esperado, e por muitas mulheres tão sonhado, ato do qual pode tornar-se um grande pesadelo quando há falta de informação e o desrespeito alheio, passando a enxergar esse momento não como algo próprio da natureza, mas sim como algo mecânico, como se o corpo humano fosse apenas uma máquina industrial para reprodução.

Figura 3: Croqui Fonte: acervo pessoal da autora.

Na linha do tempo, existem várias formas de encarar o parto. Na Europa, durante e após a Idade Média o parto era ditado pela igreja católica, onde a dor do parto era um castigo dado à mulher, como penitência. O termo parto normal era tratado com mais naturalidade do que visto hoje em dia, sendo muito comum o parto ser realizado na própria residência por mulheres que eram chamadas apenas no momento do trabalho de parto, cujo nome ficou conhecido como “parteiras” ou “comadres”. O parto consistia em dar à luz na posição de cócoras, sentada ou em pé, posição da qual a parturiente recebia ajuda de acordo com a situação, para tornar mais fácil o nascimento natural. As parteiras eram consideradas de confiança pelas mulheres, podendo realizar até atos cirúrgicos e também batizar o recém nascido, quando ele estava entre a vida e a morte, por não dar tempo de chegar até a igreja, sendo que naquela época o batismo era crucial. Muitas vezes as parteiras eram consideradas bruxas, por obter conhecimentos, que eram passados de geração em geração. Foi a partir do Séc. XV que os homens começaram a assumir o controle sobre o parto, trazendo a medicina para esse ato. Durante os séculos XVIII e XIX a medicina obstétrica consolidou o uso de um aparelho chamado Fórceps, material obstétrico utilizado para extrair o bebê em determinadas condições que poderiam e ainda hoje podem resultar em perigo para a mãe ou para o bebê. (Criado por Peter Chamberlen ainda no séc. XVI). Com isso, predominando a posição horizontal para o momento do parto, torna essa posição mais favorável para o profissional e nem sempre para a gestante.

Com a chegada do médico parteiro, as parteiras começaram a perder espaço na hora do parto, criando conflitos entre a classe médica e a classe de parteiras. As gestantes também passam a ter suas mudanças na cena do parto, agora ao invés de serem vistas pela igreja católica, como culpadas e por esse motivo sentirem as dores do parto como punição, passam agora a serem vistas como vítimas. Em meados do séc. XX o parto passa a ser direcionado totalmente pelo médico, onde a mulher tinha suas pernas amarradas, perdendo assim o controle do seu corpo e de suas dores.

“Um homem – Parteira”. Caricatura ironizando a condição que dividia o médico/homem da mulher/parteira, simbolizando a disputa obstétrica pela execução do parto na Europa entre o século XVIII e XIX. Pintura de S. W. Fores, Londres, 1793. Fonte: The WellcomeLibrary,no. 16968i

O médico torna-se uma figura predominante no parto, monitorando e acelerando o ato fisiológico. Apesar do parto cesárea ser visto na história desde a antiguidade, muitos escritores alegam ser a origem do nome em homenagem a Júlio César, que foi retirado da barriga de sua mãe através de um corte abdominal, porém outros escritores alegam ter vindo do deus grego romano Asclépio considerado o deus da cura e da medicina, o seu símbolo é usado até hoje como o símbolo da medicina. O parto cesárea começou a ter mais ênfase na história a partir do séc. XX, até então esse método era utilizado apenas em caso de risco. Com o tempo isso tornou-se algo mais recorrente, sendo visto pela sociedade como algo mais seguro do que o parto natural, por sua vez gerou uma inversão no sentido do parto natural, sendo visto agora como um momento de pânico e dor, essa sensação de terror pré-parto ou até mesmo pós-parto, se dá por vários fatores podendo ser nitidamente visto até os dias atuais. Podem ser citados como agravantes o ambiente frio, não somente em questão de espaço físico, mas também dado a questão psicológica, ambiente hostil, desconfortável, local remetendo a sofrimento e não ao prazer de gerar uma vida.

Fig. Cajado do deus grego romano Asclépio Simbolo da medicina ate os dias atuais. Fonte: Scielo (2002)

O não acompanhamento de uma pessoa escolhida pelo paciente, também colaborou para um não aproveitamento na hora do parto, sendo ele cesárea ou natural, se vendo em uma situação totalmente sozinha, rodeada apenas por “estranhos” fez com que esse momento fosse visto ainda mais como um momento de terror. Nesse cenário foi praticado por muitos anos o abuso obstétrico, aproveitando de um momento vulnerável gravídico para atos como agressão verbal, atendimento desumanizado, negligência médica, humilhação, intervenções cirúrgicas desnecessárias e sem o consentimento da mãe. Infelizmente esses casos eram e são mais frequentes nas pacientes atendidas pelo sistema único de saúde SUS, onde por sua vez trata-se geralmente de uma classe economicamente e socialmente mais carente, que muitas vezes não possuem acesso ao conhecimento, então não reclamam a violência obstétrica, pois não conhecem o poder do seu corpo e a importância do parto natural tanto para a mãe como para o recém nascido, como consta em muitos estudos médicos científicos atuais. Foi somente em Abril de 2005 que houve alteração na LEI Nº 11.108 concedendo à parturiente o direito de ter um acompanhante no trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.

Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato..

Lei Nº 11,108 - JusBrasl

Humanização no parto

Humanizar, vem do sentido de valorizar a vida humana como um todo, sem distinção de classe racial, social ou econômica, entendendo que cada pessoa, é dotado de vontade própria, fazendo necessário o seu respeito e entendimento, fornecendo um bom atendimento tanto para a mãe quanto para o bebê. Esse ato, vem desde as coisas mais simples, como cuidado, zelo, proteção, deixar a paciente falar e ser ouvida, ter a opção de expor suas vontade e se fazer feita (desde que sem riscos para mãe e para o recém nascido) fazendo com que a paciente volte a ter o seu papel como protagonista dessa cena, podendo participar de cada momento do seu parto, e tendo a certeza que está sendo cuidada e respeitada.

A Rede Cegonha é um Art. 1° A Rede Cegonha, programa do Ministério da instituídano âmbito do Sistema Único deSaúde,consiste numa rede Saúde que tem por de cuidadosque visaassegurar à mulher o direitoaoplanejamento objetivo cuidar e assegurar reprodutivo e àatençãohumanizada o direito e o cuidado da à gravidez, ao partoe aopuerpério, bem como à criança odireitoao parturiente. nascimento seguro e aocrescimento e ao desenvolvimentosaudáveis,denomi nada Rede Cegonha. (PORTARIA Nº 1.459, DE 24 DE JUNHODE2011) Esse programa vem garantir que esses cuidados sejam respeitados dentro do ambiente hospitalar e nas CPN, mostrando a importância dos cuidados com a parturiente em todos os sentidos, como o aleitamento materno, o ato de ter seu recém nascido no quarto consigo e a presença de um acompanhante nesse momento.

Também através desse incentivo foi assegurado o direito de ser realizado um parto natural sem a presença de um médico, podendo ser realizado por enfermeira obstétrica ou por uma obstetriz, com a opção de ser realizado tanto em um ambiente hospitalar, como em uma Casa de Parto, assegurando também o direito de ter uma doula que é uma profissional especializada em serviços com gestante, acompanhando no momento do parto, estando ali para fornecer um bom condicionamento físico e emocional. A doula também é porta voz da gestante por conhecer suas vontades e desejos para a hora do parto, é de escolha da paciente e não exclui um acompanhante de sua escolha, sendo assim a paciente poderá contar com os dois no momento do parto. A OMS (Organização Mundial da Saúde) portaria nº 569/2000, vem apoiar e incentivar o parto humanizado, declarando ir contra a medicalização em excesso sem necessidade, incentivando o atendimento digno e de qualidade, a importância do pré-natal e a garantia de realização de exames básicos, o direito ao pai do recém nascido poder visitar sem restrições de horário, o incentivo ao parto verticalizado, como visto que já era praticado no passado, mostrando que é uma das posições mais adequadas por diminuir as dores do parto, contando com a ajuda da mãe para o nascimento do seu filho.

Melhoria na qualidade no pré natal Humanização

Boas práticas de segurança na atenção ao parto

Respeito a diversidade cultura, ética e social Realização dos direitos humano

Não é dispensado todo o avanço e a competência da ciência, voltando com práticas antigas e desprezando o avanço realizado até os dias atuais, mas que a ciência nesse momento seja uma aliada e não protagonista, que esteja a favor da mãe e do bebê. Outra análise feita é a questão da importância do aleitamento materno, ato que precisa ser trabalhado e explicado para a mãe desde o inicio do pré-natal, pois esse momento é importante tanto psicologicamente, quanto fisiologicamente, pois o leite materno é a melhor composição para a digestão do bebê, sendo a melhor fonte de nutrientes e fonte poderosa contra infecção. Para a mãe esse momento é crucial, pois é um momento de amor e troca de carinho entre ela e o bebê, é nesse momento que é liberado ocitocina, também conhecido como hormônio do amor, é ele que é responsável pela sensação de prazer e afeto. A importância do pré-natal na vida da parturiente é crucial, pois não é só o momento do parto, seja ele cesárea ou normal, que necessita ter uma humanização e atingir um bom resultado no final, é essencial que o trabalho seja iniciado literalmente, sendo explicado e orientado em todos os procedimentos necessários, pois é nessa fase que inicia o período de preparo fisiológico e psicológico. Entre vários cuidados que são necessários nessa etapa, um deles é a explicação dos vários tipos de parto que podem vier a ocorrer, salientando que o parto cesárea em hipótese alguma é algo ruim, mas ele deve ser realizado com sabedoria e no momento que realmente houver necessidade, por se tratar de uma cirurgia como qualquer outra.

Atualmente, a falta de informações, faz com que o numero de cesáreas no país se torne algo alarmante, segundo a OMS a taxa ideal de cesariana deve ser de 10% a 15%. O Brasil tem as maiores taxas de cesariana do mundo, chegando a 55,4% em 2016, sendo muitas delas fora de contexto e sem risco para mãe e para o recém nascido. Em 2018 São Paulo registrou uma taxa de 58,6%, taxa que por sua vez ultrapassa e muito o estipulado como ideal pelo OMS, analisando os dados foi declarado pela Recomendação nº038 de 2019 pelo conselho de saúde que 88% realizado em setores privados.

Parto cesárea São Carlos - SP- 2016/2019

Cesárea 2016 Cesárea 2017 Cesárea 2018 Cesárea 2019 Janeiro Fevereir o 219 208 276 233 240 202 235 254 Março

283 288 262 227 Abril

85 243 260 218 Maio

82 310 218 250 Junho

84 270 228 210 Julho

165 248 211 201 Agosto Setembr o Outubro Novemb ro Dezemb ro 259 219 222 191 208 251 216 216 206 189 228 210 201 235 199 204 221 183 186 240

Parto normal São Carlos – SP 2016/2019

Normal vaginal 2016 Normal vaginal 2017 Nomal vaginal 2018 Normal vaginal 2019 Janeiro Fevereir o Março

86 103 147 134 81 87 165 116 92 82 144 124 Abril

79 94 139 123 Maio

82 117 147 117 Junho

73 94 129 103 Julho

63 118 127 103 Agosto Setemb ro Outubr o Novem bro Dezem bro

83 124 137 105 72 96 113 93 88 120 115 108 81 115 123 92 88 126 109 111

Fazendo análise com os dados do SINASC (Sistema de informação de nascidos vivos) foi possível observar que em Maio de 2017, na cidade de São Carlos, foram realizados 310 partos cesáreas e no mesmo mês, foram registrados 117 partos normais, podendo obter a confirmação de que o parto cesárea é o método mais utilizado na cidade, assim como no resto do país. Em 2019 o mês de fevereiro mostrou o maior índice de parto cesárea registrando 254 partos, no mesmo mês foram realizados 116 partos normais. Comparando ao mês de maio de 2017 houve uma queda na quantidade de cesáreas, mas ainda assim o número continua se mostrando bem alto. Mesmo com a luta para a chegada de informação dos benefícios do parto normal para a mãe e para o recém nascido, ainda é possível ver a discrepância entre os métodos escolhidos para o parto. Comparando ao mês de maio de 2017 houve uma queda na quantidade de cesáreas, mas ainda assim o número continua se mostrando bem alto.

“Considerando que o Brasil se encontra em um cenário de intensa medicalização do processo do nascimento, com 98% dos partos realizados em hospitais e que, de acordo com estudos científicos, pautados em informações sobre o parto cesariano, indicam não existirem evidências de que cesáreas em mulheres ou bebês que não necessitem dessa cirurgia, tragam algum benefício; considerando que a realização de cesarianas desnecessárias expõe a mulher a três vezes mais o risco de morte por parto.” Fonte: Plenário do conselho nacional de saúde

This article is from: