Livro onde está a alegria do jovem

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ONDE ESTÁ A ALEGRIA DO JOVEM

UMA REFLEXÃO PARA O JOVEM E O ADULTO

AGOSTINHO MARQUES VIANA


AGOSTINHO MARQUES VIANA ONDE ESTÁ A ALEGRIA DO JOVEM UMA REFLEXÃO PARA O JOVEM E O ADULTO

1ª edição Revisão EDMAR ALVES / MARÍLIA PAIVA Organização / Foto de capa EDMAR ALVES

Ficha catalográfica: Marília Paiva CRB 6ª 2262

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Viana, Agostinho Marques Onde está a alegria do jovem: uma reflexão para o jovem e o adulto / Agostinho Marques Viana. - Contagem: setembro, 2015. 32p. 1. Autoconhecimento - jovens. 2. Psicologia aplicada. 3. Alegria. 4. Felicidade. 5. Encorajamento – psicologia. I. Agostinho Marques Viana. II. Título CDD: 158.1 CDU: 159.95


A todos aqueles que assumem sua responsabilidade de jovem ou para com o jovem... A todos aqueles que se angustiam e se preocupam com o destino da humanidade... Aos que anseiam e choram, buscando reconquistar o perdido num mundo confuso e violento, uma sociedade competitiva e hostil e muitos cristais partidos...

Sou grato a todos aqueles que entraram em minha vida de uma forma ou de outra, auxiliando-me com carinho a ver o mundo e o falar sobre ele... Sou grato aos meus amigos, responsáveis por tantas ALEGRIAS e alguns sofrimentos nas caminhadas que recomeço a cada amanhecer... Sou grato aos prossionais Jânua-Cele, Idanir Vani, Marília Paiva e aos parceiros que tornaram possível este projeto...


Um casal amigo, que prefere manter-se no anonimato, teve acesso a este escrito e encaminhou-me esta mensagem: Reconhecemos Agostinho, o seu desejo de ajudar o jovem em sua caminhada difícil neste mundo de hoje. Parabéns! A felicidade, ALEGRIA, esperança, existem... o que cada um precisa é descobri-las dentro de si. Você recolheu de alguns jovens, o seu pensamento sobre a ALEGRIA e, com os mesmos você irá ajudar outros a descobrirem o caminho para a mesma ALEGRIA. Gostamos de ler e saber que há gente nossa que ainda se anima diante do grande e maravilhoso trabalho junto com a juventude. Vá em frente. Muitos precisam de você. Um casal amigo


SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.............................................................07 PEQUENOS RETALHOS...................................................09 ONDE ESTÁ A ALEGRIA DO JOVEM? Jovens em 2014.............................................................11 O SOFRIMENTO DO JOVEM Jovens em 2014 / Décadas diferentes, problemas semelhantes...................................................................15 AS PERSPECTIVAS DE UM FUTURO ALEGRE..................20 O JOVEM NA SOCIEDADE...............................................21 O JOVEM E A LIBERDADE DE POSICIONAMENTO...........23 A QUESTÃO AGORA É: “COMO SE POSICIONAR?”.........26 SINTETIZANDO...............................................................27 EU VENCI. VOCÊ PODE VENCER (Dra. Emília Viriato Paulino).............................................30



APRESENTAÇÃO Eu penso. Eu sei que penso. Mesmo que o meu pensar seja uma pergunta sobre o meu existir, eu penso. “Se penso, logo existo”. Esta foi a conclusão armada pelo lósofo francês Renê Descartes. O meu existir é a única certeza que tenho. E cada um de nós diz repetidas vezes dentro de si mesmo “eu existo”. Sobre este nosso existir, no entanto, paira as dúvidas do como viver, para quê viver... o sorrir para as pessoas engloba estes dois aspectos da vida do ser humano, tendo em vista a ação transformadora do sorriso como causa eciente em um mundo carregado de contrastes. O sorriso atrai, o sorriso desperta, o sorriso cativa, o sorriso abre horizontes descor tinando o nosso já, encobrindo o nosso antes e desvelando objetivamente o nosso depois. Porém, o momento e a intensidade do sorriso está para o nosso viver como o alimento para o nosso organismo. Equilíbrio entre o muito e o pouco, e, hora certa. Sorrir demais pode tornar-se ridículo e sorrir pouco torna a pessoa pouco saudável. Além disso, rir em tempo inoportuno, já custou lágrimas de muita gente. O sorriso tem seu signicado como agente no mundo e em nós mesmos. E neste mundo impregnado de muitos que conhecem poucos, sorrir é algo perigoso, pois envolve um abrir ao outro e um voltar para si mesmo. Isto é: o seu sorrir deve ser algo que ua do coração e que emane a essência do amor para o outro. Este é um abrir que precisa se realizar. Hoje, porém, aumentam-se os sorrisos que não comportam 7


as duas dimensĂľes, e, nada mais ĂŠ este sorriso, que um egoĂ­smo. Um fechar sobre si mesmo. Melhor seria um franzir a testa.

O autor

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PEQUENOS RETALHOS Em pleno “século da comunicação”, as pessoas se queixam da solidão. Esqueceram das maravilhas de se viver em grupo ou quem sabe em comunidade. Por onde andam as alegres canções dos grupos de amigos, o bate-papo descontraído sentado à beira das calçadas? Até mesmo nas Igrejas os rostos são sombrios, carregados de medo e preocupação. Desilusões e mais desilusões: acreditava-se que o progresso econômico... no entanto... Pensou-se na democracia... até que... Veio a esperança da Nova República... Será que para por aí? “Todas as épocas são de transição” (Roger Garaudy) “A Igreja e o Cristo devem ser tochas e iluminar o futuro. Jamais museu de antiguidade”. (Léon Filipe) O conservadorismo pode ser pecado grave. O jovem do Evangelho podia não se salvar porque queria conservar os seus bens. O homem é a única criatura que nega ser o que é. O jovem tende deixar-se levar pela correnteza. Pois o que ele é na realidade o que ele deseja ser e o que os outros acreditam que ele é... “... esta é uma geração mais divertida e menos alegre, mais 9


atirada e menos questionadora”. (padre Zezinho)

ONDE ESTÁ A ALEGRIA DO JOVEM? Faz-se necessário, que voltemos às raízes da palavra “ALEGRIA” antes mesmo de perguntarmos onde anda, pois somente assim saberemos como procurar. Os dicionários apresentam-nos denições: prazer moral, júbilo, contentamento, satisfação, divertimento, festa, felicidade. Procurando no meio de todas estas denições a que melhor possa expressar a essência da ALEGRIA, vamos perceber a profunda relação ou concomitância da mesma com outra palavra “FELICIDADE”. Felicidade, no entanto, é uma generalização do estado pessoal onde nem tanto a ELA quanto à ALEGRIA, temos o direito de perguntar pelo complemento nominal. – Estou feliz; – Estás feliz? Por quê? – Não sei, simplesmente estou feliz. Com esta resposta parece que camos satisfeitos, isto é: reconhecemos que a felicidade é um termo genérico e que por isso mesmo a pessoa a quem perguntarmos pode realmente não saber o motivo da sua felicidade. Veremos que, com a ALEGRIA, que é naturalmente um termo mais restrito da felicidade, ou seja, mais uma particularidade da felicidade em sua expressão mais elevada pode mais facilmente denir as causas. – Estou alegre; 10


– Estas alegre? Por quê? A resposta ui mais facilmente. – Porque recebi uma carta da pessoa que amo. – Porque recebi uma mensagem da pessoa que amo. Ou – Porque consegui passar nos exames nais, etc., etc. Tomás de Aquino (lósofo e teólogo) diz em sua Suma Teológica: “O homem se alegra ao encontrar a sua satisfação na posse de um bem conhecido e amado”. Então concluímos entre nós: diga o que tu amas e direi com o que te alegras. Buscar a felicidade sempre foi um objetivo, uma meta a ser alcançada e até mesmo uma utopia para alguns. Encontramos a mais de 25 séculos, os gregos buscando a felicidade procurando a sabedoria. Para eles, a sabedoria garantiria uma felicidade plena. E sabedoria não era apenas um saber teórico, mas principalmente prático, tendo em vista que buscava atender ao que consideravam o objetivo supremo da vida humana: a felicidade. Todos deviam aprender o caminho para a felicidade. Eram seguidores da doutrina EUDEMONISTA (pessoa que tem a felicidade como valor fundamental ou principal objetivo em sua vida). Passados todos estes séculos, continuamos a buscar a felicidade Agar dentro da nossa vida contemporânea, individualizando cada vez mais o que poderia ser a causa eminente da felicidade em nós. Mas, será mesmo possível encontrarmos a felicidade sem uma ALEGRIA em nós? Partindo desta premissa, 11


continuemos... Alguns trechos de cartas que recebi (décadas de 1970/80), onde o remetente aponta o motivo da sua ALEGRIA, satisfação e até felicidade. “ Suas cartas me trazem muita ALEGRIA e paz”. “Deus faz o milagre; a tristeza se converte na cidade Natal da ALEGRIA”. “Fico feliz por saber que tenho um colega tão animado”. “Fiquei tão contente em te ver em minha casa... se minha coluna estivesse em ordem, teria dado uns pulos de ALEGRIA”. “Ficamos felizes com o convite para o curso de catequese”. “Fiquei feliz em saber que você é uma pessoa que luta pra conseguir o que quer”. JOVENS EM 2014 “Fiquei feliz quando o meu pai voltou para morar com a gente”. “Tive uma enorme alegria ao saber que a minha mãe estava grávida de gêmeos”.

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“ Meu pai parou de beber e está frequentando uma igreja. Esta foi a maior alegria da minha vida”. “Descobri que passei uma prova para continuar o curso, estou muito feliz”. Observe que: a felicidade é usada muitas vezes pra dar maior ênfase a expressão de ALEGRIA sentida. Mesmo em décadas diferentes, os motivos que provocam reações de “ALEGRIA” são semelhantes. É fácil reconhecermo-nos como seres limitados. Esta é uma realidade compreensível e como consequência, objetivamos primeiramente os prazeres transitórios. Por essa razão, podemos multiplicar as ocasiões de prazeres (ALEGRIA), que são carregados de nidades, identicandose com a nossa condição de limitados. Porém, sabe-se da existência em nós como se atrelado à nidade, a innitude, causa do desejo innito. Explica-se assim, a nossa constante insatisfação, pois esta se revela na vontade de explorar a distância que o nito do innito. Mesmo reconhecendo a transitoriedade da ALEGRIA como nita em nós, ELA adquire um saber diferente a exemplo da vida. Conscientes da vida como passagem, atribuímos a ela, tal importância, que jamais queremos perdê-la (estando em sã consciência). “A vida para quem acredita, não é passageira ilusão”. Por isso estamos e devemos cantar a ALEGRIA, pois ELA é capaz de fazer renascer a esperança, fortalecer a comunhão e dar uma abertura para ALEGRIAS. 13


Pedro, em sua carta nos adverte: “estai sempre prontos pra dar uma resposta vitoriosa a todo aquele que vos pergunta a cerca da esperança que vos anima” (1Pdr.3,15). Destaca-se aqui, um dos maiores compromissos do homem. Transmitir ao outro a esperança, uma razão de viver. Com isso fortalecerás a comunhão e proporcionará uma abertura. Abertura para a ALEGRIA. Seguem alguns trechos de cartas que recebi (décadas de 1970/80). O remetente procura transmitir a esperança ou arma ter encontrado uma nova razão para viver. A esperança foi transmitida: “Como você disse, a força de vontade, nos levará ao outro lado de um lago. E eu estou quase a alcançar esta margem”. “Receber a sua carta, foi como se me tirasse do fundo do mar. Estava num sufoco que não podia mais, mas ao ler a sua carta, senti-me um ouço aliviada e lhe agradeço muito”. “Sabe, aquele dia em que nos encontramos foi ótimo, pois neste encontro pude ver que ainda há pessoas que se lembram de mim de uma forma não mais como uma na multidão, mas como alguém, como pessoa”. “Não que aborrecido com os problemas do mundo. Pense em você, que cresce a todo instante”. “Conte comigo, estarei sempre pronta a te ouvir e entender seus problemas e por outro lado, conto com você e seu 14


ombro amigo para chorar meus problemas”. “ESTAI SEMPRE PRONTOS PARA DAR UMA RESPOSTA VITORIOSA A TODO AQUELE QUE VOS INTERROGAR A CERCA DA ESPERANÇA QUE VOS ANIMA” (1Pedro 3,15). Para respondermos ao sinal de alerta lançado a nós por Pedro em sua Carta, um pressuposto essencial nos é exigido. Faz-se necessário, que estejamos bem. Que tenhamos um mínimo de bem estar, de segurança e justiça. São coisas materiais, por tanto perecíveis, mas foi exatamente sobre estas coisas que Jesus alicerçou o seu Reino aqui na terra. O bom Cristão jamais os deixará de lado, pois “A ALEGRIA CRISTÃ, SUPRE UMA PESSOA CAPAZ DE EXPERIMENTAR ALEGRIAS NATURAIS”. (Paulo VI).

O SOFRIMENTO DO JOVEM Os trechos das cartas que recebi (décadas de 1970/80) e que se alinham abaixo, são exemplos de sofrimento, causa de tristeza para os jovens: “Aqui as coisas não estão muito bem. É que a outra avó está entre a vida e a morte”. “Agostinho, estou dentro da sala de aula e confesso que até agora não consegui me ligar em nada que se foi falada de 15


matemática, pois a cada dia acho que estou mais distante de tudo e de Deus”. “Estes últimos dias, estou uma pilha de nervos, pois até hoje não consegui um emprego e isto está acabando comigo”. “Estou tendo problemas demais com a minha família”. “Agostinho, uma enorme tristeza toma conta de mim, e me sinto tão sozinha... olho a minha volta e estou rodeada de pessoas que falam, riem, fazem gestos e estas pessoas não me dizem nada. Olho dentro de mim e sinto uma grande solidão.” “O que me entristece é a doença da minha irmã”. “O que me deixou triste foi a morte da minha tia”. “Do pessoal do encontro, só continuo tendo contato com você, pois tive tantas desilusões com aquele pessoal, que não acredito que aquelas coisas bonitas, tenham sido feitas por aquelas mesmas pessoas que me decepcionaram”. “Ultimamente, ando com tantos problemas que estou sem tempo para nada”. “Aqui, as coisas caminham como querem e não como eu gostaria”.

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“Estou te escrevendo para desabafar um pouco. Estava tão chateada, que não consigo me concentrar nos estudos”. “O dia de hoje eu faria questão de apagar para sempre de minha existência. Nunca me decepcionei tanto. O pior é que não tenho ninguém para conversar”. “Sei lá, as vezes co pensando que não tenho nada disso. Estou cansada de tomar injeção para dor. Acho que estou precisando de uma injeção no espírito. Às vezes a gente ca tão por baixo, que quando assustamos estamos sozinhos. Até mesmo os amigos (que se dizem), se afastam. E isto, quando mais precisamos de carinho e calor humano”. “Lágrimas estão no meu rosto gora, mas continuo a escrever, pois preciso desabafar com alguém que me compreenda”. “Eu, Agostinho, estou tão chateada com estas coisas que estão acontecendo, que estou perdendo o entusiasmo com as coisas que gosto de fazer pela igreja. Estou decepcionada”. JOVENS EM 2014 “Eu não tenho paz na minha casa, meus pais brigam todos os dias”. “Meu irmão recebeu alguns tiros esta semana, esteve 17


internado e quase morreu. Estou muito triste com a vida que ele está levando”. “Meu tio está muito doente. Não temos dinheiro para ajudar. Como ter ALEGRIA?” Décadas diferentes, problemas semelhantes Quando ao ler o Novo Testamento deparamos com o trecho do Evangelho de São Lucas 2,10-11 onde relata o autor: “O Anjo porem, disse-lhe: não tenhais medo! Eis que eu vos anuncio uma grande ALEGRIA, que será para todo o povo: nasceu-vos hoje um salvador, que é o Cristo Senhor”. O Anjo anunciava nada mais que o nascimento do AMOR. Aquele capaz de trazer à paz, a justiça, a segurança, o bem-estar. E enquanto armamos sempre ter um amor muito signicativo por alguém, ou até mesmo que alguém é um amor, a Deus dizemos que Ele é AMOR. Cada coisa é manifestação deste AMOR em plenitude. A presença do AMOR é a única fonte geradora de justiça, segurança, bemestar, ALEGRIA em m. A presença do “Deus conosco” aqui na terra faz com que nos lembremos da ALEGRIA do semeador que colhe, do pastor que encontra a ovelha perdida, da criança que encontra a moedinha, lembra a ALEGRIA das festas de casamento, da volta de um lho, etc. São a partir destas ALEGRIAS, que Jesus aponta as ALEGRIAS do seu Reino. Imagine o bem-estar que proporcionou na multiplicação dos pães a milhares de pessoas que O seguia e estavam a morrer 18


de fome. Podemos também calcular o quanto alegre cou a família de Lázaro, o cego que passou a ver, o aleijado que começou a andar, o surdo que passou a escutar, etc. Jesus fez tudo para anunciar a libertação aos pobres e oprimidos, Lc. 4,18. Deus é amor e amor é fazer justiça, dar segurança, proporcionar bem-estar. E este amor, Deus conosco, é que precisa estar dentro de nós. Na Exortação Apostólica sobre a ALEGRIA CRISTÃ, Paulo VI repete o que São Paulo diz aos Filipenses 4,4-5, que por sua vez inspirou-se no Salmo 145. “Alegrai-vos no Senhor, porque Ele está perto de todos que O invocam com sinceridade”. Sabemos que devemos ser alegres no Senhor, isto é: somente apoiados Nele é que podemos pedir essa ALEGRIA com sinceridade. Esta armação, porém, pode ser compreendida em duas partes: a primeira delas, referindo-se à ALEGRIA plena a qual todo homem é chamado a participar junto a Cristo. E a segunda, a ALEGRIA que a segurança, o bem-estar e a justiça que o estar em Cristo fará o mundo inteiro viver. Neste sentido, a ALEGRIA bate à porta de todos que sofrem. Não por ironia, mas na esperança de que haja uma transformação. E por que não dizer, dos que oprimem, pois o dinheiro, o conforto, higiene e toda a segurança material, muitas vezes não são capazes de proporcionar a ALEGRIA. Pelo contrário, tudo isso pode ser motivo de angustia e desespero. Mais uma vez, a ALEGRIA bate à porta, com o objetivo de conseguir aí mais do que nunca, uma 19


transformação. E São Paulo conclui para nós em sua Carta aos Romanos 5,5: “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.

AS PERSPECTIVAS DE UM FUTURO ALEGRE Quando falo aos jovens, muito especialmente me rero à sua alegria, pois, por si só, o jovem é portador de vida, de esperança e encarregado de garantir o prosseguir de toda uma história. Como viver isso, sem sentir a alegria da sua própria juventude? E como é bom sabermos da existência de uma alegria de alto quilate, que mesmo não estando em ato, potencialmente cada jovem é portador. E, se ainda o são apenas potencialmente portadores da alegria, isto advém da inquietude do jovem de hoje, mais do que nunca engajados numa visão realista da sociedade. O jovem não tem como se alegrar com as injustiças. “A caridade não se alegra com a injustiça...” 1Cor.13,6 O jovem, hoje, é aquele em que a Igreja, mais do que nunca, alimenta uma forte esperança no sentido de que os adultos sejam capazes de possibilitarem que emane a alegria do jovem cristão. “Nós estamos convencidos de ter todas as razões para depositar conança na juventude cristã, se na mesma Igreja, encontrarem bastantes adultos que possam compreender, amar, orientar e rasgar perspectivas de futuro, 20


transmitindo-lhe toda a verdade. E assim, todos compartilharão a mesma alegria do Reino”. (Paulo VI) É evidente a necessidade do amor, da orientação, da compreensão e da abertura de perspectivas de futuro que os adultos precisam proporcionar ao mundo jovem no ambiente familiar, no namoro, na amizade, na educação, na Igreja, no trabalho, nas diversões, etc. Não simplesmente para o futuro do jovem, mas sim, para o futuro do mundo.

O JOVEM NA SOCIEDADE No contexto geral, eu diria que o jovem precisa ser o verdadeiro artista, ou melhor, um perfeito malabarista no palco da vida. E como se ainda não bastasse ser malabarista, necessário se faz, que agrade a plateia, senão... “Parece que não é jovem!” “Ta com cara de velho!” Interessante obser varmos é que a palavra inconstante, que é empregada sem dúvida alguma em diversas ocasiões no sentido pejorativo, é que melhor identica o jovem, segundo os que se dizem entendido de juventude. Vejamos: Inconstante, começa pela denição da idade do ser jovem. Já observou que é a mais variada possível? Dizem alguns por ai, que jovem é todo aquele que continua com o espírito jovem. E estes, o que lhes determina como tal? Será a inconstância que permanece neles? Veja o que diz o Pe. Zezinho em seu livro O DIREITO DE SER JOVEM: 21


“O homem não gosta de envelhecer porque, pra a esmagadora maioria, a velhice quer dizer perda de vitalidade e diminuição da capacidade física e mental. E, por que não se conforma com isso, engana-se com ideias e frases de efeito que não muda coisa nenhuma, embora ajude a manter a ilusão de que a juventude não acabou. “Sou jovem de espírito!”. “Tenho um coração de jovem!”. “A juventude é um estado de espírito!”... A expressão é usada e abusada nos quatros cantos da terra. No seu bojo, esconde uma frustração que nem mesmo quem a usa admite ou localiza: a frustração de não poder parar a marcha do tempo e dos acontecimentos. Mas, voltando à inconstância, e se a considerarmos não do jovem, mas do contexto social em que o jovem está inserido não será mais justo? Na família, ainda não adquiriu uma posição, mesmo os pais vivem incertos em como agir. Repreende-lo ou não? “Ele não é mais criança”. Mas... “Ele ainda não tem juízo”. O jovem não sabe se é vergonhoso depender dos pais oi se ainda é tenra sua idade pra contribuir para a renda familiar. Em decisões não se pode assumi-las independente, pois seria um desrespeito aos pais. Mas, os mesmos pais cobram dos lhos uma postura de vida. No namoro o rapaz vê-se perdido desde quando começar. E a angústia do como começar? A moça e o rapaz se perdem na dúvida e na tentativa de agradar. Até onde o outro quer que eu vá? Até onde é correto? Quando se fala de amizade na juventude, o drama: Não será puro interesse o que envolve os dois? “Até quando esta nossa amizade é construtiva?” 22


Nas diversões podemos observar que o jovem, ao viver um pouco recolhido, diz-se que perdeu o gosto pela vida, ou como já me falaram: “Você precisa colocar sal em sua vida”. E não faltam exemplos de que “no meu tempo não era assim...”. Por outro lado, o inverso pode causar-lhe um ser rejeitado socialmente. A Igreja é procurada pelo jovem na ânsia de paz e ele nela se doa, pois a mesma carece dos seus serviços e chega a ter uma acentuada cobrança sobre os jovens. Porém, o assumir do jovem acaba por proporcionar-lhe o apelido de “dono da Igreja”. Aí então, o círculo vicioso: Na igreja não há jovem, por que ela não é jovem e ela não é jovem porque nela não há jovem. Impera então o conservadorismo. E este pode ser um pecado grave. O jovem do Evangelho podia não se salvar porque quis conservar os seus bens. Agora diga-me: Se considerarmos a inconstância não do jovem mas de todo o contexto social em que ele está envolvido não será mais justo?

POSICIONAMENTO Antes mesmo de tomar consciência do meio, o ser humano começa a lutar pela liberdade. Liberdade esta sempre condicionada ou iluminada pelo meio. Assim, a sua ruptura com o útero materno sob pressão dos músculos. 23


Assim, o choro da criança que se rebela contra alguma coisa do meio que a oprime. O jovem não foge à regra. Pelo contrário, enfatiza cada vez mais em que lhe é despertado a consciência. O jovem caminha r umo a liberdade, consciente ou instintivamente. Quando consciente, é iluminado pelo meio. Quando levado pelo instinto, condicionado pelo meio. Assim, avaliemos a experiência de duas jovens, lhas de pais da classe média. Ambas com 23 anos, formadas em magistério e contabilidade. Uma delas, lha de pais tradicionais, que preferem que a lha esteja em casa. Não a incentivam a continuar os estudos e muito menos se esforçam para que sua lha trabalhe fora de casa. A lha, no entanto, se depara com inúmeras colegas independentes nanceiramente da família. A outra jovem, além dos pais serem mais liberais, são extremamente capitalistas. Procuram todos os recursos para colocar sua lha no mercado do trabalho. Fazem questão de apresentá-la para todos ressaltando as suas qualidades. Assim, fazendo-a conhecida, seu campo de oportunidades ampliará. No entanto, a experiência da jovem com pessoas do seu sexo, ligadas ao trabalho foram bastante negativas e várias têm-na desestimulado. Ambas vivem em tremenda angústia, e a angústia será tanto maior quanto menor for sua consciência crítica de analise da situação, o que lhe proporcionaria uma tomada de decisão. Não levando em consideração a sua consciência, mas apenas o estímulo recebido parece que: A primeira 24


jovem é como se sofresse uma pressão de fora para dentro, dos conceitos sociais sobre os conceitos familiares. A segunda jovem sofre uma pressão de dentro para fora, dos conceitos familiares sobre os conceitos sociais. Porém, esta conclusão é irreal, pois a pressão deixaria de existir caso não houvesse pressão oposta. Logo a angústia de ambas somente é justicável pela incômoda posição ocupada: falta de um posicionamento. Avaliemos este outro exemplo: Desde muito novo, caçulinha como era, todos da família cuidavam pra que desprendesse o mínimo de esforço. Cresceu assim, totalmente alheio ao trabalho e posicionavase como não dependente do trabalho para sobreviver, posicionamento adquirido na família. Mesmo que as pessoas a sua volta exigissem atitudes de trabalhador, apoiado pela família ele refutava esta hipótese e se aquietava. A certa altura, no entanto, a pressão da sociedade chegou a ter maior inuencia e ele tomou a decisão de partir para o trabalho sem no entanto encontrar resistência da sua família. Vejamos: com este jovem, não se fala em angústia, pois ao se posicionar tornava inexistente a pressão do lado oposto. Consequentemente, não sofria pressão, apenas condicionamentos que pode tanto ser positivos quanto negativos. Mesmo sendo impossível denirmos o seu grau de consciência, o seu posicionamento valeu a liberdade, ou melhor, o sentir-se livre.

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A QUESTÃO AGORA É: “COMO SE POSICIONAR?” Pelo posicionamento, o jovem se arma. Tomar posição é como descobrir o seu equilíbrio. É o sentir-se seguro. O primeiro ponto a reetirmos dentro do posicionamento é a liberdade do jovem para se posicionar. Infelizmente, isso nem sempre acontece e então, cabe ao jovem, criar espaços. Criar espaços para sua liberdade de posicionamentos. Porém, torna-se necessário que ao lutar pela liberdade de posicionamento tenha o jovem como pré-requisito essencial a consciência. Consciência crítica, ou melhor ainda, consciência Cristã. Diante de qualquer fato: “O QUE É QUE CRISTO FARIA AQUI E AGORA”? Assumindo o jovem, a postura de cristão, o seu posicionamento tornar-se-á inevitavelmente cristão. E como cristão possuidor de uma paz interior fonte geradora e alimentadora da ALEGRIA. O fato de nos conscientizarmos para o posicionamento, somente nos é possível, pela criteriosa observação da forma que nos é apresentado a naturalidade dos fatos. A evidência de cada item, naturalmente, nos proporciona uma síntese segura.

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SINTETIZANDO A ALEGRIA do jovem é manifestada quando dentro de si encontra lugar uma síntese segura, que é proporcionada por uma criteriosa observação dos acontecimentos, sob o olhar de uma consciência crítica. Há muita gente, na família, no namoro, nas amizades, nas escolas, nas Igrejas, nas diversões, enm, em todos os lugares, que estão dicultando a tomada de consciência do jovem através da observação natural dos fatos e o seu consequente posicionamento. Há muita gente por aí responsável pela situação da não ALEGRIA do jovem. Quantas vezes, você que agora lê este escrito e mesmo eu que escrevi após cuidadosas observações no comportamento dos nossos jovens, mesmo inconscientemente, não dicultamos a consciente tomada de posição de um deles que estava ao nosso lado? Sendo assim, cada um de nós tem o compromisso de responder onde está uma parcela da ALEGRIA do jovem. Você se lembra? Ao jovem de hoje, mais do que nunca, deve ser dedicado versos do poema “CANÇÃO DO TAMOIO” (de Antônio Gonçalves Dias) Imagine: O índio, pai de uma criança recém nascida, ao chegar à tribo, depara com a mesma a chorar. Encara o lho e propõe então, a imagem ideal de um forte guerreiro.

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“Não chores, meu lho; Não chores, que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, bravos, Só pode exaltar. Um dia vivemos! O homem que é forte Não teme da morte; Só teme fugir; No arco que entesa Tem certa uma presa, Quer seja tapuia, Condor ou tapir. O forte, o cobarde Seus feitos inveja De o ver na peleja Garboso e feroz; E os tímidos velhos Nos graves conselhos, Curvadas as frontes, Escutam-lhe a voz! Domina, se vive; Se morre, descansa Dos seus na lembrança, Na voz do porvir. 28


Não corras da vida! Sê bravo, sê forte! Não fujas da morte, Que a morte há de vir! E pois que és meu lho Meus brios reveste; Tamoio nasceste, Valente serás. Sê duro guerreiro, Robusto, fraqueiro, Brasão dos tamoios Na guerra e na paz. As armas ensaia, Penetra na vida: Pesada ou querida Viver é lutar. Se o duro combate Os fracos abate, Aos fortes, aos bravos, Só pode exaltar”

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EU VENCI. VOCÊ PODE VENCER Sou caçula de 13 irmãos e sempre ouvia no seio familiar que eu era uma louca, ovelha negra da família, cabeça dura, teimosa, sonhadora em demasia, pois sempre alimentei o sonho de uma vida diferente, melhor. Nasci e cresci na cidade de Oliveira, interior de Minas. Desde cedo devia cumprir obrigações como trabalhar na roça ou lavoura de café, além dos serviços domésticos. Para mamãe, a solução era arrumar um marido. Para papai, ele sempre dizia: “Fia muié num precisa ser letrada, basta ser boa dona de casa, mãe de família e servir o marido. Já tá bom demais”. Neste ambiente, sonhava quando crescer ser uma advogada. No entanto, no dia a dia, embrenhava nas lavouras de café ou auxiliava meu pai na roça. Não foram tempos fáceis. Vivíamos num casebre, colchão de palha de milho em uma cama (tarimba) onde eu dormia com mais duas irmãs, Ângela e Terezinha. Sônia, a mais velha, já na transição da adolescência para a vida adulta, papai permitiu que ela dormisse sozinha. Por ser muito questionadora, era chamada de “boca dura” e apanhava muito dos meus pais e dos meus irmãos. Ainda na infância, comecei a trabalhar em casa de família. E não posso me esquecer das vezes que limpava a cristaleira e forrava-a com jornais, e, mesmo sem ser alfabetizada, olhava as guras e sonhava com a leitura. Quando papai faleceu, mamãe me enviou para morar com minha irmã em Belo Horizonte. Tive vários conitos e 30


saí de casa. Sem escolaridade, continuei trabalhando como doméstica e, assim, tive onde comer e dormir. Fiquei desempregada. Fui viver e morar nas ruas, mas o sonho de uma vida melhor continuava em mim. Recebi ajuda para deixar as ruas. Em 2004, retornei aos estudos no Ensino Fundamental na modalidade EJA (Educação para Jovens e Adultos). Por motivos pessoais e de saúde, tive que parar os estudos em 2008, quando havia concluído o Ensino Médio. Permanecia em mim o sonho de ser uma advogada. Em 11 de janeiro de 2009 z inscrição para vestibular, porém o medo me consumia ao pensar em concorrer com tantos jovens que se prepararam nas melhores escolas. Eu, oriunda de uma educação inclusiva, confesso que procurei vários argumentos para não chegar em tempo para realizar as provas. No dia 23/01/2009, conferi o resultado e havia passado na 23ª colocação. Um lme passou em minha mente: lha de lavradores analfabetos, pobre, ex-moradora de rua, doméstica, baby sitter, diarista... agora universitária! Acabava de vencer o maior monstro que era eu mesma. Passei no vestibular, mas perdi o emprego. Morava de aluguel, e agora o que fazer? Consegui um dinheiro para pagar a matrícula e, assim, foram 5 anos lutando por emprego. Às vezes, passava fome, convivia com a falta de dinheiro, sem condições para me vestir como os colegas. Neste período passei a receber mensalmente passei a receber ajuda de pessoas que me abraçaram, eram cestas básicas e R$380,00. Hoje, sou advogada, amo o meu trabalho. Digo que a 31


educação não apenas transforma o cidadão, mas eleva a autoestima do ser humano. Aquela menina pobre do interior, hoje é mais uma advogada do Brasil. Eu venci. Você pode vencer. Dra. Emília Viriato Paulino OAB/MG: 154.446 Contato: emiliaviriatopaulino@yahoo.com.br

“Não chores, meu lho; Não chores, que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos, Só pode exaltar.” (Antônio Gonçalves Dias)

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