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Enfermagem BRASIL
Índice
Ano 2017 - Volume 16 - Número 3 EDITORIAL Fotoproteção na gestação: um cuidado muitas vezes negligenciado, Camila GarcelPancote, Natália Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki, Luciana Crivelin................ 131
ARTIGOS ORIGINAIS Altura do fundo uterino no diagnóstico do crescimento fetal, Ivelise Fhrideraid Alves Furtado da Costa, Arthur Gabriel Alves Furtado de Carvalho Noya, Hildegard Naara Alves Furtado da Costa, Fernanda Dayenne Alves Furtado da Costa....................................................................................... 133 Os saberes e práticas dos enfermeiros no momento da alta hospitalar ao paciente transplantado renal, Livia Borsato, Cristina Lavoyer Escudeiro.................................... 140 Pré-natal: conhecimento das gestantes sobre a importância do teste anti-HIV no município de Itacoatiara-Amazonas, Geise Kelly Valente de Brito, Elainne Chris Ferreira Silva, Ellen Priscilla Nunes Gadelha, Marcos Vinicius Costa Fernandes.......... 148 Fatores de risco na construção da resiliência de profissionais de enfermagem em saúde mental, Gabriela Jorge de Novaes, Juliana Burgo Godoi Alves, Vagner Ferreira do Nascimento, Thalise Yuri Hattori, Melissa Carvalho Martins............................... 155 Análise videofluoroscópica da deglutição de indivíduos com a doença de Parkinson, Thaís de Souza Zimmermann, Glaucia Santana Trindade, Magali Aparecida Orate Menezes da Silva, Bárbara Carolina Brandão, Luciano Garcia Lourenção................................................................................................................. 164
REVISÃO O trabalhador de enfermagem e a dor física, Aliny Cristini Pereira, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler.................................................................................................... 170 Cuidados paliativos em oncologia pediátrica, Jenifer Barbara Fernandes Costa, Tamilles Alves de Oliveira de Assunção, Heli da Silva Araújo Salles................................................... 179 Análise crítica-reflexiva na utilização da metodologia ativa, Avanilde Paes Miranda...................................................................................................................... 183
CALENDÁRIO DE EVENTOS........................................................................................... 192
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Editorial
Fotoproteção na gestação: um cuidado muitas vezes negligenciado Camila GarcelPancote, D.Sc.*, Natália Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki**, Luciana Crivelin***
O período gestacional é marcado por alterações imunológicas, endócrinas, metabólicas, vasculares, entre outras, ficando a grávida vulnerável a problemas de ordem física e psicológica. Também a pele pode ser afetada por modificações fisiológicas e dermatoses específicas ou alteradas pela gestação. As alterações cutâneas incomodam a gestante principalmente no aspecto estético e devem ser rigorosamente acompanhadas no decorrer da assistência pré-natal, com vistas a promover orientações que previnam agravos e instituir intervenções especializadas, quando for o caso. Os achados dermatológicos mais frequentes em gestantes são as alterações pigmentares, incluindo as mutações dos nevos melanocíticos, caracterizados por tumores benignos formados por melanócitos, que podem ser congênitos ou adquiridos. Os estudos epidemiológicos revelam maior ocorrência desses nevos em grávidas e em mulheres que fazem uso de contraceptivos, o que deve ter relação com o aumento no número de receptores de estrógeno e progesterona. Os profissionais da saúde envolvidos na assistência pré-natal devem ter ciência que tais alterações podem estar associadas à transformação em melanoma,
um tipo de câncer de pele agressivo e com maior incidência de metástase da placenta para o feto. O melanoma é responsável por 8% do total dos cânceres na gestação, sendo uma das principais causas de morte por câncer entre mulheres em idade fértil. Estudos recentes apontaram o melanoma associado à gestação como sendo o responsável por um aumento de 56% no risco de morte. Em 30% dos casos, esse tipo de tumor tem início a partir de uma lesão benigna pré-existente (nevo melanocítico), que sofreu mutação e malignização e 60% dos casos aparece como uma lesão nova. Devido à redução na imunidade antitumoral, as gestantes são mais suscetíveis ao desenvolvimento de tumores. Os efeitos adversos provocados pela radiação ultravioleta (UVA e UVB), que acontecem devido à exposição solar e luzes artificiais são foto envelhecimento, reações alérgicas e câncer de pele tipo não-melanoma (carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular) e melanoma, além de exercer maior influência na alteração dos nevos melanocíticos, aumentando a possibilidade de desenvolvimento de melanoma durante a gestação.
*Graduada em Farmácia, doutora em Fármaco e Medicamentos pela Faculdade de Ciências Farmacêutica de São Paulo (USP), Docente do curso de Medicina da União das Faculdades dos Grandes Lagos (Unilago), **Graduada em enfermagem, enfermeira obstetra e doutora pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), Professora e coordenadora do curso de enfermagem da União das Faculdades dos Grandes Lagos (Unilago), ***Médica Dermatologista com Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatólogica (SBCD), Membro Titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Docente de Medicina da Faculdade de Medicina dos Grandes Lagos (UNILAGO) Correspondência: Camila GarcelPancote: camilapancote@hotmail.com; Natália Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki: nsperli@gmail.com; Luciana Crivelin: llcrivelin@hotmail.com
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A exposição solar intermitente e contínua é um dos principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento do melanoma. Nesse sentido, a adoção de medidas relativamente simples, tais como mudança de hábito e a efetiva proteção solar, pode contribuir para a saúde e bem estar da gestante. O uso tópico de filtros solares físicos ou químicos acima de FPS 30, diariamente e de forma correta, é a estratégia mais recomendada pelos dermatologistas. O uso dos acessórios como chapéu de abas longas, óculos com filtro solar, roupas para proteger o corpo, evitar a exposição diretamente ao sol, principalmente no horário de pico (das 10h às 16h) e sempre procurar a sombra são medidas que auxiliam na prevenção do câncer de pele e de todas as outras alterações pigmentares na gestação. Na contramão do mundo, o Brasil tornou a assistência ao nascimento um processo medicalizado, tecnocrático, hospitalocêntrico, com altos índices de intervenções no corpo das mulheres, o que resultou em índices abusivos de cesarianas. De certa forma apenas o parto é valorizado, esquecendo-se que o nascimento envolve a fase gestacional, o parto, o puerpério e o recém-nascido. Seja no âmbito público ou privado, a assistência pré-natal em regra tem por foco medidas de avaliação do crescimento e desenvolvimento fetal, negligenciando-se os sentimentos, as necessidades, as inquietações e as alterações físicas e psicológicas manifestadas em sinais e sintomas das gestantes. Somos “peritos” em elaborar manuais, diretrizes e programas que não são cumpridos ou são mal gerenciados e acompanhados, no contexto da saúde coletiva, comprometendo a qualidade de vida de usuários da saúde, nas diferentes fases do ciclo de vida. No que se refere à assistência e preparo na gestação, além do médico, outros profissionais de saúde podem atuar, de forma autônoma ou compartilhada, cada qual respeitando os preceitos éticos e legais de sua profissão. Tratando-se de alterações cutâneas gestacionais, o médico, o enfermeiro e o farmacêutico têm muito a contribuir quanto a orientações sobre a fotoexposição ou riscos da exposição solar inadequada e sobre práticas saudáveis de cuidados com a pele. Não conseguimos resolver ainda como diminuir a violência obstétrica relacionada ao parto, que coloca o Brasil na vergonhosa posição de “campeão” ou entre os primeiros em índices de cesáreas ele132
tivas. Podemos (re)começar promovendo melhor assistência gestacional, inclusive no foco da avaliação dermatológica. Para tanto a gestante precisa ser avaliada e ouvida, para ser orientada quanto a medidas protetivas e também ter possibilidade de encaminhamento adequado em situações peculiares, permitindo diagnóstico precoce e intervenção adequada, considerando o risco de malignização de algumas alterações cutâneas. Assistir em saúde está explicitado em todas as profissões quanto a desenvolver e aprimorar continuamente as competências (conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e emoções), atuando com compromisso, equidade, resolutividade, dignidade e justiça, assegurando ao cliente/paciente uma assistência livre de danos decorrentes de imperícia, imprudência e negligência. Infelizmente, estamos longe de conhecer, respeitar e cumprir os atos normativos éticos e legais profissionais que permitiriam promover saúde e não apenas atender doenças. Sempre é tempo de (re)começar. Parafraseando Sócrates: ....procura a saúde ...se está disposto a evitar no futuro as causas da doença...
Referências 1. Borges V, Puig S, Malvehy J. Nevus, melanoma y embarazo. Actas Dermosifiliogr 2011;102(9):6507. 2. Cestari TF, Oliveira FB, Boza JC. Considerations on photoprotection and skin disorders. Ann Dermatol Venereol 2012;139(Supl):135-S143. 3. Johansen LL, Lock-Andersen J, Hviid TVF. The pathophysiological impact of HLA class Ia and HLA-G expression and regulatory T cells in malignant melanoma: A Review. J Immunol Res 2016;1-12. 4. Khosrotehrani K, Olsen CM, Byrom L, Green AC. Melanoma during pregnancy: Level of evidence and principles of precaution. J Am Acad Dermatol 2017; 76(1):29-30. 5. Purim KSM, Avelar MFS. Fotoproteção, melasma e qualidade de vida em gestantes. Rev Bras Ginecol Obstet 2012;34:228-34. 6. Wainstein AJ, Barbosa LCLS, Kansaon M, Salomé M, Drummond-Lage AP. Advanced malignant melanoma during pregnancy: technical description of sentinel lymph node biopsy followed by radical lymph node dissection. Rev Bras Saúde Matern Infant 2015;15(4):447-50. 7. Wilford CE, Brantley JS, Diwan AH. Atypical histopathologic features in a melanocytic nevus after cryotherapy and pregnancy. J Cutan Pathol 2014;41(10):802-5.
ARTIGO ORIGINAL
Altura do fundo uterino no diagnóstico do crescimento fetal Ivelise Fhrideraid Alves Furtado da Costa*, Arthur Gabriel Alves Furtado de Carvalho Noya**, Hildegard Naara Alves Furtado da Costa***, Fernanda Dayenne Alves Furtado da Costa****
*Doutoranda em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco, Bolsista do Programa de Fornecimento Acadêmico da Universidade de Pernambuco,**Discente de Medicina pela Universidade de Pernambuco, ***Médica pela Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande, Médica da Estratégia Saúde da Família do Município de Cuité, ****Mestranda em Ciências Naturais e Biotecnologia pela Universidade Federal de Campina Grande, Técnica em Laboratório da Universidade Federal de Campina Grande
Resumo Objetivos: Avaliar os fatores envolvidos na determinação da altura de fundo uterino (AFU) enquanto estimador do crescimento fetal. Métodos: Estudo de coorte prospectivo, com 302 mulheres, de gestação única, idade igual ou superior a 18 anos e idade gestacional máxima de 16 semanas no início do seguimento. A classificação do índice de massa corporal inicial seguiu os critérios de Atalah; o ganho ponderal, as recomendações do Institute of Medicine; e o peso fetal, curva de crescimento fetal brasileira. Resultados: A coorte apresentou intervalo interpartal, número de gestação e índice de tabagismo superiores aos recomendados (p < 0,01). O estado nutricional inicial foi prevalentemente adequado e o ganho de peso excessivo, no segundo e terceiro trimestres, alcançou aproximadamente 45% (p < 0.01). Observou-se a partir da 28ª semana associação entre a AFU com o estado nutricional inicial, o ganho ponderal materno total, o peso fetal, o volume do líquido amniótico na 36ª semana (p < 0,01) e a renda familiar per capita (p < 0,03). Conclusão: O estado nutricional da gestante, dentre outros fatores, pode dificultar o rastreamento do crescimento fetal inadequado baseado nas curvas atuais de AFU, sugerindo a necessidade de nova curva uma vez que os valores obtidos foram superiores aos das curvas adotadas. Palavras-chave: diagnóstico pré-natal, desenvolvimento fetal, ganho de peso.
Abstract Symphysis fundal height in fetal growth diagnosis Objectives: To evaluate the factors involved in determining uterine fundus height (UFH) as a fetal growth factor. Methods: Prospective cohort study with 302 women of single gestation, ≥ 18 years old and maximum gestational age of 16 weeks at the beginning of the follow-up. The classification of the initial body mass index was according to Atalah’s criteria; the weight gain, the recommendations of the Institute of Medicine, fetal weight, Brazilian fetal growth curve. Results: The cohort had an interpartal interval, gestation number and smoking index higher than recommended (p < 0.01). The initial nutritional status was adequate and the excess weight gain in the second and third quarters reached approximately 45% (p < 0.01). It was observed up to week 28 association between UFH and initial nutritional status, total maternal weight Recebido em 17 de janeiro de 2017; aceito em 31 de maio de 2017. Endereço para correspondência: Ivelise Fhrideraid Alves Furtado da Costa, Rua Sinhazinha de Oliveira, 10, Palmeira, 58401-105 Campina Grande PB, E-mail: ivelisefurtado@gmail.com
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gain, fetal weight, amniotic fluid volume at week 36 (p < 0.01) and per capita family income (p < 0.03). Conclusion: The nutritional status of pregnant women, among other factors, may make it difficult to track inadequate fetal growth based on the current AFU curves, suggesting the need for a new curve since the values obtained were higher than the adopted curves. Key-words: prenatal diagnoses, fetal development, gain weight.
Resumen Altura del fondo uterino en el diagnostico del crecimiento fetal Objetivos: Evaluar los factores involucrados en la determinación de la altura del fondo uterino (AFU) como estimador del crecimiento fetal. Métodos: Estudio de corte prospectivo, con 302 mujeres, de gestación única, edad igual o mayor que 18 años y edad máxima del embarazo de 16 semanas al inicio del seguimiento. La clasificación del índice de masa corporal se realizó según los criterios de Atalah; la ganancia ponderal, las recomendaciones del Instituto of Medicine; y el peso fetal, la curva brasileña del crecimiento fetal. Resultados: La cohorte presentó intervalo interpartal, número de gestaciones e índice tabáquico superior a los recomendados (p < 0,01). El estado nutricional inicial fue predominantemente adecuado y el aumento de peso excesivo en el segundo y el tercer trimestres alcanzó cerca del 45 % (p < 0.01). Fue observado desde la 28ª semana asociación entre la AFU y el estado nutricional inicial, la ganancia ponderal materna, el peso fetal, el volumen de líquido amniótico en la 36ª semana (p < 0,01) y la renta familiar per cápita < 0,03). Conclusión: El estado nutricional de la embarazada, entre otros factores, pueden dificultar el rastreo del crecimiento fetal basado en las curvas actuales del AFU, que sugiere necesidad de nueva curva una vez que los valores obtenidos fueron mayores que las curvas adoptadas. Palabras-clave: diagnóstico prenatal, desarrollo fetal, aumento de peso.
Introdução O desenvolvimento humano tem seu início a partir da fertilização e é seguido pelos períodos embrionário e fetal, quando ocorre intenso crescimento e ganho de peso do feto [1]. Este processo é suscetível a diversos fatores, tais como: desenvolvimento placentário, hábitos e estilo de vida, fatores demográficos e socioeconômicos, cuidados pré-natais, fatores nutricionais, obstétricos, genéticos e constitucionais, doenças maternas e, por fim, fatores inerentes ao feto [2]. O crescimento fetal inadequado, seja no sentido da macrossomia ou da restrição do crescimento intrauterino (RCIU), poderá trazer repercussões para a saúde do indivíduo em qualquer das demais etapas do ciclo vital [3-11]. A instalação precoce da restrição do crescimento fetal (RCF) está associada à taquipnéia transitória, asfixia, hipoglicemia, infecção no período neonatal [3], e a alta morbimortalidade; podendo implicar em alterações do desenvolvimento físico, neuropsicomotor e intelectual [4]. A RCF em longo prazo aumenta o risco de hipertensão arterial, triglicerídeos séricos elevados, alterações endócrinas, sensibilidade ou resistência à insulina, obesidade central, acidentes cérebro vasculares e subfertilidade [5]. 134
Da mesma forma, a macrossomia também pode resultar em complicações para os recém-nascidos (RNs), dentre elas destacam-se o elevado risco para distócia de ombros, lesão de plexo braquial e esqueléticas, síndrome de aspiração do mecônio, desproporção cefalopélvica, índice de Apgar inferior no 1º e 5º minutos, alterações respiratórias neonatais, asfixia perinatal, hipoglicemia, neomortalidade e, assim como no caso de RCIU, maior ocorrência de internações em Unidades de Tratamento Intensivo Neonatal. Na vida adulta, associa-se com maior risco para obesidade [6], diabetes mellitus tipo II [7], diabetes gestacional [8], câncer de próstata [9] e câncer de mama [10]. As complicações maternas associadas à macrossomia correspondem ao trabalho de parto prolongado, parto cesáreo, hemorragia pós-parto, infecção, lacerações de partes moles de terceiro e quarto graus, eventos tromboembólicos e acidentes anestésicos [11]. O procedimento clínico mais utilizado para a avaliação do crescimento fetal corresponde à mensuração da altura de fundo uterino (AFU). Apesar da existência de procedimentos ultrassonográficos, a AFU é recomendada pelo American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), pelo Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG). A sua utilização referenciada em uma curva de cres-
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cimento fetal adequada proporciona a detecção do crescimento fetal e dos seus desvios [12], além de indicar possíveis complicações durante a gravidez e erros na estimativa da idade gestacional [13]. A mensuração da AFU vem sendo utilizada extensivamente nos serviços brasileiros de atenção básica à saúde [14], visando à prevenção de agravos, sendo utilizada como parâmetro a curva de altura uterina do Centro Latino Americano de Perinatologia (CLAP). A curva do CLAP foi estabelecida a partir de valores obtidos de uma amostra de 47 uruguaias, onde a AFU foi relacionada à idade gestacional [15]. Diante das diferenças existentes entre as populações a serem comparadas, foram realizados estudos de avaliação da eficácia desta curva. Verificou-se que a curva do CLAP não foi efetiva na detecção de RCF e teve baixa especificidade na detecção de crescimento fetal excessivo [16,17]. Portanto, embora amplamente utilizada, a curva não se mostra a mais adequada para avaliar o padrão de crescimento gestacional da população brasileira, sendo também limitada para a detecção de anormalidades do crescimento fetal. Não obstante as divergências metodológicas e amostrais, estudos recentes têm obtido valores significativamente superiores aos da curva do CLAP entre a 20ª e a 39ª semanas gestacionais [16,17]. Portanto, é imprescindível a realização de um estudo com uma amostra representativa da população brasileira, em que a avaliação da idade gestacional seja confiável, a técnica da medida da AFU seja padronizada, e que os fatores que possam interferir na mensuração da altura uterina sejam investigados. Dentre estes fatores destacam-se a situação fetal, o volume de líquido amniótico e o acúmulo de tecido celular subcutâneo materno [16]. Assim, este estudo se propõe a avaliar fatores maternos e fetais que possam interferir na determinação da AFU em uma população de gestantes do nordeste brasileiro.
Material e métodos Estudo de coorte prospectivo com gestantes atendidas por 28 equipes da Estratégia Saúde da Família (PSF) de unidades urbanas do município de Campina Grande-PB. A coleta dos dados foi realizada entre março de 2005 e maio de 2007, no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), localizado no município de Campina Grande/PB. A amostra incluiu 302 gestantes, sem restrição quanto ao estado nutricional inicial. O cálculo do
tamanho da amostra baseou-se no pressuposto de que os valores da AFU seguem uma distribuição normal e utilizou como referência estudo realizado na Paraíba, por Freire e colaboradores [17], que efetuou 1.206 medidas em 227 gestantes. Na presente pesquisa foram realizadas 1.190 medidas em 238 gestantes, correspondendo, em média a cinco medidas por gestante. Os critérios de inclusão foram: idade materna igual ou superior a 18 anos e idade gestacional máxima de 16 semanas. Foram excluídas mulheres com gestação múltipla, portadoras de doenças crônicas, como diabetes mellitus, hipertensão, cardiopatias, e malformações fetais maiores. Para se avaliar o efeito dos diferentes fatores sobre as medidas da AFU foram coletadas informações sobre as seguintes variáveis: tabagismo, estado nutricional inicial, ganho de peso gestacional trimestral e total, peso fetal, volume do líquido amniótico, peso ao nascer, além de dados obstétricos (número de gestações, intervalo interpartal, mudança de companheiro, número de consultas pré-natal), socioeconômicos e demográficos (trabalho, renda familiar per capita, idade materna, escolaridade). A altura das gestantes foi aferida na primeira entrevista, com antropômetro móvel, com acuidade de um centímetro (Seca®), sendo utilizadas técnicas padronizadas por Jelliffe [18]. Para a tomada do peso fez-se uso de balança antropométrica portátil digital (Tanita®), com acuidade de 100 gramas, sendo realizada uma tomada inicial na primeira entrevista e as demais a cada quatro semanas, até a 36ª semana gestacional. A padronização e o controle de qualidade das medidas antropométricas foram executados mediante técnica de Habitch [19]. A partir do peso e altura calculou-se o Índice de Massa Corporal (IMC), que foi utilizado para a classificação do estado nutricional inicial, de acordo com a idade gestacional [20], sendo as gestantes classificadas como eutróficas, desnutridas, com sobrepeso ou obesidade. Computou-se o ganho ponderal no segundo e terceiro trimestres, sendo o primeiro determinado através da diferença entre os pesos da 28ª e 16ª semana, e o segundo, entre a 36ª e 28ª semana. Foi considerado ganho ponderal total a soma do ganho de peso no segundo e terceiro trimestres. O ganho ponderal foi classificado em insuficiente, adequado e excessivo de acordo com os critérios de Institute of Medicine [21]. 135
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O peso fetal foi determinado através de ultrassonografia, a cada quatro semanas, a partir da 16ª, sendo utilizada como referência a equação de Hadlock [22]. Utilizou-se aparelho Schimadzu (SSD2200), com sonda convexa de 3,75 mHZ. Os fetos foram então classificados em pequeno (percentil < 10), adequado (percentil ≥ 10 e ≤ 90) e grande para a idade gestacional (percentil > 90) de acordo com curva de crescimento fetal brasileira [23]. Tanto a avaliação do peso fetal como a medida da AFU foram realizadas, em todas as gestantes do estudo, a partir da 16ª e 20ª semana de gestação, respectivamente, e repetidas a cada quatro semanas até a 36ª semana de gestação. Ambos os procedimentos foram realizados por um único pesquisador, especialista em medicina fetal. Para a medida da AFU, utilizou-se fita métrica inelástica, graduada em centímetros. As gestantes foram orientadas para o esvaziamento vesical completo, a menos de trinta minutos antes do exame, confirmada a ausência de resíduo através de ultrassonografia [24]. As medidas foram aferidas segundo a técnica descrita por Belizán [24]. Foi realizado um pré-teste dos instrumentos de coleta de dados e treinamento da equipe de antropometria no Laboratório de Avaliação Nutricional em Populações (LANPOP), do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Durante a coleta de dados, aplicou-se um questionário para a obtenção das informações relativas às condições socioeconômicas, história gestacional e demais variáveis de interesse supracitadas. Ao final da gestação, as parturientes foram visitadas na maternidade para a coleta de dados complementares referentes às mesmas e aos recém-nascidos. Os dados foram duplamente digitados no Epi Info 6,02 [25] e a análise estatística foi realizada através da análise de variância para verificar a associação da altura de fundo uterino com as demais variáveis do estudo. Foram construídos modelos de regressão linear múltipla, considerando-se o nível de significância de 5%. O estudo obedeceu a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde [26], bem como a Resolução complementar nº 303, que dispõe sobre procriação humana [27], tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual da Paraíba sob o protocolo nº 1129.0.133.000-05 e as gestantes só participaram do estudo após assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. 136
Resultados Dentre as gestantes assistidas, 60% possuíam baixa escolaridade (< 8 anos) 70,2% estavam desempregadas e 89,7% tinham baixo poder aquisitivo (renda per capita de R$ 75,00 a R$ 300,00). A idade de 74,5% das gestantes foi superior a 20 anos (205), condizendo o que caracteriza uma população de baixo risco perinatal, e 87,2% gestantes submeteram-se a mais de seis consultas pré-natais (87,2%). Por outro lado, 86,7% gestantes apresentaram intervalo interpartal de dois ou mais de cinco anos (65,7% eram multigestas e 9,4% tabagistas). A população do estudo apresentou estado nutricional inicial em sua maioria adequado (48,9%), entretanto o percentual de gestantes com ganho de peso excessivo no segundo e no terceiro trimestres alcançou cerca de 45% nos dois trimestres. Neste estudo observou-se que a média da AFU se mostrou estatisticamente significativa (p < 0,05) na detecção da alteração do peso fetal somente a partir da 28ª semana de gestação (p < 0,01). Esta pesquisa indicou que o estado nutricional avaliado no início da gestação influenciou os valores da altura de fundo uterino ao longo da gestação (Tabela I). Tabela I - Categorias de estado nutricional, média e desvio padrão da AFU a cada quatro semanas gestacionais. Estado nutricio-
Altura de fundo uterino
N nal inicial AFU com 20 semanas
Baixo peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade
64 130 44 26
%
Média ± DP
P
24,2 49,2 16,7 9,9
19,9 ± 1,44 20,8 ± 1,64 21,5 ± 2,18 22,5 ± 1,65
<0,01
24,4 49,0 16,6 10,0
23,6 ± 1,85 24,4 ± 1,46 24,9 ± 1,77 25,6 ± 1,85
<0,01
24,6 48,6 16,7 10,1
26,8 ± 1,36 28,1 ± 1,64 28,3 ± 1,64 29,9 ± 1,82
<0,01
24,5 48,6 17,3 9,6
30,0 ± 1,83 31,4 ± 1,72 32,2 ± 2,01 33,7 ± 2,25
< 0,01
AFU com 24 semanas
Baixo peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade
63 127 43 26
AFU com 28 semanas
Baixo peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade
63 125 43 26
AFU com 32 semanas
Baixo peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade
61 121 43 24
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AFU com 36 semanas
Baixo peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade
58 117 40 21
24,6 49,6 16,9 8,9
33,5 ± 2,15 35,2 ± 2,12 36,2 ± 2,05 38,0 ± 2,75
< 0,01
Em relação ao ganho ponderal no segundo e no terceiro trimestres, observou-se associação estatisticamente significante entre as categorias de ganho ponderal e a AFU (p < 0, 01). O mesmo raciocínio em relação ao estado nutricional inicial pode ser utilizado quando se fala em ganho ponderal materno. O índice de líquido amniótico na 36ª semana teve uma relação direta com a altura de fundo uterino (p < 0,01). Os valores correspondentes à altura de fundo uterino na 36ª semana e as categorias de peso ao nascer: baixo peso, peso insuficiente, peso normal e macrossomia apresentaram associação estatisticamente significativa (p < 0,0000). A AFU média variou entre 31 cm nos RNs com baixo peso e 37 cm nos macrossômicos. No que se refere ao ajustamento das variáveis estudadas através de análise de regressão, o modelo apresentado na Tabela II inclui apenas as variáveis que permaneceram estatisticamente associadas à altura de fundo uterina: o estado inicial no início da gestação, o ganho ponderal materno total, o peso fetal, o volume do líquido amniótico na 36ª semana e a renda familiar per capita. Uma análise comparativa entre nossos resultados e os dos estudos do CLAP [16] e de Freire [17]
indicou que os valores da média da AFU obtidos no primeiro apresentavam-se significativamente superiores (p < 0, 001) (Tabela III e a Figura 1). Figura 1 – Comparação da média da AFU a cada quatro semanas entre o presente estudo, a curva de Freire et al. e a curva de Fescina et al. 40 35 30 25 20 15 10 5 0 20 semanas
24 semanas
Coorte
28 semanas
32 semanas
Freire
36 semanas
Fescina
Discussão A amostra caracterizou-se socioeconomicamente típica de uma população atendida pelo serviço público de saúde, ou seja, uma população de baixa renda. Embora o estudo tenha excluído gestações de alto risco, o número de multigestas, o intervalo interpartal e o tabagismo prevalente indicaram risco para complicações gestacionais e fetais [28]. Entretanto, a faixa etária e o número de consultas pré-natais sugerem baixo risco perinatal. Em estudo de revisão bibliográfica [29] foi observado que a idade materna superior a 30 anos e o tabagismo são fatores de risco arrolados na recor-
Tabela II - Resultado do modelo de regressão linear para fatores que influenciam na AFU. Campina Grande –PB, 2006 e 2007. Variáveis
IMC Ganho ponderal total Peso fetal ILA Renda familiar per capita Constante
Coeficiente
Erro padrão
IC (95%)
p
0,2188 0,1097 0,0044 0,1092 0,0006 14,6008
0,0148 0,0163 0,0000 0,0266 0,0003 0,5583
0,1897 – 0,2478 0,0777 – 0,1418 0,0042 – 0,0046 0,056 – 0,1614 0,0000 – 0,0012 13,5046 – 15,6970
< 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,03 < 0,01
Tabela III - Análise comparativa da média da altura de fundo uterino a cada quatro semanas entre o presente estudo, a curva de Freire et al. e a curva de Fescina et al. Idade gestacional
20 semanas 24 semanas 28 semanas 32 semanas 36 semanas
Presente estudo Média ± DP
Freire Média ± DP
Fescina Média ± DP
21,0 ± 1,85 24,4 ± 1,74 28,0 ± 1,79 31,4 ± 2,13 35,2 ± 2,52
19,2 ± 2,1 22,8 ± 2,2 26,6 ± 1,4 29,8 ± 1,9 33,0 ± 1,9
18,0 ± 2,33 21,2 ± 3,89 24,0 ± 8,57 27,5 ± 5,77 30,5 ± 6,70
P
< < < < <
0,001 0,001 0,001 0,001 0,001
137
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rência de baixo peso ao nascer. Já a idade materna, variando nos extremos de menos 20 ou mais de 35 anos, a baixa escolaridade e o menor nível socioeconômico são fatores de risco para a recorrência de restrição de crescimento intrauterino. Outro estudo, que investigou os fatores associados à macrossomia [11], afirma que as gestantes multíparas, com índice de massa corporal elevada e ganho ponderal excessivo, durante a gestação, apresentam maior risco para a formação de fetos macrossômicos. Nesta pesquisa, indicou-se que o estado nutricional avaliado no início da gestação influenciava os valores da altura de fundo uterino ao longo da gestação. Este fato pode ser justificado pela associação entre o estado nutricional inicial e o crescimento fetal, além de uma influência no aumento ou redução da AFU devido a um excesso ou escassez de tecido adiposo. Em estudo de revisão, que avaliou o ambiente intrauterino como fator de risco para a síndrome metabólica [14], concluiu-se que o estado nutricional materno atuava de forma direta sobre o crescimento fetal, principalmente no último semestre. Observou-se que a medida da AFU se torna relevante a partir do momento em que o ganho de peso fetal é substancial, pois na fase inicial da gestação a sensibilidade deste método não é boa, devido ao pequeno peso fetal neste período, no qual os desvios de crescimento provocariam pouca interferência na altura uterina. A associação do método clínico com o padrão de crescimento fetal a partir da 28ª semana corrobora o fato de que o crescimento fetal e o ganho de peso são mais acentuados nas últimas semanas de gestação, período em que o método se mostrou mais sensível. Gestantes componentes do “Estudo Brasileiro de Diabetes Gestacional” [15] tiveram como média de IMC pré-gestacional 23,7 kg/m2, o que indica pré-obesidade das gestantes selecionadas, este fato coloca sob suspeita de crescimento fetal excessivo 42 a 57% da população. Tal fato também se evidenciou nesta pesquisa, repercutindo inclusive no peso ao nascer com um percentual de macrossomia de 9%, bem acima da média nacional que gira em torno de 5%. Com a retenção de peso, as gestantes podem comprometer sua saúde, uma vez que o peso excessivo está associado a várias doenças crônicas. O índice de líquido amniótico na 36ª semana apresentou relação direta com a altura de fundo 138
uterino, corroborando os estudos que defendem sua consideração na avaliação do crescimento fetal através da AFU [16,17]. Os resultados aqui encontrados, superiores aos valores que compõe a curva adotada pelo Ministério da Saúde [16] e a curva de Freire [17], sugerem que há uma repercussão do estado nutricional inicial e do ganho ponderal materno sobre a AFU, este achado vai ao encontro do obtido em estudo de validação da curva de Freire [30].
Conclusão Os resultados deste estudo indicam que a altura de fundo uterino se associa ao estado nutricional materno no início da gestação, ao ganho ponderal materno total, ao volume do líquido amniótico na 36ª semana e a renda familiar per capita e, ainda, que há interferência destes fatores na altura uterina, reduzindo a sensibilidade deste método na monitorização do crescimento fetal. Por se tratar de método de fácil realização, acessível e barato para monitoramento do crescimento fetal, faz-se necessário a continuidade de pesquisas, de preferência multicêntricas, com a finalidade de se construir uma curva que reproduza as características das gestantes brasileiras. Ressalta-se ainda a necessidade de considerar o estado nutricional inicial e o ganho ponderal durante a gestação como fatores que podem influenciar na sensibilidade deste método.
Agradecimentos Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo auxílio financeiro. Ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Estadual da Paraíba pela contribuição na coleta de dados.
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ARTIGO ORIGINAL
Os saberes e práticas dos enfermeiros no momento da alta hospitalar ao paciente transplantado renal Livia Borsato, M.Sc.*, Cristina Lavoyer Escudeiro, D.Sc.**
*Graduação em Enfermagem pela UFF, Especialização em Métodos Dialíticos e Transplante Renal pela UFF, Mestrado Profissional, MPEA pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, **Graduação em Enfermagem e Obstetrícia, Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestrado e doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Resumo Objetivo: Descrever os saberes e práticas dos enfermeiros no momento da alta hospitalar ao paciente transplantado renal. Método: Estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritivo. Cenário: Centro de Diálise e Transplante de um hospital público em Niterói; entrevistas ocorreram em agosto de 2014 com 6 enfermeiros do setor. Resultados: Duas categorias: saberes e práticas dos enfermeiros acerca das orientações para alta hospitalar ao paciente transplantado renal e educação em saúde para alta ao paciente transplantado renal. É necessária a elaboração de um plano visando ao preparo para a alta hospitalar e cuidados para o domicílio. Conclusão: Os enfermeiros possuem o saber necessário relacionado ao transplante renal, porém não conseguem transmiti-lo de maneira satisfatória em virtude de inúmeras razões, tais como falta de tempo, de pessoal e de uma padronização da assistência de enfermagem. Palavras-chave: transplante de rim, enfermagem, alta do paciente.
Abstract Knowledge and practices of nurses at the time of hospital discharge to the kidneytransplanted patient Objective: To describe the knowledge and practices of nurses at the time of hospital discharge to the kidney-transplanted patient. Method: This was a qualitative and descriptive study. Background: Dialysis and Transplantation Center of a public hospital in Niterói; interviews took place in August 2014 with the six nurses working in the sector. Results: Two categories: knowledge and practices of nurses about the guidelines for hospital discharge to the kidney-transplanted patient and health education for discharge to the kidney-transplanted patient. Results: There is a need to elaborate a plan aimed at the preparation for hospital discharge and home care. Conclusion: Nurses have the required knowledge in regard to kidney transplantation, but they are not able to transmit it due to many reasons, such as lack of time, staff and standardization of nursing care. Key-words: kidney transplantation, nursing, patient discharge. Recebido em 12 de maio de 2017; aceito em 25 de junho de 2017. Endereço para correspondência: Livia Borsato, Mariz e Barros, 121/801, bl 02, 24220-120Niterói RJ, E-mail: liviaborsato@ yahoo.com.br; Cristina Escudeiro: cristinalescudeiro@gmail.com
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Enfermagem BRASIL Ano 2017 - Volume 16 - Número 3
Resumen Los saberes y prácticas de los enfermeros en el momento del alta hospitalaria al paciente renal trasplantado Objetivo: Describir los saberes y prácticas de los enfermeros en el momento del alta hospitalaria al paciente renal trasplantado. Método: Estudio con planteamiento cualitativo, del tipo descriptivo. Escenario: Centro de Diálisis y Trasplante de un hospital público en Niterói; entrevistas tuvieron lugar en agosto de 2014 con los seis enfermeros del sector. Resultado: Dos categorías: saberes y prácticas de los enfermeros sobre las orientaciones para alta hospitalaria al paciente renal trasplantado y educación en salud para alta al paciente renal trasplantado. Resultados: Se hace necesaria la elaboración de un plan dirigido a la preparación para el alta hospitalaria y la atención domiciliaria. Conclusión: Los enfermeros tienen el saber necesario relacionado al trasplante renal, pero no logran transmitirlo de manera satisfactoria en virtud de las innumerables razones, tales como falta de tiempo, de personal y de una estandarización de la asistencia de enfermería. Palabras-clave: trasplante de riñón, Enfermería, alta del paciente.
Introdução As doenças crônicas constituem problema de saúde de grande magnitude, correspondendo a 72% das causas de mortes. Hoje, são responsáveis por 60% de todo o ônus decorrente de doenças no mundo. No ano 2020, serão responsáveis por 80% da carga de doença dos países em desenvolvimento [1]. Dados do Ministério da Saúde apontam que 52,6% dos homens e 44,7% das mulheres com mais de 18 anos estão acima do peso ideal. A Organização Mundial da Saúde estimou que o excesso de peso é responsável por 58% da carga de doença relativa ao diabetes tipo II, 39% da doença hipertensiva, 21% do infarto do miocárdio, 12% do câncer de cólon e reto e 8% do câncer de mama e responde diretamente por parcela significativa do custo do sistema de saúde nos países. Diabetes Mellittus (DM) e hipertensão arterial (HA) atingem, respectivamente, 6,3% e 23,3% dos adultos brasileiros. No Brasil, essas doenças representam a primeira causa de mortalidade e de hospitalizações, sendo apontadas como responsáveis por mais da metade dos diagnósticos primários em pessoas com insuficiência renal crônica submetidas à dialise no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro [1]. Atualmente, a doença renal crônica (DRC) tem sido considerada um problema de saúde pública. O desfecho temido da DRC é a perda continuada da função renal, processo patológico conhecido como progressão, que pode levar
muitos desses pacientes para a DRC terminal (DRCT), necessitando de algum tipo de terapia renal substitutiva (TRS), sendo as modalidades disponíveis: a hemodiálise, a diálise peritoneal e o transplante renal [2]. O transplante renal é uma alternativa de terapia renal substitutiva (TRS) que, apesar de elevado custo no primeiro ano, parece oferecer melhor custo-benefício em relação à diálise nos anos subsequentes [3:16]. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 40 pacientes/100.000 habitantes/ano necessitam de TRS no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), no Brasil, foram realizados 5.385 transplantes renais em 2012, correspondendo a apenas 47% da demanda [3]. Apesar das dificuldades, o Brasil tem aumentado o seu desempenho progressivamente. Em 2007, foram realizados 3.463 (18.8pmp-por milhão de população) transplantes renais, enquanto, em 2012, esse número subiu para 5.385 (28.2pmp). Esse aumento se deve, principalmente, ao aumento do número de doadores falecidos efetivos que era 18.8 pmp, em 2007, e 28.2 pmp, em 2012 [3]. Para o enfermeiro que atua com transplante, o preparo na aquisição de competências é fundamental, dentre estas, destaca-se a avaliação que consiste no alicerce da prática do enfermeiro que atua em transplante, por exemplo, a capacidade de este profissional avaliar rejeição ou infecção em receptores de transplantes [4]. 141
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O sucesso do transplante renal está diretamente correlacionado com uma maior sobrevida desses pacientes, além do aumento da qualidade de vida que um transplante renal bem-sucedido pode proporcionar. Porém, é válido lembrar que o paciente é um sujeito ativo neste processo e que os resultados satisfatórios também dependem dele, visto que estão envolvidos fatores biológicos e psicossociais do ser humano [5]. O enfermeiro pode agir em vários momentos durante o período da internação do paciente, ajudando a pessoa hospitalizada a ter uma visão diferente daquele local, como também esclarecendo dúvidas que podem estar lhe causando transtornos. Além de valorizar sua opinião, sabendo ouvir e aproveitar todo o tempo com o cliente para pôr o Plano de Alta em prática, com base nos ensinamentos sobre o manejo da saúde e da doença [6]. O estudo possui como relevância os benefícios tanto para a instituição quanto para os enfermeiros. Ao revelar como a assistência é realizada por estes profissionais, a instituição poderá traçar planos de melhoria com o intuito de sistematizar e otimizar as ações ao paciente transplantado renal. Este estudo objetivou descrever os saberes e práticas dos enfermeiros no momento da alta hospitalar ao paciente transplantado renal.
Material e métodos Estudo descritivo de natureza qualitativa. Teve como cenário um Centro de Diálise e Transplante de um hospital universitário na cidade de Niterói/RJ. O artigo em questão é um recorte da Dissertação de Mestrado do MPEA da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (UFF). A dissertação em questão possuiu dois grupos de sujeitos: os pacientes transplantados renais e os enfermeiros do setor em questão. Para o artigo serão apresentados os resultados do grupo de sujeitos enfermeiros. Os sujeitos da pesquisa foram os enfermeiros do setor, tanto do serviço diurno quanto noturno, num total de 6. A coleta de dados ocorreu em agosto de 2014 através de entrevista semiestruturada utilizando um roteiro de perguntas e um instrumento de caracterização sociocultural. Após o esclarecimento dos objetivos da pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento 142
Livre e Esclarecido (TCLE), os sujeitos foram submetidos às entrevistas que foram gravadas pelo autor e, posteriormente, transcritas. Manteve-se o anonimato dos participantes, sendo atribuídos apelidos aos mesmos. Após transcrição das respostas, as mesmas foram submetidas à análise de conteúdo de Bardin. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da referida instituição em 21 de maio de 2014, sob nº de parecer 655.193, conforme preconizado pela Resolução 466/2012 que regulamenta a pesquisa com seres humanos e Certificado de Apresentação Ética -CAAE nº 24088913.9.0000.5243.
Resultados Quanto à caracterização dos sujeitos da pesquisa, o quantitativo de seis entrevistados corresponde ao total de enfermeiros lotados no setor, já que não havia afastamentos ou licenças. Todos são estatutários e pertencem ao sexo feminino. Uma diarista da CAPD (diálise peritoneal ambulatorial contínua), uma diarista coordenadora, dois plantonistas noturnos e dois plantonistas diurnos. A terceira plantonista diurna é a própria autora, não participando da pesquisa. Em relação ao tempo de atuação no Centro de Diálise, variou de dois anos e meio a 37 anos. O tempo de atuação no hospital em questão variou de cinco anos a 37 anos. Quanto ao tempo de conclusão da graduação, variou de 10 anos a 37 anos. Somente três relataram trabalhar em outro hospital. Referente à especialização, todos possuem pós Lato Sensu específica para a área de Nefrologia e Transplante. Somente 3 possuem pós Stricto Sensu, sendo dois com mestrado e um com doutorado. Dos seis entrevistados, cinco afirmaram ter participado de cursos/palestras acerca do transplante renal, porém nenhum ministrado no hospital em questão. A análise dos resultados resultou em duas categorias. Categoria 1: saberes e práticas dos enfermeiros acerca das orientações para alta hospitalar ao paciente transplantado renal.
Enfermagem BRASIL Ano 2017 - Volume 16 - Número 3
Os enfermeiros possuem os saberes acerca do transplante renal. Além disso, através do perfil sociocultural traçado dos sujeitos, evidenciou-se que todos possuem pós Lato Sensu específica para a área de Nefrologia e Transplante e três possuem pós-Stricto Sensu, sendo dois com mestrado e um com doutorado. Os saberes presentes nas falas estão intimamente ligados ao saber biomédico, em que ficou evidente que a preocupação principal do enfermeiro na realização das orientações ao paciente estava relacionada a questões como o correto uso medicamentoso, capacidade de identificar sinais de infecção e rejeição e outros. [...] nós sabemos que a eficiência de um transplante renal ele vai muito e principalmente em relação aos medicamentos então nós temos que estar extremamente focados pra eficiência desse tratamento [...] (Piano). [...] a gente vai esclarecendo alguns pontos pra orientar para a alta hospitalar sobre a dieta, sobre os cuidados com a própria exposição do abdômen, sobre os imunossupressores, sobre as atividades que ele vai poder desenvolver, sobre o uso de máscara, que é uma coisa que eles têm muita dúvida, assim, visita de familiares, do alimento, que é das nutricionistas [...] (Flauta).
Foi possível apreender que cada enfermeira se comporta de forma particular na orientação para a alta. Não existe consenso nas falas dos enfermeiros relacionadas ao momento para se iniciar as orientações para alta ao paciente transplantado renal. [...] eu acredito que as orientações para alta devem ser realizadas no mínimo 15 dias de pós-operatório, no tardio, porque é muita informação e a equipe médica só orienta dizendo que o transplante pode dar certo ou não, ponto, eles não falam do esquema medicamentoso, que pode voltar a dialisar, mas não diz que no caminho para dar certo ele pode dialisar, nós que deveríamos dar, então eu acho que deveriam ser feitas orientações para o momento da alta que seria dada em determinada fase do processo
cirúrgico, paciente evoluiu bem, tem alta prevista pra daqui há 15 dias, então lá pelo décimo dia a gente já começa a conversar, mas o paciente não está evoluindo bem, pra mim não adianta falar com ele de alta porque na minha cabeça vai criar expectativa grande [...] (Violão).
Ao invés de fechar um tempo certo pras orientações pode-se fechar momentos, tipo, quando se sabe que o rim já está funcionante. O certo é que tem que ser com antecedência porque a gente não sabe o dia que vai ter alta, né...porque existem as complicações [...] (Violoncelo). Em algumas falas, evidenciou-se a preocupação na realização de orientações individualizadas, na necessidade de conhecer o paciente, seus saberes, suas crenças, sua capacidade de entendimento e em muitos momentos a necessidade de envolver um cuidador. [...] essas orientações têm que ser individualizadas e você só consegue isso no momento em que você vai conhecendo o paciente no decorrer da internação. E eu acho que as orientações devem ser feitas o quanto antes porque dúvidas vão surgindo e ele vai ter pra quem perguntar, se você deixa pra dar muito no finalzinho ele às vezes já está na alta então as dúvidas que ele tem não vai ter com quem tirar [...] (Violino).
Ficou evidente a dificuldade na realização das orientações de enfermagem ao paciente transplantado renal. [...] o doente fica sem informação, como ele fica completamente solto, isso serve para o paciente de diálise, que entra em diálise e do transplante [...] (Flauta). [...] nenhuma especificamente......porque a gente não tem um projeto estruturado de alta hospitalar então a gente faz quando dá, quando pode, quando deu tempo no plantão [...] (Flauta).
Em algumas falas, constatou-se que orientações são realizadas sim, mas de maneira assistemática, e dependendo até da demanda do paciente, 143
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ou seja, quando o paciente solicita a enfermagem com dúvidas, estas são tiradas, não havendo uma programação por parte do enfermeiro para orientar o paciente para a alta. [...] aí a gente vai falando na medida em que vai surgindo, mas eu já passei por alguns doentes que entraram e saíram sem eu fazer nenhuma orientação de alta hospitalar e já passei por doentes que entraram e eu acabei fazendo muita orientação porque eram pacientes que acabavam me perguntando [...] (Flauta).
[...] importante porque isso tem que ser sistematizado, poderia ser feito pelo profissional do dia quanto da noite porque haveria toda uma regra, que não existe, haveria, uma forma de orientar. Iria facilitar, como também a adesão de todo o serviço, de todas as pessoas que trabalhariam tanto no diurno quanto no noturno, todas as pessoas estariam prontas para colaborar, corroborar com essa informação dada [...] (Gaita).
Categoria 2 - Educação em saúde para alta ao paciente transplantado renal: universo multifacetado de práticas. A prática de educação em saúde ao paciente transplantado renal, segundo as falas dos enfermeiros entrevistados, apresenta inúmeros empecilhos que contribuem para dificultar a realização das orientações de enfermagem ao paciente transplantado. Um dos empecilhos foi a falta de tempo. Necessitamos compreender o setor em questão para entendermos que o centro de diálise e transplante possui vários setores dentro de um único setor. O enfermeiro fica responsável pela enfermaria de transplante, sala de hemodiálise, sala de procedimento (onde são instalados cateteres e realizada biópsia renal), diálise externa (realizada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) e na Unidade Coronariana (UCO)) e pela diálise peritoneal quando a enfermeira dessa modalidade não está, já que é diarista. A sala de hemodiálise absorve muito o 144
tempo do enfermeiro, pois o perfil dos pacientes que se submetem à hemodiálise são os internados, os que iniciaram a diálise no hospital em questão e, muitas das vezes, pacientes graves. Essa dificuldade da própria planta física aumenta ainda mais os empecilhos para que um único enfermeiro esteja ciente do que ocorre em todo o setor. [...] não tem muito tempo pra poder atuar junto ao paciente na alta, mas eu acho que isso é importante [...] (Violino). [...] o enfermeiro em si ele atuava muito pouco, quando atuava. O enfermeiro plantonista não atuava porque estava extremamente ocupado lá dentro da sala, nem sempre ele estava livre pra fazer a orientação porque ele não tinha tempo. O centro de diálise é dividido em, agora é transplante, mas era internação, a princípio internava qualquer paciente com problemas dialíticos, tem a hemodiálise e tem a CAPD. Então o enfermeiro não tem como dar conta disso tudo e a sala de diálise ela absorve muito o enfermeiro [...] (Piano).
Além da falta de tempo relatada pelos enfermeiros, uma das razões do enfermeiro não conseguir realizar as suas funções específicas é a falta de pessoal, pois o número de técnicos de enfermagem acaba sendo reduzido, levando-se em consideração que o setor não é um só. Outro relato comum na fala dos enfermeiros está relacionado à ausência de um enfermeiro diarista assistencial que contribuiria para fazer o elo entre todos os plantões e a assistência aos pacientes transplantados. [...] já é uma aspiração nossa de muito tempo a gente ter um enfermeiro diarista, pra fazer o elo todo entre os plantões, os médicos porque tem dia que o médico fulano não vem no dia, não vem no outro. Se tivesse esse enfermeiro diarista seria muito bom pra fazer esse elo e aí ele observaria mais de perto o momento da gente fazer essas orientações [...]. (Violoncelo)
O paciente internado para realizar o transplante renal necessita de toda uma infraestrutura
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e de uma equipe multiprofissional presente para que receba a melhor assistência possível. A ausência de diálogo entre equipe médica e de enfermagem é uma das dificuldades do planejamento da alta hospitalar relatada pelos enfermeiros entrevistados. [...] a gente não fica sabendo também quando o doente vai ter alta [...] (Flauta). [...] primeiro a falta de comunicação que existe no setor entre a equipe médica e a equipe de enfermagem que é muito grande, eles fazem as determinações, as propedêuticas médicas e eles não passam , desde o momento da admissão até todo o pré, trans e pós-operatório, eles mudam condutas terapêuticas, prescrição, exames, solicitam infinitas coisas, se comunicam às vezes com a equipe técnica mas esquecem que tem um responsável pelo setor que é o enfermeiro. Isso impede que a gente tenha um acompanhamento maior desse paciente, as informações necessárias até mesmo para traçar uma conduta de cuidados e também dificulta no momento da alta porque a enfermagem nunca sabe quando esse doente vai ter alta, a gente somente é informado quando ele está indo ou já foi [...] (Violão).
Devido à ausência do enfermeiro nas orientações para alta ao paciente transplantado, outros profissionais acabam por realizá-las, como a secretária do transplante ou o técnico de enfermagem.
Discussão Quanto às orientações para alta, o enfermeiro é o profissional de saúde que durante a sua formação profissional é instrumentalizado para realizar ações educativas e de saúde visando ao planejamento de alta hospitalar. Essa realidade exige dos enfermeiros o comprometimento e a preocupação não só com o paciente, mas também com o preparo dos familiares para a alta hospitalar: orientar, ensinar, treinar as técnicas e cuidados necessários que serão dispensados ao paciente em seu domicílio a fim de evitar adoecimento e reinternações [7].
Ficou evidente nas falas dos enfermeiros a dificuldade na realização das orientações de enfermagem ao paciente transplantado renal. É necessária a elaboração de um plano de alta visando ao preparo para a alta hospitalar e cuidados para o domicílio com o intuito de minimizar dúvidas e expectativas do paciente, estimulando também seu autocuidado e autonomia e contribuindo para a melhora na qualidade de vida destes e de seus familiares [8]. Os elementos-chave para a atuação dos enfermeiros incluem: a educação de pacientes; a implementação de intervenções que mantenham ou melhorem a saúde fisiológica, psicológica e social; o uso de intervenções que facilitem e promovam mudanças de comportamento e adesão ao tratamento em relação às complexas e prolongadas terapias; bem como dar suporte aos pacientes e familiares no planejamento, implementação e avaliação do cuidado; e promover sistemas de apoio que visem aos melhores resultados dos transplantes de órgãos [9-11]. O papel do enfermeiro também engloba estratégias para a melhoria dos sistemas em que o cuidado em transplante é realizado. Para tanto, faz-se necessário o controle de qualidade do cuidado ministrado, colaboração entre os profissionais envolvidos, implementação de estratégias voltadas para a educação em saúde, realização de pesquisas oriundas de problemas vivenciados na prática clínica e a organização e registro relacionados ao cuidado prestado [9,10]. O profissional de enfermagem tem papel importante na orientação dos pacientes transplantados quanto à doença, horários, doses, bem como na motivação do paciente em participar como ator responsável no seu autocuidado e tratamento [12]. A variável escolaridade e o número de medicamentos ingeridos diariamente são fatores que influenciam na adesão ao tratamento imunossupressor. A falta de adesão ao tratamento imunossupressor desencadeia vários riscos à saúde do paciente, interfere no processo evolutivo no pós-transplante renal, além de ser um fator causador de complicações e gerar rejeição do enxerto [12]. Em artigo sobre as complicações durante a internação de receptores de transplante renal, evidenciou-se que as principais complicações foram rejeição, infecção, problemas relacionados ao enxerto (necrose tubular aguda, trombose e 145
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ruptura de anastomose arterial) e reintervenção cirúrgica (nefrectomia, nefrostomia, ureteroplastia e safenectomia) [13]. A rejeição foi a complicação pós-transplante mais comum neste estudo. O diagnóstico precoce da rejeição aguda é crucial para função e sobrevida do enxerto, o que requer da equipe assistencial, em especial a enfermagem, uma avaliação criteriosa dos pacientes na busca de sinais e sintomas para intervenção de forma rápida e eficiente [13]. Em algumas falas dos enfermeiros, ficou evidenciado a falta de comunicação entre as equipes multiprofissionais, principalmente entre a equipe médica e de enfermagem, dificultando a assistência ao paciente transplantado e a um planejamento de alta por parte dos enfermeiros. A importância da equipe multiprofissional se traduz em necessidade da integralidade da assistência aos clientes, da necessidade de o usuário ser visto como um todo; com um plano de atenção à saúde individual; da equipe trabalhar de forma articulada; e a necessidade de se criar uma estrutura ampliada de atendimento, incluindo os diversos níveis de complexidade da assistência [14,15]. A provisão de cuidado colaborativo como membro da equipe multidisciplinar de especialistas é um dos papeis dos enfermeiros nos programas de transplantes. Assim, esses profissionais são constantemente desafiados a prover cuidado de qualidade aos pacientes submetidos a transplantes, porém a realidade dos serviços mostra limitação nos recursos humanos, materiais e mesmo financeiro [10,7]. No que se refere ao planejamento da assistência de enfermagem, de acordo com os depoimentos dos enfermeiros, não há uma assistência de enfermagem específica para os pacientes transplantados renais implantada na referida instituição de saúde, conforme previsto na Resolução COFEN – Conselho Federal de Enfermagem 358 de 2009, a qual informa que a Sistematização da Assistência de Enfermagem organiza o trabalho profissional de enfermagem quanto ao método, pessoal e instrumentos, possibilitando a operacionalização do processo de enfermagem, na atenção à saúde dos pacientes [16].
Conclusão A investigação do presente estudo permitiu evidenciar que os saberes e práticas dos enfer146
meiros no momento da alta hospitalar ao paciente transplantado renal são influenciados por inúmeros fatores, alguns inerentes aos próprios enfermeiros e outros devido ao sistema no qual estão inseridos. Os enfermeiros possuem o saber necessário relacionado ao transplante renal, porém não conseguem transmiti-lo ao paciente de maneira satisfatória em virtude de inúmeras razões, tais como falta de tempo, de pessoal, de uma padronização da assistência de enfermagem e do escasso diálogo entre a equipe médica e de enfermagem. Observou-se a valorização por parte do enfermeiro do modelo biomédico, em que a prática do cuidado é marcada pela objetivação do outro e fragmentação do corpo humano, esquecendo que cada ser humano é único, com suas crenças, seus valores, seus medos e anseios. É importante que a enfermagem na prática da educação em saúde considere o modo de vida coletivo e individual dos sujeitos, sem esquecer que estes não são indivíduos passivos, mas, sim, peça chave fundamental no processo de cuidado, priorizando suas necessidades, e não apenas as exigências terapêuticas. As orientações para alta acabam sendo realizadas de acordo com a demanda do paciente. Quando solicitado, o enfermeiro as realiza, porém, sem uma sistematização e uma padronização relacionada ao melhor momento para sua realização. Cada enfermeiro identifica um momento como ideal: para alguns, assim que o paciente é admitido e para outros, assim que o enxerto passa a funcionar, culminando com a alta hospitalar. O enfermeiro como educador, juntamente com o resto da equipe multidisciplinar, tem papel fundamental na identificação das necessidades de informação desse paciente no momento da alta e na transmissão desta, de forma que tanto o paciente quanto sua família sejam capazes de compreendê-las e assimilá-las.
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Pré-natal: conhecimento das gestantes sobre a importância do teste anti-HIV no município de Itacoatiara/AM Geise Kelly Valente de Brito*, Elainne Chris Ferreira Silva*, Ellen Priscilla Nunes Gadelha, M.Sc.**, Marcos Vinicius Costa Fernandes***
*Enfermeira, Especialista em Urgência e Emergência, Instituto de Ensino e Treinamento Singular, **Enfermeira, Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Mestra em Doenças Infecciosas e Parasitárias (UEA), ***Enfermeiro, Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade do Estado do Pará (UEPA) em associação com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
Resumo Introdução: A epidemia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida com o destaque para o crescimento do número de casos entre mulheres fortaleceu a preocupação para a transmissão materno fetal no Brasil. A gestação é um período fundamental para a detecção do Vírus da Imunodeficiência Humana. Objetivo: Avaliar o conhecimento das gestantes sobre a importância do teste rápido no período pré-natal. Método: Estudo exploratório e descritivo, desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde no município de Itacoatiara/AM. Resultados: Todas as gestantes entrevistadas tinham conhecimento sobre a doença e reconheciam a importância do teste rápido durante a realização do pré-natal. Conclusão: Considerou-se que o conhecimento a respeito da importância do exame realizado no pré-natal pelas gestantes e o aconselhamento do profissional foi fundamental para promoção da qualidade da assistência. Palavras-chave: saúde da mulher, transmissão vertical de doença infecciosa, pandemias.
Abstract Prenatal: knowledge of pregnant women on the importance of anti-HIV testing at Itacoatiara-Amazonas Introduction: The Epidemic Acquired Immunodeficiency Syndrome with emphasis on the increase in the number of cases among women has strengthened the concern for maternal fetal transmission in Brazil. Gestation was chosen as a fundamental period for the detection of the Human Immunodeficiency Virus. Objective: To evaluate the knowledge of pregnant women about the importance of the rapid test in the prenatal period. Method: An exploratory and descriptive study, developed in a Basic Health Unit in the municipality of Itacoatiara, Amazonas. Results: All the pregnant women interviewed had knowledge about the disease and recognized the importance of the rapid test
Recebido em 21 de março de 2017; aceito em 28 de junho de 2017. Endereço para correspondência: Marcos Vinicius Costa Fernandes, Universidade do Estado do Pará, Rua do Una 156, 66113-070 Belem PA, E-mail: mvcf_2012@hotmail.com, Geise Kelly Valente de Brito: kellyvalente12@hotmail.com, Ellen Priscilla Nunes Gadelha: ellenpriscilla@ig.com.br, Elainne Chris Ferreira Silva: kellyvalente12@hotmail.com
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during prenatal care. Conclusion: It was considered that the pregnant women researched have knowledge about the importance of the prenatal examination and the counseling of the professional was fundamental to promote the quality of care. Key-words: women’s health, vertical transmission, pandemic.
Resumen Prenatal: conocimiento de la mujer embarazada sobre la importancia del test VIH en el municipio de Itacoatiara-Amazonas Introducción: La epidemia del síndrome de inmunodeficiencia adquirida, con énfasis en el creciente número de casos entre las mujeres ha reforzado la preocupación por la transmisión materno fetal en Brasil. Eligiendo el embarazo como un período fundamental para la detección del virus de inmunodeficiencia humana. Objetivo: Evaluar el conocimiento de las mujeres embarazadas sobre la importancia de la prueba rápida en el período prenatal. Método: Un estudio exploratorio y descriptivo, desarrollado en una Unidad Básica de Salud en Itacoatiara, Amazonas. Resultados: Todas las mujeres embarazadas entrevistadas eran conscientes de la enfermedad y reconocen la importancia de la prueba rápida durante el curso de la atención prenatal. Conclusión: Se consideró que las mujeres embarazadas encuestadas tienen conocimientos sobre la importancia de la exploración en el prenatal y el asesoramiento profesional fue fundamental para la calidad de la promoción de la atención. Palabras-clave: salud de la mujer, transmisión vertical de enfermedad infecciosa, pandemias.
Introdução A Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) é avaliada como uma pandemia – doença de distribuição global e segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS existe no mundo cerca de 23 milhões de pessoas infectadas pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e, aproximadamente, 40% acometem as mulheres [1]. É definida como síndrome porque as suas manifestações clínicas se caracterizam pelo aparecimento de várias doenças sucessivas ou simultâneas devido ao enfraquecimento das defesas imunitárias do organismo infectado pelo HIV [2]. A epidemia da AIDS se destaca como a enfermidade infecciosa emergente pela grande magnitude e extensão dos danos que ela causa no ser humano desde quando foi identificada na década de 80 [3]. Nos últimos anos esta epidemia vem mudando seu padrão de disseminação, com destaque a transmissão sexual em pessoas heterossexuais, levando a mulher ao centro desse crescimento na presente década [4]. Estudos epidemiológicos apontam para indicadores que delimitam o atual perfil da epidemia de AIDS, dentre eles destaca-se a feminilização. Esse processo envolve principalmente mulheres na faixa etária de 25 a 39 anos, denotando a associação com a via de contágio heterossexual e a relação com a idade reprodutiva da mulher [5]. São consideradas
altas as taxas de infecção pelo HIV em mulheres grávidas, como as encontradas na África Sub-Saara e em alguns estados do Caribe e que podem em muitas regiões ter um grande impacto sobre a sociedade, como, por exemplo, em alguns centros urbanos de Botswana (África Meridional), 43% das gestantes estão infectadas pelo HIV [6]. Desde o início da epidemia de AIDS no Brasil até junho de 2014, foram registrados no país 757.042 casos, sendo 593.217 (78,4%) notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), 42.006 (5,5%). Foram registrados no Brasil em junho de 2014, 491.747 (65,0%) casos de AIDS em homens e 265.251(35,0%) em mulheres [7]. Atualmente, as mulheres compõem a população na qual a infecção pelo HIV mais cresce. A maioria delas é jovem e tem parceiro fixo e único. Segundo dados do Núcleo de estudos para a prevenção da AIDS da Universidade de São Paulo (USP), 71% das mulheres infectadas pelo HIV contraíram o vírus dos seus maridos, noivos ou namorados com quem se relacionaram por mais de um ano [8]. A epidemiologia da AIDS no Brasil caracteriza-se pela heterossexualização, feminilização, faixa etária jovem, baixo nível de escolaridade [9] com o destaque para o crescimento do número de casos entre mulheres que fortaleceu a preocupação pela transmissão materna fetal, elegendo a gestação como um período fundamental para a detecção do HIV 149
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[10]. A transmissão vertical é a infecção pelo vírus HIV passada da mãe para o filho, durante o período da gestação (intrauterino), no parto (trabalho de parto ou no parto propriamente dito) ou pelo aleitamento materno [11]. Contudo, para que fosse alcançada a meta de prevenção e tratamento entre as gestantes, a partir do ano de 1985 o Ministério da Saúde passou a recomendar na assistência ao pré-natal o rastreamento sorológico para HIV, com a utilização dos testes rápidos solicitados pelos profissionais de saúde na primeira consulta. O teste quando apresenta resultado positivo possibilita a redução de transmissão vertical e justifica a contraindicação da amamentação do bebê [3]. A oferta do teste anti-HIV no pré-natal é de fundamental importância, pois a vulnerabilidade das mulheres à AIDS vem sendo trazida por uma cultura de submissão sexual, das mulheres aos homens e pela falta de conhecimento e vulnerabilidade, e assim esses fatores interferem no controle da epidemia [12]. Considerando que a adequada assistência no pré-natal possibilita o diagnóstico precoce e um tratamento adequado para prevenir a contaminação no recém-nascido e reduzir a taxa de transmissão vertical [13]. Até junho de 2014, foram notificados no SINAN 70.677 casos de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) entre adultos e 773 em crianças [7]. Segundo a estimativa de prevalência de HIV em parturientes, o número esperado de gestantes com HIV no Brasil é de aproximadamente 12 mil casos por ano. Em 2013, 59,9% dos casos esperados foram notificados no SINAN. A região Nordeste apresentou o maior percentual de casos notificados em relação ao número esperado, 70,6%; o Sul, 65,7%; o Norte, 59,6%; o Sudeste 53,0%; e o Centro- Oeste, 48,6% [7]. A taxa de detecção de gestantes com HIV no Brasil vem apresentando tendência de aumento estatisticamente significativa nos últimos dez anos. Em 2004, a taxa observada foi de 2,0 casos para cada mil nascidos vivos, a qual passou para 2,5 em 2013, indicando um aumento de 25,0%. A tendência de crescimento também é observada entre as regiões do país, exceto na região Sudeste, que apresenta tendência de queda: a taxa passou de 2,5 casos para cada mil nascidos vivos em 2004 para 2,1 em 2013, expressando uma queda de 16,0%. O aumento foi maior na região Norte (187,5%), que apresentava uma taxa de 0,8 em 2004, passando para 2,3 em 2013 [7]. 150
O estado do Amazonas é peculiar porque existem locais onde o acesso a saúde é precário, e a localização geográfica é um fator que contribui para isto e também além das dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde no desenvolvimento de suas ações assistenciais. Em decorrência do crescimento demográfico de Itacoatiara, que atualmente ostenta a posição da terceira cidade mais populosa do Amazonas e uma das maiores em população da região Norte, o município foi incluído à Região Metropolitana de Manaus em 2008. Em 2012, tinha 89.064 habitantes, em 2014 o número de habitantes pulou para 95.714. O município conta com 15 UBS [14]. Entre as Unidades da Federação, sete apresentam taxa de detecção de HIV em gestantes superior à média nacional em 2013: Rio Grande do Sul (9,3 casos para cada mil nascidos vivos), Santa Catarina (5,5), Amazonas (4,1), Rio de Janeiro (3,0), Mato Grosso (2,9), Paraná (2,6) e Roraima (2,6). Desses estados, o Rio Grande do Sul, Amazonas, Mato Grosso e Roraima apresentam tendência significativa de aumento nas taxas de detecção nos últimos dez anos [7]. Portanto, a falta de informação em relação à doença da AIDS nas mulheres gestantes contribui para os elevados números de casos da doença, consequentemente aumentando a incidência da transmissão vertical. Essa propagação implica em desafios gigantescos e uma delas é a dificuldade do acesso aos serviços de saúde. O objetivo do estudo deste trabalho foi avaliar o conhecimento das gestantes do município de Itacoatiara/AM sobre a importância do teste anti-HIV no período pré-natal.
Material e métodos Trata-se de um estudo de caráter exploratório e descritivo, realizado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), no município de Itacoatiara, localizado ao leste de Manaus (Amazonas), a 180km da capital. Este município apresenta uma população de 89.064 habitantes, sendo o terceiro mais populoso do Estado. As unidades selecionadas para o estudo foram de baixa complexidade, onde nestas ocorrem somente atividades de clínicas básicas com profissionais de nível técnico e nível superior, enfermeiros, médicos e odontólogos. O cenário do estudo foi a UBS: Manoel Mendes da Silva (MMS), localizada no bairro Educandos, zona leste. A UBS selecionada para o este estudo foi de interesse de ordem prática.
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O estudo foi realizado com gestantes que aceitaram participar do projeto e que estavam comparecendo a assistência ao pré-natal na UBS Manuel Mendes, além de terem assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados foi realizada nos turnos da manhã e tarde na sala de espera para consulta. A operacionalização constou em duas etapas metodológicas visando atingir o objetivo, sendo a primeira delas um questionário aplicado nas gestantes cadastradas nas UBS para assistência ao pré-natal e as que deram início, e na segunda etapa do trabalho foram aplicadas palestras educativas relacionadas à importância do teste anti-HIV, gravidez e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). O instrumento de coleta se deu por meio de entrevista estruturada com 22 questões sobre dados socioeconômicos, número de consultas pré-natal, informação acerca do HIV e do teste anti-HIV, adesão ao teste anti-HIV. Quanto à coleta, cada participante teve sua identidade preservada. O método da entrevista visou valorizar a fala dos sujeitos, visto que este tipo de instrumento apresenta uma maior flexibilidade, permitindo maior liberdade ao pesquisador e ao sujeito, principalmente, por permitir a livre expressão das ideias. Este projeto foi aprovado em 02 de setembro de 2015 pelo comitê de ética em pesquisa humana do Centro Universitário Luterano de Manaus - CEULM/ ULBRA com o número do parecer 1.212.992 e segue a resolução de 466 de 2012.
Resultados e discussão Caracterização das gestantes O estudo mostra que das 46 gestantes entrevistadas, 22 correspondiam à faixa etária de 16 a 25 anos, seguida pela faixa etária de 26 a 35 anos apresentando 16 gestantes e 08 na faixa acima de 36 anos de idade. Em conformidade com os dados, a faixa etária das mulheres se assemelha com outros estudos sobre aconselhamento do pré-teste anti-HIV no pré-natal, no qual a maioria dos sujeitos estava na faixa etária de 14 a 31 anos, e se aproximam dos dados de outro estudo no qual a maioria das gestantes tinham idade entre 20 e 25 anos [15,16]. De modo geral, as maiores proporções de gestantes infectadas pelo HIV, de acordo com dados do Ministério da Saúde, estão concentradas na faixa etária de 20 a 29 anos.
Esses resultados apontam que a atividade sexual feminina está se iniciando cada vez mais cedo, e muitas vezes não possui o conhecimento adequado em relação ao uso dos preservativos, fato que coloca essas mulheres numa condição de vulnerabilidade à contaminação pelo HIV [17]. O aumento da ocorrência de casos no sexo feminino em idade reprodutiva vem, em consequência, aumentando ano a ano a frequência de transmissão materno-infantil do HIV [16]. Em relação ao estado civil, observou-se que houve predominância nas que se encontraram em união estável ao todo 16 grávidas, seguida de 15 casadas, 14 solteiras e 01 divorciada. Quanto ao grau de escolaridade, apenas 05 participantes da pesquisa possuíam ensino superior. O pouco tempo de estudo contribui para confirmar a epidemia da AIDS em mulheres [18]. Dados epidemiológicos têm mostrado que, no Brasil, a maioria dos casos de AIDS em mulheres ocorre naquelas com baixa escolaridade e com ocupação menos qualificada. A distribuição da escolaridade, mesmo que indiretamente, mostrou-se um indicador da pauperização das pessoas acometidas pelo HIV, sendo mais evidente entre as mulheres [19]. Outra pesquisa indicou que jovens de baixo nível socioeconômico são mais suscetíveis às infecções sexualmente transmissíveis [20]. A pouca instrução se constitui um grande obstáculo à proteção das mulheres contra o HIV porque ela pode contribuir com a desinformação para o autocuidado. E, devido ao caso da prevenção da AIDS, o maior desafio para educação em saúde no concernente a contaminação por esse vírus é a ideia de risco que cada pessoa tem acerca de si próprio [19]. Em relação à renda familiar, predominou a renda de um salário mínimo, representadas por 32 gestantes e apenas 02 apresentam uma renda acima de 02 salários mínimos e 10 não apresentavam renda. Um estudo de análise do perfil de gestantes em um ambulatório de pré-natal do IFF/Fiocruz constatou que o perfil econômico da clientela era de baixa renda, com cerca de dois terços das famílias (63%) vivendo com no máximo três salários mínimos. No grupo estudado, 7,6% das gestantes declararam renda familiar inferior a um salário mínimo, percentual equivalente aos 8% da população brasileira, que vivem em situação de extrema pobreza e que são alvo da política governamental de erradicação da miséria. A baixa renda familiar tem associação com uma maior ocorrência de malfor151
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mações fetais. Condições socioeconômicas maternas desfavoráveis como a baixa renda, baixa escolaridade e carência nutricional têm sido associadas à maior prevalência de bebês com defeitos congênitos [21]. A maior parte da amostra estudada estava com idade gestacional entre 28 e 41 semanas. O início do pré-natal é importantíssimo, pois é nessa fase que se descobre o diagnóstico da infecção pelo vírus. Em relação à gestação, evidenciou-se que quase 80% das gestantes têm seu diagnóstico feito em períodos gestacionais, e que a gestação em estudo foi o momento em que quase metade destas mulheres tomou conhecimento de serem portadoras do HIV. Dados semelhantes foram obtidos por um estudo na cidade de Belo Horizonte, onde 38,9% das gestantes tiveram o diagnóstico na última gestação. Este dado reforça a necessidade de rastreamento universal da infecção pelo HIV, ou seja, solicitação do teste anti-HIV 1 e 2 no primeiro e terceiro trimestres das gestações, para que medidas profiláticas da transmissão vertical possam ser adotadas. O início tardio do pré-natal, após o primeiro trimestre da gestação, bem como o número reduzido de consultas pré-natais constituem uma barreira para a prevenção da transmissão vertical. No presente estudo, 10,3% das pacientes iniciaram o pré-natal tardiamente, com IG superior a 30 semanas. Contudo, a maioria (60,3%) iniciou o acompanhamento pré-natal antes da 20ª semana. Nesta situação de diagnóstico precoce, as intervenções disponíveis tornam-se mais eficazes como medidas de prevenção da transmissão materno-infantil do HIV [22]. E quanto ao número de gestações, 25 gestaram entre 01 e 03 vezes. A maior fecundidade entre as soropositivas contribui para o incremento de taxas de transmissão materno-infantil, demonstrando a importância de um pré-natal adequado, já que, atualmente, a quase totalidade de casos de AIDS em menores de 13 anos de idade tem como fonte de infecção a transmissão vertical [22]. O início tardio do pré-natal, após o primeiro trimestre da gestação, bem como o número reduzido de consultas pré-natais constituem uma barreira para a prevenção da transmissão vertical [23]. Comportamento sexual Com relação ao parceiro sexual todas relataram ter apenas um parceiro fixo. Mesmo tendo parceiros fixos, as gestantes não estão isentas da vulnerabilidade às IST/AIDS, principalmente pelo fato da 152
cultura brasileira ainda seguir padrões tradicionais onde a mulher é vista como um ser submisso ao seu companheiro, e nas relações afetivo-sexuais isso é traduzido em consequências muitas vezes danosas a ela, evidenciadas pela dificuldade em negociar o uso do preservativo em todas as relações, assim como a cultura da fidelidade enquanto método de prevenção ao HIV/AIDS e a outras IST [17]. As estatísticas têm comprovado que o vírus HIV se intensificou bastante devido a maior exposição da mulher, em decorrência de sua vulnerabilidade biológica, e também ao baixo poder de decisão no qual envolve a vida sexual e reprodutiva [24]. Quanto ao tipo de relação, além de vaginal, 12 praticavam sexo oral e 05 sexo anal. Sabe-se que qualquer tipo de relação sexual é suscetível a contrair o vírus HIV/AIDS, porém há um maior risco de infecção por relação de sexo anal, onde a região é mais vascularizada. Vinte e cinco gestantes relataram não fazer o uso do preservativo e 17 fazer o uso esporadicamente. Hoje, o principal método de prevenção do contágio do HIV é o método de barreira, ou seja, a utilização de preservativos. Posteriormente alguns preferem não fazer o uso, por ter algum tipo de alergia, o fato de incomodar e alguns não preferem fazer o uso como prova de amor e assim estando a mercê de ser infectada pelo vírus HIV. Sabe-se que qualquer relação sexual desprotegida é considerada fator de risco para aquisição do IST/AIDS [25]. Percepção sobre o pré-natal Os resultados mostraram que todas realizaram o pré-natal, e uma gestante estava iniciando a primeira consulta. Quanto ao número de consultas, a maioria, representada por 25 gestantes, estava realizando as 06 consultas e 15 realizaram 03 consultas. No Brasil, o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) estabelece que o número mínimo de consultas de pré-natal deverá ser de sete consultas, preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no segundo trimestre e três no último trimestre. A maior frequência de visitas no final da gestação visa à avaliação do risco perinatal e das intercorrências clínico-obstétricas mais comuns nesse trimestre, como trabalho de parto prematuro, pré-eclâmpsia e eclâmpsia, amniorrexe prematura e óbito fetal [26]. A frequência das mulheres ao pré-natal é o momento desencadeador de todas as
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ações de prevenção da transmissão materno infantil do HIV. Em relação às dificuldades encontradas para o acompanhamento do pré-natal, 38 afirmaram não haver nenhuma dificuldade, porém 04 gestantes apresentaram problemas pessoais, e outras 04 não justificaram o motivo do não comparecimento às consultas. As mulheres que não comparecem as consultas de pré-natal e apresentam dificuldades constituem um problema de difícil resolução, pois, muitas vezes, são elas que apresentam maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Algumas gestantes relataram como motivo para o não comparecimento alguns como: acompanhamento do esposo na consulta. Apesar das dificuldades, as gestantes comparecem as consultas, com isso demonstram que estão preocupadas não só consigo mesmas, mais principalmente com o filho que gesta, a gestante sabe a importância de comparecer as consultas de pré-natal para um tratamento mais eficaz. Conhecimento das gestantes sobre o HIV e o teste anti-HIV Com relação ao conhecimento, 44 das gestantes entrevistadas tinham conhecimento sobre a doença HIV/AIDS e reconheciam a importância do teste anti-HIV durante a realização do pré-natal. Estudos consideram o conhecimento das mesmas como uma das dimensões inscritas no quadro da vulnerabilidade o aspecto cognitivo, o qual interfere na mudança de comportamento [15]. Quanto ao meio de transmissão, três participantes desconheciam os meios de transmissão do vírus HIV/AIDS e duas não haviam realizado o exame, pois estavam dando início ao pré-natal. Entretanto, das gestantes que realizaram o exame, apenas duas não buscaram o resultado. A desinformação sobre a AIDS e suas formas de transmissão pode contribuir com o crescimento das taxas de transmissão vertical do HIV. Em pleno século 21 ainda existem pessoas que desconhecem a doença e principalmente o meio de transmissão.
Conclusão Percebeu-se nos resultados obtidos que as mulheres participantes do estudo aceitavam o exame apenas como rotina da prática clínica, porém era negado o direito da mulher em conhecer a importância do exame no tocante a ela e à criança. O
conhecimento apreendido pela maioria das gestantes acerca da importância da realização Sorológica para o HIV pode ser considerado adequado, uma vez que estas mulheres referiram a percepção da sua importância para a manutenção da saúde do binômio mãe-bebê, bem como para iniciar tratamento precoce, caso o resultado fosse positivo. A maior ênfase nos depoimentos esteve associada à necessidade de evitar a transmissão vertical do HIV durante a gestação. Considera-se que as gestantes pesquisadas tem conhecimento a respeito da importância do exame anti-HIV realizado durante o pré-natal e o aconselhamento do profissional na atenção foi fundamental para promoção da qualidade da assistência. Portanto os resultados da pesquisa que foram comparados e discutidos com a literatura atual exigem de cada um de nós e de todos os profissionais ações eficientes e resolutivas para a minimização do problema de pesquisa que é considerada um problema de saúde pública. Apesar da realização do estudo em um município do interior do Amazonas com número limitado de gestantes, o estudo serve como alerta para direcionar as políticas públicas, pois problemas como a falta de conhecimento da doença e dos meios de prevenção podem ser evitados com campanhas maciças direcionadas a essa população.
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ARTIGO ORIGINAL
Fatores de risco na construção da resiliência de profissionais de enfermagem em saúde mental Gabriela Jorge de Novaes*, Juliana Burgo Godoi Alves, M.Sc.**, Vagner Ferreira do Nascimento***, Thalise Yuri Hattori****, Melissa Carvalho Martins*****
*Enfermeira, Universidade Federal de Goiás, **Enfermeira, Docente Assistente da Universidade Federal de Goiás (UFG), ***Enfermeiro, Docente Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus Universitário de Tangará da Serra, Departamento de Enfermagem, Coordenador do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Política, Planejamento, Organização e Práticas (individual e coletiva) em Saúde (NPEPS), Conselheiro do COREN MT, ****Enfermeira, Docente Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus Universitário de Tangará da Serra, Departamento de Enfermagem, Membro do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Política, Planejamento, Organização e Práticas (individual e coletiva) em Saúde (NPEPS),*****Médica, Especialista em Medicina do Trabalho, Coordenadora do Curso de Medicina da UniFIMES
Resumo Objetivo: Apresentar os fatores de risco na construção da resiliência de profissionais de enfermagem atuantes em unidades de atenção em saúde mental. Material e métodos: Estudo descritivo, de abordagem qualitativa que abordou, a partir de entrevistas semiestruturadas, técnicos de enfermagem atuantes em instituições de atenção em saúde mental. Resultados: Diante da atuação profissional foram caracterizados como fatores de risco o estigma da área de saúde mental presente na sociedade e entre profissionais de saúde, a qualidade da capacitação e remuneração profissional, além das relações constituídas pelo trabalhador com a equipe de trabalho, com os usuários dos serviços e seus familiares. Conclusão: Observouse que os fatores de risco descritos abrangem múltiplos âmbitos na prática profissional. É preciso atentar nas causas a fim de propor métodos que auxiliem o profissional a garantir melhores condições de trabalho e minimizar possíveis prejuízos para a qualidade de vida profissional e pessoal desse indivíduo. Palavras-chave: saúde mental, saúde do trabalhador, equipe de enfermagem, resiliência psicológica.
Abstract Risk factors in building the resilience of nursing professionals in mental health Objective: To present the risk factors in the construction of the resilience of nursing professionals working in mental health care units. Methods: A descriptive, qualitative study that approached, from semi-structured interviews, nursing technicians working in mental health care institutions. Results: During professionals action the following risk factors were characterized: the stigma of the mental health area present in society and among health professionals, the quality of training and professional remuneration, as well as the relationships constituted by the worker with the work team, the service
Recebido em 28 de maio de 2017; aceito em 28 de junho de 2017. Endereço para correspondência: Juliana Burgo Godoi Alves, Universidade Federal de Goiás, Avenida Esperança s/n, Campus Samambaia - Prédio da Reitoria, 74690-900 Goiânia GO, E-mail: burgogodoi@gmail.com; Gabriela Jorge de Novaes: bi.jorge@yahoo.com.br; Vagner Ferreira do Nascimento: vagnerschon@hotmail.com; Thalise Yuri Hattori: thalisehattori@ gmail.com; Melissa Carvalho Martins: dramelissa@fimes.edu.br
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users and their families. Conclusion: It was observed that the described risk factors cover multiple scopes in professional practice. It is necessary to look at the causes in order to suggest methods that help the professional to guarantee better working conditions and to minimize possible damages to the quality of professional and personal life of this individual.
Key-words: mental health, occupational health, team nursing, psychological resilience.
Resumen Factores de riesgo en la construcción de la resiliencia de profesionales de enfermería en salud mental Objetivo: Presentar los factores de riesgo en la construcción de la resiliencia de profesionales de enfermería actuantes en unidades de atención en salud mental. Material y métodos: Estudio descriptivo, de abordaje cualitativo que abordó, a partir de entrevistas semiestructuradas, técnicos de enfermería actuantes en instituciones de atención en salud mental. Resultados: Ante la actuación profesional se caracterizaron como factores de riesgo el estigma del área de salud mental presente en la sociedad y entre profesionales de la salud, la calidad de la capacitación y remuneración profesional, además de las relaciones constituidas por el trabajador con el equipo de trabajo, con los usuarios de los servicios y sus familiares. Conclusión: Se observó que los factores de riesgo descritos abarca múltiples ámbitos en la práctica profesional. Es necesario tener en cuenta las causas para proponer métodos que ayuden al profesional a garantizar mejores condiciones de trabajo y minimizar posibles perjuicios para la calidad de vida profesional y personal de ese individuo. Palabras-clave: salud mental, salud laboral, grupo de enfermería, resiliencia psicológica.
Introdução As doenças mentais estão associadas às principais cargas de doença da população na esfera nacional [1] e internacional [2]. Na saúde pública, observa-se que as práticas direcionadas ao atendimento de pessoas portadoras desse grupo de doenças sofreram diversos reajustes ao longo dos anos e são constantemente aprimoradas com o propósito de alcançar uma melhor assistência aos acometidos [3,4]. Entre os profissionais de saúde atuantes na saúde mental, a equipe de enfermagem geralmente possui considerável envolvimento nos cuidados prestados nessa especialidade [5]. Desse conjunto de trabalhadores pode-se destacar a atuação dos trabalhadores de nível médio, devido ao seu maior quantitativo de profissionais da categoria e conforme alguns autores, possivelmente estão expostos a situações mais intensas no desempenho de suas funções [3]. Nos ambientes de trabalho em saúde, principalmente no contexto da enfermagem, o profissional é exposto diariamente a desafios em sua prática que influenciam sua qualidade de vida, e nesse sentido, pesquisas buscam descobrir as relações entre as condições laborais e a saúde do trabalhador, baseados normalmente nos riscos para o adoecimento e no 156
aprender da superação dos problemas vivenciados, a resiliência [6-9]. Na saúde mental especificamente, cabe destacar que há a necessidade de adequação da atuação profissional em conformidade com os princípios do atendimento psicossocial, que se abdica do modelo biomédico não correspondente mais à assistência ideal. Porém, às vezes, esse profissional conflitua-se no exercício desse cuidado por ter conhecido na formação apenas a internação psiquiátrica como recurso terapêutico, por deparar com outros profissionais e familiares defensores da privação de liberdade do sujeito com transtorno mental ou ainda por vivenciar ambientes inapropriados para o acolhimento e assistência, além de vislumbrar sujeitos em sofrimento psíquico padecendo de cuidados e isso intensificar seus próprios sofrimentos [10]. Assim, diante da importância da atuação do profissional de enfermagem em saúde mental e da necessidade de um melhor entendimento da relação entre as condições de trabalho e a saúde, o objetivo deste estudo é apresentar fatores de risco na construção da resiliência dos profissionais de enfermagem atuantes nas unidades de atenção em saúde mental. Para o alcance desse objetivo, utilizou-se como questão norteadora: “Quais são os desafios encontrados no trabalho de enfermagem no campo de saúde mental?”.
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Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa, junto a técnicos de enfermagem atuantes em instituições de atenção em saúde mental no município de Jataí, localizado na região sudoeste do estado de Goiás. Foram incluídos no estudo, profissionais de enfermagem com idade maior que dezoito anos, de ambos os sexos, atuantes em unidade de atenção em saúde mental há no mínimo seis meses, por considerar este período necessário para uma aquisição de maiores vivências no ambiente laboral. Considerou-se como critério de exclusão: não se encontrar no local de trabalho no período de coleta de dados, entre os meses de junho e julho de 2016, por motivos como licença, férias ou afastamentos. Foram realizadas entrevistas individuais utilizando um roteiro semiestruturado, em espaços reservados disponibilizados pelas unidades de saúde. Cada entrevista teve duração média de 30 minutos. O número de participantes foi estabelecido a partir da saturação dos dados, totalizando oito profissionais. As entrevistas foram transcritas e, após uma leitura exaustiva do material transcrito, as informações foram analisadas pela Análise de Conteúdo, método descrito por Bardin [11], na modalidade temática. Os resultados foram organizados em três categorias temáticas: “O estigma da saúde mental e a enfermagem”, “Condições de trabalho na práxis de enfermagem em saúde mental” e “Relacionamentos estabelecidos na prática profissional em saúde mental”. O estudo respeitou todos os aspectos éticos em pesquisa, de acordo com a resolução 466/12, sendo submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da Universidade Federal de Goiás (UFG) com CAAE: 54266016.8.0000.5083 e parecer n: 1.551.564. A fim de preservar e proteger o anonimato dos participantes, foram atribuídos nomes de planetas.
Resultados e discussão Os participantes em sua maioria eram do sexo feminino, com idade entre 28 e 48 anos, possuíam até três filhos e tinham apenas o ensino médio como maior escolaridade. Quanto à atuação em saúde mental, o tempo médio foi de 5,2 anos, todos os entrevistados permanecem na mesma instituição
em que iniciaram o trabalho nessa especialidade. A maior parte possui único vínculo empregatício, prevalecendo o turno de trabalho integral, com carga horária semanal de 40 horas. O estigma da saúde mental e a enfermagem Para os participantes do estudo, a saúde mental é rodeada por pré-julgamentos no meio social, sendo geralmente não condizentes com a realidade que vivenciam em seu trabalho. [...] têm pessoas que não querem nem passar na porta do hospital psiquiátrico, quer nem saber. Às vezes escuta um barulho dentro do hospital e já fica apavorado (Mercúrio). [...] todo mundo fala: “Ah, é doido, doida!”. Não sabem o que é que estão falando! Que doida!?! Tem problema de saúde! (Júpiter). [...] as pessoas, veem os usuários como pessoas que realmente, é... são passíveis de ficar excluídos, eles não são gente, muitas vezes isso acontece (Saturno).
Os entrevistados descrevem haver discriminação por parte da comunidade com os usuários dos serviços de saúde mental e em extensão para essas instituições pelo desconhecimento a respeito da área, do desenvolvimento das patologias e cuidados ofertados aos indivíduos acometidos pelas mesmas. Em pesquisa realizada na Bahia, identificaram a presença do preconceito e da discriminação ocorrer tanto antes como após o usuário passar a frequentar o serviço de saúde mental [12]. Na Austrália, foram encontrados resultados semelhantes em estudo no qual cerca de 80% dos portadores de doenças mentais afirmaram haver sofrido formas negativas de discriminação, sendo envolvidos nesses casos agentes como a família, vizinhos, amigos, profissionais de saúde, dentre outros [13]. Observa-se dessa forma que os estigmas pejorativos e o preconceito ainda são perpetuados pela sociedade que insiste em excluir e marginalizar o portador de transtorno mental. A enfermagem enquanto profissão que está inserida nessa área, tem como desafio sensibilizar e conscientizar a população quanto à importância da reinserção a 157
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partir de sua reabilitação nos espaços sociais que incluem o convívio com os familiares, amigos estendendo-se aos demais membros da sociedade [12]. Além da sociedade, os entrevistados referiram que o trabalho em saúde mental na visão dos profissionais de enfermagem não atuantes na especialidade é percebido com restrições. A disponibilidade de uma oportunidade de emprego pode ser uma boa razão para o ingresso do técnico de enfermagem nessa área, apesar da escolha pessoal refletir em uma menor motivação [14]. No presente estudo, alguns mencionaram que antes de desenvolverem o trabalho nesse campo possuíam receio ou até desconsideravam a possibilidade de sua atuação nessa área. Eu mesmo tenho colegas aqui que hoje são profissionais, técnicos de enfermagem, mas outrora eles eram estagiários, quando eles vieram, fizeram estágio aqui [unidade de atenção em saúde mental] morriam de medo (Saturno). [...] eu pensava: “Nossa, eu não venho trabalhar aqui [unidade de atenção em saúde mental], não. Nunca vou trabalhar aqui [unidade de atenção em saúde mental]. (Vênus). Eu tinha um medo tão grande quando falava saúde mental: Pessoas doidas! Meu Deus! (Júpiter).
Apesar de descreverem a desconfiança sentida antes de atuarem em serviços da área, os profissionais relataram a desconstrução dessas ideias anteriormente formadas no transcorrer de suas atuações nesse campo. A baixa procura por parte dos enfermeiros na área da saúde mental está relacionada principalmente ao estigma ainda centrado no modelo tradicional e segregante da psiquiatria, além da pouca aproximação com os serviços extra-hospitalares e dos baixos salários [15]. Trabalhadores da equipe de saúde mental geralmente são fonte de um importante apoio para os portadores de doenças mentais [13]. No entanto, os profissionais de serviços de saúde de outras áreas continuam a ser citados como propagadores do estigma [14,16] e da discriminação em saúde mental mesmo ainda diante de todo o conhecimento desenvolvido nesta especialidade [13,16]. 158
Percebe-se a necessidade de uma reformulação nos projetos pedagógicos dos cursos quanto a essa área, uma vez que essa medida buscará reorientar o processo de formação voltado ao desenvolvimento de competências para o direcionamento de práticas e saberes capazes de responder ao que está proposto pela Reforma Psiquiátrica [17]. Desse modo, para atuar em serviços específicos de atenção em saúde mental, a capacitação da equipe de enfermagem, seja em sua formação profissional ou posterior a ela, pode não ser suficiente para o enfrentamento de determinadas circunstâncias no cotidiano laboral, como descrito por alguns participantes: [...] você mexe com muito tipo de gente, com coisas que a gente nem sabe [...] (Urano). [...] a gente não aprende no curso como a abordagem deles, pouquíssimo sobre a saúde mental a gente aprende. É trabalhando que a gente vai aprendendo, vai no dia a dia que a gente vai encontrando isso (Netuno). Às vezes a gente ainda tem dificuldade, né, por mais experiência que tenha, você esbarra em algumas coisas [...]. Então eu acho que a gente tinha que ser um pouco mais capacitado [...] (Terra).
Como verificado, a necessidade de capacitação para o trabalho nesse campo pode ser expressa até pelos enfermeiros, profissionais que comumente lideram as equipes de enfermagem, referindo deficiências na formação e na educação continuada para especialização na área [18]. Para os técnicos de enfermagem, as atividades de educação permanente podem servir como uma importante ferramenta para sanar dúvidas na execução do trabalho e contribuir para uma melhoria salarial [14]. Observa-se assim que uma maior qualificação possibilita uma interação e compreensão da particularidade desse grupo que, por consequência, melhora a qualidade da assistência e minimiza possíveis estigmas já pré-concebidos. Condições de trabalho na práxis de enfermagem em saúde mental A respeito das condições para a práxis de enfermagem, uma parcela dos entrevistados mencionou
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a estrutura física dos ambientes como passível de aprimoramentos com o intuito de contribuir para o desenvolvimento de suas funções, além de fornecer uma melhor acomodação dos usuários dos serviços.
tal que é caracterizada como desafiadora [4], grande parte em virtude da necessidade do conhecimento de como lidar com as diversas particularidades dos pacientes e situações que podem surgir no cotidiano.
[...] o ambiente assim [...] poderia melhorar, [...] é um conforto a mais não só para o profissional, mas para o usuário, né, nessa parte aí (Saturno).
Na verdade, a saúde mental é um desafio, a qualquer instante ela é um desafio [...] são problemas diferentes, são situações diferentes, então você tem que aprender a lidar com qualquer um, a dificuldade de cada um (Urano).
[...] pra gente falta muito espaço. Pros pacientes mesmo, aqui falta espaço (Netuno). [...] a estrutura física eu acho ela um pouco desproporcional à demanda (Terra).
[...] trabalhar com pacientes mentais ou mesmo depressivo não é fácil, né, você tem que ter assim uma cabeça muito boa (Vênus).
Além da condição supracitada, diversos relatos se referiram à remuneração do trabalhador assinalada como inferior diante do papel que desempenham profissionalmente:
Dentre as vivências retratadas como difíceis no trabalho realizado, as abordagens em quadros de surtos psicóticos e de agressividade se destacaram, visto sua complexidade, imprevisibilidade e especialmente os possíveis riscos relacionados à integridade física do cuidador e cliente.
[...] o técnico tinha que ser mais valorizado, [...] acho que ele trabalha muito, muito mesmo, eu acho que deveria ser um pouco mais remunerado (Netuno).
O surto mesmo é complicado pra gente [...] (Netuno).
Pelo tanto que a gente assim, peleja com, assim, tenta fazer um trabalho bom, sabe, eu acho que o salário ele é bem fraco, bem defasado (Júpiter). Se a gente for analisar pelo lado do salário você não trabalha, não. Porque realmente é muito trabalho, pra muito pouco que a gente ganha (Urano).
Um estudo brasileiro com trabalhadores de instituições de atenção em saúde mental no estado do Ceará apontou resultado semelhante sobre o descontentamento dos profissionais com o espaço físico em que realizavam suas práticas laborais e a remuneração recebida. A maior parcela expressou a necessidade de melhoramento dos espaços para desempenho de suas funções e atendimento aos usuários, evitando possíveis prejuízos nos serviços prestados. Em adição, além das consequências diretas para a assistência oferecida, em longo prazo estes indivíduos podem desenvolver um sentimento de sofrimento intenso diante das condições laborais insatisfatórias [4]. Outro ponto importante a ser lembrado consiste na efetuação do trabalho na área de saúde men-
Ah, a pessoa pode estar bem e de repente pode já surtar, né. Então isso é imprevisto (Marte). [...] porque aqui a gente corre risco de apanhar, tem paciente muito surtado. Paciente que às vezes ele sai de si, ele não tá nem aí, ele vai batendo em quem tá na frente, né (Terra).
Em estudo realizado na Finlândia, enfermeiros atuantes em unidades psiquiátricas apresentaram situações de alto risco para o desencadeamento de ocorrências de violência geradas pelo paciente. As principais envolviam a imposição de restrições ou negações de pedidos, a permanência na unidade de saúde ou administração de medicação contra vontade. Dentre as modalidades de agressões sofridas, os profissionais listaram as de caráter verbal, incluindo ameaças de morte, além de outras físicas. A violência contra pacientes e objetos também foram relatadas, todavia acrescentam que esses quadros geralmente são precedidos por sinais de alerta, como alterações no tom de voz, gestos, expressões faciais e movimentos específicos, sendo estes mais perceptíveis quando a equipe já possui maior conhecimento sobre o paciente atendido [19]. 159
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Para enfrentar melhor as demandas existentes no desenvolvimento de sua função, o integrante da equipe de enfermagem pode vir a expressar a necessidade de apoio.
[...] geralmente sempre a gente tem problemas com, com a equipe. A gente tem que saber lidar com qualquer tipo, né, tem umas que dá problema, às vezes (Júpiter).
[...] o profissional [...] está no ambiente tão agitado, tão conturbado, [...] eu acho assim muito falta de apoio a esse profissional na saúde mental. [...] a gente sai como ... sabe, como uma esponja que foi espremida, suas forças foram sugadas ali [...] às vezes você não tem um lugar de referência para você ir. [...] até quando a gente estudou, fazia parte do estudo que o profissional tem que ter seu acompanhamento, mas a gente nunca tem (Mercúrio).
É o que a gente mais assim às vezes sofre [...], por exemplo, eu faço a minha parte, eu organizo o que tá ao meu alcance e deixo minha colega, mas assim a gente encontra colega que às vezes não tem, você entendeu, essa preocupação não (Mercúrio).
Como citado por uma das entrevistadas, é preciso que o profissional preserve seu próprio bem-estar para que possa desempenhar seu papel com qualidade. Nessa perspectiva, é fundamental que as instituições de saúde busquem conhecer o cotidiano e oferecer o apoio necessário para a atuação desse sujeito [16]. Assim, uma forma de melhor adaptação para essas situações consiste em um trabalho de maior vigilância dos espaços no local de trabalho, pois antes mesmo de pensar na saúde dos usuários da saúde mental, é necessário ter um olhar para a saúde dos profissionais que lidam diretamente com esse público. A partir do momento que os profissionais conhecem e sabem que possuem um apoio nos momentos de desequilíbrio seja por desgaste físico ou mental, viabiliza maior segurança no próprio ambiente de trabalho. Relacionamentos estabelecidos na prática profissional em saúde mental Diante dos relacionamentos instituídos na práxis de enfermagem, o primeiro a ser exposto são aqueles desenvolvidos na vivência do trabalho em equipe, seja dentro da categoria de enfermagem ou na área multiprofissional. Eu acho que como em todo o lugar, você tem sempre uma dificuldade (Terra). [...] a gente tem assim uns contratempos, mas não tenho o que reclamar da equipe não (Netuno).
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[...] a dificuldade, às vezes é o relacionamento com outros setores [...] (Saturno).
Oposto a esses resultados, outros estudos específicos na área de saúde mental identificaram como pontos facilitadores a parte de relacionamento interpessoal equipe-equipe, equipe-usuário, ambiente de trabalho satisfatório, apoio e respeito da coordenação [15,21]. Na atenção em saúde, o trabalho em equipe deve associar características particulares de seus integrantes construindo, dessa forma, um serviço de qualidade e integral [18]. Nota-se, entretanto que as adversidades no relacionamento em equipe podem afetar expressivamente o trabalho a ser efetuado, sendo possivelmente oriundas de fatores como: incompatibilidade de ideais de seus componentes [4]; diferenças individuais (temperamento, caráter e personalidade); falta de tolerância, falhas na comunicação e resistência a mudanças [18]. Especificamente na área da saúde mental, com o seu processo de reorganização desencadeou como consequência, mudanças na lógica da organização do trabalho nos espaços de atuação dos profissionais que passaram a trabalhar em uma perspectiva interdisciplinar [21]. Trata-se dessa forma, de um grande desafio uma vez que o trabalho interdisciplinar necessita do engajamento no compromisso coletivo que será realizado a partir da inter-relação, comunicação, empatia, troca de experiência e o conhecimento multiprofissional voltado para o usuário da rede de atenção [15]. Diferentemente, os usuários dos serviços de saúde podem estabelecer relações de confiança com o técnico de enfermagem, considerando-o como um familiar e até direcionando a este as funções de outros profissionais. [...] eles desabafam, chamam a gente de mãe (Netuno).
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Eles acabam se apegando a você, um exemplo, muitas vezes eles não me chamam de técnico de enfermagem, eles me chamam assim de “ô pai, ô tio, ô meu primo” tal até como se fosse alguém da família, eles internalizam dentro da mente deles que nós já fazemos parte da família [...] (Saturno). [...] o paciente eles vê tudo em você, eles espelha na gente. Então a gente tem que se virar em 10 mil, né, ser tudo num só. O psicólogo, o psiquiatra, o ouvinte, o terapeuta, tudo você tem que ser. [...] Quando ele pega confiança numa pessoa, ele, ele acha que ele tem que ser tudo, né, tem que resolver tudo, tem que ser o milagre (risos) (Marte). (...) a gente é um pouco de tudo. Você é secretária, você é psicóloga, você é médica, não, é tudo (Vênus). [...] é uma dificuldade porque a gente também não pode querer entrar muito nessa área [campo de atuação de outros profissionais] porque às vezes são questões que só o profissional da outra área ele também pode dar um diagnóstico mais apurado (Saturno).
A aproximação entre o usuário e o profissional no atendimento à saúde contribui para o estabelecimento de vínculo entre ambos; para o primeiro, esta situação pode proporcionar a sensação de se sentir bem cuidado pelo trabalhador e, por conseguinte pelo serviço de saúde; já para o segundo, favorece na qualidade de assistência prestada, pois por meio dele obtém informações importantes sobre o usuário e auxilia na permanência deste no tratamento [22]. Por outro lado, quando não estabelecido de forma adequada pode implicar em condições consideradas delicadas para os integrantes da equipe de enfermagem. [...] porque querendo ou não a gente se envolve muito com o paciente que trazem problemas, querendo ou não você acaba absorvendo os problemas dele, você, querendo ou não você é sentimental também [...] (Saturno). [...] além de carregar os problemas da gente, a gente tem que carregar o problema dele também. É isso que é mais complicado (Marte).
Inclusive, até uma colega nossa que estava fazendo tratamento porque ela se apega demais com os problemas do povo, fica com dó demais, sabe (Júpiter). [...] você tem que ter uma destreza, porque é um ambiente que às vezes é muito confundido [...] (Mercúrio).
Nesse aspecto, o envolvimento emocional dos profissionais com o paciente em determinadas circunstâncias pode ser relacionado ao sofrimento do trabalhador, não caracterizando, portanto, o ideal envolvimento terapêutico [23]. A prática assistencial no campo da saúde mental é complexa, que vai além da habilidade técnica, necessita de destreza para lidar com as relações humanas e ressocialização do indivíduo portador de transtorno mental ou em sofrimento psíquico. Observa-se, portanto, a urgência que as universidades e os cursos de capacitação consideram a abordagem qualificada centrada no cliente e suas necessidades, na perspectiva da reabilitação e reinserção e social [15]. Na perspectiva do relacionamento com os familiares dos usuários, para os entrevistados trata-se de um assunto complicado especialmente pelo desconhecimento, seja da doença desenvolvida pelo familiar, da terapêutica aplicada ou da importância dos laços familiares. Além disso, o enfrentamento inadequado do tratamento da doença mental e sua influência no tratamento do usuário também são identificados. [...] é muito difícil também e assim pra nós o profissional lidar também [...] às vezes eles vêm e descarrega muita coisa em cima da gente, outra hora vem e te xinga... tem família de todo jeito[...] (Mercúrio). [...] muitas vezes a família traz e esquece-se de vir fazer uma visita então eles ficam muito tristes [...]. (Vênus). [...] você enfrenta às vezes muito problema com o familiar [...] às vezes a família interfere e muito e de forma negativa, né [...] (Terra).
Semelhante aos achados deste estudo, uma pesquisa com técnicos e auxiliares de enfermagem destacou que a falta de apoio da família do usuário refletiu negativamente na manutenção do trata161
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mento proposto e, em adição, na percepção do significado do trabalho efetuado pelo profissional, como se este não tivesse nenhum resultado para a terapêutica do usuário [3]. Na Turquia, estudo com familiares de portadores de doenças mentais demonstrou a relação entre o conhecimento parcial sobre o acometimento apresentado pelo familiar e as dificuldades relatadas no ato de cuidar. Os familiares descreveram como os principais obstáculos encontrados nessa função: a falta de experiência em cuidar; a incapacidade na administração regular de medicação; a comunicação; a abordagem de quadros de agressividade ou em que o familiar provoque lesão em si mesmo e em outros, expresse pensamentos suicidas e relatos de “ouvir vozes”; e dentre as necessidades de informação para cuidarem citaram em grande parte questões voltadas ao manejo de sintomas [24]. A família consiste como a primeira rede social do indivíduo, devendo ser considerada como a base do cuidado em saúde que possibilite resolver os problemas cotidianos [25]. Desse modo, existe a necessidade de um trabalho aprofundado quanto às novas possibilidades de tratamento e manejo dos sintomas desencadeados nas pessoas com transtornos mentais que seria uma reinvenção de novas formas de se ver, tratar aproximar, colocar limites, ajudar, se afastar, enfim, de lidar diariamente com essa população em um processo dialético de exclusão e inclusão social. Geralmente os serviços de saúde mental podem ajudar os familiares por meio de programas específicos e condutas direcionadas ao acolhimento [26]. No Brasil, as ações e atividades realizadas no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ajudam nessa reinserção, contudo carece ainda de uma maior participação da família [26]. Nos países como Inglaterra e Austrália utilizam o peer support que é quando uma pessoa com histórico de transtorno mental que tenham vivenciado avanço significativo em como lidar com a sua doença auxilia outro com transtorno mental em seu processo de reabilitação [27]. Como descrito por um profissional, o ambiente familiar do paciente pode se encontrar perturbado e consequentemente desfavorável para garantir um apoio adequado para o mesmo, sendo necessária ajuda frente esta condição. [...] geralmente o paciente vem para tratar, mas a família que ficou lá de fora também está doente. Ela também precisa de um
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apoio. E aí ele traz o ente dele pra cá, mas o problema continua lá. (...) A família muito perturbada, assim, coloca coisa demais na cabeça da pessoa e se ela não tiver um certo equilíbrio decai mesmo [...] (Terra).
Deve-se ressaltar que os familiares que ficam responsáveis pelo cuidado podem se sentir sobrecarregados, necessitando de redes de apoio social para melhor conviver com essa condição [28]. Nesse sentido, a enfermagem precisa surgir como suporte para atender as necessidades destes familiares [21] que devem desempenhar um fundamental papel no cuidado do portador de doença mental [24,28,29].
Conclusão Para o profissional da equipe de enfermagem, o desenvolvimento do trabalho em saúde mental está atrelado às situações descritas como “desafios” em múltiplos âmbitos. A percepção destas experiências como adversidades no ambiente laboral pode caracterizar as mesmas como fatores de risco no desenvolvimento da resiliência dos trabalhadores nesses espaços. A busca pelo entendimento dos fatores de risco no cotidiano desses profissionais, proposta por este estudo, proporcionou o fornecimento inicial de informações que conduzem a uma visão das condições mínimas necessárias para a concretização de um trabalho produtivo em instituições direcionadas ao cuidado em saúde mental. Desse modo, é preciso atentar para a relação de tais circunstâncias a fim de propor métodos que auxiliem o profissional no desempenho de sua função, garantindo melhores condições de trabalho e, em consequência, resulte na minimização de prejuízos para a qualidade de vida profissional e pessoal desse indivíduo. Como limitações, destaca-se que o resultado deste estudo reflete a vivência de um grupo de profissionais de apenas um município, expondo, portanto, a possibilidade de realização de outras investigações semelhantes com grupos de profissionais em outras unidades de saúde mental para ampliação de informações a respeito deste conteúdo abordado.
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ARTIGO ORIGINAL
Análise videofluoroscópica da deglutição de indivíduos com a doença de Parkinson Thaís de Souza Zimmermann*, Glaucia Santana Trindade**, Magali Aparecida Orate Menezes da Silva, D.Sc.***, Bárbara Carolina Brandão****, Luciano Garcia Lourenção, D.Sc.*****
*Fonoaudióloga, Aprimoranda em Fonoaudiologia Hospitalar da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP),**Fonoaudióloga, Especialista em Voz, Preceptora do Programa de Aprimoramento e Aperfeiçoamento em Fonoaudiologia Hospitalar da FAMERP/FUNFARME, ***Fonoaudióloga, Professora Adjunta da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), Coordenadora da Comissão de Aprimoramento e Aperfeiçoamento da FAMERP/FUNFARME, ****Fonoaudióloga, Mestranda em Fonoaudiologia, Preceptora da Residência Multiprofissional em Reabilitação Física da FAMERP e do Aprimoramento em Fonoaudiologia Hospitalar e Aperfeiçoamento em Disfagias Orofaríngeas da FAMERP/ FUNFARME, *****Enfermeiro, Professor Titular-Livre na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande (EEnf/FURG).
Resumo Introdução: A disfagia é definida como alguma dificuldade no ato de deglutir e este sintoma é frequentemente encontrado em indivíduos portadores da doença de Parkinson. Objetivo: Correlacionar a queixa do indivíduo portador da doença de Parkinson com o exame objetivo da deglutição. Material e métodos: Trata-se de um estudo clínico-qualitativo, transversal e descritivo, envolvendo 10 pacientes do gênero masculino, com idade média de 69 anos (61-79 anos), com diagnóstico clínico da Doença de Parkinson e tempo de doença com média de 9 anos (1-32 anos). Foi realizada uma entrevista clínica e posteriormente o exame de Videofluoroscopia. Para avaliação do exame foi utilizada a escala Bolus Residue Scale (BRS). Resultados: Com relação à queixa relatada pelos pacientes, 30% relataram dificuldades para deglutir e 70% negaram queixas para deglutição. No que diz respeito ao resíduo por consistência alimentar ofertada, 90% dos indivíduos apresentaram resíduo após a deglutição da consistência líquida, 80% para a pastosa e 60% para a sólida. Observou-se disfagia orofaríngea em todos os indivíduos analisados, inclusive nos que não relataram dificuldades para deglutir. Além disso, dois deles apresentaram episódio de microaspiração laringotraqueal durante o exame. Conclusão: A disfagia orofaríngea pode estar presente em indivíduos portadores da Doença de Parkinson mesmo não apresentando sinais clínicos. O estudo mostrou que a avaliação fonoaudiológica, nesta população, se faz necessária com o intuito diminuir agravos na mecânica da deglutição e, consequentemente, o risco de pneumonias aspirativas. Palavras-chave: doença de Parkinson, deglutição, disfagia.
Abstract Videofluoroscopic analysis of swallowing of individuals with Parkinson’s disease Introduction: The dysphagia is defined as some difficulty in the act of swallowing and this symptom is frequently found in individuals with Parkinson’s disease. Objective: To correlate the complaint of the individual with Parkinson’s disease with
Recebido em 23 de fevereiro de 2017; aceito em 28 de junho de 2017. Endereço para correspondência: Thaís de Souza Zimmermann, Rua General Glicério, 5404/12 Vila São Pedro 15091-000 São José do Rio Preto SP, E-mail: tszimmermann1@gmail.com
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the objective examination of swallowing. Methods: This clinical/qualitative study, cross-sectional and descriptive, involved 10 male patients with a mean age of 69 years old (61-79 years), clinically diagnosed with Parkinson’s disease and a mean age of disease onset equal to 9 years (1-32 years). It was carried out a clinical interview and a videofluoroscopic exam. For the exam evaluation was used the Bolus Residue Scale (BRS). Results: In relation to the complaint reported by the patients, 30% reported difficulties in swallowing and 70% denied swallowing disorders. Regarding residual food consistency, 90% of the individuals have residual after swallowing liquid consistency, 80% after pasty and 60% after solid. It was observed oropharyngeal dysphagia in all analyzed patients, including those who related no difficulties in swallowing. Moreover, two of them have incident of microaspiration during the examination. Conclusion: The oropharyngeal dysphagia can occur in individuals with Parkinson’s disease, even in those without clinical signs. The study reveals that the phonoaudiological evaluation, in that population, is important for reducing disorders in the mechanics of swallowing and, consequently, the risk of aspiration pneumonia. Key-words: Parkinson’s disease, deglutition, deglutition disorders.
Resumen Análisis videofluoroscópico de la deglución de individuos con enfermedad de Parkinson Introducción: La disfagia se define como cualquier dificultad en el acto de la deglución y este síntoma se encuentra a menudo en individuos con la enfermedad de Parkinson. Objetivo: Correlacionar la queja de individuos con enfermedad de Parkinson con el examen objetivo de la deglución. Material y métodos: Se trata de un estudio clínico-cualitativo, transversal y descriptivo que incluyó 10 pacientes del sexo masculino, edad media de 69 años (61-79 años) con diagnóstico clínico de la enfermedad de Parkinson y el tiempo de enfermedad promedio fue de 9 años (1-32 años). Se realizó una entrevista clínica y más tarde el examen videofluoroscópico. Para evaluación del examen se utilizó la Bolus Residue Scale (BRS). Resultados: En cuanto a la queja reportada por los pacientes, el 30% reportó dificultad para deglutir y el 70% negó quejas para deglutir. En relación al residuo por consistencia de los alimentos ofertados, el 90% de los individuos presentaron residuo después de la deglución de consistencia líquida, el 80% para la pastosa y 60% para la sólida. Se observó disfagia orofaríngea en todos los individuos examinados, incluidos los que no reportaron dificultad para tragar. Por otra parte, dos de ellos mostraron episodio de microaspiración laringotraqueal durante el examen. Conclusión: La disfagia orofaríngea puede estar presente en individuos con la enfermedad de Parkinson, incluso sin signos clínicos. El estudio mostró que es necesaria la evaluación fonoaudióloga en esta población con el fin de disminuir los problemas de salud en la mecánica de la deglución y, en consecuencia, el riesgo de neumonía por aspiración.
Palabras-clave: enfermedad de Parkinson, deglución, trastornos de deglución.
Introdução A deglutição é uma função fisiológica complexa controlada e regulada por todos os níveis do sistema nervoso (córtex cerebral, tronco encefálico e níveis periféricos) [1]. O processo é iniciado a partir do momento que o alimento é colocado na boca. Toda a musculatura envolvida trabalha na contenção e no movimento do alimento dentro da boca para que o mesmo seja triturado pelos dentes, alterando a consistência do bolo alimentar, onde é umedecido com ajuda da saliva, e enviado para o estômago encerrando o processo [2]. O comportamento anormal no processo de deglutição é chamado de disfagia, seja ele de origem congênita ou adquirida. Este sintoma pode ocorrer em todas as faixas etárias e pode levar a afecções graves, pois está diretamente ligada ao processo res-
piratório, podendo gerar pneumonias de repetições e até levar o indivíduo a óbito [3]. O processo de envelhecimento é um fenômeno biológico natural da vida de todos os seres humanos e não deve ser considerado doença, apesar de nesta fase o acometimento de doenças crônico-degenerativas seja mais frequente, inclusive, a doença de Parkinson [4]. A Doença de Parkinson (DP) está associada, inicialmente, a uma depleção da dopamina na via nigroestrial, decorrente da morte de neurônios dopaminérgicos que compõem a substância negra encontrada no mesencéfalo, porém os sintomas só são visíveis com a perda de aproximadamente 6070% destes neurônios específicos da parte compacta do loccushiger [5]. Atualmente, não há estudos que levem a disfagia em consideração quando se fala em sinais e 165
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sintomas clássicos da DP [6]. Muito embora, no que diz respeito aos déficits na comunicação oral e alimentação, há autores que referem que em estágios inicial e intermediário são mais evidentes as alterações na fonação e na articulação da fala e em estágios mais avançados estes sujeitos referem queixas na deglutição [7]. Outros afirmam que os transtornos da deglutição podem ocorrer tanto nas fases iniciais como nas fases avançadas e que o fator predominante refere-se ao conjunto sintomatológico apresentado [8-9]. A disfagia, na DP, ocorre devido a dificuldades em coordenar os movimentos que são necessários para que ocorra uma deglutição eficiente, em decorrência da rigidez muscular e da bradicinesia, acarretando assim a perda prematura do alimento e seu acúmulo em estruturas orofaríngeas, como: parte oral da farínge, valéculas epiglóticas e recessos piriformes; o que pode favorecer a aspiração laringotraqueal [10]. Portanto, o presente estudo objetivou comparar a queixa de disfagia do paciente com os achados videoflouroscópicos da deglutição, através da aplicação de uma escala de resíduo, em indivíduos com a DP.
Material e métodos Estudo transversal sobre queixa de disfagia do paciente com os achados videofluoroscópicos da deglutição, realizado em um hospital de ensino do interior paulista. Participaram do estudo 15 indivíduos idosos diagnosticados com DP, em diferentes estágios da doença, no período de outubro a dezembro de 2016. No entanto, dos 15 pacientes entrevistados 5 não realizaram o exame de videofluoroscopia, mesmo com solicitação médica. Portanto foram avaliados os dados de 10 indivíduos da amostra. Foram excluídos os indivíduos que apresentavam anormalidades craniofaciais ou lesões em órgãos fonoarticulatórios; distúrbios neurológicos associados confirmados por exames de imagens; doenças sistêmicas descompensadas; apresentando rebaixamento do nível cognitivo; comprometimento respiratório ou hospitalizados. Destes, todos eram do gênero masculino, com faixa etária acima de 60 anos de idade. Para a coleta dos dados, foi realizada uma entrevista clínica informal, na qual foram colhidas informações referentes aos dados pessoais do pacien166
te além da queixa para deglutição, no ambulatório de especialidades do Hospital de Base de São José do Rio Preto e, assim, foram selecionados para a realização do exame objetivo da deglutição (videofluoroscopia). Avaliação videofluoroscópica da deglutição Esta etapa da pesquisa, a avaliação videofluoroscópica da deglutição (VFD), foi realizada no Hospital de Base de São José do Rio Preto, no setor de Radiologia, onde os indivíduos foram encaminhados para realização do exame sob encaminhamento do (a) médico (a) ou do fonoaudiólogo (a) que o acompanha. O exame foi realizado seguindo agenda de marcação do serviço vinculado ao ambulatório de especialidades do Hospital supracitado. Participaram da realização do exame um fonoaudiólogo, um técnico em radiologia e um médico residente em Radiologia. A avaliação da deglutição envolveu adição de contraste radiológico de sulfato de bário (bariogel®) nas consistências alimentares pastosa, líquida e sólida, com adição de espessante para líquidos. Cada indivíduo foi avaliado durante a deglutição das consistências líquida, pastosa e sólida, nesta sequência, onde a consistência sólida só foi oferecida se estava inserido na dieta do indivíduo. O equipamento utilizado foi o aparelho de raio X telecomandado Flexavision, modelo HB da Shimadzu. As imagens foram transmitidas por um monitor acoplado ao equipamento e arquivadas pelo sistema Afga HealthCare® do próprio serviço. Antes da realização do exame, o paciente foi posicionado num ângulo de 90º. A escopia abrangeu desde a cavidade oral (a partir dos lábios e dentes) até o esôfago. Para a preparação das mesmas, foram utilizados: copo e colher descartáveis, seringa de 20 ml (para medição), sulfato de bário, espessante de líquidos (5g, o equivalente a 1 colher de sopa por oferta), e essência de groselha (1 ml por consistência ofertada). A consistência líquida foi oferecida inicialmente em colher (5 ml), e posteriormente em deglutição de volume livre. A consistência pastosa foi oferecida somente na colher (água + sulfato de bário + espessante alimentar + groselha) e a consistência sólida com ½ de bolacha com bário (sulfato de bário+ espessante + groselha + bolacha). Logo após a realização do exame, o paciente foi orientado pelo fonoaudiólogo sobre os achados encontrados durante o exame.
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Aplicação da Bolus Residue Scale Para classificar a presença e a localização de resíduo alimentar foi aplicada a Bolus Residue Scale (BRS), validada por Rommel et al. [11], não traduzida para o português. Esta é uma escala qualitativa, de fácil aplicação e análise, podendo ser utilizada por não fonoaudiólogos. Os achados videofluoroscópicos da deglutição foram analisados por um fonoaudiólogo com experiência na área, segundo a presença e ausência de resíduo alimentar após a primeira deglutição das consistências líquida, pastosa e sólida, além da localização do resíduo, conforme descrito na Tabela I. Tabela I - Descrição dos escores do BRS – Bolus Residue Scale traduzida. Escore BRS
1 2 3 4 5 6
Indicação do Resíduo
Nenhum Resíduo Resíduo em Valéculas Resíduo em Parede posterior da Faringe ou seios piriformes Resíduo em Valéculas e Parede posterior da Faringe ou seios piriformes Resíduo em Parede posterior da Faringe e seios piriformes Resíduo em Valéculas Parede posterior da Faringe e Seios piriformes
Após a coleta, os dados foram digitados em uma planilha do Microsoft Excel®. Realizaram-se análises descritivas de frequência simples para variáveis nominais ou categóricas, e análise de tendência central (média) para variáveis contínuas.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, sob Parecer n. 072804/2016 de 27 de Julho de 2017. Antecedendo a coleta dos dados, em atendimento aos requisitos legais estabelecidos pela Resolução do CNS 466/2012, após esclarecimentos sobre os objetivos e propósitos do estudo, foi solicitado aos participantes a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordando em participar dos procedimentos inerentes ao estudo.
Resultados A análise dos dados mostrou que, dos 10 pacientes avaliados, 7 não relataram queixa de deglutição (média de idade 69,1 anos) e 3 referi-
ram alguma dificuldade para deglutir (média de idade de 69,3 anos), como: sensação de alimento parado na garganta e engasgos frequentes. Em relação à presença de resíduo alimentar, por meio da aplicação da escala BRS, foi verificado que 90% dos pacientes apresentaram algum resíduo após a primeira deglutição da consistência líquida; 80% para a consistência pastosa; e 30% para a consistência sólida, conforme mostra a Tabela II. Tabela II - Distribuição dos pacientes avaliados, segundo a localização do resíduo e a consistência alimentar. Localização do resíduo
Líquido
Pastoso
Sólido
Resíduo em Valéculas Resíduo em Parede posterior da Faringe ou seios piriformes Resíduo em Valéculas e Parede posterior da Faringe ou seios piriformes Resíduo em Parede posterior da Faringe e seios piriformes Resíduo em Valéculas Parede posterior da Faringe e Seios piriformes
4 (40%)
3 (30%)
2 (20%)
1 (10%)
3 (30%)
1 (10%)
1(10%)
-
-
-
-
-
3 (30%)
2 (20%)
-
Entre os dez pacientes avaliados, quatro apresentaram episódio de aspiração laringotraqueal após a deglutição da consistência líquida e dois, após deglutição das consistências líquida e pastosa. Três destes pacientes descritos não foram avaliados com a consistência sólida, pois tinham restrição alimentar (Tabela III).
Discussão As razões pelas quais os pacientes com DP apresentam resíduo alimentar após a deglutição podem ser esclarecidas pelas características básicas da doença: tremor, bradicinesia e rigidez muscular; o que dificulta o mecanismo da deglutição, que pode estar presente em mais de 80% dos indivíduos com DP [12]. No presente estudo, 90% dos indivíduos apresentaram alguma alteração na dinâmica da deglutição. 167
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Tabela III - Distribuição das queixas, níveis da escala de resíduo (BRS) e aspiração laringotraqueal, segundo indivíduos e consistência alimentar avaliados. Nº
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Queixa de Deglutição
CL
LCL
CP
LCP
CS
LCS
Não Sim Não Sim Não Não Sim Não Não Não
x x x* x x x* x x* x*
V V V+PPF+SP N PPF OU SP V V+PPF+SP V V+PPF+SP V+PPF OU SP
x x x x x x* x* x
V PPF OU SP V+PPF+SP N V PPF OU SP V+PPF+SP N V PPF OU SP
x x x
N N NA N V N NA V NA PPF OU SP
Legenda da tabela: CL (consistência líquida); CP (consistência pastosa); CS (consistência sólida); LCL (localização do resíduo na consistência líquida); LCP (localização do resíduo na consistência pastosa); LCS (localização do resíduo na consistência sólida); V (valéculas); SP (seios piriformes); PPF (parede posterior da faringe); NA (não avaliado); N (nenhum resíduo); x (presença de resíduo) e x*(presença de aspiração laringotraqueal).
Um estudo comparou a disfagia subjetiva (as dificuldades que o paciente relata em relação à deglutição) com a disfagia objetiva (o que é visualizado no exame de videofluoroscopia) e mostrou que 31,57% dos indivíduos apresentaram disfagia subjetiva e que 63,2% foram diagnosticados com disfagia pelo exame de videofluoroscopia [13]. Miller et al. [14] relatam, em seu estudo, que as avaliações objetivas demonstram que 50% dos indivíduos apresentam a deglutição prejudicada mesmo relatando deglutição normal. No estudo atual, 30% dos indivíduos alegaram ter dificuldades para deglutir, mas após o exame objetivo 90% apresentaram disfagia, o que permite observar que, apesar dos indivíduos com a DP não perceberem sinais clínicos relacionados às dificuldades na deglutição, podem, mesmo em estágios iniciais da doença, apresentarem disfagia. Outro estudo destaca que em todos os estágios da DP ocorreram episódios de penetração laríngea, em todas as consistências alimentares e que a aspiração traqueal ocorreu principalmente na consistência líquida [10]. O que corrobora o presente estudo, pois nesta amostra 90% dos indivíduos apresentaram estase residual em região laríngea para a consistência líquida, 80% para a consistência pastosa e 60% para a consistência sólida. Além disso, dois indivíduos apresentaram aspiração laringotraqueal na consistência líquida. Assim, é possível observar concordância, visto que a consistência líquida tem apresentado maior risco para disfagia e, consequentemente, para os riscos de pneumonias aspirativas. Neste mesmo contexto, Gasparim et al. [10] apontam, 168
em seu estudo, que paciente nos estágios 2 e 2,5 da Escala de Estadiamento de Hoehn & Yahr (1976), para a DP, apresentaram menor desempenho no que diz respeito ao reflexo de tosse, o que pode estar relacionado a diminuição da sensibilidade das mucosas da hipofaringe e laringe, podendo assim aumentar os episódios de aspiração laríngea.
Conclusão Portanto, foi possível observar que o paciente com DP pode apresentar disfagia, mesmo não relatando sinais e sintomas importantes. Conclui-se assim a necessidade da atuação da equipe multidisciplinar junto à equipe médica, com o intuito de identificar afecções e prevenir agravos à saúde do paciente, melhorando a qualidade de vida do paciente e retardando a evolução da doença.
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9.
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10. Gasparim AZ, Jurkiewicz AL, Marques JM, Santos RS, Marcelino PCO, Herrero Junior F. Deglutição e tosse nos diferentes graus da doença de Parkinson. Arquivos Int Otorrinolaringol 2011;15(2):181-8. 11. Rommel N, Borgers C, Beckevoort DV, Goeleven A, Dejaeger E, Omari TI. Bolus residue scale: an easy-to-use and reliable videofluoroscopic analysis tool to score bolus residue in patients with dysphagia. Int J Otolaryngol 2015;Article ID780197, 7 pages. 12. Potulska A, Friedman A, Klrólicki L, Spychala A. Swallowing disorders in Parkinson’s disease. Parkinsonism Relat Disord 2003;9(6):349-53. 13. Fuh JL, Lee R, Wang S, Lin C, Wang P, Chiang J et al. Swallowing difficulty in Parkinson disease. Clin Neurol Neurosurg 1997;99:106-12. 14. Miller N, Noble E, Jones D, Burn D. Hard to swallow: dysphagia in Parkinson’s disease. Age Ageing 2006;35(6):614-8.
169
REVISÃO
O trabalhador de enfermagem e a dor física Aliny Cristini Pereira*, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler**
*Enfermeira, aluna do Curso de Especialização em Enfermagem do Trabalho, vinculado à Fundação de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão de Serviços à Comunidade (FAEPE), da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), **Enfermeira do Trabalho, livre-docente em Enfermagem, coordenadora geral do Curso de Especialização em Enfermagem do Trabalho, coordenadora gerencial do Curso de Especialização em Medicina do Trabalho FAEPE/FAMERP
Resumo Introdução: Por suas características laborais, complexidade de atividades executadas e condições de trabalho geralmente inadequadas, o trabalhador de enfermagem (TE) frequentemente é acometido por dores, o que é uma preocupação no âmbito da vigilância em saúde ocupacional. Objetivo: Analisar publicações científicas em periódicos nacionais, que relacionaram a dor e a equipe de enfermagem. Método: Foi feito levantamento bibliográfico em periódicos nacionais, no período de 2006 a 2016, disponíveis nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) - Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Base de Dados da Enfermagem (BDENF). Foram selecionados 11 artigos, analisando-se a identificação dos autores, título do artigo, ano de publicação, fonte de localização, objetivos, desenho do estudo, resultados/discussão e conclusão. Resultados: Evidenciou-se que: a produção de artigos com esse tema é baixa; houve uma variabilidade no tempo de publicação dos artigos com o tema; a dor física foi evidenciada como um problema importante, de grande incidência e que gera diversos fatores negativos no trabalhador de enfermagem acometido; os estudos avaliaram as diferentes categorias profissionais da enfermagem e foram utilizados diversos instrumentos para coleta de dados (nem todos eram validados). Conclusão: Ainda há muito a ser investigado a respeito da dor relacionada ao trabalho de enfermagem e suas consequências na qualidade de vida dos trabalhadores de enfermagem no Brasil. Palavras-chave: dor, equipe de enfermagem, trabalhadores, vigilância em saúde do trabalhador, saúde ocupacional.
Abstract Nursing workers and physical pain: an integrative review of the literature Introduction: Nursing workers (NW), due to their work characteristics, the complexity of the activities performed and frequently inadequate working conditions, are usually affected by pain. This is a concern in the area of occupational health surveillance. Objective: To analyze papers published in national journals that associated pain with the nursing team. Methods: We searched in the databases Virtual Health Library (BVS), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Pubmed and Nursing Database (BDENF) for national articles published between 2006 and 2016. Eleven articles were selected and the following items were analyzed: authors, title, year of publication, source journal, objectives, study design, results/discussion and conclusion. Results: The review evidenced a small number of articles published on the subject; a great variability in time of publication; that physical pain is an important problem with high incidence and brings several negative effects to nurse workers. Recebido em 2 de maio de 2017; aceito em 23 de junho de 2017. Endereço para correspondência: Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, Rua Alagoas no. 29, Bálsamo,15140-000 São José do Rio Preto SP, E-mail: zaidaaurora@gmail.com; Aliny Cristini Pereira: alinycristini@yahoo.com.br
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The studies assessed different nursing professional categories and used different tools for data collection (not all of them validated). Conclusion: Further studies are needed on nursing work-related pain and its consequences to the quality of life of Brazilian nursing workers. Key-words: pain, nursing team, workers, occupation health surveillance, occupational health.
Resumen El trabajador de enfermería y el dolor físico: una revisión integrativa de la literatura Introducción: Debido a sus características laborales, la complejidad de las actividades ejercidas y las condiciones de trabajo generalmente inadecuadas, el trabajador de enfermería se ve afectado por dolores. Esto constituye una preocupación en el ámbito de la salud ocupacional. Objetivo: Analizar artículos científicos publicados en revistas nacionales, que relacionan dolor y el equipo de enfermería. Métodos: Se realizó un levantamiento bibliográfico de artículos publicados entre 2006 y 2016 en las bases de datos de la Biblioteca Virtual en Salud (BVS), Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Pubmed y la Base de Datos de Enfermería (BDENF). Se seleccionaron 11 artículos, de acuerdo con los siguientes ítems: autores, título, año de publicación, fuente, objetivos, diseño del estudio, resultados/discusión y conclusión. Resultados: Se encontró que: la producción de artículos con esta temática es baja; hubo una notable variabilidad en el tiempo de publicación de los artículos; el dolor físico es considerado como un problema importante, de gran incidencia y que generan diversos factores negativos para el trabajador de enfermería. Los estudios investigaron diferentes categorías profesionales de enfermería y se utilizaron diversos instrumentos para colectar los datos (aún que no todos hayan sido previamente validados). Conclusión: Todavía hay mucho que investigar acerca del dolor relacionado al trabajo de enfermería y sus consecuencias para la calidad de vida de los trabajadores de enfermería brasileños. Palabras-clave: dolor, equipo de enfermería, trabajadores, vigilancia de la salud de los trabajadores, salud ocupacional.
Introdução A dor é uma experiência perceptiva diferenciada para cada pessoa, constituindo-se em grave problema de saúde pública e no âmbito ocupacional, pelo sofrimento, incapacidade e comprometimento da qualidade de vida das pessoas acometidas. É considerada a principal causa de absenteísmo, licenças médicas, aposentadorias por doença, indenizações trabalhistas e baixa produtividade no trabalho. O absenteísmo relacionado à equipe de enfermagem e a trabalhadores em ambiente hospitalar muitas vezes é decorrente de dores relacionadas ao próprio processo de trabalho [1,2]. A International Association for Study of Pain (IASP) define dor como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável relacionada à lesão tecidual ou descrita em tais termos” [2]. A precisa definição da origem da dor é revestida de imponderáveis significados nos contextos desenvolvimentistas, anatômicos, etiopatogênicos, fisiopatogênicos, epidemiológicos, clínicos, avaliativos, terapêuticos, prognósticos, reabilitacionais e reinsercionais [3]. A dor é classificada quanto ao tipo em nociceptiva e neuropática e quanto à duração em aguda
ou crônica. A dor nociceptiva ocorre por ativação fisiológica de receptores ou da via dolorosa e está relacionada à lesão de tecidos ósseos, musculares ou ligamentares [4]. A dor neuropática é definida como dor decorrente de lesão ou disfunção do sistema nervoso, constituindo-se em síndrome complexa, com mecanismos pouco esclarecidos, aventando-se teorias inflamatórias e imunes [5]. A dor aguda geralmente é de duração previsível, autolimitada, de fácil diagnóstico e desaparece após intervenção, enquanto a dor crônica tem duração prolongada, geralmente resulta de lesão neuropática, com inflamação ou perda tecidual crônica, provocando alterações persistentes no sistema nervoso periférico/ central [6]. Qualquer trabalho envolve o dispêndio de energia física e mental, direta ou indiretamente voltada à produção de bens e de serviços, mas o trabalho da equipe de enfermagem tem sido muito investigado nos aspectos de sofrimento e adoecimento, por ser desgastante e realizado em situações de riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes [7,8]. As dores mais relatadas pela equipe de enfermagem são por injúrias musculoesqueléticas, lombares e relacionadas a acidentes 171
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laborais [8]. A problemática da dor e do absenteísmo na área de enfermagem representa prejuízos para o trabalhador, para a equipe de trabalho que fica mais sobrecarregada e para a população assistida [9]. Vale destacar que a dor física entre trabalhadores de enfermagem pode resultar de diversas casualidades no contexto diário de seu processo de trabalho, envolvendo características ambientais, programáticas e distribuição de tarefas. A equipe de enfermagem no Brasil é composta pelo enfermeiro, pelo técnico de enfermagem e pelo auxiliar de enfermagem, cada qual com atribuições definidas em lei, submetendo-se a cargas e riscos de trabalho de ordem biológicas, químicas, físicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas [10]. No enfoque biológico são relatados os acidentes com exposição a fluídos orgânicos, com potencialidade para aquisição de doenças como as hepatites, principalmente B e C; Aids. Na carga química são conhecidos os efeitos dos anestésicos, dos quimioterápicos, de alguns antibióticos e antissépticos, causadores de câncer, abortos e malformações, além de alergias e dermatites de contato. Tratando-se da carga física, as principais causas são os ruídos sonoros de aparelhos e mobiliários, exposição à radiação iluminação insuficiente [11]. A carga mecânica é atribuída a acidentes com queda, por condições inseguras, gerando fraturas, torções, contusões, hematomas, algumas vezes resultantes de violência física, cujos agressores são os próprios pacientes e seus familiares ou colegas de trabalho [12]. A carga fisiológica é resultante do trabalho em pé, posturas inadequadas, manipulação excessiva de pesos, rodízios de turnos e trabalho noturno, que geram fadiga [13]. Carga psíquica relaciona-se a exposição dos trabalhadores aos desgastes mentais, como resultado de condições inadequadas de trabalho, como relações assimétricas na equipe de enfermagem e multiprofissional, gerando danos psíquicos [14]. Ante o exposto, a abordagem de publicações em nosso meio sobre a temática da dor envolvendo trabalhadores de enfermagem torna-se relevante no contexto da saúde do trabalhador, pois subsidia investigações em aspectos ainda pouco abordados e propostas de intervenções necessárias para minimizar tal problemática. Para nortear o presente estudo, foi elaborada a seguinte questão de pesquisa: como os artigos científicos abordam a dor física no trabalho da equipe de enfermagem? Assim, tem-se como objetivo sintetizar as evidências científicas disponíveis em bases de dados nacionais sobre a dor física vivenciada por traba172
lhadores de enfermagem em nosso meio. Metodologia Para o alcance do objetivo do estudo optou-se pelo método de revisão integrativa da literatura científica nacional, por tratar- se de uma metodologia que proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática. Uma revisão integrativa bem realizada exige os mesmos padrões de rigor, clareza e replicação utilizada nos estudos primários [15]. Para a realização desta revisão, foram seguidas as seguintes etapas: construção da questão norteadora, estabelecimento dos critérios para a seleção das amostras, representação das características dos estudos e seus achados, análise dos dados, interpretação dos resultados e apresentação da revisão. O levantamento bibliográfico foi realizado pela Internet, através das bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Base de Dados da Enfermagem (BDENF). Os descritores para tal busca foram: dor, equipe de enfermagem, trabalhadores; vigilância em saúde do trabalhador e saúde ocupacional . No cruzamento das palavras adotou-se a expressão booleana: “AND”. Os critérios utilizados para a seleção da amostra foram: artigos publicados em periódicos nacionais; que abordem a dor física no trabalho de enfermagem, nas diferentes áreas de interesse da enfermagem; artigos publicados de 2006 até 2016, independentemente do método de pesquisa utilizado. Após o estudo da literatura encontrada, foi elaborada uma análise que buscou apontar o perfil dos artigos. De início, foram identificados 58 artigos. No entanto, após a leitura e análise dos artigos, os que se enquadravam nos critérios de inclusão do estudo foram 16 artigos científicos produzidos pela enfermagem ou com sua participação, publicados em território nacional e que abordavam a temática dor física no trabalhador de enfermagem. Porém, 3 desses artigos foram encontrados nas 3 bases de dados utilizadas e 2 não foram encontrados na íntegra. Dessa forma, o número de amostra final foi de 11 artigos científicos. Foi desenvolvido um formulário (apêndice 1) de coleta de dados, que foi preenchido para cada artigo da amostra final do estudo. O formulário permitiu juntar informações sobre identificação dos autores, título do artigo, ano
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de publicação, fonte de localização, objetivos, desenho do estudo, resultados/discussão e conclusão.
Resultados Fizeram parte do estudo 11 artigos que atenderam aos critérios de inclusão previamente estabelecidos, 10 (90,9%) foram investigações em instituições hospitalares e apenas 1 (9,1%) de revisão integrativa. A autoria dos trabalhos foi: 5 (45,5%) de enfermeiros, 2 (18,2%) de enfermeiros e fisioterapeutas e igual número 1 (9,1%), realizado por enfermeiros e médicos; por enfermeiros e dentista; por enfermeiros e psicólogo; enfermeiros e matemático. Dos onze artigos avaliados, dez foram desenvolvidos em instituições hospitalares e somente um foi uma revisão integrativa. Na Tabela I é apresentada a síntese dos artigos incluídos na presente revisão integrativa. Quanto ao tipo de periódico nos quais foram publicados os artigos incluídos na revisão, 8 (72,7%) foram publicados em revistas de enfermagem geral, 2 (18,2%) duas em revistas de ciências da saúde e 1 (9,1%) em revista médica. Quanto ao tipo de delineamento de pesquisa dos artigos avaliados, evidenciou-se, na amostra: uma revisão integrativa, um estudo descritivo transversal com abordagem quanti-qualitativa, um estudo exploratório-descritivo transversal com abordagem quantitativa e oito estudos descritivos transversal com abordagem quantitativa. Com relação à força das evidências obtidas nos artigos, todos os artigos tinham nível de evidência 6.
Discussão Após a caracterização dos estudos, foi procedida a leitura das discussões e considerações, agrupando os achados por semelhança de discussão, evidenciado-se três grandes eixos temáticos: A alta prevalência da dor nos trabalhadores de enfermagem (TE); O reflexo da dor nos TE; A relação das condições de trabalho oferecidas com o desenvolvimento de dor no TE. Estes eixos serão brevemente apresentados e discutidos a seguir: Alta prevalência de dor em trabalhadores de Enfermagem Dos onze artigos analisados foi possível evidenciar a alta prevalência da dor em TE em 10 (90,9%), como segue:
• no primeiro artigo [16], foi comprovado que a dor osteomuscular é a queixa mais frequente; • no segundo estudo [17], dos 48 TE participantes, 32 (67%) tinham lombalgia; • no terceiro artigo[18], foi constatado que os piores escores observados nos TE, foram dor corporal, diminuição da vitalidade e agravos na saúde; • no quarto estudo [19], comprovou-se que dos 592 TE participantes, 43,3% apresentaram reduzida capacidade para o trabalho e 48,8% relataram dor de intensidade forte a insuportável; • no quinto artigo [20], foi observado que 96,3% dos TE participantes do estudo referiram dor em alguma região do corpo no último ano e 73,1% nos últimos sete dias; • No sexto artigo [21], constatou-se que a lombalgia foi a dor mais referida por TE; • no sétimo artigo [22], foi verificado que a alta frequência de exposição dos trabalhadores a cargas fisiológicas (42,1%), associada ao alto IMC (26,3% obesos) é geradora de distúrbios osteomusculares relacionados à prática do trabalho, cujo principal sintoma é a dor em diferentes regiões; • no oitavo artigo [23], 86,7% dos participantes referiram ter sentido três ou mais vezes dores no corpo; • no nono estudo [24], a prevalência de dor musculoesquelética entre TE participantes foi de 91,4%; • no décimo primeiro estudo [25], evidenciou-se que na aplicação do questionário SF-36 para 46 TE participantes, o domínio mais afetado foi a dor, seguido pela vitalidade, aspectos físicos e aspectos emocionais. Nos resultados obtidos em dez artigos constatou-se que a dor física é frequente entre TE. Verificando-se em 6 (54,5% ) a dor física era o assunto principal da pesquisa e 2014 foi o ano com mais publicações neste contexto (3- 27,3%). Isso mostra que este tema deve ser bem melhor investigado, de forma a alcançar dados que permitam elaboração de condutas e intervenções que possam melhorar a ocorrência deste sintoma entre TE, considerando os aspectos da organização ambiental, programática e atividades realizadas. O reflexo da dor nos TE A análise dos onze artigos que constituíram este estudo permitiu constatar o reflexo negativo que a 173
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Tabela I - Apresentação da síntese de artigos sobre dor e trabalho de enfermagem incluídos na revisão integrativa. São José do Rio Preto, 2016.
174
Nº
Autor
Título
Ano
Procedência
Objetivo
Principais resultados
1
Machado Agravos à saúde et al. referidos pelos trabalhadores de enfermagem em um hospital público da Bahia.
2014
Revista Brasileira de Enfermagem – REBEn
Estimar a ocorrência de agravos à saúde, referidos pelos trabalhadores de enfermagem em um hospital público na Bahia.
Queixas de saúde mais frequentes: sintomas osteomusculares (dor nas pernas; dor nas costas e saúde mental com predomínio de cansaço mental e nervosismo)
2
Pertersen, Lombalgia 2014 Marziale. caracterizada pela resistência da musculatura e fatores ocupacionais associados à enfermagem.
Revista Latino-Americana de Enfermagem
Identificar os fatores ocupacionais associados à lombalgia entre profissionais de enfermagem do sexo feminino, atuando em UTIs.
Dos 48 participantes, 32 tinham lombalgia, tendo como causa: elementos biomecânicos e posturais, condições da estrutura muscular, condições físicas e organizacionais.
3
Cacciari et al.
Estado de saúde de trabalhadores de enfermagem em readequação e readaptação funcional.
2013
Revista Brasileira de Enfermagem – REBEn
Identificar o estado de saúde dos trabalhadores de enfermagem readequados e readaptados de um hospital universitário público.
A dor corporal, vitalidade e saúde em geral receberam os piores escores nos trabalhadores readequados e readaptados por motivo físico, com escores inferiores em quase todos os domínios, exceto no desempenho emocional.
4
Magnago Intensidade da et al. dor musculoesquelética e a (in) capacidade para o trabalho na enfermagem.
2012
Revista Latino-Americana de Enfermagem
Avaliar a associação entre intensidade da dor musculoesquelética e redução da capacidade para o trabalho em trabalhadores de enfermagem.
5
Magnago Aspectos psicosso- 2010 et al. ciais do trabalho e distúrbio musculoesquelético em trabalhadores de enfermagem.
Revista Latino-Americana de Enfermagem
Avaliar a associação entre demandas psicológicas e controle sobre o trabalho e a ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadores de enfermagem.
Quase metade dos participantes apresentou reduzida capacidade para o trabalho e relataram dor de intensidade forte a insuportável, com quatro vezes mais chances de serem classificados no grupo com reduzida capacidade para o trabalho. 96,3% referiram dor em alguma região do corpo no último ano e 65,8% relataram dificuldade nas atividades diárias. As chances de dor nos ombros, na coluna torácica e nos tornozelos foram maiores no quadrante de trabalho em alta exigência quando se comparou ao de baixa exigência, após ajuste por potenciais fatores de confusão.
Enfermagem BRASIL Ano 2017 - Volume 16 - Número 3
6
Magnago Condições de 2010 et al. trabalho, características sociodemográficas e distúrbios musculoesqueléticos em trabalhadores de enfermagem.
7
Sapia et al.
Problemas de 2009 saúde de trabalhadores de enfermagem em ambulatórios pela exposi ção à cargas fisiológicas.
Albuquerque et al.
Fatores de risco 2015 à segurança do enfermeiro na unidade de terapia intensiva de um hospital geral.
Magnago Fatores associaet al. dos à dor musculoesquelética em trabalhadores de enfermagem hospitalar.
2014
Acta Paulista Verificar a prevalência de Enferma- de sintomas musculoesgem queléticos entre trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário público e identificar variáveis sociodemográficas e laborais associadas a esses sintomas.
96,3% referiram sentir dor em alguma região do corpo no último ano, 73,1 % nos últimos sete dias e 65,8% relataram dificuldade nas atividades diárias. A coluna lombar foi a localização mais frequente da dor referida pelos trabalhadores. Dados sociodemográficos: ser mulher, extremos de idade, filhos pequenos, baixa escolaridade, obesidade, tabagismo; ser técnico ou auxiliar de enfermagem; trabalho noturno, alta demanda física no trabalho foram associadas à dor. Acta Paulista Identificar os problemas A alta frequência de exposição de Enferma- de saúde, gerados na dos trabalhadores a cargas gem exposição a cargas fisiológicas (42,1%), associada fisiológicas, o Índice de ao alto IMC (26,3% obesos) é Massa Corpórea dos tra- geradora de distúrbios osteobalhadores de enferma- musculares relacionados à prágem e o impacto destes tica do trabalho, cujo principal na qualidade de vida sintoma é a dor em diferentes desses trabalhadores. regiões. Também as varizes e os microvasos nas pernas e calosidades nos pés são relatados. Identificar os fatores de Revista A maioria dos participantes Brasileira de riscos aos quais o enfer- relatou que às vezes: ritmo de Ciências da meiro intensivista está trabalho excessivo; condições exposto e que podem Saúde de trabalho precárias; muito ocasionar acidentes de barulho no ambiente de trabatrabalho. lho; que é bastante exigido ter controle das emoções; referiram ter sentido três ou mais vezes dores no corpo e três ou mais episódios de estresse desencadeado pelo convívio com a dor, o sofrimento e a morte. Analisar a relação entre Houve prevalência de dor Revista Enfermagem a dor musculoesquelémusculoesquelética. As mulheUERJ tica, as características res, os técnicos e auxiliares de sociodemográficas e enfermagem e os com mais de laborais dos trabalhado- 14 anos de exercício na função res de enfermagem de apresentaram significativamente um hospital universitário maiores percentuais para dor do Rio Grande do Sul, forte a insuportável. Brasil.
175
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Souza et al.
Sintomas osteo2009 musculares em trabalhadores da enfermagem: uma revisão integrativa.
Talhaferro Qualidade de et al. vida da equipe de enfermagem da Central de Materiais e Esterilização.
2006
Ciência, Cuidado e Saúde
Analisar os estudos relacionados a sintomas osteomusculares em trabalhadores da enfermagem.
Revista de Ciências Médicas
Verificar a qualidade de vida da equipe de enfermagem lotada na central de materiais e esterilização.
dor física causa no TE e como isso implica diretamente na sua vida profissional e pessoal. No quarto artigo [19] ficou destacado que os trabalhadores que referiram dor forte a insuportável tiveram quatro vezes mais chances de serem classificados no grupo com reduzida capacidade para o trabalho; no sétimo estudo [22], foi constatado que a exposição a cargas fisiológicas gera desgaste da força de trabalho aos TE e esse desgaste pode ser apreendido por sinais, sintomas e/ou doenças, que interferem na qualidade de vida pessoal e na qualidade de vida do trabalho dos TE da unidade; no décimo primeiro artigo [25], foi concluído que os domínios mais afetados na qualidade de vida dos TE foram dor, vitalidade, aspectos físicos e aspectos emocionais, sugerindo uma correlação com menor capacidade laboral. O trabalho, desde que seja feito em condições saudáveis, é uma atividade de extrema importância na vida das pessoas, pois por meio dele o trabalhador consegue prover sua subsistência e de sua família. Se algo atinge negativamente o TE, isso vai ser refletido em sua qualidade de vida no trabalho e em suas atividades de vida diária. Dessa forma, é de extrema importância manter uma comunicação aberta com o trabalhador para saber quais são suas necessidades e problemas que enfrenta, buscando encontrar soluções para o problema exposto. A relação das condições do trabalho com o desenvolvimento de dor no TE Após a análise dos artigos, foi possível notar a relação direta das condições oferecidas no traba176
Verificou-se: que a literatura sobre o tema é escassa em países latino-americanos; foram avaliadas as categorias profissionais da enfermagem, com instrumentos de medidas diversificados, alguns validados; variabilidade no tempo e taxas de prevalência de sintomas osteomusculares. Na avaliação geral da qualidade de vida, os escores obtidos nos domínios dor, vitalidade, aspectos físicos e aspectos emocionais apresentaram-se prejudicados para alguns trabalhadores.
lho com o desenvolvimento de dor física no TE. No artigo dois [17], os autores concluíram que a lombalgia de TE parece estar ligada a grande variedade de elementos como fatores ambientais, biomecânicos, organizacionais, pessoais, genéticos, psicossociais, fisiológicos e financeiros; na pesquisa cinco [20], foi discutido que as chances do TE ter dor nos ombros, na coluna torácica e nos tornozelos foram maiores no quadrante de trabalho de alta exigência de desempenho; no sexto artigo [21], foi concluído que a localização mais frequente referida pelos trabalhadores (dor na coluna lombar) tinham como associação características laborais como ser técnico ou auxiliar de enfermagem, trabalho noturno e alta demanda física no trabalho; no oitavo estudo [23], foi verificado que 60% dos sujeitos responderam que às vezes o ritmo de trabalho é excessivo, 73,3% disseram que às vezes as condições de trabalho são precárias, 46,6% responderam que frequentemente existe muito barulho no ambiente de trabalho, 53,4% assinalaram que é bastante exigido ter controle das emoções e além disso, 86,7% dos participantes referiram ter sentido três ou mais vezes dores no corpo e 46,6% referiram três ou mais episódios de estresse desencadeado pelo convívio com a dor, o sofrimento e a morte; no nono estudo [24] foi evidenciado que a prevalência de dor musculoesquelética foi de 91,4%, dos quais 11,6% apresentaram dor de fraca intensidade, 35,7% dor moderada, 39% dor forte e 5,1% dor insuportável. As mulheres, os técnicos e auxiliares de enfermagem e os com mais de 14 anos de exer-
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cício na função apresentaram significativamente maiores percentuais para dor forte a insuportável. Sobre as condições oferecidas aos TE, vários são os riscos a que esses trabalhadores são expostos. Através dos artigos analisados foi possível levantar os mais prioritários, que seriam: os riscos ambientais, sendo eles riscos físicos (exposição a ruídos e radiação); riscos biológicos (acidentes com perfurocortantes e contato com materiais biológicos de um modo geral), riscos ergonômicos (excesso de esforço realizado), riscos químicos (exposição a substâncias químicas diariamente, como, por exemplo os antissépticos); riscos ocupacionais (excesso de trabalho, atividades e o ritmo com que são realizadas); tarefas em grandes quantidades; estado de alerta; pressão emocional; administração das atividades; baixa valorização juntamente com baixa autoestima; competitividade e falta de apoio. Segundo os artigos analisados, esses aspectos tem relação direta com o desenvolvimento de dores musculoesqueléticas nos TE. Na análise de pesquisas que investigaram sintomas osteomusculares em TE , no décimo artigo [26], foi verificado que esta temática ainda é pouco investigada em países latino-americanos, sugerindo mais pesquisas neste contexto. É importante saber diagnosticar a necessidade de atentar-se as condições de trabalho dos TE e a capacidade laboral dos mesmos, visando manter o trabalhador saudável e com mais condições de exercer as atividades de atenção ao paciente/cliente e sentir satisfação no seu desempenho profissional. A maioria dos artigos analisados utilizou desenho de pesquisa descritivo transversal, com abordagem quantitativa, avaliando os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Houve, também, a utilização de diferentes instrumentos na coleta de dados, sendo alguns validados e outros não.
Conclusão Verificou-se que a produção de artigos científicos com o tema da dor física nos TE ainda é baixa em nosso meio. A análise dos resultados identificou problemas metodológicos no desenvolvimento de estudos sobre dor física em TE tais como desenho de estudo inadequado e utilização de instrumentos de medida não validados. Dessa forma, o presente estudo traz como contribuição a seleção de publicações sobre dor que afeta a equipe de enfermagem, podendo subsidiar ações de ensino, de pesquisa e
de intervenção. A melhoria das condições laborais da equipe de enfermagem contribui para menos adoecimento e menores taxas de absenteísmo, repercutindo também na melhoria da qualidade da assistência prestada ao usuário de saúde e melhor qualidade de vida no trabalho e nas atividades de vida diária do TE.
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REVISÃO
Cuidados paliativos em oncologia pediátrica Jenifer Barbara Fernandes Costa*, Tamilles Alves de Oliveira de Assunção*, Heli da Silva Araújo Salles**
*Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Amapá, **Doutorando em Biologia de Agentes Infecciosos e parasitários (BAIP - UFPA), Professor Efetivo do Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Resumo Este estudo teve como objetivo analisar, compreender e elucidar os cuidados paliativos de enfermagem em oncologia pediátrica, através da literatura em periódicos nacionais. Foram utilizadas as base de dados online: Bireme, Scielo e Lilacs, sendo selecionados um total de 47 artigos, publicados no período de 2002 a 2014. Podemos afirmar que de forma geral os cuidados paliativos são vistos como o aprimoramento do cuidar do paciente que se encontra com uma doença que pode ameaçar a continuidade de sua vida, assim como o suporte à família. Nota-se a importância de tal estudo, a fim de contribuir para a assistência prestada à criança oncológica. Por isso, a equipe multidisciplinar deve refletir os cuidados paliativos, enfatizando na necessidade de assegurar a dignidade da vida da criança, propiciando um melhor atendimento e a garantia da qualidade de vida aos pacientes e seus familiares. Palavras-chave: Enfermagem, cuidados paliativos, humanização da assistência, oncologia pediátrica.
Abstract Palliative care on pediatric oncology This study aimed to analyze, understand and elucidate the palliative nursing care in pediatric oncology, through literature in national magazines. We searched the following electronic databases: Bireme, Scielo and Lilacs, and a total of 47 articles published between 2002 and 2014 were selected. In general, we can affirm that palliative care is improving the quality of life of patient who has a disease that can cause life-threatening, as well as to give support to his family. The importance of this study is to contribute to providing assistance to a child with cancer. Consequently, the multidisciplinary team should reflect on palliative care, emphasizing the need to ensure the dignity of the child’s life, providing better care and ensure the quality of life of patients and their families. Key-words: Nursing, palliative care, humanization of assistance, pediatric oncology.
Resumen Cuidados paliativos en oncología pediátrica Este estudio tuvo como objetivo analizar, comprender y elucidar la atención de enfermería paliativa en oncología pediátrica, a través de la literatura en revistas nacionales. Se utilizaron las bases de datos electrónicas: Bireme, Scielo y Lilacs, y se Recebido em 4 de novembro de 2016; aceito em 25 de maio de 2017. Endereço para correspondência: Jenifer Barbara Fernandes Costa, Universidade Federal do Amapá, Rodovia BR 156, nº 3051, 68980-000 Oiapoque AP, E-mail: jenifer-barbara@hotmail.com; Tamilles Alves de Oliveira de Assunção: tamillesoliveira2009@hotmail.com
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seleccionaron un total de 47 artículos publicados entre 2002 y 2014. Podemos afirmar que los cuidados paliativos, en general, son vistos como mejoramiento de la atención al paciente que está con una enfermedad que puede poner en peligro la continuidad de su vida, así como brindar apoyo a familiares del enfermo. La importancia de este estudio es poder contribuir a mejorar la atención de niños con cáncer. Por eso, el equipo multidisciplinario debe reflexionar sobre la relevancia de los cuidados paliativos, haciendo hincapié en la necesidad de garantizar la dignidad de la vida del niño, proporcionando una mejor atención y garantizar la calidad de vida de los pacientes y sus familias. Palabras-clave: Enfermería, cuidados paliativos, humanización de la atención, y la oncología pediátrica.
Introdução Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de neoplasias malignas, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo. As causas de câncer são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando inter-relacionadas. As causas externas referem-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de uma sociedade. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas e estão ligadas à capacidade do organismo de se adaptar as mudanças ocorridas principalmente pelo hábito de vida do indivíduo [1]. Nos últimos anos o câncer infantil foi apresentado como a principal causa de mortalidade por doenças na faixa etária que abrange menores de 15 anos. Podemos destacar como neoplasias mais comuns: leucemias (28%), tumores de sistema nervoso central (20%), sarcomas (11%), linfomas (10%), neuroblastomas (8%), tumor de Wilms (6%) e 17% correspondendo a outros tipos. Algumas das neoplasias infantis, decorrente do processo de estadiamento, podem apresentar prognóstico duvidoso com relação ao tratamento, portanto uma abordagem paliativa é necessária, mesmo com os avanços tecnológicos que podem causar transtornos para a família e para o paciente com nível de cuidados mais precisos e organizados [2]. Os cuidados paliativos eram voltados principalmente para pacientes que se encontravam ao final de sua vida. Com o passar dos tempos esse conceito se modificou e, atualmente, esses cuidados devem ser implementados desde a fase inicial de doenças graves até a fase final deste paciente, atendendo-o de forma holística em busca de estabilizar a qualidade de vida 180
na fase final ou inicial de uma doença grave [3]. Desde os primórdios o cuidar faz parte da natureza humana, pois é uma necessidade do homem, desde o nascimento até o fim de sua vida – em sua plenitude. Esta ação promove saudável continuidade da vida da espécie humana [4]. É uma prática cuja relação da ação exige doação e proximidade (conforme ao ser que é cuidado e ao cuidador), incorporando a doação ao outro e todos os sentimentos bons que permeiam o ser humano como a subjetividade, afetividade, amor, humanização, coragem, respeito, diálogo, gestos corporais, ato de tocar e percepção, além da técnica [5-7]. Mesmo com toda a importância que deve ser voltada aos cuidados paliativos, há, ainda, a necessidade imediata do avanço das pesquisas com esta temática, para aprofundar os conhecimentos na área, em particular no campo da enfermagem [8]. Contudo, ressalta-se a importância em abordar o tema sobre os cuidados paliativos em relação à oncologia pediátrica, de maneira que propicie um melhor atendimento e qualidade de vida aos pacientes e seus familiares. Ante o exposto, este estudo empreendeu analisar, compreender e elucidar os cuidados paliativos de enfermagem em oncologia pediátrica.
Material e métodos Tratou-se de um estudo de revisão bibliográfica, cuja coleta de dados foi realizada na base de dados online: Bireme, Scielo e Lilacs. No primeiro momento foi feito o levantamento da literatura, sendo destacados os resumos daqueles que não havia o texto disponível, e os textos completos daqueles que o tinham, referentes a nível nacional, utilizando-se dos seguintes descritores: enfermagem, cuidados paliativos, humanização do cuidar e oncologia pediátrica. Foram encontrados 47 artigos, destes foram excluídos teses, monografias, não convencionais,
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congressos e conferências e documentos de projeto. Para critério de inclusão, foram selecionados artigos que apresentavam idioma português, com exceção de dois artigos internacionais, que apresentassem os referidos descritores e que fossem fidedignos ao tema proposto no trabalho. O período de publicação variou entre os anos de 2006 a 2014. Após a leitura e avaliação de todo o material, foram selecionados 11 artigos, 1 livro e 1 citação do site INCA, de forma que preenchiam todos os critérios estabelecidos e que teriam uma grande contribuição com o eixo central proposto.
Resultados Do material selecionado, obtivemos 1 livro publicado em 2009, 10 artigos selecionados durante o período de 2006-2014, 1 foi publicado em 2014, 2 foram publicados em 2013, 1 em 2010, 2 em 2009, 3 em 2008 e 1 em 2006, e 1 citação no site do INCA. Tais publicações mostram o interesse em investigar os cuidados paliativos e que a cada ano que passa vem sendo discutido de forma geral, mas também com relação à oncologia pediátrica. No entanto, mostra a carência em se falar mais nesse tema, de forma que se apresenta como a segunda causa de mortalidade na faixa etária de 0 a 14 anos, por este motivo tornando tal estudo de suma importância, uma vez que nos instiga a buscar cada vez mais novas ideias e novos aspectos, para tal assunto. Os artigos selecionados tinham uma relação maior com o âmbito multidisciplinar e em sua grande maioria não abordava somente uma área específica, mas sim vários aspectos em um único trabalho. No entanto, podemos afirmar que de forma geral os cuidados paliativos são vistos como o aprimoramento do cuidar do paciente, que se encontra com uma doença que possa vir ameaçar a continuidade de sua vida, e também de sua família. Portanto, as concepções sobre cuidados paliativos encontradas no material foram alívio e controle da dor, abordagem humanizada/ valorização da vida, abordagem multidisciplinar, morrer como processo natural e o apoio no luto. Logo, nota-se que essas concepções estão interligadas, consequentemente, tornam-se interdependentes.
Discussão Todo o processo de cuidar é inerente ao ser humano, de forma que necessitamos do cuidar e de ser-
mos cuidados durante nosso ciclo vital; no fim deste ciclo, surge a necessidade de um peculiar cuidado, repleto de valorização da pessoa/ser humano [9]. Essa é a essência original de um cuidado paliativo, onde se prevê o alívio para as dores apresentadas e outros sintomas estressantes como astenia, anorexia, outras ocorrências/emergências oncológicas. Neste processo de cuidados paliativos devemos reafirmar vida e morte como processos naturais. Também oferecendo suporte para ajudar a família tanto como o paciente, para lidar com a doença. Os cuidados paliativos como disciplina, incluindo assistência, ensino e pesquisa, começaram a ser organizados há cerca de quarenta anos, tendo em seu arcabouço teórico, os cuidados de um ser humano que está morrendo e de sua família, com compaixão e empatia [10]. A fundamentação na busca incessante dos sintomas do cliente, em intervenções que visam o paciente e não a sua doença, resulta na participação ativa deste nas decisões que tratam a respeito das intervenções de seu tratamento. Os principais dados epidemiológicos que preveem a descrição do câncer em determinada situação são a incidência, ou seja, o total de casos novos em determinado momento a sobrevida, que representa o tempo após o diagnóstico, inclui-se o paciente num sistema de informações permitindo o acompanhamento, e a mortalidade que relaciona os óbitos que teve como causa/origem de neoplasias malignas. Para a estimativa de incidência por câncer na infância e juventude é necessária a implantação de sistemas de informação com Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) [11]. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou, para o ano de 2014, 394.450 casos novos de câncer, não foram contabilizados os tumores de pele não melanoma. Considerando o percentual mediano dos tumores pediátricos, observou-se nos registros de câncer de base populacional (RCBP) brasileiros que deverão ocorrer cerca de 11.840 casos novos de câncer em crianças e adolescentes até os 19 anos. A etiologia do câncer infantil é desconhecida, portanto sendo extremamente importante a realização de estudos descritivos, principalmente os de base populacional. Somente uma minoria de fatores de risco é identificada em crianças e adolescentes com câncer. Com isso, existe um potencial limitado para intervenções preventivas [12]. As formas de câncer mais encontradas na infância/adolescência são as leucemias, principalmente 181
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a leucemia linfoide aguda, assim como tumores do sistema nervoso central (SNC) [11]. O tratamento de criança/adolescente com câncer é um dos maiores exemplos de sucesso nas últimas décadas. Toda esta melhora é atribuída aos avanços terapêuticos e aos precoces diagnósticos, principalmente os registrados durante a década de 70. A característica individual do paciente influencia o prognóstico como: hospedeiro (sexo, idade, raça, comorbidade, fatores socioeconômicos), tumor (extensão, local primário, morfologia e biologia) e o sistema de saúde, (rastreamento, facilidades de diagnóstico e tratamento, qualidade do tratamento e acompanhamento). Atualmente, com o uso de poliquimioterapia intensiva, avanços na terapia de suporte, avanços nos exames radiológicos, melhorias em exames de anatomia patológica e genética molecular, apresentam que 70% a 80% das crianças são curadas [12]. E podemos perceber que os cuidados paliativos devem integrar o tratamento, evitando mudanças bruscas, oferecendo um cuidar integrado, com conforto. Necessitando então de equipe interdisciplinar esforçada para isto, com parcerias entre centros oncológicos pediátricos terciários e centros de atenção primários e secundários, para aperfeiçoar toda uma rede. Mesmo com desafios que precisam ser vencidas para programar atenção global as crianças [11].
Conclusão Ao final da análise aqui empreendida, nota-se a importância de tal estudo, a fim de contribuir para a assistência prestada à criança oncológica. De maneira que a equipe multidisciplinar deve refletir os cuidados paliativos, enfatizando na necessidade de assegurar a dignidade da vida da criança, propiciando um melhor atendimento e a garantia da qualidade de vida aos pacientes e seus familiares. Nesse aspecto, nota-se a evolução no conceito de cuidados paliativos, que migram para o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, porém com um olhar integral a cada paciente, fazendo com que seja acrescida qualidade de vida aos dias e não dias a vida, tanto ao paciente oncológico quanto a sua família, de forma que quando uma pessoa adoece, não adoece sozinha, mas sim ela e todos
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ao seu redor. Por isso, deve ser reforçada a implantação da equipe multidisciplinar, e a preparação e/ ou formação mais aprofundada pelos profissionais competentes a tal assunto. Ressalta-se a importância em abordar o tema, sobre os cuidados paliativos em relação à oncologia pediátrica, de maneira que propicie novas pesquisas e inovações na área, para beneficiar a todos que precisem dos cuidados paliativos.
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REVISÃO
Análise crítica-reflexiva na utilização da metodologia ativa Avanilde Paes Miranda, M.Sc.*
*Enfermeira com Habilitação em Enfermagem Médico-Cirúrgica, Mestre em Hebiatria - Determinantes de Saúde na Adolescência, Especialista em Vigilância Sanitária e Epidemiológica, Especialista em Programa Saúde da Família, Especialista em Docência na Área de Enfermagem, Especialista em Processos Educacionais na Saúde: Especialização com ênfase na facilitação de metodologias ativas de ensino-aprendizagem
Resumo Objetivo: Conhecer a Metodologia Ativa (MA) com sua potencialidade no processo ensino-aprendizagem utilizada em vários cursos. Material e métodos: Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura, que utilizou algumas etapas para analisar os artigos. As bases de dados utilizadas foram Scielo, Lilacs/Bireme e os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Aprendizagem Baseada em Problema, Aprendizagem Ativa e Educação em Saúde. Resultados: Foram encontrados na Scielo 733 artigos, dos quais 717 (97,82%) foram excluídos e na base de dados Lilacs/Bireme, 187 artigos, dos quais 183 (97,86%) foram excluídos. Foram selecionados 20 (2,17%) artigos para a amostra final, no período de 2005 a 2013. Conclusão: Foi possível observar que nos estudos a MA foi utilizada com potencialidade e mostra resultados excelentes quanto ao aprendizado dos alunos, e, quando aplicada em sua totalidade, é capaz de obter resultados potencializados no contexto discutido e apresentado nos diversos seguimentos. Palavras-chave: aprendizagem baseada em problema, educação em saúde.
Abstract Critical-reflective analysis in the use of the active methodology Objective: To know the Active Methodology (AM) with its potentiality in the teaching-learning process used in several courses. Methods: This is an integrative literature review which used some steps to analyze the articles. Database used were Scielo and Lilacs/Bireme, and Health Sciences Descriptors (DeCS): Problem-Based Learning, Active Learning and Health Education. Results: We found in the Scielo 733 studies and 717 (97.82%) were excluded; and in Lilacs/Bireme database were found 187 articles of which 183 (97.86%) were excluded. Twenty (2.17%) studies from 2005 to 2013 composed the final sample. Conclusion: It was observed that the AM was used with potential and shows excellent results in terms of students learning, and, when it is fully implemented, improve results in the discussed and presented context in different segments. Key-words: problem-based learning, health education.
Recebido em 2 de maio de 2017; aceito em 25 de junho de 2017. Endereço para correspondência: Avanilde Paes Miranda, Avenida Parnamirim, 327/301, Parnamirim, 52060-000 Recife PE, E-mail: avanilde.miranda@gmail.com
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Enfermagem BRASIL Ano 2017 - Volume 16 - Número 3
Resumen Análisis crítico reflexivo en la utilización de metodología activa Objetivo: Conocer la Metodología Activa (MA) con su potencialidad en el proceso enseñanza-aprendizaje utilizada en varios cursos. Material y métodos: Se trata de una revisión integrativa de la literatura, que utilizó algunas etapas para analizar los estudios. Las bases de datos utilizadas fueron Scielo, Lilacs/Bireme y los Descriptores en Ciencia de la Salud (DeCS): Aprendizaje Basado en Problemas, Educación en Salud. Resultados: Fueron encontrados en la base de datos Scielo 733 estudios y 717 (97,82%) fueron excluidos; y en la base de datos Lilacs/Bireme, 187 estudios, y 183 (97,86%) fueron excluidos. Fueron seleccionados 20 (2,17%) estudios para la muestra final, en el período de 2005 a 2013. Conclusión: Se observó que en los estudios la MA fue utilizada con potencialidad y muestra excelentes resultados cuanto al aprendizaje de los alumnos, y, cuando aplicada en su totalidad, es capaz de obtener resultados potencializados en el contexto discutido y presentado en los diversos seguimientos. Palabras-clave: aprendizaje basado en problemas, educación en salud.
Introdução O modo de ensinar tem evoluído através dos tempos, e toda transformação passa por inquietações, reflexões e mudanças de concepção [1]. A implementação da Metodologia Ativa (MA) pode vir a favorecer uma motivação autônoma quando incluir o fortalecimento da percepção do aluno de ser origem da própria ação, ao serem apresentadas oportunidades de problematização de situações envolvidas na programação escolar [2]. Diante das mudanças na metodologia de ensino é possível observar que com este novo método o discente é estimulado a ser mais independente no pensar, assim como passar a ser indivíduo responsável por seu aprendizado. A responsabilidade quando centralizada no professor em gerenciar todo o processo de ensino/ aprendizagem pode trazer desvantagens como gerar distorções no conteúdo programático em função do grau de especialização do professor [3]. É importante partilhar com o discente a responsabilidade do aprendizado, pois, quando inserido nas discussões dos conteúdos, o aproveitamento torna-se muito potente para os alunos. Uma aprendizagem significativa em que o aluno, ao problematizar, aprende a aprender e participar ativamente do ensino [4]. O processo ensino-aprendizagem é complexo: apresenta um caráter dinâmico e não acontece de forma sequencial como um somatório de conteúdo exposto [5]. Com a adequação da MA, o aluno é estimulado a pensar, e, contribui na visão crítica do discente que vai além dos conteúdos discutidos em sala de aula. Com a MA o aluno deixa de ser um mero ouvinte e passa a fazer parte do processo ensino/aprendizagem como membro integrante do conhecimento, por ser 184
inserido no contexto da construção do seu aprendizado. Segundo Oliveira [6], a MA é uma estratégia de ensino centrado no estudante que deixa o papel de receptor passivo e assume o de agente e principal responsável pela sua aprendizagem. As raízes da utilização de MA na educação formal podem ser reconhecidas no movimento escolanovista [7]. A interação entre os alunos na execução das atividades, bem como a interação professor/alunos tanto durante quanto após as dinâmicas são aspectos fundamentais do aprendizado ativo [8]. Muitas instituições de ensino ainda não adotaram a MA como método, por isso é necessária a divulgação deste novo método de ensino para que as escolas de ensino fundamental e médio e Instituições de Ensino Superior (IES) passem a adotar como metodologia. A MA é uma concepção educativa que estimula processos de ensino-aprendizagem crítico reflexiva ma qual o estudante deixa o papel de receptor passivo e assume o de agente e principal responsável pela sua aprendizagem [9,10]. De acordo com Luckesi e Diaz Bordenave [11,12], a MA é mais potente por promover uma aproximação crítica do aluno com a realidade, estimula a reflexão sobre problemas que geram curiosidade e desafio, disponibiliza recursos para pesquisar problemas e organização das soluções adequadas. Com o incentivo da utilização da MA, o aluno passa a fazer parte da construção do saber e ter melhor resposta aos seus questionamentos e dúvidas. Atualmente, entende-se que os procedimentos de ensino são tão importantes quanto os próprios conteúdos de aprendizagem [13]. O papel do professor passa a ser muito mais de facilitar o aprendizado, do que ensinar ao estudante conhecimentos previamente adquiridos [14].
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Para Freire, o aluno precisa ser o protagonista de seu processo de aprendizagem e ao professor cabe a tarefa de despertar a curiosidade epistemológica, e no processo de aproximação à temática MA realizando leituras exaustivas para conhecer dois modos fundamentais para sua operacionalização [15], destacam: Aprendizagem Baseada em Problematização (ABP) e Metodologia da Problematização (MP) [9,15]. Este artigo tem como objetivo conhecer a Metodologia Ativa com sua potencialidade no processo ensino-aprendizagem utilizada em vários cursos, visando a identificação das fragilidades da metodologia com identificação dos cursos de graduação que aplicam de maneira potente.
Material e métodos Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura, conforme as etapas: • 1ª etapa – Elaboração do tema que segue como linha norteadora: a) Elaborar o tema, b) Realizar a pesquisa da literatura, c) Organizar os dados coletados, d) Interpretar e avaliar os resultados do estudo, e) Apresentar e divulgar a revisão. • 2ª etapa – Realização de pesquisa bibliográfica nas bases eletrônicas Scielo, Lilacs e Bireme, utilizando os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Aprendizagem Baseada em Problema” e “Educação em Saúde”. • 3ª etapa – Após a coleta de artigos nas bases eletrônicas, iniciou-se a leitura do título seguido do resumo do artigo desta pesquisa. Foi elaborado um formulário que continha título, objetivo e periódico que foi localizado no artigo. Os materiais da coleta de dados foram organizados à medida que estes foram selecionados, não necessariamente seguindo uma ordem alfabética dos autores ou ano de publicação. • 4ª etapa – A interpretação e avaliação dos resultados foram baseadas nas características dos estudos selecionados.
Resultados Foram localizados nas bases de dados da Scielo e Lilacs/Bireme artigos científicos para elaboração desta pesquisa. A busca no banco de dados quando realizada pela Scielo foram utilizados todos os descritores separadamente totalizando 733 artigos, dos quais 717 (97,82%) foram excluídos. Na Lilacs/ Bireme foram localizados 187 artigos dos quais
183 (97,86%) foram excluídos e os descritores não foram utilizados separadamente (Tabela I). Foram selecionados 20 (2,17%) artigos publicados de 2005 a 2013 para a amostra final (Quadro 1). Tabela I - Distribuição dos artigos localizados, excluídos e selecionados nas bases eletrônicas de dados do Brasil. Base de Dados
Scielo Lilacs/Bireme Total
Localizados
733 187 920
Excluídos
717 183 900
Amostra Real
16 (2,18%) 4 (2,14%) 20 (2,17%)
Os artigos mostraram que as inovações metodológicas têm predominância na região Sudeste com 55% (n = 11), a região Sul com 30% (n = 6) e as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste com 5% (n = 1) cada região. Foi percebido que a metodologia está sendo utilizada em todas as regiões do país, porém algumas regiões com maior percentual. Quando avaliado grau de escolaridade a ser adotada a metodologia ativa foi percebido que a adoção na Graduação foi 50% (n = 10) onde 25% (n = 5) adotada pelo curso de Medicina, 15% (n=3) no curso de Enfermagem e 15% (n = 10) em cursos da área de saúde. Seguido pelo ensino fundamental 25% (n = 5) e 5% (n = 1) para cada stricto-sensu (mestrado), latu-senso, conselheiros com vários níveis e populares. Todos os artigos analisados foram voltados para a área de ensino em seus diversos níveis. Foram aplicados em curso ou pesquisa com estudantes com diferentes níveis de grau de instrução, nível médio e técnico; assim como em curso de graduação na área da saúde envolvendo cursos de Enfermagem, Medicina, Fisioterapia; Latu-Senso e Stricto-Sensu (mestrado). Relacionado à metodologia adotada nos artigos foi possível identificar que em 100% (n=20) foram adotados a MA onde foi percebido que 60% (n = 12) utilizaram Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP). Também foi adotado como método Arco de Charles Maraguez sendo adotado em 10% (n = 2), quando utilizado situação-problema como método foi verificado 5% (n = 1). Percebe-se que 10% (n = 2) utilizaram o ensino-aprendizagem sem especificar método. Os artigos foram selecionados, através da pesquisa realizada nas bases de dados, foi realizada uma síntese dos artigos (Quadro 2) que está representada em ordem numérica obedecendo a mesma contida no Quadro 1. 185
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Quadro 1 - Estudos selecionados por ano de publicação, título e periódico no período 2005 a 2013.
186
Nº 1
Ano 2010
2
2011
3 4
2010 2011
5
2013
6
2011
7
2011
8
2011
9
2013
10
2010
11
2005
12
2009
13
2013
14
2012
15
2010
16
2011
17
2008
18
2007
19
2011
20
2013
Título Controle social no Sistema Único de Saúde: subsídios para construção de competências dos conselheiros de saúde Uso de metodologias ativas na formação técnica do agente comunitário de saúde Um caminho para atender às diferenças na escola Objeto educacional digital: avaliação da ferramenta para prática de ensino em enfermagem Gestão nas escolas médicas e sustentabilidade dos programas de desenvolvimento docente O Uso da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) como reforço ao ensino presencial utilizando o ambiente de aprendizagem moodle Situações-problema Simuladas: uma Análise do processo de Construção Ser docente em métodos ativos de ensino-aprendizagem na formação do médico Desempenho Docente no Contexto PBL: Essência para Aprendizagem e Formação Médica Aprendizagem de sinais vitais utilizando objetos educacionais digitais: opinião de estudantes de enfermagem O enfoque problematizador na formação de profissionais da saúde Considerações sobre aprendizagem baseada em problemas na educação em saúde Ensino com pesquisa: uma estratégia formadora para alunos de pós-graduação em medicina A importância de problematização na construção do conhecimento em saúde comunitária Aspectos das fortalezas e fragilidades no uso das Metodologias Ativas de Aprendizagem Arco de Charles Maguarez: refletindo estratégias de metodologia ativa na formação de profissionais de saúde Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais Contribuições para um planejamento educacional em ciências da saúde com estratégias inovadoras de ensino-aprendizagem As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes Discurso sobre anatomia humana no currículo integrado de enfermagem
Periódico Physis: Revista de Saúde Coletiva
Trabalho, Educação e Saúde Educação e Pesquisa Acta Paulista de Enfermagem Avaliação: Revista de Avaliação da educação Superior Revista Brasileira de Educação Médica
Revista Brasileira de Educação Médica Revista Brasileira de Educação Médica Revista Brasileira de Educação Médica Revista Gaúcha de Enfermagem Revista de Saúde Pública Revista HCPA Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Trabalho, Educação e Saúde Revista Brasileira de Educação Médica Escola Anna Nery Ciência & Saúde Coletiva Com Ciências Saúde
Semina: Ciências Sociais e Humanas Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online
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Quadro 2 - Síntese dos artigos selecionados correspondentes aos anos 2005 a 2013. Nº
1 2
3
4 5 6 7 8 9 10 11
12
13 14
15 16
17 18
19
20
Síntese
Realiza uma abordagem qualitativa sobre as dinâmicas apresentadas no curso, sendo este baseado na metodologia ativa de ensino-aprendizagem. Utilizado com Conselheiros de saúde. Relato é sistematizar a experiência com metodologias ativas (MA) dentro da formação técnica do agente comunitário de saúde, a aplicação da MA faz o discente despertar o senso crítico e a busca de mudanças em sua relação consigo mesmo. Analisa as modificações ocorridas no ambiente escolar a partir da implantação e implementação do Programa de Inovação Educativa (PIE) que é utilizada uma abordagem de natureza qualitativa com os participantes da pesquisa por meio de entrevistas semiestruturadas. Descreve as opiniões de estudantes quanto ao uso da tecnologia, as práticas educacionais vivenciadas. Proporcionou o desenvolvimento de habilidades na área da informática e na metodologia de resolução de problemas. Utiliza métodos ativos de ensino/aprendizagem sobre o desempenho e a importância da gestão na sustentabilidade dos Programas de Desenvolvimento Docente (PDD). Estudo aponta que a utilização do Ensino a Distância (EAD) e os recursos de ABP como complemento do ensino presencial de graduação nos cursos da área da saúde podem se tornar efetivos à formação profissional. Mostra que a forma como as Situações-Problema (SP) está sendo elaborada é coerente com a literatura, por ter relação com os perfis sociodemográfico e epidemiológico brasileiros. Mapeia as dificuldades e necessidades relativas ao desenvolvimento docente de professores atuantes em currículos que utilizam métodos ativos de ensino-aprendizagem. Reconhece a aprendizagem ativa como base para atuação profissional futura e o potencial do PBL como estratégia orientada de currículos. Conhece as opiniões de estudantes de enfermagem quanto à prática pedagógica sobre sinais vitais fundamentada na aprendizagem baseada em problemas. Enfoque problematizador para formação de profissionais de saúde que possam atuar tanto na docência como nas práticas educativas nos serviços e comunidade. Esse enfoque apresenta-se como resposta inovadora frente a desafios presentes na formação de profissionais da saúde. A aprendizagem baseada em problemas tem sido reconhecida mundialmente como uma abordagem capaz de promover a aquisição de conhecimento pelos alunos ao mesmo tempo em que os ajuda a desenvolver habilidades e atitudes profissionais desejáveis. Traz desafios como romper com modelos de ensino tradicional. Estudo sobre a atualização dos conhecimentos pedagógicos dos médicos que atuam como docentes em faculdades de medicina. Relata a experiência de devolução de conhecimentos produzidos por meio de uma pesquisa-ação educativa em saúde, utilizou a metodologia da pesquisa-ação, e como referencial teórico a educação popular de Paulo Freire, problematizando. Analisa as fortalezas e fragilidades dos métodos ativos de aprendizagem na ótica dos estudantes, a construção de novos modelos de aprendizagem requer constante empenho, visando seu aperfeiçoamento. Novas tendências pedagógicas apontam a necessidade da formação de um profissional crítico-reflexivo, capaz de transformar sua realidade social. Utilizada a MA como a Problematização e a ABP, por meio da utilização do Arco de Charles Maguerez. Transformações das sociedades contemporâneas têm colocado em questão, de modo cada vez mais incisivo, os aspectos relativos à formação profissional. Apresenta algumas contribuições didáticas e metodológicas para o desempenho do docente do ensino superior em saúde, especificamente nas áreas de nutrição, enfermagem e fisioterapia. Convida os docentes à necessidade de mudar e adequar as práticas educacionais, não deixando de considerar a ética e o princípio morais. Faz uma reflexão respaldada na literatura, tomando como interface estudos voltados à promoção da autonomia de alunos e o potencial da área pedagógica, com o uso de metodologias ativas à obtenção de resultados na mesma direção. Identifica a integração dos conhecimentos anatômicos aos semitécnicos na formação universitária em enfermagem com uso da ABP.
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Discussão Mediante os artigos selecionados para esta pesquisa, percebe-se que a inovação metodológica é predominante nas regiões mais desenvolvidas Sul e Sudeste do Brasil. Os estudos analisados adotaram a MA e cada um desenvolveu o seu objetivo. Por meio dos resultados, percebeu-se, nos artigos analisados, que a MA com sua problematização é mais potente, o aluno é responsável pelo aprendizado, onde trabalha a problematização de maneira mais potente com eficiência e eficácia. A explanação teórica de temas relacionados à saúde e ao controle social, seguida de dinâmicas de grupo orientadas por questão de aprendizagem, estimula a discussão e análise crítica dos temas apresentados [16]. Observou-se que as MA que utilizaram a problematização como estratégia de ensino-aprendizagem motivam o discente e o direcionam para buscar informações, no intuito de solucionar impasses e promover o seu próprio desenvolvimento [17]. Ao ensinar seus alunos, o professor deve desempenhar várias funções simultaneamente e sofrer constantes mudanças e adaptações. Isso foi observado pela avaliação dos alunos que aprovaram a utilização da ABP no ensino de Parasitologia e Micologia Médica, afirmando ser este método relevante em seu aprendizado [1]. Os programas de desenvolvimento docente devem proporcionar aos docentes a formação para atuarem em todas as atividades propostas na ABP [18]. As mudanças nas funções do docente implicam modificações em sua maneira de conhecer e desenvolver as práticas pedagógicas; para muitos, é difícil desenvolver as tarefas propostas nos métodos ativos, visto que os conteúdos e atividades são integrados em temas e/ ou necessidades de saúde e não mais em disciplinas, como no currículo tradicional [19]. A não abordagem de algumas áreas de conhecimento é justificada, pois as Situação-Problema (SP) têm objetivos de aprendizagem especialmente relacionados ao desenvolvimento do domínio cognitivo e não são a única estratégia de aprendizagem, ocorrendo de forma concomitante e complementar às atividades curriculares de estações de simulação e prática profissional [20]. É interessante como o papel docente orientador da aprendizagem pode ser ampliado e entendido também na dimensão dos princípios da boa conduta, dos valores norteadores das relações sociais, da educação em si, da moral [21]. 188
As propostas pedagógicas construtivistas, entre elas a ABP, promovem a atividade do sujeito no processo de ensino-aprendizagem; e essa mudança de cenário, em comparação com as aulas expositivas tradicionais, provoca nos alunos uma sensação de desamparo [22]. A combinação do potencial didático da atividade e da estratégia de ensino também pode dificultar a sua aplicação por parte do professor, fazendo com que ele se acostume a trabalhar, com a mesma estratégia, neste caso, a aula expositiva [23]. No Brasil a MP se fundamenta nos princípios de Paulo Freire, tendo como referência os trabalhos de Diaz Bordenave e Pereira [24]. A MP é uma proposta de ensino, estudo e trabalho que aborda situações cujos temas relacionam-se à vida em sociedade, caracterizando-se como ponto de partida e chegada dos estudos, pelos sujeitos envolvidos [15]. A pedagogia da problematização tem seus fundamentos teórico-fisiológicos sustentados no referencial de Paulo Freire. É um modelo de ensino comprometido com a educação libertadora, que valoriza o diálogo, desmitifica a realidade e estimula a transformação social através de uma prática conscientizadora e crítica [9]. A Problematização tem a realidade social como ponto de partida e chegada, constituindo uma forma de refletir sobre a própria vivência, possibilitando intervenções e transformação dessa realidade, além de oportunizar maior diversidade de situações [25]. A Problematização realizada nas dinâmicas a partir da expressão e discussão objetivou motivar o participante ao contato com as informações e a produção do conhecimento, sobretudo com a finalidade de solucionar os impasses e promover seu próprio desenvolvimento [26]. A ABP (também conhecida pela sigla PBL, iniciais do termo em inglês Problem Based Learning) é outra modalidade inserida no conjunto das MA, foi inicialmente introduzida no Brasil em currículos de medicina, mas vem sendo experimentada também por outros cursos [2]. Na ABP, parte de problemas são previamente elaborados por profissionais especialistas na área, preserva-se a intencionalidade de aplicação em situações futuras, sendo possível maior previsibilidade das situações [25]. A aprendizagem parte de problemas ou situações com o objetivo de gerar dúvidas, desequilíbrios ou perturbações intelectuais [1]. Forma-se um grupo tutorial, no qual o professor apresenta aos alunos um problema pré-elaborado por uma comissão de especialistas; os problemas contêm os temas essenciais para que os
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alunos cumpram o currículo e estejam aptos para o exercício profissional [9]. A ABP encontra suas origens na Teoria da Indagação de John Dewey, filósofo, psicólogo e educador norte-americano, citado como grande precursor do pensamento pedagógico contemporâneo; atualmente a ABP, que se firmou como método na década de 1970 no Canadá, é considerada uma das mais significativas inovadoras na educação médica [25]. O importante é saber combinar os mais variados métodos para manter o interesse do aluno, aumentar as possibilidades de aprendizagem e atingir os objetivos da proposta de ensino [27]. Para se trabalhar com ABP, o professor inicia suas atividades bem antes do contato com os alunos; ele precisa optar pela sua aplicação ao longo de todo um curso, uma disciplina, ou utilizar-se dela em momentos específicos; o desenvolvimento desta metodologia inicia em um determinado grupo com o incentivo à discussão de um problema para consolidação do conhecimento [2].
Conclusão O professor precisa entender de forma ampla a metodologia a ser adotada evitando com isto a utilização de dois métodos simultaneamente. Com a MA é possível que haja ativação do conhecimento anterior contribuindo com uma melhor elaboração do novo conhecimento, baseado nas experiências, motivação e interesse do aluno. O professor/facilitador necessita de conhecimento quanto à metodologia a ser adotada com planejamento centrado no interesse do aluno, de maneira estruturada que estimule a curiosidade aprimorando o conhecimento. A MA quando aplicada em sua totalidade é capaz de obter resultados potencializados no contexto discutido e apresentado nos diversos seguimentos.
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Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 2. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 3. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 4. Estudo de caso São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 5. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. PREPARAÇÃO DO TEXTO 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words, Resumen, Palabras-clave) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: artigos@atlanticaeditora.com.br Consulte o texto completo das Normas em nosso site: www.atlanticaeditora.com.br
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Enfermagem BRASIL Ano 2017 - Volume 16 - Número 2
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Julho 12 a 15 de julho 11ª Jornada Brasileira de Enfermagem Gerontológica Belo Horizonte, MG Informações: coral.ufsm.br/niepe/index.php/ultimasnoticias/34-11-jornada-brasileira-de-enfermagem-geronto 27 a 30 de julho 22º Congresso Brasileiro Multi Disciplinar em Diabetes São Paulo, SP Informações: congresso2017@anad.org.br
12 a 15 de setembro 13 º Edição Congresso Brasileiro de Enfermagem em Centro Cirúrgico São Paulo, SP Informações: www.sobecc.org.br/evento/congresso2017/pt# Novembro 6 a 7 de novembro 69º Congresso Brasileiro de Enfermagem Maceió, AL Informações: E-mail: alagoasaben@gmail.com
Agosto 26 a 29 de agosto XXXVI Congresso Brasileiro de Urologia Fortaleza, CE Informação: cbu2017.com.br
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