ANO 21 - NÚMERO 1.142 - 29 DE DEZEMBRO DE 2013 A 04 DE JANEIRO DE 2 014
O conceito de “Ubuntu” na África Luiz Marins
Com a morte de Nelson Mandela não tive como não me lembrar das aulas de linguística e antropologia africana que tive na Austrália em 1972 sobre o conceito de “Ubuntu” que pode muito bem explicar como Mandela foi capaz de unir a África do Sul. Tenho ainda nas anotações de aula a definição do bispo Desmond Tutu: “Uma pessoa com Ubuntu está sempre aberta e disponível às outras pessoas. Ela não está preocupada em julgar as outras pessoas como boas ou más. Ela tem consciência de que faz parte de algo maior”. A palavra que vem do idioma banto Ngúni enfatiza a importância do relacionamento de um indivíduo com outras pessoas e principalmente com sua tribo ou aldeia. A ideia é a de que uma pessoa não é realmente pessoa, sozinha. Ela existe à medida que as outras existem. Um indivíduo é o seu clã, a sua linhagem, sua tribo, seus ancestrais e a sua descendência. Ela é a continuidade da vida. Por isso ela não pode quebrar essa corrente de total solidariedade com o todo e deve viver para servir, estar disponível, ajudar, compreender o seu lugar com humildade e respeito e cumprir o seu papel da mais elevada forma que puder. É o conceito africano de “Ubuntu” que provavelmente tenha levado Nelson Mandela em seus 27 anos de reflexão na prisão a ser um dos modernos paradigmas de união, de integração, de respeito às diferenças e principalmente de perdão. O conceito é tão forte que na África, as religiões cristãs o tomaram para mostrar que as virtudes da união, do perdão, do respeito, da humildade, não têm fronteiras e são verdades universais a serem buscadas por qualquer ser humano. Como seria bom se esse conceito africano do “Ubuntu” se espalhasse por todo o mundo neste novo ano e todos os seres humanos percebessem que ninguém sozinho se salva e se condena, que somos todos responsáveis por todos e que só o verdadeiro amor de servir e querer fazer o outro feliz nos trará a felicidade que temos buscado em tantos lugares errados. Pense nisso. Sucesso! Feliz Ano Novo!
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