Revista Bá #17

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MARIANA BERTOLUCCI

J U L /A G O 2016 #17 R$ 10

IVAN MATTOS Arte, paixão e jornalismo

ILANA KAPLAN

Com humor, paixão e doçura, a atriz gaúcha radicada em São Paulo há 20 anos, fala sobre o amor pela família, e os 30 anos dedicados à arte

ANA MARIANO A (in)comunicação da Internet

LÍGIA NERY Piorar para melhorar


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88 báco

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trama

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moda

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bá, que delícia

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cinema

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bá, que lugar


80 moda

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capa

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lingerie

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bรก, que show


Boas mudanças

Direção

Mariana Bertolucci marianaabertolucci@gmail.com Editora

Mariana Bertolucci Editor de arte

Auracebio Pereira Produção gráfica

Zottis Comunicação Revisão

Daniela Damaris Neu Comercial

Denise Dias denisebcdias@gmail.com Fone (51) 9368.4664 Editora do site da Bá

www.revistaba.com.br Letícia Heinzelmann leca_he@hotmail.com Marketing e redes sociais

Astral Consultoria de Marketing por Julia Cappellari Laks julia@astralconsultoria.com Colunistas

Ana Mariano Andréa Back Andréa Spalding André Ghem As Patricias Carla Leidens Carlos Mânica Claudia Tajes Cristiane Cavalcante Buntin Cristie Boff Fernando Ernesto Corrêa Heloisa Medeiros Henrique Steyer Jaqueline Pegoraro Lígia Nery Livia Chaves Barcellos Marco Antônio Campos Orestes de Andrade Jr. Silvana Porto Corrêa Veronica Bender Lima Vitor Raskin Vitório Gheno

Cada vez que chego nas últimas palavras de cada Bá, sou inundada de satisfação. É hora de dar um beijo bem estalado e cheio de carinho na fofa e mandá-la sem arrependimento para a gráfica ANS, dos irmãos Anderson, Alexandre e Alex Santos, que são filhos do meu colega querido de tantas pautas, o fotógrafo Antônio Pacheco, e construíram uma baita gráfica, que acolheu com todo o carinho a Bá. Ainda vou contar a história deles para vocês. Voltemos à 17ª edição, em que apresentamos o novo projeto gráfico, do Auracebio Pereira, também amigo dos tempos de redação e hoje meu parceiro neste projeto que caminha para o seu quarto ano. Esta revista, como diz a entrevistada de capa, a atriz gaúcha Ilana Kaplan, tem sido para mim um “jogar-se sem rede”. No lugar dos aplausos e gargalhadas que a Ilana arranca nos palcos do Brasil, eu tenho a leitura de vocês. Depois das edições temáticas, a Bá vem de traje novo, como gostaria de me ouvir falando a minha mestra Lenita Ruschel. Nas próximas páginas, além do meu time precioso de colunistas, recebo de volta muito feliz As Patricias. Dou boas-vindas ao consultor Carlos Mânica, que vai abordar o empreendedorismo feminino, e à gramadense Aline Viezzer. Karla Krieger compartilha conosco sua história e Marcos Beylouni nos ilumina com seu bom astral. Andrea Back também inspirou-se nas mudanças. A personagem da Trama Susana Zaman conta como a Nutrimãe nasceu. Sabrine Sousa concebeu pelas lentes talentosas de Mariana Molinos, em forma de conceito e moda, nosso desejo para que todas as máscaras caiam nesta nova fase do país. Mais? Minhas filha e sobrinha Antônia e Joanna, ao lado da minha cunhada Cristiane Cerentini, mostram a coleção Fernanda Sica Comfort Clothes. Antes de terminar, queria fazer um pedido de desculpas às minhas colunistas Ana Mariano e Lígia Nery, que tiveram os textos trocados na última edição. Perdão e obrigada por estarem ao meu lado. Sempre soube, mas reforcei nos últimos dias de julho, da importância do amor, das pessoas, do recomeço e da gratidão. Excesso de amizade, afeto, família, paixão, arte, coragem, maternidade, energia boa e nomes de pessoas nestas páginas? Tudo em que acreditamos e nos mantém há 17 edições vibrantes e renovados. Na força das pessoas e das palavras. A Bá 17 é dedicada à Aurora, a pintinha que nasce junto com a nova Bá. E também a uma amiga que me diz há algum tempo que eu sou craque em editoriais. Gostou deste, Lúcia Pires? Boas mudanças e boa leitura, Mariana Bertolucci

A REVISTA BÁ NÃO SE RESPONSABILIZA PELAS

OPINIÕES EXPRESSAS NOS ARTIGOS ASSINADOS.

ELAS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES.

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© TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

FOTO DA CAPA: TONICO ALVARES


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CENAS DE UMA

vida Mariana Bertolucci FOTOS TONICO ALVARES

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Faz 25 anos, mas parece que foi ontem que fui ao Teatro Renascença com as minhas amigas Roberta e Renata ver uma peça chamada Buffet Glória, que todos diziam ser imperdível. Era mesmo. As pessoas se acabavam rindo na plateia vidradas numa magrela simplesmente HI-LÁ-RI-A na pele de seis tipos diferentes, entre eles uma funcionária doméstica. Encostada na parede e com o pé de uma perna apoiado no joelho da outra, assim meio que formando um quatro, de avental e lenço na cabeça, ela falava mal da patroa e coçava a orelha com o outro lado de um garfo. Sabe quando você convive com a lembrança de uma cena e da sensação boa que ela lhe provocou durante todo o resto da sua vida? Pois a minha história com a atriz gaúcha Ilana Kaplan começou assim, em 1991. Mas foi cinco anos antes, em 1986, que ela pisou no palco pela primeira vez, em Passagem para Java, com direção de Elcio Rossini, que ficou em cartaz por dois anos em Porto Alegre. Sua estreia lhe garantiu o Prêmio Açorianos de Atriz e ela já mostrou sua veia cômica. A estreia foi tão bem-sucedida, que nem teve espaço para pressão da família sobre a menina de 20 anos que no mesmo ano se formou em Pedagogia para Pessoas Especiais: “A peça deu supercerto. Ninguém torceu o nariz com o fato de eu decidir ser atriz. Teria dom para o outro curso que escolhi. Além das Artes Cênicas, eu amei Pedagogia, mas não exerci porque a arte acabou falando mais alto e fui me aprofundando nela”. Depois vieram Lisístrata, dirigida por Roberto Camargo, Partituras, dirigida por Maria Helena Lopes. Em 1991, Buffet Glória, também dirigida por Rossini, foi seu passaporte para o Brasil: “Mostrei meu trabalho no 10 |

eixo Rio-São Paulo. Foi quando conheci muita gente e decidi arriscar uma mudança de cidade. Mudei por uma circunstância profissional. São Paulo tem um cenário teatral e artístico maior e isso me instigou a experimentar a cidade”. Instigou tanto, que logo ela completará mais anos em São Paulo do que em Porto Alegre. Em solo paulistano, ela ganhou o Prêmio Apetesp de Teatro (Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo), e no Rio de Janeiro, uma indicação para o Prêmio Oscarito. Na terra natal, com o mesmo sucesso, levou para casa o Prêmio Sated RS (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões). “Foi uma época em que depois fiz muito teatro, que é meu chão. Comecei no teatro e nele piso com mais tranquilidade e firmeza até hoje. Existe uma troca imediata com o público que me fascina. Um jogar-se sem rede, sem edição, é ao vivo. Uma adrenalina necessária para mim”, conta Ilana. Desde então, foi um trabalho atrás do outro. No palco e na televisão, ao lado de profissionais que admirava muito e com quem nunca pensou em dividir a cena ou ser dirigida. “Paulo Autran, Gerald Thomas, Ney Latorraca, Marco Nanini, Elias Andreato, Marco Ricca, Denise Fraga, João Falcão, Jô Soares, Glória Menezes e muitos outros atores e diretores que, graças a minha mudança, tive a oportunidade de conhecer e trabalhar”, enumera Ilana. Ela destaca seu primeiro Shakespeare, dirigido por Jô Soares, como uma experiência importante, pois foi sua primeira incursão no drama. Além disso, no projeto Terça Insana, de Grace Gianoukas, ela deitou e rolou na comédia e retomou seu lado autoral de atriz, criando mais de 19 personagens diferentes.


Alguns estão no YouTube: “Foi um período criativo muito bom”. Na TV, ela fez boas participações em Os Normais, A Diarista, Louco por Elas. Mas Carrossel e I Love Paraisópolis foram significativas para Ilana: “Carrossel porque me conectou de novo com o público infantil, que é muito verdadeiro, e a Silvéria de I Love Paraisópolis, apesar do clichê da expressão, foi um presentaço de Alcides Nogueira e Mario Teixeira. Além de terem me dado muita liberdade para interpretar a personagem, eles ainda a colocaram como oriunda de Anta Gorda, daí me liberaram o gauchês de vez”, conta, rindo. Prestes a completar 30 anos de carreira e 21 como cidadã paulistana, as raízes e os afetos por Porto Alegre não mudaram: “Sinto saudade de tudo aqui. Minha irmã e sobrinhas moram em São Paulo, daí já alivia um pouco. Tenho muitos amigos em Porto Alegre. Tenho no meu humor uma coisa meio gaúcha, aquele nosso autodeboche, um humor bem próprio nosso. Somado a isso, tem o meu lado judaico, que é o Woody Allen que carregamos. De brincarmos em cima de nós mesmos”. Ilana é muito ligada à família, que não é enorme, mas é unida. Ela é a caçula de três

irmãos, o mais velho é Gilberto, e a do meio, Ana. Gilberto, que todo mundo conhece como Kaplan, é o único que ficou em Porto Alegre e, desde que ela era pequena, é o seu ídolo: “Conheci Caetano, Gil, Gal, Bethânia, Novos Baianos, Alceu Valença, Beatles e Rolling Stones, Pink Floyd com ele”. Os sobrinhos Tiago e Lucia moram em Porto Alegre, e Leticia e Luana, em São Paulo: “Amo meus sobrinhos. Sei que meu grande choro aberto ao público acontecerá quando Lucia terminar de escrever o livro com as receitas da minha mãe, Liba, que faleceu em 2009, em que os quatro netos darão depoimentos sobre a vó. Com certeza isso me fará chorar”. O pai, Idel Kaplan, mora em Porto Alegre, e a coisa que mais gosta de fazer é viajar. Ama levar a família toda para viagens aos mais variados lugares do mundo. “Já fomos todos levados e guiados por ele para lugares incríveis, como a Rússia, Israel, Sudeste Asiático e Grécia. Ele é muito interessante, culto, aberto ao novo, e com um humor especialíssimo. Eu amo meu pai! Depois desta descrição, você acha que Freud explica?”. Acho que sim, Ilana, Freud explica e a Bá adora. MB | 11


Fala um pouquinho de como era a Ilana criança? Fui uma criança curiosa, sapeca, extrovertida e aprontava muito. Gostava de brincar com amigas. Também brincava e falava muito sozinha no meu universo imaginário. Quis ser aeromoça, chacrete, dona de loja. Dublava o disco da Turma da Mônica e alugava a família para assistir. Acho que já era minha veia artística. Com uns 12, 13 anos, eu era da bagunça. Meus pais tiveram paciência e amor por mim, porque fui uma pequena peste. Pintava elevador com tinta, jogava bexiguinha da janela, nos verões ia para a casa de alguma amiga na praia e sempre aprontava. Pegava carona de moto, andei de teco-teco, pulei da plataforma de Atlântida no mar com duas amigas. Era da pá virada. Quando lembro disso, acho que só a inconsequência juvenil dá essa coragem. Hoje eu jamais pularia no mar nem andaria de teco-teco com algum aluno que não fosse piloto ainda. Mas me diverti bastante. Tenho essas companheiras de bagunça no meu rol de amizades. Sou uma conservadora das amizades. Tenho amigas de colégio até hoje e que sempre reencontro. Algumas estavam comigo na plataforma e nas caronas de moto. E do que sentes falta de Porto Alegre, além das pessoas? Acho que sinto falta da cidade como um todo. Gosto da cidade. Acho que 12 |


ela tem um tamanho bacana. Tem tudo e abriu muita coisa, muito café, restaurante. Sem falar nos meus amigos e a família toda. Agora estou naquela divisa, porque vai para 21 anos que estou por lá. Já quase o mesmo tempo que estive por aqui. É engraçado. O que tu tens de bem gaúcha? Muita coisa, né? Eu tenho sotaque, né? Quando fiz a gaúcha de I Love Paraisópolis, pensei que não dava essa pinta toda. Me sentia supercontrolando, até que uma vez me disseram que ela era de Anta Gorda e eu me soltei. Crédito total para o Alcides Nogueira e o Mario Teixeira, porque me escolheram para fazê-la e me deram liberdade. Eles viram uma loucura ali, alimentaram o personagem e foi incrível. No ar, não se tem a dimensão de quantas pessoas nos veem. Depois, fora do ar, é que sentimos a repercussão. Achas que és mais chamada para fazer personagens engraçados? Não fiz só comédia, mas sinto muito prazer em fazer comédia. Na reação das pessoas. É um traço forte meu. Fiz Ricardo III com a Drica Moraes e o Marco Ricca, dirigidos pelo Jô Soares. Um épico clássico de Shakespeare e eu fazia uma rainha supersurtada que não tinha nada de cômico. Foi engraçado porque tinha a direção do Jô, e, tirando a Glória Menezes e o Marco, a grande maioria do elenco era comediante. Até um dia comentei no camarim com a Denise (Fraga): acho tão estranho que eles não reagem, parece que eles estão dormindo, porque não riem. Habitua. É um hábito,

né? Tu falas uma coisa e aquilo volta em riso. O Jô é superlegal, bem querido e bem -humorado. Foi muito bacana. Algum ator especial te marcou? Acho que todos. Eu tive uma baita sorte de substituir a Betty Gofman na peça O Burguês Ridículo, que o Paulo Autran dirigiu. Foi lindo ter essa proximidade. Tive muita sorte de trabalhar com todos esses. Marco Nanini, Guel Arraes, João Falcão. Fui trabalhando com gente de quem eu era muito fã. Ney Latorraca, Glória Menezes, que acabou virando minha amiga. Se não fosses atriz, qual outra arte? Eu queria ter a sensação de cantar ou tocar num palco com muita gente e sentir aquela energia que a música tem capacidade de provocar, com aqueles isqueirinhos acesos. Todo comediante é ator, mas nem todo ator é comediante? Acho que a comédia é um dom. Alguns nascem com ele, outros não. Ela tem um tempo na fala, no gesto, que alguns atores têm, outros não. Muitos teóricos afirmam que fazer humor é mais difícil. Não tenho parâmetros para discorrer sobre isso porque o humor em mim sempre fluiu com muita facilidade. É meu chão. No palco e na vida. Nasci com isso. Hoje acho que está no meu DNA. Sou de uma família judaica. O judaísmo tem humor. Somado a isso, venho de Porto Alegre e, agora que moro há mais tempo longe do Sul, reconheço um humor que também pertence ao fato de ser gaúcha. Ambas as raízes geram em mim esse hu| 13


mor crítico de autodeboche, de não levarse tão a sério, que faz a vida ser sempre mais leve. No âmbito profissional, apesar de a comédia ser considerada mais difícil de ser realizada, ironicamente ela é sempre menos reconhecida no setor intelectual. Se observarmos prêmios de teatro ou cinema, o drama e a tragédia sempre levam mais estátuas para casa. É uma constatação, não uma reclamação. É algo curioso, para se pensar. Não tenho do que reclamar porque já fui premiada como atriz em teatro por comédia. Mas, no panorama geral, o que acontece muito é que as comédias levam mais público, mas são menos premiadas do que outros gêneros. Talvez seja a lei da compensação na linha do “não se pode ter tudo”. Tens uma liga com crianças e curtes interpretar para elas na televisão. Quiseste ou queres ser mãe? Tenho três trabalhos muito importantes na TV para o público infantil. Logo que cheguei em São Paulo, em 1995, fiz o Lá Vem História na TV Cultura, em que eu contava histórias do Flavio de Souza manipulando objetos do cotidiano. Depois fiz Minuto Científico, um projeto do Cao Hamburguer em que eu e Brian Penido dávamos informações científicas em um minuto. Em 2012, fiz uma professora nervosa, atrapalhada e meio malvada na novela Carrossel, no SBT, que me proporcionou muita alegria e um reconhecimento profissional com as crianças muito mágico. É uma sensação maravilhosa ser querida por criança. É o amor mais puro e sincero que existe. Sempre me surpreendo com o carinho in14 |

fantil. Outro dia, numa ida a Porto Alegre, fui com meu pai numa churrascaria e um menino estava na entrada e falou “Professora Matilde!”. Ele estava vendendo panos de prato. Conversei com ele e, claro, acabei comprando os três paninhos da promoção. Quando entramos no carro, eu falei: estou com estoque de panos de prato em casa por conta do Carrossel... É uma febre mesmo. Atinge crianças de classes diversas. Tenho filhos de amigos que amam. Isso tudo me deixa muito feliz e me emociona. Foi inesperado, porque não sou da área infantil. Fiz uma peça de teatro em Porto Alegre em 1985 que durou duas semanas porque o ator quebrou a perna, achei que era um sinal e nunca mais fiz. Mentira! Admiro demais quem faz e se dedica ao teatro infantil, mas, depois dessa experiência, só fiz teatro adulto. Nunca tive um instinto maternal forte. Brinco que não nasci com o chip da maternidade. Sou muito melhor com adolescentes, adultos e idosos do que com as crianças. Mas a minha maternidade existe. Sou muito cuidadosa com os amigos e a família. Acho que sou tão preocupada, que, se fosse mãe, poderia sufocar um filho com tanta cautela. Seria daquelas mães do Woody Allen, neurótica, aflita, e teria de colocar os filhos na terapia aos três anos de idade, de tanta loucura que viraria a vida deles. Um domingo perfeito em São Paulo? E em Porto Alegre? O domingo perfeito em ambas as cidades é poder caminhar ou pedalar nos parques, nas ruas, almoçar com gente de quem se gosta e, se tiver peça ou filme bom passando, é sempre um jeito


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bom de terminar o dia. Em São Paulo, tem o Minhocão e a Avenida Paulista, que agora fecham aos domingos e fazem a cidade ficar superdemocrática, com gente de todos lugares, músicos, performances etc. Um pouco como fica o Brique da Redenção aos domingos. Sempre é um bom programa. Se estou com peça em cartaz, domingo é meu dia de trabalho. Aí vou mais leve na programação porque fico preocupada com a voz e a disposição para a cena. O almoço tem de ser cedo, porque vou para o teatro e sempre chego umas duas horas antes. Para aquecer o corpo, a voz, me maquiar e me preparar. O jantar é sempre mais relax, já que, em temporada, a segunda é que vira meu domingo. Entras suave nas redes sociais por não te sentires madura emocionalmente para lidar com a dimensão que as opiniões de pessoas públicas podem alcançar. O que achas das extremas raivosas que ganham cada vez mais voz nas redes sociais? Faz sentido tanta briga, ofensa e fim de amizade? Ainda não sou da era virtual por completo. Tenho só Facebook. Demorei para entrar e foi sob muita pressão dos amigos. Acho um espaço bacana para reencontros, encurtar distância física, mas logo que entrei disse: o Face é 16 |

uma festa para a gente entrar, dar umas risadas, tomar um drinque e ir embora. Só aceito amizade de quem conheço ou admiro profissionalmente. Na época do Carrossel e também quando fiz I Love Paraisópolis, recebi muitos pedidos de amizade de fãs e de crianças. Não aceitei porque para mim é um lugar meu para colocar piadas, pensamentos, e não me sinto à vontade em falar publicamente com quem não conheço. Talvez uma hora dessas faça uma página profissional para atender a um público maior. O Instagram eu não tenho porque brinco dizendo que não sou boa fotógrafa e não gosto muito de mostrar meu dia a dia nem sou muito da selfie. Minha vida é muito básica, sem nenhum glamour, minha exposição está no meu trabalho e já está de bom tamanho para mim. Digo que meus personagens são muito mais interessantes e malucos do que eu. Neles que exponho minha loucura. Minha profissão me possibilita ser outros. É o lado criança de brincar de faz de conta que prevaleceu em mim, e para esta brincadeira eu sempre estou disposta a me mostrar. Sou reservada só na vida pessoal. Tenho bons amigos e prefiro mantê-los na intimidade, assim como a família e as viagens que faço. Não sinto necessidade de compartilhar isso publicamente. Acho o


Instagram interessante, é um jeito de se comunicar através da imagem. Ainda não tive vontade de ter, mas talvez uma hora dessas me anime. O que menos me atrai é o Twitter. Eu brinco que não tenho maturidade psicológica para ter. Acho uma Terra de Ninguém, onde existe muita gente sem cara real e onde todo mundo opina sobre tudo. No meu caso, que exerço uma profissão pública, uma cena minha na TV pode ser execrada e incensada. Se me metralharem, me chatearei, e, se me elogiarem, eu, desconfiada, aceitarei, mas não acreditarei. Ou seja, não me acrescenta em nada. Prefiro confiar na opinião da equipe que está comigo envolvida no meu trabalho ou em gente próxima em cuja opinião eu confie. Neste período político que estamos atravessando, o Facebook está difícil. Minha amiga Mariana Verissimo brincou dizendo que poderia ser chamado de Hatebook. São tempos difíceis e o computador é uma arma perigosa, porque as pessoas falam coisas ali que cara a cara não diriam. É assustador ver gente conhecida manifestar tanto preconceito ou ódio de forma tão aberta. Não sabemos ao certo onde toda essa exposição do pensamento vai dar. Acho que muitos de nós nunca mais nos olharemos da mesma forma. Como sou uma otimista, acredito que existe um gigantesco encontro virtual nisso também. Reencontrei amigos e gente que admiro na rede | 17


social. Gente que posso procurar e achar fácil. Isso é bárbaro. Mas sinto que todos nós deveríamos usar essas ferramentas virtuais com uma ampulheta, para que possamos viver mais a vida real, que urge e é curta, por mais tempo que possamos viver. Ainda sobre o assunto da exposição, me dei conta de que não estou preparada para abrir o perfil quando coloco coisas no Face e elas começam a ultrapassar as 80 curtidas. Eu me envergonho e tenho vontade de apagar o post. Seria caso para internação? (risos). O que aplaudes e o que vaias na televisão brasileira? Eu aplaudo a teledramaturgia. Acho que fazemos lindamente novela no Brasil. Gosto do programa Tá no Ar e do Novo Zorra Total. Vaio os telejornais. Acho que o nosso jornalismo deveria ter mais notícias sem filtro. Deveríamos ter acesso às informações como elas são, sem um editor que conduza o que é bom mostrar segundo a política do canal. Vaio também programas sensacionalistas com aquelas trilhas de drama, acho uma vergonha. Mas eu vejo de tudo. Vejo coisas ruins também porque também me divirto no universo trash. Para mim, tudo é fonte de inspiração. Meu humor me salva e consigo me divertir vendo muitas coisas ruins. Há algum personagem especial que desejes interpretar? Houve algum até hoje mais marcante? Por quê? Não tenho nenhum desejo especial de personagem. Gosto dos que sejam bem diferentes de mim. Na TV, eu adoraria fazer uma vilã 18 |

de verdade, tipo Odete Roitman, Nazaré, Carminha. Quanto ao mais marcante que fiz, tenho meus personagens como filhos, saíram de mim, eu os construí, não tenho um preferido. Cada um foi marcante no período em que o fiz. Fale sobre a relação com a Ana, sua irmã? Somos grudadas, temos uma parceria desde a infância, pois sempre dividimos tudo, até o quarto. Viemos para São Paulo na mesma época, e moramos há meia quadra uma da outra. Nos falamos diariamente, várias vezes ao dia. Ana é formada em jornalismo e letras e tem muito mais humor do que eu. Somos fisicamente muito parecidas e temos mil histórias de pessoas que nos confundem. Chegamos até a fazer um comercial da Brastemp como gêmeas, sentadas numa poltrona. Uma vez, no Bom Fim, um recém conhecido nos perguntou: “mas quantas vocês são?”. Nossa parceria vem do nosso convívio e das nossas observações que se complementam. Quando ela ri de uma piada minha, é um termômetro para saber se realmente vale. Ninguém melhor do que alguém com muita intimidade para te dizer sinceramente se aquilo está bom. E isto vale para tudo. Brincamos que só irmã tem coragem de dizer: “Fecha a boca. Tu tá gorda.” rsrsrs .No tempo da Terça Insana eu criava os tipos (jeito de falar, andar, visual) e levava para ela e juntas pensávamos nos textos. Escrevíamos e ríamos muito. Temos um projeto na Internet que está andando, ele é em cima de um personagem que já fize-



mos e estamos adaptando para a rede. Será comédia e já estamos nos divertindo nesta pré-produção. Do que Ilana precisa para ser feliz? Sou uma pessoa fácil para ser feliz. Se eu estiver num trabalho que me desafie, eu estarei feliz. Estando com quem eu amo, amigos e família, também estarei feliz. E, se eu tiver um sofá bom, um livro ou uma TV com Netflix e um bom chocolate, também estarei bem feliz. Projetos para os próximos meses? Vou participar de um filme no segundo semestre. E estou num projeto de internet e teatro com minha irmã Ana, que escreve comigo meus personagens desde a Terça Insana. Do que tens medo? Tenho medo de perder quem eu amo. O que te faz rir? Quase tudo me faz rir. Eu tenho esse filtro. Mesmo com coisas ruins. Posso me desesperar com algo, ficar brava, mas depois que passa eu me distancio e rio muito. E chorar? Como Ilana se emociona? Eu choro com TUDO. Com propaganda de margarina, filme, novela, livro. Uma vez, estava com minha irmã na frente de uma padaria em São Paulo, me emocionei com uma conversa, comecei a chorar e depois, rindo, eu disse: “Aqui na frente dessa padaria eu nunca chorei”. Sou chorona de carteirinha. Sempre fui, mas com o tempo piorei. Meus sobrinhos já brincam quando 20 |

escuto uma história que me comove ou vejo algo: “Ai, tia Ilana vai chorar...”. Tens algum preconceito? Tenho preconceito com gente preconceituosa. É mais forte do que eu. Acho um horror. Me repele. Tens algum defeito que é também tua qualidade? Sou fiel e leal até debaixo da água. Sou difícil de magoar, mas, quando pisam feio comigo, em alguns casos até esqueço, relevo, mas fico com aquela lembrança e não consigo retomar do mesmo ponto. Noutros casos, não retomo a relação jamais. Mas tenho poucas pessoas nessa lista dos ignorados. Sou mais flexível e bocó no geral. Em que situações ficas um pouco tímida? Em muitas situações. Quando não conheço as pessoas, sou extremamente tímida. Em entrevistas de TV, às vezes me atrapalho, me intimido, me faltam as palavras. Sou um desastre. E, nos casos afetivos, nunca tenho coragem de iniciar, avançar, cortejar. Fico bem jeca. Qual a coisa mais legal e a mais chata na profissão de atriz? A parte mais legal da minha profissão são os encontros. Permite que eu conheça muita gente. Nos trabalhos que fiz ao longo destes 30 anos, fiz amigos para a vida toda. Conheci muita gente quando estava em Porto Alegre no início de carreira e logo que cheguei em São Paulo também. E são meus amigos até hoje. Que frequento e com que converso regularmente. Além de amigos de


quem tive o privilégio de ser fã e estreitar amizades, como Marco Ricca, Denise Fraga e Glória Menezes, a quem considero minha comadre. Amiga de sair, rir, jantar fora, bater perna e conversar sem faltar assunto nunca. Isso é o que vale na vida. Os encontros. E minha profissão me proporciona isso. A parte chata são a inconstância e a instabilidade. Numa época, estou em cartaz, noutras estou contratada, daí tudo fica mais fácil e melhor. Tem as entressafras, quando estou fermentando algo. Este período é mais

difícil de levar. Mas, depois de 30 anos, já me acostumei e sei que logo tudo gira e começa um novo ciclo. Faz parte. Neste período, cuido da voz, do corpo, da mente, tento ler mais e ver tudo o que está em cartaz para me alimentar para o que vier e tento aproveitar meu ócio criativo para a próxima viagem artística. Que é sempre uma boa aventura. Tive sorte nos elencos de que participei. Só tenho a agradecer ao destino, a Deus ou a o que quer que seja. Enfim, eu sou uma otimista.

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Fernando Ernesto Corrêa

Ciúme, não; inveja, sim Segundo Aurélio, ciúme é o sentimento doloroso que as experiências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de uma infidelidade fazem nascer em alguém. Também para o nosso grande filólogo, inveja é o desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Ouso discordar dessas definições, em que pese a importância do seu autor, porque as considero reducionistas e casuísticas. Tanto o ciúme quanto a inveja são diferentes e bem mais do que isso. O ciúme não prospera apenas entre pessoas que tenham uma relação carnal. Pode surgir entre pais e filhos, entre irmãos, entre amigos. E a inveja, por sua vez, nem sempre é um defeito, pode ser uma virtude. Vou dar o meu depoimento expondo como encaro esses dois sentimentos, ao mesmo tempo próximos e distantes entre si. Quanto ao ciúme, o considero um sentimento ridículo, sem pé nem cabeça. Minha mulher, Silvana, é décadas mais moça do que eu e, sem dúvida, muito bonita. Nem eu, nem ela temos ciúme um do outro. Eu tenho uma confraria, saio para jantar com amigos, vou a Cuba com companheiros para tomar rum e fumar habanos, viajo incessantemente sozinho a trabalho. Ela não me cria qualquer problema. Só se preocupa com minha saúde, segurança e sucesso nos negócios. Ela tem inúmeros amigos e amigas, com eles faz happy hours, comparece a eventos e festas (a que não quero ir), viaja com amigas, enfim, tem uma movimentação própria ao lado de nosso cotidiano comum e que é estimulada por mim. Pergunto, adiantaria alguma coisa termos ciúme? Estamos juntos por confiança recíproca e simplesmente porque queremos. 24 |

Por mais que doentiamente nos vigiássemos, encontraríamos uma saída para “pularmos a cerca”. Por tudo isso, eu considero o ciúme uma grande bobagem. No que diz respeito à inveja, essa sim é uma faca de dois gumes. Pode ser uma deformação mental, como referi no início, mas também pode ser um predicado. Por exemplo, confesso lisamente que tenho inveja do meu filho Geraldo. Ele é responsável, prudente, equilibrado, conciliador e tem muito bom senso. Eu o invejo porque eu fui e continuo sendo um pouco porra louca. Também tenho inveja do meu filho Ramiro. Ele também é responsável, carinhoso, educado, estudioso e tem uma veia artística excepcional. Gosta de música e toca piano divinamente. Eu nunca consegui vencer minha frustração por não tocar piano. Por ter esse sentimento com relação a esses filhos (e poderia elencar outros exemplos com Fernandinho e Laura), eu sou um anormal? Sou um desequilibrado? Pelo contrário, orgulho-me desse tipo de inveja. Como me disponho aqui a transferir para vocês um pouco da experiência adquirida nessa longa caminhada de minha vida, sugiro que vocês reflitam sobre isso, não percam tempo com o ciúme bobo e desfrutem da boa inveja do muito que outrem faz e que vocês gostariam de realizar. Resumindo, o ciúme, ainda que se possa sentir sem stress, inclui um sentimento de posse que é totalmente ilusório. A inveja, sem o desejo de despojar o que o outro mostra, revela uma grande admiração pela pessoa. Finalizo propondo que vocês fujam do malsinado e corrosivo ciúme, que não leva a nada e só prejudica quem o tem. E não temam a boa inveja, que honra o invejado e estimula quem o pratica.


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Ana Mariano escritora

A (in)comunicação da internet Fui assistir à palestra de Pierre Lévy, um dos maiores entendidos em internet e culturas tecnológicas digitais, meio sem vontade, mais porque já estava paga. Tinha a certeza de que não entenderia nada. Ledo engano, como diria meu pai. Levy foi claro, didático, inteligente e concluiu dizendo algo que... sei lá, me tranquilizou. Antes, eu tinha a impressão de que o mundo se havia transformado na nave do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, e nós, os tripulantes, estávamos irremediavelmente à mercê de Hal 9000, o computador assassino. Levy me lembrou de que não é bem assim. Embora a nuvem seja capaz de armazenar uma quantidade absurda de dados, a inteligência humana e individual continua sendo imprescindível. É preciso ainda selecionar fontes, entendê-las, combiná-las, tirar conclusões, o que mantém, pelo menos na aparência, o Hal 9000 sob controle. Não é porque agora temos uma inundação de algoritmos trabalhando a nosso favor que teremos que abdicar de tudo o que trouxe honra para o espírito humano, que são a consciência, a significação e a memória, foi o que ele disse. E quanto à comunicação? Estudo divulgado no portal Terra afirma que o Facebook seria a causa de um em cada três divórcios na Inglaterra. Será? Não tenho tanta certeza. Ninguém busca novos parceiros se o casamento está bem. Ao facilitar o contato com outras pessoas, me parece que as redes sociais proporcionam 26 |

uma saída, não? Também me pergunto se procede a afirmação de não haver mais diálogo porque as pessoas, em vez de conversar, postam fotos do hambúrguer que vão comer, da rua molhada de chuva, da festa de ontem e até de mapas com um alfinete marcando o lugar onde estão tristes ou alegres ou ansiosas. Como dizia a raposa de O Pequeno Príncipe, o essencial é invisível aos olhos. Essas fotos são o visível. Quem pode afirmar que o essencial não esteja lá, escondido, aproveitando-se de um hambúrguer para se revelar? Nada impede que o mapa com alfinete mostrando onde a pessoa está triste, ou a selfie tirada minutos antes de uma cirurgia, seja, na verdade, um pedido de socorro, tentativa de não sentir-se tão só. Se uma nova língua surgiu no mundo inteiro, por que não procurar entendê-la? Quem pode afirmar que, assim como nós, o Pequeno Príncipe e sua raposa não estão conectados e usando o Face para procurar o invisível essencial?



Sabor e sabedoria De olhos graúdos e boca em forma de coração, Rafaela Ribeiro era uma graça de criança. Lembro dela pelo Tênis Clube de Gramado com uniforme de tênis igual ao da bonita mãe, a empresária Dudi, de quem ela não desgrudava: “Somos unidas. Lembro de ela ir até a esquina e eu já morrer de saudade dela. Chorei horrores para ir para a 1ª série”. Dengo que foi sendo superado ao longo dos anos. E, quando completou 17, ela foi morar sozinha na Austrália. Grata por poder criar a filha Bárbara próxima dos pais, Rafa lembra que as reuniões familiares dos Ribeiro sempre foram ao redor do fogão. Na época em que o pai, Jorge, era presidente do clube, ainda pequena, ela ajudava a mãe a fazer as sobremesas dos bailes. Tempos depois, já fazia os doces sozinha. Caçula de Ramiro e Cristiano, sempre foi parceira dos irmãos nas brincadeiras e aventuras. Tanto que até hoje adora esportes radicais, escaladas, cachoeiras, bike, mergulho, skate e andar de roller pela cidade: “Não me convide para ir ao shopping”, brinca Rafa. Foi trabalhando em restaurantes e hotéis australianos que Rafaela percebeu que gostava de lidar com o público. De volta ao Brasil, aos 19 anos, com Julius Rigotto ajudou a montar e trabalhou no parador Ibiza, bar que virou febre na época: “Não saí mais de trás do balcão. Me apaixonei pelas experiências, ver as pessoas entrando às vezes desanimadas e indo embora felizes por terem vivido um momento especial”, relembra Rafa, que busca essa realização na T+ Temakeria e no San Tao, dois restaurantes que administra há dois anos no centro de Gramado. 28 |

Foi na Austrália que se aproximou da culinária oriental. Como os colegas eram de vários lugares da Ásia, nos encontros, cada um fazia a especialidade de seu país. Ali começou a brincadeira de fazer sushi. De volta a Gramado, em 2005, surgiu a oportunidade de comprar um restaurante japonês pequeno, chamado Origami: “Convidei meus irmãos para tocar comigo, mudamos nome e lugar. Coloquei em prática o que aprendi, usamos as cerâmicas da mãe, que têm tudo a ver com a nossa história e são um charmoso diferencial”. Nascia o San Tao – San = três (de três irmãos) e Tao = caminho –, que foi instalado na casa dos pais e apostou na culinária tailandesa, unindo o ateliê de cerâmica e o restaurante à beira do Lago Negro. Depois de cinco anos, em 2011, o San Tao mudou para o Centro e passou a atender a um fluxo maior de clientes. Impulsiva, sonhadora e otimista, Rafaela busca uma vida cada vez mais simples e de pequenas alegrias, onde as pessoas vivam em igualdade. Com a filha Bárbara, ela confessa aprender todos os dias: “Se reclamo de algo, ela me lembra de que sou resultado de minhas escolhas. Ser mãe nos mostra que não sabemos de nada e que amar é a única razão para estarmos aqui”. Os dias são dedicados à burocracia, às postagens, às compras e a todo tipo de pepino. Ela encaixa os compromissos da filha e os dela, como a academia, a yoga e a meditação. A noite é 100% San Tao. Quando sobra um tempo, ela sai para bater papo, dançar ou assistir a algum show com os amigos. Ama música e estar com a filha e a família.


RAFAEL CAVALLI

Como não acredita em mudanças bruscas, Rafaela Ribeiro tenta a cada dia acordar melhor. Nessa evolução espiritual, daqui a 10 anos, ela se imagina à beira-mar, fora do país ou até por Gramado: “Quero estar mais próxima da culinária vegana e orgânica. Trazer para a rotina os alimentos que nutrem corpo, mente e alma e disseminar essa filosofia”. E por qual lugar trocaria Gramado? “Por algum lugar com pés na areia, sem tantos padrões, onde os livros não sejam julgados pelas capas”. MB

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As Patrícias aspatricias.com.br

Oh Studio, poesia íntima

RICARDO LAGE

Difícil encontrar uma mulher que não suspire diante de uma lingerie encantadora. De efeito tão fetichista quanto um belo sapato de salto alto, a lingerie certa nos faz sentir mais belas e confiantes de um delicioso jeito íntimo, sem precisar mostrar para ninguém (ou quase ninguém). Não à toa, estamos sempre de olho em alguma peça singular, que revele o melhor da nossa silhueta, que nos seduza antes mesmo de seduzirmos, que nos faça mais felizes por nos sentirmos mais bonitas, exatamente como as criações de uma grife gaúcha que

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estreou há pouco mais de três meses, mas já repercute no Estado – e no Brasil –, a Oh Studio, uma verdadeira poesia de vestir criada pela designer gaúcha Cibeli Silva. Cibeli cria peças delicadas, que denotam, de imediato, um capricho particular com cada detalhe. Toda calcinha, sutiã, body é construído totalmente à mão pela estilista, que cuida carinhosamente da escolha de tecidos e aviamentos, da modelagem, da costura. Até mesmo as embalagens da Oh Studio são elaboradas uma a uma, para cada compradora, que se sente especial já


FOTOS CIBELI SILVA

Designer gaúcha Cibeli Silva cria marca de lingeries que abraça o estilo sensual e cool do novo underwear

ao receber a caixinha branca envolta por um charmoso laço preto, antecipando o clima da moda íntima assinada pela Oh, um luxo que se envolve ao corpo. De aroma vintage e sutilmente fetichista, as peças mesclam rendas delicadas e tiras provocantes, tecidos de personalidade retrô a recortes abusados, um contraponto entre o ontem e o hoje extremamente desejável, semelhante a imagens que algumas grifes autorais estão criando pelo mundo afora. Ou seja, Cibeli está bastante sintonizada com o estilo sensual e ao mesmo tempo cool que tem revigorado o conceito de lingerie além de qualquer fronteira, sendo uma das raras representantes brasileiras a abraçar essa proposta com veracidade. Outra característica da label está exatamente no foco para uma mulher de verdade, uma mulher real. “Não crio pensando em um padrão, crio pensando na diversidade, na individualidade”, comenta Cibeli, que também produz sob medida. Inclusive, no projeto Oh Girls, clientes são convidadas a estrelar os ensaios fotográficos da marca, sem photoshop, com imagens assinadas pela própria Cibeli, que também responde pela direção criativa e pela estratégia da grife. Puxado? Sem dúvida, mas foi assim, acompanhando de pertinho cada etapa de um longo processo de manufatura e criação, que Cibeli fez de sua Oh Studio um selo que, embora o pouco tempo de vida, tem uma identidade clara que se percebe rapidamente, coisa que muita grife veterana ainda não conseguiu. Quer ver mais? Acesse ohstudio.com.br.

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FOTO: RAUL KREBS - ESTÚDIO MUTANTE



Carlos Mânica

Consultor de empreendedoras

Empreendedoras sem limites Eu sou o Carlos Mânica, desenvolvedor de empreendedoras. Nos últimos anos, colaborei com o crescimento de dezenas de mulheres inquietas e corajosas que decidiram ter o seu próprio negócio. Hoje, além de ter uma empresa especializada em empreendedorismo feminino, orgulhosamente passo a escrever esta coluna na Revista Bá, da minha querida amiga e cliente Mariana Bertolucci. Neste espaço, pretendo falar sobre o universo das mulheres empreendedoras e dos fatos que as influenciam na obtenção de bons resultados profissionais e de qualidade de vida. Costumo dizer que empreender é como participar de uma corrida. Comum em corridas, na corrida do empreendedorismo, o objetivo principal também é cruzar uma linha de chegada. Essa conquista é o primeiro passo, que significa que sua empresa não quebrou, deu certo. Após essa primeira conquista, outra corrida começa, desta vez para crescer e prosperar, jamais retroceder. Nestas corridas do empreendedorismo, creio que homens e mulheres largam juntos, mas, logo após a largada, as mulheres disparam na frente dos homens, pois elas possuem um arsenal de características positivas que as beneficiam na vida de empreender. Mulheres costumam ser mais flexíveis, maduras, determinadas, sensíveis ao lidar com pessoas, são naturalmente hábeis na condição de multitarefas e, principalmente, elas aplicam muita paixão no que fazem. Ao longo da história, as mulheres sofreram e ainda sofrem muito em suas atuações no mercado de trabalho, onde costumam 34 |

diariamente enfrentar limitações e opressões impostas pelo comportamento machista presente no ambiente corporativo e também no serviço público. Felizmente, um dia, Deus inventou o tal de empreendedorismo, e o fez especialmente para as mulheres, pois ali elas estão livres para usar e abusar de suas qualidades. Como empreendedora, ninguém vai limitar o seu salário a ser menor do que os dos homens e ninguém vai roubar a sua vaga de emprego em favor de um candidato do sexo masculino. Se alguma porta se fechar, outras tantas estarão abertas. Uma vez que uma mulher tenha decidido ter o seu próprio negócio, nada a limita nem a condiciona. Seu esforço, inteligência, estratégia, faro para identificar oportunidades, entre outras características, serão os fatores que determinarão o seu sucesso. Hoje, muitas mulheres direcionam seu foco profissional para o empreendedorismo para melhor lidar com a maternidade. Tanto as que já têm filhos quanto as que pretendem ter. Em geral, o negócio próprio possibilita uma maior flexibilidade de horários para dedicar-se paralelamente ao trabalho e ao cuidado com os filhos. Se Deus inventou o empreendedorismo, confesso que não sei, mas que as empreendedoras estão arrebentando, sim, ELAS estão.



Objetos e desejos Henrique Steyer

Design de experiência Quando se fala em design, muitos têm em mente objetos superelaborados e ambientes muito sofisticados, cheios de cor e funcionalidade, mas é bem mais do que isso. Design pode estar na forma de pensar os processos de uma empresa, o chamado design estratégico, e até mesmo na forma de gerar emoções e impacto positivo na mente dos consumidores. Uma das vertentes muito estudadas e aplicadas do design atualmente é justamente o design de experiência, quando empresas prestadoras de serviço criam situações que mexem com as emoções de seus clientes e usuários, e isso passa por estímulos visuais, olfativos e emocionais, entre outros. No Rio Grande do Sul, um exemplo bacana de design de experiência fica em São Francisco de Paula, cidade pequena que impressiona pela grande concentração de pousadas de charme instaladas por lá. Entre tantas opções naquelas bandas, a Pousada do Engenho salta aos olhos, com uma proposta diferenciada que une serviço e natureza em um local dedicado às coisas belas da vida simples, sem abrir mão do conforto. Inclua nisso tudo o fato de o local servir pãezinhos assados na hora que deixam qualquer um com água na boca. São 15 cabanas que parecem casas na árvore, com opções de sistema de automação típicas de apartamentos cosmopolitas, onde persianas, som, luz, calefação e tudo mais pode ser acionado num simples toque no tablet. Sofisticação e conforto com jeitinho 36 |

de casa de campo. As cabanas são bem afastadas umas das outras, comprovando uma arquitetura estrategicamente pensada para privilegiar a integração com o verde e garantir a privacidade de cada hóspede. Isso não deixa de ser design de experiência, criar situações e ambientes capazes de tirar o usuário de sua rotina, em uma imersão num mundo mais tranquilo e colorido. Quem não gosta?


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FOTOS JOANA MOREIRA


FERNANDA SICA

ping

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Arte de compartilhar Quarta e única filha de João Carlos e Elaine, Karla Krieger nasceu e cresceu cercada do carinho e da atenção dos pais e dos irmãos, Christian, Charles e Kevin. Moleca vaidosa, bailarina mochileira, ela cresceu, linda, livre e feliz, brincando e enchendo de graça as ruas da Vila Assunção. Mística ou impulsiva? Sonhadora ou destemida? Não fugiu dos desafios que a vida lhe deu. Apaixonou-se aos 17 anos, e aos 18 engravidou. Casou, foi mãe de duas meninas e formou-se em Direito. Anos mais tarde, em 2004, deixou por três meses as duas filhas com a mãe e foi atrás do que parecia mover seu coração: a arte. “Os cursos com Antônio Amâncio e Sérgio Penna foram resgate no meu autoconhecimento por meio do teatro”. De volta a Porto Alegre, em meio ao mar intenso de descobertas, organizou sentimentos, vontades, culpas e decidiu se dedicar a outra forma de expressão: a comunicação. Casada com o médico Guilherme Diehl, Karla presenteou as filhas Vitória (20) e Eduarda (14) com a irmã caçula, Alicia (3). Além de controlar a rotina do trio, Karla é uma das integrantes do Atualidades Pampa, tradicional programa da televisão gaúcha, e lançou recentemente o Kanal K (kanalk.com.br ou YouTube), uma TV online com o lema “Compartilhar é uma arte”. Lá vem de novo, a arte... Share, Karlota! MB

Do que lembras com carinho? De cantar Noite Feliz no Natal, todos desafinavam e ríamos muito. Tínhamos acordos entre nós: se tocava a campainha ou o telefone, o último a dizer “não atendo” tinha que atender, e éramos justos no julgamento. Lembro dos meus avós maternos no Fusca do Vô Joaquim. Por que escolheste o Direito? Morei um ano em Brasília, aos 12 anos. Lembro de escrever uma carta e ler para os meus pais, que disseram que eu escrevia bem e que deveria fazer Direito. Acho que ficou gravado na memória. E o dom para a comunicação? Sempre gostei de um palco e de falar em público. Me apresentava todos os anos no Rosário e no ballet. Fiz vestibular para Artes Cênicas na UFRGS e Direito na PUCRS. Passei em Direito em 1994. Em março, engravidei. Em junho, me casei. E me formei. Fui atrás do meu sonho, separada e já com duas filhas, em 2004. Por qual cidade trocarias Porto Alegre? Hoje? Com essa insegurança em que vivemos? Pensei até em morar em Barra Grande, na Bahia. Define este momento da tua vida? Minha fase é ótima, fora a culpa de não estar mais presente na vida das minhas filhas. Ô, mulheres! O que desejas da vida? Harmonia em casa, satisfação profissional, mais amor e paz no mundo e saúde para viver! Qual teu grande sonho? Compartilhar cada vez mais conteúdos e ideias, chegar na vida de mais gente, ser um agente transformador da sociedade. O que ser mãe te ensina e um ensinamento que a vida te deu? A maternidade me mostra o amor mais profundo e desafiador do mundo. A arte me fez resgatar o meu mais puro e belo. O divisor de águas foi o workshop de Antônio Amâncio, um processo lindo e dolorido. Uma qualidade e um defeito? Sou verdadeira. Amo doce. Maldito açúcar!

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pong

Luz e bom astral

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Quando todo mundo na casa dos Beylouni ia dormir, nos anos 1980, Marcos ficava gravando músicas clássicas em fitas cassete para o pai ouvir depois. “Eu achava que ele ia gostar e ele gostava”. Doutor Fernando sempre de plantão, dona Regina cuidando da casa e dos três filhos. Marcão é o do meio. Amigo leal, gente boa, de coração grande e tranquilo: “Não me estresso por besteiras, dou tudo para não entrar em briga. Gosto de ver a felicidade através do som. Como DJ, adorava ver as pistas cheias e todos felizes”. E as pistas ficavam cheias de pessoas muito felizes e provavelmente você, assim como eu, era uma dessas pessoas que alguma vez já dançaram felizes no Baile da Glamour, no Bar Inglês, Le Club, Café do Prado, no Festival das Cores ou no Cais do Porto. Revezava-se com Marcão nas suas primeiras picapes uma gurizada que também era apaixonada por som: os DJs Lê Araújo, Japa, Borba e Mauricio Falke. Ah, os anos 1990... Foi comprando mais e mais equipamento que nasceu a RM Sonorizações. Depois de 30 anos, Marcos Beylouni está à frente da caprichosa e competente empresa de som e iluminação para eventos Get Premium e administra em média uma equipe de 30 freelancers e cinco funcionários fixos, que assumem luz e som de festas e eventos sociais e corporativos e shows de médio e pequeno porte. “Trabalho vai bem, amo minha vida e minha esposa, Zilá, e queremos filhos”. Que venham muitos Marcãozinhos por aí, para deixar o mundo melhor. MB

O Marcão criança era... Um cara brincalhão que gostava de matar aula para gravar músicas. Sempre rodeado de amigos e armando festinhas. Sempre fui de paz, uma criança alegre e de ajudar os meus amigos. Por qual cidade trocarias Porto Alegre? No momento, tenho que trabalhar e não me mudaria, mas penso em Garopaba ou Exterior, pela bagunça do nosso país. O que desejas da vida? Gosto de ver as pessoas felizes. Acho que por isso trabalho com festas. Ver a felicidade das pessoas e saber que elas me confiam momentos tão especiais de suas vidas é a melhor recompensa. O maior ensinamento que a vida te deu? Minha educação e princípios passados pelos meus pais. Porque vejo que é o meu maior tesouro neste mundo e que ninguém nunca vai tirar isso de mim. Qual a importância da luz e do som em uma festa? Sou chato para som. Brincam que tenho um ouvido doente de tão chato. Um amigo que masterizava músicas me chamava porque eu ouvia o que ele não ouvia. São importantes graves, médios e agudos no seu lugar, sem poluir o ambiente. Som bom não é som alto. A iluminação é essencial em uma festa. Usar os focos e os diferentes tipos de lâmpadas para cada evento é uma mistura de bom gosto, capacitação e experiência. Criar ambientes e experiências em harmonia sem perturbar os convidados é o desafio que nos move. Um defeito e uma qualidade? Teimoso, mas muito prestativo. Um ídolo? Quem? Por quê? Meu pai, exemplo de honestidade e sabedoria. Te arrependeste de... Não ter completado o curso de piloto comercial. O que desejas mudar? Honestidade e educação nas pessoas. Palavra? Festas. Uma música? Thin Lizzy – Dancing in the Moonlight Uma cor? Azul, vocês já sabem...


FÁBIO MARTINS

Um lugar no mundo? Estados Unidos. Sempre que fui, me encantei com os lugares e as pessoas. A formação com Lolita San Miguel, uma das poucas alunas atuantes de Joseph Pilates, foi incrível. Gosto da seriedade e do profissionalismo deles. O momento da tua vida? Estou feliz e mais agregadora. Ampliando possibilidades na minha área de atuação. É um momento de me reconectar com as pessoas e parcerias de trabalho. Quem é Rafaella e o que deseja? Uma guria alegre que ama o trabalho e estar com pessoas incríveis. Quero aproveitar a vida com quem eu amo, viajar e conhecer lugares lindos com meu parceiro de todas as horas. Sonhos? Conquistar meu espaço na profissão e formar uma família, ter meus filhos. O grande benefício do pilates? A importância da conexão entre corpo, mente e espírito e a transformação completa do corpo e da postura. Defeito e qualidade? Sou passional demais, às vezes impaciente, mas alegre e criativa. Arrependimentos? Muitos. Mas tudo na vida é aprendizado e cada um precisa do seu tempo para aprender. Viver é errar e aprender. O tempo todo. O que queres estar fazendo daqui a 10 anos? Dando aulas de pilates. O que aprendes com os alunos? Que cada ser humano tem uma resposta diferente. Não existe receita de bolo. Todos devem ser desafiados de acordo com suas possibilidades. A melhor parte do dia? Final! Missão cumprida. Me sinto feliz. Em 2016, desejas mudar o quê? Quero ser mais paciente. Deixar que o tempo seja o único agente de as coisas acontecerem, sem a ansiedade das vontades.

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Bá, que show Andréa Spalding jornalista

Tabuleiro e carreira solo Há um bom tempo, muita dedicação, trabalho e foco dão o tom na vida do cantor, compositor e multi-instrumentista Diego Lopes, que lançou recentemente seu primeiro disco totalmente solo, Tabuleiro. Gaúcho de São Borja, é muito conhecido por integrar, desde 2005, a formação da banda Acústicos & Valvulados. Ele, que aprendeu a tocar violão aos 12 anos, passando logo para guitarra, piano, baixo, bateria, entre outros instrumentos, chegou cheio de energia e entusiasmo para mostrar sua música ao público. Além do disco, Diego vem fazendo, junto com sua banda Os Dínamos, uma série de shows pelo Rio Grande do Sul, e mais à frente, quem sabe, até pelo Brasil. Esse batalhador e apaixonado pela arte da música diz que Tabuleiro reflete seu amadurecimento como artista. “Casado e pai de família, fui buscar nas raízes familiares a inspiração para seguir em frente.” Ele diz isso porque Tabuleiro era o nome de uma localidade em Júlio de Castilhos, terra de sua família paterna, em que seus antepassados viveram. Ouvindo as histórias de familiares e fascinado pelas tradições, uniu tudo isso num tabuleiro musical. “Neste tabuleiro, cada peça foi cuidadosamente colocada no seu devido lugar.” O artista enfatiza que tem imenso prazer em ouvir as canções que compõem o disco, que entre gravação, mixagem e masterização se passou um período de um ano até estar finalizado. “De toda a minha carreira como músico, é o primeiro disco que realmente 42 |

sento para ouvir, e com muito prazer.” No disco (produção independente, lançamento Plus Records, 2016), que tem uma abordagem vintage, Diego mostra em 12 faixas toda a sua capacidade criativa, seja compondo as letras e músicas, seja produzindo com firmeza a concepção artística do disco. Ele foi acompanhado pelos músicos Daniel Mossmann (Pata de Elefante e A&V) nas guitarras e Cristiano Bertolucci (Comunidade Nin-Jitsu) na bateria. As bases de bateria, baixo e guitarra foram gravadas ao vivo no Estúdio Soma (Porto Alegre), por Tiago Becker, que também mixou e masterizou o trabalho. Diego, Daniel e Cristiano, sem muito ensaio ou combinações prévias, entraram em estúdio e tocaram! Ou seja, os arranjos se definiram em estúdio. As vozes principais foram gravadas também no estúdio Soma; e algumas complementações no estúdio IAPI, pelo amigo e produtor Vicente Guedes. Os Dínamos – A banda, que se formou em março de 2016 para a realização de shows com o vocalista Diego Lopes, é composta por cinco integrantes: Maurício e Rodrigo Chaise, Daniel Mossmann, Cristiano Bertolucci e Vicente Guedes (participação especial). “Estamos fazendo um show vibrante e de muita energia, que tem deixado o público à vontade para curtir, dançar e até pedir música (risos)!”, falou o músico, cheio de orgulho do trabalho que Diego Lopes & Os Dínamos estão fazendo nos palcos em que se apresentam.


DONI MACIEL

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Bá, que legal Carla Lendens de Gramado

Lembrei de você A ideia deste novo espaço da Revista Bá é sempre contar as novidades da Região das Hortênsias. Eventos, festas, lançamentos. E não é que em junho houve o lançamento de um projeto muito legal, diferente e cheio de significado? Sou suspeita para falar, porque é um projeto meu em parceria com outros dois amigos. Patrícia Zanotelli, Alex Araújo e eu lançamos a Hortense, um amuleto em homenagem à flor da hortênsia, que é muito tradicional por aqui e ajudou a transformar a região em um dos destinos turísticos mais desejados do país. Mas por que hortênsia? De onde surgiu essa ideia? Pois é, a Paty e eu fomos para Curitiba e lá visitamos vários pontos turísticos. De olho nos produtos oferecidos aos turistas, percebemos que era sempre a mesma coisa: camiseta com a clássica frase “Estive em Curitiba e lembrei de você”, canecas, chaveiros e ímã de geladeira. Pensamos em criar algo bacana que pudesse representar a garra das pessoas que fazem dessa região um lugar mágico. Algo que o turista levasse para casa de presente aos amigos e que tivesse algum significado. Como a hortênsia é a flor que simboliza tudo por aqui, acreditamos que ela poderia fazer esse elo. Aí contei para a Paty que tenho uma relação muito bacana com essa flor. Quando era adolescente, minha avó colocou uma pequena flor na minha mão e disse: “Tu conheces a flor de hortênsia? Cada flor é formada por outras quatro pequenas flores e se olhares bem de perto vais ver, em cada uma delas, pequenos corações, que vão trazer sempre para a tua vida: paz, saúde, amor e dinheiro. Como um amuleto. 44 |

Tenha-a sempre contigo e cada vez que o medo atravessar teu caminho, cada vez que a dúvida for maior do que a certeza de dias melhores, olha para essa flor e fica em paz: tudo vai dar certo. Cada sonho será realizado, cada conquista, celebrada, e o amor será sempre constante em tua vida”. Desde muito nova, acreditei no poder dessa flor. Se ela conseguiu transformar uma região e atrair o olhar de milhares de pessoas fazendo com que Gramado, Canela, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula se tornassem o lugar mais desejado do país, a Região das Hortênsias, como duvidar? Com essa linda história na mão, criamos então a Hortense, um amuleto em forma de corações que vem para reforçar o que está enraizado nas pessoas que aqui fazem tudo ser bonito, organizado, atrativo e mágico. Na carteira, no chaveiro, na pulseira, no colar ou protegendo seu animalzinho de estimação, tenha sempre a Hortense por perto.



Verônica Bender dermatologista

As últimas dos congressos Muitas novidades apareceram nos congressos de dermatologia mais importantes do primeiro semestre de 2016. Entre os queridinhos da temporada, estão os cremes com cafeína para tratamento da celulite. O Coffeeberry vem sendo usado em cremes para aumentar a síntese de colágeno. Combinações com células-tronco de maçã suíça têm sido usadas para rejuvenescimento do pescoço.

Botox

A toxina botulínica é cada vez mais estudada e seu uso é cada vez mais amplo dentro da medicina. Além dos tratamentos para estética, é indicada para enxaqueca, porque é anti-inflamatória e analgésica, inibindo neurotransmissores e neuropeptídeos que desencadeiam a dor. Também é utilizada para tratamento de hiperidrose (suor excessivo), psoríase, bruxismo, rosácea, cicatrizes e redução do sebo (melhora da acne). Está em estudos o uso da toxina em gel para aplicação tópica em consultório dermatológico.

Sculptra

Entre as novidades dos tratamentos corporais está o Sculptra, à base de ácido polilático. Usado há anos para tratamento de flacidez e remodelação do contorno facial, vem sendo utilizado pelos dermatologistas para tratar flacidez e celulite em glúteos, coxas e braços.

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Queda de cabelos

Os LEDs (lasers de baixa intensidade) auxiliam no tratamento contra a queda de cabelos. São aplicados no consultório médico e também de uso doméstico em forma de bonés ou escovas. Tratamentos dermatológicos como intradermoterapia, com ativos para o crescimento capilar, rollers e lasers são utilizados para auxiliar no crescimento e fortalecimento dos cabelos.


Há 35 anos, seguindo a mesma receita: cozinhar com amor. A Aninha Comas é uma marca que reflete tradição. Em 1982, surgimos como pioneiros no ramo de alimentos congelados. Desde lá até hoje, mantivemos o nosso conceito: tempero e sabor caseiro, fruto de uma cozinha repleta de carinho e muito amor.

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ALMOÇO CASEIRO Segunda a sexta, das 11h30 às 14h30.

LOJA DE CONGELADOS Segunda a sexta, das 9h às 18h30. Sábados, das 9h às 14h.


eutenhovisto.com Jaqueline Pegoraro

Arte e beleza Daisy Pilla é especialista em beleza de noivas. Desenvolveu o talento em oito anos de dedicação à maquiagem. Ganhou em 2012 o Colour Trophy da L’Oréal, um concurso de cabelo e maquiagem que lhe abriu muitas portas e possibilitou fazer cursos no Exterior no Centro Técnico da Lancôme, na École Privée de Maquillage Artistique e o curso de Visagismo com Claude Juillard, na França. Gosta de ensinar e de ajudar alunas e clientes a descobrirem técnicas apropriadas para cada estilo, cada rosto, cada pele e olhos. Como maquiadora de noivas, trabalha na Estética Mirage da Padre Chagas e também tem agenda para cursos para profissionais, de automaquiagem e de aperfeiçoamento para iniciantes.

“Inaugurei neste ano o Atelier da Maquiagem. Um dos cursos mais procurados é o de automaquiagem, para quem quer se virar no dia a dia”, conta Daisy. As aulas podem ser individuais ou em grupos, de no máximo três alunos. Com isso, ela consegue um melhor aproveitamento. Há também turmas com dias e horários especiais para quem mora em outras cidades. A novidade do Atelier é a promoção de eventos para descobrir talentos entre os alunos. O diferencial é promover os alunos e ajudá-los a se colocarem no mercado de trabalho. “A ideia é despertar o lado artístico do aluno e ajudá-lo no desenvolvimento criativo para editoriais de moda e portfólios”, avisa Daisy. JORGE SCHERER

ALI TOLOTTI

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Cidadã do mundo Praticamente uma cidadã do mundo, a fisioterapeuta e instrutora de pilates Luana Lay Reis, 33 anos, tem uma bela história profissional. Nascida em Moçambique, Luana foi morar na Inglaterra quando tinha quatro anos, e aos 10 veio para o Brasil. Aqui, viveu até os 19 anos. Foi nessa época, quando cursava o segundo semestre de Fisioterapia no IPA, que se mudou para Sydney, na Austrália. Vivendo na praia de Bondi, teve seu primeiro contato com o pilates. Então, aprofundou seus conhecimentos em práticas de cura alternativas. Lá, trabalhou como massagista e estudou Swedish and Remedial Massage, na Nature Care College. Depois de mais esse período no

Exterior, voltou ao Brasil e se formou no IPA. Após, passou seis meses em Itacaré, na Bahia, onde conciliou a massoterapia com o trabalho de professora de inglês. Voltando ao Sul, iniciou pós em Osteopatia, Physio Pilates, RPG, Rolfing (Liberação Miofascial) e Isostretching. Hoje, segue apaixonada pelo pilates. É dona de seu próprio estúdio, que funciona desde 2011 no bairro Mont’Serrat, onde, ao lado de outros cinco profissionais, utiliza sua experiência em diversas técnicas para ajudar e cuidar daqueles que a procuram: “Idade não é limite, o limite está na cabeça de cada um. A saúde depende muito da forma como pensamos e nos comportamos”, convoca Luana. | 49


Claudia Tajes

Tarzan Minhoca Dia desses, vi um magrinho todo cheio de músculos, calção bem curtinho, correndo sem camisa pela rua (não o Cara da Sunga, atração turística da cidade). Era um palitinho mesmo, quase raquítico, e corria como um queniano. Falei para o meu filho: lá vai o Tarzan Minhoca. E ele: lá vai quem? Ou Hollywood faz logo um filme decente sobre o Tarzan, ou, em breve, as novas gerações não saberão mais quem foi o poderoso Rei das Selvas – também conhecido por Homem Macaco. No meio de tantos heróis sem carisma que surgem por aí, o Cara da Tanga só é lembrado pelos mais velhos. Diz o Google que em breve estreia nos cinemas uma versão meio estranha da história: já adaptado à vida em Londres, Tarzan recebe um chamado da rainha para investigar um caso que envolve uma companhia mineradora no Congo. Christoph Waltz será o vilão, o papel de Tarzan é de um ator sueco, e tem, claro, o Samuel L. Jackson fazendo alguma coisa. Sem querer cornetear, mas acho que as novas gerações continuarão sem saber quem foi o Tarzan. E, por consequência, não adiantará chamar os fracotes de Tarzan Minhoca. Vai continuar faltando referência. Tarzan era originalmente um personagem dos romances de Edgar Rice Burroughs. Menino inglês que perdeu os pais após um motim no navio em que viajava, foi criado por macacos nas profundezas da África. Estourou no cinema interpretado por um esportista romeno que virou ator, Johnny Weissmuller, cujo grito ecoava pela selva: ooooooouooouooouooouoooo. Só sei que, a partir de 1932 e depois de 12 50 |

filmes, Tarzan bombou. Coitado do Johnny Weissmuller se já existisse a selfie. Só teria paz escondido nos confins da floresta com a sua companheira Jane e a mascote do casal, a chimpanzé Chita – que na verdade se chamava Jiggs e era macho, mas só conseguiu papel de fêmea no cinema. As concessões que se faz para vencer na carreira artística. Um fortão em harmonia com a natureza, mas em conflito com a humanidade. Este é o Tarzan. E tudo isso só para falar do Tarzan Minhoca, apelido dos fracotes por décadas, agora em desuso. Aproveitando a categoria heróis que (me) deixaram saudade, mais dois cujos gibis em preto e branco minha avó tinha em casa, por certo antigas propriedades dos tios já crescidos: Fantasma e Mandrake. O Fantasma, primeiro a usar a cueca em cima da malha, moda que depois seria adotada por todos os heróis uniformizados, morava na selva com os pigmeus e defendia o pedaço dando socos que deixavam nos bandidos a famosa marca da caveira. Mandrake, o mágico que tinha por ajudante o africano Lotar, transformava os revólveres dos malfeitores em buquês de rosas. De algum jeito, Tarzan, Fantasma e Mandrake representavam um mundo de soluções mais ingênuas – e tão eficientes quanto as que hoje, nos quadrinhos, demandam tecnologia e planos mirabolantes para o mesmo fim, o de combater o mal.


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Cristie Boff

designer e artista plástica

Arte no mundo Brutal Bacon

O grande pintor irlandês Francis Bacon deformava rostos e corpos de um modo quase cruel. Observar as suas obras é como penetrar na alma humana e nos instintos mais brutais. Na galeria Tate de Liverpool, até o dia 28 de setembro, a mostra Invisible Rooms do artista pode ser conferida por quem passar pela Inglaterra.

Sixties

A mostra Coleção Peggy Guggenheim – Imagens da Arte Italiana 1960-1969 apresenta um panorama artístico de expressivos criadores italianos da década de 1960 no país em forma de bota. Na exposição, podem ser apreciadas obras de Ceroli, Gnoli, Lo Savio, Pistoletto e Schifano. Pode ser visitada até o dia 19 de setembro por quem pretende passar pela instigante cidade.

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Bá, que lugar

Dentro de cada um Inquieto e curioso, desde pequeno Carlos Mânica não teme as mudanças. Abriu mão de seguir a carreira em grandes empresas para empreender e, anos depois, decidiu aprender a motivar pessoas a fazerem o mesmo Agitado, precoce e maduro para os 14 anos, Carlos Eduardo Mesquita Mânica não pensou duas vezes quando a mãe ligou e bem objetiva perguntou ao filho: “Estou na Escola Técnica Parobé, pensei que tu poderias gostar das opções dos cursos técnicos. Posso te inscrever em qual deles?”. Ele respondeu que podia ser Mecânica, então, meio sem pensar. Época em que já ajudava o pai como office boy. Aos 16 anos, fez um estágio na CEEE, e, no ano seguinte, apareceu a chance de estagiar na Zero Hora. No setor de pré-impressão e tecnologia, que estava se modernizando. Chegaram os novos equipamentos importados e o curioso estagiário se interessou. Acabou aprendendo como funcionavam e, durante os sete anos seguintes dentro da empresa, ajudou a treinar os colegas e levou a nova tecnologia para outras plantas do Estado. Até que trocou o Grupo RBS pela Dell Computadores, no ano em que recebeu seu diploma em Administração de Empresas da PUCRS. Recém-formado, em 2007, foi convidado para trocar Eldorado do Sul por São Paulo para trabalhar na Dell paulista: “Tinha acabado de me casar e ter a minha primeira filha. Não quis”. O casamento com a empresária Maria Alice Zanatta ocorreu em 2005, mesmo ano em que foi pai de Maria Eduarda. Oito anos depois, o trio de Marias ficou completo com a chegada de Maria Carolina, hoje com dois anos. Decidido a ficar, foi atrás de novos ven54 |

tos em Porto Alegre: “Decidi empreender e fui saber sobre franquias. Apostei em um mercado que estava em crescimento aqui na época: o de suplementação e nutrição esportiva”. À frente da sua franquia de 2007 a 2012, com duas lojas e seis funcionários, Carlos colocou em prática suas boas noções de marketing, reinventou técnicas administrativas para fazer o próprio negócio dar certo. E deu. Funcionou tanto, que durante o processo ele passou a prestar serviços para a franqueadora, a marca-mãe, implantando em outras franquias da loja essas novidades. Mas, na virada de 2012 para 2013, foi novamente picado pelo bichinho da insatisfação e percebeu que seu sólido e organizado negócio também não lhe trazia felicidade. “Profissionais de saúde e de academias, que eram com os quais eu lidava, me procuravam para tomar cafezinhos e pedir dicas. Me sentia feliz dando esse suporte e diziam que eu tinha jeito para esses conselhos e deveria cobrar por isso”. A ficha estava quase caindo, mas foi necessário ele próprio passar por um processo de coaching para tomar a decisão, em fevereiro de 2014, de vender as lojas e mais uma vez tomar outro rumo. Em poucas conversas com o profissional que ele escolhera, foi questionado: “Você já pensou em ser coaching?”. Ficha caída, energias renovadas e desde então Carlos vem organizando as poucas


vagas na agenda e buscando todo tipo de formação na área de Consultoria de Negócios e de Marketing e no Desenvolvimento de Pessoas, Programação Neurolinguística (PNL) e treinamento de estratégias. Foi assistindo a uma palestra de Roberto Shinyashiki no Espírito Santo que teve seu mais recente estalo: “Ele falou em nicho de mercado e senti que deveria focar o meu trabalho em um público específico. Como 80% do meu público já era de empreendedoras mulheres, foi fácil, porque não mudava muito, mas mudava tudo”. Nascia a BusinessW, um lugar

e um projeto focados exclusivamente em desenvolvimento de empreendedorAS: “Prefiro trabalhar com elas. Sou cercado. Minhas três Marias, mãe e minha avó materna, que foi uma referência na construção da minha personalidade. Era uma advogada articulada que não deixava para depois”, recorda Carlos. Toda a ação de mudança de conceito e gráfica foi rápida e efetiva. Eu, como sou uma delas, sei que ele fez exatamente tudo o que cobra das suas clientes. Lembrando sempre que o melhor lugar ainda é dentro de cada um de nós. MB

CAMILA PROTO

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Crônica Mariana Bertolucci

Me desculpem os estudiosos de numerologia, mas, se eu não me engano, alguém um dia me disse, ou eu mesma tenho esta convicção e ninguém me disse: nenhum número nos persegue, nós que perseguimos o número que escolhemos. Por circunstância dos fatos e por pura fé. Eu, que já nasci no dia 7 do mês 7, só segui com fé. Pois em um dos meus aniversários eu ganhei dos meus amigos da redação um suplemento impresso com quatro páginas igual ao Zerou, o caderno semanal que fazíamos para os adolescentes e foi meu primeiro cargo de repórter na Zero Hora. Era um Zerou escrito só para mim, cheio de recadinhos carinhosos dos meus colegas, organizado pela Ângela, a Paola e a Loraine. Está emoldurado e pendurado na minha parede e nele tem escrita uma mensagem da minha mãe que diz assim: “Mariana, acredita na força dos 7 na tua vida”. Eu já era ligada nele, mas depois de ela escrever isso eu passei a enxergar o 7 para sempre na minha frente e a associar o número cabalístico a tudo que pudesse me trazer força. Nem tudo que a minha mãe me pediu eu atendi assim tão prontamente. Não sou de rezar todos os dias, mas sempre que passo em frente a um lugar que por algum motivo eu acho que é importante para mim, ou quando eu tô muito louca no trânsito e me sinto com medo, eu faço bem rapidinho, enquanto estou dirigindo, 7 vezes o sinal da cruz. Para aquilo me trazer calma, para me conectar com o meu “dEUs”, me fazer acreditar em algo. Quando eu rezo, também são 7 Ave-Marias, 7 Pai-Nossos e 7 Santo Anjo do Senhor. Se eu sentir necessidade de mais reza, dou um tempo e começo a minha “setena” de novo, 7 Ave-Marias etc... 56 |

TONICO ALVARES

Novas formas


O Cazuza morreu num dia 7 de julho. Já amava o Cazuza, todas as suas letras e a sua liberdade para viver e amar. Admirei ainda mais vendo com o Brasil inteiro a sua linda luta para continuar vivo. Era final de semana, as minhas amigas estavam lá em casa. Foi bonito e inesquecível todas sentadas em círculo, cantando Exagerado, rindo e chorando ao mesmo tempo e nos despedindo daquele ídolo. Inesquecível de outra forma, mas tão belo como cena da Ilana Kaplan, que vi há 25 anos em Buffet Glória e descrevi na abertura da matéria de capa. Amor, verdade e arte são capazes de despertar as mais incríveis emoções, que carregamos para sempre em nossas almas. E é a nossa capacidade de entrega a única capaz de nos transformar e de transformar o nosso redor. Placa de carro, celular, CPF, RG, em tudo eu dava um jeito de cavocar um setezinho pelo menos. Ou ficava encasquetada pensando “pô, mas por que não me vem um 7, já que eu gosto e acredito tanto”. E, daqui a pouco, lá pintava ele de novo pimpão em um lugar, uma placa, um outdoor, um número de telefone, andar de prédio ou endereço qualquer e inesperado. Porque era eu quem perseguia e seguirei perseguindo o 7 e tudo aquilo em que acredito. E tudo em que acredito é quase tão simples quanto um número. Não à toa, esta edição 17 foi a escolhida para a Bá ganhar cara nova. Para que ela siga conectada com as pessoas e com o amor entre elas, mas sem medo das mudanças e das novas formas. Em tudo nas nossas vidas. Novas formas de olhar a política e de votar, nova forma de brigar por uma educação mais digna, novas formas de família, nova forma de respeitar as mulheres, de economizar água, luz, futilidade, fofoca, inveja. Nova forma de entender que hoje cada erro nosso ou revés da vida da gente, dependendo da humildade e do poder de recuperação de cada ser humano, tem tudo para amanhã ser um grande acerto. Com dignidade, gratidão, respeito ao outro e, acima de tudo, com aceitação e AMOR-próprio e pelo próximo. | 57


Andréa Back

publicitária e jornalista

Cronológicas 2016: minha filha comemora a entrada oficial na adolescência e minha mãe passa a integrar a estatística da população idosa brasileira. Só o convívio com esses dois acontecimentos simultâneos já valeria um texto, mas deixo o desabafo para a mesa do bar com os amigos. Aqui, quero falar de outra descoberta. Somando a idade delas e dividindo, concluo que eu, então, estou na meiaidade! Resolvi pesquisar: é um período amplo. Como os especialistas (???) divergem, considerei a era dos 35 aos 55 anos. Os termos mais recorrentes encontrados em artigos sobre o assunto são “declínio”, “nostalgia”, “culpa”, “frustração”, “negação” e por aí vai. Aí me invoquei. A descrição não representa nenhuma fase da vida, e sim qualquer momento em que alguém esteja passando por uma crise pessoal, independentemente da data de nascimento. De modo que decidi fazer minha própria definição de meia-idade. Tempo, tempo, tempo, tempo. És um dos deuses mais lindos. Ï 0ƈƅ ƌ ƌ ƈ ƆƋƆƐƈƒ ê & ƇƏƆƌ menos por aquilo de que temos que abrir mão em nome dessas escolhas, porque compreendemos melhor nossas motivações e desejos. Ï R ƅ Əƍ ƍ ƐƆƏ ƌ ƈ ƒ ƅ ½¥ para ganhar peso do que músculos, verdade. À mesma medida que a alma também amacia. Alguns sentidos e o gosto ficam mais aguçados. O que mais aflora? A intuição. Ï ' Ƒƌ Ƈ Ɔ ƗƆ ƑƐ ƌƈ Ɔ ƋƈƄƆƏƗ ƗƆê Mas, para muitos, estas conquistas 58 |

precisam ser ajustadas à dedicação que filhos (ainda pequenos) e pais (já idosos) demandam. Ï ^Əƈ ƏƈƗ ƗƆ Ɔ ƈ ƒƆƏƐƆƌè personagens da nossa história começam a ser selecionados. Não tem mais espaço nem tempo para figurantes, ficam só os protagonistas. Ï #Ɔ ƈ Ɛƈƌ ƗƆ ƎƑƆƏƆƏ ƐƆƏ ƏƆ ƍ Ɛ para tudo, já caiu a ficha de que as perguntas estão sempre mudando. Ï &è Ɔ ƍƆƏ Ƒ Ɛ ƌƑƗ ƌè Ɛ ƌƄ§ƌ é um tempo de se livrar de teimosias de estimação. Escolher bem as batalhas. Deixar para lá convicções e ressentimentos enraizados. Recomendo, faz mais efeito do que muito tratamento de beleza. Mas olha, não sou nenhuma deslumbrada-otimista-eufórica-resolvida. A vida é complicada, eu sei, e eu mais ainda. Mas, uma vez que aceitamos nossos defeitos, já é meio caminho para fazer as pazes com eles. Paciente, meiga e serena ainda não deu para ser, por exemplo. Nem o vício em Coca Zero eu consegui largar... Mas o tempo ensinou aos meus anjos e demônios que eles não vivem uns sem os outros. E é justamente neles que busco referências, não mais onde eu não me reconheço. Hoje, percebo que não preciso ter um Everest, a boca da Jolie, um Pulitzer ou 5 mil likes para me sentir realizada. São as pequenas alegrias cotidianas que me encantam. Elas, e nunca perder as habilidades do espanto, do entusiasmo e da curiosidade. Por isso, defino e celebro a meia-idade com versos que muito já cantei e só agora entendo de verdade:


ANDRÉA BACK

Ainda estou confuso Só que agora é diferente Estou tão tranquilo E tão contente Mas não sou mais tão criança A ponto de saber tudo Já não me preocupo Se eu não sei por quê Às vezes o que eu vejo Quase ninguém vê E eu sei que você sabe Quase sem querer Que eu quero o mesmo que você | 59


close Silvana Porto Corrêa

Sangue não é água cozinheira a cortar cebolas ou descascar batatas. Com o grupo de amigos, todo final de semana fazia churrasco. Quando terminou o colégio e ele teve de escolher uma carreira, na sua cabeça, o certo é que não queria seguir a mesma do pai. Até porque ele trabalhava muito, e ficava PEDRO HEINRICH

Thiago Behar, 26 anos, já se criou pela cozinha. É neto de Ana Behar, que tinha o Via Fettuccine e é cozinheira de mão cheia. Ele vivia em volta da avó. Quando ele era adolescente, toda a família ia para a praia curtir o mar e ele preferia ficar em casa ajudando a

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pouco tempo com ele e o irmão, Pietro. Aí resolveu fazer Publicidade e Propaganda, e em dois meses já queria largar. Parou de ir à faculdade sem saber o que queria fazer. Imediatamente foi convocado pelo pai, Marco Behar, para ajudar na empresa que tem em parceria com o chef Lúcio, há cerca de 16 anos. O início foi carregando muita caixa e fazendo força. Tinha um sushiman na empresa e Thiago aprendeu a fazer sushi. Assim tomou gosto pela coisa e decidiu fazer a faculdade de Gastronomia na Univali, em Balneário Camboriú. Durante o curso, é exigido um estágio em um restaurante, e a própria faculdade oferece algumas possibilidades. Apareceu uma vaga de estágio de um mês na cozinha do D.O.M., restaurante paulistano de Alex Atala. Como só havia três vagas e as notas de Thiago não estavam entre as melhores, ele não acreditou muito que poderia ser selecionado. Mas aconteceu. Acabou o tempo de aprendizado e Thiago voltou à labuta ao lado do pai e do chef Lúcio, em 2012, depois de formado: “Foram mais dois anos de aprendizado, e dessa vez aprendi muito. Primeiro, toda a parte organizacional do negócio, e depois os salgados ficaram sem ninguém e assumi essa parte, de salgados, canapés e saladas. Eu ficava mais no Clube Germânia. Mas nessa fase comecei a me questionar novamente e sentir que precisava sair de novo e aprender mais”. Acompanhando o chef Lúcio em um

evento de gastronomia em São Paulo, eles decidiram almoçar no Maní. Ali surgiu nova oportunidade para o curioso e jovem chef estagiar, no restaurante considerado o melhor de São Paulo. Foram dois meses de trabalho puxado. Das 8h às 16h: “Quando o meu estágio estava para acabar, eu não me conformei, queria ficar mais e dei um jeito de dobrar para preencher uma vaga que estava vazia no outro turno”. Com tanta disposição e interesse, acabou sendo contratado. Depois de um ano e dois meses de mais muito aprendizado com os chefs Daniel Redondo e Helena Rizzo Bins, em junho deste ano, Thiago voltou a ser chamado pelo chef Lúcio, e o bom filho à casa retornou. Percebe-se o toque inovador de Thiago no novo coquetel do chef Lúcio. Sintonia perfeita entre a experiência e a novidade sem preconceito: “Gosto de criar e testar. Gosto dos detalhes e sou minucioso. No Maní, meu apelido era Professor Pardal. Quando vem o retorno, é maravilhoso”. Mas não por muito tempo. Os próximos capítulos dessa história devem ser mais distantes: “Fiquei com vontade de ir para Melbourne, na Austrália, com a minha namorada para trabalhar lá”, planeja Thiago. Mas antes eles se encontram em San Francisco, na viagem que ele fará agora para também dividir a cozinha com ela, no restaurante americano em que ela está trabalhando e que tem três estrelas do Guia Michelin. Alguém duvida de que, em breve, o moço andará de novo por aqui? | 61


Bá, que viagem

Bravo, Ivan! Com passagens pelo tablado, televisão, rádio, assessoria de comunicação, o jornalista Ivan Mattos é um eclético e competente comunicador de todas as vertentes. Há 13 anos à frente de sua coluna no Jornal do Comércio, acaba de lançar o seu próprio site Quinto filho de mãe viúva e professora vocacionada de uma geração de porto-alegrenses que passaram pelo Colégio Pio XII, o múltiplo comunicador Ivan Mattos orgulha-se da família pé no chão, como ele define a mãe, Glacy, 88 anos: “Minha mãe é muito pé no chão. Tínhamos o que podíamos ter. Cruzo desde juízes a motoristas de táxi que me contam com carinho sobre as aulas dela. Ela costurava roupas, fez curso de corte e costura. Apaixonada pela profissão dela, se virava para nos criar sozinha, não tivemos muito tempo de sofrer”, relembra Ivan, lembrando a morte precoce do pai. O dom para o jornalismo foi incentivado pela convivência com o padrinho radialista e jornalista José D’Elia, que fazia o programa de rádio Clube do Guri. Desde pequeno, foi seduzido pelo universo da arte. Ficava por horas ouvindo música, vendo televisão, ia ao cinema, ao teatro e lia muito. O que, de certa forma, compôs seu atento e aguçado olhar sobre o mundo das artes e seus mais interessantes e complexos personagens. Nos anos 1980, integrou a trupe de exitosas temporadas gaúchas: as montagens de A Aurora da Minha Vida, dirigida por Irene Brietzke, e Reunião de Família, de Luciano Alabarse. Respirar outros ares e vibrações dentro da arte foi natural, e mais natural ainda para o curioso jovem artista foi mudar para a maior cidade do Brasil. Durante os oito anos em São Paulo, de 1986 a 1993, 62 |

ele passou pelos projetos de Revistinha, na TV Cultura, com a atriz e conterrânea Luciene Adami, Brasileiros e Brasileiras, Alô Doçura e peças teatrais. Em 1993, bateram a saudade e o desencanto com os ossos do ofício. Fez Jornalismo nesse tempo, paralelamente aos projetos de teatro. De volta a Porto Alegre, Ivanzinho, como eu e seus muitos amigos o chamamos com carinho, começou a flertar mais seriamente com o jornalismo, profissão que acabou arrebatando seu sensível coração. De 1981 a 1985, cursou Jornalismo. Em 1986, quando se formou, passou pela produção do TV Mulher e do Jornal do Almoço, pelo núcleo de projetos especiais do Grupo RBS, que nascia sob a tutela de Alice Urbim e Gilberto Perin, e integrou as equipes de Carnaval da TVCOM. De 1996 a 1997, como jornalista auxiliar do mestre Paulo Gasparotto em sua coluna diária, na época no jornal Zero Hora, viveu um dos momentos mais inspiradores da sua carreira: “Trabalhar com Gasparotto fez nascer em mim a necessidade de opinar e escrever, ajudei a fazer a coluna durante quase um ano”, lembra Ivan, contando que foi tempo suficiente para aprender com o ícone da imprensa gaúcha e maior colunista social que o Estado já teve: “Tudo é notícia, foi o que aprendi com ele. Depende da atenção de quem está olhando. Ele dizia: ‘Meu filho, não é só o docinho da festa, e sim tudo o que está em torno’”.


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FOTOS JOÃO MATTOS


Como se a fome de experimentar outras formas de expressão não acabasse nunca, em 1997, Ivan ajudou na estratégia de comunicação e assessoria de imprensa do Porto Alegre em Cena: “Meu radar sempre foi ligado. Sou eclético no meu gosto pelas artes, pela comunicação e nos meus círculos de amizades”. Depois de quatro anos consecutivos trabalhando no Porto Alegre em Cena, pasmem! Não é que Ivanzinho, então profissional autônomo, surfou nas ondas do rádio, na então Rádio Guaíba, ao lado de Magda Beatriz? Foi quando, em 2003, assumiu as páginas semanais da edição impressa do Jornal do Comércio e a crônica sobre clubes, há exatos 13 anos: “É essencial ter curiosidade, persistência e cultura. Gosto de saber o que as pessoas estão fazendo 64 |

e o olhar delas sobre as coisas. Ir a museus, exposições, um cinema, praticar um esporte”, exemplifica Ivan. Para ele e para o bom jornalista, alimentar-se de vida e entender que tudo o que a palavra puder explorar é notícia é o constante desafio. No currículo do multicomunicador, estão entrevistas com Marília Pêra, Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Glória Menezes, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Cauby Peixoto e Walmor Chagas, só para citar os pesos pesados. Este último, também nosso conterrâneo, para Ivan foi o ser humano mais gentil que ele entrevistou. Perto de todos os projetos de história da arte e viagens culturais da historiadora, arquiteta e grande amiga Tânia Bian, Ivan ainda respira o mundo das artes plásticas nas excursões guiadas e semanalmente nas tradicionais oficinas da PUCRS. Cansou, leitor querido? Pois ele não. Acaba de dar seu mais recente mergulho inquieto, denso e criativo na web, com sua recém-estreada plataforma digital no site www.ivanmattosjornalista.com.br. Bravo, meu amigo! Leia aqui nossos mais sinceros aplausos! MB

Arte & Viagem

Livro: Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa Atriz: Denise Fraga e Regina Duarte Ator: Alexandre Nero Música: o cantor Johnny Hooker Teatro: Macunaíma, de Antunes Filho Três viagens imperdíveis: Capadócia, um museu a céu aberto, com suas construções em pedra, que foram habitações há séculos. Londres, por sua diversidade, estilo de vida, restaurantes, parques e museus imperdíveis. Éfeso, a cidade branca na Turquia, em estado ótimo de conservação.



InBá Erechim

Sintonia, amizade e trabalho A história desse trio começou entre a cidade de Erechim e a capital dos gaúchos. Rafael Arpini, Mariana Sponchiado e Claudio Laitano se conheceram há quase 10 anos e construíram uma grande amizade e o conceito da clínica boutique Unique Medicina Estética, com sedes em Erechim e Porto Alegre. Tudo começou quando o recém-formado em Medicina Rafael Arpini, durante a pós-graduação em Medicina Estética, em 2005, em Porto Alegre, na Associação Internacional de Medicina Estética, conheceu Claudio Laitano. Rafael, que é de Erechim, atendia durante a semana em um consultório na associação mesmo, e Claudio, que é publicitário, respondia pelo setor de marketing da mesma entidade. O cafezinho e o papo de corredor logo cederam espaço a uma duradoura amizade. Surgiu uma afinidade incrível entre o médico que adora marketing e o publicitário ligado em medicina: “Sempre fui curioso com esse universo. Me aproximando do Claudio, aprendi coisas em que tinha interesse. Daí para nos tornarmos amigos, e em seguida parceiros, foi simples”. No ano seguinte, em 2006, Rafael começou a atender aos sábados na cidade natal, e o consultório estava sempre lotado. O inquieto jovem médico ainda dava umas aulas na época na Associação de Medicina Estética, já que era a especialidade que escolhera: “Até que decidi abrir uma clínica em Erechim, e queria algo transformador para o lançamento, que realmente impactasse a cidade e a clientela”. Era chegada a hora de a dobradinha entre o médico e o publicitário render a sua primeira semente. Capitaneada por Claudio, em 2007, a campanha, com linda identidade visual e 66 |

até o lançamento de uma revista impressa, foi incrível e deu muitos resultados na recém-inaugurada Unique Medicina Estética, localizada no coração de Erechim, em uma bela casa na Avenida Bento Gonçalves. Logo depois, em 2008, a talentosa e dedicada fisioterapeuta Mariana Sponchiado também estava de volta a Erechim, cidade onde nasceu, fazendo seu trabalho de conclusão do curso de Fisioterapia na área de estética. A clínica não tinha profissionais de fisioterapia, mas era uma questão de tempo, pois muitos dos equipamentos eram especialidade dessa área. Mariana, que já tem pós-graduação em Dermatologia Funcional e está concluindo o mestrado em Biociências, passou a trabalhar na equipe de Erechim e logo assumiu toda a parte de fisioterapia e incorporou-se à dupla dinâmica Claudio e Rafael. A afinidade foi total e tanta, que ela acabou tornando-se também sócia de Rafael no negócio todo. Na sede da Unique Medicina Estética em Porto Alegre, eles dividem o comando com o amigo e sócio Claudio, desde 2010. Hoje, entre os procedimentos queridinhos e estrelas da clínica boutique, estão o Vanquish, que queima células de gordura e só tem lá, e o lifting não cirúrgico, técnica não invasiva e bem efetiva que é a especialidade de Rafael. Foi bem nessa época que esse trio, além de trabalhar, se divertiu muito entre Porto Alegre e Erechim.


ISADORA BERTOLUCCI

Em 2013, Rafael e Mariana fixaram residência na capital gaúcha. E a melhor parte, querem saber? A sintonia da turma foi tão grande, que acabou em casamento. Rafael e Mariana selaram a parceria além do trabalho e brindaram a união e o amor em uma linda cerimônia em cima das falésias no Hotel Tivoli, no Carvoeiro, na região do Algarve, em Portugal. O novo desafio de Claudio e Rafael é a Garage 2127, uma agência de inteligência digital, de olho na ciência de dados, que em breve abrirá suas portas no mesmo pré-

dio da Padre Chagas onde fica a Unique. “A ideia é criar sem a burocracia das grandes agências. Posicionar e mudar a energia das marcas que nos procurarem por meio de uma inteligência digital de redes sociais, com o mapeamento direcionado a cada tipo de negócio”, explica Claudio. Sobre tanta sintonia? Rafael explica: “Além de gostarmos de inovar e fazer ações diferentes, o grande segredo é que somos amigos e fazemos a história ser legal”. Esse é quase o segredo de tudo, não é? MB | 67


Trama

Boa hora Nem sempre as respostas dos adultos satisfaziam as mil e uma perguntas que a pitoca de olhos curiosos e amendoados fazia. Alegre, ativa e ágil, Susana Sefidvash Zaman sempre gostou de movimento e de estar entre as amigas. Bem-resolvida, passou pela turbulenta adolescência sem grandes traumas. Várias vezes líder de turma, e na sua gestão na presidência do Grêmio Estudantil do Farroupilha, conciliou as boas notas com a organização de um campeonato de surfe em Torres, um debate político entre os candidatos a prefeito ou com as viagens da turma. “Comecei a ser remunerada pela empresa de viagens, de tanto que eu agitava. Lembro até hoje da minha primeira ‘bolada’”, conta Susana, que já demonstrava nessa época ter coragem e criatividade necessárias para empreender. Tanto ansiosa quanto produtiva, Susana é iraniana de pai e italiana e alemã de mãe, e a irmã do meio de uma família de três filhas, que lhe ensinou a ser segura para fazer escolhas e que tudo depende do nosso esforço e dedicação. Foi criada sob os valores da Fé Bahá’í, que exaltam o amor, a solidariedade. Ter um pensamento crítico, porém construtivo, é o que a motiva a não desistir mesmo depois de errar. Quando a inquieta Susana engravidou de Laura, algo além da forma da barriga começou a mudar nela, e foi na licença-maternidade que vislumbrou um negócio com mais flexibilidade de horários e autonomia. Logo veio à cabeça um clube de assinaturas oferecendo conteúdo e informação sobre o assunto que a fascinou durante a gravidez: a nutrição do bebê. A necessidade surgiu 68 |

dela própria: “Com a nutricionista, percebi a importância da alimentação e as diferenças de necessidades nutricionais a cada trimestre. Indo atrás de lanches saudáveis em lojas de produtos naturais, vi como ainda falta conhecimento das atendentes”. Grávida do seu segundo filho do casamento com o empresário Pedram Zaman, ela está encantada pela maternidade, acompanhando de perto o crescimento da primogênita e gerando outro bebê, um menino ainda sem nome: “Me sinto ainda mais completa vendo a Nutrimãe também crescer e sabendo que ajudo outras mamães a nutrirem melhor os seus bebês. É tão bom receber feedbacks das pessoas dizendo que mudaram os seus hábitos alimentares e das suas famílias. A maternidade me fez perceber que por muitas coisas não vale a pena sofrer e se estressar e a diferenciar o que é importante do que parece ser importante. Além de ter me dado coragem para me reinventar e ser uma agente de mudança social”. Susana é daquelas poucas grávidas que não conseguem dormir. Simplesmente não para: “Penso que estou perdendo algo, deixando para trás”. Mudanças nunca foram um problema para ela. Gostava de mudar tudo a toda hora. Cidade, equipe, gestor etc. Formada em Engenharia de Produção e com MBA em Gestão Estratégica de Pessoas, ela consolidou a carreira em desenvolvimento humano e de negócios apoiando e conduzindo processos de mudança organizacional em empresas como Grupo RBS, Sicredi e Accenture. Viajando por todo o país, conseguiu direcionar a carreira de mais de mil pessoas.


PORTFOLIO ESTÚDIO FOTOGRÁFICO

Ela também é professora na Fundação Getúlio Vargas. A empresária costuma acordar cedo, espia os e-mails, define prioridades para deixar mais tempo livre para Laura e as atividades das duas. À tarde, reveza-se entre a filha e a empresa. O primeiro clube de assinaturas de alimentação saudável para gestantes e lactantes nasceu justamente do desejo de estar mais pertinho dos filhos. A expectativa é de concluir o primeiro ano com 1,5 mil assinantes. Uma vez ao mês, as assinantes recebem uma caixa com produtos diferentes e selecionados pelas nutricionistas Ana Carolina Terrazzan e Gabriela Penter. Os kits também incluem cards colecionáveis com informações sobre alimentos, dieta e desenvolvimento do bebê e uma surpresa que dará um toque especial ao enxoval. Ficou curiosa? Entra no site www.nutrimae.com.br e boa hora. MB

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Lígia Nery coach

Piorar para melhorar Estamos em tempos difíceis, dizem todas as vozes. Nos papos nas rodas de amigos, nas postagens das redes sociais, as notícias que nos inundam a todo momento são de catástrofes e desânimo. É difícil não se contaminar com o pessimismo, se não mantivermos o mínimo de nossa consciência expandida. Relembrei a fábula do mestre e do seu discípulo que caminhavam por uma área rural desabitada. O mestre ensinava que tudo o que nos acontece e que está diante de nós é, na realidade, uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Passando ao lado de um sítio de aparência simples e descuidada, o discípulo concordou com o mestre, observando que, apesar do lugar lindo e paradisíaco em que estavam, aquele sítio pobre indicava a miséria em que viviam aquelas pessoas. Eles entraram para conversar com seus moradores. Foram recebidos por um casal e os filhos pequenos. Observaram que se vestiam com roupas sujas e castigadas pelo tempo e aparentavam um sentimento de frustração. Questionados pelo mestre sobre como viviam num lugar ermo como aquele, sem sinal de civilização, como comércio e outras comodidades, o homem respondeu: “Temos uma vaca que produz diariamente alguns litros de leite. Uma parte desse leite é para nosso consumo e o restante vendemos ou trocamos por outros produtos que nos faltam”. Após algum tempo conversando, o mestre e seu discípulo se despediram e saíram, não sem que antes o mestre incumbisse o discípulo de uma inusitada missão: “Empurre a vaca do sitiante pre70 |

cipício abaixo”, ordenou-lhe o mestre. Ele tentou de todas as formas convencer o mestre de que a vaca era o único meio de sobrevivência daquela família. Por fim, sem alternativa, concordou e atirou-a morro abaixo, matando a pobre vaquinha. Passados muitos anos e sem conseguir se perdoar pela atrocidade que cometera, o discípulo, agora um muito bemsucedido homem de negócios, voltou àquele lugar para, finalmente, reparar seu erro. Contaria o que fizera anos atrás e, além de implorar-lhes perdão, compensaria financeiramente o mal que certamente provocara. Ao chegar ao sítio, entretanto, surpreendeu-se com a visão que tinha. Não havia mais pobreza nem miséria. No lugar da choupana, estavam uma bela casa e um impecável jardim. Com uma forte sensação de culpa invadindo-lhe a alma, pensou: “Com a morte de sua vaca, não mais lhes foi possível sustentar-se e foram obrigados a se desfazer da propriedade”. Decidido a reparar seu erro encontrando-os e compensando -os, chamou ao portão um funcionário da casa que cuidava das flores do jardim: “Por favor, para onde se mudou a família que habitava este sítio há alguns anos atrás?”, perguntou-lhe o ex-discípulo. “Vou chamar meu patrão. Ele é o dono destas terras há muitos e muitos anos”, respondeu-lhe o empregado. O patrão, vindo atendê-lo, reconheceu-o


AURACEBIO PEREIRA

imediatamente, cumprimentando-o e perguntando-lhe sobre seu mestre. O ex-discípulo, sem entender o que se passava, quis saber o que acontecera para transformar aquele lugar pobre e miserável na bela e bem cuidada propriedade que observava agora: “Sabe, logo depois que o senhor e seu mestre estiveram aqui, aconteceu uma fatalidade. Nossa vaca despencou do precipício e morreu”. E, continuando, falou: “Fomos obrigados a fazer o que nunca pensávamos ser capazes. Sem o leite da vaca, plantamos uma pequena horta de verduras e legumes e logo descobrimos que podíamos cultivar frutas e diversos outros tipos de hortaliças. Os negócios cresceram e, depois de um tempo, o que sobrava vendíamos para grandes redes atacadistas, que sempre queriam mais. Para atender às constantes encomendas, compramos os sítios vizinhos. Hoje, dou graças a Deus que nossa vaca morreu. Nun-

ca imaginei que pudéssemos fazer o que fizemos e que teríamos o sucesso que você pode comprovar agora”, concluiu o homem com indisfarçável orgulho. As dificuldades financeiras, o desemprego, a falência de nossos sistemas sociais e políticos que afetam nossas vidas são oportunidades para nos reinventarmos, rompendo com a vitimização e abrindo nossos olhos para o novo. Sem a ruptura de antigos padrões, não conseguiremos transformar nossas realidades. Isto imputa projetos e ações que nos movimentem para o novo. O desconforto pode ser uma benção, pois é o motivador. Essa fábula dá forma a este novo comportamento que nosso momento vem trazendo. Antes de melhorar, às vezes, é preciso piorar. Nossas dores podem estar travestidas de grandes oportunidades e portais. Viver, sem dúvida, significa buscar eternamente nossa melhor versão. | 71


De Nova York Cristiane Cavalcante

Tremenda ousadia Jacqueline é como uma daquelas personagens picture perfect: linda, chic, cool e francesa! Ah, j’adore! Nos conhecemos em um casamento na Bahia. Na Bahia! Jacqueline é a francesa mais brasileira que conheço. Me chamou a atenção aquela mulher que dançava num salto mais alto que a Torre Eiffel desde as 18h do dia anterior. Sempre sorrindo e cantarolando. Acompanhante de Sig Bergamin naquela ocasião, depois me contou que as tiras das sandálias lhe arrebentaram os pés e que saiu da festa direto para o aeroporto de Havaianas. Que não esperava encontrar um poderoso cliente e que o homem com quem dançava era o caseiro da casa de praia da família da noiva. Não dava para dizer que tinha 30 e poucos anos, mas também não tinha como saber quantos anos tinha. Jacqueline é atemporal. Não revela a idade nem sob tortura e já quase foi presa – porque se recusou a mostrar sua identidade quando foi pega pela polícia na highway por excesso de velocidade. Adoro (quase!) tudo da cultura francesa. A começar pelo sotaque, os queijos, os vinhos e os pains au chocolat. E acho que até na rudeza eles têm seu charme. Sou fascinada desde os tempos em que morava em Paris. “Querrida, non! Vem quando quiserrrr”, me diz sempre que faço um charme quando me convida – franceses adoram um “misterrio” e é preciso um “Je ne sais quoi” para cativá-los. Jacqueline é eclética, de espírito aventureiro e a única pessoa que conheço que tem uma tatuagem alaranjada na palma da mão, feita, se não me engano, em um dos rituais que seu filho mais novo realiza há mais de 72 |

20 anos. Me ensinou que tudo junto e misturado pode sim dar certo quando o assunto é decoração e partilha da mesma opinião que Diana Vreeland quando diz que um touch de mau gosto é essencial. É como uma pitada de tempero mais picante. Ah, ela também me ensinou dicas ótimas, como pingar gotas de lavanda no lixo. É uma “marrravilha” e elimina o mau cheiro na hora! E que franceses geralmente não comem milho por ser alimento para os porcos. Mas isso já é outro assunto. Jacqueline é uma das decoradoras de interiores mais badaladas da Big Apple. De Aerin Lauder a Carolina Herrera. De um gosto tremendo, ousado, decora casas como quem lava uma louça. Assim nasceu a Le Décor Français que ficava na Lexignton Avenue, na altura da Rua 72. Boutique com os mais exclusivos tecidos para os mais exclusivos clientes. Há exato um ano, descobriu dois cânceres terríveis no seio esquerdo. Mudou-se para Boston em função do tratamento, vendeu a casa dos Hamptons, fechou as portas da Le Décor Français, reabriu na sua casa na Madison Avenue, leciona francês todas as quartas-feiras na sua casa, regadas a Pinot Noir e petiscos. Por enquanto, só para a dvanced students, pois não está disposta ainda a ensinar aos iniciantes. Comprou uma casa de campo, a qual chama de Tourmaline, trouxe uma companheira para o gato Luca, a cadela Shamba, perdeu todos os fios de cabelo e disse que jamais, jamais!, usaria peruca. Então aderiu à moda de colecionar chapéus de todas as formas, cores, modelos e tamanhos, decorados com lenços coloridos, e surgiu mais des-


lumbrante do que nunca. Ficou amicíssima de Karl Lagerfeld, do qual ganhou sua favorita bolsa Chanel (sempre me disse que não é de bom tom comprar, e sim ganhar uma de presente). Muito chique e autêntica. Enfrentou o câncer do seio e os da vida com dignidade, força e muita graça. Me encanta gente que tem o poder de

se reinventar. O poder da crença de que a vida é um movimento contínuo, que nada é estático. Uma energia que flui lenta e gradualmente e nos guia. Basta alimentar o pensamento positivo e a certeza de que as coisas se ajeitam. Tudo é uma fase e, na pior das hipóteses, sempre dá certo no final...

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Cinema Marco Antônio Campos advogado e cinéfilo

Tom Cruise: de volta ao topo Thomas Cruise Mapother IV, um americano nascido em Syracuse, em 1962, chega aos seus 54 anos tendo superado várias crises e fofocas e se firmado no cenário de Hollywood como um astro indiscutível, um nome certo nas bilheterias e o produtor responsável por trazer de volta uma franquia de grande sucesso: Missão impossível. Tom Cruise, o baixinho (um metro e setenta de altura), o ex de Mimi Rogers, o ex de Nicole Kidman, o ex de Kate Holmes, o sujeito da Cientologia, o ator que detonou Entrevista com o vampiro, o responsável por estragar o último filme de Stanley Kubrick, e por aí vai, parece ter sossegado de más notícias e estar navegando em um mar de tranquilidade e ótimas novidades. Foi indicado para três Oscars (Nascido em 4 de julho, Jerry McGuire e Magnólia), mas jamais ganhou. Sua interpretação mais impressionante, contudo, foi em uma comédia maluca, a do produtor cinematográfico hollywoodiano psicótico em Trovão tropical, que lhe valeu uma indicação ao Globo de Ouro e até hoje é parodiada em inúmeros clipes musicais, como em Best song ever, do One Direction. Apesar de não ser considerado um dos atores de ponta de Hollywood, Tom Cruise tem alguns trabalhos indiscutivelmente de alta qualidade. Os já citados Nascido em 4 de julho, de Oliver Stone, e Magnólia, de Paul Thomas Anderson, e o espetacular assassino loiro de Colateral, de Michael Mann. Olhando a filmografia de Cruise, vê-se o cuidado extremo dele e de seu staff na escolha de roteiros, diretores e papéis. 74 |


São raros os filmes que não fizeram sucesso ou que não sejam bem planejados, mercadologicamente falando. Quando decidiu investir como produtor na ressurreição de Missão impossível, uma série de enorme sucesso da televisão dos anos 1960, talvez Tom Cruise tenha tomado a melhor decisão de sua vida. Assumir o papel do agente secreto Ethan Hunt nos filmes dirigidos por Brian de Palma, John Woo, J.J.Abrams, Brad Bird e Christopher McQuarrie não somente lhe deu muitos milhões e o fez retornar às graças da imprensa e do público como possibilitou que passasse a procurar outros projetos. Tom Cruise está apostando em uma nova franquia, a Múmia, outra refilmagem dos anos dourados de Hollywood, com tecnologia moderna, mesclando aventura e humor. O marketing mais recente de Tom Cruise tem sido em torno de ele fazer suas próprias cenas perigosas. Claro que tudo muito bem preparado pelas equipes de segurança das filmagens e bem documentado para divulgação do astro de ação do momento. “As minhas escolhas são por vezes ditadas por muitas considerações. Estou interessado em fazer diferentes tipos de filmes. Meu caminho é muito simples: eu quero me desafiar, encontrar algo que me levante e me faça querer chegar lá e trabalhar. Às vezes, você pode olhar para algo que eu fiz e dizer ‘Grau de dificuldade: não tão grande’. Mas, a cada vez, foi um novo desafio com um monte de trabalho duro a ser realizado”. | 75


Lívia Chaves Barcellos

A arte de Siron Franco Este quadro mora na minha casa. Mas não é meu. É do Siron Franco. Isso me faz lembrar do tempo em que eu tive uma galeria de arte. Era engraçado e divertido quando entrava alguém e perguntava se eu é quem havia pintado todos aqueles quadros. Não são poucos os que não têm a mínima noção sobre arte... Assim como não são poucos os que dizem “O meu quadro”, omitindo o nome do artista. Na verdade, as obras de arte pertencem – e sempre pertencerão – a quem as fez. Daqui a uns anos, quando eu nem estiver mais aqui, este quadro estará na parede de outra pessoa. Talvez em casa de algum dos meus netos, ou até mesmo num museu, e sempre será o quadro do Siron. Sou apaixonada por esta tela, que me diz muito. Foi feita na fase ecológica do artista e mostra bem o nosso mundo atual. O primeiro impacto é ver o Homem de cabeça para baixo, pedindo socorro. Assim estamos todos, neste momento caótico que vivemos. Fauna e flora são desrespeitadas, como se não houvesse amanhã. O que será das próximas gerações? A água valerá mais que ouro. Um exemplo recente é o estado da Baía de Guanabara. Para receber a Olimpíada, ninguém se 76 |

preocupou com isso. Os atletas do mundo inteiro estão com medo de enfrentar provas dentro daquela imundície. E o Rio de Janeiro, a cidade mais bonita do mundo, mostrará sua face feia e suja. Mas, além da ecologia, temos tantos problemas neste mundo violento, onde a única coisa que vale é o dinheiro, mesmo que seja fruto de roubo e corrupção. Um detalhe importante: Siron, ao mandar emoldurá-lo, mandou colocar arame dos dois lados, talvez na esperança de que um dia possamos virá-lo ao contrário e deixar o Homem com os pés no chão, sem temores, sem violência e vivendo em um mundo melhor. É exatamente o que eu mais desejo a todos nós e a nossos descendentes.


André Ghem tenista profissional

Palavrão Minha mãe sempre me ensinou que era feio falar palavrão. Ouvia todo mundo à minha volta proferindo baixezas a torto e a direito e quando soltava alguma barbaridade era repreendido pela coroa. Não achava justo. Via charme num bom palavrão. O bom cafajeste sempre teria o palavrão certo, para usar na situação certa, como o bom jogador de pôquer espera o momento-chave para botar na mesa seu par de ás. Esse vislumbre já passou, e hoje não vejo mais da mesma maneira essa história do palavrão. Acho muito correto que seja usado para descarregar a raiva, apesar de parecer engraçado, mas essa é sua função número 1. Ok, também aceito para exagerar, aumentar uma história, toda boa história tem um toque chulo, fora isso, todos os demais estão fadados a uma pobreza de linguagem e chulice gramatical. Jornal, rádio, televisão, esses e todos os outros meios de comunicação fazem veto ferrenho a esse tipo de poluição. De águas puras nos alimentam essas fontes, sem oferecer-nos nenhum risco de contaminação nos nossos futuros diálogos. Como estou fora do país por algum tempo, me deixo levar pelas diferenças de idiomas. Andar na contramão nunca passou de uma realidade impossível no meu

mundo físico, porém, no meu linguajar, confesso que tenho abusado da contramão, subindo pelos canteiros de calçadas, distribuindo cavalos de pau. Praguejar em português na Rússia, Croácia ou República Tcheca, apesar de todo o barulho feito, não tem o mesmo efeito moral, afinal de contas, ninguém fala a nossa língua por aquelas bandas. De qualquer forma, sempre que puderem, mulheres, não falem palavrões, vamos sempre preferir aquelas que usam o verbo ferrar, que passam por uma M ou que apenas ficam P da vida.

pqp | 77


Bá, que imagem Heloisa Medeiros fotógrafa

Caos e efeito O caos sempre me foi uma boa companhia. Na vida e no meu processo criativo fotográfico. Que inquietação é essa que é fogo e combustível para minha criação? Um vazio primordial tão grande, onde tudo é criado. Perturbação, pandemônio, obscuridade, desordem. O caos como pulsão de desagregação e também de reagregação, apontando para a estruturação de uma nova ordem. Ovídio, poeta romano, trouxe pela primeira vez a concepção de caos como a desordem mais primitiva e força geradora do universo. Ovídio sabia das coisas… O caos aqui dentro é capaz de gerar uma via láctea e não somente uma estrela. Hoje, entendo que a manifestação artística é o limite entre a capacidade e a incapacidade de comunicação por

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vias formais, algo entre a sanidade e a insanidade. Caos é movimento, é força motriz, impulso... Sem o caos, não há nenhum começo. Expresso em imagens o próprio caos, em suas diversas e moventes formas, para que os espectadores das minhas imagens as organizem por si sós. Deixoos livres. Em meio a este turbilhão vertiginoso que me é tão familiar, optei por fazer as pazes e abraçar meus demônios. Enfim, este artigo, meio caótico, eu sei, vem com a tentativa de refletir e interpretar minha produção fotográfica – provocar a reflexão sobre a ilusão de que apenas a ordem pode gerar a beleza, de que apenas a ordem é bonita e de que apenas em harmonia podemos viver em segurança as maravilhas da vida.


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moda

Leveza, pureza, aconchego. Afeto nos detalhes, carinho no toque. É com essa doçura e simplicidade que as criações Fernanda Sica Comfort Clothes, da designer homônima, estão ganhando o gosto de gaúchas descoladas de todas as idades. Cristiane Cerentini e as crianças Joanna Cerentini Bertolucci e Antônia Bertolucci Martinelli de Lima libertaramse para as lentes de Heloísa Medeiros em Gramado para transformar em puro calor humano o semblante do inverno. FOTOS HELOÍSA MEDEIROS

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Báco Orestes de Andrade Jr. jornalista e sommelier

Vinícola design

A mais bonita e moderna vinícola do Brasil. É assim que os visitantes qualificam a Luiz Argenta, vinícola no coração de Flores da Cunha – cidade gaúcha que é a maior produtora de vinhos do Brasil. A sua beleza plástica encanta. Ancorada em um morro típico da região dos Altos Montes, a vinícola foi esculpida pelas mãos habilidosas da arquiteta Vanja Hertcert. O 88 |

resultado impressiona. Pela beleza e pela funcionalidade técnica. A rocha moldou a vinícola, espelhada no terreno, aproveitando a natureza irreproduzível em outro lugar. Desde o princípio, a ideia do projeto arquitetônico e enológico foi romper paradigmas. A missão dada pelos irmãos Deunir e Neco Argenta – sócios-proprietários da vinícola batizada com o nome do pai, Luiz Carlos


tura modernista brasileira, racional e funcional, com formas geométricas definidas, quase sem ornamentos e divisórias. Afora as linhas arrojadas, cujo ícone máximo é a cidade de Brasília, a inspiração também veio das vinícolas espanholas, da região de Rioja, em especial das bodegas Baigorri, Juan Alcorta e Ysios. “Os vinhos da Espanha têm mais de 2 mil anos de história, mesmo as-

FOTOS GILMAR GOMES

Argenta – foi construir algo original. “Vinho é vínculo. Diferente de outros produtos, o local onde é elaborado importa bastante”, lembra a arquiteta. Houve um tempo em que as vinícolas no Brasil imitavam castelos medievais, os velhos châteaux europeus e até igrejas. A Luiz Argenta derruba essa tradição arcaica, em nome do novo. Guiada pelos princípios da legítima arquite-

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sim, as vinícolas não têm receio em se apresentar como novas e modernas”, observa a arquiteta. Em comum, essas vinícolas possuem prédios monumentais e rigidez no processo técnico. A beleza estética da Luiz Argenta está diretamente relacionada à modernidade técnica. A cantina foi erguida para funcionar toda pelo processo da gravidade, sistema utilizado no século 19, antes da invenção das bombas elétricas. A declividade natural do terreno foi explorada para evitar o bombeamento dos grãos e assim preservar ao máximo a integridade das moléculas da uva, garantindo a elaboração de bons vinhos. Boa parte do charme da Luiz Argenta está na interação entre o processo produtivo e o enoturismo. Em nenhum momento, porém, os turistas e os técnicos se tocam. Mas eles sempre se enxergam. A pretensão é de que as pessoas levem a vinícola na sua memória. As recordações futuras começam a ser fixadas pelos visitantes na varanda externa, com vista para os vinhedos, dispostos de 750 a 800 metros de altitude. A cave cênica é cravada a 12 metros de profundidade na rocha basáltica, e o acesso se dá por vários lances de escada ou por um elevador três andares abaixo. O ambiente de degustação está asilado na impressionante cave cênica. A temperatura no local é natural, de 16ºC. No máximo, varia um grau para cima ou para baixo. O sistema de refrigeração é natural – as rochas que circundam a cave. “Por precaução, temos um sistema de controle de umidade, que ainda não precisou ser usado”, conta Deunir Argenta. Ele confessa que a arquitetura da cave cênica foi uma escolha estética, especialmente as cúpulas em sequência no teto, como ondas. O resultado pretendido foi alcançado. O local é esplêndido. Mas, além da suntuosidade, o acaso gerou uma acústica única. No centro de cada cúpula, o som é 90 |

amplificado. A voz sai como se estivesse em um alto-falante. Com som grave e soberbo. O efeito no espaço de degustação é inusitado – os comentários feitos em uma extremidade da mesa de vidro podem ser ouvidos até com mais vigor no campo oposto de onde se está. Os visitantes se divertem basicamente com o efeito amplificador do centro das cúpulas e com o eco gerado pelas vozes dentro da cave – por isso chamada de cênica. Vanja admite o acaso da sensação gerada. “As cúpulas foram dispostas para garantir uma boa estrutura de sustentação e pelo cenário acolhedor que proporcionam. Mas ganhamos como prêmio este efeito amplificador, que se tornou a grande estrela da cave e da vinícola”, comenta. Para o jornalista e sommelier italiano Roberto Rabachino, “a Luiz Argenta é, sem dúvida, uma das vinícolas mais bonitas do mundo”. “Entre as modernas, é talvez a mais bela”, opina. Por coincidência, ele estava em visita à vinícola com uma turma de sommeliers internacionais no dia em que estive lá, no início de dezembro. Após refletir por alguns segundos, a sentença definitiva: “Quer saber, a Luiz Argenta tem a melhor sala de degustação do mundo. Bate as salas de degustação do Château d’Yquem, Château Petrus, Château Lafite Rothschild, Château Margaux, a vinícola de Angelo Gaja. Esta aqui é a mais bela do mundo”.


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Aula de bateria com Cristiano Bertolucci

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(51) 9 9 07. 24 3 4 @ c r is tianober tolucc i giba ter a @ yahoo.com


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fotos:

Mariana Molinos direção criativa:

Sabrine Sousa Fotos: Mariana Molinos

Direção criativa: Sabrine Sousa

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Modelo: Marine Heim (JOY) Estilo: Gabriela Casarteli Maquiagem: Andre Guerrero Cabeleireiro: Rodolfo Coronel Assistente de fotografia: Pedro Fonseca Manipulação: Jorge Batista Gariba Marcas: TOK, CMIDOV, WAIRA e DRESS IT

modelo: Marine Heim (JOY) estilo: Gabriela Casarteli maquiagem: Andre Guerrero cabeleireiro: Rodolfo Coronel assist. fotografia: Pedro Fonseca manipulação: Jorge Batista Gariba marcas:TOK, CMINDOV, WAYRA e DRESS IT

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deuochic.com Vitor Raskin

A serpente nas costas do vestido Gucci usado pela princesa 102 |


Os irmãos Paulo e Eduardo Dib receberam Paola de Orleans e Bragança na noite em que o novo empreendimento de luxo da cidade foi lançado no Instituto Ling. DJ :Beatriz Santa Catharina agitou a noite

Lorenço Paiva e Paula Marsiglia de Carvalho

Pedro Benito e Henrique Zorzi falaram sobre os projetos da BVZ Digital

Ricardo Malcon e Patricia Rabello de casamento marcado no Copacabana Palace

Luciano Faraco conferiu o projeto que será erguido na rua Artur Rocha A princesa na noite do novo empreendimento Imperatriz da Construtora Dib & Dib. Bela, simpática e elegante Paola Maria Bourbon de Orleans e Bragança Saphieha, última princesa Imperial do Brasil, e trineta da Princesa Isabel de Bragança encantou a todos no movimentado jantar. O vestido Gucci com grande serpente bordada nas costas arrancou olhares de todos. | 103


deuochic.com

Rodrigo Hilbert e Fernanda Lima: mestres de cerimônia da grande festa

Heloisa Braga participou das comemorações

Caroline e André Cirne Lima de Lorenzi: charme nas comemorações da Frigelar

De olho no futuro: Alexandre Fiss, presidente do Grupo Frigelar recebeu ao lado dos filhos Gabriel e Germano Fiss

Maria Eduarda Sperotto 104 | Coelho

Valesca Fiss recebeu os convidado com lindo vestido de Serginho Pacheco

A tela que marcou a trajetória da empresa assinada por Lou Borghetti


A bela Nora Teixeira no casamento de sua filha

O cenário da festa na Casa NTX

Lourdinha Altmayer, Tânia Cauduro e Solange Pottoff Silva

Catarina Costa Sirotsky de Sandro Barros

Patricia Rabello uma das presenças elegantes da noite

Peter e Cecilia Wilms com o filho Thomas Saraiva Wilms

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VINICIUS DALLAROSA

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Corine, Betina e Mariah Albuquerque e Fernanda Fernandes prestigiaram o lançamento da Bá Serra Gaúcha no Laken, em Gramado

POR

Mariana Bertolucci FOTOS DE RAFAEL CAVALLI

Luís Carlos e Neusa Silveira e Fernando Estima e Rochele Silveira Estima


Guilherme Michaelsen feliz com sua linda Bibiana Terra Barreto Campos no Laken

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Romeu Michaelsen e a boneca Martina

Angelina Agrifoglio e Glaucia Gonçalves

Any Brocker e Luiz Américo Bertolucci Guimarães

Rafaela Ribeiro, Liane 108 | Neves e Josie Fischer

Flavio e Laura Vianna

Gabriela Michaelsen, Katlen Perine e Andrea Perine Gehlen


PatrĂ­cia Fossati e Carina Moura | 109


Mariana Pinto Ribeiro

Uda Streliaev, Rita Leidens Streliaev e Marcela Leidens Streliaev

Mauricio Maioli e Rafaella Fontanella

Gabriela Petersen com Carolina e do Carmo Bertolucci Mariot 110Maria |

Michele Tissot e Ronaldo Pinheiro

Greice Merlin Boff e Vitor Raskin


Gabriela Michaelsen e Geraldo Farina | 111


Aline Viezzer FOTOS DE FELIPE VERNES

Sou apaixonada por Relações Públicas, pessoas e resultados eficazes. Formada em Comunicação Social com Habilitação em Relações Públicas, atuo na área desde os 17 anos e há quase 20 sou colunista social do Jornal de Gramado. Há oito anos mantenho uma newsletter virtual por meio do meu site alineviezzer.com.br. Trabalho também na organização de eventos e cerimonial.

Itiana Bohrer 112 |

Leonardo Albuquerque com as filhas Mariah Sperb Albuquerque e Corinne Sperb Albuquerque no, Soltana Tragos y Cocina

Carolina e Mariah Rossi


Soltana Tragos y Cocina O projeto gastronômico está no Complexo da Villa Sérgio Bertti e tem no comando Leonardo Albuquerque, cozinheiro apaixonado que traz em seu currículo 25 anos de experiência e promete uma leitura sobre a gastronomia mediterrânea com uma pitada de influência da contemporânea cozinha espanhola. Soltana é uma homenagem a um veleiro que navega em águas caribenhas e hospeda a alegria e os bons momentos vividos: “Imaginei um restaurante que na sua essência tivesse algo desse barco, capaz de transportar seus clientes em viagens gastronômicas, sendo cúmplice das suas alegrias, desejos e paixões, enquanto provam dos nossos tragos e da nossa comida.”, conta, Leonardo Albuquerque.

Milene Nascimento e Tinga

Luís Carlos e Neusa Silveira

Patrick Rigon

Andréia Coletto

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Vitório Gheno

FOTO /EDIÇÃO : NÁDIA RAUPP MEUCCI

artista plático

"eternamente MARILYN..."

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Tonico Alvares

atelier de retratos e fotografia autoral

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