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Polémicas para livre pensadores (“A maçonaria nasceu da ordem dos templários?”
Polêmicaspara livrepensadores
A maçonaria nasceu da ordem dos templários?
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Pelo Irmão AquilinoR. Leal
O M.·.I.·. Aquilino R. Leal éoriundo de Zamora (Espanha), mas mora no Brasil (Lima Duarte— Minas Gerais) desdedezembro de1952.
Engenheiro electricista e profesor universitario, está aposentado.
Foi iniciado na Maçonaria em 03deSetembro de1976,elevadoao grau deCompaheiro em 28 deAbril de1978e exaltadoa Mestre em 23deMarço de1979.Em 05deJulho de1988sentou noTrono deSalomão.
O M.·. I.·. Aquilino R. Leal foi fundadordaslojas Septem Frateris 95 (Rio deJaneiro) em 10/08/1983 e Stanislas deGuaita 165 (Rio deJaneiro) em 20/06/2006. Ambas trabalhandono REAA.
Podementrar em contatocom ele através doendereço: aquilinoapolo@gmail.com
Conteúdo recebido por e-mail sem indicação quanto a autoria; uma rápida pesquisa na rede de computadores revelou que no endereço http://www.noesquadro.com.br (agosto/2012) o mesmo está disponível, o qual foi ligeiramente modificado/complementado por nós para os propósitos desta coluna. (Aquilino R. Leal)
Não! É tudo culpa do Ramsay.
E quem foi esse tal de Ramsay?
Chevalier da França, Andrew Michael Ramsay, era um nobre escocês, exilado na França com os Stuarts. Chegou a ser, por um curto período, tutor do príncipe Charles Edward Stuart. Ramsay havia sido iniciado na Maçonaria em 1730, através da Loja “Horn” de Westminster, na mesma época da introdução do Grau de Mestre Maçom. Já por volta de 1737 na França, colaborando com o desenvolvimento da Maçonaria, Ramsay foi convidado a proferir um discurso a um grupo de iniciados quando de uma grande iniciação.
Esse discurso, mais conhecido como “Oração de Ramsay”, parece ter sido editado por Ramsay e distribuído aos presentes quando de tal iniciação. Provavelmente, já havia a intenção de divulgá-lo, o que pode ter motivado a publicação, em 1741.
Segue alguns trechos interessantes do discurso:
Nossos ancestrais, os cruzados, reunidos de todas as partes da cristandade na Terra Santa, desejavam reunir em uma única Fraternidade os indivíduos de todas as nações...
Nossos fundadores não eram simples trabalhadores em pedra, nem curiosos gênios. Eles não eram apenas arquitetos qualificados, empenhados na construção de templos materiais, mas também religiosos e príncipes guerreiros que planejaram, edificaram e protegeram os Templos do Altíssimo.
Rei Salomão escreveu em caracteres hieroglíficos nossos estatutos, nossas máximas e os nossos mistérios, e este livro antigo é o Código original da nossa Ordem. ... Após a destruição do primeiro Templo... Zorobabel foi nomeado como Grão-Mestre da Loja de Jerusalém e instruiu o lançamento das bases do Segundo Templo, onde o misterioso livro de Salomão foi depositado. ... Este livro foi perdido... ...até o tempo das Cruzadas, quando uma parte dele foi redescoberto depois da rendição de Jerusalém.
Reis, príncipes e senhores retornaram da Palestina para suas próprias terras e ali estabeleceram diversas Lojas... Nossos graus, nossas Lojas e nossos ritos foram negligenciados na maioria dos lugares. ... No entanto, foi preservado o seu esplendor entre os escoceses, a quem os reis da França confidenciaram durante muitos séculos a salvaguarda da sua família real.
Em nenhum momento Ramsay menciona a Ordem do Templo, mas seu discurso foi a chama inicial da ideia de que a Maçonaria era a sucessora direta dos Templários.
Maçonaria Operativa e Ordem do Templo realmente coexistiram e se relacionaram. Afinal de contas, a Ordem do Templo necessitou de maçons operativos para construir castelos, fortes, capelas, assim como também a Igreja Católica, a nobreza, a burguesia e qualquer instituição ou pessoa que precisava de que algo fosse edificado. Mas qualquer relação além dessa é lenda, sem nem sombra de vestígios.
A teoria de que Ramsay foi o criador do Rito de Perfeição (ou Heredom), o qual serviu de embrião para o Rito Escocês, apesar de defendida por tantos autores, não possui indícios razoáveis. Inspiração é diferente de criação. Ligam o fato de Ramsay ter escrito três diferentes graus com o surgimento dos primeiros “Altos
Graus” da França. Porém, ao que tudo indica, os três graus escritos por Ramsay eram uma proposta de Graus Simbólicos inspirados na Cavalaria Medieval para substituição dos graus então praticados, como forma de “reforçar” a teoria de “origem templária”. Há indícios de que é sua a autoria dos graus implementados por Karl Gathen na Alemanha, onde ficaram conhecidos como Rito da Estrita Observância. E foi exatamente o fato desse Rito não possuir uma autoridade declarada, e de ter um forte teor templário, que o sepultou.
Para uma coisa a “Oração de Ramsay” serviu: hoje há graus de cunho templário em praticamente todos os ritos maçônicos praticados.
Vamos agora a mais detalhes sobre a vida de Ramsay por nós colhidos na web.
Andrew Michael Ramsay (1686-1743), também conhecido por Chevalier Ramsay, foi um teólogo e escritor escocês que viveu a maior parte da sua vida adulta em França, como jacobita exilado. Estudou teologia nas Universidades de Glasgow e Edimburgo, tendo-se graduado em 1707. Em 1708, foi viver para Londres, tendo-se relacionado com Isaac Newton, Jean (ou John) Desaguliers e David Hume.
Em 1710, estudou sob a orientação do filósofo místico François Fénelon, tendo-se, por influência deste, convertido ao catolicismo. Após a morte de Fénelon, em 1715, foi viver para Paris, onde se tornou amigo do Príncipe Regente de França, Philippe d'Orléans, que o fez, em 1723, Cavaleiro da Ordem de S.Lázaro de Jerusalém - o que motivou a sua futura designação por Chevalier Ramsay.
Defensor das pretensões jacobitas (de James Stuart) aos tronos de Inglaterra e Escócia, chegou a desempenhar, embora por breve espaço de tempo, as funções de tutor dos filhos de James Stuart, Charles Edward e Henry. Entre 1725 e 1728, viveu como hóspede convidado no Hotel de Sully, sob o patrocínio do Duque de Sully, e frequentou o clube literário parisiense Club de l'Entresol, onde se relacionou, entre outros, com Montesquieu.
Em 1727, publicou as Viagens de Ciro, que foi um grande êxito (um verdadeiro best-seller na época) e o tornou célebre na sociedade (o que, na época, equivalia a dizer: entre a nobreza) francesa.
grou. Desde a introdução em França (através dos exilados jacobitas) da maçonaria que Ramsay nela se inte-
Em 1737, sendo então Grande Orador em França, escreveu e proferiu, perante uma assembleia de nobres, o seu célebre Discurso pronunciado na recepção de Maçons por Monsieur de Ramsay, Grand Orador da Ordem.
Neste discurso, Ramsay efetua uma ligação da Maçonaria às cruzadas. Veio a ser um dos discursos maçônicos mais divulgados e discutidos da História da Maçonaria. Nenhum outro recebeu alguma vez mais atenção. Nenhum outro teve, até agora, maior efeito no desenvolvimento dos eventos relativos à Maçonaria.
No entanto - e tal é hoje pacífico entre os historiadores da maçonaria - o que ele relatou não corresponde à realidade histórica. A Maçonaria não deriva dos Templários nem das Cruzadas e Ramsay sabia-o bem. Na ocasião, o seu propósito foi dar aos recém-iniciados uma razão para terem orgulho na Ordem. A sua Oração, por consequência, não foi um resumo histórico factual, antes uma narrativa alegórica sobre as suas origens. Foi essencialmente o discurso do idealista que ele era.
Assim, ele falou de uma ligação entre os Cruzados e os Maçons, afirmando que, depois das Cruzadas, o Príncipe Eduardo, filho de Henrique III de Inglaterra, tinha trazido de volta àquele país as suas tropas, que tomaram o nome de... Maçons. Acrescentou que, das Ilhas Britânicas, a Arte Real estava então a passar para França, que iria passar a ser a sede da Ordem (!) e continuou dizendo:
"As obrigações que vos foram impostas pela Ordem são as de proteger os vossos irmãos pela vossa autoridade, de os iluminar pelo vosso conhecimento, de os edificar pelas vossas virtudes, de lhes acudir nas suas necessidades, de renunciar a todo o ressentimento pessoal e de favorecer tudo o que possa contribuir para a paz e a unidade da sociedade."
Ramsay ligou a Maçonaria aos Cruzados, designadamente ingleses. Mas, ao contrário do que é correntemente afirmado, não é exato que tenha feito qualquer referência aos Templários. Este mito sobre um mito nasceu de um erro de Mackey, que tal afirmou na entrada dedicada à "Origem Templária da Maçonaria" na sua Enciclopédia da Maçonaria. Os grandes também se enganam, Mas os erros dos grandes acabam por ser divulgados como verdades...
Em nenhuma passagem do Discurso Ramsay sugeriu a criação de um novo rito, mas dele foi isso que veio a resultar. A Maçonaria tinha sido introduzida em França poucos anos antes, mas a nobreza francesa (o Povo, esse, simplesmente sobrevivia e só com a sua sobrevivência se preocupava), embora de alguma forma fascinada, não acreditava que fosse possível que o ideário maçónico fosse originário de trabalhadores comuns, de mãos calejadas pelo trabalho de construção. Ramsay proporcionou-lhe uma resposta a essa desconfiança e um pretexto para que vissem a Maçonaria como digna de si: providenciou-lhe, à Maçonaria, nobres ancestrais!
Quase que de um dia para o outro, a nobreza e a intelectualidade francesa dedicaram-se a esta novidade, reformulando-a a seu gosto: em pouco tempo, mais de 1.100 graus foram inventados, agrupados em mais de cem ritos. A maior parte deles teve uma existência efémera, mas, entre os que sobreviveram, contavam-se os 25 graus do Rito de Perfeição, antecessor direto do Rito Escocês Antigo e Aceite.
O maçom Andrew Michael Ramsay, com o seu famoso Discurso, inadvertidamente mudou o curso da História da Maçonaria, ao inspirar a criação dos Altos Graus, daí vindo a ocorrer uma evolução que veio a culminar no Rito Escocês Antigo e Aceito.
“A necessidade leva as pessoas ao engano e a fome os lobos a sair do arvoredo.” (François Villon)
Publicado em espanhol na revista RETALES DE MASONERÍA no. 94, abril de 2019, página 81, sob o título ¿LA MASONERÍA NASCIÓ DE LA ORDEM DE LOS TEMPLARIOS? Tradução a cargo do ‘bro’ Mario Lopez Rico - disponível para baixar em https://retalesdemasoneria.blogspot.com/p/archivo-de.html