Revista Elos . Agosto 2012

Page 1

Publicação mensal da Igreja do Recreio | Ano 01 . nº01 . Agosto 2012 Distribuição gratuita e dirigida . Venda proibida | elos@igrejadorecreio.org.br

Pai ainda há importância neste papel?

Entrevista

Thiniá Fulniô – um índio em nossa selva Música

O rock merece respeito



destaques

Foto: stock.xchng

Uma publicação mensal da Primeira Igreja Batista do Recreio dos Bandeirantes. É proibida a venda de exemplares. Distribuição gratuita e dirigida.

. destaques

19 Grávidos. E agora?

Não só a mãe fica grávida. Gravidez é para ser vivida pelo casal. Veja aqui sete importantes dicas para viver juntos e plenamente este momento único.

Diretor executivo Wander Ferreira Gomes wander@igrejadorecreio.org.br

Editor de conteúdo Utahy Caetano dos Santos Filho MTB 52730-080RJ utahysantos@gmail.com

Foto: reprodução internet

Publicidade Carolina Carneiro carolina@igrejadorecreio.org.br

Redação Carolina Carneiro Marcelo Belchior Dhiego Almeida

Colaboraram nesta edição

Projeto gráfico Marcelo Belchior marcelo@igrejadorecreio.org.br

CTP e Gráfica Via 7 Gráfica 21. 7823.7220 | 2430.2100

fundamental O papel do pai pode ser exercido por outra pessoa? O pai ainda é necessário quando tantas mulheres optam por criar seus filhos sozinhas? Nossa redação busca respostas com filhos e especialistas.

Foto: divulgação

Tamar Souza; George Heinrichs; Paulo Moura; Carlos Peff Novaes; Israel Belo de Azevedo; Samuel Rodrigues; Sylvio Macri; Daniela Cardoso; Josias Bezerra; Josué Ebenezer; David Baeta; Bento Souto; Isaltino Gomes; Jô Marques; Flavia Bonfim; Lécio Dornas

10 Pai é

22

O Rock merece respeito

O rock sempre foi visto como influência maligna. Religiosos e ateus repudiaram o rock em atitude preconceituosa e obscurantista.

Tiragem 10.000 exemplares Distribuição dirigida aos moradores do Recreio, Barra da Tijuca e adjacências

Informações

A Igreja do Recreio é legalmente responsável por todo conteúdo desta publicação, que pode ser reproduzido, bem como o texto de seus colunistas, desde que haja prévia autorização e devida citação do veículo. As publicidades veiculadas nesta edição são de responsabilidade exclusiva dos anunciantes. A Igreja do Recreio isenta-se de qualquer responsabilidade quanto ao conteúdo e veracidade de tais peças.

Foto: cdn.50up.com.au

Igreja do Recreio Rua Helena Manela, 101 . Recreio 21. 2437.3015 Ramais 220 a 222 elos@igrejadorecreio.org.br

16 Filho de corrupto,

corrupto será

Foto: Agência Brasil

A corrupção tem seu lugar em todas as culturas do mundo e tem uma origem.

36

Saúde na

terceira idade A expectativa de vida do brasileiro aumentou. De que adianta viver mais sem boa saúde?

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 1

1

30/07/12 14:52


ultrad.com.br

Para o seu prazer... Elos Utahy Santos

Editor de conteúdo . utahysantos@gmail.com

editorial 2

humildade, virtude que “despossuo”: “O jornal existiu quase 100 anos sem mim, existirá por outros 100 depois de minha saída”. Eu, de minha parte, enquanto estiver por aqui, desejo apenas que melhoremos a cada número. Agradeço aos numerosos colaboradores que atenderam aos pedidos para colaborarem com Elos com presteza e prazer. Vale registrar que ninguém foi remunerado para escrever. São pessoas que sentem prazer em escrever para esclarecer, instruir e, de quebra, proporcionar prazer ao leitor. Não posso deixar de registrar o excelente projeto gráfico feito por Marcelo Belchior, profissional do Departamento de Comunicação da PIB do Recreio e editor de arte de Elos. Por último, agradeço a insistência do pr. Wander Gomes em querer me ver dentro deste projeto, que se tem um pai é ele. Eu e Wander somos amigos há três décadas. Às vezes, próximos; às vezes, distantes. Mas sempre amigos. E amizade é algo que ainda prezo muito. Elos, acredito, veio para ficar. Crescerá, será importante para a Igreja e funcionará como elo com os pujantes bairros do entorno da PIB do Recreio. Esta edição traz textos que falam da situação do homem/pai em nossos dias, discutem a corrupção que sangra o país, informam sobre a saúde na terceira idade e mostram como vestir bem os seus pés. Mais do que isso, nossos colunistas analisam vários temas e apresentam seus pontos de vista. Duas seções são interativas: Leitor amador e Minha opinião. E ainda temos tecnologia, passatempos, música... Leia, critique e participe de Elos. Fazer demagogia não é parte de minha natureza por isso creia quando digo que a revista que fazemos é para você. Deleite-se!

Insensatez humana A médium Adelaide Scritori, que incorpora o espírito do Cacique Cobra Coral e teria o poder de controlar o clima, embarcou para Londres com a tarefa de garantir tempo bom nas Olimpíadas. Ela presta serviços à Inglaterra desde Margaret Thatcher. O Nordeste sofrendo seca devastadora e o Cacique resolvendo problemas menores em Londres. Por que não faz chover no Sertão?

(Cacique “in London” – Nota publicada na coluna Gente Boa, de O Globo, edição de 19/7/2012).

editorial .

Em minhas mãos, o primeiro número da revista Elos. Ficou bonita, repleta de bons textos, diversificada. Senti orgulho de ter sido parte da criação desta publicação. Muitos participam de um projeto, da criação até a conclusão. Alguém pensou que seria importante que a PIB do Recreio publicasse uma revista. Pensou e passou à ação. Buscou recursos e pessoal para tocar o projeto que estava em seu pensamento. Equipe montada, há numerosas discussões, em vários níveis, a fim de decidir o que e como será a revista ainda abrigada na mente. Elos, o nome a sugerir união, laços, alianças, surge. A revista passa a ser algo concreto, viável. É neste momento que passo a fazer parte da história de Elos. E, diante do primeiro número da revista, sinto orgulho do trabalho feito. O trabalho é feito por uma equipe. Daqui a alguns meses, ninguém será insubstituível na confecção deste periódico. Trabalhei em um jornal de mais de um século de vida, tocava-o praticamente sozinho e ouvi muitas vezes: “Se você sair daqui será difícil substituí-lo”. Sempre respondi, não por

Foto: divulgação campanha anti-tabagismo

Sedentarismo mata mais do que fumo Em O Globo, a informação de que a falta de atividade física mata mais do que o hábito de fumar. Para sedentários fumantes não há estatísticas, mas estes devem pôr as barbas de molho. O tabaco dizima 5,1 milhões de fumantes, anualmente, em todo o mundo. A inatividade liquida 5,3 milhões, cerca de 10% das mortes.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 2

30/07/12 14:52


A novela do início do

século

Avenida Brasil é a novela que mais repercussão tem alcançado nos últimos tempos na TV brasileira. Não é a maior audiência, mas ecoa de forma tonitruante. As razões não são difíceis de se encontrar. João Emamuel Carneiro, o autor, é talentoso, inquieto e capricha no texto que manda para ser encenado. Novelas, hoje, têm ritmo acelerado. Os conflitos são resolvidos e logo dão lugar a novos. Carneiro é um mestre do dinamismo e não é de fazer concessões. Seus personagens vivem em zona de sombra e são capazes das mais torpes vilanias, inclusive os “heróis”. A ressaltar, a qualidade do elenco. A novela dá tão certo que até canastrões históricos como Marcello Novaes vêm fazendo bonito.

qualidade da PIB Recreio Wander Gomes

Diretor executivo . wander@igrejadorecreio.org.br

Há muito tempo desejava que a Primeira Igreja Batista do Recreio produzisse uma revista. Não qualquer revista, mas uma que pudesse ser lida pela igreja e por aqueles não familiarizados com o “dialeto” evangélico. Que fosse atraente em conteúdo e forma para dentro e fora da igreja. O primeiro número de Elos, então, me deixa muito feliz por sua qualidade gráfica e riqueza de conteúdo. Este é o momento ideal para o lançamento da revista. Acredito, e sempre deixei isso claro para a igreja, que devemos falar para toda a sociedade. A revista Elos cumprirá parte deste objetivo, sendo preferencialmente um canal aberto de diálogo entre a igreja e sua vizinhança. A edição impressa circulará pelo Recreio e bairros adjacentes. Logo estaremos na Internet e chegaremos a todo o mundo. É mais um passo no aperfeiçoamento da Comunicação de nossa Igreja. Todos os meses teremos um respeitável time de colaboradores nas páginas de Elos. Folheie a revista e veja o time escalado para este primeiro número. A preocupação com a qualidade será uma constante. Qualidade que o frequentador da PIB do Recreio já se acostumou a exigir. Leiam Elos, avaliem-na e nos digam o que acharam. Estaremos sempre procurando melhorar a revista.

Trata-se de um periódico de custo considerável e, em breve, buscaremos parceiros anunciantes, mas os primeiros números serão integralmente pagos por nós. Vamos mostrar de todas as formas nosso interesse em fazer-nos presentes, em estarmos perto, em falarmos a mesma língua, em estarmos verdadeiramente juntos das pessoas que nos cercam. A PIB do Recreio é uma igreja em construção: física e espiritual. Investimos em patrimônio, temos despesa de manutenção alta, mas, graças a Deus, sempre pudemos contar com os membros de nossa igreja. Eu desejo, e creio que com o lançamento desta revista estamos dando mais um excelente passo para, de fato, criar mais elos entre a igreja e o bairro. Quero, finalmente, agradecer o apoio constante que a liderança tem recebido da Igreja. Este não é o primeiro nem o mais ambicioso projeto de nossa Igreja e sempre tivemos o suporte entusiástico de nossa membresia. É a confiança de vocês e a ajuda de Deus que têm permitido que realizemos coisas aparentemente impossíveis. A você que tem nossa revista nas mãos e não conhece a PIB do Recreio, gostaria de lançar um convite: venha nos conhecer. Apareça, será um prazer receber você e sua família.

. wander gomes

Foto: divulgação TV Globo

Elos, revista com selo de

wander gomes

Foto: Elos

122 nações foram analisadas pelo levantamento. Nessas nações estão 89% da população mundial e o percentual de sedentários é de 31%. No Brasil, 49,2% da população é sedentário. Um dado assustador: 80% dos adolescentes são inativos fisicamente. Concluiu-se, também, que um gordinho ativo é mais saudável do que um magro sedentário. É importante atentar para dois dados empíricos. O número de fumantes diminui. Há 30 anos fumava-se até dentro de consultórios médicos (o médico, inclusive). Hoje, no banheiro de sua própria casa, o fumante é perseguido. Os sedentários, ao contrário, aumentam seu contingente, exponencialmente. O futuro é gordo e sem fumaça.

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 3

3

30/07/12 14:52


ELOS conversou com Thiniá, da tribo dos fulniôs. Thiniá faz intenso trabalho de divulgação dos valores indígenas. Aqui no Rio de Janeiro, fez diversas palestras em Escolas Públicas, apresentou-se no Centro Cultural Banco do Brasil, Museu do Índio e várias outras instituições. Foto: Utahy Santos

A língua poética dos

fulniôs

Esta entrevista foi feita no Shopping Nova América, em Del Castilho, numa brecha da agenda de Thiniá, que viajaria para a Europa no dia seguinte. Thiniá falou-nos sobre ele, sua tribo e as peculiaridades da vida dos Fulniôs.

entrevista

entrevista . 4

ELOS – Quem são os fulniôs? Os fulniôs são o conjunto de três povos. Fulniôs são os tapuias. Fulniô significa migrante da beira do rio. Em suas migrações, os fulniôs se encontraram com os foclassas, brogradás e carnijós ou carijós, que comiam carne humana. A junção dessas tribos originou os fulniôs. Todas eram nômades. Hoje somos 5 mil fulniôs, estabelecidos em Pernambuco, a cerca de 300km de Recife. Vivemos, hoje, não mais da caça porque não há caça com fartura e, sim, do artesanato e da agricultura. Nos adaptamos para sobreviver. Os fulniôs são o único povo do Nordeste que ainda preserva a língua original. Protegemos, assim, nossos rituais. Anualmente, nos isolamos do mundo por 90 dias. Nesses dias vivemos como há 500 anos. Voltamos no tempo. O povo é igual, come da mesma panela, tudo é dividido de forma igualitária para todos. Exercitamos e voltamos às nossas origens, integralmente, durante 90 dias. Ao término desse período, voltamos para a aldeia e vivemos normalmente.

A vida de hoje. O fulniô tem dois mundos: em 3 meses vivemos o mundo antigo, em nove, o mundo de hoje.

a língua é o pensamento do povo. É o que nos afirma, é a nossa identidade. Quando se perde a língua se perde a identidade

ELOS – Todos os integrantes da tribo participam? Todos participam. Lá, praticamos a língua. Nesses três meses não podemos falar em Português. Comemos da mesma panela e funciona como uma renovação. Nada dos dias de hoje é usado nesses três meses. Essa é a nossa força. Muitos antropólogos não gostam de estudar os fulniôs porque

não conseguem penetrar nesse segredo: o segredo uricuriano. Uricuri é o local onde fazemos esse ritual. Uricuri é um coqueiro, uma palha nordestina que usamos para fazer o artesanato. Os fazendeiros da região e o pessoal de Águas Belas, cidade construída dentro de nossas terras, por conta da Igreja Católica, não permitiam que fizéssemos nossos rituais. Eles eram feitos às escondidas. Nos retirávamos e nos encontrávamos nesses locais que tinham esses coqueiros. Essa a razão do nome: ritual uricuriano. É a memória do povo, resgate de sua história. Há vários povos indígenas no Nordeste, o único que preservou a língua foi o fulniô, por conta de não mostrarmos nossos rituais para o branco. Potiguaras, pancararés e dezenas de outros povos indígenas perderam seus idiomas. Nós, não. Atribuímos isso ao ritual do uricuri. A língua é o pensamento do povo. É o que nos afirma, é a nossa identidade.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 4

30/07/12 14:52


Os índios da etnia Fulni-ô vivem em Pernambuco numa área de aproximadamente 11.500 hectares, recuperada, após participação forçada na guerra do Paraguai, que resultou na devolução do território pela Princesa Izabel.

ELOS – Por que é tão importante a preservação da língua? Mãe, em fulniô, é “começo de meu olhar”. Não é, simplesmente, mãe. Vejo aí um princípio respeitoso. A criança respeita o que está por trás do conceito. Casa e lar. Casa são as paredes, lar passa a ideia de harmonia. A língua iaté [o idioma fulniô] é poética. Há sempre poesia por trás. Se conto uma história para um fulniô em Português ela não tem o mesmo peso como se fosse contada em iaté. Casa, em iaté, “lugar de sorrir”. É mais respeitoso. Tem de haver harmonia dentro do lar. Por isso cremos que a oralidade nos aproxima, traz calor humano. E também valorizamos a preservação do idioma.

ELOS – Você mencionou que o iaté não tem alguns dos pronomes pessoais. O que isso acarreta? Você conhece um povo pela língua que ele fala. No mundo do branco há seis pronomes. Tive dificuldades com isso ao aprender Português. Temos somente três: eu, tu e nós. O branco tem muito meu carro, minha casa, meu filho. O iaté não tem meu. E também não permite que se acuse ninguém. Não existe o ele. A língua ajuda na educação dos filhos. Duas crianças estão brincando e uma diz: “Vamos jogar pedra lá na casa da velha?” Uma dá a ideia e a outra joga. Se der confusão, como não existe o ele para ser apontado, a criança só poderá dizer “eu fiz” ou “nós fizemos”. Não há alternativa. A criança fulniô

Foto: Agência Brasil . Ana Nascimento

cresce assumindo seus atos. Ela sequer pensa no ele. Não existe na língua. O branco gosta de encontrar culpados. O fulniô, não. O culpado fica triste e essa tristeza volta para o acusador. É uma energia que circula. Cremos na energia das coisas, por conta disso o cabelo é cortado redondo, a casa é redonda, o pensamento é redondo. Meu povo brinca e diz que o pensamento do branco é quadrado. O nosso é circular. Tudo à volta do índio é redondo para a energia circular melhor.

. entrevista

ELOS – Os fulniôs não têm língua escrita? Não. Acreditamos que, ao não ter escrita, as famílias se aproximam mais. Há mais tempo para se contar histórias à beira do fogo. A cultura oral permite uma aproximação maior de pais e filhos. Há mais calor humano. A escrita distancia. Ela é muito importante para registrar. Não estou desconsiderando a escrita, mas ela distancia as pessoas. É você e o livro. O livro e você. Acreditamos, então, que a oralidade é uma volta no tempo. É a nossa verdade.

entrevista

Foto: Reprodução internet

Quando se perde a língua se perde a identidade.

ELOS – Como e por que você deixou a tribo para circular pelo mundo? Saí por causa das invasões de terra. Os fazendeiros da região não respeitavam a demarcação das terras fulniôs. Ainda bem que é uma terra demarcada. Pouca terra, mas demarcada. Invasões, mortes, isso me impulsionou a ir a Brasília e pedir apoio à Funai para estudar. Na época, comecei a estudar porque queria aprender a língua. Desenvolvi o Português na Escola de Aplicação da Universidade de Brasília (UnB). A UnB foi fundada por Darci Ribeiro, um intelectual preocupado com a questão indígena. Depois fui para a ECA, escola de comunicação da USP. Meu intuito era fazer um trabalho de conscientização em função do Em 2004, Brasília, Índio da Tribo Fulniô, de Águas Belas (PE), faz manifestação em frente ao Planalto.

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 5

5

30/07/12 14:52


Foto: Reprodução internet

não existe felicidade sem liberdade. O maior aprisionamento do homem é ser encarcerado pelo seu próprio pensamento

entrevista

entrevista .

olhar distorcido que os brancos têm da cultura indígena. A visão é sempre a de quem escreve sobre nós. Visão estereotipada, idealizada, por conta da desinformação ou desejo, mesmo, de manipulação. Entendo que a cultura indígena não é importante para o mundo. Uma cultura de igualdade é incômoda. O mundo dá valor a lucros, ganhos, poder. Não há interesse em se propagar a cultura indígena, sua forma de organização. Disse aos antropólogos da USP que queria estudar para levar aos filhos dos brancos a minha esperança, falar sobre minha terra. As crianças brancas são a minha esperança. Se eu puder falar a elas, elas terão uma visão sobre o índio diferente da de seus pais. Creio nisso. Para eu sobreviver preciso ter esse sonho. Quando o homem perde o direito de sonhar ele não tem razão para viver. Sonho, ainda. Por isso vou pelas escolas e levo esse trabalho de conscientização. Uma guerra sem armas, sem mortes. Na visão do branco, guerreiro mata, destrói, sobrepuja. Guerreiro, na verdade, preserva a vida. Levo às crianças um registro simples, de felicidade. Mostro nas escolas quem somos nós, de verdade. ELOS – A desinformação é grande? Fiz uma palestra em um sindicato de professores e percebi que as perguntas eram primárias. Aqueles professores não sabiam nada sobre nosso povo. Não por culpa deles. A informação

6

Exemplo de resistência, os Fulni-ô são resultado da junção de cinco etnias: Brogada, Carnijo, Flowkasa, Tapuia e Fola.

que receberam é que era equivocada. Quando eu estudava não conseguia me enxergar nos livros didáticos que falavam sobre índios. As informações sobre índios pareciam criadas, inventadas. Isso me impulsiona a levar meu trabalho de divulgação da cultura indígena. Só se mostra a parte lúdica da cultura indígena. Mostro os valores dos povos indígenas, a forma como vemos Deus, como o mundo foi criado, segundo nossas crenças. Quem somos nós? Para onde vamos? Procuro explicar essas coisas, de acordo com o público que está me ouvindo. Fui treinado pela Escola de Comunicação da USP para falar a linguagem das crianças. Quer atingir as crianças, fale a linguagem delas. Quer atingir os velhos, fale a linguagem deles. Saí de minha tribo pelas muitas injustiças e mortes que presenciei. Hoje, quero plantar uma semente que será bem plantada no coração e na alma do filho do branco.

de encarar o mundo. Não existe felicidade sem liberdade. O maior aprisionamento do homem é ser encarcerado pelo seu próprio pensamento. A cultura do ter não leva a nada. Ser feliz é ter tempo para a mulher, para os filhos. Ser feliz é não sofrer porque não tem um carro bonito, uma casa de luxo. Fui convidado para ir à Europa. Em um dos países farei palestra em um SPA luxuosíssimo. Homens brancos, ricos, querem me ouvir falar sobre vida simples, despojada. Riqueza, vida acadêmica não garantem felicidade. O homem não nasce mau. Ele se torna mau. Foto: Reprodução internet

ELOS – Algo a acrescentar? O que falo não é uma verdade absoluta. Nem eu nem meu povo acreditamos em verdades absolutas. Meu desejo é que o filho do branco perceba como nós somos. Não queremos mudar o branco, queremos, sim, ser compreendidos. Queremos que o branco veja que há várias formas Os índios têm convívio diário com os não-índios, e são em sua maioria bilíngües; se vestem como os brancos, mas não perderam sua identidade.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 6

30/07/12 14:52


Reino, igrejas e mundo Carlos Novaes

Pastor . carlospnovaes@gmail.com

inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus” (Tiago 4.4). E em 1João 2.15-16 lemos: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo”. Compreendendo devidamente o relacionamento entre reino, igreja e mundo, e uma vez definidos esses conceitos, podemos fazer três importantes observações: 1. Para pertencer ao Reino de Deus, o pecador precisa passar pela experiência do arrependimento e da fé, que o Senhor Jesus chama de novo nascimento em João 3.3 e Paulo descreve como a transformação em um novo ser, conforme 2Coríntios 5.17. 2. Uma vez convertido e com a mente transformada pela mensagem do Evangelho, o discípulo de Jesus começa a percorrer um novo caminho, adotando uma conduta coerente com a atual condição de cidadão do Reino de Deus e, a partir de então, passando a pertencer ao Corpo de Cristo, que é a igreja. 3. A missão da igreja de Cristo no mundo é anunciar e promover, por meio da proclamação da Palavra e do testemunho de uma vida santificada, os princípios do Reino de Deus, a fim de que — em cumprimento à oração do Pai-Nosso — a vontade divina seja feita na terra como no céu.

carlos novaes

para o Reino. As igrejas proclamam a mensagem do Reino. Quando atuam conforme os princípios da Palavra de Deus e se submetem aos propósitos divinos, as igrejas refletem o Reino. Entretanto, quando se afastam dos ensinamentos do Evangelho, seguindo rumos contrários ao projeto de Deus em Jesus Cristo, as igrejas deixam de propagar o Reino para se tornar um grupo social como qualquer outro. A palavra mundo (kósmos, no grego) é usada no Novo Testamento, em determinados contextos, para designar o sistema de valores corrompidos pelo pecado. Por exemplo, em 1João 5.19: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno”. O mundo, isto é, o sistema de valores que, a partir da queda, rege a vida em sociedade e direciona o comportamento das pessoas, contradiz os propósitos originais de Deus para a humanidade e, consequentemente, ofusca a dignidade do ser humano feito à imagem e semelhança do Criador. O Reino de Deus e o mundo defendem e apregoam princípios muito diferentes. Os princípios do reino dos homens costumam seguir em rota de colisão com os princípios do Reino de Deus. O discípulo de Jesus é chamado a se posicionar, sem ambiguidades, em relação a esse confronto: “Vocês não sabem que a amizade com o mundo é

. tamar souza . carlos novaes

Normalmente os termos Reino, igrejas e mundo se confundem na mente das pessoas, a ponto de muitos acharem que igrejas e Reino são a mesma coisa. Vamos, em primeiro lugar, demarcar as fronteiras que os separam para, logo depois, mostrarmos de que modo se relacionam. Na língua grega, a palavra basileia significa reino ou domínio. E a expressão basileia tou theoú, ou Reino de Deus, significa soberania ou senhorio de Deus. As igrejas (do grego ekklesía, ou assembleia dos convocados) são formadas por aqueles que seguem a Jesus Cristo e mantêm comunhão entre si. É justamente nesse sentido que a palavra ekklesía aparece nas diversas saudações das epístolas neotestamentárias. Podemos afirmar que o Reino e as igrejas não se identificam de forma absoluta. Mas também não se distanciam de maneira irremediável. O Reino é maior do que as igrejas e não pode ser limitado por elas. O Reino transcende épocas e gerações. O Reino ultrapassa credos e dogmas. O Reino não pode ser institucionalizado. Quando alguém se vincula a uma igreja não significa, necessariamente, que também está vinculado ao Reino. Por outro lado, as igrejas são agências do Reino na terra. As igrejas trabalham pela expansão do Reino no mundo. As igrejas recrutam cidadãos

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 7

7

30/07/12 14:52


Exibicionismo

perigoso

Adolescentes mostram o corpo em fotos cada vez mais sensuais. O pior, não tomam cuidado e são vistas por predadores sexuais.

comportamento

comportamento . 8

Foto: Reprodução internet

adolescentes exibicionistas correm mais ricos de sofrer ataque sexual do que aqueles mais discretos. Isto, sim, é fato. Filmar-se em situações íntimas pode ser constrangedor e muito perigoso

Maria Alice, 16 anos, estuda há cinco anos com um grupo de amigas. Mesma escola, mesmo bairro, frequentam os mesmos lugares. “A ideia foi da Soninha. A gente se fotografava em poses sensuais, mandava uma pra outra e nos dávamos notas. Não tinha foto de ninguém pelada, só de biquíni. Um garoto que ficava com a Vera copiou as fotos do celular dela e espalhou. Deu um rolo danado. Meu pai viu as fotos, me tirou da escola e não quer que eu ande mais com as meninas. Ele é de outra geração”. A história de Maria Alice é fictícia. É o resultado de histórias de adolescentes que não veem nada de errado em exibir o corpo. Até porque a mensagem que a sociedade vem passando é essa mesma: usar o corpo para alcançar o sucesso é comportamento aceitável. Seduzir para subir na carreira profissional deve ser o padrão. “A socióloga inglesa Catherine Hakim diz que não há igualdade entre os sexos e incentiva as mulheres a usar todos os seus atributos para ascender na carreira” (Veja, 25/7/2012). Adolescentes e pré-adolescentes estão apenas afiando suas armas ao se mostrarem em poses eróticas para aqueles que desejam impressionar. Lamentavelmente, não só esses têm acesso à visão de seus corpos. Um relato verdadeiro. Rafael mora em um condomínio na zona norte do Rio de Janeiro. Circula pelas redes sociais fuçando a vida alheia. Tem muito tempo disponível. Não

trabalha, aposentou-se por invalidez. Na rede, vai de perfil em perfil até encontrar os liberados. “Meninas que gostam de postar fotos sensuais, normalmente, deixam seus perfis disponíveis. Há aquelas que já são profissionais do sexo, a maioria, no entanto, quer só curtir. É só exibicionista. A ingenuidade é que o grande lance, é o que atrai e as põe em risco. Outro dia entrei no perfil de uma menina da Tijuca. Vi fotos dela na escola, em casa, em praias. Ela era maravilhosa. Em um dos álbuns havia fotos sensacionais. Até topless. Menina doida. Devorei o perfil dela e descobri que estudava de manhã. O colégio dela eu já sabia qual era pelas fotos. Tenho tempo. Eu e qualquer outro predador (fala rindo e fazendo gesto de aspas com os dedos). Resolvi fazer um teste. Fiquei nas imediações da escola dela. Parava meu carro e olhava. Fiz isso por uns três dias. Acabei vendo-a. Desci do carro, a segui de longe e vi onde morava. No perfil dela, fiquei sabendo de uma festa a que ela iria. Foi demais! Para fechar meu teste, fui ao local que ela e amigos combinaram se encontrar para ir a tal festa. Vi quando ela chegou, andou com o grupo por uns 200 metros e entrou em um prédio. Pensei em ficar por ali para ver como ela sairia da tal festa, mas já estava ficando obcecado com a garota. Imaginei ela saindo sozinha, embriagada, sei lá... Pensei melhor e desisti.Era só para testar. Já sou meio desajustado, reconheço, e estou sempre perto de fazer

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 8

30/07/12 14:52


comportamento

Foto: stock.xchng Foto: Reprodução internet

de uma assessora do Senado em pleno ato sexual. Não é natural, então, ter a intimidade invadida por estranhos. A revista Veja trata de uma pesquisa feita nos Estados Unidos: “30% dos adolescentes americanos já praticaram alguma vez o sexting – ou seja, usaram seus smartphones para disparar mensagens contendo fotos em que aparecem nus, acompanhadas ou não de texto. O número, é claro, assusta. E os estudiosos da Universidade do Texas responsáveis pela pesquisa descobriram ainda outras pistas que ajudam a entender melhor esse fenômeno. A principal delas é que o sexting tem um vínculo com a prática “real” do sexo. De acordo com o levantamento, entre as adeptas do compartilhamento de fotos íntimas, cerca de 80% já praticaram sexo; o número de sexualmente ativas cai pela metade entre aquelas que também não se envolvem com sexting”. Em 2008, a americana Jessica Logan se enforcou aos 18 anos após sua foto, feita na intimidade, passar pelos olhos de todos os colegas de escola. Uma reação exagerada de

. tamar souza . comportamento

bobagem. Fui pra casa e não entrei mais no perfil dela.” Adolescentes que gostam de se exibir não viverão como promíscuos no futuro. Esta não é uma regra. Adolescentes exibicionistas correm mais ricos de sofrer ataque sexual do que aqueles mais discretos. Isto, sim, é fato. Filmar-se em situações íntimas pode ser constrangedor e muito perigoso. A atriz Carolina Dieckman teve seu computador invadido e dele furtadas fotos íntimas. O mesmo ocorreu com Scarlett Johansen. Um escândalo nas manchetes do final de julho foi o vídeo

alguém que tinha outros distúrbios, mas quem pode saber como reagirá diante de uma situação como essa. Os jovens entram na vida sexual ativa cada vez mais cedo. Quase sempre estão despreparados. Fazem sexo cedendo às pressões dos grupos com os quais convivem. Ao contrário do que se imagina, adolescentes que querem ser diferentes são minoria irrisória. A maioria integra-se ao bando, não quer ser percebido. Vestem-se igualmente, comportamse da mesma forma. Quase nunca, mesmo os mais arrogantes, sabem o poder de sedução que exercem. Uma menina de 13 anos usando calcinha e sutiã, fazendo cara de periguete em foto postada para um amiguinho pode provocar bocejos no coleguinha e incendiar um velho predador que fortuitamente tem acesso à fotografia. Se atacada pelo predador, ninguém de bom senso dirá ser ela a culpada, mas o mal estará feito. Pode parecer orientação careta, mas exerça sua sensualidade com alguma discrição. Use os meios de que dispõe para alcançar objetivos elevados. Estude, prepare-se, não creia quando lhe disserem que o caminho para uma vida bacana é fazer um casamento de interesse. O amor romântico ainda não acabou. Há pragmáticos que creem ser a conjunção de interesses o segredo do sucesso no casamento. Pode ser. Há, no entanto, maiores chances de se chegar à felicidade ao se juntar a alguém que misteriosamente abalou nossas estruturas. Só se pode levar este projeto à frente se, individualmente, construirmos nossa independência. O belo levará vantagens, mas só beleza não bastará. A exibição do corpo em redes sociais põe em risco a integridade física de quem se expõe. Vivemos em sociedade e precisamos nos sujeitar a regras de convivência. Às vezes, nos julgamos incapazes de fazer mal a alguém. Lá fora, infelizmente, à espreita, há muitos que só desejam satisfazer seus próprios instintos. Não é inteligente facilitar a vida de tais pessoas. UCSF

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 9

9

30/07/12 14:52


Pai ainda há importância neste papel? capa

capa . 10

Foto: stock.xchng

Cada vez mais mulheres buscam o sonho da maternidade intentando dispensar a figura paterna. Que impactos essa decisão pode trazer na criação de seus filhos? Vão-se em muitos anos os tempos da nossa sociedade patriarcal, em que tudo em uma família girava em torno da figura do pai, o ente masculino detentor do poder advindo da sua importância socioeconômica. Até meados do século XX, a mulher estava relegada ao segundo plano e era tratada como ser pouco capaz, restrita ao ambiente doméstico, onde exercia suas funções e detinha algum poder, é claro, limitado pelo senhor seu marido, dono não somente dela como também de seus filhos. Nesses dias, a figura do pai estava ligada a aspectos de autoridade, segurança, proventos e projeção social, e nunca, ou raramente, a laços emocionais e demonstrações de afeto. A partir da década de 50, a sociedade vivenciou profundas modificações no âmbito familiar. A mulher conquistou liberdade em diversos aspectos socioeconômicos, e dentro de casa alcançou maior autoridade no que tange, não somente ao destino de seus filhos, mas também às atividades administrativas e financeiras da família. Direitos e deveres gradativamente tornaram-se recíprocos e a questão da fidelidade conjugal tornou-se um compromisso compartilhado. Com

o surgimento de novos padrões comportamentais, as uniões tornaramse menos duradouras, contudo, as relações entre pai e filhos passaram a gozar de uma maior possibilidade de

a mulher conquistou liberdade em diversos aspectos socioeconômicos, e dentro de casa alcançou maior autoridade quanto ao destino de seus filhos

diálogo, expressões mais visíveis de afeto e criação de laços muito mais profundos. Lamentavelmente, dessa possibilidade a realidade cotidiana há um longo caminho muitas vezes não percorrido por pais. A vivência familiar monoparental, cada vez mais comum às mães, evidencia a crescente ausência da figura paterna na criação de filhos. Não é de se estranhar que cada vez mais mulheres façam seus projetos de vida familiar completamente desvinculados da

figura masculina. Ocorre que, há muito, a psicologia vem estudando e expondo os terríveis danos causados pela ausência da figura paterna na formação dos filhos e se, até bem pouco tempo, defendia que qualquer um poderia exercer a função paterna, seja um tio, um avô, ou até mesmo um amigo mais íntimo, em recentes estudos começa a evidenciar que ninguém pode, de fato, substituir alguém quando o assunto é família. Ferrari (1999 citado por Eizirick e Bergmann, 2004) comenta que momentos críticos da vida do filho (casamento ou nascimento de um filho, por exemplo) tornam mais forte o desejo de conhecer o genitor ausente, como “uma necessidade de fechar sua história”. Diz que “por mais que as crianças não digam nada, o vazio está presente e trabalha”. Este vazio, segundo Ferrari, é formado pela noção das crianças de não serem amadas pelo genitor que está ausente, com uma grande desvalorização de si mesmas em consequência disso. A ausência é particularmente mais traumática quando já se experimentou, em algum nível, a vivência com o pai, pois além dessa

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 10

30/07/12 14:52


Foto: stock.xchng . asifthebes

(~) Os homens andam por baixo. Dúvidas? Nas duas principais novelas em exibição, Cheias de charme e Avenida Brasil (as duas na TV Globo), não há personagens masculinos fortes. Sandro (Marcos Palmeira) é um malandro; Tufão (Murilo Benício), um bobão; Max (Marcello Novaes), um idiota inescrupuloso; Leleco (Marcos Caruso), um chato. Agora, as mulheres... Admitamos: quando inventarem o sêmen sintético, os homens serão caçados nas ruas como gazelas. O que é desnecessário, a natureza descarta. Por enquanto, somos necessários para a reprodução, mas daqui a uns 50 anos, sei não. Eu mesmo sempre achei mulheres mais interessantes do que homens. Nunca as entendi, no entanto, adoro tê-las por perto. Homens, de modo geral, são monotemáticos, mulheres estão sempre surpreendendo. Vemos no cinema, na tevê e na vida real que mulheres não precisam mais de homens para alcançar prazer sexual. Brigitte Nielsen trocou Sylvester Stallone por outra mulher. Na época, um escândalo. Anne Heche separou-se de Steve Martin e foi viver com Ellen DeGeneres (mais tarde DeGeneres a deixou e ela quase morreu de desespero). Ninguém deu muita pelota pro assunto. Na préhistória, a mocinha não se orgulhava de perder a virgindade com qualquer zé-mané; hoje, ela fica profundamente constrangida de ser virgem aos 18 anos sem ter cedido a um zé-arruela qualquer. Saudade não tem idade? Tem sim. Em minha adolescência (meados do século passado), lembro-me da dificuldade, em festinhas, de encontrar um par para pespegar um furtivo ósculo. Manhã fria de julho, garota bonitinha à minha frente, na fila da padaria, confidencia (força

capa . capa

Menininhas

Foto: Divulgação - Série Crepúsculo

autodesvalorização, ocorrem os sentimentos de culpa “por ser uma criança má, por haver provocado a separação”. A criança pensa ser má por ter sido deixada. O autor coloca que isso “pode gerar reações variadas, desde tristeza e melancolia até agressividade e violência”. Helena, 29 anos, entrevistada por nossa redação, afirma que “não existe tampa para fechar o buraco dessa ausência”, por mais que ela tenha encontrado em seu padrasto o apoio emocional que se espera de um verdadeiro pai e tenha conseguido – com ajuda – superar as dificuldades com autodesvalorização, insegurança e incapacidade de decisão advindos do abandono do pai em virtude do divórcio. Helena afirma que por seu receio de sentir-se sempre abandonada lançava-se de maneira demasiadamente dependente e até serviente nas relações pessoais, principalmente no tocante aos namorados. Ela tem uma filha de 7 anos e, embora não viva mais com o pai da menina, alegra-se no fato de que ele não se separou da filha. “Ele está sempre presente em tudo. Nos dias festivos da escola, durante as apresentações, eu cantava para o público e ao final corria para a minha

de expressão, todos na fila do pão ouvimos) à coleguinha: “Ficou com quantos, ontem, no aniversário da Zu?” A outra fofinha: “A festa ‘tava meio caída. Só peguei quatro”. Vivi na época errada. Meninas relatando experiências sexuais com outras meninas, muitas, ainda, afirmando que é só brincadeirinha, está se tornando comum. Neste momento, deveria fazer a ressalva de que não sou preconceituoso. Mentiria. Sou preconceituoso e de um outro tempo. Vago, qual zumbi, por esta terra estranha. Pobres de nós, homens que gostamos de mulheres. Nosso fim chegou? Falta pouco, mas ainda não. Homens e mulheres foram criados para a completude. Deus assim nos fez. Afirmei que tenho meus preconceitos. Todos nós temos. Luto com as amarras que me são impostas pela idade e procuro estar atento aos movimentos da vida, entretanto, percebo com alguma clareza a desvalorização do papel do homem. Resistamos, não nos sintamos diminuídos e antes que comecemos a ser caçados como inúteis, mostremos que também podemos ser sensíveis, delicados, ternos, carinhosos, mimosos. Quase uma menininha. UCSF

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 11

11

30/07/12 14:52


capa

capa .

Um erro histórico e convenientemente mantido A psicologia, por muito tempo, manteve a figura paterna à sombra da materna relegando a sua importância somente depois dos 4 anos, quando a criança precisa da figura do pai para resolver o Complexo de Édipo. Com esta percepção, o homem acomodou-se ao lugar que lhe sobrou, favorecendo o estereótipo de pai como ser absolutamente incapaz diante dos filhos, desajeitado para fazer as coisas mais simples como, por exemplo, trocar uma fralda ou preparar mamadeira. O jeito era esperar que o filho crescesse um pouco, para só então iniciar um relacionamento mais profundo. Atualmente, segundo alguns psicanalistas lacanianos, a interação pai-filho é mais precoce e desde que a criança nasce encontra uma relação estabelecida, na qual vai figurar como o terceiro elemento. E o triângulo está configurado, mesmo que o pai não exista fisicamente. Isto porque, por várias razões, a mãe tem, internalizada em si, a imagem do homem. “O papel do pai é insubstituível. Sabemos que os filhos homens olham o mundo com os olhos do pai durante um período da vida. A falta do pai no período de identificação pode causar o homossexualismo. A ausência da imagem paterna pode também significar uma ausência afetiva”, afirma a psicóloga Margarete Bueno Moscovo. De fato, André (nome alterado), 32 anos, também entrevistado por Elos, reconhece que possivelmente sua opção pela vivência bissexual advenha do fato de seu pai nunca o ter procurado e da falta que ele lhe faz. André foi criado por sua mãe e uma companheira, que embora tenha sido firme com André todas as vezes quanto foi necessário e lhe ensinado os limites e relação com autoridade,

não foi capaz de lhe dar amor de pai. André afirma que sente-se “como se tivesse mãe em dobro. Mas pai mesmo nunca tive”. “Fui uma criança feliz, claro, tinha tudo. Minha mãe nunca deixou faltar nada, mas por mais que

o triângulo pai, mãe, filho está configurado, mesmo que o pai não exista fisicamente. Isto porque, por várias razões, a mãe tem, internalizada em si, a imagem do homem

ela tentasse, e tenta até hoje, não consigo me desvencilhar desse cara que nem conheci. Eu me sinto quase sempre buscando achá-lo em algum lugar”. Explica.

Já para as filhas, a ausência do pai traz como consequência o amor a homens ausentes ou distantes, cujo afeto buscam conservar a qualquer custo, até mesmo com a anulação de si. Preocupação do Vaticano Em maio deste ano, o papa Bento XVI manifestou sua preocupação pela ausência “cada vez maior” da figura paterna na sociedade atual e afirmou que a falta de um pai na vida de um filho “é um grande problema do nosso tempo”. “Talvez o homem de hoje não perceba a beleza, a grandeza e o consolo profundo contido na palavra ‘pai’, com a qual nos podemos dirigir a Deus em nossas rezas, e isso se deve ao fato de a figura paterna não estar suficientemente presente na vida diária e também não ser suficientemente positiva”, afirmou o papa. O Papa acrescentou que poder chamar Deus de pai “é um dom inestimável,

Foto: stock.xchng . melbia

Margarete Moscovo diz que a ausência do pai nos filhos homens traz um sentimento de medo em relação às mulheres. O menino sempre se relaciona com uma mulher, a mãe, a professora, que tem no dia-a-dia poderes sobre ele. É ela quem irá julgar se ele é um bom menino, poderá viver gritando e até bater nele e indicará a todo o instante o que é certo ou errado. Ao procurar um jeito de tornála feliz, aprende a ver as mulheres como seres grandes, poderosos e temíveis. Por isso, mais tarde, se sentirá tão inseguro que passará a querer dominá-las ou evitará compromisso para não se sentir ameaçado.

já que não só reconhecemos nele o Criador, mas também a quem nos conhece pelo nome, cuida sempre de nós e nos ama imensamente, como ninguém no mundo é capaz de amar”. Pode ser muito normal, em dias de pós-modernidade e proeminente individualismo, que muitas pessoas considerem a figura do pai como uma carta fora do baralho, no entanto, é bom lembrar que é impossível jogar a maioria dos jogos quando falta carta. Muitas vezes o jogo do vida não evolui para uma pessoa porque ela se ressente da falta do amor paterno! Pense nisso! MBS

Fontes: Laine Froza, doutora em Psicologia da Educação e Sexualidade Humana; Margarete Bueno Moscovo, psicóloga; Terra.com.br

12

professora. Minha filha não vive isso. Ela canta para o pai dela e corre para ele ao final. Ainda que ela tenha no meu pai (referindo-se ao padrasto) uma figura paterna sem-igual, ela é completamente louca pelo pai”. Afirma.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 12

30/07/12 14:52


moda

urbana

Os sneakers chegaram com tudo, embalando este outono/inverno. Ultimamente, o tão desejado tênis tem feito os pés não só das fashionistas, como também de todas as meninas descoladas. E não é pra menos! Os sneakers são superconfortáveis – e, agora, ainda mais femininos, com salto –, e uma ótima pedida para compor looks descolados, modernos e de arrasar, principalmente no inverno, além de ajudar a valorizar sua silhueta, acrescentando comprimento às suas pernas e estreitando o volume do seu corpo. A principal vantagem desse tipo de calçado é o salto alto embutido. Na prática, tornou-se uma forma de usar o salto, mesmo em ocasiões casuais, onde a sandália baixa – também conhecida como “rasteira” –, sapatilhas ou tênis não teriam esse recurso. Esses tênis de salto alto emprestam um tom de elegância aos looks femininos mais descontraídos.

O modelo original, que virou febre em todo o mundo, foi lançado pela francesa Isabel Marant e logo virou a nova mania mundial de mamães famosas, que adotaram o estiloso tênis para passear com seus filhos com conforto, mas sem abrir mão do poder do salto. O sapato vem se tornando um objeto de desejo entre as brasileiras pelo fato de ser versátil. Designers internacionais como Marc Jacobs – que é também o diretor artístico da Louis Vuitton – já estão investindo nos sneakers. Algumas outras marcas esportivas, como a Nike, também estão lançando o tênis da nova geração, com estampas animal print, florais e com cores vibrantes. O Brasil também já subscreveu a tendência. As listas de espera de lojas como Arezzo, Schutz e multimarcas estão recheadas de opções, isso porque a mulherada está louca para garantir os seus sneakers.

Curiosa para saber como usar o sneaker? Calças skinnys, jeans e de couro compõem um look sempre moderninho e à noite ganham status quando usados com peças com leve brilho. Saias longas e estilosas compõem bem o efeito descolado também. Algumas fashionistas se arriscam em combinar o tênis com saias curtas e shorts. Eu, particularmente, sou contra o look, pois tende a criar um visual vulgar caso você não tenha uma estrutura alongada. E, por último, calças de boca larga, ou que enrolem em cima do tênis, estão terminantemente proibidas. Com tantas ótimas marcas disponibilizando novas coleções, fica fácil andar de acordo com as novas tendências da moda. O modelo tem tudo para alcançar o patamar de “must have” da estação. Há quem ame e há quem odeie, mas sucesso ele é com certeza. Grave esse nome: sneakers.

. tendências

Conforto e estilo

Um para cada gosto, para cada pessoa e para cada estilo.

tendências

com Carolina Carneiro

Fotos: divulgação

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 13

13

30/07/12 14:52


fabio lécio dornas

lécio dornas .

Pendências

Foto: ultradownloads.com

Lécio Dornas Pastor

Quando comecei dar meus primeiros passos nas lides gerenciais, há quase 25 anos, recebi de um administrador experiente um conselho prático. Sugeriu-me que mantivesse sobre minha mesa três bandejas de documentos: uma para a minha secretária colocar tudo o que chegasse para eu analisar e decidir; a segunda era para eu colocar tudo o que fosse para ela dar encaminhamento, após minha análise e/ou decisão; a terceira seria para eu colocar coisas que eu não quisesse ou não pudesse resolver na hora, ficaria com os assuntos pendentes. Ao seguir o conselho verifiquei a eficácia das duas primeiras bandejas. De fato elas funcionavam

14

e imprimiam ritmo e andamento, pois ajudava a que todos os assuntos seguissem seu fluxo. O problema foi a bandeja das pendências... Cada dia eu colocava um documento ali e nunca tinha tempo de me dedicar a ela. Com o tempo, tudo o que eu sentia que ia me dar um pouco mais de trabalho, já colocava na bandeja das pendências Um dia precisei parar tudo e resolver todas as pendências. Foi duro... Quando terminei, decidi aposentar a bandeja das pendências. Existe uma bandeja de pendências na sua vida? Uma conversa séria que você precisa ter com alguém, uma decisão que você precisa tomar, um

vício a ser abandonado, um pedido de perdão a ser feito, uma situação a ser esclarecida ou resolvida, um empréstimo a ser pago, um favor a ser retribuído, a Bíblia que você não leu, a pessoa para quem você ainda não anunciou o Evangelho, enfim... Pendências. Comece hoje a resolver problemas ou situações pendentes em sua vida. Pare e comece logo a tratar de cada uma delas. Não permita que se acumulem novamente. Pendências acumuladas tendem a paralisar setores importantes da vida. Podem comprometer áreas relevantes, prejudicar relacionamentos ou agravar crises. Melhor mesmo é eliminá-las logo!

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 14

30/07/12 14:52


Cinema em casa

A invenção de Hugo Cabret (The invention of Hugo Cabret) Dirigido por Martin Scorcese Elenco: Asa Butterfield, Chloe Moretz, Jude Law, Helen McCrory, Ben Kingsley, Emily Mortimer, Christopher Lee, Sacha Baron Cohen, Ray Winstone.

posição de escrever uma mensagem o intriga. Ele crê que a mensagem virá de seu falecido pai. Sua missão: fazer o autômato funcionar. No processo, graças à sua persistência, transformará vidas. Filme comovente, edificante, mas, em momento algum, piegas. É declaração de amor ao cinema assinada pelo genial Scorcese.

Histórias Cruzadas (The help) Dirigido por Tate Taylor Elenco: Emma Stone, Bryce Dallas Howard, Allison Janney, Viola Davis, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Chris Lowell Em Jackson, Mississipi, década de 1960, em tempo de luta dos negros pela igualdade. Skeeter (Emma Stone)

Foto: divulgação

Em cartaz nos cinemas

Batman ressurge Batman, o Cavaleiro das Trevas ressurge encerra a trilogia dirigida com brilho por Christopher Nolan (os anteriores foram: Batman Begins e Batman – O Cavaleiro das Trevas). A tragédia de Aurora, Colorado (12 pessoas mortas e 58 feridas por um lunático na sessão de estreia do filme), não chegou a atrapalhar a bilheteria

. entretenimento

Hugo é um garoto de 12 anos que vive em uma estação de trem em Paris no começo do século 20. Seu pai, um relojoeiro que trabalhava em um museu, morre momentos depois de mostrar a Hugo a sua última descoberta: um autômato, sentado numa escrivaninha, com uma caneta na mão, aguardando para escrever uma importante mensagem. O problema é que o menino não consegue ligar o robô, nem resolver o mistério. O filme é sobre cinema e fantasia. Aliás, cinema é fantasia, sonho, delírio. O menino Hugo acredita que todos têm seu lugar no mundo, exatamente como as engrenagens que fazem um relógio funcionar. O autômato com a caneta na mão, em

conclui a faculdade e pretende ser uma escritora relevante. Sensibilizada até mesmo por uma experiência pessoal, sacode a cidade ao resolver ouvir as empregadas domésticas negras. Histórias cruzadas se passa na década de 60. O cenário é Jackson, no Mississipi: uma cidade racista em um estado intolerante. Os brancos tinham seus filhos cuidados pelas negras. Elas alimentavam os bebês, os banhavam, cuidavam de todas as suas necessidades, mas não podiam usar o banheiro das casas em que passavam a maior parte da vida porque “negro tinha doença de branco”. Não cuidavam de seus filhos para cuidar de filhos de outras. Estas crianças, ao crescerem, as tratariam como seres de segunda classe. O silêncio das empregadas é rompido quando uma jovem jornalista, também da elite branca, resolve dar voz a elas. Um grande filme que rendeu o Globo de Ouro e o Oscar 2012 de melhor atriz coadjuvante para Octavia Spencer.

entretenimento

pixar films

do filme, mas causou comoção. Os Vingadores apuraram US$ 1,4 bilhão e é a arrecadação de filme a ser batida. A maioria da crítica tem elogiado bastante o filme e mais uma vez o vilão Bane, vivido por Tom Hardy, rouba a cena. Nos quadrinhos, Bane quebrou a espinha de Batman em A queda do morcego, uma saga de enredo razoável mas que vendeu muito. Batman é novamente vivido por Christian Bale. Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 15

15

30/07/12 14:52


Filho de

corrupto,

corrupto será

george heinrichs

george heinrichs . 16

George Heinrichs

Pastor . george@igrejadorecreio.org.br Foto: Agência Brasil

É inevitável falar sobre corrupção no nosso contexto social, infelizmente. Escuto muitas pessoas falando: “o dinheiro corrompe, o poder corrompe, eles chegaram lá e se corromperam”, preciso dizer que discordo plenamente, embora a lida com o dinheiro e poder tenham suas tentações, isto não é regra geral e sim a exceção. Talvez você se pergunte então por que temos tantos corruptos se esta não é a regra do “jogo”?, sobre isto quero refletir com você. A palavra corrupção derivada do latim corrupto significa: degradação dos valores morais, adulteração das características originais. Ler o significado desta palavra nos ajuda a entender que um corrupto não se faz do dia para a noite, degradação é um processo, i.e, leva tempo. A corrupção tem seu lugar em todas as culturas do mundo e tem uma origem, iremos abordar isto mais a frente. Conta-se uma história que nos idos de 1810, nas ruas do Rio de Janeiro, cantava-se um verso: “Quem rouba pouco é ladrão, quem rouba muito é barão. E quem mais rouba e esconde passa de barão a visconde”, mostrando que a corrupção já era muito comum e na sátira versal a maneira toda brasileira, que de modo cômico apresentava sua repugnância e indignação, nos mostra que a corrupção é algo que vem de muito tempo. Talvez você se surpreenda mas “o bom corrupto se faz em casa.“

Quando de camarote assistimos os escândalos de “mensalões, sanguessugas, cachoeiras”, indignados atribuímos aos protagonistas nossa ira, nossa “autêntica” justiça. Mas precisamos lembrar que os políticos que aí estão são espelho da sociedade, aliás escolhidos por idealizar

quem rouba pouco é ladrão, quem rouba muito é barão. E quem mais rouba e esconde passa de barão a visconde

projetos que muitos se identificam, vamos analisar a fundo a questão da corrupção. Outro dia fui a um posto de atendimento dos serviços obrigatórios do dia a dia, e aguardando as filas, sistemas caídos e sabe-se lá o que, fui até a lanchonete comprar algo a beber, do cardápio de opções escolhi um produto que conhecia e que rotineiramente comprava por R$ 0,50, ao deparar-me com a conta paguei pelo mesmo produto R$ 3,00, embora a distribuidora do produto estivesse a menos de 2 kilometros daquele lugar, o produto era oferecido 500% mais caro, te pergunto caro leitor:

isto não é corrupção? Isto não é ganho desonesto? Talvez alguém diga que não, pois eu posso vender o meu produto pelo preço que quiser, burro é quem compra, ou é obrigado a comprar! Não bastasse os produtos vendidos, os juros absurdos, será que quando eu ou você furamos uma fila, seja ela de carros ou de pessoas, não estamos aderindo a corrupção, tirar o que é de direito do outro não é tão grave quanto a corrupção dos “cachoeiras”, só mudou a cifra. Quando a mãe ou o pai pede a seu filho que em mentira diga a seus credores que não está ou não pode atendê-los, não estará este pai corrompendo seu filho? Não estará esta mãe ensinando sua filha a faltar com a verdade sempre que achar necessário fugir das suas responsabilidades? “furar” a fila, dar um jeitinho para ser atendido na frente do outro, usar o conhecimento de amizade para burlar os procedimentos, tudo isto é corrupção e infelizmente aprende-se em muitas casas da nossa sociedade. Quando olhamos a sociedade nós lamentamos a degradação, mas continuamos a chorar pelo leite derramado e indignados facilmente poderemos nos corromper também na justificativa do que “todos fazem”, mas até quando plantaremos em nossas casas a semente da corrupção que apodrece a sociedade? Até quando culparemos o outro? Dizem que o 33º presidente dos Estados

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 16

30/07/12 14:52


Demóstenes Torres (GO), cassado pelo Senado Federal no dia 11 de Julho, acusado de envolvimento com Cachoeira

apregoados por uma minoria são entendidos como “ponto de vista”, precisamos urgentemente iniciar um novo plantio em nossas vidas e casas, plantar a semente do bem (é bom ser do bem), plantar as sementes da palavra de Deus. Um grande advogado do passado disse: “se você semear coisas nesta vida apenas para lhe dar prazer você colherá corrupção, mas o que semeia no Espírito Santo, colherá a vida eterna”, pense nisto, mude sua história, mude a sociedade, sua atitude é mais valiosa que seu voto, seu exemplo mais poderoso que palavras. Que Deus nos ajude.

Foto: Agência Brasil

george heinrichs

Brasília, 7/9/11 - Cerca de 25 mil pessoas participam da Marcha Contra a Corrupção, pedindo o fim do voto secreto na Câmara e no Senado e punição de corruptos.

serão estabelecidos finalmente gerando as suas práticas do dia a dia. Então a “mexida” tem que ser na base, na família. As famílias da nossa sociedade precisam entender que a corrupção tem origem no pecado. Pecado é corrupção, pecado é transgressão de uma lei, pecado é adulteração dos valores originais. Quando o primeiro homem e a primeira mulher vieram à existência por vontade de Deus, foram criados em perfeição e para tal. A serpente, que influenciada pelo corrupto diabo, tentou e por fim conseguiu dizer ao homem que mudar apenas a perspectiva sobre a proibição de Deus, não alteraria muita coisa, enganados, comeram e seu pecado, sua corrupção os levou à morte. A corrupção da humanidade surgiu do fato que o homem não quis mais obedecer ao seu criador, e isto gerou informações sem conhecimento, opiniões sem princípios e instintos sem fé, o mundo interior do ser humano foi extremamente abalado, foi posto de “pernas pro ar”. Quase temos a tendência a achar que isto não pode ou não será mudado, quero incentivá-lo a pensar o contrário, isto pode ser mudado! Neste momento de tão grande confusão social, onde se relativiza quase tudo, onde os valores morais

Foto: Ailton Medeiros

Unidos da América, Harry S. Truman mandou colocar uma placa no seu gabinete presidencial com a seguinte frase “the BUCK STOPS here”, a transferência de culpa termina aqui. Por mais dura que seja a verdade, ela tem de ser dita, era o que Truman queria dizer. Não adianta achar o culpado, mas corrigir os rumos presentes para salvar o nosso futuro. A corrupção é falta de caráter, as escolas e faculdades na pessoa de um o outro professor(a), poderia influenciar um aluno a um bom caráter, mas caráter se aprende em casa. Há relatos remontados dos tempos colônias do Brasil que lembrar um dos primeiros casos de corrupção que se sabe, que levou à prisão um funcionário público que desviou dinheiro dos cofres públicos na Bahia, ele teria sido preso, mas seu advogado rapidamente conseguiu tirá-los das grades. Parece hoje? Quero dizer a você meu amigo leitor que é a base educacional do indivíduo que dita a ele seus princípio, dos quais seus valores

. george heinrichs Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 17

17

30/07/12 14:52


A solução de Jesus: “Dai-lhes vós” Sylvio Macri

Pastor . sylmacri@gmail.com

sylvio macri

sylvio macri . 18

A primeira multiplicação dos pães e peixes feita por Jesus é uma das poucas histórias registradas por todos os quatro evangelhos. Por isso é bom que a leiamos nas suas quatro versões, para ter um entendimento melhor do ensino do Mestre nessa questão. No evangelho de João há um detalhe que os outros evangelistas não citaram. Ele relata que Jesus “experimenta” Filipe: “Onde compraremos pão para estes comerem? Mas dizia isto para o experimentar, pois ele bem sabia o que ia fazer” (João 6:5 e 6). Isto bate com a impressão que temos ao ler a história nos outros evangelhos: de que, quando Jesus disse “Dai-lhes vós de comer”, sabia que essa era uma tarefa além das possibilidades dos discípulos, mas mesmo assim os desafiou porque isto fazia parte do treinamento de que necessitavam. Frequentemente fazemos o mesmo com nossos filhos, principalmente os pequenos, quando colocamos diante deles desafios maiores que suas possibilidades, por saber que na hora necessária estaremos por perto para ajudar. Jesus queria “testar” Filipe e seus colegas. O que ele visava com essa experiência? Antes de mais nada, Jesus queria verificar sua capacidade de aceitar desafios, de enfrentar situações difíceis. E parece que ela não era muito grande, pois a solução que propuseram era a mais fácil, a mais óbvia: mandar as pessoas embora para casa. “Cada um

que se vire”, pensavam eles. Outro teste que Jesus queria fazer era o da fé e amor que agem, que tomam a iniciativa. João aprendeu a lição, pois mais tarde ensinou: “Quem tiver bens do mundo e, vendo seu irmão necessitado, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus?” (1João 3.17). Mesmo que os “bens” que você possa repartir sejam apenas cinco pães e dois peixinhos, isto é prova da fé e amor que agem. Por último, Jesus quis mostrar-lhes que precisavam viver em permanente dependência dele (“Sem mim nada podeis fazer” – João 15.5b). Em outras palavras, disse: “Disponham-se a trabalhar, coloquem o pouco que têm em minhas mãos e deixem o resto comigo. Mas não se esqueçam de que na hora da multiplicação vou precisar de vocês novamente, para repartir a abundância que virá”. Mas, acima de tudo, creio que este episódio do ministério de Jesus foi registrado para mostrar a face terrena dos seguidores de Cristo quando percebem as múltiplas situações de necessidade acontecendo ao seu redor, e então, não somente se indignam com o que veem, não somente se limitam a fazer discursos vazios, mas põem mãos à obra e participam ativamente da transformação de tais situações, seja individualmente ou coletivamente. Hoje muito se fala de “ação social”, mas muitos a confundem com

beneficência, assistência ou serviço social. Abrange tudo isto, mas é mais que isto; a própria expressão nos comunica seu sentido bastante amplo: trata-se de ação, isto é, de prática efetiva e não mero discurso ou presença remota, e trata-se daquilo que é social, isto é, de agir em relação à sociedade e dentro dela. O compromisso que temos com Jesus Cristo de agir como “sal da terra e luz do mundo” não é apenas espiritual, não é algo meramente virtual. Pelo contrário, é bem “pé no chão”. Por um lado, é exercer nossa influência sobre a sociedade, isto é, combater suas injustiças, condenar seus vícios, lutar contra suas desigualdades e buscar o estado de direito democrático, em que todos possam ter acesso à satisfação de suas necessidades básicas. Para tanto, a igreja deve ter um posicionamento público e manifesto. Por outro lado, é praticar atos efetivos que corroborem nosso discurso, como apoiar espiritual, moral e materialmente os desvalidos; ministrar conhecimento e outros meios que levem os necessitados a prover seu próprio sustento e afirmar-se como seres humanos; oferecer recursos diversos que não estejam sendo providos pelo poder público; e outras coisas que comporiam uma lista considerável. A solução de Jesus é esta: “Dai-lhes vós”. Experimente-a e verá o que Jesus Cristo pode fazer através de sua ação.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 18

30/07/12 14:52


paulo moura

Foto: stock.xchng

Estamos

. paulo moura

grávidos, e agora? Paulo Moura

Pastor e Psicólogo . paulo@igrejadorecreio.org.br

A gravidez é uma das experiências mais significativas que uma mulher pode ter. Para algumas, o privilégio de gerar uma criança é cercado de alegria e expectativa, para outras é uma época de medo e apreensão. Mas pelo título deste artigo você já percebeu que considero a gravidez um momento do casal e não somente da mulher. Eu e minha esposa já engravidamos duas vezes e confesso que foram as experiências mais profundas e marcantes que vivemos. A confirmação de uma gravidez pode desencadear efeitos positivos ou negativos na vida da mulher ou do homem. Tudo vai depender da motivação. Independentemente da causa da gravidez, se foi planejada ou não, ter um bebê e poder criá-lo é um privilégio e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade que Deus concede ao casal. Hoje em dia há muita literatura sobre este tema, porém, a maioria delas

concentra-se na relação mãe-filho como, por exemplo: sobre o que comer ou o que vestir durante a gestação, como manter-se fisicamente e emocionalmente saudável, os cuidados e preocupações que antecedem o parto, os estágios do desenvolvimento do bebê, etc. Claro que todas estas informações são úteis e valiosas, porém, raramente o foco é destinado ao relacionamento conjugal e como marido e esposa, juntos, podem dar à futura criança um lar e não apenas uma casa para morar. Deus criou o casamento como base da família e quando a fundação é segura, o casal terá um ambiente próprio e saudável para o bebê nascer e se desenvolver. O melhor presente que os pais podem dar a seu filho, antes mesmo de nascer, é uma família onde exalam o amor, a paz e uma espiritualidade bíblica tão essencial nos dias de hoje. Bruce H. Wilkinson em Sua caminhada diária através da

Bíblia, escreve o seguinte: “A coisa mais importante que um homem pode fazer por seus filhos é amar a mãe deles”. Posso dizer também que a coisa mais importante que uma mulher pode fazer por seus filhos é amar o pai deles. Um casal que se ama e se respeita terá as ferramentas básicas para vivenciar o período da gestação de forma equilibrada e feliz. A gravidez pode colocar muita tensão em um relacionamento conjugal. As mudanças físicas e hormonais que a mulher enfrenta são enormes. Conheço casais que experimentam crises durante a gravidez e, na maioria das vezes, a criança que ainda está por nascer, é a que mais sofre. Antes mesmo de iniciar o pré-natal, de saber o sexo, de escolher o nome ou de comprar as primeiras roupinhas para o bebê, o casal precisa entender que o momento que vão viver será único e especial em suas vidas. Portanto, aqui vão algumas dicas para Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 19

19

30/07/12 14:52


paulo moura

paulo moura .

manter uma relação conjugal estável e segura em meio às mudanças proporcionadas pela gravidez: 1. Arranjem tempo um para o outro: Para a mulher é fácil distrair-se com as demandas da gravidez e colocar o marido em segundo plano. Para o marido é tentador e perigoso perder o interesse pela esposa. Exerçam a amizade e a parceria. Lembrem-se de que o bebê que está para nascer é obra de Deus na vida do casal. Para uma criança nascer é necessária a participação de um homem e uma mulher. Não existe “produção independente”. 2. Descansem o suficiente: Tudo muda para pior quando a fadiga chega, principalmente para a mulher. Carregar um bebê na barriga pode não parecer, mas pesa e cansa. No final da gestação, o casal precisa reduzir o ritmo e ambos precisam estar atentos a isso. Não sejam tentados a manter os mesmos horários e atividades que vocês tinham antes de engravidar. 3. Comuniquem-se: Não basta falar apenas sobre o bebê. Expressar como vocês estão se sentindo é essencial. Deem feed-back um para o outro, conversem sobre vocês dois.

Comuniquem-se de forma clara e paciente. 4. O sexo é liberado: Sexo é demonstração de amor e uma bênção de Deus para o casal. A intimidade física é parte necessária da relação matrimonial, principalmente durante a gravidez, a não ser por restrição

a gravidez pode colocar muita tensão em um relacionamento conjugal. As mudanças físicas e hormonais que a mulher enfrenta são enormes

médica. Caso precisem abster-se sexualmente, expressem o amor um para o outro de outras maneiras. 5. Sejam amorosos: Sejam amorosos, atenciosos e compreensivos um com o outro durante a gravidez. Assim o bebê se sentirá seguro e confiante, mesmo antes de nascer. Bons pais são inicialmente bons cônjuges. 6. Orem juntos: A gravidez pode ser um momento de temor e preocupação

para muitos casais. Gravidez não é doença, mas pode se transformar, para algumas mulheres, em um período de limitações e enfermidades. Criar um bebê, principalmente para casais mais novos, é um grande desafio, sem falar nas pressões financeiras. Lembrem-se de que vocês podem e devem levar tudo a Deus em oração e Ele promete que irá ajudá-los. 7. Vocês já são a imagem de Deus para seu filho: A primeira imagem que os filhos têm de Deus é a vida de seus pais. Mesmo ainda em formação, demonstrem carinho e afeto por ele. Conversem e orem por ele e com ele. Pode parecer uma atitude estranha, mas faz muita diferença. Após o nascimento, não deixem de consagrálo ao Senhor. A gravidez é um momento importante de amadurecimento e fortalecimento da relação conjugal. Quando o homem e a mulher, grávidos, entendem que precisam agir da maneira correta, tudo irá muito bem. E quando o grande dia do nascimento chegar será a celebração da vida e da esperança. Para o casal eu desejo uma boa gravidez, um bom parto e que Deus abençoe o futuro bebê.

Foto: stock.xchng

20

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 20

30/07/12 14:52


Tamar Souza

Educadora religiosa . tamar@igrejadorecreio.org.br

está conseguindo lidar com tantas questões complicadas, busque ajuda de alguém experiente, que já tenha passado por situações como essas e conseguiu vencer. Não desista jamais de seu filho. Você pode! Segundo a Doutora em Educação Guiomar Mello prefaciando o livro Sem padecer no paraíso da educadora Tania Zagury, “menos experientes, os filhos tendem sempre a avançar, procurando onde se encontra a negação, o limite do adulto, de quem não sabem bem ainda o que esperar, mas sem dúvida supõem que estão ali, não para serem provedores, mas também orientadores sobre o que é certo e errado, sobre o que se pode e não se pode fazer” (pag.10). Pai precisa ser amigo, companheiro, conselheiro, professor... Em segundo lugar, cuidado para não confundir autoridade com autoritarismo. Autoridade relaciona-se com poder e você não deve temer isso. Você como pai, tem poder, sim, senhor, porque seu filho não tem, enquanto ainda é criança ou adolescente, a capacidade de gerenciar

sua vida sozinho. Ele precisa de orientação e de limites. Cabe a você a segurança dele. Para isso, você precisa de autoridade, de poder para tomar as decisões por ele até que tenha maturidade para fazer isso sozinho. Porém, essa autoridade não pode ser exercida sem critérios. Não queira que seu filho o obedeça através da força, da violência, do grito, do medo. Você não conquistará o respeito dele agindo dessa forma. Pai precisa ser amigo, companheiro, conselheiro, professor... Por último, seja uma pessoa íntegra. Na vida, seu filho terá que tomar muitas decisões. Haverá momentos em que ele precisará de sabedoria para dizer não às drogas, à corrupção, às más companhias. Você não quer ver seu filho infeliz, não é mesmo? Nenhum pai deseja isso. A melhor maneira de seu filho fazer as escolhas certas na vida dele é seguindo o seu bom exemplo. Você é o modelo, o referencial para ele. Lembre-se: pai precisa ser amigo, companheiro, conselheiro, professor... Seja o pai que seu filho quer ter.

. tamar souza

Os pais têm o privilégio e a responsabilidade de produzir uma diferença significativa na próxima geração pela maneira como amam e se relacionam com seus filhos. Se você ama seu filho de todo o coração, com certeza seu desejo é ser um bom pai. Não conheço sua realidade, se você é casado, solteiro, viúvo ou divorciado. O fato é que, seja qual for sua situação, Deus confiou a você uma vida preciosa que depende de seus cuidados. Em primeiro lugar, é de extrema importância que haja entre você e seu filho uma boa relação interpessoal. Sei que seu tempo é curto, que você trabalha muito para sobreviver e pagar as contas, mas seu filho precisa de uma boa conversa. De perguntas do tipo: “Como foi o seu dia?” ou “O que aconteceu na escola?” ou ainda, “Por que você está com essa cara?”. Isso demonstra que você se interessa por ele. Pai precisa ser amigo, companheiro, conselheiro e professor... Você pode estar agora pensando: “Ah, mas você não conhece meu filho! Ele é rebelde, criador de caso, não me escuta!” Calma, se você não

tamar souza

Seja o pai que todo filho quer ter

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 21

21

30/07/12 14:52


O rock merece respeito É vovô o estilo musical marginalizado durante muitos anos, que nasceu transgressor, morreu, renasceu, resistiu ao tempo e às gerações e continua ditando comportamentos.

música

música . 22

Quando era menino lá em Barbacena, o mundo era dividido em dois blocos: comunistas e capitalistas. Havia terceiro, quarto e quinto mundos, mas serão desconsiderados, aqui. Voltemos. Comunistas e capitalistas comiam criancinhas. Estes, assadas e temperadas; aqueles, cruas, já que eram broncos, grosseiros, cruéis. O mundo era mais simples (ou parecia). Comunistas eram ateus. Capitalistas dividiam-se por várias religiões, inclusive as que negavam a existência de Deus. Comunistas e capitalistas desejavam destruirse mutuamente. Nunca tentaram, efetivamente, levar a cabo a missão de destruição por medo do revide, que seria fatal. Dizia-se, à época, que o armamento nuclear disponível era capaz de pulverizar o planeta. Comunistas ateus e capitalistas religiosos tinham, no entanto, um inimigo comum: o rock. Comunistas vociferavam que o rock era instrumento de dominação guiado pelas forças burguesas. Os perversos capitalistas usariam o rock para difundir seus valores nefastos entre a cândida juventude vermelha. Era a trilha sonora da decadência moral, veneno mortal com intento de solapar a sociedade igualitária que seria, um dia, construída pelos sinistros. Não foi, sabemos.

Capitalistas religiosos, por sua vez, não davam tanto cartaz aos comunas. Enquanto estes saracoteavam ao som de marchas militares, jovens capitalistinhas rebolavam à batida do rock. Capitalistas apavoravam-se com a ameaça de dominação comunista, mas havia relativa liberdade de expressão nas democracias ocidentais. Religiosos

mesmo uma ligação íntima entre o Tinhoso e roqueiros. Não é difícil entender o porquê.

os perversos capitalistas usariam o rock para difundir seus valores nefastos entre a cândida juventude vermelha

atribuíam ao rock o poder de minar as resistências espirituais de seus pimpolhos. O rock evoluiu de diversos ritmos, misturou-se com outros e produziu artistas tão diferentes entre si que é impossível entender como se agrupam sob o mesmo rótulo. Raul Seixas, aqui no Brasil, cantou que o diabo era o pai do rock. Muitos creram nisso. Antes de Raulzito, líderes religiosos acreditaram que havia

Ali embaixo, naquele país de mulheres bonitas e homens bizarros, a ditadura militar desestimulava o rock nacional. Cantado em inglês, tudo bem, ninguém entendia mesmo (não estranhe, meu jovem, no século passado, o inglês, pasme!, não era falado por toda a população). Aí, veio a Guerra das Malvinas. Rock portenho só em castelhano. Se o rock chegou à Argentina e fez a juventude de lá esquecer o tango e a cumbia, chegaria a qualquer lugar (~). O rock surgiu nos Estados Unidos, no final da década de 40, começo da de 50, do século passado. Cruzamento de vários ritmos, era branco no rockabilly de Elvis Presley e negro no rhythm and

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 22

30/07/12 14:52


Heróis trágicos do rock que morreram por desconforto, inadequação e angústia diante da vida não são mais tão comuns. Kurt Cobain suicidou-se com um tiro na boca; Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Ian Curtis foram às últimas consequências bebendo e cheirando o que podiam e não podiam; Amy Winehouse afogou-se em uísque. Roqueiros não morrem por desespero. São como os novos comunistas: pragmáticos. Ídolos de rock e empresários gananciosos não são bons exemplos. Não têm vida compatível com a que é considerada correta pela Palavra de Deus. Quase ninguém tem, sejamos sinceros. A música de todos os gêneros é influenciada por vários elementos, inclusive satânicos. O Black Sabbath, de Ozzy Osbourne e Tony Iommi, tinha o nome associado a

música

blues de Chuck Berry (na minha linha do tempo Bill Halley não existe). Nasceu transgressor, domesticou-se, rebelou-se, conformou-se, morreu, renasceu. Isso, no entanto, é passado. O tempo de se quebrar discos em igrejas evangélicas se foi. A paranoia de se ouvir discos em rotação invertida para descobrir mensagens do capeta ficou em uma época que não nos traz orgulho. Qualquer cantor evangélico (ou gospel, de acordo com as preferências atuais), atualmente, entoa rock sem constrangimento nem medo de parecer carnal. O velho comunismo esvaneceu-se. Ruiu como prédio do centro do Rio. Os chineses, bastiões do comunismo, se adaptaram e logo chegarão a ser a primeira economia do mundo. Nem comunismo nem capitalismo: pragmatismo.

rituais de feitiçaria e o fato de Osbourne gostar de morder morcegos de plástico incrementou a mitologia do grupo; Jimmy Page, do Led Zeppelin, dizia-se bruxo; Sympathy for the devil, música dos Stones que saiu em Beggar’s banquet, perturbou bastante os cristãos. A verdade é que o público de rock gostava desta rebeldia inócua, típica da mente adolescente. Líderes de igrejas, em vez de agirem como adultos, comportaram-se como crianças. Surgiu, forte, o satanismo fashion. Oportunistas perceberam que dava para ganhar um dinheiro fazendo cara de mau e se dizendo seguidor do capiroto. Os mesmos oportunistas que, em nossos dias, perceberam ser muito lucrativo dizer-se cantor gospel. O cantor evangélico do passado, além de não ganhar dinheiro, tinha a vida vigiada de perto. Qualquer vacilo e lá ia a “carreira” ladeira abaixo. Os cantores gospel de hoje são profissionais, para o bem e o mal. Finalizando e, espero, amarrando tudo. Ritmos e melodias não pertencem a nenhuma entidade. São nossos e podemos usá-los em qualquer lugar. Eu, 58 anos, estranho louvor com funque (funk é outra coisa), passinho, coreografia... Limitação minha. A idade, sacumé. Letras não pertencem a nenhuma entidade. São nossas e podemos usá-las em qualquer lugar, desde que guiados pelo bom senso. Não vou entoar funque bandido, misógino, preconceituoso nem no interior de meu cérebro. O rock é um velho senhor com alguma vitalidade, mas sem o fogo do passado. Fez bem e mal para muita gente. Não foi ele o fator determinante de fracassos e sucessos. Também não pode ser responsabilizado pela queda do comunismo. Muito menos de desviar jovens crentes dos retos caminhos do Senhor. Responsáveis por nossos destinos somos nós mesmos. Sabemos o que devemos fazer. Se não o fazemos... UCSF

. música

Fotos de divulgação. Na página ao lado, no topo, Jim Morrison; abaixo, Jimi Hendrix; nesta página, no topo, Ian Curtis; abaixo, à direita, Janis Joplin e, à esquerda, Kurt Cobain

Kurt Cobain suicidou-se com um tiro na boca; Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Ian Curtis foram às últimas consequências bebendo e cheirando o que podiam e não podiam

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 23

23

30/07/12 14:52


McEwan, um romancista

empolgante

leitor amador

leitor amador .

Ian McEwan tem meia-dúzia de livros publicados no Brasil. O último é Serena. McEwan nasceu em 1948, é britânico e considerado um dos mais notáveis escritores da atualidade. O escritor esteve duas vezes na FLIP (2004 e 2012) e foi a partir da primeira vinda que seus livros começaram a ser mais notados e publicados por aqui. O primeiro livro de Ian McEwan que comprei foi Reparação. Não foi o primeiro que li. Alguns dias depois da compra, o cronista Arthur Dapieve elogiou, calorosamente, Sábado. Comprei-o, li-o e fiquei muito impressionado com a trama bem urdida pelo autor. A ação desenvolve-se em 24 horas, a impressão que se tem é que a narrativa se passa em anos. O neurocirurgião Henri Perowne tem uma insônia. É um homem devotado à ciência, bem-sucedido, com dois filhos artistas. Seu sábado seria normal. Visita à mãe com Alzheimer, encontro com amigos e a espera da filha que vem de Paris. O contexto é o 11 de setembro, a queda das Torres Gêmeas, um manifesto-monstro em Londres contra a iminente invasão do Iraque. Um acidente, no entanto, muda seu dia. Esta, a sinopse de um grande romance. O outro livro que li de McEwan, Solar, tem outra pegada. É sórdido, e humorístico. Deixo para o mestre Michiko Kakutani, em texto do The New York Times, a descrição do romance: “Em seu último romance, Solar (337 páginas, editora Companhia das Letras), o

protagonista de McEwan – um físico gordo, de meia idade e ganhador do Prêmio Nobel chamado Michael Beard - se junta à galeria de antiheróis detestáveis. Durante o livro, ele não irá apenas trair cinco esposas e inúmeras namoradas, e enviar um inocente à prisão, mas também irá roubar os planos de outro cientista para impedir o aquecimento global e tentar transformá-los em uma grande máquina de fazer dinheiro. Esse cientista delirante irá incorporar tudo que originalmente causou a crise da mudança climática: ganância, negligência e uma recusa teimosa em refletir sobre as consequências ou o futuro”. Outro esplêndido romance. Acrescentaria à descrição de Kakutani dois aspectos: Beard vive do nome. Ganhou um Nobel e até onde pôde faturou com as glórias do passado. Beard é inescrupuloso. A paixão que tinha pela vida e pelo estudo perdeu-se. Acomodado e sem inspiração escolheu a vereda dos “espertos”: a fraude. Reparação, o primeiro livro de McEwan que comprei, estou lendo somente agora. Vi o filme, Desejo e reparação (baseado no livro e dirigido por Joe Wright, com Keira Knightley, James McAvoy e Saoirse Ronan) e deixei o tempo passar para esquecer os detalhes que atrapalhariam a leitura do livro. “Na tarde mais quente do verão de 1935, na Inglaterra, a adolescente Briony Tallis vê uma cena que vai atormentar a sua imaginação: sua

Foto: Reprodução internet

irmã mais velha, sob o olhar de um amigo de infância, tira a roupa e mergulha, apenas de calcinha e sutiã, na fonte do quintal da casa de campo. A partir desse episódio e de uma sucessão de equívocos, a menina, que nutre a ambição de ser escritora, constrói uma história fantasiosa sobre uma cena que presencia. Comete um crime com efeitos devastadores na vida de toda a família e passa o resto de sua existência tentando desfazer o mal que causou”. O filme é magistral. Tenho certeza de que o livro também será. Utahy Caetano dos Santos Filho Editor de Elos

Este espaço é reservado para quem gosta de ler e é desenvolto em expor sua opinião. Críticos literários não usarão esta página. Você leu um bom livro e quer dizer isso para um público mais amplo? Escreva para nós. Se o seu texto for relevante, publicaremos com prazer.

24

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 24

30/07/12 14:52


Foto: divulgação campanha de prevenção ao câncer de mama, com Reynaldo Gianecchini

Tenho uma doença, mas não estou

doente David Baeta

“O espírito do homem o sustenta na doença, mas o espírito deprimido, quem o levantará?” (Provérbios 18.14)

doença. Dentro de alguns dias me submeterei à terceira grande cirurgia em três anos. Em média é uma por ano. Entretanto, tenho vivido um inexplicável otimismo. Uma paz muito grande. Humanamente é impossível explicar isto. É algo que vai além de uma terapia psicológica (muito embora não abra mão dela, pois minha terapeuta, drª Miria Ribeiro, tem me abençoado tremendamente); minha explicação para isso que sinto, para esta paz e otimismo, é que Deus está com as suas boas mãos sobre mim; Ele é o Meu Pastor e nada me faltará. Há momentos em que meus olhos ficam molhados por um choro que não sai. Em outros momentos penso em todo o desconforto e riscos que vêm aí. Há horas em que parece que vou esmorecer. Nesses momentos lembro de que não devo permitir que o meu espírito se deprima. Busco a Deus, oro, submeto-me à sua soberania e cuidados pastorais. Ele sempre tem uma forma de me fortalecer. Por isso digo: Tenho uma doença, mas não estou doente (abatido), pois o meu Pastor está comigo.

. david baeta

Confesso que não imaginava que o câncer fosse se manifestar tão rápido em meu organismo. Afinal, fazia 11 meses de operado; uma cirurgia pesada, demorada, arriscada e de grande porte. Estava na expectativa de ficar um bom tempo sem a doença (talvez para o resto da vida). Entretanto, de modo assintomático, surge um novo tumor no meu fígado e, como num filme rebobinado, todo o sofrimento cirúrgico, CTI, semi-intensivo, quimioterapia e tudo o mais não são uma realidade distante. O diagnóstico médico é que devo me submeter a nova cirurgia imediatamente, e que depois dela virá mais uma etapa na qual me submeterei a sessões de quimio, com todo o seu desconforto. Esses últimos três anos têm sido de uma pancada atrás da outra. Imagino o que se passa na cabeça da minha esposa, que tem suportado e sofrido todas estas coisas comigo. Por favor! Orem sempre por ela pedindo força e conforto da parte de

Deus, e não somente por ela, mas também por nossas filhas. Tenho um grande amigo chamado Marcello Queiróz. Há poucos dias liguei para ele e num determinado momento da conversa, quando falava com ele sobre o retorno da doença, ele me disse: David, você é um cara forte. Você está com uma doença, mas não está doente. Interessante foi que lembrei que o oncologista, que há três anos cuida de mim, disse a mesma coisa. A doença surge, mas não me faz adoecer. Até agora os procedimentos médicos têm sido satisfatórios dentro das possibilidades de uma doença insidiosa como o câncer. Digo a você, amado leitor deste artigo, que há algo mais do que os procedimentos médicos poderiam fazer. Creio na existência do Deus Todo-Poderoso. Creio nele de todo o coração. Creio em suas intervenções. Sei que ele cura a quem quiser, e dá forças a outros para suportarem situações humanamente implacáveis quanto esta que estou a viver. O texto bíblico que acima trancrevi é um suporte para mim. Realmente o espírito fortalecido por Deus sustenta a pessoa no seu tempo de angústia, no seu tempo de

david baeta

Pastor . baetadavid@gmail.com

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 25

25

30/07/12 14:53


Lições da vovó Isobel Dibellius

Musicista . isobellius@gmail.com

Foto: stock.xchng

isobel dibellius

isobel dibellius . 26

“Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e se aproximem os anos em que você dirá: ‘Não tenho satisfação neles’”. – Eclesiastes 12.1 Da infância até o começo de minha adolescência, nos sentávamos na varanda, eu, meu irmão Adam e dois primos para ouvir vovó contar histórias bíblicas. Adam, com uns 14, 15 anos, estava lendo o Eclesiastes e não entendendo nada. Antes de vovó contar a história da noite, Adam falou sobre a dificuldade que estava encontrando na leitura do livro. Vovó disse: “O Eclesiastes não é livro de fácil interpretação. A Bíblia é para ser examinada livremente por todos os crentes, mas é bom que se leia este livro tendo à disposição alguém dedicado ao estudo da Palavra, que possa esclarecer as passagens mais difíceis”. Aqueles foram tempos maravilhosos. Graças à vovó, que hoje está com o Senhor nos céus, eu, meus primos e irmão somos leitores e estudantes da Bíblia. Estou com 32 anos, vivo em uma cidade do interior do Estado do

Rio de Janeiro por opção e procuro educar meus filhos como fui educada por vovó. Adam vive com papai em Berna, na Suíça. É engenheiro, conduz um pequeno grupo de estudo bíblico e congrega em uma igreja luterana. Aprendemos, crianças ainda, com vovó, ao ouvi-la ler o texto de Eclesiastes 12.1. Ela dizia: “Acredito, firmemente, que o jovem não consegue compreender na totalidade o sentido deste versículo. Aparentemente clara, a mensagem do texto é compreendida apenas por quem já chegou à terceira idade. Ou melhor, percebe cristalinamente o que o autor quis dizer aquele que um dia gozou da plenitude das forças e, hoje, tem severas limitações. Conheci alguém que, adolescente e crente entusiasmada, mesmo morando a 12km da igreja, todos os domingos ia e voltava a pé à igreja. Distribuía folhetos evangelísticos pelas casas, pregava em ar livre, participava ativamente em trabalhos evangelísticos nos presídios, dava tempo às crianças e era assídua aluna da EBD. Hoje, ela fica cansada só de pensar no que fazia. Sua ação cristã

é outra, mas não exige tanto esforço físico. Alcançamos a terceira idade, nos dias de hoje, com mais vigor do que nunca. A morte chega cada vez mais tarde. Mas, que ninguém se iluda, as limitações vêm. É bom, então, que o jovem se lembre de Deus nos dias de maior vigor para usar essa força na propagação do Evangelho”. Vovó era sábia e tinha prazer em dividir essa sabedoria conosco. Lembro-me, claramente, que quando ela nos ministrou esta lição, meu primo Edinho falou: “É como os jogadores que gostam de dizer, ao passar dos 30 anos, estarem jogando em “alto nível”. E não estão, né, vovó?” Lembremo-nos de nosso Criador enquanto jogamos em alto nível, de verdade. Podemos, já idosos, ser muitíssimo úteis ao Evangelho, mas é gratificante quando fazemos isso no apogeu de nossa vida. Eu, meu irmão e meus primos honramos o nome do Senhor desde a nossa criancice, graças a vovó que sempre nos ensinou os retos caminhos do Senhor.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 26

07/08/12 20:37


e publica

@

. tamar souza . sua participação

sua participação

Fale que a gente escuta...

Em 40 anos evangélicos serão maioria no Brasil. O que isso significará para nossa nação? O Brasil tem a maior proporção de evangélicos entre os países da América do Sul: 22% da população. O Chile vem em 2º lugar com 15%. Há 30 anos, 89% dos brasileiros se diziam católicos. O Censo de 2010 acusa encolhimento no número de católicos. Hoje, são 65% da população. De 2000 a 2010, 1,7 milhão de pessoas deixaram as fileiras católicas. Por sua vez, o crescimento evangélico é notável. Em 1980, 7% dos brasileiros eram evangélicos. Trinta anos depois a proporção cresceu para 22%. José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor da ENCE (Escola Nacional de Ciências Estatísticas, disse em artigo na Folha de S.Paulo e em entrevista a O Globo que, 30 anos à frente, os católicos, se nenhuma providência for tomada, serão 50% dos brasileiros. Em 40, os evangélicos serão maioria. Um dado importante: mulheres e jovens formam o segmento da população que mais tem deixado a Igreja Católica. O crescimento evangélico, vale frisar,

não é uniforme. Os pentecostais têm crescido. As igrejas tradicionais, nem tanto. A Assembleia de Deus é o maior grupo evangélico (30%), a Congregação Cristã do Brasil vem em segundo lugar (5%), acompanhada de perto pela Igreja Universal do Reino de Deus (4%). O prof. José Eustáquio pondera: “A teologia da prosperidade tem atendido melhor as expectativas e os interesses egoísticos das diferentes camadas sociais”. No texto que escreveu para a Folha, o professor destaca o pensamento do sociólogo Flávio Pierucci, que é mais amargo: “A sociedade não precisa mais de um Deus transcendente quando os indivíduos pagam pelos serviços prestados em nome dele e transformam os bens tangíveis em ideal divino”. A proporção de evangélicos cresceu, é fato, mas este crescimento é saudável? Qual a contribuição que os evangélicos poderão dar à sociedade, quando receberem maior poder de decisão?

A revista ELOS quer ouvir você: . O Brasil, com maioria evangélica, será um país melhor? . O que a supremacia da teologia da prosperidade pode causar à vida cristã? Envie sua resposta para elos@igrejadorecreio.org.br As respostas publicadas na próxima edição de ELOS darão a seus autores brindes especiais.

Em 20 anos, a Marcha para Jesus figura-se como um dos maiores eventos evangélicos do país. Reúne em média 1,5 milhão de pessoas nas grandes metrópoles em que é realizado.

Foto: Reprodução internet

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 27

27

30/07/12 14:53


Narciso . Caravaggio

Em busca da vergonha perdida O limite entre a vaidade natural e a doentia autopromoção

reflexão

reflexão . 28

Não sou saudosista, mas, aproximando-me da velhice, começo a sentir falta de algumas características que eram caras aos antigos. Nelson Rodrigues dizia que havíamos perdido a capacidade de nos escandalizar. Hoje, perdemos a vergonha. Vergonha, só a de ter vergonha. Nepotismo sempre houve no Brasil. No passado, entretanto, mesmo o político empregador de parentes mais descarado tinha certo pudor. Evitava abrigar em seu gabinete, de uma tacada, mulher, filhos, cunhados, amante... Pego com a boca na botija, envergonhava-se, genuinamente. Não é assim em nossos dias.

Flagrado, o sustentador da família à custa do nosso dinheirinho faz cara de ultrajado, arma biquinho de magoado e, candidamente, diz: “Não vejo problema em empregar meus queridos. Têm competência, são de confiança, devem ser punidos por serem meus parentes?” A falta de vergonha, o despudor, o desejo desenfreado de ganhar dinheiro a qualquer custo criou uma geração sem noção de brio, ética, honestidade. Há bem pouco tempo foi presa uma mulher que participava de uma quadrilha que desviava dinheiro de remédios para pacientes terminais. A facínora morava em um apartamento avaliado em R$ 1

milhão. Sua aparência era a da titia simpática que faz torta de maçã pros sobrinhos. Outro caso chamou minha atenção. Em repartição de um Detran qualquer, todos roubavam. Todos, não. Havia um honesto, que foi ameaçado pelos facínoras. Para se defender, jilmou, secretamente, bandidos e bandidas, que faziam festa a cada real roubado dos contribuintes, e os denunciou. De novo, os meliantes eram gente como a gente. Fui chefiado por figuraça que tinha uma frase síntese, definidora da vida do “homem sagaz”, como ele gostava de dizer: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. O chefe, a quem chamávamos de Bochecha, ainda

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 28

30/07/12 14:53


Pense antes de

publicar

documentário Vítimas do Facebook (disponível em http://gnt.globo.com/ gntdoc/videos/_2053709.shtml) que é bastante elucidativo. O que postamos no Facebook fica para sempre. Momentos constrangedores de nossas vidas devem ficar para nós e jamais serem publicados em redes sociais. Nem como piada. No futuro o prejuízo pode ser grande.

Foto: Reprodução internet

Crianças e adolescentes do sexo masculino são 90%

curta nota

O que é feito nos Estados Unidos logo é replicado no Brasil. Vale, então, o alerta: empresas norte-americanas vêm usando as redes sociais na seleção de seus funcionários. A prática é questionável e por lá costuma ir parar na Justiça. Aqui o empregador fará a pesquisa discretamente e o candidato a emprego nem desconfiará. O canal por assinatura GNT exibiu o

. tamar souza . curta nota

se preocupava em deixar pirão para os que viessem depois. Hoje, a frase serve a muitos com pequena, mas vital alteração: “Farinha pouca, só o meu pirão”. Se não temos vergonha, fazemos qualquer coisa. No passado, por humildade (ou falsa humildade), evitava-se, ao se escrever textos relatando realizações pessoais, a primeira pessoa do singular. O autor usava a primeira do plural (eu, particularmente, não gosto do recurso) e lembrava-se de pessoas que o ajudaram a alcançar as metas traçadas. Trabalhei em um jornal capitaneado por um indivíduo vaidosíssimo. Antes de o periódico ser enviado para a gráfica era submetido à apreciação do chefe. Nunca estava bom. Alguém me disse que faltavam fotos do homem no jornal. Preparamos uma edição de 16 páginas com 13 fotos do humilde. Ele adorou. Todos, se normais, somos vaidosos, mas ninguém precisa ser um Cristiano Ronaldo a se olhar nos telões da vida, a todo momento. Um apóstolo lusitano, proprietário de uma igreja familiar, gosta de publicar no jornal de sua comunidade as graduações, pós-graduações e doutorados que obteve na vida. Se vivesse dez vidas o gajo não conseguiria tantos títulos. Vaidade. Este tipo de atitude é normalíssimo, hoje. Não só entre religiosos, políticos e jornalistas. Há pavões umbandistas (já estive lá, sei como é), evangélicos, católicos, ateus. Autoelogio e marketing pessoal são a mesma coisa. Ninguém tem tempo de ver suas qualidades serem reconhecidas. É mais seguro fazer propaganda de si mesmo. Vender-se como produto. Há muitos trouxas para comprar produto fajuto. Quem faz amigos desinteressadamente? Buscam-se relacionamentos que poderão ser úteis no futuro. Não sei onde vamos parar. Salvo engano meu (e me engano muito), seria bom se parássemos, refletíssemos e buscássemos a vergonha perdida. UCSF

dos assassinados

O Mapa da Violência 2012, do CEBELA (Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos), informa que, entre 0 e 19 anos, 90% dos assassinados no Brasil nos últimos 30 anos são do sexo masculino. Analistas chegaram a batizar o fenômeno como “homencídio”. O Mapa, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, diz, também, que “de 1981 a 2010 o crescimento de mortes na faixa etária de 0 a 19 anos foi de 346,4% totalizando 1.091.125 de vítimas”. Crianças e adolescentes,

de acordo com o Censo 2010 representam 31,3% da população, ou seja, 59.657.939 indivíduos. José Eustáquio Alves, demógrafo, alerta: “Vivemos um homencídio. É um aspecto que se fala pouco, mas que tem uma importância muito grande. Ele tem efeitos devastadores na estrutura familiar, na sociedade, na economia e na pirâmide demográfica. Se parar para pensar, é como se tivéssemos uma guerra do Vietnã a cada ano em número de mortos”. Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 29

29

30/07/12 14:53


direitos humanos

direitos humanos . 30

Uma comissão para apurar a

verdade Foto: Reprodução internet

“A tortura é o crime mais cruel e bárbaro contra a pessoa humana. Tradicionalmente se argumentou que a tortura era um meio de forçar as pessoas a falarem a verdade. A realidade de hoje, porém, mostra que, com os sofisticadíssimos instrumentos de tortura, não somente física mas mental também, é possível dobrar o espírito das pessoas e fazê-las admitir tudo quanto for sugerido pelo torturador. Esta é a própria negação da identidade humana legada por Deus, e contraria a vontade do nosso Criador.” Philip Potter A ditadura militar instaurada no Brasil, a partir de 1964, torturou e matou. Entre 1964 e 1985, em alguns períodos, a ditadura foi mais ou menos cruel. A partir do início da luta armada, tudo piorou e os militares se deram licença para matar. Quem pegou em armas para lutar contra a ditadura militar sabia que podia morrer em combate. E alguns morreram. Antes de morrer, eram espancados. Havia espancamento e tortura que não levavam à morte. Um manual ensinando a torturar sem deixar marcas visíveis circulava entre os torturadores. O manual pode ser lido em Brasil: Nunca mais, da Editora Vozes. Havia um sem-número de instrumentos de tortura, tais como: pau-de-arara, choque elétrico,

Comissão terá o direito de convocar vítimas ou acusados das violações para depoimentos e também a ver todos os arquivos do poder público sobre o período.

dobradores de tensão, afogamento, cadeira do dragão, insetos e animais, produtos químicos etc. etc. etc. Presos desapareceram e nenhuma satisfação foi dada às famílias. Mortos tiveram seus corpos desmembrados e descartados. Relegar esses fatos ao esquecimento parecia ser o caminho a ser trilhado e há os que julgam que assim deve ser pelo temor de irritar os militares. No dia 10 de maio de 2012, foi anunciada pela presidente Dilma Rousseff, ela mesma uma militante torturada pelo regime militar, a lista de sete pessoas que integram a Comissão Nacional da Verdade: Cláudio Fonteles (procuradorgeral da República entre os anos de 2003 e 2005) foi membro da Ação Popular, que comandou a União Nacional dos Estudantes na década de 1960; Gilson Dipp (Ministro do Superior Tribunal de Justiça e membro do Tribunal Superior Eleitoral desde 2011); José Carlos Dias (Ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso); José Paulo Cavalcante Filho (advogado, consultor e escritor; Maria Rita Kehl (psicanalista, cronista e crítica literária); Paulo Sérgio Pinheiro (diplomata e professor da Universidade de São Paulo); Rosa Maria Cardoso da Cunha (advogada criminalista, professora e escritora). Mas o que é a Comissão da Verdade? Paulo Sérgio Pinheiro, em entrevista

a O GLOBO, explica: “Não é papel de nenhuma Comissão da Verdade processar ou punir. Isso é trabalho para o Judiciário (...) a Lei da Anistia de 1979 – que até hoje impediu a punição de agentes do Estado envolvidos em crimes da ditadura – é um “fato” que a comissão não tem mandato para questionar. Nosso mandato é para escrever um relatório, mas não seremos nós que definiremos o destino desse documento. O relatório vai ter sua vida própria e eu não tenho como prever o que vai acontecer”. A Comissão, criada para esclarecer violações aos Direitos Humanos entre 1946 e 1988, já realiza audiências públicas pelo país para ampliar e estimular a criação de comissões semelhantes nos Executivos estaduais, Assembleias Legislativas e sociedade civil, com as quais pretende estabelecer convênios. O Rio Grande do Sul e Pernambuco já instalaram sua Comissão da Verdade ligada ao Executivo para subsidiar o grupo nacional. Outros seis Estados criaram comissões nas Assembleias Legislativas. Em agosto a Comissão passará pelo Rio de Janeiro para colher depoimentos. Quem tem algo a dizer e não quer aparecer pode pedir sigilo. O sucesso desta Comissão dependerá da sociedade.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 30

30/07/12 14:53


falar, hoje, em submissão, como muitos ainda defendem a partir de leitura literalista do texto bíblico. A palavra está mais do que desgastada, mas não há outra: a mensagem bíblica precisa ser contextualizada. Aliás, nunca entendi porque contextualizamos algumas passagens bíblicas e outras, não. Mulheres falam em igrejas (menos naquelas comunidades mais obscurantistas) e há proibição na Bíblia quanto a este ato (1Co 14.33-35). Os intérpretes são quase unânimes em descartar a interpretação literal, no que fazem muito bem. Essa deveria ser a regra. Mulheres e homens são parceiros. O casamento para se sustentar depende de investimento e disposição do casal. Muito pouca gente mantém-se dentro do matrimônio para dar satisfação a terceiros. Casais permanecem casados quando há amor, respeito, preocupação mútua com o bem-estar e amizade. As mulheres conquistaram tudo o que havia para ser conquistado. Homens e mulheres são iguais, apesar das gritantes diferenças. E é muito bom que assim seja. UCSF

relacionamento

Houve exageros. Voltar ao que era, no entanto, é impossível. Homens e mulheres ficavam casados a vida toda. Era isso ou suportar o estigma de desquitado. O divórcio, hoje, é realidade. Comum, inclusive, entre crentes. Sempre doloroso, principalmente quando há filhos, tem sido cada vez mais a saída de casamentos sofridos. Sempre acharei mais saudável duas pessoas que não se suportam mais seguirem caminhos diferentes. Mulheres, hoje, têm suas carreiras profissionais. Grandes empresas multinacionais são conduzidas por mulheres. Mulheres governam países. O casamento não é como era. O homem não é mais o único provedor. Há algum tempo, era comum ouvirmos de alguns homens mais “moderninhos”: “O salário de minha mulher é pra ela comprar as coisas dela. As contas quem paga sou eu”. Esse tempo acabou. Casais dividem despesas e trabalho. No lar, trabalham os dois. As creches não provocam mais sentimento de culpa nas mulheres. É cada vez mais comum mulheres deixarem para ter filhos depois dos 30 anos, com a vida profissional consolidada. Este é o século 21 nas grandes metrópoles. Não há sentido em se

. relacionamento

Até o final da década de 20 do século passado, mulher não votava. Quase 100 anos depois, o Brasil tem uma presidente do sexo feminino, Dilma Roussef. Não cabe neste espaço detalhar a trajetória da mulher aqui no Brasil, mas recordemos que na entrada do século passado ainda eram comuns os casamentos arranjados. A mulher não escolhia seu marido. Mulheres não trabalhavam fora e aquelas que o faziam, ali pelas décadas de 50, 60, não eram bem vistas pela “sociedade”. A mulher séria laborava no lar, para marido e filhos. Era incomum mulheres em posição de mando dentro de empresas. Quando acontecia, o preconceito sexista falava alto e grosso e atribuía a conquista feminina a algum envolvimento romântico com alguém poderoso. A mulher não podia ter carreira profissional regular porque era dela somente a atribuição de cuidar da casa e dos filhos. O marido chegava cansado do trabalho e só almejava descansar e ser bajulado. A década de 60 chegou. Com ela, o feminismo. As mulheres queriam viver plenamente. Nada mais foi como antes. Muita bobagem foi feita.

Foto: stock.xchng

Homens e mulheres: iguais nas diferenças

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 31

31

30/07/12 14:53


tecnologia

tecnologia .

E o Office foi

para as nuvens

Foto: stock.xchng

Os programas do Office 2013 sofreram grandes mudanças de interface e estrutura, permitindo assim a mesma usabilidade através do mouse ou do touchscreen do dispositivo. Essa iniciativa vai muito além de apenas um agrado ao usuário. Nesta nova era, onde a Apple tornou-se a maior empresa de tecnologia, mesmo não dominando o market share no uso do sistema operacional, a Microsoft decidiu dar um salto de fé para reconquistar sua posição no futuro. Há algum tempo se fala em cloud computing, onde aplicativos e até mesmo sistema operacional são executados direto de serviços web e acessados por PCs, tablets ou smartphones, através de uma conexão banda larga. Mas desta vez, a gigante de Redmond decidiu elevar o nível do jogo, começando pelo Microsoft Office 2013.

32

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 32

Pela primeira vez, as equipes responsáveis do Office e do Windows se uniram para um start em conjunto do desenvolvimento, no intuito de alinhar as estratégias dos dois produtos. E isso fez toda a diferença. A abordagem das duas grandes franquias da Microsoft está toda voltada para a multiplataforma. Agora Windows e Office visam ao usuário que transita entre seu desktop, notebook, tablet e smartphone. Os programas do Office 2013 sofreram grandes mudanças de interface e estrutura, permitindo assim a mesma usabilidade através do mouse ou

do touchscreen do dispositivo. Essa iniciativa vai muito além de apenas um agrado ao usuário. Ela é a superfície de uma mudança radical nos planos da empresa, que englobam desde a distribuição do pacote de programas até a forma de uso pelo consumidor final, seja ele empresa ou usuário doméstico. A última versão do Office já mostrava um grande investimento da Microsoft em utilizar os serviços de internet através do Office 365 e SkyDrive, mas na versão de teste do Office 2013 fica evidente que os serviços de internet se tornaram

Por Dhiego Almeida 30/07/12 14:53


O interesse em redes sociais empresariais da Microsoft ficou evidente após a aquisição do Yammer

muito parecido com o Google Drive, sucessor do Google Docs. Outra característica que foi aprimorada são os recursos sociais do Office 2013. O Office’s Social Connector, introduzido na versão 2010, foi repaginado e agora compartilha e acessa informação sobre contatos com Facebook, LinkedIn, Windows Live Messenger, Xing e diversas outras redes sociais. Além disso a API do Social Connector será aberta e permitirá a criação de interface por qualquer serviço de rede social. O interesse em redes sociais empresariais da Microsoft ficou evidente após a aquisição do Yammer, que no futuro oferecerá mais recursos de conexão com o Office 365. Outras características de rede social que foram incorporadas ao novo Office são as opções de comentários linkados aos documentos criados pelos programas do pacote, além de um Feed de notícias, que apresenta informações de outros usuários do Office 365 que você decidir seguir. Outra inovadora característica, que

se tornou mais acessível através do Office 365 é a loja de modelos, onde além dos modelos padrão, o usuário tem acesso a diversos outros modelos criados por terceiros. Mas a loja de modelos é apenas uma das vitrines um mercado construído para ser muito mais sofisticado. O Office 2013 tem característica da sua interface baseadas em HTML5 e JavaScript, o que permite que serviços de internet sejam integrados aos programas do pacote. Esse modelo certamente vai atrair diversos desenvolvedores a criar add-ons que serão comercializados no Office Marketplace. Toda essa nova estrutura está bem embalada em um nova interface que mantém os conhecidos “ribbons” do Office 2007 e 2011, mas que foram melhor acomodados para garantir uma ótima experiência quando usada em tablets e smartphones. O novo Office conta com reconhecimento de hardware, para que os programas possam responder melhor a configuração do dispositivo onde está sendo executado. O Office 2013 não dará o mesmo trabalho que a versão 2007 deu ao usuário para entender sua nova interface, mas algum tempo será necessário para entender sua nova linguagem visual. Contudo, aproveitando o novo modelo de assinatura, a Microsoft poderá responder mais rapidamente o feedback dos usuários, sem ter de esperar a versão 2016 para implementar novas mudanças. No fim, as mudanças do Microsoft Office vem de encontro aos novos dispositivos e desprendem o usuário do computador de mesa. A facilidade de transitar entre computadores, tablets e smartphones é o grande atrativo para o usuário final. Uma interface que agrada tanto ao toque quanto ao clique, vai levar o Office 2013 certamente a lugares que nenhum outro programa de escritório chegou.

tecnologia

Finalmente, seus arquivos estarão com você em qualquer lugar, na verdade, eles nunca saem do lugar. Mesmo utilizando um computador ou outros dispositivo que não seja seu, através do SkyDrive, você tem acesso aos seus arquivos, podendo alterá-los e ainda criando rede de trabalho através do compartilhamento dos arquivos e regras de permissão de acesso, tudo

. tecnologia

pontos centrais do pacote. Desde a distribuição e venda do Office, que deixarão de ser baseadas em um único disco e uma licença sem prescrição. A Microsoft irá oferecer todas as versões do pacote Office 2013 e também cada programa individualmente como uma assinatura online, onde o acesso aos programas acontecerá por streaming, direto da nuvem. A versão Home Premium, que é a mais básica do pacote Office, permitirá ao usuário a instalação dos programas Word, PowerPoint, Excel, Outlook, Access, Publisher e OneNote em até 5 computadores, além de 20 gigabytes de espaço no SkyDrive e, mas ainda não confirmado, minutos de uso no Skype. Esse novo formato de comercialização do pacote vai proporcionar um gerenciamento de licenças mais fácil, no caso da necessidade de migrar para um novo computador, o usuário precisa apenas autorizar o novo acesso, além de integrar tablets, smartphones e netbooks ao serviço com maior facilidade, já que esses não possuem drive ótico. As versões para empresas começam com a Office 2013 Small Business Premium, que oferece acesso para até 10 usuários, sendo que cada um desses 10 pode instalar os programas em até 5 computadores, conta, além dos programas da versão Home Premium, com o InfoPath e Lync. O serviço oferecido no SkyDrive nesta versão é aprimorado para empresas. Testes realizados com a versão ProPlus, similiar a Small Business Premium, mas que oferece um número maior de acesso, usando uma conexão de banda larga de 20Mbps, mostraram que em apenas 2 minutos o Office 2013 foi instalado e estava pronto para ser utilizado. Tudo muito simples e rápido, mas há de ser levado em conta que ainda é apenas um teste, e os servidores do Office 365 ainda não estão sendo largamente acessados.

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 33

33

30/07/12 14:53


A hipocrisia nossa de cada dia:

Prostituição Bento Souto Pastor

bento souto

bento souto . 34

Foto: Reprodução internet

Em 1999, no Recife, enquanto me dirigia pela escada rolante ao piso superior de um shopping, ouvi o que dizia, ao telefone celular, uma jovem que não percebera que eu estava a menos de um metro dela: – Sou morena, bonita, tenho dezoito anos, um metro e sessenta e cinco, cabelos pretos, seios médios e firmes, bundinha arrebitada, corpo de modelo, gosto de beijar na boca, faço tudo e... – ela interrompeu o que dizia, ao perceber a minha presença e se afastar com um sorriso malicioso de quem estava “à venda”. Ainda chocado com o que eu acabara de presenciar, comentei o fato com o taxista que me levava de volta para o trabalho. Aquele homem simples me disse: – Mas, “doutor”, o que era de se esperar? Essas meninas são bombardeadas o dia todo com propagandas do tênis da moda, do jeans, da bolsa, do celular, do óculos, etc. Aí, elas querem essas coisas, mas não têm dinheiro. Então, para conseguir o dinheiro, elas vendem a única coisa que elas têm: o corpo! Em 7/10/09, o jornal O Estado de São

Paulo publicou reportagem sobre o resultado de uma pesquisa conduzida por psicológos do Instituto WCF (World Childhood Foundation) – uma ONG criada pela rainha Sílvia, da Suécia, que tem como objetivo “promover e defender os direitos da infância em todo o mundo”. A pesquisa apontou entre outras coisas que, diferentemente do que as pessoas pensam, 88% dessas meninas moram com a família; 52% delas são aliciadas para a prostituição pelas próprias amigas; 65% do dinheiro que elas ganham é usado para comprar os mesmos bens de consumo citados pelo taxista do Recife. Ou seja, o taxista além de simples era sábio. No entanto, eu não estou escrevendo isso para falar que a pesquisa comprova o que o taxista já sabia. Não, estou escrevendo para denunciar a “hipocrisia nossa de cada dia”. Sim, pois, veja você que o mesmo jornal que apresenta os resultados dessa pesquisa e publica os escândalos sexuais envolvendo personalidades públicas e prostitutas, também publica em seus Classificados, na seção Relax – Acompanhantes, anúncios do tipo a seguir, com telefones para contato: “Abigail, virgem, R$ 200, p/ brincar”; “Satiko, japonesinha, 18 anos, iniciante carinhosa”; “Any, 18 anos (loira belíssima), liberal c/ massagem”; etc. Ora, qualquer um percebe que esses são anúncios de prostituição. Detalhe, essa não é uma prática exclusiva do jornal paulistano. Anúncios de prostituição estão presentes em quase todos os periódicos brasileiros. Que palavra usaremos para descrever essa

prática de promover aquilo que se condena? Informação? Serviço? Não, eu prefiro chamar de... hipocrisia. Hipocrisia dos jornais, porque lucram com aquilo que aparentam denunciar. Hipocrisia das autoridades, que fingem que as prostitutas não existem ao negar-lhes os direitos dos demais cidadãos, para agradar aos religiosos. Hipocrisia dos religiosos, que são rápidos em sacar suas bíblias para mostrar nelas que Deus condena a prostituição e que, portanto, reconhecer a profissão de prostituta é ir contra Deus. Entretanto, esses mesmos religiosos se esquecem que Moisés não inventou e nem concordava com o divórcio – algo que na bíblia é dito que Deus odeia. No entanto, o legislador do olho por olho e dente por dente não fez de conta que o divórcio não existia. Pelo contrário, ele estabeleceu regras para o divórcio, a fim de salvaguardar as mulheres das injustiças cometidas contra elas pelos homens. Hipocrisia, dos homens, pois, raros são aqueles que nunca utilizaram os “serviços” de uma prostituta. Hipocrisia da sociedade, que finge não ver que as prostitutas existem. Outro dia, enquanto percorríamos a Av. Conselheiro Aguiar, em Recife, a mãe de minhas filhas contou 83 (oitenta e três!) prostitutas (apenas em uma avenida) aguardando homens que as contratassem. Isso sem contar as milhares disponíveis na Internet e nos anúncios classificados dos jornais. Portanto, somos hipócritas quando negamos às prostitutas os direitos dos demais trabalhadores desse país.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 34

30/07/12 14:53


evangelho . evangelho

Sobre a dúvida Foto: divulgação

Só não duvida quem não crê. De que duvidamos? Das instituições humanas, inclusive a igreja? Elas são humanas... logo necessariamente falhas. De pessoas em quem confiamos? Também duvidarão de nós, porque não atenderemos às expectativas que nos põem sobre os ombros. De trechos da Bíblia? Um método é lê-los em conjunto com os outros. Muitas dúvidas nascem de leituras apressadas, de verdades que não foram afirmadas, de promessas que não foram feitas. Jamais duvidar é para os fanáticos, que põem a verdade – deles – acima do amor a Deus e ao próximo, quando devem estar juntas, o amor primeiro, a verdade depois. Duvidar é para quem crê. Duvidar de Deus é para quem crê em Deus. Duvidar do poder de Deus não é importante porque o verbo fica restrito ao âmbito intelectual. E Ele continua sendo Quem Ele é.

Doloroso é duvidar do amor de Deus. Esta dúvida levou Jesus a clamar, perto do fim: – Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste? Sua crua humanidade encontra uma clara resposta. Quando exclamou, ainda mais perto do fim, que sua tarefa estava concluída, é como se dissesse, sem nenhuma dúvida agora: “Pai, fiz o que combinamos”. Jesus, então, emerge das trevas do esgotamento espiritual. Em poucos minutos, visita a casa da sua memória para ver o quanto pelo Pai era amado. Lembrou-se do seu messiânico chamado. Jesus não só revisou sua trajetória como viu o que viria pela frente para entender com clareza eloqüente que a sua derrota era a vitória. Então, percebeu que tudo estava mesmo consumado. Para os que duvidam, Jesus deixou o roteiro. IBA Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 35

35

30/07/12 14:53


Educação

ninguém nos rouba Israel Belo de Azevedo Pastor . israelbelo@gmail.com

Foto: stock.xchng

israel belo

israel belo . 36

Para estimular os jovens a estudar, o pastor Tércio Gomes Cunha (1926-2007), da Igreja Batista da Tijuca (Rio de Janeiro, RJ), cunhou a seguinte frase, que reproduzo como me foi transmitida: – Educação ninguém nos rouba. Quando ouvi a frase, relembrei como as elites, ao longo da história do Brasil, vêm-nos roubando o direito de estudar. Apesar de alguns avanços, estamos longe de viver num país com uma educação com qualidade, que demandaria, entre tantas, duas atenções: que os alunos ficassem na escola em tempo integral e que os professores recebessem salários dignos. Até hoje quem quer uma boa formação para os seus filhos (nos níveis fundamental e médio) precisa pagar muito. E alguns não podem. A escola pública, com suas diminutas quatro horas diárias, está longe de oferecer uma base de conhecimento para a vida. Nossas crianças estão sendo roubadas.

Radicalizo: nossos adolescentes e jovens estão sendo roubados quando, na maioria dos casos, fazem cursos em que ficam três horas por dia na faculdade. O ensino superior também deveria ser em tempo integral. O ideal que um jovem faça sua formação universitária e trabalhe ao mesmo tempo é, na verdade, uma sedução. O pastor Tércio, no entanto, estava pensando em outra realidade. Um assaltante, por exemplo, pode nos levar o carro, mas não pode levar o que sabemos. Este é um patrimônio para sempre. Pode ser também que a morte nos leve nosso pai e/ou nossa mãe, mas o desaparecimento dele(s) não nos leva a escola(ridade) que eles nos deram. Pode ser ainda que o mercado profissional não valorize o que sabemos, mas esta injustiça não tira de nossa mente o que colocamos lá por horas, dias e anos de estudo afincado.

Nosso conhecimento é o nosso patrimônio. Nós somos o que sabemos. Nós valemos o que conhecemos. Tornou-se uma percepção comum, diante dos enriquecimentos de pessoas que nunca avançaram no campo da instrução, que estudar não vale à pena. O fato de ser comum esta percepção não a torna verdadeira. Quando estudamos, melhoramos nossa percepção do mundo. Quando estudamos, melhoramos nossa posição no mundo. Quando estudamos, percebemos melhor nossas oportunidades no mundo. Quando estudamos, capacitamo-nos para preencher melhor as oportunidades no mundo. As exceções são apenas exceções. Uma pessoa bem preparada e que não consegue uma boa posição é uma destas exceções. Momentâneas exceções – acrescentemos. Ninguém nos tira o que aprendemos.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 36

30/07/12 14:53


Jô Marques

Jornalista . http://sobretudoqualquercoisa.blogspot.com

preguiça existencial. Rasgue esse pano soturno e tome atitudes baseadas na lógica da realidade visível; faça movimentos como quem remexe a água parada de um lago; sopre fundo como quem quer romper as bordas do lago e transformá-lo em um rio caudaloso que corre para frente e supera as depressões do caminho. É para isso que estamos aqui. Fiquem com Deus.

equivocamos em comportamentos infantis, quando pretendemos apenas ser consequentes, maduros, senhores de nossos atos. Em geral, o mundo vende o veneno com rótulo de remédio como receita para curar a dor que nos fustiga – e vende isso caro e com juros altíssimos para as

existem formas naturais de combater a dor, mas às vezes não somos capazes de acessar estas possibilidades

. jô marques

nossas vidas. O mundo não nos deixa enxergar que a solução está em nossas mãos: basta dizer não aos velhos hábitos; resistir bravamente quando a dor nos empurrar para os abismos; acreditar que podemos vencer os momentos difíceis, como quem se esforça para ter bons resultados nas provas escolares. Nas provas da vida a cola é legítima – é quando alguém nos oferece um auxílio, extraído do próprio aprendizado. Existem anjos neste mundo, acredite! Mas eles não vão fazer todas as provas por você. Experimente romper a parede cenográfica da dor. É... a dor é apenas uma fantasia que colocamos na frente do trabalho que temos que realizar por nós mesmos – o que também podemos chamar de

Depressão . VanGogh

O sofrimento é o único caminho para a verdadeira felicidade e para o crescimento. Parece contraditório, mas se pensarmos bem, como poderemos distinguir o que é bom do que é ruim se não for pela experiência? A experiência do sofrimento é indicativo de um importante estágio do desenvolvimento do espírito. Há quem se escude em excessos de diversas naturezas para mitigar a dor natural de existir neste mundo – como excessos de diversão, drogas, paixões, bebidas etc. – e com isso acabam evitando o que poderia ser o verdadeiro remédio para a dor: o crescimento através do autoconhecimento. Muitos ainda buscam caminhos mais tortuosos, de enganosos efeitos curativos imediatos, como desistir da vida no meio do caminho. A verdadeira vida não é esta experiência ligeira que estamos vivendo. Aqui é apenas a escola onde aprendemos a distinguir por nós mesmos e por oposição o que é a verdadeira felicidade, o verdadeiro amor. Vivemos uma espécie de aflição de espírito quando entramos em depressão. Existem formas naturais de combater a dor, mas às vezes não somos capazes de acessar estas possibilidades – o mundo e a cultura do mundo são muito fortes e nos assediam permanentemente, nos confundindo a mente e o espírito. Optamos pela festa e pela bebedeira, quando o que queremos, na verdade, é alegria; assumimos paixões desastrosas, quando estamos buscando apenas amor; nos perdemos em atitudes de risco, quando ansiamos apenas por segurança, amparo; nos

jô marques

Sobre o sofrimento e a depressão

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 37

37

30/07/12 14:53


O valor da samuel rodrigues .

atividade física no envelhecer Samuel Rodrigues

Gerontólogo . samuelrods@ig.com.br

samuel rodrigues

A educação física é uma lavoura que se cultiva hoje e que resulta numa boa colheita amanhã, quer dizer, um futuro com mais saúde e disposição. De acordo com Faria Júnior (1997), historicamente, a educação física sempre esteve ligada à saúde, nos discursos profissionais, científicos e oficiais. Esclarece-nos a drª Elizabete Viana de Freitas, cardiologista geriatra da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (livro “Tempo, Rio que arrebata”, Ed. Setembro, 2005), que pesquisas têm relacionado aos exercícios regulares benefícios físicos, sociais e patológicos para todas as idades. Algumas condições, como a alta prevalência, na população idosa, de quedas, doenças cardiovasculares, diabetes melito e até alguns tipos de cânceres, têm sido associados ao baixo nível de atividade física em alguns estudos. Em diversos estudos, os fatores de risco que atuam como facilitadores dessas doenças, tais como aumento de lipídeos no sangue, hipertensão arterial, obesidade, resistência à insulina, redução da densidade mineral óssea e equilíbrio, apresentam melhora diante de um programa de atividade física regular. Algumas doenças comuns entre os idosos, como a doença pulmonar obstrutiva crônica e a insuficiência cardíaca, quando têm o tratamento convencional associado a programas adequados têm reduzidas as limitações trazidas por elas.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 38

incorporar o movimento físico a sua vida significa dar novos rumos a sua existência, significa passar a cuidar de si mesmo

Apesar dos inúmeros benefícios da atividade física, segundo estatísticas americanas, mais de 70% dos idosos podem ser classificados como sedentários, isto é, pessoas que não se movimentam e, o que é pior, este número está crescendo. Com relação à legislação brasileira, no ano de 1994, foi sancionada a Lei nº 8.842, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, onde se incluem menções “ao incentivo e à criação de programas de lazer, esporte e atividades físicas que proporcionem a melhoria da qualidade de vida do

Foto: stock.xchng

38

Outros estudos da atividade física moderada em pessoas idosas mostraram redução de risco relativo de 24 % a 38% em todas as causas de mortalidade, além de redução de 50% de risco de infarto do miocárdio. As doenças cardiovasculares permanecem sendo a primeira causa de morte, tanto em homens como em mulheres, não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil, com alta prevalência entre os idosos.

30/07/12 14:53


cotidianocristão

de existir e de transitar pela vida. Fazer atividade física significa: olhar-se mais, perceber-se mais, sentir-se mais, exporse mais, etc. A prática de atividade física proporciona ao indivíduo um reencontro com sua corporeidade e a possibilidade de voltar a amarrar o cordão do sapato, cortar unhas, pentear o cabelo, sair de casa, pegar um ônibus, conhecer novas pessoas, fazer amigos, etc. Incorporar o movimento físico a sua vida significa dar novos rumos a sua existência, significa passar a cuidar de si mesmo. Em qualquer tratamento geriátrico ou cardiológico,

Provação “Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam.” Tiago 1.12

. samuel rodrigues

idoso e estimulem sua participação na comunidade”. A educação física atingirá os objetivos a que se propõe, se for regular, sistemática e com orientação profissional especializada. A prática esporádica, irregular e sem orientação adequada, pode ser fator desencadeador de problemas de toda ordem. Isto significa que se a educação física não for regular, sistemática e bem orientada, é melhor não fazer. Ao longo dos anos vamos construindo nossa forma física de estar no mundo, uma forma física de nos relacionarmos uns com os outros, uma forma física

a introdução da programação de exercícios deve seguir princípios bem estabelecidos para a condição de cada paciente. Os benefícios dos exercícios excedem em muito os seus riscos. A prática regular de exercícios preserva a força muscular, intensifica a capacidade aeróbica, contribui para a manutenção e melhora da densidade óssea, da mobilidade e do equilíbrio, prevenindo as quedas, sendo de grande importância para a conservação da autonomia e, consequentemente, da independência. A regularidade dos exercícios contribui para a redução do risco de doenças do coração, melhorando a circulação do sangue através do corpo. Também pode contribuir para melhor controle da pressão arterial, aumenta a disposição, melhorando a resistência à fadiga, aumenta a autoestima e reduz as tensões, torna o indivíduo mais bem-humorado e afasta o risco de depressão. Por outro lado, a atividade física proporciona convivência em grupo, agregando família, amigos e motivando novos relacionamentos. Os exercícios, de acordo com as observações de importantes estudos, trazem benefícios tanto para os homens como para as mulheres septuagenárias, reduzindo a mortalidade. Quando possível, falaremos mais dos benefícios e riscos da educação física em idosos.

samuel rodrigues

Foto: stock.xchng

Em uma aula de EBD, a professora fez uma pergunta aos alunos: “Quem aqui, uma vez pelo menos, não ficou zangado com Deus por não ter atendido uma expectativa sua? Eu já fiquei.” Nós, alunos, mantivemos nossos dedos abaixados. Ela prosseguiu: “Parece que só eu me chateei com Deus. Me chateei, mas com-

É fácil ser cristão em tempos de bonança. Tenho um bom empre-

preendi depois que a soberania de Deus é fato. Ele faz o quer,

go; sou respeitado na comunidade; saúde de ferro; a menina que

da maneira que deseja e muitas vezes, naquele momento, não

almejei, conquistei; meus filhos são educados, estudiosos, respei-

compreendemos”.

tadores, envolvidos em trabalhos sociais, evangelistas; a esposa

Lá na minha adolescência ouvíamos que a provação era a mus-

é carinhosa, independente, inteligente, amiga. Neste cenário, ser

culação espiritual. Depois de superada a provação, o cristão saía

crente é uma tranquilidade. A vida real não é assim. Há doenças,

mais forte. Não, ele não se sentia imbatível nem clamava por mais

desgaste no casamento, filhos rebeldes, dificuldades financeiras.

provação. Conscientizava-se, sim, de que poderia enfrentar provas

Às vezes, tudo ao mesmo tempo. Há uma corrente teológica que

duras porque junto com ele estaria Deus. Tudo o que ele ouvia que

atribui a culpa pelas mazelas ao nosso pecado. Bobagem. Se o

aconteceria se fosse provado, agora ele sabia que era verdade.

pecado fosse o parâmetro, todos sofreríamos muito.

UCSF

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 39

39

30/07/12 14:53


josias bezerra

josias bezerra .

Pare um momento! Feche os olhos e, de olhos fechados, responda: em que você está pensando? Você é capaz de identificar, exatamente agora, o tema corrente em sua mente? Provavelmente, sim! Tente! Faça um esforço! Vai valer a pena. É possível sintonizar-se com o constante fluxo mental e, assim, apropriar-se mais de si, cultivar relacionamentos mais saudáveis e diminuir o nível de estresse. Pesquisas científicas apontam a vigilância mental, que significa colocar o foco no presente, como uma postura promotora de saúde física, emocional, relacional e espiritual. Você consegue identificar esse rio mental que corre sem parar, porque há em você um vigilante de olhos bem abertos capaz de monitorar os movimentos que se passam em sua mente. Em suma: você pode observarse a si mesmo. Não é maluco isso? Talvez, mas é uma loucura curativa. Enquanto você pensa, sente e age, pode observar-se, e isso, por si só, é terapêutico. Então, uma coisa é a mente que fabrica o pensamento; outra coisa é o observador que identifica o pensamento na mente. É o observador em nós que, por exemplo, tem condição de monitorar e substituir os pensamentos que correm na mente, conforme ensina a Bíblia: “...Tudo que é bom, tudo que é honesto, tudo que é de boa fama; se há algum louvor; se

há alguma virtude, seja isto que ocupe a mente de vocês (Fp 4.8). Você não é somente seu físico, nem só o fluxo de energia que estrutura a sua mente, desde uma trivialidade que passa até o próprio conceito de ego. Mas, você também é observador em potencial de tudo que se passa no corpo e nas emoções. Se seu sistema nervoso central é saudável, você é capaz de rastrear cada sensação em seu corpo, bem como, cada pensamento ou sentimento que se levanta em sua mente. À medida que pratica sistematicamente a autoconsciência, isto é, a consciência de si mesmo no aqui-agora, você vive melhor em todas as esferas da vida. O grande problema é que a maioria de nós, na maior parte do tempo, anda no piloto automático mental. Quando a mente domina o cenário, os pensamentos e sentimentos se formam e dirigem a atividade mental sem que, na maior parte do tempo, tenhamos consciência do que ocorre. A mente assume o controle de nós,

quando deveria ser o contrário: nós é que deveríamos ter o controle de nossa mente. O Guita, texto sagrado dos Hindus, diz que a nossa mente pode ser nossa melhor amiga, quando sob nossa vigilância, mas, também, nossa pior inimiga, se nos domina. Depois de vinte anos atuando como conselheiro, posso afirmar que é na arena mental que vencemos ou somos derrotados. Uma vez que é a partir da mente que entramos em relação com o sagrado (Jo 4.24); e, também, onde forjamos nossos relacionamentos interpessoais, não monitorá-la compromete tanto nossa espiritualidade, quanto nossa sociabilidade. Quando o observador interno se mantém alerta, lança luz sobre a mente, e cada pensamento ou sentimento escuro é progressivamente vencido pela luz, sem repressões neuróricas. A observação em si ilumina a mente, e a luz dissipa os fantamas que só operam na escuridão, de onde influenciam o comportamento que normalmente tem a imagem

Foto: stock.xchng

Vitória ou derrota 40

começa na mente Josias Bezerra Pastor

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 40

30/07/12 14:53


O primeiro Ouro do Brasil foi do Judô feminino Sarah Menezes, 22 anos, conquistou a primeira medalha de ouro do Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres e merece todas as homenagens. A princesa de Ouro do Piauí, tem sua vitória comemorada por todos os brasileiros. Em sua homenagem, o Uol, site mais lido do país, fez uma página especial com infográficos contando toda a história da menina. O site diz

a que se propõe: “Conheça a história da atleta que treinou com meninos para ganhar força e trocou o curso de veterinária pelo judô. A escolha não foi fácil. No Piauí, durante a infância, sofreu até bullying: ‘Isso não é esporte para mulher’. Estavam errados”. Vale a pena conferir. Acesse: http:// olimpiadas.uol.com.br/2012/medalhistas/ 2012/07/28/sarah-menezes.htm

curta nota

Foto: uol.com.br

. curta nota

e semelhança deles. É dessa caverna escura que saem os abusos, as ações delinquentes, explosões de raiva, depressão, transtornos de ansiedade, entre outros. Exercício: feche os olhos novamente e observe sua mente, como se você fosse um gato, dentro de um quarto, esperando à porta da casa de um rato. Concentre-se no que vai ser o seu próximo pensamento ou sentimento a sair pelo buraco. Se está encontrando alguma dificuldade, não se apresse, continue observando... A observação, por si mesma, reconfigura a dinâmica mental e aquieta as emoções, assim como, por exemplo, a observação de uma mãe interfere naturalmente, aquietando os excessos de barulho e traquinagem dos filhos que brincam em algum recinto da casa. O ato de se manter alerta, vigilante, atento, produz uma significativa diminuição do fluxo mental e bem-estar emocional. Talvez, agorinha mesmo, sua mente esteja a mil, sem que você seja capaz de desacelerá-la. Não se esforce racionalmente para controlar o fluxo mental, observe-o, sem julgamento, com curiosidade, abertura e atitude receptiva. Não tente classificar o que está observando, apenas observe os conteúdos atentamente. Mantendo-se alerta, isto é, consciente, quanto mais tempo puder, você terá o controle de sua atividade mental, porque aquilo que nos atormenta, isto é, as sombras, não resistem ao olho da alma.

Foto: reprodução internet

Enfim, o julgamento do

mensalão Em 2005, Roberto Jefferson denuncia Delúbio Soares, tesoureiro do PT, e afirma que ele pagava uma mensalidade de R$ 30 mil a alguns deputados do Congresso, para que eles votassem seguindo a orientação do bloco do governo. Roberto Jefferson referiu-se a essa mensalidade como mensalão.

Acusadores consideram este o maior escândalo de corrupção da história da República; acusados garantem que o mensalão nem existe: é uma farsa montada pelos inimigos do povo. O fato é que sete anos depois serão julgados os envolvidos no escândalo. O resultado? É esperar para ver. Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 41

41

30/07/12 14:53


“O psicanalista não fala, só escuta.”

Verdade? Flavia Bonfim

Mestre em Pesquisa e Clínica em Psicanálise . flaviabonfimpsi@yahoo.com.br

fabio flavia bonfim

flavia bonfim .

A ideia do analista sempre silencioso é uma caricatura. Isso não quer dizer, contudo, que o silêncio não tenha sua função no processo analítico. Se fosse “verdade” que o analista não fala, ainda assim teríamos aí uma questão que mereceria melhores esclarecimentos, pois como a “verdade é sempre não-toda”, nos diz Lacan, essa afirmativa por si não seria capaz de dar conta de dizer tudo sobre a práxis do analista. Por outro lado, vale dizer que “escutar”, ou melhor, “a escuta de um psicanalista” em si já não é pouca coisa, pois permite ao sujeito falar daquilo que há de mais íntimo, sem ser censurado e julgado segundo critérios morais: do bem e do mal, do certo ou errado, além de contar com o sigilo de seus maiores segredos. Escutar o paciente, antes falar e fazer suposições, trata-se de uma posição ética, que supõe um saber do lado do analisando a respeito de si próprio (mesmo que ele ainda não saiba) a ser construído no processo analítico. Além disso, isso aponta para o fato de que quaisquer intervenção e interpretação do analista só é mediante a prévia escuta do paciente. Não se trabalha com um saber pronto, produzido de antemão, que caberia para todo sujeito. A teoria psicanalítica orienta e jamais o analista pode prescindir dela, mas ela não substitui o singular e só se confirma e se autentifica mediante o caso a caso. A psicanálise é a clínica do particular. Desse modo, o analista trabalha essencialmente com a fala do paciente, pois é na fala que o inconsciente pode emergir. É isto que Lacan quer assinalar com seu famoso

aforismo, que marcou sua releitura da obra freudiana: “O inconsciente é estruturado como uma linguagem”. O inconsciente não está dentro, nem fora, mas se encontra na própria fala do analisando, cabendo ao analista intervir para que o inconsciente exista. É o analista que enfatiza aquilo que o analisando desconsidera (as manifestações do inconsciente: atos falhos, chistes, sonhos, sintoma) e aponta para seu estatuto de representante da verdade do sujeito. Daí, a tese de Lacan: O inconsciente não é sem o analista. De modo mais preciso, afirmamos que a psicanálise trabalha com os ditos do paciente, questionando a posição do sujeito frente a eles, o lugar do enunciante frente ao seu enunciado, permitindo reformular sua queixa e introduzir o mal-entendido. Isso o guia ao encontro do inconsciente, levando-o ao questionamento de seu desejo e do que pretende dizer quando fala. O ato analítico consiste em implicar o sujeito em sua queixa, de modo que possa avançar, deslizando da queixa a respeito do outro para a pergunta: “Qual minha parte nisto?”, produzindo, então, uma retificação subjetiva, uma responsabilização do sujeito sobre seu sintoma. Convém destacar que responsabilizar não é de modo algum culpabilizar o paciente pelo seu sofrimento.

Responsabilizar é o primeiro passo para permitir que o analisando – apesar do assujeitamento do Outro, do determinismo inconsciente e dos dramas pessoais – possa se autorizar pelas escolhas de sua vida e encontrar outras vias de se posicionar frente ao mundo, bem como outros modos de satisfação, construindo, assim, soluções inéditas para si. Finalizando, devo dizer que ética da psicanálise é regulada pelo desejo e toda intervenção/interpretação analítica incide na tentativa de apontar para a dimensão desejante do sujeito. Logo, o psicanalista fala. O que ele não fala é sobre si, já que isso produz apenas identificações imaginárias que só tendem a contribuir ainda mais para a alienação do sujeito – indo na contramão do processo analítico. Ele também não diz ao paciente como agir, pois quem pode dizer o que é melhor para o outro? Quanto a isso, Freud há tempos nos alertou, escrevendo que “A felicidade constitui um problema da economia da libido do indivíduo. Não existe uma “regra de ouro” para todos. Cada sujeito deve descobrir o seu caminho que conduz ao prazer”. Nesse sentido, Lacan, por sua vez, foi bem claro ao formalizar que o analista dirige o tratamento, não o paciente.

Foto: reprodução internet

42

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 42

30/07/12 14:53


sudoku &

tempo livre

cruzadas . tempo livre

palavras cruzadas

respostas

horizontais 1. Filho de Davi. Sabia muito. 2. Interjeição adolescente; Graceja. 3. Antonio Carlos Magalhães, político baiano; Mirar. 4. Araci Balabanian, atriz; Lição. 5. O .... não está pra peixe; Tecnologia de celular. 6. Peixe que fica barrigudão. 7. Enfeitar, embelezar. 8. ... Diniz, atriz emblemática. 9. Terra batida; Pron. pessoal, 2ª pes. sing., serve de objeto. 10. Está (aférese); Idi ...... Dada, devorava desafetos. 11. Quando ele não está brilhando o recreense se aborrece; Cadastro Geral de Contribuintes. 12. Organização de Libertação da Palestina; Tenzin Gyatso, líder temporal e espiritual do povo tibetano, é o atual. 13. Nenhuma das Respostas Apresentadas; Mineiro adora falar.

sudoku

verticais 1. Primeiro assassino; Unidade de carga elétrica. 2. Serviço de Atendimento ao Cliente; Parada de respiração; Consoantes de lira. 3. Munir de armas; Zebu; Refúgio de obesos. 4. Não é aqui; O dono da mula falante. 5. Vazio; Traje para solenidades; Liga Deportiva Uviversitaria, campeão da Libertadores 2008, em cima do Fluminense. 6. País do Sudeste asiático; Alcoólicos Anônimos. 7. Relativo ao homem; 1.151 em algarismos romanos. 8. Pertencente à boca; Poesia cantada. 9. Raiva; Iminente. Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 43

43

30/07/12 14:53


E não conseguem

notar! Isaltino Gomes Pastor

Foto: stock.xchng

isaltino gomes

isaltino gomes . 44

Numa quinta-feira à noite, após três expedientes de trabalho, achei que a televisão me relaxaria. Fui ver um humorístico, “A praça é nossa”. Fezme rir, no passado. Havia um quadro de um sujeito vendendo bugigangas imprestáveis, e quando alguém perguntava: “Mas, quem compraria isso?”, vinha alguém que dizia “Eu!”. Geralmente todo estropiado, porque comprara o produto e se dera mal. O vendedor imitava os vendedores televisivos americanos, e não movia um músculo facial. Era hilário. Frustrei-me! Todos os quadros tinham insinuação sexual, e chula. Que pena, Carlos Alberto de Nóbrega! Era um programa que se podia ver com a família. Agora não. E não é moralismo de pastor. Tenho moral, sim, e não me envergonho de tê-la. Além de chulo era de inteligência rala. É uma marca de nosso tempo. A cultura está sendo imbecilizada. A televisão está idiotizando seus assistentes. Os programas e as músicas são medíocres. O massacre do idioma é terrível. Não bastasse o gerundismo, parece que os “s” finais não se pronunciam mais e o sujeito

pleonástico, que dói, virou regra: “O Brasil ele tem…”, “A seleção ela vai jogar…”. Ora, o pronome pessoal é desnecessário aqui! Ouvi um professor dizendo “Para mim fazer”. Outro lascou um “previlégio” (que sacrilégio!). Minha mãe me ensinou, aos 6 anos, que “mim” não faz nada. Só sofre e recebe. Voltando ao “A praça”: indignou-me. Tenho idade suficiente para desprezar o chulo. O problema é a mediocridade, de puxar todo mundo para baixo. Não quero aulas de Filosofia pela tevê, mas algo que uma pessoa que não tenha QI de ameba em estado de coma assista sem se sentir ultrajada. Chamar-me-ão de “elite”. É a ofensa preferida dos ignorantes. Tudo bem. Prefiro ser “elite” a ser boçal. Assistir programas de televisão tira alguém da elite. Na manhã seguinte, arrumavame e assistia o noticiário. Ou era o mesmo triunfalismo do regime militar (somos um oásis no mundo!) ou eram notícias de acidentes e crimes. Veio uma reportagem sobre violência no trânsito. Por fim, uma senhora comentou: “As pessoas estão ficando cada vez mais brutas”.

É verdade, em todas as áreas. Jogos de futebol são um risco para o torcedor. A violência se rotinizou no nosso cotidiano. As pessoas estão se tornando vulgares e não pensantes, como o que consomem. A violência é entretenimento e a sexualidade é a mais reles. A raiz é mesma: a coisificação do homem e da mulher. As pessoas perderam a dignidade (são imagem e semelhança de Deus) e se tornaram mercadoria. Principalmente a mulher. Ela é despida de sua dignidade e transformada em objeto. São coisas cujo valor está na estética. Como os produtos que compramos. Impressiona-me que as pessoas, principalmente formadoras de opinião, não vejam o todo. Somos uma cultura cada vez mais imersa na sensualidade, e não no cognitivo. As pessoas não são chamadas a pensar, mas a sentir. O mote hoje é “Sinto, logo existo”. Os sentimentos validam a existência. As emoções valem mais que a razão, e numa cultura altamente individualista, as emoções da pessoa lhe são as válidas e as norteadoras de sua conduta. Não há mais dever nem

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 44

30/07/12 14:53


Foto: divulgação . SBT

surgem na mídia é porque sucedeu algum escândalo. E não adianta culpar a mídia. Se escândalos não acontecerem não serão noticiados. É que os padrões estão baixos. A sensualidade os rebaixa. A ética requer cognição. Se a abolimos e vivemos na sensação não temos ética. Não estou “viajando”. Estou abismado com a incompreensão de tantos pregadores. O elemento cognitivo e racional da fé tem sido posto de lado. Nem sempre a Palavra é pregada e assim as pessoas não são chamadas ao raciocínio. Elas são chamadas apenas a sentir. O culto é programado para lhes provocar sensações. Elas são vistas como clientes que devem receber o que buscam. Nesta ótica, o púlpito não proclama a Palavra, mas procura fidelizar clientes. Não chegamos ao chulo e ao obsceno, mas fomos empobrecidos. Vejo isto nos cânticos pobres, na pregação pobre que não expõe a Palavra e sim conceitos culturais que afagam o ego dos ouvintes, e no empobrecimento cultural do culto. Tocam-se os instrumentos mais simples, e assim mesmo nos acordes mais fáceis. A cultura secular está empobrecendo e se mediocrizando. A cultura teológica e cúltica também. Estamos descendo e não subindo. Nosso nível está caindo. Não falo de sofisticação, mas da elevação do espírito que a fé cristã sempre proporcionou. Compreensão não mata. “… Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse” (At 8.30-31). O mundo precisa entender e a igreja precisa saber explicar. A fé vem pelo ouvir, e não pelo sentir: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). Cuidado com o sensualismo. Um pouco de cognoscibilidade nos fará bem. A cultura dos sentidos não é a mais elevada.

. isaltino gomes

senso do coletivo. As pessoas não são mais entes pensantes e sociais. São apenas animais que devem ter seus instintos saciados. Mesmo que baixos. O prazer rege o mundo, não o dever ou a responsabilidade. Vejo o mesmo na igreja. Em uma perspectiva sensual, as pessoas querem o prazer. Não sexual, mas querem o prazer. Avaliam o culto se ele lhes fez bem. O cântico pode ter uma letra esotérica e até antibíblica, mas se fez bem à pessoa, então é válido. Cantamos aberrações, mas se elas nos dão prazer são válidas. A busca do prazer é o culto de si. Numa prática litúrgica sensual (isto é, sustentada pelos sentidos), Deus é um pretexto para as pessoas cultuarem a si mesmas. Como somos espiritualmente sofisticados, não fazemos isso explicitamente, mas camuflamos.

Prevalece o nosso gosto: o bom culto é o que nos faz bem e não o que proclama a cruz e anuncia a graça de Deus. Muitos buscam não a glória de Deus, mas sua satisfação pessoal. Alguns acham que Deus foi glorificado se eles se sentiram bem. Por exemplo: uma senhora me disse ter discordado da mensagem bíblica do seu pastor, “porque o seu espírito não corroborou o Espírito”. Sua visão pessoal era mais valiosa que as Escrituras. O que ela ouviu não lhe fez bem, e assim o que ela sentia se sobrepôs à Palavra. Muitos crentes não têm senso de dever nem visão do todo. Buscam apenas a satisfação pessoal. Não querem o Espírito, mas o espírito (que por vezes dimensionam como o Espírito). “A Bíblia diz” cedeu lugar ao “eu sinto”. O entendimento cedeu espaço ao sentido. Nós não cremos mais. Nós sentimos. A fé deixou de ser compreensão e passou a ser sensação. O “eu” prevaleceu sobre o “Ele”. E o Deus que se revelou para ter sua mensagem compreendida pelos homens se tornou o Deus das sensações. Nada de razão e tudo de sentido. Não ao cognitivo e sim ao sensual. Estamos copiando a cultura do mundo. O culto sensual, a valorização dos sentidos, a glorificação do eu e o baixo nível de espiritualidade das igrejas têm conexão. Quando os evangélicos

isaltino gomes

as pessoas perderam a dignidade e se tornaram mercadoria. Principalmente a mulher. Ela é despida de sua dignidade e transformada em objeto

A Praça é Nossa, programa humorístico transmitido pelo canal SBT. Criado por Manuel de Nóbrega, em 1987 passou a ser apresentado pelo seu filho, Carlos Alberto de Nóbrega.

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 45

45

30/07/12 14:53


josué ebenezer

josué ebenezer .

O que é o Google? Uma ferramenta de pesquisa para Internet. Muito útil, mas que se incorretamente utilizada pode ser um caos para a educação moderna. A quantidade de estudantes e pesquisadores que se utiliza desta e de outras ferramentas disponíveis é quase que incalculável. Ouvi de um pregador, num auditório onde haviam várias igrejas representadas, a história de um seminarista que na formatura levantou uma faixa com os dizeres em epígrafe. Erro do seminarista. Erro do orador, que contou o causo em tom de chacota. Vivemos a era da superficialidade. Do enaltecimento do erro e do desvio; da busca das coisas fáceis e da apropriação das ideias alheias sem dar os devidos créditos. Os tempos modernos engendram uma cultura da farsa, da máscara. Estudantes que acessem a Internet com o intento de sugar o já feito, apropriar-se do suor do outro, daquele que já pensou, já refletiu, já elaborou conceitos e ideias, não estão levando a sério a vida acadêmica

e, consequentemente, não serão profissionais respeitáveis em suas áreas de trabalho. Além disso, como justificar um comportamento como esse, proveniente de alguém que está sendo encaminhando para o ministério pastoral, onde valores

nossos alunos ficam sujeitos à repetição de erros, criando-se uma normalidade altamente nociva para a educação brasileira

e princípios devem ser buscados e preservados? É eticamente reprovável aceitar as facilidades da tecnologia cibernética moderna para galgar novas etapas, cumprir com

facilidade obrigações estudantis, avançar para os passos seguintes sem que isto represente um esforço próprio e signifique apropriação de conhecimentos. Quero fazer três considerações básicas sobre a questão, que entendo serem úteis não só para estudantes que tenham princípios cristãos, mas para aqueles que de modo geral estão interessados em buscar um conhecimento sadio e honesto. Primeiro, a cópia de conteúdos não gera conhecimentos. É ignorância basear-se na cópia de conteúdos para cumprir requisitos necessários à aprovação em disciplinas acadêmicas. Nos tempos anteriores à Internet, ainda se tinha o concurso da “cópia manuscrita/datilografada de conteúdos” que, somada à leitura dos mesmos para efetuar a tal cópia, expunha o conteúdo em dois momentos distintos para o copista. Com o advento da Internet basta o uso das teclas Ctrl + C e Ctrl + V para a impressão de

Obrigado, Josué Ebenezer Escritor, poeta, pastor

46

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 46

30/07/12 14:53


Prata para

Thiago Pereira

Thiago Pereira só vencia no Pan, até agora. Medalha de prata nos 400m medley, Pereira foi superado por Ryan Lochte, mas deixou para trás o bicampeão Michael Phelps, que chegou em quarto lugar. Thiago Pereira já conquistou 12 ouros no Pan e é um recordista no certame. Esta foi sua primeira medalha olímpica e nos 200m medley, sua especialidade, pode chegar ao ouro. Foto: uol.com.br

Um campeão

improvável O sul-coreano Dong Hyun Im tem 20% de visão no olho direito e 10% no esquerdo. Na disputa de tiro com arco, no entanto, ele saiu na frente na disputa pelo pódio olímpico. Hyun é bicampeão por equipes (Atenas 2004 e Pequim 2008) e tenta conquistar o ouro individual. “Quando olho para o alvo, vejo as cores com linhas borradas entre elas. Quando olho para baixo da faixa do alvo, tudo o que posso fazer é tentar distinguir entre as diferentes cores. Se eu não pudesse vê-las, aí, sim, seria um problema”, contou Hyun ao jornal inglês The Telegraph.

. curta nota

controle do conteúdo apresentado. Neste caso, ocorre a admissão de que o trabalho é originário da Internet, o que, por si só, já é um erro. O fato de o professor procurar na “introdução” e na “conclusão” a intervenção do aluno é pouco para o conhecimento pretendido. Dessa forma, o processo ensinoaprendizagem fica prejudicado e o

aluno, por falta de leitura, ingressa no mercado de trabalho e na vida adulta sem a bagagem necessária para o enfrentamento das circunstâncias da vida. Entra-se, então, no círculo vicioso daquilo que já ouvi alhures: os professores fingem que ensinam, enquanto os alunos fingem que aprendem... Terceiro, o pequeno desvio é o pai da grande fraude. Sem princípios e valores norteadores da vida; sem exemplos de vida dos gestores da educação; sem parâmetros adequados para se conduzir o processo de aprendizagem, nossos alunos ficam sujeitos à repetição de erros, criandose uma normalidade altamente nociva para a educação brasileira. A sociedade, através dos meios de comunicação de massa, grita por maior moralidade na política nacional e tenta entender tanta corrupção, suborno e desvios entranhados na cultura nacional. Tudo começa, porém, nos pequenos delitos que a sociedade tampa os olhos para não ver, mas que vai inoculando a desgraça da corrupção nas veias morais da brasilidade. O brasileiro cresce acostumado a “levar vantagem em tudo”. Não há a preocupação de se estabelecer princípios morais (até porque alguns mais modernosos os reputam por antiquados) e o caos torna-se cada vez mais grave. O incremento da violência, do consumo de drogas, da banalização do sexo (com consequente aumento dos casos de assédio sexual, gravidez na adolescência, pedofilia e toda sorte de crime sexual), do aborto, da ilegalidade e da crise de autoridade tem a ver com os pequenos desvios (como o caso da “cópia” escolar) que não são devidamente disciplinados e que, entranhados no inconsciente coletivo nacional, constroem uma sociedade corrupta que se prepara para a grande fraude da vida: – Existir é uma hipocrisia! Às “cucuias” com a educação... Obrigado, Google, por expor as entranhas da moralidade brasileira e o que se vê não é nada animador.

curta nota

conteúdos que sequer foram lidos. Conhecimento se constrói com leitura, reflexão e assimilação de conteúdos. A tecnologia internética é avessa ao conhecimento e emburrece a classe estudantil à medida que não leva o indivíduo a exercitar a leitura, a reflexão e o cruzamento de dados, processo tão importante ao conhecimento. Segundo, os mestres não podem ser relapsos com seus alunos. No frenesi moderno, em que a educação brasileira se tornou um subemprego, professores precisam acumular contratos em várias instituições de ensino para reforçar o orçamento doméstico. Neste esquema, mal têm tempo para deslocar-se entre os estabelecimentos de ensino e não podem dar a devida atenção aos testes, trabalhos e pesquisas recomendados aos seus pupilos. Algumas escolas solicitam dos alunos uma “introdução” e uma “conclusão” aos trabalhos pedidos, criando, desta forma, um mecanismo de

Revista Elos | Edição 01 . Agosto 2012 |

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 47

47

30/07/12 14:53


Por que algumas mulheres só escolhem

homens errados?

David, de Michelangelo

Daniela Cardoso Jornalista

daniela cardoso

daniela cardoso . 48

Muitas mulheres reclamam da sorte nos seus relacionamentos. Elas se queixam que não conseguem encontrar o parceiro ideal, que só escolhem errado, enfim... que têm o dedo podre. Mas, será que não está na hora de avaliar as próprias atitudes e tentar ver em você o porquê dessas escolhas erradas? Duas especialistas falaram sobre o assunto para o site UOL. Elas deram dicas de atitudes que as mulheres devem adotar para fugir desse tipo de ‘armadilha amorosa’ A consultora Sandra Maia, autora dos livros “Eu Faço Tudo por Você” e “Você Está Disponível”, ambos da Editora Celebris, explica por que muita gente encara um romance problemático atrás do outro. Segundo a consultora, muitas mulheres se relacionam com os homens errados porque gostam mais da relação e da adrenalina do que do outro ou delas mesmas. Ela afirmou que algumas mulheres sentem medo de estarem sozinhas e acabam escolhendo a dedo as relações complicadas. Dicas para detectar o homem errado: A jornalista Rejane Freitas, autora de

“Pare de amar errado”, lista algumas armadilhas que devem ser evitadas. 1. Procure homens disponíveis, analisados, resolvidos, que já se definiram na vida. Você terá menos trabalho, mais prazer e não será tão difícil entendê-los. Lembre-se sempre: homens que não se acharam na vida e não se comprometem são os homens errados para amar. 2. Evite homens infelizes, confusos, com traumas, cheios de problemas e conflitos. Fuja também de sujeitos apaixonados por outra mulher e daqueles que estão vivendo um divórcio. 3. Existem homens que se acostumaram a ser solteiros e curtem isso. Não querem mais vida conjugal, casamento, cobranças, responsabilidades ou problemas de outra pessoa. Não querem abrir mão do conforto e da comodidade de cuidar apenas de si. Para esses homens, transas e casos são suficientes. Corra deles. Não será você a heroína que vai prender um homem assim, simplesmente porque essa mulher não existe. 4. Alguns homens são maravilhosos como namorados, fazem tudo pela felicidade da parceira, mas não são

bons como maridos. Quando os papéis mudam e a vida conjugal entra em cena, perdem o interesse e o desejo, como se a vida a dois e o compromisso tirassem o tesão. Pule fora da relação antes que ele fira profundamente a sua alma. 5. Quando conhecer um homem e ele se interessar por você, controle o furor da paixão e ative logo o seu desconfiômetro. Pergunte-se, por exemplo, quem é esse cara que chegou assim do nada, de onde veio, que tipo de família tem, por que quer cair de pára-quedas na sua vida e que motivos você tem para cair na dele também. Questione se ele vai lhe fazer bem ou mal. 6. Ao envolver-se com um homem recém-separado e ele quiser logo juntar as escovas de dente, pise no freio. Dê tempo para ter certeza de que ele está seguro dos sentimentos em relação a você ou se está apenas precisando de uma companhia para superar a perda da ex-mulher. Se for este o caso, quando ele se equilibrar emocionalmente, você corre o risco de ser descartada. Recém-separado, o homem não sabe ficar só, mas, se gosta da ex, continuará indisponível emocionalmente.

| Edição 01 . Agosto 2012 | Revista Elos

primeira_edicao_miolo_finalizado_cmyk.indd 48

30/07/12 14:53




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.