revista MACAU 32

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índice Fotorreportagem: Becos e pátios de Macau Recantos cheios de histórias, 10

Gonçalo Lobo Pinheiro

O mundo da cozinha chinesa Manual completo para entender sabores e tradições, 22

Sofia de Jesus

Oportunidades de ouro em Portugal Caminho aberto para investidores chineses, 48

Cláudia Aranda

O perfil do investidor chinês Quem são e o que querem os novos endinheirados da China, 58

Vera Penêda

Diáspora: Comunidade macaense em São Paulo Tradições continuam acesas, 64

Fernanda Ramone

Uma década sem o Padre Teixeira Um legado de mais de 130 obras e um lugar em branco, 72

Inês Dias

Volta à China: Ilha de Hainão Um paraíso aqui tão perto, 84

José Simões Morais

Ícones chineses: Incensos Perfume para fins diversos, 94 Cem anos de Deolinda da Conceição Uma mulher que marcou uma época, 98

Maria de Lurdes Nogueira Escalera

Bairro Artístico de Pequim Um espaço onde cabem todas as artes, 106

Fernanda Ramone

Convenção Internacional de Académicos da Ásia Todos os caminhos vão dar a Macau, 114

Cláudia Aranda

SECÇÕES Aconteceu, 4 Cartaz, 120 Memórias, 128

2

Viagem pelo mundo da culinária chinesa

A

variedade de ingredientes e modos de confecção dos pratos fazem da cozinha chinesa uma das mais ricas do mundo. Com mais de 5000 pratos, cerca de 20 cozinhas regionais diferentes, a gastronomia chinesa assenta num fundo cultural com mais de quatro milénios. Conheça os pratos mais emblemáticos do país, os ingredientes e os utensílios mais utilizados, e aprenda como se comportar à mesa.

p. 22 Portugal de portas abertas para investidores chineses

H

á oportunidades de ouro para aqueles que comprarem casa, abrirem um negócio ou gerarem emprego em Portugal. A concessão de um “visto dourado”, que permite residência e livre circulação pelo espaço comum europeu está a gerar um novo segmento de negócios focado especificamente em investidores chineses.

p. 48 Macaenses em São Paulo mantêm vivas as tradições

P

artiram de Macau contrariados entre as décadas de 1960 e 1970, mas hoje sentemse em casa em São Paulo, no Brasil. Apesar de cada vez mais reduzida, a diáspora macaense luta para manter tradições e hábitos vivos e semear a sua herança cultural única.

p. 64 Os livros nunca morrem

E

m Setembro completa-se uma década desde que Macau perdeu um padre, um historiador, um homem das letras, um excêntrico. O padre Manuel Teixeira deixou um valioso contributo para o estudo da documentação histórica, religiosa e cultural de Macau. São mais de 130 livros, outras centenas de cartas e estudos dedicados à história da presença dos portugueses em Macau e no Oriente.

p. 72 * Os artigos assinados expressam as opiniões dos seus autores e não necessariamente as da Revista Macau.

www.revistamacau.com

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índice Fotorreportagem: Becos e pátios de Macau Recantos cheios de histórias, 10

Gonçalo Lobo Pinheiro

O mundo da cozinha chinesa Manual completo para entender sabores e tradições, 22

Sofia de Jesus

Oportunidades de ouro em Portugal Caminho aberto para investidores chineses, 48

Cláudia Aranda

O perfil do investidor chinês Quem são e o que querem os novos endinheirados da China, 58

Vera Penêda

Diáspora: Comunidade macaense em São Paulo Tradições continuam acesas, 64

Fernanda Ramone

Uma década sem o Padre Teixeira Um legado de mais de 130 obras e um lugar em branco, 72

Inês Dias

Volta à China: Ilha de Hainão Um paraíso aqui tão perto, 84

José Simões Morais

Ícones chineses: Incensos Perfume para fins diversos, 94 Cem anos de Deolinda da Conceição Uma mulher que marcou uma época, 98

Maria de Lurdes Nogueira Escalera

Bairro Artístico de Pequim Um espaço onde cabem todas as artes, 106

Fernanda Ramone

Convenção Internacional de Académicos da Ásia Todos os caminhos vão dar a Macau, 114

Cláudia Aranda

SECÇÕES Aconteceu, 4 Cartaz, 120 Memórias, 128

2

Viagem pelo mundo da culinária chinesa

A

variedade de ingredientes e modos de confecção dos pratos fazem da cozinha chinesa uma das mais ricas do mundo. Com mais de 5000 pratos, cerca de 20 cozinhas regionais diferentes, a gastronomia chinesa assenta num fundo cultural com mais de quatro milénios. Conheça os pratos mais emblemáticos do país, os ingredientes e os utensílios mais utilizados, e aprenda como se comportar à mesa.

p. 22 Portugal de portas abertas para investidores chineses

H

á oportunidades de ouro para aqueles que comprarem casa, abrirem um negócio ou gerarem emprego em Portugal. A concessão de um “visto dourado”, que permite residência e livre circulação pelo espaço comum europeu está a gerar um novo segmento de negócios focado especificamente em investidores chineses.

p. 48 Macaenses em São Paulo mantêm vivas as tradições

P

artiram de Macau contrariados entre as décadas de 1960 e 1970, mas hoje sentemse em casa em São Paulo, no Brasil. Apesar de cada vez mais reduzida, a diáspora macaense luta para manter tradições e hábitos vivos e semear a sua herança cultural única.

p. 64 Os livros nunca morrem

E

m Setembro completa-se uma década desde que Macau perdeu um padre, um historiador, um homem das letras, um excêntrico. O padre Manuel Teixeira deixou um valioso contributo para o estudo da documentação histórica, religiosa e cultural de Macau. São mais de 130 livros, outras centenas de cartas e estudos dedicados à história da presença dos portugueses em Macau e no Oriente.

p. 72 * Os artigos assinados expressam as opiniões dos seus autores e não necessariamente as da Revista Macau.

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ACONTECEU

Uma década a ligar mercados lusófonos Morre o primeiro director do Aeroporto de Macau

Candidaturas abertas para fundo de mil milhões O Banco de Desenvolvimento da China está a aceitar desde Abril a inscrição de projectos de países lusófonos que se queiram candidatar ao fundo de 1000 milhões de dólares. A medida foi anunciada em Novembro de 2010, na 3.ª conferência ministerial do Fórum Macau, pelo primeiro-ministro chinês de então, Wen Jiabao, com o objectivo de aprofundar a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. O montante destina-se para empréstimos e financiamento de projectos lusófonos relacionados com a construção de infraestructuras, transportes, comunicações, energia, agricultura e recursos naturais.

António Rato, que foi o primeiro director do Aeroporto Internacional de Macau, morreu a 16 de Abril na RAEM, vítima de doença prolongada. Após um percurso profissional em Lisboa, onde trabalhou para a ANA- Aeroportos de Portugal e para o Ministério dos Assuntos Sociais - entre 1987 e 1990 -, António Rato chegou a Macau em 1994 para criar a ADA- Administração de Aeroportos, uma jointventure entre a ANA e a China National Aviation Corporation que gere o aeroporto de Macau e se manteve na posse das duas empresas fundadoras até 2011, quando foi adquirida pela CAM - Companhia do Aeroporto de Macau.

Confraria do Azeite começa internacionalização por Macau

100 milhões de patacas

foi quanto o governo de Macau doou para apoiar a recuperação de Sichuan após o forte sismo de Abril

27.776 é o número de estudantes matriculados nas dez instituições de ensino superior de Macau, mais 1559 face ao ano lectivo de 2011/2012

A Confraria do Azeite vai começar a sua internacionalização por Macau, com a entronização de cerca de 20 confrades na Região no próximo dia 30 de Junho. O organismo foi criado em 2004, tem sede no Fundão e decidiu avançar para a internacionalização em Macau devido à forte presença portuguesa. Ainda assim, a Confraria espera reunir também pessoas de Hong Kong e do interior do País. 4

revista MACAU · Junho 2013

www.revistamacau.com

Mecanismo Conjunto para Ilha da montanha O Governo de Macau informou em Abril que foi criado, com o município de Zhuhai, um mecanismo de comunicação periódica para a coordenação do desenvolvimento conjunto da ilha da Montanha, a terceira área estratégica da China. Até 2020, Pequim prevê que a Ilha da Montanha, com 106,46 quilómetros quadrados - o triplo da área de Macau -, tenha uma população de 280 mil pessoas com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 200 mil yuans .

A Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos (ACIML), radicada em Macau, celebrou em Abril dez anos, satisfeita com o trabalho desenvolvido e com a crescente procura pelos serviços que presta como elo de negócios entre dois mundos. A ACIML conta actualmente com cerca de uma centena de sócios, numa carteira que pretende alargar, ainda este ano, com a aceitação de empresários do Interior da China, mantendo-se apostada em desempenhar o seu papel de facilitadora de negócios.

GP com edição especial para celebrar 60 anos O Grande Prémio (GP) de Macau celebra este ano o 60.º aniversário com 13 corridas em dois fins-desemana, das quais cinco serão estreias, e com uma nova torre de controlo. O maior evento desportivo da RAEM vai realizar-se em Novembro, nos fins-desemana de 9 e 10 e de 14 a 17 sob o tema "Celebração do Jubileu de Diamante com Estrelas". Será ainda lançada uma emissão filatélica comemorativa e o historiador Philip Newsome irá publicar em livro uma cronologia detalhadas das seis décadas do evento. 5


ACONTECEU

Uma década a ligar mercados lusófonos Morre o primeiro director do Aeroporto de Macau

Candidaturas abertas para fundo de mil milhões O Banco de Desenvolvimento da China está a aceitar desde Abril a inscrição de projectos de países lusófonos que se queiram candidatar ao fundo de 1000 milhões de dólares. A medida foi anunciada em Novembro de 2010, na 3.ª conferência ministerial do Fórum Macau, pelo primeiro-ministro chinês de então, Wen Jiabao, com o objectivo de aprofundar a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. O montante destina-se para empréstimos e financiamento de projectos lusófonos relacionados com a construção de infraestructuras, transportes, comunicações, energia, agricultura e recursos naturais.

António Rato, que foi o primeiro director do Aeroporto Internacional de Macau, morreu a 16 de Abril na RAEM, vítima de doença prolongada. Após um percurso profissional em Lisboa, onde trabalhou para a ANA- Aeroportos de Portugal e para o Ministério dos Assuntos Sociais - entre 1987 e 1990 -, António Rato chegou a Macau em 1994 para criar a ADA- Administração de Aeroportos, uma jointventure entre a ANA e a China National Aviation Corporation que gere o aeroporto de Macau e se manteve na posse das duas empresas fundadoras até 2011, quando foi adquirida pela CAM - Companhia do Aeroporto de Macau.

Confraria do Azeite começa internacionalização por Macau

100 milhões de patacas

foi quanto o governo de Macau doou para apoiar a recuperação de Sichuan após o forte sismo de Abril

27.776 é o número de estudantes matriculados nas dez instituições de ensino superior de Macau, mais 1559 face ao ano lectivo de 2011/2012

A Confraria do Azeite vai começar a sua internacionalização por Macau, com a entronização de cerca de 20 confrades na Região no próximo dia 30 de Junho. O organismo foi criado em 2004, tem sede no Fundão e decidiu avançar para a internacionalização em Macau devido à forte presença portuguesa. Ainda assim, a Confraria espera reunir também pessoas de Hong Kong e do interior do País. 4

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Mecanismo Conjunto para Ilha da montanha O Governo de Macau informou em Abril que foi criado, com o município de Zhuhai, um mecanismo de comunicação periódica para a coordenação do desenvolvimento conjunto da ilha da Montanha, a terceira área estratégica da China. Até 2020, Pequim prevê que a Ilha da Montanha, com 106,46 quilómetros quadrados - o triplo da área de Macau -, tenha uma população de 280 mil pessoas com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 200 mil yuans .

A Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos (ACIML), radicada em Macau, celebrou em Abril dez anos, satisfeita com o trabalho desenvolvido e com a crescente procura pelos serviços que presta como elo de negócios entre dois mundos. A ACIML conta actualmente com cerca de uma centena de sócios, numa carteira que pretende alargar, ainda este ano, com a aceitação de empresários do Interior da China, mantendo-se apostada em desempenhar o seu papel de facilitadora de negócios.

GP com edição especial para celebrar 60 anos O Grande Prémio (GP) de Macau celebra este ano o 60.º aniversário com 13 corridas em dois fins-desemana, das quais cinco serão estreias, e com uma nova torre de controlo. O maior evento desportivo da RAEM vai realizar-se em Novembro, nos fins-desemana de 9 e 10 e de 14 a 17 sob o tema "Celebração do Jubileu de Diamante com Estrelas". Será ainda lançada uma emissão filatélica comemorativa e o historiador Philip Newsome irá publicar em livro uma cronologia detalhadas das seis décadas do evento. 5


ACONTECEU

Centenas juntam-se à procissão de Fátima

219.246 veículos, a maioria de duas rodas, circulavam por Macau no primeiro trimestre deste ano

$ Nova aposta na cooperação com países lusófonos A Fundação Rui Cunha abriu em Abril uma biblioteca com 4000 obras do Direito e lançou uma revista jurídica bilíngue (chinês e português), que pretende fazer chegar aos países lusófonos, com os quais aposta numa cooperação na área do Direito. Estas iniciativas inserem-se na celebração do primeiro ano de actividade da fundação, criada pelo advogado Rui Cunha, em Macau há mais de 30 anos, sem fins lucrativos e que se dedica à difusão do Direito local, de matriz portuguesa, à promoção da participação cívica e de actividades culturais e artísticas. 6

8% foi o aumento que o Índice de Preços Turísticos sofreu no primeiro trimestre

Centenas de católicos e curiosos assistiram e participaram a 13 de Maio na procissão de Nossa Senhora de Fátima, num acontecimento singular em que os fiéis marcam a sua posição de fé e os turistas testemunham a liberdade religiosa em Macau. Ao cair da noite, como é tradição, o andor com a imagem de Nossa Senhora de Fátima saiu da Igreja de São Domingos carregado em ombros pelos congregados e congregadas marianos, num desfile aberto por três crianças que simbolizam os pastorinhos de Fátima.

Mundo fotografado por invisuais em experiência pioneira

Portugal e China celebram marcos das relações Portugal e China vão assinalar este ano e em 2014 marcos importantes nas relações bilaterais com dezenas de eventos científicos e culturais, que vão desde conferências até marchas populares em Lisboa com temática chinesa. Uma iniciativa do Observatório da China em Lisboa envolvendo universidades, câmaras municipais, empresas, associações e órgãos de comunicação social irá marcar os 14 anos da transferência de Macau, os dez anos do Fórum Macau e os 35 anos de restabelecimento das relações diplomáticas luso-chinesas.

revista MACAU · Junho 2013

A Universidade de São José (USJ) foi o local escolhido para a exposição Touch Me, uma colectânea de fotografias tiradas por invisuais, no âmbito de uma experiência inédita em Macau, com a mensagem de que "o essencial é invisível aos olhos". Com idades entre 20 e 50 anos, os ‘alunos', do Centro de Reabilitação de Cegos e da Escola S. João de Brito, enveredaram na aventura de capturar momentos sinalizados pelo som e toque e demais sensações, que esteve patente durante todo o mês de Abril.

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Centenas juntam-se à procissão de Fátima

219.246 veículos, a maioria de duas rodas, circulavam por Macau no primeiro trimestre deste ano

$ Nova aposta na cooperação com países lusófonos A Fundação Rui Cunha abriu em Abril uma biblioteca com 4000 obras do Direito e lançou uma revista jurídica bilíngue (chinês e português), que pretende fazer chegar aos países lusófonos, com os quais aposta numa cooperação na área do Direito. Estas iniciativas inserem-se na celebração do primeiro ano de actividade da fundação, criada pelo advogado Rui Cunha, em Macau há mais de 30 anos, sem fins lucrativos e que se dedica à difusão do Direito local, de matriz portuguesa, à promoção da participação cívica e de actividades culturais e artísticas. 6

8% foi o aumento que o Índice de Preços Turísticos sofreu no primeiro trimestre

Centenas de católicos e curiosos assistiram e participaram a 13 de Maio na procissão de Nossa Senhora de Fátima, num acontecimento singular em que os fiéis marcam a sua posição de fé e os turistas testemunham a liberdade religiosa em Macau. Ao cair da noite, como é tradição, o andor com a imagem de Nossa Senhora de Fátima saiu da Igreja de São Domingos carregado em ombros pelos congregados e congregadas marianos, num desfile aberto por três crianças que simbolizam os pastorinhos de Fátima.

Mundo fotografado por invisuais em experiência pioneira

Portugal e China celebram marcos das relações Portugal e China vão assinalar este ano e em 2014 marcos importantes nas relações bilaterais com dezenas de eventos científicos e culturais, que vão desde conferências até marchas populares em Lisboa com temática chinesa. Uma iniciativa do Observatório da China em Lisboa envolvendo universidades, câmaras municipais, empresas, associações e órgãos de comunicação social irá marcar os 14 anos da transferência de Macau, os dez anos do Fórum Macau e os 35 anos de restabelecimento das relações diplomáticas luso-chinesas.

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A Universidade de São José (USJ) foi o local escolhido para a exposição Touch Me, uma colectânea de fotografias tiradas por invisuais, no âmbito de uma experiência inédita em Macau, com a mensagem de que "o essencial é invisível aos olhos". Com idades entre 20 e 50 anos, os ‘alunos', do Centro de Reabilitação de Cegos e da Escola S. João de Brito, enveredaram na aventura de capturar momentos sinalizados pelo som e toque e demais sensações, que esteve patente durante todo o mês de Abril.

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Metro quadrado à lupa

ACONTECEU

Fonte: Direcção dos Serviços de Finanças

Vice-ministro apresenta política de investimento

+66,18% aumento do preço médio do metro quadrado em relação a 2012

O vice-ministro do Comércio da República Popular da China Wang Chao passou pela RAEM, em Abril, para participar num seminário sobre a política de investimento no país. Durante o evento, foram discutidos temas como as políticas de investimento de empresas do interior da China no exterior, as principais políticas de distribuição de rendimentos salariais aplicadas nas empresas do interior da China, diplomas relativos à política ambiental e desenvolvimento urbano.

preço do metro quadrado residencial na RAEM

81.878 (+65,8 %)

MOP

preço do metro quadrado na península de Macau

Portugueses vencem Festival Macau Indies

Chefe do Executivo garante aposta no português

Os realizadores portugueses António Caetano Faria e Ruka Borges venceram em Maio o prémio do júri no "Macau Indies" com o documentário No Vazio, que explora as artes do oculto e a espiritualidade na RAEM. A longametragem competia com 19 dos 21 filmes do cartaz do Macau Indies para o prémio do júri, formado por elementos de Hong Kong, Taiwan e China, de 25 mil patacas.

O Chefe do Executivo da RAEM reconhece que há espaço para melhorias no trabalho que Macau faz enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, mas entende que o território tem cumprido a função que lhe está destinada, nomeadamente na formação de quadros. Chui Sai On referiu que o Governo vai continuar a apostar em bons cursos e bons professores, para dar vazão aos milhares de estudantes chineses com interesse na língua portuguesa.

8

88.097 (+66,18%)

MOP

revista MACAU · Junho 2013

www.revistamacau.com

75.961 (+54,26%)

MOP

preço do metro quadrado na Taipa

112.892 (+51,26%)

MOP

preço do metro quadrado em Coloane

10,5 milhões

MOP

Preço médio de um apartamento de 3 quartos

13.334 fracções habitacionais estavam desocupadas no final de 2012

Bonecos da Walt Disney chegam à cidade Acordar com uma chamada do Shrek ou tomar o pequenoalmoço com Alex, o leão, são experiências que a operadora de jogo Sands China vai oferecer aos clientes dos seus hotéis em Macau a partir de Julho. A operadora de jogo assinou, em Maio, um acordo com o estúdio norte-americano DreamWorks para que personagens dos seus filmes de animação passem a "viver" nos empreendimentos turísticos do Cotai, em mais um passo para tornar Macau num destino turístico apetecível para famílias. 9


Metro quadrado à lupa

ACONTECEU

Fonte: Direcção dos Serviços de Finanças

Vice-ministro apresenta política de investimento

+66,18% aumento do preço médio do metro quadrado em relação a 2012

O vice-ministro do Comércio da República Popular da China Wang Chao passou pela RAEM, em Abril, para participar num seminário sobre a política de investimento no país. Durante o evento, foram discutidos temas como as políticas de investimento de empresas do interior da China no exterior, as principais políticas de distribuição de rendimentos salariais aplicadas nas empresas do interior da China, diplomas relativos à política ambiental e desenvolvimento urbano.

preço do metro quadrado residencial na RAEM

81.878 (+65,8 %)

MOP

preço do metro quadrado na península de Macau

Portugueses vencem Festival Macau Indies

Chefe do Executivo garante aposta no português

Os realizadores portugueses António Caetano Faria e Ruka Borges venceram em Maio o prémio do júri no "Macau Indies" com o documentário No Vazio, que explora as artes do oculto e a espiritualidade na RAEM. A longametragem competia com 19 dos 21 filmes do cartaz do Macau Indies para o prémio do júri, formado por elementos de Hong Kong, Taiwan e China, de 25 mil patacas.

O Chefe do Executivo da RAEM reconhece que há espaço para melhorias no trabalho que Macau faz enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, mas entende que o território tem cumprido a função que lhe está destinada, nomeadamente na formação de quadros. Chui Sai On referiu que o Governo vai continuar a apostar em bons cursos e bons professores, para dar vazão aos milhares de estudantes chineses com interesse na língua portuguesa.

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88.097 (+66,18%)

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75.961 (+54,26%)

MOP

preço do metro quadrado na Taipa

112.892 (+51,26%)

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preço do metro quadrado em Coloane

10,5 milhões

MOP

Preço médio de um apartamento de 3 quartos

13.334 fracções habitacionais estavam desocupadas no final de 2012

Bonecos da Walt Disney chegam à cidade Acordar com uma chamada do Shrek ou tomar o pequenoalmoço com Alex, o leão, são experiências que a operadora de jogo Sands China vai oferecer aos clientes dos seus hotéis em Macau a partir de Julho. A operadora de jogo assinou, em Maio, um acordo com o estúdio norte-americano DreamWorks para que personagens dos seus filmes de animação passem a "viver" nos empreendimentos turísticos do Cotai, em mais um passo para tornar Macau num destino turístico apetecível para famílias. 9


fotorreportagem

Recantos cheios de história Nos becos e pátios dos bairros antigos de Macau sente-se um outro pulsar da cidade longe das multidões de turistas. Comidas, cheiros, barulhos, costumes e tradições misturam-se numa disciplina urbana inconfundível, onde a vida parece ter ficado parada no tempo

O

s becos e pátios de Macau são um tesouro histórico bem guardado. Deixar-se perder pelos pequenos labirintos dos bairros mais antigos da cidade é uma verdadeira lição de história e arquitectura. A estrutura chinesa de construção em torno da família e do lar – seguindo sobretudo os princípios do feng shui – mistura-se com detalhes ocidentais, influenciados não apenas pela arquitectura portuguesa, mas por uma panóplia de estilos que passam por Brasil, Marrocos, Goa, Ceilão e África. O historiador norte-americano Jonathan Porter descreve, no livro Macau: A cidade imaginária, que nos becos e pátios mais antigos as casas eram construídas de tijolos ou barro, com colunas em madeira à volta do pátio central. “À moda chinesa, a parede ao redor da porta principal ficava geralmente recuada e a área debaixo dos beirais eram decoradas com gravuras, pinturas ou figuras de porcelana. A olhar de fora, estes edifícios ao estilo chinês pouco interesse podem despertar, mas os seus interiores são uma panóplia de estilos chineses e ocidentais: colunas de madeira talhadas, pinturas minuciosas, grades de ferro ornamentadas, tetos estampados, altares e lanternas.”

Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

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Recantos cheios de história Nos becos e pátios dos bairros antigos de Macau sente-se um outro pulsar da cidade longe das multidões de turistas. Comidas, cheiros, barulhos, costumes e tradições misturam-se numa disciplina urbana inconfundível, onde a vida parece ter ficado parada no tempo

O

s becos e pátios de Macau são um tesouro histórico bem guardado. Deixar-se perder pelos pequenos labirintos dos bairros mais antigos da cidade é uma verdadeira lição de história e arquitectura. A estrutura chinesa de construção em torno da família e do lar – seguindo sobretudo os princípios do feng shui – mistura-se com detalhes ocidentais, influenciados não apenas pela arquitectura portuguesa, mas por uma panóplia de estilos que passam por Brasil, Marrocos, Goa, Ceilão e África. O historiador norte-americano Jonathan Porter descreve, no livro Macau: A cidade imaginária, que nos becos e pátios mais antigos as casas eram construídas de tijolos ou barro, com colunas em madeira à volta do pátio central. “À moda chinesa, a parede ao redor da porta principal ficava geralmente recuada e a área debaixo dos beirais eram decoradas com gravuras, pinturas ou figuras de porcelana. A olhar de fora, estes edifícios ao estilo chinês pouco interesse podem despertar, mas os seus interiores são uma panóplia de estilos chineses e ocidentais: colunas de madeira talhadas, pinturas minuciosas, grades de ferro ornamentadas, tetos estampados, altares e lanternas.”

Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

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fotorreportagem

A arquitectura mista de Macau resiste ao tempo e ao desenvolvimento e mantÊm-se como parte da herança multicultural e pluralista da cidade de outrora

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A arquitectura mista de Macau resiste ao tempo e ao desenvolvimento e mantÊm-se como parte da herança multicultural e pluralista da cidade de outrora

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fotorreportagem

Era um hábito antigo pintar as paredes exteriores de amarelo, verde, rosa ou azul, mas o clima húmido e tropical da cidade não tardava em desbotar as cores vivas. O que ainda hoje se vê são camadas e mais camadas de tinta que resistem ao tempo 14

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Era um hábito antigo pintar as paredes exteriores de amarelo, verde, rosa ou azul, mas o clima húmido e tropical da cidade não tardava em desbotar as cores vivas. O que ainda hoje se vê são camadas e mais camadas de tinta que resistem ao tempo 14

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Os becos e pátios em estilo chinês começaram a expandir-se nos bairros de São Lázaro, Sé, São Lourenço e na zona do Porto Interior no início do século XX, naquele que era o coração do Bazar Chinês, onde a maioria da população de origem chinesa se concentrava

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Os becos e pátios em estilo chinês começaram a expandir-se nos bairros de São Lázaro, Sé, São Lourenço e na zona do Porto Interior no início do século XX, naquele que era o coração do Bazar Chinês, onde a maioria da população de origem chinesa se concentrava

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Os blocos regulares perdidos por entre ruas estreitas sĂŁo sobretudo caracterizados pelos tijolos de tons azulados e pelas janelas de madeira antes adornadas por madrepĂŠrolas

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Os blocos regulares perdidos por entre ruas estreitas sĂŁo sobretudo caracterizados pelos tijolos de tons azulados e pelas janelas de madeira antes adornadas por madrepĂŠrolas

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ASSINATURA ANUAL DA REVISTA MACAU

Lisboa Centro de Promoção e Informação Turística de Macau em Portugal Direcção dos Serviços de Turismo da RAEM Av. 5 de Outubro, n.o 115, r/c 1069-204 Lisboa Tel: +(351) 217 936 542

Livraria S.Paulo Travessa do Bispo - 11 R/C "C" Tel: +(853) 28 323 957 Plaza Cultural Av. Conselheiro Ferreira de Almeida, 32 Café Caravela Pátio do Comandante Mata e Oliveira, 29

Delegação Económica e Comercial de Macau Av. 5 de Outubro, 115 – 4º 1069-204 Lisboa

Pizza & Companhia Av. Ouvidor Arriaga, 79/79A Jade Garden Magazines Stall Av. da Praia Grande S/N

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GASTRONOMIA

O mundo da

A variedade de ingredientes e modos de confecção dos pratos fazem da cozinha chinesa uma das mais ricas do mundo. Com mais de 5000 pratos, cerca de 20 cozinhas regionais diferentes, a gastronomia chinesa assenta num fundo cultural com mais de quatro milénios. A culinária é explorada não só pela medicina, mas também por manifestações religiosas, filosóficas, poéticas e até políticas. Conheça os pratos mais emblemáticos do país, os ingredientes e os utensílios mais utilizados, e aprenda como se comportar à mesa

cozinha chinesa

Texto Sofia Jesus | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro | Ilustrações Rodrigo de Matos

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GASTRONOMIA

O mundo da

A variedade de ingredientes e modos de confecção dos pratos fazem da cozinha chinesa uma das mais ricas do mundo. Com mais de 5000 pratos, cerca de 20 cozinhas regionais diferentes, a gastronomia chinesa assenta num fundo cultural com mais de quatro milénios. A culinária é explorada não só pela medicina, mas também por manifestações religiosas, filosóficas, poéticas e até políticas. Conheça os pratos mais emblemáticos do país, os ingredientes e os utensílios mais utilizados, e aprenda como se comportar à mesa

cozinha chinesa

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GASTRONOMIA

A

relação dos chineses com a comida sente-se na língua. Óbvio? Não tanto. É que não falamos de paladar, mas de velhas expressões. Ainda hoje perguntar “já comeste?” é equivalente a um cumprimento como “olá, tudo bem?”. E há um velho ditado chinês que diz que “as pessoas olham para a comida como para o céu”. A comida para os chineses faz parte das prioridades da vida: “vestir, comer, ter onde morar e passear”, numa tradução livre de outro dito popular. O chefe Liu Guo Zhu, que comanda as operações de culinária chinesa da Wynn Macau, e em especial do restaurante Golden Flower, lembra que o significado da comida na cultura de um povo “evolui com a situação económica do país” e o mesmo acontece na China. Também o chefe Tam Kwok Fung, que gere as operações do City of Dreams, com particular atenção ao restaurante Jade Dragon, explica que nos últimos 20 anos, com o aumento da qualidade de vida, também os produtos à disposição dos

* Tam Kwok Fung, chefe do City of Dreams

chefes subiram de qualidade, influenciando algumas receitas tradicionais. Mas uma das características únicas da culinária chinesa, que se mantém há milénios, é a riqueza que advém da diversidade. Há uma enorme variedade de técnicas, de ingredientes, de sabores, de aromas, de cores. “Não há no mundo um sítio como a China”, comenta o chefe Liu, referindo-se ao sem-número de cozinhas regionais diferentes que existem no país. Uma estimativa incompleta, citada pela edição online da Rádio Internacional da China, aponta para a existência de mais de 5000 pratos típicos locais, sem contar com os pratos caseiros mais comuns. A preparação dos alimentos, que passa por minuciosas técnicas de corte, por exemplo, é tão importante quanto a mestria usada para cozinhálos. Como veremos nestas páginas, há dezenas de técnicas para confeccionar os pratos e esta é, segundo os chefes ouvidos pela MACAU, uma das maiores riquezas da gastronomia chinesa. Outra característica única da culinária da China,

é, segundo o chefe Tam, a ideia de equilíbrio, “uma técnica de bem-estar”. No prato, como na vida, pesam-se o yin e o yang. Cada alimento, explica também Cecília Jorge na obra Sabe comer com pauzinhos?, é tradicionalmente associado a um dos dois elementos cósmicos e a cada momento deve compensar-se a predominância de um deles com ingredientes ou técnicas que representem o outro. Como exemplo, a autora de Macau indica que o yang é associado ao masculino, ao positivo, à claridade, ao calor e à secura, enquanto o yin está ligado ao feminino, ao negativo, à escuridão, ao frio e à humidade. A cozinha chinesa, destaca ainda o chefe Tam, é de um modo geral “saudável”. Há técnicas mais saudáveis que outras, mas “mesmo a quantidade de óleo que se usa no wok pode ser gerida”. A confecção em lume muito forte, acrescenta, permite cozinhar os alimentos de forma “muito rápida”, conservando “mais nutrientes naturais”. Contar a história da culinária chinesa ou descrever todas as suas características seria uma conversa que demoraria horas intermináveis, avisam os chefes. As páginas que se seguem são, por isso, uma pequeníssima amostra de um mundo de tradições milenares, que, esperamos, possam aguçar o apetite para mais descobertas. Lidas, mas, sobretudo, saboreadas...

* Liu Guo Zhu, chefe do Wynn Macau

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relação dos chineses com a comida sente-se na língua. Óbvio? Não tanto. É que não falamos de paladar, mas de velhas expressões. Ainda hoje perguntar “já comeste?” é equivalente a um cumprimento como “olá, tudo bem?”. E há um velho ditado chinês que diz que “as pessoas olham para a comida como para o céu”. A comida para os chineses faz parte das prioridades da vida: “vestir, comer, ter onde morar e passear”, numa tradução livre de outro dito popular. O chefe Liu Guo Zhu, que comanda as operações de culinária chinesa da Wynn Macau, e em especial do restaurante Golden Flower, lembra que o significado da comida na cultura de um povo “evolui com a situação económica do país” e o mesmo acontece na China. Também o chefe Tam Kwok Fung, que gere as operações do City of Dreams, com particular atenção ao restaurante Jade Dragon, explica que nos últimos 20 anos, com o aumento da qualidade de vida, também os produtos à disposição dos

* Tam Kwok Fung, chefe do City of Dreams

chefes subiram de qualidade, influenciando algumas receitas tradicionais. Mas uma das características únicas da culinária chinesa, que se mantém há milénios, é a riqueza que advém da diversidade. Há uma enorme variedade de técnicas, de ingredientes, de sabores, de aromas, de cores. “Não há no mundo um sítio como a China”, comenta o chefe Liu, referindo-se ao sem-número de cozinhas regionais diferentes que existem no país. Uma estimativa incompleta, citada pela edição online da Rádio Internacional da China, aponta para a existência de mais de 5000 pratos típicos locais, sem contar com os pratos caseiros mais comuns. A preparação dos alimentos, que passa por minuciosas técnicas de corte, por exemplo, é tão importante quanto a mestria usada para cozinhálos. Como veremos nestas páginas, há dezenas de técnicas para confeccionar os pratos e esta é, segundo os chefes ouvidos pela MACAU, uma das maiores riquezas da gastronomia chinesa. Outra característica única da culinária da China,

é, segundo o chefe Tam, a ideia de equilíbrio, “uma técnica de bem-estar”. No prato, como na vida, pesam-se o yin e o yang. Cada alimento, explica também Cecília Jorge na obra Sabe comer com pauzinhos?, é tradicionalmente associado a um dos dois elementos cósmicos e a cada momento deve compensar-se a predominância de um deles com ingredientes ou técnicas que representem o outro. Como exemplo, a autora de Macau indica que o yang é associado ao masculino, ao positivo, à claridade, ao calor e à secura, enquanto o yin está ligado ao feminino, ao negativo, à escuridão, ao frio e à humidade. A cozinha chinesa, destaca ainda o chefe Tam, é de um modo geral “saudável”. Há técnicas mais saudáveis que outras, mas “mesmo a quantidade de óleo que se usa no wok pode ser gerida”. A confecção em lume muito forte, acrescenta, permite cozinhar os alimentos de forma “muito rápida”, conservando “mais nutrientes naturais”. Contar a história da culinária chinesa ou descrever todas as suas características seria uma conversa que demoraria horas intermináveis, avisam os chefes. As páginas que se seguem são, por isso, uma pequeníssima amostra de um mundo de tradições milenares, que, esperamos, possam aguçar o apetite para mais descobertas. Lidas, mas, sobretudo, saboreadas...

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GASTRONOMIA

Soja

Ingredientes

O feijão de soja é indispensável na comida chinesa, sendo a partir dele que se produz uma série de ingredientes muito utilizados. O chefe Tam elege a pasta de soja como um dos mais importantes. As receitas de pasta de soja fermentada variam consoante as regiões. A diferença está relacionada com o uso de mais ou menos açúcar. Segundo o chefe, os feijões de soja são cozidos, misturados com água e sal, cobertos e deixados ao sol, a fermentar durante vários meses ou mesmo um ano. A pasta de soja é comum sobretudo na Província de Guangdong. Muito apreciado também na cozinha chinesa é o molho de soja, usado no tempero de carnes, peixe, marisco e vegetais. Há no mercado diferentes tipos de molho de soja, uns mais salgados que outros. Muito comuns na cozinha chinesa são também os rebentos de soja e o tofu (espécie de queijo obtido a partir da coagulação do leite de soja). Há ainda a nata de soja, em feixe ou em folha, muito usada em grande parte dos caldos, guisados e receitas vegetarianas (como o chai).

A alimentação caseira dos chineses funciona com ingredientes simples, mas variados. O tempero é feito com pouco sal, compensado com o molho ou uma pasta de soja e, por vezes, ingredientes secos ou conservas salgadas ou aciduladas, explica Cecília Jorge. Recorre-se, sobretudo, a muitos vegetais e legumes, peixe fresco e aves. Ao contrário do que acontece em muitos países do Ocidente, as carnes são sempre em pequena dose. Ousar listar os principais ingredientes da cozinha chinesa é uma missão quase impossível. Deixamos, por isso, apenas alguns exemplos importantes:

Arroz É a base da alimentação diária em toda a China. Isto apesar de, segundo o chefe Tam Kwok Fung, ser menos abundante na zona Oeste do país. A maior parte do arroz produzido na China provém da região do Sul.

Gengibre É um dos condimentos mais comuns na gastronomia chinesa. Para melhor aproveitar as suas qualidades, deve usar-se fresco, aconselha Cecília Jorge.

Cogumelos Além dos cogumelos frescos, que aparecem no mercado em diferentes épocas do ano, são muito usados na cozinha chinesa os cogumelos secos: os mais conhecidos são os tung-ku, maiores, e os fá-ku, pequenos. Há ainda as “orelhas de rato” ou “van ii”, um fungo que deve ser sempre usado como complemento de outros ingredientes, bastando uma pequena dose, já que o seu volume, explica Cecília Jorge, triplica em contacto com a água. Fontes: chefe Tam Kwok Fung; Sabe comer com pauzinhos?, de Cecília Jorge.

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Soja

Ingredientes

O feijão de soja é indispensável na comida chinesa, sendo a partir dele que se produz uma série de ingredientes muito utilizados. O chefe Tam elege a pasta de soja como um dos mais importantes. As receitas de pasta de soja fermentada variam consoante as regiões. A diferença está relacionada com o uso de mais ou menos açúcar. Segundo o chefe, os feijões de soja são cozidos, misturados com água e sal, cobertos e deixados ao sol, a fermentar durante vários meses ou mesmo um ano. A pasta de soja é comum sobretudo na Província de Guangdong. Muito apreciado também na cozinha chinesa é o molho de soja, usado no tempero de carnes, peixe, marisco e vegetais. Há no mercado diferentes tipos de molho de soja, uns mais salgados que outros. Muito comuns na cozinha chinesa são também os rebentos de soja e o tofu (espécie de queijo obtido a partir da coagulação do leite de soja). Há ainda a nata de soja, em feixe ou em folha, muito usada em grande parte dos caldos, guisados e receitas vegetarianas (como o chai).

A alimentação caseira dos chineses funciona com ingredientes simples, mas variados. O tempero é feito com pouco sal, compensado com o molho ou uma pasta de soja e, por vezes, ingredientes secos ou conservas salgadas ou aciduladas, explica Cecília Jorge. Recorre-se, sobretudo, a muitos vegetais e legumes, peixe fresco e aves. Ao contrário do que acontece em muitos países do Ocidente, as carnes são sempre em pequena dose. Ousar listar os principais ingredientes da cozinha chinesa é uma missão quase impossível. Deixamos, por isso, apenas alguns exemplos importantes:

Arroz É a base da alimentação diária em toda a China. Isto apesar de, segundo o chefe Tam Kwok Fung, ser menos abundante na zona Oeste do país. A maior parte do arroz produzido na China provém da região do Sul.

Gengibre É um dos condimentos mais comuns na gastronomia chinesa. Para melhor aproveitar as suas qualidades, deve usar-se fresco, aconselha Cecília Jorge.

Cogumelos Além dos cogumelos frescos, que aparecem no mercado em diferentes épocas do ano, são muito usados na cozinha chinesa os cogumelos secos: os mais conhecidos são os tung-ku, maiores, e os fá-ku, pequenos. Há ainda as “orelhas de rato” ou “van ii”, um fungo que deve ser sempre usado como complemento de outros ingredientes, bastando uma pequena dose, já que o seu volume, explica Cecília Jorge, triplica em contacto com a água. Fontes: chefe Tam Kwok Fung; Sabe comer com pauzinhos?, de Cecília Jorge.

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GASTRONOMIA

Principais técnicas

Uma das maiores riquezas da cozinha chinesa é a enorme variedade de técnicas de confecção dos alimentos. O chefe Liu Guo Zhu conta 41 técnicas diferentes. Na obra Sabe comer com pauzinhos?, Cecília Jorge explica algumas das técnicas caseiras mais frequentes:

Fritar Esta é uma técnica que se subdivide em vários tipos, consoante a quantidade de óleo usada e a potência do lume. Muito característica, quase única da cozinha chinesa, torna-se muito difícil a sua tradução para português.

Cozer ao vapor

Cozer

Estufar e guisar

Colocam-se os alimentos em cestos de bambu, pratos de louça ou esmalte, assentes em tripés, dentro de uma panela ou de um wok, com água a ferver. No caso de pequenas doses de alimentos, também se pode cozer na panela juntamente com os vapores que saem do preparo do arroz. É um método ideal para aproveitar ao máximo o peixe fresco, mas é usado também para a confecção de muitos outros alimentos, como ovos de pata salgados, peixe seco ou chouriço chinês e pedaços de pato fumado – estes dois últimos podem ser directamente colocados sobre o arroz, quando este começa a secar. Usar vapores é a forma mais usual de se cozer os dimsum tão apreciados nos yam-cha de Macau.

É o método mais lento de cozinhar os alimentos, comum na confecção de nutritivos caldos, que podem levar horas. As aves costumam ser cobertas com água ou caldo e levadas ao lume até começar a ferver. Depois, baixa-se a chama para o mínimo, ou apagase mesmo, e deixa-se cozer no líquido até arrefecer totalmente. No caso da carne de porco, a técnica pode ser a mesma, mas o tempo de cozedura, em lume muito brando, pode durar horas.

Nestes casos, em vez do wok usa-se uma panela ou um tacho de barro que apura melhor o sabor. A técnica pode ser aplicada de duas formas: “entalar” ou fritar primeiro, rapidamente, as carnes e depois deixá-los acabar de cozer no caldo, em lume brando; ou vice-versa.

Assar Não é uma técnica muito comum na cozinha tradicional chinesa. Geralmente é aplicada mais em lojas de carne assada, como leitão, pato lacado, carne de porco ou toucinho e entrecosto no churrasco, entre outros. Fonte: Sabe comer com pauzinhos?, de Cecília Jorge.

• P’ao A mais frequente, p’áo, assemelha-se ao saltear e passa por aromatizar o óleo previamente, por exemplo, com gengibre, dentes de alho ou cebolinho. Pode ser usada para cozinhar pequenos pedaços de carne ou camarões, mas é sobretudo utilizada na confecção de uma série de vegetais que não implicam mais de dois minutos de cozedura. O wok é o utensílio mais indicado, já que o formato permite usar lume forte e saltear depressa os ingredientes. • Cháu O cháu – que implica sempre mais de um ingrediente - é uma forma de fritar muito semelhante ao p’áo, mas, como a potência da chama é mais moderada, a cozedura é também mais lenta. • Ch’in Há também o ch’in, em lume moderado, depois de o wok ter sido muito bem aquecido. Esta forma de fritar, mais aproximada do ‘frigir’ dos Portugueses, é usada, por exemplo, na confecção de peixes inteiros ou bocados de tau-fu. • Ch’á O ch’á – tal como o ch’in - é uma técnica de fritura semelhante à do Ocidente. Aplica-se aos wonton, aos crepes ou aos aperitivos de camarão, entre outros alimentos. 28

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Principais técnicas

Uma das maiores riquezas da cozinha chinesa é a enorme variedade de técnicas de confecção dos alimentos. O chefe Liu Guo Zhu conta 41 técnicas diferentes. Na obra Sabe comer com pauzinhos?, Cecília Jorge explica algumas das técnicas caseiras mais frequentes:

Fritar Esta é uma técnica que se subdivide em vários tipos, consoante a quantidade de óleo usada e a potência do lume. Muito característica, quase única da cozinha chinesa, torna-se muito difícil a sua tradução para português.

Cozer ao vapor

Cozer

Estufar e guisar

Colocam-se os alimentos em cestos de bambu, pratos de louça ou esmalte, assentes em tripés, dentro de uma panela ou de um wok, com água a ferver. No caso de pequenas doses de alimentos, também se pode cozer na panela juntamente com os vapores que saem do preparo do arroz. É um método ideal para aproveitar ao máximo o peixe fresco, mas é usado também para a confecção de muitos outros alimentos, como ovos de pata salgados, peixe seco ou chouriço chinês e pedaços de pato fumado – estes dois últimos podem ser directamente colocados sobre o arroz, quando este começa a secar. Usar vapores é a forma mais usual de se cozer os dimsum tão apreciados nos yam-cha de Macau.

É o método mais lento de cozinhar os alimentos, comum na confecção de nutritivos caldos, que podem levar horas. As aves costumam ser cobertas com água ou caldo e levadas ao lume até começar a ferver. Depois, baixa-se a chama para o mínimo, ou apagase mesmo, e deixa-se cozer no líquido até arrefecer totalmente. No caso da carne de porco, a técnica pode ser a mesma, mas o tempo de cozedura, em lume muito brando, pode durar horas.

Nestes casos, em vez do wok usa-se uma panela ou um tacho de barro que apura melhor o sabor. A técnica pode ser aplicada de duas formas: “entalar” ou fritar primeiro, rapidamente, as carnes e depois deixá-los acabar de cozer no caldo, em lume brando; ou vice-versa.

Assar Não é uma técnica muito comum na cozinha tradicional chinesa. Geralmente é aplicada mais em lojas de carne assada, como leitão, pato lacado, carne de porco ou toucinho e entrecosto no churrasco, entre outros. Fonte: Sabe comer com pauzinhos?, de Cecília Jorge.

• P’ao A mais frequente, p’áo, assemelha-se ao saltear e passa por aromatizar o óleo previamente, por exemplo, com gengibre, dentes de alho ou cebolinho. Pode ser usada para cozinhar pequenos pedaços de carne ou camarões, mas é sobretudo utilizada na confecção de uma série de vegetais que não implicam mais de dois minutos de cozedura. O wok é o utensílio mais indicado, já que o formato permite usar lume forte e saltear depressa os ingredientes. • Cháu O cháu – que implica sempre mais de um ingrediente - é uma forma de fritar muito semelhante ao p’áo, mas, como a potência da chama é mais moderada, a cozedura é também mais lenta. • Ch’in Há também o ch’in, em lume moderado, depois de o wok ter sido muito bem aquecido. Esta forma de fritar, mais aproximada do ‘frigir’ dos Portugueses, é usada, por exemplo, na confecção de peixes inteiros ou bocados de tau-fu. • Ch’á O ch’á – tal como o ch’in - é uma técnica de fritura semelhante à do Ocidente. Aplica-se aos wonton, aos crepes ou aos aperitivos de camarão, entre outros alimentos. 28

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GASTRONOMIA

Principais utensílios

Para a preparação e confecção de alimentos na cozinha chinesa, há alguns utensílios preciosos. Destacamos os seguintes, com base nas explicações de Cecília Jorge:

Wok O famoso wok é uma frigideira larga e funda, em forma de calota. Pode ter vários tamanhos e uma ou duas pegas, servindo para aplicar uma série de técnicas de cozinha diferentes, do fritar ao saltear, incluindo até o banho-maria (neste caso, com tripés e tampa). A grande vantagem do wok é que permite poupar quer na gordura, quer no combustível, garantindo rapidez na cozedura a altas temperaturas. O wok tradicional, preferido ainda em muitas casas chinesas, é de ferro não temperado, pesado e pode durar uma vida inteira, mas hoje em dia há também alternativas de aço inoxidável. Os mais populares são os antiaderentes.

Pauzinhos

Tacho e panelas

Tábua para corte

Os pauzinhos, ou fai-chi, são provavelmente o utensílio chinês mais famoso no mundo ocidental. Não só são usados para comer como também para manobrar alimentos que estão a ser cozinhados, ou até para servir como tripé, num wok. Desconhecem-se as origens, mas a primeira referência aos fai-chi como alternativa ao comer à mão surge na Dinastia Shang, entre 1766 AC e 1123 AC. E o certo é que o uso perdura até hoje. O carácter fai significa “veloz” e, com um pouco de treino, diz Cecília Jorge, “agarra-se desde um feijão ou uma ervilha a uma costeleta inteira”. Quanto a garfos e facas, nunca tiveram grande sucesso à mesa dos chineses em tempos idos, porque “lembravam armas”, segundo o chefe Tam Kwok Fung. Outra curiosidade, relatada por Cecília Jorge, é que nas cortes imperiais, “em épocas conturbadas”, os fai-chi de prata eram os preferidos para detectar alimentos envenenados: se houvesse veneno, escureciam.

Em barro, são bons para cozinhados de longa duração. O lume deve desligar-se antes do habitual, para que os alimentos acabem de cozer no calor da louça. A panela tem tampa com abertura (para que não se perca o caldo na fervura); o tacho pode ter duas pegas ou uma, como uma caçarola. Podem ir ao lume num fogão a gás comum, mas não se aconselha o uso sobre placas eléctricas.

A tábua de madeira deve ser grande na espessura e na área. A ideia é que a sua superfície dê para colocar uma ave inteira. É também importante que a tábua seja lisa e dura, para evitar farpas, e que não seja lavada com detergente – apenas raspada de tempos a tempos e passada por água a ferver.

Panela eléctrica de arroz Muito usada hoje em dia, a panela eléctrica de arroz consegue produzir sempre um arroz branco à moda chinesa, ou seja, solto, seco e sem sal. O arroz não queima e pode manterse quente, enquanto a panela estiver ligada. Permite ainda cozinhar ao vapor alguns alimentos, com o uso de um cesto ou um prato de esmalte.

Cutelo Cortar os alimentos é uma das artes da culinária chinesa, pelo que um bom cutelo é um utensílio essencial. Há cutelos específicos, mas também bastará um para cortar carne em fatias fininhas, tiras ou cubos, para partir ossos, ou para picar carne, peixe ou vegetais. Querem-se de aço ou ferro não temperado, com uma pedra de amolar à mão, para garantir que se mantêm sempre afiados.

Cestos de bambu Na culinária chinesa usam-se estes cestos de bambu para cozinhar a vapor. Os mais pequenos são muito usados para fazer os dimsum ou tim-sâm. Os cestos encaixam-se uns nos outros, o que permite poupar tempo na confecção de diferentes alimentos.

Fonte: Sabe comer com pauzinhos?, de Cecília Jorge. 30

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Principais utensílios

Para a preparação e confecção de alimentos na cozinha chinesa, há alguns utensílios preciosos. Destacamos os seguintes, com base nas explicações de Cecília Jorge:

Wok O famoso wok é uma frigideira larga e funda, em forma de calota. Pode ter vários tamanhos e uma ou duas pegas, servindo para aplicar uma série de técnicas de cozinha diferentes, do fritar ao saltear, incluindo até o banho-maria (neste caso, com tripés e tampa). A grande vantagem do wok é que permite poupar quer na gordura, quer no combustível, garantindo rapidez na cozedura a altas temperaturas. O wok tradicional, preferido ainda em muitas casas chinesas, é de ferro não temperado, pesado e pode durar uma vida inteira, mas hoje em dia há também alternativas de aço inoxidável. Os mais populares são os antiaderentes.

Pauzinhos

Tacho e panelas

Tábua para corte

Os pauzinhos, ou fai-chi, são provavelmente o utensílio chinês mais famoso no mundo ocidental. Não só são usados para comer como também para manobrar alimentos que estão a ser cozinhados, ou até para servir como tripé, num wok. Desconhecem-se as origens, mas a primeira referência aos fai-chi como alternativa ao comer à mão surge na Dinastia Shang, entre 1766 AC e 1123 AC. E o certo é que o uso perdura até hoje. O carácter fai significa “veloz” e, com um pouco de treino, diz Cecília Jorge, “agarra-se desde um feijão ou uma ervilha a uma costeleta inteira”. Quanto a garfos e facas, nunca tiveram grande sucesso à mesa dos chineses em tempos idos, porque “lembravam armas”, segundo o chefe Tam Kwok Fung. Outra curiosidade, relatada por Cecília Jorge, é que nas cortes imperiais, “em épocas conturbadas”, os fai-chi de prata eram os preferidos para detectar alimentos envenenados: se houvesse veneno, escureciam.

Em barro, são bons para cozinhados de longa duração. O lume deve desligar-se antes do habitual, para que os alimentos acabem de cozer no calor da louça. A panela tem tampa com abertura (para que não se perca o caldo na fervura); o tacho pode ter duas pegas ou uma, como uma caçarola. Podem ir ao lume num fogão a gás comum, mas não se aconselha o uso sobre placas eléctricas.

A tábua de madeira deve ser grande na espessura e na área. A ideia é que a sua superfície dê para colocar uma ave inteira. É também importante que a tábua seja lisa e dura, para evitar farpas, e que não seja lavada com detergente – apenas raspada de tempos a tempos e passada por água a ferver.

Panela eléctrica de arroz Muito usada hoje em dia, a panela eléctrica de arroz consegue produzir sempre um arroz branco à moda chinesa, ou seja, solto, seco e sem sal. O arroz não queima e pode manterse quente, enquanto a panela estiver ligada. Permite ainda cozinhar ao vapor alguns alimentos, com o uso de um cesto ou um prato de esmalte.

Cutelo Cortar os alimentos é uma das artes da culinária chinesa, pelo que um bom cutelo é um utensílio essencial. Há cutelos específicos, mas também bastará um para cortar carne em fatias fininhas, tiras ou cubos, para partir ossos, ou para picar carne, peixe ou vegetais. Querem-se de aço ou ferro não temperado, com uma pedra de amolar à mão, para garantir que se mantêm sempre afiados.

Cestos de bambu Na culinária chinesa usam-se estes cestos de bambu para cozinhar a vapor. Os mais pequenos são muito usados para fazer os dimsum ou tim-sâm. Os cestos encaixam-se uns nos outros, o que permite poupar tempo na confecção de diferentes alimentos.

Fonte: Sabe comer com pauzinhos?, de Cecília Jorge. 30

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GASTRONOMIA

Refeições A organização das refeições na cultura chinesa é hoje um reflexo dos tempos. Apesar de haver em teoria três refeições principais num dia, o ritmo de vida leva a mudanças de horários e à opção frequente por pratos rápidos, à semelhança do que acontece noutros países. No entanto, ao pequeno-almoço, conta o chefe Tam Kwok Fung, é ainda comum os chineses optarem por noodles, congee ou pão cozido a vapor. Hábitos que vêm de tempos remotos. Como explica o chefe Tam, antigamente a esmagadora maioria da população chinesa vivia da agricultura, o que obrigava a longas jornadas fora de casa. O pequenoalmoço e o almoço – este último consumido durante o trabalho no campo – tinham por isso de ser fáceis de preparar bem cedo ou de véspera. Papa de aveia, canja – congee -, pão cozido a vapor e arroz eram algumas das opções. O jantar era a refeição mais completa, já que coincidia com o regresso a casa dos agricultores. Normalmente, não faltavam na mesa vegetais e arroz. Se a situação económica o permitisse, juntava-se carne ou peixe do rio, mas, geralmente, comer carne de porco ou galinha era um luxo reservado a ocasiões especiais. Fonte: chefe Tam Kwok Fung.

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GASTRONOMIA

Refeições A organização das refeições na cultura chinesa é hoje um reflexo dos tempos. Apesar de haver em teoria três refeições principais num dia, o ritmo de vida leva a mudanças de horários e à opção frequente por pratos rápidos, à semelhança do que acontece noutros países. No entanto, ao pequeno-almoço, conta o chefe Tam Kwok Fung, é ainda comum os chineses optarem por noodles, congee ou pão cozido a vapor. Hábitos que vêm de tempos remotos. Como explica o chefe Tam, antigamente a esmagadora maioria da população chinesa vivia da agricultura, o que obrigava a longas jornadas fora de casa. O pequenoalmoço e o almoço – este último consumido durante o trabalho no campo – tinham por isso de ser fáceis de preparar bem cedo ou de véspera. Papa de aveia, canja – congee -, pão cozido a vapor e arroz eram algumas das opções. O jantar era a refeição mais completa, já que coincidia com o regresso a casa dos agricultores. Normalmente, não faltavam na mesa vegetais e arroz. Se a situação económica o permitisse, juntava-se carne ou peixe do rio, mas, geralmente, comer carne de porco ou galinha era um luxo reservado a ocasiões especiais. Fonte: chefe Tam Kwok Fung.

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O banquete

No banquete chinês, a variedade, que é uma das principais riquezas da gastronomia da China, ocupa um lugar de destaque: variedade de técnicas, de sabores e de cores. Os banquetes são comuns nas reuniões familiares e o menu pode variar consoante o que se quer gastar. O chefe Liu Guo Zhu explica a sequência e alguns dos rituais:

Encaminhar os convidados Num banquete tradicional, as pessoas não são logo encaminhadas para a mesa. Segundo o chefe Liu Guo Zhu, há primeiro uma recepção à entrada, na qual são servidos chá e algumas sobremesas chinesas de estilo dim-sum, como se fossem pequenos canapés. Depois de chegarem todos os convidados, o grupo é encaminhado em conjunto para a mesa do banquete.

Aperitivos Quanto à sequência dos pratos, o primeiro é normalmente um prato frio, composto por vários aperitivos. Tradicionalmente, são colocados no centro da mesa para serem partilhados, embora hoje em dia, explica o chefe Liu, a ocidentalização de algumas práticas leve a que a comida seja muitas vezes servida em pratos individuais em banquetes chineses formais. Os aperitivos reflectem a ideia da ostentação da variedade: cada um tem o seu sabor, por exemplo, um salgado, outro doce, outro amargo, outro picante. Os ingredientes também não se repetem. De acordo com a tradição, há sete a oito tipos de aperitivos no centro da mesa, podendo o número chegar aos 11 ou 12 em banquetes mais elaborados. Mas a preferência dos clientes também conta, lembra o chefe Liu: se gostarem de beber, a variedade de aperitivos será maior, para ligar bem com o álcool. O início, frisa o chefe, é “uma parte muito importante do banquete” e o colorido dos aperitivos serve para “quebrar o gelo” e contribuir para uma “refeição memorável” logo desde o começo.

Sopa O segundo prato é normalmente a sopa. Há duas ou três dezenas de anos, explica o chefe Liu, a sopa era servida no fim, mas actualmente impera a influência da cultura ocidental. 34

revista MACAU · Junho 2013

Prato principal O prato principal, servido quente, é normalmente o mais caro, aquele onde são servidos os ingredientes de mais alta qualidade, como o abalone ou a barbatana de tubarão, por exemplo.

Diferentes pratos, diferentes técnicas Depois do prato principal, seguem-se outros seis a sete pratos, escolhidos também de acordo com as preferências dos convidados. Geralmente, os mais leves são servidos antes dos pratos com sabores mais intensos, para assegurar que se aprecia bem o paladar dos alimentos. Estes pratos devem sempre ser cozinhados através de técnicas diferentes. Ou seja: um é frito, outro cozido a vapor, sem nunca repetir um método de confecção. Também aqui os tipos de sabores devem ser todos diferentes. Ao longo destes seis a sete pratos, há pelo menos um de peixe, geralmente mais para o final, e especialidades doces e salgadas. Por fim, uma sobremesa, que pode ser uma espécie de sopa doce ou um bolo chinês glutinoso. O prato de fruta no fim é opcional.

O menu do banquete, feito a rigor, também pode seguir uma ocasião especial, como uma boda ou um aniversário.

Diferenças regionais Segundo o chefe Liu, a forma como é servido o banquete é muito semelhante nas várias regiões da China, mas há também aspectos que variam. Entre as principais diferenças, aponta o facto de, a norte de Guangdong, haver mais pães e dumplings. Já na zona de Cantão, há normalmente mais arroz e noodles, sobretudo no final.

Simbolismo O menu do banquete, feito a rigor, também pode seguir uma ocasião especial, como uma boda ou um aniversário. Os pratos, explica Cecília Jorge, são seleccionados consoante os seus nomes auspiciosos e os simbolismos ligados aos ingredientes (chamam-se “garras de fénix” a patas de galinha, por exemplo).

Banquete imperial O mais famoso dos banquetes chineses era o imperial, onde abundavam pratos exóticos e valiosos, vindos de longe – na altura, Filipinas, por exemplo, era muito longe, sublinha o chefe Tam Kwok Fung, lembrando que servir num banquete produtos difíceis de adquirir era considerado quase “magia” e reflectia o poder do anfitrião. Era comum servirem-se iguarias como barbatana de tubarão, veado ou até tigre. O número de pratos podia chegar aos 20. Fontes: chefes Liu Guo Zhu e Tam Kwok Fung; Cecília Jorge. www.revistamacau.com

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O banquete

No banquete chinês, a variedade, que é uma das principais riquezas da gastronomia da China, ocupa um lugar de destaque: variedade de técnicas, de sabores e de cores. Os banquetes são comuns nas reuniões familiares e o menu pode variar consoante o que se quer gastar. O chefe Liu Guo Zhu explica a sequência e alguns dos rituais:

Encaminhar os convidados Num banquete tradicional, as pessoas não são logo encaminhadas para a mesa. Segundo o chefe Liu Guo Zhu, há primeiro uma recepção à entrada, na qual são servidos chá e algumas sobremesas chinesas de estilo dim-sum, como se fossem pequenos canapés. Depois de chegarem todos os convidados, o grupo é encaminhado em conjunto para a mesa do banquete.

Aperitivos Quanto à sequência dos pratos, o primeiro é normalmente um prato frio, composto por vários aperitivos. Tradicionalmente, são colocados no centro da mesa para serem partilhados, embora hoje em dia, explica o chefe Liu, a ocidentalização de algumas práticas leve a que a comida seja muitas vezes servida em pratos individuais em banquetes chineses formais. Os aperitivos reflectem a ideia da ostentação da variedade: cada um tem o seu sabor, por exemplo, um salgado, outro doce, outro amargo, outro picante. Os ingredientes também não se repetem. De acordo com a tradição, há sete a oito tipos de aperitivos no centro da mesa, podendo o número chegar aos 11 ou 12 em banquetes mais elaborados. Mas a preferência dos clientes também conta, lembra o chefe Liu: se gostarem de beber, a variedade de aperitivos será maior, para ligar bem com o álcool. O início, frisa o chefe, é “uma parte muito importante do banquete” e o colorido dos aperitivos serve para “quebrar o gelo” e contribuir para uma “refeição memorável” logo desde o começo.

Sopa O segundo prato é normalmente a sopa. Há duas ou três dezenas de anos, explica o chefe Liu, a sopa era servida no fim, mas actualmente impera a influência da cultura ocidental. 34

revista MACAU · Junho 2013

Prato principal O prato principal, servido quente, é normalmente o mais caro, aquele onde são servidos os ingredientes de mais alta qualidade, como o abalone ou a barbatana de tubarão, por exemplo.

Diferentes pratos, diferentes técnicas Depois do prato principal, seguem-se outros seis a sete pratos, escolhidos também de acordo com as preferências dos convidados. Geralmente, os mais leves são servidos antes dos pratos com sabores mais intensos, para assegurar que se aprecia bem o paladar dos alimentos. Estes pratos devem sempre ser cozinhados através de técnicas diferentes. Ou seja: um é frito, outro cozido a vapor, sem nunca repetir um método de confecção. Também aqui os tipos de sabores devem ser todos diferentes. Ao longo destes seis a sete pratos, há pelo menos um de peixe, geralmente mais para o final, e especialidades doces e salgadas. Por fim, uma sobremesa, que pode ser uma espécie de sopa doce ou um bolo chinês glutinoso. O prato de fruta no fim é opcional.

O menu do banquete, feito a rigor, também pode seguir uma ocasião especial, como uma boda ou um aniversário.

Diferenças regionais Segundo o chefe Liu, a forma como é servido o banquete é muito semelhante nas várias regiões da China, mas há também aspectos que variam. Entre as principais diferenças, aponta o facto de, a norte de Guangdong, haver mais pães e dumplings. Já na zona de Cantão, há normalmente mais arroz e noodles, sobretudo no final.

Simbolismo O menu do banquete, feito a rigor, também pode seguir uma ocasião especial, como uma boda ou um aniversário. Os pratos, explica Cecília Jorge, são seleccionados consoante os seus nomes auspiciosos e os simbolismos ligados aos ingredientes (chamam-se “garras de fénix” a patas de galinha, por exemplo).

Banquete imperial O mais famoso dos banquetes chineses era o imperial, onde abundavam pratos exóticos e valiosos, vindos de longe – na altura, Filipinas, por exemplo, era muito longe, sublinha o chefe Tam Kwok Fung, lembrando que servir num banquete produtos difíceis de adquirir era considerado quase “magia” e reflectia o poder do anfitrião. Era comum servirem-se iguarias como barbatana de tubarão, veado ou até tigre. O número de pratos podia chegar aos 20. Fontes: chefes Liu Guo Zhu e Tam Kwok Fung; Cecília Jorge. www.revistamacau.com

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Um país, muitos sabores

Num país com quase 9,6 milhões de quilómetros quadrados, é natural que os hábitos e as receitas variem de região para região. Mas é difícil definir fronteiras, já que são várias as classificações dos entendidos. O chefe Tam Kwok Fung opta por dividir o mapa dos costumes culinários da China em quatro grandes regiões:

Principais pratos da China

Num país com uma culinária tão rica, não é fácil hierarquizar petiscos. O chefe Liu Guo Zhu elege, no entanto, oito tipos de cozinha tradicional chinesa, cada uma delas responsável por vários pratos famosos: Fonte: chefe Liu Guo Zhu

Norte Em terras de muito frio, as necessidades calóricas dos habitantes falam mais alto. Nesta zona da China, na vizinhança da Coreia do Norte, o trigo, o pão cozido a vapor e os noodles mais pesados estão entre os preferidos. O açúcar não abunda por estas paragens. Já o sal sai reforçado nos pratos. A Nordeste, longe do mar, a carne de caça é um dos ingredientes principais à mesa. Assim como as couves e as batatas, um pouco à semelhança do que se passa nos países nórdicos da Europa.

COZINHA DE SHANDONG - Barbatana de tubarão com ovas de caranguejo - Pepino do mar cozido a vapor - Galinha com molho de feijão

Sul Nas regiões a sul, não falta o que adoça a boca. Com a vasta produção de cana-de-açúcar, este é um tempero comum. O açúcar é também muito usado na preservação de alimentos, sobretudo para o Ano Novo Chinês. A cozinha de Cantão é considerada uma das principais da China.

COZINHA DE ANHUI - Galinha vermelha ao estilo de Fuliji - Sável [peixe] fumado em chá verde Mao Feng - Peixe gordo em sopa de leite

Leste A cozinha de Xangai pode ser tomada como exemplo das tradições culinárias da região Leste da China. Um hábito antigo é o de temperar a comida com uma mistura de molho de soja e açúcar. Na região Leste, destaque também para a aguardente de arroz e para os guisados de porco. A carne de porco, aliás, é uma das mais abundantes, sendo o presunto da região um dos dois mais famosos do país – o outro provém da região Oeste.

COZINHA DE JIANGSU - Almôndegas de cabeça de leão (almôndegas de porco, acompanhadas de vegetais, que lembram a cabeça de um leão) - Pato de três ninhos - Rolo de peixe com três fios

Oeste Numa região onde as montanhas dominam e as planícies escasseiam, as dificuldades no transporte dos alimentos levaram os habitantes a optarem por produtos da zona e a desenvolverem técnicas de preservação. São por isso comuns a carne seca ou os vegetais conservados em aguardente ou vinagre de arroz. O processo de fermentação confere à cozinha desta região um sabor mais amargo. Já o chefe Liu Guo Zhu prefere dividir os diferentes hábitos da cozinha da China nas sete “zonas culinárias” identificadas pelo historiador Li Xueqin na Dinastia Dong Zhou: a zona cultural da minoria nómada do Norte; a zona de Chung Yuan, na corrente do Rio Amarelo; a da Dinastia Qi-Lu, na região onde fica hoje Shandong; a da Dinastia Chu, na corrente do Rio Changjiang; a zona da dinastia Wu-Yue, na área abaixo do Rio Changjiang e na bacia de Huaibei; a da Dinastia Ba-Shu-Dian, na região sudoeste; e a da Dinastia Ching, nas terras do Norte. As técnicas usadas para preparar e cozinhar os alimentos podem variar muito. Mas, para o chefe Liu, o que melhor distingue uma zona da outra são os sabores preferidos. Nalgumas zonas, privilegiam-se os sabores mais intensos, noutras, os mais picantes, etc. Fontes: chefes Tam Kwok Fung e Liu Guo Zhu.

COZINHA DE SICHUAN - Porco cozinhado duas vezes (o porco é primeiro cozido e depois salteado no wok) - Galinha Kung Pao (leva galinha partida em pedaços, amendoim e malaguetas) - Tofu Mapo (marinada de porco, com tofu, feijão preto chinês, pasta de pimentão, etc.)

COZINHA DE HUNAN - Cabeça de peixe com pimento picado - Peixe-gato amarelo cozinhado - Carne de vaca fatiada com malagueta picada

COZINHA DE FUJIAN - Fo-tiao-qiang (vários tipos de peixe e carne cozinhados num pote) - Bola de peixe - Amêijoas com sopa de galinha

COZINHA DE GUANGDONG - Leitão assado - Pato assado (interior do pato é esfregado com uma mistura de ingredientes que inclui pasta de feijão, vinho e açúcar; depois de o pato ir ao forno inteiro, escorre-se o molho do interior para acompanhar) - Galinha com soja (frango cortado aos pedaços, fritos no wok, e aos quais se adicionam molhos de soja e também açúcar) - Porco agridoce (leva ananás e pimentos; molho inclui vinagre vermelho de arroz e açúcar)

COZINHA DE ZHEJIANG - Peixe avinagrado do lago ocidental - Porco Dongpo (usa a barriga do porco; tempo de cozedura muito longo; leva gengibre, molho de soja, açúcar, etc) - Camarão Longjing (camarões são cozinhados com o chá Longjing, entre outros ingredientes) - Presunto cozido ao vapor em molho de mel

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Um país, muitos sabores

Num país com quase 9,6 milhões de quilómetros quadrados, é natural que os hábitos e as receitas variem de região para região. Mas é difícil definir fronteiras, já que são várias as classificações dos entendidos. O chefe Tam Kwok Fung opta por dividir o mapa dos costumes culinários da China em quatro grandes regiões:

Principais pratos da China

Num país com uma culinária tão rica, não é fácil hierarquizar petiscos. O chefe Liu Guo Zhu elege, no entanto, oito tipos de cozinha tradicional chinesa, cada uma delas responsável por vários pratos famosos: Fonte: chefe Liu Guo Zhu

Norte Em terras de muito frio, as necessidades calóricas dos habitantes falam mais alto. Nesta zona da China, na vizinhança da Coreia do Norte, o trigo, o pão cozido a vapor e os noodles mais pesados estão entre os preferidos. O açúcar não abunda por estas paragens. Já o sal sai reforçado nos pratos. A Nordeste, longe do mar, a carne de caça é um dos ingredientes principais à mesa. Assim como as couves e as batatas, um pouco à semelhança do que se passa nos países nórdicos da Europa.

COZINHA DE SHANDONG - Barbatana de tubarão com ovas de caranguejo - Pepino do mar cozido a vapor - Galinha com molho de feijão

Sul Nas regiões a sul, não falta o que adoça a boca. Com a vasta produção de cana-de-açúcar, este é um tempero comum. O açúcar é também muito usado na preservação de alimentos, sobretudo para o Ano Novo Chinês. A cozinha de Cantão é considerada uma das principais da China.

COZINHA DE ANHUI - Galinha vermelha ao estilo de Fuliji - Sável [peixe] fumado em chá verde Mao Feng - Peixe gordo em sopa de leite

Leste A cozinha de Xangai pode ser tomada como exemplo das tradições culinárias da região Leste da China. Um hábito antigo é o de temperar a comida com uma mistura de molho de soja e açúcar. Na região Leste, destaque também para a aguardente de arroz e para os guisados de porco. A carne de porco, aliás, é uma das mais abundantes, sendo o presunto da região um dos dois mais famosos do país – o outro provém da região Oeste.

COZINHA DE JIANGSU - Almôndegas de cabeça de leão (almôndegas de porco, acompanhadas de vegetais, que lembram a cabeça de um leão) - Pato de três ninhos - Rolo de peixe com três fios

Oeste Numa região onde as montanhas dominam e as planícies escasseiam, as dificuldades no transporte dos alimentos levaram os habitantes a optarem por produtos da zona e a desenvolverem técnicas de preservação. São por isso comuns a carne seca ou os vegetais conservados em aguardente ou vinagre de arroz. O processo de fermentação confere à cozinha desta região um sabor mais amargo. Já o chefe Liu Guo Zhu prefere dividir os diferentes hábitos da cozinha da China nas sete “zonas culinárias” identificadas pelo historiador Li Xueqin na Dinastia Dong Zhou: a zona cultural da minoria nómada do Norte; a zona de Chung Yuan, na corrente do Rio Amarelo; a da Dinastia Qi-Lu, na região onde fica hoje Shandong; a da Dinastia Chu, na corrente do Rio Changjiang; a zona da dinastia Wu-Yue, na área abaixo do Rio Changjiang e na bacia de Huaibei; a da Dinastia Ba-Shu-Dian, na região sudoeste; e a da Dinastia Ching, nas terras do Norte. As técnicas usadas para preparar e cozinhar os alimentos podem variar muito. Mas, para o chefe Liu, o que melhor distingue uma zona da outra são os sabores preferidos. Nalgumas zonas, privilegiam-se os sabores mais intensos, noutras, os mais picantes, etc. Fontes: chefes Tam Kwok Fung e Liu Guo Zhu.

COZINHA DE SICHUAN - Porco cozinhado duas vezes (o porco é primeiro cozido e depois salteado no wok) - Galinha Kung Pao (leva galinha partida em pedaços, amendoim e malaguetas) - Tofu Mapo (marinada de porco, com tofu, feijão preto chinês, pasta de pimentão, etc.)

COZINHA DE HUNAN - Cabeça de peixe com pimento picado - Peixe-gato amarelo cozinhado - Carne de vaca fatiada com malagueta picada

COZINHA DE FUJIAN - Fo-tiao-qiang (vários tipos de peixe e carne cozinhados num pote) - Bola de peixe - Amêijoas com sopa de galinha

COZINHA DE GUANGDONG - Leitão assado - Pato assado (interior do pato é esfregado com uma mistura de ingredientes que inclui pasta de feijão, vinho e açúcar; depois de o pato ir ao forno inteiro, escorre-se o molho do interior para acompanhar) - Galinha com soja (frango cortado aos pedaços, fritos no wok, e aos quais se adicionam molhos de soja e também açúcar) - Porco agridoce (leva ananás e pimentos; molho inclui vinagre vermelho de arroz e açúcar)

COZINHA DE ZHEJIANG - Peixe avinagrado do lago ocidental - Porco Dongpo (usa a barriga do porco; tempo de cozedura muito longo; leva gengibre, molho de soja, açúcar, etc) - Camarão Longjing (camarões são cozinhados com o chá Longjing, entre outros ingredientes) - Presunto cozido ao vapor em molho de mel

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GASTRONOMIA

Pratos Festivos

À semelhança do que acontece noutros países, na China preparam-se ingredientes ou refeições especiais para datas festivas. Seguem-se alguns exemplos:

Festa da Primavera Na celebração da chegada do Novo Ano Lunar, enchem-se tabuleiros especiais com doces e petiscos. Um dos principais é o que é conhecido no sul como tong iun - uma bolinha pequena, feita de farinha de arroz glutinoso, e que pode levar diferentes recheios. Geralmente, a cor ou o nome dos alimentos consumidos nesta época festiva soam a algo auspicioso, como é o caso do tong iun, que alude à “união”, ou o wonton, que lembra “um novo começo”. Também comum nesta altura são as tangerinas kat, cujo nome soa a “boa sorte” – estas tangerinas-anãs são plantadas em vasos meses antes do Ano Novo Chinês.

Festa dos Barcos-dragão Os tchông são uma das comidas tradicionais desta festa de Junho. Trata-se de arroz glutinoso, cozido, com vários recheios, moldado em forma de pirâmide e envolto em folhas de bambu.

Festa da Lua A comida mais tradicional desta festa, celebrada em Setembro (Agosto, segundo o calendário chinês), é o famoso ut-pèang, ou Bolo Lunar, também conhecido como “bate-pau” em Macau. Tem a forma redonda a lembrar a lua e muitas vezes inscrições no topo em relevo, com imagens ou caracteres que aludem às lendas associadas à Lua. O recheio varia muito, podendo ir de carnes a frutos secos, contendo alguns deles gemas de ovo salgado.

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revista MACAU · Junho 2013

www.revistamacau.com

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GASTRONOMIA

Pratos Festivos

À semelhança do que acontece noutros países, na China preparam-se ingredientes ou refeições especiais para datas festivas. Seguem-se alguns exemplos:

Festa da Primavera Na celebração da chegada do Novo Ano Lunar, enchem-se tabuleiros especiais com doces e petiscos. Um dos principais é o que é conhecido no sul como tong iun - uma bolinha pequena, feita de farinha de arroz glutinoso, e que pode levar diferentes recheios. Geralmente, a cor ou o nome dos alimentos consumidos nesta época festiva soam a algo auspicioso, como é o caso do tong iun, que alude à “união”, ou o wonton, que lembra “um novo começo”. Também comum nesta altura são as tangerinas kat, cujo nome soa a “boa sorte” – estas tangerinas-anãs são plantadas em vasos meses antes do Ano Novo Chinês.

Festa dos Barcos-dragão Os tchông são uma das comidas tradicionais desta festa de Junho. Trata-se de arroz glutinoso, cozido, com vários recheios, moldado em forma de pirâmide e envolto em folhas de bambu.

Festa da Lua A comida mais tradicional desta festa, celebrada em Setembro (Agosto, segundo o calendário chinês), é o famoso ut-pèang, ou Bolo Lunar, também conhecido como “bate-pau” em Macau. Tem a forma redonda a lembrar a lua e muitas vezes inscrições no topo em relevo, com imagens ou caracteres que aludem às lendas associadas à Lua. O recheio varia muito, podendo ir de carnes a frutos secos, contendo alguns deles gemas de ovo salgado.

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GASTRONOMIA

Dietas medicinais Na cultura chinesa, a medicina cruza-se com a culinária, já que desde a antiguidade é na natureza que se encontram os remédios e a saúde está directamente ligada à dieta da população. De acordo com a edição online da Rádio Internacional da China, as primeiras referências escritas a esta dieta medicinal remontam aos tempos da Dinastia Zhou (1046 a 256 A.C.). Entre os livros clássicos de medicina tradicional chinesa estão os famosos Qianjinfang e Qianjinyifang, dois volumes de receitas medicinais compiladas por Sun Simiao, da Dinastia Tang (618 a 907). Sun Simiao defendia que um médico deve tentar sempre primeiro curar o doente através da dieta e, só depois, se esta não for eficaz, recorrer aos remédios. Dicas que inspiraram muitos regimes da medicina tradicional, sobretudo tendo em conta que o seu autor viveu mais de 100 anos.

Bebidas Chá O chá é a bebida de eleição dos chineses há milénios. Em tempos idos, informa a Rádio Internacional da China, era considerado uma das sete coisas indispensáveis na vida de uma família chinesa, a par da lenha, do arroz, do óleo, do sal, do molho e do vinagre, segundo um velho provérbio. Durante a Dinastia Tang, o chá tornou-se sinónimo de sofisticação social e inspirou mesmo poetas, como Lu Tong. No século VIII, deu também o mote a um tratado de três volumes sobre a arte de o beber: Cha Jing (ou O Livro do Chá), da autoria de Lu Yu. Presença assídua à mesa de intelectuais, alguns imperadores chegaram mesmo a decretar tipos de chá como exclusivos da corte. Durante a Dinastia Tang, o chá serviu também como moeda de troca na compra de cavalos vindos de outros reinos – daí que, nalguns registos históricos, haja uma referência a “feiras de chá e de cavalo”. Hoje em dia, o chá é comum em todas as mesas chinesas seja em casa, seja num restaurante. Entre os chás mais famosos da China estão, segundo o chefe Tam Kwok Fung, o Oolong, o verde da zona de Guangdong, ou o preto de Yunan. Na tradição chinesa, o chá, tal como outras bebidas, não se deve beber frio. Segundo o chefe Tam, os chineses acreditam que “baixar a temperatura natural do corpo não é um hábito saudável”.

Leite Antigamente, o leite de vaca, muito comum no Ocidente, não era habitual na China. O que não significa que não se bebesse leite. Segundo o chefe Tam Kwok Fung, nas regiões do Oeste da China, mais montanhosas, bebia-se leite de ovelha ou de cabra. Por outro lado, na região de Guangdong, há centenas de anos que se bebe leite de búfalo, muito popular sobretudo em Shunde, onde é usado para fazer uma famosa sobremesa com claras de ovo e açúcar. 40

Um exemplo comum da aplicação dos conceitos de medicina tradicional à dieta é a ingestão de uma espécie de chá feito de gengibre, alho francês e melaço de cana para curar constipações. Outros produtos usados com fins medicinais são, por exemplo, o vinho de crisântemos ou o chá de casca de laranja. É também comum a medicina tradicional chinesa aconselhar a não ingestão de certos produtos quando se está doente: o marisco e o pato são alguns dos mais vetados. Outra tradição da medicina chinesa é a chamada dieta das flores, que conheceu o seu auge na Dinastia Tang. No Norte da China, há mais de uma centena de espécies de flores comestíveis, e, em Yunnan, no Sudoeste, são conhecidas mais de 260. Nos restaurantes de dieta medicinal, misturamse pratos de arroz, farinha de trigo, milho e legumes com ervas ou vegetais tradicionais, variando tudo consoante a doença a tratar. Hoje em dia, a lista das ervas ou produtos medicinais que podem ser misturados na comida foi aprovada pelas autoridades chinesas, a fim de se encontrar um equilíbrio com o facto de a lei proibir a mistura de drogas nos alimentos. Fontes: Rádio Internacional da China

Aguardente de arroz A aguardente de arroz é uma bebida alcoólica famosa na China. Segundo o chefe Tam Kwok Fung, consoante a região onde é produzida, o nível de alcoolemia pode ir dos 40 aos 50 graus.

Moutai Originário da Província de Guizhou e produzido a partir da fermentação do sorgo – uma espécie de milho -, é a bebida de eleição para os brindes em qualquer banquete chinês. Tem uma fragrância suave muito característica e chega aos 50 graus de volume de alcoolemia. O licor é destilado por cerca de um ano e fica armazenado por outros tantos anos até estar pronto para consumo, seguindo técnicas desenvolvidas há mais de 2000 anos. Dizem os chineses que por mais que se beba moutai não há risco de se apanhar uma bebedeira. Fontes: Rádio Internacional da China; chefe Tam Kwok Fung. revista MACAU · Junho 2013

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GASTRONOMIA

Dietas medicinais Na cultura chinesa, a medicina cruza-se com a culinária, já que desde a antiguidade é na natureza que se encontram os remédios e a saúde está directamente ligada à dieta da população. De acordo com a edição online da Rádio Internacional da China, as primeiras referências escritas a esta dieta medicinal remontam aos tempos da Dinastia Zhou (1046 a 256 A.C.). Entre os livros clássicos de medicina tradicional chinesa estão os famosos Qianjinfang e Qianjinyifang, dois volumes de receitas medicinais compiladas por Sun Simiao, da Dinastia Tang (618 a 907). Sun Simiao defendia que um médico deve tentar sempre primeiro curar o doente através da dieta e, só depois, se esta não for eficaz, recorrer aos remédios. Dicas que inspiraram muitos regimes da medicina tradicional, sobretudo tendo em conta que o seu autor viveu mais de 100 anos.

Bebidas Chá O chá é a bebida de eleição dos chineses há milénios. Em tempos idos, informa a Rádio Internacional da China, era considerado uma das sete coisas indispensáveis na vida de uma família chinesa, a par da lenha, do arroz, do óleo, do sal, do molho e do vinagre, segundo um velho provérbio. Durante a Dinastia Tang, o chá tornou-se sinónimo de sofisticação social e inspirou mesmo poetas, como Lu Tong. No século VIII, deu também o mote a um tratado de três volumes sobre a arte de o beber: Cha Jing (ou O Livro do Chá), da autoria de Lu Yu. Presença assídua à mesa de intelectuais, alguns imperadores chegaram mesmo a decretar tipos de chá como exclusivos da corte. Durante a Dinastia Tang, o chá serviu também como moeda de troca na compra de cavalos vindos de outros reinos – daí que, nalguns registos históricos, haja uma referência a “feiras de chá e de cavalo”. Hoje em dia, o chá é comum em todas as mesas chinesas seja em casa, seja num restaurante. Entre os chás mais famosos da China estão, segundo o chefe Tam Kwok Fung, o Oolong, o verde da zona de Guangdong, ou o preto de Yunan. Na tradição chinesa, o chá, tal como outras bebidas, não se deve beber frio. Segundo o chefe Tam, os chineses acreditam que “baixar a temperatura natural do corpo não é um hábito saudável”.

Leite Antigamente, o leite de vaca, muito comum no Ocidente, não era habitual na China. O que não significa que não se bebesse leite. Segundo o chefe Tam Kwok Fung, nas regiões do Oeste da China, mais montanhosas, bebia-se leite de ovelha ou de cabra. Por outro lado, na região de Guangdong, há centenas de anos que se bebe leite de búfalo, muito popular sobretudo em Shunde, onde é usado para fazer uma famosa sobremesa com claras de ovo e açúcar. 40

Um exemplo comum da aplicação dos conceitos de medicina tradicional à dieta é a ingestão de uma espécie de chá feito de gengibre, alho francês e melaço de cana para curar constipações. Outros produtos usados com fins medicinais são, por exemplo, o vinho de crisântemos ou o chá de casca de laranja. É também comum a medicina tradicional chinesa aconselhar a não ingestão de certos produtos quando se está doente: o marisco e o pato são alguns dos mais vetados. Outra tradição da medicina chinesa é a chamada dieta das flores, que conheceu o seu auge na Dinastia Tang. No Norte da China, há mais de uma centena de espécies de flores comestíveis, e, em Yunnan, no Sudoeste, são conhecidas mais de 260. Nos restaurantes de dieta medicinal, misturamse pratos de arroz, farinha de trigo, milho e legumes com ervas ou vegetais tradicionais, variando tudo consoante a doença a tratar. Hoje em dia, a lista das ervas ou produtos medicinais que podem ser misturados na comida foi aprovada pelas autoridades chinesas, a fim de se encontrar um equilíbrio com o facto de a lei proibir a mistura de drogas nos alimentos. Fontes: Rádio Internacional da China

Aguardente de arroz A aguardente de arroz é uma bebida alcoólica famosa na China. Segundo o chefe Tam Kwok Fung, consoante a região onde é produzida, o nível de alcoolemia pode ir dos 40 aos 50 graus.

Moutai Originário da Província de Guizhou e produzido a partir da fermentação do sorgo – uma espécie de milho -, é a bebida de eleição para os brindes em qualquer banquete chinês. Tem uma fragrância suave muito característica e chega aos 50 graus de volume de alcoolemia. O licor é destilado por cerca de um ano e fica armazenado por outros tantos anos até estar pronto para consumo, seguindo técnicas desenvolvidas há mais de 2000 anos. Dizem os chineses que por mais que se beba moutai não há risco de se apanhar uma bebedeira. Fontes: Rádio Internacional da China; chefe Tam Kwok Fung. revista MACAU · Junho 2013

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Curiosidades Pato à Pequim

Nomes de pratos

É um dos pratos mais conhecidos entre os ocidentais, mas na verdade não é oriundo de Pequim. Segundo o chefe Tam Kwok Fung, o prato é original de Nanjing, antiga capital da China. Quanto à cozinha de Pequim, o chefe Tam explica que é hoje um reflexo dos movimentos migratórios para a capital, ao longo dos últimos 30 anos. Um exemplo disso, acrescenta, é a influência da cozinha de origem muçulmana, decorrente da chegada de elementos desta comunidade vindos de outras regiões.

Nos restaurantes mais requintados, é comum os chefes darem nomes quase poéticos aos pratos que confeccionam. O chefe Tam Kwok Fung dá o exemplo de alguns: “O dragão que nada” para um prato de peixe, ou “A Fénix” para um prato de galinha. O seu favorito é a lagosta cozida ao vapor com abóbora, um prato da cozinha de Cantão a que chama “Dragão em jade branco”.

Yam-cha

Ovo de “mil anos”

O yam-cha, ou beber chá em português, é um tipo de refeição muito popular, ainda hoje nas casas de chá ou casas de pasto de Macau. Dantes, estes estabelecimentos serviam o yamcha apenas ao nascer do sol e até pouco depois da hora normal de almoço. Hoje em dia muitos dos restaurantes servem os dim-sum fora de horas, dada a sua popularidade. Segundo o chefe Tam, especialista na comida da zona de Cantão, o yam-cha surgiu na Antiguidade nas casas nobres do Sul da China. Para não servir apenas chá aos donos da casa, apresentavam-se também pequenos snacks, como os wonton. Dim-sum significa “tocar o coração”.

O ovo de “mil anos” intriga muito os Ocidentais, a começar pela gema azulesverdeada e a clara preta e translúcida. São preparados a partir de ovos de pata e demoram três semanas a ficarem prontos (são preservados numa lama especial com potassa e envolvidos em cascas de arroz). Cecília Jorge explica que estes ovos são muito usados como aperitivos, acompanhados de fatias finas de gengibre, e integram também várias receitas. O truque, diz, é não os deixar mais do que alguns segundos em contacto com o calor do lume, para não perderem o sabor.

Virar o peixe

Ingredientes vindos de fora Alguns dos ingredientes muito usados na cozinha chinesa não apareceram primeiro na China. De acordo com o chefe Tam Kwok Fung, é este o caso do amendoim ou até da batata, que foram sendo introduzidos no país. O mesmo, diz, acontece com outros ingredientes, que conservam essa história na própria designação em chinês: a abóbora ou o tomate, por exemplo, possuem no nome um carácter que significa “estrangeiro”. Mesmo em Sichuan, famosa pela comida picante, o uso de malaguetas tem apenas alguns séculos, já que o ingrediente foi trazido para a China por mercadores oriundos da Europa. Ainda segundo o chefe Tam, o que é, de facto, original de Sichuan são dois tipos de pimenta em grão, um vermelho e outro verde, dos quais se podem fazer aperitivos frios ou um óleo para a comida, por exemplo. 42

Mais que uma regra, é uma superstição. O peixe inteiro cozido ao vapor é um prato apreciado pelos chineses. Mas manda a tradição que se deve comer tirando bocadinhos com os fai-chi, sem nunca virar o peixe. Há quem diga que virá-lo, conta o chefe Tam, traz má sorte ao pescador ou até mesmo a morte.

Animais esquisitos

Fontes: chefe Tam Kwok Fung; Sabe comer com pauzinhos?, da autoria de Cecília Jorge revista MACAU · Junho 2013

No cardápio chinês também não faltam alguns animais considerados estranhos entre quem está habituado aos menus do Ocidente. Como conta o chefe Tam, o pepino do mar é um deles. Outro é a popular sopa de cobra, que se acredita ser “boa para a circulação sanguínea”, “rica em proteínas” e benéfica no tratamento de algumas doenças sobretudo em idosos. O cão ainda é consumido por vezes, mas, segundo Tam, “depende das convicções de cada um”. O chefe não o utiliza e lembra que, “hoje em dia, há muitas alternativas disponíveis” no mercado.


Curiosidades Pato à Pequim

Nomes de pratos

É um dos pratos mais conhecidos entre os ocidentais, mas na verdade não é oriundo de Pequim. Segundo o chefe Tam Kwok Fung, o prato é original de Nanjing, antiga capital da China. Quanto à cozinha de Pequim, o chefe Tam explica que é hoje um reflexo dos movimentos migratórios para a capital, ao longo dos últimos 30 anos. Um exemplo disso, acrescenta, é a influência da cozinha de origem muçulmana, decorrente da chegada de elementos desta comunidade vindos de outras regiões.

Nos restaurantes mais requintados, é comum os chefes darem nomes quase poéticos aos pratos que confeccionam. O chefe Tam Kwok Fung dá o exemplo de alguns: “O dragão que nada” para um prato de peixe, ou “A Fénix” para um prato de galinha. O seu favorito é a lagosta cozida ao vapor com abóbora, um prato da cozinha de Cantão a que chama “Dragão em jade branco”.

Yam-cha

Ovo de “mil anos”

O yam-cha, ou beber chá em português, é um tipo de refeição muito popular, ainda hoje nas casas de chá ou casas de pasto de Macau. Dantes, estes estabelecimentos serviam o yamcha apenas ao nascer do sol e até pouco depois da hora normal de almoço. Hoje em dia muitos dos restaurantes servem os dim-sum fora de horas, dada a sua popularidade. Segundo o chefe Tam, especialista na comida da zona de Cantão, o yam-cha surgiu na Antiguidade nas casas nobres do Sul da China. Para não servir apenas chá aos donos da casa, apresentavam-se também pequenos snacks, como os wonton. Dim-sum significa “tocar o coração”.

O ovo de “mil anos” intriga muito os Ocidentais, a começar pela gema azulesverdeada e a clara preta e translúcida. São preparados a partir de ovos de pata e demoram três semanas a ficarem prontos (são preservados numa lama especial com potassa e envolvidos em cascas de arroz). Cecília Jorge explica que estes ovos são muito usados como aperitivos, acompanhados de fatias finas de gengibre, e integram também várias receitas. O truque, diz, é não os deixar mais do que alguns segundos em contacto com o calor do lume, para não perderem o sabor.

Virar o peixe

Ingredientes vindos de fora Alguns dos ingredientes muito usados na cozinha chinesa não apareceram primeiro na China. De acordo com o chefe Tam Kwok Fung, é este o caso do amendoim ou até da batata, que foram sendo introduzidos no país. O mesmo, diz, acontece com outros ingredientes, que conservam essa história na própria designação em chinês: a abóbora ou o tomate, por exemplo, possuem no nome um carácter que significa “estrangeiro”. Mesmo em Sichuan, famosa pela comida picante, o uso de malaguetas tem apenas alguns séculos, já que o ingrediente foi trazido para a China por mercadores oriundos da Europa. Ainda segundo o chefe Tam, o que é, de facto, original de Sichuan são dois tipos de pimenta em grão, um vermelho e outro verde, dos quais se podem fazer aperitivos frios ou um óleo para a comida, por exemplo. 42

Mais que uma regra, é uma superstição. O peixe inteiro cozido ao vapor é um prato apreciado pelos chineses. Mas manda a tradição que se deve comer tirando bocadinhos com os fai-chi, sem nunca virar o peixe. Há quem diga que virá-lo, conta o chefe Tam, traz má sorte ao pescador ou até mesmo a morte.

Animais esquisitos

Fontes: chefe Tam Kwok Fung; Sabe comer com pauzinhos?, da autoria de Cecília Jorge revista MACAU · Junho 2013

No cardápio chinês também não faltam alguns animais considerados estranhos entre quem está habituado aos menus do Ocidente. Como conta o chefe Tam, o pepino do mar é um deles. Outro é a popular sopa de cobra, que se acredita ser “boa para a circulação sanguínea”, “rica em proteínas” e benéfica no tratamento de algumas doenças sobretudo em idosos. O cão ainda é consumido por vezes, mas, segundo Tam, “depende das convicções de cada um”. O chefe não o utiliza e lembra que, “hoje em dia, há muitas alternativas disponíveis” no mercado.


Modos à mesa

Mesa à chinesa

Diferentes culturas têm diferentes regras de etiqueta à mesa, que variam consoante a formalidade das ocasiões. A cozinha chinesa não foge à regra.

Ao sentar-se numa mesa para uma refeição chinesa formal, vai encontrar no seu lugar:

Chá

Servir os outros

Quando alguém nos serve chá, é boa educação bater na mesa ao de leve com a ponta dos dedos indicador e médio. Um gesto explicado por uma velha lenda. Segundo conta o chefe Tam Kwok Fung, reza a história que um dia um imperador decidiu sair à rua com o seu mordomo para testemunhar o modo de vida dos súbditos. Para melhor poder observar a realidade, o imperador quis passar por um cidadão comum. Quando serviu o chá ao mordomo, este ficou tão embaraçado que usou o gesto para representar discretamente uma vénia humilde perante o seu imperador – a inclinação dos dedos assemelhar-se-ia a alguém a ajoelhar-se. Hoje em dia, o gesto é sinal de boa educação em todas as ocasiões.

O chefe Liu Guo Zhu explica que é boa educação servir os outros primeiro. Nas reuniões de família, explica, é também comum “escolher a melhor peça” e dar a um dos familiares próximos. Estas regras não se aplicam, no entanto, num banquete formal.

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

Fontes: chefes Tam Kwok Fung e Liu Guo Zhu.

Pequena chávena para o chá Cálice para os brindes com moutai Taça para vinho Prato grande para servir de apoio aos pratos principais Prato pequeno que serve de base para os aperitivos Uma tigela pequena Dois pares de fai-chi – um para retirar a comida das travessas e outro para ir à boca Dois apoios para os fai-chi Uma colher de louça para a sopa Um guardanapo de pano dobrado em forma de diamante

Pauzinhos Os fai-chi são usados quer para levar a comida a boca, quer para servir os alimentos. Em muitos restaurantes, cada pessoa tem dois pares de fai-chi junto ao prato. De acordo com o chefe Tam Kwok Fung, o par de dentro, mais próximo do prato, é para levar a comida à boca, sendo o par de fora usado para tirar os alimentos do prato comum. Em casa, geralmente, não há fai-chi públicos. Neste caso, ditam as regras da boa educação que se tire a comida do prato comum em frente a nós, não se tentando chegar a um mais afastado, cruzando o que está no centro da mesa. Também não se deve andar à procura dos pedaços maiores de comida.

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01

Ordem O respeito pelos mais velhos é uma das características mais importantes da cultura chinesa. E nota-se à mesa. Segundo o chefe Liu Guo Zhu, “nunca se começa a comer antes de a pessoa mais velha da mesa ter começado”. Não o fazer é considerado “uma grande falta de educação”, seja em casa, seja num restaurante.

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Modos à mesa

Mesa à chinesa

Diferentes culturas têm diferentes regras de etiqueta à mesa, que variam consoante a formalidade das ocasiões. A cozinha chinesa não foge à regra.

Ao sentar-se numa mesa para uma refeição chinesa formal, vai encontrar no seu lugar:

Chá

Servir os outros

Quando alguém nos serve chá, é boa educação bater na mesa ao de leve com a ponta dos dedos indicador e médio. Um gesto explicado por uma velha lenda. Segundo conta o chefe Tam Kwok Fung, reza a história que um dia um imperador decidiu sair à rua com o seu mordomo para testemunhar o modo de vida dos súbditos. Para melhor poder observar a realidade, o imperador quis passar por um cidadão comum. Quando serviu o chá ao mordomo, este ficou tão embaraçado que usou o gesto para representar discretamente uma vénia humilde perante o seu imperador – a inclinação dos dedos assemelhar-se-ia a alguém a ajoelhar-se. Hoje em dia, o gesto é sinal de boa educação em todas as ocasiões.

O chefe Liu Guo Zhu explica que é boa educação servir os outros primeiro. Nas reuniões de família, explica, é também comum “escolher a melhor peça” e dar a um dos familiares próximos. Estas regras não se aplicam, no entanto, num banquete formal.

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Fontes: chefes Tam Kwok Fung e Liu Guo Zhu.

Pequena chávena para o chá Cálice para os brindes com moutai Taça para vinho Prato grande para servir de apoio aos pratos principais Prato pequeno que serve de base para os aperitivos Uma tigela pequena Dois pares de fai-chi – um para retirar a comida das travessas e outro para ir à boca Dois apoios para os fai-chi Uma colher de louça para a sopa Um guardanapo de pano dobrado em forma de diamante

Pauzinhos Os fai-chi são usados quer para levar a comida a boca, quer para servir os alimentos. Em muitos restaurantes, cada pessoa tem dois pares de fai-chi junto ao prato. De acordo com o chefe Tam Kwok Fung, o par de dentro, mais próximo do prato, é para levar a comida à boca, sendo o par de fora usado para tirar os alimentos do prato comum. Em casa, geralmente, não há fai-chi públicos. Neste caso, ditam as regras da boa educação que se tire a comida do prato comum em frente a nós, não se tentando chegar a um mais afastado, cruzando o que está no centro da mesa. Também não se deve andar à procura dos pedaços maiores de comida.

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Ordem O respeito pelos mais velhos é uma das características mais importantes da cultura chinesa. E nota-se à mesa. Segundo o chefe Liu Guo Zhu, “nunca se começa a comer antes de a pessoa mais velha da mesa ter começado”. Não o fazer é considerado “uma grande falta de educação”, seja em casa, seja num restaurante.

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GASTRONOMIA

ETIQUETA À MESA

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O permitido

• Pontualidade é sinal de respeito. Desmarcar um encontro à mesa em cima da hora é uma ofensa gravíssima para os chineses. • O convite para um jantar deve ser repetido três vezes até ser aceite. • O anfitrião chinês senta-se junto da porta para dar ordens aos empregados e cede a presidência ao convidado de honra, que fica sentado no topo da mesa, virado de frente para a porta. • Sente-se no lugar que lhe é indicado para seguir a ordem hierárquica.

• Quando dizem ganbei, é um convite, ou melhor, uma ordem para beber. Levante-se, erga o cálice em direcção ao centro da mesa e esvazie o copo. No fim, mostre que não sobrou nada. • O anfitrião é o primeiro a comer e a dar sinal de levantar. • Coloque os fai-chi sempre no apoio que está ao lado do prato. • Todos devem comer sentados, seguindo a ordem: homens, mulheres, velhos e jovens. • O copo nunca deve ficar vazio. • Beba álcool em pequenas quantidades. Guarde-se para os brindes. • Elogie a escolha dos pratos. • Não faça más caras se algum prato não lhe agradar. Comida, seja ela qual for, é sagrada para os chineses. • Ao servir o chá, agarra o bule com a mão direita. Com a esquerda, segure a tampa. Antes de se servir, pergunte aos outros se também querem.

O proibido

• Não peça água, pois é considerado um insulto não beber vinho ou aguardente. • Jamais espete os fai-chi no arroz. O gesto significa “comida para os mortos”. • Em jantares formais, há dois tipos de faichi: um para levar à boca e outra para retirar a comida das travessas. Jamais ponha à boca os pauzinhos de servir. • Nunca coloque os fai-chi paralelos em cima da tigela, porque traz azar. • Sirva-se das toalhas húmidas que lhe oferecerem para limpar as mãos e a cara, mas não peça guardanapos se não estiverem na mesa. • Não tente tirar a comida das travessas que estão longe de si. Se a mesa for redonda e tiver um prato giratório, traga a comida para mais perto. Se a mesa for quadrada, peça alguém que lhe passe a comida. • Nunca ponha o guardanapo de tecido no colo. Ponha-o debaixo do prato maior e deixe-o cair em sua direcção. • Jamais peça talheres. Aprenda a usar os faichi antes de aceitar um convite. • Nunca use as mãos para comer, nem mesmo para descascar camarões ou roer um osso. Use uma colher para apoiar pedaços de comida maiores. • Não peça arroz ou massa a meio da refeição. Estes são trazidos ao fim. • Não fique sentado na altura dos brindes. • Não trinque os fai-chi. • Jamais use os fai-chi para empurrar utensílios de mesa. • Nunca use os fai-chi para apontar para pessoas. • Não escolha os melhores pedaços de comida das travessas. • Nunca retire a tampa do bule de chá para deixá-la sobre a mesa. • Se foi convidado para a refeição, não se ofereça para pagar ou dividir a conta.

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GASTRONOMIA

ETIQUETA À MESA

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O permitido

• Pontualidade é sinal de respeito. Desmarcar um encontro à mesa em cima da hora é uma ofensa gravíssima para os chineses. • O convite para um jantar deve ser repetido três vezes até ser aceite. • O anfitrião chinês senta-se junto da porta para dar ordens aos empregados e cede a presidência ao convidado de honra, que fica sentado no topo da mesa, virado de frente para a porta. • Sente-se no lugar que lhe é indicado para seguir a ordem hierárquica.

• Quando dizem ganbei, é um convite, ou melhor, uma ordem para beber. Levante-se, erga o cálice em direcção ao centro da mesa e esvazie o copo. No fim, mostre que não sobrou nada. • O anfitrião é o primeiro a comer e a dar sinal de levantar. • Coloque os fai-chi sempre no apoio que está ao lado do prato. • Todos devem comer sentados, seguindo a ordem: homens, mulheres, velhos e jovens. • O copo nunca deve ficar vazio. • Beba álcool em pequenas quantidades. Guarde-se para os brindes. • Elogie a escolha dos pratos. • Não faça más caras se algum prato não lhe agradar. Comida, seja ela qual for, é sagrada para os chineses. • Ao servir o chá, agarra o bule com a mão direita. Com a esquerda, segure a tampa. Antes de se servir, pergunte aos outros se também querem.

O proibido

• Não peça água, pois é considerado um insulto não beber vinho ou aguardente. • Jamais espete os fai-chi no arroz. O gesto significa “comida para os mortos”. • Em jantares formais, há dois tipos de faichi: um para levar à boca e outra para retirar a comida das travessas. Jamais ponha à boca os pauzinhos de servir. • Nunca coloque os fai-chi paralelos em cima da tigela, porque traz azar. • Sirva-se das toalhas húmidas que lhe oferecerem para limpar as mãos e a cara, mas não peça guardanapos se não estiverem na mesa. • Não tente tirar a comida das travessas que estão longe de si. Se a mesa for redonda e tiver um prato giratório, traga a comida para mais perto. Se a mesa for quadrada, peça alguém que lhe passe a comida. • Nunca ponha o guardanapo de tecido no colo. Ponha-o debaixo do prato maior e deixe-o cair em sua direcção. • Jamais peça talheres. Aprenda a usar os faichi antes de aceitar um convite. • Nunca use as mãos para comer, nem mesmo para descascar camarões ou roer um osso. Use uma colher para apoiar pedaços de comida maiores. • Não peça arroz ou massa a meio da refeição. Estes são trazidos ao fim. • Não fique sentado na altura dos brindes. • Não trinque os fai-chi. • Jamais use os fai-chi para empurrar utensílios de mesa. • Nunca use os fai-chi para apontar para pessoas. • Não escolha os melhores pedaços de comida das travessas. • Nunca retire a tampa do bule de chá para deixá-la sobre a mesa. • Se foi convidado para a refeição, não se ofereça para pagar ou dividir a conta.

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ECONOMIA

Portugal mobiliza-se para atrair investidores chineses O consórcio PTCN – Missão Empresarial PortugalChina quer atrair investidores para os sectores imobiliário, comercial e tecnológico e contribuir para a internacionalização das empresas chinesas, de olho na nova política portuguesa de estrangeiros. A nova lei, aprovada no ano passado, permite que imigrantes com capacidade de investimento adquiram residência em Portugal mediante a compra de casa, transferência de capitais ou criação de postos de trabalho Texto Cláudia Aranda 48

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ECONOMIA

Portugal mobiliza-se para atrair investidores chineses O consórcio PTCN – Missão Empresarial PortugalChina quer atrair investidores para os sectores imobiliário, comercial e tecnológico e contribuir para a internacionalização das empresas chinesas, de olho na nova política portuguesa de estrangeiros. A nova lei, aprovada no ano passado, permite que imigrantes com capacidade de investimento adquiram residência em Portugal mediante a compra de casa, transferência de capitais ou criação de postos de trabalho Texto Cláudia Aranda 48

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economia

A

não é só “vender casas”, mas também encontrar parceiros no sector comercial e tecnológico e “promover a internacionalização das empresas chinesas abrindo-lhes portas para a Europa”, através do estabelecimento de parcerias. A Universidade de Aveiro e a Associação Empresarial de Portugal (AEP) são exemplos de entidades interessadas em atrair empresários chineses para investir em parques tecnológicos e industriais em Portugal. Em entrevista à revista MACAU no Porto, Y Ping Chow, e o vice-presidente do consórcio, Pedro Barros, explicaram a estratégia para atrair investidores chineses a Portugal.

O interesse não é só “vender casas”, mas também encontrar parceiros no sector comercial e tecnológico e “promover a internacionalização das empresas chinesas.

O consórcio foi criado basicamente para atrair investimento chinês para o imobiliário. Quais são as outras prioridades? Y Ping Chow (YPC) - Captar investimento chinês é um objectivo. Outro é conquistar o mercado chinês. Ainda queremos ajudar na internacionalização das empresas chinesas que, neste momento, têm bastante apoio do governo chinês.

Como é que o consórcio tenciona atingir esses três objectivos tão ambiciosos?

* Paulo Cordeiro

venda de imóveis em Portugal a investidores chineses é uma das prioridades do consórcio PTCN – Missão Empresarial Portugal-China, fundado na cidade do Porto, em Janeiro de 2013, e liderado por Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal. O consórcio conta já com 30 entidades participantes, incluindo empresas de construção e de investimento turístico e imobiliário, bancos e escritórios de advogados. O objectivo inicial é estimular o mercado de investimento imobiliário português, estagnado em resultado da retracção no financiamento e o estado de crise económica do país. O interesse

YPC - Por exemplo, no sector tecnológico está a ser desenvolvido um parque de ciências e inovação que tem uma participação da Universidade de Aveiro e os municípios da zona de Aveiro. O objectivo é estabelecer relações com parques industriais e parques de ciências e tecnologia da China para captar o investimento de capital para o parque de ciência e inovação de Aveiro e, ao mesmo tempo, divulgar os participantes associados (chineses) entre parques de ciências e tecnológicos europeus. Sem esta intervenção da universidade e sem o estabelecimento de relações, as empresas chinesas tecnológicas podem ter dificuldades. Isto também ajuda que as empresas de Portugal possam conquistar o mercado chinês, que é um dos destinos principais para estas empresas tecnológicas, que por regra são mais pequenas e recentes.

Já existem relações entre Aveiro e parques tecnológicos na China? YPC - Através do Governo de Macau e do Governo de Zhejiang, vamos contactar dois pólos de ciência e tecnologia de Cantão e de Zhejiang.

* Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal e do consórcio PTCN 50

revista MACAU · Junho 2013

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economia

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não é só “vender casas”, mas também encontrar parceiros no sector comercial e tecnológico e “promover a internacionalização das empresas chinesas abrindo-lhes portas para a Europa”, através do estabelecimento de parcerias. A Universidade de Aveiro e a Associação Empresarial de Portugal (AEP) são exemplos de entidades interessadas em atrair empresários chineses para investir em parques tecnológicos e industriais em Portugal. Em entrevista à revista MACAU no Porto, Y Ping Chow, e o vice-presidente do consórcio, Pedro Barros, explicaram a estratégia para atrair investidores chineses a Portugal.

O interesse não é só “vender casas”, mas também encontrar parceiros no sector comercial e tecnológico e “promover a internacionalização das empresas chinesas.

O consórcio foi criado basicamente para atrair investimento chinês para o imobiliário. Quais são as outras prioridades? Y Ping Chow (YPC) - Captar investimento chinês é um objectivo. Outro é conquistar o mercado chinês. Ainda queremos ajudar na internacionalização das empresas chinesas que, neste momento, têm bastante apoio do governo chinês.

Como é que o consórcio tenciona atingir esses três objectivos tão ambiciosos?

* Paulo Cordeiro

venda de imóveis em Portugal a investidores chineses é uma das prioridades do consórcio PTCN – Missão Empresarial Portugal-China, fundado na cidade do Porto, em Janeiro de 2013, e liderado por Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal. O consórcio conta já com 30 entidades participantes, incluindo empresas de construção e de investimento turístico e imobiliário, bancos e escritórios de advogados. O objectivo inicial é estimular o mercado de investimento imobiliário português, estagnado em resultado da retracção no financiamento e o estado de crise económica do país. O interesse

YPC - Por exemplo, no sector tecnológico está a ser desenvolvido um parque de ciências e inovação que tem uma participação da Universidade de Aveiro e os municípios da zona de Aveiro. O objectivo é estabelecer relações com parques industriais e parques de ciências e tecnologia da China para captar o investimento de capital para o parque de ciência e inovação de Aveiro e, ao mesmo tempo, divulgar os participantes associados (chineses) entre parques de ciências e tecnológicos europeus. Sem esta intervenção da universidade e sem o estabelecimento de relações, as empresas chinesas tecnológicas podem ter dificuldades. Isto também ajuda que as empresas de Portugal possam conquistar o mercado chinês, que é um dos destinos principais para estas empresas tecnológicas, que por regra são mais pequenas e recentes.

Já existem relações entre Aveiro e parques tecnológicos na China? YPC - Através do Governo de Macau e do Governo de Zhejiang, vamos contactar dois pólos de ciência e tecnologia de Cantão e de Zhejiang.

* Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal e do consórcio PTCN 50

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economia

E nos outros sectores? YPC - No sector comercial, estamos a desenvolver um centro comercial. Queremos contactar empresas que queiram lançar as suas marcas na Europa, através de um centro em Portugal. Através deste centro comercial vamos contactar com outros países para divulgar as marcas ou implementar os produtos chineses. No sector de turismo, estamos a tentar criar programas, como hotéis para a terceira idade com assistência médica. Isto através de outra associação que vai entrar no consórcio. Portanto, nestes quatro sectores - tecnológico, comercial, industrial e turismo - é que vamos desenvolver a actividade, aproveitando a nova lei portuguesa do imigrante investidor.

Os negócios vão ser criados em Portugal e também na China? YPC - O investimento é em Portugal, a indústria é em Portugal, a loja em Portugal e o parque industrial em Portugal. Mas, através de Portugal, vamos manter contacto com outros países e há a possibilidade de reinvestir na China com capital chinês.

De que forma o consórcio pretende usar a lei de estrangeiros que privilegia o imigrante com dinheiro para atrair novos investidores? YPC – Queremos desenvolver o negócio de empresários chineses em Portugal, portanto, se as empresas chinesas querem internacionalizarse podem vir a Portugal aproveitando este novo sistema que o Governo português lançou e criar uma base em Portugal. Vamos trabalhar com esta arma que agora temos. 52

A Espanha está também em processo de criar uma iniciativa semelhante mas por valores inferiores ao mínimo exigido por Portugal para a compra de imobiliário, o que poderia colocar Portugal em situação concorrencial desfavorável. Esta situação poderia afectar os objectivos do consórcio?

Quais são as motivações para um investidor chinês apostar em Portugal? YPC - Para os comerciantes que têm uma marca, é mais vantajoso lançar uma marca em Portugal. É muito mais barato, mais económico do que na Itália e do que em França. Portugal tem boas tecnologias. Investir no parque de tecnologias, (em termos de qualidade e nível técnico) é a mesma coisa que investir em França ou na Alemanha. Através das universidades, os investidores conseguem chegar aos pólos tecnológicos e sai mais barato tecnicamente. Na indústria, Portugal tem mão-de-obra mais barata. Além disso, os investidores têm uma oportunidade de abertura para os países lusófonos como Brasil, Angola e Moçambique.

* Pedro Barros, vice-presidente do consórcio

* Paulo Cordeiro

O consórcio PTCN tenciona tirar partido das oportunidades criadas pelo Governo português com a aprovação, em Agosto de 2012, do novo regime jurídico português de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional, que prevê a concessão de autorizações de residência “douradas” a imigrantes que invistam em Portugal

YPC - Pode afectar um pouco, embora o sentido da lei espanhola seja diferente, os valores de investimento no imobiliário são mais baixos, mas tem que ter uma permanência mais longa em Espanha. Pedro Barros (PB) - A PTCN, enquanto missão empresarial, tem como objectivo juntar os dois países do ponto de vista da actividade económica, captar investimento chinês para Portugal, levar produtos e empresas portuguesas para a China e servir de plataforma de entrada da China na Europa. Para a China também é importante entrar na Europa e nos países de língua oficial portuguesa. Portanto queremos, com uma escala devidamente adequada à nossa dimensão, captar e marcar posição nesse mercado. A alteração legislativa é importante para nos ajudar a conseguirmos ser competitivos. A globalização está aí, a busca e a tentativa de chegar aos grandes investidores por todo o mundo é uma batalha diária e global. É com estes instrumentos que nós vamos conseguir, mais rapidamente ou menos rapidamente, com mais eficiência ou menos eficiência, atingir os nossos objectivos. Esta lei vai nos ajudar, poderia ser mais ambiciosa, poderia ser mais consistente nalgumas áreas, mas é um instrumento suficiente para nós podermos trabalhar. revista MACAU · Junho 2013

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economia

E nos outros sectores? YPC - No sector comercial, estamos a desenvolver um centro comercial. Queremos contactar empresas que queiram lançar as suas marcas na Europa, através de um centro em Portugal. Através deste centro comercial vamos contactar com outros países para divulgar as marcas ou implementar os produtos chineses. No sector de turismo, estamos a tentar criar programas, como hotéis para a terceira idade com assistência médica. Isto através de outra associação que vai entrar no consórcio. Portanto, nestes quatro sectores - tecnológico, comercial, industrial e turismo - é que vamos desenvolver a actividade, aproveitando a nova lei portuguesa do imigrante investidor.

Os negócios vão ser criados em Portugal e também na China? YPC - O investimento é em Portugal, a indústria é em Portugal, a loja em Portugal e o parque industrial em Portugal. Mas, através de Portugal, vamos manter contacto com outros países e há a possibilidade de reinvestir na China com capital chinês.

De que forma o consórcio pretende usar a lei de estrangeiros que privilegia o imigrante com dinheiro para atrair novos investidores? YPC – Queremos desenvolver o negócio de empresários chineses em Portugal, portanto, se as empresas chinesas querem internacionalizarse podem vir a Portugal aproveitando este novo sistema que o Governo português lançou e criar uma base em Portugal. Vamos trabalhar com esta arma que agora temos. 52

A Espanha está também em processo de criar uma iniciativa semelhante mas por valores inferiores ao mínimo exigido por Portugal para a compra de imobiliário, o que poderia colocar Portugal em situação concorrencial desfavorável. Esta situação poderia afectar os objectivos do consórcio?

Quais são as motivações para um investidor chinês apostar em Portugal? YPC - Para os comerciantes que têm uma marca, é mais vantajoso lançar uma marca em Portugal. É muito mais barato, mais económico do que na Itália e do que em França. Portugal tem boas tecnologias. Investir no parque de tecnologias, (em termos de qualidade e nível técnico) é a mesma coisa que investir em França ou na Alemanha. Através das universidades, os investidores conseguem chegar aos pólos tecnológicos e sai mais barato tecnicamente. Na indústria, Portugal tem mão-de-obra mais barata. Além disso, os investidores têm uma oportunidade de abertura para os países lusófonos como Brasil, Angola e Moçambique.

* Pedro Barros, vice-presidente do consórcio

* Paulo Cordeiro

O consórcio PTCN tenciona tirar partido das oportunidades criadas pelo Governo português com a aprovação, em Agosto de 2012, do novo regime jurídico português de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional, que prevê a concessão de autorizações de residência “douradas” a imigrantes que invistam em Portugal

YPC - Pode afectar um pouco, embora o sentido da lei espanhola seja diferente, os valores de investimento no imobiliário são mais baixos, mas tem que ter uma permanência mais longa em Espanha. Pedro Barros (PB) - A PTCN, enquanto missão empresarial, tem como objectivo juntar os dois países do ponto de vista da actividade económica, captar investimento chinês para Portugal, levar produtos e empresas portuguesas para a China e servir de plataforma de entrada da China na Europa. Para a China também é importante entrar na Europa e nos países de língua oficial portuguesa. Portanto queremos, com uma escala devidamente adequada à nossa dimensão, captar e marcar posição nesse mercado. A alteração legislativa é importante para nos ajudar a conseguirmos ser competitivos. A globalização está aí, a busca e a tentativa de chegar aos grandes investidores por todo o mundo é uma batalha diária e global. É com estes instrumentos que nós vamos conseguir, mais rapidamente ou menos rapidamente, com mais eficiência ou menos eficiência, atingir os nossos objectivos. Esta lei vai nos ajudar, poderia ser mais ambiciosa, poderia ser mais consistente nalgumas áreas, mas é um instrumento suficiente para nós podermos trabalhar. revista MACAU · Junho 2013

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economia

em Portugal tem passado por dificuldades. O fruto dessas dificuldades é uma enorme oportunidade para os investidores, sejam nacionais, sejam internacionais.

PB - Portugal é mais competitivo. Qualquer investidor vê oportunidades de negócio. Portugal tem muitas janelas de negócio e foi por isso que foram feitos grandes investimentos Estamos a falar numa aposta em chineses em 2012 no país. Do ponto de vista projectos de luxo? estratégico, Portugal pode ser muito interes- YPC - Temos vários. sante para o investidor que quer rentabilizar o PB - O imobiliário é integrado: a oferta seu dinheiro e os seus investimentos. Portugal é imobiliária vai do habitacional ao industrial, competitivo porque tem um papel importante na ao comercial. Temos no nosso portefólio de Europa, porque tem um papel de charneira junto membros da parceria diversos projectos em dos países oficiais de língua oficial portuguesa, várias áreas do imobiliário, que estão em que são uma prioridade nas políticas da China. condições de poderem ser comercializados. Essa Temos aqui um conjunto de situações em que comercialização tem vários nichos de mercado, somos muito competitivos em relação a outros do pequeno investidor, do imigrante investidor, países. Temos universidade muito boas, temos até à criação de fundos de investimento mão-de-obra muito qualificada, temos poten- imobiliário. Há uma panóplia enorme de cialidades enormes em termos de geoestratégia. oportunidades. A nossa localização é efectivamente importante e temos uma história de relações com a China que Os investidores chineses procuram foi significativa. O grande investimento que foi fei- imobiliário em Portugal? PB - Já temos to pela China em histórico, existem Portugal no ano A nova lei permite que os estrangeiros grandes grupos anterior e as razões portugueses que que levaram a esse que entrem no país de forma regular, estão a trabalhar investimento são ou seja, portadores de um visto individualmente uma prova de conSchengen, ou que sejam beneficiários esse sector. Estamos fiança e um aval a convencidos de que de isenção de visto, possam requerer este país e a este o imobiliário vai ter povo que tem este uma Golden Residence Permit, que é uma oportunidade saber todo. automaticamente válida para circulação junto dos investidentro da União Europeia dores chineses. Já falámos

das vantagens competitivas de Portugal. Mas o que é que pode interessar a um empresário chinês vir cá buscar?

YPC - O mais fácil são os vinhos e azeites. O consumo está a aumentar na China. Para entrarmos comercialmente, o mais fácil é através do vinho, do azeite e de outros produtos alimentares. Portugal tem também estilistas e vestuário muito bons. Mas este já é um sector diferente, já é mais difícil de trabalhar.

O sector do imobiliário vai atrair investidores chineses? PB - O imobiliário é uma grande oportunidade para investidores a nível mundial. O imobiliário 54

internacionalizar as empresas chinesas. Isto é que é o nosso objectivo final.

parceria, que se espera possam vir a materializarse em oportunidades concretas de negócio.

Que apoios presta o consórcio ao investidor chinês que esteja interessado em, por exemplo, adquirir imobiliário, abrir lojas ou instalar uma fábrica e criar postos de trabalho?

Existem condições para a criação de parques industriais para empresas chinesas em Portugal?

PB - O consórcio presta um serviço chave na mão. Dá apoio jurídico, na legalização, consultoria financeira, fiscalidade, apoio à gestão do investimento, administração de condomínios.

Existem já negócios apalavrados, investidores localizados para os diversos sectores? PB - O consórcio está a criar uma rede de contactos em Portugal e na China, quer de natureza institucional, quer outros, que é necessário para divulgar a existência desta

YPC - A Associação Empresarial de Portugal (membro do consórcio) é o proprietário maioritário, tem controlo sobre nove parques industriais em Portugal e está disposta a abrir o seu valor capital. PB - Temos, além disso, outras empresas que têm parques industriais e empresarias que estão receptivas a que companhias chinesas se instalem em Portugal. O objectivo é que a partir de Portugal essas empresas possam também chegar ao resto da Europa. Há grandes empresas na China que por questões de proximidade têm interesse em ter unidades de fabrico, de montagem e de apoio pós-venda em Portugal. Vamos tentar encontrar essas empresas e darlhes essa oportunidade para atraí-las para o país.

* Paulo Cordeiro

Pode-se dizer que Portugal é uma opção barata para entrar na Europa?

Essas oportunidades incluem a criação de parques industriais para empresas chinesas? YPC - Temos quatro tipos de imobiliário: habitacional, comercial, industrial, tecnológico e o turístico. São estes os sectores que vamos trabalhar. Vamos trabalhar o imobiliário porque queremos contribuir para estas saídas e captar o investimento, criar os nossos próprios negócios. A finalidade principal, no entanto, é olhar o interesse dos investidores. Vamos gerir, rentabilizar e contribuir para a criação de postos de trabalho. Não é só vender casas para os chineses, é também trazê-los para reinvestir noutros negócios que eles queiram e ajudar a revista MACAU · Junho 2013

www.revistamacau.com

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economia

em Portugal tem passado por dificuldades. O fruto dessas dificuldades é uma enorme oportunidade para os investidores, sejam nacionais, sejam internacionais.

PB - Portugal é mais competitivo. Qualquer investidor vê oportunidades de negócio. Portugal tem muitas janelas de negócio e foi por isso que foram feitos grandes investimentos Estamos a falar numa aposta em chineses em 2012 no país. Do ponto de vista projectos de luxo? estratégico, Portugal pode ser muito interes- YPC - Temos vários. sante para o investidor que quer rentabilizar o PB - O imobiliário é integrado: a oferta seu dinheiro e os seus investimentos. Portugal é imobiliária vai do habitacional ao industrial, competitivo porque tem um papel importante na ao comercial. Temos no nosso portefólio de Europa, porque tem um papel de charneira junto membros da parceria diversos projectos em dos países oficiais de língua oficial portuguesa, várias áreas do imobiliário, que estão em que são uma prioridade nas políticas da China. condições de poderem ser comercializados. Essa Temos aqui um conjunto de situações em que comercialização tem vários nichos de mercado, somos muito competitivos em relação a outros do pequeno investidor, do imigrante investidor, países. Temos universidade muito boas, temos até à criação de fundos de investimento mão-de-obra muito qualificada, temos poten- imobiliário. Há uma panóplia enorme de cialidades enormes em termos de geoestratégia. oportunidades. A nossa localização é efectivamente importante e temos uma história de relações com a China que Os investidores chineses procuram foi significativa. O grande investimento que foi fei- imobiliário em Portugal? PB - Já temos to pela China em histórico, existem Portugal no ano A nova lei permite que os estrangeiros grandes grupos anterior e as razões portugueses que que levaram a esse que entrem no país de forma regular, estão a trabalhar investimento são ou seja, portadores de um visto individualmente uma prova de conSchengen, ou que sejam beneficiários esse sector. Estamos fiança e um aval a convencidos de que de isenção de visto, possam requerer este país e a este o imobiliário vai ter povo que tem este uma Golden Residence Permit, que é uma oportunidade saber todo. automaticamente válida para circulação junto dos investidentro da União Europeia dores chineses. Já falámos

das vantagens competitivas de Portugal. Mas o que é que pode interessar a um empresário chinês vir cá buscar?

YPC - O mais fácil são os vinhos e azeites. O consumo está a aumentar na China. Para entrarmos comercialmente, o mais fácil é através do vinho, do azeite e de outros produtos alimentares. Portugal tem também estilistas e vestuário muito bons. Mas este já é um sector diferente, já é mais difícil de trabalhar.

O sector do imobiliário vai atrair investidores chineses? PB - O imobiliário é uma grande oportunidade para investidores a nível mundial. O imobiliário 54

internacionalizar as empresas chinesas. Isto é que é o nosso objectivo final.

parceria, que se espera possam vir a materializarse em oportunidades concretas de negócio.

Que apoios presta o consórcio ao investidor chinês que esteja interessado em, por exemplo, adquirir imobiliário, abrir lojas ou instalar uma fábrica e criar postos de trabalho?

Existem condições para a criação de parques industriais para empresas chinesas em Portugal?

PB - O consórcio presta um serviço chave na mão. Dá apoio jurídico, na legalização, consultoria financeira, fiscalidade, apoio à gestão do investimento, administração de condomínios.

Existem já negócios apalavrados, investidores localizados para os diversos sectores? PB - O consórcio está a criar uma rede de contactos em Portugal e na China, quer de natureza institucional, quer outros, que é necessário para divulgar a existência desta

YPC - A Associação Empresarial de Portugal (membro do consórcio) é o proprietário maioritário, tem controlo sobre nove parques industriais em Portugal e está disposta a abrir o seu valor capital. PB - Temos, além disso, outras empresas que têm parques industriais e empresarias que estão receptivas a que companhias chinesas se instalem em Portugal. O objectivo é que a partir de Portugal essas empresas possam também chegar ao resto da Europa. Há grandes empresas na China que por questões de proximidade têm interesse em ter unidades de fabrico, de montagem e de apoio pós-venda em Portugal. Vamos tentar encontrar essas empresas e darlhes essa oportunidade para atraí-las para o país.

* Paulo Cordeiro

Pode-se dizer que Portugal é uma opção barata para entrar na Europa?

Essas oportunidades incluem a criação de parques industriais para empresas chinesas? YPC - Temos quatro tipos de imobiliário: habitacional, comercial, industrial, tecnológico e o turístico. São estes os sectores que vamos trabalhar. Vamos trabalhar o imobiliário porque queremos contribuir para estas saídas e captar o investimento, criar os nossos próprios negócios. A finalidade principal, no entanto, é olhar o interesse dos investidores. Vamos gerir, rentabilizar e contribuir para a criação de postos de trabalho. Não é só vender casas para os chineses, é também trazê-los para reinvestir noutros negócios que eles queiram e ajudar a revista MACAU · Junho 2013

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Quais os sectores industriais na China que podem ter interesse em instalar fábricas em Portugal? PB - A China tem feito melhorias em termos de produção industrial, através de uma qualificação dos seus próprios produtos. Hoje começam a surgir produtos de uma gama muito superior àquela que tradicionalmente era ou é ainda associada aos produtos feitos na China. Nesse sector começam a surgir empresas que já têm marcas e que estão a apostar numa maior qualidade. É essa nova vaga de produtos de mais qualidade que nós gostaríamos de trazer para Portugal e de, alguma forma, trazer para a Europa através de Portugal. YPC - A marca chinesa na Europa ainda não está muito valorizada. Há muitas produções chinesas que são feitas e mesmo etiquetadas com marcas europeias. Queremos ter parceiros na China que possam criar um produto com design e boa relação qualidade e preço. Isto tem vantagens para que o produto possa entrar, por exemplo, nos mercados de países africanos lusófonos. O produto fabricado em Portugal e na Europa inspira uma confiança maior.

Que garantias existem que os empresários chineses vão investir em Portugal? PB - Um dos maiores investimentos da China no ano passado foi precisamente em Portugal. A China vê uma oportunidade e nós temos de aproveitar. Perante os investidores, Portugal é um mercado competitivo e atractivo, há oportunidades muito interessantes. É nas crises que se fazem os grandes negócios e temos que estar atentos a essa grandes oportunidades. A China esteve atenta e por isso fez um grande investimento em Portugal em 2012. 56

A autorização de residência dourada pode ser obtida mediante a transferência de capitais de pelo menos um milhão de euros, a criação de um mínimo de 30 postos de trabalho ou a aquisição de um bem imobiliário por um valor mínimo de 500 mil euros

Atendimento trilingue no Consulado de Portugal em Macau O Consulado-Geral de Portugal em Macau abriu em meados de Abril um balcão específico para atendimento personalizado a candidatos ao visto dourado, que possibilita uma autorização de residência a estrangeiros que tencionem desenvolver actividades de investimento em Portugal. O novo cônsul-geral na RAEM, Vítor Sereno, explicou ter sido criada uma zona especial com atendimento trilingue em português, chinês e inglês. O consulado-geral de Portugal em Macau passou a dispor também de uma linha de atendimento telefónico (+853 8394 8132) para os candidatos. revista MACAU · Junho 2013

Digressão frutífera pela China Y Ping Chow esteve em Pequim, Zhejiang, Xangai, Nanjing, Zhengzhou e Cantão a liderar uma delegação comercial que, em Abril, esteve na República Popular da China, com uma breve passagem por Macau. O objectivo da viagem foi iniciar contactos e angariar apoio junto de entidades oficiais e empresariais chinesas à iniciativa de um conjunto de empresas, bancos e escritórios de advogados portugueses, que pretendem atrair investidores individuais ou institucionais chineses a apostar em Portugal. Em Macau, Y Ping Chow e dois dos seus associados Pedro Barros, do Grupo Templo, e João Oliveira, do Banco Carregosa, foram recebidos por representantes do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). A entidade da RAEM afirmou estar “aberta para atender e apoiar a iniciativa”. Y Ping Chow afirmou que a receptividade foi “muito positiva” junto de representantes dos governos provinciais e municipais da RPC, assim como de federações de comércio e indústria e de promoção do investimento internacional. “Todos manifestaram interesse em organizar eventos na China e viagens de empresários a Portugal para conhecerem os projectos”. Cantão, capital da Província de Guangdong, foi a escala mais proveitosa para o consórcio. Nesta província Y Ping Chow manteve encontros com empresários do sector www.revistamacau.com

* Gonçalo Lobo Pinheiro

economia

imobiliário, que manifestaram interesse em reunir investidores chineses para se deslocarem a Portugal “para possíveis aquisições de propriedades e moradias de luxo”, afirmou Y Ping Chow. África e a possibilidade de internacionalização das empresas chinesas em países africanos de língua oficial portuguesa, com apoio do consórcio, foi um dos aspectos que também atraiu a atenção das entidades oficiais chinesas. Por outro lado, o processo de privatizações em curso em Portugal interessou à federação de indústria e comércio em Cantão, que manifestou vontade de organizar um encontro empresarial no segundo semestre deste ano. Y Ping Chow referiu ainda que os interlocutores mostraram-se interessados na possibilidade de aquisição de autorização de residência em Portugal mediante a realização de actividade de investimento. No entanto, a fiscalidade em Portugal, assim como a obrigatoriedade de falar e escrever a língua portuguesa para a obtenção da autorização de residência permanente ao fim de cinco anos, foram vistas pelos interlocutores chineses como entraves. Daí que Y Ping Chow tencione que a Liga dos Chineses em Portugal tente que seja criada uma excepção na lei para grupos de empresários “com capacidade e com capital para investir”, mas que não tencionam viver o tempo suficiente em Portugal para aprender a língua. 57


Quais os sectores industriais na China que podem ter interesse em instalar fábricas em Portugal? PB - A China tem feito melhorias em termos de produção industrial, através de uma qualificação dos seus próprios produtos. Hoje começam a surgir produtos de uma gama muito superior àquela que tradicionalmente era ou é ainda associada aos produtos feitos na China. Nesse sector começam a surgir empresas que já têm marcas e que estão a apostar numa maior qualidade. É essa nova vaga de produtos de mais qualidade que nós gostaríamos de trazer para Portugal e de, alguma forma, trazer para a Europa através de Portugal. YPC - A marca chinesa na Europa ainda não está muito valorizada. Há muitas produções chinesas que são feitas e mesmo etiquetadas com marcas europeias. Queremos ter parceiros na China que possam criar um produto com design e boa relação qualidade e preço. Isto tem vantagens para que o produto possa entrar, por exemplo, nos mercados de países africanos lusófonos. O produto fabricado em Portugal e na Europa inspira uma confiança maior.

Que garantias existem que os empresários chineses vão investir em Portugal? PB - Um dos maiores investimentos da China no ano passado foi precisamente em Portugal. A China vê uma oportunidade e nós temos de aproveitar. Perante os investidores, Portugal é um mercado competitivo e atractivo, há oportunidades muito interessantes. É nas crises que se fazem os grandes negócios e temos que estar atentos a essa grandes oportunidades. A China esteve atenta e por isso fez um grande investimento em Portugal em 2012. 56

A autorização de residência dourada pode ser obtida mediante a transferência de capitais de pelo menos um milhão de euros, a criação de um mínimo de 30 postos de trabalho ou a aquisição de um bem imobiliário por um valor mínimo de 500 mil euros

Atendimento trilingue no Consulado de Portugal em Macau O Consulado-Geral de Portugal em Macau abriu em meados de Abril um balcão específico para atendimento personalizado a candidatos ao visto dourado, que possibilita uma autorização de residência a estrangeiros que tencionem desenvolver actividades de investimento em Portugal. O novo cônsul-geral na RAEM, Vítor Sereno, explicou ter sido criada uma zona especial com atendimento trilingue em português, chinês e inglês. O consulado-geral de Portugal em Macau passou a dispor também de uma linha de atendimento telefónico (+853 8394 8132) para os candidatos. revista MACAU · Junho 2013

Digressão frutífera pela China Y Ping Chow esteve em Pequim, Zhejiang, Xangai, Nanjing, Zhengzhou e Cantão a liderar uma delegação comercial que, em Abril, esteve na República Popular da China, com uma breve passagem por Macau. O objectivo da viagem foi iniciar contactos e angariar apoio junto de entidades oficiais e empresariais chinesas à iniciativa de um conjunto de empresas, bancos e escritórios de advogados portugueses, que pretendem atrair investidores individuais ou institucionais chineses a apostar em Portugal. Em Macau, Y Ping Chow e dois dos seus associados Pedro Barros, do Grupo Templo, e João Oliveira, do Banco Carregosa, foram recebidos por representantes do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). A entidade da RAEM afirmou estar “aberta para atender e apoiar a iniciativa”. Y Ping Chow afirmou que a receptividade foi “muito positiva” junto de representantes dos governos provinciais e municipais da RPC, assim como de federações de comércio e indústria e de promoção do investimento internacional. “Todos manifestaram interesse em organizar eventos na China e viagens de empresários a Portugal para conhecerem os projectos”. Cantão, capital da Província de Guangdong, foi a escala mais proveitosa para o consórcio. Nesta província Y Ping Chow manteve encontros com empresários do sector www.revistamacau.com

* Gonçalo Lobo Pinheiro

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imobiliário, que manifestaram interesse em reunir investidores chineses para se deslocarem a Portugal “para possíveis aquisições de propriedades e moradias de luxo”, afirmou Y Ping Chow. África e a possibilidade de internacionalização das empresas chinesas em países africanos de língua oficial portuguesa, com apoio do consórcio, foi um dos aspectos que também atraiu a atenção das entidades oficiais chinesas. Por outro lado, o processo de privatizações em curso em Portugal interessou à federação de indústria e comércio em Cantão, que manifestou vontade de organizar um encontro empresarial no segundo semestre deste ano. Y Ping Chow referiu ainda que os interlocutores mostraram-se interessados na possibilidade de aquisição de autorização de residência em Portugal mediante a realização de actividade de investimento. No entanto, a fiscalidade em Portugal, assim como a obrigatoriedade de falar e escrever a língua portuguesa para a obtenção da autorização de residência permanente ao fim de cinco anos, foram vistas pelos interlocutores chineses como entraves. Daí que Y Ping Chow tencione que a Liga dos Chineses em Portugal tente que seja criada uma excepção na lei para grupos de empresários “com capacidade e com capital para investir”, mas que não tencionam viver o tempo suficiente em Portugal para aprender a língua. 57


INVESTIMENTO

Fila para visto dourado

Têm entre 30 e 50 anos, muito dinheiro no banco e vivem em grandes cidades como Pequim, Xangai e Cantão. Começaram a querer investir no estrangeiro. Portugal é o destino que está agora na moda Texto Vera Penêda, em Pequim

58

A

ssim que a lei portuguesa flexibilizou as regras de concessão de uma autorização de residência a estrangeiros para efeitos de investimento em território nacional, investidores chineses começaram a fazer fila para obter este documento também informalmente conhecido como "visto dourado". O novo quadro legal é uma piscadela de olho do governo português a investidores estrangeiros não europeus, para dinamizar a economia e reanimar o mercado imobiliário e de construção. Um conjunto de empresas portuguesas já está a explorar a oportunidade, mediando os processos de candidatura e providenciando assistência legal para os investidores estrangeiros. revista MACAU · Junho 2013

Mais perto de Portugal "Muitos [investidores chineses] estão a considerar investir mais no exterior", disse Li, um investidor de Jinan, capital da província de Shandong, no Leste do país, que tem interesse em investir em Portugal. "A economia chinesa enfrenta problemas de sobreaquecimento", acrescentou o empresário do sector imobiliário. Li contactou a Soulfato Property, uma empresa portuguesa com escritórios em Pequim e Hong Kong, que lançou um projecto direccionado a captar investimento chinês para Portugal. "Portugal pertence ao espaço Schengen e eu estou optimista quanto ao futuro da Europa", disse Li, que pretende investir no sector www.revistamacau.com

imobiliário para fins comerciais ou hoteleiros. "É um país pitoresco, com uma beleza natural e um clima muito bom. Creio que Portugal é subestimado economicamente", aponta o empresário, que ficou a conhecer o programa de "vistos dourados" através de amigos. Li tem 30 e poucos anos. Ainda não foi atribuído nenhum "visto dourado" a investidores chineses, mas as empresas portuguesas envolvidas neste tipo de mediação garantem que está prestes a acontecer. "Logo após a entrada em vigor da lei, começámos a receber contactos diários da China, nomeadamente de clientes e agentes interessados no programa", afirma Francisco Barata Salgueiro, de 36 anos, 59


INVESTIMENTO

Fila para visto dourado

Têm entre 30 e 50 anos, muito dinheiro no banco e vivem em grandes cidades como Pequim, Xangai e Cantão. Começaram a querer investir no estrangeiro. Portugal é o destino que está agora na moda Texto Vera Penêda, em Pequim

58

A

ssim que a lei portuguesa flexibilizou as regras de concessão de uma autorização de residência a estrangeiros para efeitos de investimento em território nacional, investidores chineses começaram a fazer fila para obter este documento também informalmente conhecido como "visto dourado". O novo quadro legal é uma piscadela de olho do governo português a investidores estrangeiros não europeus, para dinamizar a economia e reanimar o mercado imobiliário e de construção. Um conjunto de empresas portuguesas já está a explorar a oportunidade, mediando os processos de candidatura e providenciando assistência legal para os investidores estrangeiros. revista MACAU · Junho 2013

Mais perto de Portugal "Muitos [investidores chineses] estão a considerar investir mais no exterior", disse Li, um investidor de Jinan, capital da província de Shandong, no Leste do país, que tem interesse em investir em Portugal. "A economia chinesa enfrenta problemas de sobreaquecimento", acrescentou o empresário do sector imobiliário. Li contactou a Soulfato Property, uma empresa portuguesa com escritórios em Pequim e Hong Kong, que lançou um projecto direccionado a captar investimento chinês para Portugal. "Portugal pertence ao espaço Schengen e eu estou optimista quanto ao futuro da Europa", disse Li, que pretende investir no sector www.revistamacau.com

imobiliário para fins comerciais ou hoteleiros. "É um país pitoresco, com uma beleza natural e um clima muito bom. Creio que Portugal é subestimado economicamente", aponta o empresário, que ficou a conhecer o programa de "vistos dourados" através de amigos. Li tem 30 e poucos anos. Ainda não foi atribuído nenhum "visto dourado" a investidores chineses, mas as empresas portuguesas envolvidas neste tipo de mediação garantem que está prestes a acontecer. "Logo após a entrada em vigor da lei, começámos a receber contactos diários da China, nomeadamente de clientes e agentes interessados no programa", afirma Francisco Barata Salgueiro, de 36 anos, 59


INVESTIMENTO

advogado e sócio da Neville de Rougemont, sociedade de advogados anglo-portuguesa com presença nos países lusófonos e anglo-saxónicos. Salgueiro esteve na China em Janeiro deste ano para participar em conferências e seminários sobre o programa, assim como para reuniões com clientes individuais, investidores, agentes e empresas de imigração.

Schengen e sol Garantir o acesso ao espaço europeu de Schengen [que permite a livre circulação de pessoas dentro dos países signatários] e passagem para um destino alternativo à China que seja politicamente estável, afável e rentável, são as grandes vantagens dos "vistos dourados". "Alguns investidores querem diversificar o seu investimento e por isso vêem esta oportunidade como uma proposta financeira interessante. Outros querem emigrar ou permitir aos seus filhos estudar e viver no estrangeiro”, explica 60

Nuno Batista, de 25 anos, que fundou a Soulfato Property em Março, em resposta à alteração da lei para investimento em Portugal. Para melhor gerir o negócio com o mercado chinês dos dois lados do mundo, a Soulfato Property associou-se à XLBusiness, uma empresa de imobiliária e de investimento sediada no Estoril, que opera no âmbito da aquisição, arrendamento e gestão de propriedades e bens de luxo. "Esta nova geração de chineses vê na Europa um prolongamento dos seus negócios e novos investimentos", apontou Bruno Magalhães, de 39 anos, presidente da XLBusiness, que "está focada no mercado chinês". As duas empresas parceiras estão actualmente a gerir "umas dezenas" de potenciais investidores que pretendem aplicar entre 750 mil euros e 10 milhões de euros através do programa. O objectivo dos investidores "pode passar por adquirir uma casa de férias ou para que os seus filhos possam ir estudar para a Europa, revista MACAU · Junho 2013

investir numa fonte de rendimento no exterior, ou estar presente numa localização que lhes permita poder gerir negócios na Europa e África", explicou Magalhães, referindo que a hospitalidade, gastronomia, clima e estabilidade política estão entre as principais vantagens de Portugal como destino de investimento. "A indicação que temos tido dos nossos clientes é que de não pretendem viver em Portugal, mas sim obter uma autorização de residência que lhes possibilite viajar livremente pela Europa. Também é claro que a grande maioria está interessada em obter residência permanente ao fim de cinco anos e nacionalidade após seis anos", notou Salgueiro.

Ainda não foi atribuído nenhum "visto dourado" a investidores chineses, mas as empresas portuguesas envolvidas neste tipo de mediação garantem que está prestes a acontecer

Luxo e lazer São os apartamentos na capital, as vivendas e os resorts que estão na mira dos chineses que consideram investir em Portugal. "Os investidores procuram moradias ou apartamentos www.revistamacau.com

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INVESTIMENTO

advogado e sócio da Neville de Rougemont, sociedade de advogados anglo-portuguesa com presença nos países lusófonos e anglo-saxónicos. Salgueiro esteve na China em Janeiro deste ano para participar em conferências e seminários sobre o programa, assim como para reuniões com clientes individuais, investidores, agentes e empresas de imigração.

Schengen e sol Garantir o acesso ao espaço europeu de Schengen [que permite a livre circulação de pessoas dentro dos países signatários] e passagem para um destino alternativo à China que seja politicamente estável, afável e rentável, são as grandes vantagens dos "vistos dourados". "Alguns investidores querem diversificar o seu investimento e por isso vêem esta oportunidade como uma proposta financeira interessante. Outros querem emigrar ou permitir aos seus filhos estudar e viver no estrangeiro”, explica 60

Nuno Batista, de 25 anos, que fundou a Soulfato Property em Março, em resposta à alteração da lei para investimento em Portugal. Para melhor gerir o negócio com o mercado chinês dos dois lados do mundo, a Soulfato Property associou-se à XLBusiness, uma empresa de imobiliária e de investimento sediada no Estoril, que opera no âmbito da aquisição, arrendamento e gestão de propriedades e bens de luxo. "Esta nova geração de chineses vê na Europa um prolongamento dos seus negócios e novos investimentos", apontou Bruno Magalhães, de 39 anos, presidente da XLBusiness, que "está focada no mercado chinês". As duas empresas parceiras estão actualmente a gerir "umas dezenas" de potenciais investidores que pretendem aplicar entre 750 mil euros e 10 milhões de euros através do programa. O objectivo dos investidores "pode passar por adquirir uma casa de férias ou para que os seus filhos possam ir estudar para a Europa, revista MACAU · Junho 2013

investir numa fonte de rendimento no exterior, ou estar presente numa localização que lhes permita poder gerir negócios na Europa e África", explicou Magalhães, referindo que a hospitalidade, gastronomia, clima e estabilidade política estão entre as principais vantagens de Portugal como destino de investimento. "A indicação que temos tido dos nossos clientes é que de não pretendem viver em Portugal, mas sim obter uma autorização de residência que lhes possibilite viajar livremente pela Europa. Também é claro que a grande maioria está interessada em obter residência permanente ao fim de cinco anos e nacionalidade após seis anos", notou Salgueiro.

Ainda não foi atribuído nenhum "visto dourado" a investidores chineses, mas as empresas portuguesas envolvidas neste tipo de mediação garantem que está prestes a acontecer

Luxo e lazer São os apartamentos na capital, as vivendas e os resorts que estão na mira dos chineses que consideram investir em Portugal. "Os investidores procuram moradias ou apartamentos www.revistamacau.com

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INVESTIMENTO

* Nuno Batista, da Soulfato Property, o embaixador de Portugal em Pequim, José Tadeu Soares, e Bruno Magalhães, da XLBusiness, durante o lançamento do projecto direcionado a captar investimento chinês em Portugal

modernos, com boa localização e potencial de rendimento", explicou Salgueiro acerca da lista de clientes da Neville de Rougemont, reiterando que Lisboa, sobretudo a zona da Expo, Cascais e o Algarve são os destinos preferidos. "Os clientes que pretendem investir em residência própria procuram a típica vila luxuosa com piscina e garagem privada. Aqueles que pretendem um retorno através do arrendamento preferem apartamentos em zonas centrais ou inseridos em resorts geridos por hotéis de cinco estrelas", refere Batista. Lisboa é uma zona prioritária de interesse, porque é a capital, pela proximidade com o principal aeroporto, e a existência de um mercado imobiliário com oferta de qualidade e de grande valor. A zona da linha de CascaisEstoril é a alternativa para o mercado de vivendas e o Algarve, sobretudo Vilamoura no que respeita a apartamentos em resorts de luxo, confirmaram Batista e Magalhães. A par da China, o maior interesse nos "vistos dourados" tem surgido de empresários de Angola, Brasil, China, Índia, África do Sul e dos Estados Unidos. O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas entregou o primeiro visto especial de residência do Estado português a um investidor indiano em Março passado. O empresário pretende criar 600 postos de trabalho em Portugal. 62

A par da China, o maior interesse nos "vistos dourados" tem surgido de empresários de Angola, Brasil, China, Índia, África do Sul e dos Estados Unidos

revista MACAU · Junho 2013

Perfil do investidor chinês de olho em Portugal "São chineses entre os 32 e 45 anos, que foram educados com padrões de exigência elevados”, explica Nuno Batista, acerca do portefólio de clientes da empresa Soulfato Property. "Sabem apreciar um bom vinho, usam roupas de marca e estão habituados a viajar para fora da China", acrescentou. Os interessados pertencem à segunda geração rica da China e não são apenas oriundos das grandes cidades como Pequim, Xangai e Cantão, mas também de outras províncias como Shandong e Zhejiang, que estão entre as mais ricas do País.

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INVESTIMENTO

* Nuno Batista, da Soulfato Property, o embaixador de Portugal em Pequim, José Tadeu Soares, e Bruno Magalhães, da XLBusiness, durante o lançamento do projecto direcionado a captar investimento chinês em Portugal

modernos, com boa localização e potencial de rendimento", explicou Salgueiro acerca da lista de clientes da Neville de Rougemont, reiterando que Lisboa, sobretudo a zona da Expo, Cascais e o Algarve são os destinos preferidos. "Os clientes que pretendem investir em residência própria procuram a típica vila luxuosa com piscina e garagem privada. Aqueles que pretendem um retorno através do arrendamento preferem apartamentos em zonas centrais ou inseridos em resorts geridos por hotéis de cinco estrelas", refere Batista. Lisboa é uma zona prioritária de interesse, porque é a capital, pela proximidade com o principal aeroporto, e a existência de um mercado imobiliário com oferta de qualidade e de grande valor. A zona da linha de CascaisEstoril é a alternativa para o mercado de vivendas e o Algarve, sobretudo Vilamoura no que respeita a apartamentos em resorts de luxo, confirmaram Batista e Magalhães. A par da China, o maior interesse nos "vistos dourados" tem surgido de empresários de Angola, Brasil, China, Índia, África do Sul e dos Estados Unidos. O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas entregou o primeiro visto especial de residência do Estado português a um investidor indiano em Março passado. O empresário pretende criar 600 postos de trabalho em Portugal. 62

A par da China, o maior interesse nos "vistos dourados" tem surgido de empresários de Angola, Brasil, China, Índia, África do Sul e dos Estados Unidos

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Perfil do investidor chinês de olho em Portugal "São chineses entre os 32 e 45 anos, que foram educados com padrões de exigência elevados”, explica Nuno Batista, acerca do portefólio de clientes da empresa Soulfato Property. "Sabem apreciar um bom vinho, usam roupas de marca e estão habituados a viajar para fora da China", acrescentou. Os interessados pertencem à segunda geração rica da China e não são apenas oriundos das grandes cidades como Pequim, Xangai e Cantão, mas também de outras províncias como Shandong e Zhejiang, que estão entre as mais ricas do País.

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DIÁSPORA

Uma comunidade cheia de vida e tradição no Brasil

“Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa.” A frase de Fernando Pessoa, proclamada e expressa em sotaques e nuances diferentes tem um significado especial para a diáspora macaense em São Paulo. Os filhos da terra imigraram em massa para o Brasil em meados da década de 1960 e lá construíram novas raízes. Mas nunca esqueceram as suas origens Texto Fernanda Ramone | Fotos Fabiano Zig, no Brasil 64

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DIÁSPORA

Uma comunidade cheia de vida e tradição no Brasil

“Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa.” A frase de Fernando Pessoa, proclamada e expressa em sotaques e nuances diferentes tem um significado especial para a diáspora macaense em São Paulo. Os filhos da terra imigraram em massa para o Brasil em meados da década de 1960 e lá construíram novas raízes. Mas nunca esqueceram as suas origens Texto Fernanda Ramone | Fotos Fabiano Zig, no Brasil 64

revista MACAU · Junho 2013

www.revistamacau.com

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DIÁSPORA

I

mpulsionados pela instabilidade política no período inicial da Revolução Cultural (1966), deflagrada no Interior da China, muitos macaenses emigraram. Entre os países eleitos, figuravam Estados Unidos, Canadá, Austrália e Brasil. O grupo destes filhos da terra que rumaram à terra brasilis concentrouse na sua maioria na cidade de São Paulo. Há ainda outros dois grupos menores, um no Rio de Janeiro e outro no Paraná, num total estimado de 300 pessoas em todo o país. As histórias que envolvem o trajecto da viagem até o Brasil reúnem situações dignas das epopeias ultramarinas registadas outrora pelos ancestrais portugueses. Como a relatada pelo ex-jogador olímpico de hóquei João Bosco Quevedo da Silva, que juntamente com a mulher e a filha levou 48 dias a bordo de um navio. Enfrentaram os contratempos causados pela Guerra dos Sete Dias, o bloqueio do Canal de Suez e tentativas falhadas de entrar em distintos portos via África. Finalmente chegaram a São Paulo e desde então 45 anos se passaram. Tempo suficiente para ter fundado uma equipa campeã invicta de hóquei em campo no Brasil. O elo de pertencimento, convívio e união entre os macaenses não se limita apenas ao desporto. A comunidade reúne-se com data e hora marcada frequentes na sede da Associação Casa de Macau, no extremo da zona sul da cidade de São Paulo. Uma construção estonteante em estilo colonial, conquistada graças ao reconhecimento oficial da Fundação Oriente, e que desde 1992 serve de ponto de encontro. Mas nem sempre foi assim. Um dos veteranos, Roberto Quevedo

da Silva, de 83 anos, ainda recorda o primeiro encontro organizado informalmente no final da década de 1980 num espaço localizado no bairro da Liberdade, reduto da comunidade oriental em São Paulo, que reuniu cerca de 500 macaenses. Nestas reuniões, memórias e histórias são postas à mesa acompanhadas de pratos típicos e músicas tradicionais. Trata-se do som dos que emigram,

a melodia das mesmas notas que ao longo do tempo ganharam outras tantas versões, mas continuam sempre a tocar fundo. Neste sentido, é Canicha, como é conhecido Carlos Santos, quem geralmente alegra os encontros com performances musicais. O repertório apresenta inclusive uma canção composta especialmente para a Casa de Macau em São Paulo.

* Sónia Canales António, Gilberto Quevedo da Silva e Alice Fátima Noronha Airosa Álvaro não perdem os convívios da comunidade aos domingos

O elo de pertencimento, convívio e união entre os macaenses não se limita apenas ao desporto. A comunidade reúne-se com data e hora marcada frequentes na sede da Associação Casa de Macau, no extremo da zona sul da cidade de São Paulo 66

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I

mpulsionados pela instabilidade política no período inicial da Revolução Cultural (1966), deflagrada no Interior da China, muitos macaenses emigraram. Entre os países eleitos, figuravam Estados Unidos, Canadá, Austrália e Brasil. O grupo destes filhos da terra que rumaram à terra brasilis concentrouse na sua maioria na cidade de São Paulo. Há ainda outros dois grupos menores, um no Rio de Janeiro e outro no Paraná, num total estimado de 300 pessoas em todo o país. As histórias que envolvem o trajecto da viagem até o Brasil reúnem situações dignas das epopeias ultramarinas registadas outrora pelos ancestrais portugueses. Como a relatada pelo ex-jogador olímpico de hóquei João Bosco Quevedo da Silva, que juntamente com a mulher e a filha levou 48 dias a bordo de um navio. Enfrentaram os contratempos causados pela Guerra dos Sete Dias, o bloqueio do Canal de Suez e tentativas falhadas de entrar em distintos portos via África. Finalmente chegaram a São Paulo e desde então 45 anos se passaram. Tempo suficiente para ter fundado uma equipa campeã invicta de hóquei em campo no Brasil. O elo de pertencimento, convívio e união entre os macaenses não se limita apenas ao desporto. A comunidade reúne-se com data e hora marcada frequentes na sede da Associação Casa de Macau, no extremo da zona sul da cidade de São Paulo. Uma construção estonteante em estilo colonial, conquistada graças ao reconhecimento oficial da Fundação Oriente, e que desde 1992 serve de ponto de encontro. Mas nem sempre foi assim. Um dos veteranos, Roberto Quevedo

da Silva, de 83 anos, ainda recorda o primeiro encontro organizado informalmente no final da década de 1980 num espaço localizado no bairro da Liberdade, reduto da comunidade oriental em São Paulo, que reuniu cerca de 500 macaenses. Nestas reuniões, memórias e histórias são postas à mesa acompanhadas de pratos típicos e músicas tradicionais. Trata-se do som dos que emigram,

a melodia das mesmas notas que ao longo do tempo ganharam outras tantas versões, mas continuam sempre a tocar fundo. Neste sentido, é Canicha, como é conhecido Carlos Santos, quem geralmente alegra os encontros com performances musicais. O repertório apresenta inclusive uma canção composta especialmente para a Casa de Macau em São Paulo.

* Sónia Canales António, Gilberto Quevedo da Silva e Alice Fátima Noronha Airosa Álvaro não perdem os convívios da comunidade aos domingos

O elo de pertencimento, convívio e união entre os macaenses não se limita apenas ao desporto. A comunidade reúne-se com data e hora marcada frequentes na sede da Associação Casa de Macau, no extremo da zona sul da cidade de São Paulo 66

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Ano novo chinês ou Carnaval? Reunidos em pleno domingo de Carnaval, numa São Paulo embalada por blocos carnavalescos de rua, estavam os macaenses impecavelmente aprumados para celebrar o Ano Novo Chinês. A sede foi toda decorada com lanternas vermelhas com mesas a condizer recheadas de pratos típicos. Em comum as datas - o Carnaval e o Ano Novo Chinês - concentram em si o conceito da renovação, o rito da passagem para o ano que de facto terá início em ambos os países a partir de então. Os símbolos da importância da presença desta comunidade na cidade despontam antes mesmo de se chegar à sede. A placa da entrada da pequena vila próxima à represa de Guarapiranga estampa o nome de Praça dos Macaenses. Quem por ali frequenta conhece tanto a praça, a sede, como um ou outro destes personagens oriundos de uma terra tão distante de heranças culturais tão próximas. Brasileiros e macaenses entendem que são ambos frutos da mestiçagem de uma mesma raiz lusa. A identificação, esta de poder se reconhecer no outro, é uma extensão das próprias referências quase remotas dos antepassados. Há entretanto e todavia latente outro tipo de identificação, a que permite reconhecer o outro através dele próprio. Isto porque muitos destes macaenses são capazes ainda hoje de discorrer todo o percurso genealógico graças aos nomes de família que carregam. “É por conta de Macau ser pequenina”, garantem.

* Yolanda Terezinha Ramos, Isabel Batalha Airosa, Celeste Gomes da Costa e Dália Jorge da Luz animam os encontros com música ao vivo

Vasto mundo “Mundo mundo vasto mundo; Mais vasto é meu coração.” Talvez pairem mesmo nestes versos do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade uma certa explicação para compreender, ao menos parcialmente, a profusão de tamanha vastidão que os macaenses trazem no peito. Conservam total apreço pelas festividades, pela prosa e pela boa mesa. Estes elementos por si só já serviriam para preencher o enredo da animação deste almoço comemorativo. No menu constavam ainda encenações teatrais, música, concurso da senhora com melhor traje típico, da mais elegante e previsões zodiacais 68

* José Noronha

revista MACAU · Junho 2013

concernentes ao ano da serpente. Ao que tudo indica será um ano inusitado, imprevisível. As generalizações costumam ter excepções. No caso desta comunidade macaense em São Paulo, parece haver uma regra aplicável a todos que impera uníssona, o estranhamento frente ao desenvolvimento. A terra deixada sobrevive apenas nas lembranças. O tempo levou o que havia da terra que mais parecia uma aldeia, mas sempre de características internacionais – Macau sempre atraiu grandes fluxos e movimentações. Em largos campos vazios, instauraram-se abóbodas romanas que decoram os canais de Veneza do hotel Venetian, como um pequeno exemplo do frenesim do rápido desenvolvimento da região. O território que aos poucos se habituou aos superlativos e superou Los Angeles em termos de receitas do jogo em nada se assemelha ao lugar que outrora serviu de lar desta comunidade. Ainda assim, as saudades são muitas e com frequência os macaenses e os seus descendentes fazem o caminho inverso ao que um dia enfrentaram até ao Brasil chegar. Voltam a Macau, o voltar que quase sempre é partir para um outro lugar. Regressam todos, menos o tempo. Este senhor imperioso que tende a abrandar saudades, trazer felicidades e germinar www.revistamacau.com

As saudades são muitas e com frequência os macaenses e os seus descendentes fazem o caminho inverso ao que um dia enfrentaram até ao Brasil chegar. Voltam a Macau, o voltar que quase sempre é partir para um outro lugar

frutos, como as novas gerações compostas com filhos e netos brasileiros. Todos dizem-se muito adaptados ao Brasil e conseguiram conciliar as suas tradições com a cultura local. No entanto, entre os mais sensíveis no que tange a questão da adaptação encontramos a directora cultural da associação, Iolanda da Luz Ramos. Nem os mais de 40 anos vividos no Brasil foram suficientes para amenizar a dor da distância, o sofrimento da partida. Partiu contrariada, seguindo a família com dois filhos ainda bebés e, diferentemente da maioria dos seus conterrâneos, enfrentou dificuldades para se sentir integrada em território tupiniquim. 69


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Ano novo chinês ou Carnaval? Reunidos em pleno domingo de Carnaval, numa São Paulo embalada por blocos carnavalescos de rua, estavam os macaenses impecavelmente aprumados para celebrar o Ano Novo Chinês. A sede foi toda decorada com lanternas vermelhas com mesas a condizer recheadas de pratos típicos. Em comum as datas - o Carnaval e o Ano Novo Chinês - concentram em si o conceito da renovação, o rito da passagem para o ano que de facto terá início em ambos os países a partir de então. Os símbolos da importância da presença desta comunidade na cidade despontam antes mesmo de se chegar à sede. A placa da entrada da pequena vila próxima à represa de Guarapiranga estampa o nome de Praça dos Macaenses. Quem por ali frequenta conhece tanto a praça, a sede, como um ou outro destes personagens oriundos de uma terra tão distante de heranças culturais tão próximas. Brasileiros e macaenses entendem que são ambos frutos da mestiçagem de uma mesma raiz lusa. A identificação, esta de poder se reconhecer no outro, é uma extensão das próprias referências quase remotas dos antepassados. Há entretanto e todavia latente outro tipo de identificação, a que permite reconhecer o outro através dele próprio. Isto porque muitos destes macaenses são capazes ainda hoje de discorrer todo o percurso genealógico graças aos nomes de família que carregam. “É por conta de Macau ser pequenina”, garantem.

* Yolanda Terezinha Ramos, Isabel Batalha Airosa, Celeste Gomes da Costa e Dália Jorge da Luz animam os encontros com música ao vivo

Vasto mundo “Mundo mundo vasto mundo; Mais vasto é meu coração.” Talvez pairem mesmo nestes versos do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade uma certa explicação para compreender, ao menos parcialmente, a profusão de tamanha vastidão que os macaenses trazem no peito. Conservam total apreço pelas festividades, pela prosa e pela boa mesa. Estes elementos por si só já serviriam para preencher o enredo da animação deste almoço comemorativo. No menu constavam ainda encenações teatrais, música, concurso da senhora com melhor traje típico, da mais elegante e previsões zodiacais 68

* José Noronha

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concernentes ao ano da serpente. Ao que tudo indica será um ano inusitado, imprevisível. As generalizações costumam ter excepções. No caso desta comunidade macaense em São Paulo, parece haver uma regra aplicável a todos que impera uníssona, o estranhamento frente ao desenvolvimento. A terra deixada sobrevive apenas nas lembranças. O tempo levou o que havia da terra que mais parecia uma aldeia, mas sempre de características internacionais – Macau sempre atraiu grandes fluxos e movimentações. Em largos campos vazios, instauraram-se abóbodas romanas que decoram os canais de Veneza do hotel Venetian, como um pequeno exemplo do frenesim do rápido desenvolvimento da região. O território que aos poucos se habituou aos superlativos e superou Los Angeles em termos de receitas do jogo em nada se assemelha ao lugar que outrora serviu de lar desta comunidade. Ainda assim, as saudades são muitas e com frequência os macaenses e os seus descendentes fazem o caminho inverso ao que um dia enfrentaram até ao Brasil chegar. Voltam a Macau, o voltar que quase sempre é partir para um outro lugar. Regressam todos, menos o tempo. Este senhor imperioso que tende a abrandar saudades, trazer felicidades e germinar www.revistamacau.com

As saudades são muitas e com frequência os macaenses e os seus descendentes fazem o caminho inverso ao que um dia enfrentaram até ao Brasil chegar. Voltam a Macau, o voltar que quase sempre é partir para um outro lugar

frutos, como as novas gerações compostas com filhos e netos brasileiros. Todos dizem-se muito adaptados ao Brasil e conseguiram conciliar as suas tradições com a cultura local. No entanto, entre os mais sensíveis no que tange a questão da adaptação encontramos a directora cultural da associação, Iolanda da Luz Ramos. Nem os mais de 40 anos vividos no Brasil foram suficientes para amenizar a dor da distância, o sofrimento da partida. Partiu contrariada, seguindo a família com dois filhos ainda bebés e, diferentemente da maioria dos seus conterrâneos, enfrentou dificuldades para se sentir integrada em território tupiniquim. 69


DIÁSPORA

Há tempos canta. Iolanda organiza um coral formado por 15 pessoas. No repertório espanta os males em canções portuguesas, chinesas, em patuá e até músicas brasileiras, como Aquarela do Brasil. E mesmo cantando o país em seus versos, a entonação patriótica da letra não reverbera com o mesmo entusiasmo de quando conta uma das suas muitas histórias em Macau. Sentada na outra extremidade do grande salão e sem compartilhar da mesma melancolia da amiga, Mariazinha Carvalho, como é conhecida esta senhora animada de 77 anos, relata com entusiasmo adorar o Brasil. Ao todo colecciona cinco décadas de São Paulo. Mariazinha integra a comissão organizadora da associação, actuava e escrevia peças de teatro patuá. Curiosamente o nome da sua obra de maior destaque configurase justamente no elemento que possibilitou estas deslocações além mar, O Passaporte.

Presentes no tempo e no espaço A tradição desempenha um papel importante tanto na cultura como na sua preservação. Em se tratando da comunidade macaense, a gastronomia desempenha um papel de relevância em especial quando o país que os acolheu apresenta uma mesma herança na sua formação. As novas gerações formadas pelos filhos e netos destes imigrantes pouco frequentam a Casa de Macau. A presença maioritária é composta por membros onde os mais jovens já passaram da meia idade. Quando indagados sobre qual o futuro da tradição macaense ou da associação não arriscam nas projecções. Enfatizam a importância desempenhada pela sede ao longo destes 23 anos, citando as dificuldades em reunir o grupo numa cidade com as extensões geográficas de São Paulo, cujas distâncias entre regiões podem variar em até 50 quilómetros. As distâncias, tanto as geográficas como a de tentar atrair os jovens herdeiros a conviverem com esta dinâmica de preservar as tradições e actividades da Casa de Macau, são encaradas como exequíveis para o presidente, Gilberto Quevedo da Silva. Entusiasta, foi ele quem costurou os diálogos entre as partes, empenho que concatenou na concretização da sede. Anfitrião nato, circula o tempo todo entre convidados certificando-se de cada detalhe. Vislumbra que a nova geração possa dar 70

continuidade ao trabalho de preservação da cultura até hoje mantido. Entre os poucos jovens da nova geração, está Adriana Luiz. É ela quem ao lado do pai, o macaense João Ernesto Luiz, relata grandes histórias das viagens feitas à nova Macau. O interesse por Macau ultrapassa as fronteiras hereditárias, como é o caso de Vânia Pinto Coelho Reis, brasileira, que se debruçou na obra de Rodrigo Leal de Carvalho para a sua tese de mestrado. O estudo propõe uma análise do quotidiano a partir dos relatos deste escritor português que passou grande parte de sua vida em Macau. A tese de mestrado virou livro premiado - A Ironia por Irina Ostrakoff (1999)e trouxe o universo macaense para a vida desta mineira de Ouro Preto. As raízes que estes macaenses trouxeram à superfície e ao contexto brasileiro afloraram, propondo novos caminhos, como o da nova miscigenação. Fizeram-se presentes no tempo e no espaço, concretizando e perpetuando as suas raízes no chão, acessível também aos nossos pés, por entre tantas jornadas. Há tempos desabrocharam, trouxeram novas vidas. Outras se foram. Parecem ter atingido o período mais bonito da vida, aquele onde se soma à sabedoria. E celebram.

* Eliana Lopes Gomes

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Há tempos canta. Iolanda organiza um coral formado por 15 pessoas. No repertório espanta os males em canções portuguesas, chinesas, em patuá e até músicas brasileiras, como Aquarela do Brasil. E mesmo cantando o país em seus versos, a entonação patriótica da letra não reverbera com o mesmo entusiasmo de quando conta uma das suas muitas histórias em Macau. Sentada na outra extremidade do grande salão e sem compartilhar da mesma melancolia da amiga, Mariazinha Carvalho, como é conhecida esta senhora animada de 77 anos, relata com entusiasmo adorar o Brasil. Ao todo colecciona cinco décadas de São Paulo. Mariazinha integra a comissão organizadora da associação, actuava e escrevia peças de teatro patuá. Curiosamente o nome da sua obra de maior destaque configurase justamente no elemento que possibilitou estas deslocações além mar, O Passaporte.

Presentes no tempo e no espaço A tradição desempenha um papel importante tanto na cultura como na sua preservação. Em se tratando da comunidade macaense, a gastronomia desempenha um papel de relevância em especial quando o país que os acolheu apresenta uma mesma herança na sua formação. As novas gerações formadas pelos filhos e netos destes imigrantes pouco frequentam a Casa de Macau. A presença maioritária é composta por membros onde os mais jovens já passaram da meia idade. Quando indagados sobre qual o futuro da tradição macaense ou da associação não arriscam nas projecções. Enfatizam a importância desempenhada pela sede ao longo destes 23 anos, citando as dificuldades em reunir o grupo numa cidade com as extensões geográficas de São Paulo, cujas distâncias entre regiões podem variar em até 50 quilómetros. As distâncias, tanto as geográficas como a de tentar atrair os jovens herdeiros a conviverem com esta dinâmica de preservar as tradições e actividades da Casa de Macau, são encaradas como exequíveis para o presidente, Gilberto Quevedo da Silva. Entusiasta, foi ele quem costurou os diálogos entre as partes, empenho que concatenou na concretização da sede. Anfitrião nato, circula o tempo todo entre convidados certificando-se de cada detalhe. Vislumbra que a nova geração possa dar 70

continuidade ao trabalho de preservação da cultura até hoje mantido. Entre os poucos jovens da nova geração, está Adriana Luiz. É ela quem ao lado do pai, o macaense João Ernesto Luiz, relata grandes histórias das viagens feitas à nova Macau. O interesse por Macau ultrapassa as fronteiras hereditárias, como é o caso de Vânia Pinto Coelho Reis, brasileira, que se debruçou na obra de Rodrigo Leal de Carvalho para a sua tese de mestrado. O estudo propõe uma análise do quotidiano a partir dos relatos deste escritor português que passou grande parte de sua vida em Macau. A tese de mestrado virou livro premiado - A Ironia por Irina Ostrakoff (1999)e trouxe o universo macaense para a vida desta mineira de Ouro Preto. As raízes que estes macaenses trouxeram à superfície e ao contexto brasileiro afloraram, propondo novos caminhos, como o da nova miscigenação. Fizeram-se presentes no tempo e no espaço, concretizando e perpetuando as suas raízes no chão, acessível também aos nossos pés, por entre tantas jornadas. Há tempos desabrocharam, trouxeram novas vidas. Outras se foram. Parecem ter atingido o período mais bonito da vida, aquele onde se soma à sabedoria. E celebram.

* Eliana Lopes Gomes

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* Arquivo Histórico de Macau

Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003)

Os livros não morrem “O homem é pó, a fama é fumo e o fim é cinza (...) só os meus livros permanecerão (...) e é essa é a minha consolação.” Em Setembro completa-se uma década desde que Macau perdeu um padre, um historiador, um homem das letras, um excêntrico. O padre Manuel Teixeira fez jus à sua célebre frase deixando um valioso contributo para o estudo da documentação histórica, religiosa e cultural de Macau. São mais de 130 livros, outras centenas de cartas e estudos dedicados à história da presença dos portugueses em Macau e no Oriente Texto Inês Dias

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* Arquivo Histórico de Macau

Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003)

Os livros não morrem “O homem é pó, a fama é fumo e o fim é cinza (...) só os meus livros permanecerão (...) e é essa é a minha consolação.” Em Setembro completa-se uma década desde que Macau perdeu um padre, um historiador, um homem das letras, um excêntrico. O padre Manuel Teixeira fez jus à sua célebre frase deixando um valioso contributo para o estudo da documentação histórica, religiosa e cultural de Macau. São mais de 130 livros, outras centenas de cartas e estudos dedicados à história da presença dos portugueses em Macau e no Oriente Texto Inês Dias

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* Instituto Português do Oriente

Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003)

A imagem icónica de um homem de batina branca e longas barbas da mesma cor a atravessar a Ponte Nobre de Carvalho até pela imprensa internacional foi imortalizada

A sua irmã Benvinda de Jesus Teixeira recorda o momento em que o menino Manuel decidiu seguir a vida religiosa: “Um dia, passou junto da loja um missionário que lhe perguntou se ele queria ir para Macau para ser missionário. Abandonou o banquinho onde estava sentado e correu para casa dizendo ao pai que queria ir para Macau para ser padre. O pai duvidou logo daquela vocação repentina”. Concluída a instrução primária na sua terra natal, lá partiu o menino Manuel a 16 de Setembro de 1924 em direcção a um Oriente misterioso, a bordo do D´Artagnan dos Messageries Maritimes, navio tão grande e viagem tão longa – mais de 16 mil quilómetros percorridos em quase dois meses - capaz de abarcar os sonhos e aventuras de qualquer rapaz de 12 anos. “Cheguei a Macau numa segunda-feira, 27 de Outubro de 1924, vindo de Hong Kong no vapor Sui-Trai. Éramos cinco rapazes naturais de freixo de Espada à Cinta”, recordava no artigo O Seminário do Meu Tempo, no Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau. O Seminário de São José, então a grande escola missionária de Portugal no Oriente, foi a sua casa e a sua família durante os dez anos que se seguiram. Foi uma década numa instituição que lhe providenciou protecção e educação, mas ao mesmo tempo afastava-o da realidade de

76

Nasce em Freixo de Espada à Cinta, Trás-osMontes

Chega a Macau a 27 de Outubro, onde ingressa no seminário de São José

1912

1924

uma Macau que só veio a conhecer depois de transpostos os muros da instituição. Apesar do ambiente austero e da disciplina férrea, depressa se integrou, adaptou e fez amigos, dada a sua conhecida capacidade natural de se aproximar do outro. Era estudioso, interessado e com uma memória prodigiosa. Como boas recordações guardava a amizade dos outros seminaristas que consigo vieram de Freixo de Espada à Cinta e do seu professor predilecto, Régis Gervaix. Professor de francês e de grego e autor da Histoire Abregée de Macao, despertou no seminarista o gosto pela investigação histórica. No dia 29 de Outubro de 1934, é ordenado sacerdote pelo bispo D. José da Costa Nunes na Igreja do Seminário de São José. A 1 de Novembro desse mesmo ano celebrou a sua primeira missa na igreja de São Domingos, passando depois a ser pároco de São Lourenço até 1946.

Uma vida dedicada às letras Com apenas 22 anos não só começa a caminhada do sacerdócio como assume a direcção do Boletim Eclesiástico de Macau - cargo que ocupou até 1947 -, publicação que se tornou internacionalmente conhecida graças aos seus trabalhos e aos contributos de outras figuras como os historiadores José M. Braga e Charles R. Boxer.

Em 1942, fundou a revista mensal O Clarim. Arquimínio Rodrigues da Costa, bispo de Macau entre 1976 e 1988, refere que Manuel Teixeira “não fazia rodeios na sua escrita”. “Censor cáustico de costumes e atitudes, nunca poupou quem lhe merecesse reparos, fosse quem fosse. Mas sabia também enaltecer os méritos das pessoas”, relembra. O padre colaborava ainda com a imprensa local, onde escrevia colunas regulares, como aconteceu, na década de 1990, no Macau Hoje. As suas opiniões chegaram também a meios de comunicação do estrangeiro. Colaborou, por exemplo, com o italiano Observatore Romano, com o diário de Hong Kong South China Morning Post e com o português Mensageiro de Bragança. Das suas investigações surge, em 1965, a obra A Imprensa Periódica no Extremo-Oriente, pretendendo, como refere na introdução, “preencher a lacuna” existente na história do jornalismo português em Macau.

O professor A par das suas funções obrigatórias decorrentes do sacerdócio, trabalhou ainda como professor no Seminário de São José (1932-46 e 1962-65), na Escola Comercial Pedro Nolasco (1962-64) e no Liceu Infante D. Henrique (1942-45 e

Lecciona do Seminário de São José

Recebe a ordem sacerdotal na igreja do seminário de S. José. Torna-se pároco de S. Lourenço

Funda a revista mensal O Clarim e participa na criação do semanário União

Parte para Singapura como missionário e vigário geral das Missões Portuguesas de Singapura e Malaca

1931 – 1946

1934

1942

1948

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* Instituto Português do Oriente

Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003)

A imagem icónica de um homem de batina branca e longas barbas da mesma cor a atravessar a Ponte Nobre de Carvalho até pela imprensa internacional foi imortalizada

A sua irmã Benvinda de Jesus Teixeira recorda o momento em que o menino Manuel decidiu seguir a vida religiosa: “Um dia, passou junto da loja um missionário que lhe perguntou se ele queria ir para Macau para ser missionário. Abandonou o banquinho onde estava sentado e correu para casa dizendo ao pai que queria ir para Macau para ser padre. O pai duvidou logo daquela vocação repentina”. Concluída a instrução primária na sua terra natal, lá partiu o menino Manuel a 16 de Setembro de 1924 em direcção a um Oriente misterioso, a bordo do D´Artagnan dos Messageries Maritimes, navio tão grande e viagem tão longa – mais de 16 mil quilómetros percorridos em quase dois meses - capaz de abarcar os sonhos e aventuras de qualquer rapaz de 12 anos. “Cheguei a Macau numa segunda-feira, 27 de Outubro de 1924, vindo de Hong Kong no vapor Sui-Trai. Éramos cinco rapazes naturais de freixo de Espada à Cinta”, recordava no artigo O Seminário do Meu Tempo, no Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau. O Seminário de São José, então a grande escola missionária de Portugal no Oriente, foi a sua casa e a sua família durante os dez anos que se seguiram. Foi uma década numa instituição que lhe providenciou protecção e educação, mas ao mesmo tempo afastava-o da realidade de

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Nasce em Freixo de Espada à Cinta, Trás-osMontes

Chega a Macau a 27 de Outubro, onde ingressa no seminário de São José

1912

1924

uma Macau que só veio a conhecer depois de transpostos os muros da instituição. Apesar do ambiente austero e da disciplina férrea, depressa se integrou, adaptou e fez amigos, dada a sua conhecida capacidade natural de se aproximar do outro. Era estudioso, interessado e com uma memória prodigiosa. Como boas recordações guardava a amizade dos outros seminaristas que consigo vieram de Freixo de Espada à Cinta e do seu professor predilecto, Régis Gervaix. Professor de francês e de grego e autor da Histoire Abregée de Macao, despertou no seminarista o gosto pela investigação histórica. No dia 29 de Outubro de 1934, é ordenado sacerdote pelo bispo D. José da Costa Nunes na Igreja do Seminário de São José. A 1 de Novembro desse mesmo ano celebrou a sua primeira missa na igreja de São Domingos, passando depois a ser pároco de São Lourenço até 1946.

Uma vida dedicada às letras Com apenas 22 anos não só começa a caminhada do sacerdócio como assume a direcção do Boletim Eclesiástico de Macau - cargo que ocupou até 1947 -, publicação que se tornou internacionalmente conhecida graças aos seus trabalhos e aos contributos de outras figuras como os historiadores José M. Braga e Charles R. Boxer.

Em 1942, fundou a revista mensal O Clarim. Arquimínio Rodrigues da Costa, bispo de Macau entre 1976 e 1988, refere que Manuel Teixeira “não fazia rodeios na sua escrita”. “Censor cáustico de costumes e atitudes, nunca poupou quem lhe merecesse reparos, fosse quem fosse. Mas sabia também enaltecer os méritos das pessoas”, relembra. O padre colaborava ainda com a imprensa local, onde escrevia colunas regulares, como aconteceu, na década de 1990, no Macau Hoje. As suas opiniões chegaram também a meios de comunicação do estrangeiro. Colaborou, por exemplo, com o italiano Observatore Romano, com o diário de Hong Kong South China Morning Post e com o português Mensageiro de Bragança. Das suas investigações surge, em 1965, a obra A Imprensa Periódica no Extremo-Oriente, pretendendo, como refere na introdução, “preencher a lacuna” existente na história do jornalismo português em Macau.

O professor A par das suas funções obrigatórias decorrentes do sacerdócio, trabalhou ainda como professor no Seminário de São José (1932-46 e 1962-65), na Escola Comercial Pedro Nolasco (1962-64) e no Liceu Infante D. Henrique (1942-45 e

Lecciona do Seminário de São José

Recebe a ordem sacerdotal na igreja do seminário de S. José. Torna-se pároco de S. Lourenço

Funda a revista mensal O Clarim e participa na criação do semanário União

Parte para Singapura como missionário e vigário geral das Missões Portuguesas de Singapura e Malaca

1931 – 1946

1934

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Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003) 1964-70). Luís de Castro Machado, seu antigo aluno, recorda como era o contacto diário com o sacerdote. “Por graça demos-lhe a alcunha de ‘Irmão Manuel da Pêra Branca’, que veio a adoptar como pseudónimo para colaborações na imprensa escrita da época”, conta. O antigo aluno recorda sobretudo as iniciativas de Manuel Teixeira de promover visitas ao centro de leprosos de Ká Ho, em Coloane. “Na altura, a vila piscatória de Ká Ho era a zona ‘fora-dos-limites’ para o cidadão comum, mas isso não era factor impeditivo para que nós apoiássemos os leprosos e seus familiares que lá viviam, muito carenciados de tudo, especialmente de carinho humano.” Professor de latim no Seminário de São José e no Liceu de Macau, usava uma didáctica a que chamava “o método do desafio”: era uma espécie de competição, em que interrogava dois estudantes e o que ganhasse amealhava pontos que contavam para as classificações finais. O método resultava e os alunos aprendiam com entusiasmo o latim. A arte de ensinar e aprender também mereceu a sua atenção para uma detalhada investigação. O

seu livro A Educação em Macau, publicado em 1982, relata a história da educação portuguesa e luso-chinesa e, segundo o historiador António Aresta, vem “retirar a história da subalternidade de nota de rodapé”.

Defensor da História O próprio reconhecia que só era feliz quando escrevia. O seu legado escrito começou ainda nos anos de 1930, quando publicou os primeiros artigos históricos no Boletim Eclesiástico. O facto de ter à sua disponibilidade todos os arquivos da Diocese de Macau facilitou o seu trabalho de investigação. Escreveu sobre a vida de cada padre que viveu na cidade nos passados 400 anos, e para tal feito consultou os arquivos de todas as paróquias e de cada igreja. Os 16 volumes de Macau e a Sua Diocese é, na opinião do próprio, uma das suas obras mais importantes, “pois a história da Igreja de Macau está intimamente ligada à história civil do território, tornando-se difícil dissociar estas duas realidades”.

Dá aulas no Colégio de S. José e na Escola Comercial Pedro Nolasco

1962

1962

1964

É condecorado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique

Assume o cargo de director dos Arquivos de Macau e do Boletim do Instituto Luís de Camões

Doa de 75 mil contos (cerca de 3,75 milhões de patacas) para ajudar à construção do lar de idosos de Santa Marta, em Chaves

1974

1976

1980

* Arquivo Histórico de Macau

Regressa a Macau e torna-se capelão da igreja Santa Clara

É professor de religião e de latim no Liceu Nacional Infante D. Henrique

78

O próprio reconhecia que só era feliz quando escrevia. O seu legado escrito começou ainda nos anos de 1930, quando publicou os primeiros artigos históricos no Boletim Eclesiástico

As obras Os Militares de Macau e Toponímia de Macau foram premiadas em 1981 e 1983, respectivamente, com o prémio História da Fundação Calouste Gulbenkian. O amor que a história de Macau sempre lhe inspirara é sublinhado por Eduardo Francisco Tavares, um antigo seu aluno, que recorda como o padre salvou um valioso arquivo no auge dos acontecimentos do 123, em 1966. “A 3 de Dezembro de 1966, desce o Padre Teixeira do 3.º andar do seminário de São José numa atitude pouco usual. Perguntei-lhe onde se dirigia tão apressadamente. Com voz preocupada respondeu-me: ‘Olha rapaz, vou salvar Macau!’ Não eram almas que o padre queria salvar, mas os documentos históricos que estavam a ser queimados no Largo do Senado no episódio histórico do 123.” O Monsenhor passou três dias e três noites consecutivas a resgatar os documentos e conseguiu pôr a salvo outros tantos, impedindo que os prejuízos fossem mais graves para a história de Macau.

* Padre Manuel Teixeira na década de 1980, num almoço com o · Junho 2013 governador Almeida e Costa (segundo a revista contar MACAU da direita)

Passagem por Singapura Em 1948, Manuel Teixeira partiu para Singapura como superior e vigário geral das Missões Portuguesas de Singapura e Malaca. Como pároco da igreja de St. Joseph na cidade-estado tinha sobre a sua asa cerca de mil “católicos de confissão”, como frisava. Homem frontal e sem medos, não hesitou em confrontar o icónico primeiro-ministro e fundador da República de Singapura Lee Kuan Yew, durante uma homília em que Manuel Teixeira encorajava os fiéis a não darem ouvidos à política de um filho único. Em 1959, ainda em Singapura, celebra as suas Bodas de Prata mas recusa o jantar que lhe é oferecido pelos seus paroquianos. Em vez disso, www.revistamacau.com

Recebe o Prémio de História da Fundação Calouste Gulbenkian pela obra Os Militares em Macau

Recebe o Prémio de História da Fundação Calouste Gulbenkian pela sua obra Toponímia de Macau

1981

1983

sugere que com esse dinheiro se crie o Fundo dos Estudantes Pobres (St. Joseph Church Book Fund) para “eles poderem comprar os livros e uniformes”. Ao longo de 14 anos em Singapura (1948-1962) mostrou mais uma vez a sua vertente de escritor, ao fundar a revista Rally e o boletim paroquial Stop, Look and Go, ambos em Inglês. Regressou a Macau em 1962, já com 50 anos, deixando para trás a cidade onde afirmava ter vivido dos “momentos mais felizes” da sua vida. No mesmo ano passa a ser Capelão do Convento de Santa Clara, começa a exercer funções docentes no Colégio de S. José (196265) e na Escola Comercial Pedro Nolasco (196264). Entre 1964 e 1970 é professor de Religião e 79


Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003) 1964-70). Luís de Castro Machado, seu antigo aluno, recorda como era o contacto diário com o sacerdote. “Por graça demos-lhe a alcunha de ‘Irmão Manuel da Pêra Branca’, que veio a adoptar como pseudónimo para colaborações na imprensa escrita da época”, conta. O antigo aluno recorda sobretudo as iniciativas de Manuel Teixeira de promover visitas ao centro de leprosos de Ká Ho, em Coloane. “Na altura, a vila piscatória de Ká Ho era a zona ‘fora-dos-limites’ para o cidadão comum, mas isso não era factor impeditivo para que nós apoiássemos os leprosos e seus familiares que lá viviam, muito carenciados de tudo, especialmente de carinho humano.” Professor de latim no Seminário de São José e no Liceu de Macau, usava uma didáctica a que chamava “o método do desafio”: era uma espécie de competição, em que interrogava dois estudantes e o que ganhasse amealhava pontos que contavam para as classificações finais. O método resultava e os alunos aprendiam com entusiasmo o latim. A arte de ensinar e aprender também mereceu a sua atenção para uma detalhada investigação. O

seu livro A Educação em Macau, publicado em 1982, relata a história da educação portuguesa e luso-chinesa e, segundo o historiador António Aresta, vem “retirar a história da subalternidade de nota de rodapé”.

Defensor da História O próprio reconhecia que só era feliz quando escrevia. O seu legado escrito começou ainda nos anos de 1930, quando publicou os primeiros artigos históricos no Boletim Eclesiástico. O facto de ter à sua disponibilidade todos os arquivos da Diocese de Macau facilitou o seu trabalho de investigação. Escreveu sobre a vida de cada padre que viveu na cidade nos passados 400 anos, e para tal feito consultou os arquivos de todas as paróquias e de cada igreja. Os 16 volumes de Macau e a Sua Diocese é, na opinião do próprio, uma das suas obras mais importantes, “pois a história da Igreja de Macau está intimamente ligada à história civil do território, tornando-se difícil dissociar estas duas realidades”.

Dá aulas no Colégio de S. José e na Escola Comercial Pedro Nolasco

1962

1962

1964

É condecorado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique

Assume o cargo de director dos Arquivos de Macau e do Boletim do Instituto Luís de Camões

Doa de 75 mil contos (cerca de 3,75 milhões de patacas) para ajudar à construção do lar de idosos de Santa Marta, em Chaves

1974

1976

1980

* Arquivo Histórico de Macau

Regressa a Macau e torna-se capelão da igreja Santa Clara

É professor de religião e de latim no Liceu Nacional Infante D. Henrique

78

O próprio reconhecia que só era feliz quando escrevia. O seu legado escrito começou ainda nos anos de 1930, quando publicou os primeiros artigos históricos no Boletim Eclesiástico

As obras Os Militares de Macau e Toponímia de Macau foram premiadas em 1981 e 1983, respectivamente, com o prémio História da Fundação Calouste Gulbenkian. O amor que a história de Macau sempre lhe inspirara é sublinhado por Eduardo Francisco Tavares, um antigo seu aluno, que recorda como o padre salvou um valioso arquivo no auge dos acontecimentos do 123, em 1966. “A 3 de Dezembro de 1966, desce o Padre Teixeira do 3.º andar do seminário de São José numa atitude pouco usual. Perguntei-lhe onde se dirigia tão apressadamente. Com voz preocupada respondeu-me: ‘Olha rapaz, vou salvar Macau!’ Não eram almas que o padre queria salvar, mas os documentos históricos que estavam a ser queimados no Largo do Senado no episódio histórico do 123.” O Monsenhor passou três dias e três noites consecutivas a resgatar os documentos e conseguiu pôr a salvo outros tantos, impedindo que os prejuízos fossem mais graves para a história de Macau.

* Padre Manuel Teixeira na década de 1980, num almoço com o · Junho 2013 governador Almeida e Costa (segundo a revista contar MACAU da direita)

Passagem por Singapura Em 1948, Manuel Teixeira partiu para Singapura como superior e vigário geral das Missões Portuguesas de Singapura e Malaca. Como pároco da igreja de St. Joseph na cidade-estado tinha sobre a sua asa cerca de mil “católicos de confissão”, como frisava. Homem frontal e sem medos, não hesitou em confrontar o icónico primeiro-ministro e fundador da República de Singapura Lee Kuan Yew, durante uma homília em que Manuel Teixeira encorajava os fiéis a não darem ouvidos à política de um filho único. Em 1959, ainda em Singapura, celebra as suas Bodas de Prata mas recusa o jantar que lhe é oferecido pelos seus paroquianos. Em vez disso, www.revistamacau.com

Recebe o Prémio de História da Fundação Calouste Gulbenkian pela obra Os Militares em Macau

Recebe o Prémio de História da Fundação Calouste Gulbenkian pela sua obra Toponímia de Macau

1981

1983

sugere que com esse dinheiro se crie o Fundo dos Estudantes Pobres (St. Joseph Church Book Fund) para “eles poderem comprar os livros e uniformes”. Ao longo de 14 anos em Singapura (1948-1962) mostrou mais uma vez a sua vertente de escritor, ao fundar a revista Rally e o boletim paroquial Stop, Look and Go, ambos em Inglês. Regressou a Macau em 1962, já com 50 anos, deixando para trás a cidade onde afirmava ter vivido dos “momentos mais felizes” da sua vida. No mesmo ano passa a ser Capelão do Convento de Santa Clara, começa a exercer funções docentes no Colégio de S. José (196265) e na Escola Comercial Pedro Nolasco (196264). Entre 1964 e 1970 é professor de Religião e 79


Moral e de Latim no Liceu Nacional Infante D. Henrique. A par das restantes responsabilidades, assume o cargo de director dos Arquivos de Macau (1976-80) e do Boletim do Instituto Luís de Camões. Traz o hábito de beber o que chamava de “chá da Escócia”. A historiadora Beatriz Basto recorda servir-lhe, nas muitas visitas de Monsenhor a sua casa, a sua ementa preferida de bananas e uísque.

* Gonçalo Lobo Pinheiro

Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003)

O regresso à terra “Eu tinha resolvido não mais regressar à metrópole devido ao choque violento que recebi no dia 25 de Abril com a chamada ‘exemplar descolonização’”, confessou quando decidiu abrir uma excepção em 1988 e regressar a Portugal para gozar licença graciosa, já que não tinha férias desde 1972. Em Janeiro de 1994, meses antes de completar 82 anos, Monsenhor Manuel Teixeira deu entrada no hospital Conde de São Januário vítima de uma trombose e subsequente paralisia facial periférica. Durante dez meses mudou-se para o “melhor hotel de Macau”, como chamava ao hospital. Apesar da sua saúde se encontrar fragilizada não deixava de celebrar missa todos os dias, às sete da manhã, na igreja de Santa Clara, no Colégio de Santa Rosa de Lima. Finalmente foi forçado a regressar definitivamente a Portugal em 2001. A sua principal preocupação então era o seu espólio que não queria abandonar. Reuniu-se com Beatriz Basto da Silva e Isabel Rasquinho e entregoulhes tudo quanto possuía. Todo o material foi parar ao Centro Científico e Cultural de Macau em Lisboa, onde estão catalogados cerca de 4000 manuscritos, monografias, livros, fotografias e cartas. Todas as peças estão inventariadas e disponíveis para consulta através do catálogo online da biblioteca do Centro.

Prémio Figura do Ano em Macau

Institui a Fundação Padre Teixeira, um fundo de apoio aos estudantes pobres de Macau e cujo capital excede já o montante de 600 mil dólares de Hong Kong

1982

1984

* O Instituto Internacional de Macau recebeu em 2012, durante as comemorações do centenário do nascimento do Monsenhor, uma exposição com obras de artistas locais a retratar a figura de Manuel Teixeira. Na foto, o Monsenhor em 3D de Elisa Vilaça

Completa Bodas de Ouro Sacerdotais

Papa João Paulo nomeia-o II Capelão da Santa Sé, o que lhe mereceu o título de Monsenhor

Universidade da Ásia Oriental (actual Universidade de Macau) concede o título honorífico de Doutor Honoris Causa de Letras

Condecorado com a Medalha de Valor da República Portuguesa

Proclamado membro da Academia Portuguesa de História

Condecorado com a Comenda da Ordem Militar de S. Tiago e Espada

1984

1984

1985

1985

1989

1989


Moral e de Latim no Liceu Nacional Infante D. Henrique. A par das restantes responsabilidades, assume o cargo de director dos Arquivos de Macau (1976-80) e do Boletim do Instituto Luís de Camões. Traz o hábito de beber o que chamava de “chá da Escócia”. A historiadora Beatriz Basto recorda servir-lhe, nas muitas visitas de Monsenhor a sua casa, a sua ementa preferida de bananas e uísque.

* Gonçalo Lobo Pinheiro

Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003)

O regresso à terra “Eu tinha resolvido não mais regressar à metrópole devido ao choque violento que recebi no dia 25 de Abril com a chamada ‘exemplar descolonização’”, confessou quando decidiu abrir uma excepção em 1988 e regressar a Portugal para gozar licença graciosa, já que não tinha férias desde 1972. Em Janeiro de 1994, meses antes de completar 82 anos, Monsenhor Manuel Teixeira deu entrada no hospital Conde de São Januário vítima de uma trombose e subsequente paralisia facial periférica. Durante dez meses mudou-se para o “melhor hotel de Macau”, como chamava ao hospital. Apesar da sua saúde se encontrar fragilizada não deixava de celebrar missa todos os dias, às sete da manhã, na igreja de Santa Clara, no Colégio de Santa Rosa de Lima. Finalmente foi forçado a regressar definitivamente a Portugal em 2001. A sua principal preocupação então era o seu espólio que não queria abandonar. Reuniu-se com Beatriz Basto da Silva e Isabel Rasquinho e entregoulhes tudo quanto possuía. Todo o material foi parar ao Centro Científico e Cultural de Macau em Lisboa, onde estão catalogados cerca de 4000 manuscritos, monografias, livros, fotografias e cartas. Todas as peças estão inventariadas e disponíveis para consulta através do catálogo online da biblioteca do Centro.

Prémio Figura do Ano em Macau

Institui a Fundação Padre Teixeira, um fundo de apoio aos estudantes pobres de Macau e cujo capital excede já o montante de 600 mil dólares de Hong Kong

1982

1984

* O Instituto Internacional de Macau recebeu em 2012, durante as comemorações do centenário do nascimento do Monsenhor, uma exposição com obras de artistas locais a retratar a figura de Manuel Teixeira. Na foto, o Monsenhor em 3D de Elisa Vilaça

Completa Bodas de Ouro Sacerdotais

Papa João Paulo nomeia-o II Capelão da Santa Sé, o que lhe mereceu o título de Monsenhor

Universidade da Ásia Oriental (actual Universidade de Macau) concede o título honorífico de Doutor Honoris Causa de Letras

Condecorado com a Medalha de Valor da República Portuguesa

Proclamado membro da Academia Portuguesa de História

Condecorado com a Comenda da Ordem Militar de S. Tiago e Espada

1984

1984

1985

1985

1989

1989


Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003)

Na Biblioteca Central de Macau, na Sala de Macau, podem ser consultadas as monografias da sua autoria ali conservadas. São 133 títulos, editados entre 1937 e 1999, e mais as suas colaborações com as publicações locais. Durante os três anos em que esteve em Portugal continuou a escrever. Fernando Vinhais Guedes encontrou-o no lar de Chaves, em Santa Marta, instituição que ajudou a construir em 1980 com uma doação de 75 mil contos (cerca de 3,75 milhões de patacas). O amigo lembrava-se da sua “frontalidade às vezes grosseira” e do seu “sentido de humor”. “Apareceu-me sentado numa cadeira de rodas, com ar combalido de quem tinha sofrido um AVC. Perguntei-lhe: ‘Como vai o homem de Freixo de Espada ao ombro?’, ao que Monsenhor respondeu comovido: ‘Você é daqui? Ai meu Deus! Que bom! É trasmontano, é bom homem!’” O “homem do desporto”, como o padre chamava ao amigo, passou a ir visitá-lo diariamente. “Todos os dias o visitava para falarmos de Macau. Esse era o assunto de eleição.” Recebia muitas visitas, incluindo as do ex-governador de Macau Rocha Vieira e a da sua mulher, Leonor Rocha Vieira, a quem Monsenhor chamava de “Santa Leonor”. Pouco a pouco, Monsenhor e Vinhais Guedes começaram a fazer pequenas caminhadas à volta do “Pentágono”, nome que deram ao jardim do lar. Esses passeios passaram a ser complementados com cerca de dez minutos de bicicleta estática, apesar da resistência de Monsenhor que se queixava: “ Não quero que me vejam! Agora anda aqui um velho a pedalar, a pedalar, e não sai do sítio!” Durante os fins-

Cria o fundo de 900 mil escudos em favor dos idosos do lar de Santa Marta de Chaves

1990 82

de-semana iam para os montes ver os pinheiros que o lembravam da sua terra natal “onde nunca quis regressar”, apesar de Vinhais Guedes se ter oferecido para o levar. Apesar da difícil adaptação inicial do Monsenhor, o amigo garante que houve momentos “de grande satisfação”, especialmente durante a homenagem que lhe foi prestada em que “parecia estar nas nuvens”. A 2 de Março de 2002, numa iniciativa promovida pelo Semanário Transmontano, Monsenhor Manuel Teixeira recebeu comovido a homenagem dos transmontanos. Estiveram presentes governadores civis, os bispos de Vila Real e de Bragança e ainda cerca de 20 Câmaras da região. As escolas flavienses também participaram. A sua idade avançada não o impediu de proferir a palestra “Os Padres Transmontanos no Oriente” durante a cerimónia. Durante o seu discurso, relembrou a importância dos padres transmontanos no Oriente e classificou-os de “exemplos admiráveis”. A lista era longa, mas teve de encurtar a homenagem porque, nas suas palavras “se me referisse a todos, nunca mais me calava”. Escolheu como exemplos o padre Coroado e o padre Francisco Teixeira, apelando ao reconhecimento das sua obras e sugerindo a sua canonização. No final da cerimónia, Monsenhor recebeu a Medalha de Perpétua Homenagem (a primeira de uma edição limitada de 200 exemplares) com a inscrição da conhecida frase do monsenhor: “O Homem é pó, a fama é fumo, o fim é cinza. Só os meus livros permanecerão.” Monsenhor Manuel Teixeira morreu a 15 de Setembro de 2003, aos 91 anos.

* Gonçalo Lobo Pinheiro

Um estudo sistemático

* Um cidadão do mundo, numa obra de Victor Marreiros

Dá entrada no hospital Conde de São Januário, vítima de uma trombose

É agraciado com o título de Cidadão Emérito de Macau por parte do Leal Senado

A 16 de Maio regressa definitivamente a Portugal, para viver no lar de anciãos de Santa Marta

Morre a 15 de Setembro aos 91 anos

1994

1998

2001

2003

revista MACAU · Junho 2013

www.revistamacau.com

Estávamos em finais de 2000 quando a historiadora Tereza Sena foi convidada para trabalhar no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, a quem o Monsenhor Manuel Teixeira tinha doado, em Novembro de 1999, o seu espólio através de uma simples declaração. Coube à académica tratar dos trâmites legais para que essa declaração se transformasse numa doação formal que permitisse, nomeadamente, a consulta de obras desse espólio por parte dos investigadores. Apesar de frisar que ainda “há artigos por inventariar”, a investigadora do Instituto Politécnico de Macau considera que deveria ser feito “um estudo sistemático da sua vida, obra, posicionamento, da construção da sua imagem, das suas relações e motivações”, especialmente de escrita, que era quase compulsiva - um “apostolado da palavra”, como o próprio dizia. “Aí entrará uma análise desse espólio.” A historiadora começou a fazer esse trabalho e tem, neste momento, 100 páginas escritas. Quer concluir o projecto “daqui a uns tempos”. “Pensei fazer uma edição desse estudo para assinalar os dez anos da sua morte, mas não vale a pena. Quero concluir a investigação de uma forma fundamentada que vá desde os seus tempos de seminário até às suas relações de família e pessoais, muito na perspectiva do autor e interventor cultural. Haverá um pouco do pároco e de interveniente político, mas não é o principal objectivo.” Do percurso daquele a quem foi atribuída a Medalha de Ouro da cidade e reconhecido como Cidadão Emérito pelo Leal Senado a 23 de Junho de 1998, Tereza Sena recorda um coleccionador de dados, mais do que historiador, pela falta de trabalho crítico sobre as fontes que recolheu. “O que é importante na obra histórica dele não é apenas a vastidão temática e geográfica, como também o seu âmbito cronológico, ‘pescada’ em inúmeros fundos documentais, alguns dos quais hoje desaparecidos ou de difícil acesso, infelizmente nem sempre devidamente identificados. Para além disso, temos a sua intervenção cívica e crítica do presente, com as suas crónicas nos jornais.” “É uma figura e um símbolo de Macau, que perdurou para além do fim da administração portuguesa”, tendo monopolizado, sobretudo na década de 1970 e início da de 1980, após a morte de Luís Gonzaga Gomes, todas as revistas culturais de Macau”, defende a académica, que proferiu o elogio à Monsenhor Manuel Teixeira na ocasião da cerimónia de atribuição do título. 83


Efeméride Padre Manuel Teixeira (1912-2003)

Na Biblioteca Central de Macau, na Sala de Macau, podem ser consultadas as monografias da sua autoria ali conservadas. São 133 títulos, editados entre 1937 e 1999, e mais as suas colaborações com as publicações locais. Durante os três anos em que esteve em Portugal continuou a escrever. Fernando Vinhais Guedes encontrou-o no lar de Chaves, em Santa Marta, instituição que ajudou a construir em 1980 com uma doação de 75 mil contos (cerca de 3,75 milhões de patacas). O amigo lembrava-se da sua “frontalidade às vezes grosseira” e do seu “sentido de humor”. “Apareceu-me sentado numa cadeira de rodas, com ar combalido de quem tinha sofrido um AVC. Perguntei-lhe: ‘Como vai o homem de Freixo de Espada ao ombro?’, ao que Monsenhor respondeu comovido: ‘Você é daqui? Ai meu Deus! Que bom! É trasmontano, é bom homem!’” O “homem do desporto”, como o padre chamava ao amigo, passou a ir visitá-lo diariamente. “Todos os dias o visitava para falarmos de Macau. Esse era o assunto de eleição.” Recebia muitas visitas, incluindo as do ex-governador de Macau Rocha Vieira e a da sua mulher, Leonor Rocha Vieira, a quem Monsenhor chamava de “Santa Leonor”. Pouco a pouco, Monsenhor e Vinhais Guedes começaram a fazer pequenas caminhadas à volta do “Pentágono”, nome que deram ao jardim do lar. Esses passeios passaram a ser complementados com cerca de dez minutos de bicicleta estática, apesar da resistência de Monsenhor que se queixava: “ Não quero que me vejam! Agora anda aqui um velho a pedalar, a pedalar, e não sai do sítio!” Durante os fins-

Cria o fundo de 900 mil escudos em favor dos idosos do lar de Santa Marta de Chaves

1990 82

de-semana iam para os montes ver os pinheiros que o lembravam da sua terra natal “onde nunca quis regressar”, apesar de Vinhais Guedes se ter oferecido para o levar. Apesar da difícil adaptação inicial do Monsenhor, o amigo garante que houve momentos “de grande satisfação”, especialmente durante a homenagem que lhe foi prestada em que “parecia estar nas nuvens”. A 2 de Março de 2002, numa iniciativa promovida pelo Semanário Transmontano, Monsenhor Manuel Teixeira recebeu comovido a homenagem dos transmontanos. Estiveram presentes governadores civis, os bispos de Vila Real e de Bragança e ainda cerca de 20 Câmaras da região. As escolas flavienses também participaram. A sua idade avançada não o impediu de proferir a palestra “Os Padres Transmontanos no Oriente” durante a cerimónia. Durante o seu discurso, relembrou a importância dos padres transmontanos no Oriente e classificou-os de “exemplos admiráveis”. A lista era longa, mas teve de encurtar a homenagem porque, nas suas palavras “se me referisse a todos, nunca mais me calava”. Escolheu como exemplos o padre Coroado e o padre Francisco Teixeira, apelando ao reconhecimento das sua obras e sugerindo a sua canonização. No final da cerimónia, Monsenhor recebeu a Medalha de Perpétua Homenagem (a primeira de uma edição limitada de 200 exemplares) com a inscrição da conhecida frase do monsenhor: “O Homem é pó, a fama é fumo, o fim é cinza. Só os meus livros permanecerão.” Monsenhor Manuel Teixeira morreu a 15 de Setembro de 2003, aos 91 anos.

* Gonçalo Lobo Pinheiro

Um estudo sistemático

* Um cidadão do mundo, numa obra de Victor Marreiros

Dá entrada no hospital Conde de São Januário, vítima de uma trombose

É agraciado com o título de Cidadão Emérito de Macau por parte do Leal Senado

A 16 de Maio regressa definitivamente a Portugal, para viver no lar de anciãos de Santa Marta

Morre a 15 de Setembro aos 91 anos

1994

1998

2001

2003

revista MACAU · Junho 2013

www.revistamacau.com

Estávamos em finais de 2000 quando a historiadora Tereza Sena foi convidada para trabalhar no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, a quem o Monsenhor Manuel Teixeira tinha doado, em Novembro de 1999, o seu espólio através de uma simples declaração. Coube à académica tratar dos trâmites legais para que essa declaração se transformasse numa doação formal que permitisse, nomeadamente, a consulta de obras desse espólio por parte dos investigadores. Apesar de frisar que ainda “há artigos por inventariar”, a investigadora do Instituto Politécnico de Macau considera que deveria ser feito “um estudo sistemático da sua vida, obra, posicionamento, da construção da sua imagem, das suas relações e motivações”, especialmente de escrita, que era quase compulsiva - um “apostolado da palavra”, como o próprio dizia. “Aí entrará uma análise desse espólio.” A historiadora começou a fazer esse trabalho e tem, neste momento, 100 páginas escritas. Quer concluir o projecto “daqui a uns tempos”. “Pensei fazer uma edição desse estudo para assinalar os dez anos da sua morte, mas não vale a pena. Quero concluir a investigação de uma forma fundamentada que vá desde os seus tempos de seminário até às suas relações de família e pessoais, muito na perspectiva do autor e interventor cultural. Haverá um pouco do pároco e de interveniente político, mas não é o principal objectivo.” Do percurso daquele a quem foi atribuída a Medalha de Ouro da cidade e reconhecido como Cidadão Emérito pelo Leal Senado a 23 de Junho de 1998, Tereza Sena recorda um coleccionador de dados, mais do que historiador, pela falta de trabalho crítico sobre as fontes que recolheu. “O que é importante na obra histórica dele não é apenas a vastidão temática e geográfica, como também o seu âmbito cronológico, ‘pescada’ em inúmeros fundos documentais, alguns dos quais hoje desaparecidos ou de difícil acesso, infelizmente nem sempre devidamente identificados. Para além disso, temos a sua intervenção cívica e crítica do presente, com as suas crónicas nos jornais.” “É uma figura e um símbolo de Macau, que perdurou para além do fim da administração portuguesa”, tendo monopolizado, sobretudo na década de 1970 e início da de 1980, após a morte de Luís Gonzaga Gomes, todas as revistas culturais de Macau”, defende a académica, que proferiu o elogio à Monsenhor Manuel Teixeira na ocasião da cerimónia de atribuição do título. 83


VOLTA À CHINA

Hainão, na margem do céu e na borda do mar

84

Texto José Simões Morais

longo tempo inacabados devido ao reduzido número de visitantes, desde então a construção conheceu um novo incremento quando Hainão passou a ter a sede do Fórum Boao para a Ásia. Um novo período de prosperidade chegou à ilha, reabilitando assim este paraíso, visto como inferno por muitos dos governantes que para aqui vieram desterrados. Separada da extremidade sul da província de Guangdong pelo estreito de Qiongzhou, Hainão, com 33 mil quilómetros quadrados, é a segunda maior ilha chinesa, mas a província mais pequena da China. Com um clima tropical e uma vegetação luxuriante, Hainão, que significa Mar do Sul, pareceu-nos ser o local idílico para apanhar algum sol e nadar nas suas águas quentes durante o Ano Novo Chinês. O melhor período para visitar Hainão é entre Novembro e Março, quando a temperatura é amena. Nos outros meses do ano, o calor é sufocante, a chuva cai com frequência e os tufões chegam com força. revista MACAU · Junho 2013

* Gonçalo Lobo Pinheiro

Q

uando em 1988 se tornou numa província, separando-se de Guangdong e ganhando o estatuto de zona económica especial, a ilha de Hainão conheceu então um novo boom, o da construção civil. Novo, pois assistira já, nos anos 1950, à destruição de muita da sua vegetação tropical para dar lugar à plantação de árvores de borracha, trazendo uma visibilidade que até então não tivera. Estava aberta uma nova era e quando se tornou província, não faltaram planos para incrementar o turismo, aproveitando uma costa recortada por praias com coqueiros e fina areia branca. A temperatura excelente da água do mar e a sua transparência, permitindo olhar os corais a dez metros de profundidade, levou ao interesse de apostar em Hainão como um destino turístico de excelência. Os russos foram dos primeiros turistas a fazer da ilha a sua estância balnear, sobretudo para fugirem aos invernos rigorosos do seu país. Mas, se até 2001 muitos empreendimentos ficaram

Da imagem de inferno que Hainão teve ao longo dos tempos, quando local de desterro para os governantes caídos em desgraça, a ilha deu a volta à sua história e transformou-se num destino turístico de eleição

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VOLTA À CHINA

Hainão, na margem do céu e na borda do mar

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Texto José Simões Morais

longo tempo inacabados devido ao reduzido número de visitantes, desde então a construção conheceu um novo incremento quando Hainão passou a ter a sede do Fórum Boao para a Ásia. Um novo período de prosperidade chegou à ilha, reabilitando assim este paraíso, visto como inferno por muitos dos governantes que para aqui vieram desterrados. Separada da extremidade sul da província de Guangdong pelo estreito de Qiongzhou, Hainão, com 33 mil quilómetros quadrados, é a segunda maior ilha chinesa, mas a província mais pequena da China. Com um clima tropical e uma vegetação luxuriante, Hainão, que significa Mar do Sul, pareceu-nos ser o local idílico para apanhar algum sol e nadar nas suas águas quentes durante o Ano Novo Chinês. O melhor período para visitar Hainão é entre Novembro e Março, quando a temperatura é amena. Nos outros meses do ano, o calor é sufocante, a chuva cai com frequência e os tufões chegam com força. revista MACAU · Junho 2013

* Gonçalo Lobo Pinheiro

Q

uando em 1988 se tornou numa província, separando-se de Guangdong e ganhando o estatuto de zona económica especial, a ilha de Hainão conheceu então um novo boom, o da construção civil. Novo, pois assistira já, nos anos 1950, à destruição de muita da sua vegetação tropical para dar lugar à plantação de árvores de borracha, trazendo uma visibilidade que até então não tivera. Estava aberta uma nova era e quando se tornou província, não faltaram planos para incrementar o turismo, aproveitando uma costa recortada por praias com coqueiros e fina areia branca. A temperatura excelente da água do mar e a sua transparência, permitindo olhar os corais a dez metros de profundidade, levou ao interesse de apostar em Hainão como um destino turístico de excelência. Os russos foram dos primeiros turistas a fazer da ilha a sua estância balnear, sobretudo para fugirem aos invernos rigorosos do seu país. Mas, se até 2001 muitos empreendimentos ficaram

Da imagem de inferno que Hainão teve ao longo dos tempos, quando local de desterro para os governantes caídos em desgraça, a ilha deu a volta à sua história e transformou-se num destino turístico de eleição

www.revistamacau.com

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* Gonçalo Lobo Pinheiro

VOLTA À CHINA

Nas rodas da história De origem vulcânica, a ilha tem uma costa de 1500 quilómetros e como população nativa o povo Li, pertencente aos Baiyue (100 Yue, que significa muitas tribos Yue), que viveu de forma nómada em Lingnan sem nunca ter sido dominado pelo Império Chinês. Quando Hainão foi integrada no Império Chinês em 110 a.C. pelo general Lu Bode da dinastia Han, foi dividida em duas prefeituras (Dan Er, no Norte e Zhu Ya, a Sul). No entanto, no ano 43, como se tornava muito caro a manutenção de uma guarnição, a ilha foi militarmente abandonada. Na dinastia Tang, era conhecida por Qiongzhou e por isso ainda hoje tem como abreviatura o nome de Qiong, pela qual a província também é conhecida. Ponto de passagem dos barcos a navegar pela Rota Marítima da Seda, por aqui ficaram alguns persas, representados agora na comunidade chinesa muçulmana dos Hui a viver na ilha. 86

Durante a dinastia Song foi incorporada na província de Guangxi, vendo chegar uma grande quantidade de população Han, que aí se fixou. Com os mongóis da dinastia Yuan tornouse uma província independente, mas mal os Han conquistam de novo a China e criaram a dinastia Ming, a ilha passou a estar sob jurisdição da Província Guangdong-Guangxi. Com a chegada de novos grupos Han, o povo Li retirou-se para as montanhas na zona centro sul da ilha até que, no século XVIII, revoltou-se contra a dinastia Qing dos manchus. O povo Miao foi enviado para o combate e aí também se fixou. Quase sempre para aqui tentavam fugir as cortes das dinastias depostas dos Han, quando os seus Impérios eram tomados pelos povos do Norte. A partir de 1633, Hainão acolheu uma grande quantidade de jesuítas e a ilha acabou por ser incorporada no Bispado de Macau a 10 de Abril de 1690 pelo Papa Alexandre VIII. Em 1848 ficou ligada a Cantão, mas só a 17 de Setembro revista MACAU · Junho 2013

de 1858 a Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris tomou formalmente posse, ficando a governar a prefeitura apostólica de GuangdongGuangxi e Hainão. Pelo Tratado de Tianjin, o porto de Qiongshan (uma das áreas da cidade de Haikou) ficou aberto às potências estrangeiras que invadiram a China após a Guerra do Ópio. A ilha foi ainda a ocupada pelos japoneses entre 1939 e 1945, sendo morta às mãos do invasor um terço da população masculina da ilha. Em Abril de 1950, daqui partiram os últimos barcos do Guomindang transportando 70 mil pessoas, que tinham como destino Taiwan. Hainão serviu como local de serviço cívico para muitos jovens comunistas durante os anos 1960. Agora apresenta-se como um lugar promissor, rico em recursos naturais e vocacionado para o turismo. Nesse ramo, tem tudo para proporcionar as delícias de quem a visita, com uma grande variedade e qualidade de frutas tropicais, boa comida, calor todo o ano e uma zona franca. www.revistamacau.com

Um novo período de prosperidade chegou à ilha, reabilitando assim este paraíso, visto como inferno por muitos dos governantes que para aqui vieram desterrados

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* Gonçalo Lobo Pinheiro

VOLTA À CHINA

Nas rodas da história De origem vulcânica, a ilha tem uma costa de 1500 quilómetros e como população nativa o povo Li, pertencente aos Baiyue (100 Yue, que significa muitas tribos Yue), que viveu de forma nómada em Lingnan sem nunca ter sido dominado pelo Império Chinês. Quando Hainão foi integrada no Império Chinês em 110 a.C. pelo general Lu Bode da dinastia Han, foi dividida em duas prefeituras (Dan Er, no Norte e Zhu Ya, a Sul). No entanto, no ano 43, como se tornava muito caro a manutenção de uma guarnição, a ilha foi militarmente abandonada. Na dinastia Tang, era conhecida por Qiongzhou e por isso ainda hoje tem como abreviatura o nome de Qiong, pela qual a província também é conhecida. Ponto de passagem dos barcos a navegar pela Rota Marítima da Seda, por aqui ficaram alguns persas, representados agora na comunidade chinesa muçulmana dos Hui a viver na ilha. 86

Durante a dinastia Song foi incorporada na província de Guangxi, vendo chegar uma grande quantidade de população Han, que aí se fixou. Com os mongóis da dinastia Yuan tornouse uma província independente, mas mal os Han conquistam de novo a China e criaram a dinastia Ming, a ilha passou a estar sob jurisdição da Província Guangdong-Guangxi. Com a chegada de novos grupos Han, o povo Li retirou-se para as montanhas na zona centro sul da ilha até que, no século XVIII, revoltou-se contra a dinastia Qing dos manchus. O povo Miao foi enviado para o combate e aí também se fixou. Quase sempre para aqui tentavam fugir as cortes das dinastias depostas dos Han, quando os seus Impérios eram tomados pelos povos do Norte. A partir de 1633, Hainão acolheu uma grande quantidade de jesuítas e a ilha acabou por ser incorporada no Bispado de Macau a 10 de Abril de 1690 pelo Papa Alexandre VIII. Em 1848 ficou ligada a Cantão, mas só a 17 de Setembro revista MACAU · Junho 2013

de 1858 a Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris tomou formalmente posse, ficando a governar a prefeitura apostólica de GuangdongGuangxi e Hainão. Pelo Tratado de Tianjin, o porto de Qiongshan (uma das áreas da cidade de Haikou) ficou aberto às potências estrangeiras que invadiram a China após a Guerra do Ópio. A ilha foi ainda a ocupada pelos japoneses entre 1939 e 1945, sendo morta às mãos do invasor um terço da população masculina da ilha. Em Abril de 1950, daqui partiram os últimos barcos do Guomindang transportando 70 mil pessoas, que tinham como destino Taiwan. Hainão serviu como local de serviço cívico para muitos jovens comunistas durante os anos 1960. Agora apresenta-se como um lugar promissor, rico em recursos naturais e vocacionado para o turismo. Nesse ramo, tem tudo para proporcionar as delícias de quem a visita, com uma grande variedade e qualidade de frutas tropicais, boa comida, calor todo o ano e uma zona franca. www.revistamacau.com

Um novo período de prosperidade chegou à ilha, reabilitando assim este paraíso, visto como inferno por muitos dos governantes que para aqui vieram desterrados

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VOLTA À CHINA

O estreito de Qiongzhou A viagem de comboio pela Província de Guangdong foi feita à noite, permitindo da janela da carruagem assistir aos festejos da passagem de ano realizados pelos pátios das casas iluminadas que se encontram junto à linha férrea. O céu é constantemente presenteado pelas cores dos fogos de artifício. Já no interior das carruagens, a maioria das pessoas dorme, enquanto outras vêem por um pequeno computador o espectáculo televisivo especial de fim de ano transmitido pela CCTV. Está a amanhecer quando o comboio chega à península de Leizhou, no sul de Guangdong. Desengatilhada a locomotiva, esta, em manobras, vai levando as carruagens em grupos de três para o interior do ferry que atravessará os 24 quilómetros do estreito. Foram precisos 100 anos para o sonho de Sun Yat-sen se tornar realidade e assim, a 7 de Janeiro de 2003, foi aberta a travessia marítima para o comboio. Agora já se pensa num projecto de uma ponte ou em túnel. Após 45 minutos de viagem e já com o comboio de novo alinhado, prosseguimos pela costa nordeste da ilha. Pouco tempo depois chegamos a Haikou.

A cidade dos cocos

* José Simões Morais

Como capital de província, Haikou é o centro político, económico e cultural e um dos portos mais importantes da região. Da estação de comboios até ao centro da cidade, os coqueiros dão a sombra às largas avenidas cheias de hotéis e, no outro lado da estrada, às praias. No entanto, poucos são os estrangeiros que visitam a cidade dos cocos, como Haikou é conhecida. Somos levados a visitar um conjunto de ruas em torno de Xinhua Lu e Zhongshan Lu. As casas antigas de dois e três andares, todas caiadas de branco, abrigam os passeios devido às lojas estarem recuadas em relação aos edifícios, criando uma passagem resguardada tanto do sol como da chuva. Ao atravessar a cidade, vamos dar ao Templo dos Cinco Oficiais, que homenageia oficiais caídos em desgraça: Li Deyu (787-850), primeiro-ministro durante a

88

revista MACAU · Junho 2013

www.revistamacau.com

28ºC

É a temperatura média anual em Hainão

dinastia Tang que chegou a Hainão em 848, e os outros quatro relacionados com Gao Zong (112762), o primeiro imperador da dinastia Song. Ao escolher para seu primeiro-ministro Qin Hui, um homem fugido do campo do inimigo e que tomou como missão negociar a paz com os Jin, Gao Zong fez com que pessoas como o general Li Gang (1085-1140) - originário de Fujian e antigo primeiro-ministro -, o alto oficial da corte Li Guang (?-1155), originário de Zhejiang; Zhao Ding (1085-1147), proveniente de Shanxi e por duas vezes primeiro-ministro, e o historiador Hu Quan (1101-1180) procurassem o exílio na ilha ao sul do país. Já antes, em 1907, Su Dongpo, da dinastia Song do Norte, tinha sido deportado para Hainão. Deixámos o recinto após visitar o Museu de Haikou. Hainão tem 290 quilómetros de comprimento e 180 quilómetros de largura. O nosso destino é agora o sul, por onde podemos chegar a partir de três estradas. A viagem até Sanya pode ser feita pelo litoral leste ou oeste, ou ainda a cruzar o centro montanhoso da ilha. Além de auto-estradas e da antiga linha férrea, ainda há a opção do comboio de alta velocidade, que liga as duas cidades. Se até então a viagem pelo caminho de ferro desde a capital da ilha demorava cinco horas, em 2010 passou para os 90 minutos. Também há muitas companhias aéreas com voos nacionais e internacionais directos para Sanya (ver caixa para como viajar desde Macau). 89


VOLTA À CHINA

O estreito de Qiongzhou A viagem de comboio pela Província de Guangdong foi feita à noite, permitindo da janela da carruagem assistir aos festejos da passagem de ano realizados pelos pátios das casas iluminadas que se encontram junto à linha férrea. O céu é constantemente presenteado pelas cores dos fogos de artifício. Já no interior das carruagens, a maioria das pessoas dorme, enquanto outras vêem por um pequeno computador o espectáculo televisivo especial de fim de ano transmitido pela CCTV. Está a amanhecer quando o comboio chega à península de Leizhou, no sul de Guangdong. Desengatilhada a locomotiva, esta, em manobras, vai levando as carruagens em grupos de três para o interior do ferry que atravessará os 24 quilómetros do estreito. Foram precisos 100 anos para o sonho de Sun Yat-sen se tornar realidade e assim, a 7 de Janeiro de 2003, foi aberta a travessia marítima para o comboio. Agora já se pensa num projecto de uma ponte ou em túnel. Após 45 minutos de viagem e já com o comboio de novo alinhado, prosseguimos pela costa nordeste da ilha. Pouco tempo depois chegamos a Haikou.

A cidade dos cocos

* José Simões Morais

Como capital de província, Haikou é o centro político, económico e cultural e um dos portos mais importantes da região. Da estação de comboios até ao centro da cidade, os coqueiros dão a sombra às largas avenidas cheias de hotéis e, no outro lado da estrada, às praias. No entanto, poucos são os estrangeiros que visitam a cidade dos cocos, como Haikou é conhecida. Somos levados a visitar um conjunto de ruas em torno de Xinhua Lu e Zhongshan Lu. As casas antigas de dois e três andares, todas caiadas de branco, abrigam os passeios devido às lojas estarem recuadas em relação aos edifícios, criando uma passagem resguardada tanto do sol como da chuva. Ao atravessar a cidade, vamos dar ao Templo dos Cinco Oficiais, que homenageia oficiais caídos em desgraça: Li Deyu (787-850), primeiro-ministro durante a

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28ºC

É a temperatura média anual em Hainão

dinastia Tang que chegou a Hainão em 848, e os outros quatro relacionados com Gao Zong (112762), o primeiro imperador da dinastia Song. Ao escolher para seu primeiro-ministro Qin Hui, um homem fugido do campo do inimigo e que tomou como missão negociar a paz com os Jin, Gao Zong fez com que pessoas como o general Li Gang (1085-1140) - originário de Fujian e antigo primeiro-ministro -, o alto oficial da corte Li Guang (?-1155), originário de Zhejiang; Zhao Ding (1085-1147), proveniente de Shanxi e por duas vezes primeiro-ministro, e o historiador Hu Quan (1101-1180) procurassem o exílio na ilha ao sul do país. Já antes, em 1907, Su Dongpo, da dinastia Song do Norte, tinha sido deportado para Hainão. Deixámos o recinto após visitar o Museu de Haikou. Hainão tem 290 quilómetros de comprimento e 180 quilómetros de largura. O nosso destino é agora o sul, por onde podemos chegar a partir de três estradas. A viagem até Sanya pode ser feita pelo litoral leste ou oeste, ou ainda a cruzar o centro montanhoso da ilha. Além de auto-estradas e da antiga linha férrea, ainda há a opção do comboio de alta velocidade, que liga as duas cidades. Se até então a viagem pelo caminho de ferro desde a capital da ilha demorava cinco horas, em 2010 passou para os 90 minutos. Também há muitas companhias aéreas com voos nacionais e internacionais directos para Sanya (ver caixa para como viajar desde Macau). 89


VOLTA À CHINA

A partir de 1633, Hainão acolheu uma grande quantidade de jesuítas e a ilha acabou por ser incorporada no Bispado de Macau a 10 de Abril de 1690 pelo Papa Alexandre VIII

* No jardim budista Nanshan, um conjunto de templos enchem as vistas

90

* José Simões Morais

Da cidade pouco visitamos, tendo-nos limitado às praias de baías longas e areia branca fina, com um mar azul tão convidativo que não resistimos à água quente e a um sol apetecível para celebrar o Ano Novo. Tiramos um dia para visitar o jardim budista Nanshan, onde encontramos num dos templos uma sala cheia de estátuas, sendo a mais preciosa de jade e ouro incrustada com inúmeras pedras preciosas. Após sair do templo e continuando pela extensa avenida, vamos dar a uma enorme escultura da deusa da Misericórdia e Compaixão, Guan Yin, com 108 metros de altura e situada no meio do mar, de frente para a montanha do Sul (Nanshan). É considerada a maior estátua do mundo da deusa Guan Yin (conhecida em Macau por Kun Iam), representada na mesma peça com três diferentes imagens. Ao fim da tarde chegamos ao Jardim do Fim do Mundo (TianYa Haijiao), os limites do céu na borda do mar, onde se encontra a coluna sul, uma das quatro que suporta o céu na China, representada nas notas de dois yuans. Na praia, deleitados a beber água de coco após um reconfortante banho de mar, demos por nós a pensar ser este um esplêndido local para ser desterrado. revista MACAU · Junho 2013

www.revistamacau.com

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VOLTA À CHINA

A partir de 1633, Hainão acolheu uma grande quantidade de jesuítas e a ilha acabou por ser incorporada no Bispado de Macau a 10 de Abril de 1690 pelo Papa Alexandre VIII

* No jardim budista Nanshan, um conjunto de templos enchem as vistas

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* José Simões Morais

Da cidade pouco visitamos, tendo-nos limitado às praias de baías longas e areia branca fina, com um mar azul tão convidativo que não resistimos à água quente e a um sol apetecível para celebrar o Ano Novo. Tiramos um dia para visitar o jardim budista Nanshan, onde encontramos num dos templos uma sala cheia de estátuas, sendo a mais preciosa de jade e ouro incrustada com inúmeras pedras preciosas. Após sair do templo e continuando pela extensa avenida, vamos dar a uma enorme escultura da deusa da Misericórdia e Compaixão, Guan Yin, com 108 metros de altura e situada no meio do mar, de frente para a montanha do Sul (Nanshan). É considerada a maior estátua do mundo da deusa Guan Yin (conhecida em Macau por Kun Iam), representada na mesma peça com três diferentes imagens. Ao fim da tarde chegamos ao Jardim do Fim do Mundo (TianYa Haijiao), os limites do céu na borda do mar, onde se encontra a coluna sul, uma das quatro que suporta o céu na China, representada nas notas de dois yuans. Na praia, deleitados a beber água de coco após um reconfortante banho de mar, demos por nós a pensar ser este um esplêndido local para ser desterrado. revista MACAU · Junho 2013

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VOLTA À CHINA

Como ir A China Eastern Airlines (www.flychinaeastern.com) tem voos diários para Sanya com saídas de Zhuhai* Bilhetes de ida e volta a partir de MOP 2000 Horário da ida: 10h55 (1h15 de viagem) Horário de regresso: 20h20 (1h20 de viagem)

* Gonçalo Lobo Pinheiro

* O aeroporto de Zhuhai disponibiliza um serviço de shuttle bus a partir do seu terminal a dois quarteirões de Gongbei por ¥ 25/ 45 minutos de viagem

Onde ficar Preços por quarto duplo com pequeno almoço incluído

Days Hotel & Suites Sanya Resort (5 estrelas) MOP 800 Holiday Inn Sanya Bay Resort (5 estrelas) MOP 850 MGM Grand Sanya (5 estrelas) MOP 1900 Banyan Tree Sanya (5 estrelas) MOP 3000 Pacotes O website www.ctrip.com oferece pacotes com voo e alojamento incluído por preços competitivos. Pacotes de três noites a partir de MOP 2000 em quarto duplo com pequeno almoço. 92

O que comer Frutas tropicais (manga, ananás, jaca, mangostão, líchia, coco) Marisco Peixe revista MACAU · Junho 2013

* José Simões Morais

Huandao Beach Hotel (4 estrelas) MOP 510

Sea Turtles 911 – organização nãogovernamental que trabalha na área da defesa das tartarugas no Mar do Sul da China. Os turistas podem ser voluntários por um dia e aprender mais sobre esta espécie. Praias de Sanya – consideradas as melhores da China, com extensos areais, sossego e água quente. Montanha do Sul (Área turística de Nanshan) – um grande templo budista de Shaolin na zona sul da ilha. Vila Gusong em Wenchang – uma aldeia única pela sua história e beleza. Ilha do Macaco – o único perigo são os macacos que roubam pertences aos turistas distraídos. Parque do vulcão e aldeias de lava – a 15 km a sul de Haikou.

www.revistamacau.com

* José Simões Morais

Sanya Bay Yinyuan Resorts (3 estrelas) MOP 260

O que visitar

* Gonçalo Lobo Pinheiro

Captain’s House Hostel (2 estrelas) MOP 200

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VOLTA À CHINA

Como ir A China Eastern Airlines (www.flychinaeastern.com) tem voos diários para Sanya com saídas de Zhuhai* Bilhetes de ida e volta a partir de MOP 2000 Horário da ida: 10h55 (1h15 de viagem) Horário de regresso: 20h20 (1h20 de viagem)

* Gonçalo Lobo Pinheiro

* O aeroporto de Zhuhai disponibiliza um serviço de shuttle bus a partir do seu terminal a dois quarteirões de Gongbei por ¥ 25/ 45 minutos de viagem

Onde ficar Preços por quarto duplo com pequeno almoço incluído

Days Hotel & Suites Sanya Resort (5 estrelas) MOP 800 Holiday Inn Sanya Bay Resort (5 estrelas) MOP 850 MGM Grand Sanya (5 estrelas) MOP 1900 Banyan Tree Sanya (5 estrelas) MOP 3000 Pacotes O website www.ctrip.com oferece pacotes com voo e alojamento incluído por preços competitivos. Pacotes de três noites a partir de MOP 2000 em quarto duplo com pequeno almoço. 92

O que comer Frutas tropicais (manga, ananás, jaca, mangostão, líchia, coco) Marisco Peixe revista MACAU · Junho 2013

* José Simões Morais

Huandao Beach Hotel (4 estrelas) MOP 510

Sea Turtles 911 – organização nãogovernamental que trabalha na área da defesa das tartarugas no Mar do Sul da China. Os turistas podem ser voluntários por um dia e aprender mais sobre esta espécie. Praias de Sanya – consideradas as melhores da China, com extensos areais, sossego e água quente. Montanha do Sul (Área turística de Nanshan) – um grande templo budista de Shaolin na zona sul da ilha. Vila Gusong em Wenchang – uma aldeia única pela sua história e beleza. Ilha do Macaco – o único perigo são os macacos que roubam pertences aos turistas distraídos. Parque do vulcão e aldeias de lava – a 15 km a sul de Haikou.

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* José Simões Morais

Sanya Bay Yinyuan Resorts (3 estrelas) MOP 260

O que visitar

* Gonçalo Lobo Pinheiro

Captain’s House Hostel (2 estrelas) MOP 200

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* Gonçalo Lobo Pinheiro

ÍCONES CHINESES

Pivetes

(incenso) P

erfume das religiões, fragrância para a cura, madeira das limpezas. O incenso atravessa culturas, religiões e marca o tempo, sobretudo para os budistas chineses Agradou primeiro aos sacerdotes egípcios que cultivavam as plantas sagradas. Depois dos árabes extraírem daí conhecimentos e óleos, encantou romanos, russos, budistas, cristãos e até islâmicos. Todos viram nestes aromas fumegantes do Oriente em forma de pivetes, ou incensos, uma força da natureza até para relaxar. À semelhança dos japoneses, os chineses escolheram como ingredientes principais para os pivetes as madeiras de agara (沈香; chénxiӑng) e sândalo (檀香; tánxiӑng). Há documentos que comprovam a existência de um comércio esporádico entre Timor e a China a partir do século VII, baseado principalmente na venda sândalo para a fabricação de móveis de luxo, de perfumes e pivetes. Foi também o aroma que guiou os portugueses até à ilha do Pacífico, em 1512, que rumaram à Timor em busca do sândalo.

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revista MACAU · Junho 2013

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* Gonçalo Lobo Pinheiro

ÍCONES CHINESES

Pivetes

(incenso) P

erfume das religiões, fragrância para a cura, madeira das limpezas. O incenso atravessa culturas, religiões e marca o tempo, sobretudo para os budistas chineses Agradou primeiro aos sacerdotes egípcios que cultivavam as plantas sagradas. Depois dos árabes extraírem daí conhecimentos e óleos, encantou romanos, russos, budistas, cristãos e até islâmicos. Todos viram nestes aromas fumegantes do Oriente em forma de pivetes, ou incensos, uma força da natureza até para relaxar. À semelhança dos japoneses, os chineses escolheram como ingredientes principais para os pivetes as madeiras de agara (沈香; chénxiӑng) e sândalo (檀香; tánxiӑng). Há documentos que comprovam a existência de um comércio esporádico entre Timor e a China a partir do século VII, baseado principalmente na venda sândalo para a fabricação de móveis de luxo, de perfumes e pivetes. Foi também o aroma que guiou os portugueses até à ilha do Pacífico, em 1512, que rumaram à Timor em busca do sândalo.

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MAR MEDITERRÃNEO

ÍCONES CHINESES

* Gonçalo Lobo Pinheiro

JERUSALEM ALEXANDRIA

PETRA Já lá vão 2000 anos que na China os pivetes entram na vida religiosa, na vida do dia-a-dia e na medicina. Mas a Índia é a pátria do incenso e, por aí, passa também a Rota do Incenso. O fabrico de pivetes constituía uma das principais indústrias tradicionais e de exportação de Macau no século XX. Ao longo de anos, além de satisfazer as necessidades do mercado local, Macau fornecia ainda incensos para Hong Kong, o Interior da China, o Sudeste Asiático, a Europa e a América. Hoje em dia, ainda se podem encontrar em Macau pequenas fábricas de pivetes. Uma das lendas sobre a origem do nome de Hong Kong refere este como um porto de exportação da matériaprima Heong (pivetes). Em cantonês, esta palavra pode ainda ser interpretada como morte, o que poderá ter a ver com o uso dos pivetes.

revista MACAU · Junho 2013

TEIMA DEDAN LEUCE COME

Rota do incenso A legendária Rota do Incenso é a história de um sucesso comercial de 2000 anos de idade. Naquela época, sem transporte, estradas ou mapas, longas caravanas de camelos atravessavam trilhos difíceis, deslocando-se entre ladrões, saqueadores e obstáculos naturais. Mercadorias preciosas passavam pela rota, que começava no Iémen, no leste, atravessava a Arábia Saudita e a Jordânia terminando em Israel, no porto de Gaza, onde eram carregadas em navios mercantes em direcção à Europa. Lá, as mulheres do império romano podiam desfrutar dos perfumes do olíbano e mirto, dos sabores dos condimentos orientais e dos sais úteis para cozinhar e preservar alimentos. A jornada pelos 2400 quilómetros da Rota do Incenso levava cerca de seis meses. As caravanas de camelo, que incluíam milhares de pessoas, moviam-se a um passo lento, passando por 56 pontos de descanso, onde paravam para cuidar dos animais e recobrar as forças para o próximo dia. www.revistamacau.com

YATHRIB

HO

• Nunca acenda um incenso sem um propósito • Nunca o apague com sopros • Nunca escolha uma fragrância sem ter em causa o motivo de acender o incenso • Acender sempre três pauzinhos de cada vez

AILA

L ME ER RV MA

Superstições

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GAZA

MARIB

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MAR MEDITERRÃNEO

ÍCONES CHINESES

* Gonçalo Lobo Pinheiro

JERUSALEM ALEXANDRIA

PETRA Já lá vão 2000 anos que na China os pivetes entram na vida religiosa, na vida do dia-a-dia e na medicina. Mas a Índia é a pátria do incenso e, por aí, passa também a Rota do Incenso. O fabrico de pivetes constituía uma das principais indústrias tradicionais e de exportação de Macau no século XX. Ao longo de anos, além de satisfazer as necessidades do mercado local, Macau fornecia ainda incensos para Hong Kong, o Interior da China, o Sudeste Asiático, a Europa e a América. Hoje em dia, ainda se podem encontrar em Macau pequenas fábricas de pivetes. Uma das lendas sobre a origem do nome de Hong Kong refere este como um porto de exportação da matériaprima Heong (pivetes). Em cantonês, esta palavra pode ainda ser interpretada como morte, o que poderá ter a ver com o uso dos pivetes.

revista MACAU · Junho 2013

TEIMA DEDAN LEUCE COME

Rota do incenso A legendária Rota do Incenso é a história de um sucesso comercial de 2000 anos de idade. Naquela época, sem transporte, estradas ou mapas, longas caravanas de camelos atravessavam trilhos difíceis, deslocando-se entre ladrões, saqueadores e obstáculos naturais. Mercadorias preciosas passavam pela rota, que começava no Iémen, no leste, atravessava a Arábia Saudita e a Jordânia terminando em Israel, no porto de Gaza, onde eram carregadas em navios mercantes em direcção à Europa. Lá, as mulheres do império romano podiam desfrutar dos perfumes do olíbano e mirto, dos sabores dos condimentos orientais e dos sais úteis para cozinhar e preservar alimentos. A jornada pelos 2400 quilómetros da Rota do Incenso levava cerca de seis meses. As caravanas de camelo, que incluíam milhares de pessoas, moviam-se a um passo lento, passando por 56 pontos de descanso, onde paravam para cuidar dos animais e recobrar as forças para o próximo dia. www.revistamacau.com

YATHRIB

HO

• Nunca acenda um incenso sem um propósito • Nunca o apague com sopros • Nunca escolha uma fragrância sem ter em causa o motivo de acender o incenso • Acender sempre três pauzinhos de cada vez

AILA

L ME ER RV MA

Superstições

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GAZA

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MEMÓRIA

Guerreira das letras e de causas Deolinda da conceição (1913 – 1957)

D

Maria de Lurdes Nogueira Escaleira * António Conceição Júnior

Professora-Adjunta da Escola Superior de Administração do Instituto Politécnico de Macau Doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto

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revista MACAU · Junho 2013

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eolinda da Conceição, escritora, nasce em Macau numa época conturbada pelas guerras mundiais e pela guerra sinojaponesa. É essa vivência que retrata em Cheong Sam (A Cabaia – obra que reúne vários contos), e nas crónicas, publicadas no jornal Notícias de Macau, onde trabalhou como jornalista e responsável da Página Feminina. Nos contos, Macau é descrito como uma cidade onde os extremos se tocam num dualismo carregado de branco e preto. Macau é o "cantinho abençoado", um "oásis de paz", uma "terra privilegiada e de promissão", um "cantinho onde se podia desfrutar de uma relativa paz", de calma, sossego, beleza, encantamento e onde o silêncio das ruas é quebrado, de vez em quando, pela "buzina de um automóvel" ou pelo relógio

que bate as 12 badaladas. Noites tranquilas e belas, em que imagens encantadoras povoam o sono dos inocentes, fazem a autora sentir-se feliz e considerar que é uma maravilha viver em Macau. De repente, toda esta felicidade é bruscamente abalada por "rostos amarelecidos pela fome constante" e pelo desespero de um presente cruel mas, sobretudo, pela visão de um futuro sem qualquer réstea de esperança. As ruas de Macau tornam-se palco no qual desfilam corpos e almas marcadas de forma profunda por uma guerra feita por homens que "de humano só têm a forma". Cidade de contrastes onde as padarias exibem pão quentinho e os mendigos, dia e noite, vagueiam em grupo¹ à chuva e ao frio, enfrentando a escuridão da noite e das suas 99


MEMÓRIA

Guerreira das letras e de causas Deolinda da conceição (1913 – 1957)

D

Maria de Lurdes Nogueira Escaleira * António Conceição Júnior

Professora-Adjunta da Escola Superior de Administração do Instituto Politécnico de Macau Doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto

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revista MACAU · Junho 2013

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eolinda da Conceição, escritora, nasce em Macau numa época conturbada pelas guerras mundiais e pela guerra sinojaponesa. É essa vivência que retrata em Cheong Sam (A Cabaia – obra que reúne vários contos), e nas crónicas, publicadas no jornal Notícias de Macau, onde trabalhou como jornalista e responsável da Página Feminina. Nos contos, Macau é descrito como uma cidade onde os extremos se tocam num dualismo carregado de branco e preto. Macau é o "cantinho abençoado", um "oásis de paz", uma "terra privilegiada e de promissão", um "cantinho onde se podia desfrutar de uma relativa paz", de calma, sossego, beleza, encantamento e onde o silêncio das ruas é quebrado, de vez em quando, pela "buzina de um automóvel" ou pelo relógio

que bate as 12 badaladas. Noites tranquilas e belas, em que imagens encantadoras povoam o sono dos inocentes, fazem a autora sentir-se feliz e considerar que é uma maravilha viver em Macau. De repente, toda esta felicidade é bruscamente abalada por "rostos amarelecidos pela fome constante" e pelo desespero de um presente cruel mas, sobretudo, pela visão de um futuro sem qualquer réstea de esperança. As ruas de Macau tornam-se palco no qual desfilam corpos e almas marcadas de forma profunda por uma guerra feita por homens que "de humano só têm a forma". Cidade de contrastes onde as padarias exibem pão quentinho e os mendigos, dia e noite, vagueiam em grupo¹ à chuva e ao frio, enfrentando a escuridão da noite e das suas 99


Deolinda da conceição

vidas, na esperança que uma mão caridosa lhes estenda um pedaço de pão ou uma moeda para comprar algo que lhes mitigue a fome. É neste cenário de desespero e profunda miséria que a solidariedade e a compaixão das gentes de Macau suaviza a vida dos inúmeros refugiados de guerra e de todos os que aqui procuram um refúgio que os abrigue e os afaste do trágico destino a que as tradições sociais os tinham votado. A mulher é a personagem central da maior parte dos contos: a mulher chinesa que sofre a discriminação e que tenta libertar-se da condição de inferioridade a que estava sujeita (concubinato, filho varão e venda das meninas); a mulher vítima da guerra que enlouquece de dor perante a impossibilidade de salvar os filhos da fome e da miséria; a mulher que, na sociedade fechada de Macau, tenta conquistar a sua liberdade e assumir-se em pé de igualdade com o homem, a nível profissional e social. Ao lermos a biografia da autora podemos concluir que ela própria, enquanto jornalista, escritora, professora e tradutora, participa activamente neste movimento emancipatório da mulher, tendo-se afirmado, a nível profissional, num meio exclusivamente masculino.

(¹) “A população de pouco mais de 200 mil almas passou, de repente, para mais de meio milhão”. (Botas, s/d: 25). 100

Deolinda, mulher divorciada, sente a fragilidade feminina e a incapacidade de lutar contra a crítica mal-intencionada, destruidora de sonhos e que atinge tanto os que transgridem os códigos sociais como as pessoas de bem

Deolinda, mulher divorciada, sente a fragilidade feminina e a incapacidade de lutar contra a crítica mal-intencionada, destruidora de sonhos e que atinge tanto os que transgridem os códigos sociais como as pessoas de bem. A crítica e a hipocrisia são impossíveis de conter e a autora pensa nunca ser possível viver numa sociedade isenta destes males que "todos os dias causam danos incalculáveis". De facto, a hipocrisia e a crítica social são afloradas em alguns dos contos, no entanto é na crónica O Carnaval da Época e a Época de Carnaval que a autora faz uma crítica clara e aberta à sociedade de Macau,

* Deolinda com marido e filho António, 1954

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a criticar o facto da maioria das pessoas usar uma máscara todos os dias para agredir os outros com a sua maldade e perfídia. Na época, não deve ter sido fácil a Deolinda, macaense, divorciada e casada pela segunda vez, afirmarse numa sociedade católica e que via o divórcio como algo de abjecto e condenável. Apesar de toda a amargura que podemos sentir na sua voz, quando fala da crítica e da hipocrisia, os relatos de colegas de trabalho e amigos, como Patrício Guterres e Adé dos Santos Ferreira, revelam admiração e apreço por uma mulher inteligente e instruída, que prestou um valioso contributo no campo das letras. 101


Deolinda da conceição

vidas, na esperança que uma mão caridosa lhes estenda um pedaço de pão ou uma moeda para comprar algo que lhes mitigue a fome. É neste cenário de desespero e profunda miséria que a solidariedade e a compaixão das gentes de Macau suaviza a vida dos inúmeros refugiados de guerra e de todos os que aqui procuram um refúgio que os abrigue e os afaste do trágico destino a que as tradições sociais os tinham votado. A mulher é a personagem central da maior parte dos contos: a mulher chinesa que sofre a discriminação e que tenta libertar-se da condição de inferioridade a que estava sujeita (concubinato, filho varão e venda das meninas); a mulher vítima da guerra que enlouquece de dor perante a impossibilidade de salvar os filhos da fome e da miséria; a mulher que, na sociedade fechada de Macau, tenta conquistar a sua liberdade e assumir-se em pé de igualdade com o homem, a nível profissional e social. Ao lermos a biografia da autora podemos concluir que ela própria, enquanto jornalista, escritora, professora e tradutora, participa activamente neste movimento emancipatório da mulher, tendo-se afirmado, a nível profissional, num meio exclusivamente masculino.

(¹) “A população de pouco mais de 200 mil almas passou, de repente, para mais de meio milhão”. (Botas, s/d: 25). 100

Deolinda, mulher divorciada, sente a fragilidade feminina e a incapacidade de lutar contra a crítica mal-intencionada, destruidora de sonhos e que atinge tanto os que transgridem os códigos sociais como as pessoas de bem

Deolinda, mulher divorciada, sente a fragilidade feminina e a incapacidade de lutar contra a crítica mal-intencionada, destruidora de sonhos e que atinge tanto os que transgridem os códigos sociais como as pessoas de bem. A crítica e a hipocrisia são impossíveis de conter e a autora pensa nunca ser possível viver numa sociedade isenta destes males que "todos os dias causam danos incalculáveis". De facto, a hipocrisia e a crítica social são afloradas em alguns dos contos, no entanto é na crónica O Carnaval da Época e a Época de Carnaval que a autora faz uma crítica clara e aberta à sociedade de Macau,

* Deolinda com marido e filho António, 1954

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a criticar o facto da maioria das pessoas usar uma máscara todos os dias para agredir os outros com a sua maldade e perfídia. Na época, não deve ter sido fácil a Deolinda, macaense, divorciada e casada pela segunda vez, afirmarse numa sociedade católica e que via o divórcio como algo de abjecto e condenável. Apesar de toda a amargura que podemos sentir na sua voz, quando fala da crítica e da hipocrisia, os relatos de colegas de trabalho e amigos, como Patrício Guterres e Adé dos Santos Ferreira, revelam admiração e apreço por uma mulher inteligente e instruída, que prestou um valioso contributo no campo das letras. 101


Deolinda da conceição

Macau é o "cantinho abençoado", um "oásis de paz", uma "terra privilegiada e de promissão", um "cantinho onde se podia desfrutar de uma relativa paz", de calma, sossego, beleza, encantamento e onde o silêncio das ruas é quebrado, de vez em quando, pela "buzina de um automóvel" ou pelo relógio que bate as 12 badaladas

Macau é o lugar de encontro com o outro, que provoca estranheza, atracção, aceitação e, não raras vezes, rejeição. São vários os casos de atracção pelo estrangeiro, contudo, destacamos o encontro entre o homem português, normalmente soldado, e a mulher chinesa e o convívio entre ambos, mesmo não dominando a língua um do outro e possuindo culturas tão diferentes. A mulher chinesa aparece submissa ao homem e desculpando-lhe atitudes que a magoam, pelo facto de não conhecer a sua cultura e acreditando que, talvez, no mundo dele as coisas sejam assim mesmo. No conto A Esmola retrata esta situação, ao dar-nos conta dos sentimentos do filho do casal que vive insatisfeito e se sente inferiorizado por não ter uma família normal e o seu ambiente familiar ser povoado 102

de atritos criados pelo conflito entre duas pessoas com vivências culturais raramente conciliáveis. O amor leva-nos, novamente, à mulher que ama, mas esse sentimento nobre provoca-lhe grande dor, traz-lhe sempre desgraça: o marido mata Chan Nui por ciúmes; Ling Fong é abandonada grávida; em Conflito de Sentimentos a personagem feminina é contra os "homens terem mais do que uma mulher", mas vê o seu sonho de felicidade arruinado a partir do momento em que o marido traz a primeria concunbina para casa; Sam Lei suicida-se quando o homem que ela ama decide casar com outra, entre muitos outros exemplos. O amor maternal é descrito de forma intensa e, perante o infortúnio dos filhos, a mulher-mãe ultrapassa-se a si mesma e é autora de actos de abnegação que lhe toldam

* Casal com a irmã Áurea num jantar no Leal Senado, 1955 revista MACAU · Junho 2013

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Deolinda da conceição

Macau é o "cantinho abençoado", um "oásis de paz", uma "terra privilegiada e de promissão", um "cantinho onde se podia desfrutar de uma relativa paz", de calma, sossego, beleza, encantamento e onde o silêncio das ruas é quebrado, de vez em quando, pela "buzina de um automóvel" ou pelo relógio que bate as 12 badaladas

Macau é o lugar de encontro com o outro, que provoca estranheza, atracção, aceitação e, não raras vezes, rejeição. São vários os casos de atracção pelo estrangeiro, contudo, destacamos o encontro entre o homem português, normalmente soldado, e a mulher chinesa e o convívio entre ambos, mesmo não dominando a língua um do outro e possuindo culturas tão diferentes. A mulher chinesa aparece submissa ao homem e desculpando-lhe atitudes que a magoam, pelo facto de não conhecer a sua cultura e acreditando que, talvez, no mundo dele as coisas sejam assim mesmo. No conto A Esmola retrata esta situação, ao dar-nos conta dos sentimentos do filho do casal que vive insatisfeito e se sente inferiorizado por não ter uma família normal e o seu ambiente familiar ser povoado 102

de atritos criados pelo conflito entre duas pessoas com vivências culturais raramente conciliáveis. O amor leva-nos, novamente, à mulher que ama, mas esse sentimento nobre provoca-lhe grande dor, traz-lhe sempre desgraça: o marido mata Chan Nui por ciúmes; Ling Fong é abandonada grávida; em Conflito de Sentimentos a personagem feminina é contra os "homens terem mais do que uma mulher", mas vê o seu sonho de felicidade arruinado a partir do momento em que o marido traz a primeria concunbina para casa; Sam Lei suicida-se quando o homem que ela ama decide casar com outra, entre muitos outros exemplos. O amor maternal é descrito de forma intensa e, perante o infortúnio dos filhos, a mulher-mãe ultrapassa-se a si mesma e é autora de actos de abnegação que lhe toldam

* Casal com a irmã Áurea num jantar no Leal Senado, 1955 revista MACAU · Junho 2013

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Deolinda da conceição

o olhar e a sujeitam a uma forte violência interior, conduzindo-a, não raro, à loucura. Deolinda da Conceição descreve de forma clara e muito sentida o ambiente da época, principalmente no que respeita aos sentimentos humanos. Num estudo feito com um grupo de alunos chineses sobre A Cabaia, os contos surpreenderam-nos pelo facto de não terem finais felizes e as vítimas serem quase sempre mulheres. Mesmo nos contos O Modelo e O Sonho de Cuai Mui o final só aparentemente é feliz porque, no primeiro caso, o acidente muda-lhe por completo a vida e obriga-a a abandonar o seu sonho e, no segundo, Cuai Mui ganha a lotaria quando está às portas da morte e acaba por morrer pouco depois de receber a notícia pela qual ansiou toda a vida. A linguagem clara e acessível, bem como o facto de tanto os contos como as crónicas serem textos breves, fazem com que em nosso entender possam ser abordados nas salas de aula, principalmente dos ensinos secundário e superior.

No centenário do seu nascimento prestamos o nosso singelo contributo a uma mulher que ultrapassou a crítica, que gela as almas e o coração e tolhe os sonhos e assumiu a sua condição de mulher que luta pela sua felicidade, que trouxe para as páginas dos jornais, de forma frontal, o debate sobre usos e costumes, a guerra e as suas consequências e a situação da mulher numa sociedade onde o homem se assume como ser superior e a mulher tem um papel secundário e de submissão ao pai e, mais tarde, ao marido.

Referências Bibliográficas

Conceição, D. (1995). Cheong-Sam – A cabaia. Macau, Instituto Cultural de Macau. Conceição, D. (1949) “A Mulher Moderna” in Jornal “Notícias de Macau”, 19 de Novembro de 1949. Gazeta Macaense. (23-091987). Evocação de Deolinda da Conceição. Disponível em http://www.arscives. com/deolindaconceicao/ depoimentos1.asp

Nos contos, Macau é descrito como uma cidade onde os extremos se tocam num dualismo carregado de branco e preto

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Deolinda da conceição

o olhar e a sujeitam a uma forte violência interior, conduzindo-a, não raro, à loucura. Deolinda da Conceição descreve de forma clara e muito sentida o ambiente da época, principalmente no que respeita aos sentimentos humanos. Num estudo feito com um grupo de alunos chineses sobre A Cabaia, os contos surpreenderam-nos pelo facto de não terem finais felizes e as vítimas serem quase sempre mulheres. Mesmo nos contos O Modelo e O Sonho de Cuai Mui o final só aparentemente é feliz porque, no primeiro caso, o acidente muda-lhe por completo a vida e obriga-a a abandonar o seu sonho e, no segundo, Cuai Mui ganha a lotaria quando está às portas da morte e acaba por morrer pouco depois de receber a notícia pela qual ansiou toda a vida. A linguagem clara e acessível, bem como o facto de tanto os contos como as crónicas serem textos breves, fazem com que em nosso entender possam ser abordados nas salas de aula, principalmente dos ensinos secundário e superior.

No centenário do seu nascimento prestamos o nosso singelo contributo a uma mulher que ultrapassou a crítica, que gela as almas e o coração e tolhe os sonhos e assumiu a sua condição de mulher que luta pela sua felicidade, que trouxe para as páginas dos jornais, de forma frontal, o debate sobre usos e costumes, a guerra e as suas consequências e a situação da mulher numa sociedade onde o homem se assume como ser superior e a mulher tem um papel secundário e de submissão ao pai e, mais tarde, ao marido.

Referências Bibliográficas

Conceição, D. (1995). Cheong-Sam – A cabaia. Macau, Instituto Cultural de Macau. Conceição, D. (1949) “A Mulher Moderna” in Jornal “Notícias de Macau”, 19 de Novembro de 1949. Gazeta Macaense. (23-091987). Evocação de Deolinda da Conceição. Disponível em http://www.arscives. com/deolindaconceicao/ depoimentos1.asp

Nos contos, Macau é descrito como uma cidade onde os extremos se tocam num dualismo carregado de branco e preto

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BAIRRO ARTÍSTICO DE PEQUIM

Um espaço onde cabem todas as artes

A arte é a magia libertada da mentira de ser verdadeira.” Era assim, com esta definição que o filósofo alemão Theodor Adorno classificava a arte. Em se tratando dessa matéria, a influência alemã em Pequim, mesmo que sem querer, acabou por virar referência. Passou dos vislumbres ideológicos comunistas de Mao ao que seria o futuro da indústria de base na China, para o mais famoso distrito de arte da capital, o 798 ou o Dashanzi. O local, um complexo de fábricas com arquitectura inspirada na escola de Bauhaus, foi construído no final da década de 1950, com ajuda do governo da Alemanha Oriental. Foram usados fundos destinados a União Soviética como reparação aos danos da Segunda Guerra Mundial e o bairro industrial foi idealizado para ser o exemplo da colaboração harmoniosa entre os países socialistas. No final da década de 1990, porém, com a sua progressiva desactivação, o complexo foi dando lugar a armazéns e espaços enormes vazios. Cenário que correspondia exactamente às expectativas de alguns professores e intelectuais da Academia Central de Belas Artes (CAFA): grandes espaços a preços módicos para abrigar o departamento de escultura da universidade. Não demorou muito para que grupos de artistas independentes fossem atraídos para o local, logo convertido em estúdios, lofts, residências e espaço das efervescências. O começo tímido gradualmente converteu-se em números significativos. No começo do ano de 2000, metade dos espaços das fábricas – aproximadamente 100 mil metros quadrados no total - já estavam alugados.

Com a firme proposta estampada já no nome, a AFA (Art For All) envereda nos meandros dos fios entrelaçados das influências culturais entre o mundo lusófono e o oriente. E orienta. Criou a plataforma e o ambiente para apresentar em Pequim, em pleno coração do 798, o bairro artístico da capital, a arte de Macau Texto Fernanda Ramone | Fotos Naomi Cassanelli, em Pequim

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Um espaço onde cabem todas as artes

A arte é a magia libertada da mentira de ser verdadeira.” Era assim, com esta definição que o filósofo alemão Theodor Adorno classificava a arte. Em se tratando dessa matéria, a influência alemã em Pequim, mesmo que sem querer, acabou por virar referência. Passou dos vislumbres ideológicos comunistas de Mao ao que seria o futuro da indústria de base na China, para o mais famoso distrito de arte da capital, o 798 ou o Dashanzi. O local, um complexo de fábricas com arquitectura inspirada na escola de Bauhaus, foi construído no final da década de 1950, com ajuda do governo da Alemanha Oriental. Foram usados fundos destinados a União Soviética como reparação aos danos da Segunda Guerra Mundial e o bairro industrial foi idealizado para ser o exemplo da colaboração harmoniosa entre os países socialistas. No final da década de 1990, porém, com a sua progressiva desactivação, o complexo foi dando lugar a armazéns e espaços enormes vazios. Cenário que correspondia exactamente às expectativas de alguns professores e intelectuais da Academia Central de Belas Artes (CAFA): grandes espaços a preços módicos para abrigar o departamento de escultura da universidade. Não demorou muito para que grupos de artistas independentes fossem atraídos para o local, logo convertido em estúdios, lofts, residências e espaço das efervescências. O começo tímido gradualmente converteu-se em números significativos. No começo do ano de 2000, metade dos espaços das fábricas – aproximadamente 100 mil metros quadrados no total - já estavam alugados.

Com a firme proposta estampada já no nome, a AFA (Art For All) envereda nos meandros dos fios entrelaçados das influências culturais entre o mundo lusófono e o oriente. E orienta. Criou a plataforma e o ambiente para apresentar em Pequim, em pleno coração do 798, o bairro artístico da capital, a arte de Macau Texto Fernanda Ramone | Fotos Naomi Cassanelli, em Pequim

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BAIRRO ARTÍSTICO DE PEQUIM

Dashanzi não cabe em si Dashanzi há tempos que é um dos bairros exponenciais de arte em Pequim, mas nem todos os seus edifícios foram ocupados para este fim. A área conserva ainda algumas poucas indústrias em funcionamento, que juntamente com a arquitectura que deixa tubos de metais e ductos com vapores à mostra proporcionam ao ambiente todo um efeito especial. A efervescência que se desprende de lugares não esperados, a ebulição criativa que encontra nos tijolos vermelhos, nos parapeitos, nas frestas, nos vãos, o palco para qualquer apresentação. É lá o único lugar permitido de toda uma Pequim para os grafites, os adesivos, as intervenções, o street art. Não há parcimónias: alternativos, independentes, renomados, punk, bossa, rock’n’roll. Cabem todos em Dashanzi. Porque para além de artístico, Dashanzi está na moda. E também vive da moda. É reduto para desfiles da marca

francesa Dior, ou simplesmente para sessões fotográficas para catálogos publicitários. É a passarela e o cenário de fundo para muitas fotos de casais de noivos chineses. Dashanzi é itinerante, o calendário não acompanha todas as mostras, inaugurações e festivais. Dashanzi pulsa no ritmo frenético das batidas electrónicas de festas memoráveis que duram dias e atraem multidões. Dashanzi é arte, é moda, é música, é comportamento e é história. O bairro não cabe em si, ultrapassou as barreiras das possíveis definições. Sendo também um dos tantos pontos turísticos de Pequim, a dificuldade do turista é de enquadrar tudo isso na foto. Mesmo com os ajustes, é preciso ainda focar no panorama multicultural (das galerias, dos artistas e do público) e torcer para que os megapixéis de uma imagem consigam estampar bem todo esta experiência. De decadente, o 798 passou a ser o ponto mais in de Pequim. Há pelo menos quatro anos o bairro

conquistou de vez e trouxe para o seu entorno planos de reurbanização. Cresceu e influenciou a dinâmica de um bairro tido como subúrbio. Com o plano do Governo em acção, abriram-se novos espaços para escritórios, prédios e mais prédios a perder de vista para comportar empresas de design, arte, arquitectura, tecnologia. O 798 entrou para o mapa da cidade como o bairro das artes e das inovações criativas.

Arte para todos Com a firme proposta estampada já no nome, a AFA inclui a arte em todas as suas formas e para todos. Celebra há cinco anos em Macau e três em Pequim a jornada dupla e ilimitada de um vai-e-vem de intercâmbios culturais. Instalação, vídeo-arte, escultura e pinturas criam o universo do espaço. Até Janeiro deste ano, a artista de Macau Bianca Lei fez as honras da casa. Teve em exposição todos os exponentes da sua arte, que brinca com o pintar, o unir, o

intercalar, a sobrecarregar com o mais alvo branco os elementos. Unindo arte e espaço numa surpreendente ilusão de óptica e trazendo o público para dentro da sua obra. A instalação a priori passava a impressão de se estar a flutuar no centro da sala. A leveza que gera a dúvida nos faz adentrar ali para o meio, e assim, nós também viramos arte. Muito para ver, muito por vir, garante Judi Li, responsável pela AFA em Pequim. Num rápido panorama das exibições já realizadas, faz considerações acerca da receptividade do público chinês para com a arte de Macau. Não é fácil assentar num mercado competitivo. Os chineses são conhecidos pelo forte senso nacionalista e são ainda conservadores em relação à compra de obras de artistas internacionais pouco conhecidos. Ainda assim, Judi Li traça a receptividade para com os artistas de Macau em geral - apontando, por exemplo, observações interessantes dos chineses que visitam as

O local, um complexo de fábricas com arquitectura inspirada na escola de Bauhaus, foi construído no final da década de 1950, com ajuda do governo da Alemanha Oriental. Foram usados fundos destinados a União Soviética como reparação aos danos da Segunda Guerra Mundial e o bairro industrial foi idealizado para ser o exemplo da colaboração harmoniosa entre os países socialistas

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Dashanzi não cabe em si Dashanzi há tempos que é um dos bairros exponenciais de arte em Pequim, mas nem todos os seus edifícios foram ocupados para este fim. A área conserva ainda algumas poucas indústrias em funcionamento, que juntamente com a arquitectura que deixa tubos de metais e ductos com vapores à mostra proporcionam ao ambiente todo um efeito especial. A efervescência que se desprende de lugares não esperados, a ebulição criativa que encontra nos tijolos vermelhos, nos parapeitos, nas frestas, nos vãos, o palco para qualquer apresentação. É lá o único lugar permitido de toda uma Pequim para os grafites, os adesivos, as intervenções, o street art. Não há parcimónias: alternativos, independentes, renomados, punk, bossa, rock’n’roll. Cabem todos em Dashanzi. Porque para além de artístico, Dashanzi está na moda. E também vive da moda. É reduto para desfiles da marca

francesa Dior, ou simplesmente para sessões fotográficas para catálogos publicitários. É a passarela e o cenário de fundo para muitas fotos de casais de noivos chineses. Dashanzi é itinerante, o calendário não acompanha todas as mostras, inaugurações e festivais. Dashanzi pulsa no ritmo frenético das batidas electrónicas de festas memoráveis que duram dias e atraem multidões. Dashanzi é arte, é moda, é música, é comportamento e é história. O bairro não cabe em si, ultrapassou as barreiras das possíveis definições. Sendo também um dos tantos pontos turísticos de Pequim, a dificuldade do turista é de enquadrar tudo isso na foto. Mesmo com os ajustes, é preciso ainda focar no panorama multicultural (das galerias, dos artistas e do público) e torcer para que os megapixéis de uma imagem consigam estampar bem todo esta experiência. De decadente, o 798 passou a ser o ponto mais in de Pequim. Há pelo menos quatro anos o bairro

conquistou de vez e trouxe para o seu entorno planos de reurbanização. Cresceu e influenciou a dinâmica de um bairro tido como subúrbio. Com o plano do Governo em acção, abriram-se novos espaços para escritórios, prédios e mais prédios a perder de vista para comportar empresas de design, arte, arquitectura, tecnologia. O 798 entrou para o mapa da cidade como o bairro das artes e das inovações criativas.

Arte para todos Com a firme proposta estampada já no nome, a AFA inclui a arte em todas as suas formas e para todos. Celebra há cinco anos em Macau e três em Pequim a jornada dupla e ilimitada de um vai-e-vem de intercâmbios culturais. Instalação, vídeo-arte, escultura e pinturas criam o universo do espaço. Até Janeiro deste ano, a artista de Macau Bianca Lei fez as honras da casa. Teve em exposição todos os exponentes da sua arte, que brinca com o pintar, o unir, o

intercalar, a sobrecarregar com o mais alvo branco os elementos. Unindo arte e espaço numa surpreendente ilusão de óptica e trazendo o público para dentro da sua obra. A instalação a priori passava a impressão de se estar a flutuar no centro da sala. A leveza que gera a dúvida nos faz adentrar ali para o meio, e assim, nós também viramos arte. Muito para ver, muito por vir, garante Judi Li, responsável pela AFA em Pequim. Num rápido panorama das exibições já realizadas, faz considerações acerca da receptividade do público chinês para com a arte de Macau. Não é fácil assentar num mercado competitivo. Os chineses são conhecidos pelo forte senso nacionalista e são ainda conservadores em relação à compra de obras de artistas internacionais pouco conhecidos. Ainda assim, Judi Li traça a receptividade para com os artistas de Macau em geral - apontando, por exemplo, observações interessantes dos chineses que visitam as

O local, um complexo de fábricas com arquitectura inspirada na escola de Bauhaus, foi construído no final da década de 1950, com ajuda do governo da Alemanha Oriental. Foram usados fundos destinados a União Soviética como reparação aos danos da Segunda Guerra Mundial e o bairro industrial foi idealizado para ser o exemplo da colaboração harmoniosa entre os países socialistas

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exposições, como a sensibilidade em identificar a formação ou influência internacional expressa na arte de muitos. Os visitantes locais apontam ainda a maior desenvoltura, a liberdade estética do processo e da própria criação dos artistas de Macau, que parecem ser guiados pelas inspirações ou aspirações artísticas sem estarem presos ao compromisso de produzir obras tidas como comerciais. A preocupação comercial, entretanto, aos poucos vai mudando, acompanhando a velocidade característica das transformações chinesas. Judi Li observa as graduais mudanças, inclusive no perfil dos compradores chineses de arte. É capaz de traçar diferenças entre os diferentes residentes da China. Os de Pequim, por exemplo, “são os mais tradicionais, mas aos poucos iniciam-se na arte de adquirir arte contemporânea estrangeira”. Já os naturais de Xangai “são menos moderados”, enquanto que os de Hong Kong, Taiwan e Macau são vistos por Judi Li como “os mais liberais e assíduos na hora de comprar”. Presente e actuante, é também em participações nas principais feiras de arte que a AFA conquista o seu espaço, armazena sabedoria, acumula experiências e promove encantamentos pela sensibilidade dos seus artistas. Foi assim durante a passagem memorável de Fortes Pakeong Sequeira na Feira de Arte de Pequim, em 2010. A performance ao vivo fez brotar em quem por ali passasse o deslumbramento do mundo quase onírico dos desenhos concebidos pelo jovem artista. Outro indicador relevante é o reconhecimento do público chinês para com alguns artistas já de renome em Macau. Entre as exposições de maior êxito realizadas na AFA nestes dois últimos anos, destacam-se as de Carlos Marreiros, Konstantin Bessmertny e José Drummond. Em termos de indicadores, o mercado de arte na China surpreende mesmo os especialistas. Em Novembro de 2012, por exemplo, a casa de leilões mais antiga do País, a China Guardian, fez uma estreia impressionante em Hong Kong. Atingiu o marco de 455 milhões de dólares de Hong Kong em vendas, mais do que o dobro de sua estimativa máxima. O evento contou com a presença de 20 dos maiores compradores chineses, além de grandes coleccionadores de Hong Kong. A região vizinha à Macau foi o local 110

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escolhido para sediar o evento não para alcançar um novo mercado, mas para oferecer um valor mais amigável aos clientes da China, longe das complexas taxas de vendas e inspecção que configura o cenário leiloeiro do Interior do País. O lote era composto por pinturas modernas tradicionais chinesas. O grande desafio no mercado da arte contemporânea chinesa é justamente conquistar este público tido como mais conservador. A Guardian ocupa o quarto lugar no ranking das maiores casas de leilões do mundo, atrás da Poly Auctions (terceiro), Christie’s (segundo) e da Sotheby’s (líder do sector).

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exposições, como a sensibilidade em identificar a formação ou influência internacional expressa na arte de muitos. Os visitantes locais apontam ainda a maior desenvoltura, a liberdade estética do processo e da própria criação dos artistas de Macau, que parecem ser guiados pelas inspirações ou aspirações artísticas sem estarem presos ao compromisso de produzir obras tidas como comerciais. A preocupação comercial, entretanto, aos poucos vai mudando, acompanhando a velocidade característica das transformações chinesas. Judi Li observa as graduais mudanças, inclusive no perfil dos compradores chineses de arte. É capaz de traçar diferenças entre os diferentes residentes da China. Os de Pequim, por exemplo, “são os mais tradicionais, mas aos poucos iniciam-se na arte de adquirir arte contemporânea estrangeira”. Já os naturais de Xangai “são menos moderados”, enquanto que os de Hong Kong, Taiwan e Macau são vistos por Judi Li como “os mais liberais e assíduos na hora de comprar”. Presente e actuante, é também em participações nas principais feiras de arte que a AFA conquista o seu espaço, armazena sabedoria, acumula experiências e promove encantamentos pela sensibilidade dos seus artistas. Foi assim durante a passagem memorável de Fortes Pakeong Sequeira na Feira de Arte de Pequim, em 2010. A performance ao vivo fez brotar em quem por ali passasse o deslumbramento do mundo quase onírico dos desenhos concebidos pelo jovem artista. Outro indicador relevante é o reconhecimento do público chinês para com alguns artistas já de renome em Macau. Entre as exposições de maior êxito realizadas na AFA nestes dois últimos anos, destacam-se as de Carlos Marreiros, Konstantin Bessmertny e José Drummond. Em termos de indicadores, o mercado de arte na China surpreende mesmo os especialistas. Em Novembro de 2012, por exemplo, a casa de leilões mais antiga do País, a China Guardian, fez uma estreia impressionante em Hong Kong. Atingiu o marco de 455 milhões de dólares de Hong Kong em vendas, mais do que o dobro de sua estimativa máxima. O evento contou com a presença de 20 dos maiores compradores chineses, além de grandes coleccionadores de Hong Kong. A região vizinha à Macau foi o local 110

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escolhido para sediar o evento não para alcançar um novo mercado, mas para oferecer um valor mais amigável aos clientes da China, longe das complexas taxas de vendas e inspecção que configura o cenário leiloeiro do Interior do País. O lote era composto por pinturas modernas tradicionais chinesas. O grande desafio no mercado da arte contemporânea chinesa é justamente conquistar este público tido como mais conservador. A Guardian ocupa o quarto lugar no ranking das maiores casas de leilões do mundo, atrás da Poly Auctions (terceiro), Christie’s (segundo) e da Sotheby’s (líder do sector).

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BAIRRO ARTÍSTICO DE PEQUIM

Judi Li, responsável pela AFA em Pequim, traça a receptividade para com os artistas de Macau em geral - apontando, por exemplo, observações interessantes dos chineses que visitam as exposições, como a sensibilidade em identificar a formação ou influência internacional expressa na arte de muitos

Transposições de movimento e miscigenações É interessante perceber que os intervalos periódicos entre os três fenómenos de público - Carlos Marreiros, Konstantin Bessmertny e José Drummond - e a proposta dos três artistas permeiam o caminho investigativo da AFA: o de trilhar o diálogo entre as referências culturais através de heranças de processos de grandes movimentações e miscigenações. A transposição ultrapassa os limites geográficos no exercício de acomodar Portugal, Macau e China, e vice-versa, nas galerias. E aproxima mundos, universos e referências tidos como tão díspares a um denominador comum, o olhar e as motivações humanas. Estas não apresentam fronteiras, nem idiomas; são planas, encontramse e baseiam-se nas afinidades e nas vontades. Do encontro das afinidades e vontades criam-se espaços para estimular tudo o que ainda não tem forma, nem cor, mas onde habitam as intenções de criações que devem materializar-se. E para isso há o laboratório mágico, as residências artísticas da AFA. Bem-sucedida em Macau, e prestes a abrir novo endereço em Pequim, as residências artísticas dão continuidade aos diálogos e conexões, seguindo e incluindo outras esferas de abrangência. O próximo passo para a AFA é trazer para perto e para todos a reflexão dos aspectos da arte - cumprindo a missão da galeria de Macau em oferecer a arte para todos. 112

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Judi Li, responsável pela AFA em Pequim, traça a receptividade para com os artistas de Macau em geral - apontando, por exemplo, observações interessantes dos chineses que visitam as exposições, como a sensibilidade em identificar a formação ou influência internacional expressa na arte de muitos

Transposições de movimento e miscigenações É interessante perceber que os intervalos periódicos entre os três fenómenos de público - Carlos Marreiros, Konstantin Bessmertny e José Drummond - e a proposta dos três artistas permeiam o caminho investigativo da AFA: o de trilhar o diálogo entre as referências culturais através de heranças de processos de grandes movimentações e miscigenações. A transposição ultrapassa os limites geográficos no exercício de acomodar Portugal, Macau e China, e vice-versa, nas galerias. E aproxima mundos, universos e referências tidos como tão díspares a um denominador comum, o olhar e as motivações humanas. Estas não apresentam fronteiras, nem idiomas; são planas, encontramse e baseiam-se nas afinidades e nas vontades. Do encontro das afinidades e vontades criam-se espaços para estimular tudo o que ainda não tem forma, nem cor, mas onde habitam as intenções de criações que devem materializar-se. E para isso há o laboratório mágico, as residências artísticas da AFA. Bem-sucedida em Macau, e prestes a abrir novo endereço em Pequim, as residências artísticas dão continuidade aos diálogos e conexões, seguindo e incluindo outras esferas de abrangência. O próximo passo para a AFA é trazer para perto e para todos a reflexão dos aspectos da arte - cumprindo a missão da galeria de Macau em oferecer a arte para todos. 112

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Convenção Internacional de Académicos da Ásia (ICAS 8)

E

sta é “uma oportunidade rara de reunir os maiores cérebros do mundo para explorar os problemas locais e globais. Será uma grande revelação para o público de Macau, uma experiência que vai mudar a nossa visão e mentalidade”, disse à revista MACAU Tak-Wing Ngo, professor de Ciência Política na Universidade de Macau e secretário-geral do comité de organização da 8.ª Convenção Internacional de Académicos da Ásia (ICAS8, na sigla inglesa). Espera-se que cerca de 1200 investigadores e académicos provenientes de 56 países e de 600 instituições de ensino superior e institutos de pesquisa dos mais prestigiados do mundo participem no evento, com o objectivo de revelarem trabalhos científicos descrevendo conclusões ou “os avanços mais recentes nas suas pesquisas”, acrescentou Tak-Wing Ngo. O programa, para já, abrange 350 painéis de discussão e prevê que decorram 25 sessões em simultâneo. O evento tem como instituições anfitriães a Universidade de Macau (UM) e a Fundação Macau, que partilham os custos das operações. A série de conferências está orçada em seis milhões de patacas, custo que deverá ser coberto pelos patrocinadores e pelas taxas de inscrição dos participantes. Para marcar a abertura do congresso será oferecida uma recepção aos participantes no dia 24 de Junho, presidida pelo reitor da UM, Wei Zhao, o presidente do Conselho de Administração da Fundação Macau, Wu Zhiliang, assim como por Philippe Peycam, director da ICAS, com sede em Leiden, na Holanda, no International Institute for Asian Studies (IIAS), que é a instituição mentora da ICAS.

Todos os caminhos vão dar a Macau Texto Cláudia Aranda | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

Macau vai acolher o maior evento académico alguma vez realizado na cidade e tornar-se, durante quatro dias, centro de conhecimento e ponto de encontro de especialistas de renome mundial em estudos asiáticos. Trata-se da 8.ª Convenção Internacional de Académicos da Ásia (ICAS 8) e acontece entre 24 e 27 de Junho, no Venetian Macau 114

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sta é “uma oportunidade rara de reunir os maiores cérebros do mundo para explorar os problemas locais e globais. Será uma grande revelação para o público de Macau, uma experiência que vai mudar a nossa visão e mentalidade”, disse à revista MACAU Tak-Wing Ngo, professor de Ciência Política na Universidade de Macau e secretário-geral do comité de organização da 8.ª Convenção Internacional de Académicos da Ásia (ICAS8, na sigla inglesa). Espera-se que cerca de 1200 investigadores e académicos provenientes de 56 países e de 600 instituições de ensino superior e institutos de pesquisa dos mais prestigiados do mundo participem no evento, com o objectivo de revelarem trabalhos científicos descrevendo conclusões ou “os avanços mais recentes nas suas pesquisas”, acrescentou Tak-Wing Ngo. O programa, para já, abrange 350 painéis de discussão e prevê que decorram 25 sessões em simultâneo. O evento tem como instituições anfitriães a Universidade de Macau (UM) e a Fundação Macau, que partilham os custos das operações. A série de conferências está orçada em seis milhões de patacas, custo que deverá ser coberto pelos patrocinadores e pelas taxas de inscrição dos participantes. Para marcar a abertura do congresso será oferecida uma recepção aos participantes no dia 24 de Junho, presidida pelo reitor da UM, Wei Zhao, o presidente do Conselho de Administração da Fundação Macau, Wu Zhiliang, assim como por Philippe Peycam, director da ICAS, com sede em Leiden, na Holanda, no International Institute for Asian Studies (IIAS), que é a instituição mentora da ICAS.

Todos os caminhos vão dar a Macau Texto Cláudia Aranda | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

Macau vai acolher o maior evento académico alguma vez realizado na cidade e tornar-se, durante quatro dias, centro de conhecimento e ponto de encontro de especialistas de renome mundial em estudos asiáticos. Trata-se da 8.ª Convenção Internacional de Académicos da Ásia (ICAS 8) e acontece entre 24 e 27 de Junho, no Venetian Macau 114

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Tratando-se de um evento de renome mundial estamos convictos que o mesmo atrairá académicos de reconhecimento internacional na área dos estudos da Ásia, promovendo internamente a investigação nesta área e externamente o nome de Macau e da sua universidade."

Rui Martins

De acordo com o vice-reitor da UM, Rui Martins, o apoio desta universidade à conferência ICAS 8 “insere-se na estratégia de internacionalização da UMAC, em particular da sua Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e do seu Departamento de Administração Pública, que coordena a sua organização. “Tratandose de um evento de renome mundial estamos convictos que o mesmo atrairá académicos de reconhecimento internacional na área dos estudos da Ásia, promovendo internamente a investigação nesta área e externamente o nome de Macau e da sua universidade nesta nova era da vida da UM, que se inicia com a transferência para o novo campus da Ilha da Montanha (Hengqin).” Outras universidades e institutos de investigação da RAEM, tais como a Universidade de São José (USJ), a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), o Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), entre outros, “têm tomado parte activa no evento”, referiu Tak-Wing Ngo, que é, também, director do Centro para a Regulação e Governação do IIAS. “Este nível de cooperação entre as instituições de ensino superior não tem precedentes em Macau”, apontou Tak-Wing Ngo, que acredita que a organização bem-sucedida de um evento académico organizado em tão grande escala e a tão alto nível “irá aumentar significativamente as credenciais académicas das universidades locais, e estabelecer um novo parâmetro para futuros empreendimentos académicos”.

Participação recorde Os Estados Unidos são a origem de grande parte dos investigadores que vêm participar na ICAS 8. Seguem-se o Japão, República Popular da China, Hong Kong, Austrália, Índia e Alemanha, logo sucedida por Macau. São cerca de 80 os investigadores da RAEM que vão apresentar os seus trabalhos distribuídos por 20 painéis diferentes. “Creio ser um recorde”, afirmou Tak-Wing Ngo. Além das instituições de ensino superior já referidas, vão participar investigadores também do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e do Instituto Internacional de Macau (IIM). 116

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Este evento pode ter um grande impacto na vida científica e académica dos investigadores de Macau." Émilie Tran

A oportunidade de apresentar e discutir investigações a académicos de outros países é um dos aspectos mais úteis apontados pelos participantes enquanto motivação para se inscreverem num evento de escala mundial como este. Para Émilie Tran, directora da Faculdade de Ciências Empresariais, Governação e Trabalho Social da USJ, que participa na ICAS 8 enquanto moderadora de um painel e autora de dois artigos científicos, este evento pode ter “um grande impacto na vida científica e académica dos investigadores de Macau”, já que o trabalho de pesquisa é sujeito a “uma exposição pública mundial com um alcance muito grande”. Geralmente, “o problema maior de uma participação nossa numa conferência científica de alto nível é o custo da deslocação e da estadia. Às vezes, o custo da própria inscrição é também muito elevado”, referiu José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), que participa como moderador e autor de dois artigos. Mas, no caso www.revistamacau.com

da ICAS 8, “criou-se uma oportunidade imensa para os investigadores de Macau poderem participar num evento de grande dimensão sem terem que se deslocar”. Devido à enorme escala do evento existe o risco, no entanto, de nem todos os académicos “conseguirem uma grande audiência”. Mas, esse, sublinhou José Luís Sales Marques, “não será, por si mesmo, um problema de maior se depois houver oportunidade de publicação dos trabalhos científicos”. Publicar os resultados das pesquisas é o objectivo da maioria dos investigadores, sublinhou José Luís Sales Marques, que juntamente com outros especialistas integra um dos painéis de discussão sobre a relevância de Macau nas relações da China com os países de língua portuguesa. Este painel vai ser dedicado precisamente à divulgação dos resultados de um projecto de investigação mais vasto, “Uma Análise da Fórmula ‘Um país, Dois Sistemas’: O Papel de Macau nas Relações da China com a UE e os Países de Língua Portuguesa”, que tem como coordenadora Carmen Amado Mendes, da Universidade de Coimbra. Os resultados preliminares do projecto foram já publicados na revista científica portuguesa Nação e Defesa. Seguir-se-á um livro contendo os contributos de toda a equipa, mas que só deverá ser publicado depois de “incorporados os comentários recebidos na ICAS”, explicou a investigadora. Por isso mesmo, Carmen 117


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Tratando-se de um evento de renome mundial estamos convictos que o mesmo atrairá académicos de reconhecimento internacional na área dos estudos da Ásia, promovendo internamente a investigação nesta área e externamente o nome de Macau e da sua universidade."

Rui Martins

De acordo com o vice-reitor da UM, Rui Martins, o apoio desta universidade à conferência ICAS 8 “insere-se na estratégia de internacionalização da UMAC, em particular da sua Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e do seu Departamento de Administração Pública, que coordena a sua organização. “Tratandose de um evento de renome mundial estamos convictos que o mesmo atrairá académicos de reconhecimento internacional na área dos estudos da Ásia, promovendo internamente a investigação nesta área e externamente o nome de Macau e da sua universidade nesta nova era da vida da UM, que se inicia com a transferência para o novo campus da Ilha da Montanha (Hengqin).” Outras universidades e institutos de investigação da RAEM, tais como a Universidade de São José (USJ), a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), o Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), entre outros, “têm tomado parte activa no evento”, referiu Tak-Wing Ngo, que é, também, director do Centro para a Regulação e Governação do IIAS. “Este nível de cooperação entre as instituições de ensino superior não tem precedentes em Macau”, apontou Tak-Wing Ngo, que acredita que a organização bem-sucedida de um evento académico organizado em tão grande escala e a tão alto nível “irá aumentar significativamente as credenciais académicas das universidades locais, e estabelecer um novo parâmetro para futuros empreendimentos académicos”.

Participação recorde Os Estados Unidos são a origem de grande parte dos investigadores que vêm participar na ICAS 8. Seguem-se o Japão, República Popular da China, Hong Kong, Austrália, Índia e Alemanha, logo sucedida por Macau. São cerca de 80 os investigadores da RAEM que vão apresentar os seus trabalhos distribuídos por 20 painéis diferentes. “Creio ser um recorde”, afirmou Tak-Wing Ngo. Além das instituições de ensino superior já referidas, vão participar investigadores também do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e do Instituto Internacional de Macau (IIM). 116

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Este evento pode ter um grande impacto na vida científica e académica dos investigadores de Macau." Émilie Tran

A oportunidade de apresentar e discutir investigações a académicos de outros países é um dos aspectos mais úteis apontados pelos participantes enquanto motivação para se inscreverem num evento de escala mundial como este. Para Émilie Tran, directora da Faculdade de Ciências Empresariais, Governação e Trabalho Social da USJ, que participa na ICAS 8 enquanto moderadora de um painel e autora de dois artigos científicos, este evento pode ter “um grande impacto na vida científica e académica dos investigadores de Macau”, já que o trabalho de pesquisa é sujeito a “uma exposição pública mundial com um alcance muito grande”. Geralmente, “o problema maior de uma participação nossa numa conferência científica de alto nível é o custo da deslocação e da estadia. Às vezes, o custo da própria inscrição é também muito elevado”, referiu José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), que participa como moderador e autor de dois artigos. Mas, no caso www.revistamacau.com

da ICAS 8, “criou-se uma oportunidade imensa para os investigadores de Macau poderem participar num evento de grande dimensão sem terem que se deslocar”. Devido à enorme escala do evento existe o risco, no entanto, de nem todos os académicos “conseguirem uma grande audiência”. Mas, esse, sublinhou José Luís Sales Marques, “não será, por si mesmo, um problema de maior se depois houver oportunidade de publicação dos trabalhos científicos”. Publicar os resultados das pesquisas é o objectivo da maioria dos investigadores, sublinhou José Luís Sales Marques, que juntamente com outros especialistas integra um dos painéis de discussão sobre a relevância de Macau nas relações da China com os países de língua portuguesa. Este painel vai ser dedicado precisamente à divulgação dos resultados de um projecto de investigação mais vasto, “Uma Análise da Fórmula ‘Um país, Dois Sistemas’: O Papel de Macau nas Relações da China com a UE e os Países de Língua Portuguesa”, que tem como coordenadora Carmen Amado Mendes, da Universidade de Coimbra. Os resultados preliminares do projecto foram já publicados na revista científica portuguesa Nação e Defesa. Seguir-se-á um livro contendo os contributos de toda a equipa, mas que só deverá ser publicado depois de “incorporados os comentários recebidos na ICAS”, explicou a investigadora. Por isso mesmo, Carmen 117


átrio

Amado Mendes descreveu esta conferência como “uma oportunidade rara” para divulgar os resultados do projecto. “O facto de ser uma conferência desta dimensão e com vários painéis simultâneos tem a grande vantagem de permitir que se concentrem na mesma sala especialistas das mais variadas proveniências interessados em temas bastante específicos que, de outra forma, dificilmente poderiam partilhar opiniões ou mesmo conhecer o trabalho de investigação uns dos outros.”

Informação prática A Convenção Internacional de Académicos da Ásia (ICAS) foi fundada em 1997 enquanto plataforma para os representantes da academia e da sociedade civil se dedicarem ao estudo de questões críticas para a Ásia e, por implicação, para o resto do mundo. Macau acolhe a oitava edição da convenção que se realiza cada dois anos. As anteriores edições aconteceram em Honolulu (2011), Daejeon, na Coreia do Sul (2009), Kuala Lumpur (2007), Xangai (2005), Singapura (2003), Berlim (2001), e Leiden(1998). A média de participação tem variado entre os 1250 e os 5000 académicos, tendo sido o Havaí quem atraiu mais participantes até agora. A organização vai ainda levar a cabo a 5.ª edição do ICAS Book Prize (IBP) é celebrada, que atribui prémios ao Melhor Estudo em Humanidades, Melhor Estudo em Ciências Sociais, Melhor Dissertação em Humanidades, Melhor Dissertação em Ciências Sociais e ainda a Escolha dos Colegas.

* Carmen Amado, Universidade de Coimbra

Macau no mapa Os painéis e trabalhos científicos foram seleccionados por dois comités de selecção, um deles responsável pela organização dos painéis e mesas-redondas, o outro pela selecção dos trabalhos individuais, sob a supervisão da sede da ICAS, na Holanda. Os critérios de escolha incluíram a importância e relevância dos tópicos de investigação, a inovação dos temas, e a coerência dos trabalhos no contexto do painel. “A selecção foi uma tarefa difícil e não faltaram debates durante o processo”, contou o professor Tak-Wing Ngo. Os participantes não têm que estar necessariamente ligados a uma universidade. Embora, “a maioria das pessoas que apresenta trabalhos científicos sejam académicos, também temos curadores de museus, diplomatas, detentores de cargos em organizações não-governamentais (ONGs) e jornalistas. Não estabelecemos qualquer exigência nas qualificações académicas. As inscrições foram julgadas principalmente pelo seu mérito científico”. Ainda assim, 85 por cento dos participantes são professores universitários com doutoramento, os restantes são estudantes de doutoramento e pessoas sem ligação académica. Tak-Wing Ngo acredita que a ICAS vai trazer novos conhecimentos e perspectivas para Macau, através do intercâmbio com investigadores de nível mundial. Este evento é também uma oportunidade para Macau afirmar-se enquanto destino preferencial para a organização de reuniões, convenções e exposições e consolidar-

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Criou-se uma oportunidade imensa para os investigadores de Macau poderem participar num evento de grande dimensão sem terem que se deslocar." josé luís sales marques

revista MACAU · Junho 2013

se na indústria emergente do MICE (sigla em inglês para Meetings, Incentives, Conventions and Exhibitions). É importante “mostrar à comunidade académica internacional a relevância de Macau na criação de conhecimento e na sua divulgação. Muitos dos participantes são académicos seniores com influência significativa nos seus países. Eles vão levar consigo a experiência de Macau e contribuir para promover a região no resto do mundo”, concluiu o professor Tak-Wing Ngo. Esta é também a opinião de José Luís Sales Marques, que acredita que Macau tem condições para se tornar num centro de conhecimento de relevância no mundo. A cidade “tem grande capital de simpatia”, que é resultante de aspectos culturais, urbanístico e de outros. “As próprias instituições académicas, que são jovens, que têm vontade de fazer coisas, e que se houvesse uma estratégia mais global e uma estratégia acertada sobre essa matéria, de certeza que iam todas pegar nessas ideias e desenvolver projectos que, no fundo, acabam por colocar Macau no mapa de uma maneira diferente e que ajudam a prestigiar a região”, concluiu o presidente do IEEM.

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Pacote Diário US$ 80 / MOP 640 (com direito de admissão a todos os painéis do dia em questão). O registo pode ser feito directamente no Venetian Macau Resort Hotel, no Cotai.

Idioma Inglês

Actividades abertas à comunidade

• Sessões de cinema com mais de 20 documentários e filmes de curta duração sobre vários temas asiáticos, seleccionados e apresentados pela Asian Educational Media Service da Universidade de Illinois. • Exposição cultural com uma apresentação fotográfica itinerante, que inclui textos, mapas e relíquias sob o tema "O Islão, Comércio e Política através do Oceano Índico", preparada pela British Library and British Academy. • Performance cultural multimédia, que combina música e leituras dramáticas, assim como a projecção de imagens digitais do mapa mundo de 1602 feito por Matteo Ricci, recordando o intercâmbio cultural entre jesuítas italianos e chineses cultos na China do século XVII. O tema é "O Mapa e música de Matteo Ricci" e combina trechos de música italiana, contemporânea de Ricci, e música tradicional chinesa, assim como composições modernas, executados pelo conjunto ¡Sacabuche! da Escola de Música de Jacobs, da Universidade de Indiana. • Feira do Livro - editoras internacionais e de Macau, e editoras associadas a universidades foram convidadas a fazerem-se representar em stands durante os quatro dias de convenção e a juntarem-se a uma feira do livro. Esta é a maior em termos de edições académicas e universitárias alguma vez realizada em Macau. 119


átrio

Amado Mendes descreveu esta conferência como “uma oportunidade rara” para divulgar os resultados do projecto. “O facto de ser uma conferência desta dimensão e com vários painéis simultâneos tem a grande vantagem de permitir que se concentrem na mesma sala especialistas das mais variadas proveniências interessados em temas bastante específicos que, de outra forma, dificilmente poderiam partilhar opiniões ou mesmo conhecer o trabalho de investigação uns dos outros.”

Informação prática A Convenção Internacional de Académicos da Ásia (ICAS) foi fundada em 1997 enquanto plataforma para os representantes da academia e da sociedade civil se dedicarem ao estudo de questões críticas para a Ásia e, por implicação, para o resto do mundo. Macau acolhe a oitava edição da convenção que se realiza cada dois anos. As anteriores edições aconteceram em Honolulu (2011), Daejeon, na Coreia do Sul (2009), Kuala Lumpur (2007), Xangai (2005), Singapura (2003), Berlim (2001), e Leiden(1998). A média de participação tem variado entre os 1250 e os 5000 académicos, tendo sido o Havaí quem atraiu mais participantes até agora. A organização vai ainda levar a cabo a 5.ª edição do ICAS Book Prize (IBP) é celebrada, que atribui prémios ao Melhor Estudo em Humanidades, Melhor Estudo em Ciências Sociais, Melhor Dissertação em Humanidades, Melhor Dissertação em Ciências Sociais e ainda a Escolha dos Colegas.

* Carmen Amado, Universidade de Coimbra

Macau no mapa Os painéis e trabalhos científicos foram seleccionados por dois comités de selecção, um deles responsável pela organização dos painéis e mesas-redondas, o outro pela selecção dos trabalhos individuais, sob a supervisão da sede da ICAS, na Holanda. Os critérios de escolha incluíram a importância e relevância dos tópicos de investigação, a inovação dos temas, e a coerência dos trabalhos no contexto do painel. “A selecção foi uma tarefa difícil e não faltaram debates durante o processo”, contou o professor Tak-Wing Ngo. Os participantes não têm que estar necessariamente ligados a uma universidade. Embora, “a maioria das pessoas que apresenta trabalhos científicos sejam académicos, também temos curadores de museus, diplomatas, detentores de cargos em organizações não-governamentais (ONGs) e jornalistas. Não estabelecemos qualquer exigência nas qualificações académicas. As inscrições foram julgadas principalmente pelo seu mérito científico”. Ainda assim, 85 por cento dos participantes são professores universitários com doutoramento, os restantes são estudantes de doutoramento e pessoas sem ligação académica. Tak-Wing Ngo acredita que a ICAS vai trazer novos conhecimentos e perspectivas para Macau, através do intercâmbio com investigadores de nível mundial. Este evento é também uma oportunidade para Macau afirmar-se enquanto destino preferencial para a organização de reuniões, convenções e exposições e consolidar-

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Criou-se uma oportunidade imensa para os investigadores de Macau poderem participar num evento de grande dimensão sem terem que se deslocar." josé luís sales marques

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se na indústria emergente do MICE (sigla em inglês para Meetings, Incentives, Conventions and Exhibitions). É importante “mostrar à comunidade académica internacional a relevância de Macau na criação de conhecimento e na sua divulgação. Muitos dos participantes são académicos seniores com influência significativa nos seus países. Eles vão levar consigo a experiência de Macau e contribuir para promover a região no resto do mundo”, concluiu o professor Tak-Wing Ngo. Esta é também a opinião de José Luís Sales Marques, que acredita que Macau tem condições para se tornar num centro de conhecimento de relevância no mundo. A cidade “tem grande capital de simpatia”, que é resultante de aspectos culturais, urbanístico e de outros. “As próprias instituições académicas, que são jovens, que têm vontade de fazer coisas, e que se houvesse uma estratégia mais global e uma estratégia acertada sobre essa matéria, de certeza que iam todas pegar nessas ideias e desenvolver projectos que, no fundo, acabam por colocar Macau no mapa de uma maneira diferente e que ajudam a prestigiar a região”, concluiu o presidente do IEEM.

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Pacote Diário US$ 80 / MOP 640 (com direito de admissão a todos os painéis do dia em questão). O registo pode ser feito directamente no Venetian Macau Resort Hotel, no Cotai.

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Actividades abertas à comunidade

• Sessões de cinema com mais de 20 documentários e filmes de curta duração sobre vários temas asiáticos, seleccionados e apresentados pela Asian Educational Media Service da Universidade de Illinois. • Exposição cultural com uma apresentação fotográfica itinerante, que inclui textos, mapas e relíquias sob o tema "O Islão, Comércio e Política através do Oceano Índico", preparada pela British Library and British Academy. • Performance cultural multimédia, que combina música e leituras dramáticas, assim como a projecção de imagens digitais do mapa mundo de 1602 feito por Matteo Ricci, recordando o intercâmbio cultural entre jesuítas italianos e chineses cultos na China do século XVII. O tema é "O Mapa e música de Matteo Ricci" e combina trechos de música italiana, contemporânea de Ricci, e música tradicional chinesa, assim como composições modernas, executados pelo conjunto ¡Sacabuche! da Escola de Música de Jacobs, da Universidade de Indiana. • Feira do Livro - editoras internacionais e de Macau, e editoras associadas a universidades foram convidadas a fazerem-se representar em stands durante os quatro dias de convenção e a juntarem-se a uma feira do livro. Esta é a maior em termos de edições académicas e universitárias alguma vez realizada em Macau. 119


cartaz | espectáculos

Boxe, Boxe Compagnie Käfig

8 de Junho, Centro Cultural de Macau

Mapping: Fabricado em Macau

Luís Represas ao vivo em Macau

Até 8 de Junho, Casa do Mandarim De sexta-feira a domingo, às 20h, 20h30 e 21 horas, o Instituto Cultural de Macau e o Centro Amador de Estudos Permanentes de Macau (iCentre) apresentam o espectáculo concebido para a fachada da Mansão Yuqing dividido em quatro capítulos: “A Origem”, “Período Dourado”, “Degradação” e “Renovação”. Através de som e imagens o público testemunha, por ordem cronológica, os vários incidentes que tiveram lugar na Casa do Mandarim, além de episódios da vida do antigo proprietário da casa, Zheng Guanying. O espectáculo audiovisual de dez minutos foi criado no seguimento do êxito dos Encontros: Mapping Audiovisual nas Ruínas de S. Paulo do ano passado, da autoria da Comunidade Criativa Aberta Audiovisual Telenoika, de Espanha. É o resultado de três workshops intensivos de mapping no iCentre, dado por profissionais do grupo espanhol e outros locais, durante o Outono e Inverno. 120

8 de Junho, em local a confirmar

O Regresso do Mestre Recital de Piano por Sequeira Costa 15 de Junho, Centro Cultural de Macau

Bach, Beethoven, Chopin, Vianna da Motta e Áureo de Castro. Sequeira Costa interpreta os clássicos e não só, num recital que assinala as Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas e as comemorações dos 500 Anos do Encontro Luso-Chinês. A Casa de Portugal traz a Macau o músico que conta mais de seis décadas de carreira, vencedor do Grande Prémio de Paris no Concurso Internacional Marguerite Long, e que continua a fazer digressões, actua nos mais importantes palcos internacionais, orienta cursos de aperfeiçoamento e integra júris de concursos internacionais. A discografia de Sequeira Costa inclui a música para piano solo de Ravel, Chopin, Schumann, Albéniz, Bach/Busoni, Vianna da Motta e Rachmaninov e A Musical Snuffbox, dedicado a uma selecção de 23 encores. Gravou também as obras completas para piano e orquestra de Rachmaninov e gravou em 2006, em Londres, as gravações integrais das Sonatas para Piano de Beethoven, em dez volumes. Este ano relança essas sonatas e Rapsódia Sobre Um Tema de Paganini de Rachmaninov. revista MACAU · Junho 2013

Também está integrado no programa cultural do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. O músico português, ex-Trovante, visita Macau numa altura em que prepara o próximo disco de originais. Entre os maiores êxitos do artista está o tema Feiticeira, que compôs e interpretou com Pablo Milanés. Na bagagem traz discos como Cumplicidades (1994), feito com a colaboração do falecido pianista Bernardo Sassetti, a Hora do Lobo (1998) e Código Verde (2000), onde se inclui o tema O Lado Bom da Saudade apresentado na cerimónia da transferência de administração de Macau. Lançou o 13.º álbum, Luís Represas e João Gil, em 2011, ex-companheiro dos Trovante com quem continua a colaborar e com quem criou o projecto Missa Brevis, uma missa cantada em latim e apresentada na Igreja de São Roque, em Lisboa.

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A companhia francesa apresenta um espectáculo que funde a dança contemporânea com uma diversidade de disciplinas incluindo o circo, as artes marciais e a música ao vivo a emergir do mundo do boxe. O coreógrafo e ex-lutador francês Mourad Merzouki, boxer e dançarino, é o autor do espectáculo que, assegura, é mais do que luta numa atmosfera sedutora marcada pela influência de filmes mudos. Merzouki visitou Macau pela primeira vez em 2007 com a mesma companhia e o espectáculo Terra de Ninguém. Este Boxe, Boxe é acompanhado por uma banda sonora tão ecléctica como Mendelssohn, Schubert ou Phillip Glass, musicados ao vivo por um quarteto de cordas, misturados com hip-hop. O espectáculo está inserido na programação do festival Le French May 2013. Paralelamente será organizado um workshop de dança orientado por elementos da companhia Käfig.

121


cartaz | espectáculos

Boxe, Boxe Compagnie Käfig

8 de Junho, Centro Cultural de Macau

Mapping: Fabricado em Macau

Luís Represas ao vivo em Macau

Até 8 de Junho, Casa do Mandarim De sexta-feira a domingo, às 20h, 20h30 e 21 horas, o Instituto Cultural de Macau e o Centro Amador de Estudos Permanentes de Macau (iCentre) apresentam o espectáculo concebido para a fachada da Mansão Yuqing dividido em quatro capítulos: “A Origem”, “Período Dourado”, “Degradação” e “Renovação”. Através de som e imagens o público testemunha, por ordem cronológica, os vários incidentes que tiveram lugar na Casa do Mandarim, além de episódios da vida do antigo proprietário da casa, Zheng Guanying. O espectáculo audiovisual de dez minutos foi criado no seguimento do êxito dos Encontros: Mapping Audiovisual nas Ruínas de S. Paulo do ano passado, da autoria da Comunidade Criativa Aberta Audiovisual Telenoika, de Espanha. É o resultado de três workshops intensivos de mapping no iCentre, dado por profissionais do grupo espanhol e outros locais, durante o Outono e Inverno. 120

8 de Junho, em local a confirmar

O Regresso do Mestre Recital de Piano por Sequeira Costa 15 de Junho, Centro Cultural de Macau

Bach, Beethoven, Chopin, Vianna da Motta e Áureo de Castro. Sequeira Costa interpreta os clássicos e não só, num recital que assinala as Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas e as comemorações dos 500 Anos do Encontro Luso-Chinês. A Casa de Portugal traz a Macau o músico que conta mais de seis décadas de carreira, vencedor do Grande Prémio de Paris no Concurso Internacional Marguerite Long, e que continua a fazer digressões, actua nos mais importantes palcos internacionais, orienta cursos de aperfeiçoamento e integra júris de concursos internacionais. A discografia de Sequeira Costa inclui a música para piano solo de Ravel, Chopin, Schumann, Albéniz, Bach/Busoni, Vianna da Motta e Rachmaninov e A Musical Snuffbox, dedicado a uma selecção de 23 encores. Gravou também as obras completas para piano e orquestra de Rachmaninov e gravou em 2006, em Londres, as gravações integrais das Sonatas para Piano de Beethoven, em dez volumes. Este ano relança essas sonatas e Rapsódia Sobre Um Tema de Paganini de Rachmaninov. revista MACAU · Junho 2013

Também está integrado no programa cultural do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. O músico português, ex-Trovante, visita Macau numa altura em que prepara o próximo disco de originais. Entre os maiores êxitos do artista está o tema Feiticeira, que compôs e interpretou com Pablo Milanés. Na bagagem traz discos como Cumplicidades (1994), feito com a colaboração do falecido pianista Bernardo Sassetti, a Hora do Lobo (1998) e Código Verde (2000), onde se inclui o tema O Lado Bom da Saudade apresentado na cerimónia da transferência de administração de Macau. Lançou o 13.º álbum, Luís Represas e João Gil, em 2011, ex-companheiro dos Trovante com quem continua a colaborar e com quem criou o projecto Missa Brevis, uma missa cantada em latim e apresentada na Igreja de São Roque, em Lisboa.

www.revistamacau.com

A companhia francesa apresenta um espectáculo que funde a dança contemporânea com uma diversidade de disciplinas incluindo o circo, as artes marciais e a música ao vivo a emergir do mundo do boxe. O coreógrafo e ex-lutador francês Mourad Merzouki, boxer e dançarino, é o autor do espectáculo que, assegura, é mais do que luta numa atmosfera sedutora marcada pela influência de filmes mudos. Merzouki visitou Macau pela primeira vez em 2007 com a mesma companhia e o espectáculo Terra de Ninguém. Este Boxe, Boxe é acompanhado por uma banda sonora tão ecléctica como Mendelssohn, Schubert ou Phillip Glass, musicados ao vivo por um quarteto de cordas, misturados com hip-hop. O espectáculo está inserido na programação do festival Le French May 2013. Paralelamente será organizado um workshop de dança orientado por elementos da companhia Käfig.

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cartaz | EXPOSIÇÕES

Transit

António Conceição Junior Até 29 de Junho, Creative Macau É a visão curiosa do mundo que o rodeia usando o real como matéria-prima através da fotografia, uma paixão antiga. A mostra exibe uma série de imagens abstractas concebidas pelo designer e consultor de arte do Museu de Arte de Macau com seis obras sobre fotografia publicadas, dentro do estilo abstraccionista ou mesmo expressionista, muito semelhante à pintura. António Conceição Júnior, também artista plástico, criador de moda, professor e presidente do Sporting de Macau, também tem obra publicada na área da banda desenhada e lançou, em 2011, o livro de crónicas Conversas do Chá e do Café, em Macau e em Lisboa, com vivências, experiências e memórias do autor multidisciplinar macaense sob a forma de pequenas narrativas.

CSI: The Experience Até 15 de Junho, Sands Cotai Central

Éa oportunidade de ser investigador por um dia como as personagens da série norte-americana CSI Las Vegas, com versões também “Nova Iorque” e “Miami”. A série foi criada por Anthony E. Zuiker e é emitida há 13 anos, por isso não é propriamente desconhecida do público, nem ocidental nem asiático. Nesta exposição, o visitante pode simular a investigação de três “cenas de crime” à escolha, entre a de uma mulher assassinada à porta de um motel, um esqueleto perdido no meio do deserto e um suposto acidente de viação. A mostra inclui vários “laboratórios” interactivos onde o visitante pode aprender os princípios científicos e técnicas de investigação policial com a ajuda das próprias personagens da série, através de vários pequenos ecrãs espalhados pelo espaço montado no terceiro andar do Sands Cotai Central. 122

Building Dwelling Thinking

Estudantes da Universidade de São José Até 10 de Junho, Creative Macau A exposição mostra os trabalhos dos alunos da licenciatura de Arquitectura da Universidade de São José criados no ano académico de 2012/2013. São visões futuristas da arquitectura e urbanismo em Macau, desde projectos de residências até planos urbanísticos de larga escala. As obras são apresentadas em formato de desenho, digital e maquete. Inclui uma instalação no tecto feita de painéis de acrílico e um sistema de iluminação LED, desenhado e construído pelos estudantes. Também faz parte da exposição um pavilhão de bambu e materiais têxteis em larga escala montados no jardim Ho Yin. revista MACAU · Junho 2013

Yang Shan Shen – O Legado: Exposição Comemorativa dos Cem Anos do seu Nascimento Até 9 de Junho , Museu de Arte de Macau Assinala o centenário do nascimento do mestre da Escola de Pintura de Lingnan e contou com o apoio da família de Yang Shan Shen [1913-2004], e curadoria do antigo discípulo do pintor Yung Shing Cho. A mostra exibe 115 trabalhos realizados durante a carreira de cerca de 70 anos do artista, dentro dos mais variados temas e estilos. Conhecido como “Liuzhai”, Shen nasceu em Cantão e mudou-se para Hong Kong nos anos 1930, onde começou a pintar. Gostava especialmente de emular as pinturas e desenhos antigos, e aprendeu e desenvolveu o talento pintando-se a si mesmo. Chegou a Macau fugido das invasões nipónicas em 1941 e cá fundou a Associação de Pintura Xieshe com Gao Jianfu, Feng Kanghou e outros. Regressou a Hong Kong em 1945 onde continuou a carreira, que passou também pelo ensino, e fundou a Associação de Arte Chun Feng na década de 1970. Foi distinguido com o título de Membro por Mérito nas Artes Visuais pelo Conselho de Desenvolvimento das Artes de Hong Kong em 1999. www.revistamacau.com

Fuga Técnicas Fotografias de Jean Baudrillard Até 28 de Julho Galeria do Tap Seac São imagens daquele que é um dos pensadores franceses mais lidos na China. O Museu de Macau recebe a exposição com meia centena de trabalhos fotográficos de Jean Baudrillard (1929-2007), frequentemente considerado um dos maiores gurus da teoria pós-modernista francesa, que comentava alguns dos fenómenos culturais e sociológicos mais proeminentes da era contemporânea, sobretudo nos campos dos modos de mediação e comunicação tecnológica. Através da fotografia manifestou as diferentes formas de olhar e compreender o mundo, imagens que agora podem ser vistas na galeria do Tap Seac e que foram seleccionadas pessoalmente por Marine Baudrillard, a mulher do falecido pensador, com o apoio do curador sino-francês Fei Dawei.

Mundo da Fantasia – Chinoiserie

Até 18 de Agosto, Museu de Macau É um conjunto de 80 peças emprestadas pelos Museu de Artes Decorativas, Museu do Louvre, Museu de Belas Artes e Arqueologia, todos de França, e Wynn Macau e inclui pinturas a óleo, gravuras, porcelanas e tapeçarias, focadas no entusiasmo histórico por objectos importados do Império do Meio, particularmente pelas cortesãs do Rei-Sol. A mostra recorda a chegada dos primeiros missionários europeus à China da dinastia Ming (1368-1644), que levaram de regresso à Europa os conhecimentos acumulados pelos chineses sobre filosofia, religião, ciência, tecnologia e arte. Apresenta a “chinoiserie” criada pelos europeus que ganhavam interesse por artigos vindos da China e tentavam imitar o estilo da arte e costumes, penetrando em todos os aspectos da vida quotidiana desde os utensílios à decoração da casa e arquitectura paisagística. 123


cartaz | EXPOSIÇÕES

Transit

António Conceição Junior Até 29 de Junho, Creative Macau É a visão curiosa do mundo que o rodeia usando o real como matéria-prima através da fotografia, uma paixão antiga. A mostra exibe uma série de imagens abstractas concebidas pelo designer e consultor de arte do Museu de Arte de Macau com seis obras sobre fotografia publicadas, dentro do estilo abstraccionista ou mesmo expressionista, muito semelhante à pintura. António Conceição Júnior, também artista plástico, criador de moda, professor e presidente do Sporting de Macau, também tem obra publicada na área da banda desenhada e lançou, em 2011, o livro de crónicas Conversas do Chá e do Café, em Macau e em Lisboa, com vivências, experiências e memórias do autor multidisciplinar macaense sob a forma de pequenas narrativas.

CSI: The Experience Até 15 de Junho, Sands Cotai Central

Éa oportunidade de ser investigador por um dia como as personagens da série norte-americana CSI Las Vegas, com versões também “Nova Iorque” e “Miami”. A série foi criada por Anthony E. Zuiker e é emitida há 13 anos, por isso não é propriamente desconhecida do público, nem ocidental nem asiático. Nesta exposição, o visitante pode simular a investigação de três “cenas de crime” à escolha, entre a de uma mulher assassinada à porta de um motel, um esqueleto perdido no meio do deserto e um suposto acidente de viação. A mostra inclui vários “laboratórios” interactivos onde o visitante pode aprender os princípios científicos e técnicas de investigação policial com a ajuda das próprias personagens da série, através de vários pequenos ecrãs espalhados pelo espaço montado no terceiro andar do Sands Cotai Central. 122

Building Dwelling Thinking

Estudantes da Universidade de São José Até 10 de Junho, Creative Macau A exposição mostra os trabalhos dos alunos da licenciatura de Arquitectura da Universidade de São José criados no ano académico de 2012/2013. São visões futuristas da arquitectura e urbanismo em Macau, desde projectos de residências até planos urbanísticos de larga escala. As obras são apresentadas em formato de desenho, digital e maquete. Inclui uma instalação no tecto feita de painéis de acrílico e um sistema de iluminação LED, desenhado e construído pelos estudantes. Também faz parte da exposição um pavilhão de bambu e materiais têxteis em larga escala montados no jardim Ho Yin. revista MACAU · Junho 2013

Yang Shan Shen – O Legado: Exposição Comemorativa dos Cem Anos do seu Nascimento Até 9 de Junho , Museu de Arte de Macau Assinala o centenário do nascimento do mestre da Escola de Pintura de Lingnan e contou com o apoio da família de Yang Shan Shen [1913-2004], e curadoria do antigo discípulo do pintor Yung Shing Cho. A mostra exibe 115 trabalhos realizados durante a carreira de cerca de 70 anos do artista, dentro dos mais variados temas e estilos. Conhecido como “Liuzhai”, Shen nasceu em Cantão e mudou-se para Hong Kong nos anos 1930, onde começou a pintar. Gostava especialmente de emular as pinturas e desenhos antigos, e aprendeu e desenvolveu o talento pintando-se a si mesmo. Chegou a Macau fugido das invasões nipónicas em 1941 e cá fundou a Associação de Pintura Xieshe com Gao Jianfu, Feng Kanghou e outros. Regressou a Hong Kong em 1945 onde continuou a carreira, que passou também pelo ensino, e fundou a Associação de Arte Chun Feng na década de 1970. Foi distinguido com o título de Membro por Mérito nas Artes Visuais pelo Conselho de Desenvolvimento das Artes de Hong Kong em 1999. www.revistamacau.com

Fuga Técnicas Fotografias de Jean Baudrillard Até 28 de Julho Galeria do Tap Seac São imagens daquele que é um dos pensadores franceses mais lidos na China. O Museu de Macau recebe a exposição com meia centena de trabalhos fotográficos de Jean Baudrillard (1929-2007), frequentemente considerado um dos maiores gurus da teoria pós-modernista francesa, que comentava alguns dos fenómenos culturais e sociológicos mais proeminentes da era contemporânea, sobretudo nos campos dos modos de mediação e comunicação tecnológica. Através da fotografia manifestou as diferentes formas de olhar e compreender o mundo, imagens que agora podem ser vistas na galeria do Tap Seac e que foram seleccionadas pessoalmente por Marine Baudrillard, a mulher do falecido pensador, com o apoio do curador sino-francês Fei Dawei.

Mundo da Fantasia – Chinoiserie

Até 18 de Agosto, Museu de Macau É um conjunto de 80 peças emprestadas pelos Museu de Artes Decorativas, Museu do Louvre, Museu de Belas Artes e Arqueologia, todos de França, e Wynn Macau e inclui pinturas a óleo, gravuras, porcelanas e tapeçarias, focadas no entusiasmo histórico por objectos importados do Império do Meio, particularmente pelas cortesãs do Rei-Sol. A mostra recorda a chegada dos primeiros missionários europeus à China da dinastia Ming (1368-1644), que levaram de regresso à Europa os conhecimentos acumulados pelos chineses sobre filosofia, religião, ciência, tecnologia e arte. Apresenta a “chinoiserie” criada pelos europeus que ganhavam interesse por artigos vindos da China e tentavam imitar o estilo da arte e costumes, penetrando em todos os aspectos da vida quotidiana desde os utensílios à decoração da casa e arquitectura paisagística. 123


cartaz | discos

Mundo Pequenino

Deolinda Editora Boom Studios, 2013 É o terceiro álbum dos Deolinda e sucede a Dois Selos e Um Carimbo (2010) e Canção ao Lado (2008), fora o disco que gravaram pelo meio ao vivo no Coliseu do Porto. Já internacionalizados, os irmãos Luís José Martins e Pedro Silva Martins, José Pedro Leitão e Ana Bacalhau juntaram à banda o piano de Joana Sá, a bateria de Sérgio Nascimento, sopros, cordas e a voz de António Zambujo no dueto Não ouviste nada. O novo disco foi co-produzido pelo britânico Jerry Boys, vencedor de seis Grammys que começou a carreira nos míticos Abbey Road Studios em 1965, onde trabalhou com bandas como o The Beatles, The Rolling Stones e Pink Floyd. Foi lançado em Portugal, onde o grupo já arrancou com uma digressão que depois do Verão vai viajar por uma série de outros países.

124

Kill Drama

Devagar

Já lhe chamam o disco mais português da banda portuense que para o ano completa duas décadas de existência. Acaba de ser lançado em Portugal e o primeiro single chama-se I See Desire. Fala sobre a emigração forçada e os sonhos separados pela distância, um entre vários temas que compõem o sétimo disco dos Blind Zero com canções, sempre em registo rock, que falam de confiança, desejo, desespero, vingança, religião, amor, ódio e morte. É uma “obra aberta”, segundo os autores, para a qual Miguel Guedes, Vasco Espinheira, Pedro Vidal, Nuxo Espinheira e Pedro Guedes convidaram cento e cinquenta fãs para gravarem coros para algumas músicas. O sucessor de Luna Park (2010) foi gravado no estúdio Blackfox pelo produtor Nuxo Espinheira e conta com a participação de Bruno Macedo, na guitarra, e Miguel Ferreira, nos teclados.

No videoclipe de O Samba e o Bairro vemos Alfama mas ouvimos a música tradicional brasileira. O sotaque é de Portugal mas a alma é mestiça. Luís Caracol nasceu em Portugal mas é filho de “retornados”, tem sangue angolano, e foi criado num ambiente de mescla cultural que se reflecte na música. Canta palavras de Fernando Pessoa e Mia Couto neste primeiro trabalho a solo, apenas voz e guitarra, e duas parcerias com Sara Tavares e a cantora brasileira Fernanda Abreu. O rapper Valete assina a composição e dá voz ao tema Em Marcha, inspirado no fado tradicional Marcha de Alfredo Marceneiro. Oito das 13 canções do disco são originais, das versões incluem-se A Gente Vai Continuar de Jorge Palma, Bandeira de Zeca Baleiro e Meu Amanhã de Lenine.

Blind Zero Editora EMI, 2013

Luís Caracol Editora Get Records, 2013

revista MACAU · Junho 2013

Desfado

Ana Moura Editora Universal Music, 2012 Conta com a participação ao piano do lendário músico norte-americano Herbie Hancock num dos temas em inglês, I Dream of Fire, escrito pela própria fadista. Mas há mais. Músicos como Pedro Abrunhosa, Manel Cruz, António Zambujo e Aldina Duarte também assinam alguns dos temas do sexto disco de Ana Moura, entre vários músicos de calibre internacionais que ajudaram a fazer o sucessor de Leva-me aos Fados (2009). O disco foi gravado em Los Angeles e tem como primeiro single a canção Até ao Verão, composta pela compositora portuguesa Márcia. A guitarra portuguesa e a viola de fado estão a cargo de Ângelo Freire e Pedro Soares. É o primeiro álbum da carreira da fadista a ser editado internacionalmente, ela que já partilhou o palco com os Rolling Stones e Prince. Nos Estados Unidos vai ser lançado com o selo da prestigiada Decca Records.

www.revistamacau.com

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Mundo Pequenino

Deolinda Editora Boom Studios, 2013 É o terceiro álbum dos Deolinda e sucede a Dois Selos e Um Carimbo (2010) e Canção ao Lado (2008), fora o disco que gravaram pelo meio ao vivo no Coliseu do Porto. Já internacionalizados, os irmãos Luís José Martins e Pedro Silva Martins, José Pedro Leitão e Ana Bacalhau juntaram à banda o piano de Joana Sá, a bateria de Sérgio Nascimento, sopros, cordas e a voz de António Zambujo no dueto Não ouviste nada. O novo disco foi co-produzido pelo britânico Jerry Boys, vencedor de seis Grammys que começou a carreira nos míticos Abbey Road Studios em 1965, onde trabalhou com bandas como o The Beatles, The Rolling Stones e Pink Floyd. Foi lançado em Portugal, onde o grupo já arrancou com uma digressão que depois do Verão vai viajar por uma série de outros países.

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Kill Drama

Devagar

Já lhe chamam o disco mais português da banda portuense que para o ano completa duas décadas de existência. Acaba de ser lançado em Portugal e o primeiro single chama-se I See Desire. Fala sobre a emigração forçada e os sonhos separados pela distância, um entre vários temas que compõem o sétimo disco dos Blind Zero com canções, sempre em registo rock, que falam de confiança, desejo, desespero, vingança, religião, amor, ódio e morte. É uma “obra aberta”, segundo os autores, para a qual Miguel Guedes, Vasco Espinheira, Pedro Vidal, Nuxo Espinheira e Pedro Guedes convidaram cento e cinquenta fãs para gravarem coros para algumas músicas. O sucessor de Luna Park (2010) foi gravado no estúdio Blackfox pelo produtor Nuxo Espinheira e conta com a participação de Bruno Macedo, na guitarra, e Miguel Ferreira, nos teclados.

No videoclipe de O Samba e o Bairro vemos Alfama mas ouvimos a música tradicional brasileira. O sotaque é de Portugal mas a alma é mestiça. Luís Caracol nasceu em Portugal mas é filho de “retornados”, tem sangue angolano, e foi criado num ambiente de mescla cultural que se reflecte na música. Canta palavras de Fernando Pessoa e Mia Couto neste primeiro trabalho a solo, apenas voz e guitarra, e duas parcerias com Sara Tavares e a cantora brasileira Fernanda Abreu. O rapper Valete assina a composição e dá voz ao tema Em Marcha, inspirado no fado tradicional Marcha de Alfredo Marceneiro. Oito das 13 canções do disco são originais, das versões incluem-se A Gente Vai Continuar de Jorge Palma, Bandeira de Zeca Baleiro e Meu Amanhã de Lenine.

Blind Zero Editora EMI, 2013

Luís Caracol Editora Get Records, 2013

revista MACAU · Junho 2013

Desfado

Ana Moura Editora Universal Music, 2012 Conta com a participação ao piano do lendário músico norte-americano Herbie Hancock num dos temas em inglês, I Dream of Fire, escrito pela própria fadista. Mas há mais. Músicos como Pedro Abrunhosa, Manel Cruz, António Zambujo e Aldina Duarte também assinam alguns dos temas do sexto disco de Ana Moura, entre vários músicos de calibre internacionais que ajudaram a fazer o sucessor de Leva-me aos Fados (2009). O disco foi gravado em Los Angeles e tem como primeiro single a canção Até ao Verão, composta pela compositora portuguesa Márcia. A guitarra portuguesa e a viola de fado estão a cargo de Ângelo Freire e Pedro Soares. É o primeiro álbum da carreira da fadista a ser editado internacionalmente, ela que já partilhou o palco com os Rolling Stones e Prince. Nos Estados Unidos vai ser lançado com o selo da prestigiada Decca Records.

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cartaz | livros

De Casa em Casa

Filomena Silvano Editora Palavrão, 2012 Da “casa de porteira” no centro de Paris à moradia de fim-desemana nos arredores da capital francesa, até às casas em Trásos-Montes utilizadas durante as férias em Portugal. É um ensaio etnográfico que tem por base a rodagem de dois documentários, que se compram juntamente com a obra, sobre a circulação entre vários lugares de uma família portuguesa em França no final dos anos 1990: Esta é a minha casa (1997) e Viagem à Expo (1998), de João Pedro Rodrigues. Filomena Silvano escreve a partir das imagens, numa reflexão antropológica com o objectivo de perceber os conceitos de mobilidade e transnacionalismo, a forma como as pessoas constroem vidas e identidades fazendo percursos constantes. O livro da antropóloga e professora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, autora de Territórios da Identidade e Antropologia do Espaço, foi lançando em Portugal e apresentado recentemente em Macau. 126

Não Há Amor Como o Primeiro Rota das Letras Praia Grande Edições, Lda. 2013

Reflexões – Pinturas da Minha Porcelana Através da Ásia Arlinda Frota Editora Sarita Ksu, 2013

Foi lançado em Fevereiro na Fundação Rui Cunha, em Macau, a par com a inauguração da exposição Pintura - A Minha Música. O livro compila uma série de fotografias das obras da artista assinadas por Ton Jensen, que reflectem as ambiências e culturas que Arlinda Frota absorveu durante os seis anos que viveu em Macau, quatro na Coreia do Sul, três na Indonésia e no país de origem, Portugal. Médica de profissão há 41 anos mas filha de mãe artista, a autora começou a fazer trabalhos de pintura de porcelana à mão em Macau, e desde então produziu dentro de uma relação estreita entre a sensibilidade oriental e o diálogo com as origens.

24 Horas na Vida de uma Exposição, Xangai 2010

Fragmentos poéticos António Patrício Editora COD, 2013

Foi apresentado em Macau como um momento histórico, nas palavras do editor Carlos Morais José. Os textos inéditos do escritor e diplomata português António Patrício, que morreu no território em 1930, foram entregues a Luís Sá Cunha por José Augusto Seabra – autor do prefácio –, que por sua vez os recebeu de António Braz Teixeira. São reflexões e ecos filosóficos com o saudosismo e a portugalidade latentes, saídos da pena de um homem de errâncias que os escrevia durante as suas missões pelo mundo. Patrício foi cônsul em Cantão e preparava-se para tomar posse como ministro de Portugal em Pequim quando morreu em Macau. Deixou obras de ficção como Serão Inquieto (1910) e O Fim (1909), e peças teatrais como Pedro, o Cru (1918) e Máscara (1924), marcada pelas influências de Nietzsche, Maeterlinck e D'Annunzio e as correntes literárias do simbolismo, decadentismo e saudosismo. revista MACAU · Junho 2013

Tiago Quadros Editora Afrontamento, 2013

Dos Fantasmas de Macau de José Rodrigues dos Santos ao Americano Valentino que Rui Cardoso Martins descobriu na cidade que para Tatiana Salem Levy é Longe Demais e onde Paulo Aido escreveu Cicatriz e a escritora taiwanesa Lolita Hu Sexo, a colectânea de contos e ensaios saiu da pena de participantes do Festival Literário de Macau-Rota das Letras e alguns voluntários, amadores com vontade de escrever a cidade. Dezassete autores contaram e ficcionaram Macau em três línguas, para cumprir o objectivo da organização do evento de colocar a cidade no mapa da literatura contemporânea. Dez textos foram escritos por escritores convidados da primeira edição do evento em 2012, e sete pelos vencedores do concurso em línguas portuguesa, chinesa e inglesa seleccionados por José Luís Peixoto, Su Tong e Xu Xi. Entre eles A Casa do Senhor Fung da vencedora em língua portuguesa Célia Matias, e Caça ao Lobo do director da Escola de Teatro do Conservatório de Macau Lawrence Lei, sobre o mercado imobiliário em Macau.

Reúne textos publicados no jornal Hoje Macau durante a Exposição Mundial de 2010, em Xangai, e do território segue para ser apresentado em Portugal. Do México à China, passando pelos Emirados Árabes Unidos, Dinamarca, Suíça, Espanha ou Hungria, o arquitecto Tiago Quadros traça o roteiro da maior Expo celebrada nos 150 anos de história do evento, com 200 países com pavilhões próprios e cerca de 50 organizações internacionais, como as Nações Unidas e a Cruz Vermelha. As crónicas, escritas entre Maio e Outubro de 2010, tratam essencialmente de arquitectura e arquitectos, remetendo para mitos, memórias, experiências, línguas e escritas dos povos, ilustradas com várias fotografias.

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De Casa em Casa

Filomena Silvano Editora Palavrão, 2012 Da “casa de porteira” no centro de Paris à moradia de fim-desemana nos arredores da capital francesa, até às casas em Trásos-Montes utilizadas durante as férias em Portugal. É um ensaio etnográfico que tem por base a rodagem de dois documentários, que se compram juntamente com a obra, sobre a circulação entre vários lugares de uma família portuguesa em França no final dos anos 1990: Esta é a minha casa (1997) e Viagem à Expo (1998), de João Pedro Rodrigues. Filomena Silvano escreve a partir das imagens, numa reflexão antropológica com o objectivo de perceber os conceitos de mobilidade e transnacionalismo, a forma como as pessoas constroem vidas e identidades fazendo percursos constantes. O livro da antropóloga e professora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, autora de Territórios da Identidade e Antropologia do Espaço, foi lançando em Portugal e apresentado recentemente em Macau. 126

Não Há Amor Como o Primeiro Rota das Letras Praia Grande Edições, Lda. 2013

Reflexões – Pinturas da Minha Porcelana Através da Ásia Arlinda Frota Editora Sarita Ksu, 2013

Foi lançado em Fevereiro na Fundação Rui Cunha, em Macau, a par com a inauguração da exposição Pintura - A Minha Música. O livro compila uma série de fotografias das obras da artista assinadas por Ton Jensen, que reflectem as ambiências e culturas que Arlinda Frota absorveu durante os seis anos que viveu em Macau, quatro na Coreia do Sul, três na Indonésia e no país de origem, Portugal. Médica de profissão há 41 anos mas filha de mãe artista, a autora começou a fazer trabalhos de pintura de porcelana à mão em Macau, e desde então produziu dentro de uma relação estreita entre a sensibilidade oriental e o diálogo com as origens.

24 Horas na Vida de uma Exposição, Xangai 2010

Fragmentos poéticos António Patrício Editora COD, 2013

Foi apresentado em Macau como um momento histórico, nas palavras do editor Carlos Morais José. Os textos inéditos do escritor e diplomata português António Patrício, que morreu no território em 1930, foram entregues a Luís Sá Cunha por José Augusto Seabra – autor do prefácio –, que por sua vez os recebeu de António Braz Teixeira. São reflexões e ecos filosóficos com o saudosismo e a portugalidade latentes, saídos da pena de um homem de errâncias que os escrevia durante as suas missões pelo mundo. Patrício foi cônsul em Cantão e preparava-se para tomar posse como ministro de Portugal em Pequim quando morreu em Macau. Deixou obras de ficção como Serão Inquieto (1910) e O Fim (1909), e peças teatrais como Pedro, o Cru (1918) e Máscara (1924), marcada pelas influências de Nietzsche, Maeterlinck e D'Annunzio e as correntes literárias do simbolismo, decadentismo e saudosismo. revista MACAU · Junho 2013

Tiago Quadros Editora Afrontamento, 2013

Dos Fantasmas de Macau de José Rodrigues dos Santos ao Americano Valentino que Rui Cardoso Martins descobriu na cidade que para Tatiana Salem Levy é Longe Demais e onde Paulo Aido escreveu Cicatriz e a escritora taiwanesa Lolita Hu Sexo, a colectânea de contos e ensaios saiu da pena de participantes do Festival Literário de Macau-Rota das Letras e alguns voluntários, amadores com vontade de escrever a cidade. Dezassete autores contaram e ficcionaram Macau em três línguas, para cumprir o objectivo da organização do evento de colocar a cidade no mapa da literatura contemporânea. Dez textos foram escritos por escritores convidados da primeira edição do evento em 2012, e sete pelos vencedores do concurso em línguas portuguesa, chinesa e inglesa seleccionados por José Luís Peixoto, Su Tong e Xu Xi. Entre eles A Casa do Senhor Fung da vencedora em língua portuguesa Célia Matias, e Caça ao Lobo do director da Escola de Teatro do Conservatório de Macau Lawrence Lei, sobre o mercado imobiliário em Macau.

Reúne textos publicados no jornal Hoje Macau durante a Exposição Mundial de 2010, em Xangai, e do território segue para ser apresentado em Portugal. Do México à China, passando pelos Emirados Árabes Unidos, Dinamarca, Suíça, Espanha ou Hungria, o arquitecto Tiago Quadros traça o roteiro da maior Expo celebrada nos 150 anos de história do evento, com 200 países com pavilhões próprios e cerca de 50 organizações internacionais, como as Nações Unidas e a Cruz Vermelha. As crónicas, escritas entre Maio e Outubro de 2010, tratam essencialmente de arquitectura e arquitectos, remetendo para mitos, memórias, experiências, línguas e escritas dos povos, ilustradas com várias fotografias.

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