Revista Turma do Zebuzinho - 6ª edição

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EDITORIAL Colocamos em suas mãos a 6ª edição da Revista Turma do ZEBUzinho que destaca de forma especial as importações das raças zebuínas da Índia até sua consolidação e o relevante legado histórico-cultural da zebuinocultura na pecuária nacional. Nesse contexto, a ABCZ oferece um grandioso papel ao agronegócio brasileiro ao contribuir para o aumento sustentável da produção mundial de carne e leite, através do registro genealógico, melhoramento genético e promoção das raças zebuínas ao longo dos seus 100 anos de existência celebrados em 2019. Para cuidar, preservar e divulgar essa memória, a ABCZ criou a Fundação Museu do Zebu Edilson Lamartine Mendes. O Museu do Zebu é a única instituição museológica de divulgação e conservação da saga do Zebu, desde sua origem na Índia até a introdução e consolidação no Brasil. Ao longo dos anos, o Museu do Zebu mantém como foco de trabalho ações que privilegiam o conhecimento, a pesquisa e a apresentação de mostras com valor histórico, político e cultural que abrangem fontes de diferentes linguagens, como, entre outros, o Projeto Zebu na Escola e a Revista Turma do ZEBUzinho.

A publicação desta 6ª edição da Turma do ZEBUzinho valoriza as memórias deixadas por inúmeras pessoas que dedicaram parte de suas vidas na construção deste primeiro Centenário da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. A Revista “Turma do ZEBUzinho” tem como objetivo contribuir para auxiliar no processo de compreensão e ampliação das possibilidades de construção do conhecimento da zebuinocultura de forma mais global e coletiva, tendo como eixo a aprendizagem significativa. Que você possa desfrutar deste importante veículo de informação. Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges Presidente da ABCZ Jairo Machado Borges Furtado Presidente do Conselho Curador do Museu do Zebu


SUMÁRIO 4 Como era antes? 5 O Brasil acha ouro 6

O Zebu na Índia

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Kamadhenu – a Vaca Sagrada

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Resistência e rusticidade nos trópicos

10 As importadoras brasileiras, alemãs e inglesas 13 O Triângulo Mineiro importa o Zebu indiano 14 Fatalidade além-mar 16 As primeiras exposições 17 Início do século XX

24 As tradições de Uberaba 25 O Parque Fernando Costa 26 Brasil/Índia 28 O Brasil e os escritórios regionais da ABCZ 29 Atuação da ABCZ 30 O Zebu no Mundo, a dispersão pelo Planeta 32 Linha do Tempo da pecuária no Brasil 36 Números gerais da pecuária brasileira 38 O Zebu: tradições, literatura, manifestações populares na cultura brasileira

19 O Zebu ganha o Brasil: a Exposição Universal

40 Homenagem à José Antônio da Silva, o zebu nas artes plásticas

20 Fundação do HBZ

42 O Zebu na música e no Boi-bumbá

22 Origens da ABCZ

43 Museu do zebu e departamento de arte e cultura


Como era antes? De onde vinha o gado? Cangaian

Vindo em sua maior parte da Europa, ou seja, de países de climas temperados e frios, aqui, nos trópicos o gado sofria com as altas temperaturas, com as pobres opções de pasto em todo Brasil, com os parasitas e as doenças tropicais.

O Brasil acha ouro!

Comerciantes, sobretudo paulistas, que antes vendiam uma rês por 2 mil réis, traziam seus animais para Minas Gerais, mas subiam o preço para 75 mil réis em média.

Sindi

Quem vendia esse gado? No final do século XVII, com a descoberta do ouro em Minas Gerais, começam a proliferar os arraiais e vilas repletas de mineradores e comerciantes. O gado servia de alimento para todos esses aventureiros vindos de quase toda parte.

Nelore

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Transporte da carne de corte. Jean-Baptiste Debret.

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O Zebu na Índia Hinduísmo

Você sabia?

Na Índia, país de forte tradição espiritual, predomina o Hinduísmo, uma religião com número incontável de deuses, deusas e outras tantas divindades cultuadas por quase 80% de toda a população.

Kamadhenu: a deusa na terra Brahman

Kamadhenu, a vaca sagrada.

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Kamadhenu – a vaca sagrada

Uma dessas divindades é muito especial: trata-se da deusa Kamadhenu, que aqui na Terra se manifesta como uma vaca. Esse animal é ainda hoje sagrado, pois além de ser considerada encarnação da deusa, ainda fornece todos os meios para a subsistência humana, como o leite, a tração para o arado e o esterco fundamental para a agricultura.

Com um território vasto, cada região da Índia tem uma raça Zebuína específica predominante. O Nelore é o mais abrangente e recebe diferentes nomes em todo país, enquanto o Ongole predomina na região Leste. Tem ainda o Guzerá, típico da região Oeste, onde é chamado de Kandrej.

Kamadhenu, Shiva e Parvati, deuses do Hinduísmo.

Guzerá

O Gir por sua vez é encontrado na parte mais Oeste. O Sindi é mais comum na região ao Noroeste e no Paquistão, país vizinho da Índia. Têm ainda o Punganur e o Cangaian, ambos típicos da região peninsular do território indiano.

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Resistência e rusticidade nos trópicos Tabapuã

Das Índias para as Américas O Zebu se aclimatou muito bem em terras brasileiras por vários motivos. Entre outros, os zebuínos possuem um aparelho digestivo de menor volume e por isso produzem menores taxas de calor metabólico. Ou seja, se alimentam com mais frequência, ingerindo menores quantidades.

Ainda no porto, em plena praça pública, o casal foi leiloado e vendido a um comprador. Fato semelhante ocorreu em 1868, também em Salvador, quando outro navio atracou após uma forte tempestade. Por ordem do cônsul inglês, todo o carregamento, incluindo um casal de Nelore, foi leiloado em praça pública.

Gir

Para se adaptarem aos diferentes terrenos brasileiros eles contam com cascos pretos, duros e altamente resistentes, assim podem caminhar nos campos de pastagem sem nenhuma dificuldade.

O primeiro registro de entrada de Zebu no Brasil O primeiro registro que se tem notícia, segundo o Marquês de Abrantes, é a chegada em 1813 de um casal de Zebus proveniente do litoral indiano (Costa do Malabar), que foi deixado no porto de Salvador por um navio inglês. Miguel Calmon du Pin e Almeida, o Marquês de Abrantes.

De acordo com o pintor francês, Jean-Baptiste Debret, em 1826 Dom Pedro I instala na Fazenda Real de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, um haras para cavalos e lá abriga também um lote de “Zebus africanos”, trazidos da região do rio Nilo, Egito. Durante seu reinado ocorreram as primeiras importações de gado Zebu africano para o Brasil.

Dom Pedro I. Quadro de Simplício Rodrigues de Sá, 1830. Esqueda: Fazenda Real de Santa Cruz no Rio de Janeiro, propriedade de Dom Pedro I, ano de 1933. Autoria desconhecida. In: Revista da Semana. Fundo: Fazenda Real de Santa Cruz, 1816, ­Jean-Baptiste Debret.

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Porto de Salvador por Victor Frond, 1859.

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As importadoras brasileiras, alemãs e inglesas

Indubrasil

A maior firma importadora para o Brasil pertencia ao alemão Carl Hagenbeck, renomado comerciante internacional de animais. Outra empresa importante para os pecuaristas do Triângulo Mineiro foi a paulista Casa Arens, que também importava lotes de Zebus diretamente do território indiano.

Conde de São Clemente e seu rebanho Guzerá Antônio Clemente Filho, o Conde São Clemente, se empenhou pessoalmente no cruzamento de Zebus com o gado nacional e foi importante na formação do plantel de Guzerá do Barão de Cantagalo (RJ).

O Barão de Duas Barras e Guzerás que fazem sucesso

Quem importou o primeiro boi de cupim? Em 1875, o fazendeiro fluminense Acácio Américo de Azevedo foi o primeiro brasileiro a importar o “boi de cupim” de forma intencional.

Lemgruber, seleção na Fazenda Santo Antônio

Carl Hagenbeck, pioneiro das importações de Zebu no Brasil.

Antônio Clemente ­Pinto Filho, o Conde de São Clemente.

Em 1878 chega também ao Rio de Janeiro um lote de Zebus encomendado por um dos maiores pecuaristas do País, Manoel Ubelhart Lemgruber, que na Fazenda Santo Antônio adotou um rígido sistema de seleção e manteve a pureza racial do precioso plantel. Fazenda Santo Antônio. Pintura de Nicolas Facchinetti.

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Outro importador digno de nota foi Elias Antônio de Morais, o Barão de Duas Barras, que em 1870 trouxe exemplares da Índia. Seu plantel Guzerá foi um dos primeiros rebanhos zebuínos a ganhar notoriedade entre os pecuaristas brasileiros.

Em que ano o Zebu chegou ao Triângulo Mineiro?

Manoel Lemgruber e o touro Piron. Início do século XX.

Elias Antônio de Morais, o Barão de Duas Barras.

Segundo o memorialista Hidelbrando Pontes já havia registro de Zebus no Triângulo Mineiro no ano de 1875. Tal iniciativa, diz ele, coube ao Major Inácio de Melo França, natural de Desemboque, que comprou Zebus no Rio de Janeiro e os revendeu aos coronéis mineiros.

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Outras versões também aceitas

Já o historiador Alexandre ­ arbosa da Silva aponta que em B 1886 temos a primeira entrada de Zebu no Triângulo Mineiro. Anos mais tarde, em 1887 e 1889, o Major Ernesto da Silva e Oliveira traria mais dois animais de Porto Novo do Cunha, que foram revendidos a pecuaristas locais.

O Triângulo Mineiro traz o Zebu indiano Os pecuaristas do Triângulo que foram à Índia selecionar boi Em 1893, Teófilo de Godoy, morador do município de Araguari, foi um pecuarista pioneiro ao cruzar os oceanos e chegar a Índia, onde pessoalmente escolheu os animais que iria trazer ao Brasil.

Touro Lontra.

Touro Lontra, o primeiro Zebu famoso a chegar

Randolfo Borges Júnior nos conta a história do famoso touro Lontra, considerado o primeiro Zebu a chegar a Uberaba e fazer história.

Teófilo de Godoy.

Segundo Randolfo, em 1885, Antônio Borges Araújo e Zacharias Borges de ­Araújo tentaram comprar exemplares Zebuínos na fazenda de Manoel Lemgruber. Sem obter sucesso, os dois foram indicados a Joaquim Veloso de Rezende, que tinha a posse do touro Lontra, animal anteriormente doado por D. Pedro II ao seu médico pessoal, Dr. José Lontra.

Inauguração de um Obelisco em 1939 em comemoração aos 50 anos da entrada do touro Lontra em Uberaba.

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Ao desembarcar no porto de Santos com sua valiosa carga de Zebus ele dava fim ao monopólio de importações até então exercido exclusivamente pelos barões fluminense do café.

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Fatalidade além-mar Outros aventureiros visionários vão à Índia mesmo em período de guerra

Uma fatalidade no além – mar

Em 1914 o mineiro João Martins Borges faz a sua primeira viagem a Índia e traz a Uberaba 80 exemplares de Zebus selecionados por ele.

O destino mais uma vez prega uma de suas peças: João Martins Borges longe de casa contrai uma doença infeciosa e falece em Calcutá em 1918, onde foi sepultado. Virmondes, João e Otaviano em fotografia de 1917/18.

No ano seguinte, viaja novamente, mas não consegue trazer animais em função de bloqueio naval nos oceanos. Em 1917, agora com seu irmão Virmondes Martins Borges e o primo Otaviano Martins Borges, faz uma viagem mais arriscada, pois, em plena Primeira Guerra Mundial, a Coroa Britânica que dominava o país impunha rigorosas medidas contra exportação do gado indiano.

Enterro de João Martins Borges no Christian Cemitery, em Calcutá - 1918.

Armel Miranda e o estouro do gado em pleno porto francês de Marselha Outro comprador pioneiro foi Armel Miranda. Em sua primeira viagem em 1913 conseguiu trazer 250 animais - um recorde na época. Em outra viagem em 1917, na volta ao Brasil, atraca no porto francês de Marselha para troca de embarcação. Mas, parte do rebanho ao sair do cargueiro escapa do comboio e dispara rumo à cidade. Foi um problema recapturar os animais assustados e o fato entrou para a história da pecuária como o estouro do gado em Marselha.

Animais adquiridos por Armel Miranda e Quirino Pucci, Índia, 1917.

Transporte do gado em convés do navio durante importações.

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Armel Miranda.

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As primeiras exposições Em 1906 a Fazenda Cassu foi o local da primeira grande exposição de gado Zebu de Uberaba e do Brasil. Exposição essa promovida por José Caetano Borges e seu primo, Joaquim Machado Borges, mostrando ao público mais de mil animais.

O gado Zebu se impõe no território brasileiro

Início do século XX Em maio de 1911 ocorre uma exposição de 15 dias que marca a história da cidade. Pela primeira vez o Presidente do Estado de Minas Gerais, Júlio Bueno Brandão, visitava Uberaba, quando se deu a construção de uma vila no Prado (bairro São Benedito), onde cada expositor fez seu próprio pavilhão para mostrar seus animais.

Fazenda Cassu.

Um marco na cidade de Uberaba Em 1908 o Zebu de Uberaba era exposto na Capital do Estado, Belo Horizonte e começava a ganhar ainda mais admiradores.

Exposição de 1908, Belo Horizonte.

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Capa do Catálogo da Exposição de 1911.

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O Zebu ganha o Brasil: A Exposição Universal Rio de Janeiro 1922

Exposição de 1911, a primeira ­realizada na cidade de Uberaba.

Em 1922 ocorre a VI Exposição Nacional do Rio de Janeiro e os criadores uberabenses levantam mais de 200 baias para abrigar 434 animais. O campeão foi o touro Louro, de Pedro Marques Nunes, que disputou com os melhores animais de outras raças, reafirmando todo o potencial zebuíno para a pecuária.

Touro Pavilhão.

Outro destaque foi o touro Guzerá Pavilhão, de João de Abreu Junior, o primeiro Zebu que se tem registro a pesar uma tonelada, servindo como propagandista da raça que até então era questionada, erroneamente vista como um animal bravio. Nesse evento, definitivamente o Zebu ganha projeção nacional.

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Fundação do HBZ Em 1918, Alceu Miranda e Fernand Ruffier iniciam o processo de criação da Sociedade Herd Book Zebu e em 16 de fevereiro do ano seguinte criam oficialmente a entidade. Procurava-se desenvolver a pecuária mineira e assegurar a manutenção da pureza racial com base no registro sistemático dos animais.

Em 1934, com forte atuação do presidente Fidélis Reis a SHBZ é transformada na Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (SRTM), ampliando o alcance da entidade. O foco dado desde o início ao Registro Genealógico das Raças Zebuínas e as relações políticas visavam o crescimento econômico dos criadores da região.

O direito de se fazer a homologação no Registro Genealógico das Raças Zebuínas de Origem Indiana foi delegado à SRTM pelo Ministério da Agricultura no ano de 1938. A cerimônia de assinatura desse acordo contou com a presença do então Presidente da República, Getúlio Vargas, do Governador de Minas, Benedito Valadares, e do Ministro da Agricultura, Fernando Costa.

Modelo de Registro Genealógico do Herd Book Zebu - Uberaba.

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Touro Torneio, o primeiro animal registrado da raça Indubrasil, marcado pelo presidente Getúlio Vargas na presença do proprietário, João Machado Borges, em 1938.

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Origens da ABCZ Residência de Joaquim Machado Borges (primeira à esquerda), local onde eram realizadas as reuniões da Sociedade Herd Book Zebu.

Porque o registro genealógico de raças? No início das importações a seleção dos planteis era feito de forma empírica, com base em padrões ainda não bem definidos. Com a instalação do Serviço de Registro Genealógico da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, o órgão passou a expedir certificados de pureza e pedigree dos animais. Toda uma estrutura técnico/ científica foi criada para orientar a seleção e o desenvolvimento do rebanho zebuíno.

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As tradições de Uberaba

O Parque Fernando Costa

Um parque para o Zebu

Surgimento da ABCZ

Em 1941 foi inaugurado o Parque Fernando Costa, com a presença do Presidente da República, Getúlio Vargas, do Interventor do Estado de Minas Gerais, Benedito Valadares e do Ministro da Agricultura, Fernando Costa, que acabou dando nome ao parque.

Em 1967, a SRTM deveria se adequar ao formato de sindicato patronal e com isso corria o risco de perder o direito de fazer o Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas.

As exposições de bovinos até então ocorriam nos fundos do Palácio Episcopal, onde os próprios expositores construíam seus pavilhões.

Por esse motivo, ela foi transformada na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Com essa nova entidade, a criação e o desenvolvimento de instrumentos de melhoramento genético e avaliação se tornaram efetivamente reconhecidos no País e no Exterior.

1967 – Diretoria da SRTM que a transformou em ABCZ.

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brasil

índia

Raças originárias da Índia e raças a partir do cruzamento de Zebus indianos

O “azebuamento” de nosso rebanho

No Brasil temos quatro raças originárias da Índia e outras duas raças desenvolvidas a partir de cruzamentos de Zebus indianos. Entre o primeiro grupo, temos as raças Nelore, Guzerá, Gir e Sindi. No segundo grupo, temos o Indubrasil e o Tabapuã, ambos nacionais, e o Brahman, com formação estadunidense, mas com sangue predominante de animais brasileiros.

Entre as raças zebuínas criadas no Brasil predomina o Nelore, que abarca cerca de 80% desse total nos registros da ABCZ. Com animais puros ou mesmo “anerolados”, a raça é o carrochefe da pecuária brasileira.

Considerado um dos Zebus mais antigos do mundo, o Guzerá foi um dos responsáveis pela popularização da raça no Brasil, período que pode ser classificado como “azebuamento” do rebanho brasileiro.

Induberaba ou Indubrasil

O Indubrasil é um zebuíno nacional, fruto do cruzamento de animais das raças Nelore, Gir e Guzerá. Seu local de “nascimento” é a região de Uberaba, tratando-se portanto do primeiro zebuíno nacional.

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O Brasil e os escritórios regionais da ABCZ Tudo começou em 1919...

Atuação da ABCZ São mais de 19 milhões de animais cadastrados pela sede da ABCZ, Uberaba, e pelos 24 Escritórios Técnicos Regionais em todo o Brasil.

Desde o início em 1919 como Herd Book Zebu e depois por um século de existência como ABCZ, a entidade filiou mais de 21 mil associados e tem constante atuação no setor de agronegócio, na política e na sociedade em geral.

O Serviço de Registro Genealógico, do Melhoramento Genético e fomento das raças zebuínas contribuiu para o crescimento do mercado mundial da carne e do leite. Em média, são registrados pela entidade 600 mil zebuínos ao ano.

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O Zebu no mundo

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A dispersĂŁo pelo planeta

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LINHA DO TEMPO Fernand Ruffier e Alceu Miranda desenvolvem as bases para a formação do Herd Book Zebu no ano de 1918. Fundação e escolha no dia 16 de fevereiro da primeira diretoria da Sociedade do Herd Book Zebu (SHBZ). Primeira entidade oficial a registrar a genealogia das raças de Zebu no mundo, funcionou no Jockey Club de Uberaba, depois na Câmara Municipal e por fim, na residência de Joaquim Machado Borges, onde eram realizadas as primeiras reuniões. Compunham a diretoria: Geraldino Rodrigues da Cunha, Manoel Borges de Araújo, Alceu Miranda, Antônio Borges de Araújo, José Caetano Borges, José Afonso Ratto e Raimundo Soares de Azevedo. No total a SHBZ contou com 93 fundadores.

1919

1938

Criação da Sociedade Pastorial do Triângulo Mineiro (SPTM), com apoio da diretoria do SHBZ, visando divulgar e exportar animais e assim amenizar a grave crise econômica verificada na região do Triângulo Mineiro.

1922

É assinada a Convenção de Roma para unificação do Registro Genealógico das Raças Bovinas e o Brasil se torna signatário do acordo.

Inauguração da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (SRTM) em 18 de julho.

Além da crise mundial de 1929, a peste bovina ajuda a forçar a interrupção de transações de gado gordo no Triângulo Mineiro, Goiás, Mato Grosso e São Paulo com seus frigoríficos exportadores. Esta situação leva a SHBZ ao declínio nos anos seguintes.

1936

1934

1929

Firmado um convênio com o Ministério da Agricultura para a realização dos Registros Genealógicos das Raças Bovinas de Origem Indiana, em regime de Livro Aberto, em todo território nacional. São definidos os padrões raciais das raças Gir, Guzerá, Nelore e Indubrasil. Realizados os primeiros registros no Parque da Gameleira, em Belo Horizonte. Homologação pelo Ministério da Agricultura do “Indubrasil” como nova raça.

O touro Aragão é vendido por 500 contos de reis no início da década. A título de comparação, uma fazenda de 700 alqueires alcança esse mesmo valor nessa época.

1939 Lançamento da revista “Zebu”. Criado o emblema oficial do SRTM, o “caranguejo” no formato de um triângulo equilátero e a letra (M), representando a ideia “Triângulo Mineiro”. Por iniciativa de José Caetano Borges é erguido um monumento em homenagem ao touro “Lontra”, um dos primeiros zebuínos introduzidos em Uberaba. A SRTM conta com 165 associados nesse ano.

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da Pecuária Brasileira

1940

O Coronel José Caetano Borges apresenta uma nova raça denominada “Induberaba”, a primeira raça de zebu legitimamente brasileira.

Criadores norteamericanos do Texas, influenciados pelo sucesso do Herd Book Zebu de Uberaba, implantam livro similar para o registro da raça Brahman.

1924

1926

Após o período de auge propiciado pela Segunda Guerra, uma medida governamental que limita a liberação de crédito bancário para compra de gado leva à falência inúmeros criadores de zebu. O preço de um animal de grande valor genético agregado é praticamente o mesmo de um comum de corte (o chamado vale quanto pesa). Exportação de animais vivos para o México.

1941 Inaugurados o Parque Fernando Costa, a Fazenda Experimental Getúlio Vargas e a sede da SRTM.

1946

1951 Nasce o reprodutor “Chave de Ouro”, um dos maiores genearcas de toda história da raça Gir.

1952 Importação no país da raça Sindi, através do Paquistão feita por Felisberto de Camargo.

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Da Sociedade do Herd Book Zebu Decretada a “Lei do Reajustamento”, medida oficial que contribui para acabar com a crise que assola a pecuária há mais de uma década. Publicado por Antônio Mies Filho e Augusto José Rosa os primeiros resultados com sêmen bovino congelado em gelo seco e álcool no Brasil, com resultado de 54% de vacas prenhas.

1954

As Provas de Ganho de Peso são oficializadas pela ABCZ e a entidade dá início ao Registro Genealógico da raça Tabapuã.

1972

1974

O veterinário David E. Bartlett da American Breeders Service (ABS) apresenta ao Brasil uma técnica inovadora de inseminação de sêmen congelado em nitrogênio.

Celso Garcia Cid, Torres Homem Rodrigues da Cunha, Veríssimo Costa Júnior e Rubens Andrade de Carvalho realizam umas das mais importantes importações de zebuínos para o Brasil.

1957

1958

1960/1962

Fundado no Paraná por Celso Garcia Cid o primeiro laboratório de coleta de sêmen bovino. Durante a gestão Edilson Lamartine Mendes a SRTM se transforma em Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).

1967

A raça Nelore variedade Mocha tem seus primeiros registros realizados pela ABCZ em 25 de fevereiro.

A ABCZ dá início às Provas Zootécnicas, que se tornam com o passar dos anos os pilares das avaliações genéticas. As provas integram um amplo programa nacional de melhoramento do Ministério da Agricultura, denominado PRONAMEZO, e particularmente o Prozebu. É criado um serviço de coleta de sêmen do touro importado Karvadi em Araçatuba.

1970

1969

1968

1976

Implantado o teste de Progênie para leite pela Embrapa/ Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite (CNPGL). Essa década é marcada pela pesquisa agropecuária, com a assistência técnica e a extensão rural, promovendo soluções para desenvolvimento do espaço rural, que assim ganha maior dimensão e entra em uma nova fase com maior oferta de produtos, diminuição de custos e maior competitividade.

É lançada a Revista ABCZ. Nessa década ocorre uma forte expansão das fronteiras agrícolas, ampliando o alcance da pecuária, agora em direção à região CentroOeste do País.

Em 31 de janeiro foram registrados pela ABCZ os primeiros animais da raça Gir, variedade Mocha.

A ABCZ instituiu a Fundação Educacional para o Desenvolvimento das Ciências Agrárias (FUNDAGRI), entidade que se torna a mantenedora da Faculdade de Zootecnia de Uberaba (FAZU), inaugurada no ano seguinte. Tem início o Controle Leiteiro oficial da ABCZ.

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Mesmo enfrentando barreiras governamentais, Joaquim Martins Borges importa um lote de gado da Índia que entra no Brasil pela Bolívia.

A ABCZ se torna a entidade coordenadora das exportações de zebuínos com o aval do Ministério da Agricultura. A introdução da braquiária na década anterior possibilita uma verdadeira revolução no campo que agora se expande por regiões onde a pecuária tinha baixa penetração, possibilitando a partir de então altos níveis de produção, especialmente na região do Cerrado. Surgem as grandes centrais de genética bovina no País, tendo como resultado a disseminação da inseminação artificial ao longo da década.

1971

É fundada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada diretamente ao Ministério da Agricultura.

aos nossos tempos

1977 O Governo Federal autoriza a doação do Parque Fernando Costa à ABCZ e no ano seguinte é fundada a nova sede da entidade.

1979

1981 Instalado o Centro de Processamento de Dados da ABCZ.

1984

1985

Em parceria com a Embrapa, a ABCZ lança o primeiro Sumário Nacional de Touros das Raças Zebuínas – um grande passo para a evolução das avaliações genéticas que permanecem atuais. Inaugurado no Parque Fernando Costa o Museu do Zebu Edilson Lamartine Mendes. Criado o título de Honra ao Mérito pela ABCZ, destinado àqueles que contribuíram para a difusão da pecuária zebuína.

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O Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ) é lançado oficialmente durante a EXPOZEBU. Até essa data são mais de 12 milhões de animais avaliados, auxiliando os criadores a identificarem os bovinos mais precoces, mais férteis, com melhores índices de ganho de peso ou de produção leiteira. São base para a coleta de dados e informações que alimentam o PMGZ as seguintes provas zootécnicas: o Controle de Desenvolvimento Ponderal (CDP), as Provas de Ganho de Peso (PGP) e o Controle Leiteiro (CL).

1992

Lançamento dos PMGZ-Internacional e PMGZ-Genômica.

2017

1994

O Ministério da Agricultura e Pecuária autoriza a ABCZ a realizar os primeiros registros de zebuínos clonados.

2009

Números Gerais • Com 221 milhões de bovinos o Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo.

(fonte: Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes - ABIEC)

• O PIB da pecuária brasileira representou R$ 430 bilhões de reais do PIB total da economia em 2017.

(fonte: Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA/ESALQ)

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A ABCZ integra uma missão oficial e visita a Índia juntamente com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Nessa oportunidade é firmado um protocolo de intenções de intercâmbio de material genético de zebuínos entre os dois países. É introduzida nas Provas de Ganho de Peso da ABCZ a modalidade pasto. Ocorre também a disseminação do uso da sofisticada técnica de Transferência de Embriões. Com o surgimento da doença da “vaca louca” na Europa, a carne brasileira ganha novos mercados do Velho Mundo. O Brasil se beneficia por suas características de criação a pasto, método que apresenta vantagens em relação ao confinamento de animais na Europa. Disseminação da produção industrial do leite longa vida.

A Expozebu alcança dimensão internacional. A raça Brahman recebe autorização do governo para ser introduzida o Brasil. É fundada em Londrina, a Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB). Em 1997 sua sede foi transferida para Uberaba.

1996

Em dezembro chega da Índia uma primeira remessa de embriões zebuínos das raças Gir, Guzerá e Nelore. Nos anos seguintes, novas remessas de material chegam ao Brasil. Lançamento da Expogenética.

2008

A Expozebu desse ano é marcada pela volta do julgamento da raça Sindi, nesse caso, com 30 animais inscritos.

É criado o “Brazilian Cattle” em parceria com a Apex-Brasil, com o objetivo de exportar zebus e seu pacote tecnológico agregado.

2003

2006

da Pecuária Brasileira • Cerca de 80% do rebanho é composto por animais de ascendência das raças zebuínas.

(fonte: Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes - ABIEC)

• O setor da pecuária gera matéria-prima básica para 50 produtos industriais.

• Na reparação do período de maior recessão econômica brasileira, em 2017, o PIB do agronegócio registrou crescimento de 3,6%. (fonte: Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes - ABIEC)

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O Zebu: tradições, manifestações populares na cultura brasileira

De Norte a Sul é possível identificar referências ao Zebu em muitas práticas e manifestações culturais, incluindo literatura, escultura, dança e outras.

Suas representações da vida sertaneja nordestina trazem junto ao Zebu imagens de um povo trabalhador, de grandes figuras históricas nordestinas, animais e situações cotidianas – do sofrimento com as secas à felicidade durante os festejos tradicionais. Outro escultor, Arlindo Castellani, retrata em dois painéis de bronze a vida rural brasileira, também fazendo referência ao Zebu. Os painéis intitulados “Agricultura e Pecuária”, ambos expostos no Museu do Zebu, no Parque Fernando Costa, foram criados em 1942 e doados à ABCZ em 1998.

Um exemplo é a temática zebuína presente no conto “Conversa de Bois”, do escritor mineiro Guimarães Rosa. Nele, os bois “discutem” a relação problemática entre o animal e o ser humano, entre o Homem e a Natureza, entre o poder e a fraqueza.

O conto foi publicado em 1946 no livro “Sagarana”, mas foi escrito por volta de 1938, atestando a presença do Zebuíno na vida rural brasileira desde a primeira metade do século XX. Já Mestre Vitalino, grande escultor pernambucano, também eternizou a figura do Zebu em suas imagens de barro.

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“Agricultura e Pecuária”, de Arlindo Castellani.

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Homenagem à José Antônio da Silva

o zebu nas artes plásticas

No campo das artes plásticas, temos também o trabalho do pintor primitivista e trabalhador rural José Antônio da Silva. Os temas de sua arte incluem naturezas – mortas, sacra, marinha, histórica e de gênero. É interessante notar que quase sempre a representação bovina é aquela que caracteriza o Zebu, com seu típico cupim.

Esses são exemplos de manifestações artísticas que se inspiram e revelam o mundo do Zebu. Com tais expressões percebemos o quanto a raça está presente na nossa cultura, sobretudo nas populações rurais, onde temos uma presença cotidiana, servindo como inspiração para diferentes práticas artístico-culturais.

“Bois no pasto”, de José Antônio da Silva.

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O Zebu na música e no Boi-bumbá O Festival Folclórico de Parintins, no estado do Amazonas, também comprova a influência do Zebu na vida cultural no país. Trata-se de um espetáculo de projeção internacional, que inclui música, dramaturgia com temática indígena, alegorias (esculturas), desfiles e luxuosas fantasias. A competição de três noites envolve duas agremiações da cidade, ou bois: o Caprichoso e o Garantido – ambos apresentados como imponentes Zebus.

MUSEU DO ZEBU E DEPARTAMENTO DE ARTE E CULTURA Uma parceria que fortalece as iniciativas culturais da secretaria municipal de educação

Por sua dimensão, esse festival é uma das maiores expressões da inserção do Zebu na vida cultural nacional.

O Museu do Zebu e a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu ABCZ promovem ações conjuntas que visam contribuir periodicamente com a formação educacional, por meio da realização de atividades educativas e culturais, envolvendo a história, o patrimônio cultural e a trajetória do Zebu em todos os seus segmentos.

Garantido (esq.) e Caprichoso (dir.) no Festival de Parintins em 2017.

O Zebu também se faz presente na música, um exemplo é a obra do renomado compositor uberabense Joubert de Carvalho. Em um CD recentemente lançado pelo músico e pianista Randolfinho Borges, há uma faixa de autoria de Joubert chamada “Zebu na Ponta”. No Carnaval do Rio de Janeiro no ano de 2018, o Grêmio Recreativo Mocidade Independente de Padre Miguel, trouxe como tema de seu desfile na Sapucaí a relação entre Brasil e Índia. Um dos destaques foi um carro alegórico que tinha como destaque as raças zebuínas de origem indiana hoje tão presentes no país.

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Essas ações possibilitaram uma parceria mais efetiva entre a ABCZ, Museu do Zebu e a Secretaria Municipal de Educação de Uberaba e seu Departamento de Arte e Cultura, que culmina com a formalização de um Termo de Cooperação Técnica. Essa parceria pretende socializar o conhecimento referente a conteúdos inerentes à cultura zebuína; a socialização da História do Zebu, que permeia a História do Brasil; e também contribuir para ampliar a democratização do acesso às soluções viáveis de incentivo à permanência do Homem no Campo.

CONSELHO CURADOR Jairo Machado Borges Furtado – Presidente Gilberto de Oliveira Dias – Secretário Eduardo Nogueira Borges – Tesoureiro CONSELHO DELIBERATIVO Gustavo Laterza de Deus – Presidente Ana Claudia Mendes Souza – Secretária Luis Fernando Finhold Rocha CONSELHO FISCAL Oscar José Caetano de Castro Ilza Helena Kefalás Oliveira Leonardo Moraes Bittar REPRESENTANTES DA COMUNIDADE Dionir Dias de Oliveira Andrade Eliane Mendonça Marquez de Rezende Maria Antonieta Borges Lopes

EXPEDIENTE

Thiago Riccioppo – Coordenador de Pesquisa e Textos Base Erick Pasqua – Projeto Gráfico Giulia Constante Simões, Maíra Cristina Tomé Fonseca, Maria Goretti dos Santos, Matheus Saldanha Duarte, Pedro Henrique Chumbinho Sodré – Pesquisa e Textos Base Dionir Dias de Oliveira Andrade e Luiz Antonio Josahkian – Revisão Técnica, pela ABCZ Ney Braga – Autor dos personagens da Turma do ZEBUzinho Fotografias: Acervo do Museu do Zebu Edilson Lamartine Mendes Editora Bela Vista Cultural / FabioAvillaArtes Sérgio Simões – Adaptação textual Impressão e acabamento – W/S Editora e Gráfica Tiragem: 5 mil exemplares Printed in Brazil, 2019

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PRESIDENTE Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges VICES 1° VICE - Cláudio Sabino Carvalho Filho 2° VICE - Marco Antônio Andrade Barbosa 3° VICE - Ronaldo Andrade Bichuette DIRETORES Ana Claudia Mendes Souza Arnaldo Prata Filho Cícero Antônio de Souza Claudia Irene Tosta Junqueira Eduardo Falcão de Carvalho Fabiano França Mendonça Silva Gabriel Garcia Cid Gil Pereira Luiz Antônio Felippe Marcelo Antônio Neto Breijão Ártico Marcos Antônio Astolphi Gracia Rivaldo Machado Borges Júnior Valdecir Marin Júnior APOIO:


Entre no nosso site e venha se divertir

Zebu Games

www.abcz.org.br/jogos Siga-nos:

Associação Brasileira dos Criadores de Zebu www.abcz.org.br

Museu do Zebu “Edilson Lamartine Mendes” museudozebu@abcz.org.br Praça Vicentino Rodrigues da Cunha, 110 Bloco 22 – CEP: 38022-330 Uberaba (MG) Fone: (34) 3319-3879 / 9991-8551

Venha nos visitar, agende sua visita Horário: 13h30 às 17h30 (De Segunda à Sexta-feira), 8h às 17h (Sábado e Domingo)


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