Revista Turma do Zebuzinho - 7ª edição

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ANO 7 / Nº 7 / 2020
Uberaba 200 anos: o zebu também faz parte dessa história ZEBU

EDITORIAL

Em suas mãos chega a 7ª Edição da Revista Turma do ZEBUzinho. A cada ano, procuramos inovar o conteúdo. Desta feita, ressaltamos a contribuição das raças zebuínas no Brasil e a importância de Uberaba nesse contexto, possibilitando ao país se tornar um líder internacional na pecuária.

A cidade hoje é mundialmente reconhecida pela excelência na criação das raças zebuínas, fundamentada no uso de tecnologias de ponta relacionadas ao Zebu e ocupando posição de destaque nacional na produção de riqueza gerada a partir da agropecuária. Contemplamos a comemoração dos 200 anos de Uberaba, conhecida internacionalmente como a “Capital do Zebu”, destacando os personagens históricos, a arquitetura, os pioneiros, as fazendas, as importações, a criação da ABCZ, a educação, a cultura e a arte.

A presente publicação colabora com as Redes de Ensino Municipal e Estadual no entorno de Uberaba, em sintonia com as parcerias firmadas com essas esferas oficiais. Nesse sentido, o Museu do Zebu desenvolve projetos como o “Zebu na Escola”, que visa o desenvolvimento de atividades socioeducativas, destacando o protagonismo da zebuinocultura e sua influência na formação da memória e identidade uberabense.

Além disso, o Museu desempenha um papel importante na “Ação Formativa de Professores”, ligada à Rede Municipal de Ensino, objetivando a promoção de discussões sobre a trajetória do Zebu e os desdobramentos na formação cultural, social e econômica da região. Para isso, tem como enfoque a história do município, com essa temática incluída nas Matrizes Curriculares das Escolas Municipais.

Como o ato de aprender deve ser diário, a Turma do ZEBUzinho não é indicada apenas às crianças e adolescentes. Sua abordagem inovadora permite tornar o conteúdo atrativo para pessoas de todas as idades.

Boa leitura!

SUMÁRIO 6 TURMA DO ZEBUZINHO 7 VAMOS APRENDER MAIS SOBRE CADA UMA DAS RAÇAS DE ZEBU E SUAS VARIEDADES 14 ORIGENS DA CAPITAL DO ZEBU 15 OS PRIMEIROS HABITANTES 16 CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS ALDEAMENTOS 17 DESCOBERTA DE OURO EM DESEMBOQUE 18 INÍCIO DA FORMAÇÃO DE UBERABA 19 A INFLUÊNCIA DO MAJOR EUSTÁQUIO 20 DE ARRAIAL A CIDADE 23 A OCUPAÇÃO URBANA 24 OS IMIGRANTES CHEGAM A UBERABA 25 COMPANHIA MOGIANA: TRILHOS QUE TRAZEM O PROGRESSO 27 COMO O ZEBU CHEGOU A UBERABA? 28 UMA HISTÓRIA EM QUATRO VERSÕES 32 LINHA DO TEMPO DAS IMPORTAÇÕES DE ZEBU PARA O BRASIL ARQUITETURA EM UBERABA FAZENDAS DO TRIÂNGULO BRASIL Sindi
38 100 ANOS DA ABCZ 39 PROGRAMA DE MELHORAMENTO GENÉTICO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS 40 LINHA DO TEMPO DOS PRESIDENTES: DA SOCIEDADE DO HERD BOOK ZEBU À ABCZ 42 BRASIL LIVRE DA FEBRE AFTOSA E SEM VACINAÇÃO 43 BENEFÍCIOS DA CARNE E DO LEITE 44 OS SUBPRODUTOS DO BOI 45 GEOPARK UBERABA – TERRA DE GIGANTES 47 O MUSEU DO ZEBU 48 PARQUE FERNANDO COSTA: UM MUSEU A CÉU ABERTO UFTM 49 FMTM, A CONCRETIZAÇÃO DE UM SONHO! 50 POLO EDUCACIONAL 51 QUALIDADE EM SAÚDE 52 28 DE ABRIL DE 1954 53 O CAMPUS I DA UFTM 54 O PRESIDENTE KUBITSCHEK EM UBERABA 55 NASCE A UFTM 56 DA ALGEMA AO LÁPIS I EM Tabapuã

O Brasil não seria um dos principais produtores de carne do Mundo se não fosse a contribuição decisiva das raças zebuínas importadas da Índia e do Paquistão (berços do Zebu).

Raças como Gir, Guzerá, Nelore, Sindi, Cangaian e Punganur foram trazidas do outro lado do Mundo e aqui se adaptaram muito bem, graças à sua rusticidade e às semelhanças ambientais e climáticas entre a Índia, o Brasil e o Paquistão.

Além dessas, outras duas raças importantes foram formadas no Brasil (o Indubrasil e o Tabapuã) e uma terceira, o Brahman, criada nos EUA, todas elas com base em cruzamentos sucessivos.

Com isso, hoje totalizam nove raças zebuínas e suas variedades oficialmente reconhecidas no Brasil pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu - ABCZ.

TURMA DO ZEBUZINHO

RAÇAS ZEBUÍNAS NO BRASIL

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Revista Zebu, de maio de 1956, destaca o criador de Gir da marca R, Rodolfo Machado Borges. Acervo: Museu do Zebu (MZ).

Vamos aprender mais sobre cada uma das raças de Zebu e suas variedades

GIR

A raça indiana Gir é originária de regiões como Rayputana e Baroda, bem como das terras férteis da região de Gir, ao sul da península de Kathiawar, na Índia. Lá, essa raça é chamada de Gyr e existem rebanhos com linhagens de criação (seleção genética de animais de melhor qualidade) de mais de 300 anos.

Surgido no Brasil na década de 1940 e embora seja criado para produção de carne, o Gir Mocho, ou seja, sem chifres, é um animal com boa produtividade de leite, alimento saudável e fundamental para o bem-estar do ser humano.

Martelo, primeiro touro Gir registrado no SRG de 1938. Acervo: MZ. Rodolfo Machado Borges, um dos pioneiros na criação de Gir no Brasil. Existe um busto construído em sua homenagem no Parque Fernando Costa em Uberaba. Acervo: MZ Touro Chave de Ouro, de Rodolfo Machado Borges, um dos pioneiros da raça Gir. Sua morte, em 1967, foi noticiada pelo famoso “Repórter Esso”. Acervo: MZ. O criador Celso Garcia Cid com o touro importado da Índia, Krishna, no início da década de 1960. Acervo: MZ. Gir
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Gir Mocho

Vamos aprender mais sobre cada uma das raças de Zebu e suas variedades

GUZERÁ

Na Índia, na região de Gujarat, próxima a Ahmedabad, onde recebe o nome de Kankrej, temos o local de origem dessa importante raça.

Foi uma das primeiras raças a ser importada, na década de 1870, pelos barões fluminenses do Vale do Paraíba. Ela era utilizada como opção de tração, de transporte e na produção de carne e leite. Esse animal resistente e muito fértil foi sendo trazido da Índia ao longo do século XX, ajudando a formar o rebanho brasileiro.

Um recorde que entrou para a história se deve ao touro Guzerá Pavilhão, que em 1922, na Exposição do Rio de Janeiro, superou a barreira histórica de uma tonelada de peso.

Guzerá Vestígios arqueológicos com representações do gado Guzerá de Mohenjo-Daro e Harappa, de cerca de 2.600 a.C. Fonte: Harappa.com Touro Pavilhão de João de Abreu Júnior, o grande campeão da Exposição Nacional de 1922 do Rio de Janeiro, foi o primeiro zebu a ultrapassar a barreira de uma tonelada. Acervo: MZ. Bovinos da raça Guzerá na Fazenda São Geraldo de Mário Franco Jr. Fotógrafo: Jadir Bison. Acervo: MZ. Touro Lontra, um dos primeiros zebuínos da raça Guzerá a entrar em Uberaba, em 1889. Acervo: MZ.

NELORE

A raça Nelore corresponde ao Ongole da Índia. No Nelore brasileiro há também contribuição genética de outras raças, como a Misore.

Cerca de 80% do rebanho brasileiro tem herança do sangue Zebu e a maioria de Nelore.

Ele destaca-se pela facilidade com que ganha peso, sendo hoje responsável pelo aumento da oferta de carne bovina no Brasil e no Mundo.

Vaca Vitória, importada por Manoel Lemgruber em 1878. Acervo: MZ. Touro Karvadi, vencedor de campeonatos na Índia em Andhra Pradesh, no ano de 1958, com seu antigo proprietário, o indiano Polavarpu Hamumaiah (terceiro à direita). O segundo à direita é o Primeiro-Ministro indiano Nehru, fato que mostra sua importância antes mesmo da chegada ao Brasil. Acervo: MZ.
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Vaca Simpatia de Ovídio Miranda de Brito. Em 1969 foi feito o primeiro registro pela ABCZ da raça Nelore Mocho, isso em Araçatuba, SP. Acervo: MZ. Nelore Nelore Mocho

Vamos aprender mais sobre cada uma das raças de Zebu e suas variedades

INDUBRASIL

É uma raça genuinamente brasileira formada no Triângulo Mineiro na década de 1920, quando se chamava Induberaba em homenagem feita ao município de Uberaba pelo pioneiro da raça José Caetano Borges... A raça é originária dos cruzamentos entre Gir, Nelore e Guzerá. O Indubrasil é considerado um excelente produtor de carne e dotado de

Indubrasil

As capas do “O Estado de São Paulo” em 1937 e 1938 mostram a disputa entre José Caetano Borges e João Machado Borges pela hegemonia e o nome da raça, entre Induberaba e Indubrasil. Acervo: MZ. O pioneiro da raça José Caetano Borges e seu filho recebem o jurado norteamericano Frank Scofield, ao centro, na Fazenda Cassu, em meio a animais Indubrasil. Acervo: MZ. Fazenda Santa Luzia, em Araxá, da família de Neca de Paula, um dos pioneiros da raça Indubrasil nesta localidade. Acervo: MZ. grande rusticidade.

TABAPUÃ

Foi o primeiro grupamento mocho (sem chifres) surgido no Brasil na década de 1940, formado através de linhagens constituídas por cruzamentos de animais Guzerá, Gir e Nelore, essa última como principal raça formadora.

Teve sua origem no município do mesmo nome, em São Paulo, na Fazenda Água Milagrosa, de Alberto Ortenblad.

Tabapuã
Touro Tabapuã Imaterial, na Expozebu de 1972. Acervo: MZ. Campeã Tabapuã, 1971. Acervo: MZ.
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Reunião do Conselho Técnico da raça Tabapuã, 1999. Acervo: MZ.

Vamos aprender mais sobre cada uma das raças de Zebu e suas variedades

SINDI

A raça é originária da região de Kohistan, na parte Norte da província de Sind, no Paquistão, país vizinho da Índia.

Uma importação realizada por Manoel de Oliveira Prado e Ravísio Lemos, em 1930, trouxe animais desta raça ao Brasil. Contudo, a maioria dos animais de hoje em dia descendem quase todos daqueles importados do Paquistão por Felisberto de Camargo, em 1952.

CANGAIAN

A raça é muito empregada no campo, como opção de transporte leve, trabalhando até 10 horas por dia sem sinal de cansaço.

O rebanho atual de Cangaian foi introduzido aqui na década de 1960. As fêmeas são de pequeno porte, pesando entre 320 e 420 kg, e os machos, de porte maior, entre 480 e 600 kg.

A raça Cangaian não é utilizada em grande escala no mercado brasileiro, havendo apenas alguns poucos criadores.

Felisberto de Camargo, importador de Sindi na década de 1950. Acervo: MZ. Gado Sindi importado do Paquistão, sendo embarcado após quarentena na Ilha Fernando de Noronha para o Continente, década de 1950. Acervo: MZ. Primeiro registro da raça Cangaian, em 1988. Acervo: MZ.
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Gado Cangaian. Fotógrafo: Jadir Bison. Acervo: MZ.
a do por Camargo,
Cangaian Sindi

BRAHMAN

A raça Brahman foi desenvolvida nos Estados Unidos, a partir do cruzamento de raças como Nelore, Gir, Guzerá, Krishna Valley, entre outras. Tal desenvolvimento teve como finalidade principal a alta produtividade de carne. Além dos animais importados da Índia pelos americanos, o zebu brasileiro também deu sua contribuição à formação do Brahman, a partir da década de 1920, principalmente com as exportações de zebuínos das raças Nelore e Guzerá para o México. Posteriormente, esses mesmos animais foram levados para os Estados Unidos.

Certificado do Herd Book Zebu Uberaba do Guzerá Aristocrata, um dos animais da primeira exportação de Zebu feita por uberabenses e fluminenses, destinada ao México em 1923, de onde seguiu para o Rancho Hudgins, nos EUA. Aristocrata teve como filho o touro Manso, considerado o principal genearca formador da raça Brahman. Acervo: Rancho Hudgins, EUA.

Touro exportado para o México em 1923, de onde seguiu para os EUA. Acervo: MZ.

PUNGANUR

Outra raça introduzida na década de 1960. O Punganur tem porte pequeno, quase do tamanho de um cachorro grande, podendo ser considerado um zebu miniatura.

O Punganur não tem característica comercial para o mercado da carne e leite, a sua criação é feita por simpatizantes da raça.

Brahman
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Bezerro Punganur apresentado durante o lançamento da Revista Turma do Zebuzinho, em 2019. Acervo: MZ.

ORIGENS DA CAPITAL DO ZEBU

O SERTÃO DA FARINHA PODRE

Agora vamos apresentar para vocês um pouco da História de Uberaba, que em 2020 completou 200 anos e ostenta o título de Capital Mundial do Zebu!

No século XVIII a área do atual município de Uberaba integrava o chamado Sertão da Farinha Podre, que correspondia à região delimitada pelo ângulo formado no encontro dos rios Grande e Paranaíba, hoje denominada Triângulo Mineiro. Nessa época, tal “sertão” estava sob a jurisdição da Província de São Paulo e o efetivo processo de ocupação só tomou forma após a descoberta do ouro nas regiões de Goiás e Mato Grosso.

denominada

de 1836 identificando o Sertão da Farinha Podre e sua relação administrativa com Mato Grosso e Goiás. Acervo: Biblioteca Nacional de Portugal.

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Mapa Guzerá Gir

OS PRIMEIROS HABITANTES

Os habitantes originais do Sertão da Farinha Podre eram os indígenas Tremembés. Porém, após guerras travadas pelo domínio do território eles foram expulsos pelos Caiapós.

A ESTRADA DO ANHANGUERA

Entre 1722 e 1725 os sertanistas paulistas sob a liderança de Bartolomeu Bueno da Silva, o lendário Anhanguera, descobriram as minas no território goiano, formando no Centro-Oeste os primeiros núcleos de exploração, no entorno de Vila Boa de Goiás (atual município de Goiás ou Goiás Velho).

Havia a intenção dos exploradores paulistas de se criar um caminho prático que ligasse a província de São Paulo a essa região mineradora. Surgia assim, a Estrada do Anhanguera.

Mapa identificando a Estrada do Anhanguera, por volta de 1736. Fonte: Livro “A Oeste das Minas”, de Luís Augusto Bustamante Lourenço.
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Pintura estilizada do bandeirante Bartolomeu Bueno (Anhanguera) feita por Calmon Barreto. Ele era mameluco, ou seja, uma mistura de branco europeu, com indígena. Acervo: Fundação Calmon Barreto. Nelore Indubrasil

CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS ALDEAMENTOS

No período de ocupação da região Centro-Oeste, o Triângulo Mineiro passou a pertencer à capitania de Goiás, mas os indígenas Caiapós dificultavam o tráfego dos exploradores paulistas e colonizadores, fato que ameaçava a exploração do ouro.

Em 1749 a Coroa Portuguesa decidiu exterminar tais grupos indígenas e o sertanista paulista, Antônio Pires de Campo, foi o encarregado dessa missão punitiva que contou com o reforço de 500 indígenas Bororo.

Os Caiapós sobreviventes tiveram que viver submetidos ao controle dos colonizadores brancos. Dessa forma, após o confronto, foram formados inúmeros aldeamentos, locais destinados à proteção da estrada. Nas chamadas Terras Aldeanas eram desenvolvidas as primeiras atividades comerciais, facilitando a vida de quem transitava pelo caminho.

Mapa identificando os aldeamentos distribuídos na Estrada do Anhanguera (ou dos Goiases), de 1748 a 1816. Fonte: Livro “A Oeste das Minas”, de Luís Augusto Bustamante Lourenço.

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Tabapuã Brahman

DESCOBERTA DE OURO EM DESEMBOQUE

O SERTÃO DA FARINHA PODRE

A descoberta de ouro e diamantes na região de Desemboque, nas franjas da Serra do Espinhaço, incentivou o processo de migração para essa localidade. Entretanto, o desenvolvimento do comércio ocorreu não somente pela extração aurífera, mas também devido ao contrabando de metais de outras regiões de Minas Gerais, que eram legalizadas no região do Desemboque, então Goiás definiu o Desemboque como parte de seu território. Surgia assim o Julgado do Desemboque.

A primazia do Julgado do Desemboque foi anulada com a anexação da região do Sertão da Farinha Podre à capitania de Minas Gerais. Com o fim do contrabando, o Desemboque entrou em fase de declínio. Em compensação, outras regiões do Triângulo Mineiro passaram a ser ocupadas e exploradas.

ORIGEM DO TERMO TRIÂNGULO MINEIRO

Em 1840, chegava ao Brasil o médico francês Henrique Raimundo Trigant des Genettes. Em um primeiro momento se estabeleceu no Rio de Janeiro, mudando-se em 1845 para a cidade de Uberaba, onde exerceu diferentes atividades além da Medicina. Em 1874 ele fundou o jornal “O Paranahyba” (O Paranaíba), e batizou o território localizado entre os rios Grande e Paranaíba como “Triângulo Mineiro”, por sua forma triangular.

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Matriz de Nossa Senhora do Desterro do Desemboque, Sacramento - MG, construída em 1743. Acervo Iconográfico: Arquivo Público Mineiro. Sindi Gir Mocho

INÍCIO DA FORMAÇÃO DE UBERABA

A formação de Uberaba teve início no ano de 1806, com o sertanista José Francisco de Azevedo. Ele instalou um pequeno núcleo habitacional próximo à nascente do Ribeirão do Lageado, formado por casas simples de colonizadores que chegavam do outrora movimentando Desemboque.

O núcleo colonizador se estabelecia a cerca de 15 quilômetros do aldeamento indígena e era conhecido como Arraial da Capelinha (ou Lageado), onde havia uma capela erguida sob inspiração de Santo Antônio e São Sebastião.

havia

O arraial é composto de umas trinta casas espalhadas nas duas margens do riacho (Córrego da Lage) e todas, sem exceção, haviam sido recém-construídas sendo que algumas ainda estavam inacabadas quando ali passei. Muitas delas eram espaçosas e feitas com esmero (...). Os habitantes do lugar estavam tentando conseguir com que o Governo Central elevasse o arraial a sede de paróquia.”

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem à Província de Goiás. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975, p. 128.

Auguste Saint-Hilaire. Reprodução de Henrique Manzo. Acervo: Museu Paulista da USP, São Paulo.
“ ” 18

A INFLUÊNCIA DO MAJOR EUSTÁQUIO

Essa fazenda se localizava onde hoje está situada a Fazenda Experimental da EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), próxima da Univerdecidade.

Além disso, o retiro de Major Eustáquio foi construído no local hoje conhecido como Praça Rui Barbosa, centro de Uberaba.

Major Eustáquio, monumento construído em frente a sede da Câmara Municipal de Uberaba. Acervo: MZ.

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No ano de 1806, o sargento-mor Antônio Eustáquio da Silva Oliveira, o Major Eustáquio, ergueu na região uma primeira fazenda. Algum tempo depois, ainda às margens do córrego, construiu um retiro que deu origem ao lugar conhecido por Paragem de Santo Antônio. Gir Guzerá

DE ARRAIAL A CIDADE

200 ANOS DA FUNDAÇÃO DE UBERABA

Por volta de 1815 a 1817, a população do Arraial da Capelinha se transferiu para as margens do córrego das Lages, levando as imagens do padroeiro de Santo Antônio e São Sebastião para uma capela próxima. Tal capela deu origem à Matriz, onde hoje se localiza a praça central Rui Barbosa.

Essa região se tornou próspera e foi elevada, em 1820, à condição de Freguesia – assim são chamados os povoamentos formados próximos a uma igreja paroquiana – tornandose a Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba.

Em 1836, a Freguesia foi transformada em Vila, contando com uma praça central, onde o povo se reunia para buscar água da fonte, comprar e vender todo tipo de utensílios. A antiga Freguesia havia adquirido autonomia e a Câmara passou a administrar o município e ordenar todo o desenvolvimento urbano.

Foi somente em 1856 que Uberaba foi elevada à condição de cidade, tornando-se regionalmente um influente centro comercial.

Cemitério de Uberaba,

Planta de Uberaba em 1855, onde se observa entradas e saídas, bem como a ocupação do núcleo urbano feita em meio a regos e córregos. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.

Cursos d´água dentro dos quadrados: • (1) Córrego das Lages;

(2) Córrego das Bicas;

(3) Rego dos Bois;

(4) Rego dos Lemes;

(5) Rego do Marinho;

(6) Rego do Comércio;

(7) Córrego Santa Rita;

(8) Rego do Capão;

(9) Córrego do Barro Preto.

Números dentro dos círculos: • (1) Colina dos Estados Unidos;

(2) Colina da Boa Vista;

(3) Colina da Misericórdia;

(4) Colina do Barro Preto;

(5) Colina da Matriz;

(6) Colina Cuiabá.

1889, construído pelo Frei Eugênio Maria de Gênova. Na foto, a Capela de São Miguel, onde se ergueria mais tarde uma primeira igreja Matriz, hoje Praça Frei Eugenio. Autor: desconhecido. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.
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Nelore

DE MARÇO: O DECRETO DE DOM JOÃO VI

Até alguns anos atrás, o dia 2 de maio era a data oficial do aniversário de fundação de Uberaba. Essa data foi escolhida por conta da fundação da Vila, que aconteceu no ano de 1836.

Mas hoje a data considerada oficial da criação da cidade de Uberaba é 2 de março de 1820, dia do Decreto Régio assinado pelo rei Dom João VI, que estabeleceu a criação da Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba.

S“endo-me presente o grande desgosto que sofre os Colonos estabelecidos no Sertão da Farinha Podre por se verem privados do socorro e pasto espiritual, sem que o possa obter com facilidade da freguesia do julgado do Desemboque que dali dista mais de sessenta léguas: Hei por bem que se estabeleça uma Freguesia no Distrito de Uberaba até a confluência do Rio Paranaíba e Rio Pardo, com a Invocação de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba, dividindo-se com a Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo, e com a Freguesia do Desemboque por onde mais conveniente for: E sem outro sim servido que nesta nova Freguesia haja também uma Capela Curada, no lugar que mais convier para comodidade dos habitantes que novamente se acham por ali estabelecidos. A Mesa de Consciência e Ordens o tenha assim entendido e faça executar com os despachos necessários. Palácio do Rio de Janeiro em Dois de Março de Mil Oitocentos e Vinte. Texto original do decreto acima.

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Fac-símile do Decreto de Dom João VI, de 2 de março de 1820, criando a Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.
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Indubrasil

DESENVOLVIMENTO COMERCIAL E A GUERRA DO PARAGUAI

Entre 1827 e 1854, Uberaba passou por um pujante desenvolvimento comercial em função de se tornar uma praça de sal. Mas esse comércio entra em declínio devido à abertura de novas rotas comerciais com Goiás. A partir de 1864, o comércio foi reativado temporariamente mas com a produção de algodão para exportação à Europa. Uberaba registrou um crescimento significativo de sua população em pouco mais de três décadas. Isso se aplicou também aos escravizados, paradoxalmente quando começava a entrar em declínio a escravidão no país, com a proibição do tráfico negreiro. Essa expansão comercial ocorreu paralelamente à formação das primeiras fazendas de criação de gado Vacum.

Entretanto, foi a distante Guerra do Paraguai que possibilitou que Uberaba se reerguesse comercialmente, pois com o trânsito e estadia das tropas por longos períodos, ocorreu uma aceleração no comércio de mercadorias e alimentos.

Esse efeito coincidiu com o abandono da mineração de diamantes em Bagagem (Estrela do Sul), o que fez com que famílias prósperas de lá migrassem para Uberaba investindo seu capital em novos negócios.

Outras famílias vieram para Uberaba investindo recursos na criação de gado.

Segundo o historiador Hidelbrando Pontes, foi o Major Eustáquio em sociedade com o Vigário Antônio José da Silva, que abriu o porto de Ponte Alta, possibilitando a navegação do Rio Mogi-Guaçu até o Rio Grande para o transporte de sal. Foram abertas também novas estradas em direção ao sul de Goiás onde eram transportados o sal e outros gêneros procedentes do porto de Santos. Pelas rotas salineiras do sertão cruzavam mulas carregadas de diferentes produtos. Gravura coleção particular. A Retirada da Laguna, quadro do uberabense Reis Júnior, mostrando o episódio da Guerra do Paraguai (1864-1870). Acervo: Câmara Municipal de Uberaba, 1923. até o Rio Grande para o transporte de sal. Foram em sul transportados de Goiás
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Brahman

A OCUPAÇÃO URBANA

Entre os anos

Tabapuã

1840 e 1850, surgiram os primeiros prestadores de serviços juntamente com o processo de ampliação da malha urbana, que a partir desse período passou a contar com uma nova Igreja, a do Rosário. Além disso, o momento foi marcado ainda pelo desenvolvimento da histórica Rua do Comércio, hoje Arthur Machado. Igreja Nossa Senhora do Rosário, retratada em pintura de Almeida Carvalho, demolida na década de 1920. Acervo: MZ. Imagem da Rua do Comércio (atual Rua Arthur Machado), no ano de 1904, em Uberaba. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba. Uberaba em 1889 – Festa de Congados em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Foto: José Severino Soares. Acervo: Arquivo Público Mineiro. Antigas casas comerciais da Rua Arthur Machado. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba. Rua Artur Machado em 1885. Ao fundo vê-se a Igreja Matriz Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba (atual Catedral), localizada na Praça Rui Barbosa. Esses locais foram um dos primeiros logradouros públicos de Uberaba. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.
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OS IMIGRANTES CHEGAM A UBERABA

Mercado Municipal de Uberaba, banca de comerciantes japoneses vendendo frutas, hortaliças e cestos em 1956. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.

Inúmeros imigrantes se mudaram para Uberaba em busca de trabalho e de melhores condições de vida, favorecidos pelo desenvolvimento comercial experimentado no século XIX e impulsionado pela chegada da Companhia Ferroviária Mogiana.

Alfaiataria do imigrante italiano Herculano Riccioppo, 1917. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.

Os primeiros grupos de imigrantes foram os franceses e depois os italianos. Posteriormente, vieram os portugueses, espanhóis, árabes, alemães, chineses e japoneses, todos atraídos pelas possibilidades de crescimento que a cidade proporcionava.

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Cangaian Sindi

COMPANHIA MOGIANA: TRILHOS QUE TRAZEM O PROGRESSO

A posição geográfica de Uberaba foi um fator fundamental para seu crescimento econômico, visto que, durante o Ciclo do Ouro, ligava a região do Triângulo Mineiro às minas de Mato Grosso e Goiás e foi, posteriormente, favorecida pelo incremento comercial, quando ficou conhecida como a “boca do sertão”.

A cidade era, portanto, parte de uma rota estratégica ligando o Sudeste ao Centro-Oeste e cada vez mais forte comercialmente.

Um marco importante para a história de Uberaba e do Triângulo Mineiro foi a chegada da locomotiva Minas Gerais pelo Rio Grande, em fevereiro de 1888, uma vez que essa ferrovia representava um novo patamar de progresso econômico.

A chegada da Companhia Mogiana em 23 de abril de 1889 deu condições estruturais e definitiva para o seu desenvolvimento, com o processo de urbanização e o aprofundamento das interações comerciais.

Companhia Ferroviária Mogiana em Uberaba, 1900. Acervo: Arquivo Público do Estado de São Paulo. Trem da Companhia Mogiana cruzando o Rio Grande em Jaguara. Arquivo Cia. Mogiana, Ag. Turismo Rifaina. Gir

Para se julgar do movimento e aumento da população, basta dizer que em 1886, havia na cidade 986 prédios urbanos e quatro anos depois (1890) mais de 1500. A imigração estrangeira tornou-se notabilíssima; abriram-se diversas casas de negócio, algumas das quais com renda superior a 1700 contos de réis. O trânsito de carros de boi era colossal. Havia muitas casas de comissões para mercadorias destinadas ao Triângulo, Goiás e Mato Grosso. Assim permaneceu até 1897, quando a linha férrea Mogiana tocou a ponta de seus trilhos até Araguari.

Hidelbrando Pontes destaca esse período que marca o início de uma fase comercial classificada por ele como “moderna”

“ ”

Princesa do Sertão, pintura parietal na Câmara Municipal de Uberaba de autoria dos artistas espanhóis Vicente Corcione e Rodolpho Mosello. Destaque na imagem para a Praça Rui Barbosa, com um grupo de zebuínos no pasto ao lado de Princesa, orgulho de Uberaba. Acervo: MZ.

1ª Estação da Mogiana em Uberaba com tropas de combatentes durante a Revolução de 1932. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.
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Indubrasil

COMO O ZEBU CHEGOU A UBERABA?

O século XIX marcou o florescimento comercial uberabense, que vai dos anos de 1850 até o início da imigração, da chegada do trem de ferro e do fim da escravidão em 1888. A pecuária com base no Zebu significou uma nova etapa histórica para a região do Triângulo Mineiro e para o Brasil ao longo do século XX.

O registro mais antigo da entrada do Zebu na cidade aparece no relato do jornalista Odorico Costa, quando afirmava que por volta de 1838 já havia zebuínos em Uberaba.

O que se sabe com certeza é que os primeiros zebus a chegarem oficialmente foram trazidos do Rio de Janeiro. Boa parte deles vindos das Fazendas Areias, São Clemente, Boa Sorte e Lordelo, situadas nas proximidades de Cantagalo. Outros, oriundos da região de Porto Novo do Cunha, também no Vale do Paraíba entre as décadas de 1870 a 1880.

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Nelore Mocho

UMA HISTÓRIA EM QUATRO VERSÕES

HILDEBRANDO PONTES

De acordo com o historiador uberabense, “os primeiros exemplares de gado de raça zebu foram introduzidos no Triângulo Mineiro em 1875. O Major Inácio de Melo França, natural do Desemboque e fazendeiro em Jataí, Goiás, comprou em Santa Cruz, RJ, diversos reprodutores bovinos zebu, trazendo-os em seguida para este município. Os exemplares foram vendidos ao Cel. Caetaninho (Fazenda Peranema), Major Cândido Rodrigues da Cunha, Carlos Rodrigues da Cunha, Cel. Joaquim Quintino Teixeira e Major Joaquim Carlos de Oliveira Teixeira, por preços que variavam de 100 a 400 mil-réis.”

Em outro trabalho, mais extenso e minucioso, Pontes diz que o Cel. José Caetano Borges afirmara ao criador e funcionário do Ministério da Agricultura, Durval Garcia de Menezes, que “os primeiros criadores do Triângulo Mineiro que adquiriram gado, de puro sangue zebu, foram o Sr. Eliezer Mendes dos Santos, comprador de um puro sangue Guzerat, e o Sr. Manoel Rodrigues, da Fazenda Buracão”.

Hildebrando Pontes. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba. Brahman

ALEXANDRE BARBOSA DA SILVA

Alexandre afirma que, em 1886, entrou em Uberaba o primeiro touro zebu adquirido pelo Cel. Manoel Borges de Araújo, animal esse que padreou o rebanho da Fazenda Buriti. Entre 1887 e 1889, o Major Ernesto da Silva e Oliveira, comprou em Porto Novo do Cunha, dois touros zebu que seguiram por trem até Três Corações e daí, por terra, até Uberaba. Mas, o touro adquirido pelo Cel. Joaquim Rodrigues de Barcelos morreu após fugir de sua fazenda. O outro, levado para a Fazenda dos Tabuões, também fugiu e se misturou ao rebanho do Major Ovídio Irineu de Miranda (pai), que o mandou castrar por considerá-lo um “aleijado” no meio de suas reses. Mais tarde, ao saber que o touro custara 300 mil-réis, toma conhecimento do triste engano.

Na viagem a Porto Novo do Cunha, o Major Ernesto da Silva e Oliveira encontra-se com Antônio Fontoura (conhecido como Cachucha) e se mostra interessado naqueles animais tão diferentes de tantos quantos já vira. Informado de sua procedência, dirige-se àquela cidade. Compra sete novilhos, que vende posteriormente a fazendeiros de Uberaba. Entre os compradores estavam Delfino Gomes da Silva e o Cel. Hipólito Rodrigues da Cunha.

29
Gir Mocho Tabapuã

UMA HISTÓRIA EM QUATRO VERSÕES

RANDOLFO BORGES JÚNIOR

Médico, pecuarista e ex-diretor da ABCZ, Dr. Randolfo relatava um fato acontecido numa viagem que Antônio Borges de Araújo e seu irmão, Zacharias, fizeram, por volta de 1885, a Muqui, no Espírito Santo, em visita a familiares: descontentes com o desconforto e demora na viagem de ida (havia apenas um vapor Rio/Vitória somente de 15 em 15 dias), decidiram retornar por terra, em mulas, até Niterói. Do Espírito Santo, foram ao norte do Rio de Janeiro e chegaram a Cantagalo, onde pernoitam na fazenda do Sr. Lemgruber. Pela manhã, deparam-se no curral com animais que não conheciam e foram informados de que se tratava de bois “zebu”.

Impressionados com os animais, perguntam se estavam à venda, recebendo resposta negativa. Procuram, então, saber onde poderiam adquirir animais como aqueles. São informados de que, numa fazenda entre Leopoldina e Entre-Rios, havia um animal muito bom, doado por um marajá da Índia ao Imperador D. Pedro II, que o repassara como presente ao seu médico, Dr. José Lontra. De volta a Uberaba, e após muitas considerações, decidem ir a Leopoldina, onde adquirem, de Joaquim Veloso de Rezende, o touro Lontra – assim denominado devido ao nome de seu primeiro dono.

MZ.

30
Randolfo Borges Junior e sua esposa Maria Helina Nogueira. Acervo: Sindi Cangaian

Seu antigo sócio no comércio (não se sabe se seria o Cachucha ou Joaquim Veloso de Rezende) contou que, numa viagem ao Rio de Janeiro, havia conhecido alguns zebus. Interessado, Cel. Antônio decide ir ao Rio, em 1889, onde teria comprado o famoso touro Lontra. Em 1949, como comemoração dos 50 anos da compra deste reprodutor, José Caetano Borges – pai de Sílvio –ergueu na Praça Dom Eduardo, em Uberaba, um monumento à Introdução do Zebu, que lá se encontra até hoje.

SÍLVIO CAETANO BORGES

Afirma que, no final do século XIX, seu avô, o Cel. Antônio Borges de Araújo, se desfez de uma casa comercial e adquiriu uma fazenda. Guzerá Gir

LINHA DO TEMPO DAS IMPORTAÇÕES DE ZEBU PARA O BRASIL

Os moradores de Uberaba e do Triângulo Mineiro ao trazerem a partir de 1893 os primeiros exemplares para a região o fazem diretamente da Índia. Vamos descatacar agora fatos relativos às importações do Zebu, com a contribuição do Triângulo Mineiro e de outras localidades do Brasil.

1ª FASE

Vitória

Entra um casal de bovinos batizados “Malabar”, nome do litoral sudoeste da Índia, no porto de Salvador (BA), que dá origem ao tipo nacional antigo do nordeste;

Gado Zebu de origem africana, possivelmente da região do Nilo, é estabelecido por D. Pedro I na Fazenda Real de Santa Cruz (RJ);

1813 1850

1850 à 1875. Animais indianos provavelmente da raça Sindi são recebidos na Bahia pelo Visconde de Paraguaçu. Na Baixada Fluminense, o Barão de Duas Barras importa um touro Guzerá. Um navio inglês, com a tripulação revoltada, aporta ao Recife onde deixa um touro, provavelmente do tipo Misore;

2ª FASE

Chega em Uberaba o touro Lontra, adquirido pelos irmãos Zacharias e Antônio Borges de Araújo.

3ª FASE

1890 a 1895. Duas centenas de reprodutores, muitos Misore, são importados nesse período pela Hagenbeck para criadores fluminenses;

1875

Casal de Zebu chega ao Rio, vindo do Jardim Zoológico de Londres, para o criador fluminense Acácio Américo de Azevedo;

Em sua primeira viagem a Índia, Theófilo de Godoy traz seis touros e duas vacas para criadores de Uberaba (MG);

Theófilo

1908

Chegam ao Brasil 620 animais. Do total, 242 exemplares foram importados com auxílio do Ministério da Agricultura;

1878 1887 1889 1890
1904 1906 1908 1910 1907
1826
1880 e 1883 Lotes de reprodutores Nelore são enviados pela firma
para
1878,
Hagenbeck,
Manoel Ubelhart Lemgruber, de Sapucaia (RJ);
Alguns reprodutores são importados por Antônio Lutterback para a Fazenda Santo Antônio, no Carmo (RJ);
1893
de Godoy desembarca em Santos com um lote de 15 animais; Ângelo Costa traz da Índia 48 cabeças para José Caetano Borges; Chegam 98 animais, por meio de Ângelo Costa, Antônio Gonçalves da Costa e Alberto Parton; e 1909 Chegam ao Brasil 200 animais através do governo mineiro e de casas importadoras; Imagem da viagem de Ângelo Costa e Antônio Costa na Índia, 1907. Acervo: MZ. Importadores Virmondes M. Borges, João M. Borges e Otaviano Borges Jr. Índia, 1917. Acervo: MZ. Lemgruber com touro Piron, início do Século XX. Acervo: MZ. - importado por Lemgruber, 1878. Acervo: MZ. Dom Pedro I, Simplício Sá, 1830. Marquês de Abrantes. Fazenda Imperial de Santa Cruz, início Séc.XIX. Porto de Salvador, 1859. Importadores, 1918. Acervo: MZ. José Caetano Borges foi um dos maiores investidores das importações nesta fase. Acervo: MZ. Anúncio da casa importadora Arens Irmãos. Navio que Teófilo embarcou na Índia no Canal de Suez. Acervo: MZ. Teófilo de Godoy - Primeiro brasileiro a ir a Índia. Acervo: MZ. Lontra - um dos primeiros zebuínos em Uberaba,1889. Acervo: MZ.
32
Brahman

Embarque

Vaca

MZ.

Partida adquirida por Armel de Miranda e Georges de Chirée, importando 264 animais;

João Martins Borges importa 50 cabeças de gado;

Entre 1915 e 1916 chegaram ao Brasil 205 reprodutores comprados por Celso Rosa e Adelino de Paula Leite;

Entre 1917 e 1918 Armel de Miranda e seus companheiros, Josias Ferreira de Morais e Quirino Pucci, trazem 248 animais;

FASE

Uberabenses

Desembarcando no Brasil 1904 cabeças de gado. Compras de Gabriel Bernardes; Pedro Santérre Guimarães e Manoel A. Caldeira; Manoel de Oliveira Prata e Adroaldo Cunha Campos; Ranulfo Borges dos Nascimento, Ismael Machado, Luiz de Oliveira Valle, Godofredo do Nascimento, Armando Veloso, Luitprant Prata, Isídio Pereira e Álvaro Rocha;

Proibição das importações por conta da peste bovina;

1915 1917 1919 1920 1921

1930

Manoel de Oliveira Prata e Francisco Ravísio Lemos conseguem licença para trazer gado da Índia. Desembarque e três meses de quarentena na Ilha do Governador. Nesta remessa, são 192 animais;

Compras de Militino Pinto de Carvalho, Josias de Almeida e Antônio Costa, Pedro Santérre Guimarães e Manoel Alves Caldeira Jr. Regressaram da Índia Virmondes Martins Borges e Otaviano Borges;

O selecionador José da Silva (Dico) com indiano e zebuíno. Índia. Museu do Zebu, década de 1960. Acervo: MZ.

19601958 a 1960 - O criador

1994 a 1996

1997 a 2010 – Em 1997 inicia-se um projeto, liderado pelo criador,

O importador Celso Garcia Cid com Marajá de Bhavnagar. Índia. Fonte: Museu do Zebu, década de 1960. Acervo: MZ.

Felisberto de Camargo traz do Paquistão um lote de 31 animais da raça Sindi;

Paulo Roberto Rodrigues da Cunha, a serviço de Joaquim Martins Borges, traz um lote (114) de gado Gir da Índia. Impedido de entrar no país, desembarca o gado na Bolívia, que aos poucos vai atravessando a fronteira;

2007 a 2010 – Início

briões

Importadores na Índia. Em pé Arlindo Pereira, Nenê Costa, Joaquim Vicente Prata Cunha e Francisco José de Carvalho Neto. Sentados José da Silva (Dico), Dona Olinda A. Rodrigues da Cunha e o indiano Kupsamin. Índia, década de 1960. Acervo: MZ.

Torres Homem Rodrigues da Cunha, Veríssimo Costa Jr. (Nenê Costa), Rubico de Carvalho, Jacinto Honório da Silva Filho e Celso Garcia Cid, importadores de 1962.

1994
1913 1914 1952 1955 1963
1997
2010
da primeira leva de animais de Otaviano Borges Jr. e Virmondes Martins Borges. Índia, 1917. Acervo: Nelson Macedo Tibery em Ahmedabad. Índia, 1919. Acervo: MZ. em Ahmedabad. Sentados, da esquerda para direita, Adroaldo Cunha Campos, Leopoldino de Oliveira, Quirino Pucci, Ismael Machado e o intérprete inglês. À frente Celso Rosa e Álvaro Rocha. Ao fundo: indianos. Índia, 1920. Acervo: MZ. Acervo: MZ. Ismael Machado. Acervo: MZ. Guzerá. Acervo: MZ. Enterro João Martins Borges na Índia, 1918. Acervo: MZ. Armel Miranda entre macacos. Índia, 1917. Acervo: MZ. Paulo Roberto R. da Cunha em navio durante a importação promovida por Joaquim Borges. Índia. Fonte: Museu do Zebu, 1956. Acervo: MZ. Celso Garcia Cid, de Londrina (PR), traz um lote da Índia e abre caminho para outra grande importação; Torres Homem Rodrigues da Cunha, D. Olinda Arantes Cunha, Rubens de Andrade Carvalho, Celso Garcia Cid, Veríssimo Costa Júnior (Nenê Costa), Jacintho Silva, José Cesário Castilho e Francisco José de Carvalho Neto realizaram uma das mais importantes importações; Chegam os primeiros Brahman, importados dos Estados Unidos; Jonas Barcellos Corrêa Filho, em que criadores trazem embriões indianos para o Brasil para “refrescar” o sangue do rebanho nacional. Tal projeto encerra-se em 2010; do Congelamento dos Embriões; Concessão da licença de importação dos em- da Índia pelo MAPA; Chegada dos Embriões no Brasil. Imagem do importante touro Karvadi, com o seu antigo proprietário indiano Polavarpu Hamumaiah (terceiro a direita). O segundo a direita é o Primeiro-Ministro indiano Nehru. Isto mostra a importância deste touro antes mesmo de vir para o Brasil. Fonte: Ongole Bull Acervo: MZ. Gado Sindi deixa Noronha, década de 1950. Acervo: MZ. Felisberto de Camargo, 1952. Acervo: MZ. Jonas Barcellos coordenou as importações de material genético. Acervo: MZ. Primeiro animal com marca ABCZ, Índia, 1998. Acervo: MZ.
33
5ª FASE

ARQUITETURA EM UBERABA

Em 1889, com o advento da República, há um “boom” de construções de imenso valor arquitetônico. Já no início do século XX, em suas três primeiras décadas, surgem também os palacetes dos criadores de Zebu do município, concomitante com o surgimento de fazendas de criação de Zebu no entorno da cidade.

Residência do comerciante Getúlio Guaritá, construída em 1903. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.

Nelore Nelore

Palacete de José Caetano Borges. Acervo: MZ.

Além disso, tem-se também o belíssimo Solar dos Castro Cunha, de 1920, e o Palacete do Major Antônio Pedro Naves. Em suma, nas primeiras décadas do século XX, devido ao negócio da pecuária do Zebu, as sofisticadas residências se materializam no estilo Eclético predominante, com toques mouriscos e Art Déco.

Alguns dos palacetes de conhecidos criadores de Zebu da cidade, bem como suas referências arquitetônicas são levantados por Pontes: o do primeiro presidente da Sociedade do Herd Book Zebu, Geraldino Rodrigues da Cunha, tinha inspirações gótico- românticas; de Hipólito Rodrigues da Cunha, possuía estilo coríntio-romano; de um dos pioneiros de importações de Zebu, José Caetano Borges, contava com arquitetura compósitocoríntia; e de um dos organizadores da primeira Exposição de Zebu em Uberaba, Joaquim Machado Borges, cuja residência funcionou a primeira sede da SHBZ e SRTM.

Palacete do Major Antônio Pedro Naves (demolida). Imagem da década de 1980. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba. Palacete de Joaquim Machado Borges, primeira à esquerda. Acervo: MZ.

A maioria dessas suntuosas casas se localizava na Rua Tristão de Castro, Praça Rui Barbosa, Segismundo Mendes, Santo Antônio, São Sebastião, Manoel Borges, Vigário Silva, Major Eustáquio, entre outras, tanto no Centro como nos demais bairros.

Solar dos Castro Cunha ao lado da “nova” Prefeitura, ambos de 1920, na Praça Rui Barbosa. Acervo: MZ.
35
Jardim Público de Uberaba, 1890. Acervo: Arquivo Público Mineiro. Nelore Mocho

FAZENDAS DO TRIÂNGULO

Os pecuaristas locais também contribuíram para a expansão arquitetônica a partir de suas fazendas nos arredores de Uberaba. Um levantamento feito por Maria Antonieta Borges Lopes, em “Fazendas de Criação no Triângulo Mineiro”, destaca algumas.

A Fazenda Cassu, por exemplo, foi construída no final do século XIX e foi uma das pioneiras na importação de criação de gado Zebu na região, sendo, por isso, o espaço de realização da primeira Exposição de Zebu no Brasil, em 1906 pelo seu proprietário José Caetano Borges em parceria com Joaquim Machado Borges, e local onde se realizou o cruzamento das raças Gir e Guzerá nos anos 1930, possibilitando o surgimento do Indubrasil.

A Fazenda Gengibre, de propriedade de Guiomar Rodrigues da Cunha, foi um importante centro de criação do gado Zebu na região durante o período de introdução do animal no Triângulo Mineiro, tendo sua instalação também ocorrida no final do século XIX.

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Fazenda Cassu, de José Caetano Borges. Acervo: MZ. Fazenda Gengibre, de Guiomar Rodrigues da Cunha. Acervo: MZ. Guzerá Indubrasil

Fazenda

Construída mais tarde, na década de 1930, a Fazenda São Geraldo é uma propriedade que marca a ascensão social dos criadores de Zebu dentro do plano econômico e político da cidade, tendo se especializado na criação e seleção de Nelore e Guzerá, bem como de búfalos e de um centro de inseminação e transplante de embriões. Fazenda Laranjeiras de Rodolfo Machado Borges. Acervo: MZ. Fazenda Mangabeiras, que pertenceu a José Caetano Borges. Acervo: MZ.
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da Glória, que pertenceu a Alceu Miranda. Acervo: MZ. Fazenda Cascata, uma das pioneiras na importação e seleção de gado Zebu, cuja sede foi construída em 1937, sendo inicialmente propriedade de Joaquim Machado Borges. Acervo: MZ. Já a Fazenda Laranjeiras tornou-se em meados da primeira metade do século XX um importante centro de importação e seleção de Gir, Nelore e Indubrasil, tendo preservado até hoje sua base arquitetônica original, instalada por volta de 1870. Brahman

100 ANOS DA ABCZ

A sigla Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) é de 1967, mas a história da maior e mais conhecida associação de criadores de gado zebu no Mundo começa bem antes, em 1919, com a fundação da Sociedade do Herd Book Zebu (SHBZ), após estudos realizados pelo zootecnista francês Fernand Ruffier e pelo criador Alceu Miranda.

A SHBZ foi o início de um esforço conjunto de pecuaristas de Uberaba e região. Na ata de fundação, de 16 de fevereiro de 1919, constam 97 assinaturas de membros fundadores. Os fundamentos da associação basearam-se na regulamentação de critérios para certificação das genealogias de animais das raças zebuínas nascidos no Brasil, visando o aprimoramento dos mesmos. Outras conquistas surgiram naquele contexto, como a criação da Fazenda Experimental de Criação Getúlio Vargas (FEC) em Uberaba, para estudo e seleção de gado zebu e a construção do Parque Fernando Costa - hoje sede nacional da ABCZ - ambas do ano de 1941.

Em 1967 a SRTM se tornaria a ABCZ, uma medida necessária para manter o direito de deter o Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas. Hoje a entidade conta com 25 Escritórios Técnicos Regionais (ETRs), tem cerca de 23 mil associados, realiza milhares de visitas técnicas anuais e registra cerca de 650 mil cabeças e zebuínos por ano, auxiliando o produtor rural ao longo da cadeia produtiva.

Criado o Controle de Desenvolvimento Ponderal (CDP), marcando efetivamente o início do melhoramento genético das raças zebuínas.

Provas zootécnicas são inseridas no PROZEBU, o Projeto de Melhoramento Genético da Zeuinocultura, que posteriormente abriria espaço para o PMGZ.

Realizada a primeira Prova de Ganho de Peso (PGP), na modalidade confinamento. Foram 56 dias de adaptação e 112 dias de prova efetiva.

Início do Controle Leiteiro.

Lançado o primeiro Sumário Nacional de Touros das Raças Zebuínas.

Firmada parceria com a Embrapa para o desenvolvimento do Sumário de Touros.

Coleta de dados de mensurações é inserida nas exposições.

Lançamento do Controle Leiteiro.

PMGZ é lançado oficialmente, reunindo as três principais provas zootécnicas: Controle de Desenvolvimento Ponderal, Prova de Ganho de Peso e Controle Leiteiro.

Realizada a primeira Prova de Ganho de Peso (PGP), na modalidade “a pasto”. Foram 70 dias de adaptação e 224 dias de prova efetiva.

1984 1978 1978 1996 1992
1968 1984
1990 1971 1976
38

PROGRAMA DE MELHORAMENTO GENÉTICO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS

O Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas da ABCZ obteve muitos resultados para o desenvolvimento da pecuária brasileira. Além disso, a ABCZ conta com modernas tecnologias no processo seletivo das raças zebuínas. Investiu e incentivou o uso de técnicas reprodutivas de ponta, tais como inseminação artificial, transferência de embriões, fertilização in vitro, clonagem e, a partir de 2016, criou o Programa de Melhoramento Genético de Zebu Genômica.

Com esse programa é possível mapear a genotipagem dos animais e de posse de tais preciosos dados, envolver os criadores para estes invistam no aumento na velocidade do melhoramento genético de seu rebanho. Com isso todos ganham.

Gir

ABCZ adota a metodologia EPMURAS, que abrange as características de estrutura corporal, precocidade, musculosidade, umbigo, caracterização racial, aprumos e sexuais.

Realizada a 1ª ExpoGenética, com o propósito de concentrar os debates sobre o melhoramento genético de bovinos. Hoje, a ExpoGenética é a maior mostra de gado avaliado do país e tem a participação dos principais programas de melhoramento. O evento também é palco de grandes leilões.

Assinado Acordo de Cooperação Técnica entre a ABCZ e a Embrapa Gado de Corte para a obtenção de estimativas únicas de valor genômico das raças zebuínas no Brasil.

Lançado o Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens (PNAT).

Lançada a marca oficial do PMGZ, durante a 10ª ExpoGenética.

Lançamento do Sumário de Touros do Gado Leiteiro 2002, com animais Gir e Gir Mocho.

Tem início os serviços de medição da circunferência escrotal.

Criado o Departamento de Pesquisas da ABCZ, para atuar diretamente no desenvolvimento do melhoramento genético de zebuínos.

PMGZ ganha versão internacional e ABCZ assina os primeiros contratos para aplicação do programa no exterior.

2013
2017
2004 2002 2000
2010 2008 2018
2017
39

Início das Avaliações Genômicas das Raças Zebuínas, lançamento do PMGZ Internacional e criação de área de lacer no PFC, com instalação de parque infantil.

Gilberto Rodrigues da Cunha Criação de uma fundação mantenedora da FAZU (hoje Fundagro. E realização dos primeiros leilões oficiais da ABCZ.

Ampliação e remodelação do PMGZ. Reabertura de cinco ERT’s e inauguração de um novo. Criação do Zebu na Universidade.

ABCZ recebe as certificações ISO 9001 e ISO 14001. Criação do Museu Virtual.

Realização da 1ª ExpoGenética.

Rivaldo Machado Borges Júnior. Viagem à Índia, acompanhando a comitiva do Presidente Jair Bolsonaro e da Ministra Tereza Cristina. Lançamento do Programa Qualidade da Carne para comprovação da superioridade do Zebu na produção de carne de qualidade. Execução do Projeto Genômica 2 x 1, no qual a cada dois animais genotipados pelo pecuarista, a ABCZ assume os custos da genotipagem de uma fêmea do mesmo criatório. Criação da ABCZTV e do Espaço ABCZ Mulher, além de reforma da sede administrativa da entidade em Uberaba (MG). Implantação do projeto Integra Zebu, de recuperação de pastagens. Inovação com a realização de edições virtuais da ExpoZebu e da ExpoGenética, superando os

LINHA DO TEMPO DOS PRESIDENTES: 40 19191924192919351936 1964 1966 1968 1970 1972197419781982 2007 2010 2013 2016 2019 1971
Arnaldo Rosa Prata Efetivação de convênio entre o Min. da Agricultura e a SRTM para a administração do Parque Fernando Costa e oficialização do Serviço de Controle do Zebu Leiteiro.
Adherbal Castilho Coelho Início das Provas de Ganho de Peso. João Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges Luiz Claudio Souza Paranhos Ferreira José Olavo Borges Mendes Eduardo Biagi limites impostos pela pandemia da Covid-19. Arnaldo Rosa Prata Construção da sede da ABCZ e criação da FAZU. Manoel Carlos Borbosa Recebimento da doação do Parque Fernando Costa pelo Governo Federal. Geraldino Rodrigues da Cunha Criação da Herd Book Zebu. Joaquim Machado Borges Organização e formatação das reuniões da Herd Book Zebu que, na época, eram realizadas, em sua própria residência. Silvério José Bernardes Construção da 2ª sede da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro. Fidélis Reis Criação da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro. Edilson Lamartine Mendes Transformação da SRTM em ABCZ. Início do Controle de Desenvolvimento Ponderal. Arnaldo Rosa Prata Criação do setor de Assessoria de Comunicação e Investimentos no melhoramento da estrutura do Parque Fernando Costa. Hildo Toti
2020 a 2022
Realização do 1º Seminário Nacional da Pecuária.

Parceria com a Embrapa (primeiro Sumário de Touros). Informatização da ABCZ (primeiro computador). Criação do Museu do Zebu.

João Gilberto Rodrigues da Cunha Criação do Ficebu.

Reforma estatutária

Informatização

Aquisição da Fazenda Experimental da ABCZ, criação do Pavilhão Multiuso no PFC.

José Olavo Borges Mendes

Ampliação, reforma e modernização dos Escritórios Técnicos Regionais (ETRs) e criação do Brazilian Cattle.

Rômulo Kardec de Camargos

Mobilização para a introdução da “Pecuária” no nome do Ministério da Agricultura, e internacionalização da ExpoZebu, com a participação de animais do exterior.

José Olavo Borges Mendes

Idealização da construção do Hospital Veterinário (parceria com FAZU e Uniube). E criação da Grife ABCZ.

DA SOCIEDADE DO HERD BOOK
41
1942
1964 1982198619901992
ZEBU À ABCZ
1936193719391941
1948 1952 1962
1995 1998 2001 2004 2007
Orestes Prata Tibery Júnior Newton Camargo Araújo Heber Crema Marzola e planejamento para criação do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos, o PMGZ. Rômulo Kardec de Camargos da área técnica com criação do software Produtividade e Controle Animal (Procan). Augusto Borges de Araújo Criação do Regimento Interno da SRTM. Orlando Rodrigues da Cunha Primeiro Registro Genealógico das Raças Zebuínas no Parque das Gameleiras (Belo Horizonte). José de Souza Prata Inauguração do Parque Fernando Costa. Licinio Cruvinel Ratto Ampliação do Serviço de Registro Genealógico, que chegou a outros estados brasileiros. Carlos Smith Criação da “Campanha do Reajustamento” da SRTM. Antônio José Loureiro Borges Criação do Curso de Julgamento, estabelecendo critérios objetivos para a premiação dos bovinos. Adalberto Rodrigues da Cunha Fundação do Departamento de Relações Comerciais. Restabelecimento financeiro da entidade. João Severiano Rodrigues da Cunha Estreitamento da relação comercial com vários países.

BRASIL LIVRE DA FEBRE AFTOSA E SEM VACINAÇÃO

A febre aftosa é uma doença altamente contagiosa que afeta bovinos, ovinos, suínos e caprinos, facilmente transmitida de um animal para outro por meio de um vírus presente na saliva, no leite, nas fezes e até no sangue dos animais contaminados. Não infecta o ser humano, mas enfraquece os rebanhos e é responsável pela morte de animais, impedindo a exportação de carne para outros países do Mundo.

Ao longo do século XX, o combate a essa enfermidade nunca foi realmente eficiente. Somente a partir da década de 1990, o Brasil começou a se livrar da febre aftosa através de uma sistemática e exitosa campanha de vacinação.

Passadas algumas décadas sem registro de nenhum caso da doença, o Brasil entra nesse século livre da enfermidade, sem necessitar mais de vacinar os seus animais.

Como resultado, o país mostra a todos o cuidado e o profissionalismo do setor produtor de carne e do leite, possibilitando-nos produzir o suficiente para abastecer o Brasil e o Mundo.

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Brahman Sindi

BENEFÍCIOS DA CARNE E DO LEITE

Os dois principais alimentos produzidos pelos bovinos, o leite e a carne, por vezes são vítimas de notícias falsas, informações sem nenhuma base científica propagadas nas redes sociais e que distorcem fatos. Por isso, vale alguns esclarecimentos feitos por médicos especialistas.

A carne vermelha é a melhor e a mais segura fonte de proteína ao nosso alcance, afirma o médico e nutrólogo Wilson Rondó. A carne vermelha, explica, contém todos os aminoácidos essenciais ao corpo humano, além de ser rica em ferro, zinco, e vitaminas do complexo B.

Também oferece ótimos teores de fosfato e aminoácidos que não se encontram em proteínas vegetais. Além disso, é rica em mioglobina, uma proteína que promove o transporte de oxigênio para as células musculares, permitindo exercícios físicos mais intensos, dando maior clareza mental e até uma maior sensação de bem-estar. Quanto ao leite a médica veterinária e pesquisadora do grupo “Beba Mais Leite”, Flávia Fontes, lembra que é um alimento completo para crianças e adultos, pois tem alto valor nutricional, sendo uma excelente fonte de cálcio e o fósforo, que fortalecem os ossos e os dentes.

Suas proteínas são úteis no desenvolvimento cerebral. O potássio importante para a manutenção da pressão sanguínea, e a vitamina A é indicada para manter a normalidade da visão e audição.

Já o médico oncologista e escritor Dráuzio Varela, explica que o leite faz bem para a saúde desde que o homem começou a domesticar as vacas e ordenhá-las. Os lácteos, enfatiza, são excelentes fontes naturais de cálcio, em função de sua maior absorção e ricos em proteínas de alto valor biológico. Outro ponto importante a se destacar, lembra Dráuzio, é o baixo preço, possibilitando que ele faça parte da mesa do brasileiro, independente da classe social.

O Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras organizações internacionais recomendam o consumo diário de três porções de leite ou dos seus subprodutos.

43
Cangaian

OS SUBPRODUTOS DO BOI

Pouca gente sabe, mas além da carne e do leite se aproveita praticamente tudo. A quantidade de subprodutos nos dá uma dica de sua importância na economia.

De acordo com a Embrapa Gado de Corte hoje, além da carne e do leite, temos ainda outros 49 segmentos industriais que dependem dos subprodutos bovinos, divididos em não comestíveis e comestíveis.

Entre os subprodutos comestíveis, temos o fígado, a língua, o miolo, o rabo, o bucho e o coração.

Temos ainda a bílis tratada do boi, que pode ser usada em produtos farmacêuticos para problemas digestivos e cálculo biliar e é vendida seca para países do Oriente.

A pele bovina ou couro é utilizada na fabricação de bolsas, de calçados, de revestimentos (bancos de avião, carros, sofás etc.), de material esportivo (como bolas, tênis, chuteiras e luvas de goleiro) e na confecção de roupas de luxo.

Da pele se extrai ainda o colágeno, uma substância poderosa utilizada em cosméticos (cremes e esmaltes); assim como uma gelatina usada na fabricação de medicamentos, de filmes radiológicos e de chicletes.

Das glândulas como as suprarrenais, tireoide, pâncreas, são extraídas substâncias usadas em medicamentos e perfumaria. A insulina para diabéticos, por exemplo, é extraída do seu pâncreas. Do intestino, produzem-se fios usados em cirurgias. Além disso, a gordura é aproveitada em receitas de sorvetes e produtos de confeitaria.

Já o sebo, que não é comestível, serve para produção de velas, de sabão e de sabonetes perfumados. Dos pelos da cauda do boi são fabricados pincéis e escovas de cabelo, de roupa e de limpeza. A partir dos pelos internos da orelha são produzidos finíssimos pincéis de pintura.

Tendões e ligamentos bovinos são transformados, pela indústria, em gelatina consumida por grande parte da população. Dos chifres são extraídos componentes usados no pó do extintor de incêndios e na fabricação de pentes e de botões.

Já os ossos, fonte de cálcio e fósforo, podem ser usados na produção de farinhas e rações para cães, gatos e aves. Uma vez calcinados, os ossos são usados também na fabricação de porcelana e de cerâmica; na refinação de prata; e na fusão do cobre. Em usina de açúcar, utiliza-se o carvão de osso para alvejar e refinar esse ingrediente que usamos, por exemplo, em doces, biscoitos, tortas e bolos.

Até o sangue dos bovinos é aproveitado para a produção de plasma, de soro, de farinha de sangue ou sangue solúvel. O plasma é usado na fabricação de embutidos, ao passo que do soro pode-se fazer vacinas.

Com alto teor de nitrogênio, a farinha de sangue é aplicada como fertilizante; enquanto o sangue solúvel é desidratado e aplicado em ração animal e na cola de madeira compensada.

A mucosa do boi é usada pela indústria de laticínios, nesse caso, para a fabricação do coalho. Fonte: Embrapa Gado de Corte. https://www.embrapa.br/contando-ciencia/animais-e-criacoes/-/asset_publisher/jzCoSDOAGLc4/content/

Por isso o mito se desfaz e o boi se firma como um dos poucos animais no Mundo, dos quais se aproveita 100%; ou seja, tudo!

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Guzerá Nelore

GEOPARK UBERABA – TERRA DE GIGANTES

Você sabia que Uberaba quer se tornar um Geopark? Não se assuste com esse nome pomposo, é bem fácil de entender. Ele foi criado pelo UNESCO (Organização das Nações Unidas) para definir sítios dos Patrimônios Geológico, Histórico e Cultural que precisam de proteção, educação e desenvolvimento sustentável por meio do turismo.

O Geopark Uberaba – Terra de Gigantes compreende a área do município que abriga um patrimônio geológico de extrema relevância. Essa região é formada por rochas com idades entre 135 a 65 milhões de anos e, após mudanças geológicas, surgiu uma imensa bacia sedimentar, local favorável à fossilização e a conservação de fósseis. Descobertos há mais de 70 anos, tais fósseis deram à Uberaba o título “Terra dos Dinossauros do Brasil”, afinal, possuímos a maior quantidade de espécies por município no País.

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A criação do Geopark nos remete aos estudos paleontológicos que tiveram início em 1945, mas também valoriza outros aspectos da cultura e da história local, marcado dentre outros, os três símbolos de Uberaba: O Zebu, Os Dinossauros e a Espiritualidade. Indubrasil

UBERABA NO TEMPO DOS DINOSSAUROS

O primeiro fóssil foi achado em 1945. Contudo, foi em Peirópolis, bairro rural situado a 20 km da cidade, que se encontraram um dos registros mais importantes da paleontologia brasileira.

Podemos destacar: uma carapaça quase completa de uma pequena tartaruga, pequenos lagartos, iguanas (Pristiguana brasiliense), duas espécies de crocodilos (Uberabasuchus e Peirossaurus), Sauropodes (Uberabatitan rebeiroi: o maior dinossauro brasileiro já encontrado), Teropodes, Velocipaptorideos, Maniraptora (conhecida como dino-ave), todos eles animais que viveram na terra entre 70 a 50 milhões de anos atrás.

dino-ave), milhões de anos atrás.

ESPIRITUALIDADE

A forte espiritualidade e a fé do povo uberabense são notórias. Entre outros tantos, podemos destacar suas belas igrejas que representam um patrimônio histórico, cultural e arquitetônico de valor inestimável. O mesmo pode se dizer do Espiritismo, nesse caso representado pelo ícone Chico Xavier, que tem suas lembranças preservadas na “Casa de Memórias” e no “Memorial Chico Xavier”.

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Chico Xavier. Tabapuã Brahman

O MUSEU DO ZEBU

Mantido pela ABCZ a Fundação Museu do Zebu Edílson

Lamartine Mendes foi criada em 1983, homenageando um notório criador e ex-presidente da antiga Sociedade Rural do Triângulo Mineiro-SRTM, instituição anterior à ABCZ.

A sede dessa Fundação está localizada dentro do Parque Fernando Costa e se destaca como a única instituição museológica de divulgação e conservação da memória do Zebu no Mundo. O museu conta com salas de exposições, sala de reuniões e pesquisas, auditório multiuso, biblioteca, reserva técnica para manutenção e preservação do acervo.

A PARCERIA ENTRE O MUSEU DO ZEBU, A SECRETARIA ESTADUAL DA EDUCAÇÃO DE MINAS GERIAS E A SECRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO

Sindi

O ano de 2019 não foi importante apenas pelo centenário da ABCZ, mas também pela definição de parcerias entre o Museu do Zebu, a ABCZ, a Secretaria Estadual da Educação de Minas Gerias e a Secretaria Municipal da Educação. Essa parceria prevê o ensino da história do Zebu nas escolas públicas de Uberaba, com a perspectiva de que esse trabalho possa também ser ampliado no futuro para outras localidades.

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PARQUE FERNANDO COSTA: UM MUSEU A CÉU ABERTO

A primeira feira de gado de Uberaba foi realizada em 1906, na Fazenda Cassu. Mas, desde 1935, elas são realizadas ininterruptamente sob organização da SRTM e sua sucessora ABCZ, se tornando um dos eventos mais tradicionais do agronegócio brasileiro. Tais eventos tem como palco o Parque Fernando Costa, local que a partir de 1941 passou a sediar a Expozebu e seus famosos animais campeões.

Paralelamente aos fechamentos de contratos e negócios ocorrem também shows de renomados artistas nacionais, atraindo multidões para o Parque. Fora desse período de festas, o parque é visitado por turistas de diversas localidades e moradores de Uberaba e compõe-se num verdadeiro “Museu a Céu Aberto”.

O Parque Fernando Costa é portanto um ambiente propício para realização de ações educativas que respaldam de histórias a milhares de visitantes anualmente.

Fernando Costa na década de 1950. Arquivo ABCZ.

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Parque Cangaian Gir Mocho

FMTM, a Concretização de um Sonho!

Que outro município pode se gabar de albergar dinossauros, de ser pioneira das raças zebuínas e ter uma das mais importantes universidades do Brasil? Em 2020, essa cidade mágica completou 200 anos de muita história e tradição.

Prédio da recém-criada Penitenciária de Uberaba na década de 1920, local onde se instalaria décadas mais tarde a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.

No ano de 1953 nasceu um dos grandes projetos uberabenses que transformou completamente o Triângulo Mineiro. A Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro – FMTM – foi a concretização de um sonho da sociedade de Uberaba, que formou os filhos de várias regiões do país para mudar o Brasil e conquistar o mundo.

Fundadores da FMTM. 1ª sequência, da esq. para a dir.: Mozart Furtado Nunes; Hélio Luiz da Costa; Jorge Henrique Marquez Furtado; José de Paiva Abreu; Mário de Ascenção Palmério; João Henrique Sampaio Vieira da Silva; 2ª sequência: Jorge Abrahão Azôr; Lauro Savastano Fontoura; Alfredo Sebastião Sabino de Freitas; José Soares Bilharinho; Antonio Sabino Borges de Freitas Júnior; Paulo Pontes; 3ª sequência: Randolfo Borges Júnior; Hélio Angotti; Fausto da Cunha Oliveira; Carlos Smith; Odon Tormim e Allyrio Furtado Nunes.

Acervo: UFTM. Cangaian
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UFTM
Nelore

Polo Educacional

Das poucas instituições que remanesceram, podemos citar o Colégio Diocesano, fundado em 1902, e o Colégio Nossa Senhora das Dores, fundado em 1885 e até hoje presente no dia a dia dos estudantes universitários do centro. Ambos colégios (privados, há que se frisar) eram marcados pela qualidade de ensino e marcaram a escolarização dos filhos da elite da época e o preparatório para as graduações mais concorridas.

Ainda que as principais cidades em termos de educação fossem as capitais, Uberaba era considerada poloeducacional e de qualidade em saúde. Uma parte significativa da população do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Noroeste de São Paulo, Goiás e Mato Grosso enviava seus filhos para cursar o ensino médio nos colégios da cidade e, depois, ingressar nas poucas faculdades que existiam.

Como a presença de uma universidade local era símbolo de progresso e modernidade, na década de 1950, a lei 1294 federalizou instituições de ensino superior mantidas pelos estados, municípios e por particulares. Essa lei fez com que o número de estudantes em escolas de ensino superior no Brasil quintuplicasse, e é nesse contexto que surgiu a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM).

Colégio Marista Diocesano na década de 1960. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.

Brahman Guzerá Colégio Nossa Sra. das Dores, década de 1950. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.
UFTM

Tabapuã

Qualidade em Saúde

Em 1950, Uberaba já era considerada de médio porte e com uma medicina avançada para uma cidade interiorana. Isso fez aflorar o desejo de parte da categoria médica e da elite uberabense em formar seus filhos como profissionais da medicina. Para tanto, era necessário prover a região com cursos superiores a fim de projetar-se nacionalmente e tornar-se exemplo a outras cidades. Assim, a década de 1950 marcou o desenvolvimento educacional de Uberaba quanto à criação de cursos e instituições de ensino superior, como as escolas de Odontologia, de Enfermagem e de Direito. Além destas, em 1953 a FMTM recebeu autorização para iniciar seu funcionamento, sendo a vigésima segunda escola médica criada no país e a quarta do estado de Minas Gerais.

Pode-se dizer que a criação da FMTM foi fruto de uma articulação entre os políticos locais e o governo federal. Afinal, desde 1927 os médicos já se organizavam numa sociedade médica, que era a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Uberaba, que, além da representação da categoria profissional, divulgava suas realizações e seus estudos para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Eram médicos alinhados na política dos dirigentes de Uberaba e que, juntos, foram resolutos na busca do objetivo de consolidar o ensino superior médico na região.

No fim de novembro de 1953, Mozart Furtado Nunes, primeiro diretor da FMTM, recebeu, nas instalações improvisadas para funcionamento da FMTM, Cesar do Val Villares, inspetor do MEC. Informou o inspetor que havia encontrado tudo em ordem conforme documentado no relatório de avaliação. O processo foi homologado pelo ministro da Educação e, no dia 23 do mesmo mês, Mário Palmério, deputado federal e um dos responsáveis pela criação da FMTM, levou, em mãos, o processo ao presidente Getúlio Vargas para a assinatura do decreto presidencial. Assinado por Vargas em 24 de março de 1954, o Decreto 35.249 autorizava a criação da FMTM.

Getúlio Vargas entrega ao deputado Mário Palmério a autorização de funcionamento da Faculdade de Medicina em 1953. Acervo: Arquivo Nacional. Mozart Furtado Nunes. Acervo: UFTM.
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Gir

28 de Abril de 1954

No dia 28 de abril de 1954, Juscelino Kubitschek, ainda governador de Minas Gerais, viajou a Uberaba com o objetivo de ministrar a aula inaugural para a primeira turma de alunos aprovados no exame vestibular para o curso de Medicina. A partir desse dia marcante para a sociedade, tiveram início oficialmente as atividades acadêmicas da FMTM. Como nasceu sem espaço físico, funcionou durante os dois primeiros anos em salas e laboratórios da Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro, de propriedade de Mário Palmério.

Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro. Acervo: Uniube.

Em abril de 1953, dissipados os recursos financeiros com o elevado número de assistidos, o saldo da Santa Casa era devedor. Diante desse contexto, foi cogitada a possibilidade de a instituição se tornar o hospital da FMTM, dada sua proximidade com o prédio da cadeia pública, então em reforma para abrigar o curso de Medicina. Após numerosas tentativas de políticos e abnegados voluntários de reabilitar a saúde financeira da Santa Casa, ao final de 1956, a circunstância tornou- se insustentável. Inconformados com a situação, alunos e professores da FMTM buscaram articulação política para que a Santa Casa se transformasse no hospital-escola do curso de Medicina e dos cursos da área da saúde. E assim ocorreu o convênio entre essas duas instituições.

Santa Casa de Misericórdia na década de 1950. Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba.

Indubrasil Gir Mocho
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O Campus I da UFTM

As implicações diretas da FMTM em ter um hospital federalizado estavam relacionadas à dotação orçamentária tendo em vista melhorias e o adequado aparelhamento do hospital. Por fim, em 1967, o hospital da Santa Casa e seu terreno foram agregados ao patrimônio do MEC e ficaram sob a administração da FMTM.

Enquanto a administração da FMTM corria contra o tempo para organizar a Faculdade de Medicina, o prédio da penitenciária passava por reformas para abrigar o curso.

Reforma da Penitenciária do Triângulo Mineiro, que em breve iria abrigar a Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro na década de 1950. Acervo: UFTM.

O prédio foi doado à FMTM em 1953 e dentre os argumentos pró-doações estavam a localização central e próxima à Santa Casa de Misericórdia, a estrutura e a beleza arquitetônica do prédio. Assim, teve origem a frase que teria sido pronunciada pelo governador JK: “Ainda transformarei esta cadeia numa grande Faculdade de Medicina”. As obras de adaptação do prédio se estenderam até 1956. Nesse prédio e nos três blocos construídos na parte ociosa do terreno – conhecido como campus 1 da UFTM –, funcionam salas de aula e laboratórios para atender às disciplinas biológicas da área curricular básica dos cursos de saúde.

3 de maio de 1956 – Já como Presidente da República, Juscelino Kubitschek visita Uberaba e inaugura oficialmente o prédio da FMTM. Acervo: Arquivo Nacional.

Nelore Mocho
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Sindi

O Presidente Kubitschek em Uberaba

Entre 1956 e 1960, diretor, professores e alunos batalharam em busca do processo de federalização, cientes de que seria a única maneira de sobrevivência financeira. Nesse período, um acontecimento foi crucial para o processo de federalização: em 3 de maio de 1960, o presidente da República, Juscelino Kubitschek, chegou para inaugurar a exposição agropecuária de gado zebu de Uberaba.

Encontravam-se no aeroporto de Uberaba para recepcionálo as autoridades políticas locais, pecuaristas chefiados pelo presidente da Associação Brasileira de Criadores de Gado Zebu, além de populares desejosos de saudá-lo.

Burlando a segurança presidencial, adentrou ao saguão do aeroporto um grupo de estudantes da Faculdade de Medicina e, antes que o presidente desembarcasse, já estavam à sua espera nas escadas do avião. Os estudantes arrebataram o então presidente, contrariando os pecuaristas que o aguardavam, e Juscelino se deixou levar até a sede do centro acadêmico da FMTM. Foi esse episódio que rendeu outra famosa frase de Kubitschek: “Tudo farei que estiver ao meu alcance para federalizar esta escola, pois ela é a menina dos meus olhos”.

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Juscelino Kubitschek vem a Uberaba em maio de 1957 para a inauguração da Exposição de Gado Zebu. Estudantes se manifestam, pedindo a federalização da Faculdade de Medicina. Foto do acervo do Arquivo Nacional.
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Assinatura da Ata de federalização da FMTM em 1960. Acervo: UFTM.

Nasce a UFTM

Em 14 de dezembro de 1960, o processo de federalização foi aprovado pelo Senado. A UFTM se encaixou no movimento vindouro desde 1950 de federalização de inúmeras Instituições de Ensino Superior. As escolas isoladas no país tenderam cada vez mais a serem aglutinadas em universidades. Em Uberaba, esse processo só foi completado até recentemente, em 2005, nascendo a nossa atual UFTM.

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Diante dos 200 anos de Uberaba, é impossível não se comover como a história da cidade foi fundamental no surgimento da UFTM, e como esta seguiu honrando o município por ter permitido o seu nascimento.

A UFTM é hoje item importantíssimo na vida financeira, cultural e científica de Uberaba. A UFTM exporta profissionais capacitados para todo o Brasil, possui uma rede de pesquisadores reconhecidos internacionalmente, é reconhecida nacionalmente pela qualidade do serviço de saúde do Hospital de Clínicas, é local de referência de serviço de alta complexidade do Triângulo-Sul, fomenta turismo em Peirópolis, arrecada divisas para o município com os eventos promovidos por e para alunos, e mantém viva toda a história do centro da cidade, principalmente aquela concentrada no Bairro Nossa Senhora da Abadia.

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Congresso Nacional em 1960. Acervo: Instituto Moreira Sales. Vista aérea do bairro Abadia com a FMTM, o Mercado e o Colégio Nossa Senhora das Dores na década de 1960. Um dos edifícios da Universidade Federal do Triângulo Mineiro na atualidade. Acervo: UFTM. Prédio da FMTM nos primeiros anos de funcionamento da faculdade na década de 1960. Acervo do IBGE. e como esta seguiu honrando o município por ter permitido o seu nascimento.
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Da Algema ao Lápis

O passado da terra do zebu mostra que Uberaba foi palco da união de grandes heróis brasileiros em 1953 em prol de um sonho em comum.

Graças aos alunos que reformaram a antiga prisão, à Mozart Furtado (primeiro diretor e ativo na luta pela federalização),à Mário Palmério (político tão dedicado a vida acadêmica que cedeu as instalações de sua faculdade de odontologia para a nascente FMTM), e a muitos outros atores fundamentais na criação da FMTM que chegamos até aqui.

Nesses quase 70 anos que a UFTM faz parte de Uberaba, o parabéns vai também para todos esses heróis que nos deram uma das maiores universidades públicas do país, que leva em seu passado um dos maiores simbolismos da educação: a troca de uma prisão por uma escola; a troca da algema pelo lápis.

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Portal do Parque Fernando Costa. Livro de Autoria de Mário Palmério. Brahman Cangaian

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