EDITORIAL
NÚMERO 2 / MARÇO 2012 Director Bernardo Sabugosa Portal Madeira diretor@agrotec.com.pt
AGROTECREVISTA.WORDPRESS.COM
Editor António Malheiro a.malheiro@publindustria.pt Redacção Joana Moreira redacao@agrotec.com.pt Duarte Moreno duartemoreno@agrotec.com.pt Tel. +351 225 899 620 Comercial e Marketing Helder Marques Tel. +351 225 899 627 marketing@agrotec.com.pt Gestão de Tecnologias de Informação Jorge Pissarra j.pissarra@publindustria.pt Paginação Ana Pereira ana.pereira@engebook.com Assinaturas Tel. +351 220 104 872 assinaturas@engebook.com | www.engebook.com Conselho Editorial Ana Malheiro (Advogada) António de Fátima Melo Antunes Pinto (ESAV-IPV) António Mexia (ISA-UTL) George Stilwell (FMV-UTL) Henrique Trindade (UTAD) Isabel Mourão (ESA-IPVC) Jorge Bernardo Queiroz (FCUP) José Estevam da Silveira Matos (UAC) Mariana Mota (ISA-UTL) Nuno Afonso Moreira (UTAD) Pedro Aguiar Pinto (ISA-UTL) Ricardo Braga (ESA Elvas) Teresa Mota (CVRVV) Colaboraram neste número Ana Monteagudo, Anabela Afonso Fernandes Silva, António Simões, Bruno Maciel, Carlos Burnay, Cristina Sousa Correia, Duarte Moreno, Emanuel Carvalho Moreda, Flávio Neto, Gabriela Cruz, George Stilwell, Henrique Trindade, Inácio Fonseca, Isabel Mafra, Isabel Mourão, Jesus Mangado Urdániz, Joana Costa, Joana Fernandes, João Castro Pinto, João Coimbra, João Coutinho, João Paulo Carneiro, Jorge da Silva Agostinho, José Estevam da Silveira Matos, José Martino, Raquel Silva, José Torres Farinha, José Valente Silva, Leopoldo Nurti, Luis Cunha, Luís de Azevedo de Vasconcellos e Souza, Luís Miguel Brito, Luis Queirós, Luisa Barreiros, M. Beatriz Oliveira, Manuel Ângelo Rodrigues, Manuel Forjaz, Manuel Pedro Salema Fevereiro, Mariana Mota, Nelson Lourenço, Nuno Abreu, Orquídea Dias, Paulo Jorge Rodrigues, Pedro Rainho Castro, Raul Pinheiro, Sandra Marques, Sandra Velho, Silas Pego, Sílvia Costa Azevedo, Susana Fonseca, Telmo Fernandes, Vinicius Pimentel Silva Redacção e Administração Publindústria, Lda. Praça da Corujeira, 38, 4300-144 Porto, PORTUGAL Tel. +351 225 899 620 . Fax +351 225 899 629 secretariado@publindustria.pt | www.publindustria.pt Propriedade e Edição Publindústria, Lda. Empresa Jornalística Registo n.º 213163 Correspondentes Bruxelas: Ana Carvalho, ana.carvalho@agrotec.com.pt Reino Unido: Cristina Sousa Correia, reinounido@agrotec.com.pt Rio de Janeiro: Henrique Trévisan, riodejaneiro@agrotec.com.pt Angola: Gil Grilo, angola@agrotec.com.pt Áustria: Maria Miguel Ribeiro, austria@agrotec.com.pt Itália: Martina Sinno Polónia: Bruno Maciel e Raúl Pinheiro Impressão e Acabamento Anduriña, S.A.
Se, a quem foi aluno do Professor Rogério de Castro, fizer o desafio de pedir uma descrição sua numa palavra, irei ouvir muitas ligadas à viticultura e à fruticultura. A minha, que para mim só passou a fazer sentido depois de lha ouvir, é ECLETISMO. A atitude dos Homens, e o seu exemplo, é muitas vezes a melhor lição que podemos receber. O Professor Rogério de Castro não é só um exemplo de refinada simpatia, é um modelo de honestidade e de visão. Não se deixou prender por ideias preconcebidas. Na sua vida não se deixou ficar pela fixidez de conceitos e modelos. Por sua iniciativa estudou, investigou, confrontou teorias e conceitos, fez as suas escolhas e trilhou os seus caminhos. Trouxe-nos uma viticultura que alia o rigor da ciência ao amor da intuição. Um constante diálogo Homem-Planta. Um professor que, como mo sublinhou uma vez “nunca deixará de (me) ensinar” E enquanto nos falta ecletismo, abusamos da metonímia. Temos sempre uma visão apressada, pouco analítica da realidade, confundimos a causa pelo efeito, o continente pelo conteúdo. De facto, quando confrontados por manifestações de produtores de leite, somos levados a ver as grandes cadeias de distribuição e os estrangeiros como vilões. Mas ninguém se pergunta “Como é que o produto importando pode ser tão competitivo?” Se olharmos para as estatísticas vemos vacarias com 2 fragilidades: – Excessiva dependência de produtos importados; – Taxa de renovação demasiado elevada. Temos explorações com demasiados animais para a área disponível (problema do encabeçamento), obrigados à importação de alimentos, inclusivamente de palha. Temos vacarias que, em média, abatem animais antes da terceira lactação, apresentando estes claudicações e mamites logo à primeira lactação. Ineficiência e desperdício são as palavras de ordem das nossas vacarias. Até quando?
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E enquanto nos falta ecletismo, abusamos da metonímia. Temos sempre uma visão apressada, pouco analítica da realidade, confundimos a causa pelo efeito, o continente pelo conteúdo.
”
Periodicidade / Tiragem: Trimestral / 10.000 exemplares Publicação Periódica: Registo n.º 126 143 INPI Registo n.º 479358 ISSN: 2182-4401
BERNARDO SABUGOSA PORTAL MADEIRA DIRECTOR
Doutorado em Ciências Agrárias
Depósito Legal: 337265/11 Foto da Capa / Modelo / Iluminação / Arte Digital Frederico Martins / Milho "Lambada" (Pioneer) / Pedro Sá / José Paulo Reis
AGROTEC / MARÇO 2012
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REGRAS DE PUBLICAÇÃO
SUBMISSÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS: REVISÃO INTER-PARES A AGROTEC – Revista Técnico Científica Agrícola, além de artigos técnicos, de divulgação, e extensão rural publica também, no âmbito das Ciências Agrárias e Veterinárias, artigos e notas científicas (originais). Forma de apresentação e submissão de manuscritos a ser submetidos a avaliação inter-pares: a) Os artigos devem ser escritos de uma forma sucinta e objectiva, devem ser originais, não previamente publicados nem submetidos simultaneamente a outras revistas nacionais ou internacionais. b) Podem ser escritos em Português, Espanhol, Francês e Inglês, mas a sua publicação será feita apenas em Português, reservando-se a versão original para publicação on-line. c) Todos os artigos devem conter título e resumo em língua inglesa. d) São consideradas páginas escritas as que são redigidas em folhas A4, fonte Times New Roman, 12, entrelinhamento simples e parágrafo simples com margens superior e inferior de 2,5 cm e esquerda e direita de 3 cm. Preferencialmente, os artigos não deverão conter mais de 5 páginas. e) Os artigos com mais de 5 páginas podem ser publicados em dois números consecutivos da AGROTEC. f) As ilustrações, gráficos e tabelas devem ser fornecidas em formato electrónico editável. g) Os artigos deverão apresentar, sempre que possível, a seguinte estrutura: 1. TÍTULO – Não deverá exceder as 10 palavras. 2. NOME DOS AUTORES – Nome e Sobrenome; Indicação do serviço, departamento e organismo onde foi realizada a investigação, onde exercem a sua actividade e respectivo endereço, endereço electrónico. Apenas de-
3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12.
13.
i.
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i)
vem constar como autores aqueles que efectivamente colaboraram no estudo e redacção do artigo, podendo responder por aquilo que está escrito. RESUMO – Até 150 palavras. PALAVRAS-CHAVE – Até 5 palavras não presentes no título. TITLE; ABSTRACT e KEYWORDS – deverão seguir o formato anterior. INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS (e) Discussão DISCUSSÃO CONCLUSÕES AGRADECIMENTOS QUADROS E FIGURAS – deverão referenciar-se com numeração árabe sequencial; os primeiros como título, as segundas como legendas. BIBLIOGRAFIA – Todos os trabalhos citados no texto devem figurar e vice-versa. Segue-se o sistema numérico de citação bibliográfica. No texto as citações são identificadas por numeração árabe. A lista bibliográfica deve ordenar-se por ordem de citação no texto:
3. Propor a publicação do artigo sem revisão inter-pares quando o mesmo tenha interesse mas se considere que não preenche os requisitos para a classe de artigos “científicos revistos”. j) Os artigos são enviados para revisão por, pelo menos, dois elementos do Painel de Revisores da AGROTEC. Se houver a sugestão de eventuais alterações os autores deverão enviar novo manuscrito que será aprovado pelo Conselho Editorial. k) Os artigos são publicados na AGROTEC na primeira oportunidade editorial, por ordem de aceitação, ou em data sugerida pela redacção, para conciliar com outros trabalhos a publicar em algum número especial. l) Tendencialmente, numa edição, não serão publicados mais do que 2 artigos científicos revistos. Os artigos revistos serão devidamente assinalados. m) Não será aceite qualquer retribuição monetária em contrapartida pela publicação de artigo ou textos científicos revistos.
Por exemplo: Rodrigues, A. e Ferraz, A. 2011. Biotecnologia Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Publindústria, Porto, 282 pp. Silva, J., Pereira, P. e Matos, J. 2012. Higiene do Teto Ponto Crítico de Controle de um HACCP da Produção de Leite. AGROTEC, 2:20-26. Os textos são recebidos pela Redacção que os remete para o Conselho Editorial. Poderão ser enviados para: redacao@agrotec.com.pt. O Conselho Editorial poderá: 1. Recusar a publicação; 2. Submeter o artigo à apreciação anónima pelo Painel de Revisores da AGROTEC;
CONSELHO EDITORIAL Ana Malheiro (Advogada) António Antunes Pinto (ESAV-IPV) António Mexia (ISA-UTL) George Stilwell (FMV-UTL) Henrique Trindade (UTAD) Isabel Mourão (ESA-IPVC) Jorge Bernardo Queiroz (FCUP) José Estevam da Silveira Matos (UAC) Mariana Mota (ISA-UTL) Nuno Afonso Moreira (UTAD) Pedro Aguiar Pinto (ISA-UTL) Ricardo Braga (ESA Elvas) Teresa Mota (CVRVV)
PAINEL DE REVISORES PERMANENTES DA AGROTEC Nome
Afiliação / Instituição
Nome
Afiliação / Instituição
Amílcar Duarte
Universidade do Algarve, FERN
José Luís Monteiro Teixeira
ISA - UTL (DCEB)
Ana Alexandra Oliveira
UTAD | CITAB
José Luís Pereira
ESA Viseu – DZERV
Ana Maria da Silva Monteiro
ISA - UTL (DCEB)
José Manuel Moutinho Pereira
UTAD | CITAB
Anabela Afonso Fernandes Silva
UTAD | CITAB
José Mira de Villas Boas Potes
ESA Santarém
Anacleto Pinheiro
Universidade de Évora
José Rafael Marques da Silva
Universidade de Évora
António Manuel Jordão
ESA Viseu – DIA
José Silvestre
INRB Dois Portos
António Pinheiro
Universidade de Évora
Luís Miguel Mesquita de Brito
ESA/IPVC; (CIMO)
Arlindo Almeida
ESA Bragança
Luís Mira
ISA (DCEB)
Aureliano Natálio Coelho Malheiro
UTAD | CITAB
Luisa Barreiros
IPP
Cristina Maria Moniz Simões Oliveira
ISA - UTL (DCEB)
Manuel Ângelo Rodrigues
ESA Bragança
Francisco Mondragão Rodrigues
ESA Elvas (DARN)
Maria Elvira Ferreira
L-INIA/INRB
Guilhermina Miguel da Silva Marques
UTAD | CITAB
Mário de Carvalho
Universidade de Évora
Helena Ribeiro
FCUP
Mário Miranda Cunha
FCUP
Henrique Trevisan
UF Rio de Janeiro
Miguel António Machado Rodrigues
UTAD | CECAV
Isabel Cortez
UTAD | CITAB
Noémia Machado Farinha
ESA Elvas (DARN)
João Carlos Andrade dos Santos
UTAD | CITAB
Orlanda Viamonte Póvoa
ESA Elvas (DARN)
João Paulo Carneiro
IPCB
Rute Guedes dos Santos
ESA Elvas (DCTA)
Jorge Maia
COTR - C. Ope. e de Tec. de Regadio
Virgílio Falco
UTAD | CITAB
Jorge Manuel Rodrigues Ricardo da Silva
ISA - UTL (DCEB)
Vítor João Pereira Domingues Martinho
ESA Viseu
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ÍNDICE
Editorial Agrotec responde Empresas que já são futuro
1 4
Entrevista a João Coimbra
6
Zootecnia Higiene do teto
12
Produção de leite
20 24 27
Cercas eléctricas Actualidade zootecnia
Cuidados veterinários Plano vacinal em vitelos
28
Agricultura tropical Leguminosas para equinos
30
Hortofruticultura e floricultura Características dos subtratos 3 32 Flores comestíveis Vilmorin: tomate Vermicompostagem Consumo de cogumelos Actualidade hortofruticultura
Do HACCP ao FSSC 22000 127
Actualidades 130 Inovação 131 Feiras e eventos em destaque IPM Essen 132 Congresso do milho 133 Permacultura em Serralves 134 Fruit Logistica 136 FIMA 138 Feiras e eventos 140 Calendário de feiras e eventos 142 Estante 143 Opinião 144 28 / PLANO VACINAL EM VITELOS
40 43 45 48 51
6 / ENTREVISTA A JOÃO COIMBRA
104 / A AGROBIOTECNOLOGIA NO MUNDO E A AGRICULTURA PORTUGUESA
Grandes Culturas A produção de milho em Portugal 3 53 Todos ao milho! Desempenho do milho forrageiro Produção de biomassa Volatilidade dos preços
56 62 68 70
Protecção de culturas Pragas do milho Degradação biológica de pesticidas
53 / A PRODUÇÃO DE MILHO EM PORTUGAL
72 78
Nutrição vegetal Tecnologias LZN e C-MOV da ADP
82
Viticultura Homenagem a Rogério de Castro Actualidade viticultura
86 88
40 /FLORES COMESTÍVEIS: AMORES-PERFEITOS
Ciência e investigação 89 96 Colza mutante 100 Actualidade ciência e investigação 102 Biotecnologia Agrobiotecnologia 104 OGM em alimentos 106 Prados, pastagens e forragens Beterraba forrageira 109 Maquinaria agrícola Equipamentos de transporte 112
Rentabilidade dos sistemas de rega Cultura do milho forragem
78 / DEGRADAÇÃO BIOLÓGICA DE PESTICIDAS: UMA SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DA CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL
Agricultura de conservação 116 Manutenção de máquinas agrícolas 120 Actualidade maquinaria agrícola 122
Agronegócio Banco público de terras 126
AGROTEC / MARÇO 2012
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AGRO TE C
A AGROTEC, cumprindo o seu objectivo de colocar as suas páginas ao serviço dos empresários agrícolas, entendeu que uma das necessidades mais prementes por eles sentida é obter de forma rápida e clara resposta técnica a problemas relacionados com a sua actividade (direito, patologia, enologia, silvicultura, zootecnia, apicultura, olivicultura, agricultura tropical, etc). Assim, os leitores que queiram, poderão remeter-nos pelo correio a sua consulta (gratuita), que deverá ser sucinta e objectiva. As questões serão publicadas na revista no número seguinte, podendo ser resumidas e adaptadas pela redacção da Agrotec. Se possível, e útil para a resposta a ser dada, deverão ser enviadas amostras de material ou fotos. A Agrotec encaminhará a questão colocada para especialistas nas áreas que versem a consulta. Se, com o envio da consulta, for fornecido um endereço de e-mail, as respostas serão dadas directamente logo que disponíveis e posteriormente publicadas no número seguinte da revista. Por correio: Praça da Corujeira, n.o 38, 4300-144 Porto Por e-mail: redacao@agrotec.com.pt
Nota: se for necessário realizar análises laboratoriais ao material enviado, e estas impliquem algum pagamento, o consulente será antecipadamente informado.
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AZEITE "COALHADO"
CINZA COMO FERTILIZANTE
Acontece-me por vezes que o azeite fica pastoso e duro, de modo que nem o consigo verter da garrafa. No fundo forma uma pasta que parecem ser cristais. Isto quer dizer que está estragado? Porque é que isto aconteceu? Albina Santos Ferreira (Arouca)
Vivo perto de uma central de queima de biomassa florestal onde podemos ir buscar cinza de lenha e resíduos florestais. Qual a quantidade máxima ou recomendada, para aplicação nas terras como fertilizante, nomeadamente para a cultura do milho? Fátima Godinho (Aveiro)
Agrotec: O azeite virgem é considerado o sumo natural da azeitona. Quando se rompe a integridade física do fruto, quer por factores naturais, tais como o frio, ataques de pragas e doenças, etc., ou durante o processo tecnológico de extracção, o azeite inicia fenómenos de degradação que deterioram a sua qualidade. A degradação do azeite é um processo natural e inevitável mas que pode ser retardado. A conservação reveste-se de enorme importância na medida em que permite criar condições que retardam esse processo. O azeite deve ser conservado ao abrigo da luz, em locais frescos com fracas amplitudes térmicas e sem a proximidade de produtos com cheiros e aromas que facilmente serão transmitidos ao azeite. Durante o Inverno, com o abaixamento da temperatura do ar, é normal o azeite apresentar-se opalescente ou mesmo turvo, devido à solidificação de alguns glicéridos, com maior predominância dos ácidos gordos saturados. Nestas condições o azeite apresenta-se “coalhado”, como se costuma dizer. Contudo, ele recuperará o seu aspecto inicial com o aumento da temperatura ambiente (> 12-15 oC); basta para tal colocá-lo num local mais quente. Nunca deve ser aquecido numa fonte de calor, uma vez que as vitaminas, os compostos antioxidantes e os compostos voláteis, responsáveis pelo aroma e sabor do azeite, irão perder-se.
Anabela Silva Professora na UTAD /CITAB
Agrotec: A informação que fornece não é suficiente para lhe podermos dar a resposta que deseja.
A cinza pode e deve ser utilizada como fertilizante. É rica em cálcio, contém potássio e magnésio e pode ainda conter quantidades razoáveis de fósforo e de alguns micronutrientes. Contudo, a composição da cinza é variável em função sobretudo do material vegetal que está a ser queimado. Deveria tentar obter informação sobre a composição da cinza que se prepara para utilizar. Se na central não lhe facultarem essa informação pode enviar uma amostra para um laboratório (pode pedir esta análise ao Laboratório Químico Agrícola Rebelo da Silva em Lisboa, à Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro ou a Escolas Agrárias de Institutos Politécnicos, como a de Bragança, Coimbra ou Viana do Castelo). A quantidade de cinza que pode aplicar depende do solo. Assim, antes de aplicar cinza deveria também analisar a terra. A cinza deve ser vista sobretudo como um correctivo alcalinizante e menos como um adubo. As doses a aplicar dependem sobretudo do pH do solo. Saiba também que a cinza não deve ser usada como único fertilizante, pois não contém
quantidades relevantes de alguns nutrientes importantes como o azoto. Para fertilizar o milho terá sempre de aplicar, também, outro(s) fertilizante(s). Em conclusão, para obter uma resposta mais concreta à questão que coloca deve facultarnos resultados da análise da cinza e dos solos onde pretende aplicá-la. Sem essa informação aconselhamos que não aplique mais de 5 a 6 t/ha e que não repita a aplicação em anos seguintes. Tenha também em atenção que se aplicar cinza deve evitar inalá-la e mantê-la em contacto com a pele. Deve igualmente evitar que a cinza contamine cursos de águas e albufeiras. É conveniente que a transporte com cuidado e que proceda à sua incorporação no solo imediatamente após a aplicação, para reduzir as perdas para o meio ambiente através do vento e/ou da água da chuva. M. Ângelo Rodrigues Centro de Investigação Montanha Instituto Politécnico de Bragança
AGRICULTURA HIDROPÓNICA Estou a pensar seriamente em dedicar-me à agricultura hidropónica de morangos, mas sem perceber praticamente nada acerca. Gostava de saber se existem apoios ou incentivos que ajudem os jovens agricultores e se o negócio poderá ser rentável apenas com uma estufa, ou se, pelo contrário, terei prejuízos. Odete Amorim (S. Maria da Feira) Agrotec: A cultura do morangueiro faz-se normalmente em solo coberto por polietileno, geralmente preto. Recorre-se ao substrato (ou ao filme nutritivo) apenas em locais em que
o solo ou a época de produção o justifiquem. O sistema de cultura sem solo permite produtividades mais elevadas e a produção fora de época, permitindo tirar partido de condições de mercado melhores, mas é muito exigente do ponto de vista fitotécnico, exigindo um bom domínio da tecnologia de produção em substrato e um profundo conhecimento da fisiologia das plantas. É também muito exigente em termos de qualidade da água que vai ser utilizada, em particular quando se usa o sistema fechado, em que há recirculação da solução nutritiva. Tem a vantagem de ultrapassar problemas de doenças causadas por fungos do solo mas, no entanto, e muito em especial no caso dos sistemas fechados, continuam a ocorrer problemas com fungos como Phytophthora cactorum e problemas de autotoxicidade (toxicidade causada por substâncias exsudadas pelas plantas para a solução nutritiva) que dificultam esta tecnologia de produção. O custo de investimento é bastante alto. Antes de iniciar o projecto, vale a pena visitar produtores de morango com esta
tecnologia de produção (existem vários em diferentes zonas do país, em especial na região Sul), por forma a familiarizar-se com o sistema, suas virtudes e limitações. Em termos de apoios financeiros, o Programa ProDer (www.proder.pt: informações N.º Verde - 800 500 064 e Direcções Regionais de Agricultura e Pescas) prevê incentivos para a instalação de jovens agricultores, até 40 anos de idade, sendo neste âmbito particularmente valorizadas as candidaturas em zonas desfavorecidas. Dada a complexidade da técnica de produção há que procurar adquirir fortes bases e conhecimentos por meio de cursos, formações e estágios. Antes de avançar deve garantir um canal de escoamento bem remunerado. Uma possibilidade será estabelecer um acordo ou parceria de produção com uma empresa ou central hortofrutícola local. Mariana Mota, DCEB/CEER-Horticultura Instituto Superior de Agronomia
JOÃO COIMBRA GESTÃO E RIGOR NA CULTURA DO MILHO Bernardo Madeira Fotos: Marta Jardim
Nome: João Monteiro Coimbra Empresa: Quinta da Cholda Idade: 48 anos Instalação: 1988 Curso: Engenharia Agronómica ESA Santarém
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Área administrada Milho: 350 ha Arroz: 50 ha Outras arvenses: 200 ha Floresta (sobreiro, pinheiro manso, pinheiro bravo e eucalipto): 2.000 ha Área sob pivôs de rega: 400 ha Trabalhadores (admin.e braçal): 10 Tractores: 15
EMPRESAS QUE JÁ SÃO FUTURO
Considerado por muitos como o melhor produtor de milho do mundo, título que não aceita, João Coimbra é, sem dúvida, um empresário agrícola exemplar, pelo rigor e cuidado que imprime aos seus projectos. Foi na Quinta da Cholda, uma das propriedades da família de que é responsável, que recebeu a AGROTEC para partilhar os segredos do seu sucesso na cultura do milho. Rapidamente se percebe que o Eng.º João Coimbra não é apenas um bom produtor de milho, é também um empresário capaz de atingir níveis de excelência em qualquer negócio em que se empenhe. É, nas suas próprias palavras, a gestão rigorosa a chave daquilo que nós podemos chamar de sucesso e que, para ele, apenas é a gratificação por alcançar os resultados a que se propõe nos projectos em que se tem empenhado. Quando a média nacional é de pouco mais de 7 ton/ha de milho grão, João Coimbra pode orgulhar-se de, nos seus 350 hectares cultivados com milho não ter, desde 1990, tido qualquer ano em que a produtividade fosse inferior a 15 ton/ha, atingindo em 2011, ano particularmente favorável para a cultura, a média de 17 ton/ha. Agrotec (AG): É, em Portugal, considerado o melhor produtor de milho. E diz a fama que talvez um dos melhores a nível internacional. João Coimbra (JC): Agradeço esses adjectivos mas... sou talvez o mais especializado. A nossa exploração tem-se especializado nesta área, o que é muito raro. A maioria das explorações é mista e as pessoas são especialistas em várias áreas, o que é sempre complicado, e em agricultura isso é evidente. Aqui, na região, há outras alternativas, nomeadamente hortícolas, o que permitiria outra rotação. Mas especializando-me concluí que poderia talvez ganhar mais em termos de produtividade e controlo do processo, mesmo com os riscos que implica ter uma cultura que está em mercado aberto e sujeita a oscilações de preços muito grandes que poderiam levar a condições complicadas. Em vinte e tal anos de experiência apanhei de tudo, de preços altos e baixos, mas mesmo assim consegui sempre ter resultados positivos. AG: Todos temos curiosidade em saber quais os seus recordes de produtividade numa parcela. Qual foi o máximo dos máximos? JC: Tenho sempre medo de falar em números porque dizem que aqui os hectares são muito
grandes. O mais importante para nós é a produção média e a regularidade. Ao longo dos anos temos vindo a subir. Em 1988 a média era de 8 toneladas hectare, este ano tivemos a melhor média de sempre, acima das 17 toneladas. AG: É uma média extraordinária, considerando que é uma divisão feita por 350 ha! JC: Normalmente não digo qual a produção porque há quem não acredite, e por isso falo em percentagem de variação. Mas mais importante do que isto é, desde 1990, nunca ter estado abaixo das 15 ton/ha. Quando investimos na cultura, o pior cenário considerado são as 15 toneladas, pois, economicamente só acredito na segurança económica com produtividade acima das 13 ou 14 toneladas. AG: Mas qual foi mesmo o máximo que já colheu. O máximo foram as vinte e… ? JC: Sim, acima de vinte, mas essa pergunta só respondo off the record! Mas não foi neste ano de 2011, apesar de ter sido o melhor ano em termos de produtividade média. O que me interessa não são os recordes mas a regularidade e homogeneidade. AG: Sente que está no limite da capacidade genética dos híbridos? JC: Não, não. Há muitas parcelas em que efectivamente se chegam a valores muito altos, mas nunca cheguei aos valores teóricos que se falam das 27-28 toneladas. Sempre que cometemos uma asneira, tiramos quilos da seara, partimos em 28 e depois vamos tirando com os erros e ineficiências, por exemplo, os que se perdem na ceifa, o que os javalis comeram, o que os rodados do pivô inutilizou, bem como o caminho que vai ao centro do pivô; tudo isso é área. Quando me comecei a aperceber que estaria a chegar às produtividades limite comecei a fazer o contrário, passar a produzir o mesmo com menos, optimizando e aumentando a eficácia. Hoje em dia, pondero quantos quilómetros faço por tonelada de milho, quantos litros de gasóleo, quantas horas de mão-de-obra, quantos quilos de azoto, quantos quilowatts de energia. AG: Portanto, optimizando. JC: Sim. Um benchmarking técnico. E isto é algo que gostaria de propor a todos os agricultores, que fizessem um benchmarking, e façam sempre um programa de optimização sobre aquilo que já conseguiram fazer, em termos de produtividade, tudo o que se gasta sobre tudo o que se exporta. Mantendo a fertilidade do solo. Como tenho cinco filhos
nunca penso em deixar os solos piores do que os encontrei. AG: Um dos pontos em que tem optimizado a sua exploração é na economia de energia. E vemos diversos painéis solares nas suas terras. Qual é o objectivo? JC: Temos dois novos projectos: 1) Melhorar o nosso balanço de carbono, reduzindo a nossa pegada ambiental; 2) Sermos auto-suficientes em termos energéticos. Para isso temos vindo a instalar parques solares próximos dos locais de consumo. E os resultados têm sido muito entusiasmantes. AG: O seu parque de máquinas é muito modesto. Recorre muito ao aluguer de máquinas? JC: A maioria é já do tempo do meu pai. Tenho vindo a baixar muito a mecanização numa perspectiva do baixo carbono. Mobilizações simplificadas. Cada vez menos passagens no terreno. Sementeiras directas. O que me interessa é produzir cada vez mais com menos recursos. Esse é o meu lema.
“
Ao longo dos anos temos vindo a subir. Em 1988 a média era de 8 toneladas hectare, este ano tivemos a melhor média de sempre, acima das 17 toneladas.
”
AG: Quantos agrónomos trabalham aqui? A formação foi importante para o seu sucesso? JC: A minha formação académica não foi assim tão importante, a do meu pai sim, que também era agrónomo. Um técnico de altíssima qualidade. A minha principal escola foi esta casa. Eu, aos 10 anos, era tractorista e fuime apercebendo do rigor que o meu pai imprimia, da tecnologia, do espírito inovador. O estudo académico ajudou-me principalmente na parte da capacidade de raciocínio e cálculo matemático. A abertura de espírito consegui sobretudo com viagens e a querer saber porque se fazia. Para mim, o que mais procuro aperfeiçoar é a capacidade de gestão e o rigor. O bom gestor
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EMPRESAS QUE JÁ SÃO FUTURO
do revestimento da vegetação de Inverno, seja semeada ou espontânea, bem como provocar a germinação do milho que caiu na ceifa e que, nascendo nesta época, não vai ser um problema como seria se nascesse mais tarde, no ano seguinte, entre as linhas do milho. Normalmente até faço a sementeira do revestimento de Inverno atrás da própria ceifeira, para antecipar a emergência do revestimento e assim fixar o máximo de azoto que, de outro modo, se perderia por lixiviação e aproveitar o máximo de calor do final do Verão para garantir a melhor instalação. Se tiver infestantes vivazes, como a junça (e a junça pode ser o problema número um), ainda consigo fazer uma aplicação de glifosato durante a campanha e uma rega para maximizar o efeito do herbicida, mas nos últimos anos não o tenho feito porque consegui erradicar a maioria dessas infestantes. E o melhor herbicida é, sem dúvida, uma seara de milho de 15 toneladas. Com 4,5 metros de altura abafa-se tudo.
é o que elimina os riscos com o mínimo de dinheiro e capacidade de antecipação.
situação real), os pivôs trabalham todo o ano, em consumo mínimo.
AG: Encara, portanto, a agricultura como uma verdadeira empresa. JC: A terra é um activo bastante sólido e que deve ser administrado como tal. Há uma regra que diz “Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje” e eu na verdade defendo “Pensa bem o que vais fazer amanhã para o fazeres bem feito”. Para que tudo corra bem é preciso preparar a logística. Para eu semear 350 há, entre o dia 15 de Março e 15 de Abril, que é o óptimo técnico para esta região, preciso de semear todos os dias, tendo 6 dias por semana e tenho que avançar todos os dias 12 hectares. É preciso muito planeamento para que tudo corra bem, com os recursos humanos e máquinas que nessa ocasião estão disponíveis e, considerando, que temos parcelas afastadas até 100 km umas das outras. Eu aprendo muito com os erros. Todos os atrasos que temos na Primavera, todas as meias horas de manutenção, tento queimá-las no Inverno, prevenindo riscos através da manutenção antecipada ou preventiva. Todas as máquinas estão afinadas antes da época de sementeira. Fazemos simulações de sementeira (pomos as máquinas a trabalhar simulando
AG: Todo o ano? JC: Sim, nas primeiras regas de emergência é quando a maioria dos empresários vai fazer a manutenção dos pivôs, e quando é preciso já chegam atrasados, isso é irremediável. Se tiver os equipamentos em movimento, a consumir no máximo 1% (sem água, evidentemente), a máquina está sempre pronta, não há rolamentos calcinados, entupimentos, faltas de corrente. A maior parte das vezes, quando as alfaias são precisas é que elas partem, e aí perdem-se dias, e é com este rigor que sinto que se tem conseguido optimizar a produção. A produtividade começa aqui. Fazer tudo no momento certo. Para que não haja falhas na altura da rega tenho, por exemplo, motores de substituição para que, se houver uma avaria possa intervir imediatamente sem estar dependente de terceiros. Num pivô de 72 ha, um atraso na reparação ou substituição de um motor poderia significar a perda de mais de 200.000€.
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AG: Com é que prepara a sementeira? Pelo que percebemos começa com a própria ceifa. JC: Sim. Após a ceifa faço um remeximento superficial do solo para facilitar o nascimento
AG: E no final do Inverno o que faz? JC: Antes da sementeira do milho a cultura de cobertura é dessecada com glifosato, isto em Janeiro ou início de Fevereiro, antes de as temperaturas começarem a subir, para evitar que a matéria seca aumente muito, porque depois teria que gastar muito dinheiro a enterrá-la. Antes da sementeira faço uma mobilização do solo com uma alfaia combinada, que é um subsolador com uma grade rotativa activa de martelos com um rolo compactador, é uma alfaia que me garante apenas uma passagem em qualquer solo e me garante o ritmo que preciso. Trouxe-a da Alemanha onde é muito utilizada. Para optimizar o trabalho desta alfaia, normalmente rego na véspera da mobilização para que a passagem seja feita no estado de sazão, economizando na tracção, fazendo tudo numa só passagem e reduzindo o impacto sobre o solo. AG: Mas houve uma fertilização antes de mobilizar o solo... JC: Antes da adubação houve uma análise da terra, que é feita anualmente em todas as parcelas, para se fazer um histórico da parcela e decidir as adubações. Os adubos de fundo são aplicados antes da mobilização, com distribuidores a lanço com balança medidora automática que, em contínuo, mede a densidade do adubo e pesa, de modo a garantir a homogeneidade da distribuição.
AG: Em que consiste essa fertilização de fundo? JC: Esta aplicação é só de potássio e algum azoto, porque nesta fase está frio e a disponibilidade do azoto do solo é baixa. Na linha faço fósforo e azoto. AG: Mas na sementeira aplica também um “starter”. JC: Exactamente, nas tremonhas onde antes se colocava o insecticida do solo, que agora não é necessário porque as sementes já vêm revestidas com insecticidas, coloco um microstarter (10 a 15 kg/ha) que fica logo acima da semente. Garante o bom arranque da cultura, e, como tem micronutrientes, assegura a ausência de stress antes da instalação das raízes no solo e destas chegarem ao adubo da linha. AG: Algo que se destaca é que inicia sempre as suas sementeiras muito cedo. Por vezes, nos primeiros dias de Março. Que outras vantagens tem esta sementeira precoce além do aproveitamento máximo dos graus de temperatura? JC: Há várias razões. Tem um custo de cultura muito inferior. Gasta menos água, gasta menos secador (por aproveitar a secagem natural). Semeando mais cedo a cultura instala-se mais cedo antes de algumas infestantes. Tem também a vantagem de fazer as operações no ciclo seco, ou seja, antes de começarem as chuvas, prevenindo compactações do solo. Também há uma doença que se está a tornar cada vez mais importante, a cefalosporium que se instala no Verão, e eu sou muito menos atacado por semear mais cedo. Uma das vantagens é poder entrar mais cedo no mercado, o que é importante, por o fazer antes de todos os milhos que vêm do norte da Europa, este ano, por exemplo, começámos a ceifar no dia 20 de Agosto. AG: E essa entrada precoce no mercado tem reais vantagens económicas? Sendo o milho uma commodity, ele está sempre disponível nos mercados internacionais. JC: Sim. Não é sempre, porque há anos que o preço do milho está a descer. Mas o mais importante é que normalmente os milhos que estão no mercado são milhos velhos, e os nossos industriais gostam de milho fresco, que não foi armazenado um ano, de boa qualidade, sem fungos, e o nosso é um produto fresco que chega ao mercado com óptima qualidade. Mesmo sendo uma commodity tem uma apetência superior.
AG: Os tractores operam com rodados duplos? JC: Tiveram rodados duplos. Abdiquei por causa do trânsito na estrada. Muito melhor do que os rodados simples, mas passei para pneus de baixa pressão, que é uma nova tecnologia, com menos de 1 kg de pressão, que aumenta a superfície de contacto com o solo, diminuindo a compactação. Há pneus com 1,2 m que têm praticamente o mesmo efeito do rodado duplo. O defeito é que são muito caros. O rodado simples é que é de evitar.
“ ”
... Pensa bem o que vais fazer amanhã para o fazeres bem feito. AG: Segundo cremos semeia ciclos FAO 600. JC: Sim. Já tentei ciclos FAO 700 e não tive ganhos com isso. Estou à procura dos ciclos FAO 800 para aproveitar os graus de calor que estou a desperdiçar, quase 15 dias. O que acontece é que estes ciclos 800 não se comportam bem na Europa, talvez por falta de investigação, uma vez que só podem ser cultivados nas regiões mais quentes. O meu problema com os ciclos longos é que aqui os pivôs não estão preparados para plantas com mais de 4,5 metros. Algo que dou muita importância é a resistência à acama. Pode ser causa de grandes perdas.
AG: E escolhe por catálogo, por ensaios... JC: Oriento-me muito pouco pelos catálogos. Baseio-me no histórico de confiança que tenho com a empresa e nos meus próprios ensaios, feitos aqui nas minhas propriedades e solos. Tenho trabalhado com todas as casas comerciais, faço ensaios para todas elas. Até porque acredito que hoje em dia a tecnologia está de tal modo desenvolvida de modo que a genética é muito próxima. Há é um grande problema com os catálogos das casas comerciais, pois um catálogo terá cerca de 200 variedades, mas Portugal, como país pequeno e comercialmente pouco interessante não tem capacidade para justificar/ reivindicar a selecção das melhores variedades. Como não têm possibilidade de ensaiar cá todas as variedades podem ou não acertar nas escolhas. Tenho que fazer estes ensaios para ajustar a variedade ao local, pois a mesma variedade que é boa aqui pode não ser noutra região do país. AG: Falou-nos apenas de uma pequena aplicação de azoto aquando da sementeira. Depois faz adubações de cobertura quando? JC: Sim. Na sacha fazemos uma adubação de cobertura, e que é a última passagem que faço em cima da terra, e depois 3 ou 4 fertirrigações. Fazemos o balanço azotado, considerando o azoto da água determinado em análises. Como nesta região há nitratos na água dos furos temo-los em consideração na fertirrigação para não haver perda. E há furos que têm valores elevados de azoto.
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EMPRESAS QUE JÁ SÃO FUTURO
AG: Em média quantas unidades de azoto aplica? JC: Em teoria diz-se que por cada tonelada de milho grão é necessário aplicar 20 kg de azoto. Mas tenho conseguido baixar esse valor, naquela perspectiva de produzir o mesmo com menos. A fertilidade do solo tem melhorado e tenho necessitado de menos, chego a aplicar 18 kg e menos, mas depende da parcela. Nas areias pode até ter que ultrapassar os 20 kg. AG: E como é que gere as infestantes e adventícias? JC: Como afirmei, para secar a cultura de cobertura que fica no Inverno uso o glifosato. Como herbicida uso um clássico, de pré-emergência, raramente um de pós-emergência, só se necessário. Neste momento estamos a fazer testes para ver se há possibilidade de passarmos a fazer só herbicida de pós-emergência. AG: Depois da aplicação do herbicida faz alguma mobilização para incorporação? JC: Não. Há muita gente que o faz e perde muito, porque não consegue formar o filme de protecção. O que faço, mais uma vez, é fazer uma ligeira rega para que o herbicida se incorpore nos primeiros centímetros de solo e forme o tal filme ou película. Aliás, nos rótulos dizem sempre para aplicar com solo húmido e sem torrões. AG: E passa um cilindro? É prática comum em algumas regiões. JC: O cilindro apenas uso nas parcelas com sementeira directa, e é para matar lesmas e caracóis sem usar químicos. Imaginem para que uso o cilindro!
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AG: Algo que é extraordinário, e quase ninguém pratica, é o facto de sachar o seu milho. Sacha 350 ha de milho? Isso é algo que já ninguém faz! Há quem não acredite nas suas produções e também não acreditam que ainda sache o milho. JC: Sim. Sacho tudo menos nas parcelas em sementeira directa. E sei que quase ninguém sacha. E chego a usar alfaias com quase 40 anos. É uma prática que, sem dúvida, tem um impacto muito positivo e que tem a ver com o arejamento das raízes. O que invisto na sacha vou buscar em toneladas. Mais do que as vantagens do enterramento do adubo de cobertura e da destruição de infestantes, a vantagem está na descompactação do solo, pois já reguei e já choveu, e o solo compactado não permite o bom arejamento e oxigenação das raízes. Todos os stresses vão ter um impacto enorme na produção. E a maioria dos problemas surgem até o milho chegar à altura do joalheiro. Eu aposto muito no disparo do milho, que não haja paragens no crescimento, porque nunca recupera, não chega ao potencial. Quem não fizer a sacha e aplicação de azoto nessa oportunidade vai ter que fazer a fertilização na rega. E a rega arrefece a terra, e nessa altura, em tempos frios, é um inconveniente.
AG: Verificamos, também, que não usa adubos de libertação lenta do azoto. JC: Não, ainda não uso. Tenho feito testes incluindo, agora, os adubos com atraso da nitrificação. AG: Como determina as ocasiões em que rega? Através de tensiómetros? JC: No Verão rego todos os dias. Faço-o antes, de emergência, se os equipamentos e os modelos meteorológicos me avisam de riscos de ocorrência de stress hídrico. Rego todos os dias e sempre de noite, porque é o ideal e é mais barata a energia nesse período. Embora o milho seja muito resistente a fungos é uma vantagem regar à noite para reduzir os riscos de infecção. Só rego de dia quando as temperaturas são muito elevadas, acima de 35 °C e há o risco de paragem da fotossíntese, nessa altura rego apenas para baixar a temperatura do campo e não haver uma paragem do crescimento. A rega de todas as parcelas está informatizada. Tenho tensiómetros em todas as parcelas. Está tudo online. Sei, em qualquer minuto, quais as máquinas que estão a regar, quanta energia está a ser consumida, a profundidade da água, a tensão da rede. AG: Falta saber: Quando é que determina que deve parar de regar? JC: Essa é uma questão muito importante. Estou atento ao ponto negro do grão, para determinar o momento em que corto a rega, geralmente quando a humidade está em torno de 32 a 36%. Esta é uma das perguntas que coloco sempre, assim como quando é a última fertirega que é eficaz. E ainda não me souberam dar uma resposta. AG: Tendo semeado cedo para aproveitar a secagem natural do grão, qual a percentagem de humidade que é ideal para poupar no secador? JC: Aqui há um equilíbrio. Geralmente colho à volta dos 22% de humidade. O óptimo técnico seria os 20%. Há um equilíbrio entre a oportunidade da disponibilidade das máquinas, não ter demasiados custos de secagem nem estar demasiado seco e começar a ter perdas no próprio campo. AG: Quanto custa cada 1% de humidade a mais? JC: Aqui na região cada 1% de humidade que temos de baixar no secador custa cerca de 2€ por tonelada. Os custos não são apenas da
energia de secagem mas também o custo de estar a transportar água. AG: Há cerca de 2 anos o milho não vivia a euforia actual (Ver AGROTEC n.º1) e muitos produtores abandonaram por baixa dos preços. Como conseguiu aguentar “o barco”? JC: O problema estava no facto de, por exemplo, com preços baixos o break-even da cultura (nível a partir do qual as receitas superam os custos) estava nas 12 ou 13 toneladas/ha, então, se um produtor está na média em 7 ou 8 toneladas é claro que é complicado. Como nunca tive um ano em que a minha produtividade estivesse abaixo do break-even nunca estive em situação desconfortável. AG: Portanto, a saída, em termos de crise, está em aumentar a produtividade e não em reduzir custos comprometendo a produção. JC: É por aí o caminho. Manter ou aumentar a produtividade mantendo ou reduzindo os gastos. A solução está na eficácia, produzir cada vez mais com cada vez menos. AG: Além de todos os recordes que tem, o milho que produz é também reconhecido como de muito boa qualidade. JC: Tento que todo o milho que produzo seja destinado à alimentação humana. Seja para amidos, farinhas, papas de bebé, etc. Para isto tenho que ter um controlo de qualidade muito alto, e também na racionalização do uso de pesticidas, além de não poder utilizar transgénicos... Não ganho mais por isto, mas dá-me uma garantia de facilidade de escoamento e confiança do mercado. AG: Nas suas parcelas vê-se muito milho nascido, e estamos no Inverno. Tem perdas muito elevadas na ceifa? JC: Creio que tenho as perdas mínimas que são possíveis com os actuais equipamentos. Andará em torno de 1 a 2%. É muito importante
verificar se o milho está espalhado no campo ou enleirado. No primeiro caso, quer dizer que o milho se perdeu na frente da máquina, no corte, e não há grande coisa a fazer, além de diminuir a velocidade de corte, por exemplo. Já se estiver em bandas é porque há problemas nos ventiladores. AG: Como é que o Ministério da Agricultura pode intervir apoiando o sector? JC: Fazendo um controlo de eficácia da distribuição das ajudas. Fiscalizar. Controlar. De resto não tem nem investigação nem capacidade de extensificação. Houve tempo em que teve esta capacidade, agora não tem, têm que ser os agricultores a organizarem-se. AG: Fala-se do milho no perímetro de rega do Alqueva. Pensa levar para lá a sua experiência? JC: Já lá estive. A nossa cooperativa está numa parceria com uma cooperativa de lá para encontrar sinergias. Há contactos e estudos. O que queríamos eram parcerias a nível comercial e das estruturas, que é o que mais falta no Alqueva. Lá não há estruturas. Quem vai para lá tem que levar tudo e trazer tudo. AG: Entende que o alargamento das áreas do milho, na Ucrânia, Brasil, Angola vai contrariar a euforia do milho? JC: Creio que não há uma ameaça, pois a procura tem crescido de tal modo que tem de haver o alargamento das áreas. E depois o mercado vai regular, com base na eficiência. Quando se perspectiva o futuro deste mercado, há três cenários que considero fundamentais: 1.º A política americana do etanol combustível. No mercado exportador cerca de 30% a 40% do milho provém dos EUA, e usam 30% do milho que produzem para a produção de bioetanol. Agora imaginese o que seria, de um dia para o outro o mercado ser inundado com um excedente
de milho daquela grandeza e o impacto que isto teria. 2.º O nosso acordo com o Mercosul. A baixa das pautas aduaneiras. Essa redução vai prejudicar o mercado europeu da carne e do grão, beneficiando o do azeite e do vinho. Também tem importância a cotação do real e o equilíbrio entre as três divisas internacionais. 3.º O crescimento da economia mundial. Se continuar a crescer ao ritmo de 4% ao ano não há terra que chegue para a procura, haverá que aumentar a produtividade, aumentar as áreas cultivadas, etc. AG: Apesar de ter já uma larga experiência na produção de milho em sementeira directa não tem expandido esta prática na sua exploração. Porquê? JC: Apesar de ter já 12 anos de experiência e conhecer bem a tecnologia, temos um problema que considero grave na minha exploração. É que a sementeira directa é mais económica mas não me permite as mesmas produtividades que tenho nas outras parcelas. Assim, não é o mesmo estar no Brasil a produzir 7 toneladas de milho por hectare, praticamente a custo zero, ou aqui, em que não se pode fazer a cultura em sequeiro. Tem inúmeras vantagens, mas por exemplo, não me permite um bom arejamento do solo e a terra tem maior dificuldade em aquecer. Fiz já comparações, que até publiquei no blogue Milho amarelo, e que indicam que para a mesma data de sementeira o milho chegou-me 15 dias mais tarde! Há maiores perdas de campo, há problemas de lesmas, por vezes há perdas de emergência, não posso sachar, posso ter que usar mais herbicidas. Mas tem enormes vantagens em termos de balanço de carbono. E tenho vindo a aumentar as produtividades. O solo tem vindo a melhorar. Pena é que tenha diminuído a ajuda nacional às agro-ambientais.
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ZOOTECNIA
HIGIENE DO TETO PONTO CRÍTICO DE CONTROLE DE UM HACCP DA PRODUÇÃO DE LEITE
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NTRODUÇÃO
Os sistemas de produção de leite devem ser capazes de combinar rentabilidade com responsabilidade ao nível da protecção da saúde humana e da saúde animal, do respeito pelo bem-estar animal e protecção do ambiente. A higiene da ordenha poderá ser entendida como a garantia de que, sendo o leite uma matéria-prima altamente perecível, os níveis de segurança alimentar do sector satisfaçam as expectativas da indústria e dos consumidores (FAO, 2004). O HACCP (Hazard Analysis Critical Control Points – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC) é um sistema considerado hoje fundamental para a segurança alimentar, que consiste numa abordagem sistemática e estruturada de identificação dos perigos associados a um alimento em particular, e da probabilidade da sua ocorrência em todas as etapas da sua produção, definindo medidas para o seu controlo em momentos considerados críticos – os chamados Pontos Críticos de Controlo (PCCs). Pode ser aplicado em qualquer fase da cadeia alimentar: produção, distribuição, comercialização, transformação, confecção culinária, enfim, como se tornou comum afirmar, do Prado ao Prato. O plano HACCP deverá ser construído de acordo com uma sólida implementação de um programa de pré-requisitos. Este programa é normalmente baseado em programas de Boas Práticas de Fabrico ou de Produção e Boas Práticas de Higiene.
BOAS PRÁTICAS DE HIGIENE DA ORDENHA Na actividade leiteira é importante ter em conta que são vários os aspectos que poderão influenciar a obtenção de uma matéria-prima de qualidade. A produção de um leite de qualidade não está apenas dependente de uma boa higiene da ordenha, apesar de este ser um ponto muito importante no processo. As Boas Práticas devem constituir o ponto de partida para que o leite seja produzido em conformidade com a expectativa do consumidor e a legislação em vigor.
Figura 1 Boas Práticas Agrícolas na Produção Leiteira (Adaptado de FAO, 2004)
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Por: José Luís Valente Silva Estudante do mestrado de Tecnologia e Segurança Alimentar, da Universidade dos Açores.
José Estevam da Silveira Matos Professor Catedrático da Universidade dos Açores
Na Figura 1 resumimos esquematicamente as Boas Práticas na Produção de Leite segundo a recomendação da FAO (2004). A ordenha é uma das operações mais importantes numa exploração leiteira. Esta e o armazenamento do leite devem ser realizados de acordo com um conjunto de regras de higiene, devendo o equipamento usado para o efeito ser adequado e regularmente inspeccionado. Uma boa higiene da ordenha removerá o leite da vaca de forma eficiente e com o mínimo risco para a saúde do úbere. Deverão também ser aplicadas práticas que limitem a difusão de doenças contagiosas na sala de ordenha, como são o caso das mamites. O respeito por estas normas resultará na produção de leite de elevada qualidade com baixa contaminação bacteriana (FAO, 2004; Blowey & Edmondson, 2010). Uma boa produção leiteira deverá ser capaz de combinar estes aspectos, mas também ser eficiente e prática, sendo que, para que isto seja alcançado, é importante que o ordenhador entenda o fundamento de cada passo do processo de ordenha de forma a atingir estes objectivos, daí que seja crucial a sua formação profissional. A contaminação do leite pela ordenha poderá ser de origem microbiana, química e física, obrigando assim a que todas as operações da colheita do leite sejam monitorizadas. Segundo a FAO (2004), as Boas Práticas, no que se refere à Higiene da Ordenha, deverão guiar-se pelas directrizes referidas no Quadro 1. São vários os factores de risco que contribuem para a ocorrência de perigos para o leite durante a ordenha. No Quado 2 apresentamos uma síntese desses factores. Os limites críticos e as medidas preventivas de alguns dos perigos que podem afectar o leite, relacionados com a Higiene da Ordenha, são também apresentados em síntese no Quadro 3.
Quadro 1 Boas Práticas na Higiene da Ordenha (BPHO) (Adaptado de FAO, 2004).
Boas Práticas
Exemplos de Medidas para Cumprimento das BPHO
Objectivos/Medidas de Controle
Factores de risco
1.1 – Identificação individual dos animais;
Deficiências no funcionamento da máquina de ordenha;
1.2 – Preparação adequada do úbere para a ordenha; 1. Rotinas de ordenha preventivas de contaminações do leite e de lesões nos animais
1.3 – Utilização consistente das técnicas de ordenha; 1.4 – Separação do leite dos animais doentes ou sob tratamento;
Utilização de equipamento apropriado de ordenha e armazenamento do leite
1.5 – Equipamento de ordenha correctamente instalado e em boas condições de manutenção;
Lavagem e secagem insuficientes ou mal executadas na fase pré-ordenha;
Falhas de execução nos processos de pré e pósdesinfecção;
2.1 – Manutenção do estábulo limpo;
2.2 – Manutenção da sala de ordenha limpa;
Contaminação dos úberes e dos tetos pelas mãos do ordenhador;
Falhas na execução do stripping (ordenha dos primeiros jatos de leite);
1.6 – Água limpa suficiente.
2. Realização da ordenha em boas condições higiénicas
Quadro 2 Factores de risco que contribuem para a ocorrência de perigos para o leite durante a ordenha (adaptado de Noordhuizen et al., 2008)
Cumprimento de regras higiénicas na ordenha
2.3 – Operadores da ordenha devem cumprir regras básicas de higiene.
Qualidade microbiológica da água de lavagem;
Uso de apenas uma toalha para se proceder à limpeza dos tetos/úberes das vacas;
3.1 – Arrefecimento rápido do leite (4 °C dentro de 1h);
3. Leite Manuseado correctamente após a ordenha
3.2 – Equipamento de conservação do leite apropriado para o manter à temperatura correcta; 3.3 – Manutenção da sala do leite limpa e arrumada;
3.4 – Bom acesso para a recolha do leite.
Refrigeração e armazenamento do leite sob condições higiénicas
Curral de espera, sala de ordenha e zonas envolventes com deficiências de higiene; Falhas de ventilação na sala de ordenha e zonas envolventes provocando uma excessiva humidade; Temperatura da água de lavagem demasiado baixa.
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ZOOTECNIA
Quadro 3 Exemplos de Perigos e respectivos limites críticos, no leite cru, e medidas preventivas durante a ordenha (Adaptado de Beekhuis-Gibbon et al., 2011)
Perigo
Staphylococcus aureus
Streptococcus agalactiae
Mycoplasma
Limites Críticos
ZERO, no entanto em rebanhos infectados os valores rondam os 350.000 a 1000.000 células/ml
ZERO, no entanto em rebanhos infectados os valores que indicam infecção são 500.000 a 600.000 células/ml
ZERO, no entanto em rebanhos infectados os valores que indicam infecção são > 500.000 células/ ml quando há 5-10% do rebanho infectado
Medidas Preventivas Uso de luvas; Uso de panos individuais; Ordenha de animais infectados separadamente; Correcta limpeza e secagem dos tetos; Não ordenhar vacas com tetos lesionados. Uso de luvas; Uso de panos individuais; Ordenha de animais infectados separadamente; Não utilização ou uso inadequado da desinfecção dos tetos.
Correcto plano sanitário incluindo historial da doença no efectivo; Uso de toalhas e panos individuais/ descartáveis.
Os quadros anteriores realçam a importância de uma boa higiene do úbere para que um leite de elevada qualidade possa ser obtido, em particular do teto, única parte da anatomia da vaca em contacto directo com a máquina de ordenha. Assim, a higiene do teto constitui o Ponto Crítico de Controle (PCC), número um do HACCP da produção do leite, pelo que lhe dedicamos uma importância especial neste artigo. Porque neste contexto se torna essencial uma boa monitorização deste PCC propomos também para este efeito 3 Testes muito práticos.
PREPARAÇÃO DOS TETOS PARA A ORDENHA Ordenhar tetos molhados, ou sujos, potencia o risco de mamites e aumenta a carga microbiana do leite, aumentando também a probabilidade de novos casos de mamite (Blowey & Edmondson, 2010). Segundo estes autores, no caso de uma vaca que entra na sala de ordenha com os tetos visivelmente limpos, uma limpeza a seco com uma toalha de papel descartável será suficiente. Estudos realizados neste âmbito permitiram concluir que uma lavagem com recurso a toalhas individuais secas reduz a concentração de bactérias no leite de 45% a 50% (Christiansson et al., 2006). No entanto, caso os tetos estejam sujos, terão que ser lavados e secados, sendo a secagem um passo muito importante para uma correcta higienização antes de se proceder à colocação das tetinas. De acordo com Blowey & Edmondson (2010), ao lavar-se o úbere, ao invés de apenas os tetos, a possibilidade de a água escorrer para as tetinas é elevada, podendo esta ser sugada para o leite. Esta água é chamada «água mágica», dado que num momento está presente e noutro já não está, tendo sido sugada para o leite, provocando a sua contaminação (aumento de mesófilos totais e a contagem de microrganismos termoresistentes) e nos piores casos, o deslizamento das tetinas e sua consequente queda, criando forças de impacto. Estas forças de impacto aumentam o risco de marmites, dado que há fortes possibilidades de existirem grandes quantidades de bactérias Escherichia coli e Streptococcus uberis presentes na «água mágica». Posto isto, realça-se a importância, como atrás já foi mencionado, de recorrer ao mínimo de água possível, e quando esta é usada, fazer uma secagem do teto o mais eficaz possível.Preparação dos tetos para a ordenha
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Figura 2 Papel descartável para a limpeza/ secagem dos tetos (foto de José L. V. Silva)
FORÇAS DE IMPACTO As forças de impacto são provocadas por diferenças de pressão entre a extremidade do teto e o tubo colector de leite. Estas forças podem conduzir à penetração do leite através do canal do teto. Caso este leite esteja contaminado com bactérias causadoras de mamite é possível que ocorra uma nova infecção. De referir que estas diferenças apenas precisam de ocorrer em milisegundos para que se origine uma força de impacto. O leite poderá ser conduzido a uma velocidade de aproximadamente 64,37 km/h. Esta velocidade é tal que a penetração no canal, que está mais aberto durante a ordenha, pode facilmente acontecer. Retirar a unidade de ordenha sem fechar primeiro o vácuo, ou o deslizamento das tetinas durante a ordenha, poderão resultar em forças de impacto (Blowey & Edmondson, 2010). Segundo estes autores estas forças serão tanto maiores se houver a ocorrência das seguintes situações: – – – – – –
Ordenhar as vacas com os tetos molhados; Tetinas gastas; Nível do vácuo muito baixo; Design inadequado das tetinas; Colector demasiado pesado; Vacas com tetos demasiado pequenos ou demasiado grandes; – Flutuação elevada do vácuo durante a ordenha.
ORDENHA DOS PRIMEIROS JACTOS Esta prática deve ser executada manualmente pelo ordenhador antes de proceder à introdução das tetinas e tem como finalidade:
– A detecção de mamites clínicas; – Contribuir para o reflexo de descida do leite; – Provocar a saída do leite que esteja no canal do teto, o que ajudará à remoção das bactérias que tenham entrado desde a última ordenha, ajudando também na redução da contagem de mesófilos totais do leite.
consumo de água. De qualquer forma, e segundo Zafalon et al., (2008) este teste deve ser realizado em todas as ordenhas e em todos os animais. Uma questão importante será saber qual a melhor altura para se fazer a ordenha dos primeiros jactos, antes ou depois dos tetos serem desinfectados? De acordo com Ruegg (2004), quando a pré-desinfecção e a ordenha dos primeiros jactos são praticadas, não há regra aplicada à ordem de execução destes dois passos que manifeste influência na qualidade do leite. No entanto, segundo o mesmo autor, é preferível que esta técnica seja executada antes da desinfecção, de forma a reduzir a oportunidade de ocorrer re-contaminação do teto. Existe sempre a possibilidade de espalhar infecções de vaca para vaca quando as mãos do ordenhador são contaminadas com leite mamítico.
PRÉ-DESINFECÇÃO (PRÉ-DIPPING)
Figura 3 Ordenha dos primeiros jactos (foto de José L. V. Silva)
Uma detecção precoce de mamites clínicas permite ao responsável pela exploração proceder a um tratamento também ele precoce, o que resultará em melhores taxas de cura, mas também, e mais importante, reduzir o risco de espalhar a infecção para o resto do efectivo. Esta detecção precoce evitará também que o leite mamítico entre para o tanque de refrigeração, contaminando assim o resto do leite saudável. No caso de infecções do úbere causadas por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae, poderão encontrarse mais de 100.000.000 por ml de leite num quarto infectado, o que poderá justificar o facto de frequentemente se encontrarem flutuações de contagens de mesófilos totais em animais com infecções causadas por Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae. (Blowey & Edmondson, 2010). A maioria dos ordenhadores opta por ordenhar os primeiros jactos para o chão da sala de ordenha o que, consciente ou inconscientemente, é uma prática correcta, dado que o leite ao ser ordenhado para um copo aumenta a probabilidade de contágio, uma vez que os copos tendem a ser reservatórios das infecções. Apesar de a mamite clínica poder ser diagnosticada com este procedimento, existem alguns inconvenientes relacionados com a higiene do local e com o
A pré-desinfecção dos tetos é uma prática relativamente recente, tendo sido demonstrada a sua eficácia especialmente no controlo das mamites ambientais (Laven, 2010). Um dos mecanismos de transmissão desse tipo de mamites é a entrada do agente durante o fluxo reverso do leite (forças de impacto) decorrente da entrada excessiva de ar por uma tetina, especialmente quando há deslizamento destas (Goulart, 2008). Vários estudos demonstram que a prédesinfecção dos tetos, quando conjugada com a pós-desinfecção, reduz significativamente a probabilidade de infecções provocadas pelas bactérias Streptococcus uberis, Strep. dysgalactiae e por Staphylococcus, sendo mais eficiente quando comparada com a prática isolada da pós-desinfecção dos tetos (Oliver et al. 2001). Segundo Blowey & Edmondson (2010), a melhoria da qualidade do leite é conseguida pela utilização da pré-desinfecção, até 80% de re-
Figura 4 Aplicação do pré-desinfectante (foto de José L. V. Silva)
dução da contagem bacteriana, para além de diminuir a contagem de células somáticas pela redução de novas infecções mamíticas, causadas por patógenes ambientais. Segundo o Canadian Bovine Mastitis Research Network (2011) as condições para uma pré-desinfecção bem sucedida são:
Quadro 4 Contagem bacteriana na pele do teto associada a vários programas de preparação do teto na pré-ordenha (Adaptado de Galton, 1997).
Contagem bacteriana na pele do teto Toalha Seca
Toalha Molhada
Pré-Desinfecção (pré-dip)
Lavagem com desinfectante
Secagem Manual
x
Pele do teto antes da colocação da tetina %
Factor Primário
-4 x
-40
x
x
x x
x x
Esfregar
-40 x
-77
x
-85
x
-85
AGROTEC / MARÇO 2012
Secagem
Secagem
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Quadro 5 Contagem de bactérias no leite associada ao uso da água de mangueira molhando o úbere e os tetos (Adaptado de Galton, 1997).
Contagem de bactérias no leite Água de Mangueira
Lavagem com desinfectante
Secagem Manual
x x
x
x
x
x
Bactérias no leite %
Factor Primário
(+13)
Drenagem da água
-10
Desinfectante
-68
Secagem Manual
– Os tetos deverão estar limpos, dado que a sujidade presente reduz a eficácia do desinfectante; – Os tetos deverão ser mergulhados na sua totalidade na solução; – Os tetos deverão estar em contacto com a solução desinfectante pelo menos 30 segundos; – Os tetos deverão ser limpos e secos para remover o resíduo do desinfectante.
© Eva Heinsbroek
SECAGEM DOS TETOS
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A secagem dos tetos é um importante aspecto numa ordenha higiénica. É imperativo que os tetos sejam secos com um papel descartável ou toalha reutilizável, de uso único por cada animal, antes de se colocarem as tetinas. É importante evitar o recurso a toalhas comuns a várias vacas, sob risco de se espalharem mamites de vaca para vaca. A única toalha que é aceitável é a toalha individual que, caso seja de pano, deve ser lavada, desinfectada/escaldada entre ordenhas. No entanto, o custo desta prática é mais dispendioso do que o recurso a toalhas de papel descartáveis, uma vez que implica o uso de máquinas para a lavagem e dois conjuntos de toalhas. O risco de infecções pelo uso de panos comuns é muito grande. Diversos estudos demonstram que o Staphylococcus aureus pode sobreviver nos panos embebecidos com solução desinfectante durante 3 minutos e que o Streptococcus agalatiae pode sobreviver nas roupas dos ordenhadores durante 7 dias, podendo ser isolados após imersão dos panos em solução desinfectante a 2% de hipoclorito de sódio por mais de 5 horas. Assim, conclui-se que o tempo de sobrevivência destes microrganismos contaminantes é muito superior ao tempo que os panos são mergulhados na solução entre a ordenha de cada animal (Blowey & Edmondson, 2010). A higiene do teto é um ponto fulcral para a não contaminação do leite. Ao molharem-se os úberes e os tetos, ao invés de apenas os tetos, os riscos de contaminação do leite pelo escorrimento da água de lavagem dos úberes para os tetos são superiores, pelo que, quando isso acontece, uma correcta secagem possibilitará a diminuição do possível impacto negativo da água de escorrimento (Galton, 1997).
MONITORIZAÇÃO DA HIGIENE DO ÚBERE E TETOS – TRÊS TESTES DE MONITORIZAÇÃO
–
Propomos em seguida três simples testes de monitorização da higiene dos úberes e dos tetos. –
TESTE 1 –
Indicado por Engel (2005) para avaliação da higiene da ponta do teto. Este teste deverá ser realizado com recurso a toalhetes descartáveis, esfregando-se a ponta do teto e avaliando-se o grau de sujidade retido. Este procedimento deverá ser realizado momentos antes do início da ordenha, permitindo ao ordenhador que faça primeiro a respectiva lavagem/desinfecção/secagem dos úberes. Alguns autores, como Munoz et al. (2008), referem o uso deste tipo de testes como uma ferramenta importante para o aconselhamento do produtor em relação à higienização dos tetos pré-ordenha na prevenção de possíveis mamites e melhoria da qualidade do leite. Segundo um estudo realizado por este autor, em que avaliou a higiene das vacas pelo recurso a um sistema de pontuação semelhante ao aqui descrito, como indicador da exposição à bactéria Klebsiella, este comprovou que vacas com uma higiene pobre possuem maior risco de exposição a mamites provocadas por esta bactéria. PONTUAÇÃO 1 Limpo:
PONTUAÇÃO 2 Humidade Presente:
Sem estrume,
Sem estrume nem sujidade
sujidade e humidade
1 6 11 16 21
2 7 12 17 22
3 8 13 18 23
Total de tetos avaliados
4 9 14 19 24
5 10 15 20 25
1 6 11 16 21
Número de úberes com pontuação 2
2 7 12 17 22
3 8 13 18 23
4 9 14 19 24
Número de úberes com pontuação 2
5 10 15 20 25
–
Sistema de pontuação: Pontuação 1 - Papel limpo: Sem estrume, sujidade e humidade. Pontuação 2 - Papel com humidade presente: Sem estrume nem sujidade. Pontuação 3 – Papel com pequena quantidade de sujidade e estrume presentes. Pontuação 4 – Papel com grandes quantidades de sujidade e estrume presentes.
Pelo menos 75% dos tetos avaliados devem ser classificados nas Pontuações 1 e 2, caso assim não seja, uma avaliação da situação deverá ser feita detectando-se qual o passo no procedimento de preparação dos tetos que não está a ser feito correctamente (WestfaliaSurge, 2005).
PONTUAÇÃO 3
PONTUAÇÃO 4
Pequena quantidade de sujidade e
Grandes quantidades de sujidade e
estrume presentes
estrume presentes
1 6 11 16 21
2 7 12 17 22
Número de úberes com pontuação 3
3 8 13 18 23
4 9 14 19 24
5 10 15 20 25
Número de úberes com pontuação 4
TESTE 2 Baseia-se na classificação proposta por Mein et al. (2001) que permite classificar a condição da ponta do teto como forma de avaliar os efeitos do maneio da ordenha, da máquina de ordenha ou do ambiente no tecido do teto e o risco de novas infeções intramamárias. Segundo estes autores o grau de hiperqueratose da ponta do teto estará relacionado com efeitos a longo prazo (geralmente 2-8 semanas). De acordo com Mein et al. (2001), uma pequena calosidade na ponta do teto não estará relacionada com o aumento do risco de infecções intra-mamárias, podendo mesmo ser considerada como uma resposta fisiológica benéfica. Contudo, segundo este mesmo autor, elevados graus de queratose da ponta do teto estão associados à probabilidade de novas infecções intra-mamárias. Gleeson et al. (2004), relacionando a hiperqueratose da ponta do teto com a
1 6 11 16 21
2 7 12 17 22
3 8 13 18 23
4 9 14 19 24
5 10 15 20 25
Percentagem de Tetos com pontuações 3 e 4
Contagem de Células Somáticas, concluíram pela não existência de uma relação entre estes dois aspectos quando os tetos foram desinfectados após a ordenha. Porém, na ausência de pós-desinfecção, a correlação entre as duas variáveis era significativa. Segundo Zadoks et al. (2001), uma extrema rugosidade e calosidade da ponta do teto aumenta a taxa de infecções por Staphylococcus aureus mas não por Streptococcus uberis.
AGROTEC / MARÇO 2012
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ZOOTECNIA Os factores relacionados que contribuem para o desenvolvimento da hiperqueratose da ponta dos tetos nas vacas leiteiras são: Forma e comprimento da ponta do teto (tetos compridos e com a ponta afunilada); Posição do teto (tetos mal posicionados); Produção de Leite (altas produções, altas taxas de fluxo e tempo de ordenha extenso); Fase da lactação (vacas nas últimas fases da lactação); Velocidade da ordenha (ordenha lenta conduz a maior tempo de fixação tetina-teto); Paridade (vacas mais velhas tendem); Ordenha, vácuo e pulsação (vácuo elevado e altas taxas de ordenha); Tempo de ordenha (tempo de ordenha prolongado); Tipo de linhas (movimento das linhas de ordenha); Frequência das ordenhas (mudança de duas ordenhas para três ordenhas aumenta o tempo de ordenha – tempo de contacto entre tetina e teto em 40%).
de aspereza, mas sem evidências de queratinazação. – Pontuação 3: A extremidade do teto mostra um anel áspero, elevado, com depressões de queratina que prorrogam 1-3 mm do orifício. – Pontuação 4: Anel muito áspero com elevadas quantidades de queratina que se elevam mais de 4 mm acima do orifício. Aro do anel é áspero dando aspecto de uma «flor». – Pontuação 5: Tetos com lesões abertas ou crostas muito evidentes.
O teste consiste essencialmente numa observação da ponta do teto, classificando-se de seguida consoante a queratose presente. Sistema de pontuação: – Pontuação 1: O teto final é suave, com um pequeno orifício. Situação típica logo após o início da lactação. – Pontuação 2: A extremidade do teto é lisa ou ligeiramente áspera formando um anel. Este anel eleva-se circundado o orifício. A superfície do anel é lisa podendo sentir-se um pouco
Os resultados ideais devem corresponder a, no máximo, 20% do total de tetos avaliados com pontuações 3, 4 e 5 (University of Minnesota, 2003). Quando se verificam valores acima destes, deverá verificar-se o funcionamento do sistema de ordenha e ocorrência de impactos.
– – – – – – – – – –
Pontuação 1
Ponta do teto suave, com um pequeno orifício. Situação típica de muitas tetas logo após o ínicio da lactação.
Pontuação 2
Ponta do teto liso ou ligeiramente áspero formando um anel. Este anel eleva-se circundado o orifício. A superfície do anel é lisa podendo sentir-se um pouco de aspereza, mas não evidências de queratina.
Pontuação 3
Ponta do teto composto por um anel áspero elevado, com depressões de queratina que prorrogam 1-3 mm do orifício.
Pontuação 4
Anel muito áspero com elevadas quantidades de queratina que se projectam 4 mm ou mais do orifício. Aro do anel é áspero, dando aspecto de uma «flor».
Pontuação 5
Tetos com lesões abertas ou crostas.
Total de tetos avaliados
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Número de Tetos com Pontuação 1
Número de Tetos com Pontuação 2
1 7 13 19 25
2 8 14 20 26
3 9 15 21 27
4 10 16 22 28
5 11 17 23 29
6 12 18 24 30
1 7 13 19 25
2 8 14 20 26
3 9 15 21 27
4 10 16 22 28
5 11 17 23 29
6 12 18 24 30
1 7 13 19 25
2 8 14 20 26
3 9 15 21 27
4 10 16 22 28
5 11 17 23 29
6 12 18 24 30
1 7 13 19 25
2 8 14 20 26
3 9 15 21 27
4 10 16 22 28
5 11 17 23 29
6 12 18 24 30
1 7 13 19 25
2 8 14 20 26
3 9 15 21 27
4 10 16 22 28
5 11 17 23 29
6 12 18 24 30
Número de Tetos com Pontuação 3
Número de Tetos com Pontuação 4
Número de Tetos com Pontuação 5
Percentagem de Tetos com pontuações 3 e 4
TESTE 3 Baseia-se no método preconizado por Ruegg (2002) que permite uma classificação do grau de sujidade dos úberes dos animais, sendo um teste observacional de fácil realização e muito eficiente. Na utilização deste teste os resultados ideais devem corresponder a <15% do total de animais observados nas pontuações 3 e 4. Este teste deverá ser realizado durante a ordenha do animal, possibilitando relacionar o momento da ordenha com o estado higiénico dos úberes. Segundo Sant´Anna & Paranhos da Costa (2011), uma fraca higiene dos animais poderá ser um indicador de problemas nas instalações, e em particular do maneio da ordenha. Segundo os mesmos autores, as vacas com elevado grau de sujidade requerem um esforço maior no que concerne à limpeza e desinfecção dos úberes e tetos pré-ordenha. De acordo com Munoz et al. (2008), as pontuações da higiene dos úberes e estas poderão servir como forma de alertar os ordenhadores para a higiene dos úberes e dos tetos na prevenção de mamites. Ainda segundo estes autores, vacas com falhas de higiene possuem maior risco de exposição à bactéria Klebsiella. Schreiner & Ruegg (2003) concluiram que a humidade, lama e estrume presentes no ambiente da vaca são as fontes primárias de exposição a agentes patogénicos ambientais causadores de mamites, sendo a pontuação dos úberes uma ferramenta que providencia uma evidência da exposição a estes agentes. De acordo com estes autores, animais categorizados com pontuações 4 (coberto de sujidade), possuem 1,5 x maiores probabilidades de terem agentes patogénicos isolados em amostras de leite, quando comparados com animais categorizados na pontuação 1 (livre de sujidade). Sistema de pontuação: – Pontuação 1: Livre de Sujidade – Pontuação 2: Ligeiramente sujo (2-10% da área) – Pontuação 3: Moderadamente coberto de sujidade (10-30% da área) – Pontuação 4: Coberto de Sujidade (> 30% da área)
1 7 13 19 25
PONTUAÇÃO 1
PONTUAÇÃO 2
PONTUAÇÃO 3
PONTUAÇÃO 4
Livre de Sujidade
Ligeiramente Sujo 2-10% da área
Moderadamente Coberto de Sujidade 10-30% da área
Coberto de Sujidade >30% da área
2 8 14 20 26
3 9 15 21 27
Total de tetos avaliados
4 10 16 22 28
5 11 17 23 29
6 12 18 24 30
1 7 13 19 25
Número de úberes com pontuação 2
2 8 14 20 26
3 9 15 21 27
4 10 16 22 28
5 11 17 23 29
Número de úberes com pontuação 2
6 12 18 24 30
1 7 13 19 25
2 8 14 20 26
3 9 15 21 27
Número de úberes com pontuação 3
4 10 16 22 28
5 11 17 23 29
6 12 18 24 30
Número de úberes com pontuação 4
1 7 13 19 25
2 8 14 20 26
3 9 15 21 27
4 10 16 22 28
5 11 17 23 29
6 12 18 24 30
Percentagem de Tetos com pontuações 3 e 4
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ZOOTECNIA
FONTES DE ENERGIA PARA A PRODUÇÃO DE LEITE
C
om a escalada do preço dos cereais, nomeadamente do milho, muitos produtores vêem na incorporação de mais silagem de milho na dieta uma solução, na tentativa de produzir leite a mais baixo custo. Além disso, a utilização de silagem de grão húmido (vulgo Pastone, ou HMC – High Moisture Corn) ou silagem de espigas (vulgo Pastone integral ou HMEC – High Moisture Ear Corn), é cada vez mais vista como uma alternativa viável, e até fundamental, à substituição parcial, ou mesmo total, da farinha de milho.
A UTILIZAÇÃO DE SILAGEM DE GRÃO HÚMIDO E SILAGEM DE ESPIGAS A utilização de Silagens de Grão Húmido (Pastone de grão) ou Silagens de Espiga (Pastone Integral) é, sem dúvida nenhuma, uma forma vantajosa de diminuir os custos de produção, ainda mais com o preço da farinha de milho bastante elevado, podendo esta ser substituída integralmente, em determinadas fases do ciclo produtivo da vaca leiteira.
Por: Luís Queirós luis.queiros@pioneer.com Pioneer Hi-Bred Sementes de Portugal S.A.
O Pastone de grão é uma matéria-prima de elevado valor energético, maior ainda do que a farinha de milho, pelo facto da sua digestibilidade ruminal ser maior. Além disso, o preço ao produtor de leite será sempre bastante competitivo. Esta tecnologia será até atractiva para o produtor de grão, que pode decidir comercializar o grão não aos 14% de humidade, mas poupar os custos de secagem, vendendo o grão como silagem de grão húmido. Em termos gerais, no nosso país podemos produzir dois tipos de Pastone: Pastone de Grão e Pastone de Espigas. O Pastone de Grão, como o nome indica, é produzido apenas com o grão, colhido por uma ceifeira debulhadora, e depois triturado convenientemente. De seguida será conservado da mesma forma que a silagem de milho. Deveremos esperar pela maturação completa do grão, para assegurar a maior produção de amido. O Pastone de Espigas é produzido utilizando a espiga completa, brácteas incluídas. Para tal, geralmente utilizamos uma auto motriz de corte de silagem, mas com uma frente de uma ceifeira debulhadora para “ripar” a espiga. A altura de colheita deverá ser a mesma que para o Pastone de Grão. As diferenças nutricionais para este último revelam-se ao nível da humidade, geralmente 4-6% mais do que o Pastone de Grão, e pela presença das brácteas e de toda a espiga, deveremos contar com um teor de fibra (NDF) mais elevado e um teor de amido mais baixo (diluído pela fibra). No entanto, esta fibra é de elevada digestibilidade. Além disso, regra geral, o Pastone de Espigas produzirá cerca de 15 a 20% mais do que o Pastone Grão, por hectare.
PONTOS-CHAVE NA OBTENÇÃO DE PASTONE DE ALTO VALOR NUTRICIONAL – – – –
Escolha do Híbrido; Humidade; Digestibilidade do Amido; Conservação.
© Frederico Martins
Escolha do Híbrido
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A selecção do híbrido deverá inicialmente ser baseada no ciclo cultural adaptado à zona de sementeira, de modo a evitar qualquer risco agronómico. Deveremos seleccionar híbridos que garantam: – Elevada produção de grão/ha; – Bom Stay green (verdor final); – Dry down lento (secagem do grão lenta); – Peso específico do grão elevado.
Humidade A humidade é essencial para garantir uma adequada compactação e uma fermentação de qualidade. Deverá rondar os 28-32% no grão. Devemos evitar humidades do grão abaixo dos 26%, pela difícil fermentação e utilização posteriores. Aconselhamos a adicionar água no caso da humidade se cifrar abaixo deste valor. Os estudos científicos revelam que quanto maior for a humidade, mais eficiente será também a digestão do amido a nível ruminal, sendo positivo no fluxo microbiano ruminal, mas se mal ajustada a dieta, poderá ser um risco potencial de acidoses (figura 1).
Figura 1 Digestibilidade do Amido.
Digestibilidade do Amido A Digestibilidade do Amido (figuras 2 e 3) é provavelmente o ponto mais importante e também controverso na qualidade final do Pastone de Grão e no Pastone de Espigas. Três factores são extremamente importantes na digestibilidade do amido:
Processo de fermentação e tempo de fermentação A Digestibilidade Ruminal do Amido do Pastone de Grão ou Pastone de Espigas aumenta, ao longo do tempo de fermentação. Isto ocorre pelo facto de que o amido no grão está envolto por proteínas, denominadas proteínas Zein ou Prolaminas, que no início da fermentação impedem o ataque da flora microbiana. Os ácidos de fermentação hidrolisam as ligações entre a proteína e o amido, permitindo que este se torne mais disponível ao longo do tempo. Assim sendo, é imprescindível ajustar a formulação da dieta para a percentagem de amido, principalmente quando iniciamos a utilização de um silo novo, e quando passamos para um silo com um período de fermentação mais elevado, sob risco de poderem surgir casos de acidoses ruminais. Como regra geral, podemos admitir que a Digestibilidade Ruminal do amido é de 70% no início do processo de fermentação, aumentando em média 3% por mês, atingindo um plateau ao fim de 150-160 dias. No exemplo da figura, a alteração da digestibilidade levou a que o rúmen do animal ficasse exposto a mais amido, com a mesma quantidade de alimento. Ajustando a dieta para os valores iniciais, podemos diminuir a quantidade de amido da dieta, levando a uma poupança nos custos de produção de leite.
Figura 2
Figura 3
AGROTEC / MARÇO 2012
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ZOOTECNIA
Figura 4 Avaliação do processamento do grão.
Processamento do grão Tal como na Silagem de Milho, o processamento do grão é fundamental. Podemos averiguar a qualidade do processamento através de uma análise laboratorial ao diâmetro médio da partícula do grão. Este método utiliza um conjunto de crivos que tem como objectivo averiguar a percentagem de grão que é de dimensão superior a 4,75 mm. Todas as partículas do grão que sejam inferiores a 4,75 mm estão imediatamente disponíveis para a flora microbiana do rúmen. Idealmente, devemos garantir que 70% do grão seja de menor dimensão que os 4,75 mm de referência (figura 4).
Características do Grão – Vitreosidade do grão A vitreosidade do grão é uma característica que tem em conta a quantidade de proteínas zein que envolvem o amido. Quanto maior for a vitreosidade, maior será o peso específico do grão. Estudos científicos revelam que o peso específico é directamente proporcional à produção de grão/ha. Algumas vezes tida como uma desvantagem, hoje sabemos que a digestibilidade do amido na silagem de milho e nos dois tipos de Pastone não é influenciada negativamente pela vitreosidade do grão, pelo facto do amido ser devidamente processado e fermentado aquando da conservação. – Conservação O Pastone é uma matéria-prima de elevado valor biológico, que sofrerá um processo de fermentação idêntico ao da Silagem de Milho. A dificuldade de fermentação prende-se com a baixa percentagem de açúcares, quer no Pastone de Grão, quer no Pastone de Espigas (1-2% na Matéria Seca), e também na elevada percentagem de Matéria Seca, assim como elevada concentração de leveduras indesejáveis. Por esse motivo, a utilização de um inoculante específico para esta cultura, comprovado cientificamente, é essencial. Este deverá garantir uma fermentação rápida, produção equilibrada de Ácido Láctico com Ácido Acético e Propiónico, de forma a aumentarmos a estabilidade aeróbica e diminuirmos as perdas de Matéria Seca, durante a sua utilização.
22
CONCLUSÃO
>
/
/
Numa análise final, a utilização de Pastone de Grão ou Pastone de Espigas, se bem manuseados, aumentam a eficiência alimentar, quando comparados com Farinha de Milho. E com o preço desta última, isso faz toda a diferença.
ZOOTECNIA
CERCAS ELÉCTRICAS
A
ctualmente a criação de bovinos (seja de leite ou de carne) atravessa uma grave crise de mercado, resultado de preços de venda muito baixos e custos de produção muito elevados. Com os alimentos caros, como as rações concentradas e até da palha, a subida das taxas de juro, o custo do petróleo, produtos farmacêuticos e até fertilizantes, uma das hipóteses de saída, que se apresenta como mais racional, é aumentar a margem de lucro reduzindo custos de produção. A alimentação dos animais, nomeadamente de bovinos leiteiros, anda normalmente em torno de 60% (chegando a 75%) dos custos totais de produção (subindo quanto mais produtivos forem ou mais intensiva seja a exploração). Isto significa que 6 ou 7 vacas em cada 10 apenas produzem para pagar a manutenção das restantes 3 ou 4, e é neste item que existe certa margem de manobra para intervir. O segredo das explorações europeias mais competitivas não está no facto de os restantes factores de produção serem mais baixos, mas sim por serem mais eficientes na utilização dos recursos. Sendo a erva a alimentação natural dos ruminantes, algo que por vezes parece esquecido, e sendo os animais capazes de se servir dela sem custos acrescidos para o empresário agrícola, há que ver o pastoreio como uma séria oportunidade das explorações zootécnicas para fugirem à crise. O pastoreio é parte do segredo das regiões produtoras mais eficientes, nomeadamente francesas, açorianas, alemãs, polacas, etc. Estando os animais, durante parte do dia, ao ar livre, podem alimentar-se a eles mesmos com um recurso relativamente fácil de produzir e muito económico (a erva), que associa a vantagem de ser simultaneamente fibroso (substituindo a necessidade de importar palha) e muito rico em proteína (principalmente se consociada com leguminosas e não espigada). O restante aporte
24
energético e proteico é complementado com suplementos concentrados e silagens. Mesmo que se argumente que pode haver reduções de produtividade dos animais, a economia gerada ultrapassa o valor das perdas. Assim, há que pensar num novo paradigma zootécnico, que é não tentar obter o máximo de produção dos animais, mas o óptimo de produção. Com o pastoreio, as economias associadas não se sentem apenas ao nível da compressão de custos de produção por via da alimentação, mas sentem-se, e muito, ao nível do estado sanitário (redução drástica do número de mamites (mastites), problemas podais, infecções respiratórias e diarreias), menor custo em manutenção das instalações (menor volume de fossas e necessidade de limpeza das camas e corredores) e obviamente, no final, uma perceptível melhoria da qualidade dos produtos, seja da carne ou do leite, desde logo, pela expectável redução da contagem de células somáticas e da carga bacteriana. Um dos obstáculos invocados para se considerar difícil a implementação de sistemas de pastoreio está no facto de ser neces-
sário ter cercas permanentes, muros ou um pastor. Porém, temos disponíveis, desde há muitos anos, mas ainda desaproveitadas entre nós, as cercas eléctricas ou muito propriamente chamadas pelos espanhóis de “pastor eléctrico”. As cercas eléctricas são semelhantes a uma cerca normal de arame, em que os fios estão electrificados. Têm a vantagem de exigirem menos arames e postes para serem eficazes, não tendo nunca que ser farpados. As cercas eléctricas podem ser utilizadas para confinar ovelhas, cães, porcos, cavalos, bovinos e até caracóis, e conter javalis, raposas, lobos, coelhos, etc. Em todo o caso, a sua construção difere conforme os animais em questão.
Nas cercas eléctricas as descargas são de alta voltagem, 1.000, 4.000, inclusivamente mais de 8.000 voltes, dependendo do tipo de electrificador, animais e tamanho da cerca. Esta voltagem causaria a morte de animais e pessoas, não fossem as descargas intermitentes (intervalo de cerca de 1 segundo) e durando apenas uma fracção de segundo. O animal que apanha um choque memoriza a sensação desagradável à aproximação do arame, evitando voltar a repeti-lo. Há, inclusivamente, estudos que indicam que as descargas eléctricas provocam a ozonização do oxigénio em torno do arame, o que induz também os animais, através do olfacto, a reconhecer melhor a aproximação ao mesmo, por exemplo, durante a noite. As descargas são produzidas por electrificadores fixos ou móveis. São aparelhos que geram os impulsos eléctricos a partir de energia fornecida, ou pela corrente da rede de 220 voltes, por bateria ou pequenos painéis solares móveis. Os electrificadores móveis são usados em instalações temporárias e sempre com cercas de pequeno tamanho. Como a sua potência é menor não são eficientes com todas as espécies e raças de animais. Como a água é um bom condutor, os electrificadores devem sempre ser resguardados da chuva, especialmente os bornes da ligação positiva.
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ZOOTECNIA
O electrificador tem dois pólos, um positivo e um negativo. A corrente positiva é descarregada nos arames da cerca, regressando ao pólo negativo quando o circuito é fechado (ver esquemas), por um animal que toca no arame carregado positivamente e transmite a corrente ao solo, é nesse instante que se dá o choque. Os arames carregados positivamente devem estar devidamente isolados dos postes, por casquilhos e castanhas de borracha, plástico ou cerâmica, não contactar com ervas e ramos. Por outro lado, para que se dê a descarga eléctrica através do solo é necessário que o pólo negativo do electrificador esteja ligado ao solo; isso faz-se pelo enterramento de um ou vários ferros que se ligam por meio de cobre ao borne negativo. Este processo, chamado de aterreamento, embora negligenciado por muitos, se for mal feito é quase sempre causa dos insucessos que se conhecem. O choque será tão mais intenso quanto melhor for o aterreamento e por isso é importante que o solo não seja demasiado seco (a humidade serve como condutor) e a cerca não seja demasiado longa. Se tal acontecer é necessário que nos postes passe um fio adicional, neste caso negativo, que além de ligado ao borne negativo do electrificador terá, espaçadamente, ligações ao solo. Nos portões os fios são isolados por manípulos que permitem a conexão e desconexão, no entanto, deve haver um circuito alternativo (por cima ou por baixo) que permite que a abertura de um portão não implique o desligamento de parte da cerca. Por vezes, em cercas muito extensas, há necessidade de se controlarem as perdas de carga que ocorram nos arames; para o efeito, com o material da cerca deve-se adquirir um aparelho que permita, com segurança, medir a voltagem, garantindo grandes poupanças. Nos melhores equipamentos as instruções incluídas indicam também como proteger a cerca eléctrica no caso de descargas de trovoadas, perigo que, embora igual ao das cercas tradicionais, tem o risco de comprometer equipamentos que estão resguardados e ligados à rede. Por razões de segurança, especialmente pelas crianças, a electrificação das cercas, na parte que confina com vias públicas, deve ser avisada por meio de sinais de perigo. Embora, na maioria das vezes, as cercas eléctricas sejam utilizadas para compartimentar pastagens de uma forma algo fixa há, desde há muitos anos, robots que permitem a prática automática do “strip grazing”, sistema em que há, na pastagem, um fio eléctrico móvel que se faz avançar lentamente à medida que os animais consomem a erva, evitando-se assim a deambulação e conspurcamento, optimizando-se o aproveitamento da forragem.
DESTAQUE MILHO TOLERANTE AO STRESS HÍDRICO A Dekalb apresentou para o mercado Francês, a gama de variedades DKoptim’eau, um conjunto de catorze variedades de milho, não OGM, que se distinguem pelo seu rendimento e tolerância ao stress hídrico. De acordo com informação da marca “tratam-se de 14 variedades de milho grão que optimizam a utilização de água graças a uma produtividade superior à da média das variedades comerciais, quando em condições limitantes de água”. As conclusões foram tiradas depois de vários anos de desenvolvimento e comparação de híbridos em vários pontos do mundo, tendo por base o material genético dos bancos de germoplasma da Monsanto. Em França os testes foram avalizados pela ARVALIS, confirmando que, em “duelos” de variedades, na maioria das situações em que o aporte de água não era ideal, em todas ou algumas fases de crescimento, as variedades propostas pela Dekalb apresentavam rendimentos superiores. Das catorze variedades da gama DKoptim’eau, a Dekalb apresenta actualmente, no seu catálogo português, o híbrido DKC6101, um FAO500 de dupla aptidão que se destaca também pela elevada digestibilidade da fibra, o DKC5276 e oDKC5190 ambos FAO 400 de dupla aptidão (grão/silagem), destacando-se este último por fazer parte do conjunto de variedades do PROGRAMA MILK 2006, ou seja, variedades que apresentam uma alteração estrutural da deposição da lenhina, permitindo, assim, maximizar a digestibilidade da fibra e a produção de leite por hectare. O DKC4795, outro dupla aptidão, pertencente à classe FAO 300 e bom produtor de grão. Já a variedade DKC5401, novidade do catálogo nacional da Dekalb, é especializada na produção de grão. Pertence à classe FAO 400, é uma variedade de grão alaranjado que apresenta baixa inserção da maçaroca e potente sistema radicular, requisitos que asseguram o excelente desempenho em condições de rega não óptimas e maior resistência à acama. http://www.dekalb.fr
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A C T U A L I D A D E / ZO O T E C N I A
EUA: CONSUMO DE CARNE DIMINUI NA ÚLTIMA DÉCADA
RECEITA DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CARNE BOVINA BATE RECORDE EM 2011
Na última década tem-se assistido a uma queda constante do consumo de carne bovina nos Estados Unidos, concedendo terreno a carnes mais magras bem como a tendências vegetarianas e amigos do ambiente. O alto nível de desemprego nos Estados Unidos fez com que os norteamericanos evitassem os restaurantes e optassem por fazer refeições em casa. A indústria da carne tenta enfrentar a situação com o desenvolvimento de novos produtos a um preço mais baixo e com a recuperação nas exportações de carne, nomeadamente para a Ásia e Rússia. A complicada situação económica e a alta dos alimentos tem afectado muito os consumidores, que procuram formas de reduzir os seus gastos. A estratégia mais popular tem sido comprar carne bovina em grandes quantidades ao invés de bifes, criando o que se conhece por “economia do hambúrguer”. Segundo dados da Associação Nacional de Produtores, as vendas de carne moída aumentaram 7% em 2011. Enquanto que o consumo de carne desce nos Estados Unidos, aumenta em países como o Japão, Coreia do Sul e Rússia. Nos primeiros 10 meses de 2011, as exportações aumentaram em 25% comparativamente ao ano de 2010. Os produtos de carne mais caros, que eram consumidos nos Estados Unidos, estão, cada vez mais, a ser consumidos por clientes estrangeiros.
Segundo dados divulgados pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações de carne bovina in natura foram de 63,1 mil toneladas em Dezembro de 2011, atingindo a receita de 313,5 milhões de dólares, correspondendo por sua vez a um preço médio de 4,970 dólares/tonelada. Se compararmos o mês de Dezembro de 2011 com o mês de Dezembro de 2010, pode-se verificar um crescimento nas exportações, tanto em receitas (9,9%) como em volume (7,7%). Em Dezembro de 2010 a receita das explorações foi de 285,3 milhões de dólares e o volume 58,6 mil toneladas. Desde 2002 que a receita anual das exportações brasileiras de carne bovina tem estado em crescimento constante, excepto pelo ano de 2009, não só devido à crise económica mundial mas também pela desaceleração do comércio internacional. A receita de 2011 é a maior recebida pelo Brasil em 4,7% comparativamente à de 2008, até agora a segunda maior. No que diz respeito ao volume exportado, este tem estado em queda desde 2007, o que tem vindo a criar um aumento no preço médio recebido por tonelada. Em 2011, esse preço médio foi maior em 25% em relação a 2010 e 55,7% em relação ao ano de 2009. Fonte: Ministério da Agricultura
PROLONGADO PRAZO DE LICENCIAMENTO DE EXPLORAÇÕES PECUÁRIAS
Fonte: Adaptado da Reuters
LÃ ENCOLHE NA NOVA ZELÂNDIA Apesar da melhoria da cotação da carne de borrego, na Nova Zelândia continua a crise da ovinicultura, que se terá iniciado em 1990, tendo, desde esse ano, reduzido o seu rebanho em 44%, cifrando-se, actualmente, em “apenas” 21 milhões de cabeças reprodutoras. Os abates, contabilizados em 19 milhões de cabeças, foram os mais baixos desde 1951. Esta situação resulta do facto de, na Nova Zelândia, este sector estar especialmente vocacionado para a exportação (93%) e por isso dependente quer das taxas aduaneiras quer do ciclo económico dos mercados consumidores, nomeadamente o europeu, que absorve 49% da carne de borrego produzida naquele país. A crise afecta também a produção de lã. Em Dezembro de 2011 ainda só estava comercializada 69% da produção de lã armazenada, reflectindo, igualmente, a retracção dos mercados consumidores, principalmente de lã fina destinada a vestuário, pois ao nível da lã para a indústria as vendas eram normais. Em todo o caso, as cotações estão muito instáveis, vivendo-se um período de dúvida e receio. A rentabilidade superior, garantida pela produção de leite de vaca, é também uma das razões para a redução do rebanho ovino nos antípodas, pois, em busca de alternativas, muitos produtores se têm convertido, o que se traduz no aumento de 79% na manada leiteira registada nos últimos 21 anos.
O Ministério da Agricultura anunciou a prorrogação para 31 de Março de 2013 dos prazos para cumprir formalidades junto da entidade coordenadora, no âmbito do REAP (Regime de Exercício da Actividade Pecuária). Estas alterações decorrem da verificação da existência de desfasamentos entre o universo de explorações pecuárias existentes e o número de registos efectuados, justificando-se a manutenção das condições excepcionais e as iniciativas para promover a adesão dos titulares, ainda em falta, com vista à regularização das explorações. Caso a actividade pecuária já se encontre licenciada ou autorizada ao abrigo da legislação em vigor do DL 214/2008 de 10 de Novembro, o produtor deverá promover a actualização dos registos das explorações, bem como solicitar a reclassificação das suas actividades pecuárias, com a actualização do cadastro. Para os titulares de uma actividade pecuária sem título válido ou actualizado, deverão apresentar pedido de regularização dessa mesma actividade.
Fonte: Ministério da Agricultura
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CUIDADOS VETERINÁRIOS
PLANO VACINAL EM VITELOS George Stilwell
N
o número anterior abordámos o assunto dos primeiros cuidados a dar aos vitelos recém-nascidos e incluímos uma breve resenha das regras essenciais para a administração do colostro. Ao ler este e outros textos, em que se transmite a ideia (certa) de que o colostro é essencial para garantir uma resistência efectiva dos bovinos jovens às doenças infecciosas, pode-se ficar com a noção (errada) de que os vitelos não possuem um sistema imunitário competente quando nascem. Na verdade todo o sistema está montado quase desde os primeiros tempos de embrião e o facto de ser
Uma outra questão relacionada e que suscita sempre muitas dúvidas é a vacinação. Qual é o momento ideal de vacinação, contra que agentes infecciosos e que tipo de vacina usar? É do conhecimento generalizado que a vacinação das mães no final da gestação pode ajudar a controlar as diarreias neo-natais dos vitelos, especialmente aquelas devidas à bactéria E.coli e aos vírus coronavírus e rotavírus, ao aumentar significativamente os níveis de anticorpos no colostro. Já a utilidade da vacinação das vacas contra outros agentes é mais controversa e, na generalidade, insuficientemente comprovada. Há mesmo
emolytica, mas já não parece ser tão clara para o vírus do IBR*. Por exemplo, contra este último vírus descobriu-se que se estabelece uma resposta celular cuja memória vem a ser muito útil mais tarde. Também a duração de circulação dos anticorpos maternos variam bastante, dependendo dos níveis no colostro e do agente para o qual protegem. Por exemplo, os anticorpos contra o vírus sincicial ou contra as bactérias Clostrídeos duram pouco mais de um mês enquanto que aqueles que protegem contra o IBR ou BVD podem chegar aos 5 meses.
“
A ideia da interferência dos anticorpos maternos na resposta à vacina não é descabida, mas não é universal ... essencial a ingestão do colostro deve-se não à incapacidade de montar uma resposta imunitária, mas ao facto do animal não ter tido tempo para contactar com os agentes, reconhecê-los e preparar as defesas específicas. Podemos provar isso ao demonstrar anticorpos no sangue do vitelo que ainda não bebeu colostro, contra alguns vírus (por exemplo, o BVD*) que conseguem atravessar a barreira da placenta – ou seja, o feto teve tempo, antes do nascimento, para produzir as suas resistências. Após o nascimento começa uma lenta maturação do sistema imunitário do vitelo, que estará concluída entre os 5 e os 8 meses de idade. À medida que o animal contacta com os microorganismos do seu ambiente, vai montando as defesas específicas. A imunidade de origem materna (via colostro) “apenas” se destina a protegê-lo nesta fase de estágio.
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estudos que indicam que se produzem menos anticorpos no colostro se se vacinar as vacas pouco tempo antes do parto. Em relação à primeira vacinação do vitelo jovem precisamos de responder a uma série de perguntas: será que os anticorpos de origem materna irão neutralizar os antigénios da vacina antes do sistema imunitário do vitelo ter tempo de montar a sua própria resposta? Ou será que a apresentação desses antigénios irá “gastar” a imunidade de origem materna, fazendo esta falta mais tarde? Poderão as vacinas vivas causar alguma doença em animais jovens? Será o vitelo capaz de responder a uma vacinação multivalente, ou seja, contra diversos agentes ao mesmo tempo? A ideia da interferência dos anticorpos maternos na resposta à vacina não é descabida, mas não é universal – acontece para o BVD, para a Pasteurella multocida e Mannheimia ha-
*BVD – Diarreia Viral Bovina (Pestivirus) *IBR – Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (Herpesvirus)
”
Já o(s) momento(s) em que não se deve de todo vacinar parecem estar melhor definidos. Na altura mesmo antes e logo após o nascimento existe em circulação grandes quantidades de cortisol que inibem uma conveniente resposta imunitária. Esta imunodepressão dura cerca de uma semana. Assim, vacinar vitelos com menos de 5-7 dias não só é pouco eficaz como pode ser perigoso. Mais tarde, entre as 3 e as 5 semanas, existe uma “janela” em que a resposta à vacinação contra uma série de vírus, na presença de imunidade de origem materna, fica longe do desejável. Igualmente desaconselhada é a vacinação em momentos de stress, como o desmame, a descorna, a castração, as mudanças de instalações, etc… Mais uma vez são os níveis de cortisol que exercem esta influência negativa. Como acontece em qualquer outra idade, a vacinação só será realmente eficaz se der tempo para se produzir os anticorpos antes da “agressão” prevista. Vacinar “em cima do
DERMATITE DIGITAL BOVINA
acontecimento” dá maus resultados. O sistema imunitário demora pelo menos 10 dias a montar um sistema de defesa minimamente eficaz e muitas vezes isso só acontece após uma segunda dose da vacina (com 3 semanas de intervalo da primeira vacinação). O tipo de vacina utilizada também importa. Em animais jovens as vacinas intra-nasais ou orais – que conduzem a uma imunidade a nível das mucosas – são bastante interessantes porque levam a uma resposta rápida e eficiente. No caso de vacinas parenterais (intramuscular, por exemplo) podemos usar vacinas vivas ou mortas. As primeiras podem não precisar de reforço, dão uma resposta rápida, mas podem causar doença. As vacinas mortas ou inactivadas são mais seguras, mas normalmente precisam de duas doses até conseguir o efeito protector óptimo. A tendência de muitos produtores é a de vacinar contra tudo e contra todos o mais cedo possível para tentar minimizar os impactos de uma potencial infecção. Como se viu, esta estratégia pode não ser a mais certa nem a mais económica e pode mesmo ser prejudicial. Convém ter a noção daquilo que existe em cada exploração (porquê vacinar se o vírus não afecta o meu gado?), da forma como se monta a defesa contra esses organismos, qual a interferência potencial da imunidade de origem materna e quais as vacinas disponíveis. O aconselhamento do médico-veterinário é essencial nesta altura porque será ele que poderá criar um programa com o melhor retorno (não só sanitário como económico). Por fim um sinal de alerta – a necessidade de um plano vacinal muito abrangente geralmente é sinal de deficiências importantes no maneio, instalações, bem-estar ou nutrição dos vitelos. A vacina não deve ser uma forma de “disfarçar” más práticas de produção.
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George Stilwell (FMV-UTL) stilwell@fmv.utl.pt
Apesar das explorações leiteiras portuguesas terem inúmeras vantagens competitivas em relação às congéneres europeias continua a haver uma crise na relação custo/proveitos. É no que toca à eficiência do uso dos meios de produção que os produtores portugueses ficam a perder. Na maioria das explorações leiteiras os animais são abatidos antes de terem esgotado o seu potencial económico, normalmente em consequência de doenças que poderiam ser evitadas. Assim, o factor de produção central de uma vacaria, a Vaca, é abatida demasiado jovem, tendo terminado poucas lactações e quase sempre doente. Logo a seguir às mamites o maior problema está nas doenças ou problemas podais (dos cascos). A dermatite digital bovina, que recebe também os nomes de verruga dos cascos, papilomatose digital ou doença de Morterallo, tem vindo a aumentar, causando cada vez mais maiores prejuízos. Os agentes bacterianos1 envolvidos são ainda pouco conhecidos. Muitas vezes despercebida ou negligenciada, a simples dor no pé de uma vaca traduz-se imediatamente em perdas consideráveis em quilos de leite. Nas vacarias, qualquer claudicação deve ser investigada, e onde tenha havido já casos de dermatite, como é muito contagiosa e difícil, ou mesmo impossível de erradicar, há que observar, duas vezes por ano (Outono e Primavera), a parte inferior dos cascos. As vacas desenvolvem alguma imunidade ao longo dos anos, mas são de esperar surtos quando há entrada de novos animais ou quando as condições de higiene e humidade se agravam. As dermatites, assim como a maioria das infecções do casco, são muito raras em animais que pastam regularmente, mas muito prevalecentes em animais estabulados, uma vez que estão, permanentemente, com as patas pousadas em pisos abrasivos que ajudam à penetração das bactérias, aliado ao facto de o solo estar sempre húmido e sujo com dejectos. Assim, a melhor prevenção está em procurar proporcionar o máximo de liberdade aos animais, garantindo nos estábulos um ambiente seco. Uma prática profiláctica recomendada consiste na instalação de um pedilúvio à saída da sala de ordenha, com uma solução ou de lixívia, ou de sulfato de cobre e zinco, solução renovada no final de cada ordenha, ou a cada 50 animais. O cobre e zinco devem ser usados com precaução e apenas quando não haja risco de a solução contaminar as águas. Devido a problemas ambientais estes produtos já foram proibidos em alguns países. Em relação à lixívia, deve-se salientar o facto da sua concentração demasiado elevada conduzir a irritações cutâneas perigosas. Quando, por observação, se detecta um animal doente, deve-se aplicar precocemente soluções antibióticas curativas directamente sobre a lesão, sempre sob orientação de um médico veterinário. O aconselhamento técnico é importante pois o diagnóstico correcto é essencial e a escolha do medicamento deve ser criteriosa. A saúde dos animais é o sucesso do produtor de leite.
Médico-veterinário, Diplom. ECBHM
1
Em algumas zonas do país esta doença é conhecida como micose, sendo uma designação errada pois não existem fungos envolvidos na sua etiologia.
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AGRICULTURA TROPICAL
ESCOLHA DE FONTES FORRAGEIRAS ALTERNATIVAS DESTINADAS AO CONSUMO EQUINO: LEGUMINOSAS (Parte I / II)
O
bjectivando-se uma criação rentável e tecnicamente planejada, nada mais correcto que o produtor venha a preocupar-se com a disponibilidade de alimentos na propriedade. Nesse sentido, a alimentação é responsável pelo maior custo de produção, de forma que seleccionar plantas forrageiras como a base da alimentação é importante para a redução dos gastos. Nesse contexto, as leguminosas podem ser uma excelente alternativa. É importante frisar que ao implantar a infra-estrutura forrageira, deve-se fazê-la com a mesma seriedade com que se planeja qualquer outra actividade na cadeia produtiva. Assim, para a idealização dessas etapas devem ser levados em consideração alguns aspectos importantes como as particularidades do comportamento equino, nutrição e manejo. No aspecto comportamento, é importante ressaltar que os cavalos são animais pastejadores por natureza e apresentam adaptações anatómicas do trato digestivo específicas para essa função. Desta forma, todo o alimento consumido é temporariamente armazenado no estômago, muito embora, o cavalo seja um animal considerado de grande porte, o tamanho do seu estômago é pequeno. Sendo assim, a limitação física de espaço confere-lhe a característica natural do consumo lento. Logo, ao alimentarem-se agem como exímios selectores, escolhendo muito bem o que desejam. Eles separam os alimentos mais saborosos, novos, e que consequentemente são mais nutritivos e que serão ingeridos em pequenas refeições, distribuídos ao longo das 24 horas. Ainda relativo aos aspectos comportamentais, observamos outra característica, a selectividade, que nada mais é que a capacidade de escolher o alimento (associada também à palatabilidade), e que, em resumo, se refere aos factores que tornam o alimento mais atractivo e, consequentemente, o leva a ser consumido de forma voluntária pelos cavalos. Investigadores, há muitos anos, descreveram que a percepção fisiológica da apreciação envolve a combinação dos sentidos da textura, do sabor e do cheiro. Portanto, a diferença entre as espécies animais na percepção dos diferentes sentidos faz com que os alimentos sejam aceites de forma distinta entre as espécies animais. Sobre isso, é importante informar aos criadores que insistem em utilizar áreas com forrageiras destinadas à criação de bovinos, caprinos e ovinos, que não se trata de prática totalmente recomendável. Isso não quer dizer que essas áreas devam ser inutilizadas, mas reavaliadas quanto à forma de utilização, quando destinada ao consumo equino. Pois nem sempre uma óptima forrageira destinada a ovinos e etc. será adequada aos cavalos. Apesar da possibilidade da planta apresentar óptima composição nutricional, antes de tudo, é preciso verificar se a mesma será consumida em quantidades satisfatórias pelo animal. Pode-se observar que os cavalos, quando criados soltos, e com disponibilidade de pastagem de qualidade, sabem muito bem como se alimentar e, dificilmente apresentam distúrbios digestivos. Isto porque, nestas condições, o animal está livre para exercer o seu comportamento natural, consumindo o que melhor lhe convém, no local que desejar e o quanto for necessário. De forma que possibilitar áreas de pasto com diversidade botânica torna-se atractivo e saudável aos equinos. No aspecto nutrição, são inúmeras as características que devem ser levadas em consideração na escolha das plantas forrageiras que serão disponibilizadas como alimento, pois essa decisão terá significativa influência na saúde nutricional dos cavalos. As plantas forrageiras
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Por: Dr. Vinicius Pimentel Silva pimentelzootec@gmail.com Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Brasil Professor de Nutrição Animal – Especialista em Nutrição Equina Departamento de Nutrição Animal e Pastagem – Instituto de Zootecnia.
fornecem vários nutrientes, entre eles: a proteína, gordura, açúcares, minerais e vitaminas, além da fibra. Os cavalos são capazes de extrair nutrientes de estruturas vegetais que nem todos os mamíferos são capazes. Isto porque, no seu trato digestivo existem bactérias capazes de utilizar a fibra como fonte de alimento e os subprodutos gerados do processo da digestão bacteriana são absorvidos pelo cavalo. Ao fornecermos o alimento volumoso, seja na forma de pasto ou feno, fornecemos uma quantidade significativa de fibra. Ela é essencial, pois promove o funcionamento normal do trato digestivo, mantém a mastigação por mais tempo, além de fornecer energia para o cavalo. Neste ponto, estrategicamente podemos disponibilizar forrageiras com fibras de melhor qualidade, com mais nutrientes, assegurando uma dieta equilibrada. Resultados de investigações sobre a avaliação nutricional de alimentos forrageiros para equinos serão descritos mais adiante. Obviamente, a nutrição adequada dos animais da propriedade será alcançada com um planeamento, que se resume no balanceamento da dieta (tudo o que é consumido por dia), neste caso é contabilizado: feno, pasto, concentrado, suplemento mineral-vitamínico e água. A estimativa do balanceamento será efectuada através da avaliação das diferentes categorias animais, uma vez que cada uma necessita de quantidades distintas de nutrientes. Além disso, como o aproveitamento dos nutrientes é diferente dependendo da categoria animal, a escolha estratégica de qual alimento será fornecido, é uma maneira de economizar os recursos. Assim, diferentes fontes de alimentos podem ser combinadas, controlando-se a quantidade e a forma como disponibilizar os alimentos. Consequentemente, o manejo da propriedade deverá adequar-se a um planeamento nutricional.
Neste aspecto, pesquisadores Brasileiros sugerem a utilização de algumas alternativas de forrageiras leguminosas tropicais, muitas vezes desconhecidas, mas que apresentam características satisfatórias e que podem suprir as exigências nutricionais do plantel, o que elevaria a disponibilidade de alimentos e asseguraria uma estratégia alimentar da propriedade. Muito embora, a alfafa (Medicago sativa) seja a leguminosa forrageira mais difundida e utilizada na alimentação dos equinos, tanto na forma de pasto directo, quanto na forma de feno, a sua exigência em fertilidade, bem como o facto de não se desenvolver em solos arenosos ou compostos, limita a sua difusão por todo o território brasileiro. Geralmente, alguns ambientes tropicais apresentam-se com solos de características ácidas e de baixa fertilidade, assim, uma estratégia racional de aperfeiçoar a oferta forrageira seria disponibilizar leguminosas adaptadas a essas condições. As leguminosas apresentam a característica de fixar nutrientes no solo, o que favorece o crescimento de todas as plantas que constituem a pastagem. Assim, a longo prazo, o pasto terá maior produção, sem a necessidade de adubação nitrogenada. Também, como outra vantagem, esse grupo de plantas apresenta, na sua composição, maior teor de proteína, que é o nutriente mais caro numa dieta, portanto, ao efectuar o balanceamento da dieta, pode-se reduzir o teor proteico do concentrado, uma vez que boa parte será provida pelo consumo da leguminosa. Além disso, por desenvolver-se durante o período de estiagem, devido ao sistema de raízes profundas, torna-se um alimento estratégico no haras, quando os potros são desmamados e necessitam de consumir proteína de qualidade. Consequentemente, a questão de redução de custos é efectiva em todos esses casos. É vantajoso dispor de leguminosas na propriedade, seja na forma consorciada na pastagem, em áreas fechadas de produção de feno ou em áreas exclusivas onde o pasto seja controlado. Alguns estudos descreveram o valor nutricional de leguminosas que apresentam potencial de utilização, tais como: Amendoim Forrageiro (Arachis pintoi cv. Amarillo); Estilosantes (Stylosanthes guianensis cv. Mineirão); Campo Grande (Mistura física comercial de 20% Stylosanthes macrocephala e 80% de Stylosanthes capitata); Feijão Guandu (Cajanus cajan). Cada uma apresenta uma particularidade de utilização que será descrita individualmente.
AMENDOIM FORRAGEIRO (ARACHIS PINTOI CV. AMARILLO) – Origem: É originária da flora Brasileira, nativa do cerrado. – Aspectos Vegetativos: Apresenta hábito de crescimento estolonífero e ciclo de vida perene, mantendo folhagem verde ao longo do ano em regiões tropicais. – Clima e Solo: Exigente em fertilidade e humidade do solo, mas adapta-se a solos de baixa fertilidade. – Propagação e plantio: Multiplica-se muito bem por sementes e estolões. Plantio da semente a lanço com profundidade de 2 cm, ou em sulcos. – Rendimento: 4 toneladas/ha/ano. – Utilização: Consorciado com gramíneas forrageiras, controle de ervas em pomares, cafezais e bananais. Fixador de nitrogénio no solo. Pode ser fenado, não precisa de ser picado para fenar.
Figura 1 Amendoim Forrageiro (Arachis pintoi cv. Amarillo).
A literatura científica já havia sugerido a utilização de variedades da espécie Arachis sp. como forrageira leguminosa com potencial para fenação. Investigações avaliaram a digestão total nos cavalos e concluíram que o Amendoim Forrageiro apresentou digestibilidade elevada, possuindo potencial para o uso nas dietas dos equinos. Descreveram que a fibra do Amendoim Forrageiro é superior às demais leguminosas tropicais, assim como o seu conteúdo proteico. Contudo, muito embora se conheça sobre o seu valor nutricional, não se tem dados técnicos publicados de consumo voluntário desta forrageira por animais da espécie equina, apenas relatos de criadores. Tabela 1 Composições nutricionais do Amendoim Forrageiro de acordo com diversas fontes.
Autores
PB (%)
EE (%)
FDN (%)
FDA LIG Ca (%) (%) (%)
P (%)
Mg (%)
NRC (1989)
9-14
3.6
*
37.2
*
*
*
*
Ladeira et al. (2002)
14.3
1.8
52.5
35.8
11.2
*
*
*
Valadares Filho et al. (2006)
16.5
1.1
40.3
23.6
*
1,72
0.22
*
Silva (2009)
18.0
1.9
46.8
30.2
12.4
1.96
0.18
0.85
Todos os nutrientes descritos na base 100% de MS; PB= Proteína Bruta; EE = Extracto Etéreo (gordura); FDN = Fibra em Detergente Neutro; FDA = Fibra em Detergente Ácido; LIG = Lignina; Ca = Cálcio; P = Fósforo; Mg = Magnésio
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HORTOFRUTICULTURA & FLORICULTURA
CARACTERÍSTICAS DOS SUBSTRATOS PARA HORTICULTURA
Por: Luís Miguel Brito miguelbrito@esa.ipvc.pt Isabel Mourão isabelmourao@esa.ipvc.pt Centro de Investigação de Montanha (CIMO)/ Escola Superior Agrária Instituto Politécnico de Viana do Castelo
PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS DOS SUBSTRATOS (Parte I / II)
P
ROPRIEDADES GENÉRICAS DOS SUBSTRATOS
Os substratos são materiais, naturais ou artificias, onde se desenvolvem as raízes das plantas cultivadas na ausência de solo, em recipientes, e que devem servir para fixá-las e suprir as suas necessidades de ar, água e nutrientes (Fig. 1). O desenvolvimento de um sistema radicular saudável depende das características genéticas das plantas, mas também, das propriedades físicas e químicas do substrato utilizado. Por isso, a caracterização física e química dos substratos é necessária para a sua correcta formulação e, também, para a monitorização da rega e das adubações. a)
b)
Figura 1 (a) Arbustos ornamentais em viveiro (Ana Lúcia Lopes - Produção de Flores, Lda., Póvoa de Lanhoso); (b) Morango propagado em alvéolo no modo de produção biológico (Alcides Quendera Henoch, Palmela). a)
b)
Figura 2 (a) Enchimento de vasos (Viveiro Hera Verde, Rui Aguiar, Póvoa de Lanhoso); (b) Enchimento de tabuleiros (Viveiros do Furadouro Lda., Altri Florestal S.A., Óbidos).
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As propriedades dos substratos que influenciam a germinação das sementes, e o crescimento das plantas germinadas, podem dividir-se em propriedades físicas (capacidade de retenção de água, porosidade, plasticidade, densidade aparente, etc.), propriedades químicas (fertilidade, reacção, poder tampão, etc.) e propriedades biológicas. Para cada espécie e tipo de recipiente é necessário encontrar o substrato óptimo para garantir a qualidade adequada ao desenvolvimento das plantas (Fig. 2). Verdonck et al. (1983) afirmam que as características físicas são as mais importantes, por causa das relações entre o ar e a água não poderem sofrer mudanças durante a cultura. Estes autores consideram que entre as propriedades físicas, a densidade do substrato, a porosidade, a disponibilidade de água e de ar e, entre as propriedades químicas, os valores do pH, da condutividade eléctrica (CE) e da capacidade de troca catiónica (CTC) são de extrema importância, uma vez que o teor em nutrientes pode ser corrigido, posteriormente. Outra característica fundamental é o tamanho das partículas. Geralmente é conveniente crivar os materiais utilizados na formulação de substratos através de um crivo com uma malha de dimensão variável em função da cultura e do recipiente, para remover as partículas de maior dimensão. Actualmente, existem diversos tipos de substratos, sejam de origem mineral ou orgânica, natural ou sintética, cujas características diferem marcadamente das do solo, não existindo um material ou mistura de materiais considerada universalmente válida como substrato para todas as espécies. Assim, em função de cada espécie (e do recipiente utilizado) deve-se verificar qual o melhor substrato, que proporciona a formação de plantas de melhor qualidade para transplantação (em mottes ou tabuleiros de alvé-
olos, Fig. 3) e/ou que possua a melhor fertilidade física e química para o crescimento das plantas (em vasos ou outros recipientes, Fig. 4). A maior parte dos substratos é uma combinação de dois ou mais componentes, realizada para alcançar as propriedades químicas e físicas adequadas às necessidades específicas de cada cultura. Um substrato utilizado para propagação e crescimento de plantas deve possuir as seguintes propriedades genéricas: a. Ser suficientemente firme para segurar as estacas ou as sementes durante o enraizamento ou a germinação; b. Manter um volume constante quer quando molhado ou seco, não inchar nem contrair, e não compactar durante o processo de secagem, nem criar crosta quando exposto ao sol; c. Estar bem maturado para impedir a imobilização do azoto ou a presença de substâncias fitotóxicas; d. Ser fácil de humedecer e reter água suficiente (elevada capacidade de retenção de água) para não exigir uma rega demasiado frequente, ou seja, possuir uma curva de retenção de água apropriada. e. Ser suficientemente poroso (elevada porosidade) para permitir a drenagem (rápida drenagem) do excesso de água evitando o encharcamento, e permitir a penetração do oxigénio no substrato (bom arejamento), necessário para o processo de germinação e de respiração das raízes; f. Ter capacidade para ser esterilizado ou pasteurizado sem alterar as suas características físicas, químicas ou biológicas; g. Possuir uma textura e uma estrutura (granulometria) apropriadas; h. Não conter argila em excesso porque pode fracturar o substrato quando seca; i. Possuir baixa salinidade; j. Possuir elevada capacidade de troca catiónica para reter os nutrientes; k. Possuir capacidade para disponibilizar água e nutrientes de acordo com as necessidades de crescimento e de desenvolvimento das plantas; l. Ser isento de sementes ou propágulos de infestantes; m. Ser isento de insectos, nemátodos, ou agentes patogénicos (bactérias, fungos, vírus, etc.); n. Ser leve e de fácil transporte; o. Ser de qualidade consistente entre diferentes embalagens; p. Ser de fácil aquisição e de preço aceitável.
a)
b)
Figura 3 Alface em (a) mottes e em (b) alvéolos (Raul Patrocínio Duarte, S.A., Torres Vedras).
b)
a)
Figura 4 (a) Arbustos ornamentais (Viveiros Vila Longa, Santarém); (b) Amoreira em viveiro (Frutimel Lda. Apicultura e Fruticultura - José Alcobia, Boane, Moçambique).
PROPRIEDADES FÍSICAS As características físicas dos substratos ou da sua mistura podem variar muito, devido: ao lote de materiais utilizados; à forma e ao volume dos alvéolos; ao manuseamento dos materiais ao preparar a mistura; e à forma de regar (Reis, 2007). Por estas razões, é impossível definir um substrato óptimo. Diferentes substratos com propriedades distintas podem ser vantajosamente utilizados para uma mesma cultura, desde que se adapte a tecnologia empregue, em particular a dotação e a frequência da rega, mas também noutros aspectos como o tamanho dos alvéolos e o programa de fertilização. A eleição do melhor substrato varia com cada situação, pois depende de factores diversos, sobretudo técnicos e económicos. (Reis, 2007). O conhecimento das propriedades físicas dos substratos não deve ser utilizado de maneira isolada na determinação das necessidades de rega (Fig. 5). Cavins et al. (2000) apontaram quatro factores que afectam o status da água e do ar em recipientes: 1) o substrato (componentes e quantidades); 2) o recipiente; 3) as práticas de irrigação; e 4) os procedimentos de manuseamento dos substratos. As propriedades físicas de um substrato estão centradas em dois aspectos: 1) as propriedades das partículas que compõem a fracção sólida, em especial a sua forma e tamanho, a sua superfície específica e as suas características de absorção de água; e 2) a geometria do espaço poroso formado entre essas partículas, que é dependente das propriedades das partículas e da forma de manuseamento do material, em especial da densidade de empacotamento do
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HORTOFRUTICULTURA & FLORICULTURA
Figura 5 Viveiro de culturas hortícolas (Aguçadoura, Póvoa de Varzim).
substrato no recipiente. Assim, a distribuição do tamanho das partículas, ou seja, a granulometria, é uma característica importante que informa sobre a qualidade física do material e sua adequação para a cultura de determinada espécie vegetal, tendo influência determinante sobre o volume do ar e da água retida pelo substrato (Waller and Wilson, 1984). A capacidade, a altura, o formato e o material de composição do recipiente também exercem influência na relação entre o ar e a água dos substratos. Por exemplo, os recipientes altos determinam maior arejamento no meio do que os baixos, para o mesmo substrato, por isso, quanto maior a altura do recipiente utilizado, menor a capacidade de água disponível, por unidade de volume do substrato, independentemente do material utilizado (Milner, 2001). O humedecimento dos componentes dos substratos antes de os misturar permite obter características físicas muito superiores (Fig. 6), comparadas com as que se obtêm quando se procede à mistura com os materiais originais secos. Por exemplo, a mistura de turfa negra seca com casca de árvores seca antes de adicionar água resulta num substrato com baixa capacidade de arejamento e, após a rega, a água pode acumular à superfície do substrato. Se os materiais originais forem molhados, antes da mistura, a turfa fica esponjosa e bem hidratada e a casca de árvores irá reter o excesso de humidade. Nestas circunstâncias, quando se misturam estes materiais, a turfa esponjosa retém o ar e as partículas não ficam tão agarradas. Posteriormente, o arejamento será mais fácil do que se os materiais fossem misturados secos e hidratados posteriormente.
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A densidade real de uma partícula é uma grandeza adimensional, definida como a razão da massa dessa partícula e a massa da água que ocupa volume igual. A densidade aparente de um substrato é a razão da massa da sua parte sólida e a massa da água que ocupa um volume igual ao volume da sua parte sólida e dos poros. Para além da fase sólida, existem as fases líquida e gasosa que ocupam o espaço deixado entre as partículas sólidas e a que se chama porosidade (P) e que é geralmente representada em percentagem (P (%) = 100 – 100 (DAp / DR)). A densidade do substrato é uma propriedade física fundamental a ser considerada. Quanto menor o recipiente, mais baixa deve ser a densidade do substrato (Fermino, 2002). A densidade seca do substrato é inversamente proporcional à porosidade, e, quando a densidade aumenta, pode ocorrer uma restrição ao crescimento das raízes das plantas (Singh e Sinju, 1998). A densidade dos substratos, de acordo com Reis (2007) deve ser inferior a um valor de 0,4 apesar de ter sido considerado por Bunt (1973) como podendo variar entre 0,4-0,5. A quantidade de ar e de água no substrato resulta das características físicas do meio, da geometria do recipiente, e do desenvolvimento radicular. A porosidade total, a capacidade do recipiente, o espaço livre, e a água facilmente disponível e dificilmente disponível permitem descrever o movimento do ar e da água no substrato. Por isso, as curvas de retenção de água são frequentemente utilizadas para avaliar a qualidade dos substratos para a propagação e o crescimento das plantas, e para prever as necessidades de rega. Em relação à porosidade, parte do volume é constituído por poros de maior tamanho (macroporos) que não retém água sob a força exercida pela gravidade e são responsáveis por proporcionar arejamento às raízes. Esta parte é denominada por porosidade de arejamento. A outra parte, de poros menores, é responsável pela retenção de água (Reis, 2007). A porosidade de arejamento (ou capacidade de ar de um substrato) é igual à diferença entre a porosidade total, que corresponde à humidade presente nas amostras saturadas sob tensão 0 kPa, e o volume de água na tensão de 1 kPa (tensão de 10 cm de coluna de água (expressa em % de volume)). A água retida e disponível para as plantas é equivalente ao volume de água entre as tensões de 1 kPa e 10 kPa, e a água remanescente corresponde ao volume de água que é retida no material após ter sido submetido à tensão de 10 kPa (De Boodt and Verdonck 1972). Este autores, utilizaram estas curvas para caracterizar os substratos e consideraram, para além do espaço para o ar (0 a 1 kPa), e para a água não disponível (> 10 kPa) a água facilmente disponível (1 a 5 kPa), e a água de reserva para as plantas (5 a 10 kPa). A tensão de humidade mede-se pela força extractiva que a equilibra, e deve exprimir-se, de acordo com o Sistema Internacional de Unidades em Pascais (Pa), sendo normalmente utilizado o seu múltiplo kPa, podendo contudo utilizar-se em atmosferas (1 atmosfera = 100 kPa), ou em altura (cm) de coluna de água necessária para dar sucção equivalente à tensão, ou ainda pelo logaritmo (na base decimal) desta altura (pF). Desta forma, a diferença entra a porosidade total (%) e a água retida a pF1 é igual ao arejamento a pF1, ou seja o espaço para o ar (0 a 1 kPa ou
Figura 6 Plantação em substrato humedecido (Viveiros Vila Longa, Santarém).
Figura 7 Sementeira em mottes (Raul Patrocínio Duarte, S.A., Torres Vedras).
seja 0 a 101 cm). A água facilmente disponível, ou facilmente utilizável, corresponde à diferença entre a água retida a pF1 e a água retida a pF1,7 (101,7 = 50 cm = 5 kPA), a água de reserva corresponde à diferença entre a água retida a pF1,7 e a água retida a pF2 (102 = 100 cm = 10 kPA), a água dificilmente utilizável (ou dificilmente disponível) corresponde à água retida a pF2. A água disponível resulta do somatório da água facilmente disponível com a água de reserva. De acordo com Verdonck & Gabriëls (1992) a água facilmente disponível deve representar 20 - 30% do volume da porosidade total e a água de reserva 4 - 10%, isto é, a água disponível deve corresponder a 24 - 40% da porosidade total. Por outro lado, aqueles autores consideram que a capacidade para o ar deve ser superior a 20% do volume da porosidade total. No entanto, estes valores podem variar em função da finalidade a que se destina o substrato. Para a germinação e a propagação vegetativa a capacidade de ar deve ser variável entre 10 a 15%, ou inferior, enquanto para o crescimento das plantas em estufa deve variar entre 15 e 25%. Para culturas perenes este valor poderá ser superior a 25%. Verdonck & Gabriëls (1992) referem que a porosidade total deve ultrapassar o valor de 85% do volume total do substrato. A determinação da granulometria do substrato e da proporção entre macro e micro porosidade e, consequentemente, as relações entre ar e água permitem o uso mais eficiente dos substratos em diferentes condições (Fermino, 2002). Partículas com maior diâmetro são responsáveis pela formação de poros maiores (macroporos), ocupados por ar, enquanto as de menor diâmetro são responsáveis pela formação de poros menores (microporos), ocupados por água. Daí ser importante uma composição granulométrica que proporcione uma adequada repartição de ar/água. A uma determinada tensão de água, quanto maiores as partículas do substrato, maior será o volume de ar e menor o de água, ou seja, o substrato será mais arejado e conservará menos água após a rega. O conhecimento da relação ar/água permite compreender e prever o comportamento hídrico dos substratos. Substratos com diferentes características podem, por isso, ser usados para a mesma cultura, desde que se adapte a tecnologia, particularmente de rega (Reis, 2007). O conhecimento da curva de retenção ou de disponibilidade de água de determinado substrato permite ao produtor programar a rega de forma mais adequada, na medida em que pode definir a quantidade de água e o momento da sua aplicação, para cada espécie vegetal específica (Fermino, 2002). Do ponto de vista do tamanho das partículas de um substrato, o mais adequado para permitir o fornecimento de água e suficiente arejamento, é normalmente um material com textura grosseira a média, com partículas entre 0,25 e 2,5 mm ou com um tamanho mínimo entre 0,5 e 1,0 mm (Reis, 2007). As partículas finas são menos resistentes à decomposição mas apresentam maior superfície específica e capacidade de troca catiónica. Substratos com grande percentagem de partículas finas podem apresentar problemas de arejamento e reter grandes quantidades de água a tensões elevadas, embora esta esteja pouco disponível (Reis, 2007).
Outro aspecto importante relativo ao tamanho das partículas do substrato, tal como num solo, é o contacto entre as partículas de substrato e as sementes (Fig. 7), o qual pode ser dificultado se não houver uma distribuição granulométrica das partículas adequada ao tamanho da semente. Esta situação pode ocorrer com alguns materiais como os compostos grosseiros de casca de árvores. As discrepâncias sobre valores óptimos encontradas na bibliografia podem-se atribuir aos diferentes métodos empregues na determinação da porosidade e a propriedades dos diferentes materiais que afectam a resposta das culturas testadas (Reis, 2007). A água retida pelo substrato e a sua disponibilidade são habitualmente os factores mais importantes dos substratos. No entanto, é necessário distinguir entre a capacidade de retenção de água do substrato e a capacidade de a disponibilizar. Assim, materiais como a turfa têm uma grande capacidade de retenção de água, a qual pode encontrar-se maioritariamente facilmente disponível, conduzindo a que a planta a esgote rapidamente porque, nestas condições de elevada disponibilidade, as plantas mantêm uma elevada transpiração (Reis, 2007). Pelo contrário, outros materiais podem reter menos água, mas uma parte maior ser água de reserva (retida a maior tensão), o que faz com que a planta se vá adaptando gradualmente às condições de restrição de água e acabe por entrar em emurchecimento mais tarde do que as plantas cultivadas com turfa (Beardsell et al., 1979). Para obter plantas de qualidade deve ser possível controlar as condições ambientais, tanto a nível da raiz como da parte aérea das plantas. Ao nível da raiz, as variáveis mais importantes são a temperatura, a disponibilidade de nutrientes e o teor de água e de ar no substrato. Ao nível da parte aérea destacamse a temperatura, a humidade e a radiação (Reis, 2007).
PROPRIEDADES QUÍMICAS As propriedades químicas geralmente utilizadas para a caracterização de um substrato são: o pH, a capacidade de troca de catiónica (CTC), a salinidade, o teor de nutrientes e a sua disponibilidade. Ao contrário das propriedades físicas, estas podem ser total ou parcialmente corrigidas, porque é possível corrigir a reacção do meio ou a salinidade, mas principalmente o teor de nutrientes disponíveis, durante o período em que a cultura se desenvolve.
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Valor de pH e condutividade eléctrica (CE) A reacção dos substratos deve estar de acordo com a cultura a propagar. A reacção do substrato afecta a disponibilidade dos nutrientes, particularmente dos micronutrientes. Um baixo valor de pH pode contribuir para um excesso de micronutrientes na solução do solo e aumentar assim os riscos de fitotoxicidade. Pelo contrário, um valor de pH excessivamente alcalino pode precipitar os micronutrientes e torná-los indisponíveis para as plantas, aumentando, assim, os riscos de uma deficiência em micronutrientes, ou em macronutrientes como cálcio ou magnésio. A maioria das culturas crescem melhor com um pH variável entre 5,4 e 6,4, mas existem culturas, como por exemplo, as azáleas e as hortênsias (Fig. 8), que preferem uma reacção do solo mais ácida (quadro 1). Por isso, é necessário conhecer o valor de pH ideal para cada espécie vegetal.
Figura 8 Hortênsias em crescimento (Viveiros Vila Longa, Santarém).
Quando é necessário descer o valor do pH dos substratos pode recorrer-se ao enxofre, sulfato de alumínio ou sulfato de ferro, adubos amoniacais como o sulfato de amónio, e ainda aos ácidos cítrico, nítrico, fosfórico e sulfúrico. Para aumentar o valor de pH pode-se utilizar calcário normal (carbonato de cálcio) ou dolomítico (carbonato de cálcio e magnésio) ou gesso (sulfato de cálcio). Existem quatro razões principais que explicam as variações que se podem verificar no valor do pH do substrato durante a cultura: A utilização de correctivos como o calcário na preparação do substrato; a reacção da água de rega; a reacção dos fertilizantes utilizados durante a produção; e a espécie vegetal que se está a propagar. Por estas razões, nem sempre é fácil manter um valor de pH ajustado às condições óptimas da espécie em propagação. Apesar do conhecimento do valor de pH requerido para determinada espécie, poderá ser necessário um período de 24 horas até 7 dias para ajustar o pH do substrato, após este ser regado. A duração deste período depende da relação entre os materiais utilizados na formulação do substrato, do tamanho das partículas de calcário quando este é utilizado, da reacção e da salinidade dos fertilizantes, e do pH da água de rega. Por isso, antes de se utilizar o substrato deve-se experimentar o mesmo nalguns vasos, regados com água destilada, e colocados numa estufa durante
Quadro 1 Valores recomendados de pH (H2O) de acordo com a cultura.
Presença de solo mineral na mistura
Tipo de Cultivo
Valor de pH (H2O)
Referência
Culturas em geral
5,5 e 6,3
Handreck & Black (1999)
Culturas em geral
5,4 e 6,0
Fonteno (1996)
Culturas em geral
5,4 a 6,4
Bailey et al. (2000)
Azáleas e hortênsias
< 5,4
Bailey et al. (2000)
Lírios
6,5 a 6,8
Fonteno (1996)
Lisianthus
6,4
Handreck & Black (1999)
Gerânios, sálvia e asters
5,8 a 6,3
Handreck & Black (1999)
Bromélias, azáleas e coníferas
4,5 a 5,0
Kämpf (2000)
Culturas em geral
6,2 e 6,8
Fonteno (1996)
Culturas em geral
6,0 a 6,7
Handreck & Black (1999)
sem
com
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Quadro 2 Classificação da sensibilidade das culturas a níveis de concentração salina no substrato (Kämpf, 2000).
Reacção da Cultura
Níveis de salinidade
Salinidade*
Exemplos de culturas
Grupo 1: sensíveis
Baixo
0,5 a 1,0
Avenca, boca-de-leão, camélia, algumas bromélias e orquídeas
Grupo 2: tolerantes
Médio
1a2
Alamanda, begónia, gerbera, gladíolo, rosa, hibisco, zínia, copo-de-leite
Grupo 3: exigentes (em quantidade)
Alto
2a3
Hortênsia, crisântemo, gerânio
* expressa em g KCl L -1 de substratostrato
alguns dias. Depois de um período de equilíbrio mede-se o valor de pH do substrato, o qual, deverá estar dentro do intervalo de pH requerido para a cultura em causa. Se estiver afastado deste intervalo deve-se proceder à respectiva correcção. As plantas variam na sua tolerância a níveis de salinidade, potencial osmótico e stress hídrico (quadro 2). A condutividade eléctrica (CE) é um indicativo da concentração de sais ionizados na solução (Wilson, 1984) e fornece um parâmetro para a estimativa da salinidade do substrato e do potencial osmótico da solução. A condutividade eléctrica expressa-se em dS/m, mS/cm ou mmho/cm e considera-se que 640 mg/L de sal expresso em cloreto de sódio equivalem a 1 dS/m.
Capacidade de troca catiónica (CTC) A capacidade de troca catiónica representa a capacidade de um substrato para absorver e trocar iões e depende do seu teor em argilas coloidais e substâncias húmicas. Segundo Fonteno (1996), a CTC deve variar entre 6 e 15 meq 100 ml-1, para uma ampla reserva de nutrientes. Handreck & Black (1999), sugeriram uma CTC entre 5 e 10 meq 100 ml-1. Estas recomendações são referências, devendo-se considerar que a necessidade de maior CTC no substrato está directamente relacionada com a menor tecnologia de controlo das condições nutritivas e de irrigação da cultura por parte do produtor.
Teores de nutrientes A fertilidade química de um substrato depende do seu teor nos diversos nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Mais importante do que o teor total de um determinado nutriente é a sua disponibilidade para as plantas, a qual depende da forma química em que se encontra e das outras características químicas, designadamente, pH, CTC e CE, já que estas afectam directamente o movimento dos iões no substratos entre formas menos disponíveis em que os nutrientes estão fixados ou precipitados e as formas mais disponíveis, designadamente a solução aquosa do substrato. Quando os nutrientes se encontram incorporados na matéria orgânica torna-se necessário ter
Figura 9 Aspecto geral da empresa Ana Lúcia Lopes - Produção de Flores, Lda. (Póvoa de Lanhoso).
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uma estimativa das taxas de mineralização e quando se encontra na matéria mineral é necessário conhecer as taxas de libertação dos mesmos. As necessidades de nutrientes variam com a espécie cultivada e a fase de desenvolvimento da mesma e encontram-se, geralmente, com facilidade, na bibliografia. A fertilidade do substrato em nutrientes pode ser facilmente corrigida com a utilização de fertilizantes minerais, mas o mesmo já não acontece com os substratos certificados para o modo de produção biológico, nos quais, a disponibilidade de azoto poderá depender exclusivamente da sua libertação em consequência da mineralização da matéria orgânica do substrato.
Fitotoxinas Alguns componentes da matéria orgânica, classificados sob o termo fitotoxinas, causam prejuízos e eventualmente matam as plantas quando presentes nos substratos. Muitas cascas de árvores e serrim utilizados na formulação de substratos contêm fitotoxinas, com variações de acordo com a espécie (Handreck & Black, 1999). Yates & Rogers (1981) e Ortega et al. (1996) demonstraram a influência negativa de compostos fenólicos presentes em cascas de árvores na germinação e no desenvolvimento das plantas. A casca de coníferas e a serradura de madeira podem, no entanto, ter o nível de fitotoxinas reduzido através da compostagem. (Handreck & Black, 1999). É importante, no entanto, que esse processo seja conduzido de forma aeróbia, a fim de evitar a formação de outros compostos prejudiciais ao desenvolvimento vegetal como ácido acético, compostos fenólicos e alcalóides (Bilderback, 2000). O tratamento com algumas substâncias pode, também, minimizar o efeito das fitotoxinas, como por exemplo, a utilização de sulfato de ferro para a complexação de taninos do serrim ou a adição do polímero Polyvinylpyrrolidona (PVP) que, de acordo com Yates & Rogers, (1981) teve efeito na inactivação de fitotoxinas fenólicas em extractos de casca de coníferas.
PROPRIEDADES BIOLÓGICAS Características biológicas favoráveis também podem estar presentes nas matérias-primas e nos substratos orgânicos. Alguns microrganismos antagónicos podem auxiliar na supressão de agentes patogénicos, e a inoculação de micorrizas já é uma prática comercial
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(Koide et al., 1999). O efeito supressivo, que se caracteriza pelo facto da doença não se manifestar mesmo na presença do hospedeiro susceptível, tem sido associado à actividade antagonista (através da produção de antibióticos, enzimas ou biocidas), ou associado à actividade de competição (por oxigénio ou por nutrientes como o carbono, o azoto ou o ferro), demonstrada por microrganismos que se desenvolvem durante o processo de compostagem (Diaz et al., 1987). Pelo contrário, os solos minerais são potenciais inoculadores de agentes patogénicos das culturas quando utilizados nas misturas (Handreck & Black, 1999).
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BIBLIOGRAFIA
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HORTOFRUTICULTURA & FLORICULTURA
FLORES COMESTÍVEIS
Por: Orquídea Barbosa orquideabarbosa@hotmail.com Estudante de Engenharia Agronómica Escola Superior Agrária - Instituto Politécnico de Viana do Castelo
AMORES PERFEITOS
H
abituais na cozinha desde a Antiguidade, em países como China, México, Brasil, Canadá, França, EUA e Grécia(1), o uso das flores não têm sido usual no nosso país. No entanto, com as novas tendências de recuperar os sabores agridoces e das múltiplas variantes da cozinha de fusão, as flores tornam-se ingredientes muito bem-vindos. As flores comestíveis satisfazem os gostos mais exigentes, oferecendo uma ampla variedade de texturas, formas, cores, fragrâncias e sabores, conferindo aos pratos alegria e um toque especial de distinção, sendo cada vez mais uma moda nos mais variados estilos culinários. As flores comestíveis mais procuradas por hotéis e restaurantes de luxo são o amor-perfeito, a capuchinha, a calêndula, a begónia e as rosas de cores diversas.(2) Nem todas as flores são comestíveis e para além da identificação das mesmas, é importante saber como foram produzidas pois, por exemplo, as flores para decoração ornamental não devem ser utilizadas para consumo humano, uma vez que não têm em consideração as regras de segurança alimentar. Os amores-perfeitos são um exemplo de flores comestíveis por excelência. Existem diversas variedades de “amores-perfeitos”, mas as mais familiares serão o Viola x wittrockiana, amor-perfeito de flor grande, que é muito utilizado nos jardins públicos e privados, o Viola tricolor, de flores pequenas e o Viola odorata, de flores ainda mais pequenas.
Nome científico: Viola x wittrockiana Família: Violaceae Origem geográfica: Europa e Ásia Nomes populares: amor-perfeito, amor-perfeito-de-jardim, violeta borboleta.
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A FLOR O amor-perfeito Viola x wittrockiana é uma flor de Inverno. As variedades actuais são resultantes do cruzamento de V. tricolor, V. lutea e V. altaica(3) As flores são grandes e achatadas com cerca de 5 a13 cm de diâmetro(4), formadas por cinco pétalas aveludadas e arredondadas, quatro superiores, dispostas par a par e uma inferior, suportadas por um pedúnculo carnudo e ligeiramente comprido que se insere na planta ao nível das axilas foliares. As cores e combinações são muitas e variam entre amarelo, azul, roxo, branco, rosa e bordô. O ciclo de floração inicia-se no Inverno e permanece durante a Primavera.(3)
A PLANTA O Viola x wittrockiana é uma planta herbácea perene de ramagem compacta com 10 a 20 cm de altura, de folhas verde-escuro brilhante, ovolancioladas e carnudas de margens dentadas. Prefere climas amenos ou frios, com temperaturas médias entre 15 a 20 ºC, embora se adapte bem a climas quentes e húmidos(5). Deve ser cultivada em locais com exposição solar ou semi-sombra, em solos ricos em matéria orgânica, bem drenados, mas húmidos. Apesar de perene, requer replantio anual, pois perde a beleza. A sua reprodução é sexuada (propaga-se por meio de sementes), podendo o tempo de germinação variar entre os 7 e os 21 dias, dependendo das condições ambientais.(4)
Nome científico: Viola tricolor L. Família: Violaceae Origem geográfica: Europa e Ásia Nomes populares: Amor-perfeito, amor-perfeito-ravo, amor-perfeito-pequeno, erva-da-trindade, flor-da-trindade, viola, viola-de-três-cores.
A FLOR
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Os amores-perfeitos são um exemplo de flores comestíveis por excelência
As flores são pequenas, com cerca de 2 cm(6) de diâmetro e achatadas, compostas por cinco pétalas e cinco sépalas, à semelhança da flor anteriormente referida, com a particularidade de evidenciar riscas perfeitamente desenhadas, que as caracteriza e uma silhueta na sua forma de perfeita simetria. São suportadas por um longo pedúnculo que se insere na planta ao nível das axilas foliares, mas mais fino que o do Viola x wittrockiana. As pétalas podem ser todas da mesma cor ou todas de cores diferentes, ou ainda de cores combinadas. Esta diversidade de cores auxilia a inspiração e a originalidade na cozinha.
A PLANTA O amor-perfeito pequeno é uma planta herbácea perene, não muito compacta, que pode atingir 25 cm de altura. Possui caules verdes ramificados e flexíveis, onde se inserem, opostamente, as folhas pecioladas lisas e cerosas de margens dentadas. Na base das hastes, as folhas têm forma oval, tornando-se mais alongadas no ápice das hastes.(7) Prefere climas amenos ou frios e locais de semi-sombra ou ensolarados desde que não tenham sol di-
”
recto por mais de 10 horas/dia, solos ricos em matéria orgânica, soltos e bem drenados(6). Floresce do meio de Outono até ao início do Verão. Necessita de frio para diferenciar as flores, mas não reage bem a geadas muito continuadas ou neve. A planta Viola tricolor L. é mais rústica e resistente às adversidades climáticas(8), visto tratar-se de uma planta mais selvagem que a Viola x wittrockiana.
Nome científico: Viola odorata Família: Violaceae Origem geográfica: Europa Nomes populares: Amor-perfeito, amor-perfeito-bravo, amor-perfeito-miniatura, erva-da-trindade, violeta perfumada, viola odorante, violeta-de-três-cores.
tem inúmeras variantes desta espécie devido a hibridações e mutações com a espécie Viola tricolor, originando as cores roxo, Viola riviniana, amarelo, Viola biflora, branco, Viola alba, entre outras.(6)
A FLOR As flores da Viola odorata têm as características das demais flores do género viola, com ligeiras diferenças. As flores da viola odorata são bastante pequenas com cerca de 1 a 2 cm de diâmetro, de pétalas azuis, alongadas e muito perfumadas, daí o nome odorata. Exis-
A PLANTA É uma pequena planta herbácea perene compacta, que atinge, no máximo 15 cm de altura,
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HORTOFRUTICULTURA & FLORICULTURA
cresce em pastagens baixas, em qualquer tipo de solos desde que não sejam muito ácidos e geralmente em semi-sombra ou sombra.(6) Floresce normalmente no fim do inverno e reproduzem-se a partir de estolhos,(9) embora sejam hermafroditas, auto-férteis, à semelhança das duas flores anteriormente descritas, a partir de sementes que caem ao chão das flores maduras, permitindo ter flores por um período de tempo mais alargado e de forma escalonada. As folhas são simples e cordiformes de margens dentadas. Embora seja perene, quando cultivada deve ser considerada como anual, embora seja resistente às geadas é mais rústica do que a Viola triocolor e a Viola x wittrockiana e mais resistente a pragas e doenças.
pratos de entradas saladas, aromatizar e decorar azeite ou vinagre (usar o de vinho branco ou de maçã), decorar bebidas, colocando a flor a flutuar, ou então introduzindo-as nos cubos de gelo. Os Viola tricolor e odorata, combinam especialmente bem com endívias(14) e são óptimas para fazer compotas, xaropes, decorar pudins, gelados e saladas de fruta. São também excelentes cristalizadas, que podem substituir os enfeites açucarados na decoração de bolos, tornando-os, de certa forma, mais saudáveis e coloridos. Das três flores referidas, as que têm mais aceitação na cozinha são o V. tricolor e o V. odorata, devido ao seu tamanho, dado que tornam os pratos mais elegantes e atraentes, ao contrário da Viola x wittrockiana que, além de grande, é muito associada a uma flor de jardim, levando a uma certa rejeição por parte dos consumidores.
PROBLEMAS FITOSSANITÁRIOS
PROPRIEDADES
Os principais problemas fitossanitários dos amores-perfeitos são as manchas foliares de Alternaria sp e Cercospora sp, o Oidium, a Botrytis cinerea e a raiz putrefacta causada por Thielaviopsis sp. e as principais pragas são os caracóis, as lesmas e os pulgões.(10)
PREPARAÇÃO As flores de amor-perfeito não carecem de cuidados muito específicos na sua preparação, pois toda a flor é comestível incluindo as sépalas. Devem ser lavadas cuidadosamente passando por água, mas sem as pressionar de modo a não provocar o enegrecimento da mesma que consequentemente perde qualidade visual e gastronómica. As flores de amor-perfeito têm uma textura aveludada e são ligeiramente doces,(11) embora haja quem as considere amargas.(12) O sabor depende um pouco da capacidade de cada pessoa em procurar ou distinguir o paladar escondido em cada uma. Se se consumir a flor inteira, incluindo as sépalas, pode-se perceber o aroma e os sabores suaves e silvestres(13); se se consumir só as pétalas, retira-se a base destas (início branco), que dão o sabor levemente amargo e assim distingue-se mais facilmente o sabor doce da flor. As violas podem ser consumidas frescas ou secas e têm diversas aplicações: decorar
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CONSERVAÇÃO As flores de amores-perfeitos têm um período de vida útil pós colheita curto. A sua conservação em frio deve ser precedida de embalamento, para reduzir a desidratação provocadas por deslocações de ar e mantidas em câmara frigorífica entre 4 e 6 °C de temperatura(15) consegue-se uma durabilidade variável de 4 a 5 dias.(14) As flores também podem ser conservadas secas, colocando-as em local seco e arejado protegidas do sol directo, até desidratarem. Para armazenar devem ser guardadas em sacos de papel ou pano, em local seco e escuro(16) de maneira a não descolorarem com a radiação.
Os amores-perfeitos detêm diversas propriedades, como anti-inflamatória, expectorante, estimulante, sudorífica, diurética, depurativa, emoliente, antitumoral e laxante.(17)As suas propriedades curativas devem-se a conterem flavonóides, saponinas, compostos de ácido salicílico, taninos e mucilagem.(9) Geralmente, é indicada para ferimentos, úlceras, eczemas, infecções na pele, afecções do sangue, debilidade nervosa, doenças cardíacas e icterícia.(17) No entanto, a V. odorata tem ainda propriedades que se estendem pela cosmética, onde as suas flores são usadas como matéria-prima para colónias, talcos, desodorizantes e sabonetes.(16)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9) 10) 11) 12) 13) 14) 15) 16) 17)
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VILMORIN UM PROTAGONISTA RECONHECIDO PELO TOMATE
V –
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ILMORIN persegue o seu objectivo ao propor produtos que respondam melhor às necessidades do mercado e às expectativas do consumidor: Produtos atractivos e reconhecidos pela cor, homogeneidade, forma e brilho; Boa qualidade de frutos, firmeza e longa conservação; Qualidade gustativa superior e resistência a doenças; Inovação e originalidade em tomate tipo Marmande, Chucha, San Marzano e Cherry.
Figura 1 Rebelion F1.
Por: Sandra Marques I+D+C Vilmorin Ibérica SA
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Produtos atractivos e reconhecidos pela cor, homogeneidade, forma e brilho; Boa qualidade de frutos, firmeza e longa conservação...
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A variedade CENCARA em 1993, revolucionou o mercado ao ser a primeira variedade de tomate Chucha indeterminado long-life. Desde então, VILMORIN concentrou a investigação neste segmento de mercado, reconhecido como uma especialidade. Trabalham-se todas as tipologias de tomate Chucha: clássicas, alongadas, cacho, cocktail, pêra, cherry e tipologias originais. Em 2002 lançou-se LANCELOT, a primeira variedade de tomate tipo San Marzano, reconhecida pela sua excepcional qualidade de fruto. BODEGA e SIR ELYAN são variedades de tomate seleccionados pela sua alta resistência (HR) ao vírus TSWV:0. GORGOL é uma variedade que se destaca pelo calibre e alto rendimento na Península Ibérica. REBELION é o tomate sulcado da VILMORIN no qual se conjugam as características do tomate tradicional (cor, forma, sabor, brilho), com as requeridas pelo mercado actual (conservação e firmeza). Em Portugal Sir Elyan revelou ser uma variedade bem adaptada às condições edafo-climáticas e de condução da cultura, tanto em solo como em hidroponia, e inclusivamente com bom comportamento quando enxertado. A destacar a excelente qualidade do fruto, a conservação póscolheita e o calibre adequado às exigências do mercado de tomate chucha.
Figura 2 Scialari F1.
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VERMICOMPOSTAGEM FERTILIDADE E SUSTENTABILIDADE PARA O ESPAÇO RURAL
E
NQUADRAMENTO
Grande parte dos solos das zonas rurais portuguesas apresenta carência de matéria orgânica, possuindo ref lexos na fertilidade natural dos solos sendo a sua produtividade mantida, na grande maioria das vezes, com recurso a adubos de síntese, gerando diversos problemas ambientais. Com vista ao aumento dos teores de matéria orgânica, deverão ser valorizados os resíduos das explorações através de soluções tecnológicas e biológicas e de baixo investimento inicial, aplicando-se igualmente os produtos obtidos para enriquecimento do solo em matéria orgânica e nutrientes.
SOLUÇÃO TECNOLÓGICA PARA O ESPAÇO RURAL: VERMICOMPOSTAGEM A Vermicompostagem é um ramo da Vermitecnologia, sendo um processo biológico controlado que visa o tratamento e valorização da fracção orgânica dos resíduos sólidos, utilizando-se determinadas espécies de minhocas Epígeas como agente biológico. Utilizando-se densidades elevadas (1-16 kg m-2) e estimulando a acção principalmente de bactérias e fungos aeróbios, as minhocas digerem, oxidam, mineralizam e humificam os materiais que atravessam o seu tracto intestinal, produzindo o vermicomposto, rico em nutrientes, fauna microbiana e reguladores de crescimento vegetal.
Por: Nelson Lourenço / FUTURAMB® M.Sc. Gestão Sustentável dos Espaços Rurais; Eng. do Ambiente
www.futuramb.com
Paralelamente, é possível fornecer minhocas para crescimento e multiplicação do processo de tratamento através da vermicultura, no qual o principal objectivo passa por aumentar, por unidade de tempo, as populações de minhocas existentes pelo que se utilizam densidades baixas (0,25-1 kg m-2). O vermicomposto é igualmente produzido, embora como objectivo secundário. As espécies utilizadas em Portugal pertencem ao género Eisenia spp. – Eisenia fetida e Eisenia andrei. Ao atravessarem o seu tracto intestinal, os resíduos sofrem processos de oxidação e mineralização, sendo eliminados aproximadamente 60% em peso na forma de vermicomposto. Diariamente, uma minhoca adulta irá ingerir metade do seu próprio peso em resíduos e microrganismos.
COMPARATIVO COM OUTROS PROCESSOS DE TRATAMENTO BIOLÓGICOS Apesar de a vermicompostagem ser considerada um processo biológico como a compostagem ou a digestão anaeróbia, são processos marcadamente distintos (Quadro 1). Quadro 1 Principais diferenças entre os processos de vermicompostagem e compostagem.
Vermicompostagem
Compostagem
Processo em contínuo
Processo em descontínuo
Estritamente aeróbio, aumentando a qualidade do produto final
Apesar de ser considerado um processo aeróbio, poderão ser originadas zonas anaeróbias, atrasando o processo e reduzindo a qualidade do produto final
Optimização da utilização do azoto pelos microrganismos
Perdas de azoto derivadas a emissões gasosas e lixiviação
Minhocas como principal agente biológico num regime simbiótico com a fauna microbiana
Fauna microbiana como único agente biológico preponderante
Processo essencialmente mesofílico (20-40 °C)
As temperaturas termofílicas (> 40 °C) são essenciais para o desenvolvimento do processo
O arejamento é efectuado pela acção da minhoca
Necessário arejamento manual ou mecanizado
Menor consumo energético
Maior consumo energético
Elevada eficiência na eliminação de organismos patogénicos
Eliminação de organismos patogénicos nem sempre bem-sucedida
Rendimento máximo: 90%
Rendimento máximo: 35%
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RESÍDUOS QUE PODERÃO SER TRATADOS: CARACTERÍSTICAS E UTILIZAÇÃO Qualquer resíduo orgânico pode ser tratado por vermicompostagem, sendo possível em espaço rural identificar os seguintes fluxos de resíduos: – Resíduos provenientes do ciclo das culturas onde se poderão incluir produtos hortícolas, frutícolas ou espécies aromáticas impróprias para consumo; – Restolho; – Folhagem seca ou verde diversa; – Resíduos resultantes do desbaste, poda e abate de espécies arbóreas e arbustivas, nomeadamente troncos, ramagens e caules; – Estrumes resultantes das explorações (aviário, ovino, caprino, equino ou suíno); – Vegetação herbácea, incluindo espécies infestantes diversas.
Quadro 2 Comparativo entre os diferentes sistemas de vermicompostagem existentes.
Vermidigestores
Canteiros de vermicompostagem
Leiras de vermicompostagem
Sistemas fechados
Sistemas abertos
Sistemas abertos
Menor controle de processo e manutenção
Maior controle de processo e manutenção
Maior controle de processo e manutenção
Maior simplicidade de separação das minhocas do vermicomposto
Separação das minhocas do vermicomposto mais complexa
Separação das minhocas do vermicomposto mais complexa
Maior capacidade de tratamento de resíduos e de produção de vermicomposto
Menor capacidade de tratamento de resíduos e de produção de vermicomposto comparativamente aos vermidigestores
Apresenta a menor capacidade de tratamento de resíduos e de produção de vermicomposto
Maior eficiência de tratamento
Eficiência de tratamento intermédia
Sistema com a menor eficiência de tratamento
BENEFÍCIOS RESULTANTES DA APLICAÇÃO DO VERMICOMPOSTO Da aplicação do vermicomposto resultará: – Aumento dos teores em matéria orgânica, com o consequente aumento de fertilidade e produtividade; – Aumento dos processos de mineralização dos componentes orgânicos, fruto do aumento de diversidade microbiana; – Aumento da capacidade de troca catiónica; – Aumento da capacidade de retenção de água em solos arenosos e de circulação de água em solos argilosos; – Promoção da ciclagem de nutrientes; – Maior teor em macro e micronutrientes na planta; – Criação de processos tampão a nível do solo.
TRATAMENTO DOS RESÍDUOS Na vermicompostagem, os resíduos são adicionados por camadas de 1 a 3 cm ao sistema de tratamento, em alturas que não deverão ultrapassar 35 cm totais em altura útil, não existindo necessidade em arejar os mesmos periodicamente, comparativamente à compostagem.
CARACTERÍSTICAS E APLICAÇÃO DO VERMICOMPOSTO SISTEMAS UTILIZADOS Na vermicompostagem, e particularmente no espaço rural, existem três sistemas distintos que poderão ser utilizados, cada qual com a sua eficiência (Quadro 2).
O vermicomposto é classificado como um fertilizante (actuando no fornecimento de macro e micronutrientes), correctivo (actuando na correcção das características químicas e físicas do solo) e substrato (produção de viveiros ou suporte para plantas envasadas) orgânico. A natureza da aplicação irá depender do tipo e variedade a cultivar, época de aplicação, características e propriedades do solo.
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BIBLIOGRAFIA
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Lourenço, N. (2010). Vermicompostagem, Gestão de Resíduos Orgânicos – Princípios, Processos e Aplicações. FUTURAMB, 1.a ed. 404 pp.
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HORTOFRUTICULTURA & FLORICULTURA
DE COGUMELOS NA ALIMENTAÇÃO HUMANA
O
s cogumelos têm sido utilizados pela humanidade desde sempre e apreciados não só enquanto alimento, mas também para outros fins, dos quais se destacam a sua utilização como agente terapêutico. O que na generalidade é designado cogumelo, corresponde a frutificações de alguns fungos (nomeadamente das divisões Basidiomycota e Ascomycota), pelo que surgem na Natureza de forma selvagem, desenvolvendo-se na matéria orgânica em decomposição. A colheita e consumo de cogumelos são antiquíssimos e, desde cedo houve o interesse em estabelecer a cultura comercialmente. O cultivo comercial teve início na China por volta de 600 a.C., com produção de cogumelos dos géneros Volcaricella e Auriculária. Mas, foi em França, por volta do séc. XVII que se deu uma mudança importante na produção comercial de cogumelos, com a introdução e desenvolvimento das técnicas de cultivo de Agaricus bisporus (conhecido como cogumelo-branco ou cogumelo de Paris) (Kües e Liu, 2000). Ainda hoje, este é o cogumelo mais popular nos países ocidentais, liderando, com grande vantagem, a produção mundial. Não obstante, outras espécies de cogumelos como o shiitake (Lentinus edodes) têm uma grande tradição de consumo no sudoeste asiático, pelo que estas espécies continuam bastante populares actualmente. É provavelmente com base no conhecimento dos efeitos benéficos que o consumo de cogumelos oferece que, nas últimas décadas ocorre uma viragem nos padrões de consumo de cogumelos, assistindo-se a par com um aumento significativo da produção a uma diversificação da oferta de espécies. De acordo com dados da FAO, são produzidos mundialmente 4 milhões de toneladas de cogumelos, com a China a liderar isoladamente, o quadro de produção mundial de cogumelos (e trufas), com 4.680.726 ton, o correspondente a cerca de 72% da produção mundial em 2009. Figura 1 Evolução da produção mundial de cogumelos e trufas (em milhares de toneladas). (Fonte: FAOSTAT, 2012)
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Por: Sílvia Azevedo a,b Luís Miguel Cunhaa,b,* Susana Caldas da Fonsecab,c a
DGAOT, Faculdade de Ciências,
Universidade do Porto. b
REQUIMTE, Universidade do Porto.
c
Escola Superior de Tecnologia e Gestão,
Instituto Politécnico de Viana do Castelo. *
Campus Agrário de Vairão.
A espécie mais produzida no mundo é a Agaricus bisporus seguida pelas espécies Lentinus edodes (shiitake) e Pleurotus spp Embora a sua produção seja mais baixa que as anteriores, Auricula auricula, Flamulina velutipes e Volvariella volvacea assumem também importância em termos de produção mundial.
© Chong Fat
IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO
Figura 2 Cogumelos da espécie Volvariella volvacea.
Para além das características organoléticas e da versatilidade gastronómica, os cogumelos em geral, são considerados um alimento atractivo do ponto de vista nutricional. Em geral, os cogumelos contêm 90% de água. Dependendo da espécie, o conteúdo proteico pode variar entre 27% e 48% face à matéria seca. Com uma percentagem de hidratos de carbono inferiores a 60% e um nível de lípidos residual (2-8% face à matéria seca) e baixas percentagens de sódio, são alimentos interessantes em dietas específicas. Apresentam ainda inúmeras vitaminas e minerais essenciais tais como fósforo, magnésio, cobre e selénio (Manzi et al., 1999; Bernaś et al., 2006). Para além disso, continuam a surgir evidências científicas que reforçam os benefícios do consumo de cogumelos devido às suas propriedades terapêuticas, reforçando a utilização de cogumelos como produto tera-
© Nsilcock
Figura 3 Cogumelos da espécie Agaricus bisporus.
© Aaron Sherman
pêutico que possui já um grande historial em países como a China. Desta forma, têm sido reportadas actividades pré-biótica, antioxidante, anti-inflamatória, estimulante do sistema imunitário, entre outros. Dos vários géneros de cogumelos utilizados na alimentação humana, os do género Pleurotus apresentam um excepcional poder apelativo para o consumidor, quer pelas suas características organoléticas, quer pelo seu indiscutível valor nutricional.Dos vários géneros de cogumelos utilizados na alimentação, os do género Pleurotus têm merecido destaque, dada a sua qualidade organolética e nutricional. Os cogumelos da espécie Pleurotus ostreatus ((Jacq. ex Fr.) P.Kumm.), ou repolgas destacam-se pelo seu aroma suave e textura aveludada.
Figura 4 Cogumelos da espécie Pleurotus ostreatus.
O cultivo comercial de Pleurotus é recente, quando comparado com as outras espécies. Na Europa, o primeiro registo referente ao cultivo comercial efectuado em troncos de árvore refere-se ao ano de 1917. Apesar de ser relativamente recente, o cultivo comercial de pleurotos teve um desenvolvimento rápido e, actualmente é cultivado em quase todas as latitudes (Sanchéz e Royse, 2001). Este rápido desenvolvimento deve-se essencialmente à sua excelente qualidade organolética, mas também porque os corpos frutíferos do fungo crescem sob uma grande diversidade de substratos, numa grande gama de temperaturas. Apresentam ainda um ciclo relativamente curto em comparação com outros géneros de cogumelos comestíveis tornando o seu cultivo relativamente simples. Os cogumelos desta espécie possuem um excelente valor nutritivo, ao apresentarem teores elevados de fibra e proteína de elevado valor biológico. São ainda muito ricos em vitaminas dos complexos B e C quantificar se possível ou então comparar com outros produtos, sais minerais, e compostos antioxidantes com inúmeros benefícios em termos de uma dieta saudável (Manzi et al., 1999; Bernaś et al., 2006). Apresentam, porém algumas particularidades no que se refere ao seu armazenamento “in natura”, resultado da ausência de tecidos específicos que constituam uma barreira à perda de água e à deterioração microbiológica estando, desde logo, mais sujeitos a perdas rápidas da qualidade.
A conservação de repolga fresca, realizada para manter as propriedades nutricionais e organoléticas por um tempo mais longo, deve efectuar-se em condições de temperatura baixa e humidade relativa alta (Villaescusa e Gil, 2003; Sapata et al., 2010). Apesar da utilização de temperaturas de refrigeração diminuir o metabolismo global de hortofrutícolas com efeitos benéficos no tempo de vida útil do produto, pode não ser suficiente devido às flutuações de temperatura existentes que ocorrem ao longo do armazenamento do produto (Paull, 1999). A embalagem em atmosfera modificada (EAM) consiste no acondicionamento dos produtos numa embalagem cuja composição da atmosfera é diferente da do ar atmosférico e é uma técnica usada para diversos produtos hortofrutícolas e que apresenta resultados positivos no que se refere à manutenção da qualidade (Fonseca et al., 2002). Este sistema de embalagem foi também estudado para pleuro-
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Os cogumelos têm sido utilizados pela humanidade desde sempre e apreciados não só enquanto alimento, mas também para outros fins, dos quais se destacam a sua utilização enquanto agente terapêutico.
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tos com resultados promissores (Jayathunge e Illeperuma, 2003; Villaescusa e Gil, 2003; Sapata et al., 2010). Em cogumelos verificam-se elevadas perdas de água por transpiração que condensa à superfície do produto ou no interior da embalagem originando perdas directas e consequente deterioração da qualidade do produto (Mahajan et al., 2008). O controlo da humidade relativa do ambiente que rodeia o produto é por isso, fulcral para a optimização das condições de armazenamento do produto (Mahajan et al., 2008; Sapata et al., 2010; Azevedo et al., 2011).
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A comercialização de cogumelos frescos de excelente qualidade deve ter por base excelentes técnicas de produção e um controlo rigoroso de todo o processo, à colheita de corpos frutíferos num estado de maturação ideal e à definição das condições óptimas de armazenamento para garantir um produto de qualidade ao consumidor. Neste âmbito e considerando a importância económica, a natureza e o interesse no aumento da vida útil de pleurotos, será fundamental a especificação do sistema de embalagem óptimo para o produto (permeabilidade ao O2, CO2 e H2O), através de estudos pós-colheita e introdução dessa informação científica nas técnicas actualmente praticadas por produtores e distribuidores, com objectivo principal de manutenção da qualidade inicial e aumento da competitividade empresarial.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
© Guido Gerding
HORTOFRUTICULTURA & FLORICULTURA
Figura 5 Cogumelos da espécie Flammulina velutipes.
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A C T U A L I D A D E / H O R T O FR U T IC U L T U RA
AGRAQUEST A AgraQuest é uma empresa americana com sede em Davis, Califórnia, que valoriza o ambiente. Apesar de não ser uma companhia grande (apenas 230 trabalhadores), a AgraQuest tem uma grande percentagem de cientistas, 25%, que auxiliam na busca de novos produtos biológicos (bio-pesticidas) para uso na agricultura. Esta abordagem da biotecnologia está em conformidade com o rápido crescimento da população, a procura crescente de alimentos, a redução de pesticidas químicos permitidos pelas autoridades reguladoras, utilizando a mesma área de terra mas com o objectivo de obter uma maior produtividade. Assim, a AgraQuest desenvolveu uma série de produtos apelidados de Bio-Pesticidas que
ajudam a combater quase todos os tipos de “males” que afectam uma determinada cultura, sem comprometer todos os auxiliares da agricultura, não há poluição no solo e aquíferos, e por último mas não menos importante, não deixa resíduos químicos nos alimentos que são consumidos e pode mesmo ser utilizado em conjunto com os pesticidas químicos convencionais para reduzir os níveis de resíduos totais de produtos químicos. Estes produtos, de acordo com Thierry Merckling, Director da AgraQuest para a Europa, África e Médio Oriente, irão ajudar a criar a próxima "green revolution", que será o futuro da agricultura. A venda destes novos produtos vem aumentando e já está registado em mais de 30 países em todo o mundo, incluindo o Brasil, a maior parte da Europa e vários países Africanos, e está à espera de ser certificada em Portugal. Uma das grandes vantagens em relação aos produtos convencionais é que apenas os organismos prejudiciais são alvo, por isso a vida auxiliar, ou seja, toda a biodiversidade local não é prejudicada. Estes produtos também são mais seguros para a saúde dos trabalhadores, tendo acções múltiplas e estando disponíveis a preços equivalentes comparando com os pesticidas convencionais. Podem ser usados em mistura em tanque ou através de um programa que faz a mistura de pulverização. Os produtores devem prestar atenção ao Serenata Biofungicidas, que estão disponíveis através dos escritórios locais da BASF, o distribuidor para este produto inovador. www.agraquest.com www.bayercropscience.com
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FRUTO DE PAIXÃO: MAÇÃ REDLOVE®
TOMATE ROXO DESENVOLVIDO NO BRASIL
Esta maçã até parece o fruto de um sonho. Um sonho tornado realidade. Uma vez um jovem suíço sonhou criar uma maçã nova, diferente de todas as maçãs que conhecemos. O seu nome era Markus Kobelt. Nas florestas encontrou frutos selvagens, belos, totalmente vermelhos, mas pequenos e amargos. Dedicou meia vida a cultivar macieiras selvagens que ia encontrando pela Europa central. Foi misturando flores, semeando 20.000 pevides por ano e escolhendo os melhores frutos e árvores. Aos poucos o sonho foi-se tornando realidade, de facto uma nova maçã nasceu: a maçã Redlove. E em 2011 começam a produzir os primeiros pomares dessas maçãs. Estamos perante a primeira maçã comestível totalmente vermelha (casca e polpa), as flores são igualmente vermelhas, de belo efeito ornamental, e até o sumo é vermelho! Aliado ao exotismo, óptimo sabor e qualidade da polpa, soma-se a tolerância a doenças como o pedrado, a riqueza em antocianinas anti-envelhecimento, que permitem a esta maçã resistir à oxidação quando cortada e ser ainda mais saudável. Como é um fruto protegido por patente, só alguns viveiristas estão autorizados a comercializar estas macieiras, pelo que para já, quem as quiser provar ou plantar terá que as encomendar directamente à empresa Lubera. A procura tem sido igual à oferta, e na Inglaterra já há contratos para a compra dos frutos de árvores que ainda não estão sequer plantadas! Para mais informações deverá consultar a empresa de Markus Kolbelt, a Lubera, viveiros já celebrizados pela criação da pêra Lubera Royal e por variedades tolerantes ao fogo bacteriano, destruidora doença, recentemente identificada em Portugal.
Um grupo de investigadores da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Piracicaba, São Paulo), liderado pelo Professor Lázaro Eustáquio Pereira Peres, especialista em fisiologia vegetal, desenvolveu, após 7 anos de estudos, um tomate roxo. Os investigadores acharam que seria interessante estudar a actuação do acúmulo de antocianina no fruto, a exemplo do que já ocorre com a amora e a beringela na natureza. A tentativa é justificada por o tomate ser uma das hortaliças mais consumidas no mundo - o que acabou por despertar a ambição de unir o licopeno, já presente no produto, a outra grande fonte de antioxidantes, caso da antocianina. Já em 2008 uma equipa de investigadores britânicos tinha desenvolvido uma variedade de tomate roxo através de transgenia, com a união de genes de plantas ornamentais que acumulam antocianina nas pétalas. Na altura foram utilizados ratos com propensão a cancro para avaliar os benefícios para a saúde e concluiu-se que a ingestão do tomate roxo aumentou o seu tempo de vida. O produto ainda chegou a ser lançado para o mercado mas a sua comercialização foi eventualmente suspensa pelo receio generalizado da população em relação a produtos transgénicos. No caso do tomate roxo desenvolvido no Brasil, este foi desenvolvido através do cruzamento tradicional, com a associação do conhecimento de fisiologia ao uso de espécies selvagens. Segundo um dos investigadores, as espécies selvagens não são tão roxas na natureza e por isso “surgiu a ideia de juntarmos linhagens selvagens relacionadas à síntese de antocianina a mutações que afectam a resposta do vegetal à luz”. Para se chegar a esta variedade, utilizaram progenitores oriundos das Ilhas Galápagos e do Chile e de uma mutação que surgiu naturalmente no tomateiro. Essa mutação “engana” a planta e faz com que ela pense que há muita luz, potenciando a cor roxa no fruto e conferindo uma vantagem a mais: a produção de mais vitamina C, outro antioxidante, que ajuda a proteger o organismo humano da acção prejudicial dos radicais livres. O Professor Peres acrescenta a este respeito: “Há estudos que indicam que o progressivo consumo de antioxidantes reduz o risco de doenças cardiovasculares e o cancro”. Esta pesquisa iniciou-se num microtomateiro, um cultivo menor e de ciclo rápido (70 dias, frente aos mais de 100 dias de um exemplar comum da hortaliça); este modelo de pequenas proporções pode ser reproduzido numa planta de tamanho normal. Em relação às características agronómicas, chegaram à conclusão de que a produtividade deve ser menor, o que deverá ser compensado pela elevada qualidade e pelo preço mais alto. Espera-se que este novo produto (cujo sabor não deve ser diferente dos demais tomates já no mercado) venha no caminho dos grapes – mais doces e com formato de uva – que conquistaram o mercado brasileiro no último ano. “Talvez há dez ou 20 anos, não teria sentido fazer um fruto roxo, com um valor bem mais elevado que o normal, mas hoje a sociedade está disposta a pagar por isso”, afirma Peres. Prevê-se que sejam necessários cinco anos para que a variedade esteja disponível para o plantio comercial.
www.lubera.co.uk
Fonte: Adaptado de Globo Rural
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GRANDES CULTURAS
A PRODUÇÃO DE MILHO EM PORTUGAL
Por: Eng.° Luís de Vasconcellos e Souza Presidente da Anpromis
O
milho constitui, actualmente, uma das mais importantes culturas arvenses. Quer associada à produção de silagem, quer à produção de grão, a cultura do milho afirma-se hoje como um dos casos demonstrativos das potencialidades produtivas da agricultura de regadio, gerando importantes contributos para a vitalidade da economia nacional e mundial. Sendo este um sector fortemente marcado pela volatilidade dos preços, que se fazem notar a nível mundial, é no crescimento económico e no equilíbrio das balanças comerciais que figuram as principais razões para apostar na cultura do milho. Mais do que uma aposta no desenvolvimento regional, o milho constitui uma aposta economicamente estratégica com claros benefícios para Portugal.
A PRODUÇÃO MUNDIAL DE MILHO Em termos mundiais, o milho é o cereal com maior expressão, sendo produzidas cerca de 853 milhões de toneladas, seguindo-se-lhe o trigo com 683 milhões de toneladas. No que diz respeito ao milho e apesar do constante aumento da sua produção, tem-se revelado insuficiente para satisfazer a crescente procura, o que conduz a uma preocupante redução dos stocks mundiais. 2009/10
2010/11
2011/12
Produção mundial de milho
820
826
853
Consumo mundial de milho
821
844
861
Comércio mundial de milho
86
93
94
Stock final de milho
148
131
123
Variação interanual Stock Final
-2
-17
-8
A PRODUÇÃO DE MILHO EM PORTUGAL O milho tem sido, ao longo dos últimos anos, a cultura arvense mais representativa da agricultura de regadio nacional. Arroz (ha)
Cevada (ha)
Milho (ha)
Trigo mole e duro (ha)
Outros cereais (ha)
Total cereais(ha)
2009
27.871
39.050
136.408
58.904
109.497
371.730
2010
28.985
20.324
132.491
51.025
123.832
356.657
2011
31.213
16.199
137.413
39.532
111.960
336.317
Dif. 2010/2011
2.199
-4.125
4.923
-11.493
-11.844
-20.340
No último ano, semearam-se em Portugal 137.413 hectares, dos quais 87.737 hectares se destinaram à produção de grão e 49.676 hectares à silagem. O milho é assim, e de forma destacada, a cultura arvense com maior expressão encontrando-se presente em cerca de 67.000 explorações distribuídas por todo o país. As inúmeras utilizações que actualmente podem ser dadas ao milho, tais como a silagem, os alimentos compostos para animais, a alimentação humana (amidos, gritz, farinhas, etc.) ou, mais recentemente, a produção de energias renováveis (bioetanol e biogás) e materiais biodegradáveis (bioplásticos e fibras) fazem com que esta cultura seja única na grande diversidade de aproveitamentos que lhe são dados. No conjunto dos cereais, o milho tem vindo a acentuar o seu papel de liderança, representando actualmente cerca de 40% do total dos cereais. Analisando a evolução da área de milho por Direcção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP), podemos constatar que o maior aumento de área, relativamente a 2010, se verificou na DRAP Alentejo (mais 5.995 ha), seguindo-se lhe a DRAP de Lisboa e Vale do Tejo (mais 2.208 hectares). Pelo contrário, a área de milho reduziu-se nas DRAP´s do Norte (-2.269 ha) e do Centro (-1.584 ha), devendo-se tal facto à difícil situação que atravessa o sector leiteiro nacional. Consultando os dados estatísticos disponíveis, o nosso país produziu em 2010/11 cerca de 630 mil toneladas de milho passando este ano a produzirem-se cerca de 700 mil
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GRANDES CULTURAS
toneladas de milho. O nosso país passou de um grau de auto-aprovisionamento de 29% para cerca de 37%. Confirmando este aumento, e recorrendo aos dados provisórios fornecidos pelos Agrupamentos de Produtores associados da ANPROMIS que, recordamos, representam cerca de 85% do milho grão nacional que é comercializado através dos circuitos comerciais de mercado, verificamos que durante esta campanha foram vendidas pelos nossos associados cerca de 270.000 toneladas de milho, o que corresponde a um aumento de perto de 30%, relativamente à campanha passada. Por outro lado, e em termos económicos, o sector representa em Portugal, no caso de milho grão, cerca de 130 milhões de euros e no caso da produção de leite (na qual a silagem de milho é a base da alimentação dos animais) perto de 85 milhões de euros.
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PERSPECTIVAS PARA O FUTURO O nosso país, recordamos, possui condições de produção extremamente favoráveis para a produção de milho, encontrando-se os produtores nacionais de milho entre os mais produtivos à escala mundial. Nenhuma outra grande cultura consegue, nas nossas condições de produção, obter performances ao nível das que conseguimos com o milho. Numa altura em que novas áreas de regadio vão surgindo em Portugal, destacando-se de forma notória o perímetro de rega de Alqueva, cujas áreas infra-estruturadas rondam actualmente os 67 mil hectares, o milho afigura-se como a única cultura capaz de, em extensão, vir a ocupar uma parte significativa desta nova área contribuindo desta forma para o aumento do nosso grau de auto-abastecimento em milho. Por outro lado, a opção de semear milho grão, em detrimento de outras culturas, tem essencialmente a ver com dois tipos de factores que importa destacar: – Factores nacionais, tais como a disponibilidade em área regada com boa aptidão de produção, a existência de um conhecimento técnico e prático da cultura e a adaptabilidade do milho às nossas condições de produção. Acresce aqui, e também como factor positivo para a produção deste cereal no nosso país no momento presente, o facto de Portugal continuar a ser muito deficitário no que diz respeito ao milho grão tendo importado em 2011 cerca de 1.150.000 toneladas. Pensamos assim, que em todos estes pontos temos no presente ano boas perspectivas: há mercado nacional para este cereal, há disponibilidade de terra e de água, há know-how da cultura e há variedades muito bem adaptadas às nossas condições de produção. – Factores internacionais, que podemos reduzir aos três seguintes: crise económica actual, condições de produção nos países do hemisfério sul para as campanhas de produção que aí estão a decorrer neste momento e finalmente as questões políticas ligadas quer a acordos internacionais, quer a políticas de blocos económicos (Bioetanol nos EUA, PAC na Europa, etc.). Por último, uma mensagem de esperança quanto ao futuro da nossa fileira, acreditando que neste ambiente de grande rigor orçamental, os actuais dirigentes do Ministério da Agricultura saberão estar à altura de defender de forma desassombrada o regadio e as culturas regadas que, recordamos, constituem um factor essencial para a necessária competitividade da nossa agricultura. Importa nesta fase criar condições políticas para que o milho possa contribuir para a necessária ocupação deste território de modo a aumentar o nosso Produto Agrícola Bruto e a Riqueza Nacional. ■
GRANDES CULTURAS
TODOS AO MILHO!
I
Eng.º Agrónomo, PhD
NTRODUÇÃO
A pedido do director desta Revista, talvez pela consideração aos meus 40 anos de investigação no milho e aos meus 100% de carreira profissional no campo, ofereço ao caro leitor este modestíssimo contributo, de quem pelo milho se apaixonou e com ele também aprendeu a desabafar… E, de repente, dei comigo em…profeta! Ora esta! Agora de velho e reformado… Então não é que me vou dando conta que aquilo que previ há 20 anos atrás com o meu amigo Meireles, está agora a acontecer no dia-a-dia? De repente, os “sábios” do nosso querido parlamento descobriram que já não temos agricultura… Que o interior do país está abandonado, com os últimos resistentes (quase todos da minha idade!) a caminho do cemitério… Com o cataclismo ambiental daí resultante, onde já ninguém pára os fogos florestais nas matas onde crescem tojos e giestas, agora já sem a concorrência da sombra dos pinheiros… Onde as aldeias nas serras se vão tornando em “sites” arqueológicos… Onde o litoral deste “jardim à beira mar plantado”, qual navio com rumo a sul, vai adornando para estibordo onde se concentra toda a fonte (agora escassa!) de emprego… Fecham-se escolas (pois claro, se já lá não há alunos!), centros de saúde (por que não, se os velhos que lá ficam vão durar pouco?), encerram-se postos dos CTT (evidente, a que preço ficaria cada carta? Além disso já toda a gente tem…”internet em banda larga” e emails… Quando já se mostram na TV, em horário nobre, cândidos exemplos de casais que abandonam a urbe e os vemos a tratar das couves e cebolas em românticas hortinhas… Enfim, aqui chegamos com este “estrondo” de progresso rural, cujos ecos nos vêm de Bruxelas onde apenas algumas espécies vegetais “premiadas” com a “água benta” da sacrossanta PAC resistem valorosamente: videira, oliveira e…milho! Portugal modernizou-se, dizem-nos…
O PÉ DE GALO A mesa onde o mundo come tem um “pé de galo”! Sem pretensões “mediúnicas” nem recurso a ciência oculta ou de ponta, fui aprendendo ao longo da vida meia dúzia de verdades, ou “paradigmas” que, mesmo sem os ter inventado, constituem o suporte do meu pensamento e, creio, de muita mais gente sensata. Por limitação própria de “ciência e arte”, refiro apenas três desses paradigmas, curiosamente todos eles, qual “mesa de pé-de-galo”, com três pernas!
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Por: Eng.° Silas Pego
O Paradigma político O primeiro, a que chamarei “paradigma político”, sustenta-se no equilíbrio e coordenação destes três pilares: objectivo/filosofia/ estratégia. Isto é, na ausência de qualquer destas “pernas”, a “mesa” vai ao chão! Quando aprendi isto, estava longe de pensar que esta verdade me habilitaria a ser “profeta”... Com efeito, ao longo de toda a minha carreira profissional, nunca encontrei resposta satisfatória para qual o objectivo do governo do meu país, já que os “objectivos” iam mudando como quem muda de camisa: campanha dos cereais, campanha do milho…e, recentemente, campanha da oliveira. Enfim, um desnorte ou uns arroubos momentâneos conforme os ministros/governos se iam alternando… Quanto à filosofia, isto é, a doutrina/ pensamento básico subjacente ao objectivo, a coisa ainda foi pior: por muito que me tivesse interrogado neste domínio, sempre encontrei, a nível nacional, o mais completo vazio. Apenas, umas “variações à guitarra” da mesmíssima música que vinha de Bruxelas, ela própria em completo desnorte de imitação da “country music” americana… O raio da “perna” – filosofia – não havia maneira de a descortinar! Mas também não admira: com Ministros de Agricultura que do “agro” só sabiam os regulamentos da PAC e seus acessórios, com presidentes da nossa investigação agrária com títulos de investigador da “manga-de-alpaca”, ou de institutos de recursos biológicos que da matéria apenas sabiam o que transpirava dos manuais e que, mesmo assim, quais generais, lhes era atribuído o comando das “tropas”, o que seria de esperar? Por último, com “generais” sem objectivos definidos e sem filosofia que se lhes veja, como pode haver estratégia? Para mal dos meus pecados (e certamente por defeito meu) nunca consegui ver esta “mesa” de pé. Que raio… seriam precisos dotes de alquimia mágica para se ser profeta nesta terra?
O paradigma científico O segundo, que designarei por “paradigma científico” e que se aplica a qualquer sistema produtivo, seja ele agrário ou industrial, sustenta-se nesta tripla sequência: energia/
matéria-prima/ciência. Isto é, para se produzir o que quer que seja, desde parafusos a grãos de milho, a primeira das “pernas” energia (fóssil ou renovável) - tem que estar assegurada desde o início. Por sua vez, sem a segunda “perna” – matéria-prima (endógena ou exótica) – a energia dissipa-se. Por último, sem a ciência do “saber fazer”, o tal know-how, também não haverá produto acabado. Também aqui, se à “mesa” faltar alguma destas “pernas”, virá ao chão! É nesta área da ciência biológica, designadamente na moderna biotecnologia, como nova ferramenta do melhoramento de plantas, designadamente no melhoramento de milho, que temos vindo a assistir a grandes avanços. A isso voltaremos mais adiante.
O paradigma pragmático Ao terceiro e último, chamarei “paradigma pragmático”. Recordo-me (e já lá vão umas décadas!) da primeira vez que li, numa publicação da FAO, qualquer coisa como isto: 75% da proteína ligada à alimentação da Humanidade assentava em apenas três plantas – trigo, milho e arroz. E nessa mesma publicação dizia-se que apenas entre 2% a 4% vinha do sector das pescas. Dando de barato que, devido à recente expansão da aquacultura o sector pesqueiro tenha experimentado um grande incremento, a constatação desta ordem de grandeza relativa, com o seu inerente pragmatismo, impressiona! Assim como é impressionante que esta constatação não tenha chegado à cabeça de quem nos tem governado. Com efeito, após a prolongada agonia dos nossos Ministérios da Agricultura, em AVC’s repetidos ao longo dos últimos 30 anos até se chegar ao actual “estado de coma”, constato que duas destas 3 “pernas” - milho e arroz - foram, no domínio da investigação, consideradas obsoletas ou dispensáveis e que, por economia de meios, deveriam ser relegadas apenas para o sector privado das multinacionais de sementes, a quem, pessoalmente, tiro o meu chapéu pelo excelente desempenho científico. Só que os seus objectivos não são propriamente os da pequena agricultura nacional, policultural e de qualidade de grão para a alimentação humana. Em suma, interrogo-me quais serão as fortíssimas razões para que um Ministério de Agricultura de qualquer país do mundo não reserve também para investigação própria, pelo menos estas três “pernas” da mesa do nosso pão… É que assim sendo, como poderá potenciar os seus próprios recursos ge-
néticos sem a respectiva investigação no melhoramento? Será que pensam que basta ir buscar a um banco de germoplasma sementes de uma variedade nacional e relançá-la na lavoura com o seu potencial produtivo de umas escassas 3-4 toneladas/ha? Aqui também, o defeito deve ser meu, pois não consigo visualizar outra situação senão aquela de ver que a “mesa” vai mesmo ao chão…
PROFETA E MILHO… NÁRIO Será que o caro leitor sabia que PORTUGAL deve ao milho a sua primeira (e que eu saiba, única!) “revolução agrária”? Efectivamente, durante os séculos XVII e XVIII esta “planta americana”, aliada ao tractor de então (boi barrosão, maronês, arouquês…) – deu ao Entre Douro e Minho e Beiras, uma maisvalia económica, que deixou rastos no folclore e nas arrecadas de ouro das minhotas. Posteriormente, tal recurso genético, agora endógeno, seria a base de híbridos nacionais como o HP21 e HB3 que forneceram a agricultura nacional com sementes que, durante mais de uma década, se mantiveram no topo de vendas, em concorrência aberta com os novos híbridos americanos! Foi esta “matéria-prima” nacional, de grão liso, que não só deu origem à Broa de Avintes, como engordou o porco bízaro e debitou vitelas que no porto de Leixões eram encaminhadas para Londres! Os tempos mudaram e este modelo de agricultura sustentável, policultural e minifundiária, iria sendo paulatinamente
substituída pelo modelo americano, mais produtivo, mas orientado para a alimentação animal, via rações. Em qualquer dos casos, o nosso milho, não só se foi adaptando, como continuou a ser fonte de riqueza, fazendo… milionários! Enfim, dois modelos de agricultura que, conforme a moda dos tempos, agora pressionada pelo peso económico dos factores de produção, tiveram, e continuam a ter, como grande aliado o milho, esta planta fantástica que ostenta “medalhas” incas e azetecas e que está na base da maior economia dos nossos tempos – E.U.A. E nos tempos actuais da moderna biotecnologia continua a desafiar tudo e todos! Quando iniciei a minha vida profissional nos princípios dos anos 70, existia nos E.U.A. um clube restrito dos melhores produtores de milho a que chamavam o “clube das 10 toneladas”. Era a elite, uma espécie de má-
Figura 1 O autor com visitantes ao projecto no Vale do Sousa, com exposição dos troféus (mais de 50) obtidos pelo agricultor Francisco Meireles (à direita, com sua esposa) tornando-se no agricultor nacional mais galardoado.
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ximo produtivo! Ora, aqui há uns anos atrás, quando examinava a espiga vencedora do Concurso das Melhores Espigas de Milho do Vale do Sousa, promovido pela Cooperativa Agrícola de Paredes, interrogava-me: até onde chegará o milho? É que essa espiga ultrapassou os 500 gramas de grão seco a 15% de humidade! Um simples cálculo de produção com uma densidade de 70.000 plantas/ha (ciclo longo) e no pressuposto hipotético, de um dia termos uma variedade em que todas as espigas fossem iguais àquela, tal equivaleria a 35 toneladas, de grão seco, por hectare! É evidente que se tratava de uma projecção ideal e por isso irrealista, mas na minha condição de melhorador, garanto-vos que “ouvi” essa espiga desafiar-me: és capaz de me levar, com uma das tuas novas variedades, até estas 35 T/ha? Ainda hoje esta ousadia me fervilha na cabeça, o que me leva a “profetizar” que (quem sabe?) algum dia apareça no mercado um novo híbrido que bata as 35 toneladas! Fantástico…este milho! Só lamento que, muito provavelmente, quando tal variedade surgir já não consiga tirar-lhe o meu chapéu por escassez de espaço no meu túmulo… Mas não me posso queixar… Por mal dos meus pecados cometi o tremendo erro de gramática com que me penitencio: quis ser milionário, mas troquei o I pelo H e apenas fiquei milho…nário! O que me fez uma grande diferença…
O VATICÍNIO Para meu espanto, julgo ter chegado o tempo de ver cumprida outra das minhas, ou melhor, “nossas” (partilhada com o meu amigo Meireles!) profecias: não só se começa a falar no “regresso ao campo” e na recuperação da agricultura nacional, como a nível internacional se agita a mesma bandeira! E nela, outra vez, o milho salvador é estrela! E desta vez o caso vai ser sério… É que se prevê que dos actuais 6.000 milhões de humanos sobre este planeta, em 2050 esse número terá um acréscimo de 50% subindo até aos 9.000 milhões de almas para alimentar! E como a Terra não se prevê que inche, é preciso arranjar maneira de se aumentar drasticamente a produtividade dos bens alimentares… Curiosamente, este tema está a agitar os mundos da ciência e da política. Ora veja o que, de mais recente, nos chega às mãos:
O pão e o ambiente No número de Novembro/2011 da revista Scientific American, em artigo assinado por Jonathan A. Foley e intitulado “Será que po-
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demos alimentar o mundo e sustentar o planeta?” (Can we feed the world and sustain the planet?) o autor sugere 5 medidas para se atingir tal objectivo: 1) Pare-se com a expansão da pegada ecológica da agricultura Que se consiga estancar o abate das florestas tropicais e das savanas, a pretexto da sua substituição por culturas de pastagens. Que igualmente se pare com o absurdo das políticas de energia que utilizam bens alimentares (grão) para produzir biocombustíveis. Usem-se antes bens não alimentares, como os celulósicos. Com estas medidas se protegeria o ambiente, bem como se travaria a delapidação dos recursos genéticos. 2) Encurtamento dos diferenciais de produção agrícola entre os países ricos e pobres Duplicar a produção agrícola através da implementação da produtividade na terra arável actual, sem agravar a “pegada ambiental”. Tal objectivo só se poderá atingir de dois modos: ou elevando o tecto produtivo das cultivares actuais, ou pela transferência de conhecimentos e de tecnologias para os países pobres. 3) Um mais eficiente uso dos recursos Inovação para uma agricultura de precisão, com mais eficiente monitorização da energia, dos fertilizantes e do uso da água, designadamente através da poupança que advém da rega gota-a-gota. 4) Alteração das dietas alimentares Com a diminuição dos alimentos altamente consumidores de energia (carne), para uma maior utilização dos vegetais.
Figura 2 Espiga de uma variedade regional nacional com elevada incidência de fasciação, demonstrativa do potencial genético para conciliar comprimento (16 cm) com elevado número de carreiras de grão.
5) Redução de perdas ou sobras alimentares Cerca de 30% dos alimentos produzidos a nível mundial, perde-se! Problemas de capacidade de armazenamento, controle de pragas de armazém, validade dos produtos. A este respeito sugere-se uma nova forma de etiquetar os produtos alimentares, substituindo as etiquetas com validade “por datas”, por etiquetas “térmicas” (alteração da cor nos limites térmicos), prolongando assim a validade dos produtos através de melhores processos de conservação pelo frio. Ora, quando a Humanidade cultiva 38% da área arável do planeta, da qual uma terça parte é ocupada pelos cereais e sendo o milho a grande base alimentar dos países ricos que o consomem, não directamente (como é o caso do arroz), mas indirectamente (através da carne, leite e seus derivados - todos eles grandes consumidores do armazenamento e conservação pelo frio), todas estas medidas lhe dizem directamente respeito. Convirá também aqui lembrar que, sendo o solo arável escasso, a solução para tão magno problema residirá no aumento da produtividade. E que esta se consegue, tal como até aqui tem acontecido, através de dois factores complementares: agronomia e melhoramento genético.
O regresso às perenes Logo no mês seguinte, Dezembro/2011, em número dedicado ao tema geral “Dez ideias
para mudar o mundo” (10 world changing ideas) a revista Scientific American, em artigo assinado por Christophfer Mims e intitulado “Cultivares que não precisam de ser replantados” (Crops that don’t need replanting) apresenta-nos o novo desafio das plantas perenes em substituição das anuais, como o milho! Ora, acontece que o milho, tal como em anteriores avanços científicos, continua a ser um dos objectos preferidos para o estudo dos novos desafios. Com efeito, esta planta já foi perene e só o homem, através da selecção em melhoramento, conseguiu transformá-la em anual! Revertê-la ao seu estado natural, agora com as novas ferramentas da biotecnologia, é o grande desafio que se apresenta! Com tal transformação pretende-se não só uma maior economia nos factores de produção, mas também uma melhor protecção do solo, uma melhor gestão da água e uma muito maior exploração do próprio solo devido à extensão da rede radicular. Este desafio, ainda há bem pouco utópico, encontra presentemente em Ed Buckler, geneticista da Universidade de Cornell, alguém que se propõe identificar, nos próximos 5 anos, os genes responsáveis por essa capacidade e dentro de mais 10, poder já obter um milho perene!
O caso africano Ao fechar o ano de 2011 a revista Science, no seu número de 9 de Dezembro, traz-nos um Editorial, assinado por Calestous Juma, intitulado “Ciência ao encontro da agricultura africana” (Science meets farming in Africa).
Aqui o seu autor, Professor na Harvard University e Ex-Director executivo da “Convenção para diversidade biológica” (Convention on Biological Diversity), “revolta-se” contra as organizações internacionais que, sob os mais variados pretextos ambientais ou de conservação dos recursos genéticos, têm sido obstáculos concretos à utilização pela agricultura africana dos mais recentes avanços da ciência e das respectivas inovações tecnológicas! É o caso da biotecnologia de que o milho - base alimentar dos povos africanos – tem sido um dos principais receptáculos com os chamados OGM’s (organismos geneticamente modificados). Estas novas sementes, cujas alterações genéticas lhe têm permitido resistir a pragas e tolerar certos herbicidas e assim elevar as produções, são também, segundo o autor, desejáveis na agricultura africana desde que se proceda a uma necessária transferência de ciência para África. De facto, em 1992 foi criada na ONU a “Convenção sobre a Diversidade Biológica”. Contudo, durante duas décadas este tratado foi responsável por uma paralisia no uso de OGM’s na agricultura, mesmo sabendo-se que as maiores ameaças à diversidade genética são a desflorestação e a invasão de espécies infestantes. Presentemente, dos 30 países que têm legalizado o uso de OGM´s, apenas 4 são africanos e, de um modo geral, todos eles estão a monitorizar o seu uso correcto. O mesmo se passa com o uso da biotecnologia em geral.
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GRANDES CULTURAS
Por último o autor apela a que os países africanos quebrem esta barreira através de uma sólida colaboração científica internacional, para que África também possa beneficiar dos recentes avanços científicos e assim aumentar consideravelmente a sua produção alimentar.
Mais alimento, menos energia Já no início deste ano, novamente a revista Scientific American, no seu número de Janeiro/2012, volta à problemática agrícola sob um novo ponto de vista – o energético. Num artigo com o título “Mais alimento, menos energia” (More food, less energy), Michael E. Webber, um matemático e Professor de engenharia mecânica na Universidade de Texas, afirma-nos que a energia que tem sido usada para produzir alimentos é largamente superior à quantidade de energia que dela obtemos! Usando as suas próprias palavras, o processo que vai do campo até ao garfo (Farm to fork) é altamente ineficiente! Temos aqui aquilo a que, na moderna agricultura, poderemos chamar de enorme desperdício energético! Com efeito, durante mais de 50 anos que a energia fóssil (combustíveis, fertilizantes, agro-químicos…) tem vindo a ser utilizada, quase exclusivamente, para os grandes aumentos de produção e distribuição dos alimentos no mundo. Mas um cálculo matemático simples demonstra que a produção de alimentos é um processo ineficiente. Começa pelo facto de que já o crescimento vegetal é muito pouco eficaz: a fotossíntese apenas converte 2% da energia solar e esta baixa taxa ainda se agrava com quedas de 5-10% na transferência para bovinos e de 10-15% para aves, até chegar finalmente ao homem, onde se armazena/transforma nos músculos e gordura sob a forma de glicogéneos e triglicerídeos. Dada a abundância ilimitada da energia solar em fotões que nos chegam à Terra, temos vivido despreocupados com esta ineficácia da fotossíntese, ou desperdício energético. Mas quando se analisa o problema à escala mundial e quando nos preparamos para um crescimento populacional acelerado, então o caso assume proporções preocupantes! Usando como exemplo os E.U.A., são necessárias 10 unidades de energia fóssil para produzir 1 unidade de energia alimentar. Uma proporção de 10 para 1! Que soluções? Poupança energética na distribuição, abandono da política de usar grão para produzir etanol, melhor utilização da água, zeromobilização, nivelação a laser e agricultura de
Figura 3 O autor, com visitantes ao seu projecto de "Melhoramento nos campos dos agricultores", Vale do Sousa, 1984-2009.
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precisão, alteração de comportamentos sociais, eis algumas sugestões do autor para obstar a este dramático desperdício energético. Resta-nos, para concluir esta nossa “viagem pelo milheiral”, expressar algumas das nossas convicções ou, se o caro leitor preferir, “profecias”! 1.ª O milho continuará a ter um papel preponderante na alimentação da Humanidade. 2.ª Ninguém vai parar a biotecnologia, mesmo que os mais fanáticos “verdes” continuem a levantar “nuvens de poeira” e a exorcizar os OGM’s. 3.ª O milho será a planta que irá “recuperar” a pequena agricultura nacional, agora sob novas formas de recursos genéticos nacionais, de grão de qualidade panificável, levando atrás de si o turismo rural com passeios pedonais pelos moinhos, espigueiros e eiras restauradas, com folclore e desfolhadas – onde a música será a locomotiva! – numa sustentação económica do nosso interior. Por sua vez, nos grandes regadios, outra vez o milho, aqui certamente OGM, continuará a ser presença obrigatória na agricultura totalmente mecanizada. 4.ª Por último, o meu caro leitor terá que encontrar outro “profeta”, porque para profeta enganado, basta um!
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GRANDES CULTURAS
DESEMPENHO DE HÍBRIDOS DE MILHO FORRAGEIRO EM AGRICULTURA BIOLÓGICA
Por: Ana B. Monteagudo anamonteagudo@ciam.es Instituto Galego da Calidade Alimentaria - Centro de Investigacións Agrarias de Mabegondo (INGACAL-CIAM). Apartado 10, 15080 A Coruña.
Tradução: Pedro Castro pedrorainhocastro@gmail.com
T
em vindo a aumentar, nos últimos anos, a preocupação com a conservação do meio ambiente e com a saúde dos consumidores. É esta preocupação que está por trás da mudança no planeamento dos sistemas extensivos de produção agrícola e de gado. Desde a sua origem, a União Europeia tem vindo a promulgar uma série de directivas direccionadas ao controlo do uso de agro-químicos e das emissões de gases de efeito de estufa. Por outro lado, o consumidor exige cada vez mais maior segurança alimentar, pelo que valoriza os produtos biológicos, obtidos sem o emprego de compostos químicos que podem trazer riscos para a saúde, além de prejudicarem o meio natural. Os sistemas de produção extensiva já não se adequam às necessidades actuais e a sobreexploração intensiva está a esgotar os recursos naturais, sendo cada vez necessários mais adubos químicos para aumentar a fertilidade do solo e para que o rendimento das culturas não desça em demasia. O custo em fertilizantes simples e compostos, estimado pelo governo espanhol durante o ano de 2010, superou os 1300 milhões de euros, enquanto o custo em fitossanitários, principalmente herbicidas e fungicidas, superou os 685 milhões de euros (MARM, 2011); ao que se acrescenta o enorme custo ambiental que o uso destes agro-químicos pressupõe. Estes custos tão elevados poderiam reduzir-se com o emprego de adubos naturais, como chorume e esterco; sistemas de rotação de culturas; e empregando variedades e híbridos melhorados que apresentassem uma maior eficiência no aproveitamento dos recursos disponíveis, assim como resistência genética a diferentes stresses bióticos e abióticos. É neste aspecto que a investigação para o melhoramento de culturas e os programas de selecção genética cumprem uma função decisiva. Neste cenário global, a agricultura biológica (AB) está a converter-se numa boa alternativa de produção face à cultura extensiva. Na actualidade, a Espanha é um dos primeiros países da União Europeia em número de hectares cultivados num regime de agricultura biológica (MARM, 2010).
Figura 1 Híbridos de CIAM no ensaio de Friol.
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O milho cultivado para grão e forragem é uma das principais espécies plantadas em Espanha, situando-se a sua produção fundamentalmente na Galiza, com 72% da superfície total. A cultura de milho forrageiro está a destacar-se face à de outras espécies forrageiras. Enquanto em 2010 e 2011 outras espécies forrageiras diminuíram a sua superfície em 2,7%, o milho forrageiro teve uma subida de 1,4%. Assim, a superfície dedicada à produção desta espécie, em 2011, estimase que tenha superado os 95.800 ha (ESYRCE, 2011; MARM, 2011). No entanto, a superfície dedicada ao cultivo de espécies forrageiras em agricultura biológica é ainda muito baixa, já que em 2010 correspondeu a apenas 9% do total espanhol dedicado ao cultivo de pastos e forragens (ESYRCE, 2010; MARM, 2010a). Esta situação vê-se reflectida na Galiza onde, apesar da sua importância na produção de pastos e espécies forrageiras, o cultivo destas em agricultura biológica representa apenas 1,54% do total nacional (MARM, 2010a). O aumento no número de explorações pecuárias biológicas está muito relacionado com a superfície de produção biológica das forragens, visto que nestas explorações as reservas de forrageiras constituem a parte principal na alimentação do gado, e também estas devem ser produzidas de modo biológico (Regulamentos UE 2092/91, 1804/1999). Na Galiza encontram-se 3,5% das explorações de gado, e entre 2008 e 2010 esse número aumentou em 5% (MARM, 2010a). A maior parte dos programas de melhoramento fazem-se centrados nos requerimentos da agricultura convencional, pelo que dispor de material melhorado adaptado às características da AB é difícil hoje em dia. Por outro lado, um dos preceitos da AB é a potenciação da diversidade mediante o emprego de variedades locais ou tradicionais e raças autóctones, sendo que, assim, o emprego de híbridos comerciais obtidos a partir de material não autóctone poderia ser um problema para os produtores biológicos.
Dado que a variabilidade genética disponível nos programas de melhoramento convencional foi baixando ao longo dos anos, devido ao emprego de um número limitado de parentais, a criação de novos programas de melhoramento orientados para a AB e empregando como fonte de origem genética as variedades tradicionais poderia solucionar os problemas apresentados. O Centro de Investigações Agrárias de Magebondo (CIAM) está a desenvolver há vários anos diversos programas de melhoramento genético de milho forrageiro, partindo de variedades autóctones galegas. Desde 2008, o CIAM começou a estudar o comportamento de alguns destes híbridos forrageiros em cultivo biológico para determinar a valia dos materiais de selecção obtidos nos programas de melhoramento, que estiveram sempre centrados nos requerimentos do cultivo convencional, para o seu uso na AB.
MATERIAL VEGETAL E MÉTODOS Durante os anos de 2008 e 2010 avaliou-se o potencial forrageiro de 31 híbridos geração S3 obtidos a partir de um cruzamento das linhas (EC136xEC151) x EC214, estas três linhas parentais foram desenvolvidas nos programas de melhoramento do CIAM e contam na sua bagagem genética com material de origem galega. Os ensaios de avaliação realizaram-se em diferentes locais entre as províncias de Ourense (Barbadás) e Lugo (Friol e Savinhão), em terrenos cedidos e controlados pelo Conselho Regulador da Agricultura Biológica da Galiza (CRAEGA). Em todos os casos o desenho experimental que se seguiu foi um desenho em blocos ao acaso com três repetições, em parcelas de 6,4 m2 com uma densidade final de 90 000 plantas por hectare. Juntamente com os híbridos do CIAM, avaliaram-se também como testemunhos os híbridos comerciais Anjou290, Pisuerga, Nkthermo, LG3303 e Dukla. Não se acrescentaram adubos naturais ou produtos herbicidas em nenhum dos ensaios realizados. Os parâmetros agronómicos avaliados durante o período vegetativo foram o vigor, a precocidade da planta, a presença ou ausência de acama e os dias até à floração masculina e feminina, dias desde a sementeira até que 50% das plantas estivessem em floração. No momento da colheita pesou-se o total de plantas de cada parcela e colheram-
se amostras da planta inteira, parte verde e espiga. Secaram-se 300 g de cada fracção a 80°C durante 16 horas numa estufa de ar forçado e depois pesaram-se para determinar o conteúdo de matéria seca e o rendimento forrageiro dos híbridos (Campo, 1999). As amostras secas moeram-se num moinho Christy & Norris com um tamis de 1 mm de luz. A farinha obtida foi usada para determinar os componentes nutricionais da forragem, mediante Espectroscopia de Reflectância no Infravermelho Próximo (NIR), segundos as técnicas e equações melhoradas por Campo e Moreno (2003). A análise estatística dos dados realizou-se com o programa Proc GLM do pacote estatístico SAS v9.2 (SAS Institute, Cary, NC), considerando os distintos genótipos como factores aleatórios e fazendo uma separação de médias com o teste LSD (F significativo p<0,05). No caso do carácter de acamamento, previamente à análise, definiu-se uma transformação dos dados segundo a fórmula (x+0,5)1/2 (Steel e Torrie, 1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os híbridos avaliados demonstraram muita semelhança, considerando os parâmetros agronómicos, visto que só se observaram diferenças altamente significativas (p<0,001) para os caracteres de vigor (VP) e rendimento forrageiro (RF) (Tabela 1). Por outro lado, a existência de diferenças altamente significativas para todos as características agronómicas, juntamente com a ausência das mesmas na interacção genótipo x local (também para todos os caracteres, excepto VP), indicam, por um lado, o importante efeito do ambiente nos caracteres avaliados e, por outro, a estabilidade da diferença entre genótipos nas distintas condições climáticas das localidades em que se realizou o estudo. Isto também acontece no caso dos caracteres de qualidade, para os quais a norma de reacção dos diferentes genótipos face ao ambiente permanece estável, excepto para o conteúdo de carboidratos estruturais (CSA). Tabela 1 Médias dos híbridos e testemunhas para os caracteres agronómicos. Análise de variância das variáveis e a sua interacção.
VPa
VTAR
FMAS
FFEM
ACM
RF
HÍBRIDOS F2S3
3.39
3.55
78.23
82.27
0.78
8.99
TESTEMUNHAS
3.20
3.22
80.49
81.71
0.75
7.93
LSD(0.05)b
0.25
0.30
0.97*
1.32
0.07
0.87*
Fontes de variação Localidade (loc)
***c
**
***
***
***
***
Genótipo (Gen)
***
ns
*
ns
ns
***
Gen*loc
**
ns
ns
ns
ns
ns
Média global
3.36
3.51
78.54
82.2
0.77
8.84
CV(%)d
22.67
25.76
3.74
4.84
20.34
29.65
a
VP: vigor precoce, VTAR: vigor tardio, FMAS: floração masculina (dias pós-sementeira), FFEM: floração feminina (dias pós-sementeira), ACM: acamamento, RF: rendimento forrageiro (t/ha); b LSD: mínima diferença significativa para p<0.05, os valores significativos indicam-se com *; c nível de significação, ns: não significativo p>0,05; * p<0,05; ** p<0,01; *** p<0,001; d CV: coeficiente de variação
AGROTEC / MARÇO 2012
63
GRANDES CULTURAS
Tabela 2 Médias dos híbridos e testemunhas para os caracteres de qualidade nutritiva. Análise de variância das variáveis e a sua interacção.
MOa
PB
FAD
FND
IVDMS
CNE
HÍBRIDOS F2S3
96.30
4.83
25.69
49.93
68.98
37.86
47.45
8.63
TESTEMUNHAS
96.14
4.93
26.78
51.50
68.38
35.94
49.74
7.43
LSD(0.05)b
0.32
0.26
0.78*
1.07*
0.87
1.30*
1.19*
0.47
CSA
ALM
Fontes de variação Localidade (loc)
***c
***
***
***
***
***
***
***
Genótipo (Gen)
ns
**
*
**
ns
*
***
**
Gen*loc
ns
ns
ns
ns
ns
ns
***
ns
Média global
96.28
4.85
25.86
50.17
68.89
37.57
8.47
47.76
CVd
1.02
16.31
9.01
6.38
3.77
10.36
16.72
7.5
a
MO: matéria orgânica (%), PB: proteína bruta (%), FAD: fibra ácido detergente (%), FND: fibra neutro detergente (%), IVDMS: estimativa da digestibilidade in vitro da matéria seca no rúmen do animal (%), CNE: carboidratos não estruturais (%), CSA: carboidratos estruturais (%), AMD: amido (%); b LSD: mínima diferença significativa para p<0.05, os valores significativos indicam-se com *; c nível de significação, ns: não significativo p>0,05; * p<0,05; ** p<0,01; *** p<0,001; d CV: coeficiente de variação.
Figura 2 Híbridos de CIAM no ensaio de O Saviñao.
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Quanto à diferença dos caracteres agronómicos para os caracteres de qualidade nutritiva, observa-se maior variabilidade entre genótipos, existindo diferenças significativas (0,05<p<0,001) para todos os caracteres estudados, excepto no conteúdo de matéria orgânica (MO) e na digestibilidade in vitro da matéria seca (IVDMS), para os quais os híbridos estudados são mais uniformes, como já se descobrira em estudos prévios (Lewis et al., 2004; Monteagudo et al, 2010). O conteúdo de matéria orgânica situa-se em cerca de 96% e a digestibilidade aproxima-se dos 69%. Este valor de digestibilidade corrobora os valores obtidos num estudo preliminar, no qual se incluíam este e outros híbridos, realizado por Monteagudo et al. (2010), e está em consonância com valores de digestibilidade descobertos por outros autores em estudos realizados tanto em cultivo convencional como em cultivo sustentável com adubo com chorume de porco (Argillier et al., 2000; Campo et al., 2011). Contudo, este valor de 69% é maior ao encontrado por Campo et al. (2010) em condições de cultivo sustentável, tanto adubado com chorume de porco como com chorume de bovino. O valor médio do conteúdo de proteína bruta citou-se nos 4,85%, valor que é inferior ao esperado para estes híbridos em cultivo convencional, ainda que fosse de esperar esta diminuição por não se ter aplicado nenhum tipo de adubo e por o conteúdo proteico ser de um tipo que é muito afectado pelos níveis de fertilização azotada. Li et al. (2010) obtiveram uma redução no conteúdo de proteína de até 22% em condições de baixa disponibilidade de azoto. Estes autores também descobriram que a digestibilidade e o conteúdo de fibras eram muito influenciados pela concentração de azoto, com uma redução de 2,5% de digestibilidade e um aumento no conteúdo de fibras até 2,30%, dependendo do tipo de fibra considerada. No entanto, como já se indicou anteriormente, neste estudo descobriu-se que a digestibilidade mantinha valores próximos aos obtidos noutros estudos em cultivo convencional. É o caso do conteúdo de fibras (FAD e FND) onde se confirmam os dados de Li et al. (2010), com valores superiores aos encontrados por outros autores com distintos tipos de fertilização (Campo et al., 2010; Marsalis et al., 2010). Por outro lado, as diferenças descobertas noutros estudos podem não ser apenas devidas ao nível de fertilização, mas também às condições climáticas das zonas de cultivo, pois as concentrações dos componentes da parede celular estão fortemente influenciadas pelo ambiente (Kruse et al., 2008).
Tabela 3 Médias dos melhores híbridos e testemunhas para os principais caracteres agronómicos e de qualidade nutritiva, nos que evidenciaram diferenças estatísticas significativas entre genótipos.
HÍBRIDOS F2S3
VP
DFMAS
RF
PB
FND
CSA
AMD
949
3,50
77,75
8,71
4,76
47,44
9,24
952
3,13
78,00
8,42
5,50
49,05
7,95
47,63
954
4,00
78,00
11,24
5,19
48,30
7,94
49,44
956
3,38
78,75
9,24
5,27
48,04
8,73
45,32
957
4,38
77,38
10,94
4,53
49,72
8,56
48,95
958
3,63
78,25
10,82
5,23
48,11
8,25
49,20
962
3,25
77,50
9,03
4,75
48,76
8,57
48,42
967
3,38
77,38
10,42
5,07
50,12
9,23
48,07
971
3,38
78,75
8,68
5,33
46,68
9,17
46,52
979
3,67
78,33
10,19
5,11
48,17
8,15
47,84
980
3,56
80,78
10,44
4,33
49,75
10,29
44,72
Média global dos híbridos
3,39
78,23
8,99
4,83
49,93
8,63
47,45
47,42
TESTEMUNHAS Anjou290
3,63
77,38
7,33
5,20
47,81
8,05
52,61
Nkthermo
2,75
79,88
9,47
5,41
50,07
6,43
51,02
Dukla
3,63
81,00
9,75
4,46
53,38
8,02
47,58
Média global das testemunhas
3,20
80,49
7,93
4,93
51,50
7,43
49,74
O rendimento forrageiro global de híbridos e testemunhas foi de 8,84 t/ha, valor inferior ao rendimento esperado em cultivo convencional, ainda que existam antecedentes de rendimentos similares em estudos prévios (Lauer et al., 2001). O rendimento observado também foi inferior ao obtido em estudos prévios em cultivo ecológico, onde a produção de matéria seca foi superior a 10 t/ha (Campo et al., 2010; Monteagudo et al., 2010). Contudo, alguns dos híbridos estudados aproximam-se a estes valores de rendimento (Tabela 3). Este é outro parâmetro influenciado pelo tipo de fertilização aplicada na cultura, mas também pelas condições ambientais. Assim, é de destacar que 2010 foi um ano especialmente escasso em precipitação, e durante o ciclo de cultivo pode ter havido falta de água nas diferentes localidades onde se realizaram os ensaios de avaliação, favorecendo a diminuição do rendimento.
Quanto à separação por grupos, os híbridos do CIAM assemelham-se muito, quanto aos parâmetros agronómicos, aos híbridos comerciais empregados como testemunhas, ainda que aqueles sejam mais precoces e com rendimento ligeiramente maior (Tabela 1). No caso dos caracteres nutricionais, os híbridos do CIAM também se mostraram melhores comparativamente às testemunhas, pois apresentam um menor conteúdo de fibras e maior conteúdo de carbohidratos não estruturais. Esta fracção de carbohidratos não faz parte da parede celular e constitui a fracção nutritiva para o animal. Apesar disso, sendo o conteúdo de fibras diferente, a digestibilidade de ambos os grupos está ao mesmo nível. A existência de variabilidade genética entre os híbridos para características agronómicas e de qualidade nutritiva, permite seleccionar, de entre todos, os que mais se destacam pelo seu rendimento e pela sua qualidade (Tabela 3). De todos os híbridos comerciais empregados, a variedade Anjou290 foi a que se destacou pela sua precocidade (77 dias para a floração masculina) e em qualidade nutritiva, com o menor conteúdo de fibra neutro detergente (FND) e o maior conteúdo de amido (AMD). Nkthermo e Dukla, foram os que mais se destacaram para o rendimento forrageiro, superando as 9 t/ ha. Entre os híbridos do CIAM, destacam-se o 954, 958 ou o 979, pois: são precoces (cerca de 78 dias até à floração masculina); têm um rendimento forrageiro superior a 10 t/ha; possuem alto conteúdo de proteína e AMD, assim como baixo conteúdo de FND. o 956 também se destaca pelo seu rendimento, conteúdo proteico e de FND. Os híbridos 949, 952 e 971 não têm um rendimento tão elevado mas destacam-se nos caracteres de qualidade nutritiva, sobretudo o 952 pelo seu alto conteúdo proteico e o 971 pelo seu baixo conteúdo de FND. Os híbridos do CIAM avaliados neste estudo revelaram-se semelhantes aos híbridos comerciais, indicando assim o seu valor (sobretudo os apresentados na Tabela 3), e podem considerar-se bons candidatos à sua utilização pelo sector pecuário. O rendimento forrageiro foi baixo mas bom, tendo em conta que não se aplicou nenhuma fertilização nos ensaios. A rotação de culturas com leguminosas e a aplicação de chorumes ou estercos ecológicos com uma fonte de azoto mostraram ser paliativos eficazes perante a diminuição de rendimento. Kirchman et al. (2008), depois da revisão de vários estudos, chegaram à conclusão de que as diferenças de produtividade entre a agricultura biológica e a convencional se reduzem empregando adu-
AGROTEC / MARÇO 2012
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GRANDES CULTURAS
Figura 3 Recolha do milho forrageiro.
bos naturais e compostagem, além da rotação de culturas. Deste modo, nos Estados Unidos, onde o uso de adubos naturais está mais generalizado, obtiveram-se reduções na produção inferiores às da Europa. A selecção feita seguindo um programa de melhoramento convencional pode seleccionar determinados caracteres que sejam também desejáveis em cultura biológica. No entanto, a selecção de características tão influenciadas pelo ambiente e pelo aporte de azoto, como o rendimento ou o conteúdo de fibras, deveria ser feita sob condições de cultivo biológico. As avaliações em condições biológicas de materiais já obtidos nos programas convencionais permitem descartar os menos ajustados às referidas condições de cultivo, contudo é necessário que os programas de selecção tenham em conta as novas condições de cultivo e desenvolvam materiais mais adaptados.
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Pode descarregar a versão original deste artigo em: agrotecrevista.wordpress.com/artigos/
GRANDES CULTURAS
DUPLA CULTURA ANUAL PARA
PRODUÇÃO DE BIOMASSA
O
Projecto “COTA 100 TONELADAS” da KWS assenta numa sucessão cultural anual, em que a uma primeira sementeira precoce do milho Ronaldinio, se segue, na mesma parcela, uma segunda cultura com sorgo sacarino Silage King ou KWS Freya. Quando, há alguns anos, em Itália, se começou a incentivar a produção de energias renováveis, e arrancaram as primeiras instalações de biogás, obtido a partir de biomassa de culturas semeadas com esse destino, a KWS iniciou um projecto de experimentação orientado nesse sentido. Ensaiaram-se várias sucessões culturais anuais essencialmente baseadas numa primeira sementeira com um milho de ciclo curto, a cuja colheita para ensilar se seguia uma segunda cultura de milho ou sorgo. Em 2011 passámos já dessa fase experimental para culturas em condições normais de pleno campo, que envolveram uma área de cerca de 500 ha nas províncias de Brescia, Bergamo e Cremona. Os resultados alcançados (Quadro 1) foram excelentes, confirmando os dados obtidos na referida experimentação plurianual, pelo que apresentamos o Projecto “COTA 100 TONELADAS com KWS Ronaldinio”.
Por: Dr. Leopoldo Nurti Director do Departamento Agroservice da KWS Italia S.p.A.
Tradutor: Carlos Burnay
de boa fertilidade e regadio, cuja disponibilidade de área é abundante na região do Vale do Pó; – Os solos deverão ter boa drenagem e uma estrutura entre ligeira e média, que tornem possível executar num curto intervalo de tempo a segunda sementeira, após a colheita da primeira cultura.
Como superar as 100 toneladas: – Sementeira precoce, de meados a fins de Março, com Ronaldinio, um híbrido de milho muito precoce (FAO 200 precoce), para produzir silagem com colheita integral da planta durante a primeira década de Julho; condições edafo-climáticas adequadas, com solos Quadro 1 2011: Resultados da sucessão cultural anual Ronaldinio + Sorgo sacarino
Exploração agrícola e localização
Metas importantes que o projecto permite alcançar:
Produção de MV em t/ha Ronaldinio
Sorgo (varied.)
Total
Az.Agr. S.Antonio - Faverzano (Bs)
60
42 (KWS Freya)
102
Az.Agr.Novella Sentieri - Quinzano D'Oglio (Bs)
65
40 (Silage King)
105
Az.Agr.Tenca - Orzinuovi (Bs)
61
43 (Silage King)
104
Az.Agr. Sei Ore di Lonati - Remedello (Bs)
59
42 (KWS Freya)
101
Az.Agr. Cereto Basso - Calcinato (Bs)
58
44 (Silage King)
102
Az.Agr. Scovola di Sudati G.Carlo - Leno(Bs)
54
43 (Silage King)
97
Az. Agr. Cabrini Ettore, C.na Mancapane Castelverde (CR)
54
39 (Silage King)
93
Az Agr. Mortara - Trigolo (CR)
63
37 (KWS Inka)
100
Notas: – –
Os teores médios de MS (planta inteira) à colheita foram da ordem dos 32% em ambas as culturas. colheita do sorgo ocorreu sempre durante a 1.ª quinzena de Outubro.
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Figura 1 Az. Agr. Bettoni (Brescia): Vista dos silos com milho/sorgo e instalação que aloja a unidade de controlo e grupos motogeradores alimentados a bio-gás. Em fundo um dos tanques digestores.
1) Antecipar 40 a 50 dias a colheita da primeira silagem do ano, relativamente a um milho tardio. Sabe-se como é importante para uma instalação de bio-gás ter à sua disposição silagem de milho de um modo continuado, para uma alimentação adequada dos digestores. 2) Produções recorde. Com o milho Ronaldinio produzimos cerca de 50 a 60 t/ha de massa verde ensilável, à qual juntaremos outras 40 a 60 t/ha com a segunda cultura. 3) Ter o terreno livre após a segunda cultura, cerca do início a meados de Outubro, de modo a permitir a sementeira atempada de um cereal de Outono-Inverno (triticale). Estamos portanto em condições de arrancar com o desenvolvimento em plena escala deste projecto, cujo protagonista é o milho Ronaldinio, um híbrido muito precoce de genética alemã, capaz de produções muito elevadas de silagem em tempo recorde.
DESTAQUE Podemos resumir deste modo as principais características do milho RONALDINIO: – Tem uma excelente tolerância ao frio no início da Primavera. Sendo um material seleccionado para o norte/centro da Europa pode semear-se em Itália a partir de meados de Março; – Tem um excelente potencial produtivo, e em boas condições de terreno e regadio pode ultrapassar as 60 t/ha de silagem (m. verde); – Tem uma excelente resistência à acama radicular e podem-se usar densidades (finais) de 90 a 100 mil plantas/ha; – Tem um óptimo “stay-green”, indicador de boa sanidade e adaptabilidade ambiental; – É a variedade de milho mais semeada na Europa; o que é um indicador seguro da sua estabilidade de comportamento e adaptabilidade.
A SEGUNDA CULTURA Esta segunda sementeira, que nas condições de Itália ocorre durante os primeiros 10 dias de Julho, deve ser gerida em função da sucessão cultural escolhida, e para a qual a experimentação indicou várias alternativas: a. Sorgo sacarino (KWS Freya, KWS Sole, Silage King) para uma colheita flexível durante Outubro, e que será o ideal para condições de menor disponibilidade hídrica e menor fertilidade; b. Milho de ciclo médio-tardio, FAO 500-600 (Korimbos/Kuadro), em ambientes de maior potencial produtivo e sem limitações de rega. A colheita faz-se entre meados/fins de Outubro, e devem usar-se híbridos tolerantes à Helmintosporiose; c. Milho de ciclo médio-precoce, FAO300 (KWS1393), se se pretende libertar o terreno mais cedo, de inicio a meados de Outubro, facilitando a sementeira do triticale (Trimmer, Cosinus). Arranca assim o Projecto KWS “COTA 100 TONELADAS” com o milho Ronaldinio, contribuindo para a optimização da rentabilidade das empresas agrícolas e agro-pecuárias italianas envolvidas na obtenção de biomassa para produção de biogás. Para mais informação sobre este tema descarregue a publicação "Piante per l'energia" em: http://www.kws.de/aw/KWS/italy/ Mais_e_altre_specie/~cual/Piante_Bioenergia
FRANÇA: MILHO ATINGIU RENDIMENTO HISTÓRICO PRÓXIMO DOS 105 Q/HA O milho conquistou uma vitória clara face aos seus detractores. Ajudado por um contexto climático favorável ao seu desenvolvimento, este cereal obteve um rendimento histórico na França, perto dos 105 q/ha. “Ultrapassou em 6 q/ha o anterior recorde, de 2007”, congratulou-se Jean-Paul Renoux, responsável nacional pelo milho, do Arvalis. As estratégias de sementeira semi-precoces, adoptadas por 80% dos agricultores revelaram-se rentáveis, gerando boas implantações e germinações rápidas e homogéneas. As chuvas de Julho permitiram depois assegurar um nível de grãos/m2 elevado. O fim de ciclo foi igualmente favorável e o calor de Setembro acelerou a secagem dos grãos. “As óptimas condições de enchimento dos grãos asseguraram quantidade e qualidade tecnológica e sanitária”, resume a AGPM, uma associação de produtores de milho franceses. A isto junta-se o “crescimento” do progresso genético desde há vários anos. As colheitas chegaram ao ponto de terminarem com três semanas de avanço, até mesmo um mês no Sudoeste. Os rendimentos ultrapassam regularmente os 100 q/ha, mesmo em situações de não irrigação e extremos de 130-150 q/ha, até 170 q/ha na Alsácia, foram relatados. “O ano de 2011 demonstrou, uma vez mais, que a irrigação é necessária e benéfica aos produtores de milho, tal como aos criadores, para assegurar a produção de forragem”, assegura a AGPM. Outro recorde deste ano: a baixa humidade do milho colhido, com uma média nacional de apenas 22%, segundo o Arvalis. Ou seja, cinco pontos percentuais a menos do que a média de rendimento dos cinco anos anteriores. Na realidade, esta cifra oculta variações que vão de 15% a Sul, a 35% a norte de França. Este cenário levou a custos de secagem reduzidos. Um mercado atípico Algo raro ocorreu este ano, o milho francês esteve demasiado caro para exportação para diversos países da União Europeia (UE), mas encontrou muito mercado nos países fora desta. Com efeito, as excelentes colheitas europeias limitam a necessidade de importação dos países da UE, e a Hungria é frequentemente preferida pelos seus baixos preços. Em contrapartida, tendo em conta a falta de produção dos grandes países exportadores, a França torna-se uma fonte de abastecimento bastante rentável, especialmente para os países do norte de África. 1 Quintal equivale a cerca de 60 kg.
Figura 2 Comparação do Ronaldinio (esq) com uma testemunha de precocidade identica.
Fonte: La France Agricole
AGROTEC / MARÇO 2012
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GRANDES CULTURAS
VOLATILIDADE DOS PREÇOS UMA REALIDADE À ESCALA MUNDIAL
Por: Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis)
S
egundo Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, o elevado preço dos alimentos e os baixos níveis de stocks de cereais fazem com que o mundo continue na chamada “zona de perigo”.ilho constitui uma aposta economicamente estratégica com claros benefícios para Portugal. O mesmo responsável considerava que “a esperada volatilidade” nos preços de alguns produtos pode ter “efeitos inesperados” nos preços dos alimentos nos próximos meses. “A vigilância é vital devido às incertezas e à volatilidade existentes”. A volatilidade referida por Zoellick é uma realidade em todo o mundo e a que Portugal e a União Europeia não escapam. A análise do gráfico que se segue, onde constam as cotações diárias do milho no mercado de Bordéus (FOB Bordéus) nos últimos 5 anos, permite constatar que a partir do pico atingido em Outubro de 2007 (229€/tonelada), o milho teve uma acentuada quebra, chegando a um mínimo de 109€/tonelada, em Agosto de 2009. No espaço de duas campanhas o milho desvalorizou 120€/tonelada (-52%). A partir desta data, a cotação do milho foi-se incrementando gradualmente, até atingir os 230 €/tonelada no início de 2011. No entanto, também 2011 foi marcado por uma acentuada volatilidade das cotações do milho no mercado mundial, tendo-se situado a sua cotação, durante a campanha de comercialização da produção nacional, num valor médio de 182€/ tonela (7/1/2011), o que corresponde a uma desvalorização de 48€/tonelada (-21%), desde o início do ano. No final do ano de 2011, verificou-se um novo aumento das cotações, situando-se, em Janeiro, a cotação do milho no mercado de Bordéus, em 194€/tonelada (7/1/2012).
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Como é por demais evidente, a acentuada volatilidade que se apoderou do mercado mundial de cereais cria inúmeras dificuldades não só aos produtores de cereais, dificultando sobre maneira o correcto planeamento das suas explorações agrícolas, como também aos nossos clientes dos sectores animais que, face a estas constantes oscilações, têm dificuldade em programarem atempadamente as suas compras ao longo do ano. Por último, cabe relembrar que de forma a minimizar os efeitos da volatilidade dos preços dos cereais na União Europeia, a ANPROMIS tem defendido desde a primeira hora que no âmbito da Política Agrícola Comum, agora em revisão, sejam criados mecanismos de regulação dos mercados que permitam garantir o rendimento dos agricultores europeus e assegurem o aprovisionamento alimentar da população europeia.■
PROTECÇÃO DE CULTURAS
SITOPHILUS ZEAMAIS E SITOTROGA CEREALELLA
Por: Joana Rita Carvalho Fernandes joanarita665@hotmail.com Biotecnóloga — Estagiária na Valorminho, Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, S.A.
PRAGAS DO MILHO
E
ntre as pragas que atacam os grãos de milho armazenados destacam-se duas, os gorgulhos, Sitophilus zeamais, popularmente conhecido como gorgulho do milho, e a traça, Sitotroga cerealella, também popularmente conhecida como a traça do milho. Ambas as espécies são consideradas pragas primárias, ou seja, o insecto adulto quebra o revestimento duro dos grãos não danificados, pondo os seus ovos no seu interior e do qual as larvas se vão alimentar, como é o caso do Sitophilus zeamais. Mas também ocorre o insecto adulto pôr os seus ovos no exterior do grão, e uma vez saídas as larvas do ovo, perfuram o revestimento duro do grão, penetrando-o à medida que se vão alimentando, como é o caso da Sitotroga cerealella. As pragas dos produtos armazenados contaminam mais do que o que podem consumir, causando danos em cerca de 10% da produção mundial de grãos, invalidando deste modo esses produtos para o consumo humano. Algumas destas pragas atacam o milho ainda este está no campo, enquanto outras infestam os grãos durante o seu processamento e armazenamento. As pragas da ordem dos coleópteros (Coleoptera), como é o caso do Sitophilus zeamais e da ordem dos lepidópteros, no que toca à Sitotroga cerealella, são os grupos mais importantes das pragas de armazenagem do milho.
Figura 1 Sitophilus zeamais adulto. (Plantwise, 2011; Antunes, L. E. G., et al, 2010)
Figura 2 Diferença no rostro do macho (A) e da fêmea (B). (Antunes, L. E. G., et al, 2010)
COMO IDENTIFICAR — SITOPHILUS ZEAMAIS Os adultos são gorgulhos de 2,0 a 3,5 mm de comprimento, de coloração castanho-escura, com 4 manchas avermelhadas nos élitros (asas anteriores), bem visíveis logo após a emergência (fig.1). Têm a cabeça projectada à frente, na forma de rostro curvado. Nos machos o rostro é mais curto e grosso, nas fêmeas mais longo e afilado (fig. 2). As larvas são de coloração amarelo-claro, do tipo curculioniforme, carnudas, macias e com a cabeça de cor castanho-escuro enquanto que as pupas são brancas (fig. 3).
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Figura 3 Pupa de Sitophilus zeamais (Antunes, L. E. G., et al, 2010)
Figura 4 Ciclo de vida do Sitophilus zeamais. (WFP, 2009; CSIRO, 2004) Postura
Fase larvar
Pupa
Sitophilus zeamais adulto
BIOLOGIA E ECOLOGIA A espécie S. zeamais apresenta elevado potencial de multiplicação. A postura é feita no grão de milho, com o rostro abrem no sulco médio do grão um pequeno furo e, com o auxílio do oviscapto, introduzem o ovo no interior do grão, ao mesmo tempo que um líquido mucilaginoso tapa o orifício e mantém o ovo no seu lugar. É no interior do grão que a larva completa o seu desenvolvimento e passa ao estágio de pupa, culminando com a emergência do adulto. As fêmeas podem viver até 140 dias, sendo o período de postura de 104 dias e o número médio de ovos por fêmea de 282. O período de incubação oscila entre 3 e 6 dias, sendo que o ciclo biológico do ovo até à emergência de adultos é de 34 dias quando o milho é o alimento. De acordo com os seus hábitos alimentares, o Sitophilus zeamais é considerado um consumidor interno, pois as larvas alimentam-se completamente dentro dos grãos inteiros.
NATUREZA DOS ESTRAGOS E DIMENSÃO DOS PREJUÍZOS O Sitophilus zeamais é uma praga de grãos muito destrutiva. Apresenta infestação cruzada, (capacidade de infestar os grãos tanto no campo quanto no armazenamento), elevado potencial de multiplicação e possui muitos hospedeiros, não só o milho mas também o trigo, arroz, cevada e triticale. Os grãos colhidos já infestados chegam aos armazéns infestando também os grãos já existentes e que se encontram sadios. Os adultos alimentam-se de grãos quebrados e pó de grão, mas as larvas desta espécie alimentam-se exclusivamente dentro dos grãos, originando a redução do peso e da qualidade física e fisiológica do grão, podendo, potencialmente, causar uma destruição quase completa (fig. 5). Neste caso, os grãos ficam apenas com a “casca”, tendo no interior um pó constituído pelos excrementos das larvas. Quando apresentam orifícios tal significa que os adultos já emergiram.
Figura 5 Grãos de milho destruídos pelo Sitophilus zeamais. (SGD, 2010; Dilex, 2010)
AGROTEC / MARÇO 2012
73
PROTECÇÃO DE CULTURAS
COMO IDENTIFICAR — SITOTROGA CEREALELLA Os adultos são borboletas com 10 a 15 mm de envergadura e com 6 a 8 mm de comprimento. As asas anteriores são cor de palha, com franjas, e as posteriores mais claras, com franjas maiores. As asas são sedosas e brilhantes, sendo as anteriores estreitas, longas e afiladas nas extremidades. Já as asas posteriores estreitam-se acentuadamente em direcção à extremidade (fig. 6). No entanto, há um certo polimorfismo nesta espécie, não sendo todos da mesma coloração, tamanho e padrão Os ovos, de comprimento médio de 0,5mm, apresentam a forma oval, estriados e de cor branca, tornando-se rosados à medida que se aproxima a eclosão. As lagartas são curtas e truncadas, com falsas pernas abdominais pouco desenvolvidas, sustentando não mais que três colchetes. Apresentam cor amarelada no início do desenvolvimento, tornando-se brancas quando desenvolvidas, atingindo 6 mm de comprimento. São curvadas, com o tórax mais largo do que o abdómen e as mandíbulas são castanho-escuras (fig. 6). A pupa, com comprimento médio de 6,5mm, varia de coloração desde branca, no início, a castanho-escura, quando a emergência está próxima (fig. 6).
BIOLOGIA E ECOLOGIA A fêmea desta espécie pode fazer posturas de 40 a 280 ovos. As posturas começam em 1 ou 2 dias após a cópula. Esses ovos são colocados isoladamente ou em grupos sobre os grãos. Sob condições ideais, a larva eclode após 4 a 6 dias e penetra no grão dentro de 24 horas, normalmente através do pericarpo macio, próximo ao embrião. O desenvolvimento é completado entre 2 e 3 semanas, sendo que a larva se alimenta do conteúdo interno do grão. Verificando-se as condições ideais a larva passa por no mínimo quatro instares de desenvolvimento. Quando as larvas levam mais tempo para o desenvolvimento podem passar por até nove instares. Antes de pupar, a lagarta constrói a saída para o exterior do grão, deixando apenas uma camada fina do tegumento intacto para proteger a pupa dos predadores. A lagarta tece um casulo de seda onde irá passar toda a fase de pupa. Assim que emerge a borboleta rompe esse casulo deixando um orifício de formato redondo. De acordo com os seus hábitos alimentares, a Sitotroga cerealella é igualmente considerada um consumidor interno, pois as larvas também se alimentam completamente dentro dos grãos inteiros.
NATUREZA DOS ESTRAGOS E DIMENSÃO DOS PREJUÍZOS Assim como o gorgulho, a traça é uma praga de grãos muito destrutiva, podendo causar perdas que podem atingir os 48% da produção, pois a redução do peso e da qualidade física e fisiológica do grão, causam uma destruição quase completa (fig. 8). Apesar de ser uma praga de grande impacto nos armazéns ataca também os cereais ainda no campo, sobretudo quando este se en-
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Figura 6 Sitotroga cerealella adulta, pupa e larva. (Rizobacter, s/d; Forestry images, 2010; CSIRO, 2007)
Figura 7 Ciclo de vida da Sitotroga cerealella (Bioinsa, 2010; CSIRO, 2007; Forestry images, 2010; Rizobacter, s/d)
Ovos colocados sobre o grão
A larva penetra no grão e desenvolve-se até formar a pupa
Após completar a fase adulta rompe a cutícula para sair do grão
contra próximo do local de armazenamento. O insecto voa relativamente bem e, quando possível, faz posturas directamente nas espigas, (o que acontece quando as glumas ou camisas do milho são curtas demais), infestando dessa forma culturas no campo situadas a cerca de 1km do local de armazenamento. É um insecto frágil, de modo que não consegue penetrar nas massas de cereal, limitando os estragos à superfície do cereal armazenado (cerca de 30 a 40 cm). No entanto, a praga pode ser muito grave se estiverem reunidos os principais factores de nocividade, ou seja, cultivares de milho de espiga mal coberta e falta de limpeza nos armazéns. Contudo, no caso de se receber grãos já infestados, os insectos que ficarem nos grãos à maior profundidade são incapazes de chegar à superfície. Uma característica interessante resulta do facto de quando esta praga ataca grãos de pequenas dimensões a larva tece um tubo sedoso unindo vários grãos, onde completa o seu ciclo.
Quadro 1 Insecticidas indicados para o tratamento preventivo e/ou curativo de pragas de grãos armazenados.
Nome
Fosfina (Fosforeto de alumínio)
FORMAS DE LUTA DISPONÍVEIS: GORGULHO E TRAÇA Desde o momento em que determinados grãos, quer se encontrem em armazém ou mesmo no campo, são infectados por estas pragas, estáse perante um problema fitossanitário, uma vez que a sua proliferação é rápida criando um risco acrescido para o resto do armazenamento ou da cultura no campo. Desta forma, se as pragas não forem travadas, o seu grau de nocividade leva a uma inviabilidade da cultura ou dos grãos infectados. Portanto, uma vez que o Sitophilus zeamais e a Sitotroga cerealella são ambos pragas do milho, e como têm um comportamento idêntico, os meios de luta que se podem aplicar
Formulação
DETIA GAS EX B
FU
GASTOXIN
FU
GASTOXIN bolas
FU
GASTOXIN pílulas
FU
GASTOXIN pó
FU
Granel: Com cobertura: 5-10 g sa/m3 Sem cobertura: 10-20 g sa/m3
FU
Empilhados com cobertura: 1,7-7 g sa/m3
PHOSTOXIN bolas “Degesch”
Terra de diatomáceas
Figura 8 Danos causados pela Sitotroga cerealella em grãos de milho. (Paulo, A. V., 2008)
Nome comercial
Piretrinas + Butóxido de piperonilo
Pirimifos-metil
Concentração (g s.a./100kg)
Intervalo de segurança
2 dias para temperaturas >25 °C
Silos 3,4-11g sa/ton de semente
3 dias para temperaturas entre 16 - 25 °C
Marca
R. GONÇALVES CAFUM CAFUM
CAFUM 4 dias para temperaturas entre 10 - 15 °C 10-14 dias no caso do gorgulho dos cereais
CAFUM
R. GONÇALVES
PHOSTOXIN comprimidos
FU
Insecto
Pó
867
----
----
Keepdry
Pó
860
----
----
SUBSTRAL INSECTICIDA
KN
30+3 g sa/100 m2
----
F. LIMA
----
DANIFER
30 dias
SYNGENTA
PIBUTRIN INSECTICIDA 33
R. GONÇALVES
(3) 30+3 g sa/3000 m3 KN
(4)
Granel: 4 gsa/1000 kg/grão (5) ACTELLIC 50
CE Ensacado: 25 g sa/m2 de sacos (6)
(Adaptado de: DGADR, 2011) Legenda CE – concentrado emulsionante, FU – fumigação, Pó – pó seco, KN – concentrado para nebulização 1. A dose a aplicar em silos de betão é normalmente inferior à aplicada em silos metálicos. 2. Em armazéns, celeiros, batelões, camiões e vagões. 3. Diluir esta dose em 1-2 litros de água. Ao fazer a pulverização, não é necessário cobrir todo o grão. 4. Diluir esta dose em 1-2 litros de água. Pulverizar cada saco quando se forma a pilha. 5. Nebulização residual e de contacto com 30 minutos de exposição. 6. Nebulização espacial com 30 minutos de exposição.
AGROTEC / MARÇO 2012
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PROTECÇÃO DE CULTURAS
contra estas duas pragas também serão os mesmos. A monitorização e prevenção são as melhores estratégias de luta para evitar estas pragas em grãos armazenados. Recomenda-se sobretudo a desinfecção das sementes, bem como garantir um estado de limpeza dos celeiros e armazéns, com pavimentos, paredes e tectos sem rachas, devendo as janelas estar protegidas por uma fina rede mosquiteira. Infestação numa pequena quantidade de grãos – Mergulhando os grãos em água, e verificando se alguns flutuam, pode-se fazer uma detecção precoce do ataque das pragas. Neste caso, a melhor solução é descartarem-se os grãos, e como forma de prevenção os restantes devem ser sujeitos a um tratamento de aquecimento ou refrigeração (luta física, por exemplo na arca frigorífica), durante determinado período de tempo, de forma a assegurar a morte de todas as fases de vida, no caso dos restantes grãos também se encontrarem infectados.
Infestação em grandes proporções – neste caso a luta química é a que actua com mais eficácia, existindo vários insecticidas no mercado indicados para tratamento preventivo e/ou curativo de pragas de grãos armazenados (quadro 1). A fumigação é uma das opções de tratamento mais aplicada, e que pode evitar a perda total dos grãos. Esta técnica consiste na aplicação de insecticidas na forma sólida como é o caso da fosfina (fosforeto de alumínio). No entanto, para uma efectiva protecção dos grãos (desde que não sejam utilizados imediatamente) e do ambiente, deve-se complementar a fumigação com um tratamento espacial (residual). Neste tratamento pode-se optar por uma pulverização como mecanismo para a aplicação de um insecticida preventivo, de maneira a formar uma camada protectora, evitando re-infestações possíveis, bem como controlar eventuais focos de infestações nas estruturas para armazenagem. Todas as medidas de luta química devem ser sempre implementadas de forma integrada, usando os produtos fitofarmacêuticos nas dosagens correctas. Recentemente tem sido utilizada a terra de diatomáceas como medida auxiliar de protecção para pisos e paredes e,
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eventualmente, sobre o grão, pois trata-se de um produto inerte que não provoca toxicidade nos grãos.
OUTRAS FORMAS DE LUTA Na última década aumentou consideravelmente a importância dos métodos físicos e biológicos para o combate das pragas. As razões para esta tendência são as restrições no que respeita aos tratamentos químicos dos grãos em muitos países. Luta física - armazenamento hermético dos grãos, que evita a intrusão das pragas e causa a morte dos insectos que ficam no armazém por esgotamento de oxigénio; tratamentos com altas temperaturas; e tratamentos de refrigeração, originando a paragem no desenvolvimento da praga (em pequenas doses pode-se colocar o cereal até três dias em arcas frigoríficas congeladoras); armazenamento do milho em espiga em canastros, em substituição de tulhas e silos (nos canastros as temperaturas são menores, a humidade do grão tende a diminuir e permite-se a exposição aos insectos auxiliares). Luta biológica - podem utilizar-se inimigos naturais destas pragas que asseguram o equilíbrio da população. No caso de parasitóides das larvas dos Sitophilus zeamais podem ser utilizados o Anisapteromalus calandra e a Choetospila elegans. Quanto a parasitóides de ovos da Sitotroga cerealella pode utilizar-se para o efeito a Trichogramma exiguum. Os métodos biológicos de combate permitem manter a quantidade da praga a um nível baixo no armazém, mas não conseguem uma exterminação dos mesmos. Luta genética - pode recorrer-se a variedades mais resistentes a estas pragas, como o uso de culturas que apresentem as glumas (camisas do milho) bem desenvolvidas e que protejam o grão na integridade. Luta biotécnica - pode-se utilizar a largada autocida e o uso de feromonas para captura de adultos no caso da Sitotroga cerealella. Porém, é pouco ou nada praticado. A tecnologia do milho transgénico Bt (lepidópteros) é eficaz na protecção contra a traça (não contra gorgulhos), o que, por paradoxo, revela que as toxinas se mantêm elevadas mesmo no grão armazenado e que vai ser usado para consumo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS >
/
/
Sendo que o Sitophilus zeamais (gorgulho) e a Sitotroga cerealella (traça) se tratam de duas pragas que podem causar grandes prejuízos num curto espaço de tempo, a melhor forma de as evitar será sempre a prática de uma monitorização atenta da cultura, juntamente com a recomendação de uma limpeza acentuada dos celeiros e armazéns, bem como de uma desinfecção das sementes após a colheita e antes de serem armazenadas. Se estas práticas preventivas não forem realizadas e as pragas se instalarem, a única forma de as eliminar será recorrendo a um dos meios de luta disponíveis.
PROTECÇÃO DE CULTURAS
DEGRADAÇÃO BIOLÓGICA DE PESTICIDAS: UMA SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DA CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL
Por: Luísa Barreiros REQUIMTE, Departamento de Ciências Químicas, Faculdade de Farmácia, Universidade do Porto Área Técnico-Científica de Farmácia, Núcleo de Investigação em Farmácia, Centro de Investigação em Saúde e Ambiente (CISA), Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto (ESTSP), Instituto Politécnico do Porto
A
NECESSIDADE DO USO DE PESTICIDAS: VANTAGENS E DESVANTAGENS
© Nancy Brown
A população mundial está em constante crescimento, estimando-se que irá aumentar de 6,9 mil milhões para mais de 9,1 mil milhões até 2050 [1, 2]. Actualmente, cerca de 40% da população mundial depende da agricultura para a sua subsistência [1]. Como consequência do aumento da população e também devido a mudanças progressivas na dieta alimentar, é previsível que os requisitos em alimentos e nutrientes, incluindo fibras, aumentem até 35% durante os próximos 25-30 anos [1]. Adicionalmente, o uso de produtos agrícolas para produzir substitutos dos combustíveis fósseis é uma área em forte expansão. Torna-se portanto indispensável aumentar a produção agrícola. Considerando que a área cultivável disponível é limitada, a estratégia passa por aumentar cada vez mais o rendimento de produção. Os produtos fitofarmacêuticos, grupo que inclui os pesticidas, estão entre os compostos que mais contribuem para a obtenção de elevados rendimentos de cultivo, melhoria da qualidade de produtos agrícolas e uma gestão agrícola eficiente [3]. De facto, estima-se que, sem a utilização de pesticidas, haveria uma redução de aproximadamente 40% na produção agrícola global devido à ocorrência de pragas [4, 5]. Actualmente, são aplicadas no ambiente mais de 500 formulações diferentes de pesticidas, sendo a agricultura a área que mais utiliza estes compostos. De acordo com Gavrilescu [6], são aplicados a nível mundial 4 milhões de tone-
ladas de pesticidas por ano para controlar a ocorrência de ervas daninhas, insectos e outras pragas nas culturas agrícolas. Apesar dos potenciais efeitos benéficos, a produção e aplicação intensivas de pesticidas resultam frequentemente na contaminação de ambientes terrestres e aquáticos. Efectivamente, as práticas agrícolas envolvendo pesticidas, o seu derrame acidental e a libertação não controlada de águas contaminadas resultantes da lavagem de reservatórios de pesticidas ou de efluentes industriais no ambiente circundante têm conduzido à contaminação do ar, água, solo e seres vivos, pondo em risco a saúde humana e a qualidade do ambiente que nos rodeia. É ainda de salientar que, em alguns casos, o pesticida ou pelo menos parte do seu princípio activo pode ser resistente à degradação (recalci-
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trante), o que propicia a sua acumulação no meio ambiente, incluindo nos seres vivos, e pode provocar efeitos tóxicos a longo prazo [7]. Uma das principais questões levantadas pela contaminação ambiental com pesticidas é precisamente a sua capacidade de bioacumulação e propagação através da cadeia trófica (biomagnificação).
COMPORTAMENTO E DESTINO DOS PESTICIDAS NO AMBIENTE
© Peter Vries
Os pesticidas são contaminantes muito significativos no sistema agrícola solo-água e o seu movimento dos solos tratados para a água constitui um dos principais mecanismos de poluição [8]. A contaminação do sistema solo-água por pesticidas tem levantado questões importantes devido às sérias consequências ecológicas que pode ter e aos potenciais efeitos negativos na saúde pública. O estudo do comportamento e destino dos pesticidas no ambiente é portanto de grande relevância, a fim de se poder prever e preferencialmente evitar a contaminação dos solos e águas.
A partir do momento da sua aplicação, os pesticidas distribuem-se pelos principais compartimentos ambientais: atmosfera, água, solo e sedimentos, e plantas e animais. O comportamento dos pesticidas no ambiente é maioritariamente definido por processos físicos e químicos, embora as transformações biológicas possam também desempenhar um papel relevante. Os processos físicos, que incluem a volatilização, a adsorção e a lixiviação, envolvem o transporte físico dos pesticidas de um compartimento ambiental para outro, sem que ocorra qualquer transformação ou degradação das substâncias [6, 9, 10]. Os processos químicos como a fotodegradação, a ionização e a hidrólise química envolvem a transformação abiótica dos pesticidas provocada pela instabilidade e reactividade das moléculas no ambiente [6, 9, 10]. Através deste tipo de transformação, os pesticidas podem ser degradados ou simplesmente convertidos em formas análogas. A biodegradação consiste na capacidade dos diferentes seres vivos - plantas, animais e microrganismos - realizarem os processos bioquímicos de oxidação, redução e hidrólise envolvidos na transformação de um composto orgânico xenobiótico [11]. A este respeito, convém referir que um composto xenobiótico é um composto químico que não é comum na natureza [12]. Os microrganismos desempenham um papel fundamental e indispensável na degradação de poluentes ambientais, incluindo os pesticidas. Os microrganismos podem ter capacidade para degradar os compostos xenobióticos enquanto os utilizam como fontes de carbono/azoto e energia para suportar seu crescimento ou, alternativamente, a degradação pode ocorrer apenas na presença de fontes de carbono adicionais e sem produção de energia. Este segundo processo de biodegradação é designado por cometabolismo e envolve a oxidação dos compostos xenobióticos como substrato secundário durante o crescimento num substrato primário que funciona como fonte de carbono e energia [13]. Através da biodegradação, os compostos xenobióticos podem ser completamente convertidos em matéria inorgânica, nomeadamente água, dióxido de carbono e amónia (mineralização). Esta é a situação mais desejável uma vez que os produtos finais não são tóxicos. Alternativamente, os xenobióticos podem ser transformados em produtos de degradação potencialmente mais tóxicos e recalcitrantes que o composto original [14]. Existem numerosos estudos que ilustram este segundo tipo de processo. É o caso dos trabalhos que descrevem a biodegradação de pesticidas por cometabolismo ou degradação parcial, com acumulação de produtos intermediários [15, 16, 17, 18]. Em alguns casos, a degradação microbiológica pode ser o processo mais importante de dissipação e degradação de pesticidas no ambiente, sendo possível a mineralização completa de um pesticida num curto espaço de tempo [19, 20, 21]. Contudo, os organismos capazes de mineralizar compostos xenobióticos são frequentemente raros no meio ambiente, ou porque as vias metabólicas necessárias não estão disponíveis na natureza, ou quando presentes, podem estar em número muito reduzido. A contribuição de cada tipo de processo (físico, químico, biológico) para o comportamento e transporte de pesticidas no ambiente é influenciado por diversos factores tais como o clima, a topografia do terreno, o tipo de solo, a frequência de chuvas, as práticas agrícolas e as propriedades físico-químicas de cada pesticida, como a sua solubilidade em água, a sua capacidade de retenção no solo (coeficiente de adsorção, Koc) e a sua persistência (tempo de semi-vida, T1/2) [7]. A título de exemplo, os pesticidas persistentes e fortemente adsorvidos ao solo (Koc e T1/2 elevados) como o endossulfão permanecem retidos no solo e podem contaminar facilmente águas superficiais. Já pesticidas com valores intermédios de Koc e T1/2 como o molinato têm potencial para contaminar águas superficiais mas também subterrâneas.
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PROTECÇÃO DE CULTURAS
ESTRATÉGIAS PARA O TRATAMENTO DE AMBIENTES CONTAMINADOS COM PESTICIDAS Nas últimas duas décadas, a tomada de consciência de que a manutenção da qualidade dos recursos naturais é essencial para sustentar a produtividade agrícola conduziu a que a sua possível contaminação com resíduos de pesticidas se tornasse uma preocupação premente [22, 23]. De forma a proteger a qualidade da água e prevenir riscos para a saúde humana, os diversos países do globo criaram organizações que avaliam e regulam o uso de pesticidas e outros compostos potencialmente tóxicos. Por exemplo, em Portugal, os Decretos-Lei n.º 243/2001 e n.º 306/2007 definem que o valor paramétrico de pesticidas totais em água destinada ao consumo humano é 0,5 μg/L. Apesar de todos os regulamentos e directivas, estudos realizados por todo o mundo têm detectado a presença de pesticidas no ambiente, por vezes acima dos valores legalmente recomendados, o que levanta questões ecológicas e pode representar uma séria ameaça para a saúde. Consequentemente, revela-se essencial desenvolver estratégias de tratamento que sejam capazes de descontaminar locais poluídos e prevenir contaminações futuras. A variedade de tecnologias actualmente disponível pode ser dividida em processos de tratamento físicoquímicos e biológicos. Alguns exemplos de tratamentos físico-químicos são a incineração, a adsorção a uma matriz, a deposição em aterros, a extracção por solventes e a hidrólise por agentes químicos. Já os processos biológicos envolvem geralmente plantas, microrganismos e enzimas, isoladamente ou em combinação, e alguns exemplos deste tipo de tratamento são a biorremediação por microrganismos, fitorremediação, “land farming” e bioreactores. Dependendo da tecnologia utilizada, o processo de tratamento pode realizar-se no local da contaminação (in situ), ou pode requerer o transporte do solo ou água contaminados para uma instalação adequada (geralmente um reactor) para um tratamento ex situ [6].
BIORREMEDIAÇÃO: A ALTERNATIVA MAIS EFICAZ PARA A DESCONTAMINAÇÃO DE PESTICIDAS? Entre os diferentes tipos de processos de tratamento, a biorremediação apresenta-se frequentemente como a alternativa mais adequada e mais vantajosa. De facto, quando se comparam as diferentes estratégias para o tratamento de ambientes poluídos, os processos de remediação químicos e físicos requerem com frequência a utilização de condições extremas. Além disso, estes mesmos processos podem ser mais dispendiosos, ineficientes e podem ainda originar problemas ambientais adicionais. A contaminação da matriz no final de um processo de adsorção ou a acumulação de produtos de degradação mais tóxicos que o composto original na incineração ou em processos químicos são alguns exemplos destas implicações ambientais [24, 25]. Em contraste, os processos de tratamento biológico são potencialmente mais eficientes, economicamente vantajosos e ambientalmente seguros uma vez que pode ser alcançada a degradação completa (mineralização) dos contaminantes. Nos últimos anos, a importância e o interesse na biodegradação de poluentes têm-se intensificado como um esforço da humanidade para encontrar formas sustentáveis de limpar ambientes contaminados [6, 19, 26, 27]. Apesar de todas as vantagens, é importante referir que o sucesso de um tratamento biológico está dependente da eficiência dos microrganismos e da estabilidade do composto xenobiótico no ambiente contaminado. A biorremediação é influenciada por diversos factores ambientais como o teor em oxigénio, o pH, a temperatura, a disponibilidade de nutrientes e, em grande parte, pela
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estimulada e incrementada através de alterações nos factores ambientais como o arejamento, o ajuste de pH, de temperatura e humidade e através da adição de nutrientes [36]. A bioinoculação consiste na adição ao ambiente poluído de microrganismos autóctones ou alóctones (não indígenas daquele ambiente) com capacidade de degradar o contaminante alvo ou que actuam como fornecedores de genes catabólicos [28, 37]. É ainda de salientar que microrganismos geneticamente modificados com as propriedades desejáveis também podem ser utilizados em estratégias de bioinoculação [38, 39]. Os tratamentos biológicos in situ têm, no entanto, algumas limitações. Uma das principais limitações é a complexidade e heterogeneidade do ambiente poluído, que pode pôr em causa e reduzir a eficácia do processo [6, 40]. Além disso, existe por vezes dificuldade em monitorizar, controlar e prever este tipo de tratamento. Por estas razões, pode recorrer-se em alternativa a estratégias de biorremediação ex situ como “land farming”, compostagem e bioreactores [6, 41].
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NUTRIÇÃO VEGETAL
TECNOLOGIAS LZN E C-MOV DA ADP
Por: João Castro Pinto Responsável pelo Desenvolvimento Agronómico da ADP – Fertilizantes S.A.
ADUBOS INOVADORES PERMITEM AUMENTAR O RENDIMENTO DO AGRICULTOR
A
ADP – Fertilizantes é conhecida no mercado de adubos pela sua intensa actividade de Investigação & Desenvolvimento, o que lhe permite lançar periodicamente novos produtos com um elevado grau de inovação. Os exemplos mais recentes são a Tecnologia LZn e a Tecnologia C-MOV que são aplicadas, nomeadamente, nos adubos Amicote.
TECNOLOGIA LZN
Zinco complexado com linhossulfonatos é 5 a 10 vezes mais eficiente O zinco é um micronutriente essencial ao metabolismo vegetal, tendo um papel estrutural em mais de 300 enzimas e activando numerosos processos enzimáticos; sendo indispensável à síntese de auxinas, é um regulador do crescimento vegetativo e também do consumo de água por parte das plantas; a sua carência afecta em mais de 50% a actividade fotossintética, a produção de sacarose e de amido, a floração e produção de sementes. São de esperar carências em zinco nos solos pobres neste nutriente, nomeadamente os solos arenosos e muito lavados, nos solos alcalinos e ricos em carbonatos que insolubilizam rapidamente os micronutrientes catiões, nos solos argilosos ou sujeitos a fenómenos de hidromorfismo, solos com excesso de fósforo, magnésio, cobre, ferro ou manganês, nas estações do ano mais frias e em culturas de regadio com altos níveis de produtividade. O milho, cereais de inverno, arroz, batata, cebola, tomate, culturas hortícolas e fruteiras são as culturas mais exigentes em zinco.
Figura 1 Sintomas de deficiência de zinco em milho
Na Tecnologia LZn, um exclusivo da Fertiberia e ADP – Fertilizantes, o zinco dos adubos é previamente complexado com linhossulfonatos de amónio, formando um composto químico estável, semelhante a um quelato, mas com a característica de ser biodegradável, pelo que
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não apresenta os problemas ambientais dos quelatos. O zinco complexado com linhossulfonatos é libertado gradualmente no solo, sendo absorvido pelas raízes de acordo com as necessidades das culturas, e estando menos sujeito aos fenómenos de retrogradação. O zinco da Tecnologia LZn é 5 a 10 vezes mais eficaz de que o zinco não complexado, tendo uma eficácia garantida nas condições de solo mais difíceis e nas culturas mais exigentes.
TECNOLOGIA LZN
Eficácia garantida por ensaios com universidades e institutos de investigação independentes Vários ensaios e estudos independentes em trigo e milho comprovam que o zinco da Tecnologia LZn é mais eficiente do que outras fontes de zinco utilizadas no fabrico de adubos NPK. Num ensaio realizado na Universidade Autónoma de Madrid (2009), utilizando milho cultivado em câmaras de crescimento, e comparando diferentes fontes de zinco – linhossulfonato, óxido e sulfato – e diferentes doses, concluiu-se que o adubo NPK+0,1% LZn foi mais eficiente do que o mesmo adubo com outras fontes de zinco, os NPK+0,5% Sulfato de Zn e NPK + 1% Óxido de Zn. Como exemplos de resultados de ensaios de campo, podem-se citar dois ensaios em milho efectuados em Espanha, onde o zinco complexado com linhossulfonatos originou acréscimos de produção de 0,7 e 2,1 t/ha, enquanto que igual dose de zinco oriundo de sulfato de zinco não proporcionou qualquer acréscimo de produção. Estes resultados podem explicar-se com a retrogradação no solo do zinco do sulfato de zinco, que assim não pode actuar, contrariamente ao zinco LZn que por estar complexado pode evidenciar uma boa resposta da cultura, com aumentos de rendimento.
aminoácidos em quantidades apreciáveis, mas sim, moléculas orgânicas de altíssima qualidade, que têm um efeito imediato na estimulação da vida microbiana do solo, e um efeito directo mensurável sobre as plantas, quando aplicadas em baixas concentrações.
Gráfico 1 Produção de milho expressa em Peso seco (g/vaso)
TECNOLOGIA C-MOV
Um exclusivo Fertiberia/ADP desenvolvido em colaboração com universidades e centros de investigação de Espanha e Portugal
Gráfico 2 Extracção de zinco expressa pelo teor de zinco na parte aérea de plantas de milho (mg Zn kg-1), num ensaio em vasos com um adubo NPK com diferentes fontes de zinco
O C-MOV é o resultado de 5 anos de intensa pesquisa, investigação e experimentação agronómica, que contou com o apoio de universidades e centros de investigação especializados, espanhóis e portugueses. Dezenas de experiências, análises bioquímicas complexas, ensaios em câmara de crescimento, em vaso e de campo, relatórios detalhados e reuniões científicas evidenciam o esforço desenvolvido por diversas entidades científicas independentes, de onde se realçam, de Portugal, o Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Uni-
Tabela 1 Ensaios de campo em milho, em Espanha, onde se comparou o efeito do zinco LZn com o zinco proveniente de sulfato de zinco
Cultura
Local
Produção dos diferentes tratamentos com zinco (t/ha) Controlo
Sulfato Zn
LZn
Aumento de produção do LZn
Milho
Saragoça
15,95
15,92
16,63
+ 0,71 t/ha (4%)
Milho
Albacete
10,75
10,76
12,82
+ 2,07 t/ha (20%)
TECNOLOGIA C-MOV
Consórcio de Moléculas Orgânicas Vegetais O C-MOV é um conjunto de moléculas de origem vegetal de comprovada actividade enzimática e fitohormonal, obtidas através de um processo extractivo de materiais orgânicos vegetais seleccionados e de grande qualidade. É portanto um extracto orgânico rico em moléculas vegetais de elevado potencial enzimático, fitohormonal e bioestimulante. Não contém nutrientes nem
Figura 2 Ensaios em câmara de crescimento para o desenvolvimento da Tecnologia C-MOV
versidade Técnica de Lisboa, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), e de Espanha, o Centro de Edafología y Biología Aplicada del Segura CEBAS-CSIC, a Universidad de Lérida, o Centro Tecnológico Agrario y Alimentario (ITAGRA), o Institut de Recerca i Tecnología Agroalimentàries (IRTA), o Instituto Técnico Agronómico Provincial de Albacete (ITAP) e a Asociación para la Investigación de la Mejora del Cultivo de la Remolacha Azucarera (AIMCRA).
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NUTRIÇÃO VEGETAL
Constituintes do C-MOV promovem a qualidade do solo Os constituintes do C-MOV são compostos húmicos e enzimas, sem peso molecular definido, caracterizados por uma intensa actividade fitohormonal e bioestimulante sobre as plantas, hidrólise de compostos orgânicos que enriquece a fertilidade do solo e estímulo imediato da vida microbiana da rizosfera. O C-MOV caracteriza-se pela alta percentagem de carbono lábil, que está imediatamente disponível para ser utilizado pelas plantas e pelos microrganismos do solo. É constituído por moléculas orgânicas promotoras da qualidade do solo pelo estímulo da vida microbiana, comprovada actividade enzimática, disponibilização de nutrientes para as plantas por influência no ciclo de nutrientes e efeito bioestimulante directo sobre as plantas, devido à sua actividade fitohormonal. Assim, os benefícios agronómicos da Tecnologia C-MOV não estão relacionados com a clássica influência da matéria orgânica nas propriedades físicas do solo, nem com a quantidade de carbono orgânico adicionado ao solo, mas devem-se sim à qualidade da matéria orgânica do C-MOV que é veiculada através dos adubos químicos na dose mais apropriada.
Gráfico 3 Ensaio em câmara de crescimento onde se mediu a respiração basal do solo, e que comprova o maior desenvolvimento da vida microbiana do solo estimulada pela Tecnologia C-MOV
Gráfico 4 Ensaio em câmara de crescimento onde se mediu a actividade da fosfatase alcalina, e que comprova a maior actividade enzimática do solo estimulado pela Tecnologia C-MOV
Resultados comprovados da Tecnologia C-MOV sobre a actividade da vida microbiana do solo, actividade enzimática e efeitos fitohormonais A respiração basal e o teor de ATP no solo são medidas que avaliam o estado metabólico geral e a actividade da vida microbiana do solo. Em um ensaio em câmara de crescimento com um solo semeado com gramíneas e fertilizado com composto, leonardite ou C-MOV, pode-se observar que o C-MOV foi mais eficiente a estimular a vida microbiana do solo. Tal facto deve-se à maior proporção de carbono lábil do C-MOV, que tendo uma carga celular activa, é muito mais rápido e eficiente a estimular a actividade microbiana do solo, mesmo quando se utilizam doses muito inferiores, como foi o caso das modalidades em estudo neste ensaio (gráfico 3). O aumento da actividade microbiana dos solos em virtude da fertilização com C-MOV, obriga a uma maior síntese de enzimas que de outra forma não ocorreria. Vários ensaios e estudos comprovam o aumento da actividade enzimática dos solos fertilizados com C-MOV, nomeadamente a actividade da fosfatase alcalina, a β-glucosidase, a polifenoloxidase e a urease (gráficos 4 e 5).
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Gráfico 5 Ensaio em câmara de crescimento onde se mediu a actividade da β-glucosidase, comprova a maior actividade enzimática do solo estimulado pela Tecnologia C-MOV
Gráfico 6 Ensaio em câmara de crescimento com cevada em hidroponia, onde se comprova a bioestimulação da cultura com um efeito tipicamente hormonal
Por último, vários ensaios em vaso comprovam o efeito bioestimulante e fitohormonal da Tecnologia C-MOV. Por exemplo, cultivando cevada em hidroponia e utilizando concentrações crescentes de C-MOV, comprovou-se que o C-MOV exerce um efeito bioestimulante tanto na raiz como na parte aérea da planta, não sendo este efeito devido a maior absorção de nutrientes, nem à presença de aminoácidos, mas sim ao um efeito hormonal, pois a resposta da cultura a concentrações crescentes de C-MOV é similar a uma curva de Gauss, o que tipicamente ocorre nas respostas do tipo hormonal (gráfico 6).
Adubos Amicote formulados com a Tecnologia C-MOV A ADP – Fertilizantes foi líder de mercado com os adubos organominerais e evoluiu posteriormente para adubos químicos formulados com o Humato HLB, lançando no mercado os adubos AMICOTE com um efeito fertilizante, biocatalisador e bioestimulante. Agora, os adubos AMICOTE passam também a ser formulados com a Tecnologia C-MOV e continuam a ter a mais avançada inovação ao nível das especialidades, no domínio da nutrição vegetal. Os Amicote com C-MOV são fertilizantes com efeitos enzimáticos, fitohormonais e bioestimulantes, com a capacidade de hidrolisar substratos complexos dos solos agrícolas, tornando-os assimiláveis para as plantas e favorecendo o aproveitamento massivo dos nutrientes do solo. Os Amicote com C-MOV têm também a capacidade de produzir efeitos bioestimulantes similares aos das hormonas vegetais, de modo a favorecer o crescimento das plantas e a reforçar a sua capacidade produtiva.
Amicote Starter e Amicote Starter Microgranulado: A solução ideal para a adubação localizada do milho O Amicote Starter 15-35-0+0,5%Zn, com LZn e C-MOV, é uma excelente solução para localizar ao longo da linha de sementeira do milho, de forma a estimular um rápido desenvolvimento radicular e vegetativo e assim garantir a maximização da produção final. No Amicote Starter Microgranulado os grânulos têm diâmetros compreendidos entre 1 e 3 mm.
Ensaios de campo comprovam benefícios dos adubos com a Tecnologia C-MOV A Tecnologia C-MOV tem vindo a ser experimentado em ensaios de campo desde 2008, tendo-se realizado mais de 30 ensaios em Portugal e Espanha. Os aumentos médios de produção obtidos pelo efeito da adição de C-MOV a um adubo químico estão expressos no quadro abaixo.
Cultura
Aumento médio de produção em relação ao mesmo adubo sem C-MOV
Aumento percentual de produção
Cereais de Inverno (trigo e cevada)
418 Kg/ha de grão
+ 11%
Milho
1,42 T/ha de grão
+ 8%
Beterraba sacarina
6,47 T/ha de raízes
+ 16%
Batata
5,55 T/ha de tubérculos
+ 16%
Vinha
1007 Kg/ha de uva
+ 16%
Figura 3 À esquerda vê-se o efeito de plantas de milho adubadas com Amicote Starter localizado, que se pode comparar com as plantas do centro da fotografia, não sujeitas à mesma adubação
Os adubos Amicote Starter, incorporando ambas as tecnologias LZn e C-MOV, são a mais avançada solução ao nível dos adubos starter, pois adicionam aos nutrientes que veiculam, efeitos enzimáticos, fitohormonais e bioestimulantes, e apresentam o zinco protegido e maximizado na sua eficiência.
■
AGROTEC / MARÇO 2012
85
VITICULTURA
JANTAR DE HOMENAGEM AO PROFESSOR CATEDRÁTICO
ROGÉRIO DE CASTRO
O
rganizado por um grupo de colegas, colaboradores e amigos, decorreu no passado dia 6 de Janeiro um jantar de homenagem ao Professor Rogério de Castro por ocasião da sua aposentação. Neste jantar, discursaram os Professores Carlos Noéme, Presidente do Instituto Superior de Agronomia, António Monteiro, Vice-Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Carlos Portas, professor emérito do ISA-UTL e Jorge Queiroz da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, em nome da Comissão Organizadora. O jantar decorreu no Pavilhão de Exposições da Tapada da Ajuda, tendo reunido família do homenageado, colegas, antigos e actuais alunos, colaboradores, amigos e representantes das diversas empresas com as quais o Prof. Rogério de Castro colabora ou colaborou nos últimos anos, que fizeram questão de apresentar durante o jantar, os vinhos produzidos através dessas colaborações.
Ao longo da homenagem foi referida pelos diversos oradores a longa actividade académica desenvolvida, especialmente no ISA-UTL, mas também na Universidade do Porto (Faculdade de Ciências), onde foi um dos impulsionadores da criação do curso de Engenharia das Ciências Agrárias (actual Engenharia Agronómica), na Universidade dos Açores e na de Trás-os-Montes e Alto Douro. Tendo, tanto no ensino como na investigação, privilegiado o intercâmbio Universidade, Organismos de Investigação e Empresas, foi o principal impulsionador do primeiro Mestrado realizado em Portugal em Viticultura e Enologia, integrando o ISA-UTL, a FCUP e a EVN-INIA. Como coordenador das 3 primeiras edições e co-coordenador das 4.ª e 5.ª, foi responsável pela mobilização de várias gerações de estudantes para esta área, promovendo, também por este meio, a investigação e o desenvolvimento tecnológico do sector e sendo coautor de dezenas de comunicações produzidas com base nos trabalhos desenvolvidos por estes estudantes, que deste modo introduziu na comunidade científica. Internacionalmente, foi no âmbito do GESCO (Groupe d’Experts de Conduite de la Vigne), actualmente GiESCO, onde desenvolveu maior actividade, nomeadamente como Presidente da
86
Por: Jorge B. Lacerda de Queiroz Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do território. Faculdade de Ciências
/Universidade do Porto
Comissão “Maîtrise du Rendement et Qualité”, tendo organizado em Portugal, as “8.as Jornadas GESCO”, em 1995. A sua capacidade de aglutinação traduziu-se numa forte participação de jovens investigadores e técnicos nas actividades deste grupo, abrindo caminho à internacionalização da investigação portuguesa. Actualmente, sendo membro do Comité científico do GiESCO, tem papel destacado na Comissão Organizadora responsável pelo “18th International Symposium GiESCO 2013”, a realizar entre 7 e 11 de Julho, no Porto. Tendo coordenado e colaborado em diversos projectos internacionais e nacionais, destacam-se os projectos de “Zonagem vitícola” e outros no âmbito dos Sistemas de Condução, onde mais uma vez, pela sua mão, diversos investigadores portugueses iniciaram a sua actividade. Presidiu à organização de diversos Congressos, Simpósios e Jornadas como o “I Congresso dos Vinhos do Norte de Portugal”, tendo coordenado e participado em inúmeras sessões técnicas e científicas tanto em Portugal como em Espanha, França, Itália, Alemanha, Suíça, Japão, Croácia, Hungria, Uruguai e Brasil, sendo reconhecido o seu contributo para o desenvolvimento do conhecimento nas áreas dos Sistemas de Condução e da Viticultura Tropical.
Com base na sua investigação criou o Sistema de Condução Pluriespacial da Vinha LYS, único sistema português descrito no “Dicionário de Sistemas de Condução de Vinhas” de Carbonneau e Cargnello (2003). Orientou várias Teses de Doutoramento na área da Viticultura, mas também na área da Fruticultura e dezenas de Teses de Mestrado, tendo publicado mais de 200 trabalhos. Mais recentemente, já após a aposentação, coordenou e é co-autor do “Catálogo das castas para vinho cultivadas em Portugal. IVV, 1.º Volume, 109 pp” e é autor do capítulo “A viticultura da região dos Vinhos Verdes. Os primórdios e do virar do século à actualidade. In: Francisco Girão. Um inovador da vitivinicultura do norte de Portugal, Vol. II, p. 7-41”. Foi consultor do Governo Regional dos Açores de 1995 a 1999 e da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, tendo participado na criação da Estação Vitivinícola Amândio Galhano da qual viria a ser consultor científico durante 20 anos. Actualmente é consultor em 9 empresas do sector vitivinícola em Portugal, Catalunha e Brasil.
É empresário e co-proprietário da Quinta de Lourosa – Sociedade Agrícola, com actividade predominante na produção de vinhos, mas também no enoturismo e turismo em espaço rural. Na fase final da homenagem foi lido pela Doutora Teresa Mota o Poema de Homenagem “A Rogério…” enviado por Alain Carbonneau, Presidente do GiESCO. O jantar terminou com a intervenção do Prof. Rogério de Castro, que para além dos agradecimentos terminou, no seu registo sempre optimista, com o poema de Miguel Torga: Convite Vamos ressuscitados, colher flores! Flores de giesta e tojo, oiro sem preço… Vamos àquele cabeço Engrinaldar a esperança! Temos a Primavera na lembrança; Temos calor no corpo entorpecido; Vamos! Depressa! A vida recomeça! A seiva acorda, nada está perdido!
A C T U A L I D A D E / V I T IC U L T U RA
VINHOS DO ALENTEJO: EXPORTAÇÕES PARA FORA DA UNIÃO EUROPEIA CRESCERAM 34,5% EM 2011 De Janeiro a Outubro de 2011, os vinhos do Alentejo aumentaram as exportações em 34,5% para os principais mercados fora da União Europeia. Segundo a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), os países que mais aumentaram o seu volume de importações, em comparação com o mesmo período de 2010, foram: Angola (82,5%), China (44%), Brasil (14,9%) e o Canadá (10,2%). Em declarações à Agência Lusa, Tiago Caravana, director de marketing da CVRA, disse que Angola, Brasil, Estados Unidos, China e Canadá são, actualmente, por esta ordem, os cinco principais mercados de destino dos vinhos do Alentejo. "Felizmente para os vinhos do Alentejo, os nossos principais mercados de exportação, à excepção dos Estados Unidos, são os países que estão a apresentar maior crescimento económico a nível mundial", acrescentou ainda Tiago Caravana. Angola foi o mercado que registou, no ano de 2011, um maior aumento das importações dos vinhos alentejanos, superando todas as expectativas. Em relação ao Brasil esperava-se um crescimento maior, contudo tem um potencial de crescimento enorme. Ainda segundo a CVRA, "O mercado dos Estados Unidos, apesar da crise, teve um pequeno crescimento", a Rússia e a Noruega tiveram "um elevado aumento a nível percentual", embora com "números brutos" inferiores, comparativamente com Angola, China, Brasil e Canadá.
88
A CVRA encara que "estes fortes aumentos são bastante positivos para o país e demonstrativos da saúde dos vinhos portugueses, em particular dos vinhos do Alentejo, cada vez mais bem representados nos mercados mundiais".
EXPORTAÇÕES DE VINHOS VÃO CRESCER 12% ESTE ANO As exportações de vinhos portugueses vão crescer 12% em termos de volume e 4% em termos de valor em relação a 2010, segundo dados divulgados pelo Instituto do Vinho e da Vinha (IVV). Francisco Mateus, do IVV, apresentou em Dezembro, no Fórum Nacional da ViniPortugal, as projecções de crescimento das exportações de vinhos portugueses até 2014. Até Setembro de 2011 Portugal exportou um total de 461 milhões de euros de vinhos, mais 4% que em 2010. Ainda de acordo com as projecções matemáticas, no período 2012/2014 as exportações de vinhos portugueses vão continuar a crescer 1% ao ano em termos de volume e 5% em termos de valor."Se as projecções se concretizarem, podemos chegar a 2014 com vendas no valor de 750 milhões de euros", acrescentou. As perspectivas apontam para um valor de 458 milhões de euros (que praticamente duplica o valor de 2005), excluindo os vinhos do Porto e da Madeira. Em relação aos vinhos com denominação de origem, em 2011 as exportações cresceram 7% em termos de volume e 10% em termos de valor, devendo em 2014 atingir os 170 milhões de euros. Os espumantes, que representam ainda quantidades muito pequenas em termos de exportações, podem vir a ser "uma alegre surpresa para o sector", estimando-se que em 2014 se chegue aos 20 milhões de euros de exportações, anunciou Francisco Mateus. A sessão de abertura do Fórum Nacional da ViniPortugal contou com a presença de José Diogo Albuquerque, secretário de Estado da Agricultura, que não só garantiu o empenho do Governo na continuação da aposta na reestruturação e promoção do sector, como se congratulou com o facto de a Comissão Europeia manter nas propostas para a Política Agrícola Comum pós 2013 o envelope financeiro para a Organização Comum do Mercado do Vinho. Realçou ainda o peso que o sector tem tido no Plano de Desenvolvimento Rural (Proder), conquistando 20% das verbas destinadas à modernização das explorações e acrescentou: "É importante que o Proder possa continuar a veicular estas ajudas, mas de uma forma mais constante, mais cadenciada, mais simples, com menos medidas e com regras mais simples".
CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO
AUMENTO DA RENTABILIDADE DO MILHO NO MINHO E
LIMIARES DE RENTABILIDADE DOS SISTEMAS DE REGA
I
NTRODUÇÃO
O milho é a cultura regada mais importante na região do Entre Douro e Minho. A SAU média por exploração era, em 1999, de 3,2 hectares (INE, 2000). Num contexto de economia global, o aumento da rentabilidade do milho é importante para a agricultura da região. O aumento de rentabilidade é possível com a redução dos custos da fertilização e da rega. A associação de métodos de fertilização racional e de programação da rega conduzem à minimização dos impactos ambientais (INIA, 2005). O planeamento da fertilização permite o aumento da eficiência de extracção de N reduzindo a probabilidade de contaminação das águas subterrâneas e superficiais através da lixiviação e do escoamento superficial (Agostinho, 2006). O planeamento da rega permite o aumento da eficiência do uso da água. O aumento da eficiência da evapotranspiração da cultura conduz a maior produtividade e à redução da lixiviação e dos custos de energia na bombagem. Os objectivos do trabalho foram os seguintes: i) implementar métodos práticos de planeamento da rega e de fertilização azotada em milho regado por aspersão e por gota-a-gota; ii) obter maior eficiência do uso da água e de extracção de N, optimizando a produção, e reduzir a contaminação das águas subterrâneas; iii) avaliar e comparar os custos associados à rega e à fertilização azotada do milho, no Minho; iv) determinar os “limiares de rentabilidade” dos sistemas de rega do milho na região.
MATERIAL E MÉTODOS A experimentação decorreu, em 2007 e 2008, na Escola Superior Agrária de Ponte de Lima (ESAPL), em duas parcelas contíguas: parcela A (1,8 hectares e declive de 1 %) e parcela B (1,5 hectares e declive de 1,2%). Os solos são do tipo Cambissolos dísticos pardacentos, com uma textura franco arenosa. Em 2008, introduziu-se a parcela de um agricultor (parcela C), regada tradicionalmente por leiras. A parcela A foi regada por aspersão com máquina enroladora e um grupo electrobomba de 13 kW. A parcela B foi regada por gravidade, a partir de um tanque a 8 metros de desnível, com fita gotejadora de 8 micrómetros de espessura (gotejadores a 0,30 m e caudal de 2,6 L h-1). Em 2007, utilizaram-se variedades de milho silagem (FAO 500 e FAO 600) da DEKALBMONSANTO e, em 2008, variedades de milho grão (FAO 400) e milho silagem (FAO 500 e 600). As necessidades de fertilização azotada basearam-se na equação do balanço de azoto do solo simplificada. Para o milho, a “equação de fertilização azotada” (EFA) tem a forma (Agostinho & Fernando, 2005a; Agostinho, 2006): F = N/0,95 – [(0,082 x %MO x D) + (8,22 x Ndisp x D/C) + (0,0219 x D) + (0,00226 x T x V]
[1]
Por: Jorge Manuel Ferreira da Silva Agostinho jorgeagostinho@esa.ipvc.pt Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Viana do Castelo
e implica a medição obrigatória do azoto mineral na zona radical (Ndisp) e do nitrato da água de rega (T), antes da instalação da cultura. Outros parâmetros necessários são o teor de matéria orgânica do solo (MO), o número de dias entre adubações consecutivas (D), o número de dias médio do ciclo cultural (C) e o volume de água de rega (V) no período D. Para o fósforo, potássio e magnésio, adoptou-se a metodologia dos “índices de fertilidade” do Laboratório Químico Agrícola Rebelo da Silva (LQARS, 2000). O planeamento da rega baseou-se na aplicação do balanço hídrico do solo, simulado pelo modelo ISAREG (Teixeira, 1991): no Alto Minho, em condições meteorológicas de ano médio, as necessidades úteis de rega do milho são de 208 mm (8 regas de 26 mm cada), com a primeira rega a ocorrer próximo de 10 de Julho. O intervalo entre regas é de uma semana. O controlo da precipitação é feito com um udómetro: quando o volume acumulado de precipitação semanal se aproxime ou ultrapasse o valor da dotação (26 mm) não se realiza a rega prevista. A análise económica baseou-se no estudo dos sistemas e modalidades mais adequadas à rega do milho na região, na análise de custos, nas contas de cultura e nos limiares de rentabilidade. Na rega por aspersão considerou-se o “canhão” de rega amovível e a máquina enroladora. Para o “canhão” amovível, estudaramse dois modelos de alcance (raio molhado) variável (adaptado de Nova Rocha, Sistemas de Rega, Lda.): aspersor Ranger, diâmetro do bico de 24 mm e alcance de 33 m; aspersor Synkro, diâmetro do bico de 16 mm e alcance
CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO
de 27 m. Com uma sobreposição do jacto de 20%, o aspersor Synkro foi o que melhor se adaptou à “parcela de referência” (100 m x 100 m) com quatro posições de rega e boa uniformidade. Para a máquina enroladora seleccionou-se o modelo CONFORT com tubagem de diâmetro de 50 mm e comprimento de 160 m e aspersor de alta pressão HIDRA (16,5 mm de diâmetro do “bico”, pressão de 392 kPa e alcance de 30 m). O esquema de rega, na parcela de referência, admite duas posições e uma sobreposição do raio molhado de 20%. Figura 1 Desenho hidráulico no milho com tubo gotejador em PEBD. Filas de minho Tubos gotejadores
Bolbo molhado
75 cm
Sobreposição 33,3%
75cm 75cm 75cm
Para a rega gota-a-gota estudaram-se duas alternativas em função da durabilidade do material: i) tubo gotejador em polietileno (10 anos de vida útil); ii) fita gotejadora (4 anos de vida útil). Para uma uniformidade de rega aceitável e uma densidade de gotejadores economicamente viável, o desenho hidráulico (Figura 1) considerou a solução de um ramal por cada duas filas de milho, resultando em 67 ramais ha-1. Em solos de textura média, com gotejadores de 4 L h-1, distanciados de 0,75 m, consegue-se uma sobreposição teórica dos bolbos húmidos de cerca de 33%, 1,125 m2 gotejador -1 e uma densidade de 8890 gotejadores ha-1. A fita gotejadora de 8 micrómetros de espessura, caudal nominal de 2,6 L h-1 e uma distância de gotejamento de 0,30 metros, na linha, permite uma maior sobreposição dos bolbos. A densidade é de 22200 gotejadores ha-1.
A “análise de custos” considerou os seguintes sistemas de rega: i) canhão amovível (sistema A); ii) máquina enroladora (sistema B); iii) tubo gotejador em PEBD (sistema C); iv) fita gotejadora (8 micrómetros) sem bombagem (por gravidade) (sistema D); v) fita gotejadora com bombagem (sistema E); vi) rega tradicional por escoamento superficial (à leira) (sistema F). Os Custos Variáveis (CV) foram subdivididos em Custos Energéticos (CEner), Custos com Operações Mecanizadas (COpMec) e Custos com Operações Manuais (COpMan). Os Custos Fixos (CF) foram calculados como Custos de Amortização do Sistema de Rega (AmortSR). Com estes valores obtiveram-se os Custos Totais (CT), por hectare, para cada sistema de rega. Com base nas Unidades Experimentais, foram analisadas as “contas de cultura” referentes aos seguintes sistemas agrícolas: i) milho grão regado com máquina enroladora; ii) milho grão regado com fita gotejadora e sem bombagem; iii) milho grão com rega tradicional por “leira”; iv) milho silagem regado com máquina enroladora; v) milho silagem regado com fita gotejadora e sem bombagem. Para cada sistema cultural avaliaram-se os CF (amortização) e os CV anuais de todas as operações culturais. Não se consideraram quaisquer subsídios ou rendas. Os valores das produções foram obtidos com base nas produtividades médias de cada sistema cultural e nos preços médios do ano. Avaliou-se os “resultados da actividade” através do balanço das produções obtidas e dos custos totais.
Quadro 1 Necessidades de fertilização.
Ano
Parcela
N
P2O5
K2O
LQARS (recomendação) EFA
290 kg ha-1 (70 t/ha MF) 140 kg ha-1
Índice 5 (90 kg ha-1)
Índice 7 (0 kg ha-1)
Parcela A (1,8 ha)
LQARS (recomendação) EFA
290 kg ha-1 (70 t/ha MF)
Índice 2 (160 kg ha-1)
Índice 7 (0 kg ha-1)
40-60 kg ha-1
Parcela B (1,5 ha)
LQARS (recomendação) EFA
290 kg ha-1 (70 t/ha MF) 154 (160) kg ha-1
Índice 3 (140 kg ha-1)
Índice 6 (80 kg ha-1)
20-30 kg ha-1
2007
2008
154 (160) kg ha-1
Os valores a negrito correspondem à quantidade efectivamente aplicada; EFA - Equação de Fertilização Azotada; Nmin - N mineral; MF - matéria fresca.
90
MgO
As “curvas de rentabilidade”, para cada sistema de produção, foram definidas com base no valor dos custos totais unitários por área com a operação “rega”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Em 2007, a sementeira fez-se a 13 de Maio e, em 2008, a 16 de Maio. Para aplicação da EFA [1] considerou-se: N = 328 kg N ha-1 (Agostinho & Fernando, 2005a; Agostinho, 2006); Ndisp = 20 mg kg-1; MO = 3,3 %; T = 5 mg L-1; V = 208 mm; D = C = 119 dias (adubação de fundo). Em 2008, os parâmetros foram: MO = 2,35%; T = 2 mg L-1. Nos dois anos de experimentação aplicouse o N em adubação de fundo, utilizando o adubo ENTEC com inibidores da nitrificação. O Quadro 1 mostra as necessidades de fertilização calculadas pela metodologia EFA e as recomendadas pelo LQARS (2000). Em 2007, para a área de 3,3 hectares aplicaram-se 2567 kg de ENTEC (18:8:13) correspondendo a 140 kg N ha-1, 62 kg de P2O5 ha-1 e 101 kg K2O ha-1. Em 2008, na parcela A, aplicaram-se 576 kg de ENTEC (25:15:0), 720 kg de ENTEC (20:10:10) e 490 kg de 26,5 P. Na parcela B aplicaram-se 1200 kg de ENTEC (20:10:10) e 340 kg de 26,5P. O agricultor (parcela C), em 2008, aplicou 237,2 kg ha-1 de N (163,6 kg ha-1 com adubo e 73,6 kg ha-1 com estrume), 54,5 kg ha-1 de P2O5 e 109 kg ha-1 de K2O. Em 2007, a metodologia EFA permitiu reduzir 150 kg N ha-1 (-51,7%) em relação ao recomendado pelo LQARS (2000). Em 2008, a redução foi de 130 kg N ha-1 (- 44,8%). A quantidade de N aplicada pelo agricultor resultou superior em 48,3% ao aplicado nas parcelas da ESAPL e aproximou-se do valor recomendado pelo LQARS (2000). Nos anos de experimentação utilizou-se um udómetro para controlo da precipitação e realizaram-se as oito regas previstas. Aplicouse, em cada ano, um volume útil de 208 mm, com a primeira rega a ocorrer no primeiro decêndio de Julho. O cálculo da dotação total de rega, para a rega gota a gota, considerou um coeficiente de localização (Keller & Karmelli, 1974) de 0,575, uma eficiência de rega (Keller & Karmelli, 1974; Keller & Bliesner, 1990) de 95%, a necessidade de lavagem de sais (Ayers & Westcot, 1985) e um coeficiente de uniformidade de rega de 90%. Com base na dotação de rega de 26 mm (balanço hídrico do solo), a dotação total de rega calculada resultou em 17,5 mm.
Quadro 2 Custos de aquisição (VA), vida útil do equipamento e material (VU) e custos de amortização (CAmort) dos sistemas de rega.
Equipamento e material
VA (€)
VU (anos)
CAmort (€)
Aspersor SYNKRO (p: 1,5 Atm; rm: 23 m; Q: 9 m3/h)
595
10
59,5
Tubagem PVC alta densidade [D: 63 mm; L: 150 m]
360
30
12,0
Suporte do aspersor 2"
150
20
7,5
Electrobomba P 4023 (H: 27 m; Q: 13,5 m3/h; P: 1,1 kW)
355
20
17,8
Sistema A - Aspersor de alta pressão ("canhão") amovível
Total
96,8
Sistema B - Aspersão com máquina-enroladora Máquina-enroladora (modelo CONFORT; L: 150 m; d: 50 m) e aspersor HIDRA
390
20
195,0
Electrobomba MM 5064 (H: 65m; Q: 21 m3/h; P: 5,5 kW)
1650
20
82,5
Total
277,5
Sistema C - Gota-a-gota com tubo de polietileno e bombagem Tubo gotejador (q: 41/h; d: 0,75 m) (67 ramais de 100 m/ha)
2345
10
234,5
Electrobomba (H: 15 m; Q: 7-8 m3/h; 0,5 kW)
418
20
20,9
Restante equipamento (válvulas, tubagens e junções)
816
30
27,2
Filtro ARKAL 1204-0 2" Dural
155
15
10,3
Total
292,9
Sistema D - Gota-a-gota com fita e rega por gravidade Fita P1 8 micron; 0,30 m; 2,6 1/h (67 ramais de 100 m/ha)
268
4
67,0
Restante equipamento (válvulas, tubagens e junções)
816
30
27,2
Filtro ARKAL 1204-0 2" Dural
155
15
10,3
Total
104,5
Sistema E - Gota-a-gota com fita de rega e com bombagem Fita P1 8 micron; 0,30 m; 2,6 1/h (67 ramais de 100 m/ha)
268
4
67,0
Restante equipamento (válvulas, tubagens e junções)
816
30
27,2
Filtro ARKAL 1204-0 2" Dural
155
15
10,3
542
20
27,1
3
Electrobomba (H: 15 m; Q: 12 m /h; 0,75 kW)
Total
131,6
VA - valor de aquisição; VU - vida útil; Camort - custos de amortização
Com uma densidade de 2,22 gotejadores m-2 (1,5 m entre ramais de rega e 0,30 m entre gotejadores, na linha) e um caudal médio de 1,17 L h-1 a “taxa média horária de aplicação de água” do sistema de rega foi de 2,6 mm h-1. Para uma dotação de rega de 17,5 mm, o tempo necessário foi de 6 horas e 45 minutos. O agricultor realizou duas regas à leira durante o ciclo cultural do milho: em 16 de Julho, aplicando 26,4 mm, e em 24 de Julho, aplicando 18 mm. A capacidade de campo nos Cambissolos dísticos pardacentos, com uma textura franco arenosa, ronda o valor de 0,326 m3 m-3 (- 0,01 MPa) (Reichardt, 1987). O Limite da Reserva Facilmente Utilizável do solo (Teixeira, 1991) do milho, na sua fase mais sensível (floração - início da maturação), é cerca de 50% da reserva útil de água (Agostinho et al., 2004), correspondendo a cerca de 0,11 m3 m-3. Em 2008, os teores médios da humidade do solo, medidos pelo método gravi-
AGROTEC / MARÇO 2012
91
CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO
5,34
B
392
30
21
30,5
12,8
Custo (€)
5,7
N.º regas
t (h) Posição
30,5
P (kW)
Im (mm/h)
2362
t (h)
ht (mm)
49
(np/ha)
Am (m2)
13,5
V(m/h)
L (m)
27
(t/ha) (h)
Q (m3/h)
196
t/sector (h)
rm(m)
A
Sistema
P (kPa)
N.º (sectores)
N.º (ramais/ha)
N.º (gotej/ha)
Quadro 3 Custos energéticos (CEner), por hectare, nos sistemas de rega por aspersão por canhão amovível (A), máquina enroladora (B), na rega gota-a-gota com tubo gotejador (C) e fita gotejadora (E).
4
21
1,1
8
22,60
2
12
5,5
8
63,89
C
8890
67
5
17,5
3,56
4,92
24,60
0,50
8
11,81
D
22200
67
5
17,5
5,78
3,03
15,15
0,75
8
10,91
p - pressão de funcionamento do aspersor; rm - raio molhado; Q - caudal; L - dista entre posições de rega; Am - área molhada; Im - taxa horária de aplicação de água; ht - dotação total de rega; V - velocidade de enrolamento; np/ha - número de posições/hectare; t - tempo de rega/ha; P - potência do grupo de bombagem.
Quadro 4 Custos de Operações Mecanizadas (COpMec) nos sistemas de rega por aspersão, por hectare.
Sistema
Equipamento
Tarefas
(horas/rega)
(horas/ha)
(€/h)
Custo total (€)
A
Tractor 60 CV, aspersor SYNKRO tripé 2" e tubagens PVC engate rápido
[TET] +[I(A+T) - 1ª PR]+[M (A+T) -3 PR]
1,33 a)
10,64 b)
12,23
130,13
B
Tractor 60 CV, máquina-enroladora CONFORT e aspersor HYDRA
[TET]+[O 1ª PR]+[O 2ª PR]
0,5 c)
4
12,23
48,92
[TET] - Transporte do equipamento para o terreno; [I(A+T) - 1.ª PR] - Instalação do aspersor e tubagens na 1.ª posição de rega; [M(A+T) - 3 PR] - Mudanças do equipamento para as outras 3 posições; [O 1.ª PR] - Operacionalização para a rega na 1.ª posição; [O 2.ª PR] - Operacionalização para a rega na 2.ª posição; a) horas dispendidas nas 4 posições (1 ha); b) horas dispendidas nas 8 regas do ciclo cultural; c) horas dispendidas nas 2 posições de rega (1 ha)
Quadro 5 Custos de Operações Manuais (COpMan), nos diferentes sistemas de rega, por hectare.
Sistema
C, D e E
F
Operação
N.º trabalhadores
h/trabalhador
(h/ha)
Custo/h(€)
Custo/ha (€)
Instalação do sistema de rega a)
4
5,5
22
3,75
82,50
Desinstalação do sistema de rega
4
5,5
22
3,75
82,50
Total
44
Abertura dos regos de rega
27,3
3,75
102,38
Controlo e direccionamento da água durante a rega
45,5
3,75
170,63
Fecho dos sulcos
27,3
3,75
102,38
Total
100,1
a) Tubagens de abastecimento e fitas gotejadoras
92
165,00
375,38
métrico, foram de 0,296 m3 m-3, na rega por aspersão com máquina enroladora, de 0,308 m3 m-3, na rega gota-a-gota, e de 0,491 m3 m-3, na rega à leira. Constata-se que o planeamento de rega implementado manteve a humidade do solo dentro da Reserva de Água Facilmente Utilizável e a cultura não teve défice hídrico. Na parcela do agricultor, regada à leira, a humidade do solo variou entre 0,292 m3 m-3 (24 de Julho) e 0,647 m3 m-3 (28 de Agosto). Estes valores elevados da humidade do solo devemse à proximidade do nível freático da zona radical, dada a parcela localizar-se na margem direita do rio Lima. Os custos de aquisição (ou de investimento), a vida útil do equipamento e material e os custos de amortização, para cada sistema de rega, mostram-se no Quadro 2. As amortizações foram calculadas pelo método das quotas anuais constantes. As condições de funcionamento, a energia dispendida e respectivos custos mostram-se no Quadro 3, considerando 0,12€ por kW h-1. Os Quadros 4 e 5 mostram os COpMec nos sistemas de rega por aspersão e os COpMan, (mão-de-obra) nos sistemas de rega por gota-a-gota e tradicional (à leira). Para cada sistema de rega (Quadro 2) foi definido o Custo Total por hectare (CT) (Quadro 6), através da soma dos Custos Variáveis (CV) e Fixos (CF). Para esta análise definiu-se como CV, os custos energéticos (CEner), os custos com operação mecanizada (COpMec) e os custos com operação manual (COpMan). Os CF consideram os custos com a amortização do sistema de rega (CAmort). Os custos de amortização aumentam em função da área: sistema A (mais tubagem de alimentação) e sistemas C, D e E (maior quantidade de tubo ou fita gotejadora). No milho grão, os resultados da actividade foram melhores com a rega gota-a-gota sem bombagem (Quadro 7). O fraco resultado da rega tradicional por leira reflecte o peso dos CV anuais, nomeadamente os custos de mão-de-obra. No caso da venda directa da silagem na parcela, com o preço médio a rondar os 0,03 € kg-1, os resultados foram muito inferiores ao milho grão. Constatou-se que a produção de milho silagem só é vantajosa quando utilizada directamente na alimentação dos animais da própria exploração o que, normalmente, se passa na região. Os pesos médios da adubação e da rega corresponderam a cerca de 44%, no milho
Quadro 6 Custos totais (€) dos diferentes sistemas de rega.
Sistema
Área (ha) 0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
A
169,2
249,5
329,9
410,3
490,6
571,0
651,4
731,7
812,1
892,5
B
336,4
395,2
454,0
512,9
571,8
630,6
689,5
748,3
807,1
866,0
C
250,5
469,7
689,0
908,2
1127,5
1346,7
1565,9
1785,2
2004,4
2223,8
D
139,9
269,5
399,1
528,7
658,3
787,9
917,5
1047,1
1176,7
1306,3
E
172,5
307,5
442,6
577,6
712,7
847,7
982,8
1117,8
1252,9
1388,0
F
187,9
375,8
563,7
751,6
939,5
1127,4
1315,3
1503,2
1691,1
1879,0
Quadro 7 Resultados da actividade em igualdade de densidade de sementeira.
Preço b) VP (c = a x b) (€) (€/kg)
Camort (d)
Sistema de produção
Produção a) (kg/ha)
Milho-grão / aspersão
12580,3
0,30
3774,1
277,5
1379,7
2116,9
12610,2
0,30
3783,1
104,5
1346,8
2331,8
Milho-grão / "leira"
14172,4
0,30
4251,7
0,0
2689,5
1562,2
Milho-silagem / aspersão
60382,0
0,30
1811,5
277,5
1164,9
369,1
Milho-silagem / gota-a-gota
56509,5
0,30
1695,3
104,5
1132,0
458,8
Milho-grão / gota-a-gota
(€)
CV anuais (e) Resultados (€) (€) [f = c - (d+e)]
VP - valor da produção; C amort - custos de amortização do sistema de rega; CV anuais - custo variáveis anuais
AGROTEC / MARÇO 2012
93
CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO
grão, e 57%, no milho silagem. Os pesos médios da sementeira, da adubação e da rega corresponderam a 62%, no milho grão, e 82%, no milho silagem. O Quadro 8 mostra os Custos Totais Unitários e a Figura 2 os Limiares de Rentabilidade para os diferentes sistemas de rega analisados. Os CV e CF unitários mostram-se no Quadro 6. A análise das “curvas de rentabilidade” permitiu as seguintes conclusões: i) o sistema de rega mais rentável, até 0,75 hectares, é a fita gotejadora sem bombagem (sistema D); ii) a partir dos 0,75 hectares, o sistema de rega mais rentável é a aspersão com “canhão” amovível (sistema A); iii) com excepção do “canhão” amovível, o sistema de rega mais rentável até aos 1,75 hectares é a fita gotejadora sem bombagem (sistema D); iv) até 1,5 hectares, é mais rentável substituir a rega à leira (sistema F), a máquina enroladora (sistema B) e o tubo gotejador (sistema C) por fita gotejadora com bombagem (sistema E); v) até 1,2 hectares, é mais rentável a rega à leira (sistema F) em relação à máquina enroladora (sistema B); vi) até 0,8 hectares, é mais rentável a rega com tubo gotejador (sistema C) em relação à máquina enroladora (sistema B).
CONCLUSÕES O planeamento da rega do milho, baseado na simulação do balanço hídrico do solo pelo modelo ISAREG, em ano médio, e com dotações e intervalos entre regas constantes, permitiu uma maior eficiência do uso da água e um maior controlo dos fluxos de lixiviação. A humidade do solo, ao longo do ciclo da cultura, manteve-se dentro da Reserva de Água Facilmente Utilizável, não ocasionando défices hídricos. Considerando valores médios de eficiência dos sistemas de rega, as poupanças de água são cerca de 41% na substituição da rega à leira pela aspersão, de 66 % na substituição da rega à leira pela gota a gota e de 43% na substituição da aspersão pela gota-a-gota. O planeamento da fertilização, baseado na EFA do milho [1], permitiu um aumento da eficiência de extracção de N mantendo o nível de produção. A poupança de N na adubação foi de 48% em relação à metodologia preconizada pelo LQARS (2000). Verificou-se uma redução de 33% de N aplicado relativamente ao valor máximo admissível para a Zona Vulnerável nº 1, minorando a probabilidade de ocorrência de fluxos de lixiviação para as águas subterrâneas.
94
Quadro 8 Custos Totais Unitários (€) em função da área (hectares).
Sistema
Área (ha) 0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
A
338,4
249,5
219,9
205,2
196,2
190,3
186,1
182,9
180,5
178,5
B
672,8
395,2
302,7
256,5
228,7
210,2
197,0
187,1
179,4
173,2
C
501,0
469,7
459,3
454,1
451,0
448,9
447,4
446,3
445,4
444,8
D
279,8
269,5
266,1
264,4
263,3
262,6
262,1
261,8
261,5
261,3
E
345,0
307,5
295,1
288,8
285,1
282,6
280,8
279,5
278,4
277,6
F
375,8
375,8
375,8
375,8
375,8
375,8
375,8
375,8
375,8
375,8
Figura 2 Limiares de Rentabilidade para os diferentes sistemas de rega.
O aumento de produção foi ligeiramente superior na parcela regada por aspersão: 6,5% para a matéria verde e 7% para a matéria seca. Os pesos médios da adubação e rega, relativamente aos custos totais de operação, correspondem a cerca de 44%, no milho grão e 57%, no milho silagem. Os pesos médios da sementeira, adubação e rega, correspondem a 62%, no milho grão e 82%, no milho silagem. Constata-se a importância da experimentação e investigação de forma a baixar os custos associados àquelas operações.
rega mais rentável até aos 1,75 hectares é a fita gotejadora, sem bombagem; iv) até 1,5 hectares, é mais rentável substituir a rega à leira pela aspersão com máquina enroladora e o tubo gotejador pela fita gotejadora com bombagem; v) até 1,2 hectares, é mais rentável a rega à leira em relação à máquina enroladora; vi) até 0,8 hectares, é mais rentável a rega com tubo gotejador em relação à máquina enroladora.
AGRADECIMENTOS O Autor agradece o apoio das Colegas Joana Nogueira e Isabel Valin, na sistematização e análise de dados, e ao estagiário Nuno Henrique Silva, da Faculdade de Ciências do Porto, pela prossecução de trabalhos de campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A análise das “curvas de rentabilidade” permite tirar as seguintes conclusões: i) o sistema de rega mais rentável, até 0,75 hectares, é a fita gotejadora sem bombagem; ii) a partir dos 0,75 hectares, o sistema de rega mais rentável é a aspersão com “canhão” amovível; iii) com excepção do “canhão” amovível, o sistema de
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Agostinho, J.M.F.S. (2006). Avaliação de Técnicas para Redução das Perdas de Azoto nos Sistemas Agrícolas da Zona Vulnerável do Aquífero Livre de Esposende e Vila do Conde. Tese de Doutoramento, Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 293 pp. Agostinho, J.M. & Fernando, R.M. (2005a). Manual Técnico - A Fertilização Azotada na Zona Vulnerável n.º 1. Projecto AGRO 35. Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas. Lisboa. Agostinho, J.M. & Fernando, R.M. (2005b). Manual Técnico - A Condução da Rega na Zona Vulnerável n.º 1. Projecto AGRO 35. Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas. Lisboa. Agostinho, J.; Fernando R.M. & Brás, A. (2004). Parametrização de modelos de gestão da rega para a cultura do milho na região do Entre Douro e Minho. Revista de Ciências Agrárias, Vol XXVII, 1: 376-388. Ayers, R. S. & D. W. Westcot (1985). Water Quality for Agriculture. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Irrigation and Drainage Paper No. 29, Rev. 1. Rome. Instituto Nacional de Estatística (2000). Recenseamento Geral da Agricultura 1999 – Região Norte. Portugal. Lisboa. Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas (2005). Aplicação de Práticas Agrícolas para Redução da Lixiviação de Nitratos na Zona Vulnerável do Aquífero Livre de Esposende e Vila do Conde. Relatório Final do Projecto AGRO 35. MAPF. Lisboa. Keller, J. & Bliesner, R. D. (1990). Sprinkle and trickle irrigation. New York: Van Nostrad Reinhold, 652 pp. Keller, J. & Karmeli, D. (1974). Trickle Irrigation Design. Rainbird Sprinckler Manufaturing Corporation. Glendora. CA.182 pp. Laboratório Químico Agrícola Rebelo da Silva (2000). Manual de Fertilização das Culturas. Instituto Nacional de Investigação Agrária. Lisboa. Reichardt, K. (1987). A Água em Sistemas Agrícolas. Editora Manole Lda. S. Paulo. Teixeira, J.L.M. (1991). Guia do utilizador do Modelo Isareg – Programa para simular a rega. Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa.
CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO
EFICIÊNCIA DA CULTURA DO MILHO FORRAGEM
Por: João Paulo Carneiro Escola Superior Agrária – Instituto Politécnico de Castelo Branco
João Coutinho
NA UTILIZAÇÃO DE AZOTO PROVENIENTE DE RESÍDUOS ORGÂNICOS
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
ctualmente são produzidos pela sociedade um conjunto de resíduos orgânicos, aos quais há que dar um destino adequado. Pelas características que apresentam, muitos desses materiais encontram, na utilização agrícola, o melhor destino que lhes pode ser dado. No entanto, a viabilização da valorização agrícola destes produtos terá de implicar, necessariamente, uma ausência de perda de rendimento por parte dos agricultores e, também, a inexistência de efeitos nefastos para o ambiente. Para além de matéria orgânica, cujas funções são reconhecidamente importantes para a obtenção de solos agrícolas de qualidade, a incorporação no solo de resíduos orgânicos permite uma reutilização de nutrientes essenciais para as plantas, entre eles o azoto. Este nutriente, para além de usualmente se constituir como o principal elemento limitante das produções vegetais, assume grande importância na qualidade das mesmas, nomeadamente quando estão em causa forragens destinadas à alimentação animal. O reconhecimento destes factos, e o desconhecimento da importância e do momento da disponibilização de azoto por parte dos resíduos orgânicos, leva a que muitos agricultores não valorizem devidamente o uso agrícola deste tipo de produtos, acabando tal atitude por dar origem a indesejáveis consequências de carácter económico e ambiental. O azoto aplicado através de adubos, estrumes, lamas ou outros produtos, nem sempre é utilizado eficientemente pelas culturas (Galloway et al. 2003), nomeadamente pelas anuais (Fageria, 1998). A eficiência do uso do azoto pelas plantas (kg MS produzida por unidade de N disponível) pode ser aumentada através do aumento da eficiência fisiológica (kg MS produzida por unidade de N removida) ou da eficiência da recuperação de nutriente (N removido por unidade de N disponível), ou mesmo pelo aumento de ambas eficiências (Barberi et al., 2008). Para melhor se perceber a influência da implementação de um determinado sistema de fertilização sobre a quantidade de azoto absorvido pelas plantas, pode determinar-se a recuperação aparente de azoto (RAA) proveniente dos fertilizantes utilizados, definida como sendo os kg de azoto removidos pela cultura por kg de nutriente aplicado (Roberts, 2008), e passível de ser determinada pela expressão:
Como se pode deduzir pelo referido, tem-se procurado, através de diversos estudos, avaliar a eficiência de recuperação de azoto pelas culturas, nomeadamente quando no solo se incorporam produtos orgânicos, tais como chorume da bovinicultura, compostado de resíduos sólidos urbanos ou lamas de depuração urbanas. No entanto, porque a mineralização do azoto presente nos mesmos é afectada pelas características do próprio resíduo, pelas propriedades do solo onde são incorporados e também por factores ambientais, os resultados nem sempre coincidem, tornando-se necessário a realização de ensaios de carácter regional para uma avaliação mais rigorosa desses efeitos.
A
em que Nrfert e Nrcontrolo representam, respectivamente, a quantidade de azoto removida pela cultura no tratamento fertilizado e no tratamento Controlo (sem fertilização), e Naplfert as unidades de N aplicadas quando da fertilização. Para apuramento das quantidades de azoto removidas pelas culturas em cada tratamento e colheita, consideram-se as produções por hectare expressas em matéria seca (MS) obtidas em cada situação, bem como a concentração de azoto total na parte aérea das plantas. A eficiência de recuperação de azoto de fertilizantes pode variar entre 26 a 60% (Macdonald et al., 1997, cit. por Rimski-Korsakov et al., 2009), ou mesmo entre 20 a 80% (Garabet et al., 1998, cit. López-Bellido et al., 2005), dependendo da cultura, tipo de fertilizante, época e método de aplicação, e das condições ambientais. Usualmente, a recuperação a partir de fertilizantes minerais é maior em relação ao que sucede com orgânicos (Schils et al., 2008), já que estes não ultrapassam, normalmente, o valor de 50% (Sims, 1995).
96
Henrique Trindade Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Com a perspectiva de se contribuir para a obtenção de informação, em condições mediterrânicas, sobre aproveitamento de azoto veiculado por resíduos orgânicos como os anteriormente referidos (chorume da bovinicultura - Ch, compostado de resíduos sólidos urbanos - RSU e lamas de depuração urbanas - Ldep), pela cultura do milho quando destinada à produção de silagem, instalou-se um ensaio em campo na Escola Superior Agrária de Castelo Branco. Este ensaio teve uma duração de dois anos, e em cada um deles os resíduos orgânicos foram aplicados ao solo de forma a ser doseado um total de 170 kg N ha-1 por modalidade. Para além destas modalidades, foi considerada uma outra, onde se praticou uma adubação azotada tradicional – Adtrad (o solo apresentava teores de fósforo e potássio «assimiláveis» muito altos), com aplicação de sulfato de amónio em fundo e uma diluição calcária nitroamoniacal (20,5%) em cobertura, e ainda um tratamento onde não foi efectuada qualquer aplicação ao solo - Controlo. No gráfico que se apresenta, constam os valores de produção de forragem obtida nos diferentes sistemas de fertilização praticados, em cada um dos anos do ensaio. Como se pode observar a partir da mesma, as produções de forragem nos tratamentos com fertilização foram superiores no segundo ano de ensaio, facto que poderá ser atribuído, essencialmente, às condições climáticas mais favoráveis ao desenvolvimento da cultura verificadas nesta ocasião (verão com temperaturas menos elevadas), e susceptíveis de permitirem um melhor aproveitamento de azoto disponível, por parte das plantas. Para além do referido, foi evidente que quando não se fertilizou, ou quando a totalidade do azoto aplicado à cultura foi veiculado por compostado de resíduos sólidos urbanos, a quantidade de forragem colhida foi menor. No somatório dos dois anos, a produção de silagem nestes tratamentos foi inferior em 30% à conseguida com a adubação tradicional. Por outro lado, quando o doseamento do azoto foi feito com recurso unicamente a lamas de depuração (Ldep) ou a chorume (Ch), as produções foram muitos semelhantes às verificadas na adubação tradicional (Adtrad). A presença, nestes resíduos, de azoto em formas rapidamente mineralizáveis (o que não sucede com o compostado de resíduos sólidos urbanos) (Carneiro et al., 2007), e o estar-se perante uma cultura de Primavera-Verão de ciclo cultural bastante curto (FAO 300), poderão explicar os resultados proporcionados por estes resíduos, relativamente aos conseguidos com a adubação tradicional.
Em relação ao efeito do resíduo líquido sobre a produção de silagem de milho, já Dordas et al. (2008) tinham observado, para condições climáticas próximas das nossas (mediterrânicas), a inexistência de diferenças na quantidade de biomassa de milho produzida, quando o doseamento do azoto foi feito com adubos minerais ou com recurso a chorume da bovinicultura. Quanto às lamas de depuração, Linden et al. (1995), citados por Epstein (2003), em avaliações realizadas por um período de mais de 20 anos, referem mesmo aumentos médios de produção de forragem de milho de 15,8 para 16,4 t MS ha-1, quando em vez de adubos convencionais utilizaram este resíduo na fertilização da cultura. Ainda que diversos estudos tenham evidenciado haver uma melhoria dos valores de recuperação por parte das culturas de azoto veiculado por resíduos orgânicos, à medida que mais épocas
culturais se vão sucedendo (ex: Binder et al., 2002), estamos convictos que a melhoria registada neste parâmetro no segundo ano do nosso ensaio, com a realização de fertilização, ter-seá ficado a dever, essencialmente, à maior produção de forragem conseguida, de acordo com a justificação referida anteriormente. De acordo com Rimski-Korsakov et al. (2009), quando condições climatéricas limitam o normal desenvolvimento das plantas, a percentagem de N recuperado diminui de forma significativa. Com a adubação azotada tradicional (Adtrad) obteve-se um valor médio de recuperação de azoto próximo de 70% do azoto aplicado (RAA igual a 61 e 85% no primeiro e segundo ano, respectivamente), o qual pode ser considerado como bom. Fernandes et al. (1998), na região de Braga, com milho para silagem, obtiveram valores de 60 a 28%, para aplicações de 50 a 300 kg N ha-1 doseado na forma de ureia. Brito et al. (2009), num ensaio efectuado na bacia leiteira do NW de Portugal, com a mesma cultura e para uma aplicação de 140 kg N ha-1 através de um adubo nítricoamoniacal, conseguiram um valor de 43%. Na média dos dois anos, a utilização de chorume (Ch) permitiu uma recuperação de 43% do azoto aplicado (RAA igual a 39 e 47% no primeiro e segundo ano, respectivamente), menos cerca de 27% do alcançado em Adtrad. Ainda que no somatório dos dois anos se tenha produzido mais cerca de 3 t MS ha-1 em Ch do que em Adtrad (37 e 34 t MS ha-1, respectivamente), a recuperação de N com o resíduo foi menor, em virtude da maior concentração de azoto nas plantas colhidas em Adtrad (1,36 e 0,93% e 1,16 e 0,86% em cada um dos anos, em Adtrad e Ch, respectivamente), certamente motivada pela maior disponibilidade de N em formas absorvíveis neste tratamento. Quando o doseamento do azoto foi feito com aplicação de lamas de depuração ou com compostado de resíduos sólidos urbanos, houve menor recuperação de nutriente relativamente ao observado em Adtrad. Na média dos dois anos, a recuperação a partir do primeiro resíduo foi de 37% (28 e 46% no primeiro e segundo ano, respectivamente), valor que correspondeu a cerca de metade do obtido em Adtrad. Para um resíduo semelhante e também em milho, Binder et al. (2002) mencionam, para as condições de Nebraska (EUA), uma recuperação ligeiramente superior (40% de recuperação ao primeiro ano), enquanto Petersen (2003), na Dinamarca, observou um intervalo de recuperação (29-53%) que engloba o valor por nós obtido.
AGROTEC / MARÇO 2012
97
CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO
Tal como sucedido com a utilização de chorume, também a menor recuperação de azoto medida com a incorporação das lamas de depuração, relativamente à verificada com a prática da adubação tradicional, não resultou da obtenção de uma menor quantidade de forragem por hectare, mas sim de uma menor concentração de azoto nas plantas colhidas em Ldep (0,95 e 0,90%, em cada um dos anos, respectivamente). Ou seja, com a utilização de ambos os resíduos referidos ocorre alguma perda na qualidade da forragem obtida, ao proporcionarem algum decréscimo no teor em proteína da mesma. Relativamente ao compostado de resíduos sólidos urbanos, foi a sua utilização que conduziu a menores recuperações aparentes de azoto. Na média dos dois anos, apurou-se o valor de 7% (-6% e 21% no primeiro e segundo ano, respectivamente), o que representou cerca de um décimo da recuperação conseguida com a adubação tradicional (Adtrad). Para além de se confirmar a capacidade imobilizadora do resíduo verificada por nós próprios (Carneiro et al., 2007), também se pode afirmar que seria expectável que fertilizantes orgânicos que libertem nutrientes lentamente, como o compostado, apresentem um aumento na utilização do azoto pela cultura com o tempo, devido à mineralização de nutriente acumulado no solo com aplicações sucessivas (Gutser et al., 2005). No entanto, e ainda que no segundo ano de ensaio se tenha alcançado, neste tratamento, uma recuperação de 21% do azoto aplicado, tal valor não deixou de ser o mais baixo do conseguido nesse ano. De um modo geral, e segundo Gutser et al. (2005), não parece ser possível a obtenção de elevadas produções sem que consideráveis perdas ocorram, quando fertilizantes orgânicos representam a principal origem dos nutrientes para uma dada cultura. Por outro lado, a concentração de azoto nas plantas aumenta com a disponibilidade de nutriente no solo (Zemenchik e Albrecht, 2002), aspecto que também favorecerá a obtenção de valores de recuperação de nutriente mais elevados, quando se utilizem preferencialmente adubos minerais. Assim sendo, e ainda que maiores remoções de azoto não pressuponham, necessariamente, menores saídas de nutriente do sistema solo-planta, convirá reconhecer que os resultados sugerem a necessidade de algum cuidado no planeamento de fertilizações e do sistema cultural a praticar, sempre que haja utilização de resíduos orgânicos, em particular de compostado de resíduos sólidos urbanos.
98
Por outro lado, os resultados obtidos sugerem que uma utilização conjunta de fertilizantes orgânicos e minerais, ao permitir uma disponibilização de azoto mais planeada, pode ser uma solução mais apropriada em termos da sua recuperação pelas plantas no curto prazo, pelo menos em determinadas situações. Para concluir, importa salientar que no estudo efectuado, não foram analisadas questões de índole económica. No entanto, e perante os resultados agronómicos alcançados, não pode deixar de se reconhecer a importância que a utilização agrícola de resíduos orgânicos certamente encerra numa perspectiva mais economicista, nomeadamente ao permitir acesso a unidades de azoto de menor custo monetário e/ou ambiental para os agricultores e, em consequência, para a sociedade em geral.
BIBLIOGRAFIA
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CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO
A COLZA MUTANTE CLEARFIELD
F
oi recentemente anunciada a introdução, em França, de uma variedade de colza resistente a herbicidas, denominada de Canola Clearfield®, obtida com recurso a uma técnica de melhoramento genético clássico que recorre a mutações induzidas. Esta planta, colza mutante, não é considerada um OGM (organismo geneticamente modificado) pois não sofreu, no seu genoma, da introdução de sequências novas, tendo apenas por base a transferência/substituição de alelos ou a modificação da informação genética através da mutação induzida.
Figura 1 Processo de mutação por ENU.
Stress Micrósporo uninucleado
Embriogénese Micrósporo embriogénico
Embrião, esporófito
Totipotência celular
Colza mutada
ENU
Figura 2 Selecção por tolerância ao herbicida.
Tratamento do solo com imazetapir
100
O sistema Clearfield® envolve dois componentes, variedades de plantas tolerantes a imidazolinona e o uso do herbicida imidazolinona. Para a criação da colza (canola) tolerante à imidazolinona recorreu-se ao isolamento e de micrósporos de variedades de colza expostos à colquicina. O uso de plantas duplo-haplóides permite, entre outras vantagens, a rápida produção de linhagens totalmente homozigóticas e a identificação de genes mutantes. As plantas obtidas foram expostas ao herbicida imazetapir tendo apenas sobrevivido 5 plantas mutantes, destacando-se 2 como tendo uma maior resistência. Na tabela abaixo podemos ver, nos mutantes que se destacaram, onde foi feita uma substituição no codão 653 na planta P1 e 574 na planta P2 de um único nucleotídio nos respectivos genomas, sabendo que esta espécie tem dois tipos: o genoma A e C. Podemos também ver qual a modificação feita nos aminoácidos, os genes responsáveis pelo controlo das enzimas AHAS e o método de selecção feito. Tabela 1 Mutação no gene AHAS que confere tolerância a imidazolinona na colza (Brassica napus).
Colza
Colza mutada
P1
Por: Paulo Rodrigues paulojbr@msn.com
P2
P3
P4
P5
Mutante
PM1
PM2
Codão de referência
653
574
Mudança de aminoácido
Serina para asparagina
Triptofano para leucina
Locus
AHAS1
AHAS3
Genoma
C
A
Método de selecção
Mutagénese do micrósporo
Mutagénese do micrósporo
© Attila Huszti |
Foi a partir destas plantas que se desenvolveram todas as colzas tolerantes a imidazolinona, as quais foram, em 1995, lançadas no mercado como “Smart Canola”, sendo que hoje em dia são comercializadas pelo nome Clearfield® canola.
A vantagem da tecnologia Clearfield® é que as planas obtidas, sejam de colza, milho, girassol ou mesmo trigo, são tolerantes aos herbicidas da família das Imidazolinonas, e que inclui o imazapir, imazapic, imazetapir, imazamox, imazametabenz e imazaquin. Estes são herbicidas selectivos, pois são efectivos para um amplo conjunto de infestantes, incluindo a própria colza não resistente. Estes herbicidas interferem na produção dos aminoácidos essenciais (isoleucina, leucina e valina), inibindo uma determinada enzima, a acetohydroxyacid sintase (AHAS) ou também conhecida como cetolactato sintase (ALS), importante nesta via. Os seres humanos e animais não produzem estes aminoácidos, o que contribui assim para a baixa toxicidade destes herbicidas. A imidazolinona é comercializada pela empresa BASF, a qual dispõe de vários tipos para a canola Clearfield® e outras espécies, como milho, arroz, trigo, etc., também mutantes e Clearfield®. Já as sementes resistentes são produzidas e comercializadas por várias empresas.
No milho, as principais empresas que comercializam este produto são a Pioneer, Pacific Seeds e HRS Seeds. Segundo a bibliografia disponível, o potencial de risco do cruzamento com variedades não Clearfield® é baixo, mas existe. Para evitar isto, o cultivo de planta Clearfield® não deve ser feito perto de plantas não Clearfield® e deve haver também o controlo de plantas de colza que nasçam espontaneamente no terreno por restos de culturas anteriores. Quanto ao cruzamento com espécies aparentadas, o risco é ainda mais baixo que no caso anterior, pois a hibridação irá gerar plantas com um fraco vigor e uma esterilidade alta, as quais não irão sobreviver tanto no campo de cultivo como no habitat natural. Em todo o caso não são conhecidos riscos para a saúde animal, nem danos ambientais que possam resultar destes cruzamentos acidentais, e de como os genes presentes nestas plantas podem, eventualmente, ser encontrados nas populações selvagens.
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A C T U A L I D A D E / C I Ê N C I A E I N V E S T IG A Ç Ã O Por: Cristina Sousa Correia
IDENTIFICADO NOVO SISTEMA TRANSPORTADOR DE AÇÚCARES NAS PLANTAS Como é que as plantas levam os açúcares produzidos pela fotossíntese foliar aos seus tecidos? A resposta é através do floema, um sistema vascular que consiste em células condutoras interligadas circundadas de células acompanhantes e parênquima. As membranas celulares das células condutoras do floema contêm proteínas que activamente transportam os açúcares ao longo destas células. Estes açúcares são transportados sobretudo sob a forma de sacarose. Contudo, até recentemente, a etapa anterior da cadeia de transporte dos açúcares estava ainda por investigar, ou seja, não se conseguia explicar detalhadamente como é que os açúcares se moviam das células de parênquima, onde se realiza a maior parte da actividade fotossintética, para dentro das células condutoras do floema. Num estudo recente de cientistas americanos foram identificadas varias proteínas, pertencentes à família proteica SWEET que fazem exactamente isso. As Sweets localizam-se nas membranas celulares das células de parênquima e actuam como moléculas bombeadoras dos açúcares através destas células. De forma a investigar a função das Sweets, várias linhas transgénicas foram criadas em Arabidopsis thaliana e em plantas de arroz, nas quais os genes correspondentes a cada uma das proteínas Sweet envolvidas foram desligados. Verificou-se que quando proteínas Sweet não estavam presentes, a concentração dos açúcares nas folhas aumentava significativamente devido a estes não poderem ser transportados através das células de parênquima. Da mesma forma, verificou-se que as sementes, frutos e raízes das plantas mutantes não recebiam um fornecimento adequado de açúcares. Em termos de melhoramento de plantas, a identificação destas proteínas representa a possibilidade de optimização do sistema de transporte de açúcares, o que poderá levar a um aumento dos açúcares em órgãos vegetais agronomicamente interessantes tais como raízes, tubérculos, frutos e sementes. Por outro lado, as proteínas Sweet prometem ser uma ajuda na luta contra pragas e doenças. Por exemplo, a bactéria Xanthomonas oryzae, que afecta as folhas do arroz, aproveita-se destes sistemas transportadores SWEET para aceder às reservas de sacarose da planta para delas se alimentar. Estudos que clarificam o papel destes transportadores durante os ataques de pragas estão presentemente a decorrer. Mais ainda, os investigadores suspeitam que estas proteínas bombeadoras dos açúcares tenham função semelhante em animais e humanos. Se isto for confirmado, estas proteínas vão tornar-se importantes no controlo da diabetes e da obesidade. As proteínas responsáveis pelo transporte de hidratos de carbono do intestino para o sangue e das células do fígado ainda não são conhecidas.
102
COMO É QUE AS PLANTAS DETECTAM O OXIGÉNIO?
Esta importante questão da fisiologia vegetal foi parcialmente resolvida por cientistas da Universidade de Nottingham, Reino Unido, que conseguiram isolar e quantificar certas proteínas que se acumulam nas células quando estas se encontram em condições de deficiência em oxigénio (hipoxia), tal como acontece durante períodos de cheias. As proteínas envolvidas nesta resposta biológica funcionam como detectores directos do oxigénio pois, sob níveis normais de oxigénio, sofrem oxidação ficando dessa forma marcadas para degradação celular. A degradação controlada de certas proteínas (proteólise específica) é absolutamente necessária para o funcionamento metabólico normal das plantas. Este mecanismo de degradação proteica é homeostático: quando os níveis de oxigénio baixam estas mesmas proteínas tornam-se estáveis, pois não sofrem oxidação, e acumulam-se nas células. Quando as condições voltam à normalidade e os níveis de oxigénio sobem, estas proteínas voltam a ser oxidadas e subsequentemente degradadas, o que resulta no retorno ao funcionamento metabólico normal da planta. As proteínas identificadas detêm uma estrutura inicial idêntica que as caracteriza e as torna alvos específicos das enzimas envolvidas neste processo de degradação proteica. O processo enzimático em si é considerado o mecanismo regulador da resposta das plantas à deficiência em oxigénio, na medida em que reconhece e regula a acumulação destas proteínas nas células. A presença destas proteínas sob condições de hipoxia resulta em modificações metabólicas que permitem a sobrevivência da planta durante períodos de submersão. Modificações genéticas que bloqueiem as enzimas que as degradam, levando à sua acumulação celular, poderão resultar em plantas com maior tolerância a cheias. A tolerância das plantas a períodos de cheias é um dos aspectos mais importantes da segurança alimentar, especialmente nos países em vias de desenvolvimento.
CHEGOU A PROVA: QUANTO MAIOR A DIVERSIDADE VEGETAL MELHOR O FUNCIONAMENTO DOS ECOSSISTEMAS Uma análise recente, publicada na revista Nature, revela que quase todas as plantas presentes num ecossistema de pastagem (84%) contribuem, pelo menos durante algum tempo, em determinado local, ou tipo de cenário ambiental, para o funcionamento normal desse ecossistema. É já de conhecimento geral que a diversidade vegetal e animal tem vindo a diminuir drasticamente, tanto ao nível do número de espécies, como ao nível da diversidade intra-específica e mesmo ao nível da diversidade de habitats dentro do ecossistema. É também consensual que a diminuição da biodiversidade poderá resultar em perturbações ao nível do funcionamento do ecossistema, levando eventualmente a uma diminuição dos serviços por ele prestados ao ser humano. Contudo, torna-se difícil arranjar fundos para a conservação da biodiversidade se não existirem estudos que revelem o verdadeiro valor ecológico das espécies a conservar. Em suma, porque é que se deve gastar dinheiro em conservar a biodiversidade? Em quantas e em quais espécies se deve investir exactamente? Estudos anteriores, realizados perante um só cenário ambiental, indicavam um máximo de 27% das espécies como sendo importantes para o funcionamento de cada ecossistema considerado. Ora dado que apenas um pequeno número de espécies era importante, o argumento para a conservação ficava enfraquecido pois não parecia haver grande perca ecológica se o número de espécies diminuísse, desde que as tais espécies chave se mantivessem presentes. Contudo, o novo estudo multi-anual e de múltiplos cenários ambientais valoriza um muito maior número de espécies como contribuidoras chave para o funcionamento do ecossistema. Explicando melhor, se se tomasse em consideração um só ano e um só local, poderia parecer que a espécie A e a espécie B são muito mais importantes que as restantes espécies. Contudo, o que se verifica é que se se estender a análise a vários anos, vários locais e variados cenários ambientais, muitas mais espécies se revelam importantes. Tornou-se agora evidente que as espécies que proporcionam um tipo de função ecológica durante vários anos não são as mesmas que proporcionam variadas funções no espaço de um ano. Este estudo revela também grande diversidade funcional entre as espécies, por exemplo, algumas espécies são importantes em encostas viradas a norte e outras em encostas viradas noutras direcções. Algumas espécies são importantes em pastagens intensivas porque ajudam a manta vegetal a recuperar. Algumas são importantes na fixação do azoto e assim por diante. Este estudo realça também que, embora muitas espécies pareçam redundantes na suas funções perante determinado cenário ambiental, cada uma delas poderá ter importância individual no desempenho de outras funções em etapas temporais, locais ou condições ambientais diferentes. Manter o máximo da biodiversidade presente deverá tornar-se no lema das políticas de conservação, em oposição à conservação de apenas algumas espécies chave, não só como salvaguarda do funcionamento normal e sustentável do ecossistema mas também como medida facilitadora da adaptação do ecossistema à mudança climática.
RESTAURO DA FLORESTA APÓS O INCÊNDIO PELA ADIÇÃO DE POLIACRILAMIDA AO SOLO Os incêndios florestais estão na origem de grandes perdas ecológicas que podem ocorrer tanto durante o fogo como depois do rescaldo. Com a perda da cobertura vegetal, o solo fica exposto a processos erosivos que, por sua vez, atrasam ou impedem o processo de regeneração vegetal. Desprovido de manta vegetal, o solo perde a capacidade de absorção de água proveniente de precipitação intensa. Disto resulta um aumento na escorrência superficial, escorrência essa que transporta os sedimentos para longe, deixando o solo lixiviado. Florestas de solos pouco profundos, localizadas em terrenos inclinados, são áreas de risco acrescido em termos de erosão hídrica.
Investigadores Israelitas e Espanhóis estudaram um método alternativo para o controlo da erosão em florestas. Trata-se da adição ao solo de grânulos do polímero orgânico poliacrilamida (PAM), substância já largamente usada em agricultura na prevenção da erosão. A utilização deste polímero em solos florestais foi testada inicialmente em laboratório usando amostras de solo queimado e simuladores de chuva. Foram também efectuados testes no terreno, em parcelas experimentais de florestas Israelitas, instaladas em encostas com declive de 40 graus. Estas parcelas experimentais (de área conhecida) são ligadas a sistemas colectores de escorrência. (funis e bidões) na sua parte mais baixa, os quais recolhem a água e sedimentos provenientes da escorrência superficial de cada parcela. Tanto em condições de precipitação simuladas como no terreno, a adição de PAM ao solo resultou numa diminuição da erosão. Em termos específicos, verificou-se no terreno, que a aplicação de 50 kg de PAM por hectare de floresta levou a uma diminuição da erosão na ordem dos 50%. A adição de PAM, que custa cerca de 2.5 euros o quilo, torna-se assim num método alternativo/complementar aos outros métodos de estabilização e controlo da erosão do solo, tais como o mulch (cobertura do solo com palha ou aparas de madeira) e as barreiras lenhosas (troncos de madeira empilhados). Estudos posteriores revelaram que a PAM é uma substância não tóxica para a vegetação existente, não afectando a germinação de sementes ou o desenvolvimento das plantas após a germinação. Os próximos desafios nesta investigação consistem em testar este polímero em diferentes tipos de solo, estudar a natureza química do produto resultante da interacção entre o polímero e a cinza, e ainda expandir o método a áreas ardidas de maior dimensão.
AGROTEC / MARÇO 2012
103
BIOTECNOLOGIA
A AGROBIOTECNOLOGIA
Por: Pedro Fevereiro Presidente do Centro de Informação de
NO MUNDO E A AGRICULTURA PORTUGUESA
Biotecnologia
A
forma mais eficaz e prática as infestações com ervas daninhas, apresentando assim vantagens inegáveis para o agricultor e o ambiente, quando comparadas com as variedades convencionais. Recentemente foi aprovada, nos E.U.A., a utilização de variedades transgénicas capazes de crescer com teores hídricos reduzidos (Milho MON87460 contendo um gene de uma proteína de choque térmico — cspB — da bactéria do solo Bacillus subtilis), o que vem adicionar uma nova característica, com amplo interesse, ao leque de disponibilidades já existentes. É por demais comprovado, por cientistas e agricultores, que as variedades transgénicas permitem produzir mais e melhores produtos de forma sustentável porque exigem menor consumo de água, de fitofármacos e combustíveis, reduzem as perdas de solo por erosão, e contribuem para a redução de emissões de CO2 para a atmosfera ajudando no combate às alterações climáticas. Só em 2009 pouparam-se 393 milhões de kgs de substância activa de pesticidas e calcula-se que a redução das emissões de CO2, por uso destas variedades, foi de cerca de 18.000 milhões de kgs, o equivalente a retirar cerca de 8 milhões de carros da estrada. O uso destas variedades permitiu ainda conservar a biodiversidade, salvando 75 milhões de hectares de terra de serem afectas à agricultura. Além disso, as VGMs constituem importantes ferramentas no aumento da produção agrícola mundial, o que poderá ajudar a satisfazer a cada vez maior procura de alimento por uma população ainda em franco crescimento. Os muito rigorosos e exigentes processos de aprovação, de regulamentação, avaliação e monitorização destas variedades na EU e em Portugal, garantem uma enorme segurança na sua utilização para as pessoas, animais e para o ambiente; a sua utilização na Europa permitiria um benefício, por ciclo de cultura, de 443 a 929 milhões de euros. Pese embora esta perspectiva, na Europa, em 2010, a área total cultivada com VGMs foi de apenas 91.000 ha, a quase totalidade de milho Bt cuja sementeira se efectuou em Espanha, Portugal, República Checa, Eslováquia e Roménia.
s variedades vegetais geneticamente modificadas (VGMs) são, hoje em dia, uma realidade de sucesso, comprovada em todo o Mundo, tendo em 2011 ocupado 160 milhões de hectares, o que corresponde a quase 10% da área arável mundial disponível, tendo sido utilizadas por 16,7 milhões de agricultores, dos quais 90% pequenos agricultores e em grande parte em países em desenvolvimento e tendo tido um valor global de mercado de 13,2 mil milhões de dólares (estimativa da Cropnosis). Acredita-se que a velocidade de adopção desta tecnologia tenha sido a mais rápida de sempre na agricultura, tendo tido um aumento médio de 10% ao ano, desde o ano de 1995 (figura 1). Figura 1 Gráfico "Área global de colheitas biotecnológicas em milhões de hectares (1996-2011)". Hectares Totais Em países industrializados Em países em desenvolvimento
29 países com Agrobiotecnologia
Um recorde de 16,7 milhões de agricultores, em 29 países, plantaram 160 milhões de hectares em 2011, um aumento sustentado de 8% ou 12 milhões de hectares ao longo de 2010. Fonte: Clive james, 2010.
Em Portugal, a área com milho geneticamente modificado resistente à broca (milho Bt – o único autorizado a ser semeado na UE) tem vindo a aumentar lentamente, muito em consequência das apertadas regras de coexistência que desmotivam muitos agricultores e das restrições impostas ao uso desta tecnologia pelas mediadas de apoio agro-ambientais. No entanto, em 2011, a área (cerca de 7.200 ha) aumentou a um ritmo mais rápido, denotando a vontade de muitos agricultores, sobretudo no Alentejo, de utilizar esta tecnologia. Na realidade este aumento da utilização corresponde à verificação de que, em média, por hectare, quando comparado com as variedades convencionais, se conseguem acréscimos das margens brutas de 250 a 500 euros, dependendo da incidência da praga. As variedades transgénicas têm constituído importantes ferramentas de produção agrícola, por responderem às necessidades dos agricultores, prevenindo, de forma mais eficiente e menos onerosa, problemas como a resistência a pragas e doenças (incluindo viroses) e combatendo de
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http://cibpt.wordpress.com/
Figura 2 Caule Milho Convencional Com Broca.
Figura 3 Maçaroca GM e maçaroca convencional com galerias de broca e fungos.
As avaliações feitas em Portugal e em outros países da Europa mostram que o modo de produção que utiliza as variedades transgénicas pode co-existir pacificamente com os outros modos de produção, não se tendo verificado até à data, em Portugal, qualquer prejuízo pela sua utilização. Em nenhum caso, desde 2005 se encontraram percentagens de hibridação com as variedades não modificadas superiores a 0,5%, permitindo garantir aos produtores convencionais a venda da sua produção sem a necessária rotulagem (ver por exemplo relatório de acompanhamento de 2010 da DGADR em http://www.dgadr.pt?cr=13698 e informação adicional em http://cibpt.files. wordpress.com/2012/01/2012-dgadr-infoogm.pdf).
Por outro lado, é claro que as VGMs aprovadas para alimento humano e animal não constituem risco acrescido para a saúde. Uma meta-análise de 44 estudos científicos, publicada em 2011, utilizando tecnologias modernas de avaliação molecular (“ómicas”) para avaliar variedades vegetais transgénicas, confirma, uma vez mais, que os alimentos “transgénicos” não são mais perigosos que os convencionais (ver informação detalhada em http://cibpt. wordpress.com/2011/03/03/reconfirmacaoda-seguranca-dos-alimentos-geneticamentemodificados/). Tendo em conta a importância de garantir a liberdade de escolha dos agricultores na UE, torna-se urgente desenvolver um trabalho conjunto, sério e assertivo, de agricultores e suas associações, investigadores, produtores de sementes, da indústria agro-alimentar e de consumidores e suas associações, no sentido de sensibilizar os decisores políticos, em Portugal e na UE, para que, baseados no conhecimento científico e técnico, e não em critérios de natureza política ou de criação de barreiras comerciais, se aprovem eventos OGMs já utilizados por agricultores de outros lugares do Mundo e, assim, contribuir para o aumento da competitividade da agricultura portuguesa. Depois de 25 anos de investigação direccionada para esta tecnologia na União Europeia, de um total de 300 milhões de euros investidos e o envolvimento de mais de 400 grupos de investigação europeus, onde o que sobressai é a conclusão de que a utilização das variedades vegetais transgénicas não constitui um risco acrescido, quer para a saúde humana e animal, quer para o ambiente, se continue a condicionar a sua utilização. Em particular, a agricultura portuguesa poderia beneficiar largamente da utilização das variedades tolerantes aos herbicidas, sendo claro que o controlo das ervas daninhas é um dos processos que introduz custos de produção e impactos ambientais significativos. Para concluir, seria fundamental que as autoridades nacionais convictamente concorressem para que a Europa alterasse a sua reticência na aprovação dos produtos resultantes desta tecnologia, permitindo aos agricultores portugueses, que o desejassem, competir em igualdade de circunstâncias com a agricultura do resto do mundo e contribuir para a redução da importação de matéria-prima, maximizando as capacidades de produção existentes mantendo simultaneamente rentabilidades aceitáveis para a sua sobrevivência no mercado.
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AGROTEC / MARÇO 2012
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BIOTECNOLOGIA
ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS EM ALIMENTOS: CONSEGUIMOS DETECTÁ-LOS?
Por: Telmo J. R. Fernandes / Joana Costa / M. Beatriz P. P. Oliveira / Isabel Mafra isabel.mafra@ff.up.pt REQUIMTE, Departamento de Ciências Químicas, Faculdade de Farmácia
/Universidade do Porto
N
as últimas duas décadas, o desenvolvimento da biotecnologia deu origem a uma revolução na agricultura e nas indústrias alimentar, farmacêutica e biomédica. Das implicações na sociedade actual, destacam-se a produção de plantas e animais transgénicos, a clonagem de mamíferos, a produção de proteínas em microrganismos, o mapeamento do genoma humano, as técnicas de detecção e de diagnóstico por reacção em cadeia da polimerase (PCR) e a terapia génica. A engenharia genética consiste numa aplicação da biotecnologia que compreende uma série de métodos de manipulação de material genético, envolvendo, de uma forma geral, a transferência de genes, tanto dentro de uma mesma espécie, como entre espécies diferentes, sendo este último mecanismo o de maior interesse agronómico. Os organismos modificados desta forma são frequentemente designados por transgénicos ou organismos geneticamente modificados (OGM), sendo estes conceitos, por definição, abrangentes a todas as formas vivas. Figura 1 Crescimento mundial da área de culturas biotecnológicas (International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications - http://www.isaaa.org/).
Figura 2 Cultivo de milho OGM em Portugal (Agência Portuguesa do Ambiente -www.apambiente.pt/).
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É de referir que o melhoramento e selecção de plantas com base em técnicas convencionais são efectuados desde os primórdios da agricultura, recorrendo, por exemplo, à transplantação ou cruzamento entre espécies de plantas diferentes. Deste modo, desde que o Homem cultiva plantas para o seu próprio consumo, a sua modificação pela engenharia genética assume-se, sem dúvida, como a transformação mais radical na produção de alimentos. A partir da introdução dos OGM na cadeia alimentar, em meados dos anos 90, temse assistido a um aumento anual acentuado no cultivo de plantas transgénicas a nível mundial, como se pode verificar na Figura 1. Em 2010, a área total de cultivo de plantas transgénicas alcançou os 148 Mha, dos quais 50% correspondem a soja e 31% a milho, sendo as culturas GM com maior expressão em todo o mundo, seguindo-se o algodão e a colza. A nível da UE, o milho é a espécie com o maior número de modificações genéticas (frequentemente designadas por eventos) diferentes autorizadas (21) em géneros alimentícios e alimentos para animais (www.gmo-compass. org/). Portugal situa-se na 21.ª posição a nível mundial no cultivo de OGM, correspondente apenas a milho MON810, que actualmente é o único evento aprovado para cultivo na UE. Desde 2005, o seu cultivo em Portugal estendeu-se às zonas Norte, Centro (Beira Litoral), Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo (zona com maior área de cultivo) e, mais recentemente, ao Algarve (Figura 2). As modificações genéticas das plantas utilizadas na alimentação têm visado sobretudo a alteração de características agronómicas de tolerância a herbicidas e/ou resistência a insectos. Outras modificações com vista ao aumento do tempo de conservação da planta, ao aumento do valor nutricional ou resistência a microrganismos, e ao stress ambiental têm também sido introduzidas. Apesar das vantagens notórias dos OGM a nível agronómico, existem potenciais riscos para a saúde humana e ambiente. Os riscos de
toxicidade ou alergenicidade, nomeadamente por parte das novas proteínas expressas, são os principais focos de uma avaliação extensiva dos OGM para a alimentação humana e animal por parte das autoridades competentes, antes da sua colocação no mercado. A nível ambiental, o receio pela alteração e possível diminuição da biodiversidade constitui um ponto crucial de oposição de vários grupos ambientalistas influentes contra os OGM. Devido aos potenciais riscos que os OGM podem representar para a saúde humana e animal, agricultura e ecossistemas, a sua libertação no ambiente e comercialização encontra-se legislada na UE. De modo a proteger a saúde pública e o ambiente, a UE implementou a Directiva 2001/18/CE relativa à libertação deliberada de OGM no ambiente e sua colocação no mercado. Os Regulamentos (CE) n.º 1829/2003 e 1830/2003 relativos a géneros alimentícios e alimentos para animais GM fornecem a base legal para aprovação de OGM, introduzindo o conceito de rastreabilidade e rotulagem de OGM, e estabelecendo o valor de 0,9% como o limite de material GM num alimento, a partir do qual é obrigatória a indicação de presença de OGM no rótulo. De forma a verificar a rotulagem dos alimentos quanto à presença de OGM e a sua conformidade com a legislação, têm-se desenvolvido várias técnicas sobretudo fundamentadas na biologia molecular [1] (Fig. 3). As metodologias baseadas na análise de ADN, nomeadamente a PCR, são actualmente as técnicas de eleição para a detecção e quantificação de OGM em alimentos. A PCR consiste num método que recorre a processos bioquímicos, visando um varrimento completo da amostra de ADN e localização de uma ou mais sequências de ADN denominadas sequências alvo. Se a sequência alvo estiver presente, é amplificada milhões de vezes, tornando possível a sua detecção com elevada sensibilidade, e permitindo ainda a sua quantificação através da PCR em tempo real. A amplificação por PCR depende ainda da eficiência dos métodos de extracção de ADN, considerados como um ponto crítico, quando se trata da análise de alimentos processados [2,3]. Nos últimos anos, o Departamento de Ciências Químicas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto tem desenvolvido vários trabalhos no que diz respeito ao controlo de OGM em alimentos, os quais compreendem sobretudo o desenvolvimento e a optimização de protocolos de extracção de ADN e técnicas de PCR visando a sua aplicação na análise de
Figura 3 Operações dos laboratórios de análise de OGM em alimentos.
Alimento
Detecção / Rastreio
Negativo
Positivo
GMO? Sim / Não
0,5 % tolerância Identificação
Quantificação
Não
Sim
Ensaios individuais de ingredientes
Ilegal
Devem ser rotulados? Sim / Não
0,9% tolerância
< 0,9%
São autorizados? Sim / Não
Rotulagem não necessária
> 0,9%
Rotolagem obrigatória
diversas matrizes alimentares, a monitorização ao longo do processo de produção industrial e a influência do processamento alimentar na detecção e quantificação de OGM.
AVALIAÇÃO DE ALIMENTOS DO MERCADO O controlo de vários alimentos à base de milho (farinhas, sêmola, carôlo, pipocas, snacks, milho congelado, tostas) comprados em diversas superfícies comerciais na região do Porto permitiu efectuar um rastreio e identificação de eventos de milho transgénico. Num primeiro estudo em 2007, de 37 amostras (num total de 50) onde foi possível detectar um gene de referência do milho, verificou-se que, pelo menos 73% foram positivas ao rastreio de OGM. Os eventos de milho mais frequentemente identificados foram o TC1507 e o MON810, detectando-se também GA21 e NK603. Os resultados da quantificação por PCR em tempo real mostraram que, em geral, as amostras analisadas se encontravam conforme a rotulagem (< 0,9%), contudo dois alimentos, um à base de cerais e outro um snack de milho, possuíam ambos 1,0% de milho GM dos eventos NK603 e TC1507, respectivamente.
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BIOTECNOLOGIA
Noutro estudo englobando amostras adquiridas em 2009 e 2010, verificou-se que 25% das amostras foram positivas para a presença de material GM, dentro das quais se identificaram os eventos de milho MON810, NK603 e TC1507. A maior parte dos alimentos analisados apresentaram valores bastante abaixo de 0,9%. No entanto, uma amostra de farinha de milho de 2009 continha 1,5% do evento TC1507, enquanto outra de carolo de milho de 2010 possuía, simultaneamente, 20% de milho MON810 e 11% de TC1507 [4]. Os dois estudos mostraram um elevado número de alimentos contaminados com milho GM nos últimos anos, assim como a presença de não conformidades com a rotulagem, indicando a necessidade de controlo dos alimentos pelas entidades responsáveis.
RASTREABILIDADE DE OGM Sabendo que a estabilidade das moléculas de ADN é afectada por diversos tipos de processamento alimentar, pretendeu-se num outro trabalho de investigação avaliar o efeito da cozedura de broas de milho em forno na detecção e quantificação de OGM. Com a preparação de broas de milho com quantidades conhecidas de milho MON810 e/ou milho TC1507 foi possível detectar e estimar as respectivas proporções de OGM em todas as etapas de preparação, embora em alguns casos por defeito. De uma maneira geral, foi notória a degradação do ADN com o processamento térmico da farinha de milho, o que terá levado à subestimativa de OGM em relação ao valor previsto, em alguns casos [4]. Figura 4 Gráfico de um ensaio de PCR em tem-real (flurescência normalizada vs. número de ciclos da reacção) para a quantificação de soja geneticamente modificada.
sos de pré-extracção, extracção e refinação do óleo de soja. A PCR em tempo real permitiu a quantificação de soja GM, em todas as etapas anteriores ao processo de extração que compreendem o grão inteiro, partido, laminado e extrudido, e ao óleo extraído (óleo cru). O ADN de soja GM foi também detectado ao longo das etapas de refinação industrial do óleo cru: desgomagem/neutralização, lavagem, branqueamento e desodorização (produto final). Os resultados dos dois estudos demostraram a possibilidade de rastrear a presença de OGM ao longo das etapas de processamento alimentar até aos produtos finais, apesar de se evidenciar a degradação do ADN.
REFERÊNCIAS > 1-
2-
34-
5-
Com o objectivo de rastrear a presença de OGM em óleos refinados, foi também possível monitorizar, pela primeira vez, a presença de ADN de soja GM ao longo de todas as etapas da produção industrial de óleo de soja refinado para consumo humano [5, 6]. O estudo foi em estreita colaboração com a indústria, o que permitiu a recolha de amostras representativas de cada etapa dos proces-
6-
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/
Mafra, I. Current methods for detect-
ing genetically modified organisms in foods. In M.B.P.P. Oliveira, I. Mafra, J.S. Amaral (Ed.) Current topics on food authentication, Research Signpost, Kerala, 211-236, 2011. Mafra, I., Silva, S.A, Moreira, E.J.M.O., Ferreira da Silva, C.S., Oliveira, M.B.P.P. Food Control 19:1183-1190, 2008. Mafra, I., Ferreira, I.M.P.L.V.O., Oliveira, M.B.P.P. Eur. Food Res. Technol. 227:649-665, 2008. Fernandes, T.J.R. Detecção e quantificação de milho geneticamente modificado em alimentos comerciais e em broas de milho ao longo da produção, Dissertação de Mestrado, Faculdade de Farmácia, Universidade do Porto, 2011. Costa, J., Mafra, I., Amaral, J.S., Oliveira, M.B.P.P. Food Res. Int. 43:301-306, 2010. Costa, J., Mafra, I., Amaral, J.S., Oliveira, M.B.P.P. Eur. Food Res. Technol. 230:915-923, 2010.
PRADOS, PASTAGENS E FORRAGENS
BETERRABA FORRAGEIRA
H
oje Portugal, à semelhança de quase toda a Europa, enfrenta uma séria crise estampada a variadíssimos níveis, em todos os sectores socioeconómicos. E a agricultura não foge à regra: o motor tradicional de importância vital nos países da Europa sofre o contágio de tal conjuntura. Perante esta realidade, cabe ao agricultor decidir por que métodos optar no desenvolvimento da sua actividade. O conhecimento de culturas não muito praticadas no contexto agrícola nacional poderá abrir horizontes em busca da inovação e maior sustentabilidade. Hoje propomo-nos apresentar a beterraba forrageira. Cientificamente conhecida por Beta vukgaris L., entra no grupo das culturas que em Portugal não têm grande notoriedade mas que, comparativamente com países europeus tais como França, têm vindo a marcar importante presença na alimentação animal, já ao longo de vários anos. Quadro 1 Vantagens e desvantagens da beterraba forrageira
Vantagens
Desvantagens
Benefícios no sistema digestivo
Baixo teor em Proteínas
Excelente lactígeno
Tempo de armazenamento limitado (máximo 6 meses)
Alta produtividade por hectare
Custos nos processos de mecanização
Total possibilidade de mecanização
Controlo rigoroso de infestantes
Cultura resistente a condições climatéricas adversas
Esta raiz tuberosa da família Chenopodiaceae caracteriza-se por ser um alimento apropriado ao arraçoamento de vários animais, servindo a ovinos, caprinos, equinos e até suínos, mas é para os bovinos que a beterraba forrageira tem maior interesse, – tanto na produção de leite como de carne. Sob o ponto de vista do agricultor, a cultura da beterraba forrageira, embora exija algum conhecimento especializado traz, mesmo assim, grandes vantagens, entre as quais se destacam a grande quantidade de matéria seca (MS) produzida por hectare, a relativa resistência da cultura a más condições climatéricas em relação a outras culturas forrageiras, a adaptação a vários climas e, ainda, a possibilidade de total mecanização. A descrição de algumas características, bem como as técnicas de cultivo utilizadas na produção da beterraba forrageira parece pertinente. A beterraba destinada à alimentação animal possui diferenças em relação à que se destina à alimentação humana. Com efeito, a primeira, dita beterraba forrageira, apresenta uma raiz mais volumosa, um desenvolvimento foliar visivelmente inferior e, ainda, um porte mais pequeno do que a segunda, chamada beterraba sacarina.
Por: Emanuel Moreda Estudante da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima
O teor de MS é um dado de extrema importância quando se pretende obter um alimento de qualidade para administrar aos animais. Neste sentido, ao longo do tempo, a selecção direccionou-se para as variedades de beterraba mais ricas em MS. Desde que as técnicas culturais sejam bem escolhidas, estas beterrabas podem apresentar um teor de MS cerca de 15% a 25% superior comparativamente a outras variedades.
“
A beterraba forrageira poderá ser uma cultura interessante...
”
No quadro 2 estão indicadas as principais variedades de Beterraba forrageira cultivadas para a alimentação animal, as quais se dividem em três grupos, de acordo com o seu teor em MS. As variedades do terceiro grupo, apesar de possuírem uma percentagem de MS mais elevada podem, quando dadas em grande quantidade, ser prejudiciais na alimentação dos ruminantes devido ao seu elevado teor de açúcares solúveis. Este componente tem influência, portanto, na digestão dos animais, por interferir com a flora microbiana do rúmen e por provocar um efeito laxante. Assim sendo, o grupo das forrageiras-sacarinas, segundo estudos realizados nesta área, é o que melhores resultados permite quando em rações de bovinos.
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PRADOS, PASTAGENS E FORRAGENS
Quadro 2 Grupos e percentagem de MS das principais variedades de beterraba cultivadas.
Grupos
Percentagem de matéria seca
Forrageiras
Menor que 12%
Forrageiras-Sacarinas
Entre 12% e 16%
Sacarinas-Forrageiras
Maior que 16%
Exemplos de variedades
Branca de colo verde; Rosa Oval; Amarela de Puiseux; Amarela de Eckendorf; Vermelha de Eckendorf. Porcina Vilmorin; Rod Otofte; Gul Daeno; BarresOtofte; Bison.
esta deficiência. O quadro seguinte (Quadro 3) representa um exemplo de fertilização mineral, tendo em consideração a deposição de estrumes. O primeiro indicador de que as beterrabas estão prontas a ser recolhidas do solo, é quando se observa o amarelecimento da base das folhas. No entanto, o processo de recolha poderá ser atrasado, uma vez que a planta possui a capacidade de se conservar no solo por mais algum tempo. A possibilidade de colheita escalonada é um aspecto frequentemente muito valorizado pelos agricultores.
Pajberg Rex; Hunsballe; Friso; Hünderupgaard.
AS SEMENTES DE BETERRABA Apresentam-se, normalmente, agrupadas em glomérulos de até três sementes, pelo que na sementeira se devem usar sementes monogérmicas e não tal como obtidas na planta. A semente é muito pequena, logo, é importante o solo, à superfície, ser fino de modo a que a germinação e subsequente emergência da planta seja mais fácil e, em profundidade, o solo deverá ser solto, para que a raiz se desenvolva devidamente. Quanto ao pH, a espécie necessita de valores entre os 6,5 e 7, pois valores de pH ácidos podem comprometer seriamente a produtividade. O método mais utilizado actualmente é a sementeira directamente no campo, embora a transplantação de plântulas seja uma opção válida quando a área é exígua. A sementeira pode ser feita no Outono-Inverno, já que o cultivo em Primavera-Verão (regadio) tem a competição com culturas como o milho e o sorgo, muito mais produtivas e eficientes no uso da água. Nas regiões da Europa central apenas se pode semear na Primavera. As sementes, nuas ou revestidas, devem ser monogérmicas, ou seja, uma semente dará origem a uma só planta, assegurando, assim, a permanência desta no lugar definitivo desde o início. A colocação das sementes no solo, por sua vez, deverá ser executada através de um semeador pneumático ou mecânico, a uma profundidade de 2 a 3 cm.
SEMENTEIRA FEITA COM UMA DISTRIBUIÇÃO HOMOGÉNEA Geralmente tem-se como meta a densidade de 120 a 130.000 plantas/ha, considerando que a taxa de germinação deve ser em torno de 90%. Se possível, a colocação de estrumes no solo é benéfica –, recomendando-se cerca de 30 a 40 toneladas por hectare, aplicados ao solo no início do Inverno. Quanto a fertilizantes minerais, as quantidades a aplicar variam bastante, dependendo directamente da anterior colocação ou não de estrumes. Interessa, também, salientar a sensibilidade desta cultura às carências de boro no solo sob pena de ocorrerem doenças fisiológicas causadoras de grandes estragos, como, por exemplo, o coração oco. Pertinente será dizer, ainda, que a preparação prévia do solo com estrumes poderá limitar Quadro 3 Esquema de fertilização (kg/ha), com valores estimados para a obtenção de 14-15t de MS.
Grupos
N
P2O5
K20
Sem adubo orgânico
150-170
90-100
240-260
Aproximadamente 30 t de estrume
9-10
60-70
160-180
(Esquema adaptado de http://www.betterave-fourragere.org)
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Caso existam meios, a colheita poderá ser totalmente mecanizada. No entanto, o procedimento manual também será uma opção no mini-fúndio. Deverá ter-se, também, em consideração a delicadeza de todo este processo, de modo a evitar o escalpamento das plantas e, assim, criar as melhores condições para o seu armazenamento posterior. Por sua vez, o armazenamento é realizado em silos, sendo, na situação mais rudimentar em montes de beterrabas cobertas por uma capa de palha (cuja função é a de proteger as raízes do frio) e ainda uma lona de plástico. Convém ainda ter em consideração o arejamento periódico de forma a evitar a fermentação. Cumpridas estas regras de armazenamento, a qualidade das beterrabas é assegurada até um máximo de 6 meses. Na fase inicial de desenvolvimento será de extrema importância evitar as infestantes, pois estas poderão comprometer o crescimento inicial da cultura, ao competir directamente com nutrientes do solo. Em fases mais tardias do desenvolvimento e ao nível de pragas, a Beta vulgaris L. poderá ser alvo de ataque, principalmente, de afídios e nóctuas. Ao nível de doenças, o caso mais perigoso é a cercosporiose. Qualquer distúrbio provocado por estes inimigos poderá ser prevenido/solucionado com relativa facilidade através de recursos existentes no mercado, nomeadamente químicos de acção específica. A beterraba forrageira tem várias vantagens quando comparada com outras forrageiras, entre as quais, o facto de ser um alimento
com grande digestibilidade para os animais, levando-os a consumir mais palha ou seja, maiores quantidades de fibras. Embora seja pobre em proteínas, esta deficiência pode ser colmatada com a associação de produtos proteicos (por exemplo luzerna) à dieta. Por outro lado apresenta-se como um excelente lactígeno, daí o seu interesse na alimentação de bovinos de produção de leite. Ainda em termos comparativos, toma-se como exemplo o milho – uma das culturas forrageiras mais produzidas no País para alimentação animal – para acrescentar que a beterraba forrageira detém valores energéticos ligeiramente superiores. No entanto, não funciona como um substituto do milho, antes um complemento da dieta.
“
A beterraba destinada à alimentação animal possui diferenças em relação à que se destina à alimentação humana.
”
A Beta vulgaris L. é um alimento apetecível aos animais que poderá ser administrado fresco ou em silagem, de acordo com a dieta estabelecida. Assim sendo, no caso dos bovinos, este alimento poderá incorporar dietas desde cedo – sensivelmente a partir dos três meses de idade – em quantidades que aumentam gradualmente desde 4 kg (0,6 kg de MS) até um máximo de 40 kg (6 kg de MS) por animal, por dia, valor que não deverá ser ultrapassado, uma vez que a beterraba é rica em potássio, elemento este que produz efeitos laxantes. No momento em que a agricultura portuguesa carece de um sério virar de página, devido à cada vez maior competitividade no agrosector, é oportuno levar até ao agricultor mais informação, para que encontre novos meios que respondam às suas reais necessidades. A beterraba forrageira poderá ser uma cultura interessante no contexto nacional. Por vezes, o arrojo e a ousadia de escolher/praticar algo diferente daquilo que é comum pode, eventualmente, trazer algumas vantagens. Cabe ao agricultor escolher a forma de dinamizar/rentabilizar a sua actividade, nomeadamente aproveitando um “saber-fazer” herdado da cultura da beterraba sacarina, que se encontra em declínio no nosso país.
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MAQUINARIA AGRÍCOLA
Necessidades de equipamentos de transporte para a optimização da ensilagem de forragem Por: Jesús Mª Mangado Urdániz jmangado@intiasa.es INTIA S.A.
Tradução: Flávio Neto flaviocfneto@gmail.com INTRODUÇÃO Durante os últimos anos tem vindo a existir uma profunda reorganização na estrutura e dimensão das explorações pecuárias. A título de exemplo, na Comunidade Foral de Navarra, no norte de Espanha, existiam em 1985 mais de 2000 explorações de gado leiteiro, com uma média de 18 vacas por exploração e uma venda anual de 80.000 litros de leite. Em 2010 existiam 260 explorações, com um tamanho médio de 90 vacas e uma cota média de produção de 700.000 litros anuais. Em 25 anos observou-se uma diminuição em 87% do número de explorações, tendo o número de animais diminuído em 35%. No entanto, a produção média passou de 4500 a 7800 litros por vaca e ano, tendo a produção por exploração sido multiplicada em 8,75 vezes e a produção total em Navarra a aumentar em 14%. Em Portugal passou-se de 99000 explorações de vacas leiteiras em 1990 a 13500 em 2007, o que significa a extinção de 86,5% das explorações (Eurostat). O número de vacas desceu em 30%, facto que quando associado ao anterior implica um aumento em 5 vezes do número de vacas por exploração durante esse período. No gráfico 1 podemos ver a evolução seguida desde 1990 na percentagem de explorações por parcelas que compreendam a sua base territorial.
Os incrementos da produtividade individual das vacas (tanto devido a melhorias genética, como a melhorias tecnológicas no tratamento do gado) e da dimensão das explorações não tiveram um aumento paralelo nas bases territoriais das explorações, devido à rigidez e opacidade do mercado de terras e a competição nos preços pagos por elas para fins especulativos, diferentes aos para uma simples produção agrícola. Isto tem como consequência uma maior dependência nos alimentos adquiridos fora da exploração, de maneira que os custos de alimentação chegam a alcançar os 75% das despesas variáveis das explorações (ITG Ganadero, Navarra 2010). Neste contexto, uma das estratégias tomadas por parte das explorações para diminuir a factura das compras externas, e conseguir uma maior autonomia, é o reforço da produção na sua própria base territorial, com culturas forrageiras e rotações de elevada produtividade que, ainda que necessitem de elevados índices de “input”, de mecanização e de profissionalismo por parte do responsável pela exploração, acarretam menores custos de produção e, consequentemente, um aumento na rentabilidade desta actividade. Nas nossas latitudes a produção de forragem tem uma grande variabilidade sazonal, tanto em qualidade como quantidade, pelo que é necessário armazenar a forragem, colhida no momento ideal, e conserva-la até
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que seja utilizada na alimentação do nosso gado, em momentos que exista um deficit na oferta forrageira. A ensilagem é um processo que permite conseguir um alimento bem conservado, com perdas mínimas de quantidade e valor nutritivo da forragem, a um custo razoável. Para alcançar este objectivo é necessário conhecer em profundidade todas as características e actividades que integram o processo, sendo estes os pontos fundamentais: – A fenologia da forragem no momento do corte; – A mecanização do processo; – A dinâmica fermentativa. Em explorações de maior dimensão está a impor-se a externalização de certas tarefas (lavoura, tratamento de estercos e dejectos líquidos, colheitas, etc.), tal como também a participação em grupos de utilização de maquinaria em comum (CUMAs), ou a contratação de empreiteiros particulares para a execução destas tarefas. No caso concreto do processo de ensilagem, está a aumentar a contratação de equipamentos automotores (doravante referidos com RPC) para a recolha, corte e carga da forragem e, ocasionalmente, a contratação de equipamentos para o seu transporte desde a parcela até junto ao silo. As tarefas da divisão, compactação e armazenamento da massa forrageira a ensilar são geralmente implementadas pelas próprias explorações. No caso concreto dos RPC, a facturação ao contratante é relativa ao tempo aplicado na sua actividade, sendo elevado tanto o seu custo unitário como o rendimento do trabalho que realiza. Devido a isto é da máxima importância o dimensionamento correcto dos restantes equipamentos que intervêm no
processo, ajustando-os ao rendimento do equipamento mais eficiente e caro, evitando assim “tempos mortos” no seu funcionamento. Neste artigo é apresentado o rendimento, qualidade e valor nutritivo da produção de forragem, os tempos utilizados pelos equipamentos utilizados no processo de ensilagem, e delineadas as dimensões dos equipamentos de transporte em função da distância e do estado dos acessos entre a parcela e até junto ao silo. Tabela 1 Itinerário do cultivo de sorgo forrageiro.
Data
Produto
Dose (x ha)
Semeadura
20/05
Honey GrazeSweet Creek
35 kg
Adubação de semeadura
no
Adubação de cobertura
26/06
urea
300 kg 3800 m3
Época de irrigação Ensilagem
28/08
MATERIAL E MÉTODOS O trabalho de campo foi desenvolvido numa exploração de gado para carne com 100 vacas em aleitamento e bezerros de engorda para abate, situada na região biogeográfica mediterrânea, província ibérica central e área de sopé. A sua base territorial é integrada por pastagens aproveitadas para o pastoreio e parcelas com regadio por aspersão para a produção de forragem (azevém, alfafa, milho, sorgo, ervilhaca, aveia) para ser conservada e servir de alimentação para o gado em períodos de paragem de crescimento vegetativo. O controlo dos equipamentos e tempos empregues foi levada a cabo em relação a um cultivo de sorgo cujo itinerário técnico se recolhe na tabela 1. O cultivo ocorreu sobre duas parcelas de 4,5 e 6,0 hectares, situadas a uma distância de 5,5 km e 7 km do local de ensilagem respectivamente. As vias de comunicação entre as parcelas e o local de ensilagem são estradas asfaltadas e vias agrícolas de construção recente, sem limitações estruturais nem de desenho para o tráfego de veículos. Foram utilizadas duas variedades de sorgo, uma convencional (Sweet Creek) e outra mutante “bmr” (Honey Graze), que tem uma pigmentação castanha no nervo central da folha e que apresenta um conteúdo de lignina 25% a 50% inferior a variedades não mutantes, o que melhora a sua digestibilidade até a níveis próximos dos do milho. Nos dados apresentados neste trabalho não se diferenciam as características produtivas de ambas as variedades. A forragem foi colhida no dia 28 de Agosto, depois de 100 dias de cultivo e com um integral térmico de 1931 °C. O sorgo encontravase no estado fenológico de “grão leitoso” e excedia os três metros de altura. O corte do material foi executado por um equipamento RPC contratado, CLASS JAGUAR 9000, com 6 m de largura de corte e um rendimento teórico de 55 t * hora-1. Para o transporte da forragem da parcela até junto ao silo foram contratados quatro reboques de carga, dois de 28,8 m3 e outros dois de 20,5 m3 de capacidade, com os correspondentes tractores. A distribuição, colocação e compactação da
forragem no silo foi levada a cabo por dois equipamentos pertencentes à exploração. O material vegetal foi ensilado em dois silos “de empilhamento” de 43,5 * 13 m2 e 18 * 11 m2 sobre uma película de plástico. Recolheram-se os tempos empregues na actuação do RPC na parcela, no transporte com carga, os tempos de descarga e de regresso à parcela com os reboques vazios, para cada equipamento e distância percorrida. Pesaram-se os equipamentos de transporte carregados e vazios para identificar o peso total transportado e o peso específico da forragem verde esmagada. Foram recolhidas amostras da forragem junto ao silo para conhecer a produção total e analisar a sua qualidade e, em função desta e do estado fenológico da cultura, estimar o seu valor nutritivo utilizando a ferramenta Prév Alim, desenvolvida por INRA (Fr, 2000). A todos os tempos reais recolhidos acrescentou-se um coeficiente de aumento de 15% para cobrir imprevistos e “tempos mortos”, inevitáveis em cada actividade. O critério utilizado para o dimensionamento dos equipamentos de transporte é o de “no STOP” do equipamento RPC, para que não existam tempos de espera no seu trabalho por falta de equipamentos de carga. As vias de trânsito entre as parcelas e o local de ensilagem encontravam-se em bom estado, permitindo assim um trânsito eficiente dos equipamentos de transporte. Para situações em que as vias de trânsito não se encontrem num estado considerado óptimo, decidiu-se reduzir para metade a eficácia dos equipamentos de transporte (carregados e vazios), duplicando o tempo utilizado para esses trânsitos. É evidente que todo este planeamento deve cumprir uma premissa principal, de como os equipamentos que intervêm na colocação e compactação da forragem sobre o silo, que são geralmente fornecidos pela exploração, existem em número suficiente para fazer o seu trabalho entre a chegada junto ao silo de dois transportes consecutivos, evitando a paragem dos transportes carregados junto ao silo, de forma a dar tempo para que estes completem a tarefa de colocação e compactação da forragem.
RESULTADOS
Produção e qualidade O peso específico da forragem verde esmagada em transporte era de 410 kg/m3, assim que os veículos de transporte de 28,8 m3 transportavam 11,8 toneladas e os de 20,5 m3 transportavam 8,4 toneladas. O número de deslocamentos foi de 23, no caso dos primeiros, e 26 no caso dos segundos, o que eleva a produção total junto ao silo a 489,8 toneladas de forragem verde. Na tabela 2 apresentam-se as características de qualidade e valor nutritivo da forragem verde junto ao silo, e da mesma forragem passados 4 meses da ensilagem. De acordo com estes dados, a produção eficaz (a realmente disponível junto ao silo) de forragem por unidade de superfície foi de 13,7 toneladas de matéria seca / hectare, com um valor nutritivo médio, contudo suficiente para integrar a ração de forragem de vacas em aleitamento. O conteúdo de amido, e consequentemente, a concentração energética da forragem poderia ser incrementada atrasando o
AGROTEC / MARÇO 2012
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MAQUINARIA AGRÍCOLA Tabela 2 Qualidade e valor nutritivo da forragem de sorgo quando verde e depois de ensilado.
Forragem verde
Forragem ensilada
média ± e.p.
CV (%)
média ± e.p.
CV (%)
Matéria seca (%)
29,3 ± 2,87
19,6
29,9 ± 2,62
12,4
Cinzas (% s / ms)
7,2 ± 0,08
2,1
7,3 ± 0,76
10,4
Proteína bruta (% s / ms)
9,6 ± 0,14
2,9
10,1 ± 0,37
5,2
Fibra bruta (% s / ms)
27,2 ± 0,58
4,2
29,2 ± 1,00
4,7
Fibra em detergente neutro (% s / ms)
56,6 ± 1,27
31,1
58,4 ± 0,71
1,7
Amido (% s / ms)
6,6 ± 1,03
4,5
10,8 ± 1,80
23,5
Digestibilidade da matéria orgânica (%)
63,3 ± 0,17
0,5
67,8
Conc. energética (UFL kg-1 ms)
0,73 ± 0,00
0,7
0,81
e.p. erro padrão / / CV coeficiente de variação
momento do corte, o que em contrapartida diminuiria a proteína bruta e aumentaria as fibras, o que diminuiria a digestibilidade da matéria orgânica. A qualidade do material ensilado é similar ao da forragem verde, excepto no que toca ao conteúdo de amido, que aumenta em mais de 60% e, ainda que estes continuem a ser valores muito baixos, estão em conformidade com a fenologia da cultura aquando do corte. O valor nutritivo também aumenta, contudo as diferenças podem dever-se à heterogeneidade das amostras.
Cronometragem das tarefas durante o processo de ensilagem Os tempos reais utilizados em cada tarefa foram recolhidos através de uma cronometração no local. Na tabela 3 apresentam-se os tempos reais medidos e incrementados seguindo o critério exposto na secção “métodos”. Tabela 3 Tempos utilizados nas tarefas de ensilagem.
Tempo real
Tempo incrementado (* 15 %)
Carga
1 min.* t-1
1,15 min.* t-1
Deslocamento carregado
2,18 min.* km-1
2,51 min.* km-1
Descarga
5 min
5,75 min.
Deslocamento vazio
1,82 min.* km-1
2,09 min.* km-1
ragem, nos informa de uma capacidade de carga de 2,122 m3 * min.-1 ou de 0,4713 min.* m3(-1) e da capacidade de carga do equipamento de transporte. Nesta experiência os tempos de transporte registados foram de 0,4785 km * min.-1 quando vazio, e 0,3984 km * min.-1 quando carregado, com tempos sensivelmente iguais nos dois equipamentos de carga utilizados. Pode-se concluir que o tempo despendido na tarefa de transporte, quer os equipamentos estejam carregados ou vazios, não depende da capacidade de carga dos equipamentos, mas unicamente na distância a percorrer. Descobriu-se que o tempo de descarga na base do silo (5,75 min.) é fixo e independente da capacidade de carga e rendimento dos equipamentos de transporte e da distância entre a parcela e junto ao silo.
Dimensionamento dos equipamentos de transporte Para dimensionar correctamente os equipamentos de transporte de forragem, entre a parcela e o local de ensilagem, e dando continuidade a todas as tarefas do processo, deve acontecer que durante o tempo de carga de um equipamento os restantes completem o circuito de “transporte carregado–descarga–transporte vazio”, de maneira a que quando o equipamento recém-carregado seja integrado neste circuito exista outro que saía do circuito e comece a tarefa de carga, trabalhando em paralelo com o RPC. Esta situação é descrita matematicamente da seguinte forma:
0,4713 x = [(y/0,3984) + (y/0,4785) + 5,75] / (n-1)
O tempo de carga depende do rendimento do RPC (1,15 min.* t-1 ou de 870 kg * min-1) o qual, de acordo com o peso específico da for-
114
onde: x é a capacidade de carga dos equipamentos de transporte em m3/equipamento equipa; y é a distância entre a parcela e junto ao silo; n é o número total de equipamentos de transporte.
Para cada distância entre a parcela a ensilar e junto ao silo, dado que é conhecido em cada caso, a equação que relaciona a capacidade de carga dos equipamentos de transporte e o seu número é de uma natureza potencial e responde à seguinte fórmula: x = k * n-1,4613 Se o desenho, traçado e/ou conservação dos caminhos entre as parcelas e junto ao silo não é o óptimo, o trânsito dos equipamentos de transporte de forragem é dificultado, diminuindo portanto o rendimento do circuito “transporte carregado–descarga–transporte vazio”, afectando directamente o dimensionamento do total dos equipamentos utilizados. Para estimar o efeito desta questão repetiram-se os cálculos alterando os rendimentos de transporte, tanto carregados como vazios, para metade dos obtidos nesta experiência, mantendo os rendimentos do resto das tarefas que integram o processo. Neste caso a descrição matemática é a seguinte: 0,4713 x = [(y/0,1922) + (y/0,2392) + 5,75] / (n-1) com a mesma discrição das incógnitas que no caso anterior. A equação que relaciona a capacidade de carga dos equipamentos de transporte e o número destes é similar a apresentada no caso anterior, com a única diferença a ser a variação do coeficiente (k1). Figura 1 Relação entre o número e a capacidade das equipas de transporte em função da distância a percorrer e o estado dos acessos.
equipamentos de transporte e/ou a sua capacidade. Para a mesma distância, mas em acessos num estado médio de conservação, deve-se ou aumentar o número de equipamentos de transporte ou a capacidade de carga destes. A modo de exemplo pode-se considerar o caso de uma parcela, situada a 5 km do local de ensilagem, tendo como objectivo evitar os tempos mortos durante o processo. Se os acessos estiverem em bom estado poder-se-ia trabalhar com 4 equipamentos, cada um com 20 m3 de capacidade, ou com 3 equipamentos com cerca de 35 m3 de capacidade. Se o estado dos acessos for de uma conservação média, pode-se trabalhar com 4 equipamentos de quase 40 m3 ou com 3 equipamentos de 60 m3, sendo ambas as situações pouco aconselháveis ou, inclusivamente, perigosas. Na tabela 4 é apresentado um ábaco elaborado a partir das equações obtidas. O número dos equipamentos propostos para cada situação é o resultado de arredondar por excesso o resultado obtido. Foram sombreadas as situações mais habituais, e razoáveis, que podemos encontrar a nível de exploração. Para distâncias superiores a 7 km, entre a parcela e junto ao silo, as exigências de capacidade e número de equipamentos de transporte não são competitivas quando comparadas a equipamentos autónomos de transporte (camião). Tabela 4 Número de equipamentos de transporte por capacidade e distância parcela-silo.
m3/ equipamento
1 km
3 km
5 km
7 km
9 km
15
3
4
4
6
5
9
7
11
8
14
20
3
3
4
5
4
7
5
9
6
11
25
2
3
3
4
4
6
5
7
5
9
30
2
2
3
4
3
5
4
6
5
8
35
2
2
3
3
3
5
4
6
4
7
40
2
2
3
3
3
4
3
5
4
6
45
2
2
2
3
3
4
3
5
4
6
50
2
2
2
3
3
4
3
4
3
5
= acessos em boas condições
= acessos em condições médias
CONCLUSÕES
Na figura 1 estão representadas as curvas que correlacionam o número de equipamentos de transporte e a sua capacidade de carga, para cada distância de uma parcela até junto ao silo, e em duas situações de estado de conservação (óptimo // médio) dos percursos de deslocação dos equipamentos de transporte. Logicamente, quanto maior a distância a percorrer, maior deve ser o número de
Quando algumas das tarefas envolvidas no processo de ensilagem são realizadas mediante contratação externa, torna-se portanto necessário dimensionar correctamente os meios a ser conjugados, evitando tempos mortos e derrapagens no custo final. Foi elaborado um ábaco para estimar o número de equipamentos de transporte de forragem necessários, e sua capacidade de carga, em função da distância entre a parcela e local de ensilagem, e a adequação ao trânsito destes equipamentos nos itinerários a percorrer.
Pode descarregar a versão original deste artigo em: agrotecrevista.wordpress.com/artigos/
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MAQUINARIA AGRÍCOLA
Agricultura de Conservação em Portugal, na Europa e no Mundo (Parte I / II) Por: Gabriela Cruz
A DEGRADAÇÃO DOS SOLOS NO MUNDO No Mundo a degradação dos solos agrícolas devido aos processos de erosão e compactação é, possivelmente, um dos principais problemas que afectam a capacidade produtiva da agricultura. Segundo a Pimentel, David e outros autores, entre 1935 e o ano de 1995, aproximadamente 1/3 dos solos agrícolas do planeta deixaram de ser produtivos devido aos fenómenos de erosão.
solo, tornando-o mais resistente à deformação e permitindo melhores condições de transitabilidade do equipamento agrícola e possibilitando ao agricultor um melhor timing nas operações culturais.
Estes fenómenos afectam também todos os países da Europa em menor ou maior extensão, sendo a zona mediterrânica a mais afectada e onde são mais severos. Segundo Oldeman, L.R, (ISRIC- World Soil Information) 12% da superfície total da Europa, e 2 vezes a da França, sofre, anualmente, com a erosão hídrica e 4% com a erosão eólica. Estima-se que a taxa média de erosão é assim de 17 toneladas por hectare por ano, superando, nas zonas mais afectadas, e largamente, valores de 20 a 40 toneladas de solo por hectare, após uma chuvada. Estes valores ultrapassam, em muito, aquilo a que estudiosos da matéria estimam como a taxa média de formação do solo em 1 tonelada por hectare por ano (Troeh, F.R. and Thompson, L.). Portugal, situado na zona Atlântico-Mediterrânica, é provavelmente um dos países da Europa com mais risco de erosão, tendo a EEA – Agência Europeia do Ambiente (www.eea.europa.eu) considerado que mais de 80% do território português se encontra sujeito a um risco moderado a elevado de fenómenos de erosão. A qualidade do solo, medida pelo seu teor em matéria orgânica, e a qual determina a sua fertilidade e consequente potencial produtivo, é muito inferior nos solos sujeitos a erosão. Além disso, a capacidade de armazenamento de água é, francamente, reduzida, sofrendo as culturas consideravelmente mais nas zonas que não podem ser irrigadas, e levando a um maior consumo de água nas zonas de regadio, com o consequente aumento no consumo de energia na rega. Por outro lado, com a não mobilização ou mobilização reduzida aumenta-se a densidade aparente do solo, a estabilidade dos agregados, a respectiva porosidade, a sua capacidade de retenção da água e nutrientes e, ainda, a sua actividade biológica. Assim, reduz-se a compactação do
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© Revista Sulco
Figura 1 Erosão em Solo Mobilizado
Nas zonas áridas ou de fraca pluviosidade, o grande factor limitante é a água, tendo-se observado que a manutenção de resíduos vegetais (restolhos e palhas) à superfície do solo pode diminuir, consideravelmente, a evaporação da água, evitando o stress hídrico das culturas.
AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO (AC) COMO RESPOSTA À DEGRADAÇÃO DOS SOLOS Até aos anos 40 do século XX os agricultores dispunham de muito poucas ferramentas, praticamente só a charrua, para controlarem as infestantes, descompactar o solo e preparar a cama para a sementeira. Nas faculdades de todo o Mundo estudava-se que uma boa lavoura não só permitia estes feitos como também aumentava a capacidade de armazenamento da água e era um meio de controlo eficaz de pragas e doenças.
No entanto, 3 anos de seca estrema na parte central dos E.U.A. originaram fenómenos de erosão muito fortes conhecidos pelo DustBowl e constantes do filme “A charrua que devastou as planícies”. Perderam-se, então, e irremediavelmente, enormes quantidades de solo. Assim, a partir desse momento, e com o objectivo de evitar os devastadores fenómenos de erosão, desenvolveram-se naquele país alfaias que permitiam mobilizar o solo para a sementeira sem o inverter, o que tornava possível que os resíduos vegetais da cultura anterior permanecessem à superfície do solo. Rapidamente estas
Figura 2 Erosão em Solo Desprotegido e Mobilizado.
práticas estenderam-se a todas as zonas dos E.U.A., uma vez que, além de constituírem um meio eficaz de controlo da erosão, permitiam conservar a humidade no solo, factor tanto mais importante quanto menor ou nula a disponibilidade de água para regar. Além disso, a constituição do Departamento de Conservação do Solo naquele país incentivou a investigação e experimentação em mobilização de conservação, gerando um conjunto de respostas em termos de equipamento. No entanto, persistia o problema de controlo de infestantes, factor altamente limitante para as culturas. Esta dificuldade foi, de certa forma, resolvida com o aparecimento das substâncias activas paraquato e diquato, o que motivou a que a Investigação e o Departamento de Agricultura estadunidense e empresas particulares continuassem o esforço de desenvolvimento de respostas aos problemas que a tecnologia enfrentava. Assim, nascia na Universidade de Purdue o primeiro semeador de sementeira directa, M-21, e posteriormente desenvolveu-se o conceito do disco de corte ondulado que permitia cortar os resíduos vegetais deixados pela cultura anterior, evitando o empapamento do semeador e permitindo que os raios solares incidissem no solo e aumentassem a sua temperatura. Simultaneamente, aparecia outro herbicida: a atrazina. A partir daqui, rapidamente aumentou a área em mobilização de conservação nos E.U.A. Nos anos 70-80 estas técnicas expandiram-se para o resto da América do Norte, para a América do Sul, para a Austrália e para a Nova Zelândia, representando (segundo Derpsch, R.) em 2009 a área de sementeira directa relativamente à área semeada: 23% nos E.U.A., 60% no Brasil, 60% na Argentina, 65% no Paraguai. Segundo Crabtree, B., a adopção por parte dos agricultores no Oeste da Austrália era, em 2004, de 82%, e representava 9 milhões de hectares.
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Um pouco mais tarde investigadores europeus começaram a trabalhar sobre a mobilização de conservação, mais concretamente na mobilização reduzida, tendo sido os resultados obtidos bastante prometedores. No entanto, a técnica foi vista com muita reserva pelos agricultores europeus, os quais, altamente incentivados a produzir pela PAC com preços dos produtos agrícolas protegidos do exterior, não viram necessidade de recorrer a estas técnicas, ficando o conceito apenas restringido à Investigação. Portugal não foi excepção. A investigação começou nos anos 70 no Instituto Superior de Agronomia e no, à data INIA, sendo depois acompanhada pela Universidade de Évora a partir dos anos 80. Também cá, houve reserva na adopção das técnicas por parte dos agricultores. Em meados dos anos 90, dois irmãos, agricultores no Ribatejo, trouxeram para Portugal a técnica da mobilização na zona, técnica esta muito utilizada por agricultores das regiões frias dos E.U.A., os quais, precisando de aquecer o solo para a sementeira, optaram pela passagem de uma só alfaia de bicos, o subsolador, que mobilizava apenas a zona de sementeira, deixando a entrelinha intocável e coberta de resíduos vegetais (restolhos e palhas) da cultura anterior, o que permitia o aquecimento da faixa a semear e, consequentemente, uma melhor cama para a semente. Além disso, dinamizaram com outros agricultores e investigadores da Universidade de Évora a constituição da APOSOLO – Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo. Esta associação tem vindo, desde então, a apoiar e defender os agricultores, investigadores e empresas privadas no seu trabalho de adopção e adaptação das práticas inerentes à AC às diferentes realidades do nosso país.
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MAQUINARIA AGRÍCOLA
A manutenção de máquinas agrícolas como factor estratégico de competitividade (Parte II / III)
4. EFLUENTES Outra vertente da manutenção de condição baseia-se no controlo dos efluentes. Estes poluentes são objecto de restrições na regulamentação ambiental aplicável na generalidade dos sectores, não obstante o sector agrícola continue a ficar fora das normas EURO (referentes à redução das emissões poluentes dos veículos ligeiros). Os efluentes mais relevantes são os seguintes: partículas de dimensão inferior a 10 μm (PM10); os NOx; CO; HC; CO2, e o nível de ruído (Farinha e Outros, 2010), (Simões e Outros, 2007), (Farinha, 2011). Ao nível da gestão dos efluentes de combustão, na União Europeia são considerados, habitualmente, 11 grupos de poluentes, alguns dos quais ainda não abrangidos pela legislação em vigor, e que são: 1) Dióxido de Carbono, CO2, que não se encontra definido, na legislação em vigor, como um poluente; merece referência apenas devido à sua contribuição para o efeito de estufa; 2) Monóxido de Carbono, CO; 3) Compostos Orgânicos Voláteis, VOC, ou total de hidrocarbonetos, THC, que se dividem em: a) Compostos orgânicos voláteis, excepto metano, NMVOC ou, simplesmente, HC; neste grupo existem restrições combinadas, específicas das emissões de butadieno 1,3 e benzeno; b) Metano, CH4; 4) Óxidos de azoto, NOx e, particularmente, o NO2; 5) Dióxido de Enxofre, SO2; 6) Amoníaco, NH3; 7) Óxido nitroso, N2O; 8) Partículas de diâmetro aerodinâmico inferior a 10 mm, PM10, ou, simplesmente, PM; 9) Partículas de diâmetro aerodinâmico inferior a 2,5 mm, PM2.5; 10) Compostos de chumbo, Pb; 11) Outros metais pesados, HM – Heavy Metal – (Cádmio-Cd, Zinco-Zn, Cobre-Cu, Crómio-Cr, Níquel-Ni, Selénio-Se); 12) Ácido sulfídrico, H2S. O problema dos efluentes no sector agrícola deve ser levado em consideração com particular acuidade, atendendo a que estes produtos se depositam nos produtos hortícolas e entram na cadeia alimentar, pelo que a sua minimização (idealmente a sua
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eliminação) traz óbvios benefícios para a saúde pública. O controlo dos efluentes gasosos assume uma importância fundamental na redução dos impactos ambientais. A incorporação de equipamentos de tratamento de gases terá que constituir uma das boas práticas, não só pela aplicação de catalisadores mas também de filtros de partículas. Também a redução de ruído terá que assumir uma prioridade de defesa da saúde de operadores de máquinas agrícolas e pessoal envolvido em actividades afins, levando não só a uma redução na geração mas também à sua redução nas condutas de descarga para a atmosfera.
5. MANUTENÇÃO CONDICIONADA A implementação da Manutenção por Controlo de Condição obedece a etapas que se resumem nas seguintes (Farinha, 2011): – Avaliação do equipamento – fase em que os equipamentos são analisados sistematicamente de modo a determinar quais os componentes críticos ou não críticos que podem e devem ser acompanhados do ponto de vista do Controlo da sua Condição; – Selecção da técnica de monitorização e dos correspondentes sensores – fase em que para as instalações e equipamentos definidos, e com base no conhecimento ou estimativa das suas avarias típicas e do seu modo de funcionamento, se selecciona a técnica ou técnicas mais adequadas para acompanhar as respectivas condições operacionais; – Definição dos níveis de referência a utilizar – fase em que, para as variáveis seleccionadas, se decidem os níveis de referência e os limites que conduzem a alarme e consequente intervenção da manutenção.
© Harald Tjøstheim |
Por: José Torres Farinha torresfarinha@torresfarinha.com António Simões assimoes@isec.pt Inácio Fonseca inacio@isec.pt
DESTAQUE A manutenção de condição usualmente envolve uma componente de predição, que é efectuada através de algoritmos que recorrem ao uso de séries temporais ou de redes neuronais, entre outras. As variáveis de controlo a utilizar nos algoritmos de predição podem ser diversas. No caso presente, evidenciaram-se os óleos e os efluentes, que se assumem como as mais relevantes enquanto origem de dados de acompanhamento, controlo e predição para equipamentos agrícolas. Outro aspecto que é necessário levar em consideração é o tipo de medição das variáveis de controlo, que pode ser off-line ou on-line: – No primeiro caso, os dados são recolhidos e seguidamente introduzidos num sistema de informação ou num programa específico que irá predizer a evolução da variável e o instante em que poderão haver sinais de alerta; – No segundo caso, as medições são feitas em tempo real e introduzidas num sistema de informação que sistematicamente avalia o valor das variáveis, emite os níveis de alerta, incluindo a emissão das Ordens de Trabalho. Os sistemas on-line baseiam-se em sensores, possuindo um interface entre os sensores de leitura dos dados de condição do equipamento e uma rede de transmissão de dados para um sistema de informação de gestão da manutenção que, posteriormente, irá fazer a predição e a emissão automática das Ordens de Trabalho (Farinha e outros, 2008).
OXBO 7420 – NOVIDADES PARA 2012 O design flexível da Oxbo 7420 permite-a adaptar-se à colheita de dois tipos de bagas diferentes como o mirtilo e a framboesa. Com painéis laterais sólidos e equidistantes ao centro do túnel, esta máquina circula no pomar sem provocar a queda de frutos nas linhas adjacentes à de colheita. A 7420 permite escolher três cabeças de colheita diferentes e sistemas de limpeza superiores e inferiores totalmente configuráveis. Para este ano de 2012, a Oxbo introduziu melhorias na sua colhedora de bagas como o aumento de velocidade de deslocação, um pacote de luz opcional para a colheita durante a noite, modificação do desenho do tapete rolante para melhor retenção da fruta, uma nova tela de funções para ajuste e resolução de problemas, entre outras novidades, perfazendo um total de 30. Com isto, a Oxbo pretende satisfazer os clientes mais exigentes.
http://www.oxbocorp.com/
BIBLIOGRAFIA 1.
2.
3.
4.
5.
6.
Farinha, J. T. (2011): Manutenção – "A Terologia e as Novas Ferramentas de Gestão". Monitor, Lisboa, Portugal. ISBN 978-972-9413-82-7. Farinha, J. T., Fonseca, I., Simões, A., Costa, A., Bastos, P., Barbosa, F. M., Ferreira, L. A., Carvas, A. (2010): "Terology Beyond Tomorrow”. Maintworld – Maintenance & Asset Management. N.o 1. Pp. 46-50. ISSN 1798-7024, ISSN-L 1798-7024. Farinha, J. T., Fonseca, I., Simões, A., Barbosa, F. M., Bastos, P., Carvas, A. (2010): “A Better Environment Through Better Terology”. Proceedings of The 5th IASME / WSEAS International Conference on Energy & Environment (EE’10). ISSN: 1790-5095 384, ISBN: 978-960-474-159-5. Pp. 384-390. Farinha, J. T., Fonseca, I., Simões, A., Barbosa, F. M., Viegas, J. (2008): "New Ways For Terology Through Predictive Maintenance in an Environmental Perspective. WSEAS Transactions on Circuits and Systems, Issue 7, Volume 7, July 2008. ISSN 1109-2734, pp. 630-647. Farinha, J. T., Teixeira, C. L., Dias, J. C., Alonso, M., Serens, N. (1998): “ICOM - Interface de Controlo de Objectos de Manutenção Hospitalar". Revista Manutenção, N.o 57/58, Julho 1998, pp. 4-9. Simões, A., Farinha, J. T, Fonseca, I., Marques, V. (2007): "Manutenção Condicionada às Emissões Poluentes em Autocarros Urbanos – Uma Abordagem Ecológica". Actas em pen drive do 9.o Congresso Nacional de Manutenção. 21 a 23 de Novembro. Exponor. Porto, Portugal.
NOVO SOPRADOR AIRION A PELLENC lançou o seu novo soprador de mão Airion. Trata-se de um soprador profissional ultra leve de apenas 2,6 kg, muito maleável e particularmente silencioso, sendo ideal para trabalhar em locais mais sensíveis ao ruído como hospitais, escolas, etc. O Airion permite um trabalho confortável por parte do utilizador graças ao seu novo revestimento soft touch e à sua inclinação natural para o solo. Este soprador apresenta todas as vantagens dos motores de combustão (potência, eficácia), mas sem os seus inconvenientes, porque funciona com baterias de iões lítio PELLENC, que não produzem emissões de CO2. A PELLENC desenvolveu uma nova bateria (ULiB 1100) recomendada para o uso do novo soprador Airion. Por: Duarte Moreno Fonte: PELLENC
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A C T U A L I D A D E / M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A Por: Duarte Moreno
NOVO VALTRA MOVIDO A BIOGÁS
A Valtra apresentou, na Agritechnica, o seu novo tractor HiTech T133 a biogás, com um motor SCR de seis cilindros. O Valtra T133 Dual Fuel (biocombustível) é o primeiro tractor a combinar a utilização de biogás com a limpeza da tecnologia SCR. Este novo modelo é uma continuação do projecto da Valtra em termos de biogás: o primeiro tractor experimental - um HiTech N111 de quatro cilindros - foi apresentado no Verão de 2010. O N111 a biogás revelou-se um enorme sucesso nos testes, pelo que a Valtra pretende continuar a desenvolver esta tecnologia e adaptá-la para utilização em outros modelos de tractor. O T133 Dual Fuel funciona a biogás e a diesel. No modo de biogás, cerca de 83% da potência é produzida pelo biogás, ficando os restantes 17% a cargo do diesel ou biodiesel. É necessária uma pequena quantidade de diesel para provocar a combustão do biogás nos cilindros. No modo diesel, o motor funciona como um motor a diesel tradicional. O gás natural para veículos também pode ser utilizado como combustível. O motor bicombustível é não só mais flexível do que os motores alimentados exclusivamente a gás, mas também significativamente mais eficiente. Os tractores T133 e N111 a biogás da Valtra são semelhantes aos tractores normais em termos de características, equipamento e desempenho. Os custos com combustível em tractores a biogás são, aproximadamente, de 10 a 40% inferiores aos dos tractores normais. Quando utilizados com biodiesel e biogás, os tractores Dual Fuel da Valtra são inteiramente movidos a fontes de energia renováveis. Os depósitos de gás encontram-se em local seguro na estrutura do tractor e têm capacidade para 170 litros de gás a uma pressão de 200 bar. Esta quantidade corresponde a cerca de 30 litros de diesel e é suficiente para 3 a 5 horas de trabalho. Se necessário, podem acrescentar-se ao sistema depósitos adicionais. Os tractores podem também transportar 165 litros de diesel e 27 litros de AdBlue, tal como os tractores normais.
http://www.valtra.pt/news/2619.asp
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DESTROÇADOR SDS – KUHN A gama de destroçadores KUHN, para vinhas e pomares, foi ampliada com a SDS. Disponível em seis modelos diferentes e com três larguras de trabalho (1,50 m, 1,80 m e 2,10 m), a sua verdadeira originalidade reside na tecnologia patenteada Side Delivery System (SDS), que tenta responder aos problemas ambientais e agronómicos. Este destroçador SDS, de eixo horizontal, vem equipado com um parafuso sem fim na parte traseira, que deposita o material triturado lateralmente permitindo, se esse for o objectivo, depositá-lo na linha de plantação. Com isto pretende-se fazer uma cobertura do solo na linha para controlar as ervas daninhas e, ao mesmo tempo, um depósito de matéria orgânica que disponibilize nutrientes para a planta. Como opcional, o destroçador SDS da KUHN pode fazer, bilateralmente, o depósito de material triturado. Este dispositivo pode ser retirado facilmente, podendo o destroçador ser usado para triturar madeira de poda. Todos os SDS de depósito unilateral vêm equipados com deslocamento lateral hidráulico, para poderem trabalhar em toda a superfície. Fonte: KUHN
DISTRIBUIDORES CENTRÍFUGOS DE ADUBO AMAZONE – ZA – M Na vastíssima gama AMAZONE há um modelo adequado para cada tipo de exploração. Os mais procurados pelos agricultores portugueses (todos equipados com sistema de abertura e fecho hidráulico, independente) estão agrupados na família ZA – M (900; 1200; 1500) de tipo montado, com capacidade de tremonha de 900 a 3000 litros, largura de trabalho de 10 a 36 m e idêntica precisão. Para maior comodidade de utilização, computador de bordo (opcional) AMADOS e AMATRON. Uma distribuição precisa e uniforme, sempre. Dispositivo LIMITER controla o espalhamento de fertilizante até ao limite da parcela. Longa vida útil: pintura da tremonha e do chassis pelo novo sistema electrocatalítico, de grande resistência à corrosão, e todos os componentes do dispositivo de distribuição em aço inoxidável. www.agriculturaemaquinas.com
SCR VS EGR Com o passar do tempo, as preocupações com o meio ambiente são cada vez maiores, existindo a necessidade de o preservar e, por isso, a União Europeia lançou normas que limitam as emissões libertadas pelos veículos motorizados não rodoviários. Trata-se de directivas com limites de emissões decrescentes ao longo dos anos, obrigando que as diversas marcas já tivessem juntado a mecanização à tecnologia electrónica, para superar essas barreiras impostas e, assim, manterem-se no mercado europeu. Actualmente, estão em voga duas alternativas: a Redução Catalítica Selectiva (SCR) e a Recirculação de Gases de Escape (EGR), estando ambas a ser usadas em diferentes marcas. Com este artigo não se pretende defender uma solução em proveito de outra, mas sim elucidar os leitores acerca de cada uma delas, uma vez que ambas cumprem o principal objectivo para que foram criadas, que é o de reduzir o nível de emissões de óxidos azoto (NOX) e de partículas poluentes. Na tecnologia SCR, após a combustão, são libertados para o tubo de escape os gases a altas temperaturas, que irão ser sujeitos à passagem num catalisador de oxidação do diesel, provocando uma reacção química (redução) e retenção de algumas partículas poluentes. Depois de passar no catalisador, os gases irão ser misturados com Adblue (solução de ureia e água desmineralizada), que irá provocar uma nova reacção química entre o amoníaco (NH3) e os óxidos de azoto (NOX), resultando dessa reacção azoto igual ao existente na atmosfera e vapor de água. Antes de serem libertados, os gases de escape ainda são sujeitos à passagem num catalisador SCR para reter outras partículas poluentes que conseguiram passar pelo primeiro catalisador. Em suma, para se utilizar a tecnologia SCR num motor, este tem de estar equipado com um depósito adicional, AdBlue, um catalisador de oxidação do diesel, um injector e uma bomba injectora para o AdBlue, um catalisador SCR, um hardware que regule a quantidade de AdBlue a utilizar de acordo com as emissões do motor e um sistema de aquecimento no depósito do AdBlue, apesar de no caso do território português não se justificar muito, pois esta solução só cristaliza a -11 graus Celsius. No que diz respeito à tecnologia EGR, esta consiste em fazer recircular os gases de escape e queimá-los novamente. Para funcionar, esta tecnologia necessita de um sistema de recirculação de gases de escape com intercooler, um sistema turbocompressor de geometria variável, um catalisador de oxidação diesel, um filtro de partículas diesel e um hardware que faça a mistura certa do ar fresco com o ar recirculado. No que concerne ao seu funcionamento, os gases de escape resultantes da combustão saem da câmara a altas temperaturas, entrando em recirculação, ou seja, iniciam um caminho para serem novamente introduzidos na câmara de combustão. Durante esse circuito, os gases são arrefecidos pela sua passagem no intercooler, ficando depois dependentes de uns reguladores electrónicos, que regulam o ângulo das alhetas do sistema turbocompressor em função da carga e regime do motor, ditando a proporção de gases de escape que se misturam com o ar fresco de admissão. Com isto, consegue-se diminuir a temperatura de combustão e, consequentemente, a formação de óxidos de azoto (NOX). Depois de serem queimados novamente, os gases de escape passam no catalisador de oxidação diesel que faz o mesmo do utilizado no sistema SCR, uma reacção química e uma retenção de
partículas. O ciclo EGR não fica completo sem, antes, os gases de escape passarem pelo filtro de partículas que retêm outras partículas poluentes que conseguiram passar no resto do sistema. Estão, assim, apresentadas de forma sucinta duas alternativas que são usadas para controlar a libertação de emissões por parte dos motores agrícolas, sendo defendidas pelos seus utilizadores como a base para a criação de motores ainda mais sustentáveis, ambientalmente.
EGR
SCR
JOHN DEERE - SÉRIE 7R A John Deere lançou a série de tractores 7R, com cinco novos modelos de alto rendimento e potências compreendidas entre os 200 e os 280 cv, podendo atingir valores de 230 a 310 cv de potência máxima com o uso da gestão inteligente de potência. Esta série está recheada de novidades, nunca vistas num tractor John Deere desta categoria. O 7R apresenta-se com um design moderno e elegante, vindo equipado com potentes motores Power Tech PSX e PVX de 6,8 ou 9 litros. A nova cabine CommandView II foi desenhada a pensar na comodidade, controlo e visibilidade do operador, e dispõe de ar condicionado optimizado, montado na parte superior, banco com suspensão ActiveSeat, conferindo um elevado conforto durante o andamento do tractor, iluminação exterior que proporciona uma visibilidade de 360° durante a noite, novo monitor com ecrã de 7 polegadas, entre muitas outras novidades. Com esta nova Série 7R, a John Deere oferece níveis de funcionalidade e comodidade sem precedentes. A consola CommandArm, com um sistema de controlo integrado GreenSart 3 CommandCenter, situa todos os comandos necessários perto da mão. No 7R, nem a chave ficou esquecida podendo ser equipada com um sistema de segurança que permite às autoridades localizar o tractor em caso de furto. São inúmeras as novidades que este novo John Deere apresenta e, com este tractor, a marca espera satisfazer os seus clientes mais exigentes bem como despertar a atenção de outros.
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A C T U A L I D A D E / M A Q U I N A R I A A G R Í CO L A Por: Duarte Moreno
NOVO FENDT 714-724 VARIO A Fendt lançou o novo Fendt 700 Vario. Trata-se de um tractor compacto e robusto pensado para efectuar qualquer operação, com a ajuda da tecnologia Fendt e da potência compreendida entre os 145 e os 240cv. O novo 700 Vario apresenta várias novidades para este intervalo de potência. A tecnologia Fendt Variotronic, antes apenas aplicada aos tractores das séries 800 e 900, passa agora a equipar este novo modelo. Relativamente à motorização, o Fendt 700 vem equipado com um motor com tecnologia SCR (Selective Catalytic Reduction), com póstratamento de gases de escape conseguindo, assim, baixar o nível de emissões poluentes e cumprir a normativa de emissões Tier IV. Com a tecnologia SCR, a Fendt defende que também consegue poupar no consumo de combustível. O sistema de hidráulico apresenta uma moderna tecnologia de detecção de carga, podendo alcançar-se caudais de 109 ou 152 litros por minuto. A força de elevação deste novo Fendt também foi aumentada em relação aos modelos precedentes, tendo o electrohidráulico traseiro uma capacidade elevatória máxima de mais de 9700 kg e o dianteiro de mais de 4500 kg. Também existe, como opcional, o controlo de descarga para o elevador hidráulico dianteiro, inovação medalhada com prata na última AGRITECHNICA. Outra das novidades deste tractor é a nova cabine VisioPlus que foi redesenhada a pensar no conceito «veja mais, sinta mais». Trata-se de uma cabine com um pára-brisas que se extende até ao tecto. No total, esta cabine emprega mais de 5 m2 de vidro, o que dá ao condutor a sensação de maior espaço. Devido a este novo pára-brisas, o ângulo visual ascendente triplicou, permitindo ao condutor ter não só uma visão completa do carregador, quando este se encontra elevado, mas também trabalhar de forma mais confortável. Ainda a pensar no conforto, a Fendt não esqueceu o apoio de braço junto aos comandos, a coluna de direcção ajustável em altura e inclinação, para permitir uma boa postura de condução, e um ecrã de alta resolução do Variotronic com modos de visualização para o dia e para a noite, o que permite reduzir a fadiga ocular do motorista.
www.fendt.com
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NOVOS MODELOS MASSEY FERGUSON DA SÉRIE 5400
Partindo de um design superior e dos genes de engenharia da série MF5400, a Massey Ferguson está a dar o passo seguinte com uma nova geração de tractores, um tractor que evolui e que irá impressionar com a sua versatilidade. Os novos modelos da série 5400, com potências compreendidas entre os 86 e os 112hp, foram desenvolvidos de raiz, inovando no design, na capacidade e nas funções. Esta série avança muito mais do que uma simples optimização e reformulação dos modelos actuais. Esta evolução, para além de um reforço na referida gama de potências, é o resultado da voz dos clientes que permitiu desenvolver quatro modelos mais ágeis e potentes, combinados com excelente visibilidade, maneabilidade, estabilidade e agilidade. Todos os novos modelos da nova série 5400 da Massey Ferguson são propulsionados pela geração de motores Perkins de quatro cilindros 110D-44T e 110D-44TA, reconhecidos pela sua fiabilidade e economia. Esta nova geração de motores diesel Tier III proporciona mais potência e maior binário em rotações mais baixas do motor, atingindo a potência máxima às 2000 rpm, e elevados binários às 1400 rpm, contribuído, assim, para uma redução do ruído de funcionamento e do consumo. A transmissão Dyna-4 já conquistou a reputação de fiabilidade, eficiência e facilidade de utilização, combinando uma grande variedade de velocidades com a mínima perda mecânica, tendo ainda sido optimizada para os novos modelos desta série. Esta série apresenta um caudal de 57 l/min de óleo disponível para o hidráulico e para o distribuidor auxiliar, estando também disponível como opção um caudal de 100 litros, que é conseguido através de duas bombas de hidráulico, as quais conferem maior velocidade e força e que são importantes para quem trabalha com o carregador frontal que agora também pode vir montado de fábrica. Outras características a salientar nesta nova série são a nova linha do capô, que permite um campo de visão excepcional, e a opcional “Visio”, que consiste num vidro no tecto, com protecção contra o sol e com capacidade de abertura e inclinação que permite observar o carregador frontal mesmo quando este se encontra na altura máxima. São muitas as novidades apresentadas pela Massey Ferguson para esta nova série 5400 que a marca espera que sejam vantajosas para os seus clientes. http://www.mt.pt/docs/massey/MF5425_5455.pdf http://www.mt.pt/docs/comunicado_mf_5400.pdf http://www.comerciomaquinas.com/index.php?option=com_ content&task=view&id=2210
KRONE COM SEGURANÇA RODOVIÁRIA REFORÇADA
A Krone aplicou electrónica de travagem aos seus semi-reboques autocarregantes ZX. Estes semi-reboques passam a vir equipados com Electronic Breaking System (EBS), um sistema de travagem inteligente com várias funções integradas que se adaptam à actividade agrícola. Uma característica implementada é o Automatic Load – sensitive Breaking (ALB), trata-se de um sistema de auxílio à força de travagem que regula a força de travagem de acordo com a carga. O travão hidráulico do semi-reboque está equipado com dois sensores, um em cada lado da máquina. Os pulsos electrónicos medidos pelos sensores são equivalentes à carga dentro do semi-reboque, com isto consegue-se ter um controlo preciso da travagem de acordo com a carga do reboque. O ABS também foi integrado, evitando que as rodas bloqueiem aquando de uma travagem mais brusca. Por último, ainda foi introduzido o sistema RSS (Suporte Roll Stability) que aumenta a estabilidade destes semi-reboques autocarregantes e reduz o risco de capotamento. O RSS é uma função integrada no software e hardware do modulador EBS. O sistema baseia-se em dados fornecidos por sensores, nomeadamente a aceleração transversal, a velocidade das rodas e a carga do veículo. Se a aceleração transversal (força centrífuga) é muito alta em curvas, por exemplo, o EBS executa um teste, efectuando uma suave travagem nas rodas que estão no interior da curva; se for detectada uma velocidade diferente entre as rodas, o sistema intervém aplicando os travões, pois existe a evidência de que uma das rodas perdeu, ou está prestes a perder, o contacto com o solo. Esta acção de travagem reduz a velocidade tractor/semi-reboque que, por sua vez, reduz a força centrífuga e diminui o risco de capotamento. Com este sistema também se consegue aumentar a segurança da associação, dado o Jackknifing, ultrapassagem do semi-reboque em relação ao tractor. http://landmaschinen.krone.de/english/news/ road-safety-enhanced-electronic-braking-on-zx-forage-wagons/ http://www.wabco-auto.com/pt/produtos-e-sistemas/ brake-stablity-control/stability-control/roll-stability-support-rss
AGRONEGÓCIO
BANCO PÚBLICO DE TERRAS
O
s terrenos agrícolas e florestais que Portugal possui, a maioria de natureza privada, são meios de produção com interesse público, pois são escassos para produção de alimentos e bens públicos (biodiversidade, ar, água de qualidade, paisagem, ambiente, etc.) para a actual população portuguesa. Torna-se imperioso que no actual contexto de crise económica e financeira, grave, se tire o máximo partido das actividades agrícolas e florestais na produção de riqueza, aproveitando
os terrenos disponíveis. O Banco Público de Terras é uma Instituição, a criar pelo Ministério da Agricultura, onde os proprietários poderão colocar, de forma voluntária, as suas terras para arrendamento aos interessados em explorá-las. Estes inscrevem-se no banco e de acordo com as regras definidas, terão acesso à sua exploração. Desta forma garante-se que dos mais de dois milhões de hectares de terras abandonadas haverá terra disponível para instalar jovens empresários agrícolas e alargar a superfície das explorações agro-florestais para a respectiva economia de escala da actividade. Mesmo os prédios rústicos explorados, mas que correm o risco de ficarem abandonados por desistência do seu explorador actual, sobretudo por idade avançada (mais de 50% dos agricultores tem mais de 65 anos) também podem ser colocados no banco. O Estado deve dar o exemplo e colocar no Banco de Terras os seus terrenos, vários milhares de hectares de terrenos, não explorados.
A vantagem do Banco Público de Terras, para o proprietário, resulta do Estado assumir os deveres do arrendatário perante o proprietário, quando aquele não os cumpre e, posteriormente, cobra do rendeiro os valores que contraiu em seu nome, quer no pagamento de rendas em atraso, quer nas obras necessárias para garantir a devolução dos terrenos não degradados, no fim do contrato de arrendamento, devolvendo-os, pelo menos, no mesmo estado de uso inicial. Na minha proposta, o Banco de Terras poderá ser gerido pelas Direcções Regionais de Agricultura e Pescas (DRAP), terá por base uma plataforma informática (banco de dados digital) e um serviço de avaliação das superfícies e potencial produtivo de cada um dos prédios, bem como o controlo da sua titularidade, o qual poderá ser executado pelas próprias DRAP ou delegado/protocolado noutras organizações do território de cada Região (Associações de Agricultores, Autarquias, Empresas, etc.), mas sempre sobre a supervisão de uma Entidade Pública. Todos nós que somos agricultores sabemos da resistência que os nossos vizinhos colocam no arrendamento de parcelas que possuem e que são confrontantes com as nossas,
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Por: José Martino http://josemartino.blogspot.com
mesmo quando não têm condições para as explorarem, quer por idade avançada, quer por não vocacionados para agricultura por falta de tempo ou de perfil. Assim, poderão colocá-las no Banco de Terras e os agricultores de forma fácil irão arrendá-las, tornando as suas explorações agrícolas mais competitivas. Na minha opinião, é uma alternativa mais barata, mais natural, mais rápida e de largo espectro, como alternativa às acções públicas de emparcelamento. Estas acções que foram realizadas nos últimos quarenta anos, foram caras, tiveram incidência muito restrita e pontual e não resolveram os estrangulamentos da agricultura portuguesa, no que diz respeito no acesso à terra e na dimensão das explorações agrícolas. O Governo deverá legislar para obrigar os proprietários a declararem, ao longo de dois anos, os seus prédios para efeito de cadastro, sob pena de os perderem para o Estado e penalizar pelo incremento de impostos os proprietários de prédios rústicos que os deixem abandonados, não explorados com actividades agro-florestais, incentivando-os desta forma a aderirem ao Banco de Terras. A Caixa Geral de Depósitos, por ser um banco cujo capital é totalmente detido pelo Estado Português, devia disponibilizar uma linha de crédito, a exemplo do que faz no crédito à habitação, prestações mensais, prazos de amortização entre os 25 e 40 anos, com base nos rendimentos de trabalho do agregado familiar e na hipoteca do imóvel, tendo como objectivo a aquisição de terras ou pagamento de tornas a co-herdeiros. Esta aquisição de prédios rústicos traz vantagens evidentes para a economia portuguesa, pois os prédios são um meio de produções de bens transaccionáveis, os quais podem ser exportados ou substituírem importações de produtos. Se concorda com estas minhas ideias assine a petição que coloquei na internet (http://peticaopublica.com/PeticaoVer. aspx?pi=P2010N2448) sobre este tema, a qual tem como objectivo pressionar a Assembleia da República ou o governo a legislarem e implementarem este importante instrumento de apoio ao desenvolvimento da agricultura portuguesa.
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SISTEMAS DE CERTIFICAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR: DO HACCP AO FSSC 22000
Por: Raquel Silva Gestora de Produto SGS ICS
O
sector alimentar tem vindo, pelas sucessivas crises que têm posto em causa a segurança e a saúde dos consumidores, a ser alvo de maior controlo, quer seja pelas autoridades competentes e pelo exigente quadro de regulamentação e legislação aplicável, quer sobretudo pelos consumidores que impõem às Organizações ritmos de resposta cada vez rápidos e eficazes. Por seu lado, as Organizações mais responsáveis e capazes, vão internamente evoluindo para sistemas de monitorização e controlo que lhes permitam identificar e actuar sobre situações de perigo antes que as mesmas ocorram efectivamente. Actuar de forma preventiva traduz-se em segurança e eficácia de qualquer processo. Os Sistemas de Segurança Alimentar têm evoluído fortemente e, actualmente, a reconhecida abordagem HACCP, é já um requisito legal, suportado pelo REG. (CE) 852/2004. Contudo, qualquer destes reconhecidos standards têm na sua origem a metodologia HACCP – Hazard Analysis and Critical Control Points (Análise de Perigos e Controlo de Pontos Críticos). Esta metodologia, baseada nos princípios e conceitos preventivos, assenta numa abordagem sistemática, que basicamente pretende garantir o controlo eficiente através da identificação de etapas, designados “pontos” onde se podem controlar os perigos para a saúde do consumidor. O Codex Alimentarius foi e continua a ser o documento de referência no âmbito da metodologia HACCP e tem vindo a ser o referencial de certificação para muitas Organizações. O Codex Alimentarius não é, contudo, uma norma de gestão nem um documento pensado com o objectivo de ser auditável e certificável. Por essa razão surgiram no final do século passado, diversas normas nacionais de Sistemas de Segurança Alimentar, nomeadamente a Norma Dinamarquesa DS 3027E e a norma Holandesa Dutch HACCP, entre outras. A necessidade de ser criado um referencial único, que desse resposta às exigências e necessidades do sector alimentar, e que tivesse simultaneamente reconhecimento internacional, levou a que fosse desenvolvida a norma ISO 22000. Esta define requisitos para Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar. Publicada em 2005, previa-se que a mesma, à semelhança das outras normas ISO, fosse aceite e passasse a ser um referencial único, no âmbito da Segurança Alimentar. A ISO 22000 passa a ser um marco na história dos referenciais de segurança alimentar porque é direccionada para a abordagem dos Sistemas de Gestão e envolve requisitos que vão bem mais além dos pré-requisitos, boas práticas ou da metodologia HACCP. Esta evolução, baseada no conhecimento das vantagens da eficácia dos Sistemas de Gestão, tem como um dos seus principais objectivos incluir na sua estrutura, requisitos de gestão que permitam às Organizações gerir a segurança dos alimentos e a saúde pública. Procurou-se, também, que o referencial fosse integrável com outros não menos importantes Sistemas de Gestão, como por exemplo a ISO 9001 (Qualidade), a ISO 14000 (Ambiente) ou a OSHAS 18001 (Saúde e Segurança do trabalho). A promoção do envolvimento/comprometimento da gestão de topo e a relações com parceiros da cadeia de valor, quer se tratem de clientes, de fornecedores ou entidades oficiais, incluindo o desenvolvimento de métodos eficazes de comunicação, são marcantes no envolvimento e na responsabilização das várias funções da Organização. A sistematização da monitorização, registo, verificação e análise que passam a suportar a tomada de acções, são algumas das grandes evoluções identificadas neste referencial. A própria análise de perigos passa a estar suportada no conhecimento dos perigos associados a etapas da cadeia alimentar, quer estejam a montante ou a jusante e mesmo que não tenham sido introduzidos pela Organização em causa. No fundo, a norma ISO 22000 assegura que o Sistema de Gestão cumpre a lógica do Ciclo PDCA - Plan, Do, Check, Act.
RECONHECIMENTO INTERNACIONAL ISO 22000 Por questões várias, em 2007, após submissão da ISO 22000 à avaliação do GFSI (Global Food Safety Iniciative, Organização que reúne um leque muito significativo de cadeias de distribuição), a mesma não obteve o seu reconhecimento, considerando os membros do grupo GFSI que o referencial não estaria ao mesmo nível de exigência de outros referenciais já reconhecidos pela distribuição, como o BRC – British Retail Consortium ou o IFS – Internacional Food Standard, entre outros. Perante esta situação, muitos dos mercados externos deixam de aceitar a Certificação ISO 22000 como requisito de qualificação e põem em causa a competitividade de muitas empresas que tinham implementado e certificado o seu Sistema de Gestão de Segurança Alimentar de acordo com essa norma, com o objectivo de cumprir exigências dos seus clientes, nomeadamente ao nível do mercado de exportação. As imposições de alguns mercados de exportação e o reconhecimento estavam limitados à evidência de um certificado BRC ou IFS (considerados Certificação de Produto/Processo, com grande reconhecimento na Europa sobretudo pelas empresas de Distribuição). Para dar resposta às exigências e à necessidade de reconhecimento do referencial
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AGRONEGÓCIO
ISO 22000, a Fundação FSSC – Foundation for Food Safety Certification vem conjuntamente com a Confederation of FoodDrinkEurope, criar um Esquema de Certificação que complementa a ISO 22000, dando resposta à grande lacuna que era o requisito 7.2 da ISO 22000, relacionado com o Programa de Pré-requisitos. Sobretudo agregando os requisitos da ISO 22000 com o PAS 220 (Publicly Available Specification), que se foca nos elementos do programa de pré-requisitos (PRP) e define critérios detalhados (semelhantes aos códigos de boas práticas Norte Americanas – GMP – Good Manufacturing Practices), o Esquema FSSC é actualmente reconhecido quer pelo GFSI, quer pela European Co-operation for Accreditation (EA), permitindo às Organizações certificarem os seus Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar, pela primeira vez, por um esquema de certificação, desde que por uma entidade, leia-se Organismo de Certificação, devidamente acreditado. Quadro 1 Cronograma da evolução da Norma Internacional de Segurança Alimentar ISO 22000.
2005
Publicação da ISO 22000:2005.
2007
Os sete maiores retalhistas concordam em reduzir a duplicação de referenciais aplicáveis à cadeia de distribuição, através da aceitação/reconhecimento comum de qualquer um dos esquemas (BRC, IFS, SQF ou HACCP).
2007
A ISO submeteu a ISO 22000 à aprovação do GFSI, contudo não foi aprovada devido à falta de detalhe ao nível dos programas de pré-requisitos.
2008
O G4 (Nestlé, Kraft, DANONE, Unilever) em cooperação com a Confederation of the Food and Drink Industries of the European Union, lança o desafio de ser criado um Programa de Pré-requisitos, aplicável à Indústria Alimentar, com reconhecimento internacional para complementar a ISO 22000. Surge o PAS 220 – Publicly Available Standard, publicado pelo British Standards Institution.
2009
Surge o FSSC 22000, que é a combinação da ISO 22000:2005 com o PAS 220:2008. A Foundation for Food Safety Certification publica o esquema de certificação FSSC 22000 e passa a ter o direito de propriedade sobre o referido esquema.
Mai. 2009
O conteúdo do FSSC 22000 é reconhecido pelo GFSI.
Jan. 2010
O FSSC 22000 é oficialmente divulgado.
Fev. 2010
O GFSI reconhece definitivamente o FSSC 22000.
Out. 2010
O FSSC 22000 passa a ser o primeiro Esquema de Certificação da Segurança Alimentar reconhecido pelo GFSI e simultaneamente aceite pela European Co-operation for Accreditation.
Outra das grandes diferenças do esquema FSSC 22000 em relação à ISO 22000 é o seu campo de aplicação. Este referencial passa a estar exclusivamente direccionado às empresas fabricantes de alimentos e não às que operam na cadeia alimentar, limitando-se aos seguintes âmbitos: – Produtos animais perecíveis, excluindo o abate e pré-abate (carne, aviário, ovos, peixe e produtos lácteos) – Categoria C – Produtos vegetais perecíveis (Ex: frutas frescas e sumos embalados, frutos de conserva, vegetais frescos embalados e enlatados) – Categoria D – Produtos de longa conservação a temperatura ambiente (enlatados, bolachas, aperitivos, óleos, água de consumo, bebidas, massas, farinhas, açúcar, sal) – Categoria E – Produtos bioquímicos para a produção alimentar (Ex: vitaminas, aditivos), excluindo auxiliares tecnológicos – Categoria L
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DETALHE DOS REFERENCIAIS
Esquema FSSC 22000 Parte I - Contém os requisitos para Organizações que requerem Certificação de acordo com o FSSC 22000, que implica dar cumprimento aos seguintes pontos, nomeadamente ter implementado ou assegurar: – ISO 22000 – Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar; – PAS 220 – Prerequirement programmes on food safety for food manufacturing; – Especificações dos Serviços: A organização que produz alimentos deve assegurar que todos os serviços (incluindo utilitários, transporte e manutenção), que são fornecidos e podem ter um impacto sobre a segurança dos alimentos; – Supervisão do pessoal na aplicação dos princípios de segurança alimentar: A organização deve assegurar o controlo efectivo do pessoal na correcta aplicação dos princípios da segurança alimentar e práticas compatíveis com a sua actividade. Parte II - Requisitos e regulamentos para os Organismos de Certificação. Parte III - Requisitos e regulamentos para Organismos de Acreditação. Parte IV - Regulamentação para as Partes Interessadas.
Dados publicados pela Fundação FSSC revelam, à data, que os Organismos de Certificação acreditados para a realização da Certificação FSSC 22000 são 18 e estão em fase de processo cerca de 30, espalhados por todo o mundo. O número de empresas certificadas é já superior a 900 (a lista pode ser consultada no site www.fssc22000.com). Para dar resposta a exigências de mercado, qualquer Organização actualmente certificada pela ISO 22000 pode facilmente evoluir para a certificação FSSC 22000, em qualquer fase do seu ciclo de certificação. Para tal, basta assegurar-se do cumprimento dos requisitos do PAS 220 e dos pontos adicionais incluídos no Esquema FSSC e solicitar a avaliação da conformidade a um Organismo de Certificação acreditado para o efeito.
Estrutura ISO 22000: – – – – – – –
Campo de Aplicação (que será coberto pela certificação); Referências Normativas (contribuição de outros standards); Definições (incluindo terminologias do HACCP e ISO 9001); Sistema de Gestão da Segurança Alimentar (requisitos gerais); Responsabilidade da Gestão (regras, políticas, objectivos); Gestão de Recursos (formação, equipamentos, instalações); Planeamento e realização de produtos seguros (programas de pré-requisitos, PAS 220, etapas preliminares às análises de perigo, planeamento do SGSA, programas operacionais de pré-requisitos, acções correctivas e registos); – Validação, verificação e melhoria contínua do Sistema de Gestão de Segurança Alimentar (auditorias internas, calibração); – Anexo A: Referências Cruzadas com ISO 9001; – Anexo B: Referências Cruzadas com HACCP.
Estrutura PAS 220: – – – – – – – – – – – – – – – – –
Âmbito; Normas de Referência; Termos e Definições; Construção e layout dos edifícios; Layout das instalações e locais de trabalho; Serviços – ar, água, energia; Eliminação de resíduos; Adequação dos equipamentos, limpeza e manutenção; Gestão de materiais adquiridos; Medidas para prevenir a contaminação cruzada; Limpeza e desinfecção; Controlo de pragas; Higiene e Instalações e adequabilidade ao staff; Procedimentos para reciclagem de produtos; Armazenamento; Informação dos produtos / Sensibilização dos consumidores; Segurança dos alimentos.
SITES RELEVANTES
VANTAGENS DA CERTIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE GESTÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR Foram aqui referidos dois dos standards reconhecidos como Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar, a ISO 22000 e o Esquema FSSC 22000. Independentemente das suas diferenças e reconhecimento, a sua implementação e posterior certificação numa Organização é sem dúvida uma vantagem competitiva para qualquer Organização que opere na cadeia alimentar e/ou produza alimentos, devendo passar a constituir, apesar de voluntário, um requisito ou objectivo interno nas Organizações. A Certificação não se trata apenas do reconhecimento externo, deverá ser sobretudo uma ferramenta de gestão interna que permita à Organização para além de produzir produtos seguros, ser mais eficiente e competitiva. Concluindo, as grandes vantagens destas Certificações, são: – Funcionar como uma ferramenta de Gestão; – Envolver, formar e responsabilizar eficazmente os colaboradores envolvidos; – Melhorar os mecanismos de comunicação internos e externos; – Reconhecimento Internacional; – Competitividade face à concorrência.
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www.codexalimentarius.net | www.fssc22000.com | www.mygfsi.com/
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ACTUALIDADES
FLORESTAS BARBIE DESISTE DA DESFLORESTAÇÃO MATTEL VAI DEIXAR DE USAR EMBALAGENS PROVENIENTES DE FLORESTAS TROPICAIS AMEAÇADAS
Há meses, a Greenpeace Internacional preconizou um brilhante golpe de publicidade na sede da Mattel em Los Angeles, expondo publicamente o gigante dos brinquedos por recorrer à madeira de f lorestas tropicais em risco para fabrico das suas embalagens. A bem-humorada campanha, que incluía um vídeo onde o boneco Ken acabava a relação com a Barbie pelos seus gostos de destruidora de f lorestas, acabou por resultar: a Mattel anunciou agora que irá deixar de comprar embalagens de empresas que usam madeira obtida de forma não sustentável. Do comunicado veiculado pela Greenpeace, ficamos a saber que a Mattel se encontra a instruir os seus fornecedores no sentido de evitarem fibras de madeira de empresas envolvidas na desflorestação. Uma dessas empresas é o conhecido Grupo Asia Pulp and Paper (APP), responsável por amplas acções de desmatamento nas florestas indonésias, habitat natural do ameaçado Tigre de Sumatra. Depois das boas notícias e face ao sucesso dos seus esforços junto da opinião pública e da Mattel, a organização ambientalista espera agora conseguir sensibilizar empresas como a Disney e a Hasbro a empreenderem acções idênticas.
BIOTECNOLOGIA NOVO ESTUDO DESTACA AS VANTAGENS AMBIENTAIS DA CARNE CULTIVADA EM LABORATÓRIO Nos últimos tempos, os consumidores de carne têm vindo a sentir a subida dos preços. Ao mesmo tempo, o papel crucial que a produção pecuária desempenha no fenómeno das alterações climáticas está a ser alvo de muitas atenções. Numa altura em que a “carne cultivada” (ou “carne in vitro”), a carne cultivada em laboratório e mesmo a “Frankenmeat”, podem não parecer muito apelativas, um novo estudo desenvolvido por investigadores da Universidade de Oxford (UO) e da Universidade de Amesterdão (UA) conclui que este tipo de carne proporcionaria substanciais vantagens para o ambiente. Apesar de a carne cultivada (criada através de técnicas de engenharia de tecidos) não ser ainda produzida para consumo público, existem diversos projectos de investigação que a estão a cultivar a título experimental. O relatório das Nações Unidas “Livestock’s Longshadow” publicado em 2006 referiu que o sector
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pecuário é responsável por 18% de todas as emissões de gases com efeito de estufa, percentagem superior à do sector dos transportes. Este impacte ambiental, associado aos crescentes custos das técnicas de produção de carne convencional e à crescente necessidade de alimentar uma cada vez maior população mundial, fez com que muitos passassem a considerar a carne cultivada para consumo humano como inevitável. Ainda que neste momento pareça quase impossível convencer os consumidores a colocarem este tipo de carne na sua dieta, o estudo universitário indica que a tecnologia iria proporcionar benefícios inequívocos. Baseando as suas estimativas num processo desenvolvido pelo co-autor do trabalho, Joost Teixeira de Mattos (UA), que usa o Cynobacteria hydrolysate como nutriente e fonte de energia para o cultivo de células musculares, a equipa estimou os custos da produção de 1.000 quilogramas de carne com recurso a uma versão aumentada da tecnologia. Comparativamente aos custos associados à carne produzida através de métodos convencionais, o estudo refere que a carne cultivada iria gerar emissões de gases com efeito de estufa 78-96% mais baixas, iria requerer 7-45% menos de energia para produzir, resultando num uso dos solos 99% inferior, e implicando menos 82-96% de uso de água, dependendo do tipo de carne a ser cultivado. Não obstante o facto de a produção desta carne exigir mais energia em comparação à implicada na criação de aves, reinvindicaria apenas uma fracção de área de terra e de água necessárias para criar galinhas. A investigação mostra que esta carne de laboratório poderá fazer parte da solução de alimentar a crescente população mundial, ao mesmo tempo que reduz as emissões e economiza água e energia. Mas os benefícios da nova carne poderão vir a ser ainda maiores, uma vez que os cálculos já feitos não têm em consideração poupanças adicionais derivadas dos menores custos energéticos do transporte e refrigeração da carne cultivada. Os cientistas sugerem que o solo libertado da agricultura poderia ser reflorestado ou usado para outros fins de sequestro de carbono com o objectivo de fazer diminuir a pegada de carbono deste novo tipo de carne. Sosseguem durante uns tempos os espíritos mais convencionais porque o primeiro destes produtos não deverá aparecer nas nossas mesas nos próximos cinco anos.
Publicado na revista “Environmental Science & Technology”
INOVAÇÃO
TESTAR SOLOS POLUÍDOS NO LOCAL UM LABORATÓRIO DENTRO DE UMA MALA? Da mesma forma que a água poluída pode parecer enganadoramente límpida, os solos poluídos podem apenas parecer apenas terra normal. Contudo, considerando os contaminantes que podem ser deixados para trás por centrais de gás, refinarias de petróleo e outras indústrias, torna-se fundamental verificar se o solo de uma determinada área não é tóxico antes de iniciar a construção de uma casa ou cultivar o terreno. Actualmente, em caso de dúvida, são enviadas amostras de solo para laboratórios, onde o processo de teste pode demorar até duas semanas. Ciente dessas dificuldades, o empresário inglês Ed Bell (da Crown Bio Technology) inventou agora uma unidade de teste de solos do tamanho de uma mala que pode ser transportada para o campo, onde emitirá resultados em poucos minutos. O dispositivo, conhecido como Safe Soil Tester (SST), foi desenvolvido por uma equipa de seis pessoas da empresa britânica e testa especificamente um dos poluentes de solo mais comuns, os hidrocarbonetos poliaromáticos cancerígenos (PAH). O SST mistura amostras de solos com bactérias vibrio fisheri naturalmente bioluminescentes. Se a amostra acusar hidrocarbonetos poliaromáticos, as bactérias irão morrer, cessando a sua bioluminescência. O dispositivo capta esta variação na luminescência, usando-a para classificar a toxicidade do solo. Cada teste demora apenas entre 12 a 15 minutos, detectando mais eficazmente PAH face aos métodos de teste químicos tradicionais. Com tecnologia GPS, o SST poderá de seguida indicar o local do solo poluído com base num mapa de satélite da área.
Crown Bio Technology, http://crownbio.co.uk/media
“MÁQUINA DE COLHEITA DE AZEITONA EM CONTÍNUO” DESENVOLVIDA EM PORTUGAL (UNIVERSIDADE DE ÉVORA) O projecto “Máquina de Colheita Contínua de Azeitona” desenvolvido em parceria entre a empresa Victor Cardoso Lda e a Universidade de Évora, através do grupo de mecanização do Departamento de Engenharia Rural, realizou a apresentação pública do equipamento desenvolvido pelo projecto, no dia 13 de Dezembro de 2011, na Herdade da Torre das Figueiras, em Monforte, a qual contou com a presença da Ministra da Agricultura, Prof.ª Assunção Cristas. Este projecto foi financiado pelo Programa Compete do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) através da Agência de Inovação.
Esta solução inovadora pretende contribuir para a implementação da colheita contínua de azeitona nos olivais intensivos, em alternativa à tradicional colheita com vibrador de tronco. Trata-se de um equipamento que é constituído por duas unidades idênticas que trabalham simetricamente à direita e à esquerda da linha de oliveiras, sendo cada uma das unidades semi-rebocada por um tractor agrícola. Cada uma das máquinas dispõe de um mastro vibratório provido de vários andares amovíveis de varas de material sintético que efectua o destaque da azeitona das árvores. A azeitona é recolhida numa plataforma de recepção e transferida para um sistema de transporte que a conduz para uma unidade de armazenamento temporário localizada na parte posterior da máquina. Este sistema de armazenamento é constituído por uma forquilha para suspender os “big-bags” de armazenamento. A forquilha permite a deposição no terreno dos “big-bags” cheios para posterior carregamento para semi-reboque
agrícola. Este equipamento, ao abordar as árvores lateralmente, não impõe limitações ao desenvolvimento das árvores, pelo que poderá ser utilizado em olivais intensivos sem limitações na variedade de azeitona utilizada. A sua dimensão torna-o versátil e adaptável aos condicionalismos das explorações olivícolas, nomeadamente em termos de tamanho das parcelas e orografia. A Ministra referiu que este é “Um exemplo da inovação da agricultura. Um projecto nacional que faz a ligação entre as empresas e a universidade através da aposta no conhecimento. Isso é fundamental para o futuro da agricultura em Portugal. Temos de conseguir trazer jovens para esta área e projectos como este contribuem decisivamente para isso”. Alguns alunos trabalham como operadores de sistemas da Máquina de Colheita Contínua de Azeitona. “Trabalhamos com os professores em parceria com a empresa. Temos formação em mecanização agrícola, aprendemos com a empresa a conhecer melhor a máquina e também ajudamos a fazer melhorias” referiu Hugo Sousa, um dos alunos do mestrado em Engenharia Agronómica. Segundo a Ministra, “Esta ideia de que temos um sector dinâmico e inovador que apela aos jovens é muito importante porque precisamos de fazer esta renovação no mundo da agricultura”. Ainda segundo a Ministra Assunção Cristas, “juntar a universidade e as empresas no desenvolvimento de uma máquina inovadora demonstra que, com inovação, agregação de vontades e espírito de equipa, é possível gerar conhecimento e inovação em Portugal e a agricultura precisa disso.”
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FE I RA S D E S T A Q U E & EVENTOS
FEIRA INTERNACIONAL DE PLANTAS DE ESSEN
Por: Bruno Maciel Raul Pinheiro
24-27 JAN. | ALEMANHA
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feira IPM ESSEN é realizada há 30 anos apresentando as maiores novidades para o sector verde. Neste ano de 2012 foram 1517 os expositores oriundos de 44 países e 59600 visitantes de mais de 90 países que puderam ver todas as inovações durante 4 dias. A feira, vocacionada para a mostra e inovação na área da floricultura, plantas ornamentais e florestais e da jardinagem serve de exposição de produtos empresariais bem como as novidades e desenvolvimentos mais recentes, sejam novas variedades vegetais ou novos equipamentos. De entre todos os produtos ou inovações que salientamos a introdução, pela Nursery G. Hoogenraad B.V., de duas novas variedades de morango (não OGM). O PineBerry, um morango com a mesma forma do morango habitual mas com sabor a ananás e um segundo tipo com aspecto de um morango, o formato e sabor de uma framboesa o FramBerry . Ao nível das técnicas de produção destacaram-se algumas inovações tecnológicas, nomeadamente para a produção em estufa: – Suplementação com luz, com selecção de espectros, dependendo do objectivo do produtor conseguido através de luzes LED, que apresentam, sobre todas as alternativas pela economia. Normalmente usam-se LED vermelhos para ajudar na indução da floração e azul para estimular o crescimento vegetativo e expansão foliar. – Enriquecimento da atmosfera com CO2 . Tal permite que as plantas possam ter uma taxa de fotossíntese superior. Há muito conhecido este efeito, ele pode agora ser controlado electronicamente, evitando riscos de sobredosagem, e optimizando o sistema. – A empresa SO Natural demonstrou que muitas vezes a água da rega é desperdiçada, sendo as necessidades das plantas muito inferiores às estimadas, sendo fundamental optimizá-la. A pesquisa feita por esta empresa foi exemplificada na feira por meio da planta Phalaenopsis spp., cujas necessidades semanais reais se reduzem a três cubos de gelo. A AGROTEC encontrou em ESSEN dois stands de empresas portuguesas que, apesar da crise, não deixam de arriscar e sentem que a internacionalização e a especialização são o caminho a ser seguido: A Viveiros Foral, com produção sediada no Algarve, em São Bartolomeu de Messines, conta já com 25 ha de produção e mais de 40 anos de experiência no ramo. Toda a sua produção é para exportação, num total de 32 países, sendo a Holanda e Alemanha os principais mercados. A comercialização é feita pela empresa do mesmo grupo, mas localizada na Holanda a Green Synergy. Especializa-
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da na produção de citrinos, nomeadamente ornamentais, produzindo mais de 1,5 milhões de plantas por ano. Presentes há mais de 20 anos na Feira IPM-ESSEN consideram que tal participação tem trazido diversos benefícios e tem sido muito vantajosa.
A outra representante nacional que a AGROTEC encontrou em ESSEN foi a Plantas do Algarve. Trata-se de um consórcio de duas empresas, a BayFlor (Silves) e a VIPLANT (Quarteira), também sediada no Algarve. Produzem plantas mediterrâneas para ornamento e vendem 99% para o estrangeiro, França, Bélgica e Holanda. Todo o processo de produção, desde a propagação até ao corte, é feito dentro das suas instalações. As plantas mais produzidas são Mandevilla splendens, Callistemon rigidus, Duranta sp. bougainvillea e a oliveira. Têm mais de 20 anos de experiência e marcam presença na feira IPM ESSEN há 5 anos
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OPTIMISMO NO VIII CONGRESSO DO MILHO
Por: Bernardo Madeira Sandra Velho
8 E 9 DE FEVEREIRO| LISBOA
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m tempos de crise económica confirma-se, mais uma vez, que o ouro e a agricultura são os melhores investimentos de refúgio. E não é difícil compreender que, quando se dá a retracção de consumo de bens duradouros e o aumento do custo do petróleo a procura por produtos agrícolas destinados à alimentação e à energia se mantenha ou mesmo aumente. Este fluxo económico/financeiro foi cientificamente explicado pela economista Ann Berg, num dos mais participados Congressos do Milho, organizado pela ANPROMIS, e que teve a sua oitava edição, em Lisboa, nos dias 8 e 9 de Fevereiro. O ano de 2011 foi considerado por muitos, na Europa, como um ano de ouro. Aliás, o Prof. Francisco Cordovil sublinhou que perante uma “procura espectacular”, consequência, também, da procura por bio-energia, a Humanidade conseguiu aumentar simultaneamente a oferta de milho. A associação de cotações estáveis e superiores aos 200€/ton (situação que se deverá manter, segundo o Sr. Robert Hanson, adido dos EUA para assuntos agrários para a Península Ibérica) e produtividades médias recorde em quase todo o continente, nomeadamente em Portugal, elevou o ânimo de empresários agrícolas que, capitalizados, desejam agora expandir-se para o regadio de Alqueva. Aliás, a maioria das participações, incluindo a da Sr.ª Ministra da Agricultura, sublinharam que o milho é das culturas que, no cenário actual, melhor poderão aproveitar a potencialidade dos solos regados de Alqueva. Porém, as esperanças foram ensombradas por declarações de vários oradores, nomeadamente do Sr. Eng.º Luís Rosado, que sublinhou que a EDIA (Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva) se encontra em situação de ruptura, com encargos financeiros (resultantes de empréstimos e custos de bombagem) que comprometem o sucesso da empresa se não se repensar politicamente o projecto. Por outro lado as perspectivas de subida de preços da água podem comprometer, no futuro próximo, a sustentabilidade das culturas regadas neste perímetro de rega. Foi uma sala completamente cheia que ouviu as reflexões do Professor Adriano Moreira, num discurso em que sublinhou os seus receios sobre a segurança alimentar dos países europeus, alertando que “o país precisa de uma reserva alimentar e que a alimentação seja nacional”, neste contexto lamentou que no norte de Portugal haja vastas superfícies abandonadas e até olivais em que não se apanha a azeitona. Num tom de alarme sublinhou a grave situação de exportação de divisas para a compra de alimentos ao estrangeiro.
A reforma da PAC foi um dos temas recorrentes no segundo dia do congresso, em que a questão do “greening” ou pagamentos ecológicos continua num momento de indefinição que mantém preocupados responsáveis e empresários agrícolas. Aliás, o Sr. João Machado, Presidente da CAP, sublinhou que os governos europeus têm, permanentemente, dado sinais contraditórios, pois se durante certos períodos restringem a produção a outro tempo fazem apelos a uma urgente expansão da agricultura. O optimismo em torno do sector foi sublinhado pelo Presidente da CAP que enfatizou que a agricultura é o sector que mais tem investido e o que mais tem melhorado ao nível da balança comercial, criticando que o Governo português não organize o sector dos seguros agrícolas. A atenção dos congressistas redobrou para ouvir o encorajador discurso de encerramento feito pela Sr.ª Ministra da Agricultura. A governante referiu que há uma surpresa internacional pelo facto de um país com tantos produtos excelentes não os exportar, assim como não aproveita a superfície disponível. Neste aspecto citou exemplos de empresários holandeses que rentabilizam as pequenas superfícies das explorações que têm em Portugal e que se admiram com o absentismo português. A dinamização do mercado de terras agrícolas é um dos projectos prioritários para o Ministério da Professora Assunção Cristas que pretende colocar no mercado de arrendamento propriedades do Estado que se encontram ociosas e criar uma bolsa de terras, para o que se acelerará o processo de cadastro rústico de modo a permitir uma alteração do sistema fiscal da propriedade que force proprietários a arrendar as suas propriedades.
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FE I RA S D E S T A Q U E & EVENTOS
CURSO DE PLANEAMENTO EM PERMACULTURA
Fotos: Joana Moreira
28 JAN. - 25 MAR. 2012 FUNDAÇÃO DE SERRALVES No dia 28 de Janeiro começou no Porto, na Fundação de Serralves, um “PDC – Permaculture Design Course” – Curso de Planeamento em Permacultura, organizado pelo Serviço Educativo de Serralves em parceria com a Quercus. Este curso, criado por Bill Mollison, é um dos primeiros a ser realizado totalmente em português e em Portugal e o primeiro de sempre a ser realizado no Porto. Dentro da cidade, no espaço da Fundação de Serralves, desenvolveram-se várias actividades teórico-práticas. O curso reparte-se em cinco fins-de-semana alternados e ao longo de 72 horas de actividades são abordados os temas fundamentais da Permacultura. Conta ainda com sessões ao fim da tarde dinamizadas em associações culturais da cidade, bem como com um fim-de-semana de visita a quintas de Permacultura. A Agrotec esteve lá e entrevistou os formadores do curso: Yassine Benderra, Joana Costa e Ricardo Marques. Agrotec (AG): Em síntese, o que é a Permacultura? Joana: A Permacultura pode ser interpretada de forma diferente por cada pessoa mas na sua base significa usar a natureza como modelo para a criação de habitats humanos sustentá-
veis. Tem como foco principal a produção de alimentos através de uma gestão equilibrada de solos, água e florestas mas alarga-se também a outras áreas essenciais ao bem-estar humano como a construção, energia e comunidade. No fundo trata-se de uma ferramenta de design que associa conhecimentos ancestrais e científicos, tecnologias tradicionais e modernas, estilos de vida actuais e éticas de cuidar da Terra, cuidar das pessoas e partilha justa dos excedentes.
para se saber qual o papel que a Permacultura poderá ter no nosso país. Temos a necessidade de ter mais pessoas a praticarem estas ferramentas para serem exemplos de como poder viver desta forma tanto a nível social, ecológico como económico. Parece-me que também vai haver brevemente a necessidade de formações mais específicas sobre os imensos temas que a Permacultura abrange para criar uma evolução mais prática do seu funcionamento e não somente teórica.
AG: Como é que o movimento se tem desenvolvido em Portugal? Yassine: Portugal tem uma potencialidade enorme para uma óptima aplicação da Permacultura pelo seu clima e pela sua ainda (mas a desaparecer) cultura rural e tradicional. Assim sendo já há muito tempo que no nosso país se tem feito permacultura a alguns níveis, especialmente por estrangeiros que viram no nosso país essa grande oportunidade. Nos últimos 4 ou 5 anos o interesse na Permacultura tem tido um relevo enorme e tem feito com que Portugal seja um dos países da Europa com mais pessoas a praticarem a Permacultura. Ainda assim os projectos são recentes, em fases de desenvolvimento e pouco conhecidos e muito trabalho ainda tem que ser desenvolvido
AG: Quais são as vantagens para quem adere à Permacultura? Ricardo: Quem adere à Permacultura torna-se desde logo mais consciente do planeta em que vivemos, do impacto individual e colectivo que temos sobre ele e das múltiplas ferramentas que estão ao dispor para cada um viver bem sem colocar em causa as outras pessoas e o planeta. Outra vantagem é que a permacultura oferece ferramentas para vários bens essenciais como a habitação, comida, energia, água e que são em geral de baixo custo e de baixa tecnologia, ou seja, mais acessíveis. Depois, adoptar a permacultura em pleno, significa viver com abundância de alimento e energia sem pôr em causa gerações futuras, interligado com a comunidade local, em sintonia com a Natureza e os seus ciclos e com tempo para si e para os outros.
Figura 1 Formadores do curso: Yassine Benderra e Joana Costa (esq.) e Ricardo Marques (dir.).
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AG: Quais as dificuldades sentidas? Há apoios para quem envereda pela Permacultura? Ricardo: Uma das principais dificuldades é ainda haver pouca experiência e literatura sobre permacultura de clima mediterrânico e a dificuldade em organizar os permacultores em Portugal para se poder, por exemplo, tratar do diploma de permacultura a nível nacional. Estas duas dificuldades não deixam de ser também oportunidades para os permacultores portugueses. Não há apoios conhecidos especificamente para a permacultura mas, é possível conseguir financiamento para projectos de permacultura através de candidaturas a apoios convencionais
como, por exemplo, o PRODER. Mas o principal apoio que quem envereda pela Permacultura pode contar é a partilha de experiências por permacultores nacionais e globais, são as redes de voluntariado que existem para a permacultura e agricultura biológica (www.wwoof.pt), são as “ajudadas” ou “permablitzs” que juntam pessoas curiosas e solidárias em volta de um projecto: construção de uma casa-de-banho compostora, plantação de uma horta, apanha de fruta, etc...
outros cursos de permacultura agendados para rios públicos. Fruto da preparação de um programa novo que é lançado este ano e que se chao Porto. ma «Hortas e transição», o qual aborda noções AG: Em que medida o parque de Serralves de auto-suficiência, solidariedade e consumo pode vir a ser um pólo de demonstração da responsável, surgiu a vontade e oportunidade de realizar este curso de planeamento em perPermacultura? Serralves desenvolve há vários anos actividades macultura, conceito onde se integram de forma no âmbito da literacia ambiental dirigidas a vá- global estas preocupações.
AG: Como surgiu a iniciativa do curso em Serralves? E qual foi a adesão das pessoas? A iniciativa surgiu de uma pressão crescente por muitos aprendizes de permacultura do Grande Porto para que houvesse um curso de permacultura nesta zona, uma vez que nunca tinha sido organizado nenhum, nem no Porto nem perto. A adesão superou todas as expectativas pois as inscrições esgotaram em apenas 6 dias e temos muitas pessoas em lista de espera. Além disso, embora a nossa intenção fosse oferecer um curso de permacultura à população do Grande Porto temos pessoas de locais distantes como Lisboa e Castelo Branco. AG: É uma iniciativa a repetir? Existem já muitos pedidos para fazermos a 2.ª edição mas só no final do curso é que se irá avaliar e pensar em repetir. Já existem, no entanto,
Figura 2 Actividade prática: Construção de uma espiral de ervas.
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FE I RA S D E S T A Q U E & EVENTOS
FRUIT LOGISTICA
Por: Bruno Maciel Raul Pinheiro
A PRESENÇA PORTUGUESA NA FEIRA 8-10 FEVEREIRO| BERLIM, ALEMANHA
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cidade de Berlim foi, mais uma vez a anfitriã da feira FRUIT LOGISTICA que, em três dias, concentrou o que de melhor se faz na produção de frutos e vegetais por todo o mundo. Cerca de 2.452 empresas deste sector estiveram aqui representadas, distribuídas por 99.000 m2. Deste lote 2.211 são empresas não alemãs e representam 84 países. Podemos salientar uma forte presença lusa: 26 empresas (dados fornecidos pela organização da feira), mas segundo dados apurados pela AGROTEC o número total deveria ultrapassar as 40 empresas portuguesas. De forma bem clara podia-se ver um grande placar com o nome de Portugal Fresh!, assim denominado este grupo de produtores portugueses na feira. Todos tinham o seu stand, apresentando os produtos e novidades aos visitantes, clientes e possíveis compradores. O Portugal Fresh! foi criado há dois anos com o intuito de juntar produtores lusos, potenciar o mercado nacional no estrangeiro e também ajudar a aumentar a produção nacional. A ideia tem ajudado de forma global todos os empresários aderentes. Pela sétima vez realizou-se o concurso FLIA – FRUIT LOGISTICA Innovation Award, que premeia a melhor inovação apresentada pelos expositores. A votação ocorreu entre 10 novos produtos, sendo o pimento doce e sem sementes o vencedor, fruto da investigação e desenvolvimento da empresa Angello. Este produto hortícola tem a forma cónica, 10 cm de comprimento e pesa 30 g. O segundo lugar foi atribuído ao site Lovemysalad.com onde os fãs de saladas podem aceder a receitas e produtos “verdes” para saladas. O último posto do pódio foi para o fruto Achacha (Garcinia humilis), vindo da Bolívia ou mais precisamente da Bacia da Amazónia Boliviana. Entre os expositores lusos podemos dividi-los em dois grupos: os produtores de fruta e os produtores de produtos hortícolas.
FRUTAS A empresa Naturar S.A., com sede em Montemor-o-Velho, faz dos produtos de quarta gama o seu dia-a-dia. Produzem batatas, legumes
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(salada), plantas aromáticas e fazem a transformação de alguns destes produtos. Têm uma área de 50.000 m2 e produz maioritariamente para o mercado nacional. Tal como no caso da LusoPêra, este ano marcou a primeira participação na FRUIT LOGISTICA. A Lusopêra foi criada em 2001 e está sediada no Bombarral, produz numa área de 250 ha a sua sustentabilidade, a pêra rocha. A sua produção é exportada, quase na sua totalidade, para o Brasil e Rússia.
Sediada em Torres Vedras, a Abrunhoeste, S.A., produz há 15 anos pêra rocha, maçã e ameixa. É uma organização de 23 produtores com uma área de 400 ha. Com 90% da produção (10.000 t/ano) a ser exportada para a Brasil, Inglaterra, Irlanda, Marrocos, Moçambique e Noruega. Em cerca de 500 ha, a Frutalvor, Central Fruteira C.R.L. faz produção de pêra rocha e maçã gala. Abertos desde 1997, marcaram o segundo ano de presença na FRUIT LOGISTICA e atingiram no ano de 2011 os 40% de exportação para o Brasil, França, Inglaterra, Marrocos, Polónia e Rússia, considerando muito positiva a exposição que este tipo de feiras lhes tem permitido e as vantagens na criação de novos mercados. Fundada em 1969, a CoopVal produz pêra rocha e maçã no Cadaval, 85% e 15% respectivamente da produção total. Apenas 10% é comercializada no mercado nacional sendo a restante quase toda exportada para o Brasil. Marca presença na FRUIT LOGISTICA há dois anos. Na região do Oeste, mais precisamente no Bombarral, podemos encontrar a TriPortugal, associação de três empresas criada em 2010, a EuroHorta fundada em 1994, a Frutus criada em 1992 e O Melro fundada em 1983. Numa área global de 620 ha produzem 320.000 toneladas (dados 2010) de pêra rocha e ameixa. A exportação está entre os 70 a 80%, distribuindo-se um pouco por toda a Europa, África e Brasil. A presença na feira já vem desde 2002, sempre com grande sucesso, mas há dois anos que se juntaram ao Portugal Fresh! o que melhorou a sua visibilidade. Também na zona do Oeste podemos encontrar a Granfer, empresa que produz pêra rocha e pêssego numa área de 400 ha. Fundada em 1987 marca presença na feira há 12 anos, exportando 70% da sua produção para Brasil, França, Inglaterra, Irlanda, Polónia e Rússia.
Ecofrutas é uma empresa do Bombarral com experiência há 12 anos, conseguindo produzir 8000 toneladas/ano de pêra rocha, esperando atingir as 12.000 toneladas dentro de 5 anos. A exportação situa-se entre os 70 e os 90% para Brasil, França e Inglaterra. É o terceiro ano em que marcam presença na feira. A FrutOeste é uma Cooperativa Agrícola de Hortofruticultores do Oeste, C.R.L., situada em Mafra. Produzem pêra rocha e limão de Mafra há 20 anos. Da produção, 60 a 70% vai para exportação por toda a Europa e América do Sul. A ExtraFrutas situada na Freixofeira, Quinta da Sardinheira, labora desde 1992 na produção de pêra rocha numa área de 32 ha mas também compra a outros produtores. Toda a produção é feita em modo de Produção Integrada e também não faz nenhuma mobilização de solo. Usa uma plataforma de apoio à colheita em campo “Pliking Platform”. 25% da sua produção é destinada ao Brasil, Canadá, França e Marrocos. Está presente na feira desde o lançamento do Portugal Fresh!. Em Torres Vedras podemos encontrar uma empresa com 40 anos de experiência, a Luís Vicente, SA. Começou na produção de pêra rocha e há cerca de 12 anos alargou a produção para a maçã, pêssego, nectarina e ameixa. A área de 550 ha de produção pertence a 36 associados. A exportação da pêra e da maçã é feita essencialmente para o Brasil e Inglaterra. Têm parcerias com empresas da América do Sul para a produção e importação de frutos tropicais. Faz-se representar na feira há 8 anos e os últimos no projecto Portugal Fresh!. A AGROTEC encontrou também a representação da célebre Vale da Rosa, empresa de Ferreira do Alentejo com mais de 50 anos de experiência. Utiliza um sistema único em Portugal para a produção de uva de mesa, sob abrigo, tendo cobertos 320 ha de vinha, protegidos com plásticos e redes. Esta técnica permite obter períodos de produção maiores bem como produções maiores. Desta forma a produção é alargada para 5 a 5 meses e meio, ou seja, de Junho a Novembro. A exportação tem contornos muito importantes na facturação da empresa e efectua-se para Angola, Luxemburgo, Polónia e Reino Unido, mas o mercado nacional não é esquecido, encontrando-se esta referência em praticamente todas as boas lojas e frutarias. A Campotec, de Torres Vedras, produz numa área de 750 ha 15.000 toneladas de pêra rocha, 5.000 toneladas de maça Royal gala e 1.000 toneladas de Granny Smith. A produção de batata anda à volta de 11.000 toneladas, dividida por 5 variedades diferentes. A exportação só se efectua entre Maio e Setembro para Alemanha, Brasil, Irlanda, França e Reino Unido. A Quinta do Celão II foi fundada em 1998 no Vale do Mondego. Produz legumes de folha como couves, alface e depois o tomate e pimento numa área de 170 ha, totalizando uma produção de 3.800 toneladas. Produz também cenoura e framboesa. A venda é feita apenas para o mercado nacional e 75% da mesma vai para grandes superfícies.
HORTÍCOLAS Aberta desde 1989 em Vila Flor, a SousaCamp SGPS, S.A., começou na produção de cogumelos brancos mas depois aumentou a sua área de influência para cogumelos frescos e hortícolas. Neste momento conseguem produzir 300 toneladas/semana, em áreas repartidas por Portugal e Espanha. Do total 60% é exportado para Angola, Espanha, França, Holanda e Norte de África. Nesta feira apresentaram um novo produto, a Turfa orgânica (biológica), estando já certificada. Pode ser utilizada em qualquer tipo de agricultura, mesmo a biológica. Foi o primeiro ano que marcaram presença na feira. Vitacress, Iberian Salads Agricultura, S.A. é uma empresa de Odemira existente há 20 anos. Produz folhas Baby, espinafres, batata, cenouras, ervas aromáticas e faz misturas para saladas. Transforma outros tipos de hortícolas. Da produção que sai dos 300 ha, 40% vai para a exportação, mais precisamente Alemanha, Angola, Espanha e Inglaterra. Segundo ano na feira com o Portugal Fresh!. A Horta Pronta em Peniche encontra-se aberta há 21 anos satisfazendo algumas necessidades nacionais no que se refere a couves, cebolas e outros hortícolas. A cooperação de 150 agricultores ajuda a perfazer as 50.000 toneladas/ano. É a segunda vez que vão à feira. Aberta desde 1997, a Torriba S.A., situada no Ribatejo, conta com 115 produtores e espera que nos próximos anos o número venha a aumentar (127 produtores estimados). Entre todos detêm uma área aproximada de 5.000 ha, produzindo hortícolas frescos como a cenoura (calibrada, embalada e marca própria) e o tomate Berry, congelados como o pimento e os brócolos, para
a indústria produz tomate concentrado, batata e ervilhas. O tomate Berry recebeu, há três anos, o prémio inovação. Em Santarém podemos encontrar a Hortomelão com 22 anos de história, detendo uma área de produção compreendida entre os 800 e os 900 ha, nos quais fazem o melão, melancia, meloa, beringela e couve-flor, perfazendo 25 toneladas/ano. A venda dos produtos frescos é feita para grandes superfícies. Na FRUIT LOGISTICA vão há dois anos através do Portugal Fresh! e com muita satisfação.
TRANSFORMAÇÃO NutriGreen é o nome de uma empresa que faz a transformação de frutas e legumes para polpas e concentrados. Apresenta dois tipos de produtos transformados, sumos e purés e produtos apelidados de quarta gama, saladas embaladas. Para a produção dos sumos, compram apenas produtos nacionais. Apresentaram nesta edição da feira um novo produto, sumos de fruta com a adição de acerola, proporcionando garantidamente 200 gramas de vitamina C. Em 2010, ganharam o prémio inovação com a apresentação de uma barra de fruta fresca. É feita a partir de puré de frutas e gelatina vegetal (algas), disponível em diversos sabores: abacaxi, manga, tutti frutti e abacaxi-coco. Este produto foi criado com o intuito de ajudar as crianças a comerem mais fruta de forma mais divertida. Abertos desde 2007, têm uma subdivisão, a NutriGreen Salada e Nutrigreen Internacional. A exportação dos seus produtos é feita para a Alemanha, Bélgica, França e Espanha e estão a tentar entrar em novos mercados como o da Itália, Holanda e Suíça. Marcam presença na feira há seis anos mas há dois no novo modelo, o Portugal Fresh!. A FRUIT LOGISTICA é uma grande feira, com uma grande embaixada Portuguesa que mostra o dinamismo dos empresários agrícolas, especialmente do sector hortofrutícola. Empresários que sabem as vantagens de investir em promoção e acreditam na agricultura e nos agricultores, tal como a AGROTEC
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FIMA 2012
Por: Duarte Moreno Fotos: Orquídea Barbosa
14-18 FEV. |SARAGOÇA
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AGROTEC marcou a sua presença neste certame de sucesso e reconhecimento crescente, que decorreu entre os dias 14 e 18 de Fevereiro. A 37.ª Edição da Feira Internacional de Maquinaria Agrícola – FIMA 2012 – em Saragoça, Espanha, continua a abrir portas às empresas do sector e a apresentar as suas últimas propostas em inovação e tecnologia, numa aposta clara de um futuro cada vez mais competitivo e desenvolvido económica e socialmente. Numa área superior a 133.000 metros quadrados, esta feira de referência internacional, contou com a presença de trinta países, num total de mais de mil empresas, das quais 59,4% estrangeiras, e de marcas de renome mundial que apresentaram máquinas de última geração e tecnologia de ponta em equipamentos para a agricultura. É de destacar que, além dos expositores, o espaço da feira possuía uma zona específica para a demonstração dinâmica de equipamentos e, ainda, locais para actividades organizadas que versavam desde a procura de maquinaria agrícola, pelos países do mediterrâneo, tendências da mecanização e a sua importância para um desenvolvimento sustentado e com futuro, até à importância do desenvolvimento rural. Este evento, dada a sua projecção a nível mundial, abre grandes possibilidades de negócio e permite conhecer as últimas tendências de mercado, pois, além da exposição de maquinaria agrícola, como alfaias de mobilização de solo, sementeira, tratamento e colheita, também exibe equipamentos de rega, transporte, máquinas florestais, máquinas para jardins, produtos fitofármacos, máquinas para indústria agro-alimentar, caixas, embalagens e livros. Em suma, uma grande feira direccionada para o mercado primário internacional que contribui para o desenvolvimento eficiente e sustentado do trabalho agrícola, através da exposição e demonstração de maquinaria equipada com tecnologias de ponta, além das últimas novidades do sector, que não se dirige apenas à agricultura de grande extensão, mas também ao pequeno produtor, e que contribui para acordos comerciais além fronteiras, novos contactos, lançamento de projectos, difusão de informações e inovações dos produtos expostos.
A Stagric, fundada em 1986, dedica-se fundamentalmente à investigação, fabricação, montagem e comercialização de equipamentos agrícolas e industriais e está sediada na Zona Industrial da Carvoeira, concelho de Torres Vedras, distrito de Lisboa. Actualmente, a Stagric fabrica e comercializa uma vasta gama de produtos, de elevada e reconhecida qualidade, que podem competir nos mais exigentes mercados do sector agrícola, fundamentalmente no ramo da pulverização e em máquinas específicas para as vinhas, pomares e olivais. A HERCULANO ALFAIAS AGRÍCOLAS, S.A., localizada numa das mais importantes zonas industriais do Norte do País, Oliveira de Azeméis, foi constituída em 1969. Em 1982, a empresa efectuou a primeira exportação e em 1986 foi oficialmente reconhecida em Portugal como líder na fabricação e comercialização de semi-reboques agrícolas, liderança que mantém até à actualidade. A HERCULANO é presentemente um dos maiores fabricantes Ibéricos de material agrícola.
PRESENÇA PORTUGUESA NA FEIRA Portugal fez-se representar por dezoito empresas, entre elas a Rocha, a Stagric, a Herculano, a Cotesi, entre outras, que apostaram nesta grande feira para divulgar os seus produtos, abri-los a novos mercados e mostrar que, apesar de sermos um pequeno país a atravessar uma crise económica, existem empresas de sucesso que continuam a trabalhar e a investir na qualidade, tornando-se competitivas, não só no país como no estrangeiro. A exportação continua a ser uma das chaves para o sucesso dos negócios. A Cotesi - Companhia de Têxteis Sintéticos, S.A. - fundada em 1967, foi pioneira na Europa na produção de fios, cordas, redes e cabos de matérias-primas sintéticas e naturais. Hoje, a Cotesi é o maior produtor mundial de fio agrícola. Criada em 1946, por Joaquim Dias Rocha, a Rocha Pulverizadores direccionou inicialmente a sua actividade para o fabrico de pulverizadores manuais de dorso, comercializados com a marca Rocha. Actualmente é uma referência de qualidade na área da pulveriza-
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ção, disponibilizando um conjunto de equipamentos de topo de baixo volume, extremamente eficientes e ecológicos. Paralelamente, continua a investir em força no seu Departamento de I&D e na melhoria da qualidade dos seus serviços, incentivando a formação de profissionais criativos e empreendedores, nomeadamente através de projectos de parceria com universidades conceituadas. Tecnologicamente avançada, criteriosa nos processos de produção e cada vez mais próxima dos seus clientes, a Rocha Pulverizadores encara o futuro mantendo a qualidade e fiabilidade a que sempre habituou os seus clientes.
Com este número de presenças de empresas portuguesas na Feira Internacional de Maquinaria Agrícola, constata-se que, cada vez mais, os empresários procuram expandir os seus negócios alargando o seu campo de comercialização através da promoção dos seus produtos e da participação em certames deste tipo, para demonstrar que, também eles, são competitivos e capazes de apostar num mercado abrangente e de qualidade.
NOVIDADES FIMA 2012 Dentre as novidades apresentadas na FIMA 2012, o Júri Internacional do Concurso de Novidades Técnicas distinguiu: Na categoria de tractores e máquinas automotrizes e energia: – Novidades técnicas em destaque: – Sistema de propulsão por rastos independentes no tractor articulado no António Carraro “Mach 4”. – Colhedora de azeitonas para olivais intensivos Gregoire “G10.380”. – Sistema de regulação eléctrica remota no cilindro das colhedoras de fluxo axial da Série S da John Deere. – Banco com suspensão activa de accionamento eléctrico Jonh Deere “Active Seat II”. – Sistema de accionamento centralizado da barra de corte “Synchroknife” nas colhedoras New Holland nas Séries CR e CX 8000. – Novidades técnicas: – Sistema SCR (Redução Catalítica Selectiva) de 2.ª geração nos motores AGCO SISU Power e3 dos tractores MF 7600 e Valtra N163. – Sistema de nivelamento pendente “ParaLevel” nas colhedoras Fendt Série C. – Controlo de descarga do engate frontal que permite seguir a geometria do solo nos tractores Fendt. – Sistema de ventilação do motor “Clean Fix” no tractor António Carraro THR 9800. – Sistema de gestão da potência do motor “Claas Dynamic Power” nas cortadoras de forragem Class Jaguar 980 e 990. – Sistema de gestão do braço “Vertical Lift System (VLS) – Smart Handling”, nos carregadores telescópicos Claas. – Suspensão hidráulica dianteira no misturador de silos automotriz Tatoma MBS – 30. – Sistema de controlo de estabilidade nos carregadores telescópicos agrícolas JCB.
– Motores “PowerTech” para tractores com potências entre 170 e 600 cv que cumprem o nível 3B de emissões com fluído único. – Sistema de refrigeração com ventilador compacto em tractores da Série 7R. – Sistema de alavanca única para o controlo de movimentos de direcção e avanço “Steering-O-Matic Plus” nos tractores de rastos New Holland TK4000. – Sistema de travagem para reboques combinado com o travão do motor em tractores New Holland da Série T7. – Colhedora de azeitonas para o olival superintensivo New Holland “Braud 9090X Olive”. – Transmissão contínua (CVT) compacta em tractores Deutz-Fahr Agrofarm TTV. Na categoria de máquinas accionadas e instalações fixas e móveis: – Novidades técnicas em destaque: – Sistema de accionamento eléctrico dos doseadores de semente no semeador Solá Prosem-K Elektra; – Sistema de gestão de vibradores de troncos com tela de recolha “Topavi”. – Novidades técnicas: – Trituradora de restos de poda com desvio lateral AMR-220. – Sistema de troca rápida de discos em grades ligeiras Bellota QCD. – Sistema de descarga de fardo da enfardadeira John Deere Série 900. – Quadro variável de espaçamento de 12 corpos de sementeira entre 45 e 80 cm no semeador Solá Prosem-K Omnia. Na categoria de soluções de gestão agronómica: – Novidades técnicas em destaque: – Sistema de condução e controlo simultâneo de dois tractores com apenas um condutor Fendt “GuideConnect”. – Sensor NIR para análise dos componentes da forragem nas cortadoras de forragem Claas Jaguar. – Sistema de medição dos elementos que constituem a forragem John Deere “HarvestLab”. – Sistema de comunicação entre colhedoras e tractores Machine Sync. – Sistema de gestão dos corpos para a sementeira em linhas com alinhamento paralelo ou cruzado Kverneland “GEOSeed Control”. – Chave electrónica programável para a gestão do parque de máquinas New Holland “Smart Key” com “Telematic”. – Sistema de Viticultura de Precisão aplicado à desfolha da vinha Deutz-Fahr.
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FE I RA S & EVENTOS 2.as JORNADAS TEMÁTICAS DO CITAB: MERCADO DE CARBONO: “UM CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA AGRO-ALIMENTAR” A CONSULAI, uma empresa de consultadoria na área agroindustrial, e o CITAB (Centro de Investigação e de Tecnologias Agro-ambientais e Biológicas da Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro) organizaram as 2.as Jornadas Temáticas do CITAB, dedicadas ao tema “Mercado de Carbono: um caminho para a sustentabilidade do sistema agro-alimentar”. O exponencial desenvolvimento económico, desde o início do séc. XX, levou a um crescimento populacional e a uma crescente industrialização, diminuindo as áreas florestais por todo o planeta, e aumento do nível de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera. Tendo por fundo esta problemática e as questões que levantam o Mercado do Carbono, deu-se início às Jornadas com duas intervenções, a do Prof. Eduardo Rosa, apelando ao espírito de missão da universidade, sublinhando a relevância desta temática para o futuro do sistema agro-alimentar do nosso país. Especula-se que o aumento dos GEE seja consequência de alterações naturais, respeitando ciclos conhecidos, ou podem estar directamente ligados a acções de origem humana (origem antropogénica), com realce para os sectores da indústria agro-alimentar e transportes. O Prof. João Santos referiu a importância do efeito estufa na manutenção dos ecossistemas. Segundo alguns estudos, é possível perceber que existe um grande paralelismo entre as concentrações de CO2 e a temperatura nas “eras frias” e “eras quentes”. A questão preocupante é que, embora estejamos no fim de uma era quente e a entrar numa era fria (com base em projecções climáticas), a concentração de CO2 atinge hoje os 390 ppm, valor que está próximo do máximo dos últimos 4000 anos. Também se sabe que a temperatura média actual está 10 C acima do que na altura da revolução industrial. Isto permite concluir que as causas antropogénicas dominam claramente sobre as causas naturais. Na opinião do Prof. João Santos Portugal vai cumprir as metas de Quioto, já que dispõe de grandes áreas florestais, principal sumidouro do carbono. Também neste contexto, o Prof. Moutinho Pereira salientou a importância dos ecossistemas vegetais no sequestro do carbono, como os cobertos vegetais em culturas permanentes como o olival e a vinha. Os solos, a seguir aos oceanos, são o ecossistema mais importante no sequestro do carbono, representando duas vezes mais de carbono sequestrado do que a vegetação e três vezes mais do que a atmosfera. O Prof. Afonso Martins apresentou dois estudos: o primeiro sobre o efeito das práticas culturais de gestão de solo no armazenamento de carbono orgânico nos soutos, tinha o objectivo de compreender se a diminuição das mobilizações, associada a um enrelvamento espontâneo ou semeado, incrementam os valores de fixação do carbono atmosférico. O segundo estudo pretendia determinar a massa total de carbono num sistema florestal com Robinia Pseudoacacea L. e Cupressus Lusitanica L. Embora estes estudos sejam recentes, apresentam dados positivos na defesa destes sistemas, sublinhando-se que efeitos de maior dimensão só serão perceptíveis ao fim de muitos anos. As florestas desempenham um papel fundamental no sequestro de carbono, variando a sua importância em função do tipo de árvore, dimensão e, mais importante, a sua longevidade. Foi esse o ponto central da apresentação do Prof. Domingos Lopes, que acentuou a
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Por: Nuno Abreu Fotos: Sector de fotografia da UTAD importância da implantação e manutenção de um coberto florestal bem organizado e pluricultural. Sublinhou ainda que os incêndios levam ao aumento de carbono libertado para a atmosfera e a uma diminuição das áreas florestais. As jornadas acabaram com as intervenções do Eng. Pedro Santos e do Eng. Bruno Caldeira, ambos da CONSULAI. Com base em casos de estudo, demonstraram a possibilidade de se melhorar a eficiência energética dos sistemas de produção com base na quantificação da pegada de carbono dos diferentes produtos. O Eng. Pedro Santos apresentou um projecto para determinar a pegada de carbono associada à fileira da pêra Rocha, envolvendo seis centrais com 780 produtores e cerca de 2000 hectares. O projecto engloba uma análise às práticas culturais distintas e permite determinar os respectivos efeitos ambientais. E por fim, o Eng. Bruno Caldeira apresentou um estudo que visa a determinação da pegada de carbono em duas adegas de Beja, procurando enquadrar todo o processo, desde o solo onde se encontra a planta até à reciclagem de todos os materiais resultantes da manufactura do produto. Em conclusão pode-se dizer que é a altura de começar a alterar alguns comportamentos culturais, apostando mais numa agricultura sustentável baseada em sistemas policulturais, em que haja uma maior integração entre as diferentes actividades agrícolas e a defesa dos solos e das florestas. Além do aumento da biodiversidade, traz vantagens ambientais de enquadramento paisagístico com potencialidade para serem sistemas agrícolas que, sem ajudas económicas, podem atingir as rentabilidades de culturas intensivas. A aplicação de metodologias para quantificar a pegada de carbono dos produtos e/ou serviços das agro-indústrias (e a referência desse valor em forma de rótulo), traz benefícios na redução de custos devido a uma melhoria na eficiência energética, melhora a imagem face aos clientes e cria valor aos seus produtos. Além destes factores, a antecipação da aplicação desta metodologia permite uma melhor preparação para a futura e inevitável legislação que a tal irá obrigar.
IV COLÓQUIO NACIONAL DA PRODUÇÃO DE PEQUENOS FRUTOS 20 E 21 DE ABRIL DE 2012 FARO, PORTUGAL O crescimento da procura por Pequenos Frutos, como morango, amora, framboesa e mirtilo justificam a organização de eventos, que congreguem todos os agentes intervenientes da fileira (produtores, empresários, investigadores, professores, estudantes e técnicos). Apesar da aptidão para a produção destes frutos diferir de região para região, consegue-se, com diferentes tecnologias de produção e variedades, a produção ao longo de todo o ano. Portugal possui, aliás, óptimas condições para a produção de pequenos frutos fora de época (Outono e Inverno) e produção de época (Primavera), com grandes potencialidades para o mercado de exportação europeu. A edição do colóquio deste ano terá como tema central a "Sustentabilidade e Competitividade para Exportação" e as áreas temáticas serão: “Ambiente”, “Tecnologias de Produção”, “Qualidade e Pós-colheita”, “Compostos Bioactivos” e “Protecção das Plantas”. Organizado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária (INRB, IP; INIA-Oeiras), a Associação Portuguesa de Horticultura (APH) e o Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN), em colaboração com a Universidade do Algarve, conta com o Grupo Hubel como um dos parceiros, e que terá a seu cargo a visita técnica do colóquio às várias explorações do Grupo. A AGROTEC será um dos media partners deste evento. www.aphorticultura.pt/IVCNPPF/
EXPOCANNABIS SUR 2012 18 A 20 DE MAIO DE 2012 MÁLAGA, ESPANHA A Expocannabis Sur vai já para a sua 3.a edição e muitas são as razões que tornam esta feira imprescindível para os agentes do sector. O clima e a cultura, muito vinculados ao mundo árabe entre o norte de África e Europa, fazem com que a Andaluzia seja a comunidade autónoma com mais produtores e empresas especializadas no cultivo de cânhamo (Cannabis sativa L.) Convém deixar claro que se trata cânhamo para fibra e da variedade chamada de liamba ou marijuana. A planta da qual se obtém a fibra também tem a folha característica da folha da marijuana e é por isso que muitas marcas e produtos feitos com cânhamo usam essa imagem para fazer referência ao material em questão. Dados interessantes sobre o cânhamo: – é a fibra vegetal mais longa conhecida pelo homem; – é um material 3 vezes mais resistente que o algodão; – tem sido cultivada desde o ano 2800 a.C. na China; – um hectare de cânhamo pode produzir tanta fibra como 4 ha de árvores ou 2 ha de algodão; – o papel de cânhamo é o mais resistente e não necessita de ácidos ou cloro, pode ser reciclado 7 vezes; – um aglomerado de fibra de cânhamo resiste o dobro do que um de madeira.
www.expocannabisur.com
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FE I RA S C A L E N D Á R IO
DESIGNAÇÃO
TEMÁTICA
LOCAL
DATA
CONTACTO
WORLD FLORAL EXPO
Salão Mundial de Floricultura
Nova Iorque, E.U.A.
14 a 16 de Março de 2012
www.worldfloralexpo.com
Exposalão, Batalha, Portugal
15 a 18 de Março de 2012
www.exposalao.pt
Exposalão, Batalha, Portugal
15 a 18 de Março de 2012
www.exposalao.pt
EXPOJARDIM
FRUTITEC / HORTITEC
Feira de plantas, flores, mobiliário urbano e de jardim, piscinas e acessórios, equipamentos, máquinas e acessórios para jardinagem Mostra profissional de máquinas, equipamentos, produtos e tecnologia para fruticultura e horticultura
16 a 18 de Março de 2012
AGROTECH
Salão Internacional de Técnicas Agrícolas
Kielce, Polónia
LAS-EXPO
Salão da Indústria de Madeira & Gestão de Recursos Florestais
Kielce, Polónia
16 a 18 de Março de 2012
www.targikielce.pl
ANIMAL VETEX
Salão Internacional de Veterinária e Pecuária
Brno, República Checa
18 a 22 de Março de 2012
www.bvv.cz/vetex
APIMONDIA 2012
2. a Conferência Mundial de Apicultura Biológica
San Cristobal de Las Casas, México
19 a 25 de Março de 2012
www.ecosur.mx/abejas
AGRO
Salão Internacional de Agricultura, Pecuária e Alimentos
Braga, Portugal
22 a 25 de Março de 2012
www.peb.pt
VINITALY
Salão Internacional de Vinho e Bebidas Espirituosas
Verona, Itália
25 a 28 de Março de 2012
www.vinitaly.com
FOODEX
Salão de Processamento, Embalamento e Logística
Birmingham, Inglaterra
25 a 28 de Março de 2012
www.foodex.co.uk
PROWEIN
Salão Internacional de Vinhos e Destilados
Düsseldorf, Alemanha
27 a 29 de Março de 2012
www.prowein.de
SIAG
Salão Internacional de Agro-Negócios
Santarém, Portugal
28 e 29 de Março de 2012
www.siag.ife.pt
SILVA REGINA
Salão Internacional de Silvicultura e Caça
Brno, República Checa
31 de Março a 4 de Abril de 2012
www.bvv.cz/vetex
TECHAGRO
Salão Internacional de Maquinaria Agrícola
Brno, República Checa
31 de Março a 4 de Abril de 2012
www.bvv.cz/vetex
NATURAL & ORGANIC PRODUCTS EUROPE
Feira de Produtos Naturais e Biológicos da Europa
Londres, Inglaterra
1e2 de Abril de 2012
www.naturalproducts. co.uk
IV COLÓQUIO NACIONAL DA PRODUÇÃO DE PEQUENOS FRUTOS
Colóquio Nacional da Produção de Pequenos Frutos, com o tema central “Sustentabilidade e Competitividade para Exportação”
Faro, Portugal
20 e 21 de Abril de 2012
www.aphorticultura.pt/ IVCNPPF
29.a OVIBEJA
Feira dedicada aos ovinos, com o tema “+ PRODUÇÃO”
Beja, Portugal
27 de Abril a 1 de Maio de 2012
http://www.ovibeja.com/
I CONGRESSO INTERNACIONAL DE PRODUTOS TRADICIONAIS
Congresso Internacional de Produtos Tradicionais
Ponte de Lima, Portugal
3a5 de Maio de 2012
http://traditionalfood congress.ipvc.pt/pt/ node/15
AGRITECH
18.a Feira Internacional Agrícola
Telavive, Israel
15 a 17 de Maio de 2012
THE INTERNATIONAL CIPA CONFERENCE 2012
“Plasticulture for a Green Planet” Conferência sobre a indústria dos plásticos na agricultura
Telavive, Israel
15 a 17 de Maio de 2012
EXPOCANNABIS SUR 2012
Fórum de Cânhamo e de Tecnologias Alternativas
Málaga, Espanha
18 a 20 de Maio de 2012
www.expocannabisur.com
BIO BRAZIL FAIR
7.a Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia
São Paulo, Brasil
24 a 27 de Maio de 2012
www.biobrazilfair.com.br
Feira Nacional de Agricultura / Feira do Ribatejo
Feira Nacional de Agricultura, com o tema central “Os Biocombustíveis”
Santarém, Portugal
2 a 10 de Junho de 2012
www.cnema.pt
www.targikielce.pl
www2.kenes.com/ agritech2012/Pages/ Home.aspx www2.kenes.com/ agritech2012/Pages/ Home.aspx
DATAS
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As datas previstas podem sofrer alterações sem aviso prévio do promotor da feira. Consulte o site oficial do promotor
ESTANTE
€22,50
€25,00
Autores: Ana Cristina Rodrigues, Ana Isabel Ferraz Editora: Publindústria Ano de edição: 2011 ISBN: 9789728953812 Número de páginas: 282 Idioma: Português
€6,60
Autores: C. García Romero Editora: Ed. Agrícola Ano de edição: 2008 ISBN: 9788485441952 Número de páginas: 56 Idioma: Espanhol
(desconto de 10%: 22,50 euros)
BIOTECNOLOGIA - AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O conceito de desenvolvimento sustentável refere-se à capacidade dos produtores e industriais dotarem a sociedade actual de bens e serviços que satisfaçam as suas necessidades, sem que fique comprometida a satisfação das necessidades das gerações futuras. Especificamente, o desenvolvimento sustentável tem como objectivos a redução da taxa de utilização dos recursos naturais, o controlo da poluição e a disponibilização de produtos, como bens alimentares, em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades da população. As aplicações da biotecnologia, nas suas diferentes áreas de intervenção podem contribuir para a promoção da eco-eficiência, quer no sector primário, na medida em que possibilitam o aumento da produtividade através do desenvolvimento de espécies vegetais resistentes a secas ou pragas e do melhoramento genético de raças animais, quer na indústria, optimizando e potenciando tecnologias inovadoras mediante a aplicação de processos de conversão biológicos que contribuam, não só para a redução do consumo de matérias-primas e energia, mas também para a valorização de subprodutos.
€15,90
Autores: João P. Carvalho, Vários Editora: UTAD Ano de edição: 2005 ISBN: 9726696240 Número de páginas: 206 Idioma: Português
GUÍA PRÁCTICA DE GANADERÍA ECOLÓGICA A agricultura biológica em Espanha tem tido um crescente desenvolvimento nos últimos anos. Actualmente, estão confirmadas através dos censos mais de 3.000 quintas pecuárias ecológicas. Esta é uma óptima alternativa para o desenvolvimento rural que tem como objectivos: a) preservar a pecuária tradicional que está enraízada em povoações espanholas; b) contribuir para a conservação de áreas naturais e melhorar os recursos locais com a biodiversidade; c) melhorar a competitividade do sistema para promover o consumo de alimentos de alta qualidade diferenciada e com segurança alimentar; d) dignificar a pecuária enquanto sector profissional, aumentando a demografia rural e consolidando os recursos das famílias rurais. Este Guia Prático de Pecuária Ecológica tem como objectivo mostrar, do ponto de vista técnico, todas as operações básicas necessárias para desenvolver de forma sustentável a criação na agricultura biológica, com uma gestão integrada de planos de saúde a partir da fácil aplicação, e com base na prevenção, controle e uso de terapias alternativas nas principais práticas agrícolas e pecuárias, de modo a garantir a saúde animal e o bem-estar do rebanho.
€13,59
Autores: José Pinto e Ricardo Neves Editora: Publindústria Ano de edição: 2010 ISBN: 9789728953560 Número de páginas: 177 Idioma: Português
€15,10
(desconto de 10%: 13,59 euros)
O CARVALHO NEGRAL O presente livro procura, por um lado, dar a conhecer a importância dos carvalhais, o seu valor natural, económico, social e, por outro lado, fornecer alguns elementos para a sua gestão nas suas múltiplas funções e usos. Reunindo diversas especialidades, abrange variados temas amplamente ilustrados. Procura dar uma visão da posição geral dos carvalhais no meio natural e no espaço biogeográfico, das componentes biótica e abiótica do ecossistema, das suas funções e formas de aproveitamento, e dos modos de gestão dos mesmos para diferentes finalidades. Dirige-se a todos os que, de um modo ou outro, mostram interesse e curiosidade sobre os carvalhais, e reconhecem a sua importância. Distina-se a produtores florestais, ecologistas, silvicultores, industriais da madeira, engenheiros civis, arquitectos, e ao público geral.
HACCP: ANÁLISE DE RISCOS NO PROCESSAMENTO ALIMENTAR – 2.a EDIÇÃO Este livro pretende proporcionar uma visão abrangente do conceito HACCP e qual o seu campo de aplicação. Ao longo do texto é dada a conhecer a evolução histórica do HACCP e as suas primeiras aplicações. Diversas informações são facultadas quanto às directrizes de desenvolvimento de um sistema efectivo, complementadas por material legislativo e normativo bem como por diversas aplicações bem sucedidas na prática. De salientar a abordagem do contexto do HACCP na norma ISO 22000, construindo-se um breve encadeamento entre os dois conceitos e analisando-se as vantagens a nível internacional desta relação. Proporciona-se ainda a análise de um caso prático que pretende oferecer, de uma forma simples e acessível, conhecimentos de diversos conceitos HACCP, como os seus ré-requisitos, inseridos num contexto totalmente prático e objectivo.
todos os livros estão à venda em www.engebook.com AGROTEC / MARÇO 2012
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OPINIÃO
A horta
do mundo >
T
oda a vida pensei em ser merceeiro e agricultor. E ao fim de 48 anos, ainda com mais razão, e com muita pena de ter escolhido o caminho errado. Numa das pouquíssimas coisas que aprendi na faculdade, David Ricardo explicava no modelo das vantagens comparativas, que numa economia de dois países, mesmo que o país A produza mais competitivamente os bens X e Y do que o país B, este sistema de dois países ganha no seu todo se o país A se especializar na produção do bem em que comparativamente (com o outro bem) é mais competitivo do que o outro. Assim A produzirá X e B o bem Y. E no meio de tanta desorientação, tanta falta de rumo e liderança que nos conduzisse a um melhor futuro, nunca entendi porque nunca o poder político percebeu isto. Porque insistimos espalhafatosa e ridiculamente nos clusters cien-
“
TRANSFORMEMOS PORTUGAL NA HORTA DO MUNDO. E ASSIM TEREMOS UM FUTURO.
tíficos de todas as espécies menos no agrícola. Porque apostámos no software e células estaminais em vez do queijo da serra, framboesas e polpa de fruta. Que mentes peregrinas julgavam podermos competir nas nossas universidades e laboratórios, com um mínimo de escala e impacto mundial, com unidades internacionais quando os nossos fecham às 5 da tarde, fazem greve, não têm fundos para compra de pipetas, advogados de patentes ou qualquer ecossistema científico. Por outro lado há coisas que sabemos e sabemos fazer. Sabemos fazer sardinhas de conserva, competitivamente, e fazê-las apreciadas nos melhores restaurantes e revistas do mundo. Sabemos fazer vinhos, pão, queijo, azeitonas e azeite, polpa de tomate, frutos vermelhos, legumes de sonho. E aqui sim temos vantagens competitivas. Não pelos custos de produção, mas pela capacidade de diferenciação que significa um premium no valor a pagar pelo consumidor. Temos solos fabulosos, rios não poluídos, uma inclinação e duração solar únicas, métodos de produção artesanal incopiáveis. Somos os artesãos, melhor, os joalheiros da boa comida, dos frutos da terra e do mar! E enquanto engenheiros informáticos são produzidos ao pontapé em todo o mundo ao preço da uva mijona o Sr. Joaquim do Queijo da Minha Serra é incopiável.
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Mas não é só pelas vantagens comparativas que devemos apostar na horta do mundo. É também porque as pessoas das sociedades ocidentais, fartas da urbe, procuram o regresso à terra, ao campo e animais, aos produtos orgânicos, à artesanalidade alimentar. É porque hoje são tecnicamente conhecidos os benefícios da dieta mediterrânica, sobre quase todas as outras. É porque o envelhecimento da população traz-nos um potencial de turismo ecológico/agrário/enólogo completamente por explorar. É porque os preços dos bens alimentares não param de aumentar nos mercados mundiais, bem mais que os inputs da tecnologia. É porque a loucura da restauração de luxo faz com que vá o peixe do Per Se, um dos melhores restaurantes do mundo em Nova Iorque, de avião, todos os dias das nossas lotas portuguesas para o outro lado do Atlântico.
”
Isto parece-me tão óbvio. Mas eu sempre tive uma maneira agrícola de pensar. Fazer muito bem as coisas simples e boas da vida. Acrescentar-lhes um valor de marca e design. Conseguir mercados internacionais. Mas vivemos rodeados de decisores que querem queimar etapas para uma impossível transformação do nosso país numa potência tecnológica. Que querem produtos da moda, como Magalhães, para aparecerem nas revistas e meios internacionais. Que querem vender um país fantasioso, que não é o nosso. Perdendo tempo. Deixo isto claro. Mesmo no mundo conectado de hoje, nunca sairá de nenhum laboratório português nenhuma inovação mundial tão relevante e impactante como teve o Vinho do Porto na "venda" de Portugal. Já sem falar do impacto científico, escalável na produção e spillovers nacionais. Transformemos Portugal na horta do mundo. E assim teremos um futuro
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MANUEL FORJAZ Empreendedor CEO - Ideiateca Consultores TEDxOPorto Host Professor Auxiliar Convidado Nova SBE