COLMEIA Revista de Comunicação e Sustentabilidade da ESPM Rio, nº 2 – 2021.1
De quem é a responsabilidade? A autorresponsabilidade ambiental como estratégia para o enfrentamento climático.
Colagem: do lixo à arte
Como a artista e empreendedora Bettina Muniz transformou lixo em arte sustentável.
A história de Rosana Mendes: Mulher negra, professora, mãe e voluntária na comunidade do Cantagalo.
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AGRADECIMENTOS A equipe da revista COLMEIA gostaria de agradecer a todas as pessoas, empresas e ONGs que contribuíram no enriquecimento das aulas e do conteúdo apresentado nessa edição. Apresentar as iniciativas e projetos sócio ambientais em seus diversos aspectos, tendo como meta os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, é um dos objetivos dessa publicação.
ODS: Conceito, casos e projetos. Luisa Wanderley
ATIPICA: Marcas com DNA. Luiza Mendonça
AIESEC: Um convite a ação global. Natacha Pinto e Isabelle Carvalho
Negócios Colaborativos: Parceria Schöpf Papier e Mancha Orgânica. Sebastian Bieberle e Amon Costa
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HARMONICANTO: Inclusão e cidadania por meio da música. Cássia Oliveira e Rosana Mendes
GENEROSAMENTE: Educação Socioemocional
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EU AJUDO COM DÁ: Quando nos unimos somos incríveis! Jasmyn Angel
AMBEV: Sustentabilidade Empresarial Giordana Flôr
REVOLUSOLAR: Promovendo o Desenvolvimento Sustentável de comunidades através da Energia Solar. Eduardo Avila
CLEANUP THE WORLD: Ações locais para um mundo melhor. Anna Turano e Hildon Carrapito
RESERVA 1P5P: Projeto que ajuda quem tem fome no Brasil. Diego Portugal
MUDANÇAS CLIMÁTICAS: Políticas e projetos para enfrentar a crise climática. Guilherme Costa
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OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Estes são os objetivos para os quais as Nações Unidas estão contribuindo a fim de que possamos atingir a Agenda 2030 no Brasil.
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Fonte: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em 03 de junho de 2021.
EDITORIAL Quem é responsável? O enfrentamento da crise climática é um dos tópicos mais importantes a serem discutidos na contemporaneidade. No entanto, aprendemos a apontar dedos a governos, a empresas e instituições que ainda não despertaram para a crise climática a qual nos encontramos. Da celebridade ao vizinho, o outro é imediatamente cancelado quando sua consciência climática ainda não se desenvolveu, quando suas atitudes não são guiadas pelo respeito e cuidado da esfera socioambiental. Mas o que podemos dizer de nós? A autorresponsabilidade se apresenta nessa edição como uma medida iniciadora e fundamental para a manifestação da consciência socioambiental em nossas vidas. Olhar para si, observar nossos próprios comportamentos e sentimentos em relação à forma como lidamos com o meio ambiente se torna uma das principais ferramentas para que o enfrentamento climático ocorra. É tomando a responsabilidade para si que escolhemos melhor nossos governantes, que direcionamos nosso consumo para empresas igualmente responsáveis, que reconhecemos as instituições efetivamente comprometidas com o futuro da humanidade e do planeta. Observar e criticar a própria produção de “lixo”, visualizar as oportunidades para a mudança de comportamento no dia a dia e promover a consciência sobre a crise climática são alguns dos exercícios propostos nessa edição. Boa leitura! Beatriz Russo Rodrigues Fernando Borges de Castro Guilherme Borges da Costa Lilyan Guimarães Berlim
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EQUIPE COLMEIA Expediente ESPM - Rio Laboratório de Pesquisa em Mudanças Climáticas e Práticas Sustentáveis – RE_LAB (@relab_espm) Rua do Rosário, 90 – Centro Rio de Janeiro – RJ CEP 20041-002 Brasil Editorial Beatriz Russo Rodrigues beatriz.russo@espm.br Fernando Borges de Castro fcastro@espm.br Guilherme Borges da Costa guilherme.costa@espm.br Lilyan Guimarães Berlim lilyan.berlim@espm.br Luisa Wanderley luisa.wanderley16@gmail.com
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Matérias Ana Carolina Tolentino actcc03@gmail.com @anaa.tolentino Bárbara Beatriz Camello barbarabcamello@gmail.com @barbarabeatrizsc Beatriz Aguiar baguiar.magalhaes@gmail.com @beatriz_aguiar Carolina Casaes carolina_fcs@hotmail.com @carolinacasaes_ Davi Barbosa davibbarbbosa@gmail.com @barbosadavi Diana Campos camposkdiana@gmail.com @dianakcam Felipe Nobre felipenobre99@gmail.com @felipe_cnobre Isabel Barcellos isabelcsbarcellos@gmail.com @barcellosbe Isabelle Costa isabellexaviercostacontato@gmail.com @bellexcosta
Matérias João Pedro Scofano scofanojoao@gmail.com @jpscofano Juliana Anjos jolianjos@gmail.com @julianadanjos Lucas Braga lucasbragamazzini@hotmail.com @mlkcalsu Maria Eduarda Volta mariaeduarda.volta@gmail.com @dudavolta Maria Eduarda Guimaraes mevguim@gmail.com @mevguim Raul Moreira raul.moreiraneto98@gmail.com @rm_nit Renan Adnet radnet94@gmail.com @renanadnet Roberta Sampaio robertasampaios@hotmail.com @_robertasampaio Tayssa Zaparolli tataiy@hotmail.com @tayssazaparolli Vitor Vita vita.vitor18@gmail.com @vitorvita Yasmim Ribeiro yasmim.jornalismo@gmail.com @yasmimrsantos Yuri Lima Murta yurimurta96@gmail.com @yuri_murta
Infográficos "Minimalismo" Barbara Cunha barabrascunha@gmail.com @barbarastcunha Mariana Mo marianamong@hotmail.com "Dicas para uma Casa Próspera" Fernanda Andrade @fosforoquebrado Luisa Matos @demat0s Rodrigo Cordeiro @orodrigocordeiro
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"Fast Fashion" Giovanna Cezar @itsgiooow Giulia Velasco @velascw Paula Wilmersdorfer @pwilmers
Campanhas Caio Barros Clara Motta Guilherme Rezende Isabela Lima Diagramação: Barbara Cunha barbaracunha@outlook.com Capa e ilustrações: Giovanna Cezar gi.cezar14@gmail.com
Publicidade: Mídia kit: https://issuu.com/revista_colmeia/ docs/midiakit_colmeia. A revista COLMEIA é um projeto integrado do Laboratório de Pesquisa em Mudanças Climáticas e Práticas Sustentáveis – RE_LAB com a participação dos alunos dos cursos de Jornalismo, Design Gráfico e Publicidade e Propaganda da ESPM Rio. Versão digital disponível em: https://issuu.com/revista_colmeia/docs/revistacolmeia_2aedicao. Portal COLMEIA: https://issuu.com/revista_ colmeia. 10
Pedro Moura Manuela Conolly Debora Paradela Fernando Salgueiro Maria Eduarda Parreiras Roberto Leta Thayane Daudt Vanessa Meirelles Janaína Lourival Julia Crespo Raquel Guimarães Rodrigo Lois Rodrigo Braga Michel Zalcman Paulo Pellon Rafaael Viola Rodrigo Milman Rodrigo Tarcsay Stephanie Nader
SUMÁRIO O Poder que vem das Emoções
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Minimalismo
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Revolusolar: a revolução energética nas favelas do Rio
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De desabrigado à maior doador de pratos de comida: conheça a trajetória de Diego Portugal
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Colagem: do lixo à arte
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Dicas para uma Casa Próspera Os impactos da separação do lixo no meio ambiente
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Harmonicanto: sinônimo de desenvolvimento infantil
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Sustentabilidade e Desenvolvimento na Era da Tecnologia
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Rosana Mendes
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Entendendo a Superfície com profundidade: consumo e design
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O Mercado Promissor dos Cosméticos Naturais
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Veganismo e o meio ambiente: entenda como a mudança para as questões ambientais começa pelo prato
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Água AMA: como os ODS impactam na prática
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Nadando em direção à sustentabilidade
Toda ajuda é bem-vinda
A Luta Pelo Básico Saneamento Salvando Vidas
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O Menino Que Descobriu o Vento (ÁGUA)
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Terra, planeta água?
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Sonhar junto é sonhar mais longe
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Fast Fashion
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Mulheres e o mercado de trabalho
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A importância da gestão adequada de tintas para a preservação do meio ambiente
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"Lava uma mão": sucesso dos anos 2000 ou incentivo ao desperdício?
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CARTA AOS LEITORES FELIPE NOBRE E CAROLINA CASAES
A COLMEIA. Substantivo feminino que designa o lugar onde as abelhas se desenvolvem e produzem seu mel. Mas, na realidade, é muito mais complexo do que simplesmente isso. Dentro da Colmeia, as abelhas são muito organizadas e cada uma tem o seu papel. Com muito mais fêmeas do que machos, as abelhas são divididas entre masculinas e femininas pela proporção áurea ou número de ouro. Existem as operárias e a rainha, e tudo isso para que a organização seja eficaz e elas consigam produzir seu mel e proteger a progenitora. A Colmeia é um sistema vivo de colaboração e sustentabilidade. E assim, nós da ESPM Rio, buscamos nos espelhar para trazer histórias e pessoas que ajudam a cumprir todas as metas dos ODS da ONU em busca de um mundo melhor. OS OBJETIVOS de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são um apelo universal feito pela Organização das Nações Unidas e nasceram na Conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, Rio 2012. Eles têm o objetivo de suprir os desafios ambientais, políticos e econômicos mais urgentes do planeta. Os ODS são divididos em 17, sendo eles: Erradicação da pobreza; Fome zero e agricultura sustentável; Saúde e bem-estar; Educação de qualidade; Igualdade de gênero; Água limpa e saneamento; Energia limpa e acessível; Trabalho de decente e crescimento econômico; Inovação infraestrutura; Redução das desigualdades; Consumo e produção responsáveis; Ação contra a mudança global do clima; Vida na água; Vida terrestre; Paz, justiça e instituições eficazes; Parcerias e meios de implementação. A EQUIPE responsável pela realização desta revista funcionou durante esses meses como um enxame, se organizando e trabalhando juntos, cada um com sua função, em prol do nosso precioso mel: as matérias prontas. Fomos juntos polinizando cada etapa da criação, superando qualquer ferroada e procurando manter uma visão 280º, que nos permitiu cultivar um olhar amplo para temas variados, mas sempre dentro do nosso grande favo que é a sustentabilidade. Cada uma das peças operárias foi fundamental para que chegássemos ao resultado mais satisfatório, digno do orgulho de qualquer abelha rainha. Desejamos a todos uma doce e deliciosa leitura.
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POLINIZANDO
O poder que vem das emoções O projeto GenerosaMente, criado por estudantes da Puc-Rio, vem aplicando ações e dinâmicas que ajudam na educação socioemocional de crianças e pessoas com diferentes idades. JOÃO SCOFANO E VITOR VITA
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Criado por estudantes de psicologia da PUC-Rio, o projeto GenerosaMente apresenta um suporte emocional que atende desde crianças até pessoas de idades mais avançadas, presentes em pré-vestibulares e que pertencem a outras instituições parceiras. No início do projeto, em 2018, a atuação demonstrou desde os primeiros passos uma preocupação maior no âmbito de educação emocional e uma atenção no cuidado das relações que as crianças teriam dentro e fora da escola, e foi desta preocupação que Rodrigo, um dos fundadores do projeto afirma: “Nós começamos em 2018 em uma escola na Cidade de Deus, mas acabamos percebendo que precisaríamos de uma metodologia e de uma equipe mais estruturada para formalizar nosso projeto.” Já no ano de 2019 o projeto tomou mais força, conseguiu angariar novos membros e formalizar sua metodologia, no qual envolvia levar educação socioemocional para crianças e estudantes de escolas públicas, porém também trabalhando outras instituições que se adaptassem às dinâmicas propostas. As etapas relacionadas para uma melhor aplicação das ações foram: 1) Estreitar os laços, já que é preciso ter confiança e um ambiente seguro para a efetividade do trabalho; 2) A questão das emoções, é necessário trabalhar o reconhecimento das emoções e o melhor jeito de expressá-las; 3) As questões sociais, que são amplamente discutidas em nível de racismo, preconceito e vivências que os participantes podem ter no mundo real. Todas as dinâmicas e metodologias foram baseadas em Paul Ekman, psicólogo e estudioso norte americano, e
no estudo CEB, um curso promovido pelo professor Duda Nascimento, que tem o trabalho das emoções aliado a meditação circular. Outro fator importante para o projeto é relacionado ao objetivo de todas as atividades serem em grupo, justamente para criar esse espaço de confiança e um ambiente que todos possam se sentir mais confortáveis. Atualmente o GenerosaMente percebe também a importância de chegar em mais lugares, em parcerias que visam a ampliação e auxílio aos seus participantes, como: A escola municipal Joaquim Fontes, localizada na Cidade de Deus, outra escola localizada no Cantagalo, em um pré-vestibular da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e uma casa de apoio, localizada em Vargem Grande. Todas essas parcerias visam a aplicação da metodologia juntamente com dinâmicas adaptadas para cada público. O GenerosaMente também trabalha baseado nas ODS fornecidas e estabelecidas pela ONU, no qual dentre diversas aprofundadas, trabalha com foco na ODS 4, que é relacionada à educação inclusiva. A organização acredita que a atuação em escolas e em casas de saúde promove uma melhor equalização social aos estudantes e também uma preparação emocional, que possa ajudar em sua expressão e relações sociais. Segundo Nina Mello, integrante do projeto, essas diretrizes levam a uma igualdade: “Todas as nossas dinâmicas são inclusivas e também buscamos um tratamento igual a todos, assim nos aproximamos dos ODS e aplicamos nossa metodologia.”
Em um estudo fornecido pelo Google em parceria com o jornal Estadão, houve a percepção que no ano de 2020 os dados apontam um aumento de 98% nas buscas relacionadas aos cuidados e transtornos mentais em comparação às buscas de 10 anos anteriores. A preocupação com a saúde mental foi intensificada pela pandemia e somada ao cuidado com a educação de qualidade, por isso o projeto GenerosaMente continua aplicando suas ações mesmo a distância ou de forma presencial seguindo os protocolos de segurança. Cada vez mais o projeto segue auxiliando e procurando novas formas de exercer sua preparação socioemocional em crianças e pessoas de diferentes idades. Sua presença em meios digitais também se tornou fonte de auxílio e divulgação, chegando em muitos lugares através de vídeos e posts em redes sociais, como em sua respectiva conta do Instagram, @projetogenerosamente. Por isso, confira as ações do projeto nas redes e acompanhe para sempre estar atualizado sobre as novas ações.
Projeto atuando na preparação socioemocional nas escolas do Rio de Janeiro.
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Harmonicanto: sinônimo de desenvolvimento infantil
De reforço escolar a aulas de música, essa ONG trabalha para gerar mudanças na vida dos assistidos
BÁRBARA BEATRIZ CAMELLO, ISABEL BARCELLOS, RAUL MOREIRA E YASMIM RIBEIRO Integração, cognição e cidadania, palavras pontuais que marcam a trajetória da ONG Harmonicanto, projeto social carioca que trabalha com a transformação e o incentivo de jovens da periferia da cidade. Com base na comunidade do Cantagalo, localizada no bairro de Ipanema, a instituição ajuda crianças e adolescentes entre sete e 14 anos, com foco na implementação de oficinas capazes de construir a mentalidade musical, cidadã e auxiliar na compreensão de conteúdos escolares. Contudo, não foi desde seus primeiros passos que a iniciativa conseguiu abranger tantas áreas de atuação. Fundada no dia 1º de novembro de 1999, a ONG Harmonicanto era, inicialmente, um projeto de extensão do colégio Notre Dame, com foco na musicalização de crianças residentes no Cantagalo. "No primeiro dia eu subi a comunidade com a freira e 60 crianças me esperavam dentro da igreja. Eu senti uma emoção tão grande, que sabia que tinha encontrado o meu lugar", conta Cássia Oliveira, diretora da ONG. Formada em música e atuando sozinha, Cássia não tinha estrutura para propor à escola à qual era vinculada o crescimento do projeto. No entanto, em poucos meses a situação sofreu sua primeira mudança. Foi no início de 2000 que Rosana Mendes, pedagoga e moradora do Cantagalo, chegou às portas da Harmonicanto. Com a motivação inicial de inscrever sua filha na iniciativa, ela percebeu que poderia fazer ainda mais e, desde então, se voluntariou a ajudar. Atualmente Rosana é coordenadora pedagógica da ONG. A trilha que levou ao crescimento dessa instituição para o molde no qual se encontra hoje não foi fácil. Em 2006 o Colégio Notre Dame cessou com o incentivo às atividades e, "do nada", Cássia e Rosana perceberam a necessidade de buscar diferentes maneiras para que houvesse a manutenção do trabalho realizado na comunidade. Assim, foram iniciadas
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campanhas para a arrecadação de doações, iniciativas que duram até hoje, 15 anos depois. Sem patrocínio, conservar as dinâmicas que transformam aos poucos as crianças que contam com o projeto torna-se algo custoso, que se preserva, principalmente, por meio de parcerias. São estas empresas e projetos parceiros que conseguem garantir que o Harmonicanto produza a seus alunos uma visão 360º do ambiente em que vivem e da sociedade na qual estão inseridos. todas as partes da ONG são interligadas e, em conjunto, auxiliam na formação cognitiva dos assistidos, atitude que produz resultados palpáveis: das 904 crianças já atendidas pela instituição, 99% possuem o diploma de conclusão do Ensino Médio. “A gente frisa muito a importância dos alunos no ambiente em que estão inseridos, como agentes transformadores e multiplicadores”, explica Rosana. A coordenadora pedagógica, contudo, vê no projeto influência direta da Covid-19: “A gente tinha 25 alunos, mas com a pandemia tivemos que migrar para o digital e alguns não têm acesso à internet em casa, ou mesmo um ambiente que permita a disciplina necessária para realização das oficinas”. A necessidade do compromisso da ONG com o incentivo à educação torna-se diferencial neste cenário, no qual as lacunas no aprendizado escolar ficam ainda mais profundas. “A gente começou com o reforço tentando preencher esses espaços que ficam abertos com algumas matérias do colégio, mas hoje, vemos a necessidade de apagar incêndios. Há por exemplo pessoas que chegam ao meio do Ensino Fundamental I ainda semianalfabetas”, comenta Rosana.
Locais disponíveis para doações. Foto: Acervo da ONG
Cássia auxilia projeto de leitura. Foto: Acervo da ONG
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Painel de leitura na ONG. Foto: Acervo da ONG
Além do auxílio por meio das aulas de reforço, a música, outro pilar do projeto, não fica em segundo lugar no quesito de importância. Cássia, que é responsável pela área, garante que esta se encontra diretamente ligada à concentração e disciplina dos estudantes. “Se você não estiver concentrado para fechar os simples orifícios da flauta doce você não consegue tocar”, conta dando de exemplo o instrumento utilizado no primeiro nível de aprendizado dos alunos da ONG. Mais um dos efeitos positivos trazidos pela maturidade musical gerada nos estudantes com o projeto é a criação de um senso de autoestima. “Hoje nós já realizamos mais de 360 apresentações, desde praças públicas até congressos internacionais, isso permite que as crianças conheçam lugares e culturas diferentes e precisem exercitar a postura”, conta a diretora da instituição. Apesar de Cássia defender veementemente a ligação entre a musicalidade e o aproveitamento nos estudos, quem se inscreve hoje como estudante do Harmonicanto tem a opção de participar das atividades da orquestra ou focar apenas no programa de reforço, o Harmonia Carioca. A missão carregada pelo Harmonicanto não se resume, contudo, ao aprendizado técnico de seus alunos. Ela leva em
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conta também a sensibilização dos familiares destes como mais um passo essencial na busca da criação de ambientes sadios para o desenvolvimento infantil. Uma maneira de auxiliar estes grupos é com a doação de cestas básicas. Durante o último ano, a importância desta área do projeto para a redução da fome ganhou tanto destaque que, em 2021, os voluntários conseguem não só ajudar às famílias de alunos, mas também a grupos carentes da comunidade do Cantagalo. Ainda como forma de reduzir as desigualdades e criar espaços de aprendizado sobre o convívio social para os alunos assistidos, a ONG Harmonicanto garante rodas de conversa sobre cidadania e a importância do trabalho comunitário para que haja desenvolvimento na esfera local. Esta prática consegue influenciar diretamente os envolvidos, uma vez que muitos destes voltam anos depois para auxiliar como voluntários da instituição ou, até mesmo, abrem suas próprias ONGs. Um exemplo deste segundo caso é o de uma das ex-alunas do projeto que, presente nas atividades da ONG quando ainda era criança, hoje, com 18 anos, trabalha como missionária e
Apresentação. Foto: Acervo da ONG
Distribuição de cestas orgânicas. Foto: Acervo da ONG
abriu um espaço para ministrar aulas de dança na comunidade da Rocinha. “Outro dia a gente conversou e eu perguntei se ela lembrava do Harmonicanto, ela me disse que lembrava das aulas de música e das vezes que saíamos para vender trufas em grupo”, conta Cássia. Funcionando como vetor para o desenvolvimento individual, a ONG busca, ainda, em conjunto com o projeto GenerosaMente, iniciar oficinas para o desenvolvimento da inteligência emocional de seus alunos. Assim, seguindo em um caminho por vezes tortuoso, ela se ergue como exemplo de projeto que contribui para a redução da pobreza e das desigualdades em cenário local, preparando cidadãos dispostos a disseminar conhecimento e informação em nível regional e, até mesmo, global.
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Minimalismo Por: Barbara Cunha e Mariana Mo
Atualmente, com a força das redes sociais e outras mídias, o consumo é cada vez mais estimulado. A aquisição exagerada de bens impacta o meio ambiente, causando danos cada vez mais difíceis de serem revertidos. O movimento minimalista busca um estilo de vida consciente se desfazendo do excesso de bens, entendendo que a felicidade não está no consumo material. A seguir, entenda porque temos que reduzir o consumo ao mínimo necessário para ajudar o planeta:
1,6 é o número de planetas que seria necessário para manter o padrão de consumo atual no Brasil, segundo a Global Footprint Network.Quanto maior o consumo de uma pessoa, maior é a sua pegada ecológica no mundo.
3 é o número de planetas Terra que precisaríamos, se todo a população consumisse como um alemão médio.
5 é o número de planetas Terra que precisaríamos, se o mundo consumisse igual um estadunidense médio.
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Tenha um consumo consciente e não consuma de forma impulsiva
Desfaça dos seus acúmulos de forma responsável, passando adiante ou vendendo para locais como brechós e sebos
Um pequeno impacto na sua vida que faz toda a diferença Algumas dicas para você alcançar uma vida mais minimalista
Tenha refeições de qualidade com foco em alimentos mais orgânicos
Tenha um armário cápsula com peças-chave e duráveis.
Viva em casas menores com cômodos funcionais, com menores custos de moradia e sem espaço para acúmulos desnecessários
Global Footprint Network | World Wide Fund for Nature | Minimalismo Já, 2021 | Mente Minimalista, 2020 | Minimalism, A Documentary About Important Things, 2016
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FAVO
Revolusolar: a revolução energética nas favelas do Rio CAROLINA CASAES, MARIA EDUARDA GUIMARÃES, MARIA EDUARDA VOLTA E YURI MURTA
A Revolusolar é uma ONG que tem por objetivo promover o Desenvolvimento Sustentável em comunidades de baixa renda através da Energia Solar. Criada em 2015, hoje atua nas favelas da Babilônia e Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro. Com a visão do desenvolvimento sustentável, a Revolusolar olha para os três pés da sustentabilidade: o ambiental, com energia limpa, o social, com o desenvolvimento das comunidades de baixa renda, geração de empregos e educação, e o econômico, oferecendo aos moradores beneficiados pelo projeto uma opção mais barata de acesso à energia. Alinhados à agenda de 2030 da Organização das Nações Unidas e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a ONG carioca já recebeu reconhecimento internacional da ONU em 2020, no prêmio Jovens Campeões da Terra na América Latina e Caribe. Adotando o lema de "pensar globalmente, agir localmente", a Revolusolar tem como foco os ODS de educação de qualidade, energia renovável e limpa, emprego digno e crescimento econômico, cidades e comunidades sustentáveis e combate às mudanças climáticas. Eduardo Ávila, um dos líderes do projeto, é economista e hoje trabalha na Diretoria Executiva da Revolusolar, em que faz a gestão do dia a dia da organização. Ele falou sobre o projeto, a questão da energia no Rio de Janeiro, a relação dos moradores com a ONG e outros assuntos em uma entrevista online para a turma de jornalismo do 7º período da ESPM-Rio. Confira a seguir as perguntas e respostas principais da entrevista:
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Como é, na prática, o acesso à energia nas favelas? Há um imaginário comum de que todo mundo na favela usa "gato" (conexões clandestinas) ou a tarifa social, um benefício do governo. No início da Revolusolar, fizemos um trabalho de campo e descobrimos que essa concepção não é realidade. A maioria da população da favela da Babilônia está regularizada e paga a conta de luz muito mais cara, proporcionalmente, do que as outras classes da cidade. 12% deles recebem o benefício da tarifa social, mas os demais 88% pagam o mesmo preço de energia elétrica do que classe média e alta. Os moradores da comunidade têm uma renda muito menor e gastam uma parte maior do orçamento familiar em energia, tendo que consumir pouco. É um preço proporcionalmente mais alto e tem pior qualidade em relação às demais áreas da cidade. Sempre que chove, cai a luz na comunidade. A assistência técnica também não é adequada. Mais do que uma insatisfação com preço e qualidade da energia, os moradores da comunidade têm um sentimento muito forte de injustiça e de impotência em mudar esse sistema. Como é o contexto econômico atual em relação à proposta da Revolusolar? O contexto econômico é super favorável. A conta de energia elétrica tem ficado cada vez mais cara no Rio de Janeiro e isso pesa no bolso das famílias. Enquanto isso, a gente vê uma nova energia sustentável que fica cada vez mais barata. Na última década, enquanto o preço da energia das casas no Rio aumentou 105%, o preço da energia solar caiu 85%, e a tendência é ficar ainda mais barata nos próximos anos. A região do Rio, em termos econômicos, é a mais
vantajosa do Brasil para instalação de energia solar. Hoje, a fonte de energia solar é a mais barata da história. Além da oportunidade de preço, há também a oportunidade de emprego: a energia solar, das fontes de energia renováveis, é a que mais gera empregos. Quais foram as conquistas da Revolusolar até hoje? A gente já fez três instalações na Babilônia, no Rio de Janeiro, que estão em operação. Elas já economizaram mais de 70 mil reais em energia para os beneficiários. A gente já formou 31 moradores também, e vai formar mais 48 agora em 2021. Inclusive as duas primeiras mulheres instaladoras de energia solar no Brasil também acabaram de completar a formação. Tem 65 crianças participando das oficinas. Por causa desse trabalho todo, a gente tem ganhado alguns reconhecimentos nesses últimos anos a nível estadual, a nível nacional e internacional também, tem sido super importante para a legitimidade do projeto. A gente quer replicar esse modelo para outras comunidades no Rio de Janeiro, no Brasil, e é um sonho até em outros países da América Latina, até 2030. Quais são os próximos passos? A nossa aposta agora é um novo modelo de instalação que estamos construindo em 2021, que é a primeira cooperativa de energia solar em favelas do Brasil. Esse projeto piloto que estamos fazendo agora já foi instalado. É um sistema de 60 placas grandes que vai abastecer cerca de 36 famílias, tanto da Babilônia, quanto da comunidade vizinha que é o Chapéu-Mangueira.
Qual a importância do projeto da primeira cooperativa de energia solar nas favelas para a área no Brasil? Se nós validarmos que esse modelo funciona, teremos uma solução viável para replicar esse modelo para outras comunidades que passam por problemas similares no acesso a energia e têm oportunidades e potencialidades similares. O que muda para os moradores? Eles economizam na conta de luz, gera emprego e muda a visão de que energia solar é só pra rico. Nós sonhamos, em 2030, que as favelas sejam polos de geração de energia limpa para o resto da cidade. Vocês fizeram um cálculo de quanto é possível gerar energia em determinados locais, como o Chapéu-Mangueira? O cálculo exato é muito caro. Além disso, em 2017, a prefeitura do Rio, percebendo esse potencial energético que tinha, fez um mapa solar da cidade que estimava quanto era possível gerar de energia em todos os telhados da cidade. No entanto, excluíram totalmente as favelas deste mapa, como se não fosse possível gerar energia solar nelas. Por conta da exclusão, não é possível fazer a conta pois o mapeamento é caro, mas temos estimativas de que, se colocasse placas em todos os telhados das comunidades, dá e ainda sobra pra vender pro resto da cidade.
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Pessoas com interesse em se voluntariar na ONG podem entrar em contato através das redes sociais.
Em relação à bateria, vocês ainda precisam importar da China, não é local. Algum lugar do Brasil produz placas solares? Hoje não temos uma política industrial forte voltada para a produção tecnológica, dessa maneira, não temos um ambiente favorável para produção industrial desses equipamentos. Então, quem produz esses equipamentos, hoje, são a Alemanha, os Estados Unidos e a China. A matéria prima é do Brasil, o silício, mas a China pega daqui, monta a placa lá e vende pra gente por 10 vezes o preço. Há um projeto chamado Fábrica Solar Social, onde eles montam as placas, mas é muito localizado e não compete. O Brasil e o Rio de Janeiro têm potencial para serem protagonistas no mundo nesse meio, mas não há política para isso. Como é a reciclabilidade das placas? O problema do descarte ainda não é uma grande questão porque isso é muito novo e as placas duram de 25 a 30 anos. Mas isso vai ser sim e já tem empresas empenhadas em encontrar a solução para isso antes que chegue a ser um problema. Tem empresas surgindo focadas na reciclagem desses módulos, então dá para fazer isso. Tem também uma experiência muito legal, da Sunew, que eles estão produzindo uma nova tecnologia de energia solar, que é o OPV, que usa menos carbono e água e produz filmes finos que já são recicláveis. Ou seja, as soluções estão sendo procuradas, mas ainda estão muito no início. Vocês economizam cerca de 10 toneladas de CO2, o que significa isso? Primeiro, como é feito esse cálculo? Um quinto da eletricidade criada no Brasil são com as usinas termoelétricas, então, elas emitem gás carbônico na geração de energia. Então, instalando as placas para energia solar, o uso das usinas é menor e consequentemente a emissão de gases também. E para ter uma noção de dimensão, as equivalências de impacto ambiental que causamos seriam: 10,4 toneladas de CO2 evitados de emissão, 41.672 km rodados por carros evitados, 42 árvores cultivadas, e 92.723 banhos.
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Em 2020 vocês realizaram uma campanha contra o Corona vírus. A Revolusolar ainda conduz essa campanha hoje em dia? O nosso foco é a energia solar, mas o que prezamos é pelo bem estar da comunidade. A maioria do pessoal que a gente ajuda são trabalhadores autônomos, e quando começou a pandemia, eles perderam parte da renda. Sim, ainda estamos conduzindo. No final de março do ano passado, nós começamos a campanha, que durou até agosto, quando pareceu que iria começar a se resolver. Recentemente as coisas pioraram, então retomamos com a ação, arrecadando dinheiro, alimentos, kits de higiene e reativamos a cozinha comunitária, que abrimos no início da pandemia. Tem sido mais difícil com as doações, porque menos pessoas estão ativas, mas nós seguimos com a campanha. Quais os pensamentos para o futuro? Chegar em 2030 sendo referência em energia solar para baixa renda na América do Sul, mas no momento temos que ter o pé no chão nos projetos de agora.
Sustentabilidade e Desenvolvimento na Era da Tecnologia YURI LIMA MURTA
De tempos em tempos o mundo acelera o seu processo de transformação e de renovação. Junto aos avanços aparecem os prejuízos ambientais e mudanças climáticas. Contudo, nos últimos anos o clima vem se tornando pauta central na política de diversos países. Os partidos “verdes”, apelido dado em referência a defesa de causas relacionadas ao meio ambiente, vem ganhando força em diversos países europeus. Nas eleições para o parlamento europeu, foram a grande força nas urnas, se tornando o segundo maior partido com cadeiras alemães, francesas e finlandesas. O avanço também internamente nos países vem chamando atenção por barrar a escalada ultranacionalista da extrema-direita. No Brasil, a principal representante política dessas causas foi Marina Silva, que conseguiu ocupar o terceiro lugar em duas eleições para presidente do país (2010 e 2014). A crise política e a polarização fizeram com que a causa perdesse força no país. Contudo, cabe destacar que os seus resultados foram os melhores de um terceiro colocado desde a redemocratização. Apesar dessa introdução falando de como as pautas climáticas vem afetando os rumos políticos no mundo, esse artigo visa falar sobre a combinação deste tema com outro fundamental para os dias de hoje: a tecnologia. O mundo atual vive na era da “Internet das coisas” e da tecnologia 5G. Uma sociedade mais conectada e automatizada. A nova revolução tecnológica visa eliminar etapas e aumentar a velocidade dos processos industriais atuais. No entanto, curiosamente, ela se difere em um ponto de todas as outras revoluções industriais da história: a preocupação e pressão pelas causas ambientalistas.
Eleição do parlamento europeu.
Os acordos criados por diversos países nas mais diversas esferas do multilateralismo em busca de um mundo mais equilibrado e justo, fizeram com que governos que anteriormente pensavam em uma industrialização e um desenvolvimento desenfreado tivessem que travar certas medidas. As Agenda 2030 e os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável são algumas das novas ações. Junto a isso, a busca por fontes de energias renováveis, barateamento de custos gerais e inovações tecnológicas vem modificando áreas que por anos foram baseadas em carvão mineral e petróleo. Por exemplo, os novos carros elétricos e a aceitação por parte da sociedade podem vir a modificar as estruturas do mercado automobilista mundial.
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ERRADICAR A POBREZA
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ENERGIAS RENOVÁVEIS E ACESSÍVEIS
AÇÃO CONTRA A MUDANÇA GLOBAL DO CLIMA
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ERRADICAR A FOME
TRABALHO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÔMICO
VIDA NA ÁGUA
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SAÚDE DE QUALIDADE
INDÚSTRIA, INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURAS
VIDA TERRESTRE
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REDUZIR AS DESIGUALDADES
PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES EFICAZES
Para a estudante de engenharia ambiental da CEFET-RJ e voluntária da ONG Revolusolar, Marina Alvarenga Villardo, a temática ambiental vem ganhando cada vez mais espaço no cenário mundial e nacional. Além dos pontos já citados anteriormente, ela aponta para uma nova tendência da área. “Um atual grande impulsionador desta temática, inclusive, são os fundos de investimento, que estão valorizando significativamente os critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) na hora de decidir em que investir” afirma Marina. O ASG (sigla em português da ESG) pode ser comparados como as ODS da ONU para o setor privado. Ele é um tipo de selo de qualidade da empresa, com ele pode definir como ela se comporta em relação a sociedade e ao planeta. A procura das empresas por esse selo se tornou uma pressão velada para que elas consigam diminuir suas ações prejudiciais ao meio ambiente, acelerando a procura por outras formas de trabalho. Devido a essa pressão, juntamente com outros fatores externos, hoje podemos observar uma grande oportunidade de expansão das alternativas mais sustentáveis. É o caso, por exemplo, da energia solar, que desde 1970 até os dias atuais já teve seu preço reduzido mais de 250 vezes, se consagrando como a fonte de energia mais barata da história.” Conclui a estudante da CEFET-Rio sobre o tema. A pauta da energia solar é discutida no Brasil como uma via viável e extremamente eficiente de matriz energética para o país desde os anos 1990. Contudo, poucos foram os avanços para colocar o Brasil entre os líderes no setor. Para Janks Karbdala Leal de Paiva, estudante de Engenharia Ambiental e assistente administrativo da Nova Transportadora
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EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
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IGUALDADE DE GÊNERO
CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS
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ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO
PRODUÇÃO E CONSUMO RESPONSÁVEIS
PARCERIAS E MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO
do Sudeste – NTS, três fatores são essenciais para mudar essa situação vivida no país. São elas: ação política, acesso das informações para todos e investimento em pesquisas. “Acredito que a vontade política seja o primeiro lugar, pois o planejamento muitas das vezes já existe, mas não é divulgado. As divulgações das informações para a grande maioria da população é uma alternativa muito boa, ou seja, fazer o povo conhecer mais sobre as riquezas e as fontes que o Brasil tem potencial e que pode se destacar, quais são mais poluentes que as outras e se tem eficiência ou não” concluiu Janks. Curiosamente, o setor de energia solar é um dos que a busca por informação e investimentos em pesquisas ajudaram no crescimento do setor. De fato, a pouca participação governamental e o desinteresse das grandes empresas nacionais do setor energético dificultam a busca por um lugar entre as principais nações dominantes desse mercado. Apesar disso, Marina Alvarenga Villardo aponta para um fato que pode modificar a visão energética do país. “No Brasil, durante o ano de 2020 a geração de energia solar fotovoltaica dobrou sua capacidade instalada. Neste mesmo ano, de acordo com a Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), o Brasil assumiu a 16ª posição no ranking mundial de energia solar, o que só comprova a enorme oportunidade de crescimento dessa alternativa.” afirma Marina. Essa velocidade no desenvolvimento brasileiro comprova a força e o potencial que o país tem no setor. Além disso, apontam para a possibilidade da nova alternativa de energia se tornar mais comum no país. Cabe ressaltar, que a
maioria da energia que abastece o Brasil hoje são advindas das grandes hidroelétricas. Uma modificação no setor, ajudaria e muito o país na agenda 2030 da ONU, melhorando as ODS 7 (Energia Acessível e Limpa), 11(Cidades e Comunidades Sustentáveis) e outras. Outro objetivo do desenvolvimento sustentável que relaciona a tecnologia com a sustentabilidade é a ODS 9 que trata de construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Uma ação muito famosa de uma empresa privada que pode ser associada a essa foram os tênis de produtos recicláveis da Adidas. Apesar da ação de resgate de lixo dos mares e a confecção de um material do dia a dia, o valor alto do produto não tornou algo plausível e acessível a todos. O mundo se lança para os avanços tecnológicos, mas seguem de olho nas inovações e nas causas ambientais. O apelo popular em grandes países assegura que isso não seja algo passageiro. Janks Karbdala Leal de Paiva acredita no avanço conjunto dos temas mas demonstrar um ponto crucial para que isso ocorra.
“Eu acredito que tem como ser sustentável com o avanço tecnológico, no entanto, tem que investir em educação, pesquisa e laboratórios de ponta para que possam ser desenvolvidas essas novas alternativas e soluções com custo-benefício acessível a todos. Então, quando descobrirem um produto ou um componente que tem em grande escala que consegue fazer e suprir a necessidade nós conseguimos tornar aquele processo mais sustentável. Com isso, conseguimos juntar os dois segmentos. Acredito que ambos andem lado a lado, sustentabilidade e tecnologia” conclui o estudante. Cabe agora saber quais serão as tendências tecnológicas e sociais que irão dar rumo as políticas de cada país no mundo. Nunca tivemos a pauta de sustentabilidade tão forte, contudo, também nunca tivemos uma revolução tecnológica e industrial sem grandes problemas ambientais.
Revolusolar.
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ABELHA RAINHA
De desabrigado à maior doador de pratos de comida: conheça a trajetória de Diego Portugal JOÃO SCOFANO, DAVI BARBOSA, LUCAS BRAGA, LUCAS PIRES E RENAN ADNET
A fome é um dos maiores males que atinge os países ao redor do mundo. No Brasil não é diferente. De acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), cerca de 19 milhões de brasileiros não tiveram um prato de comida em 2020. O levantamento estima que cerca de 55,2% lares brasileiros – o que corresponde a 116,8 milhões de pessoas -, conviveram em um grau de insegurança alimentar ao fim de 2020, sendo que 9% deles vivenciaram insegurança alimentar mais agravante, ou seja, passaram fome nos três fomes anteriores do período de coleta de dados (realizada em dezembro de 2020 em 2.180 residências). Neste sentido, é importante que movimentos em prol da doação de alimentos surjam. Um deles é feito pela loja de roupas Reserva. Chamado de “1P5P” (uma peça = cinco pratos), o projeto tem como intuito reverter um determinado valor dos produtos vendidos em alimentos para pessoas que passam fome. O projeto existe desde maio de 2016 e, de acordo com números divulgados pelo site oficial, já foram doados mais de 49 milhões de pratos de comida ao redor do país. O projeto foi lançado quando Rony Meisler, CEO da Reserva, fez uma visita ao Nordeste, mais precisamente à Pentecoste, no Ceará. A região é a que mais passa fome no país, com cerca de 23 milhões de pessoas em situação precária – de acordo com o site do 1P5P. Em sua visita, Rony questionou um jovem sobre o que deveria ser priorizado nos trabalhos sociais da marca. “Você consegue estudar quando está com
fome? Consegue trabalhar quando está com fome? Pois é, O maior problema do Brasil é a fome”, disse o garoto. A partir disso, Rony entendeu o que ele poderia fazer com o poder que detém dentro de uma das maiores marcas do país. Para alavancar o projeto, a marca contou com embaixadores ao redor do país. Um deles foi Diego Portugal, atual gerente da loja situada no shopping Rio Design Barra, no Rio de Janeiro. Além de ser um dos pioneiros, Diego foi o vendedor do ano em seis oportunidades e, por consequência, o funcionário que mais doou pratos de comida. Isso lhe gerou conquistas materiais, já que a empresa premia os que melhor desempenham. No entanto, isso não foi o mais importante para ele. O 1P5P coincidiu com episódios que Diego passou ao longo de sua vida, principalmente junto de sua mãe, quando a viu lutar para fazer com que ele não passasse fome. Em conversa com os alunos da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro (ESPM-RJ) para a produção da revista COLMEIA, Diego contou mais sobre o projeto e explicou como se ver dentro dele foi importante para a motivação não acabar.
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Como, em linhas gerais, funciona esse projeto? Em 2016, eu tive uma oportunidade de ser um dos embaixadores quando a Reserva iniciou esse projeto. Fui até São Paulo visitar a ONG responsável por ele, visitei alguns lugares que a ONG se responsabiliza em levar o alimento. Basicamente é o seguinte: a gente usa a palavra viabilizar porque pegamos parte do nosso lucro – seja uma caneta, ou uma jaqueta de couro. Pegamos esse valor e dá pra empresa chamada “ONG Banco de Alimentos” se manter porque ela tem/ tinha um custo mensal de R$ 120 mil. O que essa ONG faz? Bares, mercados e restaurantes, não podiam dar comida para um morador de rua, por exemplo, se ele passasse mal e processasse, o estabelecimento tomava uma multa absurda. Então, as pessoas optavam por jogar fora o alimento. Essa ONG veio e fez o seguinte. ‘Não, pera aí. Eu me responsabilizo, eu assino, eu guardo esse alimento’. Porque todo alimento pode passar da validade, mas ele pode durar até 20 dias a mais. Daí depois disso eles faziam a redistribuição. Mas só que pra isso funcionar, ela precisa de um investidor. E a Reserva é uma grande investidora do Banco de Alimentos. Começou lá trás quando o Rony, CEO da marca, foi para o Nordeste e conheceu um rapaz. Não sei se vocês já tiveram a oportunidade de ir no Nordeste, mas é assustador, de uma forma linda, e também de uma forma no sentido de que não tem uma base educacional. Nessa conversa, o cara que era um influente da internet, com causas sociais, virou e disse que o Rony estava enganado, que ele não conhecia. ‘Ninguém aprende com fome’, essa é a grande verdade. É muito doido
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isso porque no Brasil a gente produz mais alimento do que população, né, e falta alimentação pra grande parte da população. Ou seja, muito mal distribuído. Bem-vindo ao Brasil. E aí o que a Reserva faz, ela apoia essa ONG de alimentos, ajuda a viabilizar 5 pratos a cada 1 peça vendida, então ela dá parte do lucro dessa peça pra ONG se manter. O custo é aquele que falei, R$ 100 a R$ 120 mil, não sei hoje se já subiu pra R$ 200 mil, R$ 300 mil mensal porque tem os funcionários, tem a fábrica, o armazenamento, os carros gastando combustível pra fazer a distribuição. Eu fui, por exemplo, em uma escola que essa ONG sustenta. Almocei na escola, comida maravilhosa, uma comida que seria jogada fora. E ao mesmo tempo, o empresário do mercado, queria ajudar, mas tinha o medo de ser prejudicado. E aí ele encontrou confiança nessa ONG onde ela assina um termo de responsabilidade pra redistribuição e ao mesmo tempo conseguimos ajudar quem não teria esse acesso, né. E aí são asilos, orfanatos, escolas. Eles proliferam esse meio. A Reserva poderia reduzir que o fiscal dela com essa ajuda, não estaria errado, mas ainda assim não reduz. É um jeito de devolver para a sociedade aquilo que a gente consegue com muito trabalho, claro. Mas que a gente tá bem sucedido fazendo um pouquinho pra poder ajudar. Mas eu tive a sorte de não só ser um dos embaixadores, mas a Reserva criou um prêmio dentro da empresa pros maiores doadores de pratos de comida. Por exemplo, eu era vendedor e agora sou gestor, mas se eu doasse dois milhões de pratos de comida, vendesse x peças de roupa no ano, e o amiguinho do meu lado doasse dois milhões e um, a Reserva dava um prêmio em dinheiro esse cara que mais doava prato. Então a gente vendia pra ganhar nosso salário e também vendia pra continuar fazendo com que o prato de comida chegasse no prato de quem tem fome. Gostaria de saber melhor como foi a experiência de ir no lugar, almoçar no lugar que recebe as doações. Se alguma criança falou alguma coisa, se tinha aula no dia... Como foi para você? Você viu essa realidade acontecendo? Eu vi a realidade acontecendo, é importante você ver o que acontece e como acontece de perto. Foi uma experiência muito única, né, cara. A gente não tem muita noção de o quanto a gente é privilegiado. Que a gente faz todas as refeições por dia, que a gente tem condição disso e aquilo. E enquanto isso vemos algumas famílias que se sustentam com R$ 200,00 – e às vezes a gente gasta isso numa conta de restaurante.
Total de pratos doados até o dia 8 de maio de 2021, por volta de cinco anos após o lançamento do projeto. Imagem: Reprodução/Site Reserva
A gente é muito privilegiado, esse foi um sentimento muito forte que eu tive quando visitei a escola. Ao mesmo tempo que eu trabalho pra conseguir um pouco de privilégio, é em si privilegiado da mesma forma. É importante pra ver o quanto mais uma criança tem fome ela aprende menos. A formação dela, de modo geral, fisiologicamente falando, não será boa. Então foi uma experiencia muito bacana, fui em um horário que estava tendo aula, era um horário de lanche deles e foi uma experiência muito bacana.
não passassem por, talvez, o que eu passei. Nunca passei fome, se eu falasse que passei seria uma grande mentira. Passei um mês comendo a mesma comida sim, mas nunca passei fome. Minha mãe sempre foi muito guerreira, minha heroína. Mas eu sempre brinco. Olho pra minha história lá trás e corro muito pra que não corram o risco de passar o que eu passei. Essa é uma das minhas motivações maiores. Eu me via no olhar daquelas crianças, na história delas. E onde eu fui tinham muitas crianças.
Já que você tocou em um ponto de privilégios, o pessoal não sabe, eu sei porque te conheço há um tempo, a gente é amigo, sei da sua história, sei que você veio de um lugar mais humilde. Gostaria de saber se isso de motivava a mais, de querer vender mais pra atingir esse objetivo não só pelo dinheiro, pelo prêmio, mas também pra retribuir isso de alguma forma. Como você viu esse projeto? Como você recebeu? Como isso te motivava?
Você comentou sobre ter muita motivação pra fazer o projeto, nessa causa. Você já participou ou participa de outros projetos? Tem interesse?
Com certeza me motivava a continuar fazendo mais porque eu sabia que através do meu esforço lá na ponta, no salão de vendas, eu estava ajudando uma criança que eu olhava pra trás e me via. A galera não me conhece, mas, aos 9 anos de idade, minha mãe e eu fomos expulsos da comunidade em que morávamos aqui no Rio, ali perto de Cascadura, chamada de Casca D’água, a gente foi expulso com a roupa de corpo por uma questão de ideologia que minha mãe não concordava, bandidagem, etc. Uma questão familiar que aconteceu. E então eu olhava nas minhas ações a oportunidade de conseguir ajudar o Diego que eu via lá trás pequeno. A minha vontade também era ajudar para que crianças
O que acontece, eu não tenho nenhum projeto oficial, né. Tem uma frase que eu sempre uso: ‘O que receber de graça, dá de graça’. Eu tenho isso pra mim. Por exemplo, essa camisa que eu estou usando tá nova, tá zerada, mas eu não uso mais. Então eu não tenho problema em doar ela, doar roupa, tênis. Eu tenho muitos tênis, então eu dou bastante. Mas não é nada oficial. Eu faço de acordo com a necessidade que surge, de acordo com o que o coração manda. Tenho uns amigos engajados em algumas situações e que continuam a me ajudar nesse meio. Tem vezes que eu não participo por não ter tempo. Então assim, eu não me permito entrar pra ficar meia bomba. Eu ajudo no que eu posso, me evolvo como posso, faço as minhas doações. Repito, nada é oficial, mas eu procuro fazer dessa forma. É óbvio que eu sou super envolvido nessa da Reserva. Me sinto muito parte. Eu fui o maior ganhador de pratos de comida.
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Você sabe explicar como foi a ideia de colocar tanta coisa interessante e mostrar no site o que realmente a Reserva faz em relação a todos esses impactos? Porque eu vejo ali que tem a questão de ser local, de ajudar com a campanha da fome, de ter material biodegradável nas roupas, fazer reciclagem de material. Como foi isso? Como foi a criação desse perfil da “empresa do bem” por assim dizer. Eu acho que todo projeto, toda linha, toda cauda, tem um líder. E quando a galera entende que eles são os maiores responsáveis por colocar em prática todos os dias pra fazer acontecer, eles entendem a potência que eles têm. Da mesma forma que eles podem não aproveitar e derrotar um projeto muito bom. Então tem o mérito de quem iniciou, que foi o Rony, o Brandão, que são os sócios fundadores da marca, e são os caras que tem muita simplicidade ao falar sobre isso. Eles tiraram isso de outras grandes empresas que possuem várias causas sociais. Se você, por exemplo, citar uma empresa com viés social, com certeza, se eu falar sobre esse projeto, os sócios vão falar que conhecem, que realmente é um bom trabalho. Aí a gente traz pra dentro do Brasil e adapta à nossa realidade e faz também de alguma forma. Porque as coisas estão aí pra serem vistas. Eu sempre falo isso, A roda existe, você precisa fazer um jeito que ela gire. E os caras conseguiram fazer isso muito bem, é um grande mérito deles. E as pessoas da ponta do projeto, como eu, seguimos sentindo o calor de saber a responsabilidade de fazer o consumidor entender o projeto. Não adianta nada eu falar tudo isso que falei agora, você chegar na loja e ter uma experiência ruim, ou você fazer parte do projeto bacana e nenhum vendedor sabe. Eu acho que, respondendo sua pergunta inicial de onde tiraram as ideias, foi de muita leitura, muita escuta aberta. Com certeza eles tiraram daí porque eles não têm vergonha nenhuma de falar sobre as inspirações deles. O projeto em si surgiu por meio de uma conversa com um menino que estava pegando carona com o Rony, de uma cidade pra outra, e que estava falando sobre a ideologia dele de mudar o mundo, de entender como as pessoas poderiam ajudar, aquela frase clichê, sabe? E ele conseguiu fazer isso e agora estamos aqui falando sobre o projeto que deu certo. Lá trás, o Rony poderia fechar os ouvidos e nada disso teria acontecido. Mas aconteceu e estamos aqui. O segredo é esse, estar sempre se reinventando, estar sempre se mexendo. É um dos maiores segredos da vida, estar em ritmo. Normalmente a gente sabe que as lojas de shopping possuem uma rotação muito grande de vendedores. Como vocês fazem pra manter o treinamento desses vendedores com o intuito de manter o nível alto do projeto? Tem um treinamento específico sobre o projeto pra quem chega? Como vocês fazem pra conseguir esse equilíbrio? Isso é fácil te explicar porque sou gestor. Parte do meu treinamento com quem chega é voltado para isso, falar sobre. Assim como você fala sobre alguma especialidade à parte da loja, quando contratamos alguém nós falamos que fazemos parte de um projeto que chamamos de “1P5P”. Todo vendedor que chega na Reserva tem cinco dias de treinamento, sendo que um dia inteiro é voltado exclusivamente para o projeto. Todas as minhas caixas quando acabam a venda, elas são treinadas para fazer as contas de quantas peças foram vendidas. Ou seja, elas pegam a nota fiscal e, por exemplo, constam quatro peças. Aí ela chega pro vendedor e cliente e fala: “Olha, parabéns, você acabou de viabilizar 20 pratos de comida”. Tem cliente que se aprofunda mais com o projeto, e aí vida que segue. Tem o outro ponto também de que se você usar isso da maneira errada pode dar um tiro no pé. Você não pode chegar para o
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cliente e falar que se ele comprar uma peça, ele vai estar ajudando com cinco pratos de comida. Porque o cunho não é esse. O cunho é você finalizar a venda e falar quantos pratos de comida a pessoa doou, além de, claro, explicar o projeto. O projeto não é mistério, ele passa na televisão da loja, as pessoas conhecem, mas nós gostamos de informar para o cliente só após a conclusão da venda pra não parecer que eu te alicio a comprar porque você vai ajudar. Você compra se você quiser, e a ajuda é uma consequência. Na sua loja em específico, houve uma queda acentuada no número de vendas por conta da pandemia? As pessoas deixaram de ir ao shopping, etc A empresa apresenta crescimento a cada ano que passa, mesmo com a pandemia. É uma consciência de consumo, né. Uma grande maneira que eu, Diego, encontrei pra passar pra minha equipe quando começou a pandemia, na época se falava muito sobre mercado essencial, né, médico é essencial. Mas a roupa não é essencial. Por que a roupa seria essencial? Eu acho que o vendedor não pode ter vaidade. Foi então que eu comecei a martelar isso, pensar e pensar. Aí cheguei no ponto de entender como a empresa conseguiu se manter com esse baque sofrido no mundo. Então, através de muito comportamento de audição, com pensamentos de diversos gerentes, a gente chega em um consenso de o que funciona e o que não funciona. Então a gente replica isso pra todo mundo. Acaba que fazemos as coisas sem medo. Hoje acerta, amanhã erra, e por aí vai. Uma coisa que comecei a pensar é que o meu mercado é essencial sim. A primeira coisa é você acreditar no que você fala. Porque, por exemplo, você é meu grande amigo e sei que você gosta de camisa polo, principalmente a camisa polo da Reserva. Cara, eu vou sim entrar em contato com a empresa, comprar no site e mandar entregar na sua porta com um bilhete, falando que apesar de não podermos estar juntos devido à pandemia, a gente continua próximo um do outro. E foi através disso que muita gente em casa, que perdeu ou ganhou peso, descobre a necessidade de comprar. Outro caso, uma parente que gosta sempre de dar uma camisa da Reserva de presente, mas não poderia comprar por conta da pandemia. Nada disso, a gente faz essa entrega acontecer. Esse foi um pensamento meu, Diego. Era essencial sim para as pessoas. Mostramos o quanto nós ligávamos para a pessoa. É até estranho que, no meio da pandemia, nós iríamos ligar pra uma pessoa pra vender roupa. Mas pensamos o seguinte: foi uma questão além da loja. Tinha vezes que a pessoa conversava com a gente, às vezes não recebia uma ligação há tempo. E, como consequência, comprava ou não. A venda sempre será uma consequência de tudo. Até respondendo de como fizemos para não perder clientes, foi por meio de comportamentos como esse. A empresa também fez coisas bacanas, aumentando o comissionamento. Como diminuiu a venda, a gente fala o seguinte: ‘olha, mesmo se você vender pouco, o aumento do comissionamento serve pra você manter uma média salarial. Se eu te falar que ganhei mais como gerente durante a pandemia, ninguém acredita. Eu ganhei mais na pandemia do que com as lojas abertas. Então assim, a empresa fez sua parte financeira. O financeiro é importante, claro, precisamos ter o conforto, querer viajar, ter um carro bom, uma roupa boa, ir em um restaurante bacana. Então acho que foi isso. Através desse comportamento, de as pessoas verem que a empresa não quer sacanear como outras empresas. Não que seja algo antiético, não citarei nenhuma. Mas optaram por dar férias, afirmaram que não tinham condição de pagar, enfim. Um salário x que caiu pra y. A Reserva não. Ela dizia que poderia manter um salário x, mas você teria que trabalhar mais, óbvio. A venda vai cair, óbvio. Mas houve o aumento de comissão. Pra você ter uma noção, chegou a um
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“Somente nós somos os principais responsáveis pelo nosso sucesso. Não responsabilize ninguém por um sucesso ou fracasso.”
ponto da pandemia em que a empresa deu 15% de comissão em cima de uma venda. Então, por exemplo, em números: se eu vendi R$ 400 mil na minha loja como um todo, a gente ganha R$ 60 mil a mais. A empresa foi parceira pra caramba, entendeu o momento, e a gente não parou de trabalhar. Foi isso que a empresa fez pra crescer na pandemia. Foi quase que na contramão. Vimos muita gente reclamando da relação entre patrão e funcionários. Muito por conta do medo das consequências, concorrências, incertezas do futuro. É legal ver uma empresa assim. É comportamental. Se você entender que não estamos falando sobre o ‘Bem-Vindo a vida real’, ou se vai com cara de um sujeito ou de outro. A gente não tá falando mais sobre isso. Estamos falando sobre a empresa se manter de pé. E pra isso acontecer, gostando ou não, você precisa fazer, e fazer bem feito. Se você não fizer bem feito, além de você ser demitido, você precisa ser homem e falar que não concorda e tchau. O grande problema é que o ser humano não se auto avalia e não aceita essa realidade. Acha que é o Peter Pan e não vive isso. A realidade é a seguinte: preciso trabalhar, preciso manter e preciso fazer o que é pra ser feito. É aí que tá. As coisas precisam ser feitas e ponto. Entende? Depois a gente vê. As pessoas precisam entender que uma camisa que você vende, você tá segurando o emprego de outro cara do estoquista, do caixa que, infelizmente, não vende. É o compromisso de entregar. Quando você foi premiado como melhor vendedor, destinou o valor para alguma causa social? Eu destinei a minha causa (risos). Porque eu precisava casar. Eu acho que o mais justo é, antes de você ser herói fora, você precisa ser herói dentro. Tem gente que quer ser herói fora, né. Você super maltrata seus pais e quer ser um comprador de coisas caras na rua. Não adianta, né. O princípio básico pra mim é honrar pai e mãe. Eu tinha todos os meus compromissos, né. Carro, casa, essas coisas tradicionais. E através de muito prêmio que eu tive, ganhei seis vezes o melhor vendedor do Brasil, ganhei carro da Reserva, um monte de coisa. Então eu tinha meus objetivos pessoais. Hoje eu estou construindo minha casa. E eu tinha um compromisso muito próprio com a nossa família. Nossa família é do meio humilde, pobre. Por exemplo, meu sogro tinha um celular e quebrou. Não adianta eu estar de iPhone, minha esposa estar de iPhone, e meu sogro estar sem celular. Não existe prosperidade se os seus ao se redor não prosperarem também. Isso não é prosperidade, é uma grande mentira. Então a gente se dedica também, além de coisas pessoais, pra ajudar aos próximos. Não posso chegar aqui também e falar que eu pago o aluguel do meu sogro, isso e aquilo. Não, mentira. Mas ajudo no que é
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possível. Por exemplo, comprei o armário da minha sogra, o celular do meu sogro. A gente faz essa boa ação pra dentro. Quando dá pra fazer essa boa ação pra fora, a gente faz, ou quando é pra fazer pra gente, a gente faz também. Que aí é por meio dos nossos “mimos”, né. Eu sou vendedor, sou capitalista, então a vida é baseada em conquistas. A vida tem que ser baseada no que você conquista, no que você tem. Eu espero receber mais premiações pra ter essa condição de estar bem pessoalmente, ou destinar pra outro projeto, e vida que segue. Você comentou sobre prosperidade os próximos, que não adianta você prosperar sozinho, e eu sei que a Reserva tem uma coisa de sempre promover os funcionários que estão lá dentro. Você mesmo era vendedor e virou gestor. Queria saber se você usa esse projeto como um jeito de motivar os funcionários. Se você mostra que caso eles prosperem dentro da empresa, eles vão fazer outros prosperarem também. Queria saber como você usa esse projeto no caráter motivação. É simples. São números, né. Se a pessoa fizer uma boa venda, a gente chega e fala quantos pratos de comida ela conseguiu doar. Aí nós vamos lá na raiz e explicamos o intuito do projeto. Acaba sendo mais um pingo de gasolina na motivação do cara. Porque ele faz por vontade pessoal, pela família, etc. Então ele acaba fazendo também pelo número. Existem as premiações mensais também, o vendedor que mais doou, tem ranking, mensal e semanal. Acaba que vira
uma disputa saudável. As pessoas entendem a importância delas pro projeto acontecer. Ela não pode usar isso como argumento de venda, mas dentro dela, ela entende que pode colocar um produto a mais ali na cabeça do cliente que vai influenciar no ranking, na doação de pratos de comida, na comissão dela. Isso é algo diário. Tenho 26 anos, ainda tenho muita coisa pra conquistar e projeto pra colocar de pé, mas o que eu queria deixar aqui, até como uma dica, é que somente nós somos os principais responsáveis pelo nosso sucesso. Não responsabilize ninguém por um sucesso ou fracasso. Gratidão sim, reconhecimento sim, mas vocês precisam entender que vocês são os encarregados pelo próprio sucesso de vocês. Se vocês estão em uma disputa de troféu, quem leva ele pra casa? Você ou seus pais? É você. Vocês fizeram a parada. Se tiver uma disputa de fracasso, quem leva o troféu também é você. Porque a gente tem uma mania de responsabilizar, né. ‘Ah, porque eu não conseguir porque o professor falou mais com fulano do que comigo’, nada disso. Você não conseguiu porque você não foi capaz, ponto. Porque se você estivesse interessado, ficaria em cima do professor pra ele te dar atenção também. Então é isso que eu quero deixar de aprendizado. É algo que aprendi ao longo da vida e levo comigo sempre. O que fica de importante é o dia seguinte, porque é quando você coloca em prática o que você ouviu e aprendeu.
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Rosana Mendes
YASMIM RIBEIRO Rosana por trás das cortinas. Foto: Acervo da ONG
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As ruas íngremes não parecem ser desafio para quem desce e sobe o morro do Cantagalo todos os dias. A correria das crianças e suas risadas era sinfonia do horário de almoço na favela, antes de tudo mudar com a pandemia. Antes, no que hoje nos parece mais como “outra dimensão”, ao acompanhar os sorrisos delas, seguíamos o caminho até o Harmonicanto, ONG que oferece aulas de canto e reforço escolar para as crianças na comunidade, a partir das duas horas da tarde. As crianças ficavam em frente à ONG enquanto esperavam a porta coberta por jeans reciclados ser aberta. Empolgadas, falantes e às vezes briguentas. Era nesse horário que Rosana chegava com as chaves. Rosana Mendes, aos 47 anos, tem cinco filhos, já é avó, e esteve como voluntária quase a vida toda. Hoje atua no Harmonicanto como professora e duas vezes por semana como voluntária no reforço escolar da noite. Ao contrário da maioria dos voluntários, Rosana não conheceu o projeto por uma apresentação musical. Mas na mesma Igreja que ajudou a construir 36 anos antes, quando levou seus filhos para uma bandinha que funcionava no porão, apoiada pelo colégio Notre Dame. Cássia Oliveira, hoje com 63 anos e fundadora do Harmonicanto, era quem lecionava música para as crianças da favela. “Me viu bem atrapalhada com tantas crianças, e ofereceu ajuda. Aceitei. E ela está comigo até hoje”, lembra Cássia.
Esse projeto da bandinha, depois de perder o apoio do colégio, virou o Harmonicanto. “Contar tempo é complicado, eu não fico contando, porque eu faço o que eu gosto, e aí o tempo passa com um prazer danado”. Ela esteve lá desde 2006, e continua atuando no projeto, ainda praticamente como voluntária. O dinheiro que recebe para dar aulas não seria suficiente para pagar suas contas caso não contasse com a ajuda do marido, que abriu uma ótica no Cantagalo. “Admiro a perseverança dela no trabalho no Harmonicanto, mesmo sem garantia de salário”, é o que diz Cláudia Noronha, 48 anos, assistente social no projeto. Contudo, ao descer para o asfalto, está fadada a ser o que todo nascido e criado na favela é nesta sociedade: invisível. Circular nas lojas de Ipanema pode despertar o preconceito que mora a poucos metros. Por isso, Rosana se transforma à medida em que se aproxima ou se afasta do morro. No morro, pergunta dos filhos da vizinha e acena para quase todos, parecendo até celebridade. Já no asfalto, recebe olhares desconfiados e experimenta o distanciamento, quase inexistente na comunidade. Rosana acredita na força da favela. Para ela, é preciso pensar no verdadeiro sentido de fazer pelo outro. “Ela entende que transformando o mundo a sua volta você transforma sua realidade”, diz Alexandre Santos, de 47 anos, ex-presidente do Harmonicanto. Em julho de 1994, a ânsia por um futuro melhor para os filhos fez com que Rosana se mobilizasse pelas outras famílias. “Depois que eu fui mãe eu voltei a olhar para minha comunidade”.
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Segundo Rosana, a comunidade era muito solidária. “Ajudávamos a construir casas de vizinhos. Quando a ventania destelhava as casas, que eram feitas com telhas de zinco, lata aberta e madeiras encontradas por aí, as pessoas se juntavam para isso”. Para ela, atualmente, muito desse sentido de comunidade está perdido, as pessoas vivem mais para si: “A comunidade se dividiu e não conquistou nada”. “Uma coisa que eu nunca pensei foi ser professora, mas acabei me descobrindo”. Rosana, que estudou em escola pública quase a vida toda, descobriu a profissão quando com 19 anos foi trabalhar na creche comunitária do Cantagalo. ”Eu sempre soube que seria muito frustrada se não fizesse o ensino superior, uma semente plantada pela minha mãe”. Começou a estudar em fevereiro de 2007, e sua quinta filha nasceu em abril. “Não quis parar de estudar, porque se eu parasse não voltaria”. Fez o superior e a Bruna, hoje com 11 anos, nasceu prematura e esteve internada no CTI. “Aos trancos e barrancos eu fiz”, afirma. Mulher negra, moradora da comunidade, mãe e avó: ela multiplica sua experiência de vida e conhecimento, assumindo um compromisso com o bem-estar alheio. Rosana chegou
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a iniciar uma pós-graduação em psicopedagogia, por ter percebido, no reforço escolar do Harmonicanto, muitas crianças com dificuldade de aprendizagem. “Eu me senti na obrigação de estudar para entender essas dificuldades e conseguir ajudá-las”, lembrou. Mas ela não conseguiu terminar, mesmo sendo bolsista, não conseguiu dar continuidade. Os gastos eram muitos e o momento familiar não contribuía para uma boa aprendizagem. “Eu ainda vou fazer a pós”. É outro sonho que não morreu. Perseverante. Ela não deixa sua realidade endurecida, endurecer o ser dela. “Ela consegue ser tudo mesmo sem ter nada material, ela não se revolta, ela não esmorece, ela não sucumbe a tentação, ela persevera.”, diz Alexandre. Assim, Rosana cumpre o legado que assumiu: dar esperança de um futuro melhor para as crianças da comunidade. “Eu não faço nada para as outras pessoas acharem ‘Á que legal, que boazinha’, eu faço porque eu gosto, me dá um prazer imenso, fazer o que eu posso para ajudar o outros”.
ENXAME
Colagem: do lixo à arte O empreendedorismo sustentável de Bettina Muniz FELIPE NOBRE
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Copo com garrafa de Suze (1912), Pablo Picasso.
Fruteira e copo (1912), Georges Braque.
A história da colagem é mais antiga do que podemos imaginar. Antes de abordarmos sobre a artista Bettina Muniz e todo impacto que ela traz, vamos contar um pouco mais sobre essa arte milenar que a Be.Collages pratica. Segundo registros, esse estilo surgiu no Oriente, no mesmo momento em que inventaram o papel. A arte trazia para seus praticantes uma forma de expressão diferente do habitual, com o uso de diversos tipos de materiais como papel, carvão, tecido, madeira entre outros. É dito que países como China e Japão Medieval, já tinham a prática da colagem em manuscritos, e posteriormente sendo implementada em brincadeiras infantis, mas ainda sem a denominação e reconhecimento como arte. Foi em meados do século XX com o estilo Cubismo, que a colagem começou a tomar forma e reconhecimento. George Braque e Pablo Picasso foram considerados os pioneiros na arte de colagem. O Cubismo mostrava novas maneiras de criar arte, perspectivas diferentes de formas geométricas e de certa maneira sustentável, por reaproveitar materiais (tecidos, madeira, papel) em lugares diferentes. A primeira obra considerada uma colagem é de 1912, George Braque “Fruteira e o copo” seguida de Pablo Picasso “Copo com garrafa de Suze” também de 1912. Depois disso, a colagem começou a ser mais reconhecida e admirada pelo mundo, sendo interpretada de diferentes formas. Novos conceitos surgiram, como Dadaísmo, Surrealismo e Pop Art, mostrando que a colagem foi o pontapé inicial para uma mudança na forma de se enxergar a arte.
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Arquivo pessoal.
“Colagem é qualquer coisa que você altera o lugar, a ideia no início era de um reaproveitamento, e ainda é hoje. Além de ser uma crítica aos pintores conservadores que achavam que arte eram só pinturas realistas e rebuscadas. E na verdade não, a arte pode ser qualquer coisa que se proponha a ser arte.” disse Bettina. Como já conhecemos um pouco sobre a arte que ela faz, vamos entender melhor a linda história que essa artista tem. Quando pensamos nos dias de hoje vemos que a colagem sempre esteve presente em nossas vidas, principalmente quando somos crianças. Assim que começamos a ir para escola, a aula de artes sempre é aquela onde podemos fazer do nosso jeito, e liberarmos toda nossa criatividade. Com Bettina Muniz não foi diferente, mas algo ainda mais fundo, e que se tornaria muito maior do que ela poderia imaginar. Desde bem pequena a artista teve a colagem como algo muito próximo, utilizava revistas antigas, que provavelmente iriam pro lixo, para restaurar cadernos, objetos de decoração e fazia isso por puro prazer e sem a noção que estava sendo sustentável e fazendo arte. Segundo ela “A colagem sempre teve uma relação muito íntima com a sustentabilidade pra mim, mesmo sem saber”. A ideia de reaproveitar as coisas, restaurar objetos e cadernos era uma prática natural, e que cresceu com o tempo, até se tornar um trabalho.
Arquivo pessoal. Arte colagem feita por Bettina em 2002, trabalho para escola.
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Arquivo pessoal.
A criança que gostava de restaurar cadernos e objetos cresceu e, em 2017, ingressou na faculdade de Psicologia na Universidade Federal Fluminense (UFF) e também começou a fazer terapia, o que abriu seus horizontes de pensamento. Como todo jovem, ao chegar na idade de ir para faculdade e começar a vida adulta, Bettina teve algumas questões e enxergou pela primeira vez, com ajuda da terapia, que aquilo que ela fazia desde muito pequena, era sim arte e que poderia ser posteriormente seu trabalho. Além de ser uma grande maneira de se expressar, ser feliz e impactar positivamente o meio ambiente. Com a ajuda das novas tecnologias e principalmente das redes sociais, ela criou uma conta no Instagram, paralela à sua pessoal. O nome? Seria simples, mas direto: Be.Collages. Remetendo ao seu nome Bettina e as colagens que são
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sua arte. A ideia era apenas mostrar para todos o que ela fazia, no primeiro momento não foi com o intuito de vender, além disso Bettina gosta de pontuar sempre que “Fazia colagens bem assim, não pensava muito, era intuitivo, usava as revistas que eu tinha. Até hoje eu nunca comprei nenhuma revista, é importante frisar isso. Pra mim a colagem é fazer circular aquilo iria ser lixo, não faz sentido comprar a revista pra cortar né?" E de repente, aquele Instagram que era apenas para expor suas artes e hobbies, começou a gerar demandas e perguntas frequentes nas postagens, “Quanto custa?”. Quando ela percebeu, começou a vender prints (reproduções das artes), já tinha se tornado uma empresa com CNPJ tinha registrado sua marca e estava faturando com uma prática que a acompanha desde criança.
Fita gomada utilizada para colar. Arquivo pessoal.
Os papelões usados pela empresa. Arquivo pessoal.
A sua arte e a sua empresa, se preocupam fortemente com o meio ambiente, além disso, a sustentabilidade está presente no conceito da colagem, que é o reaproveitamento e a mudança na proposta de alguma coisa. E no mundo em que vivemos hoje, com a luta por um planeta melhor e em busca dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, os artistas precisam levar em conta qualquer pequena mudança e atitude em prol dessa luta, e Bettina leva e muito. É importante dizer que todos os materiais utilizados para fazer as colagens são reaproveitados de alguma maneira, na maior parte das vezes, também para seguir a filosofia da arte. Como já disse antes, algo que orgulha muito a artista é que poucas vezes ela comprou algum material para fazer a colagem, sempre busca garimpar o lixo, sebos e também recebe doações de amigos e familiares que não vão mais ler as revistas e jornais e sabem que ela vai se aproveitar para fazer arte. “Eu sou contra comprar revista, isso não tem nada a ver com o conceito de colagem e muito menos com meus valores. E enquanto marca e como pessoa também. Não consigo me imaginar comprando nada disso, nem plástico bolha, papelão, nada. Penso muito nisso hoje, é muito mais fácil do
que parece, ajudar o meio ambiente.” Apesar de ser uma pequena empresa, ela acredita que fazendo a parte dela, esse ato pode inspirar mais pessoas a fazerem também, e isso se torna um ciclo do bem. Uma ideia muito interessante presente na empresa é a fita adesiva que a Be.Collages utiliza em suas caixas. Não é aquela fita crepe, ou durex comum, e sim uma fita gomada e sustentável. Ela não é de plástico, ela é de papel, e em contato com água ela se torna adesiva. Segundo Bettina apesar de ter que comprar o suporte, foi um investimento que valeu a pena, ela sempre comunica os seus clientes a respeito disso. Dessa maneira, uma reflexão que fica é: se você quer ajudar o meio ambiente basta começar pelas pequenas coisas, “pense global e impacte local”! Uma artista como Bettina, ser quase 100% sustentável em seu ciclo é extraordinário e muito inspirador. Aqui, deixo um agradecimento e parabéns pela simplicidade, talento e consciência da artista, muito importante ter pessoas como você no nosso planeta! Obrigado!
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Galeria de fotos
Algumas artes colagem da artista Bettina Muniz
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Entendendo a Superfície com profundidade: consumo e design Trabalhos da turma do sexto período de Design, disciplina: Design de Superfície. LILYAN GUIMARÃES BERLIM Esse projeto fala sobre a conscientização do consumo, a capacidade criativa e a questão do lixo na sociedade contemporânea. Nosso intuito aqui foi proporcionar ao aprendizado do Design de Superfície uma reflexão significativa sobre o poder transformador que a mudança da percepção pode proporcionar. Criar a partir do território, revestindo superfícies bidimensionais e tridimensionais com projetos autênticos, tornou-se um desafio maior quando trouxemos a proposta de criação a partir do lixo que produzimos em duas semanas. Foi coletado e guardado todo o lixo oriundo do consumo de duas semanas de cada aluno. Com garrafas, caixinhas de remédios, embalagens de roupas, copos descartáveis e outros se construiu pranchas tridimensionais que, após um processo de digitalização, tornaram-se fontes de cartelas de cores, formas e, finalmente, módulos que seriam usados na construção de patterns. Ao lançarmos um olhar novo e criativo olhar sobre uma materialidade que como “lixo” é revestida de moralidades e tensões, e que em muitos casos significa o que se joga
Pattern de Luisa Matos.
“fora”, quando não há um “fora” para o planeta, percebermos a riqueza estética de cada material. Valorizando estes materiais, assumimos um compromisso de respeito para com eles, pois são todos oriundo de recursos naturais, portanto, respeita-los é respeitar a natureza. Assim, nasceu uma narrativa estética própria com texturas, cores e formas que, num nível mais profundo de consciência, também narrava sobre o que consumimos e o que é a nossa relação com as “coisas”. Para chegarmos a esse nível mais profundo durante o processo cada aluno se fotografou com seu próprio lixo e deu seu depoimento sobre os sentimentos e reflexões que surgiram daí - muitas descobertas e aprendizados. No final do semestre, ao transformarmos o lixo em padrões de extrema sofisticação e beleza, entendemos que precisamos de uma importante mudança de percepção em relação ao momento que vivemos e a urgência de reintegração com a natureza da qual somos parte.
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Fazer essa experiência me fez perceber o padrão do meu consumo e o impacto dele, principalmente por conta do isolamento social onde tudo que eu consumo é dentro de casa. A maior parte dos alimentos que eu compro são não processados então quase não geram resíduo não orgânico, mas as bebidas são outra história... A quantidade de embalagens era tanta que foi difícil encontrar um lugar para guardá-las na minha casa. FERNANDA ANDRADE
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O que notei com esse trabalho de ir juntando o lixo, foi a grande quantidade de certos produtos que consumo. Por exemplo, fiquei mais consciente da quantidade de lenços de óculos que uso diariamente e de chocolate que como. Esse trabalho me fez perceber que devo diminuir certos hábitos de consumo e focar mais em opções que geram menos resíduos. MARIANA MO
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Esse trabalho me proporcionou uma experiência nova e enriquecedora. Além de conscientizar-me mais sobre quais tipos de produto normalmente consumo, levando-me a refletir sobre suas reais relevâncias para minha vida, percebi o quanto de material reutilizável desperdiçamos diariamente por ignorância e falta de compromisso com o que consumimos. Aprendi que reutilizar o máximo de embalagens, papéis, entre outros, que normalmente jogamos fora, pode não apenas cooperar com o nosso meio-ambiente, mas também nos ajudar a desenvolver-nos como pessoas menos consumistas, vaidosas e mesquinhas. LUISA MATOS
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A atividade me fez pensar na grande quantidade de lixo que eu produzo em curto período de tempo e qual é o seu destino. Também me fez refletir como é o meu consumo. RODRIGO CORDEIRO
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Juntar meu lixo por duas semanas me fez refletir não apenas no meu consumo, mas também no lixo que eu estou gerando. Visualizar os resíduos das embalagens me fez ficar mais atenta com meu consumo, dando foco para o necessário, assim reduzindo o lixo que eu gero. BARBARA CUNHA
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Após realizar a atividade estive mais atenta a quantidade de resíduo que produzo. Presto muito mais atenção nisso e até evito consumir certos produtos! Ao adquirir alguma embalagem imediatamente penso em como será seu descarte e as suas consequências pro meio ambiente. Também acabo percebendo o consumo dos outros.. GIULIA VELASCO
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DICASPARA PARAUMA UMACASA CASAPRÓSPERA PRÓSPERA DICAS Quando estamos com uma vida organizada nos sentimos muito mais tranQuando estamos com uma vida organizada nos sentimos muito mais tranquilos, principalmente durante a pandemia onde nosso local estudo, quilos, principalmente durante a pandemia onde nosso local dede estudo, dede trabalho e de lazer tornou-se a nossa casa. Então, aqui trabalho e de lazer tornou-se a nossa casa. Então, aqui compartilharemos dicas para que você possa reavaliar compartilharemos dicas para que você possa reavaliar seus hábitos despesas, alimentação e cuidados seus hábitos dede despesas, alimentação e cuidados com o vestuário. segui-las você estará mais com o vestuário. AoAo segui-las você estará mais próximo uma vida próspera e tranquila em próximo dede uma vida próspera e tranquila em sua casa. sua casa. FAÇA ORÇAMENTO FAÇA ORÇAMENTO Estar ciente dos seus gastos talvez seja a parte Estar ciente dos seus gastos talvez seja a parte mais importante hora gerir seu dinheiro. mais importante nana hora dede gerir seu dinheiro. internet existem ótimas planilhas para fazer NaNa internet existem ótimas planilhas para fazer o o seu controle financeiro forma simples e no seu controle financeiro dede forma simples e no YouTube indicamos o canal Nath Finanças YouTube indicamos o canal dada Nath Finanças para dicas educação financeira. para dicas dede educação financeira.
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ECONOMIZE ENERGIA ECONOMIZE ENERGIA Para economizar durante o dia-a-dia, busque Para economizar durante o dia-a-dia, busque desligar luzes quando sair cômodo, desligar as as luzes quando sair dede umum cômodo, mantenha janelas abertas para ventilar a casa mantenha as as janelas abertas para ventilar a casa dias quentes e busque trocar eletrodomésemem dias quentes e busque trocar osos eletrodomésticos mais antigos por aparelhos mais modernos ticos mais antigos por aparelhos mais modernos baixo consumo. dede baixo consumo.
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Baseado no livro “Limpe e Arrume a sua Casa” de Anna Shepard. Baseado no livro “Limpe e Arrume a sua Casa” de Anna Shepard.
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FREEZER CHEIO FREEZER CHEIO
Um freezer cheio gasta menos Um freezer cheio gasta menos dod com metade capacidade, po com metade dada capacidade, porta nomize mantendo-o com bastan nomize mantendo-o com bastante houver espaços vazios, preench houver espaços vazios, preenchaembalagens leite cheias á embalagens dede leite cheias dede águ
que um anto ecoe coisa. Se -os com ua.
USE ATÉ O FIM Não jogue fora produtos antes de terminá-los. Se for necessário, adicione um pouco de água às embalagens ou corte-as para alcançar pastas e cremes no fim para usar o resto do conteúdo.
REAPROVEITE Reaproveite utensílios domésticos para outras tarefas. Por exemplo, as escovas de dente velhas podem servir para limpar cantos e rejuntes, enquanto camisas velhas podem funcionar como panos para tirar pó e potes de sorvetes como vasilhas para armazenar alimentos ou objetos.
APRENDA A COSTURAR Aprender o básico da costura, como fazer a barra e pregar um botão, vai te ajudar a aumentar a vida útil das suas roupas, evitando fazer compras desnecessárias. A youtuber Natály Neri, no seu canal Afro e Afins, ensina três técnicas de costura à mão.
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DOE Ter uma caixa para separar os itens que não te interessam mais é uma boa iniciativa para liberar espaço na sua casa e talvez ajudar os necessitados. A nossa indicação é a série “Ordem na Casa com Marie Kondo” da Netflix, a série mostra o método KonMari que ensina a desapegar de roupas e objetos sem uso na sua casa. vídeo série
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COMPRAS INTELIGENTES Procure ir ao mercado uma ou no máximo duas vezes por mês para comprar apenas o necessário, busque montar uma lista de compras ao longo do mês para evitar compras impulsivas e não vá ao mercado com fome.
PLANTE Cada vez mais pessoas estão plantando o próprio alimento em casa. Experimente fazer uma mini horta em casa, plantando ervas e uma miniárvore frutífera ou de tomates. No Canal Casa GNT, a professora de jardinagem Carol Costa dá dicas de como fazer uma horta com alimentos presentes na cozinha, reutilizan do materiais de casa. 53
Os impactos da separação do lixo no meio ambiente Como o simples cuidado de separar o lixo pode ajudar as vidas terrestre e marinha FELIPE NOBRE E RAUL MOREIRA
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, são uma coleção de 17 metas globais, elaboradas pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Elas foram feitas para que os países membros, junto com as empresas, e todas as pessoas que vivem nos 193 Estados que aderiram ao seleto grupo, tentassem ajudar o planeta Terra a seguir vivo e saudável. São diversos tipos de práticas, ligadas a situações econômicas, sociais, e que tem como objetivo ajudar de maneira sustentável o mundo em que vivemos. Dessa maneira, entendemos que trazer para os leitores uma forma simples de ajudar esses objetivos, é algo importante. E vamos mostrar como a separação do lixo, é algo importante e traz benefícios tanto para nós seres humanos, como principalmente para os animais que vivem nos oceanos e florestas pelo Brasil. A coleta seletiva é de extrema importância para tornar o mundo mais ecológico. A coleta bem-feita e a longo prazo, evita a poluição de forma geral. A prática de separar os materiais dentro de casa pode ser feita utilizando a teoria dos ''3R''. O primeiro R é o ''Reduzir'', que fala sobre a troca de hábitos de consumo, fazendo assim com que diminua a reprodução do lixo. O segundo é ''Reutilizar'', que nada mais é que pegar produtos como sacolas, vidros, entre outros, e usar de forma diferente e útil dentro de casa, evitando o descarte desnecessário. O terceiro é ''Reciclar'', que consiste em transformar o que seria lixo, em produtos novos, de maneira artesanal ou industrial. Seguir essa teoria e fazer a coleta de forma eficaz, traz alguns benefícios como, o reaproveitamento de objetos, diminuição de gastos, não poluição do solo e da água, o não desperdício de recursos naturais e menos contaminação nos aterros sanitários. A coleta feita por uma empresa ou por um condomínio, já é praticada de uma forma mais organizada e profissional. Na maioria dos casos, as famosas ''lixeiras coloridas'', são usadas para separar e descartar os produtos de um jeito mais simples e prático. De modo geral, as cores já são padronizadas, para fácil memorização da população. A azul representa descartes de papel, a vermelha de plástico, verde de vidro, amarelo de metal, marrom de lixos orgânicos e a cinza de resíduos gerais não recicláveis, como copos usados, papéis ou embalagens engorduradas, entre outros.
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De acordo com Fabiano Araújo, Coordenador operacional da Coleta Seletiva da Comlurb ‘’para que a coleta seja eficiente, os materiais recicláveis devem ser colocados limpos e secos, em sacos plásticos transparentes, pois assim o gari poderá verificar o conteúdo, evitando a mistura do material reciclável com o lixo domiciliar. Os sacos pretos são destinados apenas para lixo orgânico e lixo úmido e não serão coletados pela equipe da Coleta Seletiva. São coletados papéis, metais, plásticos e vidros, secos e limpos’’. Olhando por esse ponto, podemos ver, que a sociedade tem um papel fundamental na ajuda da coleta seletiva. Ainda segundo Fabiano, ‘’A coleta seletiva não oferece apenas um ganho ambiental, mas também é um instrumento social na geração de empregos e dignidade para os catadores, e consequentemente gerando aquecimento econômico de renda e comércio.’’
Separação do lixo nas esteiras da Coleta Central da Comlurb. Fonte: Acervo Pessoal
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Albatroz com restos de plásticos e outros materiais em seu estômago. Fonte: The UniPlanet
Olhando para nosso dia a dia, podemos entender que a prática sustentável pode estar presente nas situações mais simples do cotidiano das pessoas, desde um tipo específico de sabonete usado, até o banco feito de madeira reutilizada que estamos sentados. A ideia principal é sempre tentar ajudar o meio ambiente de alguma maneira. A utilização de produtos que “se importam com o planeta” vem se tornando cada vez mais comum, segundo uma pesquisa ambiental feita pela Tetra Pak mais de dois terços dos consumidores optam por evitar marcas ou produtos que não cumpram com requisitos sustentáveis. O número aumentou 26% nos últimos seis anos. Dessa maneira, as grandes empresas buscam de maneira rápida se adequar a essas determinações da sociedade. Está se tornando não mais um “diferencial” e sim uma obrigatoriedade, a preocupação com o meio ambiente. Quando vamos para o ambiente micro, olhando para o nosso dia a dia, nosso papel é ajudar da maneira que podemos e conseguimos. O uso de sacolas reutilizáveis e ecológicas para colocar compras de supermercado é uma grande ajuda sustentável. Além da separação correta do lixo que se produz em casa. A pandemia dificultou um pouco algumas pessoas que faziam coleta seletiva, mas de certa maneira,
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ajudou muitas outras que ficaram em casa e se preocuparam mais com a maneira correta de se “jogar lixo fora”. Para termos noção do impacto de uma simples sacola de supermercado, uma sacola de plástico pode levar cerca de 400 a mil anos para se decompor, afetando diretamente o bem-estar da natureza e de animais que se confundem e pensam que é comida, se intoxicando e muitas vezes morrendo. Usar sacolas reutilizáveis é uma prática sustentável que ajuda e muito a vida terrestre, marinha, e o meio ambiente em geral. A bióloga e veterinária Flavya Mendes de Almeida, conta um pouco de como esse descarte irresponsável pode afetar a vida dos animais: “Quando eu trabalhei no Zoo Rio, a gente recebia vários animais apreendidos, aves, aves de rapina, pinguim (que é uma ave marinha). Às vezes até pequenos roedores, que vieram a óbito e em vários animais a gente encontrava resto de lixo no conteúdo estomacal. Em um jabuti uma vez, eu lembro que tinha uma tampinha de plástico. É complicado, porque o animal não consegue distinguir aquele lixo de um alimento em potencial. E às vezes esse lixo obstrui o trato digestório e o animal não consegue comer, e acaba morrendo de fome.”
Além disso, segundo a doutora, o descarte do lixo feito de maneira irresponsável pode causar danos para o meio ambiente, mas também para os humanos em geral. Ela comentou que “Se você parar pra pensar, é um ciclo, né. Esse lixo todo que é descartado de maneira irresponsável na rua. Ele atrai insetos, baratas, roedores e com eles uma porção de doenças que afetam todos que estão no ecossistema, não só os animais.” A Associação PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) em português “Pessoas pelo tratamento ético dos animais” criou uma cartilha para o descarte adequado do lixo, pensando nos animais que possivelmente podem ter acesso a esses resíduos. Essa cartilha foi feita para ajudar os animais terrestres e aquáticos quando as pessoas forem fazer o descarte do lixo.
Flavya Mendes ainda comentou que: "Na época que eu trabalhava na WSPA, uma ONG de proteção animal, a gente tinha uma cartilha para tentar proteger os animais que estão nas ruas, cães, gatos, tentando orientar as pessoas no descarte do lixo. Porque a gente recebia vários animais com ferimentos causados por latas, e lixo em geral. O animal vai lá comer e acaba se ferindo." Isso mostra que a educação para que as pessoas consigam fazer o descarte do lixo adequadamente para não afetar tanto a vida animal, existe, e é mostrado para a população. Mas as pessoas não se atentam para isso. Além disso, Fabiano Araújo, Coordenador operacional da Coleta Seletiva da Comlurb, também disse que: “Se a população praticasse a separação, ou seja, não misturasse o resto de comida com os recicláveis, principalmente o plástico e o vidro, se evitaria muita contaminação desses animais que buscam alimento no lixo. Outra solução para o descarte é a cultura das hortas caseiras, e a compostagem caseira de cascas de vegetais, reaproveitando os para adubo.” Vemos que se cada um fizer o seu papel, como cidadãos, todos saem vencendo tanto animais como pessoas.
Cartilha (Traduzida do Inglês livre).
“Animais morrem tragicamente quando empurram seus rostos em recipientes de alimentos descartados para lambê-los limpos e colocar suas cabeças presas dentro, então quando você reciclar, faça o seguinte: 1. Enxágue cada lata, coloque a tampa dentro para que nenhuma língua pequena seja cortada, e esmague a extremidade aberta da lata o mais plana possível. 2. Abra um lado de recipientes vazios semelhantes a copos; copos de iogurte de pirâmide invertida causaram a morte de muitos esquilos. 3. Corte todas as seções de anéis de plástico de seis pacotes, incluindo os diamantes internos. 4. Escolha sacos de papel no supermercado e use apenas sacos de armazenamento de alimentos biodegradáveis e foto degradáveis.”
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Segue abaixo algumas práticas sustentáveis dos alunos da turma de jornalismo que separam seu lixo e procuram cultivar hábitos mais sustentáveis no dia a dia.
Felipe Nobre
Lucas Vieira
João Pedro
Lucas Braga
Yuri
Yuri Murta
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Tayssa Freitas
O mercado promissor dos cosméticos naturais
JULIANA ANJOS
Produtos vendidos pela Glory by Nature. Reprodução/Instagram.
O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking de maiores mercados mundiais de cosméticos e cuidados pessoais, conforme um relatório de 2019 feito pela Euromonitor International. Por trás dessa grande indústria, existem problemas graves para o meio ambiente. A utilização de substâncias tóxicas e poluentes, a produção excessiva de lixo plástico e os testes cruéis em animais são práticas comuns de diversas marcas de cosméticos. No entanto, empresas que oferecem produtos de beleza sustentáveis e naturais estão conquistando os consumidores brasileiros. Segundo a consultoria Grand View Research, o mercado de cosméticos naturais no Brasil movimenta cerca de R$ 3 bilhões por ano, e a tendência é que continue crescendo. Cosméticos naturais são compostos, em grande parte, por ingredientes de origem natural, sem substâncias como silicone, parabeno e derivados de petróleo em sua composição. De acordo com a organização de inspeção e certificação Ecocert, para um cosmético ser considerado natural, ele precisa ter uma composição formada por no mínimo 95% de matérias-primas naturais. “Descobrimos o mundo dos cosméticos naturais e nos apaixonamos”, conta a Luiza de Almeida, empreendedora de 30 anos, uma das donas da Jaci Natural. A loja online surgiu em 2016 após Luiza e sua sócia Daniella Kakazu descobrirem sobre os ingredientes tóxicos presentes nos produtos que usavam. Atualmente, a Jaci Natural vende produtos como sabonete, shampoo em barra, sais de banho, desodorante e óleos essenciais. “Nossos produtos são realmente naturais e super eficientes, as fórmulas são simples e cheias de personalidade”, explica.
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Luiza e Daniella, donas da marca Jaci Natural. Reprodução/Blog.
Para além da fórmula natural, existe o investimento em embalagens eco-friendly, ou seja, que causam um baixo dano ambiental. De acordo com uma pesquisa de 2019 da WWF (World Wide Fund for Nature), o Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico. Diante disso, é importante que as empresas busquem outras alternativas. Segundo Luiza, a Jaci Natural possui essa preocupação, “as embalagens geram o menor impacto possível e sempre buscamos reduzir os nossos resíduos. Focamos em rótulos de papel e potes de vidro”. A Jaci Natural, como muitas outras marcas, também possui preocupação com o bem-estar animal. O movimento cruelty free está ganhando cada vez mais força no mercado de cosméticos. Ele defende o fim do uso de animais como cobaias em testes de produtos, alegando que os animais sofrem durante o processo e geralmente são sacrificados. Para não realizar esses testes, algumas empresas investem em métodos modernos usando células e tecidos humanos, técnicas de modelagem de computador e estudos com voluntários. Atualmente, existem diversos órgãos capazes de certificar se um produto é livre de crueldade. O selo cruelty free da ONG PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) é apontado pela empresária Clarice Mei, de 64 anos, como um dos diferenciais da Glory by
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Nature, sua marca de cosméticos. A loja foi criada em 2017 com objetivo de fornecer produtos naturais, orgânicos e veganos certificados. Segundo Clarice, o número de consumidores comprometidos com a sustentabilidade ainda é baixo. “O brasileiro ainda está engatinhando nessa cultura de preservação do meio ambiente”. Uma experiência positiva com um cosmético natural foi o que motivou mudanças nos hábitos de beleza da pilota de avião Camila Villegas, de 23 anos. “Não tinha gente suficiente falando sobre o assunto, acabei aprendendo muita coisa na marra”. Para compartilhar suas experiências com cosméticos naturais, Camila criou o @skincarecomplantas, conta no Instagram que atualmente possui cerca de 37 mil seguidores. A jovem está sempre em busca de produtos naturais com boa eficácia, performance e segurança, mas relata que existe pouca variedade no mercado. "Temos que recorrer à internet. Existem muitas marcas legais, mas acredito que ainda temos espaço para mais”.
Kit vendido pela Jaci Natural. Reprodução/Intagram
Na maioria dos países, incluindo o Brasil, não existe uma regulamentação específica que defina os critérios para os cosméticos naturais. Isso facilita o chamado greenwashing, expressão que pode ser traduzida como “lavagem verde”. Nesses casos, as marcas manipulam informações para passar uma falsa imagem de ecologicamente responsável. Em 2018, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) realizou um estudo com objetivo de analisar a presença de greenwashing em rótulos de produtos. Na categoria de higiene e cosméticos, a prática enganosa foi constatada em 37% das mercadorias estudadas. Camila relata que já observou greenwashing em muitos produtos de grandes marcas. Segundo a jovem, isso ocorre quando as empresas percebem que estão perdendo espaço para concorrentes sustentáveis, “querem surfar na onda, mas não querem entrar no mar”. Para confirmar se um produto é de fato natural, os consumidores devem estar atentos aos ingredientes na composição e observar se no rótulo existem selos de certificação confiáveis. Em suma, os cosméticos naturais têm potencial para ganhar mais espaço nos hábitos dos brasileiros e nas prateleiras dos mercados e farmácias. Além de beneficiar as marcas, o aumento da popularidade desses produtos auxilia no desenvolvimento de padrões de consumo e produção mais responsáveis com o meio ambiente.
Camila Villegas é dona do @skincarecomplantas no Instagram. Reprodução/Instagram
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Veganismo e o meio ambiente: entenda como a mudança para as questões ambientais começa pelo prato
DIANA CAMPOS
Não é de hoje que os termos “veganismo” e “vegetarianismo” passam a fazer parte da vida de milhões de pessoas. Especialmente ao analisar os últimos anos, o número de pessoas que se afirmam adeptas a este estilo de vida sem o consumo de carnes e outros produtos derivados de animais é de crescimento. Segundo a última pesquisa do IBOPE, em 2018, 14% da população brasileira se enquadrava nesse estilo de vida e alimentação. Um aumento de 75% desde a última edição, realizada em 2012. Dentre os motivos que levaram as pessoas a essas mudanças e reduzirem ou até mesmo pararem de consumir produtos que tenham origem animal, está a preocupação ambiental. O alerta é da própria Organização das Nações Unidas (ONU), que afirma que o setor de produção de gado é um dos maiores responsáveis pelos mais sérios problemas ambientais em todas as escalas locais e globais. Estudos apontam que adotar uma alimentação à base de vegetais influencia diretamente na redução de emissão de gases no efeito estufa, do desmatamento e uso de terra e da perda de biodiversidade do planeta, além de reduzir o desperdício de alimento e água. Uma pesquisa recente realizada pela faculdade de Oxford comprovou que, sem a produção de carnes e laticínios, o uso global de terras para alimentar toda a população do mundo poderia ser reduzido em mais de 75%. É a partir da produção agropecuária que estão presentes 60% dos gases do efeito estufa. Esta preocupação global aumentou a partir da denúncia feita pelo documentário
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Imagem de capa do documentário “Cowspiracy - O Segredo da Sustentabilidade”.
“Cowspiracy - O Segredo da Sustentabilidade, disponível na Netflix (2014)”. No produto audiovisual, Kip Anderson busca contato com grandes empresas da agropecuária para questionar sobre os impactos ambientais que seu setor de produção causa e o motivo de tentarem esconder da população. Grande parte dos consumidores de carne e produtos animais não enxergam sua alimentação como fator determinante para agravamento de diversos problemas no meio ambiente. "Eu descobri que um hambúrguer de 114 gramas requer quase 2,5 mil litros de água para ser produzido. Eu tenho tomado banhos curtos para economizar água e descubro que comer apenas um hambúrguer é equivalente a dois meses inteiros de banho", comenta durante o documentário de 2014. Assim como Anderson, muitas pessoas são alheias ao entender que o que escolhemos pôr no prato afeta diretamente o planeta que vivemos. A estudante Isabella Cabral se conscientizou desta problemática e aderiu ao estilo de vida vegano. “Decidi me tornar vegana por compaixão aos animais e por buscar mais consciência ambiental." Ela conta
que pensar nestes aspectos de colaboração dos animais e ao meio ambiente a incentivaram e a motivam a permanecer neste estilo. Apesar dos milhares de benefícios de uma alimentação à base de vegetais ou até mesmo a redução do consumo de carnes, já serem conhecidos por boa parte da população mundial, Isabella analisa que ainda existem muitos mitos e omissões de informação em relação ao veganismo e seus benefícios, tanto pessoais quanto coletivos. “Hoje em dia é muito mais fácil ter acesso a esse tipo de informação, é preciso que as pessoas busquem referências, estudem sobre o assunto e estejam abertos a novos sabores e escolhas de vida”, conclui.
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PRECIOSO MEL
A Luta Pelo Básico Saneamento Salvando Vidas
FELIPE NOBRE E YURI MURTA
Estamos em 2021, apesar dos recentes acontecimentos trágicos relacionados à saúde pública devido a pandemia do corona vírus, vivemos em um mundo tecnológico que cada vez mais se desenvolve. E por incrível que pareça, segundo o estudo do Instituto Trata Brasil, são mais de 100 milhões de brasileiros e brasileiras sem saneamento básico. E mais, 35 milhões de pessoas no país não tem acesso a água potável, recurso crucial para a sobrevivência humana. A água faz parte de mais de 60% do corpo de uma pessoa, além disso é por ela que o corpo consegue levar nutrientes, sais minerais e oxigênio até as células. A água é um material importante na purificação do corpo humano, sendo crucial para retirar impureza por meio do suor e da urina. Além de diversos outros recursos que a água tem no nosso sistema, é por isso que os médicos recomendam que um indivíduo beba de 2 a 3 litros de água por dia, para repor tudo que foi usado nas atividades do corpo. Mas o que nós vemos, são pessoas que não possuem nem um copo de água potável para beber, imagine 2 litros. Segundo o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, o país ficou estagnado no século 19 quando se fala em infraestrutura de saneamento básico e água tratada para toda a população, além de não conseguir progredir nos seus indicadores sociais. Muito disso se dá pelo fato de o Brasil não ter investido nessa infraestrutura básica. Mesmo em regiões ricas e economicamente ativas, como Sul e Sudeste, esse problema de saneamento básico e água potável é evidente e muito frequente.
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No documentário “A Luta Pelo Básico - Saneamento Salvando Vidas” é evidente o descaso e descompromisso do estado com os moradores das regiões mais afastadas dos grandes centros, como é o caso da Vila Dique em Porto Alegre e Cantinho do Céu em São Paulo. Segundo relatos de moradores, era necessário sair com sacolas nos pés, porque a rua era barro e esgoto a céu aberto. “Crianças brincavam no meio do lixo, no meio do esgoto, então principalmente elas, tinham muitos quadros de diarreia, vômito. Pelo fato da água não ser tratada.” relatou Juliana Silva, agente de saúde. Diante de relatos como esses podemos ver a dura realidade brasileira. A situação fica ainda mais triste, quando vemos que até os dias de hoje a constituição brasileira não diz claramente se a água potável é um direito fundamental das pessoas. O mais curioso, é que a Organização das Nações Unidas, desde 2010, reconhece o direito humano à água. Na prática, o Brasil, por ser signatário da ONU, reconhece e entende isso, mas ainda não aplica isso como direito e nem os coloca na constituição. Apesar disso, podemos ver um rastro de otimismo diante de um tema tão urgente. Um projeto de emenda à constituição já foi aprovado em alguns âmbitos, como por exemplo na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Além disso, o STF já emitiu diversas decisões favoráveis ao prover da água ser um dever do governo para com a população. Cabe agora saber para qual caminho o Brasil vai seguir em relação à sociedade, ao meio ambiente e à água.
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Água AMA: como os ODS impactam na prática LUISA WANDERLEY
Em 1999, após a fusão entre a Cervejaria Brahma e Companhia Antarctica, surgiu a Ambev. Hoje, a empresa é uma das maiores no setor de bebidas do país, contando com mais de 30 marcas de bebidas no seu portfólio e atuando em 19 países. Seu principal produto é a cerveja, e a Ambev lidera esse setor, tendo atingido 59,4% de market share do mercado cervejeiro em 2019 segundo reportagem do Valor Globo. Além de se destacar dentro do seu negócio, a Ambev também é referência no que toca a sustentabilidade entre as grandes empresas. A empresa tem um setor de sustentabilidade que define metas e estratégias, lançando anualmente um relatório para acompanhar o desenvolvimento das suas iniciativas. A marca tem alguns objetivos que almeja alcançar até 2025, dividindo-os em 5 temas: ações climáticas, gestão de água, agricultura
Fonte: Site institucional da Água Ama
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inteligente, embalagem circular e ecossistema de empreendedores. Por isso, vamos apresentar uma das iniciativas da Ambev e relacioná-la com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, para compreender na prática a importância desses objetivos. A AMA é a água da Ambev, criada em parceria com a Yunus Corporate Action. O projeto existe desde 2015 e surgiu com o objetivo de estender a atuação da Ambev na conservação e consumo consciente de água. Todo o lucro obtido com a venda da água AMA é revertido para levar água potável àqueles que não tem acesso. A figura ao lado ilustra todo o custo envolvido em uma garrafa de AMA.
De acordo com o site da instituição, já foram arrecadados mais de R$5 milhões em lucro. Com esse valor, a Ambev apoiou 57 projetos espalhados pelo Brasil, levando água potável a mais de 223 mil pessoas. Essa iniciativa envolve diferentes setores da sociedade, já que a receita da AMA depende do quanto os consumidores comprarem a água. Para compreender a importância desse projeto, precisamos conhecer o contexto do acesso à água potável. Segundo a ONU, 30% do mundo não tem acesso a esse recurso. Por isso, mais de 1 bilhão de pessoas consomem água contaminada todos os dias, representando um sério risco para a saúde dessas comunidades. Apesar de o Brasil ser o país com a maior reserva de água doce superficial do planeta, 40% da população ainda não tem acesso a esse item básico para a sobrevivência, de acordo com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. Além disso, o Ministério da Cidadania informa que a população rural é a mais atingida nessa situação, com menos de 30% das residências nessas regiões estando ligadas ao sistema de abastecimento público de água. O acesso à água potável é uma questão alarmante no Brasil e no mundo. Considerando que as indústrias representam 19% do consumo total de água no mundo, é fundamental que empresas do setor assumam parte da responsabilidade para solucionar esse problema. Por que é importante trabalhar com os ODS?Em 2015, a ONU lançou a Agenda de Desenvolvimento Sustentável
para 2030, tendo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como principal pilar. Os ODS são um pacto global que busca propor respostas para resolver questões urgentes, como as desigualdades e as alterações climáticas. Com a cooperação de todos os setores da sociedade em busca de atingir os ODS, pretende-se levar prosperidade e paz para todo o planeta. A AMA contribui para o objetivo número seis: água potável e saneamento básico. Uma das métricas dentro desse objetivo é “até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo a água potável e segura para todos”. Ao levar água potável para diversos brasileiros, a Ambev está contribuindo para uma causa maior. A realização desse objetivo pode parecer um pouco distante quando analisado individualmente, mas, ao analisar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável por meio de iniciativas, podemos visualizar melhor a sua eficácia. A AMA é apenas um dentre milhares de projetos ao redor do mundo que contribuem para o objetivo número seis. Se somarmos todas as pessoas impactadas por diferentes iniciativas que se orientam pelos ODS, o resultado é bastante expressivo. A marca de 2030 serve apenas como uma lembrança de que precisamos agir rápido, mas com objetivos a alcançar pode ser mais viável construir iniciativas que tenham um impacto positivo na sociedade. Com a orientação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o compromisso como humanidade, pode ser possível realizar transformações relevantes no nosso meio.
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ERRADICAR A POBREZA
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ENERGIAS RENOVÁVEIS E ACESSÍVEIS
AÇÃO CONTRA A MUDANÇA GLOBAL DO CLIMA
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ERRADICAR A FOME
TRABALHO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÔMICO
VIDA NA ÁGUA
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SAÚDE DE QUALIDADE
INDÚSTRIA, INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURAS
VIDA TERRESTRE
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EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
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REDUZIR AS DESIGUALDADES
PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES EFICAZES
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IGUALDADE DE GÊNERO
CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS
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ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO
PRODUÇÃO E CONSUMO RESPONSÁVEIS
PARCERIAS E MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO
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O Menino Que Descobriu o Vento (ÁGUA)
RAUL MOREIRA E VITOR VITA
Nesse filme, o assunto “água” se torna o tópico chave para entender a sua necessidade ao redor do mundo. No longa-metragem, o garoto chamado William vive em Malawi, na África, a região é árida e já demonstra desde o início do filme a dependência extrema da água na vida econômica e social dos habitantes do vilarejo. Com os períodos de chuva, a água que vem do céu consegue irrigar a região e produzir o sustento de diversas famílias, além de alimentá-las de forma balanceada. Porém neste período retratado no filme, há uma longa seca, que traz crise e fome à região. Percebemos o valor de uma água potável, desde a junção com a terra e o plantio, gerando alimento e tendo como consequência o incentivo econômico. Para a solução dos problemas de seca, William consegue criar uma fonte de energia eólica, sendo possível alimentar um gerador e assim sugar a água de lençóis freáticos da região. Mesmo com essa história bonita e de superação, que mostra a árdua batalha de um menino, em conseguir água para o seu povo, devemos saber que esta água, muitas vezes, não é limpa. O filme mostra, o alto desespero em parte do continente africano, para conseguir água, que por causa dessa necessidade, eles não se importam com a qualidade
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da água. A África tem sérios problemas de consumo de água suja. Segundo a ONU, a falta de água limpa no continente africano, causa para eles mesmos, uma perda de US $28,4 bilhões. Com esse alto consumo de ''água imprópria'' diversas doenças aparecem, causando mortes pelo continente. O consumo de água suja, pode dar alguns problemas na saúde humana, como leptospirose, diarreia, cólera, hepatite A, entre outras. Com o organismo podendo absorver facilmente a água, pode ser adquirida alguma bactéria e ocasionando diversas doenças no corpo humano. Ainda segundo a ONU, a água suja ou contaminada, causa 4 bilhões de casos de diarreias por ano, sendo, 2,2 milhões ocasionando em mortes. A situação é preocupante, e mesmo com essa história de superação do filme, mostrando uma ‘’vitória’’ contra a seca, a luta não pode parar, pois a batalha não deve ser apenas pela água, e sim pela saúde. Fazendo com que a busca pela água limpa seja prioridade, e num ‘’futuro utópico'' possa ser algo normal para todo mundo.
Nadando em direção à sustentabilidade Descubra como o Projeto Tamar muda a vida de tartarugas marinhas e comunidades litorâneas BÁRBARA BEATRIZ CAMELLO, BEATRIZ AGUIAR E ISABEL BARCELLOS Com 41 anos de existência e presença contínua em 26 localidades espalhadas pelo Brasil, o Projeto Tamar é referência no estudo e preservação de tartarugas marinhas no país. À época de seu surgimento, a escassez de pesquisas sobre a espécie animal era grande e, por meio de pesquisas, os fundadores do projeto decidiram que era hora de tentar mudar este cenário. Foi assim que, após observarem as atividades das tartarugas marinhas na Reserva Biológica do Atol das Rocas, localizada no litoral nordeste brasileiro, surgiu nestes estudiosos de biologia marinha a curiosidade em relação ao comportamento destes animais em mais locais do país. Com base nesses questionamentos os pesquisadores tiveram a ideia da realização de um levantamento inicial, que mostraria a maneira conforme estes répteis se distribuíam ao longo do litoral brasileiro e como se relacionavam com as comunidades ao redor. Os resultados apresentados revelaram uma convivência na qual os pescadores agiam de maneira predatória com as tartarugas marinhas, tirando-as de seus habitats naturais em prol do consumo da carne e dos ovos destes animais. Com a apresentação deste relatório de dados alarmantes ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), órgão que à época funcionava com o nome de Instituto Brasileiro de Defesa Florestal (IBDF),
ficou exposta a necessidade do início da realização de um trabalho referente à preservação desses animais. Assim começaram as atividades do Projeto Tamar, que, inicialmente, eram totalmente ligadas ao governo brasileiro. "Nasceu como uma iniciativa governamental, mas em 1990 foi criada uma fundação, a Fundação Projeto Tamar, que é uma organização não governamental que veio auxiliar o Centro Tamar a proteger e conservar as tartarugas marinhas no país", conta José Henrique Becker, coordenador técnico desta fundação. Hoje, com todas as espécies de tartarugas marinhas existentes na fauna mundial em risco de extinção, o trabalho realizado pela Fundação Projeto Tamar torna-se ainda mais relevante. Para a sua realização, este envolve não só pesquisadores e biólogos, mas também carrega como missão a conscientização populacional em relação às formas de cuidar destas espécies ameaçadas. Com projetos voltados para grupos variados, o Projeto aos poucos muda a rotina dos que se envolvem com ele. "Não adianta o pesquisador sozinho levantar informações, publicar artigos e não envolver a comunidade local no problema da conservação, uma vez que é essa comunidade que tem o dia a dia com a tartaruga, que captura acidentalmente na rede, que interage com o animal", comenta o coordenador técnico da ONG.
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Desovas de filhotes de tartarugas marinhas em praia brasileira. Foto: Projeto Tamar
É através destas atividades em prol da conscientização que os pescadores que antes não conheciam a importância das tartarugas marinhas para o ecossistema das praias atualmente são ensinados a liberá-las quando as capturam por acidente. "A gente ajudou no projeto de regulamentação da pescaria como uma atividade bacana e com um potencial de sustentabilidade bastante interessante'', explica Becker. Os estudos produzidos pelo Projeto são realizados, muitas vezes, até mesmo em conjunto com os pescadores, para que assim os resultados sejam positivos não só para os pesquisadores, mas também para aqueles que sobrevivem com a pesca. O cuidado em envolver a população litorânea diretamente no projeto foi um dos maiores diferenciais do Projeto Tamar em relação a outros programas de proteção da fauna brasileira. Em 2017, a Fundação realizou uma publicação que levou esta prática da integração social a ser conhecida mundialmente, transformando o projeto baseado no Brasil em referência global.
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Tartaruga resgatada olhando para pescador. Foto: Projeto Tamar
Para que a comunidade esteja verdadeiramente engajada, Becker ressalta a importância de que sejam conhecidas as variações existentes entre os locais de atuação do projeto, uma vez que em cada um deles a realidade das tartarugas varia. Enquanto em alguns há adultos reproduzindo, em outros a maior população é de filhotes. Mudam ainda os estilos de pesca e a variedade de espécies do animal. "É um grande mosaico de situações, em cada local eu tenho animais diferentes, comunidades diferentes, com realidades socioeconômicas diferentes, onde varia a forma de pescar e de trabalhar. Então não há uma maneira única de interagir com as comunidades, mas essa ideia está presente em todos os locais nos quais o Tamar atua", comenta. Uma maneira que o projeto Tamar encontrou de aliar a proteção das tartarugas marinhas com o cuidado comunitário foi a criação de projetos de alternativa de renda em alguns locais. No Espírito Santo e em Sergipe o projeto abriu duas confecções, que geram emprego para a população enquanto estes produzem camisas para a revenda nas lojas do projeto. "Pessoas da comunidade passaram a trabalhar, em locais que antes não havia outra forma de emprego senão o uso dos recursos naturais", conta o coordenador técnico. Dessa maneira, o Projeto Tamar alinha-se a, pelo menos, dois dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Um deles, o 10º, traduz-se pela redução das desigualdades, meta suportada pelo Projeto com suas diferentes maneiras de incentivar a geração de renda para comunidades ao longo do litoral do país. Já o outro, o 14º objetivo, é resumido pela preservação da vida na água, atitude realizada pelo projeto desde a sua concepção. Com cerca de 60% do financiamento do Projeto vindo de atividades sustentáveis, no Brasil, as atividades da Fundação são frutíferas, com resultados que apontam para a recuperação gradual das cinco diferentes espécies que vivem na costa do país e o cuidado dos 1.100km de praias nas quais acontece o processo de desova. A cada ano são protegidos mais de 30.000 ninhos de tartarugas marinhas e, ao longo do tempo de funcionamento, mais de 37 milhões de filhotes já foram devolvidos ao mar. Para o coordenador técnico da Fundação Projeto Tamar, apesar da conscientização ocorrer aos poucos, alguns dados ainda mostram como esta está acontecendo de maneira vagarosa demais. "Hoje 40% das tartarugas que a gente atende tem alguma quantidade de plástico no trato digestivo. Isso é um número muito grande. É muito significativa essa quantidade", conta. Ele explica que, apesar de nem sempre as tartarugas chegarem a óbito em razão desse material, a principal problemática ligada a isso é a capacidade infecciosa que ele
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acaba gerando aos animais: "É como se as pessoas não conseguissem colocar em prática o básico do básico, que a gente já sabe e conhece, aqueles 3 Rs que aprendemos em aulas de educação ambiental". Assim o pesquisador sublinha a importância da redução de resíduos, de repensar o consumo e, por fim, de reciclar sempre que possível. "A gente ainda está engatinhando no país como um todo, apesar de inúmeras iniciativas ainda estamos muito no começo, temos muito o que avançar nesse sentido", completa. Como parte de seus projetos de Educação ambiental, a Fundação Projeto Tamar realiza campanhas de coleta de lixo, principalmente nas bases localizadas na Bahia, Sergipe, Espírito Santo e São Paulo. Desde estudantes até turistas, todos são bem-vindos a se juntar nesses mutirões.
Mapa com a localização da Fundação Projeto Tamar pelo Brasil. Foto: Projeto Tamar
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Os centros do Projeto Tamar espalhados pelo país são mundialmente conhecidos e, em razão disso, atraem visitantes nacionais e internacionais. Dados da Fundação apontam que, anualmente, pelo menos um milhão de pessoas passam pelos Centros de Visitantes e, assim, geram diretamente renda para os projetos de conservação. Durante a pandemia da Covid-19, com as visitações interrompidas, este financiamento tem ocorrido por meio da venda de produtos pela internet e da parceria que já ocorre há 39 anos com a Petrobrás.
Terra, planeta água?
Fonte: iStock
CAROLINA CASAES E MARIA EDUARDA GUIMARÃES
O nosso planeta é, apesar do nome, composto apenas por 30% de terra em sua superfície. O restante, como sabemos, é água. Isso faz com que muitos pensem que este é um recurso interminável para a população global, mas essa ideia é um equívoco que precisa ser esclarecido urgentemente, antes que seja tarde demais. Cerca de 97% da água do nosso planeta é salgada e 2% está nas geleiras. Apenas 1% é própria para o consumo de toda a humanidade. Então, o que significa a crise global da água? Significa que, se o consumo não for controlado, o acesso a essa pequena porcentagem pode acabar. E isso pode estar mais próximo do que imaginamos. Em 2009 essa preocupação já existia e foi quando a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou no relatório trienal que, em 2025, aproximadamente 3 bilhões de pessoas já sofreriam com a escassez da água. Mas a pandemia do novo corona vírus denunciou uma antecipação desse prazo. Uma pesquisa realizada pela Unicef em 2020 mostrou que, já nesse ano, cerca de 3 bilhões de pessoas não possuíam sequer instalações básicas com água e sabão para lavar as mãos. Controlar o consumo da água é o caminho para conter essa crise. Porém, ao contrário do que muitos acreditam, atitudes como desligar a torneira quando possível ao lavar louça ou não demorar demais no banho são importantes, mas não as mais eficazes. Isso porque as maiores responsáveis pelo desperdício da água mundial são as indústrias e a agricultura. A série Explained, da plataforma Netflix, fala muito bem disso em seu segundo episódio. Trata-se de uma série docu-
mental que, nesse episódio, traz diversos questionamentos necessários para entendermos melhor como se dá a crise global da água. Por exemplo, ela mostra que hábitos como beber água, usá-la para higiene ou em descargas corresponde a apenas 8% do que é gasto por ano. A maior parte é utilizada na produção dos alimentos e na criação dos produtos que consumimos. Aqui vão alguns dados alarmantes: em cada copo de cerveja, são usados 74 litros de água na produção; para uma xícara de café, são 130 litros; por trás de uma única camiseta de algodão, são usados 2.500 litros de água; 1kg de queijo precisa de 5.060 litros de água para ser produzido. Porém, nada se compara à indústria da carne. De acordo com informações da Agência Nacional de Águas e Water Footprint, na produção de 1kg de carne bovina são utilizados, em média, 15.415 litros de água. As carnes de porco e frango exigem, respectivamente, cerca de 5.988 e 4.325 litros de água na produção de cada quilograma. A maior parte da água utilizada na indústria da carne está envolvida no processo de fabricação da ração que alimenta os animais. O modo de consumo e estilo de vida que a maioria da população global tem levado é insustentável para o nosso planeta a longo prazo - talvez não tão longo assim. A escassez da água é uma ameaça real e o único caminho para evitá-la é através de uma mudança brusca nos nossos hábitos. Caso contrário, o planeta água em breve vai morrer de sede.
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OPERÁRIAS
Toda ajuda é bem-vinda
Seguido ao pé da letra, o projeto “Eu Ajudo como dá” vem ganhando reconhecimento na zona sul do Rio
MARIA EDUARDA VOLTA, ROBERTA SAMPAIO E TAYSSA ZAPAROLLI
Tendo em vista o cenário atual que vivemos, muitos fatores podem influenciar as pessoas a não conseguirem ajudar a sociedade. Dentre eles, a pandemia, o dinheiro, a locomoção entre diversos outros. Pensando nisso, foi feita uma entrevista com dois membros da ONG Eu Ajudo Como Dá, que funciona de maneira flexível tentando integrar a todos que querem participar de maneira distinta. O projeto teve início no começo da pandemia com pequenos gestos da fundadora Simone Levy. Por iniciativa própria e solo, começou a ajudar moradores de rua com pequenos gestos perto de onde morava. Após alguns dias relatando em redes sociais como vinha ajudando os moradores de rua, amigos e seguidores começaram a se interessar. Surgiram alguns voluntários para ajudá-la e gradativamente o grupo foi crescendo. Hoje a equipe de voluntários é formada por mais de 50 pessoas. O mais interessante é que cada um pode ajudar da maneira mais favorável dentro dos seus limites e dificuldades. Existem diferentes casos dentro do grupo, como pessoas que têm o lado financeiro apertado e ajudam presencialmente nas ações com as entregas na rua. Já quem não sai de casa devido a pandemia, pode fazer a doação de alimentos e materiais de limpeza, que algum voluntário do projeto passa para buscar.
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Grupo de voluntários do projeto.
“Escolhi ser motorista pois queria arrumar uma maneira de ajudar o projeto e a maneira que eu tinha condições, era dirigindo na entrega, já que tenho um carro e não sei cozinhar, por exemplo.” conta Bruno Gianoti, de 23 anos. Agradece também a oportunidade de participar de algo tão humano que significa muito para ele como pessoa. O grupo já entregou mais de seis mil quentinhas, entre outras doações como kits de higiene, máscaras de proteção, etc. O objetivo é literalmente “ajudar como dá” quem está em situações vulneráveis, podendo integrar todas as pessoas que estão dispostas a ajudar, dentro de suas acessibilidades. Jasmyn Angel, estudante de odontologia, que está se dedicando ao projeto desde o início, conta a proporção em que o projeto chegou “Já estamos entregando no Rio de Janeiro todo. Hoje, temos até grupos de entrega, com calendários, e divisão de grupos, porque o Rio é muito grande. O pessoal se divide nas regiões que moram, os que moram na Zona Norte ajudam e entregam tudo nos bairros de lá, Zona Sul a mesma coisa, Zona Oeste e assim conseguimos entregar pra bastante gente.”. Após um tempo, os integrantes começaram a perceber um novo ponto para dar atenção: os animais de estimação dos moradores de rua. Sendo assim, surgiu o Eu Ajudo Como Dá Pets. Uma conta no Instagram foi criada voltada para esta causa específica, levantando uma campanha atrás de profissionais na área veterinária que pudessem ser voluntários e acompanharem as ações na rua, focando nos animais destas pessoas em situações vulneráveis. Começaram também arrecadações como ração, coleira, caminhas e remédios para verme.
Hoje em dia existem diversas formas de ajudar a sociedade, por meios de projetos como este ou até mesmo enchendo uma garrafinha de água e entregando para alguém que está na rua. O importante é ajudar e ser solidário da forma que puder, pois a solidariedade faz a diferença na vida de todos e torna o mundo um lugar melhor. Para ajudar com doações sem sair de casa é só entrar em contato com a @EuAjudoComoDa no Instagram e marcar a coleta na sua residência. Lista de arrecadação: - Arroz - Feijão - Farinha - Macarrão - Molho de tomate - Café - Fubá - Açúcar - Leite - Biscoito de maisena - Sal - Sardinha - Milho em Conserva - Óleo - Suco concentrado - Papel higiênico - Sabonete - Pasta de dente - Absorvente
Jasmyn entregando brinquedo para criança de rua
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Sonhar junto é sonhar mais longe Conheça melhor o projeto responsável por modificar a rotina de pacientes hospitalares no Brasil BÁRBARA BEATRIZ CAMELLO E DIANA CAMPOS De acordo com o psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow as necessidades humanas podem ser organizadas em formato piramidal, no qual a base é capaz de representar aqueles processos essenciais para a sobrevivência da espécie e, à medida que a pirâmide se estreita, aparecem carências que, quando bem solucionadas, são capazes de gerar aos indivíduos satisfação e bem-estar pessoal. Para que a construção desta figura estivesse o mais próxima da realidade possível o psicólogo a dividiu em cinco níveis, cada um responsável por produzir às pessoas sensações fundamentais para o bom desenvolvimento, são elas referentes a esferas da vida como: fisiologia, segurança, relacionamentos, estima e realizações. No primeiro degrau, referente às necessidades fisiológicas, Maslow acredita que se encontram aquelas ações literalmente inerentes à espécie humana, como a respiração, a conservação da temperatura corporal e a realização de excreções. Além disso, o psicólogo insere neste grupo necessidades como o saciamento da sede e da fome, atitudes responsáveis pela manutenção do corpo. Já no segundo andar da pirâmide, área na qual estão listadas as necessidades
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Representação da Hierarquia das Necessidades de Maslow. Imagem: Passei Direto.
para que os indivíduos tenham a sensação de segurança, os conceitos indicados pelo psicólogo são mais amplos. Para Maslow, o ser humano encontrará segurança quando possuir sua propriedade, uma família, estabilidade profissional e, por último mais não menos importante, saúde. O psicólogo acredita que, com uma vida saudável, a pessoa estará mais próxima da felicidade. Já na faixa seguinte da pirâmide, ele ressalta a importância da criação de relacionamentos de amizade, amor e intimidade. Ainda que alguma das necessidades expostas nas partes mais largas da pirâmide possam parecer de fácil execução, há outras que fogem do controle e, por vezes, mudam a vida daqueles que não conseguem alcançá-las. O exemplo mais claro disso é a necessidade da segurança em relação à saúde. A qualidade de vida de pessoas com problemas de saúde é afetada diretamente por eles, conforme aponta pesquisa realizada pelo vice-diretor do departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da Universidade de Medicina de Washington, Wayne Katon. O estudioso aponta que, enquanto a prevalência de depressão entre a população em geral está entre 3% e 5%, entre indivíduos internados em leitos hospitalares esta chega a atingir 16% das pessoas. Em busca de evitar estes transtornos e, ao mesmo tempo, fortalecer a necessidade de relacionamentos prevista por Maslow como essencial para o desenvolvimento humano, surgem projetos que visitam hospitais nas mais variadas cidades brasileiras. Levando conforto e quebrando a rotina dos pacientes, estes grupos têm como objetivo serem diferenciais no dia a dia dos internados, suprindo algumas das necessidades básicas deles que, por vezes, acabam negligenciadas durante o tratamento.
Voluntários em visita a hospital. Imagem: Acervo da ONG
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Um desses projetos que auxiliam diretamente na proporção do bem-estar público, especialmente à população infantil, é o Sonhando Juntos, iniciativa da ONG Sonhar Acordado. O programa tem como objetivo alegrar e esperançar crianças e adolescentes em hospitais e funciona em algumas cidades do Brasil, há mais de 16 anos, com uma extensa equipe de voluntários. No Rio de Janeiro, um dos responsáveis por fazer com que a alegria e atenção sejam levados aos hospitais é Victor Caetano, estudante de educação física. Todos os finais de semana, o Sonhando Juntos visita esses locais e passa horas fazendo companhia para os hospitalizados, conversando com os pacientes e seus responsáveis, levando alegria através de brincadeiras, jogos de tabuleiros, arte, e, o mais importante, atenção para quem precisa de um apoio. “O meu momento favorito é quando eles veem a gente chegando com o jaleco com artes de mãos coloridas, uniforme dos voluntários, e rapidinho percebem que somos nós. Eles abrem aquele sorrisão com aquela carinha de que acabou de acordar”, relembra Victor. A proporção de bem-estar vai muito além dos pacientes, e funciona como uma via de mão dupla, Victor conta que consegue sentir o amor e realização de estar ajudando, mesmo que por algumas horas, aquelas crianças ou adolescentes. Ele percebe, ainda, que auxilia diretamente aos acompanhantes. “Algo muito presente também é o alívio que dá pra ver no rosto do responsável que muitas vezes passa dias e dias ali sem um descanso, às vezes aproveitam até para tirar uma soneca”, afirma. Além de buscar tranquilizar os pacientes que estão passando por momentos de dificuldade com a saúde, cansados e abatidos, o Sonhando Juntos busca entender o paciente e instigar os seus sonhos. Muitas vezes nas conversas com os voluntários, a criança e/ou o adolescente diz que seu sonho é ser bombeiro, ou ir ao zoológico, às vezes até mesmo ir ao cinema. O voluntário anota o sonho e começa a ação para tentar fazer aquela meta se realizar, através de parcerias, ajuda terceirizada, e, claro, muito carinho envolvido.
Victor Caetano explica que dessa forma, o projeto tenta fazer com que o sonho da pessoa se realize de maneira prática e mágica: “O projeto consegue levá-las ao corpo de bombeiros, fazer com que tenham um dia incrível, passeando no caminhão, com direito a sirene e tudo mais”. Durante a pandemia da Covid-19 o acesso a hospitais foi reduzido e grupos como o Sonhando Juntos sofreram impacto direto das restrições, percebendo a necessidade de se reinventar. “Nossas atividades estão suspensas em todas as instituições do Sonhar Acordado, mas não estamos parados. Tivemos em 2020 e 2021 a campanha do Super Coelhão, onde ajudamos diversas famílias com cestas básicas”, conta Alexandre Moraes, diretor do projeto. Ele explica que durante este período foram atendidas mais de 2.000 famílias, em busca da melhoria de suas condições de vida durante o período de crise. Ainda com forma de manter a necessidade de relacionamento com os pacientes nutrida, o Sonhando Juntos decidiu trazer, durante a pandemia, seus principais eventos em versão online. Além disso, houve também o início de novas iniciativas, como conta o diretor da ONG: “Tivemos em 2020 as lives sonhadoras, que passavam conhecimento e ajuda em relação ao momento que estamos passando”. É assim, se adequando às mudanças e inovando na maneira de agir, que o Sonhando Juntos vai, aos poucos, deixando sua marca na vivência dos jovens cariocas. Ele, além de auxiliar na completude das necessidades expostas por Maslow, trabalha em linha com o 3º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que ressalta a importância da saúde e do bem estar para a população mundial. “Acreditamos que com as atividades desenvolvidas e a amizade construída nas visitas podemos propiciar momentos de felicidade, assim como acender nos corações das crianças e de suas famílias a esperança que muitas vezes é abalada nessas situações difíceis’’, completa Alexandre.
Dia do Sonho, comemoração que costumava ocorrer ao vivo antes da Covid-19. Imagem: Acervo da ONG
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VISÃO 280º
A importância da gestão adequada de tintas para a preservação do meio ambiente Alternativas inovadoras e novas descobertas científicas vêm se tornando soluções para diminuir o impacto da poluição nas grandes cidades e estimular a preservação do meio ambiente. ANA TOLENTINO Atualmente, palavras como empatia, cuidado e preservação estão cada vez mais presentes nas conversas dos brasileiros. No dicionário, a empatia tem algumas definições. Entre todas elas, podemos dizer que ter empatia é se colocar no lugar do outro. No entanto, ser empático envolve sensibilidade, conhecimento e certa vontade. A intensidade se refere a ação de se permitir cuidar e ser cuidado. A empatia só se desenvolve na prática. Porém, leituras, conversas e reflexões nos ajudam a compreender as dificuldades do outro, e essa é a melhor maneira de desenvolver essa competência e se tornar uma pessoa mais empática na vida real. Sejam mudanças no cuidado com o corpo e a mente, nos relacionamentos ou até na educação; trabalhar para mudar hábitos e incorporá-los em nossa rotina é importante para transformar realidades, não só transformar quem somos, mas transformar a vida dos outros, para que juntos possamos aprender a cuidar do nosso planeta. Um exemplo de empatia mora no alto de uma das favelas mais antigas do Brasil, no morro da providência. A ONG Impacto das Cores, fundada por Aline Mendes, é um projeto que transforma milhares de vidas, através da educação e da arte, e consiste em aproveitar sobras de obras da construção civil, em especial tintas, e estimular a produção de artes no Morro da Providência.
Sede da ONG Impacto das Cores no Morro da Providência. Reprodução: Instagram Impacto das Cores.
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Sede da ONG Impacto das Cores no Morro da Providência. Reprodução: Instagram Impacto das Cores.
A iniciativa tem como objetivo estimular conscientização ambiental dos moradores, através da educação ambiental das crianças. Através de doações de tintas para o projeto e latas resgatadas por voluntários em lixos comuns, a ONG promove a sustentabilidade, a revitalização das favelas, e auxilia no desenvolvimento humano e social, além de garantir uma destinação alternativa aos resíduos de tinta que, muitas vezes, acabam indo para aterros sanitários e são descartados no solo, o que não deve ser feito de forma alguma. A gestão ambiental de tintas, é um assunto muito importante. A respeito das práticas de reutilização de rejeitos em manifestações artísticas, podemos pensar também em como fabricar tintas que sejam menos agressivas ao meio ambiente, e nos informar sobre a melhor maneira de descartar os resíduos das latas após a utilização. Todas essas formas de gestão ou de aprimoramento de fórmulas de tintas já existentes necessitam de muitos cuidados. As tintas são compostos químicos e, assim como suas embalagens, representam riscos para a nossa saúde e para o meio ambiente, se o descarte for realizado de forma incorreta ou que não siga os princípios da sustentabilidade. A falta de informação, o descaso de muitas empresas de tintas que não orientam seus consumidores como fazer um descarte correto, juntamente com o desinteresse de uma parcela da população, faz com que muitas pessoas optem por descartar os restos desses materiais nas pias, bueiros, ou até mesmo no solo. Essa forma de descarte apesar de não ser uma poluição visível aos olhos, é uma das mais sérias, e que pode levar até 300 anos para acontecer a descontaminação do que chamamos de lençol freático,
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contaminando diretamente a rede fluvial. Além disso, ainda causa a contaminação dos cursos d’água, pode matar animais, prejudicar vegetações e dependendo das condições, pode gerar gases e até mesmo explosões. Então, cuidar do nosso planeta e repensar hábitos, realizando o descarte correto para resíduos de tintas e as latas, que são usadas como embalagens para estes produtos, é de extrema importância. O descarte correto de tintas deve ser feito de acordo com sua composição. Se a tinta for à base de látex, basta deixá-la secar até que fique um material sólido, ou se a quantidade de tinta for grande basta misturar com areia de gato, após seca ela pode ser descartada normalmente nos aterros sanitários. Se a tinta for à base de água, basta lavá-la com água e sabão, e descartar a água da lavagem em ralos e vasos sanitários desta forma ela seguirá para esgotos e não representa perigo para rios e córregos. As latas, que servem de embalagem para as tintas em geral, também merecem um certo cuidado, elas são tão importantes quanto as tintas em si, então é necessário lembrar sempre de fazer buracos ou cortes para inutilizar a lata, já que elas não podem ser descartadas para o lixo reciclável. Nos últimos anos vem surgindo inúmeras inovações no setor de tintas, muitas empresas buscam alternativas mais sustentáveis, tentam desenvolver produtos que sejam menos agressivos ao meio ambiente ou que apenas tentem diminuir o impacto. Desde 2017, a empresa Mancha Orgânica uma spin-off da Zebu Mídias Sustentáveis, criada em 2010, vende uma linha de tintas orgânicas composta por pigmentos extraídos de vegetais.
Criada por Martina Pinto, Amon Costa e Pedro Ivo Costa, visando atingir alguns dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), conjunto de práticas que tem como objetivo ajudar de maneira sustentável o mundo em que vivemos, a empresa desenvolve produtos seguindo os princípios da economia circular. Sempre que possível os pigmentos utilizados nas tintas são provenientes da biodiversidade brasileira, de cultura agroflorestal e cultivo orgânico. Segundo Amon Costa “A mancha surgiu como uma alternativa de tinta. Não era tinta para criança, não era tinta para arte terapia e diversão. Nenhum destes conceitos foi desenvolvido de início. A gente foi investigando aos poucos. O que a gente tinha ideia quando desenvolvemos o produto é que não existia uma tinta coerente com o que a gente acreditava. Por ser atóxica, a tinta da Mancha Orgânica não causa nenhum tipo de malefício à saúde do ser humano, por não ter nenhum metal pesado.”
Tintas da marca Mancha Orgânica. Reprodução: Instagram da Mancha Orgânica.
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A empresa tem como missão a construção de uma nova consciência de consumo para regenerar comunidades e o meio ambiente. “A tinta orgânica não vai ter o mesmo resultado da convencional. Não por hora, utilizando o mais alto grau de purificação que a gente utiliza na nossa produção. A tinta é a base da água, ela não tem nenhum componente sintético, então o petróleo ele pasteuriza, ele controla, ele isola a pigmentação do ambiente, então permite que a tinta fique estável, com a cor completamente homogênea. Esses são os quesitos que um fabricante comum de tinta utiliza para avaliar se a tinta é boa ou não. Ele não avalia pelo cheiro, pela textura, pelo impacto social e ambiental. Esses são os nossos quesitos. Então a gente começou a se colocar em um lugar de não competição.” Completa Amon Costa. A empresa desenvolve produtos educativos, que possuem um ótimo estímulo sensorial, recreativo e promovem a educação artística, ambiental e alimentar para crianças. A mancha orgânica também destina 10% da receita proveniente da venda de tintas orgânicas para a realização de atividades sociais em parceria com escolas municipais do Rio de Janeiro e com os Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil (CAPSI). Outra iniciativa é da marca Converse que chegou recentemente no Brasil no Morro de Santo Amaro, Rio de Janeiro. A região carece de árvores e agora tem um mural a céu
aberto que ajuda a purificar o ar. O mural e as casas foram pintadas com tintas que ajudam a purificar o ar, é como se cada metro quadrado pintado correspondesse a uma árvore. Essa tinta que despolui o ar foi desenvolvida por cientistas italianos para despoluir um túnel em Roma. A tecnologia utiliza energia que dá luz para transformar os poluentes em componentes inofensivos. A iniciativa Converse City Forest, já passou em 14 países levando arte e sustentabilidade. Em Santo Amaro, pinturas são voltadas para questões raciais. Além da Converse, outras iniciativas estão aproveitando a tecnologia dos pigmentos que purificam o ar. Os holandeses do Studio Roosegaarde espalharam outdoors com a mesma tinta em Monterrey, no México. O projeto foi uma iniciativa dos os alunos do Instituto Tecnológico de Monterrey (Tec) e do engenheiro holandês Daan Roosegaarde, os alunos tiveram a oportunidade de colocar em prática uma pesquisa acadêmica. Nas terras mexicanas, cada outdoor é equivalente a filtragem do ar de 30 árvores a cada 6 horas e pode funcionar por até 5 anos.
Mural da iniciativa Converse City Forest em Santo Amaro, RJ. Reprodução: Instagram da marca Converse.
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Estudante Carolina Ortiz e uma outra estudante em um evento de inovação e ciência no Instituto Tecnológico de Monterrey (Tec). Divulgação: foto do acervo pessoal da estudante Carolina Ortiz.
O projeto é uma revolucionária ferramenta de saúde urbana, que ajuda a combater a poluição em áreas de vale no país, que estão longe do alcance de correntes de ar que ajudam a dispersar poluentes. A estudante de Gestão e estratégia de negócios no Instituto Tecnológico de Monterrey (Tec), Carolina Ortiz, 20, mora em Monterrey, no México, e diz ter ficado muito interessada no projeto. A mexicana, nascida em Guadalajara, que já passou algumas vezes por um mural na cidade que utiliza essa tecnologia despoluente, diz que tem conhecimento deste e outros projetos sustentáveis em desenvolvimento na faculdade. “Monterrey, acredito que é um estado que se preocupa muito com o meio ambiente, a tec Monterrey quer que seus alunos, ‘futuros empresários’ mudem essa mentalidade e façam as coisas da maneira certa”. A exemplo da tecnologia desenvolvida por alunos do Instituto Tecnológico de Monterrey (Tec), Carolina planeja se formar e dirigir sua própria empresa, utilizando os valores que aprendeu na rua, olhando os murais que purificam o ar e as práticas sustentáveis que aprende todo dia na cidade onde mora. “Acredito que é muito importante encontrar formas de utilizar os recursos que o planeta nos dá de forma responsável. Especialmente neste ponto da história, se não quisermos acabar com o que resta dela.”
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FERROADA
Mulheres e o mercado de trabalho YASMIM RIBEIRO
Mulher no trabalho informal de costura. Foto: Yasmim Ribeiro
O artigo 5º da Constituição Federal Brasileira de 1988 traz a questão da igualdade de direitos e obrigações, independente do sexo, proporcionando condições igualitárias. Ou seja, é garantido pela lei que a mulher tenha igualdade dentro e fora da esfera do trabalho. Apesar disso, o mercado de trabalho é persistente quanto à cultura enraizada no passado, onde o homem era considerado o chefe de família e o dinheiro da casa era fruto apenas de seu ofício. Imaginar a mulher em alguma atividade remunerada, ou até mesmo ocupando alguma função considerada somente para homens, ainda é um absurdo para grande parte da população. Dados de 2018 do IBGE mostram que a presença feminina em atividades tipicamente masculinas como transporte e construção representam números pequenos: 0,5% e 1,2%, respectivamente. Nas últimas décadas, o país teve alterações legislativas, direitos conquistados e as mulheres ocupando cada vez mais espaços na sociedade, sobretudo no mercado de trabalho. Mesmo ainda existindo preconceitos, práticas reiteradas de machismos, não se pode negar que houve uma evolução, mesmo que a passos lentos. Dentro das relações de trabalho alguns direitos foram assegurados às mulheres como a estabilidade da gestante, o direito a pausa nas funções para amamentar, entre outros. Durante a pandemia, por exemplo, tem sido muito debatido a questão do trabalho da gestante de forma presencial, bem como em relação às atividades insalubres. De acordo com a advogada trabalhista, Mariluza Cavalcanti, apesar de não haver restrição quanto ao exercício laboral presencialmente do grupo de risco, é recomendável que as empresas, sempre que possível, realizem suas colaboradoras gestantes para atividade remota, reduzindo, assim, substancialmente, quaisquer riscos à sua saúde e à de seu bebê.
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“A estabilidade gestacional, elencada no artigo 392 – CLT, foi uma conquista da mulher, onde é assegurado o direito à manutenção do emprego desde a confirmação da gravidez até 05 meses após o parto. Nesse caso, a gestante não deve ser demitida, salvo em casos de aplicação de justa causa ou pedido de rescisão indireta.”, afirma a advogada. Outra conquista da mulher é o direito à licença-maternidade de 120 dias. Instituída na Constituição Federal de 1988, o benefício abarca adotantes e tutores. Em casos onde há óbito da genitora, o pai tem direito a usufruir de todo o tempo que lhe seria cabível, proporcionando, assim, melhor bem-estar ao bebê. Além destes direitos expostos acima, é assegurado à mulher o direito a ter a inviolabilidade de sua intimidade, de sua integridade física e moral. A mulher, jamais, deve ser exposta a situações humilhantes ou vexatórias. A advogada Mariluza explica que requisitar testes de gravidez em exame admissional ou até mesmo questionar quanto à vida íntima, quantos filhos possui com quem o filho ficará se ficar doente, são questionamentos discriminatórios e passíveis a demandas judiciais. Apesar disso, em um passado muito recente, mais precisamente 2002, quando houve a revogação do Código Civil de 1916, a mulher não possuía certos direitos assegurados. Em recentes pesquisas realizadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), em 2019, foi constatado que a mulher recebe cerca de 20% a menos do que o homem, embora exercendo a mesma função, qualificação técnica e ocupando cargo idêntico ao homem. Embora toda evolução trazida ao longo dos anos, há urgente necessidade de preencher muitas lacunas ainda existentes. Para ilustrar, vale um exemplo onde recentemente foi divulgado um recurso remetido ao STF, onde a tese defensiva quanto a um caso de feminicídio, era a questão da legítima da honra do acusado. São entre essas e outras situações que nos fazem refletir sobre a forma como a mulher ainda é tratada em nossa sociedade. “Essas práticas devem ser combatidas, sobretudo através de denúncias, acolhimento às vítimas, políticas inclusivas, que venham, de fato, a reduzir tamanha diferença e que a lei, realmente, seja cumprida.”, conclui a advogada.
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"Lava uma mão": sucesso dos anos 2000 ou incentivo ao desperdício? BÁRBARA BEATRIZ CAMELLO E DIANA CAMPOS
Exibido na década de 90 pela TV Cultura, o programa Castelo Rá-Tim-Bum trouxe à televisão aberta uma história fictícia sobre um grupo de crianças e um jovem bruxo que, em um grande castelo, viviam diferentes aventuras. Com um enredo que mostrava ao mesmo tempo brincadeiras e mensagens relevantes, como a importância de escovar os dentes e lavar as mãos, o programa ainda é lembrado por aqueles que o assistiam enquanto crianças, mesmo 23 anos após o fim de sua exibição. Foi essa lembrança a responsável pelo sucesso do hit de 1995 "Lava uma mão", um dos mais famosos do show, como forma de conscientização sobre a higiene durante a pandemia da Covid-19. O videoclipe da obra de Arnaldo Antunes ganhou tradução para a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e remix com mais de três milhões de visualizações produzido por Pedro Sampaio, DJ responsável por emplacar músicas até mesmo no Grammy 2020. Nas cenas do clipe de 1 minuto e 18 segundos é possível perceber forte incentivo para os cuidados próprios, como maneira de gerar qualidade de vida e evitar doenças. A letra da música que embala as cenas de crianças lavando as mãos lista variadas situações nas quais é importante que haja este tipo de limpeza, como antes das refeições, depois de brincadeiras e antes do contato com pessoas próximas. O ponto negativo da obra audiovisual, no entanto, se dá quando o olhar para ela é voltado para a questão do consumo da água, uma vez que durante todo o vídeo é possível observar as crianças não só brincando com este elemento, mas também deixando a torneira aberta enquanto ensaboam as mãos.
Cena do videoclipe da música "Lava uma mão"
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Autoridades ambientais recomendam que, para que haja economia, as torneiras estejam fechadas durante a lavagem das mãos
De acordo com a Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR) para a lavagem correta das mãos uma pessoa que não fecha a torneira gasta em média 7 litros de água. Considerando que esta atividade seja feita várias vezes ao dia, é possível concluir que um indivíduo que a realiza pelo menos 10 vezes durante a sua rotina será responsável por usar 70 litros do líquido, ou seja, mais da metade do consumo diário por pessoa recomendado pela OMS. Com grande relevância na época, atingindo mais de 14 pontos de audiência do IBOPE entre as décadas de 80 e 90, a TV Cultura foi uma das responsáveis pela formação dos millennials brasileiros. Levando isto em consideração, é possível notar que esta emissora poderia ter representado um papel de conscientização, quando, no entanto, escolheu por ressaltar os maus hábitos da população em relação ao consumo de água. É importante ressaltar que não se exclui o caráter didático da canção e sua forma simplória de trazer temáticas como saúde e bem estar, presentes até mesmo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Contudo, são estes mesmos Objetivos que permeiam a problemática em relação ao vídeo, que claramente vai contra outro ODS, o que regra o consumo sustentável. O recém destaque dado ao videoclipe de "Lava uma mão" serve como prova de que as produções audiovisuais têm suas mensagens passadas até mesmo décadas depois de sua exibição. Desta maneira, ele funciona como lembrete contemporâneo em relação à necessidade de uma visão sustentável diante da produção de conteúdos televisivos e educativos.
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