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ESTUDANTES DAS ESCOLAS MUNICIPAIS FAZEM APRESENTAÇÕES DE ARTE E CULTURA
NA 26ª FEIRA PAN-AMAZÔNICA DO LIVRO
22 A SECA INDUZIDA PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PODE TRANSFORMAR PARTES DAS FLORESTAS TROPICAIS DA AMAZÔNIA EM SAVANAS
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PROGRAMAÇÃO DO 231º CÍRIO
EDITORA CÍRIOS
DIRETOR e PRODUTOR: Rodrigo Hühn; EDITOR: Ronaldo Gilberto Hühn; COMERCIAL: Alberto Rocha, Augusto Ribeiro, Rodrigo Silva, Rodrigo Hühn; DISTRIBUIÇÃO: Dirigida, Bancas de Revista; REDAÇÃO: Ronaldo G. Hühn; COLABORADORES*: Agência Belém, Agência Brasil, Agência Pará, Benjamin Legendre GCARE, Kitta Mac Pherson, Imprensa MCTI, Luis Miranda, Ronaldo G. Hühn, Universidade de Rutgers, Universidade de Surrey; FOTOGRAFIAS: Agência Belém, Augusto Cesar Magalhães, Bárbara Matoso / Ascom Basílica Santuário de Nazaré, Bruno Carachesti, Carnaden, CCO Domínio Público, David Alves / Ag Pará, Davi Souza Junior, Ícaro Farias / Ascom Basílica Santuário de Nazaré, INPE, João Gomes/Comus, Joeldison Alves/ Agência Brasil, Nasa, Márcio Ferreira, Marcos Barbosa - Agência Belém, Manoel Campos, Marco Santos/Ag.Pará, Pedro Guerreiro/Ag Pará, PNAS, Luis Miranda/Semec, Osmarino Souza, Rodrigo Cabrini, Fotos aéreas de Rodrigo Pinheiro / Ag.Pará, Secom Acre, Universidade de Rutgers; DESKTOP: Rodolph Pyle;
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ÍNDICE CAPA
* Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.
Composição artística com a Berlinda de Nossa Senhora de Nazaré, durante a Trasladação, em frente ao complexo arquitetônico e paisagístico do Ver-o-Peso. Foto de Manoel Campos
ESTAREVISTA
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231º CÍRIO
OUTUBRO 2023
doProgramação Círio Musical
08/10 – Frei Gilson
09/10 – Vida e Cruz e Ana Gabriela
10/10 – Anjos de Resgate
11/10 – Adoração e Vida
12/10 – Thiago Brado
13/10 – Eliana Ribeiro
14/10 – Missionário Shalom
15/10 – Suely Façanha e Ziza Fernandes
16/10 – Ministério Seráfico
17/10 – Rosa de Saron
18/10 – Tony Alyson
19/10 Vida Reluz e Ministério M3
20/10 Adriana Arydes
21/10 Semente do Verbo e Padre Cavalcante
Círio 2023
Oarcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, dará início a realização do 231º Círio de Nazaré, com o Tema: “Maria, sinal de esperança para o povo de Deus em caminho’’, na celebração frente à Praça Frei Caetano Brandão, na Cidade Velha, por volta de 4h do 2º domingo de outubro. Ao final da missa solene dar-se-á início à procissão do Círio –tombada pelo IPHAN como Patrimônio Imaterial da Humanidade – concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
É necessário que fique uma marca profunda em todas as pessoas que participam. Uma marca na alma: o desejo de comunicar aos outros o que aqui recebemos. Todos nós somos chamados para sair daqui portadores da mensagem de Jesus.
Que cada pessoa, voltando para sua casa, saiba transmitir com alegria o que Deus fez em nós nesta manhã”. Além disso, o arcebispo de Belém, enfatizou o sentido da festividade como um momento especial, um grande encontro para todos que compõem a mesma Família de Fé.
Após o término da missa por volta das 7,20h, a berlinda que conduz a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré saiu frente da Catedral da Sé, no Complexo Feliz Lusitânia – Centro Histórico de Belém, dando-se início a procissão do Círio rumo à Basílica Santuário, com a presença dos carros do Círio de Nazaré, além da Berlinda: Carro de Plácido, Barca da Guarda Mirim, Barca Nova, Cesto de Promessas, Barca com Velas, Barca Portuguesa, Barca com Remos, Carro Dom Fuas e Carro da Sagrada Família, os quatro Carros dos Anjos e o
Fotos As imagens aéreas são de Rodrigo Pinheiro / Ag.Pará, Agência Belém, Augusto Cesar Magalhães, David Alves / Ag Pará, Davi Souza Junior, João Gomes/Comus, Manoel Campos, Márcio Ferreira, Marcos Barbosa - Agência Belém, Osmarino Souza, Pedro Guerreiro/Ag Pará Carro da Saúde. Início da missa do 230º Círio de Nazaré Dom Alberto, abençoando os fiéis com a imagem da Padroeira, convocou-os a refletirem a memória que ficará do Círio Com o núcleo da berlinda frente à Catedral Metropolitana estava iniciando a procissão do CírioApesar do momento de tensão, a ação demorou menos quase cinco minutos para que a Virgem de Nazaré pudesse caminhar em romaria, pelas ruas de Belém.
Logo após a subida da rampa da Avenida Presidente Vargas, o Banco do Brasil, começou suas homenagens à Rainha da Amazônia. Enquanto isso, a cantora Ana Gabriela, da comunidade católica Shalom brindava os presentes com belas canções marianas.
Em seguida, na Praça da República, a berlinda com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré recebeu homenagens do Banco da Amazônia, no palanque frente ao prédio sede, com o tema “A força da mulher no Círio de Nazaré”.
Em todo o trajeto, incontáveis devotos da Virgem de Nazaré estavam à espera por todas as calçadas e até mesmo em cima das últimas árvores de fícus na Boulevard Castilhos e em todas as Avenidas e vias para conseguir o lugar de mais visibilidade e próximo à imagem da Querida Padroeira
Durante a grande procissão do Círio, um dos momentos de mais expectativa é quando o núcleo da berlinda vai ser atrelado a corda. Nesse ano, mais uma vez o trabalho dos Guardas de Nazaré foi concluído com sucesso total.
Os relógios marcavam quase 8h quando o núcleo da berlinda foi atrelado à corda.
Houve apresentações culturais do Coral Vozes da Amazônia, formado por empregados e ex-empregados do banco; do grupo paraense AMA, além do padre Antônio Maria, que trouxe como convidado para conhecer o Círio o padre paulista Jairo Silva. Eles entoaram canções marianas durante a passagem da berlinda promoveu queima de fogos frios e chuva de cerca de 500 quilos de pétalas de rosas, trazidas especialmente de Holambra, no interior de São Paulo.
Como nos anos anteriores, não funcionou a campanha feita pela Arquidiocese e pela Diretoria da Festa de Nazaré para que a corta não fosse cortada antes da hora.
Ainda em frente à Catedral, rumo à Basílica Santuário Frente a Praça Dom Pedro II, chegando à Doca do Ver-o-Peso Núcleo da berlinda tinha acabado de ser atrelado à cordaPouco depois das 10h30, a assessoria da Diretoria confirmou que todas as estações estavam cortadas, sobrando então apenas a corda ligada ao Núcleo da Berlinda. A ruptura ocorreu na avenida Nazaré, entre as ruas Doutor Moraes e Benjamim Constant. Nas redes sociais circularam vídeos mostrando briga de romeiros por um pedaço da corda, em frente ao Palacete Faciola.
A grande maioria dos fiéis nem se aperceberam e seguiam seus propósitos, em procissão, repletos de romeiros, promesseiros e fiéis de diversas partes do estado do Pará, outras regiões do Brasil e do exterior.
Muitos também seguiram o trajeto de joelhos, carregando imagens, cruzes e outros objetos ligados às promessas realizadas ou às bênçãos alcançadas.
A berlinda que conduzia a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, chegou à Praça Santuário em torno das 11h30.
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Encerramento
No final da manhã, os fiéis já tomavam conta da área da Praça Santuário a fim de acompanhar e receber as bênçãos, na missa de encerramento do Círio, após mais de cinco horas de romaria, num percurso de 3,600 km.
.Às 12h20, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belém, Dom António Assis Ribeiro, realizou a celebração de encerramento da mais importante romaria da festividade nazarena, na Praça Santuário completamente lotada de romeiros. “Digo que a temperatura maior é a do coração, a da fé que nos anima e nos estimula sempre. O que Nossa Senhora diria para nós após esse Círio maravilhoso: ser grato. Ser capaz de dizer muito obrigado. Esse foi 0 Círio da gratidão, que é um sentimento que faz tão bem”, concluiu abençoando os presentes com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré.
Dia do Mandato dá início ao Círio 2023
Está oficialmente aberta a Festa Nazarena! Os Padres Barnabitas, que administram a Casa da Rainha da Amazônia celebraram, dia 21, as Missas do Dia do Mandato na Basílica Santuário de Nazaré
Desde 2020, por conta da pandemia da covid-19, os Padres Barnabitas, preocupados com o bem-estar dos filhos de Maria, optaram por transformar a “Missa do Mandato” em “Dia do Mandato”. Dessa forma, todas as quatro celebrações do dia contaram com a benção e envio das imagens.
A partir das cerimônias, iniciam as peregrinações das imagens de Nossa Senhora de Nazaré nos lares paraenses. Essa tradição tem como objetivo fazer a preparação espiritual dos devotos para o Círio de Nazaré. Durante as Missas, foram abençoadas as imagens da Virgem de Nazaré que percorrerão diversos bairros de Belém.
A Missa das 18h, a última do dia, foi celebrada pelo Reitor da Basílica Santuário de Nazaré, padre Francisco Assis, e concelebrada pelo restante da comunidade Barnabita.
O momento contou com a presença do Governador do Pará, Helder Barbalho e da vice-governadora, Hanna Ghassan. Após a Missa, Helder Barbalho assinou o apoio do Poder Executivo Estadual ao Círio 2023. A parceria entre o Estado e a Festa da Rainha da Amazônia também foi assinada pelo pároco de Nazaré, padre Francisco Cavalcante. Na ocasião, o governador e a vice-governadora, receberam de presente, cada um, uma réplica da imagem de Nossa Senhora de Nazaré.
O Governador do Estado fez ainda um convite para que todos participem do Círio de Nazaré. “Eu festejo como cristão, como católico, como devoto de Nossa Senhora de Nazaré, que nós estejamos todos juntos para mais um ano. Ano em que poderemos ir às ruas de Belém para agradecer a nossa Mãe querida e renovar os nossos votos. Aproveito para convidar todos os romeiros, convidar toda a sociedade paraense, do Brasil e do mundo, que possam visitar Belém, que possam conhecer a mais extraordinária e maior festa católica do planeta”, ressaltou.
O governador Helder Barbalho assinou o tradicional apoio do Poder Executivo Estadual ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré. A parceria, que inclui o repasse de R$ 2 milhões, foi anunciada na Basílica Santuário de Nazaré, em Belém, após a Missa do
Mandato, que marca o início da programação da Festividade com os encontros nas casas dos fiéis.“Este é o momento de consagração de toda a comunidade católica. O Círio é o encontro de nossa gente em torno de nossa padroeira, para agradecer a Nossa Senhora. E neste momento o governo do Estado apoia a Arquidiocese, para que este Círio possa, cada vez mais, representar toda a diversidade, a pluralidade do que significa este momento.
Além da liderança religiosa de Maria, também é um importante momento cultural para o nosso Estado”, destacou o governador, que estava acompanhado pela vice-governadora, Hana Ghassan.
Integração
O coordenador da Festa de Nazaré no biênio 2022-2023, Antônio Salame, destacou a importância do Círio na história dos paraenses, e reforçou a importância do voluntariado e da integração institucional com órgãos públicos, em diferentes instâncias. “O Cirio de Nazaré é um megaevento. Ele abrange todas as esferas da nossa população, bem como pessoas que vêm de outros estados, até de outros países. A gente não consegue realizar isso sem a ajuda de muitos”, frisou Antônio Salame.
“São muitas e muitas mãos. Só de voluntários são mais de 29 mil. E sem os órgãos, governo do Estado, prefeitura, Exército, Aeronáutica, Marinha, segurança pública e sistema de saúde, realmente seria impossível a gente conseguir coordenar essa grande festa sem nenhum incidente”, completou o coordenador da Festa de Nazaré.
(*) Com informações da Fundação Nazaré e Agência Pará << Helder Barbalho autorizou o repasse dos recursos ao lado da vice-governadora Hana Ghassan Governador Helder Barbalho e a vice-governadora, Hanna Ghassan com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, recém recebida, na Basílica SantuárioPrefeitura de Belém recebe a imagem peregrina da Senhora de Nazaré e assina patrocínio ao Círio
Cântigos marianos, orações, emoção: assim foi a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, na segunda-feira, 11/09, à sede da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel). Este ano a Prefeitura de Belém, mais uma vez, é uma das patrocinadora da festa maior dos paraenses – maior manifestação cristã do mundo, o Círio de Nazaré (que acontece sempre no segundo domingo de outubro)..
Forte emoção
Clima de devoção, concentração, alegria, respeito: a chegada da imagem de Nossa Senhora de Nazaré se traduzia em muita emoção para todos, na Fumbel. Momento mágico de oração dos servidores presentes.
Os cânticos marianos interpretados pela cantora paraense Gigi Gurtado. Instantes de profundo recolhimento pessoal e religioso que os devotos conhecem bem.
Esperança
Este ano o povo paraense refletirá sobre o Círio a partir do tema “Maria, sinal de esperança para o povo de Deus em caminho”.
Texto *Joyce Assunção Fotos Joyce AssunçãoO prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, e a presidente da Fumbel, Inês Silveira, receberam a imagem peregrina da padroeira dos paraenses. Estava também presente parte da diretoria da festa, representada por Antônio Salame. Na ocasião, a Prefeitura oficializou o patrocínio para a realização do Círio desse ano.
Belém abençoada
“Belém é uma cidade abençoada. Uma cidade em que realmente as pessoas são movidas pela fé. O Círio é a maior festa catolica do planeta”, ressaltou o prefeito Edmilson Rodrigues. Uma honra poder receber a imagem peregrina, receber as bênçãos, ter a presença da diretoria da festa. E é uma grande alegria poder assinar, mais uma vez, esse apoio para a realização da grande festa do povo paraense”, concluiu o prefeito.
“A gente quer agradecer esse momento de parceria com a Prefeitura de Belém, um dos realizadores do Círio: uma parceria fundamental”, destacou um dos diretores da Festa do Círio, Antônio Salame.
Estudantes das escolas municipais fazem apresentações de arte e cultura na 26ª Feira Pan-Amazônica do Livro
No dia que a 26ª Feira Pan-Amazônica do Livro e Multivozes abriu espaço para as vozes da democracia, os estudantes da educação infantil da rede municipal de ensino ocuparam o Hangar Centro de Convenções da Amazônia com uma programação toda especial elaborada pelo Núcleo de Arte, Cultura e Educação (Nace), da Secretaria Municipal de Educação (Semec) para acolhê-los no estande e na Arena das Arte dentro da feira.
A peça de teatro “Douglas quer um abraço”, encenada pela turma do Jardim II da Escola Municipal de Educação Infantil Erê, que conta a aventura de um garoto em busca do abraço da mãe, deixou o público da arquibancada da arena emocionado.
“Eu sou mãe e me sinto tão valorizada em saber que um abraço que a gente dá nos nossos filhos tem tanto valor assim”, disse a
enfermeira Débora Carvalho, 42, que aproveitou a folga entre os plantões para visitar a Feira Pan-Amazônica do Livro.
Cultura Piopular
A Escola Municipal Profª Luzmarina Muniz apresentou as danças do boi Pavulagem com a turma do Maternal e o carimbó com as crianças do Maternal II e também foram muito aplaudidos pelo público presente na feira.A programação com os estudantes da rede municipal de educação na Arena das Artes encerrou com a turma do 5° ano da Escola Municipal Maria de Belém, que contou a história da dança do siriá, originária da cidade de Cametá e que expressa a gratidão dos indígenas e africanos escravizados por um milagre.
“Hoje foi um dia muito especial para as nossas crianças, apesar de terem só 4 anos, elas ensaiaram, ficaram empolgadas e abrilhantaram essa feira que acontece todo ano. Eu estou só gratidão à Semec por proporcionar a nossa vinda aqui na feira”, informou a professora da Escola Municipal Profª Luzmarina Muniz, Jane de Assunção. No estande da Semec na Feira Pan-Amazônica do Livro, o Nace realizou oficinas artísticas. Uma delas monitorada pelo professor orientada pelo professor Cleber Sandim, que ensinou a confeccionar o instrumento musical, a maraca, com material reciclável (garrafas de plástico). Maria
A professora de Artes Visuais, Adriele Silva e seus alunos da Escola Municipal Monsenhor Azevedo, ensinaram a arte japonesa de confecionar dobradura de papel, o origami.
“Foi um sucesso, é uma oficina bem rápida pra despertar na criança a cultura popular, principalmente a cultura do carimbó. E o mais importante é que a gente trabalha com material reciclado”, explicou o professor. Cleber Sandim. Na quinta-feira, 14/09, a Coordenação de
Crianças aprenderam a confeccionar o instrumento musical maraca em oficina que utiliza material reciclável Estudantes das escolas municipais têm acesso a arte e cultura popular na Feira Pan-Amazônica do Livro e MultivozesA seca induzida pelas mudanças climáticas pode transformar partes das florestas tropicais da Amazônia em savanas
Uma parte da floresta tropical das terras baixas da Amazônia – áreas críticas para a absorção de dióxido de carbono e para amortecer as alterações climáticas – pode transformar-se ao longo do tempo em savanas secas e relvadas, de acordo com um estudo liderado por Rutgers
Orelatório, publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, descreveu uma nova compreensão de como a alternância de inundações na estação chuvosa e seca na estação seca, chamada de estresse duplo, pode limitar o estabelecimento de florestas e favorecer pastagens de vida curta. espécies.
“Como as previsões do clima futuro indicam um clima mais seco para os trópicos, saber onde e como as florestas de hoje se transformarão em savanas nos ajudará a prever como o ciclo do carbono poderá mudar, exacerbando o aquecimento”, disse Caio Mattos, principal autor que conduziu a pesquisa como um estudante de doutorado no Departamento de Ciências da Terra e Planetárias da Rutgers School of Arts and Sciences.
“Mostramos que diversas áreas da floresta amazônica, que antes se pensava serem protegidas, correrão o risco de sofrer uma mudança para um estado semelhante ao de savana”.
A região amazônica ajuda a estabilizar o clima global, armazenando cerca de 123 bilhões de toneladas de carbono acima e abaixo do solo, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).
A perda de árvores devido a um processo que o estudo descreveu como “savanização” significa que a capacidade da Amazônia de armazenar carbono poderá ser afetada.
As descobertas ajudam a explicar por que as florestas e as savanas podem coexistir lado a lado sob o mesmo clima hoje, com as florestas ocupando áreas inundadas de forma estável, como as vastas florestas pantanosas no interior da Amazônia, ou secas de forma estável, como as florestas em terras altas bem drenadas.
Isto implica que, num futuro clima que se prevê ser mais seco, algumas das planícies permanentemente inundadas da Amazónia começarão a “sentir” um período seco, sujeitando as florestas a condições de duplo stress ou de savana no coração da Amazónia.
“Este estudo demonstra o poder da hidrologia na explicação da estrutura e função dos ecossistemas vegetais”, disse Ying Fan Reinfelder, professor do Departamento de Ciências da Terra e Planetárias da Escola de Artes e Ciências Rutgers e coautor do estudo.
À medida que as mudanças climáticas trazem condições mais secas, partes da floresta amazônica podem ser afetadas
Os fatores subjacentes (alguns dos quais são apresentados a cinzento na parte inferior) estimulam perturbações (extração de madeira, incêndios, efeitos de borda e secas extremas) que causam a degradação florestal. Um satélite ilustra as tentativas de estimar a extensão espacial da degradação e as perdas de carbono associadas. Os impactos (em vermelho e em destaque) são locais – causando perdas de biodiversidade ou afetando os meios de subsistência dos habitantes das florestas – ou remotos, por exemplo, com o fumo a afetar a saúde das pessoas nas cidades ou a causar o derretimento dos glaciares andinos devido à deposição de carbono negro. Crédito: Alex Argozino/Studio Argozino
“Argumentamos que a investigação sobre as alterações globais pode beneficiar de um enfoque mais acentuado nas alterações hidrológicas”. Estas descobertas, disse Reinfelder, contrastam com as conclusões da maioria dos estudos sobre o futuro da Amazónia, que concluíram que esta conversão floresta-savana provavelmente estará
confinada a uma área da Amazónia – a sua porção sul mais seca. Uma floresta é definida como uma área de terreno dominada por árvores e caracterizada por sua copa espessa. Uma savana é um sistema misto de floresta e pastagem com árvores suficientemente espaçadas para permitir que a luz solar promova o crescimento da grama.
Os oceanos e as florestas representam os dois maiores “sumidouros” ou absorvedores naturais de carbono na Terra. As árvores retiram carbono do ar durante a fotossíntese. As savanas, embora sejam fontes vitais de biodiversidade, armazenam muito menos carbono por acre.
Os cientistas sabem há décadas que as margens da Amazónia estão ameaçadas pela desflorestação provocada pelas pressões populacionais e pelas alterações climáticas. O estudo revelou uma visão sobre um mecanismo que provavelmente afetará o interior da Amazônia.
“Descobrimos que as inundações são fundamentais”, disse Mattos, agora pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Princeton. “Em algumas partes da paisagem, as águas subterrâneas oscilam entre serem muito rasas – afogando as raízes das árvores – e muito profundas – privando as raízes de água. Este duplo estresse só é tolerado por espécies de plantas de savana. As florestas só prosperam quando situadas em terras altas estáveis, que nunca são inundadas, ou em terras baixas estáveis, onde são sempre inundadas.”
Para chegar às suas conclusões, os cientistas recorreram à ciência da hidrologia, o estudo das propriedades da água terrestre em terra.
A desflorestação da Amazónia está acelerando devido a uma combinação de fatores antropogênicos, incluindo condições climáticas mais secas
(Canto superior esquerdo) Mapa da Amazônia mostrando a localização dos incêndios florestais, 1985 a 2021. (Direita) Floresta primária recentemente queimada perto de Rurópolis, Estado do Pará, Brasil, 17 de setembro de 2020. (Inferior esquerdo) A taxa de desmatamento na Amazônia brasileira está aumentando agora rapidamente sob as políticas ambientais do governo Bolsonaro. Depois de milhões de anos servindo como um imenso reservatório global de carbono, a floresta amazônica está se tornando uma fonte líquida de carbono para a atmosfera. : (MAPA) ESRI, GARMIN-GEBCO, NOAA NGDC; (FOTO) MARIZILDA CRUPPE/AMAZÔNIA REAL
Para simular os ciclos hídricos da região amazônica no presente, eles empregaram um modelo computacional complexo, essencialmente uma série de equações que representam várias condições hidrológicas – incluindo alturas de rios, níveis de umidade do solo e taxas de evaporação. Em seguida, eles executam o modelo computacional usando projeções climáticas para 2090-2100 usando dados fornecidos pelos cientistas do IPCC (o Modelo do Centro Hadley), para mapear as áreas que podem passar de inundações permanentes para estresse duplo.
Fração de área com remanescente florestal para toda a Amazônia em função de cenários apenas de mudanças climáticas (barras cinza) e combinação de mudanças climáticas + desmatamento (barras verdes musgo) e mudanças climáticas + desmatamento + efeito do fogo (barras rosa) para intervalos de tempo 2020 –2030 (rotulado “2025”) e 2040–2060 (rotulado “2050”) em cenários de desmatamento de 20, 40 e 50% e para os cenários AR5 do IPCC RCP2.6, RCP4.5 e RCP8.5, e com ou sem incluindo os efeitos dos incêndios florestais. As barras e barras de erro são médias e DP, respectivamente, para todos os resultados dos modelos. O efeito da fertilização com CO 2 é considerado nos cálculos escolhendo a taxa de assimilação fotossintética como 25% da taxa máxima de assimilação fotossintética.
Uma comparação entre as representações atuais e as simulações futuras do estresse hidrológico mostrou efeitos em diversas áreas ecologicamente críticas. As florestas de várzea no interior da região amazônica, como no estado do Amazonas e ao longo dos rios Madeira e Alto Negro – consideradas algumas das florestas de várzea mais ricas biologicamente do mundo – provavelmente serão afetadas. Grandes áreas de turfeiras no Peru, outra área que absorve carbono de forma eficiente, também podem ser alteradas, levando à decomposição e consequente libertação de dióxido de carbono na atmosfera, acelerando o aquecimento.
Este foi o verão mais quente já registrado na Terra
ATerra acaba de ter o verão mais quente já registrado na história, revelam dados divulgados na quarta-feira (6 de setembro) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). Junho a Agosto de 2023 foram os meses mais quentes de sempre e são mais um sinal de que as alterações climáticas estão a acontecer. As temperaturas globais da superfície do mar bateram novos recordes em cada mês consecutivo, enquanto a extensão do gelo marinho da Antártica permaneceu num nível recorde para a atual época do ano.
“O nosso planeta acaba de passar por uma estação de fervura – o verão mais quente de que há registo”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, num comunicado . “O colapso climático começou.”
O verão foi caracterizado por ondas de calor implacáveis em todo o mundo. Em Julho, vários países – incluindo os EUA, México, Espanha e China – registaram recordes nacionais de calor, com mais de 200 mortes relacionadas com o calor registadas apenas no México.
As temperaturas globais da superfície do mar têm sido especialmente altas nos últimos cinco meses e permaneceram em níveis recordes durante abril, maio, junho e julho de 2023. Em agosto de 2023, a temperatura da superfície do mar era de 69,76 graus Fahrenheit (20,98 graus Celsius), superando o recorde de calor anterior de março de 2016 em todos os dias daquele mês. “O que estamos a observar, não apenas novos extremos, mas a persistência destas condições recorde e os impactos que estas têm nas
pessoas e no planeta, são uma consequência clara do aquecimento do sistema climático”, disse Carlo Buontempo, diretor do Copernicus. Serviço de Mudanças Climáticas, disse no comunicado.De acordo com os dados da OMM, agosto deste ano foi o mais quente já registrado “por uma grande margem” e o mês mais quente de todos os tempos depois de julho de 2023. A temperatura combinada da superfície terrestre e oceânica do mês foi 2,7 F (1,5 C) mais alta do que entre 1850 e 1900. média. “Os cientistas há muito que alertam sobre o que o nosso vício em combustíveis fósseis irá desencadear”, disse Guterres. “O aumento das temperaturas exige um aumento na ação. Os líderes devem aumentar a pressão agora para soluções climáticas. Ainda podemos evitar o pior do caos climático –e não temos tempo a perder.”Mas, a curto
prazo, as condições poderão piorar à medida que o El Niño se forme. “Vale a pena notar que isto está a acontecer antes de vermos o impacto total do aquecimento do evento El Niño”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, em comunicado.
El Niño é um padrão climático em que um cinturão de água quente fica ao largo da costa do Pacífico da América do Sul, o que muitas vezes leva a temperaturas globais mais altas e a eventos climáticos extremos.
É provável que as ondas de calor, os incêndios e as inundações aumentem à medida que as condições do El Niño se desenvolvem no Pacífico tropical pela primeira vez em sete anos. De acordo com a OMM, há 90% de probabilidade de que o evento de aquecimento dos oceanos continue durante o segundo semestre de 2023.
Fotos NASADe junho a agosto de 2023 foram os três meses mais quentes já registrados, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial
Aquecimento das águas do Pacífico e do Atlântico agravam seca na Amazônia
Aquecimento das águas do Pacífico e do Atlântico agravam seca na Amazônia. Fenômenos que estão ocorrendo simultaneamente no oceano inibem a formação de chuvas sobre a floresta. Situação semelhante foi registrada em 2010, quando houve a seca mais intensa em 120 anos na bacia do Rio Negro
Dois fenômenos simultâneos podem agravar e até prolongar a seca na Amazônia.
Além do El Niño, que aumenta a temperatura das águas superficiais do oceano na região do Pacífico Equatorial, o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, logo acima da linha do Equador, inibe a formação de nuvens, reduzindo o volume de chuvas na Amazônia. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que monitora os rios da bacia Amazônica, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que prevê redução das chuvas para a região Norte, e do Centro
Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que acompanha os impactos do El Niño no Brasil, apontam para a simultaneidade dos fenômenos. Todas as unidades são vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“O evento do Atlântico Tropical Norte está se somando ao El Niño. Dois eventos ao mesmo tempo são preocupantes.
Tivemos isso entre 2009 e 2010, que foi a maior seca registrada na bacia do rio Negro nos últimos 120 anos”, explica o meteorologista Ricardo Senna, responsável pelo monitoramento da bacia amazônica no Inpa.
Apesar de o reflexo dos dois fenômenos ocorrerem em regiões diferentes da Amazônia, o aquecimento das águas do oceano desencadeia um mecanismo de ação similar sobre a floresta.
Com a água do oceano mais quente, as correntes ascendentes carregam ar aquecido para a atmosfera. Esse ar segue até a Amazônia por meio de duas correntes descendentes. No caso do El Niño, o processo ocorre de leste para oeste – a partir do Pacífico. No caso do Atlântico, do norte para o sul.
“Esse ar mais quente atua inibindo a formação de nuvens e, por consequência, das chuvas”, afirma Senna.
Organismos internacionais, como a Organização Meteorológica Mundial, mostram um planeta mais quente, com recordes de temperatura nos últimos meses. Além disso, o oceano também está mais aquecido. Segundo a nota técnica do Cemaden, o Oceano Pacífico Norte e o Atlântico Tropical estão apresentando temperaturas entre 2 e 4oC graus acima. É nesse novo contexto que os fenômenos estão ocorrendo.
De acordo com o pesquisador Ricardo Senna, nos anos em que esses eventos ocorreram de forma simultâneo, houve atraso no início da estação chuvosa na Amazônia e foram registrados recordes históricos de seca. Além da estiagem expressiva registrada entre 2009 e 2010, houve um episódio em 2005.
“As condições começam a se repetir e provavelmente teremos uma grande seca, com atraso no início da estação chuvosa”, diz Senna.
Apesar de algumas regiões estarem recebendo pancadas de chuva, no momento, o Alto Solimões e a área de extremo leste da Amazônia já apresentam criticidade para navegação. Entre setembro e outubro, é natural haver uma baixa rápida dos rios na região amazônica. “Baixa cerca de 15 centímetros, ou até mais, por dia. Realmente, a gente vê o rio baixando dia após dia”, descreve.
A baixa que ocorre em três meses leva de oito a nove meses para encher novamente. Esse processo é explicado, em parte, pelo reflexo do período seco na região Centro-Oeste do país. De acordo com Senna, os grandes rios que desaguam nas bacias do Norte, como o Araguaia e o Tocantins, ficam longos períodos sem
Toda a margem direita, que é a direção da nascente para foz, dos rios tributários (ou afluentes) do Amazonas, não recebe grandes volumes de chuvas.
Ricardo Senna observa que a bacia do rio Negro deve ser a primeira a sofrer os impactos da seca e, em seguida, as demais regiões do Solimões.
A previsão meteorológica é de que as chuvas para a região amazônica fiquem abaixo da média até novembro. Ainda não é possível prever por quanto tempo o início da estação chuvosa deve atrasar.
Amazônia
Senna menciona que, de acordo com os registros históricos, se entre 1903 e 2000 ocorria uma cheia a cada dez ou 15 anos, a partir dos anos 2000 tem sido registrada uma cheia a cada cerca de três anos. Os recordes históricos de elevação dos rios ocorreram em 2019, 2020 e 2021. As secas aumentaram de frequência e intensidade, mas as cheias têm sido muito maiores e frequentes, alerta o pesquisador do Inpa.
Ele avalia, no entanto, que a repercussão da seca na região é mais grave pelos impactos que provoca, como a geração de energia, navegabilidade e acesso à educação e saúde. “É um processo muito caótico para a região.
As pessoas estão mais resilientes para as condições de cheias na região, mas não para as secas”, ressalta.
Queimadas
A especialista do Cemaden em secas na Amazônia, Liana Anderson, destaca que a atuação dos fenômenos simultâneos sobre a região também é motivo de preocupação com relação às queimadas. “Há uma extensão grande com risco de fogo pelas chuvas abaixo da média, aumento da temperatura, e agora temos um alerta de onda de calor. Tudo isso vai deixando toda a paisagem muito mais flamável”, analisa a especialista.
“As áreas que foram desmatadas no ano passado em algum momento podem queimar”, complementa.
O assunto foi abordado na reunião sobre risco de impactos promovida pelo Cemaden periodicamente, apontando as áreas com maior probabilidade em municípios e em áreas protegidas. Segundo Liana, a projeção é motivo de mobilização de estruturas como defesa civil, brigadistas, batalhões de policiamento ambiental, corpo de bombeiros. “A questão é se estruturar para agir na nas áreas prioritárias”, afirma.
Uso consciente do fogo reduz incêndios
Prática é adotada por brigadistas desde 2014 na Chapada dos Veadeiros (GO)
Na cachoeira de Santa Bárbara, por exemplo, localizada no Quilombo Kalunga (GO), a brigada formada por quilombolas põe fogo no espaço em torno das nascentes e das veredas que protegem o curso do rio para evitar que, no período da seca, incêndios alcancem a mata que protege as águas.
Entre abril e julho de 2023, os brigadistas do Prevfogo realizaram queimas conscientes em mais de 2 mil hectares dentro do quilombo. O Prevfogo é a unidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Ibama) que atua no combate e prevenção de incêndios florestais.
Brigadistas e pesquisadores do Cerrado apontam que o uso consciente do fogo vem ajudando a reduzir os incêndios florestais na Chapada dos Veadeiros (GO) nos últimos anos. Prática adotada por parte dos brigadistas da região desde o ano de 2014, ela se expandiu, principalmente, depois dos grandes incêndios de 2017 e 2020 que consumiram, respectivamente, 22% e 31% do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
O chamado Manejo Integrado do Fogo (MIF) é o conjunto de técnicas que usam o fogo como ferramenta para prevenir os incêndios florestais, como a queima do excesso de vegetação seca que é propícia a se tornar combustível de incêndios de grandes proporções.
Apesar de adotado pelos brigadistas há quase dez anos, o uso consciente do fogo é parte do conhecimento ancestral do Território Kalunga, sétimo quilombo mais populoso do Brasil com cerca de 3.600 pessoas espalhadas em 39 comunidades por cerca de 261 mil hectares. O supervisor da brigada local, o kalunga José Gabriel dos Santos Rocha, contou que a queima do terreno sempre foi uma prática na comunidade.
“Nossos antepassados já faziam essas queimas nos pontos estratégicos.
Queimavam uma área, dois anos depois queimavam outra área e iam remanejando o combustível.
Isso sempre foi feito”, explicou.
Por causa desse hábito, a antiga política de “fogo zero” sofreu resistência por parte dos moradores kalungas.
A proibição total do uso do fogo foi adotada como regra pelos brigadistas desde a criação do Prevfogo em Cavalcante, em 2011. Com a política de fogo zero, Gabriel disse que a vegetação acumulava excesso de material que acabava virando combustível dos incêndios florestais. Com isso, no período da seca, temperatura alta e umidade baixa, “os incêndios florestais ficavam difíceis de combater”.
Enquanto a reportagem conhecia a comunidade Engenho II no quilombo, presenciou o agricultor Elias Francisco Maia, de 46 anos, colocando fogo e, ao mesmo tempo, apagando as chamas em torno da sua roça.
“Só queimo onde quero, tenho total controle. Aqui no quilombo sempre teve fogo. No Parque [Nacional da Chapada dos Veadeiros] sempre foi política fogo zero, mas quando saiu um fogo ninguém conseguia controlar porque eles não faziam o manejo [do fogo]”, explicou.
Fogo e Cerrado
No Cerrado, o fogo faz parte da evolução biológica do bioma, destacou a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e coordenadora do MapBiomas Cerrado, Ane Alencar. Segundo a pesquisadora, existiu por muito tempo a ideia de que as chamas eram sempre ruins.
“Isso vem de uma visão da Amazônia onde o fogo sempre foi visto como algo necessariamente ruim.
Recentemente temos aprendido muito com a importância de se manejar o fogo de uma forma correta em ambientes adaptados ou dependentes do fogo. Isso é fundamental para o Cerrado e para reduzir o risco de catástrofes”, explicou.
Uso do fogo pelos órgãos do Estado
O responsável pelo Prevfogo em Goiás, Cássio Tavares, destacou que, no início, a prática do manejo do fogo não foi bem recebida por parte de órgãos ambientais do Estado, da sociedade e da academia. “Muitos foram taxados de loucos” por defender o método, contou o servidor do Ibama. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que faz a gestão do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, informou, em nota, que o uso consciente do fogo pelo órgão começou, de forma experimental, entre 2012 e 2014. De acordo com o ICMBio, o manejo do fogo para prevenção de incêndios florestais no Brasil foi motivado pela “troca de experiência com outros países que apresentaram resultados positivos na realização de ações de manejo”, em especial, com a Austrália. Como exemplo de sucesso, o Instituto citou o caso da Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins, que viu os incêndios florestais despencarem após o manejo do fogo pelo ICMBio, conforme ilustra o gráfico a seguir.
Calor recorde na superfície do mar desperta temores de aumento do aquecimento
Os oceanos absorvem a maior parte do calor causado pelos gases que aquecem o planeta, causando ondas de calor que prejudicam a vida aquática , alterando os padrões climáticos e interrompendo sistemas cruciais de regulação do planeta.
Embora as temperaturas da superfície do mar normalmente diminuam com relativa rapidez dos picos anuais, este ano elas permaneceram altas, com os cientistas alertando que isso ressalta um impacto subestimado, mas grave, das mudanças climáticas.
“O oceano , como uma esponja, absorve mais de 90% do aumento de calor causado pelas atividades humanas”, disse o oceanólogo Jean-Baptiste Sallee, da agência de pesquisa francesa CNRS.
Ano após ano, o aquecimento dos oceanos está aumentando “em uma taxa absolutamente impressionante”. No início de abril, a temperatura média da superfície dos oceanos, excluindo as águas polares, atingiu 21,1 graus
Celsius, batendo o recorde anual de 21°C estabelecido em março de 2016, segundo dados do observatório norte-americano NOAA que remontam a 1982.
Embora as temperaturas tenham começado a cair no final do mês, elas permaneceram acima dos recordes sazonais nas últimas seis semanas, com temores de que o iminente aquecimento do fenômeno climático El Niño possa carregar ainda mais calor no sistema climático.
A consequência mais imediata do aumento nas temperaturas oceânicas é mais ondas de calor marinhas, que ele disse “agir como incêndios subaquáticos” com o potencial de degradar irreversivelmente milhares de quilômetros quadrados de floresta subaquática - por exemplo, algas ou corais.
As temperaturas mais altas da superfície do mar interrompem a mistura de nutrientes e oxigênio que são essenciais para sustentar a vida e potencialmente alteram o papel crucial do oceano na absorção de carbono da atmosfera.
“Como a água está mais quente, haverá aumento da evaporação e alto risco de ciclones mais intensos, e talvez consequências nas correntes oceânicas ”, disse a oceanóloga Catherine Jeandel, do CNRS. As temperaturas também estão subindo em toda a coluna d’água e todo esse calor não desaparece. Os cientistas esperam que o excesso de calor armazenado nas águas do mundo acabe retornando ao sistema terrestre e contribua para mais aquecimento global. “Conforme o aquecemos, o oceano se torna um pouco como uma bomba-relógio”, disse Jeandel.
Com as temperaturas da superfície do mar atingindo novos recordes nas últimas semanas, os cientistas alertam que a poluição de carbono da humanidade tem o potencial de transformar os oceanos em uma “bomba-relógio” do aquecimento globalO sol nasce acima do Oceano Atlântico enquanto as ondas quebram perto de turistas caminhando dia 7 de dezembro de 2022, em Bal Harbour, Flórida. Os oceanos do mundo repentinamente ficaram muito mais quentes e bem acima dos níveis recordes, com cientistas tentando descobrir o que significa e se prevê um aumento no aquecimento atmosférico O aumento da temperatura da superfície do mar ameaça consequências graves para a vida dentro e fora dos oceanos Texto *Benjamin Legendre Fotos CNRS, Reuters - Lucas Jackson, Universidade do Havaí em Manoa, Wikipedia
El Nino
O recorde recente pode ser explicado pelo fim do fenômeno atmosférico temporário conhecido como La Nina – que tende a ter um efeito de resfriamento – e a chegada esperada de seu oposto de aquecimento, o El Nino. “Durante os anos de El Niño, o oceano profundo libera calor para a superfície e aquece a atmosfera”, disse Sallee, um dos autores dos relatórios históricos da ONU sobre mudanças climáticas.Mas os cientistas alertaram que a verdadeira preocupação é o aumento da temperatura ao longo de décadas – e além.
Quando você leva em conta o aumento de fundo nas temperaturas da superfície do mar , “2023 não parece muito deslocado em relação a outros anos de El Nino”, disse o cientista climático David Ho, professor da Universidade do Havaí em Manoa, no Twitter. “É a tendência de longo prazo da temperatura da superfície do mar que deve nos alarmar”, acrescentou.
Aquecendo o profundo
Em janeiro, um grupo internacional de pesquisadores disse que o conteúdo de calor nos oceanos superiores em 2022 excedeu os níveis do ano anterior em cerca de 10 Zetta joules – equivalente a 100 vezes a geração de eletricidade em todo o mundo em 2021. Registros que remontam ao final da década de 1950 mostram um aumento implacável nas temperaturas da superfície , com aumentos quase contínuos desde cerca de 1985.
Enquanto a superfície do mar responde com relativa rapidez ao aquecimento global, o oceano profundo “normalmente se ajusta ao longo de séculos a milênios”, disse Karina Von Schuckmann, pesquisadora especializada em monitoramento oceânico da Mercator Ocean. Assim como o aumento do nível do mar que ocorrerá ao longo de centenas de anos como resultado das emissões de carbono de hoje, ela disse que o conteúdo de calor do oceano “continuará a aumentar muito depois que a temperatura da superfície se estabilizar”.
Condições do El Niño: a água quente e a convecção atmosférica deslocam-se para leste. Em fortes El Niños, a termoclina mais profunda da América do Sul significa que a água ressurgida é quente e pobre em nutrientes
“Em outras palavras, as projeções sugerem que o aquecimento histórico dos
oceanos é irreversível neste século”, com o aquecimento líquido final dependente de nossas emissões. Para Frederic Hourdin, diretor de pesquisa do Laboratório de Meteorologia Dinâmica do CNRS, a temperatura mais recente da superfície deve aumentar a conscientização sobre o cenário mais amplo das mudanças climáticas. Claramente, disse, ainda “não estamos suficientemente conscientes de que o objetivo é prescindir do petróleo e do carvão”.