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SOCIEDADE
from Arco nº 11
by Revista Arco
sociedade Inclusão nas quadras
Futebol 5 e golbol oportunizam que pessoas cegas e com baixa visão sejam mais ativas
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Quem disse que cego não pode jogar futebol? Na UFSM, existem duas modalidades que lembram o esporte mais popular do país: futebol 5 e golbol. Ambas permitem que cegos e pessoas com baixa visão possam bater uma bolinha, deixar de lado o sedentarismo e socializar com outros jogadores.
As modalidades são praticadas com uso de recursos que estimulam a audição, como bola com guizo, ou o tato, a partir das marcações em relevo na quadra. Enquanto o Futebol 5 é a versão adaptada da convencional, com cinco jogadores de cada lado, o golbol ou goalball é um esporte diferente, com bola semelhante à de basquete e dois times de três jogadores. No golbol, vale se agachar e até deitar para defender as investidas adversárias.
Em Santa Maria, as duas modalidades são oferecidas, desde 2010, pelo Núcleo de Apoio e Estudos da Educação Física Adaptada, com apoio da Associação de Cegos e Deficientes Visuais de Santa Maria (ACDVSM). “O desafio é a individualidade”, explica a professora Luciana Palma, idealizadora e coordenadora do projeto, sobre como atender a singularidade de cada jogador.
Independentemente dos obstáculos, a proposta possibilita a inclusão a partir da prática desportiva. “Eu conheço muita gente que é deficiente visual e passa muito tempo em casa. Esse tipo de projeto faz com que saiam da zona de conforto”, observa o professor de ensino fundamental Daverlan Dalla Lana, 26 anos, atleta das modalidades.
socialização
O futebol 5 e o golbol estimulam a socialização, o desenvolvimento pessoal e a prática desportiva. A professora Luciana salienta que a comunicação clara e objetiva entre os praticantes é fundamental para que se tenha compreensão dos lances e se jogue com segurança. Além de acabar com o comodismo, a participação nos projetos ainda é sinônimo de vencer desafios diários. “Nesse momento, e garanto que vai ser para o resto da minha vida enquanto eu puder treinar, é muito importante poder participar de um esporte, estar incluído em uma atividade em que eu possa me sentir bem”, conta Ester Giuliani, 22 anos.
Modalidades
O golbol tem dois times com três jogadores. A quadra tem marcações em alto relevo para auxiliar na localização e a goleira, com 9m X 1,30m, mais larga que a do futebol. Vendados, de joelhos, os participantes devem impedir que a bola chegue até a goleira. O esporte foi criado pelo austríaco Hanz Lorezen e pelo alemão Sepp Reindle, para os veteranos que perderam a visão durante a Segunda Guerra. A modalidade é paraolímpica desde 1984. Nela, a equipe masculina do Brasil conquistou a prata, em 2012, em Londres.
Já o Futebol 5 tem dois times de cinco pessoas, quatro vendadas e o goleiro, com visão total. São colocadas barreiras nas laterais para evitar que a bola saia da quadra. O esporte também conta com um “chamador”, posicionado atrás do gol adversário, para orientar o ataque, as cobranças de falta e de pênalti.
Ambas as modalidades são praticadas em locais sem eco e em total silêncio. A torcida pode se manifestar somente quando a bola está fora do jogo.
Em função do alto custo dos materiais oficiais, as atividades são realizadas, na UFSM, com equipamentos improvisados, como barbantes sob fita no lugar das faixas de alto relevo do golbol, e goleiras feitas com cones e cordas.
a Reportagem: Érica Baggio de Oliveira
Diagramação: Lidiane Castagna Fotografia: Nathalia Pitol
dossiê
Mídias Sociais
O brasileiro gasta, em média, 9h17 do seu tempo diário com diferentes atividades online. Do total, 3h31 são dedicadas às mídias sociais. O país só perde para Filipinas e Colômbia neste quesito. Os dados são da pesquisa We Are Social 2020, da Hootsuite. O levantamento mostra que mais de 66% dos brasileiros têm perfis ativos em plataformas sociais.
O grande intervalo de tempo está associado com excesso de informação. Por não saber lidar com tanto conteúdo em diferentes formatos, as pessoas mesmo sem querer acabam adotando a economia da atenção. Isto é, não se detêm o suficiente para compreender as mensagens existentes no textão de Facebook, na reportagem compartilhada e no vídeo do Youtube.
Daí surgem dois dos grandes problemas relacionados às mídias sociais: o compartilhamento de fake news e o discurso de ódio. Neste dossiê, discutimos estes assuntos com o intuito de despertar a reflexão e, quem sabe, a adoção de diferentes hábitos no ambiente digital.
MEDIAÇÃO NO SÉCULO XXI
Jornalismo precisa ser equiparado à produção científica para resgatar a credibilidade perdida nos últimos anos
O jornalismo é responsável por parte daquilo que se pensa da cultura em sociedade e sua prática se aproxima do que faz o cientista. Tanto os jornalistas quanto os cientistas se baseiam em fatos. Apesar da similaridade, a professora do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/FW) Luciana Carvalho explica que esses profissionais têm critérios e padrões de condutas próprios e distintos, o que faz com que seus trabalhos tenham efeitos diferentes na sociedade. Ela afirma que, diferentemente dos cientistas, o jornalista se relaciona, antes de tudo, com o público e a necessidade primordial de comunicar.
Outra e, talvez, uma das maiores diferenças entre cientistas e jornalistas é o uso da linguagem. “Não se trata de ser melhor ou pior, mas diferente”, pondera Luciana. Segundo a professora, assim como a ciência, o jornalismo funciona como processo de construção de conhecimento. “O jornalismo, ao construir narrativas sobre o mundo, também faz parte da cultura, principalmente se adotarmos a perspectiva da construção social da realidade, pela qual compreendemos que as notícias são resultado de agenciamentos entre a cultura profissional, os fatos, as questões empresariais, políticas e econômicas”, esclarece. Mesmo com bases práticas de investigação e de checagem de dados e informações, tornou-se cada vez mais comum encontrar posicionamentos contrários aos trabalhos dos jornalistas e dos cientistas, principalmente nas redes sociais. O cuidado nos resultados disponibilizados à sociedade não isenta o jornalismo e a ciência de carregarem consigo uma verdade provisória. “Sabemos que não há uma única verdade e que, por mais que dela cheguemos perto, nunca a alcançaremos por inteiro”, acentua Luciana.
Diante de tantos contrapontos, da negação do aquecimento global e da propagação de que as vacinas são estratégias de redução populacional ou que causam doenças, a ciência e o jornalismo enfrentam o mesmo problema, a falta de credibilidade. “Recentemente, temos visto emergir um cenário de pós-verdade, em que o conhecimento científico e a produção jornalística são atacados e desmerecidos, o que torna cada vez mais importante a busca pelo fortalecimento desses campos, por meio da valorização de seus métodos de trabalho”, salienta a professora.
Para além do lead
Diariamente, o jornalista lida com várias pautas, assuntos de áreas distintas e, por isso, o profissional precisa estar bem informado e ser curioso. A partir desse estereótipo que a professora Luciana Carvalho coloca que algumas pessoas consideram o jornalista um especialista em generalidade. Para ela, diferente do cientista, o jornalista não tem obrigação de ter conhecimento aprofundado sobre tudo, mas precisa saber onde e como buscar o que necessita apurar para informar à sociedade. “Quando surge uma pauta, temos que saber com quem falar, onde encontrar informações básicas, buscar o histórico daquele assunto”. Assim Luciana exemplifica o processo de apuração e investigação da notícia.
Na maioria das vezes, as qualidades básicas do jornalistas são despertadas na universidade, local em que acontece a instruçãoe a experimentação daqueles que passam a atuar na sociedade. É o processo em que está o estudante José Bruno Fiorini, acadêmico de Jornalismo e participante do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Tecnologia e Sociabilidades da UFSM, campus de Frederico Westphalen.
Ele se mostra preocupado com a ascensão das redes sociais como meios de difusão da informação e, por isso, volta sua formação para conhecer mais sobre o funcionamento dessas ferramentas de mediação jornalística. Bruno alerta que nem tudo o que está vinculado às redes sociais é jornalismo, ainda que publicado em plataformas de veículos de comunicação. Segundo o acadêmico, a falta desse feeling parece descaracterizar a representação de um dos principais critérios para definir o que é notícia: o interesse público. “Acumular conteúdo nas páginas do Facebook não é fazer jornalismo nas mídias sociais. Compartilhar o horóscopo nos Stories não é produzir conteúdo [jornalístico] audiovisual”, explica.
Para ele, os produtos audiovisuais para Facebook e Instagram, por exemplo, trazem ao jornalismo novas formas de linguagens e de interação com o público. Neste sentido, a aproximação entre veículo e público é uma das principais características dessas mídias. Ao encontro disso, Luciana frisa que as redes sociais são “ambientes digitais que, por suas características, acabam se tornando mídias, as denominadas mídias sociais digitais, que é o termo que considero mais adequado, atualmente, por envolver também os aplicativos móveis”.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio do relatório Características Gerais dos Domicílios e dos Moradores 2017, no Brasil, o acesso à internet em casa atinge 70,5% da população. Pelos celulares e smartphones, chega a mais de 80%. Há muita gente que só se informa por grupo de Whatsapp. “Esses usuários são as vítimas mais fáceis das fake news. Além disso, há empresas e partidos políticos trabalhando para desinformar a população, criando pânico, desacreditando os jornalistas e a ciência”, alerta Luciana. Ela reforça ainda que, nos anos 1990, quando a internet se expandiu para toda a sociedade, autores como Pierre Lévy já falavam que o ciberespaço promoveria uma desintermediação ao tornar dispensáveis os mediadores tradicionais do conhecimento, como os jornalistas e os cientistas.
Jornalismo e(m) redes sociais
É preciso definir o que se entende por mídia alternativa ou independente. Se for para considerar todas as iniciativas que buscam se desvincular das pressões organizacionais da grande mídia, que não se associam a financiamento do governo ou de empresas, a professora diz que poucas conseguem se manter neste modelo. Para Luciana, é o que acontece no caso da Agência Pública e da Ponte, que, aparentemente, mantêm-se com recursos de editais e contribuições de leitores. “Alguns blogs e coletivos se dizem independentes, mas essa independência é relativa, pois estão muitas vezes vinculados a partidos políticos ou grupos com interesses que vão além da prática do jornalismo”, critica. Segundo a professora, o posicionamento do veículo de comunicação não é um problema, pelo contrário, desde que seja exposto para o leitor de que lado se está. Ainda mais se o lado escolhido for aquele de combate às injustiças sociais.
As redes sociais são metáforas para as ligações que se estabelecem entre as pessoas. Como essas mídias são alimentadas por meio da troca de informações e da conversação online, mostram um grande potencial para a prática jornalística. “Eu diria que o jornalismo continua sendo jornalismo nas redes ou mídias sociais digitais. E, ao mesmo tempo, surgem novas práticas, novas rotinas, novas linguagens, que parecem criar um tipo diferente de jornalismo, mais próximo da informalidade e do entretenimento, como já foi visto surgir, em outros moldes, na televisão ou no rádio”, explica Luciana. A professora demonstra preocupação com o teor de notícias falsas, porque abusam de uma possível ingenuidade do público. “Muitas pessoas não sabem ou não fazem questão de saber diferenciar o boato do fato, a notícia da falsa notícia, a informação da desinformação, o jornalismo do pseudojornalismo”, analisa. Para ela, falta letramento digital, mas também há quem lucre e tenha vantagens em disseminar informações falsas ou maliciosas de modo deliberado, como ocorre em conflitos ou eleições.
Luciana leva em conta que o digital não criou a desinformação, mas a potencializou, pois muitos recebem e repassam conteúdos para suas redes sociais sem checar a credibilidade da fonte. No Brasil, ainda há o agravante da decisão do Supremo Tribunal Federal, que em 2009 suspendeu a obrigatoriedade do diploma superior em jornalismo para a obtenção do registro profissional de jornalista. A professora menciona ainda que o mercado de trabalho está cheio de pessoas sem formação que atuam no lugar de profissionais, o que acaba por precarizar a área.
Curadoria algorítmica
A curadoria é ressignificada no digital. O termo se relaciona ao ato de cura, vigilância e zelo. Na comunicação social, historicamente, o mediador tem realizado a função curadora. Ele age como uma espécie de filtro. Por meio de base teórica e prática, seleciona, checa a veracidade e direciona informações à sociedade. Antes realizada quase como uma exclusividade do jornalista, no século XXI outros profissionais passam a realizar a função de curadoria.
Em uma sociedade cada vez mais digitalizada, os Relações Públicas, por exemplo, passam a ser inseridos nessa tarefa, já que eles estreitam ou mantêm o relacionamento entre empresa e público de forma estratégica. No entanto, quem têm chamado atenção no protagonismo desse funcionamento são os algoritmos. Aparentemente, a curadoria por meio de algoritmos se sobressai à feita por humanos. A relações públicas Maríndia Dalla Valle, formada pela UFSM/FW, trabalha como analista de mídias digitais. Ela explica que esta é uma área de instabilidade, porque a cada semana surge uma nova atualização de uma mídia social digital ou um recurso novo para ser usado.
Luís Krötz, formado em Tecnologia em Sistemas para Internet na UFSM, conta que as empresas de jornalismo podem usar o recurso das plataformas para identificar e atingir determinados públicos e que há um processo de curadoria algorítmica nessa relação. “De acordo com o público, podem ser selecionadas múltiplas plataformas de propaganda social, em geral utiliza-se mais de uma, algumas para atingir um público mais genérico e outras para atingir determinados nichos de usuários”, diz o gerente de tecnologia.
Assim, o conhecimento que antes parecia restrito aos profissionais das ciências da computação passa a ser de interesse de todos, dos comunicadores e da sociedade em geral, afinal todos estão submersos na linguagem do zero e um. “Dentro da lógica das mídias sociais digitais, o algoritmo é fundamental, pois sem ele ficaria impossível receber e procurar conteúdo online. No processo de comunicação social, ele auxilia para aproximar o usuário das pessoas com as quais esse mais tem contato digital e dos conteúdos com os quais ele mais interage”, explica Dalla Valle.
a Reporagem: Inácio de Paula
Diagramação e ilustração: Yasmin Faccin
Isso é fake news!
Em pesquisa realizada pelo Centro para a Inovação em Governança Internacional, 86% das pessoas consultadas admitiram ter acredi- tado em notícias falsas
Elas estão por toda a parte: na publicação no Facebook, na mensagem encaminhada pelo grupo do Whatsapp, no boca-a-boca. Não há quem não tenha recebido ou compartilhado - mesmo sem intenção - alguma fake news.
Uma pesquisa publicada pelo Centro para a Inovação em Governança Internacional, em junho de 2019, mostrou que as notícias falsas já foram ditas como verdadeiras por 86% dos usuários de internet entrevistados. Além disso, têm 70% mais chance de serem comparti- lhadas do que as verdadeiras. A comprova- ção veio nas eleições presidenciais brasileiras de 2018: boatos foram compartilhados pelo menos 3,84 milhões de vezes nos quatro meses que antecederam a votação, conforme a agência de checagem Aos Fatos.
Apesar de ser corriqueiramente entendida como notícia falsa, a definição de fake news é incompleta e ambígua. “Se analisarmos a noção de fake news que a mídia e a sociedade em geral costumam utilizar, encontramos ali um caldeirão de diversos fenômenos sociais e comunicativos diferentes”, pontua o professor de Jornalismo na Universidade Franciscana (UFN), Iuri Lammel, mestre em Comunicação Midiática pela UFSM. Para ele, a explicação mais adequada é a do dicionário inglês Cambri- dge, que entende as fake news como "histórias falsas que parecem ser notícias e são difundidas na internet ou em outros meios, criadas para influenciar opiniões políticas ou como piada".
As informações falsas existem desde que os humanos passaram a usar a linguagem formal para se comunicar. Já as notícias deli- beradamente falsas, difundidas para fins de influência política e manipulação, são mais recentes - ainda que datem de séculos atrás. Entretanto, foi com a expansão da internet e, em especial, com redes sociais, que as fake news passaram a se disseminar com velocidade e tomaram proporções mundiais.
Segundo o professor Iuri, aliado à ascensão das redes sociais, existe um fator que motiva a disseminação de fake news: o fenômeno global da polarização política, que “serve como combustível para fazer essa infraestrutura toda funcionar a todo o vapor, principalmente em período eleitoral, em que eleitores tentam vencer as disputas ideológicas travadas nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem”.
Direita ou esquerda?
A discussão sobre fake news também é política. Um estudo realizado pela Universidade de Oxford mostrou um aumento exponencial no número de nações cuja estratégia para governar passa pela divulgação de informações falsas. Foram 70 países que fizeram uso das informações falsas para obter vantagem frente à oposição. No Vietnã, por exemplo, cidadãos foram alistados para fazer postagens pró-governo em suas páginas pessoais de Facebook. Já o governo da Guatemala usou contas roubadas e hackeadas para silenciar opiniões dissidentes. E o partido no comando da Etiópia contratou pessoas para influenciar, a seu favor, conversas em redes sociais. Assim, é comum que as fake news sejam associadas como uma característica de algum dos espectros políticos: direita ou esquerda. Para o professor Iuri Lammel, o fenômeno das informações falsas tem um lado político. “Na história, percebo que ambos os lados do espectro político utilizaram da estratégia de produção e divulgação de informações distorcidas e falsas com o intuito de atacar desafetos políticos e de manipular a opinião pública”, conta. No Brasil, ele lembra da época dos governos Lula e Dilma, onde observou o surgimento de diversos sites e blogs especializados em reeditar matérias publicadas na imprensa, com o objetivo de reforçar um dos lados. Geralmente, não era realizado o trabalho de apuração jornalística esperado. “Atualmente, eu não tenho nenhuma dúvida de que a enorme maioria dos produtores e propagadores de notícias falsas são ligados a movimentos de direita, tanto no Brasil quanto no resto dos países. É um fenômeno global”, explica o professor.
Assim, Iuri apresenta uma das hipóteses que desenvolveu. Para ele, a recente eclosão das forças e movimentos de direita no mundo coincidiu com o aumento da estrutura de produção e propagação automatizada de informações, tais como os robôs e serviços de inteligência artificial que, ao se associarem a financiamentos privados de organizações da direita, que possuem interesses também privados e não compromissados com o público, tornaram a máquina de fake news mais eficiente e "profissional". Ou seja, cada vez mais parecidas com notícias verdadeiras. Porém, o professor reforça que a estratégia das informações falsas não é monopólio de nenhum dos dois lados.
Tipos de notícias falsas
Junk news: termo usado para designar informações de baixa qualidade, sem interesse público e com teor sensacionalista. Desinformação: produção e difusão proposital de informações falsas, com uma intenção por trás da ação deliberada. Misinformation: difusão de informações falsas por engano ou ingenuidade, sem a intenção de causar desinformação. Sátira ou paródia: trabalho crítico sobre algo ou alguém por meio da ironia, da ridicularização. A sátira se faz desde a antiguidade e, geralmente, tem elementos que deixam clara a sua intenção de exagerar ou inventar fatos, embora muita gente não consiga identificar esses elementos. Hoax: informação falsa, fabricada, que tenta usar técnicas para encobrir a falsidade e se passar por verdade, como, por exemplo, as montagens fotográficas. Ao contrário da desinformação, o hoax geralmente não tem intenção de influência ou manipulação política. Um exemplo de aplicação de hoax são as brincadeiras de 1º de abril. Deepfake: é uma técnica de síntese de imagens ou sons humanos baseada em inteligência artificial. É usada para combinar uma fala a um vídeo existente. As deepfake são usadas para fazer montagem com famosos e políticos, substituindo rostos e vozes em vídeos realistas.
culpa do jornalismo?
Em 2016, a Eleição presidencial nos Estados Unidos foi pauta constante no jornalismo. Durante a campanha, o então candidato - e hoje presidente - Donald Trump acusou o New York Times de produzir notícias falsas para prejudicá-lo. “You´re fake news”, foi a expressão utilizada.
De lá para cá, segundo a jornalista e mestranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFSM Kauane Müller, o termo foi extremamente popularizado e trouxe implicações para o jornalismo. “Essa declaração deu a entender que a imprensa é quem produz notícias falsas e, mais, não só produz mas ela em si é a mentira”, declara. Para ela, assim, se intensifica o problema da credibilidade já enfrentado pelo jornalismo, pois, desde 2008, a imprensa é afetada pela crise mundial do capitalismo financeiro. “Em um contexto mais amplo, as pessoas já vinham diminuindo a confiança no jornalismo ao longo do tempo, como apontam pesquisas do LatinoBarómetro, medidor de opinião da América Latina, e isso tem outras implicações”, postula.
Para Kauane, apesar do cenário da desinformação não ser responsabilidade somente do jornalismo, existem questões problemáticas, como a qualidade da informação que, devido à crise financeira vivida por diversos veículos, pode ser questionada. Um exemplo, são as famosas “barrigadas”, termo jornalístico de quando o veículo oferece uma informação com erros graves.
O professor Iuri Lammel diz não ser possível afirmar de maneira categórica que a alta disseminação de fake news acontece devido a falhas no jornalismo. Mas, acredita que, nas últimas duas décadas, com o surgimento desse ecossistema da informação digital, os profissionais que trabalham com a mediação das informações na sociedade perderam muita força, poder e influência.
“Entre as consequências está o enfraquecimento do próprio jornalismo. Quando os cidadãos diminuem drasticamente a rotina de consumo de informações elaboradas por profissionais guiados por uma deontologia, esses cidadãos ficam mais suscetíveis à desinformação”, postula Iuri. Logo, é arriscado atribuir a culpa apenas ao jornalismo, visto que o crescimento drástico de fake news é um fenômeno complexo, com várias causas, principalmente devido ao cenário de polarização política.
Também é a partir das fake news que uma série de ataques à imprensa tem acontecido. O intuito é de desacredi tar no trabalho profissional da imprensa, assim, Iuri afirma a importância dos
comunicadores deixarem explícito o processo de apuração. “Podemos indicar, por exemplo, as fontes entrevistadas, a origem dos documentos consultados, as condições do trabalho realizado, a fim de trazer mais clareza e minimizar ataques de descrédito”. Além disso, o jornalista defende que os comunicadores trabalhem ativamente na luta contra a desinformação ao apurarem fake news ostensivamente propagadas.
Checagem de fatos
O cenário de popularização das fake news e da crescente desinformação fez com que, dentro do jornalismo, alternativas fossem pensadas para transformar a situação. Assim, começaram a surgir agências e plataformas de checagem. No contexto brasileiro, são três as organizações signatárias do Internacional Fact- -checking Network (IFCN), rede internacional de checadores: Aos Fatos, Lupa e Estadão Verifica.
Devido às notícias falsas estarem diretamente relacionada à política, algumas plataformas de checagem, como a Aos Fatos, destinam seus esforços à checagem de discursos de políticos. Com bases no Rio de Janeiro e em São Paulo, a agência existe desde 2015 e tem como missão a “busca da verdade, checamos o que há de mais controverso no mundo da política”.
O repórter da Aos Fatos, Luiz Fernando Menezes, começou a atuar na organização a partir da checagem de falas de políticos, como Michel Temer, e, em 2018, intensificou a checagem devido à eleição presidencial. Para Luiz Fernando, o trabalho que desenvolve como checador é bastante importante: “com essa ferramenta conseguimos levar a checagem para as pessoas que compartilharam a notícia falsa, por exemplo, e oferecemos a deiro”, conta. Além disso, reforça a importância de trabalhar no sentido de combater as fake news. “A checagem se torna importante até para o debate público, que acaba muito prejudicado com as notícias falsas. Em um debate democrático não se pode e não se deve usar dados lidos em uma fake news, por exemplo”.
A mestranda Kauane Müller pesquisa sobre as três plataformas brasileiras de checagem certificadas pela IFCN. Na dissertação, a jornalista trabalha a partir de dois eixos: primeiro, busca entender a prática dos jornalistas nessas plataformas de checagem, as relações de trabalho, as especificidades, o contrato de trabalho e a rotina produtiva; segundo, eixo central da pesquisa, estuda as estratégias que as organizações de checagem usam para manter o jornalismo como uma instituição relevante para a sociedade, a partir da ideia de crise do jornalismo, sem deixar de lado o contexto maior de crise do capitalismo. Assim, ela procura responder como, a partir das plataformas de checagem,
possibilidade dela rever o que naquela informação não é verdao jornalismo busca resolver e se legitimar frente à desinformação.
No Laboratório de Experimentação em Jornalismo (LEx), o combate às fake news também passou a ser discutido. O trabalho começou a ser testado em 2016, a partir de um método de checagem de informações. Para o jornalista e técnico-administrativo em educação do Laboratório, Lucas Durr Missau, o modelo proposto tem um objetivo pedagógico ao possibilitar a experiência da checagem aos alunos do curso de Jornalismo da UFSM e, ao mesmo tempo, suscitar reflexões teóricas sobre os métodos praticados pelas agências de checagem no Brasil e no mundo.
Antes de pôr em prática a metodologia de checagem, foi necessário discutir o que, afinal, seria o fact-checking. Para Lucas, a checagem de informações é um desdobramento da apuração, que é a base da prática jornalística. Depois, elaboraram um modelo que consistia em um passo a passo da prática de fact- -checking. Em seguida, analisaram os métodos utilizados pelas plataformas e agências brasileiras de checagem, como Lupa, Aos Fatos, Pública e a argentina Chequeado, e identificaram padrões entre elas. Assim, os padrões foram usados como parâmetros para a elaboração de um modelo adotado como ferramenta de ensino nas atividades do laboratório.
Mitômetro
O trabalho metodológico realizado do LEx foi posto em prática em uma parceria junto à Revista Arco, assim surgiu o Mitômetro: método de checagem voltado à divulgação científica. “Nesse caso, acreditamos que é um tipo de conteúdo com um apelo distinto, que sensibiliza o leitor pelo caráter inusitado dado à informação, muitas vezes brincando com o senso comum”, afirma Lucas. No caso da Arco, o tratamento gráfico dado ao material também contribui para isso.
-Passo a passo da fact checking
(1) a escolha do discurso a ser analisado;
(2) a busca das fontes com informações referentes ao tema tratado;
No entanto, é preciso ressaltar que é inviável checar todo e qualquer tipo de informação. Isso porque o fact-checking se restringe a verificar partes de discursos públicos. Ou seja, que circulam em jornais, revistas, redes sociais e outros meios de comunicação, nos mais distintos formatos, como áudio, texto, foto, imagem e vídeo. E, para o jornalista, checar discurso é uma tarefa bastante complexa. “Por isso, é necessário a utilização de critérios para que uma informação possa ser checada”, lembra.
Por esse motivo, entre os principais materiais checados estão: frases de políticos, programas de partidos políticos e de governo, vídeos publicitários, vídeos e declarações com amplo alcance de público em redes sociais, além de entrevistas de personalidades nos meios de comunicação hegemônicos ou alternativos, frases de senso comum enunciadas em situações do cotidiano, entre tantas outras possibilidades. “O enfoque está na relevância e na viabilidade de checagem da declaração ou da informação citada pela fonte original”, explica Lucas.
JANELA ABERTA
Informar jovens sobre notícias falsas foi a proposta do Laboratório de Hipermídia do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (Poscom) da UFSM durante o Janela Aberta - iniciativa que aproxima a Universidade das escolas de ensino médio. Em duas semanas de julho de 2018, mais de 600 alunos e professores assistiram às oficinas sobre a produção e a circulação de fake news no Brasil e no mundo. Segundo a professora Ada Cristina Machado da Silveira, líder do grupo de pesquisa Comunicação, Identidades e Fronteiras, a resposta dos alunos foi praticamente unânime quando questionados se já tiveram contato com as fake news: grande parte afirmou que sim. “Porém, notou-se um grau de surpresa quando comentamos as características, as pretensões e, principalmente, a grande circulação e as consequências da viralização das notícias falsas”, relata Ada.
pega na mentira
o programa Pega na Mentira, na UniFM 107.9. De segunda a sexta- -feira, das 14h às 15h, o ouvinte fica a par de notícias checadas por agências, plataformas e jornais especializados, além de saber sobre educação para a mídia, cultura digital, educomunicação e informática. “Eu queria fazer um programa que contribuísse para a conscientização dos ouvintes sobre as desinformações que recebem e compartilham via redes sociais”, relata Marcelo, que afirma já ter recebido conteúdo falso de parentes através dessas plataformas. O jornalista reconhece que muitas pessoas têm dificuldade de identificar uma notícia falsa. Por isso, faz questão de reforçar que nem tudo o que aparece na internet é verdade, e que compartilhar uma mentira, mesmo sem querer, pode aumentar os efeitos dela. “Falar sobre esse tema na UniFM valida a checagem de informação e a torna mais acessível. Acho que a rádio pública pode cumprir um papel crucial de mediadora ao alertar seu público acerca dos perigos desse cenário caótico”, destaca.
EDUCAÇÃO PARA A MÍDIA
A partir do cenário de efervescência das fake news, no campus de Frederico Westphalen, um projeto de extensão vinculado ao Departamento de Ciências da Comunicação. O “Compreender os letramentos locais para (in)formar novos leitores (Letramentos)” surge com uma proposta de colocar em diálogo as ciências da linguagem e da comunicação, com o objetivo de refletir sobre o papel e a importância da leitura como meio de formação, interação e ação social. Para a coordenadora do projeto, professora Marluza da Rosa, a preocupação está direcionada para a compreensão de como se tem lido as notícias e para a formação crítica do leitor.“Quando se fala de formação crítica e/ou de competência leitora, é inevitável tratar da relação dos leitores com as mídias, visto que são nossas principais formas de acesso às informações e ao conhecimento na atualidade”, explica. Nesse sentido, o projeto trabalha com a noção da importância de perguntar a si mesmo como nos relacionamos com as informações que recebemos: se as questionamos ou não, se as assimilamos de forma passiva ou se adotamos um Desde março de 2019, o jornalista Marcelo De Franceschi apresenta
posicionamento ativo frente ao que lemos.
a Reportagem: Andressa Motter e Leandra Cruber
Diagramação: Lidiane Castagna Ilustração: Marcele Reis
(3) a reconstrução do contexto do discurso contrastado ou corroborado pelas informações obtidas junto às fontes;
(5) a representação gráfica da checagem.
(4) a classificação do discurso de acordo com as categorias elaboradas – por exemplo, verdadeiro, falso, impreciso, exagerado, entre outras
Liberdade de expressão ou de agressão?
Com o crescimento do uso da internet, aumentam também os discursos de ódio às minorias, muitos deles feitos sob o argumento do direito ao livre dizer
“Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. O 19º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos é fundamental para o exercício da cidadania, uma vez que garante, além da comunicação, o acesso à informação. A realidade, entretanto, mostra como essa liberdade de expressão tem sido usada para amparar discursos de ódio.
De acordo com a coordenadora do Núcleo de Direito Informacional da UFSM, professora Rosane Leal, a propagação de discursos de ódio deve-se à ideia de que há uma superioridade do emissor da mensagem e uma inferioridade do grupo destinatário. “Ela é uma mensagem claramente preconceituosa e que, além de discriminar e, muitas vezes, desumanizar o destinatário, também incita a violência”, afirma.
A professora explica que alguns destes discursos podem ser explícitos, enquanto outros são melhor articulados e possuem como finalidade posicionar a opinião pública de maneira contrária ao grupo cujo qual as agressões são dirigidas. Rosane afirma que em qualquer um dos casos “há tanto uma tentativa de desqualificar o grupo, quanto de incitar alguma forma de violência. Essa violência então precisa ser partilhada. O emitente do discurso de ódio convida outros.”
Ódio biopolítico
Por não existir uma lei própria para punir discursos de ódio, eles acabam enquadrados em outros crimes, de acordo com as suas especificidades e consequências geradas. Cabe à justiça classificar como dano moral, assédio, discriminação, racismo ou outros delitos. Entretanto, alguns casos criam margem para interpretações diversas, sobretudo quando resguardadas pelo princípio da liberdade de expressão.
Diante desse tensionamento tênue e de delicada classificação, o projeto de pesquisa da UFSM “Moralidades contemporâneas, fundamentalismos pós-modernos: a circulação dos discursos de ódio na mídia contemporânea”, coordenado pela professora Aline Dalmolin, trabalha com a conceituação de ódio biopolítico, que desejaria a eliminação de uma raça inteira. “São agressões, já na nossa leitura, que visariam não a pessoa na sua individualidade, mas sim o caráter biológico do envolvido, pela sua cor de pele, gênero, orientação política...que são tratados como se fossem raças”, explica. Segundo Aline, com o direito ao livre dizer e a ascensão da internet, tornou-se maior o espaço que temos para expressarmos nossas opiniões. Porém, o que deveria ser um aspecto positivo traz consequências preocupantes. “Cada pessoa se sente no direito de falar de forma livre e toma por princípio que a liberdade de expressão seja um valor absoluto, quando na verdade ela não é”, destaca. A professora Rosane complementa que, ao mesmo tempo em que tratados internacionais reconhecem a liberdade de expressão, eles também colocam condicionantes, já que ela pode sofrer limitações quando abalar o direito de outras pessoas.
redes sociais como propagadoras
Com a popularização da internet, a tecnologia possibilitou aos usuários uma maior difusão de ideias e pensamentos. Consequentemente, os discursos de ódio tiveram sua abrangência amplificada. Nas redes sociais, além dos internautas disporem de uma ferramenta para externalizar e divulgar suas opiniões, eles também encontram apoio de outros que pensam de forma semelhante.
A tecnologia foi a ferramenta que, além de dar voz a esses grupos, também lhes deu seguidores. A professora Aline explica que, ao encontrarem um público que aceita, compactua e também produz conteúdos que incitam à violência, os emissores sentem-se cada vez mais livres para manifestarem discursos de ódio.
Sobre os receptores atingidos, a professora Rosane contextualiza que geralmente são minorias sociais, comunidades que possuem uma vulnerabilidade histórica. Essas minorias não são grupos quantitativamente inferiores, mas sim pessoas que sofrem violências estruturais, tanto da sociedade, quanto dos órgãos públicos, que legitimam e reproduzem essa violência. “Ainda que a internet dê fala para esses grupos atingidos, não são as mesmas condições de fala. O grupo é tão desumanizado que todos os dias é perseguido. As vozes são silenciadas ou até mesmo ceifadas”, complementa.
Polarização
A partir das redes sociais é possível replicar informações em grande escala e, com isso, disseminar fake news. Conteúdos falsos são fundamentais para a propagação de discursos de ódio e contribuem para a polarização da sociedade. Grupos com visões opostas afastam-se, posicionam-se em extremos e, cada vez mais, isolam-se de quaisquer ideias que contraponham-se as suas.
As mídias sociais têm algoritmos, recursos que selecionam públicos e assuntos. Eles coletam nossos dados e nos inserem em uma“bolha”, na qual estão, geralmente, pessoas com posicionamentos semelhantes aos nossos. Para a professora Rosane, nós temos uma falsa ideia de liberdade, mas somos vigiados o tempo inteiro. “Eles vêem tua tendência, quem são as pessoas com quem tu convive...tu vai receber somente notícias que vão acentuar a tua visão política de mundo”, afirma.
A Organização Não Governamental SaferNet é a primeira entidade brasileira a criar um canal para receber denúncias anônimas de crimes de ódio na internet. No período eleitoral de 2018, entre 16 de agosto e 28 de outubro, foram registradas 39.316 denúncias. Mais do que o dobro em relação ao pleito de 2014, quando foram feitas 14.653. O aumento reflete a polarização no país e as consequências das fake news.
memes e política
Populares no ambiente digital, os memes são capazes de transformar qualquer assunto, pessoa ou ação em riso. Mas como separar piada e ofensa? O professor da Universidade Federal Fluminense, Viktor Chagas, é coordenador do Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração, que fundou o #MUSEUdeMEMES. O projeto nasceu do interesse em discutir o fenômeno de maneira aprofundada.
Para Viktor, a distinção entre humor e ofensa é um dos problemas mais complexos que o grupo busca responder. Do ponto de vista de quem faz a piada, não há uma resposta. O limite é dado por quem recebe a brincadeira. Cada audiência compreende de determinada maneira. E, se a brincadeira ofende alguém, ela não é e talvez nunca tenha sido uma brincadeira, explica. “Não se trata de cercear a liberdade de expressão, mas de garantir uma condição de equanimidade entre os sujeitos políticos, pois, a natureza do humor é trabalhar com estereótipos, e os estereótipos não incidem sobre as classes hegemônicas, eles incidem sempre sobre as minorias”, complementa.
Além disso, os memes são resultado do que o professor caracteriza como um novo processo de socialização da informação. Públicos que antes não tinham acesso à informação, com a popularização da internet passaram a ter. Mesmo que seja de uma forma rasa. O pesquisador mostra que, se por um lado é ruim que o conhecimento circule de modo superficial e possa favorecer radicalismos, por outro é bom que esses novos públicos tenham um primeiro contato de letramento político.
Viktor afirma que os memes são usados para propagar discursos de ódio, mas que tal característica não está sempre presente. “Ela é resultado de uma série de circunstâncias com as quais estamos sendo confrontados em nossa experiência”, comenta. Segundo ele, as figuras de humor são apropriadas pela cultura do ódio, pois tornam mais simples e superficial a informação política, o que garante que todos tenham acesso.
a Reportagem : Melissa Konzen e Paulo Cezar Ferraz