VOL. 1
ARQUITETOS NA PARAÍBA
A Evviva está iniciando uma era de mudanças e novas experiências na sua história. O redesenho do seu logotipo e a nova campanha são apenas o início de um movimento que retrata a tradição e os valores da família Bertolini passados de geração para geração. Estamos escrevendo um novo capítulo, permeado pelo saber fazer, pelos detalhes, respeito ao produto, às pessoas e aos novos tempos.
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Evviva. Ontem, hoje e amanhã.
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PELA TRADIÇÃO DO NOVO
Arquitetos 12 24 32 40 48 56 64 74 82 90 98 106 114 122 130 138 146 154 162 170 178 186 194 202 210 218 226 234 242 250 258 266 274 282 290 298 306
Mario Glauco Di Lascio Amaro Muniz Expedito Arruda Regis Cavalcanti Hélio Costa Lima Débora Julinda Gilberto Guedes Íria Tavares Íris Galvão Antonio Cláudio Massa Teresa Queiroga Germana Terceiro Neto Cristiano Rolim Ana Helena Sandra Moura Ângela Diniz Amélia Panet Carmem Lins Ernani Henrique Júnior Silvana Chaves Fábio Queiroz Paulo Macedo Márcia Barreiros Carmen Raquel Fábio Galisa Maria Raquel Jussara Chianca Silton Henrique Lana Débora Jailton Jales Ricardo Vidal Fernanda Barros Giovani Andrade Anabel Alvarez Francisco Cabral Leila Azzouz Leonardo Maia
ÍNDICE
Histórias de vida e de ideias A arquitetura é muita coisa. Pode ser basicamente buscar o bem-estar da família que habita (ou vai habitar) um apartamento ou uma casa. Pode ser a ideia e construção de um marco histórico de um lugar. Pode ser pensar uma cidade inteira. O livro que você tem agora em mãos procura trazer um pouco de todas essas ideias e outras mais. Através de perfis biográficos de vários nomes da arquitetura paraibana, profissionais de diferentes gerações, a grande maioria ainda na ativa. Você vai conhecer a história de cada um: como surgiu o interesse pela profissão, o contato com o desenho, os anos de faculdade, o início da vida profissional e suas principais obras comentadas por eles mesmos. Um volume importante, que cristaliza em suas páginas uma era da arquitetura na Paraíba. Este livro abrange de jovens talentos a profissionais já bastante reconhecidos e grandes mestres. Os nomes se cruzam o tempo todo: parceiros profissionais, colegas de classe na facuildade, alunos e professores, estagiários e os profissionais que os acolheram no começo. E arquitetos que já estão mais entre nós, mas continuam sendo inspiração para as gerações seguintes. Então, prepara-se. Este livro não é só uma relação de projetos. São histórias de vida. Muitas vezes de luta, quase sempre de sucesso. E os pensamentos por trás destas histórias de vida. Muitos textos aqui jogam ideias a serem debatidas, reflexões que vão inspirar também a sua reflexão. Você certamente vai pedir por um volume 2.
MARIO GLAUCO
DI LASCIO
A
RQUITETO DE MUITAS VIDAS
Professor, arquiteto, construtor, campeão de boxe, um dos professores integrantes da fundação da UFPB, fundador da Escola de Engenharia da Paraíba, fundador da Delegacia do Crea na Paraíba, fundador do primeiro curso de arquitetura no estado e piloto de avião. São tantas as conquistas e competências em marcar as primeiras vezes em várias áreas profissionais, que tornam a vida de Mário Glauco Di Lascio uma fonte viva da história da arquitetura. O professor, como muitos dos arquitetos paraibanos o chamam, ou mestre, como prefere ser chamado, é dono de uma vivacidade e espirituosidade contagiantes. Sua memória é um instrumento poderoso, capaz de resgatar datas, nomes e momentos que teve oportunidade de vivenciar em seus 88 anos de vida. Sua forma de falar, cadenciada, com uma narrativa estruturada, que alterna picos de divertimento e seriedade,
somados a uma pitada de surpresa, estimulam o ouvinte a querer mais, sempre mais: saber dos detalhes, dos momentos que construíram uma vida e, ao mesmo tempo, uma das passagens para o estilo modernista da arquitetura na Paraíba, evidenciando um talento lapidado por anos em sala de aula. Através do oceano A história de Mário com a arquitetura começa antes mesmo dele nascer. Com uma admiração e uma satisfação de uma lembrança emprestada, Mário conta como seu pai, Hermenegildo Di Lascio, um italiano que se radicou na Paraíba, veio da Itália para ser um dos expoentes mais importantes no processo de modernização da arquitetura da Paraíba. “Os meus avós já eram construtores lá na Itália. O meu avô paterno, Francisco, mudou-se para a Argentina e continuou com a ação de construção. Meu pai começou ajudando meu avô desde novo e foi se interessando pela obra. Quando ficou um pouco mais velho, começou a trabalhar mesmo na área e montou sua própria construtora. Estudou arquitetura, mas, antes mesmo de se formar, em 1908, já trabalhava como desenhista para a prefeitura de Buenos Aires”, destaca o arquiteto. Mário conta que seu pai entrou como sócio do avô, mas que em 1916, a convite de um amigo, veio ao Brasil, trabalhar para o Estado da Paraíba, comandado na época por Camilo de Holanda. “Uma andorinha só não faz verão, mas meu pai fez, fez as quatro estações, inclusive. Foi o único arquiteto da região, construindo prédios, públicos e particulares, por toda a cidade, como o edifício da Maçonaria, Associação Comercial, a Academia de Comércio e o antigo prédio dos Correios e Telégrafos”, afirmou. Com uma forma divertida de ver histórias de sua vida, permeia, com traços históricos, as construções de seu pai e momentos importantes da família. “Meu pai construía o prédio da maçonaria e, na época, a Igreja Católica e a maçonaria não se davam bem. Minha irmã e as filhas de um amigo de família tiveram que sair da escola por causa disso”,
conta Mário, destacando que, apesar disso, uma amizade com pessoas influentes na cidade fez com que as moças pudessem estudar no Colégio das Neves, um dos mais conceituados da época. Primeiros passos Quando garoto, com apenas 4 anos, gostava muito de fazer pequenas casas com blocos de madeira, seu primeiro presente relacionado à arquitetura: a caixa do Pequeno Construtor. “Todo dia quando meu o pai chegava, cortava um botão de rosa e entregava à minha mãe. Depois ia ver a série de construções, pontes e torres que eu fazia com a caixa do Pequeno Construtor. Um tempo depois, meu pai pediu que eu fizesse um desenho de uma casa, eu parti logo para a perspectiva. Ele aprovou na hora e me estimulou a começar uma sessão de desenhos, mas nunca abandonei a sessão de construtor”, se diverte Mário ao lembrar. Após isso, se encantou pela arquitetura. Partiu para o ginásio, procurou estudar mais matemática e desenho à mão livre. “No desenho eu só tirava 10, aprendia truques para agilizar o desenho quando não tinha instrumental e para melhorar a parte gráfica. Além disso, estudei Delfim Amorim, Borsoi, perspectiva, além de elementos de geometria descritiva”, enfatiza, explicando que assim começava a desenvolver as atividades básicas na escola que serviriam para sua profissão, como o latim, a botânica e o grego. Estudava no Lyceu Paraibano e, quando terminou, em 1948, início de 1949, decidiu estudar arquitetura na Mackenzie, em São Paulo. “Minha mãe fez um enxoval de ternos num tecido mais grosso, por causa do clima. Meu pai me deu 3 notas de 10 mil réis, o suficiente para me sustentar por cerca de três meses. Chegando lá, paguei um mês adiantado na pensão e fui procurar emprego”, assinalou. E Mário arrumou não apenas um emprego, mas dois. Passou a ensinar como professor repetidor, algo equivalente ao professor de reforço escolar de hoje, e respondeu a um anúncio oferecendo vaga em uma loja de eletrônica. Com isso pagava um curso preparatório para o vestibular e ainda conseguia se sustentar. Pela manhã, Mário trabalhava 5 horas corridas, à tarde fazia cursinho e à noite dava aulas particulares.
“Anunciei no Estado de São Paulo e comecei com 3 alunos, um libanês, um sírio e um italiano. Como eu lia muito sobre mecânica em revistas americanas, fiz cursos de eletrônica e instalações hidráulicas por correspondência. Na loja faziam circuitos eletrônicos de alta frequência. Quando cheguei lá, o responsável me deu algumas horas para resolver uns problemas nos circuitos, fiz em meia hora e fui contratado. Depois de um mês, escrevi uma carta e devolvi duas notas de 10 mil réis ao meu pai”, explicou Mário, orgulhoso. Trajetória difícil O esforço deu certo e Mário já cursava há dois anos o curso de arquitetura na Mackenzie quando algo muito difícil aconteceu. Em 1950, seu pai tinha ido à Europa visitar a sua terra natal e acabou tendo um descolamento de retina. Durante seis meses Mário acompanhou os tratamentos feitos pelo pai, que acabou ficando cego de um olho e enxergando muito pouco com o outro. Teve de voltar para a Paraíba para ajudar os negócios da família. “Tentei transferir pra Recife, mas o currículo da Mackenzie não batia com o de lá. Acabei fazendo vestibular novamente para começar tudo de novo. Meu curso de Arquitetura ficou sendo de sete anos, dois em São Paulo e mais cinco em Recife, de 1952 a 1957. No final das contas, foi bom. Conhecimento não se perde”, argumenta. Mário tinha de dar conta da faculdade, da empresa da família e das obras. Para isso saía de casa na segunda às 4h da manhã, viajava para Recife numa estrada de barro e sem arcondicionado. Estudava de 8h até 12h, voltava pra João Pessoa, ia direto para a loja do pai, fechava o caixa e ia ao banco acertar as contas. “Meus amigos me ajudavam, entregavam por mim
os trabalhos no dia em que eu não podia ir. Minha turma foi realmente muito boa. Como meu pai morreu no ano de minha formatura, eles decidiram que não ia ter baile por causa disso e isso me tocou muito”, relembra com emoção o arquiteto. Militando na área Mário é um dos maiores representantes da arquitetura na Paraíba, conheceu e conviveu com nomes como o de Oscar Niemeyer. Mas sua luta pelo avanço da arquitetura, seja ensinando ou em busca de direitos, contribuíram para ser respeitado por diversas gerações de arquitetos. Após se formar, Mário foi nomeado professor catedrático das disciplinas de perspectivas, sombras, estereotomia e desenho à mão livre na Escola de Engenharia da Paraíba, que ajudara a fundar em 1954, ainda estudante. Posteriormente, o Governo do Estado incorporou a escola, ligando-a à secretaria de educação, até que José Américo de Almeida, então governador, fundou a UFPB, unindo a escola e outros cursos. E o curso de engenharia passou a ser federal. Outra preocupação de Mário foi a de ajudar no recebimento dos diplomas dos alunos dos formados em arquitetura. Como o Crea só existia em Recife, lutou com sucesso pela implantação de uma delegacia do conselho em João Pessoa, o que facilitou muito o recebimento pelos alunos. A fundação do curso de arquitetura, onde passou a lecionar a disciplina Elementos de Arquitetura, foi outra de suas lutas que tiveram sucesso, mas a atenção de Mário para com a continuidade do ensino de arquitetura no estado é evidenciada quando ele lembra que passou dois anos ministrando quatro disciplinas gratuitamente na Escola de Engenharia de Campina Grande para que ela permanecesse aberta enquanto aguardava a chegada de novos professores. Mário conta que amadureceu muito pelos seus anos de ensino da arquitetura. “O professor é um mestre da sala, ele conduz e informa a aula. Agora, se você tem a vocação para informação e transmitir conhecimento, seja em qualquer área, e se aprofundar na capacidade pedagógica, vai compreender que vai ensinar muito, mas vai aprender bastante”, afirma. “Professor bom é o que também aprende com os alunos e eu aprendi muito”, continua. “Tanto pelo aprendizado
das contínuas gerações de estudantes, com novas ideias, inovações, além de juntar uma gama grande de conhecimentos, que são sincronizados com a própria época. O professor tem de transmitir conhecimento, mas também assimilar novos conhecimentos. Até mesmo fundamentos estéticos e éticos do período em que vive”. Percorrendo seu caminho na arquitetura A primeira grande influência de Mário é seu próprio pai, com seu estilo funcional, mas o professor se inspirou na arquitetura moderna de Sérgio Bernardes, Lúcio Costa e Niemeyer, e se assume como um membro da escola modernista. Mário confessa que, de arquitetos como Frank Gehry e Calatrava aprova a tecnologia, mas desaprova a plástica e o condicionamento espacial das grandes estrelas da arquitetura contemporânea. “Todas elas estão condicionadas ao orçamento. Eu chamo isso de arquitetura do absurdo”, critica. “Tem de imaginar a construção com antecipação. Hoje em dia o arquiteto pensa demais na tecnologia, influenciado pelo mercado de consumo. Esquece o que o edifício pede, tem de ter quatro fachadas e tem de ter identificação com o lugar e a propriedade dele, para o que vai servir e para o que foi feito. A arquitetura é uma obra de arte”, enfatiza o arquiteto. Ele também não se prende a estilos. “Eu faço em qualquer estilo. Projeto em função da cultura da família, do local que vai ser implantada a casa, de tecnologias e propostas que possam ser absorvidas, mimetizadas. Assim, eu faço casas em qualquer estilo”, conta. “E você nota que é uma construção modernista, mas obedecendo aos estilos de determinada tradição. Não é só a arquitetura moderna que vale. Sou considerado arquiteto moderno, mas sou barroco modernista”, se define. Conta que seu primeiro projeto sozinho foi a casa de Ivan Cavalcanti, situada próximo ao Hiper Bompreço da Avenida João Machado, em João Pessoa, e o último foi o edifício Calladium, com 500 metros por apartamento, um por cada um dos 25 andares. Projetou também o primeiro prédio de torres duplas da
capital, já com a participação de sua filha Rafaela. Ressalta, no entanto, por mais diferenciados que sejam os projetos, sempre esteve presente nas obras. “Quando eu comecei, as pessoas me contratavam pelo projeto e para a construção. Sempre fui construtor na obra”. Sempre muito exigente com o acompanhamento das obras as quais era responsável. Ele conta que, em uma das obras, na parte de cima de uma construção de 6 metros, chegou a cair e quebrar vários ossos do corpo. “Eu estava em pé em cima da laje, quando um servente de pedreiro passa e eu, involuntariamente, me afasto para ele circular. Caí de 6 metros numa superfície de cimento. Passei um ano no hospital para me curar. Ossos quebrados, cotovelo quebrado, pernas, costelas, até um rim desceu do lugar. Mas eu era duro e, com um mês de recuperação, eu já estava dando aula”. Família A família é uma das partes mais importantes na vida de Mário, mesmo com todas as atividades que desenvolveu na arquitetura. Conheceu sua esposa Annita em 1958 e teve uma filha Rafaela, com quem hoje divide o escritório e que deu à luz seu único neto, Henrique. Mário fala da morte e da vida com naturalidade que só a maturidade permite. De uma forma espirituosa e engraçada, as narrativas sobre a família evidenciam bastante isso. A primeira foi de quando atendeu ao pedido de seu pai, enterrando-o numa posição próximo ao muro do cemitério. “Comprei o espaço no cemitério e minha mãe, que era costureira e desenhava também – ainda guardo o livro de corte de costura dela –, rabiscou num guardanapo uma capela em estilo romano como queria, com colunata dupla jônica e vitrais.
Construí e costumo visitar, religiosamente, todos os sábados”, conta. Mário lembra do momento em que seu neto contou que pretendia seguir na profissão de arquiteto, mas se questionava com a dificuldade de trilhar a profissão em que o avô teve sucesso. Disse ele que riu e respondeu: “’Henrique, não se preocupe com isso. Eu sou o filho de Hermenegildo Di Lascio e nem por isso eu deixei isso me impedir’”. Uma das passagens mais emocionantes contadas por Mário foi o presente que recebeu de seu pai. Já cego, Hermenegildo pedia ao filho para ler revistas para ele. Numa dessas vezes, pediu a Mário para abrir o cofre da casa. Este vasculhou e, seguindo as orientações do pai, encontrou a carta que havia enviado ao pai muitos anos antes, quando ainda estava em São Paulo.
“Dentro da carta estava as duas notas de 10 mil réis que eu havia conseguido devolver. Ele disse que elas faziam parte da minha vida e eram a única lição que poderia deixar. ‘Com uma nota você conseguiu fazer sua vida. A lição de caráter que eu posso deixar para você é que, se perder tudo, você vai ter coragem de começar de novo’, e esse foi o presente do meu pai”, se emociona. Mário fez muitas coisas na vida e até mesmo chegou a tirar o brevê de piloto, em 1956, mas um dos hobbies preferidos dele era o boxe. Chegou a competir e se tornar campeão paulista de pugilismo amador, medalha que ainda conserva. Ele lembra de uma passagem que seu pai destacou na biografia de Joe Louis, um dos maiores campeões de boxe de todos os tempos, frase dita pela mãe dele: “Se quer ser um lutador, seja um bom lutador”. Mário tomou esse conselho para si e se tornou não apenas um arquiteto excepcional, mas um professor e um ser humano notável. | AL Fotos : Diego Carneiro e Divulgação
TRIBUNAL DE JUSTIÇA FÓRUM ARQUIMEDES SOUTO MAIOR - “O Fórum reflete na sua volumetria os destaques comportamentais, onde se situam na parte elevada as diversas varas e no volume horizontal os comportamentos jurídicos, sala de júri e anexos. Busquei inspiração para concepção do projeto no berço da arquitetura greco romana, porém sem perder o foco da realidade local. Sendo assim as colunas utilizadas para estrutura lembram coqueiros estilizados.”
CONDOMÍNIO RESIDENCIAL TRIANON - “O Residencial Trianon foi um dos primeiros Condomínios idealizados com duas torres com volumetria dinâmica na qual o ambiente das salas dos apartamentos tinham visão de 180 graus livres. Essa concepção permite uma qualidade visual ao usuário de privacidade única, pois a proposta adotada era de um apartamento por andar em cada torre. As áreas comuns situam-se no pavimento térreo.”
Fotos / imagens: Divulgação
RESIDÊNCIA JOÃO CAVALCANTI João Cavalcanti - “Nesse projeto concebi tendo a preocupação formal da casa, tomei como partido uma forma simples (trapezoidal), com coberta em uma água e o pavimento superior sustentado por pilotis. Queria uma proposta inovadora por isso utilizei uma estrutura em V com um pequeno balanço que daria uma leveza maior ao seu projeto de estilo modernista.”
AMARO MUNIZ
O
MESTRE DE MUITOS
Amaro Muniz é um arquiteto presente em grande parte dos projetos na cidade de João Pessoa. Quando não como arquiteto mesmo, em seus ensinamentos como professor de uma geração de profissionais atuante na capital paraibana. Alguns desses profissionais hoje têm filhos que seguem o caminho da arquitetura, diferente do professor, que não teve a profissão como herança de família. “Sou nascido em uma casa bem padrão da nossa região. Sou filho de um casal de escolaridade primária. E sou filho de uma família de nove filhos”, conta. Com problemas de saúde, não podia brincar na rua. Então, começou a construir não só carros e barcos de papelão, mas também cidades onde eles passavam. “Como tinha que aproveitar o que me chegava às mãos, os prédios tinham diferentes escalas. Mas todo mundo se entendia, era um mundo de paz. Mas eu não sabia que estava fazendo arquitetura, que estava fazendo urbanismo”. Aos cerca de 12 anos, aprimorou desenho e pintura em uma escola de artes em Campina Grande. E começou a notar um universo de interessados em arte na cidade. Eram os anos 1960, uma época de efervescência cultural sem igual. “Não estamos crescendo conceitualmente como crescemos nos anos 1960”, diz. “O que aconteceu nos anos 1960 foi absolutamente revelador para todos os países do mundo. Tudo aconteceu nos anos 1960. O mundo praticamente parou por algum tempo depois”. Mesmo com dificuldades financeiras, ele foi mandado para estudar Arquitetura no Colégio Salesiano, de Recife, com um primeiro ano na Escola
de Belas Artes. “É impossível para um estudante hoje imaginar o que era uma universidade naquela época”, lembra. A escola tinha a tradição modernista, que era muito forte em Pernambuco. “Talvez a escola de arquitetura mais densa sob esse aspecto seja a de Recife”. O estudante e o professor O futuro arquiteto foi aluno de professores como Delfim Amorim, Acácio Gil Borsoi, Marcos Domingues da Silva, Geraldo Santana, Gildo Montenegro. “Eu fui aluno de Ariano Suassuna! Por favor! Esses caras eram mágicos!”. Talvez por isso tenha passado com muita confiança pelo curso, de 1970 a 1975. “Eu tinha facilidade no campo da composição e no campo de plásticas por causa da bagagem que eu já trazia. Aquilo facilitou enormemente para mim. Às outras disciplinas eu não dava muita atenção. Nesse sentido eu era muito presunçoso”, brinca. “Eu pensava que era um gênio. Eu me olhava no espelho e dizia: ‘Eu sou bom’ (risos). A juventude é maravilhosa, ela nos permite certas veleidades assim”. Amaro diz que, se dependesse dele, teria escolhido o desenho industrial. “Eu sempre desconfio que sou mesmo é desenhista industrial”, diz. “Até hoje eu tenho a compulsão de ler todo objeto que eu olho. De ver como ele poderia ser melhor, como ele poderia ser mais inteligente. Olha que pretensão!”. Para ele, o desenho industrial está tão próximo da história da humanidade, desde que o homem primitivo transformou um osso em flecha, um objeto replicável, que provoca: “As pessoas não gostam que eu diga isso, mas acho até que a arquitetura é um ramo do desenho industrial”. Mas ressalta: “Mas a arquitetura não é menor por ter vindo depois”. Pois durante o curso, trabalhou com Anacleto Elói (um campinense em Recife) em programação visual e desenho industrial. Não desenho de objetos, mas artes gráficas, padronagens de tecidos e desenhos de embalagens. “Só estagiei em arquitetura especificamente com Marcos Domingues, um cara formidável. Porque era um sonho estagiar com ele”, lembra. “Insisti tanto que acho que ele me aceitou por isso”. Os equipamentos também estavam em evolução. “A régua paralela era um negócio tipo internet”, brinca. “Eu fui conhecer a régua paralela em Manaus”. Uma aventura que começou quando ele estagiava em Campina Grande. “Foi uma experiência fantástica. Você sair de um primeiro ano e ir estagiar no plano diretor de uma cidade. Com um arquiteto como Renato Azevedo (que projetou o Museu de Artes Assis Chateaubriand). Ele e a mulher dele, Vilma Serpa: eram um casal fantástico! O universo deles era maior do que o nosso, viam mais longe”. Com o dinheiro ganho, foi parar em Manaus. “Passei 22 dias viajando. Olhando o mundo”, lembra. Passaram por Caxias, na região do meio-norte maranhense, e passou uma semana em São Luís. Até lá, em um fusca 1962 de um amigo. “Depois peguei uma carona em um avião da FAB querendo ir pra Manaus, mas o avião só me levou até Belém. Depois Santarém por uma semana, em seguida para Manaus”.
Chegando em Manaus, conheceu, entre outras coisas, a régua paralela. “Porque Manaus tinha muita novidade por conta da Zona Franca. E a régua paralela era um avanço que vinha dos Estados Unidos e da Europa”, recorda. “Quando vi aquilo, quase desmaiei de emoção”. Na capital do Amazonas, trabalhou fazendo desenhos em uma empresa de engenharia. “E mesmo em Manaus eu fiz uns projetos de programação visual”. Foi como conseguiu o dinheiro para voltar. Já como professor (ele fez o concurso para a UFPB em 1976, como arquiteto, mas dois anos depois passou para o ensino), buscou deixar uma marca profunda em seus alunos. “Você não pode permitir que o aluno lhe esqueça”, analisa. “Se o aluno lhe esquecer, é porque você não teve significado na formação dele”. Mas o que o movia era a paixão por arquitetura e a possibilidade de ajudar na formação dos alunos. “Muitas vezes acho até que agi mais como pai do que como professor”, considera. “Até aconselhei alguns a deixarem o curso. A arquitetura é muito perigosa, porque a arquitetura seduz”. Chegou até a dar nota negativa, com sua didática no mínimo, heterodoxa. O profissional A vida como professor fez com que seu escritório permanecesse pequeno – deu aula até se aposentar, há cerca de sete anos. Ele continuou se dividindo quando começou a trabalhar na Prefeitura de João Pessoa. “Eu sempre tive um fascínio muito grande por arquitetura pública. Por arquitetura para o público”, ressalta. “Um hotel, uma escola, um restaurante... Nunca gostei de arquitetura de luxo”. Por isso gostou tanto quando começou a trabalhar na Prefeitura. “Eu, que estudei em escola pública, era uma forma de devolver um pouco do que a sociedade me deu. E me dediquei tanto ao trabalho na prefeitura que fui abandonando o escritório”, conta. No escritório, se dedicou a uma arquitetura residencial, buscando sempre fugir da mediocridade. “As casas que nós fizemos, quase todas elas, tinham um caráter conceitual. Eram presididas por uma ideia”, explica. “Não era a ideia de uma casa: era um equipamento para melhorar a sua vida. Eu entendia que toda casa devia ser quase como se fosse um laboratório: um laboratório para você viver e para você desenvolver suas práticas. Para mim, era o grande sentido de se ter uma casa”. Assim, para uma família que tinha fotofobia, Amaro criou uma casa
deliberadamente escura. “Fiz outra casa para um cara que tinha depressão aguda”, lembra. “Fiz outra para um casal separado, mas que morava junto”. Outro projeto, que acabou não sendo construído, planejava uma casa em um terreno de 5 x 60m2. “Eu era um adolescente que fora encontrar uma conceituação para a casa, fazendo por causa do encanto que foi você encontrar uma concepção espacial num lugar em que todo mundo imaginava que não podia existir uma casa”, afirma e brinca: “Talvez eu fizesse mais sucesso como arquiteto pelos projetos que não foram executados do que pelos que foram”. Muitas casas projetadas por Amaro já não existem mais, com o passar dos anos deram lugar a edifícios. Mas tem uma de 1978 que ainda está lá, criada por ele e Armando Carvalho, no Cabo Branco. “Essa casa tem uma concepção que acho maravilhosa. E tanto ensinou que foi referência para projetos de arquitetura nessa cidade”, diz. “Muitos alunos já foram fotografar a casa para trabalhos: percebem que a casa não é somente um objeto, mas tem um significado. É uma casa que sensibilizou. E, mais do que tudo, sensibilizou o pessoal que morava nela, que não queria nada daquilo anteriormente”. Hoje, de seu posto de observação, ele identifica diversos problemas na profissão. “Hoje, você não conhece mais seu cliente final”, avalia. “Só quem conhece seu cliente final hoje é o pessoal de arquitetura de interiores. E, mesmo assim, esse pessoal é agente e vítima do mesmo problema: está praticamente fazendo uma ambientação para fotografia. Aquela ambientação que uma criança não pode desarrumar. Uma ambientação que não tem uma rede. Como é que você vive no Nordeste sem uma rede? Terraços fechados! Vê que coisa absurda para a cultura nordestina”. As críticas também são a elementos de projetos arquitetônicos que, para ele, não tem sentido. “Marquises de vidro – aí, você fica embaixo e o sol em cima de você. Marquises inclinadas – aí, a chuva vem e lhe molha embaixo da marquise. Eu acho que está se fazendo, em grande medida é uma antiarquitetura, um antilugar, uma anticoisa”, lamenta. “Você não encontrar uma rede, não encontrar nenhum elemento do nosso contexto cultural... Você não encontrar uma espreguiçadeira em uma casa – ainda que como releitura. Na minha casa, eu tinha uma sala que era comprida e tinha três ou quatro redes armadas. Você chegava lá em casa, cada um deitava numa rede e ainda tinha um tamborete do lado para você botar o copo, o cinzeiro, a revista, o celular. O sofá lá da minha casa era um conjunto de quatro redes! Encher a casa de objetos da Feira de Milão? Faça-me o favor!”.
“Eu sempre achei que a transgressão vale a pena, na medida em que, ao fazer, você mostra alternativas, possibilidades”, analisa. “O gênio humano sempre me fascinou. Uma coisa que você faz às vezes muito simples, aparentemente, mas às vezes tem a capacidade de replicar, de se desdobrar, que gera soluções e comportamentos”. Novos desafios Atualmente Amaro tem trabalhado junto com a construtora M. Dias, principalmente por uma aproximação filosófica. “Essa empresa aqui curiosamente tem umas práticas não muito comuns entre as empresas de construção civil. Nós temos um cinema aqui em cima. E o titular da empresa confeccionou artesanalmente as poltronas do cinema. É outro gesto”, explica. É o que o inspira a vir à cidade. “Hoje sou um animal quase que rural. Passo mais de metade da semana num sítio. Adoro o silêncio e o silêncio me ajuda um pouquinho a pensar”. Para ele, mudanças conceituais são necessárias. “O mundo está mudando numa velocidade muito grande e a gente não está prestando atenção”, opina. E o convite da M. Dias veio através da amizade com o proprietário Mirabeau Dias, um homem com uma grande aproximação com a arte e a cultura. “Ele me disse: ‘Toda vez que a gente bate um papo você vai embora e eu fico com a cabeça fervendo’”, lembra. Então Dias convidou Amaro para colaborar na empresa. “Ele disse: ‘Se você quiser fazer projeto, tudo bem; se não quiser, tudo bem também. Mas eu queria que você fosse à empresa para gente conversar’”. A resposta do arquiteto foi: “’A gente poderia desenhar projetos. Eu quero desenhar negócios. A arquitetura seria o tapete onde os negócios aconteceriam’”. Nessa balada, atualmente estudam cinco projetos simultaneamente. Ele tem procurado coisas que inspirem e que façam bem. Como incentivar a alfabetização de adultos em sua região. “O conhecimento é uma coisa que seduz”, diz. “A mais rude das pessoas quer ter conhecimento”. Isso, aliado ao conceito de arquitetura, ainda produz um encanto para o arquiteto e professor, apesar das críticas à “arquitetura-show” e ao glamour vazio que muitas vezes a área promove. “Eu acredito no lado mágico da arquitetura”, resume. “De todo esse fascínio da arquitetura, ainda há o fascínio de ver coisas que ninguém vê.” | RF Fotos : Diego Carneiro
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URBANISMO, LOTEAMENTO INTERMARES- “Bairro da cidade de Cabedelo.”
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RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR - “Casa térrea, em forma de “C” que se volta para a área de lazer. Aberta a iluminação e ventilação natural. Projeto de 1978.”
ESTAÇÃO DAS ARTES- “Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes , de 2012. A edificação tem uma pequena deflexão em relação ao norte, no intuito de evitar a insolação de verão e aumentar a coleta de ventilação natural.”
EXPEDITO ARRUDA
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O MODERNO AO PÓS-MODERNO
“O arquiteto não é dono da forma. Ele pode até dominá-la – dono é outra coisa”, diz Expedito Arruda, arquiteto de longa carreira e por cujo escritório muitos dos profissionais atuantes hoje no mercado paraibano passaram. Ele, com sua experiência, diz isso em tom de alerta por uma certa humildade na profissão. “Tem uma frase religiosa que diz: ‘Pode estar pingando pepitas de ouro do seu lado. Se você não tem olhos para ver, nunca irá enxergar’. Então, o mundo está cheio de evidências que você tem que compreender com esses mecanismo instalados, você torna-se e é o que busca”. Há vários anos como professor do curso de Arquitetura da UFPB e desde os anos 1980 na cadeira de PEU IV, ele reflete: “Identificamos em uns tantos futuros arquitetos um debrum intuitivo, uma tensão em busca de um sincronismo entre fazer e tecer considerações, buscas de testemunhos permanentes ao processo crítico para um crível empenho evolutivo, características e identificação dos buscadores atentos, e isso é muito bom”. Para ele, a academia e seus ensaios são sempre o melhor laboratório. Ao longo desse tempo e desde os primeiros momentos em que esteve estabelecido com o escritório, sempre teve como parceiros estagiários que contribuíram com o processo e com a efervescência. “Reverencio a todos que fizeram, fazem e farão desse mundo uma possibilidade melhor de existência, que lutam e nunca baixam a guarda em proteção aos infindáveis campos de trabalho que nosso ofício permita”, afirma. Para ele, a importância da matéria crítica é fundamental para o processo produtivo e analítico na vida do arquiteto. Ele conta que, em uma das turmas da qual
foi professor na universidade, pediu aos alunos que fizessem um trabalho. Depois de entregues, os distribuiu entre a turma, de modo que um colega fizesse uma crítica do trabalho do outro. “Quanto foi difícil operacionalizar essa questão, por tudo que a vida tolhe ao desenvolvimento que é essa matéria!”, diz. “Se todos tivéssemos coragem de criticar os trabalhos um dos outro e em conjunto, as questões que permeia as correlatas ações na produção melhorariam bastante e juntos avançaríamos”. Esta foi apenas uma das cenas da vida de Expedito. Mas sua história com a arquitetura começou bem antes, em Recife (depois de sair de Custódia, no sertão de Pernambuco, e morar um ano em Alagoas, com a família). Quando se pergunta de onde veio a vontade de se tornar arquiteto, ele responde de bate-pronto: “De um jogo chamado Pequeno Construtor. Que eu ganhei quando tinha, assim, uns dez anos”, recorda. Foi a semente. Na universidade Aos 17 anos, passava sempre em frente à Escola de Arquitetura, no centro da capital pernambucana. E via a tradicional exposição dos trabalhosteses de graduação que a instituição montava no fim do ano. “A cidade ia ver a exposição”, conta. Um vizinho da casa do avô era desenhista de Arquitetura. “Aquilo vai fazendo parte do seu universo, vai somando”. Um primo tinha formação em Arquitetura, mas tinha deixado pela produção da indústria algodoeira. Mas o escritório que tinha sido seu continuava funcionando com seu sócio. “Eu o visitei muito e aí cheguei a estagiar alguns anos depois.” Trabalhava num banco quando passou para Arquitetura, no segundo vestibular que fez, em 1970. No curso, eram tempos de acesso bem mais limitado ao que se fazia no mundo – o Brasil vivia sob as asas da escola modernista do Rio e de Recife e naturalmente não existia nada parecido com a internet. “A biblioteca vivia cheia. Na hora do intervalo das aulas, não tinha uma vaga. Era o tempo das revistas Acrópole, Arquitetura, Módulo...”, lembra. “Eram momentos significativos de uma transição. O mundo já ouvia falar da pós-modernidade e nós estávamos escanteados ainda na modernidade”. Nesse ponto, ele foi influenciado por modernistas como Acácio Gil Borsoi, Armando de Holanda, Wandenkolk Tinoco e, através de revistas, a Escola Paulista de seus ícones Vilanova Artigas, Rui Othake, Paulo Mendes da Rocha.
Em João Pessoa Ele se formou em 1974. “Como todo jovem arquiteto, a fluidez de você captar e logo querer transformar”, diz. “Tem que sentar a poeira e compreender o que representa aquilo”. Prestou um concurso em Sergipe, passou um ano no estado e passou de novo por Recife e Maceió, antes de chegar à capital da Paraíba. Era 1977. “Foi o melhor tempo da arquitetura de transformação urbana de João Pessoa”, afirma. Vindo para projetar um cemitério-parque, logo surgiu o convite de projetar centros sociais urbanos – o que o levou a ser contratado pela prefeitura. E foi a época do Projeto Cura, quando muitos arquitetos de fora para colaborar na urbanização da orla marítima. “Ele foi importantíssimo para a cidade de João Pessoa”, conta. Passando a morar na cidade, Expedito fez parte do conselho do Crea e da fundação do IAB. Começou a projetar algumas casas e edifícios como o Solar das Praias e Solar dos Navegantes. 1981 foi o ano em que deixou a prefeitura e entrou como professor na UFPB. Nessa época, já tinha um escritório – nos fundos de uma construtora. Entre os projetos dessa época, está um concurso para a Caixa Econômica Federal, onde obteve não só o primeiro lugar, mas também o segundo, em parceria com Régis Cavalcanti. “Quando terminamos o primeiro, faltava um dia para o fim do prazo. Eu disse: ‘Vamos fazer outro e apresentar outra solução?’”, lembra. “‘Tu é doido?!’. ‘Vamos! Ninguém sai daqui hoje, nem a secretária!”. Adaptando a primeira ideia, apresentaram também esta segunda e foram duplamente premiados. Sem medo de arriscar E aí veio a pós-modernidade para ele, em 1984. Em um edifício, pôs uma janela cuja posição destoa da uniformidade das demais. “É um pilar que já não atravessa... Deixa pontos de interrogações”, exemplifica. “Precisa jogar. Arquitetura é isso: não é de uma tacada só fazer a leitura”. A experiência com esse edifício abriu a porta. “A coisa da pósmodernidade me influenciou, fez ranger meus dentes”, diz. Depois veio outro edifício no Bessa e o Atrium, centro comercial no centro de João Pessoa que até hoje é popularmente conhecido como “Ferro de Engomar”. “Um projeto com influência japonesa. O mais gratificante, primeiro, foi encontrar uma pessoa que encampasse a minha loucura”, lembra. “Teve um arquiteto português que chegou na calçada e disse: ‘Isso não está aqui, não!’. A grande questão da pós-modernidade é a liberdade que ela dá de até reinterpretar de novo o modernismo”. Um projeto marcante não realizado foi um centro para portadores de deficiência. Convidado pelo governo do Estado, convocou de Recife o arquiteto Carlos Ishigami para ajudá-lo. “Ele tinha um filho tetraplégico e sabia muito”, conta. Além disso, Ishigami viajou o Brasil para ver o que era feito na área, para que a dupla pudesse atender ao desejo do governador, que recomendou: “Quero que vocês façam algo que tire meus pés do chão. Um marco da arquitetura”. Isso deu a dica para o projeto, depois também inspirado por uma passarela. “Desenhei com Ishigami uma planta de 70m x 54m, com um vazio de 20m x 20m, e dele duas torres saiam e, com 56 cabos de aço, atirantavam o prédio. O edifício era solto do chão, tocava apenas em duas rótulas de
ponte que desciam das abas laterais”, conta. “Quando mostramos o projeto, o governador entalou!”. E por que não aconteceu? Expedito conta que ele mesmo aconselhou o governador: “A manutenção daquele projeto seria muito cara”. Em seu lugar, projetou o atual prédio da Funad. Outro marco da cidade projetado por Expedito: a torre da TV Cabo Branco. O projeto original previa um piano bar no alto, para o cidadão apreciar a vista. “No mundo inteiro se faz isso. Aqui, não”, diz. O grande volume de projetos fez com que Expedito deixasse a universidade, em 1994. Mas não deixou o pós-modernismo. “Ainda sou pósmoderno. Estou apenas limitado”, conta. “É o que eu disse antes: deixarem fazer”. Como referências pós-modernas, ele enumera o mexicano Ricardo Legorreta, o italiano Aldo Rossi toda a geração japonesa pós Kenzo Tange. “E tantos outros da explosão e torpor causa da pós-modernidade”. E elogia a simplicidade deles: “Mas é preciso sabe o quê? Uma sociedade que compreenda a magistralidade da simplicidade”.
Nova fase Como hobby, Expedito voltou ao desenho, mas de maneira diferente: o pixel art, que faz diretamente no seu tablet. Mas na hora de projetar, seu companheiro ainda é dos velhos tempos. “Eu desenho com a ponta do meu cérebro, que é o meu lápis”, afirma. Outro hobby que surgiu mais recentemente: a poesia. Ele tem sete filhos: Oscar é o único que seguiu a arquitetura. Tem um escritório independente. Às gerações mais jovens, de estagiários e alunos de cujas tantas histórias ele faz parte, ele é grato. “Me ajudaram tanto quanto eu os ajudei”, diz. “Me ajudaram muito todos. É uma parceria ambidestra. Só ensina quem quer aprender”. E reflete sobre seu trabalho. “Hoje parei para pensar um pouco como foi todo esse tempo, em que me decidi por fazer o que faço, sonhar um pouco dos sonhos dos outros e transformá-los em realidade”, diz. “Identificar necessidades para o desenvolvimento social e da cidadania, possibilitar o equilíbrio entre a tensões antepostas entre razão e sensibilidade... Enfim, atuei como profissional absorvido na linha entre trabalho e o prazer de fazêlo e sempre atento aos freios que pervertem o fazer do ofício”. | RF Fotos : Vilmar Costa
RESIDÊNCIA HCL - “Primeiro projeto de residência executada em João Pessoa, Paraíba.”
Fotos / imagens: Divulgação
O arquiteto e a forma Ele tem em si O dom à percepção E a sensações Para o equilíbrio De permeabilidade formal, E todas suas propriedades De sutilezas emocionais. Assim, Eivado desse sentido, Nesse eito buscador, Quando e vínculo Dessa destra condição, Por escolhas e conquistas, Nesse corolário intuitivo, Por um ofício indiscritível Conferido na busca, tenacidade e constância, Nesta cognitiva instância, Ser Arquiteto Expedito Arruda
RESIDENCIAL ALTA VISTA - “O projeto mais recente construído. Duas torres de condomínio no bairro do Altiplano.”
RÉGIS CAVALCANTI
C
ONHECIMENTO A TRANSMITIR
Uma conexão perfeita das artes plásticas com a arquitetura. Assim podemos definir a carreira de Régis Cavalcanti, um dos pioneiros da arquitetura da Paraíba. Mas para chegar até essa fase, ele batalhou muito. A intenção inicialmente era ser só artista plástico, mas o destino quis que Régis enveredasse também pela arquitetura. E foi isso que aconteceu, quando ele começou a perceber as dificuldades financeiras e de comercialização que uma carreira ligada às artes acarretaria. Foi assim que decidiu seguir outro rumo e estudar arquitetura em Recife. Antes, até pensou em fazer a Escola Superior de Desenho Industrial, no Rio de Janeiro, mas a família de classe média não teria como mantê-lo por lá durante um período tão longo de estudos. Assim, Recife se tornou mais viável. Na época, para entrar na Faculdade de Arquitetura, era preciso fazer prova de desenho. E foi aí que Régis se deu muito bem: essa foi sua maior nota na seleção. O pontapé para uma carreira promissora e numa turma superespecial, com grandes nomes da arquitetura. De tão especial, essa turma se tornou uma família, que se comunica até hoje. “Eu acho que sou uma pessoa de muita sorte. Nossa turma é reconhecida como uma das melhores que já passaram por lá: Expedito Arruda, Hélio Costa Lima, Ronaldo e Irani, Rômulo Carvalho, Ubiratan Vasconcelos, Amaro Muniz, Francisco Gonçalves e outros”, comenta Régis. E ele atribui
tudo isso a professores fantásticos, a exemplo do escritor paraibano Ariano Suassuna, que naquela época dava aula de Filosofia da Estética, Acácio Gil Borsoi, e o professor Delfim Amorim. De volta à Paraíba O aprendizado e a convivência renderam frutos desde o começo da carreira. Quando veio do Recife, não havia muitos profissionais formados na Paraíba. Muitas portas foram abertas naquele tempo, porque o mercado era grande e existiam poucos profissionais. Hoje em dia, não tem cliente para dar conta de tantos profissionais formados e que estão agora no mercado de trabalho. “Em cada esquina tem um”. Foi direto trabalhar na prefeitura de João Pessoa e também na Universidade Federal, aqui como professor no curso de Engenharia. Mas essa dupla jornada durou pouco tempo: a prefeitura exigia exclusividade e ele ainda tinha que trabalhar no próprio escritório – onde chegou a ter 11 desenhistas para dar conta de tantos projetos encomendados. Logo depois, fez o concurso para a Suplan, do Governo do Estado, onde foi aceito e permaneceu por mais de 30 anos. Nesse período como chefe do setor de arquitetura, teve sobre sua orientação vários alunos das primeiras turmas do recém-criado curso de Arquitetura da UFPB. Participou da construção de mais de 200 casas, principalmente nos bairros dos Estados e Bessa. Também projetou hotéis e grandes hospitais. Nunca teve medo de encarar novos projetos, mesmo que precisasse estudar muito para fazer algo mais específico ou diferente. Tudo era feito com o mesmo cuidado e atenção, independente de quem contratava ou do tamanho do projeto. Portas para o futuro Entre tantos desejos, o sonho de ser professor ainda perdura. “Acho que tenho muito o que repassar hoje... As experiências, os erros que devem ser evitados, de tudo que aprendi durante essa carreira tão longa que construí”, opina. Régis revela ter um lado um tanto quanto acomodado, sem maiores pretensões... “Sei que sou um profissional honesto e isso me basta. Poderia estar nos Estados Unidos, já tive oportunidade... Mas para quê? Para ser mais um? Tenho meu espaço entre os meus clientes que sempre me procuram”. Para ser arquiteto você tem que planejar o vazio... E é assim que Régis Cavalcanti define o começo de cada um dos seus trabalhos. “O
primeiro projeto sempre vem na cabeça, depois as linhas vão sendo criadas. Arquitetura tem três postulados: saber a função, economia e a forma, a parte estética. Tudo isso distribuído no espaço. Mas o que vai fazer a diferença nisso é justamente a criatividade do profissional que está desenvolvendo o projeto”. Mas Régis também faz um desabafo importante sobre o conceito da arquitetura. “Algumas pessoas entregam R$40 ou R$50 milhões, a profissionais sem experiência e o resultado vira um desastre. O projeto não se preocupa com coisas básicas, como, por exemplo, botar uma abertura de vidro comum para o poente, matando todo mundo de calor”, afirma. “Aqui teríamos que ter uma disciplina na universidade chamada ‘Arquitetura Tropical’”, continua. “Se preocupam tanto com as formas e esquecem como isso vai funcionar no dia a dia. Estamos em outro clima, aqui não é a Europa”. E diz mais: “A arquitetura hoje está pasteurizada. Os recém-formados que vão pra Milão e outros cantos da Europa voltam trazendo projetos para cá sem pensar no clima. Isso é absurdo! Se levam pelo modismo!”. Originalidade “Antigamente você conhecia um arquiteto pelo traço. Hoje em dia é tudo igual”, comenta. “A apresentação gráfica está muito parecida, tanto faz uma pessoa recém-formada ou de uma outra com mais experiência. Fica faltando o toque do artista, para dizer a verdade. Os aplicativos e programas de computadores uniformizaram os projetos e apresentações”, comenta. Para Régis, é necessário tentar fazer algo mais original, com uma estética aceitável, mas também “precisamos ser honestos, estudar mais, para assim tentar fazer algo diferente”. Também é fundamental saber aceitar as críticas, tanto de clientes quanto de outros colegas de trabalho. “É necessária uma maior reflexão sobre o gesto projetual, sobre as afinidades com o nosso conforto ambiental e sobre a coerência cultural e climática”, afirma. “Devemos, sempre que possível, evitar o ‘pastiche’ da arquitetura fora da nossa cultura e encerrada nos séculos passados. Penso que é nosso dever dar sempre uma contribuição no sentido de ser inovador e coerente com o nosso tempo”. Esse conselho vem de alguém que é do tempo em que um erro no projeto desenhado significava ter que começar tudo de novo. Papel manteiga, vegetal e o nanquim faziam parte da rotina. Hoje, claro, a rotina é bem mais fácil do que a forma artesanal antiga. E Régis também se adaptou a isso tudo. “É igual cozinhar... Tem a base, mas o diferencial vai estar no tempero colocado, na dosagem certa”. Mas o começo continua sendo no lápis. “Todo meu projeto faço na prancheta, desenho à mão livre mesmo. Mas a apresentação é feita no computador, por três profissionais contratados por mim”, diz. “Às vezes perco a noção do tempo desenhando... Se
não fizer com prazer, é melhor desistir e fazer outra coisa. Eu sempre fiz com prazer! Sempre”. Projetos memoráveis Entre os grandes projetos feitos por Régis Cavalcanti estão o Mercado de Artesanato e o edifício da PBTur, em João Pessoa, o santuário da Cruz da Menina, em Patos, e o Mussulo, no município do Conde, o primeiro resort na Paraíba. Fez também o projeto da loja Promac. “Quando, na época, a estrada de Cabedelo era só mato”, lembra. “Então foi algo realmente inovador. Hoje todas as concessionárias estão lá. Foi o primeiro grande projeto na época”. Mas Régis perdeu parte do arquivo pessoal, porque nunca se preocupou em organizar estes registros... “Muitas das casas que fiz hoje são edifícios. Ou seja, se perderam. Mas fico feliz que tenham feito parte da história das famílias que moraram nelas, e assim elas se tornaram inesquecíveis”. Além da Paraíba, Régis também fez alguns projetos em Angola, África. Na arquitetura, vem trabalhando em projetos de apartamentos compactos na praia de Camboinha, chamados carinhosamente de “Cinquentinha”. Fruto de um projeto de pesquisa muito interessante que vem trabalhando. “Vi uma reportagem na Holanda que me despertou e fui pesquisar os sistemas construtivos existentes e reparei que todos eles estão mais preocupados em substituir a parede tradicional por madeiras, concreto, compensado, uma infinidade. Então pensei em juntar isso tudo e criar algo simples...”, explica. “Olhando por outro ângulo. Isso demanda um exercício intelectual que eu encarei. Me juntei com um engenheiro calculista e um designer para acabar com viga, pilar, coluna, laje... Tudo isso foi fundido e assim criamos um sistema anelar, com parede. piso e laje. Isso tudo sobre uma caixa de concreto onde estão dispostos as peças de concreto leve pré-moldadas, que podem ser feitas como quiser. Fazse as aberturas necessárias e criam-se os ambientes”. Com esse projeto, é possível criar casas em até 48 horas. “É um projeto ousado, inovador. Trabalho nele há oito anos e agora estamos encarando todo o desafio que envolve produzir em grande escala. Um sistema em que dá para fazer uma casa a partir de 15 m2 até edificações de quatro andares, um bloco sobre o outro”, conta. “A instalação elétrica é toda feita por baixo, sem precisar quebrar parede. Agora, estamos à procura de quem financie o protótipo. Não quero ficar rico com isso, mas quero deixar esse legado”. Opção de vida pela tranquilidade Régis não abre mão da comodidade. Hoje ele faz os projetos num home offíce que criou no apartamento onde mora, bem perto da praia. “Faço tudo de chinelo, à vontade, sem enfrentar trânsito, ao lado da minha esposa, Teresa, e do filho”, conta. Por isso mesmo, ele preferiu não fazer os projetos no computador.
“Não quero aprender a fazer o trabalho ‘pé duro’ para não perder tempo... Se eu aprender, sei que vou me apaixonar! E aí vou perder tempo, que poderia estar curtindo a minha vida, vendo meu filme, tomando meu uísque devagar, pintando...”, diz. “Prefiro terceirizar o processo do desenho no computador, me atento a ser co-piloto, orientando; projetando junto na finalização”. Hoje em dia, a pintura tem um tempo especial na rotina dele. Entre suas obras estão os painéis do Hotel Tambaú. Hoje, ele já perdeu as contas de quantas telas e painéis já pintou, obras que estão espalhadas em vários países. Régis sempre ganhava os concursos para fazer as decorações de matinês carnavalescas e teatrais, nos clubes da AABB, Cabo Branco e Astrea, além de cenários para peças no Teatro Santa Roza. Ele está preparando dois livros: um sobre as obras de artes plásticas e outro sobre seu trabalho de arquitetura. De certa forma, para compensar a vontade de ser professor. “Amo minha vida. Me sinto realizado com as escolhas que fiz. Só tenho pena de não ter tido oportunidade de transmitir o meu conhecimento”, lamenta. “Foi pouco e esporádico esse contato com estudantes... Não quero morrer levando todo o conhecimento que tenho para o túmulo”. E aos jovens arquitetos, então, ele dá um conselho: “Para quebrar um pouco do que temos hoje, temos que parar para pensar e deixar de fazer os projetos iguais aos das revistas”, opina. “Criar! Deixar a imaginação correr solta! Temos que ser pretensiosos com a nossa profissão. Não tenham medo de errar! É errando que se aprende o certo. Ouse sempre! Seja criativo, é a essência da arquitetura”. | DC Fotos : Diego Carneiro
Fotos : Diego Carneiro
MERCADO DE ARTESANATO DA PARAÍBA - “Talvez meu projeto mais icônico, feito em parceria com Amaro Muniz. Sempre solicitado por universidades e escolas de arquitetura para estudos e teses dos alunos, principalmente por se tratarde único projeto para prédio próprio de mercado de artesanato, pois os existentes são em prédios adaptados.”
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR - “Casa ampla, voltada para sul e leste; aberta para a ventilação natural com iluminação amainada pelas curvaturas da coberta que projeta um sombreamento que permite ter um microclima dentro da residência. A composição espacial se sobressai pela cor branca e o contraste do jardim, que enfatizam as curvas volumétricas, tirando a rigidez formal. A varanda serpenteia todas as áreas fornecendo proteção ao sol direto.
Fotos / imagens: Diego Carneiro e Divulgação
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR - “Residência dos primeiros anos do novo milênio. Ênfase no jogo de volumetria entre os elementos, retos e curvos. A cor branca acentua os volumes com a luz natural. A preocupação projetual foi com a proteção da incidência solar, para isso projetou-se uma grande sombra com aberturas protegidas, tornando o interior iluminado indiretamente, quebrando os excessos da luz do sol. A ventilação cruzada fornece o conforto ambiental”
HÉLIO COSTA LIMA
N
ECESSIDADE ESPIRITUAL
Uma peculiaridade de Hélio Costa Lima é que ele nunca teve um escritório. E, segundo diz, provavelmente nunca vai ter. “Sou um arquiteto mais de ateliê. Na minha varanda tem uma espécie de kit oficina, e eu sempre trabalho em casa mesmo. Trabalhei muito tempo na universidade, me aposentei em 2012, mas nunca consegui parar, nem com os trabalhos acadêmicos nem com os projetos de arquitetura e de arte”, disse. Ele diz – a todo tempo – que sempre está aprendendo. Grandes e pequenos projetos – de um grande hospital a uma cadeira – merecem dedicação. Não considera que os detalhes sejam coadjuvantes. Em seu apartamento, guarda objetos antigos, peças feitas por ele mesmo e até uma mini-cidade no jardim, construída com a ajuda da neta. A personalidade, o bom humor e a simpatia de Hélio Costa Lima cativam. E seus projetos encantam pela vida que exalam, sejam vistos pessoalmente, em fotos, em maquetes ou nos primeiros traços ao iniciar um novo trabalho. Arquiteto, professor e artista, Hélio não poderia ser definido como “apenas” um desses profissionais. Afinal, as nuances de uma dessas facetas perpassam para a outra. Foram mais de três décadas como professor da Universidade Federal da Paraíba. O pernambucano, admirador das praias paraibanas, veio “por acaso” ser o professor que marcaria muitas gerações da arquitetura do estado. Formado pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1974, diz
que tentou fazer carreira como arquiteto, mas na época o mercado passava por uma crise sem precedentes. A oportunidade de ser professor no recémcriado curso na Paraíba surgiu e Hélio começou em 1977 uma trajetória de 35 anos como um dos professores mais lembrados pelos ensinamentos e profissionalismo em sala de aula. A mesma academia que ele amava também o incomodava. “Era tudo muito lento, a instituição que deveria pensar o futuro, se agarrava ao ‘tem que ser’ e não ao ‘poderia ser’. Acabou se transformando em uma coisa em que a prioridade era dar aula e não produzir conhecimento. A carga horária de aulas sempre aumentando em detrimento da pesquisa, da reflexão”, disse. Ao se aposentar, Hélio decidiu fazer parte da Universidade Federal da Integração Latino-americana. Uma instituição brasileira que está na fronteira com a Argentina e o Paraguai. “Ela estava sendo lançada e tinha vaga para professor de Arquitetura. Fui admitido como professor visitante, foi uma aventura interessante”, assegurou. Aulas e projetos Nesses mais de 35 anos como professor, fazia apenas trabalhos esporádicos como arquiteto. “Até hoje realizo pouquíssimas obras, mas não faço só projetos de arquitetura, também faço restauração e outros trabalhos manuais. Isso, como hobby, como uma coisa para relaxar, para me dar prazer”, esclareceu. Hélio diz que valeu a pena ter se dedicado à vida acadêmica, pois lhe proporcionou muitas coisas boas. Um doutorado na França, muitas viagens de estudo – coisa que adora fazer -, além de muitos amigos espalhados pelo Brasil e pelo exterior. “Cheguei à conclusão que a vida faz da gente o que ela bem quer. Nunca imaginei ser professor, sobretudo ser servidor público – pois temia a acomodação da estabilidade”. Desde a infância Hélio revela que desde criança queria ser arquiteto e a influência veio bem de perto. A primeira mulher a se formar pela Escola Nacional de Arquitetura, Yara Costa Lima, era casada com seu tio, também arquiteto. “Ela e o marido foram minhas referências. Desde garoto gostava de desenhar. E desenhar, para mim, continua sendo uma forma de sobreviver à dureza do
mundo. Tem gente que prefere ouvir música, eu gosto de desenhar. Essa é a forma que encontrei para me abstrair”, disse. O local que nasceu também influenciou muito a sua ligação com a arquitetura. Natural do Recife, nasceu na Boa Vista, um bairro histórico. Aos sete anos foi morar no Hipódromo, um conjunto habitacional para funcionários públicos construído nos anos 1950. “Esse conjunto tem um traçado urbanístico que se assemelha ao modelo das cidades-jardins norteamericanas: calçadas largas e ajardinadas, muito verde. Hoje é tombado”, explicou. Mesmo antes de entrar na faculdade, já conseguia um bom dinheiro fazendo perspectivas, pois tinha um curso técnico. E isso lhe rendeu seu primeiro Fusca, ainda como estudante. Com a formatura em período de forte crise econômica, as oportunidades diminuíram. Na escola de arquitetura teve aula com ótimos professores, mas a universidade também tinha problemas na sua época de estudante. “Minha turma era enorme – por uma questão jurídica, a universidade foi obrigada a aceitar o dobro de alunos –; e era a época da reforma universitária, então ficamos meio à deriva. Apesar de tudo, desta turma saíram muitos bons profissionais. E somos muito presentes nas universidades, pois na época que nos formamos, estava acontecendo a expansão universitária no país”, disse. Diz que não cobra muito do curso que fez, e acha que a aprendizagem é um processo que se estende ao longo da vida. “Eu tinha formação técnica em desenho de móveis e arquitetura. Muitos dos professores da universidade eram os do curso técnico. Então, até o terceiro ano da universidade não tinha muita novidade para mim. Mas eu sempre gostei de estar na escola, era um lugar de vida intensa”, garantiu. No terceiro ano de curso passou a estagiar no escritório de Heitor Maia Neto, que era o arquiteto do Grupo Paes Mendonça. “Eu tinha um amadurecimento técnico que a escola técnica me deu. Na época a gente desenhava à mão. Para chegar em um nível de desenho aceitável você levava mais de três anos, e eu já estava pronto, já fazia desenho e perspectiva. Eu vivi muitas experiências fora da universidade, não fiquei enquadrado tecnicamente. Sempre trabalhei com design gráfico, fazia cartazes”, lembrou. Hoje Hélio é um dos conselheiros federais do CAU, o que lhe obriga a fazer muitas viagens. Quando indagado sobre o porquê de estar na entidade,
ele fala que é pensando no futuro da profissão. Diz que nos anos 1960 e 1970 a arquitetura brasileira estava na vanguarda e que hoje não é o mesmo cenário. “Estamos atualmente mais submetidos aos valores de mercado do que aos valores artísticos e de qualidade técnica. Temos que refletir sobre os rumos da nossa profissão”, diz. Ele acredita que o arquiteto e a arquitetura têm por missão social promover o bem estar dos indivíduos e da coletividade através de soluções arquitetônicas e urbanísticas que visem não apenas às questões pragmáticas (preço, funcionalidade), mas também à fruição da vida, pois, conforme afirma, “a arte não é um privilégio, é uma necessidade espiritual”. | LG Fotos : Diego Carneiro
CENTRO COMERCIAL VIA VENETTO - lnspirado nas tendas das feiras e mercados tradicionais, para proporcionar vasta sombra sobre o calçadão frontal, proteger as vitrines da forte insolação e criar um ambiente externo ameno, particularmente favorável para bares e restaurantes de calçada. (2007)
Fotos / imagens: Divulgação
LOJA COMERCIAL - “Na avenida Edson Ramalho esta obra leve em aço e vidro, para garantir a transparência indispensável à visibilidade dos produtos expostos em suas vitrines. Projeto de 2009.“ TEATRO-ANFITEATRO DA UFPB - “Projeto de 1979, não construído ,esse Teatro para 800 espectadores, sob arquibancada de anfiteatro ao ar livre com capacidade para 1.500 espectadores, para dotar à UFPB. Equipamento de divulgação das artes cênicas e de outros eventos culturais e manifestações políticas de massa.”
DÉBORA JULINDA
A
RQUITETURA NAS ALTURAS
Conviver com a arte sempre fez parte da vida de Débora Julinda. A avó materna foi pintora e a avó paterna expressava habilidades de desenho. Conciliar a sensibilidade estética com o rigor da métrica – herdada do pai, engenheiro agrônomo –, converteu-se no seu cotidiano. Desde os primeiros anos do curso de Arquitetura, na UFPB, aprendeu com grandes mestres. Foi estagiária no escritório do arquiteto Mário Di Lascio, dos mais influentes à sua época. Essa experiência proporcionou os primeiros contatos com os projetos arquitetônicos, mas igualmente o convívio com Anitinha di Láscio, que tinha uma loja de mobiliário, despertando em Débora a compreensão de que a intervenção do profissional da arquitetura deveria abranger também a dimensão dos interiores, as faces internas de espaços de vivência. Sua experiência de trabalho seguinte foi no escritório do arquiteto e artista plástico Régis Cavalcanti, onde atuou por dois anos. Ali, consolidou a atuação com projetos arquitetônicos, ambientação, e design de móveis e interiores. Bethânia Tejo, que foi colega de turma no segundo grau e por todo o curso na universidade, também estagiava no escritório de Régis Cavalcanti. Resolveram abrir um escritório juntas, mantendo parceria com Régis. Permaneceram em sociedade por quase 10 anos – de 1985 a 1995 – , até que as duas, em circunstâncias distintas, foram morar no exterior. Débora foi morar em Londres. Lá, frequentou eventos na AA Architectural Association e no Royal Institute of British Architects (Riba). “Essa experiência ampliou os horizontes, permitiu ver diferentes perspectivas
e soluções variadas para problemas comuns, além da diversidade de materiais construtivos”, afirma. Ao retornar, consolidou a carreira solo, que já havia começado antes da viagem. Ela se sente inclinada pela arquitetura de uso residencial. Conceber projetos de residência multifamiliar, ou unifamiliar é um desafio, para além das formas e dimensões. “É antecipar cenários em que sonhos serão realizados”, diz. “Espaços de afeto, intimidades, celebração de sentimentos”. Considera um imenso desafio, pois exige sintonia com o que os clientes projetam de si mesmos, e das relações em família. A essa exigência, somam-se outras, quando os projetos arquitetônicos precisam atender às expectativas e demandas do mercado, em que qualidade e preço devem andar lado a lado. Identificando essa necessidade, Débora habilitou-se como corretora de imóveis, qualificando-se na análise dos componentes e fatores que interferem na composição dos preços. “Como arquiteta, preciso apresentar um projeto arquitetônico que concilie as exigências dos projetos estruturais, hidrossanitários e elétricos, mas igualmente que revelem viabilidade econômica para as construtoras. Manejar todos esses elementos técnicos e econômicos faz o diferencial”, sustenta. Quanto à formação dos novos profissionais, Débora Julinda elogiou a qualidade do ensino, mas considera essencial a experiência do estágio. “Na universidade, a construção do conhecimento, ancorado na teoria, é sólido, mas os desafios práticos da profissão precisam ser vivenciados nas experiências em escritórios, que os estágios propiciam. É no pulsar da vida que se desenham caminhos”, opina.
Débora Julinda é arquiteta de obra, que convive e dialoga com os vários profissionais que executam seus projetos. Algumas dificuldades não conseguem ser antecipadas, o que exige dar soluções a concepções já convertidas em obras em andamento. Hoje, seu conhecimento e sua experiência antecipam suas visitas às obras, mas no começo não foi fácil, tendo tido que enfrentar um espaço em que a presença masculina era não só preponderante, mas quase exclusiva. “Conseguir entrar nesse segmento de mercado não é fácil”, diz. “Quando, recém-formada, eu ia para um canteiro de construção era comum ouvir de um mestre de obras ‘E eu vou receber ordens dessa menina?’. Eu era tratada como ‘menina’”. Nós, mulheres, conseguimos conquistar nossos espaços também na construção civil, hoje sendo muito frequentes não apenas arquitetas, mas engenheiras civis, e outras profissionais nos canteiros de obras. Em seu portfólio profissional, a arquiteta Débora Julinda traz projetos edificados por uma gama variada de empresas paraibanas, das mais conhecidas e respeitadas no mercado da construção civil. Para ela, trabalhar para construtoras diferentes significa aprender a lidar com diferentes exigências nos projetos, gerando um aprendizado extraordinário. “Adaptar o traço que me caracteriza, aplicando-o a contextos e produtos tão diversificados tem sido experiência enriquecedora”, reconhece. Ela adota, em seus traços, fundamentos de raiz: linhas retas, harmonia de cores, iluminação e ventilação o mais naturais, elementos fortes no litoral nordestino. “Ainda sou arquiteta de prancheta. É na prancheta que lanço as primeiras linhas do que concebo”, conta. Só depois, com os rigores da métrica e da estética, é que o projeto vai para o computador.
“Quando a grande Zaha Hadid confessou que não gostava de criar no computador, também me senti livre para expressar o mesmo”, diz, rindo. Ainda assim, adota para si e compartilha com jovens profissionais um conselho: dominar as técnicas do computador, até convertê-los em instrumentos de sua arte. Para ela, a tecnologia é, cada vez mais, elemento constitutivo do agir da nova geração. Toda a sua vida foi dedicada a pensar espaços e estruturas que protegessem o ser humano dos elementos da natureza. O mundo construído reflete isso. Talvez isso explique o que se tornou para ela seu hobby e lazer, e uma paixão que vive hoje: o jet ski. “Ao invés de querer abrigar-me da natureza, vou em busca da natureza e dos seus elementos”. |
Fotos : Diego Carneiro
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR– “Projeto ano 2016. Com linhas retas e marcantes, essa casa de 426m² localizada no Condomínio Bosque das Gameleiras, no bairro Portal do Sol, tem co-autoria do arquiteto Vladimir Gama e paisagismo de Patrícia Lago.”
Fotos / imagens: Divulgação
PROJETO DE AMBIENTAÇÃO– Apartamento de 300m² no bairro do Altiplano. Projeto do ano de 2016.”
RESIDÊNCIA MULTIFAMILIAR - “Projeto do ano de 2015. O Fontana Di Mare Residence, da Construtora Alliance, localizado no bairro do Altiplano tem área de empreendimento de 13,3 mil m².”
GILBERTO GUEDES
C
ONSTRUINDO A CIDADE
Gilberto Guedes faz parte da história que tanto admira. Além das dezenas de projetos construídos – que ajudaram a moldar a identidade arquitetônica da cidade – , ele ajudou a restaurar parte do patrimônio histórico da cidade. Um dos exemplos é o seu escritório, que fica em uma das ruas mais antigas da cidade, a General Osório. Sua obra e trajetória foram estudadas na dissertação de mestrado de Rui Vanderlei Rocha Júnior. No trabalho, são destacadas a paciência e educação de Gilberto e a justificativa do objeto do seu estudo, entre outros argumentos, dizia que “sua produção foi alvo de premiações, reportagens e publicações de diversos calibres locais, nacionais e internacionais, que dão a medida da sua importância frente à produção contemporânea”. A paixão pela arquitetura nasceu logo na infância. Conhecia o trabalho de Mário Glauco Di Lascio, que havia feito alguns trabalhos para os seus pais. Além disso, seu pai gostava de desenhar e esses desenhos eram objeto de admiração de Gilberto. As viagens que fazia quando era criança também foram um incentivo. Europa, Japão e Estados Unidos foram alguns dos destinos que o ajudaram a ter amor pela arte, incluindo a arquitetura. Quando precisou decidir sobre o curso que faria na universidade, Gilberto teve dúvidas. O pai já era um médico respeitado na cidade. Pensou em ser cirurgião plástico, mas a arquitetura venceu essa disputa. Entrou na faculdade aos 16 anos e em 1983 se formou Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
O curso, ainda recente, não correspondeu a algumas expectativas, mas havia professores inspiradores, pelo conhecimento, dedicação e entusiasmo. Logo no início estagiou na obra de restauração do Convento Franciscano de Santo Antônio, e integrou como estagiário a equipe de fiscalização da Suplan, na construção do Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. Rio de Janeiro Já formado, mas ainda com muita sede de aprender, foi em busca dos sonhos no Rio de Janeiro. Lá, foi estagiário de Sérgio Bernardes, o profissional responsável pelas obras do Hotel Tambaú e Espaço Cultural “Foi uma experiência muito interessante, os projetos tinham foco em novas tecnologias, com alto nível de experimentalismo, combinando simplicidade e sensibilidade no uso dos materiais”, lembra. Também estagiou no escritório do paisagista Roberto Burle Marx. “Chegavam projetos de vários lugares do Brasil, era um trabalho integrado de arquitetos, paisagistas, artistas plásticos, botânicos e agrônomos que ia até a fase de execução dos jardins, tornando o resultado final da edificação muito mais expressivo”. Dessa experiência foi marcante o talento artístico, a defesa do meio ambiente e o respeito à paisagem do Rio de Janeiro, de Burle Marx, José Tabacow e Haruyoshi Ono. A vontade de aprender fez com que Gilberto fosse procurar estágio ainda em um outro lugar: no escritório de José Luiz França de Pinho e Glauco Campello. “Fui no primeiro dia me situar e só deu para passar na frente, no dia seguinte tive coragem de entrar e fui admitido como estagiário”, lembra. “Eles colaboraram em muitas obras com Oscar Niemeyer e são os responsáveis pelo projeto da rodoviária de João Pessoa, cuja seleção se deu por concurso público. Me impressionei muito ao conferir como resolviam projetos de diferentes escalas, com refinado controle nas técnicas, desenho e materiais adotados”. Não foi “só” isso que Gilberto fez em um ano e três meses no Rio de Janeiro. No intervalo do almoço, ele conseguiu tempo e autorização para acompanhar como visitante o trabalho de João Filgueiras Lima, o Lelé, na Fábrica de Escolas – onde havia uma sequência completa de produção: desde a confecção das fôrmas metálicas, armação, moldagem e pintura dos elementos construtivos em argamassa armada, até o transporte, implantação e montagem. Espanha A oportunidade de fazer um curso sobre Intervenção no Patrimônio Histórico Arquitetônico surgiu. Iria estudar arquitetura no velho continente. Mas, para que isso acontecesse, tomou uma decisão importante em sua vida: casou. Já há algum tempo namorava Telma, estudante de Medicina, que trancou o curso para acompanhar o marido na
Espanha, onde foi aluna visitante do serviço de oftalmologia do Hospital Clínico São Carlos, em Madrid. “A experiência desse curso foi uma nova etapa na minha formação. Os professores vinham de vários lugares da Espanha. Tive a oportunidade de conviver com importantes arquitetos; críticos e historiadores que encantavam pela erudição e experiência. Um deles foi o arquiteto Francisco Javier Sáenz de Oiza, que modernizou o currículo da Escola Técnica Superior de Arquitetura de Madrid”, relembrou com entusiasmo. Ao término do curso em Madrid, fez uma aplicação e foi admitido para cursar especialização na Architectural Association de Londres, na área de habitação Multifamiliar, mas concluiu ser o momento de retornar ao Brasil, para a esposa dar seguimento à graduação em Medicina e ele retornar a prática profissional. O retorno Em 1986, volta para a Paraíba. Em 1987 teve início o Projeto de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa. Ele, além do curso que havia feito na Espanha, era arquiteto do Governo do Estado. Foi um dos oito arquitetos a integrar o projeto e nele permaneceu por aproximadamente 10 anos. Foi um período muito produtivo numa equipe multidisciplinar fruto de um convênio de cooperação internacional com o Governo da Espanha, o Ministério da Cultura do Brasil, o Governo do Estado e a Prefeitura de João Pessoa. “Tivemos oportunidade de redigir uma normativa de proteção para a área do Centro Histórico, projetar e fiscalizar as obras de revitalização de vários edifícios e logradouros representativos na cidade, como a Igreja de São Bento, o Hotel Globo, a Praça do Bispo, Praça Antenor Navarro, Praça de São Francisco, a Fábrica Tito Silva, entre outros”, enumera. Na década de 1990, Gilberto intensifica a realização de projetos privados, e instala o escritório na General Osório, numa casa histórica. Ele havia adquirido o imóvel ainda quando estudante, procurando demonstrar que era viável investir no Centro Histórico, preservar o conjunto edificado e desfrutar de uma das áreas mais representativas da cidade. O escritório expõe objetos de época, obras de artistas plásticos, arte popular, e lembranças de viagens. Técnicas Até hoje Gilberto começa a criação dos projetos com desenhos à mão livre, porque acredita haver uma fruição maior das ideias em esboços, que pela sua natureza livre, conseguem gerar muitos desdobramentos no desenvolvimento. Ele afirma que todo projeto tem combinação equilibrada entre técnica e intuição. “A técnica inclui o conhecimento de vários procedimentos de construção ou normas que você tem que atender ou superar. A intuição, para mim é o resultado de estudo, experiência e reflexão”, disse. Desenvolve agora projetos com a filha, Rebeca Guedes, também arquiteta, e destaca as oportunidades que teve em contar sempre com excelentes colaboradores, que se alternam, dependendo do tipo de trabalho a ser realizado.
Ele lembra que o arquiteto não pode apenas estudar a sua época, mas precisa conhecer as soluções encontradas há 100, 200 ou mil anos. “Temos que saber como essas pessoas construíam sem a tecnologia que temos hoje. É muita ingenuidade não querer aprender com o passado. Na hora que você está trabalhando, todo conhecimento adquirido vai influenciando, e a intuição é a forma da nossa mente trabalhar com o subjetivo, fazer associações diversas para criar soluções”, diz. Para Gilberto, quando o arquiteto vai projetar um edifício, tem que dar uma resposta ao entorno, ao usuário e à população que estará mais ligada a esta obra, ainda que seja privada. “Para fazer tudo isso, você tem que respeitar a cidade, ver como o projeto pode trazer elementos que valorizam e humanizam um lugar”. Nomes na arquitetura Há uma vastidão de nomes da arquitetura e engenharia admirados por Gilberto. “Pegando apenas do século XIX em diante, temos uma relação de personagens importantes a conhecer. Vou lembrar apenas alguns”,
disse, antes de listar Gustave Eiffel, Bruno Taut, Adolf Loos, Hendrik Petrus Berlage, Frank Lloyd Wright, Gerrit Rietveld, Mies Van Der Rohe, Le Corbusier, August Perret, Walter Gropius, Pier Luigi Nervi, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Alvar Aalto, Richard Neutra, Rudolph Schindler, Hans Scharoum, Charles Eames, Eero Saarinem, Sérgio Bernardes, Clodoaldo Gouveia, Ítalo Joffily, Luis Nunes, Glauco Campello, João Batista Vilanova Artigas, João Filgueiras Lima, Rafael Moneo, Álvaro Siza, Eduardo Souto de Moura, Herzog & De Meuron, Norman Foster, Renzo Piano, Kasuyo Sejima... Mas Gilberto acredita que a arquitetura é a expressão do seu tempo. Por isso, diz não gostar de propostas que querem reviver determinado estilo. E, apesar da infinidade de nomes que admira, salienta que o importante é aprender com as soluções encontradas por esses profissionais. Sobre seus projetos preferidos, ele diz gostar mais dos que deram soluções para alguns problemas difíceis. “Gosto muito de ter feito a atual sede do CRM/ PB (Conselho Regional de Medicina da Paraíba), que era um clube nos anos 1960 e hoje, abriga perfeitamente a instituição com auditório, área de eventos, além da parte administrativa, tendo conservado as características de alguns espaços originais, do antigo clube”. Uma predileção de Gilberto é projetar e construir habitações multifamiliares, o que tem feito há 18 anos como sócio na Construtora Atlantis. “Dedico muito tempo da minha formação, viagens, e estudos nesse seguimento da arquitetura. Ainda desejo em fazer um condomínio parque
com edifícios baixos, permeados de muito verde, lagos, áreas de vivência e lazer coletivo, com bons locais de encontro e socialização”, revelou. Como arquiteto, diz que procura ser aberto a novas tecnologias e materiais. “Durante toda a vida o arquiteto tem que fazer o exercício de estar aberto não só ao que ele quer ou conhece, mas também enriquecer sua experiência com o que o cliente pensa, sem esquecer a interação que este projeto terá com a cidade. O arquiteto precisa ter em mente que está construindo a cidade”. Viagens Apesar das viagens terem começado na infância, alguns futuros destinos são desejados por Gilberto. Um deles é conhecer de perto a obra de Alvar Aalto. “Um arquiteto finlandês, que projetava utilizando uma linguagem de arquitetura moderna, mas com muito cuidado com a natureza e a escala humana. Na Suécia, gostaria de ver de perto as obras de Erik Gunnar Asplund”. As viagens não são roteirizadas pela arquitetura, mas sempre tem arquitetura como um dos pontos importantes. Tanto, que uma de suas viagens mais marcantes foi quando visitou conjuntos habitacionais dos anos 1920, em Berlim – as Siedlungen. “Até hoje esses bairros com habitações sociais multifamiliares estão lá, tendo sobrevivido aos bombardeios da Segunda Guerra. Elas têm estrutura completa com creches, escolas, transporte coletivo de qualidade, pequenos comércios e muitas áreas verdes, com um desenho urbano belíssimo”. Apesar e por causa de toda a experiência que tem em todos esses anos de arquitetura, o conselho que Gilberto se daria, caso encontrasse com ele mesmo na época da graduação, seria aproveitar mais as oportunidades que aparecessem. E sentencia, “Sou muito grato a várias gerações de arquitetos, construtores e artesãos fantásticos com os quais convivi e aprendi”. | LG Fotos : Diego Carneiro
CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DA PARAÍBA - “O Conselho Regional de Medicina da Paraíba, adquiriu para construir sua Nova Sede, uma área de quase 5.000m² no Centro expandido de João Pessoa contendo uma construção de aproximadamente 2.000m² em estado de deterioração, onde funcionou a Antiga AABB, Clube da Associação Atlética do Banco do Brasil, dos anos 60 até meados de 80. Escolhemos por aproveitar a estrutura existente e fazer uma intervenção de reestruturação nos principais volumes edificados, anexando novas peças e elementos arquitetônicos, de forma a receber o novo programa, e preservar partes representativas existentes, entre estas, a área original do dancing – Um elegante espaço de dupla altura com grandes vãos estruturais, transformando-o na peça central de apoio à vida cultural do Conselho.”
CASA DE CAMPO MACIEL - “No Agreste Paraibano há aproximadamente 100km de João Pessoa, nas bases da Cordilheira da Borborema, escolhemos o local com vista para o Vale do Rio Araçagi e projetamos essa Casa de Campo, de planta em “L”, dispondo volumes diferentes em tipologias que remetem a arquetipos das construções rurais: Galpão abrigando Sala, Cozinha e Serviço; Vila formada por quartos em fileira com fachadas personalizadas e um generoso terraço que une essas peças, protegendo e acolhendo. Completando o conjunto, existem duas praças interligadas com funções distintas; Uma externa para receber e outra interna mais ampla e arborizada para ser extensão da vida comunitária ao ar livre.”
Fotos / imagens: Divulgação
RESIDENCIAL ATLANTIS CABO BRANCO - “Localizado numa zona de proteção com limitação de gabarito por sua proximidade com a Orla da Praia do Cabo Branco em João Pessoa, esse Residencial Multifamiliar foi concebido para conter apartamentos de 60m² de área, com boa estrutura para apoio de serviço e lazer panorâmico na Cobertura. O Pavimento Tipo é composto por 07 apartamentos numa planta que define “3 blocos” articulados e inclinados e cria um vazio interno propiciando melhores vistas da orla e circulação cruzada do ar.”
ÍRIA TAVARES
A
FINIDADE COM A ARTE
Iria é sensibilidade. Alguém que oferece sua criatividade em troca de conhecer ao outro da forma mais natural possível, descobrindo e fornecendo, assim, o melhor através dessa troca de informações.Essa relação ela procura estabelecer tanto em âmbito pessoal quanto na arquitetura, profissão que escolheu de forma intuitiva por sua afinidade com a arte. Quando pequena, gostava de pintar usando lápis de cera, presentes que recebia de amigos e parentes que viajavam.Foi justamente pela intuição que, em 1979, começou a estudar arquitetura na UFPB. “Sou grata por ter entrado em contato com a minha essência, ter seguido a intuição nessa escolha e ter recebido o grande apoio de meus pais, o que foi muito importante para mim”, revelou. Assim, seguiu a profissão com seus dois filhos ao lado, acompanhando-os em cada passo e, hoje, expressa com profundidade. “Meus amores, fonte de minha inspiração para o viver”. Primeiros passos A arquiteta abraçou sua escolha e buscou estágios na área. O primeiro foi com Régis Cavalcanti, em 1981, ao mesmo tempo em que dava aulas de inglês. “Observei em Régis, uma mistura de artista plástico e arquiteto. Aos poucos, fui absorvendo um pouco dessa característica dele”, afirmou. Quando se formou, foi a São Paulo buscar o paisagismo como futuro profissional, mas, nesse ínterim, surgiu a oportunidadede cursar por 5 meses uma disciplina de mestrado em projetos urbanos, como os arquitetos Eduardo de Almeida e Sigbert Zanettini, que resgataram sua vontade pela arquitetura
e urbanismo. “Foi muito importante ser reconhecida nesse curso, sentir que viam minha individualidade e o que eu poderia oferecer como meu trabalho. Foi um resgate impressionante”. O contato com diversos escritórios de arquitetura despertaram uma nova disposição em Íria. “Voltei com força para entrar no mercado, mais decidida nas escolhas da área”. E voltou mesmo. Em 1983, passou por um estágio de dois anos no escritório de Expedito Arruda, proporcionando algo que ela destaca como “um grande aprendizado e a visão otimista da vida que é uma característica deste profissional amigo”. Mergulho no urbanismo De 1984 a 2014 passou por um dos períodos mais marcantes de sua experiência como arquiteta. Ao entrar na Prefeitura de João Pessoa, começou a exercer a arquitetura voltada para o urbanismo e ganhou uma visão amplificada de como trabalhar na área. Passou a compreender o funcionamento de instituições públicas e a ter contato com profissionais que apresentavam projetos das mais diversas áreas, trazendo, assim, um conhecimento abrangente da cidade. Na época, teve uma grande diversidade de trabalhos, desde reformas em escolas, projetos em hospitais e praças. “Era levar um pouco de arte a alguns ambientes poucos convidativos ou plenamente funcionais. Tive uma visão ampla de como cada gestor visualiza sua própria cidade”, afirmou a arquiteta. Já em 1986 trabalhava pela manhã na prefeitura e à tarde em seu próprio escritório. Sem a tecnologia de hoje, refazer um projeto na prancheta, com lápis, borracha, esquadros, era mais trabalhoso e a organização dos arquivos necessitava de grandes espaços. “Não ter computador fazia com que buscasse o conhecimento real adquirido e, com isso, mais confiança”. Mas aponta o computador como uma ferramenta destinada a potencializar as capacidades de um profissional na área. “Não se pode ficar no passado. Hoje eu toco todos os meus projetos em Autocad e alguns em Revit, que traz mais rapidez e qualidade nas apresentações dos projetos”, enfatiza.
Processo de criação Íria busca elaborar projetos atemporais, acolhedores e contemporâneos, com equilíbrio das formas e inovações com senso estético. “Busco harmonia e a valorização do bem viver. É criar, inovar, transformar formas de viver e assim fazer pessoas existirem de forma mais digna”, complementa. Depois do contato com o cliente, ela busca um momento em que ocorra uma abertura do conhecimento. “Trazemos intuição e sensibilidade. Se você se abre para isso e se inspira, consegue sentir e saberas dificuldades e necessidades do cliente. Assim, converto tudo isso para o projeto”, ressalta. “Procuro fazer minha arte expandindo o que vier de melhor na intuição. Quando o estado espiritual passa para o projeto este se transforma
em algo positivo, uso a técnica, vou direto ao Cad e quando o projeto exige linhas curvas, o traço a mão, como um detalhe de um móvel, uso o desenho livre”, salienta. Referências Durante o curso de Arquitetura, a formação de Íria foi recheada de inspirações. No entanto, ela destaca o suíço Mario Botta como uma das principais. “Eu ia a palestras dele e percebia que ele trazia características similares a nossa região. Uma pessoa do outro lado do mundo e que usava materiais parecidos com o lugar que eu morava”. Íria aponta também o americano Richard Meier, destacando a plasticidade de suas fachadas e o uso do branco. “O branco está em tudo e de formas diferentes. Assim eu gostava dos dois, um trazia o regional e o outro o contemporâneo”, explica. Hoje, com a internet, ela não hesita em abrir o leque na hora da inspiração, buscando em profissionais como o paulista Isay Weinfeld, tanto em interiores quanto na forma, quanto na iraquiana Zaha Hadid, além de Niemeyer, que exerceu, segundo ela, magistralmente a plasticidade do concreto. Na parte de interiores, uma das áreas em que mais realiza projetos, com participações em várias revistas e TVs, ela se considera uma autodidata, creditando a tecnologia como um elemento de grande ajuda no processo. “Aprecio muito todos os que apresentam uma linha limpa contemporânea, até mesmo no design. Posso citar Patricia Urquiola, Jader Almeida, Leo Shehtman, entre outros e vou buscar nestas ideias a conexão com as minhas”, ilustra a arquiteta. Um novo rumo Hoje com toda a experiência de diversas áreas e a maturidade na arquitetura, quando o projeto se apresenta, Íria após o contato com o cliente, pela sua intuição, já visualiza o projeto acabado com maestria. “Mas não dispenso as reuniões semanais com os estagiários que trabalham comigo onde debatemos sobre detalhes e desenhos dos projetos”. Agora, “posso viajar, me programar, buscar mais conhecimentos para a arquitetura, me dedico mais ao cliente. Eu sonhava chegar nesse tempo, nesse momento. É muito bom a maturidade profissional e pessoal. Você escolhe e produz o melhor”, completa. Mas são os novos projetos que despertam em Íria a renovação profissional, projetos em design com publicações em revistas, participações em feiras. Esse novo projeto é o retorno para uma redescoberta. “Um dos meus designs, Puffs, já foi publicado em uma revista nacional como destaque de peças recém-chegadas na Feira Brasileira de Móveis e Acessórios de Alta Decoração, a Abimad.”
Mais recentemente dedica-se também ao projeto que sempre quis desenvolver “e que me vem trazendo muita satisfação e alegria, que é a pintura em tela. Essa nova descoberta me faz transmitir sentimentos e ideias que se materializam através delas”. Tanto que já teve a oportunidade de ter sido aceita e passado por uma análise criteriosa junto a Academia Latino Americana de Artes – (ALA) e participado de duas exposições nacionais. Uma em Minas Gerais e outra em São Paulo no Clube Paineiras do Morumbi. Esses dois novos projetos estão sendo a minha inspiração”, comemora. Hobbies Íria Tavares tem uma ligação muito forte com a água. Seja praticando natação, sua paixão mais recente, ou caminhando na praia ou andando de bicicleta. “Volto energizada e mais tranquila para os meus projetos”, ressalta. A busca pelo autoconhecimento também é uma outra constante. Gosta de meditação, Reike, astrologia”. Esse estado de tranquilidade passo para o trabalho”, explica. Conceitos Íria descobriu sua fórmula pessoal de trabalhar e de como em encarar a arquitetura. “Arquitetura é materializar sonhos. É a poesia e o encontro das formas em harmonia”, palavras suas que faz questão de repassar para seus estagiários, para que estes se tornem pessoas conscientes, inspirem as pessoas a sua volta e que, também, sejam inspirados. E seu conselho tanto para os seus estagiários quanto para todos que estudam arquitetura é: “Devem fazer a arquitetura com uma maior amplitude, com uma visão do todo, uma visão transformadora, com o intuito de oferecer espaços agradáveis e dignos” | AL Fotos : Diego Carneiro e Divulgação
APARTAMENTO EM TAMBAÚ (250,00m²) - “Apartamento masculino publicado na revista AE n°31 para um empresário viajante. Muitas histórias se passaram nesse ambiente. Em 2010 o proprietário que estava em busca de seu espaço fixo de moradia e local para receber amigos, tem agora, um ambiente transformado, repaginado para a sua nova estrutura de vida, onde um novo casamento e o nascimento de mais uma filha formou este novo habitar mais leve e apropriado para uma vida em família”.
Fotos / imagens: Divulgação
LOJA BONTEMPO- “Projetar esta loja me fez acreditar que sonhos são possíveis... Participando desde o antes da obra, da firmeza dos franqueados, das necessidades de crescimento, da certeza na expansão e da confiança no acreditar,hoje, sinto-me feliz em ter feito parte desta criação cujo espaço oferece, à inúmeras pessoas, arte, técnica, sonhos possíveis e infinitas possibilidades de ambientes nobres com qualidade. Autoria:Íria Tavares e colaboração: Maíra Feitosa”.
CLÍNICA DE PSICANÁLISE - “Era uma vez uma casa tão velhinha com cuidados a precisar, Sem chão, paredes molhadas, a coberta a ver o céu mas ninguém imaginava que o seu novo dono viria a chegar com todo carinho e vontade de ficar. Desde 1996 nasceu esta Clínica com a intensão do cuidar de pessoas E, assim, ao longo dos anos se apresenta com os mimos em cada detalhe,em cada cor a modificar, em cada expressão de aconchego nas ambientações de cada consultório. E, nesta caminhada, tantas pessoas que passaram, apreciaram, se sentiram valorizados em ter um espaço oferecido, com tanto amor, ao bem estar de cada um que aqui vier”.
ÍRIS GALVÃO
O
RITMO DA VIDA
Quem vê a profissional tranquila e focada de hoje talvez não saiba o quanto a arquiteta Íris Galvão Amorim já foi acelerada e dinâmica ao extremo no passado. É que a maturidade e as lições da vida trouxeram a ela qualidades que aparecem em cada novo projeto. Em 1979, ela entrou numa das primeiras turmas de Arquitetura da UFPB. Foi influenciada pelo pai, que era professor e fundador do curso de Engenharia, e também pela mãe, que era muito antenada em decoração, onde mandava sempre buscar lindos móveis em Recife para a casa da família. E foi vivendo nesse mundo que Íris Galvão Amorim decidiu cursar Arquitetura, mesmo sendo um curso novo na cidade de João Pessoa. Assim, ela enfrentou os desafios da universidade. Uma das lembranças é um momento em que o professor Amaro Muniz deu por um trabalho não uma nota baixa, mas uma abaixo de zero: menos cinco. Esse episódio foi um divisor de águas. “Ao invés de querer desistir, estudei muito mais, fiz uma nova maquete e tirei a nota máxima”, lembra. “Um 10 que me fez ter ainda mais força para enfrentar a vida acadêmica”. Outro fator que fez com que ela criasse ainda mais gosto pelo curso foi poder estagiar com um dos mais importantes nomes da arquitetura na Paraíba, Expedito Arruda. Foi nesse período que ela aprendeu na prática
o que via nas pranchetas da universidade. Já casada e com filho, ela realizou o sonho de ter a própria loja de móveis. A Art Casa é uma conceituada lojas de móveis, ainda na ativa em Joao Pessoa. No começo, era de cozinhas moduladas Requipe. Nesse período, estava concluindo o curso e engravidou novamente. “Uma rotina que ficou muito puxada e optei por repassar a loja”, recorda. Mas ela não ficou muito tempo longe da arquitetura e interiores: abriu um escritório. No primeiro dia apareceu uma cliente. Um sinal que tinha começado com o pé direito. “Por esse escritório, passaram grandes projetos, além de estagiários que hoje fazem parte dos grandes nomes da arquitetura paraibana, como Márcia Barreiros, Janine Rolim, Alda Fran, Cristiano Rolim, Edvânia Alves, Viviane Sanguineti e muitos outros”, enumera. Era uma época que todos os projetos eram feitos no papel por isso precisavam de um espaço maior. “Na época, tudo era na prancheta, então a nossa produção se limitava ao número de profissionais disponíveis”. Nessa época que Íris viveu seu período de maior estresse: com 12 arquitetos trabalhando para ela, abriu uma nova loja, a SCA, de moveis modulados, fazendo com que ela vivesse um ritmo frenético de trabalho. E ainda dava suporte à loja de moveis do marido, a Show House, fazendo todas as escolhas nas compras em feiras. Uma nova forma de ver a vida Em meio a todo o glamour e ao ritmo agitado de vida, Íris não tinha tempo para mais nada, além da família e do trabalho. Mas uma doença inesperada fez ela repensar a forma de encarar a vida. “O câncer de mama me fez repensar tudo! Enquanto eu estava deitada numa cama, tentando digerir a informação de que eu estava muito doente, só associava a doença ao estresse. Eu vivia num ritmo muito louco e precisava parar tudo para, realmente, viver. Foi isso que eu fiz a partir dali”. Ela fechou para balanço. Vendeu a loja, fechou o escritório, e o marido Odilon também fechou as lojas dele. Foram dois anos sabáticos,
viajando com a família, respirando outros ares. Fez todo o tratamento e se curou. Mesmo assim, ela não quis papo com a arquitetura. Até mesmo os projetos da nova empresa da família, uma construtora, foram feitos por outros profissionais. Com o tempo, sentia que faltava um pedaço de si mesma. Íris foi em busca das respostas para este sentimento na terapia. Depois de algumas sessões, o terapeuta setenciou: “Você precisa voltar com a arquitetura!”. Foi aí que ela voltou com a arquitetura e deixou o terapeuta. “Acho que consegui, depois de me conhecer melhor, encarar a minha profissão como uma terapia, não como um vício”, revela. Novos ares, nova vida Íris Galvão abriu em 2011 um novo escritório com a nora, Maiara Galvão Amorim. Hoje em dia, ela exerce a arquitetura com muito mais amor. “Eu já trabalhava antes com amor, mas hoje é mais! Antes eu assumia tudo. Mas a doença me fez ver que recuar, ver o crescimento da minha família, cada um com seu talento, o quanto cada um era capaz de conquistar o seu próprio espaço, e isso foi maravilhoso e libertador de ver acontecer”. Faz academia, dieta, se cuida mais. A nora e sócia Maiara já começou a carreira do jeito certo, tendo tempo para cuidar de si mesma, e segue o mesmo ritmo de vida da sogra. “Acho que ela aprendeu com os meus erros, vendo tudo que passei, que a gente deve planejar tudo e respeitar os nossos limites”, ensina ela. Sobre a parceria, ela diz que é muito tranquila. “Junto minha experiência com a jovialidade e o talento dela e isso é ótimo. Ela tem a mesma linha de trabalho que eu, foi minha estagiária, mas tem uma visão diferente, so acrescentando no resultado final”. Oito anos depois de sua cura, ela tem muito mais fé. “Vou à missa todos os dias que posso e agradeço a Deus por tudo que passei. Hoje, respeito mais as pessoas que estão a minha volta, consigo ouvi-las, tento
ser uma pessoa melhor a cada dia. Antes eu não tinha tempo para nada... Nem pra mim mesma, nem pra ninguém, só pra minha profissão”. Em 2011, Íris decidiu ganhar tempo. Por isso, contratou um professor para ensinar a fazer os projetos no computador. Hoje, não usa mais a prancheta: faz tudo no computador. “A nova Íris quer reaprender a viver a cada dia. Nada mais me para, nem me limita”, diz. Hoje, ela está mais focada nos projetos que assume. “Eu consigo entender melhor o desejo de cada cliente. Antes, eu focava na produção. Hoje, foco mais na qualidade de tudo que faço”, resume ela. Com a vida financeira mais resolvida, ela consegue ter outras prioridades na vida.
O ritmo atual Entre os profissionais que influenciam o trabalho dela, segue a linha dos americanos Frank Loyd Wright e Richard Meier... “Ainda gosto de Roberto Migoto na ambientação, adoro como ele trabalha o clássico com o contemporâneo, onde você vê que tem um trabalho mental muito grande”, diz. “Além, é claro, de Janete Costa, que é um marco para todos nós”. Hoje, ela já considera ter um estilo próprio. “Cada vez que chego num imóvel para ambientar, tenho um prazer enorme. Estou fazendo agora, por exemplo, uma ambientação de uma colecionadora, que herdou do pai o amor pelas artes. Está sendo maravilhoso e estou muito entusiasmada com isso, cada projeto é único!”. Atualmente, Íris se divide entre projetos de ambientação, arquitetônicos e também em criar projetos para a construtora da família. Com 34 anos de formada, ela usa toda a experiência para criar os projetos para grandes edifícios, com um planejamento minucioso da divisão de espaços. “De uma forma ou de outra, sempre penso no cliente final. A questão estética também pesa, é claro, mas pensar em cada pessoa que vai morar lá dentro é o que me faz trabalhar cada vez melhor”, conta. Se existe o perigo de voltar a viver o ritmo frenético de antigamente? “Essa possibilidade não existe mais... Hoje eu penso muito mais antes de tomar qualquer decisão. A vida me ensinou a ter limites. O medo de morrer também. Então, dou muito mais valor às pequenas realizações e alegrias do dia-a-dia como me orgulhar da minha neta que já está no final do primeiro ano de arquitetura e muito empolgada”. | DC Fotos : Diego Carneiro
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PROJETO DE INTERIORES DE APARTAMENTO - “Sala de estar com mobiliário monocromático e trabalho da artista plástica Fernanda Naman proporcionou um ambiente amplo mas aconchegante”.
EDIFÍCIO CO PENTHOUSES - “Em sociedade com a arquiteta Maiara Galvão Amorim, continuei a parceria com Grace Galvão em mais um projeto. Inovando no conceito de moradia suspensa, criamos este edificio com Penthouses na cobertura, no bairro de Tambaú”.
EDIFÍCIO RESIDENCIAL MILANESI - “Este edifício foi projetado em parceria com a arquiteta Grace Galvão. Se localiza no bairro de Cabo Branco. A leveza das varandas e as amplas esquadrias marcam a presença do edificio na paisagem urbana”.
ANTÔNIO CLÁUDIO MASSA
A
RTE E ARQUITETURA SEMPRE JUNTAS
“Eu devia ter uns oito, nove anos, por aí, quando um passeio de sábado à tarde com meu pai era ver o CT sendo construído”, lembra Antônio Cláudio Massa, se referindo ao Centro de Tecnologia, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Meu pai gostava muito de ver construções”. O arquiteto recorda histórias da sua infância para contar como o pai era fascinado pela engenharia, o que acabou influenciando para que ele optasse pelo primeiro vestibular em Engenharia Civil. “Arquitetura não foi uma decisão, foi uma descoberta”, conta. “Na Escola de Engenharia eu descobri o curso de arquitetura porque vi alunos desenhando ao ar livre e como minha história sempre foi ligada a paixão pelo desenho e pela pintura, me apaixonar pela arquitetura foi inevitável!” Desde a infância, Massa foi se aperfeiçoando no desenho e pintura como autodidata, e quando procurou fazer cursos específicos no Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB, foi encaminhado por um professor para integrar a Associação de Artistas Plásticos Profissionais da Paraíba. “Foi um susto, da noite para o dia o pessoal já ficou me chamando de artista plástico”, brinca. Vida de artista Como artista plástico, passa a explorar várias técnicas de desenho e pintura em abordagens que vão do figurativo ao expressionismo e abstrato.
Já realizava exposições individuais quando entrou em arquitetura, em 1980. Ainda no início do curso, Massa foi convidado pelo professor e arquiteto Expedito Arruda para um estágio em seu escritório. O portfólio que mostrou na apresentação foi sua produção de artes plásticas. “Ele perguntou: ‘Você desenha com caneta técnica?’. Respondi: ‘Desenho, desde os 14 anos eu trabalho para gráficas, desenhando rótulos de remédios e outros produtos’”, conta. Massa se referia a um trabalho minucioso, onde desenhava letras com precisão. Ao mesmo tempo, trabalhou também com serigrafia, desenhando e pintando camisetas (muitas vezes na hora, em campeonatos de surfe). “Em tudo o que eu me envolvia, o desenho e a pintura estavam sempre do meu lado”, conta. O trabalho no escritório de Expedito o fez viver a arquitetura do projeto até a execução da obra. “A arquitetura foi me absorvendo quando eu comecei a vivenciar as experiências do espaço sendo desenhado e construído. Fiquei maravilhado com aquela nova possibilidade do desenho criativo”, diz. Visão profunda “A arquitetura me permite ir além do universo da expressão das artes visuais para imaginar o espaço que as contém”, explica. “A visão da arquitetura é bem mais profunda: antes que o espaço se configure, investigamos o seu percurso interior e exterior, pensando as suas estratégias funcionais estruturais e plásticas. Desenhar fazendo estas conexões entre a realidade e as ideias dos espaços que serão construídos é um exercício criativo que me transporta para horizontes de sonhos que vejo se materializarem na prática”. Seus primeiros projetos surgiram ainda na universidade e sempre eram mostrados aos profissionais do escritório e aos professores, com o objetivo de aprimoramento, tanto na teoria acadêmica quanto na prática construtiva. Nos fins de semana, projetava para familiares, amigos e outros colegas. “Eu discutia arquitetura com vários colegas para perceber outras possibilidades projetivas”, diz. “Essas dinâmicas contribuíram para desenvolver o senso crítico e o de trabalhar em equipe, que evoluiu ainda mais quando iniciei o escritório com Ernani. A preocupação nossa era debater os temas dos projetos confrontando com os ecos do que já tínhamos visto”. Foi no escritório de Expedito Arruda que Massa também conheceu Ernani Henrique Jr, que se tornou seu sócio ao longo de 32 anos. “Conheci Ernani nos últimos anos que eu trabalhei com Expedito, já como arquiteto, por volta de 1984”. Do interesse comum pela arquitetura surgiu então uma forte amizade que os levou a abrir o escritório AE Arquitetura, em 1986. O escritório de Massa e Ernani sempre se manteve aberto para todas as possibilidades da arquitetura.
“Atuamos na área de edificações unifamiliares, multifamiliares, comerciais, institucionais, hospitalares, lazer, serviços, interiores e alguma coisa também de design...”, explica. “Sempre gostei de explorar temas novos e os desafios dos concursos de projetos, isso sempre me instiga pela novidade e pelo aprendizado”. Nesse leque, o escritório venceu concursos para projetos institucionais e hospitalares, como o hospital e centro médico da Unimed da cidade de Caruaru(PE), em parceria com o arquiteto Gilberto Guedes. “Foi uma época em que estudamos e debatemos muito a arquitetura hospitalar. Entramos nessa área e fizemos várias clínicas”, lembra. Mas há algum tipo de projeto preferido? “Para mim, a preferência é o trabalho novo”, afirma. “Eu começo a trabalhar antes de riscar o papel. Quando escuto do cliente ‘eu quero um projeto para determinado fim’, involuntariamente o processo conceptivo se inicia, fico ansioso pra botar no papel as primeiras ideias. Os meus cadernos de croquis têm muitos estudos, frutos de conversas que não se transformaram em projetos...”, conta. “Sinto uma grande satisfação no processar das ideias, quando o projeto está na fase inicial, ele é meu desafio particular!”, continua. “Depois que as ideias se transformam em arquitetura construída e atinge o seu objetivo coletivo, experimento outro tipo de satisfação, a apropriação dos usuários. Na verdade, projetamos para a coletividade, fazemos para o outro. Isso também me encanta; participar da vida das pessoas, sentir e tentar realizar os seus sonhos de futuros usuários que não são só preferências estéticas, mas seus conceitos de vida”. Inspirações Sua grande admiração no campo da arquitetura é o arquiteto americano Frank Lloyd Wright (1867-1959). “Eu devia ter uns oito anos quando mamãe começou comprar fascículos da Enciclopédia Conhecer... Foi aí que conheci Frank Lloyd Wright: saiu um fascículo sobre arquitetura e lá estava estampada a Casa da Cascata”, recorda. “Na minha mente de criança, aquela casa, suspensa sobre o rio e a mata, era como se fosse um ambiente de aventuras, muito próxima de outras referências de arquiteturas fantásticas que me fascinavam, as edificações futuristas das histórias em quadrinhos do Flash Gordon”. O fascínio transformou-se, na universidade, em um mergulho crítico na obra de Wright. “Onde havia um livro sobre a obra de Frank Lloyd Wright, eu fazia de tudo para adquirir”, conta. Entre os arquitetos brasileiros Massa menciona Oscar Niemeyer, Osvaldo Bratke, Acácio Gil Borsoi, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Lelé, Siegbert Zanettini... “Sempre sou muito aberto para conhecer novas expressões de arquitetura. Mesmo que eu não tente experimentar esses caminhos, gosto de entender sua forma de pensamento”. Outra atividade que Massa se dedica intensamente é o magistério, que abraçou desde o ano 2000, quando foi convidado a integrar o corpo docente
do curso de Arquitetura e Urbanismo, do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê). Lá, ministra várias disciplinas de teoria e projetos de arquitetura e urbanismo. Sua disciplina “xodó” é Oficina de Desenho. “A universidade me proporciona vivências inestimáveis de pesquisas e troca de ideias”, diz.
Nova fase Atualmente o escritório de Toinho e Ernani chega a um momento de maturidade com a graduação dos filhos e parte para um processo de divisão natural, depois de tantos anos juntos. Agora, com os filhos arquitetos, vão inaugurar uma nova fase solo na arquitetura paraibana. “Estamos animados com as possibilidades dessa nova fase de produção pais e filhos. Iniciarei o Massa Arquitetos, com meu filho Mateus Massa”, conta. O novo escritório pretende aproximar ainda mais os processos investigativos da arquitetura com as artes. Mateus, além de arquiteto, também é apaixonado pela fotografia artística. “Não vejo fronteiras entre arquitetura e artes visuais, porque ambos são ambientes estimulantes de ideias e expressão”. Prova disso é que Massa desenha e pinta os projetos à mão livre como quadros artísticos, antes de serem passados para o computador. Paralelamente também procura manter-se atualizado com as novas tecnologias, sempre participando de cursos de inovações da informática, e dos materiais construtivos. O futuro não prevê aposentadoria. “Minha inspiração, nesse ponto é a longevidade profissional de Oscar Niemeyer!”, diz rindo. O pensamento de Antônio Cláudio Massa é seguir trabalhando sempre. | RF Fotos : Vilmar Costa
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PARAÍSO DO ATLÂNTICO - “O Condomínio Residencial Paraíso do Atlântico, aborda o conceito “resort residence” em um grande lote à beira mar da Praia de Ponta de Campina em Cabedelo PB, abrigando 278 unidades em 04 blocos escalonados em ângulo de 35º proporcionando vistas para o mar a todas as unidades habitacionais. As conexões funcionais e espaciais com o paisagismo integram e valorizam os equipamentos de lazer”.
FÓRUM MANGABEIRA - “Tribunal de Justiça da Paraíba - O Fórum Mangabeira em João Pessoa foi concebido a partir do sistema de construção pré-moldada para uma série de edificações judiciárias do Tribunal de Justiça da Paraíba, que apresentam flexibilidades funcionais, formais e construtivas para viabilizar programas compatíveis com as varas judiciais de primeira a terceira entrâncias”.
RESIDÊNCIA BOSQUE DAS ORQUÍDEAS I “A residência Bosque das Orquídeas I, implantada em um lote de condomínio residencial, desenvolve o tema da casa terraço privilegiando a interação dos ambientes internos e externos e a proteção das grandes aberturas que permitem a expansão dos espaços para generosas varandas sombreadas”.
TERESA QUEIROGA
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IMAGINÁRIO E O CONCRETO
Teresa Queiroga tem sua origem no sertão da Paraíba, na cidade de Sousa, mas, como tantos outros estudantes da época, veio ainda jovem morar em João Pessoa para cursar o ensino médio e se preparar para o vestibular. A escolha profissional se definiu quando um teste vocacional feito no Colégio Pio X, onde estudava, apontou a arquitetura como sua principal possibilidade. “Eu sempre fui muito perfeccionista e organizada, mas ao mesmo tempo gostava de coisas instigantes que me motivassem a cada dia. Sempre fui fascinada pela arte, acho que já era o senso estético falando alto e me direcionando”, pontuou. “Quando fiz o teste, a primeira opção foi arquitetura”. Outro fator que a fez optar pela profissão foi a versatilidade. “Há um leque de possibilidades de trabalho dentro da arquitetura e isso é motivador. Eu me realizo porque cada projeto é um novo desafio. Isso me encanta. Jamais me imaginei dentro de um gabinete fechado fazendo as mesmas coisas todos os dias”, conta. Na Universidade Federal da Paraíba, Teresa foi aluna de professores que marcaram época: Amaro Muniz, Mario Di Lascio, Expedito Arruda e Luciano Agra, entre outros. O final do curso coincidiu com o casamento e posteriormente a chegada da primeira filha. Começava uma nova etapa de vida pessoal, mas era necessário exercer a profissão para se sentir realizada completamente. “Tive que conquistar meu espaço no mercado de trabalho, então abri meu escritório de arquitetura em sociedade com Débora Pires,”, disse. Depois de algum tempo a sociedade se desfez, mas a amizade continua até hoje.
Mundo profissional Ao longo da sua carreira profissional executou vários projetos em Sousa, continuando assim com a forte ligação com a cidade. “Fiz vários projetos na cidade. A maioria residenciais, mas também projetos de clínicas, hotel, clube de recreação, centro comercial, etc. Naquela época, haviam poucos arquitetos na região. Atualmente muitos residem e atuam profissionalmente na cidade”. Como profissional ela viveu a transição do desenho de prancheta para o mundo digital. Sem desprezar o avanço tecnológico, ainda desenvolve a ideia do projeto no papel, e também dispõe de uma equipe de arquitetos e estagiários que auxiliam no desenvolvimento dos projetos utilizando as atuais tecnologias digitais. “Adoro criar na prancheta com lápis e papel. Lá, percebo que meu processo de criação flui mais naturalmente. Acredito que isso deve-se ao fato de ter usado esse método desde o meu início no mundo da arquitetura”. Na arquitetura, segue um estilo de linhas retas e formas limpas. “Gosto de uma arquitetura mais reta e minimalista”, diz. Teresa vem atuando em projetos de vários segmentos: residências, comercias, institucionais e de interiores, área na qual é autodidata. Está sempre participando de eventos, feiras nacionais e internacionais, mostras de arquitetura, mantendo-se atualizada, empregando novas tendências e tecnologias. Nova geração Sua filha, Rafaella Queiroga, formou-se em arquitetura, seguindo os passos da mãe: hoje as duas comandam juntas o escritório. Recentemente desenvolveram um grande e complexo projeto: o Colégio Motiva Oriental, no bairro de Altiplano. Inaugurado em 2016, possui 32 mil m² de área construída.
“Neste trabalho, Rafaella coordenou a compatibilização dos vários projetos. Passamos alguns meses trabalhando em três turnos, com vários profissionais envolvidos no processo, inclusive com os que estavam desenvolvendo os projetos complementares. Foram vários meses de trabalho integral na etapa de elaboração dos projetos e depois na fase de detalhamento. Durante a execução da obra, que se deu num prazo recorde de oito meses, houve um acompanhamento intensivo e permanente do escritório, em conjunto com a empresa que gerenciava a obra.” Teresa Queiroga prima pela total assistência ao cliente, desde a fase de elaboração do projeto até a execução da obra. “Sinto prazer em visitar
as obras, me enche os olhos ver o projeto sair do papel e se tornar real”. Contrastando com a tranquilidade que demonstra no processo de projetar, nas visitas às obras, é bastante rigorosa e exigente quanto à fiel execução do projeto. Além da atuação intensa no seu escritório de arquitetura, Teresa atua na construtora da família, que é comandada pelo marido e seus dois filhos, todos engenheiros civis, buscando sempre um trabalho eficiente e de qualidade. Além de se sentir realizada profissionalmente, adora compartilhar bons momentos com a família e promover encontros para reunir todos. É disciplinada: quando solteira fazia balé clássico e dança contemporânea. Hoje, frequenta a academia regularmente, três vezes por semana. “Fazer exercício físico me energiza”, diz. Para Teresa Queiroga, a arquitetura é uma arte e como tal, importante para todos. “É entre paredes, nos espaços construídos, que se vive”, ressalta. “O equilíbrio do indivíduo com o meio ambiente é de extrema importância, é imprescindível criar espaços saudáveis para garantir conforto e bem-estar”. E, finalizando, diz: “Trabalhamos com o imaginário, algo que não existia de repente se materializa e se impõe, influenciando na vida das pessoas e marcando época”. | RF Fotos : Diego Carneiro
QUARTO DO BEBÊ “Projetado especialmente para primeira edição da Casa Cor Paraiba, com co-autoria de Rafaella Queiroga”.
Fotos / imagens: Diego Carneiro, Dayse Rathge e Divulgação
RESIDÊNCIA LM - “Residência localizada no condomínio Alphaville, em João Pessoa. O escritório desenvolveu o projeto arquitetônico e também todo o projeto de interiores”.
COLÉGIO MOTIVA ORIENTAL - “Empreendimento de grande relevância com 32 mil m2 de área construída, localizado no bairro do Altiplano Cabo Branco. Foi projetado para funcionar em tempo integral e regular”.
GERMANA TERCEIRO
NETO
F
ALANDO PELO TRABALHO
O sobrenome Terceiro Neto é uma referência no direito e a área rondou a vida de Germana Terceiro Neto mais de uma vez. Ainda na adolescência, teve vontade de seguir os passos da família e enveredar pelo direito, mas, segundo ela, temia ser uma sombra de seu pai, Dorgival Terceiro Neto. Procurou, então, um curso que pudesse vencer por mérito próprio, sem a influência familiar. A fascinação pelas áreas de história e arte foi preponderante para optar pela arquitetura, ao prestar o vestibular, em 1981. “Arquitetura, por ser um curso multidisciplinar, conseguiria aglutinar a formação artística e humana que buscava”, diz. Logo após ingressar no curso, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), passou a trabalhar como funcionária pública, no Instituto de Previdência do Estado da Paraíba (IPEP). Mais especificamente, no Departamento de Engenharia, que, na época, construía grandes obras, incluindo o conjunto habitacional Valentina Figueiredo. Lá foi o seu primeiro e efetivo aprendizado prático. Ao iniciar o segundo ano de Arquitetura, em janeiro de 1982, Germana se casou com Sávio Parente e teve o seu primeiro filho no ano seguinte (o segundo viria em 1987 e o terceiro, em 1990). Não foi um período fácil. “As pessoas não têm noção de quanto o curso de Arquitetura é difícil. Às vezes, só veem o glamour, mas é um curso muito amplo e exige muita dedicação”, conta.
Nesse momento, sempre contou com o incentivo do marido. Sávio, engenheiro, costumava tirar dúvidas de assuntos relacionados às disciplinas de tecnologia e aos exercícios desenvolvidos no campo prático. Ela diz que era comum passar noites sem dormir para realizar os trabalhos acadêmicos dentro do prazo – principalmente, numa época sem computadores. “Sávio precisou ficar noites e noites com Caio para que eu pudesse concluir os trabalhos da universidade no tempo hábil”, diz. Ela voltaria às aulas para fazer uma pós-graduação em lighting design, já nos anos 2000. O começo profissional Em 1985, ao concluir o curso, iniciou seus passos profissionais através dos amigos que a procuravam. “A princípio, a gente fica com receio, sem saber como começar a atuar”, lembra. “Nessa época, um amigo estava montando uma lanchonete, outro precisava construir uma casa... E assim os trabalhos se sucederam”. Os trabalhos repercutiram tão bem que a procura por novos projetos extrapolou a rede de amizades. “Foi quando eu, realmente, resolvi me instalar. Acho que passei, aproximadamente, uns dois anos, depois de concluir o curso, para me instalar, efetivamente”, diz ela. Germana começou desenvolvendo projetos arquitetônicos residenciais e comerciais, mas houve uma procura considerável para que a arquiteta executasse projetos de interiores. “Foi uma coisa natural, não dependeu de mim”, conta. “Foi uma procura do mercado. Fui fazendo trabalhos, esses trabalhos foram sendo vistos; as pessoas gostavam, perguntavam quem os tinha feito e a demanda foi aumentando”. Inspirações Na época que iniciou a sua carreira, existiam poucos profissionais que atuavam na área de interiores. As obras de Janete Costa foram, a princípio, a sua fonte de inspiração. “Janete Costa era um ícone, respeitada e de extremo bom gosto. Sempre buscando suas referências culturais, mesmo quando fazia projetos fora do Nordeste”, aponta. Hoje, ela reverencia os brasileiros Arthur Mattos Casas, Roberto Migotto e Marcio Kogan, a espanhola Patricia Urquiola, o trabalho da iraquiana Zaha Hadid, o design do egípcio Karim Rashid, o canadense Frank O. Gehr, o italiano Massimiliano Fuksas e o espanhol Santiago Calatrava, entre outros. Tem, ainda, assumida admiração pelos projetos desenvolvidos pelo escritório americano Pelli Clarke Pelli Architects. As viagens, estimuladas por sua mãe, Marlene, serviram de fontes de aprendizagem e inspiração. “Minha mãe sempre acreditou que viajar era uma forma de engrandecimento pessoal e de adquirir bagagem cultural”. Novos caminhos Para ela, o mercado mudou muito desde que concluiu o curso de arquitetura.
Antes, os proprietários achavam-se aptos a conduzir, eles mesmos, um projeto de interiores. Agora, o arquiteto é muito mais requisitado. “Houve uma valorização do profissional”, avalia. Hoje, procura-se obter um melhor uso e distribuição dos espaços. Aliado a isso, há, atualmente, uma grande variedade de estilos e materiais disponíveis no mercado. “Faz-se necessário saber utilizá-los com equilíbrio e harmonia”, diz. Na realidade, a valorização do arquiteto na conjuntura atual é condizente com a importância da arquitetura na vida humana. “A arquitetura é fascinante porque tem a função primordial de abrigar o homem”, afirma. “Não é abrigar no sentido de ter um teto, mas criar um espaço para acolher o homem para o exercício das suas diversas atividades”. O Direito Em 2007, foi realizar um sonho que acalentava há anos: passou a dar aulas no Unipê, nas disciplinas de restauração e de projetos de interiores. A atividade durou cinco anos e, nesse meio tempo, o direito bateu à porta, novamente. Com filhos já adultos e o marido envolvido na administração do Degustar, restaurante aberto pela família em 2004 (com projeto dela e gerência de Sávio). Germana resolveu cursar Direito, à noite, no Unipê. “Era como se eu tivesse uma dívida com o meu pai”, diz. “Era também uma oportunidade de ocupar meu tempo e adquirir mais conhecimento, já que o direito permeia todas as áreas das atividades humanas”. Decisão natural, para uma pessoa inserida numa família na qual o pai, o irmão, a irmã, os três filhos e dois sobrinhos são advogados. Germana passou a se dividir entre o escritório, as aulas como professora no curso de Arquitetura e as aulas de Direito, à noite. A idéia era associar o conhecimento do direito à arquitetura e aprimorar-se nos direitos ambiental e urbanístico, diz ela. Mas chegou até a pensar em trocar a arquitetura pelo direito profissionalmente. “No curso de Direito, eu me sentia como uma criança com um brinquedo novo”. Seria fácil, ela confessa: “Precisava apenas mudar a placa do escritório”. Porém, clientes antigos e fiéis não permitiram que
ela abandonasse a arquitetura e, de fato, a troca nunca aconteceu. Ao concluir o curso de Direito, começou a questionar o caminho que realmente queria seguir. Um prêmio, fornecido pelo grupo de lojas que formavam a associação Circuito AD, ajudou na decisão. A premiação era uma viagem para o Peru, e seria na mesma época do exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Optou pela viagem. “Fui pensando: qual era a profissão em que eu seria melhor? Qual a profissão que tinha maior domínio? A verdade é que os anos de experiência e o amor pela arquitetura pesaram mais e ganharam a disputa”, analisa. Novas ferramentas Germana conta que foi uma das primeiras arquitetas a utilizar o programa Autocad, como ferramenta de trabalho, na Paraíba, em 1993. Ela, formada na base do lápis e da prancheta, projeta hoje direto no computador. “Quando comecei, não havia aqui um bom computador com configuração para rodar o Autocad. Eu mandei buscar o meu nos Estados Unidos, juntamente com um plotter e uma mesa digitalizadora”, lembra. Não foi um aprendizado fácil. “Sofri muito. Não conseguia me desvencilhar da prancheta”, diz. “Primeiro esboçava tudo e depois digitalizava”. O marido e o irmão, Dorgival Jr, incentivaram-na, afirmando que se tratava do futuro não distante, mas imediato. “Era muito difícil ir de encontro a tudo o que tinha aprendido, mas, aos poucos, fui começando e me libertando da prancheta”. Outro marco na carreira, segundo Germana, é o destaque conquistado em inúmeras mostras de arquitetura, a partir da década de 1990. Ela representou a Paraíba na I Mostra Carpet Fashion, realizada em Recife (1995), da mostra Vitrines Expo, realizada na loja Casapronta, em Recife (1997), a Casa Cor Pernambuco, realizada em parceria com a arquiteta Íris Galvão Amorim (1998). Na Paraíba, participou da Mostra Sala D’star (1996), Mostra Decor (1999 e 2000), Maison Paraíba (2005 e 2006), loja Espaço A (2014) e Casa Cor Paraíba (2016).
No final dos anos 1990 e início dos 2000, Germana teve inúmeros projetos publicados em revistas de circulação nacional, como Casa Claudia, Casa Jardim, Arquitetura & Construção e ViverBem. Em Recife, comprando a ViverBem do mês, descobriu que um projeto de sua autoria estampava a capa. “Foi um divisor de águas na minha carreira”, lembra. Em 2002, figurou na relação dos 20 melhores profissionais de arquitetura de interiores do Nordeste, publicado pelo anuário da ViverBem. Em 2004, figurou na relação dos 100 melhores profissionais de arquitetura de interiores do Brasil, também da ViverBem. Em 2012, por indicação da associação do grupo de lojistas paraibanos, Circuito AD, figurou do rol dos arquitetos de interiores mais atuantes do Brasil, da revista Kaza. As revistas a procuraram da mesma forma que os primeiros clientes: a descobriram através de seu trabalho. O trabalho sempre falou por ela. |RF Fotos : Diego Carneiro
ESPAÇO GOURMET - “Foi desenvolvido com a premissa de ser um ambiente acolhedor, espaço de agregação familiar. A madeira foi o principal elemento de composição do espaço. O uso do vidro permitiu a integração do ambiente com toda a área de lazer circundante. O projeto é parte da concepção de uma área de lazer, de uma residência unifamiliar, concluído em 2016”.
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR - “Construída em 2009, tem como características marcantes o declive acentuado da coberta e a angulação dos pilares. O projeto foi desenvolvido numa linguagem contemporânea, unindo vidro, metal , madeira e pedra, com equilíbrio e harmonia”.
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SALA DE JANTAR “Desenvolvida sob a égide do branco, com linhas contemporâneas e design personalizado pelo uso do painel recortado. O lustre, em cobre, de forte impacto visual, se contrapõe ao domínio do branco. o ambiente é integrante de um projeto de interior de um apartamento, concluído em 2016”.
CRISTIANO
ROLIM
U
M PESQUISADOR DA ARQUITETURA
“Eu não consigo me imaginar sem estar projetando”, comenta casualmente o arquiteto Cristiano Rolim, que, desde cedo, se encantou pela arquitetura. Ele conta que desde o primeiro grau (hoje, o ensino fundamental), já havia se decidido pela arquitetura. Ele queria conhecer as cidades e os lugares e a profissão parecia ser a escolha lógica. Essa paixão pela arquitetura foi o que o moveu a sair de Fortaleza e buscar uma vaga na UFPB. Em 1981, chega à Paraíba para se preparar para começar seu curso na UFPB no ano de 1982. Já no início da faculdade, teve aulas com Expedito Arruda, que é, nas palavras de Cristiano, um dos mestres de toda uma geração de profissionais paraibanos. Entre risos, lembra que falou com Expedito depois da aula pedindo estágio: “‘Qualquer dia, apareça lá no escritório’, falou Expedito. No outro dia eu já estava lá”. O tempo que passou no estágio marcou o início da sua carreira. Ele lembra com orgulho do tempo de aprendizado, em que começava a entender detalhamento em esquadrias com Alda Fran, desenvolvimento de projetos com Marília Dieb e conceito de arquitetura e desenho com Antonio Claudio Massa. “Comecei a crescer lá dentro, principalmente porque tinha acesso aos conceitos e à possibilidade de fazer arquitetura na prática”, o escritorio
tinha grande movimentação e grandes projetos: bancos, hospitais e grandes casas, lembra. Após terminar o curso, decidiu ir a São Paulo para fazer uma especialização na USP, mas uma proposta fez com que ele largasse o curso e retornasse a João Pessoa: assumir a gerência do escritório de Expedito. “Foram mais três anos à frente do escritorio – já havia passado três como estagiário”. A crise do governo Collor, nos anos 1990, fez com que ele tivesse que sair do escritório e voltar para Fortaleza. Mas um convite de Ernani Henrique Jr. e Antonio Claudio o trouxe de volta a João Pessoa, para desenvolver o projeto de um hotel. “Depois disso resolvi ficar na cidade e montar meu próprio escritório”, conta. Ao passar um tempo como professor universitário no Unipê, conheceu seu sócio, Ricardo Nogueira. “Fui seu orientador no trabalho de conclusão de curso e dai nasceu uma amizade. Juntos mantemos a CRN Arquitetura há mais de dez anos”. Na contramão do mercado Quando ocorreu o grande “boom” no mercado imobiliário na capital paraibana, Cristiano segue um caminho totalmente diverso ao de vários de seus colegas de profissão: como não havia uma legislação clara e existia uma intensa disputa no mercado, ele decidiu não se render ao direcionamento estritamente econômico que o mercado estava tomando. Não queria fazer parte de um mercado “em que você tem de barganhar com o cliente e assumir projetos de risco”, explica. Então, na década de 1990, decidiu trabalhar com interiores. “Era arquitetura, era onde as atividades aconteciam independentes de padrões de mais-valia do mercado imobiliário, e era onde, efetivamente, a arquitetura interagia com o usuário final”, analisa. Processo de criação Cristiano Rolim aprendeu a fazer arquitetura de prancheta, à mão. O processo de gradação entre o desenho e a tecnologia foi natural e paulatino, não se deu de uma hora para a outra: “Sempre fui muito curioso, sempre li muito. Como meu escritório é pequeno, tenho tempo para pesquisar, a produção é feita por prazer”, explica. “O computador foi entrando na vida de forma natural, mas foi esse prazer de fazer arquitetura que me motivou a
permanecer consciente das minhas verdades e não me render totalmente ao mercado”. O processo de criação de cada projeto no seu escritório é, ao mesmo tempo, simples e efetivo. “Senta todo mundo, pesquisa referências, procura o que pode trazer de novo, pensando com que público vai trabalhar e como a obra proporcionará interferências na vida do usuário final”, conta. “Quando chega nesta construção, já tem pelo menos uma plantinha e uma proposta de volumetria esquematizada na cabeça. A partir dai se começa a discutir qual vai ser o partido. Depois passamos para o Sketchup”. O resultado disso é um emaranhado de post-its, com referências e anotações, que irão colaborar na construção final do projeto. “Vamos rabiscando e conceituando. A parte volumétrica às vezes vai à mão, mas essa geração mais nova inicia no computador mesmo”. Todo o processo é sistematizado e organizado de uma forma que facilite o acesso. “Tem uma normativa interna da CRN de como salvar e organizar os arquivos no computador. Temos todo um processo de planejamento. No escritório, 90% da produção é de mercado imobiliário, por isso buscamos sempre algum diferencial. Na maioria das vezes a proposta já sai com anteprojeto de interiores do escritório, para orientar quem for fazer o trabalho de maquete eletrônica. Não consigo fazer arquitetura se não for assim. Se eu não respondo à uma qualidade espacial de uso e compatível com o lugar, não é arquitetura. Tem que ter uso e estar inserido na cidade”, ressalta Cristiano. “O planejamento desde o projeto é mais econômico do que refazerem obra, além disso, o resultado final tem mais qualidade. Vale à pena investir mais nisso. Planejar é economizar, é prever resultados e o mercado parece já ter começado a assimilar isso”, destaca. Hoje em dia, na sua dinâmica profissional, ele tem procurado lutar contra o que chama de arquitetura imediatista. “Devemos sempre repensar
que produto mercadológico oferecer em João Pessoa. Como a dinâmica da vida contemporânea, influencia na concepção de novos espaços”, diz. “Temos de pensar e elaborar espaços públicos qualificados, nossas intervenções no lote são definidoras do urbano. Não podemos enclausurar as pessoas em padrões compartimentados de modos de vida e nas cidades de muros”. Referências Modernista de formação, Cristiano começou se inspirando em nomes da chamada escola paulista como Paulo Mendes da Rocha e do mestre pernambucano Acácio Gil Borsoi. Quando o projeto mordenista e a arquitetura nacional passa por um processo de crítica, e somem das revistas, nesse momento o destaque passa a ser os arquitetos internacionais. “Essas novas referências, mexem um pouco com a cabeça da nova geração. É preciso fundamentar nossa arquitetura, apesar de receber essa influencia globalizada, mas temos que ter respeito ao lugar que atuamos”. O escritório funciona de forma horizontal, com todos os participantes tendo voz ativa no projeto. A internet e suas mais variadas fontes chegam com muita facilidade nessa construção de projetos e ele vive essa ebulição, mas não consegue se desprender de alguns processos. “Apesar de todas as possibilidades de pesquisa que a internet trouxe, podendo passear por ruas de diversos locais do mundo ao alcance de um clique, ainda gosto de abrir o livro, de ler e de sentir o cheiro”, diz. Hobbies Um amante do vinho, do cinema e da música, adora viajar, principalmente ao lado da mulher, com quem é casado há 24 anos, e de seus dois filhos, de 18
e 11 anos. Nestes momentos de intimidade ele faz questão de compartilhar o que pensa e o que acredita construir enquanto cidadão. “Qualificação e entendimento de arquitetura, enquanto produto social e de construção de cidades e de espaços de uso coletivo, é uma postura de cidadania. Essa conscientização eu faço em casa, quando estou sentado no tapete, vendo filme e comendo pipoca, dizendo quem sou e o que penso”. Ativista da arquitetura Cristiano passou por diversos órgãos que tinham por fim estruturar o exercício da arquitetura, como o CAU, Crea e IAB. E por cinco anos lecionou no curso de Arquitetura do Unipê. “Temos sempre que ter responsabilidade para com a sociedade e para com as pessoas. A autocrítica da nossa produção é necessária. Toda intervenção em um lote é mais do que isso, é uma intervenção na cidade. Temos que resolver as questões ambientais técnicas, as relações público/ privado, a qualidade espacial da proposta e sua relação com as preexistências em toda intervenção. Trabalhar por essa função responsável do arquiteto no mercado é papel de todo profissional da área”. AL Fotos : Diego Carneiro e Divulgação
CONTEMPORANEO - “Idealizado para um público que consome facilidades e tem estilo de vida despojada sem abrir mão do conforto. A linguagem dos materiais, das formas e das cores dialoga com essa contemporaneidade. O prédio, por ter um gabarito mais baixo, proporciona um contato maior com a escala do pedestre. Essa relação ficou mais evidente pelo tratamento paisagístico em todo o entorno da grande dimensão do lote. As grandes aberturas, além da função de conexão entre o interior e o exterior, estão associadas às lajes que se prolongam de forma diversa nos pavimentos e são fechadas por várias e descontinuas empenas que cortam essas lajes. Esse recurso cria dinamismo na volumetria e auxilia na proteção solar das fachadas, proporcionando um jogo de cheios e vazios que reforça a tridimensionalidade da proposta”.
ECOFIT - “Acreditamos que a arquitetura é fator transformador do lugar, buscamos estabelecer uma conexão com o entorno através da integração dos passeios e do agenciamento. Viver na cidade requer uma melhor relação no uso da infraestrutura urbana e mais mobilidade. Morar como reflexo de uma forma de viver estabelecido pelo ritmo da vida moderna onde as pessoas estão presas pela dificuldade de locomoção do nosso transito e seduzidas pelas facilidades que o crescimento da cidade oferece. Um público com estilo e afeito as tendências da vida contemporânea e que se manifesta o tempo todo. Buscamos na escala urbana, criar diferenciais e propor uma relação harmoniosa do prédio com a cidade e com o bairro, onde a rua passa a ser extensão da vida. Trouxemos para o projeto o respeito à escala urbana e uma subversão, no nível de transeunte, da relação entre espaço público e o espaço privado”.
Fotos / imagens: Divulgação
EQUILIBRIO CLUBE - “Pensado para pessoas que não têm necessidade de grandes espaços para morar, mas valorizam a convivência e o encontro que se estabelece no espaço compartilhado. Um local onde a ambiência e o modo de ser, característicos de vizinhança, interferem no estilo de vida e dizem respeito aos valores pessoais, as preferencias e ao modo de ser e de viver. Uma arquitetura para um público diversificado que tem como traço condutor a relação entre o uso da moradia e sua maneira de viver. O clima define uma arquitetura que mantem grandes aberturas e que propiciam a interação entre espaço interno e o meio ambiente. Um projeto que associa o morar com a flexibilidade da vida atual, onde funcionalidade, inovação e serviços, refletem o senso único de estilo e necessidades, Um espaço perfeito para uma nova forma de morar”.
ANA HELENA
M
AIS QUE CRIATIVIDADE, O INUSITADO
Uma casa projetada pelo arquiteto Mário Di Lascio foi a responsável pela paixão de Ana Helena Andrade pela arquitetura. A cadeira Barcelona – de 1929 e até hoje uma das cadeiras mais apreciadas por designers de produto – que havia na casa também exerceu certo fascínio naquela menina que fazia a quinta série. De lá até hoje, muita coisa aconteceu, inclusive o curso superior em arquitetura e a parceria no trabalho e na amizade com a arquiteta Ângela Diniz. O complementar das ideias uma da outra, o respeito e o talento como arquitetas fizeram com que Ana pudesse se orgulhar de sua carreira. Formada em Arquitetura pela Universidade Federal da Paraíba, há 28 anos realiza projetos dos mais diferentes tipos. O primeiro contato com a Arquitetura surgiu quando conheceu a residência da namorada de um dos seus irmãos, projeto do arquiteto Mário Di Lascio. “Os pais dela morreram e deixaram todos os móveis. Era uma construção de alto padrão, com peças de design que me fascinaram na época. A casa possuía pé-direito duplo com uma escada central toda revestida em mármore”, conta.
A sala principal contava com duas cadeiras Barcelona – que vieram da Itália, no mesmo container que havia trazido alguns móveis para o Itamaraty. “Além delas, na sala de televisão, tinha também as poltronas Mole, de Sérgio Rodrigues. Na suíte do casal existia um closet, uma penteadeira e o banheiro era todo em granito, o que na época não era muito comum. Era a primeira vez que eu via de perto algo idealizado e projetado por um arquiteto, então aquilo não só me impressionou bastante, como me motivou a seguir carreira”, descreveu Ana, como se voltasse à infância. Estudo e trabalho Os estágios foram parte importante da vida acadêmica de Ana. Régis Cavalcanti, Bethânia Tejo e Débora Julinda, cada um à sua maneira, tiveram importante parcela de contribuição. “O estágio ajuda, indiscutivelmente, mas a vivência, o dia a dia depois que você se forma e começa a executar os seus projetos, isso, sim, que é fundamental. Quando você faz estágio, trabalha a parte técnica, mas é no escritório como profissional que você tem que ter a solução para tudo que acontece no decorrer de uma obra e obviamente essa maturidade para enfrentar esses problemas só vem com o tempo e uma longa estrada de trabalho e dedicação. A gente dorme estudante e acorda arquiteto, isso é fato”. E a vida profissional propriamente dita teve início com um telefonema no dia do seu aniversário. Uma colega de escola e de faculdade ligava para dar os parabéns, e, de presente, veio o convite para formar uma sociedade. Quase três décadas depois a cumplicidade com Ângela continua criando projetos. “Hoje eu aceitaria aquele convite novamente, percorreria a mesma estrada, viveria tudo da mesma maneira, faria exatamente tudo igual. Não me arrependo de absolutamente nada e sou feliz e realizada com as escolhas que fiz”.
Trabalho e fé Ana divide diariamente suas horas entre obras e execução de projetos no escritório. A rotina pode mudar de acordo com a necessidade, mas o que nunca muda é o programa religioso que assiste ao começar o dia. “É como se só a partir dali meu dia começasse. A crença em Deus e em Nossa Senhora são inerentes a minha personalidade e estão ligadas a todas as áreas da minha vida e a tudo que faço”, diz. “Mas diferencio bem meu trabalho da vida pessoal. Sou muito convicta da minha fé, do que sinto dentro de mim, mas trabalho é trabalho e o tempo é administrado de forma que uma coisa não interfira na outra”, afirmou. Ana já projetou inúmeros projetos residenciais, ambientação de apartamentos, lojas e consultórios, mas ainda tem um sonho. “Fazer algo impactante na cidade, como uma grande praça, para pessoas diversas. E que, quando eu passar na frente depois de 20 anos, esteja lá sendo utilizada da mesma forma “, disse.
Família e esporte Ana é casada há 28 anos e tem um filho. Ele, apesar de formado em jornalismo, optou pela carreira esportiva e é jogador de futsal. Por isso, mora no sul do país. Mas ela dá um jeito de, mesmo separada por muitos quilômetros, estar sempre perto do filho: as ligações e mensagens são diárias, começando logo ao acordar e terminando tarde da noite. E o filho que trouxe essa outra paixão para a vida de Ana: ela é dirigente de um clube de futsal e dedica parte dos seus dias para este trabalho voluntário. “Sinto que tenho uma missão ali, principalmente com as crianças carentes. É um trabalho desgastante, mas que me completa como ser humano. E penso que na vida temos obrigação de fazer algo bom, plantar o bem de alguma forma. Eu achei esse caminho e o faço com muito prazer”.
Criatividade e referências Para Ana, a criatividade é o inesperado. “A arquitetura é muito mais do que ser ser criativa. É pensar em fazer uma coisa e, de repente, aparecerem outras ideias totalmente diferentes da ideia inicial. Arquitetura é o inusitado”, revela. Ela afirma ainda que suas referências são Mário Di Lascio, Oscar Niemeyer e Santiago Calatrava. “Meu estilo tem mais influência modernista”, afirma, acrescentando que o escritório – com projetos sempre ‘a quatro mãos’ – sempre procura entregar um trabalho que tenha a cara do cliente. “Só mostramos um projeto quando ele nos convence. Se ele nos convence, obviamente vai convencer o cliente. Quando o cliente tem paz na sua casa certamente ele vai se sentir bem e isso é o objetivo dos nossos projetos”, garantiu. Em seus projetos, sejam residenciais ou de interiores, Ana gosta de usar vidro intercalado a madeira. Pois o vidro traz a transparência e a leveza muito explorada em seu escritório. A arquitetura, para Ana, está em evolução, andando a passos largos. “A quantidade de informações que recebemos hoje é muito maior. Temos que estar antenadas a isso. A engenharia está permitindo que a arquitetura seja mais ousada”, enfatiza. Um conselho que daria aos mais jovens ou a si mesma quando estava no começo da carreira é ter persistência. “Tudo demora, tudo leva tempo. Sou uma pessoa ansiosa, que gosta de resultados rápidos. Mas o tempo se encarrega de ensinar e eu aprendi que as coisas acontecem com ou sem você, que a vida anda e tudo flui. Então, eu digo para todos: tenham persistência, calma e paciência, o que é seu há de ser seu e vai chegar até você de uma maneira ou de outra”. LG Fotos : Diego Carneiro
INTERIORES QUARTO - “A suíte da menina tem a base da ambientação no branco mas é marcada pelo colorido dos nichos de brinquedos resgatando a alegria da infância e o bem estar das cores que bem utilizados torna-se um grande aliado nos projetos da arquiteta”.
INTERIORES SALA “Um apartamento de 350 m2 com uma sala ampla para receber amigos tem traços leves e tons sóbrios que une conforto, beleza e arte e reflete no espaço um ambiente pensado para encantar e satisfazer”.
Fotos / imagens: Divulgação
AMBIENTAÇÃO HALL - “O hall é o cartão de visita do apartamento e antecipa o que está por vir, criando um forte impacto logo na chegada com um conceito moderno e arrojado”.
SANDRA MOURA
V
ISÃO DE FUTURO
“A arquitetura é música petrificada”. Segundo a arquiteta Sandra Moura, essa frase de Johann Wolfgang von Goethe define bem a sua carreira, onde a arte de fazer a fusão da beleza com utilidade não permite bloqueios culturais. A palavra arquitetura vem do grego arkhe que significa “primeiro” ou “principal” e de tékhton significando “construção”. “Tem algo mágico no ato de projetar, o traço se torna sensível, espontâneo e exercita com consciência, naturalidade e maturidade uma linguagem contemporânea que transmite musicalidade e poesia”, afirma Sandra, que completa 30 anos de profissão em 2017. Ela deixou o piano clássico para seguir a arquitetura com muita certeza do que estava fazendo e de onde queria chegar. Ela sempre gostou de desenhar à mão livre, desde pequena. Hoje, exercita com consciência e consistência uma linguagem contemporânea, onde ocorre a convergência entre forma e o conceito, não existindo um isolado ideário, na arte de projetar. Mas este amor pela arquitetura começou cedo. Quando ela fez 10 anos, os pais de Sandra começaram a reforma da casa onde moravam, no bairro de Manaíra, em João Pessoa. A reforma foi assinada pelo arquiteto Mário Glauco Di Lascio. Esse encontro impactou positivamente a decisão da jovem Sandra na escolha profissional – aos 12 anos de idade, depois de acompanhar um ano da reforma da casa.
Encontros e inspirações O tempo passa e eis que na universidade aconteceu outro encontro com o mestre no curso de História da Arte. O terceiro encontro se deu na apresentação do seu livro no ano de 2010. “Na vida não temos noção da dimensão e influência de cada pessoa na sua vida... Mas depois temos a extrema clareza de que os pontos se ligam e o destino acontece”, conta Sandra. Outra paixão de Sandra é o piano: sua primeira referência artística foi a música. Estudou piano clássico durante 10 anos. Deixou o Conservatório Mascarenhas quando foi prestar vestibular para arquitetura. O pai questionou a opção, mas ela fez uma comparação feliz entre o piano e a arquitetura. “Arquitetura é como a música: não se utiliza somente de papel e compasso para compor uma obra, mas da poesia e do sentimento, causando emoção nas pessoas que o apreciam”, justificou. “Assim como a música eleva nosso espírito, a arquitetura cria a magia em cima de pedra e cal. Como na música, se pensarmos, poderemos construir: é só dar asas a imaginação”. Sandra sempre foi de idealizar e realizar. “Na vida profissional os momentos de tensão fazem parte, mas a alegria e partilha da construção é inquestionável”. Com o seu trabalho, Sandra conseguiu se comunicar com a sociedade. “Através da obra realizada, podemos nos declarar ao mundo por meio de um registro não verbal, para que nossas construções nos mantenham fiéis, um gesto de deixar que os outros saibam quem somos”, diz. São essas lições de vida que Sandra passa aos filhos. Foi mãe pela primeira vez quando estava terminando arquitetura. Lucas, hoje, é publicitário e músico; Bruna, empresária. “Foram os melhores projetos da minha vida, meu primeiro abrigo construído pelo meu corpo”, opina. Na agenda uma frase a acompanha todos os anos: “Nunca pense no tempo presente nem faça pequenos planos, porque o tempo não é para ser esperado e, sim, realizado”. A vida acadêmica Em 1983 entrou na universidade para viver num mundo completamente novo, com o controle da sua vida. Na época todos tinham aquela idéia de que o curso de Arquitetura era mais alternativo. Sempre respeitou as diferenças, procurando interagir com o novo mundo que a cercava.
Houve momentos em que o professor Amaro Muniz deu um choque de realidade na turma, mas isso não lhe afetou. “Gosto muito de quem me instiga, sou movida a desafios e esta atitude expressa uma experiência enriquecedora para aqueles que trabalham com ética e paixão”. Um dos grandes marcos para Sandra foi o aprendizado durante os estágios com Mário Di Lascio e Expedito Arruda. Foi orientada em seu trabalho de graduação pelo depois prefeito Luciano Agra: era o projeto Costa do Sol. Foi contratada pelo Governo Burity para implantação do Trabalho Urbanístico Costa do Sol, no litoral sul da cidade. Profissional Iris Amorim foi sua sócia durante sete anos. Ao partir para a carreira solo, Sandra Moura renovou as fontes para seguir adiante e realizou grandes projetos. Sandra observa a natureza e compreende que arquitetura não é somente régua e compasso, prancheta e computador, é uma arte cuja utilidade supera por completo o ego de quem a cria, pois se torna propriedade pública do cotidiano. “Percebi ao longo da vida, principalmente nos anos de aprendizado, que a cultura é a expressão mais pura do que somos enquanto indivíduos”, analisa. “Penso também em cultura como espaço coletivo que definimos e
pactuamos para afirmar e cultivar permanentemente nossas convicções, crenças e esperanças”. Sua música toca nossos olhos, de imediato, nas livres linhas dos restaurantes Mangai de João Pessoa, Natal e Brasília, no MAG Shopping, no Fórum Cívil, na Esma, no restaurante Nau, de João Pessoa, e na revendedora Honda da capital paraibana. A opção plástica desses projetos juntou dois pontos da contemporaneidade: o equilíbrio e a mutação. “Sim, como criadores e receptores somos mutantes”, afirma. Pelo mundo Viajar para se (re)conhecer. “Viajar é trocar a roupa da alma”. Esta frase identifica o sentimento de prazer que Sandra tem em viajar e conhecer novas e instigantes culturas. Ela andou pelos cinco continentes, conheceu culturas diferentes da África, Europa, Ásia, Oceania e Américas. Do encontro de culturas, ela visualiza um novo olhar e liga os pontos de referências de sua identidade local. Sandra acredita que uma obra só se torna universal quando o seu conceito tem as referências do seu local, da sua aldeia. Ela também não se deixa tomar por sentimentos superiores. “Muitos jovens me têm como referência profissional, como inspiração. Isto me deixa feliz, mas ao mesmo tempo me sinto na responsabilidade de procurar realizar sempre o meu melhor, partilhando com minha equipe o olhar coletivo para o uso público”.
Bastidores Como ela consegue dar conta de tudo que faz? A primeira premissa é se cuidar fisicamente, espiritualmente e emocionalmente, mantendo o equilíbrio da família e do trabalho. Acordar cedo, fazer ginástica, se alimentar de maneira saudável, partilhar a vida com a família e os amigos e ter paixão pela profissão. Ousar e realizar são as suas palavras de ordem. “Nunca desistam dos seus sonhos. Saiam da zona de conforto. Arrisquem, ousem e busquem o equilíbrio entre o coração e a razão”, recomenda. “O teólogo francês Fenelon dizia que nada temos de nosso senão nossa vontade, e foi essa vontade que me levou a estudar arquitetura e que continua a me impulsionar na busca de novas fronteiras, conciliando espaço, luzes e cores. Sem esquecer que existe um ser superior regendo toda nossa existência”. O mais antigo tratado arquitetônico do Romano Vitrúvio, apontava que um arquiteto deveria ser bem versado em campos como a música e a filosofia. Sandra tem algo assim, quando exercita o seu ser e estar na arquitetura com uma tríade pela qual optou: responsabilidade social, compromisso cultural e cidadania, onde o seu olhar plural se torna mais que singular, indo ao desmedido respeito ao homem em busca da tal felicidade. | DC Fotos : Diego Carneiro e Vilmar Costar
NAU BRASÍLIA- “A pele reveste o abrigo na arquitetura. Envelopamos toda a edificação com uma estrutura de chapas de aço corten, baseado no desenho da folha da palma, planta presente no sertão brasileiro. Também procuramos referências na arquitetura de Brasília, muito famosa pela utilização do concreto aparente, criamos um diálogo entre a estrutura de aço corten e o concreto, balanceando com diferentes materiais”.
Fotos / imagens: Divulgação
HONDA - “Tensão arquitetônica. A cena de mastros e tirantes na paisagem, somada às influências da arquitetura naval, serviram de inspiração para a concepção projetual deste edifício”.
CASA MAR- “Quando vi o mar a inspiração veio para ficar. Temos nesta casa um conceito clean de morar; ausência do supérfluo, valorização da amplitude, pouca informação visual, leveza nos detalhes, muita luz natural, multifuncionalidade, elementos sustentáveis e resgate, caracterizando um morar contemporâneo. A casa mostra-se com espaços generosos, complementando e dialogando o interno com o externo, pois o fechamento da casa possibilita a abertura total das suas esquadrias, a transparência do espaço das áreas sociais para o mar refletindo o desejo dos seus moradores de literalmente o espaço da casa virar um mar de transparência”.
ÂNGELA DINIZ
E
XPERIÊNCIA DO SENTIR
Elegância, bom humor e simplicidade são algumas das virtudes da arquiteta Ângela Diniz. E tudo isso está inserido no seu trabalho, desenvolvido já há mais de 28 anos, juntamente com sua sócia, Ana Helena. Colegas nos tempos de escola e faculdade, elas dividem um consolidado escritório de arquitetura na capital paraibana. Embora cada uma tenha sua particularidade e características próprias, tanto na vida pessoal quanto profissional, é justamente o discernimento diante das individualidades e a consequente mescla de ideias que permitem a Ângela e Ana se manterem firmes em um mercado cada vez mais concorrido. Ângela iniciou o interesse pela área aos nove anos de idade, quando o gosto por desenho e pintura passou a aflorar na alma. Não deu outra: a escolha profissional foi arquitetura – se formou pela Universidade Federal da Paraíba. E ela se diz muito bem resolvida, apesar de revelar que poderia seguir outro rumo caso tivesse que voltar no tempo: o da medicina. A ambientação, que não era vista com bons olhos quando começou, é a sua grande especialidade. Mas ela tem vários tipos de obras no currículo, e deixa claro que ainda tem muitos sonhos, entre eles o de projetar um hotel. Ângela lembra que se dedicou muito durante o curso, apesar de não conseguir fazer nenhum estágio – naquela época, era difícil uma mulher
casada e com dois filhos conciliar sua rotina com a de um estágio. “Eu aprendi a desenhar observando. Toda a minha experiência foi de observação, de passar a mão, de sentir. Até hoje ser observadora é uma das minhas principais características”, afirma. Parabéns e sociedade Logo depois de terminar o curso, Ângela não demorou muito a conseguir seu primeiro projeto: uma residência em Brasília e uma loja no primeiro shopping da cidade foram seus primeiros passos na profissão. “Um projeto de arquitetura e outro de ambientação de uma só vez... Fui estudar, observar, ler. Era uma questão de força de vontade fazer aquilo dar certo e acontecer da melhor maneira possível”, afirmou. Nesse mesmo ano, um telefonema para parabenizar uma amiga pelo aniversário mudaria sua vida. É que, além da ligação, ela convidou Ana Helena para ser sua sócia, e, ali mesmo, a sociedade passou a existir. O começo não foi fácil, algumas tardes sem desenhar uma linha sequer. Mas a coragem e o desejo de vencer não as deixaram esmorecer, mantendo-se bem e dignamente até hoje. Prancheta inseparável Ela segue adepta da criação a lápis grafite na sua inseparável prancheta. “Passei minha vida inteira desenhando. Todo o meu processo de criação é feito à mão. Só depois do projeto terminado é que ele vai para o computador”, disse Ângela. Ana e Ângela sempre opinam uma no trabalho da outra, buscando uma comunhão de pensamento e ideias, com o intuito de melhoria e engrandecimento de cada projeto antes de ser mostrado para o cliente. Em meio a tantos projetos, Ângela e Ana já fizeram um mausoléu, um centro de vivência católica, capela, uma casa Wicca, hospital...
Projetos Ângela nos conta ainda que no dia a dia, sonha com um projeto, chega no escritório, senta e desenha tudo. “É como se fosse uma pessoa soprando no meu ouvido. Tudo sai muito rápido”, afirma. Ela lembra que cada cliente é único e por isso não existe um padrão de conversa ou de perguntas a serem feitas antes do projeto ser iniciado. “Quando você visita o local da obra já compreende como vai fazer o que o cliente pediu. Então você vai encaixando o funcional e a estética no projeto. Intuição e criatividade correm em paralelo”. Ela avalia também que o estilo arquitetônico do seu escritório mudou bastante. “Antes usávamos muitas curvas. Hoje o trabalho é de linhas retas e a curva é só um toque no projeto”. Referências Como modelos de inspiração, Ângela cita Zaha Hadid, Santiago Calatrava e Oscar Niemeyer. “Niemeyer era um gênio. Tudo que ele fez foi de uma criatividade ímpar, incrível. Ele era um verdadeiro visionário”, falou. Embora trabalhe com linhas mais retas, Lina Bo Bardi é outra profissional que encanta Ângela. “Ela conseguiu integrar o Masp com o entorno fazendo com que a edificação fosse uma obra de arte em meio à paisagem”.
Personalidade Vivacidade é um traço de sua característica. Seu trabalho tem forte personalidade e cor. “Acredito que a cor torna os ambientes acolhedores e no Nordeste isso leva a um toque de frescor”, afirma. Gostar de moda é outra característica marcante e Ângela faz questão de levar isso para os seus projetos. “Fendi, por exemplo, é uma cor muito em alta na ambientação e também na moda. Acredito que o uso dessa cor seja tão difundida pela versatilidade com que pode ser combinada, como com roxo, branco e vermelho. E dessa forma podemos ver como arquitetura e moda caminham lado a lado”. Lazer Ângela ama visitar países cheios de história e monumentos antigos. “Minha viagem dos sonhos foi para a Grécia, comemorando os 25 anos de casada. Apaixonei-me pelo povo grego, pois lembra muito o brasileiro... Quando viajo sou arquiteta e sou turista simultaneamente”. Outra forma de diversão é cozinhar. Para ela, a cozinha é praticamente uma sala de estar. Por isso teve atenção especial no projeto da sua casa, feito há 20 anos.
Papel como arquiteta Ângela acredita que seu papel enquanto arquiteta é, principalmente, deixar o cliente realizado, e confessa que daqui a 20 anos quer ser lembrada como uma profissional que tentou transformar a vida de cada um de seus clientes tornando-os mais felizes. Apesar de toda a experiência, os sonhos não deixaram de existir. A vontade de fazer algo novo e diferente segue levando-a adiante. “A possibilidade de desafios aparecerem, de surgir algo que nunca fizemos, sem dúvida nos motiva muito para seguirmos nossa história”. |LG Fotos : Diego Carneiro
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR - “Situada no Condomínio Alphaville para um jovem casal com dois filhos adolescentes, que gostam de receber, que prezam estar junto da família e precisavam de grandes espaços de convivência, ambientes acolhedores e confortáveis foi o ponto de partida para a concepção do projeto e a realização do sonho dos proprietários, que também desejavam um projeto com traços leves e modernos. As fachadas com o uso de materiais nobres são o cartão de visitas de um interior elegante e planejado a cada detalhe para o máximo de aproveitamento de cada espaço. O resultado final inspira um equilíbrio entre a sofisticação e conforto visto seja no projeto arquitetonico ou no de interiores e é uma tradução perfeita da beleza, funcionalidade e bem estar”.
AMBIENTAÇÃO QUARTO - “Viajar, sonhar, estudar. Foram esses três itens que nortearam o projeto dessa suite para dois meninos. O mapa mundi aplicado acima da cabeceira das camas, bem como os fachos de luz led natural possibilitaram uma iluminação indireta e aconchegante ao dormitório. Cores neutras no mobiliário e piso em marmoglass Branco suavizam o ambiente de dormir”. AMBIENTAÇÃO SALA - “Luz, conforto e modernidade. Foram esses os pilares da ambientação dessa ampla sala de visitas e home cinema integrados. Feixes de luz cruzam irregularmente todo o ambiente permitindo uma iluminação natural possibilitada através de vãos de vidro que rasgam as paredes externas. Mobiliário cem tons neutros e claros suavizam todo o ambiente. O pé-direito duplo recebeu iluminacao embutida cor neutra conferindo conforto e contemporaneidade ao ambiente”. Fotos / imagens: Divulgação
AMÉLIA PANET
A
ARQUITETURA É MULTISSENSORIAL
Uma grande gestora. Uma grande arquiteta. Uma grande mulher. Em tudo que Amélia Panet se propõe a fazer, coloca a alma, se dedica por completo. Mesclado ao seu talento, talvez seja isso o motivo de obter sucesso por onde passa e ser admirada pela sua competência. Professora doutora da Universidade Federal da Paraíba, foi fundadora e primeira coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Unipê. Trabalhou em grandes escritórios de arquitetura em São Paulo, fundou seu próprio escritório em João Pessoa, foi secretária adjunta de Planejamento da capital paraibana. Tudo isso enquanto sempre manteve delicadeza ao falar e ao gesticular, apesar de uma força e segurança em tudo que é dito. Sua dedicação à arquitetura e a crença na certeza de que essa profissão ajuda diretamente na qualidade de vida das pessoas fizeram de Amélia uma unanimidade. Tanto que é conhecida pelo carinhoso apelido de Amelinha. Seu interesse pela arquitetura surgiu quando ainda era muito criança. Admirava uma casa que ficava na rua em que morava: uma casa projetada por Acácio Gil Borsoi, onde morava uma amiga. “Quando eu entrava naquela casa era outro mundo. Ela tinha um pé-direito alto, um telhado borboleta. Para mim era uma coisa bem diferente. A casa da minha avó ficava na frente
e era tradicional, eu morava em um apartamento bem pequeno, então, aquela casa me impressionava”, relembrou. Para ela, a arquitetura sempre foi um namoro com o espaço, uma relação que começou ainda criança. Além da casa de Borsoi, Amélia lembra da casa para onde se mudou, no bairro de Tambauzinho. “Meu pai fez o projeto, fez a maquete e eu entendia tudo que estava ali. Acompanhei o projeto e vivi a casa. Depois que comecei a estudar arquitetura, vi que o projeto era horrível”, diverte-se. Mas a qualidade desse projeto não tinha importância – afinal, seu pai não era arquiteto, era um professor. Um francês que veio ao Brasil como irmão Marista. Aqui, projetou o altar da igreja Marista, uma coisa tão diferente e bonita para a época que acabou por atrair a visita das pessoas. Uma delas foi a mãe de Amélia, com quem se casou e teve três filhas. A vida acadêmica Arquitetura foi sua primeira opção para o vestibular. E em 1988 ela se formou pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Durante o curso, foi estagiária de Ernani Henrique Jr. e Antônio Cláudio Massa e fez alguns trabalhos, inicialmente com o arquiteto Paulo Macedo, na época ainda estudantes. “Alugamos os fundos de uma casa na Avenida Ruy Carneiro – eu, Paulinho e um engenheiro”, relembra. Logo depois de formada aconteceu o primeiro concurso Opera Prima e ela teve o seu projeto de final de curso premiado entre os 25 melhores projetos do Brasil, sendo publicado pela revista Projeto. Depois, com escritório montado e alguns projetos de edifícios, casas e até um hotel, tomou a decisão de largar o escritório. Resolveu fazer mestrado em São Paulo. A dificuldade financeira que o congelamento das poupanças proporcionou na década de 1990 e o fato do namorado (atual marido) estar fazendo residência médica naquela cidade, a impulsionou a seguir estes passos. Enquanto fazia o mestrado em Arquitetura e Urbanismo, no eixo de Estruturas Ambientais Urbanas, e na área de Projeto, trabalhou com três escritórios de arquitetura – cada um com um estilo e área de atuação e Amélia buscava fazer cursos de aprimoramento nessas áreas. Com Miguel Juliano focou na arquitetura hospitalar. “Fiz, por exemplo, toda ala feminina do Hospital Pérola Byington. Fazia o projeto, detalhava, acompanhava a obra”, disse. Com Silvia Castellari fazia projetos de edifícios multifamiliares e já naquela época, esse tipo de edificação em São Paulo valorizava muito as áreas de convivência comuns dos prédios. Com Suely Suchodolski o foco foi o paisagismo. Casou em 1994, ainda morando em São Paulo. Quando o mestrado acabou, o marido, concursado da UFPB, teve que assumir o cargo.
Então, voltaram para a Paraíba. Aqui, montou novamente o escritório e teve dois filhos. Oportunidades começaram a surgir. Uma delas foi ganhar um concurso para fazer a arquitetura de interiores de uma maternidade particular que abriria na cidade. Ela, a irmã (a também arquiteta Miriam Panet) e Cristina Evelise foram além e apontaram uma série de problemas no projeto inicial. Como resultado, foram contratadas para reformar toda a maternidade. Pouco tempo depois recebeu o convite para ser a coordenadora do curso de arquitetura que o Unipê iria montar. Procurou estudar o assunto e aceitou o convite propondo várias mudanças na estrutura curricular. Estruturou o curso e convidou os primeiros professores: Rossana Honorato, Ricardo Araújo, Cláudia Ruberg, Eliane Lins Correia, Ernani Henrique Júnior, Antônio Cláudio Massa e a engenheira Carolina Vidal Accioly. Em 2000 começava, então, a primeira turma de Arquitetura e Urbanismo do Unipê. “O mais interessante da formação desse curso é que foi muito coletivo, muito bonito, chego a me emocionar... As pessoas foram acreditando no curso. Eu não teria conseguido fazer nada sem nossos professores e alunos”, diz. Doutorado e prefeitura Em 2008 passou para o doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E durante algum tempo conseguiu fazer doutorado, estar à frente da coordenação do curso no Unipê e dar aulas na UFPB, onde havia passado em um concurso. Licenciou-se do Unipê e em 2013 finalizou o doutorado.
Em 2011 recebeu o convite do então prefeito Luciano Agra para assumir a Secretaria Adjunta de Planejamento. “Aceitei o convite e fui conversar com a secretária, Estela Bezerra. Gostei muito dela e sempre tive muita liberdade para trabalhar. Foi uma experiência maravilhosa, pois tive a oportunidade de trabalhar com arquitetura pública. A troca com Luciano Agra foi muito prazerosa também, pois, apesar de ser o prefeito, continuava com a sua veia de arquiteto e dava pitaco em vários projetos”, relembra. O escritório esteve fechado por muito tempo. Mas isso não a impediu de fazer projetos. Hoje, a expectativa é abrir novamente um escritório, mas dessa vez, com a sua filha Camila, que está cursando arquitetura. O segundo filho é Marco Antônio, de 13 anos. O papel do arquiteto Criar espaços que conversem com o corpo e refletir sobre as relações espaciais é fundamental para os arquitetos. “Dou aula de projetos e intervenções em áreas históricas. Minhas orientações sempre utilizam os recursos dos diagramas para explicar as variáveis e relações espaciais como, por exemplo, o fluxo de pessoas, as relações entre o exterior e o interior, os eventos que podem ocorrer entre os espaços, as relações de fluidez espacial e visual, entre outros. Hoje o diagrama é uma excelente ferramenta para a descoberta de novas relações espaciais”. Em relação ao mercado de trabalho, ela apresenta a preocupação com relação a espaços mais inovadores, que possam trabalhar novas relações espaciais. Para isso, segundo a arquiteta, os empreendedores da construção civil devem, cada vez mais, refletir sobre como interpretar os índices urbanísticos: não é ocupando sempre o máximo que um terreno pode oferecer que se poderá apresentar boas soluções. “João Pessoa já possui empreendimentos mais inovadores, no entanto, ainda inacessíveis à maioria da população. Em outras realidades, até a habitação social é de grande qualidade”. Como professora, ela ajuda a moldar o futuro da arquitetura. Com os alunos coordena o Trama, o escritório modelo do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPB. “Uma experiência muito interessante que procura desenvolver metodologias de projeto participativo, feito com as comunidades. Recentemente estamos com uma parceria com a Prefeitura de Conde. Em uma das últimas experiências realizamos uma praça, onde construímos com os moradores locais a Maquete dos Desejos, para que todos pudessem decidir os equipamentos e organização espacial. Quando começamos a trabalhar com o social, o arquiteto é um tradutor”, refletiu. Amélia defende que a arquitetura é um bem de necessidade pública. “A arquitetura é uma das profissões mais antigas. Desde que o homem começou a procurar um espaço para se proteger, a arquitetura começou. Ela era feita de forma intuitiva, depois foi passada entre as gerações, surgiram os mestres construtores... Eu não vejo o mundo sem arquitetos, pois é ele que é responsável por toda essa interferência humana no planeta, embora a gente saiba que grande parte das habitações não é feita com a ajuda de arquitetos”, explicou. Para Amélia, o arquiteto ainda não conseguiu atingir toda a população, esse acesso ajudaria na qualidade de vida. “A Lei de Assistência Técnica
Gratuita para as famílias de baixa renda é essencial para que esse panorama da arquitetura social consiga evoluir. Todos devem ter o direito de morar e vivenciar espaços de qualidade. Não é apenas uma questão espacial, mas de saúde pública. ” Viagens As viagens são uma grande paixão de Amélia. Ela e sua família costumam conhecer muitos lugares. “Toda vez que viajo crio um roteiro para ver as obras de arquitetura mais significativas de cada região. Vivenciar os espaços, ver novos conceitos... A arquitetura não é vivenciada apenas com os olhos, ela é multissensorial”, afirma. Visitar a França, ao lado de seu pai, que havia deixado o país mais de 20 anos antes, foi especialmente emocionante. “Ele achava que nunca ia ter condições de voltar à França. Naquela época era muito mais difícil viajar para fora do país. Mas fomos juntos, visitamos sua cidade, a casa onde ele nasceu”, lembrou. Como hobbies, gosta de desenhar, andar de bicicleta e escrever poesias. Já tem dois livros publicados fora da temática da arquitetura, um deles infantil. Além disso, gostaria de retomar o piano, que teve aula na infância. Se define como uma arquiteta hibrida, pois se adapta a todo tipo de trabalho. “Claro que vou ter minhas escolhas, nem tudo eu aceito fazer. Mas, quando aceito, procuro me dedicar ao máximo”. | LG Fotos : Diego Carneiro
PROJETO CASA DOS NETOS - “Fazenda Caiana. Inserção de projeto contemporâneo em conjunto histórico do século XIX”.
Fotos / imagens: Divulgação
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR- “Residência da arquiteta em construção no Condomínio Alphaville”.
CARMEM LINS
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STILO NORDESTINO DE SER
“Procurar o caminho do vento”. É assim que Carmem Lins define um estilo de arquitetura que não é só seu, mas uma marca do Nordeste. “É o jeito da gente, mesmo. Tem que ter sombra e abertura para o vento”. E ela já lidava com arquitetura antes mesmo do curso na universidade: ela era desenhista da Coordenadoria Técnica de Serviços de Engenharia (Cotese), do governo da Paraíba há quatro anos, quando passou no vestibular para Arquitetura, em 1984 (e trabalhou lá até 2006). “Já desenhava projeto de escolas: reforma, criação, fachada”, conta. A entrada em Arquitetura veio depois de finalizar uma licenciatura na área de construção civil, área que não a agradou. Não demorou muito tempo depois de formada para unir forças com Silvana Chaves: Carmem se formou em 1989 e as duas juntaram os escritórios que tocavam independentes em 1992. No começo, ocuparam uma sala no consultório do pai de Silvana. Mas logo estavam em um edifício com uma vista marcante do centro de João Pessoa, onde estão até hoje. O universo da arquitetura mudou muito aqui na Paraíba. “Hoje todo mundo tem um arquiteto na família, mas na época eram muito poucos”, diz. “Apareciam mais projetos de ambientação no começo; hoje, são mais edifícios e clínicas. Antes era 90% ambientação, mas não era uma escolha: era a demanda”. Mas Carmem fez muitos trabalhos com escolas, por conta de seu trabalho com a Cotese. “Sempre gostei de trabalhar com escolas”.
Novos caminhos Silvana e Carmem trabalham juntas, somando suas forças. “Eu tenho facilidade para o Sketchup, o programa em que faço perspectiva eletrônica; Silvana com o Autocad”, conta. “Antes eu desenhava à mão e sempre gostei de perspectiva e que o cliente visse o projeto em 3D. Mas agora tem esse programa e eu estou amando”. Para Carmem, elas se complementam também no estilo: Silvana é mais professoral, pé no chão, equilibrando o jeito expansivo, alegre e sonhador de Carmem. Mas ela não largou o desenho à mão, agora convertido para a pintura. Fez um curso no Centro de Artes Visuais Tambiá com a artista plástica Marlene Almeida e começou a pintar em 1994. Chegou a trocar experiências com artistas alemães em Berlim duas vezes, num projeto que ficou conhecido nos anos 1990 como Workshop Berlim-Paraíba. Conta também a sua seleção do VIII Salão Municipal de Artes Plásticas (Samap) em 1997, ganhando um prêmio de artista promissor com o trabalho, “Abrindo processos”.
Não pinta todos os dias – só quando está inspirada. E tem seu tema preferido: o mar, um reflexo de sua infância em Tambaú. “Fui criada na praia”, conta. “Marlene disse: ‘Pegue um tema para você. Abrace e explore esse tema’. Eu gosto de abstrair o que estou vendo, vou filtrando”. Outra paixão são os gatos. Atualmente cria dois. “Gatos são minha companhia desde que eu era pequena”. O amor pelos bichanos depois foi compartilhado por seus dois filhos.
Planos futuros Ela deseja voltar com mais afinco à pintura. Com questões pessoais a resolver, Silvana está se afastando da arquitetura para se dedicar mais ao ensino e Carmem deve seguir sozinha. “Posso transformar o escritório num ateliê, misturar as duas coisas. E fazer arquitetura para família, para os amigos, para qualquer pessoa que precise também do meu trabalho. Se fosse na beira-mar, melhor ainda. É um sonho, mas eu vivo sonhando. E projeto de arquitetura eu vou fazer por toda a vida”. | RF Fotos : Diego Carneiro
RESIDENCIAL RAVENNA - “O Residencial Ravenna com pavimento tipo com quatro unidades habitacionais e torre com grandes dimensões. Foi projetado de modo a não deixar a circulação para as unidades muito extensa, sendo esta seccionada pela circulação vertical, elevadores e escada. Estratégia que ainda possibilitou adequada individualização dos acessos a cada apartamento. MGA Construções”. Fotos / imagens: Divulgação
RESIDENCIAL VERONA “O projeto para o Residencial Verona teve como estratégia de projeto a orientação os apartamentos, visando o conforto térmico no interior das unidades habitacionais. Sendo assim, as varandas e as aberturas para quartos e salas foram dispostas voltadas para sul e leste, propiciando que o ar permeasse a edificação, escoando pelas aberturas voltadas para norte e oeste. MGA Construções”.
ERNANI HENRIQUE JÚNIOR
D
A ENGENHARIA À ARQUITETURA
Foi pela via da engenharia civil que Ernani Henrique Júnior chegou à arquitetura. E essa via aconteceu junto com outros amigos de escola, que fizeram a mesma opção no vestibular em 1981. Porém, a irmã, Maryanne Córdula, já cursava arquitetura e prestava serviço para alguns arquitetos, executando maquetes, o que acabou também o influenciando a prestar o vestibular para Arquitetura já no ano seguinte. Os dois cursos foram levados simultaneamente, mas em certo momento, uma escolha teve que ser feita. E ela começou a tomar forma quando Ernani conseguiu um estágio no escritório do arquiteto Expedito Arruda. “Foi um período muito curto: oito meses apenas, mas de grande aprendizado, pois o escritório desenvolvia muitos projetos simultaneamente”, lembra. Depois houve mais três meses no escritório de Débora Pires e Íris Galvão Amorim. Esses estágios ajudaram a direcionar a carreira de Ernani para a arquitetura. “Isso, associado à paixão que já tinha pelo desenho. A arquitetura para mim estava sempre associada ao desenho”, acrescenta. A formatura em Engenharia, no entanto, veio primeiro – e, com ela, a abertura de um escritório em sociedade com o amigo de infância e também engenheiro Fábio Madruga, em 1986. Mas os projetos de arquitetura também
não demoraram a aparecer – meses depois, com o aumento da demanda, convidou o arquiteto Antônio Cláudio Massa para formar uma sociedade nos projetos de arquitetura. “O início da década de 1980 foi um período de recessão, mas a abertura do escritório coincidiu com uma retomada do crescimento econômico e, em pouco tempo estávamos com vários projetos de edifício em andamento”, lembra o arquiteto. Com a evolução, o escritório, passou a ser apenas de arquitetura, com uma sociedade entre Ernani e Antônio Cláudio e, posteriormente, também com a arquiteta Sílvia Muniz. Tendo vivido os dois mundos ao mesmo tempo, Ernani pode comentar a diferença entre as áreas da engenharia e da arquitetura. “Pelo lado da engenharia, o curso é mais rígido. As disciplinas são muito técnicas, muito duras. Já na arquitetura tem o lado mais forte da criatividade, essencial no ato de projetar. Além disso, o foco está no ser humano e no atendimento às suas necessidades”, diz. Os dois lados se complementam, em certa medida. Para ele, por exemplo, a formação em engenharia rendeu um lado técnico consistente. Influências Alguns arquitetos e professores influenciaram o estudante. “Aqui, localmente, Expedito Arruda, Amaro Muniz... no curso de Arquitetura, um professor que me influenciou bastante foi Hélio Costa Lima, principalmente, no processo projetual, no planejamento do projeto de arquitetura”. Outra influência foi o carioca, radicado em Recife, Acácio Gil Borsoi. “Eu morava no quarteirão da casa de Cassiano Ribeiro, uma de suas obras mais importantes, que sempre me chamava atenção, principalmente pelo desenho diferenciado, os materiais e os jardins - que depois viria, a saber, serem de Burle Marx. Meu pai trabalhava na Usina São João, que era do irmão de Cassiano”, conta. “Lembrome de, algumas vezes, Doutor Cassiano pegar carona com meu pai, retornando do escritório da usina para sua casa. Nestas ocasiões eu ficava a admirá-la ao adentrar pelos jardins”. “Então, quando eu comecei a estudar arquitetura, fui logo observar os projetos de Borsoi”, continua. “E como ainda existiam alguns exemplares bem conservados na cidade, este contato com a sua obra me influenciou ainda mais”. Posteriormente, teve a oportunidade de
conhecer alguns desenhos dos projetos do arquiteto carioca, que, como sempre, lhe chamaram atenção pelos detalhes. O detalhamento acabou se tornando uma marca nos projetos de Ernani. “Sempre tive uma atenção especial à técnica construtiva. Não consigo pensar o projeto se não for atrelado à sua execução e, neste aspecto, o detalhe ajuda a pensar o projeto”. A família A esposa Silvia, também arquiteta, chegou a ser estagiária no escritório de Ernani. A relação de influência passou a ser mútua. “A gente influencia e é influenciado em arquitetura”, analisa Ernani. Para ele, isso é válido, até mesmo, na atividade de professor, função que exerce desde o ano
2000 no curso de Arquitetura. “Você também aprende ensinando”, comenta. “No convívio com os jovens, há renovação e troca de conhecimento. E depois, a atividade de docência exige que você esteja sempre se atualizando”. Os dois filhos de Ernani e Sílvia também se encaminham para a arquitetura. Vitor finalizou o curso neste ano de 2017 e Mariana, que já é graduada em Direito, concluirá Arquitetura em 2018. A bem sucedida sociedade com Antônio Cláudio Massa está chegando ao fim, com cada sócio buscando um recomeço ao lado dos filhos. “Esse é o momento em que a gente tem que dividir para multiplicar”, avalia. “E não deixa de ser um novo estímulo, a renovação é importante na nossa profissão”. O futuro para Ernani Henrique Júnior, portanto, é como o presente: ao lado da família. | RF Fotos : Diego Carneiro e Thais Córdula
EDIFÍCIO RESIDENCIAL PARÁLIA - “O Residencial Parália está localizado à beira mar, na praia do Bessa. A proposta arquitetônica apresenta jogo de volumes alternados, fazendo uso da fachada cega para oeste - protegendo o edifício do sol poente e do desconforto causado pelo acentuado fluxo de veículos - ao mesmo tempo em que se abre para o mar, sombreada por generosas varandas. Praia do Bessa - João Pessoa/ PB - Ano Projeto: 2005 / Foto: Ernani Henrique Júnior”
Fotos / imagens: Divulgação
RESIDÊNCIA FRANÇOIS E HELOÍSA “Projetada para um casal e quatro filhas, esta residência está localizada próxima ao mar e tem como principal condicionante projetual a vista da Ponta do Cabo Branco. Um grande telhado respaldado por duas colunas de pedra e mãos francesas abriga um mirante - localizado na parte frontal da casa - e um terraço de pé direito duplo, espaço de convívio, que reflete o modo de vida e a hospitalidade dos proprietários. Cabo Branco - João Pessoa/ PB Ano Projeto: 1992 / Foto: Vitor Muniz Henrique”
MISTER PIZZA - “Esta loja para a franquia do Mister Pizza foi a primeira do Brasil a ser projetada com características que diferem do padrão fast food adotado nas demais lojas da rede. A proposta traz uma leitura contemporânea para o Mister Pizza, combinando a utilização de materiais regionais com elementos industrializados. Praia do Bessa - João Pessoa/ PB Ano Projeto: 2006 / Foto: Christian Azevedo”
SILVANA CHAVES
S
EMPRE JUNTO DA ARTE
O brilho no olhar, ao falar de arquitetura e sobre ser professora na área, denuncia a paixão que Silvana Chaves tem pelas profissões que escolheu. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a pessoense fez mestrado em Engenharia Urbana também pela UFPB e doutorado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Se tudo isso não bastasse, a arquiteta também é artista visual. Aliás, foi a arte a primeira paixão, e que levou Silvana a ser arquiteta. A relação com a arquitetura teve início muito cedo. Um dos acontecimentos foi o fato de morar em uma casa com projeto de um arquiteto. “A casa foi projetada nos mínimos detalhes, tudo foi pensado. Convivi com o projeto arquitetônico, desenhos de plantas, de cortes, de detalhamentos de esquadrias, de mobiliário, das propostas de interiores”, lembra. “Marcou a minha vida, e de certa forma, levei e fui levada para a arquitetura”. A casa foi foco de trabalho do curso de Arquitetura em que ela estudou a obra de Carlos Alberto Carneiro da Cunha na cidade de João Pessoa. Outro ponto mais recente relacionado ainda à casa, foi a oportunidade de propor soluções de reforma, com o cuidado de preservar as características existentes. Outro acontecimento foi o fato de ainda criança ter estudado arte. O envolvimento com as artes visuais foi um antecedente que ajudou a criar o vínculo com a arquitetura, mas a escolha foi tomada apenas na adolescência.
“Estudei música, fazia piano no conservatório da universidade, sozinha em uma sala com a professora”, conta. Na sala ao lado aconteciam aulas de artes, onde muitos alunos participavam. “Pedi à minha mãe para trocar as aulas de piano pelas aulas de artes. Me senti realizada, estudei por mais ou menos três anos”. Com pai médico e professor e mãe professora, a primeira decisão séria tomada foi não fazer Medicina. “Eles nunca me obrigaram a escolher a profissão de médico, mas, com o passar do tempo, um pai médico gerou de certa forma expectativa sobre mim”, diz. “Então, pensei, decidi e falei para minha mãe que não faria Medicina, tive o apoio deles imediatamente”, disse. Ao iniciar o curso de arquitetura a identificação foi imediata, contou. “Me identifiquei, as disciplinas não pesavam. No primeiro período, as disciplinas ligadas à arte, oficina de desenho e oficina de plástica, ministradas pela professora Aluísia Márcia Fonseca de Lima, contribuíram muito para que eu me envolvesse rapidamente com o curso”. Formada, a vida de Silvana trilhou dois caminhos, que não eram opostos, mas que estavam lado a lado: a arquiteta cada vez mais fazia projetos, enquanto surgia a professora. A arquiteta Ainda durante a graduação montou um escritório com duas colegas de curso e amigas: Carmem Lins e Nilene Lisboa. Foi uma experiência relevante, mas, depois de formadas, cada uma seguiu seu caminho. Silvana então abriu um escritório de arquitetura em uma sala do edifício em que funcionava o consultório de seu pai. Nesse mesmo período, também era sócia, em uma construtora, do marido que é engenheiro. Algum tempo depois, convidou Carmem para retomar a parceria. Proposta aceita, formaram um dos mais respeitados escritórios da cidade. “Inicialmente, fizemos muitos projetos de ambientação. Nos últimos dez anos, fizemos mais projetos de arquitetura, conforme demanda dos próprios clientes”, comentou. Projetar um edifício com liberdade de criar é um dos projetos que ainda são tentadores para Silvana: “Os edifícios mais recentemente projetados foram muito legais, pudemos aliar arquitetura e interiores, pensar melhor no funcionamento de tudo, assim como em atender as necessidades dos usuários, agregando conhecimentos, o que deixou o produto final muito bom”. Sobre projetos não tão interessantes, Silvana diz que eles também trazem experiência: “Ao contrário, projetos em que não temos liberdade, por conta de restrições de áreas, por exemplo, são difíceis, mas suscitam tentativas que normalmente geram projetos concisos e diferenciados”.
A professora Logo após se formar, Silvana começou a focar em concursos para professora. Algum tempo depois passou em concurso para professora da Escola Técnica Federal da Paraíba (hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, IFPB). São 21 anos dedicados ao ensino. Inicialmente, participou de comissões para a reforma curricular do curso de estradas e propostas de currículo para a área de Construção Civil, resultando com a participação, como presidente da comissão que montou o projeto para o curso superior de Tecnologia em Design de Interiores, sendo a primeira coordenadora. “Foram praticamente dois anos pensando o curso, montando a grade. Tudo recompensado, pois os alunos chegavam com aquela vontade de aprender, de estar no curso. Era uma coisa mágica ver todo mundo desejando estar ali”, lembrou. Atualmente é membro do Núcleo Docente Estruturante. E, nesse tempo como docente, fez mestrado e doutorado. Como professora, diz que o livro que não pode faltar para o aluno é o de dimensionamento. “É a base para tirar o máximo proveito para o ambiente interior”, explicou. Com os alunos costuma se envolver emocionalmente, especialmente com aqueles de quem se torna orientadora, mas não deixa que este fato prejudique o desenvolvimento das atividades. Procura tratar todos da mesma maneira. “Não passo a mão nem na cabeça dos meus filhos, então, também não faço isso com os alunos”, diz.
Referências Uma das primeiras referências, para Silvana, foi o arquiteto suíço Mário Botta. “Talvez foi quem tenha mexido mais comigo em termos de arquitetura. Aquelas linhas bem retas, geometria simples. Tudo isto na realidade da Suíça, onde existe, em grande parte do país, todo um regulamento habitacional para novas construções. A sua obra representa a arquitetura de hoje respeitando a arquitetura do passado.”, disse. Silvana cita ainda Renzo Piano e Daniel Libeskind, e suas respectivas obras, Zentrum Paul Klee e Jewish Museum Berlin. “Renzo Piano revela a obra do artista Paul Klee através de um projeto intimamente integrado à paisagem da cidade de Berna, Suíça. Libeskind foi quem projetou o Museu Judaico de Berlim. A edificação traz tantas referências que houve um período de visitação do edifício antes da disposição das exposições, isso mostra como o trabalho é forte. Tive a oportunidade de ir conhecê-lo assim que foi construído, e depois também visitei com as mostras já montadas, realmente surpreendente.”, disse. Hobbies Viajar, estar com o marido e os dois filhos, enfim com familiares. Curtir a casa, ver um bom filme. Fazer trabalhos manuais. “Meu apartamento é meu refúgio. Tem toques da nossa família, móveis, objetos, fotos. A casa de uma arquiteta tem um olhar diferente”, disse. “O gosto pela casa veio da minha mãe, que gostava muito de arrumar, de ter uma casa harmoniosa. Ela dizia que esse meu olhar veio dela.”, disse, saudosa, lembrando da mãe.”. Quando pensa em uma viagem, sempre procura fazer uma conexão com a arquitetura. Ao falar sobre roteiros de viagem, comentou que “visitar
Praga antes da abertura política, foi muito interessante, ver uma arquitetura bem diversificada; Budapeste e a grandiosidade do parlamento; Berlim e observar de perto a arquitetura pós-guerra; todas viagens marcantes”. A paixão pelas artes visuais fez com que Silvana sempre procurasse aprofundar os estudos. Pouco antes de começar arquitetura fez o curso de Iniciação ao Desenho Artístico com Archidy Picado Filho, na Fundação Espaço Cultural da Paraíba. Mais tarde voltou a estudar pintura com a artista visual Marlene Almeida, fez ainda workshop com o artista Bené Fonteles – estes no Centro de Artes Visuais Tambiá, na cidade de João Pessoa. A troca de experiência internacional em arte foi muito enriquecedora, participando algumas vezes de intercâmbio internacional entre as escolas Centro de Artes Visuais Tambiá e Frei Kustshule Berlin – Brasil-Alemanha. Participou ainda de outro intercâmbio, entre artistas suíços e brasileiros. Nesse mesmo período participou de festivais, de oficinas e de Salões Municipais de Arte. Pinta até hoje, considerando também o contexto de sala de aula. “Como ensino cor, fico muito perto das artes visuais. Estou realizada com o momento que vivo hoje, pois além de ensinar o que eu gosto, estou lidando com artes visuais, me tornei até mais leve por isso”. | LG Fotos : Diego Carneiro
APARTAMENTO ESTAR E JANTAR - “O projeto de interiores para o apartamento de colecionadores e amantes da arte teve como inspiração o acervo de arte, composto, sobretudo por pinturas. Sendo assim, os mobiliários e os objetos, e sobretudo o acervo foram dispostos por todos os ambientes do apartamento como em uma exposição permanente”.
Fotos / imagens: Guilherme Honorato e Divulgação
CASA COR PARAÍBA 2016 - “A proposta para o estar íntimo da Casa Cor Paraíba 2016 parte da essência do local e do contexto da época. O projeto realça elementos presentes na arquitetura da casa projetada por Acácio Gil Borsoi, como: a laje inclinada, as paredes lisas e o piso de madeira. Cria um ambiente contemporâneo repleto de memórias e valoriza os artistas visuais paraibanos Marlene Almeida e José Rufino”.
FÁBIO QUEIROZ
P
ERTO DO CLIENTE
“Nasci em João Pessoa em 1967, entrei na faculdade em 1985, saí em 1990 e tenho 27 anos de trabalho”. Essas foram as primeiras palavras de Fabio Queiroz ao ser entrevistado e mostram a praticidade do arquiteto. Característica de força semelhante apenas ao seu empreendedorismo. Essa mesma leitura pode ser feita da sua forma de trabalhar: sem maquiar o seus projetos, Fabio pensa prioritariamente nos resultados e que eles sejam os melhores para a qualidade de seu trabalho e para o cliente. Em 1985, entrou na UFPB no curso de Arquitetura e passou por toda a parte teórica até descobrir a área em que pretendia se especializar. “A partir do segundo ano eu tive a certeza do que eu queria fazer. Após a parte teórica, com o desenvolvimento de projetos, me identifiquei de imediato e não tive dúvidas que era a área de projetos de grandes edifícios que eu queria seguir”, destacou. Durante todo o curso, Fabio teve professores, que, segundo ele, de uma forma ou de outra, o inspiraram na profissão: Amaro Muniz, Mário Di Lascio, Chico Oliveira, Nelci Tinem. Com Expedito Arruda, estagiou no último ano de curso. “Era na era da prancheta e régua paralela, e lá eu vi o que era o mercado real de arquitetura. Logo no primeiro dia de estágio, recebi a tarefa de solucionar um problema de um cliente que informou que o terreno estava na posição sul, inclusive com autorização da prefeitura, e
vimos que era para posição norte. E tive que resolver de pronto como primeira missão no escritório”, conta Queiroz. “O estágio foi onde eu me foquei mais nas questões de edificações, tendo experiência de colaborar com projetos como a sede recreativa do Banco do Brasil em uma cidade do litoral paraibano. Você julga e vê o que o teórico não se adapta e o que o prático também não e, no final das contas, temos que adequar tudo”, afirma. “Sempre falo para os meus estagiários isso e ensino o que sei e aprendo o que não sei com eles. É imperativo ter sua bagagem de conhecimento atualizada”, complementa. Sua primeira experiência profissional veio já na vida acadêmica, junto com Paulo Macedo: realizou e vendeu o projeto do Paço Municipal de Belém de Caiçara, projeto de conclusão de curso. No entanto, sua experiência ao abrir um escritório como arquiteto logo após se formar foi frustrante. “Minha experiência inicial no mercado foi terrível. Ninguém entrou pela porta da frente do escritório por seis meses. Eu não entendia que as pessoas não iriam me procurar apenas por estar formado. Não tinha nome nem experiência. Foi aí que percebi que tinha de correr atrás, utilizar meu bom relacionamento com a sociedade”, lembra. “Um colega me indicou uma reforma num edifício comercial e, com esse cliente, já fui passando para outro, um seguido do outro. Meu primeiro grande sucesso foi o Edifício Cezanne, no bairro do Altiplano. Com isso, verifiquei que esperar não era a solução e que procurar o cliente seria o caminho para obter o melhor resultado”, detalha Fabio Queiroz.
Mundo digital Fabio é da geração que se formou utilizando a prancheta. No entanto, não esconde que fez com tranquilidade a transição para o digital. Logo começou, em 1992, um curso de AutoCad. Desde então, procura sempre estar atualizado com as novas ferramentas na área. “Há dois anos chegou ao nosso escritório a plataforma BIM. Convidei um professor que passou 6 meses dando aulas aqui no escritório e hoje somos 100% hábeis nesta plataforma. A gente só transforma em Cad para passar o arquivo para a prefeitura”, comemora. “Desde o Cad eu já não mexia mais com a lapiseira. Prefiro desenvolver essa área na máquina. Então, nem mesmo o processo inicial é mais feito no papel. Vou direto ao computador “, enfatiza o arquiteto. Novo caminho Dez anos após a formatura, Fábio tinha seu escritório no mesmo prédio que uma construtora. Isso fez com que fosse constantemente consultado pelos corretores que vendiam imóveis desta construtora e despertou uma oportunidade de ampliar sua área de atuação. “Vi que o que eu estava fazendo era um papel de corretor e estava ocupando muito o meu tempo. A profissão de corretor era interessante e correlata à minha, além de proporcionar uma proximidade com construtores. Então decidi abrir oficialmente uma empresa imobiliária no período entre 2015 e 2016”, enfatiza o arquiteto. Para ele, um dos pontos importantes para sua carreira enquanto arquiteto foi ter também se tornado corretor. Passando a receber um maior feedback dos consumidores finais, passou a saber onde evitar alguns problemas na concepção dos projetos. Hobbies Fabio procura hoje atividades que garantam prolongar a qualidade de vida e a condição de continuar trabalhando no seu ritmo acelerado de trabalho. “A nossa profissão causa uma sobrecarga, problemas originários de ficar todo dia sentado e uma postura sedentária. Faço pilates e
academia, além de ter largado hobbies como o jet ski, que exigiam muito da minha coluna”, diz Fabio. “Hoje eu prefiro as viagens e vejo com bons olhos o entretenimento na área rural. Passeio de bicicleta, caminhadas ecológicas e viajo sempre em família”. Referências Fabio é assumidamente uma pessoa e um profissional muito visual. Quando começou o curso, procurou se inspirar em profissionais que uniam a estética à funcionalidade e com grafismo de fachada, como Fernando Peixoto. “Ideias economicamente viáveis, mas um produto com rebuscamento arquitetônico. A resposta é fazer desenhos na fachada sem gerar volumetria, que gera gastos”, assinala.
“Hoje eu estou aberto olhar todo tipo de arquitetura. Temos que reinventar a roda e tirar um coelho da cartola todos os dias. Só não abro mão do conforto ambiental balanceado com o custo. Me interesso muito por imagens e é através delas que aprecio alguns arquitetos internacionais, como Santiago Calatrava e a Zaha Hadid”, afirma. Perspectivas para o futuro Tendo passado por experiências em diversas áreas na arquitetura, inclusive em órgãos de representatividade, como IAB, CAU-PB e, hoje, na presidência do Sindicato dos Arquitetos na Paraíba, sempre procurou se preocupar com a valorização e a proteção profissional. “Gosto da coletividade profissional e tem esse meu lado de sempre procurar a defesa profissional, defender a qualidade dos trabalhos e a valorização deles”. Hoje Fabio já se prepara para seguir em frente com projetos em diversas áreas, como projetos menores. “Pequenas casas, pequenos edifícios em áreas populares”, explica. Para ele, a base de mercado é muito grande e está sendo pouco explorada e a qualidade desse produto é muito baixa. Um projeto pode melhorar muito a qualidade de vida, ainda mais sendo para padrões populares. | AL Fotos : Diego Carneiro
EDIF. VITÓRIA - “Edifício chamado anteriormente de Ana Rosa, em Manaíra, e pelo qual recebi a minha primeira premiação”.
EDIF. CEZANNE - “O meu primeiro projeto de edifício pra o bairro do Altiplano”.
Fotos / imagens: Divulgação
EDIF. RIO MARMORÉ - “Inovamos nesse projeto. Primeiro edifício na cidade de João Pessoa com mais de 40 pavimentos”.
PAULO MACEDO
D
ETALHES E ESTUDO SEMPRE
Paulo Macedo já nasceu para a arquitetura dentro de escritórios, seja no seu próprio ou em estágio, que iniciou praticamente ao mesmo tempo que a universidade. A aptidão para a arquitetura, no entanto, começou na época do colégio, quando já descobria seu talento para o desenho. “Eu participava de concursos para fazer camisas dos jogos na escola. Fazia e ganhava. Foi então que comecei a ganhar dinheiro com habilidade manual, com pranchas de surfe em miniatura”, lembra. No entanto, uma das suas maiores inspirações surgiu ao acompanhar a concepção do projeto da casa da família, de autoria de Régis Cavalcanti. “Era um projeto iluminado e eu ficava impressionado como aquilo que eu via ser concebido ia tomando forma, de como aquele espaço crescia. Aquilo foi me dando ainda mais a vontade de enveredar esse caminho”, afirma Paulo. E a vontade só evoluiu. Aos 15 anos, desenhava, junto com seu pai, os móveis de sua casa para o projeto de Régis. Entrou no curso de Arquitetura da Universidade Federal da Paraíba, em 1985. “Entrei na época em que o quadro de professores era um dos melhores”, ressalta o arquiteto, lembrando os nomes de Amaro Muniz de Castro, Hélio Costa Lima, João Crisóstomo, Aloísia Márcia. “Mas aprendi a gostar também das cadeiras de teoria com Luciano Agra. Todos esses professores têm marca registrada na minha vida”, enfatiza Macedo.
Mas Paulo enfatiza que os professores, mesmo que bons, não fazem o aluno. “O aluno é que se faz. O professor é o norte, serve de guia. Antes a gente não tinha internet nem o programa Autocad. Tinha que se virar com livros enormes e caros vindos de representantes e só tinha acesso a alguns deles na biblioteca. E o conhecimento que não tinha acesso, tive que completar com os arquitetos que atuavam aqui”, rememora. Assim, aos sábados, Paulo saía de bicicleta e ia visitar as obras em bairros de João Pessoa como o Bessa e Miramar. “Onde houvesse obra, eu estava lá olhando e, às vezes, tentando reproduzir aquilo. E isso tudo fez parte do meu conhecimento, do meu aprendizado. E eu chegava em sala de aula e perguntava: ‘Professor Amaro, como foi que o senhor fez isso aqui?’, assinala Paulo, se divertindo com a lembrança. Do conhecimento à prática Um dos momentos mais marcantes da vida de Paulo Macedo foi o estágio com Antônio Cláudio Massa e Ernani Henrique Jr. “Entramos eu e Amélia Panet. Foi uma experiência fantástica, são pessoas e profissionais espetaculares. Cresci, amadureci a minha vida acadêmica. no escritório deles. Inclusive passei a ter minhas primeiras experiências profissionais lá”, aponta. “Eu me esforçava muito como estagiário, ficava até uma hora da manhã e ia comer cachorro quente na lanchonete Mundial, mas isso me deu a oportunidade de aprender muito”. Durante seu período de estágio, Paulo imprimiu uma característica forte nos seus projetos: a quantidade de detalhes. “A preocupação da filigrana com projeto só fez me ajudar a vida inteira. Até hoje, os clientes elogiam a quantidade e nível de informação. E essa característica pessoal eu trouxe para o escritório durante o estágio e eles adotaram. Isso é inspirado no meu pai, que é dentista e consegue distinguir 32 tonalidades de branco”. Inquietações e oportunidades Em 1987, antes mesmo de se formar, abriu um espaço de trabalho no centro de João Pessoa, se associou à arquiteta Suely Brasileiro. “Trabalhava para vários locais. Montava uma salinha, fazia estante, casa de cachorro, interiores, fazia meus trabalhos da universidade, minhas perspectivas”. Paulo lembra que naquele ano uma das referências em arquitetura no estado, Mário Di Láscio, fez um projeto e ele fez a perspectiva em nanquim. “Fiz com régua paralela, régua T, no papel manteiga e passando a limpo no papel vegetal, isolando todas as janelas com letra 7 ou graxa, pregando as taxinhas. Comecei a fazer serviço para o mercado, especificamente para a construtora Planc, fazendo as perspectivas à mão para eles lançarem os produtos deles. Um deles foi um edifício de 16 andares, que já era uma grande inovação na cidade para a época. O maior projeto que a gente tinha feito no estágio era de seis andares”, afirma Macêdo. Pouco antes de se formar, mudou seu escritório para a Epitácio Pessoa, onde ficou por mais 10 anos até
se reestabelecer na Avenida Navegantes. “Meu primeiro projeto expressivo foi o Edifício Pégasus. Evoluímos de uma área de lazer entre dois prédios, para um projeto com 24 pavimentos, um por andar. Sentia que esse projeto viraria referência para minha estrada profissional, seria a grande chave para a minha vida”, revela o arquiteto. Paulo ainda teve uma forte experiência na área acadêmica. Ao lado de Amélia Panet e Luciano Agra, Paulo foi um dos responsáveis pela fundação do curso de Arquitetura do Unipê. O arquiteto permaneceu dois anos ministrando aulas. Sistemática de trabalho “Eu sou da época que quem projetava, projetava no papel. Óbvio que hoje a gente se atualiza e utiliza os instrumentos, mas a minha concepção é no papel. E eu tenho todas as pastas de mais de 200 projetos para provar tudo isso”, descreve. “Tem de pôr em prática o que aprendeu na universidade: avaliar a topografia, o posicionamento, entorno, orientação, tamanho de terreno, carta solar, recuos, legislação. Isso tudo são entradas de dados e aí você vai começar a sua concepção em si. Isso tudo com uma ou 10 folhas de papel, uma lapiseira e uma borracha”, descreve Paulo. No entanto, o arquiteto enfatiza que todo profissional deve se debruçar sobre o projeto até o ponto onde se sente satisfeito com o resultado, e que ele seja a melhor solução, tecnicamente falando, e como resultado para o cliente. “Para isso é necessário ter um programa que você tem de cumprir. Eu nunca deixei a estética extrapolar a funcionalidade e nunca deixei que a funcionalidade mandasse na minha estética pura e simplesmente, sempre procurei um equilíbrio”, assegura. Até 1990, Paulo trabalhou exclusivamente à mão na concepção dos projetos. A transição para o digital foi tardia. “Relutei muito para entrar, decidi entrar só quando pudesse fazer do meu jeito: colocando meus detalhes, só que no computador. Tinha que me atualizar, o profissional liberal tem que estar sempre atualizado. Como você é, você passa para o trabalho. E é assim que vejo a minha profissão, uma busca incessante pela perfeição”. Paulo se inspira, em âmbito mundial, em arquitetos como Mies Van Der Rohe, Le Corbusier, Richard Meier. Ou Ruy Ohtake e Paulo Mendes da
Rocha no Brasil. “No mercado paulista, tem Márcio Kogan, o escritório MMBB e Alvaro Bucci. Em Recife tem Acácio Gil Borsoi e Armando de Holanda. Todos são referências que sempre busquei e observei na vida”, afirma o arquiteto. Trabalho constante O seu maior hobby é viajar, que é um complementar à profissão. “O outro hobby é sair com meus amigos e com minha família”, brinca. Para ele, o arquiteto deve estar sempre procurando nova formas de mostrar sua presença no mercado, ligado diretamente à parte social da vida. Atualmente, um dos seus maiores desafios, segundo ele, é manter esse ritmo sem deixar que isso afete na harmonia em casa. “Tem de ser artista, garoto propaganda e ainda fazer sua agenda social, isso tudo sem prejudicar o tempo de qualidade em casa”. “Arquiteto não se aposenta não, ele morre”, continua. “Isso quer dizer que temos trabalho todos os dias. Sou muito focado no trabalho. Sou de rotina de escritório, tudo marcado. Mesmo assim, tomo café em casa, também almoço sempre que não há uma oportunidade de captação de negócios, já que o horário tem muito apelo para a parte social, que eu procuro sempre exercer, mas busco ir sempre jantar com a família”. As refeições com a família viraram prioridade após um grande baque. “Quando eu me dei conta que era noite de réveillon, e, voltando do escritório, eu passei a virada do ano no carro, indo para casa. Nesse momento caiu a ficha que a vida não é só trabalho. Eu precisava mudar”, confessa. Uma das novas metas do arquiteto para os próximos projetos é procurar intensificar o trabalho em equipe e fazer mais uso dos ‘brainstorms’ durante o processo criativo. “Sou centralizador, tenho muita dificuldade de delegar e isso me martiriza muito, preciso mudar isso também. Estimular mais os demais integrantes da equipe a se sentirem seguros a apresentar soluções produtivas, mas como tenho uma equipe de retaguarda muito boa, como o meu sócio Pepeu Mazzaro, isso fica mais fácil”, avalia.
Visão da arquitetura “É muita responsabilidade colocar um objeto em via pública e todos olharem para ele”, diz, sobre a importância da arquitetura. “Tem de ser uma forma responsável por propor um negócio novo, além de beneficiar o ambiente urbano. No final das contas, na hora que você cede um pouco do seu terreno para o uso urbano, fica muito bacana para o usuário e para a cidade”, argumenta. “Um de meus momentos mais satisfatórios como arquiteto foi ver um turista chegar na cidade em que eu trabalho e tirar uma foto em frente à fachada de uns dos prédios projetados por mim. Isso é algo que valoriza o seu trabalho e mostra o reconhecimento da própria sociedade, é gratificante”. Paulo destaca outro elemento importante na sua vida profissional, a ética com o cliente e com os colegas de trabalho. “Luto para convencer o cliente da melhor solução, e se eu não concordo com o projeto, não participo. Já chegaram para mim pedindo pra reproduzir o trabalho de um colega sem a autorização dele, isso eu não vou fazer nunca. Atitudes assim são importantes para construir e manter o seu nome”, explica. Para Paulo, o aprendizado tem de ser constante, principalmente levando em consideração a melhora do serviço oferecido pelo mercado de arquitetura com o tempo. “Hoje a nossa profissão está mais difundida e valorizada. E a técnica vai melhorar muito ainda. Os recursos também estão ficando mais acessíveis, mas ainda poderia ser melhor, existe muito modismo na atualidade. É importante estudar as escolas, os movimentos, ler mais. Se tivesse feito isso no início da carreira, teria sido mais fácil embasar meus projetos”, destaca. E um dos ensinamentos mais marcantes deixados por Paulo para seus alunos e seus colegas de trabalho é sempre ter a humildade e reconhecer seus erros e limitações. É deixar claro que não conhece, mas se esforçar sempre o máximo para aprender. | AL Fotos : Diego Carneiro
SOLAR TAMBAÚ - “Um dos projetos mais recentes que concentra toda experiência adquirida durante nossa trajetória profissional. Elegante e tecnológico”. Fotos / imagens: Cácio Murilo e Divulgação
CONDOMÍNIO BOSQUE DAS ORQUÍDEAS - “Este trabalho inaugurou uma nova fase de desenvolvimento profissional no campo do urbanismo”.
ZARINHA CENTRO DE CULTURA - “Expressa bem o foco de nossa atuação, expressando claramente o conceito de equilíbrio entre forma e função”.
MÁRCIA BARREIROS
A
ARQUITETA COMUNICADORA
Márcia Barreiros se define como alguém em constante aprendizado. Uma postura adequada para uma arquiteta que passou os últimos 15 anos procurando formas de incentivar colegas e sendo uma das maiores divulgadoras da arquitetura na Paraíba. Quando pequena, Márcia não pensava em ser arquiteta, gostava de estar com seus livros e desenhos. “Amava desenhar, coisa que faço ainda hoje, apesar de mais raramente”, destaca. Apesar disso, já carregava em si o fascínio por construções. As casas em que morou enquanto pequena nas cidades de Piancó e Patos causaram um forte impacto na pessoense, que saiu da capital para residir no interior durante toda a sua infância. “As pessoas sempre constróem pelo mesmo motivo que escrevem: para registrar o que é importante para cada um. O morar sempre foi uma curiosidade para mim, sempre gostei de casas e das histórias que cada família cria dentro desse universo“, afirma. “Em Patos, fomos morar em uma casa que tinha os conceitos modernistas, onde o exterior se integrava ao interior”, prossegue. “Uma planta enxuta, bem resolvida e eu simplesmente amava morar lá. Aliás, era uma rua diferenciada, pois várias casas eram projetadas por arquitetos e elas se destacavam na cidade”. A escolha do curso não foi um momento fácil para Márcia, que contou com uma forte resistência do pai. “Ele ficou preocupado, sempre considerou a arquitetura uma profissão muito bonita, mas instável, e foram precisos
muitos anos para ele reconhecer e entender o meu amor à profissão. Minha mãe apoiava, sempre dizia que eu fizesse o que me faria feliz, até porque herdei dela o gosto pelas viagens, pelas descobertas, pelas artes”. A universidade A memória mais forte de Márcia logo ao entrar na UFPB e procurar sua sala foi a de se deparar com um rapaz – hoje amigo seu –, Paulo Peregrino, sem camisa, ouvindo alto heavy metal em pé num banco, diante de um desenho numa prancheta. “Foi quase surreal”, conta, sorrindo. “Mas, venci a timidez e perguntei onde era a sala. Fiquei encantada quando subi as escadas. Era uma planta livre, todas as salas integradas e a única coisa que dividia eram os quadros negros. Uma total integração de quem estava entrando, como eu, assistindo e podendo participar da aula de quem já estava em Projeto 5, no fim do curso”, enfatiza Márcia. A arquiteta lembra que essa integração possibilitou que firmasse boas amizades durante todo o curso e também estimulava a generosidade. “Como alguns colegas mais adiantados, dando dicas de perspectiva quando fazíamos desenhos de observação”, conta. “Conheci muita gente, fiz boas amizades, alguns mais próximos como Roberta Xavier, com quem aprendi a amar mais a pesquisa. Terminamos fazendo juntas o trabalho de conclusão”. Ela lembra também que teve a chance de aprender com excelentes professores. “Sempre fui autodidata e, por isso, insegura no desenho. Rômulo Carvalho me fez ver que eu desenhava bem. Tive referências de professores de projeto e teoria, como Amaro Muniz, Expedito Arruda, Luciano Agra, Mario Di Lascio, Aloízia Márcia, Nelci Tinem, Francisco Gonçalves, que me ensinou a interpretar o nosso clima e ver a importância da ventilação e iluminação natural. E Jovanka Baracuhy, que foi minha orientadora e que me ensinou a olhar o passado para entender melhor o presente”, cita. No entanto, a arquiteta ressalta que João Crisóstomo, professor de estruturas espaciais, foi o responsável por incentivar uma parte muito importante de sua vida profissional. “Ele me despertou para um lado meu que, anos depois, me serviria para fazer a revista Artestudio. Sempre passava trabalhos para casa e, todas as vezes que eu entregava, ele dizia que estava ansioso para ver a capa do meu trabalho. Sempre elogiava e me perguntava porque eu não fazia um curso de artes gráficas”, destaca. Os estágios Logo no início do curso, Márcia encontrou um estágio num escritório de engenharia para não ficar parada durante uma longa greve na universidade. “Não sabia de nada, tive que aprender tudo, desde a carregar tinta numa caneta, limpar, desenhar a grafite em papel manteiga e depois cobrir com nanquim e papel vegetal”, recorda. “Lá, aprendi o que iria me servir muito na vida profissional, desenhar projetos elétricos e fazer detalhamento de coberta. No seu primeiro estágio de arquitetura, estimulada por Débora Pires, participou e ganhou o concurso para a arte da agenda da Escola Técnica,
tendo seu primeiro trabalho de design gráfico publicado. “Iniciava aí a minha segunda paixão”, pontuou. Com Débora teve acesso a muitos desenhos de perspectiva de Ricardo Araújo, em quem começou a se inspirar no desenho. “Tive acesso ao livro de perspectiva de Gildo Montenegro, que me orgulho muito de ter, anos depois, conhecido e entrevistado. Nessa época eu conheci Teresa Queiroga e comecei a desenhar perspectivas para ela como trabalho extra”, complementa. A segunda experiência foi com Ernani Henrique Jr. e Antônio Cláudio Massa. Com Ernani ela afirma ter aprendido o ritmo da arquitetura, a sequência dos espaçamentos dos pilares e a racionalização. Já com Toinho, procurava imitar seus desenhos, pedia para levar para casa para melhorar o seu traço e representação das perspectivas. Após dois anos, sentiu a necessidade de aprender em outro segmento, o de interiores, área que a universidade não abrangia. “Foi quando fui estagiar com Íris Galvão e Sandra Moura. Lá, apesar de fazerem muitos projetos de arquitetura, eu tive muito acesso aos projetos de interiores que tanto eu desejava”, diz. “Tive a oportunidade de fazer memoriais para Vigilância Sanitária, Iphaep e de ir aos órgãos públicos fazer consulta. Saí de lá como gerente do escritório, o que me deu uma base administrativa junto aos estagiários e de revisora de projetos também”, enfatiza. Escritório próprio Após as experiências dos estágios, além dos trabalhos de perspectiva que fazia paralelamente, Márcia decidiu abrir seu primeiro escritório junto com Andrea Mendes. “Com Andrea também aprendi muito, principalmente a ser mais leve. Eu levava tudo muito a sério. Ficamos trabalhando juntas até ela ganhar o mundo, ela sempre soube que iria morar fora. Continuei sozinha no escritório até mudar de endereço”, relembra. Nesse recomeço, atuou em diversas áreas, fez artes gráficas, fotografia e chegou a se integrar a uma agência de publicidade. Até que, depois, abriu a Artestudio, que surgiu como uma empresa de arquitetura, publicidade e design, e que agora caminha para uma editora de livros. Sua transição da criação manual para a digital começou após o tempo que passou na Itália. “Eu tinha uma relação muito boa com os programas utilizados na produção da revista, alguns apresentados por George Diniz, hoje seu esposo. Mas, na arquitetura, essa relação foi sofrida. Eu era, e ainda sou, muito rápida à mão livre. Desenhar no Autocad era quase uma punição”, afirma. “Não consegui me adaptar fácil, até eu conhecer o Revit, que, diferentemente do Cad, foi amor à primeira vista. O Revit me resgatou o amor ao desenho técnico”. Agora, ela desenha em 3D. “Assim como meu desenho à mão, que faço em paralelo”, continua. “Foi fácil me adaptar, o difícil ainda é encontrar estagiários ou terceirizados que desenhem, mas isso é só uma questão de tempo. Tenho muito orgulho da primeira casa que fiz totalmente na plataforma BIM”, complementa. Márcia atuou ativamente em diversas áreas ligadas à arquitetura. Foi coordenadora de arquitetura do Tribunal de Justiça, onde teve a oportunidade
de coordenar, projetar e reformar fóruns para várias cidades da Paraíba. Foi coordenadora de projetos especiais da Prefeitura de João Pessoa (na gestão de Luciano Agra), onde seu universo se ampliou ainda mais com a visão do urbanismo e da arquitetura pública. Praças, parques, mercados públicos e até cemitério teve a oportunidade de projetar e coordenar. “Hoje vejo a cidade com outro olhar”, afirma. Ainda fez parte da diretoria do IAB-PB e foi conselheira estadual do CAU-PB, além de ter em seu currículo vários cursos e especialização em lighting design e em design de interiores. Preferências e referências Márcia afirma que cada projeto que faz a estimula a conhecer e pesquisar coisas novas e a se atualizar – principalmente os que fez em outros estados e outros países, com outros climas e costumes. Ela faz um pouco de tudo, mas assume ter algumas paixões, entre elas os projetos de residências e os comerciais, tanto na arquitetura quanto de interiores. “São dois extremos: um para o público, outro para o privado. Mas sinto a mesma empolgação. Sem contar a parte de iluminação, que é minha mais recente especialização. No futuro, quero fazer alguma especialização em marketing ou publicidade, outra paixão. No entanto, eu digo que estou sempre entre dois amores: a arquitetura e a revista”, explica. No Brasil, ela aponta que sempre teve referências como Acácio Gil Borsoi, João Filgueiras Lima (o Lelé) e a arquitetura paulistana. Lá fora, cita Alvaro Siza, Frank Loyd Right e Richard Meyer. E destaca a importância de Janete Costa para ela no aprendizado sobre o uso das referências regionais nos trabalhos de interiores. Refletindo sobre a profissão Márcia lamenta uma dificuldade encontrada hoje no mercado. “Vejo a arquitetura, em alguns setores, perdendo o reconhecimento, Não está sendo percebido como a arquitetura pode melhorar a vida em quase todos os aspectos. A arquitetura pode definir, afastar, orientar, agregar, melhorar a saúde e até os relacionamentos, mas parece que as pessoas, em sua maioria, perderam essa percepção de valor. Precisamos encontrar o caminho desse reconhecimento”, reflete. Márcia Barreiros encara cada situação como uma oportunidade de aprendizado, por isso os livros e as viagens, bem como os prazeres simples,
tais quais andar na praia descalça ou ouvir sua filha Izabella tocar piano e ver o pôr-do-sol, são suas fontes de maior relaxamento. “Hoje continuo numa busca contínua de melhoramento e aperfeiçoamento. Sou adepta da frase, ‘se você me conheceu no ano passado, permita-me me apresentar novamente, pois não sou mais a mesma pessoa’”, argumenta. “A única coisa que permanece em mim são meus valores, minha família e minha fé. Tento hoje ser melhor do que fui ontem”. Ela afirma que essa característica é sentida por ela também no cotidiano profissional. “Muitas vezes, tenho que tomar a decisão consciente de que um trabalho está pronto, pois sempre que olho o que estou fazendo, acho que pode melhorar mais. Não busco mais o perfeccionismo, é muito desgastante, mas a excelência em tudo que faço “, assegura. Mesmo após tantas conquistas, desafios vencidos e realizações profissionais, Márcia lamenta não ter iniciado a batalha contra sua timidez mais cedo. Segundo ela, sente que perdeu bastante e foi afastada de muitos de seus objetivos pelo medo trazido pela timidez. Citando o filósofo Alain de Botton, “apesar de lamentarmos a quantidade de oportunidades perdidas, não há razão para abandonar a fé na eterna possibilidade de melhorar o que já foi feito”. Essa luta diária para superar esse desafio mostra em Márcia mais uma conduta inspiradora, principalmente pela arquiteta ter escolhido a comunicação como um dos seus dois grandes amores. | AL Fotos : Diego Carneiro e Vilmar Costa
Fotos / imagens: Diego carneiro, Cácio Murilo e Robson Vieira
RÁDIO PIANCÓ - “Implantada num pequeno lote de esquina, o projeto de volumetria simples, mas movimentada por volumes sobrepostos em três pavimentos foram distribuídos para atender ao programa de necessidades da Rádio em sua nova sede e assim liberar espaço para o estacionamento e dar maior fluidez à sua ocupação. Com uma identidade contemporânea, as aberturas de fachada garantem iluminação natural e proteção solar da fachada através de brises, marquises e materiais adequados ao clima quente com proteção aos excessos de iluminação do sol do sertão”.
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR - “As referências sertanejas dos clientes fazem parte do projeto dessa casa que têm conceitos de volumes, cores e texturas bem equilibrados. Com 480m2, o layout foi definido priorizando o convívio com a família e os amigos, tirando partido da ventilação e iluminação natural, reforçando a sensação de amplitude dos espaços. Esse foi o meu primeiro projeto onde pude exercer as novas referências como lightingdesigner”. GRÁFICA JB - “Havia inserido no lote um antigo casarão tombado pelo Iphaep, a solução de partido arquitetônico adotado foi usar os mesmos elementos existentes de fachada, como as janelas verticalizadas, sequência de colunas e escadaria como referências de fachada para o novo edifício. Um projeto antigo (1999) mas que faz parte do meu portfólio pela parceria existente com o cliente por todos esses anos”.
CARMEN RAQUEL
E
STÉTICA E FUNCIONALIDADE
O despertar da vocação para a arquitetura, foi rememorado durante a entrevista que fizemos com Carmen Raquel para compor esta matéria. Veio-lhe a vívida lembrança, há muito esquecida, do dia em que sua mãe permitiu-lhe definir detalhes da reforma da sua suíte em sua casa, quando tinha apenas 12 anos de idade. Este simples fato denota a liberdade que seus pais a ofereciam desde muito jovem. A partir de então, diante da satisfação de todos com o resultado obtido, ficou claro em sua mente, que a arquitetura seria um caminho natural a seguir. Aliado a isto sempre cultivou o aprimoramento de seu senso estético, através da observação de modelos que admirava e procurava seguir. Relembra que nunca foi questionada pelos seus pais a respeito de sua escolha profissional, talvez por encararem como adequada e previsível a escolha desta profissão. Carmen entrou na universidade em 1988 e faz questão de lembrar de como o curso exigia dos alunos. “Antigamente era a gente na prancheta, no esquadro, no normógrafo. Era um negócio que levava realmente muito tempo”, conta. Durante boa parte do curso universitário, estagiou no escritório de Gilberto Guedes, tendo sido esta experiência determinante na construção
da sua identidade profissional. Ainda na faculdade, houve uma Bienal Internacional de Arquitetura, em Recife, nela participou de um concurso entre estudantes para o Portal Olinda-Recife, no qual ela e sua colega e atual sócia, Maria Raquel, tiveram a primeira colocação, que lhes rendeu até uma publicação na revista AU. Esta premiação abriu-lhes a oportunidade de serem convidadas para contribuir na primeira ampliação do Manaíra Shopping, onde ainda atuam, após 24 anos . “Nesse período fomos responsáveis por todos os seus projetos de ampliação, assim como da concepção do projeto do Mangabeira Shopping. Temos muito orgulho de ter contribuído para a concretização dos dois maiores empreendimentos comerciais do nosso estado”. Elas se dividiam entre seu escritório, pela manhã, e o expediente no Manaíra Shopping, à tarde. *No entanto, apesar da arquitetura comercial ser o campo de atuação mais forte, o escritório também vem desenvolvendo interessantes trabalhos em diversas outras áreas, tais como: edificações residenciais, casas urbanas e rurais, clínicas, ambientação residencial e comercial e até um cemitério.* A partir da clínica do próprio
marido, o urologista George Guedes Pereira, na avenida Epitacio Pessoa, outro projetos neste segmento também foram desenvolvidos destacandose a espaço saúde, ao lado do Espaço Cultural e Endovídeo, próxima ao hospital Unimed. “Uma coisa vai chamando a outra”, diz. Aliado à observação crítica das novas tendências arquitetônicas e de design, a incorporação de novos recursos tecnológicos é uma preocupação constante sua. “Com o advento da internet e o surgimento de softwares conhecidos dos arquitetos como: AutoCad, Revit, Archicad, etc, facilitou bastante a vida de nós arquitetos, começamos a nos preocupar também com ambientes adequados para idosos, pois a expectativa de vida da população aumentou, como casas adaptadas, espaços mais amplos e confortáveis para quem tem dificuldade de locomoção. Outra preocupação nesses novos tempos é com o crescimento sustentável, pois agora estamos sendo obrigados a aceitar que os recursos do nosso planeta, como água, floresta ou petróleo, não são infinitos. E quanto mais avançarmos para o futuro, mais nosso trabalho de arquiteto e urbanista será cobrado, afinal, não mais teremos todos os materiais disponíveis e nem todo terreno teremos à disposição para construir. O que nos leva a certeza de que a criatividade vai continuar sendo uma característica necessária para nós profissionais”.
Seu trabalho permitiu-lhe vivenciar e refletir mais profundamente sobre a importância que a arquitetura exerce no dia a dia das pessoas, além da sua contribuição na construção da identidade da paisagem urbana em que vivemos e no bem estar dos seus habitantes. “Estou convencida que a estética aliada a funcionalidade são determinantes para a qualidade de vida da população assim como na construção de uma cidadania mais responsável”. | Fotos : Diego Carneiro
INTERIORES “Sala de jantar de apartamento cujo cliente é apreciador de antiguidades, onde utilizamos uma arquitetura limpa afim de valorizar suas peças”.
Fotos / imagens: Divulgação
HALL - “Detalhe do hall interno de apartamento com espelho veneziano e banquetas em estilo clássico”.
HALL - “Hall de entrada de apartamento com porta em ferro, desenho da arquiteta, também em estilo clássico”.
FÁBIO GALISA
M
ARCA FORTE NO TRAÇO
Quantos futuros arquitetos tiveram a oportunidade de acompanhar um grande nome da profissão na visita a uma obra que se tornaria icônica? Fábio Galisa teve. Na adolescência, aos 11 anos, estava com o pai, Orlando, engenheiro civil, junto com ninguém menos que Sérgio Bernardes em uma visita técnica ao Espaço Cultural. “Ele mostrava os espaços daquele grande monumento que a cidade de João Pessoa recebia e eu fiquei encantado”, lembra. “Não eram só tijolos. Ele não pensava em compartimentos, pensava na espacialidade como um todo e aquilo era mágico.” Galisa acompanhava o pai nas obras e, anos depois, foi aluno dele, em sua última turma da UFPB, antes de se aposentar. Antes disso, aos 15 anos, fez a maquete da própria casa, demonstrando já um encanto natural pela Arquitetura. A mãe, Adélia, é artista plástica. “Eu acho que juntei a sensibilidade dela com a precisão geométrica dele”, avalia. Ele já sabia que a opção na universidade seria pela arquitetura. “A diferença entre a arquitetura e a engenharia civil, naquele momento, para um garoto de 15 anos, era sutil”. Aliar a engenharia à criação era algo possível e encantador, o que tornou a arquitetura o seu ideal, lembra. Na universidade, ampliou seus conhecimentos, obteve os ensinamentos necessários a aprofundar e desbravar sua profissão. Com dedicação, conseguiu antecipar a conclusão do curso para quatro anos e meio, formando-se em 1994. Os estágios também vieram cedo, todos marcantes e
elucidativos. Galisa passou cerca de três anos e meio com Jussara Dantas. “Era uma arquiteta incrível, transmitia segurança e competência. Nunca vi uma mente de pensamentos tão elétricos e resolutivos”. Jussara foi muito importante no início da carreira de Galisa. “Eu acabei tendo uma interação profissional maravilhosa com ela”, conta. “Eu fui durante muito tempo o braço direito dela. Eu gostava demais porque tinha contato com o cliente. Ela me deu espaço para entender a relação arquiteto/ cliente”. Isso se reflete na relação que tem hoje com seus próprios estagiários, onde dá liberdade para que eles também tenham contato com os clientes. “Isso no meu escritório é natural”, diz. “Faço espontaneamente porque tive a confiança de um mestre”. Assim que se formou, Galisa abriu o escritório de arquitetura. Dedicou-se bastante a profissão, principalmente aos projetos de edifícios, residências, clínicas e escolas. Não esquecendo o traço pela arquitetura de interiores, vertente que também abarca em seu escritório. “No início da carreira, os projetos de edifícios e residências eram o que mais apareciam”, afirma. “Eu não provocava isso. Terminei me especializando em edificações multifamiliares. Alcancei um ritmo tão bom que passei a idealizar as plantas e projetos de cabeça, sabia como tinha que acontecer. Cheguei ao ponto de viabilizar projetos, da noite para o dia, em Autocad”. Três fases Contextualizando a necessidade do mercado imobiliário, dividiu sua carreira em três fases, que exemplifica com três de seus projetos, marcantes para determinadas épocas. O primeiro exemplo é o Maison Saint Patrick. “Esse edifício fez parte de uma nova configuração imobiliária na cidade de João Pessoa”, explica. “Até 2002, os apartamentos mais vendidos eram os de três quartos que tinham uma característica peculiar: variavam entre 120m² a 160m². Porém, com essa configuração, o mercado estava estagnado, apresentando um valor final da unidade bastante elevado”. Depois de muitos estudos, percebeuse que esse mesmo público absorveria empreendimentos entre 85m² e 90m², como o Saint Patrick, o que impulsionou novamente o mercado, que passou a desenvolver vários empreendimentos com essa nova tendência, de apartamentos compactos. O segundo marco, em 2007, é o Luxor Tambaú, idealizado em conjunto com os arquitetos e amigos Vera Pires e Roberto Ghione. “Fomos chamados a fazer um projeto diferente e inovador”, conta. “Os apartamentos já haviam assumido tamanhos compactos. O mercado, naquele momento, pelo excesso de oferta, já passava por uma nova crise. Era preciso algo para revolucionar”. Galisa acrescenta ainda: “Os empreendimentos precisavam garantir uma melhor segurança aos moradores, trazendo para dentro de sua própria residência o lazer completo, criando o conceito Club para João Pessoa”. O projeto então ofereceu aos clientes um lazer completo dentro do próprio
empreendimento: conseguiu agradar aos consumidores e acelerar as vendas – mesmo praticando o dobro do valor do metro quadrado na construção civil. Em 2012, Fábio Galisa, foi convidado para projetar o que viria a ser seu terceiro marco, que foi concluído em 2016: o empreendimento misto D’Ouro Tambaú, onde tem hoje seu escritório e sua nova residência. Em um terreno com medidas generosas e em formato T, o projeto tem a forma de uma asa delta, com 28 mil m² de construção. O projeto combina apartamentos residenciais integrados ao conceito Club e salas comerciais. “Cada apartamento tem seu elevador privativo, o que permite individualizar cada unidade”, explica. Priorizando atender às necessidades da sociedade, convergindo ao pensamento do construtor, Galisa projetou um prédio de uso misto, aproximando o local de trabalho à residência dos que assim o desejassem. “O que resultou numa obra bastante completa, comnta. Alguns moradores, o arquiteto e o construtor também se aliaram à praticidade do novo endereço. “Excelente localização, apartamentos confortáveis, área de lazer completa e comodidade de ter seu escritório no próprio empreendimento. Eu sabia o que queria”, lembra o arquiteto. “Percebi que íamos chegar nesse ponto, em que, cada vez mais, as pessoas iriam querer morar próximo ao seu local de trabalho”. No grafite Fábio Galisa também é construtor. “Em alguns casos, percebia que os projetos não eram fielmente executados e a principal questão talvez fosse a dificuldade em fazê-los”, avalia. A preocupação da sua construtora é a fidelidade ao projeto arquitetônico – seja dele ou de outro profissional. “Eu considero que a arquitetura é a obra final, a obra construída. Eu adoro fazer o projeto e executar: você visualiza a obra de olhos fechados”. Ele assumiu uma marca para assinar seus projetos: a placa nas edificações diz “Aqui tem o traço de Fábio Galisa”. E esse traço inicia-se a grafite – ele mesmo conta. É sempre assim que começam seus projetos e a ponta do lápis ainda garante momentos de relaxamento no trabalho. “Algo que me relaxa enquanto estou projetando é fazer a ponta dos meus lápis com estilete”, revela. “Isso equilibra minha mente”. Além disso, ele tem prazer em construir maquetes físicas e viajar. Já usufruindo da companhia da filha Rafaella Galisa, no escritório, lembra que ela está prestes a se formar. “É meu melhor projeto, fruto do meu amor com minha esposa e musa inspiradora, Márcia, a quem dedico todo meu sucesso”, diz ainda. “Eu me vejo em Rafaella. Vejo nela um futuro bastante
promissor. Já tendo morado no Canadá e viajado para outros países, traz consigo a visão de outras culturas, o que inspira e agrega valor aos nossos traços. Entendo que ela também percebeu logo cedo o que é arquitetura e sua real importância.” Trabalho institucional Galisa também fez parte de órgãos de classe da arquitetura. Assumiu a presidência do Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção Paraíba (IAB-PB), em 2004. Após dois anos, foi eleito para um novo mandato, até 2007. Foi membro da câmara de arquitetura do Crea-PB por seis anos, chegando a assumir a coordenação de câmara e diretoria do órgão. Participou ativamente da transição que culminou com criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). E foi eleito por duas gestões consecutivas ao conselho federal (de 2012 a 2014 e de 2015 a 2017). Superou aí o medo de falar em público – enfrentando-o. “Trabalhar com o que se gosta é sempre prazeroso, o que permite vencer qualquer obstáculo”, acrescenta. “Costumo dizer que estou sempre de férias, a arquitetura me permite esse prazer”. Brinca afirmando que sempre tem razão: se alguém convencê-lo, ele retrocede e abraça a sugestão do outro. “Se a sua razão for mais correta, mais objetiva, mais prática que a minha, eu adoto a sua razão como minha. É por isso que eu digo que eu sempre tenho razão”. E o recado que reforçaria a si mesmo, se voltasse no tempo e encontrasse consigo mesmo no começo da carreira é: “Insista em seus objetivos, alegre-se com suas conquistas e, tenha a certeza que ser arquiteto foi a melhor escolha”. | RF Fotos : Diego Carneiro, Valder Filho e Anderson Monteiro
ECOFIT - “Acreditamos que a arquitetura é fator transformador do lugar, buscamos estabelecer uma conexão com o entorno através da integração dos passeios e do agenciamento. Viver na cidade requer uma melhor relação no uso da infraestrutura urbana e mais mobilidade. Morar como reflexo de uma forma de viver estabelecido pelo ritmo da vida moderna onde as pessoas estão presas pela dificuldade de locomoção do nosso transito e seduzidas pelas facilidades que o crescimento da cidade oferece. Um público com estilo e afeito as tendências da vida contemporânea e que se manifesta o tempo todo. Buscamos na escala urbana, criar diferenciais e propor uma relação harmoniosa do prédio com a cidade e com o bairro, onde a rua passa a ser extensão da vida. Trouxemos para o projeto o respeito à escala urbana e uma subversão, no nível de transeunte, da relação entre espaço público e o espaço privado”. EQUILIBRIO CLUBE - “Pensado para pessoas que não têm necessidade de grandes espaços para morar, mas valorizam a convivência e o encontro que se estabelece no espaço compartilhado. Um local onde a ambiência e o modo de ser, característicos de vizinhança, interferem no estilo de vida e dizem respeito aos valores pessoais, as preferencias e ao modo de ser e de viver. Uma arquitetura para um público diversificado que tem como traço condutor a relação entre o uso da moradia e sua maneira de viver. O clima define uma arquitetura que mantem grandes aberturas e que propiciam a interação entre espaço interno e o meio ambiente. Um projeto que associa o morar com a flexibilidade da vida atual, onde funcionalidade, inovação e serviços, refletem o senso único de estilo e necessidades, Um espaço perfeito para uma nova forma de morar”. CONTEMPORÂNEO - “Idealizado para um público que consome facilidades e tem estilo de vida despojada sem abrir mão do conforto. A linguagem dos materiais, das formas e das cores dialoga com essa contemporaneidade. O prédio, por ter um gabarito mais baixo, proporciona um contato maior com a escala do pedestre. Essa relação ficou mais evidente pelo tratamento paisagístico em todo o entorno da grande dimensão do lote. As grandes aberturas, além da função de conexão entre o interior e o exterior, estão associadas às lajes que se prolongam de forma diversa nos pavimentos e são fechadas por várias e descontinuas empenas que cortam essas lajes. Esse recurso cria dinamismo na volumetria e auxilia na proteção solar das fachadas, proporcionando um jogo de cheios e vazios que reforça a tridimensionalidade da proposta”. Fotos / imagens: Valder Filho e Divulgação
MARIA RAQUEL
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LANEJAMENTOS DA VIDA
“Nunca precisei tomar muitas decisões ou fazer planejamentos. A vida sempre se encarregou disso para mim”, admite Maria Raquel Maurício. Isso começou logo no nascimento, no Rio de Janeiro. Trocada na maternidade, ela viveu com outra família até os 11 meses, quando então, o engano foi desfeito e foi entregue à família biológica. Pouco tempo depois, veio morar no Recife, com os avós. Aos 13 anos, veio morar em João Pessoa e se considera completamente paraibana. Independente dos lugares em que vivia, Raquel sentia a semente da profissão germinando aos poucos dentro dela. “Desde que me lembro, eu adorava revistas de arquitetura”, recorda. “Nunca me interessava pelas de moda. Gostava de folhear as revistas, ver os ambientes, observar como se representava um projeto em planta baixa e comecei a brincar de projetar, com 9 ou 10 anos de idade. Sempre adorei desenhar à mão livre. Desenhar era um dos meus passatempos preferidos. Hoje em dia, todo o meu tempo livre é dedicado à família, minha maior fonte de lazer”. Apesar do interesse pela arquitetura, Raquel ficou em dúvida ao chegar no final do que hoje é o ensino médio. Comunicação Visual apareceu como opção para o vestibular – mas em Recife. Ela resolveu fazer os dois vestibulares – este e o para Arquitetura, na UFPB. Aí, o destino mexeu os pauzinhos de novo. “Devido a uma grande greve, houve uma alteração de
datas e os dois vestibulares acabaram marcados para o mesmo dia”, lembra. “Então, a decisão ficou fácil: fiz Arquitetura para a UFPB. Nem precisei pensar duas vezes“. Na universidade Na universidade, seu único estágio foi com o arquiteto Gilberto Guedes, que durou praticamente o tempo do curso inteiro. “Saber como funcionava um escritório, me ater ao nível, às vezes, extremos de detalhamento: esse foi o meu maior aprendizado”, conta. “Foi um estágio muito rico e produtivo, de relevante importância pro meu aprendizado”, continua. “Gilberto tinha uma biblioteca fantástica. Muitas vezes ele pedia para a gente estudar sobre determinada obra ou arquiteto e nos disponibilizava todo esse acesso ao conhecimento, além das conversas sobre arquitetura no final do expediente, que eram aulas excelentes”. E complementa: “Se pudesse voltar no tempo, aproveitaria ainda mais esses ensinamentos”. Na reta final do curso, elaborou – com a amiga e atual sócia Carmen Raquel – um projeto arquitetônico para um concurso numa bienal de arquitetura em Recife. O primeiro lugar foi um estímulo no início da nossa vida profissional. “Nessa mesma época, o Manaíra Shopping, que teve seu projeto original de autoria do arquiteto Antônio Primo (falecido em março de 2017) estava planejando sua primeira ampliação e procurava arquitetos que pudessem trabalhar de forma intensiva”, lembra. Então, as duas amigas começaram a trabalhar no shopping antes mesmo de estarem formadas. “Inicialmente não como arquitetas, a função só foi efetivada após a formatura. Estamos desde 1993 até hoje”. Vida profissional Após a conclusão do curso, a dupla abriu o próprio escritório, dividindo o tempo entre ele e o trabalho no Manaíra Shopping. “Trabalhávamos de
manhã no nosso escritório e as tardes eram para o shopping”, conta. “O trabalho no shopping nos abriu muitas portas naquele momento de recém formadas e naturalmente direcionou nossa atuação no início para a arquitetura comercial. Nossos primeiros clientes foram lojistas do shopping, fizemos muitas lojas, aqui e em outras cidades. Aí após as lojas, vieram os apartamentos, as casas, e tudo o mais. O Mangabeira Shopping foi outro desafio – desta vez, começando do zero. “O partido arquitetônico do Mangabeira foi concebido na tentativa minimizar a frieza gerada pela limitação de trabalhar ‘uma caixa’ previamente estabelecida em painéis isotérmicos, que é um material muito bom e adequado para o tipo de construção, devido ao custo-benefício e agilidade na obra. Mas que nos limita bastante”, avalia. “Queríamos muito humanizar a construção usar materiais naturais, como forma de equilibrar plástica e função”. Foi aí que, veio a tona em forma de flashback a influência do arquiteto suíço Mário Botta, que ambas admiravam na época de estudantes. Em seus trabalhos havia a presença de curvas e materiais naturais, como pedras e tijolos em grandes formatos. “Então na proposta inicial, assim como Botta usava, tinha uma grande parede curva com revestimento de tijolos aparentes na fachada”, conta. “Mas isso depois se tornou inviável pelo peso e dificuldade de um bom assentamento e pelo curto prazo de construção”. Optaram, então, pelo uso do “carpaccio” de pedra. “Uma lâmina muito fina de pedra natural, que tem um brilho muito bonito, principalmente ao pôr-do-sol”. Outro diferencial, segundo a arquiteta, foi a enorme clarabóia
em vidro e estrutura metálica, em forma orgânica, que cobre praticamente toda a área do último pavimento do shopping. Ela permite uma iluminação natural a todos os pavimentos do shopping, através das grandes áreas de abertura nos pisos. “Sempre que há uma ampliação no Manaíra, e também durante o período de construção do Mangabeira, diminuímos o ritmo dos nossos projetos do escritório e nos dedicamos a obra dos shoppings de forma mais intensa, retornando ao equilíbrio normal, ao final das obras”, conta. “E assim tem sido nesses 24 anos de vida profissional”.
Família “Não parece uma casa típica de uma arquiteta, minha casa não tem nada de sofisticação”, afirma Maria Raquel sobre a própria residência. Mas a casa deixa transparecer sua paixão pela profissão, refletida nos pequenos detalhes. Ela faz questão de não ter uma mesa quadrada, com cantos. Como na mitologia do Rei Arthur, sua távola é redonda – para acolher de maneira igualitária todos os que a visitam. Na mesa redonda, sempre cabe mais um. O casamento, como muitas coisas na vida de Maria Raquel, também simplesmente foi acontecendo: quando viu, estava praticamente casada e grávida do primeiro filho. “Um presente especial de Nossa Senhora, o que deu início a minha família”, diz. Com o marido, Flávio, teve três filhos: Guilherme, Luiza e Miguel. Este veio logo após a construção da própria casa. Raquel se identifica muito com o lugar onde mora, um condomínio com clima, típico de cidade do interior, com cadeiras na calçada e de conviver de perto com as pessoas. “Gosto muito de receber. No fim de semana, as pessoas vão chegando. Como gosto de cozinhar, me sinto feliz em recebê-las”, conta. “Na minha casa, não falta o tradicional bolo de farinha láctea todo fim de semana. Os melhores ambientes da minha casa são mesmo os terraços e o jardim, ambos cheios de redes e em volta das mesas”. Um sopro de leveza para uma profissional que lida diariamente com os rigores dos projetos de dois dos maiores empreendimentos comerciais do estado. | AJ Fotos : Diego Carneiro
Fotos / imagens: Diego Carneiro, Vilmar Costa e Divulgação
RESIDENCIA UNIFAMILIAR - “Projetar a própria casa apesar de muito prazeroso é uma tarefa bem difícil. O ponto de partida foi a decisão, tomada com meu marido que seria uma casa com cara de nordeste, com uma coberta em telha e estrutura em madeiramento, com muito terraço e varanda, sem exageros em nada, apenas do tamanho da nossa necessidade”.
INTERIORES LOJA - “Essa loja faz parte da nossa história profissional. A ótica Scala foi um de nossos primeiros projetos, na primeira ampliação do Manaíra shopping. Esse projeto foi no Mangabeira Shopping e foi a sexta loja que fizemos pra Ótica Scala ao longo de 20 anos”.
JUSSARA
CHIANCA
O
PÇÃO PELA MODERNIDADE
Determinação e coragem talvez sejam duas das características que fizeram de Jussara Chianca a profissional que é hoje. Formada pela Universidade Federal da Paraíba, ela estagiou em escritórios de arquitetura de profissionais reconhecidos no estado. Recém-formada, ela transformou a adversidade em oportunidade de crescimento. A casa onde morava com os pais e a irmã estava bem no centro da construção de prédios residenciais. Poeira e a perda da privacidade eram alguns dos problemas enfrentados. O responsável pela construção vizinha fez oferta para comprar a casa e a contraproposta dela foi só vender se ela fosse a arquiteta responsável pelo projeto. Condição aceita. Hoje, o edifício que ocupa o terreno da antiga casa da família é uma boa referência de aproveitamento das oportunidades e talento. A carreira de mais de 20 anos não impede que Jussara continue fazendo planos para o futuro. O plano é montar um escritório em sociedade com a irmã, que é engenheira civil. Isso será a concretização de uma parceria que está dando muito certo desde sempre. A paixão pela arquitetura começou ainda na infância. Com os pais viajando, ela teve que passar dez dias na casa da tia. Acontece que esse período coincidiu com um tempo de muitos trabalhos da prima, que na época era estudante de arquitetura.
A menina de treze anos então ficou encantada com aquele mundo de maquetes. E a prima explicava tudo. Isso foi suficiente para que Jussara, que gostava de cálculos e sempre foi criativa, nunca pensasse em fazer outra profissão se não a arquitetura. Hoje, com a experiência que tem, ela diz que escolheu a profissão certa, pois não gosta da mesmice e a arquitetura proporciona isso. A profissão que escolheu proporcionou também um encontro profissional com a irmã, que é engenheira e parceira em vários projetos. “É fácil trabalhar com a minha irmã, pois eu sou organizada e ela é tanto quanto eu”, disse. Segundo Jussara, com o tempo a pessoa vai aprendendo a administrar a obra, os horários e os clientes. Mas, para aprender tudo isso, antes ela passou por duas faculdades. Uma foi a oficial, pela UFPB, e a outra – que ela considera tão ou mais importante – foram os estágios. “Trabalhei em seis ou sete escritórios. Trabalhei com Cristina Rocha, Débora Julinda, Débora Pires, Iria Tavares, Teresa Queiroga e Hélio Costa”, lembrou. Ela lembra que no escritório de Débora Julinda, a arquiteta colocava os estagiários a par de tudo. “Apresentávamos o projeto ao cliente, aos funcionários da obra e isso nos deu confiança”. Logo depois de formada, alugou uma sala que dividia com outros dois colegas. Cada um com seu escritório, dividindo apenas o mesmo espaço físico. Em 2001, depois de já ter se firmado um pouco na profissão, comprou sua própria sala. O cliente de arquitetura, para Jussara, está cada dia mais exigente. E para ela, isso não é um problema. No entanto, o que pode dificultar o trabalho, é o cliente não saber o que quer. Para ajudar no processo de criação e a entender o que o cliente quer, ela sempre tem uma primeira conversa com ele, ainda no escritório e depois vai visitar o local da obra, para se familiarizar com o espaço físico e com o entorno. “Faço a proposta à medida que vou desenvolvendo, vou conversando com o cliente. E quem procura meu trabalho sabe que tenho um estilo mais limpo, sem muito rebuscamento”, disse.
Criação Todo o processo de criação de Jussara é no computador. “Quando comecei a usar a tecnologia, já comecei a pensar no computador. No começo eu fazia alguns esboços no papel, hoje tudo é feito direto no Autocad”. Para Jussara, criatividade é não ser repetitivo, é ser diferente. Mas, como arquiteta, tem suas inspirações em profissionais que admira como, Índio da Costa, Fernanda Marques e Oscar Niemeyer. “Os arquitetos brasileiros são muito bons”. Ainda admira o trabalho de Santiago Calatrava e Zaha Hadid. Projetos Entre os projetos realizados, ela tem alguns xodós. Além do edifício da construtora W3, aquele no terreno da sua antiga casa, ela cita um escritório de advocacia, um auditório (com um belo trabalho de acústica) e uma cobertura no bairro Altiplano. “Eu nunca me nego a pegar obras. Entretanto, não gosto de projetos muito clássicos. Uma peça de mobiliário ou de decoração antiga, eu gosto, mas do projeto em si imitando o antigo, eu não gosto. Meu estilo é mais despojado, marco os ambientes com peças de destaque. Sou uma pessoa simples, mas gosto de coisas boas e modernas”, disse. A sinceridade também é uma marca de Jussara. “Sou muito honesta para dizer que gostei de uma coisa sem gostar. Se o cliente me pergunta algo e eu não gosto, eu falo para ele. Não imponho meu gosto pessoal, mas mostro alternativas para ele, por exemplo”.
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Para ela, viajar é aprender mais e abrir a mente para novas ideias. “ Tenho viagens marcantes para Dubai, Barcelona – cidade perfeita tanto do ponto de vista da arquitetura, como para morar –, Milão, Londres... Todas essas viagens me mudaram como profissional. A gente fica com outra visão, mente aberta, ideia de cores, de outras culturas...”. Papel do Arquiteto O papel do arquiteto, para Jussara, é tornar o ambiente mais belo, ajudar a organizar a vida das pessoas. “A arquitetura define espaços, áreas de trabalho, ambiente residencial, traz funcionalidade. E a funcionalidade é fundamental, mas tem que ter beleza também. A arquitetura ajuda a formar as cidades”, disse. Jussara gosta de fazer todo tipo de projeto e acredita que todo arquiteto gostaria de fazer uma bela praça ou um centro cultural. Mas, para ela, um projeto que falta em seu portfólio é um hospital. Inclusive, um hospital infantil, que atendesse a região metropolitana de João Pessoa, que foi o seu projeto de final de curso. Discreta, Jussara transparece essa característica também no trabalho. As cores preferidas são o preto e o branco, mas nada a impede de acrescentar detalhes com cores mais fortes. “Gosto muito do branco para poder contrastar com as cores nos detalhes dos mobiliários ou das obras de arte”, conclui, com a simplicidade e a convicção que acertou no caminho escolhido desde a infância. | LG Fotos :Vilmar Costa
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CRO-PB - “Recebi da presidente do Conselho Regional de Odontologia da Paraíba (Cro- PB) na época, a responsabilidade de fazer um projeto de interiores, ainda recém-formada, para uma pequena sala onde colocaríamos as fotos de antigos ex- presidentes, como forma de homenageá-los. Nossa parceria foi tão boa que continuei por muitos anos reformando todas as unidades desta entidade e culminou com o grande projeto para um auditório moderno, super equipado e que atendesse a necessidade da classe. Para minha felicidade procurei para complementar com o projeto de acústica o meu querido e antigo professor, o engenheiro civil João Crisóstomo”.
Fotos / imagens: Divulgação
ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA- “Projeto surgiu da união de duas unidades pequenas em um antigo edifício comercial nesta capital. Com características modernas, ambientes funcionais e trabalhados acusticamente, iluminação e ventilação naturais nos principais setores,o projeto de interiores seguiu utilizando materiais atuais, cores neutras nas paredes e tetos e um toque apimentado da cor vermelho, cor preferida de uma das proprietárias, utilizada nos objetos de decoração e obras de arte, bem como, no mobiliário”. EDIFÍCIO RESIDENCIAL FILADÉLFIA - “O edifício Residencial Filadélfia tem um significado muito importante na minha vida pois, além de ter sido o meu primeiro projeto como arquiteta e urbanista. O terreno onde encontra-se localizado, no bairro de Tambaú, foi o local onde residi com minha família durante 20 anos. Anos estes de lembranças boas, paz e realizações”.
SILTON HENRIQUE 236
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PROJETANDO POR MÚSICA
Silton Henrique, profissional que trabalha em Cajazeiras, sua terra natal, além de um arquiteto apaixonado pela profissão, tem alma de artista: é músico (sua banda de rock prepara um CD) e amante da fotografia. Filho de um paraibano com uma cearense, seguiu a “tradição” da família e se casou também com uma cearense. Um reflexo da “ligação” entre Cajazeiras e Fortaleza, que – segundo ele – sempre existiu. Ele conheceu a esposa quando foi estudar na capital do Ceará, mesmo antes de prestar vestibular. Também nessa época, fez um curso de desenho, que foi um dos fatores que o ajudaram a decidir pela arquitetura como profissão. Mas ele não tem uma resposta exata quando é perguntando por que escolheu a arquitetura como profissão. Lembra que o avô materno foi mestre de obras, que sempre gostou de arte, de música, de desenhar e pensar espaços físicos delimitados pelo uso. No terceiro ano do ensino médio, em Fortaleza, lembra que a arquitetura era tratada como uma arte magnífica e que os edifícios estimulavam seu olhar. O fato de ser preciso fazer um teste de habilidade específica para poder fazer o vestibular de Arquitetura na Universidade Federal do Ceará, o deixava curioso. E um curso preparatório para aquele exame se mostrou revelador. Desenhar sólidos complexos em diferentes vistas, estudar sombras, perspectiva e complementações de objetos era um mundo novo. Ele conta ainda que fez um teste vocacional nos tempos de escola e assistiu a uma
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palestra do arquiteto Fausto Nilo, expoente da arquitetura monumental no Ceará, e esses dois fatos também o ajudaram a escolher a profissão que tem hoje. Fez vestibular para a UFC e também para a UFPB e acabou estudando na universidade paraibana. Os anos morando em João Pessoa também foram um aprendizado de vida. “No início, morava em um pensionato com apenas um banheiro para 33 hóspedes...”, ri. Depois, passou a dividir apartamento e a aprendeu a “se virar” sozinho. Estágios e tempos de faculdade Estagiou com arquitetos como Rosane Oliveira, Marco Antônio Coutinho e Francisco de Assis Gonçalves da Silva, o Chico Alemão, com quem tem uma amizade forte até hoje. A relação com Alemão começou em um estágio. Depois, já era “funcionário”, bolsista Pibic-CNPQ (em uma pesquisa sobre conforto ambiental), aprendiz... “Hoje somos amigos e compadres”. Já com o professor Amaro Muniz ele diz ter uma relação de amor e ódio. Ódio pela rigidez nas avaliações, amor por saber que ela fez com que ele fosse um profissional melhor. “Os bons alunos se encantam com Amaro, ele falava de cozinhar, de pratos... Os mais espertos conseguiam chegar onde ele queria e eu me acho um felizardo de ter compreendido sua fórmula”, garantiu. Arquitetura no interior
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Tinha em vista um mestrado, mas, de volta a Cajazeiras, surgiu a oportunidade de abrir seu próprio escritório em sala comercial do hotel de seu pai. Era um dos poucos escritório montados na cidade. Mas esse processo trouxe alegrias e tristezas. “Alegria por estar exercendo a profissão, mas tristeza por se aperceber que o trabalho não estava sendo valorizado”, explica. “Se mostrava muito claro ali que a arquitetura, sua real interferência, era algo distante na cabeça das pessoas de uma forma geral. Ganhava muito pouco por cada projeto, mesmo com as argumentações sobre o que um projeto arquitetônico deveria conter. Entregava sempre o melhor, mesmo que a recompensa financeira não fosse a adequada”. Para Silton, fazer arquitetura no interior é muito diferente de trabalhar em uma grande cidade. “Há 21 anos eu vivo um fazer da arquitetura muito diferente do que os meus colegas vivem em João Pessoa”, disse. “As pessoas ainda não percebem o quão decisivo é a arquitetura, seja em uma casa ou em um comércio”. Mas, apesar das adversidades, ele consolidou seu nome e é reconhecido como profissional capaz e exigente na região que abrange os estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Em 2001 foi secretário de planejamento de Cajazeiras, oportunidade única para se pensar o urbanismo e entender o sistema. Ao mesmo tempo, fez concurso e foi professor substituto do Instituto Federal de Educação Tecnológica (IFPB) por quatro anos. Outra das dificuldades de fazer arquitetura no interior é que há muito exercício ilegal da profissão. “Em Cajazeiras também não consigo a mesma tecnologia e a mão de obra que meus colegas conseguem na capital e, às vezes, temos que esperar para poder contar com os melhores profissionais, que já estão ocupados com outras obras”, disse. O fazer da arquitetura
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Silton afirma que o resultado da boa arquitetura é glamouroso, mas o fazer da arquitetura não é. “O resultado que eu busco é sempre de poesia, tentando sair do lugar comum, da arquitetura copiada das revistas especializadas”. Ele compara ainda projetar com compor uma música. “Tentar compor é exatamente a mesma coisa de criar um projeto. Fazemos um esboço e depois passamos para a escala, ajustando espaço, custo...”. E analisa os seus trabalhos como um contraponto à arquitetura atual. “Precisamos muito de beiral e de sombra. Eu faço uma arquitetura de conforto, onde deve existir sombra e ventilação”, explica. “Eu uso muita estrutura metálica, gosto de beiral com telhas termoacústicas e de extrair o máximo da alvenaria cerâmica. Gosto de coisas modernas, com cálculo diferenciado, tentando fugir do ‘caixote’ e atribuir uma identidade profissional. Quero que as pessoas olhem para o meu projeto e saibam que é meu. Quero um traço próprio, não necessariamente na geometria, mas na solução encontrada”, disse. Sonho Para ele, o que falta em sua carreira é ter um cliente que peça um projeto muito inusitado. “Todo arquiteto sonha com um grande projeto, como um centro de convenções ou uma casa fantástica sem limites financeiros”, disse. Nesse ponto, ele conta que um grande projeto se avizinha, mas não revela ainda qual é. Outro sonho é ver a arquitetura permear o inconsciente de todos e ser exigida por lei a obrigatoriedade da autoria por arquitetos de planos urbanísticos. “As cidades necessitam de arquitetos que se comprometam com a coletividade sem a influência nociva dos aventureiros não arquitetos que hoje permeiam as cidades brasileiras”, afirma. Referências
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Ele diz que tem referências como Oscar Niemeyer, Alvar Aalto, Tadao Ando. As suas outras inspirações são na contemporaneidade. Sites, redes sociais de fotos e matérias são fontes dessa inspiração. “Olho as coisas e gravo na memória os detalhes que gostei, mas que se aplicam para a minha realidade. Gosto de arquitetos meticulosos, como a Cristina Evelise, Antônio Cláudio Massa e Ernani Henrique Jr. Ou mesmo os desconhecidos que detalham com perfeição suas soluções. Gosto de arquitetos que mudam a vida das pessoas com sua arquitetura, não arquitetos de grife que apenas repetem o que notórios fazem pelo mundo”, explicou. “Quando eu tenho alguma dificuldade em encontrar a melhor solução, eu penso: como Chico Alemão resolveria isso?” Se pudesse se dar um conselho quando mais jovem, Silton diria: “Não faça aventuras, não comece trabalhos sem fechar contrato, não dê solução engenhosa a quem não te contrata, informação é nosso maior trunfo. Conclua todos os seus estudos e faça apenas o que é capacitado para”. É conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Paraíba (CAU-PB) desde a sua fundação no fim de 2010. “O que me deixaria feliz é ver o lugar onde resido e ando fazendo arquitetura só com a autoria de arquitetos e ver as cidades melhores e mais humanas. Por isso que estou no CAU, queria resolver todos esses problemas. Estar no CAU é por esse desejo de melhoria”, disse. Silton se define como perseguidor da estética. “Gosto de ver a beleza em tudo que me cerca, gosto da estética das coisas e das ideias. Tenho em mim o lado político do urbanista e a inquietação dos inconformados”. | LG Fotos : Diego Carneiro e Divulgação
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CASA GIL - “Residência feita para uma viúva sabedora dos valores da vida. Exigente, o programa seguiu r igorosamente o deseja da moradora em receber as filhas e suas famílias. Terreno de 14m x 30m, com área construídade 278m². Ano de conclusão 2012. Cajazeiras/PB”.
Fotos / imagens: Divulgação
CASA ESTRELA - “Para um clima quente e seco, uma casa com telhado flutuante, telhas termoacústicas e estrutura metálica como referencial. Casa pensada para ocupar o máximo do terreno, mas mantendo área de lazer confortável. Essa casa foi o princípio de uma nova fase em nosso escritório ao se pensar residência e o clima. Possui sistema de aquecimento de piscina e águas de chuveiro e cozinha através de placas solares. Cisterna para reservatório de água de chuva, fachadas cegas leste e oste com norte e sul perfuradas ao máximo. Terreno de 12m x 37m, com área construída de 460m². Ano de conclusão 2015. Cajazeiras/PB”.
CASA LINS - “Segunda casa pensada para telhado flutuante e uso de telha metálica zincalume branca nas duas faces. Essa casa tem um programa padrão para um casal e dois filhos. O partido arquitetônico procurou mais uma vez pensar a casa em função do clima, apesar do sentido norte/sul do terreno deixar as duas maiores fachadas expostas ao sol. Mesmo assim, foi usado parede falsa oste, afastada 1,20m das paredes da residência neste sentido e sistema de ventilação que retira o calor. Uma grande parede ostes funciona como quebra sol e confere sombra. Ampla piscina para os dias mais quentes e um grande terraço no térreo para receber os amigos. Terreno 15m x 30m e área construída de 370m². Ano de conclusão 2016. Cajazeiras/PB”.
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LANA DÉBORA 244
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ISTURANDO TÉCNICA E INTUIÇÃO
Nascida em Mossoró, Rio Grande do Norte, há mais de 20 anos Lana Débora adotou a Paraíba como sua terra de coração. Vivendo em Campina Grande com seus filhos e marido, se consolidou como profissional, mas a arquitetura surgiu na sua vida ainda na infância. Aos 8 anos foi escolhida entre os colegas para fazer um desenho no muro da escola. A professora gostou tanto do resultado que disse que ela seria uma arquiteta. “Nunca esqueci as palavras dessa professora, decidi de fato seguir essa apaixonante profissão”, disse. Formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Lana diz que o curso a surpreendeu em vários aspectos. “Uma experiência muito além de empenho e estudo, se tornando fundamental em ampliar minha visão de mundo devido aos desafios que uma graduação impõe”, afirmou. As histórias do tempo de faculdade são inúmeras. Ela diz que guarda muito bem na memória os intermináveis trabalhos, as noites mal dormidas e as amizades que cultiva até hoje. O estágio foi com a arquiteta Gracinha Madruga, em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Lana diz que aprendeu muito observando a expertise e a rapidez para criar e solucionar problemas.
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Sempre ativa, participou de muitos projetos ainda estudante. Assim que se formou buscou logo o mercado de trabalho. “Almejava exercer de forma efetiva minha atividade de arquiteta, portanto me associei a outra profissional da área e abrimos em parceria um escritório de Arquitetura e Interiores”. A arquiteta Rotina? Lana não gosta nem desta palavra. “Como sempre estabeleço uma ligação mais próxima com os clientes e considero importante participar efetivamente da execução dos projetos. Acompanho de perto o desenvolvimento. Assim não tenho uma rotina definida, além de exercer outros tipos de atividades”, disse. Para ela, a arquitetura é uma mescla de técnica e intuição de uma maneira igualitária. A técnica é o que torna o projeto coerente para a real
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necessidade, juntamente com a intuição na qual o arquiteto cede sua identidade pessoal e única. No seu processo de criação ela busca conhecer bem o cliente, identificando seus gostos e desejos com o intuito de fazer o projeto mais próximo do sonho dele. Não há estilo que se negue a projetar. “A arquitetura que estou vivenciando está em uma fase muito eclética. Quem dita o estilo é o cliente, a nossa função é apenas atendê-lo”, justifica. A parte inicial de toda essa criação ainda é feita através de croquis à mão livre no papel, processo que ela faz desde sempre. Criatividade e referências Lana acredita que criatividade é um dom de inventividade de cada indivíduo. “Tornando-o capaz de criar e recriar, inventar e inovar sempre, independente de quais circunstâncias se encontre. Sendo também oportuno para enxergar qualquer tipo de dificuldade como um estímulo”. Ela afirma que sua inspiração é uma somatória de tudo que vê e vive. Se espelha na mãe, a quem se refere como uma arquiteta autodidata. Entre os grandes nomes da arquitetura que admira, cita Oscar Niemeyer, Santiago Calatrava, Ruy Ohtake e Zaha Hadid. Serena, tranquila e aberta a novos desafios. É assim que ela se define. E diz que o arquiteto exerce o papel da criação dos espaços físicos, interpretando todos os aspectos pertinentes como acessibilidade, beleza, sustentabilidade, economia, segurança e conforto. Assegurando assim a criação de ambientes úteis e que irão compor a identidade de um determinado individuo. Apesar da paixão pela arquitetura, ela diz
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que poderia seguir alguma outra profissão, mas sempre ligada à arte e a estética. Desafios O grande e talvez maior desafio na profissão, para Lana, seja propor sempre algo novo, inovador e que venha seguido de uma repercussão positiva. “Penso assim por ver que o campo se encontra bastante competitivo e desafiador, surgindo a todo instante novas técnicas, materiais e ideias revolucionárias”, disse. Um aspecto que mudou bruscamente desde que ela se formou foi a questão da competividade e o avanço da tecnologia. “Isso exige que todos nós, profissionais, estejamos sempre atualizados, a fim de se manter sempre apto as inovações que o mercado exige”, analisou. Se pudesse voltar no tempo e conversar com ela mesma logo após se formar ela daria o seguinte conselho: “Diria para nunca desistir dos sonhos e perseverar”. Fazer algo diferente? Buscaria mais a Deus. “O tempo é dele”. | LG Fotos : Vilmar Costa
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INTERIORES APARTAMENTO “Ambientação de conceito clássico e toques de leveza do contemporâneo. As cores neutras e peças de família dão o toque final ao espaço”.
CASA DE FESTAS - “No projeto e ambientação do salão de festas Palácio das Nações, Lana Débora reúne traços do estilo clássico repaginado com elementos e materiais modernos, proporcionando assim uma nova configuração do espaço coerente com o contexto atual”.
CASA COR/RN 2017 - “Na concepção do ambiente a arquiteta Lana Débora considerou a preservação e valorização do detalhe dos grandes janelões em arco do próprio espaço, que remetem a arquitetura de missões, uma tendência que se espalhou pelo Brasil nos anos 30, resgatando assim a importância desse estilo na composição das paisagens urbanas. Assim o art living ganha notável destaque pelas grandes aberturas, servindo de referência na criação de um ambiente contemporâneo com design em curvas, gerando uma configuração dinâmica e distinta do comum. O nome art living se deve a intenção de conceber um espaço para expor peças e obras artísticas, enaltecendo seus autores”. Fotos / imagens: Divulgação
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JAILTON JALES 252
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ARCANDO O TEMPO E A VIDA
A chegada de Jailton Farias Jales ao mundo da arquitetura veio por um caminho diferente do da maioria dos seus colegas de profissão. Primeiro, ele concluiu o curso de Eletrotécnica na Escola Técnica Federal da Paraíba (atual Instituto Federal da Paraíba, IFPB). Pretendia estudar Engenharia Elétrica em Campina Grande, mas, diante das dificuldades de se manter numa outra cidade, distante da família, rendeu-se à afinidade que tinha com a área de luminotécnica e sua aplicação nos projetos de arquitetura. Tal afinidade associada a sua paixão por desenhar o levou a decidir-se pelo curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal da Paraíba, iniciado em 1994 e concluído cinco anos depois. Desde o começo de sua graduação identificou-se com as possibilidades profissionais que a arquitetura poderia proporcionar, percebendo assim, que havia optado pela escolha certa. Teve excelentes docentes, a quem é grato por auxiliarem na construção do conhecimento. “Não posso deixar de mencionar o professor Hélio Lima, orientador no meu trabalho de conclusão de curso”, lembra. Até mesmo a fragilidade nas condições das instituições públicas de ensino superior do país foi instrumento de incentivo na busca incessante por aprendizado complementar. Planejamento urbano Jailton é um profissional que entende a arquitetura como elemento transformador e impactante para uma cidade. “Ela não pode ser pensada
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de uma forma isolada.Por mais simples que um projeto seja,ele deve ter um compromisso amplo”, diz. “Isso é possível através de um planejamento urbano bem elaborado respaldado por uma legislação clara e objetiva que leva em consideração aspectos dinâmicos da vida”. Em sua opinião, as normas vigentes carecem de critérios científicos pertinentes que embasem com propriedade as exigências legais. “A implantação de uma Secretaria de Desenho Urbano, composta por profissionais especialistas nesta área pode ser uma alternativa para alcançarmos resultados eficientes evitando situações conflitantes na malha
urbana como longos congestionamentos e graves acidentes”, opina. Para ele, o planejamento urbano precisa estar em harmonia com as tendências urbanísticas atuais de uma cidade, de modo que permita permeabilidade dos espaços e ocupação ordenada e efetiva, seja durante o dia ou à noite favorecendo uma maior qualidade de vida. “Tão importante quanto alcançar uma legislação eficaz seria inserir noções urbanísticas nas escolas de educação básica para que as crianças possam compreender desde cedo a importância do uso do espaço público”, diz. Para ele, seria uma forma de melhorar o convívio social, a exemplo de outros países como a França onde crianças de apenas cinco anos já têm contato com conceitos arquitetônicos e urbanísticos. Para Jailton a arquitetura é um diferencial na vida das pessoas. Ultrapassa os conceitos do belo ou do funcional. Ela remete às lembranças visuais de uma história construída ao longo do tempo, provocando sentimentos insubstituíveis que marcam a existência de uma pessoa. “Momentos da infância, cheiros, uma árvore, um jardim, um espaço de brincar, uma parede, todas essas recordações afloram quando uma pessoa adulta retorna ao local de origem onde viveu por muitos anos”, acredita. Vida profissional Firmar uma carreira é missão árdua para todo recém-formado. Com Jailton não foi diferente, mas sempre se manteve determinado e focado nos
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seus objetivos. “No começo é tudo muito difícil, mas eu encarei de forma tranquila os desafios que apareceram. Entendo que solidificar um nome no mercado não é uma tarefa fácil. É preciso ter muita dedicação.” Iniciou sua caminhada fazendo projeto para familiares e pessoas conhecidas. Paralelamente, ministrava aulas de informática, principalmente de Autocad, software que na época dinamizou o desenvolvimento de desenhos técnicos, acelerando o processo produtivo. Foi uma época de transição do uso da prancheta para o computador onde normógrafo, nanquim e papel vegetal passaram a ser instrumentos de trabalho obsoletos. Nesta época, seu interesse pela área de tecnologia lhe proporcionou a oportunidade de conhecer novos programas de informática direcionados à arquitetura, ainda desconhecidos no Brasil, que otimizavam consideravelmente a concepção e construção de modelos em três dimensões. Segundo sua opinião, esse recurso se tornou indispensável. A tecnologia BIM (Building Information Modeling – Modelagem da Informação da Construção) revolucionou a forma de projetar, viabilizando não apenas a concepção do modelo como também gerando informações essenciais para o sistema construtivo, gerenciamento de obras e compatibilidade de projetos, processos e tecnologias. Essa metodologia dinamizou a forma de conceber propostas arquitetônicas conferindo a ele mais tempo para pesquisas, especialização profissional, consultoria aos clientes e convívio familiar.
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Grandes paixões Jailton se emociona com bons projetos e grandes ideias. “Algumas pessoas trabalham o ano todo para tirar férias e fazer o que gosta. Eu sou abençoado. Faço o que gosto o ano inteiro. E é muito bom viver assim. Amo o que faço”. Porém, seu amor maior é a família, com quem divide o fascínio e o entusiasmo por essa profissão. E essa admiração pela arquitetura naturalmente tem atraído o interesse dos filhos que estão inclinados a seguir os caminhos percorridos pelo pai. Durante muitas noites projetando, aderiu a um hábito que cultiva até hoje: tomar café. A princípio, para inibir o inevitável cansaço que dominava após longo período de atividade. Atualmente tornou-se um hobbie cuja paixão o fez apreciador dos diversos cheiros e sabores de grãos. Outra atividade que gosta bastante é a leitura. Segundo Jailton, ela expande os horizontes e a forma como compreendemos o mundo. Para os que estão ingressando na arquitetura, recomenda: “Abracem a profissão com amor e respeito, sendo íntegros, honestos e éticos em tudo o que realizarem”. Lembra ainda que a arquitetura não é apenas glamour, ela “marca o tempo e a vida de um povo”, diz.“Precisa ser entendida como elemento que propicia dignidade e conforto independente de padrões econômicos ou classe social”. |DC Fotos : Diego Carneiro
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AMBIENTAÇÃO RESIDÊNCIA SH - “Ambiente amplo e integrado, contextualizado através de uma identidade de expressiva nacionalidade retratada pela produção de designers de mobiliário brasileiros com utilização de matiz clara e materiais que proporcionam acolhimento e bem estar. Foto: Lyssandro Silveira”.
Residência SH - “Projeto com traços racionais que privilegiam a verticalidade através de uma volumetria arrojada com soluções estruturais ousadas, favorecendo grandes espaços, ventilação cruzada e maior conforto térmico através do uso de aberturas superiores que permitem a exaustão do ar quente. Foto: Lyssandro Silveira”.
Residência FP - “Arquitetura contemporânea com contornos expressivos caracterizados por linhas diagonais que conferem à edificação dinamismo e plasticidade, associada à leveza proporcionada pela transparência do vidro e esbeltez da estrutura metálica presente nas marquises. Foto: Denys Formiga”. Fotos / imagens: Divulgação
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RICARDO VIDAL 260
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PONTANDO PARA O MUNDO
Os post-its espalhados pela tela do computador dão um tom colorido e mostram de cara, a organização do jovem arquiteto Ricardo Vidal. Os fones de ouvido, companheiros fieis de tardes de trabalho, estão sempre lá. A cadeira preferida e o local estrategicamente escolhido dentro do escritório que divide com outros arquitetos, em uma quase cooperativa de criatividade, também ajudam a compor o local de trabalho. Com uma década e meia de profissão, ele acredita que a arquitetura está em constante evolução e, talvez por isso, está em uma busca constante pela melhoria pessoal e profissional. Longe de ser workaholic, o seu projeto mais precioso é a família, em especial as duas filhas. Não deixa projetos pela metade, mas também não fica angustiado se um deles não sair do “papel” (ou do computador). Arquiteto e urbanista pela Universidade Federal da Paraíba, Ricardo é pós-graduado em Gerenciamento de Obras e Tecnologia da Construção, pela Universidade Cidade de São Paulo. A arquitetura, segundo ele, foi um acaso que deu certo. Com 17 anos, deu um “chute certeiro”. A afinidade com a matemática e um antigo hobby, o aeromodelismo, foram as indicações que talvez a arquitetura fosse um caminho. A prova disso são prêmios recebidos e projetos fantásticos como o de uma cidade inteira para Montenegro (um dos países surgidos da antiga Iugoslávia).
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Apesar da paixão pelo curso, iniciada logo que as aulas começaram, ele sentiu falta de algumas coisas da prática profissional, especialmente a parte da engenharia ligada à construção. Por isso, foi buscar complementação em uma especialização. Tecnologias O uso das tecnologias permite muito mais a Ricardo. Morando em João Pessoa, ele consegue ir além da Paraíba, muito além. É que após o convite do arquiteto Leonardo Tavares, que na época estava morando fora do Brasil, ajudou a projetar grandes projetos pelo mundo. São projetos na África, Ásia e Europa, todos feitos para uma empresa em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A diferença para o trabalho realizado para o Brasil? Ter que estudar mais sobre legislação, clima, insolação, iluminação. Foram projetos de resorts e hotéis a até uma cidade inteira, com shoppings, parques aquáticos, campos de golfe e cassinos. Alguns deles não foram projetos completos, mas estudos preliminares, com imagens em alta qualidade. Mas todos eles ousados, por serem grandiosos. Ricardo afirma que o modo de fazer e estudar arquitetura mudou muito desde que era estudante. Hoje professor, ele pode comparar essas fases com certa propriedade. E a principal mudança é o uso das tecnologias. “Quando eu era estudante, tínhamos um único ateliê, com muitas pranchetas e professores dando aula a várias turmas. Nós nos integrávamos, dávamos palpite, aprendíamos com o outro. Hoje, com o uso do computador, as orientações são praticamente individuais, não há mais aquela coisa de todos se conhecerem”, disse. Quanto aos estágios, ele afirma que são importantíssimos para a formação do arquiteto. “Sou quem sou hoje porque durante quase toda a graduação estagiei com Oliveira Junior, Manoel Farias e Glauco Brito. Aprendi com eles o dia a dia do escritório e isso não se aprende na faculdade”. Experiência em Manaus Desde o projeto final do curso Ricardo se envolve com grandes projetos. Para se graduar ele fez o projeto do Parque Cultural Matarazzo,
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que envolvia restaurar um conjunto de edificações que existe na entrada de João Pessoa, revertendo o espaço para a comunidade que mora perto dele. E foi justamente este projeto envolvendo o patrimônio histórico que o levou à Manaus. A arquiteta paraibana Mércia Parente precisava de ajuda para um grande projeto de patrimônio histórico na capital do Amazonas e lá foi Ricardo, ainda recém-formado, fazer parte da equipe que faria do antigo palácio do governo um museu. Um ano depois, voltou de Manaus. Determinado e apaixonado por arquitetura, via que Patrimônio Histórico não teria mercado de trabalho. Então, abriu um escritório, dentro de uma imobiliária. Desde então, Ricardo trabalhava em parceria com duas arquitetas amigas. Apesar de serem contemporâneos de faculdade, Juliana Cunha e Danielle Furtado não moram em João Pessoa e tinham um escritório em Campina Grande. No entanto, a distância entre as cidades nunca impediu que os projetos deles se cruzassem e que fossem feitos em parceria. Tanto, que 10 anos depois eles resolveram formalizar esse trabalho e formaram uma sociedade. A partir daí a Dome Arquitetura estava formada e completa. E a escolha do nome do escritório não foi por um acaso. A palavra, em inglês, quer dizer cúpula, e eles fazem uso dos dois significados dela: elemento arquitetônico e reunião de pessoas. A internet facilita essa sociedade, já que ela derruba a barreira da distância e reuniões podem ser feitas a qualquer momento. Ao menos uma vez por mês há uma viagem entre as cidades, para reuniões presenciais e isso já é o suficiente.
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A rotina Além do escritório, Ricardo divide seu tempo em dar aulas para o curso de Arquitetura de uma universidade particular e ser conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). Ele segue a linha mais modernista – lembra que a formação dos professores da UFPB vem da escola pernambucana, o que acaba influenciando os alunos. “Meus projetos seguem linhas retas, uso a curva com muito cuidado”, disse. Mas ele gosta dos arquitetos modernistas. “Gosto de ir na fonte, nos grandes mestres como Paulo Mendes Rocha e Oscar Niemeyer, Armando de Holanda... Gosto muitos de arquitetos daqui, como Oliveira Junior, Antônio Primo, Antônio Claudio Massa e Ernani Henrique”. Para ele, a arquitetura ideal é a que respeita a cidade, que não é opressiva. “Não é uma arquitetura de muros e cercas, ela é aberta e respeita quem vai usufruir dela. É acolhedora”. Além da arquitetura Quando indagado o que lhe dá prazer além da profissão, ele não titubeia em afirmar que é brincar com as filhas, fazer programas de criança, brincar, correr. Flávia e Júlia são seus maiores projetos já realizados. Daqui a algumas décadas quer olhar para trás e ver que sua trajetória foi toda correta. “Quero ser referência, ser aquele velhinho homenageado”. |LG Fotos : Diego Carneiro e Divulgação
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RESIDÊNCIA MA - “A residência MA foi escolhida por ser a primeira na cidade de João Pessoa após a consolidação do nosso escritório. Seu partido nasceu do desejo da proprietária de vislumbrar a praia do Bessa, sobre a cumeeira de uma casa pré-existente no terreno à beira mar. Por isso, projetamos ela em três níveis, a fim de suavizar a grande altura a ser vencida para acessar o pavimento superior. Com linhas retas e predominâcia da cor branca como desejava a cliente, a casa MA reflete ao observador imponência por seu gabarito, pés direitos altos e largo recuo frontal, ao tempo em que respeita seu entorno com uma arquitetura discreta e elegante. Autor: Ricardo Vidal / Ano do projeto: 2015/ Construção: 2017”. HOSPITAL VISÃO - “Este projeto foi escolhido por ter sido o nossa primeira edificação na área hospitalar. Até hoje recebemos frequentes elogios pelo trabalho, tanto pela rica volumetria quanto pelos aspectos que integram internamente os seus quatro pavimentos. Ao entrar no edifício, o usuário percebe de imediato como está setorizado o hospital e como é o seu funcionamento. Este projeto foi premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil em 2012. Em um terreno relativamente pequeno conseguimos implantar extenso programa de necessidades, que ia do setor de consultórios, administrativo, de diagnóstico e bloco cirúrgico, seguindo também todas as normas pertinentes à uma edificação hospitalar. Com a intenção de manter sua plástica sempre atual e por consequência duradoura, optamos pela utilização de materiais já consolidados no mercado, sempre no esforço de não especificarmos materiais taxados de “tendência”, a fim de render ao Hospital Visão um caráter atemporal. Autor: Ricardo Vidal /Ano do projeto: 2010/Construção: 2012”.
Fotos / imagens: Felipe Trindade e Divulgação
ALPHAVILLE PARAÍBA - “Escolhi este projeto por ter sido o nosso primeiro a ser feito para uma empresa de reconhecimento nacional como o Alphaville. Trata-se dos projetos das edificações comuns do condomínio (guarita, associação de moradores e clube), que tivemos grande satisfação em elaborar, dentro de todos os padrões técnicos exigidos pela marca. Maior alegria é poder visitar as edificações concluídas, executadas sob critérios rigorosos, que seguiram os projetos rigidamente. Sediada em São Paulo, a empresa tem a prática de contratar arquitetos dos locais onde implantarão seus empreendimentos, e ficamos muito orgulhosos com a escolha do nosso escritório. Vemos neste projeto princípios de construção adaptados ao clima e tradições nordestinos, com a escolha de materiais locais e a busca de grandes áreas sombreadas e ventiladas. Autores: Ricardo Vidal e Bruno Trigueiro / Ano do projeto: 2014 / Construção: 2017”.
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RGANIZAÇÃO E DISCIPLINA
As mãos são a forma mais intensa da arquiteta Fernanda Barros se comunicar: são a extensão do que ela pensa e do que fala. Talvez seja um reflexo característico: é pelas mãos que nascem os projetos que viram os sonhos de cada um de seus clientes. “Nunca me vi fazendo outra coisa que não fosse a arquitetura”, diz. Mesmo em uma família ligada ao direito, os pais não interferiram em sua decisão quando decidiu o curso que faria na universidade. “Me fizeram apenas atentar para a realidade da vida de um profissional da arquitetura, que, certamente, exerceria a sua atividade como liberal. Continuei firme na minha escolha. Não me arrependo”. Seu interesse pela arquitetura começa pelos desenhos de criança. “Minhas amigas desenhavam coisas simples, eu já ia aos detalhes, um desenho bem mais caprichado. A arquitetura foi uma opção muito natural”, lembra. No curso de Arquitetura, Fernanda sempre foi extremamente organizada e disciplinada, a ponto de não precisar passar noites em claro estudando ou montando maquetes – o que era comum. Os estágios a fizeram acompanhar o trabalho de profissionais e aprender a prática da profissão. “Tive a oportunidade de estagiar com Amélia Panet e Paulo Macedo, dois escritórios com focos diferentes na área de arquitetura”, conta. “Amélia
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trabalhava mais com interiores na época e Paulo com área de edifícios multifamiliares. Duas grandes oportunidades de trabalho e aprendizado para mim”. A faculdade também marcou uma fase da profissão em que ocorreu uma transição da prancheta para o computador, através do programa Autocad. Apesar de, na época, achar que não ia conseguir aprender a tecnologia, hoje ela domina o programa: todos os seus projetos são pensados e realizados diretamente no computador. Nada mais de rabiscos ou desenhos à mão livre. Além da graduação, ela cursou especializações em arquitetura comercial na Unisinos, em São Leopoldo (RS), Iluminação e Design de Interiores, em São Paulo. Após retornar a João Pessoa, Fernanda resolveu abraçar o sonho de viver de arquitetura. Primeiro, em parceria com Renata Aquino, que havia sido sua colega na faculdade. Desde 2012, toca o seu escritório sozinha, com a colaboração de estagiárias. Vida profissional Na profissão, a criatividade precisa ser equilibrada com a satisfação do cliente. “Gosto muito de criar e deixar em cada projeto o meu estilo, mas tenho consciência de que o fundamental é que o cliente seja atendido no que deseja”, explica. “E aí, sinto-me desafiada. Procuro realizar o sonho do cliente, é muito importante captar as suas expectativas. Para isso, costumo fazer o cliente preencher um verdadeiro questionário. No entanto, temos que saber a hora de explicar ao cliente quando uma coisa que ele quer não dará certo para o projeto, seja pela estrutura ou mesmo aparência”.
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Entre os projetos que considera de maior destaque, está o projeto de uma cobertura para um cliente que morava em outro estado e confiou a ela todo o projeto, de olhos fechados. “Foi uma grande responsabilidade ficar com as chaves da cobertura e deixá-la toda preparada para receber os clientes e também uma grande satisfação saber que eles amaram o projeto”, lembra. Outro projeto que ela lembra como desafiador foi o projeto de uma residência onde ela abusou de ângulos agudos e linhas retas para melhor aproveitamento do terreno. “A residência é de um casal jovem e moderno que desejava uma casa arrojada e funcional. Assim nasceu a ‘casa cinza’”, conta, referindo-se à proposta de cor desejada pelos clientes.
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Inspirações Fernanda tem como inspiração diversos arquitetos internacionais e nacionais: Le Corbusier, Santiago Calatrava, Oscar Niemeyer, Fernanda Marques, Arthur Casas, Roberto Migotto, entre outros. Ela também admira e se inspira em arquitetos da terra, colegas de profissão com mais tempo de experiência, como Sandra Moura, Ana Sybelle Beltrão e Bethânia Tejo. Mas tem sua preferência, no que diz respeito ao estilo: para ela, a arquitetura tem que ser clean. “Existem tendências, mas prefiro os clássicos modernos. Uso muito o vidro, tanto na fachada, quanto em interiores, pois acho que a transparência dá uma leveza”, afirma. “O arquiteto tem que ter a visão aberta ao que se passa nos dias atuais, tem que ser contemporâneo, tem que estar aberto às novas técnicas, às inovações”. Viagens também são uma fonte de inspiração. Ela conta que em cada viagem aprende algo, capta alguma nova ideia. Cada viagem acrescenta algo em seu conhecimento arquitetônico. “Não viajo pensando exclusivamente na arquitetura, mas quando vejo projetos interessantes, a gente guarda na memória”. Casada com um engenheiro pernambucano, o casal resolveu ter duas residências: uma em João Pessoa, outra em Recife. Isto facilitou para que Fernanda atue profissionalmente também na capital pernambucana. Realizada na profissão, quando olha para a própria história encontra alguns conselhos que poderia dar a si mesma mais jovem: “Nem sempre a estrada será fácil, mas seja persistente, sempre faça o seu melhor, pois assim dará tudo certo”. | LG Fotos : Vilmar Costa e Divulgação
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RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR - “Projeto elaborado no ano de 2009 de uma Residência de 712,47 m², localizada em um terreno de 934,41m² em condomínio fechado desta capital. O Projeto foi desenvolvido para clientes jovens e modernos que aceitaram o uso de cores e materiais diferenciados para a elaboração de um conceito clean e chique. A residência consiste em dois pavimentos compostos por: sala de estar e jantar integrados, cinema, quarto brinquedos, cozinha, serviço, garagem para 3 carros, 5 suítes, salão de jogos, piscina e cozinha gourmet. Este projeto desenvolvido juntamente com a arquiteta Renata Aquino foi um grande desafio profissional, onde buscamos um conceito moderno com linhas retas e uma fachada limpa. A utilização da cor chumbo para ser aplicada em toda a fachada, porta amarela, e interior completamente clean, com porcelanato e paredes brancas casam em perfeita sintonia como mobiliário colorido e moderno”. Fotos / imagens: Vilmar Costa e Divulgação
COBERTURA- “No início da minha trajetória profissional, em 2005, fui contratada por um casal de paraibanos que moram na cidade de Roraima, para fazer o projeto de Reforma e Ambientação de um apartamento que eles compraram em João Pessoa para passar as férias. Onze anos depois, em 2016,o casal voltou a me procurar para fazer o projeto da nova cobertura que compraram para as férias. Fiquei bastante feliz, porque o retorno do cliente é sempre algo muito positivo. Assim, começamos o projeto, e ele foi desenvolvido toda á distancia, por meio de fotos e e-mails. A Cobertura possui 400 m², 5 suítes, sala integrada estar, jantar e tv, cozinha, serviço, varanda gourmet. Apesar de ser um apartamento de veraneio, os clientes, um casal de meia idade com 4 filhos, solicitaram um ambiente requintado e clássico. Os móveis modulados precisavam ser de fácil limpeza e manutenção, visto que o apartamento passa a maior parte do ano fechado. Na varanda gourmet ousamos mais um pouco com uma bancada de ônix iluminado”.
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PROFISSIONALISMO EM FOCO
Giovani Andrade nunca imaginou trabalhar com algo que não mexesse com as formas. Desde pequeno, desenhava muito, era fascinado por tudo que envolvia essa área. E isso foi ficando cada vez mais desenvolvido até chegar a faculdade de Arquitetura. Passou todo o curso desenhando a mão, debruçado na prancheta, e só mais no fim do curso encarou reaprender a desenhar com o uso do computador. A turma dele foi a da transição, daquelas que os estudantes tiveram que, ainda um pouco relutantes, encarar esse desafio de trabalhar com o Autocad. Com uma veia forte para o desenho a mão livre, ele até hoje não abre mão das canetas para dar as primeiras formas ao trabalho que depois vai ganhar as texturas em 3D no computador. “No processo de criação, eu não toco no computador, sou da ‘velha guarda’ nesse sentido. Toda a parte de definição do projeto é em desenho à mão livre mesmo. Isso é muito forte em mim. Faço o croqui, digitalizo e o cliente leva. É um charme a mais”, afirma ele. Formado há mais de 10 anos, Giovani é um apaixonado pelo que faz. Ele gostava tanto desse universo, que ele fez vários cursos técnicos de desenho. Estagiou em grandes empresas antes mesmo de cursar Arquitetura. E essa prática foi aprimorando cada vez mais esse dom que tomou conta de sua vida desde cedo.
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Da Universidade Federal da Paraíba, ele lembra com muito carinho dos amigos e também dos professores. “Principalmente daqueles mais exigentes, porque nunca tive medo de críticas. Pelo contrário, acho que isso vai nos ajudando a moldar nosso caráter e nos tornarmos mais fortes, até mesmo profissionalmente”, revelou. Entre tantos, ele cita Amaro Muniz, de quem foi aluno em dois semestres. “Muito do que tem hoje no meu trabalho, tenho consciência que vem dele”, conta. Sempre fui muito mais preocupado com o aprendizado do que com a nota”. Embora crítico e perfeccionista, ele consegue olhar os primeiros trabalhos com ternura e saudade desses anos do começo da carreira. “Quando olho para trás, percebo minha evolução. Até porque, hoje em dia, as soluções são outras. Mas reconheço que venci desafios difíceis, sempre com muita vontade de acertar, e aprendo pra encarar o futuro com muito mais determinação”. Trabalhou muito tempo na Unimed, na Prefeitura de João Pessoa, tinha também um home office, mas sempre com o sonho de ter um grande escritório de arquitetura em João Pessoa. Abriu o primeiro em uma das principais avenidas do bairro de Manaíra, na capital. Mas ainda não era o momento de realizar um grande sonho. Em paralelo aos muitos projetos e trabalhos que surgiam, Giovani planejava alçar voos mais altos. Sonho realizado Planejou, estudou, buscou os caminhos certos e, em 2014, abriu o escritório 360 Arquitetura. Lá, tem a parceria da sócia Andreína Fernandes
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– eles estão juntos há sete anos, desde o escritório anterior. Investiu pesado no marketing, inclusive em campanhas de outdoor, revistas e televisão. “Fazemos tudo a quatro mãos e contamos com uma equipe muito boa, até porque a nossa triagem é realmente feita de forma muito forte e isso tem dado muito certo aqui no escritório”. A parte conceitual dos projetos é desenvolvida por ambos. Depois, ele fica com a parte estrutural e do acompanhamento das obras, e ela com a finalização dos projetos. “Ainda cursei um semestre de Engenharia, mas fugi dos ‘cálculos’. No entanto, gosto demais dessa parte estrutural da construção. E Andreína é extremamente detalhista, então tem um olhar bastante diferenciado para perceber algumas imperfeições nessa parte final das obras, o que é muito útil para nossos projetos”. Como tem um alto nível de exigência com ele mesmo, Giovani acaba cobrando muito também de seus colaboradores no escritório. “Acho que isso faz de todos nós profissionais mais completos, mais atenciosos com um trabalho tão delicado e tão importante como o de fazer um projeto de arquitetura”, contou. No escritório, toda a conceituação vem da conversa com o cliente. “90% do resultado do trabalho vem dos desejos e dos anseios dos donos do projeto, das pessoas que vão usufruir dele depois de pronto. Não sou de fazer grandes textos explicativos antes ou depois do projeto. Mas gosto de fazer um checklist do que quero passar com esse projeto. Me dedico tanto ao trabalho, que não sobra muito tempo para devaneios conceituais. Mas é claro que há uma linha de raciocínio respeitada e embasada. Afinal, tudo tem que ter uma razão de ser para poder dar certo!”. “Diferente de alguns colegas, eu não tenho essa visão romântica de que a arquitetura é uma arte”, adiciona. “Encaro tudo também como um negócio e por isso levo tão a sério o meu escritório. Trabalho quase 12 horas por dia e preciso criar tempo para minha família. Por isso só vou a eventos quando sei que eles são realmente importantes e necessários para o nosso networking. Meu foco é o cliente! É com isso que tenho que me preocupar”. O segredo do sucesso, para Giovani, é planejar, ser bom no que faz, entregar o que promete, com qualidade e no prazo. “Quando as pessoas olham para o nosso escritório e se surpreendem com o nosso tamanho e a importância que conquistamos no mercado, não conseguem ver que isso é resultado de todo o nosso esforço. Não sabem que eu mesmo botei a mão na massa, em pleno domingo, pra fazer as coisas aqui dentro: pra pintar os espaços, montar prateleiras, pra economizar e poder abrir com o máximo de qualidade e o pouco dinheiro que eu tinha no começo”. Retrato 3x4 Giovani é eclético no gosto musical, vai rapidamente do rock ao jazz quando está criando os projetos. Em casa, ele gosta de cozinhar, assistir filmes e séries na TV. Em alguns fins de semana, gosta de reunir os amigos em torno da música e para assistir filmes. “No desfecho de algumas séries, por exemplo, a gente se reúne duas horas antes para fazer uma prévia”. Com uma rotina bem apertada por causa do trabalho, ele se organizou com a esposa Gilsa para poder levar as filhas na escola e estar presente em momentos especiais delas, como em recitais das aulas de música. Para
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dar conta disso tudo, é preciso criar rotinas e Giovani garante que esse é o grande desafio da vida moderna. “Se não organizarmos nossos horários, nossa rotina, não dá certo”. Giovani afirma que é um católico convicto, uma tradição de família. Foi na Igreja que conheceu a esposa. E isso reflete em seu grande objetivo na vida. “Quero deixar minha marca no mundo não como arquiteto, mas como homem. Quero ser um homem de bem, um exemplo para as minhas filhas. A arquitetura é algo que me faz bem, que levanto da cama todos os dias para dar o meu melhor, para fazer o melhor projeto a cada momento. Mas a minha família é o mais importante em minha vida!”. | DC Fotos : Diego Carneiro
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CASA MONTENEGRO (2014)- “A ideia de lar e vida em família foi o ponto central para elaboração da Casa Montenegro, no Condomínio Alphaville – JP/PB. Materiais rústicos, que remetem às mais remotas memórias de uma infância vivida em casa, proporcionam a sensação de acolhimento, e, aliando-se à contemporaneidade das tecnologias atuais, formam uma residência que, nas palavras do proprietário: “é mais que tijolos, tem alma”.
SETOR DE ONCOLOGIA DO HOSPITAL ALBERTO URQUIZA WANDERLEY (2015)- “Na elaboração do projeto do setor de Oncologia do Hospital Alberto Urquiza Wanderley, uma das maiores preocupações foi fazer do ambiente hospitalar um local humano, que contribuísse para a diminuição das tensões e sofrimentos do paciente. Na ala infantil, a proposta foi levar alegria e fazer com que cada criança se sentisse um super-herói na batalha contra a doença”. Fotos / imagens: Divulgação
SKATE PLAZA (2006)- “Fruto do período em que o arquiteto prestava serviço à Prefeitura Municipal de João Pessoa, concretizou-se em 2008 a primeira Skate Plaza construída em espaço público do Brasil. O resultado foi um espaço planejado e seguro para os usuários com 2 mil metros quadrados de obstáculos que simulam as situações reais da cidade, abrangendo do nível iniciante ao profissional, além de toda uma estrutura de apoio com quiosques e estacionamento”.
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ANABEL ALVAREZ 284
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DMINISTRANDO A ARQUITETURA
A criatividade sempre foi uma das características marcantes de Anabel Alvarez. Ainda criança chamava a atenção das pessoas em tudo que fazia, desde os trabalhos escolares até o modo de se vestir. Talvez esse traço marcante da sua personalidade tenha sido um dos ingredientes para que hoje ela seja a arquiteta que se transformou. A vocação para artes, arquitetura e design em todas as suas formas foi um despertar natural. Há 11 anos formada em Arquitetura pelo Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), antes de se entregar à paixão por essa área, ela cursou administração na mesma instituição. “Quando me formei em administração de empresas os amigos sempre me perguntavam porque não fazia arquitetura, já que era tão criativa. Foi aí que entrei como graduada na faculdade de Arquitetura e descobri que poderia me realizar trabalhando em algo que amava e tinha vocação”, disse. Hoje, a experiência como administradora ajuda a ser a arquiteta que se tornou. “A administração é um curso que abre a mente para amplas áreas de atuação, por isso me ajuda mjuito hoje”. Época de faculdade A universidade a surpreendeu positivamente. “Era notório o amor que a maioria dos professores tinham pela arquitetura, e isso com certeza fortaleceu meu laço com a área que é apaixonante”, recordou.
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Já no segundo período da faculdade começou a estagiar com o arquiteto Fábio Queiroz. “Com ele dei os meus primeiros passos na arquitetura e me orgulho de ter tido tal experiência de grande crescimento pessoal e profissional”, revelou. Maturidade Ela conta que com a maturidade profissional começou a enxergar que uma obra não e apenas um ícone de contemplação e beleza, mas que acima de tudo deve contribuir para a qualidade de vida das pessoas. Logo após a graduação em Arquitetura, foi morar em Campina Grande, onde teve a oportunidade de trabalhar com o arquiteto Brilhante Filho – que ela descreve como “outro apaixonado pela arquitetura”. “Posteriormente abri meu escritório e já nos primeiros trabalhos fui bem aceita e hoje me encontro entre os arquitetos mais conceituados da região, possuído trabalhos publicados em revistas de renome nacional e premiada pelo Top 100 da revista Kaza, seis anos consecutivos”, disse, lembrando da premiação por estar entre os arquitetos mais atuantes do Brasil segundo a revista Kaza. A rotina não a atrai. E não ter rotina é uma das coisas que mais gosta na sua profissão. “A única rotina que procuro ter e a constante busca por novidades na minha área, sempre pesquisando e me atualizando para oferecer o melhor da arquitetura para a sociedade. É sempre um aprimoramento da técnica associada a intuição”, comentou. Os projetos A criatividade é um dos componentes fundamentais para um projeto de arquitetura. E para Anabel, a arquitetura está em emocionar e manter-se atual no amanhã. “O meu grande desafio esta em ir além das expectativas do cliente. Com o compromisso em criar soluções diferenciadas e inovadoras”, disse, acrescentando que para criar busca ouvir o cliente e apostar na observação criteriosa das suas necessidades, o que resulta num trabalho com coerência estética, funcional e financeira. As maiores referências de Anabel estão nas viagens que faz e nas incessantes pesquisas por informações inovadoras. “Procuro me espelhar no
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que as pessoas têm de melhor sejam características pessoais ou profissionais”, disse. Na opinião dela, um arquiteto deve ser versátil, e suas criações devem atingir aos mais diversos públicos. Ela disse ainda que aprendeu que a satisfação do cliente é sinônimo da realização profissional. E que a humildade é um pré-requisito para se manter no sucesso. “Por tudo isso, procuro ser humilde, criativa, perfeccionista e comprometida com tudo que faço”, disse. Os projetos do seu escritório abrangem, além de beleza e funcionalidade, a sensibilidade de tratar cada projeto como único, tendo como foco as necessidades do cliente e a conquista de sua confiança. “Tendo isso como principio, posso dizer que não há trabalho que não gostei de fazer, pois busco como pré-requisito me apaixonar pelo que vou desenvolver. Eu aposto em projetos autorais, buscando sempre surpreender”, afirmou. A arquitetura Fazer um projeto que emocione e se mantenha atual no amanhã, tendo como foco as necessidades do cliente e a conquista de sua confiança. Esse é o papel do arquiteto, segundo Anabel. Ela disse ainda que enxerga a arquitetura como um ícone de contemplação e beleza que contribui para a qualidade de vida das pessoas. Apesar de também ser formada em administração de empresas, ela diz que já se perguntou se teria outra profissão que não a arquitetura. “Realmente não teria outra profissão que me trouxesse mais prazer”, disse. Ela lembrou ainda que não é diferente ou difícil fazer arquitetura em uma cidade que não seja a capital, pois Campina Grande dispõe de ótimas lojas, com diversidade de produtos e serviços. Um dos desafios da profissão é o tempo para fazer cada projeto. “Um projeto para ser perfeito precisa de muita dedicação e isso demanda tempo, tornando-se um grande desafio para o profissional, já que a maioria dos clientes sempre pedem rapidez. Mas, meu maior desafio é a busca de mão de obra pela melhor execução do meu projeto”, opinou. Adepta dos tons neutros
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que ampliam o ambiente e trazem uma atmosfera acolhedora, ela diz que a arquitetura vive uma mudança continua e isso e o que mais a encanta na profissão. Única da família “Procurei ter o máximo de experiências em escritórios de arquitetura, e ainda busco especializações na área que escolhi, pois isso facilita e dá uma maior segurança na minha atuação. Por isso não mudaria em nada as coisas que fiz. Todos os acontecimentos foram essenciais para meu aprimoramento pessoal e profissional”, afirmou. Casada e mãe de Antonela e Victor, é a única arquiteta de uma família que tem alguns engenheiros (pai, esposo, sogro e cunhada). Ela é versátil, projetos comerciais, residenciais, corporativos e institucionais estão no seu portfólio. Adepta do cross fit e de viagens, tem um olhar marcante, assim como é a sua personalidade. Bom gosto, estilo e elegância também estão sempre presentes, tanto em seus projetos, como na sua vida. | LG Fotos : Vilmar Costa e Divulgação
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RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR - “A ideia de lar e vida em família foi o ponto central para elaboração da Casa Montenegro, no Condomínio Alphaville em Campina Grande. Foto: Vilmar Costa”.
Fotos / imagens: Vilmar Costa e Divulgação
INTERIORES RESIDÊNCIA“Uma cozinha aberta, bem iluminada e contemporânea”.
ARQUITETURA COMERCIAL - “Projeto para loja com forte valorização das vitrines”.
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FRANCISCO CABRAL
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GOSTO PELA CRIAÇÃO
“Você agora fez a escolha correta. Eu sabia que o seu curso era Arquitetura”. Foi assim que o pai do arquiteto Francisco Cabral recebeu a notícia de que o filho ia trocar o curso de direito. “Meu pai sempre foi muito pragmático”, lembra ele. “Minha mãe, mesmo me apoiando, chorou um tempo”. No fim, o pai estava certo. “Consegui fazer um bom curso de Arquitetura”, lembra ele, que chegou a ser coordenador do curso de Práticas Projetuais, a convite do professor Ernani Henrique Jr. “Eu percebia que as pessoas se desgastavam muito para entender coisas que eu entendia facilmente”. Ele não acredita que tenha saído pronto do curso. “Mas saí convicto de que o que aparecesse, eu faria. Não saí pronto, mas preparado. Nunca neguei um desafio: o que me apareceu, eu abracei e fiz”. Apesar da incursão ao Direito, a vontade de ser arquiteto vem desde cedo. “Engraçado que eu não tive uma referência familiar”, diz ele, lembrando que a mãe o ocupava e ao irmão (que hoje é engenheiro civil) com cursos – alguns de arte. O desenho era um dos interesses do então futuro arquiteto. A mãe ainda fazia a assinatura da revista Arquitetura & Construção e ele já gostava de fazer maquetes como hobby. “Eu já sabia que queria ser arquiteto. Minha mãe comprava cartolina e eu ficava montando, por exemplo, shopping centers”.
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Ele também já tinha consciência das dificuldades da profissão. Mesmo assim, assumiu a arquitetura com amor. “Apesar de topar todos os projetos, eu sempre fui um arquiteto seletivo”, diz. “Nunca gostei muito de quantidade, gosto mais de qualidade. E não gosto da arquitetura resolutiva, gosto do processo de criação”. Já com mais de dez anos na profissão, ele se vê amadurecido no trabalho. “Às vezes eu penso, em ações projetuais: ‘Há dez anos eu não tinha condições de imaginar isso daqui, essa concepção casada com essa solução’”, avalia. “E isso aconteceu realmente com a experiência. Não foi algo que eu vi, não foi um modismo. Foi o tempo. Foi amadurecimento”. Hoje Ele considera, também, que hoje as pessoas estão mais confiantes na sua experiência em aceitar as ideias do arquiteto nos projetos. Uma coisa que ele busca representar no seu estilo de projetar é a brasilidade e elementos que imprimam personalidade. “Acho que nós temos uma arquitetura hoje muito igualitária, repetitiva”, considera. “É difícil você chegar num local, como um condomínio, por exemplo, e identificar um projeto de fato mais diferenciado”. Ele tem realizado mais projetos de residência nos últimos tempos e destaca uma casa com o piso de cimento queimado como um dos projetos onde se aproximou dessa personalidade que ele procura. Mas o divisor de águas são duas edificações projetadas para a imobiliária Hoffman. O projeto, com Flávio Lucena e Patrícia Gouvêa foi criado em 2008, ainda no começo da carreira, premiado em um concurso do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-PB) e rendeu um convite para expor na Bienal Internacional de Arquitetura, em São Paulo. O primeiro projeto para a imobiliária era de difícil solução e grandes desafios: era um terreno atípico, de esquina, pequeno e com um programa de necessidades grande. A Hoffman, anos depois, deixou esse terreno, que era alugado, e construiu uma nova sede em um terreno próprio. E Cabral trabalhou mais
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uma vez no projeto dessa nova sede. Agora em dimensões mais confortáveis, surgiu um prédio maior e também com um conceito arrojado de partido e uso. “Com a maturidade, eu vi que a gente poderia ousar com mais propriedade e fazer uma arquitetura distinta. Com uma identidade mais forte”, afirma. E ele trocou muitas ideias com o proprietário, o que ajudou muito na definição dos usos dos espaços. “Eu dizia: ‘Vamos fazer uma coisa mais dinâmica, não focar só na sua atividade enquanto corretor imobiliário...’”, recorda. “Que a gente possa abrir para as mais diversas possibilidades de mercado. Que tenha a referência da imobiliária, mas que seja multidirecional nesse aspecto”. A imobiliária tem espaço flexível para promoção com exposição de automóveis, café, escritórios de outras áreas, espaço para eventos no subsolo, etc. Lado empreendedor Essa diversificação está presente também nos negócios de Francisco Cabral. Por um tempo ele também foi sócio de uma construtora (com Flavio Lucena) e hoje também é proprietário de uma marcenaria. A sociedade na construtora surgiu com dois anos de formado em arquitetura – e já com
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escritório um mês depois da formatura. Em 2012 surgiu a oportunidade colocar uma marcenaria. Surgiu aí a MOB, também em sociedade com Lucena. Assoberbado com o escritório da arquitetura, a construtora e a marcenaria, decisões precisaram ser tomadas. Lucena decidiu continuar com a construtora e Cabral permaneceu com a MOB, agora junto com o irmão, e a empresa redesenhada. O escritório de arquitetura, que vinha funcionando dentro da marcenaria, se prepara, agora, para voltar a ter uma sede própria, no bairro de Manaíra. E que vai funcionar, de certa maneira, como um showroom da sua empresa.
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É uma preparação para o futuro, um momento em que Francisco Cabral também olha para o passado. “Muitas pessoas me dizem – e eu nunca falei isso com ninguém: ‘Você precisa tirar mais proveito de suas conquistas’”, diz. “E eu realmente sou uma pessoa despretensiosa nesse aspecto. Se eu voltasse no tempo, diria para mim mesmo para ficar mais atento às oportunidades, ao que está na minha mão. Perdi algumas coisas por isso e não pretendo deixar mais escapar”. E por isso, novas oportunidades se avizinham. | RF Fotos : Diego Carneiro
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IMOBILIÁRIA - “A imobiliária Hofmann que tem espaços flexíveis e dinâmicos, abertos para a promoção de exposições e eventos”. Fotos / imagens: Divulgação
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR- “Projeto em dois pavimentos, diferenciado, que reflete bem o meu estilo”.
INTERIORES - “Sala de estar e jantar de apartamento, dentro do conceito clean, onde a qualidade é mais importante que a quantidade”
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LEILA AZZOUZ
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RGANIZAÇÃO E CONJUNTO
É possível notar a praticidade de Leila até mesmo na sua escrita. Traços retos, objetivos, deixando letras e números em paralelo, como que alinhados, somando intensidade à efetividade. E foi justamente a praticidade e a objetividade que fizeram Leila Azzouz trilhar seu caminho pela arquitetura desde cedo e descobrir que sua vocação era materializar sonhos. As brincadeiras de criança, com casinhas decoradas e blocos de montar, já mostravam que a arquitetura estava em sua vida desde o começo. “Eu pensava em ser médica, mas sonhava em ter uma casa da Barbie. Quando ganhei, foi a maior frustração, era tudo de plástico e eu queria de madeira. Foi quando eu ganhei uma nova, com varandinha, portinha. Sem falar que sempre gostei de montar, de fazer casa. Começou minha paixão assim”, revela Leila. Mas um dos incentivos mais importantes que Leila recebeu para se decidir pela arquitetura veio por parte de sua mãe. Além de desenhar muito, sempre tinha acesso às revistas de arquitetura que a mãe comprava, bem como a presença constante de arquitetos como Expedito Arruda e Jussara Dantas, que estavam sempre fazendo reuniões em razão de reformas na casa e na construção da casa da praia da família. “Minha mãe queria fazer Arquitetura, mas não fez porque o curso não existia em João Pessoa, só em
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Recife. Não sei se por isso, ela gostava de fazer muita reforma e deixou em mim o gosto por pranchetas, lápis e caderninho”, explica a arquiteta. Universidade Aos 16 anos já sabia que não ia seguir os passos do pai, como médica, nem da mãe, dando aulas na universidade. Começou a cursar Arquitetura no Unipê e afirma esse ter sido um período marcante em sua vida. “Me apaixonei, me dediquei ao curso e ficava noites sem dormir. É um curso que não tem como levar com a barriga. Tem de fazer projetos, é uma evolução, não dá para terceirizar. Quando se vai fazer o projeto, começa da planta baixa e vai subindo a alvenaria. Na faculdade acontece essa mesma sequência”. Leila fala com efusividade do tempo de estudante e lembra de histórias que compartilhou com seus amigos de turma. “Tudo era uma festa, tinha muito trabalho, mas era sempre motivo para se dedicar mais. Restauração, projeto e urbanismo. Era o quinto período e a gente chamava de ‘quinto dos infernos’. A gente passava de um projetinho no quarto período para fazer um hospital no quinto. Nos divertimos muito, mas éramos todos disciplinados”, assegura. Durante o curso, um dos pontos mais altos foram seus estágios. “Estagiei com Gilberto Guedes e sou muito fã dele. Detalhamento com ele é excepcional. Antônio Cláudio Massa e Ernani Henrique Jr., eu admiro, foram meus professores”, destaca, ressaltando também o período em que ficou na Cehap. “Foi um período que exigiu muito de mim. Como ninguém mexia no Autocad, sobrava para mim e eu acabava levando trabalho pra casa. Não tinha como ser diferente, a responsabilidade era enorme, eram quilômetros de obra e não poderia ter um erro”. A arquiteta enfatiza, no entanto, que o período mais difícil foi produzir a monografia, por ser um trabalho solitário. Mas, mesmo com toda essa correria, se formou em 2006. Cursou um mestrado em Lisboa na área de Urbanismo, voltando ao Brasil um ano e meio depois. “Quando voltei, vi o que eu queria não era
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lecionar, era estar na área de escritório. No começo é dificil , mas quando você começa a fazer, você aprende com todo mundo”, lembra Leila, assegurando que uma das melhores formas de se aprender e estimular a criatividade é através da conversa entre as pessoas. Escritório No escritório, dividia uma sala com Leonardo Maia. Mas, pouco depois, foi para uma sala só sua e uma equipe começou a se formar. “As pessoas estagiavam comigo e permaneciam. Para mim, o escritório só funciona em equipe. Quem está por trás de um projeto é a dedicação deles e a minha, é um conjunto. Não quero dar as soluções sozinha, quero que eles pensem também”, argumenta. A personalidade gregária e o estímulo para a participação na criação de projetos por parte de todos fez com que Leila montasse uma equipe de arquitetos, diferente de muitos outros escritórios no estado. “Todo dia você aprende, com mestre de obra, cliente, colega”, conta. “Chego todos os dias feliz, não tenho que reclamar da vida. Tenho o estresse, mas só no num nível que me ajuda a trabalhar, uma ferramenta”. Para a arquiteta, cada profissional que trabalha no escritório oferece sua contribuição para melhorar o conjunto, seja organizando as tarefas, a relação com os clientes, ou trazendo novas ideias. Mas, acima de tudo, estar sempre procurando novas formas de aprender é o que faz a criatividade estar sempre ativa. “Quando você viaja, traz um mundo de volta na bagagem. Desde pequena eu viajava, gosto de ir a locais que eu não conheço, ou ir a locais que conheço para provocar um outro olhar”. Visão da arquitetura Leila Azzouz optou pela arquitetura para, segundo ela, ter o traço criativo muito forte em sua vida. “A visão tem de ser mais ampla. A arquitetura faz com que você respeite mais os outros. Não almoço em casa, pois até no almoço eu estou trabalhando. Gosto de ideias e gente, de trocar experiências. E sou acessível para receber boas contribuições”, destaca Leila e complementa: “Quem tem ideia fixa é doido, quem quer aprender tem de estar disposto a aceitar novas ideias. De todas as fontes, sozinho você não faz nada na vida”. A hiperatividade também é uma constante na vida de Leila. Dormindo apenas quatro horas por dia, ela divide seu tempo entre a família e o escritório. “Sempre fui muito danada. Sou hiperativa e odeio dormir, vou dormir à 1h e acordo às 5h, só paro quando a coluna cervical pede. Sinto o maior prazer em vir ao escritório, em vir pra cá realizar sonhos. Quando estou sem o que fazer, o que é difícil, venho pra cá, inclusive no domingo. Acho que é a parte que mais gosto, sem ter ninguém aqui ou o telefone tocando”. Inspirações Uma das maiores inspirações de Leila é o alemão Mies Van Der Rohe, que é, segundo ela, “o arquiteto mais admirável na vida”. Ela também cita Le Corbusier e diz se inspirar em tudo, desde Zaha Hadid, até o que encontra nas redes sociais. “Hoje em dia você tem muito mais acesso
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sem sair do lugar, basta um computador e um mouse, por isso é fácil avaliar vários estilos”. Aplicativos, computadores, tablets e mesas de desenho, além dos programas para elaborar projetos. Em todas as reuniões com clientes, os traços iniciais são digitalizados por Leila e enviados simultaneamente via e-mail, para registro e tomados como base para os projetos, além de referências com fotos das reuniões externas. A praticidade e acessibilidade potencializam as ações diárias do escritório da arquiteta, mas ela afirma que não consegue criar apenas no digital. “Não consigo conceber só no computador, tenho que usar o papel. Quando converso com o cliente – uma conversa extensa, mas sem enrolação – já tenho um briefing preparado e então passo a conhecer coisas particulares dele, como se ele gosta de cozinhar ou de ler. Conheço o terreno e vou ao local. A partir daí eu desenho tudo, onde vai ter cada coisa, escritório, circulação”, explica. “O entorno me influencia, não consigo pensar num projeto sem ir até lá. Quando faço a planta baixa, já sei como vai ser o projeto inteiro, já imagino tudo em 3D. Uso o Autocad e Sketchup e muito desenho à mão e tenho uma agenda online onde marco tudo que eu fiz, todos os meus prazos”.
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Organização Após esse processo inicial, todo o restante do projeto passa a ser acompanhado pelo cliente. “Procuro fazer com que todos os meus projetos sejam organizados, com um detalhamento bacana. Isso faz com que as pessoas elogiem muito a equipe. E isso é reproduzido muitas vezes. A organização é a base”, conta. Essa organização acaba sendo um pouco do seu dia a dia, do tentar planejar, ver o que está pendente, controlar projetos, pagamentos, por isso temos acompanhamento até de reuniões. Com a organização, produzimos mais e conseguimos projetar mais. A sintonia com a equipe é tão boa, que eles conseguem entender até mesmo de um desenho sem muita elaboração”, enfatiza a arquiteta. Leila vive e respira a arquitetura, ama pesquisar, viver e viajar, mas não abre mão do contato cotidiano com outras áreas e pessoas. “Tudo que vejo e faço, eu faço com o olhar da arquitetura, mas falo sobre outras coisas, convivo com outras áreas. Por isso, tudo é um desafio”. A arquitetura, para ela, é muita intuição, tem de sentir muito o cliente, tem de estabelecer essa ligação. “Na hora de projetar eu uso muito a intuição, a técnica vem só depois. Hoje os estagiários utilizam muito mais a técnica do que eu. Eu dou o passo inicial e eles conseguem seguir”. Justamente essa objetividade, essa organização, nas palavras de Leila, faz com que ela seja uma profissional muito melhor do que foi há cinco anos e é o que, provavelmente, a fará ainda melhor daqui a 10 anos. “A gente aprende todo dia com a vida, com gente, com tombos. Você vai crescendo e aprendendo, sempre”. | AL Fotos : Vilmar Costa
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INTERIORES HOTEL “Esse projeto tem em destaque uma escada helicoidal no lobby do Hotel Manaíra”.
INTERIORES RESIDÊNCIA“Conceitos clássicos e atemporais de cores neutras pontuam esse projeto de ambientação”.
Fotos / imagens: Divulgação
R E S I D Ê N C I A UNIFAMILIAR “Uma casa contemporânea, com volumetria bem marcada e iluminação de destaque”.
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LEONARDO MAIA
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OMPENDO FRONTEIRAS
Em poucas palavras, Leonardo Maia já mostra que é fruto de uma mistura de curiosidade e praticidade, sempre em busca de respostas que resolvam de imediato suas inquietações. Desde cedo já sentia uma conexão com tudo que é relativo a lápis e papel. “Sempre gostei de desenhar, desde criança. Gostava de desenhar carros, personagens infantis, retratar situações cotidianas da escola, fazer caricaturas”, lembra o arquiteto. Sua personalidade inquieta o levou aos cursos de Direito e Administração, mas foi justamente a curiosidade que o fez migrar para o curso de arquitetura, para redescobrir sua conexão com o lápis e o papel. “Eu já sentia que tinha essa ligação muito forte com a arte e o desenho. Esse interesse em saber como toda essa coisa funcionava era muito forte ”, explica Leonardo. Quando finalmente começou o curso, descobriu que tinha mais afinidade com as disciplinas práticas, que, segundo ele, o colocavam mais perto de satisfazer a curiosidade que tinha de descobrir a relação dos edifícios e avenidas, de como esses elementos iriam se comunicar com as pessoas. “Eu tinha uma preferência especial pelas cadeiras que levassem para fora das quatro paredes da sala de aula. Tudo que tendia para a esfera prática eu gostava”.
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Desta forma, o restauro, que levava ao contato direto com os edifícios tombados e fazer estudo deles, as aulas de urbanismo e as demais disciplinas que levavam ao contato direto eram mais intensas para Leo. “Tivemos a oportunidade de ter excelentes mestres, que são referência até hoje, a exemplo de Antônio Cláudio Massa, Ernani Henrique Jr e Oliveira Jr. Tivemos uma escola de qualidade realmente, bem estruturada e com um corpo docente muito bom”, complementa. Durante o período de estágio, Leonardo teve duas experiências que o marcaram bastante. Passou seis meses com Sandra Moura e cerca de um ano com Bethania Tejo. “O estágio foi super importante, é onde se tem os primeiros contatos com clientes e fornecedores. Foi aí que foi possível entender na prática como funciona a arquitetura, mas, principalmente, a questão de prazos”, ressalta, enfatizando o ganho de experiência com responsabilidade. “Na faculdade a gente leva isso com mais tranquilidade. Só no estágio é que a gente começa a sentir que o impacto do deadline profissional. A gente aprende a ter muita disciplina. No profissional, não dá para fazer reposição”, afirma. Começo profissional Após se formar, Leonardo abriu um escritório dividindo espaço com Leila Azzouz, sua colega de universidade, por cerca de três anos. “Com o tempo, foi muito natural a transição. Chegamos a ter duas salas no mesmo prédio e, como tínhamos clientes distintos, conseguimos ter o próprio espaço”, conta Leonardo. Com a experiência e o reconhecimento do mercado, Leonardo sentiu que precisava de uma estrutura que humanizasse mais sua equipe. “Foi quando tive essa oportunidade vir para o prédio da Imobiliária Hoffman, há dois anos”, afirma. “A sinergia é muito grande com a Hoffman, fruto de amizade, parceria e um respeito muito grande. Não hesitei quando ele falou que tinha a laje livre, deu muito certo. Acabou por se tornar uma grande família, onde um fomenta negócio para o outro”, comemora. O arquiteto afirma que o espaço foi elaborado pensando no colaborativo e na interatividade. “Não há barreiras, as pessoas se sentem à vontade para participar. É a filosofia do nosso trabalho: colaboratividade, integração e um espaço leve, em que você realmente se sinta bem em criar”, salienta.
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Leonardo enfatiza que o trabalho de seu escritório está cada vez mais pautado em pesquisar para projetar para que a edificação dialogue com a cidade da melhor forma possível. “Temos pesquisado mais essa coisa da gentileza urbana, de projetos que dialoguem com a cidade de forma amigável, respeitosa, de como as pessoas se conectam com esses edifícios, buscando o máximo de porosidade, luminosidade e permeabilidade nas edificações. Acho importante que tenha a parte social no nosso trabalho”, explica. Referências “É inegável que a paleta de materiais que utilizo em minhas obras, e que são grandes inspirações para mim, são Márcio Kogan, Isay Weinfeld, Arthur Casas, toda essa turma”, enumera suas referências. Na esfera internacional, menciona o escritório dinamarquês Bjarke Ingels Group (BIG) como um prodígio, bem como o francês Jean Nouvel, a iraquiana Zaha Hadid e o suíço Jacques Herzog. No entanto, assume sua predileção pela arquitetura oriental. “Tadao Ando, Toyo Ito, Kengo Kuma. Posso dizer que os meus grandes influenciadores, além dos brasileiros, são essa turma da arquitetura japonesa. Eles expressam um minimalismo genial, que eu adoro”, revela. Na arquitetura de interiores, Leonardo tem um gosto voltado ao estilo italiano. “São eles que influenciam tudo que está sendo feito, principalmente Piero Lissoni. Destaco também o brasileiro João Armentano”, menciona. Na hora de projetar A inquietude de Leonardo vale também para o momento de projetar. Ele destaca que não possui um método específico. “Existem duas grandes metodologias. Uma é a de dentro para fora e a outra é de fora para dentro. Na primeira pegamos um grande insight, um conceito, e levamos para a arquitetura, só então para depois resolver dentro. E também existe aquele trabalho que você precisa primeiro resolver uma necessidade para partir para o exterior. Quem vai determinar é a necessidade do projeto, é ele quem vai ditar qual a melhor metodologia”, esclarece.
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Leonardo começa eminentemente todos os seus projetos no papel. “Nunca abandonei o traço. Pode até ser na caneta digitalizadora, mas tenho sempre o meu bloco de papel e mil canetas. Desse processo intuitivo da mão, não consegui me soltar. O insight à mão é obrigatório”, salienta. Ele conta que a natureza o inspira e que consegue sempre extrair alguma coisa dela para levar pra arquitetura, inclusive para interiores. Mas lembra que outros três elementos são importantes para o processo de inspiração do arquiteto. “A própria música traz alguns insights, quando chega em momentos de relaxamento. As viagens são imprescindíveis para qualquer arquiteto, você conhece outras culturas, realidades, e pode adaptar. O terceiro fator é a tecnologia: por estar cada vez mais intuitiva e cada vez mais acessível e democrática, facilita no campo do trabalho e no tocante à pesquisa”, enumera. E faz questão de seguir os caminhos trilhados pelo avanço tecnológico que considera irreversíveis. “Impressões em 3D, maquetes holográficas, óculos 3D. Temos um caminho à frente em que a interface é um elemento cada vez mais dominante”, pontua. Novos projetos Com 11 anos de experiência profissional, já conseguiu potencializar sua carreira com projetos como o do restaurante Nau, de Natal (RN) e trabalhos na área de hotelaria, e hoje se prepara para ampliar seus horizontes. “Meu plano é que o nome do escritório ganhe o mundo e se internacionalize. Em 10 anos eu espero já ter isso consolidado Para isso eu estou reforçando o estudo de línguas como o italiano, espanhol e o inglês, além de preparar o escritório para a plataforma BIM, com o Revit. “Já tenho trabalhos em São Paulo, Brasília, Miami, Recife, Natal, mas a pretensão é que isso seja ampliado ainda mais”, afima. “Eu acredito que o lado mais humano deve estar presente nos projetos. Temos muito a dizer com a arquitetura que a gente produz aqui e temos muito a dizer para outras cidades. Se não tivermos nada a dizer, sem um propósito, nada vale a pena”. | AL Fotos : Vilmar Costa
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NAU NATAL - “A grande nave principal alça voo no terreno em desnivel, sobre uma cascata em ardosia que recebe um suave banho ate a agua repousar em um reservatorio plano”.
YBY NATUREZA - Condominio Horizontal em Natal. O escritorio é responsável pelo projeto arquitetonico dos equipamentos comuns. Respeitando a topografia natural do terreno da propriedade, o clube da foto em questao repousa sob o solo sem toca-lo, apenas pelos seus pilares, dando leveza e fluidez ao edificio. Assim, começamos o projeto, e ele foi desenvolvido toda á distancia, por meio de fotos e e-mails. A cobertura possui 400 m², 5 suítes, sala integrada estar, jantar e TV, cozinha, serviço, varanda gourmet. Apesar de ser um apartamento de veraneio, os clientes, um casal de meia idade com 4 filhos, solicitaram um ambiente requintado e clássico. Os móveis modulados precisavam ser de fácil limpeza e manutenção, visto que o apartamento passa a maior parte do ano fechado. Na varanda gourmet ousamos mais um pouco com uma bancada de ônix iluminado”.
Fotos / imagens: Divulgação
R E S I D E N C I A L UNIFAMILIAR - “Com uma linguagem atemporal e o uso de materiais em sua mais pura forma, a casa em dois lotes tem como ponto alto esse muxarabie em madeira, que resgata a nobreza do material e se transforma em uma segunda pele para a fachada”.
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QUIPE JORNALISMO
RENATO FÉLIX
ALEX LACERDA
Renato Félix nasceu no Rio de Janeiro, em 1973, e mora em João Pessoa há mais de 30 anos. É jornalista formado pela Universidade Federal da Paraíba e começou na imprensa pelo caderno cultural dos jornal A União. Depois foi, por sete anos, repórter do caderno de cultura do Jornal da Paraíba. Desde 2010, é editor de cultura do jornal Correio da Paraíba. Nos três veículos – todos de João Pessoa – escreveu e editou matérias sobre todas as áreas artísticas, mas escreveu principalmente críticas e reportagens sobre cinema e quadrinhos. Já apresentou o programa de rádio Trilha Sonora, na Tabajara FM, e fez participações na TV. Atualmente também é colaborador da revista Preview, a principal sobre cinema no país, e do site Universo HQ, principal no Brasil sobre quadrinhos. É o editor de jornalismo da revista Artestudio. É casado com a jornalista Larissa Claro. O casal têm um filho: Arthur de 3 anos. É membro da Associação Brasileira dos críticos de Cinema(Abraccine) e um dos autores dos livros”Os 100 Melhores Filmes Brasileiros” e “100 Documentários Brasileiros Essenciais”.
Formado pela UFPB em Jornalismo e em Direito pela Unipê, Alex Lacerda atua na área de jornalismo há 20 anos, tendo trabalhado, como editor de página, repórter, assessor de imprensa e mídia social. Alex foi professor no curso de Jornalismo da FIP durante cinco anos, onde ministrou várias disciplinas de cunho prático e teórico sobre o jornalismo. Nos últimos anos, atua também na área de publicidade, tendo gerenciado agência e produzido conteúdo para empresas regionais, nacionais e internacionais, como a Devir Livraria, CNA, Governo do Estado da Paraíba, Energisa e Escola Saga. Nascido em Conceição, no interior do sertão paraibano, vive hoje na cidade de João Pessoa, cidade que ama e escolheu viver com seus três filhos após ter morado nas cidades de Goiânia e Manaus. A leitura é a sua principal paixão, seguida de perto pelo cinema, jogos de tabuleiro, café e felinos.
Fotos : Diego Carneiro
DÉBORA CRISTINA
LIDIANE GONÇALVES
A jornalista Débora Cristina tem 20 anos de Jornalista, artista, pessoense que tem carreira. Neste tempo, já passou por vários meios orgulho de ter sido criada na terra de Augusto de comunicação: impresso, rádio, TV, site e revista. dos Anjos:Sapé. Lidiane Gonçalves é jornalista, Começou como repórter do jornal O Norte, onde formada pela Universidade Federal da Paraíba, especialista em Redação Jornalística, com curso logo depois passou a ser chefe de reportagem. em Gerenciamento de Crise e cursando MBA em Quatro anos depois, passou a ser produtora da TV Cabo Branco e editora no Jornal da Paraíba. Gestão em Mídias Sociais. Atualmente, permanece na TV Cabo Branco, onde Formada em 2004, durante a graduação é editora do Bom Dia Paraíba e de Rede. Também participou de grupos de pesquisa sobre o cotidiano é diretora de Jornalismo da Rádio Tabajara. E, dos jornalistas, sendo coautora de dois livros sobre o assunto. Premiada com o terceiro lugar com muito orgulho também, faz parte do time de repórteres da Revista Artestudio. no II Prêmio Criança PB, Lidiane já trabalhou Débora tem três filhas: Bárbara, Mariana em grandes jornais do estado e em assessorias e Alice. Com elas, costuma fazer o que mais gosta: de comunicação. Há 14 anos integra o Grupo de viajar, ir ao cinema, shows musicais e ao teatro. Teatro Espírita Emcena. Apaixonada por jornalismo, a experiência com a revista Artestudio a fez se apaixonar também pela arquitetura.
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Bontempo João Pessoa • Rua Professora Severina Souza Souto, 207 • 318
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“Não te deixes destruir… Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.” Cora Coralina
Editora geral e organizadora: Márcia Barreiros Editor de jornalismo Renato Félix Redação: Alex Lacerda, Débora Cristina, Lidiane Carneiro, Renato Félix e Audaci Júnior Projeto gráfico George Diniz Produtor de arte: Mavi Fotografias: Diego Carneiro e Vilmar Costa Impressão: Gráfica JB Todos os direitos desta edição reservados pela ARTESTUDIO, ARQUITETURA, COMUNICAÇÃO, DESIGN E EDITORA, LTDA Rua Tertuliano de Brito, 348 – Bairro dos Estados 58030-044 - João Pessoa, PB Tel.: +55 (83) 3021-8308 Impresso no Brasil pela Gráfica JB. Ano 2017
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