Ano IX nº 34
Jun / Jul / Ago 2011
arquitetura, decoração, design, arte e estilo de vida
www.artestudiorevista.com.br
ENTREVISTA COM JAMILE TORMANN
Especialista em iluminação de casas de espetáculos conta as particularidades desse trabalho
ARTSCIENCE MUSEUM
Projeto em Cingapura é um convite para conhecer o país asiático
ESPERA AGRADÁVEL
Projeto de Fernanda Barros e Renata Aquino buscou conforto na reforma de uma clínica médica
PARA SE SENTIR EM CASA
Reforma transformou uma residência em boutique com projeto assinado por Ana Luisa Azevedo, Fabiana Furtado e Rosana Mayer
LIVRARIA HI-TECH
Prateleiras virtuais e tótens de autoatendimento são apostas do projeto de Sabrine Santos
MORADIA DE
CINEMA
Diego Revollo captura atmosfera dos filmes em loft paulistano
E mais: decoração para quartos de bebês, a história da caneta e iluminação de ambientes comerciais 3
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Editorial
Colaboradores desta edição
A palavra é autenticidade
Márcia Barreiros
Diretora executiva e arquiteta
George Diniz Diretor de criação
Diego Carneiro Fotógrafo
Wellington Costa Assist. produção
Autenticidade é algo que pode se tornar uma marca poderosa e duradoura. A edição deste mês traz várias histórias em que isso pode ser comprovado. A mais conhecida delas provavelmente é a da garrafa da Coca-Cola, um dos objetos de design mais famosos do mundo – e que, por isso, estréia a nossa seção sobre o assunto. Também foi a autenticidade a característica responsável pelo sucesso da jornalista Rachel Sheherazade. Ao fazer um comentário polêmico – mas, sobretudo, honesto com o que pensa – sobre o carnaval na bancada do telejornal que apresentava em João Pessoa, ela ganhou notoriedade nacional e chamou a atenção de ninguém menos que Sílvio Santos. Resultado: menos de quatro meses depois, estreou no comando do principal telejornal do SBT. A característica também não falta a Nairon Barreto. E se o nome por acaso não for familiar, leitor, você certamente o conhece pela identidade nem tão secreta assim de Zé Lezim. O humorista deixou para trás as divisas paraibanas, brilhou na Escolinha do Professor Raimundo e faz rir multidões nos palcos do Brasil. O Monsieur Hulot é, sem dúvida, um, dos personagens mais autênticos do cinema e fez suas observações satíricas sobre a arquitetura modernista no clássico Meu Tio, filme que analisamos nesta edição. E, claro, autenticidade é o que não falta aos projetos que apresentamos neste número da ARTESTUDIO. Pode ser do outro lado do mundo, como o ArtScience Museum, de Cingapura, ou aqui do Brasil mesmo como os trabalhos de arquitetura, interiores e iluminação deste trimestre.
Renato Félix Editor e jornalista
Alex Lacerda Jornalista Débora Cristina Jornalista
Larissa Claro Jornalista
Neide Donato Jornalista
Wendell Lima Jornalista
Boa leitura!
Amélia Panet Arquiteta
ARTESTUDIO Juarez Carneiro Fotógrafo
Cacio Murilo Fotógrafo
Edu Cop Publicitário
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ANÚNCIO VERONA
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Sumário
Jun / Jul / Agosto 2011
ENTREVISTA JAMILE TORMANN
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Foto Capa: Alain Brugier
Especialista em iluminação de casas de espetáculos conta as particularidades desse trabalho
ARTIGOS EM EVIDÊNCIA 16
Amélia Panet analisa a desconstrução de ROMA
VIDA PROFISSIONAL 18
Eduardo Cop fala sobre macroambientes
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VÃO LIVRE
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ESPECIAL
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NACIONAL
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INTERNACIONAL
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SALA DE ESPERA AGRADÁVEL
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PARA SE SENTIR EM CASA
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LIVRARIA HI-TECH
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MORADIA DE CINEMA
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Ênio Padilha questiona: Arquitetos e engenheiros são muito diferentes!?
JORNALISMO Aprender a Ver: novo livro traz toda a experiência do light designer Howard Brandston
PROJETOS
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Parque Dona Lindu: após polêmica, local se destaca como área verde na orla recifense
ArtScience Museum: projeto em Cingapura é um convite para conhecer o país asiático
A busca pelo conforto na reforma de uma clínica médica
Reforma transformou uma residência em boutique
Na Casa Cor 2011, livraria teve prateleiras virtuais e totens de autoatendimento
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Diego Revollo captura atmosfera dos filmes em loft paulistano
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Jun / Jul / Agosto 2011
DICAS & IDEIAS
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QUARTO DO BEBÊ
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Como recepcionar melhor o novo morador da casa
A HISTORIA DE... 80
Caneta: da civilização suméria ao espaço sideral
MATERIAIS 82
Adobe: bom para baratear as construções e ecologicamente correto
ILUMINAÇÃO COMERCIAL
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Luz para deixar os clientes de uma loja bem à vontade
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CONHEÇA DESIGN 64
A garrafa que é uma assinatura
ACERVO 68
Comando Geral da Polícia Militar: prédio centenário já teve diversos usos
ARQUITETURA E ARTE 74
EXPEDIENTE Diretora executiva - Márcia Barreiros Editor - Renato Félix , DRT/PB 1317 Redatores da edição - Alex Lacerda, Débora Cristina, Neide Donato, Larissa Claro, Wendel Lima e Renato Félix Diretor de criação - George Diniz Diretora comercial - Márcia Barreiros Arte e Diagramação - George Diniz / Welington Costa Fotógrafos desta edição - Diego Carneiro, Juarez Carneiro e Cácio Murilo Impressão - Gráfica JB A revista ARTESTUDIO é uma publicação trimestral, com tiragem de 8 mil exemplares de distribuição gratuita e dirigida. A reprodução de seus artigos, fotografias e ilustrações requer autorização prévia e só poderá ser feita citando a sua fonte de origem. As colaborações e artigos publicados e fotos de divulgação são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não comprometendo a revista, nem seus editores. Contato : +55 (83)
3021.8308 / 9921.9231
Meu Tio: Como a comédia viu a arquitetura modernista
VIAGEM DE ARQUITETO 84
A cidade italiana de Saló é uma joia histórica à beira de um lago
SOCIEDADE EXPRESSÃO NACIONAL 78
Nairon Barreto: o sucesso nos trejeitos do Zé Lezin
OUTRAS ÁREAS 76
Rachel Sheherazade: a opinião fez a diferença
ESTILO DE VIDA 88
Valdelice Campelo se define como uma pessoa madura
co nt ato a r te s t u d i o @ y a h o o. co m . b r R. Tertuliano de Brito, 338 B - 13 de Maio, João Pessoa / PB , CEP 58.025-000
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Artestudio Márcia Barreiros
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Entrevista
Jamile Tormann Show nos bastidores Especialista em iluminação fala sobre as especificidades de trabalhar com a arquitetura de casas de espetáculos
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rabalhando há 21 anos com casas de espetáculos, Jamile Tormann, arquiteta, especialista em iluminação e designer de interiores, é uma referência quando se fala em projetos de iluminação. Mestre em arquitetura e urbanismo pela UnB, Jamile é autora do livro Caderno de Iluminação: Arte e Ciência e sóciafundadora de três associações: a Associação Brasileira de Iluminação Cênica (AbrIC), a Associação Brasileira de Iluminação (Abil) e a Associação Brasileira de Iluminação Profissional (Abrip). Com experiência de quem sabe sobre o que está falando, Jamile revela para a ARTESTUDIO nesta entrevista as peculiaridades de trabalhar em uma área tão específica e que leva em consideração principalmente a emoção das pessoas. Ela defende o aumento da produtividade a fim de contemplar a relação que se estabelece entre o indivíduo e o mercado empregador, em seus diversos contextos de desenvolvimento e diz que é preciso atentar para o baixo custo de implantação do sistema e
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redução do consumo energético. Jamile fala entre outras coisas sobre seus projetos e as mudanças que ocorreram no mercado nos últimos anos.
ARTESTUDIO – Há quanto tempo você trabalha com arquitetura de casas de espetáculos? JAMILE TORMANN – Trabalho desde 1989. Comecei prestando consultoria em iluminação para empresas de engenharia, pois nasci no teatro e trabalho com iluminação cênica também há 21 anos. AE – Quais os principais fatores que devem ser levados em conta ao desenvolver um projeto de arquitetura de casas de espetáculo? JT – A diferença é a flexibilidade que uma casa de espetáculo deve ter, o tamanho do programa de necessidades, que é muito maior que as demais arquiteturas em geral. E, fundamentalmente, que o projeto é para os outros, para o uso e apropriação “dos humanos” e suas diversidades culturais. E este é sem dúvida o que mais me dá prazer em projetar estes espaços. AE- Como é seu processo criativo? JT- Meu processo de desenvolvimento de projetos é sempre criar o espaço a partir do programa de necessidades de uma casa de espetáculos. Encontrar a função e o significado destes espaços na cidade onde ele será implantado ou na reforma. Depois, analiso os recursos disponíveis e quais podem me auxiliar a desenvolver o projeto da caixa cênica mais flexível e funcional possível para as companhias de teatro, dança, shows e outros que se apresentarão neste espaço. Ou seja, só depois parto para as especificidades de cada situação (local, prazos, objetivos, espaço, estrutura física, outros profissionais envolvidos, tipos de equipamentos, materiais disponíveis).
AE – Quais os principais fatores que devem ser levados em consideração? JT – Primeiro: cuidado e atenção. Tento pensar em várias possibilidades e achar soluções eficientes para o projeto. Pois não existe uma solução apenas e, sim, uma para cada projeto. Projetar em escala e fazer o que está ao nosso alcance, com os pés no chão. Projeto que não executado é sonho, não é realidade. A realidade, ou seja, a implantação do projeto de arquitetura de uma casa de espetáculos é o parâmetro que nos permite delimitar o “circulo infinito” da criação, da contemplação, da reflexão, da mudança. AE – E depois? JT – Segundo: observar onde o projeto estará inserido, sob que contexto, que cultura. Que tipo de espectador ou usuário estará se apropriando dele, o quanto e como se apropria, o quanto compreende os seus signos e valores, o quanto aquele espaço é importante no cotidiano de vida dele. O projeto, ao ser executado, deve convidá-lo a frequentar o espaço. Eu acredito que a luz (as tecnologias de iluminação de cada época) influenciou e influencia a vida e o comportamento das pessoas. Gosto de projetar pensando nestas questões e o quanto posso intervir e interferir neste percurso. Procuro conhecer as pessoas para projetar ou reformar, tento me familiarizar com o “modus operandi” delas. Observo muito e fico calada. Depois, troco ideias com o engenheiro calculista, o eletricista e tento trabalhar dentro da realidade local, agregando valor àquela cultura. Terceiro: projeto coerente ao orçamento, para que possa ser realizado integralmente. E, por fim, a escolha dos equipamentos de iluminação que
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“Eu acredito que a luz (as tecnologias de iluminação de cada época) influenciou e influencia a vida e o comportamento das pessoas” compõem a caixa cênica (abertura de facho, desenho do facho, alcance em metros da luz, potência de luz [lumens] e temperatura-de-cor) em virtude dos fatores visuais e do leque de possibilidades que devemos viabilizar para aqueles que farão uso do espaço. AE – Quais os projetos que você considera marcante em sua trajetória? JT – Todos são importantes e contribuem muito em nossa trajetória, mas tenho muito carinho pela Casa de Cultura Mario Quintana em Porto Alegre (RS), pois acompanhei com meu mestre, João Acir. Além dos últimos projetos executados. O Teatro Goiânia, porque fiz tantos trabalhos como iluminadora neste teatro que ter a oportunidade de “consertar” alguns problemas e depois voltar a trabalhar como minha equipe, sabendo que eu fui responsável pela reforma da caixa cênica foi muito bom. Até porque ao conversar com os engenheiros eu conhecia todos os problemas que as equipes que vinham de outros estados brasileiros enfrentavam, as plantas estavam na minha retina. O Teatro Sete de Abril, em Pelotas (RS), porque ele é lindo, as pranchas são bonitas. E, por fim, o Teatro José de Alencar, em Fortaleza (CE), que recentemente levei meus alunos de pós-graduação para visitar, sendo que fazia 12 anos que foi reformado com a equipe da Sole e Castro Engenharia e meu mestre João Acir. AE – Quais são as principais novidades e opções disponíveis no mercado e o que elas podem agregar nesses projetos de arquitetura de casas de espetáculo? JT – Os equipamentos evoluíram muito nos últimos 10 anos. Eu uso as tecnologias como recurso. Sempre como recurso, como solução técnica. Neste caso a tecnologia agrega valor ao projeto, pois contribui para soluções eficientes com custos
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geralmente menores, seja na conta de luz (eficiência energética), seja na aquisição do equipamento: quantidade versus qualidade, seja na sua beleza, sua estética, sua história. As principais novidades são: a diversidade de tamanhos e formatos que os artefatos de iluminação adquiriram, graças às tecnologias e pesquisas óticas, além do emprego dos LEDs (Diodos Emissores de Luz) e OLEDs (Diodos Orgânicos Emissores de Luz). As mesas de luz digitais e o sistema de rack digitais melhoraram muito. Os materiais e acabamentos são outra grande novidade além do recurso tecnológico de acústica combinados à estética e aos materiais antirreflexivos e antichamas, que também evoluíram. Creio que os avanços em pesquisa e tecnologia dedicados sobre (ou para) as casas de espetáculo mereçam maior atenção, e nesse sentido estimulo meus alunos de pós-graduação a desenvolver pesquisas teóricas e tecnológicas para contribuir com o desenvolvimento do setor. Outra novidade são os sinalizadores e os diversos tamanhos de luminárias para iluminar plateia e as áreas que não são alocadas no palco, e que permitem uma maior autonomia para se projetar, e, ainda, o seu reator eletrônico que permite dimerizá-las e enviar os circuitos para a mesa de iluminação durante os espetáculos. AE – Com tantas opções o que é mais importante observar? JT – Penso que existe equipamento compatível para a diversidade de projetos, onde se consideram, em cada um, as necessidades técnicas, as intenções estéticas e aquilo que o orçamento permite viabilizar. Neste caso, o que se precisa saber para projetar é muita desenvoltura artística e técnica, prática e teórica, tendo em vista os avanços tecnológicos e os altos custos dos equipamentos de iluminação, bem como a sua manutenção. Quando não se tem este conhecimento recomendo que se contrate um profissional para atender às necessidades do projeto, e pessoal qualificado para manter após a obra ou reforma. Senão de nada adianta os investimentos que devem gerar retorno a longo prazo. Texto: Neide Donato Fotos: Divulgação
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Em Evidência
Amélia Panet
arquiteta
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A desconstrução de ROMA
oma já foi o centro do mundo na antiguidade. Urbanizada às margens do rio Tibre, e segundo o mito romano, fundada pelos irmãos Rômulo e Remo, a cidade derrama seu esplendor arquitetônico em suas ricas ruínas do seu império. Tendo uma longa história, Roma já viveu de tudo, foi do apogeu à queda, lutou contra as forças da natureza, foi do dilúvio ao fogo e reergueu-se em todas elas. Em sua beleza, Roma é uma cidade confusa para um arquiteto formado pelos eixos modernistas. Mas desperta desejos na sobreposição de épocas, como um palimpsesto reaproveitado várias vezes, repleto de entrelinhas secretas. Não deve ser fácil governar Roma, como disse Argan em seu Roma Interrompida: “É mais fácil projetar as cidades do futuro do que as do passado. Roma é uma cidade interrompida. porque deixou-se de imaginá-la e começou-se a projetá-la (mal). Em Roma, é mais uma questão de tempos do que de espaços”. Isso é verdadeiramente percebido em Roma. Os tempos justapõem ao espaço. E nesse álbum de história registram-se exemplares de todas as épocas. Conhecidos como herdeiros da arquitetura grega,
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Coliseu em Roma
com uma tradição construtiva lógica, elevada por seus componentes significativos, os romanos não pararam no tempo. Espalhadas pela cidade, arquiteturas de outros períodos surgem das pedras, registrando o tempo e os novos paradigmas. De Vitruvius à Argan, de Moretti à Nervi, ou do renascimento ao racionalismo italiano, Roma continua colecionando o tempo, materializado em exemplares da arquitetura. Mesmo assim, e conscientes dessa “condição romana” é bizarra a sensação que temos, quando acabamos de visitar o Coliseu e nos deparamos com o Maxxi, o Museu Nacional de Artes do Século 21, da arquiteta iraquiana Zaha Hadid, conhecida pela corrente desconstrutivista da arquitetura. Não posso fazer trocadilhos com as ruínas de Roma, mas Hadid desconstruiu Roma. Não consigo deixar de admirar as obras dessa arquiteta, ou da sua equipe (pois, por mais poderosa que seja, ela não faz aquilo tudo sozinha). Mas sem dúvida os seus desejos estão expressos naquelas formas. Além de arquiteta, Hadid é formada em
Fotos: Divulgação
Arquiteta: Zaha Hadid
matemática e sabe bem unir os dois campos de conhecimento em suas formas complexas e topológicas. Embora existam obras atuais de Renzo Piano, Richard Meyer, entre outros, Roma registra definitivamente em seu território o mundo contemporâneo da arquitetura com o Maxxi. Resultado de um desafio colocado pelo Ministério da Cultura italiano em 1999, o projeto de Hadid ganhou de 273 escritórios do mundo todo recheado de estrelas como Jean Nouvel, Rem Koolhaas e Toyo Ito. Distante 3 km da Praça São Pedro, próximo ao rio Tibre, o projeto possui uma sinuosidade que desnorteia o
visitante. Implantado em terreno de formato “L” o projeto atravessa de um lado ao outro o quarteirão, proporcionando uma permeabilidade visual e conectando vários pontos da região. Ao passarmos pelo terreno, somos convidados a entrar, envolvidos por uma atmosfera de curiosidade e acolhimento, pois um grande vazio resultante da sobreposição de suas linhas sinuosas nos puxa edifício adentro. Nas pesquisas realizadas para o projeto, Zaha Hadid registra que o conceito espacial do projeto evoluiu para a afluência de linhas, onde a força preliminar do local está representada pelos planos que se entrecruzam e se separam criando espaços de “dentro” e de “fora”, como uma fita de moebius. De fato percebe-se essa intenção quando se adentra ao edifício pelo seu hall central. Um enorme espaço entrecortado por feixes de luz e sinuosas superfícies que atravessam o vazio em forma de escadas e passarelas suspensas. Não é possível parar de olhar, essa viagem cinética pela arquitetura nos leva a um mundo dinâmico de formas que se contorcem e afluem distribuindo os espaços sem confiná-los. Não existem quatro paredes no mundo de Zaha Hadid, a circulação é contínua e fluida com luzes que guiam e formam a própria arquitetura. A concretude da arte é minimizada pela porosidade do espaço formado por canais largos, as galerias, e estreitos, as circulações. Imagino a Zaha com um feixe de tubos na mão moldando-os e direcionando-os de acordo com a trajetória e as entradas de luz. Uma estrutura linear explorada pelas torções e densidades. Hadid está no caminho da desmaterialização da arquitetura.
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Vida Profissional
Marketing
Eduardo Cop
Profissional de marketing
N
Análise de cenários - Macroambiente
o último artigo entendemos como determinar a variável vocacional e vislumbramos muito trabalho pela frente. A primeira etapa desse trabalho é a análise de cenário dos três principais ambientes nos quais nossa empresa ou nossa atividade profissional está inserida, ou seja, o macroambiente, o ambiente competitivo e o ambiente interno. Vamos agora trabalhar para entender cada um deles, como se relacionam e como afetam nossa atividade profissional e empresarial. O macroambiente, por definição, é o ambiente sobre o qual não temos controle. Observamos a evolução da tecnologia, as alterações da legislação, as mudanças nos valores sociais, os eventos naturais, o comportamento da economia e, mesmo assim, não temos como interferir diretamente sobre esses acontecimentos. Mas qual é o nosso trabalho, então? Mesmo sem poder interferir, todos os fatores exercem influência sobre nossa atividade. Devemos acompanhar com muita atenção e tomar as providências necessárias para minimizar os aspectos que afetam negativamente e, principalmente, buscar as oportunidades que se apresentam. Seguem os principais ambientes que compõem o macroambiente: - Ambiente demográfico: é o estudo da população humana em termos de tamanho, localização, densidade, idade, sexo, ocupação e outros dados estatísticos. Este ambiente é de grande interesse para os profissionais de marketing porque envolve pessoas, e são as pessoas que constituem os mercados. - Ambiente econômico: os mercados dependem tanto do poder de compra como dos consumidores. Este ambiente consiste em fatores que afetam o poder de compra e os hábitos de gasto do consumidor. - Ambiente natural: inclui os recursos naturais que os profissionais de marketing usam como subsídios ou que são afetados pelas atividades de marketing. - Ambiente tecnológico: é talvez a força mais significativa que atualmente molda nosso destino. A pesquisa e o desenvolvimento são supernecessários em uma empresa. - Ambiente político/legal: as decisões de marketing são seriamente afetadas pelo desenvolvimento do ambiente político. Este ambiente é constituído de leis, agências governamentais e grupos de pressão que
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influenciam e limitam várias organizações e indivíduos. - Ambiente cultural: é constituído de instituições e outras forças que afetam os valores básicos, as percepções, as preferências e os comportamentos da sociedade. Dessa forma, o macroambiente consiste em forças sociais e naturais que afetam a vida profissional e empresarial de todos nós. O ambiente demográfico é uma importante força ambiental, visto que compreende a população e suas tendências de distribuição, composição, características regionais e diversidade cultural e o ambiente econômico é possivelmente a força mais volátil a afetar os negócios. Embora o seu impacto possa ser dramático, sobre ele não é possível exercer controle, devemos nos antecipar aos fatos, exercendo previsões econômicas coerentes e as mudanças tecnológicas decorrentes das inovações frequentes podem tornar produtos ou processos de fabricação obsoletos; entretanto, os recursos tecnológicos podem constituir-se numa poderosa vantagem competitiva no mercado atual. As preocupações ambientais cresceram muito nas duas últimas décadas e o ambiente natural é assunto mundial de maior importância tanto para as empresas tanto como para o público, assim como as decisões de marketing também são fortemente afetadas por desenvolvimentos no ambiente político e legal, que é composto de leis, órgãos governamentais e grupos de pressão que influenciam e restringem as ações das empresas. O ambiente político é um grande limitador as organizações e indivíduos. As incertezas e as constantes mudanças do ambiente de marketing afetam profundamente os profissionais e as organizações, que tanto podem mudar de forma lenta e previsível, como podem produzir grande surpresa e choque. Portanto devemos estar permanentemente orientados para monitorar os ambientes com o objetivo de descobrir novas oportunidades, desenvolver vantagens competitivas e auxiliar o crescimento profissional e organizacional. Resumindo, devemos acompanhar o mundo que nos cerca e procurar a melhor maneira de atuar em nossa vida profissional e empresarial, para podermos interagir forças dentro do ambiente competitivo, assunto que abordaremos na próxima edição.
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Vão livre
Água e vinho Arquitetos e engenheiros são muito diferentes! Ênio Padilha
Engenheiro formado pela UFSC e mestre em administração pela UNIVALI
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uais são, afinal, as principais diferenças e semelhanças entre engenheiros e arquitetos? Engenheiros possuem um aguçado senso prático, enquanto os arquitetos possuem refinado senso estético. O arquiteto vê o mundo como um cenário de sensações. Ele explora o mundo e as possibilidades. O engenheiro vê o mundo como uma intrincada rede de problemas a serem equacionados e resolvidos. O arquiteto é um explorador. Um desbravador de horizontes. Ele sempre procura ampliar o limite. Ele vê uma cerca e diz “vamos atravessá-la”. O engenheiro vê a mesma cerca e pergunta “como fazer para que as coisas caibam dentro do cercado?”. O arquiteto aceita o risco não tem medo de estar errado. Talvez porque o erro, na arquitetura, tem um tipo de consequência diferente das consequências dos erros na engenharia. Um erro, na arquitetura, significa um prédio feio, mal dimensionado, sem o sol no lado certo, com problemas de ventilação... Coisas importantes, sem dúvida. Mas nada disso mata! Um erro, na engenharia, coloca vidas e patrimônios em risco! Arquiteto não aceita passivamente as regras. Ele luta contra elas, enquanto acredita que existe um jeito diferente de fazer a coisa. E o arquiteto sempre acredita que existe um jeito diferente de fazer e construir qualquer coisa. O arquiteto valoriza o belo! Ele acredita que tudo o que precisa ser construído pode ser feito de forma bonita. O arquiteto acredita que a beleza não tem preço. E sofre quando o cliente (ou engenheiro) sacrifica a beleza da obra projetada por conta de restrições financeiras. Engenheiros e arquitetos têm em comum a personalidade competitiva. Lidam bem com o fato de serem avaliados como pessoas e como profissionais. Não se incomodam com classificação em categorias. Isso já vem de antes da faculdade, quando, geralmente, participam de processos seletivos disputados; engenheiros e arquitetos são planejadores. São profissionais que tem o futuro como objeto de trabalho. Desenham soluções que afetam o futuro e lidam bem com essa perspectiva. A visão espacial (a capacidade de antever, na sua mente, a coisa projetada) também é uma característica comum às duas partes. Arquitetos são visuais. São afetados pela estética, pelas formas, texturas e cores. Expressam-se com facilidade utilizando recursos visuais como o desenho, a pintura, a escultura e a fotografia. Os engenheiros são
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auditivos. Seu raciocínio lógico faz com que eles aceitem melhor as explicações descritivas. Expressam-se com facilidade através de fórmulas, gráficos e definições matemáticas. Há quem diga que o arquiteto é vaidoso. Mas o engenheiro também é. Mas a vaidade dos dois tem natureza diferente. Enquanto nos arquitetos a vaidade se manifesta sob a forma da busca pela fama e visibilidade, os engenheiros apresentam uma forma de vaidade intelectual. Gostam de serem reconhecidos pela inteligência e, não raro, sentem-se constrangidos (pouco à vontade) em ambientes que não dominam intelectualmente. O engenheiro se vê (e quer ser visto) como alguém que sabe tudo e entende de tudo. O arquiteto gosta de aparecer. E o engenheiro gosta de ser notado. O engenheiro gostaria que sua capacidade intelectual fosse reconhecida o tempo todo. O arquiteto gostaria de ser recebido na obra por fotógrafos e jornalistas. O engenheiro é adepto da disciplina, do pragmatismo e da legalidade. O arquiteto valoriza a criatividade e a invenção. São algumas semelhanças e muitas diferenças entre esses dois profissionais. Identificar e entender essas diferenças é fundamental para obter os melhores resultados dessa relação absolutamente inevitável. Se, além de identificar e entender, os profissionais souberem tirar proveito dessas diferenças, para o bem do resultado final, estará caracterizada a vitória da inteligência e do bom senso. Engenheiros e arquitetos precisam ter, para a outra parte, um olhar mais generoso. É preciso não apenas perceber as diferenças, mas perceber que as diferenças podem tornar o outro melhor e mais útil para certas atividades. A engenharia brasileira deve muito à criatividade e à ousadia dos grandes arquitetos. Grandes projetos de arquitetos brasileiros como Oscar Niemeyer, por exemplo, desafiaram a engenharia e deram aos engenheiros a oportunidade de mostrar o seu valor. A arquitetura brasileira, por outro lado, deve muito à competência e à capacidade dos nossos grandes engenheiros. Sem eles, alguns arquitetos poderiam ter tido bons projetos engavetados por serem considerados inexequíveis. Eu conheço alguns casos concretos. Você não? Os e-mails para essa seção devem ser encaminhadas com o nome,profissão e telefone do remetente para :
contatoartestudio@yahoo.com.br
Nacional
Fenda verde na muralha de concreto Apesar de toda a polêmica, o Parque Dona Lindu é um espaço de lazer em meio aos edifícios da orla recifense
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m 2008, a capital de Pernambuco foi dividida por uma polêmica referente à construção de um novo parque no bairro de Boa Viagem. A obra, projetada pelo célebre arquiteto Oscar Niemeyer e batizada de parque Dona Lindu, em homenagem à mãe do ex-presidente da república Luís Inácio Lula da Silva, foi motivo de diversos protestos por parte da população recifense. Chamado de “Taj Mahal” pelo ex-prefeito de Recife e responsável pelo desenvolvimento da obra, João Paulo Lima e Silva, o projeto do parque
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foi idealizado em resposta às reivindicações da população de Boa Viagem, que sentia falta de um espaço arborizado na região, quase que completamente tomada por edifícios. De acordo com representantes da Associação de Moradores de Boa Viagem, Setúbal e Pina, os três bairros vizinhos ao parque, a disposição de área verde em toda a região é de 0,7 m² por morador. Localizado entre as avenidas Boa Viagem e Visconde de Jequitinhonha, o espaço de 33 mil m² à beira mar agora ocupado pelo parque pertencia
à Aeronáutica e foi cedido à prefeitura de Recife pelo Governo Federal. De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo do Recife, os terrenos do Parque Dona Lindu poderiam ter sido ocupados por edifícios que provocariam um impacto permanente e diário no trânsito do local, e reduziriam ainda mais a ventilação nas ruas e avenidas anteriores ao verdadeiro muro de concreto que já compõe a orla sul de Recife, tomando toda a paisagem. A prefeitura, entretanto, optou por atender ao apelo popular e construir o parque, que conta atualmente com ciclovia, pistas para cooper e skate, quadra poliesportiva, playground, áreas para descanso e ginástica, lojas e pátios, além de um moderno teatro coberto, com capacidade para 587 pessoas a palco reversível, com paredes que abrem para a área externa. Há ainda um pavilhão para exposições de arte, restaurante, sanitários, fraldário e central técnica. Apesar de funcionar muito bem como área de lazer e centro turístico e cultural, a queixa da população local, ao conhecer os detalhes do projeto, foi de que faltava ao parque exatamente aquilo que foi o objetivo de sua construção: área verde. Segundo os moradores, todo o complexo, com seus muitos prédios, palcos, e playgrounds, estava mais
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para um centro de eventos do que para um parque propriamente dito. Em resposta aos protestos do público, a equipe de Niemeyer fez diversas modificações no projeto. Atualmente, além do gramado, o parque dispõe
de 3 mil espécimes vegetais, entre elas palmeiras, coqueiros, ipês roxos, paus-brasil, acácias cubanas, craibeiras, felícios, lagestromias, paus-de-formiga, mororós, jasmins, filodendronias, guiambês, orelhas de onça, clúsias, ciças, lírios, panamás vermelho e rosa, ixoras, açucenas e barras de serpente. Do terreno total do parque, 16.300,20 m² são de área verde, perfazendo 60% de sua extensão, enquanto que a área construída chega a 6.280.65 m². A polêmica, entretanto, não para por aí. Orçado em 18 milhões de reais, o parque Dona Lindu custou aos cofres de Recife 37 milhões, levando à prefeitura municipal a ser acusada de superfaturamento. As obras foram paralisadas em mais de uma ocasião por ações judiciais. Causa desconforto ainda o fato de o parque ter sido batizado com o nome da mãe de Lula, em um gesto que os muitos críticos do então prefeito João Paulo Lima acusam de ter sido uma homenagem imerecida com fins meramente políticos. Os méritos dessa e de outras questões, contudo, são ofuscados pelo próprio parque, obra de Niemeyer que agora se destaca na orla recifense, uma fenda verde na muralha de concreto que bloqueia o litoral sul da capital pernambucana. Texto: Wendell Lima Fotos: Divulgação
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Internacional
A flor de lótus de Cingapura O ArtScience Museum encanta os visitantes de um dos países mais prósperos do sudeste asiático
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ma mão aberta para dar boas vindas aos visitantes de Cingapura”. É assim que vem sendo chamado o novo ArtScience Museum, no país asiático, uma impressionante estrutura que simboliza a relação harmoniosa entre a modernidade do século XXI e as tradições clássicas do oriente. Localizado no Resort Marina Bay Sands, um luxuoso complexo turístico à
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beira mar formado por restaurantes, hotéis, shopping centers, cassinos e diversas outras atrações, o museu foi projetado pelo renomado arquiteto Moshie Safdie, e é o primeiro do mundo dedicado a estabelecer um intercâmbio entre a produção artística e cultural da humanidade com as conquistas científicas e tecnológicas que moldaram a nossa história.
A partir da estrutura circular do museu se projetam dez extensões apontadas para o alto, similares a “pétalas”, o que confere ao prédio o aspecto de uma flor de lótus se abrindo. A mais alta dessas extensões, também referidas como “dedos”, eleva-se a 60 metros acima do solo e cada uma delas é revestida de enormes painéis de aço inoxidável e encimada com amplas clarabóias, através das quais
luz natural incide nos ambientes internos do museu. O formato côncavo do teto, por sua vez, permite que a água das chuvas seja drenada por um óculo central e canalizada na forma de uma impressionante queda d’água de 35 metros, que atravessa o átrio central do museu e se derrama em uma piscina interna. Esta mesma água é então reciclada para uso nos banheiros, o que, associado
ao uso ostensivo da luz natural, contribui para a sustentabilidade do museu, que é um dos princípios fundamentais de todo o projeto. A estrutura assimétrica do ArtScience Museum é suportada por dez colunas e por uma elaborada rede de aço em treliça apoiada em um ponto central, cuja forma se assemelha a uma cesta de basquete. Esta rede acomoda as forças geradas pela curvatura acentuada do edifício, e faz com que todo o complexo passe uma impressão de leveza, com a cobertura parecendo pairar acima da edificação. Contribui para essa impressão o fato do museu ter sido o primeiro prédio a ser construído utilizando como revestimento o GFPR (Glass Fibre Reinforced Polymer), um material usado originalmente para a construção de embarcações esportivas, como lanchas de corrida e iates, que possibilita a superfície uniforme, contínua e brilhante dos “dedos”. O ArtScience Museum conta com 21 galerias distribuídas em um espaço de 6 mil metros quadrados. O museu dará lugar principalmente a exposições visitantes de outros museus, mas há uma exposição permanente dividida em três galerias, denominadas “Curiosidade”, “Inspiração” e “Expressão”. As exibições itinerantes incluem no momento exposições sobre Genghis Khan, Salvador Dali, Van Gogh, além de uma apresentando antigos tesouros de arte. Todas estas exposições, bem como as que virão, estão vinculadas à proposta do museu de estabelecer pontes entre a ciência e a arte. O Singapore ArtScience Museum já é um dos marcos na paisagem deste pequeno país do sudeste asiático que, apesar de sua área reduzida (710,2 km²), é atualmente uma das nações mais modernas e prósperas do mundo. O museu busca simbolizar esta prosperidade, evocando as conquistas e realizações
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do passado e do presente da humanidade a fim de inspirar as nossas realizações futuras. É um objetivo grandioso, mas o arquiteto Moshie Safdie, idealizador do projeto, acredita que sua obra está à altura. Para ele, “do interior ao exterior, cada elemento do ArtScience Museum reforça a filosofia da instituição de criar uma ponte entre as artes e a ciência. O projeto combina o estético com o funcional, o visual e tecnológico e para mim, representa o espírito visionário de Cingapura”. Texto: Wendell Lima Fotos: Divulgação
Arquiteto: Moshie Safdie Projeto: ArtScience Museum
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Ambientação
Delicadeza e simplicidade, mas com muito estilo O quarto do bebê deve privilegiar, claro, o bem estar da criança, mas não precisa abrir mão da estética
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eceber o resultado positivo de um exame de gravidez é uma das maiores alegrias para as mulheres que desejam ser mãe. E entre as muitas alegrias que ela vai ter, uma delas é escolher tudo para decorar o quarto dessa pessoa tão importante que vai chegar. Logo após descobrir o sexo do nenê já se começa a pensar nas cores que serão utilizadas no enxoval, no tipo de móvel que vai compor o ambiente, nas cortinas, etc.
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O mais indicado é que você comece a se organizar com bastante antecedência, pois são muitas as escolhas a se fazer. O ideal é que o quarto esteja todo pronto até o sétimo mês de gestação. Depois desse período é comum a mulher se sentir muito cansada, sendo difícil percorrer todas as lojas que você pretendia anteriormente. A arquiteta Cristina Evelise, que está grávida, dá uma dica importante: “Primeiro de tudo, é preciso
Projeto do decorador Alain Moszkowicz
saber o sexo do bebê e quantos são. Tanto para definir as cores e tons, como para saber, em caso de gêmeos, quantos berços haverá no quarto”, ensina. Já o decorador Alain Moszkowicz reforça que “não deve faltar o ar lúdico que o novo morador sempre exige e a mágica ao local, do mais simples aos mais elaborados recursos. A funcionalidade nunca deve ser esquecida nesse caso, tanto para o bebê quanto para a mãe”.
Num enxoval de bebê, além das roupinhas, mantas, toalhas de banho, lençóis e fraldas, não pode faltar o enxoval do quarto. Para o berço: colcha, protetores laterais e das cabeceiras, bandot e mosqueteiro. Para a cama de apoio: colcha, almofadões e almofadas; cortina ou persianas com black-out. “Mas antes de fazer essas escolhas, é necessário saber antes o tamanho do quarto – com sua planta baixa exata, pé-direito, altura de portas e janelas, local do ar condicionado, etc. – para se desenvolver um bom layout, com as dimensões adequadas e proporcionais dos móveis, onde se distribuam de forma apropriada berço, cama de apoio (com ou sem bicama), cômoda com trocador, guarda-roupa, cadeira para amamentar (com ou sem mesa lateral)”, explicou Cristina. “Temos ainda os detalhes: papel-de-parede ou apenas pintura, luminárias (teto e abajur), forro em gesso e/ou rodateto, tapete (dispensável), bandeja com garrafa térmica mais potes para água, algodão e cotonetes, lixeira. E os equipamentos complementares: bebêconforto, carrinho-para-passeio, banheira, babá eletrônica, conjunto de malas”. E essa distribuição dos móveis pode fazer toda a diferença, principalmente com relação ao berço do bebê. “Ele não deve estar sob janelas, nem em frente às portas, a fim de ficar protegido de eventuais correntes de ar e da insolação direta. Tampouco o berço deve ficar sujeito à incidência direta do ar condicionado, caso exista”, afirmou Cristina. Funcionalidade e conforto ambiental são pontos fundamentais no projeto do quarto, para o bem estar do bebê, que vem em primeiro plano; já a estética deve assumir um papel secundário, não significando, no entanto, que ela não tem importância. Mas certamente ela é menor. Já Alain informou que o principal erro que se pode cometer ao planejar um quarto de bebê é esquecer a funcionalidade e o tamanho do ambiente existente, ou seja, o mobiliário deve acompanhar os espaços disponíveis. A climatização deve também ser bem pensada para não agir diretamente sobre a criança. “Para a iluminação eu gosto muito do recurso do dimmer, ou seja, regulagem de intensidade luminosa, por isso os leds são muito bem vindos”, reforçou. Para Alain, as principais diferenças dos quartos de bebê de antigamente para os de agora, são poucas. “Eu diria que diferenças existem, mas não muito porque o lúdico sempre esteve presente. Fico muito contente em sempre fazer elaborações com papel de parede que cria atmosferas muito legais para esse tipo de ambiente”, disse ele. Quando o assunto são as cores do quarto, normalmente, no caso de meninas, costumam predominar os tons considerados femininos, como rosa, lilás, salmão, vermelho, vinho; e para meninos,
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Mais dicas para decorar o quarto de bebê: – Planeje a distribuição dos móveis. Eles devem ser práticos e revestidos com materiais laváveis. O ideal é não colocar muitos móveis, pois facilita o aparecimento de poeira, o que provoca alergias nas crianças. – Os principais móveis são berço, cômoda (para ser utilizada como trocador e guarda-roupa), a poltrona para amamentar, e lixeira. – Procure deixar o berço da criança afastado da janela, pois assim ela não leva muito vento. Assim, faça uma linha reta da porta até a janela e descubra a rota da ventilação. Depois, é só afastar o berço desta rota. os tons considerados masculinos, como azul, verde, marrom, bege, cinza. Mas hoje em dia a questão das cores está menos “preconceituosa”. O uso delas de acordo com o sexo do bebê não é uma regra rigorosa e as misturas são bem vindas, conferindo um ar mais contemporâneo ao quarto. Por isso é permitido combinar com harmonia. Por exemplo, para meninas: rosa com bege e verde; ou lilás com rosa e marrom. Para meninos: azul com amarelo e cinza; ou verde com marrom e bege. Já nos casos de gêmeos, quando houver os dois sexos, pode-se usar, por exemplo: a combinação clássica de tons de rosa e azul, ou amarelo e verde; ou ainda para um resultado mais moderno, vermelho, azul, amarelo e verde. Quanto às tendências mais fortes, temos o mix de várias padronagens de tecidos, fazendo um composê de estampas, onde pode-se misturar florais, bolinhas, xadrezes, listras, etc., procurando-se é claro harmonizar o resultado a partir de nuances de cores que se complementem (tanto para tecidos, quanto para papéis de parede, ou aplicação de adesivos). No entanto, deve predominar uma cor clara para os móveis e os tecidos principais do enxoval do quarto, como o branco, o marfim ou o bege (o uso do tecido piquet ou fustão, neste caso, ainda é uma tendência atual, combinado com as demais cores sugeridas). Cristina Evelise disse, ainda, que, quando a casa ou o apartamento não tiver um cômodo só para o bebê, o berço deve ser acomodado no quarto dos pais ou do(s) irmãozinho(s), observando as questões já mostradas nessa matéria. Mas desde que seja um ambiente salubre, silencioso, arejado e que conte com boa iluminação natural. “Quanto ao enxoval, seja do bebê ou do quarto, independente do custo financeiro, sempre será mais valoroso se for feito com muito amor e carinho para receber o bebê, um ser que é incondicionalmente sinônimo de vida, benção e luz”, finalizou a arquiteta. Texto: Débora Cristina Fotos: Diego Carneiro e Divulgação 34
– Deixe um espaço vago no meio do quarto do bebê, assim quando estiver maior a criança se sentirá mais à vontade para brincar. – Paredes livres ou portas que recebem cestas de basquete e adesivos de amarelinha no piso estimulam o gosto por brincadeiras que exercitam. – Experimente colocar um equipamento de som no ambiente, pois a música pode servir para marcar a hora do banho, do sono, do passeio. Isso é muito importante para as mães se comunicarem com os bebês, que assim ficam sabendo a próxima atividade da sua rotina. – As cores suaves, tanto nas paredes quanto nos objetos do quarto, passam calma e tranquilidade para o seu bebê. – Os espelhos ajudam no desenvolvimento do seu bebê, pois ao se olhar, fazendo gestos, ele vai descobrindo as formas e os movimentos. Use espelhos colados na parede, o que evita alguns riscos. – Tapetes só se forem de borracha e antialérgicos, como também devem ser as cortinas removíveis e laváveis. – Os móveis devem ser sem quinas e o piso revestido de vinil ou laminado plástico para também evitar poeira e oferecer mais segurança para a criança.
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Arquitetura
Conforto e modernidade Objetivo alcançado na reforma em uma clínica médica
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T
odo mundo que já teve que esperar algumas horas para ser atendido num consultório médico sabe bem que é preciso ter paciência para fazer passar esse tempo de forma tranquila e sem perder o bom humor. Foi pensando em fazer dessa espera um momento mais agradável que os donos de uma clínica médica, o cirurgião plástico Fábio Lucena e a dermatologista Suzana Kilian, convidaram as arquitetas Renata Aquino e Fernanda Barros para fazer um projeto de reforma. A clínica já funcionava neste local, porém sua área interna de recepção e espera não eram bem aproveitadas. “A reforma foi realizada para ampliar essas áreas e trabalhar melhor a fachada. Os proprietários da clínica desejavam um ambiente aconchegante e requintado, onde o paciente pudesse ter todo o conforto enquanto esperasse ser atendido”, explicou Renata. Na fachada, as arquitetas optaram por linhas retas e limpas. Foi utilizado o Itabond, que são placas em alumínio, de fácil manutenção e longa duração, conforme o pedido dos clientes, que queriam materiais com essas características. E este material confere à fachada um ar bem elegante. Elas também delimitaram a porta de entrada com um pórtico em alumínio pintado de branco e vidro jateado. Foi utilizada uma iluminação específica para a fachada, com luminária de piso, conferindo uma iluminação up light (de baixo para cima). Já na sala de espera, elas decidiram separar a área onde os clientes estariam aguardando atendimento (a sala de espera) da bancada de recepção e porta de entrada (a área de recepção), local que tem uma grande circulação de pessoas. Assim, quem estiver esperando terá menos acesso ao movimento de entrada da clínica, tornando, assim, a sala de espera um ambiente mais tranquilo. “Essa separação foi feita por uma coluna onde está a televisão. Essa coluna foi toda revestida de papel de parede, e para evidenciá-la ainda mais, utilizamos o mesmo papel de parede em um rasgo no teto de gesso”, diz Fernanda, complementando que na sala de espera a iluminação geral é indireta, tornando o ambiente mais agradável. Mas além de trabalhar o ambiente para ficar mais aconchegante, as arquitetas também buscaram soluções de entretenimento aos pacientes. E foi aí que
surgiu o grande diferencial. “Nas clínicas de João Pessoa o mais usual é o uso apenas da televisão. Porém buscamos usar também a internet como forma de entreter o paciente. É mais um agrado ao paciente oferecido pela clínica, já que, enquanto espera, ele pode fazer qualquer coisa na internet, ler e-mails, resolver assuntos pessoais, tornando assim o tempo melhor aproveitado”, afirmou Renata.
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Logo ao chegar, o cliente se surpreende com uma recepção envolvente, com cores neutras, sóbrias e elegantes. Os móveis foram escolhidos na cor preta com tratamento em laca e madeira de demolição de cor clara. O sofá de espera e tapete são em tons cinzas. Toda a mobília foi pensada para ter uma fácil manutenção, visto que o fluxo de pessoas é bem intenso. Por isso a opção por cores escuras nos móveis, o tapete com um material emborrachado e o sofá de um material de alta resistência. As cores mais quentes foram utilizadas apenas em objetos de decoração, inclusive na tela da artista plástica Romeika.
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Texto: Débora Cristina Fotos: Diego Carneiro
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Foto: Divulgação
O projeto surpreendeu os clientes, que, no início, ficaram temerosos em usar cores escuras num ambiente que não é tão grande. “Nós mostramos que as cores escuras iriam estar distribuídas em áreas específicas, equilibrando o ambiente e tornando-o mais elegante. Mas o grande diferencial na ambientação da clínica foi a utilização de um papel de parede em um detalhe no forro de gesso e na coluna da TV, integrando-os e oferecendo uma continuidade visual”, revelou Fernanda. O conjunto ficou equilibrado e proporcional, confirmando que não é preciso usar detalhes rebuscados e muita informação de cores e materiais, mas que com linhas retas e cores sóbrias é possível obter um resultado bastante criativo.
Arquitetas: Renata Aquino e Fernanda Barros Projeto: Reforma e ambientação de Clínica
Papel de parede: Toque Final • Modulado: Evivva Bertolini Tapete: Adroaldo Tapetes do Mundo • Iluminação: B & M Iluminação Tela: Romeika • Decoração: A Sempre Viva
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Reforma
Para se sentir em casa
Reforma transformou uma residência de Manaíra em uma boutique
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ma casa tradicional se transformou em boutique feminina, em Manaíra, um dos bairros nobres de João Pessoa, com o projeto das arquitetas Fabiana Furtado, Ana Luisa Azevedo e Rosana Mayer. Para isso, foi realizada uma grande reforma com o objetivo certo de adequar os espaços da residência ao novo empreendimento. Tudo com muito bom gosto e atenção aos detalhes, tornando o ambiente perfeito para recepcionar as clientes. “A volumetria da fachada apresenta como ponto forte a vitrine suspensa que se projeta para frente com pintura na cor vinho, remetente à logomarca da empresa presente no cenário da moda paraibana há quinze anos”, disse a arquiteta. A área do caixa, por ser um dos primeiros ambientes, mereceu um tratamento especial com materiais nobres e cores impactantes usadas nas pastilhas de vidro da parede frontal e na mesa de laca amarela. “O branco das cadeiras e do móvel lateral traz equilíbrio ao conjunto. Optei por conservar o piso em taco de madeira por se tratar de um material
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aconchegante com detalhe interessante intercalando suas duas cores”, afirmou Fabiana. A cor branca predomina na ambientação para salientar os produtos e o uso de materiais contemporâneos como a laca, o vidro e o inox em harmonia com a madeira compõe o estilo clean do projeto. O estilo de roupas clássicas e contemporâneas atende ao perfil do público consumidor da boutique, desde as mulheres mais jovens até as clientes da terceira idade e foi, sem dúvida, determinante na concepção do projeto. Os ambientes foram planejados para deixar as clientes mais confortáveis durante a escolha das variadas roupas e acessórios que a loja dispõe em seus amplos espaços ao som de músicas agradáveis. A iluminação também ganhou destaque no projeto. “Ela foi direcionada para destacar as cores das peças e proporcionar conforto visual em todos os ambientes, com exceção da vitrine, que recebeu lâmpadas de vapor metálico para uma melhor expansão da luz”, explicou a arquiteta.
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A setorização foi outro aspecto importante priorizado nesse projeto. A entrada da boutique possui um ambiente de estar, proporcionando maior comodidade às clientes e seus acompanhantes. O caixa, falado anteriormente, fica ao lado da entrada e tem visibilidade para os demais espaços da loja. Na parte central, uma mesa de laca preta em conjunto com o painel de mesma cor e material que se prolonga do piso ao teto separam a estante expositora com as calças e acessórios das roupas dispostas nas araras.
Os provadores espaçosos garantem a privacidade e o conforto e um grande espelho permite ampla visão do look escolhido. Em ambiente reservado, separados da roupa casual, estão os vestidos de festa, onde as clientes podem escolhê-los com mais discrição. O terraço ainda está em fase de conclusão. Esta será uma área destinada à descontração das clientes e onde serão servidos drinques e cafés. Todo o trabalho foi recompensador para a arquiteta Fabiana Furtado, que durante o desenvolvimento do projeto contou com a importante colaboração das arquitetas Ana Luisa Azevedo e Rossana Mayer. “Fazer este projeto foi muito gratificante, porque participei de todas as escolhas e o resultado final correspondeu às minhas expectativas e, principalmente, às da cliente, o que nos deixou muito felizes”. As clientes da boutique podem, assim, se sentir em casa. Texto: Débora Cristina Fotos: Diego Carneiro
Arquitetas: Ana Luisa Azevedo, Fabiana Furtado e Rosana Mayer Projeto: Arquitetura e ambientação de Boutique
Marcenaria: Armando Figueiredo • Iluminação: B&M Iluminação Granito: Casa de Pedra • Vidros e espelhos: Cristal Box
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Interiores
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Livraria hi tech Projeto inovador para a Bookstore Saraiva incentiva a interatividade Por essa os visitantes da Casa Cor 2011 não esperavam. Uma livraria completamente hi tech, recheada por prateleiras e nichos curvos iluminados com sistema RGB, totens de autoatendimento para a venda eletrônica de revistas, espaço para testar jogos em 3D e o mais surpreendente de tudo: livros eletrônicos dispostos em prateleiras virtuais exibidas em telas touch screen. Projetado pelo escritório Sabrine Santos Arquitetura & Interiores, o ambiente Bookstore Saraiva na Casa Cor 2011 chama a atenção pela inovação, tecnologia e, principalmente, pela harmonia entre os formatos convencional e digital de apresentação e leitura. Os livros digitais podem ser escolhidos para compra e leitura por meio das prateleiras virtuais exibidas em três grandes telas touch screen, assim como em dispositivos portáteis conhecidos por tablets, que ficarão expostos até o final do evento para demonstração. “A escolha e compra é feita por telas touch screen expostas na parede, e a leitura é feita em tablets, por ser algo individual, móvel e prático”, explicou a arquiteta Sabrine Santos. “Outra vantagem é o poder de armazenamento dos tablets, possibilitando uma infinidade de publicações em um só aparelho, eliminando a necessidade de espaço físico para tal finalidade”, ressaltou. Segundo Sabrine, a proposta inicial do projeto é a exclusão da impressão de livros em papel, diminuindo o impacto ambiental decorrente do corte de árvores. A arquiteta ainda conta que a exposição virtual de livros é algo inovador, levando em conta a interatividade adquirida por meio de uma tela touch screen, onde os livros se mostram como se estivessem em uma prateleira, sem restrição de espaço físico. A Saraiva é pioneira no desenvolvimento de aplicativos para leitura e na venda de filmes digitais no Brasil. “Este é o primeiro espaço a abordar de forma conjunta na arquitetura os dois tipos de exposição, física e virtual”, comentou.
Tecnologia está presente em todos os detalhes Mais um grande diferencial da Bookstore Saraiva é a maneira descontraída de apresentar as obras físicas. Livros, revistas, CDs, DVDs e jogos são expostos em prateleiras iluminados com fitas de LED RGB que mudam de cor. Em plena sintonia com o design moderno, foram instaladas
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luzes em todo o rodapé, além de dois bancos curvos de madeira que acompanham o design do ambiente, com nichos e livros na parte posterior. No teto, uma luminária com design exclusivo também chama atenção dos visitantes. São 28m² de tela tensionada – como um back-light – com a impressão em alta definição de uma composição com 300 capas de obras do acervo da livraria. Já o piso é composto por dois tons diferentes de madeira certificada Tauari, sendo um patinado e o outro em verniz normal, além de resina ecológica à base de água. A Saraiva e o escritório de arquitetura firmaram parceria com a Editora Abril e, com isso, totens de autoatendimento estão à disposição dos visitantes que quiserem adquirir revistas de maneira nova, rápida e prática, por meio do formato digital. Para os aficionados por jogos eletrônicos, o espaço também conta com uma área de games 3D de última geração, com caixas acústicas direcionáveis para não interferir no som ambiente. “Essa solução permite que o som fique restrito apenas as pessoas que estão interagindo com o jogo”, explicou Sabrine. O projeto de interiores da Bookstore partiu de um ideal comum entre a arquiteta e a operadora do espaço, a Saraiva. “O processo de criação começou com a intenção de ambos em projetar um novo conceito em livrarias. A tecnologia faz parte do nosso dia-a-dia e quisemos integrar isso à arquitetura”, comentou Sabrine. O projeto exposto na Casa Cor 2011 conta com 78,8m² de inovação, interatividade, entretenimento e conforto e pode ser conferido até o dia 12 de julho, no Jockey Club de São Paulo. Texto: Débora Cristina Fotos: Valentino Fialdini
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Arquiteta: Sabrine Santos Projeto: Ambientação de Livraria Colaboradoras: Izabel Mattos Patrícia Sodré Veridiana Gonzaga
Construtora: Seabra Simões Iluminação: Scene Iluminação Automação: AVC Service • Tela tensionada: TensoFlex Marcenaria: marcenaria Quality • Espelho especial: L Vitrier Pisos de madeira: Monet Assoalhos Papel de parede: Mundo do papel de Parede
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Capa
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Moradia de cinema Loft de São Paulo remete aos antigos galpões novaiorquinos, vistos muitas vezes em filmes dos anos 1960
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onhecer o loft projetado pelo arquiteto Diego Revollo é como entrar no cenário de um filme americano, ambientado na Nova York dos anos 1960 por antigos galpões industriais transformados em residências. O loft antigo, localizado no bairro Morumbi, em São Paulo, passou por reforma para se adequar ao perfil do morador, um homem solteiro de pouco mais de 30 anos: paredes foram extintas, estruturas metálicas e tubulações reveladas e o arquiteto ainda usou soluções para caracterizar o lugar, como tornar aparente as estruturas que sustentam o mezanino - antes disfarçadas com gesso – e a presença marcante do cimento queimado.
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Para Diego Revollo, o maior desafio do projeto foi manter o equilíbrio do lugar, que é moderno, mas ao mesmo tempo conserva características rústicas e industriais. “Pensamos em tecidos naturais como o linho do sofá, que é aconchegante, o cimento queimado – mesmo sendo um material frio tem uma textura agradável ao toque – , além da cartela de cores que acentuaram bem a masculinidade do espaço”, comentou o arquiteto.
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Uma das características que tornaram o lugar um loft genuíno foi a integração entre os ambientes e, nisso, a reforma comandada por Diego Revollo foi às últimas consequências – integrando, inclusive, o quarto ao banheiro. “Busquei deixar os ambientes mais integrados sem divisórias, conferindo amplitude e certa leveza. O living integrado com a cozinha, que tem uma prancha de madeira engastada na bancada de aço inox, deixou o ambiente com ar moderno. No mezanino, a eliminação das divisórias entre
dormitório e banho também é um fator importante, dando essa sensação de amplitude e expansão do espaço”, exemplificou. O arquiteto conta que o apartamento de 100m² era revestido de tijolos aparentes vermelhos e para modernizar o acabamento sem perder o efeito original da parede, a solução foi o cimento queimado. “Usamos uma argamassa bem fluida, aplicada com uma broxa. Assim, o formato dos tijolos continuou visível, porém, mais atual”, explica Revollo.
Estar ganha espaço com a eliminação da lareira A primeira medida do arquiteto no pavimento térreo do loft foi extinguir a lareira, que ficava onde, agora, está o sofá. De alvenaria e com chaminé, ela comprometia uma grande área do living. “Era um despropósito. Se você tem um espaço grande onde a lareira não te incomoda, tudo bem. Mas em um
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O móvel de madeira laqueada de amarelo brilhante funciona como bar e demarca a entrada do apartamento. Ele guarda copos, bebidas e utensílios de bar e foi desenhado pelo arquiteto
imóvel pequeno, uma lareira é muito limitadora, pois acaba tomando uma parede inteira”, explica. “Parecia um forno de pizza no meio da sala”, resumiu. A área envidraçada vai do chão ao teto e curvase gradativamente conforme atinge o topo, pois o loft está no último andar do edifício. “O apartamento tem muita incidência solar. Portanto, é quente. Um sistema de ar-condicionado era necessário”, explica. E foi instalado. Para dar privacidade ao morador foram utilizadas persianas e black-out. “A cortina de acionamento eletrônico pode ser toda aberta e, dos dois pavimentos, é possível enxergar o céu”, completou. O mesmo revestimento presente no primeiro pavimento do loft, incluindo a cozinha, também foi estendido aos degraus da escada metálica. O assoalho é feito de madeira de demolição ebanizada. Já as vigas de aço que sustentam o mezanino e compõem a escada foram reveladas durante a obra e ganharam destaque após pintura preta.
Bancada de inox divide estar e cozinha Com a eliminação das divisórias, a divisão entre estar e cozinha se dá pela bancada ligada à mesa de jantar, que ainda sustenta a pia e o fogão. No piso, o mesmo revestimento de madeira ebanizada da sala. “O revestimento suporta perfeitamente a rotina de uma cozinha, por ser de madeira de demolição, que é resistente e rústica. Portanto, não estraga se for molhada”, explica Diego. O projeto de marcenaria foi calculado para aproveitar cada centímetro da parede, com acabamento laqueado na cor preta. Além dos armários, a estrutura abriga eletrodomésticos e até um tanque de lavar roupas. “Como o apartamento não tem área de serviço, pois o prédio tem uma lavanderia, fizemos um espaço de apoio para os serviços domésticos, que fica escondido atrás de uma porta-camarão (à direita dos eletrodomésticos
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A bancada que divide o estar e a cozinha do loft serve de apoio para pia e fogão. A mesa de jantar surge como uma prancha em madeira pinho maciça engastada na bancada em aço inox
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embutidos).” Atrás dessa porta, além do tanque, há espaço para organizar vassouras e outros utensílios de limpeza. O arquiteto ainda instalou nichos abertos de alumínio, onde fica exposta a louça usada no dia a dia, além de objetos decorativos. Ao lado da porta de entrada, em frente ao móvel amarelo, está o lavabo – único espaço da casa fechado – “não deixando o proprietário refém apenas da opção do banho que está no mezanino”, ressaltou.
Cimento queimado dá unidade ao mezanino As paredes do mezanino também receberam uma camada fluida de cimento queimado, preservando os tijolos aparentes. O ambiente que tinha closet
e banheiro isolados foi totalmente integrado. Revollo admite que deixar o vaso sanitário completamente exposto foi uma ideia audaciosa.“Achamos que era viável por se tratar de uma pessoa que mora só. E, por se tratar de um apartamento pequeno, ter menos paredes faz bastante diferença”, explica. No mezanino, a opção pelo cimento queimado também ganhou o chão. A diferença é que, na área molhada (próximo a banheira e a pia), foi aplicada uma resina impermeabilizante. Uma bancada de carvalho ebanizado divide o quarto e o banheiro. Um espelho suspenso, fixado por um suporte de inox polido, vem do teto, mas não toca a bancada, mantendo o conceito de não criar barreiras. O closet recebeu acabamento de laca preta brilhante e a única porta tem função de espelho. Desse modo, o morador pode ocultar o lado do armário que estiver
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A bancada de madeira cria uma pequena divisão entre os ambientes e serve de apoio para a cuba espelhada. A cabeceira da cama é um painel fixo à parede e os criados-mudos estão presos a esse painel.
mais bagunçado, entretanto, é pouco provável que alguma visita observe a falta de organização, já que o loft tem tantos detalhes a se reparar. Texto: Larissa Claro Fotos: Alain Brugier
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Arquiteto: Diego Revollo Projeto: Ambientação de Loft
CONCURSO CAPA ARTESTUDIO - INSCRIÇÕES ABERTAS APARTIR DO DIA 20 DE JULHO DE 2011
Iluminação Comercial
Atmosfera agradável Projeto luminotécnico ajuda a deixar o cliente mais à vontade
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iferente da residencial, a iluminação comercial tem objetivos bem definidos: fazer os clientes do estabelecimento se sentirem à vontade e chamar a atenção para os produtos. Uma iluminação bem planejada pode ser até um diferencial frente à concorrência, como foi o objetivo do projeto de ambientação da
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arquiteta Katiana Guimarães. “A iluminação tem muita importância em uma instalação comercial, e não é à toa que é um dos principais fatores para o sucesso do negócio. Ela agrega valor aos objetos, influenciando como o observador entende o espaço, fator que pode alterar as vendas”, diz a especialista em iluminação Babienn Veloso, que
desenvolveu o projeto de iluminação da loja Tippo para o projeto de ambientação. “A proposta foi: chamar a atenção do cliente para gerar um possível interesse em adquirir o produto; criar uma atmosfera agradável para que o cliente se sinta a vontade em permanecer no ambiente, favorecendo o maior consumo; a integração da arquitetura e a identidade da rede de loja; a flexibilidade de iluminação; e a eficiência energética que consiste em usar menos energia e fornecer a mesma quantidade de valor energético”.
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A iluminação buscou, naturalmente, a harmonia com o projeto de ambientação. “Foram usados luminárias retangulares com difusor em acrílico para o uso de lâmpadas fluorescentes tubulares. Isso proporciona iluminação geral e difusa”, explica Daniel Muniz, especialista em iluminação. “As luminárias foram estrategicamente posicionadas para garantir a uniformidade de luz no ambiente, na iluminância média de 500 lux”. A flexibilidade da iluminação surge entre uma luminária retangular e outra, através da lâmpada HCI PAR 30. “Ela tem como característica a excelência em reprodução de cores e eficiência luminosa”, conta Babienn. “Ou seja, além de ser econômica quando comparada a quantidade de luz emitida e o consumo, ela também reproduz fielmente a cor do objeto iluminado, tornando o produto mais desejável e permitindo a venda com mais facilidade”. No final da loja há uma parede com várias samambaias, e que teve uma atenção especial, para que as plantas não fossem danificadas. “Então usamos projetores de LEDs, que oferecem alta luminosidade, cor intensa e pura e grande
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economia de energia: uma redução de 95%, se comparadas a soluções de iluminação tradicionais”, afirma. “Ela também possui longa vida útil e facho de luz fria, que é livre de calor/ radiação infra vermelho e ultra violeta. E com design inovador, o foco de luz pode ser ajustável para qualquer direção”. São detalhes da iluminação – um recurso que, por sua vez, nos ajuda a perceber os belos detalhes de um ambiente. Texto: Renato Félix Fotos: Daniel Muniz
Light Designer: Daniel Muniz
Arquiteta: Katiana Guimarães
Projeto: Iluminação Colaboradora: Babienn Veloso
Projeto: Ambientação Iluminação: Light Design e Emporium da Luz 65
Design
Coca-Cola é isso aí Identificação do produto com a embalagem é um dos segredos do sucesso da bebida
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eche os olhos, e em meio a centenas de garrafas tente identificar a bebida que está dentro de cada uma delas. Certamente, se entre as embalagens tiver uma garrafa de Coca-Cola de vidro, ou mesmo a embalagem pet, você será capaz de identificá-la. O formato, a textura e o tamanho da embalagem praticamente se misturam ao produto que ela carrega dentro. Essa identificação produto-embalagem é um dos segredos do sucesso da bebida que há mais de cem anos frequenta as mesas de pessoas em todo o mundo, provando uma das teses do marketing: a embalagem não é apenas um meio de armazenamento e transporte, mas é um objeto que possibilita aos consumidores uma relação afetiva e individual com o produto. “Para compreender como esses atributos configuracionais influenciam na
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identificação e no consumo do produto, imaginemos uma Coca-Cola em uma garrafa quadrada. A garrafa quadrada poderia simbolizar os valores de liberdade, de intensidade e de juventude que a Coca-Cola tradicionalmente vem transmitindo?”, questiona Myrla Lopes Torres, professora do curso de bacharelado em Design da Universidade Federal da Paraíba. A garrafa da Coca-Cola foi criada com a intenção de barrar as falsificações da bebida, lançada em 1884 por John Pemberton, na cidade de Atlanta (EUA), com o nome de Pemberton’s French Wine Coca, e vendida inicialmente em copos individuais. A fórmula atual, só surgiu dois anos depois, com o xarope Coca-Cola, que continuava sendo comercializada em copos de vidro, cujos ingredientes eram misturados apenas na hora de servir.
Em 1894 a bebida foi vendida pela primeira vez em garrafas de vidro com a marca da companhia de engarrafamento em autorrelevo, a Biedenharn Candy Company, mas a “garrafa contour” um dos ícones de design em todo mundo, só foi criada em 1916. A embalagem de vidro, capaz de ser reconhecida até de olhos fechados por conta de seu design inovador, simboliza a autencidade da Coca-Cola. Na análise do especialista em Marketing, Láuriston Pinheiro, “como capital simbólico de um produto, a silhueta da garrafa de Coca-Cola tornou-se um dos ícones mais conhecidos no Ocidente, e já tem sido usada em algumas peças publicitárias sem precisar da menção ao seu nome. Não foi à toa que conquistou em 1960 o status legal de ‘Marca Registrada’ para uma embalagem, coisa rara ainda hoje”. Segundo Láuriston a garrafa clássica da Coca-Cola – de contorno feminino, curvilíneo e com a parte do meio mais larga – foi concebida sob encomenda pelos designers da empresa Root Glass Company. Além de poder caber perfeitamente na mão, uma das exigências originais era de que ela tinha que ser tão única que deveria ser
identificada no escuro, pelo tato. Na época de seu lançamento comercial, em 1916, a garrafa já acompanhava uma tendência de design em alta no início do século XX nos Estados Unidos – chamada streamline – que valorizava formas com curvas e relevos aerodinâmicos. Para Pinheiro, as pequenas modificações feitas ao longo do tempo, apenas atualizaram o design inicial. “As pequenas atualizações não interferem na personalidade original da embalagem. Mesmo o uso de embalagens para grandes volumes de refrigerante – como nas garrafas pet – só serviram para reforçar a aura das garrafinhas de vidro, que hoje são objetos de colecionadores mundo afora. Quem não lembra das promoções com séries de garrafinhas de várias épocas ou tiragens limitadas em formatos customizados?”, indaga. Texto: Neide Nonato Fotos: Divulgação
Especial
A luz nas palavras O light designer americano Howard Brandston conta suas experiências no livro Aprender a Ver
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ma abordagem inovadora para questões conceituais sobre os aspectos mais relevantes do design da iluminação. Esta é a melhor definição do livro Aprender a Ver – A Essência do Design da Iluminação (De Maio Comunicação e Editora, 168 páginas), do light designer Howard Brandston, que, traduzido pelo arquiteto Paulo Scarazzato, mostra como perceber e utilizar a luz, conhecer suas principais propriedades, além de evidenciar o seu impacto no atendimento às funções de visibilidade, conforto, composição e atmosfera. Howard é detentor de uma extensa experiência em design de iluminação, engenharia e eletrônica em projetos, desde os comerciais aos governamentais. E consegue abordar informações de uma forma que, apesar de serem destinadas a profissionais da área, como estudantes e professores, possibilita, mesmo aos interessados sem conhecimento técnico no assunto, uma fácil apreensão da narrativa. Um dos destaques do livro fica para com a qualidade da tradução. Paulo Scarazzato, o arquiteto especializado em iluminação responsável pela versão em português do livro, demonstra uma compreensão criteriosa e uma apurada técnica na
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tradução, ressaltando o conteúdo do que o autor considera como seu legado para a iluminação. Paulo Scarazzato ressaltou que o livro fala do essencial de modo simples e direto, mas com rigor e precisão. “Este livro é uma joia rara na literatura temática sobre iluminação, tão escassa na língua portuguesa. Sua riqueza de conhecimento, fruto da vivência de mais de 50 anos do autor na área, é compartilhada sem reservas com os leitores”, resume o tradutor. O livro teve seu lançamento oficial durante a Expolux 2010, que aconteceu junto com a Feicon (Feira Internacional da Construção) no Pavilhão de Exposições do Anhembi. É uma versão em português de Learning to See – A Matter of Light, publicado em 2008 pelo Illuminating Engineering Society of North America (IES), uma das mais conceituadas instituições dedicadas à produção de conhecimento na área de iluminação. Brandston começou sua carreira em iluminação no teatro de Nova York. Estudou iluminação cênica na Brooklin College e, antes de fundar sua própria empresa em 1966, foi designer de várias outras nas áreas de produtos e serviços de iluminação. Entre elas a Century Lighting Inc.,
onde foi assistente de Stanley McCandless, um dos pioneiros do design de iluminação. Com mais de 50 anos de experiência em design de iluminação, engenharia e eletrônica, ele tem em seu currículo a iluminação de mais de 3 mil projetos comerciais, institucionais, residenciais e governamentais. Scarazzato, por sua vez, é arquiteto formado pela Fauusp e desde o início de carreira, divide seu tempo entre atividades como profissional liberal e docência. Atua como professor na Fauusp, Unicamp e na PUC-Campinas. Na área de iluminação, seu portfólio contempla, entre outros, projetos para três edifícios religiosos, um centro cultural e um museu – todos tombados como patrimônio histórico – , o Terminal Lapa de Ônibus Urbanos, uma UTI neonatal, auditórios, centros de convenções e hotéis.
Uma boa iluminação precisa ter elementos surpresa, conforto e calor, ou seja, ela deve determinar “ o clima “ do espaço que está sendo criado.
Torres Petronas
Texto: Alex Lacerda Fotos: Divulgação
“ As informações proveem dos livros, das referências, dos professores. O conhecimento, da experiência. Trabalhe para construir conhecimento” Howard M. Brandston
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Acervo
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De teatro a sede da polícia O centenário prédio do Comando Geral da Polícia Militar já teve vários usos em sua história
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onto marcante de referência da arquitetura eclética do Centro Histórico de João Pessoa, o edifício do Comando Geral da Polícia Militar da Paraíba é mais um dos exemplos evidentes da presença de elementos da arquitetura neocolonial na capital. Situado na Praça Pedro Américo, bem próximo ao Teatro Santa Roza, a edificação foi concebida originalmente para sediar o teatro. Mas o local que abrigava o “thesouro” teve de ser demolido e, mesmo com a obra inconclusa, este acabou sendo a sede oficial do “thesouro”. Assim, o prédio, que teve a pedra fundamental lançada no dia 28 de janeiro de 1853, na administração do presidente Antonio Coelho de Sá e Albuquerque, ganhou novas funções e, ainda quando a construção se encontrava nos vigamentos, passou à nova função. Sua conclusão foi determinada pela Lei nº 173, de 30 de novembro de 1864, na administração Felizardo Toscano de Brito, e finalizada em 1868, no governo de Inocêncio de Assis Carvalho. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) desde 26 de agosto de 1980, a construção tem como ponto determinante de sua arquitetura as aberturas frontais delimitadas por robustas pilastras, que acompanham toda a altura dos quatro pavimentos. Em sua origem, a área do térreo passou a sediar o Tribunal do Júri e a Escola Normal. Já o pavimento superior dava lugar à repartição do “thesouro” e à Secretaria da
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Instrução Pública. No decorrer dos anos, também foram abrigados o Fórum, a Assembléia, os Correios, a Secretaria de Viação, Secretaria da Agricultura e um hospital. Já em 1929 o presidente João Pessoa, após uma reforma, construiu mais dois pavimentos, onde viriam a funcionar todas as secretarias de Estado. É interessante observar pelas diferentes aberturas das janelas os vários estilos adotados em sua construção ao longo dos anos e em suas reformas e ampliações. O edifício é exemplo da dualidade da sociedade da época, meados do século XIX, em que a arte procurava sedimentar suas tradições ao mesmo tempo em que buscava novos padrões arquitetônicos. A diversidade de fontes estéticas, em adição a mistura de materiais e a funcionalidade, são os elementos mais marcantes das estruturas do período, do qual a sede da Polícia Militar é representativa. Além de ter sido tombado em 1980, a edificação do comando integra o conjunto de estruturas numa área de 117 hectares destinados à revitalização do Centro Histórico. Essa área, segundo determinações do Iphaep, aos limites da cidade no século XIX. Mas a construção já ultrapassou os limites dos séculos XIX e XX, avançando imponente pelo XXI.
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Arquitetura e arte
Na contra-mão da modernidade Um clássico da comédia francesa, Meu Tio, é uma grande sátira ao modernismo na arquitetura e no design de interiores
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ra uma casa muito engraçada, mas nessa tinha muita coisa dentro. A comédia Meu Tio (1958), dirigida e estrelada por Jacques Tati, um gênio francês da comédia, faz uma grande crítica em forma de piada a exageros da
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arquitetura modernista. Por meio de seu icônico personagem, Monsieur Hulot, Tati satiriza o que considerava uma desumanização dos ambientes e faz uma ode a um estilo de vida mais solto e até desorganizado. “Esse filme é interessante porque nele a arquitetura é personagem”, analisa Karen Matias, arquiteta formada pela UFPB, onde também se graduou em Geografia, e que atualmente estuda Artes Visuais no Museu da Gravura, em Curitiba. “A arquitetura participa quase que ativamente da história”. As ideias da arquitetura modernista iam de encontro aos adornos que eram típicos do período anterior. “A arquitetura tinha que ser limpa, simples, funcional, com linhas muito puras, linhas retas”, explica Karen. “Le Corbusier dizia que a casa deveria ser uma ‘máquina de morar’ e acho que, no filme, isso fica muito claro”. Meu Tio mostra as visitas de Hulot à família da irmã: uma casa onde tudo é moderno – sob a visão daquele final de anos 1950. O interior é repleto de objetos de design arrojado. No jardim, tudo muito organizado, a ponto de os caminhos a serem percorridos pela família e pelas visitas serem rigorosamente orientados.
Hulot, no entanto, é um espírito livre e desorganizado. Não tem qualquer deslumbre por essa modernidade toda. Não que ele seja deliberadamente contra ela, só não consegue se adaptar. “O prédio onde ele mora é cheio de gambiarras, desorganizado, as pessoas falando alto”, lembra a arquiteta. “Há uma imagem no filme de um muro em ruínas, e no fundo uns edifícios modernos. Parece uma imagem simples, mas é significativa do que estava acontecendo: destruindo, para construir o novo”. Não por acaso, Hulot é o tio especialmente querido do filho do casal. “O garoto fica entediado na casa”, diz Karen. “Ele não pode brincar, tem medo de quebrar as coisas... Representa uma insatisfação de não poder usar o espaço como quiser”. É o personagem de Tati que surge para quebrar essa ordem e levar o garoto dali para passear e ter momentos mais soltos. “É como se os donos fossem fanáticos”, analisa a arquiteta. “O tempo todo a mulher fica mostrando a casa para as visitas. E repetindo ‘Tudo comunica’, que era um dos jargões dos modernistas”. Como os ambientes deviam ser limpos e claros, acabavam com poucos móveis. “Uma das visitas diz: ‘É tão vazio...’ e a mulher olha para ela como se dissesse: ‘Ela não tá entendendo nada’”, lembra Karen. No jardim, há um chafariz em forma de um peixe enorme. “Um peixe horroroso, que só ligam quando tem visita. Tudo é moderno, mas o casal tem um comportamento antiquado”, afirma ela. Os conceitos de ergonomia também são satirizados no filme. “Havia todo um estudo sobre o tamanho dos seres humanos em relação aos objetos, mas, no fim, o design é que dominava”, aponta Karen. “No filme, as cadeiras são sempre desconfortáveis e o tio vira o sofá de lado para conseguir dormir”. Meu Tio estende esse conceito para as ruas, fazendo uma oposição entre o bairro de classe mais alta, com tudo organizado (e frio), dos pais do menino ao bairro mais popular, bagunçado (e humano), do tio Hulot. “Onde Hulot mora as ruas são estreitas, as pessoas andam pelo meio da rua... Na área onde os outros moram é tudo perfeitinho, as pessoas andando na calçada...”, aponta a arquiteta. Ela lembra que, nesse ponto, construir cidades ideais para os carros era uma idéia do modernismo – caso de Brasília, por exemplo. “As intenções dos modernistas eram as melhores”, explica. “Eles achavam que o mundo seria melhor quando aquelas ideias fossem implantadas. Era um ideal de igualdade através da arquitetura. Mas a arquitetura não tem esse poder”. O filme exemplifica isso com o caminho rígido que as pessoas precisam fazer para transitar pelo
jardim da casa. “Só que, dependendo da situação, você perde o controle”, diz Karen. “Uma hora Hulot quebra um cano e tudo muda”. É claro, o filme brinca com o exagero. Mas a irmã de Hulot e seu marido não são personagens incomuns – nem em 1958, nem agora; nem na França e nem no Brasil. “Eu tenho certeza que todo mundo já viu um jardim desse”, aposta Karen. “E nem mesmo a casa é difícil de achar. Ou um móvel desses, que ninguém usa”. A arquiteta lembra outro momento interessante e muito significativo das idéias de Jacques Tati sobre os rumos que o ser humano estava seguindo com tudo aquilo: “Tem uma hora em que eles ficam presos na garagem. É como se fossem vítimas da própria arquitetura”. Texto: Renato Félix Fotos: Divulgação
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Outras Áreas
Sinceridade recompensada Com seu editorial sobre o Carnaval, a jornalista Rachel Sheherazade virou uma celebridade da internet e acabou contratada pelo SBT
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m desabafo em forma de editorial e uma mudança profissional pra nunca mais esquecer. Foi isso que aconteceu com a jornalista e apresentadora paraibana Rachel Sheherazade. Na quarta-feira de fogo deste ano, que antecede a folia do Carnaval em João Pessoa, ela preparou um texto que abordava sua visão pessoal sobre a folia de momo e o quanto muitas pessoas acabam não percebendo os prejuízos financeiros e para a sociedade que a festa acarreta. O que ela não esperava é que o vídeo em tom de revolta fosse virar “febre” na internet e chamar a atenção do dono do SBT, o empresário e apresentador Sílvio Santos.
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Foi assim que Rachel, em poucos dias, estava na sede da emissora, em São Paulo, fazendo todos os acertos para se mudar com toda a família e apresentar o telejornal mais importante do SBT. Aos 37 anos, casada e mãe de um casal de filhos, Rachel decidiu encarar o maior desafio da carreira: ser âncora do telejornal SBT Brasil, ao lado do jornalista Josival Peixoto, que estreou no último dia 30 de maio. Para a carreira de jornalista ela despertou bem cedo. “Sempre tive afinidade com as letras. Aos sete anos, já escrevia meus primeiros livros, e meu sonho era ser escritora. Quando prestei o vestibular para Comunicação Social na UFPB, pensava que o jornalismo seria o caminho mais indicado se quisesse me tornar uma literata”, disse. Mas no começo ela também tinha outros sonhos: “Ser bióloga e atriz”, afirma, em tom de brincadeira. Rachel começou em 2000, como repórter, na TV Correio, afiliada da Rede Record na Paraíba. Na mesma época, passou no concurso para o Tribunal de Justiça, onde também atuou como jornalista na assessoria de comunicação. No TJPB, entre a realização de pautas, matérias e documentários para a TV Justiça, ela também elaborou o projeto que deu
origem ao Núcleo de Televisão daquela Corte. Como repórter de rua também trabalhou na TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo. Lá permaneceu por quase três anos, deixando a casa para aceitar o convite da TV Tambaú, afiliada do SBT no estado. E foi na TV Tambaú que ela começou a atuar como apresentadora. “Comandei a bancada do Tambaú Notícias por oito anos, dividindo-a, algumas vezes, com os colegas Aldo Schueller, Agnaldo Almeida e Josival Pereira”, disse. Lá, ela entrevistou pessoas ligadas à política, administração pública, poder judiciário, cultura, medicina, economia... Ou seja, virou uma especialista em temas do cotidiano. Assim, semanalmente, ela fazia comentários sobre diversos temas. Foi no momento de redigir um desses que ela decidiu falar sobre o Carnaval, sem imaginar o que estava por vir. “Há alguns anos, passei a enxergar um lado do Carnaval que eu me recusava a encarar por comodismo. No meio daquela loucura toda, de tanto barulho, de tanta bebida, de tantas pessoas... é mesmo difícil pensar além do nosso prazer egoísta. Quando passei a olhar a festa do lado de fora, como por uma fresta na porta, sem participar dela, cheguei às conclusões que expus no comentário. Vi alguns direitos pessoais e coletivos serem desrespeitados durante o Carnaval: o direito de ir e vir, o direito ao silêncio, o direito de ver meus impostos serem usados para um bem maior... Então, pensei: o que posso fazer? Chamar a polícia? Acionar o Ministério Público? Avisar a imprensa? Mas, a imprensa está toda lá... aplaudindo ou fingindo aplaudir o circo. Espera um pouco... mas, eu, sou a imprensa. Posso falar. Ao menos dizer o que penso. Isso é um privilégio. Então, escrevi o texto e falei”, explicou a jornalista. O que ela não esperava é que isso fosse ganhar a repercussão que teve, virando um dos assuntos mais comentados, em meio às notícias todas sobre o Carnaval 2011. “O programa que apresentava é voltado a um público bem restrito. O Tambaú Notícias trata prioritariamente de política, economia, Justiça... Então, pensei numa repercussão bem delimitada ao meu público telespectador”, disse ela. “Depois do comentário, recebi outros convites, mas o SBT chegou primeiro. Recebi uma ligação do Leon Abravanel, diretor de produção da emissora. Ele havia sido incumbido pelo próprio Silvio Santos de me contactar e me contratar. Dois dias depois, estava voando para São Paulo e assinando com o SBT”. Pioneira, Rachel foi a primeira jornalista paraibana a mediar um debate entre os candidatos ao governo da Paraíba. Outro momento marcante da carreira dela foi quando representou o estado como jornalista convidada durante o primeiro debate regional entre os presidenciáveis, realizado pelo SBT Nordeste. E depois de tantas mudanças, o que esperar do futuro? “Espero me aperfeiçoar cada dia mais,
aprender ao máximo com tudo e com todos, e poder continuar sendo uma profissional ética, séria, sensível, respeitadora e respeitada”, finalizou.
Vida pessoal Na vida pessoal, Rachel é bastante discreta e gosta de fazer coisas simples. “Não tenho muito tempo livre. Mas, no pouco que me resta, gosto de estar com meus filhos, de escrever histórias infantis para eles. Gosto de fazer artesanato, de cuidar das plantas que tenho, de navegar um pouco na internet, de ir ao cinema com o maridão, e comer uma boa pizza! Bem normalzinho, não?”, diz sorridente. Além de ser muito rigorosa na parte profissional, Rachel também é perfeccionista quando o assunto é a família. “Somos muito unidos: eu, meu marido e meus dois filhos. Fazemos tudo juntos. Tem uma amiga que nos chama de ‘O Quarteto Fantástico’. Não costumamos deixar as crianças com avós ou tios, a não ser em casos muito excepcionais. Sou muito possessiva com minhas crias. Uma verdadeira leoa. Por isso, não costumo delegar as obrigações e as venturas da maternidade a ninguém”, explicou. Mas para educar os filhos na atualidade, o desafio é grande. “São tantas dificuldades... A violência lá fora, a intolerância contra o diferente, o egocentrismo, o consumismo sem limites... São o joio crescendo entre o trigo. Em um país onde você vale o que você tem ou o que você aparenta ter, é difícil convencer uma criança ou um adolescente de que ele não precisa de mais um brinquedo ou de uma roupa de marca para ser feliz. Apesar das dificuldades, é muito compensador educar um filho. É como ter boas sementes nas mãos e encontrar um campo vazio, pronto para ser cultivado. Eu estou fazendo minha parte. Não quero que meus filhos sejam mais um na multidão, mas que eles façam diferença por onde passarem. E diferença para melhor”, finalizou. Texto: Débora Cristina Fotos: Divulgação e arquivo pessoal
Expressão Nacional
Um Zé muito paraibano O sucesso do humorista Nairon Barreto no teatro migrou para a TV e para o rádio
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Escolinha do Professor Raimundo fez muito sucesso e teve personagens que até hoje são lembrados com saudade pelos espectadores. Entre eles, naturalmente, um teria que ficar a responsabilidade de contar a última piada do programa, de fechar com chave de ouro. Nos primeiros tempos, essa honra ficava com o genial Walter D’Avila, com o personagem Baltazar da Rocha, de expressão impassível. Após a morte do comediante, e no tempo em que esteve no programa, a partir de 1998, era de Nairon Barreto e o seu Zé Lezin a missão. O que, por si só, já mostra o alcance do talento do comediante paraibano.
A carreira de Nairon – que nasceu em Patos, em 1959 – é muito maior que a participação no programa, é claro. Seu personagem já fazia muito sucesso antes, desde quando ainda era conhecido apenas como Zé Paraíba – depois, por causa de um bordão de sucesso, adotou o novo nome. A partir dos anos 2000, consolidou a carreira estendendo sua área de atuação para Recife, onde apresentou um programa em uma emissora de TV da cidade e outro em uma emissora de rádio. Tudo isso serve apenas para tornar sua imagem mais conhecida e reforçar o local onde o Zé é definitivamente um rei: o palco. Seu forte mesmo são as apresentações no teatro (após muita escola em bares e eventos no início da carreira). Lança seguidos shows, com piadas sempre renovadas e fez muito sucesso com uma inusitada parceria com outra personagem de muito sucesso em Recife: a Cinderela vivida por Jeison Wllace, que havia sido protagonista de Cinderela – A História que Sua Mãe Não Contou, o espetáculo teatral mais visto de Recife nos anos 1990. Dois personagens de enorme sucesso, juntos, renderam um novo espetáculo de sucesso: Em Briga de Marido e Mulé, Ninguém Mete..., que aproveita a química humorística entre os dois atores, dá espaço também para os dois brilharem em momentos solo e, claro, volta e meia é reapresentado. Nairon Barreto já lançou discos e DVDs, e já aproveitou notícias do momento como mote para seus shows, como a Copa do Mundo, o fim da CPMF, a implantação da Lei Seca, etc. Na TV, faz participações eventuais no Show do Tom. Mas seu lar, mesmo, é o teatro, onde continua arrancando gargalhadas ao contar suas piadas. Ou “causos” vividos pelo sertanejo mais engraçado do Brasil. Texto: Renato Félix Fotos: Divulgação
A História de...
Transmitindo pensamentos A caneta, um instrumento fundamental para o mundo moderno, tem suas origens remotas na civilização suméria e chegou até ao espaço
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uando o homem criou a escrita, uma invenção tão fundamental à sociedade quanto o descobrimento do uso do fogo e da roda, foram necessários alguns elementos para a aplicação desta descoberta, como uma superfície para marcar os símbolos e o material para executar esta tarefa. Com o avanço da tecnologia, parte destes elementos evoluiu para uma ferramenta presente no cotidiano moderno: a caneta, instrumento essencial ao ensino, trabalho e entretenimento. Apesar de ter sido concebida apenas no início do século XX na forma como conhecemos hoje, os princípios da caneta são observados desde o começo da utilização da escrita cuneiforme, concebida pelos sumérios, por volta de 3500 a.C. Eles faziam uso de pedaços pontiagudos de madeira ou ossos para traçar os escritos, marcando um bloco de argila. Após o desenvolvimento do papiro, com os egípcios, surgiu a primeira forma de papel e os ossos molhados passaram a ser utilizados para fixar tintas vegetais nos papiros. Após isso, as penas de ganso permaneceram como as principais formas de escrever até o final do século XVIII, quando surgiu a ideia de substituir tal instrumento por um objeto manufaturado. Assim, foram criadas as penas de metal, mesmo com as penas de ave continuando a ser usadas. Foi no século XIX que teve início a tentativa de criar um objeto com tinta em seu interior, o que chamamos hoje de caneta tinteiro, e, em 1884, Lewis E. Waterman patenteou tal invenção. Mas este tipo de caneta, apesar de uma maior praticidade, apresentava outros tipos de problemas, pois não podiam ser transportadas cheias em viagens aéreas, pois a tinta derramava com a queda da pressão atmosférica. Foi em 1932 que o húngaro naturalizado argentino László Bíró, um revisor tipográfico, inventou uma caneta de plástico transparente que
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não borrava e não necessitava de um depósito externo para ser alimentada constantemente, como se fazia com a caneta-tinteiro. O conceito surgiu da observação de uma rotativa e de como o cilindro se empapava de tinta e imprimia o texto nele gravado sobre o papel. Foi então que, com a ajuda de seu irmão Georg, que era químico, e do amigo Imre Gellért, um técnico industrial, Bíró acondicionou a tinta dentro de um tubo plástico. Desse modo a tinta, pela força de gravidade, descia para a ponta do tubo, contendo uma esfera de metal que, ao girar, distribuía a tinta de uma maneira uniforme pelo papel. A caneta ganhou grande notoriedade após ser utilizada pelos oficiais britânicos, durante a Segunda Guerra Mundial, tendo em vista que estas canetas eram mais resistentes que as convencionais e funcionavam em grandes altitudes, onde há menos pressão. Elas chegaram a ter os direitos adquiridos pelo governo britânico. Não tendo condições de produzir em grande quantidade, Bíró vendeu a patente a uma empresa americana. Logo em seguida um francês de nome Marcel Bich comprou a patente e começou uma produção em larga escala. Hoje a caneta, após a sua comercialização em massa, além de ser um instrumento destinado à escrita utilizando tinta, tem os mais variados usos e sofisticações, diferindo em matéria de cor e estética. É usada desde
um estudante na Índia, com uma caneta plástica simples, até um astronauta, com a caneta espacial que funciona na gravidade zero, debaixo d’água e em faixas de temperatura extremas.
Texto: Alex Lacerda Fotos: Divulgação
Materiais
Construção sustentável Adobe é uma alternativa para baratear custo das construções de maneira ecologicamente correta
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ustentabilidade tem sido a palavra de ordem nos últimos anos. A preocupação ambiental está abrindo espaço para a utilização de técnicas e materiais antes relegados ao segundo plano, como é o caso do adobe, um tijolo feito de palha e barro utilizado em construções com mais de dois milhões de anos. Esse material foi amplamente utilizado nas civilizações antigas, em especial no Antigo Egito e
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Mesopotâmia e sua forma de produção está descrita na Bíblia, no livro do Êxodo. De acordo com Neimar Marcos da Silva, permacultor e bioconstrutor do Centro de Referência Integração e Sustentabilidade (Cris), esse material ecologicamente correto oferece outras vantagens além da preservação ambiental. “A construção feita com o tijolo de
adobe torna-se muito resistente, e o interior das casas muito fresco, suportando muito bem as altas temperaturas. Em regiões de clima quente e seco é comum o calor intenso durante o dia e sensíveis quedas de temperatura à noite, a inércia térmica garantida pelo adobe minimiza esta variação térmica no interior da construção”, assegura. A durabilidade do material é outro ponto positivo desse que é considerado um dos antecedentes históricos do tijolo de barro. “A antiga cidadela de Arg-é Bam, em Bam, cidade da província Kerman no Sudeste do Irã é a maior construção em adobe do mundo construída em 500 A.C. e habitada até 1850. É considerada Patrimônio Mundial pela Unesco”, comenta Marcos. Ainda hoje é possível utiliza-lo em construções ecológicas usando o adobe ou o superadobe, inclusive como forma de baratear o custo das construções e reduzir o déficit habitacional. “O Ministério do Meio Ambiente tem um projeto no Maranhão de casas ecológicas com o superadobe. Por que não na Paraíba?”, reflete. Apesar das vantagens há algumas restrições para utilizar o material. Seu uso não pode ser feito no período de chuva, pois os tijolos não suportam água e se dissolvem. No entanto, após a construção coberta, resistem sem problema algum. Ou seja: o que é muito antigo pode vir a ser também muito moderno. Texto: Neide Donato Fotos: Divulgação
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Viagem de Arquiteto
Uma relíquia do século XIV A cidade italiana de Salò é uma joia histórica à beira de um lago
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alò é uma cidade encantadora por apresentar um notável patrimônio histórico e artístico do século XIV, paralelo e integrado a um belíssimo visual, do qual faz parte o Lago de Garda. É uma comuna italiana da região da Lombardia, provícia de Bréscia, com cerca de 10 mil habitantes no inverno e 20 mil no verão, o que nos convida a usufruí-la em todas as estações do ano: podemos conhecê-la nos momentos de recolhimento ou no veraneio, aproveitando toda a agitação. É fundamental ver a linda urbanização da orla com seus detalhes de luminárias, o piso marcado em harmonia com o cenário sendo complementado pelos bancos modernos em pedra e ferro. Continuando ao longo da orla, temos os cafés com interiores em designs modernos e o exterior com mesas convidativas a um
bom bate-papo, onde podemos permanecer horas e horas apreciando e meditando na bela paisagem do lago. Outro grande atrativo é passear de lancha no lago, e sentir a belíssima paisagem, visualizar à distancia as fachadas dos restaurantes da orla e o movimento dos visitantes e moradores na grande calçada. Neste passeio, o diferencial é perceber a vegetação, o conjunto de pinheiros, cada fachada residencial que marca sua época.
Salò tem um centro urbano muito importante, tanto pelos motivos históricos como econômico/ comercial que perduram até hoje. A cidade se apresenta ao turista como um maravilhoso golfo. A tipologia das construções respeita as atividades comerciais e artesanais que foram predominantes até o fim da era medieval. Pela sua proximidade com Milão (125 km), é aconselhável esticar um pouco a viagem e passear nas suas ruas estreitas, sentir a história pela sua arquitetura, sua aconchegante iluminação, o estilo de vida e a tranquilidade de seus moradores – grande parte é habitada pela alta sociedade européia.
Texto e fotos: Íria Tavares
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Estilo de vida
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pernambucana Valdelice Campelo se define hoje como uma pessoa madura. Empresária e arquiteta formada pela UFPE, fez amizades valiosas e relacionamentos com profissionais que até hoje marcam a sua trajetória, como: Ariano Suassuna, Alexandre Macães, Geraldo Gomes e tantos outros. Adotou João Pessoa como sua segunda casa há 27 anos e deixou todo esse legado para trás, incluindo a família e o frevo. Nesse processo teve que reconstruir não só os relacionamentos pessoais, mas também profissionais. Trabalhou com Amaro Muniz, Régis Cavalcanti, Thaís Andrade e por último sua grande amiga Viviane Sanguinetti. Quando começou na área de revestimentos à frente da PortobelloShop, as lojas da cidade não tinham como prioridade os projetos. Já são doze anos nesta missão e desde então aprendeu a separar o joio do trigo. Uma paixão por revestimentos que se transformou em amor. Casada com Enéas num sólido relacionamento de 36 anos e mãe de duas filhas, Beatriz e Emília. Recém avó de Luisa e não podemos esquecer o xodó de todos, a cadelinha Susi da raça lhasa apso. Uma família feliz e unida tendo como meta os mesmos objetivos.
“Aprendi muita coisa, principalmente como solucionar problemas sozinha, pois nunca tive a retaguarda da família. Isso foi muito positivo e determinante para mim. Sou uma guerreira. Ando de peito aberto!”
Valdelice Campelo 90
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: cidadoes é i l p m i S mesm
4 Filmes:
de nós sso me “ Falar ado, mas po soa s c compli omo uma pe ermina t c e ir d n o fi t e d que is e , s le “ simp e vida stilo d meu e
“ Amo assistir a um filme comendo pipoca ”
2 Exigente:
“ Sou uma pessoa que gosto de tudo que faço na vida e com muito amor. Daí vou determinando: exigência e transparência no meu trabalho”
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:
nomia
Gastro
inha com m do r a t s e han o de ” Gost m casa cozin e ia famíl )” (adoro
5 Sítio:
“É maravilhoso ir ao sítio onde passamos nossos fins de semana junto com nossos cachorros ou andado de caiaque e barco (pescaria também rola) ”
6 Viagens:
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ade e Leald de: os, licida s amig cump e com meu ida e
“Viajar acompanhada de toda a minha família ou só com meu marido Éneas ”
av ad “Leald idade com a família “ c h li cump total à min a g e entr
8 Rela
xar: “Não so mo Isso tom s badaladeiro s. a precios um tempo mu o de qu ito e m traba a seman lha a o fim de inteira e só tem semana com a m para viv er e preocup nte solta das ações d o dia a d ia”
“ O Senhor é o meu pastor e nada me faltará”
9 Fé:
“Minha formação religiosa é o Catolicismo e a fé é o combustível que me move. Passo isso diariamente para minha família e os que trabalham comigo. Sem fé não chegamos a lugar nenhum, somos dominados pelo medo para então a porta ficar aberta a todos os infortúnios da vida. Sou feliz como sou e com o que tenho e isto me basta pois sei que nada me faltará.” 91
Endereços dos profissionais desta edição A dois Arquitetura Fernanda Barros e Renata Aquino Av. Senador Rui Carneiro, 300, Ed. Trade Office Center, sl. 810, João Pessoa-PB Tel: (83) 2106.7419 / 9139.7762 adois_arquitetura@yahoo.com.br Daniel Muniz Av. Jacinto Dantas, 160 / loja C, Manaíra, João Pessoa-PB Tel: (83) 3226.2622 daniel@grupo-emporium.com Diego Revollo Rua dos Três Irmãos, 201, Conj. 55, São Paulo-SP Tel: (11) 3722.4605 / 9337.7275 diegorevollo@diegorevollo.com.br Fabiana Furtado, Ana Luisa Azevedo e Rosana Mayer Av. Euzely Fabricio de Souza, 471, Manaíra, João Pessoa-PB Tel: (83) 8814.3081 fabianafurtadojp@yahoo.com.br Sabrine Santos Alameda Arapanés, 881, Conj. 122, Indianopólis-SP Tel: (11) 5051.2951 sabrine@sabrinesantos.com.br
Errata O e-mail correto da arquiteta Íria T. Melo que foi capa da edição 33, é: iriatmelo@gmail.com O endereço: Av. D. Pedro II, Edif. Síntese - s/n, Torre, João Pessoa-PB, corresponde ao escritório Forma 4 e não da Forma Arquitetura como dissemos na edição 33.
contatoar testudio@yahoo.com.br
www. artestudiorevista. com. br Artestudio Márcia Barreiros
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Carta do Leitor
A Artestudio quer ouvir você. É com prazer que aceitamos a sua opinião, críticas, sugestões e elogios. Entre em contato conosco: contatoartestudio@yahoo.com.br.
Os emails devem ser encaminhados com nome, profissão, telefone e cidade do remetente. A ARTESTUDIO reserva-se o direito de selecioná-las e resumi-las para publicação.
Parabenizo pela excelente apresentação na revista do Projeto Bontempo. Fotografia, diagramação, texto... Tudo com critérios de muita qualidade. Neste ínterim quero agradecer a participação e escolha no concurso ARTESTUDIO. Fiquei muito feliz pelo resultado e ainda mais por ter sido analisada por tão honrada comissão. Parabéns por nos dar sempre a oportunidade de podermos divulgar o nosso trabalho e consequentemente contribuir para valorizar ainda mais a história da arquitetura paraibana.
É só um desabafo. O que está acontecendo com a arquitetura de João Pessoa? Onde está a qualidade de projetos que tínhamos antes?
Íria Tavares Melo Arquiteta João Pessoa, PB
Simone Siqueira estudante de arquitetura Recife, PE
Na reportagem sobre a mudança de um apartamento em um hotel, da arquiteta Karini, vocês colocaram que ela é da Forma Arquitetura. Quero informar um equívoco: ela é da Forma 4. Eu sou da Forma Arquitetura com mais duas sócias, as arquitetas Danielle Lucena e Rosimery Ferreira, desde 2007. Nós nos situamos na Av. Pres. Epitácio Pessoa, 3014, sala 302. Marília Costa arquiteta e urbanista João Pessoa, PB
Nos desculpamos pelo engano, Marília. Sou recém formada em design e estou sentindo uma dificuldade enorme para explicar ao meu cliente o que faço. Ou eles acham que eu sou arquiteta ou decoradora ou até mesmo que eu faço anúncio de publicidade, pode? Gostaria de sugerir uma pauta: “O que faz cada profissão e os seus limites de atuação”. Assim quando me perguntarem, dou uma ARTESTUDIO para eles lerem em casa.
Carlos B. de Oliveira Natal, RN Vocês vão abordar o tema marketing para arquitetos? Fazer propaganda dos nossos serviços é um bom marketing?
Simone, nesta edição a coluna “Vida Profissional” aborda o assunto. Mas voltaremos a ele outras vezes. Estou com uma arquiteta fazendo a ambientação do meu apartamento. Numa das nossas reuniões ela perguntou qual é o meu estilo e confesso que não pude responder. Vocês podem fazer uma matéria sobre estilos? Parabéns pela revista. Faço coleção e sou fã. Simone de Arruda Médica João Pessoa, PB
Vamos analisar a sua sugestão, Simone. Obrigado!
A Editoria agradece a todos os emails enviados. É com a participação de todos vocês que a revista ARTESTUDIO continua a melhorar a cada edição, e a apresentar o que você, nosso leitor e parceiro, gosta de ler e ver nessas páginas. Obrigado!
Camila Alves de Melo designer de interiores
É uma ótima sugestão, Camila. Vamos estudar a pauta.
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co nt ato a r te s t u d i o @ y a h o o. co m . b r R. Tertuliano de Brito, 338 B - 13 de Maio, João Pessoa / PB , CEP 58.025-000 Artestudio Márcia Barreiros
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Foto: Divulgação
Inspiração
“Que vida é essa se, com tanto a fazer, não temos tempo de parar e contemplar” William Henry Davies
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