relaçoes objetivas

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RELAÇÕES OBJETAIS II Profº Sérgio Costa


RELAÇÕES OBJETAIS II 1.O INSTINTO, SEGUNDO FREUD, “É O REPRESENTANTE DE UMA FONTE ENDOSSOMÁTICA E CONTINUAMENTE FLUENTE DE ESTIMULAÇÃO, A QUAL É ESTABELECIDA POR EXCITAÇÕES SINGULARES PROVENIENTES DE FORA.” 2. CONCEITUALMENTE, O INSTINTO SE LOCALIZA NA FRONTEIRA ENTRE O MENTAL E O FÍSICO .

3. UM INSTINTO JAMAIS PODE SE TORNAR OBJETO DA CONSCIÊNCIA; SOMENTE A IDÉIA, QUE REPRESENTA O INSTINTO, O PODE .


DA PRIMEIRA VEZ EM QUE ME ASSASSINARAM Mario Quintana DA VEZ PRIMEIRA QUE ME ASSASSINARAM PERDI UM JEITO DE SORRIR QUE EU TINHA.... DEPOIS, DE CADA VEZ QUE ME MATARAM, FORAM LEVANDO QUALQUER COISA MINHA.... E HOJE, DOS MEUS CADÁVARES, EU SOU O MAIS DESNUDO, O QUE NÃO TEM MAIS NADA. ARDE UM TOCO DE VELA, AMARELADA.... COMO O ÚNICO BEM QUE ME FICOU! VINDE, CORVOS, CHACAIS, LADRÕES DA ESTRADA! AH! DESTA MÃO AVARAMENTE ADUNCA, NINGUÉM HÁ DE ARRANCAR-ME A LUZ SAGRADA! AVES DA NOITE! ASAS DO HORROR! VOEJAI! QUE A LUZ, TRÊMULA E TRISTE COMO UM AI, A LUZ DA MORTE NÃO SE APAGA NUNCA!


O AMBIENTE O CONCEITO DE ADAPTAÇÃO DE HARTMANN, TOMADO DA BIOLOGIA, ESTÁ ENRAIZADO NA NECESSIDADE DE SOBREVIVÊNCIA FÍSICA. TRÊS CARACTERÍSTICAS DEFINEM O HOMEM “BEM- ADAPTADO”: DEVE SER PRODUTIVO, CAPAZ DE APRECIAR A VIDA E POSSUIR UM EQUILIBRIO MENTAL IMPERTURBÁVEL.

PARA HARTMANN, CADA UM TEM UM VALOR DE SOBREVIVÊNCIA ESPECÍFICO, DETERMINADO BIOLOGICAMENTE.


O HOMEM, NESTA CONCEPÇÃO, NÃO É UM ANIMAL SOCIAL, MAS UM ANIMAL INATAMENTE EQUIPADO PARA TORNAR-SE PARTE DE UM SISTEMA ECOLÓGICO, QUE TEM FORTES INGREDIENTES SOCIAIS.

O AMBIENTE, NA TEORIA DE HARTMANN, É UM FATOR LIMITANTE.


MOTIVAÇÃO E REALIDADE SEU CONCEITO DE“INTERESSE DO EGO”, INCLUSIVE O DESEJO DE RIQUEZA, DE STATUS SOCIAL, DE SUCESSO PROFISSIONAL, E ASSIM POR DIANTE, ILUSTRA ESTA ABORDAGEM.

OS INTERESSES DO EGO NÃO ESTÃO NO CENTRO DA INVESTIGAÇÃO, PARA A PSICANÁLISE NO SENTIDO RESTRITO, PORQUE “NÃO TÊM QUALQUER PAPEL ESSENCIAL NA ETIOLOGIA DA NEUROSE.” “NÃO SEGUEM AS LEIS DO ID , MAS DO EGO”.


ESTÃO TRABALHANDO COM ENERGIA NEUTRALIZADA E PODEM PÔR ESTA ENERGIA CONTRA A SATISFAÇÃO DAS PULSÕES INSTINTIVAS. ASSIM COMO AS DEMANDAS DO ID, ELAS SÓ PODEM SER OPOSTAS PELO SUPEREGO. PORTANTO, AS CONSIDERAÇÕES DA REALIDADE NÃO SÓ PODEM SE TORNAR FORÇAS MOTIVACIONAIS EM SI; MAS, MEDIADAS PELO EGO, PODEM REALMENTE OPOR-SE ÀS DEMANDAS DA PULSÃO.


COMO AS DISTORÇÕES DOS PAIS PODEM TER UMA INFLUÊNCIA SOBRE AS CONDIÇÕES DE PRAZER, A PERSONALIDADE E/OU PSICOPATOLOGIA DOS PAIS, ENTRA NO CERNE DO SISTEMA MOTIVACIONAL DA CRIANÇA.

COMO RESULTADO, POR EXEMPLO, TEMOS: O QUE A MÃE NEUROTICAMENTE TEME, PODE SIGNIFICAR PERIGO REAL PARA A CRIANÇA.


PRAZER E REALIDADE NO COMEÇO DE SEUS ESCRITOS HARTMANN PERGUNTA ”PORQUE CERTOS MODOS DE COMPORTAMENTO TÊM MAIORES POTENCIALIDADES DE PRAZER QUE OS OUTROS?”, DIZENDO QUE, “A PSICOLOGIA DAS PULSÕES INSTINTIVAS NÃO RESPONDE COMPLETAMENTE A ESTA QUESTÃO”. AQUI, COMO COM SEU CONCEITO DOS INTERESSES DO EGO, HARTMANN ENTRA NUMA ÁREA QUE FICARÁ INEXPLORADA DURANTE O PERÍODO DE ACOMODAÇÃO DA TEORIA DE FREUD.


1949- ADMITE QUE “PARECE INEVITÁVEL PRESUMIR QUE O SIMPLES FATO DA DESCARGA DE TENSÃO AGRESSIVA É PRAZEROSO”.

ESTE FATO PERMITE AO EGO, NA SUA FUNÇÃO EXECUTIVA, PEGAR E ESCOLHER ENTRE VÁRIAS POSSIBILIDADES QUE RENDEM PRAZER.


ATIVIDADE-PASSIVIDADE; MASCULINIDADE-FEMINILIDADE FREUD MOSTRA QUE, NOS ESTÁGIOS PRÉEDIPIANOS DO DESENVOLVIMENTO, MENINOS E MENINAS TÊM OBJETIVOS INSTINTUAIS ATIVOS E PASSIVOS E, NESSES ESTÁGIOS, A NATUREZA DA DEDICAÇÃO A OBJETOS E AS VARIAÇÕES NAS RELAÇÕES OBJETAIS DEPENDEM MAIS DA FASE DE DESENVOLVIMENTO E OBJETIVOS INSTINTUAIS DA CRIANÇA DO QUE DE SER MENINO OU MENINA.


PORTANTO, MENINOS E MENINAS TÊM DESEJOS ATIVOS E PASSIVOS, ORAIS, ANAIS E FÁLICOS;

MAS, DURANTE A FASE FÁLICA, O SEXO DA CRIANÇA COMEÇA DESEMPENHANDO UM PAPEL MAIS DECISIVO; O MENINO APERCEBE-SE DE QUE AS MULHERES NÃO TÊM PÊNIS, ISTO É, SÃO “CASTRADAS”; E A MENINA DÁ-SE CONTA DE QUE O SEU ÓRGÃO ERÓGENO, O CLITÓRIS, É INFERIOR AO PÊNIS E NÃO CONSTITUI SEU REAL SUBSTITUTO.


NA FASE EDIPIANA E SUA RESOLUÇÃO, ESSES FATOS ANATÔMICOS DESEMPENHAM UM PAPEL SIGNIFICATIVO NA DIFERENCIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DE MENINOS E MENINAS. O COMPLEXO DE ÉDIPO OFERECE AO RAPAZ DUAS PRINCIPAIS POSSIBILIDADES DE SATISFAÇÃO: UM DESEJO ATIVO EM RELAÇÃO À MÃE, O QUAL ENVOLVERIA A USURPAÇÃO DO LUGAR DO PAI; OU UM DESEJO PASSIVO EM RELAÇÃO AO PAI, ENVOLVENDO A OCUPAÇÃO DO LUGAR DA MÃE. COMO A SATISFAÇÃO DE UM OU OUTRO DESEJO SUSCITA A AMEAÇA DE CASTRAÇÃO, A CATEXIA NARCISISTA DO PÊNIS DO RAPAZ IMPELE O SEU EGO A DESVIAR-SE DOS PAIS E DO COMPLEXO EDIPIANO.


EM 1913, FREUD VOLTA À QUESTÃO DA CONFUSÃO DOS TERMOS “MASCULINO” E “FEMININO” COM AS QUALIDADES DE “ATIVIDADE” E “PASSIVIDADE”, E DIZ QUE ESTAS ÚLTIMAS QUALIDADES NÃO SÃO DETERMINADAS PELOS PRÓPRIOS INSTINTOS MAS POR SUAS FINALIDADES. “A SEXUALIDADE INFANTIL EXIBE DUAS OUTRAS CARACTERÍSTICAS QUE SÃO IMPORTANTES, DE UM PONTO DE VISTA BIOLÓGICO. ELA RESULTA DA CONJUGAÇÃO DE UM CERTO NÚMERO DE INSTINTOS COMPONENTES, QUE PARECEM ESTAR LIGADOS A CERTAS REGIÕES DO CORPO (ZONAS ERÓGENAS) E ALGUNS DOS QUAIS EMERGEM, DESDE O COMEÇO, EM PARES DE OPOSTOS: INSTINTOS COM UMA FINALIDADE ATIVA E UMA PASSIVA.”


EM 1915, EM “OS INSTINTOS E SUAS VICISSITUDES”, FREUD CONSIDERA EM DETALHE, A QUESTÃO DOS INSTINTOS COM FINALIDADES ATIVAS E PASSIVAS.

COMENTA ELE QUE “ TODO O INSTINTO É UMA PEÇA DE ATIVIDADE; SE FALAMOS VAGAMENTE DE INSTINTOS PASSIVOS, SÓ PODEMOS SIGNIFICAR COM ISSO INSTINTOS CUJA FINALIDADE É PASSIVA.”


TAMBÉM AFIRMA QUE “A REVERSÃO DE UM INSTINTO EM SEU OPOSTO REDUNDA, NUM EXAME MAIS METICULOSO, EM DOIS PROCESSOS DIFERENTES: UMA MUDANÇA DA ATIVIDADE PARA A PASSIVIDADE, E UMA INVERSÃO DE SEU CONTEÚDO...”


EM RELAÇÃO COM A ANTÍTESE “AMAR – SER AMADO”, FREUD DISSE QUE ISSO “CORRESPONDE EXATAMENTE À TRANSFORMAÇÃO DE ATIVIDADE EM PASSIVIDADE E PODE SER ATRIBUÍDO A UMA SITUAÇÃO SUBJACENTE, DO MESMO MODO QUE... O INSTINTO ESCOPOFÍLICO (PRAZER EM OLHAR OS GENITAIS, OU DE SER VISTO).

ESSA SITUAÇÃO É A DE AMAR A SI MESMO, QUE CONSIDERAMOS A CARACTERÍSTICA DOMINANTE DO NARCISISMO.


PORTANTO, SEGUNDO O OBJETO OU O SUJEITO SEJA SUBSTITUÍDO POR UM EXTERNO, O QUE RESULTA É A FINALIDADE ATIVA DE AMAR OU A PASSIVA DE SER AMADO – PERMANECENDO ESTA ÚLTIMA FINALIDADE PRÓXIMA DO NARCISISMO”. “A ANTÍTESE ATIVO/PASSIVO NÃO DEVE SER CONFUNDIDA COM A ANTÍTESE SUJEITO-MUNDO EXTERNO/OBJETO.

EGO-

A RELAÇÃO DO EGO COM O MUNDO EXTERNO É PASSIVA, NA MEDIDA EM QUE RECEBE ESTÍMULOS DELE; MAS, ATIVA QUANDO REAGE A ESTES... O EGO-SUJEITO É PASSIVO EM RELAÇÃO AOS ESTÍMULOS EXTERNOS MAS ATIVO ATRAVÉS DE SEUS PRÓPRIOS INSTINTOS.


A ANTÍTESE ATIVO/PASSIVO AGLUTINA-SE MAIS TARDE COM A ANTÍTESE MASCULINO/FEMININO, A QUAL, ENQUANTO ISSO NÃO ACONTECE, É DESPROVIDA DE SIGNIFICADO PSICOLÓGICO. O EMPARELHAMENTO DE ATIVIDADE COM MASCULINIDADE E DE PASSIVIDADE COM FEMINILIDADE IMPÕE-SE A NÓS, NA VERDADE, COMO UM FATO BIOLÓGICO; MAS NÃO É, EM ABSOLUTO, TÃO INVARIAVELMENTE COMPLETO E EXCLUSIVO QUANTO ESTAMOS INCLINADOS A SUPOR.”

(FREUD DISCUTE ESTE PONTO EM MAIOR DETALHE NUMA NOTA DE RODAPÉ QUE ACRESCENTOU, EM 1915, AOS TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE.)


FREUD CONCLUI ESSA SEÇÃO DIZENDO: “PODEMOS RESUMIR, AFIRMANDO QUE A CARACTERÍSTICA ESSENCIAL NAS VICISSITUDES SOFRIDAS PELOS INSTINTOS RESIDE NA SUJEIÇÃO DOS IMPULSOS INSTINTUAIS ÀS INFLUÊNCIAS DE TRÊS GRANDES POLARIDADES QUE DOMINAM A VIDA MENTAL.

DESSAS TRÊS POLARIDADES, PODERÍAMOS DESCREVER A ATIVIDADE/PASSIVIDADE COMO A BIOLÓGICA, A EGO/MUNDO EXTERNO COMO A REAL E, FINALMENTE, A PRAZER-DESPRAZER COMO A POLARIDADE ECONÔMICA.”


UM POUCO ANTES (1914), AO CRITICAR O CONCEITO DE ADLER DE “O PROTESTO MASCULINO”, FREUD COMENTA QUE, “PARA COMEÇAR, AS CRIANÇAS NÃO TÊM IDÉIA DO SIGNIFICADO DA DISTINÇÃO ENTRE OS SEXOS. ELAS PARTEM DA SUPOSIÇÃO DE QUE AMBOS OS SEXOS POSSUEM PÊNIS.”

NO ARTIGO “SOBRE O NARCISISMO” (1914), HÁ UMA DETALHADA EXPOSIÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA ESCOLHA DE OBJETO. ESTA, PARTE DO PONTO EM QUE A CRIANÇA TEM DOIS OBJETOS SEXUAIS: ELA MESMA E SUA MÃE. MAIS TARDE, ELA PODERÁ FAZER UMA ESCOLHA NARCISISTA OU ANACLÍTICA DE OBJETO.


“O COMPLETO AMOR OBJETAL, DO TIPO LIGAÇÃO, É, PROPRIAMENTE FALANDO, CARACTERÍSTICO DO HOMEM. MOSTRA A ACENTUADA SUPERVALORIZAÇÃO SEXUAL QUE DERIVA, SEM DÚVIDA, DO NARCISISMO ORIGINAL DA CRIANÇA E CORRESPONDE ASSIM A UMA TRANSFERÊNCIA DESSE NARCISISMO PARA O OBJETO SEXUAL... UM CURSO DIFERENTE É SEGUIDO NO TIPO DE MULHER MAIS FREQÜENTEMENTE ENCONTRADO... ‘A PUBERDADE’ PARECE ACARRETAR UMA INTENSIFICAÇÃO DO NARCISISMO ORIGINAL, E ISSO É DESFAVORÁVEL AO DESENVOLVIMENTO DE UMA VERDADEIRA ESCOLHA DE OBJETO, COM SUA CONCOMITANTE SOBREVALORIZAÇÃO SEXUAL... NEM ESSA NECESSIDADE (DA MULHER) RESIDE NA DIREÇÃO DE AMAR, MAS DE SER AMADA.”


CONTUDO, “NA CRIANÇA QUE ELAS DÃO À LUZ, UMA PARTE DO PRÓPRIO CORPO CONFRONTA-AS COM UM OBJETO ESTRANHO, AO QUAL, A PARTIR DO SEU NARCISISMO, PODEM ENTÃO DEDICAR UM COMPLETO AMOR OBJETAL.

TAMBÉM EXISTEM OUTRAS MULHERES QUE NÃO TÊM DE ESPERAR POR UM FILHO PARA DAREM O PASSO NO DESENVOLVIMENTO DO NARCISISMO (SECUNDÁRIO) PARA O AMOR OBJETAL.


ANTES DA PUBERDADE, ELAS SE SENTEM MASCULINAS E SE DESENVOLVEM, DE CERTO MODO, DE ACORDO COM UMA TRAJETÓRIA MASCULINA; DEPOIS DESSA TENDÊNCIA TER SIDO CERCEADA, AO ATINGIREM A MATURIDADE FEMININA ELAS AINDA RETÊM A CAPACIDADE DE ANSIAR POR UM IDEAL MASCULINO.”


EM 1916-17, FREUD ESCREVEU A SÉRIE DE CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE PSICANÁLISE, NUMA DAS QUAIS RESUMIU AS FASES INICIAIS DA ORGANIZAÇÃO SEXUAL. REFERINDO-SE À ORGANIZAÇÃO PRÉ-GENITAL, QUANDO OS INSTINTOS SÁDICOS E ANAIS SÃO PREPONDERANTES, ELE AFIRMOU: “O CONTRASTE ENTRE ‘MASCULINO’ E ‘FEMININO’ AINDA NÃO DESEMPENHA AQUI PAPEL NENHUM. O SEU LUGAR É OCUPADO PELO CONTRASTE ENTRE ‘ATIVO’ E ‘PASSIVO’...


O QUE NOS PARECE MASCULINO NAS ATIVIDADES DESSA FASE, QUANDO A OBSERVAMOS DESDE O PONTO DE VISTA DA FASE GENITAL, RESULTA SER A EXPRESSÃO DE UM INSTINTO DE DOMÍNIO QUE FACILMENTE SE CONVERTE EM CRUELDADE. AS TENDÊNCIAS COM UMA FINALIDADE PASSIVA ESTÃO LIGADAS À ZONA ERÓGENA DO ORIFÍCIO ANAL...


OS INSTINTOS DE ESPIAR E ADQUIRIR CONHECIMENTO [OS INSTINTOS ESCOPOFÍLICO E EPISTEMOFÍLICO] ESTÃO PODEROSAMENTE EM AÇÃO... OS INSTINTOS COMPONENTES DESTA FASE NÃO ESTÃO ISENTOS DE OBJETOS, MAS ESSES OBJETOS NÃO CONVERGEM NECESSARIAMENTE PARA UM ÚNICO OBJETO.”


EM INIBIÇÕES, SINTOMAS E ANSIEDADE(1926), FREUD FORNECE MATERIAL CLÍNICO PARA ILUSTRAR OS FATORES SUBJACENTES NUMA ATITUDE SEXUAL PASSIVA; ELE COMPARA DOIS CASOS (O PEQUENO HANS E O HOMEM DOS LOBOS) PARA MOSTRAR AS DIFERENÇAS EM GRAU DA SUBJACENTE REGRESSÃO INSTINTUAL E AS DIFERENÇAS NA NATUREZA DOS DESEJOS INSTINTUAIS PROTEGIDOS PELOS SINTOMAS FÓBICOS.


EM O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO (1930), FREUD REAFIRMA AS SUAS IDÉIAS SOBRE A BISSEXUALIDADE: “ESTAMOS ACOSTUMADOS A DIZER QUE TODO O SER HUMANO EXIBE IMPULSOS, NECESSIDADE E ATRIBUTOS INSTINTUAIS MASCULINOS E FEMININOS”; E, DEPOIS DE SUBLINHAR QUE NÃO DEVEMOS EQUIPARAR, APRESSADAMENTE, A ATIVIDADE COM MASCULINIDADE E PASSIVIDADE COM FEMINILIDADE, ELE DIZ :


“SE ADMITIRMOS, COMO UM FATO, QUE CADA INDIVÍDUO PROCURA SATISFAZER DESEJOS MASCULINOS E FEMININOS EM SUA VIDA SEXUAL, ESTAMOS PREPARADOS PARA A POSSIBILIDADE DE QUE ESSES DOIS CONJUNTOS DE EXIGÊNCIAS NÃO SEJAM PLENAMENTE SATISFEITOS PELO MESMO OBJETO.

E QUE INTERFIRAM UM NO OUTRO, A MENOS QUE POSSAM SER MANTIDOS SEPARADOS E CADA IMPULSO GUIADO PARA UM DETERMINADO CANAL QUE LHE SEJA ADEQUADO. UMA OUTRA DIFICULDADE DECORRE DA CIRCUNSTÂNCIA DE HAVER UMA QUOTA DE INCLINAÇÃO MANIFESTA PARA A AGRESSÃO, FREQÜENTEMENTE ASSOCIADA AO RELACIONAMENTO ERÓTICO.”


EM “DOSTOIEVSKI E O PARRICÍDIO” (1928), FREUD AMPLIARA AS SUAS IDÉIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO RAPAZ, SOBRETUDO A RESPEITO DO COMPONENTE AGRESSIVO. MOSTROU QUE A RELAÇÃO DE UM RAPAZ COM SEU PAI É AMBIVALENTE, E QUE AS TENDÊNCIAS DE ÓDIO E TERNURA SE COMBINAM PARA PRODUZIR A IDENTIFICAÇÃO MASCULINA COM O PAI.


TAMBÉM SE REFERE À FORMAÇÃO DO SUPEREGO: “SE O PAI ERA DURO, VIOLENTO E CRUEL, O SUPEREGO ASSUME ESSES ATRIBUTOS E, NAS RELAÇÕES ENTRE O EGO E ELE, A PASSIVIDADE, QUE SE SUPONHA TER SIDO SUPRIMIDA, É RESTABELECIDA.

O SUPEREGO TORNA-SE SÁDICO E O EGO TORNA-SE MASOQUISTA – O QUE, NO FUNDO, QUER DIZER: PASSIVO DE UM MODO FEMININO. EM “ANÁLISE TERMINÁVEL E INTERMINÁVEL” (1937), FREUD MENCIONA DOIS DESTACADOS TEMAS ANALÍTICOS ( O DESEJO DE UM PÊNIS NAS MULHERES E A LUTA CONTRA A PASSIVIDADE NOS HOMENS) QUE SÃO DEVERAS ESPINHOSOS PARA A ANÁLISE.


“MASOQUISMO” É O TERMO PARA DESCREVER A FUSÃO ENTRE A DESTRUTIVIDADE DIRIGIDA PARA DENTRO E A SEXUALIDADE. UM CERTO MONTANTE DESTA FUSÂO ESTÁ SEMPRE PRESENTE NAS RELAÇÕES SEXUAIS NORMAIS. PORÉM, EM CASOS EXTREMOS DE PERVERSÃO, FAZ COM QUE O INDÍVIDUO SOFRA DOR, MAUS TRATOS E HUMILHAÇÕES, COMO PRINCIPAL OU MESMO ÚNICA FINALIDADE SEXUAL.


FREUD EXAMINOU O MASOQUISMO, PELA PRIMEIRA VEZ, NOS TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE (1950 D); MAS AS SUAS FORMULAÇÕES FINAIS SOMENTE APARECERAM VINTE ANOS DEPOIS, EM “O PROBLEMA ECONÔMICO DO MASOQUISMO” (1924).

TRÊS FASES PRINCIPAIS PODEM SER DISTINGUIDAS NO DESENVOLVIMENTO DA CONCEITUAÇÃO DE FREUD DO MASOQUISMO:


A) 1905-19  QUANDO ELE EXAMINOU O MASOQUISMO QUASE EXCLUSIVAMENTE COMO UMA PERVERSÃO, COMO UMA TRANSFORMAÇÃO DO SADISMO, E TINHA SÉRIAS DÚVIDAS QUANTO À EXISTÊNCIA DO MASOQUISMO PRIMÁRIO.

B) 1919-24  QUANDO O MASOQUISMO FOI, NÃO SÓ, VISTO À LUZ DE UMA PERVERSÃO MAS TAMBÉM COMO UM FENÔMENO REGRESSIVO DEVIDO A UMA NECESSIDADE INCONSCIENTE DE PUNIÇÃO. EM 1920, A EXISTÊNCIA DO MASOQUISMO PRIMÁRIO FOI MENCIONADA PELA PRIMEIRA VEZ COMO UMA POSSIBILIDADE. C) 1924-37  QUANDO – EM LIGAÇÃO COM A TEORIA DO INSTINTO DE MORTE – FREUD POSTULOU UM MASOQUISMO TANTO PRIMÁRIO COMO SECUNDÁRIO, E DISTINGUIU AINDA AS TRÊS FORMAS DE MASOQUISMO: ERÓGENO, FEMININO E MORAL.


1919-24 O ARTIGO “UMA CRIANÇA É ESPANCADA” – UM ESTUDO DE FANTASIAS DE ESPANCAMENTO ENTRE RAPAZES E MENINAS – CONTÉM MUITOS E NOVOS INSIGHTS SOBRE O PROBLEMA DO MASOQUISMO.

O PRÓPRIO FREUD FEZ REFERÊNCIA A ELES NUM ARTIGO SOBRE O PROBLEMA DO MASOQUISMO, ONDE POSTULOU QUE UM SENTIMENTO DE CULPA É INVARIAVELMENTE O FATOR QUE TRANSFORMA O SADISMO EM MASOQUISMO; E QUE O AMOR SEXUAL CONTRIBUI COM IMPORTANTE PARCELA PARA O SEU CONTEÚDO. É ESSE SENTIMENTO DE CULPA QUE, EM CERTOS PACIENTES, ENCONTRA SUA SATISFAÇÃO NA DOENÇA, FAZ COM QUE NÃO RENUCIEM À PUNIÇÃO DO SOFRIMENTO.

E


FREUD CARACTERIZOU UMA FORMA DE MASOQUISMO DA SEGUINTE MANEIRA: “ E NÃO SÓ A PUNIÇÃO PELA RELAÇÃO GENITAL PROIBIDA, MAS TAMBÉM O SUBSTITUTO REGRESSIVO PARA ESSA RELAÇÃO. E É DESTA ÚLTIMA FONTE QUE DERIVA A EXCITAÇÃO LIBIDINAL QUE FICA LIGADA A ELE DESSE MOMENTO EM DIANTE.” EMBORA A FORMA DE TAL FANTASIA DE ESPANCAMENTO SEJA SÁDICA, A SATISFAÇÃO DELA DERIVADA É MASOQUISTA, PORQUE FORAM ENCAMPADOS A CATEXIA LIBIDINAL DA PORÇÃO REPRIMIDA DA FANTASIA E O SENTIMENTO DE CULPA QUE ESTÁ VINCULADO A ESSA PORÇÃO.


EM AMBOS OS SEXOS, A FANTASIA MASOQUISTA DE SER ESPANCADO PELO PAI PERDURA NO INCONSCIENTE APÓS A REPRESSÃO. MASOQUISMO ERÓGENO: É O MASOQUISMO PRIMÁRIO, QUE TEM UMA BASE BIOLÓGICA E CONSTITUCIONAL, E É DEFINIDO COMO PRAZER NA DOR. PARA TODOS OS FINS PRÁTICOS, É IDÊNTICO AO INSTINTO DE MORTE (SADISMO PRIMORDIAL) E É AQUELA PORÇÃO DESSE INSTINTO QUE NÃO FOI TRANSPOSTA PARA FORA (PARA OBJETOS), MAS PERMANECEU DENTRO, FUNDIDA COM A LIBIDO E TENDO O EU COMO OBJETO.

O MASOQUISMO ERÓGENO OU PRIMÁRIO É UMA EVIDÊNCIA DA COALESCÊNCIA E FUSÃO ENTRE O INSTINTO DE MORTE E EROS. “ACOMPANHA A LIBIDO EM TODAS AS SUAS FASES DE DESENVOLVIMENTO E DERIVA DELAS SUAS CAMADAS PSÍQUICAS CAMBIANTES.”


MASOQUISMO FEMININO: É A FORMA MENOS PROBLEMÁTICA E A MAIS ACESSÍVEL À OBSERVAÇÃO. CHAMA-SE FEMININO, PORQUE AS FANTASIAS QUE LHE ESTÃO ASSOCIADAS COLOCAM O SUJEITO NUMA SITUAÇÃO CARACTERISTICAMENTE FEMININA DE SER CASTRADO, COPULADO OU DAR À LUZ UM BEBÊ.

MUITAS DE SUAS CARACTERÍSTICAS TAMBÉM APONTAM PARA A VIDA INFANTIL, NA MEDIDA EM QUE O MASOQUISTA QUER SER TRATADO COMO UMA CRIANÇA PEQUENA, IMPOTENTE E LEVADA. É ESSENCIAL A CONDIÇÃO DE QUE O SOFRIMENTO EMANE DE UMA PESSOA AMADA.


MASOQUISMO MORAL: ESTA É A MAIS IMPORTANTE FORMA, DETERMINADA POR UM, LARGAMENTE INCONSCIENTE, SENTIMENTO DE CULPA OU NECESSIDADE DE PUNIÇÃO. AFROUXOU SUA CONEXÃO COM A SEXUALIDADE, NA MEDIDA EM QUE O SOFRIMENTO EM SI É O QUE IMPORTA, SENDO O OBJETO IRRELEVANTE. O MASOQUISMO MORAL TEM QUE SE DISTINGUIR CLARAMENTE DE UMA EXTENSÃO INCONSCIENTE DA MORALIDADE, CARACTERIZADA PELA SUBMISSÃO DO EGO AO SADISMO INTENSIFICADO NO SUPEREGO; AO PASSO QUE, NO MASOQUISMO MORAL É O PRÓPRIO EGO, MASOQUISMO PREDOMINANTEMENTE INCONSCIENTE, QUE PROCURA SER PUNIDO PELO SUPEREGO OU PODERES EXTERNOS AUTORITÁRIOS.


NO MASOQUISMO MORAL, O SADISMO DO SUPEREGO E O MASOQUISMO DO EGO COMPLEMENTAM-SE MUTUAMENTE E PRODUZEM O MESMO EFEITO. AS FANTASIAS DE ESPANCAMENTO SÃO UMA DISTORÇÃO REGRESSIVA DO DESEJO DE TER RELAÇÕES SEXUAIS PASSIVAS, FEMININAS, COM O PAI, E CONSTITUEM O SIGNIFICADO OCULTO DO MASOQUISMO MORAL, QUE LEVA AO MESMO TEMPO A UMA RESSEXUALIZAÇÃO DA MORALIDADE E A UMA RESSURREIÇÃO DO COMPLEXO EDIPIANO.


MASOQUISMO SECUNDÁRIO: ESTE É PRODUZIDO PELO INSTINTO DE DESTRUIÇÃO, QUE NÃO PODE ENCONTRAR EMPREGO COMO SADISMO NA VIDA REAL. RETRATA E É VOLTADO PARA O PRÓPRIO EU DO INDIVÍDUO, QUANDO PARTE DELE É SOBREPOSTO AO MASOQUISMO PRIMÁRIO, AO PASSO QUE UMA OUTRA PARTE É TOMADA PELO SUPEREGO, AUMENTANDO ASSIM O SEU SADISMO.

ESSE RETORNO DO SADISMO CONTRA O EU OCORRE, PARTICULARMENTE, QUANDO A SUPRESSÃO CULTURAL DOS INSTINTOS IMPEDE QUE UMA GRANDE PARTE DOS COMPONENTES INSTINTUAIS DESTRUTIVOS DO SUJEITO SEJAM EXERCIDOS NA VIDA.


FREUD VIU A BISSEXUALIDADE COMO UMA DAS BASES ORGÂNICAS DOS SINTOMAS HISTÉRICOS, E POSTULOU UMA “NATUREZA BISSEXUAL DOS SINTOMAS HISTÉRICOS”, NA MEDIDA EM QUE ELES SÃO A EXPRESSÃO DE UMA FANTASIA INCONSCIENTE MASCULINA E FEMININA.


“CREIO HAVER COMEÇADO ALGO QUE OCUPARÁ A MENTE DOS HOMENS DURANTE MUITO TEMPO”. Sigmund Freud


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