POÉTICAS NA QUARENTENA

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BENÉ FONTELES Projeto Pantanal Agora co nV I DA m

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POÉTICAS NA QUARENTENA

Re a l i za çã o:

projeto pantanal agora


Alex Cerveny

Alice Lara

Amanda Melo da Mota

Bené Fonteles

Elilson

Jonathas de Andrade

Luciana Ohira & Sergio Bonilha

Marcio Harum

Marcos Farinha

Rag

Santidio Pereira

Virginia de Medeiros

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O Pantanal

que conheci nos anos de 1980 ainda era uma sombra generosa do Paraíso na Terra • Descer no barco de motor desligado num dos seus rios para não incomodar as aves: coelheiros e garças aos milhares e jacarés as centenas; sucuris muitas acasalando em movimento de dança numa transa de cabelo de moça; a baía de Chacororé e Chamariana emendadas na cheia vindas dos rios, corixos, chuvas e visitadas no final da tarde por milhares de garças zoadentas voando em bando, vindas de tudo que é direção para dormirem sobre as tantas árvores secas dentro d’água • Foi um dos momentos mais emocionantes da vida quando pulei do barco para a água limpa – não tem piranha, a barrenta é um perigo – e mirar tudo aquilo quase sem fim pelo chão e pelo céu: as duas baías juntas são bem maiores que a baía da Guanabara • Os religiosos descreveram como a mais próxima visão do paraíso na Terra e chamaram tudo de Lagoa dos Xaraés, sem entender a dimensão do Jardim do Édem


que pensavam estar, e que, no futuro, seríamos expulsos por pura incompetência da ambição humana: o pecado ecológico • Por isso tudo, fiquei muito tocado de poder estar junto deste paraíso perdido quando fui convidado para o Projeto Pantanal Agora • Mesmo que só pudesse estar virtualmente - daqui da Serra da Mantiqueira não saio nem a pau – eu acompanharia, antes, durante e depois, os 9 artistas: Alice Lara, Amanda Melo da Mota, Elilson, Jonathas de Andrade, Luciana Ohira e Sergio Bonilha, Rag, Santidio Pereira e Virginia de Medeiros, o curador Marcio Harum e o produtor Marcos Farinha que foram fazer uma residência artística por 15 dias, partindo do coração Sul do Pantanal que é Corumbá • Eles tiveram a ousadia e a coragem de viver o Pantanal depois do grande incêndio que o devorou quase que totalmente em 2020 • Deixou seco o que era impensável de não ter pertencimento a água que é tão ser deste bioma ao si comunica visceralmente com o Cerrado e ser o portal para tanto para a Amazônia como para os Pampas • Com uma cultura indígena vasta, bela e culta dos Kadiwéos, Terenas, Guatós e outras tantas etnias, o Pantanal está seco • A terra rachada onde eram suas lagoas, parecem os lugares de águas do Nordeste brasileiro como o rio Jaguaribe no Ceará, considerado o maior rio de leito seco do mundo • Paradoxal, mas não menos trágico • Editando este catálogo virtual Poéticas da Quarentena quando a pandemia começava a nos cercar impiedosa em abril de 2020, e não poderia deixar de editá-lo com os artistas e o curador do Projeto Pantanal Agora em um catálogo totalmente dedicado a extraordinária residência artística • Estamos a aprender a cada semana da edição deste catálogo, o que cada um assimilou na troca com o povo, a mata, os rios e os


animais pantaneiros assustados com um quase extermínio • Ouvi muitos depoimentos de cada membro do Projeto na solidariedade de ir se juntar e apoiar as brigadas de incêndio já existentes que lutam contra moinhos de fogo, quais quixotes contemporâneos: arte e resistência • Este catálogo é um testemunho sensível do chamado ouvido pelos artistas, por um curador e um produtor, despertos para que a ciência e a consciência artística, poética e política sejam instrumentos de transformação e transmutação de um estado para outro, e que a omissão, pode ser ainda mais perigosa que o fogo • Souberam lá ainda mais, que somos um só com tudo que vive e morre • E entre dor e denúncias, prazeres nos rios e rituais performáticos no natural e um com a natureza, reviverem ou acederem suas próprias mito-poéticas • Estas estão impregnadas da memória indígena e cabocla do lugar, atravessada pelo contato do invisível que ainda está à espera e à espreita: no ronco da mateira onça, no rastro da esperta sucuri, na fome do anfíbio jacaré, na sanha do enxame dos insetos, na graça do voo da garça, na fala melada do quase dialeto do povo pantaneiro, do gado e cavalo que tem cascos só seus para serem também o que é a água • O espírito do invisível navega firme pelo ar, pelo chão e pelos rios ainda caudalosos, pois o perene, é a beleza e a força de um pantanal que irá dar uma lição de Vida sob a sanha voraz dos predadores que tentam o destruir desde que perceberam por inveja o paraíso • Podemos não viver para ser isso, mas já basta imaginar que possível nessa feia distopia que nos devora, só o impossível de Ser é o que se pode fazer quando se tem a bela utopia de quem ainda sonha • Bené Fonteles / fevereiro de 2021

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Entre os dias 30 de novembro e 15 de dezembro de 2020

realizamos a primeira etapa do Projeto Pantanal Agora, que nasceu da urgência de se agir diante do ecocídio em curso no Pantanal sul-matogrossense, onde as queimadas de 2020 ocasionaram um desastre ambiental sem precedentes que explicita um entrave social, histórico e político que diz respeito ao país em sua completude, ainda mais quando as previsões para o ano de 2021 são mais-que-alarmantes • Neste contexto, o principal objetivo do projeto é a reunião de artistas visuais em uma residência, realizada a partir de experiências e diálogos, sendo configurada como pesquisa e vivência experimental coletiva dos artistas no Pantanal • O grupo também integrou o Brigadistas Artistas, idealizado e proposto como um projeto independente pela artista Amanda Melo da Mota, que consistiu na formação de brigadas de incêndio florestal, de caráter preventivo, reunindo em cooperação com a comunidade ribeirinha pantaneira, ambientalistas, os brigadistas de incêndio Patrocínio, Amorim, Fabrício e o grupo de artistas e produtores engajados no fazimento desta ação artística • Nesta primeira etapa, duas brigadas de incêndio com 14 ribeirinhas e ribeirinhos foram formadas em parceria com a PREVFOGO • Foram formadas a brigada Onça Pintada composta por Rosa Bastos, Odinei Bastos, Firmino Neto, Agnaldo Arruda, Aldir Pereira, Elias Oliveira e a brigada Pantera composta por Joselaine da Silva, Wilson Pilar, Wellington da Silva, Ricardo da Silva, Daniel Maciel, Odair Ramires, Luiz Pereira e Odair dos Santos • A estadia e articulações da residência artística foram facilitadas pela ONG Acaia Pantanal e a formação completa foi facilitada pela ONG ECOA e Instituto AGWA • As ações do Pro-


jeto Pantanal Agora foram efetivadas através da verba integralmente arrecadada com a venda de obras dos artistas integrantes do projeto, aporte que possibilitou tanto a compra dos Equipamentos de Proteção Individual e de combate ao fogo quanto os custos de produção e translado • Uma parte deste grupo atuou de modo remoto, enquanto os demais estiveram em campo no Pantanal para as práticas de pesquisa e a formação de brigadistas • Salientamos que o Projeto Pantanal Agora realizou um processo rigoroso de cuidado preventivo em relação ao COVID-19, que incluiu não só testagem, mas período de quarentena no próprio Pantanal previamente à formação dos brigadistas, bem como monitoramento integral de um infectologista • Justamente por entendermos todas as fragilidades e complexidades que a pandemia nos impõe – o que inclui a percepção de que isolamento, trabalho remoto e acesso à internet são privilégios não garantidos a toda população – é que decidimos não adiar esta etapa, dadas todas as urgências implicadas nesse processo, das queimadas vindouras à necessidade de cooperação também imediata… • Tendo em vista que nosso trabalho como artistas se difere integralmente da lógica assistencialista, é que também foi fundamental estarmos presencialmente no Pantanal, neste agora tão delicado, vendo, escutando e apreendendo de perto o que só acompanhamos à distância nos centros urbanos onde residimos e atuamos • Por hora, enquanto aspiramos a formação de novas brigadas de incêndio, através de novos apoios, a tônica que se endereça desta vivência se corporifica em forma de pergunta: de quais modos a formação de brigadista se aplica e reorienta nossas práticas artísticas, políticas, cidadãs? Dezembro de 2020

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Instituto Agwa

Corumbá

Barra Funda Botucatu Castilho Campo Grande Miranda Corumbá Escola Jatobazinho Fazenda Santa Tereza Instituto Agwa.

São Paulo

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Deslocamentos, conversas, encontros, reencontros: ativação criativa. O desejo de romper com o sentimento de impotência diante das queimadas no Pantanal e do medo diante da pandemia nos uniu. Como seguir com responsabilidade? O infectologista Dr. Carlos Augusto se voluntariou e nos acompanhou nessa missão. Uma estrada-ponte de experiências entrelaçou voluntários e apoiadores, energias, alegrias e medos formou nossa egrégora, seguimos o caminho. No calor de Castilho, nossa primeira parada, Dona Nair, mãe de Marcos Farinha, produtor querido do Projeto Pantanal Agora, nos recebeu com potes de açaí, frutas e um sorriso de mãe. Pernoitamos. Noite curta e aconchegante, ainda de madrugada pegamos a estrada e adentramos em Mato Grosso do Sul. A paisagem mudou totalmente: quilômetros de campos de eucalipto. Aquela verdura escurecia a paisagem, estávamos em frente a um deserto verde. A monocultura ameaça a vida biologicamente e socialmente no Pantanal: empobrece o solo, acelera processos erosivos e o assorear dos rios. Envenena as águas. O pulso da inundação, processo de enchente e seca da planície, que essencialmente é o controle da riqueza e da biodiversidade do Pantanal, está desaparecendo. Faz dois anos que a Lagoa Vermelha não enche. Alice Lara, Amanda Melo da Mota e Virginia de Medeiros

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Ao entrarmos e sairmos do estado de Mato Grosso do Sul pelo município de Três Lagoas, a paisagem natural vista da Rodovia BR-262 é a de um “mar verde”. São aproximadamente 550 mil hectares de eucaliptos plantados na região. Em 2009, nasceu a empresa Fibria, líder mundial em celulose de mercado. A empresa iniciou suas atividades com 15 mil funcionários. Neste mesmo ano é inaugurada a unidade de Três Lagoas. A fusão das indústrias Suzano Papel e Celulose com a Fibria se dá em 2019, movimentação comercial que cria a marca Suzano S/A. A empresa surge como a maior produtora mundial de celulose. A estimativa de produção da empresa com suas duas fábricas sul-mato-grossenses antes da pandemia no ano de 2020 era de mais de 1,5 milhão de toneladas de celulose. Ao longo dos anos 1970, o governo militar incentivou a vinda de famílias a então despovoada região centro-oeste, atraídas por programas federais de aquisição de terras com baixo valor de compra. Nas décadas seguintes, Três Lagoas passou a acolher o maior rebanho de corte do país. Na atualidade, os produtores rurais da indústria agropecuária obtém alta rentabilidade arrendando áreas para plantações de eucaliptos. Para exportação, as carretas de toras de madeira atravessam a divisa do estado de São Paulo pela Ferrovia Novoeste e Hidrovia Paraná-Tietê rumo ao porto de Santos. (fonte: website da Suzano e revista Globo Rural)

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O barro tem cheiro de água de Lagoa que um dia carregou, Vermelha.

“Faz 2 anos que a Lagoa Vermelha secou” com resignação nos falou Rafaelzinho.

Atravessamos o fundo da Lagoa de

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de água

que um dia foi. A mudança do mundo coincide com a nossa mudança.

Somos feitos de água e secura, de peixes e pássaros, de plantas, lamas. Metamorfoses. Virginia de Medeiros

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Porto Geral, Corumbá 12


DIA DA CHEGADA DA ÁGUA REGIÃO CENTRAL DE CORUMBÁ PRIMEIRA CONTEMPLAÇÃO DA ÁGUA

Mãe D’Água Sou pouca neste lugar agora. Como posso na raridade dessa minha atual existência, neste local presente, cumprir aquilo que minha mãe me mostrou, meu destino de correr mundos? Uma vez ela me disse: “Quanto mais gotas nossas você encontrar, mais rápido você pode descer sobre a terra e voltar a subir para o ar. Mais caminhos você vai poder percorrer, levada pelo vento, pelas correntes de ar que ficam lá em cima, nas nuvens”. Nunca mais me esqueci dessas palavras de mãe que me mostraram um pouco de quem sou. Parece que as mães sempre indicam um caminho. Como fazer, como não fazer... Elas demonstram. A minha apontou tantas possibilidades. Quantas? Nem consigo contar. Depois de muito tempo sem nos vermos, uma vez, ela caiu exatamente em cima de mim e nos encontramos. Indescritível. Tão bom ser uma só com a nossa mãe. E das vezes que subi em um lugar bem longe daqui e caí exatamente em cima dela? Lembro que em uma dessas vezes o encontro era no mar, na imensidão e vastidão do mar. Mas hoje à noite algo de muito estranho aconteceu. Caí exatamente dentro do que chamaram ali, na hora, de balde. Uma coisa cumprida, clara, rígida. Caí com força, mas como me juntei com muitas de mim, dessa vez a queda durou mais de hora. Dois daqueles que falavam ali, por muitas vezes, tiraram essa coisa balde de baixo e me jogavam em algo que chamaram de calçada. Nela eu me espalhava de novo e me juntava com muitas, além, ao mesmo tempo em que partes de mim caíam na sala. Repetiram isso até que outro deles chegou com uma luz na mão e disse para deixarem a coisa balde no mesmo lugar. Ele dizia, “fiz essa bica no meio da sala mesmo, para a água da chuva cair aqui dentro, concentrada. Só tem uma coisa, o balde precisa ficar aí embaixo, para ela não furar o chão”. Como assim? Eu e minha família podemos furar essa coisa chão? Ainda vou conversar mais com as que já caíram aqui outras vezes, para entender melhor tudo isso. Isso tudo que aconteceu no meio do espaço onde várias estruturas que chamaram de caiaque ficavam escoradas nas paredes. Antes mesmo de entrar, eu já soube, lá na calçada, que as pessoas vinham buscar essas estruturas durante o dia para flutuar sobre minha família lá do outro lado da rua, família que chamam rio Paraguai. Amanda Melo da Mota

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Bar do Orlando do Caiaque, Corumbá (Orlando Inácio da Silva)

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A escola Jatobazinho tem como principal missão prover ensino integral para as crianças de Nível Fundamental I que têm dificuldade ou estão impossibilitadas de acessar estudos regulares na região do Paraguai Mirim. As grandes distâncias e o difícil acesso às moradias impossibilitam as idas e vindas dos alunos diariamente. A escola conta com alojamentos que, vazios por causa da pandemia, abrigaram o Projeto Pantanal Agora por dois dias antes da chegada na fazenda Santa Tereza.

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Uma das palavras que possivelmente refletem nossa experiência no Pantanal é “escala”. Já nos deslocamentos fluviais, com nosso grupo de passagem no generoso leito do rio Paraguai, tivemos uma dimensão, ainda que mínima, tanto do que foi criminosamente destruído quanto da força de refazimento dos biomas, seja pelas árvores trepadeiras se ramificando, seja pela solidez dos animais que, mesmo sem bando, ensinam sobre ser e fazer território. A ideia de escala também contornou nossa vivência em campo, muitas vezes para assentarmos que os sinais de autorreconstrução da natureza evidenciam na mesma medida as marcas de um projeto de aniquilamento que, infelizmente, nesta “democratura” que vivemos agora no Brasil, também é vasto. Nesta foto, registramos a Lagoa Vermelha, onde havia 4m de profundidade e, hoje, o chão árido revela a argila que havia sob a água. A bola de argila que flutua na imagem, jogada para cima, talvez nos relembre da escala da lama que está este país, com tantos corpos, não humanos e humanos, em extermínio constante às vistas e a perder de vista. Elilson

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Tira os sapatos.

20. 21. 22. Elilson A queimar de vista, 2020 Fotoperformance – tríptico de fotografias Câmera e edição: Rag e Virginia de Medeiros

Caminha, os pés entram na lama até os tornozelos. Puxa o pé, atola o pé. Passo a passo, com consciência. Era aqui que você tinha que subir no seu corpo, encarnar nele. Essa escada é o seu cavalo. Vai, coloca a escada no chão. Ela entra na terra, essa escada-corpo. Subo. Como subir? Um pé depois do outro. Vai, vem o avô na memória do corpo. O avô nascido no Mato Grosso do Sul. Pulou uma geração para alguém voltar para essa terra, entrar no próprio corpo e se despedir do corpo do avô. Amanda Melo da Mota 19


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Uma tempestade? Já não chove há dias, exatamente há uma semana. Não, não. Esse som são os besouros, estão se debatendo nas telas da casa. Toda a extensão da Casa Grande é de telas, telas bordadas de besouros agora. São escaravelhos? São milhares de filhotes deles. Sei não, são besouros. Algum predador falta nesta terra queimada. Apaga a luz! Eles param de tentar entrar na casa. Tudo no escuro, lá fora a chuva que não é chuva diminui aos poucos. Amanda Melo da Mota

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A paixão de Luci pela culinária despertou ainda criança, ajudando a sua mãe nos preparos de pratos e doces pantaneiros. Herança herdada pelo seu neto Arthur Ícaro Rondon Coelho de 2 anos de idade que ama brincar de cozinheiro. “Dedicado, adora misturar ingredientes e me ajudar.” Com sorriso de orgulho conta Luci. Chico-balanceado, doce de leite, sequilhos, sopa-paraguaia, macarrão de comitiva, paçoca de carne seca, bolinho de arroz, chipa. Tudo fresquinho feito com ingredientes não industrializados, é um dos segredos da Luci. Compreender sua culinária é entender a complexidade da formação da região: influência indígena, paraguaia, boliviana, gaúcha e do tropeiro rural são as camadas daqueles sabores. O tereré faz parte dos ritos do dia, consumido com água fria, refresca o calor e areja os pensamentos. Momento de sentar junto, de conversar e contar histórias sobre onça abusada, manobras de cobra, lanterna de luz que vagueia sem alma viva ao lado. Histórias que alimentam a imaginação, fabulam mundos e sonham futuros. Alice Lara e Virginia de Medeiros

Segue uma receita deliciosa de Lucineia Maria Brandão de Oliveira: 27


:: 1 pacote de Milharina 1 1/2 litro de leite 4 ovos 200 ml de óleo 3 cebolas grandes 1/2 quilo de queijo sal a gosto 1 colher rasa de açúcar 1 colher de fermento Royal

Sopa Paraguaia

:: Aqueça o leite bem quente, dissolva a Milharina e deixe descansar por 15 minutos para hidratar. Se ficar muito seca acrescente mais leite até ficar cremoso. Junte a cebola picada, os 4 ovos batidos levemente, o óleo, o queijo picado, fermento, sal e açúcar. Assar em forma untada com manteiga. Lucineia Maria Brandão de Oliveira

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Texto: Bené Fonteles Narração: Jonhatas de Andrade e Bené Fonteles Viola e edição: João Arruda

Caboclo pantaneiro 29


Aqui no meio do pantaneio tenho toda a largura do tempo pra espiar os ninhos enviarem mensagens matinais pra boca da noite. O céu fica coalhado de estrelas encantando a imaginação vertiginosa que vem juntinho do cansaço e no sono cheio de sonho com água. Águas quase caladinhas recebendo recados do vento sul esfriando a nuca e os pensamentos safados ou sem jeito, tudo manso de pecado. Cheio do recado das águas increspando, salivando cardumes no Cuiabá barrento da cheia alimentando o brejal entupido de capim doirado de sol. Chafurdado de lama, barro, atoleiro, um mundo sugador danado de passos ligeiros tropeçando nas coisas pequenas escondendo as pegadas fundas do bicho mais perigoso: nós mesmo, os home batizado e casado caçando onça pagã que derruba rês que mete medo em tudo que vive e é de uma beleza tamanha que mal sei discrever o que miro e sinto.

feitura. Mas também vem o lixo da vergonha junto da fartura pra tudo que é baixio e cavado. As lagoa grande ficam ainda mais imensa engolindo cada árvore que anté assusta. Mas todas cheinhas de branco da penugem dos coelheiro nas árvores secadas pela tanta água, fazendo ali, ninhal como as garça vindas do longe de todas direção e em bando pra apreciar o sol ir no minguando. Parece que tudo nestas cheias incha e fica prenhe como mulher pra ter criança no perto da lua plena. Transbordam afluentes igualzinhas como corre o veio torto curvando como cobra nas curvas do Cuiabá. Bonito de ver tanto peixe saltando por cima d’água, aves pernaltas andando inviezadas de um jeito tão sem jeito que até ficam demais de elegantes. Nos capões inchados naquela vastidão de aguaceiro tudo fica parecendo renegar que é lugar de humano e só ter existência mesma pras coisas umidecidas e lamacentas.

Sinto a alvorada na horinha do esplendor quando o sol se mete por tudo que é buraco da mata, amarela e azula o rio, a várzea já cheia de arara azul regurgitando bocaiúva e acuri, fazendo festa e zoada medonha pelo chão e pelo ar, azulando. Aqui o nativo guató ou caboclo, tem parecença com quem tem pêlo, escama, casco, pluma. O mesmo corpo de gente e bicho luzidios de suor e mormaço no meio dos gorgeios, pios e grunidos. Esgarnisados ocos secos rugidos pela mata pela água de remanso da cor de barranco, ou, de repente limpinha na clarescência. Dá pra aliviar o couro do calor sem cuidado com mordida braba da piranha e o aperto feio, feroz de sucuri. E por falar em calor, o mormaço se anuncia sempre grande quando a planíce aluvial esperando chuvas, imunda e escoa beleza e bem 30


Mundo de cobra, jacaré, capirava, anta, peixe. Mundo do boi e cavalo pantaneiro que agüentam ficar do casco ao joelho atolados quase o tempo todo de pasto pra pasto, de córrego pra córrego, de várzea pra várzea, de peão pra peão, com paciência de reza que só animal de olho amendoado tem poder pra agoentar tanto tormento, borrachudo, cobra e as vez anté afogamento, outras vez comida de piranha e onça, quando não doenças sem nome ou quebranto de caipora. Aqui carece de ter muita vocação pra ser anfíbio, como me explicou Seu Manoel, dizendo que isso é nome dado a bicho como o esperto jacaré a viver parte n’água, parte em margem pegando insolação por horas naquele calor que deixa até nós também de boca aberta. Mas jacaré que num é besta nem nada, fica lá, com a bocarra dele esperando passarim palitar os dentes com bico de pressa, ou, que alguma coisa entre de graça no vazio do ventre. Mais seu moço, tem também o tempo das lagoas que botaram o apilido estranho de “sazonais”, resolvendo encurtar por pouco a vida mansa dos peixes. E do nada, vem uma seca que devora sem dó anté os últimos bichinhos dos aroio e corichos das mata. Dá pena e desejo que venha de novo o viço das cheias com a pressa tragando cerca, engolindo cancelas, desfazendo caminhos. Pois num é isso mesmo, dá desejo de aluvião no querer zelar direito por tudo que Deus colocou aqui de bonito pelos caminhos do sem prumo e do incerto. Os caminho mesmo dos que tem tão pouco, servindo pros que tem tão muito. Todos cercados pelas mesmas águas, indo todos na mesma correnteza que levam de tudo de quem tem e de quem não.

Mas que dá gosto de espiar lagoa florida de aguapé pra pouso moleque de marreco, isso dá, mesmo o ouvir a coachada dos sapos atormentar o juízo. Prazer de ver a chalana passar cheia da zoada de conversa e fuxico do povo e do comércio bom, e mior, sentir a falta dela no perder de vista quando desaponta na curva do rio e se faz sumida a afamada, mas não no sentido da saudade da gente que ela traz e leva pra rumo de muito destino precioso. Mas aqui além de anté a alma ficar encharcada de água, também fica assim todos nós, um com os bicho, as árvore, essa gente pantaneira umidecida no calor da cabeça as bota, dos chifre aos casco. Mas sem nunca deixar de amar estas águas propicias a liberdade pra procurar o lençol das vazantes e ir embeber na cheia a beleza do Prata. Êta riozão que vai virar mar lá pelas banda sulina depois de passar por muitas sebes, fazendas antigas que encurtaram o vão da paisagem, vão derrubando mata virge, fazendo alargar ainda mais o pasto no perder de vista. Mais a vingança dos vagalhões d’água vai minando tudo e fazendo crer que o pantanal se defende de praga sozinho, do estrupiço dos home do dinheiro e da fama dos inludido. Mas ele pantanando, não deixa nós esquecer nunca do fragor que vem de longe das cachoeira, do perto dos mugido dos desgarrados bezerros iguais a meninos perdidos no ermo deste mundo sem tranca e porteira. E eu não me vejo em nenhuma outra paragem madrasta onde não vadie e espie a cara das manhã gloriosa aos pares enverdeando a orla da mata e criando barranco seguro de raiz, lodos nas pedras, ninhos cumprido nas árvores feito pela ciência sábia das ave. Nichos pros peixes se achegar de nós e a gente inté sem barco e remo cavucado no tronco, fazer com gosto dos pacu e pintado, o mior dos alimento. Pão pescado de cada dia comido e benzido na gratidão pro Criador. 31


Seu Manoel, fazendeiro de tradição daqui destas bandas, dizem que também poeta dos bão lá nas hora do fazer nada, inspirado pelas coisas deste mundão de águas, me ensinou a falar as tal das metáfora pra enganar a ignorância das gia e fazer muitas outras coisa ainda mais bestas, como desconversar vento com caramujo, cochichar no seu prumo bêbado e seguir o caminho silencioso do seu rastro gosmento. Ensinou também assistir coisa enferrujar naturalmente e aos pouco. E num é que aprendi a fazer estas coisas com jeito e maestria que inté me dô de espanto. Vou dando guiança e outro sentido aos plano da minha mente invertida. Antes, só via as coisa como que era, no simplório, nada além do que já era por ela mesma. E não é que descobri que essa existência mesma é muito besta e sem graça demais da conta quando não se inverte o sentido e emprenha de desserviço a fala. Seu Manoel, também me disse, que carecia de por sentido num tal de transver, enlouquecer a língua até ela ficar febril e vesga, inventar mania de verbo no avesso pro que eu quizer nomear de pronto, nunca de preciso. Lembrei de Dona Ritinha, minha mestra ensinando o menino com adjuntório da palmatória a conjugar verbo, e fiquei matutando conjugar o verbo pantanar de que falei no começo dessa prosa. Eu pantaneio, tu pantaneias, ele pantaneia. E é mior nem conjugar de resto pra não complicar demais os favo do miolo. Mais ainda do que Seu Manoel já me plantou de besteira na cabeça quando o visito caçando prosa. O pior, é que hoje ando vendo coisa que antes não via por cima do rio, pro dentro da mata, no antro da noite preta quando a lua num dá a cara pra treta e gloza. Pois num é que quando cavo buraco pra plantar muda e semente, já transvejo no chão cada coisa minhocando poesia? Nome da mania de oficio que Seu Manoel 32


me ensinou que faz bem pra azeitar a cabeça e amolecer o coração duro dessa vida. Mas se dela fizer oficio, daqui a pouco fico inutilizado pra fazer o serviço da lida de peão e vou viver do viço doido da contemplação vagabunda. E olha, que aqui, é a melhor coisa que o cristão pode fazer de natural quando dá uma folga no tempo e as águas vem absoluta. E ai, vou me por a espiar o dia murchar de luz; noite emprenhar céu de estrela e começar tudo de novo na manhãzinha com passarada gorgeiando e dando bom dia pro sol, pras fruta, pros filhotes avisando pra gente trabalhar e prestar gentileza com as coisa generosa da vida. Aqui não tem profissão mior de boa do que ir entregando o corpo lentamente n’água. É aqui o bom lugar e o mais preciso pra gente aprender a ser água se somo feito maior parte a carne dela mesma. Ir preparando alma praquele momento final do sublime que uns chamam morte, outros, passagem dos atropelo. Eu planteio que ela é rendição dipois de ter vivido tudinho com a maior presteza e com o melhor cuidado pelos chegados de casa, os vizinho e junto dos ente, as vezes, sofridinhos das matas e da águas que tem de comer uns aos outro por pura precisão e instinto. Mas bom mesmo, é chegar assim sem pressa na outra margem do desiludido sem ter saudade nenhuma de ter comido da fome de ter mesmo pouco e do mais simples, bebido da sede de ter mesmo, e muito, o mais belo e precioso dos paraíso, aquele que é aqui mesmo, pantaneiro. Bené Fonteles / Brasília, 2005/2015

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Alex Cerveny Sem título (cavalo pantaneiro), 2012, tinta caligráfica sobre papel, 8 x 10,5 cm Sem título (cavalo pantaneiro), 2012, tinta caligráfica sobre papel, 8 x 10,5 cm Sem título (cavalo pantaneiro), 2012, tinta caligráfica sobre papel, 8 x 10,5 cm

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Alex Cerveny Tuiuiú, 2012 Tela de aramida (fibra usada em coletes a prova de bala e equipamentos de segurança) 49 x 49 cm 35


Chegamos em um período caracterizado pelo começo das chuvas, mas onde ainda se vislumbra fumaça no horizonte. Rios de quatro metros de profundidade já não se enchem mais. Os leitos de rios estão carbonizados. O horror foi extremo. Persiste assim, no olhar e nas falas dos pantaneiros uma melancolia profunda. É um passado desesperador. E o sistema só parece anunciar as destruições de melhores futuros. Estar ali traz a noção de que a humanidade como um todo, cruzou linhas as quais não deveria ter ultrapassado… árvores de sangue ascendem invertidas sobre a terra. Não é um sangue fértil, mas um sangue anêmico, seco, metálico… Uma contranatureza em desertos verdes. Certos seres ali nunca voltarão a cantar. Alice Lara

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“Há que pegar na poesia aos tatos aos trancos aos trapos fazer dela vela chão e vala rastro ralé astro baixa cultura rastejar de poema ser de lama bela a ter de lesma o húmus lavra à pele e eleve a negra alma da lavagem humana ser possuído pelo mofo dum soneto.

Negar-se ser eterno a ganga bruta impura bem feroz do que moderna ter o poema que nos escreve serve torto a canção e espanta.

Ter do possuído uma canção de herança para se lamber de dor e maresia em fel e fé em mel e afeto o que de secreto há numa criança: sujá-la assim de flor e poesia”.

Bené Fonteles Sitio Rosa dos Ventos, MG, janeiro de 2021

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Alex Cerveny Rio Paraguai, 2012 Aquarela (água do Rio Paraguai) sobre papel 15 x 10,5 cm cada (total 15 x 63 cm aprox.)

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Rag, A ferro e fogo #1, 2020, pigmento mineral sobre papel algodão 76


A M O RPHOUS CA R B O N

57º30’14.43”W 18º17’16.218”S 17.07.2020 77


A indústria tem alguns pigmentos pretos. O mais comum é o PBk 7, que nada mais é do que resíduos de queimas de compostos orgânicos, entre eles a cinza de carvão. A pintura PBk 7 : Lagoa Vermelha é construída com esse pigmento, utilizando cinzas de árvores carbonizadas do local do incêndio florestal em 2020. 77. Rag PBk 7 : Lagoa Vermelha, 2021 (em processo), carvão e polímero acrílico sobre tela e madeira

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Acurizal carbonizado. Acuri é uma palmeira nativa, abundante no Pantanal. Ela alimenta grande número de espécies de mamíferos e aves. É o principal alimento da arara-azul, representa 90% da sua dieta. No pós-fogo

vem a fome cinza, o fogo é controlado mas os animais enfrentam a fome. Eles voltam para a área queimada e encontram um cenário devastado sem recursos para se alimentarem. Seca, fogo e fome cinzenta.

O Acurizal era uma grande fogueira carbonizada, senti a força de destruição dentro de mim... é preciso mudar. Tirei os sapatos e pedi perdão pela humanidade, única espécie capaz de propagar múltiplos ecocídios. Virginia de Medeiros

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“ Estamos nos preparando para 2021. Vai ser bem pior que 2020, os rios estão secos como nunca aqui no Pantanal. ” Nos alertou André Luiz Siqueira, que está à frente da ECOA - Ecologia e Ação - ONG ambiental criada em 1989 com atuação prioritária na Bacia do Prata, Pantanal e Cerrado.Quem puder ajudar nessa causa, segue o link para doação:

https://ecoa.org.br/apoie/

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“ Toda vez que temos a oportunidade de formar uma brigada comunitária é muito gratificante, pois no Pantanal as distâncias são enormes e os recursos relativamente escassos. ”

Encontramos nos relatos de Patrocínio, especialista em combate a incêndios com mais de 25 anos de experiência, um pouco da realidade desses profissionais. Patrocínio foi chefe da Brigada Pantanal PREVFOGO MS por 3 temporadas (2018, 2019, 2020), ministrou o curso de formação de duas turmas de Brigadistas Comunitários em Paraguai Mirim, para o qual tivemos a alegria de doar os EPIs. Partilhamos fragmentos de conversas que tivemos com esse grandioso ser humano. A rotina de quem está à frente dessa causa é sobre-humana, “O trabalho dos brigadistas do PREVFOGO (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) pode até ter hora para começar, mas certamente há dias em que não tem fim. (...) É de som e fúria que é feito esse trabalho. Mas, também, é feito de silêncios, de humildade, de voz que não se ouve, é invisível. Algumas informações encontramos em algumas matérias: https://www.campograndenews.com.br/cidades/interior/arotina-sobre-humana-de-quem-apaga-um-inferno-em-chamas-por-rs-998

Por conta do contrato de trabalho, os brigadistas atuam metade do ano como brigadistas contratados e outra metade do ano como brigadistas voluntários. Esse tipo de contrato funcionou há tempos, mas com a crise climática os combates a incêndios florestais acontecem durante todo o ano. Virginia de Medeiros

Ruberval Dimas do Patrocínio Suboficial da Marinha do Brasil 47 anos Naturalidade: Governador Valadares MG e criado em Barão de Cocais Especialista em combate a incêndios com mais de 25 anos de experiência. 91


“ É extremamente perturbador quando as comunidades pedem ajuda e o tempo de resposta não é apropriado com a urgência... Com as brigadas Comunitárias acredito que eles estão mais preparados para se proteger e também protegem ainda significativa parcela do meio ambiente. ”

“ Em 2018, tivemos poucos incêndios... Mas a Brigada busca sempre ser proativa na defesa do meio ambiente... Feito o recolhimento de toneladas de lixo no Pantanal sul-mato-grossense durante a mobilização contratual… ”

“ Devido às condições severas do trabalho... A gandola estraga muito rápido... Então imaginamos uma iniciativa que transformasse as gandolas danificadas dos brigadistas em ecobag… ”

“ Em 2018, lutamos contra o descaso com o lixo no Rio Paraguai… ”

“ Acredito que somente a ‘energia’ gerada pela conexão ao meio ambiente continua a mover estes homens… ”

“ É triste demais... Em 1986, proibiram a pesca de baleias... Paramos de jogar arpões... Mas começamos a jogar plásticos... Difícil definir qual atitude é mais cruel… ” “ Pra mim ser brigadista é como realizar um lindo sonho... É como se fosse uma missão divina... Entendo que tudo que aprendi ao longo de minha vida concorreu para me tornar um Brigadista Florestal... Mesmo tendo inúmeras limitações básicas... O coração ‘fala’ mais forte quando se trata de colaborar com a preservação ambiental… ”

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“ Também quando temos oportunidade... Abordamos quanto a questão do plástico... Nossas matas, assim como, nossas águas estão ‘infestadas’ pelo plástico... O que tem agravado, ainda mais a questão dos incêndios... Pois o plástico é derivado do petróleo... Potencializa a combustão e a fumaça tóxica gerada desorienta os animais… ”

“ Sobre a água... Como brigadista é a diferença entre a vida “ Prevfogo nosso centro nacional.... e a morte... A Brigada Pantanal, devido as características da Por excelência referência mundial... área de atuação acabou se especializando em motobombas... Em combate de incêndio florestal... Algo que não é tão comum em combate a incêndios florestais... Prevenir... Além disso, no Pantanal, muitas vezes, o rio é a estrada e entre E combater... os Brigadistas Pantaneiros existem 'navegadores' experientes... Recuperar... Durante os combates há sempre a preocupação quanto a E defender... desidratação, por isso uma das bombas costais deve estar Há dignidade em nossa missão... abastecida com água potável pra manter a combatividade... Persevero com um nobre Coração... E já vimos acontecer muitas vezes... No limite da resistência Combatendo pelo meio ambiente... humana quando não há mais esperança de 'vitória' a Aqui estou bem na linha de frente... intervenção divina vem… Igual na história do beija-flor... ” O trabalho não pode parar... A mudança chegou pra ficar... Minha brigada é muito valente... Motivada!!! E bem consciente... Luta por um futuro feliz... “ … tentamos explicar a relação da água como agente extintor... Acredita em nosso País... Já no lado da percepção humana, vejo alguma como a dona Brigada!!! da vida... Vejo como o início de tudo... No primeiro átomo Pantanal!!! de hidrogênio... No nascimento da vida, nos oceanos... Prevfogo!!! Na produção do oxigênio para nossa atmosfera... Na divisão Brasil!!! ” da Pangeia, em continentes... Nos rios, como sendo os vasos sanguíneos da terra... Parafraseando 'Terra planeta água'. ”

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100. 101. Amanda Melo da Mota e Rag, Brigadistas Artistas 1, 2020, fotografia, díptico 102


Dimas do Patrocínio

Fabrício Silva Costa

Gilson Rodrigues de Amorim

Brigadistas instrutores 103


Agnaldo Arruda

Aldir Pereira

Daniel Maciel de Morais

Elias Oliveira Santos

Firmino Neto

Joselaine da Silva Camargo

Luiz Pereira de Oliveira

Ricardo da Silva Fernades

Odair José dos Santos

Odair Ramires

Odinei dos Santos Bastos

Rosa Bastos

Wellington da Silva Camargo

Wilson Pilar

Brigadistas Comunitários formados 104


Alex Cerveny

Alice Lara

Amanda Melo da Mota

Bené Fonteles

Elilson

Jonathas de Andrade

Luciana Ohira & Sergio Bonilha

Marcio Harum

Marcos Farinha

Rag

Santídio Pereira

Virgínia de Medeiros

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Agradecimentos André Luiz Siqueira Beta Germano Dr. Carlos Augusto de Aguiar Quadros Cristina Gouveia Dimas do Patrocínio Erika Verzutti Fabrício Lopez Gabriel Caixeta Júlia Morelli Luciana Abreu Marcia Fortes Marcia Vaitsman Nei Vargas Nilton Picagli (Votupoca) Raquel Via Solis Rebla Vasconcelos Renata Pelegrini Sergio Carvalho Sissy Fontes Solange Farkas Sylvia Bourroul Teresa Bracher ACAIA PANTANAL: Corumbá: Flavia Joaquim Nildete Escola Jatobazinho: Fernanda Vinicius

Fazenda Santa Tereza: Luci Raíssa Raphael BRIGADISTAS FORMADOS: Agnaldo Arruda Aldir Pereira Daniel Maciel Elias Oliveira Firmino Neto Joselaine da Silva Luiz Pereira Odair dos Santos Odair Ramires Odinei Bastos Ricardo da Silva Rosa Bastos Wellington da Silva Wilson Pilar ECOA: Fran Jaburu Nathália INSTITUTO AGWA: Jaqueline Odair PREVFOGO: Gilson Rodrigues de Amorim Fabrício Silva Costa Dimas do Patrocínio

Projeto gráfico: Virginia de Medeiros Layouts: Insituto Antes Arte / Projeto Pantanal Agora Diagramação / Arte final: Rag Revisão texto: Elilson / Luciana Ohira / Sergio Bonilha

Créditos fotos: capa. Jonathas de Andrade / Rag 2. Jonathas de Andrade 9. 10. Rag 11. Virginia de Medeiros 12. Rag 13. Jonathas de Andrade 14. Rag 15. Amanda Melo da Mota / Rag 16. Amanda Melo da Mota 17. Vinicius (Escola Jatobazinho) 18. Jonathas de Andrade 19. Amanda Melo da Mota 23. 24. 25. Jonathas de Andrade 26. Alice Lara 27. Jonathas de Andrade 29. Marcos Farinha 36. 37. Alice Lara 40. Jonathas de Andrade 46. Rag 49. Virginia de Medeiros 50. Rag 58. 59. 60. Virginia de Medeiros 61. Rag 62. Virginia de Medeiros 63. Jonathas de Andrade

64. 65. Rag 70. Jonathas de Andrade 71. 72. 73. Amanda Melo da Mota / Virginia de Medeiros 78. 79. Rag 80. Rag / Virginia de Medeiros 81. Virginia de Medeiros 82. 83. Rag 84. 85. 86. Virginia de Medeiros 87. 88. Rag 89. Virginia de Medeiros 90. Rag 91. Jonathas de Andrade 92. Jonathas de Andrade / Rag 93. 94. 95. 96. 97. 98. 99. Rag 100. Jonathas de Andrade 103. Rag 104. Jonathas de Andrade / Rag 105. diversos 107. Jonathas de Andrade

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“Há que pegar na poesia aos tatos aos trancos aos trapos fazer dela vela chão e vala rastro ralé astro baixa cultura rastejar de poema ser de lama bela a ter de lesma o húmus lavra à pele e eleve a negra alma da lavagem humana ser possuído pelo mofo dum soneto.

Negar-se ser eterno a ganga bruta impura bem feroz do que moderna ter o poema que nos escreve serve torto a canção e espanta.

Ter do possuído uma canção de herança para se lamber de dor e maresia em fel e fé em mel e afeto o que de secreto há numa criança: sujá-la assim de flor e poesia”.

Bené Fonteles Sitio Rosa dos Ventos, MG, janeiro de 2021

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Alex Cerveny Rio Paraguai, 2012 Aquarela (água do Rio Paraguai) sobre papel 15 x 10,5 cm cada (total 15 x 63 cm aprox.)

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Rag, A ferro e fogo #1, 2020, pigmento mineral sobre papel algodão 76


A M O RPHOUS CA R B O N

57º30’14.43”W 18º17’16.218”S 17.07.2020 77


A indústria tem alguns pigmentos pretos. O mais comum é o PBk 7, que nada mais é do que resíduos de queimas de compostos orgânicos, entre eles a cinza de carvão. A pintura PBk 7 : Lagoa Vermelha é construída com esse pigmento, utilizando cinzas de árvores carbonizadas do local do incêndio florestal em 2020. 77. Rag PBk 7 : Lagoa Vermelha, 2021 (em processo), carvão e polímero acrílico sobre tela e madeira

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Acurizal carbonizado. Acuri é uma palmeira nativa, abundante no Pantanal. Ela alimenta grande número de espécies de mamíferos e aves. É o principal alimento da arara-azul, representa 90% da sua dieta. No pós-fogo

vem a fome cinza, o fogo é controlado mas os animais enfrentam a fome. Eles voltam para a área queimada e encontram um cenário devastado sem recursos para se alimentarem. Seca, fogo e fome cinzenta.

O Acurizal era uma grande fogueira carbonizada, senti a força de destruição dentro de mim... é preciso mudar. Tirei os sapatos e pedi perdão pela humanidade, única espécie capaz de propagar múltiplos ecocídios. Virginia de Medeiros

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“ Estamos nos preparando para 2021. Vai ser bem pior que 2020, os rios estão secos como nunca aqui no Pantanal. ” Nos alertou André Luiz Siqueira, que está à frente da ECOA - Ecologia e Ação - ONG ambiental criada em 1989 com atuação prioritária na Bacia do Prata, Pantanal e Cerrado.Quem puder ajudar nessa causa, segue o link para doação:

https://ecoa.org.br/apoie/

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“ Toda vez que temos a oportunidade de formar uma brigada comunitária é muito gratificante, pois no Pantanal as distâncias são enormes e os recursos relativamente escassos. ”

Encontramos nos relatos de Patrocínio, especialista em combate a incêndios com mais de 25 anos de experiência, um pouco da realidade desses profissionais. Patrocínio foi chefe da Brigada Pantanal PREVFOGO MS por 3 temporadas (2018, 2019, 2020), ministrou o curso de formação de duas turmas de Brigadistas Comunitários em Paraguai Mirim, para o qual tivemos a alegria de doar os EPIs. Partilhamos fragmentos de conversas que tivemos com esse grandioso ser humano. A rotina de quem está à frente dessa causa é sobre-humana, “O trabalho dos brigadistas do PREVFOGO (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) pode até ter hora para começar, mas certamente há dias em que não tem fim. (...) É de som e fúria que é feito esse trabalho. Mas, também, é feito de silêncios, de humildade, de voz que não se ouve, é invisível. Algumas informações encontramos em algumas matérias: https://www.campograndenews.com.br/cidades/interior/arotina-sobre-humana-de-quem-apaga-um-inferno-em-chamas-por-rs-998

Por conta do contrato de trabalho, os brigadistas atuam metade do ano como brigadistas contratados e outra metade do ano como brigadistas voluntários. Esse tipo de contrato funcionou há tempos, mas com a crise climática os combates a incêndios florestais acontecem durante todo o ano. Virginia de Medeiros

Ruberval Dimas do Patrocínio Suboficial da Marinha do Brasil 47 anos Naturalidade: Governador Valadares MG e criado em Barão de Cocais Especialista em combate a incêndios com mais de 25 anos de experiência. 91


“ É extremamente perturbador quando as comunidades pedem ajuda e o tempo de resposta não é apropriado com a urgência... Com as brigadas Comunitárias acredito que eles estão mais preparados para se proteger e também protegem ainda significativa parcela do meio ambiente. ”

“ Em 2018, tivemos poucos incêndios... Mas a Brigada busca sempre ser proativa na defesa do meio ambiente... Feito o recolhimento de toneladas de lixo no Pantanal sul-mato-grossense durante a mobilização contratual… ”

“ Devido às condições severas do trabalho... A gandola estraga muito rápido... Então imaginamos uma iniciativa que transformasse as gandolas danificadas dos brigadistas em ecobag… ”

“ Em 2018, lutamos contra o descaso com o lixo no Rio Paraguai… ”

“ Acredito que somente a ‘energia’ gerada pela conexão ao meio ambiente continua a mover estes homens… ”

“ É triste demais... Em 1986, proibiram a pesca de baleias... Paramos de jogar arpões... Mas começamos a jogar plásticos... Difícil definir qual atitude é mais cruel… ” “ Pra mim ser brigadista é como realizar um lindo sonho... É como se fosse uma missão divina... Entendo que tudo que aprendi ao longo de minha vida concorreu para me tornar um Brigadista Florestal... Mesmo tendo inúmeras limitações básicas... O coração ‘fala’ mais forte quando se trata de colaborar com a preservação ambiental… ”

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“ Também quando temos oportunidade... Abordamos quanto a questão do plástico... Nossas matas, assim como, nossas águas estão ‘infestadas’ pelo plástico... O que tem agravado, ainda mais a questão dos incêndios... Pois o plástico é derivado do petróleo... Potencializa a combustão e a fumaça tóxica gerada desorienta os animais… ”

“ Sobre a água... Como brigadista é a diferença entre a vida “ Prevfogo nosso centro nacional.... e a morte... A Brigada Pantanal, devido as características da Por excelência referência mundial... área de atuação acabou se especializando em motobombas... Em combate de incêndio florestal... Algo que não é tão comum em combate a incêndios florestais... Prevenir... Além disso, no Pantanal, muitas vezes, o rio é a estrada e entre E combater... os Brigadistas Pantaneiros existem 'navegadores' experientes... Recuperar... Durante os combates há sempre a preocupação quanto a E defender... desidratação, por isso uma das bombas costais deve estar Há dignidade em nossa missão... abastecida com água potável pra manter a combatividade... Persevero com um nobre Coração... E já vimos acontecer muitas vezes... No limite da resistência Combatendo pelo meio ambiente... humana quando não há mais esperança de 'vitória' a Aqui estou bem na linha de frente... intervenção divina vem… Igual na história do beija-flor... ” O trabalho não pode parar... A mudança chegou pra ficar... Minha brigada é muito valente... Motivada!!! E bem consciente... Luta por um futuro feliz... “ … tentamos explicar a relação da água como agente extintor... Acredita em nosso País... Já no lado da percepção humana, vejo alguma como a dona Brigada!!! da vida... Vejo como o início de tudo... No primeiro átomo Pantanal!!! de hidrogênio... No nascimento da vida, nos oceanos... Prevfogo!!! Na produção do oxigênio para nossa atmosfera... Na divisão Brasil!!! ” da Pangeia, em continentes... Nos rios, como sendo os vasos sanguíneos da terra... Parafraseando 'Terra planeta água'. ”

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100. 101. Amanda Melo da Mota e Rag, Brigadistas Artistas 1, 2020, fotografia, díptico 102


Dimas do Patrocínio

Fabrício Silva Costa

Gilson Rodrigues de Amorim

Brigadistas instrutores 103


Agnaldo Arruda

Aldir Pereira

Daniel Maciel de Morais

Elias Oliveira Santos

Firmino Neto

Joselaine da Silva Camargo

Luiz Pereira de Oliveira

Ricardo da Silva Fernades

Odair José dos Santos

Odair Ramires

Odinei dos Santos Bastos

Rosa Bastos

Wellington da Silva Camargo

Wilson Pilar

Brigadistas Comunitários formados 104


Alex Cerveny

Alice Lara

Amanda Melo da Mota

Bené Fonteles

Elilson

Jonathas de Andrade

Luciana Ohira & Sergio Bonilha

Marcio Harum

Marcos Farinha

Rag

Santídio Pereira

Virgínia de Medeiros

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Agradecimentos André Luiz Siqueira Beta Germano Dr. Carlos Augusto de Aguiar Quadros Cristina Gouveia Dimas do Patrocínio Erika Verzutti Fabrício Lopez Gabriel Caixeta Júlia Morelli Luciana Abreu Marcia Fortes Marcia Vaitsman Nei Vargas Nilton Picagli (Votupoca) Raquel Via Solis Rebla Vasconcelos Renata Pelegrini Sergio Carvalho Sissy Fontes Solange Farkas Sylvia Bourroul Teresa Bracher ACAIA PANTANAL: Corumbá: Flavia Joaquim Nildete Escola Jatobazinho: Fernanda Vinicius

Fazenda Santa Tereza: Luci Raíssa Raphael BRIGADISTAS FORMADOS: Agnaldo Arruda Aldir Pereira Daniel Maciel Elias Oliveira Firmino Neto Joselaine da Silva Luiz Pereira Odair dos Santos Odair Ramires Odinei Bastos Ricardo da Silva Rosa Bastos Wellington da Silva Wilson Pilar ECOA: Fran Jaburu Nathália INSTITUTO AGWA: Jaqueline Odair PREVFOGO: Gilson Rodrigues de Amorim Fabrício Silva Costa Dimas do Patrocínio

Projeto gráfico: Virginia de Medeiros Layouts: Insituto Antes Arte / Projeto Pantanal Agora Diagramação / Arte final: Rag Revisão texto: Elilson / Luciana Ohira / Sergio Bonilha

Créditos fotos: capa. Jonathas de Andrade / Rag 2. Jonathas de Andrade 9. 10. Rag 11. Virginia de Medeiros 12. Rag 13. Jonathas de Andrade 14. Rag 15. Amanda Melo da Mota / Rag 16. Amanda Melo da Mota 17. Vinicius (Escola Jatobazinho) 18. Jonathas de Andrade 19. Amanda Melo da Mota 23. 24. 25. Jonathas de Andrade 26. Alice Lara 27. Jonathas de Andrade 29. Marcos Farinha 36. 37. Alice Lara 40. Jonathas de Andrade 46. Rag 49. Virginia de Medeiros 50. Rag 58. 59. 60. Virginia de Medeiros 61. Rag 62. Virginia de Medeiros 63. Jonathas de Andrade

64. 65. Rag 70. Jonathas de Andrade 71. 72. 73. Amanda Melo da Mota / Virginia de Medeiros 78. 79. Rag 80. Rag / Virginia de Medeiros 81. Virginia de Medeiros 82. 83. Rag 84. 85. 86. Virginia de Medeiros 87. 88. Rag 89. Virginia de Medeiros 90. Rag 91. Jonathas de Andrade 92. Jonathas de Andrade / Rag 93. 94. 95. 96. 97. 98. 99. Rag 100. Jonathas de Andrade 103. Rag 104. Jonathas de Andrade / Rag 105. diversos 107. Jonathas de Andrade

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