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Programa de Excelência Projetos, Execução e Manutenção

Engenharia, Arquitetura, Agronomia e Geociências Fascículo 2 | Do Projeto ao Edifício a Busca da Excelência Profissional CREA-PR e Entidades de Classe


Programa de Excelência Projetos, Execução e Manutenção Engenharia, Arquitetura, Agronomia e Geociências Do Projeto ao Edifício a Busca da ExcelênciaProfissional

CREA-PR E ENTIDADES DE CLASSE

Arquiteto Jaime Pusch

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Curitiba 2009


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INTRODUÇÃO Há dois mil e quarenta anos atrás, um cidadão romano escrevia o primeiro tratado sobre a arte de edificar. Chamava-se Marco Lúcio Vitrúvio. Deixou para a posteridade dez pergaminhos que se tornaram conhecidos como “de Architectura” ou, na versão moderna em português, “Os Dez Livros da Arquitetura”. Discorria sobre as coisas que eram da competência dos construtores da época: edificações, cidades, templos, muralhas, armamentos, portos, aquedutos, máquinas, relógios... Mais que isto, deixou os fundamentos teóricos e as primeiras prescrições para a arte de bem edificar. Preconizava que o edifício só tinha sentido se feito em consideração às pessoas. Proclamava o rigor da “simetria” (as medidas corretas) e recomendava a economicidade nas construções, já naquela época. Estabeleceu os princípios que norteiam o projeto do edifício, quais sejam os da técnica, aliada à funcionalidade e à estética. O cânone maior é o equilíbrio harmônico das três funções, que são as clássicas dimensões qualitativas do bom edifício. Em latim: firmitas, utilitas, venustas. Era este o entendimento de Vitrúvio sobre a excelência em projetos. E até hoje pensamos assim. Não mais executamos obras com rascunhos em plaquetas de argila, como na Acádia, ou em tábuas enceradas e papiros, como faziam os gregos e egípcios. Até mesmo a boa e velha prancheta de desenho com sua régua T, papel vegetal e nanquim, esquadros e compassos estão sendo abandonados. A prancheta é móvel em desuso, trambolho de escritório que restou como mera figura de linguagem. Hoje, trabalhamos com o pico da tecnologia da informática, com sofisticados computadores e softwares. Mas, o que interessa é que o espírito que anima o projeto continua o mesmo. O edifício há de ser tecnicamente bem resolvido, há que ser funcional para o que se destina e, logicamente, belo. Há que ser destinado às pessoas e ser construído economicamente, sem regatear ou esbanjar. E o projetista buscará este estado de excelência, libertando-se da mediocridade que, às vezes, o tenta pelas imposições circunstanciais de soluções expeditas e improvisadas. O CREA-PR, em seu Programa de Excelência vem a buscar o resgate destes princípios milenares para a prática cotidiana dos profissionais projetistas jurisdicionados. Agora, com uma


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visão mais atualizada e inserida na realidade paranaense. O público-alvo preferencial é o estudante de engenharia e arquitetura, sem, no entanto, deixar de visar o profissional que já está há anos na prancheta. Sua intenção não é outra que a valorização profissional. Nada mais justo. Este pequeno texto não pretende ser um tratado de projeto do edifício, nem um método prático de fazer desenhos ótimos para o profissional adotar em seu dia-a-dia. Cada um tem seu método e o direito de expressar sua criatividade da melhor forma que lhe aprouver. Menos ainda pretende-se uma receita para a busca do reconhecimento público de sua competência. Nada de autoajuda ou fórmulas motivacionais de sucesso. Apenas algumas reflexões sistêmicas sobre a prática corriqueira do projeto de edificação e suas correlações éticas. Ou, minimamente, alguns pontos para discussão sobre a busca da excelência na prática profissional de projetar edificações. Mais ou menos como o velho Vitrúvio gostaria que fizéssemos.

Jaime Pusch Arquiteto

Parte 1

O edifício em projeto...


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I – O edifício O edifício é o testemunho da civilização O homem se diferencia de outros animais pela capacidade de produzir seu próprio alimento e de construir seu sítio. Inicialmente edificava para criar o seu abrigo e de sua família ou tribo, para sua defesa das intempéries e dos agressores naturais. Posteriormente passou a edificar para criar o espaço de seu trabalho, de suas reservas patrimoniais, de sua produção e transações e de seus cultos. Da choupana e da tenda para as fortificações e os palácios, as indústrias e o comércio, os centros de cultivo do corpo e do espírito, os templos e os túmulos de seus ancestrais. Neste interminável caminhar deixou rastros de sua passagem pelo planeta, descrevendo na pedra este fenômeno que chamamos de civilização. O edifício é também símbolo veemente de poder. Do poder de uns homens sobre outros e do poder do gênero humano sobre a natureza. Desde a primeira choupana de galhos e folhas do Neolítico até o Ninho de Pássaro no centro olímpico de Pequim, a ideia motivadora sempre foi a mesma, variando apenas os métodos e materiais. O homem transforma os recursos do ambiente para criar espaços adequados às suas necessidades funcionais e aos seus anseios e desejos espirituais. Sempre em um ato de resoluta vontade transformadora. Isto é o edifício e a eterna necessidade humana de edificar. “Fazer com que as obras de Engenharia, Arquitetura, Agronomia e Geociências executadas no Estado do Paraná possuam todos os projetos necessários ao atendimento da legislação vigente e aos conceitos estabelecidos pelo Programa”. Nota-se que a legislação deve, sim, ser amplamente estudada e totalmente compreendida pelos profissionais. Podemos entendê-la como um pré-requisito para o bom exercício das profissões, porém, o objetivo do programa transcende ao legal e entra na discussão do recomendável, do desejável, ou seja, daquilo que se espera do bom exercício das profissões, fundamentado no exercício ético, sobretudo no correto tratamento ao ser humano.


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Expressão da evolução da tecnologia O dia em que nosso bisavô (ou bisavó), lá no Neolítico, resolveu juntar uns ramos secos de árvore e cobri-los com algumas palhas para se abrigar da noite fria ou do sol abrasador, estava inventando não só a arquitetura, como expandindo a engenharia. Mais que isto, diversificando a tecnologia que havia iniciado com a invenção do porrete de pau para atacar e defender; do pilão de pedra, da cuia de purungo e do plantio de sementes. Deixava de ser uma horda vagante de coletores para ser uma sociedade sedentária que produzia, plantava e construía. A ideia de civilização é indissociável da ideia de tecnologia edilícia. O tempo passou. Aprendeu a produzir e a melhor manusear o fogo e a modelar o barro, aperfeiçoou suas armas e ferramentas, melhorou as condições de seu lar. Produziu mais, consumiu mais, reservou e trocou excedentes. Especializou-se, enfim. Hoje, constrói o Ninho de Pássaro e o Cubo d’Água em Pequim. Com o mesmo espírito com que juntou e armou galhos e folhas, porém com a mais sofisticada expressão do desenvolvimento tecnológico que a humanidade pôde alcançar até então. E ainda, com a mais especializada e racional divisão do trabalho possível no século da tecnologia. Arquitetos, engenheiros, técnicos, operários perfeitamente harmônicos e sincronizados em seu poder criador. Sempre fazendo mais um monumento ao clímax civilizatório atingido naquele momento.

Interesse social A organização do homem em comunidades, com a consequente divisão social do trabalho, coincide com os primeiros passos da tecnologia e da arte de edificar. Não mais vivia em hordas, porém em sociedade. A modesta edificação para o abrigo individual ganha conotações de interesse comum. A oca coletiva, os armazéns, as casas de ritos, os paços do poder. A própria habitação individual passa a ser considerada em sua relação referencial com as demais, esboçando a aldeia, a urbe. O edifício nunca mais seria um fato isolado, um feito individual, mas uma parcela de toda a tessitura urbana e ambiental. Esta a dimensão social da unidade edilícia: a sua complexa inserção locacional espaço-temporal e de relações dinâmicas em uma circunstância urbana, comunal, com outros edifícios e bens públicos.

Natural que, as sociedades se organizando, consolidem o poder controlador de suas próprias relações. Desde o pajé que indicava com seu bastão mágico onde e como cada família montaria sua tenda ou choça no entorno da praça, da taba até aos atuais organismos controladores da edificação, com suas posturas, planos diretores, códigos de obras, alvarás, regulações profissionais, sempre esteve presente o poder controlador. Modernamente, é o Estado impessoal, democrático, de direito, sujeitando a vontade individual de edificar a padrões normativos no interesse social. Em cada unidade construída repousa o interesse social, a mão do profissional e o controle do poder público.

Ato interprofissional Arquitetura é, antes de tudo, a arte de edificar. Durante muitos séculos edificou-se com pedra, argila e madeira. O maestro da edificação era uma pessoa só, o “supremo artífice”, que detinha todo o conhecimento passado de geração a geração, necessário para idealizar e ordenar a execução do edifício como um todo. Assim foi na Antiguidade, na Roma, na Idade Média e até o início da Idade Moderna. Com o advento da Revolução Industrial houve um incremento extraordinário da ciência e da tecnologia e seus reflexos atingiram a arte de edificar. Novos materiais, novas técnicas, novos conceitos foram aportados. Aquilo que uma só pessoa poderia fazer passou a requerer o contributo de outros nichos do conhecimento humano. A arquitetura passou a ser indissociável da engenharia, desde a produção dos mais simples materiais até as mais sofisticadas técnicas de estruturas e instalações. Novamente, a divisão social do trabalho e do saber se reordena em torno das novas técnicas edilícias. Por volta do século XIX, as profissões voltadas para a arte de construir tendem a se definir em especializações, mormente as ditadas pelo aço, pelo concreto e pelos mecanismos e suprimentos sanitários e energéticos.


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Com o passar do século XX, as modalidades profissionais da edificação mostram-se tendentes a um mais aprofundado detalhamento quanto à sua espécie. Mais tecnologia, mais técnicas, mais especializações. De tal sorte que, hoje em dia, não se concebe mais o edifício sendo erigido sem o concurso de um número expressivo de profissionais especializados, estando afastada a ideia do “supremo artífice” como sábio isolado em seu pedestal, capitaneando soberbo todo o processo de construir edifícios. Uma simples olhada em um prédio, por modesto que seja, revelará que sua anatomia não é mais apenas pedra, argila e madeira. Lá estarão as instalações de fluidos, de energia, de equipamentos térmicos e mecânicos, os indispensáveis elementos de estruturas vencendo vãos e esforços inconcebíveis até duzentos anos atrás. Novos elementos vieram para ficar e com eles, as necessárias especializações profissionais. Construir, hoje em dia, é um ato necessariamente interprofissional. Um bom edifício, por mais modesto que seja, se fosse uma música, não seria um solo de reco-reco, mas uma bela sinfonia executada por bem afinada orquestra.

II – Planos, projetos, desenhos, plantas... Apenas como revisão daquilo que é ensinado nas academias, conceituemos plano e projeto e estabeleçamos a sua diferença de significado de desenho e planta. Os dicionários registram que projeto e plano são conceitos quase similares. Os dois conceitos são muito próximos. Ambos, no entanto, trazem a semântica dessas palavras como sendo atos de idealização, de abstração, de antecipação da coisa concreta. Dizem ainda que tanto plano como projeto “é o esboço ou desenho de uma obra a realizar”. No nosso linguajar técnico, tendemos a fazer uma sutil distinção entre plano e projeto. O plano é uma projeção de ideias e propostas mais genérica, mais abrangente. O projeto, por outro lado, é mais objetivo, mais específico e detalhado. Se o plano apresenta uma certa flexibilidade de ajustes, modificações, expansões e reduções, o projeto é, por sua vez, mais rígido, determinante e definitivo. O plano detecta a viabilidade e delineia os caminhos para a realização de uma pretensão, o projeto, por sua vez, dá a solução executiva e a definição do produto. Neste entendimento, no processo de concepção projetiva, o plano antecede o projeto e, frequentemente é chamado de anteprojeto ou pré-projeto. Porém, não incorre em erro linguístico quem chama o projeto de plano. Também, no linguajar corriqueiro, projeto pode ser chamado de desenho ou planta.

Plano Plano é o processo mental que define o caminho a percorrer e o objetivo a alcançar. É uma questão de definição de objetivos e construção ou adoção de métodos. Desenvolve-se pelo conhecimento claro e realista da tarefa a ser cumprida e dos recursos disponíveis para tanto. Os recursos são finitos e muitas vezes as demandas são ilimitadas. Planejar é otimizar recursos e resultados. Elaborar um plano é estabelecer a maneira de alcançar um objetivo maximizando os resultados e minimizando os gastos. O projeto é em suma, um plano, com algumas distinções pragmáticas e de objetivo.


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Projeto As organizações realizam trabalho e esse trabalho é materializado em seu produto. O produto pode ser um serviço continuado ou um projeto. Eles têm algo em comum. Tanto quanto qualquer outro produto ou serviço os projetos são feitos por pessoas, têm limitação de recursos e são alvos de planejamento, execução e controle. Os projetos, todavia, se diferenciam de outros produtos pelo seu caráter peculiar. Enquanto a realização dos produtos de uma organização é de caráter continuado, o projeto é temporário. Isto é, tem começo, meio e fim. Se os produtos em geral podem ser múltiplos ou repetitivos, o projeto é unitário e de resultado único. Sempre será único, mesmo que, a posteriori, seu resultado seja aproveitado inúmeras vezes, como é o caso dos produtos industriais. Esta unicidade do produto implica em que ele seja entendido também como novo, inédito, incorporando ao ato de projetar uma intenção inovadora. Por exemplo, uma construtora executa continuadamente edifícios, porém cada edifício tem seu projeto próprio. Mesmo que utilize projetos padronizados, cada unidade lançada é única e personalizada em um projeto novo, por mais que incorpore conceitos repetitivos. O projeto também apresenta a peculiaridade de ser obrigatoriamente de elaboração progressiva, o que lhe impõe a necessidade de composição metodológica, com seus devidos tempos e passos. Estas são as qualidades que caracterizam o projeto: Planificação; Controle; Exequibilidade; Temporariedade; Progressividade; Unicidade. Podemos então conceituar projeto como sendo um empreendimento planejado e controlado, exequível, temporário e de concepção progressiva, que objetiva a criação de um produto único.

Desenho O mais importante é que tenhamos em vista que o projeto não se confunde com o desenho. Mesmo porque, é possível fazer-se projetos expressando-os literária ou verbalmente, sem o uso da linguagem gráfica linear geométrica. No caso da edificação, os projetos são, por tradição e norma, apresentados necessariamente em desenhos. Projeto e desenho são conceitos íntimos e correlatos, mas não são a mesma coisa. O projeto é uma idealização proativa e o desenho sua representação gráfica. O desenho é um instrumental visual auxiliar para a expressão de uma ideia mais complexa, é uma linguagem convencional de compreensão comum. Também são distintas as especializações que concorrem para a formatação gráfica de um projeto. O projetista é o artista idealizador, o criador, o profissional dominante da tecnologia de sua especialidade. O desenhista, este importante auxiliar técnico, é o habilidoso tradutor das ideias do projetista para uma expressão gráfica convencional, qual seja, o desenho.


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Planta No linguajar popular costuma-se chamar o projeto de “planta”. Para os técnicos, no entanto, planta é tão somente um dos elementos gráficos expressivos da ideia que é o projeto. A planta é, como chamamos em linguagem da geometria descritiva, uma épura ou uma projeção ortogonal horizontal desenhada do edifício. Também são projeções ortogonais outros elementos representativos gráficos, como os cortes, fachadas, detalhes.

III – O projeto do edifício Antes de vir ao papel, o edifício e suas partes surgem na mente do projetista. O ato de projetar um edifício é a complexa técnica criativa que se formaliza na representação gráfica de uma ideia. No caso, a ideia de um edifício que ainda não existe no mundo real, sem existência concreta, ainda.

Uma linguagem técnica Não se tem registro de quando a prática do projeto passou a ter predominância e precedência na arte de construir. Há registros de representações gráficas de edifícios desde tempos antigos, no Oriente Médio e China. Há uma curiosa estátua do Rei Gudéia de Lagash, no museu do Louvre, empunhando uma régua e uma prancheta e, sobre ela, o desenho de um templo. Esta estátua tem cerca de 4.100 anos. A Bíblia narra a construção do templo de Salomão, ocorrida cerca de 980 a.C. A riqueza de detalhes da sua descrição e a precisão das medidas narradas presumem que o arquiteto fenício Hiram Abiff e o próprio Salomão já dominavam alguns cânones da geometria e as técnicas do projeto. Seriam, no entanto, esboços rústicos, sem preocupações normativas, que podem até ter sido gerados após a obra pronta. A prática de grafar o projeto em projeções bidimensionais, com algum critério, tem sido um recurso útil corrente adotado desde o período Helênico, passando por Roma e a Idade Média. A Renascença expandiu a prática, já com bastante rigorismo geométrico e utilizando normas de perspectiva na representação. Hoje, não só é uma utilidade, mas um estágio obrigatório disposto em leis. Não mais se pode edificar sem que a construção seja antecedida de um projeto.


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objetivo lá à frente. Um recurso que permite antever o edifício realizado. Nem é apenas um mero desenho cuja produção é exigida pela autoridade municipal para a expedição de um alvará. Ele expressa muitas qualidades inerentes à sua natureza. Alguns valores são destacáveis, além daquelas qualidades descritivas conceituais de projeto:

Estátua (decapitada) do rei sumério Gudéia com sua prancheta. 2.100 a.C. – Museu do Louvre.

O projeto, fase necessária do processo da edificação, é ainda de obrigatória expressão gráfica. Certo que muitos projetos podem ser elaborados literariamente e até verbalmente. Porém, não no caso da construção. Obrigatoriamente o projeto tem que ser expresso em desenhos, com técnica gráfica determinada pela geometria descritiva, com o uso de convenções normalizadas e com a expressão correta e inequívoca das soluções técnicas adotadas. O projeto do edifício é, pois, a expressão gráfica de uma ideia, a demonstração em linguagem própria de um vir a ser. O projeto é antes de tudo uma antevisão de um futuro realizável, mas que deve ser apresentado em forma gráfica, capaz de ser lido. O projeto vale-se de uma linguagem universalmente convencional. Esta linguagem é o desenho geométrico com as suas épuras e as convenções sobre ele aplicáveis. As escolas de engenharia e arquitetura têm isto em consideração. A iniciação para o domínio desta linguagem é ministrado desde as primeiras aulas na academia.

Importância do projeto Por diversas razões o projeto é, hoje em dia, uma prática útil, indispensável e obrigatória. Não deve ser visto como o objetivo profissional final em si, mas como um meio de se atingir um

Antevisão da coisa feita – Talvez a razão de ser do projeto seja esta: a visualização de uma ideia; de uma coisa a ser realizada. É o momento de demonstração da proatividade do exercício profissional. O projeto é o ato centralizador e unificador dos desejos e necessidades do beneficiário que o demanda. É o ponto de encontro de proposições resolutivas e criativas dos profissionais que o elaboram. É um lugar virtual de identificação, equacionamento e solução de necessidades e problemas. É o ponto de harmonia. Meio de comunicação – Linguagem lógica peculiar portadora de mensagem técnica entre profissionais. O projeto é o veículo que leva as informações técnicas para a realização de um objeto construtivo. Os profissionais que o elaboram e os que o utilizam estão habituados e habilitados para decodificar sua simbologia e usam do projeto como seu meio de linguagem comunicativa, valendo-se de seu vernáculo técnico de domínio comum. O projeto completo é uma linguagem com diversos sotaques. Sobre ele convergem diversos saberes, cada um com seu próprio jeito de falar, porém em linguagem única. O edifício não é uma Babel, onde cada um fala sua língua, mas um encontro linguístico de variados falares. Nele o arquiteto entende o engenheiro eletricista, o engenheiro mecânico fala com o projetista de estruturas, o técnico da hidráulica conversa com o arquiteto, o mestre de obra traduz para a materialização construtiva. Todos no mesmo plano coloquial.

Materialização contratual – O projeto atesta no papel a execução da prestação do serviço pelo profissional ao beneficiário. É o testemunho material de uma satisfação contratual. Ele registra o que se pretendia e diz como o profissional se desempenhou na sua relação com o cliente. Representa o produto desejado e expõe o profissional à avaliação quantitativa, qualitativa e resolutiva de sua responsabilidade.


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Previsibilidade – No projeto se ensaiam todas as soluções possíveis para um determinado problema e se elegem as mais adequadas. Neste processo estão se otimizando as soluções e se reduzindo a possibilidade de ocorrência de erros. O projeto encerra ainda a definição antecipada de soluções e especificações técnicas que evitarão lá na frente a necessidade de decisões adaptativas ou corretivas. É a vacina contra o improviso.

Economicidade – O projeto propicia a estimativa de custos finais do edifício antes que ele seja iniciado. É da leitura econômica da proposta técnica contida no projeto que se podem estimar o valor financeiro do objeto final e manejar racionalmente os recursos disponibilizados para a obra. Para o cliente o projeto aparenta ser um custo a mais na edificação. Deve, porém, ser entendido como um investimento inicial redutor de custos finais.

IV – O conceito sistêmico de projeto do edifício A elaboração de um projeto, como vimos, tem caráter progressivo. Também se pratica a interdisciplinaridade na sua montagem, convergindo para o mesmo fato muitas criações específicas. O ato de elaborar um projeto é, em si, um sistema complexo. Uma leitura sistêmica nos permite uma leitura racional desta complexidade e a localização de onde se pode interferir no processo para a busca da excelência do produto. Graficamente representamos o conceito de Projetos Integrados para Edificações através da figura a seguir, caracterizado como uma rede dinâmica interativa.

Documental – O projeto, materializado em desenhos sobre papel ou em meio eletrônico, é um valioso documento de múltiplas utilidades. É antes de tudo um registro de memória. Serve também como uma prova jurídica em certas circunstâncias. Este papel desenhado e escrito toma vida própria, vindo ele a ser a coisa em si, agora, emancipado da imaginação criativa do projetista e sobrevivendo no tempo ao seu próprio criador. Como documento de interesse jurídico presta-se como veículo de obtenção da concessão oficial ao direito de construir. A pretensão do exercício do direito de construir se manifesta documentalmente pelo projeto quando submetido à apreciação da autoridade concedente. Sem projeto legalmente qualificado não se expede alvará. Este documento técnico é também instrumento necessário para a autoridade exercer seu poder de polícia sobre o próprio exercício da profissão. É documento capaz de estabelecer o vínculo entre criador e criatura e estabelecer os ritos tomados em sua elaboração e sua efetiva legalidade. É evidência de autoria, tanto para configuração de direitos, como para definição de responsabilidades.

Façamos uma análise ponto a ponto de cada um dos elementos constitutivos deste sistema dinâmico e suas interações.


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As demandas do cliente As demandas do cliente são as condições originais que determinam a solução do projeto. Sistemicamente representam a entrada do processo. O cliente é o motivador da ação do projetista. É o cliente que deflagra o processo do projeto e da construção do edifício. Suas demandas específicas pautam o modelado do projeto. Não é comum fazer-se um projeto e correr-se atrás de um cliente ou expô-lo na vitrine à espera de que aquele consumidor ideal venha comprá-lo. O caminho tem se mostrado historicamente este, onde o cliente, com suas necessidades e vontades, procura o projetista para suprir sua carência, sua intenção. Convoca um profissional para materializar seu sonho. O projeto é, via de regra, uma arte de encomenda, feita “sob medida”. Mesmo no caso de projetos de interesse público ou aqueles padronizados, de proposição social, onde o usuário final é uma comunidade ou uma família, há um bem claro cliente demandante. O cliente imediato, neste caso, não é o beneficiário final, mas será o seu representante, o poder público ou organismo social. O beneficiário do ato de ofício será um ente difuso, condicionador do projeto pelas suas detectáveis necessidades medianas, mas o cliente direto sempre será uma pessoa física ou jurídica bem definida. O profissional que opta por ofertar seu labor em forma de relação empregatícia, terá no seu empregador o cliente imediato. Ainda assim, haverá beneficiários finais de seu trabalho, os contratadores da organização empresarial onde trabalha. Quer público ou privado, direto ou intermediado, o cliente é quem estipula a demanda, cabendo ao projetista apresentar a solução a ela. Compete ainda ao profissional de projeto alertá-lo sobre a melhor forma de solucionar sua expectativa, as alternativas possíveis, os custos e as restrições às suas pretensões. O projetista tem a autoridade de pautar a condução do projeto, porém sempre em favor do cliente.

Numa visão de mercado, o cliente merece toda a consideração, pois que é ele quem paga a obra e os honorários profissionais. E um cliente bem atendido é a melhor propaganda para o profissional. Numa visão ética, ele é a razão de ser de nossas profissões.

As disposições exigíveis Conjunto de fatores e disposições de observância– obrigatória tanto no ato de elaboração de cada elemento projetivo, quanto de todo o conjunto projetivo. Sistemicamente são os insumos restritivos do processo. Nenhum projetista, por mais criativo que seja, está totalmente livre para conceber suas ideias. Todo sistema sofre a incidência, sobre seu processo de criação, de uma série de fatores restritivos. Aqui tratamos estes fatores como disposições exigíveis. Poderíamos estabelecer que estas disposições exigíveis são de três ordens. As determinadas pela física, as determinadas pela boa técnica convencional e as ditadas pelas normas. O primeiro e mais importante é a natureza. Por exemplo, a gravidade existe e se manifesta no edifício. As construções que desconsideram os esforços graves ruem. Assim, uma série de outros fatores naturais insuperáveis estará presente balizando a concepção do projeto e sua ação deverá ser obrigatoriamente observada. Ninguém tem poderes para mudar a ordem natural das coisas ou o direito de desconsiderá-la, restando-lhe apenas superá-la razoavelmente. Os procedimentos técnicos, mesmo que não ditados em normas são fatores a serem considerados como impositivos. Arame de cerca é condutor de eletricidade, porém, a cultura tecnológica determinou ao projetista de redes elétricas que prescreva cabos e fios adequados nas instalações. O exemplo dado pode ser contestado, posto que os condutores estão normalizados. Porém, ainda que não fosse assim, quem, de bom juízo, tomaria esta decisão insensata? Prevalece, em quaisquer circunstâncias, o bom senso e o procedimento consagrado como exigíveis.


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Já, as exigências normativas são mais claras e impositivas. Quando o Plano Diretor de uma cidade diz que em determinada zona não se pode construir mais que quatro pavimentos, é inútil pleitear-se cinco. Se a norma técnica preconiza que os cabos dos elevadores deverão ser de aço, nem pensar em utilizar cordas de piaçaba, por mais baratas que sejam. A norma é impositiva, e seu descumprimento responsabiliza o profissional. Os exemplos citados podem até parecer absurdos e grosseiros, mas já ocorreram na prática, com resultados indesejáveis.

Uma boa construção é de inteira responsabilidade do executor, mas o projetista pode antever e recomendar procedimentos para um canteiro de obras mais racionalizado e econômico e uma eficiente disposição dos rejeitos de obra.

Ao projetista é obrigatório o conhecimento de todas as imposições restritivas que incidam sobre o processo de elaboração do projeto e de sua consequente obra. Cabe-lhe mais, informar seu cliente e compatibilizar as exigências circunstanciais à sua pretensão edilícia. O cliente, via de regra, está desinformado sobre estas determinações. O profissional não pode argumentar seu desconhecimento.

O prédio será uma unidade de consumo de suprimentos. Eles podem ser pensados como não desperdiçadores de água e energia, ainda que quem vá pagar a conta será o seu usuário.

As disposições recomendáveis São fatores de não obrigatória consideração, mas de recomendável contemplação para a otimização do complexo projetivo e seu produto. Sua atenção agrega valor ao produto final. Sistemicamente apresentam-se como insumos positivos. Nem tudo que compete ao profissional é obrigatório. Muitas atitudes e procedimentos são apenas convenientes para um bom resultado e de livre adoção pelo projetista. Constituem-se naquele “plus” diferencial. Certamente que segurança pública é um problema de polícia. Porém, o projetista atento há de prescrever certas medidas adicionais na edificação, que contribuirão para a melhoria da inviolabilidade pessoal e patrimonial de seus usuários. Também, não serão de sua responsabilidade casos fortuitos que futuramente venham a por em risco a saúde do prédio. Mas, algumas medidas preventivas quanto a danos eventuais ao edifício e às pessoas poderão ser adotadas ainda no nível do projeto.

Dispositivos de acessibilidade são exigíveis apenas aonde a lei determina, mas não custa pensar, por exemplo, que o usuário de uma residência um dia será idoso e poderá ter dificuldades locomotoras.

Da mesma forma, nem sempre os impactos ambientais e de vizinhança são posturas de fiel cumprimento. Apenas a consciência do projetista que se pretende excelente buscará a sustentabilidade da edificação e sua harmônica inserção no seu entorno. Estas e outras cautelas deverão estar presentes na prancheta do projetista, mesmo que não sejam originárias do imperativo legal. É uma questão, antes de tudo, ética, de lealdade ao cliente, de bem-estar da comunidade da qual ele faz parte e a si mesmo, quanto à qualidade de seu projeto.

O projeto de arquitetura O projeto de arquitetura é a concepção global do edifício. Apresenta-se no processo como a matriz para o desenvolvimento dos projetos específicos e a sede de compatibilização das soluções determinadas por cada um deles. Sistemicamente é o produto mater do processo. É, por tradição, a matriz do processo. Por muitos séculos, foi o projeto necessário e suficiente para a orientação da obra do edifício.


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Alguns projetos, de concepção e execução menos complexa podem ainda ser representados apenas com este elemento projetivo. O próprio CREA, considerando a perspectiva de interesse social, dispensa da ART a indicação dos chamados “projetos complementares” para edificações residenciais unifamiliares de menos de 100 metros quadrados. Isto, no entanto não é regra, senão exceção. Hoje, não se dispensa a convergência de outros projetos para a complementação da ideia arquitetônica. Qualquer edificação que traga a previsão de instalações diversas, implementos humanizadores e estruturação com sistemas portantes, necessariamente deverá ter os respectivos elementos projetivos específicos adidos à arquitetura e nela previstos. Antecede o projeto arquitetônico a coleta de informações circunstanciais que serão os parâmetros e referências para a sua idealização. Programa de necessidades, pesquisa de padrões e normalizações relativos à espécie, levantamento topográfico, estudos geológicos e hidrológicos, análise de clima e insolação, dados de urbanização, bateria legislativa incidente, entre outras, compõem a gama de informações para o planejamento do processo projetivo. Costuma-se elaborar, preliminarmente, um anteprojeto, que não é nada mais que o esboço da ideia final, apresentado de forma sucinta e compreensível pelo cliente. O anteprojeto presta-se para uma análise das soluções propostas e sua aprovação preliminar. Não é obrigatório, mas mostra-se útil para o projetista que pretende elaborar o projeto pelo método mais seguro das aproximações sucessivas. O início do processo do edifício se dá na concepção arquitetônica e nela se conclui. O cliente habitualmente faz chegar, direta ou indiretamente, suas demandas ao profissional projetista de arquitetura. É em sua prancheta que o processo realmente se deflagra. (No gráfico vai identificado como o elemento projetivo A.)

Os projetos integrados à arquitetura Os projetos integrados são as soluções especializadas que convergem para a formatação global do edifício. Constituemse em elementos projetivos individualizados em sua concepção e expressão e, devidamente integrados entre si e ao projeto arquitetônico, contribuem para a formação do conjunto coerente do projeto da edificação. Sistemicamente são os produtos adidos ao produto mater do processo. Assim pretendemos denominar os costumeiramente chamados “projetos complementares”. Em muitos casos onde se encontra uma certa versatilidade do profissional, estes elementos projetivos surgem concomitantemente com o projeto de arquitetura. Esta, porém, não é a tendência. O que se apresenta modernamente é a especialização resolutiva, esperando-se ainda uma visão de generalidade de um especialista sobre o trabalho de outros. Cada um faz sua parte, atento à parte do outro. Não existe em português uma denominação para este conjunto de trabalhos especializados e integrados. Em inglês usa-se a denominação “architectural engineering”. Algo como, em tradução livre, uma “engenharia arquitetônica” ou engenharia para a arquitetura ou da arquitetura. Cada projeto é elaborado individualmente, segundo suas técnicas e expressões peculiares. Nenhum deles tem vida própria sem sua referência íntima ao projeto de arquitetura. A sua confecção não se dá apenas por eventual exigência legal, tendo sua razão de ser na imposição dos níveis tecnológicos que praticamos modernamente. Mais que isto, integram a ideia matriz expressa na arquitetura, viabilizando-a técnica, funcional e também esteticamente. Hoje, não se pode pensar um edifício sem que estes elementos projetivos estejam perfeitamente integrados. Também não se pode pretender uma obra de qualidade sem que todos estes projetos estejam completamente elaborados, apresentem coerência técnica entre si e atendam perfeitamente às demandas do cliente e às disposições exigíveis pelas normas e pela técnica. A sua inserção harmônica no todo do edifício implica ainda no respeito de um projetista em seu ato de ofício às soluções adotadas no projeto do outro.


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O elemento projetivo específico, como projeto integrante do edifício, deverá expressar a proatividade do projetista. Espera-se que traga imunidades contra o improviso em obra, cautelas quanto à eficácia do prédio em todos os aspectos de seu uso futuro, contribua com a durabilidade e a economicidade e expresse inovação decorrente da inventiva de seu projetista. E também aquele “algo mais” que o projetista possa ofertar de seu conhecimento técnico e expressão criadora. Os projetos específicos mais usuais em edificações em nossa região estão identificados no gráfico por grupamentos elementares projetivos afins. Relacionamos alguns, identificados no gráfico pelas respectivas letras maiúsculas:

E – Estruturas – Projeto específico dos elementos resistentes e portantes da edificação que asseguram sua solidez e indeformabilidade. Costumeiramente chamamos de cálculo estrutural. Trata do dimensionamento de materiais estruturais como madeira, concreto armado, armações metálicas, pré-moldados. É vital para a solidez estática e durabilidade do edifício e grande configurador da sua expressão estética.

IE – Instalações Elétricas – Disposição e dimensionamento das linhas de suprimento e pontos de consumo de força e luz. Pode contemplar a geração própria e a transformação energética. Incorpora ainda as redes de telefonia, dados, antenas, proteções a surtos e descargas, equipamentos para fins especiais e outros dispositivos elétricos e eletromagnéticos. É o projeto básico funcional que assegura a sustentação energética e informativa do edifício.

IH – Instalações Hidráulicas – Dispõe sobre a captação, redes de distribuição e disposição final de fluidos de consumo nas edificações. Comumente define os sistemas de águas sanitárias, pluviais, drenagem de solo, suprimento de água fria e água quente, gás combustível, piscinas e efeitos estéticos hidráulicos, reaproveitamento hídrico, sanidade. Habitualmente incorpora os dispositivos de combate a incêndios. Como elemento projetivo, tem sua importância destacada no trato da sanidade, do conforto, da sustentabilidade funcional e da segurança prediais.

IM – Instalações Mecânicas – Dispõe sobre sistemas estruturantes estáticos especiais e equipamentos mecânicos e eletromecânicos demandados para o bom funcionamento do edifício. É neste projeto específico que se integram à arquitetura os elevadores, escadas rolantes, ar condicionado, câmaras frias, mecanismos especiais de uso doméstico, comercial ou de estabelecimentos de serviços e também as redes de fluidos especiais. Assumem importância primaz nos edifícios para fins industriais e grandes estabelecimentos de serviços, vindo mesmo a condicionar preliminarmente a concepção de arquitetura.

S – Segurança – Apresentam-se como projetos específicos demandados pela espécie do edifício ou como partes destacadas de determinações já incorporadas em outros projetos específicos. Visam proativamente a manutenção da incolumidade pessoal e patrimonial dos usuários, bem como da urbanidade e do ambiente. Dispõem sobre a prevenção de incêndios, dispositivos de defesa para o usuário e seu patrimônio, contenções de solo e de corpos hídricos, para-raios, preservação ambiental, proteções para a saúde, amenização de impactos de ruídos, emissões e radiações, segurança do trabalho, rotas de evacuação de público, tráfego interno de pessoas, cargas e veículos etc. Normalmente são projetos de alto grau de especialização que não só complementam a preocupação da solução geral, como podem condicioná-la em alguns aspectos.

H – Ambientação Humana – São projetos específicos ou soluções especiais já inerentes aos outros projetos que visam o conforto, a humanização, a funcionalidade, recursos de marketing e implementos estéticos. Tratam de arquitetura de interiores, paisagismo, luminotécnica, comunicação visual, amenização confortável de ambientes e instalações, acessibilidade e outros requisitos funcionais e estéticos peculiares à demanda do edifício em questão. Também têm um grau destacado de especialização e são de impacto considerável na concepção global do edifício.


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O ambiente de integração O ambiente de integração é o espaço de troca e agregação de informações visando o objetivo final que é o projeto edilício. Do ponto de vista sistêmico, constitui-se em um subsistema propriamente dito, onde os diversos elementos interagem entre si e com o meio, visando um objetivo. No desenvolvimento do projeto se principiam e se estabelecem as relações de troca de informação técnica com outros projetistas, a consideração das condicionantes exigidas e recomendadas e a busca da satisfação dos desejos do cliente. É o momento de diálogo entre os projetistas e destes com o cliente e com as outras pessoas que influenciam de alguma forma a concepção do edifício. Constitui-se na própria dinâmica da elaboração dos elementos projetivos e de sua integração. Funciona dinamicamente, às vezes por aproximações sucessivas, e busca atender à encomenda, às recomendações e às restrições incidentes. Em alguns casos, um único profissional pode incorporar todo o ambiente projetivo, desde que ele trabalhe só e tenha capacidade técnica de resolver todos os projetos. Esta prática, no entanto, já se distancia no tempo. Há grandes escritórios que têm em seus quadros a multiplicidade de profissionais especializados para realizar cada um dos projetos específicos e que procedem, interna corporis, à sua integração. Já surgem algumas cooperativas profissionais, onde este processo pode ser reproduzido como em um grande escritório, preservando a autonomia de cada projetista. Porém, o que vemos ocorrer na maioria dos projetos é o concurso de profissionais autônomos ou inclusos em escritórios especializados a se complementar tecnicamente de maneira avulsa. É o hábito cultural dos autônomos que impõe a terceirização dos chamados “projetos complementares”. Esta é a prática mais corrente atualmente, mormente em pequenos e médios

centros de serviços. Sem dúvida, é também a mais difícil de se administrar e a mais desafiadora para se obter excelência em projetos. O ambiente de integração das múltiplas e complexas ações projetivas transcorre durante o processo de projetar. Qualquer que seja a forma de relação entre os profissionais, é neste momento que o colóquio técnico deve fluir com franqueza e objetividade. No amplo salão ambiental de elaboração e integração projetiva todos devem falar a mesma língua, ainda que com sotaques diferentes. O ambiente de integração se mostra não como uma linha de montagem onde cada projeto se cola sobre outro. O melhor ambiente de integração se configura como uma rede amigável de interações técnicas e informativas, com permanentes retroalimentações e aperfeiçoamentos mútuos das práticas e dos produtos. É aqui que se destaca a importância do planejamento da ação criativa de cada profissional e de seu conjunto orquestral.

A compatibilização Processo contínuo e progressivo pelo qual se harmonizam os diversos elementos projetivos entre si e destes com a obra. No linguajar sistêmico é a interface entre os diversos projetos e dos projetos com a obra. Não é exatamente uma etapa no fluxo do processo projetivo. Melhor seria dizer que é um procedimento que deve estar presente em todas as etapas, como os nós da rede. É também o vetor para a inserção da “engenharia arquitetônica” na arquitetura. O profissional “que faz tudo” procede automaticamente à compatibilização dos diversos elementos projetivos no curso de seu trabalho. Atividades em que não são requeridos os chamados “projetos complementares”, todo o processo se resume a um único elemento projetivo, no caso, o projeto de arquitetura. Ainda assim, o projeto se consuma na obra e com esta haverá de ter uma compatibilização.


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Serviços complementares ao desenho da arquitetura da edificação e os com vistas à sua realização em obra são produzidos nesta fase. Os projetos de arquitetura não são completos sem detalhamentos, especificações, memoriais, quantitativos de materiais e devem ainda, para a realização de uma boa obra, ser complementados com orçamentos, cronogramas e relatórios. Outros serviços também podem ser prestados nesta fase e por outros especialistas, como o agenciamento financeiro do prédio, a regularização burocrática, a obtenção das licenças, a divulgação e promoção do edifício se houver interesses mercantis.

canteiro de obras. Uma espécie de spalla para esta orquestra. Neste concerto de modernidade um novo profissional se insinua. Algumas organizações, sobretudo as industriais de maior porte, têm já em seus quadros um ou mais gerentes com esta determinação. É o Gestor de Projetos, profissão nova em franco desenvolvimento no ambiente complexo do trabalho de projetar. Este especialista, detentor de métodos atualizados, se oferece como aquele elemento estratégico para articular lógica e eficazmente os esforços virtuosos de cada um dos diversos instrumentistas.

Embora o produto seja único, pode ser apresentado em diversas formas. Perspectivas e maquetes para esclarecimento do leigo ou convencimento em propaganda, plantas em apresentação diferenciada para exame nos órgãos públicos concedentes e para a obra, instruções intermediárias executivas, detalhes para uso de fornecedores industriais. Isto determina mais uma vez que o processo integrativo deverá estar presente em todas as etapas do processo.

Tendo ou não uma unidade produtiva exclusiva para a tarefa, havendo ou não necessidade de aporte de outros serviços correlatos, este é o momento chave do processo projetivo. Aqui se avalia o atendimento das demandas do cliente, das considerações exigíveis, bem como das recomendáveis e se oferece um produto acabado e coerente para a obra.

São muitas as formas como acontece na prática este momento de harmonização dos projetos integrados. Em geral, como o projeto de arquitetura é tratado como o projeto matriz da edificação, a compatibilização é uma extensão natural dinâmica deste elemento projetivo. Sobre ele convergirão e se harmonizarão os demais. Dentro desta prática cabe ao profissional que elabora o projeto de arquitetura a tarefa de compatibilizá-lo com os demais projetos e com a dinâmica construtiva de obra. A dinâmica de retroalimentação deverá ser permanente e franca. Também ocorre muito comumente, que esta tarefa recaia ao responsável pela execução. Em verdade, o executor está posicionado na ponta final do sistema, mas muitas vezes, ele se posiciona como deflagrador do processo, como demandante dos projetos. Normalmente quando o cliente recorre ao construtor em primeiro contato, este se dispõe a contratar os projetos, dá início ao processo e faz o papel de coordenador dos projetos até sua resolução em obra. Hoje, no entanto, já surgem escritórios especializados em fazer exatamente este trabalho. Aparece então uma nova especialização de serviços em nosso sistema, com o papel de facilitadora do encontro das soluções individualizadas e sua viabilização para o


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Parte 2

... e Sua Excelência, o Profissional


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V – Ser ou não ser projetista O profissional, ao fazer sua opção por onde se situará no amplo campo do exercício de sua arte, normalmente tem à sua frente diversas opções. Tenderá a escolher uma delas segundo alguns fatores conformadores de sua própria caminhada acadêmica e do modelado de seu perfil pessoal profissional. Alguns destes fatores são ditados pelas oportunidades do chamado “mercado de trabalho”, outros ditados pela localização em determinada circunstância laboral, pelo ambiente cultural de origem do profissional e mesmo pelas ênfases do currículo acadêmico. Não se podem desconsiderar ainda os fatores ditados pela sua própria vocação e intuição. O profissional tem o direito assegurado de fazer projetos. Cabe a ele e somente a ele, no entanto, avaliar se é esta a vertente que lhe convém abraçar e se ele está efetivamente qualificado para exercê-la com maestria.

Projeto como atribuição natural Não se discutem atribuições. Praticam-se, na medida da capacidade de exercê-las. Este rol de possibilidades para o profissional se inserir na dinâmica do trabalho não é nada mais que aquela lista de atividades que lhe competem por direito e que a lei lhe dá como atribuições privilegiadas e exclusivas. No caso da edificação, encontramos uma série de atividades tópicas concernentes a cada uma de suas fases desde a concepção do empreendimento até seu uso final e manutenção. Também há atividades parciais relativas a elementos constitutivos do edifício, à participação incidente do profissional e o modo de sua inserção no processo. Encontramos também, nesta lista de atribuições legais, o credenciamento expresso do profissional para fazer projetos, entendido este no seu sentido mais amplo, posto que não vem adjetivado.


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A Resolução 1010 /05 do Confea, em seu art. 5º, diz que podemos fazer: 01 – Gestão, supervisão, coordenação, orientação técnica; 02 – Coleta de dados, estudo, planejamento, projeto, especificação; 03 – Estudo de viabilidade técnico-econômica e ambiental; 04 – Assistência, assessoria, consultoria; 05 – Direção de obra ou serviço técnico; 06 – Vistoria, perícia, avaliação, monitoramento, laudo, parecer técnico, auditoria, arbitra gem; 07 – Desempenho de cargo ou função técnica; 08 – Treinamento, ensino, pesquisa, desenvolvimento, análise, experimentação, ensaio, divulgação técnica, extensão; 09 – Elaboração de orçamento; 10 – Padronização, mensuração, controle de qualidade; 11 – Execução de obra ou serviço técnico; 12 – Fiscalização de obra ou serviço técnico; 13 – Produção técnica e especializada; 14 – Condução de serviço técnico; 15 – Condução de equipe de instalação, montagem, operação, reparo ou manutenção; 16 – Execução de instalação, montagem, operação, reparo ou manutenção; 17 – Operação, manutenção de equipamento ou instalação; e 18 – Execução de desenho técnico. Neste enorme cardápio de atividades possíveis vemos, lá na atividade 02, entre outras, a palavra “projeto” como uma das tantas oportunidades de inserção e de definição do perfil do profissional. Na prática da arte de edificar, ao preencher uma ART, o profissional tem campos a optar se seu trabalho será de projeto ou execução. O preenchimento de uma ART é o espelho do contrato. No contrato com seu cliente já estará definido que atividade ele elegeu para prestar seu serviço. A eleição do campo em que marca sua responsabilidade é a anotação formal de sua definição como profissional executor ou projetista.

A escolha, no entanto, requer uma certa especialização. Nos tempos modernos, já não há muito espaço para aquele profissional que se propõe a fazer de tudo. Também não há tempo para se dispor a tudo, pelo ritmo de vida que levamos. Embora esteja legalmente autorizado a fazer qualquer coisa e até todas elas dentro de suas atribuições, a tendência é se procurar uma ou algumas poucas atividades dentro deste leque de opções e, por conta da competitividade que a sociedade moderna nos impõe, procurar ser o melhor naquele campo.

Uma discussão em aberto Certo está que o profissional, ao obter seu registro no CREA, é tido como habilitado para ser projetista nos estritos campos das atribuições que sua profissão tem. Tal como reconhecido em lei e qual a academia lhe forneceu para a consubstanciação de sua bagagem intelectual. O CREA tem o dever de garantir este direito a todos os que se habilitam ao exercício de uma profissão regulamentada. Porém, sempre resta uma questão. Estar habilitado significa estar plenamente capacitado? É claro que não. O ato de fazer projetos é costumeiramente confundido, mormente pelos leigos, como um mero ato de desenhar. No linguajar popular, “fazer uma planta”. Saber desenhar é fundamental, porém, não suficiente. O projeto aglutina na sua concepção muitas informações técnicas específicas, conhecimento e domínio de fatores intervenientes, antevisão e controle de impactos no produto e deste no meio e uma boa capacidade resolutiva do profissional. Algo mais que todo seu indispensável conhecimento de geometria descritiva, técnicas gráficas e capacidade de representar sólidos em épuras. Analistas há que dizem que a academia não dá a devida ênfase à formação do estudante para vir a ser projetista. Exceção é o que ocorre na maior parte das escolas de arquitetura, voltadas essencialmente para o projeto, mas ainda assim carentes de uma visão integradora, notadamente com a fase sequente, a obra. É, no entanto, uma impressão preliminar subjetiva carecendo ainda de demonstração sistemática. Ainda há muitos profissionais de engenharia, notadamente recém egressos, que apontam para o fato de que a atividade de projeto é tratada nas suas escolas de origem como uma questão


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periférica, colateral à formação plena que recebem. É outra crítica que merece ser mais bem apurada pelas próprias escolas quanto a seus projetos pedagógicos. Ouvem-se também profissionais que defendem que a atividade projetiva é merecedora de uma atenção especial e complementar pelas escolas. O pretendente a ser especializado neste campo, deveria passar por um estágio obrigatório, uma residência técnica ou uma pós-graduação para se habilitar, dentro das atribuições que lhe couberem, a adquirir o status de projetista. Todas estas opiniões ainda estão abertas para discussão. Contudo, convergem para um mesmo ponto: a excelência da prática profissional está na capacidade de projetar. O profissional que se dedica também ou exclusivamente a projetar é, por natureza, excelente em sua modalidade ou tem já em si o anseio do alcance deste estado.

Perfil do projetista Não se discute que a academia oferece a bagagem mínima – em alguns casos com até “algo a mais que faz a diferença” – para a qualificação do profissional ao mundo do trabalho. Também é pacífico que ele tem o direito assegurado de elaborar e vender seus projetos à sua clientela. Cada especialização à disposição do profissional requererá dele, para ser bem-sucedido, uma gama de peculiaridades que ele deverá ter na ponta dos dedos para sua boa execução. Como na música, onde o foco é um só, qual seja a produção de sons harmônicos e melodiosos; assim é na edificação. Usando esta metáfora, pode-se ser pianista, violeiro, tocador de bumbo, maestro, compositor, cantor. Os gêneros vão do clássico ao sertanejo, do bolero dançante à bossa nova. Não muito diferente é com a arte de edificar. Espera-se que o profissional, além da cultura teórica sobre o edifício, tenha uma cultura técnica específica sobre determinado sistema que o compõe. Saber compor e tocar determinado instrumento e ter muita sensibilidade. Não desafinar com o resto da orquestra é o primeiro passo para ser excelente. O projetista é ainda um compositor e um maestro. Resta buscar a excelência, ser um virtuose, ou, no mínimo, um bem afinado instrumentista. Em particular, além da bagagem técnica que traz da escola, das garantias legais para o exercício desta atividade e dos atributos de personalidade que cada um traz consigo, alguns ingredientes psicotécnicos são esperados do profissional que se dispõe a ser projetista. Como qualquer bom trabalhador, tem que ter uma boa “caixa de ferramentas”.

Domínio de conteúdo – Um razoável domínio do conteúdo técnico de sua arte é requerido para o projetista. Saber teórica e praticamente todos os procedimentos adequados, métodos construtivos, elementos componentes do edifício, materiais em sua diversidade e oportunidade de aplicação, normativas incidentes e tudo mais que converge para a formação da chamada cultura profissional. Há que saber o que está fazendo.

Raciocínio integrativo – A capacidade de, em tendo uma informação satisfatória de outras atividades técnicas que convergem para a complementação do edifício, prever dispositivos vinculadores em sua tarefa específica capazes de harmonizá-la com os outros projetos e fatores circunstanciais. Assim, espera-se que o projetista de arquitetura tenha uma boa informação sobre estruturas, instalações e complementos edilícios, da mesma forma que o projetista de instalações ou estruturas a tenha sobre os espaços arquitetônicos e sobre os demais elementos componentes da anatomia e fisiologia do edifício. Há que agir em harmonia com o que os outros estão fazendo.

Expressão – A representação do que se idealiza é uma das razões de ser do projeto. O domínio das técnicas de representação das ideias quer sejam as tradicionais de prancheta, régua e compasso, quer sejam as informatizadas, é requisito para o projetista. A expressão da ideia utilizada habitualmente em projetos é a gráfica (não se dispensando também a literária). Assim, o conhecimento da geometria projetiva, da nomografia, das convenções gráficas e do desenho técnico é fundamental. Há que mostrar clara e precisamente o que se está pensando.

Resolutividade proativa – É a capacidade de resolver por antecipação um problema que poderá acontecer. O projetista necessariamente deve se antecipar no tempo e propor soluções para não só a demanda que lhe foi solicitada, mas também para problemas incidentais prováveis e, mormente os previsíveis. Há que se antecipar aos fatos, evitando surpresas.


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Atualidade – É recomendável que o projetista esteja sempre atual no conhecimento de técnicas e materiais novos para atender a possibilidade de sua introdução nas demandas em pauta. Também deve estar atento à ocorrência de novas normas e recomendações momentosas que possam intervir no exercício de sua arte. As tendências de mercado e as flutuações culturais sobre a percepção da clientela são fatores detectáveis pelo feeling do projetista. A atenção às mutações das circunstâncias é imperativa de atualização. Há que se estar sempre se informando e reciclando.

Criatividade – O profissional que se dedica a projetos é um criador por natureza. De sua mente e de suas mãos é que sai a novidade, o fato novo, a melhor transformação do ambiente. É o projetista que levará o demandante de seus serviços de uma situação de necessidade para um estado de satisfação. Só a sua capacidade criativa, aliada aos outros requisitos necessários ao bem desempenhar a tarefa, é que propiciará esta transformação do meio em favor de seu cliente. O projetista é necessariamente um criador

Competência – É uma qualidade a ser entendida nos três sentidos que a palavra oferece. A competência como real saber e capacidade de resolver satisfatoriamente é um requisito mínimo exigível. A competência como a qualificação para exercer aquela função profissional específica é um quesito impositivo da própria legislação reguladora. Finalmente, a competência como disposição de competir. O projetista tem que se habilitar a disputar, com lealdade, o mercado que se lhe oferece. O sucesso dependerá de suas ferramentas técnicas e morais e de suas habilidades em manejá-las. Conteúdo, integração, expressão, resolutividade, proatividade, atualidade, criatividade, competência...

«Quem não tem competência não se estabelece» (ditado popular português).

VI – Deontologia do projeto O projeto, como produto, é tão somente um objeto. Também o é o edifício dele resultante. São, portanto, amorais. Quaisquer conjecturas éticas deverão ser feitas sobre o ato de projetar e sobre as relações do projetista com sua profissão e com as pessoas. Os valores morais e a conduta ética só são passíveis de apreciação na pessoa do projetista para tanto qualificado. Bem assim, as condutas previstas em lei. O que estará sujeito à avaliação não é o produto em si, o projeto por ele mesmo, ou o prédio que sair do papel, senão a maneira como ele foi conduzido e as intenções de quem o elaborou. Ética estuda condutas humanas, não coisas. Leis contemplam fatos e atos da pessoa humana. A busca da excelência naquilo que se faz é, pois, fundamentalmente uma atitude ética e de cumprimento à lei. Nas considerações sobre o exercício profissional, não ficam fora de exame os deveres e as condutas vedadas que o projetista deve observar, por mais que o seu trabalho possa ser realizado a quatro paredes, individualmente. Também, logicamente, seus direitos devem ser sempre levados em consideração.

Fundamentos éticos Abrindo o nosso Código de Ética Profissional, há duas máximas de responsabilidade social que dizem: “A profissão é bem social da humanidade e o profissional é o agente capaz de exercê-la, tendo como objetivos maiores a preservação e o desenvolvimento harmônico do ser humano, de seu ambiente e de seus valores”. Esta ideia traduz a razão de ser do ato de se elaborar projetos. Tem a humanidade como o objetivo maior da profissão e a caracterização do profissional como o agente qualificado à sua realização.


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E esta seguinte, também presente em nosso labor, nos alerta para a natureza permanente da profissão com seu caráter científico, tecnológico e artístico, qualidades que emergem na criação do projeto. “A profissão é bem cultural da humanidade construído permanentemente pelos conhecimentos técnicos e científicos e pela criação artística, manifestando-se pela prática tecnológica, colocado a serviço da melhoria da qualidade de vida do homem”. Estes dois princípios já deixam claros que os nossos projetos não são feitos para nós mesmos, nem apenas por nós mesmos. Eles são praticados num ambiente de relação social, se voltam para o bem-estar da sociedade e nela se inserem de maneira umbilical. Quanto à conduta a adotar no projeto, o princípio da honradez profissional nos ensina seus valores morais universais: “A profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta honesta, digna e cidadã”. Presente também, na ação projetiva, o imperativo da coisa bem feita. Mais adiante, o próprio CEP nos traz a preocupação com o impacto que nossos atos certamente geram no mundo. Aqui podemos achar os valores morais que são os motivadores da busca permanente da excelência em projetos. “A profissão realiza-se pelo cumprimento responsável e competente dos compromissos profissionais, munindo-se de técnicas adequadas, assegurando os resultados propostos e a qualidade satisfatória nos serviços e produtos e observando a segurança nos seus procedimentos”; “A profissão é exercida com base nos preceitos do desenvolvimento sustentável na intervenção sobre os ambientes natural e construído e da incolumidade das pessoas, de seus bens e de seus valores”. Não é normal fazer-se projetos secretos, para si mesmo e mantê-los ocultos do mundo. Esta atitude, se bem que possível, não resultará na conversão do talento e do trabalho profissional a serviço da sociedade. Será mera atividade lúdica ou simples exercício de destreza. Embora o momento de elaboração do projeto possa parecer uma atividade solitária, ela sempre será relacionada a outras pessoas e seus valores. Destaca-se a ideia de que nossos atos são cultivados em ambiente social corporativo: “A profissão é praticada através do relacionamento honesto, justo e com espírito progressista dos profissionais para com os gestores, ordenadores, destinatários, beneficiários e colaboradores de seus serviços, com igualdade de tratamento entre os profissionais e com lealdade na competição”.

Deveres e vedações éticas O profissional tem deveres a cumprir em tudo que faz. No ato de ofício de projetar também. O seu rol de deveres e de vedações de condutas é, em linhas gerais, o que já está no Código de Ética Profissional, quer ele seja optante pela vertente do projeto ou por qualquer outra atividade que lhe é licenciada. O CEP, em seus arts. 9º e 10º, discorre sobre estes deveres e sobre as condutas não permitidas, tratando-os discretamente. Relaciona-os com o ser humano em geral, a própria profissão, nas relações com clientes, empregadores e colaboradores, quanto aos colegas e em consideração ao meio. Seria redundante tratarmos detalhadamente destes deveres e vedações neste texto que não pretende ser exaustivo no assunto. Porém, cabe destacar certos pontos que são cruciais para a boa conduta no ato projetivo. O profissional põe seus conhecimentos e seu talento ao serviço das pessoas que o demandam. Neste gesto de oferta ele estará divulgando sua própria profissão e seu saber acumulado e contribuindo para o progresso e o bem-estar dos outros. A atitude esperada é a dedicação com zelo ao que faz, a preservação da incolumidade pública e do bom conceito que a profissão goza. Nunca prestará de má-fé quaisquer serviços ou prescreverá soluções técnicas que impliquem em dano às pessoas e a seus bens. O zelo esperado implica na não interrupção injustificada do que lhe fora encomendado, nem no descumprimento de seus deveres de ofício a qualquer pretexto. Não se tratará o projeto levianamente, como simples desencargo. Haverá sempre de harmonizar seus interesses pessoais com os coletivos. Tendo, por natureza, a atribuição de projetar e estando-lhe concedido o espaço laboral compatível com sua formação profissional, deve, no entanto, propor-se a atuar apenas nos limites de sua efetiva capacidade pessoal. Dispor-se a fazer apenas aquilo que tem certeza que saberá solucionar e não assumir tarefas e contratos para os quais não está qualificado. O cliente tem primazia no modelado do seu trabalho. Suas solicitações, necessidades e vontades norteiam o trabalho do profissional em direção a um resultado esperado. A ele, o cliente, cabe o direito de escolha. O profissional reserva-se à solução e à orientação, devendo ainda alertá-lo sobre as conveniências, viabilidades e eventuais riscos de suas escolhas, sempre lhe ofertando as melhores alternativas resolutivas. A forma de expressão do profissional é de seu arbítrio, porém deverá


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ser harmonizada à expectativa do cliente e à normalização aplicável. No trato direto com seu cliente, manterá sigilo das informações que lhe forem confiadas.

cial corporativa. Reserva-se adicionalmente o direito individual do profissional de associar-se, manter-se associado ou deixar de associar-se às suas entidades de classe quando lhe convier.

No que concerne às relações com outros profissionais, o mais importante é a atitude de lealdade no plano competitivo. Observará a modicidade de seus honorários, sem aviltamentos ou exorbitâncias e respeitará as tabelas referenciais de honorários aplicáveis. O uso de meios transversais ou do privilégio de função que exerça é vedado para a obtenção de contratos ou de constrangimento de clientes. Nenhuma forma de tráfego de influência é tolerada. Também não são tolerados os ganhos marginais, como as “reservas técnicas”, as comissões sem causa, a venda de assinaturas em trabalhos de terceiros ou quaisquer ganhos não auferidos de serviços efetiva e honestamente prestados.

É reconhecido que o profissional tem todos os direitos universais referentes à sua condição de pessoa humana e à sua condição diferencial de agente especializado. Alguns destes direitos individualizados são explicitamente enfatizados no CEP.

O projeto que o profissional desenvolve é de sua inteira responsabilidade e propriedade. Ele é a autoridade técnica naquele fato. Como está protegido pelo direito de exclusividade sobre o que faz, deve reciprocamente respeitar o trabalho do colega. A intervenção não autorizada em trabalho de terceiro é moralmente vedada. Nem se toleram referências desairosas ao trabalho de outro colega, à sua condição pessoal ou à sua profissão. Os princípios de sustentabilidade estarão presentes em sua prancheta. Conservação de energia, preservação e desenvolvimento ambiental, tanto o natural como o cultural, minimização de impactos, são também pautas de deveres éticos. As relações laborais e comerciais são reguladas. O projetista deve manter-se informado sobre toda a normativa que regula seu exercício profissional, sobretudo a lei constitutiva de sua profissão e a normalização ética.

Direitos do projetista Nosso CEP, pioneiramente, proclama também os direitos que o profissional tem. Como direito coletivo, ele pode se associar para desempenhar seu trabalho e se organizar em corporações profissionais. Todos gozam do direito de exclusividade do exercício de sua profissão e da proteção legal desta prerrogativa. É um direito acessado pelos profissionais quando de sua qualificação, que lhes confere a autoridade técnica e os protege do ataque da prática leiga. Todos podem escolher seus representantes nas instâncias institucionais de sua profissão e também representar seus colegas, em processo democrático. Aqui, a garantia da inserção so-

O direito de uso do título que adquiriu traz já imanente a ideia de sua capacidade plena de exercer sua profissão com todos seus saberes e habilidades. O uso do título é a proclamação pública da competência. Goza ainda do direito de proteção legal de seu título, bem como de seu trabalho e de seus contratos correlatos. O profissional pode livremente fazer uma série de escolhas. Pode optar por uma ou mais especializações. Pode eleger método de trabalho, procedimentos técnicos e é livre para manifestar formalmente sua expressão criativa. Pode escolher seu trabalho e seus contratos, reservando-se a ele o direito de recusa quando julgar ser a tarefa incompatível com sua capacidade, titulação ou dignidade pessoal. A sua participação no universo de trabalho é assegurada, ainda que ele hoje se mostre acessível pela via da competição. Competir é seu direito. A restrição, por lógico, é de que compita com lealdade e honestidade e vença por seus méritos. Quando dedicado a um ato de ofício, é sua a exclusividade, estando protegido de interferências indevidas. Reserva-se ainda o direito de autoria sobre sua criação técnica e artística. Há o reconhecimento ético e também legal da vinculação da propriedade do projetista sobre seu projeto. Consequentemente, o acervo técnico é um direito exclusivo do profissional que o compôs. O projetista tem direito ao provimento de condições adequadas de trabalho, tanto ambientais quanto remuneratórias. Os meios e condições para o exercício de sua arte hão de ser dignos, eficazes e seguros. Sua remuneração haverá de ser justa. Tem o direito de auferir renda de seu desempenho laboral na proporção de sua capacidade e dedicação. Serão ainda considerados, para a formulação de seus ganhos os graus de complexidade, risco, experiência pessoal e especialização. É o direito de justo retorno remuneratório pelo seu grau de excelência alcançado na prancheta.


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Normas Normas, normas, normas. Não há como se livrar delas. Todo o nosso trabalho, nossas relações e nossos produtos são regidos por elas. Além da norma ética, há duas naturezas de normalização que incidem e deverão ser observadas no ato de projetar. São as chamadas normas jurídicas e as normas técnicas. Já, por princípio de dever ético, toda a normativa aplicável deve ser atendida em quaisquer atos que pratiquemos na profissão. As normas jurídicas, que são as leis, decretos, resoluções, têm caráter imperativo, enquanto as normas técnicas, iguais as éticas, são de cunho recomendatório, podendo, em certos casos, assumir caráter de imperatividade.

As leis – São de obrigatório cumprimento e produzem sanção em seu não acato. A bateria de leis a que se está sujeito é muito vasta. Não cabe aqui relacioná-las, mas alertar ao projetista da importância de seu conhecimento, entendimento e aplicação em seu labor. Destacamos apenas as mais frequentemente presentes em nosso cotidiano de escritório. Para a regulação do exercício profissional fundamo-nos na Lei 5.194/66, como a lei constitutiva da engenharia e da arquitetura, bem como da agronomia. O sistema regulatório CONFEA-CREA tem uma carga de leis, decretos e resoluções que vem a modelar a vida de todo profissional. As relações comerciais com nossos clientes é regida pelo Código Civil e pelo Código de Defesa do Consumidor, basicamente. Se o cliente é patrão, aí entra a legislação trabalhista – CLT. Todos os contratos são regidos por legislação federal específica. O edifício, cujo projeto está na prancheta, será afetado pela legislação municipal fundamentalmente. Planos Diretores, Códigos de Obras, Códigos de Posturas, legislação setorial e específica, são instituídos em quase todas as cidades brasileiras e diferem sempre de uma para outra, segundo suas peculiaridades. Considerando a vastíssima quantidade e pluralidade de municípios, imagine-se os milhares de diplomas legais que estão a viger. Em cada projeto deve-se buscar a informação sobre a legislação local que o condiciona.

Outras leis, estaduais e federais, devem ser conhecidas. Acessibilidade, proteção do patrimônio histórico e cultural, proteção de incêndios, uso de terras de marinha, meio ambiente, segurança pública, higiene e saúde, segurança do trabalho são ementas de uma vasta legislação em vigor. Até o Código de Trânsito Brasileiro dispõe de normativas de interesse do projetista, quando o edifício produzir atividade geradora de tráfego. E por aí vai. Destaque-se que, não raramente, algumas leis incorporam normas técnicas ou até mesmo éticas em seus textos. Estas mudam então de seu caráter original recomendatório para adquirir força coercitiva.

As normas técnicas – Estabelecem parâmetros científicos quantitativos e qualitativos para cada espécie de produto ou projeto. A sua observância tira o profissional daquela área perigosa da leviandade, do risco do experimental, previne a responsabilidade pelo erro. Evita a chamada “aventura técnica”. É melhor observá-la. Normalização – Atividade que estabelece, em relação a problemas existentes ou potenciais, prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva com vistas à obtenção do grau ótimo de ordem em um dado contexto. A norma técnica visa diversos objetivos: utilização adequada de recursos numa perspectiva de economicidade; padronização de soluções consagradas; facilitação dos processos de produção; meio de troca de informação entre o projetista, seus colaboradores e o cliente; uniformização de linguagem em projetos. Também traz a preocupação com procedimentos para cálculos e projetos, visando redução de consumo de materiais e tempos, redução de desperdício, padronização de componentes, melhoria de produtividade e controle. Pela normalização pretende-se a busca da proteção da vida humana, da saúde, do patrimônio e dos direitos do consumidor. Na prática, a normalização está presente na fabricação dos produtos, na transferência de tecnologia, na melhoria da qualidade de vida através de normas relativas à saúde, à segurança e à preservação do meio ambiente. A sua importância no exercício de uma profissão de caráter tecnológico se manifesta já no início do projeto.


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O projeto de arquitetura está normalizado, bem como os projetos de instalações prediais, e quase todos os materiais, equipamentos, procedimentos construtivos, ensaios e as recomendações cautelares a serem incorporadas no projeto.

VII – Onde está a excelência procurada

O organismo oficialmente autorizado para produzir a normalização é a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Ela disponibiliza aos profissionais de projeto a aquisição das normas que lhes forem afetas. Sendo propriedade da ABNT e sua aquisição ser feita mediante pagamento, deixamos de reproduzi-las neste trabalho, indicando ao leitor que delas tome conhecimento diretamente com a entidade.

Excelência, por definição é aquilo que tem ótima qualidade, que é muito bom, que é superior. É um estado a ser procurado por qualquer profissional zeloso em seus misteres. É como ele deseja ser reconhecido e ter como sua marca ante seus clientes e os outros colegas. Ser talentoso ou ter uma farta bagagem cultural técnica são condições admiráveis e dignas de destaque, porém, não suficientes para ser excelente. Este objetivo será buscado como condição de qualidade em sua prática profissional permanente e virá a coroar seu talento e seu saber. É a superação da mediocridade pelo aperfeiçoamento constante da qualidade de seu produto. Se a atividade de “projetar” é uma atribuição natural de qualquer profissional, se “bem projetar” requer um perfil adequado de dedicação e especialização profissional, “ser excelente” passa a ser um desafio permanente para todo aquele que pretende devotar-se a esta espécie de ato de ofício.

Também existe uma gama de normas a serem conhecidas pelo projetista que são as impostas pelos órgãos concedentes de licenças, como o Corpo de Bombeiros, a Saúde Pública e as agências regulatórias federais. Ainda estabelecem normas os organismos concessionários de serviços públicos de água, esgotos, energia, gás, telefonia e assemelhados. O profissional de projetos deve sempre se manter atualizado, pois que as normas costumam mudar com a evolução da tecnologia e das políticas públicas.

Requisitos de excelência para o projeto Não há uma receita para um profissional tornar seus projetos aceitos com o timbre da excelência. É a autocrítica que o dirá. Aliada a seu talento pessoal e à sua bagagem profissional adquirida na escola e no exercício profissional é requerida uma prática constante e sincera na busca de cada vez melhor compor e representar suas ideias. Não se chega subitamente à excelência. Busca-se o estado permanentemente. E a via da excelência oferece algumas mínimas balizas para o caminhar.

Máxima tecnicidade – O profissional é a autoridade maior em seu projeto e o dominador dos recursos técnicos necessários para a viabilização de um empreendimento edilício. A ele é concedido o direito de projetar. Na outra mão, é requerido que o faça segundo sua melhor competência técnica, conjugada com a sua melhor expressão artística. Plena utilização dos recursos técnicos disponíveis e aplicáveis.


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Normalidade – Tudo que fazemos é regulado por normas. Com o projeto não é diferente. Ao projetar há que se estar atento aos regulamentos. São muitos os mandamentos reguladores, tanto os atinentes às normas técnicas recomendáveis, quanto às normas legais incidentes e também os de ordem ética. Estrita observância normativa.

Proatividade com o recomendável – Não só a norma positivada deve ser atendida. O projeto não é um ato meramente burocrático, mas um ato de criação do novo. Muitas das expectativas do cliente e da própria comunidade onde seu empreendimento se inserirá, não são expressas em normas. Também não se espera que o projetista adivinhe, nem escarafunche intenções ocultas. O bom senso lhe norteará a observar proativamente fatores recomendáveis para inserir soluções a demandas não manifestas pelo cliente em seu projeto. Certos ingredientes não exigíveis concorrentes ao ato de projetar, como questões de inovação, acessibilidade, segurança, estética, respeito à paisagem, poderão não estar expressos na encomenda. Cumpre ao profissional que busca a excelência considerá-los como um “plus” em seu labor, o elemento diferencial de seu trabalho. Atendimento proativo a expectativas, ainda que não exigíveis ou ocultas.

Cautela com o efeito impactante – O edifício que o profissional concebe não estará isolado no universo. Necessariamente será uma massa concreta, perceptível e relacionada com seu entorno. Também estará inserido em um contexto e sujeito ele mesmo à reação desse meio. Espera-se que o edifício responda à solução de um problema e não que crie outros. É imperativo que haja a inserção harmônica do objeto em seu meio espaçotemporal e dinâmica sócio - urbana. Atenção com os efeitos previsíveis e impactos prováveis do edifício em seu meio e deste sobre aquele. Integração técnica – Como vimos, o projeto não é mais um ato de profissional isolado. Muitos especialistas concorrem a ele e virão a participar da sua conversão em obra material. Ao se criar um projeto de um edifício, qualquer que seja seu grau de complexidade ou magnitude, é mister que se esteja atento aos diversos projetos específicos que o comporão.

Hoje, estamos abandonando a ideia de projeto complementar da arquitetura, como algo que se adere a outra coisa por simples justaposição. Estamos raciocinando todos os projetos componentes do projeto do edifício como parcelas integradas. Não há um projeto específico com importância menor que outro. Assim, para que se alcance a excelência desejada em cada projeto, necessário é que se leve em consideração cada detalhe de cada projeto integrante e se respeite a expressão individual de todos os colaboradores. O ideal é que todos os projetos nasçam e cresçam juntos, num diálogo interativo harmônico entre todos os profissionais projetistas que convergem para o mesmo objeto. Harmonização eficaz dos projetos integrados.

Onde está o projetista excelente O profissional excelente não é necessariamente aquele que fica famoso, cobra mais caro ou tem o domínio maior do mercado de projetos. A excelência será encontrada na prática cotidiana, mesmo que modesta. Apenas se busca que o que se faça seja bem feito e atinja resultados satisfatórios. É uma questão de atitude ética progressista. Visamos a busca da excelência em projetos de edificação pela melhor conduta prática individual, pela integração harmônica e pela melhoria constante do produto. O profissional, na busca da excelência, deverá atender aos ingredientes básicos que o processo requer. Porém, deverá incrementar o seu trabalho com talento, com aquele “algo mais” que é seu diferencial personalíssimo.

Perfil pessoal para a arte de projetar – É o que chamamos de vocação. Legalmente, todos podem ser projetistas em sua respectiva modalidade. Porém, alguns são vocacionados para execução, operação, manutenção, administração, pesquisa, ensino, marketing e uma infinidade de outras oportunidades que a profissão oferece. A atividade de projeto é exigente e para ela o profissional deve estar preparado e consciente de sua aptidão.


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Realística satisfação das demandas do cliente – O cliente é o objeto e a garantia de

Gestão eficaz – Organizar seu trabalho para bem produzir. A livre escolha do método de

permanência do exercício profissional. Ele espera resultados concretos, práticos, exequíveis. Por mais criativo que o projetista seja, deverá ter os pés sempre fincados na realidade. O equilíbrio entre o que sua imaginação pode criar e o que está sendo esperado é a pauta permanente sobre a prancheta do projetista.

trabalho é um direito do profissional. Há, no entanto, que estar atento ao ajuste de sua metodologia ao ritmo e prática dos demais atores envolvidos no projeto. Cumprimento de prazos, sequência lógica de etapas, representação formal tecnicamente correta, fluxo de informações sem ruídos e outros componentes básicos da administração eficaz de seu trabalho são recomendações para a otimização. Algo como fazer o projeto do projeto, planejar sua ação. Quem não pode gerir seu próprio trabalho, não poderá exigir eficácia de seus colaboradores, nem a contrapartida devida pela clientela.

Rigoroso cumprimento das disposições exigíveis – Tudo que fazemos é pautado por normas. As regras são os parâmetros para as nossas realizações, são os marcos referenciais para nossa liberdade de ação. Nenhuma decisão de projeto será contrária às leis vigentes, à norma técnica ou à regulação ética. O profissional excelente conhece e atende à normalização incidente sobre sua criação.

Atendimento de disposições recomendáveis – Além do obrigatório há o recomendável. Certamente que segurança, acessibilidade, eficácia utilitária, urbanidade ou primorosa expressão estética nem sempre são exigíveis por força normativa. A manifestação em seu produto da preocupação com soluções que, embora não obrigatórias, possam acrescentar atributos adicionais de melhoria, também conduzem à excelência. Incorporação de soluções proativas e inovadoras – O “plus” que o projetista excelente oferece em sua arte não é necessariamente decorrente de uma exigência externa ou uma expectativa jacente. É fruto colhido de seu talento, de sua arguta observação, o qual incorporará em seu trabalho e o fará melhor. O profissional mediano oferece exatamente o que o cliente quer e a burocracia determina. O profissional excelente também, mas com “algo mais” que o cliente não esperava e que só ele viu. A solução que traz a novidade, que incorpora novos materiais e técnicas, que oferecerá resultados eficientes em prazo mais longo, que criará proteção contra imprevistos, são caminhos de superação ao simplesmente aceitável. Um “delta xis” sobre a encomenda. Desempenho interativo amigável com os demais atores – Em uma orquestra o violinista não está disputando nada com o percussionista. Ao contrário, estão buscando a afinação harmônica. Também não tocam cada um em seu canto, mas no mesmo palco, a mesma música e no mesmo momento. A plateia está atenta e deseja harmonia. Esta metáfora vale para o projeto do edifício. O diálogo entre os diversos profissionais, cada um em sua modalidade, deve ser harmônico, colaborativo e síncrono. Certamente que assim o produto será uma excelente sinfonia.

Minimização de erros – Nas profissões tecnológicas o erro é indesejável e inaceitável. Os resultados têm que ser assegurados. A falha tem que ser prevista e evitada na fase de projeto. No entanto, erros todos cometem. O melhor profissional é o que identifica seus próprios erros, os corrige e evita que seus efeitos se propaguem. Transferências de culpas são absolutamente inaceitáveis. Ouvidos abertos à crítica, atenção à lógica dos fatos e revisão permanente de seu próprio trabalho é ponto favorável para o profissional que busca a excelência. Superar-se até mesmo pelos equívocos. Como dizia Fernando Pessoa, “fazer de cada tropeço um passo de dança”. Inserção no processo da edificação – Edificar um espaço é um processo progressivo e lógico que não termina nem mesmo quando o edifício é ocupado pelas pessoas. Mais que isto, virá a ser realizado na prática, em obra sólida e utilizável em longo prazo. A inserção do produto do trabalho do projetista haverá de ser harmônica neste processo. Passos antecedentes e consequentes, avaliações e retroalimentações, ajustes, atualizações e correções deverão estar presentes em todos os momentos da concepção e se mostrarem revisitáveis para além da entrega do edifício ao usuário. O projeto deverá estar corretamente posicionado nesta cadeia. Projeto e obra são um continuum, uma coisa única de lógica sequencial.

Atitude ética de compreensão corporativa – Muito se diz que o profissional é dono de seu ato de ofício, mas não dono de sua profissão. A profissão é um bem social e a sociabilidade é imperativo para o bom desempenho do ofício. Um projeto de um edifício não é um produto instantâneo isolado no espaço e no tempo. Tem uma sequência lógica de começo, meio e fim, mas sua repercussão vai além do ato da imposição da assinatura do autor nas cópias. Também


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tem íntima relação direta e indireta com outras produções e ações de controle que convergem para o mesmo objetivo. Na complexidade da concepção de um edifício muitos são os elos de conexão com as pessoas, a comunidade, as instâncias de poder e os próprios colegas. Em cada momento o espírito de corpo deverá estar presente, pois a profissão se exerce em ambiente corporativo e não isoladamente. A boa relação com os colegas, o diálogo franco com os colaboradores, a lealdade e o respeito ao outro, ainda que concorrente, são valores morais que convergem para o fortalecimento da profissão e para a valorização do próprio profissional. Afinal de contas, evolução do mundo se fez pela colaboração e não pela competição.

Compromisso com a qualidade – Um cliente é para sempre. O profissional elabora um projeto não para se livrar dele, mas para realizar uma transformação do ambiente para melhor e realizar a si mesmo. Aí reside o compromisso ético com a qualidade. Acrescente-se ainda o direito que o destinatário de seu serviço tem de receber um produto com qualidade no mínimo aceitável. Mesmo depois de entregue a encomenda, o produto estará ativo e desdobrando-se em consequências que só o cliente perceberá. O profissional excelente será lembrado para sempre se aquele produto tiver o atributo da boa qualidade. Projetar, qualquer profissional pode. Ser um bom projetista requer algumas qualidades especiais. Para ser excelente, no entanto, há que se superar, sempre. O melhor projeto há sempre de ser o próximo, ainda que o último já esteja ótimo.

VIII – Reflexos da busca pela excelência O objetivo primeiro da busca da excelência em projetos é desenvolver a capacidade de superação progressista do próprio profissional. E, caminhando a par, poderemos ver o fortalecimento de outros valores de grande estima na sociedade profissional relacionada à edificação. Teremos um espaço de mais valorização do profissional onde cada um procurará sua autosuperação pelo aperfeiçoamento constante da qualidade de seu produto. Veremos um profissional com uma imagem de melhor aceitação na sociedade e no mercado. Teremos um profissional imbuído do espírito de lealdade na competição, um profissional mais e mais ético. Haverá um retorno justo, à medida que um serviço de ótima qualidade se reflete como marketing positivo para cada profissional e é potencial melhoria de sua remuneração. Nossos clientes, objetivo maior de nossa prática profissional, serão plenamente atendidos em seus anseios e se mostrarão reconhecidos por isto. Estaremos contribuindo de forma progressista para a melhoria da qualidade de vida dos beneficiários diretos de nosso trabalho e da sociedade como um todo, em uma atitude verdadeiramente cidadã. Estaremos desenvolvendo a nossa sociabilidade corporativa pela integração harmônica dos diversos especialistas em torno de um interesse comum, que é o progresso destas profissões voltadas à edificação. E, finalmente, a maior meta da busca da excelência é a conquista da consciência de que realmente podemos ser excelentes naquilo que fazemos, pois que assim queremos.


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REFERÊNCIAS CREA-PR – Programa de Excelência em Projetos. Fascículo 1 / edificação. CREA-PR – Manual do Profissional. CONFEA – Resolução nº 1.010, de 22 de agosto de 2.005. PUSCH, Jaime; MACEDO, Edison. Código de Ética Profissional Comentado. CONFEA . VITRÚVIO, Marco Lúcio. Los Diez Libros de Aquitectura . Obras Mestras. < www.abnt.org.br>. < www.louvre.fr >.


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