Revista Cruz Azul Online # 18 - 2019

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Revista

Cruz Azul A percepção de dependentes químicos sobre a institucionalização, seus direitos e sobre a atuação do Assistente Social Página 06

Prevalência do uso de drogas lícitas e ilícitas entre estudantes do ensino médio de Gaspar - SC

Online

Espiritualidade da família no contexto da drogadição Página 24

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Ano 2019 1o Semestre No 18


O    C A  B A Cruz Azul no Brasil é uma associação sem ns lucrativos, de direito privado, cristã interdenominacional, fundada em 23 de junho de 1995, com sede em Blumenau/SC. É liada à Cruz Azul Internacional (International Federation of Blue Cross - IFBC), cujo trabalho iniciou em 1877 na Europa.

MISSÃO, VISÃO, VALORES Missão - PROMOVER A VIDA: þ Sem álcool e outras drogas, visando ao bem-estar individual, familiar e social; þ Com a inclusão, a mútua ajuda e a abstinência; þ Com ações inovadoras de prevenção, acolhimento, tratamento, reinserção social, apoio e educação continuada; þ Acreditando na capacidade de mudança do ser humano: þ Fundamentando-se no poder salví co e transformador de Jesus Cristo.

Visão - SER REFERÊNCIA NA ÁREA DO ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: þ Como movimento cristão de inclusão, mútua ajuda e abstinência, reconhecido por sua visão de ser humano integral; þ Em prevenção; þ Em educação continuada, conhecimento e inovação; þ Em rede de acolhimento e atendimento individual e familiar, de grupos de mútua ajuda e de comunidades terapêuticas; þ Em políticas públicas, assessoramento, defesa e garantia de direitos.

Valores - NOSSOS VALORES: þ Crença no poder salví co e transformador de Jesus Cristo e na capacidade de mudança do ser humano; þ Abstinência como sinal de apreço e solidariedade, instrumento efetivo de acolhimento, tratamento, prevenção e qualidade de vida; þ Movimento em rede de inclusão e mútua ajuda; þ Educação continuada e inovação; þ Ética e transparência.

Nossa Proposta: þ Promover uma vida sem drogas, visando a saúde física, psicológica e espiritual do ser humano para o bem-estar individual, familiar e social.

PROGRAMAS DE ATENDIMENTO a) Programa de grupos de ajuda mútua: treinamento, assessoramento, apoio e acompanhamento de lideranças e voluntários junto às igrejas e outras entidades, objetivando a criação de uma rede de grupos de apoio para o atendimento de dependentes e seus familiares. Realização das reuniões dos Grupos de Apoio, especialmente através de voluntários treinados pela Cruz Azul no Brasil. b) Programa de prevenção: realização de atividades de prevenção em escolas, empresas, igrejas e outros espaços comunitários, através de teatros, monólogos, discussões de grupos, palestras de conscientização, e a capacitação de multiplicadores. c) Programa de educação continuada: Realização de cursos de extensão e livres, seminários, fóruns, curso de pós-graduação

para a formação de multiplicadores sociais que atendem pessoas afetadas pela dependência das drogas. d) Federação de Comunidades Terapêuticas: liação de entidades que realizam acolhimento de pessoas dependentes na modalidade de CT. Assessoria, apoio, capacitação às entidades liadas e representação destas junto aos governos federal, estadual e municipal. e) Programa de Orientação e Apoio para Dependentes e Familiares: atendimento presencial psicológico e de orientação junto à sede da Cruz Azul e também via telefone, e-mail e rede social. f) Programa de Edição de Literatura na área da Dependência Química e Prevenção: edição de livros, folhetos, apostilas e outras (edições impressas e eletrônicas). g) Programa de Construção de Políticas Públicas Sobre Drogas: representação do segmento de CTs junto ao governo federal, estadual e municipal, contribuindo na discussão e aprovação de leis e o nanciamento público que promovam serviços de atenção e/ou cuidado a pessoas afetadas pelas drogas, e as entidades do Terceiro Setor atuantes nesta área e nas políticas sobre drogas.

A SEDE E A SECRETARIA GERAL Para realizar os programas acima descritos, a Cruz Azul no Brasil conta com uma infraestrutura física, administrativa e deliberativa. A entidade possui uma sede própria na rua São Paulo, nº 3424, bairro Itoupava Seca, em Blumenau, SC, inaugurada em 23 de junho de 2012. Possuiu uma estrutura funcional com 18 colaboradores remunerados e mais de 600 voluntários, estes últimos envolvidos no trabalho de grupos de mútua ajuda, Secretaria Executiva e cursos. A estrutura administrativa e deliberativa da Cruz Azul é composta pela Assembleia Geral, que é o órgão máximo de caráter deliberativo. Compõe a estrutura administrativa um Conselho de Administração. Este conselho de administração possui várias áreas temáticas: área de tratamento, prevenção, grupos de apoio, capacitação, espiritualidade, políticas públicas, publicação/edição/ literatura/comunicação e ações estratégicas de inclusão. Cada área é composta por diversos membros que se reúnem entre seus pares para discutir as ações, desa os e estratégias do trabalho a ser realizado. A Cruz Azul possui uma diretoria de caráter deliberativo e um coordenador administrativo da equipe de trabalho. O trabalho é mantido através de contribuições e doações, subvenções públicas, subvenções privadas, receitas de promoções, receitas com capacitações, receitas com serviços sócio-assistenciais, vendas de mercadorias e isenções tributárias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Hoje, no Brasil, a entidade possui 20 Comunidades Terapêuticas liadas (centros de acolhimento a dependentes químicos), 107 Grupos de Apoio/Mútua Ajuda para adultos, 24 para crianças (os Grupos Kids) e 9 Grupos “Teens” (adolescentes). Por meio do trabalho da Cruz Azul, muitas pessoas encontraram ajuda para deixar a sua dependência de álcool e/ou outras drogas, além de uma nova razão para viver.

Cruz Azul no Brasil Telefone: +55 (47) 3035-8400 Site: www.cruzazul.org.br Facebook: www.facebook.com/cruzazulnobrasil E-mail: cruzazul@cruzazul.org.br

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EXPEDIENTE: A Revista “CRUZ AZUL ONLINE” é uma publicação “online” da Cruz Azul no Brasil, com sede na Rua São Paulo, 3424, bairro Itoupava Seca. 89030-000. Blumenau, SC. Presidente da Cruz Azul no Brasil: Rolf Hartmann. Editor: Luis Carlos Avila. Conselho Editorial: Alana Sieves Wendhausen, Bregitte Klemz Jung, Camila Biribio Woerner Pedron, Henriette Kellermann Prust, Egon Schlüter, Luis Carlos Avila, Luis Carlos Kuchenbecker, Maria Roseli Rossi Avila, Osvaldo Christen Filho (Coordenador), e Rolf Hartmann. Revisão: Bregitte Klemz Jung, Camila Biribio Woerner Pedron, Luis Carlos Avila, Maria Roseli Rossi Avila, Luis Carlos Kuchenbecker e Osvaldo Christen Filho. Secretário Geral: Egon Schlüter. Contatos: publicacoes@cruzazul.org.br - www.cruzazul.org.br - Telefone (47) 3035-8400. Endereço: Rua São Paulo, 3424, bairro Itoupava Seca. 89030-000. Blumenau - SC. Periodicidade: Semestral. Foto de Capa: Josiane Carla Konrad da Silva. Acamp Kids Edição: Número 18 - 1o semestre de 2019. Número e cadastro no ISSN: 2595-6019 Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br

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A

revista possui interesse nos artigos vinculados nas seguintes temáticas: dependência química, comunidade terapêutica, grupos de apoio, prevenção ao uso de substâncias psicoativas, prevenção à recaída, codependência, políticas públicas sobre drogas e outros temas correlacionados, sendo possível o chamamento de submissões com temáticas especí cas. Ao submeter um trabalho para o periódico, os autores devem ler e aceitar as condições que seguem: 1. O(s) nome(s) do(s) autor(es) deverão estar devidamente omitidos ao longo do texto (requisito para análise duplo-cego); 2. A contribuição deverá ser original e inédita, e não estar sendo avaliada para publicação por outro periódico; caso contrário, deverá ser justi cada tal condição no corpo do email no qual o trabalho será enviado; 3. O arquivo deverá ser submetido em formato Microso Word, obedecendo a seguinte estrutura básica para a organização do artigo: • Título; • Resumo; • Introdução; • Discussão; • Conclusões; • Referências bibliográ cas. 4. Os títulos e subtítulos não podem exceder o total de 100 caracteres com espaço; 5. Apresentar resumo com no máximo 200 palavras e palavras-chave (de 3 a 6) em português; 6. O volume total de texto (incluindo título, resumo, notas de rodapé e referências bibliográ cas) deve possuir no mínimo 20 mil e no máximo 40 mil caracteres com espaço; 7. O texto deverá ser escrito com espaçamento 1,5 cm entre linhas, fonte Times New Roman, tamanho 12; 8. O artigo não deve apresentar mais do que três autores; 9. As referências bibliográ cas devem ser apresentadas no nal do artigo em ordem alfabética, contendo exclusivamente as obras utilizadas para a construção do texto. A forma de apresentação das referências deve seguir o previsto na última atualização correspondente da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); 10. Os autores devem certi car-se de que as referências citadas no texto constam da lista de referências bibliográ cas, com datas exatas de publicação e nomes de autores corretamente grafados; 11. Em artigo que eventualmente apresente ilustrações (grá cos, fotogra as, desenhos etc.), estas deverão ser numeradas sequencialmente, com algarismos arábicos e citadas como “Figuras”. Devem ser su cientemente claras (alta resolução) para permitir a sua reprodução com qualidade para publicação. Deverão ser indicados os locais no texto onde as ilustrações serão inseridas; 12. Em arquivo à parte (folha de rosto) deverá ser informado o título do trabalho e o(s) nome(s) completo(s) e endereço do autor principal, incluindo rua, cidade, CEP, estado e país. Informar sua quali cação, nome da instituição e e-mail para contato; 13. Em caso de solicitação de ajustes, dúvidas e/ou informações adicionais o (s) autor (es) será (ão) comunicado via email, possuindo o prazo de até 20 dias para responder com as devidas alterações, a contar da data do envio da mensagem solicitando a intervenção do autor. Em caso de descumprimento do prazo, o artigo poderá não ser será publicado; 14. Somente serão avaliados os artigos que estejam dentro das especi cações solicitadas; 15. A autorização da publicação de trabalho se dá automaticamente no momento da submissão do trabalho; 16. Não há taxa para submissão e avaliação de artigo; 17. O trabalho, dentro das especi cações apresentadas acima, deverá ser encaminhado para o email:

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Editorial

A

percepção, a observação, a pesquisa, a análise, entre outros meios, podem ser descritos como a forma como vemos o mundo à nossa volta, o modo segundo o qual a(s) pessoas(s) constroem em si a representação e o conhecimento que possuem das coisas, pessoas e situações, ainda que, por vezes, seja induzido em erro. O processo mais importante de percepção ocorre nas relações humanas. Através da percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Consiste na aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos. Muito do desempenho e dos conflitos entre pessoas têm suas raízes na percepção. Ou seja, em todas as instâncias da vida é importante o entendimento da percepção. Nas organizações, por exemplo comunidades terapêuticas, a percepção afeta inúmeros aspectos de comportamento das pessoas. O entendimento da percepção, por esse motivo, é uma competência gerencial/ administrativa que contribui para a criação de um clima organizacional saudável. O primeiro artigo da revista Cruz Azul Online: “A percepção de dependentes químicos sobre a institucionalização, seus direitos e sobre a atuação do Assistente Social” vislumbra uma pesquisa qualitativa realizada com indivíduos dependentes químicos em substâncias psicoativas acolhidos numa Comunidade Terapêutica do Rio Grande do Sul. O segundo artigo investiga a “prevalência do uso de drogas lícitas e ilícitas entre estudantes do ensino médio”, em três escolas públicas, numa pequena cidade do interior de Santa Catarina. Trata-se de um estudo descritivo transversal. O álcool foi a substância mais consumida nas cinco modalidades de uso: na vida, no ano, no mês, uso frequente e uso pesado. O consumo na vida foi prevalente nos adolescentes de ambos os sexos. Já o terceiro artigo “Espiritualidade da família no contexto da drogadição” enfoca questões relacionadas à espiritualidade da família em que um de seus membros é dependente. Destaca de forma breve o problema da dependência do álcool e outras drogas, o histórico de alguns grupos de mútua ajuda, como instrumento de intervenção para interromper o uso de substâncias psicoativas. E por fim, identifica aspectos sobre como a espiritualidade pode gerar proteção e prevenção no âmbito familiar.

Tenha uma excelente leitura!

Cruz Azul no Brasil Luis Carlos Ávila Editor E-mail: publicacoes@cruzazul.org.br Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br

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A percepção

de dependentes químicos sobre a institucionalização, seus direitos e sobre a atuação do Assistente Social Julio Cesar Hanke de Vasconcellos Assistente Social

Rodrigo Silva Vasconcellos Psicólogo

Resumo

O

presente artigo vislumbra a pesquisa qualitativa realizada com indivíduos dependentes químicos em substâncias psicoativas acolhidos na Comunidade Terapêutica Desafio Jovem de Osório, RS, no período de primeiro de setembro a 15 de novembro de 2017. Os motivos que levaram a realização da pesquisa está na intencionalidade de investigar a população acolhida sobre a percepção do acolhimento institucional, qual o conhecimento sobre seus direitos como cidadãos brasileiros, que embora tiveram prejuízos com o uso de substâncias psicoativas, não deixaram de ser cidadãos com direitos sociais. Além disso, investigar sobre o que sabem sobre o Serviço Social enquanto campo de atuação. A presente pesquisa confirmou positivamente as hipóteses de pesquisa levantadas, onde comprovou-se a falta de conhecimento dos acolhidos dependentes químicos sobre seus direitos, oriundos do processo de alienação do conhecimento presente em nossa nação, aliado ao processo de estreitamento do repertório comportamental e social resultante da dependência de substâncias, bem como os rasos conhecimentos sobre o campo de atividade do assistente social.

Palavras-chave: Assistente Social. Comunidade Terapêutica. Dependentes químicos. Direitos. Institucionalização. Percepção.

Julio Cesar Hanke de Vasconcellos. Assistente Social. Osório, RS. E-mail: julio.giseda@gmail.com

Rodrigo Silva Vasconcellos. Psicólogo, Três Coroas, RS. E-mail: vasconcellosrs@gmail.com Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br

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Introdução

A

Comunidade Terapêutica Desafio Jovem de Osório, RS é um espaço sócio ocupacional onde trabalha uma equipe técnica multidisciplinar formada por um psicólogo, um assistente social, um psiquiatra, além de diretores e monitores capacitados através de cursos de nível técnico. A instituição tem capacidade de acolhimento de quarenta e quatro indivíduos do sexo masculino, maiores de dezoito anos, com intenção de superação da dependência química. Os indivíduos acessam o serviço através de familiares e parcerias com órgãos públicos e privados. Nos últimos anos, a dependência química e suas consequências na vida do indivíduo e sua família têm sido consideradas um problema de saúde pública, sendo um fenômeno de grande relevância social e acadêmica, já que seu tratamento implica na articulação de múltiplas abordagens terapêuticas (UNODC, 2018). A dependência química constitui-se uma expressão da questão social que leva o usuário a viver em situação de rua, violência doméstica, fome e miséria, chegando ao encarceramento devido às condutas criminosas para sustentar a dependência. O Serviço Social se consolidou como uma profissão de reconhecida importância nas instituições de acolhimento e tratamento a dependentes químicos e familiares, onde alguns se tornaram codependentes. Sendo assim, o profissional do Serviço Social, em seu processo de trabalho, se destaca pela capacidade técnica, teórica e metodológica do Serviço Social. Sendo a questão social, com suas múltiplas expressões, o objeto de trabalho do Serviço Social, a problemática da dependência química e as famílias afetadas têm uma relação forte com a questão social (VELOSO & ABREU, 2005, pp. 11-18). O objetivo do processo de trabalho do assistente social com dependentes químicos em Comunidade Terapêutica (CT) visa proporcionar um atendimento técnico metodológico aos acolhidos na instituição e o empoderamento dos laços familiares. Logo a dependência química é uma expressão da questão social, o grupo das famílias que estão envolvidas neste fenômeno fazem parte da questão social. Para GIGLIOTTI & GUIMARÃES (2010), todos os segmentos sociais experimentam a mesma rápida aproximação com a realidade dos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas (SPA’s). A repercussão se faz notar nas notícias de acidentes de trânsito, criminalidade, analfabetismo, desemprego, doenças de todos os tipos, desordens familiares, transtornos esco-

lares e outros. Cada pessoa tem alguma experiência de proximidade com os problemas decorrentes das drogas para vivenciar. O objeto a ser estudado é sobre qual a percepção do processo de acolhimento institucional, qual o conhecimento os acolhidos da referida instituição têm sobre seus direitos, bem como investigar sobre o que sabem sobre o Serviço Social enquanto campo de atuação. Sobre o objeto de estudo, podemos dizer que este é como um quebra- cabeças em que suas peças são os conceitos e categorias. Seu trabalho consiste em encaixá-los de modo a formarem um todo coerente (MEDEIROS & WEISHEIMER, 2010). O processo de aproximação do objeto de estudo partiu do interesse advindo do estágio curricular realizado em uma Comunidade Terapêutica, em que foi percebida a necessidade de investigar o tema a partir da institucionalização dos acolhidos. Esta pesquisa foi delineada a partir do método qualitativo por intermédio de observação e entrevistas aos acolhidos através de questionário construído para atingir os objetivos da investigação. Ressalta-se que existe uma certa discriminação ao trabalho ofertado pelas Comunidades Terapêuticas no Brasil, e com esta pesquisa, um trabalho executado dentro da instituição, traz a lume um trabalho que até então parecia estranho pela população desinformada. Estima-se que as comunidades terapêuticas no Brasil atendam cerca de 80% das pessoas, em tratamento, para transtornos decorrentes do uso e abuso de substâncias psicoativas (DAMAS, 2013, pp. 50-65). Os objetivos específicos são (a) investigar a percepção do acolhido sobre o processo de acolhimento; (b) Estudar sobre as experiências vivenciadas durante o período de acolhimento na instituição; (c) Analisar o conhecimento do indivíduo acolhido concernente aos seus direitos sociais e do processo de trabalho do assistente social junto aos mesmos. Tem-se como hipótese principal a falta de conhecimento dos acolhidos dependentes químicos sobre seus direitos, oriundos do processo de alienação do conhecimento presente em nossa nação, aliado ao processo de estreitamento do repertório comportamental e social resultante da dependência de substâncias. Sobre o trabalho do assistente social, a hipótese levantada é a de que há rasos conhecimentos sobre seu campo de atividade.

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Metodologia

A

atividade desenvolvida na obtenção dos dados utilizados neste trabalho partiram das técnicas de observação, escuta sensível, também conhecida como escuta reflexiva e através de questionário abordado através de entrevistas. A escuta sensível, que é chamada também de escuta reflexiva, [...] permite identificar outras situações de vulnerabilidade que não são apresentadas inicialmente pelo usuário. “Muitas vezes o usuário busca o serviço para superar uma situação de risco social e nem mesmo identifica que existe uma multiplicidade de questões que agravam as suas condições de vida” (SPEROTTO, 2009, p. 34). A escuta sensível reconhece a aceitação incondicional de outrem. ele compreende sem aderir ou se identificar às opiniões ou ao que é dito ou feito. (René Barbier, 1997).Quando nos propomos a ser profissionais de determinada área, é esperado de nós que estejamos capacitados para a construção de novos saberes, e certamente nos defrontaremos com um processo de conhecimento, que depende de diversos tipos ou níveis de profundidade do mesmo, destacando-se o conhecimento imediato, sem intermediários, ocorre a partir da experiência vivida. (PELLIZZER, 2011, p. 37).

O método escolhido foi o método qualitativo, sendo que as técnicas são o instrumental do método. O local que serviu de universo à pesquisa foi a Comunidade Terapêutica Desafio Jovem de Osório, localizada na zona rural do município onde as observações e entrevistas se deram no pátio da instituição no período da manhã. A pesquisa tem abrangência regional, pois os acolhidos da instituição são oriundos de diversas cidades do Estado. Inclusive os três acolhidos entrevistados são cada um de uma cidade do Rio Grande do Sul. A Instituição é uma instituição privada pertencente ao terceiro setor, filantrópica que disponibiliza acolhimento e tratamento a dependentes de substâncias psicoativas (álcool e outras drogas) com um programa terapêutico individualizado que tem em média um ano de duração. Obviamente as Comunidades Terapêuticas ocupam espaços e realizam atendimento ora negligenciados pelo Estado, o que acaba desencadeando a “supervalorização” do terceiro setor. A privatização das políticas públicas acaba possibilitando uma grande autonomia institucional, ainda que seus serviços sejam financiados em alguns casos pela esfera estatal e que esta preste os serviços que deveriam ser oferecidos, , pelo Estado (WOERNER, 2015, p. 174).

o profissional de Serviço Social deve usar de toda instrumentalidade disponível (entrevistas, escuta sensível, reuniões em geral, visitas domiciliares), (Idem, 2015). A metodologia utilizada nesta pesquisa partiu da utilização de um questionário semiestruturado com perguntas abertas, a fim de estimular e facilitar a expressão dos acolhidos. As entrevistas foram individualizadas com tempo médio de duração de 90 minutos. A partir da aplicação do questionário, deu-se a oportunidade de os acolhidos relatarem suas experiências de vida e qual entendimento tinham a respeito do Serviço Social e do processo de trabalho do assistente social. Cabe salientar que, neste processo de entrevista, o pesquisador utilizou-se dos instrumentais técnicos da profissão, como o não julgamento, a escuta sensível e reflexiva, bem como a total neutralidade diante das informações ora coletadas. Primando pelo sigilo e confidencialidade, os nomes dos acolhidos foram omitidos da pesquisa, substituindo-os por nomes fictícios. O método de seleção dos acolhidos para a pesquisa foi por afinidade, a partir das referências dadas pela equipe técnica do local. Foram entrevistados três homens com idades entre 25 a 35 anos, todos com mais de 4 meses de acolhimento na Comunidade Terapêutica. No período de setembro e outubro foram feitas duas visitas a instituição na intencionalidade de observar os acolhidos e realizar uma aproximação maior com os mesmos para que no momento do questionário escrito viessem se sentir à vontade e não ocultar respostas as perguntas da pesquisa. No mês de novembro foram feitas outras três visitas a instituição, visando realizar as entrevistas com os acolhidos selecionados para a pesquisa. Após a coleta dos dados, debruçou-se sobre o processo de análise e interpretação dos dados. Para tanto, foi utilizada técnica de análise de conteúdo de Bardin (1979). A análise de conteúdo é uma técnica de pesquisa e, como tal, tem determinadas características metodológicas como objetividade, sistematização e inferência. Segundo Bardin, ela representa um conjunto de técnicas de análise das comunicações que visam a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e recepção dessas mensagens.

Para atender as demandas desta expressão da questão social dentro das Comunidades Terapêuticas – CT’s, Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br

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minantes para a tomada de decisão para o acolhimento voluntário em Comunidade Terapêus categorias e subcategorias foram tica, bem como seus argumentos sobre como se definidas a , ou seja, emer- sentem dentro da mesma. A segunda categoria giram a partir de repetidas leituras explicita os argumentos sobre como percebem das informações obtidas na transcrição das en- a profissão do assistente social de forma geral e trevistas. A primeira categoria, “Sobre o pro- no local em que estão institucionalizados. Aincesso de institucionalização”, discorre sobre da foi elencada uma terceira categoria, em que os argumentos relativos ao processo anterior e explicita os argumentos sobre o acesso aos diposterior a institucionalização, os fatores deter- reitos sociais.

Análise e interpretação dos dados

A

Tabela 01: sobre o processo de institucionalização Categoria

Sobre o processo de institucionalização

Subcategorias

Unidades Temáticas

“Sempre trabalhei, mas comprava só o básico para casa e o resto ia para a pedra”. “Vivíamos debaixo do viaduto e quando estava perto de ganhar, fomos morar numa casa abandonada”. Condição pregressa “Conturbado. Sentia que minha família não gostava de à institucionalização mim”. “Bebia muito e brigava nas festas” “Minha mãe (e irmã) é usuária de drogas”. “Várias internações em CT’s e clínicas psiquiátricas”. “(Como vivia antes?) “Bêbado... (risos)”. “Me sinto bem. Coisas boas tem acontecido”. “Minha esposa também decidiu buscar acolhimento”. “Os profissionais transmitem amor”. “Sou respeitado e vivo com dignidade”. Percepção da sua “Aprendo coisas que nunca aprendi”. condição atual “É difícil, mas não impossível”. “Estou aqui há 6 meses e pretendo ficar um ano” “Pela primeira vez após a morte da minha esposa, estou me sentindo bem”.

Como se pode observar na Tabela 1, em relação ao processo de institucionalização, ela foi motivada em decorrência de uma série de fatores de risco para o uso de substâncias que resultaram na vulnerabilidade social em que estavam inseridos. Viver em condição de rua, ser rejeitado por familiares, diversas internações e outros familiares usuários são relatos comuns dentre os acolhidos de Comunidades Terapêuticas. Conforme Gomes (2010), o dependente químico é um ser humano que carrega em si o condicionamento cultural de seu contexto na forma mais negativa possível. Isto deve-se ao fato de que os indivíduos têm distintos graus de sensibilidade à problemática que os cerca, desde problemas da própria fase de adolescência, até traumas

mais severos causados pela exclusão da participação nos bens culturais de sua sociedade; a falta de acesso a melhores condições materiais; crises familiares mal resolvidas; etc. Sendo assim, é a esse ser que se devem proporcionar condições não apenas de abstinência, mas, acima de tudo de um reposicionamento em face de sua existência. Dentre os muitos serviços ofertados para o tratamento de dependentes químicos, cabe salientar que a Comunidade Terapêutica é o serviço que se esforça para oferecer este reposicionamento. Não é a toa que estudos revelam que as Comunidades Terapêuticas chegam a atender cerca de 80% das pessoas com transtornos decorrentes do uso e abuso de substâncias psi-

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coativas, mesmo diante de muitas controvérsias sobre sua metodologia e eficácia (DAMAS, 2013, pp. 50-65). É interessante notar que os sujeitos referem ao acolhimento em Comunidade Terapêutica como um resgate de atributos da vida individual e coletiva ora perdidos quando estavam na dependência (“sou respeitado, vivo com dignidade”, “aprendo coisas que nunca aprendi”). Sabino & Cazenave (2005, pp. 167-174) referem que as Comunidades Terapêuticas apresentam uma ampla flexibilidade a fim de adaptar-se a várias culturas e níveis sociais, trabalhando em três linhas de atuação:

espiritual (trabalha-se com religiosidade e apoio de ex-acolhidos), científica (psicólogos, médicos, assistentes sociais e voluntários de diversas áreas) e mista (união das duas citadas anteriormente). Afirmam ainda que o objetivo dessas instituições é o de promover uma transformação da personalidade do indivíduo, um amadurecimento pessoal e favorecer sua reinserção à sociedade. Para isso, criam-se novos valores como espiritualidade, responsabilidade, solidariedade, honestidade e amor.

Tabela 02: sobre o Assistente Social Categoria

Subcategoria

Unidades Temáticas “Sempre nos bota pra cima”. “É uma pessoa muito legal”. “Vejo ela se esforçando para que minha família me visite”.

Sobre o assistente social

Entendimento sobre seu trabalho

“Não entendo muito sobre qual a sua função”. “(...) dá conselho, e arruma lugar para nós ficar”. “Não sei muito. Entendo que faz encaminhamentos”. “Bolsa família e outras coisas no Cras”.

Em se tratando do conhecimento das políticas so- implementa propostas de intervenção para seu enfrenciais e do processo de trabalho do assistente social (Ta- tamento, com capacidade para promover o exercício bela 2), observou-se que a população usuária dos ser- pleno da cidadania e a inserção criativa e propositiva viços da Comunidade Terapêutica tem pouco ou quase dos usuários do Serviço Social no conjunto das renenhum conhecimento. Na grande maioria confundem lações sociais e no mercado de trabalho”. (BRASIL, o serviço do assistente social com benemerência e as- 2001, p. 12). sistencialismo, não entendendo o fazer do profissional Assim, o assistente social trabalha na garantia de dido Serviço Social, ou seja, que os mesmos concebiam reitos sociais e na orientação do resgate da cidadania e esses serviços como um meio possível de suprimento de uma vida digna de um cidadão brasileiro, não fazende alguma carência ou necessidade pontual através da do favores ou concessões. Fica explícito a necessidade intervenção profissional do assistente social. de um trabalho com mais efetividade no esclarecimenSe, outrora, as práticas da assistência estavam atre- to e orientação à população sobre o processo de trabaladas a uma cultura de clientelismo, assistencialista e lho do assistente social. tutelar, que primavam para a manutenção da dependência do cliente (e, assim, reiteravam a sua condição de pobreza), tem-se com a promulgação da Constituição Cidadã o marco legal que a assegura como direito do cidadão e dever do Estado, cujo alcance prima pela promoção da autonomia do seu usuário (RESPLANDE, 2011). Neste sentido, já deixa clara as Diretrizes Curriculares Nacionais, declarando que o profissional que atua nas expressões da questão social formula e Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br 10


Tabela 03: sobre o acesso aos direitos sociais Categoria

Subcategoria

Unidades Temáticas “Ganho R$130,00 do bolsa família”. “Nunca trabalhei de carteira assinada”

Sobre o acesso aos direitos sociais

Entendimento sobre “É um direito que tu tem de alguma coisa, de conviver seus direitos sociais em família”

“Tive perseguição racial (em casa), minha madrasta me chamava de macaco” “Estou recebendo o auxílio doença que recebi através da justiça, pois trabalhei muitos anos de carteira assinada”

Sobre o entendimento do acesso aos direitos sociais, a Tabela 3 revela clara inexistência de compreensão plena dos direitos como cidadãos de direitos. Observa-se um conhecimento fragmentado das políticas e programas sociais de que podem acessar. Mais uma vez, permanece a alienação sobre o trabalho do Serviço Social, da Constituição Federal e das legislações vigentes que garantem acesso aos direitos dos cidadãos. Este fato não é isolado, mas reflete a realidade da maioria dos brasileiros. Uma pesquisa realizada com o objetivo de descobrir como usuários avaliam a ESF e o PAIF quanto às condições estruturais disponibilizadas pelos municípios e à articulação – intersetorialidade - existente entre eles, revelou que os usuários demonstram escasso conhecimento sobre as políticas públicas de saúde e sociais brasileiras: (...) 72,9% dizem não receber informações sobre o Sistema e seus programas, projetos ou serviços, quer pela equipe que vai à residência, quer pelos profissionais quando o usuário procura a UBS. Menor ainda são as informações que recebem sobre as demais políticas públicas, incluindo o PAIF, quando o percentual que afirmam não receber nenhuma informação sobre as mesmas sobe para 83,5%. Com relação ao CRAS, 86,2% das famílias não recebem visita de profissionais, tampouco informações sobre políticas públicas não vinculadas diretamente com o próprio serviço (STEDILE, CAMARDELO & MARA, 2013).

Esta alienação quanto aos direitos sociais por parte da população acaba por produzir diversas violações de direitos, seja na própria convivência familiar, como nas relações sociais e de trabalho, além da dificuldade em acessar os serviços públicos e do terceiro setor que podem resolver suas demandas sociais. Segundo Zanetti (2011, online), para que os direitos humanos não sejam infringidos, é necessário a adoção de medidas concretas, planejadas e bem definidas para a efetivação desses

direitos. A relação existente entre políticas públicas e a realização de direitos, de maneira especial dos direitos sociais, é por isso direta, assim como demanda prestações positivas por parte do Estado. Assim sendo, corroborando com Zanetti (2011, online), observa-se a necessidade de um conjunto coerente de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade que irão garantir, através das políticas sociais, os direitos referentes à saúde, à previdência e à assistência social. Políticas públicas que contemplem os direitos sociais, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados (ZANETTI, 2011, online).

Conclusões

D

iante da análise teórica e reflexiva privilegiada neste trabalho sobre o Serviço Social, a dependência química e o processo de institucionalização, é possível concluir que a Comunidade Terapêutica tem sido uma importante estratégia complementar aos serviços públicos no tratamento da dependência química, principalmente àqueles que não dispõem do acesso aos serviços públicos e privados. Também foi possível perceber a necessidade de uma maior divulgação sobre o verdadeiro trabalho do assistente social, visando desmistificar a profissão, deslocando-a do pensamento assistencialista e benemerente, principalmente para a população mais vulnerável socialmente. Outro aspecto a considerar é a necessidade de maior empoderamento quanto ao conhecimento das políticas e programas sociais, tornando os usuários mais informados quanto aos seus direitos, visando diminuir assim as desigualdades sociais e facilitar o acesso aos serviços de que estão necessitados. Neste sentido, cabe

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salientar a importância do serviço de acolhimento, neste caso a Comunidade Terapêutica, trabalhar no sentido de suprir esta demanda por conhecimento e acesso às políticas públicas de que os acolhidos estão ainda alienados. A presente pesquisa confirmou positivamente as hipóteses de pesquisa levantadas, onde comprovou-se a falta de conhecimento dos acolhidos dependentes químicos sobre seus direitos, oriundos do processo de alienação do conhecimento presente em nossa nação, aliado ao processo de estreitamento do repertório comportamental e social resultante da dependência de substâncias, bem como os rasos conhecimentos sobre o campo de atividade do assistente social. Estas conclusões aqui apresentadas apontam para a necessidade da continuidade de investigação nesta área. Entre elas destacam-se a necessidade de aumentar o arcabouço teórico sobre o tema.

Referências bibliograficas BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Ed. 70, 1979. APUD GERHARDT,T.E. & SILVEIRA, D. T. (org.). Métodos de pesquisa. Porto Alegre: UFRGS, 2009. BRASIL. Parecer CNE/CES 492/2001, p12. DAMAS. F. B. Comunidades Terapêuticas no Brasil: expansão, institucionalização e relevância social. Revista Saúde Pública. 2013; 6(1). GIGLIOTTI, A. Diretrizes Gerais Para Tratamento da Dependência Química. Livro: Rúbio, Introdução, 2010.

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Prevalência do uso de drogas lícitas e ilícitas entre estudantes do ensino médio de Gaspar - SC Sergio Luís Fagundes Couto Especialista em Educação Física Escolar

O

presente estudo teve como propósito verificar a prevalência do consumo de substâncias psicoativas em adolescentes do ensino médio da cidade de Gaspar, no Estado de Santa Catarina. Tratou-se de um estudo descritivo transversal. A amostra foi composta por 208 estudantes de três escolas públicas. Os participantes responderam a um questionário sobre o consumo de substâncias psicoativas e a um questionário sociodemográfico. O álcool foi a substância mais consumida nas cinco modalidades de uso: na vida, no ano, no mês, uso frequente Sergio Luís Fagundes Couto. Especialista em Educação Física Escolar, em Dependência Química, Comunidade Terapêutica e Saúde Mental. Professor da Rede Municipal de Brusque e da Rede Estadual de SC. Atua como coordenador da Comunidade Terapêutica Desafio Jovem Monte das Oliveiras, Gaspar, SC. E-mail: slfcouto@gmail.com Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br

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e uso pesado. O consumo na vida foi prevalente nos adolescentes de ambos os sexos. Sugere-se, com base nos resultados da pesquisa, o fomento de políticas públicas com vistas à prevenção primária do uso de drogas e incremento da saúde. Palavras chaves: Prevalência. Drogas. Adolescência. Ensino médio.

Introdução

A

Brasileiro de Informações sobre Drogas (CEBRID), em 2010, com 50.890 estudantes. Esse levantamento aponta que 42,4% dos estudantes entrevistados já haviam consumido álcool na vida; 9,6% tabaco; 15,4% outras drogas. Na faixa de 10 a 12 anos, 7,7% dos jovens já haviam consumido, ao menos uma vez na vida, outras drogas psicotrópicas, não considerando o álcool e o tabaco. Segundo Batista, Backes e Souza (2015, p 47), 1,38% dos acolhidos em Comunidades Terapêuticas habilitadas no Projeto Inovação, no período de janeiro de 2014 a abril de 2015 tinham menos de 15 anos e 80% dos acolhidos estavam na faixa etária dos 16 aos 45 anos. O relatório de atividades do ano de 2016 da Comunidade Terapêutica Monte das Oliveiras, situada no município de Gaspar – SC, mostrou que 88,6% dos seus acolhidos tiveram seu primeiro contato com o tabaco com idade entre 11 e 15 anos. Na mesma faixa etária, 79,2% tiveram contato com o álcool e 41,5% com drogas ilícitas. Trata-se de dados preocupantes, que apontam para a necessidade urgente de abordagens de prevenção primária entre a população adolescente, no sentido de minimizar o impacto do uso de substâncias e evitar que o adolescente chegue a precisar do serviço de acolhimento ou internação.

adolescência é um período marcado por alterações. Sejam físicas, psicológicas, cognitivas, emocionais, entre outras. Estas mudanças alicerçam a formação da personalidade do indivíduo, sendo comum a permanência de hábitos e comportamentos nas fases seguintes do desenvolvimento de uma pessoa. De Micheli e Sartes (2017, p 46), afirmam que o uso de drogas entre estudantes adolescentes no Brasil aparece como uma das principais preocupações dos profissionais da saúde e assistência social, considerando o fato de que o uso em idade tenra eleva as chances destes jovens desenvolverem transtornos psiquiátricos, bem como de apresentarem maiores níveis de problemas relacionados ao uso. As autoras salientam ainda sobre a importância de que se evite este consumo precoce ou ao menos se adie, através da realização de intervenções junto ao público adolescente. Sobre a importância de ações preventivas entre estudantes adolescentes preconiza-se que “o consumo de drogas deve ser tratado, fundamentalmente, como problema de saúde pública, sendo importantes a idenMaterial e Método tificação precoce, o encaminhamento adequado e, principalmente, a multiplicação de ações preventivas.” rata-se de um estudo transversal e descriti(QUEIROZ et.al., 2001, p.170) vo. A população pesquisada foi formada por De acordo com Sanceverino e Abreu (2004, p 9), a alunos do primeiro ano do ensino médio de criminalidade crescente ligada ao consumo de drogas, lícitas e ilícitas, a idade cada vez mais tenra das pesso- três escolas públicas estaduais do município de Gaspar, as que se tornam dependentes, são motivos de preocu- estado de Santa Catarina. Num primeiro momento procurou-se a Supervisão de Gestão Escolar, da 15ª Gepação que mobiliza a sociedade brasileira. Relativo a pesquisas entre a população de estudan- rência Regional de Educação, na cidade de Blumenau. tes adolescentes, Malta et. al (2011, p 145), relatam Neste encontro, foram repassadas informações sobre o em sua pesquisa que mais de 70% dos adolescentes es- estudo, bem como foi deixado uma cópia do projeto de colares já foram expostos ao álcool e cerca de 8% às pesquisa. Da parte da supervisão escolar, foi emitida drogas, onde ficaram evidenciadas a exposição precoce uma declaração, dando ciência da realização da pesquisa, autorizando a visitação às escolas do município de e a gravidade do problema. Neste contexto torna-se imperativo citar o VI Le- Gaspar, onde se pretendia realizar o estudo. No passo seguinte, foram realizadas as visitas às vantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamen- escolas, momento em que foi apresentado o projeto tal e Médio da Rede Pública e Privada de 26 Capitais aos gestores escolares e deixado uma cópia em cada Brasileiras e Distrito Federal, realizado pelo Centro unidade. Cada diretor de escola assinou um termo de Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br 14

T


consentimento livre e esclarecido, autorizando a realização da pesquisa. Foram igualmente enviadas autorizações aos pais e responsáveis pelos alunos. Neste primeiro contato, já foi realizado um levantamento do número de turmas de primeiro ano do ensino médio, bem como o número de estudantes matriculados e frequentando cada turma. Foram visitadas quatro escolas, duas centrais e duas situadas na periferia do município. O tema pesquisado teve boa receptividade por parte dos diretores e coordenadores, exceto numa das escolas, que acabou por ser excluída do estudo. Nas três escolas pesquisadas, a população total de alunos matriculados no primeiro ano do ensino médio foi de 605 alunos. Para seleção da amostra, utilizou-se a calculadora on line, (SANTOS), com erro amostral de 5%, nível de confiança de 95% e percentual máximo de 20%. Chegou-se a uma amostra ideal de 176 indivíduos, considerando tratar-se de uma população mais homogênea. Foram entrevistados 208 alunos que cor-

responde a 34,4% do total da população. Optou-se por uma amostra acima do indicado, prevendo possíveis perdas, tais como, erro de preenchimento ou entrega do questionário em branco. Na tabela 1 encontram-se indicadores concernentes às características sócio demográficas dos participantes. Os dados apontam uma estreita predominância no número de alunos do sexo feminino (54,6%), contra 45,4% do sexo masculino. A média de idade para o sexo feminino em 15,8 anos, para o sexo masculino 16,1 anos. A média geral foi de 16 anos, com idades variando entre 14 e 19 anos. A maioria do grupo situou-se na faixa etária entre 16 e 17 anos (71,2%). Com relação ao nível socioeconômico, 96,7% dos participantes concentraram-se nas classes “B” e “C”, seguido de 1,9% na classe “D” e 1,4% na classe “A”. Quanto ao turno escolar, 88,9% dos alunos eram do período diurno, 11,9% do período noturno.

Tabela 01: Características sócio demográficas de 208 estudantes do ensino médio de Gaspar - SC N

%

A2

3

1,4%

B1

28

13,5%

B2

84

40,4%

C1

72

34,6%

C2

17

8,2%

D

4

1,9%

14 a 15

51

24,5%

16 a 17

148

71,2%

18 a 19

09

4,3%

Masculino

95

45,4%

Feminino

113

54,6%

Matutino

98

47,1%

Vespertino

87

41,8%

Noturno

23

11,1%

A

83

39,9%

B

103

49,5%

C

22

10,6%

Nível sócio econômico

Faixa etária

Sexo

Período

Escola

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A coleta de dados iniciou após a relação de turmas já estar definida, onde os estudantes foram aleatoriamente escolhidos. As turmas do período diurno pertenciam às três escolas participantes, totalizando 88,9% da amostra. No período noturno foi pesquisada apenas uma turma (11,1%), pertencente a uma escola situada na região central do município. A aplicação do questionário aconteceu em um só momento em cada turma e escola, no sentido de evitar comentários que pudessem comprometer o andamento da pesquisa. Não houve retorno para realização com alunos faltantes, uma vez que o número requerido pelo cálculo amostral, já havia sido atingido com sobra. A coleta de dados foi realizada pelo pesquisador, com ajuda de dois auxiliares. Numa das escolas houve a colaboração do diretor e noutra de um professor. A coleta foi realizada entre os dias 18 e 30 de novembro de 2017. Após agendada a visita para a coleta, o pesquisador e auxiliares foram até as escolas, onde foram apresentados aos alunos pelo gestor. Nesta ocasião a pesquisa foi detalhadamente exposta aos alunos e, após a aceitação em participar por parte dos alunos, os questionários foram distribuídos e devidamente preenchidos, com a garantia de orientação por parte do pesquisador. Entre a explicação e preenchimento do questionário, o tempo decorrido em média era de 40 minutos. Nas duas escolas com maior número de alunos (A e B), os participantes saíram de suas salas de aula para um ambiente comum. Na escola de menor

número de alunos (C) e na turma do período noturno (A), os alunos permaneceram em sala durante o preenchimento do questionário. O questionário utilizado na pesquisa, foi um instrumento fechado, de autopreenchimento, sem a identificação do aluno. Segue o mesmo padrão empregado por Carlini et al. (2010) no VI Levantamento Nacional sobre Consumo de Drogas Psicotrópicas entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio das Rede Públicas e Privada de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras – 2010. Foram mantidas questões consideradas relevantes para esta pesquisa e retiradas outras, não significativas para o trabalho. Foram incluídas questões tais como informações sobre o turno escolar, a escola do participante e se o aluno trabalha ou não. O questionário continha ainda a escala da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP, 2008) para classificar os estudantes quanto ao nível econômico (de A1 a E). Esta escala econômica considera a posse de bens da família do estudante (como por exemplo, carro, geladeira, freezer, entre outros), a escolaridade do chefe da família e a contratação de funcionários domésticos. Para a análise estatística dos dados foi utilizado o programa informático Epi info 2000, versão 3.5.4. Para apurar particularidades referentes à prevalência do uso de substâncias psicotrópicas, a pesquisa observou o “uso na vida”, “uso no ano”, “uso no mês”, “uso frequente” (seis ou mais vezes no último mês) e “uso pesado”(mais de 20 dias ou mais no último mês).

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Resultados Tabela 02: Uso de diferentes drogas psicotrópicas de acordo com o tipo Tipos de uso % (4)

Tipo de droga Ano(3)

Mês(3)

Frequente(3)

Pesado(3)

Vida(2) Maconha

26,9

20,8

10,1

1,9

2,4

Cocaína

1,9

1,4

1,0

0,5

0,0

Crack

1,0

0,5

0,5

0,0

0,0

Anfetamínicos

5,8

4,8

2,4

1,3

0,0

Ansiolíticos

7,2

6,7

3,8

0,5

1,9

Solventes/inalantes

10,6

6,3

1,9

1,9

0,0

Anticolinérgicos

1,5

1,0

0,5

0,5

0,0

Esteróides/anabolizantes

1,0

-

-

-

-

Ópio/Heroína

0,5

-

-

-

-

LSD

6,8

-

-

-

-

Êxtase

12,0

-

-

-

-

Metanfetamina

1,0

-

-

-

-

Ketamina

0,0

-

-

-

-

Benflogin

1,4

-

-

-

-

Energético com álcool

66,3

-

-

-

-

Narguile

56,5

-

-

-

-

Qualquer droga (1)

35,1

24,5

13,0

3,8

2,9

Tabaco

35,1

17,3

10,1

1,0

1,4

Álcool

89,9

76,8

51,9

13,6

3,4

Fonte: Tabela elaborada pelo autor. (1) Exceto álcool, tabaco, energético com álcool e narguilé. (2) Maconha, cocaína, crack, anfetaminas, ansiolíticos, anticolinérgicos, esteroides/anabolizantes, ópio/heroína, LSD, êxtase, metanfetamina, ketamina. Benflogin, energético com álcool, narguilé. (3) Maconha, cocaína, crack, anfetaminas, ansiolíticos, solventes, anticolinérgicos. (4) Dados expressos em porcentagem.

A tabela 2 mostra que, no parâmetro “uso na vida”, Em relação ao parâmetro “uso no mês”, as drogas preas substâncias lícitas predominantes foram: álco- valentes foram: álcool (51,9%); maconha (10,1%); taol (89,9%), energético com álcool (66,3%), narguilé baco (10,1%) e ansiolíticos (3,8%). No parâmetro “uso (56,5%), tabaco (35%); as drogas ilícitas mais preva- frequente”, destacaram-se o uso de álcool (13,6%); malentes foram maconha (26,9%), o êxtase (12,0%), os conha (1,9%) e anticolinérgicos (1,9%). Na modalidasolventes (10,6%) e o LSD (6,8%). de “uso pesado” prevaleceram o álcool (3,4%), seguido No parâmetro “uso no ano”, as substâncias mais uti- de maconha (2,4%). As drogas mais prevalentes em lizadas foram: álcool (76,8%); maconha (20,8%); ta- todas os parâmetros foi o álcool e a maconha. baco (17,3%); ansiolíticos (6,7%); e solventes (6,3%). Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br 17


Tabela 03: Uso na vida de diferentes drogas psicotrópicas por gênero e faixa etária Tipo de droga

Gênero %(2)

Faixa etária %(2)

Masculino

Feminino

14-15 anos

16-17 anos

18-19 anos

Maconha

28,7

25,7

29,4

24,3

55,6

Cocaína

4,2

0,0*

5,9

0,7

0,0

Crack

1,0

0.9

2,0

07

0,0

Anfetamínicos

4,2

6,2

5,9

6,1

0,0

Anticolinérgicos

2,1

0,9

2,0

1,4

0,0

Qualquer droga(1)

35,4

35,0

35,3

33,8

55,6

Tabaco

35,4

35,0

33,3

36,5

22,2

Álcool

92,6

86,2

88,2

90,5

88,9

(1) Exceto álcool e tabaco. (2) Dados expressos em porcentagem. * Indica significância estatística com p< 0,05: Teste de Qui-quadrado.

Na tabela 03 verifica-se que o álcool é a droga mais utilizada pelo menos uma vez “na vida” entre os estudantes, apresentando um uso análogo entre os gêneros e faixas etárias onde 92,6 % das meninas relataram já terem utilizado a substância; entre os rapazes este índice ficou em 86,2 %. O uso de cocaína se sobressai entre os rapazes (4,2%) com diferença estatisticamente significativa. Nas substâncias como maconha, crack,

anticolinérgicos e tabaco, o consumo mais relevante aparece entre o gênero masculino. Com relação aos anfetamínicos, o uso mais acentuado encontra-se entre o gênero feminino. Referente ao uso de qualquer droga na vida, os resultados entre os gêneros se equivalem, com baixa margem em favor dos rapazes. Verifica-se o predomínio do uso de álcool e da maconha em todas as faixas etárias, com destaque para o uso da maconha (55,6%) e de qualquer droga (55,6%) entre os estudantes da faixa etária de 18 e 19 anos. O uso do álcool em todas as faixas etárias não apresenta diferença significativa, demonstrando a aceitação social desta droga, geralmente associada a comemorações e festividades. O uso de cocaína, crack, anfetamínicos e anticolinérgicos são mais prevalentes entre as idades de 14-15 e 16-17 anos, não havendo relato de uso na vida destas substâncias na faixa etária de 18 – 19 anos. O uso na vida do tabaco aparece em todas as faixas etárias sem diferenças estatísticas significativas.

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Tabela 04: Uso no ano de diferentes drogas psicotrópicas por gênero e faixa etária Tipo de droga

Gênero %(2)

Faixa etária %(2)

Masculino

Feminino

14 - 15 anos

16 - 17 anos

18 - 19 anos

Maconha

23,7

18,6

27,5

17,7

33,3

Cocaína

3,2

0,0

3,9

0,7

0,0

Crack

1,1

0,0

2,0

0,0

0,0

Anfetamínicos

2,2

8,2

8,0

5,0

0,0

Anticolinérgicos

1,1

0,9

0,0

1,4

0,0

Qualquer droga(1)

26,6

23,0

29,4

21,6

24,5

Tabaco

21,3

14,2

19,6

16,2

17,3

Álcool

75,3

78,8

76,5

77,6

66,7

(1) Exceto álcool e tabaco. (2) Dados expressos em porcentagem.

A tabela 4 mostra que no uso de qualquer droga no ano, exceto álcool e tabaco, há um equilíbrio do consumo entre os gêneros, com uma margem não significativa para o sexo masculino, indicando que as meninas e os rapazes estão fazendo uso de substâncias psicotrópicas

de forma similar. Observou-se uma maior proporção do uso de substâncias ilícitas no gênero masculino, enquanto que no gênero feminino houve uma maior proporção do uso de medicamentos sem prescrição.

Tabela 05: Uso no mês de diferentes drogas psicotrópicas por gênero e faixa etária Gênero %(2)

Tipo de droga

Faixa etária % (2)

Masculino

Feminino

14 - 15 anos 16 - 17 anos

18 - 19 anos

Maconha

13,8

7,1

9,8

10,2

11,1

Cocaína

2,1

0,0

3,9

0,0

0,0

Crack

1,1

0,0

2,3

0,0

0,0

Anfetamínicos

1,1

3,6

5,9

1,4

0,0

Anticolinérgicos

0,0

1,1

0,0

0,7

0,0

Qualquer droga(1)

11,5

14,9

15,7

12,2

11,1

Tabaco

6,2

16,0*

15,4

8,2

22,2

Álcool

53,2

51,3

47,0

54,8

33,3

(1) Exceto álcool e tabaco. (2) Dados expressos em porcentagem. * Indica significância estatística com p< 0,05: Teste exato de Fischer.

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Na tabela 5 observa-se que, no parâmetro “uso no mês”, a maconha é a droga ilícita mais prevalente em todas as faixas etárias, tendo o uso equilibrado entre todas as faixas etárias, com predominância do uso entre o gênero masculino, comparado com o gênero feminino. Com relação ao uso de cocaína, observou-se uma absoluta superioridade do uso entre os rapazes, na faixa etária “14-15 anos”. Semelhante à cocaína, o uso do crack é preponderante entre o gênero masculino na faixa etária de “14-15 anos”. O uso de anfetamínicos

é mais prevalente entre as meninas na faixa etária de “14-15 anos”. Os anticolinérgicos aparecem entre o sexo feminino, na faixa etária de “16-17 anos”. O uso de qualquer droga, exceto álcool e tabaco, se equivale entre os gêneros e todas as faixas etárias. Relativo ao uso do tabaco, observou-se uma supremacia do uso entre as meninas, especialmente nas faixas etárias “14-15 anos” e “18-19 anos”. O uso do álcool é análogo entre os gêneros, com destaque para o uso na faixa etária “16-17 anos”.

Tabela 06: Uso na vida de diferentes drogas psicotrópicas por situação de emprego, turno e escola Situação de emprego %(2) Tipo de droga

Turno %(2)

Trabalha Não trabalha Matutino

Escola %(2)

Vespertino

Noturno

A

B

C

Maconha

28,3

24,7

19,4

34,8

33,3

25,3

30,1

18,2

Cocaína

2,4

1,2

1,0

0,0

3,4

1,2

2,9

0,0

Crack

0,8

1,3

0,0

2,3

1,0

0,0

2,0

0,0

Anfetamínicos

3,9

8,6

4,1

8,0

4,3

3,6

8,7

0,0

Anticolinérgicos

2,4

0,0

1,0

2,3

0,0

0,0

3,0

0,0

Qualquer droga(1)

36,2

33,3

24,5

43,7

47,8

32,5

38,8

27,3

Tabaco

36,2

33,3

29,6

41,4

34,8

34,9

35,9

35,1

Álcool

91,3

87,7

87,8

90,8

95,7

90,4

90,3

86,4

Na tabela 6 observou-se um estreito domínio do uso de substâncias, exceto crack e anfetamínicos, entre alunos que trabalham, comparado aos que não trabalham. Na comparação do uso entre os turnos de estudo, verificou-se que: O uso da maconha é menor entre estudantes do turno matutino (19,4%), sendo semelhante entre os turnos vespertino (34,8%) e noturno (33,3%). O uso da cocaína surge em todos os parâmetros, exceto entre alunos no turno vespertino e na escola “C”. A cocaína é mais predominante entre alunos que trabalham (2,4%), frequentam o turno noturno (3,4%) e da escola “B” (2,9%). O crack apresenta baixo índice de consumo, com pequena margem de vantagem entre alunos que não trabalham (1,3%), do turno vespertino (2,3%) e da escola “B”. O uso do crack não aparece entre alunos do turno matutino e nas escolas “A” e “C”. A utilização de anfetamínicos é mais preponderante entre alunos que não trabalham (8,6%), no turno vespertino (8,0%), e na escola “B” (8,7%). Os anticolinérgicos aparecem entre alunos que trabalham (2,4%), nos turnos matutino (1,0%), vespertino (2,3%) e na escola “B” (3,0%). O

uso de qualquer droga, exceto álcool e tabaco, é semelhante entre os alunos que trabalham (36,2%) e não trabalham (33,3%). Observou-se uma superioridade do uso entre alunos do ensino noturno (47,8%) e na escola “B” (38,8%). O uso do tabaco é similar entre alunos que trabalham (36,2%) e não trabalham (33,3%). Predomina entre estudantes do turno vespertino (41,4%). Comparando o uso do tabaco entre as escolas pesquisadas, verificou-se o uso proporcional. O consumo do álcool é semelhante entre alunos que trabalham (91,3%) e não trabalham (87,7%). O consumo dessa substância mostra-se análogo em todos os demais parâmetros.

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Tabela 07: Comparação entre resultados do presente estudo e de resultados obtidos em Florianópolis e Brasil, referente a modalidade “uso na vida” Gaspar - SC

Florianópolis - SC(3)

Brasil(3)

Maconha

26,9

27,8

10,8

Cocaína

1,9

0,4

7,6

Crack

1,0

0,0

0,8

Anfetamínicos

5,8

2,6

3,7

Solventes

7,2

11,7

7,8

Ansiolíticos

10,6

8,8

10,4

Anticolinérgicos

1,5

0,1

0,0

Esteróides

1,0

0,7

2,7

Ópio

0,5

0,9

0,3

LSD

6,8

0,1*

2,3

Êxtase

12,0

6,8

2,2

Metanfetamina

1,0

4,2

0,2

Ketamina

0,0

0,4

0,0

Benflogin

1,4

0,1

0,9

Energético com álcool

66,3

59,8

33,3

Qualquer droga(1)

26,9

66,3

42,8

Tabaco

35,1

37,8

27,9

Álcool

89,9

94,1

82,8

Tipo de droga

Na tabela 7 constatou-se que os resultados obtidos na atual pesquisa, corroboram com os índices alcançados em estudos realizados na cidade de Florianópolis e em âmbito nacional no ano de 2010. A maconha aparece como a droga ilícita mais utilizada nos três estudos, sendo praticamente iguais entre a presente pesquisa (26,9%) e o trabalho realizado em Florianópolis (27,8%). O índice em nível de Brasil apresentou-se mais baixo (10,8%). O uso da cocaína no Brasil (7,6%) aparece com diferença estatisticamente significativa para p< 0,05, comparado aos resultados alcançados em Gaspar (1,9%) e Florianópolis (0,4%). O uso do crack é equivalente nos três estudos, com ínfima vantagem para Gaspar (1,0%), seguido pelos resultados no âmbito de Brasil (0,8%) e Florianópolis (0,0%). Quanto aos anfetamínicos os resultados são semelhantes. Destaque para o corolário obtido em Gaspar (5,8%), vindo a

seguir os resultados em nível de Brasil (3,7%) e Florianópolis (2,6%). A utilização de solventes é análoga nas três pesquisas, com irrisória superioridade para Florianópolis (11,7%), seguida pelo resultado Brasil (7,8%) e Gaspar (7,2%). Os ansiolíticos surgem com índices semelháveis: Gaspar (10,6%), Brasil (10,4) e Florianópolis (8,8%). O uso de anticolinérgicos aparece com ligeira vantagem para os resultados obtidos em Gaspar (1,5%), seguido por Florianópolis (0,1%) e Brasil (0,0%). Relativo aos esteroides, surgem em destaque o uso em nível nacional (2,7%), vindo após os estudos de Gaspar (1,0%) e Florianópolis (0,7%). Os índices relacionados ao uso de ópio ficam abaixo de 1% nos três estudos, sendo Florianópolis (0,9%), Gaspar (0,5%) e Brasil (0,3%). Concernente ao uso de LSD, os resultados apresentam vantagem estatisticamente significativa (p< 0,05) para

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Gaspar (6,8%), seguido por Brasil (2,3%) e Florianópolis (0,1%). O uso do êxtase destaca-se nos resultados obtidos em Gaspar (12,0%), vindo a seguir Florianópolis (6,8%) e Brasil (2,2%). Os índices relativos ao uso da metanfetamina demonstram superioridade nos resultados alcançados em Florianópolis (4,2%), vindo a seguir Gaspar (1,0%) e Brasil (0,2%). Relativo ao uso de ketamina, apenas em Florianópolis surge o índice de 0,4%, ficando Gaspar e Brasil com o indicador 0,0%. O uso de Benflogin é semelhante nos três estudos, com Gaspar (1,4%), Brasil (0,9%) e Florianópolis (0,1%). Com relação ao uso de energético com álcool, os resultados apontam Gaspar

Considerações Finais

O

consumo de substâncias psicoativas entre adolescentes constitui motivo de elevada preocupação entre profissionais da saúde, educação, assistência social e comunidade em geral. Neste sentido, é de suma importância a realização de pesquisas para o diagnóstico da prevalência do consumo de drogas nesta população. Políticas públicas e projetos de prevenção devem ser orientados pela pesquisa. Na revisão de literatura encontrou-se diversos estudos realizados em cidades brasileiras, em especial o

(66,3%), Florianópolis (59,8%) e Brasil (33,3%), sendo estatisticamente significativa a diferença entre os resultados de Gaspar e Brasil. Os resultados do uso de qualquer droga exceto tabaco e álcool, apontam Florianópolis (66,3%) com a diferença estatisticamente significativa (p< 0,05) comparada aos resultados de Gaspar (26,9%), ficando Brasil com o índice de 42,8%. O uso do tabaco aparece similar nas três pesquisas sendo: Florianópolis (37,8%), Gaspar (35,1%) e Brasil (27,9%). Este estudo aponta índices análogos relativos ao uso do álcool na vida nos três estudos, ficando Florianópolis com 94,1%, Gaspar com 89,9% e Brasil com 82,8%.

Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública e Privada de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras. No município de Gaspar não existiam dados sobre prevalência de uso de drogas entre estudantes adolescentes até o presente estudo. Os resultados obtidos nesta pesquisa apontam a maioria da população concentrada nas classes “B” e “C”, o que está dentro da normalidade, uma vez que as escolas pesquisadas são públicas. A média de idade ficou em 16 anos, com a maior parte dos estudantes situada na faixa etária 16-17 anos, o que

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demonstra uma baixa defasagem na questão idade-ano escolar. Relativo à prevalência de substâncias lícitas e ilícitas, a pesquisa aponta o álcool como a droga mais consumida em todos os parâmetros: uso na vida, uso no ano, uso no mês, uso frequente e uso pesado. O uso de energético com álcool, narguilé e tabaco aparecem com índices inquietantes. Quanto ao uso de drogas ilícitas, a pesquisa mostra a maconha como a substância mais prevalente em todos os parâmetros: uso na vida, uso no ano, uso no mês, uso frequente e uso pesado. O êxtase e LSD são as drogas ilícitas mais consumidas após a maconha. O uso do crack e cocaína aparecem com baixos índices, embora na região exista a presença de forte traficância dessas drogas. A leitura deste fenômeno talvez se prenda ao fato de que adolescentes, na faixa dos 16 anos, usuários de crack e cocaína, não estejam mais frequentando os bancos escolares. Na comparação do presente estudo com pesquisas semelhantes realizadas em Florianópolis e no âmbito de Brasil, os indicadores apontam relevante equivalência entre os resultados, com destaque para o uso do álcool nos três estudos. Sugere-se, ao término deste trabalho, a implantação de políticas públicas no município de Gaspar que visem primordialmente a prevenção ao uso do álcool, energético com álcool, narguilé, maconha, êxtase e LSD. A efetivação de projetos culturais, esportivos, informativos e de lazer voltados à prevenção são urgentes e necessários. Eventos como: corridas rústicas, passeios ciclísticos, peças de teatro, apresentações musicais, concurso de cartazes, palestras, rodas de conversa, entre outros, são algumas possibilidades sugeridas. Além de atitudes preventivas, é crucial a repressão à venda de bebida alcoólica para menores de 18 anos. Este estudo não tem a menor pretensão de ser definitivo. Na realidade visa levar ao campo do debate a questão do uso de substâncias psicoativas entre estudantes, tratando ainda de ser um alerta às autoridades para a importância do tema.

Referências bibliograficas

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Espiritualidade da família no contexto da drogadição

Mara Márcia Schröder Psicóloga. Especialista em Dependência Química e Comunidade Terapêutica

Resumo

E

ste artigo enfoca questões relacionadas à espiritualidade da família em que um de seus membros é dependente do álcool ou de outras drogas. Destaca de forma breve o problema da dependência do álcool e outras drogas, histórico de grupos de mútua ajuda, como AA, Amor Exigente, Al-Anon e Grupos de Apoio Cruz Azul. Nestes Grupos, como instrumento de ajuda para interromper o uso de Substâncias Psicoativas, encontra-se, em sua centralidade, a espiritualidade que é a bússola norteadora das reuniões. Aborda diversas formas e concepções de família desde os primórdios até os dias atuais. E por fim, identifica aspectos sobre como a espiritualidade pode gerar proteção e prevenção no âmbito familiar. A partir do pietismo, onde nasce uma nova visão sobre espiritualidade, entende-se que, tanto a família como a sociedade é chamada a viver, a partir do Evangelho, a espiritualidade de forma ética e saudável.

Palavras chave: Espiritualidade. Família. Grupo de Mútua Ajuda. Codependência. Dependência de Álcool e outras Drogas.

Mara Márcia Schröder. Psicóloga. Especialista em Dependência Química e Comunidade Terapêutica, pela Faculdade Luterana de Teologia - FLT/Cruz Azul no Brasil. Facilitadora no Grupo de Apoio Mútua Ajuda da Cruz Azul, em Presidente Getúlio. SC. E-mail: mara_schoder@hotmail.com Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br

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Introdução

N

a dependência química, filhos e cônjuges de dependentes de álcool e outras drogas, estão mais vulneráveis a desenvolver transtornos psíquicos, problemas físicos, espirituais, emocionais, além de dificuldades na aprendizagem. Por esse motivo, é necessário conhecer o dependente químico em sua integralidade, bem como à sua família. Quanto a esta, torna-se imprescindível conhecer sua capacidade de resiliência e as formas que encontra para a superação da problemática da dependência química em seu meio. Acreditamos que a espiritualidade cristã, foco de nosso estudo, é um instrumento de ajuda para a família. Uma de nossas hipóteses indica que, por meio da espiritualidade, é possível à família buscar o fortalecimento da resiliência e ter condições de elaborar estratégias de enfrentamento para a questão. Este texto aborda questões relevantes sobre situações específicas no contexto do álcool e outras drogas, bem como olhar com cuidado a perspectiva da espiritualidade cristã do indivíduo, abordando-o a partir de suas dimensões biopsicossocioespirituais. Com a volta do crescimento econômico do Brasil, a partir dos anos 2000, pesquisas mostram que uma maior renda per capita está relacionada no aumento de consumo de álcool, o que torna o país um mercado promissor para a indústria de fabricação e distribuição do produto. Embora o I Levantamento Nacional Sobre Álcool, realizado em 2006, tenha mostrado que 50% dos brasileiros não eram consumidores desta substância (dado que se manteve em 2012), também foi constatado que os índices de uso abusivo e dependência eram altos entre os usuários. Mesmo que não tenha aumentado a quantidade de pessoas que bebe álcool no Brasil, aqueles que já faziam uso da bebida, bebem mais e mais, frequentemente. Mulheres, especialmente as mais jovens, são a população de maior risco, apresentando índices de aumento do consumo entre 2006 e 2012. Bebem de forma mais nociva, ou seja, se aproximando do beber abusivo ou que causa dependência. Por outro lado, conforme dados do mesmo levantamento, houve uma diminuição no comportamento de beber e dirigir entre 2006 e 2012. A pesquisa apresenta ainda que, 5% dos adultos que mais bebem, consomem 24% de todo o álcool consumido. Cerca de 10% desse mesmo público que mais bebe, consome 45% de todo álcool e 20% do público ingere 56% de todo álcool consumido pelos adultos. Dado importante desta pesquisa mostra que 17% dos usuários brasileiros, cerca de 11,7 milhões de pessoas, são dependentes do álcool (SENAD, 2007).

Outro aspecto importante é o crescimento do uso de drogas no mundo. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU, 2014) mostra que cerca de 230 milhões de pessoas no mundo usaram algum tipo de drogas em 2010, isto corresponde a 5% da população adulta. As consequências do uso, abuso e dependência de drogas têm se tornado caso de saúde pública, nas últimas duas décadas, dado seu impacto social, o que demanda atenção maior dos profissionais da saúde (PEREIRA, 2013, online). A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a dependência química da seguinte forma: forte desejo ou compulsão de consumir drogas; consciência subjetiva de dificuldades na capacidade de controlar a ingestão de drogas, em termos de início, término ou nível de consumo; uso de substancias psicoativas para atenuar sintomas de abstinência, com plena consciência da efetividade de tal estratégia; estado fisiológico de abstinência; evidência de tolerância, necessitando de doses crescentes da substância requerida, para alcançar os efeitos originalmente produzidos; estreitamento de repertorio pessoal de consumo, quando o indivíduo passa, por exemplo, a consumir drogas em ambientes não propícios, a qualquer hora, sem nenhum motivo especial, etc; negligência progressiva de prazeres e interesses outros em favor do uso de drogas; persistência no uso de drogas, a despeito de apresentar clara evidência de manifestações danosas; evidência de que o retorno ao uso da substancia, após um período de abstinência, leva a uma reinstalação rápida do quadro anterior (PAYÁ, 2011, p. 319).

Conforme Payá (2011, p. 319), a OMS, em 1980, reconheceu a dependência química como doença, algo recente em nossos dias. Diante dessa problemática, o presente artigo visa identificar e esclarecer como a família é atingida. Visa também, encontrar uma resposta à pergunta: pode a espiritualidade cristã ajudar a família a tomar um novo rumo diante da problemática do álcool e outras drogas?

Metodologia

O

estudo é de cunho qualitativo e exploratório, abordando, por meio de revisão de literatura, a família e sua espiritualidade. É exploratória porque existe pouca produção científica sobre a temática proposta. De acordo com Gil (2002), a pesquisa descritiva exploratória proporciona maior familiaridade com o problema de pesquisa, com o objetivo de torná-lo mais explícito ou para gerar formulação de hipóteses, tendo como alvo descrever as características do fenômeno estudado. Nesse caso, nosso propósito foi descrever e caracterizar, sob a perspectiva de diferentes autores, aspectos do papel e importância da espiritualidade na família no contexto do álcool e outras drogas. Revista Cruz Azul Online - 1o. Semestre de 2019 - Cruz Azul no Brasil - www.cruzazul.org.br 25


Os dados foram obtidos por meio da revisão de literatura, pesquisa documental (relatórios em sites) e bibliográfica realizada por meio de um levantamento de trabalhos científicos publicados, principalmente, nas bases de dados científicos online. Esta modalidade de pesquisa tem por finalidade colocar o pesquisador em contato direto com o que foi escrito sobre o assunto (LAKATOS e MARCONI, 2009). Nesse sentido, os materiais utilizados correspondem a artigos científicos e livros. Conforme as autoras, uma pesquisa bibliográfica possui algumas fases distintas, pelas quais trabalhamos. Dentre as fases citadas, foram realizadas a escolha do tema, a definição das bases de dados e a definição dos critérios para seleção dos materiais a serem utilizados na pesquisa. Os artigos científicos foram acessados por intermédio de buscas eletrônicas, nas bases: Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Literatura Latino Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Periódicos Eletrônicos em Psicologia (Pepsic) e Google Acadêmico. A pesquisa online ocorreu no período entre julho e outubro de 2017 e, a partir de outubro, a fase de redação do texto com os resultados. Para a realização da pesquisa utilizamos os seguintes descritores: família; dependência de álcool e outras drogas; codependência; grupo de mútua ajuda e espiritualidade. Os critérios de inclusão foram: que os artigos estivessem escritos em língua portuguesa, em forma de artigo científico e que fizessem menção à família, espiritualidade e dependência de álcool e outras drogas. Não estipulamos ano de publicação devido à dificuldade de encontrar artigos referentes ao assunto. Excluímos trabalhos que não respondiam aos objetivos da pesquisa. A estrutura do trabalho é formada por três partes, além da Introdução e das Considerações Finais. Na primeira parte, apresentamos o contexto familiar da dependência de álcool e outras drogas, a dependência química e a codependência. Na segunda, buscamos conhecer as formas de ajuda para famílias provenientes do contexto da dependência de álcool e outras drogas, sendo que nosso foco foram os grupos de apoio e mútua ajuda. E, por fim, na terceira parte, buscamos identificar, na literatura analisada, qual a importância da espiritualidade no enfrentamento da dependência química na família. Para tanto, nos aprofundamos no estudo da temática da família e sua relação com a espiritualidade.

Contexto familiar da dependência de álcool e outras drogas: dependência e codependência

N

este tópico estudaremos a família, sua origem, percursos e finalidade, no contexto da dependência de álcool e outras drogas. A partir de Nichols e Schwartz (2007, p. 76), entendemos família como sendo um espaço de relações sociais entre os membros. Nesse espaço, seus membros são preparados para viver em sociedade. Assim, se entende família como sendo um grupo que compartilha relacionamentos, histórias, crenças, mitos e pontos de vista. Também que neste espaço coexistem diferentes gerações e predominam hierarquias formando um sistema onde cada parte funciona de forma individual dentro de um todo. Como numa engrenagem, afirmam os autores. A família forma um conjunto interacional onde as especificidades e a individualidade de cada membro, como sentimentos, desejos e afetos são respeitados pelo grupo todo. Definir o termo família depende, exclusivamente, da cultura em que a mesma está inserida. Se pensarmos nos primórdios dos tempos, entre os romanos, ela era definida a partir do homem como: famulus que significa escravo doméstico. Então, família é o conjunto de escravos pertencentes ao mesmo homem. A autora Althoff (2007, online) declara, ainda, que a expressão foi inventada pelos romanos para designar um novo organismo social, cujo chefe mantinha sob seu poder a mulher, os filhos e certo número de escravos, com pátrio poder romano e o direito de vida e morte sobre eles. Sobre os italianos, pensa-se família de modo mais amplo. Incluem-se tios e tias, primos e avós, tornando, assim, a sua rede ampliada. Caracteriza-se, neste modelo, a tomada de decisões como, por exemplo, de passarem feriados juntos, vivendo uma estreita proximidade. As famílias chinesas incluem em seu círculo familiar todos os seus antepassados. Já as mulheres, quando casam, são retiradas da genealogia da família de origem. Portanto, nas famílias asiáticas a construção da árvore genealógica é sempre a partir do homem (CARTER e MCGOLDRICK, 1995, p. 87). Historicamente, a família tem vivido alterações em seu modo de existir. Desde os primórdios, (nos tempos bíblicos), o padrão de família era homem e mulher, depois geravam seus filhos que, adiante, constituíam a sua própria família. Com o passar do tempo, os filhos já não saiam mais da casa dos pais, mas ali permaneciam com sua nova família. Ainda neste contexto, os avós se juntavam, pois talvez careciam de cuidados, e a família se tornava extensa. A partir desta nova formação, viu-

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se a necessidade de leis e regras para regerem o novo sistema familiar, por assim dizer, uma pequena sociedade. Estas leis tiveram, e ainda têm, o objetivo de solucionar conflitos oriundos do próprio sistema familiar (NOGUEIRA, 2007, online). Pergunta-se: o que seria um ideal de família? Diríamos pai, mãe e um ou dois filhos. Talvez, isso seja o que mais temos visto como formação de famílias nos dias atuais. Mas a própria história da família, em sua origem, na Bíblia, não nos traz “um ideal” neste sentido. Algumas famílias eram numerosas e outras reduzidas, lembrando, também, da cultura de cada povo, com sua própria história. O que a Palavra de Deus traz como “norma”, a partir da visão cristã, é a união de um homem com uma mulher. É sobre esta base que a maioria das culturas tem construído seus lares. Ainda, e dentro desta visão cristã, os pais são considerados responsáveis pela criação e educação dos filhos até atingirem a idade adulta. O modelo de família mencionado até o momento é denominado de “modelo nuclear”. Outros modelos são encontrados na sociedade moderna, tais como: família extensa, monoparental, homoafetiva, dentre outras. A ideia de família tira o ser humano da solidão sendo, portanto, um arranjo perfeito de um Deus amoroso para com a humanidade (STOOP, 2014). Já a família, que em seu contexto tem a problemática do álcool e outras drogas, desenvolve um rígido sistema de negação da situação em que vive. Tanto o dependente quanto o familiar, utilizam este artifício na tentativa de evitar o reconhecimento do problema existente. A dependência instalada, neste meio, destrói a autoconfiança e a autoestima de toda a família, assim, a negação se torna uma defesa na crescente falta de controle diante da situação problema. A própria negação pode indicar a existência do problema da dependência e da codependência na família, vindo a piorar o quadro com o passar do tempo. “Compreende-se a dependência química como o consumo sem controle de uma substância psicoativa (álcool ou outras drogas). Este consumo descontrolado está, geralmente, associado a problemas sérios para o consumidor da droga em várias áreas de sua vida, seja física, psicológica, espiritual, de saúde, etc”, (FIGLIE; MELO e PAYÁ, 2004, p. 3). Já a codependência [...] é um quadro caracterizado por um distúrbio mental acompanhado de ansiedade, angústia e uma compulsividade obsessiva em relação a tudo o que envolve a vida do dependente. O co-dependente [sic] deixa de viver sua própria vida e passa a viver na dependência dos acontecimentos que ocorrem na vida do dependente (SANDA, 2006, p. 15)

Para outros autores, como Melody Beattie (2007, p. 45): Codependência é uma condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve como resultado da exposição prolongada do indivíduo a – e a prática de – um conjunto de regras opressivas, que impedem a manifestação aberta de sentimentos e a discussão direta de problemas pessoais e interpessoais. [...] Comportamentos apreendidos e derrotistas ou defeitos de caráter que resultam em uma diminuição da capacidade de iniciar ou participar de relacionamentos de afeto.

Essas dificuldades mencionadas por Melody Beattie (2007, p. 45) podem ser, dentro do sistema familiar, desencadeadoras da dependência química. Igualmente a interação conjugal tensa, do isolamento social da família, mudanças drásticas, tanto de papéis como de ambiente, questões de culpa, dentre outras. Assim, a partir da instalação da dependência no sistema, a família passa a viver em torno do problema e, com o tempo, torna-se codependente. Indivíduos que crescem neste ambiente possuem maior probabilidade de desenvolverem distúrbios de alimentação, fobias, depressão, ansiedade e adição a outras drogas. Quando a situação se agrava, a família procura algum tipo de ajuda. O que acontece a partir deste momento é que o dependente, na maioria das vezes, é retirado do contexto familiar para um ¨tratamento¨ e a família é acompanhada por médico, terapeuta ou algum grupo de mútua ajuda (CARTER e MCGOLDRICK, 1995. p. 419).

Famílias e grupos de apoio (mútua ajuda)

E

xistem, atualmente, vários grupos que têm se dedicado na ajuda às famílias e ao dependente de álcool e outras drogas. Cada grupo tem características próprias. O AA, Alcoólicos Anônimos, formam seus grupos a partir de pessoas com dependência do álcool. Procuram acolher, em sua maioria, pessoas que enfrentam dificuldades diante da problemática citada. A ONG existe há 84 anos no mundo e, há 71 anos, no Brasil. Estima-se que esteja em cerca de 170 países, com 2 milhões de membros. Nestes grupos, homens e mulheres compartilham suas vivências, experiências, lutas e esperanças de alcançarem a sobriedade para “‘mais um dia”. Se reúnem com regularidade, para que um possa ajudar o outro, tendo como um de seus princípios a devoção ao “Ser Superior”. Estudam os “12 Passos” que são um auxílio para que possam viver em sobriedade. Nestes grupos, cria-se uma identificação com “o outro” por expressarem vivências parecidas. Por este motivo, se identificam como uma irmandade (REIS, 2007, online).

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Já o “Al-Anon” tem um trabalho voltado para os familiares do indivíduo que é alcoolista e participa, ou não, do AA. Denominam-se uma associação de familiares e amigos do alcoolista. Em suas reuniões, compartilham de suas experiências, o modo como enfrentam a situação, sua força e esperança. Entendem também o alcoolismo como uma doença, incurável e progressiva. Ainda assim, procuram ajudar o dependente a mudar seu relacionamento com o uso de bebidas alcoólicas, através de atitudes e comportamentos, alcançando um viver em sobriedade. Não possuem vínculo religioso com nenhuma instituição, nem com a esfera política. Para se tornar membro não é necessário contribuir financeiramente, ou seja, não existem taxas. São autossuficientes, pois seus recursos são advindos das doações de seus participantes. O Al-Anon tem como a sua maior prioridade acolher e prestar ajuda a familiares e amigos do dependente de álcool. Esta ajuda é oferecida por meio do estudo dos 12 Passos, encorajando-os a vivenciarem momentos de paz e alívio em meio ao conflito existente. O mesmo grupo procura acolher adolescentes/jovens e suas famílias (13 a 19 anos), que sofrem com o alcoolismo de um familiar. Este grupo de ajuda chama-se “Alateen” cujos membros se reúnem para conversar uns com os outros, pois têm problemas em comum. Possuem literatura específica para a sua idade e problemática: os 12 Passos e as 12 Tradições do “Alateen”. Os jovens que vem para o grupo recebem dois padrinhos do grupo “Al-Anon”, que darão orientações da estrutura e funcionamento do grupo que, de agora em diante, frequentarão. Este espaço se propõe a ser um lugar alegre, sem julgamentos, promotor de qualidade de vida (GRUPOS FAMILIARES AL-ANON DO BRASIL, 2017, online). Segundo informações do site, www.na.org.br, os Narcótivos Anônimos ou NA como o grupo é conhecido, é uma Irmandade ou Sociedade de homens e mulheres para quem as drogas se tornaram um grande problema. São dependentes químicos em reabilitação, que se encontram regularmente para ajudarem-se mutuamente e se manterem “limpos” do uso de qualquer tipo de substância psicoativa. O programa trabalha com a abstinência e o único critério para participação é o desejo de parar de usar. O grupo não tem fins lucrativos. Consideram a pessoa recém-chegada a mais importante da reunião. Não há uma seleção de pessoas por idade, situação financeira, raça, orientação sexual, crenças, religião (ou mesmo, a falta dela). As reuniões acontecem a partir de princípios simples, para que cada um possa praticá-los em sua vida diária. A entidade, “Narcóticos Anônimos”, não faz parte de nenhuma organização política ou religiosa. Não estão interessados

no passado da pessoa, seus contatos, no que fez ou deixou de fazer. É de interesse, apenas, o que cada indivíduo quer fazer com seus problemas e como a entidade pode ajudá-lo. Existem, até novembro de 2019, cerca de 1.655 grupos de Narcóticos Anônimos no Brasil e em Santa Catarina em torno de 63 grupos, denominados “Comitês Regionais (NARCÓTICOS ANÔNIMOS, 2019, online). Os “Grupos Amor Exigente” surgiram na década de 70, nos Estados Unidos, por David e Phyllis York, um casal de terapeutas familiares americanos com três filhos, todos envolvidos com drogas. O movimento por eles liderado foi, de certa forma, reacionário, contra a linha extremista de liberalidade e exageros na valorização da criança e do adolescente. A maioria dos profissionais, então seguidores da filosofia “liberdade sem medo”, culpava os pais por todos os desmandos dos jovens, deixando, nestes um sentimento de desamparo e confusão. O movimento rapidamente se fortaleceu e rompeu as fronteiras americanas. No Brasil o mesmo foi introduzido e divulgado pelo Padre Haroldo J. Rahm, jesuíta, nascido no Texas, EUA, e radicado em Campinas, SP, com a Comunidade Terapêutica “Fazendas do Senhor Jesus”. A proposta de Amor Exigente está baseada em 12 princípios de relacionamentos entre pais e filhos Com o lema, “Cada vez melhor”, a Federação Amor-Exigente atua com o apoio às famílias de dependentes de álcool e outras drogas. Aborda questões de comportamentos inadequados, reorganização familiar, equilíbrio emocional, mudança de rumo a partir de si mesmo e melhor qualidade de vida. Trabalham desta forma há mais de 30 anos, com reuniões semanais, cursos e palestras. Segundo informações do site, www.amorexigente.org.br, a Federação, com o intuito de expandir o seu movimento, criou os seguintes programas: Prevenção – visa desestimular a experimentação e uso de tabaco, álcool e outras drogas através de uma abordagem educativa junto a pais, avós e professores para ajudar na formação de seus filhos, netos e alunos; Sobriedade – esse trabalho com abordagem distinta, destina-se especialmente às pessoas em processo de recuperação pelo uso e abuso de álcool e outras drogas; “Amor-Exigentinho” – proposta voltada para o público infanto-juvenil que utiliza os Princípios Básicos do Programa de forma lúdica, clara e objetiva, visando auxiliá-lo a adotar atitudes responsáveis e saudáveis; Sempre É Tempo – focado nos adultos da Melhor Idade que muitas vezes passam pela “síndrome do ninho vazio” ou com o desafio de cuidar dos netos enquanto os pais trabalham e/ou estudam (AMOR EXIGENTE, 2017, online).

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Com a visão de abranger a família a Federação de Grupos Amor-Exigente vê na dependência do álcool e outras drogas, uma oportunidade, tanto de prevenção como no cuidado de quem, de alguma forma, já está envolvido na problemática. Assim, consideram desde a criança até o idoso, promovendo educação e cuidado. Os Grupos de Apoio Mútua Ajuda “Cruz Azul” nasceram da visão de um pastor suíço, Luis Lucien Rochat, em 1877. O pastor percebeu que, em sua igreja, havia muitas pessoas que tinham problemas com bebidas alcoólicas. A partir desta percepção, decidiu reunir estas pessoas e ajudá-las em suas dificuldades. Rochat estava convicto de que a Palavra de Deus poderia trazer novas perspectivas ao dependente e, assim, ajudá-lo a viver melhor. Destas reuniões, que aconteciam regularmente, a Cruz Azul se expandiu pelo mundo. Em 2019 ela completou 142 anos de história e está presente em mais de 40 países. É uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos e tem por objetivos informar sobre os perigos do abuso de bebidas alcoólicas ou de qualquer outra droga. Empenha-se nas atividades de prevenção e na promoção de um estilo de vida livre de todas as drogas. Atua ativamente na promoção de políticas públicas que dizem respeito ao uso/consumo de álcool e outras drogas, buscando sempre uma melhor qualidade de vida para todos. A Cruz Azul não está ligada a grupos políticos ou religiosos, mas mantém fraternal convivência com outros grupos de mútua ajuda, igrejas, órgãos públicos, os quais lutam pela mesma causa. Seu trabalho está pautado nas Sagradas Escrituras, pelas quais seus membros acreditam que o ser humano pode encontrar consolo e sentido para a vida (AVILA et al., 2016). No Brasil, os trabalhos iniciaram no ano de 1982, em Panambi, Rio Grande do Sul. Posteriormente, surgiram outros trabalhos em Blumenau, Ituporanga e Palhoça, Santa Catarina. Em 23 de Junho de 1995, para unir todos estes trabalhos, foi criada a Federação da Cruz Azul no Brasil, atualmente denominada “Cruz Azul no Brasil”. A sede é na cidade de Blumenau, Santa Catarina (AVILA et al., 2016). Os Grupos de Apoio de Mútua Ajuda Cruz Azul, têm nas Sagradas Escrituras a base central de suas reuniões. Veem nos evangelhos de Jesus Cristo a mensagem libertadora e transformadora de vidas, anunciada pelo próprio Cristo. Outra característica destes grupos é acolher pessoas que saem de comunidades terapêuticas para lhes proporcionar um ambiente no qual possam expressar suas angústias e medos. Estes mesmos grupos acolhem, junto aos dependentes, as suas famílias, pois sabe-se que elas também são afetadas, diretamente, pela dependência do álcool e outras drogas. Conforme Avila et al.

(2016), também é característica dos grupos Cruz Azul de Mútua Ajuda, dar suporte na área da prevenção, e assistência para familiares e amigos. Nos grupos Cruz Azul, As reuniões acontecem semanalmente e são conduzidas por voluntários, membros da Cruz Azul, que sejam abstinentes de álcool e outras drogas, além de confessarem Jesus Cristo como Salvador pessoal e tenham vínculo com alguma comunidade cristã. Devem, também, buscar capacitação em cursos oferecidos pela entidade. Os encontros são dinâmicos, com louvor, oração, leitura da Bíblia e espaço para as pessoas falarem de suas angústias e vitórias, sem serem julgadas por isso. Existem seis regras para o bom funcionamento do grupo: 1) Ninguém é obrigado a falar; 2) Quem falar, fale de si; 3) O que falamos fica no grupo; 4) Não damos conselhos; 5) Estar sóbrio no dia da reunião e 6) Ouvir quando a outra pessoa fala. Estas regras devem ser o instrumento norteador das reuniões, promovendo, assim, segurança, confiança e sociabilidade nos encontros. Lembrando que as regras não são mais importantes que as pessoas e suas necessidades. Elas podem ser quebradas, em casos de extrema necessidade pensando na individualidade da pessoa. Para tanto, as regras vem para dar coesão e compromisso, acontecendo assim, uma dinâmica transformadora (AVILA et al., 2016. p. 63-71).

Em alguns grupos, ao final da programação, acontece uma confraternização com café/chá, de forma gratuita. Até novembro de 2019, existiam cerca de 150 Grupos de Apoio Mútua Ajuda Cruz Azul adultos e em torno de 30 Grupos de Apoio Kids, que acontecem em paralelamente, ou não, às reuniões dos adultos. Nos grupos Kids a criança pode brincar e interagir com outras crianças e motivadores. Desta forma, busca-se resgatar sua esperança perdida, devido à problemática do álcool e outras drogas de um familiar (CRUZ AZUL NO BRASIL, 2017). Assim, famílias que usufruem de um grupo de mútua ajuda, estão menos propensas a terem familiares mais jovens fazendo uso de álcool e outras drogas em sua juventude ou idade adulta. Grupo de Apoio e Mútua Ajuda Cruz Azul são pensados da seguinte forma: Encontros semanais em espaços livres de drogas, sociointerativos, de mútua ajuda, acompanhamento, apoio e prevenção, alicerçados na visão de ser humano integral, de princípios e valores cristãos, destinados a dependentes químicos, seus familiares e amigos, que oportunizam um espaço para o compartilhar e a troca de experiências entre os pares, em busca da superação da dependência e da construção de um novo estilo de vida (AVILA et al., 2016, p. 29).

Estes grupos querem auxiliar as famílias a superarem o estresse, a reestabelecerem laços rompidos, resgatarem a autoestima. Deus é apresentado como Aquele que pode carrega-los a todo momento. A partir destas

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questões resolvidas a família poderá ser um lugar, no qual o indivíduo que está em uma comunidade terapêutica, encontrará segurança e acolhimento ao voltar para casa (SANCHES e NAPPO, 2007, online).

A espiritualidade como fator determinante de enfrentamento da dependência e codependência

Q

uando nos referirmos à espiritualidade, fazêmo-lo especificamente, em relação à espiritualidade cristã. Já foi mencionado que o ser humano tem de ser visto de forma integral, ou seja, biopsicossocioespiritual. A Bíblia relata que o ser humano foi criado por Deus e, por esse motivo, ele sempre vai se voltar a Deus, como também ao espiritual (BIBLIA, 1993, Gênesis cap. 2, vs. 7, p. 3). Esta espiritualidade se refere ao próprio Cristo, por isso cristã. O apóstolo Paulo escreve ao povo de Éfeso sobre esta espiritualidade, (Efésios 2. 4 e 5). O texto aponta a existência da espiritualidade no ser humano e alerta que ela “pode morrer” em decorrência de pecados/desobediência ou, o ser humano pode voltar a ter vida pelo reconhecimento de Cristo como Senhor. Além disso, não se pode fazer nada para alcançar a vida nova, ou ser espiritualmente vivo. Tudo foi pago e conquistado pelo próprio Cristo. Conforme Efésios: “[...] Mas a misericórdia de Deus é muito grande, e seu amor por nós é tanto, que, quando estávamos espiritualmente mortos por causa de nossa desobediência, ele nos trouxe para a vida que temos em união em Cristo. Pela graça de Deus vocês são salvos” (BIBLIA, 1993, Efésios cap. 2, vs. 4,5, p.787). No século XVII, surgiu um movimento protestante na Europa, chamado Pietismo, o qual buscava a renovação religiosa. Este foi um dos movimentos mais significativos após a Reforma Luterana . O termo Pietismo surge para identificar seguidores de Philipp Jacob Spener, ou, ainda, alguém que estuda a palavra de Deus. Spener estudou Política, Ética, Filosofia, História e Teologia e, a partir de seus estudos, foi influenciado e influenciou pessoas que contribuíram para que este movimento atingisse não apenas a igreja, mas a sociedade, a vida cultural e intelectual. Onde havia o protestantismo, o Pietismo queria ter o direito de opinar nas tomadas de decisões nestes países. Buscou-se uma aproximação e resgate com quem tinha se afastado dos caminhos da Palavra de Deus, da Igreja. Spener percebeu e passou a pregar que numa teologia sem a cruz, uma vida cristã sem devoção, não haveria o testemunho bíblico. Ele queria transformação humana e

social e que as pessoas agissem a partir da vontade de Deus, cultivando, assim, a verdadeira espiritualidade cristã. As ideias e teologia de Spener se espalharam pelo mundo e trouxeram uma nova visão sobre o ser cristão. Nos tempos atuais, muitas igrejas baseiam sua teologia em princípios do Pietismo. A sociedade também, não apenas os frequentadores da igreja, entende que a ética cristã pode ser de grande valor, mesmo que, às vezes, não é aceita em todos os contextos (SELL, 2016. p. 88 e 328). No contexto de psicoterapia, no século XX, os terapeutas tentaram manter fora de seu ambiente de trabalho este assunto. A ciência considerava a religião irracional e para evitar um confronto via-se a necessidade de deixá-la do “lado de fora”. Esta postura era tomada para não influenciar o cliente em suas decisões. Buscava-se a neutralidade diante de questões espirituais. Já no século XXI, com a chegada da Modernidade, e as pessoas se sentindo vazias e solitárias, percebia-se que a espiritualidade agia como um antídoto diante de certas questões. Reconheceu-se que a família encontra significado para sua vida quando está, de alguma forma envolvida em uma crença. No contexto terapêutico, é importante a exploração da temática da espiritualidade. Atualmente, muitos terapeutas de família, reconhecem que os grandes dilemas dos seus clientes estão intimamente ligados à sua saúde emocional, física e espiritual (NICHOLS e SCHWARTZ, 2007, p. 292). Portanto, verifica-se que existe uma espiritualidade madura e saudável que pode trazer, tanto para o indivíduo como para a família, alegria e satisfação. Segundo Malony (1988), Apud por Lotufo e Martins (s/d, online) há alguns pontos importantes a se considerar: • Consciência de Deus: o grau em que a pessoa experimenta uma sensação de deslumbramento e a sensação de ser uma criatura no relacionamento com o divino (i.e. reverência versus idolatria); • Aceitação da graça e amor incondicional de Deus: o grau em que a pessoa vive e compreende o amor e benevolência de Deus (i.e. confiança e sensação da presença da providência divina versus independência e desesperança exagerados); • Arrepender-se e ser responsável: o grau em que a pessoa assume responsabilidade pelos seus próprios sentimentos e comportamentos (i.e. redenção, justificação, perdão, e mudança versus falta de consciência, irresponsabilidade, amargura e vingança); • Conhecer a liderança e a direção de Deus: o grau em que a pessoa confia, espera e vive a direção de Deus em sua vida (i.e. fé versus desespero); • Envolvimento com a religião organizada: o grau quantitativo, qualitativo e motivacional em que a pessoa está envolvida com a igreja (i.e. compromisso, participação e associação versus isolamento e solidão); • Vivenciar comunhão: o grau em que a pessoa se relaciona e tem uma noção de identidade interpes-

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soal (comunhão com outros versus estar centrado em si mesmo e orgulho); • Ser ético: o grau em que a pessoa é flexível e compromissada à aplicação de princípios éticos na sua vida diária (i.e. noção de vocação e do viver os valores da vida, versus perda de sentido e perda do sentimento de dever).

Dados apontados por Moreira-Almeida e Stroppa (2012, online), evidenciam que quando há um vínculo do indivíduo, ou mesmo da família, com alguma denominação religiosa, a probabilidade dessa pessoa fazer uso de alguma substância psicoativa é bem menor. Em torno de 86%, em relação a alguém que não frequenta um local religioso. O número é ainda maior quando as pessoas frequentam uma igreja que tem suas raízes na Reforma Protestante e no Pietismo, mais especificamente e no caso em estudo, os presbiterianos. Conforme pesquisa dos autores, quem frequenta tal denominação tem probabilidade duas vezes maior de não se envolver com álcool e outras drogas, do que quem frequenta uma igreja católica. Já crianças que possuem alguma instrução religiosa desde cedo, a tenra idade, têm quatro vezes menos probabilidade de usar álcool e outras drogas. Desta forma, vê-se a importância de se cultivar, no meio familiar, a espiritualidade cristã, pois a mesma gera proteção e prevenção para crianças e jovens. Existem várias formas de ajudar pessoas a se prevenirem do uso do álcool e outras drogas. Os grupos de mútua ajuda e denominações religiosas vem para somar nesta questão. Mas, além disso, é necessário olhar a sociedade como um todo. Segundo o site “Mentor International”, mencionado na revista Cruz Azul de 2014 (PREVENÇÃO, 2014, online): A prevenção do uso indevido de drogas tem como objetivo mudar os fatores pessoais, sociais ou ambientais, a fim de auxiliar retardar ou evitar o início do uso de drogas e a uso indevido de progressão nociva ou problemática. As estratégias de prevenção visam aumentar a capacidade dos indivíduos e das comunidades, para terem os recursos de que precisam a fim de serem protegidos dos danos que as drogas podem causar.

Partindo desta visão, vê-se a relevância de se terem disponíveis dispositivos funcionais em nossa sociedade para auxiliar neste processo. Não se trata, apenas, de isolar o indivíduo “problema”, mas de auxiliar todo o contexto no qual ele vive. Tanto o indivíduo usuário deve se sentir acolhido e amado, quanto a sua família. Ambos estão em um sistema doente e carente de recursos humanos, econômicos, emocionais e espirituais, que lhes deveria proporcionar alento e qualidade de vida.

Considerações finais

E

ste trabalho se propôs a pesquisar aspectos e influências da espiritualidade cristã nas famílias de dependentes de álcool e outras drogas. Porém, devido ao pouco material que aborde o assunto, ele não se torna uma pesquisa conclusiva a respeito do tema. É preciso que sejam realizados novos estudos na área para trazerem mais contribuições sobre o assunto. No entanto, este texto pode servir de subsídio para ações concretas na área teológica e diacônica da Igreja Cristã, no que diz respeito à formação de grupos de mútua ajuda para dependentes químicos e seus familiares. Também pode fomentar novos estudos na área. Sendo de caráter bibliográfico, buscamos identificar nas discussões dos autores, aspectos da espiritualidade cristã. Muito se fala de espiritualidade nos tempos atuais, porém a espiritualidade saudável e madura está baseada, pura e exclusivamente, nos evangelhos. A partir desta seleção, os materiais bibliográficos ficaram mais escassos, mas não menos autênticos em seus referenciais. Partimos de informações e estatísticas atuais sobre a dependência de álcool e outras drogas. Dados, estes, alarmantes. Muitas pessoas fazendo uso abusivo e famílias sendo afetadas em sua integridade física, psicológica, emocional e espiritual. Vimos informações do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas - LENAD, 2010, que mostram 17% das pessoas adultas no Brasil sofrendo com a dependência do álcool. Dados da ONU, também de 2010, demonstram que 5% da população adulta no mundo fazia uso de alguma droga. São números altos, assim como as consequências negativas e prejudiciais à saúde integral para usuários e suas famílias. Concluímos que a família é projeto de Deus. Ele não pensou o ser humano para viver só, pelo contrário, instituiu a família em sua vida. Cada família é única e tem sua história, desafios, projetos e valores. Vimos que, ao longo da história, a família foi passando por transformações. Nos tempos bíblicos as famílias eram mais numerosas do que nos atuais e a centralidade e responsabilidade da educação estava nos genitores. Atualmente, vemos outros modelos de famílias e outras formas de relações sociais dentro delas. Mas, também, vimos que as famílias provenientes do contexto da dependência do álcool e outras drogas se encontram fragilizadas, fragmentadas e muitas delas em vias de dissolução, quando não já completamente destruídas. Para tanto, o indivíduo que busca uma comunidade cristã, espiritualmente saudável, pode, de certa forma, encontrar respostas para seus anseios, conforto em meio à dor, uma

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nova forma de se relacionar na família, grupo de apoio, sociedade e com o próprio Deus. Assim, a espiritualidade fortalece a resiliência e as relações sociais intrafamiliares, aumenta a motivação para a mudança, coloca novamente a família como local de abrigo e descanso para seus pares. Neste sentido, os Grupos de Apoio Mútua Ajuda, por se utilizarem da espiritualidade como instrumento terapêutico, se tornaram em um espaço saudável e motivador de mudanças para as famílias que os procuram nos mais variados momentos de suas vidas. Pertencer a um grupo de apoio é aprender a realinhar a vida, ver no próximo, talvez, as mesmas necessidades, e mesmo assim, caminhar com ele. É compreender que a família, por um instante, “saiu dos trilhos” e com esforço de todos, ela pode tomar um novo rumo. Ainda, o grupo tem a função de redimensionar decisões responsáveis e saudáveis, não mais baseadas em manipulações ou ameaças, mas, sim, dentro daquilo que “agora” traz liberdade e compromisso com o novo.

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