Revista Grajaú Edição 12

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Revista

GRAJAÚ Mai/Jun - 2019 | Ano 4 | nº 11 Distribuição Gratuita

faça você mesmo: Empreendedorismo e criatividade

06 GRAJAÚ, MINHA CIDADE Acessibilidade Já!

07 MATRIARCAS DO GRAJAÚ Quem são as mulheres que cavaram os alicerces da luta na quebrada?

14 CUIDANDO DO PLANETA O Direito dos Animais


Expediente Expressão Cultural Periférica

Coordenação Editorial Valéria Ribeiro MTB 46.158

Equipe Aécio Magalhães Barbara Terra Diego Novaes Gi Barauna Gisele Ramos Guilherme Zillieg Jonathan Alves Keidson Oliveira Michelle Marques Ricardo Negro Susy Neves Valéria Ribeiro Vanderelei Ribeiro Will Mangraff Coletivos Parceiros Nóis por Nóis, Salve Selva e Ateliê Aguila Foto de Capa: Felipe Gabriel Feira de Empreendedores Nóis por Nóis durante 6ª ED. - 2018 Projeto Gráfico e Diagramação Valéria Ribeiro e Keidson Oliveira Impressão ECP Gráfica & Serviços Tiragem: 8000 Exemplares E-mail: ecpgrafica@gmail.com Espaço Cultural & Gráfica ECP Rua Boaventura Ferreira, 159 - Jardim Reimberg (Grajaú) - Cep 04845-160 - São Paulo-SP reportagem@revistagrajau.com.br anuncie@revistagrajau.com.br (11) 95854-6101

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO

2 REVISTA GRAJAÚ MAI/JUN de 2019 www.revistagrajau.com.br

QUEM SOMOS O Expressão Cultural Periférica, conhecido como ECP, é um coletivo de comunicação que surgiu em 2012 e atua na articulação sociocultural na região do Grajaú, Extremo Sul da cidade de São Paulo. Nosso objetivo é documentar e divulgar ações culturais e sociais que acontecem especialmente na região onde estamos localizados e contribuir com o fortalecimento da identidade do território. Atualmente atuamos em três núcleos: EDUCAÇÃO: Com oficinas de diversas linguagens em espaços parceiros e em nossa sede. PESQUISA: estudo aprofundado e criação do Centro de Identidade do Grajaú, o CIG, e a produção do livro Histórias e Memórias do Grajaú. COMUNICAÇÃO: A publicação de nossa revista, antiga ECP, e agora Revista Grajaú é o projeto com o qual conseguiremos contribuir grandemente para o nosso território. ECP GRÁFICA: criamos a ECP Gráfica em 2016, por necessidade de imprimir nossa própria revista, que nasceu em 2014. Hoje ela funciona para a comunidade em geral e articula fortemente com os coletivos culturais e sociais do Grajaú. ESPAÇO CULTURAL ECP: No ano de 2019 nosso coletivo foi contemplado pelo 3º Edital do Fomento à periferia, que está patrocinando a construção do Espaço Cultural ECP, que será anexo a gráfica. Nossa sede abrigará uma biblioteca e sala de informática, onde acontecerão diversos cursos, todos abertos a comunidade. O Espaço será inaugurado juntamente com o lançamento dessa edição da Revista Grajaú, em 06.04.2019.

Missão e VALORES Revista Grajaú

Nossa missão é difundir informações sobre o Extremo Sul de São Paulo através de um novo olhar, apresentando com nossas matérias possibilidades para melhorar a vida de quem mora na região, incentivando com isso que se sintam parte do bairro em que residem, estimulando a produção cultural, ações sociais, a economia colaborativa, o desenvolvimento local, a tolerâcia à diversidade e o respeito a todas as formas de vida.

VALORES Qualidade editorial com excelência e inovação; Informações claras, úteis e comprometidas com a realidade dos leitores; Otimismo e afeição pela região, destacando as qualidades e refletindo soluções para os problemas.


Carta ao Leitor

Não precisamos atravessar a ponte...

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qui no Grajaú habitam aproximadamente meio milhão de pessoas. Se observarmos bem, com essa população daria para formar diversas cidades brasileiras. Interessante, não é mesmo? Nosso bairro tem crescido muito nos últimos anos e, cada vez mais, sentimos a necessidade de criar e consumir todo tipo de conteúdos por aqui mesmo. O bom é que dá certo, e muito! Os grajauenses empreendem, reinventam e buscam maneiras de estarem ancorados na própria região. Isso é fantástico! E sim, é possível! Nosso distrito é movido pelo calor cultural produzido por pessoas como eu e como você. E temos a liberdade de diálogo, intercâmbio de ideias e multiplicidades de pensamentos. Em nossa área estão presentes diversos grupos (coletivos) que se unem cada um com sua particularidade, mas todos possuem traços e objetivo em comum: dar vida e notoriedade ao Grajaú. Esses grupos têm contribuído muito para a formação de uma identidade de bairro só nossa!

temos diversos artistas grafiteiros de peso. Foi uma pena! No entanto, aos poucos fui me conectando a efervescência do Grajaú e redescobrindo que aqui temos tudo.

Particularmente passei a morar por essas “bandas” em 2008, e até 2015 não tinha a percepção do quão valioso é a nossa quebrada, pois sempre acabava atravessando a ponte para buscar o que precisava, principalmente atividades voltadas a área da cultura.

Caro leitor é necessário olhar o Grajaú com outros olhos, participar das ações que ocorrem por aqui, posso lhes informar que são muitas. É de extrema importância estarmos cada vez mais conectados com nossa comunidade, afinal de contas vivemos aqui com nossos familiares, buscando a mudança e o bem estar. Temos muito conteúdo aqui para ser consumido. Afinal de contas, como diz a letra dos racionais: Não adianta querer, tem que ser (...) o mundo é diferente da ponte pra cá...

Muitas vezes o fato de você não participar das ações do bairro te faz optar por buscar informações em outras regiões: eu mesmo em 2014 finalizando meu TCC, (trabalho de conclusão de curso) de jornalismo, sobre o tema grafite, fui para a zona norte realizar entrevistas e fotografar artes, enquanto aqui no Grajaú

Em 2016 tive a honra de fazer parte do ECP (Expressão Cultural Periférica) e pude entender que temos tudo por aqui. Basta procurar! Não precisamos atravessar a ponte (nem um pouco). Hoje faço parte da Revista Grajaú, um veículo de comunicação que informa as movimentações da região. O bom disso é que diversas pessoas terão acesso às ações que ocorrem aqui e a tendência é que participem mais ativamente. Se observarmos bem o nosso bairro tem uma farta riqueza: temos o Centro Cultural Grajaú, o Parque Shangrilá, a Represa Billings, Cachoeiras, em Marsilac, e até uma ilha (Bororé)... Aqui também vivem diversos artistas, cantores, escritores, pensadores... Uma infinidade de gente do bem, ou seja, temos muitas coisas que nem os centros urbanos possuem.

AÉCIO MAGALHÃES JORNALISTA E MORADOR DO GRAJAÚ

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revistagrajau Expressão Cultural Periférica (11)95854-6101

Bate papo sobre o processo criativo do artista Ricardo Negro no Espaço Cultural & Gráfica ECP em abril/19 MAI/JUN de 2019

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Sumário 03 EDITORIAL Não precisamos atravessar a ponte...

07 MATRIARCAS As Mulheres que fizeram e fazem o Grajaú

06 GRAJAÚ, MINHA CIDADE “Acessibilidade Já!

08 NA QUEBRADA Inauguração do Espaço Cultural & Gráfica ECP

10 CAPA Faça você Mesmo! Empreendedores do Grajaú usam criatividade para enfrentar os novos desafios do mercado de trabalho

09 HISTÓRIAS & MEMÓRIAS Em busca da história perdida... 15 ELAS SÃO BÁRBARAS Deixou Saudades e Um Legado

13 AÇÃO A Periferia que deu Certo 14 CUIDANDO DO PLANETA O direito dos Animais

16 CULTURA O Poder da Literatura

Ilustração: Guilherme Zillieg

17 ARTIGO Deu Ruim!

Ilustração: Guilherme Zillieg

12 VIDA SAUDÁVEL A Busca da Tranquilidade

18 CANTINHO DOS ASTROS Urano em Touro: A Transição é Necessária MAI/JUN de 2019 REVISTA GRAJAÚ 4 www.revistagrajau.com.br


ARTIGOS

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Suicídio, além do tabu, uma questão de saúde

com toda certeza que você já deve ter ouvido falar neste termo pois o número de ocorrência cresce a cada dia. Segundo dados do Ministério da Saúde(2018), uma pessoa se suicida a cada 46 minutos no Brasil Os dados são preocupantes, mas o que está por trás de um suicídio ou tentativa? E enquanto ser humano como posso ser útil na vida do outro? Bom, existem muitos fatores por trás de um suicídio. Situações como depressão (muitas vezes ignorada), desemprego, bullying, perda de um ente querido, violência tornam indivíduos vulneráveis e expostos ao risco do suicídio. É importante destacar que o indivíduo, como diz a palavra, é único e o que é causa para um não necessariamente será para o outro. Quando alguém pensa no suicídio não está necessariamente pensando na morte física e sim em acabar com a dor além do físico, a da alma. Este é o momento que queremos focar: A prevenção! Alguém com ideação suicida muitas vezes irá apresentar comportamentos que são ignorados por seu entorno mas que prediz o que está por vir. Comentários como” vou desaparecer”, “Vou deixar vocês em paz” são óbvios, mas ignorados. Automutilação (se ferir), autocuidado prejudicado, sentimentos como “eu não posso fazer nada”, “eu não aguento mais” “sou um perdedor”, “o mundo seria melhor sem mim” . Os itens citados não devem ser considerados como chantagem emocional ou “estar chamando atenção” devem ser levados a sério. CONHECE ALGUÉM ASSIM? PRIMEIRO PASSO: Não julgue! Empreste seu ombro, seu ouvido sem querer dar conselhos. SEGUNDO: Buscar ajuda profissional. TERCEIRO: Se houver risco iminente não saia de perto dessa pessoa até que ela esteja segura. SE SENTE ASSIM? Busque ajuda de um profissional, entre em contato com o CVV 188 ( realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio gratuito) ou vá ao CAPS mais próximo de você. Com essas atitudes nos tornamos mais humanos e ajudamos nossos semelhantes que estão em sofrimento. Até a próxima!

GILCIMARA SILVA É PSICÓLOGA atua no Instituto Inácia Francisca da Silva no distrito do Grajaú mara_jsilva@yahoo.com.br

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Grajaú, Minha Cidade Fotos: Valéria Ribeiro

ACESSIBILIDADE JÁ! VALÉRIA RIBEIRO E JONATHAN ALVES

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ndar pelas ruas e calçadas da cidade de São Paulo é um desafio quase que olímpico, pois são tantos os obstáculo que qualquer um de nós pode ser considerado um atleta. Se adentrando pelas ruas do nosso Grajaú as coisas infelizmente só tendem a piorar. Muitos que já pegaram a famosa Av. Dona Belmira Marin a pé com certeza já viveram a aventura dos pisos desnivelados, cheios de buracos, lixo, carros em cima das calçadas, vendedores ambulantes dentre outros. Agora imagine fazer esses trajetos em uma cadeira de rodas e com um lado do corpo paralisado. Essa é a situação de Eurides Brito Silva, 61 anos, baiana de Vitória da Conquista, moradora do Jd. Reimberg há mais de 30 anos. Eurides sofreu um AVC hemorrágico aos 57 anos, o que deixou seu corpo paralisado do lado esquerdo. Sua luta ficou mais árdua quando descobriu no ano passado um câncer no intestino, que vem tratando com quimioterapia. Costureira e mãe de cinco filhos adultos, Eurides é uma lição de superação. Depois do AVC que sofreu ficou internada mais de 15 dias e até hoje ainda tem lapsos de memória. Foi se restabelecendo aos poucos. Mora sozinha, cuida da casa, cozinha e cuida de si mesma. No entanto ela não conseguia sair de casa, pois sua cadeira de rodas tinha de ser motorizada para que ela conseguisse se locomover. Foi então que teve a ideia de fazer uma campanha na internet

Carrinho de reciclagem disputando espaço com ônibus e poça de água no acesso da calçada no farol citado na reportagem 6 REVISTA GRAJAÚ MAI/JUN de 2019 www.revistagrajau.com.br

Eurídes Brito anda pelo meio da rua para desviar dos buracos na Boaventura Ferreira, no Jd. Reimberg

para conseguir a cadeira. Pediu doação, apelou para o financiamento coletivo através do site vakinha.com.br e através das redes sociais Cristiano, um rapaz que a reconheceu da época em que ficou internada no hospital, doou a cadeira de rodas motorizada novinha para ela. “ Com essa cadeira você está vendo uma mulher reformada, vou aonde preciso ir ”, conta ela orgulhosa. Há três meses com a cadeira Eurides enfrenta novos desafios. “A minha cadeira me leva até onde eu quero ir, minha perna é de motor” fala ela com a sabedoria de quem sabe enfrentar os problemas. Treinou na garagem de casa antes de sair pra rua, usava barreiras, colocava coisas pra subir e descer e hoje já consegue ir até a casa da amiga para ensinar os saberes da costura. O trajeto é desafiador, pois vai do Jd. Reimberg até a rua da feira de domingo no Grajaú, próximo a Associação de Mulheres do Grajaú. “ Deveria ter um farol melhor sinalizado”. Ela se refere ao farol que fica próximo a Escola Carlos de Moraes, que dá acesso ao Pronto Socorro Maria Antonieta. “ Não tem acessibilidade,

não tem como entrar com a cadeira na calçada.” Fala ela, que atravessa o sinal e pega o corredor de ônibus pra poder seguir caminho. “Eu tenho de enfrentar os medos ...pra vir é pior, porque tenho de vir de encontro com os ônibus e carros, na contramão”. Além de dona Eurides existem outras milhares de pessoas que necessitam que os acessos sejam adequados para que possam exercer o direito de ir e vir. O trauma enfrentado ao necessitar de cuidados especiais já é terrível, por isso é necessário que todos estejamos atentos em diminuir os obstáculos. Primeiramente o poder público, que tem a obrigação/dever de melhorar nossa infraestrutura. Afinal, para isso todos pagam impostos e elegem um representante. Segundo, nós, população, precisamos estar atentos a nossas calçadas, a forma que estacionamos nas ruas e em lugares onde não deveríamos. Comércios precisam melhorar o acesso para que todos possam adentrar seus estabelecimentos. Afinal, ninguém está isento de um dia necessitar de condições especiais para realizar as coisas simples da vida.

Transeuntes cruzam na faixa de pedestres desbotada e sem acesso para cadeirantes mencionada por dona Eurídes Brito


Matriarcas do Grajaú

Quem são as mulheres que cavaram os alicerces da luta na quebrada? THIAGO BORGES, DA PERIFERIA EM MOVIMENTO

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délia Prates é uma mulher que, mesmo diante de todas as injustiças, encontra forças para lutar. Da vontade de estudar, Maria da Glória fez abaixo-assinado pra ter escolas e até virou professora. Aparecida Maria Antônia Inocêncio é mãe de 08 filhos, vó de uma quebrada inteira e “samba” sobre os perrengues da vida. Essas mulheres, com pouco mais de 60 ou 70 anos de idade, já estão na aposentadoria mas vivenciaram muitas coisas até aqui. E por isso, é importante falar de suas histórias. Idealizada pela escritora e professora Lucimeire Juventino e realizada pela produtora de jornalismo de quebrada Periferia em Movimento, “Matriarcas” é uma série de vídeo-reportagens que mostra histórias de mulheres que cavaram os alicerces de lutas por direitos que continuam fortes até os dias de hoje. A primeira entrevistada, Adélia Prates, é exemplo disso. Chegou ao Grajaú nos anos 1970. Sem luz, água, asfalto e até o pão francês de qualidade, Adélia se juntou a outras mulheres para lutar pelos mesmos direitos de quem vivia na região central – isso, em plena ditadura militar. Fechou ruas contra atropelamento de crianças, ocupou escola por melhores condições de ensino, travou açougues contra o preço absurdo da carne! Mobilizou a mulherada para fazer mutirão por moradia, urbanizar favelas e falar do direito ao próprio corpo. Se articulou com o poder público para construir políticas públicas e foi uma das fundadoras da Associação de Mulheres do Grajaú.

Já Maria da Glória, que só pode ser matriculada na escola já adolescente, chegou na região quando se casou e mudou pro Jardim Mirna. Com a chegada de novos habitantes, ela foi das primeiras a liderar abaixo-assinados para exigir do poder público algumas melhorias para o bairro. Transporte, água, luz, asfalto… Uma das fundadoras da associação de moradores do bairro, ela lutou pela conquista da primeira creche – a CEI Três Corações – e de duas escolas – a EE Levi Carneiro e a EE Roberto Mange. Nessa escola, aliás, ela trabalhou como “tia da merenda”, sofreu racismo de uma professora e voltou a estudar: terminou o Ensino Médio, fez faculdade de História e Geografia, e passou a dar aula no mesmo colégio. E o que falar de Cidona, como é conhecida Aparecida Maria. Moradora do BNH desde 1975, por onde ela passa as pessoas pedem a bênção de “Vó Cida”, que oficialmente teve 08 filhos, 12 netos e 04 bisnetos de sangue. Cidona também trabalhou na educação pública, e entre a escola e a maternidade ainda encontrou tempo para as rodas na rua que deram origem à primeira escola de samba da região – a Flor Imperial do Grajaú. Precisamos contar as histórias e memórias dessas Matriarcas porque esses relaPara ler e assistir as histórias das Matriarcas acesse: periferiaemmovimento.com.br

periferiaemmovimento

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Na Quebrada

Inauguramos o Espaço cultural ECP: um local de múltiplas ações AÉCIO MAGALHÃES

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distrito do Grajaú possui poucos espaços culturais para abrigar as crianças, jovens, adultos e até mesmo o público da terceira idade. O bairro é imenso e possui uma população de aproximadamente meio milhão de pessoas. Pensando nisso, o ECP (Expressão cultural periférica) plantou uma semente em anos anteriores e, em 06/04/2019, brotava-se os frutos: nascia o espaço cultural ECP, um local cheio de vitalidade pronto para acolher e realizar ações à todos os moradores da nossa quebrada. A inauguração foi um dia memorável, um sonho concretizado. Marcante com musicalidade e a presença de artistas plásticos, contadores de histórias, sarau, escritores, grafiteiros, jornalistas e os principais: os habitantes da região que sem sobra de dúvidas estarão presentes e interagindo com o espaço ao longo dos anos. Realizamos também distribuição de doces para as crianças e lançamos a Revista Grajaú, um meio de comunicação do nosso distrito. A revista trará informações dos acontecimentos que ocorrem no Grajaú, sua distribuição é gratuita, com 8 mil exemplares a cada dois meses. Também aconteceu a abertura da exposição histórias e memórias do Grajaú, que captará informações da região com o objetivo de revelar a identidade dos povos que por aqui habitam. A sede ECP abriga a biblioteca comunitária e a sala de informática. No espaço ocorrerão diversos cursos/oficinas, bate papos, exposições, rodas de conversas e muito aprendizado e abrange todas as idades. A biblioteca possui um acervo com várias seções e está disponível para toda a comunidade. Anexa a sede, temos também a gráfica EPC voltada para impressões e trabalhos gráficos da comunidade. O espaço cultural ECP nasce com a proposta de ajudar as pessoas que moram no Grajaú, seja através das oficinas, palestras exposições ou atividades similares. Acreditamos que tais ações gerem grande impacto nas questões sociais e morais nos grajauenses. MAI/JUN de 2019 8 REVISTA GRAJAÚ www.revistagrajau.com.br

CURSOS

PROGRAMAÇÃO

INFOCULT Ensinar as ferramentas básicas do computador Público alvo: acima de 21 anos Período: terças e quintas das 18h45 às 20h15.

MOVIEMENTE

Ensinar captação de imagens e edição de vídeos. Público alvo: a partir dos 14 anos Período: segundas e quartas das 14h00 às 17h00.

TERCEIRA IDADE NA ERA DO CELULAR Auxiliar o participante nas ferramentas do celular Público alvo: de 45 a 100 anos Período: sábados das 10h00 às 12h00.

FÁBRICA DE BRINQUEDOS Público alvo: a partir dos 06 anos Período: sábados das 13h00 às 16h00.

OFICINA DE FILOSOFIA Bate-papos filosóficos descontraídos, refletindo a vida por meio de músicas, cinema e muito mais! Público Alvo: Infantil e Adulto Período: Quinzenalmente Preço Popular Curso ministrado pelo rapper afroamericando Bixop, nascido em New Jerwey e morador do Capão Redondo Público alvo: Adulto - Inglês Básico Período: Quarta das 19h00 às 21h00.

(11) 95854-6101

ecpgrafica@gmail.com

Local: Espaço Cultural & Gráfica ECP Rua Boaventura ferreira, nº159 – Jd. Reimberg (retorno Jd. Reimberg) próximo a garagem da Bola Branca – Acima da rua do Pastel da Val Atendimento: Seg a sex das 9h30 ˜às 18h30 Fechada diariamente para almoço das 13h às 14h


Histórias & Memórias Em Busca da História Perdida...

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projeto Histórias e Memórias do Grajaú, idealizado pelo coletivo Expressão Cultural Periférica, ECP, é patrocinado pela Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo por meio do Edital Fomento à Periferia, visa resgatar e reunir a história desse território, um dos maiores distritos da cidade de São Paulo, e que possui uma trajetória rica, que está espalhada e escondida e corre o risco de se perder. O CIG (CENTRO DE IDENTIDADE DO GRAJAÚ) um dos núcleos do projeto Histórias e Memórias, tem como objetivo uma pesquisa e mapeamento histórico-geográfico da região, resgatando lembranças e a cultura desse povo tão lutador. O resultado dessa pesquisa culminará na publicação de um livro, além de reunir e catalogar tudo que for encontrado, para que toda a população tenha acesso a esse material. E você é o nosso convidado a participar desse momento histórico respondendo a uma pesquisa, nos informando se conhece pessoas que ajudaram a fundar nossos bairros,

que possuem fotos antigas, se existe um espaço cultural, igrejas ou associações no bairro onde mora que possam contribuir com nossa busca histórica. Trabalhos e Pesquisas universitárias, TCC’s, sobre o Grajaú são super bem vindos. Nos ajude a entrar em contato com essas pessoas ou instituições para que possamos registrar o maior número possível de dados para o resgate de nossa cultura. Contribuindo com esse trabalho o ECP publica bimestralmente a Revista Grajaú, tratando de temas ligados ao nosso bairro e apresentando um resumo de tudo o que está acontecendo em nosso projeto.

Foto 1 - Vista do BNH a partir do bairro Jd. Reimberg - junho de 1981

Acesse nossa pesquisa pelo Qr Code ou pelo nosso site: www. revistagrajau.com.br

Divulgue para seus amigos! Responda nossa pesquisa e nos envie informções. Ajude a resgatar nossa história!

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(11) 95854-6101 cig@revistagrajau.com.br

omente estamos iniciando nossos trabalhos de pesquisa e já nos deparamos com muita história boa. Nesse mês de maio recebemos no Espaço Cultural & Gráfica ECP um trio cheio de história pra contar. Adélia Prates, Maria Vilani e Sr Cleon, que nos brindaram com uma tarde de muita história sobre o Grajaú. Dona Adélia fundou a Associação de Mulheres do Grajaú, que ajudou

Foto 2 - Vista do BNH a partir do bairro Jd. Reimberg - junho de 2019

a construir o distrito. Muitas mulheres que lutaram por água, energia elétrica, escolas e até semáforos, em uma época onde tudo era muito difícil. Maria Vilani, fundadora do CAPS, ícone para todos que apreciam a cultura do nosso território e Sr Cleon que ajudou a construir toda essa história. Em breve mais histórias... MAI/JUN de 2019

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Fotos: Gi Barauna

Capa

Laíde Braga produzindo sua arte

Faça Você Mesmo!

Empreendedorismo social e criativo combate o fim do emprego

GI BARAUNA

Q

ue o Grajaú é uma potência no que diz respeito a criar já sabemos há alguns anos. Essa afirmação diz muito, para e sobre nós que aqui nascemos ou crescemos. Porém, estar diariamente na periferia é travar algumas batalhas que surgem no dia a dia. Temos a capacidade de nos reinventar, criar ferramentas, construir e reconstruir. Todos nós temos potencial, somos espetacularmente “fazedores”. Na periferia temos de ser essencialmente criativos, principalmente por conta da escassez de recursos, e isso nos impulsiona a aprender fazer várias coisas e transformar o que na teoria não serviria mais. “Faça Você Mesmo” é a tradução da expressão inglesa “Do It Yourself” ou simplesmente DIY, que se tornou muito mais do que meras palavras soltas nas mídias sociais e aguça cada vez mais a nossa imaginação. Para muitos se tornou um estilo de vida, movendo-os a criar, inovar, produzir, proporcionando uma experimentação única e pessoal, seja ela em móveis, acessórios, brinquedos, equipamentos eletrônicos, e mais uma infinidade de possibilidades como customização de roupas, cuidado com as hortas, na produção de bebida, mú10 REVISTA GRAJAÚ

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sica, fotografia, no geral. No termo é aceito tudo que é produzido por suas próprias mãos, sendo elas fabricadas, projetadas ou modificadas. Tudo isso vem alterando o mercado de trabalho de maneiras irreversíveis. O emprego tradicional como nós conhecemos está fadado a desaparecer. Carteira assinada, benefícios, aposentadoria, e estabilidade em muitos casos não existem mais. É preciso estar atento ao desenvolvimento pessoal e ao aprendizado, e não usar as novas tecnologias somente para postar fotos bonitas. Use-as para aprender e se desenvolver, pois é isso que o trabalho pede atualmente. Segundo, o professor e pesquisador israelense Yuval Noah Harari, “Muitas novas profissões provavelmente aparecerão: designers do mundo virtual, por exemplo, mas essas profissões provavelmente exigirão mais criatividade e flexibilidade”. Ele continua, “consequentemente, até 2050, uma nova classe de pessoas poderá surgir: a classe desocupada. Pessoas que não estão apenas desempregadas, mas desempregáveis”. Pessoas que não investiram na autoformação e não aprenderam a usar as ferramentas

tecnológicas. Elas estarão praticamente sem nenhuma possibilidade de se encaixar no mundo criativo, inovador e tecnológico que já é nossa realidade. Fabiana Costa, da @fbrincos tem 24 anos, moradora do Jardim Gaivotas no Grajaú, desde que nasceu, é um exemplo desses novos tempos. Por falta de oportunidade no mercado de trabalho tradicional, há um ano e dois meses é artesã autônoma e atua na produção de brincos feito com materiais reciclados (papelão, retalhos de tecidos, linhas, madeiras, arames e alumínios). Sempre amou brincos, mas encontrava modelos que eram simples e não demostravam a essência das mulheres admiráveis. Começou a criar os próprios modelos, com personalidade e estilo, demonstrando o poder de mulheres fortes que somos. O primeiro par de brincos que produziu para comercializar foi para uma amiga usar em um baile de carnaval, a peça chamou muita atenção, recebeu elogios e incentivo a criar outras. A peça era linda mas com um único agravante, foi produzida em E.V.A e após alguns estudos percebeu o impacto que esse material produzia ao meio ambiente e com um olhar responsável passou a se dedicar a criação de peças que respeitam a sustentabilidade. As novas formas de trabalho hoje visam o bem estar do todo, ser sustentáveis, ter respon-

Fabiana Costa mostra seus brincos


Do It Yourself! sabilidade social e um propósito, essa é a nova geração do planeta. Laide Braga, da @laidebraga feltro e flores, é um outro exemplo de Faça Você Mesmo e atuação social. Há 8 anos decidiu que ficar em casa, criar os três filhos e cuidar do marido não era o suficiente para uma mulher criativa e produtiva como ela. Iniciou suas atividades artísticas com vasos e cestos feitos de rolinhos de jornal, que aprendeu a fazer assistindo programas de artesanato transmitidos pela TV aberta. O trabalho com os jornais foi substituído por fuxico, feito dos retalhos de tecidos que retirava nas confecções da região. Nesse período tomou gosto por linhas, agulhas, tesouras e junto descobriu o feltro (tecido feito de lã) e há 5 anos essa é a sua única matéria prima. Atualmente, cria bonecos feitos por encomenda, produzidos também para decorações de festas infantis. Durante esses anos de aperfeiçoamento a ação não ficou só em fazer e vender, procurou nos equipamentos culturais e sociais da região espaço para ensinar aquelas que não tinham a mesma fibra que ela de dar o passo inicial sozinha. Segundo ela “Não era ensinar, era sim uma troca, acrescentar alguma coisa na vida das pessoas, porque lá tinham senhorinhas, muitas mulheres que ficavam em casa sem fa-

Laíde Braga apresenta seu trabalho

zer nada” Conta que ”chegou a tirar muitas mulheres da depressão e que descobriram o amor por ensinar e que hoje dão aulas também”. Percebendo o grande potencial criativo e empreendedor do Grajaú a Red Bull, empresa que realiza o Festival Red Bull Amaphiko em várias partes do mundo, trouxe sua terceira edição em São Paulo para o Grajaú, nos dias 15 e 16 de dezembro do ano passado. Foram dois dias de atividades no Centro Cultural Grajaú e no Calçadão, por onde passaram mais de 4 mil pessoas. As duas edições anteriores rolaram no centro, isso mostra a força da periferia e como vários olhos estão se voltado pra cá. O Festival, que tem essa pegada de Faça Você Mesmo, tem o intuito de fortalecer e celebrar o empreendedorismo e a inovação social com pessoas que estão transformando suas realidades. Algo que faz todo sentido para o distrito, repletos de empreendedores ao melhor estilo DIY, que colocam a mão na massa para transformar nossas realidades. A próxima edição do Festival no Grajaú já tem data pra acontecer, dia 04 de agosto, no mesmo local do anterior. A curadoria está sendo realizada por um time de cinco coletivos convidados da Amaphiko, que buscou grupos que tivessem um impacto na quebrada com o olhar voltado ao empreendedorismo. A intensão é dar respaldo ao empreendimento de impacto social dentro da periferia e que esses grupos fortaleçam a rede de coletivos, que haja uma ajuda mútua dentro do festival. Barbara Terra do coletivo Nois por Nois, que atua na curadoria do festival, disse que a ideia da próxima edição é pensar a ancestralidade e o futuro. Qual o futuro que queremos deixar para a periferia? Mulheres fortes que têm muitas coisas em comum: criatividade, fazem o que gostam, com amor, resistência, persistência e propósito. Assim como há trinta anos o Grajaú teve nas mulheres a força motora de construção, fibra, criatividade e o olhar para o próximo, hoje elas sabem que, no século XXI, quem quer evoluir precisa de mais conhecimento, referências e engajamento. O futuro vem sendo desenhado há bastante tempo e já chegou. Existem diversos movimentos acontecendo e que nos conduz a empreender, que nos faz sair da zona de conforto. Você pode muitas vezes aprender, trabalhar e utilizar o que tem em casa, lembrando mais uma vez, tem que ter clareza do que está fazendo e é necessário “estudar, conhecer os conteúdos, ser criativo”. Um movimento simples que já acontece há alguns anos e após conhecer a história das nossas entrevistadas, você pode agora se basear nas escolhas delas e deixar no mundo sua marca. O emprego pode até acabar mas, o trabalho a sua força de colocar sua intenção no mundo e impactar as pessoas ao seu redor, com brilho nos olhos, interação humana, autonomia, propósito, significado, planejamento e qualidade, ahh! Isso ninguém tira de você.Dê seu melhor. FAÇA! MAI/JUN de 2019 REVISTA GRAJAÚ 11 www.revistagrajau.com.br


Vida Saudável

A BUSCA DA TRANQUILIDADE NO GRAJAÚ VALÉRIA RIBEIRO

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éculo XXI, vida moderna, agitada e estressada. As pessoas sem tempo para nada, fazem várias tarefas ao mesmo tempo, excesso de informação, redes sociais demais, convivência social de menos. É preciso “dar um tempo” disso tudo para trazer tranquilidade e qualidade para a vida cotidiana. A meditação é uma das formas mais simples e baratas para ter essa atenção ao momento presente, dar um tempo na agitação e encontrar um tempo para si mesmo. “Essa pausa traz clareza mental e respostas para muitas questões, que de cabeça cheia pelo barulho externo, não conseguimos acessar.” É o que diz Suzana Clea, psicoterapeuta que busca proporcionar às pessoas, por meio de seu trabalho no Grajaú, mais tranquilidade e uma vida mais saudável. “Criamos turbilhões de pensamentos, que causam diversos sentimentos. Esses sentimentos gerados pela mente agitada são responsáveis pelo estresse e a ansiedade.” Na realidade do nosso Grajaú encontrar um tempo para si mesmo é difícil, principalmente para a mulher. “A mulher periférica muitas vezes é sozinha e chefia a casa. Se vê responsável por tudo. Quando estiver muito difícil, respire...” ensina Suzana, que complementa, ”Estamos falando de presença, e podemos meditar caminhando, tomando um banho, coando um café. Esteja presente, observando seus passos, ritmando com a respiração. Durante o banho esteja atento às sensações físicas. Ao coar um café ou cozinhar perceba os aromas, o calor e a transformação dos alimentos. Fazer uma coisa de cada vez, com atenção plena”. Suzana fundou o Estúdio Namaste em 2015 aqui no Grajaú, com a intenção de trazer a prática da meditação e yoga para a periferia. Durante a aula o aluno recebe orientação sobre pranayamas (exercícios respiratórios) e sobre a concentração e estar presente naquele momento, limpando a mente e jogando fora todo o lixo mental. Apesar de praticar um valor justo e

MOMENTO ZEN Por Suzana Clea Para mim vale sempre o tradicional foco na respiração. Sentar com a coluna ereta e sem rigidez. Sem forçar a postura. Vale sentar no chão ou em uma cadeira. De olhos fechados inspire e expire somente pelo nariz. Inspire profundamente e expire suavemente. Enchendo completamente os pulmões e também esvaziando completamente. Direcione esse fluxo de ar para o abdome. Então o abdome sobe e desce junto com o fluxo respiratório. Percebemos a respiração tranquila e consciente quando os ombros param de responder a esse ciclo. Eles ficam relaxados e paradinhos. Só o abdome sobe e desce. Por fim procure o som dessa respiração. Tudo mais ao redor se cala, e as respostas surgem. 12 REVISTA GRAJAÚ

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Encontro de meditação no Parque das Árvores e adequado a região periférica, Suzana percebia que ainda não era acessível a todos, por isso criou o projeto GrajaOM, que nasceu há dois anos. São duas turmas de yoga com um valor social. O GrajaOM é um xodó, foi uma ideia da Bárbara Terra do Nóis por Nóis”. Suzana tem promovido também encontros de meditação gratuitamente no Parque das Árvores. Outra pessoa que também está nessa busca de viver com mais tranquilidade a partir de práticas do seu cotidiano é Juliano Angelin, produtor cultural e morador do Grajaú. “A mudança, a revolução, começam dentro da gente”, fala Juliano, que se adentrou no Movimento Humanista desde cedo, seguindo a filosofia Seja você a mudança que quer ver no mundo, difundida por ativistas como o Indiano Mahatma Gandhi. Dessas experiências surgiram a pratica do yoga e da meditação. Nessa busca por outras formas de viver fundou em 2014 com a irmã Jéssica a Casa Rizoma, que era um espaço para que germinasse outras alternativas de vida como a volta ao natural. Para ele, cuidar de si é uma forma de transformar a sociedade. “É preciso voltar a se reunir com as pessoas, a silenciar um pouco, ouvir o nosso corpo,“ completa. Fomentar o autocuidado na quebrada, assim surgiu o A Bordar Espaço Terapêutico, inaugurado em 2019. O Espaço foi criado por quatro mulheres periféricas, psicólogas, movidas pelo desejo e compromisso de pensar e promover atividades em Saúde Mental, buscando refletir e realizar ações que dialoguem com as necessidades da população da periferia. Desde então estão realizando ações de atendimento individual em psicoterapia, auriculoterapia, terapia orgástica, cursos, grupos sobre saúde periférica e orientação profissional. Também fazem meditação ativa para mulheres, atividade que acontece quinzenalmente. É uma vivência voltada para mulheres que visa promover autoconhecimento e desenvolvimento, são técnicas diferenciadas de meditação que aliam movimentos corporais e respiração. Não há mais desculpa para continuar estressado e ansioso, comece simplesmente a respirar e busque alternativas para viver melhor e com qualidade. Ideias e pessoas que podem ajudar não faltam. ESTÚDIO NAMASTÊ Av. Rosália Iannini Conde, 53 - Sala 26 - Parque América - Grajaú cs.suzana@gmail.com - (11) 95416-2471 A BORDAR ESPAÇO TERAPÊUTICO Av. Fernando Amaro Miranda 73 - Jd. Colonial (perto do Roldão Atacado) abordarespacoterapeutico@gmail.com - Fone (11) 953909151


Ação

A periferia que deu certo Dona Dejanira Ribeiro inspira com sua história de vida

Dona Dejanira, que gosta de aproveitar os bons momentos da vida

MICHELLE MARQUES periferia costuma ser rotulada como um lugar precário onde só vivem pessoas carentes, famílias desestruturadas e onde o crime dita as leis do espaço. Mas há uma outra realidade a de que existe sim gente periférica que luta e consegue conquistar o seu espaço no mundo, porque afinal de contas, “o sol nasce para todos”. Na busca por essa periferia que dá certo e por histórias de afeto que nos inspirem, a Revista Grajaú foi conversar com a dona Dejanira Ribeiro Costa, migrante nordestina, moradora do Jd. Reimberg há mais de 40 anos e conhecer um pouco mais da sua trajetória de vida. Nascida no interior da Bahia, precisamente em Alagoinhas, a família de dona Dejanira era numerosa. Seus pais tiveram nove filhos e tiravam da roça a sua sobrevivência. Desde muito jovem, ela já ouvia histórias sobre as oportunidades que uma cidade grande como São Paulo oferecia lá pelos

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idos de 1960 e como muitos outros nordestinos, desembarcou na cidade em 11/10/1968 e seu primeiro emprego foi como doméstica em uma casa de família. Ela se lembra emocionada da dificuldade dos primeiros tempos quando até chorava de saudades da família, principalmente da mãe Eliza. Com o passar do tempo, foi trabalhar em outra casa por indicação de uma tia onde teve condições de retomar os estudos e fazer outros cursos como datilografia que era considerado muito importante naquela época. Em 1974 se casou e sempre alimentou o sonho de ter um terreno para construir sua casa própria e de também dar um lar para seus pais. Próximo da chegada da primeira filha pode enfim concretizar seu desejo, mas lembra que o Grajaú era muito diferente do que é hoje. “As ruas eram de barro e quando chovia, tínhamos que sair com um sapato na bolsa ou levar um paninho para tirar a lama dos pés, era uma época muito sofrida”, finaliza. Com o nascimento do segundo filho, dona Dejanira que na época trabalhava em uma empresa multinacional há sete anos, decidiu abrir mão do serviço registrado que consumia muito do seu dia para trabalhar como autônoma em vendas e assim poder dedicar mais tempo a criação de seus filhos, pois acredita que o afeto e a presença dos pais é muito importante na formação das crianças. No início, seu companheiro foi contra essa mudança pois não queria que sua esposa saísse de casa em casa para vender suas mercadorias, pois considerava que essa função não era coisa para mulher. “Eu tive que sentar com ele, chamei ele para conversar e enfrentei, meti a cara e fui em frente. Sempre fui uma mãe que gostava de dar atenção e apoio aos filhos, ter uma responsabilidade como mãe e também ter a minha própria renda”. Hoje, 41 anos depois, é possível ver o fruto de suas lutas, pois sua filha mais velha está construindo em seu terreno o Espaço Cultural ECP (Expressão Cultural Periférica), local que abriga vários cursos e oficinas beneficiando a população da periferia, fornecendo novos prismas e trazendo desenvolvimento para o bairro. É importante agarrar com unhas e dentes as oportunidades de crescimento pessoal e coletivo para que surjam outras tantas histórias de lutas e conquistas às margens da cidade. MAI/JUN de 2019

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Cuidando do Planeta DIREITOS DOS ANIMAIS: eles precisam de carinho, cuidados e proteção VALÉRIA RIBEIRO o distrito do Grajaú há tempos temos visto inúmeros bichinhos jogados pelas ruas. São gatos, cachorros e até mesmo cavalos andando por aí, em meio ao trânsito e aos perigos diários. Érica Faria, médica Veterinária que possui um Petshop e uma Clínica no Jd. São Bernardo, comenta o problema do abandono. “O animal não é um brinquedo que você pode pegar e se desfazer no verão seguinte”. Tem pessoas que pegam o animal pequeno e quando ele cresce abandona, quer viajar, joga fora...Já tive proposta até de gente querendo fazer eutanásia porque queria viajar e não queria pagar o hotelzinho porque era muito caro. Tem de ter consciência de que o animal não é um brinquedo, nós precisamos ter responsabilidade com eles. Por isso tem muito animal na rua, pega pequeninho porque é bonitinho, cresceu, fica chato, não quer mais.” Apesar da conscientização que ainda falta em muitos de nós quanto aos cuidados e as responsabilidades perante ao sofrimento dos animais, existem muitas pessoas que tomam pra si esse cuidado e colocam como um propósito em suas vidas. É o caso de Beatriz Reis Velloso, 21, estudante do terceiro semestre de veterinária na Universidade de Santo Amaro, UNISA, que desde criança gosta de animal. Trabalhando há um ano em um Petshop Beatriz diz: “Pra mim o animal é como se fosse um filho, eu tenho um cachorro e uma gata e chamo eles de filho, e também tenho uma filha mesmo, e eu ensino pra ela desde agora que ela não pode bater, maltratar...Faço veterinária pra ajudar os animais...fico até emocionada de falar sobre isso”. Erica e Beatriz, que trabalham no mesmo Petshop, relatam um caso de falta de cuidado com o animal, mas que teve um final feliz. Um cachorrinho apelidado de Carnicinha, chegou em um estado deplorável na clínica, a antiga proprietária levou o cachorro para fazer eutanásia, mas com o valor que ela pagou para fazer o procedimento, elas decidiram cuidar do cachorro. Os medicamentos foram comprados e o cachorro foi cuidado, e com o tratamento ficou curado. Hoje o cachorrinho atende pelo nome de Billy e está em um outro lar, onde é amado e está muito feliz. Com certeza existem incontáveis casos como esse, de animais que estão doentes por causa de maus cuidados. Quanto aos cuidados com os pets Erica também acredita que é necessário dar o quadro completo de vacinas, além da vacina contra a raiva, as vacinas V10, contra a Pneumonia, Giárdia, Gripe Canina e Leishmaniose são necessárias para haver melhor prevenção contra doenças.

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Cisco e Esperança, adotados e tratados com muito amor

Quem protege os animais?

A Revista Grajaú fez uma pesquisa mas não encontrou nenhuma ONG que trate de animais no distrito, o que é preocupante, pois com meio milhão de habitantes com certeza existe um grande número de animais, talvez por isso o número elevado de abandonos. No entanto existem os protetores anônimos, pessoas que de alguma forma dedicam seu tempo e recursos para ajudar os animais. Esse é o caso de Sheila Lima, 40 anos, 3 filhos, dentista que trabalha na região do terminal Grajaú. Ela e a mãe Vera Lucia Alves se compadeceram da situação dos cachorros famintos e sedentos que ficavam perto da casa delas e começaram a colocar água e comida pra eles. Depois de somente alimentá-los por um tempo viu que não era a solução e decidiu juntamente com a mãe juntar dinheiro pra começar a castrar as fêmeas. Pega da rua, castra, cuida e tenta encontrar um lar para elas. Hoje ela tem 4 cachorros pegos na rua. A intenção não era ter todos esses animais, mas fica com dó de pegar pra castrar e devolver pra rua. Um caso comovente é o do cachorro Amarelo, que hoje brinca feliz com seus filhos. Ele apareceu próximo ao consultório dela, e passou a dormir na porta. Ela passou a alimentá-lo e até colocou uma casinha improvisada. Então surgiu uma pessoa para adotá-lo, e o levou. No entanto, um ano depois o cachorro voltou, com sinal de maus tratos, muito magro e com medo de tudo. Ele passou a segui-la até em casa, do terminal Grajaú até o Jd. S.Bernardo, daí ela acabou adotando ele. A dentista já fez varias coisas pra vender e arrecadar dinheiro para as castrações e comprar rações pra os pets, desde artesanato personalizado até vender roupas em bom estado. Atualmente Sheila tem em sua casa uma cachorrinha pra adoção, que foi resgatada da rua recentemente, muito carinhosa e dócil e já está castrada. Quer ajudar a causa e dar um lar para esse bichinho? É só entrar em contato com a dentista. Quem quiser ajudar Sheila com suas ações é só entrar em contato: e-mail: sklodontologia@gmail.com

Cuidados Básicos com os Pets Mantê-los em segurança, longe das ruas Dar carinho e protege-los dos maus tratos Alimentá-los, mantê-los limpos e dar as vacinas necessárias Castrá-los para evitar que outros bichinhos nasçam e fiquem nas ruas abandonados e sofrendo

Billy, o cachorrinho que ganhou um novo lar 14 REVISTA GRAJAÚ MAI/JUN de 2019 www.revistagrajau.com.br

A Cachorrinha pretinha, a espera de um novo lar

Adote um bichinho e ajude a melhorar a vida de outro ser


Elas São Bárbaras

Ilustração: Guilherme Zillieg

maus tratos contra os animais é crime,quem pratica esse ato deve ser denunciado e preso

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rojeto de Lei 11210/18 amplia a pena para quem maltratar ou ferir animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, ainda que por negligência. Hoje, a pena prevista pela Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) é de 3 meses a 1 ano de detenção, além de multa. Se o projeto for aprovado pela Câmara dos Deputados, a pena será elevada para 1 a 4 anos de detenção, com a possibilidade de multa mantida. Apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o projeto já foi aprovado pelo Senado Federal. O texto aprovado deixa claro que esportes equestres e vaquejada não se enquadram nessa lei.

Como Denunciar Em São Paulo, você pode realizar a denuncia através da Divisão de investigações sobre Infrações de Maus Tratos a Animais e demais Infrações contra o Meio Ambiente. Endereço: Av. São João, 1247 7º andar - Centro, das 9h às 19h. Tel.: (11) 3224-8208, (11) 3224-8480 e (11) 3331-8969. As denúncias também podem ser feitas no site da Delegacia Eletrônica de Proteção Animal (DEPA): http://www.ssp.sp.gov. br/depa

Deixou saudades e um legado. Salve Zan! @barbaraterra_

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anira Lázara Campos, carinhosamente conhecida como Zan, nasceu em 1939, na cidade de Canápolis, Minas Gerais. Filha do meio, de mais 12 irmãos, se mudou para São Paulo por intermédio da sua irmã mais velha, que saiu da sua cidade de origem em busca de oportunidades e recursos para família na capital paulistana. Desde muito cedo, a nega precisou ser muito forte para atravessar as tribulações e os desafios de viver na grande Sampa, mas como uma autêntica leonina, sempre foi muito obstinada e corajosa, nunca desistiu do seus ideais e fez a diferença por onde passava mostrando a que veio. Mãe solo de 2 filhos na década de 1960, encarou família e toda uma sociedade racista, patriarcal e tradicional da época, para criá-los e garantir um futuro de qualidade para eles. Passou por grandes dificuldades e foi inúmeras vezes desafiada na vida. Deixou em cada ação uma lição de superação para que nós consigamos escrever nossas próprias histórias. No início dos anos 1970, fruto de muito trabalho, com apenas 30 anos, conquistou sua casa própria através do Banco Nacional de Habitação (BNH), onde viveu até seus últimos dias. Olhar para trás e reconhecer nossas raízes se torna fundamental e emergencial para produzir sentido no que estamos

fazendo agora e para compreender para onde estamos indo. No final de fevereiro, Zan atravessou o véu e se tornou mais uma ancestral em outro plano. A partir daí, fui forçada pelo ciclo natural da vida, a experienciar a ausência da minha matriarca mais velha, minha querida vozinha, uma mulher acolhedora, espiritualizada e amorosa. Ficar sem a presença de uma matriarca, como era minha avó, é perder uma biblioteca inteira de conhecimentos, experiências e sabedorias, é ficar sem um pilar de uma estrutura. Foi com ela que aprendi a persistir e a conquistar meu lugar e meu espaço. Ela sempre foi minha maior incentivadora. Me ensinou a importância de estar em comunidade e de manter a família unida. Sem saber o que era Ubuntu, praticava devotamente no seu dia a dia. Muitos lembram dela dessa forma, é essa lembrança que me cabe preservar. Contar sua história é reverenciar sua potência e sua existência e perpetuar o seu legado. MAI/JUN de 2019 REVISTA GRAJAÚ 15 www.revistagrajau.com.br


CULTURA Foto: Michelle Marques

O poder da leitura pode movimentar a vida das pessoas Ponto de Leitura do Centro Cultural Grajaú promove mais uma edição da Feira de Troca de Livros MICHELLE MARQUES

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a era digital e conectada, onde as coisas parecem ter a urgência do ontem e os celulares carregam o “mundo” dentro de si, falar de livros pode soar como algo nostálgico de um passado distante, porém, a literatura impressa está viva, resistindo e ainda possui seu charme. A prova disso é a Feira de Troca de Livros que aconteceu no calçadão do Centro Cultural Grajaú no final do mês de maio, como atividade organizada pelo Ponto de Leitura instalado no CC onde foi montada uma tenda com vários livros, de inúmeros temas disponíveis para troca, além de exemplares para doação, um verdadeiro self-service literário onde qualquer pessoa pode pegar um de seu interesse e levar para casa. O projeto do Ponto de Leitura foi uma alternativa da Prefeitura de São Paulo para criar novos espaços destinados à leitura onde não existem bibliotecas públicas, principalmente nas periferias da cidade. Nomeado de Ponto de Leitura Graciliano Ramos, o local passou por uma notável reformulação, deixando o conceito de “Biblioteca do Silêncio”, onde não se pode falar e adotando a ideia de “Biblioteca Viva”, onde o frequentador é convidado a utilizar a estrutura de maneira espontânea e agradável, como explicou Jonathan Alves, jovem monitor que atua no espaço. Como estratégia para

16 REVISTA GRAJAÚ MAI/JUN de 2019 www.revistagrajau.com.br

Rosimeire Floriano dos Santos na Feria de Troca de Livros se aproximar do público, eventos como a feira de troca funcionam como chamariz para a população saber da existência do lugar. Por estar localizada em uma região ladeada de escolas e servir de passagem para muitas pessoas, a estrutura do evento logo chama a atenção e mesmo por curiosidade os pedestres acabam parando para descobrir do que se trata e logo saem encantados com pelo menos um livro embaixo do braço. Quem já está acostumado com a feira, traz exemplares para troca e fica “garimpando” a mesa atrás de novas histórias para ler como é o caso da podóloga Rosimeire Floriano dos Santos que trabalha próximo ao Centro Cultural e veio trazer alguns livros. Ela diz que na primeira vez em que foi a feira de trocas logo se interessou por alguns livros e os levou para casa com a promessa de trazer outros na próxima edição do evento. Rosimeire ressalta a importância desse tipo de ação para a região pois pode despertar nas pessoas o gosto pela leitura e

também dá a praticidade dos livros serem apreciados alí mesmo basta a pessoa se aconchegar na estrutura do CC e começar a viajar na leitura. Para a podóloga, as novas tecnologias e a internet acabam fazendo com que se perca a “cultura da leitura”. “Se usarmos em excesso a tecnologia, a gente acaba perdendo a sensibilidade com as pessoas, a gente vai se isolando cada vez mais e tendo menos contato, menos olho no olho, menos conversa... por isso este tipo de evento voltado a estimulação da leitura e da interação social é tão importante”. Além da troca de livros, o Centro Cultural Grajaú dispõem de uma variada programação com inúmeras atividades gratuitas abertas ao público em geral e para quem quer frequentar o Ponto de Leitura e usufruir de seu acervo inclusive para empréstimos de livros, o horário de funcionamento é de 3ª a 6ª feira das 9h às 17h.

centroculturalgrajau


ARTIGO

Deu ruim! O projeto de masculinidade precisa ser revisto

A

umjow

tos que poderiam ser compartilhados com amigos e familiares, cuidados para o próprio corpo e também para o lugar onde se vive, reconhecimento de que a vida vai muito além do poder e de dominar, liberdade de expressão e por aí vai. Vale registrar que guerra, tragédias e mortes (inclusive o suicídio) em sua grande maioria tem homens nesse estilo como protagonistas. Então, convenhamos que a masculinidade como está é uma máscara e por trás dela existe uma pessoa treinada a fazer essa performance, só que não precisa ser assim. Tanto o homem que age como o macho da caixinha quanto as pessoas que com ele convivem são prejudicadas e até mesmo agredidas, é um risco para a vida. No nosso caso, como pessoas periféricas temos homens periféricos por trás desse papel. Homens cujo poder real das instituições já está longe demais por uma questão de classe social. Vamos entender que essa situação precisa ser mudada da base, porque o modelo de homem e de família tradicional não nos cabe. Sendo assim, cabe refletir sobre nossas ações, como e quanto elas afetam outras pessoas, e buscar outras formas de viver a masculinidade. É tempo de criar e participar de grupos de confiança onde seja possível que homens partilhem seus sentimentos, dialoguem sobre suas atitudes e revejam seus hábitos. Precisamos de uma masculinidade que desempenhe uma paternidade humana e ativa, que não reproduza estereótipos de macho na educação, que o companheirismo seja sadio e afetivo nas relações e tenha um cuidado real com a pessoa, com o lugar e com a terra que nos acolhe.

masculinidade é uma construção social, se existe um jeito de ser masculino é porque pessoas elegeram determinadas características como virtudes do homem e através do hábito de praticar essas “virtudes” ou punir os quem não as praticam se criou um modelo de masculinidade. Ser homem não é basicamente nascer com o sexo biológico masculino, não é natural, mas social, se aprende a ser homem. Significa pouco a pouco e desde pequeno imitar e repetir ações de sujeitos machos ou ser cobrado e punido por não fazer isso. O privilégio de ser homem em uma sociedade que o patriarcado ainda mantém suas forças carrega violências sutis e intensas nos hábitos celebrados como virtudes da masculinidade. Patriarcado é um sistema social, significa que os sujeitos homens adultos de uma sociedade predominam os poderes de liderança, economia, propriedade e mantém privilégios em tudo, inclusive na formação de valores morais. Para ficar mais didático, vamos pensar que existe uma “caixinha do macho” com elementos necessários à masculinidade: heterossexual (ser ou pelo menos parecer), forte, corajoso, no controle, ativo, viril, sexualmente experiente, fala firme (se for grosso, melhor ainda), não demonstrar emoções, autodefesa (ou disposição pra briga), não chorar, trabalhar, não cometer erros (ou não assumir), não desistir, competitividade, sucesso e bens materiais, amigo só se for homem, dominar em relação à mulher. Porém, paira no ar a questão: essas características que levantamos fazem sentido para validar a masculinidade? São realmente necessárias ou são ferramentas de acesso e permanência no poder?Vários desses elementos são tidos como tendências de comportamento e todos eles são estimulados desde a infância para que crianças que nasceram com o sexo masculino regulem suas atitudes. A masculinidade se torna tóxica quando os homens deixam de lado responsabilidades reais pela vida das demais pessoas e passam a se preocupar apenas com o seu bem-estar e a proteção do status de macho e de seu poder. Além disso, cada uma dessas características celebradas pelos homens como virtudes sagradas carregam um conjunto de violências. Escondem sentimentos reais de fragilidade e impotência, afeTipo de Homem Meramente Ilustrativo

Ilustração: Gustavo Dias e Higor Sahara

JONATHAN ALVES

MAI/JUN de 2019 REVISTA GRAJAÚ 17 www.revistagrajau.com.br


Cantinho dos Astros BARBARA TERRA @barbaraterra_

URANO EM TOURO: A TRANSIÇÃO É NECESSÁRIA!

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esde 06 de março de 2019, o Planeta Urano encontra-se no signo de Touro, onde permanecerá até o ano de 2026. Esse planeta fica em torno de sete anos em cada signo. Ele é o primeiro dos assim chamados planetas transpessoais ou geracionais, acompanhado de Netuno e Plutão. Ou seja, esses planetas estão diretamente ligados com o propósito e a transformação de cada geração. Urano foi descoberto em 1741 e é um planeta associado a independência, liberdade, tecnologia e ao futuro. É conhecido na astrologia como o diferentão, aquele que não segue padrões, gosta de causar mudanças súbitas e fugir de tudo que foi programado. Ele é o único no Sistema Solar que tem sua rotação no sentido contrário dos demais, já evidenciando sua identidade.

de encontramos nossa real natureza e nossa função na vida, rompendo com a ordem estabelecida que impedem os avanços da humanidade como um todo. No entanto, quando se trata de Urano, é impossível saber exatamente como e quando essas mudanças irão acontecer. O que sabemos é que estamos abrindo espaço para poder testemunhar nesse período a maior transição da história da humanidade. Que estejamos preparados para sair da zona de conforto e experienciar o diferente e o imprevisível.

Estamos prontxs? 17/06: Fase cheia em Capricórnio 25/06: Fase minguante em Áries 02/07: Fase nova e eclipse em Câncer 09/07: Fase crescente em Libra 16/07: Fase cheia e eclipse em Capricórnio 24/07: Fase minguante em Touro 01/08: Fase nova em Leão 07/08: Fase crescente em Escorpião

Passatempo

Os próximos sete anos prometem transformações drásticas e inevitáveis no campo das finanças, dos recursos naturais e da reforma econômica, abalando antigos paradigmas e estruturas tradicionais. Isso porque a energia uraniana estará presente em Touro, signo de elemento terra, de modalidade fixa, totalmente tradicional, conservador, prático e estável. Touro é quem rege a matéria como um todo. Esse signo está ligado a nossas posses, bens materiais, valores, relações, nutrição e afins. É fundamental durante esse período revisitar nosso propósito enquanto indivíduo e também como coletivo. Aprender a desaprender, caso necessário. Transmutar a forma de interagir, consumir e de utilizar recursos naturais. A humanidade tem muito ainda o que desenvolver, existe muita intolerância, preconceitos, exclusão e desigualdade, e é possível que nessa jornada de Urano em Touro sejamos conduzidos a praticar uma relação mais afetuosa e colaborativa. Reequilibrar um sistema nos desafia a fazer perguntas mais profundas e a iniciar mudanças transformadoras mais abrangentes e significativas. É possível criar um sistema baseado na abundância e não na escassez? É possível uma economia que promova fluxos circulares que garanta a segurança da vida no futuro? O que queremos? Pra onde estamos indo? Essas perguntas ficarão cada vez mais latentes. Esse trânsito nos pede para que nos libertemos do passado e do sistema político-econômico vigente a fim

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