Revista Grajaú Edição 12

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Revista

GRAJAÚ Jul/Ago - 2019 | Ano 4 | nº 12 Distribuição Gratuita

SOMOS TODOS UM

Grajaú recebe imigrantes venezuelanos e de outras nacionalidades

Um drama humanitário que atinge vítimas inocentes.


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Carta ao Leitor

Ouça com Atenção!

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o longo de 7 anos como integrante do Coletivo Expressão Cultural Periférica- ECP sempre soube que a caminhada na estrada de tijolinhos amarelos faria muitos amigos até chegar ao fim dela. O que desejo é que seja bem longa e sei que muitos mais amigos surgirão, e é o que mais quero. Desde o primeiro encontro quando ainda não sabíamos o que se tornaria as reuniões, o que queríamos era COMUNICAR. Essa era a palavra presa dentro de nossos corações e que graciosamente foi desabrochando e esse mesmo verbo nos ensinou que tão importante quanto se EXPRESSAR é OUVIR. Por muito tempo, nos comunicamos de diversas formas, grafite, produção de vídeo, saraus, bate papos e amadurecendo cada vez mais nossa busca e até nossas viagens foram ferramentas para formar e incentivar a outros a seguir em frente com seus planos e sonhos.

A violência embrutece, deprime, causa feiura, descredito, medo, insegurança. O poder público nem sabe que existimos (Sabe sim, porque o Grajaú é FODA!) educação precária, transporte, moradia, ufa, posso citar mais um milhão. Em meio a todo esse descaso o Grajaú cresce, cria sua identidade, samba nessa terra fértil e fortalece uma geração que reconhece a luta de seus ancestrais e nela se espelha e se impõe. Acredito que nascemos com uma programação, passível de mudanças e mesmo no meio a tanto horror, muitos, muitos, muitos mesmo sobressaem, mudam a chavinha, o padrão, saem da caixinha, do armário de onde quer que esteja preso e se liberta da amarra do senso comum e amadurece, evolui! Nesse balaio de imagens que é o Grajaú que recebe festivamente migrantes e imigrantes de braços abertos é que aprendemos a ouvir, em primeiro lugar a nós mesmos. E firmes no propósito de comunicar o que ouvimos lutamos com amor, audácia e foco e seguimos a cada edição da Revista Grajaú emocionados e gratos a todos que compartilham conosco suas histórias e memórias. Por Gi Barauna

Viver no Grajaú nunca foi fácil! Violência, descaso, desemprego.

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revistagrajau Expressão Cultural Periférica (11)95854-6101 JUL/AGO de 2019

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Quem Somos

Expediente

Coordenação Editorial e Edição Valéria Ribeiro MTB 46.158

Equipe Aécio Magalhães Barbara Terra Diego Novaes Gi Barauna Gisele Ramos Guilherme Zillieg Jonathan Alves Keidson Oliveira Michelle Marques Ricardo Negro Susy Neves Valéria Ribeiro Vanderelei Ribeiro Will Mangraff Foto de Capa: Valéria Ribeiro Famílias Venezuelanas acolhidas no Projeto Brasil Sem Fronteiras organizado pela ONG Aldeias Infantis SOS Projeto Gráfico e Diagramação Valéria Ribeiro e Keidson Oliveira Impressão ECP Gráfica & Serviços Tiragem: 8000 Exemplares E-mail: ecpgrafica@gmail.com Espaço Cultural & Gráfica ECP Rua Boaventura Ferreira, 159 Jardim Reimberg (Grajaú) Cep 04845-160 - São Paulo-SP reportagem@revistagrajau.com.br anuncie@revistagrajau.com.br (11) 95854-6101

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO

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O Expressão Cultural Periférica, o ECP, é um coletivo de comunicação e cultura que surgiu em 2012 e atua na articulação sociocultural na região do Grajaú, Extremo Sul da cidade de São Paulo. Nosso objetivo é documentar e divulgar ações culturais e sociais que acontecem especialmente na região onde estamos localizados e contribuir com o fortalecimento da identidade do território. Atualmente atuamos em três núcleos: EDUCAÇÃO: Com oficinas de diversas linguagens em espaços parceiros e em nossa sede. PESQUISA: estudo aprofundado e criação do Centro de Identidade do Grajaú, o CIG, e a produção do livro Histórias e Memórias do Grajaú. COMUNICAÇÃO: A publicação de nossa revista, antiga ECP, e agora Revista Grajaú é o projeto com o qual conseguiremos contribuir grandemente para o nosso território. ECP GRÁFICA: criamos a ECP Gráfica em 2016, por necessidade de imprimir nossa própria revista, que nasceu em 2014. Hoje ela funciona para a comunidade em geral e articula fortemente com os coletivos culturais e sociais do Grajaú. ESPAÇO CULTURAL ECP: No ano de 2019 nosso coletivo foi contemplado pelo 3º Edital do Fomento à Periferia, que patrocinou a construção do Espaço Cultural ECP, anexo a nossa gráfica. Nossa sede abriga a Biblioteca Comunitária Aurelina & Elisa e nosso espaço de informática, com computadores com internet a disposição da comunidade gratuitamente. Em nosso Espaço Cultural também acontecem diversos cursos, todos abertos a comunidade.

Missão: Revista Grajaú Nossa missão é difundir informações sobre o Extremo Sul de São Paulo através de um novo olhar, apresentando com nossas matérias possibilidades para melhorar a vida de quem mora na região, incentivando com isso que se sintam parte do bairro em que residem, estimulando a produção cultural, ações sociais, a economia colaborativa, o desenvolvimento local, a tolerâcia à diversidade e o respeito a todas as formas de vida.

VALORES

Qualidade editorial com excelência e inovação; Informações claras, úteis e comprometidas com a realidade dos leitores. Otimismo e afeição pela região, destacando as qualidades e refletindo soluções para os problemas.

Sumário 03 CARTA AO LEITOR Ouça com Atenção! 05 ARTIGOS Não Sou Louco! 06 GRAJAÚ, MINHA CIDADE A Paz é o Caminho 07 ELAS SÃO BÁRBARAS A Conquista do Espaço da Mulher no Grajaú 08 NA QUEBRADA Nas Águas do Grajaú 09 HISTÓRIAS & MEMÓRIAS Exposição do Artista Ricardo Negro 10 CAPA Arte: Guilherme Zillieg Somos Um, a Imigração no Grajaú

13 TRABALHO Espaço BomBox: A Revolução da Autoestima 14 AÇÃO Não Fique Olhando o Relógio, mexa-se 15 CULTURA Dança Que Transforma Sarau Despertar 16 CULTURA Ateliê Daki, a Galeria da Quebrada 17 OLHAR GRAJAÚ Fotojornalismo DiCampana

Revista

GRAJAÚ

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ARTIGOS

“Eu não sou louco!”

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frase, que dá título a este artigo, é frequentemente dita pelas pessoas. No exercício da profissão e até no meu círculo de relacionamentos alguém sempre tem essa frase na ponta da língua “ir ao psicólogo? Pra quê? Não sou louco!”. Mas não as culpo por isso. Tão importante quanto levar conhecimento a respeito de temas psicológicos é explicar sobre a atuação do psicólogo. A Psicologia é uma ciência nova se comparada a outras como medicina, por exemplo. No Brasil, ela é mais nova ainda, existe somente há 56 anos e infelizmente a periferia tem pouco acesso a esta ciência importantíssima. Mas o que faz um psicólogo? O nosso campo de atuação é bem vasto e vai além do senso comum de “tratar loucos”. Estamos na educação (ou pelo menos deveríamos), no trânsito, nos consultórios, nos hospitais, na economia, e em muitos outros campos. Um dos nossos objetivos é auxiliar o indivíduo a lidar com as suas emoções e ter autonomia sobre si. É claro que cada caso é um caso, então atuamos na demanda de cada indivíduo. Não prescrevemos medicamentos e caso julgamos necessária a intervenção farmacêutica contamos com a parceria da Psiquiatria.

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Psicológolo não é pra loucos, é pra todos! Tem alguma dúvida ou quer sugerir algum tema? Escreva-me!!

Mara_jsilva@yahoo.com.br

Então quando procurar um psicólogo? A resposta ideal seria: agora! Não necessariamente você precisa ter um problema para procurar este profissional, como você já deve ter ouvido “é melhor prevenir do que remediar”. Assim como frequentemente você faz um checkup do seu corpo (se não faz é importante considerar fazer) sem estar doente, vá ao psicólogo antes das coisas ficarem difíceis. Tão importante quanto cuidar da saúde física é cuidar das emoções.

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Grajaú, Minha Cidade

A paz é o caminho

Por Gi Barauna

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á 20 anos o Grajaú viveu uma ebulição de acontecimentos que emociona a muitos quando lembrado. O EVENTO PELA PAZ NO GRAJAÚ envolveu pessoas de diversas “comunidades” em prol de um único objetivo, criar um laço de paz para diminuir o índice de violência que aumentou desordenadamente na última década. Paolo Parisse, que naqueles anos atuava como pároco na Paróquia Nossa Senhora dos Migrantes, no Pq. Residencial Cocaia, foi um dos idealizadores do projeto e explica alguns dos objetivos que os levou a sua criaçao, que se iniciou devido a dois episódios de violência ocorridos nos últimos meses de 1999. O objetivo era “fortalecer o sentimento de pertencimento ao bairro, quebrando barreiras para assumir o local que mora, mostrar que o Grajaú não é um local somente de violência, incentivando o eixo criativo e cultural dos jovens, as praças e ruas foram escolhidos para que esses percebessem que esses eram seus locais de atuação “. Uniu-se a eles, ONG’s, institutos, outros segmentos religiosos, projetos sociais e todo um Grajaú cansado de perder seus “filhos” para violência. Em 21 Maio de 2000 o Grajáu recebia o primeiro Evento pela Paz com o Lema: “A paz que nasce hoje é a certeza do amanhã” Segundo Dego Barauna, (coordenadora de 2004 e 2011), “para essa ação ter força os integrantes iniciavam meses antes os encontros para definir o tema, lema, desenhos de camisetas que eram marca registrada nos eventos” . Os inscritos enviavam suas poesias, dançarinos, músicos, atores se apresentavam a profissionais em locais pré determinados.

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Paolo Parisse e Dego Barauna

Fernanda Costa e Dego Barauna

No dia das apresentações tudo se iluminava, o distrito recebia diversas oficinas, contação de história, atração circense, pista de skate, grafite, pintura de rosto e as ruas ganhavam cada vez mais cores com camisetas coloridas, bandanas, adesivos e fitinhas que firmavam o lema escolhido no ano. Fernanda Costa, (coordenadora de 2005 e 2013) afirma que escolheu caminhos e que fez escolhas assertivas no decorrer da vida graças ao que viveu naquele período. Lembra que acompanhou jovens em seus primeiros passos no teatro, na música ali no palco do evento e alguns atualmente têm suas carreiras consolidadas. Recorda emocionada que um dia fez um comentário com o padre sobre o cansaço, o desgaste de buscar premiação e estrutura para o evento e ele respondeu com doçura. “olha que interessante, pense que enquanto esse jovem está compondo ou escrevendo uma poesia, ele está deixando de cometer um ato de violência, ele foi incentivado a pensar na cultura de paz”. Dessa ação está fortemente estabelecido o Centro de Convivência Santa Dorotéia que recebe crianças e jovens desde os anos 2000 e uma das missões é o auxílio a famílias com atividades culturais e sociais, e claramente continua alimentando a cultura de paz no Grajaú. O Evento Pela Paz no Grajaú auxiliou no protagonismo jovem na construção de uma sociedade mais fraterna e cidadã por 13 anos consecutivos, e cumpriu a tarefa com maestria. “A paz que nasce hoje é a certeza do amanhã, porque a paz leva a vida, e sim! É uma tarefa da humanidade porque é o único caminho, é dentro de mim, de você que ela está. Sozinho eu não consigo só contigo sou capaz de resignificar a corrente pela vida, para comemorar 20, 30 anos mais”.

Arte: Guilherme Zillieg


Elas São Bárbaras

A CONQUISTA DO ESPAçO DA MULHER NO GRAJAú Acolhimento e capacitação: Associação de Mulheres do Grajaú retoma atividades em prol do público feminino da região. Por Michelle Marques

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mundo gira”, “A vida anda”, são dize“ res comuns no dia a dia das pessoas, principalmente no cotidiano das mulheres, que constantemente têm seu espaço resignificado na sociedade. Uma pesquisa do Boston Consulting Group de 2016, aponta que nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 25% no percentual de riqueza produzido apenas por mulheres, esses números evidenciam o potencial econômico e desenvolvedor feminino. Trazendo esses dados para um exemplo mais próximo, a Associação de Mulheres do Grajaú, atua há 37 anos no acolhimento e orientação das mulheres do distrito mais populoso da cidade de São Paulo, fornecendo atendimentos e cursos que capacitam e incentivam a autonomia da mulher grajauense. Fundada em 13/06/1982, por mulheres do bairro, as lutas iniciais se concentravam principalmente em trazer melhorias básicas para a sobrevivência como: educação, saúde, saneamento básico, entre outras, além de abrigar mulheres que fugiam de perseguição em tempos de ditadura e muitas chegavam acompanhadas dos filhos e permaneciam no local por se sentirem protegidas. Com o desenvolvimento tecnológico e educacional, as mulheres passaram a ganhar mais espaço e assim ocupar mais postos no mercado de trabalho o que causa um impacto financeiro significativo na renda familiar, pois segundo dados do IBGE, 37% dos lares brasileiros são chefiados por elas. Mas pareado a este crescimento, nota-se uma sobrecarga nas atividades femininas, onde a mulher se vê responsável por trabalhar fora e ainda cuidar da casa e dos filhos, além do constante aumento dos casos de violência de gênero. Por este motivo, locais como a Associação de Mulheres se fazem tão importantes na mediação dos diálogos entre a mulher e o meio em que ela vive. Segundo a presidente da entidade, Cristiane Araújo, que também atua como assistente social, é muito importante ressaltar que a

associação está de portas abertas para acolher e orientar mulheres em situação de risco e também incentivar que as mesmas se capacitem profissionalmente para alcançarem independência financeira e para isso, a instituição oferece mais de 23 cursos a preço de custo. Para o jornalista José Claudio de Paula, que também atua na entidade, é muito importante mostrar os pontos positivos do trabalho, o objetivo é “levantar a bola da mulherada revelando o seu potencial”. Para a gestão de Cristiane, iniciada em janeiro deste ano, cursos como Panificação, Manicure e Pedicure, Corte & Costura, Cabelereiro, Estética entre outros, fornecem a mulher do Grajaú a oportunidade de conquistar sua independência financeira, além de contribuir no fortalecimento da autonomia e no exercício de cidadania. Como a entidade é mantida por doações e associados, os cursos não são gratuitos, porém, os valores das mensalidades são condizentes com a realidade do bairro para que todos os interessados tenham oportunidade de acesso e para se inscrever é necessário comparecer a associação durante o horário de funcionamento que é de segunda a sábado das 09h às 16h para verificar a disponibilidade de vagas.

Fotos: Juan Marques

Tâmara Vicentini e Cristiane Araújo, que a atuam na Associação

Serviço: Associação de Mulheres do Grajaú Rua: João Batista Barroso Filho, 183 Pq. Grajaú – Em frente à igreja católica do Grajaú Tel.: (11) 5925-3472 (11) 98035-8058 Segunda a Sábado: das 09h às 16h.

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nas águas do GRAJAÚ Por Valéria Ribeiro

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Fotos: Gi Barauna e Valéria Ribeiro

Na Quebrada

Ferruge arruma colete de Victor sob o olhar de Ariane e Romana Honorato, família que participou do roteiro

avegar pelas águas da Represa Billings e olhar as casinhas da quebrada de uma outra perspectiva, aqui a natureza reverbera tranquilidade e o trânsito da Belmira Marin não exerce seu efeito estressante. Foi assim que no último dia 25 de julho tive essa vivência intensa nas águas do Grajáu, fazendo turismo náutico no roteiro Grajaú-Ilha do Bororé, um passeio imperdível onde história ,cultura, culinária e esporte se misturam. Esse passeio de aproximadamente 3 horas em que você pode se adentrar em um universo diferenciado do Grajaú é realizado pelo Espaço Meninos da Billings, no qual Adolfo Duarte, o Ferruge, juntamente com Rogério Nunes e William Silva fazem uma exploração terrestre e náutica em parceria com outros coletivos da região. O passeio teve início no Pier Lago Azul, passando pelo Parque Jd. Prainha e indo aportar na Ilha do Bororé. Ariane Honorato, moradora do Cantinho do Céu, trouxe a família pra fazer o passeio. Ela diz que achou muito bacana a iniciativa porque normalmente os passeios são longe. Na Casa Ecoativa, na Ilha do Bororé, pudemos desgustar a comida natural de Kim Alecrim e Luciana Aparecida, deliciosa e totalmente orgânica. Em seguida caminhamos até a Capela de São Sebastião, construída em 1904, onde Ferruge nos conta as histórias e curiosidades locais. Pudemos conhecer também um comércio com mais de 100 anos de história, com fotos antigas e cachaça artesanal. Nesse mesmo dia o Meninos da Billings realizou o projeto Remada na Quebrada, com crianças e adolescentes do CCA Conosco Gaivotas, onde o trio fala com as crianças e adolescentes sobre a importância da represa, sua história e sobre cuidados com o meio ambiente. Apresentam projetos como a lixeira reciclável e a prancha de stand up, ambos feitos com garrafas pets retiradas da represa. Além disso eles colocam as crianças na água e dão orientações para que deem suas primeiras remadas. Para Raquel Nascimento, assistente técnica da CCA Conosco a questão naútica é algo muito distânte da realidade das crianças e ter essa vivência é “outra alternativa de conhecimento, é enriquecedor pra eles enquanto moradores do bairro, se apropriando da natureza e ocupando esse espaço que é deles.”

Informações e Agendamentos Adolfo Duarte (11) 95345-7622 meninosdabillings@gmail.com Parque Linear Cantinho do Céu www.meninosdabillings.org JUL/AGO de 2019 8 REVISTA GRAJAÚ www.revistagrajau.com.br


Exposição Histórias & Memórias do Grajaú

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Coletivo Expressão Cultural Periférica apresenta a exposição Histórias e Memórias do Grajaú, do artista plástico Ricardo Negro, que reúne obras de diferentes momentos de sua carreira. O acervo consiste num pequeno recorte de memórias e vivencias que o artista teve ao longo de sua vida dentro do distrito do Grajaú, em especial Cantinho do Céu, bairro onde cresceu e escreveu muitas páginas de sua história. Negro conhece o universo da arte a partir do graffiti, é formado em artes visuais, já participou de diferentes projetos dentre eles destacam-se a parceria com Havaianas projeto “Retratos do Brasil”, parceria com galeria Roberta Britto onde participou de variadas exposições, e AES Eletropaulo atual ENEL, “Projeto Recicle Mais Pague Menos” com a pintura de containers. Embora sua pesquisa seja sobre as várias periferias e favelas do Brasil sua maior referencia é o Grajaú, como parafraseia: “Grajaú é meu lar, conheço a Belmira de ponta a ponta, nem preciso falar do Cantinho do Céu, Cocaia, Gaivotas e bairros vizinhos onde brinquei durante toda infância, tudo que aprendi vem daqui, observando as histórias dos meus vizinhos, as lutas, a cultura... Vi a água encanada chegar, o asfalto, vi e vejo a transformação desse cantinho da cidade. Fiquei um bom tempo expondo fora, participei de várias coisas, agora sinto que é hora de voltar ao inicio, a essência.

Nós sabemos contar nossa

francisco.costadossantos.16

Ricardo Negro autografa Havaianas que apresentou sua obra sob outra perspectiva Nada melhor do que expor as “casinhas” para as pessoas que vivem nela”. A exposição acontece em edições mensais e conta com aproximadamente 20 obras, algumas peças já participaram de eventos em outros estados e no exterior. Além disso o projeto conta com bate-papo sobre carreira e processo criativo.

Saiba +

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o dia 08 de Junho fomos em busca de mais uma história que não queremos que fique perdida e/ ou que seja contada por outros, somos nós, moradores deste distrito que ferve de conhecimento, é quem devemos contar nossa riquissíma história. Para nos contar um pouco como foi o início do Parque Residencial Cocaia a Revista Grajaú visitou a Associação Cultural Cariri na rua Vereador José Gomes de Moraes Neto e conhecemos a história de Francisco Costa dos Santos, que chegou em São Paulo em 1975 e em 1981 já tinha sua casa erguida no início da construção do bairro. Foi se envolvendo com a comunidade que crescia velozmente e uniu-se a um grupo de amigos preocupados com a demanda das necessidades básicas existentes naquele momento e em 1983 fundou a Associaçao de Moradores do Parque Residencial Cocaia na rua Demas Zitto, 537. Atualmente, nesse endereço está instalada a UBS (Unidade básica de Saúde), que foi construída para auxiliar a grande demanda do bairro, agora na área da saúde. Engana-se quem acha que ele ficou longe dos projetos sociais, Costa, como é conhecido saiu do Ceará em 1975, tornou-se professor e escritor, têm 5 livros publicados, alguns títulos da literatura de Cordel. Em Maio de 1999 abre as portas da Associação Cultural Cariri e continua auxiliando moradores e amigos do bairro. JUL/AGO de 2019

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Capa

SOMOS UM

Por Valéria Ribeiro

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ue o distrito do Grajaú é o mais populoso da capital não é novidade pra ninguém, mas pelas andanças que temos feito, entre ruas e vielas, descobrimos que mais e mais é um dos mais ricos culturalmente. Isso com certeza se deve a variedades de pessoas que migram e imigram para esse pedaço de terra do Extremo Sul de São Paulo. Desde os idos dos anos 60, quando temos notícias das pessoas que começaram a comprar seus terrenos e fincar o pé por aqui já se vão praticamente 60 anos. A grande maioria da população daqui é migrante ou filha de migrante, como essa que vos escreve. Hoje no entanto percebemos que abrimos as fronteiras para o mundo. Para fazer essa reportagem falei com pessoas do Haiti, Nigéria, Senegal, Venezuela, Argentina, Bolívia e Estados Unidos.... e só não falei mais por falta de tempo. Diversos idiomas, diversas vidas, cada qual com sua história e que encontraram no Grajaú um lar, que os acolheram, assim como acolheram antes nossos pais. Me dirijo ao Terminal Grajaú e me deparo com vários vendedores ambulantes na frente, a maioria africanos, dentre eles estava Mustapha Kane, 27, nascido no Senegal, na capital Dakar, África, há cinco anos vivendo no Brasil. Morador do bairro da República, no Centro, trabalha no Grajaú desde que chegou ao país, juntamente com seu irmão Mamadou Kane, 25, conhecido como Edu, um rapaz brincalhão e bem humorado que passa dizendo que é o Senegalês mais bonito do Grajaú. Nesses cinco anos Mustapha se apaixonou pelo Brasil, fala o português muito bem. Talvez seja porque o rapaz já viajou por mais de 12 países, inclusive morou na França, onde ainda hoje mora sua família. Saiu do Senegal aos 19 anos, viajando e conhecendo culturas. Fala Espanhol, Árabe, Francês, Português, Inglês e Wolof, dialeto local de seu país. Kane hoje, completamente legalizado no país, prefere viver no Brasil a viver na França, o que para nós brasileiros muitas vezes é uma escolha que não compreendemos, ao que Mustapha esclare dizendo que gosta mui10 REVISTA GRAJAÚ

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to do Brasil, da cultura, do povo, que a perguntar mais sobre a história dele, inclusive segundo ele, é muito pareci- mas acho que ele fugiu mesmo foi do da com a cultura senegalesa, um país meu péssimo inglês, que estou tenacolhedor, com pessoas acolhedoras, tando melhorar com Jordan Fields, diferente de algumas culturas mundo um americano, pra nós brasileiros, um afora. Ele se preocupa um pouco com afro-americano nos Estados Unidos, a questão do trabalho, pois ele, como que dá aulas de inglês aqui no Grajaú. todos os outros vendedores ambu- Jordan é morador do Capão Redondo lantes na frente do terminal, sofrem há três anos, desde quando chegou ao bastante pressão da polícia. Acredita Brasil e vem para o Grajaú toda quarque é preciso respeitar os camelos e ta-feira para ensinar inglês com seu estrangeiros que querem trabalhar. projeto Inglês Na Quebrada, que aconOutro bom papo que tive foi tece no Espaço Cultural & Gráfica ECP. Para Jordan a maior dificulcom Lougens Cine Kap, 26, Haitiano, dade foi o idioma, que hoje fala muito que não fala português, pois está sobem. A barreira cultural também foi mente há três meses no Grajaú, conum desafi o, pois muitas vezes coisas versamos em espanhol. Kap saiu de comuns a sua cultura não eram vistas casa com 18 anos e foi viver na Repúcom bons olhos por aqui, como por blica Dominicana, na América Central, exemplo a questão da coletividade. vizinha do Haiti. Lougens, que “abrasi“Principalmente na periferia voleirou” seu nome para Lucas também cês tem uma coisa com a coletié um dos vendedores ambulantes que vidade que a gente simplesmentrabalha na frente do Terminal. Rapaz muito simpático e educado, vive com a irmã e o cunhado próximo ao seu local de trabalho. Ele conta o quão é difícil a vida no Haiti, trabalho escasso e com pouco ganho e diz que apesar do Brasil estar em crise ainda é muito melhor para se viver do que em seu país. Conversando Jordan Fields com a companheira brasileira Lena Silva com ele sentimos uma grande cone- te não tem, mesmo no gueto”. xão, de alguém que assim como nós Tem também o preconceito brasileiestá em busca de seus sonhos e busca ro, quando alguém o apresenta como dias melhores. Luta da grande maioria “americano” as pessoas o tratam melhor dos moradores do nosso Grajaú. Ao do que quando pensam que ele é afrime despedir ele brinca, dizendo “Fica cano ou da américa central. “Ninguém com Deus minha filha” imitando o sota- pensa que sou de lá”, fala o rapper. Muique mineiro, mostrando que já está se tas vezes não gosta de falar que é afroadentrando na nossa cultura e conhe- -americano, como prefere ser chamado, cendo um “cadinho” do povo brasileiro. pois segundo ele rende uma conversa longa, “porque as pessoas sempre acham que seria melhor eu estar lá e ão tantas vidas, tantas lutas, tan- não aqui”. Quando as pessoas fazem tas histórias que é difícil escolher essa comparação estão utilizando o com quem falar. Tentei conver- estereótipo mostrado na mídia de que sar com um rapaz nigeriano, mas ele a vida de todos é sempre melhor nos só falava inglês e acho que ficou um EUA. Para Jordan, se as pessoas que fapouco desconfiado quando comecei zem essas afirmações vissem o EUA por

verdade americana

S


meio de seu olhar iriam ter outra opinião. “Eu entendo, É por falta de conhecimento da nossa história, da nossa luta, da nossa dor. Talvez ouviram falar de Martin Luther King, Malcon-X, talvez eles saibam nomes mas não sabem exatamente o que aconteceu, como aconteceu e como ainda está acontecendo e qual a forma que ainda está acontecendo.” desabafa. Jordan faz música, algo que sempre quis fazer, aqui a produção musical é muito mais barata do que nos EUA, o que propiciou a ele seguir seu sonho. “Eu sempre quis investir na minha arte, mas eu não consegui fazer lá.” Segundo Jordan o problema da violência lá é muito maior do que aqui no Capão Redondo. “A gente fica basicamente na prisão em nosso bairro, em nossa cidade, porque quando a gente vai nas cidades que são brancas é difícil, porque é um preto dirigindo, então “vamo” parar ele, ver o que que ele tem dentro do carro”. É muito fácil ir pra prisão, é um jeito de escravizar as pessoas lá, fala Jordan e os números não mentem. Segundo o site operamundi. uol.com.br, que traz alguns estudos sobre os EUA, 50% da população carcerária estadunidense é composta por negros, em contrapartida a população norte-americana é composta por 12% de afro-americanos. Jordam finaliza: “Eu adoro estar aqui, eu acho que está melhorando minha vida, mudando coisas em mim que foram já erradas, que tinham que mudar..Essa junção de cultura brasileira com a cultura que já tenho tá me fazendo uma pessoa melhor”. Assim como aprendo hoje inglês com Jordan aprendi Espanhol anos atrás com a chilena Paulina Cesped, que me fez me apaixonar pela cultura chilena e latina e me tirou do limbo que acredito que muitos brasileiros ainda estão de só olhar pra cultura americana e europeia e não perceber o quanto tempos em comum com nossos irmãos latinos.

Maria Juvenal Homem de Mello no Jd. Castro Alves. Joselin veio de La Paz direto para o Grajaú aos 7 anos de idade. Seu pai, que já havia saído da Bolívia em busca de melhores condições de vida, trabalhava aqui no Brasil e resolveu trazer a família. Joselin conta que nessa época morava na frente da escola Nair Toledo, onde estudou, também no Jd. Castro Alves. Para ela foi um período difícil, pois não sabia falar o português e além disso era muito tímida. As pessoas olhavam para ela e achavam que era índia, e sofria com o bullying. “Era uma época muito difícil para mim os primeiros anos no Nair Toledo...Infelizmente o imigrante acaba sofrendo preconceito e isso acontece até hoje”. Ao crescer e ir para a Escola Maria Juvenal as coisas começaram melhorar, conheceu as amigas Larissa Cristina, Izabel Souza e Rafaela da Paz, que se tornaram suas irmãs, pois foram as primeiras amigas que teve no Brasil. São amigas até hoje. Dos 13 anos que vive no Brasil 12 foram no Grajaú, mudou ano passado para a região do Brás, onde tem um negócio próprio. “Vivi minha vida no Grajaú, tenho sangue do Grajaú.” Joselin lembra emocionada quando a música Meteoro da Paixão, de Luan Santana, seu cantor favorito até hoje, fez grande sucesso e ela pela primeira vez conseguiu entender completamente a letra. Voltou a La Paz em 2010 e ficou feliz por não ter esquecido seu idioma nativo. “Tenho muito orgulho de meu país, tenho duas nacionalidades, sou tanto brasileira quanto bolivia-

Criança Estrangeira

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omo é para uma criança que tem de sair de seu país, deixar pra traz sua família, seus amigos, sua cultura e seu idioma? Foi assim para a Boliviana Joselin Gabriela Carrillo, 20, nascida em La Paz. Uma menina meiga e sensível que conheci na Escola Joselin Carrillo

Crédito: Júlia Griebel

Somos Um só

do graja pro mundo

Pitoniza Gómes Resistência Pugnaz, esse é o nome de um grupo de RAP formado com artistas do Grajaú do qual a argentina Pitoniza Gómez faz parte. Mulher negra e latina, Pitoniza chegou ao Grajaú em abril de 2018 e traz suas histórias, sua religião, seus valores, a rua, o rap, e o hip hop por inteiro. Em sua bagagem aprendizados de quem teve uma vida difícil e passou por muita coisa nas “calles” do bairro Guernica, extremo sul de Buenos Aires. Veio para o Brasil aos 20 anos em 2016, fugindo da economia argentina. Morou no Rio de Janeiro por dois anos e veio para o Grajaú, pois queria continuar sua carreira no Hip Hop, que iniciou na argentina. Já em São Paulo conheceu o rapper Lauro Pirata, do Grajaú e foi se envolvendo na vida cultural do território. Sempre sofreu muito preconceito na Argentina e no Brasil muitas vezes isso acontece também. “Sou muito preta pra argentina, e sou muito branca pra ser negra no Brasil... Não sou suficiente pra nenhum lugar” analisa ela, que hoje em é totalmente em paz consigo mesma, independente das “caixinhas” de estereótipos que a sociedade nos impõe. “Eu tenho muito claro quem que eu sou. Tem branco e tem preto, eu sou preta”. Atualmente desenvolve o Projeto “Do Graja pro Mundo”, local onde se identificou e se sente em casa. Pitoniza é uma das faces do Grajaú, essa miscelânea cultural que acolhe todos, “acordo cedinho pra fazer minhas responsas”, diz ela com sotaque espanhol e usando a gíria da nossa periferia. “A quebrada que me tocou, que me sinto referenciada, que me sinto identificada é o Grajaú... Não me tocou o coração outra quebrada”. JUL/AGO de 2019 REVISTA GRAJAÚ 11 www.revistagrajau.com.br


Somos Um Só

Diáspora Sul-Americana

Por Valéria Ribeiro

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crise na Venezuela tem se agravado nos últimos anos, é o maior fluxo migratório da América Latina na atualidade. O povo venezuelano tem atravessado as fronteiras de nações da América do Sul, como Brasil e Colômbia, principalmente, mas de outros países também. Historicamente o país sempre recebeu imigrantes, incluindo muitos que fugiram das ditaduras latinas nos anos 60 e 70. Hoje os refugiados tem fugindo da fome, da violência e da escassez de medicamentos. As pessoas passam até dias nas filas para comprar comida e não conseguem, não tem pra todos, mesmo que haja dinheiro pra comprar. Isso faz com que as pessoas comecem a cruzar as fronteiras em busca de uma vida melhor para sua família. O governo federal em parceria com a Acnur, que é a agência da ONU para refugiados, começou a trabalhar a interiorização dos refugiados no país. As pessoas chegam na fronteira pelo estado de Roraima, e pela quantidade excessiva fica inviável a vida, tanto para os venezuelanos tanto quanto para quem mora na região. Por causa disso algumas organizações tem feito parcerias com o governo para ajudar nessa situação. A organização Aldeias Infantis SOS, que está no Brasil há mais de 40 anos e foi fundada depois da Segunda Guerra Mundial por Hermann Gmeiner, tem acolhido parte dos refugiados por meio do projeto Brasil Sem Fronteiras. A unidade Aldeias Infantis SOS – Rio Bonito está no Grajaú há mais de 40 anos e atua com projetos como Casa Lar, com duas Casas Lares com 20 crianças no total, Casa de Oportunidade, que atende 60 adolescentes de 15 a 21 anos e que trabalha desenvolvimentos políticos, sociais e mercado de trabalho, a UBS – Saúde da Família e a CEI, um convênio com a prefeitura que atende 300 crianças. Desde de março de 2018 quatro casas dessa unidade vem recebendo famílias venezuelanas que precisam de apoio para serem inseridas na sociedade e terem direitos básicos garantidos. A proposta dessas casas é que seja um trabalho de fortalecimento até que eles consigam ser incluídos na comu12 REVISTA GRAJAÚ

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nidade e serem autossuficientes. É um trabalho de inclusão social. O projeto faz a facilitação para que acessem saúde, educação, e constroem com eles um mapa da comunidade, mostrando os serviços que tem e como podem acessar, é um exercício de cidadania. “Quando alguém resolve deixar suas raízes, seu lar, sua família em busca de uma vida melhor é porque realmente a vida que estão levando as deixa em estado de vulnerabilidade.” É o que diz Ilma Pereira dos Santos, que é Assistente Social do Projeto Brasil Sem Fronteiras, atua na parte pedagógica e ajuda na coordenação. Ela conta que receber o primeiro grupo foi muito emocionante: ”as pessoas romperam com usas casas, com suas famílias, romperam com seus bairros, atravessaram fronteiras, em busca de uma nova possibilidade”. Até chegarem no Grajaú enfrentaram uma grande jornada, de fome, sofrimento e superação, relata Ilma. Eles tem aulas de português e cursos em outras instituições como o

Instituto Santa Marta. A unidade já recebeu mais de 78 venezuelanos, hoje são em 43, eram em 50 mas duas famílias conseguiram suas casas recentemente. São muitas histórias de luta e superação como a de Andreina Siso, 28, vivia com sua família e fazia faculdade, estudava construção civil e já estava terminando. Não terminou porque estava grávida de seu filho mais novo e a situação financeira foi piorando por conta da crise do país. “Eu cheguei aqui graças a Maduro, ele que fez com que todos saíssem do país”. Fala ela se referindo ao presidente Nico-

lás Maduro. Quando Andreina chegou a Roraima estava com 6 meses de gravidez, trouxe consigo também o filho de dois anos. Dormiu na rua durante dois meses, até que uma igreja ofereceu abrigo. “Chorava muito, um frio horrível, só tinha um cobertor.” Conta ela que vendia pirulito, e fazia bicos para sobreviver. A família está há 4 meses no Grajaú e o marido, Jesus Siso, 27, já conseguiu emprego em uma empresa parceira do projeto, a Sodexo. Andreina já está compreendendo o português e escrevendo. Seu sonho é conseguir um emprego e guardar dinheiro para ver a família, ver a mãe, que faz 2 anos que não vê. Tania, 33, irmã de Andreina, também veio para o Brasil. Particiou até de um processo seletivo para participar da novela “Órfãos da Terra” mas não conseguiu chegar a fase final. Tania, que também trouxe os filhos é bem comunicativa e brincalhona e já conseguiu emprego em um mercado da comunidade. Os filhos já estão na escola e já falam bem o português. “Estamos agradecidos aos brasileiros, que estenderam suas mãos. Aqui tenho mais oportunidade de trabalho.” Roscely Daniela Zambrano, 24, veio em 2017, vendia frutas e colocava uma placa dizendo que fazia faxina, pra trabalhar. Viveu sete meses no Bra-


Trabalho sil e depois voltou pra Venezuela, mas viu que não dava pra ficar em seu país, voltou para o Brasil com duas filhas. É uma pessoa bastante religiosa. Morou em um abrigo em Roraima e se cadastrou para vir para São Paulo, mas tinha medo por conta do que as pessoas falavam e o que a televisão mostrava. “Todo o mal de São Paulo era passado na Televisão, mas não é assim como falam na televisão”. Falante, antenada e dedicada aos estudos, tinha seu próprio negócio na Venezuela. Passou por maus bocados desde que a crise de seu país se intensificou. Morou um tempo em Boa Vista até se cadastrar pra vir pra São Paulo. No meio das adversidades aprendeu a se superar, pois é filha única e casou com 16 anos, não sabia o que era sair, se desenvolver, explorar. “Quero fazer coisas, quero aprender, já fiz 8 cursos, por meio do SENAI, tenho vontade de fazer muitas coisas. Meu maior sonho é fazer curso de enfermagem e cuidadora de idosos”, finaliza ela. Eis que somos todos cidadãos do mundo. Um dia algum rei colonizador definiu limites para as fronteiras da terra, onde todos nós nascemos, dizendo que não podíamos atravessar se não tivéssemos vistos, documentos e tal, e nos nomeou estrangeiros e nosso próprio mundo. A terra é cheia de riquezas e se todos nós tivermos oportunidade de trabalhar e conseguir o pão de cada dia de forma digna e justa não mais teremos que nos apegar a estereótipos impostos por colonizadores que nos fizeram acreditar ao redor do mundo que somos diferentes e que ao atravessarmos linhas imaginárias somos estrangeiros.

Quer Ajudar?

* Doe roupas e brinquedos * Móveis para que possam montar suas casas *Oportunidades de Trabalho (Alguns já tem uma profissão e formação acadêmica) INFORMAÇÕES: Aldeias Infantis SOS – Rio Bonito Av. Manuel Alves Soares, 712 Jardim Colonial, São Paulo - SP CEP 04821-270 - (11) 5663-6881 SAIBA MAIS: Acnur - agencia da ONU para refugiados (www.acnur.org/portugues).

Barbara Terra

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Espaço Boombox: A revolução da autoestima através da estética negra periférica

ocê que é preta e preto, sabe como é difícil encontrar profissionais especializados em cuidar do cabelo afro. Não é mesmo? Só nós sabemos como é difícil achar produtos adequados para hidratar devidamente nossos cabelos crespos e cacheados. No início dos anos 2000 pra cá, com os avanços da tecnologia através da internet, ampliou-se uma rede de comunicação expansiva, e foi dessa mesma rede que a periférica pode acessar mais espaços e buscar mais referências. Referências que valorizasse no black, que houvesse uma identificação, que pudéssemos nos reconhecer. Porque até então, o que tínhamos era uma ferida histórica gerada em nossa autoestima e uma identidade invisibilizada gritando por liberdade e empoderamento. Justamente com essa finalidade, de reparar o contexto histórico e reconstruir a identidade preta, dentro das periferias, nasceu o empreendimento social, Espaço Boombox. Um salão de beleza com o olhar voltado para a autoafirmação estética negra periférica, gerenciado por Mariana Rosa, Sarah Lidiane, Diogo Emanuel e Levi Silva, quatro jovens pretxs do entorno do Grajaú. O Boombox saiu do papel, tomou vida e abriu suas portas em 2017, logo após um dos integrantes ter concluído o curso “Despertando o Empreendedor”, da Escola de Negócios da Periferia - Empreende Ai. O espaço se mantêm através da liderança compartilhada e de forma autônoma desde então. O Ambiente é super versátil e descontraído, música boa, gente bonita, boas trocas e ótimo papo.

“No início foi bem difícil! Se sustentar financeiramente e ainda pagar as contas do espaço é bem desafiador. Não parecia que era um trampo. Tudo era investimento e o dinheiro chegava meio pingado. Nosso objetivo sempre foi trabalhar com qualidade, preço justo e acessível para quebrada. Fomos pensando em novas estratégias e reforçando as divulgações no boca a boca e na internet, conseguimos acessar mais clientes e começar a atingir outras regiões e outras periferias. Mesmo com as dificuldades, vale a pena, tem que manter o foco e não desanimar.” Comentou Levi durante nossa conversa. Hoje o Boombox está em processo de extensão para workshops, oficinas e rodas de reflexão, provocando o diálogo sobre a beleza negra periférica, abordando a importância do autocuidado, a valorização das raízes e auxiliar no processo da transição capilar para jovens e adultos dentro das escolas públicas, centro de jovens e casas de cultural. O Espaço Boombox tem uma ótima localização, fica entre o Terminal Grajaú e o Centro Cultural Grajaú. Fácil acesso e aceita todos os tipos de cartões. Vai lá conhecer!

Endereço Rua Nélson Gebara, 28 Grajaú - Telefone 11 96828-8733 @espacoboombox JUL/AGO de 2019

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Não fique olhando o relógio, faça como ele: Mexa-se

Arte: Guilherme Zillieg

Ação

Por Gi Barauna

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uantas vezes cruzamos com pessoas nas ruas fazendo algo inusitado? E quantas delas tivemos a oportunidade de saber suas histórias? Há mais ou menos um mês vi uma foto na rede social Instagram e me chamou muito a atenção porque ele carregava uma cartolina que dizia: “Quero realizar um sonho, tudo tem um começo”, e descobri uma história de motivação, incentivo e sonho. O jovem de 20 anos, começou a ajudar os amigos com vídeos quando ainda frequentava o ensino fundamental na escola mineira onde estudou, a produção era pelo celular, sem muita tecnologia e agradava muito seus “clientes” e foi o que o fez pensar que era uma boa área para investir, estudou tutoriais aprendeu muito e verificou que precisava ter alguns equipamentos que o auxiliasse na qualidade do trabalho. Dentre eles, um item muito importante era um notebook capaz de suportar as ferramentas que ia rodar nele, e assim tudo teve inicio. Gabriel veio para o Grajaú em 2018 depois de receber o convite para estagiar na Vila Filmes, produtora localizada na Vila Mariana a convite do proprietário e cineasta Pedro Ferrarini com quem sua mãe Juvania Pereira trabalha. Mãe zelosa contou ao patrão que o filho produzia vídeos, que era muito criativo e foi logo convidado. “Aprendi muito, tive contato com pessoas envolvidas no mundo que queria trabalhar, além, de animadores, coloristas e designers de criação eu recebia conselhos administrativos, de como traçar metas, ter foco no trabalho, dedicação e diversas outras dicas sobre criação de vídeos do Pedro”, explica Gabriel, que acompanha o Youtuber Thiago Fonseca idealizador do Canal Boom e foi após ouvir uma fala do palestrante que decidiu que vender doces era a solução para o seu “negócio”. Foi escolhido a quarta feira de cinzas deste ano para iniciar o seu projeto e diz que “não foi fácil, parou em um determinado ponto da Avenida Dona Belmira Marin e pensou, pensou muito na vida no que poderia alçancar se desse esse passo” e seguindo sua intuição seguiu em frente, tendo a certeza que tudo daria certo e foi o que fez, tomou coragem atravessou a rua e no ponto de ônibus abriu

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@gabrieldavid Gabriel David Gabriel David

sua cartolina e abordou uma pessoa e nada, outra e outra, ouviu muita gente dizendo que o que fazia era nobre. Dona Expedita, moradora do Grajaú e hoje amiga do rapaz, sempre que podia comprava suas barrinhas, relatou a Revista Grajaú que dizia sempre a ele que se orgulhava muito, que ele poderia viver de baladinha mas não, ele levantava muito cedo e podia estar chovendo lá estava ele com sua mochila e sua caixinha na mão. Gabriel utilizou o conhecimento que aprendeu como estagiário, pagava R$ 8,60 em uma caixa com 20 barrinhas e lucrava R$ 11,40 por caixa, utilizou uma meta de vender 5 caixas por dia a sexta levava para casa para vender no dia seguinte. Em Maio Gabriel postou uma foto no seu intagram com a imagem do notebook comprado com a ajuda daqueles que acreditaram no seu sonho. O Senhor Bráz que possui um barraca de café próximo ao Terminal Grajaú compartilhou conosco que “sempre dizia que a forma que ele escolheu para vender era inovadora, que ele devia buscar novas ideias, que essa forma de atuar com a escrita estava dando muito certo”. Gabriel David de Oliveira voltou para Espinosa - MG em Julho desse ano com um notebook, uma câmera Go Pró e um conjunto de caixinhas de som doados pelo amigo Pedro Ferrarini. Mas, essas não foram as únicas coisas que levou consigo mas, sim muitos amigos, maturidade, conhecimento e gratidão a todos que o ajudou. Gabriel nos ensinou que a confiança, paciência é o caminho para chegarmos onde queremos. A determinação desse jovem é o que deixamos de exemplo para você acreditar em você, em você!


Cultura

Dança que transforma

Por Cris Demétria

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dança é uma linguagem da arte, foi uma das primeiras demonstrações expressivas do ser humano e causa encantamento até hoje. Ela é social e transformadora. Atualmente a região do Grajaú abriga muitos espaços em que você pode aprender a dançar. Tem os mais variados estilos, para todos os gostos. Hoje falaremos sobre a dança de salão. Existem escolas de danças particulares, mas existem também diversas atividades gratuitas. A Revista Grajaú foi atrás de um desses lugares e das pessoas envolvidas, o coletivo Flor da Pele, atuante no CEU Navegantes, no bairro do Cantinho do Céu. O coletivo elabora atividades na prática das danças de salão, no desenvolvimento corporal, na socialização e na produção artística com foco em jovens e adultos. A artista oficineira Dandara Andrade, 20, está no coletivo há 3 anos. Foi aluna e passou a se desenvolver mais e mais. Começou então, junto com seu parceiro Ivan B. Oliveira, 38 (Co-idealizador do projeto, junto com a Cristiane Leopoldo, 34 e Magna Soares, 37) a ministrar as aulas de Zouk. A dança transformou sua vida, conseguiu se abrir e se expor de maneiras únicas, pois ela sempre foi muito fechada. Para Dandara a dança não é somente uma atividade física, mudou sua vida: “Bom, na minha trajetória tive depressão, várias crises, e no meio do meu tratamento surgiu o Flor. Minha mãe viu um folheto sobre as aulas, e como eu sempre amei isso, ela insistiu um pouco para eu voltar a dançar”, conta ela cheia de emoção. O coletivo atuante desde 2008, já desenvolveu seis espetáculos multiculturais com a participação ativa dos alunos e comunidade do entorno. Dandara acredita no poder de transformação da dança. “Não é só estético, né. Mexe com a mente e muito com a alma, não tem como negar isso!”, afirma após ter experimentado essa transformação. As aulas do coletivo acontecem aos sábados, a partir das 9h com os ritmos de Forró, Gafieira, Zouk e desenvolvimento e as segundas a partir das 20h com Sertanejo. Todas as oficinas de duração de 1h30. Para participar basta comparecer ao CEU Navegantes e realizar sua inscrição.

Sarau despertar

Por Jefferson Fernandes

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Sarau Despertar é uma reinvindicação política, social e cultural que busca fortalecer a quebrada do Jardim Sete de Setembro e bairros que o rodeiam e que estão afastados dos dois principais polos culturais da região, Centro Cultural Grajaú e Casa de Cultura de Parelheiros. O Sarau Despertar teve sua primeira edição em 21 de julho de 2018, no Centro para Juventude Rosa Mística, localizado no Jardim Sabiá e somente no anos de 2019 passou a ser organizado na chamada Zona Sete, no Centro Comunitário Jardim Sete de Setembro. O evento conta não somente com o microfone aberto, mas também oferece rodas de conversas, oficinas e grafite ao vivo, tudo isso sempre com um tema central. Dentro de um ano de vida, o Sarau Despertar já abordou temas como Prevenção ao Suicídio, Tradições Nordestinas, Literatura Periférica, Violência Sexual Infantil e Adolescente e Resistência Indígena. Durante esssa caminhada o trabalho foi totalmente independente, contando com a ajuda de instituições como o CJ, Centro Comunitário e doações ou empréstimos de equipamentos da própria comunidade. Este ano fomos contemplados com o edital VAI, verba esta que irá ser de grande ajuda para estruturar o evento e oferecer ao público e aos artistas equipamentos e serviços de uma qualidade maior do que possuímos atualmente. O Sarau Despertar ocorre todo terceiro sábado do mês, a partir das 18h30 na Avenida Carlos Alberto Bastos Machado, 1993 - Jardim Sete de Setembro - Grajaú.

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CULTURA

ATELIê DAKI, A GALERIA DE ARTE DA QUEBRADA Completando cinco anos de existência o Ateliê se estabele como espaço de criação artística dentro do Grajaú Por Michelle Marques

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uando se fala em galeria de arte, normalmente, a imagem é associada a lugares no centro da cidade, ambientes extremamente refinados e com frequentadores que possuem muito conhecimento sobre o tema. O que muita gente ainda não sabe, é que as periferias são terrenos férteis e grandes produtoras artísticas e que dentro do Grajaú existe uma galeria, o ateliê Daki, que expõem os trabalhos dos artistas periféricos colocando o bairro no mapa cultural de São Paulo. A Revista Grajaú foi entrevistar um dos idealizadores do espaço o jovem Mayco Dany de Araújo, conhecido como Ayco e Thiago Noise, artista residente para conhecer um pouco mais da atuação do ateliê que completa cinco anos em 2019. Revista Grajaú: Falando um pouco de história, “direto do túnel do tempo”, como e quando surgiu a ideia da galeria? Ayco: Eu já tinha contato com a arte desde muito cedo, através do grafite nas ruas de São Paulo e foi uma ideia de família, pois juntamente com o Dimas, meu primo, começamos a pensar em como seria bom ter um lugar, dentro da periferia mesmo onde pudéssemos juntar os amigos, a galera que desenha e poder assim trocar conhecimentos. Foi quando surgiu o ateliê Daki, nome fruto de uma brincadeira com o pintor Salvador Dali e o lugar onde a gente mora, onde estão nossas referências, “aqui”. Revista Grajaú: As galerias de arte em São Paulo estão concentradas em determinadas regiões da cidade como Pinheiros, Vila Madalena, entre outras. Como vocês na ponta de cá trabalharam este conceito? Thiago Noise: O ateliê Daki, foi pioneiro em unir artistas que atuavam no grafite, mas também com este espaço foi possível juntar várias outras manifestações e sair desse circuito das áreas consideradas nobres. Na minha visão, o conceito veio da vontade de qualificar os trabalhos, de participar do processo de criação dos amigos, entender um pouco mais das etapas da caminhada artística até seu objetivo final que é a exposição do que foi feito, daí a necessidade de reconhecer este lugar como galeria de arte. A arte da periferia é a mesma que se produz lá no centro e arredores; é uma linguagem universal. Revista Grajaú: Estamos vivendo momentos tempestuosos na história do país, nos quais os artistas têm 16 REVISTA GRAJAÚ JUL/AGO de 2019 www.revistagrajau.com.br

sido fortemente reprimidos assim como outros movimentos sociais. Como vocês dialogam com isso? Ayco: Pensando como artista, a arte e a política estão conectadas; fazendo arte estamos fazendo política e encaro tudo isso que está acontecendo, mesmo que pareça negativo, como algo motivador para nos posicionarmos na linha de frente e não deixar parar, unir mesmo os coletivos, fazer as pontes, ligar os pontos. Thiago Noise: Em minha opinião, a arte influencia na política, mas não consigo visualizar o processo contrário, isso como artista. Como pessoa, pode acontecer de o momento político deixar resíduos na produção, mas não é fator determinante a arte tem vida própria, ela é leve é o amor. Revista Grajaú: Após cinco anos de atuação, as expectativas foram alcançadas? Como estão os novos projetos? Ayco: A missão inicial era produzir, ter um espaço para criar, um local para morar e poder ficar até tarde trabalhando. A partir do terceiro ano, começamos a estabelecer metas, a desejar marcar história no território. Participamos de editais que financiaram alguns projetos, porém, hoje a casa se mantém com recursos próprios, da comercialização das obras. Estamos conseguindo estabelecer um ritmo de exposições, inclusive, para o mês de agosto, estaremos com a exposição “Siglas em Frente” de curadoria do Gustavo Dias do coletivo Quebramundo. E para mim é isto, a periferia segue como uma incubadora de projetos a todo vapor.

EXPOSIÇÃO “SIGLAS EM FRENTE Dando andamento ao ritmo de eventos culturais, o Ateliê Daki receberá a exposição “Siglas em Frente” de 10 a 25 de agosto com a curadoria de Gustavo Dias da Silva do coletivo Quebramundo. Com a temática LGBTQN+, a exposição busca evidenciar a importância de todas as siglas dentro desta temática e despertar o olhar do público para o entendimento e a necessidade de espaço de fala de cada um. A exposição contará com 11 artistas, todos LGBTQN+, com manifestações em fotografia, artes visuais e gráficas, pintura, música, dança, performances, entre outras, além de uma roda de conversa mediada por Rodrigo Albuquerque. o artista Ayco

Grátis. Rua: Rogério Fernandes, 20 Jd. Reimberg – São Paulo facebook.com/ateliedaki Foto: Juan Marques


CULTURA

Sábado é dia de Samba da Praça aqui no Grajaú Por Aécio Magalhães

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hegou sabadão, só alegria e curtição, dia de descansar, comer aquela feijoada, levar as crianças no parquinho e a noite cair no samba, no famoso Samba da Praça, essa animação fica bem pertinho do terminal Grajaú. A comunidade SDPG (Samba da Praça Grajaú), foi fundada em 07/12/2012 e de lá pra cá os integrantes se reúnem todos os sábados na Praça Dona Ivonne e resgatam os grandes clássicos do samba. O ambiente é familiar e sem dúvidas a alegria toma conta dos apreciadores. Cerca de 1.000 pessoas lotam a praça todos os sábados para mostrarem que têm sambam no pé. A musicalidade do Samba da Praça fica por conta dos integrantes: Maurício Canela (banjo), Guga (cavaco), Jefferson (violão), Renato (percussão), Luís Fernando (percussão), Tubarão (surdo), Gustavo (pandeiro), Douglas (pandeiro), Gibi (percussão). Além disso, a comunidade SDPG abre espaço para novos talentos,mostrarem seus trabalhos musicais, como cantores e DJs, por exemplo, principalmente os artistas da região do Grajaú. A ideia do SDPG é valorizar as raízes do Samba e também os grupos e Comunidades que representam a mesma bandeira. O samba da Praça também já participou de diversas rodas de sambas consagradas e de vários eventos populares e beneficentes. A teatróloga e cantora Luciane Gaspar mora na região e adora cair no samba:“sair no sábado é o que a gente quer. Atravesso a Belmira Marin e venho curtir esse samba raiz. Lá na praça encontramos amigos e nos divertimos muito. É aquele momento de descontração e alegria de estar no Grajaú, o meu lugar, o nosso lugar.” O Samba da Praça tem uma energia muito boa, há sempre uma oração no inicio e no término da apresentação. A comunidade não possui fins lucrativos e garante que são pagos com abraços, sorrisos e alegrias de todos que ali estão apreciando e dançando os hits do samba. Todos os sábados a partir das 16h00 na Rua Eduardo Ramos, S/N – PQ América (próximo do Terminal Grajaú).

Samba da Praça também tem ação social

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e sambar é bom, ajudar o próximo é melhor ainda. A comunidade Samba da Praça tem nas veias o ritmo de ajudar o próximo, realizando diversas ações sociais em prol da própria comunidade: arrecadam alimentos, roupas, calçados, brinquedos, agasalhos... E ainda promovem eventos nas datas festivas como: o dia dos pais, das mães, a páscoa, o dia das crianças, ações com dentistas e enfermeiros que orientam os moradores da região. A Comunidade conta com uma equipe responsável pelo apoio, ações sociais, mídias sociais e representação da sua bandeira. Nas rodas de samba é possível adquir itens personalizados do Samba da Praça tais como: bonés, canecas e camisas. O dinheiro arrecadado é revertido nos próprios utensílios da praça. A Comunidade não tem patrocínio. Sobrevive com doações do público e dos comerciantes da região. Então, caro leitor, nós os convidamos para “dá um pulinho” aos sábados nesse samba, traga um quilo de alimento e também ajude o próximo. Vem curtir o samba da Praça é amor à primeira vista, eu garanto! JUL/AGO de 2019 REVISTA GRAJAÚ 17 www.revistagrajau.com.br


Olhar Grajaú

DiCampana Foto Coletivo Capela de São Sebastião - Inaugurada em 1904 - Patrimônio Cultural na Ilha do Bororé, Grajaú - Zona Sul

Exposição Catingueio na Casa Ecoativa

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Exposição Catingueio que acontecerá na Casa Ecoativa, na Ilha do Bororé, apresenta 22 obras do artista Wesley Silva, o Lelo, 22, que mostra esse movimento grajauense denominado Catingueio, realizado pelos participantes do cursinho Niggaz e que Lelo defende em sua Tese de Conclusão de Curso na Universidade, ainda esse ano. Lelo juntatamente com Ana Paula Rezende e mais outros artistas da região fundaram o cursinho de artes visuais e cênicas, um cursinho vestibular voltado para as provas específicas dessas matérias. A partir dessa vivência sentiram a necessidade de criar um movimento artístico dentro do território, e a exposição é uma forma de fundamentar, inclusive possuem um manifesto. Na exposição o artista fala de afeto, de identidade, e levantar denúncias sociais, como racismo e saúde mental. As obras são divididas em duas salas, uma com as obras figurativas em aquarela e a segunda fala diretamente da violência, principalmente policial, obras baseadas e fatos que aconteceram. 18 REVISTA GRAJAÚ

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Catingueio é a soma de catingueira, em homenagem a Inácio da Catingueira, o escravo que conseguiu sua liberdade através da poesia, em um duelo que durou oito dias contra o poeta acadêmico Romano da mãe d’água. E da palavra Mangueio, que é de origem Tupi que significa troca, muito usado pelos artistas populares das margens e periferias. Os personagens retratados dialogam com a juventude negra e indígena das periferias, muitas das vezes sem identidade, e em buscas de raízes, na maioria das vezes eles aparecem de olhos fechados, confusos com todas questões raciais, politicas e sociais. Assim como os olhos fechados, as cores representam sentimentos e ações que vão dialogar com o espaço e publico. Catingueio é a arte de resistir, de lutar, de conseguir. Catingueio é a arte ancestral, a arte popular, o artesanato.

Exposição Catingueio - 03/08 até dia 03/09 Casa Ecoativa: Estrada de Itaquaquecetuva, s/n, próximo a 1ª Balsa - Ilha do Bororé


Cantinho dos AstrosParceiros

Afinal o que é Mapa Astral? O Mapa astral ou carta natal, como também é conhecido, refere-se a um gráfico distribuído em 12 pedaços, que sinaliza a posição dos planetas e dos signos zodiacais em relação a Terra, no momento exato em que você nasceu. Ou seja, o mapa astral, é o retrato do céu no momento que você veio ao mundo. É algo realmente impressionante e único. Vivemos em um planeta sistêmico que é influenciado por projeções e ressonâncias magnéticas. Cada constelação e planeta tem seu próprio código, assim como nós, é como se fosse uma impressão digital, algo que não se altera. Quando você nasce, alguns padrões energéticos se cristalizam em você através dessa influência cósmica, moldando seu comportamento, a sua personalidade, habilidades, padrões familiares e afins.

Passatempo

BARBARA TERRA @barbaraterra_

Com a leitura do mapa astrológico, é possível revelar os pontos benéficos e desafiadores da sua vida. O mapa, nos mostra o que por muitas vezes nos impende de enxergar nossas próprias qualidades e potencias, que muitas vezes, tem a ver com algo que aconteceu em nossa primeira infância, que ficou em oculto durante muitos anos e desencadeou na vida adulta. Era muito utilizado pelos sábios ancestrais como ferramenta de orientação e autoconhecimento. Se orientavam pelos astros, para identificar épocas favoráveis para seu povo e momentos propícios para guerrear. Para interpretação do mapa, é necessário a análise de um astrólogo profissional que compreenda bem as posições e os aspectos, para te auxiliar no processo do seu desenvolvimento. Quando você compreende a análise do mapa, as coisas começam a fluir com mais naturalidade, é possível você trabalhar suas melhores forças de forma mais positiva, buscando se aprimorar, superar barreiras e evitar conflitos. Para fazer o mapa basta saber a data, local e horário do seu nascimento. Hoje em dia é possível fazer o mapa pesquisando na internet também. Entramos nesse campo vibracional – Planeta Terra Despertou o seu interesse? Quer fazer seu mapa astral? Entre em contato 11 98633-2341



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