Revista
GRAJAÚ Set/Out - 2019 | Ano 4 | nº 13 Distribuição Gratuita
MULHERes, vamos prevenir e vencer o CÂNCER DE MAMA?
Quem Somos
Expediente
O ExpressĂŁo Cultural PerifĂŠrica, o ECP, ĂŠ um coletivo de comunicação e cultura que surgiu em 2012 e atua na articulação sociocultural na regiĂŁo do GrajaĂş, Extremo Sul da cidade de SĂŁo Paulo. Nosso objetivo ĂŠ documentar e divulgar açþes culturais e sociais que acontecem especialmente na regiĂŁo Coordenação Editorial e Edição onde estamos localizados e contribuir ValĂŠria Ribeiro com o fortalecimento da identidade do territĂłrio. MTB 46.158 Atualmente atuamos em trĂŞs Equipe nĂşcleos: EDUCAĂ‡ĂƒO: AĂŠcio MagalhĂŁes diversas linguagens em espaços Barbara Terra parceiros e em nossa sede. PESQUISA: estudo aprofundado e Diego Novaes criação do Centro de Identidade do Gi Barauna GrajaĂş, o CIG, e a produção do livro Gisele Ramos HistĂłrias e MemĂłrias do GrajaĂş. Guilherme Zillieg COMUNICAĂ‡ĂƒO: A publicação de Jonathan Alves nossa revista, antiga ECP, e agora Revista GrajaĂş ĂŠ o projeto com Keidson Oliveira o qual conseguiremos contribuir Michelle Marques grandemente para o nosso territĂłrio. Ricardo Negro ECP GRĂ FICA: Susy Neves 2016, por necessidade de imprimir nosValĂŠria Ribeiro sa prĂłpria revista, que nasceu em 2014. Hoje ela funciona para a comunidade Vanderelei Ribeiro em geral e articula fortemente com os Will Mangraff coletivos culturais e sociais do GrajaĂş. ESPAÇO CULTURAL ECP: No ano de Arte da Capa: Ricardo Negro 2019 nosso coletivo foi contemplado pelo 3Âş Edital do Fomento Ă Periferia, Dona Adarcilia, que veneu o câncer aos que patrocinou a construção do Espa-
76 anos.
ValĂŠria Ribeiro e Keidson Oliveira
Tiragem: 8000 Exemplares
Rua Boaventura Ferreira, 159 Jardim Reimberg (GrajaĂş) Cep 04845-160 - SĂŁo Paulo-SP
(11) 95854-6101
REALIZAĂ‡ĂƒO
PATROCĂ?NIO
2 REVISTA GRAJAĂš SET/OUT de 2019 www.revistagrajau.com.br
SumĂĄrio 03 CARTA AO LEITOR A Periferia que dĂĄ Certo 04 ARTIGOS GrajaĂş ĂŠ TerritĂłrio IndĂgena 05 GRAJAĂš, MINHA CIDADE Cortes de Verba em Projetos 06 ELAS SĂƒO BĂ RBARAS A militância começa cedo 07 EMPREENDEDORISMO Da Superação Nasceu Uma PotĂŞncia 08 NA QUEBRADA Futebol de VĂĄrzea ĂŠ Coisa SĂŠria 09 HISTĂ“RIAS & MEMĂ“RIAS Gente que Faz 10 CAPA Mulheres PerifĂŠricas, Vamos Cuidar da Nossa SaĂşde? 12 SAĂšDE Quero ajudar na SaĂşde 13 SAĂšDE Adolescente SaudĂĄvel
Nossa sede abriga a Biblioteca Comunitåria Aurelina & Elisa e nosso espaço de informåtica, com computadores com internet a disposição da comunidade gratuitamente. Em nosso Espaço Cultural tambÊm acontecem diversos cursos, todos abertos a comunidade.
14 AĂ‡ĂƒO TĂşnel do Terror 15 CULTURA Kalunga Grande
MissĂŁo: Revista GrajaĂş
16 CULTURA Literatura
Nossa missão Ê difundir informaçþes sobre o Extremo Sul de São Paulo atravÊs de um novo olhar, apresentando com nossas matÊrias possibilidades para melhorar a vida de quem mora na região, incentivando com isso que se sintam parte do bairro em que residem, estimulando a produção cultural, açþes sociais, a economia colaborativa, o desenvolvimento local, a tolerâcia à diversidade e o respeito a todas as formas de vida.
3FWJTUB
GRAJAĂš
BOVODJF!SFWJTUBHSBKBV DPN CS
17 CULTURA Feira Literåria de Assis Dança na Terceira Idade 18 CULTURA Primavera da Vida
VALORES
Qualidade editorial com excelência e inovação; Informaçþes claras, úteis e comprometidas com a realidade dos leitores. Otimismo e afeição pela região, destacando as qualidades e refletindo soluçþes para os problemas.
PerifĂŠrica (11)95854-6101
Carta ao Leitor
Ilustração Guilherme Zillieg
F
alar de um território tão imenso e populoso repleto de contrastes, cercado de belezas naturais e dificuldades cotidianas, habitado por figuras em grande parte desconhecidas, mais um rosto na multidão... tarefa difícil. Se debruçar em conhecer o espaço físico, suas ruas e vielas, seus limites, seus começos e fins desperta um sentimento de amor por esta terra que muitas vezes parece hostil, violenta e esquecida. Mas das cinzas renasce a Fênix e as cores do Grajaú começam a aparecer, as cores dessa gente batalhadora, criativa e afetiva que não desiste e resiste. Existe o Grajaú que não é apenas o bairro, apenas um lugar, mas é a construção de uma teia imaginária que conecta as pessoas, suas inspirações e ancestralidades. Essa “malha” que não podemos tocar, mas sabemos que é real é resultado da multiplicidade de culturas, raças e vivências. Resgatar essas memórias e repassa-las adiante é mais que um dever, é uma missão. Dar nomes aos rostos das mulheres e homens que ajudaram a erguer o Grajaú, dar voz a aqueles que contribuíram e contribuem para fazer deste território sua morada e referência é nosso compromisso. Muitas vezes o trabalho é árduo, o corre corre do dia a dia não facilita, às vezes estamos muito cansados para perceber o potencial da nossa região e não raramente deixamos de apreciar nossas belezas. Coisas tão simples e que não custam nada. Tudo isso contribui para o embrutecimento e nos tornamos pessoas tristes, irritadas e descontentes. A vida fica pesada... É preciso erguer a cabeça para enxergar o outro, se ver no outro e perceber que existem coisas que usufruímos hoje em nosso bairro que são fruto de muita luta, uma conquista coletiva que vem de muito longe no tempo. “Revisitar o passado para construir o futuro”. Tomar posse das histórias ancestrais, se apropriar do Grajaú e fazer dele nosso território. Há um grande caminho a ser percorrido e ainda estamos distantes do “bairro ideal”, mas a largada já foi dada e isso me traz a memória uma frase de uma de minhas histórias em quadrinhos predileta: “Com grandes poderes também vem grandes responsabilidades” (Homem Aranha). Temos o poder de escrever a história do Grajaú e a responsabilidade de fazer isto da melhor forma possível, equânime e coletiva e com este sentimento de esperança compartilhamos mais uma edição da Revista Grajaú. Salve quebrada! Por Michelle Marques.
GRAJAÚ: A PERIFERIA QUE DÁ CERTO
SET/OUT de 2019
REVISTA GRAJAÚ 3 www.revistagrajau.com.br
GRAJAú é TERRITóRIO INDíGENA! Anauê aos parentes! Saudações guerreiros! [Grajaú ou “rio dos carajás” é o nome toponímico de origem indígena do nosso distrito/ocupação. No Maranhão, existe um município de mesmo nome, assim como tantos outros bairros e rios brasileiros. Há a possibilidade de a mesma ter surgido da palavra tupi karaîá’y, de karaîá, que significa “carajás”, e ‘y, que significa “rio”.]
Ilustração Guilherme Zillieg
ARTIGOS
Somos um corpo-território de resistência, ocupação e luta. Somos uma nação migrante dos cantos do Brasil, na busca pelo direito a existência. O descaso que nos acompanha, nos enquadra nos conceitos de “marginalidade”, vulnerabilidade, incapacidade... Objetos de pesquisa. Pensemos nossa ancestralidade. Quantos de nós temos em nossa família avós, bisavós, trisavós indígenas - que conhecemos através de histórias que foram contadas na trajetória familiar - ou conhecemos alguém que se auto declara descendente de índio? É importante refletir: O que aconteceu no meio do caminho entre seu avó/avó, pai/mãe e você, que não te faz pertencer à sua ancestralidade? Por que sua avó é indígena e você não? Com certeza, são muitas perguntas. Que podem sugerir outras e ampliar a discussão. Este é o ponto. É sabido que o Brasil foi invadido e colonizado pelos Europeus, tal como nossos ancestrais indígenas foram escravizados e mortos em massa em todo o território nacional, nossa fauna e flora massacrada pela ambição da industrialização. Aqui, existiam mais de 1000 etnias, cerca de 1.100 linguagens, uma imensa e rica diversidade de visões de mundo. O Genocídio, a escravização dos povos indígenas, a perda incessante dos parentes, da cultura, gerou também uma grande atmosfera de medo da morte. Em 1758 no Brasil, segundo a lei Diretório dos Índios, estabelecida por Marquês de Pombal, entre muitas diretrizes a serem seguidas pelas colônias, não se podia falar nenhuma língua que não fosse o português. Isso fazia parte do projeto colonizatório e etnocída de assimilação e embranquecimento dos povos originários. Houvesse resistência, haveria também severa punicão. Punição, esta, que acontecia de diversas formas. Desde espancamentos à mutilação da língua - como está registrado dolorosamente na memória de muitos indígenas mais velhos.
Brasil” ou “é tudo vagabundo, não querem saber de trabalhar”, entre outros esteriótipos racistas proferidos pelo nosso atual presidente, legitimados nos discursos nas escolas, assim como na maioria das mídias de comunicação de massas. Saber da trajetória dos nossos ancestrais, é extremamente necessário para seguirmos em direção à libertação das nossas mentes e corpos, da retificação dos nossos direitos, ao nosso lugar de existência no mundo. Precisamos barrar o plano de extermínio. Precisamos descolonizar nosso pensamento. “Adiar o fim do mundo”.
Pensar sobre isso, retomar nossa história, nossas memórias, é um processo muito doloroso, mas imensamente potente e urgente!
Por que sua avó era indígena e você não? O que é ser indígena no mundo? Leia literatura Indígena!! Gratidão ao meu trisavô Florentino pelo sopro de vida. Gratidão aos parentes que fortalecem a identidade e a luta todos os dias. Nós estamos em todos os cantos da cidade. Aguyjevete.
Certa vez, Ailton Krenak, liderança indígena extremamente representativa na luta pelos direitos dos povos originários do Brasil e do mundo, em uma de suas palestras, disse que, a auto declaraçao da identidade indígena, pela maioria da população brasileira, poderia revolucionar as questões de demarcacão das terras indígenas. Posto que, um dos argumentos para a violação desse direito, é que “quase não existem índios no
Lilian da Silva Cunha a.k.a Lírica, Indígena, Cantora, Compositora, Integrante do coletivo Grajaminas, Organizadora Cultural, Palestrante, Pesquisadora em Língua e literatura japonesa, Graduanda em Psicologia.
4 REVISTA GRAJAÚ SET/OUT de 2019 www.revistagrajau.com.br
Grajaú, Minha Cidade
Cortes de orçamentos da secretaria de assistência social afetam projetos no Grajaú Por Aécio Magalhães Nos últimos meses nos deparamos com a triste notícia do corte no orçamento da Secretaria de Assistência Social de São Paulo. Essas reduções de verbas acabam afetando o atendimento a crianças, adolescentes e idosos de todas as regiões da capital paulista, inclusive chegou aqui no Grajaú. Nosso bairro possui diversos projetos e há uma grande preocupação: como lutaremos para barrar esses cortes? Nós grajauenses devemos estar sempre integrados com as ações do nosso bairro e precisamos também cobrar políticas públicas. Os projetos existentes aqui beneficiam e muito sua população, crianças, adolescentes e idosos se ocupam com atividades educacionais e culturais. O Grajaú possui diversos CCAs (Centro para Crianças e Adolescentes), que oferecem serviços de convivência, aprendizagem, atividades culturais e proteção social. Esses centros também estão na mira dos cortes de verbas. Mônica dos Santos Ramos, gerente do CCA do Jardim Reimberg, diz que o espaço que coordena possui capacidade para 90 crianças e todas as vagas estão preenchidas, até o momento não houve cortes, mas fala da preocupação e dos impactos que podem causar aos projetos se tiver as reduções propostas: “os cortes causam prejuízos que é: o não atendimento as crianças, se cortar a ATIVIDADE NO CIRCO ESCOLA
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CRIANÇAS NO CCA JD. REIMBERG
verba diminui o atendimento, deixaremos de acompanhar de perto essas pessoas, estima-se que o corte é de 30% a 60%.” Outra preocupação de Mônica é que possivelmente os CCAs passarão para a coordenação da secretaria educação, não se sabe Paolo de Parisse e Dego Barauna como será o atendimento, o espaço, a verba... É uma situação complicada, pois a secretaria de assistência social não realizou mapeamentos para averiguar minuciosamente o atendimento de cada unidade de atendimento, o impacto social que ela causa, as crianças que são acolhidas e afastadas do Fernanda Costa e Dego Barauna convívio das drogas e violência, por exemplo. Eles querem economizar e nossa população fica mais vulnerável ainda. As ações e projetos transformam vidas. Exemplo disso é o Circo Escola, um projeto de referência que desenvolve atividades circenses e que durante toda sua existência já beneficiou muitas vidas na região. Larissa Costa, 22 anos, começou a fazer dança quando tinha 9 anos e lembra: “as atividades no circo não me deixava ociosa em casa, fiz dança por 4 anos, foi importante pois fazíamos diversas apresentações. Esse projeto do circo me ajudou muito no momento da minha transição de criança para pré-adolescente, lá eu até recebi ajuda pedagógica e apoio dos colaboradores circo. Fazíamos coreografias regionais, contemporâneas, balé e outras diversas.” Atualmente, Larissa cursa Pedagogia na Universidade Estadual do Paraná e até hoje possui uma memória corporal, graças a dança que fez no Circo
Escola do Grajaú. Camila Bispo, 17 anos também passou pelo circo escola quando tinha 6 anos e relembra os bons momentos: “gostava muito de ir pra lá, eu estudava pela manhã e tinha o circo no período da tarde. Lá fazíamos refeições saudáveis e diversas atividades culturais e circenses como o trapézio e a ginástica. É muito importante a região ter projetos como esse, pois ficamos sempre aprendendo coisas novas”. Em julho de 2019 acompanhamos no noticiário a trajetória do trapezista Marcos Porto de 39 anos, morador do Jardim Eliana que foi para os Estados Unidos e assinou contrato com o um dos maiores circos do mundo, o Cirque du Solei. Marcos descobriu o Circo do Grajaú aos 14 anos e após muito treino e muita disciplina acabou indo tão longe. É notória a participação do Projeto durante toda a vida desse trapezista. São esses os resultados obtidos quando se tem projetos bons em nossa comunidade e não podemos deixá-los de lado, precisamos nos mobilizar para que não se perca toda essa preciosidade de ações educativas e culturais. Os serviços mais prejudicados foram os Centros da Criança e do Adolescente (CCA), que atendem crianças de 6 a 14 anos no contra turno escolar, seguidos pelos Núcleos de Convivência de Idosos (NCI), que promovem atividades com maiores de 60 anos, e os Centros de Convivência Intergeracional (CCInter), que oferecem atividades socioeducativas para crianças, jovens, adultos e idosos. REVISTA GRAJAÚ 5 SET/OUT de 2019 www.revistagrajau.com.br
Elas São Bárbaras
A militância começa Cedo
Por Valéria Ribeiro
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aria de Fátima Rosa veio morar no Grajaú aos 11 anos, do interior de São Paulo, cidade de Cruzeiro. Hoje aos 64 anos, terminando seu mandato de Conselheira Tutelar no Grajaú 1, conta um pouco de sua trajetória de luta para a construção de uma comunidade melhor para o Grajaú. Seu pai veio para trabalhar na construção civil do BNH, era final dos anos 60. Morou inicialmente no Jd. Reimberg e depois a família foi morar no Parque São Miguel, próximo a ZR, (Zona de Risco) moraram lá durante um ano mais ou menos. Depois com o loteamento Jd. Reimberg os pais compraram um terreno na região. Era época da ditadura militar e Rosa lembra de ouvir gritos de pessoas sendo torturadas quando morava no Parque São Miguel. “Ouvíamos os gritos dos caras”, conta. Ouviam os gritos mas não sabiam porque ou o que estava acontecendo. “Isso ficou na minha cabeça, isso nunca mais saiu da minha cabeça... Depois que eu comecei a estudar que eu fui descobrir o que acontecia. Era uma situação horrorosa, quando acontecia isso nós tínhamos de ficar tudo dentro de casa.” Esse fato com certeza contribuiu para mais tarde Fátima se tornar militante das causas sociais. 6 REVISTA GRAJAÚ SET/OUT de 2019 www.revistagrajau.com.br
Ela cresceu e se casou muito cedo, com 17 ou 18 anos, não tem certeza, mas logo se separou também. Ficou um ano e onze meses casada e teve suas duas filhas. Depois disso voltou a estudar com os alunos da USP, Universidade de São Paulo, que lecionavam no curso Maduresa União, parecido com o EJA atual. Nessa formação com a galera da USP debatiam muitas coisas, lembrando que o país vivia uma ditadura... Com o aprendizado as lutas começaram e continuam até hoje. Junto com as integrantes da Associação de Mulheres do Grajaú lutaram muito para colocar água e luz no bairro. Conscientizavam as pessoas que só conseguiriam as coisas se lutassem, se ficassem em casa esperando o poder público as coisas não aconteciam. Ainda hoje é assim... “As pessoas elegem um vereador achando que ele vai salvar a pátria e as coisas não são bem assim”. Alerta Rosa A militância era intensa e se aperfeiçoou quando ela foi convidada a fazer um curso de liderança em Cuba, onde ficou durante três meses. Cuba sempre foi um espelho na questão de movimento popular, saúde, educação e Rosa foi representando o movimento de mulheres. “Essa experiência me transformou. Eu aproveitava todas as oportunidades que podia”. Foi conhecer as experiências das rádios e centros infantis. Quando voltei para o Brasil foi um choque, pois as barreiras para implantar as coisas aqui eram enormes. Fatima conta que antes tudo quanto era coisa acontecia no Grajaú primeiro, era o celeiro dos movimentos populares. Começava tudo aqui. Movimento por moradia, escola, creche, carestia, semáforo. Quantas caminhadas não fizemos na Belmira Marin para construir o Hospital Grajaú, que nesse mês de outubro de 2019 comemora 21 anos de funcionamento. Participavam dos movimentos de saúde, das conferencias de saúde, iam para Brasília. Rosa lembra que não havia o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, a constituição não havia sido promulgada. Antes do ECA a criança
era criminalizada, não tinha diferença entre criança e adolescente. Nesse processo foi surgindo as ações com as crianças e jovens que culminou em sua atuação no Conselho Tutelar. O ECA foi criado em pela Lei 8069/90 e logo após surgiu os conselhos tutelares. O Conselho Tutelar foi criado para defender o direito das crianças e adolescentes, fiscalizar as violações, é como uma polícia para defender a criança e adolescente. Fátima avalia que a criança da periferia está em estado de vulnerabilidade. Os CCAs e diversas iniciativas socioculturais contribuem para tirar as crianças e adolescentes de estado de vulnerabilidade, drogas e violência. Com a diminuição da verba para esses programas diminui a possibilidade de crianças terem maior apoio e saírem das ruas. O acesso a droga é maior e mais fácil. Fatima diz que sua militância às causas sociais é uma coisa que está no sangue. Colaboradora no projeto pérolas, que é de famílias acolhedoras. Rosa diz que alguns a chamam de louca por atuar com situações tão difíceis como as que encontra em sua atuação no conselho tutelar, ao que ela responde...“Alguém tem de ser louco”, finaliza.
SAIBA MAIS CONSELHO TUTELAR
O conselho tutelar age quando é acionado por meio de denúncia de violação de direitos da criança e adolescente. Ligar para o número 59243922/5924-3614. Disque 100 – Disque Denúncia. Ministério dos direitos humanos. A denúncia é averiguada e se houver violação de direitos vai ser encaminhado para o CRAS ou CAPS . Conselho Tutelar Grajaú 1 - Endereço: R. José Quaresma Júnior - Parque Grajau, São Paulo - SP, 04843-600 Conselho Tutelar Grajaú 2 - Endereço: R. Uva Natal, 402 - Vila Natal, São Paulo - SP, 04863-020 - Telefone: (11) 5927-4437
Da superação nasceu uma potência! Por Barbara Terra
Q
ue existe restaurantes com comida de qualidade na periferia, muito além do centro geográfico, isso já não é mais novidade. Podemos encontrar pratos gastronômicos bem feitos e com muita identidade. São restaurantes como “O Firmezão Assados” e “O Chapa Churrasco” que fazem a diferença na quebrada. O Firmezão comercializa frangos e outros produtos assados de qualidade, que acompanha farofa e batata rústica. Já o Chapa, comercializa churrasco gourmet no espeto grelhado na chapa com azeite. Sabe aquele tipo de gente que você acaba de conhecer e já quer ter por perto?! Pois bem, assim que descrevo a Cida e o Júlio Cesar, sócio fundadores da empresa, O Firmezão Assados e O Chapa Churrasco. Além de esbanjarem simpatia e alegria, têm uma história inspiradora e com grandes avanços e superações dentro da jornada empreendedora. Ambos começaram a empreender ainda na infância por incentivo de seus pais, mas com o passar do tempo e com a dificuldade financeira dentro de casa, tiveram que arrumar empregos externos e fora da quebrada para ajudar na renda familiar. Hoje são proprietários de três lojas com dez funcionários no geral. Estão fazendo nome e deixando legado no fundo do Graja, no Parque Residencial Cocaia. O Firmezão Assados, funciona como restaurante delivery com possibilidade de entregas e retirada no balcão. Atendem por telefone ou aplicativo e só abrem aos finais de semana. Foi o primeiro empreendimento aberto pelo casal. Recebeu o nome de “Firmezão” para homenagear o pai de Júlio Cesar, que ganhou esse apelido dos amigos, por ser considerado uma pessoa carismática e receptiva. A loja foi inaugurada em 2015 na casa deles, em um pequeno espaço improvisado na garagem. “Eu tenho DNA de empreendedor. Sinto que a vida sempre me preparou para o que eu faço hoje. Eu trabalhava em uma grande empresa, ganhava bem, tinha um cargo bom, mas não era cem por cento feliz”. Comenta Júlio Cesar.
Focados no sonho de viver do próprio negócio, o casal decidiu largar a dupla jornada no escritório e investiram um capital inicial neste sonho, logo após foram em busca de aprimorar mais seus conhecimentos e arrepiar no universo empreendedor. Cida investiu seu tempo na cozinha, aperfeiçoando mais seus dotes culinários através de um curso de gastronomia no SENAC. “Gosto de comer bem, queria servir uma comida requintada para nosso público. Isso agrega mais valor ao produto final” relata. Júlio cuida mais da parte administrativa, organizando a empresa como um todo. Em 2017 abriram a filial da loja, O Firmezão, na entrada do bairro Lago Azul, onde está até hoje. No início desse ano a terceira loja, O Chapa, foi inaugurada e chegou com um toque bem diferencial. Churrasco fresco bem temperado no espeto e grelhado na chapa, sim, isso mesmo, na chapa! Espaço mega aconchegante, fácil acesso e preço acessível. Tudo que a gente adora! Quando pergunto ao casal, qual é a maior motivação ao empreender, Júlio responde: “Acreditar no nosso sonho. Batalhar e persistir por ele! O meu sonho sempre foi ter meu próprio negócio e, melhor ainda, dentro da quebrada. Se eu não tivesse dado o primeiro passo, eu ainda poderia estar trabalhando para os outros. O medo de perder, tira a vontade de ganhar. Temos que inverter essa lógica.” O FIRMEZÃO ASSADOS Sábado e Domingo 9:30 ás 16:40 Rua Valentim Lorenzetti, 1021 - Pq. Res. Cocaia 11 973786822 / 11 59274454 @firmezaoassados_oficial O CHAPA CHURRASCO
Terça a Sexta 14h ás 00:00, ou até o último cliente.
Rua Demas Zitto, 554 - Pq. Res. Cocaia 11 96409-7236 @ochapachurrasco SET/OUT de 2019 REVISTA GRAJAÚ 7 www.revistagrajau.com.br
Na Quebrada
O futebol de Várzea é coisa séria
Por Valéria Ribeiro
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em só de grandes campeonatos televisionados vive o futebol no Brasil. O esporte, que é paixão nacional, rola de forma bem organizada nas periferias. Conhecido como futebol de várzea, hoje em dia está bem longe dos campos lamacentos e sem estrutura de antigamente. No Grajaú não seria diferente. Existem vários times organizados, que carregam torcidas e participam de campeonatos que levam centenas de pessoas aos campos e quadras de nossa quebrada. Esses jogos movimentam muitas pessoas nos finais de semana, famílias e amigos que se juntam para curtir a vida através do esporte. Moradora do Jd. Reimberg desde que nasci, lembro que quando era criança ouvia aos domingos o barulho de uma galera agitada passando, buzinado e comemorando mais uma taça. Era mais uma vitória do Águia Negra, que foi fundado em 01 de maio de 1988, e até hoje leva diferentes gerações as partidas realizadas em diversos lugares da cidade e do Brasil. João Alves, que na época tinha 35 anos, foi fundador e é presidente do time até hoje. Ele conta que a equipe surgiu de uma partida realizada no campo de futebol do Reimberg, onde hoje é a CEI Venha Conosco. “Fiz um catadinho aqui na rua pra brincar no campo do Reimberg” Com o sucesso do catadinho acabou resolvendo montar o time. No primeiro ano fazia tudo, era o zagueiro e presidente dentre outras coisas, mas as tarefas eram muitas, daí resolveu montar uma diretoria e reuniu a galera. Osmar, que ainda hoje está no time, é o vice presidente. O filho Danilo Lima é diretor, que na época em que o pai montou o time era criança, hoje seu filho Vinícius, 10 anos e o caçula Arthur, acompanham o time montado pelo avô. Vários meninos que na época em que montou o time eram crianças ou adolescentes hoje ainda continuam, como é o caso de Pixote que é o treinador junto com o Dema. João fala da boa administração do time, que segundo ele é o segredo para manter a galera durante tantos anos. Sua administração tem até uma diretora de eventos, que promove os churrascos, organiza festas e viagens e faz a programação do time, que hoje joga na categoria veteranos, acima de 35 anos. Grande parte de seus jogos acontecem no CDC Petronita, no Jd. JUL/AGO de 2019 8 REVISTA GRAJAÚ www.revistagrajau.com.br
São Bernardo, espaço onde a galera pratica esporte na comunidade. Se não tem campeonato joga festival todos os domingos, nos lugares onde a Liga Esportiva de Santo Amaro, vinculada a Federação Paulista de Futebol manda. “Parelheiros, Osasco, Grajaú.. Ela promove os campeonatos para os times.” Existem as copas de bairros, Copa Eliana, Copa de Parelheiros dentre outros. O presidente vai mostrando os troféus e lembrando das disputas e da torcida, que é composta de famílias, muitos e muitos amigos, tem até aqueles que vem de longe para acompanhar o time. Nesses anos de trajetória até a torcida já ganhou prêmio de melhor torcida. O time ganhou uma faixa de 450 troféus,
mas foram doando os mais antigos. Du-
João nos 70, devoto de Nossa Senhora Aparecida rante o ano de 2019 até agora já disputaram 18 troféus, perderam 4 e ganharam 14. Nas fotos espalhadas pela sede do time, a história de vidas, pessoas e do próprio bairro. Nascido em Minas Gerais Alves veio para o Jd. Reimberg em 1976 quando se casou com Nilza, sua companheira de jornada. Nem eles iriam imaginar que essa família iria agregar tanta gente. A família Águia Negra une toda uma comunidade, que viaja, curte junto e vive a vida com alegria. Saíba Mais: http://futeboldaquebrada.blogspot.com CDC Petronila - Rua João Amos Comenius, 1673 - Jd. São Bernardo
Histórias & Memórias do Grajaú
GENTE QUE FAZ Histórias de lutas e conquistas e muito trabalho pela comunidade grajauense. Por Michelle Marques
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Grajaú abriga uma enorme quantidade de pessoas atuantes nas causas sociais e que merecem ter suas histórias contadas para inspirar e servir de referência para a construção de um bairro melhor. A Revista Grajaú foi conhecer de perto uma dessas figuras, o piauiense João Alves Vieira, 46 – morador e participante da fundação do bairro Chácara do Conde, projeto habitacional ímpar na zona sul da cidade. Revista Grajaú: Quem é João Alves? João Alves: Eu tenho muita estrada percorrida e sempre quis contar a minha história. Minha infância até os nove anos foi no interior do estado do Piauí, tenho uma família numerosa, éramos em 11 irmãos, mas fui o primeiro a sair de casa quando fui viver no Maranhão para ajudar meu tio que trabalhava na fabricação de blocos e telhas e desse ofício, consegui adquirir minha primeira casa aos onze anos de idade e pude trazer o restante da minha família para morar comigo. Quando estava próximo de completar dezoito anos, já ouvia falar da fama que São Paulo tinha de “terra de oportunidades” e como os jovens da cidade não tinham muitas perspectivas, decidi me mudar para cá, pois meu sonho era estudar. A chegada a São Paulo ocorreu com seis horas de atraso, pois o ônibus quebrou e as pessoas que iriam me recepcionar até desistiram de esperar, tive que me virar sozinho para chegar até o endereço de uns amigos que moravam em Sapopemba, zona leste
da cidade. A vida em terras paulistas não foi nada fácil, passei oito meses desempregado, mas não desisti. Revista Grajaú: Como foi seu primeiro contato com movimentos sociais e por que escolheu o extremo sul como morada? João Alves: minha primeira experiência com as lutas, foi justamente quando um parente da minha esposa informou que havia uma associação por direito a moradia, que aliás, é um grupo que existe até hoje e que tinha surgido uma vaga para participar. Me cadastrei, porém, a regra era trabalhar 2 vezes por semana no sistema de mutirão ajudando a levantar o bairro hoje conhecido como Chácara do Conde, um projeto piloto na cidade de São Paulo com o lema “morar e preservar”, isso foi durante a gestão da prefeita Luiza Erundina, e eu aceitava qualquer coisa, precisava sair do aluguel era um sonho meu. Desde então, passei a me interessar em trazer melhorias para a comunidade e acabei me tornando presidente da associação para fortalecer o movimento e toda a minha vivência começou aí. Enfrentamos tentativas de desapropriação, tivemos que bater
na porta da prefeitura para receber asfalto e infraestrutura e foi só com muita luta e suor que conseguimos nos estabelecer e hoje o bairro possui 640 residências. Revista Grajaú: Após a consolidação da Chácara do Conde, quais foram os passos seguintes e qual sua atuação no momento? João Alves: Quando conseguimos estabelecer o bairro e meu mandato como presidente da associação findou, continuei servindo a comunidade atuando como conselheiro tutelar e mais recentemente estou a frente do “Instituto Solidários do Bem”, na Vila Natal; onde estamos reestruturando o espaço para além da atividade de alfabetização de jovens e adultos que já acontece, abrigar cursos profissionalizantes como cabeleireiro e até uma oficina de robótica entre outros que possam surgir: “Meu interesse é contribuir, é ajudar”, finaliza.
SAIBA MAIS Instituto Solidários do Bem SET/OUT de 2019
9 REVISTA GRAJAÚ www.revistagrajau.com.br
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MULHERES PERIFÉRICAS, VAMOS CUIDAR DA NOSSA SAÚDE! Por Valéria Ribeiro
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utubro é o mês da campanha de prevenção ao Câncer de Mama. Na cidade de São Paulo, a população feminina estimada é de 6.163.262*, sendo 1,3 milhão na faixa etária de 50 a 69 anos. As principais causas de morte por câncer entre as mulheres foram: mama (16,8%), cólon/reto/ânus (11,4%), pulmão (11,2%), pâncreas (6,6%), estômago (5,0%), e ovário 4,8%)**. * (Fonte: CEInfo 2018) ** (Fonte: PROAIM/CEInfo 2017
O Outubro Rosa é uma campanha mundial realizada anualmente, desde 1990, com o objetivo de promover a participação das mulheres nas ações de promoção, prevenção e detecção precoce para o controle do câncer de mama, aumentando as chances de cura e reduzindo a mortalidade. No Grajaú os equipamentos de saúde promovem campanhas com palestras e realização de coleta de Papanicolau e solicitação de exames ginicológicos e mamografias, depois de triagem, conforme a programação de cada unidade. Diversos segmentos da sociedade chamam a atenção para a causa, diversos eventos acontecem nesse período. No entanto em muitos casos é preciso se aprofundar no tema, realizar rodas de conversa e outras estratégias para que haja uma real conscientização para a prevenção da doença. Muitas mulheres que entrevistei perguntando sobre o que seria o Outubro Rosa não sabiam explicar exatamente o que era. Maria de Lourdes Gomes Vieira, 59 anos – Sempre participa das atividades desse mês com a turma de ginástica da professora Telma no Centro Cultural Grajaú, segundo Lourdes elas vão para o PQ das arvores, realizam atividades físicas e depois há outras programações sobre o tema. Lourdes apesar de participar das atividades, só realizou o exame uma vez na vida, ela alega que não tem muita paciência para marcar as consultas. 10 REVISTA GRAJAÚ
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No posto de saúde a mamografia pode ser feita a partir dos 50 anos, de 2 em dois anos, antes disso só se tiver um histórico familiar. Na consulta com ginecologista deve se fazer o pedido da mamografia. Marcar a consulta pode demorar um pouco, mas se eu estivesse com meu comprovante de residência já teria conseguido fazer o meu cadastro no posto e teria agendado para o dia 26 de dezembro, fui ao posto no dia 11 de outubro. A pessoa que me atendeu perguntou se eu tinha nódulo aparente, me perguntou a idade e o histórico familiar. Para marcar a consulta é necessário o cartão do Sus e o cartão do Posto. Se não tiver o cartão do posto é só levar um comprovante de Residência. Apesar da demora de quase dois meses para a consulta é importante ter paciência e se prevenir, pois o diagnóstico precoce pode ser crucial na hora do tratamento.
Local: Parque das Árvores - Av. do Arvoreiro Informações: Amigos do Pedal Zona Sul
Outubro Rosa
L
oreta Jesus de Oliveira, 66 anos, moradora do Jd. Reimberg, no Grajaú, não fazia os exames preventivos e em 2018 foi diagnosticada com Câncer de Mama. Perguntei se ela sabia ao que se referia o Outubro Rosa, “Conheço muito pouco do Outubro Rosa”. Na periferia as pessoas são simples, trabalham demais e geralmente colocam o trabalho em primeiro lugar, alegando que não tem tempo de ir ao médico e quando descobrem a doença o tratamento é mais difícil. Antes de iniciar o tratamento de câncer não sabia o que era o outubro Rosa, apesar de ter visto na televisão, nunca prestou muito atenção ao que seria. “Em que sentido aquela cura estava rosa”, se indagava. A rotina agitada, a luta diária dificulta parar para prestar atenção nas informações. Loreta cuida de crianças há mais de 30 anos, hoje cuida de filhos de crianças que já cuidou tempos atrás. A doença de Loreta foi agravada por conta de um erro médico. “Fui no médico porque estava com uns carocinhos embaixo do seio, passava o papel toalha, sentia um odor estranho mas achava que era por conta do suor” relata ela, que se automedicava passando a pomada Minâncora. Dois meses depois, em março de 2018, não havia melhorado, então decidiu ir ao Hospital Pedreira se consultar com o médico que lhe disse que os caroços eram por conta do “período menstrual”, o que ela estranhou, e disse ao médico que há mais de 10 anos havia parado o seu ciclo, afinal já estava na casa dos 60 anos. Segundo Loreta o médico respondeu que algumas pessoas, mesmo na sua idade, ainda tinham os sintomas. “Como eu escutava minha mãe e os mais velhos falarem isso, eu não liguei. ” Em junho sentiu que seu seio estava estranho, “estava indo pra trás” ela conta. Comentou com a vizinha o que estava acontecendo, “dizendo que estava sentindo o peito torto e mostrou pra amiga, que viu e sentiu e disse: Lora, isso não é uma boa notícia. A amiga então informou que estava acontecendo uma campanha de prevenção contra o câncer no Hospital A. C. Camargo, referencia no tratamento da doença e lhe entregou
uma ficha. Fez a triagem inicial, marcou e realizou os exames, dentre ele a mamografia, que havia feito em 2002, há quase 20 anos. Loreta diz que não fez outros exames porque não sentia nada, então não ia em médico, “eu não sentia nada”. No dia 26 de setembro saíram os resultados dos exames e o diagnóstico se confirmou. “Vou te falar sinceramente, é câncer... ela cavou um buraco, me jogou lá dentro e eu sai de novo, né. ” Fala Loreta sobre o momento em que recebe o diagnóstico. “Gente, na minha família não tem esse histórico”. Segunda a explicação da médica para ela nós já nascemos com essas células, só que em algumas pessoas elas se desenvolvem, em outras não. “ Daqui pra cá minha filha, é só luta.” Ela deixa um recado para todas as mulheres, não deixem de ir ao médico, a prevenção é importante.
do graja pro mundo
O CÂNCER TEM CURA EM QUALQUER IDADE Dona Adarcila, a senhora que está na capa da revista, venceu o câncer aos 76 anos, quando fez o tratamento pela última vez. Ela teve o diagnóstico aos 61 anos, entrou em tratamento mas somente precisou operar 5 anos depois. Hoje, aos 86 anos tem uma boa saúde e está curada.
PREVENÇÃO
Gabriela Galvão, psicóloga, conta que em uma visita a ginecologista foi orientada a fazer a mamografia, depois de uma certa idade, pois o exame de toque as vezes gera mais dúvidas, pois não é preciso. Já Romária Sampaio, que realiza estudos com plantas, chama a atenção para o uso de desodorantes convenNo dia 24 de novembro das 10:00 ao 12:00. Levando em cionais que possuem muito alumínio. Existem estudos conta a complexidade do sistema de movimento. O proque afirmam que eles podem causar câncer pois impejeto visa proporcionar uma experiência considerando os dem o suor, mas causa outros problemas. A polêmica aspectos biopsicosocial do ser humano, com movimené grande. Ela recomenda o uso de produtos naturais tação natural com a professora Kelly Castro. Ao final da feitos a base de plantas para evitar o odor. De qualaula prática, trazer a discussão em uma roda de conversa quer forma é essencial que cuidemos de nossa saúde sobre estresse, ansiedade junto com psicologa e alimene que possamos prevenir doenças que aparecem devitação natural com nutricionista, para todos os públicos. do a praticas de risco à saúde, como alimentação ruim, Será uma manhã de troca, para aprendermos sobre ausência de exercícios, álcool excessivo e tabagismo saúde e qualidade de vida. dentre outras coisas. É fundamental fazer os exames Os detalhes serão públicados na pg @fundamentalmove Joselin Carrillo SET/OUT de 2019 REVISTA GRAJAÚ 11 preventivos, pois o diagnóstico precoce salva vidas. www.revistagrajau.com.br
Projeto Movimento Fundamental
Saúde
quero ajudar na saúde Por Alunas da Oficina Comunica
V
isitamos a Unidade Básica de Saúde (UBS) do Jardim Gaivotas e entrevistamos a gerente Flávia Carrascosa, que atua nela há 2 anos. Esta unidade possui dois prédios adaptados para atender a comunidade local, possuem em média 18 mil pessoas cadastradas e entre 5.200 famílias. O programa de atendimento é o “Saúde da Família” que é do Ministério da Saúde do estado de São Paulo e atua por território. Cada local é ocupado por uma equipe, a equipe da “família”, que é composta por um médico, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e um agente comunitário de saúde (ACS), que mora na comunidade e visita as residências todo mês, colhendo informações que são levadas para a UBS. São 81 funcionários no total, sendo uma equipe de saúde bucal formada por dois dentistas que também auxiliam no atendimento as famílias. Outro programa importante é o “Núcleo de Atenção a Saúde da Família” o (NASF), profissionais de diferentes áreas auxiliam o médico da família com atendimentos pontuais, contém um pediatra, um psicólogo, um terapeuta ocupacional, um fonoaudiólogo, um assistente social, um fisioterapeuta, um nutricionista e um educador físico. Além do atendimento pontual e mensal da unidade eles realizam muitas outras atividades para ajudar no desenvolvimento, crescimento e conhecimento da comunidade. São palestras, oficinas e orientações
oferecidas aos grupos formados por gestantes, planejamento familiar, diabéticos e outros. A UBS, como tantos outros prédios adaptados nas comunidades, sofre com a questão de acessibilidade e está buscando melhorias para sanar o quanto antes essa falha. Perguntamos a gerente se ela visualizava melhorias para a UBS, ela citou o cooperativismo da comunidade, comunicação, parceria e apoio. Após, entendermos como é dividido e subdivido as atividades e os profissionais fomos confiantes a pergunta que nos levou a entrevista, quantos são os voluntários? Segundo a gerente não possui nenhum. “Não há, e a gente gostaria, mas não existe” ressalta Flávia, e nos explica a importância de ter voluntários atuantes da comunidade, porque é o local que ele (atendido) mora, e para ser voluntário precisa estar presente as reuniões que acontecem toda primeira quarta-feira do mês das 8h às 10h junto ao Conselho Gestor que é integrado por membros da comunidade. Na reunião é discutido tudo o que pode e o que não pode na unidade para o benefício da comunidade. Não adianta reclamar se você não dá a sua opinião do que tem que melhorar. Flávia prioriza a importância do voluntáriado e que esse ato está aberto a todo mundo, que essa atitude vai auxiliar em diversas questões e a primeira ação é ir à reunião e manifestar o desejo de ser voluntário. Então, você, Morador do Jardim Gaivotas se voluntarie e ajude a beneficiar o próximo! UBS GAIVOTAS: localizada na Avenida São Paulo, 23 – Jardim Gaivotas - Todo cidadão brasileiro tem direito a atendimento gratuito e integral das UBS. Esse texto foi produzido pelas alunas Amanda Gomes de Jesus, Isabelly Cristina Silva, Maria Eduarda Mingarelli de Paula, Nicolly dos Santos, Paula Maria Cipriano Barros da Silva do 7º ano da Escola Estadual Benedito Célio da Siqueira como resultado das atividades produzidas na Oficina Comunica, realizada pelo projeto Histórias e Memórias de Grajaú do coletivo Expressão Cultural Periférica – ECP. De Agosto a Setembro de 2019.
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Adolescente Saudável
informação é transformação Por Valéria Ribeiro
É
na vida adulta?
disso que se trata o Programa Adolescente Saudável financiado pela AstraZeneca, e desenvolvido por meio da ONG Plan Internacional no Brasil e em mais de 20 países. O programa trabalha com a saúde integral do adolescente, principalmente focando a prevenção das doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, pressão alta dentre outras. A ideia do programa é conscientizar os adolescentes e jovens que quanto mais cedo eles se cuidam e se atentam para essas praticas mais eles vão ter qualidade de vida quando estiverem mais velhos e não vão adquirir doenças que aparecem conforme os comportamentos de riscos. São trabalhadas as questões sobre alimentação saudável, atividade física, consumo de álcool, tabaco e narguilé, que são os maiores causadores de doenças segundos os índices de saúde. O projeto acontece no Distrito do Grajaú e no Capão Redondo. No Grajaú atuou ano passado nas escolas Ilda Vieira Vilela e Washington Alves Natel, ambas no Parque Residencial Cocaia. Esse ano a atuação acontece na escola Ilda e no CCA Rosa Mística, no Jd. Sabiá. No Capão Redondo a ação acontece na EMEF Professor Mário Marques, Centro de Juventude Kahohara e CJ Magdalena. Para a realização das oficinas foi desenvolvido um currículo de 8 meses onde acontecem encontros semanais com as turmas para trabalhar essas temáticas, depois eles vão para outros espaços dentro do território para multiplicar essas informações. Foi acrescentada na formação um módulo que trabalha com a identidade, gênero e sexualidade, “porque não tem como estar dentro da periferia, dentro de bairros vulneráveis sem trabalhar temáticas relevantes como é o caso da gravidez na adolescência e os métodos contraceptivos ” fala Aline Neves, facilitadora do projeto. A ideia é formar educadores pares passando a informação de igual pra igual e de jovem pra jovem. Durante um ano acontecem as formações e depois eles estão aptos a multiplicar a informação para aqueles que quiserem, ou na escola, ou com os amigos ou na igreja, dependendo da temática com a qual se identificam.
Thiago e Gabrielle que são multiplicadores no programa Adolescente Saudável Thiago, 16 anos, e Gabriella 15 anos , estudam na escola Ilda e participam do projeto. Hoje já são multiplicadores. “Depois que a gente começou a conhecer os temas no projeto percebemos a grande ausência do tema na escola”, fala Thiago.
“Pra mim foi muito importante porque ele mudou o jeito que eu pensava, eu amadureci, fiquei menos tímida depois do projeto, mudou também na minha casa, eu não conversava muito com minha mãe sobre alguns assuntos”
Na conversa com os jovens nota-se que o projeto vai para além da informação, contribui para que se tornem mais informados e articulados, conhecedores de uma causa e conscientes da importância de compartilhar o aprendizado com os colegas. “Principalmente com os amigos a gente nunca parava para conversar sobre assuntos como comportamentos de risco, sexualidade e gênero.” relata Thiago. Eles também fazem um estudo do contexto do bairro, o que agrega muito a vida deles e ao projeto. “Antes (do estudo de contexto), não pensava como era meu bairro, ... depois eu percebi que meu bairro é bem vulnerável, tem uma grande taxa de gravidez na adolescência e em contraponto acabei percebendo que tem muito projeto legal também.” reflete
Saiba Mais:
adolescentesaudavel
Roda de Conversa: Comportamentos de Risco na Adolescência que Causam Doenças Crônicas
Você adolescente de 12 a 18 anos, venha participar desse bate-papo com os jovens multiplicadores . Quando: Sábado - 09 de Novembro às 16h30 Onde: Espaço Cultural e Gráfica ECP Rua Boaventura Ferreira, 159 - Jd. Reimberg (Retorno do Reimberg, na rua acima do Pastel da Val) Vagas Limitadas Faça sua inscrição pelo ZAP 95854-6101 SET/OUT de 2019
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Ação
TUNEL DOS HORRORES Por Gi Barauna
P
or que alguns jovens são apaixonados pelo fantástico, o que os atrai? Será que o cenário sombrio e mórbido é o que aguça a imaginação ou é aquele medo gostoso que nos é proporcionado ao mesmo tempo curiosidade? O Túnel dos Horrores no Grajaú completou 30 anos e conhecer um pouco da trajetória do idealizador de um evento que mexe com o imaginário de jovens há 3 décadas, pode nos ajudar a entender a incógnita misteriosa. Daniel Ribeiro, produtor cultural, morador do Grajaú, desde muito pequeno já transitava entre o assombroso e o sacro, segundo ele, o túnel dos horrores e a religião tem uma ligação secreta, e nos conta que foi nos encontros religiosos em Inhapim (MG) onde ele passou grande parte da infância. Viveu em casarões antigos, repleto de sons desconhecidos, morcegos, animais barulhentos e tantos outros itens possíveis que pudessem assustar um ou outro irmão. Foi aguçado pela própria mãe que também muito imaginativa lhe inspirou, recorda-se feliz “A gente andava naquelas estradinhas sombrias, íamos rezando até onde seria a novena e minha mãe contava muitas histórias de assombração, mesmo a gente indo para as novenas e ela nos assustava dizendo: “Cuidado porque se vocês não rezá, a porteira vai abrir e vai sair não sei o que?”. Acrescenta, “Minha irmã mais velha voltava antes pra casa e eu não entendia, depois descobri que era porque ela ficava escondida embaixo das escadarias, outras vezes colocava lençol na cabeça e aquilo me encantava e eu mesmo começava a bater nos pisos para os animais fazerem os barulhos, porque eu comecei a gostar de ouvir eles berrando e comecei a ajudar ela (a irmã) a assustar também, eu não tinha medo eu queria era participar daquilo”. Em 1986, ao finalizar a primeira turma de teatro que ministrava na Associação de Moradores do Parque Residencial Cocaia, atualmente UBS (Unidade Básica de Saúde), o jovem ator Daniel consegue a partir desse momento exprimir o desejo de criança e o que estava guardado há anos começou a tomar forma. De suas mãos hábeis surgiu cenário, figurino, maquiagem, os bonecos, tudo construído artesanalmente, o que é assim até hoje. O artista não abre mão da construção ‘literalmente’ e deixar tudo como ele deseja. Wilma Faundez, artista do evento, diz “Aprendi muito, Daniel é uma pessoa comprometida com o trabalho e além do
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trabalho” e completa, “O Túnel é um trabalho sensorial, artesanal e leva à comunidade algo diferente, feito com criatividade e a união de todos os participantes que são amigos, que com alegria, fazemos acontecer um espetáculo TERRÍVEL, para divertir e arrepiar o público”. Para compor toda a magia também é preciso de pessoas engajadas que também carregam consigo o amor pelo mistério, é o caso de Diogo Bitencourt, que cresceu acompanhando os espetáculos, nos conta que seu primeiro emprego foi Daniel quem arrumou no Teatro Paulo Eiró e aprendeu muito sobre iluminação, cenário, foi convidado a integrar o elenco do túnel e realizaram juntos por muitos anos toda a produção do espetáculo. Em 2018, o Centro Cultural do Grajáu recebeu quase 2.000 mil pessoas para se “assustar” com zumbis, monstros dentro do túnel arrepiante que vem se transformando ao longo dos anos e no próximo dia 26 de Outubro às 16h você está convidado a presenciar mais esse espetáculo que representa vivamente o amor pela “morte”.
Contatos para eventos: Daniel Ribeiro Email: fabrika2@bol.com.br WhatsApp: 55 11 98031-3406
Kalunga Meu Trabalho
Grande RIOS DE SANGUE, CORPOS NEGROS JOGADOS AO MAR
Favela, a filha mais nova de dona senzala O Grupo Identidade Oculta e o Espaço Cultural Cazuá formam um coletivo de artistas que constitui a Associação Cultural Cafundós, tendo como missão desenvolver, difundir e fomentar projetos e ações culturais em territórios de alta vulnerabilidade social.
“90 dias em alto mar "90 dias em alto mar mar, alto mar Alto mar, alto mar AltoParece um trem Parece um vagão Não, não Parece um trem É um camburão" Parece um vagão Não, não É um camburão”
PROJETO
SINOPSE
Por Valéria Ribeiro
O
PREPARANDO O TERRENO
PRÓXIMAS APRESENTAÇÕES Local: CPCD Vargem Grande Data: 29 de Outubro (terça-feira) Horário: 14:00 hrs Endereço: R. das Figueiras, 27 Colônia (Zona Sul), São Paulo Local: Ocupação 9 de Julho (Vivencia teatral) Data: 17 de Novembro (domingo) Horário: 11:00 hrs Endereço: R. Álvaro de Carvalho, 427 Bela Vista, São Paulo -
CAMINHO
VÍDEOS
EQUIPE
CONTATOS
s sons dos instrumentos ecoam pelo ambiente empurrando o espectador para sua vivência ancestral, ninguem da periferia tem outra origem. A percussão entra com força colocando a galera pra dançar. A forte presença africana nos leva a um certo transe, a uma reflexão que só está começando e já reverbera em nossa alma. Assim é o espetáculo Kalunga Grande, Rios Sangue, Corpos Negros Jogados ao Mar, dirigido por Janaína Soares, que de forma intensa, apresenta um contexto comum na periferia, mas que muitas vezes acaba sendo deixado em segundo plano na correria das lutas diárias. A história que não é história, pois ainda hoje acontece. O corpo periférico é o corpo negro, das senzalas. O espetáculo envolvente traz falas profundas, que aliadas as músicas provocam uma sensação de urgência, de ação, de revolução. O Grupo Identidade Oculta e o Espaço Cultural Cazuá formam um coletivo de artistas que constitui a Associação Cultural Cafundós, tendo como missão desenvolver, difundir e fomentar projetos e ações culturais em territórios de alta vulnerabilidade social estão juntos nessa empreitada. O elenco da peça é composto por Alan Zas, Alene Alves, Ariadne Caroline, Fernando Oliveira, Ingryd de Oliveira, Liliane Rodrigues e Paulo Henrique Sant’ Anna. Trabalho profundo, construtivo e de qualidade. Se você ainda não viu está marcando bobeira. Duração: 90 minutos Recomendação etária: 12 anos
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CULTURA
REPRESENTATIVIDADE NEGRA NA LITERATURA INFANTIL
‘Livro Pé de Goiabeira, traz a visão de mundo pelos olhos de uma criança negra’ Por Michelle Marques
O
mercado literário é inundado anualmente com centenas de títulos novos, seja na versão impressa ou mesmo na opção virtual, mas será que leitor já parou para pensar quanto dessa literatura representa a cultura afro-brasileira? Quanto deste conteúdo é escrito por mulheres? Quantos protagonistas dessas histórias são negros? Como um respiro de representatividade, o livro infantil “Meu Pé de Goiabeira” da autora Lucimeire Juventino publicado pela editora Filoczar e ilustrado pelo grafiteiro Rafael Mut, vem remando na contramão do sistema trazendo uma criança negra e o meio em que vive como tema principal. Nascida e criada no bairro do Grajaú, distrito do extremo sul da cidade de São Paulo, Lucimeire demonstra sua forte ligação com o território onde vive e sua constante preocupação com as crianças. “As crianças se desenvolvem por meio da socialização e quais oportunidades esse nosso território concede para que elas se desenvolvam de uma maneira saudável? ”, questiona Juventino. Para ela, a infância em nosso país tem “cor”, como educadora, ela pode constatar que existe uma diferenciação entre o fazer algo de uma criança branca e uma negra, pois normalmente a segunda é taxada como marginal, como se sempre houvesse algum tipo de intenção por trás de cada ato, sendo que as crianças são iguais em sua essência. Segundo Lucimeire, é necessário que princi-
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palmente a escola se atente para isso na intenção de combater esse estigma que é uma forma de racismo. O desejo de fazer parte do mundo literário surgiu desde sua infância, mas não conseguia se ver nesse universo, pois não se recorda de nenhuma personagem que fosse negra nas histórias. Sua família teve importante participação na construção desse sonho, pois se reunia constantemente para realizar saraus, encontros musicais e havia a tradição de contação de histórias onde os saberes ancestrais, principalmente de sua avó, eram repassados. Lucimeire se recorda de subir no pé de goiabeira em seu quintal e de lá observar todo o movimento da rua, o vendedor de quebra queixo, o senhor negro que consertava televisões em frente à sua casa e como todas essas lembranças contribuíram para a materialização dessas memórias em forma de livro. Para ela, essa história contada pela visão de uma criança negra, traz a possibilidade delas próprias significarem a sua existência e produz representatividade também. Contadora de histórias, Lucimeire leva o Pé de Goiabeira até as escolas e confessa que a parte da atividade que mais gosta é o bate papo com o autor, onde pode ouvir as crianças e sentir as suas percepções sobre o mundo e incentiva-las a ser tudo o quiserem, inclusive escritoras de suas próprias histórias. Juventino acredita na formação de uma comunidade educativa e que as pessoas precisam de oportunidades, necessitam de acesso para a construção de uma sociedade mais equânime e afetiva.
CULTURA
M
ais uma vez o Grajaú representa país afora, dessa vez a cultura de nossa quebrada vai estar na Flia 2019, a Feira Literária de Assis, no interior de São Paulo. A Revista Grajaú teve a honra de ser convidada para partircipar desse momento importantíssimo da agenda cultural da cidade, juntamente com a escritora Lucimeire Juventino e com as cantoras do Graja Minas a arte grajauense só floresce. Confira a Programação: NO DIA 02/11/2019 (SÁBADO)
Informações:
Feira Literária de Assis
19h - Valéria Ribeiro e Susy Neves, integrantes do coletivo Expressão Cultural Periférica, estarão na “Roda de Conversa: Escritas de Luta” colocando em discussão a Revista Grajaú. Local: Rua Travessa Sorocabana, 40 - Assis - SP 23h - Show Grajaminas - Coletivo Graja Minas da zona sul de São Paulo, composto hoje por 7 poetisas que através da música expressam em suas letras a vivência do cotidiano periférico e de seus universos particulares Local: Lado externo do Galpão Cultural. Show aberto a todos os públicos e gratuito.
CURTA
Não existe idade para ser feliz através da dança Por Cris Demetria A dança te faz feliz. Está é uma afirmação verdadeira e vivenciada por muitas pessoas, não importando a idade. Nos tempos atuais os paradigmas estão sendo quebrados e muitas pessoas estão se dedicando a fazer coisas que lhe tragam felicidade. Esse sentimento se concretiza a cada dia. Visitamos um projeto que se chama Soul Samba Rock. Este surgiu com a iniciativa dos professores Darci Jeremias, Daniel Santos e Vilma Conceição que há onze anos passaram de alunos a professores. Juntos desenvolvem o projeto no Centro Cultural do Grajaú, todas as quintas e sextas das 18h às 19h30. Eles aplicam através da dança o conhecimento da cultura e da arte do Samba Rock no decorrer da história da sociedade, levando para a comunidade uma oportunidade de conhecimento cultural, lazer, atividade física e socialização. Foi em uma dessas visitas que conhecemos a senhora Maria do Rosário Ignácio, 72 anos, que recebeu o título de primeira dama do samba rock, pelo Mestre Ataliba (Arte Educador, Coreógrafo, Palestrante e Professor). Carinhosamente cha-
mada de Dona Rose, ela já se apresentou com companhias de danças em diversos espetáculos. Sempre foi apaixonada por dança, mas a prática só veio depois de anos. “A dança para mim é tudo, meu bem-estar, onde eu vou para as nuvens, a dança me proporcionou momentos muito bons. Depois dos filhos criados, encaminhados na vida, me senti muito só. Então, comecei a procurar aulas e encontrei o Samba Rock, ele é minha terapia. Lavo minha alma quando estou com a galera. Dançar, dançar e dançar, não importa o ritmo, se está dançando mal ou não, quem dança é mais feliz” nos disse muito emociona-
da. Conhecemos também o Sr. José, 67 anos, que entrou na dança através do incentivo de um amigo, para melhorar a saúde. “Nossa, demorou um ano para eu pegar a base, me esforcei muito, ganhei até um prêmio na aula, de aluno mais esforçado, e consegui. Já danço há 5 anos”, nos contou muito feliz. Se você tem vontade de dançar, faça como a Dona Rose e o Sr. José se joga na pista, procure uma aula de dança, e não desista, persista. Não importa a sua idade, dançar te fará muito mais feliz. Se estiver tímido, vai com timidez e tudo.
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ARTES
PRIMAVERA DA VIDA Por Gi Barauna “Sejamos como a primavera que renasce cada dia mais bela... Exatamente porque nunca são as mesmas flores.” (Clarice Lispector).
A
palavra primavera é encontrada em diversas produções poéticas e/ou em sentido figurado de juventude, princípio, mocidade, tempo primaveril ou mesmo para assinalar aniversários. Renascemos cada vez mais belos e exatamente porque nunca somos os mesmos. Um exemplo vivo e pulsante dessa metáfora são os encontros do Centro de Arte Promoção Social (CAPSArtes), que desde sua fundação o que os alimenta é o amor pela arte, a vida, valorizando talentos, partilhando e compartilhando conhecimento adquirido nesses anos. O mês de Setembro já com alguns dias de altas temperaturas foi o mês escolhido para realizar duas ações já esperadas por grande parte da população do Grajaú, o Aniversário do coletivo e a Carreata Poética e dentro à procissão poética enaltecendo a literatura homenageada no ano. O CAPSArtes convidou também todo o Grajaú para conhecer sua mais nova criança. “ABSCESSO” de Maria Vilani, 3º livro publicado pelo Selo Capsianos é uma coletânea poética que, segundo a autora, “faz recortes de sua realidade subjetiva e política, a versar sobre questões atualíssimas e urgentes”. Para gestá-lo Maria Vilani contou com amigos e profissionais imensamente queridos para que nascesse de parto normal. A organização ficou por conta de Luan Siqueira, Revisão Fabio Lucas, direção de arte Alessandra Silveira, Comunica-
ção Dulce Reis, produção executiva Priscila Moreira. O prefácio ficou por conta da escritora Heloisa Buarque de Hollanda.Brincar que o livro é uma criança é uma maneira pela qual a escritora apresentou os padrinhos Suzi Soares e Binho, amigos que “presenciaram” a
fecundação desse feto. Estar presente nestas ações é presenciar nascimentos e casamentos poéticos, parcerias musicais e teatrais, se deliciar com poemas e poesias, reflexões filosóficas, espaço de possibilidades mil. Nesse ano em que completou 29 anos de (R)existência uniu no dia em que recebemos a Primavera de 2019 o Aniversário e a Carreata Poética para festejar por mais de 10 horas literatura de Cordel. A festa começou cedo com o café da manhã na Ação Educativa, no centro, depois partiu em procissão poética até a Praça da República, seguindo então em direção a zona sul, no bairro do Socorro para o almoço e Sarau no Projeto Clamarte. Na parte da tarde se dirigiu ao Centro Cultural Grajaú onde unindo-se ao Festival Primavera – Primavera Transcende, do Coletivo Nóis Por Nóis. O CAPSArtes recebeu coletivos, cordelistas, músicos, atores, amigos, muitos e muitos amigos. Patrícia Silva participou da carreata poética pela primeira vez, ela passou a acompanhar as ações do CAPSArtes quando foi a Roda de Educação – Imersão na obra de Paulo Freire uma das rodas realizadas aos sábados na sede capsiana na Rua Jequirituba, 325. Pq. América. Diz-nos que: “Foi uma experiência muito significativa por ter homenageado o cordel e a cultura do Nordeste e principalmente pela periferia ocupar o centro da cidade aquecendo uma manhã fria com poesia, sorrisos e cantos, reafirmando sua existência. Durante a pausa no espaço Clamarte, com acolhida o almoço e o sarau lembrei-me da simplicidade, aconchego, alegria e vivacidade que os encontros periféricos nos promovem”, finaliza Patrícia. Conheça mais e siga o projeto nas redes sociais:
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