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đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ COLABORADORES “Entrevista em ĂŞnfaseâ€? – Michael J. Vlach Professor de teologia do The Master’s Seminary e autor de diversos livros. Michael ĂŠ especialista nas ĂĄreas de Teologia SistemĂĄtica, Teologia HistĂłrica, ApologĂŠtica e ReligiĂľes do Mundo. Sua ĂĄrea especĂfica de especialização diz respeito Ă nação Israel e questĂľes relacionadas Ă refutação da doutrina da Teologia da Substituição.
“MĂşsica em ĂŞnfaseâ€? - Jaime Fernandes da Costa Junior Licenciatura em RegĂŞncia pela Universidade do Estado do Amazonas - UEA (2009). Bel. em Teologia pelo SeminĂĄrio Batista Regular do Sul (2013); Pastor de MĂşsica da Igreja Batista Manancial em Fortaleza - CE (2014). Contato: jaime@manancial.org.br
“Arqueologia em ĂŞnfaseâ€? - Rand Cook Teologia (Iowa, EUA), mestrados em Missiologia (Indiana, EUA) e Velho Testamento (Michigan, EUA), doutorando em pregação expositiva no Master´s Seminary. PĂłs-graduado em Hebraico e Arqueologia (JerusalĂŠm, Israel). Autor do livro JerusalĂŠm nos dias de Jesus (Ediçþes Vida Nova) e membro do comitĂŞ de tradução da BĂblia NVI para o portuguĂŞs. Trabalhou como missionĂĄrio no Brasil pela ABWE. Casado com Phyllis, com quem tem 3 filhos.
“HistĂłria em ĂŞnfaseâ€? – Pr. Charles Bronson A. do Nascimento Licenciatura em HistĂłria pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). PĂłsgraduando em ApologĂŠtica CristĂŁ pelo SIBIMA/CE. Igreja Batista Regular Central de MossorĂł, RN. Contato: charles.nascimento@yahoo.com
“MissĂľes em ĂŞnfaseâ€? – Jenuan Lira. Pastor titular da Igreja BĂblica Batista do Planalto em Fortaleza-CE e Presidente do MinistĂŠrio Multicultural Maranata (MMM). Professor de Exposição BĂblica e MinistĂŠrio Pastoral. MA em Aconselhamento BĂblico (The Master’s University), BTh (SeminĂĄrio Batista do Cariri), Licenciatura em Letras (UECE). Contato: jenuan@terra.com.br
“Livro em ĂŞnfaseâ€? – Diego Ramos. Mestre em Divindade pelo The Master's Seminary (Sun V alley , CA/EUA). Treinamento em ApologĂŠtica Criacionista pelo Answers in Genesis (Petersburg, KY/EUA). Licenciado em FĂsica pela Universidade Federal do CearĂĄ (UFC). Igreja Batista BĂblia do Planalto, Fortaleza/CE. Contato: dramos.tms@me.com
“Sociedade em ĂŠnfaseâ€? – Addson Costa Bel. Teologia pelo SeminĂĄrio e Instituto BĂblico Batista Bereiano (SIBB). Mestrado em estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). CapelĂŁo militar do ExĂŠrcito Brasileiro. Igreja Batista Regular do Pajuçara, Nata/RN. Congregação Batista Regular em Santo AntĂ´nio do Potengi/RN.
“Devocional em ĂŠnfaseâ€? – Dennis Salgado Mestrando em Divindade no SeminĂĄrio TeolĂłgico Shepherds, EUA, estĂĄ servindo no ministĂŠrio Sabedoria para o Coração, traduzindo e pregando as mensagens do pastor Stephen Davey, as quais sĂŁo transmitidas no Brasil pela rĂĄdio BBN.
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đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ EDITORIAL Nossa 3ÂŞ revista chega aos leitores com a alegria de saber que estamos disponibilizando textos de assuntos variados, com reflexĂľes, anĂĄlises, opiniĂľes e insights que enfatizam a Palavra de Deus como norteadora da nossa mentalidade e conduta cristĂŁs. A “entrevista em ĂŞnfaseâ€? ĂŠ com o teĂłlogo Michael Vlach (The Master´s Seminary), abordando o tema do dispensacionalismo, nos seus aspectos histĂłricos, teolĂłgicos e as questĂľes mais recentes em torno dessa importante temĂĄtica. Autor de “Dispensacionalismo – crenças essenciais e mitos comunsâ€?, coautor de “Os planos profĂŠticos de Cristo – um guia bĂĄsico sobre o premilenismo futuristaâ€?, ambas jĂĄ em portuguĂŞs pela Editora Peregrino. Seu livro mais recente ĂŠ uma teologia bĂblica enfatizando o tema do reino, intitulada He Will Reign Forever: A Biblical Theology of the Kingdom of God. O Pr Jenuan Lira escreve “MissĂľes em ĂŞnfaseâ€?, relembrando a necessidade de mais obreiros para a seara do Senhor, particularmente para a Guiana Inglesa. Suas palavras sĂŁo uma maravilhosa “crĂ´nica missionĂĄriaâ€?, nos dando a impressĂŁo de estarmos ao seu lado numa viagem por esse paĂs, carente da proclamação do Evangelho de Cristo e de lĂderes nas igrejas jĂĄ estabelecidas. Pr. Jaime Jr (MĂşsica em ĂŞnfase), dĂĄ continuidade as respostas para a pergunta “Por que cantar ao Senhor?â€?, num texto iniciado na edição dois. Sua proposição em anĂĄlise ĂŠ a de que a mĂşsica expressa e molda nossas afeiçþes. No “Devocional em ĂŞnfaseâ€? o Pr. Denis Salgado, chama os leitores a um “Encontro Marcadoâ€?, atravĂŠs de ĂŠxodo 3.1–6. “A vida ĂŠ, de fato, feita de encontros... As Escrituras sĂŁo repletas de encontros, o mais grandioso deles sendo, evidentemente, o encontro da humanidade com o seu Deus Criador revelado de forma corpĂłrea na pessoa de Jesus Cristo, o Senhor Salvadorâ€?. Com o axioma “NinguĂŠm quer morrer!â€? intitulando sua reflexĂŁo, o Pr. Addson Costa (Sociedade em ĂŞnfase), discorre acerca do controverso e triste tema que ĂŠ o suicĂdio. Sua anĂĄlise ĂŠ indiscutivelmente relevante para o cenĂĄrio brasileiro em particular. Com diretrizes bĂblicas a partir da ĂŠtica cristĂŁ, ele traz relevantes instruçþes prĂĄticas para lidar com essa questĂŁo difĂcil. O pastor e mestre Randy Cook (Arqueologia em ĂŞnfase), dĂĄ “uma verdadeira aulaâ€?, atravĂŠs do texto “A histĂłria bĂblica - como foi escrita e como a lemos (parte I)â€?. Primeiro explica com clareza, a importante distinção entre historiografia e historiosofia. Em seguida, descreve dois pontos: i) a natureza da histĂłria bĂblica e ii) a transmissĂŁo da histĂłria de Israel. O livro objeto de uma resenha pelo Prof. Diego Ramos (Livro em ĂŞnfase) ĂŠ “Pregação expositiva: como pregar biblicamenteâ€?, que em breve, serĂĄ lançado em portuguĂŞs pela Editora Peregrino. Trata-se de uma obra editada pelo Pr. John MacArthur com colaboraçþes do corpo docente do The Master’s Seminary. “Nem o Papa, nem Luteroâ€?, ĂŠ o artigo que escrevo, com duas partes principais: um panorama do contexto da Reforma, destacando como “a atmosfera criada por fatores sociais, polĂticos e culturais, tambĂŠm ajudaram a pavimentar o caminho para a Reforma Protestanteâ€?; e um perfil histĂłrico e doutrinĂĄrio dos anabatistas, reconhecendo tambĂŠm sua prĂłpria heterogeneidade dentre os movimentos protestantes da ĂŠpoca. Desejo uma Ăłtima leitura! â€œĂŠnfase cristĂŁâ€? para a glĂłria de Deus, Pr Charles Nascimento
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đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ MĂšSICA EM ĂŠNFASE
Por que cantar ao Senhor? (Parte 2) Por Jaime F. da Costa Junior
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o estudo passado vimos que cantar louvores ao Senhor ĂŠ um dever de todo crente. A bĂblia repete vĂĄrias vezes este mandamento: “Cantai ao
O coração representa o centro das nossas emoçþes, pensamentos e desejos. EntĂŁo, cantar louvores de coração ao Senhor ĂŠ cantar a Sua glĂłria com sinceridade, com prazer e com interesse genuĂno por agradar a Deus em resposta adequada ao que Ele ĂŠ e ao que faz.
Senhor�.
Mas por que cantar? simplesmente declamar louvores?
NĂŁo
poderĂamos
Veja que a adoração envolve uma harmonia entre razão e afeição.
Vimos que um dos motivos para cantarmos os louvores ao Senhor ĂŠ para que memorizemos, atravĂŠs da mĂşsica, os preciosos ensinos das Escrituras Sagradas, a fim de meditarmos e aprendermos mais sobre quem ĂŠ Deus e sobre Seus maravilhosos feitos.
É possĂvel que uma pessoa louve ao Senhor, externamente, com sua boca, mas nĂŁo o ame, internamente. Isto, porĂŠm, seria adoração verdadeira? Lembremos o que Jesus citou no evangelho de Mateus 15.8,9: “Este povo honra-me com os lĂĄbios, mas o seu coração estĂĄ longe de mim. E em vĂŁo me adoram, ensinando doutrinas que sĂŁo preceitos de homens.â€?
EntĂŁo, para que os louvores a Deus estejam em nossa boca ĂŠ necessĂĄrio que estejam primeiro em nossa mente. Agora veremos outra razĂŁo importantĂssima porque devemos cantar em adoração ao Senhor, e isso tambĂŠm tem a ver com uma caracterĂstica marcante da mĂşsica, a saber: • A MĂşsica Expressa e Molda nossas Afeiçþes
Para adorar a Deus não basta ter algum conhecimento dele e elogiå-lo, sem ter afeição por Ele. Como posso declarar que o Senhor Ê maravilhoso, sem me maravilhar com Ele? Como posso cantar que Deus Ê santo, sem me importar com a Sua santidade?
AtravĂŠs do texto de EfĂŠsios 5.19 (“falando entre vĂłs com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituaisâ€?) concluĂmos que Paulo mostra que cantar louvores ao Senhor ĂŠ um dever do crente que procura fazer a vontade de Deus e encher-se do Seu EspĂrito. Mas ainda hĂĄ um detalhe importante: Paulo diz que devemos entoar e louvar de coração ao Senhor.
Imagina alguĂŠm que ouve sempre de certa pessoa: “Eu te admiro muito pela boa pessoa que vocĂŞ ĂŠ e gosto sempre de estar ao seu ladoâ€?. Agora, serĂĄ que se a pessoa elogiada descobrir que aquele que sempre a elogia desse jeito, na verdade nĂŁo gosta dela, vai ficar feliz quando ouvir outra vez o mesmo elogio do seu suposto admirador? Certamente que nĂŁo, pois ĂŠ uma atitude hipĂłcrita.
Sabemos que louvar ĂŠ elogiar, declarando os atributos peculiares do objeto de louvor. Louvamos a Deus reconhecendo que Ele ĂŠ o Criador todo-poderoso, o Soberano Senhor, o Salvador, Deus santo e perfeito, justo e justificador, amoroso, gracioso, misericordioso, bondoso, benigno, consolador, provedor, sustentador, maravilhoso, glorioso, fiel, verdadeiro, eterno, altĂssimo, onisciente, onipresente, transcendente e imanente, etc.
Devemos sempre levar em conta que o nosso cântico de louvor ĂŠ para Deus e que Ele estĂĄ nos ouvindo sempre, atĂŠ o que fala o nosso coração. Paulo diz: “entoando e louvando de coração ao Senhor...â€? Se nĂŁo cantamos de coração ao Senhor, a pessoas ao nosso redor podem nĂŁo saber, mas Deus o sabe. A adoração deve ser em espĂrito e em verdade, isto ĂŠ, uma resposta sincera e apropriada do nosso espĂrito (coração) em relação a e de acordo com a verdade divina.
Veja que o ser de Deus, pelo que Ê, Ê digno de todo louvor e honra, e requer adoração. Serå que alguÊm que conhece este Deus e se relaciona com Ele pode adorå-lo verdadeiramente sem ser de coração?
Sabemos que as letras dos hinos que cantamos devem ser corretas teologicamente, edificantes e com boa
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qualidade poética. Mas isto não é suficiente. É preciso expressar o nosso louvar a Deus com as afeições corretas.
Acredito que salmos, hinos e cânticos espirituais são termos, na bíblia, que se referem mais a tipos de letras em música do que a diferença de estilos musicais. E concordo com H. R. Rookmaaker quando afirma que “a música não é apenas letras. Sua expressão é total, e mais na melodia, no ritmo e na harmonia do que nas letras”. Portanto, na adoração é preciso usarmos músicas que se harmonizem com a letra, que sirva para promover em nós emoções corretas que nos dirijam a Deus, e que sejam dignas do Seu caráter santo.
Então, qual a melhor maneira de expressar didática e formalmente as emoções? Através da arte. Na literatura há a poesia, as figuras de linguagens que aguçam nossa imaginação; nas artes plásticas há as imagens, as formas, as cores, as esculturas que cativam nossos olhos; e na música há os sons, as melodias, o ritmo, a harmonia, timbres, as formas musicais que encantam nossos ouvidos e nossa alma.
Se a música molda ou estimula nossas afeições, logo certas músicas podem nos ajudar a nos inclinarmos a Deus, mas outras podem nos seduzir a outras direções, talvez pelo erro de confundirmos as afeições. Por exemplo: Quando dizemos que amamos a Deus, de que tipo de amor estamos falando? Ou quando cantamos que estamos alegres por causa da salvação em Cristo Jesus, sobre que tipo de alegria nos referimos?
Tiago diz: “Está alguém alegre, cante louvores” (Tg 5.13b). Neste pequeno trecho bíblico vejo dois princípios: 1) A alegria é mais um motivo de louvarmos a Deus; e 2) expressamos a alegria naturalmente cantando, isto é, com música. Você já se pegou cantarolando ou assobiando uma melodia quando estava muito alegre? Como disse Victor Hugo: “A música expressa o que não pode ser dito em palavras, mas não pode permanecer em silêncio”.
Se a letra de um hino fala do amor de Deus, mas a música, claramente, promove o amor romântico, é certo que a mensagem não será transmitida corretamente.
Você já viu como um pai fica bobo com as palavras quando nasce o seu filho? Você sabe o que dizer quando alguém perde um ente querido? Como nos expressar diante da verdade de que Cristo morreu em nosso lugar? Como expressar adequadamente louvores a Deus por causa de sua majestade e glória?
Um dos grandes problemas que enfrentamos na sociedade atualmente é que as músicas promovidas pela grande mídia não nos ajudam a moldar nossas afeições para cultuarmos a Deus. São músicas que, em sua maioria, promovem prazer unicamente pelos estímulos físicos que proporcionam e não pela reflexão, ou por sua beleza artística (no melhor sentido da arte).
Jonathan Edwards, escrevendo sobre a forma dos Salmos, esclareceu: “O dever de cantar louvores a Deus parece ser estabelecido inteiramente para estimular e expressar afeições religiosas. Não há qualquer outra razão possível pela qual devamos nos expressar a Deus em verso em vez de em prosa, e fazê-lo com música, mas apenas que a tendência que elas têm de mover nossas afeições faz parte da nossa natureza e estrutura”.
Alguns crentes têm feito uso, no canto ao Senhor, de recursos típicos de cantores mundanos, para propósitos mundanos. Tais cantores sabem o que usar, como usar e o que querem atingir nas pessoas. Tais recursos são contrários à finalidade de adoração em santidade. Então, cuidado! Quando os gostos pessoais dominam podemos ficar embriagados pela música e não cheios do Espírito.
A boa música serve para expressar e promover sentimentos que façam com que a letra seja mais relevante para quem ouve ou canta. Um poema bem declamado expressa emoções, mas o mesmo poema sendo cantado causa um efeito afetivo ainda mais forte. Porém, é bom ressaltarmos que a música sem letra também acentua as emoções.
A música pode moldar nossas afeições. Diante de que tipo de música você fica mais exposto? Uma vez que a música também nos ajuda a expressar nossas afeições a Deus precisamos ter certeza de que a música que usamos promoverá afeições adequadas para a adoração.
No V Congresso da Editora Batista Regular, o Dr. Scott Aniol disse em uma de suas palestras que toda música molda nossas afeições. Sendo assim precisamos garantir que aquilo que cantamos realmente nos inclina para Deus, e promove as afeições adequadas para a adoração. Lembre-se de que Paulo disse: “enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos, e cânticos espirituais...”
Cantar louvores é um dever de todo crente. Devemos cantar para preencher nossa mente com as verdades de Deus. Mas também devemos cantar de coração, expressando nosso amor e devoção ao Senhor e Salvador de nossas vidas. Cantai ao Senhor! Cantai e salmodiai de coração.
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đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ ARQUEOLOGIA EM ĂŠNFASE
A histĂłria BĂblica Como foi escrita e como a lemos (Parte 1) Por Randy Cook1
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ontrariando a definição popular, histĂłria nĂŁo ĂŠ o “estudo do passadoâ€?. Passado ĂŠ passado e nĂŁo pode se repetir2. HĂĄ pouca possibilidade de acesso ao tempo anterior ao nosso, a nĂŁo ser por palavras faladas ou escritas. A arqueologia pode explicar um pouco a cultura antiga e atĂŠ proporcionar algumas ideias sobre como viviam os homens do passado e sobre o que eles valorizavam. Entretanto, a reconstrução do passado fica bem limitada sem um registro verbal. Tal registro pode ser transmitido de forma oral ou por documentos escritos, mas ambas as formas implicam a tradição humana. O acesso Ă histĂłria sĂł ĂŠ possĂvel por meio da tradição.
avaliar e interpretar os dados, passa a empregar, de forma consciente ou nĂŁo, sua prĂłpria estrutura filosĂłfica. Naturalmente, a filosofia de um historiador o orientarĂĄ na tarefa subjetiva de selecionar as informaçþes a serem incluĂdas. Ela tambĂŠm darĂĄ perspectiva Ă sua apresentação dos fatos histĂłricos. Finalmente, ela moldarĂĄ seu alvo ou razĂŁo de escrever. A histĂłria ĂŠ moldada pelos valores do historiador (culturais, polĂticos, religiosos), por seu carĂĄter e perspectiva da vida e por sua cosmovisĂŁo. Aquilo que ĂŠ escrito nunca ĂŠ ditado apenas pelos fatos. Os preconceitos do historiador estĂŁo presentes em sua histĂłria a ponto de ele mal poder fazer uma declaração histĂłrica importante sem que esta se revele influenciada por sua postura diante das evidĂŞncias histĂłricas. A neutralidade de valores ĂŠ impossĂvel. Portanto, quando se ler histĂłria, o primeiro passo a ser dado ĂŠ determinar, se possĂvel, os preconceitos do autor.
De imediato isso levanta trĂŞs problemas: 1) quais registros do passado encontram-se Ă disposição? 2) quais informaçþes foram excluĂdas dos registros? e 3) quais detalhes foram acrescentados a eles? A primeira pergunta pertence Ă historiografia (a coleta dos dados, sua classificação e registro) e as outras duas tĂŞm a ver com a historiosofia (a avaliação e a interpretação dos dados).
NĂŁo importa se o historiador definiu ou nĂŁo seu prĂłprio princĂpio unificador. AtĂŠ a ausĂŞncia consciente de uma filosofia ĂŠ um tipo de filosofia em si mesma. É duvidoso que algum aspecto do trabalho do historiador – pesquisa, registro ou leitura de acontecimentos do passado – possa se ver totalmente livre de tais preconceitos. Na melhor das hipĂłteses, isso ĂŠ apenas uma questĂŁo de grau, pois ninguĂŠm trabalha num vĂĄcuo filosĂłfico e ...mesmo documentos rigorosamente historiogrĂĄficos sĂŁo obras literĂĄrias e [...] manipulam os fatos, conscientemente ou nĂŁo, visando a propĂłsitos especificamente polĂticos e artĂsticos. AtĂŠ os poucos textos claramente mais confiĂĄveis do que outros, cujo alvo ĂŠ principalmente literĂĄrio, servem de instrumento de exigĂŞncias ideolĂłgicas preconcebidas3.
O PROCESSO DE COMPOSIĂ‡ĂƒO DA HISTĂ“RIA ESCRITA A distinção entre historiografia e historiosofia quase nunca ĂŠ bem clara. Ambas incluem a escrita da histĂłria: a primeira tem a ver com a metodologia; a outra, com pressuposiçþes. O mecanismo de escrita da histĂłria traz consigo um processo que emprega inevitavelmente os antecedentes filosĂłficos do escritor. Este pode tentar ser cientificamente objetivo em seu mĂŠtodo de reunir informaçþes sobre acontecimentos do passado e, assim, procurar evitar aquilo que o termo “historiosofiaâ€? subentende, mas, no momento em que começa a integrar, 1
Randall K. Cook leciona em Israel numa unidade do Master’s College, com sede em Santa Clarita, CA Nos Estados Unidos. Com o advento do movimento das imagens e da gravação de vozes, isso jå não Ê totalmente verdadeiro. Todavia, a história Ê muito mais complexa e não se limita ao que pode ser capturado num videoteipe. 3 Oppenheim, A. Leo, Ancient Mesopotamia: portrait of a Dead Civilization, University of Chicago, 1964, P. 143-4. 2
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acontecimentos foram plenamente examinados4, a veracidade deles foi comprovada por meio da pesquisa histórica e arqueológica. Embora seja fato que se empregou o processo de seleção do que foi incluído nos relatos bíblicos, em nenhum lugar jamais se provou que um relato bíblico fosse impreciso naquilo que registrava ou que incluísse pormenores inverídicos.
Assim, descartaremos de vez a ideia de que existe algo como “história objetiva”. Em resumo, precisamos escolher outra vez, de modo consciente ou não, uma estrutura de referência para a visualização do passado. Todo historiador faz isso. O perigo está na oportunidade que ele tem de manipular os fatos, em vez de simplesmente selecioná-los. Um historiador pode às vezes estar tão cego por seus próprios preconceitos que ele não tem consciência de estar deixando de fora detalhes que não apoiam sua teoria da história. Pior ainda, ele pode conscientemente desprezar ou torcer fatos que contradigam sua versão da história. Nesses casos, sua seleção de dados torna-se manipulação de fatos.
Tampouco se comprova a suposição comum de que na Bíblia haja falsificação ou embelezamento dos fatos. Houve vários exemplos em que informações novas comprovaram, no fim, a veracidade das Escrituras com respeito a determinado acontecimento anteriormente posto em dúvida pelos estudiosos. O mesmo vale dizer dos próprios documentos bíblicos.
A NATUREZA DA HISTÓRIA BÍBLICA Estudiosos bíblicos têm-se desorientado, por causa da analogia da antiguidade greco-romana, em direção ao exagero de achar possível a “fraude sacra” na falsificação dos registros e dos documentos escritos, acima de toda analogia. Praticamente todo livro e toda passagem do Antigo Testamento foram estigmatizados como falsificação literária por pelo menos um estudioso. Tanto que nunca é demais ressaltar não haver quase nenhuma prova em todo o antigo Oriente próximo de falsificações documentais ou literárias5.
Na questão da historiografia, a Bíblia não é diferente dos outros livros. Há um princípio seletivo discernível empregado na seleção e na organização dos fatos. O Autor (e autores), é claro, tinha em mente certos objetivos que controlavam a escolha ou a exclusão de certos eventos. Além disso, o elemento interpretativo empregado na Bíblia revela que “não se trata basicamente de história no sentido de crônica ou político do termo, mas de um relato descritivo e tendencioso da ação de Deus”. Em outras palavras, uma mensagem específica é transmitida na Bíblia, e os eventos históricos que melhor a ilustram foram escolhidos, enquanto outros foram excluídos.
A Bíblia apresenta uma história como uma série de acontecimentos iniciados por Deus. Não se trata de um processo fatalista a que Deus esteja ligado, nem é resultado do acaso. Deus não se surpreende com o que acontece nem é prisioneiro de um destino inevitável de acontecimentos. Em vez disso, ele irrompe na história humana em vários momentos. Às vezes, isso acontece por meio de fenômenos naturais causados por forças sobrenaturais e, em outras, ocorre em fatos milagrosos. É essa intervenção de Deus na história da humanidade que a Bíblia registra,
Todavia, a Bíblia tem uma posição singular. A diferença deve-se ao Autor. Se aceitamos a Bíblia como a palavra do próprio Deus, devemos curvar-nos com humildade à sua absoluta fidedignidade em todos os pormenores. Assim, embora contenha a heilsgeschichte (“história da salvação”) não significa que ela não seja historie (história “real”). Em todas as partes em que tais
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Essa pode parecer uma maneira simples de sair de uma situação difícil. Com “plenamente examinado” tenho uma justificação a que recorrer se, mesmo após amplo estudo, a prova não parecer apoiar as declarações bíblicas. Há aí um passo de fé na afirmação de que a Escritura é inerrante, já que ninguém jamais conseguiu ir ao encalço de cada pormenor histórico possível. Contudo, estudiosos evangélicos de competência frequentemente forneceram respostas bem satisfatórias à esmagadora maioria dessas passagensproblema (veja, por exemplo, ARCHER, Gleason L, Enclyclopedia os Bible Difficulties, Zondervan, 1982). Ainda assim, para sustentar essa posição, alguns casos devem ser suspensos até que se disponha de maiores informações que dêem a questão por encerrada. Pode-se citar um excelente exemplo que ilustra isso. Até 1917, quando Flinders Petrie encontrou e datou as inscrições de
Serebit al Khadin, o mais longínquo argumento contra a autoria mosaica do Pentateuco era que a escrita alfabética nem sequer existia nos dias de Moisés; portanto, ele não poderia em hipótese alguma ter escrito os cinco livros atribuídos a ele. A data aceito do chamado manuscrito “protoSinaítico” encontrado por Petrie geralmente gira em torno do ano 1550 a.C., cem anos antes de Moisés! No entanto, as negações da autoria mosaica continuam mais fortes do que nunca. Baseiam-se elas agora na identificação subjetiva de vários revisores cujas mão deram a forma atual ao texto. Isso se faz sem a menor prova dos manuscritos. Nenhum manuscrito antigo ou fragmento de manuscrito pode ser identificado como pertencente a J, E, D ou P (sem mencionar D¹, D², etc.). 5 ALBRIGHT, William F., From the Stone Age to Christianity, Doubleday, 1957, P.78.
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extraindo aplicações morais e espirituais para cada homem.
manutenção de genealogias numa sociedade em que as alegações de nobreza e posses dependiam delas) e c) regiões ou períodos em que se desconhecia a escrita, ainda que usada de vez em quando. Todos esses fatores estavam marcantemente presentes na história israelita pré-mosaica. Fatores semelhantemente controladores passaram a existir desde então, conforme asseverou Albright:
Esse princípio de seleção de acontecimentos não é o único aspecto em atividade no registro histórico encontrado no Antigo Testamento. Entretanto, nas palavras de Paulo, pode-se ver que esse princípio teológico é fundamental à historiografia bíblica: “Ora, estas cousas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as cousas más, como eles cobiçaram [...] estas cousas lhe sobrevieram como exemplos, e foram escritas para advertência nossa...”6. Portanto, ao ler a história do Antigo Testamento, devemos tentar identificar exatamente essas aplicações.
Antes de tudo, as tradições israelitas pertencem a um povo firmemente estabelecido com fortes elos tribais, familiares e culturais que requerem a existência de documentação oral para validá-los. Em segundo lugar, a escrita era amplamente conhecida no período, sendo usada, de certo modo, quase sem paralelos [em qualquer outra parte] [...] Portanto, não é de surpreender o quase sempre encontrarmos descobertas arqueológicas que confirmem a tradição israelita, por onde quer que seja8.
A TRANSMISSÃO DA HISTÓRIA DE ISRAEL
A inspiração e preservação divina garantem que o material registrado por Moisés e por outros escritores da Bíblia mantém a precisão histórica. Reconhecidamente, essa suposição teológica de testemunho inerrante da história de Israel não é uma metodologia aceitável para muitos. Para os evangélicos, ela brota de um casamento inseparável da teologia com a história. Caso seja isso o que se aceite, logo
Os primeiros livros bíblicos a serem escritos (com a possível exceção de Jó, que parece refletir o período patriarcal tanto na forma como no conteúdo) são os cinco livros de Moisés. A datação bíblica encaixaria sua composição entre 1446 e 1406 a.C., conquanto possa parecer bem possível que Moisés tenha usado por fonte alguma espécie e material escrito, de nenhuma prova dessas fontes jamais se tomou conhecimento. O uso de tais fontes “seculares” ou não-inspiradas certamente não contraria o caráter da Bíblia de haver sido sobrenaturalmente relevada7. O processo de inspiração garantia a fonte divina do produto final e assim abrangia a seleção e a inclusão das informações registradas.
...devemos estar dispostos a admitir que o tipo de ceticismo saudável, que se constitui componente essencial à historiografia convencional, não encontra espaço nenhum em nossa obra. Em virtude de nos haver confessado debaixo da autoridade das próprias fontes que estamos investigando, já abrimos mão do nosso direito de rejeitar aquilo que não podemos entender ou aquilo que achamos difícil crer9.
Em contrapartida, parece bem provável que Moisés nos tenha registrado boa parte da tradição oral – a história que havia sido transmitida oralmente de pai para filho durante 600 anos (c. 2000 a 1400 a.C.). O material encontrado em Gênesis de 1 a 11 pode refletir trechos bem mais antigos. Se os documentos históricos escritos são problemáticos, que se dirá da fidedignidade das tradições orais?
O último século de estudos bíblicos desenvolveu uma hipótese documentária conhecida como a “teoria JEDP”. O excesso de variantes propostas para explicar o processo pelo qual a história israelita foi registrada não defendeu bem a validade da teoria. Hoje há tantas explicações diferentes quanto há proponentes. Ela permanece como pouco mais do que uma hipótese tomada como base, e precária ainda por cima10. Semelhante coisa ocorre com a teoria da evolução no campo da ciência natural, i.e., é a melhor explicação possível para o texto existente caso
Em defesa da tradição (ou história) oral de Israel, pode-se salientar que a qualidade dessa tradição é influenciada por uma conjunção de fatores, dentre os quais: a) recursos mnemônicos, como versos, fórmulas, imagens, etc., b) formas sociais e culturais (e.g., 6
1 Co 10.6,11 (grifo nosso). Lucas afirma haver usado muitas delas (Lc 1.1-4) 8 ALBRIGHT, P. 75-6 (grifo nosso). 9 MERRILL, p. 16. 10 Esse julgamento, certamente não os fazem apenas os fundamentalistas. Veja, por exemplo, CASSUTO, Umberto, The
documentary Hypothesis, Magnes, 1961; ALLIS, Oswald, God spake by Moses, Presbyterian & Reformed, 1951 e KIKAWADA, Isaac M. e QUINN, Arthut, Before Abraham Was: The Unity os Genesis 1-11 Ignatius Press, 1985
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você deixe Deus fora da cena. Se a Bíblia não é a palavra de Deus inspirada e escrita, a teoria fornece uma explicação plausível para o texto. No entanto, há o elemento sobrenatural por meio de explicação.
Provérbios 25.1 é um dos exemplos mais impressionantes dentro das Escrituras. Sabemos que os escribas de Ezequias selecionaram e incluíram alguns provérbios compostos por Salomão. Isso mostra duas coisas: 1) que esses acréscimos eram de Salomão e não dos próprios escribas e 2) que quando eles de fato fizeram os aditamentos, claramente os identificaram como tais (observe também a epígrafe de muitos salmos). Esse é um cenário muito diferente das teorias atuais e tem sérias ramificações quando se considera a historiografia israelita registrada na Bíblia.
Nos últimos anos, outra variação se tem desenvolvido com respeito aos processos de revisão em atividade durante o período monárquico. Poucos hoje ainda negariam que Moisés participou de alguma forma da composição da Torá, qualquer que tenha sido, mas muitos afirmariam que o quer que tenha escrito foi tão amplamente refeito em épocas posteriores, que podemos ter pouca segurança do que exatamente se deva atribuir a ele. Tendo o texto sido adicionado, comentado, corrigido, suprimido e aperfeiçoado, não nos resta um texto mosaico com “M” maiúsculo. O mesmo princípio aplica-se a livros posteriores. Revisor após revisor fazia seus acréscimos ao texto, o qual resultaria a tal ponto eclético que seria necessária a sabedoria de um Salomão para selecionar as partes atribuídas aos primeiros autores11. Com certeza, no processo de canonização houve certo trabalho de revisão. Pode-se observar isso dentro da própria escritura, a partir de indicações desse processo durante vários períodos distintos: 1) a circulação das composições originais de Moisés, 2) as coletâneas associadas ao primeiro templo na época de Davi e Salomão, 3) as compilações durante as reformas religiosas de Ezequias e Josias e 4) o cânon completo associado ao segundo templo e ao ministério de Esdras. No entanto, este processo limitava-se à seleção e ao cortejo dos textos. Há boas provas que nos manuscritos de Qunram de tais “correções” no texto limitavam-se a áreas claramente delimitadas (e.g., grafia defectiva vs. grafia plena, topônimos, intercâmbio dos nomes de Deus). A natureza dos tipos de variantes nos manuscritos e nas versões existentes (pentateuco Samaritano, Septuaginta, Siríaca) comprova isso. Embora ainda haja muitas passagensproblema sem solução, a grande maioria das variantes tem ligação com uma palavra aqui ou ali, com o tempo de um verbo, com um acento ou com uma divisão vocabular. Raramente se trata do deslocamento de toda uma expressão. Raríssima ainda é a reestruturação de um texto inteiro.
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Observe, a título de exemplo, as teorias do múltiplo-Isaías (já chegaram a sete) ou a incrível fragmentação dos salmos por Mitchell Dahoud na série de comentários da Anchor Bible.
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đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ HISTĂ“RIA EM ĂŠNFASE
Nem o Papa, nem Lutero Os anabatistas, uma outra histĂłria da Reforma Protestante. Por Charles Bronson
Os padrĂľes estĂĄticos da civilização medieval foram substituĂdos pelos padrĂľes dinâmicos da sociedade moderna. As mudanças no setor religioso nĂŁo foram as menos importantes que ocorreram na civilização europeia ocidental. O cristĂŁo ĂŠ impelido Ă reverĂŞncia quando acompanha a mĂŁo de Deus nos problemas dos homens daquele tempo. (CAIRNS, 2008, p. 250).
E
nquanto os colonizadores abriam rotas marĂtimas rumo ao Novo Mundo (sĂŠculo XV-XVI), Deus descortinava os olhos espirituais de Lutero, que passou a enxergar a doutrina bĂblica da “justificação somente pela fĂŠâ€?. A transformação individual do monge alemĂŁo aconteceu concomitantemente as mudanças que levariam a Europa da era medieval ao mundo moderno.
Martinho Lutero, de pregar as 95 teses contra as indulgĂŞncias em 31 de outubro de 1517 como a origem da Reforma, a verdade ĂŠ muito mais complexa e interessante. O protestantismo, embora indubitavelmente tenha sido influenciado e catalisado por indivĂduos relevantes – como Lutero e Calvino – teve origem nas grandes agitaçþes intelectuais e sociais da ĂŠpoca que criaram uma crise nas formas existentes de cristianismo e que ofereceram meios pelos quais isso podia ser resolvido (McGRATH, 2012, p. 13).
A história da Reforma Protestante, em muitos aspectos, ilustra a constatação de que a religião não Ê um compartimento estanque da vida do homem, antes, estå conectada a todas as vicissitudes da sua existência em grupo e com sua configuração vinculada aos acontecimentos sociais. No final da Idade MÊdia a sociedade europeia vivenciou uma grande insatisfação diante da situação reinante na cristandade em solo Europeu.
A corrupção de muitos membros do clero, a opulência e as ambiçþes seculares da alta hierarquia (especialmente do papado), a religiosidade supersticiosa e ignorante das massas, o relacionamento questionåvel com o Estado, alimentaram um sentimento de revolta que motivaria uma sÊrie de açþes contra a Igreja Católica medieval (MATOS, 2008, p. 139).
Embora os relatos populares da origem do protestantismo, com frequĂŞncia, identifiquem o ato de 10
Alister McGrath esclarece que “a Reforma é mais bem concebida como uma série de movimentos reformistas, inicialmente independentes, com programas e compreensões da natureza da teologia e seu papel na vida da igreja bem distintos... Protestantismo designa uma família de movimentos religiosos que compartilham determinadas raízes históricas e fontes teológicas” (2012, p. 67-68).
A túnica sem emendas da Igreja Católica Romana, internacional e universal estava rasgada de novo, como acontecera antes de 1054 - quando os cristianismos do Ocidente (com sede em Roma) e do Oriente (com sede em Constantinopla) romperam um com o outro – pelos cismas que resultaram na formação de igrejas protestantes nacionais ou independentes (CAIRNS, 2008, p 250). Mesmo que a motivação básica tenha sido religiosa, sem dúvidas, a atmosfera criada por fatores sociais, políticos e culturais, também ajudaram a pavimentar o caminho para a Reforma Protestante. Iniciada na Alemanha com Martinho Lutero, disseminada como uma tradição ou “Segunda Reforma” por Zuínglio (Zurique, a Suíça alemã), tendo sido consolidada e expandida por Calvino (em Genebra, a Suíça francesa), o movimento reformador do século XVI foi impulsionado por fatores tais como: a Renascença, a invenção da imprensa e o “espírito nacionalista” europeu no fim do período medieval.
O movimento protestante não era homogêneo. Dentre os diversos grupos, havia quatro principais: luteranos – partes da Alemanha e Escandinávia; calvinistas ou reformados – na Suíça, França, Holanda, Escócia etc; anabatistas – nos países germânicos e anglicanos – na Inglaterra. Destes quatro, os movimentos encabeçados pelos anabatistas se distinguiam diametralmente dos demais por defenderem, dentre outras coisas, a completa separação entre a Igreja e o Estado. Esse distintivo anabatista, os levou a serem classificados na historiografia com vários epítetos, tais como “a ala esquerda da Reforma”, “reformadores radicais”, “alternativa radical”, “reformadores não magisteriais” etc. Esta última classificação é para distingui-los daqueles reformadores que trabalharam em estreita ligação com os magistrados, isto é, as autoridades civis.
Na Renascença (movimento de despertamento europeu para um novo interesse pela literatura, pelas artes e pela ciência, isto é, a transformação dos métodos e propósitos medievais em objetivos e métodos de pensamento) os reformadores foram ainda mais estimulados ao interesse pelas Escrituras, com ênfase no estudo das línguas originais da Bíblia e a investigação dos verdadeiros fundamentos da fé, independente dos dogmas de Roma.
Esse questão sobre o papel dos instrumentos do Estado na Reforma protestante, segundo Alister McGrath, é melhor entendida ao examinarmos duas compreensões bem distintas da palavra bíblico – lema dos movimentos reformistas da época. De um lado, estavam os que entendiam como bíblico tudo que está explícita e inequivocadamente afirmado na Bíblia, do outro lado, aqueles para os quais bíblico representaria tudo que está explicitamente afirmado na Bíblia ou é consistente com isso (2012, p. 82).
Com a invenção da imprensa por Gutenberg, em meados do século XV, possibilitou-se o uso comum das Escrituras, incentivo a tradução e a circulação da Bíblia (é significativo o fato de ter sido justamente a Bíblia, o primeiro livro impresso por Gutenberg) em todos os idiomas da Europa. Em paralelo, o pensamento reformado eram redigidos e publicados em livros e folhetos que circulavam em todo o continente.
Os anabatistas, adotaram a primeira dessas compreensões e tinham os adeptos da segunda perspectiva como reformistas que faziam muitas concessões ao modelo de Roma, mantendo a igreja acorrentada as tradições. Eles argumentavam que muitos reformadores, tais como Zuínglio, tinham comprometido a Reforma, pois tudo o que fizera foi transferir a autoridade do papa para o conselho da cidade de Zurique. Nesse sentido, para os anabatistas, que passaram a desacreditar nos “reformadores magisteriais”, era necessário mais que uma reforma, e sim, uma verdadeira revolução.
Já o “espírito nacionalista”, diferentemente dos embates entre papas e reis, colocava na arena da disputa pelo poder o próprio povo em geral. De acordo com Jesse L. Hurlbut, esse fator externo, moveu ainda mais a engrenagem da Reforma Protestante, porque “o patriotismo dos povos começou a manifestar-se, mostrando-se inconformado com a autoridade estrangeira sobre suas próprias igrejas nacionais; resistindo às nomeações de bispos, abades e dignitários da Igreja feitas por um papa que vivia num país distante” (2007, p. 179). Diante da expressiva variedade de perspectivas e ações entre os próprios reformadores, mesmo que unificados em alguns princípios básicos (Só a Fé, Só a graça e Só a Escritura), o fato é que eles tinham pontos de divergência a ponto de reconhecermos que existiram, digamos, “vários protestantismos” quando o fenômeno da Reforma estava em curso.
O movimento gerou simpatia entre os trabalhadores do campo e da cidade, principalmente artesãos e camponeses, classes não alcançadas pelos outros reformadores. Justo L. González explica a origem e as variações do movimento, identificando três fases dos anabatistas:
11
os primeiros anabatistas – em Zurique, na Suíça, por volta de 1520, um grupo de crentes, assíduos leitores da Bíblia, vários deles letrados, romperam com Zuínglio ao perceber que esse reformista não seguia o caminho que eles propunham. Em geral, eram de perfil pacifista... ii. os anabatistas revolucionários ¬ uma segunda geração de anabatistas, mais radical, mesclando-se com o ressentimento popular que ocorrera diante da rebelião dos camponeses. Um dos seus líderes, Melquior Hoffman, declarou que seria necessário que os filhos de Deus pegassem as armas contra os filhos das trevas... iii. o anabatismo posterior – seguiu-se a queda do movimento revolucionário ocorrido na cidade de Munster. Marcado por um discurso de retorno ao pacifismo original, como parte da verdadeira fé bíblica. O mais notável porta-voz dessa nova geração foi Menno Simons, sacerdote católico holandês que abraçou o anabatismo em 1536. Influenciou grupos na Holanda e norte da Alemanha, pregando, dentre outras coisas que, deveriam obedecer às autoridades civis em tudo, exceto no que as Escrituras proibiam (2011, p. 5863) i.
fé em Cristo; (2) excomunhão dos que não vivem no caminho da justiça; (3) participação na comunhão apenas para pessoas batizadas, como uma lembrança do corpo e do sangue de Cristo; (4) separação dos que não vivem em obediência aos mandamentos de Deus; (5) os pastores como responsáveis pelo ensino e pela disciplina, sustentados pela igreja; (6) não uso da violência e recusa ao exercício da magistratura; (7) veto à prestação de juramentos. Hostilizados, perseguidos e até executados, tanto por católicos como por outros protestantes (Lutero se referia aos anabatistas com o termo “schwarmer”, que lembra um enxame de abelhas esvoaçando em torno da colmeia), em verdadeiros holocaustos anabatistas, espalharam-se por toda Europa, muitos para a parte oriental, principalmente para a Rússia, outros migraram para a América do Norte. Já nos séculos XIX e XX, rumaram para a América do Sul. Hoje, os menonitas são o principal ramo do velho anabatismo do século XVI, mas seu conceito de igrejas livres influenciou de modo substancial os puritanos separatistas, os batistas e os quacres. Em suma, os movimentos anabatistas, “com suas ideias e destinos foram moldados pelos seus personagens, pelas preocupações e pelos recursos locais [...] Contudo, não há dúvida que devem ser considerados parte integral dos movimentos reformistas que, na época, varriam cidades e os territórios da Europa Ocidental. Os anabatistas podem ter ocupado uma classe de posições que alguns protestantes considerariam ‘extremas’; todavia, eles eram inquestionavelmente protestantes” (McGRATH, 2012, p. 86).
Sistematizar as crenças anabatistas é uma tarefa complexa, em consequência da existência de vários grupos anabatistas diferentes em suas doutrinas e práticas, numa diversidade produzida pela convicção que eles mesmos tinham de que o crente tem o direito de interpretar a Bíblia como autoridade literal e final.
Contestando o sistema religioso de Roma, e ao mesmo tempo inconformados com os rumos tomados por muitos mentores reformistas, os anabatistas escreveram uma outra história da Reforma Protestante, daqueles que não se viam representados nem pelo Papa, nem por Lutero.
Esse distintivo de livre acesso e interpretação das Escrituras, custou-lhes também ideias apocalípticas perigosas e outras aplicações esquisitas do texto bíblico. Em consequência de uma hermenêutica equivocada do texto bíblico, líderes anabatistas se diziam o Enoque do Antigo Testamento, anunciavam a todo instante o final dos tempos, pregando que cidades europeias como Estrasburgo era a Nova Jerusalém; abolindo o uso de dinheiro em algumas de suas comunidades; legalizando a poligamia e tornando compulsório o casamento para as mulheres etc.
BIBLIOGRAFIA: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos – uma história da igreja cristã. SP: Vida Nova, 2008. GONZÁLEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo – a era dos reformadores até a era inconclusa (vol. 2). SP: Vida Nova, 2011. HURLBUT, Jesse Lyman. História da Igreja Cristã. SP: Editora Vida, 2007. MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da teologia histórica. SP: Mundo Cristão, 2008. McGRATH, Alister. Revolução Protestante – uma provocante história do protestantismo contata desde o século 16 até os dias de hoje. Brasília, DF: Palavra, 2012.
Seu principal distintivo foi a oposição do batismo infantil (aceitando somente o batismo de adultos, sendo a fé, uma pré-condição para ser batizado). De tal maneira que, os que haviam sido batizados ainda criança, tinham de ser novamente batizados. Essa ênfase levou o movimento a ser chamado de “anabatismo” (do termo grego que significa “batizar de novo”). As principais ideias da maioria dos anabatistas foram expressas na Confissão de Schleitheim (1527), em sete artigos: 1) batismo apenas de pessoas que já professaram
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đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ MISSĂ•ES EM ĂŠNFASE
Manda mais obreiros Guiana Inglesa – quilĂ´metros e quilĂ´metros de trevas. Por Jenuan Lira “Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.â€? (Mateus 9.38).
Pelo que vimos, se pensarmos estrategicamente, a mudança faz todo sentido. A regiĂŁo hĂĄ muito padece pela falta de obreiros. As duas pequenas Igrejas estĂŁo hĂĄ cerca de 17 anos sem pastor, bastante desencorajadas. É como se a presença delas fosse invisĂvel Ă comunidade. A presença do missionĂĄrio pode trazer esperança.
A
viagem nĂŁo ĂŠ tĂŁo longa, mas passa pela eternidade. O corpo resiste bem, mas a alma padece. É difĂcil acreditar que, tĂŁo perto do Brasil, essa nação cheia de luz, exista um povo tĂŁo imerso em trevas. Guiana Inglesa - quilĂ´metros e quilĂ´metros de trevas... as mais tenebrosas trevas!
Um fato muito empolgante ĂŠ que em East Berbice existem pessoas que gostariam de receber treinamento para o ministĂŠrio. Desse local podem surgir futuros obreiros, nĂŁo somente para a Guiana, mas para outras partes do mundo. As Igrejas atĂŠ jĂĄ possuem um terreno designado para o futuro seminĂĄrio. SĂŁo grandes desafios, acompanhados de grandes expectativas.
Anos atrĂĄs, perguntei a um amigo do Nepal, Gobinda, Ăşnico cristĂŁo de uma famĂlia tradicionalmente hindu: Como vocĂŞ chegou ao conhecimento de Cristo, o que lhe atraiu ao Evangelho? Sem hesitar, ele respondeu: “Ao longo de toda minha vida tentei agradar aos deuses, mas sempre sofria com triste certeza de que nĂŁo tinha feito o bastante. Apesar de todo meu esforço, nĂŁo conseguia sentir alĂvio dos meus pecados. Dentre os 330 milhĂľes de deuses hindus, nenhum tem misericĂłrdia. Jesus tem compaixĂŁo e morreu pelos pecadores. Isso me encantou e me cativou... a misericĂłrdia do SENHOR Jesusâ€?.
Mas, se por um lado a mudança nos anima, por outro nos entristece, porque o inĂcio de uma nova frente de trabalho significa deixar para trĂĄs uma Igreja, edificada com a bĂŞnção de Deus, por meio dos nossos corajosos missionĂĄrios, que deram o melhor de si ao longo de 7 anos. Em Adventure, contrariando todas as possibilidades humanas, foi plantada uma Igreja. Começando com apenas trĂŞs membros, hoje o grupo conta com cerca de 40 pessoas. Por isso, a nossa tristeza... Quem vai seguir com o projeto? Evidentemente jĂĄ foram feitas provisĂľes para que o grupo nĂŁo fique de todo desassistido. Um missionĂĄrio americano, que mora nas imediaçþes estĂĄ disposto a tocar o projeto, mas mesmo assim fica aquela sensação de que um obreiro “dos nossosâ€? seria o ideal. SĂł temos um problema... que tanto cantamos ao entoar o antigo hino... “Oh, onde os obreiros pra trabalharâ€??
A angĂşstia do meu amigo ĂŠ a mesma do povo guianense. A nação morre pelos deuses, mas nenhum dĂĄ a vida por esse povo sofrido. Assim, em condiçþes miserĂĄveis, a nação cambaleia sob o peso da terrĂvel idolatria... deuses implacĂĄveis e sem compaixĂŁo, com uma Ăşnica missĂŁo: “matar, roubar e destruirâ€?. Enquanto seguimos, as palavras do SENHOR da Seara permanecem diante de nĂłs: “Quem me segue nĂŁo andarĂĄ em trevas, pelo contrĂĄrio, terĂĄ a luz da vidaâ€?. E, logo em seguida: “Como ouvirĂŁo, se nĂŁo hĂĄ quem pregueâ€?? Uma enorme Seara, pouquĂssimos trabalhadores.
Agora mesmo nĂŁo vemos muitas possiblidades para a Igreja em Adventure. Mas podemos nos unir em oração por esse projeto. Lembremos o que nos ordenou o SENHOR Jesus, o maior de todos os missionĂĄrios: “Rogai ao SENHOR da Seara, que mande trabalhadores para sua seara...â€? Sugiro tambĂŠm que, quando estivermos pensando nos campos missionĂĄrios, cantando “Manda mais Obreirosâ€?, transformemos a canção em uma oração intencional pela Guiana! E, se porventura, enquanto ora e canta, sentir-se compelido a se envolver diretamente nesse projeto eterno, isso ĂŠ Ăłtimo, Deus estĂĄ começando a responder a sua oração. O passo seguinte ĂŠ com vocĂŞ, reagindo como o profeta IsaĂas... “Eis-me aqui, envia-me a mim!â€?
Pressionados pela grandeza das necessidades e a escassez de obreiros, decidimos viajar atĂŠ a fronteira do Suriname, regiĂŁo conhecida como East Berbice, com o alvo de investigar a possiblidade de mudança do missionĂĄrio para a regiĂŁo. NĂŁo que a obra nĂŁo esteja bem em Adventure, muito pelo contrĂĄrio. Apesar das inĂşmeras dificuldades, a famĂlia missionĂĄria – JoĂŁo, Fabi, Ethan e Ithiel – continua firme e abundante na obra do SENHOR. Em certo sentido, a mudança significaria sair da zona de conforto, por entendermos que os soldados de Cristo devem estar onde a batalha ĂŠ mais intensa.
Manda mais obreiros, Ăł SENHOR! 13
đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ LIVRO EM ĂŠNFASE
Pregação: Como pregar biblicamente Jonh F. MacArthur (org) – Editora Peregrino Por Diego Ramos
O livro Pregação: Como Pregar Biblicamente, editado pelo Pr. John MacArthur com colaboraçþes do corpo docente do The Master’s Seminary (do qual ĂŠ presidente), ĂŠ fruto de um ministĂŠrio de quase meio sĂŠculo de pregação expositiva daquele que talvez seja o maior expositor vivo das Escrituras em nossa ĂŠpoca. Por isso, temos diante de nĂłs uma obra que vem com uma expectativa elevada quanto Ă qualidade do conteĂşdo nela exposto. Esta resenha, contudo, nĂŁo pretende ser exaustiva, mas visa simplesmente a destacar pontos altos da obra com breves crĂticas e apontamentos ao longo do caminho
No capĂtulo 11, John Macarthur delineia um mĂŠtodo para estudar o texto bĂblico em preparação para a pregação expositiva. Os princĂpios para um estudo bĂblico eficaz (observação, interpretação e aplicação) listados aqui nĂŁo sĂŁo qualquer novidade (ou pelo menos nĂŁo deveriam ser). Ele tambĂŠm descreve seu prĂłprio mĂŠtodo de estudo para um sermĂŁo expositivo. Minha Ăşnica crĂtica a este capĂtulo ĂŠ o tĂtulo do cabeçalho que introduz seu mĂŠtodo de estudo. A seção abaixo desse cabeçalho tem mais a ver como montar um sermĂŁo a partir dos dados obtidos a partir da exegese do que propriamente com o estudo para isso.
O livro sob anĂĄlise ĂŠ uma espĂŠcie de cartilha ou manual sobre pregação expositiva, embora seja enganoso pensar nele como um guia bĂĄsico. Ele abrange todo o espectro desde a preparação atĂŠ a entrega de um sermĂŁo expositivo. No capĂtulo 9, George Zemek defende com legitimidade que o texto deve ter prioridade na determinação dos componentes da mensagem, desde a introdução atĂŠ a conclusĂŁo. Dr. Zemek descreve uma metodologia para compor um esboço do texto bĂblico a ser pregado com base na anĂĄlise diagramatical da passagem. O colaborador deste capĂtulo apresenta alguns exemplos daquilo que propĂľe utilizando diagramas do tipo linear. Neste ponto, ĂŠ importante destacar que a diagramação linear tem o benefĂcio de forçar o pregador a pensar sobre relaçþes sintĂĄticas no texto.
Os quatro capĂtulos que compĂľem a parte IV do livro sĂŁo extremamente Ăşteis, na medida em que dividem o processo de preparação do sermĂŁo em suas vĂĄrias etapas. No capĂtulo 12, um dos aspectos que mais apreciei foi a constante ĂŞnfase do Dr. McDougall na prioridade do texto em obter a idĂŠia principal, formar o esboço e dar um tĂtulo ao sermĂŁo. O capĂtulo 13, de autoria de Richard Mayhue, serve como uma excelente referĂŞncia em como introduzir e concluir um sermĂŁo, alĂŠm de onde obter ilustraçþes. O destaque da parte IV vai para o capĂtulo 14. Dr. Irv Busenitz argumenta que pregação expositiva nĂŁo ĂŠ necessariamente versĂculo por versĂculo, e que pregação versĂculo por versĂculo nĂŁo ĂŠ necessariamente expositiva. Com efeito, pregação expositiva tem mais a ver com uma filosofia de pregação e com a atitude com a qual se aborda um texto do que propriamente com o mĂŠtodo de pregação. O autor fornece diretrizes Ăşteis para a preparação de pregação temĂĄticas, teolĂłgicas, histĂłricas e biogrĂĄficas que sejam expositivas em sua essĂŞncia ou atitude em relação ao texto.
Mas esse tipo de diagramação tambĂŠm tem um lado negativo, especialmente no que diz respeito ao texto Hebraico. Ele exige a alteração da ordem das palavras, o que em Hebraico desempenha um papel significativo na compreensĂŁo do texto, especialmente na literatura poĂŠtica. De fato, a ordem das palavras ĂŠ essencial na determinação do modo verbal de certas formas do verbo Hebraico. Com base nisso, eu argumentaria que a diagramação por blocos (ou por indentação) deve ser preferida ao lidar com o texto Hebraico ou mesmo com o texto Grego em literatura narrativa. A diagramação linear deve ser preferida para gĂŞneros literĂĄrios onde ocorrem mais subordinação de oraçþes, como nas epĂstolas.
No capĂtulo 15, o Dr. David Deuel conduz o leitor na difĂcil tarefa de pregar textos narrativos do Antigo Testamento. Ele enfatiza a necessidade de se esforçar para encontrar o ensino teolĂłgico mais amplo da histĂłria e nĂŁo ficar satisfeito com a superficialidade de pregaçþes do tipo “como fazer/ser isso ou aquiloâ€?, que podem atĂŠ nĂŁo ser anti-bĂblicas, mas tambem nĂŁo sĂŁo suficientemente 14
profundas. Finalmente, no capítulo 16, MacArthur ajuda o pregador mover-se do trabalho exegético para a exposição do texto. Embora parte do material deste capítulo já estivesse coberta por outros colaboradores, os sete “mandamentos” da pregação expositiva que ele lista constituem orientações úteis para o pregador ter em mente antes de ir ao púlpito.
porque o leitor consegue ter lampejos do que se passa na mente de um dos maiores expositores das Escrituras de todos os tempos, à medida que ele oferece insights sobre várias questões intrigantes. Embora eu ache que algumas partes do livro são difíceis de seguir por aqueles que eventualmente não sejam bem treinados nas línguas bíblicas, eu recomendo este livro a qualquer homem de Deus que tenha sido chamado a pregar a Palavra de Deus. Qualquer leitor ficará ao menos profundamente impressionado com a necessidade e prioridade da pregação expositiva. Este é um livro que deve ser parte da biblioteca de todo pastor ou seminarista. Eu recebo com grande entusiasmo a sua publicação (em breve) em língua portuguesa.
No capítulo 18, MacArthur oferece três princípios que devem ser lembrado antes de entregar um sermão. Ele conclama o pregador a ter o propósito correto, uma paixão profunda e um padrão definido em seu tempo de concentração antes de chegar à frente do povo de Deus. Ele ressalta que uma entrega convincente é marcada por clareza e autoridade. MacArthur também distingue os diversos métodos de entrega e destaca os benefícios de escrever o manuscrito do seu sermão. O livro culmina com uma sessão de perguntas e respostas com o Pr. John MacAthur. Esta é uma das partes mais benéficas do livro
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đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ ENTREVISTA EM ĂŠNFASE
Entrevista com Michael J. Vlach Uma conversa sobre Teologia e Dispensacionalismo
Tradução: Leonardo Costa (Web graphic designer na empresa “Dispensational Publishing dispensationalpublishing.com; e editor do “Dispensationalism Integrative Research Centerâ€?: i-disp.com). 1 – Vamos começar com uma definição de Dispensacionalismo. O Dispensacionalismo ĂŠ um sistema de teologia que se preocupa principalmente com as doutrinas da eclesiologia e escatologia, enfatizando a aplicação da hermenĂŞutica histĂłrico-gramatical a todas as passagens da Escritura incluindo todo o Antigo Testamento. Afirma uma distinção entre Israel e a igreja, uma futura salvação e restauração da nação de Israel em um futuro reino terrestre de Jesus, o Messias, como base para um governo mundial.
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XIX. Historicamente falando, as ideias que hoje compĂľem o Dispensacionalismo nĂŁo sĂŁo tĂŁo novas assim. TambĂŠm, pode-se argumentar que as ideias do Dispensacionalismo sĂŁo encontradas na BĂblia, que ĂŠ o fator mais importante. 3 - Em sua opiniĂŁo, quais sĂŁo as marcas essenciais ou o sine qua non do Dispensacionalismo? Eu acredito que as duas crenças essenciais mais importantes do Dispensacionalismo sĂŁo: (1) hermenĂŞutica histĂłrico-gramatical consistente aplicada a todas as passagens da Escritura - incluindo passagens profĂŠticas sobre Israel; e (2) a crença de que o Israel nacional serĂĄ salvo e restaurado com um papel funcional de liderança e serviço para outras naçþes em um futuro reino milenar por causa de Jesus, o Messias. O Dispensacionalismo tambĂŠm afirma com razĂŁo uma distinção entre Israel e a igreja e rejeita todas as formas de Teologia da Substituição. AlĂŠm disso, o Dispensacionalismo afirma que a unidade salvĂfica entre judeus e gentios nĂŁo ĂŠ inconsistente com um futuro para o Israel nacional. O Dispensacionalismo entende que todos os detalhes das alianças da promessa na BĂblia devem ser cumpridos. Eles nĂŁo podem ser espiritualizados ou transferidos para a igreja Ă exclusĂŁo do Israel nacional que estĂĄ destinado Ă salvação.
2 - Muitas vezes ouvimos os crĂticos dizendo que o Dispensacionalismo ĂŠ um sistema teolĂłgico muito recente na HistĂłria da Igreja. O que vocĂŞ tem a dizer sobre isso? Assim como a Teologia da Aliança, o Dispensacionalismo como sistema foi desenvolvido apĂłs o perĂodo da Reforma. Portanto, nĂŁo ĂŠ muito mais recente do que a Teologia da Aliança. Mas muitas crenças fundamentais do Dispensacionalismo, como o prĂŠmilenismo, o futurismo, a salvação futura da nação Israel, a restauração de JerusalĂŠm, um futuro anticristo pessoal, etc., sĂŁo encontradas na igreja primitiva. AlĂŠm disso, deve notar-se que, durante dois sĂŠculos antes de Darby, muitos teĂłlogos declaravam a ideia de uma futura restauração de Israel em sua terra. Dessa forma, muitas ideias do Dispensacionalismo podem ser encontradas antes da sistematização do sistema por Darby, no inĂcio do sĂŠculo
4 - Em seu livro "Dispensacionalismo – crenças essenciais e mitos comuns", você se apresenta como um 16
dispensacionalista que concorda com elementos do Dispensacionalismo Tradicional, Revisado e Progressivo. Diante desse fato, você acredita que sua perspectiva deve ser considerada uma nova variação dentro da tradição do Dispensacionalismo?
O maior obstáculo é tentar superar as falsas alegações sobre o Dispensacionalismo provenientes da comunidade da Teologia da Aliança. Alguns teólogos do Pacto ainda tentam associar o Dispensacionalismo com erros soteriológicos que não são realmente parte do Dispensacionalismo. Os teólogos da Aliança têm sido bem sucedidos ao zombar do Dispensacionalismo sem derrotar suas ideias fundamentais. Os dispensacionalistas respondem essas declarações falsas e falam a verdade sobre os grandes propósitos de Deus. Eu também acho que os dispensacionalistas devem enfatizar mais as questões do enredo da Bíblia e de hermenêutica, e enfatizar menos na identificação de sete dispensações.
Tenho respeito por todas as variações dentro do Dispensacionalismo e considero-me numa posição intermediária entre o Dispensacionalismo Revisado e Progressivo. Como as vertentes Revisada e Progressiva estão próximas uma da outra, não sinto a necessidade de introduzir outra tradição. Não me oponho àqueles que querem identificar uma outra vertente na tradição dispensacional, mas neste momento não sou obrigado a argumentar por outra variação.
7 - Qual é o principal problema na Teologia da Aliança?
5 - Quais são os seus pensamentos sobre o Dispensacionalismo Progressivo? Destaque quais pontos você concorda e quais você diverge.
O principal problema é que sua visão do enredo da Bíblia está errada. Faz da salvação humana o tema da Escritura quando na realidade o Reino de Deus é o tema principal da Escritura. Também erra ao substituir Israel Nacional pela igreja. Ela também enxerga muito mais cumprimento em relação à primeira vinda de Jesus do que de fato houve, pois, na realidade, ainda há muito a se cumprir na segunda vinda de Jesus. A Teologia da Aliança não responde adequadamente a verdade de que o retorno de Jesus será literal para reinar sobre as nações, com Israel tendo um papel fundamental durante esse reinado. Quando a Teologia da Aliança faz da igreja desta era a conclusão final dos propósitos de Deus, ela se distancia do verdadeiro significado do retorno de Jesus a terra. Além disso, a teologia da Aliança possui uma hermenêutica defeituosa que espiritualiza ou nega promessas ao Israel nacional.
Eu acho que o Dispensacionalismo Progressista fez algumas boas contribuições. Sua melhor contribuição é perceber que existe um "cumprimento" real das alianças da promessa hoje. Estamos vivenciando partes dos pactos Abraâmico, Davídico e Novo na era da igreja, principalmente no âmbito da salvação e da participação dos judeus-gentios. Os dispensacionalistas anteriores tiveram dificuldade em enxergar um verdadeiro cumprimento das alianças hoje. Também concordo com o Dispensacionalismo Progressivo que fazer parte da igreja não remove a identificação com o grupo étnico de alguém. Portanto, a igreja não é uma categoria antropológica distinta. Assim, um judeu de fé hoje pode ser parte da igreja e ainda ser parte de "Israel" (ver Gal. 6:16). E quando o reino for estabelecido no futuro, os crentes judeus da igreja irão participar das terras e das promessas físicas de Israel. Um ponto em que o Dispensacionalismo Progressista falhou é quanto a relação de Jesus com o trono davídico hoje. Não vejo evidências na Escritura de que Jesus está atualmente no trono de Davi ou atualmente está reinando do trono de Davi. O reinado do trono davídico de Jesus aguarda a sua Segunda Vinda à terra. Isto é ensinado em Mateus 19:28 e 25:31. Existe uma aplicabilidade atual da Aliança Davídica na medida em que Jesus, o último Davi, chegou e trouxe a inauguração da Nova Aliança. Além disso, Jesus trouxe a salvação messiânica aos gentios (ver Atos 15: 14-18). Mas eu não acredito em um atual reinado davídico hoje. Isto acorrerá após o retorno de Jesus.
8 - Dê uma apresentação dos tópicos principais que você abordou em seu recente livro intitulado "He Will Reign Forever". Obrigado por perguntar. Meu livro é uma teologia bíblica do reino de Deus, na qual eu abordo a maioria das passagens referentes ao Reino na Bíblia. Eu discuto como o Reino de Deus é o tema principal e unificador da Escritura, que traz coerência a todos os outros temas da Bíblia. Este livro leva a sério não apenas as promessas espirituais na Bíblia, mas também as promessas físicas e nacionais. Leva a sério também os papéis de Israel e da igreja nos propósitos de Deus. Se você está procurando um tratamento sério de todas ou a maioria das passagens Bíblicas referentes ao Reino, este trabalho será útil para você.
6 – Qual é o maior obstáculo a ser superado para que o Dispensacionalismo se torne mais conhecido no meio da teologia reformada?
17
đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ SOCIEDADE EM ĂŠNFASE
NinguĂŠm quer morrer Por Addson Costa
N chegamos
inguĂŠm quer morrer. Este axioma estĂĄ
dor e determinarem-se a resolverem seus problemas, nĂŁo
relacionando ao instinto mais caro de nossas
haverĂŁo de cometer este ato danoso, portanto, nĂŁo existirĂĄ
vidas, o da sobrevivência. É por ele que
necessidade.
atĂŠ
aqui,
atravessamos
a
histĂłria,
E por que buscam o caminho mais fĂĄcil e desastroso
desenvolvemos nossas tĂŠcnicas, crescemos em ciĂŞncia,
para livrarem-se da dor? Porque perderam, nunca tiveram
reproduzimos assustadoramente, ocupamos as metrĂłpoles.
ou abandonaram valores mais bĂĄsicos da existĂŞncia. Isto
Tudo resultado e consequĂŞncia do maior dom jĂĄ nos
faz lembrar alguns princĂpios de ĂŠtica cristĂŁ: 1. Deus ĂŠ a
concedido, o dom da Vida, dado por Deus. Ter a
pessoa mais importante; 2. A coletividade ĂŠ mais
consciĂŞncia de que existimos e Deus nos pĂ´s neste mundo
importante do que uma pessoa; 3. A pessoa ĂŠ importante;
jĂĄ ĂŠ resgatador se compreendemos nela Sua vontade.
4. As pessoas sĂŁo mais importantes do que as coisas; 5. As
Entretanto, se ninguĂŠm quer morrer, a vida nos trouxe
coisas sĂŁo importantes. Hoje a inversĂŁo de valores
atĂŠ aqui e nos conduzirĂĄ adiante, por que o suicĂdio? Por
decresce do 5 ao 1 ou, normalmente, do 5 ao 2. Sem os
que alguĂŠm tiraria a prĂłpria vida? Por que usurpar esse
valores ĂŠticos, o indivĂduo perdeu a capacidade de
dom maravilhoso de Deus? Dizem os antigos pensadores
resiliĂŞncia para enfrentar as dificuldades e direcionar sua
que o suicĂdio ĂŠ a maior questĂŁo filosĂłfica.
condição dentro de uma escala crescente de valores.
A OMS – Organização Mundial de Saúde, órgão das
Apesar disso, o que podemos fazer pelas pessoas que
Naçþes Unidas, relata que o suicĂdio ĂŠ responsĂĄvel por
enfrentam esse problema se de imediato nĂŁo se resgata
uma morte a cada 40 segundos. É uma tragĂŠdia, o suicĂdio
valores? Podemos atravÊs do diålogo e da conscientização
tornou-se epidemia mundial. NĂŁo ĂŠ mais a grande questĂŁo
tentar reverter o quadro do indivĂduo que tenha ideação
filosĂłfica ou da religiĂŁo, o suicĂdio tornou um caso de
suicida tendo conhecimento das condiçþes que ela ocorrer
saĂşde pĂşblica. Mais de 800 mil pessoas suicidam por ano
e dispor-se a ajudar. De uma forma geral, precisamos
no mundo. No Brasil, sĂł em 2015, 11.178 vidas se
entender os fatores de risco que podem conduzir à ideação
perderam; em boa parte, a morte poderia ter sido evitada.
suicida, os quais: sĂŁo os 1) transtornos mentais, 2) os
A taxa de suicĂdios cresceu mais de 60% nos Ăşltimos 50
fatores sociodemogrĂĄficos, 3) os fatores psicolĂłgicos e 4)
anos.
as condiçþes clĂnicas incapacitantes.
Retornamos Ă afirmação inicial: “NinguĂŠm quer
Os transtornos mentais decorrentes dos problemas
morrer�. Mas por que estamos diante de uma epidemia?
de humor, como a depressão, do uso de substâncias
Porque as pessoas nĂŁo querem dar cabo a sua vida, elas
psicoativas, tanto de drogas ilĂcitas como lĂcitas, a
querem livra-se da dor. Matar-se nĂŁo ĂŠ questĂŁo, mas sim
exemplo do ĂĄlcool, psicoativas, de personalidade, como a
livrar-se do sofrimento. Se as pessoas puderem aliviar a
bipolaridade e o narcisismo, a esquizofrenia, a ansiedade, 18
•
ou a comorbidade quando associados a vários desses
“Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir o paciente a isso.” – Questionar sobre ideias de
fatores, por exemplo, alcoolismo e depressão. Nos fatores sociodemográficos alista-se, geralmente
suicídio, fazendo-o de modo sensato e franco,
do sexo masculinos, idade entre 15 e 35 anos e depois salta
aumenta o vínculo com o paciente. Este se sente
para 75 anos, oriundos de extratos econômicos extremos,
acolhido por um profissional cuidadoso, que se
residentes
interessa pela extensão de seu sofrimento.
em
áreas
urbanas,
desempregados, •
principalmente quando a perda o emprego é recente,
“Ele está ameaçando suicídio apenas para
aposentados, isolamento social, pessoas solteiras ou
manipular.” – A ameaça de suicídio sempre deve ser
separadas e migrantes.
levada a sério. Chegar a esse tipo de recurso indica
Os fatores psicológicos são as perdas recentes, as
que a pessoa está sofrendo e necessita de ajuda. •
perdas parentais durante a infância, a dinâmica familiar
“Quem quer se matar, se mata mesmo.” – Essa
conturbada, datas importantes esquecidas ou reações de
ideia pode conduzir ao imobilismo terapêutico, ou ao
aniversário, personalidade com traços significativos de
descuido no manejo das pessoas sob risco. Não se
impulsividade, agressividade e humor lábil.
trata de evitar todos os suicídios, mas sim os que
E as condições clínicas incapacitantes como
podem ser evitados. •
doenças que limitam o cotidiano, dor crônica, lesões desfigurantes
perenes,
epilepsia,
trauma
medular,
“Quem quer se matar não avisa.” – Pelo menos dois terços das pessoas que tentam ou que se matam
neoplasias malignas e AIDS.
haviam comunicado de alguma maneira sua intenção
Todavia, desses quatro fatores de risco podemos
para amigos, familiares ou conhecidos.
resumi-los a apenas dois: história de tentativa de suicídio
•
e transtorno mental.
“O suicídio é um ato de covardia (ou de coragem)”. – O que dirige a ação autoinflingida é
Junto a esses fatores de grupo, há os aspectos
uma dor psíquica insuportável e não uma atitude de
comportamentais do indivíduo como a ambivalência:
covardia ou coragem. O suicídio é um ato de
desejo de vida e de morte; a impulsividade: desencadeada
desespero!
por eventos negativos do dia-a-dia; rigidez/constrição:
•
“No lugar dele, eu também me mataria.” – Há
consciência da pessoa passa a funcionar de forma
sempre o risco de o profissional identificar-se
dicotômica: tudo ou nada (pensamento fixo), caracterizado
profundamente
por falas como “Não há mais nada o que fazer”, “A única
depressão e desesperança de seus pacientes, sentindo-
coisa que poderia fazer era me matar” e a visão em túnel.
se impotente para a tarefa assistencial. Há também o
Muitas vezes o indivíduo não fala diretamente mas deixa
perigo de se valer de um julgamento pessoal subjetivo
frases de alerta como: “Eu preferia estar morto”, “Eu não
para decidir as ações que fará ou deixará de fazer.
posso fazer nada”, “Eu não agüento mais”, “Eu sou um
Mas enfim, a grande questão: como ajudar a pessoa
perdedor e um peso pros outros”, “Os outros vão ser mais
sob risco de suicídio? Parece algo misterioso diante dos
felizes sem mim”.
mitos que criamos. O suicídio é complexo, mas a ajuda
com
aspectos
de
desamparo,
Estes fatores e frases de alerta associados a quatro
pode partir de atitudes simples. Comece encontrando um
sentimentos em conjunto: Depressão, Desesperança,
lugar adequado, onde uma conversa tranquila possa ser
Desemparo e Desemprego (4D). Aliado a isso, a sociedade
mantida com privacidade. Reserve um tempo necessário,
desenvolveu uma cultura de ideias errôneas sobre o
demanda um pouco mais de atenção. A tarefa mais
suicídio, verdadeiros mitos que atrapalham na prevenção
importante é ouvi-las efetivamente. Preencha a lacuna
ou ajuda. Que podem ser expressas nas seguintes frases
criada pela desconfiança, pelo desespero e pela perda de
abaixo: 19
perspectivas e dê a esperança de que as coisas podem
suicídio imediatamente. A médio risco, em ação necessária
mudar.
ofereça apoio emocional, focalize nos aspectos positivos,
Na abordagem, ouça com cordialidade, trate com
focalize os sentimentos de ambivalência, explore
respeito, tenha empatia com as emoções e tenha cuidado
alternativas ao suicídio dando outras saídas, faça um
com o sigilo. Ao se comunicar, ouça atentamente, com
contrato, negocie, aqui é o momento para usar a força do
calma, entenda os sentimentos da pessoa, dê mensagens
vínculo existente entre você e a pessoa, encaminhe ao
não verbais de aceitação e respeito, expresse respeito pelas
psiquiatra o mais breve possível dentro do período em que
opiniões e pelos valores da pessoa, converse honestamente
foi feito o contrato, entre em contato com a família, os
e com autenticidade, mostre sua preocupação, seu cuidado,
amigos e/ou colegas e reforce seu apoio. Quando o risco é
sua afeição e focalize nos sentimentos da pessoa. Bem
alto, a pessoa tem um plano definido, tem os meios para
como, não se comunique interrompendo frequentemente,
fazê-lo e planeja fazê-lo prontamente. Muitas vezes já
deixe
com
tomou algumas providências prévias e parece estar se
aconselhamento a priori, não pareça chocado ou muito
despedindo. A ação necessária deve ser de prontidão como
emocionado, não diga que está ocupado, não faça o
estar junto da pessoa, nunca deixá-la sozinha, sem parecer
problema parecer trivial, não ponha a pessoa em uma
que está vigiando, gentilmente fale com a pessoa e remova
situação de inferioridade, não diga que simplesmente, de
pílulas, faca, arma, venenos, etc, faça um contrato, como
repente, tudo vai ficar bem, não faça perguntas indiscretas,
descrito anteriormente, e tente ganhar tempo, informe à
não emita julgamento, não tente doutrinar. Entenda que
família e reafirme seu apoio, considere conduzir a pessoa
esse primeiro momento, ou contatos iniciais, têm o
a um psiquiatra, em uma unidade de emergência, não
propósito de ajudar a pessoa através do companheirismo e
havendo este, a um clínico geral.
a
pessoa
falar
sem
se
preocupar
do calor humano e descobrir suas reais intenções.
Além disso, antes de chegarmos ao último ponto do
Os diálogos iniciais servem para quantificar os riscos,
parágrafo acima, podemos atuar na prevenção, seja na
o quanto a pessoa está realmente disposta a cometer este
cultura social ou na cultura organizacional das instituições
mal. Assim, descubra se a pessoa tem um plano definido
que se tem mais vínculos. Vários fatores de proteção
para cometer suicídio, se tem os meios para se matar e se
podem ser trabalhados como o incentivo a bons padrões
fixou alguma data. Considere que a resolução deste
familiares, motivando o bom relacionamento entre
problema implica em um atitude interdisciplinar, não tente
parentes e mostrando a importância do apoio familiar em
resolver sozinho. Há diversos recursos ao alcance: a
diversos espectros da vida; o trato com a personalidade e
família, as esposas (namoradas, noivas), amigos, o pastor,
estilo
profissionais de saúde, a prática de atividade física e os
habilidades/relações sociais, confiança em si mesmo, em
grupos de apoio.
suas conquistas e sua situação atual; capacidade de
cognitivo,
buscando
desenvolver
boas
Detecte se o risco é baixo, médio ou alto. Quando o
procurar ajuda quando surgirem dificuldades; capacidade
risco é baixo, a pessoa teve alguns pensamentos suicidas,
de procurar conselhos quando decisões importantes devem
tais como “eu não consigo continuar”, “eu gostaria de estar
ser tomadas; estar aberto a conselhos e às soluções de
morto”, mas não fez nenhum plano. A ação necessária
outros mais experientes; estar aberto ao conhecimento e o
implica em oferecer apoio emocional, trabalhe sobre os
desenvolvimento intelectual e também o estímulo à
sentimentos suicidas, focalize nos aspectos positivos da
participação cultural para que o indivíduo integre-se à
pessoa, fazendo-a falar sobre como problemas anteriores
sociedade através da prática de clubes esportivos, ou a
foram resolvidos e no insucesso da ação, busque ajuda
simples prática de atividade física em grupo, participação
especializada. Quando o risco é médio, A pessoa tem
frequente e efetiva nas igrejas, o desenvolvimento de bom
pensamentos e planos, mas não tem planos de cometer 20
relacionamento e ambiente de trabalho e com aqueles que
Ninguém que morrer. E, sendo assim, busquemos
estão em lugar de liderança.
amenizar ou anular a dor, ou as dores, que podem trazer
Na cultura organizacional é importante que se
desespero e fazer com que as pessoas cheguem ao engano
desenvolva três prioridades básicas do ser humano: Deus,
extremo que desejarem tirar suas próprias vidas.
família e trabalho. Deus nos ama e quer o melhor para todos nós. Ele é o Criador, o doador da Vida, enviou Seu
Referências:
Filho Jesus para doar a vida pelos nossos pecados, ser a
MINISTÉRIO DA SAÚDE. DATASUS. Estatísticas
solução para os nossos pecados, dar-nos vida eterna e vida
vitais, mortalidade geral. Brasil. www.datasus.gov.br,
feliz, alegre e abundante neste mundo. É preciso que se
2015.
tenha o valor de colocá-lo como no centro real da
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Prevenção do suicídio:
existência. Diz-nos as Escrituras: “E nós conhecemos e
manual dirigido a profissionais das equipes de saúde
cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e
mental. Unicamp, 2006.
aquele que permanece no amor permanece em Deus, e
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Prevenção
Deus, nele.” (1 João 4:16). A família é nosso maior tesouro
do suicídio: um recurso para conselheiros. Genebra,
neste mundo, dela viemos e a ela vamos, a ela devemos o
2006.
que somos e seremos. Na família se aprende a ser gente e
KENNEDY, C. H; ZILLMER, E.A. Psicologia Militar. Rio de Janeiro: BLIBLEX, 2009.
a respeitar aos demais seres humanos. E o trabalho é também resgatador, é uma bênção poder trabalhar, com ele construímos nossa vida, cuidamos de nossa família e ajudamos à sociedade, o trabalho é um valor em si, passamos nele no mínimo um terço da vida. É preciso valorizá-lo a partir daquilo que se é, como um bom profissional buscando sempre fazer o melhor possível e tendo a alegria de um trabalho bem feito. Portanto, para evitar este grande mal, é preciso que a vida seja valorizada. É irrefutável o fato de que “Todo o ser humano é dotado de um instinto de auto-preservação desde seu nascimento”. Independente da escala de valores que o ser humano possa estabelecer para si, a vida ocupa um lugar sublime, pois sem ela, nenhuma conquista é possível, ou mesmo faz sentido. Qualquer ato ou hábito (vício) que atente contra a preservação e valorização da própria vida deve ser encarado como anormal, do ponto de vista humano.
21
đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ đ&#x;”˛ DEVOCIONAL EM ĂŠNFASE
Encontro Marcado Êxodo 3.1 – 6 Por Dennis Salgado
uando falamos em “encontroâ€?, muitas coisas podem vir Ă nossa mente. Se vocĂŞ ĂŠ casado, entĂŁo ĂŠ possĂvel que lembre do primeiro encontro com aquela moça dos seus sonhos (homem, se vocĂŞ nĂŁo lembra, apenas acene com a cabeça concordando – nĂŁo se entregue!). O encontro tambĂŠm pode ser com o pai que vocĂŞ sĂł conheceu quando adulto, com um amigo de longas datas que tanto desejava rever, com um mĂŠdico para um diagnĂłstico tĂŁo esperado ou com sĂłcios para tomar uma decisĂŁo que mudarĂĄ o rumo da sua empresa. A vida ĂŠ, de fato, feita de encontros. Alguns bons, outros ruins (pergunte para o homem que descia pelo caminho de JerusalĂŠm a JericĂł). Alguns marcados, outros inesperados.
Q
deserto de MidiĂŁ por haver matado dois egĂpcios que maltratavam escravos hebreus. Ali, no deserto, ele acha sua esposa (quem disse que deserto ĂŠ lugar ĂĄrido?). Ele passa a trabalhar nos negĂłcios de seu sogro Jetro, pastoreando ovelhas. Essa era a ocupação de MoisĂŠs, esse era o negĂłcio de MoisĂŠs, essa era, agora, a vida de MoisĂŠs. ApĂłs quarenta anos fora do Egito, ĂŠ possĂvel que MoisĂŠs, longe daquele cenĂĄrio horroroso de opressĂŁo sobre os hebreus e da necessidade desesperadora de seu povo, acabou esfriando seu coração em relação Ă condição desgraçada dos hebreus. Todavia, enquanto MoisĂŠs se preocupava com seus prĂłprios negĂłcios, Deus, por outro lado, preocupava-se com os negĂłcios de seu povo. DaĂ, Ele aparece a MoisĂŠs em meio Ă correria de sua vida.
As Escrituras são repletas de encontros, o mais grandioso deles sendo, evidentemente, o encontro da humanidade com o seu Deus Criador revelado de forma corpórea na pessoa de Jesus Cristo, o Senhor Salvador. Em Êxodo 3, nos deparamos com um encontro que ocorreu mais de mil anos antes do nascimento de Jesus Cristo, dessa vez envolvendo Deus e MoisÊs. Jå fazia vårios sÊculos que o povo hebreu se encontrava sob o amargo jugo da escravidão na terra do Egito. Deus havia prometido a Abraão que dele faria uma grande nação. Sem dúvidas, Deus realizaria o que determinou. Finalmente, havia chegado o momento de Deus proceder com seu plano de formar essa nação.
Em seguida, conforme vemos nos versos 2 – 3, Deus se encontra conosco na correria de nossas vidas para chamar nossa atenção. LĂĄ estava MoisĂŠs cuidando das ovelhas e, de repente, ele vĂŞ um fogo – um arbusto em chamas. Agora o que realmente chama sua atenção nĂŁo ĂŠ o fogo em si, mas o fato de o arbusto nĂŁo ser consumido, apesar de envolvido em fogo. MoisĂŠs chama isso de “grande maravilhaâ€?. Quando ele vai averiguar essa grande maravilha, Deus fala com ele de dentro do arbusto. Deus interrompe a rotina de MoisĂŠs para chamar sua atenção, a fim de realizar algo especial com sua vida. Agora, MoisĂŠs deixa de lado suas ovelhas e foca em outra coisa. Ao chamar sua atenção, Deus redireciona a perspectiva de MoisĂŠs.
Nesse contexto e com o objetivo de realizar seu plano de formar tal nação, Deus toma algumas atitudes em ĂŠxodo 3–4, a partir das quais extraĂmos liçþes importantes para nossas vidas. Hoje destacarei a primeira dessas atitudes que se encontra em ĂŠxodo 3.1 – 6: a fim de realizar seus propĂłsitos, Deus se encontra conosco onde estamos. E Ele faz isso, mesmo em meio Ă correria de nossas vidas.
Nos versos 4 – 6, vemos que Deus se encontra conosco na correria de nossas vidas para chamar nossa atenção, a fim de nos levar a adorĂĄ-lo. Coloque-se no lugar de MoisĂŠs: ele jĂĄ tinha oitenta anos de idade e, pelo que sabemos, nunca ouvira a voz de Deus, nunca havia interagido com Deus, nunca tivera experiĂŞncia alguma com o Deus de seus pais e nĂŁo fazia ideia do que era conversar com Deus. De repente, uma voz se dirige a ele do meio de um arbusto: “MoisĂŠs!â€? Ele deve ter pensado:
Nesse texto, vemos MoisÊs cuidando de seus próprios negócios. Após quarenta anos no Egito, desfrutando da educação e do conforto do palåcio, MoisÊs foge para o 22
“O que está acontecendo aqui? Quem está falando comigo?” Sua reação é a reação natural de qualquer um sob tais circunstâncias: “Sim, sou eu.” A questão é que a voz não se identifica com um nome; a primeira coisa que a voz faz é declarar o caráter daquele que fala, algo que consequentemente também informa Moisés de seu próprio caráter. Deus diz: “Não se aproxime; tire as sandálias porque este lugar é santo.” Em outras palavras: “Eu sou santo, você é pecador.” Deus não começa com seu nome, Ele começa com seu caráter. O caráter de Deus exige reverência, submissão e respeito. Por isso, Moisés tira as sandálias em um ato de adoração.
Deus estava no processo de revelar sua vontade a Moisés através da sarça ardente. Nossa sarça é a Bíblia, ou melhor, a Bíblia é a nossa floresta de verdades. É ali que Deus se comunica conosco. É ali que Ele mostra o que deseja fazer conosco. É ali que Deus se encontra conosco, mesmo em meio ao corre-corre do dia-a-dia, para chamar nossa atenção, levando-nos a adorá-lo. Deus tem um encontro marcado com você nas Escrituras, um encontro infinita e eternamente mais importante do que aquele com sua namorada, pai, amigo, médico ou sócios. E esse encontro é o primeiro passo para usá-lo eficazmente para cumprir os propósitos de Deus na vida de seu povo. E aí? Já se encontrou com Deus hoje ou você está ocupado demais para Ele?
Por fim, Deus finalmente revela sua identidade: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó.” Deus quis dizer: “Eu sou o Deus fiel que lembra de seu povo e da aliança feita com seu povo.” Quando Deus se revela, Moisés esconde seu rosto num temor reverente. Agora, nesse encontro marcado com Deus, Moisés adora. Ele sai de ocupação e curiosidade para intimidade e adoração. Uma adoração induzida pela Palavra, pelo caráter e pelo temor de Deus. Deus nos encontra onde estamos, em meio à correria de nossas vidas, para chamar nossa atenção, a fim de nos levar a adorá-lo. Essa é a primeira atitude que Deus toma com o intuito de nos usar para realizar seus propósitos.
A segunda atitude de Deus revelada em Êxodo 3 – 4 para cumprir seus propósitos na vida de seu povo será o tema do devocional na próxima edição desta revista. Não perca!
Assim como Deus tinha planos para a descendência de Abraão na carne que se encontrava no Egito, Ele também tem planos e propósitos a realizar na vida dos descendentes de Abraão na fé: seus redimidos pelo sangue de Cristo. Você já identificou seu lugar nos planos de Deus? Fique atento! Fique alerta para aquilo que o Senhor tem para você, quer especificamente como indivíduo, quer de forma geral como igreja. E não pense que precisa ser algo grandioso. Deus também usa grandes servos para realizar tarefas pequenas, mas importantes.
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