Revista Estilo 23

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Ano 5 N0 23 R$1,80

Primavera em

casa ENTREVISTA: CARMEN SILVA TERRA PRECIOSA: CHAPADA DIAMANTINA COMER BEM: AFRODISÍACOS



NOTA

À

DO

EDITOR

flor da pele

De repente, a gente olha em volta e percebe que a luz mudou. Na verdade, até o ar está diferente. Nós, gaúchos, privilegiados habitantes do paralelo 30 e arredores, temos o prazer de desfrutar da alternância das estações e de viver todas as sensações que as mudanças climáticas proporcionam. Agora, por exemplo, já é Primavera, e você pode – deve – enxergar o colorido das flores e sentir na pele o calorzinho que toma conta dos nossos dias e noites. Aqui, na redação da Estilo Zaffari, nós nos despimos um pouco antes dos agasalhos e, principalmente, da casmurrice do inverno, para planejar uma edição colorida, gostosa, cheirosa, cheia de vida e de prazeres. Esta revista é consagrada às sensações. Preparamos reportagens para estimular os cinco sentidos. E atenção! As páginas a seguir contêm verdadeiras bombas sensoriais. Prepare corpo e mente. Começamos com “Alimentos para o amor”. Um começo ousado, diga-se de passagem. As receitas de pratos afrodisíacos que nós publicamos atiçam o paladar, o olfato, a visão, o tato e até a audição! Só depende da criatividade de cada um... Depois, um exagero de vida brota da matéria de viagem. Enviamos nossos repórteres para a Chapada Diamantina e eles voltaram, quase que literalmente, chapados com tanta beleza. Mas se você não quiser ou não puder ir tão longe, estimule seus sentidos dentro de casa mesmo. Comece espalhando flores por todos os ambientes. Mas não deixe por menos, faça você mesmo os arranjos, pois este pode ser um prazer extra, uma experiência deliciosa. Escolha quais as flores e quais as cores que você prefere, aproveite as nossas dicas e, voilà, a Primavera estará dentro da sua casa. Pra acabar com qualquer resistência de leitores mais sisudos, encomendamos à Paula Taitelbaum uma matéria sobre massagens. E ela, maravilhosa como sempre, escreveu um texto que fala de sensibilidade, de contato, de tato, de sensações à flor da pele. É melhor não resistir, e se entregar... No meio disso tudo tem a adrenalina da escalada e do rapel. Enviamos o bravo Rafael Beck para os morros do Rio Grande, e ele não se michou. Sem direito a treino e muito menos a choramingos – afinal, tinha um monte de homem em volta... –, ele escalou o Pico do Itacolomi, uma barbadinha de 40 metros de altura. Esta edição se encerra gloriosamente com a entrevista de Carmen Silva, atriz, gaúcha, talento brilhante, espírito aventureiro, vontade de ferro. Ela está na Primavera da vida, está com tudo, na crista da onda, no horário nobre da Globo, e tem 87 anos! Se Primavera é renascimento, não poderia haver melhor maneira de recomeçar. Vamos lá!

MILENE LEAL – EDITORA


Milene Leal milene@contextomkt.com.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Fernanda Doering, Paula Taitelbaum, Rafael Trindade, Rafael Beck, Ruza Amon

REVISÃO Flávio Dotti Cesa PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade luciane@contextomkt.com.br ILUSTRAÇÕES Nik FOTOGRAFIA Eduardo Iglesias, Letícia Remião PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Jorge Nascimento COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COLABORADORES Fernando Lucchese, Vitor Knijnik, Blair D’Ávilla, Arteplantas, Livraria Cultura, Ser e Estar, Multitravel Operadora de Turismo, Empório Carlos Gomes, Paim Comunicação, Santander Cultural

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

DIRETORA DE ATENDIMENTO PUBLICIDADE HRM Representações (51) 3231.6287 9983.7169 9987.3165 rosamaggioni@hrmmultimidia.com.br

ASSINATURAS Renata Xavier Soares renata@contextomkt.com.br A revista Estilo Zaffari é uma publicação da Contexto Marketing Editorial Ltda. para a Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares PRÉ-IMPRESSÃO Maredi IMPRESSÃO Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

CAPA: FOTO DE LETÍCIA REMIÃO



Correio ESTILO NÃO SÓ NO NOME Milene Leal e turma da redação, quero parabenizar todos vocês pela qualidade da revista, que a cada número consegue superar-se. O cuidado com a diagramação e fotos é irretocável. A revista tem uma linha editorial que sabe mesclar vários assuntos de interesse para o público a que se dirige, com extrema clareza e personalidade. Não é só publicidade. Nós, do Empório Carlos Gomes, temos uma ampla biblioteca com várias revistas e publicações nacionais e internacionais, dentre elas, a Estilo Zaffari. Este material é constantemente pesquisado pelos nossos chefs e nutricionistas para elaboração de novas receitas e temperos, bem como para a cultura geral gastronômica. A revista também está à disposição dos nossos clientes na cafeteria e no Wine & Bier, com uma grande procura. Parabéns pelo estilo de vocês.

PAULO RIBEIRO - EMPÓRIO CARLOS GOMES Paulo, é uma honra fazer parte de sua biblioteca de gastronomia e também circular entre os clientes desse estabelecimento tão prestigiado. Obrigada pelo carinho. Abraço.

CONTATO IMEDIATO Milene, parabéns pela revista Estilo Zaffari. Além da confecção impecável, valoriza o nosso Rio Grande, o Brasil e as pessoas que fazem esta terra maravilhosa. Na revista de junho você fez uma reportagem linda, "O Calor do Artesanato". Será possível que consigas me enviar o endereço ou telefone dessas artesãs? Sugiro que haja na revista um cantinho com o telefone das pessoas que produzem algo e que são alvo das reportagens, para que se possa acessar. Muito grata e muitos, muitos parabéns. Com carinho,

ARABELLA ADAMS Sua sugestão precisa mesmo ser adotada, Arabella, pois temos recebido inúmeras solicitações de leitores que desejam contatar as pessoas entrevistadas. Vamos viabilizar essa página com endereços e fones úteis, muito em breve. Os contatos que você solicitou foram enviados ao seu email, ok? Obrigada pelo interesse e pelos elogios. Abraço.

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Estilo Zaffari

NEKA É UM SUCESSO Queridas amigas, como é bom verificar que vocês cada vez mais estão acertando a mão... Tudo sem exageros, nada além da conta, sempre deixando ao leitor atento um gostinho de quero mais... Seguindo a sabedoria da Neka Mena Barreto: "A gente tem que deixar o outro sempre com vontade de comer mais". Ela própria diz que a parte que mais gosta é quando está com fome! E é justamente esta sensação gostosa que nos traz a leitura da Estilo Zaffari. Mas o que eu queria mesmo é dizer o quanto me fez bem deparar com a entrevista da Neka, que nada tem de natureba afetada, mas sim de uma esquisitice encantadora, no sentido espanhol da palavra! Sua ideologia, seu modelo mental é um resgate da nossa razão de viver, algo que dá sentido a nossa existência... É aquela pessoa que não está pensando só em si, mas que se dá conta de que tudo está ligado em tudo. É aquela pessoa que não aspira a normalidade, pois entende que nós estamos aqui para realizar uma semente, para trazer uma diferença. Que entende que um ser humano é uma promessa, uma possibilidade, um potencial de florescimento... Se nós investirmos na dimensão do coração, na dimensão da alma, poderemos nos tornar seres humanos plenos. Desculpe a longa divagação, mas me senti inspirado pela Neka, que é aquela pessoa que nasceu, cresceu e tornou-se quem ela é, assim como uma flor se torna uma flor, uma mangueira se torna uma mangueira – são os que aceitaram o desafio da evolução. Abraços a todos da equipe.

MÁRCIO MALTA Márcio, já estávamos sentindo falta de suas cartinhas... Que bom saber o quanto a entrevista da Neka Menna Barreto agradou e sensibilizou um leitor exigente e atento como você. Ela é mesmo maravilhosa, especialíssima. Esperamos sempre deixar esse “gostinho de quero mais” e queremos melhorar a cada edição. Sua opinião é importantíssima para que possamos seguir “acertando a mão”. Abraço.


DESANDOU Quero parabenizá-los pela apresentação da revista. Me senti atraído em executar a receita Torta-Mousse de Laranja e Iogurte, mas o que consegui foi uma pasta em nada parecida com o belo desenho que me atraiu. Do pouco que conheço de culinária, para que o produto se assemelhasse à foto deveria haver mais farinha. Não seriam 225 ou 250 gramas em vez de 25? Também não consigo entender pessoas que elaboram receitas quantificando os ingredientes em peso... Será que imaginam que em todos os lares exista uma balança na cozinha? Desculpa a crítica, sou assim mesmo, não gosto de perder meu tempo sem responsabilizar os culpados.

JAIME SCHORR, POR E-MAIL Prezado Jaime: Para fazer doces, especialmente tortas, musses e massas, mesmo que seja em casa, é necessária uma minibalança, sim, e as quantidades devem ser bem precisas. Nesta receita, a quantidade de farinha é de 25 g mesmo, pois a idéia é fazer quase um pudim. A água de flor de laranjeira é opcional, coloque apenas uma ou duas gotinhas para dar um perfume sutil. Você deve checar o cozimento pela firmeza, após 45 minutos em banho-maria. O forno deve ser pré-aquecido em temperatura média. Tente em forma de alumínio, aquelas de pudim tradicional. Vale a pena, pois esta receita é muito saborosa. BEATRIZ GUIMARÃES (AUTORA DA REPORTAGEM CITADA)

CONTATO 2 Ganhei um exemplar da revista Estilo e gostei demais. Pretendo fazer o roteiro da Serra dos Vinhedos e gostaria muito de incluir uma visita ao atelier de Liciê Hunsche. Seria possível me dar uma dica, telefone, endereço? Também gostaria muito de ver os bordados da Alícia. Que tal se vocês fizessem uma página com endereços úteis? Aguardo seu retorno. Um abraço cordial.

LUXO PURO Saibam que fico angustiada na época de sair a nova edição da Estilo Zaffari; começo a perguntar diariamente aos funcionários se chegou, se está no depósito, quando distribuirão no súper... E, quando a vejo ali, reluzente de beleza, meus olhos saltam com curiosidade para a capa para saber as novidades, as delícias de culinária, sem falar no Perfil e na Viagem (Ah, sugiro à equipe visitar Montevidéu e mostrar a todos os leitores, principalmente, a culinária simples, deliciosa e barata do Porto da cidade, onde a gente passa horas do dia e da noite sem sentir o tempo!) Com carinho, agradeço a toda a equipe, em especial à Rede Zaffari pelo privilégio de nos presentear com esse LUXO PURO de Estilo, orgulho dos gaúchos em estilo de revista e em estilo de qualidade, beleza e atendimento em todas as suas agradáveis lojas. Obrigada, e sempre sucesso.

MARIA JOSÉ RÜCKHEIM PESSOA Querida Maria José, sua angustiada espera pela Estilo Zaffari enche nosso peito de orgulho! Que coisa boa receber retorno tão carinhoso de uma leitora. Montevidéu já está nos nossos planos para uma próxima edição. Também adoramos essa linda cidade vizinha. Obrigada por nos prestigiar e pelas dicas. Um grande abraço.

RECONHECIMENTO Parabéns pela excelente revista, em todos os aspectos, como a rede à qual ela pertence. Mais um motivo do meu orgulho e de ter retornado ao meu querido estado após mais de vinte anos fora. Trabalhos como este, além de se reconhecer, merecem agradecimento às pessoas que se dedicam a criá-los e levá-los adiante. Grato e atenciosamente,

JOSÉ ANTONIO, POR E-MAIL CRISTINA DE SOUZA As artesãs da reportagem estão fazendo um merecido sucesso! Enviamos a você os endereços e fones de todas elas, ok? Sua sugestão sobre a página com endereços úteis é ótima e tem sido reivindicação de muitos leitores. Vamos providenciar! Abraço.

Reconhecimento costuma ser raro, agradecimento sincero mais ainda, José Antonio. Mas, felizmente, a Estilo Zaffari não tem sofrido desse mal. Leitores queridíssimos como você sempre nos estimulam e trazem grandes alegrias com suas cartinhas carinhosas. Obrigado!

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Te r r a

preciosa

Renove corpo e alma na Chapada Diamantina

Í N D I C E 08 Cartas 12 Coluna: Consumo 13 Cesta Básica 34 Coluna: O Sabor e o Saber 64 Aventura: Rapel 72 Saúde: Massagens 80 Perfil: Carmen Silva

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ALIMENTOS PARA O AMOR Sabores, aromas, formas e cores incrementam o ritual do encontro

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Primavera em

casa 52

Inspire-se nos arranjos que n贸s fotografamos e encha sua casa de flores


Consumo TETÊ PACHECO

O FUTURO DOS RELACIONAMENTOS Será que em 2013 vai fazer sentido contrariar as regras? A revista Wired, bíblia americana da tecnologia, acaba de completar dez anos. Na edição comemorativa, publicou uma série de matérias interessantes. Gostei particularmente de uns pequenos ensaios futurologísticos em que eles exercitam idéias a respeito do que vai estar acontecendo no mundo lá por 2013. Um deles tem o divertido título de O Fim do Divórcio. Segundo a previsão, daqui a dez anos, a ciência genética vai ter evoluído tanto que os casais não vão mais precisar se separar. Ao contrário da maioria de nós, que segue travando batalhas conjugais intermináveis, os futuros casais podem ter a chance de resolver a vida de um jeito bem mais fácil. Sabe como? Fazendo uma simples e indolor terapia genética. O homem gosta de futebol e a mulher de shopping? Ora, nada que um ajuste celular não cure. A proposta é eliminar as diferenças que impregnam nossos DNAs e assim acabar com os desencontros e desentendimentos. Fiquei imaginando que conseqüências esse tipo de tratamento traria. Primeiro. Nós não precisaríamos mais esconder sacolas de compras dentro do carro. Eles achariam super-razoável a gente estourar o limite do cartão de crédito na nova coleção primavera-verão que estava ótima. Se é que em 2013 ainda vamos ter estações tão definidas assim. E ainda nos perguntariam docemente por que não fomos também ao cabeleireiro. Adorariam que a gente vivesse de unhas pintadas, fizesse tatuagem no ombro e sempre

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que possível saísse para dançar com as amigas, vestindo as roupas que antes achavam muito exibicionismo nosso usar. Se isso acontecer de verdade, o mundo da nova genética vai nos roubar uma conquista das mais importantes. A das pequenas transgressões individuais. Sai o delicioso "se permitir" e entra o insuportável "te permito". Socorro! Onde vamos enfiar nossa porção rebelde? Ou em 2013 não vai mais fazer sentido algum querer contrariar as regras? Do lado dos homens a coisa não é menos grave. Nós acharíamos ok eles nunca chegarem cedo em casa, não terem idéia de onde moram as meias, não entenderem que assento de privada é pra ficar abaixado e que toalha molhada precisa ser pendurada. E nos divertiríamos com assuntos superempolgantes como a Taça Libertadores, o campeonato brasileiro, o ponto ideal da picanha ou a taxa normal do colesterol. Assim sendo, acaba de ser exterminada a fantasia da mulher bruxa, fundamental na existência masculina. O Ministério da Saúde adverte: ter a mulher perfeita em casa pode causar depressão, angústia e baixa vendagem da revista Playboy. Sinceramente. A Wired que me perdoe, mas acho que casamentos perfeitos, com total sintonia, harmonia e igualdade, não têm nada para dar certo. Lá por 2013 espero estar sendo saudavelmente criticada por ter estourado o limite do cartão, da mesma forma como quero continuar me dando o luxo de de-tes-tar assuntos como futebol. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA


Cesta básica DICAS PARA ESTIMULAR TODOS OS SENTIDOS. MÚSICA, CINEMA, COMIDINHAS, LUGARES, PASSEIOS, COMPRAS. ESTA É A SUA CESTA BÁSICA DO BIMESTRE

Tudo sobre Almodóvar Vale muito a pena comprar essa caixa. Até porque ela reúne o melhor da produção de Almodóvar: Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, Átame, Carne Trêmula, Tudo sobre Minha Mãe (Oscar de melhor filme estrangeiro) e Fale com Ela (Oscar de melhor roteiro original). Vale, especialmente para poder ver e rever várias vezes cada filme, prestando atenção na mágica única desse cineasta. Almodóvar embaralha a ética com a necessidade, o pudor com o desejo, hetero com o homo, o sagrado com o profano, o amor com a dominação. Coloca tudo no liquidificador e com isso se aproxima da vida real, onde essas coisas realmente não têm fronteiras tão definidas. E por isso nos faz rir e chorar no mesmo segundo. No seu cinema é possível transar com a esposa em coma, ser um pai travesti. E tudo isso é apresentado não como o bizarro, não como o chocante, e sim como o nosso espelho. O mundo já teve outros cineastas transgressores, iconoclastas, irreverentes, mas poucos – ou quase nenhum – fizeram de sua obra algo tão prazeroso, divertido e comovente. Almodóvar é um dos artistas mais libertários de nosso tempo. Porque antes de tudo faz espetáculo. Se ele faz bem para o mundo, imagina na sua casa. VITOR KNIJNIK, PUBLICITÁRIO


Cesta básica

MAIS UM BOM MOTIVO Porto Alegre é realmente uma cidade interessante. Como se não bastassem o pôr-do-sol, o domingo na Redenção e as gaúchas, ainda existe o Nei Lisboa. Em seus 22 anos de carreira, Nei lançou oito discos e publicou um romance, no Brasil e na França. Aliás, as letras de seu mais recente lançamento, Relógios de Sol, deveriam mesmo estar em livro, guardadas para a posteridade. Sempre sarcástico, continua analisando a vida das pessoas e seus relacionamentos amorosos – normais ou não. Um exemplo é Isso São Horas, uma homenagem às lolitas e ao fetiche pela mulher (bem) mais nova. Para os saudosos, vale ouvir Babalú, uma espécie de Faxineira Fascinante que evoluiu. Relógios de Sol traz canções – como Vai Chover – que lembram, e muito, o Nei do início da carreira, com o romantismo debochado, característico em discos como Hein?! e Carecas da Jamaica. Reserve um tempo para ouvir esse disco com atenção. Quem sabe você não é um dos personagens das canções de Nei Lisboa?

FOTO: GLAUCO ARNT

RAFAEL TRINDADE, JORNALISTA

Açúcar, afeto e arte Ela era redatora publicitária, mas cansou daquela vida, foi morar no exterior e, na volta, resolveu abraçar uma grande e antiga paixão: a gastronomia. Hoje, Lis Fonseca é expert em Sugarcraft, uma técnica superdifundida nos EUA e em alguns países europeus, mas pouquíssimo conhecida no Brasil. Ela faz verdadeiras esculturas com açúcar, uma arte minuciosa e miniaturizada, de efeito encantador. E, ironia do destino, a experiência da moça na publicidade acabou se tornando uma mão na roda. Afinal, os bolos, minibolos e docinhos feitos pela Lis têm sempre a cara do homenageado, do dono ou do tema da festa, e para acertar a encomenda tudo começa com um detalhado briefing. Ela modela bonequinhos com a cara de um cliente, monta cenas que têm tudo a ver com a vida de outro, esculpe personagens consagrados ou cria formas totalmente novas. Tudo é colorido, lindo, personalizado e, também, muito gostoso! A Lis é gaúcha, tem 27 anos e é tão bonita como os bolos que ela faz. Ah, mas a outra grande paixão da moça é um fotógrafo supertalentoso, o Glauco, encarregado de eternizar com suas lentes a perecível arte da namorada. Fone para encomendas: (51) 9117.4454

MILENE LEAL, JORNALISTA



Cesta básica FOTO: RENÉ CABRALES/DIVULGAÇÃO

FINAL DE TARDE COM TRILHA SONORA No dicionário, átrio é apenas o pátio interno que dá acesso a um edifício. Para os gaúchos, significa sofisticação, cultura e lazer. Esta talvez seja a melhor definição para uma das já tradicionais opções de entretenimento de Porto Alegre: o projeto Domingo no Átrio. Mais do que um excelente programa, ir ao Átrio do Santander Cultural é viajar pelo mundo da música, com escalas em suas diferentes tendências, nuances, ritmos e gêneros. O espaço, cuja arquitetura é um show à parte, costumar lotar nos domingos à tardinha. Artistas do porte de Arrigo Barnabé, Ná Ozzeti, Jorge Mautner e Zé Nogueira são atrações que constroem o currículo e a fama do projeto. Não perca. Você agora tem um motivo mais do que especial para ir ao centro da cidade aos domingos. Informações: fone (51) 3287.5500 FERNANDA DOERING, JORNALISTA

A arte do sushi Passada a moda que levava multidões aos restaurantes japoneses – muitos, inclusive, movidos apenas pelo apetite da novidade –, restaram como consumidores de sushi os verdadeiros apreciadores desta iguaria. Pois é para estes

que a Melhoramentos editou “A Arte do Sushi”, um livro charmoso e inspirador, que tem fotos lindas e ótimas dicas para quem deseja se aventurar como mestre-sushi no âmbito doméstico, além de informações sobre a cultura e os costumes japoneses. Com 72 páginas e impresso em papel de altíssima qualidade, o livro aborda desde a história desses bolinhos à base de arroz e peixe até a classificação dos tipos de sushi, passando pelo preparo dos ingredientes e sugerindo dicas de bebidas adequadas para acompanhar. Bom para encher os olhos e, depois, deliciar o paladar. À venda na Livraria Cultura de P orto Alegre. Porto MILENE LEAL, JORNALISTA



Sabor

P O R B E AT R I Z G U I M A R Ã E S F OTO S L E T Í C I A R E M I Ã O


Para alguns radicais do romantismo só água combina com sexo. Água? É, água no sentido metafórico, tipo cachoeiras selvagens, rios de águas cristalinas, chuvas de verão, mares, chuveiro, água do lado da cama. Enfim, amor minimalista, sem ornamentos, sem aditivos. SÓ ÁGUA. Nem champanhe nem nada? Nem uma ostrinha? Um caviarzinho iraniano com champanhe? Não, nada. Só água pura e cristalina como o estimulante perfeito para o amor. Mas então por que é que desde as épocas mais remotas, desde a Antigüidade (naqueles tempos realmente devassos), na Idade Média, ou no século XIX, com aquele fin du siécle todo, sempre a humanidade acreditou no poder afrodisíaco de alguns alimentos, bebidas, ou poções?

Alimentos para o

amor Bem, além do estímulo psicológico que poderiam provocar, alguns desses alimentos apresentam uma forma sugestiva, como é o caso da mandrágora, uma raiz conhecida desde os tempos da Roma Antiga e celebrada até por Maquiavel (para quem se interessar, há o divertidíssimo romance de Graham Greene, "A mandrágora"). Segundo Jeremy MacClancy, em Consuming Culture, o ginseng também é considerado um afrodisíaco pelo fato de que sua raiz apresenta, curiosamente, uma forma, vamos dizer assim, tão humanóide que não deixaria dúvidas quanto a sua função. Na verdade, alguns estudos científicos sugeriram a presença no ginseng de ingredientes ativos energéticos e estimulantes que poderiam influenciar o comportamento humano. Alguns produtos são considerados afrodisíacos pela sua raridade ou pelo fato de serem novidade. Foi o que aconteceu com diversos produtos da então recém-descoberta América ao chegarem aos mercados europeus.

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Sabor

Afrodisíacos nas quatro estações PRIMAVERA SPAGHETTI CRUDAIOLLO. TORTA DE CHOCOLATE COM AVELÃ. VERÃO OSTRAS FRESCAS. MAÇÃS FLAMBADAS. OUTONO COGUMELOS MISTOS. TÂMARAS AO VINHO. FILÉ DE FRANGO RECHEADO COM AZEITONAS PRETAS, MOLHO ROUILLE. INVERNO CREME DE BATATA BAROA E ALHO-PORÓ. FIGOS FRESCOS COM COPA COLONIAL. BISCOITOS DE AMÊNDOA.

COMBINAÇÕES PERFEITAS PARA INCREMENTAR O RITUAL DO ENCONTRO Assim foi com o tomate, ou com o chocolate, que chegou a ser proibido nos mosteiros para evitar que os monges tomassem a bebida libidinosa. Até a prosaica batatadoce já foi considerada afrodisíaca (está lá em “As Alegres Comadres de Windsor”, de Shakespeare). Outras plantas também são consideradas excitantes mais pelos efeitos pungentes e picantes que provocam, como é o caso das pimentas e de outras especiarias. Em antigos manuscritos árabes, pré-islâmicos, há sugestões de frutas frescas, nozes e mel como alimentos adequados para os amantes. Nada de refeições pesadas, álcool ou alimentos que fermentem. Mas para essas culturas realmente refinadas, o mais importante era todo o ritual envolvendo o encontro, desde os perfumes, os incensos, as roupas e todos os preparativos da sedução. Já na Inglaterra vitoriana, tanto a comida quanto o sexo eram considerados funções fisiológicas nada prazerosas. É surpreendente que esse período tenha durado tanto tempo. Sinto desapontar aqueles que têm fé e confiança nos afrodisíacos, mas até agora nada foi provado nesse sentido. Ou seja, nenhum alimento é afrodisíaco, e de certo modo – como afirmam os antropólogos Peter Farb e George Armelagos – todo alimento é potencialmente afrodisíaco, na medida em que produz satisfação, aumenta a pressão sangüínea e a temperatura do corpo e, desde que consumido com parcimônia, prepara as pessoas para uma energia total e harmônica entre elas. Na verdade, os perfumes, a iluminação, o encantamento, a música, a beleza, além dos alimentos, formam uma combinação perfeita para o ritual do encontro.



Sabor

BEBIDA IDEAL PARA ACOMPANHAR: CHAMPANHE


Primavera SPAGHETTI CRUDAIOLLO

TORTA DE CHOCOLATE COM AVELÃ

300 G DE SPAGHETTI

200 G DE CHOCOLATE AMARGO EM BARRA

400 G DE TOMATES FRESCOS, SEM PELE.

100 G DE MANTEIGA

1 MAÇO DE MANJERICÃO ITALIANO

4 OVOS, SEPARADOS

2 DENTES DE ALHO

200 G DE AÇÚCAR

PARMESÃO / SAL

2 COLHERES DE FARINHA DE TRIGO

4 COLHERES DE SOPA DE AZEITE

AÇÚCAR DE CONFEITEIRO PARA PULVERIZAR

Modo de fazer: Fazer um pequeno corte na base dos tomates e colocá-los em água fervente por uns 2 minutos. Retirá-los e imediatamente pôr os tomates em água com gelo. Dessa forma, se facilita a retirada da pele. Tirar as sementes e cortá-los em pequenos cubos. Numa tigela grande, combinar o tomate, os dentes de alho machucado, sal, azeite e o manjericão partido com as mãos (evite usar facas para ervas delicadas). Deixar por pelo menos meia hora. Cozinhar o spaghetti, escorrer a pasta e colocá-la na tigela com o molho crudaiollo. Misturar bem, ralar o parmesão na hora e servir. Duas porções.

100 G DE AVELÃ TOSTADA

Modo de fazer: Desmanchar o chocolate e a manteiga em banho-maria. Bater bem as gemas, o açúcar e a farinha. Misturar as duas partes. Acrescentar as avelãs picadas. Bater as claras em neve e combinar com a mistura de chocolate. Assar em forma untada, forno de 140ºC, por uns 45 minutos. Pulverizar com o açúcar de confeiteiro.

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Sabor

Verão MAÇÃS FLAMBADAS 2 MAÇÃS VERDES 1 COLHER DE SOPA DE MANTEIGA 2 COLHERES DE SOPA DE AÇÚCAR 100 ML DE CONHAQUE Modo de fazer: Cortar as maçãs em oito fatias, mantendo as cascas. Colocar as maçãs em água com suco de limão, para evitar que fiquem escuras. Aquecer a frigideira e colocar a manteiga. Retirar as maçãs da água, secá-las e pôr na frigideira. Deixar dourar, pôr o açúcar e, depois de alguns minutos, acrescentar o conhaque. Girar levemente a frigideira para flambar as maçãs. Servir quente ou fria.

OSTRAS FRESCAS Abra as ostras e as mantenha no seu próprio suco. Sirva em prato sobre gelo em flocos. Vinho Verde, por ser delicado e de baixo teor alcoólico.

BEBIDA IDEAL PARA ACOMPANHAR: VINHO VERDE



Sabor

BEBIDA IDEAL PARA ACOMPANHAR: PROSECO DA SERRA GAÚCHA


Outono COGUMELOS MISTOS

FILÉ DE FRANGO RECHEADO COM AZEITONAS PRETAS, MOLHO ROUILLE

500 G DE COGUMELOS FRESCOS 2 FILÉS DE PEITO DE FRANGO 1 CEBOLA 150 G DE AZEITONAS PRETAS 2 COLHERES DE AZEITE TOMILHO FRESCO / AZEITE/ SAL SAL 150 ML DE VINHO BRANCO/ 2 DENTES DE ALHO SALSINHA PAPEL-MANTEIGA / PAPEL-ALUMÍNIO TÂMARAS AO VINHO 200 G DE TÂMARAS SECAS 250 ML DE VINHO BRANCO Modo de fazer os cogumelos: Combinar vários tipos de cogumelos frescos. Caso haja necessidade, limpe os cogumelos com uma escova, delicadamente. Não há necessidade de lavá-los. Aqueça a frigideira e coloque o azeite. Acrescente a cebola picada, deixando-a dourar. Fatiar ou partir os cogumelos (dependendo do tipo) e colocar na frigideira em fogo alto. Deixar por alguns minutos, mexendo sempre, e acrescentar o sal e a salsinha. Baixar o fogo e deixar por mais alguns minutos. Servir quente. Podem ser servidos sobre torradas, pães ou mesmo servir de acompanhamento para outros pratos.

Modo de fazer as tâmaras: Colocar as tâmaras sobre o vinho e deixar por pelo menos 1 hora. Retirar as tâmaras do vinho e servir.

MOLHO ROUILLE 2 COLH. DE FARINHA DE ROSCA/ AZEITE/ SAL 1 DENTE DE ALHO / 1 PIMENTÃO VERMELHO Modo de fazer o frango: Cobrir o peito de frango com plástico e bater para que fique mais fino. Colocar em vinha d'alho com tomilho, azeite, sal, vinho e alho amassado, por pelo menos 1 hora. Tirar os caroços das azeitonas. Rechear os filés com azeitona picada e raminhos de tomilho. Enrolar os filés primeiro no papel-manteiga e depois no papel-alumínio, vedando bem. Colocar para assar em forno médio por uns 20 minutos. Retirar do forno, tirar os papéis e fatiar sobre o molho rouille. Modo de fazer o molho: Assar o pimentão inteiro até ficar com a casca queimada. Colocá-lo imediatamente em água com gelo. Tirar a pele, as sementes e reservar. No processador, colocar o pimentão, alho e um pouco de água. Numa panela, colocar o azeite, o molho de pimentão, o sal e acrescentar a farinha de rosca no final.

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Sabor

Inverno FIGOS FRESCOS COM COPA

CREME DE BATATA BAROA E ALHO-PORÓ

6 FIGOS FRESCOS

300 G DE BATATA BAROA (OU MANDIOQUINHA)

100 G DE COPA FATIADA

2 BATATAS INGLESAS

BISCOITOS DE AMÊNDOAS (1 DÚZIA)

1 CEBOLA

125 G DE AMÊNDOAS

1 TALO DE ALHO-PORÓ (SÓ A PARTE BRANCA)

75 G DE AÇÚCAR DE CONFEITEIRO

100 ML DE NATA FRESCA (OPCIONAL)

1 CLARA DE OVO

2 COLHERES DE AZEITE

RASPA DE LIMÃO

SAL

Modo de fazer os figos: Partir os figos em quatro pedaços e servir sobre a copa caseira cortada bem fina. Modo de fazer os biscoitos: Pôr as amêndoas no processador e misturar esta farinha ao açúcar de confeiteiro. Bater bem a clara e colocar as raspas de limão. Combinar a clara com a mistura de amêndoas. Deixe o forno pré-aquecido em 180ºC. Numa forma, com papel-manteiga devidamente untado, coloque a mistura com uma colher, deixando um espaço entre os biscoitos. Assar em forno de 180ºC por uns dois minutos, depois reduzir para 100ºC durante 15 a 20 minutos. Deixar esfriar fora.

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FOLHAS DE FUNCHO (OPCIONAL)

Modo de fazer o creme de batata baroa Descascar as batatas e cortar em rodelas. Numa panela, colocar o azeite e a cebola picada, deixando-a dourar. Acrescentar o alho-poró picado, mexendo para não queimar. Juntar as batatas e cobrir com água fervente. Acrescentar sal e mais um pouco de azeite para dar gosto. Deixar em fogo baixo até cozinhar bem a batata. Passar por peneira ou processador. Corrigir o sal e aquecer novamente. Na hora de servir, colocar em cada prato uma colher de nata e galhinhos de funcho fresco, se for do seu gosto.


BEBIDA IDEAL PARA ACOMPANHAR: LICOR DE LIMテグ


Sabor

BEBIDA IDEAL PARA ACOMPANHAR: CHAMPANHE COM MEIA FAVA DE BAUNILHA


Peixe no Papilote à Empório 150 G DE FILÉ DE CÔNGRIO 30 G DE COGUMELOS PARIS 30 G DE SHITAKE 30 G DE SHIMEJI 15 G DE GENGIBRE FRESCO CASCA DE ½ LIMÃO SICILIANO (JULLIENE) 25 G DE ERVAS FRESCAS (ALECRIM, MANJERICÃO, HORTELÃ, TOMINHO, SÁLVIA) SAL / PIMENTA-DO-REINO 30 ML DE AZEITE DE OLIVA EXTRAVIRGEM Modo de fazer fazer:: No papel-manteiga, colocar o filé de peixe temperado com sal e pimenta-do-reino branca moída. Dispor ao redor e sobre o peixe os cogumelos Paris, shitake e shimeji, bem como o gengibre e a casca de limão cortadas em "julliene". Regar com o azeite de oliva extravirgem e acrescentar as ervas frescas. Conforme o gosto, temperar os cogumelos com um pouco de sal e pimenta-do-reino. Fechar bem o papel-manteiga, como se fosse um envelope. Levar ao forno, pré-aquecido a 180ºC, durante uns 20 minutos. Acompanha champanhe Brut com meia fava de baunilha. Porção para uma pessoa.

RECEITA CEDIDA POR PAULO RIBEIRO, DO RESTAURANTE EMPÓRIO CARLOS GOMES, DE PORTO ALEGRE


O sabor e o saber FERNANDO LOKSCHIN

ARROZ COM FRUTOS DO MAR Mistura de terra e mar, de gula e luxúria

A Terra só não se chama Aqua porque os inquilinos que temporariamente ocupam o topo da cadeia alimentar são animais terrenos e muito egocêntricos. Setenta por cento do planeta é coberto por água, 70% dos seres vivos vivem na água e pelo menos 70% de cada ser vivo é pura água. Há uma pequena correção desta injustiça na nossa definição como terráqueos que inclui as porções secas e molhadas do planeta (L. terra + aqua). Marte tem gelo, Vênus tem vapor, mas só a Terra tem água nos três estados físicos da matéria: líquido, sólido e gasoso. A abundância de água é o que caracteriza a Terra, seus principais fundamentos são de origem aquática: a existência de vida e atmosfera com oxigênio. As primeiras reações de replicação da matéria que deram início à vida ocorreram em ambiente marinho. O processamento do ar que respiramos dá-se menos nas árvores amazônicas e mais pelas algas oceânicas. O pulmão do mundo está submerso no mar. Não é de admirar que a água seja responsável pelo que a Terra possa ter de singular, ela mesma uma substância única. A água é o único líquido que, resfriado, aumenta de volume, por isso o gelo flutua no uísque e o refrigerante explode no freezer. O amor é molhado Rara no universo, a água é formada por uma molécula instável, ménage à trois entre dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, exceção química e física. A maravilha tende a nascer do improvável. Como, num lampejo de ciência, observou Marx: dois gases altamente inflamáveis que se combinam para gerar um líquido que extingue as chamas. Ao contrário do que disse o arcebispo, o deserto é estéril. Fértil é a terra molhada. A água fecunda. Não é à to queAdãofoi

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foi moldado do barro. Origem e instrumento de vida, a água se relaciona intimamente com o sexo, a bela forma de a vida enfrentar a morte. Rolland Barthes dizia que o amor é molhado, a mulher ama mais que o homem por ter mais água em seu corpo e por isso, inclusive, chora mais. A relação da água com a sexualidade se desnuda no termo ninfomaníaca, que deriva de ninfa, a divindade das águas; sua raiz, o G. ninfa, ‘noiva, jovem’, é gêmea do L. linfa, ‘água’. No poema medieval de Isidoro, assim como o sangue vermelho do homem se agita no coito para se transformar em sêmen branco, a água azul do mar agitada pelo vento e a rocha se derrama em espuma branca. Afrodite e Vênus O nome de Afrodite deriva do G. afros, que significa ‘espuma’. No quadro de Boticelli, Afrodite nasce numa concha, nua e ensopada de água do mar. Quando Borges escreveu que o espelho, tal como a cópula, multiplica os homens, repetia genialmente o mito. Afrodite já “nasce das ondas” com o espelho na mão, símbolo muito mais de reprodução do que de vaidade. Casada com Hefesto, Afrodite, deusa do amor e da beleza, era triplamente adúltera: gozava do carinho de Ares, da companhia de Hermes e da beleza de Adonis. Afrodisíaco é a substância que aumenta o desejo sexual, talento típico de Afrodite. Equivalente latina de Afrodite, Vênus literalmente endeusa a mulher, a sensualidade e a sedução. Venerar descreve a relação do mortal com Vênus, do homem apaixonado com a mulher. Venéreo é um termo preconceituoso que pressupõe o homem como vítima e a mulher como transmissora das doenças transmissíveis pelo sexo. Numa imagem belíssima, vênia, palavra que significa

‘perdão’, deriva de Vênus; a graça do perdão nasce junto à do amor, ambas atributos da mesma deusa. Pecado Venial é o que já está quase perdoado por antecipação. Vênus é a deusa tutelar do sexto dia da semana. O que o português chama burocraticamente de sexta-feira equivale aos celestiais veneredi (It.), vendredi (Fr.) e viernes (Esp.). Dia pagão do amor e festa, o Vaticano fez de tudo para consagrar o veneris dies (‘dia de Vênus’) à penitência e ao jejum, até mesmo a mudança de nome. Curiosamente, se Afrodite gerou afrodisíaco, uma poção de amor, Vênus gerou veneno, uma poção de morte, como a enfatizar o quanto esses opostos podem estar imbricados. Há quem diga que os venenos surgiram como poções de amor que deram errado. A linguagem parece reafirmar o fato de que o envenenamento é um modo feminino de matar ou morrer. Mas Vênus é uma deusa mais procriadora do que destruidora. Para Plínio, o orvalho era nada menos que muco cervical deixado por Vênus (a estrela D’Alva) quando se aproximava da Terra no anoitecer e amanhecer a fim de fecundá-la. Frutos do mar e do amor Nascidos de conchas tal Afrodite, a intimidade com a água dá aos frutos do mar a reputação afrodisíaca. A concha que ressoa o mar no seu ventre, bivalve como a vulva, é uma representação do feminino. Na Espanha, o nome Concepcion (‘Conceição, concepção’) é abreviado como Concha, e no espanhol pratense concha significa ‘vulva’. A relação de Vênus com a água tanto se revela em Vieira, o fruto do mar transformado em sobrenome, como se esboça na etimologia presumida (mas errônea) de Veneza, a mais molhada das cidades, quase uma Atlântida no Adriático.

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O sabor e o saber FERNANDO LOKSCHIN

Dentre os alimentos, os frutos do mar são os mais potentes afrodisíacos. Vênus, a deusa em pessoa, teria inventado uma sopa de frutos do mar (o bouillabasse) para que o marido lhe fosse uma companhia à altura – isto que o nome do marido era Vulcão!

DICAS DO CHEF O ARROZ DEVE SER COZIDO MEXENDOSE EM FOGO BAIXO.

OS ITALIANOS SERVEM EM PRATO FUNDO, MAS VOCÊ NÃO PRECISA FAZER IGUAL.

Grão pequeno e cumpridor Dentre os frutos da terra, o que mais invoca a água é o arroz, por isto é o consorte ideal para os frutos do mar. Não há outro cereal com maior afinidade pela água. Em terreno alagado, o arroz cresce e se multiplica muito mais. De cor pálida, com sabor suave e digestão fácil, o arroz é ideal para recobrir toda a exuberância de cor, forma, perfume, consistência e sabor de mexilhões, camarões, ostras, vieiras, lulas e polvos, tantos "presentes de Afrodite". O arroz é um grão pequeno que surpreende, discreto porém cumpridor. O centeio tem este nome porque sua semente produziria ‘cem’ novas plantas, e o milho porque em cada espiga haveria ‘mil’ grãos, mas fecundidade mesmo é a do arroz. O arroz fornece o dobro de calorias por área plantada do que o milho e centeio, daí sua presença em regiões tão povoadas da Ásia. Há correlação entre consumo de arroz e densidade populacional, o que não deixa de invocar um poder afrodisíaco. Homenageamos esta fertilidade quando, na saída da Igreja, ao final do rito de acasalamento, atiramos arroz nos noivos: sêmen e semente são termos gêmeos em som e sentido, neles germina o futuro. Cozinhar é como amar – quanto mais disposição, mais resultado. Arroz com Frutos do Mar, um prato para quem se venera, para pecar venialmente. No encontro da terra com o mar, a mistura da gula e luxúria em cama, mesa e banho. Os italianos dizem que o que nasce na água deve morrer no vinho. O Arroz com Frutos do Mar junto ao bom vinho é um afrodisíaco para o amor e a festa e é um veneno para a penitência e o jejum. Como a fome é o melhor tempero, o desejo é o melhor afrodisíaco. Na verdade, a deusa do amor nasce menos do mar e mais do olhar, do riso, do beijo, da carícia. A comida é só um detalhe, mas que ajuda, ajuda.

FAZER UM PRATO É RECRIÁ-LO. TODA BOA RECEITA ACEITA MODIFICAÇÕES.

FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fer nando@vanet.com.br

O ARROZ ARBÓREO DEIXA O RISOTO MAIS TÍPICO E CREMOSO. PODE-SE ACRESCENTAR PEIXE EM PEDAÇOS (CÔNGRIO OU CAÇÃO). OS TIPOS E PROPORÇÕES DOS FRUTOS DO MAR DEPENDEM DE GOSTO. OS MELHORES VINHOS SÃO O FRASCATTI E O CHAMPANHA SECO. DEVE-SE USAR 1 TAÇA DE VINHO, 100 G DE PARMESÃO E 1 COLHER DE SOPA RASA DE NATA PARA 2 XÍCARAS DE ARROZ. UM ERRO COMUM É COLOCAR FRUTOS DO MAR EM DEMASIA DEIXAR UNS CRUSTÁCEOS NO CALDO DA FRITURA REALÇA O SABOR, MAS ESTE CALDO DEVE SER COADO ANTES DE SER DESPEJADO NO ARROZ. A ÁGUA MINERAL NÃO É BOBAGEM: A AUSÊNCIA DO CLORO FAZ DIFERENÇA.

I L U S T R A Ç Õ E S

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N I K

FOTO

LETÍCIA

REMIÃO


ARROZ COM FRUTOS DO MAR DOURE O ALHO E A CEBOLA EM ÓLEO DE OLIVA. BORRIFE COM SAL E PIMENTA OS CAMARÕES, MEXILHÕES, PEDACINHOS DE LULA E POLVO. FRITE RAPIDAMENTE E EM SEPARADO E RETIRE DA CAÇAROLA. REFOGUE PEDAÇOS DE TOMATE NO CALDO QUE SOBRA. ACRESCENTE ÁGUA MINERAL E FERVA. COE E RESERVE ESTE LÍQUIDO PARA O ARROZ. FRITE O ARROZ COM ALHO E CEBOLA. ACRESCENTE O CALDO JUNTO AO VINHO BRANCO. SE PRECISO, ADICIONE MAIS ÁGUA MINERAL QUENTE. ACRESCENTE MAIS SAL E PIMENTA, SE NECESSÁRIO. QUANDO O ARROZ ESTIVER QUASE COZIDO, JUNTE OS FRUTOS DO MAR. IMEDIATAMENTE ANTES DE SERVIR, COLOQUE ERVILHAS COZIDAS, TEMPERO VERDE BEM PICADO, CUBINHOS DE TOMATES CRUS DESCASCADOS, UM POUCO DE QUEIJO PARMESÃO E NATA. MEXA E SIRVA EM SEGUIDA.

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Terra preciosa P O R P AU L A TA I T E L B A U M F OTO S E D U A R D O I G L E S I A S



Viagem O ESPÍRITO DA CHAPADA DIAMANTINA É O DE PRESERVAR A NATUREZA E RENOVAR A ALMA

Eu poderia escrever um romance ambientado neste lugar. Poderia me apropriar de certos personagens e fazer o roteiro de um longa. Eu poderia produzir mil poemas só com o que eu senti. Mas escrevi esta matéria. Para tentar convencer você de que realmente vale a pena sair da sua confortável poltrona para andar quilômetros até uma cachoeira. Ou passar um frio danado mergulhando em uma gruta escura. Ou ralar as mãos descendo um tobogã natural. Eu quero mostrar que, seja qual for a sua tribo ou a sua quantidade de fôlego, vale a pena renovar sua alma na Chapada Diamantina. Ah, se vale. Cores, tons, sabores, sons É na Bahia, mas tem um quê de Minas Gerais. É sertão, mas um dia já foi mar. Na Chapada Diamantina, os contrastes estão em tudo. Nas matizes das rochas milenares. Nas águas que vão do marrom-escuro ao azul deslumbrante. No olhar dos nativos que recebem visitantes de todos os cantos do planeta com muitas histórias e hospitalidade. E não só porque o turismo é o boom do momento. Mas porque eles são assim mesmo, sorridentes e gentis, com aquele sotaque gostoso que faz com que a gente deixe de ser tão tchebagual para se tornar um pouco mais óxente meu bichinho. A Chapada Diamantina fica a 420 quilômetros de Salvador. Mais do que um Parque Nacional, é um conglomerado de 57 municípios com incontáveis belezas naturais. Quem vai pela primeira vez costuma ficar em Lençóis, a chamada capital da Chapada. Um lugar que, dizem, já teve 30 mil habitantes nos áureos tempos do garimpo de diamantes. Hoje, seus moradores fixos não passam de 5 mil. Um número que se multiplica quando chega São João, época em que aterrissamos por lá.


A PAZ PODE SER ENCONTRADA NA EXPRESSテグ DOS MORADORES OU NUM MERGULHO NA CACHOEIRA DO SOSSEGO


Viagem

É PRECISO IR PREPARADO PARA QUILÔMETROS DE TRILHAS E PARA AVENTURAS COMO O RAPEL E A TIROLESA NO POÇO DO DIABO

DE UMA CALMA CAMINHADA A UM BANHO DE ADRENALINA

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A capital da Chapada Lençóis tem tudo para receber bem quem chega. Aeroporto, hotel cinco estrelas, pousada, pousadinha, albergue, camping, restaurantes para todos os gostos, guias sempre prontos para mostrar uma trilha. A cidade é tombada pelo patrimônio histórico e suas ruas são verdadeiros labirintos de paralelepípedo emoldurados por casinhas coloridas. Uma vila que guarda lembranças de um ciclo de diamantes cujo apogeu aconteceu entre 1845 e 1890. A extração, no entanto, não parou por aí. Durante quase todo o século XX, as máquinas que perfuraram o solo atrás de pedras preciosas deixaram cicatrizes profundas na paisagem. O estrago só não foi maior porque a Chapada Diamantina passou a ser uma APA – Área de Proteção Ambiental. Atualmente, ai de quem for visto tirando uma pedrinha do lugar. Isso é que são férias No primeiro passeio do roteiro proposto, já dá pra descobrir que as pedras são um dos grandes patrimônios da região, pois elas existem em todas as cores, tamanhos e formas. Há rochas de bilhões de anos, há as que parecem uma cratera lunar e há aquelas que já viraram pó, formando, assim, o Salão de Areias Coloridas. Tiago, um


A REGIÃO É RICA EM ESPÉCIES VEGETAIS E MINERAIS E HÁ MUITA DIVERSÃO PARA QUEM NÃO TEM MEDO DE ÁGUA FRIA

dos guias, nos dá uma aula de geologia ao mesmo tempo em que esclarece: a cor marrom da água do rio Lençóis não é poluição. E sim uma grande concentração de matéria orgânica que faz com que o rio seja produtor de algo que se assemelha a um chá bem forte. Água, aliás, não falta por toda a região da Chapada. São várias poços, cachoeiras, rios e até um minipantanal. Mas vamos por partes. Primeiro, o Poço do Diabo. Se você pensa que tirolesa é apenas uma dança típica do Tirol, saiba que também é o nome de uma corda que se estende do alto de um morro até lá embaixo na água. A pessoa é amarrada numa cadeirinha e zuuuum, lá se vai. A tirolesa do Poço do Diabo tem 18 metros de altura. Você começa com um friozinho na barriga e termina com o corpo inteiro na água gelada. E para quem quiser continuar a sessão de esportes radicais, ainda no Poço do Diabo há um rapel de 23 metros. Lá pelas tantas, eu ouvi um paulista gritando "Isso é que são férias". E estávamos apenas no segundo dia. Para aqueles que adoram um excesso de adrenalina, a Chapada tem lugares para os praticantes de rapel em gruta ou cachoeira, escaladas, bung jump e até base jump. E mais uma tirolesa na Gruta da Pratinha. A Pratinha é chamada de "oásis do sertão" e realmente

é tão linda que mais parece uma miragem. A visão só é mais fantástica quando colocamos a máscara de mergulho, o colete e os pés de pato (tudo alugado no local) e partimos para uma flutuação gruta adentro. A temperatura da água é de 24 graus, mas parece menos. Tanto que é difícil controlar o queixo batendo de frio. Com lanternas aquáticas na mão, lá vamos nós nadando lentamente, em um percurso de 170 metros pelos salões escuros da caverna. De repente, a luz começa a entrar, a água vai ficando azulada e centenas de peixes nadam a minha volta. Esqueci o frio, esqueci o mundo lá fora. Simplesmente passei a fazer parte daquele ecossistema. Um convite à meditação A Gruta da Pratinha não é a única caverna a fazer com que a gente olhe um pouco mais para dentro. Só no município de Iraquara são 124 catalogadas. Impossível não pensar na vida e sua evolução quando estamos caminhando sob os estalactites da Gruta da Lapa Doce, por exemplo. Zequinha, um senhor que mora na região, leva os visitantes para um passeio de 850 metros pela caverna, onde somos iluminados apenas pela luz de sua lamparina. (Nota da repórter: Zequinha é um guia preparadíssimo, dá uma aula sobre o local, e sua mochila possui tudo para o turista

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AS ÁGUAS ULTRACRISTALINAS DO POÇO AZUL. ABAIXO, MESTRE OSVALDO MOSTRA UMA DE SUAS “RELÍQUIAS”

O AZUL DAS ÁGUAS FAZ A MENTE FLUTUAR

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despreparado, de pilhas até filmes fotográficos.) A iluminação precária dá vida às sombras e um tom de mistério aos estalactites que nos envolvem. Alguns são imensos, e como eles crescem apenas 1 cm a cada 33 anos dá pra imaginar há quantos séculos estão ali. Entre as camadas das rochas da gruta, podemos ver conchas e mais conchas. E o que antes parecia nada mais do que uma teoria passa a ser uma verdade latente: estamos mesmo caminhando no que um dia já foi o fundo do oceano. Pra completar o passeio, Zequinha pede que sentemos e apaga sua lamparina. Provavelmente eu nunca venha a ter outro momento de meditação como aquele. Um mergulho no azul infinito Há um fenômeno que vi acontecer em três grutas diferentes da Chapada Diamantina. É o tom ultra-azulado que a água cristalina das cavernas ganha graças à incidência direta do sol sobre ela. Primeiro foi na Gruta Azul, que, assim como a Lapa Doce, fica na região de Iraquara. Depois, no Poço Azul e no Poço Encantado. Estes dois últimos bem mais afastados de Lençóis. Quando o raio de sol entra pela abertura de uma dessas cavernas e incide sobre a água, os minerais que ali existem fazem com que surja um azulado sem explicação. No Poço



Viagem Azul é possível mergulhar, se bem que tive a sensação de estar voando, pois a água é tão transparente que parece até que não está ali.

PAISAGENS E PERSONAGENS QUE FICAM NA MEMÓRIA

Para passear e se apaixonar Voar é o que dá vontade de fazer quando a gente chega ao topo daquele que é o cartão-postal oficial da Chapada Diamantina. O Morro do Pai Inácio. São 600 m de subida (haja joelho) que nos deixam a mais de um quilômetro acima do nível do mar. O melhor horário para a visitação é o do pôr-do-sol. Lá de cima, avistamos serras, vales e montes, como o Morro do Camelo. E também ouvimos a Lenda do Pai Inácio, um escravo que se apaixonou pela sinhá e... bem, o resto da história é melhor você deixar para escutar lá mesmo. Não há tempo a perder e é preciso descer rápido enquanto ainda há luminosidade no céu. Amanhã é outro dia. Dia de conhecer o pântano de Maribus, o chamado minipantanal da Chapada. Vamos até a vila de onde partem as canoas para deslizarmos por 9 quilômetros nas águas do Rio Santo Antônio, até chegarmos na Fazenda do Roncador. Antigamente, a casa era ponto de apoio para os garimpeiros. Hoje, Dona

AS CANOAS DESLIZAM PELA CALMARIA DO PÂNTANO DE MARIBUS



O MARAVILHOSO CAFÉ DA MANHÃ NA ESTALAGEM DO ALCINO E O MORRO DO CAMELO DEITADO NO HORIZONTE

Valdeci Ribeiro de Souza, a proprietária, apóia o turismo e prepara um típico almoço para os grupos que chegam. E ainda oferece redes para o pessoal dar uma dormidinha antes de ir conhecer a cachoeira que fica a poucos metros da fazenda. Depois de um bom banho, quando chega a hora de ir embora começa uma nova aventura. É quando subimos na Rural do gaúcho Carlos Bragato, o "Tchê", uma figura de barba grande e fala arrastada que coloca seu carro para atravessar rios e montanhas de pedregulhos.

NO SERTÃO QUE JÁ FOI MAR HÁ MUITO PARA DESCOBRIR

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Eu vi Mamãe Oxum na cachoeira Eu tenho quase certeza de que vi Mamãe Oxum na Cachoeira do Sossego colhendo flores para enfeitar o seu congá. Alguém poderia dizer que foi uma alucinação causada pela exaustão de 14 quilômetros em uma trilha difícil. Quem sabe... A caminhada para conhecer esta cachoeira é mesmo cansativa. Mas compensa. São 75 metros de quedas em degraus. Os mais corajosos pulam de cima das rochas na água gelada. Os mais acomodados (ou cansados) ficam tomando uma cervejinha enquanto curtem o visual. Cervejinha? Pois é, acreditem, os nativos atravessam a mata com um isopor lotado nas costas para vender


SUPERTOBOGÃ NATURAL NO RIBEIRÃO DO MEIO E OS MISTÉRIOS DAS PEDRAS MILENARES QUE SE ESCONDEM POR TODA A CHAPADA

bebidas ali. De uma forma ou de outra, todo mundo sobrevive do turismo. No final do caminho que nos leva de volta a Lençóis, chegamos no Ribeirão do Meio. É um supertobogã aquático natural. Taquicardia pura descer por ele, pois atingimos uma velocidade tremenda. Mas atenção, só será divertido se você estiver de bermuda grossa. Eu, que estava de maiô, resolvi sentar em cima das mãos. Ui. Nem preciso dizer que não deu certo, pois a "rampa" do tobogã não é nada regular. Só pra finalizar o assunto queda d´água, vale também conhecer a Cachoeira da Fumaça, a segunda mais alta do país, com 340 metros de água caindo e transformando gotículas em névoa no ar. Os personagens principais Seu Anizio, Seu Cícero, Seu Euclides e Mestre Osvaldo. Personagens antológicos da cidade de Lençóis. Seu Anizio de Macedo foi o primeiro a desbravar a trilha para chegar na Cachoeira da Fumaça, há cerca de vinte anos. O guia mais antigo de Lençóis tem 74 anos e costuma andar até 70 quilômetros por dia. "Os verdadeiros diamantes são os turistas que chegam", diz ele. Pergunto a Seu Cícero Moraes de Souza se ele foi

garimpeiro e ouço um "ainda sou" cheio de orgulho. Perto dos 80 anos, Seu Cícero é vice-presidente da Sociedade dos Mineiros e luta pela liberação do garimpo manual. Calmo, conta que um dia alguém veio avisar que seu cavalo tinha sido levado pelas águas do rio depois de uma chuva forte. "Deixa pra lá, seu moço", foi o que Seu Cícero respondeu. O nome dele deveria ser Belchior, pois nasceu no dia 6 de janeiro. Foi batizado Euclides de Oliveira, mas o nome de um dos Reis Magos permaneceu como apelido (o pessoal da cidade pronuncia Belxior). Seu Euclides, ou Belchior, tem 82 anos e foi alfaiate de vários coronéis. Chegou a produzir 40 ternos por semana e diz que hoje em dia ninguém mais quer saber de roupa feita à mão. Mas isso não tira seu bom humor. Entre uma risada e outra, ele mostra sua Singer antiga, suas tesouras enormes e pergunta: "O que esse povo vem fazer aqui? Não tem diversão. Antigamente sim, tinha festa boa, cinema, teatro. Pegava fogo esse Lençóis". Osvaldo Senna Pereira nasceu em 1922 e tem uma memória privilegiada. Mestre Osvaldo, como é chamado, cresceu em meio ao garimpo de propriedade de seu pai e ainda hoje lida com diamantes. Adorador de objetos antigos e raros, abre as portas para quem quiser

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A CHAPADA QUE É ETERNA COMO SEUS DIAMANTES ver sua coleção de pedras, documentos, livros e objetos antigos. Já perdeu as contas de quantas entrevistas deu, é amigo de Jimmy Page (o roqueiro tem uma casa em Lençóis) e me presenteou com um picuá feito por ele e também com um pequeno carbonado de sua coleção. Em tempo: picuá é um tubinho feito de uma raiz local no qual os garimpeiros guardavam seus diamantes. E carbonado é o diamante negro. Antigamente, um pequenininho, igual ao que eu ganhei, dava pra comprar uma fazenda inteira. Hoje quase não tem valor. Mas mesmo que tivesse eu não venderia. Afinal, foi Mestre Osvaldo quem me deu. Pra comer e repetir e repetir e repetir A Chapada Diamantina é isso. Natureza abundante e gente querida e cativante que faz comidas deliciosas e oferece ótima hospedagem. A culinária típica está mais próxima da mineira do que da baiana, porque os primeiros garimpeiros vieram de Minas Gerais. Entre os tantos sabores que provei, ficou na memória o Godó de Banana Verde, a palma refogada, os licores e sucos de frutas regionais e, principalmente, o

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café da manhã da Estalagem do Alcino. Como é que eu vou explicar. Se alguém perguntasse o que eu queria levar para uma ilha deserta eu diria que é o café da manhã do Alcino. Tudo é servido em louças pintadas à mão pelo proprietário, este artista plástico carioca que já rodou mundo e vive há 16 anos em Lençóis. Delirei com o creme de banana, o bolo de batata-doce com cardamomo, o pão com funghi e o beiju canoa com queijo derretido. Vem tudo fumegando para ser servido na grande mesa da varanda. Há sempre mais a conhecer Há opções para todos os gostos e estilos. E apesar de ser impossível conhecer tudo em apenas uma semana, é possível se apaixonar perdidamente pelo lugar e ir embora com vontade de voltar logo. Na minha próxima visita não quero deixar de conhecer o Vale do Pati e o Vale do Capão, a cidade Xique-Xique de Igatu, as pinturas rupestres e outras grutas e outras cachoeiras e outras pessoas. A Chapada Diamantina é tão eterna para quem passa por lá quanto os diamantes que ainda residem no fundo de suas areias.


DICAS MULTITRAVEL A EXPLORER BRASIL É A OPERADORA LOCAL MULTITRAVEL E OFERECE UM ATENDIMENTO CHEIO DE QUALIDADE E SIMPATIA (A REPÓRTER ASSINA EMBAIXO). LEVE TÊNIS CONFORTÁVEIS, ROUPAS LEVES, ROUPAS DE BANHO, PROTETOR SOLAR, BONÉ, LANTERNA PARA AS GRUTAS E REPELENTE CONTRA INSETOS. NÃO ESQUEÇA A MOCHILA PEQUENA PARA AS CAMINHADAS. O HOTEL PORTAL DE LENÇÓIS É O ÚNICO CINCO ESTRELAS DA CIDADE E POSSUI PISCINA COM BAR, SALÃO DE JOGOS, PISTA DE COOPER, RESTAURANTE INTERNACIONAL, AMERICAN BAR,

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A REPÓRTER E O FOTÓGRAFO VISITARAM A CHAPADA DIAMANTINA A CONVITE DA MULTITRAVEL/SP O TRECHO PORTO ALEGRE–SÃO PAULO–PORTO ALEGRE FOI UMA CORTESIA DA LEAR TRAVEL/POA


Casa

prima VASOS DE VIDRO TRANSPARENTE, ÁGUA E FLORES, MUITAS FLORES, DE VÁRIOS TIPOS DISPUSER DE UM POUCO DE TEMPO, ACREDITAR NA SUA SENSIBILIDADE ESTÉTICA E

POR MILENE LEAL FOTOS LETÍCIA REMIÃO

POSSA DIZER QUE FALTA INSPIRAÇÃO OU ESTÍMULO, APRESENTAMOS NESTA REPORTAGEM


vera E FORMAS. VOCÊ NÃO PRECISA DE MUITA COISA PRA COLOCAR A PRIMAVERA DENTRO DE CASA. MAS TUDO FICARÁ AINDA MAIS BONITO SE VOCÊ COLOCAR MÃOS À OBRA PARA MONTAR ARRANJOS ÚNICOS, PERSONALIZADOS, USANDO AS SUAS FLORES PREFERIDAS. E PARA QUE NINGUÉM COMPOSIÇÕES CRIADAS POR EXPERTS EM FLORES, COM IDÉIAS QUE VÃO COLORIR TODOS OS AMBIENTES DA SUA CASA.


Casa ESCOLHA UM TOM QUE COMBINE COM A SUA CASA OU COM O SEU ESTADO DE ESPÍRITO. JUNTE TODAS AS FLORES NESSA COR QUE VOCÊ CONSEGUIR ENCONTRAR. FAÇA UM BUQUÊ MISTURANDO AS FLORES E COLOQUE EM UM VASO DE VIDRO COM FORMATO DE TUBO DE ENSAIO. É SÓ. E FICA LINDO, POIS O ARRANJO DESTACA A BELEZA DE CADA FLOR. NA PÁGINA AO LADO, UMA COMBINAÇÃO DE FLORES SINGELAS QUE TÊM NOMES TÃO POÉTICOS QUANTO O EFEITO VISUAL QUE CAUSAM : BEIJO DE MOÇA E COSMOS DE JARDIM. O BEIJO DE MOÇA É UMA DELICADA FLOR SILVESTRE, QUE VOCÊ ENCONTRA EM DIFERENTES TONALIDADES DE ROSA OU EM BRANCO, ESPECIALMENTE NA PRIMAVERA E NO FINAL DO INVERNO.

UM PEQUENO RECIPIENTE DE VIDRO, EM FORMATO QUADRADO, E APENAS UM LÍRIO STARGAZER, COM SUAS PÉTALAS EM DEGRADÊ DE ROSA. VOCÊ NÃO PRECISA NADA MAIS DO QUE ISSO PARA MONTAR UM ARRANJO QUE VAI FICAR LINDO SOBRE A PIA DO BANHEIRO OU NA CABECEIRA DA CAMA. O LÍRIO É UMA FLOR SUPERDURÁVEL.

PARA CONSERVAR ARRANJOS NA ÁGUA DICA 1: PARA MANTER AS FLORES BONITAS POR MAIS TEMPO, TROQUE A ÁGUA TODOS OS DIAS E CORTE OS CAULES NA DIAGONAL.



Casa


À LUZ DA JANELA, UM ARRANJO QUE COMBINA DOIS TIPOS DE ORQUÍDEAS E UMA FLOR DELICADÍSSIMA, CHAMADA DIDISCO. A ORIGINALIDADE ESTÁ NA MANEIRA DE DISPOR AS FLORES NO VASO, EM TRÊS NÍVEIS DIFERENTES. NO “PRIMEIRO ANDAR” ESTÁ A ORQUÍDEA PHALAENOPSIS, EM SEGUIDA APARECE A ORQUÍDEA SPATHOGLOTIS PLICATA, UMA FLOR RARA, ENCONTRADA SOMENTE NA COR PINK; E, NO “TERCEIRO ANDAR”, O DIDISCO LILÁS. O RECIPIENTE É UM SIMPLES TUBO DE VIDRO. UMA COMBINAÇÃO TÃO FELIZ QUE DISPENSA ACESSÓRIOS. ABAIXO, A ORQUÍDEA PHALAENOPSIS, UMA FLOR SUPERDURÁVEL, QUE SOBREVIVE ATÉ UM MÊS NA ÁGUA.

NA FOTO ACIMA, DETALHE DO DIDISCO, UMA FLOR COMPOSTA DE DEZENAS DE PEQUENAS FLOREZINHAS. APESAR DE SER UMA FLOR DO CAMPO, O DIDISCO NÃO É FÁCIL DE ENCONTRAR, MAS É BASTANTE DURÁVEL. EXISTE EM TRÊS CORES: LILÁS, ROSA E BRANCO.

DICA 2: AO MONTAR O ARRANJO, TIRE AS FOLHAS DO CAULE, POIS ELAS SE DETERIORAM NA ÁGUA E TIRAM O VIGOR DA FLOR. NUNCA DEIXE AS FOLHAS MERGULHADAS NA ÁGUA.


Casa AS ERVILHAS DE CHEIRO FAZEM JUS AO NOME. SÃO MESMO CHEIROSÍSSIMAS. PARA ENFEITAR A MESA DE CENTRO E AROMATIZAR SUA SALA, ESCOLHA DOIS RECIPIENTES IGUAIS, RETANGULARES, DE VIDRO, E SIMPLESMENTE ACOMODE TRÊS TONALIDADES DE ERVILHAS DE CHEIRO: LILÁS, BRANCO E ROSA (FOTO DA PÁGINA AO LADO). A ERVILHA DE CHEIRO É UMA FLOR TÍPICA DO RIO GRANDE DO SUL. FRÁGIL E DELICADA, ELA DURA POUCO. UM EFEITO EFÊMERO, MAS MUITO ENCANTADOR. NA FOTO ABAIXO, AS FORMAS ONDULANTES DA ERVILHA DE CHEIRO, QUE É MAIS ABUNDANTE E FÁCIL DE ENCONTRAR NO FINAL DO INVERNO.

ACIMA, UM VASO QUADRADO E PEQUENAS CRAVINAS EM COR ROSA MATIZADO. ESTA FLOR, UM CRAVO EM MINIATURA, EXISTE TAMBÉM NAS CORES BRANCO E ROSA. É UMA FLOR COMUM, RESISTENTE E DURÁVEL, ENCONTRADA EM JARDINS O ANO TODO.

DICA 3: MANTENHA OS ARRANJOS EM LUGARES FRESCOS E AREJADOS, NA SOMBRA. PARA DEIXAR A ÁGUA SEMPRE CRISTALINA E SEM ODORES, USE CONSERVANTES DE FLORES.



Casa

MARIA JOSÉ (DE CABELOS CURTOS) E MARIA ALICE SÃO AS ESPECIALISTAS QUE CRIARAM OS ARRANJOS EXIBIDOS NESTA REPORTAGEM. ELAS MONTARAM COMPOSIÇÕES FLORAIS QUE SÃO MUITO FÁCEIS DE FAZER EM CASA, MESMO PARA QUEM NÃO TEM EXPERIÊNCIA ALGUMA. O SEGREDO ESTÁ NA VARIEDADE, NO FRESCOR DAS FLORES E NA SENSIBILIDADE AO COMBINÁ-LAS.



MARIA JOSÉ E MARIA ALICE. TIA E SOBRINHA QUE VIVEM EM MEIO ÀS FLORES. ELAS SÃO DONAS DA ARTEPLANTAS, UM OÁSIS DE CORES E FORMAS DA NATUREZA INSTALADO EM PLENA PADRE CHAGAS. NA CALÇADA EM FRENTE À LOJA, UMA PROFUSÃO DE PLANTAS DE TODOS OS TIPOS, COLOCADAS EM VASOS, CESTOS E RECIPIENTES OS MAIS DIVERSOS, FAZ PARAR QUEM PASSA POR ALI. É TANTO VERDE, TANTA FLOR, TANTA VIDA QUE ESSE PEDACINHO DA RUA JÁ SE TORNOU REFERÊNCIA. DENTRO DA LOJA, MESMO A ALMA MAIS PÉTREA SE DEIXA ENLEVAR. SÃO TANTAS COISAS LINDAS E UM ASTRAL TÃO BOM QUE É IMPOSSÍVEL SAIR DALI SEM PELO MENOS UMA GÉRBERA NA MÃO.

ZEZÉ (APELIDO DE MARIA JOSÉ) E MARIA ALICE SE REVEZAM NA CRIAÇÃO DE ARRANJOS QUE SURPREENDEM PELA BELEZA SIMPLES, DESPROVIDA DE MUITOS ARTIFÍCIOS. AS FLORES DEVEM SER O FOCO PRINCIPAL, ENSINA ZEZÉ. ELA PREGA A SIMPLICIDADE NA COMPOSIÇÃO DOS ARRANJOS, DISPENSANDO O EXCESSO DE TOPES, FITAS E FRUFRUS, PARA QUE A BELEZA DA FLOR SEJA SEMPRE SALIENTADA.

A ARTEPLANTAS, FRUTO DE UMA ANTIGA PAIXÃO DAS DUAS MARIAS PELO UNIVERSO DAS FLORES, EXISTE FORMALMENTE DESDE O DIA 19 DE DEZEMBRO DE 1995. A LOJA OCUPA UM BELO SOBRADO, CENÁRIO PERFEITO PARA A ARTE DA DUPLA.


Cotidiano MARTHA MEDEIROS

SUPERFLORIDO Seja bem-vinda a flor de pessoa que você é Flor de pessoa. É a minha flor preferida. As flores de pessoas são simpáticas sem serem grudentas e são generosas sem serem oferecidas. Flores de pessoas têm bom caráter, bom papo e bom aspecto, o que não significa que sejam lindas. Não precisam ser lindas. Basta que sejam apenas sorridentes e coloridas por dentro: esta é a beleza indisfarçável das flores de pessoas. Não diria que elas são raras, mas seria exagero dizer que são encontradas em qualquer lugar. Elas nos confundem, a princípio. Parecem com outras flores mais comuns, e só quando observadas bem de perto é que descobrimos serem flores de pessoas. Flor da idade também é uma flor que a gente adora, pois dura um tempão. Aos 18 anos, aos 24, até os 30 estão todos na flor da idade. Pensando bem, na flor da idade está qualquer pessoa que ainda seja aventureira, curiosa e que tenha energia para desabrochar muitas e muitas vezes. Pode-se estar na flor da idade aos 60 anos e ainda assim não dar o menor sinal de murchar. Outro destaque é a fina flor. Só vai na boa. É a elite. A fina flor da bossa-nova, a fina flor da sociedade, a fina flor da malandragem. Yes, a fina flor da malandragem também tem um belo jardim, também dá encanto à vida. Naturalmente que estamos falando de uma malandragem Bezerra da Silva, de uma malandragem Zeca Pagodinho, e não de uma malandragem juiz Nicolau. A fina flor só é xarope quando evolui para flor de estufa. São aquelas flores que ficam se achando, exigem trata-

mento vip e são cheias de não-me-toques. Flor tem que brotar da terra e encarar sol e chuva, senão vira frescura. Tem aquelas flores que não se cheiram, as mais comentadas. Fulano não é flor que se cheire, sicrana também não. Por via das dúvidas, cheire. Vá pelo seu olfato, e não pelo olfato dos outros. Às vezes eles têm razão, mas às vezes é preconceito. Se você confirmar que não é mesmo uma flor que se cheire, aí sim, desconsidere. Ei-la aí de novo, a primavera, lembrando que está mais do que na hora de colorirmos e perfumarmos nossas casas com gérberas, crisântemos, orquídeas e lírios. Estão aí as ruas da cidade com seus jacarandás e buganvílias. Arrisco confessar que às vezes acho meio brega esta explosão de cor e flor, o inverno é mais chique, mas me rendo: basta de frio, de lã e de introspecção, que venha esta nova estação mais desinibida, mais calorosa e mais juvenil. E que dela mantenham-se longe as criaturas frias, as criaturas rudes e também as ácidas. Que a temperatura amena desperte o que há de mais humano em nós: bem-vinda a flor de pessoa que você é, bem-vinda a fina flor da elegância no tratamento com os demais e bem-vinda a disposição de quem está na flor da idade em qualquer idade. Sejamos flores que se cheiram, sejamos resistentes às podas da vida. Que, em nossa simplicidade, possamos sobreviver apenas de sol e água, que sejamos leves e necessários para a alegria dos outros. Flor de especial, é o que somos, todos. MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA

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Aventura

Emoção em

alta F OTO S

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P O R R A FA E L B E C K E D U A R D O I G L E S I A S

Escalada. [do lat. Scalata] S. f. Ação de escalar; subir uma montanha íngreme, em geral de formação rochosa. Várias conclusões podem ser tiradas desta definição de escalada, extraída do dicionário. Uma delas: lexicógrafos não praticam este esporte. Não há outra maneira de explicar a ausência de conceitos como “emoção”, “desafio” e “superação de limites” neste verbete. Pois a escalada é tudo isto, e muito mais. Um esporte que exige força – principalmente nas mãos – e concentração, além de disciplina e companheirismo entre os praticantes. Que oferece uma batalha constante contra a natureza; não apenas contra a parede rochosa, mas também o sol, o frio ou calor e o vento. E que, conquistada a montanha, oferece uma sensação única de superação dos limites físicos e vitória sobre o medo.


PARA CIMA OU PARA BAIXO, A BATALHA DO HOMEM CONTRA A MONTANHA É SEMPRE UM DESAFIO


Aventura


No Rio Grande do Sul, tudo começou na década de 50, com os membros do Centro Excursionista Farroupilha, atual Clube Gaúcho de Montanhismo. O primeiro local escolhido por esses pioneiros para praticar a escalada foi o Pico do Itacolomi, em Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre. Exatamente a via onde tem início a aventura desta reportagem. Preparação é fundamental Antes, porém, de encarar os perigos e os desafios oferecidos pela natureza, é recomendável que o aspirante a escalador aprenda as técnicas necessárias em cursos ou academias. Oferecidos em diversas cidades do Rio Grande do Sul, eles servem para familiarizar o iniciante com os equipamentos necessários para a prática do esporte, com os termos e jargões do montanhismo e com os truques que serão indispensáveis na hora de se tentar subir uma parede rochosa. É neste momento que palavras como “via”, “agarra”, “cordada” e “mosquetão” passam a fazer parte do vocabulário de qualquer novato. É também quando ele aprende a correta utilização dos equipamentos, como são dados os mais diversos nós necessários na subida e, ainda, como fazer uma escalada com a mais completa segurança para todos os envolvidos. Também é a partir daí que o iniciante treina em paredes artificiais. Estas estruturas, próprias para a prática da escalada indoor, vêm se tornando populares, recebendo, a cada dia, mais praticantes em busca do aperfeiçoamento das capacidades físicas exigidas para se encarar a montanha. Também é nessas paredes que se aprendem e se trei-

DICAS DE SEGURANÇA PESQUISAR O LOCAL ONDE SERÁ FEITA A ESCALADA: CONDIÇÕES DA MONTANHA E A PREVISÃO DO TEMPO; ESTAR PREPARADO, FÍSICA E TECNICAMENTE: OS EQUIPAMENTOS E ROUPAS DEVEM SER ADEQUADOS, E OBRIGATORIAMENTE CHECADOS; SEMPRE TER O CONHECIMENTO NECESSÁRIO. SENÃO, PROCURAR FAZER A ESCALADA E A DESCIDA AO LADO DE PESSOAS EXPERIENTES NO ESPORTE; CONHECER OS PARCEIROS DA ESCALADA, E TER CONFIANÇA NELES; SEMPRE USAR, E SABER UTILIZAR, OS EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA. UTILIZAR SOMENTE EQUIPAMENTOS PRÓPRIOS PARA O MONTANHISMO. NUNCA IMPROVISAR; CHECAR SEMPRE AS CONDIÇÕES DA VIA A SER ESCALADA, MESMO QUE ELA JÁ SEJA CONHECIDA DO MONTANHISTA; SEMPRE USAR OS EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA COM ATENÇÃO E DE FORMA APROPRIADA. NÃO EXISTE FERRAMENTA À PROVA DE ERRO. A ENORME MAIORIA DOS ACIDENTES ACONTECE POR ERRO OU DESATENÇÃO DOS PRÓPRIOS MONTANHISTAS.


Aventura PARA ALGUNS PRATICANTES, A ESCALADA É UM ATO DE FÉ nam as técnicas para se segurar e sustentar o peso do corpo em pequenos vãos, muitas vezes milimétricos. A partir desse treinamento, o escalador está apto a passar ao verdadeiro desafio: as paredes naturais. Desafio constante Vistas de longe, as montanhas parecem inofensivas. Mas basta chegar ao pé da via de escalada que elas se tornam desafiadoras. Para um iniciante, chegam a ser assustadoras. E um pensamento percorre a cabeça: como fazer para vencer o paredão? O que leva uma pessoa a tentar? Para Paulo Gomes, 21 anos, praticante do esporte desde os 10, não é possível definir com palavras: “Você sente coisas maravilhosas, mas não dá para explicar o que leva a pessoa a buscar a montanha”. Para ele, a escalada é um ato de fé: só quem crê em si mesmo, no equipamento e nos seus companheiros consegue subir. Paulo sabe do que fala. Em fevereiro do próximo ano, ele embarca para Mendoza, na fronteira da Argentina com o Chile, onde tentará superar o mais alto pico das Américas. O monte Aconcágua, com seus 6.980 metros de altura, oferece desafios intermináveis àqueles que se aventuram a tentar vencê-lo. Para encarar o desafio, Paulo enfrenta três horas diárias de treinamento, que incluem corrida, natação, ciclismo, musculação e, é claro, muita escalada. Na subida, um dos segredos é não ter pressa. Procurar sempre o melhor local de apoio e, somente então, seguir adiante. Também é importante sempre ter três pontos de sustentação na rocha: dois braços e uma perna, ou duas pernas e um braço. Com o braço ou perna restante, procura-se a próxima reentrância na pedra, até se fixar nela. E assim por diante. Calma e paciência. A escalada exige um grande esforço físico, e bastante equilíbrio. Muitas vezes, os dedos das mãos sustentam o peso de todo o corpo. Superfícies menores que uma moeda de um centavo são um seguro apoio para pés e mãos. Para Orlei Júnior, instrutor de escalada e secretá-



Aventura rio da Federação Gaúcha de Montanhismo, é preciso estar muito preparado: fisicamente, tecnicamente e até mesmo psicologicamente. Só assim se chega ao topo. Rapel. S. m. Processo de descida de uma vertente ou paredão na vertical com a ajuda de uma corda dupla passada sob uma coxa e sobre o ombro oposto a ela, ou por meio de um dispositivo especial que desliza controladamente pelo cabo. Atingindo-se o topo, chega-se à hora da descida. Para o novato, a parte mais fácil e divertida. O segredo aqui é a confiança no equipamento. Para evitar acidentes, a dica é manter uma posição reta em relação à parede. Mesmo que isso signifique ficar praticamente na horizontal. Na descida, a paciência não é tão necessária, mas o melhor é ir descendo aos poucos, apreciando a vista e também aproveitando a sensação de se sentir uma espécie de super-homem, capaz até mesmo de desafiar a gravidade. Chegando-se ao chão, termina a aventura. A montanha, conquistada, não assusta mais tanto, embora continue parecendo desafiadora. É a hora de recolher o equipamento e pensar na próxima aventura. Próxima? Exatamente. Passados o medo e as dificuldades, é difícil alguém resistir e não querer repetir a jornada. É o desafio do montanhismo, que – muitas vezes inexplicavelmente – conquista cada vez mais adeptos.

CURSOS E EQUIPAMENTOS BIG WALL EQUIPAMENTOS PARA AVENTURA FONE: (51) 3337-1094 VERTEX OUTSIDER EQUIPAMENTOS PARA AVENTURA FONE: (51) 3343-3163 ASSOCIAÇÃO CRISTÃ DE MOÇOS DE PORTO ALEGRE FONE: (51) 3226-8288 CURSO BÁSICO DE ESCALADA EM ROCHA FONE: (51) 3336-7405 OBS.: MAIS INFORMAÇÕES SOBRE CURSOS COM ORLEI JÚNIOR, NA FEDERAÇÃO GAÚCHA DE MONTANHISMO, FONE 3336-7405.

ONDE PRATICAR A FEDERAÇÃO GAÚCHA TEM CADASTRADOS 32 LOCAIS PARA A PRÁTICA NO ESTADO. ALGUNS DOS PRINCIPAIS SÃO: PICO DO ITACOLOMI: RS 040, PARADA 83 - GRAVATAÍ/RS 30 METROS PICO DO MORCEGO: ESTRADA DA BORDOADA - BAGÉ/ RS - 90 METROS CACHOEIRA DO SALTO VENTOSO: LINHA MÜLLER, DISTRITO DE NOVA SARDENHA - FARROUPILHA/RS - 52 METROS PEDRA DO SEGREDO: RODOVIA CAÇAPAVA - LAVRAS DO SUL - CAÇAPAVA DO SUL/RS - 70 METROS PICO DA CANASTRA: LINHA CAFÉ - TRÊS COROAS/RS 120 METROS

O IMPULSO DE REPETIR A JORNADA É IRRESISTÍVEL


Bom conselho P O R M A LU C O E L H O

BELEZA PÕE MESA NOSSA HOMENAGEM À PRIMAVERA VAI MUITO ALÉM DAS FLORES. CULTUA OS LEGUMES E AS VERDURAS, TÃO ABUNDANTES NESTA ÉPOCA DO ANO. LIBERE A CRIATIVIDADE, INVENTE PRATOS COLORIDOS E NUTRITIVOS A PARTIR DESSES ALIMENTOS. VEJA O QUE COMPRAR NA SEÇÃO DE HORTIFRUTIGRANJEIROS DURANTE A PRIMAVERA:

BETERRABA: produzida de setembro a janeiro, é rica em vitamina C, sódio, potássio e açúcar. A beterraba neutraliza os ácidos e faz bem para o fígado. A salada de beterraba cozida já é uma tradição, mas você pode inventar maneiras diferentes de utilizar esse vegetal: em sopas, batidas, sucos, cremes (à base de molho branco) e até receitas doces. BRÓCOLIS: cozido em água fervente com sal, ou no vapor, pode funcionar como um delicioso acompanhamento. Também é uma excelente opção em gratinados e risotos. Bastante nutritivo, é muito utilizado em dietas: 100 gramas de brócolis verde cru equivalem a cerca de 33 calorias . É rico em betacaroteno, vitaminas B, C e E, ácido fólico, ferro, cálcio e zinco. Trata-se de um vegetal completo. Produzido de junho a novembro. CENOURA: por sua versatilidade, é parceira dos gourmets. Seu sabor, levemente adocicado, combina com inúmeros alimentos. Crua, em saladas, cozida, em pratos salgados e doces, valoriza qualquer receita, com sua vitamina A e seus sais minerais. Dela nada se perde. As folhas podem ser usadas em bolinhos e até mesmo em saladas. O bolo de cenoura com cobertura de chocolate é amado pelas crianças. A cenoura é produzida de julho a janeiro. ESPINAFRE: conhecido amigo dos fortões, ele é produzido de julho a novembro. Possui alto valor nutritivo e pode ser consumido cru ou cozido, em tortas, sopas e recheios, ou mesmo num refogado com cebola. O creme de espinafre é um saboroso acompanhamento tanto para peixes como para carnes. Rico em ferro, vitamina A e vitaminas do complexo B, pode ser totalmente aproveitado. ALCACHOFRA: é um vegetal lindo, requintado e rico em ferro. Na Idade Média, era considerado afrodisíaco. Suas folhas podem ser usadas cruas, cozidas ou em molhos. Para cozinhar a alcachofra, corte o talo na base e as pontas com a tesoura. Depois de cozida, abra e tire os espinhos. Graças à sua forma peculiar, também é um elemento decorativo. Produzida de outubro a dezembro. PREPARE PRATOS BONITOS E DELICIOSOS COM ESSES LEGUMES E VERDURAS E ENTRE NA PRIMAVERA COM A MESA BEM NUTRITIVA. BOAS COMPRAS!

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Saúde


A carícia

essencial Mãos quentes e macias fazem o óleo deslizar sobre a pele em movimentos ora suaves, ora vigorosos. O toque conhece o caminho a percorrer e pressiona não apenas a superfície, como também as entranhas. Aos poucos, a mente vai desprendendo-se do corpo, sai de órbita, atinge um ponto entre a vigília e o sono. Mas os sentidos continuam em alerta. P O R

P AU L A

Percebem o contato, a música, os aromas. Em uma sessão de massagem, todo ser humano é envolvido por essa aura mágica. O bebê que ainda não se acostumou com o mundo aqui fora acalmase. O adulto que carrega o peso do mundo alivia seus ombros. São diferentes estilos que possuem em comum a busca da cura e do equilíbrio.

TA I T E L B AU M

I LU S T R A Ç Õ E S

N I K

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Saúde Nada mais natural do que a massagem Ao bater parte do nosso corpo em algum lugar, esfregamos num impulso o local que acaba de ser atingido. Sinal de que a massagem é instintiva. A ciência mostra que o homem pré-histórico já recorria a essa técnica para aliviar suas dores. Hindus, chineses, egípcios, gregos, romanos, japoneses. Todos eles, povos da Antigüidade, utilizavam os benefícios da massagem. Hoje, o mundo moderno tem plena consciência de que massagear tronco, braços, pernas e pés traz revitalização, acaba com a tensão muscular acumulada e equilibra os circuitos energéticos. Mas nem tudo são flores quando o objetivo é atingir o âmago de nossos conflitos. Muitas vezes, a pressão dos dedos sobre a pele é tão forte que gera uma dor intensa. O massoterapeuta Marco Oliveira, de Porto Alegre, toca aqui, aperta ali, sente nossas dificuldades e, pimba, pressiona um ponto xis que nos faz ver estrelas. Felizmente, o sofrimento dura poucos segundos e logo dá lugar a um alívio profundo. Marco utiliza um mix de estilos para trabalhar os problemas físicos, mentais e emocionais de quem o

procura. Cada ponto do corpo corresponde a um bloqueio específico, e a estimulação através da massagem ajuda a fazer com que seja dissolvido e superado. A fisioterapeuta Odete Santos, que trabalha com massoterapia há mais de 20 anos, diz que sempre conversa com seus pacientes para saber por que estão ali. Em cada pessoa, ela aplica um tipo de massagem que pode combinar alongamento, movimentos no ritmo da música e óleos que entram poros e narinas adentro. Percebeu como funciona? Para quem domina o assunto, massagem também é uma forma de exercer a criatividade. Um mix de toques e técnicas A massagem sueca é uma técnica ocidental que tem entre seus objetivos a desintoxicação dos músculos. Entra aí a Drenagem Linfática, com movimentos de compressão lentos e profundos, que fazem nosso corpo eliminar suas impurezas. Luís Carlos Santiago, ou Mestre San, é um propagador deste estilo. Um brasileiro que hoje vive na Espanha e que, de tempos em tempos, percorre o cami-

OS POVOS ANTIGOS JÁ PRATICAVAM A MASSAGEM 74

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nho de Santiago com sua cadeira de Quick Massage nas costas, oferecendo atendimento gratuito aos caminhantes. A gaúcha Taís Fonseca foi aluna de Mestre San e somou ao que aprendeu um pouco de Jin Shin Jyutsu, em que o toque das mãos em certas partes do corpo facilita a harmonização da energia. A sensação é de que das suas extremidades quentes sai uma luz muito intensa. Já Márcia Salvadori mistura a Massagem Ayurvédica, o Reike, a Bioenergética, o Xamanismo e ainda a aromaterapia dos Óleos Essenciais em seu trabalho. Para ela, não existem regras rígidas e cada pessoa recebe aquilo de que necessita. O foco, no entanto, é sempre o autoconhecimento e o resgate da auto-estima. “O corpo é perfeito, é nossa primeira morada, ele fala e pede, é quem nos conduz e nos leva”, diz Márcia, justificando a importância de estarmos em harmonia com o corpo através da massagem. O poder e a pureza dos óleos Os óleos essenciais são usados como um comple-

mento terapêutico da massagem. Cada um possui um aroma próprio e uma função específica. Acalmar, oferecer confiança, controlar a agressividade, despertar a libido, gerar motivação. Quando aspiramos um óleo essencial, ele atinge em cheio nossa memória e emoção, acordando sensações e aumentando a circulação periférica do corpo. Na massagem tântrica, por exemplo, os óleos são fundamentais, pois ajudam a harmonizar a sexualidade e liberar nossas repressões. Na técnica indiana de automassagem, devem ser usados sobre os centros energéticos (chakras) para promover o equilíbrio e trazer vitalidade. Na Shantala, a massagem feita em bebês, óleos específicos trabalham a tranqüilidade e o amor incondicional. Uma questão de energia Não há como negar que do toque na pele para o desejo da carne pode ser um pulinho. Tanto que o nome “massagista” virou termo pejorativo. Todo massoterapeuta evita ser chamado de massagista, e a maioria atende apenas pessoas que chegam por indicação. É uma

ELA EQUILIBRA OS CIRCUITOS ENERGÉTICOS DO CORPO Estilo Zaffari

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Saúde

A MASSAGEM É UMA TROCA DE AFETO E ENERGIA forma de proteção e preservação. Da mesma forma que quando queremos um profissional do ramo sempre acabamos perguntando aos amigos. Se é para ter esse tipo de intimidade, mesmo que seja no terreno profissional, que seja com alguém de confiança. É bom informar-se sobre as técnicas utilizadas e os cursos que o massoterapeuta fez. Por falar nisso, fique atento e, assim que surgir um bom curso na cidade, matricule-se. Conhecer os segredos de uma massagem bem feita pode ser o elixir da longa vida e também do longo casamento. Maria Lou Couto já viajou pela Índia, Bali e Tailândia para conhecer melhor as massagens dessa gente. Ela mora em São Paulo, mas já esteve várias vezes em Porto Alegre ministrando cursos de Massagem Energética Feminina para mulheres interessadas em controlar e direcionar sua energia. “Ao suprirmos os pontos desenergizados, encontramos uma fonte de rejuvenescimento, todo cansaço desaparece, as idéias ficam claras e nos sentimos de bem com a vida”, diz. Que fique aqui o recado, então: massagem é troca de afeto e energia, é um contato que transcende e pacifica. Por isso, vamos dar e receber muita massagem. Nem que seja de forma intuitiva.

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CONHEÇA ALGUNS TIPOS DE MASSAGEM SHANTALA – MASSAGEM MILENAR DA ÍNDIA FEITA EM BEBÊS A PARTIR DE 1 MÊS DE IDADE. ACALMA CÓLICAS, REGULARIZA O SONO E EQUILIBRA O SISTEMA NERVOSO. SHIATSU – MASSAGEM CHINESA QUE ATUA COMO DESBLOQUEADOR ENERGÉTICO. ATRAVÉS DA PRESSÃO DOS DEDOS SÃO TRABALHADOS OS 12 MERIDIANOS DO CORPO. AYURVÉDICA – DE ORIGEM INDIANA, TEM CARÁTER TERAPÊUTICO E EFEITO ANTISSÉPTICO. SEUS MOVIMENTOS SÃO VIGOROSOS E ESTIMULAM PONTOS E ÓRGÃOS VITAIS. REFLEXOLOGIA – MASSAGEM TERAPÊUTICA FEITA ATRAVÉS DE APLICAÇÕES DE PRESSÃO EM PONTOS REFLEXOS LOCALIZADOS NOS PÉS OU NAS MÃOS. TÂNTRICA – COM TOQUES SUAVES, O MASSAGISTA, ATRAVÉS DE SUA ENERGIA SEXUAL, CONSEGUE MOVIMENTAR A ENERGIA SEXUAL DO PARCEIRO. NÃO CONFUNDIR COM MASSAGEM SEXUAL. SUECA – VISA RELAXAR OS MÚSCULOS APLICANDO-SE PRESSÃO PROFUNDA SOBRE ELES. AUMENTA A CIRCULAÇÃO, AJUDA NO METABOLISMO E PROMOVE UMA LIMPEZA DO ORGANISMO.



Bem viver D R. FERNANDO LU CCH E SE

ESTILO DE VIDA, O NOVO HERÓI Busque a saúde no trinômio corpo-mente-espírito Somos inevitavelmente um produto incompleto e ainda mal acabado do mundo em que vivemos. Estamos em contínua evolução. As mudanças em torno de nós terminam por influenciar nossa profissão, nossa saúde, nossa vida. Por exemplo: é evidente a escalada da obesidade no mundo. Pode-se dizer que vivemos uma nova epidemia. Aqui no Brasil já temos o dobro de obesos em relação ao número de desnutridos, pois a obesidade cresceu 60% em apenas uma década. Mas isto é um fato mundial. Populações vivendo em Ilhas da Polinésia têm seu peso aumentado em relação a décadas anteriores pelo tipo de alimentação que passou a ser oferecida a eles. Não passamos ilesos aos apelos do mundo em que vivemos. O aumento da ingestão de gorduras saturadas, de sal, o fast food, as gorduras trans e o excesso de carboidratos simples (açúcar, doce, massas refinadas como a da pizza) fizeram já seu estrago. A Standford University recentemente realizou um estudo com grande número de pessoas que atingiram idades avançadas, tentando identificar os motivos da longevidade. A assistência médica contribuiu com apenas 10%, a genética com 17% e o meio ambiente com 20%. A surpresa ficou com o estilo de vida, responsável por 53% dos casos de longevidade. Estilo de vida compreende nossa forma integral de viver. Nossa alimentação, nosso lazer, a organização familiar, a profissão e até nossa vida espiritual. Pessoas saudáveis são organizadas no trinômio corpo-mente-espírito e por isso vivem mais e melhor. Pessoas que conseguiram ao longo da vida tirar prazer de suas tarefas, por mais simples que elas possam ser, terminam por prolongar sua juventude através das décadas de declínio. E são mais felizes. Isso é estilo de vida, o novo herói surgido no novo milênio. É um herói ainda pouco compreendido. Confundimos continuamente bom estilo de vida com conforto. Fantasiamos

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que o acesso aos avanços tecnológicos propiciados pelo século XX é que nos fará viver mais e melhor. Vamos considerar apenas um deles, a televisão. Ela terminou com os saudáveis encontros familiares, o diálogo e a comemoração entre vizinhos e amigos, e acelerou nossas vidas freneticamente trazendo para dentro da nossa casa as mazelas da humanidade. É inegável que naquele fatídico 11 de Setembro as Torres Gêmeas caíram dentro de nossa casa. Nova Iorque deixou de ser um mundo distante. Nova Iorque é na nossa sala. Assim também o Iraque e sua guerra, a África negra e sua pobreza, o terrorismo internacional sem pátria, tudo está aqui, fazendo parte dos nossos móveis e utensílios. Conforto não significa bom estilo de vida. Para um bom estilo de vida nem luz elétrica ou água encanada são necessários. Nosso herói é pouco exigente. Pede apenas organização pessoal, não fazer tudo ao mesmo tempo, respeitar os próprios limites, exercitar-se, alimentar-se adequadamente. Pede uma vida familiar e afetiva organizada, com diálogo e tempo para todos, pede finanças realistas, sem gastar mais do que se ganha. Pede um convívio social sereno, sem agressões gratuitas no trânsito. O novo herói estilo de vida pede uma vida profissional prazerosa, competindo sadiamente no mercado, sem riscos desnecessários e ambições destrutivas. Finalmente, coroa um bom estilo de vida uma espiritualidade sincera e sólida que nos faz continuamente buscar sermos melhores seres humanos. Estilo de vida não depende de conforto, de bens acumulados, de tecnologia. Um bom estilo de vida, o novo herói do século XXI, depende exclusivamente de nós. DR. FERNANDO LUCCHESE É CIRURGIÃO CARDIOVASCULAR E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO



Perfil

NÃO FICO PRESA AO PASSADO, NEM MESMO ÀS ALEGRIAS. PRA FRENTE É QUE SE ANDA! POR

R U Z A

A M O N

FOTOS

LETÍCIA

REMIÃO

NÃO DIZ O PROVÉRBIO QUE AS GRANDES ESSÊNCIAS ESTÃO NOS PEQUENOS FRASCOS? NADA MAIS ADEQUADO PARA DESCREVER CARMEN SILVA, ESTA PODEROSA MULHER DE APARÊNCIA FRÁGIL MAS DE SAÚDE DE FERRO QUE, AOS 87 ANOS, ENFRENTA A PONTE AÉREA PORTO ALEGRE–RIO DE JANEIRO PARA ESTRELAR A NOVELA DAS OITO DA REDE GLOBO. NA FAMÍLIA, CARMEN DESFRUTA DO ENCONTRO DE CINCO GERAÇÕES, ORGULHANDO-SE DE SEUS 18 DESCENDENTES, DENTRE OS QUAIS UM TETRANETO. JÁ TENTOU POR DUAS VEZES SE APOSENTAR, MAS OS CONVITES DE TRABALHO JAMAIS LHE DERAM TRÉGUA. A ATRIZ PELOTENSE, PRECURSORA DO RADIOTEATRO EM SUA CIDADE-NATAL, ACUMULA 66 ANOS DE CARREIRA E JÁ TEM A AGENDA CHEIA PARA DEPOIS DO TÉRMINO DA NOVELA “MULHERES APAIXONADAS”.

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AS ATRIZES ERAM REGISTRADAS NA POLÍCIA, COM UMA FICHINHA, COMO AS PROSTITUTAS VIVEMOS EM TEMPOS DE TOTAL OBSESSÃO POR LONGEVIDADE. COMO VOCÊ SE SENTE SENDO POSSUIDORA DESSE DOM? Me sinto muito contente, muito feliz. Agradeço a Deus porque acredito que Ele me dá uma grande força. Nunca fiz nenhum exercício. Estou fazendo agora na novela porque preciso fazer. Regime eu nunca fiz. Como de tudo, bebo de tudo e não uso nada diet. Eu como para viver.

O QUE VOCÊ PENSA DAS MULHERES QUE USAM TODOS OS RECURSOS POSSÍVEIS PARA RECUPERAR A APARÊNCIA QUE TINHAM AOS 30 ANOS? Acho que cada um é livre para fazer o que quer na vida. Ter a liberdade de fazer o que se tem vontade é muito importante. Mas a vida tem as suas fases. O principal é saber aproveitálas. Eu, por exemplo, não tive adolescência. Saí da infância para o casamento. Minha primeira filha nasceu quando eu tinha 14 anos. Eu era uma criança e meu marido também, pois tinha 18 anos. Fomos morar ao lado do irmão dele, que também já era casado. Então, quando minha cunhada e eu ficávamos sozinhas, brincávamos como crianças.

QUANDO SE INICIOU SUA CARREIRA? Depois de sete anos de casada, eu pedi a separação. E em 1937 iniciei minha carreira.

QUAIS FORAM OS OBSTÁCULOS ENFRENTADOS POR UMA MENINA DOS ANOS 30, QUE MORAVA NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL E QUE DESEJAVA SER ATRIZ? Naquela época, todo mundo gostava de teatro, mas os atores e atrizes não freqüentavam festas e reuniões familiares. Família que se prezasse não convidava atriz para ir em casa. As atrizes eram registradas na polícia, com uma fichinha, como as prostitutas. Ficava registrado: “Fulana de tal, usa o pseudônimo tal...”, e no lugar da palavra “prostituta” dizia: atriz. Era só essa a diferença. Com fotografia e tudo. Eu mesma não sou Carmen Silva, sou Maria Amália Feijó.

COMO É QUE VOCÊ SE SENTIA? A essa altura, quando eu fui me registrar como atriz, eu já não ligava mais, eu já tinha evoluído... No começo, quando me separei, foi horrível, porque as pessoas não falavam comigo. Eu era indigna de ir a um aniversário de pessoas amigas, era indigna de ir a um baile...

COMO FOI POSSÍVEL SUA LIGAÇÃO COM O MUNDO ARTÍSTICO, HAVENDO NAQUELA ÉPOCA ESSA DIVISÃO TÃO SEVERA ENTRE OS ARTISTAS E AS PESSOAS DE VIDA CONVENCIONAL? Quando criança, eu ia aos espetáculos de teatro (naquela época as crianças podiam ir, sem qualquer impedimento). Com cinco, seis anos eu já brincava de teatro em casa. Eu me interessei mesmo em fazer teatro ouvindo rádio, em Pelotas. A princípio, nós não tínhamos rádio, mas meu pai fez uma galena. Na Rádio Cultura de Pelotas, tinha um grupo chamado Corpo Cênico, dirigido por Arthur Lessa, que começou a fazer peças de teatro. Dava uma vontade de participar!... Um dia fui até a rádio, e eles estavam ensaiando a próxima peça. Falei da minha vontade, e então o Severo Lemos, que era daquelas pessoas alegres, que cantava tocando violão, disse: “Olha só! Mais uma colega para ajudar a passar fome! Vem cá, vamos experimentar”. Pediu que eu lesse um trecho do texto, e me aceitaram na hora, pois eu tinha uma qualidade: eu lia muito bem.

ERA POSSÍVEL SE SUSTENTAR COM O SALÁRIO DA RÁDIO? Ali eu já ganhei um cachezinho... Era uma coisinha pouca, mas ganhei. Um mês depois, mais ou menos, chegou a Pelotas uma companhia de teatro do Rio de Janeiro. Era de uma empresária gaúcha, a Iracema de Alencar. Soube pelas atrizes que ela precisava de mais uma, e me apresentei. Ela me aceitou na hora, pagando 450 mil réis por mês para eu viajar com eles. Isso correspondia mais ou menos a mil reais de hoje. Dava para viver, mas era um dinheirinho controladinho.

HOUVE INTERRUPÇÕES NO INÍCIO DE SUA CARREIRA... Logo em seguida. Nós chegamos com a peça em Rio Grande (após percorrer várias cidades do interior), e lá a companhia se dispersou, pois já não estava bem financeiramente. Eu, decidindo ficar no Sul, fui procurar um emprego. O único que encontrei foi na companhia inglesa SwiftArmour do Brasil, como rotuladora de latas. Naquele momento já haviam iniciado os preparativos para a Segunda Guerra Mundial. Eram enormes as quantidades de carne enlatada que eles exportavam. Exatamente como aquele filme do Chaplin, em que os parafusos vêm na esteira, me aconteceu com latas de presuntada. (Até hoje não agüento sentir cheiro de presunto.) Eu tinha que rotular 3 mil latas por dia, ou então não servia. Aprendi em um instante.

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NÃO CONSIGO ME APOSENTAR. O TRABALHO É A MELHOR COISA QUE EXISTE NA VIDA MAS O CORAÇÃO FICOU NO TEATRO...

QUAL A ORIGEM DO TEU PSEUDÔNIMO?

Ah, claro... Ali eu fiz amizade com uma moça que era caixa do café da praça da cidade, ela chamava-se Ruth. Eu ia tomar cafezinho ali, a gente passeava na praça Xavier Ferreira, que tinha o serviço de alto-falantes nos postes, antes da rádio. Uma noite, ouvimos o anúncio: “precisamos de um locutor. Dirija-se à rua tal, número tal”. E eu decidi que iria até lá. Um homem nos atendeu, eu perguntei se precisava de um locutor, e ele respondeu que sim. “Serve mulher?”, perguntei. “Por que, tu és locutora?” “Não, mas eu fiz radioteatro na rádio Cultura de Pelotas”, respondi. Ele, então, me disse para subir. Depois de me ensinar a colocar o disco, a ligar e desligar a entrada do microfone, disse que iria até a praça ouvir a minha voz. Dali a pouco ele voltou acompanhado de um senhor que tinha um papel na mão, me dizendo afobado: “Olha, toma, lê depressa isso aqui que a tua voz está chamando muito a atenção na praça”. O senhor que o acompanhava era dono de uma loja fotográfica, e o papel era um “reclame” do estabelecimento. O dono da rádio me contratou na mesma hora, por 750 mil réis por mês. Aí, eu saí da Swift e trabalhei uns quantos meses na rádio, paguei minhas dívidas e tirei minhas malas do hotel.

Ele surgiu lá na Rádio Cultura. Quando decidiram que eu iria ficar, deixei claro que meu nome não poderia aparecer. Sim, pois na minha família ninguém sabia. “Então temos que achar um nome para ela”, disse o Severo. “Carmen! Que tal?” “Ah, eu acho bonito”, respondi. “Bom, então, vamos ver um sobrenome. Tem que ser um pequenininho, fácil de guardar”, e arriscou: “Carmen... Silva!” Aí, me perguntou o que eu achava, e eu disse: “Não sendo o meu, qualquer um serve”.

VOCÊ NÃO SENTIA SOLIDÃO POR ESTAR TRILHANDO UM CAMINHO TÃO EXTRAVAGANTE, NUMA ÉPOCA EM QUE AS MULHERES VIVIAM APENAS PARA A FAMÍLIA? Não. Eu tinha o intuito de ir pra frente, de lutar e de conseguir. Solidão não sentia. Sofria muito pela falta das minhas filhas, que foram retidas com o meu ex-marido após a separação. Eu gostaria que elas estivessem ao menos com a minha mãe, mesmo que eu não pudesse estar ao lado delas o tempo todo. Mas ele não permitia nem que as visse. Isso foi muito duro. Eu fiquei uma pessoa muito nervosa, isso eu fiquei. Hoje, com o conhecimento de vida que tenho, entendo que o ruim daquilo tudo era eu achar que todo mundo tinha razão e quem não prestava era eu. Fiquei cheia de complexos, de vergonha por ser separada, mas não por ser artista.

COMO VOCÊ SE SENTE ESTANDO TÃO FORTE NA MÍDIA NUMA IDADE EM QUE GERALMENTE OS ATORES ESTÃO APOSENTADOS OU SEM OPORTUNIDADES DE TRABALHO? Eu fiz várias novelas, sempre uma seguida da outra, e imagino que isso é sinal de que gostavam do meu trabalho. Na década de 80 eu resolvi me aposentar, vim para o Sul, porque eu estava já há muito tempo (dez anos) na ponte aérea. Eu poderia ter continuado na Globo, me aposentado bem depois. Mas, enfim, eu estava aqui bem sossegada, e não passava pela minha cabeça retornar à televisão. Tocou o telefone, e era uma moça, se anunciando como secretária do Manoel Carlos (autor da novela “Mulheres Apaixonadas”). Ela me fez o convite em nome dele, perguntando se eu estava bem e se topava fazer uma ponte aérea, porque ele queria escrever um papel especialmente para mim na próxima novela. Eu fiquei entusiasmada e aceitei. Estava preocupada com esse negócio de voar, achei que não ia ser bom pra mim, poderia ficar doente, e tal... Pois sabes que engordei... Dois quilos! Estou me sentindo muito bem... Conclusão: o trabalho é a melhor coisa que existe na vida.

E DURANTE ESSES ÚLTIMOS ANOS, QUAIS ERAM AS ATIVIDADES LIGADAS À VIDA ARTÍSTICA? Vinha fazendo comerciais, fiz muitos filmes de curta-metragem. Nesse ano que passou fiz os filmes “Lembra, meu velho?” e “Concerto Campestre”. Também montei uma peça, “Esta Noite Estou Só”, no teatro do Sesc, com o Marcelo Aquino.

EM QUE ANO VOCÊ FOI PARA SÃO PAULO?

MAS AFINAL DE CONTAS, QUE APOSENTADORIA FOI ESSA?

Em 1946. Meu segundo marido e eu tínhamos uma grande amiga, também artista, que foi para São Paulo e nos escreveu dizendo que lá não faltava trabalho. Meu segundo marido, Carlos Ribeiro Cancella, era ator e violinista.

Nunca trabalhei tanto! E mais: há quatro anos estou dando aulas (no momento, estou licenciada) na Ulbra. Aulas de teatro para professores e alunos de Medicina, para humanizar os médicos. É a primeira universidade no mundo que faz isso.

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Perfil


EU FAÇO UMA AMBROSIA DELICIOSA. DOU A RECEITA, MAS NINGUÉM CONSEGUE FAZER IGUAL Todo mundo se surpreende, mas é excelente! Antes da Ulbra, formei a minha primeira turma aqui, em Porto Alegre, no Cremers. Era um grupo de psicólogos, pediatras, psiquiatras. Recebo muitos convites, pois dou noções de dicção e de articulação que ajudam quem não sabe falar nem ler em público.

A DEPRESSÃO É UMA VERDADEIRA EPIDEMIA. POR CAUSA DELA, PESSOAS COM 40 OU 50 ANOS JÁ PARAM DE PLANEJAR, ACHAM QUE NÃO VALE MAIS A PENA. VOCÊ JÁ SE SENTIU ASSIM? Em 1975, eu fiz a primeira tentativa de me aposentar, e vim para o Sul. Eu completava 38 anos e cinco meses de trabalho ininterrupto, durante os quais tirei apenas duas férias. Sentia um cansaço enorme. Pretendia ficar em casa sem fazer nada e esperar a morte chegar. Eu tinha 59 anos. Passaram-se apenas dois meses, minha filha atendeu o primeiro de uma série de telefonemas do Walter Foster, que insistia em falar comigo. Até que a Vani pediu: “Mãe, atende, por favor, porque ele vai continuar insistindo, e eu não agüento mais dizer não”. Atendi, e ele propôs me mandar a passagem só para conversarmos. Concordei em ir, afirmando que não iria aceitar trabalho nenhum. Resultado: assinei contrato, fiz a novela “O Ídolo de Pano”, quando trabalhei com o Toni Ramos pela primeira vez.

(ELA MOSTRA UMA FOTO EM QUE ESTÁ AO LADO DE TONI RAMOS) CARMEN, COM ESSE ROSTO DE BONECA, VOCÊ QUERIA SE APOSENTAR? MAS NÃO IRIAM DEIXAR MESMO... (risos) Depois de “O Ídolo de Pano”, fiz a novela “A Viagem”. Aí, pronta para vir embora, a Bandeirantes me chamou. O Vicente Sergio estava escrevendo o filme “Ensina-me a Viver”, e queria que eu fosse fazer a velhinha. Chegando lá, ele disse que não me deixassem ir embora sem assinar um contrato para sua nova novela. E lá fui eu fazer “Cara a Cara”. Só na Bandeirantes eu fiz cinco novelas, uma atrás da outra (a última foi o “Ninho da Serpente”). Agora, na minha segunda tentativa de aposentadoria, eu estava muito bem em casa, sossegada, e tudo de novo: o Manoel Carlos mandou chamar.

EU VI ESSE CAPÍTULO... FIQUEI COM UMA INVEJA... Pois é! A maquiadora me perguntou: “Dona Carmen, a senhora não precisa de dublê? Eu faço dublê para a senhora não se machucar...”. Olhei para o ator, que estava logo ali, e disse: “Viu só? Ela quer ser meu dublê! Ora, jamais! Essa cena pode repetir quantas vezes for preciso! Imagina, vocês parecem bobas, deixem o menino me agarrar!”. Ele ria!... Um garoto bem novo, mas entrou na nossa brincadeira. Eu me divirto mesmo com o meu trabalho.

LEVANDO ESSA VIDA MOVIMENTADA, NADA CASEIRA, VOCÊ TEM ALGUM CUIDADO ESPECIAL COM A ALIMENTAÇÃO? Eu como de tudo, exceto frutos do mar, que, aliás, nem sei se gosto porque nunca comi. Feijão, é raro. Gosto muito de frango, saladas. Mas o médico me pediu que eu desse preferência a arroz, batata, etc., pois se eu como um prato de salada já não quero mais nada. Com sopa é a mesma coisa. Minha alimentação é muito leve, mas não é por dieta; é a minha natureza.

QUAL É O PRATO QUE VOCÊ ADORA, QUE PRECISA SER DEGUSTADO DE TEMPOS EM TEMPOS? Eu gosto de algumas coisas, sim, mas não sou nada interessada em comidas. Como porque preciso. Sou indiferente à culinária. Sei fazer três pratos: maionese de atum (os outros é que dizem que é boa, pois eu não como peixe) e uma massa com presunto em cubos (não como o presunto, como só a massa).

E QUAL É O TERCEIRO PRATO? Faço uma ambrosia muito bem feita...

AH, PELOTENSE TEM OBRIGAÇÃO DE SABER FAZER DOCE... Eu ensino a receita pra todo mundo, mas ninguém consegue fazer igual. Acho que é a panela, não sei. Faço com cinco ovos, duas xícaras de leite, 300 g de açúcar. Eu gosto, mas como apenas um tiquinho, e só no primeiro dia. Depois fica, e eu não como mais. Eu não sou nada gulosa, nada, nada.

E COMO ESTÃO AS GRAVAÇÕES DE “MULHERES APAIXONADAS”?

FALANDO EM IDOSOS, HÁ TAMBÉM AQUELE TIPO DE TRATAMENTO CONDESCENDENTE, QUE INFANTILIZA O IDOSO...

Muito divertidas. Já te contei da cena do ônibus? O ônibus dá uma brecada, o Leopoldo (Oswaldo Louzada) cai sentado no assento vago. Eu, quando vou cair, um rapaz me agarra... Um surfista lindíssimo... (risos)

É muito desagradável! Eu estou sempre dizendo: ser idoso não é ser doente. Doente é que precisa ser tratado com muita meiguice, muitos cuidados. Mas ser velho não significa que se precise ser tratado como um coitadinho. Coitadinho por

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NÃO HÁ MOTIVO PARA ORGULHO OU VAIDADE. O QUE EU FIZ QUALQUER UM PODE FAZER quê? Já viveu, já foi criança, já foi adolescente, ficou adulto, está vivo, não está doente. O idoso tem de ser encarado como uma pessoa normal. Eu me dou com colegas de todas as idades. Eles me tratam por você, não deixo que me chamem de Dona Carmen. Somos colegas, somos iguais. Não deixo que meus alunos me chamem de Dona Carmen nem de professora. Vou logo dizendo para ficarem à vontade comigo, porque senão eles, me vendo com esse cabelo branco, velhinha, podem pensar: “Puxa, o que é que essa vovozinha veio fazer aqui...”.

O QUE VOCÊ ACHA DIFÍCIL DE ADMINISTRAR NA SUA ATUAL FAIXA ETÁRIA E O QUE CONSIDERA UM PRIVILÉGIO? Não tem nada difícil de administrar. Sou dona da minha casa, não dependo de ninguém, nem nunca dependi (graças a Deus). Eu me mantenho. Aos 87 anos, não sou rica, e estou sempre trabalhando para compor com a minha aposentadoria. Minha casa está paga. Sou muito independente, e peço a Deus saúde para continuar sendo. Enquanto eu puder, vou trabalhar. Não quero ficar parada nem depender; se puder ajudar, ajudo. É muito melhor ter para dar do que ter que pedir. Me sinto muito bem. Se meu marido estivesse vivo ainda... Tu sabes que eu só uso perfume masculino?...

É MESMO? E QUAL O MOTIVO? O pessoal ri porque costumo dizer que eu não tenho marido... mas tenho o cheiro... (risos) Eu gosto de sentir um cheiro masculino perto de mim! E sou feliz assim.

VOCÊ E O ATOR OSWALDO LOUZADA FORAM AO SENADO APOIAR O ESTATUTO DO IDOSO... Sim, fomos convidados pela senadora Íris de Araújo (vicepresidente da Subcomissão Provisória do Idoso). Ela me assistiu no programa da Ana Maria Braga, achou que tudo o que eu disse ia ao encontro do projeto e me convidou para ir ao Senado, e o Oswaldo também. Foi um dia intenso de depoimentos e gravações para a rádio e a tevê do Senado.

QUAIS SÃO AS MAIORES QUEIXAS DOS IDOSOS? Queixam-se do tratamento recebido na rua, na condução. Mas o próprio idoso, às vezes, é paranóico, tem umas coisinhas que ele próprio cria. Há idosos que mantêm os jovens afastados. Eu já percebi que muitos jovens não se chegam

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mais, não tratam os idosos com alegria e camaradagem, porque não conhecem os idosos. Durante uma das gravações externas da novela, nós estávamos dançando todos misturados. Aí, no intervalo, um adolescente que estava nos observando me disse: “Eu nunca tinha visto pessoas na idade de vocês dançando”. Viu? A maioria dos jovens não conhece os velhos, então fica aquele tipo de “respeito”, que na verdade é distância.

OS IDOSOS TÊM MUITAS MANIAS... Têm. Eu fui uma vez a um baile da terceira idade (eu não gosto dessa história de baile da terceira idade. Pra mim, baile tem que ser com todo mundo junto. Esse negócio de só velhinho dançando, não gosto) e aconteceu exatamente o que me deu implicância. Vendo alguns jovens dançando, ouvi um senhor dizer: “O que é que eles vêm fazer no baile da gente?”. Portanto, a culpa não é de um lado só.

HOJE AS MULHERES FAZEM O QUE QUEREM. MAS SUAS CONQUISTAS NÃO OCORRERAM EM TEMPOS TÃO FAVORÁVEIS. SE AQUELE TEMPO FOSSE HOJE, VOCÊ FARIA ALGO DIFERENTE? Não. Teria feito exatamente o que eu fiz. Não me arrependo de nada. Sofri terrivelmente por causa das minhas filhas, mas não tenho nenhum arrependimento. Eu tinha que sair, fazer o que me propus a fazer. Não tenho raiva, não tenho inveja de ninguém, não curto sofrimento, como também não fico presa a coisas do passado, mesmo sendo alegrias, pois o que passou, passou. Não vais me ouvir dizendo “como era bom antigamente, ai, como a gente se divertia, ai, os bailes...”. E daí? Passou há quanto tempo isso? Vou ficar curtindo? Eu não! Pra frente é que se anda! Eu não tive medo de nada. Como naquela vez em que eu saí do palco e fui rotular latas porque não havia outro trabalho. O que eu já trabalhei na minha vida! Nunca fiquei desempregada, nunca ninguém ficou me devendo um centavo. E também não devo nada a ninguém.

COM TODA ESSA VISIBILIDADE QUE A TELEVISÃO TRAZ, VOCÊ SE SENTE UMA PESSOA PRIVILEGIADA, DIFERENTE DAS OUTRAS? Todos à minha volta têm as mesmas oportunidades que eu. Acho tudo uma beleza; estou muito contente, que bom. Mas não é motivo para orgulho, para vaidade, nem nada disso. A minha situação não me faz mais do que ninguém. O que eu fiz qualquer um pode fazer.



Assim, ó... LUÍS AUGUSTO FISCHER

À LUZ DA ALMA GAÚCHA Somos, para o bem e para o mal, uma civilização média Até um analfabeto plástico como eu sabe que a luz das meias-estações, aqui no estado, é uma espécie de paraíso visual. Os fotógrafos todos amam, e nós leigos também apreciamos, mesmo sem saber por quê. Mas é certo que, na primavera e no outono, Porto Alegre e o Rio Grande do Sul parecem estar no seu melhor elemento, porque estão banhados pela luz certa. Para começar, o motivo é a luz mesmo. Na primavera, ela já perdeu sua seca brancura invernal, mas ainda não adquiriu aquele amarelado opressivo do alto verão. Além disso, a luz da primavera (e do outono também), por virtudes meramente geográficas, bate de lado, enviesada – quase se poderia dizer que bate "de revesgueio", expressão aliás ótima e raríssima, só cultivada entre nós cá no sul, sinônimo de "de refilão". A origem do "revesgueio" não é clara mas deve ter relação com "revés", que vem de "reverso", isto é, reviramento, oposição, condição de estar do lado oposto e, em nosso caso agora, condição de estar, a luz, batendo de lado. Bate tão de lado a luz que tudo faz sombra comprida. Se reparar bem, a gente pode medir em alguns palmos o tamanho da sombra de uma folha de grama, ao fim da tarde. E tudo já nos alegra, a começar pelo próprio sol, mais constante e mais quente. Os dias ficam mais compridos, e logo adiante eles ficam enormemente compridos, com o horário de verão feito segundo a lógica do centro e do nordeste do país, horário que nos fará mais uma vez ter sol até a hora da novela. Nós vamos mais para a rua, para o ar novo do tempo (eu, como todos os riníticos, espirro muito mais na estação das flores). Vamos para os lugares em que a gente quer ver e quer ser visto, lugares de que nossas cidades não são muito pródigas: nas cidades pequenas e nos bairros do passado, o sujeito podia se contentar com o "footing" na praça, que eventualmente estava

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bem em frente à igreja; hoje, porém, poucos se contentam em caminhar, preferindo a corrida, atividade alcançada por outro verbo, do mesmo inglês – está fazendo "jogging". Mas me parece que há motivos mais profundos para que nós nos sintamos tão bem nas meias-estações. Algo que repousa no mais íntimo de nosso jeito de ser, de nossa alma. Algo, enfim, que diz respeito à nossa identidade mais radical. Minha tese: as meias-estações representam, na natureza, a nossa vocação para a mediania. Nós somos, para o bem e para o mal, uma civilização média. Para começar, nossa posição geográfica e histórica nos obrigou a ser um ponto intermediário entre os dois impérios dos tempos coloniais, o português e o espanhol; ao longo de tempo, fomos a linha que separou (e portanto uniu) as duas formações; o resultado disso é que somos marcados pelas duas matrizes, numa convivência estranha e interessantíssima de frio com trópico, de tango com samba – pense em Lupicínio Rodrigues fazendo samba-canção carioca com temas tangueiros de desolação amorosa. O caso é que a mesma condição intermediária, acho eu, nos obrigou a uma estranha obsessão autocrítica. Dá pra imaginar o pavor de nossos ancestrais, obrigados a atender às altas exigências de parte a parte, vigiando fronteira e, no fundo, apreciando os oponentes, afinal tão parecidos conosco. Dessas apreensões todas deve ter vindo o problema. Pode ver: assim que um de nós começa a se destacar, já aparecem muxoxos em toda a parte, a insinuar que, se fulaninho está fazendo sucesso, não deve ser grande coisa. Santo de casa gaúcho padece uma barbaridade. Mas tudo à luz deslumbrante da meia-estação. LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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