Ano 5 N0 24 R$1,80
Feliz
Natal
NOTA
Para o
DO
EDITOR
Natal ser feliz
Esta é uma edição especial da Estilo Zaffari. Escolhemos o Natal como tema básico e recheamos nossas páginas com centenas de dicas e informações a respeito desta grande festa. Você vai encontrar aqui, certamente, muitas idéias para tornar ainda mais gostosa a comemoração do Natal com sua família. Elaboramos cardápios inovadores para a Ceia natalina, sugerindo cinco estilos diferentes de celebrar a data: Natal Tradicional, Natal na Praia, Natal na Serra, Natal Off-Road e Natal no Quintal. E convidamos três mulheres – uma arquiteta, uma artista plástica e uma especialista em festas – para decorar mesas natalinas, cada uma a seu estilo. Esperamos que as sugestões de Cristina, Beatriz e Ana inspirem os preparativos da Ceia na sua casa. Independentemente do lugar ou dos detalhes da festa, no entanto, o importante é viver esse momento ao lado das pessoas que você ama. Natal é a festa da união, da confraternização, da família, da solidariedade. Nada mais adequado, portanto, do que contar nesta edição com as palavras de Maria Elena Pereira Johannpeter, fundadora e líder da ONG Parceiros Voluntários. Ela é a entrevistada da nossa seção Perfil e conta como surgiu e como funciona a Parceiros. O desejo de resgatar os sentimentos mais nobres vinculados ao Natal e de cultivar as tradições deu origem à matéria chamada “Natal feito à mão”. Ali você vai encontrar um verdadeiro guia de objetos artesanais natalinos, que podem se tornar lindos presentes ou enfeites únicos para a sua casa. Mas vai encontrar, sobretudo, pessoas que colocam a alma em seu trabalho, criando objetos cuja maior virtude é transpirar carinho. Complementam esta edição uma matéria sobre a mística do brinde com champanhe, outra sobre a magia das velas, uma reportagem de beleza com dicas de tratamentos para que todos cheguem lindos às festas de final de ano e as páginas dos nossos colunistas, sempre inspiradíssimas. Esta edição é especial também por outro motivo: estamos circulando com 100 páginas, número recorde nesta fase 2 da Estilo Zaffari. Receba estas páginas a mais como um presente nosso. Desejamos a você um Natal muito feliz, com harmonia, paz e muito amor. OS EDITORES
Milene Leal milene@contextomkt.com.br
EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Fernanda Doering, Paula Taitelbaum, Ruza Amon REVISÃO Flávio Dotti Cesa PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade luciane@contextomkt.com.br ILUSTRAÇÕES Nik FOTOGRAFIA Eduardo Iglesias, Letícia Remião PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Jorge Nascimento COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Tetê Pacheco
EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COLABORADORES Arteplantas, Ponto de Antiguidades, Miguel Sorrentino, Móveis Masotti Porto Alegre
COLABORADORES – MESAS DE NATAL Olga Velho, Zuca Feijó, Detalhes, Brickell, Hauck Decor, Chez Tois, Lona Branca
Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br
DIRETORA DE ATENDIMENTO PUBLICIDADE HRM Representações (51) 3231.6287 9983.7169 9987.3165 rosamaggioni@hrmmultimidia.com.br
ASSINATURAS Renata Xavier Soares renata@contextomkt.com.br A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.
TIRAGEM 25.000 exemplares PRÉ-IMPRESSÃO Maredi IMPRESSÃO Pallotti
ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br
CAPA: FOTO DE LETÍCIA REMIÃO, BOLAS ARTESANAIS DE BEATRIZ MARTINS COSTA
Correio JORNALISMO EXEMPLAR
SUPERMERCADO PERFEITO Milene Leal, saúde! Moro em Lisboa há quase três anos. E, dia desses, uma pessoa que trabalha na área de supermercados me comentou: “Fui a Porto Alegre e lá me impressionou a qualidade de um. Era perfeito!”. Adivinhem qual era? Fiquei contente, porque referências positivas da terra da gente sempre são bem recebidas. Uma das minhas filhas esteve aí no verão e me trouxe a edição número 20 da Estilo Zaffari. Adorei! Belo trabalho! Lendo a revista, fiquei sabendo que na edição 17 publicaram uma matéria sobre o Moinhos de Vento. Como “nascida e criada” neste bairro (rua Hilário Ribeiro), haveria a possibilidade de me enviarem essa edição? Antecipadamente agradeço por essa alegria. ANA LUIZA LISBOA/PORTUGAL
Cara Ana Luiza, ser lida e apreciada alémmar é uma honra para a Estilo Zaffari. Nosso Departamento de Atenção ao Leitor entrará em contato para organizar uma maneira de fazer com que a revista chegue ao seu endereço em Lisboa, da forma mais prática possível. Transmitimos à Cia. Zaffari os elogios feitos à empresa. Abraço.
SABOREANDO A ESTILO Querida Milene, recentemente estive de férias em Porto Alegre e minha amiga me apresentou a revista Estilo Zaffari. Comprei imediatamente um exemplar e o trouxe para Brasília. Gostei tanto, que solicito a você verificar a possibilidade de me brindar com uma assinatura para que eu possa continuar saboreando esse maravilhoso trabalho. Parabenizo você e toda a equipe pelo brilhante trabalho, de relevante valor informativo e de excelente qualidade editorial. Muito grata e parabéns. Com carinho, NÍZIA SOUSA BRASÍLIA/DF
Nízia, será um prazer tê-la como leitora da Estilo Zaffari. Aguarde contato do nosso Departamento de Atenção ao Leitor, para verificar a possibilidade de envio dos exemplares a Brasília, ok? E obrigada pelo carinho. Abraço.
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Estilo Zaffari
O presente e-mail é, em primeiro lugar, para parabenizá-los pela edição nº 23 da revista Estilo Zaffari. Uma editoração clara e bem desenvolvida que deve ficar como exemplo na área de jornalismo impresso do nosso estado e do país. Em segundo lugar, ficamos interessados na assinatura da mesma e gostaríamos de saber o valor da mensalidade e forma de pagamento para aquisição. Espero breve contato. Atenciosamente, LENNARD LAPREBENDERE MÍDIA3 COMUNICAÇÃO, PORTO ALEGRE
Prezado Lennard. Para os residentes em Porto Alegre, a maneira mais fácil e econômica de adquirir a Estilo Zaffari é nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Como o preço de capa é de apenas R$ 1,80, o envio pelo correio, nesse caso, não compensa. Se você tiver alguma dúvida, fale com Renata, no Departamento de Atenção ao Leitor. Obrigado pela gentil avaliação do nosso trabalho. Esperamos que continue nos prestigiando.
VEJO FLORES EM VOCÊ A maior surpresa no dia-a-dia de compras no Zaffari não são os novos produtos alimentícios, de higiene ou de limpeza, mas sim a maravilhosa revista Estilo Zaffari, que nesta época florida do ano recebi como um lindo ramalhete de flores a colorir o meu carrinho. Novamente, senti-me no dever de cumprimentá-los por esta maravilhosa obra que vocês editam. Não saberia dizer o que mais me atrai na revista, se é a nota do editor, e só por ela a revista merece nota 10, se pelas dicas culinárias, se pelas reportagens de viagens, se pela talentosa Carmen Silva, se..., são tantos atrativos, que acredito ser o conjunto um buquê a chamar para a leitura. Parabéns, com admiração. GISLAINE PAZ KAUFMANN, POR E-MAIL
Gislaine, sua carta “coloriu” o nosso dia e deixou todos orgulhosíssimos. É um grande prazer perceber que a Estilo Zaffari pode causar um efeito tão positivo em nossos leitores. O esforço de cada dia é plenamente recompensado com manifestações como a sua. Grande abraço.
ROTEIRO ESPERTO A-do-rei o artigo da Paula sobre a serra (edição de junho) que só li agora! Está lindo. Fiquei sonhando com aqueles lugares e roteiros, bem como eu gosto, longe dos lugares muito freqüentados. Fazia tempo que eu queria mais informação desse tipo de lugar, e sempre ouvia falar por cima da beleza, sem maiores informações que pudessem me auxiliar a passear por ali. Tudo a ver, Paula! RENATA RUBIM, POR E-MAIL
FOTÓGRAFA DE ESTILO Olá, pessoal! Preciso deixar registrado o meu elogio para a Letícia Remião. Uma verdadeira delícia folhear a revista e literalmente babar com tantas imagens elegantes. Letícia consegue em apenas um clic imprimir o que ela tem de sobra: ESTILO. Bom para a revista e melhor ainda para a gente, que pode comer com os olhos. Parabéns a ela e à revista. Um abraço. GIOVANNI SARTORI DIRETOR DE ARTE ESCALA COMUNICAÇÃO E MARKETING
QUALIDADE QUE IMPRESSIONA Sou, além de leitor assíduo da revista, freqüentador de algumas lojas Zaffari e Bourbon, e a cada edição (estou lendo a de nº 23, ano 5) vejo que a qualidade só tem melhorado, se é que isto é possível, pois sempre foi boa desde as primeiras, mas a qualidade das fotos é impressionante. Estão os fotógrafos e diretores de fotografia de parabéns: as flores parecem exalar perfume, e as comidas, AROMA e SABOR. Sugiro, se é que posso ousar, uma reportagem sobre ACUPUNTURA, seus benefícios, origem, etc. Grato, desde já, e parabéns a toda a redação e aos colaboradores. JOSÉ ANTÔNIO THUMÉ FUNCIONÁRIO PÚBLICO
José Antônio, você captou perfeitamente o espírito do trabalho da revista Estilo Zaffari: transmitir, em suas páginas, deliciosas sensações aos nossos leitores. Que bom! Quanto à sua sugestão de pauta, é excelente. Aguarde que vamos programar uma matéria sobre acupuntura para breve. Já estamos pesquisando sobre o assunto!
FÁBRICA DE SAUDADES A revista está cada dia melhor. O esforço da equipe está recompensado pela qualidade inquestionável de cada exemplar. Começamos a leitura pela sua Primavera, que encheu nossos olhos de cores e de vida. O texto conciso, direcionado para as flores e para os maravilhosos arranjos compostos de modo tão simples, mas, a um só tempo, tão artísticos, pois todos sabemos que o artístico nada tem de rebuscado, principalmente quando se trata de natureza. E o colorido? Tudo muito Primavera. Por fim, a fotografia das duas artistas, risonhas, experientes, convictas de que fizeram um excelente trabalho. Elas estão certas. Mãos de fada criando beleza. Depois, fomos ao perfil de Carmen Silva, melhor dizendo, Maria Amália Feijó. Uma gaúcha extraordinária, dando lições de vida com o seu trabalho de atriz e a sua vitalidade nos bemvividos 87 anos. É um potente antivírus para o pessimismo de muitos que, “na flor da idade”, se deixam contagiar pelo desânimo, pelo desalento e pela desesperança. Que mulher admirável! Viajamos pela Chapada Diamantina, com os olhos cheios de paisagens, dicas, iguarias, perfis inesquecíveis, pois este mundo está repleto de cenários e personagens inesquecíveis. Dá uma vontade louca de sair por aí, nas asas da imaginação, deixando a vida desenrolar o novelo lentamente, ao compasso da aventura e da emoção. E que dizer dos alimentos para o amor? As iguarias de cada estação para tornar os encontros mais condimentados, otimizados... Enfim, quando a gente conclui a leitura, fica aquela sensação de tristeza por haver chegado ao fim... Que fazer! A vida é assim mesmo: uma eterna fábrica de saudades. Um carinhoso abraço de parabéns. ALICE E RONALD SOARES, FORTALEZA
O que dizer desta carta? É tanto carinho e tanta gentileza que jamais poderemos retribuir. Mas saibam que o recebimento da mensagem de vocês gerou um efeito maravilhoso em nossa equipe. Todos estão felizes, orgulhosos e animadíssimos para realizar um trabalho ainda mais digno de elogios na próxima edição. Obrigado pela leitura atenta e pela delicadeza das suas observações. Um grande abraço.
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Í N D I C E 22
Bebida: Champanhe
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O Sabor e o Saber
Natal feito à 66
Coluna: Consumo
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A Magia das Velas
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Beleza para as Festas
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Perfil
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mão Uma coleção de objetos natalinos feitos artesanalmente
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Celebre o Natal 26 Carinho e capricho na decoração da mesa da Ceia são fundamentais Receitas para degustar o Natal em cinco diferentes estilos 34 Estilo Zaffari
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Cotidiano MARTHA MEDEIR OS
VAMOS A LA PLAGE O sol merece ser diariamente aclamado Pegar uma praia em Paris: está aí algo que você nunca acreditou que iria acontecer. Pois os parisienses, nos dois últimos verões, em vez de rumarem para a Côte D’Azur, que não é pra qualquer bolso, foram ao encontro do sol nas margens do rio Sena, em pleno coração da capital francesa. Muito mais perto e infinitamente mais avantgarde. Quando eu ouvi essa notícia pela primeira vez, estranhei. Me pareceu que a horda de banhistas (hipotéticos, pois é proibido nadar no Sena) descaracterizaria a cidade. Banho de sol em parques é apropriado, mas em vias públicas, convenhamos, é esquisito. Depois reconsiderei. Apropriado? Que história é essa? Sol! Sabe lá o que isso significa para um europeu que enfrenta temperaturas abaixo de zero em invernos intermináveis? Se nós, que temos sol em abundância, não cansamos de reverenciá-lo, o que dirá a turma que o desfruta tão raramente. Sol! Artigo de luxo, mais que o champanhe, mais que o gruyère, mais que o foie gras. E não foi só em terras francesas que a moda pegou. Em Berlim, à beira do rio Spree, pelo segundo verão consecutivo um bar abriu suas portas oferecendo cadeiras de praia, palmeiras e areia branquinha, que é trazida de caminhão para recriar uma orla em pleno centro da capital alemã. Música eletrônica, gente de biquíni e muita cerveja, e eis uma praia inventada. Apesar de todos os estragos que o sol faz à pele, assumo que sou uma lagarta profissional. Onde há uma réstia de sol, é pra lá que me dirigo. Dizem que isso tem a ver com meu
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signo regente. Outros dizem que tem a ver com meus antepassados indígenas. Acho que tem a ver apenas com hedonismo. Sol tem vitamina D. Revigora. Bronzeia. Aquece. E nos mata, mas o que é que não nos mata? Portanto, não só apóio os parisienses e berlinenses como sugiro que a idéia seja adotada aqui em Porto Alegre também. Temos, com muito orgulho, nossas praias na zona sul, mas elas estão longe demais do centro da cidade. Portanto, fica a sugestão: espalhar areia por toda a margem do arroio Dilúvio, ali na avenida Ipiranga, oferecendo o serviço de aluguel de cadeiras e guarda-sóis. Se não der para aterrar, é só aparar a grama que já existe. Coqueiros também já temos, ali na altura da Getúlio Vargas. Com alguma organização e boa vontade, a prefeitura poderia permitir a instalação de quiosques que venderiam caipirinha, cangas, óculos escuros, tá bom, tá bom, sai com esta camisa-de-força pra lá, foi só uma brincadeira, uma abstração. Sei que teríamos que resolver antes alguns inconvenientes: poluição, resíduos tóxicos, violência urbana e outros quetais. Melhor ficar com as praias naturais que já temos e com as piscinas públicas e particulares. Mas vamos pensar duas vezes antes de torcer o nariz para aqueles que, não tendo praia, produzem-na, como os europeus. O sol merece ser diariamente aclamado e aproveitado, pois é ele que ilumina nosso cotidiano, nosso olhar e nosso humor, principalmente nosso humor, que tantas vezes é artificial e insuficiente para levar os dias. MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA
Cesta básica DICAS PARA VOCÊ CURTIR UM NATAL ESPECIAL, COM MÚSICA, QUITUTES, OBJETOS, PRESENTINHOS E ESPETÁCULOS CHEIOS DE EMOÇÃO. ESTA É A SUA CESTA BÁSICA NATALINA.
Bazar de Natal Há algum tempo, nas festas natalinas, era comum a troca de presentes artesanais, feitos à mão. A originalidade e a delicadeza ímpar de cada peça tornavam o momento ainda mais especial entre a família e os amigos. Muitas pessoas tinham como costume, inclusive, organizar bazares em suas casas para oferecer os produtos confeccionados aos mais chegados. Foi exatamente assim, em um desses encontros, que, em 1982, Sylvia e Heinz Müller criaram o Bazar de Natal da Sociedade Germânia, uma feira anual que resgata a tradição do trabalho manual e do artesanato autêntico nas festas de final de ano. O sucesso foi imediato e perdura até hoje, 21 anos depois. Em 2003, reunirá o trabalho de 129 expositores, trazendo produtos para decoração, bijuterias, cerâmica, roupas, enfeites de Natal, brinquedos de madeira, doces natalinos, arranjos e bonecas de tecido, entre outros. Tudo com muito bom gosto, qualidade e criatividade. O Bazar de Natal da Sociedade Germânia funciona nos dias 10 e 11 de dezembro, das 10h às 21h. FERNANDA DOERING, JORNALISTA
Cesta básica
Louças exclusivas
LUZ, MÚSICA E EMOÇÃO
Para quem gosta de Natal e de caprichar nos preparativos, todos os detalhes são importantes. A mesa da ceia pode ficar ainda mais bonita com louças pintadas artesanalmente, nas cores e motivos natalinos. As peças da foto são uma criação de Fátima Lopes, dona da Artificium Loja e Atelier D’art.. Ela trabalha há seis anos com pinturas exclusivas em louças, cerâmicas e vidros. Você pode inventar um desenho, levar um modelo ou deixar que a Fátima crie livremente. As possibilidades são inúmeras. E o resultado é uma beleza.
O Natal Luz de Gramado já faz parte do calendário dos principais eventos do país. Em 2003, a programação inclui atrações que devem mobilizar um público ainda mais gigantesco que o das edições anteriores. Um Concerto de Natal com Roberto Carlos, a Ospa (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) e os Meninos Cantores de Novo Hamburgo, no dia 12 de dezembro, promete reunir cerca de 16 mil pessoas. Uma superdose de emoção, com certeza. Para os desfiles de Natal, que acontecem no centro de Gramado, foi escolhido o tema “O Natal visto pelos olhos de uma criança”. Os carros alegóricos irão recriar objetos do universo infantil, como a caixinha de música, o carrossel, a fábrica de brinquedos. Serão seis desfiles, distribuídos dentro da programação do evento, que se inicia em 15 de novembro e só termina em 6 de janeiro de 2004. Impossível encontrar ambiente mais natalino.
MILENE LEAL, JORNALISTA
FERNANDA DOERING, JORNALISTA
Cesta básica
Culinária natalina
MÍNI GRANDE SABOR
Os sempre concorridos cursos do Atelier de Culinária Zaffari tornam-se ainda mais disputados nos meses de novembro e dezembro, graças à programação especial de Natal. Quem quer aprender a fazer os tradicionais quitutes natalinos e aqueles que pretendem surpreender a família com uma ceia toda feita em casa não podem perder esses cursos. Veja a agenda de dezembro e inscreva-se já. O ingresso é um quilo de alimento não-perecível, que será doado a instituições carentes.
Delícias em miniporções, estrategicamente criadas para deixar todo mundo com “gosto de quero-mais”. Esta é a especialidade da Petites Délices, confeitaria da chef de pâtisserie Waldete Lutz Araújo. Vislumbrando um mercado ainda pouco explorado em Porto Alegre, Waldete especializou-se em tortas tamanho míni, perfeitas para serem servidas como sobremesa ou para acompanhar o café da happy hour. A Petites Délices tem minitortas de sorvete, minicheesecakes, minitortas de maçã, petit gateau de chocolate e de doce de leite... Gostosuras que, de pequeno, só têm mesmo o tamanho.
02/12 – Cucas para o Natal 03/12 – Pratos para a Ceia de Natal 04/12 – Doces para as Festas de Fim de Ano 09/12 – Ceia de Natal com Sadia 15/12 – Arte do Sabor, Sugestões de Natal 16/12 – Delícias Natalinas com Fleischmann 17/12 – Sugestões de Natal com Arisco Para obter mais informações, entre em contato com o Atelier de Culinária Zaffari, no fone (51) 3337.3111, ramal 3402.
MILENE LEAL, JORNALISTA
JINGLE BELL Hábitos familiares à parte, alguns costumes tradicionais não podem ficar de fora quando o assunto é Natal. O pinheiro decorado com luzes, o presépio, a preparação do peru. Mas, há alguns anos, a ceia do gaúcho tem um ingrediente a mais, tem trilha sonora: o CD de canções natalinas lançado pelo Grupo Zaffari. Depois de encantar o Brasil inteiro ao garantir que “Porto Alegre é demais”, Isabela Fogaça vem agora abrilhantar a celebração, com o disco “Um Natal em Família”. Dez canções são interpretadas por Isabela, com a participação – em cinco das músicas – de um coro infantil. O CD traz também algumas adaptações de José Fogaça para clássicos de Dizzy Gillespie, Jay Livinstone e Ray Evans, perfeitos para embalar a contagem regressiva para a troca de presentes. RAFAEL TRINDADE, JORNALISTA
AMULETO DA SORTE Um pequeno mimo, portador de grandes significados. Na foto acima, você pode ver um dos maiores “bestsellers” de Natal do Rio Grande do Sul: um tubo de ensaio com um trevo de quatro folhas desidratado dentro. Aos 13 anos de idade, Maria Teresa Maciel Gomes achou um raríssimo trevo de quatro folhas. Criança sortuda, adulta criativa. Ela plantou a mudinha num vaso e mais tarde, já formada em Biologia, inventou de desidratar os trevinhos e colocá-los em tubos de ensaio. Estava criado um presente que funciona como amuleto da sorte. Afinal, diz a crença popular que o trevo de quatro folhas traz fama, riqueza, fidelidade da pessoa amada e saúde. Um pacotaço irrecusável, vamos combinar... Hoje, Maria Teresa produz este pequeno mimo em grandes quantidades, especialmente nos finais de ano. É uma lembrança tão simpática, tão singela e tão acessível, que a criadora da idéia mal consegue dar conta das encomendas. MILENE LEAL, JORNALISTA
Concertos de Natal Os Concertos Comunitários Zaffari já são uma tradição dos domingos gaúchos. Há 16 anos a empresa realiza uma média de 12 espetáculos anuais, sempre com entrada franca. No mês de dezembro, o público espera ansiosamente pelos Concertos de Natal, que trazem atrações especiais. Em 2003 a Companhia Zaffari vai realizar dois Concertos de Natal. No dia 7 de dezembro, domingo, o espetáculo acontece em Carlos Barbosa, com obras de Verdi, Wagner, Carlos Gomes, Strauss, Gounod, Puccini e músicas natalinas. O show terá as participações especiais do Ballet Concerto e do Grupo Paixão Flamenca. Uma semana depois, no dia 14, o Parcão, em Porto Alegre, será cenário de outro Concerto Comunitário de Natal, com a mesma programação e regência de Frederico Gerling Júnior. O evento está marcado para as 20 horas e finaliza com um belíssimo show de fogos de artifício.
Bebida
ERGA A BEBIDA DA ALEGRIA, DA FELICIDADE E DOS BONS PRESSÁGIOS, E FAÇA UM BRINDE POR R U Z A A M O N I L U S T R A Ç Õ E S N I K
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Bebida
O ATO DE BRINDAR É MÁGICO, É PROMISSOR COMO O PEDIDO FEITO À ESTRELA CADENTE Já do portão se escuta a conversa animada das mulheres, misturada com o riso dos homens e com a correria barulhenta das crianças. A casa, completamente tomada pela família numerosa, parece um transatlântico iluminado e veloz que singra pela noite quente, rumo ao primeiro dia do ano, rumo ao Ano Novo, ao Ano Bom. Depois da chegada de parentes e amigos, dos preparativos finais de comes e bebes, aproxima-se o clímax do encontro: o momento do brinde. Alguém anuncia que faltam apenas alguns minutos para a meia-noite. Da cozinha, são trazidas às pressas as últimas iguarias; dos quartos, saltam as adolescentes que lá retocavam a maquiagem e dividiam confidências; as crianças são chamadas do jardim e os bebês são tomados no colo. Os guardiões das bebidas são energicamente recrutados – “Onde está o champanhe?” Todos, com taças na mão, aguardam a contagem regressiva. A rolha explode provocando gritos de alegria. Os corações param por um instante. A vida se apresenta insustentavelmente grandiosa. Cada um se percebe pertencendo plenamente àquele momento, não imaginando estar em nenhum outro lugar, nem tampouco longe daquelas exatas pessoas. O champanhe e a emoção transbordam. Esta cena lhe parece familiar? Se a resposta for afirmativa, esperamos que seu próximo brinde de fim de ano tenha um significado ainda mais poético. Se a resposta for negativa, ordenamos que se organize imediatamente, pois é proibido desprezar o brinde de Ano Novo. O ato de brindar é mágico, é a inocente superstição à qual se permitem até os mais céticos. É promissor como o pedido secreto feito à estrela cadente, e o toque das taças tem a equivalência de um abraço. Brindar tor-
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na legítimo o tempo compartilhado; é a oração profana que evoca votos mútuos de saúde, paz e prosperidade. Portanto, programe seu brinde. Não se faz necessária uma casa cheia, aliás, bastam duas taças e uma companhia, pois, como assegura Nelson Rodrigues: “A mais perfeita solidão há de ter pelo menos a presença numerosa de um amigo real”. Na Antigüidade, já se bebeu à saúde de reis e imperadores ausentes. Às mulheres também já foram dedicadas muitas homenagens etílicas, erguendo-se tantas taças quantas fossem as virtudes e encantamentos da amada. Porém, o toque dos copos, o famoso “Tintim”, tem como cenário original a Idade Média, quando o envenenamento pela comida ou bebida era uma prática bastante difundida em alguns meios. Bater os copos de forma a misturar seus líquidos correspondia a uma demonstração de mútua confiança. O anfitrião ou o convidado poderiam tomar a iniciativa, chocando fortemente os recipientes, que na época eram feitos em prata, estanho, ferro ou madeira. A etiqueta rezava ser de bom tom que o dono do outro copo retribuísse o gesto, produzindo-se assim o duplo “Tintim”. Hoje (graças a Deus) o envenenamento em festas saiu de moda (pelo menos através da comida e da bebida). Sobraram apenas os veneninhos sociais destilados em conversas, mas nada que um bom banho de sal grosso não resolva. E por falar nisso, não se esqueça de incrementar a borda da banheira com um borbulhante cálice de champanhe, le vin de l’amitié. Erga respeitosamente o líquido luminoso considerado a bebida da alegria, da felicidade e dos bons presságios, e faça mais um brinde... Saúde!
REGRAS DO BRINDE BRINDAR COM COPO VAZIO NÃO PODE (DÁ AZAR...). DEPOIS DE ANUNCIADO O BRINDE, SÓ SE PODE TOMAR DA BEBIDA APÓS O TOQUE DAS TAÇAS, SOB PENA DE ANULAR O BRINDE. NÃO ESQUEÇA DE QUE OS OLHARES DEVEM SE ENCONTRAR AO MESMO TEMPO EM QUE OS COPOS SE ENCONTRAM. BATER COM A FACA NO CÁLICE PARA ANUNCIAR UM BRINDE, PODE. MAS SÓ SE VOCÊ FOR O PADRINHO DO CASAMENTO, O ANFITRIÃO QUE PREPAROU UMA FESTA DE ANIVERSÁRIO ALHEIA OU SE ESTIVER PARTICIPANDO DE UMA MESA MUITO DESCONTRAÍDA. PORÉM, CERTIFIQUE-SE (COM ALGUÉM QUE ESTEJA SÓBRIO) SE VOCÊ JÁ NÃO PASSOU DA CONTA NOS DRINQUES, E TORNE SEU BRINDE INESQUECÍVEL EVITANDO DISCURSOS INFINDÁVEIS. BRINDE COM LATA DE CERVEJA SÓ SE VOCÊ ESTIVER PERDIDO EM PLENO DESERTO E QUISER BRINDAR O FATO DE TER ENCONTRADO UM OÁSIS... O TOQUE DAS TAÇAS É SEMPRE MAIS CALOROSO, PORÉM, APENAS LEVANTÁ-LAS E DIZER “TINTIM” (CONHECIDO COMO BRINDE AMERICANO) É USUAL PARA GRUPOS GRANDES OU PARA BRINDES A DISTÂNCIA. SEGUNDO OS COSTUMES FRANCESES, AO ABRIR O CHAMPANHE, A ROLHA DEVE PULAR COM FORÇA E MUITO BARULHO PARA TRAZER SORTE. POR ISSO, AINDA QUE NO BRASIL TENHA SAÍDO DE MODA ABRIR CHAMPANHES RUIDOSAMENTE NO DIA-A-DIA, PERMITA-SE ESSA EXTRAVAGÂNCIA AO MENOS NO ANO NOVO.
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Casa
Celebrate POR
M I L E N E
L E A L
F OTO S
L E T Í C I A
R E M I Ã O
NA NOITE DE NATAL, A CEIA É UM DOS MOMENTOS MAIS ESPERADOS. É EM TORNO DA MESA E DAS IGUARIAS NATALINAS QUE SE REÚNEM AS FAMÍLIAS, PARA CELEBRAR LAÇOS DE AMOR E REFORÇAR COMPROMISSOS DE CARINHO. É JUSTO QUE A MESA DA CEIA, PORTANTO, RECEBA ATENÇÃO ESPECIAL, PARA QUE, LINDA E ACONCHEGANTE, SEJA UM CONVITE À ALEGRIA E À CONFRATERNIZAÇÃO. CENÁRIO PERFEITO PARA O DESFILE DAS DELÍCIAS QUE NÓS ESPERAMOS O ANO INTEIRO PARA DEGUSTAR. NA REPORTAGEM A SEGUIR VOCÊ VAI VER DIFERENTES MONTAGENS DE MESAS NATALINAS, QUE EXPRESSAM A CRIATIVIDADE DE MULHERES QUE ADORAM COMEMORAR O NATAL: UMA ARTISTA PLÁSTICA, UMA ARQUITETA E UMA “FAZEDORA DE FESTA” DE MÃO CHEIA. TRADICIONAIS, MODERNAS OU ECLÉTICAS, ESTAS MESAS NATALINAS SÃO FONTE DE INSPIRAÇÃO PARA A SUA CEIA DO DIA 24. FELIZ NATAL!
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Casa
Frescor e leveza Na casa da arquiteta Cristina Leal, o Natal é a mais perfeita oportunidade para reunir toda a família, inclusive membros desgarrados em outros cantos do mundo. Para Cristina, esta é uma festa diferente de todas as outras, muito mais importante que aniversários, por exemplo, pois todos os participantes estão em festa juntos: “É a hora mais sagrada de reunião da família”. A mesa da ceia recebe sempre a dedicação especial da anfitriã, que diz gostar de “Natal com cara de Natal”, com as cores e o brilho que esta festa tem. A cada ano ela monta uma mesa diferente. Neste ano, escolheu os verdes, com toques de verde-limão, para trazer um clima de Brasil tropical ao evento. Os objetos são escolhidos um a um, “por paixão ou para reforçar uma intenção estética na composição da mesa”, explica a arquiteta. As lamparinas acesas iluminam a mesa de forma delicada, os copos verdes se harmonizam com a cor predominante, as pratas garantem o tom sóbrio e tradicional da festa. Não podem faltar os verdes naturais (heras) que, espalhados pelo centro da mesa, conferem um toque de frescor à decoração. Detalhes lúdicos, como os papaisnoéis de pano e as bolas artesanais, marcam a atmosfera natalina.
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Tudo muito especial Para Ana Brusque, especialista em organização e decoração de festas, o Natal tem que ser muito especial, “tem que ser uma festa maravilhosa”, diz. “Afinal, acontece apenas uma vez por ano!” E o vermelho, cor símbolo do Natal, não pode faltar. A mesa montada por Ana tem nas flores o grande ponto de atração. São vários arranjos em tons de vermelho, reunindo rosas, cravos, lírios e gérberas. Com destaque para as rosas, que conferem à decoração um caráter sofisticado, chique. A toalha de linho foi escolhida a dedo. “É a autêntica toalha da vovó”, diz Ana. A seleção cuidadosa das louças, talheres e copos, segundo ela, demonstra capricho e a intenção de montar uma mesa não só bonita, mas que expresse o carinho da anfitriã por seus convidados. Justamente com as sócias Tita e Chica Telechea, Ana compõe a MCCB, empresa já muito reconhecida pelas delícias que elabora para as festas de seus clientes. Um dos segredos do negócio, que Ana aplicou na montagem da mesa, é a seleção rigorosa dos fornecedores. Cada detalhe é fundamental.
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Tradição e capricho Na casa de Maria Beatriz Martins Costa, o Natal é uma festa para ser curtida em família, com todos os participantes sentados ao redor da mesa. A cada ano, ela prepara com cuidado e muito carinho a noite de Natal, utilizando objetos que já fazem parte da tradição familiar e inovando sempre, nas cores ou nos pequenos detalhes da celebração. “No Natal eu tiro dos armários as coisas mais bonitas que tenho em casa, objetos realmente especiais”, conta Beatriz. A mesa montada por ela reúne peças que têm história e são verdadeiras “jóias de família”: a toalha bordada, trazida do Equador, os copos coloridos de cristal, o castiçal, a louça, os talheres de prata e a boleira. Mas o detalhe mais charmoso vem da habilidade manual da artista plástica: as bolas pendentes do lustre de cristal são feitas uma a uma por ela, que utiliza materiais nobres como rendas, pérolas, veludo e passamanarias para compor bolas de Natal únicas e exclusivíssimas. A decoração da mesa de Beatriz tem alma e calor. Resume o espírito natalino da confraternização. Como complemento, músicas natalinas, brindes animados, o “Jingle Bells” cantado por adultos e crianças e quitutes feitos em casa, com o capricho da dona da casa.
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Natal tropical P O R B E AT R I Z G U I M A R Ã E S F OTO S L E T Í C I A R E M I Ã O
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A maior festa religiosa e cultural do Ocidente – o Natal – poderia muito bem ser celebrada, no Brasil, dentro de um cenário tipicamente tropical, valorizando o clima, destacando a estação do ano e as tendências da sociedade moderna. Nada de neve, trenós, barba de algodão, frio e outros tantos. O Natal contemporâneo deve ser visto não apenas como uma festa estritamente cristã, mas como um momento de confraternização, de alegria, de entendimento entre as pessoas de origens e de religiões diversas, sempre com aquele renovado sentimento de esperança num mundo melhor, embora ninguém defina muito bem o que seja isso. No Brasil, o Natal acontece no começo do verão. Tudo perfeito para festas ao ar livre, ceias na varanda, em volta de piscinas, próximas ao mar. Mesmo para os eco-radicais, pois hoje é relativamente fácil comemorar as festas de fim de ano na Chapada dos Veadeiros, nos igarapés da Amazônia, na Mantiqueira, nos Aparados da Serra, entre outros santuários naturais. Dessa forma, estariam experimentando um contato
direto com o criador, sem intermediários, e sem os artificialismos da sociedade moderna. Sob um céu exuberante de verão, barulho de riacho e de grilos ao fundo, a celebração de um Natal off-road poderia até agradar mais ao criador, que segundo os cristãos veio ao mundo pobre e humilde, numa manjedoura, há mais de 2 mil anos, em Belém. Para um Natal mais tradicional, podemos nos inspirar em nossas raízes portuguesas, trazendo de volta para a mesa o leitão a pururuca, muito crocante, como é tradição em São Paulo e Minas, ou mesmo o pernil, ou o lombo de porco, tão apreciados pelos brasileiros em geral. No Rio, era comum comerem-se rabanadas no Natal, típicas de algumas regiões de Portugal. Apenas pão passado no ovo, depois frito e temperado com açúcar e canela. Resquícios de tempos frugais, tão distantes dos exageros gastronômicos de nossos dias. Para aqueles que preferem a praia, nada melhor do que preparar anchovas frescas, embaladas em folha de bananeira e colocadas para assar nas brasas. Como entrada,
as verdadeiras casquinhas de siri. O Natal na serra pode ser comemorado com um pernil de ovelha assado, de preferência na churrasqueira. Como acompanhamento, lentilhas com lingüiça da colônia cozidas lentamente num fogão a lenha. Para o Natal off-road, truta grelhada com fios de gengibre, acompanhada de arroz marroquino, já que nessas regiões de serra há inúmeras criações de truta. De entrada, bolinhas de melão com vinho do Porto. E muitas frutas frescas e sucos de frutas nativas. Caso a festa seja ao ar livre, no jardim ou na varanda, sugere-se como entrada talvez um gazpacho, a refrescante sopa típica da Espanha, muito apropriada para o verão. Para o prato principal, bacalhau com batatas feito em panelas de barro, que podem ir diretamente à mesa. Para perfumar e alegrar o ambiente, um prato grande com frutas da estação, como os abacaxis, mangas, uvas, pêssegos, ameixas e bananas, entre outras tantas que temos.
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RECEITAS ELABORADAS POR BEATRIZ GUIMARテウS
Natal Tradicional LOMBO DE PORCO COM AMEIXAS
LEITÃO ASSADO
1 PEÇA DE LOMBO DE PORCO
1 LEITÃO DE APROXIMADAMENTE 5 KG
180 G DE BACON FATIADO
VINHA D'ALHO
200 G DE AMEIXAS SECAS
5 DENTES DE ALHO AMASSADOS
BARBANTE
3 COLHERES DE AZEITE
VINHA D'ALHO
SAL GROSSO / FOLHAS DE LOURO
5 DENTES DE ALHO AMASSADOS
2 COPOS DE VINHO BRANCO
2 COLHERES DE AZEITE / SAL GROSSO
RECHEIO
2 A 3 COPOS DE VINHO BRANCO
200 G DE FARINHA DE ROSCA CASEIRA
FOLHAS DE SÁLVIA, OU TOMILHO
SALSINHA PICADA / 1 CEBOLA PICADA / SAL 2 LIMÕES / 3 COLHERES DE AZEITE / 2 OVOS
Modo de fazer: Caso a peça de lombo seja muito grande, parta ao meio. Coloque em travessa de vidro, ou louça, acrescente a vinha d'alho, cubra e coloque na geladeira, por umas 24 horas, virando às vezes para espalhar o tempero. Antes de levar ao forno, coloque as ameixas numa fileira sobre o lombo junto com as fatias de bacon, formando assim uma capa. Deixe parte das ameixas aparecendo, para dar cor. Passe um cordão por toda a volta do lombo, para ficar firme. Coloque numa fôrma junto com a vinha d'alho. Cubra com papel- alumínio e deixe em fogo baixo por cerca de 1 hora, ou mais. Tire o papel-alumínio, aumente o fogo, acrescentando um pouco de água se for necessário, e deixe por mais uns 20 minutos, ou até ficar dourado. Retire o lombo da fôrma e reserve. Acrescente um pouco de água quente sobre a fôrma, aqueça mais um pouco e retire todo o molho. Coe o molho e guardeo no congelador (retire depois a gordura e use este molho, aquecido, para acompanhar a carne). Depois de frio, tire o cordão do lombo, fatie ou leve inteiro para a mesa. Pode ser servido frio ou quente.
Modo de fazer: Deixe o leitão em vinha d'alho por umas 24 horas na geladeira, virando-o de vez em quando. Antes de assar, prepare o recheio. Misture a farinha de rosca, salsinha, sal, azeite e a raspa dos limões. Acrescente também o suco dos dois limões e bata os ovos, misturando tudo. Caso precise, acrescente mais farinha para dar maior consistência ao recheio. Tire o leitão da geladeira, coe a vinha d'alho e reserve o líquido. Recheie bem o porco, passe um cordão em volta para não sair o recheio e coloque-o em fôrma grande para assar, junto com a vinha d'alho. Deixe assar em fogo moderado por 2 horas e meia a 3 horas. Na metade desse tempo, vire o leitão de lado, tendo o cuidado para não desmanchá-lo. Depois de pronto, coloque o leitão em uma travessa e coe o líquido que sobrar na fôrma, acrescentando mais vinho e reduzindo o molho. Ponha este molho no freezer para que a gordura congelada possa ser retirada. Aqueça o molho na hora de servir o leitão.
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Sabor
Natal na Serra PERNIL DE CORDEIRO 1 PERNIL DE CORDEIRO SAL GROSSO TOMATES E CEBOLAS ASSADOS ALECRIM FRESCO 4 CEBOLAS CORTADAS AO MEIO SALSINHA 4 TOMATES CORTADOS AO MEIO, SEM SEMENTES MOSTARDA MANJERONA FRESCA ACOMPANHAMENTO TOMILHO FRESCO TOMATES E CEBOLAS ASSADOS SAL GROSSO Modo de fazer: Coloque sal grosso no pernil e leve para a churrasqueira, na parte mais alta. Asse ao gosto, pois alguns preferem ao ponto, outros preferem bem passado. Enquanto isso, corte tomates e cebolas pela metade, coloque numa f么rma com sal e azeite e leve ao forno para assar. Aque莽a uma frigideira, ponha um pouco de azeite, o alecrim fresco picado e a salsinha. Reserve. Depois que o pernil estiver pronto, passe mostarda em volta e adicione a mistura de salsinha e alecrim por cima. Fatie e sirva junto com os tomates e cebolas assados.
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AZEITE Modo de fazer: Deixe as cebolas e os tomates cortados marinando por meia hora junto com o azeite, sal e as ervas frescas. Coloque tudo numa f么rma e deixe assar at茅 ficarem levemente tostados, sem deixar secar muito. Sirva como acompanhamento de carnes em geral.
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Natal no Quintal GAZPACHO
BACALHAU COM BATATAS EM PANELA DE BARRO
8 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES
500 G DE BACALHAU EM POSTAS
1 CEBOLA PICADA / SAL / AZEITE
3 CEBOLAS BEM PICADAS
VINAGRE DE VINHO DE BOA QUALIDADE
1 KG DE BATATAS
1 PIMENTÃO VERMELHO / 2 PEPINOS
6 TOMATES
CROUTONS OU TORRADINHAS CASEIRAS
AZEITE
1 LITRO DE ÁGUA MINERAL / SALSINHA
SAL
Modo de fazer: Ponha os tomates (sem pele e sem sementes), a cebola, 2 colheres de vinagre, um pouco de água e sal no processador. Coloque depois tudo numa jarra, acrescente azeite, o restante da água e corrija o tempero. Deixe na geladeira por um bom tempo. Enquanto isso, asse bem o pimentão vermelho, tire a pele e corte em tiras bem finas. Tempere com sal, azeite, salsinha – reserve. Pique os pepinos e reserve também. Na hora de servir, acrescente um pouco de gelo no gazpacho, se quiser. Em pequenos potes, ponha o pimentão, os pepinos e os croutons ou as torradas, e deixe em volta da jarra com o gazpacho.
Modo de fazer: Deixe o bacalhau de molho na véspera, trocando a água umas 4 vezes. Desfie o bacalhau e reserve. Tire a pele e a semente dos tomates e pique. Descasque as batatas, colocando-as em água para não oxidar. Depois corte as batatas em rodelas e ponha no fundo da panela, formando camadas de bacalhau, cebola, tomates, repetindo até terminar, regando sempre com azeite. Tampe a panela e cozinhe em fogo bem lento. As panelas de barro são ideais para este prato.
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Natal na Praia ANCHOVA ASSADA EM FOLHA DE BANANEIRA
CASQUINHA DE SIRI COM CAMARÃO
2 ANCHOVAS FRESCAS
400 G DE CARNE DE SIRI / 1 CEBOLA PICADA
4 DENTES DE ALHO
½ COPO DE VINHO BRANCO SECO
FOLHAS DE SÁLVIA
3 TOMATES SEM CASCA E SEM SEMENTES
2 LIMÕES
SALSINHA PICADA / AZEITE
SAL GROSSO
2 DENTES DE ALHO
2 A 3 FOLHAS NOVAS DE BANANEIRA BARBANTE Modo de fazer: Escalde as folhas de bananeira e reserve. Passe sal grosso e dê uns cortes leves ao lado do peixe, colocando dentro o alho amassado, suco de limão e as folhas de sálvia. Embrulhe cada peixe na folha de bananeira e passe o cordão em volta, ou ponha em grelha apropriada. Leve para a churrasqueira, assando o peixe por uns 15 minutos, ou mais, de cada lado. Tire da grelha e sirva a anchova diretamente na folha. A folha de bananeira é ideal para assar peixes: proporciona um toque exótico e um perfeito cozimento, conferindo ao prato um sabor muito especial.
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Modo de fazer: Nas casquinhas de siri não devem ser acrescentados queijos, farinhas, etc. Numa panela, ponha o azeite e doure a cebola. Adicione o vinho e cozinhe até reduzir o líquido. Acrescente então a carne de siri, deixando refogar bem a mistura. Coloque o tomate picado, o sal e deixe por uns 5 minutos. Ponha a salsinha, prove o tempero e finalize com um pouco mais de azeite. Para os camarões: Tire a cabeça dos camarões, mas mantenha as cascas. Numa frigideira ponha azeite e alho amassado, e jogue ali os camarões e o sal, deixando-os fritar ligeiramente. Abaixe o fogo e deixe por mais um minuto. Caso queira, acrescente uns galhinhos de tarragão fresco. Sirva a mistura de siri em casquinhas e coloque um camarão por cima de cada uma.
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Natal Off-Road TRUTA GRELHADA COM FIOS DE GENGIBRE 4 POSTAS DE SALMÃO (UM SALMÃO POR PESSOA) SAL GROSSO / LIMÃO ALHO / AZEITE GENGIBRE FRESCO FUNCHO Modo de fazer: Descasque e corte o gengibre em fios bem finos. Leve ao fogo com água, gotas de limão e deixe ferver. Descarte a água e repita o procedimento. Tire do fogo, ponha o gengibre em água fria e depois seque bem. Doure as tiras de gengibre no azeite, sem deixar queimar. Retire do fogo e reserve. Enquanto isso, tempere bem os salmões com sal, limão e alho, e leve para a grelha. Depois de pronto, sirva em base de folhas de funcho e com o gengibre por cima.
BOLINHAS DE MELÃO COM VINHO DO PORTO 2 TIPOS DE MELÃO (ORANGE E OUTRO) 1 CÁLICE DE VINHO DO PORTO HORTELÃ FRESCA Modo de fazer: Com uma boleadeira, faça bolinhas com os melões (ou simplesmente corte-os em pedaços pequenos). Coloque num recipiente de vidro, ou cristal, acrescente o vinho do Porto e raminhos de hortelã. Sirva gelado.
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Pavê de Pêssego 8 PÊSSEGOS
CRÈME PÂTISSIÈRE OU CREME DE BAUNILHA
1 PACOTE DE BISCOITOS TIPO CHAMPANHE
400 ML DE LEITE
1 COPO DE VINHO BRANCO, TIPO PROSECO
BAUNILHA EM FAVA, OU ESSÊNCIA
2 COLHERES DE MANTEIGA
4 GEMAS
2 COLHERES DE AÇÚCAR
100 G DE AÇÚCAR
FOLHAS DE HORTELÃ
1 COLHER DE SOPA DE MAISENA (40 G)
400 ML DE CRÈME PÂTISSIÈRE Modo de fazer: Descasque e corte os pêssegos em fatias. Aqueça uma frigideira e ponha a manteiga, e depois os pêssegos. Deixe pegar um pouco de cor e adicione o açúcar. Acrescente um pouco do vinho, deixando-o reduzir um pouco. Numa travessa de vidro, ou louça, disponha os biscoitos um ao lado do outro, umedeça-os com o restante do vinho e espalhe metade dos pêssegos sobre eles. Cubra os biscoitos com o creme, arranje a outra metade dos pêssegos por cima e finalize com as claras batidas em neve. Leve para a geladeira e sirva em taças com folhas de hortelã.
Modo de fazer: Ferva o leite com a baunilha. Bata as 4 gemas com o açúcar até ficar bem pálido. Acrescente a maisena, misturando bem. Adicione o leite a esta mistura, mexendo sempre. Leve essa mistura novamente ao fogo, mexendo até levantar fervura. Abaixe o fogo, e continue mexendo por mais uns 3 minutos. Deixe o creme esfriar e reserve. Reserve também as 4 claras. Mais tarde bata as claras em neve, com 100 g de açúcar. Vai servir para cobrir o pavê.
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Torta Dourada BASE 1 COCO FRESCO, RALADO / 10 CLARAS 2 XÍCARAS DE AÇÚCAR RECHEIO 200 G DE AMEIXAS SECAS ½ XÍCARA DE AÇÚCAR / ½ LITRO DE ÁGUA OVOS MOLES 10 GEMAS / 250 ML DE ÁGUA / 280 G DE AÇÚCAR
Preparo da base: Divida o coco ralado e o açúcar em duas porções. Torre levemente a primeira porção do coco com 1 xícara de açúcar. Bata cinco claras e misture ao coco tostado. Asse em fogo brando numa fôrma rasa, fundo removível, com papel-manteiga. Repita o mesmo com a segunda porção do coco, açúcar e claras. Preparo do recheio: Ferva as ameixas com o açúcar e a água. Deixe esfriar e retire os caroços, partindo as ameixas em tiras. Reserve algumas tiras para enfeitar. Preparo dos ovos moles: Faça uma calda grossa e deixar esfriar. Passe as gemas em peneira, misture à calda e leve ao fogo brando até engrossar. A consistência deve ser firme. Montagem: Recheie a torta de coco com o doce de ameixa e um pouco dos ovos moles. Ponha a outra metade e cubra com os ovos moles. Enfeite com tirinhas de ameixa.
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O sabor e o saber FERNANDO LOKSCHIN
PATÊ DE FÍGADO DE AVES Ave a ave, ave o cozinheiro; ave o patê, sua obra conjunta Sem asas, só com a imaginação, o homem sempre invejou a ave. Os pássaros sempre ‘passam’ por nós: o L. avis parece resultar do L. via, ‘via, caminho’, junto ao prefixo ‘a’ de negação. As aves voam por onde bem entendem, dispensam estradas. A asa, o vôo e o céu são atributos da divindade, e a ave é um intermediário entre o céu e a terra, mensageiro a comunicar desígnios superiores: agouro invoca o canto da ave (L. vis, ‘ave’; gario, ‘trinado’), auspício é a observação da ave (L. avis, ‘ave’; specere, ‘olhar’) e propício, a direção do seu vôo (L. pro, ‘direção’; petere, ‘voar’). Um bando de pássaros voando em formação cerrada, um ‘v’ cujo vértice é um líder em revezamento, seta que voa a outros mundos e ainda é um mistério e maravilha da natureza. Há magia no canto do rouxinol e no pio da coruja, e, como nas fábulas, usamos a expressão “um passarinho me contou”. Numa inauguração (“buscar o bom augúrio”) é comum a revoada de pombos, e, junto com o bebê, a cegonha – pássaro migratório – traz o futuro no bico. A própria saudação latina Ave (como em Ave Maria ou Ave César) faz o desejo de saúde e sorte pelo mesmo som que chama a ave. Além do vôo e trinado, a ave transmite mensagens com seu corpo. A hepatomancia, adivinhação pelo exame do fígado das aves (e de outros animais), foi praticada por babilônios, etruscos, gregos e romanos. O fígado vermelho anunciava vitória na batalha, o pálido, derrota. Numa metáfora semelhante, o fígado do covarde seria pálido, teria pouco sangue. Muito do que se atribui hoje ao coração – no fundo uma simples bomba hidráulica – era antes responsabilidade do fígado. Para Horácio, o fígado era a sede da paixão, tanto da sensualidade como da sua contraparte, o ódio. Cólera deriva do G. choles, que significa ‘bile’, melancolia quer dizer ‘bile negra’ (G. melanos choles) e o L. fel pode ser tanto ‘bile’ como ‘rancor’, ‘inveja’ ou ‘veneno’. Curioso que produzindo uma secreção símbolo do amargor, tristeza e violência, o fígado tenha sido tão valorizado no amor e culinária. É como se o órgão pudesse se manter nobre às custas da eliminação das impurezas da vida.
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Se a mulher custou uma costela a Adão, o fogo custou o fígado a Prometeu. Condenado por nos revelar o segredo do fogo infernal, o titã foi acorrentado num rochedo onde tinha o fígado devorado diariamente por uma águia. Zeus, o deus castigador, sabia do poder de regeneração do órgão: mesmo se grande parte é retirada, há um retorno ao normal. No mito, a ave come o fígado do homem, mas na realidade é o homem que come o fígado da ave. Os antigos pensavam que a alma dos pássaros fazia ninho no fígado, do qual a quinta-essência seria o patê. “Fruto supremo da gastronomia”, o foie gras é, apesar do nome e fama, um desenvolvimento tão egípcio como as pirâmides. Os egípcios perceberam que os gansos selvagens sofriam uma crise anual de bulimia. Antes de migrar, comiam compulsivamente a fim de armazenar energia e alçar longos vôos sem pousos para abastecimento. Abatidas nesta ocasião, as aves tinham um fígado maior e mais delicioso pelo acúmulo de gordura. Os homens passaram então a imitar a natureza, alimentando à força gansos e patos. Na verdade, o patê de foie gras é feito com o fígado gorduroso de aves tornadas diabéticas por excesso de comida. O costume de empanturrar gansos para fazer patê foi importado pelos gregos e levado à França pelos romanos. Muita desta engorda era feita à base de figos, fruta abundante no Mediterrâneo e, pelo teor de açúcar, boa para induzir diabete nas aves. Foi a importância do figo no patê que cunhou a palavra fígado: o L. ficatun deriva da expressão iecur ficatun (“fígado alimentado com figos”). O termo original para o órgão, iecur, foi substituído pelo adjetivo ficatum e desapareceu, deixando talvez a descendente iguaria (antes iecuaria), testemunha sonora de quanto o fígado era apreciado. Além do sabor, foi importante a consistência. Dizem as más línguas que a popularidade do patê, tal como a das perucas, deveu-se aos sintomas da sífilis que assolava os europeus no séc. XVII: ausência de cabelos e de dentes. Além de nozes, Deus deu patê a quem não tinha dentes. Patê também para nós. Ave a ave, ave o cozinheiro; ave o patê, sua obra conjunta. Iguaria pousada à mesa, inauguração
DEIXAR O FÍGADO DE MOLHO NO LEITE. ESCORRER E LIMPAR BEM, TIRANDO AS MEMBRANAS. TEMPERAR COM SAL E PIMENTA PRETA. REFOGAR ALHO E MUITA CEde jantar, gosto do bom agouro. O patê mistura a glutonice do homem e da ave, magia e energia armazenadas para o espírito alçar vôo no céu da boca e migrar ao paraíso. Se o fruto supremo da gastronomia é o patê de ganso, se o patê é a quinta-essência do fígado, se o fígado é a alma da ave e se nós somos aquilo que comemos, é bom enfatizar que os gansos – vivendo em liberdade, não em cativeiro... – constituem os casais mais fiéis, estáveis e eternamente apaixonados de toda a natureza! Já os galináceos... FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br
BOLA PICADA. PODEM-SE ADICIONAR CUBINHOS DE BACON. FRITAR O FÍGADO. LIMPAR NOVAMENTE. BATER BEM COM FACA PESADA. MISTURAR COM OVOS COZIDOS PICADOS. BATER BEM NOVAMENTE. ACRESCENTAR UM POUCO DE NATA. DEIXAR NA GELADEIRA POR ALGUMAS HORAS. SERVIR COM PÃO OU TORRADAS, VINHO OU CHAMPANHE. (PODEM SER COLOCADOS PASSAS, CASTANHAS E AMÊNDOAS MOÍDAS, COGUMELOS, TRUFAS, VINHO DO PORTO OU O QUE MAIS SE POSSA IMAGINAR.)
UMA DAS COISAS MAIS GOSTOSAS DO NATAL SÃO OS PREPARATIVOS: MONTAR A ÁRVORE, ESPALHAR AS LUZES, ENFEITAR A CASA INTEIRA, EMPACOTAR OS PRESENTES...
MAS O MELHOR DE TUDO É USAR A CRIATIVIDADE PARA FAZER À MÃO, DE FORMA ARTESANAL, OBJETOS QUE TORNAM EXCLUSIVO E PERSONALIZADO O SEU NATAL.
NESTA REPORTAGEM VOCÊ VAI CONHECER O TRABALHO DE VÁRIAS PESSOAS QUE CONFECCIONAM OBJETOS NATALINOS: ENFEITES, BOLACHINHAS, VELAS, BOLOS, CAIXAS... UM VERDADEIRO BAZAR DE NATAL!
Natal feito à
mão FOTOS EDUARDO IGLESIAS
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Artesanato AS MÃOS DE LIS FONSECA TÊM A FORÇA. OU MELHOR, A DELICADEZA E A SENSIBILIDADE. UTILIZANDO UMA TÉCNICA CHAMADA SUGARCRAFT, ELA MOLDA O AÇÚCAR PARA CONSTRUIR BOLOS E DOCINHOS ENFEITADOS. O TRABALHO É ABSOLUTAMENTE ARTESANAL. AO LADO, UM BOLO SUPERNATALINO QUE LIS CRIOU ESPECIALMENTE PARA A NOSSA REVISTA. NO NATAL, ELA FAZ TAMBÉM TRUFAS E MINIBOL0S COM DIVERSOS MOTIVOS: ANJINHOS, PAPAI NOEL, CANTORES E TUDO MAIS QUE A CRIATIVIDADE PERMITIR.
OS BISCOITOS DE MEL FEITOS POR MARIA BEATRIZ MÜLLER TÊM VÁRIAS FORMAS E SÃO CAPRICHOSAMENTE CONFEITADOS COM GLACÊ. ALÉM DE DELICIOSOS, FICAM LINDOS COMO ENFEITES PARA A ÁRVORE. ELA É ARQUITETA E COMEÇOU A FAZER BISCOITOS COM O DESEJO DE RESGATAR A TRADIÇÃO DAS ÁRVORES DE NATAL ALEGRES, VISTOSAS. HOJE RECEBE ENCOMENDAS ATÉ DO EXTERIOR.
Artesanato AS HABILIDADES MANUAIS DE LÉA CRISTINA ROSA BERNARDI SÃO VÁRIAS: ELA PINTA, BORDA, COSTURA E PRODUZ DE FORMA ARTESANAL UMA GRANDE VARIEDADE DE ENFEITES. PARA O NATAL, ELA CRIOU VELAS EM TONALIDADES FOSCAS DE VERMELHO, DOURADO E VERDE, COM DIVERSOS FORMATOS E “ESTAMPAS”. OUTRA CRIAÇÃO DE LÉA SÃO AS BOLAS DE ISOPOR PINTADAS COM TINTA PVA. ELA DESENVOLVE OS MOTIVOS E PINTA UMA A UMA. RARAMENTE UMA PEÇA FICA IGUAL A OUTRA.
A CADA ANO, A DESIGNER VIVIANA HAUCK CRIA UMA GRANDE VARIEDADE DE ENFEITES NATALINOS. AS BOLAS COM APLICAÇÕES DE TECIDO XADREZ SÃO FEITAS UMA A UMA. A RIQUEZA DO EFEITO FINAL SE DEVE À COMBINAÇÃO DE VÁRIOS MATERIAIS: TECIDO, FELTRO, FITAS E ATÉ GOMOS DE PINHA. AS BOLAS SÃO PRODUZIDAS EM VÁRIOS TAMANHOS E COM DIVERSAS COMBINAÇÕES DE CORES. 56
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Artesanato HÁ MAIS DE 30 ANOS, EDELA TREPTOW DE ARAÚJO BUSCA DIVULGAR AS TRADIÇÕES GERMÂNICAS FAZENDO ARRANJOS NATALINOS TRADICIONAIS. AS TÉCNICAS DE CONFECÇÃO DESSES OBJETOS ELA APRENDEU EM CASA, COM A MÃE. PARA MONTAR UMA COROA DO ADVENTO COMO A DA FOTO, ELA GOSTA DE UTILIZAR APENAS OBJETOS NATURAIS, COMO SEMENTES, PINHAS E GALHOS. TUDO O QUE EDELA FAZ É ORIGINAL, SIMPLES E, SEGUNDO ELA, É RESULTADO NÃO SÓ DA CRIATIVIDADE, MAS DE UM TOQUE DE AMOR.
FOLKART É O NOME DA TÉCNICA UTILIZADA POR SUSANA MENDONÇA PARA FAZER O PAPAI NOEL DA FOTO AO LADO. EM SEU ATELIER, EM PELOTAS/RS, ELA ENSINA ESTA E DIVERSAS OUTRAS FORMAS DE PINTURA EM MADEIRA. A FOLKART É UMA TÉCNICA CARACTERÍSTICA DO ESTILO COUNTRY AMERICANO, QUE UTILIZA EFEITOS DE SOMBRA E LUZ.
INGE ALICE STREICH FRAUCHES APRENDEU A TÉCNICA DO ORIGAMI COM O MESTRE KUNIHIKO KASAHARA, EM 1988. APAIXONOU-SE POR ESTA ATIVIDADE E COMEÇOU A PRATICÁ-LA COMO UM EXERCÍCIO DE RACIOCÍNIO. INGE INICIOU DOBRANDO FIGURAS BEM SIMPLES, E HOJE FAZ OBJETOS COMPLICADÍSSIMOS. PARA A ESTILO ZAFFARI, ELA DOBROU TSURUS, AVES QUE SIMBOLIZAM A PROSPERIDADE, E ALGUMAS KUSUDAMAS, AS CHAMADAS BOLAS DA FELICIDADE. OS ORIGAMIS FICAM LINDOS COMO ENFEITES PARA A ÁRVORE DE NATAL.
OS ANJOS DE ANA MARIA BRAGA SÃO FEITOS SEM PLANEJAMENTO. AS FIGURAS VÃO SURGINDO, DE ACORDO COM O ESPÍRITO DA ARTISTA. A MATÉRIA-PRIMA É ALGODÃO 100% CRU, RECHEADO COM FIBRAS. OS MATERIAIS PASSAM POR UM PROCESSO MANUAL DE ENVELHECIMENTO, QUE TORNA CADA PEÇA ÚNICA. A ARTISTA PRODUZ SEUS ANJOS E BONECOS EM CANELA/RS. 60
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Artesanato O ARTESANATO FAZ PARTE DA FAMÍLIA DE MARGA VOLKART. DESDE PEQUENA ELA VIVEU CERCADA PELAS TIAS, QUE ERAM FLORISTAS. AUTODIDATA, COMEÇOU BORDANDO BICHOS DE PANO. AS BOLAS DE NATAL – NAS CORES VERDE, VERMELHA E DOURADA – SÃO UMA MISTURA DE PINTURA COM APLICAÇÃO DE PEDRARIAS. O TRABALHO SE DESTACA PELOS DETALHES E PELA MANEIRA COMO SÃO DISPOSTAS AS PEDRAS, QUE LEMBRA A TÉCNICA ALEMÃ CHAMADA BAUERNMALEREI.
A PUBLICITÁRIA VIRGÍNIA GIULIAN TEM A PINTURA NO DNA. A MÃE DELA ERA PINTORA, E VIRGÍNIA PINTA DESDE OS 11 ANOS. A CAIXINHA AO LADO FOI TRABALHADA COM TINTA ACRÍLICA, NAS CORES DO NATAL, E PODE SER USADA COMO EMBALAGEM DE PRESENTES. SUA ESPECIALIDADE SÃO PINTURAS TEMÁTICAS EM SUPERFÍCIES COMO LOUÇA, MADEIRA, TECIDOS E PAREDES.
Artesanato OS DOCINHOS AO LADO TRANSMITEM DE FORMA SINGELA E GOSTOSA UMA MENSAGEM DE PAZ. ESSES E OUTROS DETALHES TÃO IMPORTANTES EM UMA FESTA SÃO A ATIVIDADE DAS IRMÃS LÚCIA SUÑÉ COELHO SILVA E CLÁUDIA SUÑÉ SPOLIDORO. ELAS CRIAM E ELABORAM DOCINHOS, LEMBRANCINHAS, DECORAÇÕES E EMBALAGENS COM O TEMA DE CADA FESTA. PARA O NATAL, A POMBA DA PAZ, O BRANCO, O DOURADO, O VERMELHO E O VERDE SÃO AS VEDETES.
HÁ 25 ANOS IVONE GROSS COMEÇOU A FAZER BOLOS DE FRUTAS, PARA PRESENTEAR OS AMIGOS NO NATAL. HOJE ELA PRODUZ CERCA DE 500 BOLOS E TEM UMA CLIENTELA SUPERFIEL. CASTANHAS, FIGOS EM CALDA, AMEIXAS PRETAS E FRUTAS CRISTALIZADAS SÃO OS INGREDIENTES DO BOLO. PARA ENFEITAR, O TRADICIONAL GLACÊ BRANCO, CEREJAS E CANELA.
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Consumo TETÊ PACHECO
ESTAMOS PASMOS A adolescência não tem mais prazo pra terminar Recebi um e-mail com perguntas bobocas evocando os anos 80. “Lembra do New Order? Das Diretas Já? Da visita do Papa?” Toda essa besteirada para que, no caso de várias respostas afirmativas, a gente receba o seguinte veredito final: “Mas tu tá véio mesmo, hein?” Bidú. E alguém precisa de um e-mail para lembrar disso? Talvez, pensando bem, estejamos precisando sim. E não só de e-mails, mas também fax, telefonemas: “Oi, tudo bem? Tô ligando pra dizer que sua adolescência expirou, venceu, tá fora da validade, acabou”. Por que afinal estamos surpresos com a nossa própria idade? Queremos o quê? Parar o tempo? Não viver? Para a geração de nossos pais, o sonho era chegar na vida adulta. Lá moravam a independência, a realização profissional, a liberdade sexual, a chance de finalmente “sair de casa”. O contrário de hoje. A adolescência começa cedo e não tem prazo para terminar. Já foram estudados casos de adolescentes beirando os 50, vivendo, crentes que estão abafando, entre pranchas de surf e música eletrônica. É que ser jovem virou cultura que, como tal, pode ser prorrogada indefinidamente. Os jovens têm tudo. E mais a beleza da pele e o bronzeado de quem ainda não conquistou um lugar ao sol, mas pega uma praia todo fim de semana. Crescer pra quê? As espinhas não são mais tão terríveis. São tratadas com novos e modernos medicamentos. A falta de grana, resolvida com cartões de crédito para dependentes. E o sexo, bem o sexo foi liberado. Desde que usem camisinha, pílulas anticoncepcionais e não transem dentro do carro à noite, porque é perigoso. Sair de casa não é desejável. Nem pelos próprios pais, que admitem ser muito melhor ter os filhos perto por motivos de segurança. Não importa mais o que eles desejam da vida, desde
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que fiquem vivos. Pressionar ou reprimir impulsos preguiçosos? Pra quê? A coisa que o pai ou a mãe mais querem ouvir deixou de ser “Quero ser Engenheiro”. É simplesmente: “Cheguei, estou bem, boa-noite”. Esse falso conforto todo pode gerar muita angústia. Não é mais permitido ficar triste. Ficamos, isso sim, deprimidos, atolados em diagnósticos e nos enchemos de remédios (ou drogas, o que dá no mesmo) na ilusão de que aí vai ficar tudo bem. A euforia promovida por academias e clínicas estéticas fast food está tornando as mulheres menos dignas e os homens, simplesmente ridículos. Todos achando que têm 18 anos. Não é mais o caso sentir-se bem com o próprio corpo ou ter uma vida saudável. Todo o esforço é feito na direção de permanecer jovem. Então, com o corpo lindo, mesmo com a pele enrrugada e os neurônios debilitados por excesso de barras de proteína, atinge-se o apogeu, o nirvana, o paraíso: não aparentar a idade que tem. Estamos pasmos. Fulano já fez 40? Não pode! Convite para os 20 anos de formatura da escola? Não deve ser pra mim. Me dou o direito de reproduzir um depoimento da Adélia Prado, publicado na Folha de S. Paulo, num especial do Sesc sobre a terceira idade: “Quando chega à terceira idade, a pessoa topa com o limite, o corpo não obedece como antes, ela necessita de determinados auxílios, o seu poder fica em xeque. Então se volta naturalmente para aquilo que de fato é poder, a força, a vida verdadeira, e isso é sempre de ordem espiritual. A maior proximidade com a morte e com a doença tem essa vantagem. Quando não tem, a gente vira um velho patético”. Você ainda não chegou lá? Eu também não. Mas é melhor ir pensando… TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA
Luz
Magia das
velas P O R P AU L A TA I T E L B A U M F OTO S L E T Í C I A R E M I Ã O A porta da sala se abria exatamente à meia-noite. E o mais incrível era que meus olhos de criança não focavam primeiro os presentes. Mas as velas. Minha avó enfeitava o enorme pinheiro de Natal com velas vermelhas que eram presas nos galhos por suportes de metal. Lembro das sombras tremulando na parede. Lembro que a cera pingava sobre os embrulhos ao pé da árvore. Lembro que nunca achei que aquilo fosse perigoso. Hoje, as velas colocadas no pinheirinho são de plástico e as luzes saídas da loja de 1,99 ali da esquina. Definitivamente, as chamas foram extintas dos galhos pela modernidade e precaução. Em compensação, ganharam ainda mais espaço por todos os recantos e momentos. Impossível não relacioná-las com as liturgias religiosas, os encontros amorosos, os devaneios do filósofo ou com as horas em que queremos criar um clima especial. Velas dão alma a qualquer ambiente. De diferentes formas, cores e aromas, elas são muito mais do que objetos de decoração. São pura magia.
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Luz
DE DIFERENTES FORMAS, CORES E AROMAS, ELAS SÃO MUITO MAIS DO QUE OBJETOS DE DECORAÇÃO Artesões ou alquimistas? As velas são uma evolução das tochas que tinham sua ponta mergulhada em sebo para que a chama ganhasse vida mais longa. A data de sua origem não é muito precisa, mas o certo é que tudo começou antes de Cristo. Em 1850, a parafina refinada de petróleo foi usada pela primeira vez, e a partir daí a fabricação de velas virou coisa de indústria. Mesmo assim, na maior parte do século XX, elas moraram na gaveta da despensa, discretas e escondidas, e dali só saíam em dias santos, aniversários e noites de tempestade. É claro que não preciso dizer que isso é coisa do passado. Mesmo quem não é adorador do design diferenciado e dos aromas sedutores sente que, atualmente, velas são adornos indispensáveis aos olhos. Principalmente aquelas feitas uma a uma, nascidas como obras de arte, criadas com paixão. Derreter a parafina, colocar o corante, pingar a essência, inventar um novo efeito. Só quem tem a sensibilidade latente e um certo quê de alquimista correndo nas veias consegue fazer disso uma profissão. É lindo ver como um artesão das velas coloca em cada uma de suas criações uma vibração positiva. Algo que deve estar ligado ao fogo, elemento relacionado ao entusiasmo e à alegria.
se dedica totalmente à criação de velas diferenciadas. O Kontainer das Artes, onde ele inventa, produz, expõe e comercializa, é um espaço aconchegante com sofá, almofadas e plantas, no qual podemos ver suas criações originais enquanto toca um blues ao fundo. Nossos olhos passeiam pelas velas que estão por todos os cantos. As menores estão incrustadas em bambus ou envolvidas na textura criada por Carlos, uma mistura de areia, pó de mármore e vermiculita que ele esculpe depois de seca. Já as maiores são uma piração só, velas enormes que podem estar dentro de tronco, armadilha de tatu, coxo de boi, roda de trem ou de uma bola trançada com cipó. O material utilizado é encontrado a céu aberto, fruto de queimadas ou do abandono. Tudo ecologicamente correto. Se você quiser dar um toque legal na sua festa, poderá alugar as velas do Carlos. Além de sair barato, o efeito será demais. Já para aqueles que preferem comprar, o artesão sempre avisa que ele repõe a parafina e o pavio a preço de custo. Ou seja, a vela vai ter vida longa. “Um cliente disse que graças a minha vela, com citronela, a família passou a se reunir novamente na varanda à noite. É o máximo saber que as pessoas ficam curtindo teu trabalho, que é ele que dá um clima especial à casa.” Deve ser mesmo, Carlos.
Velas ecologicamente corretas Entusiasmo é sinônimo de Carlos Lopes, que em menos de quatro anos mudou radicalmente de vida e hoje
Chamas que dão vida à casa Quando eu entrei no Atelier e Fragranciaria de Claudia Schmitz meus olhos se encheram de cores e
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AS VELAS ESTÃO LIGADAS AO PRAZER DE RECEBER E TRAZEM UM CLIMA DE ACONCHEGO E INTIMIDADE por minhas narinas entraram aromas deliciosos que eu não soube decifrar. A primeira coisa que eu pensei foi “uau, isso aqui é a sublimação dos sentidos”. Claudia é artista plástica e no seu showroom existem velas para todos os gostos. De clássicas a clubers. Com estampa de oncinha, com imagem de santos, com chocolate e pimenta, pintadas à mão, somente com textura e por aí vai. “As velas estão ligadas ao prazer de receber, elas relaxam e trazem um clima de aconchego e intimidade, por isso devem ser acesas sempre”, diz Claudia. A designer Andréia Leal vai colocando os pavios dentro das forminhas recheadas enquanto fala que nunca sabe como a vela que está criando vai sair, pois, no processo artesanal, cada uma delas é única. “É como um parto, quando eu tiro da fôrma é que vejo que jeito ela tem, e esse é o maior barato.” Andréia utiliza todos os seus conhecimentos de cor para misturar tons e criar velas com colorações diferenciadas. Natal dos sonhadores Gaston Bachelard, filósofo francês, já dizia que a contemplação da chama amplia o mundo do sonhador. Por isso, ai daquele que não tiver muitas velas acesas neste Natal. Para se perder em fantasias, para embelezar a mesa de guloseimas, para fazer um pedido especial, para lembrar que Cristo é a luz do mundo. Não importa qual será a sua motivação ou a sua crença, apenas a certeza de que seu Natal ficará muito mais lindo e emocionante à luz de velas. Isso eu digo por experiência própria.
VELAS E CURIOSIDADES NO SÉCULO XVI, MARTINHO LUTERO TERIA MONTADO O PRIMEIRO PINHEIRO ENFEITADO COM VELAS, PARA DEMONSTRAR ÀS CRIANÇAS COMO ERA O CÉU NA NOITE DO NASCIMENTO DE CRISTO. NO SITE WWW.RELIGIAOCATOLICA.COM.BR VOCÊ PODE ACENDER UMA VELA VIRTUAL. EXISTEM VÁRIOS MODELOS A SEREM ESCOLHIDOS. MAS VAMOS COMBINAR QUE NÃO TEM MUITA GRAÇA... OS TIBETANOS NUNCA SOPRAM UMA VELA. ELES AS APAGAM COM ABAFADOR, POIS CRÊEM QUE SOPRAR FAZ COM QUE NOSSO AR SE ESGOTE. MUITOS POVOS ACREDITAM QUE A CHAMA DAS VELAS EXORCIZA OS MAUS ESPÍRITOS. NA CHINA E NO JAPÃO ANTIGOS, AS VELAS ERAM FEITAS DE CERA DERIVADA DOS INSETOS E SEMENTES E MOLDADAS EM TUBOS DE PAPEL. QUER SABER QUANTAS VELAS VOCÊ PRECISA ACENDER AO MESMO TEMPO PARA COPIAR A CLARIDADE DO SOL? APENAS 4 OCTILHÕES. A MAIOR VELA DO MUNDO FOI FEITA NA INGLATERRA, EM 1989, E TINHA 9 METROS DE ALTURA E 1 METRO DE DIÂMETRO.
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Bem viver MIGUEL SO RRENT I N O
BELEZA E BEM-ESTAR A cirurgia plástica pode melhorar a qualidade de vida Com o aumento da competição no mercado de trabalho e da expectativa média de vida, cada vez mais a aparência tem sido vinculada ao sucesso profissional e à saúde. A cirurgia plástica estética tem sido utilizada como auxiliar no posicionamento profissional. Praticamente não existe mais idade para se tornar um paciente de cirurgia plástica. A melhora das técnicas, bem como a diminuição dos riscos cirúrgicos, tem proporcionado um resultado de qualidade e um rápido retorno ao dia-a-dia. Grande parte dos procedimentos hoje em dia podem ser realizados com anestesia local e uma pequena sedação, o que diminui ainda mais o risco cirúrgico e o medo dos pacientes. Se levarmos em conta que alguns procedimentos cirúrgicos começam a ser realizados pouco tempo após o nascimento do indivíduo – lábio leporino, visura palatina e algumas outras malformações congênitas – e que vários pacientes com mais de 80 anos têm buscado a cirurgia plástica, podemos dizer que as barreiras de idade realmente já não existem. No Brasil são realizadas mais de 350 mil cirurgias plásticas por ano, isso sem levarmos em conta pequenos procedimentos auxiliares no embelezamento, como a toxina botulínica (botox) e substâncias de preenchimento das rugas da face. Atualmente, já não é mais tabu a cirurgia plástica para os homens. Existe uma grande procura do homem, por exemplo, pelos procedimentos na face, como: cirurgia de pálpebras, a própria cirurgia de face para rejuvenescimento, cirurgia de nariz, correção de orelhas de abano e, principalmente, a cirurgia de transplante capilar, que pela qualidade de seu resultado tem sido uma das mais buscadas pelo paciente masculino. Já existe uma grande procura também pelas lipoaspirações e pelas reduções de pele indesejada.
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A mulher procura muito mais o cirurgião plástico para melhorar o contorno corporal (lipoescultura e procedimentos de mamas). Na verdade, todos podemos alterar qualquer parte do nosso corpo, o importante é que isso seja feito de forma a se buscar uma maior satisfação pessoal e uma melhora na qualidade de vida. E deve ser feito por um profissional habilitado. O Brasil é tido como celeiro dos melhores cirurgiões plásticos do planeta. No Rio Grande do Sul em particular, o nível profissional e a qualidade dos especialistas em cirurgia plástica estão entre os melhores do nosso país. Não existe motivo, portanto, que justifique a realização de um procedimento estético que não seja realizado por um cirurgião plástico. A melhor maneira de se conseguir um bom resultado é por meio da informação sobre o profissional. Tem sido uma das recomendações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica que a pessoa se informe, tanto no Conselho Federal de Medicina quanto na própria Sociedade de Cirurgia Plástica, se o profissional em questão é habilitado, bem como se o procedimento cirúrgico oferecido é devidamente regulamentado. Não existe mágica em medicina, especialmente em cirurgia plástica. O resultado de cada procedimento irá depender da situação atual e particular de cada pessoa. O procedimento cirúrgico, eventualmente, pode exigir pequenos retoques na busca de um melhor resultado. Se o procedimento foi realizado por pessoa habilitada e competente, esses retoques não passarão de pequenos ajustes; porém, procedimentos realizados por curiosos (pessoas sem formação adequada) podem resultar em danos irreversíveis. MIGUEL SORRENTINO É CIRURGIÃO PLÁSTICO
Beleza
TRUQUES PARA CHEGAR COM TUDO EM CIMA NAS FESTAS DE FINAL DE ANO O final do ano se aproxima. Falta muito pouco para a chegada do Natal e do réveillon e, em breve, a primavera dará lugar à estação mais quente do ano. A regra do verão é pele à mostra e alto grau de exposição aos olhares alheios. Antes da praia, no entanto, é preciso enfrentar a etapa das festas de final de ano. Não importa se a comemoração vai ser em família, entre amigos, dentro de casa ou nos mais requintados salões. Muito poucos conseguem fugir da preocupação com a roupa da festa, o estado geral do corpo, dos cabelos, do bronzeado, etc. Essa futilidade súbita faz parte dos preparativos para as festas. E atenção: não é privilégio das mulheres... Na reportagem a seguir, você vai conhecer quatro tratamentos estéticos que prometem dar aquele “up” no visual, sem grandes sacrifícios e sem sofrimento. Não parece ótimo? Não prometemos – e nem os esteticistas – transformar você num clone da Gisele Bündchen ou do Brad Pitt. Mas a medicina estética pode, sim, minimizar os efeitos da falta de cuidado, daquele tradicional “relaxamento” invernal que os gaúchos tanto conhecem. Vamos lá: ponha rosto, corpo e cabelo em dia para as festas.
POR
F E R N A N DA
D O E R I N G
I LU S T R A Ç Õ E S
N I K
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EM UMA TARDE, NAS MÃOS DE UM BOM PROFISSIONAL, VOCÊ PODE REESTRUTURAR SEU CABELO!
CABELOS NOVOS EM FOLHA A Reestruturação Capilar Definitiva com Queratina é a solução ideal para cabelos que inspiram cuidados mais... sérios, digamos assim. Segundo Fernando Niwsan, cabeleireiro há 14 anos, este é um tratamento de última geração, que alia o que existe de mais moderno em restauração de cabelos: “A ação é permanente, não sai com a exposição ao sol, ao cloro da piscina, ao sal do mar e às impurezas do vento. Além disso, é indicado para qualquer tipo de cabelo, independentemente da cor, comprimento, estrutura e quantidade de fios”. O tratamento acontece em três fases e cada uma abrange três passos que demoram, em média, uma hora. Primeiramente, os cabelos são lavados com um shampoo especial que retira completamente os resíduos e garante a penetração do próximo produto nos fios. Depois, é aplicada a queratina (grande trunfo deste tratamento) e em seguida a chapinha, já que a substância é termoativada. O terceiro passo compreende a aplicação do
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Complexo de Sílicas, um produto que visa cristalizar o cabelo. Por fim, é feita uma nova chapinha ou escova. Para obter a máxima eficácia do tratamento é preciso que o processo seja realizado três vezes, a cada quinze dias, podendo ser refeito em um prazo de quatro a cinco meses. Outro fator importante é que a Reestruturação Capilar Definitiva com Queratina só pode ser realizada 72 horas antes ou após qualquer aplicação de produto químico no cabelo. O resultado? Cabelos mais sedosos e brilhantes. (Fernando Niwsan: Estética Visualité, 3325 3595)
PELE MACIA, RELAX E PERDA DE MEDIDAS A pele do corpo requer cuidados sempre. Só que, especialmente no inverno, costumamos esquecer dela. O tratamento denominado Oceânica é uma boa opção para quem abandonou sua pele à própria sorte nos últimos meses. Além de deixar a pele macia e promover um relax em todo o corpo, esse procedimento, se combinado com algum outro tratamento estético, é capaz
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A OCEÂNICA É UMA MASSAGEM ZEN E, AINDA POR CIMA, MANDA EMBORA AS GORDURINHAS!
até de reduzir medidas! Conforme a esteticista Tânia Rosa, a Oceânica não tem contra-indicação: “Em todo cliente que opta por esse tratamento é feita uma avaliação para verificar o nível de gordura localizada, o número de sessões indicadas, em que locais do corpo serão aplicados os produtos. O tratamento é realizado com algas que, por sua composição aminoácida, têm ação redutora, firmadora e rejuvenescedora”. O tratamento é dividido em quatro fases. Primeiro, Tânia faz uma exfoliação em toda a pele do cliente, removendo as impurezas. Em seguida, realiza uma massagem com produtos específicos, fazendo uma modelação do corpo, desde o pescoço até os dedos dos pés. O terceiro momento é reservado para a aplicação das algas e da manta térmica, pois o produto age por meio do aquecimento. Esse passo é um dos momentos mais relaxantes do tratamento. “Muitos clientes se sentem tão bem que chegam a dormir”, conta a profissional. A última etapa é uma ducha revigorante, para fechar com chave de ouro o tratamento.
DE CARA NOVA Os excessos que a gente comete e a falta de cuidados aparecem, literalmente, na cara. Para corrigir esse erro tão comum, as Máscaras Cosmecêuticas são ótimas: tratam e embelezam a pele facial, tornando-a mais viçosa. Segundo o médico Marcelo Peixoto, esse trabalho é eficaz, mas implica um comprometimento do cliente: “O estilo de vida se reflete na beleza da pele. É preciso repensar os hábitos ruins para obter melhores resultados”. Pois é, como você já escutou milhões de vezes, o relaxamento, nesse caso, é proibido. Existem dois tipos de tratamento. O Programa de Beleza Cosmecêutico Personalizado Facial é realizado em uma sessão com duração de uma hora, em conjunto com uma esteticista. Na primeira meia hora, é feita uma limpeza específica, retirando as impurezas e a oleosidade da pele. Nos 30 minutos seguintes o médico faz a aplicação de uma máscara com produtos específicos que aprofundam o efei-
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ATÉ A GORDURA LOCALIZADA E A CELULITE TÊM SOLUÇÃO, MAS É PRECISO ESFORÇO!
to do tratamento. “Quando o cliente opta pelas máscaras, sempre é feita uma avaliação do seu tipo de pele, que pode ser normal, seca, oleosa ou mista. Para garantir os resultados, o processo deve ser personalizado.” O Programa de Tratamento Cosmecêutico Intensivo Facial oferece opções mais específicas para cada cliente, pois contempla um tratamento terapêutico. As máscaras podem ser: Revitalizante: para pessoas com a pele madura. Clareadora: indicada para peles com manchas. Antiaging: para peles com envelhecimento precoce, acentuado pelo estilo de vida agitado e estressante. Antiacnéica: indicado para peles com acnes residuais ou inflamatórias. O início do tratamento é idêntico ao anterior, a diferença está no tipo de máscara e também no número de sessões necessárias para se obterem resultados eficazes – nesse caso são três. “Em qualquer um dos tratamentos, procuro orientar os clientes sobre a manutenção, que pode ser feita em casa. Indico cremes e mostro como deve ser feita a aplicação”, revela Marcelo.
FORMAS MAIS DEFINIDAS A eletrolipoforese é um tratamento corporal que atua diretamente na gordura localizada e na celulite. Se combinada com exercícios físicos e uma alimentação saudável, pode ser um excelente redutor de medidas. Conforme o médico Marcelo Peixoto, o primeiro passo é fazer uma avaliação do cliente, para traçar seus objetivos e verificar os níveis de gordura no corpo: “Cada sessão de eletrolipoforese dura 50 minutos e, normalmente, indicamos que sejam feitas 10, duas vezes por semana”. Dependendo do objetivo do cliente, ou seja, do local que será trabalhado, são colocados adesivos de borracha sob a pele. Por meio de uma pressão de pólos positivos e negativos, realizada ao mesmo tempo, ocorre uma mudança na característica física do local e a corrente elétrica altera a estrutura da região. Depois dessa etapa, é realizada uma massagem com um produto específico. “Essa parte do tratamento conta com um procedimento totalmente manual. A massagem estimula a região e elimina parte da gordura.”
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Herança solidária POR
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LETÍCIA
REMIÃO
QUEM VISSE MARIA ELENA PEREIRA JOHANNPETER NAQUELA NOITE DE DEZEMBRO DE 2002 PODERIA PERFEITAMENTE DEDUZIR QUE ELA SE DIRIGIA A UM EVENTO SOCIAL. O IMPROVÁVEL SERIA IMAGINAR QUE AQUELA MULHER DE FIGURA TÃO FEMININA, TRAJANDO UM ELEGANTE VESTIDO LONGO, SUBIRIA AO PALCO DA CERIMÔNIA PARA RECEBER O PRÊMIO INTITULADO HOMEM DE VENDAS ADVB. ESTA HONRARIA, ASSIM COMO O TÍTULO DE CIDADÃ EMÉRITA DE PORTO ALEGRE E VÁRIOS OUTROS RECONHECIMENTOS, DEVE-SE À SUA DEDICAÇÃO INTEGRAL À ONG PARCEIROS VOLUNTÁRIOS, DA QUAL MARIA ELENA É FUNDADORA E PRESIDENTE. CONVICTA DE QUE TODAS AS PESSOAS SÃO SOLIDÁRIAS, ELA CONSEGUIU REUNIR NO ESTADO, ATÉ AGORA, 28 MIL VOLUNTÁRIOS, QUE PRODUZEM BENEFÍCIOS A PELO MENOS 200 MIL PESSOAS.
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SOLIDARIEDADE É PENSAR O OUTRO, BUSCAR SOLUÇÕES, É INCLUIR O OUTRO NO SEU PROJETO DE VIDA PRÓXIMO ÀS FESTAS DE FIM DE ANO, AS PESSOAS QUE COSTUMAM FAZER CARIDADE FICAM MAIS SENSÍVEIS, MAIS ATUANTES. MAS O QUE SENTE, NESSA ÉPOCA, QUEM NECESSITA DE AUXÍLIO? É difícil responder em nome dos outros, sobre os sentimentos dos outros. Mas, pela experiência acumulada durante os sete anos da Parceiros Voluntários, somada à experiência de vida, posso dizer que a necessidade não é sazonal. Ela é permanente, ela se apresenta durante os 365 dias do ano. Na véspera dessas grandes festas, principalmente do Natal, o comércio faz um foco muito forte em cima da data, que eu particularmente considero excessivamente mercadológico, ficando esquecida a razão verdadeira do Natal, ou seja, o lado cristão. Então, as pessoas ficam mais sensíveis porque vem esse chamamento sobre elas. As crianças ficam despertas, escolhendo presentes aleatoriamente em sua cabeça, pressionando os pais, que se sentem magoados, é claro, pois gostariam de dar a seus filhos aquilo que eles desejam ter e não podem. NA PARCEIROS VOLUNTÁRIOS EXISTE UMA CULTURA DE DISTINÇÃO ENTRE O ASSISTENCIALISMO E O TRABALHO VOLUNTÁRIO. QUE EFEITO PRODUZ ESSA DISTINÇÃO PARA AS PESSOAS ENVOLVIDAS? Acho que na ponta que recebe tanto faz o “carimbo” que possa ter essa disponibilização. Porém, para quem se disponibiliza ao trabalho voluntário, realmente tem uma grande diferenciação. Esse é o papel da Parceiros Voluntários: conscientizar as pessoas que pretendem se doar. Se elas pensam apenas nas suas próprias razões, se querem ser “boazinhas” ou o fazem porque a religião manda e, com isso, pensam estar assegurando uma “cadeira no Céu”, ou se agem por um sentimento de culpa, para resgatar a atenção que não tenha sido dada a um membro da família, posso assegurar que todos esses sentimentos são passageiros. Por outro lado, se isso for visto como uma responsabilidade, dentro de princípios e valores de cidadania, a pessoa vai fazê-lo permanentemente. Não significa se disponibilizar 24 horas por dia, mas ficar atenta às necessidades que aparecem à sua volta, e que muitas vezes não são de um recurso financeiro apenas, mas de um pensar diferente sobre as soluções.
TODOS TÊM PROBLEMAS, AINDA QUE NÃO SEJAM IGUAIS, E MUITOS TÊM DIFICULDADES EM RESOLVER SUAS PRÓPRIAS QUESTÕES. COMO PODERÃO SER ÚTEIS A UMA OUTRA PESSOA? A pessoa que não está diretamente ligada ao problema tem condições de pensar uma solução diferente para ele. Especialmente problemas antigos necessitam de soluções novas! Sim, pois se são antigos é porque ainda não foi encontrada nenhuma solução. John Kennedy proferiu uma frase que explica esse mecanismo: “Se você não faz parte do problema, certamente você faz parte da solução”. E aí eu complementaria: “Se você não faz parte da solução, daqui a pouco você estará é no problema”. Esse sentimento de exercício de cidadania, de solidariedade (solidariedade é pensar o Outro, incluir o Outro no seu projeto de vida) é o princípio do trabalho voluntário organizado. Tu buscas soluções, e ao tu pensares nas soluções estás incluindo o Outro no teu projeto de vida. O VOLUNTARIADO ORGANIZADO ELIMINA O VALOR DAS AÇÕES MERAMENTE ASSISTENCIALISTAS? Não, as ações não são excludentes. Mas quando a gente fala de uma nova cultura estamos falando de um apanhado de princípios e valores desenvolvidos e acumulados, pois assim é que se forma a cultura de uma comunidade. Esse repensar é o que importa: as pessoas se verem como agentes transformadores, e não como meros agentes de caridade. QUANDO EU LIGUEI PARA MARCARMOS A ENTREVISTA, VOCÊ ME SUGERIU: “ACESSA O SITE DA PARCEIROS VOLUNTÁRIOS, PARA CONHECER MELHOR O NOSSO NEGÓCIO”. ESSA VISÃO PROFISSIONALIZADA E EMPRESARIAL DO TRABALHO VOLUNTÁRIO NÃO AMEAÇA A EMOÇÃO TÃO NECESSÁRIA PARA A INICIATIVA DE SE DOAR? Não, ela ajuda. Acreditamos tanto nisso que em um dos relatórios da Parceiros a frase era: “Emoção com resultado”, pois é justamente assim: se tu te organizas para fazer alguma coisa, tu vais ter um bom resultado. O assistencialismo em si é descomprometido. Hoje, por exemplo, eu posso resolver dar um prato de comida para alguém que me pediu. Essa pessoa, no entanto, precisa comer 365 dias do ano, só que eu dou apenas hoje. Porém, se eu puder reunir
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TRABALHO VOLUNTÁRIO ORGANIZADO NÃO É FAZER ALGO QUANDO TE SOBRA UM TEMPINHO amigos e fazer um planejamento para que a cada semana um do grupo se encarregue de levar uma cesta básica para essa família, por exemplo, isso resulta em uma emoção com resultados. Porque foi planejado, porque não ficou excessivamente dispendioso para ninguém e, principalmente: ao levar essa cesta cria-se a oportunidade de conversar com essas pessoas, podendo ser encontrada uma solução para que elas não fiquem a vida inteira dependentes dessa cesta. QUE ASPECTOS DISTINGUEM O VOLUNTARIADO DO ASSISTENCIALISMO? Comprometimento e responsabilidade. ESTES ASPECTOS NÃO SERIAM EXATAMENTE OS QUE ASSUSTAM E DESANIMAM AS PESSOAS QUE QUEREM AJUDAR, MAS NÃO QUEREM COMPROMISSO? O trabalho voluntário organizado, o exercício da cidadania não é feito por impulso. Não é voluntarismo. Voluntarismo é uma coisa que se faz hoje, e pode não se fazer amanhã. É feito em função de um desejo pessoal, do tipo: “eu quero conhecer uma creche ou um asilo”, “eu estou precisando interagir com alguma coisa, com alguma pessoa carente”. É uma necessidade de quem quer dar. Qual o resultado que será produzido? Resultado nenhum. Só vai atender a um desejo momentâneo. E a outra pessoa com a qual se interagiu? No livro O Pequeno Príncipe lê-se: “Você se torna responsável por aquilo que cativa”. E, realmente, quando tu te aproximas de alguém tu desenvolves um vínculo, um sentimento, uma expectativa, especialmente quando se trata de um quadro de carência. E as carências não são apenas materiais, físicas. São, principalmente, emocionais, e tu tens que respeitar isso. Por outro lado, se a pessoa se conscientiza de que isso faz parte do exercício de cidadania dela, ela vai passar a fazer normalmente, e quando ela não fizer ela mesma vai se questionar. Resumindo, o trabalho voluntário organizado não é fazer alguma coisa quando te sobra um tempinho. Na vida da gente, as coisas mais importantes são o tempo e o conhecimento, e os problemas estão aí, não podem esperar por um tempinho de alguém para serem resolvidos. Ter um conhecimento que possa ser disponibilizado para a comunidade é mais do que doar. Doar, se doam coisas materiais que vão e não voltam mais.
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POR AINDA CONVIVERMOS COM O CONCEITO DE “FAZER O BEM”, DE “SER BOM”, NO SENTIDO MAIS RELIGIOSO DA SOLIDARIEDADE, PODE O CANDIDATO A VOLUNTÁRIO CHEGAR À CONCLUSÃO DE QUE NÃO ESTÁ ELEVADO O SUFICIENTE PARA DAR ALGUMA COISA A OUTRA PESSOA? O voluntariado não faz julgamentos morais. Para participar da Parceiros Voluntários, por exemplo, ninguém será julgado quanto à motivação íntima pela qual foi levado a se envolver. Se for o lado religioso, vem e faz! Quer uma cadeira no Céu? O padre ou o pastor mandou fazer um trabalho voluntário? Mãos à obra! SÓ NÃO VALE COBRAR DA PARCEIROS A CADEIRA NO CÉU... Não, não pode (risos). A motivação para o trabalho voluntário deve ser racional, e pode muito bem estar assentada no egoísmo construtivo. E isso funciona assim: a pessoa quer ter a liberdade de sair à rua à noite, com o carro que ela quiser, com a roupa que ela quiser, com a jóia que ela quiser, sem ser assaltada. Certo. Para que isso aconteça assim, é preciso que se mude uma realidade social que está aí. Usufruir a liberdade; isso é o egoísmo construtivo. É devolver à sociedade alguma coisa. QUAL A MAIOR DIFICULDADE A SER ENFRENTADA PELO VOLUNTÁRIO? É essa pessoa ter estrutura emocional para conseguir conviver com uma realidade diferente da realidade dela. Basta observar que todos nós vivemos num circuito de lugares e ambientes bem fechado: o colégio dos filhos, os restaurantes de costume, as avenidas do bairro de cada um, os amigos, a igreja, os cinemas... É um círculo todo mapeado: são os mesmos lugares e as mesmas pessoas. Quando saímos do nosso próprio mundo (e para isso não precisa muito, bastam algumas quadras), nos deparamos com outra realidade. Há de haver estrutura emocional, e, por vezes, as pessoas não conseguem se adaptar, pelo choque, optando então por fazer doações a distância no lugar de irem pessoalmente. E ESSE CHOQUE, A DOR DE VER O QUE NÃO SE QUER VER, NÃO PASSA? Depende da estrutura psicológica de cada um. Alguns vencem, conseguindo descolar desse ambiente de miséria e de carência as coisas materiais, olhando apenas para os se-
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MUITAS VEZES O MAIS IMPORTANTE NÃO É O RECURSO FINANCEIRO, É ESCUTAR O QUE A PESSOA TEM A DIZER res humanos que estão ali, e como seres humanos todos nós somos iguais. Só estamos em situações e oportunidades diferentes na vida, e isso também não é uma decisão nossa, e sim de uma inteligência superior. Quando as pessoas conseguem fazer esse descolamento, conviver com o que as choca, disponibilizam ao outro aquilo que elas têm de melhor. UMA DAS CRENÇAS DA PARCEIROS VOLUNTÁRIOS, E PORTANTO UMA CRENÇA SUA TAMBÉM, É DE QUE TODA PESSOA É SOLIDÁRIA. DE ONDE VEM ESSA CERTEZA? Eu tenho a certeza de que o ser humano é bom. Ele passa a ter comportamentos diferenciados por ‘n’ razões da vida, e aí entram a sociologia, a antropologia, etc. Mas a essência, ela é boa. Para campanhas arrecadatórias, todos contribuem, basta ter uma instituição forte, como, por exemplo, a Rede Globo. Eu até costumo visualizar um movimento: aquele chamamento entra pelo nosso ouvido (Maria Elena mostra com o indicador o trajeto entre o ouvido e a mão), nos faz estender o nosso braço, abrir nossa
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mão e disponibilizar aquilo que está sendo pedido: roupa, calçado, alimento, o que seja. Mas muitas vezes não é o recurso financeiro o mais importante. É o conhecimento que alguém tem e que vai levar para uma instituição. Muitas vezes, o que faz uma grande diferença é sentar ao lado de alguém e escutar o que essa pessoa tem a dizer. Então, não é o dinheiro, não são cinqüenta reais que vão mudar a realidade dela. Por quê? Porque ela está querendo que alguém a escute. É sentimento, e sentimento não tem preço. OS MATERIAIS AUDIOVISUAIS DA PARCEIROS VOLUNTÁRIOS SEMPRE DEIXAM CLARO QUE AS PESSOAS QUE VÃO LEVAR CONHECIMENTO E SOLIDARIEDADE POR MEIO DO TRABALHO VOLUNTÁRIO, TAMBÉM RECEBEM ALGO. O QUE É QUE ESSAS PESSOAS LEVAM PARA CASA? Eu tiraria a palavra “também”. Elas dão e recebem. Ponto. É tácito, essa é uma lei do Universo: o que tu dás, tu recebes. É uma lei que organiza o Universo. É como a bola de tênis: quem a joga na parede, a recebe de volta. Se a bola foi bem jogada, ela volta redondinha
Perfil SE TRABALHO VOLUNTÁRIO É O EXERCÍCIO DA CIDADANIA, POR QUE OS HOMENS PARTICIPAM TÃO POUCO? e o jogo continua. Se for jogada uma bola torta, na volta ela pode pegar o nariz de quem jogou e quebrá-lo. Então, quem vai com bom sentimento até o outro recebe bom sentimento. Se vai com preconceito, recebe preconceito. O sentimento que tu disponibilizas é o que tu recebes. A qualquer pessoa que faz trabalho voluntário, se tu colocares um microfone de improviso e perguntares como ela está se sentindo, a resposta será: “Ah, estou muito feliz, nunca imaginei que uma ação minha fosse tão precisada por outras pessoas, e nunca imaginei que me sentiria assim!”. AJUDAR DESCONHECIDOS PODE GERAR CIÚMES, FAZENDO COM QUE OS VOLUNTÁRIOS SEJAM MAIS COBRADOS PELA FAMÍLIA NA ATENÇÃO E NO AFETO? Não, acho que é o oposto. Os membros da família do voluntário tentam segui-lo. O exemplo que ele dá, a felicidade que ele expressa e seus relatos provocam o interesse dos familiares. A tendência é de compreensão e de imitação. QUAL A ORIENTAÇÃO DA PARCEIROS AOS QUE DESEJAM EFETIVAR SUA PARTICIPAÇÃO QUANTO AO TEMPO DE DEDICAÇÃO AO TRABALHO VOLUNTÁRIO? A Parceiros pede que a pessoa disponibilize um turno por semana, ou seja, uma manhã ou uma tarde. Para dar uma aula de inglês, por exemplo, são necessários 45 minutos. Se um professor dedicar duas aulas por semana, serão 90 minutos na semana. Na ação que precisa ser feita dentro de uma organização carente, sugere-se que seja de um expediente: uma manhã inteira, uma tarde inteira, e é claro, depende da ação escolhida. Também tem outro formato de participação, que é levar a atividade ou tarefa proposta para dentro do próprio ambiente do voluntário: seu escritório, sua casa. O trabalho voluntário organizado não é necessariamente feito na ponta, diretamente com o necessitado. Pode ser uma contribuição para a parte gerencial e administrativa da organização. A QUE TIPO DE ATIVIDADE AS PESSOAS SE DISPÕEM? As pessoas querem disponibilizar a sua formação,
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aquilo que elas sabem fazer profissionalmente muito bem. E é desse conhecimento que o Terceiro Setor – as organizações sem fins lucrativos – estão precisando: o conhecimento diferenciado, o olhar diferenciado. POIS ENTÃO VAMOS FAZER AGORA MESMO UMA AÇÃO VOLUNTÁRIA DE MOBILIZAÇÃO, CHAMANDO REFORÇOS: DE QUE TIPO DE MÃODE-OBRA A PARCEIROS ESTÁ PRECISANDO HOJE? HOMENS, MULHERES, PROFISSIONAIS... Ah, tocaste num ponto nevrálgico dentro da Parceiros, que é uma queixa minha pessoal: se estamos dizendo que o trabalho voluntário é o exercício da cidadania, por que os homens não vêm? AH, PEGAMOS OS HOMENS “NA TAMPINHA”! QUAL A PORCENTAGEM DE HOMENS E MULHERES NO TOTAL DOS VOLUNTÁRIOS? Nós temos 23% de homens e 77% de mulheres. COMO SE PODE INTERPRETAR ESSE DESEQUILÍBRIO? A inteligência da mulher é... digamos, multidirecional. Ela consegue dar atenção à sua família, seus filhos, irmãos, pais e amigos, e ainda é boa profissional, leva criança para o colégio, para o médico, ou seja: ela faz “quinhentas” coisas ao mesmo tempo. O homem tem a inteligência unidirecional. Quando ele entra no escritório, esquece todo o resto, e se foca naquilo ali. Se ele está assistindo a uma partida de futebol na televisão, não vê mais nada: é aquilo ali. É uma característica do gênero, eu acho. Não é defeito, é uma característica. ENTÃO, ESTAMOS PRECISANDO DE HOMENS NA PARCEIROS? Estamos precisando que o sexo masculino se conscientize de que são cidadãos também. Aliás, tem uma outra coisa que é muito pitoresca: seguido acontece – até com amigos bem próximos – de homens me dizerem: “Ah, teu trabalho é lindo, maravilhoso, etc. etc.” e então eu digo: “E aí, posso contar contigo?” e a resposta é: “Claro que sim! Vou mandar minha mulher ligar para ti!” (risos). É que, na cabeça deles, se a iniciativa for induzir a mulher a participar, ele já fez a parte dele! Ou seja: a contribuição dele para a comunidade é colocar a mulher dele à disposição da comunidade. Já
TENHO A CONVICÇÃO DE QUE NÃO EXISTE TERRENO ÁRIDO QUE NÃO POSSAMOS FERTILIZAR viu que situação? Mas não vamos malhar muito os homens, principalmente em respeito aos parceiros que completam os 23%! (risos). E QUAL A PRINCIPAL FAIXA ETÁRIA DESSA POPULAÇÃO DE HOMENS VOLUNTÁRIOS? São os que estão no mercado de trabalho: de 25 a 40 anos. A característica deles é de querer passar conhecimento. Por fazer muito bem um planejamento, por exemplo, se propõem a fazê-lo para alguma organização carente que esteja precisando. E é essa a nossa expectativa, que cada um faça o que sabe fazer, inclusive podendo sensibilizar outros profissionais ou empresas que complementem as outras ações necessárias, estabelecendo-se uma rede de ações. SABE-SE QUE PARA FUNDAR A PARCEIROS VOCÊ FOI BUSCAR CONHECIMENTO DE COMO PROFISSIONALIZAR O TRABALHO VOLUNTÁRIO. MAS COMO REFERÊNCIA PESSOAL, VOCÊ LEMBRA QUAIS FORAM AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS? Olha, isso já está tão perdido no passado, que eu quase não me lembro mais... (risos). Lembro que por volta dos meus 14 anos nós morávamos perto de uma creche e a gente precisou fazer uma campanha, por causa de uma enchente ou alagamento, não me recordo exatamente, mas nós tivemos que bater de porta em porta, e eu afirmo: todas as pessoas são solidárias, pois todas davam alguma coisa. Esta foi a minha primeira ação. E foi em seguimento do exemplo da minha mãe. Por isso que eu digo: se dentro da família tem alguém que faz com naturalidade, sem criticar quem não faz nem supervalorizar quem faz, essa prática é incorporada pelos princípios e valores daquela família. Eu via minha mãe fazendo, continuei fazendo, meus irmãos também fazem... Era a cultura da família. Depois, quando eu me aposentei, quando me casei com o Jorge, a vida me deu de bandeja a oportunidade de me ocupar integralmente com o voluntariado, como que me dizendo: “Olha aí, Maria Elena, faz o que tu mais gostas de fazer” – aí seria até covardia se eu não fizesse! QUAIS SÃO AS CONVICÇÕES PESSOAIS QUE SE CONSOLIDARAM A
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PARTIR DAS EXPERIÊNCIAS COM O TRABALHO VOLUNTÁRIO? Eu acho que não existe terreno árido que não possa ser fertilizado. Porque estamos falando de seres humanos, e todas as pessoas são solidárias, onde quer que estejamos. Algumas, com realidades mais duras, tornam-se mais duras, mas, por incrível que pareça, nós vamos encontrar as pessoas mais solidárias e generosas nas nossas vilas. Se essas pessoas têm um único prato de comida, elas dividem com quem não tem, porque amanhã pode ser que elas não tenham esse prato de comida, e os vizinhos vão dividir com elas. O problema é de todos, é de sobrevivência. QUAL A DIFERENÇA ENTRE SOLIDARIEDADE E GENEROSIDADE? Solidariedade é uma estado específico, ligado a uma causa específica: tu podes te solidarizar com uma causa, uma pessoa, uma situação, até em detrimento de outra causa. É um estado focado e pontual. Quanto à generosidade, tu és ou não generosa. É uma característica própria, essencial. SE VOCÊ PUDESSE DEIXAR UMA MENSAGEM DE NATAL... Eu diria: enquanto indivíduos, nós temos compromisso com a nossa família. Como cidadãos, nós temos compromisso com o nosso país e, por sermos humanos, compromisso com nosso planeta. Como seres de essência divina – e eu acredito que um dia nós vamos voltar para essa energia cósmica e universal de onde viemos –, seria muito bom que não voltássemos de mãos vazias. Deveríamos retornar um pouquinho melhorados, evoluídos. Nesta época de Natal, podemos refletir: “O que estou fazendo aqui, por que vim, e até quando irei ficar? Quando eu retornar, o que é que eu deixo, e o que é que eu levo? Se já sabemos que não se leva nada de material, que rastro eu deixo, que ações que tenham feito diferença na vida de alguém?”. Que não seja apenas um rastro de perfume... QUE PELO MENOS FIQUE, NA LEMBRANÇA DOS FILHOS, A NATURALIDADE EM AUXILIAR OS OUTROS... ... pelo exemplo que foi deixado. Já é uma boa herança, um bom legado!
Assim, ó... LUÍS AUGUSTO FISCHER
MISTÉRIOS DE PORTO ALEGRE Cidade que se entrega à primeira vista não merece respeito Ainda esses dias o Nei Lisboa, em crônica, fez piada com o clima do estado, dizendo que temos cinco estações ao ano: as quatro conhecidas, mais uma quinta, o bafo, nosso velho conhecido. Tem até a frase pronta, que usamos ao encontrar alguém no verão: “O pior não é o calor, mas o ... bafo”. Talvez Porto Alegre sofra mais que outras cidades do estado. Também, pudera: com essa massa d'água bem do lado, cinco rios desaguando no Guaíba, e isso tudo a poucas dezenas de quilômetros da imensa massa líquida da lagoa dos Patos. Umidade mais calor igual a bafo. É um dos mistérios de Porto Alegre, cidade fria em vários sentidos, mas calorenta no verão. Pessoalmente acho o máximo que a cidade tenha mistérios. Não enormes e insolúveis, mas pequenos, parciais, acessíveis. Eles ajudam uma cidade a existir, porque dão consistência àvida. O pior que pode haver, para mim, é uma cidade sem nenhuma espessura, sem história, totalmente transparente. Uma cidade que se entrega na primeira visita e à primeira vista não merece o meu respeito. Tanto gosto do tema que cultivo um projeto, que algum dia deve virar livro. Ele se chamará justamente Mistérios Parciais de Porto Alegre. E a epígrafe virá de um porto-alegrense honorário, Jorge Luis Borges. Sua cidadania honorífica eu inventei agora, é claro. Mas ele a merece, ainda que postumamente, porque sua obra ajuda a entender nossa terra. A frase que citarei: “Talvez a missão do tango seja essa: dar aos argentinos a certeza de haverem sido valentes, de terem já cumprido com as exigências da valentia e da honra”. Ainda vou pensar bem, mas é possível que eu substitua “tango” por “vanerão” e “argentinos” por “gaúchos”; o resto permanece igual. São tantos os mistérios a abordar que nem sei por qual começar. Pode ser pelos acidentes geográficos, como o já menci-
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onado bafo, ou pela qualificação exata para o Guaíba, que foi rio, passou a estuário e hoje é lago. Tem o caso do paralelo 30° Sul, que condiciona a beleza e a duração do pôr-do-sol e, dizem os entendidos nas artes e ciências obscuras, marca definitivamente o destino de uma região: teríamos uma sorte parecida com a do Triângulo das Bermudas, que fica em posição simétrica à nossa, no hemisfério norte. Lá somem navios e outras enormidades, ao passo que aqui... Haveria um capítulo para as coisas emperradas. A Rota do Sol, unindo a Serra ao Litoral sem passar pela região metropolitana. A utilização moderna e não-poluente do carvão de São Jerônimo. O trem-bala entre Porto Alegre e Tramandaí. O aeromóvel de Porto Alegre, que vive nos sonhos de uns quantos e repousa sua carcaça em uma inacreditável pista aérea na Ponta do Gasômetro. Falando nisso: um dos capítulos mais recheados seria, naturalmente, o das designações. A Usina do Gasômetro, hoje um centro cultural de alta voltagem, era uma usina sim, mas não tinha nada a ver com gás, e sim com o carvão: queimava-se o recurso natural para gerar energia para uma cidade bastante acanhada, entre a década de 1920 e a de 1960. O nome se conservou de uma antiga usina de gás mesmo, que havia ali por perto, a partir de 1870 e até os anos 1950. Teríamos que falar da rua Praia de Belas, que não tem nada a ver com beldades e sim com um certo Antônio Rodrigues Belas (decepcionante, não?). E na rua da Praia, que não tem praia há dois mil anos. Seria obrigatório mencionar o parque da Redenção, que 100% das pessoas conhecem por este nome mas a burocracia insiste em chamar de parque Farroupilha. Tanta coisa. Tanto mistério. LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR