Revista Estilo 33

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A n o 7 N 0 33 R $ 3, 50

LUGAR: APARADOS DA SERRA INVERNO: LAREIRAS E SOPAS

Batuque na

coznha


Milene Leal milene@contextomkt.com.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Cris Berger, Daniel Martins, Irene Marcondes, Paula Taitelbaum

REVISÃO Flávio Dotti Cesa PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade

luciane@contextomkt.com.br

ILUSTRAÇÕES Nik FOTOGRAFIA Angela Farias, Cláudio Meneghetti, Cris Berger, Cristiano Sant’Anna, Flávia de Quadros, Daniel Martins, Letícia Remião

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Antônio Binello e Marcelo Jacobi COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Ruza Amon, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COLABORADORES Ana Paula Elbling, Barbarella Bakery, Cook Store, Guilherme Ruivo Silva, Heloisa Crocco, Jorge Nascimento, Livraria Cultura, Studio AD

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

DIRETORA DE ATENDIMENTO DEPTO. DE ATENÇÃO AO LEITOR Renata Xavier Soares renata@contextomkt.com.br A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares PRÉ-IMPRESSÃO Maredi IMPRESSÃO Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

CAPA: BIFE A CAVALO FOTOGRAFADO POR LETÍCIA REMIÃO


NOTA

DO

EDITOR

Será que o frio vai nos abandonar? Tem muita gente dizendo que a era dos invernos gaúchos acabou, foi pro saco, c’est fini. Alguns meteorologistas, os alarmistas, os catastrofistas e os impressionados juram que o aquecimento da calota polar está gerando uma mudança tão radical no clima do planeta que em breve não vamos mais ter inverno no Brasil. Teremos um clima tropical de norte a sul. Bem, a julgar pelos vinte e tantos graus registrados nos termômetros nos últimos dias do mês de junho, essa turma está coberta de razão. Desde os lojistas (que não sabem o que fazer com o estoque de roupas de lã) até as crianças, todos os gaúchos estão surpresos com a ausência de inverno ou, ao menos, com o atraso do frio. Até o fechamento desta edição, uns míseros dois ou três dias de baixas temperaturas não chegaram nem a arrepiar o couro curtido dos rio-grandenses. Se as previsões se confirmarem, difícil vai ser mudar os hábitos da gauchada. Como é que vamos nos virar sem o chimarrão quentinho no parque, as bergamotas descascadas sob o sol do meio-dia, as lareiras acesas nas tardes de domingo, as festinhas de queijos e vinhos, o chocolate quente, as sopinhas? E o que dizer dos gorros, mantas, luvas e sobretudos? E o que vamos explicar aos cariocas que vierem a Gramado em julho, em busca de neve? É, vai ser no mínimo complicado... Tudo isso, por enquanto, felizmente é apenas brincadeira. Porque quando a gente fala em superaquecimento do planeta não dá nem pra pensar em vantagens como: menos gente passando frio nas ruas, menos doenças respiratórias, menos fome, etc. O calor que o desequilíbrio ecológico traz é aquele capaz de fritar miolos... Conscientes e avisados, temos é que cuidar da nossa Terra (com letra maiúscula) e torcer para que as diferenças que a natureza instituiu se mantenham intactas. Aqui nestas paragens o normal é fazer frio em julho. Portanto, que venha o nosso inverno, acompanhado das delícias que só ele proporciona e com as quais já estamos tão acostumados. Nesta edição, a Estilo Zaffari está celebrando o frio. Temos lareiras, temos sopas, temos serra, temos vinhos, temos Hebe Camargo (tem alguém mais quente que a Hebe?). E temos também introspecção, que rima com o inverno: a Paula Taitelbaum foi pesquisar o que é a Cabala e tentar entender por que ela mexe tanto com a cabeça das pessoas. Pra embalar a preguiça invernal, temos MPB. Beatriz Guimarães elaborou uma linda reportagem que combina a música e a culinária brasileiras. Não perca. E bom inverno! OS EDITORES


Correio MAIS QUE DEMAIS

A ESTILO VIAJA...

Sabem de uma coisa??? Vocês são simplesmente DEMAIS. É um prazer ler essa revista inteligente... glamourosa... bem focada e de extremo bom gosto...!! A edição sobre a Itália está bárbara... todinha ela...!! E mandem um recado pra Martha Medeiros... A Itália é realmente tudo aquilo que ela escreveu, principalmente sobre o sr. “charme absoluto” Armani. Parabéns mais uma vez.

Renata, queria te agradecer por teres me enviado o mais recente exemplar da revista Estilo. Muita gentileza de sua parte. Como sempre, as matérias estão maravilhosas!!! Vocês todos estão de parabéns pelo trabalho que realizam. Quando abrirem assinaturas gostaria de ser informada. Obrigada mais uma vez e grande abraço. MARGRIT APPELT – CURITIBA/PR

VIVIANE ENGLEITNER

Que maravilha de e-mail, Viviane! Só elogios, muito entusiasmo e um superbom humor! Escreva mais vezes pra nós, suas palavras são uma injeção de adrenalina! Abraços.

PILATES PROFISSIONAL À Redação da Estilo Zaffari: Gostaríamos de dar os parabéns pela matéria sobre Pilates na revista de número 29. É leve e informativa para quem ainda não teve contato com o método Pilates, sendo proveitosa do início ao fim. A Physio Pilates é hoje licenciada exclusiva da Polestar Education para a América do Sul, já tendo realizado diversos cursos de formação no Brasil, Venezuela, Uruguai, Argentina, Chile e Equador. Nosso site, www.physiopilates.com, é uma ótima fonte de informações sobre o histórico e profissionais do método no Brasil. Agradecemos e estaremos à disposição em caso de mais esclarecimentos. Atenciosamente, JOILDES PARACAMPOS – SALVADOR/BA PHYSIO PILATES – POLESTAR PILATES

FILME ROMÂNTICO Parabéns pela revista Estilo Zaffari. Sou assídua “devoradora” das matérias, que são ótimas, sucintas, informativas e de leitura rápida. Na coluna da Martha Medeiros da revista nº 32 – abril/ 2005, ela faz um comentário sobre um filme rodado em Positano, com Robert Downey Jr. e Marisa Tomei. Gostaria muito de saber o nome do filme. Atenciosamente, LISELOTE FERLE SCARRONE

O nome do filme é “Only you” e ele é mesmo uma delícia: romântico, ingênuo e rodado em um cenário belíssimo. O pessoal aqui da Redação não conseguiu lembrar o título em português, mas acreditamos que com o nome original já seja possível localizar o filme numa locadora, por exemplo. Obrigado pelos elogios à Estilo, os leitores assíduos são um bem muito precioso pra nós... Abraço.

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Estilo Zaffari

Margrit, foi ótimo termos conseguido atender ao seu pedido, o que nem sempre é possível, infelizmente... Além de estarmos com várias edições da Estilo Zaffari já esgotadas, às vezes o envio da revista para localidades distantes se torna inviável devido aos custos de postagem. Caso seja criado um sistema formal de assinaturas, você será imediatamente contatada por nossa equipe, ok? Obrigada pelo apoio e pelos elogios, abraços.

IRMÃS EM PAZ Bom dia, Renata! Tenho a coleção completa da revista, sou fã de carteirinha, mas quero relatar um incidente familiar: minha irmã não conhecia a Estilo e ao visitar-me literalmente “surrupiou” as edições de números 20, 24, 26, 27, 28 e 29. Antes de “recorrer à Justiça” para reparar essa perda, vou dar uma última chance a ela, e pedir sua ajuda. Como conseguir essas edições??? Me ajuda!!! LARI BORDIN

Meus Deus,olha o tipo de coisa que a Estilo Zaffari anda provocando! É o que dá ser uma revista desejada... A gente faz questão de ajudar você a resolver esse incidente familiar, só que talvez a sua irmã acabe levando vantagem... É que algumas edições mais antigas já estão esgotadas, e talvez não seja possível repô-las. Mas vamos fazer de tudo pra completar a sua coleção, afinal, não tem graça nenhuma ela “surrupiar” as revistas e você ser castigada, né? Um grande abraço e obrigada pelo carinho!


CRITÉRIOS DA CESTA BÁSICA Bom dia, Milene e Renata. Sou fã da revista Estilo Zaffari já faz algum tempo. Sinto um prazer enorme toda vez que leio as reportagens, que experimento as dicas de culinária ou quando realizo um roteiro de viagem, como o de São Francisco do Sul, sugerido pela Paula Taitelbaum na revista 20. Tomei a liberdade de fazer este contato porque estou inaugurando uma loja na cidade de Canela, com a proposta de vender produtos de cama, mesa e banho diferenciados, para um público que tem bom gosto e busca qualidade e elegância. Estamos pensando nas formas de divulgá-la, e foi assim que lembrei da Estilo Zaffari. Eu me sentiria lisonjeada se pudesse ter a loja divulgada na coluna Cesta Básica dessa revista, que eu considero tanto. Não tenho informações sobre como as dicas e as sugestões aparecem na coluna Cesta Básica e agradeceria se pudessem me explicar como é que funciona. Agradeço pela atenção e aguardo contato. PATRICIA BOHN – CANELA/RS

Querida Patrícia, é ótimo saber que você considera a Estilo Zaffari como uma boa mídia para divulgação do seu trabalho. A escolha das empresas, produtos, pessoas, etc. que aparecem na revista obedece puramente a critérios editoriais. As matérias da Estilo, mesmo as pequenas notas da seção Cesta Básica, não são pagas ou encomendadas, mas definidas pela equipe da revista por meio de observação, pesquisa, checagem de informações, experimentação, indicações de especialistas. Assim, você pode nos enviar algum material sobre a sua nova loja, uma espécie de release (texto com informações para a imprensa) e alguma imagem que nos proporcione conhecer a loja. Se o seu trabalho realmente for diferenciado, bonito, significativo, teremos o maior prazer de publicar uma dica na seção Cesta Básica, obviamente obedecendo também aos critérios de prioridade de chegada e tema da edição, ok? Outra forma de utilizar o espaço da revista é investindo em publicidade. Para anunciar na Estilo Zaffari, entre em contato com a Izabella Boaz, pelo e-mail izabella@contextomkt.com.br, ok? Um superabraço e obrigada pelos elogios à Estilo.


Ă? N D I C E 6

Cartas

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Coluna: Cotidiano

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Cesta BĂĄsica

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Sabor: Batuque na Cozinha

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Viagem: Vinhedos do Chile

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Estilo de Vida: Cabala

100 Persona: Hebe Camargo

Aparados pela natureza A impactante paisagem dos cânions de Aparados da Serra fica ainda mais sedutora quando vista das varandas do Parador Casa da Montanha

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CALDOS E CREMES QUENTINHOS SÃO A MELHOR RECEITA

Em volta do

fogo

PARA OS DIAS FRIOS DO INVERNO GAÚCHO

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No inverno, a lareira é o maior pólo de atração dentro de casa. Nada como uma boa conversa ao redor do fogo

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Cotidiano MARTHA MEDEIR OS

BEBENDO O INVERNO Os líquidos são o que há de melhor nesta estação Sopa é um líquido? Bom, é um caldo. Leva água, às vezes leite. Derrama. Não é mastigável. Ou seja, é líquido. Pode vir com pedaços de carne, massa, legumes, mas é líquido. Resolvida esta questão, posso começar finalmente a crônica. Pra quem não gosta do clima frio, os líquidos do inverno são uma das poucas justificativas para se conformar com a estação ora em vigor. Bom, ao menos eu espero que, ao ser lançado este número da revista, estejamos mesmo no inverno, pois neste exato momento são quatro horas da tarde de um dia de junho e lá fora faz surpreendentes 29 graus. O planeta endoidou e eu rogo por um suco bem gelado. Mas considerando que o inverno tenha caído hoje, com que líquido você brindaria o frio, na frente de uma lareira? Opção A, número 1, sem concorrência: vinho tinto. É meu aliado quando a sensação térmica é de 10 graus para baixo. Sendo bem sincera: de 20 graus para baixo. Tá, admito: tomo vinho tinto até na beira da praia, mas é no inverno que ele diz a que veio. Companheiro ideal de todos os pratos – sim, inclusive peixe, por que não? –, ele forra de veludo nossos órgãos internos e perfuma nossas noites. Ok, eu bebo vinho tinto de dia também, o que mais devo confessar? Que pago uma fortuna pelas garrafas que armazeno em casa? Isso já seria calúnia. Dá para adquirir excelentes marcas a preços muito razoáveis. Razoáveis para o meu bolso, ao menos. Outro dia uma amiga elegante, sábia e viajada me deu uma dica imperdível, uma barbada daquelas: ela sabia de alguém que vendia o Don Melchor, chileno, a reles 170 reais. Eu sei que o

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Estilo Zaffari

Don Melchor é um néctar, mas não pude deixar de pensar que ando precisando de um aumento urgente. Opção B: chá. Transporte-se para aqueles salões ingleses do século 18, imagine-se heróina de um romance de Jane Austen. Se não quiser saber de nobreza e sim de mistério, então mentalize alguns bazares turcos, onde ninguém faz negócio sem antes compartilhar um chá preto e forte feito em antigos samovares. Opção B2: sopa. É líquido, já decidimos lá no primeiro parágrafo. E tem o mérito de matar a fome. Através de uma sopa de cebola fumegante é possível vislumbrar um pedacinho do paraíso. Com uma sopa de aspargos, você espia o paraíso inteiro. E uma sopa de lagosta faz você fixar residência no céu. Opção C: quentão. É chinelagem? Claro que é, mas o que me importa? Adoro quentão. Mato por um quentão. Aliás, o quentão é minha verdadeira opção B, só estou disfarçando porque a revista é chique. Os líquidos do inverno são, ao menos pra mim, o melhor da estação: vinho tinto, sopa, chá e quentão, não nesta ordem. Leite quente, só no caso de você estar com muita saudade da infância. Ou doente. Conhaque, uso apenas para temperar o chocolate amargo que está sendo derretido para o fondue. E chimarrão já tentei, mas não tenho a menor competência, nem para tomar, nem para falar sobre: sempre queimo a língua. MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA




Cesta básica

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA-A-DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, CINEMA, LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!

OS ENCANTOS DA MADEIRA TORNEADA Uma antiga enciclopédia de botânica encontrada na biblioteca do avô serviu de inspiração para a nova coleção de sousplats assinada pela arquiteta Adriana Braga. Desta vez, os modelos de madeira maciça apostam na combinação sofisticada da imbuia e do pau-marfim. Repare nos detalhes de cada suporte: delicadas peças de madeira torneada dão vida às formas estilizadas de plantas. “O desenho na prancheta é sempre o ponto de partida do meu trabalho, mas a finalização acaba no computador. Isso porque os ajustes destes projetos são minuciosos”, comenta. No seu ateliê, em Gramado, a artista também desenvolve molduras para espelhos, caixinhas, mesas auxiliares e consoles, explorando a versatilidade desta técnica. E vale a pena revelar: além de ser arquiteta, a moça estudou design na École du Mueble et Bois Ouvré, no Canadá. Telefone do ateliê: (54) 282-2086.

IRENE MARCONDES, JORNALISTA

FOTO: CLÁUDIO MENEGHETTI


Cesta básica

FOTO: LUCA SILVEIRA/DIVULGAÇÃO

Dentro do cânion O inverno é a estação perfeita para explorar os cânions gaúchos e catarinenses. O Refúgio Ecológico Pedra Afiada, situado na base do cânion Malacara (lado catarinense da Serra Geral), privilegia o hóspede com a sensação de estar dentro dos paredões, sem grandes esforços. É só abrir a janela do apartamento, ou sentar diante da lareira do salão principal, ou mesmo subir ao mirante. A vista impressiona! Na cozinha, sempre um pão quentinho saindo do forno ou um consomê delicioso à sua espera no fogão a lenha, para espantar o frio e aquecer a alma. As refeições são preparadas por uma equipe de cozinha treinada e muito atenciosa. Verduras e legumes provêm da horta ecológica, e até as massas, biscoitos e geléias são home-made. A pousada também conta com equipe de guias e equipamentos de aventura. Após um treino no muro de escalada indoor, por exemplo, os hóspedes podem experimentar a emoção de descer os 40 metros da cachoeira do CTG, próxima à sede. Ou uma das cinco trilhas ao cânion do Malacara que saem a pé do próprio Refúgio. Informese: fones (51) 3338.3323/ (48) 532.1059, site www.pedraafiada.com.br

No dia do lançamento da Estilo Zaffari 32, uma promoção mobilizou os convidados da festa: quem escrevesse a melhor frase sobre o Valle Nevado e o Point da Neve (operadora dos roteiros de esqui) ganharia como prêmio uma viagem à estação de esqui. O segundo e terceiro lugares ganhariam prêmios oferecidos pela loja de equipamentos e acessórios Big Wall. Saiba agora quem foram os vencedores: 10 LUGAR: Aline Fuhrmeister, com a frase “Pôr-do-sol dourado, muito bem acompanhado – o Point da Neve te leva a esse lugar abençoado: Valle Nevado”. 20 LUGAR: Larissa Berlato, com a frase “Point da Neve e Valle Nevado, difícil imaginar um sem o outro”. 30 LUGAR: Daniele Henrich, com a frase “Point da Neve, o melhor caminho para o Valle Nevado”.

RAFAEL BECK, JORNALISTA

PARABÉNS A TODOS!

OS VENCEDORES DA PROMOÇÃO VALLE NEVADO


Combinando diferentes materiais e misturando cores e padrões, as artesãs Ana Luísa e Cristina Cardoso desenvolveram uma linha de roupa de mesa capaz de incrementar o cenário de qualquer refeição. Jogos americanos de linho com bambu, toalhas brancas arrematadas com fio encerado e contas de madeira, guardanapos que fazem composê com trilhos, tudo isso elas criam sob encomenda para os clientes do Atelier de Roupa de Mesa. Mas a empresa também tem peças para pronta-entrega, oferecendo uma enorme variedade de estilos, cores, tecidos, composições. Ah, e elas também fornecem acessórios de mesa para eventos e restaurantes. A arte de Ana Luísa e Cristina é capaz de fazer a roupa de mesa disputar atenção, em igualdade de condições, com as iguarias servidas em um almoço ou jantar. Em junho elas inauguraram uma nova sede, na rua Cabral, 285, em Porto Alegre, fone (51) 3023.5295.

IZABELLA BOAZ, EMPRESÁRIA

FOTO: CRIS BERGER

Vista sua mesa

ALTA GASTRONOMIA NO PARAÍSO DE GANCHOS O belo e sofisticado resort catarinense Ponta dos Ganchos criou mais um grande atrativo para seus hóspedes: o “Ciclo de Chefs”, evento que se realiza nos finais de semana de inverno, tendo como convidados alguns dos mais importantes chefs da atualidade. A idéia é proporcionar aos hóspedes uma incursão ao mundo da alta gastronomia, além da oportunidade de conviver com chefs que são grandes estrelas mundiais. O ciclo compreende cinco finais de semana seqüenciais, a partir de 24 de junho. Em cada um deles os jantares têm uma assinatura diferente: Emmanuel Bassoleil (culinária francesa), Francesco Carli (cozinha italiana), Flávia Quaresma (francesa e brasileira), Rodrigo Sieiro (francesa com influência argentina) e Claude Troisgros (francesa). Todos os chefs comandam restaurantes consagrados, multiestrelados. O Ponta dos Ganchos fica em Governador Celso Ramos (SC), diante de uma linda praia, tem instalações impecáveis e foi apontado como um dos lugares mais românticos do mundo pela revista Travel + Leisure. Resumo da ópera: não dá pra perder. Fone: (48) 262.5000, www.pontadosganchos.com.br

MILENE LEAL, JORNALISTA FOTO: FLÁVIA DE QUADROS


Cesta básica FOTO: TONICO ALVAREZ/DIVULGAÇÃO

Gramado com charme e conforto Spa completíssimo, restaurante de culinária mediterrânea e acomodações superconfortáveis. Como se isso fosse pouco, o InterCity Alpenhaus ainda fica em Gramado e tem um mix de serviços que inclui até recreação infantil. Ou seja, você pode se esbaldar em longos e relaxantes tratamentos estéticos enquanto a criançada faz aquela bagunça junto com as recreacionistas. Não parece perfeito? Pois pode ser ainda melhor: o InterCity Alpenhaus Gramado criou uma promoção para atrair visitantes não apenas no período de frio. É o Pacote Duas Estações: você se hospeda no inverno ou outono e tem direito de voltar no verão com uma diária bem mais em conta. Afinal, as atrações do hotel valem o ano todo: Espaço Wellness (Spa), piscina aquecida, solarium, sauna úmida, room service 24h, café-bar. E Gramado também é uma delícia em todas as estações. Informações: fone 0800 703 7336, site www.intercityhoteis.com.br.

CARTILHA DE TEMPEROS Se os temperos são a alma da boa culinária, este livrinho vai ser a alma da sua cozinha. Como se fosse uma cartilha, ele apresenta, em ordem alfabética, os mais importantes temperos, ervas e especiarias utilizados na culinária mundial, citando a origem, os usos e curiosidades sobre cada um deles. Com lindas fotos, é claro, para que leigos como eu saibam reconhecer o tempero desejado nas prateleiras do súper. O livro finaliza com dicas bem práticas sobre a forma de armazenar os temperos, como dosá-los e outros segredinhos. Eu já comprei o meu e já botei lá em casa. Agora só falta aprender a cozinhar. “O livro das ervas, especiarias e pimentas”, Publifolha.

MILENE LEAL, JORNALISTA

LUCIANE TRINDADE, DESIGNER GRÁFICA FOTO: CRISTIANO SANT’ANNA



Cesta básica

A gemóloga gaúcha Marlene Nelz estréia no Brasil como designer com a grife Pietra Rara. Colares e acessórios feitos artesanalmente, em edição limitada e de composição única poderão ser admirados e adquiridos a partir do dia 5 de julho na loja Conte Freire, em Porto Alegre. Combinando peças originalíssimas em âmbar, coral, pérola, prata de lei, murano, cristal de rocha, vermeil e ouro, entre outros materiais, Marlene brinca com a assimetria e os contrastes dos elementos. A grife Pietra Rara, na Europa, já fornece peças exclusivas para as franquias Jil Sander e Giorgio Armani. Conte Freire: Padre Chagas, 208. Porto Alegre. Fone (51) 3264.3955

RUZA AMON, JORNALISTA

FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

Edição limitada

PROFESSORA DE ESTILO, CONSULTORA DE MODA Quem nunca parou diante das portas escancaradas do armário, em séria dúvida sobre o que vestir, que atire a primeira pedra. E nem continue a ler este texto. O restante dos mortais vai gostar de saber que existe em Porto Alegre uma verdadeira e profissional consultora de estilo. Aquela presença amiga nas horas difíceis, sabe? Roberta Gerhardt especializou-se em auxiliar mulheres e homens na montagem de um guarda-roupa adequado, funcional e fiel à personalidade do dono, para que você nunca corra o risco de errar no vestuário e nem de se sentir desconfortável, seja qual for a ocasião. Pra entender a alma fashion de cada cliente, Roberta estudou um pouco de psicologia. E, é claro, consome com voracidade informações sobre moda. Formada em Direito, ela abandonou a carreira jurídica quando percebeu que seus conselhos de estilo eram respeitadíssimos pelos amigos, familiares e conhecidos. Decidiu transformar o hobby em profissão. Hoje, Roberta tem clientes que a procuram sempre que recebem convites para festas, pedindo conselhos sobre o traje mais adequado. E tem aqueles que ela ajuda até a fazer a mala das viagens. Quer o fone dessa verdadeira fada? (51) 3222.0838.

MILENE LEAL, JORNALISTA



Cesta básica

Calor e sabor Neste inverno, nem o frio nem a chuva vão atrapalhar aqueles que desejam apreciar os deliciosos pratos do Oysterbox. O restaurante acaba de receber uma cobertura de vidro e um aquecedor que deixa o espaço com a temperatura adequada para um encontro entre amigos, happy hours ou jantares em família. O cardápio também foi adaptado para a chegada da nova estação. Caldos quentes de lagosta com creme de limão siciliano, creme de aspargos e creme de cogumelos são algumas das novíssimas opções. O Oysterbox funciona de segunda a quinta das 17h às 23h e sextas e sábados das 17h às 24h. Reservas pelo fone: (51) 3028.9118 – Rua Barão de Santo Ângelo, 166.

LIZE JUNG, JORNALISTA

RISOTO À BOX 32 INGREDIENTES: ARROZ ARBÓRIO, AZEITE, CEBOLA, ALHO, VINHO BRANCO SECO, ZUCHINE, BERINJELA, TOMATE-CEREJA, MOLHO DE TOMATE, CAMARÕES, MEXILHÕES, CACHAÇA DO BOX, MUSSARELA DE BÚFALA, SALSA, PIMENTÃO AMARELO SEM CASCA, MANTEIGA, SAL, PIMENTA, FUMET DE PEIXE.

MODO DE FAZER: AQUEÇA UMA FRIGIDEIRA COM AZEITE E REFOGUE RAPIDAMENTE AS BERINJELAS, ZUCHINE, PIMENTÃO E TOMATES-CEREJA. CONDIMENTE LEVEMENTE E RESERVE. EM FRIGIDEIRA QUENTE COM AZEITE E MANTEIGA, PUXE OS CAMARÕES MAIS OS MEXILHÕES, FLAMBE COM CACHAÇA E RESERVE. NUMA CAÇAROLA COM AZEITE E MANTEIGA, SUE A CEBOLA E O ALHO, JUNTE O ARROZ E FRITE ATÉ COMEÇAR A FICAR ESBRANQUIÇADO. ADICIONE O VINHO E DEIXE SECAR POR COMPLETO. CONTINUE COZINHANDO O ARROZ COM O FUMET, ADICIONANDO O LÍQUIDO AOS POUCOS. AO CHEGAR NO PONTO JUNTE OS LEGUMES MAIS OS FRUTOS DO MAR, ADICIONE O MOLHO DE TOMATE, CONDIMENTE E FINALIZE COM SALSA. DECORE COM A MUSSARELA DE BÚFALA E SIRVA.

FOTO: CRISTIANO SANT’ANNA



Consumo T E T Ê

PAC H E C O

TÁ NA MODA Até ser legal virou moda hoje em dia Vez por outra, o consumismo desenfreado americano produz umas coisas interessantes. Foi assim quando a Nike e a Fundação Lance Armstrong, do lendário ciclista que venceu o Tour de France e uma batalha contra o câncer, inventaram a campanha Live Strong, “Wear Yellow”. Materializada em pulseiras de silicone amarelo, que simboliza coragem, força e inspiração, o objetivo da campanha era arrecadar, com a venda das pulseiras, 5 milhões de dólares para auxiliar jovens vítimas de câncer e suas famílias. As pulseiras custavam então 1 dólar. Bacana. Em questão de semanas elas desapareceram das lojas e, acreditando em Deus e nos homens, o dinheiro foi parar na mão de quem realmente precisa dele. Aí, como quase tudo hoje em dia, o troço virou moda. Aqui no Brasil começamos a ver um ou outro “doador” usando as tais pulseirinhas compradas em viagens para os Estados Unidos. Não demoraram a surgir as pulseiras em prol das vítimas do tsunami, contra o racismo no futebol, a favor da paz e por aí vai. Hoje é uma febre. Todo mundo quer uma pulseirinha dessas. Me arrisco a afirmar que as pessoas já nem sabem se estão ajudando alguém ou não. Querem apenas ter aquilo que todo mundo tem. “Queria aquela do racismo.” “Eu acho mais legal a do câncer.” Eu tenho arrepios de pavor. Não precisava, mas vou me explicar: é claro que

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Estilo Zaffari

doar dinheiro ou trabalho para as vítimas de seja o que for é uma atitude legal. O que eu estou discutindo é a “atitude legal” ser só parte de mais um modismo. Já andei notando ambulantes vendendo pulseiras falsificadas nos faróis. Não deve ser difícil encontrar pulseiras de todas as cores e causas na 25 de Março ou em sites de venda na internet. Numa lojica qualquer da Clodomiro Amazonas, em São Paulo, a pulseira que originalmente custa 1 dólar está sendo vendida a 100 reais. E tem fila. A Daslu, a boutique mais cara do Brasil, vende as suas por 30. Ai, ai, ai. Mesmo nos Estados Unidos vi pulseirinhas, vendidas em farmácias, que aparentemente não ajudavam causa de ninguém, a não ser o dono da farmácia. Exageros à parte, porque a idéia inicial, acredito, era do bem, sobra em mim um certo mal-estar, uma leve indigestão, cada vez que vejo uma pessoa minimamente esclarecida exibindo a pulseira como se ela fosse o atestado de suas boas intenções com a humanidade. É bem pouco elegante fazer o bem e sair contando pra todo mundo, ou não? Talvez a verdadeira elegância esteja meio fora de moda. De boas intenções as prateleiras das lojas estão cheias.

TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA



Sabor

Batuque

cozi


na

inha POR BEATRIZ GUIMARÃES ILUSTRAÇÕES NIK FOTOS LETÍCIA REMIÃO


Sabor

“Batuque na cozinha a sinhá não qué Por causa do batuque eu queimei meu pé” (João da Baiana) A música brasileira é como o nosso futebol: uma fonte inesgotável de talentos, uma riqueza de ritmos, de irreverências, de poesia e de encanto. E como no futebol, há também aqueles talentos individuais, brilhantes – Pixinguinha, Cartola, Tom Jobim –, mas, sem dúvida, há times inteiros, verdadeiras seleções de 70, timaços que produziram o chorinho, o samba, a Bossa Nova, o Tropicalismo e tantos outros. Mesa farta, poderíamos analisar a música popular brasileira pegando apenas um aspecto. É como se a gente falasse de futebol considerando somente os atacantes canhotos, ou apenas os grandes gols de cabeça, ou os gols que não foram, ou a influência dos índios no futebol – como faz Alex Bellos 1 ao analisar a genialidade de Garrincha – e assim por diante. Pois escolhemos falar da MPB e de sua relação com a culinária brasileira. A MPB sempre fez referências, geralmente divertidas, a comida, aperitivos e bebidas. Assim como a música, a comida também é uma forma muito forte de manifestação cultural e de convivência social.

A MPB SEMPRE


O grande Noel Rosa, junto com Heitor dos Prazeres, compôs em 1935 Pierrô Apaixonado, uma marchinha que fez enorme sucesso durante muitos anos e ironiza um tema clássico de outros carnavais, envolvendo o trio Colombina, Pierrô e Arlequim. E, por sinal, uma Colombina muito moderna, pra lá de irreverente. Uma parte da letra diz: “A Colombina entrou num botequim, Bebeu, bebeu, saiu assim, assim, Dizendo: Pierrô cacete, Vai tomar sorvete com o Arlequim... Com o Pierrô aconteceu assim, Levando este grande chute, Foi tomar vermute com amendoim...” Em 1933, Almirante canta a marchinha de Noel e João de Barro, Prato Fundo: “Se como tanto aprendi com minha avó Na minha casa só se come em prato fundo A minha mana pra esperar o almoço, Come casca de banana, depois engole o caroço...” Um outro clássico de Noel Rosa, em parceria com Vadico, Conversa de Botequim, demonstra a familiaridade do cliente com o seu bar favorito, quase uma extensão da casa:

“Seu garçom faça o favor de me trazer depressa, Uma boa média, que não seja requentada, Um pão bem quente com manteiga à beça, E feche a porta da direita com muito cuidado Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol Vá perguntar a seu freguês do lado Qual foi o resultado do futebol...” O genial compositor baiano Assis Valente, que teve uma vida tão conturbada quanto boêmia, foi de farmacêutico a protético e compôs verdadeiros clássicos, muitos deles cantados por Carmem Miranda. Camisa Listrada é um desses clássicos: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí, Em vez de tomar chá com torradas, ele bebeu parati 2 Levava um canivete no cinto E um pandeiro na mão E sorria quando o povo dizia, sossega leão, sossega leão...” E por aí vai a trajetória do boêmio que sai incógnito no carnaval, arrancando cortinas de veludo para fazer saias e escondendo “o anel de doutor para não dar o que falar”. No divertidíssimo Brasil Pandeiro, também de Assis Valente, temos a comida baiana de novo. Embora recusa-

FEZ REFERÊNCIAS DIVERTIDAS A COMIDA E BEBIDA Estilo Zaffari

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Sabor

COMO A MÚSICA, A COMIDA É UMA FORMA INTENSA

da por Carmem Miranda no final da década de 30, a canção fez grande sucesso logo depois, e mais tarde virou a marca dos Novos Baianos. “O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada, Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato, Vai entrar no cuscuz, acarajé e abará...” Ary Barroso, talvez um dos mais completos compositores brasileiros, fez de samba exaltação, como Aquarela do Brasil, a samba dramalhão, como Risque, além de outras canções lindas como Folha Morta, entre tantas. Em Tabuleiro da Baiana, Ary descreve: “No tabuleiro da baiana tem Vatapá, caruru, mungunzá” Em Os Quindins de Iaiá, Ary Barroso certamente não se refere aos docinhos de ovos e coco tão apreciados pelos brasileiros, mas aqui faz uma referência quase maliciosa, “brejeira”, para usar uma expressão da época. “Só sei que Iaiá tem uma coisa que as outras Iaiá não têm Os quindins de Iaiá Os quindins de Iaiá”

E por aí vai, deixando à nossa imaginação o que devem ser os tais quindins. E a grande Clementina popularizou Batuque na Cozinha, uma canção ritmada, um jongo, de João da Baiana. O batuque, assim como o jongo, é uma dança trazida pelos negros, de tradição banto, onde há sapateado, palmas e cantos. Aqui a letra brinca com o ciúme, com os olhares e com o proibido. “Batuque na cozinha a sinhá não qué Por causa do batuque eu queimei meu pé. Eu fui na cozinha pra ver uma cebola E o branco com ciúme de uma tal crioula Deixei a cebola, peguei a batata, E o branco com ciúme de uma tal mulata Eu fui na cozinha pra tomar café E o malandro tá com olho na minha mulhé” Em Laranja Madura, Ataulfo Alves, o famoso compositor de Amélia, observa, filosófico: “Laranja madura, na beira da estrada, Tá bichada, Zé, ou tem marimbondo no pé” Já nos anos 60, Edu Lobo, um dos mais jovens e mais talentosos compositores surgidos na época dos festivais – e que revelou Elis Regina ao Brasil, com Arrastão, depois lançou Upa Neguinho, Ponteio e tantas outras –, na


DE MANIFESTAÇÃO CULTURAL canção No Cordão da Saideira relembra os carnavais de sua infância, passados no Recife. “Tempo da praia de Ponta de Pedra Das noites de lua, dos blocos de rua Do susto e a carreira da caramboleira do bumba-meu-boi Que tempo que foi Agulha frita, mungunzá, cravo e canela Serenata fiz pra ela a cada noite de luar” Aqui mungunzá, ou munguzá, conhecido no Sudeste como canjica, leva milho branco, coco, leite de coco, açúcar, cravo e canela. E agulha frita se refere à enguia, como é conhecido esse peixe no Nordeste. Uma das parcerias mais duradouras e ricas talvez tenha sido a de João Bosco e Aldir Blanc. Juntos produziram de bolero a samba enredo com muito ritmo e humor, com as letras do Aldir. Tiveram vários sucessos, muitos deles com Elis Regina, como a marcha-rancho O Rancho da Goiabada: “Os bóias-frias quando tomam umas biritas Espantando a tristeza Sonham com bife a cavalo, batata frita E a sobremesa É goiabada cascão, com muito queijo Depois café, cigarro e um beijo de uma mulata chamada Leonor, ou Dagmar”


Sabor

Os doces bárbaros O Tropicalismo, que foi uma espécie de restauração do espírito modernista liderado especialmente por Caetano Veloso e Gilberto Gil, também trouxe o registro da modernidade não apenas pela introdução da incluir guitarras elétricas na música brasileira. Em Alegria Alegria, de 67, Caetano já inovava com uma letra totalmente pop na terra do samba e da Bossa Nova: “Eu tomo uma coca-cola e ela pensa em casamento Uma canção me consola, eu vou...” Na sua fase ultra-romântica, Roberto Carlos, ao descrever amantes apaixonados em Café da Manhã, desloca o cenário para os hotéis, destacando assim o tema do transitório no amor moderno: “Amanhã de manhã Vou pedir o café pra nós dois... O café esfriando na mesa... Já é noite e o dia termina Vou pedir o jantar” No início de sua carreira, o jovem Chico Buarque aparece com uma composição que lembra Noel, pelo

CHICO BUARQUE DÁ A RECEITA DO MAIS

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tema urbano e poético. Com Açúcar, com Afeto é cantada do ponto de vista da mulher aguardando o marido que não chega, que fica “olhando as saias de quem vive pelas praias coloridas pelo sol” e que acaba pelos bares onde encontra novos amigos. “Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto Pra você parar em casa, qual o quê... No caminho da oficina, existe um bar em cada esquina Pra você comemorar, sei lá o quê...” Em diversas músicas suas, Chico usa a comida, e principalmente o feijão, como metáfora do cotidiano. Em Construção, o operário come “feijão com arroz como se fosse um príncipe”, formando, ao longo da letra, um belíssimo mosaico de palavras para mostrar a dura realidade de um operário da construção. Em Cotidiano, é a mulher que todo dia “faz tudo sempre igual... e me beija com a boca de feijão...”. Mas é em Feijoada Completa que Chico Buarque dá uma verdadeira receita de como preparar o mais tradicional prato brasileiro. Além disso, reproduz todo o clima de alegria, de generosidade e de abundância tão típico desses encontros que reúnem comida, bebida, música, futebol e muita alegria, que é a melhor receita para se viver bem.

Feijoada Completa “Mulher, você vai gostar Tô levando uns amigos pra conversar Eles vão com uma fome que nem me contem Eles vão com uma sede de anteontem Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão E vamos botar água no feijão Mulher, não vá se afobar Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar Ponha os pratos no chão, e o chão tá posto E prepare as lingüiças pro tira-gosto Uca 2, açúcar, cumbuca de gelo, limão E vamos botar água no feijão Mulher, você vai fritar Um montão de torresmo pra acompanhar Arroz branco, farofa e a malagueta A laranja-bahia ou da seleta Joga o paio, carne seca, toucinho no caldeirão E vamos botar água no feijão Mulher, depois de salgar Faça um bom refogado, que é pra engrossar Aproveite a gordura da frigideira Pra melhor temperar a couve mineira Diz que tá dura, pendura a fatura no nosso irmão E vamos botar água no feijão”

TRADICIONAL PRATO BRASILEIRO 1

ALEX BELLOS, O BRASIL EM CAMPO, JORGE ZAHAR EDITORES ,

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SÃO INÚMEROS OS NOMES POPULARES DA CACHAÇA, COMO UCA E PARATI.


Sabor


Feijoada Completa 1 KG DE FEIJÃO PRETO

ACOMPANHAMENTOS PARA A FEIJOADA: ALÉM DA FARINHA DE MANDIOCA, DA LARANJA FATIADA E DAS PIMENTAS, TAMBÉM SÃO INDISPENSÁVEIS O ARROZ BRANCO E A COUVE À MINEIRA.

250 G DE CARNE SECA ARROZ BRANCO 250 G DE CARNE DE PORCO 2 XÍCARAS DE ARROZ BRANCO 250 G DE COSTELINHA DE PORCO SALGADA 1 CEBOLA PICADA 1 PÉ, 1 RABO,1 ORELHA DE PORCO SALGADOS 2 COLHERES DE AZEITE 250 G DE MÚSCULO DE BOI SAL 1 PAIO 350 G DE LINGÜIÇA FRESCA 2 CEBOLAS PICADAS

Modo de fazer: Ferva 4 xícaras de água para o cozimento do arroz. Numa panela ponha o azeite e deixe a cebola dourar. Em seguida ponha o arroz lavado e seco e mexa por alguns minutos. Acrescente a água fervendo, o sal, abaixe o fogo e tampe. Após uns 10 minutos, confira o cozimento.

3 DENTES DE ALHO ESPREMIDOS COUVE À MINEIRA 2 COLHERES DE ÓLEO 4 PÉS DE COUVE-MANTEIGA 1 FOLHA DE LOURO AZEITE Modo de fazer: Deixe o feijão de molho em água abundante de véspera. Também na véspera, ponha toda a carne salgada e o charque em uma vasilha grande, e ponha de molho, trocando a água umas 3 vezes. Coloque o feijão para cozinhar com bastante água e a folha de louro. Depois de uns 40 minutos em fogo baixo, acrescente a carne seca em pedaços, as carnes salgadas, o paio e depois as carnes frescas e a lingüiça. Adicione água quente para que as carnes fiquem sempre cobertas pelo caldo. Numa frigideira, frite a cebola e o alho e despeje sobre a panela de feijão. Corrija os temperos, e continue cozinhando lentamente.

3 DENTES DE ALHO SAL Modo de fazer: Enrole as folhas de couve e corte em tiras bem finas. Numa panela ponha o azeite, o alho picado e em seguida adicione a couve. Cozinhe rapidamente para manter a cor e o crocante. Acrescente o sal ao final.

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Sabor


Vatapá

Abará

1 KG DE PEIXE EM POSTAS

300 G DE FEIJÃO FRADINHO

2 CEBOLAS EM RODELAS FINAS

1 CEBOLA

1 LIMÃO

1 COLHER DE GENGIBRE RASPADO

4 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES

150 G DE CAMARÕES SECOS OU CAMARÕES MIUDINHOS COZIDOS COM SAL

100 G DE CAMARÃO SECO OU CAMARÃO MIUDINHO COZIDO COM SAL

2 COLHERES DE AZEITE DE DENDÊ

½ XÍCARA DE CASTANHA DE CAJU

200 G DE CAMARÕES FRESCOS REFOGADOS

½ XÍCARA DE AMENDOIM TORRADO E SEM PELE

FOLHAS DE BANANEIRA ESCALDADAS E CORTADAS (20 X 12 CM)

2 FATIAS DE MIOLO DE PÃO 2 XÍCARAS DE LEITE DE COCO 2 XÍCARAS DE ÁGUA SAL

Modo de fazer: Deixe o feijão de molho na véspera. Retire toda a casca e bata no processador junto com o camarão, o gengibre e a cebola. Bata até formar uma massa homogênea. Acrescente o dendê e misture bem. Em cada pedaço da folha de bananeira escaldada, coloque duas colheres da massa e uns dois camarões refogados. Faça um pacotinho e cozinhe em banho-maria por uns 30 minutos. Sirva na própria folha de bananeira. Como alternativa à folha, pode-se usar papel-manteiga e depois papel-alumínio.

2 COLHERES DE AZEITE DE DENDÊ FOLHAS DE COENTRO PICADAS

Agulha Frita Modo de fazer: Tempere o peixe com sal e limão, arranje as postas numa panela com o tomate, cebola e coentro. Adicione 1 colher de dendê e cozinhe em fogo baixo. Quando o peixe estiver macio, retire-o da panela, descarte as espinhas e reserve-o. Ponha o molho em que o peixe foi cozido, mais o camarão, a castanha e o amendoim, e triture no liquidificador. Numa travessa coloque o miolo de pão e junte o leite de coco. Misture bem, acrescente a água e os temperos moídos. Leve tudo a uma panela com azeite de dendê e deixe cozinhar por uns 10 minutos, mexendo sempre, até conseguir um creme. Acrescente o peixe e sirva em seguida.

4 PEIXES-AGULHA OU 4 PEIXES-REI ÓLEO PARA FRITAR SAL Modo de fazer: Aqueça uma frigideira, ponha óleo e deixe esquentar bem. Salgue os peixes e frite-os inteiros. Sirva imediatamente.

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Sabor

Caruru

Bife a Cavalo

1 KG DE QUIABO 4 BIFES DE CONTRAFILÉ OU FILÉ 1 CEBOLA SAL 1 DENTE DE ALHO 200 G DE CAMARÃO SECO OU CAMARÃO MIUDINHO COZIDO COM SAL

AZEITE 4 OVOS 1 PORÇÃO DE BATATAS FRITAS

200 G DE CAMARÃO FRESCO 200 G DE CASTANHA DE CAJU

Modo de fazer: Numa frigideira, frite os bifes um a um e reserve-os. Enquanto isso, noutra frigideira maior, frite os ovos em azeite e sirva-os sobre os bifes. Acompanha batata frita.

1 COLHER DE AZEITE DE DENDÊ SALSINHA PICADA RASPAS DE GENGIBRE

BATATA FRITA CASEIRA

2 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES

400 G DE BATATA

2 COLHERES DE ÓLEO VEGETAL

SAL ÓLEO PARA FRITAR

Modo de fazer: Bata no liquidificador o camarão seco, as castanhas e reserve. Numa panela, ferva água, ponha sal e adicione os quiabos inteiros. Quando estiverem quase macios, retireos da água e reserve. Noutra panela, faça o refogado com a cebola, o alho, o gengibre, os tomates e junte os camarões frescos. Deixe cozinhar por uns minutos, e acrescente os quiabos inteiros, misturando bem. Em seguida ponha o camarão seco e as castanhas e finalize o cozimento. Corrija os temperos, ponha a salsinha e sirva.

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Modo de fazer: Descasque as batatas, corte-as em palitos e deixe-as em água para não escurecer. Retire-as da água, seque bem com papel-toalha, ponha sal e deixe as batatas por uns minutos cobertas com papel. Enquanto isso, aqueça bem a frigideira, deixe o óleo bem quente para fritar e ponha as batatas em pequenas porções para que fritem completamente. Retire-as da frigideira e coloque em uma travessa com papel absorvente. Sirva em seguida.



Sabor


Cuscuz Baiano

Munguzá

400 G DE TAPIOCA

250 G DE MILHO BRANCO PARA CANJICA

1 COPO DE LEITE

1 LITRO DE LEITE

1 COPO E MEIO (400 ML) DE LEITE DE COCO

1 XÍCARA E MEIA DE AÇÚCAR

3 XÍCARAS DE AÇÚCAR

1 COCO RALADO

3 COPOS DE ÁGUA

1 XÍCARA DE LEITE DE COCO

2 COLHERES DE MANTEIGA DERRETIDA

CANELA EM PAU / CANELA EM PÓ

1 COCO RALADO (300 A 400 G) Modo de fazer: Misture a manteiga com a tapioca e reserve. Numa panela, ferva o leite, o leite de coco, o açúcar e a água. Quando amornar, coloque a mistura sobre a tapioca, lentamente, mexendo sempre. Acrescente o coco ralado, coloque numa travessa e deixe por umas 5 horas na geladeira. Sirva frio.

Modo de fazer: Deixe o milho de molho de véspera. Numa panela, ponha o milho e o leite para cozinhar. Se for preciso, acrescente água quente para não deixar secar. Quando estiver quase macio, adicione o açúcar, o coco, o leite de coco e a canela em pau. Deixe cozinhar por mais algum tempo. Sirva com canela em pó.

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Sabor

Goiabada Cascão

Quindins de Iaiá

2 KG DE GOIABAS VERMELHAS

2 XÍCARAS DE AÇÚCAR / 8 GEMAS

300 ML DE ÁGUA (1 COPO CHEIO)

3 COLHERES DE SOPA DE MANTEIGA

800 G DE AÇÚCAR CRISTAL

1 XÍCARA DE COCO RALADO 1 XÍCARA DE LEITE DE COCO

Modo de fazer: Descasque as goiabas e reserve a metade das cascas. Bata a polpa e as sementes no liquidificador. Se preciso, pode-se pôr um pouquinho de água. Passe tudo pela peneira e descarte as sementes. Numa panela grande, ponha a água, o açúcar e deixe por uns 5 minutos, em fogo médio. Então acrescente a massa de goiaba e as cascas. Abaixe o fogo, e mexa constantemente com uma colher de pau, até o doce engrossar e atingir a consistência necessária.

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Modo de fazer: Bata bem o açúcar e as gemas. Acrescente a manteiga e o restante dos ingredientes, misturando tudo muito bem. Coloque a mistura em fôrma apropriada, e leve ao forno quente em banho-maria por uns 45 minutos. Não esqueça de antes ferver a água para o banho-maria. Desenforme depois de frio.



Bem Viver G U I L H E R M E

R U I VO

S I LVA

RADICAIS LIVRES O que são, como agem e como evitar o seu efeito Você certamente tem o hábito de manter a sua casa limpa, varrendo, tirando o pó, passando o aspirador, e após a limpeza todo o lixo é colocado fora. Imagine se a partir de hoje você passasse a colocar em um canto da sala todo o lixo retirado. Provavelmente em pouco tempo esta peça estaria inabitável. Enquanto a sala era mantida limpa você podia usufruir plenamente este ambiente, mesmo havendo uma poeirinha. Quando o lixo foi sendo acumulado, o seu excesso passou a prejudicar a utilização desse ambiente e a causar transtorno: mau cheiro, rinites, etc. começaram a ocorrer. Esta é uma analogia para que se possa entender a existência e o efeito dos radicais livres. Simplificando, R.L.S. (radicais livres) são as “sujeiras” acumuladas dentro do nosso organismo, são a “sobra” das milhares de reações químicas que ocorrem a todo instante. A produção de R.L.S. não pode ser evitada totalmente, porém pode ser diminuída a um nível normal que não provoque doenças. Em um nível controlado até são benéficos para o organismo, pois colaboram na ação de “limpeza” das agressões do meio ambiente (viroses, infecções, etc.). No entanto, quando atingem níveis exagerados podem nos tornar propensos a doenças de aspecto degenerativo de longo prazo, como problemas cardiovasculares, câncer, estresse e, até mesmo, males como o de Alzheimer e Parkinson. Mas como fazer para minimizar a ação dos radicais livres? A resposta é: antioxidantes. Eles podem ser gerados de duas formas: através das reações naturais do nosso organismo que são capazes de neutralizar os R.L.S. existentes em nosso corpo. Porém, quando ocorre uma carga muito grande de R.L.S., esse sistema de defesa chamado “antioxidante endógeno” fica em desvantagem e a agressão acontece. Isso pode durar anos e as lesões vão acontecendo paulatinamen-

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te. Ou através da natureza, onde existem vários antioxidantes, os “antioxidantes exógenos”. Eles mantêm em bom funcionamento o nosso sistema neutralizador dos radicais livres. Estes são encontrados nos alimentos: Vitamina C, Vitamina E, betacarotenos, flavonoides (gincobiloba, isoflavonas, melatonina), polifenóis e minerais. Ácido lipóico também é um importante antioxidante encontrado no espinafre. Sabe-se que é possível minimizar os efeitos nocivos causados pelos R.L.S. por meio de alimentação correta e de uma vida saudável, mas no corre-corre dos dias atuais nem sempre isto é possível. Em alguns casos, quando bem avaliados pelo especialista por meio de métodos específicos para esta finalidade, torna-se imprescindível uma suplementação alimentar balanceada e individualizada. Quando bem indicada, certamente proporcionará uma resistência melhor ao sistema corporal, e conseqüentemente, uma melhor qualidade de vida. Dicas importantes para manter os R.L.S. em níveis normais que não prejudiquem a sua saúde: Pratique exercícios físicos regularmente. Tenha uma alimentação saudável à base de vegetais, frutas e legumes de boa procedência. Tenha cuidado com a contaminação provocada por metais pesados (chumbo, mercúrio, alumínio, arsênico, cádmio, berílio). Procure prevenir as agressões ambientais, como poluição, fumaça, radiação. Mantenha o estresse em um nível normal, já que é impossível evitá-lo. GUILHERME RUIVO SILVA É ENDOCRINOLOGISTA E MEMBRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLISMO



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Vinhedos do

Chile TEXTOS E FOTOS CRIS BERGER


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FUI DESCOBRIR POR QUE O CHILE É CONSIDERADO UM DOS MELHORES PRODUTORES DE VINHO DO MUNDO

Para quem gosta de viajar e aprecia um bom vinho, o Valle de Colchagua, no Chile, é uma deliciosa opção. Lá você encontra belas paisagens, excelente gastronomia e a típica hospitalidade chilena. Situado entre o Oceano Pacífico, a Cordilheira dos Andes e as províncias de Cachapoal e Curicó, Colchagua está a 124 quilômetros de Santiago, na região do Vale Central. Possui 14 vinhas de elite que oferecem aos visitantes a oportunidade de conhecer este fascinante mundo de sabor, saber e tradição. Brindando a chegada das baixas temperaturas, fui ver de perto por que o Chile é considerado um dos melhores produtores de vinho do mundo. Afinal, não existe melhor estação do ano para saborear um encorpado cálice de cabernet sauvignon. Confira aqui o que descobri sobre o Valle de Colchagua e sobre seus valorizados vinhos. La Ruta del vino Minha passagem pelo Valle de Colchagua foi relâmpago. Cheguei no final da manhã de um dia e já me despedia do local na tarde do dia seguinte. Apesar do pouco tempo, mergulhei profundamente nesse fabuloso mundo. Logo que cheguei fiz meu habitual reconhecimento de terreno: munida da câmera fotográfica, percorri o hotel, a praça e o museu. Em seguida, fui conhecer o grande motivo da viagem: os vinhedos do Chile.


Viagem AS VINÍCOLAS DO VALLE DE COLCHAGUA ABRIRAM-SE PARA O TURISMO NA DÉCADA DE 90 Foi na década de 90 que as vinícolas do Colchagua perceberam o crescente interesse dos turistas pelo universo dos vinhos. Resultado? A criação da “Ruta Del Vino”, primeiro circuito turístico desse segmento no país. Nascia o turismo formal na região, e os visitantes passaram a ser recebidos de braços abertos. A primeira vinha que visitei foi a Mont Grass. São hectares que não acabam mais, todos de um verde intenso. Depois de percorrer os campos conheci a grande bodega onde o vinho é armazenado. É incrível a tecnologia empregada na produção. Realmente, não é à toa que o Chile desponta no cenário da vinicultura mundial, ao lado de Napa Valley, na California, e Bordeaux, na França. No dia seguinte completei meu roteiro nas vinhas Montes e Bisquert. A impressão foi a mesma: profissionalismo, seriedade e competência traduzidos em uma seleção de vinhos de primeira classe. Em Santa Cruz, um refúgio É na pequena e simpática cidade de Santa Cruz que está a melhor opção de hospedagem da região. Falo do “San-

ta Cruz Plaza Hotel”, estrategicamente situado na frente da Plaza de Armas e perto do museu da cidade. Cores quentes nas paredes, traços de arquitetura colonial chilena, sacadas e um restaurante aconchegante. Há também uma piscina para os dias quentes e uma jacuzzi externa climatizada para quando o frio apertar. Uma passagem pela História Na língua indígena da tribo de caçadores Chiquillanes, a palavra “Colchagua” quer dizer Valle de pequeñas lagunas. Pertencentes à nação Mapuche, estes índios habitaram Colchagua até o século XV, quando os incas dominaram o vale e começaram a introduzir a agricultura na região. Foi na época do descobrimento da América e da conquista do Chile pelos espanhóis que os missionários jesuítas plantaram as primeiras vinhas no país, tudo por causa do vinho que deveria ser servido nas missas. No século XVII, o Rei da Espanha presenteava seus mais distintos oficiais com vastas extensões de terra, as chamadas haciendas. As do Colchagua eram as mais desejadas, por estarem em uma terra de clima propício para a agricul-



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UMA CONJUNÇÃO DE FATORES NATURAIS FEZ DO COLCHAGUA UMA MECA NA PRODUÇÃO DE VINHOS tura. Este mesmo solo foi palco da independência chilena, em 1810, quando se formou a República do Chile. Em 1870 chegam ao vale chileno as finas mudas francesas de videiras provenientes da zona de Bordeaux. Os primeiros vinhedos se estabelecem e Colchagua se consagra, definitivamente. Muitas décadas depois, em 1980, novo divisor de águas reafirma o caráter de grande produtor de vinhos à região: as vinícolas se unem e introduzem a tecnologia necessária para que suas garrafas sejam comercializadas nos mais exigentes mercados internacionais, com vinhos de qualidade mundial. Atualmente, o Valle de Colchagua é considerado o número um na elaboração de vinhos finos no Chile, com grande projeção internacional. Abençoado pela natureza Uma conjunção de fatores naturais permitiu essa bênção. Geograficamente bem localizada, Colchagua está no meio de duas altas cadeias montanhosas que se iniciam nos Andes e seguem até o Pacífico, formando um corredor de ventos que faz o papel de regulador das temperaturas no Valle. As quatro estações são bem definidas. A brisa marinha e os ventos da Cordilheira exercem grande influência e

proporcionam uma excelente condição de cultivo. A diferença térmica entre a temperatura do dia e a da noite pode chegar a 220C e é uma forte aliada no amadurecimento lento da uva, pois faz com que as cadeias moleculares se completem, intensificando o sabor e o aroma dos frutos. Um golpe de sorte permitiu a Colchagua ganhar projeção internacional. Em meados do século XIX, um inseto chamado filoxera devastou no mundo inteiro as plantações da uva carmenère. Só os vinhedos do Chile foram poupados, e por isso ele é o único país a produzir a uva carmenère. A combinação da tecnologia de ponta com o ótimo clima da região transforma Colchagua em um paraíso para enólogos, simpatizantes e visitantes. Drops de sabedoria Todo vinho tem a temperatura certa para ser bebido. Os tintos devem estar entre 150C e 180C. Os brancos, entre 10 e 12. Se for necessários resfriá-los, não hesite. O excesso de calor pode afetar o aroma e o frescor. Mas nada de pressa. Para esfriar um vinho é necessário ter paciência. Freezer está fora de questão. Uma hora na geladeira é o adequado. Se você estiver com pouco tempo, vinte minutos em um balde de gelo com água devolvem o frescor ao

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POR UM GOLPE DE SORTE, SÓ OS VINHEDOS DO CHILE PRODUZEM A SABOROSA UVA CARMENÈRE vinho. Já para esquentá-lo a melhor opção é mergulhar a garrafa em água morna por alguns instantes. Comidas e vinhos nasceram feitos um para o outro. Desfrutar de um cálice durante uma refeição é um prazer incomparável. A complementação é divina. Alguns cuidados devem ser tomados para que nem o prato nem o tipo de vinho tenham seus sabores comprometidos. A escolha correta salienta o sabor. Um pescado pede a companhia de um vinho mais suave, enquanto uma carne com molho branco exige um tipo mais robusto. Existe aquela regra que quase sempre dá certo: brancos com pescados e tintos com carnes. Mas toda regra pode, e deve, ser quebrada. O salmão, por exemplo, vai muito bem com um Merlot, Malbec ou Pinot Noir. Isso porque ele é um peixe “pesado”. Para os mariscos não há dúvidas: a pedida são os brancos.

DICAS DE CRIS BERGER

Cinco sentidos à flor da pele Entre tantas novas lições, aprendi que um vinho se aprecia com os cinco sentidos. Aroma, paladar, visão, tato e audição. Cada um no seu momento, todos ao mesmo tempo. Diante de um cálice de tinto, agora valorizo o ritual: sentidos aguçados e a celebração da vida. Afinal, a verdade está no vinho.

OPERADORA DE TURISMO

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VINHAS DO VALLE DE COLCHAGUA BISQUERTT, CASA LAPOSTOLLE, CASA SILVA, CONO SUR, ESTAMPA, JACQUES & FRANCOIS LURTON, LOS VASCOS, LUIS FELIPE EDWARDS, MONTES, MONTGRAS, LAURA HARTWIG, SIEGEL – EL CRUCERO, VIÑEDOS ORGÁNICOS EMILIANA E VIU MANENT.

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O sabor e o saber F E R NA N D O

LO K S C H I N

QUEIJO, A OBRA-PRIMA Sabor e vigor do leite concentrados, o queijo é obra conjunta O guerreiro tupinambá se orgulhava de distinguir os sabores de um português e um francês, mas frente a estas carnes o jesuíta só sentia náuseas. Gosto não se discute. A comida é sórdida ou sublime conforme o espaço e tempo, história e geografia. Para o africano, iguarias eram a tromba e a ‘manga viril’ do elefante; para o romano, o ubre e vagina da porca; para o tupi, a fêmea alada da saúva, não por acaso chamada de tanajura-manteiga. A lesma é especialidade no bistrot e praga no jardim. No Brasil do séc. XIX, a parte nobre da galinha era a sambiqueira, o açúcar era bom para os dentes e a fruta, o pior dos alimentos. A cultura dita o que é comida, o que é tabu, e sua força pode ser maior que a sobrevivência: há relatos de sertanejos famintos evitando assar o jumento e hindus mastigando o esterco mas poupando a vaca. Tanta diversidade, e o leite materno é o alimento universal, o sabor comum da humanidade. Nossa classificação como mamíferos, portadores de glândulas mamárias, faz jus à importância do leite. A Canaã prometida é a ‘terra do leite e do mel’, dois alimentos destinados a recém-nascidos. A sobrevivência do novo ser, e, assim, da espécie, depende do leite materno – na sua ausência, só o de outra mãe, ama de leite gente ou animal. Expressão redundante, todo leite é materno, brota no seio de uma mãe. Emulsão sempre branca, viscosa, cheia de bactérias e muito perecível, diferentes culturas criaram meios de concentrar, transportar, conservar e degustar o leite: iogurte, nata, manteiga, creme e queijo, todos em grande variedade. Até o leite em pó é antigo: o relato de Marco Polo de que os mongóis transformavam o leite de égua num pó para levar em viagem foi recebido com incredulidade (séc. XIV). A linha da vida é frágil nas pontas, e o que é bom para a criança deve ser ao velho; na China era hábito amamentar o homem idoso a fim de fortalecê-lo – a neta levava o avô ao seio e a nora era ama de leite do sogro. Creme tem o sentido original de ‘nata, creme de leite’, e o banho de leite era o segredo da beleza de Cleópatra. Além

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de cosmético, o leite tem aura medicinal. Francisco I da França (séc. XVI) foi curado de depressão por um judeu de Constantinopla com muita coalhada. Para tratar o rei, o homem viajou do Egito a Paris a pé junto a suas cabras. Séculos depois, Pasteur atribuía a beleza e longevidade dos habitantes do Cáucaso ao consumo de iogurte. Ainda há pouco, o tratamento da úlcera era leite, e os antiácidos continuam a imitar sua cor e consistência. Joyce dizia que, “cadáver do leite”, o queijo era a obra prima dos vermes. Para o poeta, o queijo é o salto do leite à imortalidade; para o cínico, sua mumificação; para o gourmet, a quinta-essência. De todos os laticínios, e são tantos, não há outro com tal diversidade. As cores abrangem todo o espectro, do branco ao preto. Que outro alimento pode ser azul? Consistência tão macia que pede a colher ou tão dura que exija a serra; maturação de horas como o ricota ou de anos como o parmesão; sabor suave como creme ou intenso a exigir treinamento; odor doce como a fruta fresca ou fétido que dificulte a respiração. Se há queijos de um único ubre, outros são mutirão da comunidade inteira. O emmenthal era produzido um ao dia, com o leite de todas as vacas da vizinhança. Alguns queijos pesam 25 g, já o gruyère chega a 100 kg e a rainha Vitória, famosa por gostar e cheirar a queijo, ganhou de casamento um cheddar de 500 kg. Leite transformado Sabor e vigor do leite concentrados, o queijo é obra conjunta do homem, animal e bactérias. Conta a lenda que um nômade ordenhou sua montaria e guardou o leite no alforje, um estômago seco de carneiro. No seu destino, notou que o leite estava coagulado. Drenando o coalho num pano lá estavam o soro – bebível, e o queijo – comível. Muitos queijos ainda são feitos com enzimas do estômago de animais. Os primeiros queijos eram de cabra e ovelha. Jumenta, égua, rena, camelo, búfala, girafa, alpaca, o leite de qualquer fêmea de porte, com exceção da porca, se presta à queijaria. É lei: se o rótulo não especificar, o queijo é de


DOS VERMES do homem, animal e bactérias leite de vaca, o mais comum. Para os gregos o queijo era um presente dos deuses, um segredo ensinado por Apolo. Na Ilíada, o ciclope Polifemo põe o leite coagulado a drenar num cesto de vime. No Velho Testamento, o queijo é a metáfora para a justa queixa de Jó à perseguição de Jeová: “Não me espremeste como o leite e me coalhaste como queijo?”. O queijo combina tanto com o vinho porque ambos nasceram e se criaram juntos em mãos romanas e mosteiros religiosos. Muitos queijos são longevos; a torre Eiffel se ergue na antiga ‘Ile des Vaches’, onde já no séc. XIII se fazia brie. O rochefort nasceu no séc. XI, o livarot no XIII e o cantal, o mais antigo, vem sendo produzido há 2 mil anos. O rei dos queijos Como Brigitte Bardot, os ícones franceses se iniciam por B: boina, bicicleta, baguete, borgonha e brie. De Gaule errou quando disse ser impossível governar um país com 264 tipos de queijos: eram 400. O brie é o “rei dos queijos e o queijo dos reis”, e o símbolo odorífico do país dos perfumes é o rocheford, mas o queijo mais popular é o camembert. Se a lata, a margarina e o café solúvel estão entre as tantas maldições, o camembert foi um benefício da guerra. O terror da Revolução Francesa fez com que monges queijeiros se refugiassem nas aldeias interioranas e, em troca de abrigo, ensinassem a arte aos camponeses. Esconder o queijo nas cavernas de Camembert criou a cobertura de bolor que nos delicia. A inclusão de camembert na ração militar da I Guerra gratinou para sempre o corpo e alma franceses. A palavra queijo, assim como o E. queso e o I. cheese, vem do latim caseus, ‘queijo’. Na origem pré-latina, queijo é aparentado a que, quem, qual e quase pela idéia de ‘alguma coisa’. Assim, na locução à pergunta ‘Que?’ “– Que? Queijo!”, a semelhança de som se deve à raiz indo-européia comum. No francês e italiano os termos originais deram lugar a formaggio e fromage, derivados de ‘forma’, o molde onde o queijo é prensado.

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O sabor e o saber F E R N A N D O

LO K S C H I N

MEDALHÕES DE SANVITTO CORTAR O FILÉ EM LÂMINAS FINAS. COLOCAR SOBRE PLÁSTICO PARA MANUSEIO. BATER, ESTENDER AO MÁXIMO COM OS PULSOS. SALGAR, APARAR AS SOBRAS, RECHEAR COM BRIE. ENVELOPAR, APERTAR MUITO BEM AS JUNÇÕES. DEIXAR 40 MINUTOS NO FREEZER, RETIRAR. FRITAR RAPIDAMENTE EM ÓLEO COM MANTEIGA. COLOCAR EM TRAVESSA, VERTER O MOLHO QUENTE. DEIXAR UM POUCO NO FORNO PREAQUECIDO. SERVIR. MOLHO: DOURAR PEDAÇOS DE CEBOLA E SOBRAS DO FILÉ. ACRESCENTAR COGUMELOS FRESCOS, SALGAR. COLOCAR UM POUCO DE PORTO OU VINHO TINTO. DESPREZAR AS CEBOLAS E CARNE. ESPESSAR COM FARINHA AMANTEIGADA.

O brilho amarelo, o formato arredondado, a superfície com crateras e a atratividade fizeram da lua um queijo. O camundongo suspirando pela Lua vive em diversas culturas, e Neil Armstrong celebrou sua caminhada lunar com queijo. Chesterton lamentava que o queijo, diferente da lua, fosse esquecido pelos poetas. Nem todos, Fernando Pessoa inicia um poema com “os ingleses chamam a Lua de queijo verde”, Adélia Prato termina outro com “não quero faca nem queijo, quero a fome” e Fargue, um surrealista..., diz que o camembert cheira como os “pieds de Dieu”... No seu livro Our Debt to Pleasure, Lanchester compara a maturação do queijo com a do homem: “Ambos os processos envolvem o reconhecimento e incorporação do fato que a vida é uma doença incurável, uma lenta variante de morte”. Invenções brasileiras O Brasil, país onde toda cultura se mistura, criou um hábito único; o queijo, não depois, mas junto à sobremesa. A refeição do Brasil Imperial terminava com queijadinha, queijo com banana ou, como hoje, queijo com goiabada, tão acasalados que chamamos ‘Romeu e Julieta’. Esta tradição mistura o amor português pelo açúcar com o bon ton francês. Mais que reunir, o Brasil fundiu queijo e pão. Após lavar e ferver a mandioca para farinha, o escravo fazia da rapa das gamelas pequenas bolas que punha a assar. Com o surgimento das leitarias mineiras, sobras de queijo foram misturadas às bolas, nascendo o Pão de Queijo. O queijo é bem-vindo antes, durante, depois e entre as refeições. Na sua ausência, a pizza não sobrevive, a massa entristece, o pão enviúva. Na sua presença o vinho ganha corpo e aroma, e a carne, um traje de gala. Era um preceito da Escola de Salerno, a mais importante da Antigüidade: “Não Argo, mas largo; não Matusalém, mas Madalena; não Pedro, mas Lázaro: assim é o bom queijo”. Para a Escola de hoje, o bom queijo é o que não é bom, o que não tem gordura. Mas conciliemos a confiança na medicina com a confiança na vaca – e, historicamente, a vaca nunca fez mal a ninguém. E nós com a faca, o queijo e o desejo. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br



Casa REUNIR UMA TURMA DE AMIGOS AO REDOR DA LAREIRA É TAREFA FÁCIL. NUMA DESSAS OCASIÕES, EXPERIMENTE PERGUNTAR A ELES QUAIS SENSAÇÕES FICAM MAIS AGUÇADAS DIANTE DO FOGO FLAMEJANTE. AS RESPOSTAS SERÃO AS MAIS VARIADAS. PARA UNS, O FOGO É SINÔNIMO ABSOLUTO DE CONFORTO. SUAS CHAMAS ELEVAM A TEMPERATURA DO CORPO E, PRINCIPALMENTE, DA ALMA. AS NUANCES DE SOMBRA E DE LUZ COLOCAM OBJETOS E PESSOAS SOB UMA NOVA PERSPECTIVA. PARA OUTROS, O FOGO PODE SER UM ÓTIMO COMPANHEIRO. ESTES GARANTEM QUE LER UM LIVRO AO PÉ DA LAREIRA COM O ESTALAR DA LENHA AO FUNDO É O SUFICIENTE PARA PREENCHER O VAZIO E O SILÊNCIO. AMIGOS SEUS AINDA DIRÃO QUE O SIMPLES ATO DE FAZER FOGO NOS COLOCA EM CONTATO COM OS INSTINTOS MAIS PRIMITIVOS. SOBREVIVÊNCIA E SUPERIORIDADE DA RAÇA HUMANA CERTAMENTE SERIAM DOIS DELES. SEJA QUAL FOR A SUA OPINIÃO, NOSSA DICA É QUE VOCÊ FAÇA UM BOM ESTOQUE DE LENHA PARA MANTER SUA LAREIRA SEMPRE ACESA NOS MOMENTOS EM QUE OS TERMÔMETROS MARCAREM POUCOS GRAUS. E PARA SERVIR DE INSPIRAÇÃO, ESCOLHEMOS TRÊS LINDAS OPÇÕES DE PROJETOS, DIFERENTES ENTRE SI, MAS COM UM OBJETIVO EM COMUM: FAZER DO INVERNO A ESTAÇÃO MAIS CHARMOSA DO ANO.

Em

volta do fogo 60

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POR I R E N E M A R C O N D E S FOTOS L E T Í C I A R E M I Ã O


Casa


O CONJUNTO DE OBRAS ASSINADAS POR VOLPI GANHA DESTAQUE NO PROJETO DESTA LAREIRA

clássico Obras de arte ditam as regras As cores da sala de estar deste apartamento de Porto Alegre estão a serviço das obras de arte colecionadas pelos moradores. Exatamente por isso, a cartela de cores eleita pelo arquiteto MOACYR KRUCHIN passeia pelos tons claros e suaves. “Sempre tivemos a certeza de que era preciso deixar os quadros, as esculturas e os móveis clássicos em destaque, e para isso a base da sala deveria ser discreta”, revela Kruchin. No piso, placas de mármore italiano Botticino emprestam a nobreza da pedra e a tonalidade neutra desejada. A lareira recobre-se com o mesmo material, e suas formas limpas e racionais destacam-se com a composição do mármore italiano Rosso Verone. O cuidadoso projeto atinge o objetivo desejado pelos proprietários: destacar o conjunto de obras assinadas pelo pintor italiano Alfredo Volpi (1896-1988). Na frente da lareira, modernos pufes revestidos com camur-

ça preta quebram a rigidez dos móveis clássicos de madeira maciça e das esculturas de mármore. No centro da sala de estar, a mesa de vidro curvo posiciona-se com uma discreta elegância, e sobre ela um vaso assinado pela vidreira Jacqueline Terpins revela que obras de arte contemporâneas convivem em harmonia com exemplares clássicos. Outro bom exemplo é a cômoda transformada em bar, trazida do respeitado antiquário paulista Passado Composto, que convive lado a lado com a moderna tela do cearense Aldemir Martins. “Todas estas informações pedem o mínimo uso de acessórios ao redor da lareira. Por isso, optei pelo discreto conjunto de alumínio, com formas limpas. Não coloquei nenhuma proteção na lareira, pois o piso frio dispensa este tipo de peça. O charme deste projeto está, sem dúvida, no seu minimalismo”, conclui Kruchin.

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Casa PEDRAS DE ROÇA E VIGAS DE MADEIRA RESGATAM O ANTIGO CENÁRIO DA SERRA

rústico Arquitetura viaja no tempo Há quatro anos, quando ELISABETE BROCHMANN decidiu tirar seu projeto do papel, ela tinha uma certeza: todo o complexo do hotel-fazenda La Hacienda, em Gramado, seria erguido com materiais de demolição garimpados em antigas propriedades da serra gaúcha. “Construímos seis chalés, a minha residência e o restaurante com madeiras, tijolos e pedras de roça adquiridos de casas que seriam demolidas. Essa foi uma maneira muito especial de perpetuar os traços da arquitetura dos imigrantes italianos”, conta Elisabete. As lareiras, em especial, assumem um papel de destaque nos principais ambientes do hotel fazenda. “O inverno em Gramado é sempre rigoroso, e quem visita o La Hacienda espera encontrar aconchegantes lareiras sempre acesas”, conta a proprietária. No interior de cada uma, tijolos refratários revelam-se a matéria-prima ideal. No acabamento, pedras de roça emolduradas por vigas de madeira maciça reproduzem o cenário das residências centenárias da serra. “A magia de se

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utilizar material de demolição é que ele não permite a padronização dos projetos. Cada lareira exibe um formato diferente, que a torna única”, diz. Todos os finais de semana a proprietária sobe de Porto Alegre para Gramado, e nas temporadas frias a casa se aquece com o intenso calor da lareira da sala. Um enorme cesto de nó de pinho acomoda-se ao lado da estrutura de pedra, e luvas grossas permitem que Elisabete alimente o fogo com a ajuda dos acessórios de ferro. “Sempre venho acompanhada de amigos e familiares, e nossas reuniões começam e terminam ao redor da lareira”, conta. Na tarefa especial de construir o La Hacienda, ela contou com a colaboração de Dirceu Sperotto, idealizador da construção, do arquiteto Giancarlo Libardi e do designer Mario Quintana. Este time de profissionais provou o que Elisabete já imaginava: materiais rústicos e projetos arquitetônicos do começo do século podem exibir uma simplicidade encantadora que vale ser reproduzida.



Casa


ARQUITETURA EXPLORA A BELEZA ÁRIDA DE MATERIAIS APARENTEMENTE SIMPLES

arrojado Fogo de chão repaginado Entre um rabisco e outro traçado na prancheta dos arquitetos ILSE LANG E TRAJANO SILVA, ficou claro que a nova residência da família teria uma lareira meticulosamente projetada para proporcionar o máximo de conforto. Sendo assim, a peça principal da sala foi construída com paredes laterais bem estreitas, de tijolo refratário, apenas para enquadrar o fogo. “A lareira rasa, sem muitos limites, reflete o calor com muito mais intensidade”, explica Ilse. As medidas, no entanto, são calculadas com precisão para que não haja risco de a fumaça voltar. Construir a lareira numa parede interna da casa era outra determinação dos arquitetos, sempre atentos à melhor maneira de aquecer os ambientes. “As paredes que apresentam face para a rua perdem temperatura. Se este for o caso, minha sugestão é que se faça um isolamento térmico com lã de vidro ou rocha”, comenta a arquiteta de Porto Alegre. Caixas de ferro com rodízios armazenam as lenhas e os nós de pinho. Além da praticidade, o ca-

lor que atravessa o metal garante lenhas secas o inverno inteiro. No projeto final da casa definiu-se que o balcão da lareira seria baixo, para integrar os ambientes de estar e de jantar. Com isso, a lareira acabou ficando no nível do chão. Para surpresa do casal de arquitetos, o projeto parecia inspirado no tradicional Fogo de Chão, típico dos gaúchos campeiros. “Tiramos proveito desta idéia e avançamos com fileiras de tijolos refratários no piso, em vez de colocarmos logo as tábuas de madeira”, conta Ilse. A partir daí, outros elementos sutis completaram a decoração, inspirada nas tradições gaúchas. Os acessórios da lareira exibem peças de ferro com cabos de rebenque, e o tapete de pele de cabra protege o piso de madeira das brasas. O toque final que imprime uma personalidade única ao projeto é o duto de aço galvanizado, que conduz a fumaça. “Desejávamos tirar partido da beleza árida dos materiais aparentemente simples, como tijolos, concreto e metal”, conclui Ilse.

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Gula

Que delícia de

sopa Uma tigela redondinha esquentando as mãos. Den-

mos ingredientes mais nobres ou arriscamos combi-

tro dela, um caldo ou creminho que aquece o corpo

nações mais ousadas, ela pode se tornar um prato

por dentro. Melhor: aquece até a alma. Incrível como a

extremamente requintado. Em contrapartida, receitas

sopa é mais do que um alimento. É quase um carinho.

tradicionais, como a canja, a sopa de capeletti e o

Poucas iguarias nos parecem tão apetitosas nas noi-

creme de cebola, serão sempre básicas e infalíveis.

tes de frio do Rio Grande do Sul. E que outro alimento

Nas páginas a seguir, selecionamos algumas sopas

consegue conciliar tanta simplicidade e tanto apelo

deliciosas e diferentes, perfeitas pra você saborear

gastronômico? A sopa é o legítimo curinga do cardá-

diante da lareira ou da tela da TV, curtindo, simples-

pio, seja em casa ou no restaurante. Quando utiliza-

mente, o aconchego do seu lar.

POR

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M I L E N E

L E A L

FOTOS

L E T Í C I A

R E M I Ã O



Gula


Creme de Milho da Barbarella Bakery

Sopa de Aipim com Ricota e Speck

1 LATA DE MILHO VERDE

500 G DE AIPIM ; PIMENTA-DO-REINO; SAL; 1 LITRO

1 COPO (250 ML) DE LEITE INTEGRAL

DE CALDO DE GALINHA; 200 G DE CEBOLAS PICA-

1 COLHER (SOPA) DE FARINHA DE TRIGO

DAS; 2 DENTES DE ALHO; 300 G DE TOMATES VER-

½ COPO DE LEITE INTEGRAL

MELHOS; 300 G DE RICOTA DEFUMADA; 16 FOLHAS

1 COLHER (SOPA) DE MANTEIGA SEM SAL

DE MANJERICÃO VERDE; 2 COLHERES (SOPA) DE AJI-

1 COLHER (CHÁ) DE SAL

NO-MOTO; 200 G DE SPECK OU PRESUNTO TIPO

½ COLHER (CHÁ) DE AÇÚCAR

PARMA; AZEITE DE OLIVA EXTRAVIRGEM; 100 G DE

PARA A DECORAÇÃO:

MANTEIGA; 100 G DE CREME DE LEITE FRESCO

CREME DE LEITE LONGA VIDA

Modo de fazer: Numa panela de fundo grosso, derreta a manteiga e refogue as cebolas até que estas estejam macias. Junte os dentes de alho esmagado e refogue até que os aromas se desprendam. Corte os tomates em pedaços e passe no liquidificador até ficar homogêneo. Passe tudo pela peneira, reserve. Junte o aipim cortado em pedaços, as folhas de manjerona, a pimenta-do-reino, a polpa dos tomates peneirados e o sal. Refogue por uns 3 minutos, junte o fundo de galinha. Cozinhe em fogo brando por uns 20 minutos ou até que os aipins estejam macios. Faça as bolinhas de ricota: rale as ricotas no ralo fino, tempere com o azeite de oliva, as pimentas-do-reino e o ajino-moto. Com ajuda das mãos faça bolinhas do tamanho de ovos de codorna, reserve. Rasgue as fatias de speck em tiras não muito grandes, reserve. Passe a sopa de aipim no liquidificador até ficar bem homogênea, volte a sopa creme à panela e adicione as tiras de speck e deixe levantar fervura. Prove os temperos e ajuste, se julgar necessário. Monte os pratos em tigelas previamente aquecidas, coloque quatro folhas de manjericão, seis bolinhas de ricota e despeje a sopa creme bem quente por cima. Finalize com uma colher (sobremesa) de creme de leite fresco no centro da cumbuca. Sirva acompanhada de pão. Rendimento: quatro porções. Receita: Jorge Nascimento

CEBOLINHA VERDE PICADA Modo de fazer: Drene o milho da lata. Liquidifique 2/3 do milho com 1 copo de leite integral. Bata bem. Depois, coloque esta mistura numa panela pequena até levantar fervura. Em outra panela pequena, frite rapidamente o restante do milho verde (1/3 da lata) com a manteiga. Coe a primeira mistura para esta panela. Num copo, junte a farinha, o meio copo de leite, o sal e o açúcar e homogeneíze bem. Adicione à mistura e mexa até ficar consistente. Escalde um prato e coloque o creme. Decore com creme de leite e cebolinha verde picada. Sirva com um bom pão francês da Barbarella e uma porção de manteiga com sal. Bon appétit !!! Rendimento: uma porção. Receita: Barbarella Bakery

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Gula Sopa do Camponês 1 ALHO-PORÓ CORTADO EM RODELAS

Sopa de Agrião da Ana Paula

1 LITRO DE CALDO DE GALINHA

4 MOLHOS DE AGRIÃO

50 G DE MANTEIGA

2 TABLETES DE CALDO DE GALINHA

500 DE ABÓBORA-MENINA CORTADA EM PEDAÇOS REGULARES

1 CEBOLA 1 DENTE DE ALHO

10 ML DE AZEITE DE OLIVA EXTRAVIRGEM 1 COLHER (SOPA) DE MANTEIGA 400 G DE LINGÜIÇA SERRANA MISTA CORTADA EM RODELAS FINAS

PIMENTA A GOSTO

50 ML DE VINHO JEREZ 100 G DE TOMATES PASSADOS NO LIQUIDIFICADOR SAL E PIMENTA-DO-REINO Modo de fazer: Numa panela de fundo grosso, derreta a manteiga e refogue o alho-poró. Quando o alho-poró estiver começando a dourar, acrescente o tomate passado no liquidificador, junte a abóbora, o caldo de galinha, sal e a pimenta-do-reino. Deixe cozinhar em fogo brando por uns 30 minutos ou até que a abóbora esteja cozida e tenra. Passe tudo pelo liquidificador até obter uma mistura homogênea. Volte à panela e acrescente a lingüiça e o vinho Jerez. Deixe cozinhar em fogo brando por uns 10 minutos. Prove os temperos. Quando for servir coloque no fundo do prato ou sopeira um fio de azeite de oliva extravirgem. Rendimento: quatro porções. Receita: Jorge Nascimento

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Modo de fazer: Lave bem as folhas do agrião. Numa panela coloque a manteiga para derreter, refogue a cebola e o alho; acrescente as folhas do agrião. Numa caneca ferva 1 litro de água e dilua os tabletes de caldo de galinha. Coloque no liquidificador o agrião refogado e bata bem para ficar um creme. Acrescente aos poucos o caldo de galinha diluído, para dar consistência. Tempere a gosto com pimenta. Rendimento: seis porções. Receita: Ana Paula Amodeo Elbling



Gula


Sopa de Cenoura e Gengibre da Bella

Sopa de Pimentão, Maçãs e Lagosta

1 KG DE CENOURA

1 LITRO DE FUNDO DE GALINHA

1 GENGIBRE PEQUENO

500 G DE PIMENTÃO LARANJA OU VERMELHO

1/3 DE XÍCARA (CHÁ) DE CREME DE LEITE FRESCO

2 TALOS DE ALHO-PORÓ CORTADOS EM RODELAS

CIBOULLETTES PARA DECORAÇÃO

4 MAÇÃS VERDES

4 XÍCARAS E ½ (CHÁ) DE ÁGUA

400 G DE CAUDA DE LAGOSTA OU CAMARÃO

SAL E PIMENTA-DO-REINO A GOSTO

200 G DE MANTEIGA

Modo de fazer: Descasque as cenouras e corte em cubos pequenos. Coloque-as na panela com a água e 1 colher e ½ (chá) de sal. Leve ao fogo. Quando levantar fervura, abaixe o fogo, tampe a panela e cozinhe por mais de 35 minutos (ou até as cenouras ficarem macias). Descasque o gengibre e rale no ralador com furos grandes. Coloque o gengibre num papel absorvente (papel-toalha) e esprema numa tigela para retirar o suco (deverá render aproximadamente 1 colher e ½ de sopa). Reserve. Leve a cenoura cozida juntamente com o líquido do cozimento ao processador e bata até ficar cremoso. Junte o líquido do gengibre e o creme de leite. Bata até misturar. Volte a sopa à panela e tempere com sal e pimenta a gosto. Se estiver muito grossa, dilua com algumas colheres de água. Aqueça até encorpar (não ferva). Retire do fogo, deixe esfriar e leve à geladeira. Ao servir, distribua a sopa em pratos fundos e decore com as ciboullettes. Rendimento: 4 porções. Receita: Izabella Boaz

100 G DE CREME DE LEITE FRESCO PIMENTA-DO-REINO E SAL 1 COLHER (SOPA) DE TOMILHO FRESCO 50 ML DE KIRSH (AGUARDENTE DE CEREJAS) Modo de fazer: Leve e seque bem as caudas de lagosta. Tempere-as com o sal, pimenta-do-reino, tomilho e o kirsh. Deixe tomar gosto por uns 20 minutos. Numa panela de fundo grosso, derreta a metade da manteiga e refogue os pimentões e o alho-poró. Refogue até que os aromas se desprendam, junte as maçãs, a pimenta-do-reino e o sal. Refogue por mais uns 3 minutos. Complete com o fundo de galinha e deixe cozinhar em fogo brando por uns 20 minutos. Aqueça uma frigideira e derreta a manteiga restante. Doure as caudas de lagosta, reserve. Passe a sopa creme pelo liquidificador até ficar homogênea, volte para a panela e deixe levantar fervura. Junte as caudas de lagosta e prove os temperos. Ajuste, se julgar necessário. Em pratos de sopa previamente aquecidos, distribua as caudas de lagostas e complete com a sopa creme. Sirva acompanhada de pão pitta quente. Rendimento: quatro porções. Receita: Jorge Nascimento

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Bom conselho P O R M A L U C O E L H O

DOCE ACONCHEGO Já disse Rubem Alves, em “Tempo e Presença”, que a sopa é um sacramento de intimidade que deve ser tomado num gesto de “colher” com o côncavo da colher. Sopa é um alimento que nos transporta a um mundo de aconchego, de nossa infância e de nossos carinhos maternos. Os primeiros alimentos que recebemos como bebês são as sopas em forma de cremes de verduras e papinhas. Quem já não recebeu um prato de sopa quentinho e o beijo carinhoso da mamãe? Mesmo variando de família em família na forma e nos ingredientes, a lembrança, o aconchego, a sensação de calor nos acompanha pela vida. As sopas são também os cartões de visita de muitos países: o minestrone dos italianos, o won ton dos chineses, o caldo verde dos portugueses, além da brasileiríssima canja de galinha ou do mocotó. Até mesmo na arte o prato é celebrado, figurando na tela de grandes pintores. É bom lembrar que a famosa “sopa de pedras” já correu mundo em muitas versões. Segundo alguns autores, é a única comida que se pode fazer com pedras. Magos, bruxas e feiticeiros não abrem mão de enormes caldeirões para elaborar seus caldos mágicos. A verdade é que todos nós temos na sopa um grande prazer que vai além do gastronômico, pois quando a sopa quente e cheirosa chega até nós, não só o estômago, mas o cérebro nos leva à alegria e à sensação de conforto. Seja na forma de caldos, consomês ou veloutés, escolha os ingredientes e invente sua própria sopa. E se faltarem alguns desses ingredientes, uma sopa de pacote feita com o mesmo carinho também poderá aquecer você neste inverno. BOM APETITE!

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Lugar ENTRE O RIO GRANDE DO SUL E SANTA CATARINA


ESTÁ UMA DAS PAISAGENS MAIS PECULIARES DO BRASIL T E XTOS E F OTOS DA NI E L MA R TIN S

Aparados pela


Lugar IMENSOS PAREDÕES DE ATÉ MIL METROS DE ALTURA DESPENCAM ABRUPTAMENTE ATÉ A SERRA DO MAR


A primeira impressão que se tem é de que alguém interferiu na criação da natureza e aparou a fio de faca as imensas paredes dos cânions. O nome Aparados explica em palavras essa sensação comum aos visitantes da região, quando avistam os imensos planaltos que despencam até a Serra do Mar. No entanto, não foi a mão do homem que moldou essa geografia. A história conta que a formação dos cânions começou há cerca de 190 milhões de anos. O território que futuramente seria nominado Rio Grande do Sul estava sofrendo profundas modificações. Derrames de lavas basálticas deram origem ao Planalto Meridional do Brasil, com extensão de um milhão de quilômetros quadrados. Desse total, 50% estavam em território gaúcho. Com o passar do tempo, outras mudanças ocorreram. O lugar onde atualmente estão os continentes da América e da África começou a rachar, deixando o mar penetrar pelas rachaduras e dando origem, assim, ao Oceano Atlântico. Dessas transformações geológicas surgiram os Aparados da Serra. Mas foi a beleza ímpar resultante desse processo que incentivou o governo a tomar medidas para proteger os ecossistemas da região. A iniciativa se deu por uma grande necessidade de preservação, uma vez que a degradação da cobertura florestal da região, causada pela extração de araucária e outras madeiras nobres, acontecia em ritmo acelerado. Então, em 1959, foi criado o Parque Nacional de Aparados da Serra, com aproximadamente 13 mil hectares. Seguindo o mesmo modelo, em 1992 foi criado o Parque Nacional da Serra Geral, outra imensa área de preservação que guarda outros tantos cânions, entre eles, o Fortaleza e o Malacara. O lugar que divide os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina atrai praticantes de esportes radicais de todo o Brasil. Dos inúmeros cânions que podem ser vistos na


Lugar A REGIÃO GUARDA INÚMEROS CÂNIONS QUE TIVERAM FORMAÇÃO HÁ MILHÕES DE ANOS

região, o Itaimbezinho é de longe o mais famoso. Basta um rápido olhar ao redor e a fama está mais que justificada. Enormes despenhadeiros com caminhos tortuosos e paredes de onde surgem quedas d’água de rara imponência. É só você se aproximar das enormes gargantas e pronto: tudo está em perspectiva e o seu tamanho é reduzido significativamente. Afinal, você está sobre um dos maiores planaltos do Brasil. São quase seis quilômetros de extensão em um abismo formado por pedras e árvores intocadas. Ali, a fauna também é destaque. Você vai ver o gavião-pato, a águia-cinzenta e a gralha azul, assim como uma razoável quantidade de mamíferos. Entre eles, o lobo-guará, o veado campeiro, o graxaim e, se você tiver um pouco de sorte, o leão-baio, mamífero de grande porte, semelhante ao puma norteamericano. Pena que esse cenário pareça um pouco mais


triste quando você lembra o risco iminente de extinção da maioria desses animais, muitas vezes vítimas da caça. A vegetação é igualmente uma das riquezas do lugar. Pesquisadores de todo o país são atraídos para catalogar bromélias e florestas de araucária, árvore que é também conhecida como pinheiro brasileiro. E pasmem. A árvore que nos dá o pinhão e o nó de pinho também está ameaçada de extinção. É por isso que derrubar a araucária hoje é crime. O pinheiro leva em média 50 anos para atingir o tamanho de uma árvore adulta. Áreas de reflorestamento são comumente avistadas por entre os caminhos que levam aos Parques. São iniciativas de empresas moveleiras, que vêm plantando o Pinus elliottis, árvore mais conhecida como pinheiro de Natal. Apesar de se tratar de um Parque Nacional, pouca atenção é dada pelo Ibama ao local. Situação que só é amenizada pelo empenho da Secretaria de Turismo de Cambará do Sul, que

desloca alguns funcionários com intuito de preservar um dos lugares mais peculiares do Brasil. A região do município conhecido nacionalmente como a capital nacional do mel foi no passado habitada por diversas tribos indígenas. A tribo dos Caaguás talvez tenha sido a última a ocupar esta região do planalto nordeste do estado. Mas se por um lado o homem insiste em ignorar a importância de preservação, a natureza dá um jeito de compensar. A gralha azul tem por hábito enterrar pinhões na terra, para armazenar alimento. Seu bico pontiagudo permite que ela os introduza no solo mais facilmente, golpeandoos com o bico até a sua completa introdução na terra. Para completar essa espécie de plantio natural, a ave cobre o local com folhas, galhos e pequenas pedras, camuflando por completo o local onde, futuramente, nascerá mais uma araucária. Mesmo que seja muito mais por instinto de sobrevivência do que de preservação.


Lugar

PASSEIOS DE LAND ROVER, TRILHAS, CASCATAS, CAVALGADAS E MUITA CONTEMPLAÇÃO Misteriosas histórias Conta-se por aqui que as noites de lua são povoadas por certas bruxas que gostam de montar cavalos tubianos, enquanto fazem tranças com sua crina. Elas não são visíveis, mas sua conversação é audível. São murmúrios e uma risada fina, como a das conversas de comadres, contam os moradores. É comum os cavalos aparecerem com as crinas trançadas. Em contraposição à crendice de que isso seria obra de bruxas, as pessoas mais esclarecidas na região procuram explicações científicas: para elas, a responsabilidade é dos morcegos. A versão que predomina, entretanto, é aquela que atribui o fato aos seres sobrenaturais das noites de lua. Os antigos moradores apostam nessa versão, e até indicam

uma receita de tratamento preventivo contra o trançamento de crinas dos cavalos durante os passeios das bruxas: passar alho. “A gente não sabe por quê, mas se passar alho na crina, ela não é mais trançada”, dizem. Outra história envolta em misticismo conta a vida de um jovem muito maldoso que gostava de maltratar os animais. Ele tinha um cavalo, e passava os dias galopando pelos planaltos do lugar. O jovem não tratava o animal como devia, nem ao menos lhe dava de beber. À noite, deixava o pobre animal preso por uma corda curta, impedindo-o de escapar. Sua mãe, vendo o animal ser surrado e maltratado, certa vez esperou o filho dormir e foi cuidar do cavalo. Após alimentá-lo, soltou a corda, permitindo a sua fuga. No outro dia, quando o



Lugar COM A INTEGRAÇÃO DE PESSOAS E NATUREZA, O PARADOR INAUGUROU A IDÉIA DE ECOVILLAGE jovem acordou, não encontrou o animal. Ao descobrir o que sua mãe havia feito, amarrou-a e encilhou-a, montando nela como se ela fosse um cavalo. A mãe rogou uma praga ao filho: mesmo após a sua morte, o filho haveria de gritar de dor. Na mesma noite em que o homem morreu, todos os moradores ouviam gritos vindos dos abismos. Até hoje, mesmo as pessoas mais esclarecidas, que já trabalharam na administração do Parque Nacional dos Aparados da Serra, dizem ter ouvido o “gritador” e seus chamados, que partem do ar em noites muito escuras. De qualquer forma, há na região, mais precisamente nos arredores do cânion Fortaleza, um estranho magnetismo que faz relógios e bússolas funcionarem irregularmente, sem razão aparente ou qualquer explicação científica convincente. Para completar o clima de mistério, não raro histórias de discos voadores aterrissam nas conversas dos moradores da região, que confirmam veementemente a presença de naves extraterrestres cortando o espaço aéreo noturno dos Aparados.

Desde que o Parque Nacional de Aparados da Serra foi reaberto ao público, em 1998, a região vem ganhando novas pousadas e acomodações, capazes de instalar um número cada vez maior de visitantes. Nesse contexto de preservação, sustentabilidade e integração entre pessoas e meio ambiente, surge um lugar que há dois anos vem cativando turistas de todo o Brasil. Inaugurando um novo conceito em hospedagem, o Parador Casa da Montanha dispõe de 12 barracas térmicas feitas de lona, tecido e fibra de vidro que permitem isolar as baixas temperaturas da região. Dentro delas, ao contrário do que se imagina quando se fala em barracas, muito conforto e aconchego. “As barracas são únicas no Brasil”, explica o gerente, Rafael Delgado. “Queríamos que os visitantes se sentissem tão próximos da natureza quanto num acampamento, mas sem precisarem abrir mão do conforto”, completa Rafael. Para favorecer o clima de acampamento, foi construída uma Casa de Banho com chuveiros, espaço para sauna e banheira de hidromassagem.



ECOTURISMO, AVENTURA E GASTRONOMIA: A COMBINAÇÃO IDEAL PARA SEU FIM DE SEMANA


O Parador Casa da Montanha, no entanto, surgiu com a idéia de ser apenas um restaurante. Era uma alternativa aos turistas que se hospedavam no Hotel Casa da Montanha em Gramado, empreendimento do mesmo grupo. As pessoas saíam de Gramado para um passeio de um dia na região de Aparados da Serra e almoçavam no Parador. As barracas vieram um pouco mais tarde, depois de um safári que o propritetário, Luciano Peccin, fez na África. Da viagem veio a inspiração, mas não a engenharia de todo o processo de construção. Para chegar à barraca ideal, foram muitas as tentativas. As primeiras construções não passaram em alguns testes, e foi preciso muito trabalho para alcançar o resultado final. Trabalho que Luciano Peccin fez questão de realizar com as próprias mãos. “Ele não é engenheiro, mas é metido”, brinca o filho, Rafael Peccin. Outra vantagem é que as barracas foram construídas sobre palafitas, o que contribui para diminuir o impacto ambiental. Recentemente, a pousada ganhou três novas barracas. Essas, denominadas suítes, um pouco mais amplas e com luxo e natureza fazendo um maravilhoso dueto. Móveis feitos com madeira de demolição, banheiros bem decorados e lençóis térmicos são alguns dos atra-

tivos dessa charmosa hospedagem. Do deck de madeira, mais precisamente de dentro de uma banheira de hidromassagem, é possível avistar o sol se pondo em meio ao capão de araucárias. Nada melhor que descansar muito, porque o dia no Parador também pode ser muito agitado. Cavalgadas, passeios de Land Rover, trilhas, visitação aos cânions, cachoeiras, pesca e muito contato com a natureza. Outro ponto forte do Parador é a gastronomia. Trutas com pinhão, matambre recheado, costela com laranja e canela. Tudo no melhor estilo campeiro. “Mais do que fazer os hóspedes se sentirem em casa, é preciso cuidar bem deles”, explica Rafael Delgado, gerente do Ecovillage. Uma história curiosa que aconteceu no restaurante do Hotel Casa da Montanha de Gramado ilustra bem a preocupação com a satisfação dos hóspedes. Um rapaz jantava com alguns amigos. No final do jantar, eles foram convidados a escrever suas sugestões sobre algo que gostariam de encontrar no restaurante. Um deles escreveu o nome de um vinho como sugestão para a carta. O outro, curiosamente, deu três sugestões. Ocorre que o proprietário teve certa dificuldade de encontrar as três indicações do rapaz. Consultou a internet, pesquisou em lojas especializadas e até


Lugar A REGIÃO JÁ SERVIU DE CENÁRIO EM DIVERSAS PRODUÇÕES GLOBAIS E CINEMATOGRÁFICAS perguntou a um enólogo. Nada. Ninguém conhecia os vinhos. Intrigado, ligou para o hóspede para contar a dificuldade e perguntar onde poderia encontrar os vinhos sugeridos. Foi então que o rapaz fez uma confissão: naquela noite estava jantando com o chefe, que sugeriu um vinho e logo estendeu o papel de sugestões a ele. Como não entendia nada de vinhos, o rapaz inventou na hora alguns nomes para tentar impressionar o chefe. “Ele nunca poderia imaginar que o próprio dono ia atrás dos vinhos para tentar agradar a seus clientes”, diz Rafael. Do deck do restaurante do Parador, é possível ver a noite caindo e a paisagem ganhando novos contornos. Um graxaim se aproxima lentamente, atraído pelo aroma de mais um delicioso jantar campeiro. O frio não tarda a chegar. Um frio seco, de um raro ar puro. Aos poucos, os olhos vão se desacostumando das lembranças da cidade. O silêncio só não é completo pelo suave ruído do rio Camarinhas, que flui aos pés da encosta onde estão as barracas. Basta respirar para ficar em paz. Até o momento, felizmente, nem sinal do tal “gritador”.

DICAS DE DANIEL MARTINS COMO CHEGAR A PARTIR DE PORTO ALEGRE, SIGA PELA RS-020 EM DIREÇÃO A SÃO FRANCISCO DE PAULA. CHEGANDO EM CAMBARÁ DO SUL, PEGUE A ESTRADA DE TERRA QUE LEVA ATÉ O PARQUE NACIONAL DE APARADOS DA SERRA.

ONDE FICAR O PARADOR CASA DA MONTANHA É IDEAL PARA QUEM QUER FICAR MAIS PRÓXIMO DE TODA ESSA EXUBERÂNCIA. SEJA SE AVENTURANDO POR ENTRE CÂNIONS E CACHOEIRAS, SEJA APROVEITANDO O CONFORTO OFERECIDO. FONE: (54) 286.2544

MELHOR ÉPOCA NO INVERNO A PAISAGEM FICA MAIS NÍTIDA E COM MAIOR VISIBILIDADE. POR OUTRO LADO, NO VERÃO VOCÊ PODE APROVEITAR OS BANHOS DE CACHOEIRA. ESCOLHA A ÉPOCA QUE MAIS LHE AGRADA, MAS NÃO DEIXE DE IR.

O QUE LEVAR TÊNIS ESPECIAL PARA CAMINHADA, BONÉ, ÓCULOS DE SOL, AGASALHO, MÁQUINA FOTOGRÁFICA (NÃO SE ATREVA A IR SEM).



(con)vivências R U Z A

A M O N

O DIREITO AO ASSENTO Em tempos de inclusão, aí está uma causa a ser defendida Dia desses peguei um táxi, o primeiro da fila, porque eu (ainda) não sou daquelas que escolhe o modelo, mas já estou pensando em mudar de perfil. Ao me acomodar no banco, uma haste de ferro atravessou minha coluna. Era a estrutura do assento, porque das espumas já não restavam vestígios. Ao me queixar para o motorista, ele me respondeu: – É brabo, mas a dona do carro é uma viúva, e ela não quer gastar nisso porque acha frescura. – Frescura?! Sei... Mas a corrida é longa! O senhor poderia voltar para o ponto para eu tomar outro carro? – Não dava. A viúva não deixava... Desci ali mesmo, pensando que estava na hora de aquele taxista trocar de viúva, e também sobre como podem ser tão desiguais serviços de mesmo preço. Voltei à mesma reflexão dias depois, estando numa cafeteria da cidade. Sentada (aí sim) num confortável sofá que estava longe de exibir seu esqueleto aos clientes, tive apenas cinco minutos de privacidade. A mesa do lado foi escolhida por dois casais bem espaçosos, e uma das duplas resolveu ocupar o lugar de uma só pessoa, bem grudadinhos em mim, é claro! O amor é lindo, todo mundo sabe, mas o “romeu” estava invadindo meu espaço aéreo. Com as costas a alguns centímetros do meu braço, seu cotovelo ameaçava minha xícara e o seu traseiro amassava minha bolsa. Enquanto eu esperava que o café ficasse bem frio (queria dar a missão por fracassada na sua totalidade), fiquei imaginando o que faria no meu lugar aquela senhora que encontrei num vôo Porto Alegre–São Paulo. Ela tinha uns 60 anos, era magrinha e miúda, e embarcou quase na hora

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Estilo Zaffari

do avião decolar. O assento dela era no meio de dois homens bem reforçados, que já tinham se apoderado dos braços de todas as três poltronas. Ela deu uma olhada na situação e chamou a comissária: – Quero outro lugar. Paguei uma passagem inteira, e não meia. – O vôo está cheio – lamentou a comissária. – A minha poltrona também. Não sento. Se eu tivesse o tamanho deles, de todo o jeito eu não caberia ali – arrasou a senhora. Os homens contraíram o abdômen, recolheram os braços, fecharam as pernas, alongaram a coluna, enfim, emagreceram uns dez quilos no ato. A comissária ironizou dizendo que a companhia não podia exigir que passageiros tivessem um peso determinado. A senhora argumentou que há 20 anos pagava o mesmo valor em dólares pelas passagens, enquanto que os brasileiros engordavam e os aviões encolhiam poltronas e corredores. – Eu tenho o mesmo peso há 40 anos. Não sento – finalizou. A comissária fez uma cara do tipo “morro e não vi tudo” e sumiu para os lados da cabine de comando levando a passageira. Como a senhora não voltou, imaginei que ela tivesse ido de classe executiva. Confesso que passei a considerar a possibilidade de aplicar o mesmo expediente, só que pretendo escolher um trecho mais longo, que compense o mico – aliás, o king kong. Quem sabe São Paulo–Sydney ou Rio–Hong Kong? Como era mesmo o lema dela? “Não sento!” Gostei. Ela tem razão. Vou aderir. RUZA AMON É JORNALISTA



Estilo de vida

Misteriosa


Cabala Minha casa é a de número sete. Antes, eu morava no apartamento 205 (dois mais cinco é sete) e anteriormente no edifício 700. As duas últimas agências de propaganda onde trabalhei ficavam no sétimo andar. E ao somar o dia e o mês do meu aniversário dá... sete. Um cético diria, do alto de sua descrença, que não passa de coincidência. Já um estudioso da Cabala, ao contrário, falaria que há um significado oculto por trás disso. Sete não é um número qualquer. É cabalístico. POR PAU L A TA I T E L B AU M I LU S T R A Ç Õ E S N I K


Estilo de vida

PARA COMPREENDER A CABALA É PRECISO MEDITAÇÃO, ORAÇÃO E CONTEMPLAÇÃO Cabalístico é o que está relacionado com a filosofia que estuda os códigos da Torah, que vem a ser o Pentateuco, o conjunto de cinco livros de Moisés. A Torah é, portanto, o conjunto de livros sagrados (e cercados de segredos) dos sábios judeus. Adriana Finkelstein, professora de Cabala, me explicou que, além do número sete aparecer várias vezes na Bíblia, essa é a quantidade de estruturas de energia invisíveis criadas por Deus e que estão presentes o tempo inteiro em nossas vidas. Parece complicado e complexo? Pois eu vou dizer que não só parece como é. Estudar a Cabala é buscar o autoconhecimento em uma linguagem muito distante daquela que você encontra em livros de auto-ajuda. Ou seja, não é simples, não é direta, não é pra qualquer um. Mergulhar nos códigos da Torah é ir fundo dentro de você mesmo. As respostas estão nas entrelinhas, no mundo paralelo da intuição e do inexplicável. Segundo Madonna, que colocou a Cabala na moda, e na roda, vale a pena. Para Adriana, estudar a Cabala não só valeu como virou razão de viver. O encontro começou há mais de 11 anos, de um jeito meio tímido, na tentativa de entender a própria identidade e as tradições familiares. “A Cabala soava para mim como algo fechado e proibido, mas que de alguma forma estava sempre presente.” Foi


depois de passar 40 dias no hospital por causa de uma doença (tempo que Moisés passou com Deus no Monte Sinai) que Adriana resolveu se dedicar com tudo ao estudo da Cabala. A partir daí, foram cursos em São Paulo, encontros com rabinos e portas da percepção que se abriram. “Eu passei a estudar, comer e respirar Cabala.” O envolvimento foi tanto que ela fundou um centro de estudos sobre o tema. Foi assim que há oito anos, em Porto Alegre, nasceu a Escola de Kabbalah. As aulas normalmente acontecem uma vez por semana, em encontros de uma hora e 50 minutos. Há leitura de textos, debate, música, meditação, dinâmica de grupo e oportunidade para que cada um exponha suas sensações. O professor é apenas um facilitador, um mestre que auxilia seus pupilos a chegarem o mais próximo possível do conhecimento, da luz. Marinah Kiener, professora da escola, me disse que dar aula de Cabala é uma transformação diária: “Tem que querer compartilhar”. Pedi para ver alguns textos que são trabalhados com os alunos e recebi um polígrafo onde, entre outros escritos, se lê: “O mundo de baixo é percebido através de um olhar, os olhos de AIN. Olhos que podem estar limitados no mundo de baixo, ou ascendidos: olho que não vê, mas percebe. O olho que capta o espectro

A CABALA PROPORCIONA UM DOMÍNIO SOBRE A NATUREZA, AS PESSOAS SE TORNAM GRANDES


Estilo de vida

AS RESPOSTAS ESTÃO NAS ENTRELINHAS, NO MUNDO PARALELO DA INTUIÇÃO visível está preso ou consolidado no tempo (ain-tav), limita”. Não entendeu bulhufas? Pois os alunos dizem a mesma coisa antes de ter o insight. Insight... aquele clic que dá, aquela lâmpada que se acende, a revelação. Isso normalmente acontece lá pela quarta aula, e quem já teve o seu falou que é como chegar na terra prometida depois de atravessar o deserto. “A Cabala me revelou a importância do ato de compartilhar, trocar, ficar atenta, percebendo o que o mundo te assopra e, principalmente, a consciência de saber o que faço com as coisas que tenho” – foram palavras de Jussara Weis Fernandes, aluna de Adriana. Com a Cabala, as pessoas passam a ler o oculto, retiram os véus dos olhos, ganham sabedoria e entendimento, começam a ter domínio sobre suas vidas. Madonna tinha razão: o Nirvana é aqui. Depois de tudo isso você ainda pode estar se perguntando: mas afinal, Cabala é uma religião secreta, um vernáculo, um oráculo? Digamos que tem isso, mas tem mais. Se fosse pra resumir numa pequena sentença, seria: a Cabala é a ligação do nosso mundo com o mundo espiritual, por meio do universo simbólico da Torah e de outros três livros do povo judeu: Zah, que significa esplendor; Bahir, que é a revelação, e Yetzirah, que significa formação. Isso não quer dizer, no entanto, que os góis* não podem ser discípulos da linguagem cabalística. Na Escola de Kabbalah, inclusive, o que mais tem são não-judeus. A única questão é que há a necessidade de se adaptar à linguagem judaica. “Faz dez anos que estudo a Cabala, e hoje posso dizer que eu sou judia”, diz a psicóloga Maria Lúcia Barros da Luz. Maria Lúcia utiliza os 72 códigos cabalistas, os 72 nomes

*GÓIS = NÃO-JUDEUS


de Deus, no atendimento a seus pacientes. Aqui, abro um parêntese para uma breve explicação: esses códigos são seqüências formadas a partir de três letras hebraicas que, segundo os cabalistas, têm um enorme poder de superar as leis da natureza humana, tanto que foi com elas que Moisés realizou o milagre do Mar Vermelho. Bem antes de Maria Lúcia, Jung e Freud já transitaram por esse caminho, estudando de que forma essas letras combinadas agem no inconsciente. Isso quer dizer que a Cabala substitui o divã? Tem muita gente dizendo que sim, pois as formas, sons, seqüências e vibrações dos 72 “mantras” parecem ser capazes de irradiar uma força energética imensa. Eles atuam como antenas que captam a energia divina da Criação, purificando, limpando e desbloqueando. Pra completar, ainda trazem amor, consciência e paz. E não é só pelas mãos de um terapeuta que você consegue receber essa bênção. A energia das letras pode ser captada quando passamos a ponta dos dedos em um papel, onde elas estejam impressas ou ao olharmos suas formas com atenção. Tudo isso, no entanto, requer prática e concentração. E, de preferência, aprofundamento. Ao entrarmos fundo na Cabala (coisa que fiquei com vontade de fazer após escrever esta matéria), temos contato também com a Árvore da Vida. Ela é o principal símbolo da filosofia, uma imagem que remete à origem do homem. Nesta árvore estão os dez sefirot, os círculos que correspondem, cada um, a uma dimensão do Universo: origem, sabedoria, inteligência, misericórdia, poder, beleza, vitória, glória, fundamento e soberania. Quer tudo isso para sua vida? Vá já estudar a Cabala.

COM A CABALA VOCÊ PASSA A LER O OCULTO, RETIRA O VÉU DOS OLHOS, GANHA SABEDORIA


Persona


“Como é

grande o meu

por você”

amor

É O PRIMEIRO DIA DO MÊS DE MAIO E EU ESTOU NO ESTACIONAMENTO DO BOURBON IPIRANGA. EU E MILHARES DE PESSOAS. LOGO COMEÇARÁ O CONCERTO COMUNITÁRIO ZAFFARI, EM HOMENAGEM ÀS MÃES. ENTRE AS TANTAS ATRAÇÕES DO PROGRAMA, UMA É NOTADAMENTE A MAIS AGUARDADA: A PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DE HEBE CAMARGO. UM SOFÁ CERCADO DE FLORES A ESPERA. E MAIS A MULTIDÃO DE FÃS COM SUA SINFONIA DE SUSPIROS ANSIOSOS. O CONCERTO COMEÇA E O PROGRAMA AVANÇA COM PERFEIÇÃO. HÁ O CORAL E ORQUESTRA DA PUC SOB A REGÊNCIA DO MAESTRO FREDERICO GERLING JUNIOR. HÁ ÓPERA, DANÇA FLAMENCA E BALLET. HÁ UMA NOTÁVEL EXPECTATIVA NO AR. ATÉ QUE UMA MOVIMENTAÇÃO EXTRA PERTO DO PALCO ANUNCIA QUE A RAINHA TALVEZ TENHA CHEGADO. A SUSPEITA CONFIRMA-SE E OS SÚDITOS CLAMAM POR ELA.

POR

PAU L A

TA I T E L B AU M

FOTOS

A N G E L A

FA R I A S

Estilo Zaffari

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Persona

PERCEBO OLHOS MAREJADOS POR TODOS OS LADOS. HEBE É ASSIM: PURA EMOÇÃO Quando Hebe entra, surgem gritos, aplausos e cartazes de Hebe eu te amo. Juro que nunca fui testemunha de tamanha tietagem. “É um privilégio estar aqui”, ela diz. E completa elogiando o concerto, comparando a orquestra às melhores do mundo. Hebe é articulada, bem-humorada e carismática. É aplaudida a cada frase. Ela desliza soberana sobre o palco com seu vestido curto, justo e brilhante que deixa suas pernas à mostra. E que pernas. Ao se aproximar do público, confusão geral, a platéia não consegue conter seu ímpeto de amor. Hebe distribui autógrafos. Depois caminha até onde estão os músicos e dá um “selinho” no maestro. Delírio geral da nação. Então ela relembra um show de Roberto Carlos e Pavarotti no Beira-Rio anos atrás. O dia em que deu uma volta olímpica no estádio e foi ovacionada pelo público. Hebe tem 76 anos de pura energia e 60 de carreira. Acompanhada pela orquestra, canta “Como é grande o meu amor por você”. E é nesse momento que um senhor que está na platéia chama a atenção. Emocionado, ele canta o refrão enquanto caminha até o palco, os olhos fixos naquela que venera. Como é grande o seu amor por Hebe, eu penso. Os seguranças bloqueiam sua passagem, mas a rainha o deixa subir. Os dois cantam juntos e depois ele volta ao seu lugar. Outro fã afoito vem. “Vou começar a cobrar dez reais de cada um”, fala

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Estilo Zaffari

Hebe. A massa ri. O carisma avança. “E pensar que eu durmo toda noite sozinha. Tem alguém aí disponível?” Um novo candidato se apresenta. Diz que é solteiro, que tem 62 anos. Hebe brinca que não sabe se ele dará conta do recado. Pede uma música, quer ver se o pretendente é bom de dança. Enquanto seu par tenta provar que é um pé-de-valsa, Hebe, rosto colado no dele, aproveita para brincar mais um pouco ao microfone. “Cê tá armado?” “Ele disse que é o celular... Imagina se toca...” “Tá me fazendo declaração de amor...” Quando a música acaba e o fã volta para o seu lugar, ela completa: “Eu gostei um pouquinho do contato... pena que o celular tava desligado”. E assim a festa continua com Hebe fazendo a alegria da platéia. De repente ela muda o tom e diz que fica indignada com artistas que se negam a receber jornalistas, conta que ela mesma não seria nada sem a imprensa. Então chama uma criança para subir ao palco, diz que vai dar mais um selinho no maestro e... lá pelas tantas, eis que surge um gaúcho pilchado com flores nos braços. Hebe leva um susto ao reconhecer o moço. “Gente, é o meu filho... é o meu filho...” A produção preparou uma surpresa e trouxe Marcello, o filho da convidada de honra, para completar a homenagem às mães. Percebo olhos marejados por todos os lados. E chego à conclusão de que Hebe é assim. Pura emoção. Riso e lágrimas numa tarde de domingo.



Persona


“EU NÃO PODERIA FICAR PARADA, PORQUE AÍ ME SENTIRIA UMA VELHA, COISA QUE EU NÃO SINTO” O ASSÉDIO DEPOIS DO CONCERTO FOI GRANDE, MAS CONSEGUI CONVERSAR RAPIDAMENTE COM HEBE. FORAM DUAS PERGUNTAS QUE AGORA DIVIDO COM VOCÊS. QUEM É HEBE CAMARGO? Hebe por Hebe é uma pessoa absolutamente apaixonada pela vida. Não é porque hoje eu tenho coisas boas, muitas coisas, que eu seja assim deslumbrada. Eu sou deslumbrada com a vida, eu me deslumbro com uma árvore cheia de flores, eu me deslumbro com o tamanho da lua, eu me deslumbro com o poderio do sol... sou louca por sol, por luz. Essa é a Hebe, ela é deslumbrada com essas coisas, não com a artista Hebe. A artista sempre se surpreende. Por exemplo, a manifestação que eu recebi aqui, eu nunca acho que é pra mim, eu fico sem ar. E o olhar das pessoas, o amor no olhar de todas as idades... sempre me surpreende. Eu não sou uma pessoa que acha “vou chegar, vou abafar, vou fazer você aplaudir...”. Eu nunca acho que vai acontecer isso, e quando acontece – e quase sempre acontece – eu digo “nossa, gente, é pra mim!”. Eu levei uma

meia hora pra me recompor quando eu saí do palco. Eu queria falar com todo mundo, eu queria beijar todo mundo pra agradecer, porque não é normal a maneira como eu sou recebida aqui no Rio Grande, especialmente em Porto Alegre, não é normal....

TEM ALGO QUE VOCÊ TENHA VONTADE DE FAZER E AINDA NÃO FEZ? Não. Dizem que quando a gente fala que tá realizada tá na hora de parar. Eu acho que eu já realizei muita coisa boa, mas eu não tenho vontade de parar. O trabalho é fundamental na minha vida. E eu tenho muita vitalidade, eu não poderia ficar parada, porque aí eu me sentiria uma velha, coisa que eu não sinto. Eu tenho 76 anos e penso que tenho 40. Eu vivo a vida com a plenitude de uma mulher de 40, sabe? O peso da idade pra mim não existe. Não tenho medo de morrer, tenho pena de morrer, é diferente. Porque tem gente que diz: “Eu morro de medo de morrer”. Eu não tenho medo, mas eu tenho peninha de morrer, porque eu digo: “Puxa, a vida é tão gostosa, por que eu vou morrer?”.

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Assim, ó... L U Í S

A U G U S TO

F I S C H E R

CORTESIA, GENTILEZA, URBANIDADE Respeitar as boas regras de convivência não é tão difícil assim... O mundo anda numa brutalidade que dá medo. De longe, a gente fica sabendo de coisas como atentados terroristas; de perto, toma consciência da triste rotina de assaltos. Certo, há a enorme diferença social, que é realmente uma vergonha, a explicar a violência de nosso tempo; há também, no plano mundial, o imperialismo norte-americano, agora pilotado por um fundamentalista como este Bush, a mostrar que os países periféricos dispõem de pouca margem de manobra quando se trata de interesses do verdadeiro Big Brother. Mas nada disso impede que a gente continue pensando – aliás, talvez mais do que nunca a gente tenha que aplicar os neurônios e a sensibilidade para pensar – não apenas em saídas para a brutalidade, mas em perspectivas para as coisas delicadas da vida intelectual e artística. (Lembrei de uma equivocada tese dos anos 70, que dizia que a gente deveria se ocupar de fazer as mudanças políticas e sociais, para depois pensar nas coisas do espírito e da beleza. Era um equívoco monumental, porque não há boa mudança social sem a companhia das altas aquisições da arte e do pensamento.) Estes dias, tive a graça de entrar em contato com a obra do sociólogo Norbert Elias, que viveu entre 1897 e 1990. Nascido no mundo judeu-alemão, estudou Filosofia, vindo a desenvolver uma tortuosa mas magnífica carreira de professor e pensador. Em 1939 publicou uma obra que se tornaria um clássico: O processo civilizador. São dois volumes, o primeiro tendo o subtítulo "Uma história dos costumes", nome exato porque conta e interpreta a história de coisas cotidianas, como maneiras de se portar à mesa, falar, praticar a higiene corporal, etc. Elias vai relatando e comentando, com auxílio de citações de textos antigos, escritos entre o fim da Idade Média e o começo do mundo burguês moderno. Quanta coisa mudou nesse tempo! Há um primeiro grande momento de alteração quando se impõem as regras da corte sobre as antigas regras do mundo rural. A corte, que é o mundo do palácio dos poderosos, é também o mundo

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da cidade, que está nascendo. Não por acaso, a palavra cortesia, que em português existe desde o século 13, passou a designar o conjunto das regras da corte, daquilo que depois se chamou de boa educação. Um pouco adiante aparece outro conceito associado, o de gentileza, que também significa amabilidade, delicadeza, distinção, correção, cortesia, mas com uma diferença de raiz: gentileza vem de gentil, que vem de gens, palavra latina que em português veio a dar em gente mas que designava o grupo familiar de indivíduos livres, com antepassados comuns entre si. Usava-se a palavra composta gentil-homem como sinônimo de cavalheiro, de homem educado. Os conceitos de cortesia e gentileza se alteram com a mudança histórica ocorrida na fim da Idade Média, época do nascimento dos Estados modernos. É o tempo das grandes navegações, das descobertas de terras e das cidades crescentes. Nestas cidades, cenário para o qual convergem as pessoas e no qual vão surgir a literatura e a arte renascentistas, vai-se valorizar um estilo de vida elegante, distinto da vida rural. Nascem as noções de civilidade, relativas à cidade e ao cidadão, e de urbanidade, a marca do que é urbano conforme as novas regras de convivência. Civilidade vem de "civis", cidadão em latim, e urbanidade nasce de "urbs", a cidade romana. Noções antigas como essas continuam circulando entre nós, naturalmente com alterações de significado. Ninguém mais pensa em senhores feudais ao esperar cortesia, muito menos espera que o sujeito gentil venha necessariamente de uma família aristocrática. Está (ou deveria estar) ao alcance de todo mundo, cá em nossos dias, respeitar as boas regras de convivência – não trapacear nos negócios, respeitar os mais velhos, não botar o som a azucrinar a audição da vizinhança, votar com consciência, ler os bons livros, amar a família e os amigos. Não deveria ser tão difícil assim. LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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