Revista Estilo 53

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Cesta básica NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, CINEMA, LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, COMIDINHAS,

PARA DESCOBRIR O CHILE Passar horas de bem com a vida degustando vinhos, ver o amanhecer na Ilha de Páscoa, a lua-cheia no Deserto do Atacama, fazer um recorrido gastronômico por Santiago ou uma travessia pelo Altiplano Boliviano são ou não são opções sensacionais de viagem? Tudo isso é facilmente planejado pela Exploring Chile, uma agência de viagens cujo grande trunfo é a expertise em destinos como Chile, Bolívia, Peru, Argentina, Ilha de Páscoa e Polinésia. Com um network de luxo e um conhecimento profundo de cada um desses locais, planeja roteiros nada convencionais e sob medida para viajantes exigentes e sofisticados. Os travel designers da Exploring Chile são consultores experientes, capazes de criar soluções para satisfazer todo o tipo de viajante. www .e xploringchile.com w.e .exploringchile.com

IZABELLA BOAZ, VIAJANTE

FOTO: LIANE NEVES

PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!

HORA MUITO FELIZ NO LE JARDIN Uma brisa fresquinha torna mais amenos e agradáveis os finais de tarde da primavera. E com a entrada do horário de verão, o entardecer se prolonga. Para curtir esse momento tão especial do dia, nada melhor do que um aconchegante espaço ao ar livre, rodeado de árvores e vegetação natural, como o Le Jardin do restaurante Chez Philippe, em Porto Alegre/RS. O lugar é realmente delicioso: deck de madeira coberto com tendas, luminárias que proporcionam uma iluminação suave, mesas arrumadas com esmero, velas. Para compor o menu de petiscos, o chef Philippe Remondeau criou especialidades francesas com gostinho de Brasil. O restaurante Chez Philippe e o Le Jardin estão localizados em um belo casarão tombado pelo patrimônio histórico. Sem dúvida, um cenário inspirador, para uma happy hour realmente feliz. Av. Independência, 1.005. Reservas pelos fones: 51 3312.5333 e 3312.5344 ou pelo e-mail:chezphilippe@terra.com.br www .chezphilippe.com.br www.chezphilippe.com.br

MILENE LEAL, JORNALISTA


100 RECEITAS PARA COMER DE JOELHOS Carla Pernambuco é o Merlin das panelas. Uma verdadeira maga. E agora muitos dos segredos dessa chef estão revelados no livro “Dez x 10, 100 receitas para comer de joelhos” joelhos”, da editora Leya. Carla é referência da gastronomia brasileira, especialista em culinária multicultural, inventiva, criativa e antenada. O livro está dividido em 10 capítulos: Soup or Salad, Finger Food, Deli-Food Urbana, Crus, Nova York, Chef em Casa, Mamma Carlota, Étnicos, Ideias Nacionais e Pecados. Cada um deles inclui 10 receitas. O melhor de tudo é que além de cozinhar divinamente, Carla também escreve muito bem. Os textos que abrem os capítulos são deliciosos. Dez x 10 é uma obra para ficar entre a cabeceira da cama, a mesa da sala e o balcão da cozinha de todos os que amam comer bem. À venda nas melhores livrarias do país. www .carlota.com.br www.carlota.com.br www .leya.com www.leya.com

MKL, JORNALISTA

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FOTO: CRIS BERGER

Cesta básica

REVISTAS PARA AFICIONADOS Se você anda entediado ao passar na banca de revistas mais próxima da sua casa, saiba que muita coisa tem mudado nessa área. Além das revistas digitais, a nova tendência mundial do mercado editorial são as revistas “independentes”. Bem menos comerciais e muito mais editoriais, elas primam pela qualidade gráfica e por excelentes editoriais. Muitas delas se aproximam de livros de arte e fotografia. E como se não bastasse, algumas acabam abrindo lojas/bancas próprias ou sendo vendidas apenas em bancas que primam por vender somente esse tipo de publicação e afins. É o caso da MONOCLE, criada pelo ex-Wallpaper Tyler Brulé. Esse é o caso de uma revista com uma cara bem mais comercial. A Monocle é um dos exemplos que abrem bancas/lojas exclusivas nas metrópoles mais descoladas do mundo, como Tokyo, Londres, Los Angeles e Hong Kong. Outro exemplo de banca/loja que prima pelas “independentes” é a MagNation da Austrália/ Nova Zelândia. Boa leitura. E boa viagem. http://nascapas.blogspot.com/

CLAUDIO FRANCO, PUBLICITÁRIO E BLOGUEIRO

MENU DE SENSAÇÕES EM BUENOS AIRES Na rua Bolivar, no bairro de San Telmo, em Buenos Aires, está um surpreendente lugar: La Vineria de Gualterio Bolivar. O espaço reservado para os comensais é simples e pequeno. Alejandro Digilio é o chef e proprietário, que diz: “Ser cozinheiro é viver, pensar, comer, dormir, levantar-se pela cozinha”. Esta filosofia de vida se reflete na proposta da casa: um menu degustação de 16 pratos (o cardápio é fixo, muda apenas duas vezes por ano). Muita comida? Sim, muita. No final você já está jogando a toalha. Nesse desfile de pratos espere encontrar culinária molecular, aquela que modifica a apresentação habitual dos alimentos. Exemplo clássico? As famosas espumas. Alejandro chama sua culinária de contemporânea racional. “Como assim?”, você pergunta. O contemporânea é por ser atual. O racional porque é muito pensada. Uma simples mordida vem atribuída de uma série de sensações, que passam por contrastes de sabores, texturas, temperaturas, composição, consistência. Cada detalhe tem um porquê; a explicação é o jogo de sabores criado pelo chef alquimista. Endereço: Bolivar 865, bairro San T elmo, Telmo, Buenos Aires. T el.: (+54 11) 4361.4709. Tel.:

CRIS BERGER, JORNALISTA


CONFORTO E ELEGÂNCIA NA CAPITAL PAULISTA Hotelaria de luxo com serviços personalizados. Essa é a proposta do Tivoli São Paulo – Mofarrej Mofarrej, projetado para encantar seus hóspedes e oferecer um espaço de conforto, tranquilidade e elegância em meio à efervescência do bairro dos Jardins. O hotel está a apenas uma quadra da Avenida Paulista, na região que abriga as sedes das principais empresas do país, além de incontáveis opções de lazer e uma vida cultural muito ativa. Os 220 apartamentos são amplos, têm decoração contemporânea e materiais nobres. Para satisfazer os mais diversos apetites, o café da manhã é completíssimo e oferece iguarias surpreendentes. Se a ideia é relaxar do agito paulistano, o Elements Spa by Banyan Tree é um perfeito oásis.

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Alameda Santos, 1437/Cerqueira César César,, .tivolihotels.com www.tivolihotels.com Te.: 11 3146.5900, www

FOTOS: DIVULGAÇÃO

MILENE LEAL, JORNALISTA


FOTO: DIVULGAÇÃO

A BELA E PRESTIGIADA LA HACIENDA

VIAJANTE PROFISSIONAL

O equilíbrio perfeito entre o rústico e o sofisticado, o rural e o cosmopolita, o muito simples e o extremamente elaborado. Assim é a La Hacienda, estalagem que ocupa uma belíssima área de 70 hectares a cerca de 14 quilômetros de Gramado/RS. Elisabete Brochmann inaugurou este lugar em 2002, e desde então a La Hacienda só vem se tornando mais encantadora. Em 2010 passou a fazer parte do Condé Nast Johansens Recommended Hotels & SPAs, o mais prestigiado guia de hotelaria do mundo. O alto padrão de serviços e o esmero nos detalhes com certeza contribuíram, e muito, para essa distinção. Um bom exemplo é o programa de personalização das acomodações conforme as preferências do hóspede. Na hora da confirmação da reserva, o cliente indica o que gostaria de encontrar na sua cabana, desde estilo musical predileto até livros, filmes, bebidas, frutas e tipos de travesseiros que deseja. Outro mimo é a seleção de chás produzidos em horta própria e levados à mesa recém-colhidos. E há ainda o restaurante da estalagem, que pratica uma culinária requintada e contemporânea, sem abrir mão dos sabores regionais. Mas se nada disso lhe parecer sedutor, imagine uma paisagem linda, muita tranquilidade, espaço de sobra, ar puro, ovelhinhas pastando e um delicioso perfume de lavanda tomando conta do ambiente. Impossível resistir.

A série “69”, da jornalista e fotógrafa Cris Berger, segue crescendo. Depois de lançar o livro 69 Lugares para Amar e o pocket book 69 Horas em Nova York, a viajante profissional apresenta neste final de 2010 mais dois títulos: 69 Lugares para Comer e Beber e 69 Lugares para Amar volume 2. Em seus livros-guia de viagens, Cris oferece ao leitor dicas “provadas e aprovadas” mundo afora. O livro, dedicado aos prazeres da mesa, reúne uma variedade de opções: restaurantes dos mais elegantes aos totalmente rústicos, estabelecimentos focados em alta gastronomia e outros especializados em petiscos, lugares superconhecidos e raras descobertas. Há dicas da Argentina, Brasil, Chile, Peru, Uruguai, Estados Unidos e México. O 69 Lugares para Amar volume 2 tem destinos inéditos e uma separação por estilo de viagem: praia, montanha, cidade, aventura, vinhedo e charme. Segundo Cris, “o livro traz o melhor do volume 1 com muitas novidades deliciosas”. Blog da autora: www .crisberger .com.br www.crisberger .crisberger.com.br

Estalagem e Restaurante La Hacienda Estrada da Serra Grande, 4.200, Gramado – RS Tel.: 54 3295.3025 – 54 3295.3088 – 51 9243.5794 lahacienda@lahacienda.com.br www .lahacienda.com.br www.lahacienda.com.br

MKL, JORNALISTA

MILENE LEAL, JORNALISTA


PEPPO CUCINA TEM NOVA CARTA DE VINHOS Peppo Cucina, sei anni di aroma e sapore. Esse foi o slogan criado para a celebração dos seis anos do Peppo, restaurante de culinária italiana contemporânea de Porto Alegre. As comemorações se iniciaram com o lançamento do Prato da Boa Lembrança 2010, o Medaglioni con Involtini al Peppo, criação do proprietário do restaurante, Pedro Hoffmann. Para marcar o aniversário, o Peppo lançou também uma nova carta de vinhos, com rótulos premiados, maior variedade de uvas, novas opções de produtores, linhas diferenciadas e uma maior diversidade de vinhos italianos. Os vinhos, aliás, sempre foram um grande trunfo da casa, que conta com adega climatizada e uma equipe muito bem informada sobre o tema. Rua Dona Laura, 161. Tel.:: 51 3019.7979, e-mail: peppo@peppo.com.br www .peppo.com.br www.peppo.com.br

MKL, JORNALISTA

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Cesta básica PARA FACILITAR O DIA A DIA DAS MAMÃES A Universo Materno (UM) é uma loja virtual especializada em produtos para bebês. E ótima para facilitar a vida das mamães. Criada pela amigas Nara Duarte Pinski e Mariane Tichauer em 2009, a loja oferece produtos diversos, alguns deles com exclusividade no mercado brasileiro. Experts em crianças – as duas têm filhos pequenos – Nara e Mariane estruturaram o site em seis áreas, para facilitar a navegação das mamães-clientes: Hora do passeio, Hora da refeição, Hora do banheiro, Chegada a hora, Hora do estilo e Lojistas e restaurantes (que podem fazer compras por atacado). Um dos produtos mais vendidos é a cadeirinha com estrutura tubular, que se encaixa em diferentes tipos de mesa e é ultraportátil. A UM oferece o produto em 8 opções de cores. Um sucesso mais recente é o Amassador de Papinha (The Wean Machine), que promete facilitar o dia a dia de todas as mães, especialmente as menos experientes na cozinha. Além da ampla variedade de produtos, a UM proporciona aos clientes a praticidade de comprar online, com segurança de pagamento e de remessa das mercadorias. E está presente em todas as redes sociais. Fácil, prática e moderna! www w.. u n i v e r s o m a t e r n o . c o m . b r Tel.: 11 9633.0133

MILENE LEAL, JORNALISTA

ECOPARQUE SPERRY, UM PASSEIO IMPERDÍVEL Dobrar à direita numa ruazinha da estrada que vai de Gramado a Canela pode transformar o seu final de semana na Serra. Começando pela paisagem cinematográfica da Linha 28. Siga as placas e, um pouco mais adiante, você vai encontrar o Ecoparque Sperry. Respire fundo e aproveite as trilhas, cascatas, plantas, aves raras e um restaurante pra lá de charmoso: o Bêrga Motta. Só o respeitável bolinho de arroz com banana já vale a viagem. Não deixe de provar também o buffet encantador de saladas e a paleta suína na brasa, gratinada com queijo colonial, cebola caramelada e alho-poró. Ah, reserve um bom espaço para as sobremesas e o doce surpresa do tabuleiro de xadrez. Crianças são muito bemvindas nessa reserva ecológica apaixonante que renova os ares, o espírito e aguça o paladar. ECOPARQUE SPERRY E BÊRGA MOTTA Linha, 28 – Avenida Central (a 8km do Centro de Gramado-RS), 54 9998-5488. O restaurante abre somente sábados, domingos e feriados das 13h às 16h. www.ecoparquesperry.com.br Como chegar: siga pela avenida das Hortênsias, sentido Gramado-Canela. Ao avistar a loja Prawer, dobre à direita na Estrada Prof. Elvira A. Benetti e percorra 5km até o Ecoparque Sperry.

ALEXANDRA ARANOVICH, PUBLICITÁRIA E BLOGUEIRA



ECOLAND: ALEGRIA E LAZER JUNTO À NATUREZA O nome não foi escolhido à toa. O hotel Ecoland, em Igrejinha/RS, funciona segundo uma proposta totalmente ecológica. Natureza é o que há de mais importante por lá. O Ecoland é um parque com área de mais de 150 hectares, rodeado de mata nativa e dotado de instalações completas, capazes de oferecer conforto e muita diversão para hóspedes das mais diferentes idades. A ideia básica é proporcionar experiências de lazer e descontração junto à natureza. As crianças têm espaço de sobra pra correr e ainda encontram dentro do parque um minizoo com aves e espécies brasileiras. As trilhas ecológicas, os lagos dedicados à pesca e os passeios a cavalo são outras grandes atrações do Ecoland. Mas há muito mais a ser explorado, como as piscinas, as quadras de esportes, os passeios de bicicleta... Na hora do relax, quartos confortáveis e um restaurante panorâmico cheio de boas opções, além de um cardápio especial de peixes. Rua Alfredo Brusius, 2121, Igrejinha/RS. Fone (51) 3545.5500. www .ecoland.com.br www.ecoland.com.br

MILENE LEAL, JORNALISTA

FOTO: LIANE NEVES

Cesta básica

CHARME DE JOSE IGNACIO EM PORTO ALEGRE O estilo ao mesmo tempo elegante e descontraído dos bares e restaurantes de Jose Ignacio, no Uruguai, foi a inspiração para a montagem do Faro Dinning Room and Bar, inaugurado em setembro em Porto Alegre/RS. O grupo La Playa, proprietário da nova casa, buscou reunir materiais típicos das construções minimalistas do litoral uruguaio: pedra, madeira e vidro compõem o prédio de 340 metros quadrados. Um dos trunfos do Faro é a diversidade de ambientes disponíveis: deck aberto para o burburinho da Padre Chagas, lounges isolados por cortinas, mesas grandes e pequenas, discretas ou bem badaladas. O cardápio é baseado em petiscos da culinária uruguaia e inclui carnes de parrilla. Aos domingos o Faro serve um brunch. Rua P adre Chagas, 32, Moinhos de V ento. F one Padre Vento. Fone .farobar .com.br www.farobar .farobar.com.br (51) 3533.3522. www

FOTO: JOÃO MATTOS



Sabor


Quando a pressa

é amiga da perfeição P O R

A L E X A N D R A A R A N O V I C H

I L U S T R A Ç Õ E S N I K F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O


Sabor A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO? DEPENDE DA OCASIÃO. NO CASO DE REFEIÇÕES RÁPIDAS, GOSTOSAS E, AINDA POR CIMA, SAUDÁVEIS, PODE SER QUE NÃO. ACRESCENTE UM DIA A DIA AGITADO, UMA PITADA DE PRAZO VENCENDO, MISTURE COM TRÂNSITO E TEMPERE COM A CORRERIA DA CIDADE. VIU? NESSAS SITUAÇÕES, AS COMIDINHAS LIGEIRINHAS PLUS NUTRITIVAS TORNAM-SE AMIGAS ÍNTIMAS – PRATICAMENTE DE INFÂNCIA – DA PERFEIÇÃO. O SEGREDINHO AQUI É NÃO CONTAR AS CALORIAS TÃO ODIADAS, E SIM OS MOMENTOS GOSTOSOS DE CURTIÇÃO QUE ESSAS REFEIÇÕES PODEM PROPORCIONAR, ESPECIALMENTE QUANDO POSSUEM EFEITOS BENÉFICOS À SAÚDE E DEIXAM A CONSCIÊNCIA LEVE E TRANQUILA. NÃO SOU COZINHEIRA DE MÃO CHEIA, APENAS UMA GULOSA E APRECIADORA DA BOA MESA. ASSIM, FUI CONVIDADA A FAZER ESSE TESTE DE DEGUSTAÇÃO EM SETE MOMENTOS SABOREADOS DE DIFERENTES FORMAS. A PRESSA, EM TODOS ELES, ERA DO PREPARO, NUNCA DA VONTADE DE SABOREAR ESSAS DELÍCIAS TENTADORAS. AS RECEITAS DOS PRATOS QUE APRECIEI ATÉ A ÚLTIMA GARFADA ESTÃO AQUI PARA QUE O LEITOR EXPERIMENTE DO SEU JEITO. DE UM MAGNÍFICO REFRESCO A UMA SOFISTICADA SALADA ASSINADA PELA RENOMADA CHEF CARLA PERNAMBUCO, TUDO FEITO EM POUCOS MINUTOS. AFASTE A MIOJO E MERGULHE NESSA EXPERIÊNCIA GASTRONÔMICA. A PRATICIDADE DE DIVERSOS PRATOS, COMBINADA A BONS INGREDIENTES E A UMA APRESENTAÇÃO CAPRICHADA, PODE COMEÇAR SEM

INJEÇÃO DE VITAMINAS: O CAMPEÃO DO SAÚDE NO COPO

Tomei o meu Campeão no banco de trás de um carro com três crianças a bordo, todas prontas para um passeio de domingo. Ótimo para começar a manhã. O Smoothie Campeão, o carro-chefe do Saúde no Copo, é feito de abacaxi, banana e morango. Para ficar com a consistência cremosa – quase de um sorvetinho –, a banana e o morango são congelados. E sabe qual o segredinho para deixar essa bebida ainda mais perfeita? Fácil: uma caminhada no parque, um passeio pelo bairro, uma volta com o seu cusco ou uma simples e despojada refeição a qualquer hora do dia.

PRETENSÃO ALGUMA E ACABAR COM POTENCIAL PARA VIRAR O MELHOR PEDAÇO DO SEU DIA. VAMOS LOGO AO QUE INTERESSA (VAI QUE ALGUÉM AQUI ESTÁ COM PRESSA): RECEITAS E INGREDIENTES, POR FAVOR!

COMIDINHAS SABOROSAS,


SINÔNIMO DE PRATICIDADE E SABOR: CUSCUZ MARROQUINO

Existem muitas espécies de cuscuz, o que acaba confundindo um pouco quem não é entendido no assunto. No Brasil, temos o cuscuz paulista e o de tapioca. O desta receita, que provavelmente deve ser o mesmo com que você já se deliciou em algum jantar ou restaurante por aí, é o marroquino. Um ingrediente curinga que pode fazer as vezes do arroz, da batata, da massa ou mesmo da salada. Em uma escala de zero a dez de dificuldade de preparo, o genial cuscuz ganharia um zero. Fácil ao extremo. E é possível criar a sua receita misturando o que aparecer de interessante na geladeira e na despensa. Essa é a receita simples e gostosa que criamos lá em casa e que foi a estrela de um jantar para amigos.

CUSCUZ MARROQUINO 1 XÍCARA DE ÁGUA QUENTE FERVENDO (SE QUISER, PODE ACRESCENTAR 1/2 CALDO DE GALINHA OU LEGUMES) 1 XÍCARA DE CUSCUZ SAL E AZEITE PISTACHE OU AMENDOIM PICADO PASSAS TEMPERADINHOS VERDES PICADOS TOMATE-CEREJA CORTADO MANJERICÃO AIPO PICADO QUEIJO DE CABRA (OPCIONAL) Modo de preparo: coloque o cuscuz em uma tigela e adicione a água fervente. Tampe o prato e deixe hidratar por 5 minutos. Acrescente azeite, sal e os ingredientes picados. Misture bem e pronto.

SAUDÁVEIS E, DE QUEBRA, RÁPIDAS NO PREPARO


Sabor OMELETE RECHEADA, A SALVADORA DA PÁTRIA

Quem nunca fritou um ovo que atire a primeira frigideira no fogão. Quando o ovo deixou de ser o vilão, todos nós agradecemos. Não há nada mais prático, nutritivo e com um certo grau de saudosismo: muitos pais preparavam (alguns ainda hoje preparam) gemada ou um ovinho mole para saciar a fome noturna dos filhos. Quando o almoço ou jantar solicitam uma certa pressa, a Omelete Recheada de verduras pode ser a escolha perfeita. A fome toma chá de sumiço e demora horas para aparecer. Deve ser por isso que os americanos – que mandam ver na omelete já no café da manhã – só fazem um lanchinho no almoço, e não uma refeição. Minha omelete foi devorada na companhia de minha mãe, durante um curto e bom almoço. 3 OVOS 1 COLHER (SOPA) DE LEITE SAL ÓLEO OU MANTEIGA 4 FATIAS DE QUEIJO ORÉGANO VAGEM, TOMATE-CEREJA, BRÓCOLIS E CENOURA (OU OUTRAS VERDURAS A GOSTO) Modo de fazer: para o recheio, corte a vagem e a cenoura em pedaços pequenos e faça um rápido refogado. Cozinhe o brócolis separadamente e corte em pedaços pequenos. Misture as verduras refogadas, o brócolis e o tomate picado e aqueça somente quando a omelete estiver quase pronta. Para a omelete, bata 3 ovos com 1 colher de leite e sal a gosto. Aqueça o azeite em uma frigideira antiaderente média. Coloque os ovos batidos e tampe para que cozinhem mais rápido. Vire com a ajuda de duas espátulas e acrescente as fatias de queijo e orégano. Coloque as verduras aquecidas cobrindo apenas metade da omelete e feche no formato de meia-lua. Sirva com um mix de folhas verdes.

NIKITA DA BARBARELA. O PRETINHO NADA BÁSICO

Ana Zita, a proprietária da Barbarela Bakery no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, sempre demonstrou muito entusiasmo e paixão pelo que faz. Tanto amor só podia acabar em grandes receitas de pães bem diferenciados. Ana explicou-me os detalhes do preparo, os ingredientes e toda a sua engenharia para fabricar seus pães. Mas, na verdade, você só entenderá o quanto eles são especiais comendo. Cada produto dessa Boulangerie pra lá de charmosa pode transportar você a memórias afetivas de viagens para França ou Estados Unidos. Ou então, criar um momento único. Com o sanduíche de pão preto (e que pão!), o Nikita, é assim. Dividi meu Nikita com uma amiga durante um happy hour. Devorei o meu pedaço quentinho e crocante em poucos segundos e fiquei cobiçando o da amiga, que o saboreou lentamente. A combinação da pasta de atum com o pão preto é perfeita – explicou Ana Zita. Eu respondi: “Perfeito mesmo é esse pão preto saído do forno com pasta de atum, tomate, alface e mozzarella gratinada”. MOLHO DE MAIONESE CREMOSO 2 OVOS (CLARA E GEMA) 1 XÍCARA DE ÓLEO 1 COLHER (CHÁ) DE SAL 1 COLHER (CHÁ) DE SUCO DE LIMÃO 2 COLHERES (SOPA) DE CREME DE LEITE FRESCO Modo de fazer: coloque no liquidificador os ovos e bata um pouco, e daí, com o liquidificador ainda ligado, ir acrescente lentamente o óleo. Quando sentir que a mistura firmou, acrescente sal, suco de limão e o creme de leite. Bata somente o necessário para misturar tudo.


PASTA DE ATUM (PARA 1 NIKITA) 40 G DE ATUM INTEIRO EM ÓLEO DRENADO (1/3 DA LATA) 2 COLHERES (SOPA) DE MOLHO DE MAIONESE CREMOSO Modo de fazer: Misturar bem os dois ingredientes, até formar uma pasta. Montagem: preaqueça o forno a 200°C. Abra o pão preto de mel e linhaça com crosta de aveia laminada (schwarzbrot) ao meio e coloque mozzarella (de preferência ralada) nos dois lados do pão e leve para gratinar por uns 5 minutos, até derreter bem o queijo. Daí, coloque 3 rodelas de tomate de um lado, alface americana do outro e no centro acrescente a pasta de atum. A mistura do pão quente e levemente adocicado, queijo derretido com a pasta e saladas fresquinhas é tudo de bom!


Sabor 4 FIGOS MADUROS E FIRMES 8 FATIAS FINAS DE PRESUNTO DE PARMA 120 G DE QUEIJO DE CABRA BÛCHE OU CHABICHOU 2 MAÇOS DE BROTO DE AGRIÃO LAVADOS 1/2 XÍCARA DE VINAGRETE BALSÂMICO Modo de fazer: corte os figos ao meio, aqueça-os numa frigideira antiaderente com um fio de azeite e sele-os. No centro do prato, arrume um montinho de broto de agrião, tempere com vinagrete, arrume os figos ao lado com as fatias de presunto e, sobre as folhas, esfarele um pouco do queijo de cabra. Dica: experimente substituir o agrião por rúculas bem miúdas.

A SALADA COM FIGOS E DE SOBRENOME PERNAMBUCO

A chef gaúcha Carla Pernambuco faz sucesso mundo afora, principalmente em seus dois restaurantes: o Carlota de São Paulo e o do Rio de Janeiro. Autora de vários livros apaixonantes de receitas, Carla é uma mestre em dosar especiarias e temperos. Seu suflê de goiabada com calda de catupiry é famosíssimo. Basta pesquisar no Google e você verá quantas vezes a receita aparece na tela do seu computador. Outra provinha de suas especialidades é essa divina salada de figos, presunto de Parma e queijo de cabra. Ideal para impressionar muito os amigos em um jantar organizado às pressas. Mas também perfeita durante uma refeição sozinha e repleta de sabor no seu dia a dia (a minha foi assim!).


O DESPERTAR DAS PANQUECAS COM AVEIA E FRUTAS VERMELHAS

Na modalidade café da manhã, a pressa é “mui inimiga” da perfeição. O bom é que o final de semana está sempre aí para que essa refeição ganhe todas as honras e mimos que merece. As panquecas americanas podem deixar linda até uma manhã de chuva. Adicionando aveia e frutas vermelhas, a minha ficou de lamber os beiços. INGREDIENTES PANQUECAS ½ XÍC. DE AVEIA EM FLOCOS ½ XÍC. DE ÁGUA FERVENTE 3/4 XÍC. DE FARINHA DE TRIGO 2 COLHERES (SOPA) DE AÇÚCAR 1 OVO 3/4 XÍC. DE LEITE PITADA DE SAL 2 COLHERES (SOPA) DE MANTEIGA 2 COLHERES (CHÁ) DE FERMENTO EM PÓ PITADA DE CANELA OPCIONAL PARA COBERTURA 1 COLHERES (SOPA) DE GELEIA DE AMORA OU MORANGO FRUTAS VERMELHAS DA ESTAÇÃO

Modo de fazer: em uma xícara grande, coloque a aveia e a água fervendo. Deixe repousar por 5 minutos. Bata o ovo e acrescente o leite, açúcar e a manteiga já derretida. Em outra tigela, misture a farinha, fermento e o sal. Misture tudo e acrescente a aveia. Pincele a frigideira com manteiga e, com a ajuda de uma concha pequena, coloque a massa. Aparecendo as bolinhas, vire de lado. Modo de fazer cobertura: Corte o morango e misture com a amora, a framboesa e o mirtilo. Aqueça levemente a geleia no micro-ondas e misture com as frutas. Sugestão: acrescente syrup ou mel à cobertura.


Sabor MUITO RESPEITO AO SR. HAMBÚRGUER DA PÂTISSIER

Quem disse que o hambúrguer perfeito precisa de pão? Na esplêndida receita do chef Marcelo Gonçalves, do bistrô Pâtissier, ele é totalmente dispensável. Que bom, pois libera uma certa culpa calórica. Um dos segredos, segundo o chef, é assar no carvão (“Meninos, help!”). Os acompanhamentos são igualmente divinos: anéis de cebola, gorgonzola, minibatatas e um bom molho barbecure como gran finale. Degustei meu Sr. Hambúrguer numa conversa gostosa com o Marcelo sobre churrasqueiras, o livro do Francis Mallmann (o mestre do fogo alto) e restaurantes de carne em Buenos Aires. Que delícia.

150 G DE FILÉ MIGNON 75 G DE LINGUIÇA DEFUMADA (METADE COM PIMENTA E METADE SEM PIMENTA) FARINHA DE ROSCA SAL E PIMENTA PRETA MOÍDA 1 COLHER (CHÁ) DE SALSA AZEITE DE OLIVA LASCAS DE GORGONZOLA ANÉIS DE CEBOLA ROXA 5 BATATAS BOLINHA MOLHO BARBECUE

Modo de fazer: para fazer o hambúrger, misture as carnes, tempere com sal, salsa picada, óleo de oliva e pimenta preta e dê a liga com farinha de rosca. Deixe a mistura em formato de hambúrger. Passe no óleo e coloque na grelha quente untada. Quando estiver começando a ficar tostado por fora, coloque no forno a 200oC por cinco minutos. Montagem: em um prato, coloque o molho barbecue, em cima, o hambúrger, as raspas de gorgonzola e os anéis de cebola. Ao lado, distribua as batatas bolinhas já cozidas.



Sabor


MUITOS ELOGIOS E ZERO ESFORÇO: O CRUMBLE DE MAÇÃ

Sabe aquele docinho que não dá nenhum trabalho e todos elogiam como se fosse algo muito sofisticado e, ainda, complicado de fazer? Esse é o Crumble de Maçã. Sem segredos e cheio de sabor. Só o cheirinho da maçã assada com a farofa doce saindo do forno já é reconfortante. Bom com café, chá ou sorvete de creme. E perfeito para finalizar esse prazeroso e rápido teste de degustação. Dá para repetir? A seguir, o Crumble de Maçã da Marisa.

INGREDIENTES DO RECHEIO 5 MAÇÃS TIPO FUJI UM PUNHADO DE NOZES PICADAS UM PUNHADO DE PASSAS DE UVA PRETA SUCO DE MEIO LIMÃO INGREDIENTES DA COBERTURA 2 XÍCARAS DE AÇÚCAR 1 XÍCARA DE FARINHA 2 COLHERES (SOPA) DE MAISENA 1 GEMA MEIO PACOTE DE MANTEIGA UMA COLHER (SOBREMESA) DE CANELA

Modo de fazer: descasque as maçãs e corte-as em pedaços finos (fatias). Coloque os pedaços da fruta em um prato refratário retangular ou redondo. Espalhe por entre as maçãs os pedaços de nozes e as passas de uva. Derrame o suco de meio limão sobre a fruta, para que a maçã não escureça. À parte, prepare a farofa de cobertura, misturando primeiro os ingredientes secos, depois a gema e por último a manteiga (que deve estar bem consistente, refrigerada). Para obter a consistência correta, misture com suavidade, amassando um pouco com os dedos. A farofa deve formar “grumos” e não pode se transformar em uma massa homogênea. Coloque a farofa sobre as maçãs, no prato refratário, cobrindo bem a fruta. Leve ao forno pré aquecido a 180°C por cerca de meia hora. O crumble estará pronto quando a farofa ficar dourada.


Humanas criaturas TETÊ PACHECO

ACIMA DO CHÃO

Eu estava esbravejando, furiosa, com a incapacidade masculina de levantar as coisas que eles mesmos jogam no chão. Meu filho de 10 anos acha normal trocar de roupa e fazer o que com a roupa que estava vestindo? Jogar no chão, claro. O chão suporta tudo, cuecas, meias sujas, toalhas molhadas. “Que saco!!”, gritava eu. “Não é possível assim. Vocês jogam tudo no chão. Roupa suja, roupa limpa, toalhas, pedaços de papel, lençóis, cobertas, copos, tudo no chão sempre no caminho de alguém!!! Vocês são todos uns meninos mimados! Precisam de um séquito de empregadas, mulheres de todos os tipos, irmãs, esposas, mães. Vocês não têm solução. Todos são assim. Que saco!!!!! Isso é um karma genético!!!!!” E ele, como sempre, silencioso diante do meu verbo saltitante. Rompeu o silêncio dizendo: “E as mulheres não apagam a luz”. Ah, eu adorei a deixa. Já estava irritada mesmo. “Claro que as mulheres não apagam a luz. Porque as mulheres são a própria luz! Uma luz na escuridão deste mundo macho onde a ordem genética é não fa-

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Estilo Zaffari

zer por si mesmo, é deixar que façam, que arrumem, que juntem!!! Sempre vai ter uma mulher iluminada melhorando tudo na vida de vocês. Trazendo graça, alegria, movimento, arrumando as bagunças existenciais, colocando os pingos nos is, as roupas nos armários, dando ordens e melhorando a ordem, a limpeza, as coisas levantadas do chão.” Me achei brilhante. Mais silêncio. Ele: “Então é assim. As mulheres mantêm a luz. E os homens, os pés no chão”. Minha vez de fazer silêncio. Pensando bem, melhor deixar as coisas onde estão mesmo. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA



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O MUNDO DE UMA CRIANÇA É MÁGICO. USANDO A IMAGINAÇÃO ELA CRIA HISTÓRIAS E BRINCADEIRAS QUE A AJUDA A CONSTRUIR E A DECODIFICAR O MUNDO REAL. PARA ELA, NÃO HÁ LUGARZINHO MAIS ENCANTADO DO QUE O SEU PRÓPRIO QUARTO. A DECORAÇÃO TEM UM PROPÓSITO: ACOLHER OS BRINQUEDOS E OS MÓVEIS DE MANEIRA LÚDICA E ORGANIZADA. LINDOS TECIDOS COMBINADOS COM MARCENARIAS EXCLUSIVAS E ATÉ COM PEÇAS GARIMPADAS EM ANTIQUÁRIOS DÃO VIDA A ESTES TRÊS QUARTINHOS FORMIDÁVEIS. 34

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Quartinhos

encantados P O R

I R E N E

M A R C O N D E S

F OTO S

L E T Í C I A

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No País das Maravilhas

ESTAMPAS VARIADAS GIRAM EM TORNO DO VERMELHO – A COR ESCOLHIDA PARA DORA 36

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No aniversário de 3 aninhos de Dora, que acaba de ser realizado, a Alice, o Chapeleiro Maluco e o coelho fizeram parte da decoração da festa. A escolha do tema teve uma razão: a pequena Dora adora brincar de tomar chazinho na sua mesinha de ferro – uma miniatura das mesas de jardim. Cada cantinho do seu quarto tem um objeto cheio de histórias para contar. A cama de ferro, por exemplo, foi descoberta no fundo de uma loja em Porto Alegre. Danificada, a peça passou por restauro, ganhou uma pintura vermelha e hoje se transformou naquilo em que a própria pequena gosta de chamar de “ninho”. As almofadas exploram uma composição de estampas e texturas que imprime uma atmosfera lúdica e delicada. “Sou apaixonada por decoração, por design, por cores e formas e tento trazer tudo isso para o quartinho da minha filha”, comenta Titi Juchem, publicitária e designer gráfica. As prateleiras e os varões que emolduram a cama vieram do antigo loft da moradora e aqui ganharam uma importante função: acomodar todos os brinquedinhos e objetos decorativos da pequena. Já com idade para brincar de casinha, Dora apaixonou-se pelo fogãozinho de MDF feito pela própria mamãe, que atualmente desenvolve uma linha de brinquedos superexclusivos. Panelinhas, pratinhos e paninhos descolados penduram-se na gancheira inglesa. Uma forma pra lá de charmosa que Titi encontrou de organizar a brincadeira.



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OS DOTS (NOME DADO AOS DESENHOS DE BOLINHAS) APARECEM EM VÁRIOS OBJETOS DO QUARTINHO, FORMANDO A PRINCIPAL IDENTIDADE DESTA DECORAÇÃO, QUE ACOMPANHA A PEQUENA DORA DESDE O SEU NASCIMENTO


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FOTOS: EDUARDO LIOTTI

A PEDIDO DOS MENINOS, O AZUL PREDOMINA, CLARO! 40

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Magia na casa dos avós Três netinhos com idades entre 11 meses, 4 e 5 anos motivaram os avós a criar um espaço especial para receber as crianças. A proposta desta atmosfera divertida e prática ficou sob responsabilidade do arquiteto gaúcho Zeca Amaral. Todas as peças foram desenhadas sob medida para o ambiente, de modo que além do beliche e da bicama ainda fosse possível oferecer um espaço para brincadeiras. Deu certo. O quartinho conta com uma mesa cheia de recursos bacanas: rolo de papel para desenhar, gavetas fininhas para guardar lápis e caixas forradas com tecidos para acomodar os brinquedos. Para que tudo ficasse intimamente conectado ao universo dos meninos, Zeca optou por adesivar um mapa-múndi estilizado na parede do quarto. “Apesar de pequenos, eles viajam bastante. Achei que o tema agradaria”, conta o arquiteto. Como o pé-direito do ambiente é alto, Zeca traçou a parede de ponta a ponta com uma barra vermelha. “Assim esta sensação diminui, deixando o espaço mais aconchegante”, explica. Detalhe interessante: as luminárias de led e alumínio fixadas em cada uma das camas permitem que as crianças leiam seus livrinhos individualmente. Até porque na casa dos avós dormir é o que menos importa.


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Legítimo estilo Vintage Este quartinho integra um apartamento de Porto Alegre cujo edifício tombado pelo Patrimônio Histórico é considerado a melhor arquitetura modernista da cidade. Dentro desta atmosfera, os arquitetos Mario Englert e Paulo Gustavo Menna Barreto elaboraram toda a decoração da residência no melhor estilo Vintage. “O que caracteriza o Vintage é reunir muitos ícones diferentes, que quando juntos apresentam uma grande harmonia estética”, explica Englert. A composição do papel de parede deste quartinho é surpreendente. Não apenas pela beleza do pot-pourri, mas principalmente pelos exemplares usados. “Neste ambiente temos uma mescla de papel de parede de coleção da proprietária, papel de parede novíssimo e exemplares originais do apartamento, da década de 50”, explica o arquiteto. A cama desse mesmo período veio da casa da avó e traz a assinatura do mais renomado marceneiro da cidade, o Sr. Piva. Laqueada de branco, exibe uma leveza etérea bem adequada para uma decoração infantil. Vintage também é a combinação entre a mesinha colonial, a cadeira de ferro e o cabideiro vermelho fixado na parede. “Este estilo ganha muito mais pela forma do que pelo conteúdo”, destaca Englert. É nos bricks e garage sales que grande parte desses tesouros repousa.

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ÍCONES DE DIFERENTES ÉPOCAS MARCAM ESTA DECORAÇÃO

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Gusto

C A RLA P E RNAM B U C O

w w w. c a r l o t a . c o m . b r FOTOS: CRIS BERGER

PROJEÇÕES PORTENHAS Meu querido Buenos Aires: sua luminosidade urbana me invade antes mesmo de o avião pousar em Ezeiza. Nesses momentos penso: nunca é demais retornar à capital argentina, nem que seja por poucos dias... Talvez seja a cidade mais romântica do mundo latino-americano. E quem a conhece tão bem como eu entende o que quero dizer. Se não, em qual outra metrópole dos três continentes encontramos acervo arquitetônico tão rico, hotéis tão requintados, restaurantes de padrão tão europeu, pessoas tão elegantes e uma atmosfera cosmopolita tão rara? O tempo e o estilo moldaram Buenos Aires desde que a cidade representou, no início do século passado, a terceira maior economia do mundo. Dessa fase de riqueza os portenhos mantiveram um jeito único de se expressar culturalmente.

Hoje, entre todos os seus 48 barrios, considero Buenos Aires clássica e moderna, nostálgica e futurista, melancólica e alegre. Da Calle Florida a Santelmo, da Recoleta a La Boca, de Belgrano a Caballito, do Retiro ao Puerto Madero: existe fascínio por todos os lados. E o que dizer do circuito hype de Parlemo SoHo e Palermo Hollywood? Ninguém gosta muito de entregar o ouro, nem de dar o mapa da mina. Mas separei alguns de meus últimos endereços e descobertas portenhas. Para que ninguém depois me chame de egoísta. Sigam, então, o meu tango pessoal e hasta la vista!

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Foi em Buenos Aires que surgiu a primeira literatura latina de prestígio internacional e o primeiro ritmo musical a invadir os salões do hemisfério norte. O tango traduz, como um intrigante jogo entre dois corpos, o estilo argentino de ser: um drama para cá, um beijo para lá, dois olhares dramáticos para os lados, passos alinhados, posturas eretas e muita paixão no ar. Detalhes assim já valeriam ficar um dia, que fosse, em Buenos Aires. Eu prefiro ficar vários. E explico por quê: está cada vez mais difícil encontrar destinos que nos emocionem e que nos envolvam em sua geografia urbana. Assim como Paris, Roma, Londres ou Istambul, a capital da Argentina tem algo de inexplicável.


A N DA N Ç A S P O R B U E N O S A I R E S RESTAURANTES Engana-se quem pensa que na Argentina só o que você vai encontrar é carne (embora isso se encontre e muito, e da melhor). A cena gastronômica de Buenos Aires tem de tudo e o bairro de Palermo anda com tudo. Lá, a quantidade de opções é assustadora. Oui Oui (Nicaragua, 6099): um exemplo bacana da variedade e criatividade que hoje toma conta dos restaurantes é esse bistrozinho simples e descolado em Palermo. Fica aberto das 8 da manhã até as 9 da noite, mas o legal mesmo é aproveitar o almoço. Paraje Arévalo (Arévalo, 1502 esquina com Cabrera): outro bistrozinho que é um sucesso total em Palermo Hollywood. São os proprietários que comandam a cozinha. No almoço, há duas opções de preço fixo – um a 30 e outro a 40 pesos – e, de noite, o que impera é o menu-de-

BARES Não é tarefa fácil encontrar um povo que goste mais de sair à rua do que o portenho. Então, além dos restaurantes, é gostoso demais conhecer alguns barzinhos caprichados que embalam a noite de Buenos Aires: Isabel (Uriarte, 1664): ao lado do restaurante Casa Cruz, no coração de Palermo, esse bar lindo desenhado pelo Juan Santa Cruz se tornou um dos lugares mais badalados da ci-

gustação, em versões de seis passos (80 pesos) ou oito passos (110 pesos). Tegui (Costa Rica, 5852): a ideia aqui já é outra, mais requintada. O badalado chef Germán Martitegui, proprietário do Casa Cruz e do Olsen, inaugurou esse novo restaurante, onde não tem pudor em misturar tendências e tradições, com resultados deliciosos. Sudestada (Fitz Roy, esquina com Guatemala): o nome simpático se refere ao fato de que a casa é especializada na cozinha do sudeste asiático – o que, para mim, é algo mais do que tentador. Para se esbaldar nos bolinhos de Cingapura, woks caprichados e principalmente o “nem cua”, um rolinho vietnamita de carne de porco e camarão. El Pobre Luis (Arribeños, 2393): para não dizer que não falei de carnes, fica a lembrança des-

sa parrila nota dez no charmoso bairro de Belgrano. Um lugar perfeito para se acabar em bifes de chorizo, asados de tira, corderos, mollejas… Tô (Costa Rica, 6000): uma das novidades mais comentadas da cidade, esse endereço em Palermo não é apenas mais um (excelente) restaurante japonês, mas com um quê de bistrô francês. O ambiente descolado e as invencionices sobre pratos típicos japoneses vão fazer os tradicionais torcerem o nariz, mas, para quem gosta de coisa moderna, é um lugar imperdível. El Almacén de los Milagros (Av. Quintana, 201): um restaurantezinho francês que serve comida de bistrô e que vai ser o complemento perfeito para o seu passeio pelo bairro da Recoleta. O almoço é para uma refeição mais rápida, mas, à noite, a pedida é um belo menu-degustação de quatro passos.

dade para se tomar um coquetel e ouvir música, seja antes ou depois do jantar (a casa abre às 21h). 878 (Thames, 878): você toca a campainha e o que encontra é um lugar aconchegante, com luz baixa, poltronas confortáveis e sem exagero na badalação. Dá a sensação de se estar chegando a algum lugar secreto (e muito agradável).

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Uma capital

fascinante T E X T O S

E

F O T O S

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A CORDILHEIRA DOS ANDES EMOLDURA A CIDADE. Santiago do Chile é a mais rica, organizada e próspera capital da América do Sul. Tem jeito de Primeiro Mundo e economia de país em desenvolvimento. Espírito forte de quem viveu o terremoto de fevereiro de 2010 e já está a pleno vapor, de cabeça erguida e trabalhando pela recuperação das cidades mais atingidas, ao sul do país. O povo chileno é simpático, acolhedor, gentil. Converse com um motorista de táxi e você vai receber todas as informações que desejar, sempre de forma amável. O habitante de Santiago se orgulha de sua cidade e adora apresentá-la aos visitantes. Santiago é vizinha da Cordilheira dos Andes. A imponente cadeia de montanhas literalmente emoldura a cidade e se faz presente nos mais variados ângulos captados pelo olhar. Nos meses de inverno as montanhas ficam nevadas, absolutamente encantadoras. E o entardecer na capital chilena, graças ao tom rosado que a Cordilheira assume, tem um ar enigmático. A capital chilena é arborizada, absolutamente limpa e relativamente segura. Com cuida48

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dos básicos se pode caminhar pela cidade, de dia e de noite, sem sobressaltos. Sanhattan e os parques O rio Mapocho é um bom ponto de referência na capital, pois ele separa os cerros (colinas) dos bairros e corta boa parte da cidade, passando por importantes avenidas. Uma delas é a Andres Bello, repleta de prédios altos, modernos e cobertos de vidros espelhados, que compõem o centro financeiro e revelam o lado próspero da cidade. As lojas de grifes internacionais e os restaurantes sofisticados contribuem para que esta parte de Santiago receba o apelido de Sanhattan (Santiago + Manhattan). Os cerros San Cristóbal e Santa Lucía são duas importante áreas verdes da capital. Nos finais de semana, moradores e visitantes aproveitam esses espaços para passear de bicicleta, correr, caminhar e fazer piqueniques. No San Cristóbal o grande atrativo é a ampla vista de toda a cidade. Pode-se acessar o topo de duas maneiras:


SANTIAGO É ARBORIZADA E ABSOLUTAMENTE LIMPA

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NA CHAMADA SANHATTAN, ARQUITETURA ARROJADA.

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POR TODA A CIDADE, A MAIS ALTA GASTRONOMIA pelo bairro de Providência, percorrendo um caminho asfaltado em zigue-zague, a pé ou de carro; pelo bairro de Bella Vista, de onde partem charmosos teleféricos. Glamour e gastronomia gourmet Vitacura e El Golf são bairros novos e glamourosos. A gastronomia equipara-se à dos bons restaurantes de São Paulo e outras capitais. Chefs premiados, culinária gourmet, serviço impecável e ambientes lindíssimos estão espalhados pelas ruas Isidoro Goyenechea e Nueva Costanera. Em Vitacura, na rua Allonso de Cordoba, estão as lojas de grife mais cobiçadas, como Louis Vuitton, Armani, Ermenegildo Zegna, Swarovski e Burberrys. Se você é um apreciador da boa mesa, há alguns lugares imperdíveis. Em Vitacura está o Osadia, do chef Carlo Von Muhlenbrock. O restaurante fica numa grande casa de dois andares e tem uma decoração elegante, com predomínio do branco. Observe as grandes luminárias feitas com talheres. A cozinha é de autor: Carlo usa peixes, frutos do mar e carnes vermelhas em combina-

ções exóticas. Em El Golf, o restaurante O Porto é escolha certa. Decoração moderna, luz baixa, fogatas entre as mesas (pequenas fogueiras em suportes de ferro), música eletrônica. O mezanino tem sofás e mesas baixas, o terraço ao ar livre é decorado com móveis de Kenneth Cobonpue. O Porto é badalado e lá se come divinamente bem. A cozinha é assinada pelo chef Francisco Madiola. Centro e boemia Na parte antiga da cidade – o centro – se pode admirar o conjunto arquitetônico do século XIX, fazendo o tradicional roteiro pela Plaza de Armas, a Catedral construída no século XVI e o prédio dos Correios, instalado numa casa neoclássica. A poucas quadras está a Casa de la Moneda e o museu mais bacana da cidade: o Precolombino. No bairro de Bella Vista está uma das casas de Pablo Neruda, a La Chascona, que virou museu aberto ao público. Na rua Constituición fica o Patio Bella Vista, um complexo de lojas, bares, restaurantes e casas noturnas. Funciona o dia inteiro e vai até o começo da madrugada. Ainda nesta Estilo Zaffari

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rua, vale parar no Etniko para tomar um pisco sour. Peça pelo drink preparado ao estilo peruano. Na parte nova, que fica nos fundos, há um balcão e mesas altas com bancos onde você pode saborear petiscos deliciosos, sushi e sashimi. É uma boa pedida também para um fim de noite. O bairro Yungay, que durante muitos anos esteve decadente e esquecido, já dá sinais de que se tornará o bairro “do momento” daqui a dez anos. Duas visitas não podem faltar no seu roteiro: a praça Concha y Toro, que parece um pedacinho da Itália em solo chileno, e o restaurante Boulevard Lavaund, onde está a Peluqueria Francesa (uma barbearia ao estilo antigo, instalada na entrada do restaurante). Há antiguidades por todos os cantos e todas estão à venda. O estilo é clássico, com uma pitada de anarquismo. O cardápio é eclético, tem pratos vegetarianos, carnes, peixes, aves, sopas e saladas. No bairro de Lastarria, frequentado por intelectuais, você encontra pequenos cafés muito simpáticos, alguns restaurantes, o museu de Bellas Artes, galerias de arte, feirinha de antiguidades, livrarias e ruelas com prédios de arquitetura secular. Uma região para percorrer a pé e descobrir cantinhos charmosos. Depois de passear pela cidade, nada como chegar a 52

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um hotel acolhedor e confortável. No Ritz Carlton as portas serão literalmente abertas para você, e com certeza umas três ou quatro pessoas lhe desejarão buenas noches com um sorriso nos lábios. A discrição e o carinho da equipe do hotel fazem toda a diferença. Uma sugestão: antes de se arrumar para o jantar, vá até a cobertura. Teto e paredes de vidro, iluminação perfeita, palmeiras e espreguiçadeiras compõem um ambiente lindo e relaxante. Lá você vai encontrar uma sala de ginástica superbem equipada e com uma vista linda para o skyline santiaguino. Para relaxar, “entregue-se” à piscina climatizada ou à hidromassagem. Aproveite que você vai passar na frente do SPA e agende uma massagem a quatro mãos. Os arredores A menos de duas horas de viagem de Santiago está o Vale de Casablanca, uma bela região vinicultora que pode ser facilmente visitada durante a permanência na capital chilena. Originalmente famoso pela produção de vinhos brancos, o vale hoje já revela belos tintos. A vinícola Matetic é prova disso. Seu shiraz é o queridinho da casa. A Matetic se destaca por ser uma vinícola orgânica: não usa agrotóxicos e as uvas são 100% naturais, além de ser biodinâmi-


HÁ BAIRROS ÓTIMOS PARA DESCOBRIR A PÉ, COMO LASTARRIA E BELLA VISTA. NO CENTRO, LINDOS PRÉDIOS HISTÓRICOS Estilo Zaffari

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O VALE CASABLANCA FICA PERTÍSSIMO DA CAPITAL, ca. Agende uma visita à bodega, que é linda, e faça uma degustação. Depois, sugiro um almoço no restaurante Equilibrio, instalado em um grande jardim, à beira de um lago. No cardápio comandado pelo chef Matías Bustos você vai encontrar peixes, frutos do mar e um delicioso cordeiro. Ao lado do restaurante está a La Casona, pousada da vinícola Matetic, que tem sete quartos decorados no estilo colonial clássico, com sacadas privativas. No verão se pode usufruir da piscina, ao ar livre, com vista para os vinhedos. Outra vinícola que merece sua visita é a Casas del Bosque. Ela é ainda menor que a Matetic e também oferece visitas à bodega, degustação de vinhos e almoço. Eu tive o privilégio de fazer a degustação no alto da colina, sob uma árvore, com uma vista incrível para os vinhedos. Peça o mesmo! Santiago, como o Chile em geral, é um lugar de muitos atrativos e grande diversidade: tem história e tradição, tem um lado cosmopolita e moderno, restaurantes com chefs premiados e alta gastronomia. Muito perto dali, 54

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um lindo vale de vinhedos com natureza exuberante. O skyline repleto de prédios com arquitetura arrojada se desenha sobre a Cordilheira dos Andes. Na capital não há neve, mas a apenas duas horas de carro você encontra montanhas branquinhas, perfeitas para a diversão. Em Santiago há o lado “certinho” e o alternativo. Os anti Pinochet e os pró-Allende. No final de tudo, é uma cidade que cada vez mais atrai visitantes e de onde é quase imposível não sair encantado. ONDE SE HOSPEDAR: THE RITZ CARLTON SANTIAGO ENDEREÇO: CALLE EL ALCALDE NO. 15, LAS CONDES, SANTIAGO CHILE TEL: +56 2 4708500 www.ritzcarlton.com/en/Properties/Santiago

QUEM LEVA: EXPLORING CHILE TRAVEL & DREAMS ENDEREÇO: ENRIQUE FOSTER SUR 76 A TEL: +56 2 981 1209 www.exploringchile.com


TEM BELAS PAISAGENS E VINHOS DE QUALIDADE

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Santiago com crianças na bagagem Se eu tivesse um terceiro filho, e fosse um menino, daria o nome de Santiago – de tanto que adorei a cidade. Fui sem as crianças, mas a cidade insistiu, onde quer que eu fosse, em me mostrar seu lado kids friendly. Já penso em voltar com a turminha, seja no verão dos lagos ou no inverno da neve. A capital do Chile é limpa, segura e repleta de praças com gramados verdes e playgrounds lindos – dá gosto de brincar por aqui. O MallSports – um shopping exclusivo de esportes – tem atrações para toda a família: escaladas, patins no gelo, pista de skate, piscina com onda e outras aventuras, além do enxoval básico de roupas para a neve, é claro. Já na Casa&Ideas, loja do completo e agradável shopping Parque Arauco, é possível encontrar brinquedos que estimulam a criatividade. Restaurantes também não são problema. Comese muito bem, bebe-se melhor ainda e, surpresa, crianças são bem-vindas. Esse é o caso do imperdível Liguria, que oferece uma massinha deliciosa e kit de desenhos para as crianças distraírem-se à mesa. Agora, impressionante mesmo são os mimos infantis de luxo do Hotel Ritz-Carlton – o primeiro hotel a disponibilizar Nintendo Wii nas suas suítes. Banho de espuma? Que tal um com brinquedos de plástico, pantufas tamanho PP e sor56

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vetes e cookies na banheira? Ou então um chá da tarde com guloseimas que deixariam qualquer adulto babando e suspirando? Menu kids no restaurante Adra do Ritz? Tem, sim senhor! Em julho – alta temporada de inverno – o hotel se transforma para receber seus hóspedes mirins. O pacote inclui babá que fala português e espaço kids com games e lanchinhos dignos de princesas e príncipes. Ops, babá em português? Pensando melhor, o casal pode dar uma escapada para um jantar a dois. Afinal, melhor poupar as crianças: Santiago e arredores ainda reservam novas descobertas com pimpolhos na bagagem. Por Alexandra Aranovich, autora do blog “Destemperadinhos, Food Experiences with Kids” www. destemperadinhos.com LIGURIA – LUIS THAYER OJEDA NÚMERO 019 – www.liguria.cl MALLSPORTS – AV. LAS CONDES 13.451 – www.mallsport.cl CASA&IDEAS – www.casaideas.com/cl PARQUE ARAUCO – AV. KENNEDY 5413 – www.parquearauco.cl RITZ-CARLTON – CALLE EL ALCALDE NO. 15, LAS CONDES – FONE: 56-2 4708500 FAX: 56-2-470 8501 www.ritzcarlton.com/en/Properties/Santiago


Bom conselho P O R M A LU C O E L H O

COMER BEM, QUE MAL TEM?

A formação de hábitos alimentares começa na infância, e a relação que estabelecemos com a comida pode, às vezes, extrapolar a necessidade de nutrição do organismo. Sofremos influências do meio onde vivemos e elas nem sempre colaboram para uma alimentação saudável. Na infância, é comum os pais oferecerem recompensas por atitudes consideradas adequadas, usando a célebre frase “Coma tudo, tudinho, que vai ganhar um doce gostoso”, como se aquele alimento que a criança está ingerindo não fosse interessante. Esta maneira de agir ensina os pequenos a criarem artimanhas, barganhando com os pais para receber o alimento desejado, o que possibilita a aquisição de maus hábitos alimentares. As refeições, para serem atraentes aos olhos das crianças, precisam ser bem coloridas e, se possível, divertidas, decoradas com carinhas, bichinhos, flores. Esse incentivo ajuda os pais a oferecerem alimentos diferentes e possibilita que outros sejam experimentados sem rejeição nenhuma, despertando o apetite dos “baixinhos”. Outra maneira de atrair a atenção das crianças é deixar que mexam nos alimentos, peguem com as mãos e se lambuzem. Esse comportamento faz parte de suas descobertas e de seu desenvolvimento. Aos poucos, sem rigidez, a mãe vai demonstrando como se deve comer. É bom lembrar que a alimentação da criança deve ser prazerosa e satisfazer suas necessidades. Os aromas, os sabores e o despertar de novas sensações ajudam na formação de bons hábitos alimentares. Castigos e presentes na hora das refeições não combinam com uma educação alimentar adequada. Conselhos práticos para a alimentação diária das crianças: O exemplo da família é o melhor método para a criança aprender. Mantenha horários regulares para as refeições e lanches e procure fazer as refeições juntamente com a família. Ofereça alimentos frescos, pois fornecem mais nutrientes, menos sal e gorduras. Depois de uma noite de sono e de jejum, é importante um bom café da manhã; o leite, o pão, os cereais, as frutas e o suco são ideais para iniciar o dia. Não ofereça porções exageradas, pois a criança poderá repetir se desejar. A água é um alimento muito importante, então, ofereça muita às crianças. Agora que já conversamos um pouquinho sobre a alimentação de nossas crianças, que tal preparar para elas aquele lanche criativo que vai deixar todos com água na boca?

ATÉ A PRÓXIMA SABOROSA EDIÇÃO! 72

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O sabor e o saber F e r n a n d O

lO k s c h i n

chOcOlate. nãO há Dizemos a expressão “o dinheiro não dá em árvores” em contradição ao que Pedro Mártir escreveu há meio milênio: “no novo mundo o dinheiro é feliz” pois “não se esconde nas profundezas da terra como o ouro e prata”, mas “aparece à vista de todos, cresce em árvores”. No novo mundo o dinheiro dava em árvores. Valorizadas e aceitas por todos, fáceis de contar e carregar, as sementes de cacau eram moedas vegetais. Conforme Angleria (1523), “forma útil de dinheiro porque não podendo ser conservado por muito tempo desencoraja a especulação”, seus possuidores então protegidos “da infernal febre da cobiça”. No fim das contas, o dinheiro acabava ingerido e o troco excretado... Numa lista de preços asteca, um peru valia 100 sementes, seu ovo 3. Oviedo (1535), que não conhecia a palavra cacau, registrou que para os índios Nicaraos, “1 escravo valia 100 amêndoas” e os serviços de uma “mulher pública”... “entre 8 e 10, dependendo do acordo entre as partes” – no primeiro registro americano da profissão mais antiga na cronologia e alastrada na geografia. Tal a nota falsa ou o cartão clonado, o cacau estava à mercê dos trapaceiros. Grãos doentes eram maquiados com cinzas para parecerem saudáveis e réplicas eram confeccionadas em argila – que, no início, pareciam aos arqueólogos ser sementes de cacau petrificadas.

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Que família não tem ovelhas negras? O chocolate é primo da Coca-Cola. Da mesma família botânica da cola africana, o cacaueiro é nativo da Bacia Amazônica; cada fruto contém de 30 a 40 sementes, todas envoltas em uma polpa adocicada muito apreciada por macacos e seres humanos. A árvore é muito sensível a altitude, seca e frio e só frutifica próximo a linha do Equador. O cacau se espalhou pela América Central e México levado por viajantes e guerreiros que tinham o fruto como sustento e hidratação. Astecas, maias e olmecas foram os pioneiros do chocolate – cerâmicas com desenhos de sementes de cacau junto à inscrição ka ka u foram a chave para decifrar a escrita maia. Atraídos pela polpa da fruta, os indígenas aprenderam a cultivar o cacau e a processar suas sementes, que in natura são adstringentes e impróprias ao consumo. Colhidos os frutos, as sementes eram secas e fermentadas ao sol – que, no moderno jargão, libera ‘precursores de sabor’ –, depois torradas em potes de argila, piladas na pedra e misturadas com água quente. A mistura era batida com galhos secos ou passada repetidamente de um frasco a outro até ficar rica em espuma, sua parte mais nobre. Usamos a palavra xícara porque os astecas bebiam o chocolate num recipiente a que chamavam jícara. Cortes escreveu ao rei Carlos I: “esta bebida dá resistência e combate a fadiga”. Seu lugar-tenente Diaz de

Castillo descreveu Montezuma comendo frugalmente dos “300 pratos oferecidos”, mas bebendo muito “de um líquido de natureza afrodisíaca em copas de ouro”. Sem medir peso ou volume, os astecas contavam cada grão de cacau. Haja trabalho; num sistema vigesimal (com base nos dedos das mãos e pés, próprio dos povos que mantêm os pés descobertos), quatrocentas sementes (20x20) valiam um countle e vinte countles (20x20x20), um xiquipil. Levado pelos monges espanhóis, o chocolate se derramou pela Europa antes do café e do chá – três bebidas fervidas, cada uma originária de um continente, todas ricas em cafeína e teobromina, alcaloides sintetizados por plantas tropicais para repelir predadores mas que atraem o homem. O chocolate foi o primeiro dos 3Cs, o ‘trio virato da cafeína’. Até então o europeu só bebia água (impotável), leite (que não alivia a sede) e álcool (que embriaga). Desde cedo ficou evidente a preferência do mundo feminino pelo requinte do chocolate sobre a modéstia do café. A aura afrodisíaca, criada no tamanho do harém de Montezuma e na forma testicular do cacau, fez muito por difundir o chocolate. Em junto de 1772, Sade ofereceu um baile em Marselha e “confeitos de cacau recheados com moscas espanholas” propiciaram um grande bacanal onde, conforme a crônica da época, “as mulheres mais pudicas não conseguiam fazer o


MetaFísica MaiOr bastante para dar vazão ao furor que as acometia”! As cartas da Marquesa de Sévigné revelam tanto o amor como o temor ao chocolate, sentimentos que perduram. Em fevereiro de 1671 a chocólatra disse: “se você não está se sentindo bem, se não dormiu, o chocolate vai revigorá-la”; mas logo em abril tornou-se chocófoba: “o chocolate já não é o mesmo para mim, fui levada pela moda, como o usual”... “os que recomendavam chocolate o acusam agora de todos os males do mundo.” Suas cartas também registraram o escândalo parisiense com o parto de um menino “negro como o diabo” pela Sra. Coetlogon, grande bebedora de chocolate. Embora fazendo coro aos acusadores da bebida, a Marquesa não deixou de comentar que o chocolate era servido sempre por um jovem escravo africano... Ainda há poucas décadas, era comum no Brasil a superstição de que o chocolate enegrecia a pele. Incriminado por malefícios à saúde, da acne ao zumbido, e saudado por propriedades nutritivas e antioxidantes, o chocolate é estimulante da fenilalanina, o neurotransmissor do sentimento amoroso – o confeito em coração oferecido pelo namorado é um recurso gastronômico para atear a paixão. Se no tomate, batata e milho os europeus não introduziram grandes melhorias ao que os povos autócnes haviam desenvolvido, com o choco-

late foi diferente. As freiras espanholas adicionaram o açúcar iniciando a equação, chocolate = cacau + açúcar. Sir Sloane, médico inglês na Jamaica (1689), observando que tanto o chocolate como o leite eram dados às crianças pequenas, misturou os dois, impressionou-se com a cremosidade e mudou o chocolate para sempre: chocolate = cacau + açúcar + leite. Outra inovação ocorreu em 1828, na Holanda, quando Von Heuten criou uma prensa para remover a gordura do cacau para depois adicioná-la ao pó de chocolate, conferindo à mistura uma textura firme à temperatura ambiente mas pastosa à temperatura da boca. Von Heuten iniciou a produção de barras e confeitos, logo chamados pelos belgas de bon-bon, aprovação em duplicata. A popularização do chocolate sólido é recente. Em 1825, quando Savarin publicou sua Fisiologia do Gosto só falou em ‘taça da volúpia’, nunca em tablete. Recomendava o chocolate com âmbar, ‘bebida dos aflitos’, para “o inteligente que se sinta incapaz de pensar” e “quem ache a atmosfera pesada, o ar úmido, o tempo longo”. No Dicionário de Gastronomia (1850), Vitor Hugo também só aludiu à bebida; para ele a paixão das espanholas pelo chocolate fizera com que em todas as sextas-feiras o adágio fosse repetido: ‘liquido non frangit jejunium’, líquido não quebra o jejum. Em 1743, Etiene Liotard pintava La Belle Chocolatière, uma bela serviçal

MOrangOs rua XV dissOlVer chOcOlate de cObertura eM banhO-Maria. segurOs pelOs talOs, Mergulhar MOrangOs beM VerMelhOs na calda (2/3 da Fruta). cOlOcar nO gelO até sOlidiFicar e serVir. Estilo Zaffari

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O sabor e o saber F e r n a n d O lO k s c h i n

servindo em uma bandeja um copo d’água e uma taça de chocolate. Duas outras damas foram retratadas por Liotard junto a taças de chocolate. Se Van Gogh pintou girassóis, Liotard pintou chocolate, documentando o intimidade da bebida no mundo feminino. Tal uma premonição, o artista era suíço, povo que se tornaria célebre pelo chocolate e seu maior consumidor: 1kg por pessoa mês. Quando Goethe visitou a Suíça em 1792, levou o seu chocolate, não havia ainda um bom produto local. O chocolate chegou a Zurique desde a Bélgica, que pertenceu à coroa espanhola até 1714. Mas não é casualidade que a Suíça, famosa pela indústria do leite, desse origem ao bom chocolate – a lactose reduz a adstringência do cacau suavizando seu sabor. Também não é coincidência a vizinhança com a indústria relojoeira; o acolhimento à pequena burguesia urbana protestante europeia em fuga à perseguição católica no séc. XVIII fez com que lá florescesse, primeiro, a produção artesanal e, depois, a industrial do relógio e do chocolate. As regiões produtoras do melhor chocolate – Suíça, Bélgica, França e Itália –, são vizinhas, têm boas vacas e bons artesãos mas não colhem um único pé de cacau. Já as regiões que cultivam o melhor cacau não produzem chocolates nobres. E, ao contrário do chá e café, a chocolate desapareceu da dieta nas regiões de origem. As tropas britânicas em guerra na África do Sul receberam como presente da Rainha Vitória nas festas de virada do séc. XIX barras de chocolate. Os militares na primeira e segunda guerra mundial e também os cosmos e astronautas tinham o chocolate como alimento e conforto. Suprimento dos alpinistas e navegadores, o chocolate acompanhou Almir Klynk nas suas longas e solitárias travessias oceânicas. O chocolate brasileiro nasceu em Porto Alegre quando dois irmãos imigrantes alemães fundaram a Neugebauer (1891). Depois surgiram a

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Lacta (1912), a Nestlé (1921), a Kopenhagem (1928) e a Garoto (1929). O chocolate mais popular no país é o Diamante Negro, apelido do jogador brasileiro Leônidas, sensação da Copa do Mundo da França (1938), o inventor do ‘gol de bicicleta’. O Sonho de Valsa e Amor Carioca são seus rivais. Fernando Pessoa, que morreu pelo uso do álcool, no seu poema maior, de título alusivo ao fumo (Tabacaria), enfatiza: Come chocolates! / Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Obeso e propenso a adições, Tim Maia juntou ‘4 Cs’ da cafeína e cantou o chocolate (1993) como eufemismo para o haxixe: “não quero café, não quero chá, não quero Coca-Cola, me liguei no chocolate”. O chocolate tem mais visibilidade na arte ocidental que o chá e o café. Como nas pinturas de Liotard, o chocolate estreou na tela do cinema na boca de uma mulher – Jean Harlow, na comédia romântica Dinner at Eight (1933). No clássico A Fantástica Fábrica de Chocolate, cinco crianças fazem uma viagem parecida com a de Alice, pelo país das maravilhas de uma fábrica de chocolates. Tal Sofia Loren com o espaguete, Katherine Hepburn, elegante e esguia, se definia

pelo chocolate: “O que você vê pela frente, meu amigo, é resultado de uma existência de chocolate”. No belo romance (e filme), ‘O chocolate’, apropriadamente escrito por uma mulher, uma jovem mãe solteira distribui, via o chocolate que confecciona, o bem e a magia entre os habitantes de uma pequena aldeia, desde a anafrodisia conjugal até a coragem de cortejar a mulher amada. O chocolate divide com o ovo e o coelho, símbolos clássicos de fertilidade, a presença na Páscoa cristã, celebrada exatamente na data astrológica dos antigos ritos pagãos de primavera: primeira lua cheia depois do equinócio vernal nórdico. Acosta escreveu que os espanhóis “morriam por uma taça de chocolate” e não sabemos se o sentido era figurado ou literal. De fato, a cor escura, o sabor marcado, o intenso aroma e a consistência viscosa fizeram do chocolate uma arma, o veículo ideal para camuflar a presença de cianureto, o ‘punhal feminino’. Quando o bispo de Chiapa Real proibiu as damas espanholas de beber chocolate na missa houve tumulto na Catedral. Pouco depois o bispo morria misteriosamente, convencido de que fora envenenado por uma taça de chocolate. Há quem afirme que o papa Clemente XIV foi envenenado com chocolate pouco depois de extinguir a Ordem dos Jesuítas (1774), grandes aficionados da bebida. E, conforme a lenda, a baronesa decidiu dar fim a anos de infidelidade conjugal, oferecendo ao esposo uma fumegante taça de chocolate. “Se tivesses colocado açúcar em vez de veneno, o sabor seria melhor ainda” teriam sido as últimas palavras do marido. Talvez o barão soubesse a sorte que o esperava, mas que chocólatra recusaria uma taça fumegante? FernandO lOkschin é MédicO e gOurMet fernando@ vanet.com.br


Vida

A alegria de correr P O R

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ERA UMA QUENTE QUARTA-FEIRA, DIA DE TREINO DE CORRIDA NA PISTA, E EU ESTAVA FINALIZANDO UMA SÉRIE DE 400 METROS. FALTAVAM DUAS OU TRÊS REPETIÇÕES, EU VINHA FAZENDO TUDO DENTRO DO TEMPO ESPERADO, MAS NENHUMA HAVIA SIDO TÃO BOA COMO A PRIMEIRA. MEU TREINADOR ME SUGERIU EXPERIMENTAR UMA PASSADA E UMA POSIÇÃO DO CORPO DIFERENTES. NÃO DEU OUTRA: SEGUNDOS SUMIRAM DO MEU TEMPO, E A SÉRIE DE 400 TERMINOU MELHOR DO QUE COMEÇOU. E EU FUI "SOLTAR" FELIZ, FELIZ.

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Vida Há alguns anos, o trecho que dá início a este texto teria um entendimento tão restrito que talvez só fosse indicado para revistas sobre treinamento. Hoje, tenho certeza, os administradores de empresa Caroline e Felipe, o fotógrafo Silvio, o profissional do mercado financeiro Antonio, o gerente de hotel Hernan, a psicóloga Daniela, os funcionários públicos Gabriela e Eduardo, a tradutora Lúcia, entrevistados para esta reportagem, além de (muito provavelmente) você, compreendem inteiramente a importância de segundos a menos num tiro de 400 metros e a minha felicidade por conseguir essa marca. Mais do que isso: podem “se ver” na descrição acima. Por quê? Porque hoje em dia todo mundo treina corrida. Fenômeno Ok, força de expressão dizer que todo mundo treina corrida, mas ninguém duvida de que a prática se popularizou muito. Basta dar uma circulada pela Avenida Beira-Rio, aos sábados pela manhã: são dezenas de barraquinhas, das chamadas assessorias esportivas, e centenas de pessoas indo e vindo pela orla até completarem os longões, os treinos de 12 km, 14 km, 21 km. Gente dos mais variados perfis, com ou sem histórico em outros esportes, que encontrou na corrida a forma mais fácil de manter a forma, aliviar o estresse, fazer novos amigos e superar marcas pessoais. Foi-se o tempo em que aquele vizinho que, com sol ou chuva, está de tênis e boné para cima e para baixo e que viaja pelo mundo participando de maratonas era uma figura excêntrica. Uma busca simples na internet vai listar diversos blogs relatando experiências parecidas. “Em 2005, uma corrida grande em Porto Alegre, com

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DANIELA LONTRA, 35 ANOS, PSICÓLOGA

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“Gosto muito de me sentir desafiada em qualquer situação, seja profissional, seja pessoal. Penso sempre que vou conseguir superar e dá certo! Quando comecei, a ideia era uma conquista de cada vez. A cada treino, a missão de terminá-lo e assim por diante.”

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exceção da maratona, reunia mil participantes e uma pequena tinha 200. Hoje, uma pequena reúne cerca de mil pessoas e as grandes chegam a somar até 5 mil participantes. Em outros estados, o crescimento ainda é mais significativo”, compara Paulo Silva, há mais de 30 anos envolvido com esse esporte, como atleta, treinador, diretor do Clube de Corredores de Porto Alegre (Corpa) e organizador de provas. O número de competições ao ano é outro indicador do fenômeno. São tantas que os treinadores das assessorias esportivas precisam organizar em quais delas seus alunos e atletas vão participar, a fim de evitar sobrecarga e respeitar os ciclos de treinamento. “Há grandes empresas voltadas para a organização de eventos. As provas viraram festa, diversão. Uma mudança de mentalidade, no sentido de mais pessoas buscarem qualidade de vida e menos estresse, fez gente de mais poder aquisitivo tentar a corrida. Gente capaz de adquirir produtos, as marcas aproveitaram isso, investem, as corridas têm cada vez mais patrocinadores. Uma coisa puxa a outra”, resume Eduardo Remião, um dos mais experientes treinadores de corrida de Porto Alegre. E vêm mais competições por aí. Por causa da boa demanda, os próprios treinadores organizam eventos. Está na pauta da Associação dos Grupos de Corrida (sim, já há uma associação específica para eles, criada oficialmente em junho deste ano) uma reunião entre os técnicos organizadores de provas para definirem um calendário com datas compatíveis, de modo que uma não atrapalhe a realização de outra. Segundo seu presidente, Rogério Menegassi, a asso-

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ANTONIO CABEDA, 26 ANOS, PROFISSIONAL DO MERCADO FINANCEIRO

“Até hoje, numa prova de 10 km, quando vai chegando ao km 9, me dá um arrepio no corpo, tem uma liberação de adrenalina que é muito louca! O coração acelera e é uma sensação muito boa de dever cumprido, de ter conseguido alcançar os meus objetivos.”


CORRER É MUITO MAIS DO QUE CALÇAR UM PAR DE TÊNIS E SAIR POR AÍ


Vida ciação conta com 81 assessorias, representando cerca de 3,5 mil atletas/alunos/corredores. Juntos, como entidade representativa, pretendem ter mais força na hora de propor melhorias para os eventos e pressionar governantes na busca por locais de treinamento mais seguros e iluminados. Na última reunião também se debateram a ordem e o local de montagem das barracas nas provas. São tantas que detalhes assim são importantes. Esses e tantos outros, que passam despercebidos por quem apenas vai lá correr ou assistir. Exemplo é a necessidade de segurança. Quando as provas são pela manhã, a estrutura toda precisa ser montada no dia anterior. Quem cuida durante a noite? Gente como o Leandro Oliveira Baum, acostumado a passar a noite nos parques sempre que a loja na qual é segurança monta tenda em eventos de corrida. “Nunca corri, não... De corrida, só lembro de ter feito no quartel. Não vejo nem a largada”, conta ele, atento à movimentação que crescia ao redor da barraca sob sua responsabilidade na noite de realização da POA Night Run, em setembro. A prova reuniu cerca de 2 mil participantes. Mas mais do que o dobro disso circulou por ali, segundo Claudio Soiresmann, um dos sócios da RunSports, organizadora do evento. São acompanhantes, amigos, familiares, simpatizantes atraídos pela megaestrutura: lounge, música, estandes de produtos que vão do pão com fibras aos últimos modelos em roupas e tênis, além de espaço para alongamento e massagem. Ali no meio, a gente quase esquece de que está em uma prova de corrida. Para que isso tudo funcione são necessárias mais de 200 pessoas, desde a montagem das tendas até a entrega de água ao longo do percurso.

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LÚCIA BRITO, 46 ANOS, JORNALISTA E TRADUTORA

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“Quando bate a vontade de afrouxar, eu sempre penso que falta pouco, que é melhor segurar assim pra terminar o quanto antes, lembro que treinei para fazer aquilo, que dei duro nos treinos e é hora de valorizar e honrar meu esforço prévio.”

Yes, you can E precisa de técnico, orientação e planilha de treino para correr? Era o que se perguntava o Felipe Melnick, 31 anos, administrador de empresas, que saía para correr pela cidade conforme mandava a sua cabeça. “Por que preciso combinar com um grupo de pessoas para correr? Ou... para que pagar para correr?”, se perguntava ele quando pensava nos grupos de corrida formados sob a orientação de um educador físico. Felipe continua: “Eu via os grupos de corrida no Parcão, eu e minha esposa, até que decidimos entrar. Uma coisa que dá medo ao corredor solitário é o inverno aqui no Estado. Eu corro às 7h... no inverno é terrível... num grupo, um motiva o outro. Bom, quando eu entrei na assessoria Clube da Endorfina, eu achava que os meus 6 minutos por km era correr bem... (risos) O meu tempo era o pior! Um ano e meio depois, eu faço o quilômetro para 4min30s. Treino orientado faz diferença!”. Uma mudança na forma de encarar a corrida, agora como um esporte realmente competitivo, desafiador e para todos, também colaborou para a sua popularização. Quem buscou as assessorias esportivas, seja para fazer amigos, seja para se motivar com o grupo ou para não desistir no primeiro vento sul que batesse na orla do Guaíba, descobriu que a corrida é muito mais do que vestir um tênis adequado e sair por aí. Tem ritmos diferentes, tem técnica, tem evolução. Descobriu que a forma como movimenta o braço, posiciona a cabeça ou executa a passada altera a velocidade e, por consequência, o resultado final. Caroline Logemann, 35 anos, também do Clube da Endorfina, que já baixou em seis minutos seu tempo em

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ANTONIO CABEDA, 26 ANOS, PROFISSIONAL DO MERCADO FINANCEIRO

“Ignoro o corpo. Penso que é um sentimento recorrente, que sempre volta em torno do km 7 nas corridas de 10 e no km 15 nas de 21 km. Eu foco na passada, na respiração e tento me ver ‘de fora’ do corpo. Realmente uma coisa quase contemplativa, de modo a superar os momentos críticos.”


COMPETIR SERVE COMO MOTIVAÇÃO PARA TREINAR MAIS UMA GRANDE REVOLUÇÃO

EFEITOS METABÓLICOS

DICAS DA NUTRI

Você decide correr regularmente e pronto: a cada treino, seu corpo vai experimentando uma gigantesca revolução. A nutricionista Dra. Daniela Feio Fernandes lista alguns exemplos disso e acrescenta: “Poderíamos enumerar efeitos cognitivos, psicossociais e terapêuticos. Então, ao estabelecermos uma relação positiva entre a prática de atividade física e a capacidade funcional do indivíduo, podemos falar tranquilamente de uma grande revolução”.

Aumento de sangue circulante, da resistência física em 10-30% e da ventilação pulmonar; Diminuição da frequência cardíaca em repouso e no trabalho submáximo e da pressão arterial; Melhora dos níveis de HDL e diminuição dos níveis de triglicérides, colesterol total e LDL, dos níveis de glicose sanguínea; Melhora nos parâmetros do sistema imunológico, sendo associado a menor risco de alguns tipos de câncer (cólon, mama e útero); Diminuição de marcadores anti-inflamatórios associados a doenças crônicas não transmissíveis; Diminuição do risco de doença cardiovascular, acidente vascular cerebral, tromboembólico, hipertensão, diabetes tipo II, osteoporose e obesidade

A ausência de fome imediatamente após treino intenso se deve ao fato de a atividade elevar a temperatura corporal, alterando o perfil da hipófise, que bloqueia a sensação de fome, além de estimular a queima de gordura. Nada de barriga vazia na hora de treinar. Apesar de depender da frequência, do horário, do volume e da intensidade da atividade, deve ser evitado o consumo de carboidratos com elevada carga glicêmica (açúcar), pois isso gera pico de insulina, o que inibe a queima de gorduras. Opte por carboidratos menos refinados combinando com proteínas e gorduras de alta qualidade. Um exemplo: suco verde + queijo branco + algumas unidades de castanha-do-pará. Beba água ao longo do dia, não somente durante ou depois da atividade física. Se o atleta bebe com intuito de matar a sede é porque já está em déficit e conseguirá repor apenas metade do que foi perdido.

EFEITOS ANTROPOMÉTRICOS Controle ou diminuição da gordura corporal; Manutenção ou incremento da massa muscular, força muscular e da densidade óssea; Fortalecimento do tecido conectivo; Melhora da flexibilidade.


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TREINAR ALIVIA O ESTRESSE E AJUDA A MANTER A provas de 10 km, comenta: “Não tinha ideia de como funcionava o treinamento de corrida, achava que era coisa só para pessoas que quisessem competir e que era sinônimo de renúncias e muito esforço, às vezes até de sofrimento. Para mim, correr era só colocar o tênis e sair por aí e aumentar a distância de acordo com a minha resistência. Talvez seja por isso que começava e sempre desistia...” Eduardo Reis, 56 anos, nunca desiste: com a ajuda de um treinador, aprendeu a dosar o ritmo e comemora conquistas na pista e fora dela: emagreceu 15 quilos, parou de fumar e bebe eventualmente. “Faço provas de 10 km com tranquilidade”. Com método, as assessorias esportivas ensinam as pessoas a correr gradualmente. A evolução é rápida e isso acaba servindo de motivação. Quem nunca correu dificilmente escapa de um início semelhante a este: trotes leves e corridas alternadas com caminhada. Assim começaram a Daniela Lontra, 35 anos, e o Hernan Binaghi, 40 anos. O grupo de corrida foi criado no local onde

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trabalham, sob orientação de profissionais da Ápice Academia, como forma de aliviar tensões. Não conseguiam correr por mais de três minutos sem cansar. “A impressão inicial é de que seria extremamente difícil, quase impossível pensar em correr 5 km. Hoje, isso já é algo normal”, conta Daniela. Atualmente, ela e Hernan são capazes de treinar por 40 e 50 minutos ininterruptos e participam de provas com desenvoltura. “Ter corrido minha primeira maratona, no evento de Porto Alegre, este ano, foi minha primeira grande vitória... Mas participar de uma prova em Gramado, agora em setembro, à noite, com frio e chuva, subidas, terminando com vontade de seguir correndo foi wow!”, empolga-se Hernan. Depois de ter duas filhas e se ver longe dos esportes por demandas profissionais, Gabriela Coelho, 38 anos, funcionária pública, cansou de apenas assistir às competições que a RaiaSul Assessoria Esportiva organizava na rua onde morava e encarou o desafio de fazer parte delas. “Para retomar a autoestima, emagrecer e voltar a ter


FORMA, FAZER NOVOS AMIGOS E SUPERAR DESAFIOS ânimo pelas coisas boas da vida, o esporte foi fundamental”, afirma. Ela, que começou os treinos alternando corrida e caminhada, atualmente faz provas de até 14 km e serve de exemplo para as filhas, que começaram a correr também. No condomínio na zona sul, para o qual se mudou após se casar novamente, tem um grupo de corrida do qual participa. “A corrida consegue juntar muitas pessoas, sem discriminação. Você pode correr apenas 5 km e está lá, incluída no rol dos corredores”, lembra. Correr reorganiza a vida Treinar corrida regularmente é transformador. Quanto mais sedentário se é, mais maravilhado se fica com as mudanças proporcionadas pela prática regular de uma atividade física. Isso a química explica. Adrenalina, endorfina... com certeza conhecemos esse papo. Mas a transformação vai além. Muda a forma de nos alimentarmos, e não é frescura: o corpo realmente “pede” escolhas mais saudáveis porque assim responderá de forma mais efetiva ao treinamento. Muda a relação com prazeres esque-

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“Não há prazer que se compare ao experimentado quando cruzamos a linha de chegada em uma prova.” EDUARDO DIAS, 56 ANOS, FUNCIONÁRIO PÚBLICO

“Minha condição física e mental melhorou 100% desde que comecei a treinar. Eu vejo a corrida como um estilo de vida.” CARLOS HERNAN BINAGHI, 40 ANOS, GERENTEGERAL DO HOTEL SHERATON DE PORTO ALEGRE

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ORIENTAÇÃO É FUNDAMENTAL Quer encontrar prazer na corrida? Busque orientação com profissionais capacitados. Eles estabelecerão metas, organizarão frequência e volume adequados, evitando riscos de lesões. É a melhor forma para não desistir na segunda semana. “A maior incidência de lesão está no começo do treinamento, principalmente na fase de transição entre caminhada e corrida”, afirma Frank Silvestrin, da RaiaSul Assessoria Esportiva. “Os grupos de corrida são uma excelente forma de integração social e motivação para os participantes, mas dificilmente o grupo vai ter um condicionamento homogêneo. Os treinos são individuais, de acordo com a necessidade de cada membro do grupo”, lembra Rafael Souza, que coordena a modalidade na Ápice Academia. Quem pegar gosto pela corrida vai querer evoluir sempre. A partir de determinada fase, é importante pensar em atividades de reforço ou compensatórias para a musculatura, como pilates, exercícios funcionais, musculação, entre outros.

RECOMENDAÇÕES PARA QUEM DESEJA COMEÇAR A CORRER REGULARMENTE realizar um check-up buscar um profissional para avaliar sua condição física geral e prescrever treino adequado usar tênis adequado para o tipo de treino e roupas de tecidos leves, priorizando conforto térmico correr em locais seguros, próximos da residência ou do local de trabalho, porque aumentam as chances de você não desistir evitar as ruas da cidade, com calçamento imprevisível, até conquistar uma boa mecânica de corrida evitar dias e horários muito quentes comprometer-se com a hidratação mesmo que o corpo pareça não estar “pedindo” reconhecer os limites de seu corpo e os respeitá-los. FONTE: RAFAEL SOUZA, COORDENADOR DO GRUPO DE CORRIDA DA ÁPICE ACADEMIA


CORRER MUDA A RELAÇÃO COM A CIDADE: VOCÊ CONHECEM RUAS E PARQUES DE OUTRA FORMA cidos: num treino forte, sob calor, reconhecemos o imenso valor de um gole de água fresca. Muda a forma de encarar a passagem de tempo, afinal, intervalos de 30 segundos são oásis no meio de uma série forte de pista. E digo até que muda a nossa relação com a cidade: você conhece parques e ruas de outra forma, correndo por aí. Que o diga quem, por força do trabalho, vive viajando, como o fotógrafo Silvio Ávila, 44 anos. “Já corri em pracinha no interior da Bahia, dando volta e volta até completar meu treino, já corri em meio de estrada que corta a floresta no Pará, e em lugares muito bacanas como a beira da praia na Paraíba”, conta. Porque é assim: quem adota a corrida como hábito não consegue ficar sem. No hotel de destino, Silvio chega a se preocupar primeiro se há um local próximo para correr do que se haverá sol e luz suficientes para fotografar no dia seguinte. Felipe Melnick e Julia Dubin, corredores e recém-casados, ficaram aliviados quando garantiram que no cruzeiro da lua de mel havia lugar para treinar. Gabriela Coelho descreve efeitos bem comuns da abstinência: “Se fico sem correr, perco disposição para outras coisas. Fico frustrada, mal-humorada e interfere na qualidade do meu sono”. Imagina o Antonio Cabeda, 26 anos, sem corrida! Olha o que ele diz: “A corrida é essencial depois de um dia de trabalho para eu conseguir relaxar à noite. Eu digo que a minha semana começa mesmo sábado à tarde, porque corro pela manhã, chego em casa, faço um almoço leve, durmo duas horas e deu, estou pronto para começar a semana”. Lúcia Brito, 46

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GABRIELA COELHO, 38 ANOS, FUNCIONÁRIA PÚBLICA

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“Mesmo que eu não seja uma atleta de elite, nem perto, o resultado individual da corrida é algo que gera uma satisfação pessoal inigualável. Saber que estão torcendo por ti, que a prova é o resultado do treinamento traz uma satisfação muito grande. É maravilhoso.”

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anos, sua colega na equipe Perfect Run, mata a charada: “Sei o quanto o treino faz bem para mim em todos os aspectos, e é isso que me motiva. Alivia a tensão, ajuda o corpo e a mente a manter um estado de alerta, mas relaxado. O treino organiza o corpo, porque me sinto bem disposta, cheia de vitalidade, forte e flexível. E ajuda a organizar a vida, porque requer dedicação, disciplina, paciência, persistência, às vezes resignação, qualidades que se usa em tudo nesta vida”. É porque a corrida presenteia seus adeptos com tantas maravilhas que matar treino é um crime. A consciência não perdoa. Para manter a rotina de suor impecável, com disposição, alguns “sacrifícios” são necessários, como abreviar a vida noturna. “O que mudou na minha vida depois dos treinos é que sexta-feira eu não saio mais (risos), já que corro sábado pela manhã!”, diz Antonio. Com o que concorda a Caroline: “Não tenho mais disposição pra fazer uma balada até tarde como antes. Minhas amigas brincam e me chamam de velha ou de chata por não sair tanto. Elas já sabem que na sexta-feira tenho que dormir cedo pra acordar disposta pra correr sábado pela manhã. Ao mesmo tempo, elas ficam contentes quando faço uma prova e melhoro os meus tempos. Vale a pena!”, garante. Mas a nova rotina social implica novos amigos, corredores também: “E com a vantagem de ser um pessoal muito de bem com a vida, afinal, ninguém se prestaria a levantar às 8h para correr 20km num sábado chuvoso não fosse bem resolvido”, acrescenta Antonio.

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CAROLINE LOGEMANN, 35 ANOS, ADMINISTRADORA DE EMPRESA

“A minha primeira prova de 10km, em setembro de 2009, foi a mais significativa pra mim, chorei, dava pulos de alegria e já queria saber quando seria a próxima!”

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PARA AMAR, VENEZA T E X T O S

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A CIDADE DOS APAIXONADOS Veneza é uma viagem no tempo às margens do Adriático. A cidade dos Papas, dos poetas e dos apaixonados. Mas também é a cidade dos músicos, dos escritores e, óbvio, dos fotógrafos. Fotografar Veneza é uma alegria. Há 14 séculos seus moradores vivem dentro d’água, sem avenidas, sinaleiras, buzinas, carros, ônibus ou metrô – o transporte aqui é o exercício de caminhar, e às vezes remar.

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CANAIS E PONTES IMORTALIZADOS Os vaporetos e as charmosas gôndolas deslizam pelos canais mais românticos do mundo, que arrancam suspiros até dos condenados. Pode parecer estória, mas é história. Veneza é assim há quase 800 anos: centenas de ilhas entrelaçadas por mais de 150 canais e 400 pontes, várias delas imortalizadas por caras como Dante Alighieri – ponte dos Suspiros – ou Casannova – ponte do Rialto.

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O DESPERTAR DA POESIA Casa e cenário dos Doges, de Lucrécia Bórgia, das intrigas, do carnaval, do comércio, mas antes de tudo, das artes. Hometown ou lar temporário de gente como Mozart, Verdi, Vivaldi, Goethe, Wagner, Tintoretto, Canaletto e uma centena de outros mestres. Hoje, 12 milhões de pessoas visitam Veneza todos os anos, e garanto que a sensação da grande maioria é sentir o despertar da poesia e da paixão.

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UM BRINDE AO AMOR Ninguém fica imune ao esplendor da cidade, seus palácios, suas varandas com gerânios, as pontes, até os pombos. Por mais que você resista não há como não se apaixonar por Veneza. Que o digam Toscanini, Marconi, Somerset Maughan, Charles Chaplin, Orson Welles, Truman Capote, Gore Vidal, Fulvio Roiter, Braque, Peggy Guggenheim (não deixe de visitar o museu) e, claro, Ernest Hemingway, por quem os sinos dobram em Veneza. Em homenagem a todos eles e a você mesmo, vá no final da tarde ao Harry's Bar, peça um Bellini e erga um brinde. Ao Amor! P.S.: O Harry’s Bar fica na Calle Vallaresso 1323. Só cuidado para não encontrar o Diogo Mainardi...

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Ser & Vestir ROBERTA GERHARDT

ALFAIATARIA SOB MEDIDA TRANSFORMA O HOMEM Muitos homens ainda desconhecem o quanto o guarda-roupa masculino pode ser tão ou mais sofisticado que o feminino. Para tanto, basta uma visita a um bom alfaiate. Londres concentra as mais refinadas casas de alfaiatarias da Inglaterra. Na lendária rua Savile Rown, um terno feito à mão com corte e caimento impecáveis e louvados mundo afora custa a partir de cinco mil dólares. Os clientes são frequentadores assíduos que querem produtos do mais alto nível ou são pessoas que estão adquirindo um terno feito à mão pela primeira vez e não querem errar. É interessante acompanhar o sucesso inabalável das tradicionais casas de alfaiataria da Europa quando se sabe que o homem está a cada dia mais conformado à praticidade da roupa pronta. Seja porque o prêt-à-porter masculino tem excelente qualidade, seja porque o guarda-roupa masculino está cada dia mais casual, acompanhando o cotidiano do dresscode profissional, que tem exigido cada vez menos o terno e gravata para o trabalho. Às vezes, tal casualidade beira a falta grave na correta apresentação, mas isso é outra história. O interessante é que talvez o que melhor explique a perpetuação das tradicionais casas de alfaiataria em plena era do fast fashion é a magia que a roupa impecável e feita sob medida sempre oferece. É indiscutível o quanto o homem se transforma sempre para melhor quando veste uma roupa de corte e tecido adequados a sua silhueta e estilo pessoal. Mas não é só isso. Há um outro aspecto sutil, porém fundamental: o guarda-roupa passa a ter alma e elegância. Com um bom alfaiate de confiança, o homem aprende o que lhe veste bem e passa a reconhecer o que é bom. Todo este conhecimento lhe oferece uma segurança no vestir; e este bem-estar confere uma felicidade que o torna elegante naturalmente.

dicas imperdíveis PARA DAR UM CHARME SOFISTICADO À CAMISA QUE ACOMPANHA O SEU TERNO OU COSTUME, ESCOLHA LINDAS ABOTOADURAS. SE O EVENTO FOR BEM FESTIVO, ELAS DEVEM SER RICAS NOS DETALHES. NO COTIDIANO, ABUSE DE MODELOS SIMPLES E SEM BRILHO QUE ACOMPANHAM ATÉ UM JEANS TRADICIONAL COM CASACO DE COURO.

PARA QUEM ESTÁ ACIMA DO PESO O IDEAL É ESCOLHER UM MODELO DE TERNO CUJO PALETÓ TENHA FENDAS TRASEIRAS DUPLAS. ELAS OFERECEM CONFORTO E AFINAM A SILHUETA. EVITE O MODELO SEM FENDAS, QUE ESTÁ EM EXTINÇÃO.

UM COLARINHO IMPONENTE, ASSIM COMO ABOTOADURAS, TRANSFORMA O VISUAL. O CORRETO COLARINHO PRECISA ESTAR COM UM DEDO E NADA MAIS DE DIFERENÇA ENTRE O SEU PESCOÇO E O COLARINHO, OK?


MIL MANEIRAS DE USAR A RENDA NO DIA A DIA As rendas voltaram e prometem invadir intensamente o guarda-roupa feminino de todos os estilos e situações. Ousadas ou comportadas, com toques tradicionais ou em construções bem irreverentes, elas sempre revelam o corpo com delicadeza, imprimindo feminilidade. Nos looks de festa, as rendas há muito tempo já são clássicos consagrados que ajudam a sofisticar o traje. Como elas nunca saem de moda, é um charme você incrementar um vestido bem básico com um toque de renda antiga garimpada em um bom brechó ou, ainda, herdada de alguém especial. A tendência do momento é trazer a sofisticação e a delicadeza da renda para o guarda-roupa do cotidiano, em peças como camisas, blusas e saias. A proposta é misturá-la com roupas de alfaiataria bem sisudas ou a jeans bem descolados, sugerindo desconstruções e pequenas ousadias. Para quem deseja seguir a moda, atenção: a renda em peças casuais pode deixar o look com carinha retrô. Se essa não é a sua vontade, experimente construir um look preto total com a renda. Outro desafio comum é que a renda tende a envelhecer a mulher, principalmente se as peças são mais comportadas. E isso nem sempre agrada. Mas quando a renda está em peças mais ousadas, impõe um estilo sexy e bem feminino, o que também nem sempre é o que se deseja, principalmente para um look casual day. Mesmo com tantos desafios, vale a pena experimentar vestir a delicadeza da renda no seu dia a dia. Tenha bom senso, um bom espelho e boa sorte! ROBERTA GERHARDT É CONSULTORA DE MODA E ESTILO E COMPORTAMENTO robertagerhardt@terra.com.br

ASSIM COMO AS RENDAS, AS SOBREPOSIÇÕES E OS TONS FORTES ESTÃO MUITO ATUAIS. INVISTA EM UM CLÁSSICO VESTIDO TUBINHO DE COR INTENSA COM RENDA SOBREPOSTA DA MESMA COR OU PRETA. VISTA MEIA-CALÇA E SAPATO PRETO FOSCO. LOOK FÁCIL, ARRUMADO E QUE VALORIZA QUASE TODAS AS SILHUETAS COM CHARME.

CONTRASTE DE COR PODE TRAZER SOFISTICAÇÃO. COMBINE BLUSA OU CAMISA DE RENDA DELICADA COM CALÇA OU SAIA JEANS DE LAVAGEM DESGASTADA E COM RASGOS. ARREMATE COM UM SALTO ALTO E UMA CLUTCH COLORIDA. LOOK JOVIAL E CASUAL!

ATENÇÃO! RENDAS SÃO SEMPRE PROIBIDAS NO GUARDA-ROUPA DE TRABALHO. ELAS OFERECEM TRANSPARÊNCIAS E SENSUALIDADES QUE NUNCA COMBINAM COM O AMBIENTE PROFISSIONAL. GUARDE SUAS RENDAS PARA MOMENTOS DE LAZER, OK?


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Impressão digital da P O R

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I R E N E

M A R C O N D E S

F OTO S

L E T Í C I A

R E M I Ã O


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Arte TOPOMORFOSE. A ARTE DE HELOISA CROCCO Você já parou para olhar os anéis de crescimento do tronco de uma árvore? Já se deixou perder em pensamentos ao analisar os labirintos sinuosos que eles formam? Pois o exercício vale a pena e revela grafismos únicos que a natureza nos oferece sem cerimônia. Você pode dar o nome que desejar a este espetáculo. Heloisa Crocco, no entanto, escolheu chamar de Topomorfose – impressão digital da natureza. Há mais de três décadas esta renomada artista plástica gaúcha estuda as linhas e as texturas da madeira. Com o resultado dessas pesquisas, impregnadas de um rigor formal que lhe é característico, criou-se uma gama incontável de produtos. As matrizes aparecem aplicadas como desenho de superfície em louças, tecidos e papéis. As aparas da madeira transformam-se em objetos artísticos autônomos como os painéis; verdadeiras obras de arte reconhecidas aqui e muito além. No dia 25 de setembro, Heloisa Crocco lançou o livro Topomorfose, que retrata profundamente as características que marcam o processo criativo do seu trabalho. O livro busca ter autonomia editorial e estética, conduzindo o espectador em uma viagem visual que transita entre os marrons e os beges – matizes que ganham uma vida sem precedentes nas fotografias de Fabio Del Re e Carlos Stein. Ao final da obra, quando se imagina que nada mais poderá surpreender, salta das páginas o poema de José Alberto Nemer. “Considero este livro uma construção”, resume Heloisa Crocco em entrevista concedida a Estilo Zaffari na ocasião do lançamento. A recepção organizada no jardim de sua casa-atelier, em Porto Alegre, estava em absoluta sintonia com a beleza da obra e das pessoas que por ali passaram naquela tarde primaveril. Os quitutes ficaram sob o comando da renomada chef gaúcha Neka Menna Barre-


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Arte

OS QUITUTES DE NEKA MENNA BARRETO HOMENAGEARAM O TRABALHO DA ARTISTA 88

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to. Pela terceira vez ela saiu de São Paulo, cidade onde reside, especialmente para comandar um evento da amiga Heloisa. A mesa de madeira do jardim parecia uma tela em branco que foi se cobrindo, sem pressa, de pequenas obras-primas gustativas. As cores e as formas teceram uma clara homenagem ao trabalho de Heloisa. “Fiz um bolinho de avelã propositalmente, pois se olharmos a pele deste fruto em muito lembra a madeira”, conta Neka. Uma gamela recebeu lascas de pimentões vermelhos e amarelos que, quase submersos no molho shoyo, se embebiam de azeite de romã. “Encontrei muitos legumes e frutas orgânicas na feira da Redenção”, revela a quituteira. Foi regada ao sumo do limão-cravo (ou seria limão-bergamota?!) que Neka preparou uma refrescante salada de palmito fresco, lentilha germinada e grão de bico. Decorando a mesa, copos de leite. Belos, certamente. Mas não eram eles que exalavam os aromas que nos remetiam a uma atmosfera familiar, quase íntima. As notas delicadas vinham das cestas com hortelãs, salsinhas e cebolinhas que decoravam a mesa com uma presença intrigante entre o singelo e o magnífico. “Não trocamos uma única palavra sobre o cardápio”, conta Neka. “Nossa relação é de confiança mútua e isso me dá uma liberdade de criação fantástica”, revela. De São Paulo, Neka carregou mais de 180kg de ingredientes. Na cozinha de Heloisa eles se transformaram nas delícias que encantaram os convidados. Montada dentro de um contêiner e cravada no jardim da casa-atelier, a cozinha gourmet é outro espetáculo à parte. O artista plástico Maximo Soalheiro, que veio de Belo Horizonte especialmente para o lançamento do livro, conta que a cor “vermelho de ferro” foi criada por ele (ceramista e tipógrafo mestre em pigmentação) especialmente para cobrir o duro metal do contêiner. “A cor não poderia ser muito brilhante, mas também não poderia deixar de ter brilho. Heloisa tem muita presença”, resume Soalheiro. Sem dúvida. Presença é o que não falta na vida e obra desta artista plástica gaúcha.


Arte LIVRO REVELA COM PROFUNDIDADE OS ESTUDOS DA TOPOMORFOSE JOSÉ ALBERTO NEMER EXPLICA O TERMO TOPOMORFOSE – IMPRESSÃO DA NATUREZA A PARTIR DAS RAÍZES DAS PALAVRAS: TÓPOS – LUGAR, ENTRANHAS. MORPHE – A FORMA. COMO FOI QUE VOCÊ CONSTRUIU ESSE TERMO? ELE SEMPRE ACOMPANHOU O SEU TRABALHO? Estudando o corte em TOPO da árvore e viajando em seus anéis de crescimento, com todos os desenhos possíveis de combinar com aquele grafismo que a natureza oferece, entendi que era uma proposta de mudança no topo, por isto coloquei o nome de TOPOMORFOSE. O termo nasceu no momento em que entendi que o resultado da pesquisa não era um tratado da estrutura da origem da formação dos anéis, e sim todos os desdobramentos que se originam dos desenhos e suas infinitas variações; os padrões, as matrizes. DESDE 1980 VOCÊ ESTUDA OS DESENHOS QUE FORMAM OS VEIOS DA MADEIRA. A QUE TRABALHOS E PRODUTOS ESTES ESTUDOS DERAM ORIGEM? Muitos. Desde uma série de desenhos de superfície que foram aplicados em coleções de louça, lençóis, papelaria, entre outros itens, até a exploração de uma diversidade enorme nas texturas que estão nos painéis de parede. E AGORA, TRÊS DÉCADAS DEPOIS, VOCÊ LANÇA UM LIVRO INÉDITO SOBRE O PROCESSO CRIATIVO DO SEU TRABALHO. CONTE-NOS SOBRE O

PROJETO, AS PESSOAS ENVOLVIDAS NA ELABORAÇÃO E O RESULTADO FINAL DA OBRA. Considero uma construção. Todos os envolvidos no projeto do livro viram a ideia nascer e acompanharam o passo a passo da pesquisa, sua construção e aplicações. Cada um fez sua parte, que resultou neste belo exemplar. O trabalho da Editora Paiol, trilíngue, tem concepção e roteiro assinados por José Alberto Nemer, fotografias de Fábio Del Re e Carlos Stein, da VivaFoto, e design gráfico criado por Marcelo Drummond. O LANÇAMENTO ACONTECEU DIA 25 DE SETEMBRO, NO JARDIM DA SUA CASA-ATELIER, EM PORTO ALEGRE. A RENOMADA QUITUTEIRA NEKA MENNA BARRETO VEIO DE SÃO PAULO ESPECIALMENTE PARA PREPARAR A RECEPÇÃO. COMO FOI O EVENTO? Um verdadeiro ENCONTRO CRIATIVO E AFETIVO para brindar o livro. HÁ ANOS VOCÊ ORIENTA O SEU TRABALHO EM DIREÇÃO DA SUSTENTABILIDADE E DO REAPROVEITAMENTO. A UTILIZAÇÃO DE APARAS DE MADEIRA DE REFLORESTAMENTO NAS SUAS OBRAS JÁ É UMA CARACTERÍSTICA MARCANTE, CONHECIDA E RECONHECIDA. O QUE MAIS VOCÊ PODE NOS CONTAR NO QUE TANGE AO DESIGN SUSTENTÁVEL DO SEU TRABALHO? O reaproveitamento no meu processo criativo é que me desafia e me conduz. É um desafio pra mim fazer de um material que provavelmente iria para o fogo uma obra de arte.


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NEKA MENNA BARRETO

CRAVADO NO JARDIM, O ESPAÇO GOURMET FOI O SEU ESPAÇO DE CRIAÇÃO, O CROCCO STUDIO DESIGN, TEM BASE NESTA CASA-ATELIER DE PINUS REFLORESTADO E TRAÇOS DA ARQUITETURA NÓRDICA, PROJETADA PELO ARQUITETO TRAJANO SILVA. QUAL FOI O SEU DESEJO AO CRIAR ESTA MORADIA QUE, COMO VOCÊ MESMA DISSE, SUBVERTE TODOS OS ESTEREÓTIPOS QUE SE TEM DE UMA CASA BRASILEIRA? A minha proposta é viver com o essencial, viver com pouco e com liberdade – este foi o mote para o projeto. Quando foi o momento de escolher o material, pensamos que nada como viver dentro da madeira, da natureza. O resto foi consequência. VOCÊ PROJETOU RECENTEMENTE UM ESPAÇO GOURMET NO SEU JARDIM, ONDE A COZINHA FICA INSTALADA DENTRO DE UM CONTÊINER. COMO VOCÊ IDEALIZOU ESTE ESPAÇO? Este espaço nasceu naturalmente pela formação do jardim do atelier. Além de ter um filho que está se formando chef na Europa. Quando ganhamos o contêiner de um grande amigo, pensamos em transformá-lo num laboratório onde se possa vir a criar quitutes e reunir 92

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pessoas interessantes para degustar. Uma mesa rodeada de amigos é uma alegria, ainda mais utilizando as louças e utensílios da Coleção Topomorfose. VOCÊ ESTÁ INICIANDO UM NOVO PROJETO AO QUAL DEU O NOME DE ARAMADOS – AS ANTIGAS CERCAS NO CAMPO. COMO ESTÁ SENDO O PROCESSO CRIATIVO DESSE TRABALHO? O Pampa gaúcho, próximo ao rio da Prata e da fronteira com Uruguai e Argentina, é a região da minha infância. Lembro-me das visitas à minha avó, das viagens em família, das porteiras que eu ia abrindo ao longo do caminho. Depois, lembro-me frequentando as estâncias dos amigos: a Santa Ambrosina, em Rosário, a Umbu, em Don Pedrito, a los Pínus, em Aceguá. Convivendo com essas paisagens, fui convivendo também com as tramas, os piques, os aramados, como costumam chamar por lá aquelas cercas no campo. Às vezes, as via transformadas num banco de fogo de chão, numa prateleira, numa moldura, numa mesa, incorporadas ao cotidiano da tradição rural. Com o reflorestamento, essas cercas estão desaparecendo. Um dia,


PROJETADO DENTRO DE UM CONTÊINER passando por Pedras Altas e Jaguarão, vi um monte delas jogadas no chão, à espera de ir para o fogo. Pedi à empresa que fazia a retirada que me desse a chance de dar àquele refugo um novo rumo e tudo foi parar no meu ateliê. São madeiras de lei, como o pau-ferro, o angico, a curunilha, a canafístula, e datam das primeiras décadas do século XX. Há anos oriento o meu trabalho em direção da sustentabilidade e do reaproveitamento. Assim, usei nesta série de painéis – a que dei o nome de ARAMADOS – o que essas madeiras podem me dar com sua textura, sua cor, o limo oxidado, os furos marcados pelo tempo e pelo vento. COM QUEM VOCÊ TEM COMPARTILHADO O NASCER DESTE NOVO PROJETO? O convívio com algumas pessoas, entre elas, o fotógrafo Fábio Del Re (que me acompanha em muitos projetos e que me trouxe registros das cercas de São Gabriel), a designer Ilse Lang e a arquiteta Helena Silveira, me confirma a importância de o artista estar atento aos estímulos daquilo que tem diante dos olhos.

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Palavra

LUÍS AUGUSTO FISCHER

COM PALAVRAS, NÃO COM IDEIAS No tempo em que a França dava as cartas no mundo intelectual – quando foi isso, mesmo? –, alguns nomes se impuseram à admiração mundial, ou ao menos ocidental. Um deles é o pintor Degas, Edgar Degas (1834-1917, quer dizer, contemporâneo do nosso Machado de Assis, 1839-1908). Manja o Degas, não é? O das bailarinas, o das cenas de dança. Fenomenal, fixou toda uma sensibilidade, que ficou conhecida como Impressionismo: contornos esfumados, cenas delicadas, luz sutil, vida urbana discreta. Outro francês com fama foi o poeta Mallarmé, que se assinava Stéphane Mallarmé mas havia recebido no registro o prenome Étienne (mesma geração, 1842-1998). São dele algumas iniciativas que sideraram os leitores e até hoje imantam os candidatos a poeta, mesmo que ao preço de afastarem os leitores: exploração de sutilezas e ambiguidades das palavras; distribuição das palavras na superfície do papel, como que imitando procedimentos das artes plásticas; investimento em temas obscuros, deixando a poesia com cara de coisa para iniciados. Dois artistas da mesma geração e do mesmo lugar, ambos com vida em Paris, ambos inventivos, só podiam ser amigos, e de fato foram. E não falta mesmo, a essa relação, uma boa historinha: conta-se que, a certa altura de vida, Degas conversou com Mallarmé sobre umas ideias que ele acalentava para fazer poesia. Degas pintava, esculpia, fazia gravuras – e ainda tinha alguma coisa escrita. Mas poesia parecia ser um limite. Então Degas tinha ideias mas não conseguia expressálas, elas não rendiam poesia. E foi aqui que, segundo relatos (o mais notável veio de outro poeta, Paul Valéry, discípulo de Mallarmé), o notável poeta respondeu ao amigo que poesia não se faz com ideias, mas com palavras. Palavras, e não ideias. Certíssimo, claro: assim como a pintura se faz com cor e sombra, o desenho com traço e ponto, a poesia se faz com palavras, uma e não outra, aquela que se escolhe após muita batalha, aquela outra que tinha sido soterrada por décadas de significados esquisitos, tudo matéria que o poeta repõe em circulação com sua arte de mexer com as palavras.

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O comentário de Mallarmé é terrível para quem começa a escrever, qualquer que seja a direção desejada ou o gênero de texto praticado. Quem se mete nos matagais da escritura – pode ser uma redação de colégio, um e-mail de amor, uma carta de demissão ou um romance, tanto faz – abre os trabalhos, regra geral, com alguma ideia na cabeça, ou um sentimento no coração, alguma ação interna que transborda e parece precisar sair, parece merecer sair. (Bem, redação de colégio é um tanto diferente, porque o texto tem que sair, na boa ou na marra, não importando o estado de espírito ou a temperatura interna do freguês.) Quer dizer: o começo de um texto, na visão de iniciantes, é a ideia – e aí chega o Mallarmé para aguar o chope, dizendo que é com palavras que se escreve. É óbvio isso: um texto se compõe de palavras alinhadas e arranjadas, com concordância e pontuação certas, como este aqui que o prezado leitor está decifrando, letra a letra, para compor o sentido do que eu estou aqui escrevendo. As palavras carregam as ideias e nos transportam a elas. Cá comigo, eu acho que a frase do Mallarmé tem também um defeito, uma omissão. É que a tese dele deixa de fora outra condição para a escritura: me refiro ao que, na falta de uma palavra mais técnica, podemos chamar de tom. Escrever depende do tom que a gente escolhe, ou do tom de que a gente dispõe, tanto quanto depende de encontrar as palavras. Para mim, pessoalmente, o tom vem antes: se eu sei que preciso escrever a sério para leitor desconhecido, por exemplo, já me associo com um determinado vocabulário e excluo outro, como é o caso presente, em que eu não sei quem é aquele que me lê agora. Bem ao contrário de um email para um amigo, em que eu posso usar gíria e relaxar quanto a detalhes de correção para contar algo íntimo e compartilhado. Enfim, eleito ou descoberto o tom, as ideias que me interessa comentar vão encontrar sua expressão, suas palavras, e o resto é serviço de clareza e competência, quando há. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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