Revista Estilo 60

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Ano 11 N0 60 R$ 4,95

Patagônia para viajantes

a cozinha criativa e moderna de floriano spiess

supersensíveis

já que o tempo não para, é preciso saber viver!

grãos, cereais e sementes para comer com prazer e saúde



n ota

d o

e d i to r

É preciso saber viver O tempo não para. Cazuza dizia isso cantando, lindamente. E todos nós, em diversas ocasiões, repetimos a mesma ideia. O tempo não para, o tempo voa, o tempo passa depressa, muito depressa. A essas alturas, por exemplo, já tem muita gente dizendo que 2012 passou voando. E não é pra menos: o Natal já está nas vitrines, a programação de Ano Novo faz parte das conversas, 2013 já está mostrando a sua cara. Nesta edição da Estilo Zaffari, a passagem do tempo é um dos nossos principais assuntos. A jornalista Vera Moreira recebeu a feliz incumbência de conversar com quatro pessoas que souberam e sabem, de forma rara, fazer com que o tempo trabalhe a seu favor. São integrantes daquela faixa etária que costumamos identificar com diversas alcunhas: terceira idade, melhor idade, maior idade, idosos, velhos, público sênior (!). Independentemente de rótulos, nossos quatro entrevistados são pessoas interessantes, que sabem viver, que sabem extrair o melhor do dia a dia e que, mais do que tudo, vivem com alegria. Os depoimentos que Vera Moreira colheu demonstram como é possível minimizar os efeitos negativos da passagem do tempo e potencializar tudo o que a idade e as vivências trazem de bom. E, pode acreditar, não é pouca coisa! Pra combinar com esse tema, nossa matéria de capa é a Patagônia, mais especificamente o parque Torres del Paine, lugar lindo e mágico em que o tempo parece parar... A natureza impactante e quase intocada da Patagônia faz com que a gente imagine estar em um mundo à parte, quase que em outra dimensão. Quem já foi garante: visitar Torres del Paine é uma experiência inesquecível, uma viagem que proporciona sensações únicas, lembranças pra levar pela vida afora. Cris Berger e Izabella Boaz estiveram lá, conferiram as instalações do novíssimo hotel Tierra Patagônia e contam tudo para os leitores da Estilo Zaffari, em uma reportagem que transborda emoção. E já que o tempo na verdade não para, melhor a gente usá-lo da melhor forma possível, certo? Comer bem, por exemplo, é uma atitude sábia, e pode até ajudar a controlar os efeitos negativos da passagem dos anos. Na seção Sabor desta edição temos uma reportagem sobre os grãos, sementes, cereais que são os “queridinhos” do momento: linhaça, chia, quinoa, arroz basmati e vários outros alimentos poderosos, capazes de operar maravilhas em nossos corpos tão maltratados... O legal é que esses alimentos podem ser consumidos de forma gostosa, com prazer, em receitas que todo mundo vai querer experimentar. Pra completar, nossa revista tem um pouco de arte – um ensaio fotográfico dos barcos que navegam pelo Guaíba, assinado por Marcelo Pires –, mais um tanto de delícias, com receitas de pratos elaborados por Floriano Spiess (eleito chef do ano em Porto Alegre pela revista Veja), muitas dicas na seção Cesta Básica, os excelentes textos dos nossos colunistas e perfis de três moças bacanérrimas na seção Mulheres que Amamos. Esta edição da Estilo Zaffari está realmente especial, vai valer cada segundo do seu tempo! Nós garantimos. Boa leitura! os editores


Milene Leal milene@contextomkt.com.br

Editora e Diretora de Redação Redação Cris Berger, Loraine Luz, Milene Leal, Marcelo Pires, Vera Moreira Revisão Flávio Dotti Cesa direção e edição de arte Luciane Trindade Ilustrações Guilherme Dable Fotografia Letícia Remião, Carin Mandelli, Cris Berger Colunistas Cherrine Cardoso, Fernando Lokschin, Lenice Zarth Carvalho, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Roberta Gerhardt, Tetê Pacheco Editora Responsável Milene Leal (7036/30/42 RS)

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

Diretora de Atendimento A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É ve­dada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

Tiragem 25.000 exemplares Impressão Gráfica Pallotti

Endereço da Redação Rua Cel. Bordini, 487/40 andar – Porto Alegre/RS – Brasil – 90440 000 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

Capa: foto de cris berger



Correio Mensagens queridas que recebemos pelo Facebook, na Fan Page da Estilo Zaffari: (referentes à estilo zaffari 59)

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Amo essa revista. MARCELO ZINGALLI Sem comentários para a nova Estilo Zaffari, que chegou sensacionalíssima às prateleiras do Bourbon. Eu que não sou boba acompanho de perto a chegada, claro! Indo sempre atrás da melhor leitura, publicação, profissionais que realmente se importam com o que vamos ler. Simplesmente demais!!! DANIELA VICENTE DA COSTA Parabéns pela bela revista ANA REGINA BICUDO A revista está sensacional!! Os conteúdos, as fotos (!!!) etc. etc. De dar água na boca! Quanto ao chef Vico Crocco, que seja muito bem-vindo!! Carecemos de profissionais gabaritados aqui no sul!! Quanto mais, melhor! Sucesso e parabéns a todos!!!!! LUCIANO LUNKES

Que delícia essa capa! E como sempre deve estar um arraso!! Claudia silveira

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Bárbaro! estou louca para ver a matéria e “comer com os olhos” as gostosuras do Vico Crocco!! Elvira Tomazoni Fortuna Que coisa mais linda!! Louca pra ver as páginasssss Elisa Prenna

Israelita

Oi, Bellinha. Como faço para ter essa revista aqui em Santiago? Adorei quando vi lá em POA. Cecilia Guzmán

Imagens meramente ilustrativas. Incorporação registrada - 2a zona Mat. 3.998. Escritório de Arq. Mauro Guedes de Oliveira. CREA 1287. CRECI 1665. *Área de preservação ambiental. **Condicionado à escolha da unidade. Mês base: SET/2012.


Nos altos da Cabral

Oi, Bella querida, acabo de comprar a minha revista e já estou literalmente “devorando” tudo! As fotos e matérias estão maravilhosas, especialmente a de Miami, adorei tudo! Grande beijo, vocês são demais!!!! Lize Jung Como sempre amei!!! A revista está linda, as gostosuras do Vicco incríveis, parabéns Fernanda Medeiros Azevedo Parabéns, Izabella Truda Boaz, Milene Kraemer Leal, Letícia Remião Vera Moreira, Andrea Ernst Schein!!! Está SENSACIONAL a Estilo Zaffari 59... perfeição! Essa edição está MUITO especial, parece impossível mas é cada vez melhor... bjs Ana Gaspary Sra. Milene Leal Minha esposa e eu somos leitores assíduos da revista Estilo, praticamente desde seu lançamento. Ao longo do tempo constatamos a qualidade que oferecem e, portanto, queremos parabenizar a equipe redatora pela qualidade dos artigos, tanto na estrutura de seus textos como na caprichada produção gráfica das diferentes matérias. Pena vocês não oferecerem serviço de assinatura. Continuem sempre assim. Pablo e Vera, dois leitores fiéis

O melhor da cidade a sua volta. Ao lado do Parcão, da Bela Vista e de tudo de bom que a cidade oferece.

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Milene, bom dia Queria te parabenizar pela última revista, tá muito bacana, eu que queria saber mais sobre Inhotim, está nos meus planos de viagem, veio a calhar, muito bem escrita, fotografada, valorizada, adorei. Achei bacana a sugestão das brincadeiras com sucata, fucei o blog da artista plástica Gisele, passei adiante para toda equipe da escola, lá vi que ela tem dicas de livros, a maioria temos por aqui, achei de muito boa qualidade. E a matéria sobre as casas criativas? Te confesso que fiquei com inveja, queria a minha lá também, pois adoro brincar de casinha e a minha casa tem esse jeito, alma e arte por tudo. Há horas eu queria ir na loja Refúgio Urbano, depois de ver a casa do cara, fui. Lá enlouqueci com o trabalho da artista que imprimiu marcas por lá, já entrei em contato e ela virá aqui no Caracol, enfim, aproveitei toda. Te parabenizo pela forma, qualidade e criatividade. Beijo grande, meu carinho e admiração. Valesca Leal P.S.: Ah, esqueci de te dizer que hoje a Sílvia, a chef lá de casa, vai fazer as maçãs com nozes da receita da revista.

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Entrada facilitada e saldo amplamente financiado. Plantão de atendimento no local: Rua Cabral, 732 - Rio Branco Fone: (51) 3332.6760 | www.moradadeanemos.com.br Visite o apartamento modelo. Imagens meramente ilustrativas. Incorporação registrada - 1a zona R1 - Mat. 188.513. Escritório de Arq. Mauro Guedes de Oliveira. CREA 1287. CRECI 1665. *Condicionado à escolha da unidade. Mês base: SET/2012.


Cartas

6

Cesta Básica

10

Cotidiano

24

Criaturas Humanas

38

Coluna Equilíbrio

56

Ensaio 58 Bom Conselho

66

Vida 68 O Sabor e o Saber

80

Moda

92

Mulheres que Amamos

94

Palavra 98

floriano spiess: o alquimista dos sabores Conheça um pouco da história do chef e os segredos de algumas receitas que fazem sucesso em seu restaurante Le Monde Villa Lina

84


Grãos: a chave da sobrevivência

Chia, quinoa, amaranto, linhaça, arroz basmati... você já experimentou esses alimentos? Mais do que saudáveis, eles são deliciosos!

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Patagônia: para viajantes sensíveis

Intocada, selvagem, misteriosa, emocionante, a Patagônia Chilena se mostra aos leitores da Estilo Zaffari por meio do olhar apaixonado de Cris Berger

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Cesta básica

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: Música, moda, cinema, lugares, OBJETOS ESPECIAIS, co­midinhas, passeios, compras. BOM PROVEITO!

Lado a lado, Bom gosto equilibrado Para uns é uma loja vintage, para outros um escritório de projetos com showroom. O que acontece, na verdade, é que a galeria 20 21 reúne os interesses do colecionador e os do designer Claudio Mattos Fonseca. Com um olhar no século 20 e outro no 21, Claudio amarra tudo com muito bom gosto, o que confere ao conjunto um toque bastante autoral. O século passado – principalmente as décadas de 50, 60 e 70 – alimenta o lado colecionador do designer, que se mantém atento a leilões e especialmente alerta quando vê ou ouve nomes conceituados, como Sérgio Rodrigues, Jorge Zalszupin, Percival Laffer, Zanine Caldas. O material das peças encontradas – jacarandá ou latão acrílico, por exemplo – também pode ser indicativo de uma produção mais preciosa ou cuidadosa. “Vou pelo instinto e pelo gosto pessoal, formado por anos de trabalho na área e profundo respeito e admiração pelo trabalho dos que vieram antes de mim”, explica Claudio, que atua no mercado de móveis, luminárias e objetos desde 1990. O espaço contemporâneo da loja é alimentado pelo lado designer do colecionador. Daí saem móveis sob projeto, com peças que atendem às demandas de clientes, sejam eles profissionais da área de decoração ou consumidores usuários. Claudio ainda presta consultorias e desenvolve projetos de interiores.

20, 21 | Vintage | Contemporâneo Rua Dr. Timóteo, 25 | Porto Alegre 51 3223.4291 | 51 9984.4141 www.galeria2021.com.br


Pulinho na Catalunha sem sair de POA O Xavier260 está aí para provar que uma refeição pode ser uma experiência única. Única não somente pela combinação de sabor, aroma e textura, muito próprias na culinária catalã, mas também no atendimento e no timing em que entrada, primeiro prato, segundo prato, vinho e sobremesa se apresentam. “A culinária catalã é uma cozinha mediterrânea, sem gorduras animais, com mais de 800 receitas tradicionais, que usa produtos do mar, da terra e da montanha. Tem ampla variedade de produtos e é muito particular no seus preparos”, explica o chef Xavier Gamez. Ou tenta explicar, porque para entender mesmo só experimentando. Xavier nasceu na Costa Brava, na Catalunha, Espanha, e desde criança a cozinha era um ambiente onde gostava de estar e de se aventurar. Ajudava a mãe na preparação de pratos e não tinha rodeios para experimentar ingredientes. Ele mora em Porto Alegre desde 2009, para onde se mudou depois de assumir a direção de operações em uma indústria farmacêutica

(Xavier é doutor em biotecnologia pela Universidade Autônoma de Barcelona). Estimulado por amigos e conhecedores de suas criações na cozinha, transformou aquilo que fazia por hobby em carreira profissional. De certa forma, o cozinhar para amigos ainda continua. O restaurante catalão tem um funcionamento diferenciado, justamente para garantir a atenção necessária. Abre de terças a quintas apenas para grupos sob reserva. Para eventos corporativos também, desde que no máximo 30 pessoas (e mínimo oito). Nas sextas e no sábado, é a vez do público em geral, desde que sob reserva também, e só à noite. E o menu é uma escolha minuciosa do chef . Xavier e sua equipe criam cardápios exclusivos. Na carta de vinhos, rótulos espanhóis. A arquitetura do ambiente é aconchegante, moderna e versátil, permitindo alterar a disposição dos espaços conforme as necessidades sem alterar a privacidade, seja no salão principal, nas duas salas no andar superior ou no jardim externo.

Xavier260, Cuina Catalana | Rua Auxiliadora, 260 | Porto Alegre 51 3273.0551 | 51 9516.2121 | www.xavier260.com | contato@xavier260.com

chef Xavier Gamez


Cesta básica

Bar de tapas, sangrias e papos A Casa da Lola é uma casa colorida e vibrante, daquelas que a gente gosta de visitar. Mas a Casa da Lola também é acolhedora, como tende a ser a nossa própria casa. Então, é uma delícia ficar por lá. Talvez pela decoração (impossível ficar indiferente à bicicleta vermelha na entrada), talvez pela música ambiente, talvez pelos cobertorzinhos à mão para quando a noite fica geladinha no deck, talvez pela possibilidade de passar o tempo com amigos distraindo-se no lounge com algum dos jogos que a casa oferece, talvez pela permissão de rabiscar a toalha de mesa, já que uma caixa de giz de cera fica ali junto (ótima alternativa para quando se instala aquele silêncio eloquente no meio de uma conversa). O Lola é um bar para jogar conversa fora, o que significa aquecer de dentro para fora. E se a ideia é confortar desse jeito, não podiam faltar comidinhas, em pequenas porções, bebericadas aos poucos, fazendo render o bate-papo. E o carro-chefe são tapas, aperitivos no melhor estilo (perfume e sabor) dos bares espanhóis, ainda que haja outras inspirações. Que tal queijo brie derretido com geleia de pimenta, acompanhado por chips e torradinhas? Ou as batatas rústicas com alecrim, servidas com aioli? Para beber, sangria, claro. Ou vinho. Ou cervejas artesanais. Tem almoço também, fresquinho e leve. No cardápio, que pode ser consultado na página do bar no Facebook, tem ainda sanduíches, nos quais fica evidente o cuidado com a textura e o sabor dos pães. Para sobremesas, como não experimentar minicup de cheesecake cremoso com frutas vermelhas ou doce de leite e café? Por tudo isso, cuidado. Na Casa da Lola, você pode se distrair e perder o melhor da conversa à mesa. Ah, detalhe importante: os pets são bem vindos, há um lugar adequado para eles.

Casa da Lola | Rua Castro Alves, 422 | Porto Alegre 51 3557.0004 | www.facebook.com/LolaBardeTapas

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Estilo Zaffari


sem título, 1957

sem título, 1946

sem título, 1946

A arte de um outro Iberê A Fundação Iberê Camargo empresta charme e um certo tom suntuoso à beira do Guaíba rumo à zona sul de Porto Alegre. Sem falar que, no final de tarde, o sol mergulha ali, brincando de esconde-esconde através das janelas do sinuoso prédio, uma criação do português Alvaro Siza, um dos arquitetos mais respeitados do mundo. De tempos em tempos, a fundação se debruça sobre a obra do artista gaúcho e destaca aspectos de sua genialidade, para o deleite dos apreciadores e fãs. Com curadoria de Maria Alice Milliet, está aberta até março de 2013 a exposição O “Outro” na Pintura de Iberê Camargo, que convida o público a conhecer uma faceta não muito explorada do pintor. São mais de 70 obras, entre pinturas, desenhos e gravuras, integrantes do acervo da fundação e de outras importantes instituições brasileiras. Há as vielas silenciosas do bairro carioca

de Santa Tereza, os célebres carretéis e garrafas que sugerem uma aproximação com obras do italiano Giorgio Orando. Em vez da tinta espessa e sombria pela qual Iberê se tornou conhecido, os trabalhos mostram limpidez e luminosidade. As obras datam de 1940 a 1950, um período não muito estudado do artista. “A exposição apresenta, sobretudo, paisagens e naturezas mortas e algumas obras de 1961, que já são escuras. Mas o que eu pretendo enfatizar é o lado claro de Iberê. O equilíbrio, e não a angústia”, explica Maria Alice. Ilustrando o conceito que dá nome à mostra, a curadora destaca muito especialmente dois autorretratos, ambos sem título. Um de 1943 e outro de 1946. Apesar de o posicionamento da figura ser idêntico, ela enfatiza que nada mais indica tratar-se do mesmo homem e do mesmo pintor.

Exposição: O “Outro” na Pintura de Iberê Camargo | Exposição de Acervo Fundação Iberê Camargo Fundação Iberê Camargo | Av. Padre Cacique, 2.000, Porto Alegre Informações: 51 3247.8000 | www.iberecamargo.org.br

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Cesta básica

Três aninhos: Parabéns à Lezanfan! A inspiração veio dos modelos europeus de lojas infantis. Isso em 2009, época em que a ideia foi uma proposta pioneira em Porto Alegre. Pois a Lezanfan, misto de loja + atelier + salão de beleza + espaço de festa, encontrou público e energia para crescer e se consolidar como um lugar não apenas preocupado com o desenvolvimento lúdico dos pequenos, mas com sua formação. No aniversário de três anos, as crianças estavam lá, protagonistas aprontando (no melhor sentido do termo): fizeram intervenções artísticas em árvores pelas calçadas do bairro. Os quatro pilares da Lezanfan – loja, oficinas, salão de beleza e festas – se complementam e convivem harmonicamente no mesmo espaço. “As oficinas de criatividade que oferecemos se constituíram, desde o primeiro mês, como nosso grande diferencial. Ao contrário de uma escola, na Lezanfan não existe a obrigação de fazer matrícula e frequentar mensalmente as atividades. Quando criamos cada atração com nossos instrutores, pensamos que essa liberdade de participar ou não deixa mais prazerosa a relação com a loja”, explica a proprietária, Luciana Chwartzmann. Desde o início, o foco caiu sobre marcas de produtos e objetos inovadores, revelando uma curadoria minuciosa. Como exemplo, ela cita a Runnabike, uma bicicleta sem pedais, para crianças de 2 a 5 anos, que já é febre há muitos anos na Europa, Austrália, Nova Zelândia e ainda não tinha chegado ao Brasil. Além disso, a Lezanfan já acolheu projetos como lançamento de livros infantis, sessão de autógrafos, exposições, sessões de cinema, rodas de tricô e crochê, parcerias com escolas... “Vamos sempre manter a energia para deixar evidente que nossa missão é e será sempre ligada às crianças”, define Luciana. O espaço é ideal para aqueles clientes que evitam grandes aglomerações de shopping centers e buscam um atendimento mais personalizado. “Unir consumo e conteúdo continuará sendo sempre um grande norteador na busca de oportunidades e de crescimento para a equipe da Lezanfan”, diz Luciana, ao projetar os próximos anos do estabelecimento.

Lezanfan | Rua Barão de Santo Ângelo, 174 Moinhos de Vento | Porto Alegre 51 3072.7857 | www.lezanfan.com.br


Finais de semana Únicos para casais O Unique, em São Paulo, dispensa apresentações ou argumentações para quem procura por uma acomodação de luxo ímpar na combinação de arquitetura, arte, design, gastronomia e serviço. Três novas propostas conseguem o que parecia improvável: surpreender ainda mais o visitante. Nesse caso, casais de namorados ou enamorados. Trata-se do Dreams, um pacote pensado para criar atmosferas diferentes para quem está ‘in love’. São três tipos: Red, Purple e Blue. Cada um deles oferece mimos e ambientação especiais. Pétalas de rosas, champanhe, café da manhã servido no quarto, caixinha de surpresas, vídeos eróticos, massagem... difícil é escolher qual. O hotel de luxo se esmera para que não se tenha vontade de sair dele. Durante o dia, dá para curtir a cobertura – de onde se tem uma das vistas mais bonitas da capital paulista, com o Parque Ibirapuera logo ali. A melhor pedida é se jogar em uma das espreguiçadeiras e só levantar para mergulhar na piscina com borda infinita e pastilhas vermelhas. Se chover, tem a piscina climatizada com escorregador e sauna no andar inferior. Em ambas, a sofisticada trilha sonora que toca de modo permanente não abandona o visitante. A noite deve ser, fatalmente, no Skye, o restaurante tido como a alma do hotel. Localizado na cobertura, tem o comando de Emmanuel Bassoleil, com um cardápio cosmopolita.

Hotel Unique Avenida Brigadeiro Luis Antonio, 4700 Jardim Paulista | São Paulo 11 3055.4700 | www.unique.com.br

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Cesta básica

uma boa dica de livro: Histórias da história A História com H maiúsculo começa a contar o que aconteceu a partir dos grandes fatos. Somente à medida que nos distanciamos no tempo é possível abrir espaço para contar os menores – que se revelam grandes. O livro U-507 – O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial, estreia editorial do jornalista gaúcho Marcelo Monteiro, esmiúça um acontecimento que obrigou, em 1942, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, a declarar guerra ao Eixo. E na minúcia, revela o heroísmo e a grandiosidade de detalhes que ficaram perdidos ao longo do tempo, superados por abalos históricos de maior amplitude e que por isso ganharam pioneiramente as páginas de livros. Em agosto, completaram-se 70 anos do episódio em que um submarino alemão – o U-507 – abriu fogo contra cinco navios nacionais, matando 607 brasileiros, alguns deles devorados parcialmente por tubarões no litoral de Sergipe e Bahia. O caso provocou comoção. Populares foram às ruas e depredaram estabelecimentos comerciais locais de posse de alemães, italianos e japoneses. O Brasil, que até então se declarava neutro, mas sem constrangimento colaborava com o esforço de guerra norte-americano, de repente viu-se obrigado a abandonar a sua cômoda posição de país não beligerante. São 350 páginas, resultado de mais de três anos de pesquisa. O jornalista teve acesso, inclusive, ao diário de bordo do submarino alemão. Marcelo conversou com sobreviventes que escaparam vagando por mais de dois dias sem água e comida. Entre eles, uma menininha que se salvou do naufrágio de um dos navios boiando dentro de um caixote de madeira. Hoje ela tem 74 anos. O prefácio é de Luis Fernando Verissimo.

U-507 | O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial Autor: Marcelo Monteiro Editora Schoba | R$ 49 www.editoraschoba.com.br 16

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Um café a salvo do burburinho O lugar foi sempre um alternativa acolhedora no centro da Capital. E que se considere o seguinte: um centro mais central impossível, junto ao vaivém da Rua da Praia, ao trânsito intenso da Siqueira Campos e à histórica Praça da Alfândega. Bastava mergulhar no subsolo do prédio Santander Cultural e se estava a salvo dos muitos estímulos visuais e sonoros típicos e por vezes estonteantes de um grande centro urbano. E para fazer algo não menos acolhedor: tomar um café, conversar baixo, dando espaço para a música ambiente. Pois o Café do Cofre acaba de reafirmar todo esse potencial bunker e está com nova decoração e cardápio. A motivação da mudança foi justamente valorizar essa atmosfera mais intimista em pleno coração pulsante da capital gaúcha. Frases, coleção de lápis, gravuras, livros, lounge e uma iluminação indireta trazem

aconchego e remetem a um local familiar, como a extensão da própria casa, descreveu Rogério Sartori, que assumiu o espaço em sociedade com Valéria Moreira Tribuna Elias. No cardápio, comidinhas rápidas, como sanduíches, brusquetas, salgados e doces, além de uma carta de cafés servidos na medida. O prédio do Santander Cultural tem estilo neoclássico, construído entre 1927 e 1932, e passou por uma reforma recente. Tombado pelo patrimônio histórico, foi sede dos bancos Nacional do Comércio e Sul Brasileiro. E o café fica exatamente onde funcionava o cofre dessas instituições. A entrada pode ser feita pela rua lateral, a Cassiano do Nascimento, bem junto à Praça da Alfândega (agora remodelada, cuja visita é uma ótima desculpa para experimentar o novo cardápio do café logo ali).

Café do Cofre no Santander Cultural | Rua Sete de Setembro, 1028 | Centro Histórico de Porto Alegre Horário do café: terça a sexta-feira, das 10h às 19h. Sábados, domingos e feriados, das 14h às 19h 513227.8322 | www.santandercultural.com.br

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Cesta básica

peças mimosas, Mimos no atendimento

Juliana Della Giustina Gerhardt e Cris Lavratti

A Cris Lavratti e a Juliana Della Giustina Gerhardt fazem tudo com tanto carinho e atenção que chega a soar estranho chamar o Mercato Nino de negócio virtual. O envolvimento pessoal delas é tanto que quem compra parece estar tirando uma peça do quarto delas, do porta-joias. Elas garimpam peças sem preconceitos. Gostam de dizer que o negócio tem nome e sobrenome italianos e alma francesa, mas os produtos podem remeter à vibração latina ou à sutileza oriental. Estão lá produções de designers brasileiros. Uma proposta para diferentes estilos e belezas. Em comum, peças com significado, sem descuidar do acabamento e da qualidade dos materiais. “Todos os acessórios são fotografados por mim ou pela Cris. Então, todos os detalhes são revistos. Nesse momento, muitas vezes surge a inspiração para o nome e a descrição das

peças”, conta Juliana. “As tendências nos dão um norte, mas a Mercato Nino tem personalidade, nossas peças procuram ser atemporais”, afirma. A atenção e o carinho se estendem até à escolha do papel das embalagens e do cartão enviado para os clientes junto com suas compras. Ele é escrito à mão por uma das proprietárias no momento da conferência do pedido. As gurias também abriram um link no site com dicas de manutenção e conservação das peças, sem falar que elas se colocam à disposição para qualquer dúvida. Um zelo que vai além da compra. A Mercato Nino tem intensidade. “Queremos que nossas clientes se sintam atendidas por pessoas, por meio da internet, e que possam desfrutar da Mercato Nino em qualquer lugar, em casa, no trabalho ou durante um passeio”, explica Juliana.

Mercato Nino | www.mercatonino.com | www.facebook.com/mercatonino

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Estilo Zaffari


Time pronto para engravidar com você

Santo que faz comidinhas Bolinho de arroz e feijão? Sério que existe? Existe e você tem de provar. No Santuá Boteco, a dupla mais querida dos brasileiros chega ao prato num outro formato e textura. Lá, as porções dos petiscos costumam ser generosas. Talvez para combinar com a amplitude de espaço. Quem vê de fora não imagina como o boteco é grande, com ambientes diferenciados, descontraídos, para combinar com as intenções do freguês. São dois andares e um ambiente externo. Usou-se a palavra petiscos? Bom, maneira de dizer. É boteco para matar a fome, sem medo de ser feliz. No cardápio, tem opção para refeições, como o peixe acompanhado de arroz com amêndoas e batata noisette, ou filé ao molho de chopp com legumes na manteiga. Vem tudo abençoado da cozinha. E, nessa vibe, nosso conselho é aproveitar o clima – fitinhas do Bonfim, velas e imagens de tudo quanto é santo – e fazer um pedido. Ou rezar para não cometer o pecado da gula... O Santuá Boteco iniciou no verão de 2011 na praia de Atlântida e este ano inaugurou em Porto Alegre. A família Aita, proprietária do Santuá, também está à frente da Churrascaria Santo Antônio, um dos endereços mais tradicionais da cidade quando o assunto são carnes. O boteco fica pertinho da churrascaria.

Uma enfermeira obstétrica, uma enfermeira neonatal, outra enfermeira neonatal, uma psicóloga e pedagoga, uma personal trainer instrutora de pilates, um instrutor de yoga, uma terapeuta corporal e uma nutricionista. O que esse povo faz junto? Cuida das gestantes e das mamães, oferecendo assistência e informação durante todas as fases da gravidez e também depois dela. A Eu Mamãe é um espaço com uma proposta pioneira em Porto Alegre, não só pela temática mas pela forma de fazer chegar a informação aos interessados. Workshop da amamentação, curso para desenferrujar vovôs e vovós, curso de babá e oficina de organização da casa após o nascimento do bebê são algumas das propostas. Atendendo a domicílio, a equipe oferece acompanhamento psicológico, dicas para os primeiros banhos, o aleitamento, a troca de fralda, cuidado com o coto umbilical e na hora de dormir, além de orientações nutricionais para papinhas. Além desses aspectos mais funcionais, a Eu Mamãe tem uma oferta de serviços visando ao cuidado com a saúde das gestantes: yoga (para o nenê também!), caminhada orientada em grupo e massagem ayurvédica, inclusive para a mamãe aprender a aplicar no bebê. A Eu Mamãe formou uma equipe multidisciplinar para responder ao maior número de dúvidas de mulheres e famílias nesse importante momento da vida, criando uma estrutura de apoio para fazer da maternidade uma etapa segura, plena, rica em experiências produtivas e recompensadoras.

Eu Mamãe | Dona Laura, 27 | Sobreloja Moinhos de Vento | Porto Alegre | 513013.4076 www.eumamaepoa.com.br | www.facebook.com/eumamaepoa

Santuá Boteco Rua Doutor Timóteo, 487 Floresta, Porto Alegre 51 3279.1030 www.facebook.com/santuaboteco

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Cesta básica Imensa Patagônia Com uma das paisagens mais lindas do planeta e capaz de inspirar os mais gélidos mortais, a Patagônia encanta e promove em seus visitantes as mais diversas emoções. Especialmente quando nos deparamos com a imensa Cordilheira dos Andes. Um dos lugares mais conhecidos da Patagônia Argentina é Bariloche, cidade instalada às margens do Lago Nahuel Huapi, e que muito atrai os brasileiros durante a temporada de neve. Mas em qualquer época do ano é possível desfrutar das belezas da região, que oferece atividades esportivas, de aventura, culturais, gastronômicas e contemplativas em todas as estações e para todos os perfis de público. No inverno, a neve é o elemento de sedução, mas nos meses de calor as atividades ao ar livre, nas montanhas verdes e no lago, são igualmente incríveis. Viagens para Bariloche e locais próximos, como Villa la Angustura e San Martin de los Andes, podem ser facilmente planejadas com a Alpat Travel. Disposta a organizar roteiros personalizados para cada viajante, a Alpat é uma agência focada em turismo receptivo e oferece serviços de alta qualidade, com base em um profundo conhecimento da Patagônia Argentina.

http://www.alpat-travel.com.ar/

Bom, rápido e fresquinho Desde junho, o WOK Restaurante se firma como um bom refúgio no meio do dia para quem procura almoçar bem, com produtos frescos, sem se alongar e num ambiente tranquilo, compensando as atribulações do restante do dia. “As pessoas querem cada vez mais ter uma refeição de qualidade, rápida, feita na hora e com preço competitivo, essa é nossa proposta”, explica o chef Rafael Jacobi, que está satisfeito com a aceitação do “Smarth Lunch” pelo público. O menu tem uma estrutura básica de seis sugestões de pratos (que podem mudar de tanto em tanto) preservando as cores, os aromas e os sabores da culinária tailandesa e asiática, de onde o chef tira inspiração. Também há a opção Off Thai que, como o nome diz, é para quem não curte ou quer evitar a gastronomia do lado de lá do mundo. E há ainda uma opção vegetariana. O prato mais pedido desde que o funcionamento ao meio-dia começou é o Curry Thai: lascas de baby beef ou frango salteadas na wok com legumes ao molho de leite de coco e curry Thai levemente picante. Acompanha arroz Jasmin. O local disponibiliza wi-fi gratuito para os clientes checarem e-mails e há espaço para fazer até pequenas reuniões de negócios.

WOK Restaurante Rua Carlos Von Koseritz, 1604 Higienópolis, Porto Alegre 51 3023.7120 | www.wok.com.br


quase dentro do mar, com conforto de rei Na praia de Camburi, litoral norte de São Paulo, está o hotel Nau Royal. Não consigo imaginar uma localização mais perfeita. O Nau está na beira da praia. Na beira, mesmo. São duas vantagens: o conforto de dar um passo e já pisar na areia e a alegria de ter uma vista de camarote, em um deque suspenso equipado com gostosas espreguiçadeiras. Em qualquer um desses locais você pode ser servido enquanto relaxa. É só escolher: camarões, lulas, peixes, cervejas, espumantes... A praia, diga-se de passagem, é um desbunde, areia branquinha e fofa, mar perfeito para mergulhar, água quente e montanhas ao redor. Camburi é lindo. A suíte Royal Trussardi, que tem dois andares, é a melhor. E olha que todas são ótimas... No andar de baixo da suíte está a cama de casal, o banheiro com dois chuveiros, uma salinha com TV e DVD e uma sacada. Em cima fica o ofurô. Na sacada há um sofazinho, mesas e cadeiras e uma vista escandalosamente exuberante do mar. Diquinhas: tome o café da manhã no gazebo que fica no meio do jardim projetado pelo paisagista Marcelo Belotto, almoce embaixo das sombras das árvores, curta um entardecer no deque e mergulhe à noite na piscina iluminada.

Nau Royal Hotel Boutique e Spa Estrada de Cambury, 1057 12 3865.4486 | www.nauroyal.com.br

Cliques de amor, Flagrantes de fofurices Foi por causa do Gabriel que a Juliana Prada Cajado descobriu a intimidade dos bebês. Ele nasceu em 2008, Juliana virou mamãe mas continuou, de certa forma, dando vez para a bióloga (sua formação original) observando e registrando tudo. Tomou gosto, maravilhada com a espontaneidade das crianças, e hoje está à frente do blog Amor de Foto. “As crianças não conseguem disfarçar uma emoção, são tão abertas... e com o tempo aprendi a prever o que viria de bom um segundo antes de tirar a foto”, conta. Pelo Amor de Foto, ela é contratada para clicar a intimidade dos bebês e das crianças em seus ninhos familiares. Momentos de amor, como ela chama. Em família, em ocasiões especiais, festas íntimas, mas principalmente no cotidiano rico em flagrantes abarrotados de fofurice. “Fotografo a família em casa, na sua rotina, nos espaços e ambientes que gostam e se sentem à vontade, sem muitas poses, interagindo, se acarinhando, trocando olhares, abraços, brincadeiras, rindo e curtindo como se eu não estivesse ali”, explica. A bióloga ainda vive na fotógrafa, no modo de operar, se colocar na cena, como observadora sensível. “Quando trabalhei a primeira vez na minha área de formação, tinha que ficar muito alerta para encontrar as baleias no mar imenso e depois registrar o comportamento delas. Em outra oportunidade, como guia especialista em um eco resort no Pantanal, eu me puxava ao máximo para não perder uma ave ou animal de vista, os turistas esperavam por isso”, recorda. Tudo começa com uma conversa com os pais, mas o gelo só se quebra mesmo depois de um tempinho na casa dos clientes. “Tento descontrair com conversas informais, falo da minha vida, dos meus filhos, pergunto mais da deles, ajo de forma natural, espontânea, para que eles fiquem confortáveis comigo, brinco com a criança e até me visto de maneira informal. Não me constranjo porque gosto muito do que estou fazendo, isso me dá prazer, alegria!”, resume.

Amor de foto | 51 8115-0336 www.amordefoto.com | www.facebook.com/amordefoto


Cesta básica vinho mancha? emoção para vestir Greice Antes acredita que moda vai além da roupa. Seu contínuo processo criativo gravita em torno de tudo aquilo que lhe traz fascínio, curiosidade, encanto. Greice jás atirou em roupas com um revólver calibre 38, trabalhou com o artista Guilherme Dable imprimindo música em tecido, passou nove meses dentro da Fundação Iberê Camargo, fazendo gravura em metal virar estampa. Para sua última coleção, “Vinho Mancha?”, ela apostou na liberdade. Convidou um grupo de amigos a desejar o indesejável: manchar roupas com vinho! No Terroir Aurora Pinto Bandeira, Rio Grande do Sul, os participantes jogaram vinho tinto e alegria num varal de roupas claras. Nesse gesto arrebatador, as peças assinadas por Greice saúdam o inesperado, a poesia do momento. A coleção ainda conta com o traço minucioso do artista e tatuador Beto70, que criou estampas especiais para a estilista. Uma coleção inusitada e exclusiva, que nasce com boas histórias pra contar. À venda em Porto Alegre na Maria Helena, em São Paulo na Cartel 011, em Ribeirão Preto na Zuccherina, em Campinas na Fizzy e em Macaé/RJ na Nude.

atelier: Rua Miguel Tostes, 736 | Porto Alegre | RS 51 3029.1800 | greiceantes.com.br

Casa Lutzenberger, Vida por todos os lados O que pode haver em comum entre a Igreja São José, o prédio do Pão dos Pobres, o Palácio do Comércio e o ambientalista José Lutzenberger? Vida – daquelas tão significativas que escrever com V maiúsculo pode parecer pouco. Vida Desenvolvimento Ecológico Ltda. é a empresa que ocupa hoje a casa onde Lutz viveu. Como o nome revela, ocupa não apenas a estrutura física, mas mantém ativos os preceitos que nortearam a conduta do ambientalista e o transformaram em ícone da defesa do verde quando tal postura nem era moda – muito pelo contrário. Ao reconhecimento pela vida de Lutz, a Vida, a empresa, soma ainda uma reverência ao pai de Lutz, o arquiteto Josef, responsável pela construção da casa e dos prédios citados ali acima. Isso porque o local passou por uma restauração cuidadosa, de modo a preservar e reverenciar a memória dos Lutz, o filho e o pai. O imigrante alemão Josef Lutzenberger, engenheiro-arquiteto formado em 1906 pela Universidade Técnica Real de Munique, construiu a casa em 1931, para abrigar sua família e seu escritório profissional, uma residência de três pavimentos em um bairro próximo ao centro da cidade. Contrariando o desenho original do pátio, seu filho, o último morador da casa, criou um jardim orgânico e densamente verde, que se tornou uma referência para o bairro. Em agosto, a casa foi tombada como Patrimônio Histórico e Cultural da Prefeitura de Porto Alegre. “Com o tombamento, Lilly e eu reafirmamos nosso compromisso em preservar a casa com seus traços originais. Com a ocupação pela empresa Vida, damos novo impulso para que continue fazendo história, como sede de um empreendimento pioneiro e referência na reciclagem industrial”, destaca Lara Lutz, uma das filhas de José Lutz. O respeito à memória e história da casa e seus personagens principais foi uma preocupação constante e orientou as soluções de arquitetura, de projeto de interiores, mobiliário, enfim, tudo que continua a dar vida aos ideais da família Lutz. O projeto arquitetônico é da Kiefer Arquitetos. O engenheiro Fernando Piazza atuou na consultoria das fachadas. E o projeto de interiores é do Studio LiVi.

Vida Desenvolvimento Ecológico Ltda. Rua Jacinto Gomes, 39 | Porto Alegre


Esforço coletivo na Cidade Baixa Tem um pessoal que decidiu administrar a Cidade Baixa, assim, tipo subprefeitura. Sabe o lema “seja a mudança que você quer no mundo”? Ou “a cidade somos nós”? Pois então. Esse pessoal levou ao pé da letra. Não bradou as frases num discurso sobre um caixote de madeira na esquina da República com a Lima e Silva, não... Resolveu agir na prática. E está usando as esquinas, as calçadas e alguns endereços comerciais do boêmio bairro de Porto Alegre para reinventar a Cidade Baixa. Parêntese. Em algum momento de seu passado recente, o bairro que forjou uma identidade eclética, um reduto de cultura, entretenimento, música e diversão, vinha se descaracterizando a passos largos. Talvez por descuido, talvez porque tudo cresceu rápido demais e ficou fora de controle, mas o fato é que onde se respirava liberdade havia agora hostilidade, medo e desaprovação. Vendo que não seria possível recuar eternamente, trancafiando-se atrás de seus portões de ferro, ou lavar as mãos, um grupo de comerciantes locais e simpatizantes da causa se reuniu e tomou a frente no sentido de organizar o coreto. Ideia central: promover, incentivar e divulgar iniciativas que exalem o melhor do lugar, aquilo que ainda está no seu DNA. Ou seja, cultura, diversão, arte, sem ferir o bom relacionamento entre visitantes e moradores/comerciantes. Não por acaso, uma das primeiras iniciativas foi um manual de boa convivência, que pode ser lido e baixado pelo endereço cidadebaixaemalta.com. br. Todos os comerciantes podem participar do projeto, independentemente do ramo de atividade e tamanho do negócio. Os participantes também se comprometem com um pagamento simbólico, como fundo conjunto para investimentos no bairro.

Cidade Baixa em Alta 51 3212.8099 | cidadebaixaemalta.com.br


Cotidiano M a r t h a

m e d e i r o s

Excesso de bagagem

T r e c h o i n é d i t o d o l i v r o d e v i a g e n s “ U m l u g a r n a j a n e l a”

Cometi uma única extravagância na vida. Caminhava por uma rua estreita de Paris quando passei por uma pequena loja de artigos africanos. Olhei para dentro e vi, na parede lá do fundo, uma grande tela colorida. Fui praticamente abduzida por seu desenho tribal. Quando dei por mim, estava dentro da loja. Duas moças entediadas jaziam atrás de uma mesa, rente à parede onde estava pendurada a obra. Intuí que a peça deveria fazer parte da decoração do ambiente, mas resolvi tirar a dúvida. Elas me olharam espantadas, estavam quase dormindo. Pedi que retirassem a peça da parede para saber sua procedência. Diante da minha ousadia, atenderam. E ali estava a informação de que se tratava de um tecido pintado por um artista senegalês que valia algumas centenas de euros. Não era o preço de um Modigliani, mas tampouco custava o mesmo que um guardanapinho de papel. Puxei uma cadeira e passei a negociar com elas num misto de espanhol, inglês e francês que originou um idioma tão convincente que as moças toparam o impensável: vender a peça que a dona da loja provavelmente havia colocado ali sem muita esperança de comercializá-la. Elas me deram um desconto de 100 euros (depois ensino meu idioma secreto capaz de façanhas como essa) e ainda as fiz soltar o tecido da armação, para que eu pudesse trazê-lo para o Brasil enrolado. A operação durou o mesmo que uma neurocirurgia ou um transplante de coração, o que demorar mais. Exigia delicadeza e precisão para que o tecido não se rompesse. Não arrastei o pé da loja, pois se fosse dar uma volta e retornar depois, correria o risco de as meninas trancarem a porta da frente com correntes e pendurarem uma placa escrito FERMÉ pelo resto da vida. Dei trabalho às duas, mas saí de lá com a missão cumprida.

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Finalizando a saga: não havia um canudo para acondicionar o tecido, ele era muito grande. Então foi enrolado em papel pardo, era o que havia. Ficou meio mole, e não era possível dobrá-lo, criaria rugas na pintura. Voltei caminhando para o hotel com aquele troço embaixo do braço, uma baguete do tamanho de um menino de 8 anos. Quando fui fazer o check-in para retornar ao Brasil, não deixaram que eu a levasse dentro da cabine do avião, teria que despachar. Colaram uma etiqueta FRAGILE no embrulho e lá se foi minha querida aquisição na companhia de malas duras, pesadas, ferozes. Frágil fiquei eu. Ao desembarcar em São Paulo, passaram pela esteira todas aquelas bagagens rudes, baús, carrinhos de bebês, e nada do meu singelo pacote com a relíquia senegalesa. Os passageiros recolheram seus pertences e sumiram. Fiquei eu, solitária no saguão, olhando para a esteira vazia à espera de um milagre. Desisti. Onde é o balcão de extravio? Vi ao longe um quiosque da companhia aérea e fui caminhando até lá, desconsolada. Foi então que olhei para o lado e enxerguei, atirada num canto, a minha baguete. Em péssimo estado, com o papel sujo, rasgado, pisoteado. Sobrevivente de um massacre. Juntei como se fosse um moribundo prestes a morrer em minhas mãos e a trouxe para Porto Alegre, dessa vez dentro da cabine, não me pergunte como: acho que subornei alguém. Hoje a belezura está pendurada na parede da minha sala. Na verdade, nem é tão excepcional, mas as coisas tornam-se valiosas pela sua história. Agora só trago badulaques que pesem menos de 100 gramas. Martha medeiros é escritora


O primeiro queijo tipo Grana com sabor de ralado na hora.

Sem conservantes.

Você encontra Gran Formaggio Ralado Fresco na gôndola refrigerada.

Gran Formaggio é o primeiro queijo tipo Grana produzido no Brasil. E agora, você encontra também na versão ralado fresco, um produto que preserva todo o aroma e frescor do queijo ralado na hora.


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A chave da

sobrevivência Devemos as capacidades admiráveis do nosso cérebro aos grãos. O cultivo desse alimento rico e nutritivo moldou o estilo de vida do homem no passado. E hoje se mostra a única alternativa viável para saciar uma população mundial que se encaminha para 9 bilhões de estômagos. O melhor de tudo é que os grãos rendem uma dieta saborosa, diversificada e muito saudável p o r

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Quinoa, chia, amaranto, linhaça e vários tipos de arroz já são encontrados facilmente nos supermercados

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Temos uma dívida evolutiva com os grãos. Mesmo nômade, o homem caçador-coletor cansou de mudar de hábitat atrás dos bisões, quando a espécie se esparramou a crescer. Já dominava o fogo e torrava cereais. Mas precisava de mais comida e resolveu espiar as sementes que cuspia longe. Descobriu o milagre da germinação! Semeou e colheu. Para melhorar o cultivo e vigiar os grãos severamente disputados por pássaros e outros rivais, fixou pouso junto à plantação. E pela primeira vez desviou o olhar do horizonte próximo para o céu infinito. Nunca mais parou de buscar respostas para o turbilhão de perguntas que o brilho das estrelas lhe instigou. Doze mil anos depois, cá estamos nós com um cérebro de capacidades admiráveis. E um desafio sem precedentes: a população mundial se encaminha desgovernadamente para os 9 bilhões de estômagos. Cientistas apostam que os grãos ainda são a nossa chave da sobrevivência – para toda essa gente comer carne ao bel-prazer, teríamos de buscar bisões em Marte. Dos cereais conseguimos extrair não só os nutrientes necessários ao organismo como uma dieta saborosa, diversificada e muito saudável, contanto que preservadas suas características naturais. Jonathan A. Foley, diretor do Instituto Ambiental da University of Minnesota, publicou artigos na revista Scientific American (a mais respeitada, junto com a


Nature, no campo científico) mostrando que o desafio será adotar um modelo sustentável de agricultura, pois já nos primórdios a atividade começou a gerar impacto ao meio ambiente. Desde os arados e os primeiros métodos de irrigação das antigas civilizações até a avançada tecnologia moderna, o homem criou todo tipo de recurso para domesticar os grãos. Ao ponto de tornar dependentes algumas espécies, tanto para disseminação como para desenvolvimento. No caso do milho, destinou esse grão não só à nossa mesa como para a criação de animais e para a indústria. Mas também preservou cereais selvagens – o grão integral é um consenso da ciência nutricional. “Durante milhares de anos as pessoas sempre comeram bem sem a necessidade de alimentos submetidos a inúmeros processos de beneficiamento, aditivos químicos duvidosos e vitaminas ‘milagrosas’. Ironicamente, à medida que retiramos mais e mais nutrientes dos alimentos, eles nos são devolvidos como remédios milagrosos, como acontece com as fibras e o betacaroteno. Esses nutrientes, comuns nos cereais integrais e nos legumes amarelos, estiveram presentes ao natural e em abundância na alimentação humana”, pontua o livro Receitas inspiradas na Bíblia, de Naomi Goodman, Robert Marcus e Susan Woolhandler.

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Os grãos da moda Tudo começou com o trigo, a cevada, o centeio e o sorgo. Com a expansão da cultura de cereais no Oriente Médio e na Europa, ganharam impulso também as leguminosas, ervilhas e lentilhas. Povos de diferentes regiões cultivaram outros grãos, como o arroz na Ásia e a quinoa nos andes bolivianos. Milênios depois, a globalização se encarregou de misturar todos. Aqui no Brasil, nosso estimado e potente feijão com arroz ganhou a companhia de grãos até uma década atrás ainda estranhos ao nosso prato: quinoa, chia, amaranto, linhaça e diversos tipos de arroz, como o basmati, negro, thai e arbóreo, entre outros. Entraram na moda e hoje os encontramos facilmente à venda no supermercado. A quinoa é considerada, pela Academia de Ciência dos Estados Unidos e a OMS (Organização Mundial da Saúde), o melhor e mais completo alimento de origem vegetal: fonte de proteína, carboidratos, vitaminas, minerais, fibras e cálcio. Tem aminoácidos que estimulam a memória e os reflexos e liberam no cérebro, tal como os flavonoides do vinho tinto e do chocolate amargo, a serotonina, que nos proporciona a almejada sensação de felicidade. Para pessoas que sofrem de doença celíaca, a quinoa é excelente, pois não contém glúten. A chia e a linhaça fizeram fama por ajudarem

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a emagrecer e no controle do diabetes e das doenças cardiovasculares, sendo a linhaça uma verdadeira faxineira das artérias. Composta por gorduras monoinsaturadas e poli-insaturadas (ômegas 3 e 6) que reduzem o LDL, o mau colesterol, tem ainda propriedade anti-inflamatória e ajuda a evitar o acúmulo de placas de gordura nos vasos sanguíneos. A chia é usada, desde os astecas até mexicanos e habitantes do Sul da Califórnia e do Arizona, na dieta para ganhar energia e resistência no enfrentamento de situações climáticas adversas, como calor intenso, escassez de água e alimentos. Semente com alto teor de proteína, beneficia especialmente vegetarianos. O arroz só pode ser uma dádiva divina. Ao longo dos tempos, os povos foram aderindo a esse grão versátil. Cultivaram diversas espécies e criaram pratos que são sinônimos de uma nacionalidade: risoto e Itália, paella e Espanha, sushi e Japão, arroz-doce e Portugal, etc. O arroz Basmati, o mais recente entre nós, é um grão de gosto adocicado e aroma de nozes, proveniente do sopé do Himalaia. Para o indiano, o Basmati é o protagonista da refeição, sendo as demais receitas apenas guarnições. E não só pela vaca sagrada, é que, no segundo país mais populoso do globo (1,21 bilhão de pessoas – e avança para o pódio), a sobrevivência por meio do grão é a única alternativa viável há séculos.

a seguir, três receitas saborosas assinadas por Felippe Sica, Philippe Remondeau e Lenice Zarth Carvalho

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p or F eli pp e S i c a


Quinoa com Camarão Rosa Estilo Thai 4 xícaras de Quinoa Real orgânica

1 colher (sopa) de Açúcar cristal

320 g de Camarão rosa

Pimenta-do-reino moída na hora A gosto

200 g de Ervilha torta

½ molho de Ciboulette

400 g de Shiitake

4 colheres (sopa) de Óleo de canola

2 unidades de Alho-poró 1 unidade de Cenoura 3 colheres (sopa) de Cebola roxa picada 6 colheres (sopa) de Molho de ostras tailandês 6 colheres (sopa) de Shoyu light

Modo de fazer: Cozinhe a quinoa sem sal da mesma maneira que um arroz, deixe ficar al dente. Reserve na geladeira. Corte o alho-poró bem fino, a cenoura em palito, a ervilha torta na diagonal e os cogumelos em pedaços maiores, não muito finos. Numa frigideira ou panela wok, coloque o óleo e refogue o camarão com a cebola e o alho-poró rapidamente. Coloque o cogumelo, a cenoura, a ervilha torta e mexa bem com uma colher. Adicione a quinoa e mexa mais um pouco. Tempere com molho de ostras, shoyu light, açúcar e pimenta-do-reino. Continue mexendo por mais alguns segundos. Sirva imediatamente e decore com ciboulette. Rendimento: 4 porções.

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P or PHILIPPE REMONDE AU

Gâteau de Berinjela e Arroz Basmati com Nozes, Alho Confitado e Molho de Tomate 600 g de berinjelas cortadas (400 g cortadas em cubos e 200 g cortadas em rodelas) 60 g de arroz Basmati 1 cebola picada 1 alho-poró picado 60 g de nozes quebradas 60 ml de azeite de oliva Modo de fazer: Refogue no azeite a cebola e o alho-poró e 400 gramas de berinjela em cubos. Tempere com sal, pimenta-do-reino e ervas de Provence. Adicione as nozes. Cozinhe o arroz Basmati com uma pitada de sal. Misture com o refogado de berinjelas. Corte em rodelas grandes o restante das berinjelas, tempere com sal, pimenta-do-reino e ervas de Provence. Grelhe ambos os lados. Coloque as rodelas num aro e recheie com a mistura de arroz e berinjelas. Finalize com uma rodela em cima.

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ALHO CONFITADO 12 dentes de alho graúdo 800 ml de água 150 g de glicose 60 g de açúcar mascavo Grão de pimenta-do-reino Modo de fazer Alho Confitado: Coloque todos os ingredientes numa panela e deixe cozinhar por aproximadamente por 2 horas com fogo muito baixo. (Até a consistência de uma calda.) Finalização: Coloque os dentes de alho em cima do Gâteau e sirva com molho de tomate. Rendimento: 4 porções.


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P or L enice Za r th Ca r valho


Bolo de Fibras 4 ovos

1 colher (sopa) de semente de gergelim

2 xícaras de aveia em flocos

1 pitada de bicarbonato de sódio

2 xícaras de açúcar mascavo

1 pacote fermento em pó

2/3 de xícara de óleo de canola ou óleo de coco 2 colheres (sopa) de linhaça 3 colheres (sopa) de quinoa em flocos

Modo de fazer: Bata todos os ingredientes no liquidificador. Acrescente 1 xícara de nozes picadas ou castanhas ou frutas secas ou um pouco de cada, dependendo do gosto. Leve ao forno por aproximadamente 30 minutos

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Humanas criaturas T e t ê

pac h e c o

A lista

(bom nome para filme de terror)

A pior invenção da humanidade é a culpa. E nós, mulheres, somos bem mais suscetíveis a ela. Por um lado porque somos as fábricas, as matrizes que reproduzem os pensamentos e emoções universais na forma de filhos, e por outro porque somos muito, aí mais contemporaneamente falando, lotadas. A culpa se manifesta nas mais variadas e cruéis formas, mas sem dúvidas uma das piores não é aquela que nos pega por termos feito algo errado (moralmente falando), mas a que nos massacra por não termos feito algo. Qualquer algo. Algumas têm um peso institucional: não viajamos o suficiente, não somos bons pais e mães (uma culpa do tamanho de um exército chinês diz respeito a tudo que envolve crianças), não nos divorciamos ainda, não encontramos ou reencontramos o amor da vida, não temos a casa dos sonhos, não temos ainda o emprego que deveríamos. Não escrevemos o tal livro e nem plantamos a tal árvore. Outras são mais leves e cotidianas, mas massacram do mesmo jeito: não fizemos as unhas (oh! Horror), não comemos bastante salada hoje, não levamos as roupas na costureira, não lavamos o carro, não sentamos com as crianças para fazer as lições… é sem fim. Para as primeiras, não há solução que não passe pela autoiniciativa básica de uma boa análise. Se a gente não parar de idealizar o mundo, nada vai ser suficiente. Já para as segundas e mortíferas inventamos o calabouço da lista. Listinha. Aquela que você faz todo dia de manhã e que não cumpre e nem cumprirá jamais. Pelo simples fato de que o tempo,

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essa forma sem culpa alguma, é cruel. Não dá tempo de cumprir nossa própria lista de promessas e atividades. Simplesmente não dá. E essa realidade entra em choque diário com a nossa onipotência, a que diz que, sim, dá tempo. Gerando a famigerada, nojenta, pegajosa culpa permanente. Listas se acumulam em formas neuróticas e agendas pesadas que se bem observadas podem significar o que o mundo inteiro já percebeu faz tempo. Somos todos uns incompetentes. Trago a boa notícia. Se somos todos incompetentes, então podemos deixar de lado essa bobagem de se autoidealizar como um ser que dá conta de tudo. Olá, irmã. Longe de mim fazer pregações, mas tenho tentado praticar algo que vem me ajudando bastante. Faço listas. Mas nunca do que eu deixei de fazer e sim do que fiz. E não diariamente, pois isso é outro tipo de autoflagelo, mas uma vez por semana. Como num ritual de respeito e carinho comigo mesma, sento e escrevo as coisas que fiz. Não precisam ser extraordinárias nem nada. Basta que tenham sido feitas. Comi croissant, encontrei uma amiga querida, vi um ótimo filme, passeei com o cachorro, li com as crianças. Se você sofre do mal que eu falei acima (não minta!), tente. Você vai se surpreender com a quantidade de coisas incríveis que faz todo dia sem perceber. Só porque na nossa cabeçola ocidental ainda não descobrimos de fato o valor que é valorizar a nós mesmos antes de tudo mais. Boa sorte. :) Tetê pacheco é publicitária



Viagem

Para viajantes


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a patag么nia chilena: uma terra in贸spita, selvagem, escandalosamente bela, misteriosa e intensa. Um lugar que seduz, emociona e toca fundo a alma dos viajantes sens铆veis

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A Patagônia Chilena foi um dos primeiros destinos que desbravei para a revista Estilo Zaffari. Lembro como se fosse hoje o meu fascínio por aquela terra inóspita, selvagem, escandalosamente bela, misteriosa e intensa. O tempo passou e oito anos depois voltei. O Hotel Tierra Patagonia, inaugurado em dezembro de 2011, às margens do lago Sarmiento, na divisa com o parque nacional Torres del Paine, era o grande anfitrião. A Estilo Zaffari foi convidada para conhecê-lo, e a Izabella, diretora da revista e minha superamiga, me recrutou para ser parceira dela nessa linda jornada. Me apresentei feliz da vida. Eu e uma emoção danada. O trajeto é um pouco longo, embarcamos para Santiago e de lá pegamos um voo de pouco mais de três horas para Punta Arenas, uma das cidades mais meridionais do Chile, junto ao Estreito de Magalhães. De lá partimos por terra para chegar ao destino final. A chegada ao fim do mundo Uma van do Tierra Patagonia nos esperava no aeroporto. O gentil Ricardo, que virou nosso amigo e motorista preferido, segurava a plaquinha com nossos nomes. Uma

viagem de quatro horas cortando os pampas nos levou ao que eu chamo de santuário, um lugar que arrebata, emociona, seduz e toca fundo a alma dos viajantes sensíveis. O dia estava cinzento, mas o clima na Patagônia é assim, muda a cada hora. Venta muito, a ponto de contorcer a copa e o tronco das árvores. É uma terra de personalidade forte, intempestiva. Em um mesmo dia pode chover, abrir o sol, fechar de novo, ventar, fazer temperaturas negativas, chegar a 15 graus, ter o céu repleto de nuvens e logo não se ver nenhum rastro delas. Rodamos 200 km e paramos no restaurante-hotel Río Rubens, estabelecimento simples, de beira de estrada, em um lugar onde não há mais nada. Na entrada havia uma placa com os seguintes dizeres: “Aquí abrimos cuando llegamos y cerramos cuando nos vamos. Si usted viene y no estamos, es que no nos encontramos”. Perfeito! Enquanto registro peculiaridades do lugar, minha companheira de viagem ao fim de mundo, Izabella, pede um puchero com legumes e carnes. Segundo ela, incrivelmente delicioso. Ali encontramos o nosso sonhado pacote de erva-mate, que garantiria o chimarrão diário. Aquecidos e alimentados, seguimos nosso trajeto. Fizemos um rápido pit

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Viagem


um pouco antes de chegar ao tierra patagonia avistamos as torres. impossível não parar para contemplá-las

stop na simpática cidade de Puerto Natales e pegamos, enfim, a estrada final rumo ao parque. Aclimatando No meio do caminho (literalmente) encontramos um pastor montado em seu cavalo e os cães ovelheiros tocando um rebanho com dezenas de ovelhas. Pego minha câmera e saio a captar este momento tão simples e corriqueiro da vida no campo, que para mim é exótico e inusitado. Começo a me conectar com uma nova realidade. Entro em outro ritmo. Estou pronta para mergulhar na imensidão patagônica. Um pouco antes de chegar ao Tierra Patagonia avistamos as Torres. Que momento! Impossível não parar e ficar contemplando por alguns minutos aquele visual. São elas que dão o nome ao parque e que, junto aos Cuernos, representam os dois pontos mais importantes de visitação da região que é constituída pelo Maciço del Paine, vizinho da Cordilheira dos Andes. As Torres e os Cuernos são formações rochosas


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irregulares e deslumbrantes. Ficam perfeitas no horizonte e se veem tão majestosas pela minha lente fotográfica. As imagens desta reportagem não me deixam mentir. Rodamos mais um pouco e de longe avistamos o Hotel Tierra Patagonia. Aos meus olhos parece um disco voador. O prédio não destoa em nada do ambiente natural. Foi inspirado na figura de um fóssil e todo feito em madeira. Com design e concepção supermodernos, respeitou o entorno e adaptou com primazia uma edificação que está perfeitamente ajustada ao cenário. Somos recebidas por Christopher Purcell, o gerente geral. Chileno de nascimento, Chris é um homem do mundo. Estudou nos Estados Unidos e viveu um período no Deserto do Atacama, quando esteve a cargo da versão atacamenha do Tierra. Atualmente, durante o inverno, cuida da estação de esqui de Portillo e, no verão, vive na Patagônia. Excelente anfitrião, nos levou a conhecer o hotel e apresentou-o como se fosse a casa dele. Cavalheiro nato e esportista, nos acompanhou em uma corrida à beira do lago e jantou conosco e outros hóspedes em uma grande mesa no salão principal. Gostinho de primeira vez Apesar de eu já ter estado nessas terras patagônicas, tudo aconteceu com um gostinho de primeira vez. À medida

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que eu ia obtendo e editando as fotografias tudo se mostrava surpreendente: o primeiro entardecer, os primeiros guanacos vistos, o primeiro amanhecer, a primeira visão das torres... Tivemos uma sorte fantástica, pegamos um tempo fabuloso, raro, em que o vento estava tímido, o sol forte e as temperaturas razoáveis. Não é sempre asssim. Mas quando você aprende a amar a Patagônia, entende e respeita as condições climáticas e vê a beleza de cada uma delas. O entardecer do primeiro dia foi irretocável, uma pintura. O amanhecer do dia seguinte, igual. Eu fotografava sem parar, tirava a mesma foto dezenas de vezes, apenas pelo prazer de registrar um cenário intocado pelo homem, criado por Deus, uma obra-prima da natureza onde somos nada, apenas profundos contempladores. O hotel O Tierra Patagonia é um projeto arquitetônico de Cazu Zegers, Rodrigo Ferrer e Roberto Benavente. A decoração foi assinada por Alexandra Edwards e Carolina Delpiano. Madeira e vidro predominam e a estrutura é feita de concreto e metal. Possui apenas 40 suítes, todas com vista para a duplinha lago-Torres. Amplos e lindos, os quartos têm janelões enormes, pelegos pelo chão, roupões, camas grandes, calefação,


toda em madeira, a edificação do hotel tierra patagonia está perfeitamente ajustada ao cenário e dele tira o melhor proveito Estilo Zaffari

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Viagem

os banheiros supercharmosos, e espaçosos, têm banheira e uma janela que permite olhar as torres e o lago durante o banho de imersão um luxo descolado. Dentro dos armários há garrafinhas metálicas para colocar água e levar nas excursões. Ah, a garrafinha com a grife do hotel é um “regalo” para os hóspedes. Os banheiros espaçosos e supercharmosos têm uma banheira independente do chuveiro e uma janelinha que permite olhar as Torres durante o banho de imersão. A decoração do Hotel é supercool e aconchegante, com troncos e pedras típicos da região enfeitando minimamente cada recanto do Tierra. Os tons pastel estão em todos os ambientes. Nas áreas sociais, salas de leitura, estar, restaurante, há paredes inteiras de vidro, que permitem a todo o momento olhar para aquele cenário encantador. Os ambientes são superconfortáveis: cadeiras ovais penduradas no teto, poltronas viradas para as janelas, a salinha do mapa, o espaço Kids, o bar, a lareira central com sofazinhos em volta e o salão imenso onde todos se encontram e confraternizam. Fico pensando em uma palavra que possa expressar com dignidade e verossimilhança o cenário que se projeta a partir dali. Lindo? Seria banal. Os olhos ficam grudados no paredão que se projeta atrás do lago. As nuvens ligeiras, a paisagem que some e reaparece como num passe de mágica e a mudança de luz só deixam mais dramático e magnetizante

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o que já é soberbo por natureza. O Tierra oferece uma dupla perfeita: luxo e aventura. Sorte dos viajantes mais exigentes, que podem contar com cama e banho quentes, comida bem-preparada, um bom cálice de vinho, atendimento personalizado, guias treinados, um SPA de encher os olhos e seduzir os sentidos, e um ambiente bem-decorado e agradável. A ideia é proporcionar aos hóspedes aventuras durante o dia e conforto e mimos à noite. Todos são incentivados a conhecer o parque, fazer longas caminhadas, subir montanhas, admirar geleiras milenares, cavalgar e desfrutar de piqueniques em cenários idílicos. Ao topo do mundo Os guias do hotel propõem uma série de passeios pelos 185 mil hectares do parque. Escolhemos o trekking até a base das Torres del Paine. Mesmo que você não seja um exímio atleta, recomendo sacudir a poeira, calçar uma bota de trekking confortável e carimbar no passaporte esta experiência ímpar. Ok, é preciso certo fôlego e preparo para percorrer os quase 20 km entre a subida e descida, mas é perfeitamente possível.


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Viagem Anos atrás, em uma viagem a Puerto Natales com direito a conexão rápida no parque, eu subi até a base. Naquela ocasião, o dia estava nublado e a visão era parcial. Com o frio intenso, não pude ficar mais do que dez minutos no alto. Ainda assim, lembro de ter sido impressionante. Dessa vez as condições foram diferentes, fomos abençoados com o sol e a melhor das estações, o outono. Neste período do ano, as folhas das árvores são amarelas e vermelhas, o que transformam o que é lindo em poético. Deixamos o hotel por volta das 9 horas. Como saímos um pouco atrasados, não me deixaram parar no meio do caminho para fotografar. Mesmo assim, não deixei de clicar de dentro da van. A beleza é tão surpreendente que as fotos ficaram incríveis. Rodamos cerca de uma hora até chegar ao ponto de partida da caminhada. Fazia muito frio. Optamos, sabiamente, por levar bastões. Eles foram fundamentais em alguns momentos, pois a caminhada dura de 8 a 9 horas e tem pontos de difícil acesso e muito íngremes. Play no iPod e pernas pra que te quero. Tentávamos parar o mínimo possível para não perder o ritmo. Neste caso, é muito importante cada um ir segundo suas condições físicas. O autorrespeito

é fundamental. E estar vestido adequadamente significa o sucesso – ou não – da aventura. Siga a regra: vestir-se em camadas. Por baixo, uma camiseta dry fit para o suor secar rapidamente e não esfriar o corpo; por cima, um casaco de flece para aquecer, e mais outro, corta-vento e impermeável. Luvas, meias térmicas, gorro e cachecol também são essenciais, e uma bota ou sapatos feitos para caminhadas. A trilha passa por bosques, caminhos rentes a precipícios, trilhas íngremes, subidas entre pedras grandes, pontes feitas de troncos de madeira e rios rodeados por montanhas, com uma geleira ao fundo. A chegada à base das Torres é um momento solene. De baixo você já as vê, mas quando a visão delas e do lago se projeta no mesmo ângulo, o coração para por uma fração de segundo. Como pode existir lugar tão bonito no mundo? É impactante! Com o dia quente foi possível ficar um tempo mais longo sentados na base. Hora do piquenique. Os guias do hotel que acompanham os viajantes levam nas mochilas alimentos e bebidas para a hora da parada. Comemos sanduíches, bebemos um chá quente, batemos fotos e conversamos. Quando

a ideia é proporcionar aos hóspedes aventura durante o dia, confortos e mimos à noite. o tierra oferece uma combinação perfeita de luxo e imersão na natureza

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Viagem do alto do mirador ferrier, a vista é um deslumbre: cinco lagos, o parque torres del paine aos seus pés

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algumas nuvens resolveram aparecer, o sol ficou mais fraco e o corpo começou a esfriar, foi a hora de encarar o momento do desafio: a volta! Lembro que na reta final eu estava caminhando no “modo automático”. O cansaço era forte. O frio aumentava a cada minuto. Tínhamos que chegar à van antes de anoitecer. Nesta hora, o que vale é a cabeça. Controlar a fadiga muscular, ter foco e calma. Cumprimos com o objetivo e fomos recebidas no ponto de encontro com uma mesa repleta de drinks e comidinhas. Alimentamos o corpo com pão, queijo e frutas secas, e a alma com a especialidade da casa: um belo tinto chileno. Melhor ainda foi entrar no hotel, no quarto, encher a banheira de água quente, mergulhar, deixar os músculos relaxarem pelo calor, tirar um cochilo e me sentir a mais feliz das mortais. Depois, vestir uma roupa confortável, pois o clima no hotel é despojado, encontrar com os demais passageiros, sentar perto da lareira, pedir um pisco sour, saborear entradinhas e então jantar algo quente e saboroso.


Neste dia, dormi suspirando. Deliciosamente exausta, ainda hipnotizada pela beleza patagônica e as lembranças de um dia de aventura, superação e novos amigos. O desafio Cada músculo do meu corpo sentia a caminhada do dia anterior. Mesmo assim, aceitei o desafio de subir ao Mirador Ferrier. “Será um trajeto mais curto, mas mais exigente”, me alertaram. Assim se cumpriu. A recompensa eram as muitas fotografias obtidas da linda paisagem. Como era de se esperar, o dia amanheceu com vento e algumas nuvens. O sol aparecia e sumia. A temperatura estava mais baixa. O bom de caminhar é que logo o corpo aquece e a gente engana o frio. Só temos que saber quando e por quanto tempo parar, e calcular o tempo de regresso. Realmente o trajeto era menor e infinitamente mais difícil. Houve uma hora em que achamos que não seria possível completar toda a subida. Mas quando nos demos conta, lá estávamos nós! O vento era tão forte que ficar em pé era uma façanha. Tive que me

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Viagem os trekkings organizados pelo hotel permitem uma verdadeira integração com a natureza patagônica e sua atmosfera mágica, e também rendem fotos deslumbrantes segurar para fotografar. O prêmio foi condizente ao esforço. A vista era espetacular, quase 360 graus de rios, lagunas, icebergs, geleiras, montanhas e picos nevados que pareciam uma grande maquete do mundo encantado. Fui a última a chegar. Parei para fotografar diversas vezes. Contemplei o visual e fui recebida com beijos e abraços, ganhei parabéns pela conquista do mirador e pela coragem de me aventurar. No caminho de volta, pedimos para fazer uma escala na cachoeira Salto Grande, nas margens do Lago Nordenskjöld, com uma vista especial dos Cuernos. Completamos os demais cliques da viagem e nos demos por satisfeitas. Em 48 horas havíamos vivido intensamente o parque que tem o importante título de ser Reserva da Biosfera da Unesco e um destino procurado pelos amantes da natureza e trekking de todo o mundo. Antes de dar o dia por encerrado, ainda tínhamos algo a desbravar: o Uma, spa do hotel, com direito a mergulho na piscina e sauna para relaxar. Reservei a manhã do último dia para fotografar os cantinhos do hotel, os detalhes que foram meticulosamente

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planejados. Depois era hora de visitar a lojinha que tem mantas de lã de alpaca e roupas esportivas lindas, almoçar sem pressa, nos esparramarmos em uma daquelas poltronas e fazer nada, nadinha, apenas olhar para a frente, para as Torres, para o infinito e sorrir. Me despedi de Torres del Paine com a promessa de não levar oito anos para voltar. O coração alegre por ter sido escolhida para fazer parte de mais essa aventura e encantar os leitores da Esilo Zaffari com a paz e a beleza do fim do mundo.

Quem leva Ouro e Prata Turismo www.ouroeprataturismo.com.br

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Turismo Receptivo Exploring Chile | www.exploringchile.com.br Onde ficar Tierra Patagonia

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www.tierrapatagonia.com


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Equilíbrio C h e r r i n e

c a r d o s o

A incrível

Na coluna desta edição venho com um assunto que o ser humano por natureza tem dificuldade de colocar em prática: o desapego. Essa ideia de não se prender as coisas, às pessoas, às situações, parece fácil na teoria, mas quando é preciso passar por determinadas momentos, vemos como aplicar o desapego na vida é realmente uma arte. Alguns dizem que estamos apegados à ideia de desapegar. O que é perfeitamente compreensível. Somos inseridos na cultura do consumo e das aquisições desde sempre. Nesses meus últimos dois anos pude vivenciar o que os indianos chamam de aparigraha. Um dos códigos de conduta que servem para lapidar o ego do indivíduo. Aparigraha (palavra sânscrita) significa não possessividade. Mas como colocar em prática um código de conduta que é o oposto do que aprendemos desde que nascemos? Nos apegamos aos brinquedos e temos dificuldade de dividi-los com outros coleguinhas já lá no jardim de infância. No decorrer da vida não é diferente. As dificuldades só aumentam. Nos apegamos à rotina, à casa, aos processos de trabalho, aos caminhos que nos levam para onde devemos ir, aos amigos, aos namorados, aos pais. Somamos, multiplicamos, mas temos dificuldade em dividir. Até nos achamos donos de pessoas! É fácil dizer: “Ah, você não precisa disso” ou “isso que você perde hoje você recupera amanhã”. Em certo ponto é verdade, mas aceitar isso na vida mesmo não é assim tão fácil. Tive uma boa experiência para aprender na prática a arte do desapego. Começou quando escolhi ir viver um tempo fora do Brasil. Para sair da sua zona de conforto você tem que se dar conta de que não vai poder levar consigo tudo aquilo que acumulou durante a sua vida. E não me refiro apenas às coisas materiais, não. Me refiro a todas as suas referências: escola, amigos da escola, família (que inclui avós, tios, primos, cachorro, gato, papagaio...), amigos de infância, amigos de adolescência, amigos de faculdade, amigos do trabalho, amigos da noite, amigos do dia.

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arte de desapegar

São tantas pessoas que você já conheceu e conhece que seria praticamente impossível enfiar tudo em uma mala e ainda não ter excesso de bagagem. Mas para todo esse vínculo Mark Zuckerberger inventou o Facebook, e que bom, ainda que não perto fisicamente, você os acompanha e tem para conversar todos os dias se quiser. Entretanto, e todas as outras coisas que você comprou nesses anos todos? E suas roupas, seus sapatos, livros, cds, casacos, botas, blusas, e mais blusinhas, e outras blusinhas... é. Aí sim vem o desapego de verdade. Das coisas materiais. Daquilo que você viu, gostou, usou e te marcou um determinado momento. Quando você começa a se desfazer dessas coisas materiais a sensação interna é realmente boa. À medida que via minhas coisas se indo, confesso que fui ficando mais leve. Tanto que perto da viagem já estava até dando coisas de que nem precisava, só por me fazer bem. Assim que embarquei uma onda começou a se mexer no meu estômago. Fiz uma retrospectiva gigantesca e comecei a já sentir saudades de tantas coisas. Mas opa, a escolha foi minha, nem podia me dar ao luxo da tristeza, ainda que momentânea, afinal, ninguém estava me forçando à mudança. A não ser eu mesma! Primeira parada: Portugal. Fiquei ali por 5 meses. Descobertas, medos, inseguranças, liberdade, leveza, passeios lindos, amigos novos. Foi pouco, mas foi intenso! Segunda parada: Porto Alegre. Dois anos. Tudo novo, de novo. Voltei ao Brasil. Ah, que delícia. Não precisa muito para sentir a diferença no clima. E não é o clima lá fora, não, é o clima aqui dentro. Em mim batia um coração mais fervoroso, com mais calor, com mais emoção. Foram anos de muito aprendizado. E passaram rápido. Logo uma nova mudança aconteceu. Eu, que nasci em São Paulo, capital, e vivi intensamente tantas coisas, conheci tanta gente, convivi com a cidade grande e tudo o que nela está contido, fui migrando nesses últimos anos para uma realidade completamente oposta.

Terceira parada: Pelotas. Estou cada vez mais perto do campo, das raízes, das tradições. Vejo aqui um recomeço. Para mim um outro paradigma, um novo conceito de vida. Mudar é bom, carregar consigo lembranças e relembrar tudo o que você já viu, viveu e aprendeu é uma das melhores bagagens da vida. Recomeçar não é tão difícil. Você realmente percebe que não precisa de casas, carro e um guarda-roupa lotado de coisas para ser feliz, mas precisa, sim, de suas referências. Essas referências te impulsionam e te servem para vencer mais rápido. É no apoio e ombro amigo que mora o conforto, é no abraço saudoso de um reencontro na esquina ou na fila do supermercado que mora a certeza de que você não está só. É no clube onde você nada ou no parque em que você corre, nos restaurantes em que vai, que suas memórias são ativadas e os flashes o fazem perceber quem você é. Toda vez que me pego relembrando as minhas referências de vida, desejo ao mesmo tempo que as pessoas valorizem as suas. Todo o seu histórico lhe serve para chegar mais longe nos seus planos e desejos e você sabe que tem uma legião com quem poderá contar. Ter esta certeza é muito bom. Quando você recomeça precisa recomeçar também a gerar laços, novos laços. Com mais tempo de vida no lugar novo isso é uma consequência, sem dúvida, mas o início é doloroso. É lento. Não caminha na mesma velocidade que sua vontade. Resta então aprender a lidar com o tempo, que ainda parecendo lento, é precioso. E que a cada novo momento você valorize ainda mais aquilo que ele tem para te oferecer, sem se apegar, claro! Formada em Jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi, fez especialização em Publicidade & Propaganda e Marketing. Hoje atua como instrutora de Alta Performance do Método DeRose em Pelotas, difundindo uma proposta de life style coaching, um jeito diferente de se cuidar e de viver. Acesse www.metododerosepelotas.com

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Ensaio

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alĂŠm do horizonte No Centro de Porto Alegre, muita gente oferece chip de celular pra vocĂŞ. Mas, e os ships? p o r

ma r ce l o

p i r e s

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Ensaio Um novo trabalho me trouxe para o Centro de Porto Alegre, décimo quinto e décimo sexto andares de um prédio em frente ao Chalé da Praça XV. A janela virou um cartão-postal. Fico, a toda hora, trocando olhares com o Guaíba. Nosso pôr do sol, ok, é lindo. Mas são os navios que me encantam mais. Os navios, gente. Porto Alegre não namora muito com o rio (ou lago) – e eu já tinha esquecido que convivemos com uma frota de visitantes. Eles são calmos. São contemplativos. Não passam por aqui com a altivez e a pressa dos aviões. Nem com a neurose dos automóveis. É uma esquadra de grandes distrações. E cada rebocador que passa, puxando navios, empurrando barcaças, me carrega junto. Olha, sou eu aqui em Poa. E sou ali na proa.

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Ensaio

Eu ganho a vida escrevendo. Mas certas linhas, como a do horizonte, s贸 fotografando

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Ensaio

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O bom de fotografar navios é que eles passam devagar. É difícil perder a foto

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Comer, comer L e n i c e

Z a r t h

C a r va l h o

saúde sem radicalismos

Falar de nutrição sem ser técnica, sem ser superficial e sem querer dificultar a vida.Vou pensar em voz alta – quero dizer, vou escrever – como eu entendo a nutrição que estudo e aplico. Nutrição, alimentos, prazer, equilíbrio e saúde. Tão simples e tão difícil de pôr em prática. Esqueça a dieta da moda, o grão milagroso, o que aquela atriz andou recomendando, aliás, esqueça dietas! Vivemos em uma época que nem o saudável é tão saudável assim. Nossas frutas estão cheias de veneno, muitas carnes e peixes contaminadas, os grãos, passados. Os alimentos industrializados cheios de produtos químicos que interferem no nosso metabolismo. O que fazer? Entendo que, devido ao estresse, poluição e cansaço, nossas necessidades nutricionais são maiores que o estimado e nossa alimentação é cada dia mais pobre, refinada e com aditivos. Nem o solo em que plantamos é o mesmo. Em resumo, há pouca matéria-prima para gerar tantas substâncias necessárias ao organismo. O resultado? Desequilíbrios, que não são poucos e que, a longo prazo, geram doenças. Mas não vamos falar delas aqui, vamos pensar em preveni-las. Minha percepção é que estamos doentes por carências de alguns nutrientes e excessos de substâncias tóxicas. Sabemos que não temos escolha: ou comemos bem ou comemos bem! Cada alimento contém nutrientes e cada um desses tem suas funções. Portanto, evite os pacotinhos industrializados, os alimentos prontos, engarrafados, refinados, prêt-à-porter. Ah fuja também daqueles que são superelabo-

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rados, cheios de cremes, queijos, natas, empanados e cheios de gorduras trans ou de origem animal. Só caia em tentação quando valer muito! Simplifique sua alimentação, use produtos conforme a natureza lhe oferece, preparos rápidos e simples, alimentos de boa qualidade, com sabor! Existe um movimento mundial de retomada de alguns conceitos, na alimentação também: produtos orgânicos, gastronomia valorizando produtos locais, temperos naturais, preparos que estimulam o olfato e o paladar. O resultado é o consumo de alimentos saborosos, frescos e saudáveis. Busque qualidade e terá saúde, observe as quantidades e terá seu peso adequado, nada de mais, nem de menos. Busque o equilíbrio e a oferta de nutrientes a cada refeição, pois assim o organismo dará conta dos eventuais deslizes. Fiquei pensando em como eu gostaria de ser interpretada neste primeiro texto. Acho que simplesmente assim, te fazendo pensar que não há alimento no mundo capaz de neutralizar várias refeições inadequadas, repetidas há anos. Mas há a possibilidade de ingerir diversos alimentos saudáveis, um de cada vez, alguns a cada dia, com variedade. Eles vão proporcionar tantos benefícios que, quando você perceber, já foram incorporados a sua vida, sem radicalismos. Deixar de comer pode lhe custar tão caro quanto comer o que não deve. Lenice Zarth Carvalho é nutricionista



Vida

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É preciso

saber

viver p o r

v e r a

m o r e i r a

f oto s

l e t í c i a

r e m i ã o

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Desde 1994, a legislação brasileira acompanha a orientação da Organização Mundial da Saúde, que classifica como idosas as pessoas com mais de 60 anos de idade em países em desenvolvimento e com mais de 65 anos nos desenvolvidos. Medir o ciclo da vida, no entanto, especialmente nas últimas décadas, exige parâmetros além das faixas etárias entre o nascimento e a morte. Aspectos como o biológico, antropológico e psicológico, além de social, econômico e cultural, carecem de análise em conjunto para que se determinem políticas do idoso. A longevidade avança junto com a medicina e a ordem econômica. Desde a revolução industrial mudaram drasticamente as relações familiares e sociais. A escritora, filósofa e feminista Simone de Beauvoir talvez tenha lançado uma luz das mais brilhantes sobre o assunto no seu livro “A velhice”, de 1970. “A sociedade só se preocupa com o indivíduo na medida em que este rende. Os jovens sabem disso. Sua ansiedade no momento em que abordam a vida social é simétrica à angústia dos velhos no momento em que são excluídos dela. Nesse meio-tempo, a rotina mascara os problemas. O jovem teme essa máquina que vai tragá-lo e tenta, por vezes, defender-se com pedradas; o velho, rejeitado por ela, esgotado, nu, não tem mais que os olhos para chorar. Entre os dois, a máquina gira, esmagando homens que se deixam esmagar porque sequer imaginam que podem escapar. Quando compreendemos o que é a condição dos velhos, não podemos contentar-nos em reivindicar uma ‘política da velhice’ mais generosa, uma elevação das pensões, habitações sadias, lazeres organizados. É todo o sistema que está em jogo e a reivindicação só pode ser radical: mudar a vida.”

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O rótulo de Idoso – ou Terceira Idade, Melhor Idade, Velhice, Aposentado – não gruda mais nos que passaram dos 60/65 anos. Eles não cabem nos velhos parâmetros, e a mudança tem sido tão significativa que, no futuro, terá contribuído na subversão dessa ordem. É preciso deixar bem claro que estamos nos referindo ao grupo de pessoas que teve acesso a boa alimentação, saúde e educação, pois, na falta desses requisitos básicos – que deveriam ser, por direito, de todos –, a velhice chega muito antes dos 60. Para retratar este novo universo, a Estilo Zaffari avançou cronologicamente pelo menos uma década para mostrar, no estilo de vida de quatro pessoas, como é possível se reinventar no outono, e mesmo já no inverno, da existência. Corina Breton, Ena Lautert, Antonio Celso Ferreira e Basildes Santos Martins sabem – e sentem! – que “o tempo não para, no entanto, ele nunca envelhece”, como nos canta Caetano Veloso. As duas belas e encantadoras damas são um exemplo de que feminino e feminista podem ser conjugados e que a superação é um ato de fé na vida e no amor. Os dois queridos e despretensiosos cavalheiros são a prova de que o masculino não se identifica mais no machismo e que carinho e afeto são muito mais potentes do que a sisudez. O quarteto é um recorte do modelo atual de pessoas maduras, física e intelectualmente ativas, que participam da sociedade por meio da construção de pontos de resistência dessa tribo. É um movimento que deverá ser absorvido pelas próximas gerações, e quem for gente grande nunca mais ficará estático.

O rótulo de Idoso – ou Terceira Idade, Melhor Idade, Velhice, Aposentado – não gruda mais nos que passaram dos 60/65 anos

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Corina Breton, 75 anos. Advogada, tradutora, cantora, ativista social, av贸, esposa e amante. Feliz por tudo

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A melodia de uma ativista Corina Breton me recebe com um sorriso que não esconde o olhar inquisitivo. Advogada sensível e vigilante, parece querer decifrar de instantâneo quem vai lhe fazer perguntas. Quando eu liguei pra marcar a entrevista, ela não podia falar de imediato e me retornou em seguida, dizendo: “Estou na rua, mas agora podemos falar”. Preocupei-me, inadvertidamente, se estava dirigindo, poderia ser multada; ao que ela respondeu sobressaltada: “Claro que não, sou legalista”. Acomodamo-nos, confortavelmente, em sofás de uma ampla sala, com três ambientes de decoração sóbria, plantas vistosas e uma parede sedutora de livros. Na medida em que a conversa avançava, ela tecia cumplicidade em nossas afinidades na literatura e na admiração pela música. De repente, seu rosto se ilumina e canta para mim em francês com uma voz tão melodiosa, afinadíssima: que momento privilegiado! Corina anda assim, leve, novamente de caso amoroso com a música. Desde muito jovem gosta de cantar; a infância foi embalada nos LPs de Edith Piaf que o pai trazia da Europa. Mas foi só quando entrou nos 50 anos que decidiu estudar técnica vocal. Procurou a soprano e professora Lory Keller, se inscreveu no coral da Ospa e participou de recitais nas igrejas São José e Auxiliadora. Agora canta toda vez que sente vontade, em qualquer lugar, “até num elevador”, diverte-se ela. Prazer ela tira também da literatura. E de tanto ler, decidiu traduzir. Das inúmeras viagens que fez a Paris, conheceu a escritora Françoise Chandernagor. Apaixonou-se pela sua prosa e se embrenhou na tradução de A primeira esposa. A protagonista do romance poderia ser sua confidente, pois as duas carregam marcas, na alma e na carne, das alegrias e dores de uma união que vai do ápice ao ocaso. Como tudo que faz é com profunda seriedade, Corina quis entender o universo de quem escreve. Fez oficinas de literatura com Valesca de Assis e Rubem Penz,

praticou muito e se atirou às páginas em francês com sucesso. Já está traduzindo um segundo título de Françoise. Corina se casou com apenas 18 anos e aos 29 se divorciou, numa época em que as esposas, por convicção ou temor, colocavam o privado, a família, acima de tudo e de todos. Amargou duro preconceito, mas criou três filhas com inabalável coragem. O segundo casamento durou dez anos, e quando seu terceiro marido entrou na sala, me apresentou: “Este é o meu amor”, e segredou: “Acho que é definitivo, aos 75 anos, espero que seja. E ele é um homem muito inteligente, isso me agrada”. O casal cultiva um convívio estreito com cinco netos. Corina é tanto a avó que senta no chão para brincar com o pequeno Arthur como a que se inflama junto com a neta estudante de jornalismo. “É meu sangue francês. Onde tem protesto, lá vou eu”, diz ela. A veia contestatória já a impulsionou em importantes iniciativas, como o trabalho com adolescentes em situação de conflito na família e a criação do Instituto Chega de Violência, junto com outros dois amigos advogados, em 2004. “A violência urbana me deixa muito mal. Está na Constituição que segurança pública é dever do Estado e responsabilidade de todos”, afirma, explicando que a ONG nasceu da indignação pelo assassinato de um colega de profissão, num assalto. Em sete anos de trabalho voluntário, fizeram eventos, arrecadaram dinheiro, criaram o projeto “Vizinhança segura”, tiveram voz junto às autoridades e até doações de armas e coletes à prova de bala fizeram para a Guarda Municipal. Mas, com o tempo, a mobilização perdeu força. Foi muito duro para essa ativista nata encarar o fato de que o instituto não sobreviveria da sua vontade e nem tinha quem o levasse adiante. “Precisei fechar as portas”, me conta com pesar, mas já refeita, pois Corina nunca foi mulher de arrefecer nas decepções, muito pelo contrário.

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Mãos que irradiam força e luz Numa tarde abafada do nosso inverno travestido de primavera, Ena Lautert tivera convidados para o almoço, me recebeu às 15h para a entrevista e às 17h deveria estar no Leopoldina Juvenil. Pela manhã, ela mesma preparara seu desjejum com banana e aveia na frigideira e uma caneca de café passado pingado com leite. Pesquisou sites de arte na internet em seu gabinete bem-decorado e funcional e supervisionou as tarefas da funcionária doméstica. Na noite anterior participara de um evento. No dia seguinte, viajaria para Teutônia, onde ministra uma oficina de arte. Conversamos animadamente e, faltando 15 minutos para o compromisso no clube, me pediu carona. Trocou o belo vestido-tubo cinza perolado, com sobreposição de uma blusa vaporosa estampada em vermelho e laranja e um delicado colar e brincos ovais de pedra, em menos de cinco minutos. Reapareceu na sala com um traje Adidas em marinho e branco e uma sacola de pano coloridíssima. “Tenho aula de ginástica”, me informou. Caminhamos para o carro, confabulando sobre poder, história e a bomba atômica. Na esquina da Marquês do Herval saltou, se despedindo amavelmente, e já atravessou a rua. Fiquei observando, embevecida, e pensei: “Quero ser igual a ela quando crescer”. Raros se animariam a cumprir uma agenda como essa aos 88 anos, mas Ena não economiza seus dias. Ela aprecia sua rotina, que ainda inclui horas no aconchegante ateliê que montou no apartamento. “O trabalho adoça a vida”, me diz, sorrindo. Vivacidade, elegância e inteligência se combinam com tanta harmonia em Ena Lautert! Escultora de variadas habilidades – já incursionou pela pintura e o desenho –, hoje modela pedras que são sua imagem e semelhança. Densas e leves, lindas.

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Ena usa papel machê e recicla lixo para dar forma ao que tem na sua mente. Não copia, recria seixos da sua infância à beira do arroio que sussurrava perto da casa da avó. “Cuidar do lixo fez parte da minha educação, e nas diversas viagens para a Europa com meu marido, ele era um industrial envolvido com exportação e participava de muitas feiras, sempre reparei nos destinos que davam ao descartável”, conta. Em algumas pedras, Ena mescla papel machê e lixo com acabamento em tinta e bordado, o que gera um efeito extraordinário. As mãos, que costuraram e tricotaram funcionalmente a vida toda, encontraram a expressão artística quando já se ensaiavam sexagenárias. E com a arte Ena sobreviveu à dor da perda irreparável da sua neta de 23 anos. Ela segue em frente navegando nas pedras e no amor aos filhos Lia e Roberto. A solidão, que poderia incomodá-la agora que mora sozinha, é cultivada num rito de paz com o silêncio e a tecnologia moderna. Ena sente-se à vontade no computador e, desde 2001, tem um site onde imprimiu sua trajetória, que engloba exposições, prêmios e múltiplas atividades. Mas ainda mais do que isso, ela promove no seu espaço virtual uma proposta muito criativa. “O site tem uma página onde as pessoas podem criar instalações com as pedras. Adoro ver os trabalhos. Gosto muito dessa interatividade. Deve ser porque sempre gostei de conhecer gente e conversar”, comenta. No Facebook ela soma mais de mil amigos, faz posts carinhosos e compartilha manifestações culturais. Antes de dormir, ora em agradecimento e pensa que o outro dia poderá ser bom. Ao recomeçar sua rotina diária, exercita a respiração e saúda o sol, essa estrela gêmea de Ena na irradiação de força e luz.


Ena Lautert, 88 anos. Artista plรกstica de rotina intensa. Ministra oficinas, se exercita e interage no espaรงo virtual


Vida Basildes Santos Martins, 82 anos. Engenheiro civil, mĂşsico e cronista de mĂŁo cheia

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Letras exatas de um pensador Basildes Santos Martins é um homem que não cansa de pensar o seu tempo. Não é pouca coisa para quem nasceu em 1930 – o século XX foi uma avalanche de transformações radicais. O senhor de olhar sereno e gestos suaves dedilha no violão e nas letras de ficção sua resistência. Muito comunicativo, contraria a máxima de que as mulheres são mais desinibidas. Mas para Basildes, elas estão à frente. “A mulher evoluiu, pois muitas oportunidades surgiram. O trabalho remunerado liberta e isso foi definitivo para a mudança do universo feminino. O homem ficou parado, mas alguma coisa está por acontecer”, analisa, apostando que a matemática homem e mulher conquistará novo equilíbrio. A paixão pela música proporcionou a este engenheiro civil não enclausurar a mente nas exatas e se aventurar além-mar. Tocou violão em Portugal por alguns meses, quando o trabalho formal cedeu espaço para um tempo mais elástico. De volta a Porto Alegre, passou a se expressar também no papel. Encontrou nas letras seu chão, uma forma exata para revelar fragmentos de vida: “(...) E assim ‘cresceram’, ampliaram seus conhecimentos, num constante pega-pega, ora à cultura, ora aos negócios, ora ao sexo. Brincando de viver. Então a tristeza chegou. ‘O espinho que não se vê em cada flor. A vida sangrando aberta em pétalas de amor.’ As contas separadas. As viagens solitárias. Um guri desnorteado. (...)”. Ele faz parte das oficinas literárias mantidas pelo Clube de Mães há mais de uma década, ministradas ultimamente pelo escritor Rubem Penz para dois grupos. No de Basildes são dez integrantes e a sua mulher, médica homeopata, também participa. Os textos da oficina são editados em livro e o último saiu em setembro, Moraes da história, crônicas (o trecho citado está nesta edição) inspiradas no poeta Vinicius de Moraes. O título terá lançamento na próxima Feira do Livro, o evento que já não vive só da literatura profissional, mas também da literatura que ousa se aventurar na praça consagrada, que afinal, como dizia Castro Alves, é do povo.

Que seja infinito enquanto dure O clube Itaú Viver Mais nasceu do exemplo de um grupo de homens maduros que se reunia em cafés, na Espanha, para ler poesia regada por deliciosos expressos. O marketing do banco flagrou o nicho. Tomou a iniciativa de criar espaço no Brasil para pessoas que engrossam as estatísticas do aumento da expectativa de vida e das novas questões sociais a reboque dessa realidade. Hoje conta com cerca de 6 mil associados em 19 unidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Telefonei para a coordenadora do clube na nossa cidade, Maria Inês Moraes, pedindo a indicação de dois homens para entrevistar, uma vez que já tínhamos a ala feminina. Ela me contou que na Vila Assunção havia o maior percentual de participação masculina das quatro unidades na capital. Ela, então, marcou de encontrarmos com Basildes Santos Martins e Antonio Celso Ferreira, no curiosamente chamado Clube de Mães. É que essa associação existe há cerca de 40 anos, quando as mulheres se reuniam pra bordar e tricotar com objetivo filantrópico. Cerca de 10 anos pra cá os homens foram convidados a participar e o perfil do clube foi se transformando. Há dois anos, com a adesão ao Viver Mais, as atividades se expandiram, e o grupo, sempre coeso, se beneficia das aulas de ginástica e dança, dentre as atividades oferecidas, que podem ser também de teatro, canto, inglês, yoga, caminhadas, oficinas de artesanato, corridas e passeios. E ainda descontos em farmácias, cinemas, viagens, entre outros. Chego ao endereço numa rua com nome de tribo indígena deste bairro da Zona Sul e há apenas um portão de ferro com uma entrada de carros comprida e larga, bem ajardinada. Ao fundo de uma curva, se esconde a sede bonita e muito bem cuidada. Encontro com Inês e nossos entrevistados, trajados com a camiseta do clube – antes de se chamar

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Vida Viver Mais, o logo tinha um “A“ de “Aposentado”, mas a organização percebia que essa era apenas mais uma das formalidades para designar uma turma que só é aposentada nos documentos oficiais, e o clube mudou o nome. Sentamos no salão principal, onde há uma cozinha bem equipada na qual preparam jantares e eventos. Vou fazendo perguntas, chegam outros sócios e formamos uma rodinha, jogamos conversa fora, rimos, Inês sugere um tour boêmio e oferece ônibus para sair em busca de bares com música ao vivo. Todos aprovam na hora e querem levar junto a professora de Educação Física que trabalha com eles todas as quartas-feiras pela manhã. Ela é uma unanimidade, desperta admiração e carinho. No meio da tarde, preparam café e chá com bolachinhas e pão de mel. Reparo no casario pintado nas paredes pela sócia Cristina Lisboa, aluna de Fernando Baril, e nos espelhos de um telhadinho interno com delicados entalhes de claves de sol e notas musicais. Pergunto ao autor, Antônio Brito, como fez, se usou serra tico-tico, e ele resume, maroto: “Vontade”. Outro sócio, Alberto Lisboa, é de uma simpatia contagiante e me mostra as outras dependências: auditório e sala da diretoria, a biblioteca, organizada por três sócias bibliotecárias, e o amplo auditório aberto, com vitral colorido, que ganhou seu nome. A turma diz que ele é aplicadíssimo na conservação do lugar, cuida do jardim e dos reparos gerais. Estamos esperando agora a fotógrafa e eles começam a ensaiar canto e coral, o que é rotina semanal. Antonio Celso recebe no teclado uma cantora de cada vez. Primeiro cantam em inglês, depois em espanhol, depois o grupo todo canta “Eu sei que vou te amar” e Alberto recita com voz clara e aveludada um trecho de Vinicius de Moraes: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. É emocionante olhar para eles, e me transmitem uma sensação: posto que somos chama na vastidão do tempo cósmico, que sejamos infinitos enquanto durarmos.

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O inventor não se acomoda Antonio Celso Ferreira é dono de um físico invejável. E mais ainda considerando que está com o pé na soleira octogenária. Este senhor de temperamento reservado se dedica ao corpo – nossa casa por vezes tão maltratada – com afinco e prazer. Médico psiquiatra, casado também com uma médica psiquiatra, conhece os mecanismos que fazem do organismo tonificado um indutor de bem-estar e do cérebro saudável. E ainda goza de uma autoconfiança que lhe permite não empacar em preconceitos, como a vergonha de praticar ginástica num grupo só de mulheres. “São aulas de alongamento bem cedo pela manhã. Um excelente exercício para o corpo, e o professor é muito bom. Mas a maioria dos homens não se sente à vontade, prefere sua imagem colada a outro tipo de exercício”, comenta. Ele participa também das aulas proporcionadas pelo Itaú Viver Mais na Vila Assunção e elogia o método que a professora aplica ao grupo, que promove, inclusive, o contato físico entre todos. Comentamos como a expressão corporal masculina vem mudando, sendo hoje bem aceito que homens se cumprimentem com um beijo na face. O olhar curioso de Antonio Celso revela também um íntimo criativo. Ele gosta de inventar coisas e até já conquistou uma patente, para o seu teclado Uniscala. Como diz o nome, o teclado se caracteriza por ter uma escala só. O sistema alinha as teclas na diagonal, possibilitando a mesma dedilhação para todas as escalas maiores e também apenas uma para todas as menores. Antonio Celso desenhou o modelo em 1995 e encomendou um protótipo para uma fábrica de acrílico. Depois o montou por cima do teclado original, obtendo um bonito efeito de losangos em preto e branco. “Este teclado simplifica os arranjos, é muito mais prático para executar canções populares e muito mais fácil também para quem quiser aprender a tocar”, explica. Mente capaz e irrequieta, Antonio Celso não se acomoda: “Um inventor é aquele sujeito que não se conforma com as coisas como estão”.


Antonio Celso Ferreira, 79 anos. Psiquiatra, inventor: a mente irrequieta em um corpo sadio


O sabor e o saber F e r n a n d o

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O Chá, a metáfora do “Os órgãos digestivos dominam o intelecto. Não podemos trabalhar ou pensar sem que nosso estômago concorde. Ele dita nossas emoções e paixões. Depois do bacon com ovos ele diz – ‘Trabalha’! Depois da bisteca com cerveja, ele diz – ‘Dorme’! Depois da taça de chá (duas colheres de chá por taça numa infusão menor que três minutos) ele diz ao cérebro: – ‘Agora levante e mostre sua força. Seja eloquente, profundo e delicado; veja, com mente clara, a natureza e a vida; agite as asas brancas do pensamento e voe, um semideus sobre o mundo girando abaixo, ascende por raios de estrelas flamejantes até os portões da eternidade!’” Para descrever o que significa o chá para um inglês, Jerome K. Jerome (1889) não economizou hipérboles. Este caso de amor se iniciou com uma princesa portuguesa. Catarina de Bragança, rainha ao desposar Carlos II (1662), nunca gerou um herdeiro, em compensação legou ao reino o vinho do Porto, a laranja, a ‘marmelade’, o garfo, o nome do bairro Queens de Nova Iorque e, por último e mais importante, o chá das 5 – o próprio ritual de identidade britânica. Um século depois de Catarina, os ingleses consumiam nove milhões de toneladas de chá ao ano, três quartas partes contrabandeadas. O quilo de chá produz 500 taças, o de café, dez vezes menos. Mais barato, leve e fácil de transportar que o café e o chocolate, o chá prestava-se especialmente ao verdadeiro ‘livre comércio’. Um ‘luxo necessário’, o chá estava popularizado na época vitoriana, acessível até aos moradores de rua e prostitutas pobres. Uma das vítimas de Jack, o Estripador, (1888) trazia entre seus pertences um torrão de açúcar e uma porção de chá. O filantropo Joseph Hanway publicou um manifesto em 1756 chamando os compatriotas à razão. O chá arruinava o país. Os homens perdiam a estatura, as mulheres, a beleza. Os pobres compravam chá em vez de pão e a mortalidade

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infantil aumentara: “bebês são abandonados enquanto as babás bebem chá”... Mas a ‘bebida inocente’ influenciou a urbanização e a revolução industrial. A água fervente diminuía o risco de disenteria e cólera e os patrões passaram a oferecer chá ao operariado a fim de diminuir a embriaguez por gim e aumentar a produtividade. Num clima frio e úmido, ‘a nice cup of tea’ se fez a metáfora do conforto. Lar é onde a esposa prepara o chá, afirmou Samuel Peppys (1667). Hoje os britânicos só perdem para os turcos como os maiores bebedores de chá. Nada é tão grave que não seja minorado com uma taça de chá. Na explosão da bomba no metrô londrino em 2005 houve o comovente registro de populares acudindo sobreviventes com cobertores e xícaras de chá – o bálsamo de todos os momentos, até ataque terrorista. Um milênio de entente não cordiale – os franceses dizem que do outro lado do Canal da Mancha vivem bebedores de cerveja quente e chá frio. No Asterix na Bretanha, obra de dois gauleses, os ingleses recusam a lutar nos fins de semana e à hora do chá. César conquista a ilha com lutando nos fins de semana e à hora do chá. Na realidade, há relatos de tea brakes em batalhas encarniçadas e de trincheiras alemãs aguardando as 5 horas da tarde: os bombardeios tinham uma pausa. A palavra inglesa para porcelana é china, sua origem geográfica. A porcelana chegou a Europa como lastro dos navios que transportavam o chá. No Dicionário do Dr. Johnson (1755), escrito à base de chá, porcelain teria origem no F. pour cent années pela crença de que a porcelana maturava por cem anos enterrada no solo chinês. As primeiras regatas foram corridas pelo chá. Veleiros competiam para chegar primeiro com a preciosa carga. Surgiram os clippers, embarcações leves que surfavam nas ondas – o mais famoso, o Cutty Sark, virou marca de uísque.


conforto Torcidas eram organizadas e a tripulação vencedora era isenta de pagar pelo chá consumido até o ano seguinte. O roqueiro Sting, autor de Tea in the Saara, se surpreende com a pergunta, “Chá de quê?” Para este ‘englishman in New York’, só há um, o chá preto, nosso chá da Índia. No português, como em todos os idiomas, a palavra migrou da planta para a infusão, e depois, para qualquer infusão, os ‘chás herbáceos’: chá de boldo, cidreira, erva-doce e toda a flora medicinal. Há até chás metafóricos como o chá de banco e o chá de sumiço. Nativo do sul da China, montanhas próximas à fronteira indiana, a camellia sienenses é um arbusto perene que produz flores perfumadas de cinco pétalas. Da família das acácias e primo das magnólias, o chá, sem poda, chega a 10 metros de altura. Um processo surgido há 5000 anos, as folhas recém-brotadas na primavera são colhidas, secas e esfareladas nas palmas das mãos a fim de desfazer a estrutura celular e mesclar seus compostos. Depois são fermentadas em temperatura morna sob ventilação para que a cor e o sabor se estabeleçam e por fim aquecidas para desidratar. As folhas mais jovens, menores, oriundas de regiões altas e colhidas ao alvorecer são as mais valorizadas. Fruto deste processo, o ‘chá preto’ responde por 98% do mercado internacional, mas a China e Japão preferem o ‘chá verde’, o não fermentado. O poeta chinês Lu Yu, o primeiro connoiseur do assunto (séc. VIII), usou imagens semelhantes às de Jerome para definir o chá: “deve ter vincos como a bota de couro do ginete tártaro, ser curvo como a barbela do poderoso touro, se esparramar como a névoa na ravina, brilhar como o lago acariciado pela brisa, ser molhado e macio como o chão orvalhado.” Bebe-se chá menos por tais atributos e mais pela cafeína, a primeira e única droga competidora do álcool na civilização. Seres humanos têm a aptidão de descobrir

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plantas ricas em cafeína: café, mate, guaraná, cacau, cola e chá. Ninguém sabe dos primórdios do chá, talvez uma folha caída acidentalmente na água quente. A lenda é que o monge Bodidarma, o introdutor do budismo na China, cortou suas pálpebras para meditar sem dormir. As pálpebras criaram raízes e germinaram como o chá. De fato, as folhas de chá não só imitam o formato da pálpebra como, pela cafeína, promovem a vigília. Uma das primeiras commodities orientais, por milênios o chá foi privativo dos chineses até ser adotado (séc. VII) pelos vizinhos coreanos e japoneses e, depois – na troca por cavalos –, pelos povos da Ásia Central: mongóis, tibetanos, tártaros e turcos. Segredo bem guardado, a Europa levou mais de dois séculos para saber que o chá preto e o verde brotavam da mesma planta. Mais tempo para aprender como e onde cultivá-la. As sementes de chá só zarpavam do Porto de Cantão esterilizadas por fervura. No esforço de contrabandistas, espiões e botânicos, os holandeses aclimataram mudas na Indonésia (1837) e os ingleses cultivaram chá na Índia (1840) e Ceilão (1877). Até então a China detinha o monopólio mundial da oferta de chá e, sem tradição comercial com o estrangeiro, não manifestava interesse em qualquer produto europeu exceto ouro, prata e cobre. A única opção britânica à bebida era o ‘chá inglês’, mescla de sabugueiro, cinzas e esterco seco de ovelha. O chá era tão adulterado, que algumas misturas tornaram-se respeitáveis: o Earl Gray tem essência bergamota, e o Orange Pekoe, casca de laranja. Os costumes de adicionar limão, açúcar ou leite surgiram para mitigar o sabor do chá de má qualidade. Para comprar chá legítimo (também seda e porcelana) sem exaurir a coroa, a Inglaterra criou o tráfico internacional de drogas e, para o desespero das autoridades chinesas, passou a fornecer ópio a contrabandistas, viciando assim boa parte da Ásia. O déficit comercial virou superávit. Em 1830 havia 12 milhões de dependentes de ópio na China. Em resposta à repressão ao contrabando, a Inglaterra declarou por duas vezes guerra à China. Não fosse o chá e o

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ópio, Hong Kong não seria por século e meio (1838-1997) uma ilha britânica. Foi na devastação da epidemia de ópio que um complô tramado numa casa de chá de Xangai (1911) fez do Último Imperador da China um jardineiro, pondo um fim a 2000 anos de poder dinástico. Anos depois (1949), uma revolução estabelecia a China Popular Comunista –“Fazer revolução não é tomar chá”, dizia o não tão camarada Mao. Foi no Japão que o chá ganhou a maior expressão. Beber chá tornou-se o principal cerimonial de uma cultura que é puro cerimonial. Toda a vida e a arte nipônica – arquitetura, literatura, pintura, culinária e inclusive os arranjos florais – foram influenciadas pelo chá e seus ritos. O contraponto da espada, se o código do Samurai traz a honra, bravura e morte, o do chá invoca sensibilidade, transcendência e vida. Para o carente de sentimentos, o idioma japonês diz ‘tem pouco chá’, para o transbordante ele diz ‘tem chá em demasia’. Hoje há 1.500 variedades de chá e a planta é cultivada em mais de 25 países. Que as palavras para chá em todos os idiomas sejam semelhantes – F. thé, I. tea, árabe chai, hebraico thé, russo chai, etc. – decorre de uma difusão tardia e rápida. Graças à presença comercial pioneira de Portugal, nossa palavra ‘chá’ é a mais próxima dos sons mandarins originais, ‘chah’ e ‘tai’. Usamos tanto a chaleira que não percebemos sua etimologia, ‘fazer chá’ – aquecemos a chaleira para fazer café. Da mesma forma, chávena é a xícara com alça na qual servimos qualquer bebida quente. ‘Dar uma colher de chá’ invoca o bálsamo dado ao enfermo, sentido que migrou para ‘qualquer auxílio’. Balzac, que para escrever a Comédia Humana bebeu 1.500 litros de café, dizia que o amor se inicia com champanha e termina com chá. Já Lord Byron sempre colocava um ovo cru em seu chá. Para ele, todas as horas eram próprias ao chá. Preferia tomar chá depois do sexo, às vezes antes, raramente durante. fernando lokschin é médico e gourmet fernando@vanet.com.br



Sabor

O alquimista

de sabores

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Em abril de 2011, o chef Floriano Spiess e o empresário Carlos Vellinho inauguravam o Le Monde Villa Lina, no que pretendiam como um soft open, sem alardes, sem divulgação, sem stress. Mas a expectativa pelo Menu Degustação do chef, festejado por centenas de clientes no seu Le Monde de Canela, foi mais forte. E o novo restaurante ofereceria ainda cardápio à la carte e uma adega selecionada – e toda em pedra, com mesa estilo medieval para jantares superexclusivos. Enquanto espreitavam a abertura das portas, gourmets da capital já agendavam jantares no casarão centenário da Pedra Redonda. E desde a primeira semana bombou!

p o r

v e r a

m o r e i r a

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Sabor

A interação do LMVL com o Guaíba ganhará ainda maior evidência com a inauguração do jardim, um convite ao happy hour

A brigada de cozinha, formada por quatro profissionais afinados com o chef, não recusou fogo. Assim como a equipe bem-preparada do salão. O reconhecimento veio igualmente a galope, com estrela no Guia Quatro Rodas e a conquista de restaurante revelação (inédita unanimidade de votos) e melhor chef de Porto Alegre, pela revista Veja Comer & Beber 2012/2013, entre outros prêmios. Soma encanto ao Le Monde Villa Lina a sua arquitetura centrada no privilégio da localização fronteiriça com o Guaíba. Vidraças no lugar de paredes nos levam ao pôr do sol e às luzes nas margens que afundam na água. Em outubro, a interação com nosso belo lago ganhará ainda maior evidência com a inauguração do jardim. Serão 50 lugares distribuídos em mesas com ombrelones, um convite ao happy hour.

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O melhor dos prêmios Maiakovski, o maior poeta russo moderno, dizia que “a técnica liberta o talento”. Há mais de uma década, Floriano acumula milhagem no fogão, queimaduras e leituras. Cozinhou com grandes chefs do cenário nacional, como Luigi Tartari, Claude Troisgros e Alex Atala. Dominou a técnica e libertou o seu talento. O chef carrega a obstinação dos atletas no sangue. Caçula de quatro irmãos, herdou do pai, ex-jogador de futebol do Cruzeiro, a paixão pelos esportes. “Era o que me permitia também extravasar a energia de criança hiperativa”, admite. Chegou à faixa preta no judô, mas sentindo que não poderia se destacar entre os competidores do seu clube, optou por começar tudo de novo com a luta greco-romana. Visava a uma posição de destaque que o levasse às Olimpíadas e submeteu-se a todos os treinamentos exigidos


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O chef Floriano cozinhou com grandes chefs, como Luigi Tartari, Claude Troisgros e Alex Atala. Dominou a técnica e libertou o seu talento no Brasil e no exterior. Em Cuba, país de ponta nessa modalidade, encontrou na cozinha uma forma de engordar a receita minguada de atleta, fazendo bico como auxiliar de restaurante. “Minha mãe é uma cozinheira de mão cheia e desde piá eu gostava de ficar à volta dela no fogão. Os conhecimentos adquiridos foram muito úteis”, lembra. Vencidos os desafios de atleta com os títulos de bicampeão sul-americano e penta brasileiro, Floriano foi buscar sua alquimia. Por um tempo, investiu em elaborar perfumados cremes e shampoos. Mas a obstinação em ser o melhor esbarrava na poderosa indústria de beleza. Assim, encerrou também esse ciclo. Mudou-se de mala e cuia para a Serra gaúcha, cursou a Escola de Gastronomia Castelli e sentiu que por meio dos sabores conquistaria o seu melhor desempenho.

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Cordeiro em Duas Versões Para a paleta confitada 1 paleta de cordeiro (800 g a 1 kg) 2 litros de azeite de oliva 1 litro de óleo normal 200 g de azeitonas pretas 20 g de cardamomo 20 g de anis estrelado 1 molho de alecrim 1 molho de tomilho 1 cebola inteira 1 maçã verde 2 cravos,1 pau de canela pimenta branca, sal

Para o molho de carne 5 kg de ossos de boi (de preferência, do joelho) 1 pé de porco 2 patas de boi 2 cenouras 4 talos de salsão 1 alho-poró 1 buquê garni (faça um “amarradinho” com tomilho, alecrim e 1 folha de louro) 20 litros de água

Modo de fazer a paleta: Tempere a paleta com sal e pimenta. Cubra com os óleos, e junte os demais ingredientes e cozinhe no óleo durante 6 horas (no mínimo), não deixando passar de 85° (ultrapassando essa temperatura, a carne frita e perde suculência e maciez). Dica do chef: Desde que mergulhado nesse preparo, o cordeiro atinge o seu ápice de sabor após 48 horas de repouso na geladeira. Modo de fazer o carré de cordeiro: Corte o carré, limpando as costelas que ficaram aparentes. Retire o excesso de pele e gordura, expondo bem o lombo. Tempere com sal e pimenta e frite rapidamente em panela de ferro bem quente, dourando todos os lados, mas deixando o centro bem malpassado. Reserve. Na hora de finalizar, leve ao forno (200°) por cerca de 3 minutos. Dica do chef: Não tenha preconceito, mantenha o cordeiro malpassado, pois é o ponto de cozimento ideal para apreciar essa carne. Modo de fazer o molho de carne: Leve ao forno, a 200°, os ossos, para que fiquem dourados. Cuide para não queimar, pois o molho pode amargar. Num caldeirão, junte todos os ingredientes com a água e cozinhe durante, no mínimo, 12 horas, em fogo baixo. Nesse tempo, vá repondo a água e finalize quando restarem cerca de 5 litros. Deixe esfriar naturalmente e leve o líquido ao freezer para que a camada de gordura endureça e, após, seja totalmente retirada. Leve à panela e reduza novamente a 1 litro. Para finalizar, acrescente dark shoyo em pequena quantidade (50 ml) e 200 g de manteiga. Isso irá conferir brilho e uma bela cor de caramelo. Ajuste sal e pimenta e sirva sobre as carnes.

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Foie Gras ao Molho de Vinho do Porto 3 escalopes de foie gras de 80 g cada pimenta branca moída na hora, sal 100 g de farinha de trigo Para o molho de vinho do Porto 200 ml de vinho do Porto 50 g de manteiga sem sal 100 ml de caldo de carne 1 colher (sopa) de açúcar, se necessário Para os figos brulé 2 figos frescos e maduros 100 g de açúcar demerara

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Modo de fazer o foie gras: Tempere o foie gras com sal e pimenta. Passe rapidamente na farinha de trigo e bata levemente com as mãos para retirar o excesso. Em frigideira antiaderente muito bem aquecida, frite por cerca de 30 segundos cada lado (ou até que fique levemente dourado). Não é necessário colocar óleo, pois o foie gras frita na própria gordura. Reserve. Modo de fazer o vinho do Porto: Na mesma frigideira usada para fritar o foie gras, retire o excesso de gordura e, com a panela bem quente, coloque o vinho do Porto e ferva por cerca de 30 segundos. Acrescente o caldo de carne e deixe reduzir a 1/3. Finalize com a manteiga, sem deixar ferver. Se necessário, coloque uma colher de açúcar. Não deixe ferver. O molho deve ficar com consistência aveludada. Modo de fazer os figos brulé: Corte os figos ao meio e coloque por cima uma generosa porção do açúcar demerara. Queime com o auxílio de um maçarico, até que o açúcar derreta e fique com cor dourada. Dica do chef: Se não tiver um maçarico em casa, leve a um gratinador de alta potência por cerca de 1 a 2 minutos, até que fique dourado. Cuide para que o açúcar não queime, pois a receita pode amargar. Montagem do prato: Disponha lateralmente os figos brulé e o foie gras, formando um leque. Regue com generosa porção de molho. Decore com ramos de tomilho.


Mousse de Doce de Leite 300 g de doce de leite de boa qualidade (argentino ou uruguaio) 200 g de creme de leite fresco 3 claras 1 pitada de sal Para o coulis de frutas vermelhas 100 g de moranguinhos 100 g de framboesa 100 g de mirtilo 100 g de amora 200 ml de espumante Brut 200 g de açúcar 50 g de manteiga Para o merengue 3 claras 50 g de açúcar 1 pitada de sal Modo de fazer o mousse: Bata as claras em neve com uma pitada de sal, até formar picos duros. Acrescente o creme de leite e bata até ficar com consistência similar à de chantilly. Retire da batedeira e incorpore levemente o doce de leite. A massa deve ficar fofa e cremosa. Modo de fazer o coulis de frutas vermelhas: Numa panela, junte todas as frutas, a manteiga e o açúcar. Mexa sempre e cozinhe por 5 minutos. Acrescente o espumante e cozinhe, mexendo de vez em quando, até obter uma consistência de geleia líquida. Modo de fazer o merengue: Bata as claras em neve, com a pitada de sal, até obter picos duros. Acrescente o açúcar peneirado e continue batendo até atingir a consistência de um merengue armado. Montagem: Numa taça de Martini, coloque uma generosa colherada da mousse. Cubra com o coulis de frutas vermelhas. Por fim, utilizando uma manga de confeiteiro (com o bico “pitanga”), coloque uma pequena porção de merengue para enfeitar.

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Ser & Vestir R o b e r ta

G e r h a r d t

o calçado é o princípio do look Se a linguagem visual é sempre uma fonte inesgotável de comunicação, imagine, então, a sua importância no tagarelante ambiente profissional. O que você veste comunica. Sempre! A começar pelos seus pés. O calçado é “a base” de tudo, o princípio do look. Sim, você pode iniciar a escolha do seu visual de trabalho pelos pés. A chance de você acertar será grande, pois a decisão do melhor sapato exige atenção. Não dá para sair vestindo qualquer coisa achando que ninguém vai reparar. Repara sim. E muito! Tanto que há quem sustente que se conhece o homem pelo sapato que veste. E então? Os seus sapatos estão representando bem você? Acima de tudo, qualquer calçado, seja ele esportivo ou social, precisa estar com a aparência impecável. Mas impecável mesmo! Nada de sola desgastada, nada de couro precisando de hidratação e tinta, nada de cadarço surradinho. A regra número um é você deixar bem claro que “a sua base” está sempre apropriada e bem-cuidada. E nem venha me dizer que dá para disfarçar. É pecado mortal, viu? Capriche no investimento feito. Adquira produtos da melhor qualidade possível e também invista na sua correta manutenção. E fique atento para que haja uma sintonia entre o estilo da roupa e o sapato. Quando o ambiente profissional exige um look social, como, por exemplo, o terno e a gravata, o sapato precisa corresponder ao estilo. O correto é um sapato social da cor mais próxima possível do terno, para que todo o seu visual fale a mesma língua.

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dicas A meia, sempre ela! Branca? Só com sapatos ou tênis da mesma cor. Nos demais casos, ela deve acompanhar ou a cor do sapato ou da calça. Não inove em tons diferentes, mesmo quando for moda, a não ser que você seja um expert. Jamais use sapato social com calça jeans. Aposte em modelos esportivos, com sola de borracha. Dock-sider (sim, ele voltou!), botina e mocassim raso são boas opções. O contrário também é verdadeiro, lembrando que o sapato precisa combinar sempre com o cinto. Gordinhos ficam elegantes quando vestem calçados mais robustos para equilibrar a silhueta, porém devem ser sempre discretos. Por exemplo: os sapatos sociais devem ter o solado de couro um pouco maior do que o usual. E nada de cores fortes ou bicolores, como os modelos oxford.


dicas

errar no sapato é errar na base Dizem que todas as mulheres adoram sapatos. Mesmo assim, é impressionante e surpreendente ver os erros que cometem na hora de compor o look para o trabalho. Impressiona porque as regras do dress code profissional feminino nunca saem de moda e deveriam ser bem conhecidas. Há regrinhas sobre os calçados femininos que valem para absolutamente todos os ambientes profissionais – do mais formal ao superdescontraído. Por exemplo: você nunca deveria exibir demais os seus pés usando sapatos abertos. No trabalho, é totalmente inadequado vestir tamancos, sandálias de tiras ou qualquer outro calçado que deixe os seus dedinhos todos de fora. Você pode usar, no máximo, um modelo peep toe, que deixa à mostra apenas as pontinhas de alguns dedinhos. Os pés, assim como o decote generoso, devem ser guardados para qualquer outro momento que não seja o de trabalho, preservando a sua intimidade e valorizando o seu profissionalismo. E o salto? Eis aí outra regra eterna: nunca abuse dele. A ideia é valorizar conforto e agilidade. Mas alto lá! Nada de vestir rasteirinha ou qualquer tipo de sapato sem salto algum, pois isto deixa o look relaxado demais para quem trabalha. O correto, aquele que indica o preparo e o profissionalismo na medida certa, é o salto médio, o famoso salto cinco. E as lindas sapatilhas? Só aquelas com um pouquinho de saltinho. Você irá acertar quando entender que nem sempre no ambiente profissional devemos seguir só o nosso gosto pessoal. Há regras. E errar no sapato é, acima de tudo, um erro imperdoável, pois é errar “na base”. E o que você precisa é transmitir o máximo de competência e adequação vestindo o calçado certo.

Aproveite a moda dos escarpins de cores fortes e cítricos. Renove o seu guarda-roupa de trabalho, usando modelos comportados, porém ousados nas cores. Mas atenção: quanto mais colorido o sapato, mais o restante do traje deve ser neutro no modelo e nas cores – incluindo a bolsa e a pasta executiva. As mules voltaram à moda! Como elas são uma espécie de tamanco fechado na frente, são adequadas ao trabalho. Porém, é praticamente impossível vesti-las com calças compridas sem caminhar deselegantemente. Nada de vesti-las com terninhos. Ficam melhores acompanhando saias e bermudas. O calçado correto também ajuda a valorizar a silhueta. Quer um exemplo? Mulheres de coxas grossas e quadril largo devem evitar sapatos muito delicados. Ficam melhores usando sapatos sempre mais fechados e com uma aparência forte. Roberta Gerhardt é consultora de moda, estilo e comportamento robertagerhardt@terra.com.br

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mulheres que amamos

estas páginas da revista estilo zaffari são reservadas para a apresentação de mulheres admiráveis, notáveis, interessantes, indispensáveis. Mulheres que despertam e merecem o nosso amor. nesta edição, as eleitas são três profissionais antenadas, modernas, experts em comunicação e em moda. Duas se chamam patrícia, e fizeram dessa coincidência de nomes a sua marca registrada, uma verdadeira grife do segmento de jornalismo de moda. a outra se chama mauren, é uma profissional reconhecida brasil afora e construiu uma empresa de comunicação usando as iniciais de seu nome como marca. Conheça as amadas desta edição e morra de amores você também. 94

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talentosas patrícias Lembro bem o dia em que bati à porta “das patricias”. Minha primeira coleção em mãos, tremia feito vara verde, como dizem lá na minha terra. Era meu primeiro contato com jornalistas da área e sabia da relevância da Patricia Parenza e da Patricia Pontalti na moda. Muitas vezes ficamos inseguros diante de quem não conhecemos e muito admiramos. Criamos um abismo, e é tão bom quando conseguimos transformar esse sentimento. Elas me receberam com um sorriso largo, me cativaram e eu me senti bem. Os encontros continuaram, viraram amizade, troca de ideias e experiências. A admiração e o respeito, desde então, só crescem. Pra mim, Parenza e Pontalti são assim: intrínseca cumplicidade, estimulante criatividade. Sabe café com leite? Um vive bem sem o outro, mas fica melhor e mais gostoso junto. Cada uma tem suas peculiaridades, cultiva gostos diferentes, cada uma é autêntica à sua maneira. Mas as duas têm o riso solto e o olhar sincero. Sorte nossa que se uniram. Num universo de tantas vaidades, onde o chão pode ser areia movediça, elas caminham a passos largos e firmes. O reconhecimento nacional não veio de graça. São profundas conhecedoras da área na qual atuam, sempre buscando inovar e fazer mais. E melhor. Se envolvem com intensidade nos projetos que abraçam, atuando com o profissionalismo clínico de quem faz a diferença. Mas engana-se quem acredita que só de moda, geração de conteúdo e jornalismo vivem Patricia Parenza e Patricia Pontalti (até porque o trabalho que realizam vai muito além disso). Elas têm o coração aberto pra vida, são conectadas ao que acontece no mundo, amorosas com a família e os amigos. São talentosas, e talento não se aprende. Há quem vá dizer que estou me rasgando em elogios. Pois acertou. Porque o melhor de tudo foi descobrir que, no lugar daquele abismo, encontrei duas Patrícias excepcionais. Mulheres que eu amo. por greice antes, estilista


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mulheres que amamos

We

mauren

A gente pode se arriscar a dizer que conhece uma pessoa quando encontra uma palavra para ela. Um agrupamento de letras, que sirva pra descrevê-la fisicamente, intelectualmente, profissionalmente. Que a justifique, eventualmente. Uma palavra imediata, não pensada. Uma palavra emocionada. Eu tenho uma palavra para a Mauren. A palavra dela tem a função de ser bomba. Dá ataque se o assunto exigir outras palavras fortes. Não foi por nada que a Mauren escolheu NY para viver seus primeiros anos como jornalista. NY pulsa como a palavra dela. A palavra da Mauren está na ponta da minha e da sua língua e também tatuada nela inteira. A palavra da Mauren esta no centro de tudo que ela cria, inventa e inspira. Sempre encontro com a Mauren quando ela vem pra SP, sempre a trabalho, sempre, sempre. SP é outra cidade que não pode parar, como ela e a palavra dela. Mas ela nem tem que estar em SP, para que eu, ou você, a encontremos direto. No Facebook, no twitter e no instagram, no Google+, no messenger, no ichat, em tudo que é forma virtual ou não de se expressar, lá está a Mauren, movida pela palavra dela. Sem a palavra da Mauren não existiríamos, nem nos apaixonaríamos, nem moveríamos mundos para realizar as coisas que acreditamos. As pessoas razoáveis gostam de dizer que na palavra da Mauren não existe razão. Mas eu, que por algum motivo fui convidada a falar sobre ela, gosto de pessoas que contrariam. O Renato Russo, por exemplo, dizia assim: “E quem irá dizer que não existe razão nas coisas feitas com o coração. E quem irá dizer que não existe razão…”.

POR tetê pacheco, publicitária

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Bom conselho p o r

M a lu

C o e l h o

Organizar o lar não é brincadeira Organizar uma casa pode parecer fácil. Mas não é. Com o despertar da família, a rotina começa: cuidar o horário da escola, fazer o café, auxiliar no banho das crianças, arrumar mochilas e os lanches, decidir o cardápio do almoço. É todo o dia aquela “função”: cuidar da casa, das roupas, das compras no supermercado, sair com os filhos para tomar sol na pracinha, marcar dentista para a filha mais velha, mandar consertar o computador, organizar o cardápio do dia, pregar botão, telefonar para avisar a mãe que logo vai levar o remédio, deixar o filho no judô, levar o cachorro para passear, ir para a ginástica... Nossa! E tudo isso entre os compromissos do trabalho e as responsabilidades profissionais. E ainda é preciso enfrentar o engarrafamento para chegar na hora em que a funcionária da casa tem que sair. E você, mesmo assim, ouve as reclamações da família: a filha reclama que está de regime, o marido conta sobre os funcionários incompetentes, alguém reclama que não tem o que comer... É a hora da novela e você nem sempre consegue acompanhar todos os capítulos; lê a sinopse no jornal ou na internet para não perder o “fio da meada”. Depois que todos dormem ainda vai para a agenda porque é preciso anotar as tarefas pendentes, ver as necessidades do próximo dia e começar tudo de novo. Ser mãe, esposa, profissional e dona de casa não é brincadeira. Exige competência, muita disposição, agilidade, criatividade, versatilidade e, acima de tudo, amor. Você é o coração da família. É a peça mais importante para que todos vivam bem e merece descanso de vez em quando para renovar as energias, porque organizar o lar dá muito trabalho. Mas a dica principal é a seguinte: “Não esqueça de você mesma”. Cuide-se, vá ao cabeleireiro, faça exercícios, viaje quando possível, leia, assista aos lançamentos do cinema, curta peças teatrais e comédias para atrair bons fluidos à sua vida. Compre aquelas bobagens que olhou e gostou no shopping. E lembre que, sem a sua ajuda, todos em casa ficariam completamente perdidos. Você precisa estar de bem com a vida para viver melhor e mais feliz ao lado dos que ama. Muita força e parabéns a todas que cuidam tão bem de seus lares!

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Palavra Lu í s

A u g u s t o F i s cher

CONHECER UMA CIDADE

Acontece sempre comigo, em mim, de forma forte embora não acachapante, um sentimento de perplexidade quando entro em qualquer cidade que não a minha. Qualquer uma mesmo: pode ser até a cidade praieira que costumo frequentar, até a cidade natal de meus pais, em que passei muitas férias e muitos feriados. Dou exemplo: nos últimos meses conheci Canguçu, revisitei Pelotas e Recife, andei de novo por Rio Pardo e Rio de Janeiro, São Leopoldo e São Paulo, sempre a serviço, sempre em temporadas curtas ou curtíssimas, nunca além de uns poucos dias, nunca menos de um par de horas. São cidades de tamanho e importância desiguais, como se pode ver facilmente. Mas a perplexidade é sempre bem parecida, cá na minha alma. O sentimento costuma aparecer na forma de uma pergunta: como se conhece uma cidade? Ou então uma variação: quando alguém pode se sentir como quem conheceu uma determinada cidade? Posso reproduzir a cena em que brota a inquietação. Não acontece por causa de pessoas que eventualmente conheço, nem de sotaques ouvidos com atenção, nem de comidas e padrões estéticos (o jeitão da toalha do restaurante, o semblante médio das pessoas, a limpeza das ruas). Acontece é nos deslocamentos, ao chegar, ao penetrar e percorrer as ruas de acesso. Acontece pela janela do carro, do táxi, do ônibus, eu do lado de dentro, a cidade ali, passando. Imagine uma avenida, qualquer uma, dessas de entrada de cidade. O carro vai andando e de repente começa a cidade, uma construção ao lado da outra, sem espaço; o horizonte aberto ficou para trás, junto com os gramados extensos e os matos, no subúrbio, no aeroporto (salvo em São Paulo, em que não há mais horizonte nem na região dos aeroportos). Estamos já na cidade e não tem remédio – mas tem mudança: primeiro armazéns e galpões, depois um conjunto de lojas de comércio, em seguida um bairro residencial, às vezes um agrupamento chique e rico de casas, logo adiante novo centrinho de comércio, e então um conjunto de edifícios populares. Assim por diante. E toda essa sucessão observada numa mesma avenida! Isso é que me deixa perplexo, pensando bem. Isso e outra coisa, que decorre diretamente da situação: é que para o estrangeiro, que não tem a vista acostumada, as alterações da paisagem não se deixam decifrar à primeira

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vista, os limites são obscuros, as transições não se deixam flagrar direito. É bem aí que me aparece a pergunta maior: como se conhece uma cidade? Será preciso percorrer quantas vezes aquela avenida, até entender seus trechos, suas passagens, suas sutilezas? Ou nunca se chega mesmo a entender uma cidade? Por isso é que a gente precisa ler. Ler e ouvir, ir ao cinema e às exposições. Porque são os escritores e os cancionistas, os poetas e os viajantes, os pintores e os cineastas que em seu labor silencioso vão decifrando e dando nome e alma aos trechos da cidade. Quer um exemplo? Sempre que entro em São Paulo e observo as pessoas andando pelas calçadas, sou atropelado pelos versos de Sampa, de Caetano Veloso, este setentão imprescindível. Lembrou? “A dura poesia concreta de tuas esquinas, a deselegância discreta de tuas meninas”. Para mim, esses versos fazem o sol atravessar as nuvens e esclarecer tudo, na maior cidade brasileira. Eles fazem acontecer alguma coisa de muito bom no meu coração. É verdade que nas pequenas cidades nem sempre há quem nos tenha traduzido seu jeito de ser. Até mesmo em médias e grandes aglomerações custa a aparecer o artista certo, aquele que mata a charada e mostra sua obra. Bem: mais se salienta nossa dependência da arte, cuja função é ajudar a aliviar o imenso peso de nossa perplexidade, de nossa ignorância, de nossa fome de sentido. Luís Augusto Fischer, professor de literatura e escritor


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