A n o 6 N 0 2 7 R $ 2, 50
Café completo HISTÓRIA ROTEIRO DAS CAFETERIAS FAZENDA DE CAFÉ DRINKS TORTAS
NOTA
DO
EDITOR
Assuntos
estimulantes Esta que você tem em mãos é a nossa edição preferida da Estilo Zaffari. A alegria de toda a equipe ao ver a revista pronta se deve a um conjunto de fatores. Feita com muito capricho, a Estilo Zaffari número 27 nos parece linda (esperamos que você concorde!), está cheia de matérias interessantes, tem um tema central que fala ao paladar e ao coração dos brasileiros e, melhor ainda, termina com uma entrevista que nos enche de orgulho: Daiane dos Santos, a gauchinha que voa. Escolhemos como tema desta edição um produto que faz parte do dia-a-dia de todos nós, brasileiros, que tem a ver com a nossa história, com a nossa cultura e até com a nossa economia: o café. Para um brasileiro, a vida sem café é quase uma utopia. Até quem não gosta de café (a Martha Medeiros, aliás, se revelou uma convicta participante deste time) é obrigado a conviver diariamente com o aroma, a cor, o sabor e as conversas a respeito dessa bebida tão controversa. O café está em todas, e cada vez mais. Já imaginou um dia no escritório sem o indefectível cafezinho? Ou um amanhecer no frio gaúcho sem aquela fumegante xícara de café com leite? Ou um jantar magistral sem o arremate de um expresso forte e denso? Ou o bate-papo no final de tarde sem a xícara de cafezinho e o biscoitinho amanteigado que costuma acompanhá-lo nas cafeterias? Falando em cafeterias, foi justamente o fenômeno da multiplicação dos locais criados especialmente para a degustação do café que inspirou a principal matéria desta edição. Percorremos Porto Alegre atrás de endereços onde essa bebida é tratada como rainha absoluta. O resultado foi uma reportagem enorme e supercompleta, que destaca sete cafeterias consagradas, entrevista seus freqüentadores e ainda fornece a receita do drink mais famoso de cada uma dessas casas. No final, listamos as mais representativas cafeterias da capital gaúcha. Depois, nosso pessoal pegou um avião e desembarcou no sul de Minas Gerais, para conhecer uma fazenda onde há quase duzentos anos se planta café. Entre móveis seculares, grãos de café, passeios de charrete, paisagens de poesia e pãezinhos de queijo, nossos repórteres se sentiram adentrando a memória do país. A Fazenda da Cachoeira (que também é hotel) quase nos tornou experts em cafeicultura. Mas, especialmente, nos proporcionou momentos inesquecíveis. Afora o café, esta Estilo Zaffari tem muitas outras maravilhas. Não perca tempo, folheie logo a sua revista e divirta-se. Só um conselho: reserve bastante tempo para as páginas finais, onde Daiane dos Santos nos brinda com seu sorriso. Ela é uma estrela. E nós, felizardos por vê-la voar. OS EDITORES
Milene Leal milene@contextomkt.com.br
EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Fernanda Doering, Paula Taitelbaum, Rafael Beck REVISÃO Flávio Dotti Cesa PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade luciane@contextomkt.com.br ILUSTRAÇÕES Nik FOTOGRAFIA Angela Farias, Cristiano Sant’Anna, Flávia de Quadros, Letícia Remião PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Jorge Nascimento COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho
EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COLABORADORES Livraria Cultura
Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br
DIRETORA DE ATENDIMENTO PUBLICIDADE HRM Representações (51) 3231.6287 9983.7169 9987.3165 rosamaggioni@hrmmultimidia.com.br
DEPTO. DE ATENÇÃO AO LEITOR Renata Xavier Soares renata@contextomkt.com.br A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.
TIRAGEM 25.000 exemplares PRÉ-IMPRESSÃO Maredi IMPRESSÃO Pallotti
ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br
CAPA: CAFÉ MASSALA, DO PRESS CAFÉ. FOTO DE CRISTIANO SANT’ANNA
Correio ELOGIOS DE MOACYR SCLIAR! Prezada Milene: só algumas palavras, para cumprimentar a revista pela excelente matéria feita a meu respeito. Paula e Angela fizeram um grande trabalho! ABRAÇOS DO MOACYR (SCLIAR)
BOM DIA, ESTILO ZAFFARI! Meu nome é Vilma Junges, sou nutricionista e leitora aficionada desta revista maravilhosa! As matérias publicadas são ótimas e a revista é toda lindinha! Colorida, cheia de novidades e as fotos são belíssimas. Parabéns a todos que participaram e participam da elaboração da Estilo Zaffari. Parabéns à Companhia Zaffari pela brilhante idéia da revista. Compro-a desde o nº 1, mantenho a coleção atualizada. Gostaria de saber se é possível adquirir o nº 16, cujo exemplar foi extraviado após um empréstimo. Obrigada pela atenção,
Caro Moacyr Foi uma honra imensa tê-lo nas páginas da Estilo Zaffari, mas receber seu e-mail aprovando a matéria publicada é uma distinção ímpar, que não podíamos deixar de compartilhar com nossos leitores. Um abraço de todos os seus fãs aqui da redação!
VILMA MARIA SIIVA JUNGES
Querida Vilma Muitas das edições antigas da Estilo já estão esgotadas, não restando mais exemplares para distribuição. Porém, vamos verificar se há ainda em estoque algum exemplar do número 16, para não deixar sua coleção incompleta. Aguarde o nosso contato e obrigado pelo carinho!
GAÚCHA EM SÃO PAULO Olá, pessoal Estou morando em São Paulo faz um ano e sempre que vou a Porto Alegre compro a revista Estilo. Gostaria de saber se é possível recebê-la aqui em São Paulo. Obrigada, LUCIANA ZART
Prezada Luciana Os custos de postagem têm inviabilizado o envio da revista pelo correio. No momento, estamos estudando uma maneira de atender aos pedidos de leitores residentes em locais onde a Companhia Zaffari não possui lojas, pois o envio unitário gera despesas incompatíveis até com o preço de capa da revista (R$ 2,50 a partir da edição 26). Aguarde em breve um contato do nosso Departamento de Atenção ao Leitor, ok?
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Estilo Zaffari
UMA AMIGA ARGENTINA Milene e Equipe da “Estilo Zaffari”: Sou argentina e conheci a revista em julho de 2003, quando estive em Porto Alegre. Minha amiga gaúcha Silvinha deu-me de presente o número 22, de junho, para meus filhos Pablo, Leandro e Gustavo, que gostam do bom vinho e de experimentar na cozinha. Recém hoje a revista voltou às minhas mãos, e fiquei surpresa com esta excelente publicação. Pena que não posso ter mais exemplares! Minha idéia foi mandar-lhes uma receita do meu país para que seus leitores experimentem e gostem. É uma tradição fazê-la nas festas pátrias: O Locro Crioulo. Parabéns! Obrigada, LILIANA CAMEDRIO
Amiga Liliana Adoramos receber esta receita típica da Argentina. E vamos guardá-la para publicar, com todo o destaque merecido, em uma edição especial que já estamos começando a preparar sobre a culinária sul-americana. É supergratificante receber uma mensagem como essa, de alguém que está distante mas compreende e aprecia o “espírito” da nossa revista. Um grande abraço e continue em contato conosco, ok?
Correio CURITIBA NÃO TEM ZAFFARI... Pessoal da revista Estilo Zaffari, bom dia, meu nome é Júlia Fortes Gonzalez. Sei que a revista é bimestral, mas não agüento esperar por ela. Moro em Curitiba, sou gaúcha, mas toda vez que vou a Porto Alegre é para o Zaffari que me dirijo em minha primeira saída. Curitiba é uma linda cidade, é muito bem servida de supermercados, híperes, etc. Mas não tem um Zaffari. Por favor, não me deixem a ver navios, preciso desta revista para sobreviver tão longe de meus pagos. Abraços desta gaúcha, desde já agradecida pela atenção. JULIA FORTES GONZALES
Julia, não queremos de forma alguma deixar você sem a sua Estilo Zaffari, mas, conforme explicamos na resposta à mensagem de uma outra leitora (Luciana Zart) aqui nesta mesma seção, no momento estamos reorganizando o processo de envio de revistas pelo correio, devido às elevadas despesas geradas por esse sistema. Contamos com sua compreensão e pedimos que aguarde um contato, muito em breve, do nosso Departamento de Atenção ao Leitor. Alguma solução será dada para atender os leitores que residem em cidades distantes daquelas onde a rede Zaffari possui lojas, pode ficar tranqüila!
PARABÉNS E SUCESSO Sou corretor de imóveis e meu hobby é a culinária. Sou um apaixonado pela boa gastronomia, e, como tal, fã da revista. Gostaria de parabenizálos pela qualidade das matérias e fotos. Parabéns pela reportagem dos Restaurantes Tradicionais de Porto Alegre. Moro em Passo Fundo e quando vou a POA todos fazem parte de minha preferência. Sucesso a todos e mantenham viva esta bela revista. LUIZ ALBERTO FORTES/PASSO FUNDO
Prezado Luiz, a matéria sobre os restaurantes e bares tradicionais realmente mexeu com as lembranças de muitos leitores que, assim como você, são antigos freqüentadores. Recebemos muitos cumprimentos pela maneira carinhosa como foram apresentados esses estabelecimentos, que já fazem parte da história da cidade. Esse retorno nos deixa muito satisfeitos e nos estimula a produzir mais reportagens como aquela. Obrigado pelos elogios e pelo apoio, abraço.
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Estilo Zaffari
É FANTÁSTICA! Prezada Renata Quero fazer chegar a todos os integrantes da revista meus sinceros parabéns.É fantástica! Estava eu no caixa do supermercado, à espera de troco, quando, distraidamente, olhei a capa da revista, que muito me chamou a atenção. Comprei. Chegando em casa, como sou devoradora de leitura (revistas, livros, etc.) não resisti e sentei para ler. Qual não foi a minha surpresa ao ver a beleza, qualidade e bom gosto que desfilam em cada matéria apresentada. A revista é impecável, em qualidade, forma e conteúdo. Os artigos, em sua íntegra, são interessantes – com especial destaque para Martha Medeiros, de quem sou fã –, sem deixar de festejar as páginas culinárias, com ilustrações que chegam quase a materializar as iguarias que apresentam, e as belíssimas páginas de decoração. As ilustrações do Nik são maravilhosas, o que fica claro na matéria “Carnívoros versus Vegetarianos”. Enfim, faço questão de externar minha satisfação ao me deparar com uma revista nossa, gaúcha, tão bela e impecável quanto as melhores do país. Pena que somente é vendida na rede Zaffari. Gente, revista de tamanha qualidade merece maior divulgação. Eu sou de Livramento, e somente agora me encontrei com a revista, em Porto Alegre. Em minha cidade não chega. Parabéns a todos, e aplausos pelo trabalho! “Estilo é para quem tem estilo” Um abraço, LUZ MARY – SANTANA DO LIVRAMENTO
Querida Luz Mary, seu entusiasmo ao elogiar a Estilo Zaffari “rima” perfeitamente com o nosso ao produzirmos esta revista para você e para todos os demais leitores. É uma delícia receber um e-mail assim tão carinhoso! Nada melhor que o reconhecimento pelo trabalho realizado, não é mesmo? Mas... tanto estilo e qualidade também tem que ter um quê de exclusividade, você não acha? A revista Estilo Zaffari é uma idéia da Companhia Zaffari para homenagear seus clientes. Por isso ela tem um preço superacessível e circula apenas nas lojas da rede. Afinal, “Estilo tem que ser especial”, não é mesmo? Um abraço, com muito carinho, da nossa redação.
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08 Cartas 14 Cotidiano: Martha Medeiros não toma café! 17 Cesta Básica 48 Gula: tortas para acompanhar o café 68 O Sabor e o Saber: Coq au Vin 70 Casa: tapetes, curingas da decoração 76 Aventura: pesca na Amazônia 88 Perfil: Daiane dos Santos
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Paixão imediata
ESTA EDIÇÃO DA ESTILO ZAFFARI TEM COR, SABOR E AROMA DE CAFÉ. CONHEÇA LUGARES EM PORTO ALEGRE ONDE ESTA BEBIDA É A RAINHA E VIAJE CONOSCO PARA UMA FAZENDA DE CAFÉ NO SUL DE MINAS
Cotidiano MARTHA MEDEIR OS
EU BEBO, SIM Também tenho minhas esquisitices: não gosto de café Todo mundo possui uma esquisitice, algum hábito que os outros não entendem. Eu, por exemplo, não entendo quem não bebe vinho. O New York Times pode fazer uma matéria me chamando de pinguça que estou me lixando: não concebo a vida sem vinho, e menos ainda sem vinho tinto. Um inverno sem vinho é um inverno gélido, quando ele poderia ser caliente. Uma refeição sem vinho é uma refeição só pra matar a fome, sem o direito ao prazer. Quando vejo, em restaurantes, um cliente pedir o melhor prato do cardápio e cometer a desfaçatez de beber coca-cola, tenho vontade de levantar e me intrometer: “Coca-cola acompanhando foie gras de pato com geléia de cereja, e lagostins com ervas ao molho béarnaise, não dá”. Nada contra a coca-cola. Aliás, não entendo quem não gosta de coca-cola. Acho muito saudável viver de sucos naturais, mas tem hora em que uma coca é imprescindível. Quem não gosta de coca não teve infância, sem falar que desconhece o melhor condimento para o cachorro-quente: hot dog e refri é um clássico. E como enfrentar uma ressaca sem ela? Toda vez que chegamos de madrugada em casa, mais pra lá do que pra cá, não há momento mais sublime do que aquele em que a gente vai direto pra cozinha, no escuro, e abre a porta da geladeira. Uma orquestra sinfônica ressoa em nossos ouvidos. Lá está ela, cercada de luz como se estivesse num comercial de tevê, suando e gelada ao mesmo tempo, ávida por descer goela abaixo – é um ritual que nem mesmo o champanhe conseguiria igualar.
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Estilo Zaffari
Falando nisso, não entendo quem não gosta de champanhe. Entendo quem não possa pagar por ele, mas ter acesso a um cálice oferecido numa boca-livre, e recusá-lo, sei não, tem algo errado aí. Ou a pessoa sacou pelo rótulo que é um espumante marca diabo, ou é uma dessas almas enjoadas que ficam tontinhas no primeiro gole (e daí, ficar tontinha?). Ou então faz parte daquela turma que reclama das bolinhas que o champanhe lança na ponta do nariz, o que é uma desculpa esfarrapada, uma vez que é lenda, as partículas do gás não saltam tão longe assim, a não ser que o cálice tenha sido recém-servido – pois espere uns segundos, afoito, e só então mergulhe nesta que só não é a mais nobre das bebidas porque existe quem a supere: a água. Não entendo quem não gosta de água. São raríssimos, mas há: gente que simplesmente não toma água. Que só vê água na hora do banho e quando escova os dentes. Não pratica exercícios físicos, não sente sede, não desenvolve o hábito em casa. Simplesmente esses indivíduos não bebem água. Nem dá pra dizer que desgostam dela, pois água não tem gosto. Em vez de água, tomam café. Cafezinho depois do almoço, cafezinho depois do jantar. Litros de café no escritório. Café, sim, tem aroma, é energizante, agregador, pacifista. Coffee break. A melhor parte dos seminários. Também tenho minhas esquisitices. Você não vai entender – nem eu mesma entendo –, mas devo ser a única criatura do planeta que não gosta de café. MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA
Cesta básica FOTO: FLÁVIA DE QUADROS
Comer com os olhos Como se criar um dos restaurantes mais criativos e badalados de São Paulo – o D.O.M. – não fosse desafio suficiente, o chef Alex Atala resolveu partir pra mais um. O resultado está no livro “Ler e Ver”, em que o chef leva a sério a expressão comer com os olhos. No primeiro volume (Ler) ele conta a sua vida nada comum e algumas das suas receitas idem. No segundo (Ver), ele nos leva para passear, pelas imagens lindas do fotógrafo Edu Simões, pelo Brasil que o inspira. O cara é doido. Ele mesmo caça, colhe, inventa as receitas e cozinha. O mínimo que podemos fazer diante do livro “Ler e Ver” é sair e comprar. Bon appétit. (D.O.M: Rua Barão de Capanema, 549, São Paulo – SP) O livro “Ler e V er Ver er”” está à venda na Livraria Cultura de P orto Alegre. Porto TETÊ PACHECO, PUBLICITÁRIA
NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA-A-DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, CINEMA, LUGARES, COMIDINHAS, OBJETOS ESPECIAIS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO
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Cesta básica FOTOS: FLÁVIA DE QUADROS
POTINHOS TECNOLÓGICOS A tecnologia de ponta há tempo invadiu os lares brasileiros. Hoje, até mesmo um prosaico potinho de plástico pode ser exemplo de objeto high-tech. Este é o caso da nova linha de produtos plásticos – potes de vários formatos e tamanhos, tábuas de cortar carnes e legumes, utilidades diversas – dotados de proteção antimicrobiana Microban. Inovadora, a tecnologia Microban é efetiva contra um grande espectro de bactérias, bolor, fungos e leveduras, que causam maus odores e manchas. Práticos e disponíveis em diversas cores, os acessórios domésticos com Microban mantêm o alimento totalmente livre de ações externas e permanecem com a mesma qualidade durante toda sua vida útil. A tecnologia torna as embalagens muito mais limpas e higiênicas, protegendo a saúde de seus usuários. Microban é marca registrada da Microban Products Company – EUA. FERNANDA DOERING, JORNALISTA
Para Caymmi De Nana, Dori e Danilo Dorival Caymmi na juventude fez muitas coisas: foi vendedor de bebidas (bebeu o mostruário), desenhista (tentou carreira em jornais), compositor de umas canções lindas (cantava no rádio). Desceu para a então capital federal em 1938, e a sorte sorriu: pintou uma chance no cinema, em filme com Carmen Miranda. Caymmi, bom baiano, logo ensinou à cantora os trejeitos que sua canção citava (torço de seda, brincos de ouro, pano-da-costa); ela ia aprendendo e ele ia cantando, camisa listrada, sua inacreditável “O que é que a baiana tem?”. Se deu bem, fez seu nome, conheceu a mulher num show de calouros, teve com ela três filhos que cantam um melhor que o outro. Aos 90 anos, o mesmo bom baiano, “Buda nagô”, recebe a homenagem dos três herdeiros de sua voz e seu suingue, neste CD impecável, bom de ouvir como poucos outros. CD que conta com uma seleção do que de melhor o velho e bom Dorival compôs em sua longa, brasileiríssima vida. LUÍS AUGUSTO FISCHER, ESCRITOR
ERRATA: NA EDIÇÃO PASSADA, COMETEMOS UM ERRO NO TEXTO SOBRE O CHERRY BLUES PUB. O BAR NÃO FICA NA HILÁRIO RIBEIRO, E SIM NA MARQUÊS DO HERVAL, 52. FOI UMA PEQUENA CONFUSÃO COM AS RUAS DO MOINHOS DE VENTO! PEDIMOS DESCULPAS AOS NOSSOS LEITORES E AO CHERRY BLUES PUB.
“O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo, que não admite acompanhamento sólido. Mas eu o driblo, saboreando, junto com ele, o cheiro das torradas na manteiga que alguém pediu na mesa próxima.”
Mario Quintana
Paixão imediata P O R
B E AT R I Z
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I LU S T R A Ç Õ E S
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Bebida
NO SÉCULO 13, O RITUAL DA BEBIDA ENVOLVIA TODO UM CLIMA DE LIBERDADE DE PENSAMENTO O café surgiu possivelmente na Etiópia, e dentre as muitas lendas que cercam sua origem está aquela em que um pastor, ao levar suas cabras sonolentas para o pasto, percebeu que elas ficavam alegres e cheias de energia depois de mastigar umas frutinhas silvestres. A partir daí, muitos passaram a experimentar os grãos, que foram, ao longo do tempo, adotados em todo o Oriente. Mais tarde, por volta do século 13, iniciaram-se as primeiras experiências de secagem e torrefação do café para ser consumido como bebida, porém, ainda restrito ao mundo muçulmano. Do mesmo modo que o café despertava uma paixão imediata, ampliando assim o número de apreciadores da bebida, havia igualmente um movimento contrário a ele. O crescente hábito de beber café acabou sendo duramente criticado, pois mantinha os homens muito tempo afastados de suas obrigações religiosas e familiares. Na verdade, os locais onde o café era servido tornaram-se também espaços para conversas, negócios, divertimento, relato de histórias e aventuras fantásticas. Enfim, era ali que o ritual da bebida envolvia todo um clima de liberdade de pensamento e de diversão. O café na Europa: uma bebida subversiva O café só vai chegar à Europa via Veneza, por volta do século 17, e igualmente toma conta do mundo europeu, espalhando-se por todo o canto. Muito apreciado pela elegante sociedade veneziana, que se encantou com a nova bebida, o café era inicialmente vendido em farmácias, passando depois a ser consumido nas botteghe del caffé. Aqui também
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a alegria e o sentimento de liberdade despertados pelo café atraíram a ira dos puritanos. Muitos padres queixavam-se ao papa Clemente VIII, dizendo que o café era coisa do demônio e que deveria ser proibido entre os cristãos. O papa Clemente – um apreciador da novidade – respondeu que a bebida satânica era tão deliciosa que seria uma pena deixá-la apenas para os infiéis. Um dos cafés mais tradicionais de Veneza é o famoso Florian na praça San Marco, fundado por Floriano Francesconi em 1720 e um dos pioneiros em servir a bebida. Ainda hoje é uma referência e um local a ser visitado. Em Paris, com a inauguração do Café Procope, em 1689, o café passa a ser uma bebida elegante e apreciada pelos intelectuais mais brilhantes da época, como Rousseau, Victor Hugo, Balzac, Baudelaire, Flaubert e tantos outros. Por volta de 1843, Paris abrigava em torno de 3 mil cafés. Durante o século 20 os cafés parisienses foram palco de toda a cena artística e filosófica. Parece que grande parte das obras de Sartre e de Simone de Beauvoir foram escritas entre o Café de Flore e o Deux Magots. Mas logo que a bebida chegou à Europa houve uma onda de repúdio em relação ao café. Na Inglaterra, em 1674, foi publicado um manifesto das mulheres contra o produto, já que seus maridos não paravam mais em casa desde que tinham passado a freqüentar os locais onde ele era servido. O café também passou a competir com a cerveja na Alemanha e com o vinho na França, fazendo com que esses países perdessem divisas e acabassem travando uma intensa campanha contra a bebida, o que fez com que Bach até com-
Bebida pusesse o “Café Cantata”, para defender o saudável hábito de consumir café. Também era nos cafés que se tramavam rebeliões, articulavam-se oposições políticas, conchavos, debates, criando assim um espaço único de expressão política e filosófica. O café no Brasil Depois de inúmeras aventuras envolvendo roubo de mudas do Oriente por holandeses e franceses, que acabaram por trazer o café para suas colônias no Caribe, a planta finalmente chegou ao Brasil, por meio de tramas não menos fabulosas. Em visita à Guiana Francesa por volta de 1727, o tenente-coronel Francisco de Melo Palheta, tendo atraído a atenção da esposa do governador daquela colônia, recebeu dela uma muda de café, escondida num ramalhete de flores. Foi esse, aparentemente, o início do longo ciclo do ouro verde no Brasil. Em meados do século 19, toda a produção da Ásia tinha sido destruída por uma praga avassaladora. Com a vastidão de terras, clima propício e um enorme contingente escravo disponível, o campo estava inteiramente aberto ao Brasil. Assim, aquele singelo presente deu início a um dos maiores impérios de café do mundo. E ainda hoje o Brasil é um dos maiores produtores. Foi essa imensa oferta que fez com que o café passasse de um produto de luxo da sociedade elegante para um prazer do dia-adia de pessoas no mundo todo. As primeiras fazendas cafeeiras instalam-se nas proximidades do Rio de Janeiro, então sede do Império, por volta de 1810. Estendem-se pelo vale do Paraíba em direção a
São Paulo e sul de Minas, e posteriormente rumam para o oeste paulista. A famosa política do café com leite – que expressava o domínio quase absoluto dos interesses do café no país – não era o café de São Paulo e o leite de Minas, como se dizia, mas sim, era a política do café com café, pois Minas também era grande produtora do grão. Ao assumir o poder em 1930, Getúlio Vargas manda queimar os cafezais e grande parte do estoque de café, para conseguir melhores preços ao produto no mercado internacional. Getúlio também foi responsável pela mudança radical de um país agrícola como era o Brasil, criando as bases de uma industrialização moderna e competitiva. O café hoje Maior produtor de café do mundo, o Brasil passou recentemente a produzir também um café de excelente qualidade. Maiores cuidados com a produção, torrefação e embalagem atendem a uma exigência crescente do mercado, que quer um produto mais saboroso, servido em cafés confortáveis, com máquinas modernas e profissionais treinados. Tudo isso só reafirma o café como a bebida do milênio. A verdade é que cada vez mais se descobrem novas qualidades do café. Um estimulante e energético da melhor qualidade, o café, se tomado fresco, não produz insônia, não interfere no colesterol, tampouco na osteoporose. Nada de errado em tomar um café aromático, fresco e estimulante: ele pode ser considerado um elixir da vida. Afinal, como afirmava Voltaire ao combater aqueles que diziam ser o café um veneno: “Tenho consumido esse veneno por mais de 80 anos, e ainda estou vivo”.
DISSE VOLTAIRE: TENHO CONSUMIDO ESSE VENENO POR MAIS DE 80 ANOS, E AINDA ESTOU VIVO
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Cafeterias
Expresso de todas as horas P O R
P AU L A
TA I T E L B AU M
F OTO S
Meia-noite e eu aqui, pensando em como vou começar este texto. Estou cansada, confesso. Melhor tomar um café pra acordar. E me inspirar. Levanto, vou até a cozinha, coloco o pó na cafeteira, a água, clic, chuchuchu (este é para ser o barulho da cafeteira) e, pronto, aqui está o meu líquido fumegante. Glut, glut, glut. Bebo uma xícara inteira, sem açúcar. Há anos não consigo adocicar o café, porque gosto de sentir por inteiro o seu sabor. Mas este não está nada bom. Depois de experimentar tantos ótimos cafés, oferecidos pelas cafeterias da cidade, o meu, feito assim de qualquer jeito, deixa a desejar. Mas cumpre sua função. Consegue me estimular. Vamos lá, então. Misturar palavras com café. E degustar enquanto ainda está bem quente.
C R I S T I A N O
S A N T ’ A N N A
Cafeterias
O CAFÉ DESPERTA OS SENTIDOS E CELEBRA OS ENCONTROS. O CAFÉ SOCIALIZA E NOS FAZ SONHAR
O desembarque do expresso No início, tudo não passava de um líquido escuro abandonado na garrafa térmica da mesinha ao lado. Expresso, pra mim, estava mais para trem do que para café. Até que conheci Buenos Aires. E suas cafeterias. Eu entrava, sentava, ficava olhando as pessoas, pegava um livro, tomava um café, suspirava. Ok, ok, dou o braço a torcer, o café era um mero coadjuvante nesse meu cenário onírico. Mas seu papel aos poucos foi se tornando mais importante. Principalmente quando as cafeterias começaram a chegar a Porto Alegre. Uma aqui, outra ali e, de repente, muitas e muitas desembarcando feito os passageiros do tal trem expresso. Trazendo cafés de alta qualidade, misturas diferenciadas, ambientes acolhedores e, quase sempre, um quê de cultura pendurado nas paredes. Hoje, a maioria de nós tem o costume de se reunir sob o tilintar das xicrinhas alheias. De manhã, depois do almoço, no meio e no final da tarde. Porque é gostoso tomar aquele café especial. E também porque, ao que tudo indica, o mundo passa mais devagar quando visto de dentro da cafeteria. Arriscando filosofar um pouco – café e filosofia andam juntos há séculos –, acho que beber café é uma forma moderna de retornar a esse clima de horas arrastadas do passado. No Brasil, o café tem um lugar de destaque nas enciclopédias. Tudo bem, eu sei, talvez boa parte daquela avalanche de informações das aulas de história já tenha se perdido nos arquivos da sua memória. Mas é impossível não ter pelo menos uma vaga lembrança sobre o Ciclo do Ouro Verde, a Política do Café com Leite ou mesmo o fato de Getúlio ter mandado queimar cafezais e grande parte do estoque de café para conseguir melhores preços para o produto no mercado. O café foi, é e continuará sendo importantíssimo para a nossa economia. Hoje, somos o maior produtor do mundo. Alguns dos mais significativos cafezais estão no sul de Minas e em São Paulo, mais precisamente na região mogiana. E é justamente de lá que algumas das cafeterias da cidade trazem seus preciosos grãos.
Café do Porto
O CAFÉ DO PORTO DITOU ESTILO, FEZ ESCOLA E É CULTUADO COMO LOCAL SAGRADO Café do Porto, o primeiro do Moinhos de Vento Ana Cláudia Bestetti, a Cacaia, sempre gostou de tomar café. Há dez anos, no entanto, ela tinha a maior dificuldade de encontrar um lugar em Porto Alegre onde pudesse fazer isso com prazer. Já que não tem, por que não criar? Foi assim que nasceu o Café do Porto, o primeiro de uma leva que hoje habita o bairro. São nove anos no mesmo ponto da Padre Chagas. Quem não conheceu a cafeteria logo que abriu jamais vai acreditar que o lugar não passava de uma garagem onde cabia apenas um carro. Não me pergunte o que a Cacaia fez, mas, com certeza, foi o milagre da multiplicação do espaço. O Café do Porto ditou estilo, fez escola e hoje tem uma legião de fãs que o cultuam como local sagrado. Publicitários que trabalham por perto, senhoras que moram na região, esportistas que correm no Parcão, gen-
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te bonita que quer apreciar um dos tantos cafés do cardápio. Cafés que são realmente diferenciados. Você pode experimentar, por exemplo, um dos blends da casa. Blend é uma mistura de vários tipos de café para se chegar a uma composição balanceada. Os do Café do Porto foram desenvolvidos especialmente para a casa. São o Blend Café do Porto, o Blend Café das Artes e o Blend Café Segredo, que se diferenciam pelo corpo e sabor. E para quem é contra misturar as coisas, ainda tem os não blendados, ou seja, os cafés gourmet, de uma única origem. São tantas opções... Faça uma degustação sem medo (a dose recomendada é de até meio litro de café por dia! Mas dividido em várias doses, é claro), escolha o seu preferido e, se tiver como moer em casa, peça um pacotinho de grãos especiais para levar. Mais europeu só se você for morar em Paris.
“NEM SEI HÁ QUANTO TEMPO EU FREQÜENTO O CAFÉ DO PORTO. DÁ A IMPRESSÃO DE QUE SEMPRE FUI LÁ. É UM ESPAÇO QUE SE RENOVA TODOS OS DIAS. O CARDÁPIO SE TRANSFORMA, AS EXPOSIÇÕES DE ARTE MUDAM, MAS A ESSÊNCIA É SEMPRE A MESMA.” AUGUSTA MEDEIROS PUBLICITÁRIA
CAFÉ DO PORTO EXPRESSO DUPLO VINHO DO PORTO COBERTURA DE CHANTILLY RASPAS DE CHOCOLATE
Press Café
NO PRESS, A GENTE ESCREVE E TOMA O CAFÉ COMO SE ESTIVESSE NA ITÁLIA Press Café, o legítimo espresso italiano Mais perto do que Paris, a apenas uma quadra e meia do Café do Porto, podemos tomar outro delicioso espresso. Não, por favor, não pense que eu acabei de cometer um erro de digitação. É que no Press Café espresso se escreve e se toma assim, como na Itália. Carla Tellini e Jaqueline Meneguetthi estão à frente dessa cafeteria que habita dois shoppings da cidade e que prima pela qualidade em todos os detalhes. Elas pesquisaram muito, viajaram mundo afora para conhecer o padrão das cafeterias, fizeram curso de barista (o barista está para o café assim como o enólogo está para o vinho) e estão sempre por perto, observando se tudo está correndo bem. Há pouco, o Press abriu uma filial em um grande shopping e impressionou pela arquitetura sofisticada e pelos detalhes, como o som ambiente que sai de baixo das poltronas. Como a Carla mesmo me disse, com o
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entusiasmo que lhe é característico, não é uma cafeteria, é um verdadeiro oásis. Jazz e blues entram pelos nossos ouvidos enquanto degustamos um café 100% gourmet certificado. O cuidado no preparo não pode ser maior. Tudo tem que ser perfeito. E de meia em meia hora, saem pãezinhos de queijo quentinhos do forno. Logo que abriu, o Press promoveu um concurso de baristas, e a receita vencedora foi a do Café Massala, criado por Lorena Callefi. Só a taça em que ele vem servido já é um deleite. Degustando o meu Massala, perguntei a Carla o que é mais compensador quando se é dona de uma cafeteria. “É saber que tu fazes uma pessoa feliz, que ela volta porque se sentiu bem. Ver um casal de velhinhos que diariamente volta ao Press ou um grupo de executivos que vem três dias seguidos porque gostou, é algo maravilhoso.”
“A OPORTUNIDADE DE CRIAR UMA RECEITA PARA O PRESS ME INSPIROU. FUI TESTADO OS INGREDIENTES ATÉ CHEGAR NA COMBINAÇÃO QUE ME PARECEU MAIS INTERESSANTE E SABOROSA.” LORENA CALEFFI PSIQUIATRA, VENCEDORA DO PRIMEIRO CONCURSO DE BARISTAS PROMOVIDO PELO PRESS CAFÉ
CAFÉ MASSALA CAFÉ EXPRESSO UMA PITADA DE PIMENTA JAMAICANA UMA PITADA DE MASSALA (TEMPERO) UM POUCO DE LEITE CONDENSADO NO FUNDO DA TAÇA
Café Feito à Mão
MISTURAR ARTE, BOEMIA E INGREDIENTES VARIADOS É A RECEITA DO CAFÉ FEITO À MÃO Café Feito à Mão, um mix de café e arte O bairro Bom Fim é boêmio por natureza. E os boêmios, quando acordados durante o dia, normalmente estão tomando um café e trocando palavras sem hora pra acabar. O Café Feito à Mão fica bem pertinho do Ocidente, na João Telles. E, graças a esse detalhe, recebe diariamente uma turma de descolados depois do almoço. A maioria desse pessoal vai de expresso mesmo, o que eu considero um desperdício, já que as opções de café são muito boas e bem variadas. Antônio Terra e Márcia Reis, os simpáticos proprietários, fizeram questão de me dar uma dose de cada. O Café Prestígio, novidade da casa, é uma deliciosa mistura de café expresso, leite, leite de coco, chocolate e coco ralado. O Café Inca, expresso gourmet curto com cacau em pó, é pra sair picando. Tanto que, segundo Antônio, médicos que fazem plantão em um hospital
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próximo costumam passar por lá para tomar um Inca. E pra quem, além do sono, quer afugentar o frio, o Café Moka Quente é uma boa pedida, pois contém conhaque e esquenta até a alma. No Feito à Mão, inventar é a palavra de ordem. Pra você ter uma idéia, até cerveja com café eu provei por lá. O ambiente é bem legal e procura oferecer ótimos acompanhamentos culturais. Às quartas-feiras, na hora do almoço, tem sempre um sonzinho legal rolando ao vivo. Nada que atrapalhe a conversa. As paredes sempre têm obras de artistas plásticos. Todo mês, surge uma nova exposição, organizada pela marchand da casa. E, pra completar, no Café Feito à Mão você ainda pode comprar livros e CDs. Melhor, só encontrar o autor da obra que você acabou de adquirir. Não duvide... E, nesse caso, aproveite para pedir uma dedicatória.
“CAFÉ É MEU VÍCIO E SOU SUPEREXIGENTE COM O EXPRESSO QUE EU TOMO. VOU NO CAFÉ FEITO À MÃO QUASE TODOS OS DIAS. SAIO DO ALMOÇO NO OCIDENTE, PEÇO UM EXPRESSO DUPLO, FICO LENDO O JORNAL...” ZÉ NATÁLIO MÚSICO
CAFÉ MOKA QUENTE CAFÉ EXPRESSO LEITE VAPORIZADO CHOCOLATE EM PÓ CREME DE LEITE CONHAQUE RASPAS DE CHOCOLATE
Café do Lago
O PENSAMENTO NAVEGA NA CALMARIA DA ÁGUA QUE ENVOLVE O CAFÉ DO LAGO O Café do Lago brilha sob o sol da Redenção Café com licor. Café com tequila. Café com suco de fruta. Café com cerveja. Mas, afinal, será que dá pra misturar nossa querida bebida com tudo o que aparece? Talvez cada um tenha sua própria opinião, mas vale conversar com um especialista. O Café do Lago, a segunda parada no bairro Bom Fim, possui um expert em coquetéis. Ademar dos Santos Rosa é barman de formação e durante anos foi instrutor na arte de preparar drinques. Ele é o gerente do Café do Lago e me deu uma aula sobre a alquimia das bebidas, dizendo que a melhor combinação do café é com os destilados. Conhaque, rum, whisky, graspa e licores cremes são, segundo Ademar, ideais. Assim esquenta mesmo, ele me disse. No Café do Lago, aliás, a gente também pode se esquentar ao sol, pois ele fica na beira daquele grande
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lago do Parque da Redenção. O deque sobre a água, com piso de madeira, dá um ar de cafeteria européia a ele. Aliás, foi mesmo da Europa que veio a concepção do Café do Lago, pois Fábio e Eliseu Reategui, os proprietários, moraram um tempo por lá, e quando voltaram a Porto Alegre trouxeram na mala a idéia de uma cafeteria, além de receitas de cafés. Pra quem nunca foi, o Café ocupa hoje aquele prédio onde um dia a gente já alugou bicicleta dupla. Lembra? Vá matar a saudade e experimente o Café Mexicano, que leva tequila. Ou o Café do Lago, que tem Cointreau. Na minha opinião, o lugar é bom mesmo em dias de semana, quando fica calminho, calminho e dá pra gente ficar divagando na chuva do chafariz e nos pedalinhos que passam vagarosamente. Pra quem prefere fuzuê, o domingo à tarde tem música ao vivo e é a melhor pedida.
“EU PASSEI A MINHA INFÂNCIA NO PARQUE DA REDENÇÃO. ENTÃO O CAFÉ DO LAGO É UM LUGAR AFETIVO. É ÓTIMO SENTAR LÁ QUANDO NÃO TEM MUITA GENTE, FICAR PENSANDO NA VIDA, TOMAR UM EXPRESSO.” KÁTIA SUMAN RADIALISTA
CAFÉ MEXICANO CAFÉ EXPRESSO TEQUILA SAUZA KALUA (LICOR DE CAFÉ MEXICANO) CHANTILLY
Café do Margs
O CAFÉ DO MARGS TEM UMA COISA QUE OS OUTROS NÃO TÊM: O MARGS O Café do Margs deixa o museu mais delicioso Ah, o centro da cidade. Onde artistas de décadas passadas recostavam-se nos balcões de padarias e bares para degustar demoradamente seus cafés. Muita coisa mudou por lá. Dos cafés aos ambientes. Os lugares ficaram mais requintados; os cafés, mais saborosos. E a Praça da Alfândega virou reduto dos apreciadores das artes e, de uns anos pra cá, também dos expressos. O Café do Margs foi o primeiro a chegar com uma proposta mais requintada. A legítima cafeteria de museu europeu. O ambiente é a própria extensão do Margs. Na entrada, você já se depara com uma bela escultura-divisória de Ruan Motta e Rosa Groisman. Nas paredes, sempre algumas obras que fazem parte do acervo do museu.
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Pra completar, já que estamos falando mesmo é de café, as opções do cardápio ainda possuem um toque de arte. No caso, aqui, também a arte de amar o que se faz. Carmem Taffarel está há seis anos à frente dessa cafeteria e seus olhos brilham quando ela fala sobre o Café do Margs, seus freqüentadores e suas receitas. Ela me conta que, todos os dias, ao se arrumar para o trabalho, sente como se estivesse se preparando para passear. “Meu coração está aqui”, ela fala. Depois, completa dizendo que é um privilégio poder desfrutar da companhia dos artistas plásticos que se reúnem para degustar seu café. Alfredo Aquino é um deles. Enquanto sua exposição estimula os sentidos no segundo andar, ele suspira com seu Apffelstrudel, acompanhado de um expresso curto.
“OS CAFÉS DOS MUSEUS PROPICIAM O ENCONTRO E O REENCONTRO, ESTÃO LIGADOS AO PROCESSO DO SABER. EU GOSTO DO CAFÉ CURTO, CHAMADO DE CERRÉ PELOS ITALIANOS E DE ESTRETO PELOS FRANCESES. EU JÁ PROVEI EM DIFERENTES PAÍSES, E O DO CAFÉ DO MARGS É SUPERBOM.” ALFREDO AQUINO ARTISTA PLÁSTICO
CAFÉ DO MARGS CAFÉ EXPRESSO UMA PEQUENA DOSE DE LICOR DE AMARULA RASPAS DE CHOCOLATE CHANTILLY CANELA PARA POLVILHAR
Café do Cofre
NO CAFÉ DO COFRE OS OLHOS NÃO PODEM SE QUEIXAR DE FALTA DE ESTÍMULO Café do Cofre, cyber, cool, fashion O Café do Margs compartilha a Praça da Alfândega com o Café do Cofre, que fica no Santander Cultural. Ele tem esse nome porque está instalado no local que um dia já foi o cofre do antigo banco Meridional. Não existem janelas e o melhor é que a gente nem sente falta delas. Isso porque nossos olhos nunca poderão se queixar de falta de estímulo. Três televisões enormes estão sempre mostrando shows bacanas, DVDs muitas vezes trazidos por clientes. Vários computadores nos conectam à Internet. Pessoas interessante chamam nossa atenção. A decoração é cyber, cool e fashion, com spots de luz indireta, cadeiras cromadas, balcão de vidro e muitos espelhos. Tudo concepção de Eleonora Rizzo, experiente em oferecer à cidade ambientes
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gastronômicos incomuns e cheios de boas surpresas. Alice Cirne Lima, gerente desde que o Café do Cofre abriu, conta que ali o pessoal da Casa de Cinema, escritores e artistas em geral se misturam aos que trabalham no centro ou estão só de passagem. Todos, no entanto, curtem um ambiente diferenciado e um café de qualidade. O Cappuccino é a prata da casa, pois vem com raspas de um chocolate italiano que não tem explicação de tão bom. Tem a versão míni e grande. Pra quem quer algo mais “leve”, a sugestão são os tradicionais Café com Graspa ou Irish Coffee. É escolher o que mais lhe agrada do cardápio e entrar no clima. Lá já teve leitura das cartas de Caio Fernando Abreu, pocket shows variados e, no último sábado de cada mês, tem sempre roda de chorinho às cinco da tarde.
“ANTES DE IR AO CINEMA, É SAGRADO TOMAR UM CAFÉ. DAR UMA ACORDADA, PORQUE, SE O FILME FOR MEIO CHATO, A GENTE CONSEGUE DAR UMA CHANCE PRA ELE. EU VOU MUITO NO CAFÉ DO COFRE, E PEÇO SEMPRE O CAPPUCCINO GRANDE.” CARLOS GERBASE CINEASTA
CAPPUCCINO CAFÉ EXPRESSO LEITE VAPORIZADO RASPAS DE CHOCOLATE ITALIANO POR CIMA CHANTILLY (OPCIONAL)
Confraria do Café
A CONFRARIA DO CAFÉ TEM CAFÉS ESPECIAIS E MUITAS DELÍCIAS PARA ACOMPANHAR Confraria do Café, a pequena notável Ela é a própria pequena notável. Uma cafeteria com poucos metros quadrados, mas charmosa que só ela. A Confraria do Café nasceu junto com o Bourbon Country, há quase três anos, sob a tutela de Carla Fraga. Aliás, quando abriu as portas, a Confraria agradou já na decoração. O balcão é de madeira clara com marcas de exportação, há fotos bem legais nas paredes e as luminárias dão um toque de modernidade ao ambiente. O atendimento é atencioso e simpático. Só pra você ter uma idéia, as meninas que atendem conhecem os clientes freqüentes pelo nome e memorizam suas preferências. Você ainda não tem uma preferência? Nem conhece o lugar? Tudo bem, o cardápio traz ótimas opções de cafés especiais para você experimentar, criações exclusivas de Carla. “Eu sempre fui apaixonada por ca-
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fés e cafeterias. Adoro inventar na cozinha, e com os cafés não foi diferente. Eu criava e dava tudo pro meu irmão experimentar”, diz Carla. Das suas invenções, surgiram os grandes sucessos da casa: o Café Bariloche, mistura de café expresso, leite vaporizado, licor de amarula e raspas de chocolate, e o Café Confraria, que mistura café, leite, cointreau e raspas de chocolate. Pra acompanhar, várias opções de tortas doces e salgadas (tem, hummm, sorvete de creme com calda quente de amora – apesar de não ser ideal pra acompanhar um café, vale experimentar). O legal da Confraria é que abre bem cedinho, às oito da manhã, e vai direto até as onze da noite. Se você não quiser tomar um café a essa hora, com medo de perder o sono, sugiro uma outra opção muito legal: a sopa do dia. Ela é quentinha, cremosa e deliciosa.
“ENQUANTO O MEU FILHO THEO FICA JOGANDO NA LAN HOUSE, EU ESCOLHO UMA MESA SOSSEGADA PRA LER E TOMAR UM BOM CAFÉ NA CONFRARIA.” CLAUDIA TAJES ESCRITORA
CAFÉ CONFRARIA CAFÉ EXPRESSO LEITE VAPORIZADO COINTREAU RASPAS DE CHOCOLATE
Café Endereços AS CAFETERIAS DA MATÉRIA
MAIS TANTAS OPÇÕES...
CAFÉ DO PORTO Padre Chagas, 293
APPLAUSE CAFÉ Fica no Centro Comercial Nova Olaria e tem tudo do bom e do melhor. Lima e Silva, 776
PRESS CAFÉ Moinhos Shopping e Praia de Belas Shopping CAFÉ FEITO À MÃO João Telles, 512 CAFÉ DO LAGO Parque da Redenção, Av. João Pessoa, s/nº CAFÉ DO MARGS Sete de Setembro, 1010 CAFÉ DO COFRE Sete de Setembro, 1028 CONFRARIA DO CAFÉ Bourbon Country
Produtos disponíveis nas lojas Zaffari Higienópolis, Bourbon Ipiranga e Bourbon Country
BAR DO GOETHE Nas terças à noite, tem encontro de estrangeiros e ex-intercambistas. 24 de Outubro, 112 BARBARELLA BAKERY O ambiente é tão legal e a música tão boa que dá vontade de morar lá. Dinarte Ribeiro, 56 CAFÉ ARTPLEX Junto ao Unibanco Artplex, com uma galeria de arte ao seu lado. Bourbon Country, 2º piso CAFÉ CONCERTO MAJESTIC Delícia sentar no terraço e namorar a cidade. Casa de Cultura Mario Quintana - 7º andar
CAFÉ COM PECADO Bom é pedir um dos cafés especiais e ser feliz. Bourbon Ipiranga
ESTAÇÃO CAFÉ Pra acompanhar o café, torta creme de baunilha. Humm... Ramiro Barcelos, 1981, loja 2
CAFÉ GUION Parada obrigatória antes ou depois do cinema. No Cinema Guion, Lima e Silva, 776
LIVRARIA DO ARVOREDO O ponto forte do lugar é... o lugar. Sem contar que a livraria é o má-xi-mo. Félix da Cunha, 1213
CAFÉ DO THEATRO SÃO PEDRO Sente no terraço, peça seu café e aproveite a vida. Praça Mal. Deodoro, s/nº - Theatro São Pedro CAVE CAFÉ Bom gosto no Bom Fim. A sugestão é o Café Bruilot. Rua Lima e Silva, 989 CONSULADO CAFÉ Que tal um cappuccino com sorvete de limão? Lima e Silva, 989, loja 1
MEDIA LUNA Diretamente de Buenos Aires para Porto Alegre. Muito bom! Dr. Timóteo, 890 SAGRADO CAFÉ Café cremoso com pãozinho de castanhas, passas e canela. Bourbon Assis Brasil Z CAFÉ BISTRÔ É mais uma boa opção do Moinhos de Vento. Rua Padre Chagas, 314
Gula
DELICIOSAS TORTAS E UM CAFÉ QUENTINHO: QUEM VAI TER A OUSADIA DE RESISTIR? POR
F E R N A N D A
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Poucas bebidas encarnam tão bem o papel de curinga como o café. Além de gostoso, ele é versátil, combina com os mais variados ambientes e é uma opção acertada para diversos tipos de programação. Se atua com perfeição no papel de estimulante, cai melhor ainda como acompanhante de iguarias que preenchem nossos momentos de ócio, como deliciosas fatias de torta. Os sabores desses doces variam quase que infinitamente, e os recheios alternam gostosuras como chocolate, frutas, merengue, nozes, ovos moles e muitos outros. Na verdade, qualquer opção será um convite ao deleite e aos prazeres da boa mesa, principalmente nos dias mais frios de inverno, em que o corpo pede para ser aquecido – e o café desempenha com excelência essa função. Nesta reportagem, vamos apresentar quatro receitas irresistíveis de tortas que vão encher os seus olhos e
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R E M I Ã O
mexer com o seu paladar. São verdadeiras delícias, cuidadosamente escolhidas pelos nossos entrevistados e que preservam, em cada detalhe, sabores peculiares. Seja na perfeita harmonia entre os ingredientes, na substância dos mais variados recheios ou na elaboração de cada uma das formas, saborear essas tortas é um prazer que os donos das receitas concederam dividir com os leitores da Estilo Zaffari. Para aqueles que gostam de desfrutar de momentos de prazer gastronômico em casa, ao lado dos amigos e da família, essas receitas serão grandes aliadas. Aos que preferem deliciar-se sem tanto trabalho e sentar-se à mesa para serem servidos, seguem preciosas dicas de lugares especiais em Porto Alegre. Charmosos e acolhedores, nesses locais a já consagrada dupla “torta e cafezinho” é um verdadeiro sucesso.
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Gula
Mil-Folhas de Dulce de Leche MASSA
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Modo de fazer: A manteiga deve ser utilizada em temperatura ambiente. Misture na batedeira em velocidade mínima, até formar uma pomada uniforme. Espalhe sobre uma folha de papel-manteiga (50 cm x 70 cm) e, em seguida, coloque para refrigerar.
DIEGO ANDINO PAVLOVSKY É ARGENTINO DE BUENOS AIRES E CURSOU A FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO AGRÁRIA. NO ENTANTO, ACABOU OPTANDO POR TRABALHAR COM SUA GRANDE PAIXÃO: OS DOCES. QUANDO PEQUENO, COSTUMAVA AJUDAR SUA AVÓ NA COZINHA, PRINCIPALMENTE SE A RECEITA FOSSE A DE MILFOLHAS DE DULCE DE LECHE, UMA ROTINA NOS ALMOÇOS DE DOMINGO EM FAMÍLIA. DIEGO INICIOU-SE NA GASTRONOMIA PROFISSIONAL COMO APRENDIZ DE FRANCIS MALLMAN, EM BUENOS AIRES. MAS, QUANDO VIAJOU PARA PALMA DE MALLORCA, NA ESPANHA, PARA VISITAR UMA IRMÃ, APERFEIÇOOU SUA TÉCNICA. FOI UM ANO DE MUITOS ESTÁGIOS EM HOTÉIS E PÂTISSERIES. AO RETORNAR, DESTA VEZ PARA A PATAGÔNIA, EM 1989, FUNDOU SUA PRIMEIRA EMPRESA. EM 2000, DIEGO VEIO AO BRASIL PARA UMA MISSÃO ESPECIAL: RESGATAR UM GRANDE AMOR DEIXADO PARA TRÁS NA ADOLESCÊNCIA. DESDE ENTÃO, COMEÇOU UMA JORNADA DE TRABALHO QUE TEVE INÍCIO NO RESTAURANTE ÉPICO, NO UNIÃO, COM MARCELO JACOBI, QUE SEMPRE ACREDITOU NO SEU TALENTO. DEVIDO AO ÊXITO DE SUAS TENTADORAS SOBREMESAS, FOI AMPLIADO O LABORATÓRIO DE FABRICAÇÃO, COM A CRIAÇÃO DA CONFEITARIA PASTRIES. HOJE, DIEGO E SUA ESPOSA, DARDÂNIA, NUTRICIONISTA, SÃO PROPRIETÁRIOS DA DIEGO ANDINO PÂTISSERIE.
Para armar a massa: Estique a massa de farinha em um retângulo de 70 cm x 30 cm. Coloque a manteiga em 2/3 da massa e comece a fazer as dobras da seguinte maneira: comece com 2 dobras, intervalo de 8h; acrescente mais 2 dobras, intervalo de 8h; acrescente mais 2 dobras. Rendimento: 2 a 3 tortas.
Dicas: Manter os ingredientes bem gelados; Limpar todo o excesso de farinha da massa; Sempre cortar a massa bem gelada; Começar a assar em forno bem quente (230°C) e reduzir a temperatura (170°C) para deixar secar e ficar crocante.
350 G DE FARINHA 2 LITROS E 1/2 DE ÁGUA FRIA / 10 G DE SAL Modo de fazer: Misture bem a farinha com sal e acrescente aos poucos a água, até formar uma massa não muito amassada, mas bem unida. Deixe a massa descansar na geladeira de um dia para o outro.
EMPASTE 500 G DE MANTEIGA / 150 G DE FARINHA
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Torta Girassol L E C Y PÃO-DE-LÓ 8 OVOS 8 COLHERES (SOPA) DE AÇÚCAR 8 COLHERES (SOPA) DE FARINHA DE TRIGO 1 COLHER (SOPA) DE FERMENTO ROYAL PAPO-DE-ANJO 15 GEMAS E 1 OVO INTEIRO RECHEIO 20 GEMAS / 1/2 KG DE AÇÚCAR 1 COPO DE ÁGUA / 3 COLHERES DE MANTEIGA MARSCHMALLOW 1 COPO DE CLARA / 2 COPOS DE AÇÚCAR
M O R A E S
J AC O B I
LECY MORAES JACOBI É UMA MULHER REALIZADA COM SEU TRABALHO. DESDE PEQUENA, GOSTAVA DE OBSERVAR SUAS TIAS QUITUTEIRAS NA COZINHA, CRIANDO AS MAIS SABOROSAS RECEITAS, EM CACHOEIRA DO SUL. DEPOIS DE VIR PARA PORTO ALEGRE, HÁ MAIS DE TRINTA ANOS, LECY COMEÇOU A TRABALHAR COM GASTRONOMIA. DOIS DE SEUS QUATRO FILHOS, MARCELO E RAFAEL JACOBI, TAMBÉM SEGUIRAM ESTE RUMO. EM 1986, ABRIU A CASA DE CHÁS LA DOUCEUR, NA RUA VASCO DA GAMA, QUE SERVIA CAFÉ COLONIAL. APESAR DE ADORAR O QUE FAZIA, DEPOIS DE CERCA DE 7 ANOS DECIDIU VENDER O ESTABELECIMENTO. PASSOU, ENTÃO, A FAZER DOCES E SALGADOS EM CASA, SOB ENCOMENDA. HOJE, ALÉM DE CONTINUAR COM SUA CLIENTELA ASSÍDUA, TAMBÉM TRABALHA NO RESTAURANTE DA UFRGS, QUE FICA NO CAMPUS DA AGRONOMIA: “TENHO ORGULHO DE COLOCAR MEU AVENTAL E SAIR COZINHANDO. É REALMENTE MUITO GRATIFICANTE TER O RETORNO DAS PESSOAS”. PERFECCIONISTA, LECY SEMPRE PROCUROU TIRAR IMPORTANTES LIÇÕES DE SUAS EXPERIÊNCIAS DE VIDA: “ANTES, NÃO CONSEGUIA TRABALHAR EM EQUIPE, POIS GOSTAVA DE FAZER TUDO SOZINHA E FICAVA SOBRECARREGADA. HOJE, ADORO ENSINAR E TENHO SEIS PESSOAS TRABALHANDO COMIGO”. SEUS DOCES FAZEM SUCESSO: “SERVIMOS CINCO TIPOS DE SOBREMESA POR DIA, ENTRE ELES: MUSSE, AMBROSIA, GELATINA DIET, SALADA DE FRUTAS E BOLO DE CHOCOLATE”. COM TODOS OS SEUS COMPROMISSOS, LECY AINDA ENCONTRA TEMPO PARA ABASTECER DE DOCES O RESTAURANTE ÉPICO, DO CLUBE GRÊMIO NÁUTICO UNIÃO, NOS DIAS DE EVENTOS. “A MINHA VIDA É UM CORRE-CORRE E É ASSIM MESMO QUE EU GOSTO. NÃO QUERO JAMAIS PARAR DE TRABALHAR. PRETENDO CONTINUAR ADOÇANDO A VIDA DOS OUTROS, FAZENDO TUDO SEMPRE COM MUITO AMOR”.
350 G DE NATA Modo de fazer Pão -de-Ló: Bata os ovos com o açúcar, até ficar cremoPão-de-Ló: so e dobrar de volume. Junte a farinha e o fermento e misture levemente. Divida essa mistura em duas partes e coloque em uma forma redonda, forrada com papelmanteiga, e leve ao forno pré-aquecido em temperatura média, por 20 minutos. -de-anjo: Bata bem até ficar cremoso. Unte uma Papo apo-de-anjo: forma com fundo removível e leve ao forno até dobrar, por cerca de 25 minutos.
Recheio: Leve ao fogo baixo, mexendo com a colher de pau até dar o ponto. Marschmallow: Leve ao fogo mexendo sempre até ficar morno. Após, bata até ficar cremoso. Divida em dois e acrescente a nata e bata até ficar firme. Montagem: Pão-de-ló regado com leite, doce de ovos, papo-de-anjo, creme de nata com marschmallow e, por último, o outro pão-de-ló regado com leite. Cubra o restante com marschmallow e decore a torta.
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Morango com Chocolate MASSA ACHOCOLATADA 1 XÍCARA DE FARINHA DE TRIGO 1 XÍCARA DE CHOCOLATE EM PÓ 1 GEMA 1 COLHER (SOPA) DE MANTEIGA GELADA 1/2 XÍCARA DE AÇÚCAR Modo de fazer: Junte todos os ingredientes e amasse bem, formando uma massa firme. Pressione a massa dentro de uma forma de abrir de mais ou menos 30 cm de diâmetro. Asse por mais ou menos 30 minutos, até que fique crocante.
RECHEIO 300 ML DE LEITE INTEGRAL (1 MEDIDA DE LATA DE LEITE CONDENSADO) 1/2 COLHER DE AMIDO DE MILHO 3 COLHERES DE CHOCOLATE EM PÓ 1 LATA DE LEITE CONDENSADO 2 COLHERES DE MANTEIGA
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C E S A R
A PAIXÃO PELO JAZZ FOI UMA DAS PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES QUE LEVARAM LUCIANE DALMOLIN E CESAR AUGUSTO PANCINHA COSTA A ABRIR O MERCATTO JAZZ. APESAR DE NÃO TEREM EXPERIÊNCIA NO RAMO, POIS AMBOS ERAM EXFUNCIONÁRIOS DE UMA MULTINACIONAL, DECIDIRAM CRIAR UM ESPAÇO DIFERENCIADO EM PORTO ALEGRE: UM LUGAR ACONCHEGANTE, QUE COMBINASSE MÚSICA INSTRUMENTAL DE BOA QUALIDADE E DELÍCIAS GASTRONÔMICAS. A IDÉIA DEU CERTO E TORNOU-SE RAPIDAMENTE UM VERDADEIRO SUCESSO. “CRIAMOS UM AMBIENTE ACOLHEDOR, COM UMA DECORAÇÃO PERSONALIZADA, QUE SERVE ALMOÇO AO MEIO-DIA E À NOITE TRAZ MÚSICA AO VIVO, TORNANDO-SE UMA CASA EXCLUSIVA DE JAZZ”, CONTA CESAR. O LUGAR, INSTALADO ONDE FUNCIONOU ANTERIORMENTE O MERCATTO BANGALÔ, PRESERVOU ALGUNS DETALHES DO ESTABELECIMENTO ANTIGO, INCLUINDO AS JÁ CONSAGRADAS TORTAS E SOBREMESAS. “NA VERDADE, ACRESCENTAMOS UM TOQUE NOSSO A CADA RECEITA E CRIAMOS NOVOS DOCES COM SABORES SUPERESPECIAIS. A TORTA DE MORANGO COM CHOCOLATE (RECEITA AO LADO) É UM DOS MAIORES SUCESSOS DA CASA. TUDO QUE OFERECEMOS É O QUE A GENTE TAMBÉM GOSTA DE CONSUMIR”, AFIRMA LUCIANE. CONFORME CESAR, A IDÉIA É TRAZER, CADA VEZ MAIS, UM POUCO DE NEW ORLEANS PARA O MERCATTO JAZZ: “QUEREMOS APRIMORAR NOSSO TRABALHO SEMPRE. PRETENDEMOS AMPLIAR A CASA E COLOCAR UM PIANISTA DURANTE AS TARDES, APROVEITANDO PARA DEIXAR O INVERNO NO MOINHOS DE VENTO AINDA MAIS ACOLHEDOR”.
Modo de fazer: Dissolva o amido de milho em um pouco de leite frio. Junte o restante e leve ao fogo junto com os demais ingredientes. Ferva até que a massa fique bem consistente, porém ainda cremosa, mexendo sempre. Despeje o recheio pronto dentro da massa já assada. Deixe esfriar e leve à geladeira por mais ou menos 2 horas ou até que fique firme. Cubra toda a torta com morangos médios inteiros e salpique sobre os mesmos lascas de chocolate branco.
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Merengue com Frutas PÃO-DE-LÓ 5 OVOS 5 COLHERES (SOPA) DE AÇÚCAR 5 COLHERES (SOPA) DE FARINHA DE TRIGO RECHEIO 250 G DE NATA 1/4 DE XÍCARA DE AÇÚCAR 2 COLHERES (SOPA) DE ÁGUA GELADA DOCE DE OVOS 300 G DE AÇÚCAR / 9 GEMAS 1 COLHER (SOPA) DE MANTEIGA
A N D R E A
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DIFICILMENTE QUEM PASSA PELA FRENTE DA LIVRARIA DO ARVOREDO CONSEGUE TER NOÇÃO DA GRANDIOSIDADE DO LUGAR. E NÃO ESTAMOS FALANDO APENAS DE ESPAÇO. A LOJA COMBINA UM AMBIENTE TRANQÜILO, ACONCHEGANTE E PECULIAR A UM ACERVO VARIADO DE LIVROS E REVISTAS PARA SEUS CLIENTES. A DECORAÇÃO É UMA ATRAÇÃO À PARTE, POIS TRAZ OS OBJETOS PESSOAIS DA PROPRIETÁRIA ANDREA LOUREIRO SCHNEIDER: “FIZ QUESTÃO DE CUIDAR DE TUDO PESSOALMENTE. CRIEI, INCLUSIVE, UM ESPAÇO PARA AS CRIANÇAS, QUE O MEU FILHO DECOROU COM OS SEUS BRINQUEDOS. MINHA IDÉIA É INCENTIVAR A LEITURA PARA UM PÚBLICO DE TODAS AS IDADES”. ESTE CENÁRIO É EXTREMAMENTE CONVIDATIVO PARA TOMAR UM CAFÉ E SABOREAR UMA DAS TORTAS QUE SÃO ESPECIALIDADES DA CASA, FOLHEANDO UM BOM LIVRO: “É DIFÍCIL RESISTIR ÀS TENTAÇÕES DAS TORTAS, POIS TEMOS SABORES PARA TODOS OS GOSTOS”. A TORTA AO LADO, DE MERENGUE COM FRUTAS, É UM DOS “BEST-SELLERS”. SEGUNDO ANDREA, A HISTÓRIA DA LIVRARIA DO ARVOREDO TEVE INÍCIO HÁ MUITO TEMPO: “SOU ADVOGADA E SEMPRE GOSTEI MUITO DE LER. TANTO QUE DECIDI LARGAR ESSA PROFISSÃO PARA ME DEDICAR A UM SONHO MUITO MAIOR: ABRIR UMA LIVRARIA. COM CERTEZA ESSA IDÉIA DEU CERTO. EU NÃO ESPERAVA TER TANTO SUCESSO E TENHO CERTEZA DE QUE PORTO ALEGRE MERECIA UM LUGAR COMO ESSE”. NA LIVRARIA DO ARVOREDO, CULTURA E SABOR ANDAM DE MÃOS DADAS.
1/2 COLHER (CHÁ) DE ESSÊNCIA DE BAUNILHA MONTAGEM MORANGOS / MERENGUE 1 DISCO DE MERENGUE DECORAÇÃO FRUTAS VERMELHAS / MORANGOS KIWI / FIGO
Modo de fazer: Pão-de-ló: Bata os ovos na batedeira até ficarem bem firmes. Coloque o açúcar e continue batendo. Desligue a batedeira e misture lentamente a farinha de trigo. Leve ao fogo por aproximadamente 15 minutos. Reserve. Doce de ovos: Faça uma calda fina com o açúcar e a água. Acrescente a manteiga, as gemas e a baunilha. Reserve. Recheio: Coloque a nata, a água gelada e o açúcar na batedeira. Bata com cuidado para não virar manteiga. Reserve. Para regar o pão-de-ló, faça uma calda fina. Monte a torta colocando o pão-de-ló, a calda, metade do recheio e parte dos morangos. Em seguida, coloque o disco de merengue, os ovos moles, o restante do recheio e mais alguns morangos. Cubra com outra camada de pão-de-ló. Enfeite com merengue, morango, frutas vermelhas, kiwi e figo.
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Viagem
Café
que acalma
Eu sabia que o lugar era lindo, mas juro que meu primeiro sentimento foi o de colocar um cocar na mala. É programa de índio, pensei. Desembarcar em Belo Horizonte, pegar um táxi até a rodoviária, subir num ônibus da viação Gardênia, descer no trevo de Santo Antônio do Amparo e tomar outro táxi até o Hotel Fazenda da Cachoeira me parecia complicado demais para ser agradável. Ledo engano. Foi tudo fáP O R
P AU L A
TA I T E L B AU M
cil, rápido e delicioso. E põe delicioso nisso. Quatro dias no sul de Minas Gerais, mergulhada em aromas, sabores e nuances, me fizeram voltar com a bagagem repleta de café, histórias e amigos queridos. Tudo porque a Fazenda da Cachoeira é um lugar pra gente valorizar o tempo e temperar a vida. Pra aprender que aquilo que brota da terra é tão importante quanto os que andam sobre ela. F OTO S
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HÁ UMA AURA DE SONHO PAIRANDO SOBRE A FAZENDA O casarão secular e seus personagens Tudo começou há mais de duzentos anos, quando um mascate que vendia artigos finos de Portugal trocou um capote por terras em Santo Antônio do Amparo. Não qualquer pedacinho de chão, mas campos e colinas a perder de vista. Dizem alguns que tudo não passa de lenda, mas a questão é que o mascate realmente existiu e chamava-se Sebastião Ferreira Carneiro, conhecido como Jangada. Jangada veio a ser avô de Cândida Humbelina de Paiva, que por sua vez foi bisavó de Fernando Aguiar Paiva, que hoje é pai de Miriam Monteiro Aguiar e sogro de Rogério Daros. Meio confusa essa minha descrição genealógica? Não importa. Quando você chegar na fazenda, logo vai descobrir que todos esses, e mais alguns, são personagens importantes
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dessa história. Seu Fernando, Miriam e Rogério são os que, hoje, administram a fazenda. E Dona Cândida Humbelina, a vovó Candinha, nascida em 1818 e primeira moradora da fazenda, ainda ajuda a encontrar os objetos perdidos pelas terras do lugar. Mas esse causo eu conto depois. Pelo menos garanto que você vai continuar a leitura. Nem que seja por pura curiosidade. A chegada na sede da fazenda – que agora é hotel – fez com que eu me sentisse a própria sinhazinha. Já era noite quando, no final do caminho de terra, o casarão me deu as boas-vindas. Lá estavam o porão de pedra emoldurado pelo jardim, as enormes janelas de onde saíam as luzes acesas, a escada que convidava a entrar. E acompanhando tudo isso, o silêncio. Este que é também um habitante do lugar, mas que logo some quando
DA CACHOEIRA E SEUS PERSONAGENS, UM CLIMA MÁGICO a gente entra na casa e começa a caminhar sobre o tabuão original de madeira. As tábuas compridas e reluzentes percorrem todos os cômodos e nos levam de encontro a mobílias e detalhes do tempo de nosso tataravô. Fui chegando e descobrindo. Mais ou menos como o amante de relíquias faz ao entrar em um antiquário. O piano antigo aqui. Os afrescos na parede acolá. A cama entalhada no quarto adiante. O oratório no final do corredor. Ao todo, são centenas de peças antigas espalhadas nas três salas e quatorze quartos à disposição. Eu tive a sorte de ficar na maior suíte da fazenda. O pé-direito tem mais de quatro metros de altura, e o banheiro anexo é do tamanho da sala da minha casa. Meu primeiro pensamento ao deitar foi: ou aqui morou um gigante ou eu é que sou pequena demais diante de tanto bucolismo.
No ar, clima de sonho e aroma de café Nada mais bucólico do que o amanhecer no campo. Cedinho, as janelas são abertas e o sol penetra no ambiente através das cortinas brancas de voal. A luz difusa oferece um clima de sonho. E é sob esse visual poético que se inicia o café da manhã. O cardápio não poderia ser mais mineiro. Pão e biscoitos caseiros, queijo-de-minas, iogurte e manteiga feitos com leite local, goiabada, bananada, sucos com frutas da fazenda, bolo de milho quentinho e aquele pão de queijo que só eles conseguem fazer. Sem esquecer, claro, a estrela que acompanha essa festa: o café. Na Fazenda da Cachoeira, o café tem um sabor especial. Principalmente porque nele não vai nem uma pitada de agrotóxico. Uma experiência que começou devagarinho, em 1993, com alguns poucos pés perto das lavouras tradicionais, e que foi
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AO ENTRAR NA CASA OU PARTICIPAR DA PRODUÇÃO DO CAFÉ, VOCÊ VIVERÁ SENSAÇÕES INESQUECÍVEIS se expandindo a ponto de todo o café plantado atualmente ser orgânico. Além de ecologicamente correto e supersaudável, isso valoriza ainda mais o Cachoeira Organic Speciality Coffee, blend criado por Seu Fernando a partir de grãos selecionados, que é vendido no mercado interno e exportado para a Europa, Estados Unidos e Japão. Blend é como se chama a mistura de cafés de diferentes tipos para se chegar em um sabor especial. Descobrir na prática como o café chega até as nossas xícaras é uma experiência que compensa. Aliás, esse é justamente o ponto alto de quem vai passar alguns dias na Fazenda da Cachoeira. A integração entre produção e lazer. Você vai se tornar um expert em cafeicultura. Mas não é só isso. Cada uma das etapas trará sensações inesquecíveis. A colheita faz lembrar as pinturas de Portinari, com os trabalhadores colhendo as frutas manualmente e fazendo malabarismos com a peneira. A secagem, no terreiro, é quando milhares de grãos são
espalhados para descansar a céu aberto. Grãos que podem ser que devem ser rodados umas quatorze vezes por dia para evitar a fermentação. Não é preciso tirar os sapatos para rodar café no terreiro, mas eu tratei de fazer isso pra sentir como era. Peguei na pá e, descalça, comecei o trabalho no sentido do sol. Como os grãos estavam úmidos, pesavam demais e tive que fazer muita força. Mas valeu. Pratiquei, ao mesmo tempo, meditação, musculação e do-in. Uma verdadeira “cafeterapia”. Santo Antônio Estate Coffee Os grãos de café que saem da fazenda são degustados e armazenados na cidade de Santo Antônio do Amparo, distante oito quilômetros. É um lugarejo pacato, daqueles em que as pessoas ainda deixam os carros abertos e as portas das casas destrancadas. Não há grandes atrativos turísticos por lá, mas é bem legal conhecer o armazém e a sede da Santo Antônio Estate
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NÃO SAIA DA FAZENDA SEM CONVERSAR COM O SEU Coffee, uma cooperativa que reúne 23 produtores de café da região. O objetivo desta união é garantir que o café produzido por eles tenha um padrão de qualidade. Padrão que percebemos ser realmente alto assim que entramos no escritório da cooperativa. Há muitos certificados e prêmios internacionais nas paredes. Em uma das salas, degustadores provam cada mostra de café que chega, para garantir que esteja dentro do esperado. Sobre uma mesa redonda e giratória, ficam vários potinhos com café passado, a fim de serem degustados. José Valter Ribeiro é provador oficial e costuma participar dos concursos de qualidade de cafés gourmets. Ele é um dos que, em época de nova safra, chegam a experimentar 250 xícaras por dia. Seu Fernando, sempre bricalhão, aproveita para perguntar: “Sabe por que
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eu tomo muito café?”. “Não”, respondo. “Pra aumentar o consumo e melhorar a safra.” Idealizador do Santo Antônio Estate Coffee, junto com a filha Miriam, Seu Fernando foi um dos fundadores da BSCA, Brazil Speciality Coffee Association. Nem pense em passar uns dias na fazenda sem ouvir suas histórias ou sem elogiar seus cavalos. Com uma energia invejável, um bom humor contagiante e um sotaque carregado de “uais” e “ocês”, ele costuma dizer que nasceu montado em um cavalo, embaixo de um pé de café. Há 27 anos, Seu Fernando é um dos principais criadores da raça Mangalarga Pampa do Brasil. No Haras do Café, que fica dentro da fazenda, estão centenas de cavalos belíssimos. Eles normalmente são calminhos, e há uma pista de grama para quem quiser trotar.
FERNANDO, PROVAR CAFÉ NO PÉ E ANDAR A CAVALO Lindas são a natureza e a filosofia do lugar Andar a cavalo, passear de charrete, colher verdura na horta ou conhecer a plantação de maracujás é só um pouco mais do que há pra fazer depois de já ter percorrido o mundo do café. Ao todo, são 800 hectares para você explorar. Ir conhecer a cachoeira, por exemplo, é palavra de ordem. Sim, porque, com o nome que tem, era meio óbvio que, em um algum lugar da fazenda, existisse uma cachoeira. Pra chegar até ela, é só seguir uma trilha que há ao lado do casarão. No caminho, tem uma pinguela e um moinho secular que ainda hoje é usado para se fazer fubá. E mais borboletas e mais borboletas. Tudo isso faz com que a gente já chegue na cachoeira num clima de encantamento. Lá, são duas quedas d’ água, formando algumas piscinas
geladas. Apesar da água fria, não dá pra deixar de molhar o pé e dar uma energizada. Não há como negar que a Fazenda da Cachoeira tem mesmo algo de mágico. Um dia, acordei com o som de caixinha de música, e ninguém soube me explicar de onde veio. No outro, fiquei sabendo de várias histórias de gente que perdeu coisas no campo e que encontrou depois de rezar uma Ave-Maria pra vovó Candinha. É uma aura irreal que paira sobre a gente. Sempre boa, sempre trazendo sensações de tranqüilidade e harmonia. Na noite em que cheguei, ouvi de Rogério, o genro de Seu Fernando: “Aqui, nós buscamos a espiritualidade e temos um profundo respeito com tudo e com todos”. Na hora, não entendi muito bem a dimensão daquela afirmação. Agora entendo.
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POR QUE VOCÊ VAI ADORAR A FAZENDA DA CACHOEIRA PODERÁ COMER A FRUTINHA DO CAFÉ DIRETAMENTE DO PÉ, SABENDO QUE NÃO TEM NADA DE AGROTÓXICO, E DESCOBRIRÁ QUE SEU SABOR É SUAVE E DOCE. TODOS OS QUARTOS ESPERAM SEUS HÓSPEDES COM FLORES RECÉM-COLHIDAS NO VASO E ÁGUA FRESCA NA MORINGA. QUANDO TEM GRANDE QUANTIDADE DE CAFÉ ARMAZENADO, AS CRIANÇAS COSTUMAM PULAR SOBRE AQUELA MONTANHA DE GRÃOS. MAIS OU MENOS COMO TIO PATINHAS DENTRO DA CAIXA FORTE. EM ÉPOCA DE ALTA TEMPORADA, TEM SHIATSU E OUTRAS TERAPIAS ALTERNATIVAS À DISPOSIÇÃO DOS HÓSPEDES. OS MÓVEIS SÃO ANTIGÜIDADES, MAS OS COLCHÕES SÃO NOVINHOS. O HOTEL É RECOMENDADO PELO GUIA QUATRO RODAS DESDE 1993 E OFERECE PISCINA, CASA NA ÁRVORE PARA
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AS CRIANÇAS, MESA DE SINUCA, CANCHAS DE ESPORTE E SALA DE TV COM VÍDEO.
DETALHES PRÁTICOS VÁ A BELO HORIZONTE E SIGA ATÉ SANTO ANTÔNIO DO AMPARO. SE PUDER, ALUGUE UM CARRO PARA PODER PASSEAR MAIS PELA REGIÃO. TIRADENTES FICA A APENAS 120 QUILÔMETROS DA FAZENDA. OS PREÇOS POR PESSOA SÃO OS SEGUINTES: SUÍTE R$ 80, APARTAMENTOS R$ 70 E QUARTOS COM BANHEIRO COLETIVO R$ 60. CRIANÇAS ATÉ SEIS ANOS SÃO ISENTAS E ATÉ DOZE ANOS PAGAM MEIA DIÁRIA. TODAS AS REFEIÇÕES ESTÃO INCLUÍDAS. CAFÉ DA MANHÃ, ALMOÇO, CAFÉ DA TARDE E JANTAR. CONTATOS PELO FONE (31) 3281-8943 OU PELO EMAIL CONTATO@CACHOEIRACOFFEES.COM.BR. O SITE DA FAZENDA É WWW.CACHOEIRACOFFEES.COM.BR
O sabor e o saber F E R NA N D O
LO K S C H I N
COQ AU VIN Nesta receita, quem canta é o galo Hábitos alimentares são contagiosos. Embora a galinha só esteja rotineiramente disponível à mesa há poucas décadas, já não há parte do mundo que não tenha desenvolvido uma culinária à base de sua carne. São milhares as receitas com galinha, enquanto o marido galo brilha somente num prato: o coq au vin, o repouso final do velho guerreiro. Na linguagem ocorre o oposto. São muitas alusões ao galo e raras as menções à galinha. A língua come a galinha e canta o galo. Os dois na boca, uma é boa de degustar, o outro é bom de falar. Se a galinha é refeição, o galo é inspiração, é metáfora. A palavra galo deriva de uma raiz celta que significa ‘gritar’, daí a semelhança com Gália (os gauleses lutavam aos gritos) que motivou a representação da França, antiga Gália, como um galo, o chanteclair (‘canta claro’). Como no falar infantil ‘cocoricó’, a imitação da ave cunhou o L. coq, ‘galo’, origem de coquete, termo antes reservado ao homem e que invoca o galo saltando sobre todas as galinhas do galinheiro. O cocar compara as penas do índio com a crista do galo, e coque faz o mesmo com o penteado dos cabelos. No passado, ovos de ouro eram os do galo. Gladiadoras emplumadas, as aves eram mais apreciadas na rinha do que na mesa. As lutas de galo foram um esporte universal e deixaram suas cicatrizes no idioma. Baixar a crista e estar de crista caída são expressões romanas: o galo derrotado baixa a crista. Cockpit (I. cock, ‘galo’; pit, ‘local’) descreve o espaço onde os galos lutavam, daí a cabine do avião e do carro de corrida, locais onde lutam os pilotos. Ninguém sabe por que coquetel (I. cock tail, ‘rabo de galo’) denomina a mistura de bebidas. Seria pela fatia da fruta presa ao copo que lembra um rabo? Seria pela taça para ovo quente onde era originalmente servido? Seria pelo brinde nas lutas de galo? O próprio termo ringue veio para o boxe desde a rinha; antes de ser quadrado, o ringue era redondo, tinha a forma de anel (I. ring). Sons e sentidos gêmeos, o canto encanta o momento. O galo saúda o dia de cabeça erguida e peito estufado, transbordante de som. Tem no alto da cabeça uma crista vermelho-amarelada tal qual o sol que anuncia. É símbolo de vigilância, altivez e orgulho. Guardião do tempo, o galo orienta os cata-ventos. Um alegre toque de despertar, o canto matinal do galo guarda equivalência com a ereção matinal masculina. Testículos de galo eram ingeridos pelos homens como afrodisíaco, e pelas mulheres para conceber um varão. De sexualidade exacerbada e instinto de combater rivais até a morte, o ‘rei do galinheiro’ representa o ideal guerreiro, mescla de Rambo e Casanova. Os romanos que mais sacrificavam galos eram homens: os civis tentando ganhar a virilidade, e os militares tentando perder o medo. Diferente da pequenez e fragilidade do nosso pinto, o inglês cock significa tanto ‘galo’ como ‘pênis’. Com tanta masculinidade, é irônico que o galo tenha um genoma feminino: nas aves, os cromossomos XY geram uma galinha e os XX, um galo.
FOTOS: LETÍCIA REMIÃO (PORTRAIT), CRISTIANO SANT’ANNA (COQ AU VIN)
Mas o galo transcende o sangue e o sexo. Conta a história que Sócrates, logo após beber a cicuta, teria solicitado o sacrifício de um galo com a frase “Devemos um galo a Esculápio”. Conta a tradição que Diógenes, ao ouvir Platão definir o homem com um “bípede sem plumas”, teria mostrado um galo depenado e afirmado: “Eis aqui o homem de Platão”. Anunciando o sol, o galo se contrapõe às criaturas da noite e suas influências malévolas. Os muçulmanos dizem que a manhã em que o galo não cantar será a do Juízo Final. Também têm a bela superstição de que ao cantar fora de hora, o galo cumprimenta um anjo que passa. Já a galinha, na sua submissão ao galo e pouca inteligência, está longe de encarnar os ideais femininos. São raras as imagens positivas referentes à ave; a principal é a maternal feita por Jesus em Jerusalém: “quantas vezes quis reunir teus filhos como a galinha que reúne seus pintinhos sob as asas” (Mt 23:27). Antes se comiam as galinhas velhas e os galos novos: fêmeas no climatério que já não punham ovos e machos pré-púberes que não tinham a carne endurecida. Não se fazem mais galos como antigamente. Se hoje os frangos são feminizados por hormônios, no passado eram castrados e, por isso, denominados capões. Os capões surgiram para burlar uma lei romana que, para economizar grãos, proibia a venda de “galinhas gordas”. Obedecendo à lei ao pé da letra, os comerciantes passaram a castrar e vender galos gordos. Como os eunucos, os capões têm mais peso e carne mais macia. O coq au vin é uma receita recente, saiu da mesa do camponês para o grand monde gastronômico há pouco mais de século. Antes do coq au vin, o uso culinário do galo se limitava à crista, uma delicatessen na cozinha romana. Hoje, há tantas receitas de coq au vin que os textos tendem a usar o termo no plural. Cada região francesa tem sua receita, embora em todas figurem a ave, o vinho, o bacon e o cogumelo. Era comum que os jantares de Versalhes começassem com o grito, Au queue!, que tem o sentido de ‘o jantar está servido!’, mas diz ‘ao rabo! (... do galo)’. Ao coq au vin, repouso final do guerreiro, arauto da aurora. Um galo quase como os de antigamente. A ingesta da vítima sacrificial nutre de suas qualidades, faz da refeição uma busca e uma homenagem. Bem vivos, gozando de saúde e do momento, devemos todos um galo a Esculápio. Convenhamos, uma boa dose de altivez, combatividade, libido e mesmo um alegre despertar cedo não fazem mal a ninguém. Au queue! E no canto em coro de aprovação à mesa, tábua sagrada da refeição, o cumprimento ao anjo que passa.
FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br
UM GALO OU GALINHA CAIPIRA CORTADOS EM PEDAÇOS. MARINE DE VÉSPERA COM SAL, PIMENTA, ALHO, CEBOLA FATIADA, LOURO, CENOURAS EM PEDAÇOS, AZEITONAS, SALSA, TOMILHO E VINHO TINTO. FRITE ATÉ DOURAR AS FATIAS DE BACON. SEQUE OS PEDAÇOS DO GALO E JUNTE AO BACON. DOURE COM A PELE PARA BAIXO E DEPOIS VIRE. DESPREZE, SE NECESSÁRIO, O EXCESSO DE GORDURA. RETIRE A CARNE E POLVILHE COM FARINHA DE TRIGO. COLOQUE A FRITAR MAIS UM POUCO. PONHA 2 COLHERES DE PASTA DE TOMATE NO MOLHO. JUNTE A CARNE E PONHA A FERVER EM FOGO BAIXO (40 MIN). REMOVA A CARNE E FILTRE O MOLHO (AMASSAR PARCIALMENTE OS VEGETAIS NA PENEIRA). ACRESCENTE OS COGUMELOS E FERVA MAIS UM POUCO. SE PRECISO, AJUSTE O SAL E A CONSISTÊNCIA COM FARINHA DE TRIGO OU CALDO DE GALINHA. DERRAME O MOLHO SOBRE A CARNE. SIRVA QUENTE COM ARROZ E ERVILHAS. OBS.: É BOM ENRIQUECER O MOLHO COM UM CALDO ESCURO DE OSSOS, PESCOÇO, MIÚDOS E PARTES POSTERIORES DA AVE. O PRATO PREPARADO DE VÉSPERA É MAIS GOSTOSO. NOS BONS RESTAURANTES, O COQ AU VIN É PREPARADO UMA VEZ POR SEMANA.
Casa
TAPETES: COLADOS AO CHÃO, MAS CHEIOS DE DIGNIDADE E ESTILO POR
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Tem gente que não dá a menor bola pra tapete. Pisa em cima, passa pra lá e pra cá, até senta no tapete, mas nem percebe que ele existe. Simplesmente desconsidera aquele pedaço de tecido, couro, fibra ou lã estendido no chão de casa. Provavelmente, só percebe a importância do dito cujo quando ele não se faz mais presente. É que o tapete em geral se conforma com uma posição modesta, coadjuvante. Poderia até dizer: servil. Sim, porque do seu destino o tapete não pode fugir. Mas que ele subiu na vida, mesmo ficando colado ao chão, isso ninguém pode negar. Sem medo de ser infame (!), eu diria que o tapete deu a volta por cima. Basta ver que, hoje, ele é vedete na decoração de interiores. A ele são atribuídas funções quase mágicas, que fariam os tapetes voadores das Mil e Uma Noites
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parecerem peças inúteis. Veja só algumas frases que os profissionais da decoração costumam pronunciar a respeito desse “simplório” item: Tapete proporciona aconchego ao ambiente. O tapete é quem dá personalidade à decoração. Tapete veste a casa. O tapete é que define o estilo do ambiente. O tapete organiza os espaços e delimita funcionalidades. Nada mal, hein? E é por essas e outras que a Estilo Zaffari deste mês reservou a seção Casa para falar de tapetes. Amparados nas opiniões experientes e na técnica de dois arquitetos, vamos mostrar a importância dos tapetes na decoração, dar exemplos de como usá-los, falar de tipos de tapetes e exibir fotos de ambientes em que eles, se não reinam absolutos, certamente fazem toda a diferença.
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Casa
Contrastes estéticos Para a arquiteta Ana Paula Amodeo Elbling, a escolha do tapete é um momento de extrema importância na decoração. “O tapete dá o tom, define o estilo do ambiente”, afirma Ana. Em seus mais recentes trabalhos, a arquiteta tem usado o tapete como peça-chave, capaz de reforçar uma tendência ou, ao contrário, amenizá-la. Segundo Ana Paula, o tapete pode funcionar muito bem como contraponto aos demais elementos da decoração, adicionando ao ambiente algumas características estéticas e suavizando outras. Na foto maior, o ambiente decorado por Ana Paula tem um estilo sofisticado, que fica expresso nas cortinas de seda, nos estofados de chenille e nos móveis em madeira escura. O tapete foi escolhido justamente para fazer um contraponto e quebrar a sisudez desta sala. De fibra natural (sisal), ele tem trama larga e foi feito sob encomenda para o ambiente, que tem grandes dimensões. A mesma idéia de contraste foi utilizada na composição da sala que aparece na foto menor. O grande destaque deste local é o móvel tipo namoradeira, uma obra de arte assinada, esculpida em madeira de lei. Como contraponto à rusticidade do móvel, Ana Paula usou um tapete oriental, que agrega sofisticação ao espaço. Sobre a namoradeira, reforçou a ambientação utilizando outra peça oriental, à guisa de almofada: trata-se de uma saddle-bag, utilizada originalmente pelos povos nômades para carregar objetos sobre o lombo de montarias. A arquiteta lembra, porém, que essas escolhas estéticas não podem deixar de lado a função do tapete. Tudo tem que ser definido de acordo com o perfil do cliente e o tipo de uso que o ambiente vai ter. “Não faz sentido colocar um tapete de lã branca na cozinha”, resume.
A ARQUITETA ANA PAULA AMODEO ELBLING UTILIZA O TAPETE COMO ELEMENTO DE CONTRAPONTO NA DECORAÇÃO DOS AMBIENTES MOSTRADOS NESTAS PÁGINAS
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Casa
Regras de ouro A última coisa que Francisco Pinto escolhe quando está decorando um ambiente é o tapete. “Meus projetos começam pelo básico, depois vou acrescentando os elementos complementares”, explica Francisco. Nesse processo, o tapete tem função nobre – é fundamental para a definição do estilo do ambiente, afirma o arquiteto. Na foto ao lado, por exemplo, aparece uma sala onde Francisco colocou um tapete de pele de vaca, composto de quadrados costurados, de cor marrom bem escura. Feito sob medida, o tapete casa à perfeição com o ambiente onde foi colocado. Proporciona um toque de rusticidade e também acolhimento. A residência, localizada à beira do Guaíba, tem pé-direito alto, por isso precisa de elementos para “aquecê-la”. Tanto a textura como a cor do tapete cumprem bem este papel. Já o ambiente que aparece na foto acima tem um estilo bem diferente. A decoração buscou um clima urbano, sofisticado, com linhas retas e toques de contemporaneidade. Até o piso da sala, de mármore Carrara, reforça esse perfil. Para dar um contraponto, Francisco e o proprietário do apartamento – ligado em decoração e nas tendências – escolheram um tapete tipo Needle Point, americano, que é rico em detalhes e feito à mão. O resultado é uma decoração moderna, mas não fria, e cheia de personalidade. Os dois ambientes mostrados nestas páginas foram decorados pelo Escritório de Arquitetura e Interiores Valéria Ferreira e Francisco Pinto. Como profissionais do ramo, Francisco e a sócia, Valéria, adotam algumas regras para a escolha dos tapetes: sempre testam a peça no ambiente antes de adquiri-la e nunca deixam de discutir com o cliente quais são as suas intenções de uso daquele local, oferecendo alternativas. Assim, o resultado é sempre um sucesso.
O ARQUITETO FRANCISCO PINTO DEIXA A ESCOLHA DO TAPETE PARA O FINAL DO TRABALHO. SEGUNDO ELE, O TAPETE DEFINE O ESTILO E O USO DO AMBIENTE
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Templo da
pesca esportiva P O R
R A FA E L
B E C K
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PAZ,, EMOÇÃO, SAÚDE, NATUREZA, ESPORTE.
A PESCA ESPORTIVA É TUDO ISSO E MUITO MAIS Bela, grandiosa, imponente. Tudo o que se refere à Amazônia deve ser descrito em superlativos. E a grande aventura é enfrentar a floresta e os desafios proporcionados pela maior bacia hidrográfica do planeta. Abandonar o conforto – e a rotina – da civilização, se embrenhar em matos, navegar por horas a fio, atravessando rios e igarapés rumo ao coração da floresta, em busca de peixes cada vez maiores. Paz. Emoção. Saúde. Natureza. Esporte. A pesca esportiva é tudo isso e tudo mais. E para quem busca quantidade e diversidade de peixes, poucos lugares se comparam à Amazônia. Seus quase 8 milhões de quilômetros quadrados de matas e águas, espalhados por Brasil, Peru e Colômbia, não comportam apenas fauna e flora riquíssimos, em um dos mais complexos e exuberantes ecossistemas do mundo. A biodiversidade marinha também impressiona. São milhares de espécies de peixes, dos mais diferentes tamanhos e características, fazendo dos rios da região não apenas um grande santuário ecológico, mas também um dos templos da pesca esportiva do planeta. E é exatamente isso que faz cada vez mais e
mais pescadores do Brasil e do mundo enfrentarem longas viagens com este destino: ter o privilégio de pescar em um dos ambientes mais desafiadores do globo terrestre. No Rio Grande do Sul, o pioneiro em oferecer a possibilidade da pesca esportiva na Amazônia é Eduardo Macedo. Há dez anos ele organiza viagens à região para conhecidos e empresas. O negócio cresceu e, em 2002, ele e seu sócio, Nestor Salomon, fundaram uma empresa – a Ecofishing – voltada unicamente para esse fim. Além do turismo, a idéia também é demonstrar a importância da preservação da natureza. Os turistas voltam satisfeitos e com a semente ecológica plantada na cabeça. Um outro Brasil A Amazônia é um outro país dentro do Brasil. A primeira coisa que percebemos na chegada em Manaus é o calor. Úmido, abafado, quase insuportável. Entra sem pedir licença, invade todos os ambientes, traz suor e desconforto. Banhos de rio serão obrigatórios em nossa aventura.
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A VIDA É REGRADA PELO SOL, RELÓGIOS SÃO
DISPENSÁVEIS. A NATUREZA É SENHORA ABSOLUTA Outra característica do clima é a chuva: mesmo na estação seca, as precipitações são praticamente diárias, entre o meio e o fim da tarde. São chuvas rápidas, que logo passam, e servem para aliviar o sol e o calor escaldantes. As diferenças aparecem também nas feições da população. O amazonense tem pele escura, com fortes traços indígenas. E o sotaque é um caso à parte. Nos primeiros momentos, chega a ser difícil de compreender. Mas a influência indígena não está apenas no rosto e na fala dos caboclos da Amazônia. Pode ser percebida também nos nomes dos rios, plantas e animais – como jurubeba, tarumã ou cupuaçu – e na profunda integração existente entre o homem e a floresta. Aqui, não há horário, como nas cidades. A vida é regulada pelo sol: amanhecer, meio-dia, tarde e noite são os períodos do dia de um habitante da região. No meio da mata, o relógio é absolutamente dispensável. A vida em um barco Entre o aeroporto de Manaus e o nosso barco, muito pouco dá para se perceber da capital do Estado
do Amazonas. Exceto que é uma cidade cuja vida gira em torno das águas. Praias, hotéis, estaleiros, todos se localizam nas margens do rio Negro e do Amazonas. E claro, muitos barcos. Entre eles, o Yanna. Com 30 metros de comprimento e 8 cabines, foi o nosso lar por seis dias. Equipado com rádio, sonar, telefone por satélite, ar-condicionado e televisão, trouxe-nos conforto e civilização, mesmo no interior da floresta. O Yanna possui ainda 8 lanchas (ou “voadeiras”, como elas são conhecidas na Amazônia) de 50 HP, que podem chegar a 50 km/h. O comandante é Nílson Gurgel Marinho, de 40 anos, natural de Manaus. Enfim, a pesca A cada dia de pescaria, um desafio e tanto: teríamos de pegar o nosso próprio almoço. Mas ninguém desanima. Às cinco da manhã, todos já estão de pé, animados e dispostos. Às 6 horas, ao raiar do sol, as lanchas saem. Rio acima, rio abaixo. Todas em busca do local mais propício para pegar muitos peixes.
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OS TUCUNARÉS GARANTEM A ADRENALINA.
CAPTURAR ESSE PEIXE “BRIGÃO” EXIGE PERÍCIA A pesca do tucunaré – o peixe mais visado pelos nossos companheiros de jornada – não é aquela em que você joga a linha e fica pacientemente aguardando o peixe morder. Ela é ativa: o pescador faz o arremesso e recolhe em seguida. Como este peixe é um predador altamente voraz, ele confunde a isca com o alimento e a ataca. É a hora de recolher a linha e enfrentar uma boa briga. A espécie é considerada a mais esportiva do mundo, entre as de água doce. “O tucunaré é forte, briga, salta, tenta escapar da isca e faz de tudo para fugir”, explica Alexandre Mussi Fortes, 43 anos, pescador desde os 15. Quanto ao almoço, nada com que se preocupar. O resultado da manhã serviu para comprovar por que a Amazônia é considerado um templo da pesca esportiva no planeta. Não faltaram ação, fisgadas, histórias e, é claro, muitos peixes. Que, assados logo após serem retirados das águas, em fogueiras improvisadas no meio da floresta amazônica, têm um sabor único, especial.
Pesca noturna Mas a atividade não se desenrola somente durante o dia. À noite, a pesca é a dos chamados peixes de couro, como o surubim, o pirarara e o jaú. Sua captura é diferente: é utilizada uma isca viva, como pedaços de carne ou pequenos peixes. A pesca é feita em poços ou baixios, onde essas espécies se encontram, e são utilizados chumbos, para que a isca vá até o fundo do rio. O equipamento também é diferente: varas maiores, linhas mais resistentes e carretilhas e anzóis de grande porte. Na noite amazônica, o silêncio e a escuridão são totais, apenas quebrados pelos relâmpagos, trovões e pelo barulho dos motores. E pelos quatro conjuntos de luzes que se movimentam rapidamente sobre o espelho d’água. Se de dia já é difícil não se perder nos inúmeros igarapés da região, à noite a situação é ainda mais complicada. É praticamente impossível saber em que ponto estamos e, principalmente, onde o peixe se encontra. Mas insistimos em localizar um poço em que eles se escondem.
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A FLORESTA AMAZÔNICA É UM MAR DE VERDE Durante a espera, é interessante prestar atenção em outras características da região. E uma das que mais impressionam é o céu da Amazônia à noite. Na escuridão da floresta, a quantidade de estrelas no céu é enorme. São constelações e mais constelações, formando um espetáculo belo e silencioso. Uma, duas horas. O tempo se arrasta, e as mordidas são raras. A pescaria passiva, ao contrário da do tucunaré, exige muita paciência. A ação é praticamente inexistente. Em compensação, a conversa – embalada por goles de uísque e cerveja – é excelente. Subitamente, uma lanterna pisca do outro lado do rio. E de novo. E de novo. Três piscadas curtas, três longas, três curtas. S.O.S. Uma lancha com defeito. Saímos em seu socorro. A pescaria noturna termina sem resultados práticos. Mas com mais uma boa história para contar. Experiência inesquecível Na tranqüilidade da Amazônia, os seis dias passam voando. Os problemas e preocupações cotidianos
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são imediatamente esquecidos, tão logo você mergulha no mar verde da floresta amazônica. O stress parece sair pelos poros da pele, e o contato com a fauna e a flora exuberante são motivos mais que suficientes para você não querer voltar à rotina habitual. Além disso, há a relaxante sedução da pesca esportiva. A batalha com o tucunaré é realmente empolgante, e a briga com o peixe é uma emoção para nunca mais ser esquecida. Ou, nas palavras do administrador Carlos Della Valle, 45 anos, pescador há 30: “É mais do que um esporte. É uma terapia, que relaxa de uma maneira fantástica”. Os peixes são um caso à parte. A diversidade, o tamanho e a quantidade impressionam até mesmo o pescador mais experiente, o que faz todos aqueles iniciados realmente sonharem em um dia ter o privilégio de pescar na Amazônia. Como resume Eduardo Macedo: “Eu sempre digo que, se tudo der errado, o visitante terá a melhor pescaria da sua vida. E não tenho queimado a língua”. Paz, natureza, saúde. Sem dúvida, uma experiência inesquecível.
Bom conselho P O R M A LU C O E L H O
TEM GOSTO PRA TUDO! Algumas pessoas preferem café no estilo tradicional, torrado e moído, passado em coador com água quase fervendo. Só o cheirinho do café já nos embriaga, de tão delicioso que é. Os mais práticos gostam do café de preparo rápido, granulado, que, se for de boa qualidade, mantém o aroma e o sabor originais. Para misturar ao leite, o café em pó cai muito bem. Existem maneiras e tipos de café para todos os gostos. Quem costuma freqüentar as casas especializadas no ramo tem à sua escolha uma série de formas de preparo. Mais forte, mais fraco, com leite, com espuma, com bebidas alcoólicas, com outros ingredientes, etc. O café é tão popularizado no mundo que até música já fizeram para ele. Não é para menos: o produto trouxe riqueza para muitos e disposição para tantos outros. Tem gente que não consegue trabalhar ou estudar sem aquele cafezinho. Você sabia que das 4 mil substâncias conhecidas que estimulam o nosso paladar, o café consegue agrupar até 800?! É por isso que ele é uma bebida tão deliciosa. Lembre-se: na hora de comprar o seu café escolha marcas conhecidas e que possuam selo de qualidade; é a sua garantia de adquirir um produto com qualidade e sabor testados.
VIRTUDES DO CAFÉ A HUMANIDADE ADOTOU O CAFÉ COMO BEBIDA MATINAL PORQUE ELE ESTIMULA O CÉREBRO. TAMBÉM DIMINUI A INCIDÊNCIA DE APATIA E DEPRESSÃO. ESTIMULA A MEMÓRIA, ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO. PODE AJUDAR A PREVENIR O CONSUMO DE DROGAS E DE ÁLCOOL. O COMPONENTE MAIS CONHECIDO E VALORIZADO DO CAFÉ É A CAFEÍNA, RESPONSÁVEL PELO ESTÍMULO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL. ENTRETANTO, ALÉM DA CAFEÍNA, O CAFÉ POSSUI OUTROS COMPONENTES, TALVEZ MAIS IMPORTANTES PARA O SER HUMANO, QUE SÃO AS LACTONAS. SÃO ELAS QUE ATUAM SOBRE O CÉREBRO, DE FORMA TAMBÉM BENÉFICA, QUASE NA MESMA PROPORÇÃO DA CAFEÍNA. SE VOCÊ QUER APRECIAR UM CAFÉ COM SABOR DE INVERNO, MAIS “PESADINHO”, TENTE O CAPPUCCINO. SE PREFERE UM CAFÉ MAIS FORTE, O EXPRESSO CAI BEM. MAS SE O VISUAL É O QUE DESPERTA SUA ATENÇÃO, ESCOLHA O CAFÉ COM CHANTILLY, QUE É, TAMBÉM, O MEU PREFERIDO.
HÁ SEMPRE UM CAFÉ PERFEITO PARA CADA PALADAR. QUAL É O SEU?
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Popstar POR
P AU L A
TA I T E L B AU M
FOTOS
A N G E L A
FA R I A S
ELA É UMA POP STAR. BASTA CHEGAR EM ALGUM LUGAR PARA QUE OS FLASHES DOS FÃS PIPOQUEM. ENQUANTO EU ESPERAVA, NO SAGUÃO DE UMA EMISSORA DE TV, OUVI SENHORAS ELOGIANDO SUA MAQUIAGEM E SEU NAMORADO. UM ATESTADO MOR DE QUE EU ESTAVA PRESTES A CONVERSAR COM UMA CELEBRIDADE. QUANDO ELA ENFIM VEIO FALAR COMIGO, DEPOIS DE PARTICIPAR DE UM PROGRAMA ESPORTIVO, DISSE COM A FIRMEZA DOS QUE CAEM SEMPRE DE PÉ: “TENHO SÓ CINCO MINUTOS, VIM A PORTO ALEGRE PARA DESCANSAR”. DAIANE DOS SANTOS TEM 1,45M. EU TENHO 1,80M. MESMO ASSIM, NAQUELE MOMENTO, EU ME SENTI MINÚSCULA AO SEU LADO. TUDO PORQUE A FORÇA DE DAIANE É UMA COISA ABSURDA. UMA FORÇA QUE VEM DE DENTRO E EXPLODE ALI, NAQUELAS PERNAS QUE VOCÊ JÁ SABE DO QUE SÃO CAPAZES. COMO CINCO MINUTOS NÃO SERIAM SUFICIENTES PARA MIM, CONSEGUI UM LUGAR NO CARRO PARA IR JUNTO COM ELA ATÉ UMA PRONTA-ENTREGA DE ROUPAS ESPORTIVAS. DAIANE NEM SE IMPORTOU DE TER QUE IR ESPREMIDA ENTRE MIM E O NAMORADO. RESPONDEU PRONTAMENTE A TODAS AS MINHAS PERGUNTAS, FALOU NO CELULAR COM AS AMIGAS E MOSTROU QUE OSCILA ENTRE UMA MULHER MADURA E UMA GAROTA COMO TANTAS OUTRAS DA SUA IDADE.
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Perfil EU PASSO MUITO CREME, DEMORO HORAS NO BANHO. TENHO BASTANTE CUIDADO COM A ESTÉTICA, TÔ SEMPRE DE RÍMEL
HOJE, O QUE TE DEIXA MAIS FELIZ E O QUE TE DEIXA MAIS ESTRESSADA? O que me deixa mais feliz é o reconhecimento das pessoas, das crianças, principalmente. E o que mais me irrita é a falta de privacidade. Hoje tá um pouco complicado sair na rua sem ser reconhecida, mas eu tô tentando administrar isso. (Nesse momento o celular de Daiane toca, é uma amiga, ela combina um encontro)
Tem, tem, tem TPM... Rola sim. E uma coisa que me deixa de mau humor é assim, combinar uma coisa comigo e fazer tudo diferente. Se marcou é aquilo e acabou. Não tem conversa. Se fizer tudo direitinho eu não vou ficar estressada. Minha paciência tem limite, assim como a de todas as pessoas.
E SE TU ESTIVERES ASSIM, INCOMODADA, ANTES DA COMPETIÇÃO, COMO É QUE FAZES?
Dá, dá sim.
Eu administro bem essa parte, dentro do ginásio e fora dele. Eu acho que os problemas que existem fora, a partir do momento em que tu entras na porta, precisam ser esquecidos.
E AONDE É QUE TU VAIS QUANDO ESTÁS EM PORTO ALEGRE?
O QUE TU PENSAS ANTES DE ENTRAR NO GINÁSIO? TU REZAS?
A gente marca alguma coisa na casa de alguém, sai pra jantar, vai em alguma balada.
Todos os dias eu rezo. Mas acho que no dia tem uma reza mais especial.
TU SABES COZINHAR?
E NA HORA?
Nada, nada, nada, nada.
É mais concentração mesmo.
COMO É A TUA ALIMENTAÇÃO?
E NO SALTO, PASSA ALGUMA COISA PELA TUA CABEÇA?
Bom, eu e as outras ginastas temos nutricionista, gente que faz a nossa comida. De manhã, tomamos café normal. Meiodia, tem um prato quente, uma salada e uma sobremesa. De tarde, a gente come lanche, um chocolate, uma fruta, alguma coisa assim. Depois do treino tem um jantar e acabou...
Na hora, passa o que eu tenho que fazer, já tá tudo automatizado...
DÁ PRA CONTINUAR SAINDO COM AS AMIGAS?
TU ÉS PERFECCIONISTA? Acho que todo mundo que trabalha com esporte tem que ser perfeccionista. Não tem meio-termo.
NÃO DÁ UM DESEJO DE COMER ALGUMA OUTRA COISA DE VEZ EM QUANDO? ALGO QUE FUJA DO CARDÁPIO DA NUTRICIONISTA?
QUANTAS MEDALHAS TU TENS?
Dá, claro, ninguém é de ferro, mas não dá pra exagerar muito. Eu sou chocólatra, sabe? Não vivo sem chocolate, não consigo.
Eu nunca contei, procuro não contar. Mas são muitas. Eu acho que não é o número que conta. Guardo todas elas na casa da minha mãe. Tenho meu quarto lá.
TU JÁ DISSESTE QUE DE VEZ EM QUANDO FICAS DE MAU HUMOR. E TPM, TEM? (Nesse momento, Ramón, o namorado, balança a cabeça afirmativamente)
SENTES SAUDADES DA CASA DA TUA MÃE?
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Eu sinto, mas agora já tô mais acostumada. É até um pouco difícil ficar em casa.
Perfil
NO SUPERMERCADO, ADORO COMPRAR COISINHAS... COISINHAS PRA COMER, COISINHAS PRA CASA, CDS
QUAIS SÃO OS TEUS PLANOS? A GENTE SABE QUE VIDA DE ATLETA TEM UM TEMPO CURTO. TU PENSAS EM SER TÉCNICA?
DÁ PRA CONCILIAR NAMORO, FAMÍLIA, AMIGOS?
VOCÊS PENSAM EM CASAR E TER FILHOS? (JURO QUE EU FIZ ESSA PERGUNTA SÓ PORQUE O NAMORADO ESTAVA JUNTO)
Eu tenho mais ou menos a mesma rotina desde os 11, 12 anos. Pra ser bem sincera, eu já tô mais do que acostumada. Sempre treinei dois turnos, estudava de tarde, agora estudo à noite (ela cursa faculdade de Educação Física, em Curitiba). Então consigo conciliar, sim. Nem sempre tu consegues fazer o que tu queres, mas normalmente dá pra organizar. Se eu correr bastante, consigo fazer o que quero.
Não, não dá. A gente é muito novo pra pensar nisso. As coisas no Brasil são muito difíceis. As pessoas têm que estar muito estruturadas.
TU NUNCA FICAS CHATEADA POR TERES QUE ABRIR MÃO DE ALGUMA COISA?
TU FALAS DE UM JEITO SUPERMADURO... O ESPORTE TE FEZ MAIS RESPONSÁVEL DO QUE AS OUTRAS MENINAS DA TUA IDADE?
Não. Óbvio, às vezes eu fico assim, nossa, furiosa, porque eu não posso fazer tal coisa que eu quero muito. Mas depois que a cabeça esfria fica bem melhor.
O tempo de um atleta depende muito do desgaste físico e psicológico. Se eu fosse técnica, seria de crianças pequenas, mas o que eu quero mesmo é trabalhar com crianças especiais, crianças com síndrome de Down.
(Novamente o namorado se manifesta balançando a cabeça) Com certeza, vem da ginástica, porque tu entras num ritmo super-regrado. Tal coisa naquela hora é assim. É assim que tem que ser e acabou, entendeu? Isso faz tu amadureceres muito rápido.
DÁ PRA PERCEBER QUE TU ÉS SUPERVAIDOSA, QUE GOSTAS DE TE CUIDAR. TENS ALGUM CUIDADO ESPECIAL? ALGO QUE TU NUNCA DEIXES DE FAZER? Eu passo muito creme, demoro horas no banho, sabe? Tenho bastante cuidado com a estética, tô sempre de rímel, essas coisas.
SEMPRE FOI ASSIM OU É POR CAUSA DA MÍDIA?
QUAL O TEU SIGNO? Sou de Aquário...
TU GOSTAS DE LER? Tem um livro que eu sempre levo nas competições, ele se chama “Mil e uma maneiras de viver melhor”. É um livro bem legal. Já acabei de ler, mas toda vez que eu preciso eu releio. É bom.
POR QUE É BOM? São histórias que se passaram na vida das pessoas e então elas perguntam pro autor o que ele faria na situação delas. São conselhos de vida, é bem legal, eu gosto.
Não, é uma coisa minha...
PASSATEMPO?
TENS ALGUM CONSELHO QUE TU GOSTARIAS DE DAR PARA AS PESSOAS?
Eu gosto de ir ao cinema de vez em quando. Adoro teatro, mas não tenho tido muito tempo pra isso e, dependendo, tô sempre na casa dos meus amigos, conversando.
As pessoas estão acostumadas a desistir muito fácil do que elas querem. Eu acho que se elas fossem mais persistentes, alcançariam mais rápido seu objetivo.
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COM CERTEZA, MEU MAIOR SONHO, AGORA, É SER CAMPEÃ OLÍMPICA
QUAL O TEU ÍDOLO?
QUE TIPO DE COISINHAS?
Ayrton Senna, pela pessoa que ele foi, pelo que ele fez, pela história que ele deixou no Brasil.
Coisinhas pra comer, coisinhas pra casa, CDs.
QUAL O ÚLTIMO CD QUE TU COMPRASTE? LEMBRAS? CIDADES DO MUNDO? NÃO VALE DIZER PORTO ALEGRE. Se eu fosse morar em algum lugar, eu certamente moraria na Espanha, em Madri. Se não fosse em Madri, moraria em Sydney, na Austrália, um lugar superbom, tem praia, o povo é muito legal. Tem muito brasileiro lá, o consulado é acessível.
Eu comprei um da Norah Jones.
TU ACHAS QUE COMPRAS MAIS DO QUE DEVERIA? Eu acho que às vezes tem o exagero, mas eu guardo bastante também.
GUARDAS PARA ALGUMA COISA ESPECÍFICA? E A LÍNGUA? TU TE COMUNICAS BEM? Espanhol, normal, fluente. Inglês, mais ou menos, mas nada que eu vá morrer de fome.
Sim. Eu já tenho uma casa, mas quero comprar um outro apartamento. Não aqui, mas em Curitiba.
TU CONSIDERAS UM DOM O QUE FAZES NA GINÁSTICA? TU ÉS MIMADA? TODO MUNDO FAZ AS TUAS VONTADES POR TERES ALCANÇADO TODO ESSE SUCESSO? Eu acho que não, acho que nem tem que fazer. Não precisa disso porque... como eu posso falar... isso, do jeito que tá hoje, um dia vai acabar. E quando as pessoas se acostumam com as coisas e elas acabam, muitas vezes é difícil voltar à realidade. Então eu não quero ser mimada, eu mesma resolvo as minhas coisas independentemente.
Pode ser que seja, mas eu já vi várias pessoas com um dom e que não chegaram lá. Pra tu seres bom tens que ter persistência. Nada cai do céu. Tudo depende de ti, se tu queres chegar em algum lugar. Tu é que vais te virar sozinho, entendeu? Tipo, se eu tô aqui, hoje, eu tive que me virar pra isso. Eu acho que tem que ser assim mesmo, senão tu nem dás valor.
QUAL O TEU MAIOR SONHO? TU VAIS AO SUPERMERCADO? Ai, sabia que eu adoro supermercado?
É? EU JURAVA QUE TU RESPONDERIAS QUE NUNCA VAIS AO SUPERMERCADO... A gente adora ir (as ginastas de Curitiba). Vira e mexe a gente quer ir no supermercado.
POR QUÊ? Ai, eu sou meio consumista (parece sentir-se culpada por isso). Eu não era assim, mas depois... Eu adoro comprar coisinhas...
Com certeza, meu maior sonho, agora, é ser campeã olímpica. Eu tô correndo atrás do que quero.
TERMINEI A ENTREVISTA NO EXATO INSTANTE EM QUE CHEGAMOS NA PRONTA-ENTREGA DAS ROUPAS ESPORTIVAS. LÁ, FIZEMOS AS FOTOS DA MATÉRIA, CONVERSAMOS MAIS UM POUCO E EU PRESTEI ATENÇÃO EM CERTOS DETALHES. OS TIC TACS DO CABELO E O PIERCING DO UMBIGO SÃO EM FORMA DE ESTRELAS. DAIANE BRILHA. OS BRINCOS SÃO DUAS BORBOLETAS. DAIANE VOA.
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Assim, ó... LUÍS AUGUSTO FISCHER
CHEGA DE CAFÉ DE CHALEIRA! De vez em quando, até o gaúcho vira as costas pra Tradição O ano era 1971, quase certamente; o ator era Paixão Côrtes, imagem viva do gauchismo tradicional; o cenário era um fogo de chão, com uns gaúchos caracterizados por ali, na volta, e uma chaleira aquecendo, para fazer um café. A ação: Paixão Côrtes, pilchado e tudo, chega ao fogo, chuta a chaleira e diz, olhando para a câmera: "Chega de café de chaleira!". E aí apresentava um vidro de café solúvel de certa marca (Dínamo). Dá pra imaginar isso? Há quem diga (é o que se lê no ótimo estudo de Nilda Jacks, Mídia nativa – Indústria cultural e cultura regional, Editora da UFRGS) que se trata da primeira campanha publicitária gauchesca, que utiliza o universo gauchesco como cenário e ambiente. Talvez não seja a primeira, mas não importa: é porém certo que quem era vivo naquela já remota época guardou na memória a frase, o verdadeiro comando proferido, em alto e bom som, pelo representante mais significativo do tradicionalismo. Tratava-se de um paradoxo vivo: era como se o Antigo estivesse sendo varrido do mapa pelo Novo, pela mão daquele que era e é uma espécie de profeta, de sacerdote, de ícone da Tradição. (Isso sem falar na imensa qualidade humana dele, João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, que além de pesquisador do folclore e da cultura popular é, com mais de 70 anos, dançarino dos mais hábeis, conhecedor de dezenas de bailados gaúchos.) Café de chaleira, a coisa, parece que é a forma primitiva de fazer café, desde o mundo árabe, de onde se origina a planta que os antigos cronistas chamavam de "preciosa rubiácea". Alguma vez presenciei a feitura de um café de chaleira: põe-se água para esquentar numa chaleira (de ferro, naturalmente, a única disponível no mundo antigo e a única capaz de resistir à chama direta); quando ela começa a evaporar, bota-se o pó do café diretamente na água, mexe-se um pouco e, com a destreza necessária, joga-se dentro da
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chaleira uma brasa. O efeito, que eu não arrisco descrever em termos químicos, é que o pó se precipita, para o fundo da chaleira, ficando a água transformada no que chamamos café. Resta alguma borra, naturalmente. Além disso, é preciso cautela para não servir um eventual pedaço da antiga brasa, retransformada em carvão após o mergulho súbito no líquido. No mais, é uma bebida decente, e terá sido, ao longo de muito tempo, a única forma de preparar o café em caravanas pelo Oriente Médio e Ásia Menor, em tropeadas pelo Rio Grande do Sul antigo, anterior ao trem e ao caminhão ganadeiro. O café antigo, tradicional, venerável. Aí chega Paixão Côrtes e diz que chega dele, do café de chaleira. A frase ficou ecoando muito tempo, a ponto de ser repetida ainda hoje, por testemunhas da época. (Aqui entre nós dá para dizer que eu cheguei a incorporá-la no meu Dicionário de Porto-Alegrês, como frase corriqueira. Ainda será conhecida e usada?) E por quê? Meu palpite é que ali estávamos encenando um de nossos dramas prediletos: era mais uma representação da identidade gaúcha, que se vê como séria e antiga, respeitadora das tradições, mas que de vez em quando quer renovar seu estilo de ser e viver, acolhendo o novo. Uma representação de nossa vida, tal como nós, gaúchos, a inventamos ao longo do tempo. Nessa arena identitária, há uma palavra decisiva, que é tradição. Aparentemente inocente e unívoca, ela guarda em si um paradoxo: a partir da matriz latina traditio, que tem a ver com dar, entregar, se desdobram duas significações opostas para o nosso caso – de um lado, trair (entregar ao inimigo), e de outro, preservar (entregar às novas gerações). Tradição, traição, dois sentidos opostos mas reunidos na cena do café solúvel. LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR