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Cultura e Cidadania

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Intitucional

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Foto: divulgação

Realidade na tela

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Democratizar o acesso ao cinema nas periferias e comunidades tradicionais, por meio de capacitação em audiovisual e fomento às produções locais são os objetivos do projeto “Telas em Movimento”, que chegou à quinta edição.

Nascido em 2019, o projeto, que tem como idealizadora e coordenadora a cineasta paraense Joyce Cursino, conta com apoio da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP), da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel) e da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Pará (Proex). As edições são construídas coletivamente, com a participação de caciques, lideranças comunitárias, organizações sociais, comunicadores populares e produtoras independentes, em diversas localidades da Amazônia Legal. “O projeto estimula uma nova dinâmica de criação, percepção e distribuição das narrativas amazônicas, por meio de formação audiovisual com a juventude, além de debates e circuito de exibições nos territórios de atuação”, resume Joyce.

Segundo ela, em 2022, por meio de emenda parlamentar, tendo a FADESP para intermediar o apoio, e com gerência da professora e cineasta Jorane Castro, o projeto conseguiu expandir o campo de atuação, passando a alcançar dez territórios, que produziram dez curtasmetragens – os quais foram exibidos no Festival de Cinema das Periferias

Foto: Luis Carlos Lobo

Joyce Cursino

e Comunidades Tradicionais da Amazônia, ocorrido entre os dias 3 e 5 de setembro, no Portal da Amazônia, em Belém.

Ao todo, foram dez oficinas realizadas, com 100 alunos participantes e aproximadamente duas mil pessoas envolvidas, direta e indiretamente, nas vivências ocorridas nos territórios. Apenas nos três dias de Festival, foram 12 exibições e 240 horas de trabalho.

A estudante de cinema e produtora audiovisual do bairro da Terra Firme, em Belém, Izabela Chaves, de 28 anos, foi uma das oficineiras do projeto no bairro em que cresceu, pois esse é um dos princípios do projeto: que pessoas de cada território possam compartilhar o conhecimento que já têm com seus

Foto: Theuly Reis

pares. Para ela, a experiência foi rica, por poder devolver à sociedade um pouco do conhecimento que absorve dentro da Universidade. “O ‘Telas’ envolve pessoas do próprio lugar e pessoas da periferia, gente como eu, que facilita essas oficinas, então é uma educação entre pares. A gente dialoga sobre aquilo que a gente vive dentro da comunidade, então é muito mais prazeroso, porque também é sobre formar pessoas e dar acesso à linguagem cinematográfica, já que, por muito tempo, o cinema foi um lugar de privilégio”, analisa.

Para Izabela, o celular, que é um equipamento mais barato do que a maioria dos equipamentos cinematográficos, facilitou esse acesso, mas a linguagem do cinema, de maneira geral, também precisa ser adaptada. “Como construir um roteiro de ficção, por exemplo: a gente faz algumas coisas básicas com os alunos, como construir uma ou duas cenas de brincadeira, cenas que remetem a algum problema da comunidade, como [falta de] água, saneamento, enchente, porque, no nosso caso, a Terra Firme ainda é muito impactada pelo racismo ambiental e pelas mudanças climáticas. Essas questões atravessam a gente. Pra mim, portanto, foi um momento muito especial”, detalha.

Já o músico, professor de música e ativista social Pawer Martins, de 31 anos, foi articulador do projeto na Vila da Barca. Ele ajudou a mobilizar os jovens a participarem da iniciativa no local. Por lá, eles produziram um minidocumentário sobre a realidade da Vila. “Teve uma importância muito grande, porque a Vila da Barca é uma das maiores comunidades da América Latina e que tem o saneamento muito precário. O acesso à água também ainda é muito precário. Então, o vídeo deu uma visibilidade muito grande pras nossas questões”, conta.

Segundo Pawer, esse material, disponibilizado para o mundo por meio das redes sociais, já alcançou diversos países e, além da atenção obtida, também evocou um sentimento de orgulho à comunidade

Foto: Eli Pamplona

Izabela Chaves

Pawer Martins Foto: Arquivo pessoal

que participou. “A gente levou quase 15 jovens da comunidade para o Portal da Amazônia, onde eles puderam assistir ao vídeo que produziram e ficaram muito emocionados. Eu fiquei muito feliz com o resultado da autoestima, embora os vídeos, não só o da Vila da Barca, mas de vários bairros, tenham apresentado uma realidade bem dura e parecida. Em pleno século 21, muita gente ainda enfrenta o problema da falta de água e do saneamento, então, dá uma indignação de ver as situações que a gente viu nos vídeos, mas todos ficamos muito animados pelo resultado”, critica.

Segundo a coordenação do projeto, a internet é o principal canal de comunicação das ações do “Telas em Movimento”. Ao todo, mais de 100 mil contas digitais já foram alcançadas pelas mídias sociais do projeto.

No canal do Youtube do “Telas em Movimento” é possível assistir aos vídeos já produzidos a partir das oficinas do projeto. Acesse o QR Code.

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