Revista Fraude #8

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Ano 7 - nº 8 - Salvador/Bahia - 2010

As narrativas cinematográficas de

Jorge Amado

A Copa 2014 e seu projeto sustentável

Couchsurfing: o A difusão da smoking culture mundo de sofá em sofá em Salvador


Turma de 2010 8

Editorial

Estampamos na capa. A Fraude é Bahia, Salvador. É Jorge Amado. Mantemos o foco na capital baiana, a começar justamente pela nossa matéria em destaque, que traz a relação entre o cinema e a literatura de Jorge Amado. Dentre outros temas, falamos também dos novos estilistas soteropolitanos, das obras para a Copa do Mundo de 2014 em Salvador, além de traçar um perfil em fotos do fotojornalista baiano Fernando Vivas. Fugindo aos assuntos da terra de Quincas, trazemos nesta edição a curiosa prática do Couchsurfing, uma entrevista com Gustavo Guimarães, criador do programa “Hermes e Renato”, e, ainda, uma impressão em quadrinhos do São João de Campina Grande. Neste ano, reformulamos o projeto gráfico. Como o leitor perceberá facilmente, mais fotografias compõem as matérias, as fontes foram modificadas para facilitar a leitura e um pouco mais de cor apareceu – as ilustrações infantis de Elisabeth Teixeira agradecem. E, claro, fomos além. Não nos limitamos ao papel, trazendo uma revista que se completa na web: revistafraude.com. Ou seja, pela primeira vez as matérias da Fraude são multimídia, com conteúdos que interagem a partir do impresso e do online, com vídeos, mais fotos e informações. E a Fraude continua uma fraude? Basta observar nossas próprias identidades fraudadas ao lado para tirar uma conclusão. Mas, afinal, por que falar em baianidade e, logo nestas duas páginas iniciais, representar um anuário de um high school americano qualquer? Contradição, bipolaridade, ironia? Deixemos o leitor decidir. Algo é certo: a Fraude continua um produto de jornalismo cultural inteiramente produzido pelos bolsistas do Programa de Educação Tutorial da Facom/Ufba e colaboradores, com a orientação de sua tutora. Resta-nos dizer: boa leitura. E fraude-nos o quanto quiser.

Abigail Woods

Alabama King

Danny Burns


Erik Kirkpatrick

Ginger Friendly

Jesús Moreno Estrada

Shoreh Teymourian

Sunshine Flowers

Tyronn Thomas

Kimberly Jones

LaToya Simpson

Ryan O’Brien


um guia para a fraude

VICE VERSA 06 Os dois lados do aborto MEIA ENTRADA 08 Novos Baianos da Moda

Os estilistas que estão fazendo a moda da Bahia acontecer 12 Jorge Amado até no cinema As narrativas do escritor baiano voltam ao cinema 15 Entrevista Pornochanchada, Hermes e Renato, videoclipe, publicidade e muito mais sobre Gustavo Guimarães

COTIDIANO 18 2014

O ano que pretende mudar Salvador e o Brasil de forma sustentável. Mas até que ponto? 22 Fotojornalismo em dobro A rotina do fotógrafo baiano Fernando Vivas revelada em imagens 24 Onde há fumaça... A expansão da smoking culture entre o público soteropolitano 27 Medicina alternativa em Salvador Uma viagem ao universo das terapias holísticas

CIBER 30 Caiu na rede

Pesca do dia: publicidade digital

33 Copie, compartilhe, distribua

Conheça as propostas com as quais o Partido Pirata Brasileiro pretende transformar a política nacional 36 Couchsurfing A rede social em que as pessoas podem “conhecer o mundo” sem sair do sofá... da casa dos outros

IMAGINANDO 39 O maior São João do mundo

Retrato em HQ do tradicional São João de Campina Grande 42 A aquarela d’Elisabeth Teixeira A autora e as mais belas ilustrações que povoam o imaginário infantil E ainda: confira material extra das matérias em revistafraude.com


quem faz a fraude Tutora Petcom: Graciela Natansohn Editor-geral: Leonardo Pastor Editor Ciber: Nelson Oliveira Editora Cotidiano: Marília Moreira Editora de Fotografia: Agnes Cajaiba Editora Imaginando: Flávia Santana Editor Meia Entrada: Luis Fernando Lisboa Diretor de arte: Renato Oselame Diagramação: Karina Ribeiro, Leonardo Pastor, Marília Moreira e Renato Oselame Assessoria de comunicação: Amana Dultra, Eduardo Coutinho, Nelson Oliveira e Vitor Villar Produção do lançamento: Bruna Cook, Flávia Santana, Marcelo Argôlo e Tais Bichara Redatores: Ananda Lima, Flávia Santana, João Araújo, Karina Ribeiro, Leonardo Pastor, Luís Fernando Lisboa, Marcelo Lima, Marília Moreira, Nelson Oliveira, Renato Oselame, Tais Bichara e Verena Paranhos Fotos de Capa e Editorial: Agnes Cajaiba/LABFOTO

agradecimentos

À gráfica Cartograf pelo apoio na impressão desta revista. A Elisabeth Teixeira pelas ilustrações infantis que encantam nossas últimas páginas e a Jônathas Araujo por auxiliar no tratamento da imagem de nossa capa. A Lumena Aleluia e a Akinyemi Santa Rita por participarem como modelos no nosso ensaio fotográfico da matéria de Jorge Amado. A todas as bandas convidadas para a festa de lançamento da revista: Pirigulino Babilake, Suinga e também ao DJ Camilo Fróes. Ao programa Pelourinho Cultural, da Secretaria de Cultura da Bahia (Secult) e ao Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (IPAC) por cederem a praça Quincas Berro d'Água e toda infraestrutura que ajudou a tornar o nosso evento possível.

A revista Fraude é uma publicação do Programa de Educação Tutorial da Faculdade de Comunicação (Petcom) da Universidade Federal da Bahia. O PET é um programa mantido pela Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação, e é através do orçamento anual destinado ao Petcom que é paga a impressão da revista. As opiniões expressas neste veículo são de inteira responsabilidade dos seus autores. Ano 7, número 8, novembro de 2010 Salvador - Bahia. Tiragem: 1000 exemplares. End.: Rua Barão de Geremoabo, s/n, Ondina, Salvador, Bahia - Brasil. Tel.: 3283-6186. E-mail: petcom@ufba.br www.petcom.ufba.br www.revistafraude.com


Mesmo tema

Agnes Cajaiba/LABFOTO

A antropóloga Débora Diniz faz perguntas ao Padre Adilton Pinto sobre o aborto e...

Vice edição Karina Ribeiro e Ananda Lima

Padre Adilton Pinto Lopes, Doutor em Teologia, especialista em Mariologia e biólogo. Pároco da Basílica de Nossa Senhorada Conceição da Praia (Salvador – BA).

Débora Diniz: Por que o Estado deve regulamentar o aborto? Padre Adilton: O Estado não deve buscar regularizar o aborto, mas deve garantir que todas as mulheres possam ser tratadas e acolhidas no processo de gestação. Quando se legaliza o aborto é como se o Estado estivesse promovendo de modo maciço o assassinato de seus próprios filhos e, ao fazer isso, deixa de ser um Estado livre, democrático. O direito fundamental do ser humano é o direito à vida, da concepção até o fim. Logo, o embrião humano deve ser reconhecido como sujeito de direito e ter sua vida legalmente respeitada. D.D.: O Estado tem direito de forçar uma mulher a manter uma gravidez indesejada ou resultante de violência sexual? Pe. A.:Quem deve ser punido pelo estupro é o agressor, não a criança. Quando a mulher gera um filho fruto de estupro, provocar o aborto seria acentuar ainda mais a violência que sofreu. A mulher tem o seu direito, mas a vida que ela traz em seu ventre

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também tem. Se a mãe não puder cuidar do seu filho, não deveria abortá-lo, mas pensar nos casais que não tiveram a graça de conceber, e que gostariam de acolher essa criança. Segundo a Igreja, uma criança deve ser sempre gerada no interior do matrimônio e não deve pagar com a vida, numa gravidez indesejada. A partir do momento em que a mulher concebeu, não existem motivos para que pense em assassinar o seu filho. D.D.: A mulher deve punida por realizar um aborto? Pe. A.:O que deve ser feito é ensinar, sobretudo aos jovens, os valores do amor e do matrimônio, para que eles procurem defender e acolher a vida. No entanto, a punição para a mulher e para aqueles que consentiram com o aborto (marido, médicos) seria deixar a comunhão da igreja. D.D.: As religiões devem influenciar as ações de um Estado laico? Pe. A.:O Estado é laico, mas não quer dizer que o Estado é ateu e que os valores religiosos devam ser deixados de

lado. E se, no Brasil, mais de 90% da população acredita em Deus, podemos concluir que ela é a favor da vida e contra o aborto. Forçar a legalização iria contra nossos princípios de bondade. O Estado deve estar atento à esses valores, para poder respeita-los. Não apenas o cristianismo, mas também o budismo e o espiritismo são declaradamente contra o aborto, a manipulação de embriões humanos e a eutanásia, pois essas ações vão de encontro aos valores da vida. D.D.: As pessoas sem religião devem ser obrigadas a seguir determinações religiosas em um Estado laico? Pe.A.: A defesa da vida não é só questão de religião, é questão de humanidade, de racionalidade, de ética e de moralidade. Cada ser humano deve levantar essa bandeira. Se a nossa sociedade não respeita a vida humana ainda no útero materno, ela não poderá respeitar nada. No momento em que se diz a favor do aborto, ela está se destruindo a si mesma. Deve-se respeitar a vida do próximo, seja ele um adulto, uma criança de três anos, um idoso ou um feto.


Opiniões contrárias

Rodrigo Dalcin/UnB Agência

O Padre Adilton Pinto faz perguntas à antropóloga Débora Diniz sobre o aborto e...

Versa edição Karina Ribeiro e Ananda Lima

Débora Diniz, Doutora em Antropologia, professora adjunta da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis (Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero).

Padre Adilton: Quem era você antes de sua mãe te dar a luz? D.D.: Não tenho como responder, pois o fato não pode existir antes dele mesmo. É como se estivesse fazendo uma pergunta sobre uma associação de coisas que não existem. Essa pergunta é contrafactual do ponto de vista filosófico. Pe. A.: A sua existência como ser humano começou quando? D.D.:Eu só posso responder perguntas que estão dentro de uma matriz democrática e pública, não sobre o que diz a vida para mim mesma. São perguntas teológicas que só um padre pode responder, porque ele vai se fundamentar nas questões pessoais às quais ele se vincula. Não são perguntas para pessoas laicas. Pe.A.: Existe alguma diferença entre matar uma criança recém-nascida, um idoso e uma criança não nascida? D.D.: Há diferenças porque são vítimas diferentes: uma criança recém-

nascida e um idoso. No entanto, a explicação penal é o que vai determinar quais são as diferenças para aquele que matar. Do ponto de vista moral não há como comparar uma criança recém nascida e um idoso, nem definir que vida vale mais a pena ser vivida. Já uma “criança não nascida” não existe, nem para o direito nem para a moral. É uma pergunta religiosa. Pe. A.: Qual deve ser a relação entre religião e Estado na legislação do aborto? D.D.: As religiões podem, dentro das suas próprias comunidades, condenar o aborto. Elas têm o direito de definir sua pauta política, suas verdades morais e fazer movimentos que consolidem essas verdades. Algo muito diferente é impor a crença dessa comunidade a todas as mulheres; crentes ou não crentes, católicas ou não católicas. O Estado deve proteger o direito de liberdade religiosa, mas também conhecer sua soberania em matéria moral. Uma religião, ainda que hegemônica, não tem o direito de ter suas crenças morais representadas em nosso código penal.

Pe. A.: O tema do aborto é apenas uma questão de saúde pública? D.D.:Uma em cada cinco brasileiras acima de 40 anos já fez aborto e mais da metade delas precisou ficar internada após o processo. Além disso, dado o contexto da ilegalidade do aborto, as mulheres recorrem a métodos inseguros. Elas abortam em condições ilegais, colocando a vida em risco, e têm medo de procurar hospitais. Isso determina uma questão de saúde pública. Pe. A.: Quem decide quando se deve nascer ou matar a vida? D.D.: Em uma sociedade verdadeiramente plural e laica, as mulheres são livres para tomar as decisões em que elas acreditam pautadas ou não em crenças religiosas. Hoje, no Brasil, a mulher só é livre para abortar em caso de estupro. Essa criminalização do aborto viola o direito à integridade individual. Muitos pensam que a mulher deve ser presa por realizar um aborto. A maior parte delas é de mães, católicas, evangélicas, trabalhadoras. É isso que nós queremos? Uma sociedade do castigo? Eu diria obviamente que não.

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meia entrada

Novos Baianos da Moda Quem são os estilistas responsáveis pela renovação do cenário da moda baiano? texto Flávia Santana e Luis Fernando Lisboa

As grandes mudanças dentro de um cenário sempre nascem da chegada de pessoas que estão dispostas a apresentar novos modelos de produtos. É exatamente isso que pode ser visto com a nova geração de criadores que surge na moda baiana. Um pequeno grupo que começa e já consegue se diferir dos estilistas baianos dos anos 80 e 90 que eram, em sua maioria, autodidatas. De acordo com Renata Pitombo, doutora em Moda e professora da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), surgimentos como esses sempre fomentam a produção e o consumo local, o que é muito saudável para a moda baiana. “Cada um traz seu estilo, sua marca na criação das peças e mostra uma forte preocupação com o acabamento e a questão da modelagem, por exemplo. Isso é fundamental

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para a consolidação de uma produção local”, afirma. Tininha Viana, produtora de moda e criadora do concurso Novos Talentos Barra Fashion – que há dez anos vem revelando jovens estilistas – destaca que esses novos criadores possuem características bem diferentes daqueles descobertos nas primeiras edições do concurso, que eram mais ligados às artes plásticas. Nomes como Vitorino Campos, Úrsula Félix, Alexandre Guimarães e Tarcísio Almeida passaram a representar a cara da produção fashion da Bahia. Os quatro têm formação em moda e vêm chamando a atenção da mídia nacional por conta das propostas autorais e das suas participações nos eventos de moda mais importantes do país, como o Dragão Fashion (CE), Rio Moda Hype - Fashion Rio (RJ) e

Barra Fashion (BA). “Eles trabalham o design das roupas com inovação e habilidade na construção. Nos seus produtos existe a preocupação com qualidade e acabamento, pensando nas exigências do mercado nacional”, destaca Tininha, que já assinou editoriais na Vogue, RG Vogue e Casa&Jardim. Márcia Luz, jornalista e blogueira de moda, acredita que pessoas de todo Brasil já começam a conhecer o trabalho realizado em Salvador. Isso proporciona aos jovens estilistas terem as suas peças vendidas em lojas conceituadas em todo país. “Cada um deles tem sua história ligada à moda desde pequeno. Eles têm informação e formação; por conta disso, realizam um trabalho embasado”, ressalta a jornalista. Um desses novos designers, Tarcísio Almeida, comenta que eles co-


Ramaiany Valette/LABFOTO

meia entrada Já estava escrito que Vitorino Campos, 22 anos, iria trabalhar com moda. Além de a maior parte do núcleo feminino de sua família ser composto por costureiras, ele passou grande parte da infância entre o atelier de alta costura da tia e a fábrica de fardamentos da mãe, em Feira de Santana. Desde pequeno gostava de brincar fazendo vestidos com massa de modelar e aos 12 anos já fazia seus próprios desenhos. Com 16 anos, veio a emancipação e a responsabilidade de ter sua primeira marca: a Tap Rumbeira. "Ela serviu como um laboratório para o que hoje é a Vitorino Campos. Foi um laboratório de técnica e de conhecimento de mercado consumidor". A loja, que durou três anos, teve sua trajetória interrompida quando Vitorino decidiu estudar moda na UNIFACS em 2007. No ano seguinte, passou no concurso Novos Criadores da Moda, de Vera Pontes, venceu o Barra Fashion em 2009 e participou do Rio Moda Hype em 2010. Além da repercussão nacional, a marca Vitorino Campos alcançou outros continentes em menos de um ano e meio, com direito a indicação pela ELLE espanhola como um dos sete melhores ateliers do Brasil. O comportamento das pessoas é a base de suas coleções. Ao criar roupas para mulheres acima dos 29 anos, ele se inspira nos gestos e modos criando coleções bem trabalhadas. "Eu trabalho para uma mulher que não entra nesses vícios de moda, mas que sabe o que veste. Crio roupas limpas que revelam essa mulher mais madura". No processo de criação, Vitorino leva tudo ao pé da letra sem cair no óbvio. Foi assim que surgiu a sua primeira coleção, Antagonia, que falava sobre as sensações causadas pelo absinto. Nas roupas, nenhum tom de verde: "Eu não estava falando do absinto, do produto. Eu estava falando sobre os efeitos causados por ele".

meçaram a criar suas coleções dentro de um cenário dominado por estilistas que produziam coisas muito parecidas durante um longo período de tempo. “Acreditava-se e vendia-se a ideia de que aquela era a produção fashion em Salvador”, afirma.

Qual a cara da moda baiana? As grandes publicações de moda do país, como Vogue Brasil e ELLE, também começaram a dispensar mais atenção à criatividade baiana, citando vez ou outra um dos novos estilistas da terra. Respeitados fashionistas brasileiros como Iesa Rodrigues, Lilian Pacce e Glória Kalil também falam com frequência sobre a moda da Bahia. Todo esse burburinho sobre o que é produzido aqui suscita uma per-

gunta: pode-se falar de uma identidade baiana de moda? Márcia Luz não acredita na existência de uma característica que aponte para tal identidade e ainda critica a visão estereotipada sobre a produção local. “Fora daqui, quando se fala em moda baiana, pensa-se em roupas artesanais e em cultura afro. As coisas não funcionam assim. Nós temos referências do mundo inteiro”, afirma. Indo pelo mesmo caminho, Renata Pitombo não concorda com a ideia de que a moda da Bahia é negra. Para ela, o Estado é constituído pela multiplicidade de referências e a produção realizada aqui, de alguma maneira, sofre influências desse processo. É possível perceber que os novos estilistas se apropriam dessa variedade de referências, que podem vir de fora ou não,

para criar suas coleções. Úrsula Félix, por exemplo, tem buscado trazer elementos locais e a “brasilidade” para compor o seu novo trabalho, ainda em processo de criação. “É comum as pessoas se inspirarem no que está sendo feito no exterior e copiar. Na verdade, acho que o movimento é inverso. É isso que as pessoas de fora esperam da gente e é o que tenho tentado, aos poucos, fazer: mostrar nossos guetos culturais, nossas bananas, nossos macacos e repaginar tudo isso com um toque moderno e contemporâneo”. Outro representante dessa nova geração, Alexandre Guimarães, acredita que é perda de tempo pensar em uma identidade comum a todos os estilistas daqui. Segundo ele, existem coincidências que até podem gerar alguma identificação entre eles, mas afirma

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meia entrada que cada um tem o seu estilo e trabalho. “É lógico que, por produzirmos em um mesmo lugar, temos referências que se aproximam. Mas, mesmo assim, eu acho que a gente não tem que ficar preocupado com similaridades. É preciso se preocupar com a sua identidade enquanto marca”, conclui.

Uma pedra no meio da passarela

Agnes Cajaiba/LABFOTO

Como esperado, a tarefa de listar todos os problemas da moda baiana não é fácil. Segundo Tininha Viana, a Bahia só tem conseguido marcar presença no mercado nacional em casos isolados porque as dificuldades são inúmeras. Alexandre Guimarães afirma que Salvador não tem unidade e as complicações começam desde a obtenção de tecidos. “80% dos materiais que uso na minha marca são obtidos a partir de fornecedores de São Paulo”, diz. As questões de logística, matéria prima e qualificação são problemáticos fatores destacados por Úrsula Félix. “Acho que o governo e entidades que estejam próximo desse ramo têxtil

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poderiam se unir mais e tentar promover um forte evento”, sugere a estilista. Entretanto, os designers afirmam que expor as verdades não implica pessimismo. Já Vitorino Campos considera que toda programação consegue gerar um bom trabalho. “Eu não acredito nessa coisa que a gente está em desvantagem. É fato que estamos atrás em relação a mão-de-obra especializada, por exemplo: não temos costureiras e nem modelistas”. Para o jovem estilista, o grande problema é a tendência de os estilistas sentirem-se auto-suficientes e acharem que podem fazer tudo sozinhos. A grave consequência é que eles acabam tendo suas marcas sufocadas pelo mercado. “O estilista não pode ser administrador, contador, modelista e desenvolver a coleção, tudo ao mesmo tempo. Isso impede a marca de crescer já que a moda não é feita só por um. Portanto, o designer precisa de uma boa equipe”, complementa Vitorino. Essa auto-suficência foi exatamente o que prejudicou o desenvolvimento das gerações anteriores de estilistas

baianos, de acordo com Tarcísio Almeida. “Eles não se atentaram para o fato de que é preciso organização para a grife conseguir sobreviver. Tanto que a maioria desses nomes antigos não existe mais”, declara. Ele acredita que o diferencial do novo cenário baiano é a necessidade das marcas atuais montarem as próprias estruturas e torná-las viáveis em termos de organização. Com esse pensamento, nos últimos três anos, Tarcísio decidiu focar no gerenciamento da grife e fragmentar o trabalho em “muitas mãos”: agências de contabilidade, comunicação, produtora de moda. Todas trabalham com o estilista e colaboram para que as coleções adquiram a cara de produto. “O meu desejo é organizar mais ainda a estrutura para que tudo seja mais viabilizado ainda”, comenta. Essa organização, naturalmente, proporciona um posicionamento comercial mais forte e possibilita clientes fidelizados para as suas marcas. É com a comercialização e a viabilização dos produtos que as estruturas do mundo fashion são sustentadas.

“Eu não tenho interesse nenhum em fazer uma peça que não possa ser reproduzida, por mais linda que ela seja”, declara Alexandre Guimarães, 25 anos. O foco do seu processo criativo é a técnica. Ele não tem problema em dizer que não se encaixa no estereótipo de estilista criativo, que pega uma folha de papel e faz uma coleção inteira em poucos segundos. Alexandre fez vestibular para Artes Plásticas, mas perdeu por duas vezes consecutivas nas habilidades específicas: na técnica. Aos 20 anos, comprou uma máquina de costura e começou a produzir as próprias roupas porque a sua tia não aguentava mais a quantidade de camisas que ele pedia para ela fazer. No período em que fazia cursinho, inclinou-se para o curso de Design de Moda e se matriculou na Faculdade da Cidade, com 21 anos. “Eu tinha uma vontade de falar algo e escolhi Moda para ser o veículo”. A primeira marca de Alexandre se chamava OSSO e buscava referências no modo de vida dos indigentes. Porém, as peças não eram vendidas e nem tinham muito método. Na metade da graduação, o estilista resolveu fazer um curso no Rio de Janeiro, na Universidade Cândido Mendes. “Passei seis meses no Rio e voltei querendo muito mais técnica na minha produção. Aí, montei a minha marca atual: AL. G.”. Ainda dentro da faculdade, fez a sua primeira coleção: Construções Domésticas, na qual misturou referências domésticas e elementos industriais. Aos poucos, a sua produção foi aumentando e costurar com apenas uma máquina não bastava: “precisei de ajuda e de um local profissional para a marca acontecer”. Depois de quatro anos e nove coleções, a AL. G. vem crescendo de acordo com o fluxo e possui pontos de venda no Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. “O que eu faço hoje tem a ver com vida, com o real”.

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meia entrada Wendell Wagner/LABFOTO

Foi o mundo do teatro que levou Tarcísio Almeida, 24 anos, até a moda. Por conta disso, todos os seus desfiles têm um caráter assumidamente performático. “O desfile e a coleção, para mim, são componentes de um discurso artístico”. Aos 17 anos, Tarcísio ingressou no curso de Direção Teatral da Escola de Teatro da UFBA, e a partir daí começou a ter um contato com figurino e cenografia. Fez estágios e cursos no Teatro Castro Alves, dentro do grupo de Cenotécnica e Figurino, que o levaram a estudar mais sobre modelagem. Decidiu, então, cursar Moda no SENAC - Salvador e Alfaiataria em São Paulo. Com 18 anos, e dentro de um cenário de moda pouco profissionalizado, resolveu montar o seu atelier. “Comecei a participar de bazares, a mostrar as coleções e a ter uma visão comercial para os meus produtos”. Tarcísio ressalta que busca uma comercialização que mantenha a proposta de pesquisa artística por trás das suas coleções: “Não nego a raiz da arte porque é de onde eu venho”. Seu primeiro desfile, em 2006, foi elaborado em uma semana e com 80 reais no bolso. “Adaptei o cotidiano para a passarela pensando na deformação da roupa”. Porém, o ateliê chegou num momento decisivo: profissionalizava-se o trabalho ou o amadorismo nunca ia ser abandonado. Então, há três anos, constituiu-se uma empresa e uma equipe de trabalho foi recrutada. Em 2007, Tarcísio participou pela primeira vez do Dragão Fashion - Fortaleza e, desde então, é sempre convidado. O showroom do estilista funciona no Rio de Janeiro, e é lá que se concentra toda a parte comercial da marca. “A minha marca encaixa-se num formato de slow fashion: as roupas não vão estar ultrapassadas em seis meses”. Tarcísio tem segurança em dizer que agora a estrutura produtiva se sustenta.

Vanessa Ramos/LABFOTO

“Há três anos eu decidi: é isso o que eu quero fazer”, pontua Úrsula Félix, 35 anos. O envolvimento da estilista com costura começou aos 13 anos quando trabalhava, junto com a mãe, na criação de figurinos para teatro e dança. “Essa foi a minha grande escola. Comecei 100% na prática e consegui refinar o meu gosto”. Porém, foi há pouco tempo que Úrsula resolveu montar a sua própria marca. Mesmo decidindo trabalhar com vestimenta contemporânea, ela não nega as possibilidades que o figurino proporciona e até insere certos elementos no seu trabalho atual. No entanto, faz uma ressalva: “Mesmo com essa influência na minha criação, me preocupo em fazer peças usáveis. Nenhum estilista cria coleções para virar obra de arte e ficar pendurada na parede”. Em 1993, fez faculdade de Moda no Rio de Janeiro e não parou mais de estudar: fez cursos sequenciais de História da Arte na UFRJ, curso de Alfaiataria no SENAC de São Paulo, uma rápida oficina em Londres e, em meio a tudo isso, ainda teve tempo de se formar em Administração de Empresas. O trabalho da baiana, que viveu muito tempo no Rio de Janeiro, acabou se desdobrando aqui no estado, onde voltou a morar há 10 anos. Em 2007 venceu o concurso Novos Talentos do Barra Fashion e resolveu transformar Moda em negócio. “Não dá para viver só de sonho e de passarela. Foi a partir disso que eu comecei a construir uma marca comercial, a Úrsula Félix”. Dentre os eventos de moda que participa pelo país, ganhou, em Brasília, um prêmio pela mídia como melhor desfile. Em paralelo a tudo isso, vem estruturando a internacionalização da marca: “Ainda esse ano vamos fazer showroom em Paris e depois em Londres”.

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Jorge

Amado até no

cinema

texto Marcelo Oliveira e Marília Moreira

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Uma nova leva? Cecília Amado, diretora de “Capitães da Areia”, não considera que este seja um momento de renovação do interesse pela obra de Jorge Amado e destaca que “nos últimos quinze anos, entre ‘Tieta’ e ‘Capitães’, sempre houve busca pelos direitos autorais dos romances”. De acordo com ela, há certa circularidade na produção dos filmes nacionais, o que pôde ser evidenciado na última década, marcada por um ciclo de filmes violentos, com o olhar voltado para as favelas e prisões. Com Jorge Amado, surge um momento diferente, caracterizado pela alegria de viver, por um povo vibrante e rico culturalmente. E acrescenta: “Coincidentemente os tempos de ‘Quincas’ e ‘Capitães’ chegaram juntos”. André Setaro, crítico de cinema, explica que o interesse pela obra de Jorge Amado se deve a alguns fatores como o sucesso editorial; o fato de o escritor ser um grande pioneiro em transpor a linguagem oral e coloquial do povo nas páginas dos seus romances e pela veia cômica e sensual presente nas suas narrativas. Setaro afirma que o último ponto é um dos mais buscados pelas recentes adaptações, pois, segundo ele, essas obras procuram extrair “oportunisticamente a ‘luz da Bahia’, para fazer um humor chanchadístico e aproveitador”. Ele denuncia ainda que não

Agnes Cajaiba/LABFOTO

Ter a literatura como fonte de inspiração para adaptações cinematográficas é lugar comum na história da sétima arte. Durante muito tempo, cineastas buscaram romances com temáticas locais e regionais a fim de discutir questões acerca da identidade e da política brasileiras. Hoje, a adaptação de conhecidas obras literárias significa também uma boa fonte de investimentos, produções sofisticadas e expectativa de sucesso comercial, mas sem deixar de lado preocupações estéticas, políticas e sociais. Dentre os romancistas que chamam atenção dos cineastas, destaca-se Jorge Amado, escritor brasileiro mais lido e publicado no mundo e que já teve obras adaptadas por diretores estrangeiros. Em 2010, foi lançado o longa “Quincas Berro D’Água”, baseado na novela “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”. Neste mesmo período, estiveram sendo produzidas outras duas obras - “Velhos Marinheiros” e “Capitães da Areia”, ambas adaptadas de obras literárias homônimas. A realização simultânea deste trio de longas-metragens assemelha-se ao que ocorreu em 1976, com as adaptações “Tenda dos Milagres”, “Os Pastores da Noite” e “Dona Flor e seus Dois Maridos”. Devido a esta coincidência, algumas pessoas creem que este é o momento de retorno do universo literário de Jorge Amado ao cinema.


meia entrada

Divulgação

existe preocupação em mostrar Jorge Amado como um homem do povo, e sim em se fazer cinema comercial. O cineasta Edgard Navarro tem posição discordante, ao menos quanto ao filme “Quincas Berro D’Água”. Sobre o longa-metragem, ele diz ter certeza de que “se Jorge fosse vivo, iria gostar do filme e reconhecer nele a Bahia e a personagem que sua obra imortalizou. É um filme divertido, bem realizado e cumpre a contento seu papel”, acredita. Para Navarro, também não existe uma “nova leva” de obras inspiradas em Amado, mas apenas obras produzidas isoladamente que neste ano acabaram convergindo.

Universo adaptado A ideia de que fazer uma adaptação é ir além da transposição cena a cena, uma vez que cinema e literatura são linguagens diferentes, é compartilhada tanto por Sérgio Machado (diretor de “Quincas”) quanto por Cecília Amado. Ela explica que pelo fato de no romance “Capitães de Areia” já conter muitas histórias de vida, não houve necessidade de inventar coisas novas. “Todo o trabalho foi centrado no significado da obra e das personagens, o que permitiu a realização de um recorte referente a um ano de vida dos meninos”. Mesmo com o recorte, a diretora crê que o filme é fiel ao livro, afinal, “o que constitui o enredo é a transição para a adolescência dentro do contexto social das personagens”. Sérgio Machado alerta que “não se pode reverenciar o autor”. A dica do diretor tem a ver com o nível de submissão ao texto original na hora da adaptação. “Só faz sentido realizar uma adaptação se o cineasta sente que pode inserir sua própria marca enquanto criador”, conclui.

A ideia de que fazer uma adaptação é ir além da transposição cena a cena, uma vez que cinema e literatura são linguagens diferentes, é compartilhada por ambos os diretores. Cecília explica que pelo fato de no romance “Capitães de Areia” contar muitas histórias de vida, não houve necessidade de inventar coisas novas. “Todo o trabalho foi centrado no significado da obra e das personagens, o que permitiu a realização de um recorte referente a um ano da vida dos capitães da areia”. E mesmo após este recorte, a diretora crê que o filme permaneceu fiel ao livro, afinal, “o que constitui o enredo é a transição para a adolescência dentro do contexto social das personagens”. Sérgio Machado acrescenta que “não se pode reverenciar o autor”. A dica do diretor tem a ver com o nível de submissão ao texto na hora de se adaptar a obra. “Só faz sentido realizar uma adaptação se o cineasta sente que pode inserir sua própria marca enquanto criador”, conclui. Machado conta que já havia lido boa parte da obra de Jorge Amado para roteirizar “Cidade Baixa”, pois o filme buscava manter uma narrativa similar à amadiana, apesar de não ser adaptação de uma obra específica. A intimidade com o universo literário de Jorge Amado contribuiu para que o diretor tivesse facilidade em criar novas situações e personagens para “Quincas Berro D’Água”, como a cafetina Manuela (interpretada por Marieta Severo), e se voltasse mais para as ruas de Salvador, contrariando uma tendência do livro, que é concentrar-se no quarto onde ocorre o velório de Quincas. Segundo ele, o trabalho foi muito natural pelo fato de ser baiano e de muitos personagens de “Quincas” participarem da trama de “Pastores da Noite”.

Cecília Amado, apesar de ter alterado pouco o conteúdo das tramas, preferiu situar a história na década de 50, em vez dos anos 30. “A motivação de fazer o filme veio da vontade de falar desses seres humanos que são os capitães, de mostrar como Jorge Amado tratava as personagens, e eu não queria que isso ficasse mascarado pela violência que existe atualmente”, esclarece. Fazer um filme ambientado nos anos 2000 era arriscado por causa de problemáticas como o tráfico de drogas que escondem o que há de mais humano. “As carências dos jovens de hoje não fundamentalmente as mesmas das dos anos 30, pois os bandos de meninos de rua ainda são masculinos e a maioria das mães desses jovens precisa passar o dia trabalhando fora de casa”, compara.

À esquerda Jorge Amado militou durante anos no Partido Comunista e é comum que suas obras, principalmente as iniciais, manifestem um viés esquerdista. O cineasta Edgard Navarro ainda encontra elementos políticos caracterizadores da obra de Jorge Amado presentes nas adaptações atuais. Segundo ele, no longa-metragem “Quincas Berro D´Água”, o diretor Sérgio Machado soube delimitar as fronteiras entre a luta de classes e etnias, além de ter conseguido transitar com facilidade entre os mundos da burguesia e boemia pobres, entre os atores da Globo e os do Bando. “Isso é política e Sérgio sabe disso”, conclui. Machado diz que em seu filme “há uma denúncia ao racismo, aos invisíveis sociais. Mesmo estando por baixo de um caráter cômico, a história de Quincas Berro D´Água é resultado de um choque entre duas classes que viviam em paralelo FRAUDE 2010

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ralelo, e que de repente são obrigadas a viverem em um quartinho durante o velório.” Muitas das adaptações cinematográficas produzidas nas décadas de 60 e 70, como “Seara Vermelha”, de Alberto D’Aversa e “Tenda dos Milagres”, de Nelson Pereira dos Santos, davam destaque a questões políticas que nortearam a primeira fase da produção amadiana, considerada um período de militância através da literatura. “Capitães da Areia”, por exemplo, foi escrito quando o escritor tinha 24 anos e estava mergulhado na ideologia comunista. Cecília Amado lembra que conheceu um momento diferente da vida e da escrita amadiana, no qual ele já havia se distanciado do comunismo e estava mais ligado à cultura popular. Por essa razão, ela explica que a carga ideológica mais radical não foi inserida no filme. “O filme mostra o que considero ser essencial em Jorge Amado”, declara.

Personagens “Quincas Berro D’Água” e “Capitães da Areia” possuíram modos distintos de organizar seus elencos. Enquanto no primeiro são privilegiados

atores reconhecidos nacionalmente, como Paulo José e Mariana Ximenes, no segundo foram selecionados jovens atores locais. Apesar de considerarem Paulo José um dos maiores atores do Brasil, Setaro e Navarro concordam que se um dia tivesse ocorrido a eles fazer o “Quincas”, não haveria melhor ator para interpretá-lo que Wilson Mello - ator baiano que atuou como Quincas durante 30 anos no teatro e que faleceu poucos dias após o lançamento do filme. Segundo Setaro, “Wilson Mello seria muito melhor Quincas que Paulo José, porque ele vive a personagem”. E acusa o fato de Wilson não ser reconhecido nacionalmente como motivo de o ator ter sido preterido. Já Navarro acredita que “cada cabeça é uma e que Sérgio tem todo o direito de pensar pela dele”. E finaliza: “Quanto aos globais, paciência! Temos várias atrizes para o papel de Ximenes, mas não dá a mesma audiência, não é? Fazer o quê? A empresa precisa faturar”. Apesar das críticas, Navarro comenta que o elenco baiano não foi respeitado na maioria das adaptações da obra de Jorge Amado, atuando como figurantes na maioria dos casos. Para ele, “‘Quincas Berro D’Água’ possui

o mérito de dar espaço aos atores baianos, que aparecem em performances apreciáveis”. Cecília diz que “cada cast deve ser muito apropriado ao filme que se está fazendo”, e que no caso de “Capitães de Areia”, pelo dato de as personagens serem jovens, “não fazia nenhum sentido pegar atores de Malhação”. O desejo da diretora era fazer um filme com jovens baianos que levassem uma vida parecida com a dos “Capitães da Areia”. Para tal, optou por trabalhar com jovens pobres e esteve em contato com vinte e duas ONGs. “Ao redor destes jovens, colocamos atores baianos, veteranos do teatro, tendo o cuidado de fazer com que os atores jovens não perdessem a cena frente a eles”, explica. Cecília considera o elenco de “Quincas Berro D’Água” primoroso. “Nele, há grandes atores baianos e também grandes atores de fora da Bahia porque tem a ver com o filme dele”, continua. E tem a ver não só com o filme, mas com uma preferência de Sérgio Machado em trabalhar com atores experientes, como Marieta Severo, Paulo José, e misturar isso com atores baianos de teatro, como Frank Menezes, Luis Miranda e Maria Menezes.

Divulgação

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texto Flávia Santana e Luis Fernando Lisboa

Uma entrevista com Gustavo Guimarães, um dos criadores do programa Hermes e Renato da MTV

Criado a leite com pera

Ali Karakas/Divulgação

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meia entrada conceito fazer uma leitura do jovem latino-americano, seu comportamento sexual, sua visão das drogas, violência e política. O documentário foi exibido em 18 países europeus, além de toda América Latina, África e EUA. Há quanto tempo você trabalha no meio audiovisual e, mais especificamente, com direção de videoclipes? Paralelamente ao jornalismo, eu comecei a fazer videoarte. Eu gostava de vídeos abstratos e experimentais, com linguagem mais nonsense. De repente, surgiu um convite da MTV para trabalhar como produtor e diretor de vinhetas no departamento de criação da emissora, conhecido como Promo/Gráficos. Nós fazíamos várias coisas lá: embalagens de programas (abertura, bumpers, encerramentos, logos animados), chamadas, vinhetas de cidadania, vinhetas artísticas, entre outros. O primeiro videoclipe que dirigi foi para a banda Massacration. Eu criei o programa “Hermes e Renato”, eles sabiam tocar e a gente queria fazer uma paródia cômica dos clipes

‘ ‘ Ahomenagem ideia era fazer uma à cultu-

ra da malandragem, ao universo da musica black brasileira, samba, funk dos anos 70

‘‘

O encontro de Gustavo Guimarães com a linguagem audiovisual foi preciso e inovou, em alguns aspectos, a forma de se fazer programas na televisão brasileira. Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), ele decidiu focar-se no campo audiovisual ainda na graduação. Durante o curso, ganhou o Prêmio Nascente de Cinema, um incentivo da USP para jovens talentos. Em 1995, recebeu o convite para trabalhar na MTV. Na época, essa era a única forma de entrar na emissora e, lá dentro, trabalhou principalmente no departamento de criação. Foi da cabeça de Gustavo que saiu a ideia geradora de um dos programas de maior audiência da MTV: “Hermes e Renato”. Os chamados para realizações de videoclipes foram inevitáveis e hoje já dirigiu clipes de diversos artistas como Charlie Brown Jr., Paulo Moska, Roberto Carlos, Cibelle e, mais recentemente, Vanessa da Mata. Em 2006, Gustavo fez parte da equipe de realização do documentário “SEXPRESS”, um projeto do Mauro Dahmer, que tinha como

de metal. Fizemos um pentagrama no gramado de um jardim de infância e mandamos bala. O Chorão, do Charlie Brown Júnior, viu o “Hermes e Renato” e me chamou para dirigir um clipe da música “Papo Reto”. Depois disso, fiz clipes para o Paulo Moska e até um clipe bancado pela MTV para o especial de Roberto Carlos. Eu só lamentei não poder fazer mais clipes, pois funcionário da MTV não pode fazer clipe que concorra ao VMB (a premiação da emissora) para não parecer marmelada. Depois, em 2008, saí da MTV. Tenho feito alguns clipes, como o últi-

Ali Karakas/Divulgação

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meia entrada mo da Vanessa da Mata, do “Pequeno Cidadão”, mas estou também focado em dirigir publicidade.

me da escola deles, mas eu achei que “Hermes e Renato” era mais “Starsky e Hutch”, “com mais pegada”.

Dentro da faculdade de jornalismo, de que forma a videoarte apareceu como um caminho inevitável?

Quais foram as maiores inspirações para a direção do programa?

Na criação da MTV, o clima era bem anárquico. Era um grupo de jovens fazendo televisão. E todas as ideias, por mais insanas que fossem, eram pelo menos escutadas e debatidas. Criamos o “Voz MTV”, que era um “proto-youtube”, onde a audiência era estimulada a fazer vídeos caseiros e enviá-los à emissora. Os melhores vídeos eram colocados no ar em forma de vinhetas. Um dia, chegou um VHS de Petrópolis feito pela turma que mais tarde batizamos de “Hermes e Renato”. Viajei para Petrópolis e encontrei um bando de garotos de vinte anos fazendo coisas engraçadíssimas em vídeo, de forma trash e amadora. Eu gostei na hora. Eram mais de vinte moleques, e eu escolhi cinco. Formatei a coisa toda com eles, escolhi a trilha, fizemos a logomarca, colocamos no ar na forma de vinhetas (umas 20 pílulas de 1 minuto ao todo) e foi um sucesso. Choveram cartas e e-mails pedindo mais. E de onde surgiu o nome da atração? O nome “Hermes e Renato” veio de dois personagens que eles mesmos criaram, que era uma gozação em cima de clichês da pornochanchada. Eles queriam que o programa se chamasse “Os Medrados”, para azucrinar um certo moleque com este sobreno-

‘ ‘ Na criação da MTV, o clima era bem anárqui-

co. Era um grupo de jovens fazendo televisão. E todas as ideias, por mais insanas que fossem, eram pelo menos escutadas e debatidas

Você acredita que há interferência dos seus trabalhos musicais nos seus trabalhos publicitários, ou são duas linguagens que não dialogam de forma alguma?

mes eróticos italianos, samba-rock e breakbeats e a trilha do programa ia na mesma linha. Quando a coisa passou a ser programa e cresceu, foi um sucesso estrondoso, sempre uma audiência boa para a MTV. O “Hermes e Renato” era o mais comentado nos blogs e web em geral. A fórmula era trash do último. A gente tinha a sensação de estar fazendo algo que nenhuma outra emissora teria coragem de fazer. Era uma espécie de programa dos “Os Trapalhões” depois de uma orgia de sexo, drogas e rock. Um “Os Trapalhões” versão cafajeste.

‘ ‘ Tem muita gente talentosa no meio e a concorrência é grande e, por isso, quando me chamam para fazer um filme é porque querem um produto diferente da mesmice

‘‘

Quais foram as condições de surgimento do programa Hermes e Renato?

A ideia era fazer uma homenagem à cultura da malandragem, ao universo da música black brasileira, samba, funk dos anos 70. Eu era DJ nas horas vagas e gostava de tocar black, trilhas de fil-

‘‘

Eu sempre fui cinéfilo. Desde adolescente, frequentava a cinemateca de Curitiba, que oferecia os ciclos de cinema de arte de graça. No fim dos anos 80, eu queria ir embora do Brasil, mas uma namorada minha veio para São Paulo e eu resolvi tentar entrar na USP. Consegui. Mudei para a capital paulista e morava ao lado da Cinemateca, em Pinheiros, que também foi minha escola de cinema. Quando cheguei à ECA-USP, fiquei decepcionado com o curso de jornalismo e comecei a fazer vídeos – o que era, para mim, mais interessante. A USP tinha o Prêmio Nascente, para artes em geral, e havia uma categoria vídeo. Ganhei o primeiro prêmio em 1993, com um vídeo-poema que era uma adaptação de “Blanco”, do Nobel Octavio Paz.

do me chamam para fazer um filme é porque querem um produto diferente da mesmice. A publicidade tende a ser muito autoreferente e quando algo vira moda, todo mundo faz igual. Você não identifica um diretor naquilo, e sim uma forma de fazer. Alguém de repente coloca uma trilha de uma garota cantando em francês e você tem 50 comerciais com a mesma musiquinha. É assim que funciona em publicidade. As pessoas têm medo de se arriscar.

Em que momento os seus trabalhos também acabaram entrando pela publicidade? Eu faço audiovisual e a publicidade precisa dele para vender seus produtos. Minha linguagem nos vídeos é mais jovem, de humor e gráfica. Tem muita gente talentosa no meio e a concorrência é grande e, por isso, quan-

Eu tento vender isso para o meu cliente na publicidade. Se ele compra como eu imagino, já são outros quinhentos. A publicidade, de forma geral, tende a ser conservadora. Já os trabalhos de música são arte. E, definitivamente, publicidade não é arte. Você pode até fazer um comercial de forma a falsificar certos princípios artísticos, mas eu não quero enganar ninguém com um discurso fabricado. Portanto, posso “dourar a pílula”, mas o produto deve falar por si só também. Existe um estilo próprio, “traços autorais”, nos videoclipes que você dirigiu? Eu diria que é autoral, mas em partes. É claro que, às vezes, vem uma onda no design que todo mundo embarca. Na MTV isso era mais visível. O próprio Adams Carvalho fez um clipe, anos depois, para outro artista, que ficou parecido com o que fizemos para Cibelle. Até ficamos meio com bronca disso, mas depois relaxamos, afinal, tem longas-metragens feitos com a técnica da rotoscopia, publicidade, vinhetas etc. No meu último clipe, eu fiz uso da técnica de stopmotion. Ora, é uma técnica conhecida desde os irmãos Lumière e consagrada pelo gênio Jan Svankmajer. Como posso dizer que é um estilo meu? No máximo, faço uma homenagem, reunindo elementos meus ali, indo na mesma caravana de poetas da imagem. No momento de criação de um videoclipe o artista e diretor tendem a trabalhar em conjunto? Depende do artista. Muitas vezes o artista quer fazer junto, às vezes não. Mas há um processo de apresentar ideias e discutir o que ele quer. Não há uma relação independente.

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Rafael Martins/AGECOM


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O ano que pretende mudar Salvador e o Brasil de forma sustentável. Mas até que ponto?

texto Nelson Oliveira e Renato Oselame A transformação da Copa do Mundo de futebol em um evento comercial de grande escala trouxe uma série de novas exigências e recomendações ao país-sede. A Fifa exige, por exemplo, que haja uma vasta rede hoteleira para abrigar os turistas, suporte às comissões técnicas e aos árbitros, além de infraestrutura adequada de transporte e telecomunicações e estádios modernos. A mais recente das recomendações da entidade máxima do futebol é a sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos projetos dos estádios que sediarão jogos da competição. Para eles, a Fifa desenvolveu um conjunto de regras chamado Green Goal, que tem o objetivo de reduzir os impactos antrópicos provocados pela construção e uso dos estádios. O programa prevê a instalação de sistemas que permitam a economia de água e energia, a correta administração dos resíduos através de coleta seletiva e não-produção de lixo, além de incentivar o uso do transporte público no acesso aos estádios. Essas medidas elevarão o custo inicial dos estádios, mas pretendem ser economicamente sustentáveis ao reduzir gastos com manutenção. Segundo Eugênio Spengler, secretário estadual do Meio Ambiente, existem programas para reduzir a poluição e o consumo de energia e de materiais nas obras de demolição e construção da Nova Fonte Nova. “Estamos desenvolvendo alternativas de reciclagem e reaproveitamento do entulho da demolição para a construção civil, até mesmo para as obras do próprio estádio”, argumenta. O secretário ainda explicou que um plano de controle ambiental da obra foi elaborado. De acordo com Spengler, este plano prevê os horários do dia e a utilização de tecnologias mais adequadas que prejudiquem menos a população, sobretudo aquela que vive próxima ao estádio. Por outro lado, Luiz Antônio de Souza, professor do curso de Urbanismo da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) critica o andamento que as obras para a Copa do Mundo estão

tomando. Para ele, a própria decisão de demolir o estádio já estava em desacordo com a ideia de sustentabilidade. “Uma demolição dessas estruturas em concreto armado, que se localiza na zona central da cidade, bastante populosa e próxima a um túnel, a sofisticados equipamentos de telecomunicações, vias de alto carregamento de transporte e edifícios históricos, por si só expõem que se está de costas aos ideais de sustentabilidade”, contesta. O professor também salienta que para se reaproveitar o entulho da demolição, seria necessária a montagem de uma usina de reciclagem.

Copa Verde Longe de toda a polêmica local, Vicente de Castro Mello, arquiteto paulista, avalia que uma obra de construção deste porte, para se qualificar como um projeto sustentável, precisa reduzir a poluição gerada pelas atividades da construção, controlar a erosão do solo e prevenir a sedimentação dos cursos da água e geração de poeira. Além disso, deve-se estimular a estocagem e separação dos resíduos recicláveis, evitando o envio destes materiais a aterros sanitários ou usinas de incineração. O objetivo é que todos os materiais empregados na obra sejam reciclados ou reutilizados em níveis de 50% a 75%. Castro Mello tem propriedade para falar do assunto. Sócio de uma empresa especializada em arquitetura esportiva, elaborou, em parceria com o economista inglês Ian McKee, o plano Copa Verde. Os autores do plano veem na Copa do Mundo uma oportunidade importante para estimular a construção de edifícios que utilizem tecnologia limpa, uma vez que o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) disponibilizou linhas de crédito mais favoráveis para projetos sustentáveis e os ministérios do Esporte e do Meio Ambiente assinaram um acordo de cooperação para realizar projetos verdes. Para o arquiteto, o Brasil, devido a sua vastidão de recursos naturais, deve in-

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cotidiano -vestir cada vez mais em tecnologias renováveis e precisa incluir o Green Building como fator de desenvolvimento do país. O plano foi apresentado em uma reunião realizada entre os arquitetos responsáveis pelos projetos no ano passado, em Salvador. Segundo Castro Mello, após o Comitê Organizador Local recomendar fortemente a certificação verde LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental), alguns estádios se inscreveram para garantir sua certificação, embora todos eles já incorporem conceitos de design ambiental. Para o arquiteto, o consumidor está cada vez mais consciente e atento à eficiência das edificações, em detrimento da beleza do que foi construído. “Acredito que a eficiência, a economia de manutenção e o baixo impacto ambiental nos prédios serão mais interessantes do que construções e equipamentos, onde a estética estava acima da eficiência”, avalia.

Trânsito Sediar jogos da Copa do Mundo em qualquer cidade requer um estudo detalhado das vias de trânsito que envolvem e ligam o estádio, os hotéis, a rodoviária, o aeroporto e as principais áreas de lazer. Realizar modificações nessa complexa rede de trânsito, de forma sustentável e diminuindo os impactos sobre a população local é um verdadeiro desafio. Numa cidade com 461 anos de existência e uma topografia complicada como a de Salvador, esse problema é ainda maior. No centro da cidade, existem ruas que são tão antigas quanto a própria Salvador e que, por serem estreitas, mais servem à uma realidade de loco-

moção do passado do que a atual. Com seus atuais 800 mil carros e 2500 ônibus e um crescimento de 60 mil novos veículos por ano, a modificação das vias de trânsito será uma problemática decisiva para o sucesso ou o fracasso do evento. Nessa conjuntura, a desapropriação de residências e estabelecimentos comerciais para o alargamento de vias é inevitável. É o que confirma o secretário municipal de transportes e infraestrutura, Euvaldo Jorge. “Não há dúvidas de que haverá desapropriações. Na Avenida Paralela isso será evitado porque ela possui um canteiro central, mas em outras com certeza haverá”, explica. No que concerne à expansão lateral desta avenida, o secretário afirma que o memorial Luís Eduardo Magalhães deverá ser realocado e que as obras serão realizadas de forma a minimizar os impactos ambientais. Para 2014, a maior obra planejada para Salvador será um túnel que liga a estação da Lapa, por onde passam cerca de 460 mil pessoas e 900 ônibus por dia, ao novo estádio da Fonte Nova. O túnel terá 300 metros de comprimento e contará com via exclusiva para ônibus, para pedestres, ciclovia e pista de cooper. Outras intervenções menores serão feitas em outras regiões da cidade, como a construção de uma passarela de seis metros de largura ligando o estádio de Pituaçu ao lado oposto da Avenida Paralela. Contudo, o problema do trânsito em Salvador poderá não só promover mudanças de ordem estrutural, mas também na rotina dos moradores da cidade. Segundo Euvaldo Jorge, o tráfego de veículos e a movimentação de pessoas na capital não é tão intenso quanto o de cidades como Rio de Janeiro

Antes da demolição

Alberto Coutinho/AGECOM

e São Paulo, mas está atingindo um ponto crítico. “Hoje, Salvador tem 3 milhões e 200 mil habitantes, recebendo sessenta mil novos residentes todos os anos. É como se a cada nove anos recebêssemos uma nova Feira de Santana, que é a maior cidade do interior. Também estamos recebendo cerca de cinco mil novos carros todos os meses e, se não nos posicionarmos logo, poderemos adotar o rodízio de veículos”. Apesar de todos os problemas infraestruturais do trânsito da cidade, existem ainda os que creem que Salvador já está preparada para sediar uma Copa do Mundo. O professor Luiz Antonio de Souza acredita que uma cidade capaz de realizar um evento como o Carnaval está apta a sediar qualquer tipo de evento existente no mundo. “O que há é muita mistificação sobre a Copa do Mundo, consciência de que não cabe improviso e visão comprometida com os interesses públicos”, afirma. Além disso, o professor critica os problemas de trânsito, que na sua opinião são fruto de uma má gestão governamental: “Esse travamento que ocorre na cidade é resultado imediato de um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, reduzido a plano urbanístico e orientado para privilegiar interesses pontuais no campo dos negócios imobiliários”. O urbanista também afirma que alterações no trânsito da cidade não podem ser realizadas somente por ocasião de um evento temporário como a Copa. “Nenhuma cidade pode ser planejada, pensada e qualificada para atender a um evento, pois uma cidade não é algo efêmero. A cidade tem que ser pensada para superar aquilo que

Fonte


cotidiano aflige seus moradores”, argumenta. Na sua opinião, o caos do trânsito durante o evento pode ser minimizado com decisões de ordem mais simples que obras infraestruturais, como ajustes no calendário escolar e das repartições públicas, já que boa parte dos espectadores não irá se deslocar a um único lugar, mas a bares e outros estabelecimentos espalhados pela cidade.

Transporte público Com uma frota de carros 320 vezes maior que a de ônibus, estima-se que a maioria dos torcedores, sobretudo os turistas, irá se deslocar para os jogos na Fonte Nova em veículos particulares. Para um evento que pretende ser realizado segundo critérios de sustentabilidade, sobretudo ambiental, essa estatística é um grande problema. Para Eugênio Spengler, pensar em sustentabilidade nos transportes públicos requer uma análise de três aspectos: o tipo e a qualidade do transporte e o combustível utilizado. Segundo ele, no Brasil temos a característica de transporte que prioriza o uso individual, além de baixos investimentos em transportes públicos, seja ele sobre trilhos ou rodas. No caso específico de Salvador, o secretário Euvaldo Jorge, afirma que a cidade possui uma grande frota de ônibus, mas que estes são pequenos e devem ser, no futuro, substituídos por ônibus articulados e biarticulados, que devem funcionar de acordo com o sistema Bus Rapid Transit (BRT). O sistema, que é a aposta dos governos municipal e estadual para resolver o problema do trânsito na capital baia-

Nova

na, prevê a construção de canaletas específicas para a circulação de ônibus. O ganho de tempo diário por passageiro seria de 26 minutos, de acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). Uma parceria entre a Setin e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (SETPS) resultou em um projeto de sistema integrado de transporte para Salvador, que sugere a construção de mais estações de transbordo na cidade, bem como a construção de canaletas para BRT em diversas vias importantes da região metropolitana. Neste contexto, o metrô de Salvador, com data de entrega atrasada em sete anos, perde sentido como resolução do transporte público na cidade, sobretudo porque seu primeiro trecho ainda está incompleto: não chega até Cajazeiras, como previsto no projeto inicial. Uma iniciativa mais ecológica é a construção de ciclovias e bicicletários. Apesar de apresentar uma topografia complicada, a locomoção através de bicicletas pode ser uma proposta interessante para Salvador em 2014. Essas estruturas já em áreas de Salvador, como no Parque Metropolitano de Pituaçu ou em regiões como o Centro Administrativo da Bahia e a orla, mas seu uso é basicamente recreativo. O secretário Eugênio Spengler afirma que investir em ciclovias é uma competência do município, mas ressalta que para que se incentive o uso das bicicletas para uso cotidiano é necessário também que se melhore o sistema público de transporte. Dessa maneira, se diminuiria o transporte individual e, assim, haveria mais espaço físico nas ruas para a construção das ciclovias.

Sobre esse tipo de transporte, Spengler ainda acrescenta que é necessário também que seja elaborada e mantida uma infraestrutura de banheiros públicos equipados com chuveiros, para que quem fosse trabalhar de bicicleta possa higienizar-se antes de chegar a seu emprego. Caberia também às empresas destinar recursos para a construção da mesma infraestrutura em seu espaço privado. No entanto, o investimento em banheiros públicos não deve estar atrelado apenas a construção das ciclovias, mas encarado como um direito da população. O secretário Euvaldo Jorge afirma que esse transporte alternativo está sendo viabilizado pela prefeitura, através das construções de ciclovias já realizadas na orla, na Barra e no Imbuí. Além destas, uma já está em construção na Avenida Bonocô, e outra será construída, ligando o metrô à Fonte Nova, um trajeto de cerca de 300 metros. Obras como estas, pretendem melhorar o trânsito da cidade, mas não devem dotá-lo da dinâmica necessária para melhorar substancialmente a qualidade de vida do soteropolitano. Tratam-se de construções e reformulações que são pensados tentando adequar as soluções aos problemas mais urgentes da população, a crença no desenvolvimento sustentável e as necessidades do evento que Salvador irá sediar. Ainda assim, 2014 não deixará de ser o ano em que grande parte dos brasileiros torcerão por melhorias na infra-estrutura de suas cidades. E, em certa medida, deverão sair satisfeitos. Quanto a Salvador, que também lançou candidatura para sediar a abertura da Copa, temos um longo caminho pela frente.

Após a demolição

Alberto Coutinho/AGECOM


Fora de Enquadramento texto e fotos Leonardo Pastor e Tais Bichara


cotidiano Chegar na redação, receber pautas, sair para a rua. Quem vê as fotos prontas, impressas no jornal diário, não se dá conta da rotina de Fernando Vivas, fotojornalista que há sete anos trabalha no Grupo A Tarde. Sempre curioso e ávido por mostrar o que vê através das lentes, como foi desde o contato inicial com a fotografia, Vivas não pensa duas vezes antes de sair na chuva, correr, entrar no meio de um tumulto ou improvisar dentro de um supermercado. Saiu da prática para a teoria, aprendendo o que sabe hoje, acima de tudo, arriscando. Descobriu, em um suplemento do Jornal da Bahia, hobbies como a filatelia, o aeromodelismo e a fotografia. Mas foi pela última que se apaixonou e por causa dela que esco-

lheu a faculdade de arquitetura. Muito porque, na época, grande parte de seus fotógrafos favoritos trazia o curso em seus currículos. No entanto, não levou adiante e passou a dedicar-se inteiramente à fotografia. Buscou especializar-se e entrou para o Grupo de Fotógrafos da Bahia. Para desenvolver melhor a técnica e ganhar mais experiência, Fernando Vivas ia aos domingos à Igreja do Rio Vermelho fotografar batizados. Depois, passou a tirar fotos de crianças em parques de diversões. Aos poucos, Vivas migrou dessa fotografia ainda amadora para o fotojornalismo de fato. Entre 1986 e 1987 foi freelancer da Gazeta Mercantil e revista Isto É; em seguida, de 1988 a 2000, passa a colaborar com a Editora Abril através

das revistas Nova Escola, Veja, Exame e Placar; nos anos seguintes, tornou-se fixo da Caras até, em 2003, ser contratado como repórter fotográfico pelo A Tarde. Apesar de cobrir qualquer tipo de pauta, Fernando Vivas não deixa de lado a preferência pelos acontecimentos inesperados. “O mais gratificante é quando você está na rua cobrindo uma pauta, aparece outra coisa que te leva para outro canto e termina sendo uma imagem mais forte, mais representativa para o dia seguinte”, ele explica. Ainda assim, seu trabalho não deixa de ser uma rotina. Chegar na redação, preparar o equipamento e... Quais as pautas de hoje? Aumento do preço do feijão, tráfego na paralela e filas no TRE. Vamos? Vamos.

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Onde há fumaça... Um olhar sobre a difusão da smoking culture em Salvador texto Ananda Lima e Tais Bichara ilustração Ananda Lima Em meio à atual discussão sobre o consumo de cigarro em espaços públicos e os possíveis malefícios dessa prática à saúde, uma nova tendência começa a se firmar em Salvador: a smoking culture. Já absorvida pelo estilo de vida dos cidadãos europeus, começa a fazer parte dos hábitos do soteropolitano. São práticas de fumo seculares, antes restritas a pequenos grupos, que foram recentemente incorporadas pela cultura internacional. Dentre os diversos tipos de fumos disponíveis no mercado baiano, cachimbo, charuto e narguilé são os que mais têm se destacado pela variedade e versatilidade de público. Ao atingir diferentes faixas etárias, esses produtos refletem também uma característica marcante da smoking culture: a convivência entre tradição e novidade. Logo, nem sempre onde há fumaça, há cigarro.

Elementar, meu caro Watson Embora habite o imaginário popular através de personagens como Sherlock Holmes, o cachimbo ainda é visto com estranheza por muitas pessoas. A prática conserva certa aura de intelectualidade, como ratifica o escritor e pesquisador em cachimbos e charutos Alfredo Maia. “Fumar cachimbo ou charuto exige tempo, um espaço livre, de preferência calmo e um estado de espírito mais tranquilo do que para fumar cigarro”, explica. Essa disponibilidade necessária de tempo e espaço é um dos fatores que faz com que o ato de fumar cachimbo não tenha a mesma popularidade de antes. O odor forte característico desse fumo faz também com que ele seja pouco aceito socialmente. “Por isso, mesmo com minha família, procuro fumar longe dos espaços comuns preferindo usar um terraço ou o escritório, com a porta fechada de preferência. Ninguém começa a fumar um cachimbo ou charuto se não tiver o tempo necessário para se ir até o fim”, acrescenta Maia. Essas peculiaridades fragmentam o mercado consumidor deste tipo de

fumo, praticamente restringindo-o a clientes a partir dos 50 anos. Segundo o vendedor Carleone Vieira, da Tabacaria Talvis, o público mais frequente e fiel é composto por senhores desta faixa etária, principalmente advogados e juízes. Quando, eventualmente, procuram pelo cachimbo, os consumidores mais jovens o fazem por curiosidade ou como forma de presentear alguém. “As pessoas sempre namoram os cachimbos, levam muito como presente para um amigo. Elas gostam não só pelo ato de fumar em si, mas porque também há algo de romântico nisso”, analisa Fábio Dias, sócio-proprietário da loja Urbanorama. Mesmo atraindo a curiosidade desse público jovem, são os clientes acima dos 50 anos que mantém o mercado de cachimbos ativo e estável.

Isto não é um cachimbo E não é mesmo. Embora muito diferentes enquanto produtos, o hábito de fumar cachimbo ou charuto ainda é visto, por muitos, como práticas parecidas. A associação se dá não só pelo sabor mais forte do tabaco utilizado


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em ambos, mas também pela aura de excentricidade que os envolve. “Fumar charuto é uma extensão de um hábito muito semelhante, mas um pouco menos introspectivo que o cachimbo”, afirma Alfredo Maia. A principal diferença entre os dois, portanto, é que o charuto permite uma socialização maior que o cachimbo. Enquanto esse último é fumado em ambientes fechados e de forma solitária, o charuto pode ser consumido em um encontro de amigos, após uma reunião de negócios, ou seja: em grupo. “Poucas pessoas procuram o charuto para experimentar, a saída é quase só para quem já tem o hábito há mais tempo”, declara Carleone. Destaca ainda que a quase totalidade dos consumidores encontra-se na faixa etária acima dos 40 anos. Além de o odor peculiar ser um obstáculo para a socialização do fumante de charuto, os preços não são acessíveis. “Não é barato. Antes de começar, as pessoas pensam duas vezes, porque acontece de se gastar até dois mil reais com uma caixa de charuto”, revela Janaína, proprietária da Tabacaria Corona. Outro fator que dificulta a popularização dos charutos é a pequena quan-

tidade de lojas especializadas nesse segmento. Além de ter uma grande variedade de tabacos, o proprietário ou vendedor precisa conhecer todas as informações de origem e produção dos charutos que vende e suas especificidades quanto ao sabor, aroma, textura etc. “Paramos de vender charutos porque isso requer uma especialização maior. É preciso ter variedade e criar um vínculo com os consumidores. É uma questão de público”, afirma Fábio.

Chupa que é de uva A opção para quem não aprecia ou não está acostumado a fumos fortes e prefere hábitos mais sociáveis, no entanto, é o narguilé. O aparelho se diferencia pela existência de um filtro de água – que dá suavidade ao tabaco em pasta – e pela variedade de sabores e aromas, que vão desde os mais comuns como menta e limão, até os inusitados café e uva. Essa possibilidade de criar as combinações entre tabaco e até mesmo de substituir a água por outra bebida como vodca ou leite, atrai a curiosidade dos jovens ávidos por novas experiências.

Outro motivo para o aumento do consumo de narguilé na capital baiana foi o sucesso da novela Caminho das Índias, transmitida pela Rede Globo no início de 2009. Desde então houve uma inserção de elementos da cultura indiana na moda, decoração, gastronomia e nos hábitos de socialização. “Do mesmo jeito que eu e meus amigos começamos a usar o narguilé por estar na moda, acredito que outras pessoas devem passar a fumar por ser uma nova tendência”, afirma a estudante de 18 anos, Karina Yacob. Essa tendência pode ser confirmada pelo aumento de vendas dos aparelhos de narguilé nas lojas especializadas e pela oferta do serviço em restaurantes e barzinhos da cidade. Segundo Alan Kertzman, proprietário do antigo restaurante Magid, a procura vem de todas as faixas etárias, “a diferença é que os jovens já vêm ao restaurante buscando


cotidiano buscando o narguilé, enquanto os mais velhos se interessam quando veem alguém fumando em outras mesas ou perguntam o que é o aparelho exposto no balcão”. Apesar de concordar com o papel dos barzinhos na popularização do uso do narguilé, Janaína atribui a difusão do fumo muito mais à moda iniciada pela novela. “Eu vendo narguilé há 13 anos, e a procura nunca foi tão intensa”.

... Há fogo Há quem atribua a popularização desses tipos de fumo a fatores que sempre estiveram presentes na vida social, como a necessidade de se inserir em um grupo a partir dos gostos e hábitos comuns. Isso explica a crescente adesão a fóruns online e comunidades sobre o tema, nos quais os membros compartilham suas experiências de forma que os iniciantes e curiosos aprendam mais sobre a prática e sobre cada um dos produtos. Alfredo Maia, também mediador de uma dessas confrarias online, a Amigos do Cachimbo, explica que parte do interesse desses jovens por outros tipos de fumo além do cigarro “deve ser atribuída à atitude de querer demonstrar sua independência e marcar sua personalidade”. Fernanda Azevedo, estudante de 20 anos, não concorda que esse seja o principal atrativo; e embora já tenha experimentado o narguilé, atribui o fenômeno “à falsa imagem de liberdade e autonomia que sempre foi vendida pelas propagandas relacionadas ao fumo.” A adesão a um certo tipo de fumo combina, evidentemente, fatores que vão além das aparências, como potencial de sociabilidade, faixa etária e poder econômico. Por isso, o narguilé se popularizou mais entre os jovens; por ser possível compartilhar o mesmo aparelho, ter um preço acessível e ser usado em público. Enquanto isso, o charuto e o cachimbo continuam tendo um público mais tradicional e restrito, mas ainda inspiram curiosidade e uma aura de romantismo nos jovens. João Sampaio, crítico de cinema e fiel apreciador de charuto, acha que o ato de fumar, por vezes, o auxilia na hora de escrever. “Fumar ajuda no compasso da respiração e, desta maneira, cria uma boa atmosfera para quem executa trabalhos intelectuais. Sem falar que tudo que é enevoado, é inspirador”. Essa é a verdadeira essência da smoking culture, a curiosidade e a forma apaixonada como o consumidor de fumos se relaciona com cada produto e principalmente com o hábito de fumar.

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O que é o mundo das terapias alternativas e como atuam e vivem seus praticantes texto João Araújo e Renato Oselame

Terapia vibracional quântica, craniossacral, craniopuntura, auriculoterapia e cromoterapia. Estes são só alguns exemplos do multiforme universo das terapias holísticas. Marcadas por práticas milenares da medicina chinesa e pelas mais recentes descobertas da física quântica, elas são variadas em sua origem, influências, filosofia e métodos. A despeito disso, não são poucos os terapeutas iniciados em mais de uma dessas técnicas. São ligadas entre si pela noção de autocura (o indivíduo influencia na sua própria recuperação) e pela compreensão de que o ser humano não só possui um corpo físico, mas também um energético e – a depender da filosofia – um espiritual, um mental e/ou um emocional. Elas enxergam o homem em simbiose com a natureza, por isso põem em relevo a necessidade de equilíbrio e harmonia.

Cícero Argollo, 63 anos, cromoterapeuta e cromopunturista, explica que tal equilíbrio pode ser estabelecido com a ajuda de cores. Tais cores, quando absorvidas pelo campo energético que envolve cada ser humano, influenciam na freqüência de energia do indivíduo que as recebe. Esse campo não é interno, mas periférico, localizandose fora do corpo. “Alguém que esteja com problemas de concentração, por exemplo, pode ser estimulado pelo laranja, amarelo... Nunca se deve usar cores frias, como azul, para lidar com o tratamento desses problemas. É por isso que as salas de leitura dos alienígenas mais desenvolvidos, nas outras galáxias, são pintadas nessas tonalidades”, explica. Cícero, cujo número de pacientes atendidos chega a superar os dois mil e quatrocentos, nos afirma já ter

lidado com casos muito difíceis. “Já mandam pra a gente o bagaço, né? Os médicos só nos encaminham aqueles pacientes que eles acham que não têm mais chance. Uma vez, lá no Hospital Aliança, tratei uma dependente química que não conseguia nem se mexer. Fui tratando ela, quando pedi, por displicência mesmo, que ela se virasse pra continuar o tratamento, ela se virou sozinha”. Para verificar a harmonia dos lugares, o alinhamento dos chakras e a aura do paciente, ele conta com aparelhos como o pêndulo de cristal, o dual route e aurímetro, todos instrumentos de Radiestesia.

Um estudo auxiliar Disciplina que trata da sensibilidade dos materiais às radiações, muitas vezes utilizada para que se encontre água

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ou metais enterrados, a Radiestesia também pode ser usada para diagnosticar desequilíbrios energéticos no ser humano. É o que explica Sérgio Areias, terapeuta paulista, presidente da Associação Brasileira de Radiestesia e Radiônica (ABRAD) e sóciofundador e vice-presidente da União Científica Internacional de Radiestesia (UCIR). Sérgio tem cursos em áreas como geometria sagrada, bioconstrução, quiropraxia, fitoterapia, magnetoterapia e geobiologia , mas trabalha majoritariamente com acupuntura, sendo um dos pioneiros da acupuntura veterinária no Brasil. O trato com animais lhe surgiu ao acaso. “Tratei uma senhora lá em São Paulo, e ela gostou tanto dos resultados que acabou me chamando para tratar o filho dela e o cavalo dele. O menino cavalgava na hípica, o animal era muito bom, mas ficava com muito medo nos momentos das competições. Depois de tratado, ele melhorou completamente”. Sérgio, que logo adquiriu relativa fama e reconhecimento entre fazendeiros, lamenta que hoje, depois de algumas lutas na justiça, apenas veterinários possam exercer acupuntura em animais.

Sindicalização e Regulamentação Os profissionais da medicina complementar que atuam em Salvador se organizam e articulam com o resto do estado através do Sindicado dos Terapeutas Holísticos da Bahia, Sinth-Ba. Fundado em 1996, foi em 2001 assumido por Percival Carpi, acupunturista, aromaterapeuta e terapeuta corporal e transpessoal. Percival tem

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hoje 59 anos e é terapeuta desde 1997. Segundo ele, médicos e laboratórios farmacêuticos fazem pressão contra a regulamentação da medicina complementar, uma vez que os tratamentos não exigem remédios alopáticos, impossibilitando uma maior inserção desse mercado num sistema de geração de grandes lucros. “Nós geramos saúde sem gerar custos. O pior é que a profissão não é regulamentada pelo governo federal. Nós não temos direitos como aposentadoria... Mesmo assim, somos classificados junto aos registros administrativos e domiciliares e nos são cobrados impostos trabalhistas”. Apesar de suas práticas não serem regulamentadas, os terapeutas já regulam suas próprias atividades. Eles são regidos por um código de ética que, dentre outras coisas, normatiza as relações entre eles, impedindo que se fale mal de uma prática terapêutica ou um colega de ofício; a relação entre eles e os pacientes, exigindo o cumprimento de normas de saúde e higiene: lavagem dos lençóis usados nas macas, uso de agulhas descartáveis, etc; e as relações entre eles e os médicos, solicitando que recomendem aos pacientes também tratamento médico tradicional. Algumas práticas mais socialmente aceitas já começam a ser timidamente estimuladas pelo SUS, a despeito da não-regulamentação da medicina complementar. É o caso da fitoterapia, da acupuntura, da crenoterapia e do termalismo social, cuja adoção pelos órgãos médicos regionais é recomendada através da Portaria 971 do Ministério da Saúde. Percival considera importante essa conquista, mas lamenta que ela apenas tenha sido possível devido

ao interesse crescente da classe médica por esses métodos. Para o empresário Luís Augusto Silva, 45 anos, dono da livraria Corpo e Mente, uma das maiores na área em Salvador, o interesse da classe médica só tem aumentado a clientela. “Muitos jovens recém-formados, especialmente fisioterapeutas, mas também outros profissionais de saúde, vêm comprar livros aqui”.

Formação O investimento na formação, porém, se limita cada vez menos ao estudo autodidata e leitura de livros. Nesse sentido, em Salvador é pioneiro o trabalho do Grupo Ômega. Criado em 1997 pelo uruguaio de nacionalidade espanhola Mario Risso, de 62 anos, e hoje administrado com a ajuda de sua parceira Carla Mirello, de 43 anos, o Ômega ministra cursos de formação em Terapia Transpessoal. Desde 2002, entre esses cursos se encontra uma pós-graduação na área, vinculada ao Instituto Superior de Ciências da Saúde (INCISA), de Minas Gerais. “Tínhamos muito receio de nos vincular à academia, por medo de que fossem formatar o nosso modo de ensino. Torná-lo muito mecanicista e cartesiano. Mas a experiência tem sido boa”, nos conta Carla. É preciso, porém, considerar que mesmo num mercado cuja formação começa a se institucionalizar, ainda há espaço para profissionais autodidatas, especialmente se mais experientes. É o caso do auriculoterapeuta paranaense Lotar Müeller, de 69 anos, que já trabalha na Bahia há 9. “Há uns 43 anos, um amigo meu teve um problema de saúde. Ele foi num terapeuta, me cha-


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mou e eu me encantei. Comprei três livros, estudei e praticamente decorei os três. Quase fiquei louco, né? Mas... Hoje sou bem respeitado. Clientes do Paraná ainda me ligam, e graças a Deus criei três filhas com essa profissão”. A área parece inclusive ter alguns critérios específicos de diferenciação de qualidade entre seus profissionais. O estudo na China, por exemplo, parece ser um dos diferenciais entre os praticantes de acupuntura. É o que explica o terapeuta e professor Jurecê Machado, de 55 anos, com 26 de trabalho na área. “Recomendo que, seguindo os passos do mestre, meus alunos viajem à China logo que terminem o curso. Como a viagem custa cinco mil dólares, alguns não podem ir imediatamente, mas vão logo que se capitalizam”.

Mercado É possível também pensar a questão das terapias dentro de uma perspectiva mercadológica. Para isso, não é possível considerar apenas as relações entre terapeutas e seus pacientes, mas é também crucial o fenômeno de compra e venda de livros e materiais. Luís Augusto, dono da livraria Corpo e Mente, afirma que apesar de ter feito cursos na área holística, seu interesse é empresarial. “Vi que havia livrarias especializadas nesses tratamentos em São Paulo e nenhuma em Salvador. Percebi uma fatia de mercado que não era contemplada localmente, e em 2004 abrimos. Os lucros não são altos, mas diria que nos mantemos bem”. Em sua análise, o mercado cresce muito desde 2008. A livraria vende também artigos diversos, como pêndulos e cristais ra-

diônicos, agulhas descartáveis para acupuntura e florais de Bach, mas Luís deixa claro que a maior saída é de livros, especialmente sobre acupuntura e auriculoterapia. Quanto aos terapeutas, Carla Mirello afirma que a ideia do Grupo Ômega é formar gente que possa trabalhar bem e sem cobrar muito caro. “Alguns dos nossos estudantes fazem consultas a trinta, quarenta reais”. Ela acredita que terapeutas que cobram mais caro em geral o fazem por ter adquirido algum reconhecimento na área. É o caso de Sérgio Areias, que cobra R$ 415,00 pela primeira consulta e R$ 190,00 pelas subseqüentes. O que há em comum entre ele e terapeutas como Cícero Argollo, que cobra R$ 50,00 pela primeira sessão e R$ 30,00 pelas posteriores, é que a maioria dos terapeutas parece, em algum dia da semana ou período do mês, atender sem custos clientes das classes populares. Perguntados sobre a classe econômica dos seus clientes, a maioria dos terapeutas parece concordar que em cidades metropolitanas, como é o caso de Salvador, o grosso do público tende a ser de classe média, mas no interior pode-se perceber uma clara ligação dessas terapias com as classes populares. Percival Carpi, do Sinth-Ba, problematiza que em cidades pequenas a chegada de um terapeuta muitas vezes esvazia o consultório do médico local, quase sempre também pertencente à classe política ou proprietário de terras. Esses médicos usam sua influência junto aos aparelhos legais para impedir o trabalho dos terapeutas, geralmente através de denúncias de charlatanismo ou prática ilegal da medicina.

Charlatanismo? Quando há denúncias de charlatanismo, Percival argumenta que o sindicato procede uma investigação. “Ano passado, em Feira de Santana, um terapeuta que ministrava cursos de graça apenas para vender os fitoterápicos que fazia em casa aos seus alunos teve o credenciamento cancelado. Houve outro caso, um pouco antes, de um terapeuta injustamente denunciado por fraude. Só da documentação que juntamos provando que o cara era sério o processo foi logo arquivado, nem chegou a ser julgado”. Muitos terapeutas argumentam que o excesso de denúncias de charlatanismo se deve ao fato da ciência ocidental ainda não ter desenvolvido instrumentos capazes de provar com exatidão a eficácia desses tratamentos e seus métodos, o que tem mudado com a física quântica . Laércio Fonseca, 55 anos, físico paulista com especialidade em astrofísica e cosmologia, autor de livros sobre medicina complementar e professor de Kung Fu, Tai Chi e Yoga, critica os cientistas que argumentam contra a eficiência das terapias. “A maior parte dos físicos que não acredita é porque nunca foi a campo. Nunca pesquisaram a fundo, nem fizeram um estudo sério. É como os astrônomos que dizem não acreditar em discos voadores sem nunca ter estudado o fenômeno, enquanto a Força Aérea Brasileira tem dados da existência de OVNIs”. Laércio afirma que, em verdade, a física quântica tem servido para explicar fenômenos antes exclusivamente associados à religiosidade, como passes espirituais e astrologia.

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Caiu na Rede... Saiba como as agências de publicidade têm lidado com as redes sociais do ciberespaço texto Karina Ribeiro e Marília Moreira

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ciber Gilberto Gil já versou que quer “entrar na rede, promover um debate e juntar via internet um grupo de tietes do Connecticut”. A publicidade soteropolitana também procura “velejar nesse infomar”, visando dar uma guinada rumo ao consumo de nicho através das redes sociais, alternativa que contrasta com o caráter tipicamente varejista do mercado local. A publicidade em redes sociais assumiu relevância nacional em 2007, quando grandes marcas internacionais como a Nokia, Microsoft e Coca-Cola arriscaram, patrocinaram experiências, erraram e acertaram, aproveitando, assim, “a vazante da infomaré”. Apesar de as discussões acerca do assunto serem relativamente recentes, as redes sociais são um fenômeno antigo e não surgiram no ciberespaço. Para Raquel Recuero, pesquisadora de mídias sociais da Universidade Católica de Pelotas, as redes sociais são constituídas de dois elementos básicos: as pessoas e suas conexões, as quais podem ser entendidas como relações estabelecidas a partir da interação. No ciberespaço, no entanto, estes elementos das redes sociais interagem de modo distinto, por serem mediados pelo computador. Wagner Fontoura, sócio e diretor de planejamento da Coworkers, agência especializada em mídias sociais, afirma que hoje “essas redes privilegiam a construção de relacionamentos entre as marcas e seus públicos.” Através delas é possível fazer ações em redes sociais que sejam convertidas efetivamente em vendas com métricas, inclusive, de resultados financeiros.

Segundo dados do Ibope Nielsen Online, 79% dos internautas brasileiros já fazem parte de redes sociais e dedicam mais tempo às atividades que as envolvem. É possível perceber a importância desse tipo de rede no Brasil não apenas pelos dados estatísticos, mas também ao observar como o assunto tem sido largamente abordado em matérias jornalísticas, pesquisas e em conversas cotidianas. As agências publicitárias que têm se apropriado dessas informações já sabem o quanto é promissor investir nas redes sociais, seja para lançar um produto, realizar uma promoção ou fidelizar clientes às marcas. Mel Oliveira, analista de planejamento online da Ideia 3, ressalta o fato de muitos consumidores não estarem mais tão ligados à televisão ou aos outros veículos tradicionais. Ela atenta que o cliente deve investir na publicidade digital, pois acaba atingindo esse segmento formado por públicos específicos. Segundo Claudio Lins, executivo digital da agência Morya, uma das vantagens da utilização das redes sociais pela publicidade é que estas permitem uma comunicação mais estrita com o público alvo, uma propaganda direcionada e com uma margem de acerto bem maior.

Mudança de maré Explorar e lidar com consumidores mais exigentes são condições das agências publicitárias que desejam potencializar os efeitos das redes sociais. Essas são ferramentas bastante eficazes para fidelizar clientes e gerar força

de marca. Mel Oliveira afirma que “o consumidor geralmente pesquisa tanto sobre o produto de seu interesse que, às vezes, ao chegar à loja, está mais informado que o vendedor”. Promover modos de informar os consumidores acerca de um produto é estimular esse perfil de usuário. As agências tradicionais de publicidade têm tentado se adaptar às mudanças do mercado e às exigências dos clientes e consumidores. Enquanto as grandes marcas têm agências cuidando das suas contas de publicidade e propondo estratégias em redes sociais, as tradicionais subcontratam outras empresas especializadas em publicidade digital. Fontoura considera que os dois tipos de negócio não concorrem entre si, mas se complementam. “São praias distintas”, brinca. Há, ainda, aquelas empresas que criam equipes próprias. Com a atual tendência de colaboração que pode ser identificada na internet, muitas agências tradicionais vêm se adaptando. É o caso da Engenhonovo que, em parceria com a PaperCliq, empresa de comunicação e estratégia digital, criou uma rede social no Ning (plataforma online que permite a criação de redes sociais individualizadas) para o compartilhamento de informações entre os membros da agência. Ana Carolina Monteiro, que atua no departamento de mídia da agência, afirma que a primeira etapa da transformação teve como objetivo uma provocação dos funcionários. “Se a ideia de se trabalhar com publicidade digital parece nova para o cliente, para a equipe não é diferente. E temos de comprar a ideia antes de vendê-la”, diz. Outro exem-

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ciber plo de adaptação às mudanças na publicidade pode ser encontrado na agência Morya, que há pouco tempo contratou Cláudio Lins para participar do projeto “Conectar Morya”, que visa aumentar o grau de conhecimento digital de cada funcionário e a reformulação do site da agência para que esteja direcionado, também, às redes sociais.

Criar um website? As redes sociais não atraem muitos investimentos publicitários em Salvador. Segundo Paulo Petitinga, diretor de planejamento da SLA Propaganda, até se pensa em fazer publicidade em internet, mas os investimentos não ultrapassam os limites da forma. “Se nós fizermos uma enquete, boa parte do público está preso, ainda, ao Orkut. O Twitter está crescendo e o Ning também, se consideramos os clientes mais ‘antenados’”, constata. Ana Carolina Monteiro critica uma fórmula seguida por muitos publicitários, que relacionam uma rede social à classe socioeconômica do público, ou seja, que determina que se você quer trabalhar com classe C, deve ir para o Orkut, com classe A e B, para o Facebook. Para ela, essa é uma análise rasa que se prende, mais uma vez, à forma e esquece que a comunicação deve ser pensada de forma integrada. Os poucos projetos de publicidade digital que foram comprados em Salvador revelam que o mercado é promissor e também que algumas empre-

sas podem vir a investir de forma mais efetiva nessa área. A maioria das agências tradicionais afirma que o cliente pouco procura a publicidade digital ou então não sabe bem porque quer estar inserido nas redes sociais. Quem mostra e oferece os direcionamentos que podem ser tomados na hora do planejamento estratégico é a empresa publicitária. Petitinga expõe uma visão crítica ao falar que “o cliente, muitas vezes, está passivo enquanto a agência tenta mostrar-se pró-ativa. O trabalho chega a ser meeiro e rasteiro porque o cliente está despreparado e não sabe exigir da agência um trabalho de melhor qualidade. Então se cria uma zona de conforto na qual o cliente não entende muito e a agência não sabe como manejar. Os dois acabam caindo num lugar comum e ficam por isso mesmo”. Esse ponto de vista é compartilhado por Monteiro, que afirma ter, na Engenhonovo, uma preocupação em relação ao compartilhamento de informações com o cliente, que não está preparado para avaliar a qualidade do trabalho devido à carência de dados e resultados. Monteiro acredita que, a partir do momento em que eles souberem lidar com essas informações, serão capazes de criticar o trabalho feito pela agência, o que implicará numa melhoria na qualidade dos serviços oferecidos e do mercado de publicidade digital como um todo, em médio prazo. A desconfiança dos clientes diante desse novo fazer publicitário origina-

PauloPetitinga

A internet é uma criança mal educada que vai dizer na sua cara que você é chato.

AnaCarolinaMonteiro

Não acredito que o formato seja o de agências especializadas em publicidade digital

MelOliveira

Uma empresa, por exemplo, vendeu um imóvel pelo Twitter. Então, é o cara que está ali na Internet, mas não está vendo TV. É uma venda a mais.

WagnerFontoura

Na BA de um mercado varejista e cheio de peculiaridades, as possiblidades vão além do varejo, passam tb pelo social mkt político

se, sobretudo, por duas razões: em primeiro lugar, eles receiam não conseguir estabelecer uma conversa com os consumidores de sua marca ou produto de forma efetiva. Em segundo, temem não poder controlar aquilo que será dito pelos consumidores na rede. Para Monteiro, esse medo é injustificável, uma vez que o processo comunicacional mudou após a internet e os consumidores passaram a fornecer um feedback para o anunciante. Os comentários antes estavam restritos ao ambiente de trabalho ou familiar acerca de determinado produto. Hoje são divulgados em tempo real e a empresa pode reposicionar a marca caso comentários negativos ecoem na rede. Além desses fatores, investir em redes sociais não é barato. Wagner Fontoura explica que a publicidade na web não é um meio gratuito sob nenhum aspecto, mas que o custo-benefício é melhor que o obtido com os meios tradicionais. Para ele, o engano é derivado de uma prática passada. “Antes os grandes veículos de comunicação, como jornais e revistas, vendiam caro os espaços publicitários dos seus produtos e, quando precisavam, davam de graça espaços nas suas mídias online. Criaram um mito e um monstro. O mito é o de que internet é um meio gratuito ou barato para se fazer investimento publicitário. O monstro é que agora as mídias sociais geram lucro para as empresas, e ficou difícil explicar isso para os clientes: o que antes não valia nada, agora tem valor”.


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Copie Compartilhe Distribua Com propostas de democratização da informação e do uso de tecnologias livres, o Partido Pirata tenta achar espaço na política brasileira texto Leonardo Pastor e Nelson Oliveira ilustração Ananda Lima

Em abril deste ano, a Europa entrou em colapso por um motivo bastante curioso. As cinzas do vulcão Eyjafjallajökull partiam da Islândia e se espalhavam pelo continente, atrapalhando a realização de eventos e fechando aeroportos, já que a composição química das cinzas impedia que os aviões pudessem voar. O fenômeno natural atrapalhou também a realização da Conferência do Partido Pirata Internacional (PPI), que uniu em Bruxelas, na Bélgica, representantes de cerca de 40 partidos Pirata espalhados pelo mundo. Em 2006, formou-se o primeiro Partido Pirata, na Suécia, que trazia o nome “pirata” como uma provocação em relação ao que comumente se chama pirataria. Segundo a sessão de perguntas do site do grupo [partidopirata.org/faq], “associamos pirataria a compartilhamento, e isso inclui reprodução, mas não falsificação”. Em comum, todos os partidos defendem o fim do copyright, o livre compartilhamento de bens culturais, a privacidade dos usuários da internet e a transparência das contas dos governos.

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Na Bélgica, os piratas se reuniram para articular a votação de seu estatuto, sua carta de princípios e a eleição da nova “diretoria”. Com aspas, salienta Jhessica Reia, representante do Partido Pirata Brasileiro na conferência. Isso porque, segundo ela, o partido não possui hierarquia e seus simpatizantes denominam-no “antipartido”. Jhessica explica que foi escolhida para representar os piratas brasileiros através de uma consulta realizada no fórum do partido, para onde os candidatos poderiam submeter uma pequena apresentação e um plano de atuação na conferência.

Piratas verde-amarelos Hoje, o escopo do Partido Pirata Brasileiro (PPBr) já é o mais amplo de todos os partidos Pirata do mundo. É

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o que diz Leandro Chemalle, membro desde 2009, quando conheceu o partido a partir de debates sobre software livre e propriedade intelectual na Campus Party Brasil – evento que reúne interessados em tecnologia e cultura digital. Em seguida, passou a frequentar listas e encontros, tornando-se um membro ativo nas discussões. O PPBr surgiu em 2007, inspirado num movimento internacional iniciado após o Partido Pirata sueco conseguir participar de eleições. “Não existe um ato fundador do Partido Pirata Brasileiro. Ele surgiu na internet com colaborações diversas e anônimas, inicialmente no fórum do Partido Pirata Internacional, até termos um local próprio”, explica Adriano Belizário, responsável pela comunicação do partido com a imprensa. Hoje melhor sistematizado, com

ideias e propostas bem definidas, o grupo de piratas brasileiros já conta com alguma mobilização na web. Através de listas de discussão, fóruns e reuniões online, simpatizantes participam da estruturação do partido nacional. Em seu site, partidopirata.org, há uma extensa lista de questões explicativas sobre o partido e seu projeto. Nela, há propostas claras de defesa do acesso à informação, do compartilhamento do conhecimento, da transparência na gestão pública e da privacidade. Além disso, há a preocupação com a inclusão digital, o uso de softwares livres e a construção de políticas públicas atreladas à participação e colaboração popular. “Nos encontramos em uma causa comum, que é a repaginação do que entendemos sobre o direito ao acesso à cultura, à liberdade de expressão e à privacidade”, explica Ricardo Lima,


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‘ ‘ Ado estrutura do PartiPirata, explicam os ‘‘

membros, é horizontal, ou seja, não há hierarquias, mantendo decisões sempre realizadas em conjunto.

atuante no PPBr desde 2008. Toda a estrutura do Partido Pirata, explicam os membros, é horizontal, ou seja, não há hierarquias, mantendo decisões sempre realizadas em conjunto. “Os responsáveis pelo Partido Pirata são todos os membros da rede. Procuramos nos organizar sem hierarquias”, diz Adriano. Por isso, ferramentas de comunicação via internet mostram-se fundamentais. Para Ricardo Lima, é importante viabilizar reuniões presenciais, porém, devido à extensão do território brasileiro, é também essencial abusar de tecnologias. Além de listas de e-mail, há um fórum de discussão e um sistema, ainda em desenvolvimento, chamado Liquid Feedback. Trata-se de um software para votações internas, criado por membros do Partido Pirata Alemão, “que pesa democraticamente tanto aprovações quanto rejeições dentro de temas discutidos”, explica Ricardo. Porém, para manter-se fiel à questão da participação, colaboração e transparência, e tornar possível a criação de um programa partidário, é necessário manter algum tipo de organização. Inicialmente, segundo Jhessica Reia, tal articulação é feita de forma mais descentralizada, a partir de coletivos locais. Ela afirma que “todos têm autonomia para se organizar da forma que acharem melhor, a fim de consolidar uma comunidade, tendo o Partido Pirata como catalisador de idéias e ações”. Segundo Ricardo Lima, o fórum do partido e as listas de discussão na internet têm servido bastante para o atual estágio de organização do PPBr. Além das dificuldades de organi-

zação interna no território nacional, o Partido Pirata também encontra um grande obstáculo para obter seu registro oficial. Segundo a lei brasileira, para ser oficializado, um partido deve juntar pelo menos 500 mil assinaturas, espalhadas por onze estados da federação. Jhessica Reia destaca a disparidade em relação a outros países, como a República Tcheca ou a própria Suécia, onde se pode oficializar um partido com apenas 5000 assinaturas. Visando facilitar este processo, Leandro Chemalle escreveu uma proposta para o Tribunal Superior Eleitoral propondo que o órgão disponibilize um mecanismo de recolha de assinaturas em seu próprio site, solicitando o número do título eleitoral para computá-las. Este sistema seria auditorado pelo próprio poder judiciário. Chemalle também acredita que as discussões em torno do projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo (PSDBMG), que visava estabelecer um controle social da internet, mostram a importância de os parlamentares brasileiros procurarem entender de temas relacionados à internet e suas estruturas. “Existem parlamentares que têm entendido um pouco desses temas, mas é necessário e urgente que existam ‘nativos digitais’ no parlamento”, defende, reafirmando a importância da entrada dos piratas no jogo eleitoral. Wilson Gomes, pesquisador em Comunicação e Política da Faculdade de Comunicação da Ufba, acredita que o objetivo do PPBr não será alcançado facilmente. O professor afirma que partidos ideológicos têm poucas chances em eleições no panorama político atual. “Partidos com agendas reduzidas ou monoagendas têm menos chances de alcançar o eleitor médio, que constitui a maior parte da população. Dessa forma, candidatos destes partidos não obtêm votação expressiva”, afirma. Já João Caribé, publicitário e ciberativista, acredita que o PPBr já deveria ter adentrado o campo da política. “Acredito que o PP saberá utilizar com eficiência as formas de relacionamento horizontal permitidas pela web, incluindo e convocando a sociedade a um exercício parlamentar colabora-

tivo”, explica. Ele, inclusive, defende que o ciberativismo não se afaste da política, facilitando assim debates importantes para a sociedade.

Universidade Pirata Inspirada nas ideias do Partido Pirata, Fabiana “Goa” Sherine, uma das responsáveis pelo Pontão de Cultura JuntaDados, em Lauro de Freitas, idealizou um projeto de ensino relacionado ao uso de tecnologias livres. Trata-se da Universidade Livre – antes chamada de Universidade Pirata. Apesar de ser voluntária do partido, Fabiana diz que o projeto não tem nenhuma relação direta com o PPBr. “A Universidade Livre não está ligada ao Partido Pirata. É um projeto de pesquisa de um coletivo, que acredita na generosidade intelectual, e que está apenas sediado no Pontão”, explica. Ainda assim, a Universidade Livre remete a vários temas tratados pelo partido. Segundo Fabiana, o objetivo é trazer uma democratização de tecnologias e comunicação, através do fomento do software livre num contexto de “arte – mídia – tecnologia”. “Nesse espaço aberto e livre, reunimos pessoas que desconstroem de certa forma a apropriação tecnológica, a comunicação e a educação formal recombinando elementos cotidianos na construção de registros reais”, diz. Em termos práticos, o projeto baseia-se em aulas de inscrição gratuita nas quais se aprende sobre técnicas de vídeo, web, áudio, edição gráfica, desenvolvimento de softwares, tudo com base em tecnologias livres. Algo importante, tanto relacionado ao Partido Pirata quanto à Universidade Livre, é a necessidade de se diferenciar o termo “pirata” de “pirataria”. “Aqui dentro a gente não faz pirataria: pelo contrário, damos a oportunidade para que as pessoas produzam materiais que não serão pirateados, justamente porque são livres”, afirma Fabiana. De forma parecida, o Partido Pirata critica em seu site a falsificação, indicando que há uma defesa, na verdade, pela criação de novos produtos legítimos.

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Surf no sofá A rede social que conecta pessoas do mundo em torno de um espírito de hospitalidade texto Verena Paranhos fotos Agnes Cajaiba/LABFOTO

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Após navegar na internet, muitos usuários aproveitam para “surfar” outras ondas, ou melhor, sofás. Nessa aventura ninguém se arrisca a “pegar ondas” em cima de um sofá três lugares de camurça, mas muita gente aceita dormir na sala, no chão, no quarto, no quintal ou no sofá de um desconhecido. O “surf no sofá”, tradução da expressão Couchsurfing, com origem na rede social couchsurfing.org surgida em 2003, é praticado por cerca de um milhão e 900 mil pessoas no mundo e mais de 50 mil no Brasil. No Couchsurfing, pessoas de 230 países podem se conhecer via web, trocar mensagens sobre viagens e locais, dar dicas, marcar encontros, oferecer acomodação em suas casas e também buscar um lugar para se hospedar, tudo baseado no princípio da hospitalidade. Foi o que fez Murilo Alves Pereira, de Foz do Iguaçu,


ciber em sua última viagem pela Europa. “Entre fevereiro e março de 2010, me hospedei em sete casas de surfistas de diferentes países, uma experiência melhor que a outra”. Murilo destaca nesta forma inusitada de se hospedar a vantagem de ter alguém da cidade para mostrar os pontos mais importantes e dar a visão de um morador local: “É bem diferente da pasteurizada visão de agência de viagem”. Segundo Pedro Henrique de Mello, membro do Couchsurfing desde 2005 e um dos embaixadores locais do site em Salvador, as duas premissas básicas do Couchsurfing são conhecer um lugar através de uma perspectiva local (saindo com moradores, fazendo amigos) e baixar o custo da viagem. No CS, como é conhecida a rede, tão importante quanto surfar, é acolher pessoas ou simplesmente marcar para um coffee or drink (uma das opções do site). Murilo, que em 2009 hospedou 31 “surfistas”, conta que já rodou o mundo conversando com as pessoas que passaram por sua cidade e sua casa: “hospedei um australiano que mostrou algumas técnicas de quiropraxia. Um casal francobúlgaro que está viajando por todo o mundo, outro francês que faz o mesmo, mas de bicicleta. Recebi um doido do Japão, um casal super simpático da Letônia, um trio de tchecos. Gente de todos os lugares, cada um acrescentando uma informação, um conhecimento, uma experiência”. Com base nesta filosofia da hospitalidade, há até quem ceda seu quarto

para que os guests (hóspedes) fiquem mais bem acomodados: “Uma vez, hospedei uma família da Lituânia com três filhos e, para que ficassem juntos, deixei que usassem meu quarto, que é o maior da casa”, conta Alexandre Andrade, participante do CS há três anos. Este morador de Mangaratiba (RJ) costuma hospedar, em média, dois “surfistas” por mês. “Por estar numa cidade pequena, o número de pedidos que recebo não é grande, comparado a quem mora no Rio de Janeiro, que é bombardeado diariamente com cinco a dez pedidos de couch”. Alexandre costuma dizer que é obsessivo quando está “trabalhando” no site: ele é atualmente um dos encarregados de dar boas vindas aos novos usuários da rede. “Estou chegando à marca de 257 mil mensagens de boas vindas em três anos, o que representa um contato inicial com quase 15% dos membros do site”. Ao participar do CS, ninguém é obrigado a hospedar outro membro. O usuário pode simplesmente ajudar de alguma maneira e contribuir com a filosofia da hospitalidade. Para Saran Koly, jornalista costa-marfinense que morou no Brasil em 2009 e já surfou em diversas cidades do mundo, Couchsurfing é um modelo de solidariedade, em que todos os membros participam de alguma forma: ajudando com a língua, hospedando ou curtindo a vida noturna de um lugar. “Na realidade a comunidade não é virtual, o espírito CS é bem real. Só o primeiro contato se faz pela internet”, defende.

“Surf” seguro Uma das premissas para que o Couchsurfing dê certo é a confiança, pois encontros e hospedagens são combinados entre pessoas que nunca se viram antes. O site do CS tem mecanismos que buscam garantir segurança a seus usuários, como os vouchs, garantias que um membro dá a outro usuário reconhecendo que ele é confiável. Os usuários também podem dar depoimentos positivos ou negativos sobre outro membro depois de um contato, seja ele virtual ou presencial. “Você pode explorar as informações de uma pessoa e, se lhe parecer estranho, simplesmente não aceitar hospedá-la, assim como também pode escolher melhor para quem você vai escrever pedindo um couch”, conta Murilo, hoje um experiente nas aventuras do CS, mas que a princípio tinha o “pé atrás”. “Na primeira vez em que hospedei, cheguei a telefonar para pedir referências ao brasileiro que tinha hospedado a pessoa anteriormente”, diz. A maioria dos membros relata que nunca teve problemas no Couchsurfing. Pedro Henrique mostra total confiança nas pessoas que aceita hospedar pelo CS, já tendo, inclusive, deixado a chave de casa com a vizinha para que uma paulistana “surfasse” não só em seu sofá, mas em sua casa inteira, enquanto estava fora de Salvador. “O importante não é só o número de referências que se tem, mas verificar quem deixou as referências. Deve-se identificar se não são perfis falsos”, afirma.

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um lugar através de uma perspectiva local e baixar o custo da viagem

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ficar se não são perfis falsos”, afirma. Já André Lima ainda não se sente seguro para hospedar “estranhos” em casa, mesmo sendo membro do CS em Salvador há um ano e meio. Ele se aproximou da rede porque gosta de encontrar e conhecer gente de outros lugares para fazer amizade. “Até o sistema de vouchs é inseguro porque tem gente que implora a outros para lhes darem vouchs e, dessa forma, ganhar reconhecimento, como se fosse uma espécie de ‘medalhão de segurança’”, afirma. Entretanto, problemas surgem quando as pessoas se desviam do espírito do Couchsurfing e quebram as guide lines (linhas de orientação de conduta do site), como, por exemplo, cobrando uma ajuda financeira pela hospedagem ou usando a rede para divulgar pacotes turísticos e produtos. De acordo com Pedro Henrique, um problema surgiu uma vez com um estrangeiro que passou uns meses em Salvador, fez amizade com o grupo CS, mas sempre inventava uma desculpa para não se deixar fotografar. “Ele pediu dinheiro adiantado pelos pacotes turísticos que vendeu e sumiu. Depois se descobriu que as referências positivas vinham de perfis falsos”.

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As comunidades do “surf” Uma das possibilidades do Couchsurfing é a participação em grupos virtuais, onde as pessoas se conhecem, dão dicas de lugares, planejam atividades, encontros e eventos. Criado por Pedro Henrique em 2005, época em que existiam poucos brasileiros no CS, o grupo “Salvador da Bahia” é bastante ativo, com muitas discussões e atividades culturais. Viajantes e mochileiros, brasileiros ou não, costumam postar mensagens com os dias em que vão estar na cidade e procuram saber quais atividades vão acontecer no período, assim como se alguém estaria disponível para mostrar a cidade ou se encontrar. Em geral, os participantes propõem encontros semanais, em datas festivas e programas que se diferenciam dos roteiros tradicionais feitos por turistas: passeio de trem no subúrbio ferroviário, passeio de barco para Ilha de Maré, visitas a exposições e idas a shows, por exemplo. “Não costumo levar ninguém para fazer passeios turísticos. Se quiserem ir ao Pelourinho ou ao Farol da Barra podem ir sozinhos. Levo, por exemplo, as pessoas para comer moco-

tó em qualquer bairro popular”, conta Pedro Henrique. A maioria das pessoas toma conhecimento da existência do Couchsurfing através de amigos ou de reportagens publicadas na imprensa. Esse segundo fator influencia o grande crescimento da rede no Brasil, assim como o aumento do número de participantes do grupo “Salvador da Bahia”, que conta atualmente com cerca de duas mil pessoas. Entretanto, alguns membros mais antigos discordam da postura e dos interesses da maior parte dos novatos. “Começaram a surgir pessoas com perfis mais exibicionistas, com fotos e interesses que destoam da filosofia do Couchsurfing. Virou algo como um site de encontros e relacionamentos amorosos. Mas ainda existem pessoas que resistem a esse tipo de postura”, aponta André Lima. Pedro Henrique também identifica esta tendência e a atribui à “cultura do deslumbramento com o gringo”, muito comum na Bahia. “Se uma estrangeira deixa no grupo uma mensagem dizendo que quer conhecer a cidade, aparecem logo dez homens disputando para encontrá-la. Se uma brasileira faz isso, não acontece a mesma coisa”.


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A aquarela d’Elisabeth texto Flávia Santana e Marcelo Lima ilustrações Elisabeth Teixeira

Elisabeth Teixeira iniciou sua carreira como ilustradora infantil em 1990, quase sem querer: um amigo viu seu traço diferente e sugeriu que fizesse freelancers como desenhista de livros infantis. Queria ser fotógrafa, mas, como ela mesmo revela, “o desenho me escolheu e veio com muita força”. A partir do ofício iniciado por acaso, Elisabeth Teixeira publicou mais de noventa títulos, recebeu diversos prêmios e participou de festivais. Dentre os eventos que foi convidada, ­destaca-se a Mostra de Sarmede de 1997, na Itália, na qual percebeu pela primeira vez “o que a ilustração do livro infantil poderia produzir em termos de literatura de alta qualidade e diversidade”. No blog ­elisabethteixeira. blogspot.com ela posta alguns de seus trabalhos e recebe comentários de fãs. Curiosamente, a maioria dos que comentam são leitores adultos, que conheceram seu trabalho quando eram crianças. Na verdade, a ilustradora se queixa do pouco contato com os pequenos, pois “o escritor sempre está indo ao encontro das crianças nas escolas ou nas feiras, mas com o ilustrador isso não acontece”, explica. Em 2010, Elisabeth Teixeira lançou o primeiro livro em que também escreveu a história, “Os Três Cães Negros”, pela editora Larousse Júnior.

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