Revista Geração Sustentável - Edição 15

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VOCÊ OU SUA ORGANIZAÇÃO desenvolveRAM alguma nova tecnologia para construir um mundo sustentável? Então inscreva-a gratuitamente até 31/1/2010 e compartilhe sua idEia.

De 11 a 14 de MAIO, no Hotel Transamérica – São Paulo Metodologias, técnicas, sistemas, processos e equipamentos economicamente viáveis que promovam o desenvolvimento sustentável. Venha expandir seu conhecimento sobre as tecnologias disponíveis e se adeque a esta nova era econômica.

Informações e inscrições pelo site: www.ethos.org.br/mostra2010 ou fale conosco pelo e-mail: mostra@ethos.org.br

mostra de

tecnologias sustentáveis 2010


A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta!

novembro/dezembro • Ano 3 • edição 15

Isak Kugrianskas

16 Capa

04 Editorial 05 Espaço do Leitor 06 Notas 52 Publicações e Eventos 54 Cidadão & Ação

Gestão Sustentável Ser Sustentável Destaque Jurídico

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Visão Sustentável

Mais tecnologia, menos impacto

Responsabilidade Social Corporativa

Anjos da Limpeza

40 Responsabilidade Ambiental

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Relacionamento que vai além da oferta de soluções

44 Energias Renováveis

A possibilidade do carro verde mais próxima do consumidor

Soluções para o e-lixo

48 Gestão de Resíduos 02 15 27 31 33 37 39 43 45 47 49 51 52 53 55

Instituto ETHOS Consult FIA - USP De Figueiredo Demeterco Civitas Seduc IBF Ecossocial Junior Achievement-PR Estação Enfoque

Anunciantes e Parcerias

32 49 50

Empresa e Universidade - União que acelera o crescimento e diminui os impactos no planeta

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Colunas

Capa

Matérias

12 Entrevista

Acessus Jornal Meio Ambiente Rede de Sustentabilidade Monte Bello

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Editorial

Um sopro no presente para transformar o futuro Os alertas para a preocupação com as responsabilidades social e ambiental hoje representam mais do que demanda de mercado. São sinais de que grande parte dos modelos utilizados até hoje para alcançar desenvolvimento se quebraram. Muito do que foi conquistado e se transformou em riqueza, mais do que lucro, trouxe um grande aprendizado: fizemos muita coisa errada. O planeta dá sinais claros de que não vai suportará mais tantos impactos, e a sociedade continua sofrendo as mesmas mazelas da desigualdade que perduram há séculos. Mas hoje há quem aponte caminhos para um futuro mais promissor. São aqueles que conseguem enxergar a realidade de forma sistêmica, misturam aprendizados e derrubam as mais diversas fronteiras. O futuro sustentável está nas mãos de quem sabe a importância do crescimento compartilhado e que reconhece um mundo muito além do próprio umbigo. É de quem respeita a si e ao próximo e tem a humildade de buscar soluções nas mais diversas fontes. Por isso, nessa edição, a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL mostra a busca das empresas pela sustentabilidade e aponta um atalho para essa conquista: a união entre corporações e estudos acadêmicos. Afinal, não é novidade que o empresário precisa transformar seu negócio. Para isso, precisa rever conceitos e se perguntar se tem condições de criar um mundo novo ou manter apenas velhos hábitos para alguns próximos anos. A ponte para quem consegue enxergar além é a inovação. Então, por que não juntar esforços com aqueles que dedicam a vida às análises e pesquisas? E os exemplos dessa edição mostram que a mudança é possível e está muito mais próxima e palpável do que parece. Afinal, quem enxerga longe é aquele capaz de trazer o futuro para o presente – como o vento que espalha as delicadas partes de dente-de-leão, acelerando a busca por uma vida nova, com diferentes possibilidades e solos certamente mais férteis. Boa Leitura! Pedro Salanek Filho

Conheça o perfil do nosso leitor

Diretor Executivo Pedro Salanek Filho pedro@geracaosustentavel.com.br Diretora Administrativa e Relações Corporativas Giovanna de Paula giovanna@geracaosustentavel.com.br Jornalista Responsável Juliana Sartori (MTB 4515/18/155/PR) juliana@geracaosustentavel.com.br Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck criacao@geracaosustentavel.com.br Relações Corporativas Irene Baluta irene@geracaosustentavel.com.br Revisão Alessandra Domingues Conselho Editorial Pedro Salanek Filho Antenor Demeterco Neto Ivan de Melo Dutra Lenisse Isabel Buss Articulistas articulista@geracaosustentavel.com.br Colaboraram nesta edição Jornalistas: Criselli Montipó e Ana Letícia Genaro Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br Impressão Gráfica Capital

A impressão da revista é realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. O papel (miolo e capa) é produzido com matéria-prima certificada e foi o primeiro a ser credenciado pelo FSC - Forest Stewardship Council. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.

ISSN nº 1984-9699 Tiragem da edição: 5.000 exemplares 15ª Edição - Novembro/Dezembro - 2009

Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. CNPJ nº 08.290.966/0001-12 Av. Sete de Setembro, 3815 sala 15 - Curitiba - PR - Brasil CEP: 80.250.210 Fone/Fax: (41) 3346-4541

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Maiores informações acesse o mídia kit: www.geracaosustentavel.com.br

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

A revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opiniões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são terminantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos.


Espaço do Leitor

Gostaria de parabenizá-los pelo trabalho, adorei a Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL em formato digital, mais sustentável impossível. Parabéns! Laurelena Palhano SAGE/ COPPE/ UFRJ - Centro de Tecnologia

Escrevo para dizer que gostei muito do artigo “Quem quer ser um milionário?”, (Rosimery de Fátima Oliveira - ed. 14) na revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL. Coincidentemente tenho me preocupado nos últimos tempos com relação à idoneidade de informações que leio na internet, como por exemplo: um dia leio que o ovo é um grande vilão para nossa saúde e no dia seguinte recebo e-mail dizendo que pesquisadores descobriram o contrário; uns condenam a gema, outros a clara. Um dia leio que se nos entupirmos de água, mais saudável seremos e depois de uns dias a internet me avisa que água mineral... Melhor evitar excessos. Bom mesmo é buscar nas fontes naturais. Informativos de sites de RH mostram desenhos e explicações sobre a melhor posição do monitor e a altura correta que minha vista deve estar posicionada... E dois meses depois muda tudo. Sim, a gripe A e aquelas mensagens “bombásticas”... O surto foi pior na mente da gente que no corpo propriamente dito. Aí começo a me preocupar com tudo que estou comprando, comendo, bebendo, mastigando; levanta o monitor, abaixa o monitor, busca água no poço, tritura a linhaça, agora põe a linhaça de molho, coma o caroço do mamão para o bem do intestino, agora passe abacate com mel no rosto antes de deitar, faça o bolo só com a clara e tire a gema... Sem contar os resultados de

exames clínicos com observação, dois pontos e um nome estranho em seguida. Lá vou eu jogar tudo no Google. Enfim, tenho acesso à banda larga em casa e confesso que viver sem ela hoje seria muito difícil. Sou uma grande fã do Google, dos sites de amizades e de todas as facilidades que essa maravilhosa invenção nos trouxe. Mas acreditar em tudo que leio na “telinha”... Já não tenho certeza. Ontem li uma interessante reportagem da BBC contando que um de seus jornalistas de Londres fez uma experiência de ficar 72 horas seguidas sem acessar a internet no trabalho e em casa, e tentar trabalhar efetivamente sem ela. No final, ele conta que produziu muito, colocou todas as pendências em dia, conseguiu cumprir os prazos e acessar todas as informações necessárias de outra forma. Concluiu que grande parte de seu tempo estava sendo desperdiçada com leituras inúteis. Parabenizo-lhe pelo artigo e concordo plenamente com sua citação final que diz: “a pior crise é a da desinformação”. Marcinéia Marcelino Villela Consultora em Gestão

Vivi uma vida inteira me preparando para esse momento que o planeta está passando, é um momento extremamente delicado, decisivo, que precisamos nos unir mais do que nunca, acho até que essa é a lição maior. Fiquei conhecendo a revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL pesquisando em site que falam em sustentabilidade. Adorei a revista, está num caminho certo, parabéns, pela visão. Pérola Souza Desing de interior e artista plástica

Conheça o mundo digital da Geração Sustentável www.geracaosustentavel.com.br twitter.com/revistageracao revistageracaosustentavel.blogspot.com Rede Social: confrariasustentavel.ning.com

Revista Digital GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Sustentando

Mais quente Cientistas britânicos acabam de lançar um estudo que mostra que a temperatura média do planeta pode aumentar 4ºC até o final do século, se a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera permanecer como a atual. O Met Office Hadley Centre, que realizou a pesquisa, reuniu em um mapa interativo as possíveis consequências dessa elevação de temperatura para as várias regiões da Terra. O Brasil, por exemplo, pode aquecer entre 5ºC no litoral e 8ºC no interior. O estudo foi encomendado pelo Departamento de Energia e Mudanças Climáticas do governo britânico e mostra a urgência em cumprir a meta de manter o aumento da temperatura global em, no máximo, 2º C até 2100. Conheça o projeto e faça projeções no endereço: http://www.actoncopenhagen.decc.gov.uk/en/ambition/evidence/4-degrees-map/

Uma semana diferente A Kraft Foods Brasil promoveu no mês de outubro uma semana de solidariedade por meio do programa Faça Uma Semana Deliciosa e Diferente. Durante seis dias, 2.500 colaboradores participaram da ação que beneficiou mais de 20 mil pessoas no país por meio de trabalhos voluntários nas áreas de combate à fome, promoção de hábitos saudáveis e fortalecimento de comunidades locais.

Varejo sustentável A empresa Leroy Merlin inaugurou no final de outubro a 1ª Loja de Varejo com certificação ambiental. A loja fica em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, e recebeu a Certificação AQUA - Alta Qualidade Ambiental, auditada pela Fundação Vanzolini em três etapas distintas: no programa, concepção e realização do edifício acabado. O Processo AQUA de construção sustentável é a adaptação para o Brasil da “Démarche HQE”, da França adaptado às especificidades brasileiras, contém os requisitos para o Sistema de Gestão do Empreendimento e os critérios de desempenho nas 14 categorias da Qualidade Ambiental do Edifício.

Uma árvore para cada quatro vagas A construtora MRV Engenharia decidiu tomar uma atitude para diminuir o impacto ambiental nas suas construções. Em Curitiba, uma árvore é plantada para cada quatro vagas de garagem construídas. A empresa também planta duas árvores quando uma é arrancada durante uma obra.

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL


Sustentando

Banho ecológico O chuveiro elétrico é um dos principais aparelhos consumidores de energia de uma casa. Para acabar com o desperdício, foi lançado o Eco Shower Slim, um controlador de temperatura de chuveiro que promove economia de água e energia elétrica. De acordo com seu fabricante, o controlador de temperatura apresenta economias superiores a 40% de água e de energia e pode ser instalado em qualquer chuveiro elétrico (110 ou 220 V). Saiba mais: www.ecoshower. com.br

Potencial

Construtivo Verde Curitiba já conta com o primeiro empreendimento do Brasil construído com o auxílio do potencial construtivo verde. Um conjunto de apartamentos, no bairro Sítio Cercado foi viabilizado por meio da RPPNM (Reserva Particular do Patrimônio Natural Municipal) Cascatinha, a primeira do Brasil e localizada em Santa Felicidade. Parte do potencial construtivo da reserva foi revertido para o imóvel, que tem 58 apartamentos em quatro blocos. O empreendimento, chamado de Dream Life Condomínio, foi concebido pelo Grupo Borges dos Reis e pela Baú Construtora e une a sua origem – a reserva natural – a um futuro mais responsável.

A gente não quer só comer A Marbel Alimentos, que atua na área de distribuição de cestas básicas, lançou o Projeto Marbel Por um Mundo Melhor. Como primeira ação, a empresa adotou a Educação Básica para Todos, com o objetivo de estimular a leitura das crianças dentro de casa. O primeiro passo desse projeto da Marbel é a Cesta Literária, que consiste na incorporação de livros nas cestas de alimentos produzidas pela empresa. A iniciativa já conta com as parcerias do escritor Ziraldo, que está escrevendo uma história por mês da obra O Menino Maluquinho; do Ministério da Cultura, por meio do programa Fome de Livro, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, da Unesco e da Abrinq. Desde o início do projeto, já foram distribuídos mais de 600 mil livros. A mensagem é muito clara: livro tem que ser tão básico quanto feijão e arroz nas casas das nossas famílias. Livro também é gênero de primeira necessidade.

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anos gerando sustentabilidade

SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL REVISTA GERAÇÃO SUSTENTÁVEL LANÇA PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL O I PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL “SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL” é um programa desenvolvido pela Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL que visa reconhecer as iniciativas corporativas para um desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade empresarial, definida pelo instituto Ethos, consiste em: “assegurar o sucesso do negócio no longo prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, com um meio ambiente saudável e uma sociedade estável”. Neste intuito, aspectos como responsabilidade social corporativa, comprometimento com a comunidade, gestão socioambiental e ética empresarial são temas recorrentes no mundo dos negócios e estarão cada vez mais fazendo parte das definições estratégicas e da visão de negócio das organizações. A tendência atual dos negócios pressupõe que as empresas sejam rentáveis e gerem resultados econômicos, mais também contribuam efetivamente para o desenvolvimento da sociedade e para a conservação do meio ambiente. O prêmio reconhecerá, em 2010, as ações e iniciativas sustentáveis de empresas e demais organizações realizadas nas quatro categorias mencionadas abaixo: • Gestão Sustentável • Responsabilidade Social Corporativa • Responsabilidade Ambiental • Práticas para a Sustentabilidade Maiores informações e o regulamento do prêmio podem ser obtidos pelo e-mail contato@geracaosustentavel.com.br


Sustentando

Fórmula 1 e o prêmio de plástico O GP Brasil de Fórmula 1, em Interlagos, em outubro deste ano teve uma atração à parte – a reciclagem de plástico. Durante todos os dias do evento, uma mini usina de reciclagem esteve em funcionamento para recuperar o plástico descartado, transformá-lo em troféus e entregar como prêmio aos vencedores da prova de Fórmula 1. A empresa Braskem foi a empresa responsável pela produção do troféu com resina reciclada.O inédito projeto foi desenvolvido conjuntamente pelas empresas Romi e Fortymil, além do Instituto Socioambiental do Plástico (Plastivida) e da Cooperativa de Coleta Seletiva da Capela do Socorro (Coopercaps).

Cadeira de caixote Uma caixa de frutas que se transformou em uma moderna cadeira. A ideia é da loja Espaço 204, do Shopping D&D, que criou a cadeira Beck como forma de mostrar as inúmeras possibilidades quando o assunto é reaproveitamento de materiais. De madeira açoita natural, a peça tem design inovador. O assento, revestido de tecido 100% algodão, pode receber diversos acabamentos e tons. Mais informações no http://www. dedshopping.com.br

Índice Dow Jones de Sustentabilidade A Holcim foi eleita, pelo sétimo ano, uma das líderes mundiais no Índice Dow Jones de Sustentabilidade. De acordo com o Índice, o Grupo Holcim tem obtido bons resultados em suas iniciativas socioambientais. Em 2009, a companhia sobressaiu-se, entre outros motivos, por suas estratégias de reciclagem, gestão de pessoas, responsabilidade social e relações com stakeholders. No Brasil, a empresa apresenta o menor índice de emissões entre unidades do Grupo. Foi pioneira na divulgação do conceito de construção sustentável no país e a precursora do setor cimenteiro nacional na publicação do relatório de sustentabilidade no padrão GRI - Global Reporting Initiative. 8

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1% para a biodiversidade O Braço social da empresa de cosméticos O Boticário já atendeu a praticamente 1.200 projetos na área de conservação da biodiversidade, realizados em parceria com Institutos de Pesquisas, ONGs, Secretarias de Meio Ambiente e com o ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão ambiental do governo brasileiro. A empresa O Boticário aplica os valores da cadeia sustentável com fornecedores, franqueados, público interno e acionistas. Além disso, incentiva o investimento na proteção de áreas naturais. Afinal, a empresa mantém, por meio de sua Fundação, duas reservas naturais, protegendo importantes remanescentes de dois dos biomas mais ameaçados do país: a Mata Atlântica, na Reserva Natural Salto Morato, no Paraná; e o cerrado Goiano, na Reserva Natural Serra do Tombador.


Sustentando

Mercado verde A nova loja dos Supermercados Condor, inaugurada em Curitiba, foi construída com tecnologias que favorecem o meio ambiente. A obra contou com instalações para economizar energia e aproveitamento de luz e ventilação natural. Até mesmo o sistema de refrigeração é à base de gás refrigerante Glicool, que reduz em 90% os gases poluentes, contribuindo na preservação ambiental. A loja conta ainda com sistema de captação de água da chuva para a irrigação de jardins, descarga nos vasos sanitários e na limpeza de pisos.

SPVS certificada A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) recebeu o certificado de Mérito Ambiental, oferecido pelo Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza. O prêmio foi entregue no dia 22 de outubro, na Conferência Latino Americana de Preservação ao Meio Ambiente, em Curitiba, que tinha como tema “Desenvolvimento Limpo para um Mundo Melhor”. Esta certificação é destinada às empresas e instituições que executam relevantes ações em prol da preservação e proteção do meio ambiente.

Responsabilidade social na mesa Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil desperdiça cerca de 70 toneladas de alimentos anualmente. Esse desperdício convive com a realidade de um bilhão de pessoas que passa fome ao redor do mundo, e pelo menos cinco milhões de crianças morrem anualmente em consequências da falta de alimentos. Para ajudar a amenizar esse contraste, a empresa Exal – Excelência em Alimentação –, do segmento de alimentação coletiva, realiza desde 2008 o programa Prato Limpo. O objetivo é diminuir o desperdício de alimentos. Sempre que uma pessoa come toda a refeição do prato, ganha uma ficha. A cada 100 fichas acumuladas, ou seja, uma instituição filantrópica recebe um quilo de alimento. Desde o início do projeto foram mais de cinco toneladas de alimentos doados. GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Vida Urbana

Jardim perto do céu

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ais do que uma solução estética para o acinzentado urbano, montar jardins no topo de prédios e lajes, os chamados telhados verdes, contribui para a diminuição do risco de enchentes nas grandes cidades, além da diminuição da poluição do ar, do aquecimento global e das ilhas de calor provenientes da urbanização. Os telhados verdes são coberturas amplas de vegetação implantadas sobre lajes impermeabilizadas, com sistema de drenagem, capazes de captar água da chuva. Em países como Alemanha, Espanha, Grécia, Canadá, Itália, entre outros, o sistema já é realidade. Pesquisadores garantem que esse tipo de cobertura vegetal nos edifícios pode reduzir o consumo de energia elétrica no uso de ar condicionado, além de reter parte da água da chuva, tornando o escoamento mais lento. Os telhados proporcionam conforto térmico e evitam flutuações extremas de temperatura. Além de grama, o telhado verde pode receber flores e arbustos. Plantas de porte baixo e crescimento lento também podem facilitar a manutenção, que é parecida com a de um jardim comum. Os telhados verdes também podem ser utilizados como hortas naturais para o plantio de alimentos. Em Curitiba, tramita na Câmara Municipal uma proposta de lei que visa incentivar a implantação dos telhados verdes nos edifícios da cidade. No Brasil, cidades de São Paulo, Niterói e Porto Alegre já contam com incentivos para a adoção dos telhados verdes na construção dos edifícios. Na Câmara Federal, também foi apresentado um projeto de lei para estimular no Brasil a inclusão de coberturas de plantas em cidades com mais de 500 mil habitantes, possibilitando a redução da taxa de IPTU. São Paulo também aderiu à medida de estímulo à construção de tetos ecológicos, ao exigir dos novos condomínios com mais de três unidades agrupadas verticalmente a implantação de um telhado verde. Outras alternativas similares, já adotadas em algumas cidades, é o jardim vertical em paredes externas das construções e também os pavimentos revestidos de verde. Aviso aos interessados: plantar no telhado exige conhecimento. A obra exige a instalação de uma estrutura específica na cobertura da casa e cada obra precisa de um projeto específico. Mais informações a respeito dos telhados verdes podem ser obtidas com a empresa Ecotelhado www. ecotelhado.com.br

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Vida Rural

Seguro ambiental obrigatório X integridade dos recursos naturais

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ramita na Câmara dos Deputados o PL nº 2313/2003 que implementa o seguro de responsabilidade civil do poluidor, pessoa física ou jurídica que exerça atividade econômica potencialmente causadora de degradação ambiental. Segundo o engenheiro agrônomo e advogado Odair Sanches, cogita-se que todos os que utilizam, de alguma forma, os recursos naturais ou possuam atividades empresarias que possam causar a degradação do meio ambiente estariam obrigadas a aderir ao seguro ambiental. Sanches lembra, porém, que esse seguro pode ser instituído somente por lei federal, como prevê a Constituição. “O valor do prêmio seria diferenciado por atividade e ditado pela livre concorrência entre as seguradoras, certamente empresas adequadas ambientalmente e que não possuíssem histórico de danos ao meio ambiente teriam valores de prêmios muito mais atrativos do que aquelas que não possuem a cultura organizacional de preservação”, destaca. Para ele, é imprescindível a existência de um seguro que contemple o ressarcimento dos atingidos e o restabelecimento do meio ambiente original em caso de dano ambiental, o conflito, segundo ele, está em sua obrigatoriedade. “Muitos argumentos se levantam contra essa imposição, entre estes podemos destacar que tal obrigatoriedade vai contra a filosofia de livre mercado praticada no país e que este representaria mais um encargo para o empresariado, já tão sobrecarregado por inúmeras imposições governamentais ou que, ainda, a adoção de um seguro ambiental poderia ser entendida em uma mentalidade com má-fé como uma licença para poluir ou, por fim, que com a adoção desse mecanismo haveria uma frouxidão fiscalizatória por parte do poder público”, salienta. Entretanto, Sanches destaca algumas vantagens de ter um seguro ambiental obrigatório. “Sem dúvida haveria maior incentivo para que as empresas obrigadas adotassem um maior número de medidas que possuem claro efeito minimizador de riscos ambientais (nem todas obrigatórias atualmente), como, por exemplo, a auditoria

ambiental (interna e externa), o sistema de gestão ambiental (série ISO 14.000), o licenciamento ambiental, o EIA/RIMA, entre outros”. Especula-se que esse seguro seja gerido por uma seguradora estatal. Sanches vê a situação com reservas. “Seria muito esquisito o poder público listar as atividades obrigadas a contratar um seguro ambiental e ao mesmo tempo na outra ponta agir no mercado que criou. Ser o juiz da partida e ao mesmo tempo querer jogar como artilheiro não daria muito certo, sem dúvida aconteceriam situações passíveis de constrangimento. Acredito no poder de adequação do mercado por si só, o poder público deveria ter apenas um papel regulamentador nessa situação”. Afinal, o seguro ambiental já é oferecido no Brasil. O Itaú/Unibanco que trabalha como líder desse segmento, com o respaldo da parceria com a AIG que traz consigo 25 anos de experiência internacional. Sanches explica que muitas empresas adotaram o segur no Brasil por imposição da matriz, que possui em seu país de origem esse tipo de cobertura, ou seja, trata-se de uma questão de cultura corporativa, já utilizado nas grandes economias como EUA e em países da Europa.

Integridade dos recursos naturais • Para Sanches, o seguro ambiental tem relação estreita com a sustentabilidade empresarial e garante à sociedade um meio ambiente equilibrado. No caso dos países desenvolvidos, houve junção de interesses. “O empresário que assumir todos os riscos sem um respaldo de uma seguradora passa a ser extremamente perigoso para o seu negócio”. Neste caso, percebe-se a consciência empresarial aliada à rigidez das normativas e à imposição de uma sociedade exigente, que tornam o seguro ambiental um mecanismo de estabilidade produtiva.

“O ideal é que o seguro ambiental seja de contratação tão interessante pelo empresariado que prescinda de obrigatoriedade”, destaca o engenheiro agrônomo e advogado Odair Sanches

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Entrevista

Uma aula de responsabilidade e dedicação à pesquisa Uma vida dedicada à pesquisa sobre o desenvolvimento sustentável em empresas e universidades. Assim se pode resumir a trajetória do professor doutor Isak Kruglianskas, chefe de Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e coordenador do Programa de Gestão Estratégica Socioambiental (Progesa) da Fundação Instituto de Administração (FIA). Graduado em Engenharia Aeronáutica, na década de 1960, Isak ingressou na profissão e logo percebeu que algo lhe incomodava. A maneira como as empresas trabalhavam, sem qualquer preocupação além do lucro, fez com que ele retornasse à universidade para repensar seu papel como profissional. De lá não saiu mais. Atualmente, seu trabalho acadêmico realizado no Brasil e também no exterior, onde é membro de conselhos de diversas instituições fronteiras, auxilia na formação de profissionais que já entram no mercado com uma missão a mais: enraizar a sustentabilidade no mundo corporativo. Em entrevista para a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, mesmo em viagem fora do Brasil, o professor Isak falou sobre o Progesa, a necessidade de unir experiências profissionais e acadêmicas, e avaliou os passos do desenvolvimento sustentável no Brasil. divulgação

Isak Kugrianskas Juliana Sartori

Geração Sustentável • Como começou o seu interesse pela sustentabilidade? Isak Kugrianskas • No início da minha carreira, quando atuava como engenheiro de produção, comecei a despertar para o tema. As práticas adotadas pelas empresas na época despertaram em mim um grande sentimento de culpa que seguiu me atormentando até meu ingresso no mundo acadêmico. Na década de 80, mais ou menos,

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inspirado na tese do professor Denis Donaire, associei-me a ele e criamos uma disciplina sobre gestão empresarial e meio ambiente. A partir desse momento, comecei a pesquisar sobre o assunto ao qual me dedico até hoje.

GS • Como surgiu a ideia de criar o Programa de Gestão Estratégica Socioambiental (Progesa)?


IK • A ideia do Progesa surgiu no âmbito de um grupo de alunos e profissionais interessados no tema, com destaque especial para o professor João Furtado. Esse grupo entendeu ser oportuno criar um programa sobre o tema, porém com um foco no nível estratégico, haja vista haver, na época, algumas iniciativas mais focadas aos níveis tático e operacional. A ideia do Progesa foi e continua sendo a de propiciar um ambiente que favorecesse a realização de pesquisas, intercâmbios, reflexões, treinamento e assessoria para os stakeholders (partes interessadas).

Quais as atividades realizadas pelo Progesa atualmente? Quais os planos futuros? IK • Atualmente, o Progesa está bastante focado em pesquisa e treinamento. Foram realizados alguns MBAs in Company e treinamentos abertos de curta duração. Integrantes do Progesa têm realizado atividades de consultoria em pequena escala por meio de contratações pessoais diretas. Os planos futuros incluem a continuidade das atividades de pesquisa, uma ênfase maior para as atividades de assessoria e a consolidação de MBA e Cursos de Especialização em nível de Pós-Graduação. Será, também, buscada maior inserção internacional e uma exposição à mídia mais intensa.

GS • Tradicionalmente, profissionais acreditam que a academia e as empresas vivem realidades, muitas vezes, opostas. O que é necessário fazer para mudar esse pensamento e aproximar pesquisas acadêmicas voltadas à sustentabilidade e ao cotidiano das empresas? IK • Essa crença repousa em um mito que considero falso. Entendo que não há nada mais prático do que uma boa teoria. No passado, como consequência, em grande parte, do nosso tipo de colonização e do baixo nível de industrialização do país até a década dos 60 e 70, havia maior dicotomia entre a produção industrial e a academia, até mesmo porque a tecnologia era praticamente toda importada. Porém, hoje a realidade é bem diferente, tanto os empresários como os acadêmicos esclarecidos sabem de sua mútua interdependência. Portanto, o que precisa ser feito é o diálogo e como consequência o esclarecimento, porém reconhecendo sempre que as motivações e o ritmo (timing) da academia e da empresa são diferentes.

GS • Quais os principais benefícios gerados em uma parceria entre universidade e empresa? IK • Tanto o setor empresarial quanto a acade-

mia sabem que uma das principais razões de sua existência é propiciar qualidade de vida para a sociedade, que, em contrapartida, sustenta ambos. Portanto, se houver colaboração entre empresa e academia, a empresa terá acesso a uma importantíssima fonte de conhecimentos que lhe proporcionará diferenciais competitivos e, por sua vez, a academia, além de ter acesso a uma importante fonte de necessidades a serem atendidas, também terá acesso a conhecimentos empíricos e recursos materiais que tornarão sua missão muito mais efetiva e gratificante.

Um dos grandes problemas para o trato da sustentabilidade nas universidades em geral, e nas brasileiras em particular, é o fato de que esse tema é transversal e precisa ser tratado de forma sistêmica, o que se contrapõe com a tradição disciplinar das universidades GS • Em sua opinião, como está a sustentabilidade no setor corporativo brasileiro, em comparação com outros países? Falta muito para avançar ou o empresariado está mais sensibilizado e consciente a respeito da necessidade de mudanças? IK • Acredito que há muito caminho a percorrer pelo setor corporativo em todo o mundo e também no Brasil. Nosso país tem forte vocação para liderança mundial no que diz respeito à sustentabilidade, pois é praticamente o último grande país com reservas naturais que poderá adentrar o futuro numa nova economia de baixo carbono e de respeito ao meio ambiente, usando tecnologias ecoeficientes de forma bastante competitiva. Muitos empresários brasileiros estão se dando conta dessa oportunidade e vêm se preparando para aproveitá-la. O governo também parece

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Entrevista

Nosso país tem forte vocação para liderança mundial no que diz respeito à sustentabilidade, pois é praticamente o último grande país com reservas naturais que poderá adentrar o futuro numa nova economia estar se sensibilizando para esse fato. Por essa razão, acredito que o processo de mudança está se acelerando, especialmente nos centros brasileiros mais desenvolvidos. O grande desafio é envolver de forma mais intensa as regiões menos desenvolvidas e as pequenas e médias empresas de setores mais tradicionais.

GS • Em sua opinião, como vem sendo tratada a sustentabilidade nas universidades brasileiras? IK • Como no setor corporativo e no resto da sociedade, a sustentabilidade ainda é um tema emergente nas universidades brasileiras, apesar de inúmeros artigos científicos oferecidos em diferentes congressos. De fato, nos últimos cinco ou dez anos esse tema começou a surgir e sua inserção na academia vem acelerando-se acentuadamente. Um dos grandes problemas para o trato da sustentabilidade nas universidades em geral, e nas brasileiras em particular, é o fato de que esse tema é transversal e precisa ser tratado de forma sistêmica, o que se contrapõe com a tradição disciplinar das universidades.

GS • A Fundação Instituto de Administração (FIA) foi eleita por três vezes consecutivas a

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melhor faculdade de negócios do Brasil. Por qual motivo acha que merece esse título? IK • A FIA foi eleita por três anos consecutivos como a Melhor Escola de Negócios pelo Ranking da Revista Você S.A., de acordo com a pesquisa realizada por ela. Nas edições, todos os cursos da FIA que participaram das cinco categorias foram considerados os melhores do Brasil (Recursos Humanos, Marketing, Executivo, Tecnologia de Informação e Finanças) e, em alguns casos, com os dois primeiros lugares. Os principais motivos indicados foram a capacidade de fornecer conteúdo atualizado, excelentes instalações e infraestrutura, qualidade do corpo docente e propiciar networking. Essas afirmações foram feitas por alunos, ex-alunos, professores, diretores de empresas, especialmente das áreas de recursos humanos e por profissionais especializados. A FIA também recebeu destacadas posições em rankings internacionais, como o respeitado ranking do Financial Times e da revista America Economia. A FIA foi criada e é administrada por professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/ USP), com titulação mínima de doutor e ampla experiência prática, portanto, acredito que o titulo foi merecido.

GS • Qual mensagem gostaria de deixar para os leitores da Geração Sustentável? IK • O fato de ser um leitor dessa conceituada revista já é uma evidência de que são pessoas diferenciadas com visão de futuro e valores éticos elevados. Minha mensagem é a de que sigam nessa direção, aprimorando suas qualidades profissionais, pois um mundo novo está se criando e abrindo oportunidades únicas, tanto para uma convivência com melhor qualidade de vida, respeito com a diversidade biótica e o papel que nos cabe como humanos, como para o exercício de atividades profissionais gratificantes e auto-realizadoras.



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Empresa e Universidade

União que acelera o crescimento e diminui os impactos no planeta Indústrias e pesquisas acadêmicas ampliam parcerias e fortalecem a sustentabilidade no País Juliana Sartori

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s empresas evoluem muito mais quando têm acesso à pesquisa, e esta, muitas vezes, só atinge seus objetivos com os auxílios das empresas. Fazer com que esses dois setores trabalhem de mãos dadas é mais do que benéfico, é uma necessidade. Principalmente para aqueles que enxergam o momento atual como uma oportunidade de acelerar o crescimento do País e alcançar o desenvolvimento sustentável. O setor privado vive hoje a chance de tomar o protagonismo na história da inovação brasileira, que há décadas sobreviveu isolado dentro das paredes universitárias. “Se houver colaboração entre empresa e academia, a empresa terá acesso a uma importantíssima fonte de conhecimentos que lhe proporcionará diferenciais competitivos e, por sua vez, a academia, além de ter acesso a uma importante fonte de necessidades a serem atendidas, também terá acesso a conhecimentos empíricos e recursos materiais que tornarão sua missão muito mais efetiva e gratificante”, explica o chefe de Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e coordenador do Programa de Gestão Estratégica Socioambiental (Progesa) da Fundação Instituto de Administração (FIA), Isak Kuglianskas. Mesmo com tantas vantagens a ambos os lados, a parceria entre os setores acadêmico e empresarial ainda é pouco frequente no país. Dados de 2000, da Pintec (Pesquisa de Inovação Tecnológica), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentam que, no Brasil, apenas 3,4% das empresas inovadoras possuíam parceria com institutos de pesquisa e universidades. São históricas as razões que justificam a baixa capacidade de inovar das empresas brasileiras. Entre elas, o fato de a Universidade, que concentra os maiores esforços de pesquisa, ter nascido do setor público. Em outros países, como os Estados Unidos, o processo foi inverso, uma vez que a pesquisa teve origem nas empresas. Para o professor Isak, no passado, o tipo de colonização e o baixo nível de industrialização do País separaram a produção industrial e a Universidade, além disso, a tecnologia utilizada era quase toda importada. “Porém, hoje a realidade é bem diferente. Tanto os empresários como os acadêmicos esclarecidos sabem de sua mútua interdependência. Portanto, o que precisa ser feito é o diálogo, e como consequência o esclarecimento”, analisa o professor, que enxerga esse o momento de investimentos em criatividade e pesquisa por parte das empresas.

Foi depois das décadas de 70 e 80 que a iniciativa privada brasileira passou a trabalhar em conjunto com as universidades a fim de produzir inovação, diminuindo a dependência tecnológica do exterior. A Empresa Brasileira de Compressores (Embraco), por exemplo, foi uma das pioneiras em trabalhos conjuntos. Ela mantém parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desde 1982, por meio de convênios de pesquisa que se renovam periodicamente. O primeiro resultado de muitos dessa antiga união foi a fabricação, em 1987, do primeiro compressor com tecnologia 100% nacional.

Hoje, está já ampliada essa integração entre Academia e setor privado, além do aumento dos recursos públicos para as pesquisas. Mas as empresas no Brasil ainda não se deram conta desse potencial Cenário futuro • Uma das metas do setor privado brasileiro é triplicar os investimentos em inovação nos próximos cinco anos. Esse objetivo foi desenhado pelos próprios empresários, de acordo com suas entidades representativas por todo o País. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), essa ideia está muito clara após a perspectiva de retomada do crescimento econômico e do novo cenário de desenvolvimento sustentável que se desenha após a superação da crise internacional. A participação mais expressiva do setor privado nos investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento está prevista também no plano de ação conjunta do governo, capitaneado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A meta para 2010 é aumentar para 1,5% do PIB o investimenGERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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to total, elevando a participação das empresas de 0,5% para 0,65%. Hoje, há uma divisão igual entre governo e setor privado na parcela de 1% do PIB que é destinada à ciência e à tecnologia. Nos Estados Unidos, a proporção dos recursos privados chega a 70%, segundo a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).

Quem pensa em futuro encontra sustentabilidade • Os estudos acadêmicos revelam que as empresas inovadoras são aquelas capazes de enxergar crescimento e lucro somados à responsabilidade. E são elas que vão despontar como líderes nos próximos anos. De acordo com o professor James Wright, da Fundação Instituto de Administração (FIA) e da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil deverá evoluir para um cenário de desenvolvimento integrado, ou seja, combinando integração competitiva internacional com melhoria da inclusão social. A expectativa é que tal cenário seja acompanhado de um crescimento médio do PIB de 4,5% ao ano, dando continuação à tendência de melhoria de distribuição de renda. Nas próximas décadas, até mesmo as carreiras profissionais serão modificadas devido a essa preocupação com a sustentabilidade. A pesquisa Carreiras do Futuro, realizada pelo Programa de Estudos Futuros (Proturo) da FIA, que é coordenado pelo professor Wright, aponta que deverá surgir uma nova profissão dentro das empresas, que será o gerente de ecorrelações.

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A pesquisa, que consultou 112 executivos e líderes empresariais, utilizando o método Delphi de pesquisa, apontou que a carreira mais promissora no futuro será a do profissional capaz de melhorar o relacionamento entre os grupos envolvidos com a empresa, como entidades não governamentais, poder público, sociedade e meio ambiente. Ele também será responsável por ressaltar os impactos positivos dessa nova relação que a empresa deve criar com o seu entorno. “Essa atividade já vem surgindo nas empresas, mas não há ainda uma pessoa destacada para essa função. No entanto, setores de uma empresa ou lideranças dentro da empresa já se responsabilizam por atividades similares”, afirma o professor. Em algumas corporações já é possível encontrar líderes em sustentabilidade, executivos de médio escalão ligados aos departamentos ou às áreas de responsabilidade socioambiental. De acordo com o estudo, prevê-se que a ascensão da sustentabilidade nos negócios, além de fazer surgir novas carreiras, transformará as profissões existentes. As carreiras, especialmente as ligadas à gestão, precisarão incorporar uma visão mais sistêmica, uma vez que serão necessários profissionais capazes de enxergar o todo e não somente uma parte interessada, reavaliando valores e atitudes. Para o professor James Wright, os empresários devem estar atentos às transformações e às pesquisas, se quiserem acelerar seu crescimento. “Hoje, está já ampliada essa integra-

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ção entre Academia e setor privado, além do aumento dos recursos públicos para as pesquisas. Mas as empresas no Brasil ainda não se deram conta desse potencial”, avalia. O professor conta que previsões como as realizadas no Profuturo podem contribuir e muito aos empresários mais atentos. “São pesquisas realizadas com métodos sérios e eficazes, aplicados em outros países, que ajudam a observar caminhos à frente e a acelerar processos”, explica. Segundo Wright, pesquisas acadêmicas da década de 80, por exemplo, previram a implantação dos postos Poupa Tempo, implan-

artigo

Internacionalização de empresas e sustentabilidade

Annelise Vendramini é doutoranda em Administração de Empresas pela FEA USP, com linha de pesquisa em Finanças Sustentáveis. Membro do PROGESA e professora dostemasGestão Empresarial alinhada à Sustentabilidade e Finanças Sustentáveis na FIA (Fundação Instituto de Admnistração). E-mail: annelise@ usp.br

Pode a sustentabilidade tornar-se indutora de processos de internacionalização de empresas? Os exemplos da Native e da Braskem apontam para o sim. A internacionalização é o processo de envolvimento das empresas com o exterior, seja por meio de importação, licenças de fabricação, franquias ou aquisição de tecnologias (internamente) ou por meio de exportação, licenças de fabricação, franquias, transferência de tecnologias, investimento direto no exterior (externamente). A escolha do modo de entrada em um mercado externo é fator crítico para o sucesso ou não da estratégia de internacionalização. A decisão quanto ao modo de entrada dependerá das condições competitivas da indústria, a situação do país e as políticas governamentais e o portfólio de recursos e competências essenciais da firma. Muitas são as razões que podem levar empresas a adotar uma estratégia de internacionalização: busca pelo aumento do volume de produção e por rentabilidades mais altas; e busca pelo equilíbrio da carteira estratégica da empresa, preenchendo lacunas em seu portfólio de produtos. A Native Orgânicos tem um caso interessante. A Native surgiu em 2000 como resultado de uma busca por uma agricultura sustentável pelo Grupo Balbo. A Native comercializa uma gama de produtos orgânicos, como açúcar, soja, café, achocolatado, sucos e cookies, tanto no mercado externo como no mercado doméstico. A produção orgânica Native é considerada o maior empreendimento de agricultura orgânica do mundo na atualidade, segundo os principais órgãos certificadores internacionais. O surgimento da Native está intrinsecamente ligado ao mercado internacional. O início desse processo se deu quando representantes de empresas internacionais visitavam o Brasil em busca de produtores de insumos orgânicos. O objetivo desses compradores internacionais era comprar açúcar orgânico para compor seus produtos orgânicos de marca própria. A partir da intenção firme de compra dos potenciais clientes internacionais, a empresa buscou as cer-

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tados cerca de dez anos depois em São Paulo e, posteriormente, espalhada pelo País.

Da teoria à prática • As contribuições que a Universidade pode dar a uma empresa rumo à sustentabilidade são infinitas, como foi possível observar. Mas são também as empresas que oferecem material para as pesquisas funcionarem com propriedade. Um exemplo dessa mútua interação é o Progesa (Programa de Gestão Estratégica Socioambiental), núcleo da FIA, que conta com professores da USP, criado para desenvolver inovações e conhecimentos no que se refere às

tificações necessárias para que as exportações se efetivassem. Deu certo. A Native exporta para cerca de 40 países. O modo de entrada no mercado internacional da Native é a exportação. A vantagem comparativa da Native reside em sua capacidade de gerar produtos considerados ambientalmente amigáveis, respondendo às demandas atuais globais por menores impactos ambientais na produção e no consumo de bens e serviços. Como seus produtos são altamente dependentes do uso de recursos naturais e sua vantagem comparativa é resultado de anos de pesquisa e desenvolvimento para as condições naturais características de suas fazendas, localizadas no Brasil, é muito improvável que essas condições possam ser replicáveis para a produção em outros países. O sucesso da produção agrícola depende de diversos fatores: qualidade da terra, clima e condições ambientais no geral. A Native, portanto, já nasceu internacionalizada. A combinação de um mercado externo altamente demandante de seus produtos e a visão estratégica dos gestores da empresa favoreceram sua inserção internacional. O mercado doméstico veio depois. A inovação no processo produtivo e o desenvolvimento de produtos alinhados com as demandas globais por produtos mais justos e mais éticos foram fundamentais para sua inserção internacional. Outro exemplo bastante interessante de estratégia de sustentabilidade contribuindo para a inserção internacional é o projeto de polímeros verdes da Braskem, produzidos a partir de uma fonte renovável, a cana-de-açúcar. A empresa tem como estratégia tornar-se referência mundial no desenvolvimento de polímeros verdes. Uma planta com capacidade produtiva de 200 mil toneladas/ano de eteno e polietileno a partir do etanol da cana-de-açúcar (matéria-prima renovável) será inaugurada em 2010. Em 2008 foram fechados contratos de fornecimento e distribuição do produto com grandes empresas internacionais. Como se vê, a sustentabilidade apresenta desafios e oportunidades em uma escala global. Mas como aproveitar as oportunidades? A resposta não é simples e depende de uma análise estratégica minuciosa das particularidades de cada negócio. Mas o potencial para benefícios competitivos surge quando processo produtivo e produto são repensados de maneira inovadora e sistêmica (e não pontual). Muitas vezes, o apelo competitivo não vem de mudanças no produto em si, mas do processo de produção e distribuição. O exemplo da Native ilustra inovações no processo produtivo e no produto; já o exemplo da Braskem ilustra como inovações sustentáveis no processo produtivo podem adicionar valor ao produto final. Da gestão voltada para a sustentabilidade podem surgir oportunidades valiosas que podem abrir as portas douradas (e cada vez mais verdes!) dos mercados globais.

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O potencial para benefícios competitivos surge quando o processo e o produto são repensados de maneira inovadora e sistêmica estratégias e ferramentas sustentáveis. Nesse núcleo, são feitos estudos de caso e o objetivo é formar um grupo de empresas parceiras para que sejam realizadas consultorias na área de sustentabilidade e fomento de novas pesquisas. Entre os estudos realizados por professores que integram o Progesa estão, nesta edição da GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, os artigos dos professores André Coimbra Félix Cardoso, Annelise Vendramini e Alexandre Toshiro Igari. Eles apresentam exemplos de como estudos podem contribuir para que uma empresa se identifique ou alcance a sustentabilidade, além de mostrar soluções já encontradas pelo mercado. Cardoso, por exemplo, apresenta uma fórmula para que uma empresa identifique o que falta para ter uma gestão sustentável. Para isso, aplica o que chama de 4 Condições Sistêmicas da Sustentabilidade. A partir delas, é possível verificar o impacto causado pela empresa ao meio ambiente e o retorno que ela dá à sociedade e ao meio. O professor utilizou como exemplo para aplicar esse método a empresa brasileira Bag For Life, que integra a preocupação com o meio ambiente e o mundo da moda, e assim busca produzir bolsas com design diferenciado utilizando materiais reaproveitáveis e ecofriendly. No entanto, apesar de o motivo da existência da empresa ser a preocupação socioambiental, o professor André Cardoso mostra que, ao se aplicar as 4 CS da Sustentabilidade, descobrese que a empresa ainda pode melhorar seus produtos. Afinal, ele identificou que a Bag For Life ainda utiliza o minério níquel em seus produtos 22

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– substância extraída da terra, a qual não há recuperação e controle dentro de uma abordagem de logística reversa. A sugestão é simples: basta substituir o níquel aplicado nas bolsas por outro material renovável. De forma clara, o professor mostra que qualquer empresa que busca o crescimento sustentável, ao aplicar artifícios científicos de gestão, pode conseguir resultados mais do que práticos para seu negócio. Já a professora Vendramini mostra em seu artigo exemplos práticos brasileiros de como é possível conquistar a internacionalização em um negócio por meio da sustentabilidade. Em seu artigo, ela estuda a Native, fabricante de alimentos orgânicos, e a Braskem, que desenvolve polímeros verdes a partir da cana-de-açúcar – empresas capazes de utilizar as preocupações éticas e socioambientais para conquistar o mercado internacional. De acordo com Annelise, a ideia é mostrar que a sustentabilidade apresenta desafios e oportunidades em uma escala global e, para aproveitá-las, basta uma análise estratégica minuciosa das particularidades de cada negócio. “O potencial para benefícios competitivos surge quando o processo e o produto são repensados de maneira inovadora e sistêmica. Muitas vezes, o apelo competitivo não vem de mudanças no produto em si, mas do processo de produção e distribuição”. Segundo ela, “da gestão voltada


para a sustentabilidade podem surgir oportunidades valiosas que podem abrir as portas douradas (e cada vez mais verdes!) dos mercados globais”. Vale lembrar que a Brasken lançou o primeiro polietileno verde produzido a partir da cana em substituição à nafta, derivada do petróleo, fundamentando-se em estudos compartilhados com pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O professor Alexandre Igari, por sua vez, resolveu sair da indústria e partiu para uma análise do campo a fim de verificar a possibilidade de falar em conservação ambiental dentro do agronegócio. De acordo com os estudos de Igari, o produtor rural que se preocupa com o impacto ambiental causado pelo seu negócio pode enxergar ali uma oportunidade de conquistar novos mercados. Ao utilizar a produção agrícola paulista como exemplo, o professor afirma que “o agronegócio brasileiro poderia tornar-se benchmark ambiental global, reduzindo os passivos ambientais, obtendo mais crédito, conquistando mercados restritivos e construindo uma vantagem competitiva com base em sustentabilidade”. * Acompanhe durante a matéria os artigos dos professores do Progesa/FIA/USP, os quais estão em sua versão integral no endereço eletrônico da GERAÇÃO SUSTENTÁVEL (www.geracaosustentavel.com.br)

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artigo

O acesso à Sustentabilidade

Observa-se na atualidade a convergência de movimentos sociais entre os mais importantes dos últimos tempos, que buscam levar a cabo o propósito da sustentabilidade mediante propostas, acordos, convenções e declarações de entidades intergovernamentais e multilaterais. Entretanto, em que pese o fato de o mundo clamar cada vez mais alto pela sustentabilidade, ela é tipicamente um desafio colossal a ser solucionado em longo prazo, que começa com respostas eficazes em curto prazo. As diretrizes internacionais ou macro-normas não se materializam no “mundo prático” da vida das pessoas e empresas sem que haja elementos catalisadores. Infelizmente, a sustentabilidade não ocorre de maneira espontânea, ela precisa ser provocada, induzida e disciplinada. Além de uma legislação que dê conta – junto à fiscalização rigorosa – e dos mecanismos de mercado ou indutores da sustentabilidade, é preciso haver ferramentas formais de gestão para o acesso à sustentabilidade. Nesse sentido, há mais de dez anos, iniciouse o desenvolvimento de ferramentas de gestão tendo em vista a perspectiva da sustentabilidade. Louette (2008), por exemplo, compilou boa parte de instrumentos, práticas e normas para articular e buscar a sustentabilidade. Assim, não é nosso objetivo analisar todas essas ferramentas, mas

André Coimbra Felix Cardoso é doutorando da FEA USP, membro do PROGESA-FIA e professor do tema Sustentabilidade para Empresas em diferentes universidades. Email: ancfelix@uol.com.br

apenas comentar a abordagem que consideramos a mais essencial de todas. Não obstante o mérito de todas as contribuições citadas em Louette (2008), convém destacar o papel diferenciado que possui a abordagem “4 Condições Sistêmicas da Sustentabilidade” desenvolvida pelo The Natural Step (TNS) junto a um grupo de cientistas, que formulou um consenso claramente articulado de princípios básicos de sustentabilidade, essenciais, e com base científica. A história de como se deu o desenvolvimento dessa abordagem é muito bem contada no livro The Natural Step: A História de uma Revolução Silenciosa (Karl-Henrik Robert, 2002). No quadro abaixo, estão as 4 condições sistêmicas, propostas na abordagem The Natural Step, que devem compor o núcleo central de um programa de acesso à sustentabilidade. Os princípios ou as condições sistêmicas são gerais o suficiente para serem relevantes para todas as atividades e áreas e, ainda assim, concretos o suficiente para orientarem o pensamento e a tomada de decisão. Eles também não se sobrepõem. Acima de tudo, os responsáveis pela tomada de decisão terão uma clareza muito maior para seguirem em frente com os esforços para desmaterializar, substituir insumos, apoiar mudanças em práticas

Condição Sistêmica

Na sociedade sustentável, a natureza não é sistematicamente submetida a graus cada vez maiores de: Concentrações de substâncias extraídas da crosta terrestre - Os materiais extraídos devem ser controlados para que as concentrações de metais, minerais e fumaça de combustíveis fósseis não se acumulem, provocando danos à saúde e aos ecossistemas. É necessário permitir que os ciclos naturais se renovem. Objetivo – Eliminar nossa contribuição para os aumentos sistemáticos de concentrações de substâncias na crosta terrestre.

Concentrações de substâncias produzidas pela sociedade - Quando o homem produz substâncias químicas, remédios, plásticos, entre outros, precisa fazêlo de uma maneira e em quantidades que não interfira no ciclo natural de decomposição na natureza. Objetivo – Eliminar nossa contribuição para os aumentos sistemáticos nas concentrações de substâncias produzidas pela sociedade.

Degradação por meios físicos - Não se deve plantar de maneira que o solo perca seus nutrientes ou que espécies sejam extintas, assim como a abertura de estradas ou construção de edifícios não devem interferir significativamente no meio ambiente. É preciso preservar os recursos existentes. Objetivo – Eliminar nossa contribuição para a degradação física sistemática da natureza, o que fazemos com colheitas excessivas, descarte de materiais estranhos ao local e outras formas de modificação.

As pessoas não são submetidas a condições que, sistematicamente, minam sua capacidade de satisfazer suas próprias necessidades além das necessidades de pessoas ao seu redor - Aqui, as pessoas são chamadas a melhorar as maneiras pelas quais se satisfazem, e as empresas são convocadas a atender aos anseios dos clientes usando o mínimo possível de recursos. Objetivo – Contribuir ao máximo para atender às necessidades humanas em nossa sociedade e em todo o mundo e, acima de todas as substituições e medidas tomadas para atingir os três primeiros objetivos, usar todos os recursos de maneira eficaz e razoável, com responsabilidade. Fonte: Adaptado de Karl-Henrik Robert (2002)

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de gestão de solo e recursos naturais e integrar aspectos sociais de sustentabilidade (Waage, 2004). Olhando desse modo, a intervenção e reestruturação do empreendimento poderá se desdobrar dentro de um programa de ação, inicialmente, puxado pela sustentabilidade fraca (ex.: ecoeficiência), mas será empurrado gradativamente e intensificado para uma sustentabilidade forte, expressa na visão de futuro (backasting) a ser alcançada que traduz uma situação de respeito às quatro condições de uma sociedade minimamente sustentável. Tal visão compartilhada pode servir de inspiração tanto para empresas como para os governos, em seus planejamentos estratégicos, e pela sociedade inteira. Tal programa de acesso à sustentabilidade conecta três esferas, como as camadas de uma cebola, de fora para dentro: (i) os pactos e as convenções das nações, implícitos em alguns movimentos sociais de nível global que clamam cada vez mais alto pela sustentabilidade; (ii) ferramentas auxiliares de gestão, que ajudam a materializar as macronormas e acessar a sustentabilidade sob orientação do núcleo de princípios; e (iii) o núcleo da sustentabilidade, composto pelas 4 CS do TNS, objetivando dar mais consistência às esferas anteriores. Olhando agora para o núcleo do programa em direção ao seu exterior, observa-se que sua substância básica é formada pelos quatro princípios fundamentais, calcados em um consenso da ciência. Porém, como é uma questão complexa e sistêmica, uma empresa acessar a sustentabilidade de forma isolada – respeitando as 4 CS – não é o suficiente, porquanto isso não garantirá que seu empreendimento seja de fato sustentável. Em que pese o seu esforço para se adequar às 4 CS, especialmente à capacidade de oferta do ecossistema, se os outros que dependem do mesmo recurso não fizerem o mesmo seu esforço terá sido em vão. Portanto, a articulação desse programa não deve ficar restrita à empresa, mas deve ser evoluir para o sistema mais amplo incluindo todos os stakeholders, tais como: fornecedores e cadeia de suprimentos, concorrentes, os setores ou indústrias que dependem também desse recurso; governo e outros atores-chave envolvidos nessa questão. A maior ou menor proximidade de uma empresa com o núcleo do programa, que é o acesso à sustentabilidade ou seu caráter mais ou menos fundamental, só pode ser determinado por um diagnóstico que investigue quão longe se está de uma condição de respeito às 4 CS. Isso deve ser levado a cabo por pessoas que estejam mais familiarizadas com as nuanças de cada uma das condições relacionadas, portanto, especialistas formados em ecologia, biologia, sociologia e psi-

cologia. Cabe, ainda, observar que a fronteira entre as proposições do núcleo e as demais ferramentas de gestão não é muito nítida. Da mesma forma, qualquer tratamento inteligente das demais ferramentas de gestão deve considerar não somente o caráter interdependente das ferramentas auxiliares com o núcleo, mas também as características de interconexão que existem entre elas, o que torna as fronteiras ainda menos nítidas. Assim, durante o desenvolvimento do programa de acesso à sustentabilidade certas propostas que no princípio eram tidas como secundárias podem eventualmente se mostrar mais fundamentais, sendo priorizadas ou vice-versa. Uma exemplificação nesse sentido seria a integração entre a abordagem denominada Capitalismo Natural (Hawken et al. 1999) e as 4 CS do TNS. Enquanto a primeira propõe quatro mudanças ou estratégias interativas e articuladas, a segunda fornece o conteúdo da mudança. Vejamos: 1. A primeira estratégia - promover um “aumento radical na produtividade de recursos” - está totalmente alinhada com os objetivos da ecoeficiência, focado na minimização, compreendido como um passo inicial no sentido de mudanças de alcance muito maior; 2. Explorar as possibilidades do biomimetismo, o que repercute em pesquisas e trabalhos referentes a ecologia industrial, com o objetivo de “redesenhar os sistemas industriais sobre linhas biológicas” para possibilitar a “reutilização constante de materiais em ciclos fechados contínuos e frequentemente a eliminação de toxicidade”; 3. Estabelecer uma economia de serviço e fluxo por meio da criação de sistemas que assegurem que os bens circulem em vez de serem usados e descartados; 4. Reinvestimento em sistemas ecológicos de forma a assegurar que a sociedade “sustente, restaure e expanda os estoques de capital natural” Note-se que a abordagem do capitalismo natural, no item 4, transcende as 4CS, embora tenha convergência com a terceira condição sistêmica, regenerando a natureza e dando uma contribuição excedente ao incorporar o aspecto de investimento no capital natural. Finalmente, a empresa disposta a levar a sério a sustentabilidade pode começar definindo um marco temporal de respeito às 4 CS, para depois explorar os pontos 1 e 2 da abordagem acima em uma perspectiva de curto a médio prazos. O próximo passo será investir nos pontos 3 e 4, aumentando assim a sua robustez no longo prazo. A inovação é necessária e agora pode dar grande contribuição nesse sentido.

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artigo

Conservação ambiental no agronegócio: É possível ir do conflito à sustentabilidade?

Alexandre Toshiro Igari é doutorando em ecologia aplicada pelo Instituto de Biociências - USP. Membro do PROGESA e professor dos temas Sustentabilidade Empresarial e Conservação Ambiental na FIA (Fundação Instituto de Admnistração) e no SENAC. E-mail: alexandre.igari@ usp.br

*Este texto foi escrito com base no artigo “Agribusiness opportunity costs and environmental legal protection: investigating trade-off on Hotspot preservation in the state of São Paulo, Brazil” publicado pelo autor e colaboradores no periódico científico “Environmental Management”, volume 44, 2009 O agronegócio paulista ilustra os avanços do setor no Brasil. O estado representa apenas 3% do território brasileiro, tem 77% da sua área utilizada pelo agronegócio e é o maior produtor nacional de álcool, suco de laranja e celulose. O avanço do agronegócio paulista teve um enorme custo ambiental. Hoje, restam menos de 14% da cobertura vegetal original de Mata Atlântica e Cerrado e, deste total, apenas 22% estão protegidos em Unidades de Conservação de proteção integral. Assim, a maior parte dos remanescentes de vegetação está em áreas do agronegócio. O Código Florestal de 1965 ainda é a principal lei para proteção à vegetação nativa, determinando que devem ser preservadas como APP (Áreas de Preservação Permanente) a vegetação ao longo dos rios, ao redor de nascentes, em áreas declivosas e em outras áreas importantes para a conservação dos solos e dos recursos hídricos. Além das APP, o código determina que do restante da propriedade rural, pelo menos 20% sejam preservados em Reserva Legal. Entretanto, o que ocorre é um descumprimento generalizado dessa lei. As restrições de uso contrariam os interesses do agronegócio, principalmente em áreas com altos preços de terra e produção com alto valor de mercado. Hoje, há forte pressão da bancada ruralista no Congresso Nacional para flexibilização do Código Florestal, sob o argumento de que ele coloca o agronegócio brasileiro em desvantagem com relação aos concorrentes estrangeiros. Esse mesmo argumento sustenta a ampliação do crédito rural com juros subsidiados, que em 2007 totalizou R$ 50 bilhões. O subsídio nas taxas de juros visa reduzir as diferenças entre as condições de financiamento domésticas e externas. Desde sua criação em 1965, o crédito rural ignora critérios ambientais. As instituições financeiras são impedidas até mesmo de negar crédito a tomadores que estiverem descumprindo o Código Florestal. O que poderia ser um instrumento de reforço da legislação ambiental acaba sendo um prêmio à contravenção. Só recentemente, em 2008, foram estabelecidos alguns critérios ambientais para concessão de crédito rural, mas ainda restritas ao Bioma Amazônico. A legislação ambiental restritiva e a insuficiência de crédito subsidiado formam um cenário bastante desfavorável ao agronegócio brasileiro. Entretanto, com investimento e articulação é possível transformar esse cenário negativo num cenário de duplo dividendo, com ganhos para o agronegócio e para a conservação ambiental. O primeiro passo seria incorporar a conformidade com a legislação ambiental aos critérios de concessão do crédito rural e assegurar instrumentos de monitoramento efetivos, utilizando imagens de satélite gratuitas de alta resolução. O segundo passo seria aumentar a oferta de crédito rural com a captação de recursos externos de entidades de fomento à sustentabilidade. Como contrapartida, o agronegócio brasileiro seguiria a restritiva legislação ambiental brasileira, conservando, assim, parcelas significativas de patrimônios da humanidade (como a Mata Atlântica e o Cerrado) em propriedades particulares. O IFC, braço do Banco Mundial para financiamentos privados, já concedeu R$ 400 milhões em linhas de crédito a bancos brasileiros para empreendimentos com bases sustentáveis. Neste cenário, o agronegócio brasileiro poderia tornar-se benchmark ambiental global, reduzindo os passivos ambientais, obtendo mais crédito, conquistando mercados restritivos e construindo uma vantagem competitiva com base em sustentabilidade.

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Visão Sustentável

divulgação

Mais tecnologia, menos impacto Empresas de limpeza de superfícies oferecem soluções que dispensam o uso da água e não geram resíduos

Ana Letícia Genaro

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H

á alguns anos, a limpeza de superfícies era uma atividade de grande impacto ambiental por consumir excessivo volume de água e fazer uso de produtos químicos poluentes. A preocupação com a sustentabilidade, aliada a investimentos em tecnologia, possibilitou o desenvolvimento de técnicas no mundo todo que buscam minimizar esses efeitos. No Brasil, já é possível encontrar empresas que oferecem soluções de limpeza as quais dispensam o uso de água e utilizam produtos biodegradáveis.

É o caso da empresa curitibana Beruf, distribuidora oficial e representante exclusiva do Método DIB de Limpeza Criogênica. Por meio da tecnologia belga, as superfícies recebem um jato de gelo seco (CO2) a temperaturas muito baixas (-79º C) e alta pressão. Quando esse jato atinge o objeto, a sujeira e os contaminantes transformam-se em pequenos flocos que podem ser aspirados ou varridos. (confira no box) O método pode ser utilizado na limpeza de máquinas industriais, obras de arte, recuperação de fachadas e remoção de pichação. “É prático, rá-


Método D. I. B. de Limpeza Criogênica substrato camada contaminada

antes da limpeza

granulos de CO2 atingem a superfície, removem o contaminante e tornam-se gás

durante a limpeza

camada contaminada

substrato não danificado

depois da limpeza

resíduos removidos

“Quando a empresa utiliza o método e prova efetivamente que houve economia de água, pode ser indicada para obtenção da certificação ISO 14.001”, explica Glaydon Mendes Coelho, representante da Beruf

sem lixo adicional

pido, econômico e, acima de tudo, ecologicamente correto, pois não requer o uso de água, nem de resíduos poluentes. Além disso, o CO2 utilizado é reaproveitado de processos industriais”, explica Glaydon Mendes Coelho, representante da Beruf. Ele cita o case de sucesso da ChemiePack, indústria química holandesa que, antes de conhecer o método, utilizava o jato de água para limpeza de seus equipamentos, tendo que tratar os resíduos gerados. “Com a legislação local cada vez mais severa e o custo do tratamento da água cada vez mais caro, a empresa optou por utilizar o Método

DIB. Só de água, gerou-se uma economia direta de 170.000 litros por ano”, diz Coelho. Os principais clientes da Beruf são os departamentos de manutenção de patrimônio histórico (monumentos e estátuas) das Prefeituras de Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e empresas como a Itaipu, Infraero, Copel, Petrobras, Sanepar, Kraft, Tetra-Pac, Klabin, Sadia, Bungue , Bosch, Nestlè, Continental Pneus, Pirelli, TAM, Porto Bello e Incepa. “A aceitação tem sido muito positiva. Quando a empresa utiliza o método e prova efetivamente que houve economia de água, pode ser indicada

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Visão Sustentável

para obtenção da certificação ISO 14.001”, aponta o representante da Beruf.

Tecnologia norte-americana • Outro exemplo de tecnologia que dispensa o uso de água vem de São Paulo. “Desde 1997, a Limter atua no segmento de terceirização de limpeza e conservação. Devido ao grande número de concorrentes no mercado, percebemos que precisávamos de um diferencial e saímos à procura de tecnologia tanto no Brasil como em outros países”, explica José Nelson da Costa, diretor da empresa. Em 2005, a Limter conseguiu concessão do Ceiling Pro, um produto de patente norte-americana com tecnologia para pulverizar as moléculas de sujeira. “A revitalização das superfícies sem o uso de água, sabão ou detergentes só é possível em virtude das propriedades existentes nos produ30

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

tos biodegradáveis desenvolvidas especialmente para agir quebrando as moléculas de sujeira”, acrescenta Costa. O Ceiling Pro pode ser aplicado em tetos e forros, paredes e fachadas, mármore, cerâmica, placas metálicas, azulejos, monumentos, cozinhas industriais, estruturas metálicas. “As pessoas passam pelos locais onde estamos removendo a sujeira e ficam impressionadas com o resultado. Muitas perguntam se estamos pintando. No entanto, respondemos que é limpeza. E quase todas se espantam com o fato de não usar água”, conta o diretor da empresa paulista. A Limter atende principalmente o mercado paulista e entre os clientes pode-se citar agências do Banco Bradesco, Banco Itaú, Unibanco, HSBC, concessionárias Renault, Ford, Subaru, Hynday, hospitais e hotéis da região.



antoninho caron

Gestão Sustentável

Doutor em Engenharia da Produção, Consultor em Desenvolvimento e Negócios Internacionais e Professor do Mestrado da UniFAE

A sociedade do século XXI, conhecida como sociedade do conhecimento, encontra-se diante de novos desafios empresariais para usos mais racionais dos fatores de produção

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Lixo não é luxo L ixo é matéria-prima em lugar inadequado. Luxo é o que apresenta mais riqueza de execução do que é necessário para a sua finalidade. Trata-se do que é supérfluo e ultrapassa os limites da racionalidade. A sociedade do século XXI, conhecida como sociedade do conhecimento, encontrase diante de novos desafios empresariais para usos mais racionais dos fatores de produção objetivando maximizar seus lucros. Já os consumidores dessa nova sociedade, mais informados e exigentes, demandam por melhores produtos com menores preços para melhorar sua qualidade de vida de formas mais racional, efetiva e produtiva. Empresas e indivíduos procuram conciliar e criar novos caminhos para o desenvolvimento sustentável. O objetivo deste artigo é estimular a reflexão sobre o uso racional dos fatores de produção, especialmente das matérias-primas, tanto no processo de produção como no consumo. Primeiramente, reflete-se sobre o aspecto econômico e da racionalidade no uso das matérias-primas na indústria e depois a respeito da questão do desperdício, por parte do consumidor, no que se refere às embalagens dos produtos disponíveis no mercado para consumo. No processo industrial, a melhor racionalidade no uso da matéria-prima ocorre quando as sobras são iguais a zero. Isto é, tudo o que entrou no processo produtivo foi utilizado e transformado em um novo produto. Quando há sobras, rejeitos e desperdícios significa que não houve uso ótimo da matéria-prima e que não houve lucro com os recursos utilizados. Agora, não só da matéria-prima, mas também de trabalho, de energia e de mão-deobra utilizada no processo. Gastaram-se esforços e recursos que não resultaram em produto novo. Conclusão: houve prejuízo. Dessa forma, lixo é matéria-prima não utilizada. É capital que não cresceu. É dinheiro desperdiçado. É lucro que não foi gerado. Quanto maior o lixo, maior o prejuízo. Maior

a perda de oportunidade de ganho. Lixo não é luxo. É prejuízo. É redução de ganhos. A segunda reflexão a que este artigo se propõe é o desperdício verificado na produção das embalagens para satisfazer vaidades e praticidades do consumidor. Vamos a alguns exemplos. Quanto custa uma latinha de cerveja? Qual é o custo da bebida cerveja? E qual é o custo da matéria-prima de alumínio utilizada na produção da latinha de cerveja, o custo da tecnologia incorporada na fabricação da latinha da embalagem da cerveja para abrir a cerveja em lata? Para ser “racional” com os custos, o consumidor deveria jogar fora a cerveja e consumir a latinha. Partindo-se desse ponto de vista, pode-se dizer que há um consumo “irracional” de fatores de produção por parte do consumidor e que, por vaidade e comodidade, por não pensar em desenvolvimento sustentável, por não pensar na produtividade do seu trabalho, da sua renda e do seu tempo, desfaz-se do bem economicamente mais valioso e consome o de menor valor. Esse é apenas um exemplo para estimular a reflexão de cada consumidor individual ou empresarial para cada produto. O que vale mais? Qual é o uso mais racional? Como os recursos utilizados estão ajudando a conquistar melhores resultados? Considerando que para o consumidor tempo é dinheiro, uma vez que a sua renda geralmente é obtida pela venda de horas trabalhadas, o “racional” seria pensar no custo das mercadorias e dos serviços não mais em quantos reais devem ser gastos para adquirir um bem ou serviço, mas em quantos minutos, horas, dias, meses ou anos de sua vida são gastos para obter e consumir os produtos e serviços desejados. Que uso faço do meu tempo de vida? Como tornar a minha vida mais produtiva, mais racional, mais sustentável? Desenvolvimento sustentável, de não desperdício, de renovação, de produtividade dos fatores de produção é uma questão de lógica e de bom senso.


DHARMA

CIVITAS Responsabilidade Social

“Responsabilidade Social não são palavras. São ações”. Instituto Ethos

A Responsabilidade social é diferencial competitivo na estratégia de negócio de uma organização bem sucedida e orientada para o desenvolvimento sustentável. A Civitas Consultoria e Treinamento, pode ajudar a orientar e implementar a gestão em Responsabilidade Social na sua empresa e seus respectivos projetos. Se você está pensando em seguir este caminho, fale conosco e veja de que forma podemos construir valor para seu negócio. Nossos serviços:

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Responsabilidade Social

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Juliana Sartori

Anjos da limpeza Catadores de recicláveis ensinam como trabalhar com união e gerar desenvolvimento

Membros da Acampa no barracão da CIC

Juliana Sartori

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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caminhão chega e o que não falta são braços e mãos para alcançar o material que antes estava na lixeira e agora é produto de venda. No barracão do projeto curitibano Eco Cidadão, onde trabalha a Associação dos Catadores de Recicláveis Parceiros do Meio Ambiente, (Acampa) ninguém perde tempo. O lixo reciclável que chega por lá e é todo organizado, separado, para depois ser prensado, pesado e, aí sim, ser vendido para as empresas recicladoras. Por dia, a Acampa vende às empresas recicladoras cerca de uma tonelada de material reciclável por dia - sendo em sua maioria papel e plástico, divididos em cerca de 45 itens diferentes. O resultado financeiro desse trabalho é dividido por 47 pessoas - todos associados que vivem e mantêm suas casas e famílias a partir da procura, separação e venda do lixo reciclável. Trabalho valioso para os centros urbanos, que

gera renda e resolve boa parte dos problemas ambientais da cidade. Quando se vê os blocos coloridos, todos limpos, numerados e organizados já nem se pode mais chamar aquilo de lixo. Afinal, não há como enxergar sujeira no local onde trabalham os “anjos da limpeza”. Pelo menos é assim que o senhor Floriano Pereira da Silva, 60 anos de idade e 12 anos de trabalho como catador de recicláveis, gosta de definir a sua profissão e a da sua mulher, Dona Maria de Lurdes. Foi ela, na verdade, quem começou a trabalhar com a reciclagem e chamou o marido para fazer a parceria que já dura há tanto tempo. “O Floriano estava sem serviço, quando ainda era pedreiro, então tive que me virar. Ele viu que valia a pena e começamos a trabalhar juntos”, conta a “primeira-dama da associação”, como é chamada na brincadeira pelos colegas. Seu Floriano é um homem empreendedor,


apaixonado pelo o que faz, sabe a importância do trabalho em conjunto e luta dia a dia com um entusiasmo contagiante para melhorar sua condição de vida e de seus colegas associados. “Hoje em dia, o preconceito que havia com a nossa profissão já está se quebrando. As pessoas têm mais respeito. Somos os anjos da limpeza. Por isso, tenho muito orgulho do que faço. É daqui que tiro a minha renda e a da minha família”, enfatiza. Quando ele fala isso, já começa a brincadeira no barracão. E quem começa as piadas é Vanda Aparecida da Silva, membro do conselho fiscal da Acampa. Uma mulher alegre que está se descobrindo no trabalho com recicláveis. “Faz cinco meses que estou aqui. Já fui micro-empresária, tive problemas, fiquei tempo sem trabalho e renda. Até conhecia a vida do catador. Mas não imaginava que era assim tão gratificante. Todo o dia aqui é um aprendizado conviver com esse pessoal”, conta ela em meio a uma e outra graça que faz com os colegas. Floriano é um dos três carrinheiros que traz

material ao barracão. Ele e os outros que saem para buscar recicláveis chegam a trazer cerca de 300 quilos por dia em cada carrinho. Por sua vez Vanda, faz parte da equipe que fica o dia todo dentro do barracão na separação e organização do material que chega. Afinal, a Acampa sobrevive não apenas do que trazem os carrinheiros, mas principalmente das parcerias formadas com a Prefeitura de Curitiba - que leva à Acampa parte do que colhe dos lixos das casas, no chamado caminhão do Lixo que não é Lixo - e dos recicláveis das empresas da região. Fazer parte de uma associação organizada e com apoio bem estruturado, segundo Seu Floriano, é mais do que lucrativo. “Trabalho há 12 anos com o lixo e faz uns dois anos e meio que temos a Acampa. A diferença entre trabalhar sozinho e com a associação é que a renda aumenta entre 130% e 150%. A gente ganha mais, não tem atravessador, tem boa estrutura e aprende coisas novas para melhorar nosso dia a dia”. Segundo o presidente da Associação, todos que

Catadores podem financiar carros elétricos

divulgação

Carros elétricos para facilitar a vida dos catadores de recicláveis já são uma realidade no país e, a partir de agora, mais acessíveis. Em outubro de 2009, foi anunciado o lançamento do financiamento dos veículos por meio de linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que conta com a parceria do Banco do Brasil para análise e estudo da viabilidade econômica dos projetos. O anúncio do financiamento foi feito durante a Expocatadores, em São Paulo, quando o presidente Luís Inácio Lula da Silva afirmou que os carrinhos são um projeto desenvolvido pela Usina de Itaipu que serão capazes de melhorar o trabalho e a renda dos catadores acostumados a puxar e empurrar as tradicionais carroças e carrinhos de madeira. Segundo Lula, a usina cederá os direitos de patente para os catadores. Pela linha de crédito, o BNDES subsidiará parte da compra e financiará a outra, com parcelamento a longo prazo e baixos juros. A ideia é que os catadores paguem os carrinhos com a própria venda do material reciclado. Tecnologia - O carrinho foi desenvolvido em parceria entre a Plataforma Itaipu de Energias Renováveis, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e a empresa Blest Engenharia, de Curitiba. Seu custo de produção gira em torno de R$ 6,8 mil. A capacidade de transporte é de 300 quilos de carga, com autonomia para rodar de 4 a 5 horas, ou 25 a 30 quilômetros. Após isso, a bateria precisa ser carregada – a recarga completa leva em torno de seis horas. O acionamento do motor e o controle de velocidade são feitos manualmente em botões localizados no guidão. As associações, cooperativas e prefeituras interessadas no financiamento devem entrar em contato diretamente com os escritórios do BNDES para mais informações – www.bndes.gov.br

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Responsabilidade Social

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fazem parte do grupo, de alguma forma melhoraram de vida. Quem ajuda o trabalho dos catadores a funcionar assim de forma tão organizada é a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Aliança Empreendedora, contratada pela prefeitura para gerenciar e dar estrutura aos grupos que fazem parte do projeto Eco Cidadão, que conta hoje com cinco barracões na cidade. “A gente só orienta e faz as cotações de venda do material entre as empresas. Ajudamos a organizar as reuniões, ver o que eles querem e incentivar que criem novas soluções. O trabalho aqui é deles e eles decidem tudo”, explica o coordenador administrativo Edimar Gruba Camargo, apoio da Aliança na Acampa. Segundo Edimar, cada associado consegue ganhar cerca de R$ 800 mensais, dependendo da produção.

Conquista da vida melhor • De acordo com Seu Floriano, quem vê hoje a Acampa trabalhando a todo vapor, não imagina as dificuldades que enfrentaram até conseguir essa eficiência. “Éramos um grupo de catadores, a maioria do Itatiaia (localidade da Cidade Industrial de Curitiba próxima ao barracão) que buscava apoio e ficamos mais de um ano e meio procurando um local para fazer a separação e vender, para evitar o atravessador”, conta. Ele e a mulher, Dona Maria de Lurdes, não desistiram até conseguir entrar no projeto municipal Eco Cidadão. Desde o início, há mais de dois anos, a Acampa conta com o apoio da Aliança, órgãos municipais e entidades como o Banco do Brasil, por meio do núcleo de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) e a Associação Batista de Ação Social de Curitiba (Abasc). “O grupo tinha umas 60 pessoas, mas coJuliana Sartori

“Mas a gente quer sempre melhorar mais, facilitar o trabalho e crescer”, diz Floriano Pereira da Silva, catador de recicláveis

O casal Floriano Pereira da Silva e Maria de Lurdes - parceria na vida e no trabalho

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meçaram a trabalhar de verdade só cinco. Aos poucos foi aumentando e chegando gente. Hoje já somos quase 50”, conta Seu Floriano com orgulho. “Mas a gente quer sempre melhorar mais, facilitar o trabalho e crescer”, diz. É esse pensamento contagiante que fez com que a associação alcançasse a nova etapa que está para começar. A Acampa vai receber em breve um projeto piloto de processamento de garrafas PET, que conta com apoio financeiro da Fundação Banco do Brasil. São oito agências do banco envolvidas que viabilizaram junto à Fundação uma máquina miniprocessadora de garrafas PET, com capacidade para processar 300 quilos de PET por hora. A máquina encomendada para a Acampa pelo banco já está para chegar, com grandes chances de transformar a vida desses trabalhadores. Afinal, terão que compartilhar com as outras associações para dar conta de tanta demanda exigida pelo novo equipamento. Segundo Edimar, estão todos na expectativa da nova fase, que deve trazer mais emprego e renda, agregando valor ao trabalho já realizado no barracão. A ideia é que a Acampa seja levada para local maior, a fim de abrigar o equipamento e mais catadores. Mas os associados da Acampa sonham sempre mais e não querem parar por aí. Além da máquina de PET, eles também já pensam em novas melhorias para o grupo. “Conheci lugares que contam com uma esteira que facilita a separação do lixo, que hoje é feita sobre mesas. Isso agilizaria mais o trabalho”, comenta Seu Floriano. Ele conta que também devem funcionar em breve aulas de artesanato. “Principalmente as mulheres aqui ficaram interessadas. A gente viu muitos projetos que são produzidos com reciclagem e material para isso é o que não falta aqui”, explica.

Consciência • Associações de catadores de recicláveis já são reconhecidas pelas suas importâncias ambiental e social. No entanto, ainda falta muita consciência da população para separar o lixo. “O pessoal ainda não aprendeu a separar o reciclável do que não presta. Já chegou aqui até gato morto misturado com papel e plástico para reciclagem. Se cada um fizesse a sua parte, seria tudo muito mais fácil”, desabafa Vanda. O lixo de cada casa não de-


saparece quando é levado para lixeiro. Pelo contrário, vale o sustento de muita gente. E é exatamente essa gente que acaba deixando de aumentar sua renda porque a população ainda não aprendeu a gerenciar seus próprios resíduos. “É material que vai para o lixão que poderia estar no barracão, ou sujeira de todo o tipo que a gente acaba separando”, diz a associada Vanda. Ela diz, também, que falta respeito da grande maioria das pessoas pelo o que eles fazem. “Até hoje, tem gente, por exemplo, que joga caco de vidro no meio de outros lixos, sem embalar. Ninguém pensa que vamos mexer nas sacolas para fazer a separação, estamos sempre nos cortando por causa disso”, lembra.

Brasil só recupera 1,5% dos materiais recicláveis A quantidade média de material reciclável recuperado no Brasil é de 3,1 quilos por habitante por ano, o que significa menos de 1,5% do que seria possível reaproveitar no País. Papel e papelão representam a maior parte do material recuperado, 50,7%. Em seguida, aparecem plásticos (26,4%), metais (12,1%) e vidros (6,4%). Esses números fazem parte do Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, divulgado recentemente pelo Ministério das Cidades, que traz informações recentes do manejo de resíduos sólidos urbanos no Brasil, referentes a 2007. Com base em dados de 306 municípios, que representam 55% da população urbana, o levantamento apresentado mostra que a cobertura média de coleta de lixo nas cidades pesquisadas é de 90%. Já a coleta seletiva só chega a 56,9% dos municípios da amostra, que inclui todas as capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes. O trabalho de catadores de lixo está presente em 83% dos municípios da amostra que contam com coleta seletiva. Em mais da metade dos casos, os catadores são organizados em cooperativas e associações.


S IVAN DE MELO DUTRA Arquiteto e Urbanista e Mestre em Organizações e Desenvolvimento

Educação e sustentabilidade

O O conceito de sustentabilidade desafia a humanidade para um modo diferente do atual de pensar e agir em relação à utilização dos recursos naturais, ao destino de resíduos e ao próprio futuro da humanidade

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SUSTENTÁVEL

rápido avanço da tecnologia na área da informação trouxe um novo paradigma para a educação, exigindo novas competências, tanto para educadores quanto para educandos. Na área profissional, no que diz respeito à gestão do conhecimento, não é diferente. Não se consegue desenvolver novas habilidades na mesma velocidade em que novas tecnologias tornam a informação disponível. Via de regra, por não serem acompanhadas de direções para objetivos claros, competências são desenvolvidas por estudantes e profissionais descompassadas da real necessidade ou do verdadeiro significado dessas ações. Esta leitura pode ser feita sob qualquer ótica, mas interessa-nos, aqui, o olhar que mira a sustentabilidade. Sabe-se que, apesar de relativamente recente e ainda pouco divulgado, o conceito de sustentabilidade desafia a humanidade para um modo diferente do atual de pensar e agir em relação à utilização dos recursos naturais, ao destino de resíduos e ao próprio futuro da humanidade. Poucos avanços foram feitos desde a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, assinada, na época, por 178 países, na Conferência que ficou conhecida como Rio-92. Sob alguns aspectos, entre eles o aquecimento global, a situação até se agravou. Continuamos a solicitar que o planeta suporte mais do que sua capacidade de autoregeneração. Quando muito, em uma alusão à visão foucaultiana, iniciamos nossa caminhada sobre trilhas de práticas discursivas. Se, de um lado, tem-se uma possibilidade de desenvolvimento de novas competências viabilizada pela aproximação virtual entre pessoas, pela crescente disponibilização de informação, por novas formas e meios de debates e, de outro lado, um necessário direcionamento de habilidades voltadas para a sustentabilidade, por que, então, as duas partes não se juntam? Mais que isso: suponhamos

que fosse possível, hoje, juntarmos essas partes, que implicações surgiriam do encontro da educação com a sustentabilidade? Educar para sustentar o quê? Com quais valores, com qual fundamento? Seguindo nessa linha de raciocínio, descobriremos que estamos, sim, como sempre estivemos, educando para alguma sustentabilidade. Pelas constatações feitas acima, descobriremos, também, que não é a da preservação dos recursos e da vida humana, mas a da empregabilidade, entendida como a constante adequação às exigências do mercado. A escola continua preparando bem os alunos para o ingresso no ensino superior, dando suporte, de forma competente, ao fenômeno crescente de construção de uma sociedade mais preocupada com sua própria adaptação à crescente competitividade, resultante da globalização da economia do que com sua sobrevivência. Pode-se, portanto, afirmar, sem risco de engano, que a escola – seja para a formação pessoal ou profissional – é uma ferramenta poderosa na construção do weltanschauung – o modo de se ver e de ver o mundo. Por que, então, não direcioná-la, como propôs Boff, dentro de uma nova ética na qual a cooperação, o respeito aos seres vivos e o cuidado com a vida em toda a sua expressão sejam prioritários? É preciso reconhecer que os esforços para ensinar a separação de detritos, a redução do desperdício de água tratada, o destino correto de descartes, por exemplo, são válidos e necessários para o momento que vivemos. Entretanto, frente às dimensões que o problema da sustentabilidade da vida na terra vem adquirindo, talvez fosse mais urgente somarmos esforços para construirmos uma relação com a natureza em que passemos da visão atual de que ela existe para ser usada para uma visão na qual todos nós dela fazemos parte. Sim os efeitos nocivos da atividade humana, a natureza encontrará, a seu tempo, mecanismos que possibilitarão sua regeneração.



Responsabilidade Ambiental

Relacionamento que vai além da oferta de soluções Empresa de consultoria e assessoria técnica tem filosofia de trabalho baseada na proximidade e troca de conhecimento com os seus clientes

Ana Letícia Genaro

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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erar novos conhecimentos e práticas inovadoras compartilhando princípios de flexibilidade, networking e responsabilidade ambiental. Conceitos de peso na filosofia de trabalho da Terra Azul Consultoria Ltda, empresa que atua na prestação de serviços de consultoria e assessoria técnica em planejamento e gestão. Com sede em Curitiba a Terra Azul foi fundada em 2001 pelas sócias Mariluce Zepter – arquiteta com especialização em Desenvolvimento Urbano e Rural e Práticas de Planejamento Urbano, MBA em Gestão Estratégica de Negócios e mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente – e Cláudia Zepter bacharel em Administração de Empresas com especialização em Engenharia de Sistemas. “Nosso primeiro cliente foi a ABIH, Associação

Brasileira da Indústria de Hotéis, quando gerenciamos a implantação do programa de responsabilidade ambiental Hóspedes da Natureza em dez hotéis em Foz do Iguaçu”, lembra Mariluce. Hoje a Terra Azul presta serviços em três áreas: gestão organizacional, desenvolvimento urbano e meio ambiente tendo como produto final estudos, pesquisas, diagnósticos, programas de gestão e gerenciamento de projetos.

Meio Ambiente • Na área de meio ambiente a empresa atua na atividade de consultoria participando de equipes multidisciplinares para a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental – EIA, desenvolvimento de políticas e modelos de gestão de resíduos sólidos, desenho de soluções e especificações técnicas para gerenciamento de


resíduos sólidos em condomínios, diretrizes para definição de políticas e práticas de gestão sócioambiental e apoio às atividades de acompanhamento do processo de licenciamento ambiental.

Gestão Organizacional • No segmento da gestão organizacional, a Terra Azul trabalha no mapeamento e otimização de processos, levantamento de requisitos e gerência de projetos de desenvolvimento de sistemas de informática e treinamento de usuários. “Nós atuamos como uma ponte entre o cliente final e a empresa que desenvolve o sistema, adequando-o sempre à realidade e necessidades do cliente”, explica Cláudia. Desenvolvimento Urbano • Gerência de projetos, consultoria e assessoria técnica para a formulação de políticas e elaboração de estudos, planos e programas de requalificação urbana e de gestão ambiental urbana são os principais serviços oferecidos pela Terra Azul na área de desenvolvimento urbano. “Desde 2005 temos colaborado em diversas etapas do desenvolvimento e implantação da Reserva do Paiva, empreendimento turístico, lazer e moradia que está sendo construído no município do Cabo de Santo Agos-

tinho, Região Metropolitana do Recife. Trata-se de um empreendimento imobiliário privado de grande porte e alto padrão, concebido para aliar qualidade de vida com preservação ambiental”, complementa Mariluce.

Proximidade com os clientes • Além do Paraná, a Terra Azul atende clientes nos estados de São Paulo e Pernambuco. Fazem parte da lista empresas como a Construtora Norberto Odebrecht S.A. e Odebrecht Realizações Imobiliárias em Recife, GV Consult/FGV em São Paulo e QLA – Sistemas de Informática e Serviços em Curitiba. “Partimos do princípio de que não existem soluções prontas. Por mais parecidas que sejam as demandas, cada cliente tem as suas próprias necessidades”, diz Mariluce. Segundo ela, o foco para chegar às soluções mais adequadas e certeiras é conhecer bem o cliente e estar sempre junto com ele. As sócias acreditam também que a gestão do conhecimento deve ser compartilhada com clientes e parceiros. “Dividindo os conhecimentos, nós ganhamos e eles também. Estabelecemos um elevado nível de confiança e satisfação mútua e construímos relacionamentos duradouros”, explica a arquiteta.

“Nós atuamos como uma ponte entre o cliente final e a empresa que desenvolve o sistema, adequando-o sempre à realidade e necessidades do cliente”, comenta Cláudia Zepter, sócia da Terra Azul Consultoria

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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Responsabilidade Ambiental

Pegada Ecológica • Tanto no trabalho quanto na vida pessoal as sócias da Terra Azul, Mariluce e Cláudia, buscam reduzir, ao máximo, o impacto ambiental por elas gerado. “Adotamos práticas que minimizam a nossa pegada ecológica, ou seja, as marcas que deixamos no meio ambiente”, diz Mariluce. O escritório da empresa fica dentro da própria casa, as tecnologias de informação e comunicação são bem exploradas -- evitando a necessidade de deslocamento. Elas praticam também o consumo consciente e, há alguns anos, aboliram o carro de suas vidas. “Nossa qualidade de vida aumentou muito depois que decidimos vender os carros. Hoje não perdemos mais tempo com rotinas desgastantes e improdutivas como o trajeto casa-trabalho-casa, por exemplo”, diz Mariluce.

Mariluce Zepter

Arquiteta/MBA/MSc. Sócia-Administradora da Terra Azul Consultoria Ltda. mzepter@terra.com.br

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL:

Ser somente ambientalmente correto não basta! A preservação do meio ambiente é, sem dúvida, o ponto de partida para um novo modelo de desenvolvimento que tem por desafio preponderante alcançar o equilíbrio entre a produção de bens e serviços e a utilização dos recursos naturais finitos e não renováveis, de modo a garantir a sobrevivência humana e a qualidade de vida neste planeta, diminuindo as desigualdades sociais. A dimensão ambiental, na perspectiva do desenvolvimento sustentável, apresenta-se de forma multifacetada e, portanto, não se limita unicamente aos aspectos da preservação da biodiversidade, em particular das espécies em risco de extinção. Tampouco se restringe a atender às neces-

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sidades de um mercado globalizado e competitivo que, crescentemente, demanda por produtos e serviços certificados por meio dos chamados “selos verdes”, por exemplo. Não basta cumprir a legislação ambiental em vigor; este é um requisito mínimo. É bem verdade que ainda convivemos com situações de não-observância às leis, dando espaço a uma concorrência desleal; mas isso está mudando. Parte da sociedade, mais consciente, já não tolera abusos dessa natureza. E também não basta obter uma certificação ambiental de padrão internacional; em breve, essa será uma condição comum a todas as organizações, deixando de ser um indicador de diferenciação no mercado.


opinião A responsabilidade ambiental, entendida como uma vantagem competitiva, deve nortear a estratégia de negócio como um todo, de modo a auferir impactos positivos à produtividade, à eficácia e à eficiência das operações, à imagem corporativa e às relações com os diversos stakeholders: não só com os acionistas, funcionários, clientes e fornecedores, mas também com a comunidade, com as agências de controle ambiental, com as entidades de fomento e crédito, com os meios de comunicação, etc. Nesse contexto, os ganhos para uma organização ambientalmente responsável, em termos de novas oportunidades de negócio e lucro, tendem a ser crescentes e consistentes. Ser ambientalmente responsável (e não apenas ambientalmente correto, isto é, “andar na linha” e não poluir) é uma das características de uma organização que pretenda ser reconhecida como sustentável. Ser uma organização ambientalmente responsável implica considerar as questões ambientais, aliadas à ética nos negócios e à valorização do capital humano, como vetores de orientação do planejamento estratégico e do desenvolvimento e comercialização de seus produtos e serviços.

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Energias Renováveis

A possibilidade do carro verde mais próxima do consumidor Engenheiro cria sistema capaz de reaproveitar energia solar e energias perdidas no meio ambiente para carregar baterias de carros elétricos

Juliana Sartori

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ode parecer coisa de filme de ficção científica, mas o carro dos sonhos está muito mais próximo da realidade do que podemos imaginar. Quem prova isso é o engenheiro curitibano Aureci Gasparini, que descobriu uma forma de aperfeiçoar carros elétricos, com uma tecnologia capaz de aproveitar energias gratuitas e não-poluentes. Gasparini conseguiu mostrar, depois de décadas de pesquisa em países europeus e depois no Brasil, que é possível u0 consumidor comum ter um carro para andar na cidade, que chegue a uma velocidade razoável e que em poucas horas possa ser carregado para andar centenas de quilômetros sem precisar parar. O automóvel dos sonhos foi produzido pelo engenheiro e PHD em Física Eletrônica com um sistema batizado de Merc, que significa Misturador de Energias Recicladas Combinadas. Esse sistema, desenvolvido por meio de pesquisas desde 1985, é capaz de aproveitar quatro tipos de ener-

gia: solar, do meio ambiente, baterias e energia reciclável. No Merc, as energias são misturadas em uma câmara e disso resulta em uma nova corrente elétrica, que é novamente distribuída para manter o motor funcionando e também carregar outra bateria. Além dos tradicionais painéis solares, que captam a energia do sol, o sistema de Gasparini ainda é capaz de aproveitar o que ele chama de energia perdida no meio ambiente. “As ondas de rádio, televisão e celular, por exemplo, não são 100% aproveitadas e ficam perdidas no meio ambiente por meio de micro-ondas”, afirma. O engenheiro conta que desenvolveu uma forma de aproveitar essas energias residuais para fazer seus veículos locomoverem. Segundo Gasparini, sua grande contribuição para a pesquisa de carros elétricos está na autonomia que conseguiu a partir desse sistema, possibilitando a um automóvel rodar cerca de 700


quilômetros, sem precisar recarregar, em uma velocidade média de 110 quilômetros por hora. O engenheiro garante que essa autonomia pode ser ainda maior, dependendo do veículo. Gasparini afirma ainda que para carregar basta deixar o carro parado por algumas horas, já que seu sistema é mais eficiente do que os convencionais. Além disso, os veículos de Gasparini são inofensivos à atmosfera, pois no carro elétrico não há emissão de gases e sua locomoção é independe de recursos naturais. “Os veículos elétricos não poluem ou agridem o meio ambiente. Não há emissão de substâncias prejudiciais à atmosfera e à saúde das pessoas como aldeídos e hidrocarbonetos, comumente encontrados na queima do álcool e da gasolina”, explica.

Mercado • Desde que passou a criar e patentear suas invenções, Gasparini garante que não vai sossegar enquanto não ver seus vários modelos de veículos entrarem em produção em escala industrial. Segundo o inventor, ele não quer correr o risco de vender o projeto para uma empresa que vai pagar apenas para engavetar suas ideias. “O carro elétrico com a minha tecnologia vai contra a muitos interesses. Para se ter ideia, os meus modelos de carros populares elétricos são simples e dependem de peças de grande durabilidade. A pessoa vai comprar hoje e não vai ter que começar a trocar peças, como acontece no carro convencional, em pouco mais de dois anos. Além disso, quando precisar trocar, será coisa mínima e barata, já que o motor elétrico tem poucos componentes que são muito mais baratos”, explica. Ou seja, segundo o engenheiro, para a grande indústria automobilística, o carro elétrico é um péssimo negócio, afinal as empresas terão o lucro de manutenção dos veículos reduzido. Por isso, Gasparini está há anos em busca dos parceiros ideais para finalmente colocar seus veículos na rua. Ele garante que está em negociação com investidores na Europa e também no Brasil, para iniciar sua fábrica em Curitiba, e em outras cidades do país. Segundo o engenheiro, se tudo

der certo, em menos de dois anos, será iniciada a produção para que a população possa fazer compras direto da sua fábrica. E o valor do carro elétrico que Gasparini espera que vai conquistar o mercado do consumidor comum chegaria a R$ 38 mil. “Se a pessoa pensar que não vai mais gastar com combustível e manutenção, o carro acaba saindo muito mais barato do que um popular convencional. Além disso, quem fica mesmo com o grande lucro é a natureza”, diz. Um artífice arrojado - Gasparini conta que começou a estudar energias renováveis em 1967 e foi só em 1985 que conseguiu criar seu Misturador de Energias Recicladas e Combinadas. Depois de trabalhar anos na Europa, quando voltou ao Brasil, o curitibano resolveu investir tudo o que tinha nas suas ideias. A tecnologia Merc foi colocada em prática pela primeira vez em 1991, em um veículo adaptado com motor elétrico e as demais peças de um carro comum. Em 1996, Gasparini fez seu primeiro protótipo apelidado de Electron, que era um modelo de carro para três pessoas. A experiência seguinte foi com o modelo B5, em 1998 – um veículo inteiro em fibra de vidro e com sistema eletrônico diferenciado para veículos elétricos criado pelo próprio engenheiro, que acompanhava o design do Electron. Em seguida veio o B7, em fase de acabamento, com design totalmente remodelado e itens de conforto interno como desembaçador, ar quente, entre outros. Outro modelo criado há pouco tempo por Gasparini é o GX26, em fase de produção, que contará com dispositivos de segurança diferenciados para o motorista, além de um design completamente diferente dos seus modelos antecessores. A Gasparini MortorTec, empresa pela qual o inventor patenteou seus projetos e modelos de veículos, está em pleno vapor. O sistema Merc de reaproveitamento de energias já foi aplicado pelo engenheiro em carros, motos scooters, skates elétricos, entre outros veículos. O plano do inventor é adaptar a tecnologia em caminhões, tratores, ônibus e até trens.

“Se a pessoa pensar que não vai mais gastar com combustível e manutenção, o carro acaba saindo muito mais barato do que um popular convencional. Além disso, quem fica mesmo com o grande lucro é a natureza”, considera Aureci Gasparini


antenor demeterco neto

Destaque Jurídico

Advogado e Mestre em Organizações e Desenvolvimento

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Um novo marco regulatório de mineração

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Ministério de Minas e Energia está desenvolvendo uma proposta de novo marco regulatório de mineração, a qual deverá ser enviada ao Congresso Nacional no final de 2009. Apesar de ainda não estar concluída, pode-se dizer que o objetivo principal do Governo será o de fortalecer a ingerência estatal no setor, criando-se, para tanto, um Conselho Nacional de Mineração e uma Agência Reguladora de Mineração. Uma das proposições governamentais, que tem a pretensão de dinamizar o segmento, estabelece um prazo mais curto para o início da exploração e impõe limites temporais para a operação de novas minas, ao contrário da sistemática atual, que permite a lavra até o esgotamento dos recursos. O Governo sugere, ainda, que para a concessão de novas autorizações de pesquisa deverão ser obrigatórias a previsão de investimentos mínimos e a apresentação de relatório ao órgão regulador que será criado. Os atuais direitos de lavra não serão afetados, porém os concessionários deverão comprovar a efetiva atividade no prazo de um ano para evitar o cancelamento do título e apresentar uma reavaliação das reservas e um novo plano de aproveitamento econômico sustentável em até dois anos. As cessões ou transferências de lavra serão previamente analisadas, podendo, inclusive, ser recusadas se for constatado prejuízo ao interesse público, como no caso de concentração econômica. A maneira com se obtém a concessão da lavra é um dos aspectos mais polêmicos do tema. A atual sistemática, que confere o direito de lavra a quem primeiro o requer,

poderá ser substituída por um mecanismo de licitações, cujo objetivo é evitar que uma mineradora tenha o controle exclusivo de determinada área, apesar de não ter recursos para explorá-la. Outro ponto que merece destaque se refere à forma de cobrança da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, que nada mais é do que uma espécie de royalties que são pagos aos Municípios, aos Estados e a União. É importante destacar que o Governo considerou a possibilidade de ampliar as suas alíquotas e a sua base de incidência, a qual poderá passar a ser sobre o faturamento bruto das mineradoras e não mais líquido, como é atualmente, o que aumentará consideravelmente o custo da atividade. Estão também em discussão outras questões polêmicas como a possibilidade ou não de mineração em terras indígenas, a atuação de empresas estrangeiras na mineração em faixas de fronteira, o estabelecimento de mecanismos de incentivo às pequenas e médias mineradoras, a criação de um fundo social como o do pré-sal, e, principalmente, a mudança da forma de redistribuição entre os Municípios, os Estados e a União da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais. Contudo, o que se pode perceber é a intenção, pelo menos teórica, do Governo em aumentar a fiscalização, facilitar os investimentos no setor e controlar os impactos ambientais. A preocupação que fica relaciona-se ao grau com que a ingerência estatal realmente se dará no setor. O órgão regulador, cuja criação se propõe, deverá ser um facilitador e não apenas mais um empecilho burocrático. Da mesma forma, deve-se tomar cuidado com a maximização dos custos operacionais da atividade, o que poderá afastar os investidores e prejudicar o ambiente concorrencial. Ou seja, a presença do Estado deverá ser eficiente e não apenas grande, sob pena de constituir um entrave a uma atividade econômica estratégica para o desenvolvimento sustentável do país.



Gestão de Resíduos

Ben-Hur, Sarco

Soluções para o

e-lixo Trabalho integrado entre comunidade, empresas e poder público é a saída para a destinação correta do lixo eletrônico

Criselli Montipó

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

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aça um teste. Quantos equipamentos eletrônicos em desuso você guarda em sua casa? Provavelmente, mais do que dois. Pesquisas estimam que os consumidores possuem, em média, três equipamentos obsoletos em seus armários, gavetas ou outros espaços. Celulares, computadores, televisores, rádios, pilhas, baterias, vídeos, filmadoras, ferramentas elétricas, DVDs, brinquedos eletrônicos e materiais de escritório. A lista não acaba mais, aliás, cresce a cada inovação tecnológica. Esses objetos integram o lixo eletrônico que existe em grande quantidade, mas ninguém sabe, ao certo, o que fazer com ele. Bastou um breve passeio pelas ruas e as falas se repetiam, comprovando as estimativas. A dona de casa Marli Gonçalves Rodrigues guarda sua TV velha na garagem por não saber o que fazer com ela. “Acho que mandar consertar não adianta, pois uma nova sai quase pelo mesmo preço. Também sei que não posso jogar no lixo, porque polui

e acaba voltando nas enchentes”, ressalta. Para ela, as empresas que fabricam esses materiais deveriam aproveitar as peças que ainda funcionam. Ela destaca algumas ações curiosas, como reaproveitar peças de celular para fazer bijuterias. O empresário Alexandre Mendes do Prado encontrou uma maneira de amenizar a geração de lixo tecnológico. Os computadores de sua empresa recebem nova memória e continuam com as mesmas “carcaças”. Os técnicos que fazem o serviço levam as memórias antigas, mas ele não sabe qual é o destino final. Outra preocupação é com baterias, por exemplo. “Há poucos lugares de coleta”, ressalta Prado. Ele conta que chegou a guardar um celular por quase um ano até encontrar uma solução para o aparelho, que estava em condições de uso: deu para um funcionário. O gerente de loja Wagner Cabral Belio vive uma situação semelhante. Há algum tempo armazena lixo eletrônico em sua casa. Mas ele tem


uma coleção: um telefone sem fio, dois aparelhos celulares, uma TV, um micro-ondas e duas lavadoras de roupas, todos os equipamentos sem funcionar. “Não sei o que fazer, na rua não dá para deixar. Deveria ter um local próprio para deixar esse tipo de lixo”, comenta. Curitiba, porém, agora tem um espaço no qual esses materiais podem ser separados, reciclados e ter componentes reaproveitados em uma grande variedade de formas. Esse local é o Instituto Brasileiro de EcoTecnologia (Biet) – Brazilian Institute of EcoTechnology – que pretende, inicialmente, estocar esses materiais em local apropriado e realizar projetos com instituições de ensino superior (para que laboratórios das universidades sejam usados para pesquisar formas de extrair os materais, principalmente partes tóxicas e nobres desse lixo). “Queremos buscar uma solução brasileira, tecnologias e métodos para fazer a reciclagem aqui mesmo”, conta o engenheiro civil Maurício Beltrão Fraletti, idealizador do instituto. Afinal, quando não vai parar no lixo comum, grande parte do e-lixo vai para a Ásia, que faz a separação dos materiais, a serem reenviados para os EUA e para a Europa, onde os metais nobres são retirados. O restante é incinerado, gerando outro problema ambiental, como ressalta Fraletti. Segundo ele, mudar esse ciclo exige pesquisa, portanto, desafio que está disposto a enfrentar. “Por isso, é fundamental a participação dos governos, da iniciativa privada e das universidades”, comenta.

Brincadeira de criança • O problema do lixo eletrônico é bastante sério, mas, por incrível que possa parecer, a ideia de lutar para descobrir soluções para o lixo eletrônico surgiu quando Fraletti deu um kit de robótica para seu filho, Enrico, na época, com dez anos. A brincadeira evoluiu, e Fraletti passou a incorporar peças de eletrônico ao kit. Surgiu, então, a Robótica sem mistérios – Um desafio para futuros campeões, um curso criado em 2003 para seu filho e um grupo de colegas do

Colégio Marista Santa Maria. “Comecei a receber ofertas de lixo eletrônico, principalmente de empresários, e fiquei assustado com o volume de lixo”, conta. Foi então que passou a desenvolver o curso, a fim de diminuir esse tipo de lixo e ampliar a conscientização de jovens e adultos sobre o problema. Mais de 2,5 mil pessoas passaram pelo curso em quatro anos. De lá pra cá, foram muitos cursos, oficinas e parcerias.

Trabalho integrado • O instituto foi estruturado neste ano e já nasce com duas importantes parcerias: com o governo do Paraná, por meio da Serc (Secretaria de Estado Especial de Relações com a Comunidade) e da Sema (Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) – parceria formalizada em abril – e com a prefeitura de Curitiba – parceria oficializada em outubro – por meio da Agência Curitiba de Desenvolvimento e da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Outra parceria importante é a do filho Enrico, de 16 anos, protagonista desta história – que se prepara para o vestibular na área de engenharia – além de mais duas pessoas. O trabalho do Biet está focado, por enquanto, na arrecadação de lixo eletrônico e nas oficinas (de 12 a 30 horas de duração). Mas os integrantes do instituto já articulam outras parcerias para gerar produtos próprios a partir do e-lixo, além de promover a inclusão digital com a utilização de computadores usados. Em várias cidades paranaenses, por meio das parceriais, estão sendo implantados Centros de Educação, Estudos e Pesquisas Ecotecnológicas. Nesses locais, pretende-se que jovens convivam com idosos, para que funcionem como centros socioeducacionais, de estudos ou pesquisas e de desenvolvimentos regional e humano. Fraletti destaca que o objetivo é de que tais atividades aconteçam de forma autossuntentável, visando à coleta, ao armazenamento, ao processamento e à busca de soluções para a correta destinação final de resíduos da indústria mineral e do lixo eletrônico, com geração de empregos e renda.

“Queremos buscar uma solução brasileira, tecnologias e métodos para fazer a reciclagem aqui mesmo”, conta o engenheiro civil Maurício Beltrão Fraletti


Gestão de Resíduos

Números Ben-Hur Oliveira Morais ressalta que há poucas informações disponíveis referentes ao total de resíduos eletroeletrônicos que é produzido no Brasil e no mundo. “Estimativas dizem que, em média, cada habitante produz 2,8 quilos de resíduos eletroeletrônicos por ano, e que, atualmente cerca, de 2% do lixo eletroeletrônico gerado no Brasil é reciclado”, salienta. Ele lembra que na Europa e nos Estados Unidos essa porcentagem cresce a cada dia e já atinge níveis consideráveis – acima de 40% de resíduos reciclados – e que a produção mundial de eletroeletrônicos continua a bater recordes de produção em todo o mundo. “Lançamentos que demoravam anos para chegar aos clientes de todo o mundo atualmente são lançados simultaneamente em vários países, incluindo o Brasil”, comenta. Para exemplificar, Morais cita a produção de computadores no Brasil, que gira em torno de 10 milhões de unidades por ano. “Para cada item vendido a novos consumidores os equipamentos desatualizados não têm o seu descarte realizado de forma correta, e acabam gerando maior impacto ambiental”. Serviço: Para a entrega de lixo eletrônico no Biet, basta agendar por e-mail falecom@biet.org.br ou pelos telefones (41) 9932-0168 e 9138-0846. Acesse: www.biet.org.br e www.sarco-reciclagemdigital.com.br.

O Biet – que recebeu este nome pela associação com o byte – tem sede provisória no bairro Jardim Social, em Curitiba. Até 2010, deve ser transferido para o Curitiba Tecnoparque. A armazenagem de materiais está sendo realizada em um barracão, no bairro Sitio Cercado, com cerca de 200 metros quadrados, cedido pela prefeitura.

Todos juntos pela reciclagem do e-lixo • Iniciativa semelhante tem a Sarco – Soluções ambientais em reciclagem de componentes eletroeletrônicos, com sede no Rio Grande do Sul, que busca fornecer para a sociedade opções e soluções ambientais corretas para o descarte dos resíduos de eletroeletrônicos e plásticos. Hoje, a Sarco promove a captação, a reciclagem e a destinação de resíduos de eletroeletrônicos e de resíduos plásticos. A iniciativa surgiu por meio da necessidade de descarte correto de material eletroeletrônico, por parte de um dos sócios fundadores, quando se verificou a dificuldade no descarte desse tipo de resíduo, como explica Ben-Hur Oliveira Morais, do departamento de Captação de Resíduos da empresa. A Sarco também conta com parcerias de empresas, prefeituras, entidades, e órgãos ligados à proteção e ao meio ambiente para informar a sociedade e os clientes a respeito da necessidade do descarte correto dos resíduos plásticos e de eletroeletrônicos. 50

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

A captação de resíduos é feita por agendamento telefônico, e-mail ou visita à sede. Esses materais são identificados e armazenados por lote, seguindo posteriormente para o processo de descaracterização (desmonte e separação de componentes). “Após a realização desse processo, os materiais resultantes são encaminhados para empresas parceiras da Sarco-Reciclagem, que vão incluir e reinserir esse material reciclado na forma de novos produtos para o mercado consumidor”, explica Morais. Municípios de Santa Catarina e Paraná também são pareceiros da empresa que pretende ampliar o atendimento nos demais estados do Brasil.

Legislação • Segundo Morais, ainda não há legislação adequada para o manuseio e descarte do lixo eletrônico no Brasil, apenas existem projetos de lei em andamento que dependem de aprovação. “Alguns estados possuem suas próprias leis para o manuseio desse tipo de resíduo, podemos citar o estado de São Paulo com a Lei nº 13.576/09”, comenta. No Paraná, há a Lei nº 15.851/08 a qual obriga fabricantes, distribuidores e estabelecimentos que comercializam equipamentos de informática a implantar sistema de recolhimento, reciclagem ou destruição dos seus produtos, mas a lei não está sendo cumprida da maneira que deveria, destaca Fraletti.


Ben-Hur, Sarco

Dificuldades e desafios conjuntos • As dificuldades encontradas para o gerenciamento do lixo tecnológico no Brasil e no mundo são as mais variadas, vão desde a falta de conhecimento da sociedade sobre o real poder de contaminação desse tipo de resíduo, até a falta de regulamentação, que culmina na ausência de fiscalização por parte do governo. Para Fraletti, o problema não deve ser devolvido apenas para o fabricante. “Ele está preocupado em desenvolver novas tecnologias e ainda é obrigado a resolver o problema. Acredito que a empresa não precisa construir uma estrutura para isso, mas tranferir para um terceiro, gerando emprego e renda”, sugere. Segundo Morais, cabe ao consumidor informarse quanto às leis e normas, a fim de poder realizar a destinação correta de seus resíduos, tendo em mente que ao consumir produtos com novas tecnologias, não é necessário gerar impacto ambiental. Cabe ao poder público a função de criar novos dispositivos em forma de leis ou normas para que a sociedade se utilize dessas informações.


divulgação

Publicações e Eventos

aquecimento global e créditos de carbono rafael pereira de souza (ORG.) editora quartier latin

Depois de três dias de programação técnica e científica, a II Agronegócio Brasil encerrou com o entendimento de que o evento alcançou o objetivo proposto, de trazer para o ambiente urbano as principais discussões que envolvem a produção rural. Cerca de 1.300 profissionais, gestores e estudantes participaram do evento, realizado no ExpoUnimed Curitiba. A II Agronegócio Brasil envolveu a realização do I Simpósio sobre Produção Integrada em Sistemas Agropecuários (PISA), II Simpósio Nacional de Segurança Alimentar, e III Encontro de Secretários Municipais de Agricultura e Meio Ambiente, realizados entre os dias 4 e 6 de novembro. Saiba mais acessando: revistageracaosustentavel.blogspot. com/2009/11/agronegocio-encerra-com-novos-desafios_09.html

Livro traz dicas para tornar empresas sustentáveis

Responsabilidade Social na Mídia

O livro “Eco Sustentabilidade – Dicas para tornar você e sua empresa sustentável” apresenta estratégias voltadas ao setor empresarial, a respeito de como aliar o desenvolvimento econômico, a preservação ambiental e a responsabilidade social. “O marketing verde é uma ferramenta estratégica para crescimento e visibilidade do setor empresarial. Investir em meio ambiente é investir no futuro e na qualidade de vida da população, o que comprovadamente agrega valor à marca”, explica o escritor e consultor em gestão empresarial e ambiental, Evandro Razzoto. No livro, ainda podem ser encontradas dicas como a definição do grau de sustentabilidade da empresa, a divulgação dos resultados do marketing verde e como a empresa pode se tornar autossustentável. Pode-se obter o livro na Livrarias Curitiba ou pelo site www.razzoto. com. Informações pelo telefone (41) 9608-0509.

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, em parceria com o Sesi Paraná, promoveu no dia 22 de outubro o debate “Responsabilidade Social Empresarial na Mídia”. O encontro, que aconteceu na sede Fiep e reuniu representantes da mídia e também da academia e de empresa e discutiu as oportunidades de trabalho conjunto na área de responsabilidade social, em iniciativas voltadas à sociedade. Participaram do debate Clarice Lopez Alda, diretora executiva do Instituto RPC; Antoninho Caron, coordenador do curso de mestrado em organizações e desenvolvimento da FAE - Centro Universitário Franciscano, e Heloisa Covolan, coordenadora de responsabilidade social da Itaipu Binacional. A moderação foi feita pelo jornalista Eugênio Esber, diretor de redação da Revista Amanhã. divulgação

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MANUAL DO EMPREENDEDOR Como construir um empreendimento de sucesso jerônimo mendes editora atlas

Agronegócio Brasil com novos desafios aos profissionais das ciências agrárias


Os bancos Santander e Itaú-Unibanco participaram no dia 05 de novembro do Global Forum América Latina – Empresas, Universidades e Sociedade. Eles integraram o painel Educação Corporativa em Sustentabilidade e apresentaram as ações realizadas dentro e fora das instituições. “A educação é o principal vetor para que a mudança cultural aconteça”, disse Sandro Marques, gerente executivo de desenvolvimento sustentável do Grupo Santander Brasil. Queremos ir além da política, buscamos provocar uma mudança de patamar de consciência para que o colaborador seja uma indivíduo melhor e assim produza de forma sustentável”, frisou. Para a analista de sustentabilidade do Itaú-Unibanco, Renata Nogueira, a sociedade é a principal motivadora do processo de mudança nas empresas. Segunda ela, a cobrança de ações acontece com diversas empresas, inclusive com os bancos. “As pessoas preocupam-se em saber em quais atividades o banco está envolvido e o que está fazendo para transformar a realidade social”, informou. Fonte: Comunicação Social - Sesi/PR (Foto:Rogério Theodorovy)

Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL presente na Convenção Nacional da JCI Durante o final de semana de 09 a 12 de outubro aconteceu em Curitiba a 55ª Convenção Nacional da JCI. O evento foi realizado nas dependências do CIETEP - FIEP em Curitiba. O encontro contou com a participação de membros da JCI - Junior Chamber Internacional de todo o Brasil e também de outros países. Na tarde do dia 11 ocorreu um debate sobre Gestão em Sustentabilidade com a participação de três profissionais ligados a essa área. O tema central foi o tripé da sustentabilidade contemplado pelas dimensões: Social, Econômica e Ambiental. Os palestrantes abordaram essas três visões. A bióloga Rosimary Oliveira abordou mais a questão ambiental, Ligia Martins da FGV-PR comentou sobre a questão social e o diretor da Revista, Pedro Salanek Filho a respeito da questão econômica. Aproximadamente 40 pessoas estiveram atentas aos debates e participaram na parte final com perguntas e comentários referentes ao tema.

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Global Forum: Painel Educação Corporativa em Sustentabilidade reúne representantes de Instituições Financeiras

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cidadão&ação

O jardineiro do pensamento Ademar da Silva Brasileiro, o Mago Jardineiro, lança sua semente: qualidade de vida diante da descoberta de que é possível fazer brotar vida praticando simplicidade

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O Mago Jardineiro busca preservar espécies nativas, gerar alimento e abrigo para a fauna e produzir alimentos, remédios e outros recursos para melhorar a qualidade de vida

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le tem a magia de fazer a vida brotar, branda e verde, por onde passa. Afinal, ele é o Mago Jardineiro, Ademar da Silva Brasileiro, praticamente 40 anos dedicados à manutenção da biodiversidade. Desde que aprendeu a plantar um pé de couve e a florzinha onze horas com os avós, quando criança, descobriu que poderia semear um mundo melhor. E foi em meio a um jardim biodiverso – com roseiras, pés de anis, melões e salsinhas, cercado de pássaros, sapos e bichinhos invisíveis – que ele contou sobre suas andanças na tentativa de deixar este planeta mais fresco, despoluído e belo. A história dessa biodiversidade em pessoa começou no interior do Paraná, em Formosa do Oeste. Da cidade natal levou a necessidade de gerar beleza e as técnicas de cultivar tudo que possa viver a partir da junção de solo, água, ar e calor. Até os seis anos de idade passou por mais de meia dúzia de cidades, acompanhando os pais na luta por melhores condições. Nessa época, viu de perto a cultura do campo, a agricultura, que integrava o cafezal ao milho, à mandioca, à banana e ao arroz, e não a produção rural, que se transformou em monocultura. Foi aí, por osmose segundo ele, “como os índios” (os quais passam costumes de geração em geração) que aprendem que onde há diversidade não há necessidade. Ainda criança, mudou-se para a região metropolitana de Curitiba, onde passou a

aplicar estes conhecimentos na horta da família. Na ânsia de construir um mundo melhor, estudou em seminário, onde ampliou sua relação com a natureza e com a manifestação divina. Lá fez o curso técnico em saneamento e iniciou a faculdade de Filosofia. Mas queria novos ares e conheceu um filósofo agricultor em um grupo de yôga. Com ele, fez sociedade no Rio Grande do Sul, em Farroupilha, onde praticou agricultura ecológica, nos anos 80. Engajou-se em movimentos cooperativistas em que atuou por cinco anos, em Porto Alegre. Depois voltou a Curitiba, onde trabalhou na proteção do papagaio de cara-roxa com a produção de quintais agroflorestais, no litoral. Em 99, iniciou seu trabalho como consultor, palestrante e jardineiro. Nesta época, atuou como sócio fundador da Associação de Consumidores de Orgânicos do Paraná (Acopa), trabalhou como voluntário da Rede Semente Sul e foi consultor estratégico do Condomínio da Biodiversidade. “Cada pessoa pode fazer alguma coisa que pode colaborar com a sustentabilidade do planeta”, acredita. Assim, pratica a jardinagem biodiversa e o paisagismo solidário, em que implanta cercas biodiversas (que reúnem flores e frutos em pequenos espaços) e o Banco da Biodiversão (em que é possível sacar e depositar conhecimento, mudas e sementes). Oferece cursos que vão de uma semana até um ano, depende da necessidade do aluno, e multiplica suas técnicas por meio de conversas, blogs e da cartilha Paisagismo Solidário & Jardinagem Biodiversa – práticas ecológicas para amadores da natureza. Cursa Gestão Ambiental e pretende fazer mestrado, pois acredita que é preciso sensibilidade e conhecimento para transformar. Quer uma jardinagem que respeite as variedades locais, que seja econômica, que mantenha a umidade, o ar puro, proteja os solos e recicle resíduos. Que alimente o corpo e a alma. Mago? Sim, no olhar de uma criança que criou o pseudônimo por não saber pronunciar o nome Ademar. Hoje, o mago desvenda os mistérios da vida. Tem três filhos, frutificou, como tudo que tem boas raízes. Biodivirta-se! Acesse http://dhost.info/diodiversao, entre em contato: floraecultura@gmail.com ou brasileiroademar@ig.com.br e (41) 9207-4284.




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