www.geracaosustentavel.com.br novembro/dezembro 2007 • ano 1 • edição 4
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Entrevista
Hélio Mattar
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Capa
20 Visão Sustentável
Boas idéias a favor do Planeta Azul
24 Responsabilidade Social Corporativa
Um mundo melhor é possível
30 Qualidade de Vida
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Malhação no ambiente de trabalho
34 Educando para o futuro
Lições de sustentabilidade e responsabilidade social no mundo corporativo
38 Empreendedorismo
Para caminharem juntos
42 Responsabilidade Ambiental
Consciência na hora de produzir
46 Ong e Ação
O ser humano como foco principal
02 13 19 27 29 31 33 37 45 47 51 53 55
Jerônimo Mendes Exodus UniFAE Fesp Unilehu Consult JW Trier Ecofábrica Civitas, Vioti, Creare De Figueiredo Demeterco Instituto Ethos
Anunciantes e Parcerias
Opiniões
22 Gestão Sustentável 28 Diversidade 32 Ser Sustentável 36 Educação Sustentável 41 Empreendedor 44 Meio Ambiente 48 Destaque Jurídico 52 Economia Sustentável
Matérias
04 Editorial 05 Espaço do Leitor 06 Notas 50 Publicações e Eventos 54 Indicadores de Sustentabilidade
Empresas preocupadas com o futuro
Infante novembro/dezembro 2007
GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
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Editorial
A cidadania corporativa no fortalecimento da imagem institucional A cidadania corporativa é um tema que vem sendo muito debatido no meio empresarial. O desenvolvimento e a prática de ações sociais, visando o fortalecimento da imagem da empresa em um ambiente altamente dinâmico, passa a ser entendido como um diferencial competitivo. O conceito de cidadania corporativa está, aos poucos, se incorporando nas estratégias e no processo de governaça das empresas. O objetivo principal é definir um padrão de conduta ética em relação aos funcionários, à sociedade e ao meio ambiente. As empresas estão elaborando programas de cidadania corporativa, criando comitês e implantando políticas internas voltada a esta área. Eventos e reuniões com diversos públicos interessados (stakeholders) fazem parte da pauta. As necessidades e interesses da comunidade local são observados e assim as corporações estão cada vez mais abertas ao ambiente externo. As ações sociais e o voluntariado são estimulados junto aos colaboradores, o que propicia um maior comprometimento com a empresa, gerando satisfação pessoal e aumento da produtividade. O marketing social ganha destaque, pois apresenta-se como uma ferramenta eficaz na divulgação das ações sociais que são, cada vez mais, valorizadas pelos consumidores. Nesta quarta edição, a Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL destaca as práticas de cidadania corporativa e enfatiza que, para atingir o sucesso e a continuidade dos negócios, um novo conceito deve ser incorporado... O conceito de empresa cidadã. Boa leitura. Pedro Salanek Filho Diretor Executivo
O sonho de uma
Geração Sustentável
A revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL foi idealizada por empreendedores que acreditam que questões voltadas ao tema sustentabilidade farão, cada vez mais, parte da vida das pessoas como também influenciarão nas estratégias empresariais. O nosso foco principal será o desenvolvimento sustentável, através do qual buscaremos conquistar um espaço estratégico junto ao ambiente empresarial. Entre os objetivos, está a divulgação das iniciativas, atitudes, ações e experiências bem sucedidas e aplicadas de forma sustentável nas atividades organizacionais. Caro leitor, compartilhe conosco deste sonho.
Diretor Executivo Pedro Salanek Filho pedro@geracaosustentavel.com.br Jornalista Responsável Vanessa Brollo (MT - 1691/PR) vanessa@geracaosustentavel.com.br Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck criacao@geracaosustentavel.com.br Comercial Giovanna de Paula giovanna@geracaosustentavel.com.br Revisão Ana Cristina Castex Conselho Editorial Pedro Salanek Filho Antenor Demeterco Neto Ivan de Melo Dutra Lenisse Isabel Buss Articulistas articulista@geracaosustentavel.com.br Colaboraram nesta edição Jornalistas: Criselli Montipó e Ana Letícia Genaro Impressão Gráfica Infante Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br Tiragem: 3.000 exemplares Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. Rua Bortolo Gusso, 577 Curitiba - Paraná - Brasil CEP: 81.110-200 Fone/Fax: (41) 3346-4541
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Espaço do Leitor
Foi com satisfação que tomei conhecimento da Revista Geração Sustentável em uma das visitas que fiz à Curitiba recentemente. O tema da revista, e que está estampado nesse título, é muito oportuno e está em sintonia com um dos principais movimentos sociais de nossa época, o movimento pelo desenvolvimento sustentável. Esse movimento, que aspira salvar o Planeta de uma derrocada iminente, pois sinais de alerta não faltam, se apóia num ser humano solidário com a sua própria geração e com as que virão, por isso acredito que a escolha do título da revista foi muito feliz. Lendo a revista, fiquei impressionado com a qualidade das matérias apresentadas, das entrevistas e dos seus colaboradores. Desde algum tempo observase o aparecimento de revistas e suplementos de periódicos tratando deste tema, o que é um fato positivo, refletindo a crescente percepção dos problemas socioambientais por amplos setores da sociedade. Porém, com muita freqüência estes veículos de divulgação pecam pelo exagero, seja apresentando uma visão catastrofista, seja uma visão do otimista sem “pé no chão”, do tipo “obaoba”, com muita gente sorridente falando o quanto tem feito de bom para o Planeta e à Humanidade. Aquelas dão impressão que o fim do mundo não vai esperar as festas de fim de ano, e estas que todos os nossos problemas já foram resolvidos. Os exemplares da Revista Geração Sustentável que tive a oportunidade de ler apresentam os assuntos com muito equilíbrio e são sustentadas com informações valiosas e confiáveis, e não é outra coisa que se espera de um veículo de divulgação e de uma geração voltada para a sustentabilidade. Que esta Revista continue sempre assim. Professor José Carlos Barbieri Fundação Getúlio Vargas - EAESP
A revista superou as minhas expectativas: muito bem estruturada, com profissionalismo e condições acima da média, acompanhamento pessoal permanente, artigos inteligentes e muito conteúdo de interesse geral, revista que todo empreendedor deveria ler e assinar. João Paulo Beuter Probst Administrador de Empresas
Parabéns pela iniciativa de lançar a Revista Geração Sustentável com foco em estratégias de sustentabilidade das organizações. Esse importante tema é tratado com grande profundidade na revista, que apresenta um projeto gráfico bem elaborado e agradável para a leitura. Amanda Guimarães Identidade Design
Quero parabenizar os idealizadores da revista, pois já estava mais do que na hora de se ter um canal de comunicação disposto a falar em desenvolvimento sustentavel. É tempo de entender que a sustentabilidade não é assunto para as gerações futuras e que se não começarmos a agir com responsabilidade não deixaremos nada para o amanhã. Vamos torcer para que esta revista torne-se um incentivo de curto, médio e longo prazo à comunidade empresarial e empreendedora investir com consciência em prol do desenvolvimento técnico, empresarial e do meio ambiente. Joana Lopes Coordenadora do Bom Negócio - Companhia de Desenvolvimento de Curitiba - Curitiba S.A.
Com certeza os meios de comunicação têm um importante papel para a sustentabilidade do nosso planeta, e a Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL está dentro deste movimento. Parabéns aos empreendedores que acreditam nas suas idéias e sabem que elas podem fazer a diferença. Desejamos ótimos e sustentáveis negócios! Fernando Amorim Sociológica - Pesquisas Sociais e Consultoria Relações Institucionais
Sou do Paraguai e o parabenizo por tanta dedicação. Vocês demonstram o grande valor do trabalho em sustentabilidade, e sobre tudo, o trabalho de informar com respeito a este tópico... Rodolfo Silvero Caballero Diretor - Designer KUYA Producciones - Paraguay
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Entrevista
Helio Mattar, 60 anos, diretor presidente do Instituto Akatu, pelo consumo consciente, é formado em Engenharia da Produção pela Escola Politécnica da USP e obteve os títulos de Mestre e PhD em Engenharia Industrial pela Universidade de Stanford. Trabalhou como executivo durante 22 anos em empresas nacionais e multinacionais, assim como em seus próprios negócios. Foi secretário de desenvolvimento da produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; e um dos fundadores do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) e do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, do qual é membro do Conselho. De 2000 a 2003, foi Diretor Presidente da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente. Desde 2004 é Presidente do Conselho da ABDL Associação Brasileira de Desenvolvimento de Lideranças. Nessa entrevista à GERAÇÃO SUSTENTÁVEL falou sobre consumo consciente e desenvolvimento sustentável. Confira.
GERAÇÃO SUSTENTÁVEL • Quais os benefícios do consumidor consciente para o processo de sustentabilidade? HELIO MATTAR • As escolhas individuais de consumo podem contribuir muitíssimo para o processo de sustentabilidade. Todo consumo causa impacto (positivo ou negativo) sobre o próprio indivíduo, as relações sociais, a economia e, sem dúvida, sobre a natureza. O preceito básico do consumo consciente é fazer escolhas que maximizem os impactos positivos e minimizem os impactos negativos. Ao reduzir os impactos negativos sobre a sociedade, a economia e o meio ambiente, o consumidor estará colaborando para a construção da sustentabilidade da vida no planeta e para o bem estar da humanidade. GS • Como fazer para o consumidor indiferente evoluir para consumidor consciente? HM • O Akatu desenvolveu uma metodologia para sensibilizar e mobilizar para o consumo consciente. Ela é composta de cinco etapas, que chamamos de “pedagogias”. A primeira é a “Pedagogia da Relevância”, que explica quão graves são os problemas derivados dos atos de consumo. O problema central é que o consumo humano ultrapassou a capacidade de renovação da Terra e isso implica em, na melhor das hipóteses, uma queda da qualidade de vida para as próximas gerações. Outros problemas causados pelo excesso de consumo 10
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Helio Mattar (como o aquecimento global, resultado principalmente das emissões de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis para atender às necessidades humanas de energia e transporte, por exemplo) já vêm afetando a humanidade. A segunda pedagogia mostra que as escolhas de consumo afetam a todos e retornam, de uma forma ou outra, ao indivíduo originário do ato de consumo. Por exemplo, os efeitos do aquecimento global já estão sendo sentidos por todos. A terceira pedagogia busca sensibilizar o consumidor para o fato de que cada um de nós, individualmente, pode contribuir muito para solucionar os problemas derivados dos atos de consumo, pela adoção do consumo consciente. Como exemplo, um único indivíduo que, durante 72 anos de vida (expectativa de um brasileiro), guardasse todo o lixo gerado pelo seu consumo, lotaria até o teto um apartamento de 50 metros quadrados. A quarta pedagogia incentiva o indivíduo a mobilizar outras pessoas para agirem da mesma maneira, pois uma atitude positiva de consumo realizada por um grupo grande de pessoas tem seu efeito muito rapidamente multiplicado. Como exemplo, se 1 milhão de pessoas, durante apenas um mês, fecharem a torneira para escovar os dentes, a economia de água será equivalente ao que cai pelas Cataratas do Iguaçu por 12 minutos! No processo de sensibilização e mobilização de cida-
divulgação
Sociedade e consumo consciente
dãos para o consumo consciente, a comunicação (por meio da mídia e seus veículos) e a educação (pela escola, por exemplo), possuem um papel vital, assim como o dos formadores de opinião. A quinta pedagogia é chamada pelo Akatu de “Pedagogia da Exemplaridade”, pela qual, de um lado, se busca sensibilizar e mobilizar formadores de opinião para que sejam multiplicadores do consumo consciente e, de outro, se busca mostrar que toda pessoa é um multiplicador de seu modo de consumir, na medida que influencia família e amigos. GS • Qual a situação atual do Brasil em relação às outras grandes nações nas questões do desenvolvimento sustentável? Quais são as perspectivas? HM • O desenvolvimento sustentável é um conceito relativamente recente e complexo, pois exige a mudança dos padrões de produção e consumo praticados atualmente e adotados nas últimas décadas pela humanidade. Por essa razão, o desenvolvimento é um processo no qual estão envolvidos governos, organizações sociais, empresas e indivíduos. A questão central do ponto de vista dos indivíduos, perspectiva que mais interessa ao Akatu, é a percepção de que todo ato de consumo tem impacto sobre a sociedade e o meio ambiente e cada um de nós pode contribuir positivamente e de maneira significativa. Nesse processo a responsabilidade social empresarial e o consumo consciente são instrumentos importantes. Uma forma de comparar o Brasil a outras nações é por via da comparação do percentual de consumidores que recompensam ou punem empresas em função de sua responsabilidade social. Enquanto no Brasil este percentual se situa na faixa dos 15% da população, países como a Austrália, Estados Unidos e Alemanha chegam a 50 a 60% da população que declara ter recompensado ou punido empresas em função de sua responsabilidade social e ambiental. Como nação, o Brasil tem defendido a posição de não adoção de metas para a emissão de carbono dentro do Protocolo de Kyoto. Pessoalmente, acredito tratar-se de um grande equívoco. É fundamental que todas as nações levem adiante um processo de mudança de seus modelos de produção e de consumo. Isso só ocorrerá se houver uma importante mudança na cultura de consumo de forma a induzir tal mudança. Metas no Protocolo de Kyoto materializam este desafio e são úteis para transmitir à população a necessidade de mudança. Naturalmente, não teriam que ser metas tão desafiadoras quanto as colocadas para os países mais ricos e que são responsáveis pela quase totalidade das emissões de carbono. Mas deveriam ser metas que apontassem para a necessidade de uma mudança de tendência na forma de produzir e consumir.
GS • O senhor percebe posturas diferentes entre as empresas nacionais e as multinacionais no tratamento das questões sociais e ambientais? Quais? Por quê? HM • O que percebemos é que existem empresas que têm como parte de sua estratégia, de seu DNA, a busca da maximização dos impactos positivos de sua atuação. Outras empresas estão em fase mais incipiente, não tendo ainda incorporado os princípios e valores que podem levar a uma contribuição mais decisiva para a sustentabilidade da vida no planeta. No entanto, o que determina o maior ou menor envolvimento não é o fato de serem nacionais ou multinacionais. Essa preocupação com a sustentabilidade da vida no planeta está relacionada mais com a postura particular de cada empresa, da ética de seus principais executivos e menos com sua nacionalidade ou área de atuação. GS • As corporações já estão, efetivamente, direcionando a sua visão empresarial e convergindo estratégias para tornar o negócio sustentável também no âmbito social e ambiental? HM • Sim, isso já é uma realidade em diversas corporações. Podemos ver pela tendência crescente dentro das empresas, a criação de áreas voltadas para o desenvolvimento de projetos de responsabilidade socioambiental, com profissionais destacados exclusivamente para esta função. O consumidor também tem um papel relevante nesta mudança de estratégia. Conforme a última pesquisa lançada pelo Akatu, “Como e porquê os brasileiros praticam o consumo consciente?”, 37% dos consumidores brasileiros se declararam dispostos a pagar mais por um produto ambientalmente responsável. Várias empresas já notaram essa tendência e estão procurando atender a esta parcela considerável do público. No entanto, tornar sustentável o negócio como um todo é um processo de várias etapas, que envolve tempo. Vários aspectos devem ser considerados, como a relação das empresas com produtos, com funcionários, com a comunidade, com o meio ambiente e com a sociedade em geral. Um bom início para este processo está na relação da empresa com seus fornecedores na busca de redução dos impactos negativos e de potencializar os impactos positivos de seus produtos ou serviços sobre o meio ambiente. Se as empresas fizerem um bom trabalho nesta área, incluindo os impactos da produção, do uso e do descarte dos seus produtos ou serviços, avançaríamos fortemente em relação à sustentabilidade ambiental. novembro/dezembro 2007
Caso 1 milhão de pessoas, durante apenas um mês, fecharem a torneira para escovar os dentes, a economia de água será equivalente ao que cai pelas Cataratas do Iguaçu por 12 minutos!
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Entrevista
a humanidade já consome, em média, 25% a mais do que a Terra tem condições de renovar e isso já vem sendo refletido na escassez de água e no fenômeno do aquecimento global.
GS • Com relação ao capital humano nas empresas, como preparar adequadamente os seus colaboradores para as tendências voltadas à sustentabilidade corporativa? HM • O Akatu vem trabalhando com diversas empresas para criar um corpo de voluntários que multipliquem junto aos funcionários o conceito e as práticas do consumo consciente. Nesse processo, os funcionários são levados a perceber o impacto de seus atos de consumo e a forma como podem colaborar para maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos. Desta forma, os funcionários percebem o seu papel individual para a sustentabilidade e são levados a atuar de uma outra forma tanto em sua vida privada como na empresa. Conscientizados os funcionários para o consumo consciente e para a sua possibilidade de contribuição para a sustentabilidade, o esforço da empresa nessa direção encontrará no funcionário um parceiro para a ação, fazendo com que os programas empresariais passem a ser programas de todos e oportunidades de contribuição potencializada para a sustentabilidade. Desta forma, a empresa criará um ambiente no qual a proposta de contribuição para a sustentabilidade será uma prática concreta absorvida pelos funcionários e adotada também em suas vidas fora do trabalho. Assim, a empresa pode propiciar que seus funcionários passem por processos de conscientização para o uso racional da energia, papel, água, etc. E pode também estimular sua equipe a trazer idéias que contribuam para a sustentabilidade e que sejam benéficas para a comunidade do entorno. Dedicando tempo, atenção e capacitação no tema, a empresa estará dando o exemplo. GS • O que falta ao sistema educacional brasileiro para realizar seu papel na preservação dos recursos naturais para as futuras gerações? HM • Falta atualizar o currículo escolar, trabalhando os temas relacionados à sustentabilidade com mais freqüência e em todas as disciplinas. Talvez até mesmo com a criação de uma disciplina específica. Houve uma grande evolução na educação ambiental, na qual o meio ambiente foi o foco da informação e do conhecimento. Ao se tratar da sustentabilidade, é preciso adicionar as questões sociais, econômicas, culturais e individuais, pois é no equilíbrio entre os impactos nessas diversas áreas que a sustentabilidade acontece. Trabalhar o consumo consciente em escolas, como o Akatu já vem fazendo, parece ser uma boa maneira de provocar a ação individual nas soluções voltadas à sustentabilidade. Para que tudo isso possa ocorrer, é fundamental que as escolas incentivem ou viabilizem a capacitação de
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seus corpos docentes para esses novos temas. Ao capacitar professores, mobilizando-os para utilizar materiais, processos e metodologias de ensino no tema do consumo consciente e sustentabilidade, a escola atinge crianças e jovens em idade formativa e, portanto, mais sensíveis a aceitar novos comportamentos e novos valores. GS • Como as empresas podem apoiar as iniciativas ou contratar os trabalhos do Instituto Akatu? HM • Temos uma política de associação e de parceria com empresas, por meio da qual recebemos contribuições financeiras e oferecemos acesso diferenciado aos conteúdos, jogos, dinâmicas, metodologias e pesquisas do Akatu, assim como condições especiais na execução de projetos conjuntos. Realizamos também projetos com empresas não parceiras, sempre buscando viabilizar a disseminação do conceito e das práticas do consumo consciente para o maior número possível de pessoas. As empresas que têm interesse em nossa causa devem procurar o Departamento de Marketing e Relacionamento do Instituto Akatu. GS • Que mensagem final o senhor gostaria de deixar aos nossos leitores que querem se tornar consumidores conscientes? HM • O consumo, em si, não é um problema. Pelo contrário, é uma solução para vários problemas cotidianos. No entanto, a humanidade já consome, em média, 25% a mais do que a Terra tem condições de renovar e isso já vem sendo refletido na escassez de água e no fenômeno do aquecimento global. Estimativas indicam que, já em 2050, serão necessários dois planetas Terra para dar conta das necessidades básicas dos seres humanos, como água, energia e alimentos. Chegamos a essa situação por conta do padrão de consumo atual. Para se evitar o colapso a ser enfrentado pelas gerações posteriores, a adoção do consumo consciente por cada um de nós é uma via que, necessariamente, devemos percorrer. Por isso, a nova campanha do Akatu tem por mote a frase “Seu consumo transforma o mundo”, indicando que a solução está em nossas mãos. Agindo com consciência na hora de comprar, utilizar e descartar produtos ou serviços, o consumidor maximiza os impactos positivos de seus atos sobre a natureza, as relações sociais e a economia, sem deixar de garantir seu próprio bem estar. Além disso, incentiva as empresas a produzirem de maneira mais responsável sob os pontos de vista social e ambiental, gerando um ciclo virtuoso que viabiliza a sustentabilidade da vida no planeta.
Capa
Empresas preocupadas com o futuro
Estender a filosofia de qualidade para projetos ambientais e sociais é a receita de compromisso socioambiental e de longevidade empresarial
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Criselli Montipó
A
liar criatividade à preocupação com as questões ambientais, sociais e econômicas tem se tornado um dos mais importantes pilares para uma boa gestão empresarial. Mais que isso, tais conceitos são imprescindíveis para uma gestão sustentável. E este conceito está relacionado às atitudes, ações concretas da empresa na comunidade. Afinal, as empresas da atualidade não terão longevidade e lucratividade se deixarem passivos ambientais, econômicos e sociais. Uma empresa, para dar certo hoje, precisa ser, de fato, uma empresa cidadã. No entanto, este conceito não pode ser encarado como modismo, como destaca o administrador e consultor empresarial Wagner Rodrigo Weber, mestrando em Organizações e Desenvolvimento: “Empresa cidadã é aquela que atua no presente para o sucesso do amanhã”. Ele salienta que a cada dia o conceito de empresa cidadã vem ganhando expressão e relevância: “Porém, o entendimento em relação ao conceito de empresa cidadã, em alguns casos, vem sendo entendido de forma equivocada, desviando as empresas para outros caminhos que não chegam ao objetivo esperado por este conceito. A empresa cidadã coloca o seu negócio em benefício da sociedade, em que a visão de lucro não é somente para o acionista, mas para todos os envolvidos nesta empresa”. O consultor em Responsabilidade Social e psicólogo com MBA em Direção Estratégica, Juvenal Correia Filho, destaca que algumas empresas confundem responsabilidade social - o que as tornam empresas cidadãs - com ações sociais: “A ação social é apenas uma parte, dada a abrangência da responsabilidade social. A responsabilidade social é uma maneira de conduzir o negócio, que traz, inclusive, resultados financeiros para a empresa, mas para isso tem que estar em todas as esferas da empresa, a fim de implementar uma gestão socialmente responsável, de maneira a perceber os públicos de interesse. É uma maneira de reconstruir a empresa num formato novo, com um novo olhar, é uma nova maneira de se perceber a empresa”. Ele lembra que a empresa só existe em função das pessoas, pois desde o seu surgimento a finalidade sempre foi produzir bens e serviços que atendam às necessidades da sociedade, ou seja, já nasceram com uma responsabilidade social. “As empresas só existem para dar qualidade de vida para as pessoas”, comenta Correia Filho. Weber complementa este raciocínio ao afirmar que todas as empresas, desde sua origem, já deveriam ter esta consciência. No entanto, segundo ele, muitas ainda apregoam sua auto-suficiência, não se dando conta de que estão ignorando justamente o principal ator que decidirá pelo seu futuro, a sociedade:
“Nem sempre as empresas tratam este discurso social da forma com que deveriam tratar. Muitas, por um peso na consciência, acabam por promover ações sociais na comunidade, porém com um objetivo distante daquele que a empresa cidadã possui, e continuam se prevalecendo de ações ilícitas, tais como irregularidades na gestão tributária”. Neste aspecto, o advogado e mestre em Organização e Desenvolvimento, Antenor Demeterco Neto, lembra que as empresas são importantes agentes de promoção do desenvolvimento sustentável: “Do ponto de vista jurídico, a empresa contemporânea deve procurar soluções legais que contribuam para a sua sustentabilidade socioeconômica. O equacionamento de passivos tributários, trabalhistas e ambientais por meio de compensações com outros créditos, bem como a obtenção de benefícios fiscais com ações socioambientais positivas são alguns exemplos de formas jurídicas que auxiliam a sustentabilidade das empresas e, conseqüentemente, promovem o desenvolvimento sustentável”. Para Demeterco Neto - que é co-autor de um dos capítulos da obra Desenvolvimento Sustentável - este é um processo de transformação que busca beneficiar a coletividade a partir do equacionamento de problemas específicos, por meio do relacionamento não conflituoso entre os campos da economia, da saúde, da educação, da cultura e do ambiente. DESCOBRINDO O ‘PONTO DOCE’ • No Brasil, o conceito de empresa cidadã vem sendo aplicado nas empresas - de maneira mais completa - nas últimas décadas. É com o avanço da tecnologia, com o crescimento industrial - e com a conseqüente degradação ambiental e o agravo da disparidade social - que as empresas têm percebido mais fortemente que devem focar ações voltadas à comunidade externa (do entorno) e interna. O que acontecia no passado é que algumas empresas es-
Empresa cidadã é aquela que atua no presente para o sucesso do amanhã, coloca o seu negócio em benefício da sociedade, onde a visão de lucro não é somente para o acionista, mas para todos os envolvidos nesta empresa, destaca Wagner Rodrigo Weber
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queciam-se do público interno, fazendo com que este público prestasse serviços à comunidade, sem que eles próprios tivessem acesso a tais serviços. “O que é um erro muito grave, pois há um custo altíssimo para resgatar o clima entre o público interno”, ressalta Correia Filho. Por isso, ele sugere que as ações de responsabilidade social estejam focadas e alinhadas com o negócio da empresa. “Tem que ser governança corporativa. O corpo gerencial e os stankholders têm que estar muito bem alinhados, têm que entender os conceitos que levam à responsabilidade socioambiental. Com este conhecimento bem desenvolvido e alinhado é possível encontrar o ‘ponto doce’ da sustentabilidade. É o ponto de encontro da empresa com seus stankholders, como na tacada do golfe, que se encontra o ‘ponto doce’, quando se encontra o melhor ponto que bate na bola e que pode alcançar a maior distância”, revela o psicólogo. Para se encontrar este ponto é necessário, em alguns casos, até mesmo redirecionar o foco, pensando nos interessados pelo produto. “Vejamos o caso da Pepsico que, ao perceber que seus clientes buscavam melhorar sua qualidade de vida, passaram a produzir alimentos e bebidas com menor teor de gordura e açúcar”, exemplifica Correia Filho. Ele afirma que as empresas têm que perceber que quanto mais elas devolvem para a comunidade, mais a comunidade as percebe e mais retorna para a empresa.
nidade para se manterem e se tornarem competitivas: “Para começar, não se faz necessário grandes projetos e ações. Um bom começo pode ser a reciclagem dos resíduos gerados pela sua empresa, pela economia de recursos como a luz e a água, pela gestão dos colaboradores, pela gestão tributária, ou até mesmo um pequeno trabalho voluntário na comunidade, enfim, pequenas atitudes que, com certeza, terão reflexos positivos na sociedade”. E Weber tem razão. A Fiat e os Correios que o digam. Empresas com mais de três décadas de atuação no Brasil, elas encontraram o ‘ponto doce’ para ter longevidade e executar uma gestão comprometida com a comunidade. Ambas têm políticas de reciclagem dos resíduos gerados pela empresa e comprometimento com a saúde, educação e cidadania de seus colaboradores e da comunidade. É a criatividade e o comprometimento social das empresas cidadãs dando resultado.
Malotes, carregando ações para um futuro promissor • Embora a primeira carta do Brasil seja, oficialmente, a de Pero Vaz de Caminha, lá pelos idos de 1500, a criação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) aconteceu em 1969. De lá pra cá, são 38 anos de entregas de correspondências em todo o país. Em território nacional, a ECT é uma das maiores empregadoras celetistas, possuindo quase 110 mil empregados, de acordo com seu último relatório social. Destes, mais de 50 mil pessoas são carteiros. Imagine agora que cada carteiro recebe uniforme A essência, em duas palavras • “Ética e novo (calça e camisa) a cada seis meses, o que inclui transparência conduzem todo o processo da respontambém a troca periódica dos malotes. Todo este masabilidade social. Elas são as duas palavras mágicas”, terial ‘inservível’, como considera os Correios, vai para comenta Correia Filho. Para ele, sem agir com transo aterro sanitário. Mas na Diretoria Regional do Paraparência e ética é impossível implementar uma sólida ná, estes materiais ganharam novo destino. “Isso era gestão de responsabilidade social. “Com uma visão feito para garantir a segurança. Ou seja, para que os míope, autocêntrica e egoísta, as empresas passam a uniformes não fossem utilizados indevidamente após desempenhar um papel ruim na sociedade, pois comedescarte. No entanto, os Correios entendem que é funçam a criar expectativas que não são atendidas, gerandamental que as empresas chamem pra si a responsado descontentamento e frustração”, completa Weber. bilidade não só de oferecer serviços, como o transporte De acordo com o consultor, as empresas precisam penda carta, mas fazer isso de forma socialmente responsar e iniciar ações sociais e ambientais em sua comusável, diminuindo o impacto na população”, comenta o diretor regional adjunto da Diretoria Regional do Paraná, Areovaldo Alves de Figueiredo. Foi a partir disso que Regional do Paraná tabulou todos os itens Tornar-se empresa cidadã tem que ser governança corporativa. O que geram resíduos para a realicorpo gerencial e os stankholders têm que estar muito bem alinhados, zação de seus serviços e chegou têm que entender os conceitos que levam à responsabilidade a uma tabela com 40 itens. “Densocioambiental. Com este conhecimento bem desenvolvido e alinhado tre eles, o tecido era o que mais é possível encontrar o ‘ponto doce’ da sustentabilidade, impactava o ambiente”, comenta ressalta Juvenal Correia Filho Figueiredo. Afinal, alguns tipos de tecido levam de cem a quatro16
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Correios, entrega de cartas e de cidadania • Papai Noel dos Correios - Criada em 1997, a iniciativa conta com a ajuda de voluntários e colaboradores. As cartas enviadas ao Papai Noel são abertas, cadastradas e colocadas em exposição. A comunidade pode adotar o pedido das crianças, levando presentes para garantir a magia do Natal. • Carteiro amigo - Programa que difunde a importância do aleitamento materno, utiliza-se da credibilidade do carteiro e seu acesso às populações. O carteiro identifica o público-alvo e agrega ao se papel, a função de agente educador. • Voluntariado e Cidadania - O projeto contribui
com comunidades em situação de vulnerabilidade social, em busca de melhores condições de educação, nutrição e qualidade de vida. • Cidadania em Ação - Com o objetivo de promover a inclusão de pessoas portadoras de deficiência, o programa realiza ações de desenvolvimento profissional, social e pessoal. • Coleta seletiva do lixo - Instituído em 2002, reduziu 50% da quantidade de contêiners utilizados para o acondicionamento de lixo seco. Há inúmeras outras ações e projetos realizados pelos Correios, dentro da perspectiva de empresa cidadã.
centos anos para se decompor. “Foi uma luta interna Confecção Têxtil de Matinhos (Coofamat), para o Moconvencer que teríamos segurança no descarte dos vimento pela Libertação de Vidas de Cascavel (Molivi) inservíveis, mesmo sem ir para o aterro sanitário. Ase para o Centro Assistencial da Diocese de Toledo (que sim, em 2004 tivemos uma experiência primeiramente por meio da Casa de Maria, atende 500 crianças fornecom os malotes, que foram doados e transformados cendo-lhes uniformes). Há também a Boutique Solidáem bolsas, e mais tarde vimos que era possível com ria, em implantação na Associação de Pais e Amigos os tecidos dos uniformes, que após um processo de dos Excepcionais (Apae) de Colombo, e a Associação esterilização, também podiam gerar emprego e renda”, Comercial e Empresarial de Toledo. “Fazemos dentro de conta. um modelo de excelência, algo que motive a prática”, Desde então, os tecidos descartados em todas as ressalta Figueiredo. “Os correios não querem tornar as unidades dos Correios do Paraná são repassados à Dipessoas ligadas ao programa dependentes, mas sim, retoria Regional, com sede em Curitiba, que repassa os possibilitar uma maneira de caminhar para a autonomateriais para cooperativas e entidades sociais usarem mia, que é a cidadania”, completa Belotto. a criatividade para produzir roupas, uniformes infantis, bolsas, e acessórios coloridos e originais. “Exigimos Árvore da Vida: sustentabilidade em apenas a devolução das etiquetas dos Correios”, revela rede • Desde que se instalou em Betim, Minas GeFigueiredo. rais, há 31 anos, a Fiat mantém um relacionamento de Por isso, há pouco mais de um ano formou-se o parceria com a comunidade. Na área ambiental, a Fiat Comitê Regional de Responsabilidade Socioambiental realiza uma série de ações que a mantém em situação da empresa, coordenado por João Ângelo Belotto, que de harmonia com o meio no qual está instalada. Seja lembra que os Correios possuíam setores dissociados em suas atividades na fábrica, com a coleta seletiva de para gestão de responsabilidade social e gestão amlixo, o tratamento de efluentes, a reciclagem de 92% biental: “Unimos estas duas frentes. Agora, com a sudos resíduos e recirculação da maioria do volume de cata, há a condição de trabalho e de reduzir resíduos para a formação de cidadãos por meio da educação”. O projeto de geração de O equacionamento de passivos tributários, trabalhistas e ambientais emprego e renda foi realizado por meio de compensações com outros créditos, bem como a obtenção inicialmente pela Cooperativa de benefícios fiscais com ações socioambientais positivas, são alguns de Produtores Rurais e Artesãos exemplos de formas jurídicas que auxiliam a sustentabilidade das empresas de Mandirituba (Coopermandi), e, conseqüentemente, promovem o desenvolvimento sustentável, apoiada pela Universidade Fedesalienta Antenor Demeterco Neto ral do Paraná (UFPR), e hoje se estendeu para a Cooperativa de novembro/dezembro 2007
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Fiat, guiando pelo caminho da sustentabilidade • Ilha Ecológica - Para a produção de cada veículo, a Fiat gera, em média, 223 quilos de resíduos, que são enviados para a Ilha Ecológica. Lá, 92% são reciclados, vendidos ou reaproveitados. O destaque é a reciclagem do isopor, que possui um sistema especial de reciclagem dentro da própria fábrica, transformando o volume inicial de poliestireno em grânulos que servem de matéria-prima para outras indústrias. A Fiat recicla, mensalmente, cinco toneladas deste material. • Aprendiz Fiat - Integrante do Árvore da Vida, o projeto Aprendiz Fiat oferece a oportunidade de jovens com idades entre 16 e 18 anos vivenciar sua primeira experiência profissional na própria Fiat. Sob a coordenação de tutores, os aprendizes recebem orientações técnicas e comportamentais. • Microcrédito - Ainda dentro do ciclo da geração de trabalho e renda do Árvore da Vida, o programa oferece uma linha especial de microcrédito aos empreendedores do bairro Jardim Teresópolis visando o incremento da economia local. Alfabetização de jovens e adultos - A alfabetização de jovens e adultos foi a primeira atividade do Árvore da Vida a ser implantada. Em 2003, começaram as atividades do projeto ABC+, parceria intersetorial da Fiat com a Prefeitura de Betim na busca da redução dos índices de analfabetismo do município. • Esportista Cidadão - projeto que beneficia 700 crianças e jovens do Aglomerado da Serra, com atividades culturais e esportivas, levando à descoberta de talentos no esporte e encaminhamento a clubes profissionais. Para conhecer outros projetos realizados pela Fiat acesse o site: www.fiat.com.br/cidadania.
água utilizada na produção, seja em seus laboratórios, que buscam antecipar exigências legais e sair à frente na disponibilização de alternativas de consumo de energia e em suas atividades de produção e montagem de veículos. ”O tema responsabilidade social está sendo trabalhado como algo intersetorial. É um trabalho realizado com a comunidade, com os fornecedores, com a Rede Fiat e com o meio ambiente a fim de trabalhar os aspectos sociais, econômicos e ambientais”, ressalta Ana Luiza Veloso, responsável pelo relacionamento da Fiat com a comunidade. Segundo ela, esta relação de trocas é que faz da Fiat uma empresa cidadã. Neste conceito, no Jardim Teresópolis, bairro vizinho à Fiat, é realizado desde 2004, um programa de desenvolvimento local da comunidade. O Árvore da Vida, que se concretizou a partir da parceria com a prefeitura municipal de Betim, a ONG Associação de Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI), fornecedores e concessionárias Fiat nas diversas atividades desse programa, atende cerca de 2 mil crianças, jovens e suas famílias.
As frentes de ação do Árvore da Vida são a formação humana, por meio de atividades socioeducativas (dança, música, esportes, formação cidadã), e formação profissional, com cursos de capacitação e atividades de geração de trabalho e renda. Outra ação do programa foi a capacitação profissional de jovens e adultos nas áreas de artesanato, corte e costura e serigrafia. Gerar trabalho e renda é um dos desafios do programa, que criou uma cooperativa social para este fim. Na Cooperarvore criatividade e noções de reciclabilidade são dois pontos importantes que instigam ainda mais os cooperados. Isso porque vários produtos desenvolvidos na Cooperarvore são feitos com materiais reciclados da Fiat e seus fornecedores. Assim, calotas viram relógio, retalhos de cinto de segurança viram alça de bolsa e tubos de silicone ou cola passam a ser o corpo de belos caleidoscópios. Mais de 10 mil peças já foram colocadas no mercado como brindes institucionais para a Fiat e seus parceiros, ou nas feiras, onde os produtos são expostos e comercializados, garantindo melhorias para a comunidade do Jardim Teresópolis.
O desafio da Responsabilidade Social
ROSIMERY DE FÁTIMA OLIVEIRA
Meio Ambiente
Bióloga, Mestre em Bioquímica e consultora em diagnóstico e planejamento estratégico
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AUTÊNTICA
livro “As Veias Abertas da América Latina”, do jornalista Eduardo Galeano (Editora Paz e Terra), pode ser considerado uma das grandes obras clássicas da literatura latino-americana. Leitura imperdível para aqueles que gostam, querem ou precisam entender a História da América. Publicado pela primeira vez em 1970, foi editado em praticamente todos os países do continente americano, vários países da Europa e nos EUA. O autor descreve e analisa o processo de formação da América Latina, discutindo os vários interesses existentes, desde as contradições internas, até a postura histórica dos imperialismos britânico e estadunidense, dedicando inclusive alguns capítulos ao Brasil. Esta leitura propicia uma visão integrada do desenvolvimento latino-americano e, por extensão, da visão de responsabilidade social adotada nas Américas. A forma de colonização espanhola, desenvolvida no lado leste da América Central e do Sul, foi baseada na
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extração de recursos naturais não-renováveis, principalmente ouro e prata. Quando o recurso se exauria, os colonizadores simplesmente iam embora. As culturas e as sociedades nativas locais eram exploradas da mesma forma, até sua exaustão. O ambiente e o humano nativos locais eram completamente dizimados. Já na colonização portuguesa, os recursos explorados (por ausência de ouro e prata) foram os renováveis, ou seja, biomassa. Daí vêem os ciclos do pau-brasil, da cana-de-açúcar, do café. Como estes recursos eram constantemente “re-plantados”, o ambiente e o humano foram transformados, mas o humano precisava ser mantido vivo em um estado que lhe mantivesse a força de trabalho. Essa breve descrição e análise histórica de nossa colonização nos leva a uma reflexão: enfrentamos no contemporâneo o desafio de reequilibrar o ambiente e de criar caminhos para uma sociedade mais justa, mais eqüitativa em termos de qualidade de vida. Isto
só é possível a partir de uma modificação de nossas formas de ação. O ambiente não pode ser entendido apenas como uma fonte de recursos econômicos. A sociedade não pode mais ser entendida apenas como uma fonte de mão-de-obra. Para tanto precisamos rever nossos critérios e treinar nossa percepção para reconhecer o ambiente e o social, não como reflexo de nossas pretenções, mas como uma realidade diversa e potencial para a construção de uma nova realidade. Em termos práticos, a responsabilidade social autêntica, comprometida com a integridade humana individual e coletiva, começa pelo respeito às diferenças. Não ao respeito limitado à tolerância, ou seja, uma generosidade que apenas “permite” ao outro existir dentro de certos limites pré-determinados pelo generoso. O respeito se constrói no diálogo, na flexibilidade e na busca de soluções que contemplem os anseios do social e os limites do natural. E quais são as ações de responsabilidade social empresarial mais adequadas? Não existe um padrão homogêneo que pasteurize uma dinâmica social e que
permita uma solução única que possa ser generalizada para todas as comunidades. Mas existem princípios básicos que devem nortear as ações como, por exemplo, o fortalecimento e a preservação de valores culturais por meio do apoio empresarial às atividades culturais das comunidades. O fortalecimento dos princípios éticos e solidários sociais pode ser realizado por meio do apoio a atividades esportivas formais e intercâmbio entre saberes populares, através da realização de fóruns permanentes de debates. O mais indicado não é puramente oferecer “um produto pronto” à comunidade, mas deixá-la definir e gerenciar uma ação planejada de forma participativa. A responsabilidade social autêntica não deve se limitar a “cestas-básicas” e programas como “Fome- Zero”, com o objetivo único de manter suficientemente fortes os braços que movem a máquina do capital. Precisamos descolonizar nossas condutas, e não continuar repetindo a destruição ambiental e social que marcou a história da América Latina. Logo, a leitura de Galeano ainda continua atualíssima!
O ambiente não pode ser entendido apenas como uma fonte de recursos econômicos. A sociedade não pode mais ser entendida apenas como uma fonte de mão-de-obra