A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista. Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta!
Ano 3 • edição 14
Heloisa Covolan
14 Capa
Investimento e lucro para uma atmosfera mais equilibrada
Matérias
10 Entrevista
04 Editorial 05 Espaço do Leitor 06 Notas 52 Publicações e Eventos 54 Indicadores de Sustentabilidade
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Visão Sustentável
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Responsabilidade Social Corporativa
União transforma vidas de costureiras
Atletas do paradesporto mostram que não há limites quando se tem determinação
Capa
A moda verde invade passarelas e vitrines
O Legítimo Empreendedor Meio Ambiente Destaque Jurídico Economia Sustentável
38 Empreendedorismo
46 Responsabilidade Ambiental
Consciência ecológica também dentro de casa
02 13 22 27 29 33 35 37 41 43 45 47 49 51 52 54 55
Simpósio PISA - Agronegócio Brasil Consult FIA Seduc De Figueiredo Demeterco Civitas Junior Achievement-PR Acessus Enfoque Ibec-PR Estação - Ibmec Ecossocial Mater Natura Simpósio Segurança Alimentar - Agronegócio Brasil Jornal Meio Ambiente Rede de Sustentabilidade IBF
Anunciantes e Parcerias
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Gestão Sustentável
Mundo melhor, setor fortalecido
34 Qualidade de Vida
Colunas
28 44 49 50 53
GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
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Editorial
Negócio verde: ar puro e retorno financeiro O mercado de carbono talvez seja, hoje, o exemplo mais concreto de que a sustentabilidade se instalou definitivamente no mundo corporativo. Os investimentos e os valores que esse mercado já gerou e ainda promete para os próximos anos mostram que cuidar do planeta é uma obrigação mais do que lucrativa. As estratégias desenvolvidas para os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e crédito de carbono revelam a capacidade criativa do empresariado brasileiro. Os exemplos de empresas que investiram nessa área e hoje trabalham com um retorno mais do que satisfatório fazem parte desta edição da GERAÇÃO SUSTENTÁVEL. E por meio desses exemplos comprova-se que qualquer indústria ou empresa também é capaz de repensar seu papel no mercado e na sociedade. O que mais chama a atenção é que mesmo as empresas que não foram incluídas no mercado oficial do crédito de carbono encontraram outras soluções muito interessantes. Enquanto a burocracia impede a abertura de portas para a conquista dos créditos, os empresários escancararam outras janelas no chamado mercado voluntário de carbono. São as compensações de carbono feitas por meio do plantio de árvores, ou programas de desmatamento evitado. Elas rendem selos e certificados que podem ser usados de diversas maneiras pelas empresas. E pode ter certeza de que o retorno financeiro desse mercado também é garantido. Nesta edição da GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, os destaques são para as soluções encontradas pelo mercado corporativo para continuar a crescer e a produzir, mas com equilíbrio. Afinal, fica impossível planejar um futuro próspero quando não se sabe, sequer, se a sobrevivência está garantida. E os únicos que podem oferecer essa garantia são os homens com a sua eterna capacidade de recriar. Boa Leitura! Pedro Salanek Filho
Conheça o perfil do nosso leitor
Diretor Executivo Pedro Salanek Filho pedro@geracaosustentavel.com.br Diretora Administrativa e Relações Corporativas Giovanna de Paula giovanna@geracaosustentavel.com.br Jornalista Responsável Juliana Sartori (MTB 4515/18/155/PR) juliana@geracaosustentavel.com.br Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck criacao@geracaosustentavel.com.br Relações Corporativas Adriana Reichle adriana@geracaosustentavel.com.br Revisão Alessandra Domingues Conselho Editorial Pedro Salanek Filho Antenor Demeterco Neto Ivan de Melo Dutra Lenisse Isabel Buss Articulistas articulista@geracaosustentavel.com.br Colaboraram nesta edição Jornalistas: Criselli Montipó e Ana Letícia Genaro Assinaturas assinatura@geracaosustentavel.com.br Fale conosco contato@geracaosustentavel.com.br Impressão Gráfica Capital
A impressão da revista é realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. O papel (miolo e capa) é produzido com matéria-prima certificada e foi o primeiro a ser credenciado pelo FSC - Forest Stewardship Council. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.
ISSN nº 1984-9699 Tiragem da edição: 5.000 exemplares 14ª Edição - Julho/Agosto - 2009
Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. CNPJ nº 08.290.966/0001-12 Av. Sete de Setembro, 3815 sala 15 - Curitiba - PR - Brasil CEP: 80.250.210 Fone/Fax: (41) 3346-4541
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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
A revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opiniões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são terminantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos.
Espaço do Leitor
Esclarecedora a matéria sobre produtos orgânicos e seus benefícios (Edição 13 -Consumo Consciente). Nos tempos atuais, precisamos cada vez mais de incentivos para a produção de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos, hormônios e que observem as leis da natureza, beneficiando, assim, a saúde da população e respeitando e preservando o meio ambiente. Azenir Cristofolini Aposentado – Curitiba/PR
Foi interessante quando dois alunos meus, de inglês, apresentaram-me a Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL. Pude ver que além de ser um meio de comunicação importante, é também uma fonte de conhecimento e estímulo para as organizações empreendedoras. Parabéns pela iniciativa e criatividade de fornecer informações preciosas, sendo uma delas, a conservação de nosso planeta. Jean Marcelo Santos Professor e Instrutor do Idioma Norte-Americano Curitiba/PR
A revista Geração Sustentável nos traz informações preciosas de como cuidar do meio ambiente e a responsabilidade de cada um no processo. Quero ater-me a um pequeno produto: pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes (luz fria). É preciso fazer um trabalho consistente e proativo. Conscientizar os condomínios de criar um recipiente próprio para coleta do descarte desses produtos. Será um trabalho de formiga junto aos condôminos de realmente separarem esses produtos e acondicionarem em recipientes próprios. Mas é preciso iniciar. Só que o maior volume das pilhas, baterias e outros, dado ao preço, são pirateados e vem com formulação de alto teor nocivo, principalmente os vindo da China, e são em quantidade. Sei que o Banco Real e o Banco Itaú estão engajados nesse contexto, na reciclagem dos produtos. Só que os sindicalistas e ou/funcionários alegam que terão direito à verba indenizatória de periculosidade. Meio ambiente e sustentabilidade - é o sistema que não precisa ficar parado para estar equilibrado; é o balanço entre perdas e ganhos - matériaprima e energia. Dar o passo do tamanho das pernas (André Trigueiro). Leopoldo Papp Banco do Brasil
artigo dos leitores INOVAÇÃO TECNOLÓGICA PARA O USO INTELIGENTE DA ÁGUA De um lado a discussão importantíssima sobre a gestão de recursos hídricos no país, principalmente sobre uma visão prospectiva, ou seja, a repercussão futura das nossas ações que são feitas na atualidade. O que se discute nesse artigo são os modelos de oferta e demanda do consumo de água, baseados em plataformas tecnológicas construídas no passado e que repercutem hoje e, possivelmente, repercutirão em escala aumentada no futuro. Jorge Takeda, Doutorando em Economia Florestal, M. Tec, Eng. Mecânico e Assessor da Incubadora Tecnológica de Curitiba EM BUSCA DA EFICIÊNCIA NO SERVIÇO PÚBLICO Ao longo dos anos no Brasil, a Administração Pública é alvo de denúncias de corrupção, de incompetência e ineficiência. Os funcionários públicos sempre foram citados como privilegiados, marajás, entre outras classificações. Minha indignação fez com que procurasse escrever algumas
palavras, visto que sou funcionário público, de carreira, portanto a ideia é a de ampliar e esclarecer o que acontece na Administração Pública, o que favorece a corrupção, a ineficiência e a incompetência no serviço público. Francisco Carlos de Figueiredo Silva - Eng. Civil A SUSTENTABILIDADE ATRAVÉS DO ESPELHO A abrangência do tema sustentabilidade permite o acolhimento de diferentes visões para sua importância e significado: céticos a viram como alarde, “ecochatos” como desculpa para o fim da humanidade, empresários a viram como custo, visionários como oportunidade, órfãos de Marx a viram como o novo socialismo e a mídia a vê como tema atual para reportagens e programas. O fato é que como num espelho, a imagem é um reflexo do mundo real. Em última instância, depende da escolha de quem está do outro lado do espelho. Maurício Rodrigues Gil - Especialista em Gestão Ambiental e Professor da Faculdade Anhanguera Joinville – Unidade I
GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
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Sustentando
Brinox lança lixeiras seletivas
Contagem regressiva O Greenpeace iniciou no dia 29 de agosto a contagem regressiva para a conferência que vai definir o que mundo fará para combater as mudanças do clima. Afinal, entre os dias 7 e 18 de dezembro acontece a 15ª reunião da Convenção do Clima (Cop15), em Copenhague, na Dinamarca. Essa é uma reunião histórica, onde serão definidas as medidas de cada país no combate às mudanças do clima. Relógios gigantes foram instalados em São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Manaus. Belo Horizonte, Recife e Brasília também realizaram a primeira mobilização préCoP15: um “barulhaço” para acordar os governantes para a urgência do tema. Moradores de outras cidades também podem se mobilizar, assinando a petição no endereço www. greenpeace.org.br/cop/envie_msg.php .
Hospedagem sustentável A sustentabilidade também já faz parte da realidade do setor de hospedagem. O Quality Hotel Curitiba, por exemplo, adota uma série de medidas para contribuir com o meio ambiente. Entre eles, estão a reciclagem de pilhas, baterias, lâmpadas e resíduos orgânicos. A unidade conta também com um gerador de energia, movido por biodiesel ou catalisador, e passa a gerenciar o consumo consciente de impressões e reutilização de folhas impressas. O empreendimento também está desenvolvendo projetos de captação de águas fluviais e gerenciamento de resíduos.
Banco do Brasil: Boleto ecoeficiente economiza 78 toneladas de papel O Banco do Brasil passou a emitir mais 1 milhão de boletos/mês usando apenas metade do papel antes necessário para impressão das cobranças. Agora são 2,7 milhões de boletos/mês impressos em metade de um papel A4. O Banco estima economia anual de 78 toneladas de papel. O saldo para o meio ambiente é de quase 7 milhões de litros de água e mais de 3 mil árvores. Na esteira da redução do consumo de papel, o BB também investe em tecnologias que dispensam a impressão, como o Débito Direto Autorizado (DDA). Há um direcionamento cada vez maior para os canais que não envolvem impressão e, portanto, não consomem papel. Ao final do primeiro trimestre, os canais automatizados responderam por 91,3% do total de transações no BB. Parcela expressiva (40,7%) de operações bancárias realizadas no BB é processada em caixas eletrônicos. Em média, 65% dos recebimentos de títulos e convênios, são processados pela rede de terminais de autoatendimento.
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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
divulgação
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A Brinox mostra que é uma empresa alinhada com a principal pauta do planeta: a sustentabilidade. Dentro de diversos lançamentos destaca-se a Lixeira Seletiva da linha Decorline. A finalidade do novo produto é motivar o uso consciente dos recursos, bem como o descarte responsável dos mesmos, para que possam ser reciclados, reintegrados ao ciclo industrial ou reutilizados – reduzindo a quantidade e o acumulo de lixo nos aterros sanitários dos centros urbanos. Prática habitual em países desenvolvidos, a coleta seletiva e a reciclagem promovem uma economia de matérias-primas, água e energia elétrica, além de ter importantes vantagens ambientais. A Lixeira Seletiva será produzida com capacidade de 40,5 litros, em dois modelos: com aro e com tampa basculante. Em formato cilíndrico, terá corpo em aço inox e tampa e fundo de plástico polipropileno. O cliente ainda pode escolher entre o modelo com tampa basculante e o modelo com aro. Outra novidade será a disponibilidade do produto nos dez padrões de cores estabelecidos pela resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA nº 275/2001 de 25/04/01. Conheça toda a linha de produtos acessando o site: www.brinox.com.br
Sustentando
Garoto plástico O estudante canadense de 16 anos, Daniel Burd, desenvolveu um projeto que promete dar uma grande contribuição ao planeta. Ele encontrou um jeito de acelerar (e muito!) o processo de decomposição do plástico polietileno – aquele derivado de gás e petróleo, que é usado na confecção de sacolinhas plásticas, por exemplo. O menino descobriu que existem dois tipos de bactérias raríssimas que se desenvolvem na natureza, uma do gênero Sphingomonas e uma do Pseudômonas, que, ao serem isoladas, são capazes de decompor o plástico em seis semanas – ao invés de 400 anos, como acontece no processo natural de decomposição – e, tudo isso, sem gerar nenhuma substância nociva ao meio ambiente ou à saúde humana. Por enquanto, a iniciativa é apenas um projeto, mas já rendeu a Daniel o prêmio “Canada Wide Science Fair”, que oferece $ 10 mil em dinheiro e $ 20 mil em bolsas de estudo para cada um de seus ganhadores. Além disso, o menino está experimentando, aos 16 anos, o gosto da fama. Na internet, já existe um site para Daniel: The Unofficial Daniel Burd Fan Club.
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anos gerando
Varejo Sustentável
sustentabilidade
Estão abertas as inscrições para o 2º Prêmio Varejo Sustentável Wal-Mart Brasil. A premiação é direcionada a estudantes de todo Brasil de nível técnico e universitário, de qualquer área de formação, com interesse em buscar novas práticas para o desenvolvimento sustentável. A discussão proposta gira em torno de como satisfazer as necessidades do consumidor sem comprometer os recursos para as gerações futuras. Os trabalhos devem ser inéditos - ainda não aplicados no setor - e considerar os três pilares da sustentabilidade - benefícios ambientais, sociais e econômicos. O autor do melhor projeto do Prêmio Varejo Sustentável deste ano irá aos Estados Unidos, à matriz mundial do Wal-Mart, e a São Paulo, à sede da empresa no País, para visita técnica aos Departamentos de Sustentabilidade nacional e internacional. Já o segundo e terceiro colocados ganham um notebook, além de participarem da mesma visita na capital paulista. Dentre os vencedores, os projetos escolhidos pelo Wal-Mart para implementação receberão prêmio adicional de R$ 12 mil. As inscrições podem ser feitas até o dia 9 de outubro pelo site www. premiovarejosustentavel.com.br.
SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL REVISTA GERAÇÃO SUSTENTÁVEL LANÇA PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL O I PRÊMIO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL “SOMOS GERAÇÃO SUSTENTÁVEL” é um programa desenvolvido pela Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL que visa reconhecer as iniciativas corporativas para um desenvolvimento sustentável.
Ecodesign premiado divulgação
Alunos do curso de extensão universitária em Ecodesig, da Unindus /Fiep, foram premiados com o terceiro lugar da segunda edição do Prêmio IDEA/Brasil, a rodada brasileira do International Design Excellence Award (IDEA), o maior prêmio de design dos Estados Unidos e um dos maiores do mundo. Alessandra Neneve, Marcelo Cianfarano e Marcelo Azevedo desenvolveram um quebra cabeça tridimensional em forma tubular, 100% reciclável, produzido com rejeitos da indústria. Incorpora conceitos ecológicos e educacionais, além de não necessitar de alta tecnologia na produção, uma vez que os materiais já foram beneficiados pela própria indústria. Em 2009 foram inscritos cerca de 1.200 projetos, dos quais, 400 finalistas e 103 premiados. Os vencedores do IDEA/Brasil são inscritos automaticamente no IDEA Award, nos Estados Unidos.
A sustentabilidade empresarial, definida pelo instituto Ethos, consiste em: “assegurar o sucesso do negócio no longo prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da comunidade, com um meio ambiente saudável e uma sociedade estável”. Neste intuito, aspectos como responsabilidade social corporativa, comprometimento com a comunidade, gestão socioambiental e ética empresarial são temas recorrentes no mundo dos negócios e estarão cada vez mais fazendo parte das definições estratégicas e da visão de negócio das organizações. A tendência atual dos negócios pressupõe que as empresas sejam rentáveis e gerem resultados econômicos, mais também contribuam efetivamente para o desenvolvimento da sociedade e para a conservação do meio ambiente. O prêmio reconhecerá as ações e iniciativas sustentáveis de empresas e demais organizações realizadas, no ano de 2008, nas quatro categorias mencionadas abaixo: • Gestão Sustentável • Responsabilidade Social Corporativa • Responsabilidade Ambiental • Práticas para a Sustentabilidade Maiores informações e o regulamento do prêmio podem ser obtidos pelo e-mail contato@geracaosustentavel.com.br
Vida Urbana
A vez das magrelas
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elhorar a qualidade de vida nas cidades é responsabilidade de todos, não apenas dos órgãos públicos. Portanto, quem ainda não tem ideia do que fazer para contribuir, uma boa solução é passar a repensar seu meio de transporte. Trocar o carro pela bicicleta, de vez em quando, por exemplo, pode ser uma boa forma de melhorar as condições de vida de cada um e da comunidade. Não é a toa que aparecem a cada dia novas atividades ligadas ao incentivo ao uso da bicicleta como meio eficaz para substituir o automóvel. Em Curitiba, onde está o mais alto índice de carros por habitantes entre as cidades brasileiras, elas são diversas. O grupo Arte Bicicleta Mobilidade, que reúne eventos culturais e políticos para incentivar e cobrar do poder público o uso de meios de transporte mais limpos na capital paranaense, dá pelo menos cinco bons motivos para adotar a “magrela” no dia-a-dia: a bicicleta é um modal totalmente limpo, sem emissão de poluentes; ao mesmo tempo em que você se locomove, faz exercícios físicos e contribui para sua saúde e bem-estar; o motorista que deixa o carro em casa contribui para melhorar o trânsito, afinal cada bicicleta é um carro a menos nas ruas; com a bicicleta, o ciclista tem mais contato com a dinâmica da cidade e conhece melhor o espaço urbano; além de não poluir, o modal também é silencioso e diminui o barulho nas grandes cidades. O pessoal do Arte Bicicleta Mobilidade está também na divulgação do Dia Mundial sem Carro em Curitiba, 22 de setembro, quando realizam a Marcha das Mil Bikes. Os organizadores estimam que se 10% dos motoristas deixassem seus veículos motorizados em casa neste dia, 38 milhões de quilos de poluentes deixariam de ser jogados na atmosfera anualmente. Cálculos do projeto Ciclovida, programa de extensão da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mostram que uma pessoa que mora a dez quilômetros do trabalho e faz o trajeto sobre duas rodas queima 21 mil calorias por mês e pode perder até três quilos. Além disso, deixa de emitir 96 quilos de poluentes e economiza cerca de R$ 150 mensalmente. Hoje, apenas 2% dos curitibanos usam o modal como alternativa de transporte. A administração da cidade está trabalhando atualmente no Plano Diretor Cicloviário da capital, que está em fase final. Elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc), o estudo tem como meta aumentar em 87% as vias destinadas às bicicletas. Serão construídas novas ciclovias e criadas ciclofaixas. Também estão previstas a construção de bicicletários em terminais de ônibus para que os ciclistas possam usar os dois modais. A intenção é que as mudanças comecem a ser implantadas no ano que vem.
Desafio Intermodal • A bicicleta, pela terceira vez consecutiva, provou ser mais rápida que o carro, a moto e o ônibus no trânsito de Curitiba. Este foi o resultado do terceiro Desafio Intermodal realizado na capital paranaense. Treze pessoas participaram do desafio realizado pelo projeto Ciclovida. Dois corredores, dois pedestres, um cadeirante, dois usuários de ônibus, dois ciclistas, dois motociclistas e dois motoristas de carros. O trajeto do desafio era sair do centro, passar pelo bairro Prado Velho e retornar ao centro, em pleno horário de pico, já que a largada foi às 18h30. Cada participante tinha o direito de escolher o trajeto que percorreria. O primeiro a chegar à praça foi Jorge Brandi, que estava de bicicleta, e levou 27 minutos e 19 segundos para completar o trajeto. O segundo lugar ficou com o motociclista, com o tempo de 27 minutos e 49 segundos. O carro ficou em sétimo lugar, já que demorou quase uma hora (50 minutos e 49 segundos) para completar o desafio.
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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
Vida Rural
Criselli Montipó
Posse da Diretoria da AEAPR-Curitiba com a presença do Ministro da Agricultura
O
ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, esteve em Curitiba no mês de agosto, quando proferiu aula magna do curso de MBA em Agronegócios promovido Associação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná – Curitiba (AEAPR-Curitiba). Stephanes, que é economista pela Universidade Federal do Paraná, falou sobre o desafio de produzir e preservar e presenciou a posse da nova diretoria. O ministro abordou questões relacionadas à legislação ambiental e aos fertilizantes. Stephanes chamou a atenção para o fato de o Brasil possuir uma legislação ambiental igual para todos os Estados e os reflexos negativos que isso traz à produção agropecuária. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), se a legislação fosse cumprida como estabelecem as normas, apenas 33% do território brasileiro poderia ser utilizado. “E 1 milhão de pequenos e médios produtores deixariam de produzir”, destaca. O ministro salientou que é preciso corrigir o Código Florestal. No entanto, destacou, positivamente, que o país é o único no mundo a obrigar o proprietá-
rio a manter uma floresta em sua propriedade. Sobre os fertilizantes, Stephanes lembrou que, embora o Brasil tenha crescido em eficiência nos últimos dez anos, com grande capacidade de produção, é vulnerável quando se trata de fertilizantes. “No caso do potássio, por exemplo, quatro países dominam o mundo. O Brasil importa 91% do que usa”, esclarece. Para o ministro, é urgente a necessidade de o país buscar autosuficiência quando se trata de fertilizantes. “Temos a terceira maior jazida de potássio do mundo. Em dez anos podemos ser autosufientes”, considera. Tais descobertas tem origem nas perfurações da Petrobras em busca de petróleo, que acabaram encontrando o minério. O ministro Reinhold Stephanes recebeu a condecoração de engenheiro agrônomo honorário da AEAPR, durante a posse da nova diretoria, que contou com a presença do secretário do Meio Ambiente do Paraná, Rasca Rodrigues (que é associado da AEAPR-Curitiba); o presidente da Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná, Florindo Dalberto; e de Rodolfo Harry Steindorf, que já presidiu a AEAPR-Curitiba.
“No caso do potássio, por exemplo, quatro países dominam o mundo. O Brasil importa 91% do que usa. Temos a terceira maios jazida de potássio do mundo. Em dez anos podemos ser autosufientes”, destaca o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes
Agronegócio Brasil Dentro da programação da Agronegócio Brasil está o Simpósio de Produção Integrada de Sistemas Agropecuários em Microbacias Hidrográficas, que é provido em parceria com o Mapa. O evento trata da produção integrada de sistemas agropecuários em microbacias hidrográficas, como unidade básica de planejamento, por meio de introdução de tecnologias sustentáveis e transformação do processo produtivo na busca da obtenção de alimentos seguros, com qualidade, competitividade e geração de emprego e renda. Segundo o ministro, o tema se soma às discussões sobre os desafios de se produzir e proteger. “É um tema atual que trata de tecnologias de manejo e de desenvolvimento”, comenta. Para Stephanes, a vantagem é que o produtor agropecuário já é um conservacionista por excelência, já que a terra e a água são seus bens de produção. “Pode ser que não tenha recursos e tecnologias à disposição para usar estas práticas, mas está disposto a promover um desenvolvimento sustentável”, conta. O ministro acredita que é preciso que o debate saia apenas das esferas ideológicas e políticas. “É preciso instrumentalizar o discurso”, salienta.
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Entrevista
Responsabilidade socioambiental: é melhor trabalhar coletivamente Caio Coronel/Itaipu
Heloisa Covolan é coordenadora de Responsabilidade Socioambiental da Itaipu há quatro anos, mas trabalha na empresa binacional desde 1994, quando ingressou como assessora de comunicação. Paulista de Penópolis, noroeste de São Paulo, Heloisa cursou comunicação social na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Na carreira de jornalista trabalhou como repórter, pauteira e editora de texto e de imagem quando percebeu sua afinidade com matérias relacionadas à cidadania. Trabalhou até 2002 no setor de comunicação e em 2003 passou a assessorar a diretora financeira, Gleisi Hoffmann. Nessa época, o presidente Lula orientou as empresas estatais a atentarem para as responsabilidades social e ambiental. Em 2005, passou a coordenar os projetos nesta área. É especialista em Planejamento e Gestão de Negócios e cursou MBA em Responsabilidade Social Corporativa. Atualmente, cursa uma especialização em pensamento sistêmico com o escritor e biólogo chileno Humberto Maturana, que conclui em 2010. Integra a equipe que produz os relatórios de sustentabilidade da Itaipu desde as primeiras edições. Na empresa, busca atuar em conjunto e colocar em prática os valores que aprendeu desde criança. Já desenvolveu projetos de voluntariado, gênero, alfabetização de jovens e adultos, educação, cultura, organização popular e saúde. Acredita que as pessoas estão neste mundo para prestar um serviço e que, para isso, é melhor trabalhar coletivamente.
Heloisa Covolan Criselli Montipó
Geração Sustentável • Um dos princípios que norteiam as ações da Itaipu é a erradicação da pobreza por meio do acesso à agua potável e ao saneamento básico, respeitando o uso da água e o desenvolvimento sustentável. Pode comentar sobre isso? Heloisa Covolan • A água é o principal ativo do nosso negócio. Nós precisamos de água limpa, de
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qualidade, para gerar energia elétrica, que é um dos maiores bens que a humanidade tem, pois é com ela que temos educação, transporte, saúde, comunicação e desenvolvimento. Para nós, a água é fundamental e é essencial que tenha equilíbrio e qualidade para que ela naturalmente seja saudável. É um bem social para o Brasil e para o Paraguai, já que a Itaipu é responsável pela
produção de 98% da energia consumida no Paraguai e de 20% da energia consumida pelo Brasil. A água também colabora na cadeia produtiva de alimentos e no consumo humano. Por isso, temos programas nesse sentido, como é o caso do Cultivando Água Boa, que trabalha por meio de redes – os comitês gestores por bacias hidrográficas – que reúnem o prefeito, o padre, a dona de casa, o estudante, o servidor público e o produtor rural, para discutirem como se pode melhorar a situação das nascentes dos rios de determinada cidade, porque, com isso, se identifica a importância da qualidade da água para a saúde humana, para a saúde animal, para a saúde do planeta e, aí, temos um processo de mudança conjunta.
GS • Quais são os projetos mais relevantes na área socioambiental da empresa binacional? HC • A Itaipu vem ressaltando sua preocupação na busca de fontes renováveis de energia. Criou uma superintendência ligada à presidência, que discute como estão pesquisas de fontes renováveis, nossas emissões de gases, e estamos buscando trabalhar, também, com construções sustentáveis certificadas. Outra área que atuamos fortemente é na saúde, buscando criar uma política pública de saúde para regiões de fronteiras, afinal, temos três países com situações culturais diferentes. Assim, usamos a força institucional da Itaipu para propiciar o diálogo. Temos os Ministérios de Saúde brasileiro e paraguaio, reunindo-se todo mês, secretarias estaduais, municipais e regionais discutindo em torno de eixos como: saúde materna, mortalidade infantil, saúde do idoso, saúde mental, saúde indígena, questões prioritárias, que abrangem, indiretamente, 1,5 mihão de pessoas. A Itaipu está olhando para dentro também, para seus colaboradores, as emissões da frota, processos internos, verificando governança e tudo com transparência. Publicamos seis relatórios de sustentabilidade, estamos muito preocupados em ter indicadores internacionamente aceitos e que seguimos para verificar o que nós precisamos melhorar do ponto de vista de uma gestão responsável para a sustentabilidade.
GS • Nos Relatórios de Sustentabilidade da Itaipu, você introduziu a utilização de princípios da Global Reporting Initiative (GRI), organização com sede na Holanda. Por que essa escolha? HC • É a metodologia mais bem aceita internacionamente, a mais completa e a que permite
comparabilidade com empresas do mesmo setor em qualquer parte do mundo. Se pegar uma hidrelétrica na China ou na Rússia, que também fez o relatório, pode se comparar, por exemplo, seu desempenho. Isso mantém as ações da Eletrobras (que é a holding) no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A Itaipu não é listada, mas integra o sistema Eletrobras, composto por 15 empresas. Nós e as outras 14 temos que responder a esses indicadores, pois ela está listada pelo conjunto. A Eletrobras também quer entrar nos índices de sustentabilidade da Dow Jones (o Dow Jones Sustainability Indexes (DJSI), da Bolsa de Valores de Nova York). Estamos nos preparando para isso, temos metas, a Eletrobras
Embora tenha um maior número de pessoas que já acordaram para a sustentabilidade, ainda são vozes uníssonas, porque ainda é muito difícil para a humanidade se soltar dessas amarras materiais tem meta até 2012, mas o presidente quer entrar mais cedo. Também somos aderentes ao Pacto Global da ONU. É a nossa área que mobiliza a empresa para elaborar o relatório, mas para nós, o mais importante não é o produto, que é uma peça de divulgação importante, mas o processo, que nos faz enxergar nossas oportunidades de melhoria.
GS • Qual o reflexo desses relatórios na formulação de políticas socioambientais da Itaipu? HC • Verificamos no que podemos melhorar, qual a metodologia para medir nossas emissões, se precisamos reduzir, quais nossas metas de redução de emissão de gases pela nossa frota, por exemplo. Quando se começa a medir, passa-se a verificar se está bem ou não. Quando mensura, consegue gerenciar melhor.
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Entrevista
GS • O fato de a empresa integrar povos de dois países interfere na forma como as políticas socioambientais são promovidas? HC • É um aprendizado contínuo, porque estamos com difrentes culturas e ao mesmo tempo somos todos irmãos da América Latina. Colocamos isso como nosso farol para seguir, e tem dado certo há 35 anos. Somos uma empresa binacional, vivemos em paz a despeito de situações mais atuais, e temos continuado a trabalhar muito bem. A Itaipu é um exemplo de como dois povos podem, sim, independente da sua dimensão física, serem iguais nas tomadas de decisões. Nossa lógica é o diálogo. Só será dialogando, trocando com nosso parceiro, que obteremos bons resultados.
GS • Entre os projetos que recebem a atenção da Itaipu, está a proteção a crianças e adolescentes. Acredita que é preciso que essa nova geração conheça a realidade desde cedo para que possa transformá-la? De que maneira? HC • A criança tem que ser vista em sua completude e ser estimulada a ver o mundo na completude dela. Nunca estamos prontos, temos um ciclo para chegar aqui. A pessoa prepara-se para mudança quando começa a enxergar um ciclo que começa, desenvolve e fecha. Assim somos nós, passamos ciclos e vamos renovando. Quando a criança tem visão do começo, meio e fim, começa a perceber que pode entrar num ciclo e pode mudar para que ele termine diferente. Na hora que muda o roteiro, já inicia outro. Promovemos as mudanças querendo ou não. Então, a criança precisa vivenciar sua idade na idade certa. A tendência é acelerar o desenvolvimento da criança, mas temos que cuidar para que elas passem pelas etapas que precisam passar. Devemos batalhar para preservarmos a simplicidade da vida. Nesse contexto, temos o programa de qualidade de vida Reviver, o qual estimula que façamos caminhadas e envolvamos a família, temos a gincana, o ecomuseu, educação ambiental. Além disso, temos o horário móvel, dentro do programa de gênero, que identificou que a mulher tem uma carga de responsabilidade familiar maior, temos a liberação para os pais levarem o filho ao médico durante o expediente sem desconto no salário e a mulher grávida que trabalha na barragem pode ser deslocada para outro local durante a gravidez.
GS • Como esses que você citou, outros programas da Itaipu priorizam a família. Quais são os principais objetivos? HC • A familia é o núcleo. Se esse núcleo tem paz, se está tranquilo, todas as outras coisas 12
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fluem bem. Se as figuras cumprem seus papéis sociais estabelecidos e respeitados, como pessoas garantindo a sobrevivência e conforto, com crianças nas escolas, sem violência, com gentileza. Com isso se busca a saúde física e a saúde psicológica das pessoas. A criança que sofre abuso sexual, que passa por exploração sexual comercial, geralmente é de uma família que é desestruturada, que faz essa exploração para trazer recurso para dentro de casa. Com os programas voltados a esse núcleo, queremos a estrutura de bem-estar que a família propõe.
GS • Trabalhar na promoção da sustentabilidade ainda é difícil, mesmo nos dias de hoje. Na sua opinão, por que há, ainda, tantos desafios? Como superá-los? HC • Vivemos tanto tempo buscando valorizar o que era mais externo, aquilo que é aquisição, aquilo que seria o ter, e menos o que é seu espaço interno, sua tranquilidade pessoal, que traz paz de espírito. Isso é tão forte na nossa sociedade, principalmente na sociedade ocidental, e a ocidental é hegemônica sobre a outra. Essa dominação do modo de pensar do ociental fez escola e também esse liberalismo econômico sobrepujou a busca de uma realidade de mais compartilhamento, criando as diferenças tão grandes de muitos terem quase nada e poucos terem muito. Acho que isso é o desafio cultural de mudar internamente do ter para o ser, que faz com que muitas pessoas ainda não tenham percebido que enquanto isso não ocorrer, o mundo vai se degradando, como estamos vendo hoje essa degradação, as doenças, enfim, todos esses problemas só são resultados. Sujamos a água e a terra sem dar tempo de ela se recompor, tudo isso degrada o ciclo natural da terra, das plantas, tudo isso faz com que a gente não dê tempo de mudar, de entrar em equilíbrio novamente. Embora tenha um maior número de pessoas que já acordaram para a sustentabilidade, ainda são vozes uníssonas, porque ainda é muito difícil para a humanidade se soltar dessas amarras materiais. Tenho esperança de que mesmo quem entra pelo marketing chamado social, da sustentabilidade, vai acabar fazendo, ou pelo amor ou pela dor. Espero que possamos vencer esse desafio.
GS • Poderia deixar uma mensagem para os leitores da Revista Geração Sustentável? HC • Se acreditarmos que sempre é possível fazer melhor, e botar a mão na massa para isso, sempre mudará para melhor, não podemos desistir antes de começar.
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Investimento e lucro para uma atmosfera mais equilibrada Juliana Sartori
Iniciativa privada mostra formas de melhorar a qualidade do ar do planeta e aumentar sua receita 14
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vitar o aquecimento global, há bastante tempo, deixou de ser “papo de ecochato” para se tornar um negócio lucrativo. Desde que os países entraram em acordo para diminuir suas emissões de gases de efeito estufa no mundo, cuidar do meio ambiente passou a ser obrigação e também forma de melhorar a receita de uma empresa. Hoje, aquelas mesmas empresas antes consideradas enormes monstros cuspidores de fumaça preta estão aos poucos tentando reverter um quadro catastrófico de um fim de mundo insuportavelmente quente. Ou seja, é a iniciativa privada, impulsionada por órgãos públicos e sociedade, que se transforma para manter sua sobrevivência e a do planeta. O gás carbônico (CO2) está associado diretamente com o efeito estufa. Apesar de não ser o único vilão, sua concentração ajuda a aumentar a temperatura na Terra. No entanto, ele é necessário para a existência de vida. O grande problema está no encontro do equilíbrio. Explicam os especialistas que o excesso de CO2 na atmosfera é resultado da combustão de combustíveis fósseis e das queimadas de florestas. Os gases de efeito estufa (GEE) são provenientes de quatro fontes: energia, processos industriais, tratamento de resíduos e agropecuária. Isso significa: muita indústria e pouca floresta. Diante desse quadro, passou-se a mensurar a culpa de cada um nesse processo. De acordo com estimativa divulgada recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente, cerca de 40% das emissões brasileiras provém da combustão de combustíveis fósseis, o restante seria resultado de queimadas e desmatamento. No entanto, as porcentagens oficiais devem ser divulgadas apenas no final do ano, quando o estudo será finalizado. “A discussão acerca das mudanças climáticas não se restringe apenas aos ambientalistas. Hoje, toda a sociedade, inclusive o setor produtivo, tem responsabilidade e entende que é necessário aliar desenvolvimento econômico com sustentabilidade”, destaca Mario Cardoso, analista na área de meio ambiente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Embora o Brasil ainda não tenha uma legislação específica a respeito das emissões de gases, há uma forte pressão para que países em desenvolvimento assumam metas que contribuam com o Protocolo de Kyoto - acordo internacional que objetiva reduzir as emissões de gases estufa dos países industrializados e garantir um modelo de desenvolvimento limpo aos países em desenvolvimento. O documento prevê que, entre 2008 e 2012, os países desenvolvidos reduzam suas emissões
em 5,2% em relação aos níveis medidos em 1990. Para a China e os países em desenvolvimento, como o Brasil, a Índia e o México, ainda não foram estabelecidos níveis de redução, o que deve ocorrer em breve. A expectativa é que isso aconteça a partir do que for decido em dezembro, no encontro de Copenhague (Dinamarca), quando o Protocolo de Kyoto será revisto, durante a 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 15).
Desenvolvimento Limpo e lucrativo • Uma das saídas encontradas pelos empresários está no chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), pelo qual as nações ricas podem comprar créditos de carbono de projetos sustentáveis feitos em países em desenvolvimento. Essa é uma forma dos industrializados conseguirem atingir suas cotas de redução de emissões de gases. “Por exemplo, tenho uma usina de cana-deaçúcar e para produzir um bilhão de toneladas de produto, queimo 200 mil toneladas de biomassa. Aí consigo fazer uma obra na minha unidade para produzir o mesmo tanto de produto, mas gastan-
O Brasil é o terceiro colocado no ranking mundial de neutralização das emissões GEE do apenas 80 toneladas de biomassa. A partir do momento em que consigo provar que diminuí minha emissão de GEE ganho um certificado. É esse documento que vou vender para os países ricos no mercado financeiro dos créditos de carbono”, explica Roberto Gava, coordenador do Conselho Temático de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) equivale a um crédito de carbono, cotado atualmente em torno de 12 euros (R$ 31) no mercado internacional, que tem as negociações centralizadas em Londres e Bonn. Quem compra esses créditos são os países industrializados, e que geram mais GEE e têm compromisso com o Protocolo de Kyoto. De acordo com dados da Comissão de Mudanças Climáticas da ONU, o Brasil é o terceiro colocado no ranking mundial de neutralização das emissões GEE, com 9% dos projetos MDL. Em primeiro lugar está a China, com 34%, e em segundo a Índia, com 26% do total de 1.717 projetos já aprovados pelo comitê executivo do MDL. GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
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No Brasil, diversas empresas já desenvolvem projetos de neutralização do carbono, conseguindo, com isso, aumentar sua receita com a venda dos créditos. “Essa prática prova que é possível produzir e preservar os recursos naturais ao mesmo tempo. Aí está a grande sacada daqueles que bolaram esse processo”, analisa Gava. Segundo ele, hoje, não basta que o empresário seja um entusiasta ou simpatizante de ações ambientais. “Sou co-responsável pelo o que acontece no mundo. Dentro do compromisso que todo cidadão tem, é uma obrigação repensar a forma como trabalhamos e consumimos”, avalia. Um exemplo de responsabilidade associada a lucros vem da empresa Celulose Irani, do setor de Papel e Embalagem. Pioneira, a Irani iniciou a venda de créditos em 2005, com seu projeto MDL Usina de Co-Geração. A Shell e a Cargill tornaram-se clientes da empresa, com a compra de créditos gerados, respectivamente, entre 2005 e 2007, e 2008 e 2012. Nos últimos quatro anos foram gerados e contabilizados 613mil CERs, créditos que somam um total líquido de R$ 6,9 milhões. Com o sucesso da iniciativa, em 2008, a Irani teve aprovado outro projeto de MDL, o da Estação de Tratamento de Efluentes. A EcoSecurities fechou contrato com a empresa referente aos créditos gerados entre os anos de 2008 e 2012. Estão em fase de emissão 53.247 créditos, gerando um valor para a Irani de aproximadamente R$ 2,3 milhões, de acordo com sua assessoria de imprensa. Em 2008, ainda foram negociados no mercado voluntário 58.689 créditos de carbono 16
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advindos desse projeto, gerando um valor líquido para a Irani de R$ 431 mil. No total, em 2008, a Irani teve receitas líquidas de R$ 5,1 milhões com venda de créditos de carbono gerados no ano. Em 2009, a expectativa da empresa é colocar à venda mais de 200 toneladas de créditos de carbono.
Obstáculos do mercado • O mercado de créditos de carbono parece simples, no entanto, na prática, é repleto de obstáculos. Não é à toa que, no mês de agosto, 18 grandes empresas brasileiras entregaram ao Ministério do Ambiente um documento em que se comprometem a diminuir ainda mais suas emissões. Entre as signatárias do documento estão a Vale, o Grupo Pão de Açúcar, a Camargo Corrêa, a Natura e a CPFL Energia. Em contrapartida, o empresariado também cobrou ações do governo. Quer que o País lidere as negociações na conferência do clima de Copenhague, em dezembro, além de pedir que o governo simplifique a avaliação de projetos de MDL. Segundo Roberto Gava, quando se trata de uma proposta florestal para neutralizar a emissão de GEE, o assunto fica ainda mais complicado. “Dos cerca de 300 projetos que o Brasil já aprovou de MDL, somente dois são ligados à área florestal”, afirma. Isso parece uma incoerência. Afinal, todo mundo aprende na escola que enquanto o ser humano consome oxigênio e libera gás carbônico, as plantas fazem exatamente o contrário. Ou seja, para diminuir a emissão de GEE, basta haver árvores. Mas o difícil, para o mercado, é quantificar
quanto carbono cada árvore estoca. “Para as regras do mercado oficial de crédito de carbono, um eucalipto plantado em Ponta Grossa, por exemplo, pode consumir mais ou menos do que aquele plantado em Araucária”, explica Gava. Diminuir a burocracia e provar que a melhor forma de resolver o problema do efeito estufa é ter árvores é o grande desafio do Brasil para o encontro em Copenhague, na revisão do Protocolo de Kyoto.
Novos selos e novas árvores • Enquanto isso não se resolve, a iniciativa privada, terceiro setor e órgãos públicos resolveram um jeito de fazer a sua parte para diminuir a emissão de GEE. É
o chamado mercado voluntário de carbono, pelo qual as empresas quantificam suas emissões e tratam de neutralizá-las, sem que isso seja transformado em crédito para ser vendido ao mercado estrangeiro. Plantar novas árvores ou proteger aquelas que já existem são as principais opções hoje utilizadas. É isso o que explica o consultor Evandro Razzoto, diretor-executivo do Projeto Oxigênio, lançado no final do ano passado, em Curitiba, que faz auditoria em empresas interessadas em neutralizar as emissões de gás carbônico. Após um estudo completo, são escolhidas áreas degradadas e espécies de árvores mais apro-
Curiosidades • Cada pessoa emite 7 toneladas de CO2 por ano em suas atividades cotidianas. Isso significa que para neutralizar as atividades são necessárias 14 árvores plantadas anualmente. Faça os cálculos e comece a plantar. • Cada pessoa emite 0,37 toneladas de CO2 por ano, só com o ato de respirar. • Cada carro (de médio porte e que rode cerca de 50 km/dia utilizando gasolina) produz anualmente cerca de 4 toneladas de CO2. • Uma casa, considerando o cálculo médio de emissões de poluentes (uso de gás, eletricidade, geração de lixo etc.) produz cerca de duas toneladas de CO2 por ano. • Cada maço de cigarro fumado faz com que cerca de 0,08 kg de CO2 vão para a atmosfera. Quem fuma um maço por dia, portanto, ao final de um ano terá emitido 876 kg de CO2. O que equivale a cerca de cinco árvores plantadas. • Para saber exatamente o quanto você consome de CO2, é só fazer o teste aqui: www.climaeconsumo.org.br/ calculadora Fontes: SPVS, Instituto Gerar, Iniciativa Verde
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priadas para a recuperação. Essa área e as árvores são preservadas permanentemente, respeitando toda a questão de recuperação de biomas. Quem faz esse tipo de trabalho recebe um selo do projeto, que tem por trás o conhecimento de quem trabalha há mais de 20 anos nesse segmento. “Desenvolvemos programas de redução com projeto mínimo de seis meses a um ano, no qual a redução pode chegar a 30%”, explica. Segundo o consultor, que lançou em agosto o livro Eco Sustentabilidade - Dicas Para Tornar Você e Sua Empresa Sustentável, investir em um projeto como esse pode ser um excelente negócio. “A empresa estará gerando e agregando valor como ferramenta estratégica, desenvolvendo projeto de marketing verde e a redução de custos, o que sem dúvida gera receita”, garante. O retorno é imensurável quando um projeto verde é implantado dentro de uma empresa, diz Razzoto. “Quando se trata de implantação, significa promover uma nova cultura de sustentabilidade, definir o grau de ação dela, divulgar resultados e fomentar o senso crítico dentro da empresa”, explica o consultor. “O mais interessante é que a partir de práticas sustentáveis, além do lucro por meio do marketing, a empresa passa a reduzir custos de consumo, e são atitudes que funcionários e clientes levam para casa. Esse é o grande retorno das iniciativas”, analisa. De forma semelhante trabalham órgãos do terceiro setor. O Instituto Gerar, por exemplo, faz parceria com a empresa MaxAmbiental, no projeto Em Dia Com o Planeta. A partir dele, realiza-se a neutralização de carbono de qualquer atividade empresarial via conservação por meio do desmatamento evitado ou a recuperação ambiental. Os patrocinadores que aderem ao projeto passam a utilizar a marca “Carbono Neutro” e “Carbono Zero”. As empresas recebem, ainda, a consultoria da Gerar para que passem a “pecar” menos em relação ao meio ambiente, explica o superintendente da Gerar, Francisco Reinord Essert. Segundo ele, a ação é bastante ampla e não fica apenas na questão ambiental. “Os envolvidos também se comprometem em levar trabalho e renda onde é realizado o plantio”, explica. De acordo com o superintendente, pelo menos 700 mil mudas de árvores já foram plantadas por meio do projeto. O Instituto Brasileiro de Florestas (IBF), subsidiado pela ONG SOS Mata Atlântica, realiza o Programa Plante Árvore, como meio de ajudar na recomposição da Mata Atlântica Brasileira. O Instituto tem um viveiro no interior do Paraná, em Apucarana, onde planta mudas de espécies nativas da Mata Atlântica. “As empresas ou os 18
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produtores rurais que precisam cumprir a legislação ambiental nos procuram. Doamos as mudas e eles se encarregam de fazer o plantio e a manutenção por cinco anos”, explica Augusto Munhoz, do IBF. “Muitas empresas nos procuram também porque querem agregar valor ao empreendimento, valorizar a área onde estão inseridas ou simplesmente porque querem estar em dia com sua consciência ambiental”, afirma. Com o programa Plante Árvore, o IBF calcula que mais de 600 mil mudas já tenham sido distribuídas em todo litoral e interior do país.
Eventos neutralizados • Entre as várias ações adotadas por empresas para fazer o marketing verde uma que está sendo cada vez mais utilizada é a neutralização de emissão de carbono em eventos. Pela quantidade de pessoas envolvidas, energia consumida, transporte, lixo gerado entre outros itens, é possível calcular a quantidade de CO2 gerada em um evento, que pode ser um congresso, um jogo de futebol ou até uma corrida de carros. A partir do cálculo, é só seguir os passos da neutralização, ou seja, árvores plantadas. Em agosto, por exemplo, aconteceu em Curitiba a primeira partida de futebol Carbono Zero, no estádio Couto Pereira, na partida entre Coritiba e Palmeiras. A neutralização ficou por conta da Gerar. “Nossa ideia, que já foi levada como proposta à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), é neutralizar o carbono de todas as partidas do campeonato no próximo ano”, diz Francisco Essert. Em 2008, o Telefônica Speedy GT3 Brasil realizou uma etapa da corrida automobilística, que aconteceu em Curitiba com carbono neutro. A iniciativa foi idealizada pelo Projeto Oxigênio. Desmatamento evitado • O Brasil tem uma imensa dívida com o planeta devido aos problemas que tem com o desmatamento. De acordo com estimativa levantada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Empresa de Planejamento Energético (EPE), o desmatamento seria responsável por 55% ou 60% das emissões de gases de efeito estufa brasileiras. Um número mais do que alarmante, mas ainda um pouco melhor do que os 75% verificados em 1994. O levantamento oficial será divulgado no final do ano, segundo o Ministério do Meio Ambiente. É na tentativa de diminuir ainda mais essa parcela que as leis ambientais enrijeceram e as iniciativas no país se multiplicaram. Um exemplo disso é o trabalho realizado pela ONG Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), por meio do projeto DesmatamenGERAÇÃO SUSTENTÁVEL
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Uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) equivale a um crédito de carbono, cotado atualmente em torno de 12 euros (R$ 31) no mercado internacional. to Evitado, para conservar remanescentes em bom estado de conservação da Floresta Atlântica, especificamente áreas de matas com Araucária, e diminuir as emissões carbono. O projeto funciona da seguinte forma: uma empresa que tem a necessidade ou apenas quer diminuir suas emissões de carbono, pode adotar por pelo menos 5 anos uma propriedade particular, oferecendo recursos para que ela se torne sustentável. A SPVS, então, torna possível esse encontro entre a empresa e o proprietário rural, responsabilizando-se pelo plano de manejo da área e monitorando mensalmente o que está sendo realizado. Os custos das ações na propriedade são pagos pelos repasses mensais realizados ao proprietário. “Fazemos o cálculo do carbono emitido pela empresa e o do carbono estocado na área a ser preservada, para ver quantos hectares de mata nativa a empresa precisa adotar”, explica o coordenador de projetos da SPVS, o biólogo Guilherme Karam. Segundo o biólogo, o Desmatamento Evitado permite que áreas deixem de ser desmatadas, mantendo o carbono estocado e contribuindo com a regulação climática, além de proteger a biodiversidade e a função ecológica dessas áreas. Hoje são 19 áreas adotadas no Paraná, Santa Catarina e Bahia, que totalizam 2.085 hectares de
terras preservadas. As áreas foram adotadas pelo HSBC, Grupo Positivo, Souza Cruz, Rigesa, Sun Chemical, Boeing e Fundação O Boticário. De acordo com o biólogo, a Ong faz um trabalho de educação ambiental avançado com o proprietário da área para tentar mostrar que os benefícios econômicos podem ser mais atraentes do que se pensa. Segundo ele, é difícil convencer um ruralista ou empresário, de que se ele preservar, em vez de explorar, poderá ter lucro. E isso realmente acontece de forma indireta. “Tentamos mostrar os ganhos em serviços ambientais. Por exemplo, em áreas conservadas, o solo tem maior produtividade para a agricultura, existe a ação dos polinizadores naturais — abelhas, pássaros, insetos —, a água é garantida, além de maior quantidade de carbono estocado. São esses e vários outros fatores que vão garantir que o solo possa ser utilizado para a produção agrícola por tempo indeterminado, desde que exista essa preocupação com as áreas conservadas”, garante Karam.
HSBC e o Seguro Verde • O Banco HSBC e todos os seus clientes de seguros contribuem para o Desmatamento Evitado, por meio da campanha financeira chamada Seguro Verde. Criado no segundo semestre de 2007, o banco já adotou mais de 1.600 hectares de florestas nativas até março, o que representa cerca de 1% dos remanescentes de Floresta com Araucária no Paraná em bom estado de conservação. Até o final do ano, a ideia é adotar mais mil hectares. A cada contratação ou renovação da apólice de seguro o cliente ganha um bônus para preservar uma área nativa de 88 metros quadrados, no caso de seguro veicular, ou de 44 metros quadrados, no caso de seguro residencial. O recurso repassado pelo HSBC Seguros passa a ser destinado aos proprietários que recebem uma quantia
Curiosidades • No Brasil, 160 companhias acumulam 33,5 milhões dos créditos – o que representa divisas da ordem de R$ 1,053 bilhão por ano. Outras 405 empresas têm em curso processos com potencial de redução de mais 352 milhões de toneladas de CO2 – mais de dez vezes o que está sendo movimentado atualmente. • Estudo divulgado pelo centro de pesquisas Ethical Investment Research Services (EIRIS) mostra que 55% das maiores companhias do mundo possuem algum tipo de política climática. • As emissões de carbono das indústrias brasileiras cresceram 77% entre 1994 e 2007. No mesmo período, a emissão por queima de combustíveis fósseis subiu 49%. Fonte: Agência Estado
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O campo também faz sua parte • Não são apenas as empresas que estão fazendo a sua parte para diminuir sua parcela de culpa no efeito estufa. O campo também tem seus bons exemplos, principalmente quando se trata da produção agrícola feita por meio das cooperativas. “O próprio sistema de organização das cooperativas é um modelo sustentável, nos pontos econômico, social e ambiental”, garante o gerente de tecnologia econômica da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra. “Antigamente, o produtor construía sua casa nas margens dos rios e dali tirava o sustento da família. Hoje, ele tem consciência da importância de proteger a mata ciliar, até pelo fato de manter o solo saudável para poder continuar produzindo”, explica. Por isso, as cooperativas paranaenses iniciaram trabalhos, hoje exemplares para outros estados. Um deles é o plantio direto, sistema modelo em que o plantio de grãos é feito diretamente na palha, fazendo uma movimentação mínima do solo. “Essa técnica que nasceu no Paraná na década de 70, em Ponta Grossa e Rolândia, é responsável por 90% da soja produzida no Paraná”, afirma. Também no campo paranaense, há quatro anos existe um programa de recolhimento de embalagens de agrotóxicos. Hoje, o estado recolhe 97% dessas embalagens e destina à reciclagem. A meta é chegar em 100% nos próximos anos. Os produtores rurais cooperados também têm fundamental importância no trabalho realizado para recuperar as matas ciliares do estado e aumento de água nas nascentes. “Em junho, a Ocepar comemorou a nascente número 4 mil, recuperada pelo trabalho dos agricultores”, conta o gerente.
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mensal para que as áreas sejam conservadas. De acordo com o banco, essa é uma forma de fazer com que seus clientes possam “zerar sua conta” com o meio ambiente, contribuindo para o aumento de sua renda familiar, conforme retira esse tipo de custo de suas despesas. “O projeto Desmatamento Evitado está servindo de modelo, pois a empresa não está fazendo uma doação, mas investindo em um diferencial para seu produto. O projeto foi montado com precisão e sabemos o que acontece em cada área. Por isso o Brasil passa a combater o aquecimento global com ações como essa, focadas em evitar o desmatamento”, diz o diretor da SPVS, Clóvis Borges. O cliente do HSBC pode acompanhar tudo o que está sendo feito por meio do site da campanha, que é o www.eucuidodoplaneta.com.br
Cocamar ensina a Cultivar • Mantido desde 2006 pela Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar), o Projeto Cultivar é um exemplo de ação que a iniciativa privada pode desenvolver em parceria com governos e instituições, de maneira a promover inclusão social e, ao mesmo tempo, a preservação do meio ambiente. Em parceria com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema) e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), a Cocamar conta com o repasse de um grande volume de mudas de espécies nativas destinadas à recomposição de matas ciliares na região Norte e Noroeste do Paraná. “O projeto teve início na necessidade dos cooperados em atender à legislação que exige o plantio de mudas nativas nas áreas de matas ciliares. No entanto, sequer havia a produção dessas mudas. A partir de uma parceria com o IAP, passou-se a estudar uma forma de produzi-
Viveiro do Projeto Cultivar, mantido pela Cocamar.
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“O mais interessante é que a partir de práticas sustentáveis, além do lucro por meio do marketing, a empresa passa a reduzir custos de consumo, e são atitudes que funcionários e clientes levam para casa. Esse é o grande retorno das iniciativas”, Evandro Razzoto, Projeto Oxigênio.
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Cooperativa de carbono • Em junho deste ano, foi inaugurada em Loanda, na região Noroeste do Paraná, a primeira Cooperativa de Produtores Familiares de Crédito de Carbono do país (Coopercarbono) a comercializar o gás carbônico, gerado pela manutenção das florestas em Áreas de Preservação Permanente (APP). Formada por 187 agricultores que possuem propriedades de até 30 hectares, a Coopercabono abre suas portas com 40 toneladas de carbono já comercializadas. A empresa ACMA – especializada na construção de prédios residenciais e em obras de saneamento – adquiriu cada tonelada por U$ 10,00, resultando em U$ 650,00 “Um valor pequeno, mas emblemático que aumenta a expectativa desse negócio, viabilizando economicamente a vida do homem do campo. O agricultor no vermelho jamais conservará o verde. Então, esta Cooperativa traz um novo fôlego para a questão ambiental no sentido de mostrar que há como envolver o agricultor na recuperação de áreas degradadas”, declarou o secretário, para a Agência Estadual de Notícias. No total, a área desses produtores já cadastrados chega a quase 380 hectares de futuras florestas, que até então eram ocupadas principalmente por pastagens e atividades agrícolas. “Ao final de 20 anos, esperamos sequestrar mais de 100 mil toneladas de carbono equivalente (tCO2) com essa iniciativa”, acrescentou Chang. A tCO2 é a unidade adotada mundialmente pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). A venda de sementes certificadas de espécies nativas é outra forma de aumentar a renda por meio desse projeto. SEMA
Área de Preservação Permanente na região Noroeste do Paraná, sob os cuidados da Coopercarbono.
las iniciada em viveiros em Mandaguari e Engenheiro Beltrão. Descobriu-se, então, que a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Maringá tinha um viveiro”, conta o gerente de responsabilidade social da Cocamar, Marcelo Bérgamo. O IAP desenvolveu o plantio das mudas e levou para serem plantadas na Apae. “Assim também conseguimos suprir outra exigência da legislação, que é a porcentagem de vagas destinadas a deficientes. Hoje, são 30 alunos da Apae que trabalham com carteira assinada pela Cocamar”, conta Bérgamo. Em seguida, veio a parceria com os presidiários da Penitenciária Estadual, que também passaram a produzir as mudas dentro do viveiro na penitenciária, como forma de realizar um trabalho comunitário para diminuir suas penas. Quando as mudas ficam prontas, elas são retiradas pela cooperativa e distribuídas para agricultores, prefeituras e associações de 25 municípios. Desde 2006, mais de 1,6 milhão de unidades de plantas como ipê, canafístula, pauferro, entre muitas outras, saíram dos viveiros e foram cultivadas em matas ciliares por meio do Projeto Cultivar. O reconhecimento a essa iniciativa já rendeu à Cocamar e aos seus parceiros a conquista de premiações como o Prêmio OCB/Globo Rural, conferido pela Organização das Cooperativas Brasileiras, e o Prêmio Von Martius de Sustentabilidade, entregue pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha e, mais recentemente, o Prêmio Mérito Fitossanitário, outorgado pela Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal).
Visão Sustentável
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Mundo melhor, setor fortalecido Faciap fomenta o desenvolvimento sustentável entre setores público, privado e entidades
Juliana Sartori
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e que adianta um empresariado forte e preparado se o seu público consumidor não tem qualquer poder aquisitivo? É pensando nessa questão que a Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap) resolveu concentrar seus esforços para a conquista do desenvolvimento sustentável do Paraná. E esse trabalho está sendo realizado na entidade por meio do Núcleo de Responsabilidade Social e Sustentabilidade Empresarial (Nurse). Segundo o executivo do Nurse, Flávio Toledo, fortalecer associados e empresas e promover o desenvolvimento sustentável sempre fez parte dos objetivos da Faciap. No entanto, a entidade, fortalecendo sua vocação associativista, escolheu a transformação social como meio de alcançar essas metas. “De acordo com as pesquisas que mapeiam a pobreza no mundo, pelo menos 20% da população está abaixo da linha da pobreza. Ou seja, no Paraná, pelo menos 20% dessa população de 18 milhões de pessoas está nessa situação de miséria. O que significa que essa porcentagem poderia ser economicamente ativa, se
um trabalho realizado para diminuir as diferenças sociais fosse realizado”, explica. A Faciap tornou-se a primeira federação representativa de associações comerciais do Brasil a aderir ao Pacto Global, em agosto de 2008, programa criado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Por meio do Pacto Global , a Faciap assume um compromisso de englobar os princípios universais promovidos pela ONU, os quais, no Brasil, foram vinculados aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, caracterizando-se pelos 8 Jeitos de Mudar o Mundo. Ou seja, a Faciap incorporou os princípios de responsabilidade social ao seu propósito estratégico, com objetivo de integrar ações econômicas, ambientais e sociais, convergindo para um mesmo fim, que é construir um futuro melhor para as próximas gerações. Para esse projeto ser colocado em prática, percorremos o Paraná em 2007 e 2008, conhecendo a realidade, mapeando as demandas sociais, envolvendo os atores locais e preparando o projeto do Nurse, explica a responsável técnica do programa, Yvy Karla B. Abbade. Para fortalecer ainda mais o trabalho do Nur-
As 8 Metas do Milênio A Faciap assumiu os seguintes compromissos mundiais para realizar os trabalhos de desenvolvimento social no Paraná: As 8 Metas do Milênio: Meta 1 – Erradicar a extrema pobreza e a fome Meta 2 – Atingir o ensino básico universal Meta 3 – Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres Meta 4 – Reduzir a mortalidade infantil Meta 5 – Melhorar a saúde materna Meta 6 – Combater o HIV, a malária e outras doenças Meta 7 – Garantir a sustentabilidade ambiental Meta 8 – Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento
se, em março desse ano, a Faciap passou a ser parceira do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, a fim de integrar o movimento de mobilização da Rede Empresarial no Estado do Paraná, juntamente com a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep/PR) e a Fundação Getúlio Vargas (Isae /FGV). “Sensibilizar, mobilizar e fomentar ações afirmativas em seus associados e parceiros, nas questões relativas à responsabilidade social-empresarial é, acima de tudo, uma resposta positiva do Sistema às demandas da sociedade, promovendo uma participação mais ativa da empresa nas coisas da comunidade. Dessa forma, acredito que o desenvolvimento econômico de nossos associados, assim como o desenvolvimento sustentável das regiões onde atuam, somente pode acontecer, de fato, com a transformação social da população dessas regiões. Erradicar a pobreza e o preconceito é, finalmente, a forma sustentável de promover esse desenvolvimento”, resume o presidente da Faciap, Ardisson Naiem Akel. “A Faciap considera a importância de levar aos seus associados e parceiros independentemente do porte da empresa, do nível de formação de seus gestores ou da estrutura da entidade, a consciência de que o poder pressupõe responsabilidade. Também de que o atual cenário social do Brasil só poderá ser revertido se as empresas, as entidades e o poder público estiverem integrados e inserirem em seus processos de gestão modelos que contemplem os passivos sociais e ambientais gerados pelos negócios”, diz a vicepresidente de responsabilidade social da entidade, Eugenia Ceres Monteiro.
Como funciona • Na prática, o trabalho realizado pelo Nurse é amplo e bastante diversificado. Afinal, corre por todo o Paraná criando grupos de responsabilidade social para mobilizar os poderes público, privado e terceiro setor a se organizarem e trabalharem em prol do desenvolvimento local. Para isso, recolhe informações e apoia os mais diversos projetos de empreendedorismo, voluntariado, educação, ambiental, de respeito à diversidade, entre outros. “A primeira etapa de sensibilização desse público já vem sendo realizada há bastante tempo, por meio dos Fóruns de Responsabilidade Social realizados nas coordenadorias da Faciap. O próximo passo, que já está em andamento, é a mobilização. Para isso, já iniciamos o que chamamos de Mapeamento de Responsabilidade Social em todas as regiões onde a Faciap atua”, explica Toledo. A partir desse mapeamento, será possível colher dados precisos das realidades locais e montar o Banco de Boas Práticas que estão sendo realizadas no estado. A ideia é ter esse banco disponível aos empresários em 2010. “Assim, há economia e foco nos esforços. Em vez de eu montar um projeto novo, que dividirá recursos, posso apoiar aquele que já existe e fortalecê-lo”, explica. O Nurse conta com uma equipe multidisciplinar especializada que trabalha em três vertentes integradas e complementares: pesquisa e desenvolvimento, capacitação e consultoria. São realizados cursos de capacitação para associados e parceiros e palestras. Além disso, a entidade desenvolve indicadores específicos para atender aos diversos setores do mercado, mapeamento
“Sensibilizar, mobilizar e fomentar ações afirmativas em seus associados e parceiros, nas questões relativas à responsabilidade socialempresarial é, acima de tudo, uma resposta positiva do Sistema às demandas da sociedade, promovendo uma participação mais ativa da empresa nas coisas da comunidade”, ressalta Ardisson Naiem Akel, presidente da Faciap
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Visão Sustentável
de projetos sociais e promoção de fóruns temporais e permanentes nessa área. Atua também como articulador com organismos afins em âmbitos nacional e internacional. Outra atividade realizada pelo Nurse é a parte de consultoria às empresas e entidades que já realizam programas voltados à área social, mas precisam de ajustes. “O que fazemos é desenvolver o orgulho em pertencer”, diz o diretor executivo do Nurse. “Quando temos orgulho em pertencer a um projeto de desenvolvimento que dá certo, funciona e colhe resul-
tados, passamos a valorizar as práticas, a incentivar outros a participarem e a cobrar que ações sejam realizadas pelo poder público”, explica. Para Flávio Toledo, o primeiro resultado prático desse trabalho é o aumento do interesse da população em empresários no tema, o que mostra que grande parte já se interessa pelas questões sociais. No entanto, ele lembra que a mudança de cultura e a aposta no desenvolvimento social é um trabalho longo e que só terá resultados efetivos com o tempo e com muita persistência.
Pacto global
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divulgação
“A Faciap considera a importância de levar aos seus associados e parceiros independentemente do porte da empresa, do nível de formação de seus gestores ou da estrutura da entidade, a consciência de que o poder pressupõe responsabilidade.”, enfatiza a vice-presidente de responsabilidade social da entidade, Eugenia Ceres Monteiro
PRINCÍPIOS DE DIREITOS HUMANOS 1. Respeitar e proteger os direitos humanos; 2. Impedir violações de direitos humanos. PRINCÍPIOS DE DIREITOS DO TRABALHO 3. Apoiar a liberdade de associação e o direito à negociação coletiva no trabalho; 4. Abolir o trabalho forçado ou compulsório; 5. Erradicar o trabalho infantil; 6. Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 7. Adotar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; 8. Promover a responsabilidade ambiental; 9. Incentivar tecnologias que não agridem o meio ambiente. PRINCÍPIO ANTICORRUPÇÃO 10. Combater a corrupção em todas as suas formas; inclusive extorsão e propina.
Sicredi e Faciap renovam parceria O Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) e a Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná (Faciap) assinaram a renovação de contrato para o patrocínio do projeto de implantação e desenvolvimento do Núcleo Estratégico de Responsabilidade Social da Faciap. De acordo com o presidente da Faciap, Ardisson Naim Akel, o trabalho prevê o envolvimento das lideranças regionais e o mapeamento das ações de responsabilidade social no Paraná. “O associativismo e o cooperativismo têm as mesmas raízes. Portanto, unidos vamos conseguir fomentar ainda mais a responsabilidade social no Paraná e fazer com que este projeto se torne uma referência para outros estados”, esclareceu Akel. Apesar das incertezas econômicas, o Sicredi preferiu apostar em novidades para incentivar os associados e colaboradores. “Em momentos de crise não devemos encolher nossas ações. Temos de lapidar o nosso planejamento e adequá-lo ao momento atual. Por isso, resolvemos dar continuidade ao trabalho com a Faciap, com a certeza de que vamos colher bons frutos”, ressalta o presidente da Central Sicredi PR/SC, Manfred Alfonso Dasenbrock. Para o presidente da Central Sicredi PR/SC, Manfred Alfonso Dasenbrock, esta renovação de contrato vai permitir que a Responsabilidade Social torne-se um padrão adotado pelas empresas do estado. “A parceria firmada é muito mais que um contrato, é uma ação conjunta que vai possibilitar que ambas as entidades ampliem sua visibilidade e credibilidade no Paraná”, finaliza Dasenbrock. divulgação
GESTÃO
SUS EN ÁVEL Marcos Schlemm Administrador pela UFPR, Mestrado e Doutorado nos EUA. Assessor da Direção Regional no Sistema FIEPPR
Era da sociedade sustentável
T Na era da sociedade sustentável, a inovação decorrente da harmonização e do diálogo torna-se o bem necessário
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emas como ética, cidadania e, mais recentemente, a sustentabilidade da civilização, entre outros que lidam com motivação e escolhas, parecem deixar ao final da discussão um sentimento de que não deveria ser objeto de debates e manifestos, denotando certo enfado ou rejeição por parte dos interlocutores. Entretanto, e destacando aqui a sustentabilidade, a ação humana deveria ser sempre coerente com os requisitos ecológicos, uma vez que ela tem efeitos inextricáveis sobre o sistema como um todo. Foi a concepção antropocêntrica do mundo que tomou forma e força no início da idade moderna, por volta de 1.400 D.C., que permitiu a desconexão do homem da Natureza. Ao se colocar como centro e medida de todas as coisas, apoiado no avanço científico e tecnológico, o homem foi além do que seria sensato realizar, imaginando e acreditando que seria capaz de superar qualquer restrição ou limite natural. A tecnologia da gestão, por sua vez, foi coadjuvante nesse processo de dominação do meio natural. Recentes manifestações climáticas vêm trazendo suficientes pistas e evidências de que esse domínio é bem mais precário do que muitos de nós imaginamos. Deveríamos ter criado uma economia sustentável de partida, ponto. Isto é, em vez de acharmos que a anomalia são as mudanças climáticas, deveríamos considerar que os intrusos na ordem natural das coisas somos nós, os humanos, e que uma atitude mais humilde e colaborativa seria mais bem sucedida perante as forças que arbitram nosso destino. O esquisito é agora tratar a sustentabilidade como algo subsidiário, passível de consideração ou não. Mais espantoso é não nos darmos conta de que, à semelhança das eras agrícola e industrial, quando grandes transformações ocorreram, a era do design coerente com os
fundamentos de uma produção e consumo sustentável está aos nossos pés. Se aquelas eras fizeram mudar em definitivo o modo de produzir e viver das sociedades, porque nos é tão difícil tomar consciência de que talvez estejamos agora frente a um novo ciclo? Uma nova economia, uma economia verde está querendo nascer e relutamos a perceber ou aceitar. Os conhecimentos e as tecnologias que permitiram o crescimento e o desenvolvimento social, hoje almejados por muitos, devem ser postos a serviço agora daquilo que deixaram de fazer no início da jornada. Estamos diante de algo grandioso e continuamos ofuscados pelas luzes das equipes de salvamento. A sustentabilidade da ação humana está indubitavelmente associada ao viver em harmonia e em parceria com a Natureza. Agora sim, estamos diante de uma mudança de paradigma de fato. No âmbito da gestão, os ensinamentos vindos dos designers, e, em particular, dos eco-designers (para quem as fichas já caíram há mais tempo), são muito bem vindos. As mudanças necessárias ao design de processos, produtos e serviços, quando submetidos aos requisitos da sustentabilidade, levam à conclusão de que as novas tecnologias impõem ao processo de desenvolvimento mudanças em tempo real na sua aplicação. Os modelos de gestão devem ser revistos, transformando o planejamento num processo alterado durante a sua confecção, fazendo com que mais possibilidades sejam consideradas, configurando e incorporando as variáveis do contexto. Habilidades ambidestras são agora necessárias. Análise e criatividade ao mesmo tempo e com o mesmo valor. A análise se harmoniza e dialoga com a imaginação, a criatividade, o risco do incerto. Na era da sociedade sustentável, a inovação decorrente dessa harmonização e diálogo torna-se o bem necessário.
Responsabilidade Social
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Ana Letícia Genaro
União transforma vidas de costureiras A Coopercostura é exemplo de cooperativismo urbano no desenvolvimento da sociedade
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m uma sala alugada de 160 metros quadrados na sobreloja de um mercado na Vila Verde, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), à frente de máquinas industriais, um grupo de mulheres trabalha todos os dias para dar conta das encomendas do mês. O cooperativismo deu a elas uma oportunidade para recomeçar. Excluídas do mercado de trabalho por conta da idade mais avançada e falta de escolaridade, elas ganharam uma ocupação, que além de gerar renda, proporciona desenvolvimento pessoal, aumento da auto-estima e educação.
Por iniciativa de um médico do Posto de Saúde do bairro, a Coopercostura – Cooperativa das Costureiras da Vila Verde – nasceu em 2001. “Havia muitas mulheres com depressão e pressão alta por estarem desempregadas. Numa conversa com a assistente social, surgiu a ideia de criar uma cooperativa, mas ninguém sabia o que era e nem como funcionava”, conta Julieta Maria Cerri, uma das fundadoras e atual presidente da Coopercostura. Coube a Sílvio Galdino, engenheiro agrônomo aposentado, que há dez anos trabalha voluntariamente assessorando cooperativas das perife-
rias, explicar a essas mulheres os princípios do cooperativismo. “De um jeito simples, ele nos ensinou o que era e como funcionava”, conta Julieta que, apesar de o marido ter feito parte de uma cooperativa agrícola no interior do Paraná, até então nunca havia se interessado em saber o significado da palavra.
Cooperativismo • Uma cooperativa trabalha em prol do bem comum e prevê esforços na busca de evolução e desenvolvimento das comunidades onde atua. “Trata-se de um híbrido entre empresa capitalista e associação”, explica Galdino. Empresa, segundo ele, porque visa renda e associação por se tratar de uma reunião de pessoas que, juntas, trabalham por um objetivo comum. Enquanto uma empresa tem número de sócios limitados e quem manda é quem tem maior controle acionário, na cooperativa não há limite para sócios, as decisões são tomadas em assembleias e, apesar dos interesses econômicos, seu principal objetivo é ajudar os associados. “A assembleia geral é o poder mais alto e decide quem serão os dirigentes, num mandato que varia de dois a quatro anos”, afirma o voluntário considerado um ícone do cooperativismo no estado. Regulamentadas no Brasil pela Lei Federal nº 5.764, de dezembro de 1971, as cooperativas são divididas de acordo com os seus objetivos. A Coopercostura é um exemplo de cooperativa de pro-
dução e, existem também as agropecuárias, de consumo, de crédito, educacional, habitacional, de infraestrutura, mineral, de saúde, de trabalho, de turismo, lazer e transporte. Em todo o território brasileiro, há quase oito mil cooperativas, com 7,8 milhões de cooperados, que empregam 255 mil pessoas, segundo dados da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil). No Paraná, as cooperativas expandiram as fronteiras agrícolas e passaram a desenvolver-se, também, no meio urbano. São mais de 250 cooperativas registradas na Ocepar – Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná – com 500 mil cooperados e mais de um milhão de postos de trabalho. Juntas, faturaram, em 2008, R$ 22 bilhões, o que representa 18% do PIB paranaense.
Coopercostura • A primeira experiência das mulheres da Vila Verde com o cooperativismo foi a Dipães, uma cooperativa de panificação que deu certo durante dois anos, mas acabou fechando. “Foi aí que parti para o meu antigo sonho de montar uma estrutura de costura”, diz Julieta. Durante esses oito anos, a cooperativa passou por fases boas e períodos de trabalho escasso. “Muitas vezes tive que tirar dinheiro do próprio bolso para não ter que fechar as portas”, conta a presidente. Hoje a Coopercostura é composta por mulheres – a maioria acima de 35 anos – e se autossus-
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“Havia muitas mulheres com depressão e pressão alta por estarem desempregadas. Numa conversa com a assistente social, surgiu a ideia de criar uma cooperativa, mas ninguém sabia o que era e nem como funcionava”, comenta Julieta Maria Cerri, uma das fundadoras e atual presidente da Coopercostura
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“Além do apoio ao crédito e microcrédito, viabilizamos cursos de aperfeiçoamento, empreendedorismo, mercado financeiro e ações de regularização de documentos das senhoras e dos familiares”, explica José Cláudio Pelincer, gerente da agência do Banco do Brasil na Cidade Industrial
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tenta com a confecção de uniformes industriais, brindes ecológicos e embalagens fornecidos para grandes empresas de Curitiba. “Depois de pagar todas as contas do mês, dividimos o dinheiro entre todas de acordo com as horas trabalhadas”, explica Julieta. Renda que garante a sobrevivência de mulheres como Nadir Marino de Oliveira, 53 anos. Separada do marido, ela sustenta a casa sozinha e desde que entrou na cooperativa, há cinco anos, consegue criar o neto que a filha não tem condições de manter. “Na época em que comecei aqui ele era pequeno e eu estava completamente sem dinheiro. Nas entrevistas de emprego, era sempre dispensada por causa da minha idade”, conta a costureira que é também secretária do empreendimento. Mesmo nos meses em que há menos trabalho, ela não desanima. “Aperta um pouco, mas não penso em sair. Elas são minha segunda família, aqui disseram sim para mim”, diz. Para Zenite de Lima Peres, 59 anos, a cooperativa trouxe de volta a alegria de viver. Por conta do desemprego, a costureira entrou em depressão e chegou até a tentar tirar a própria vida. “Sempre tive uma rotina muito agitada, com muito trabalho. Quando me vi desempregada, meu mundo caiu”, conta. Foi com a ajuda das filhas que Zenite chegou à cooperativa. “Hoje estou curada, nem remédio eu tomo mais. Acordo todos os dias cedo e venho para cá. Se tiver que trabalhar até tarde ou nos finais de semana, não ligo. Sou feliz aqui”, diz a costureira que já, nos últimos anos, recusou duas ofertas de emprego para ficar na cooperativa. O horário de trabalho é definido conforme o
volume de encomendas. Em épocas de mais serviço, as portas se abrem às 7h e só se fecham às 19h, quando há pouco, o horário é das 8h às 18h.
Parcerias • A Coopercostura conta com o apoio de algumas entidades que tem como objetivo promover o desenvolvimento da comunidade em torno delas por meio da capacitação, criação de oportunidades de trabalho e geração de renda. É o caso do Instituto Robert Bosch, da Bosch do Brasil, que acompanha a cooperativa desde a sua criação. A primeira ação foi a doação de máquinas de costura, fundamental para que a cooperativa pudesse dar seus primeiros passos. Hoje, a empresa faz encomendas de uniformes, oferece treinamentos e auxilia as costureiras a planejar e controlar melhor a produção. “Realizamos um trabalho contínuo para que elas consigam ter um controle financeiro maior, desenvolvam seus fornecedores, criem controles e processos, estabeleçam contatos comerciais, entre outros”, explica Dirceu Puehler, coordenador do Programa Peça por Peça do Instituto Robert Bosch. Por meio do DRS, uma estratégia nacional com o objetivo promover o desenvolvimento regional sustentável pelo apoio de atividades produtivas, o Banco do Brasil também é parceiro das costureiras da Vila Verde. “Além do apoio ao crédito e microcrédito, viabilizamos cursos de aperfeiçoamento, empreendedorismo, mercado financeiro e ações de regularização de documentos das senhoras e dos familiares”, explica José Cláudio Pelincer, gerente da agência do Banco do Brasil na Cidade Industrial.
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Qualidade de Vida
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Atletas do paradesporto mostram que não há limites quando se tem determinação
Os títulos são os mais diversos. A receita, uma só: basta juntar apoio e força de vontade
Criselli Montipó
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aquetadas certeiras, que além de mirarem o campo adversário, buscam a superação em cada jogada. Essas bolinhas de tênis alcançam sonhos. Ah, se todos soubessem disso! O mesatenista Claudiomiro Segatto descobriu a força dessas ligeiras porções de esperança que o arrancaram de sua cadeira de rodas e o fizeram vencer os próprios limites. Claudiomiro teve a perna direita amputada em função de um tumor no joelho, desde 1993. Há dez anos descobriu o paradesporto. Começou com o basquete em 1999, ainda sem acreditar que poderia praticar um esporte. “Bas-
quete? Você está brincando”, perguntou-se logo no início. Em 2001, foi convocado para a Seleção Brasileira de Basquete, mas não chegou a jogar. No mesmo ano, passou a assistir aos treinos de tênis de mesa na ADFP (Associação dos Deficientes Físicos do Paraná), a convite do técnico Benedito Rodrigues, o Benê. A modalidade chamou a atenção por exigir muita técnica e concentração e ele se apaixonou. Em 2003 conquistou bronze no Parapan de Brasília. A prata veio no Parapan de Mar Del Plata, em 2005, acompanhada do bronze. As duas medalhas de ouro (individual e equipe) chega-
Sobre a ADFP A Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP) foi fundada em 4 de agosto de 1979 por um grupo de ex-alunos da Associação Paranaense de Reabilitação (APR), que, após a conclusão do ensino fundamental, se viram sem perspectivas de continuar seu processo de ensino e de reabilitação. Hoje, proporciona aos associados a possibilidade de cursarem os ensinos médio e fundamental, nas dependências da entidade, por meio de um Centro de Estudos e Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA). Há, também, atendimento no setor de Serviço Social, que promove atendimentos individualizado, grupal e familiar, além do intercâmbio e da negociação com empresas públicas e privadas mediante encaminhamento para o mercado de trabalho. A ADFP luta para que os direitos das pessoas com deficiência física sejam respeitados no que se refere à acessibilidade e à inserção social no mercado de trabalho, fazendo cumprir o que determinam as Leis nº 8.213, de 1991, e 5296, de 2004. Fonte: ADFP
e mente se concentram, é um modo de relaxar, uma terapia”, comenta. Sabe de sua evolução, mas vai com calma. “Não quero dar o passo maior do que a perna”, conta. “Mas não tem como cair, pois estou sentado”, brinca. Malu, Maria Luiza Pereira Passos, é a mais experiente dos mesatenistas, treina há 15 anos na associação. Cerca de duas horas por dia, depois que encerra o expediente como assistente administrativa na área de recursos humanos da ADFP, onde trabalha há 9 anos. Teve um tumor na gravidez, em 75, mas só conheceu a associação em 1982. Quando recebeu o primeiro convite pensou: “O que vou fazer lá? pois nunca convivi com deficientes”, mas logo percebeu que era o que faltava em sua vida. “Hoje, o esporte faz parte da minha vida e não sei ficar sem ele. Colho muitos frutos, viajo, conheço outras pessoas”, destaca. A atleta é a grande incentivadora da moçada que chega na ADFP. Inclusive sua neta Melanie, de oito anos, que tem amputação congênita do braço, está treinando por incentivo da avó. Aliás, vitalidade é o que não falta para essa avó que foi prata em
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ram no Parapan do Rio de Janeiro, em 2007, juntamente com a vaga para os Jogos Paraolímpicos de Pequim. Também foi eleito o melhor jogador de tênis de mesa das Américas. Em outubro, no Parapan da Venezuela, busca classificação para o mundial de 2010. Quer mais? Sim. Claudiomiro quer. Então passou a jogar vôlei também. Em setembro disputa a série A do Campeonato Brasileiro. Ele chega a treinar quatro horas diariamente, todos os dias da semana. Antes da amputação, Claudiomiro jogava futebol. Alguns médicos acreditam que o tumor surgiu após uma contusão. “O esporte me derrubou e hoje o esporte me levanta”, destaca. Cincler Trevisan divide o local de treinos, uma sala improvisada, com Claudiomiro e mais quatro atletas. Tem a cadeira de rodas como companheira depois de um acidente automobilístico. É mesatenista desde 2005 e já participou de campeonatos nacionais. Treina três vezes por semana na ADFP. Conquistou o vice-campeonato da Copa Brasil em agosto e está ansioso para sua primeira competição internacional, em novembro. “Corpo
“A capacidade de superar limites é uma coisa impressionante, especialmente para a juventude, que se desencaminha, com hábitos e vícios não recomendados, quando o esporte poderia servir como instrumento de qualidade de vida e sustentação”, comenta o vice-presidente da Unimed e diretor responsável pelo setor de Comunicação, Marketing e Responsabilidade Social da Unimed Paraná, Manoel Almeida Neto
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Qualidade de Vida
sua primeira competição internacional, em 1990, no Pan-Americano de tênis de mesa, em Caracas, Venezuela. Em 1996, esteve na Paraolimpíada de Atlanta, nos Estados Unidos. Nos Jogos ParapanAmericanos, do Rio de Janeiro, foi bronze.
Brilho nos olhos: saúde física e autoestima • A ADFP busca reabilitar a pessoa com deficiência física por meio de serviços de fisioterapia, psicologia, serviço social, musicoterapia, fonoaudiologia, psicomotricidade e odontologia. A associação trabalha, também, para habilitar a pessoa com deficiência física por meio do acesso aos ensinos básico e fundamental, cursos de informática, cursos profissionalizantes e pela prática esportiva. São cerca de 3,5 mil associados, sendo 500 ativos, como explica Danilo Eisfeld Rosa, que há seis anos é o encarregado de projetos. “O esporte é útil para a reabilitação, especialmente o tênis de mesa, que trabalha o equilíbrio de tronco”, destaca. O treinador Michel Oliveira, que atua há oito anos na ADFP, explica que, dependendo da lesão, o deficiente físico sai da fisioterapia e vai para a reabilitação com algum esporte. “Verificamos a preferência e a predisposição do atleta e fazemos o encaminhamento para o esporte mais adequado. O objetivo é vê-los competindo, dá motivação, força de vontade”, conta. Alguns treinos acontecem na ADFP e outros no Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mauro Nardini, que também é cadeirante, preside a ADFP desde 2003 e revela que 1,6 mil pessoas são atendidas por mês na clínica de reabilitação. “Usamos o esporte de forma terapêuica, para o lesado medular, principalmente”, explica. Hoje, são oferecidas oito modalidades esportivas pela associação: boccia, esgrima, basquete, atletismo, natação, tiro, tênis de mesa e vôlei. “Todo ser humano deve ter vontade de vencer e superar os próprios limites. No caso do deficiente físico, ele deve superar os seus limites e os da
“Corpo e mente se concentram, é um modo de relaxar, uma terapia”, menciona a mesatenista Cincler Trevisan
própria deficiência”, destaca o presidente. Para Nardini, os atletas do paradesporto são superexemplos para todas as pessoas, pois quebram paradigmas. “A sociedade tem que entender que deficiência física não é invalidez”, salienta. Afinal, os atletas superam a falta de patrocínio, a falta de equipamentos, os locais inadequados dos treinos, entre outros. “É um exemplo para todas as pessoas se auto avaliarem: como ser um atleta do paradesporto na vida?”, sugere Nardini.
Programa Superação • A Unimed Paraná mantém convênio com a ADFP há, aproximadamente, três anos. Desde 2004, a Unimed (nacional) patrocina o Comitê Paraolímpico Brasileiro. A cooperativa dá assistência médica a 71 atletas e desenvolve junto com eles um trabalho de conscientização, estimulando a inclusão. O projeto é conhecido como Programa Superação. O programa busca fomentar a inclusão social do deficiente físico e divulga os resultados dos atletas, conscientizando o público sobre as necessidades e as dificuldades vividas no dia a dia por essas pessoas em decorrência de suas deficiências. As palestras são destinadas a universitários, estudantes do ensino médio e à comunidade em geral. Além das palestras, o trabalho consiste em apresentações dos atletas, a respeito da importância do desporto e da inclusão no mercado de trabalho, além da acessibilidade. Ministradas pelo presidente da ADFP e pelo gerente de esportes da entidade, Darlan França Ciesielski Junior, e por atletas paraolímpicos, as palestras são seguidas de demonstrações desportivas (basquete, esgrima e tênis de mesa). Há, também, uma ação comunitária, onde os atletas convidam os participantes a plantarem, em locais previamente escolhidos, mudas de árvores, como símbolo de respeito e cuidado à vida no planeta. Outra colaboração da Unimed Paraná é a postagem de todos os impressos e documentos da co-
Conheça alguns resultados do paradesporto da ADFP Atletismo – Segundo lugar da Maratona de Curitiba 2008 Basquete – No final de outubro, a equipe participará do Paranaense Boccia – Segundo lugar no ranking mundial na classe BC4 Fonte: Gerência de Esportes/ADFP
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Esgrima – Segundo lugar no Brasileiro de Esgrima Espada Classe A Natação – Segundo lugar no Circuito Loterias Caixa, Etapa Curitiba da Classe S6 Tênis de Mesa – Seleção Brasileira nas Paraolimpíadas Tiro - Recorde nacional na pistola de ar feminina
operativa, como a Revista Ampla, na franquia dos Correiros da ADFP. A associação possui a franquia há 14 anos. Toda a arrecadação é revertida em recursos que mantêm os serviços da entidade. Há um ano e meio, todas as correspondências da Unimed Paraná são enviadas pela agência franquiada da ADFP. O reflexo dessa prática já pôde ser observado na ampliação dos atendimentos. “Pequenas ações fazem a diferença”, considera Yuri Beltramin, analista de Responsabilidade Social da Unimed Paraná. O vice-presidente da Unimed e diretor responsável pelo setor de Comunicação, Marketing e Responsabilidade Social da Unimed Paraná, Manoel Almeida Neto, destaca que em um país como o Brasil, onde o futebol tem prestígio e cobertura de toda a mídia, há uma fatia muito grande de desportistas que não contam com apoio. Grande parte é composta pelos atletas do paradesporto. Segundo ele, a cooperativa passou a apoiar a ADPF por ser um grande exemplo para a sociedade. “A capacidade de superar limites é uma
coisa impressionante, um exemplo para toda a humanidade, especialmente para a juventude, que se desencaminha, com hábitos e vícios não recomendados, quando o esporte poderia servir como instrumento de qualidade de vida e sustentação”, enfatiza. Mais de mil pessoas no Paraná já conheceram esses exemplos de superação, principalmente, crianças e adolescentes. “O programa leva essa mensagem às escolas, que mesmo o indivíduo tendo alguma deficiência, pode superar os limites impostos pela vida. Pode ser uma deficiência física, econômica, todas podem ser superadas, por meio de um bom comportamento, que está incorporado nesses atletas”.
Serviço A ADFP fica na rua XV de Novembro, 2765, Alto da XV. Mais informações pelo telefone (41) 3264-7234 ou e-mail: adfp@adfp.org.br.
Empreendedorismo
Projeto Retece / Vestir Consciente
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A moda verde invade passarelas e vitrines Saiba que hoje é possível ter consciência ambiental até na hora de se vestir
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uem quer fazer sua parte para viver num lugar melhor tem que vestir a camisa. E isso está ficando cada vez mais fácil, visto que a preocupação ambiental entrou de vez na moda. A indústria têxtil de todo mundo, a cada dia, traz novidades na produção de novos tipos de tecidos orgânicos, além de reaproveitar materiais que poderiam ser levados ao lixo. E o mais interessante é que esse conceito, ao entrar no guarda-roupa, acaba transformando o simples ato de se vestir em atitude consciente. Não é de hoje que a indústria tenta encontrar um jeito de produzir peças que não explorem os recursos naturais de forma predatória, mas só recentemente se tornou possível fazer roupas que caíssem no gosto do consumidor comum. A busca pela consciência na moda começou na década de 1970, mas só entrou de vez no mercado nos últimos anos. Afinal, o conceito ecológico deixou de ser coisa de “gente alternativa”, já que as roupas, antes de caráter artesanal, incorporaram design e tecnologia avançados. Uma das premissas da ecofashion, como é chamada lá fora, é utilizar fibras que sejam produzidas sem qualquer agrotóxico para se transformarem em tecidos, ou seja, as fibras orgânicas – como o algodão, a juta e bambu. Para ser 100% orgânico, o processo de tingimento também deve contar apenas com pigmentos naturais. Alguns agricultores também usam água reciclada nas plantações para diminuir ainda mais o impacto ambiental. Roupas sustentáveis também podem ser aquelas que são produzidas com materiais recicláveis. Entre os mais utilizadas estão a garrafa PET, transformada em tecido, e o pneu, que vira solado de sapato. Já nas bijuterias, o que não falta é criatividade para explorar os mais diversos materiais, que vão das sobras de madeira aos caquinhos de vidro.
Motivos para mudar • Não é à toa que a indústria da moda passou a querer incorporar a sustentabilidade no seu negócio. Mais do que estratégia de marketing, o mundo mostra que está na hora de mudar para continuar funcionando. Tanto a produção como o uso das roupas causam um grande impacto no meio ambiente – desde a plantação do algodão para fabricar o tecido, até a hora de colocar a roupa para lavar. Para se ter ideia do que isso significa, o cultivo de algodão pelo sistema convencional consome um quarto de todo inseticida produzido no mundo. Além disso, segundo estudo da Universidade da Carolina do Norte, cerca de 85% da água usada no processamento têxtil está relacionada com os processos de tinturaria e acabamentos. Essa etapa consome, ainda, cerca de 75% de toda a energia e 65% de todos químicos necessários para converter as fibras em vestuário. Sem contar que mais de um milhão de toneladas de roupas e têxteis são descartados no lixo e nos aterros por ano, mundialmente. Ana Cândido Zanesco, fundadora do Instituto Ecotece, órgão ligado à produção de roupas sustentáveis, avalia que o pior impacto gerado, avaliando todo o ciclo de vida do produto, é a etapa do uso. “Atualmente, das mais de seis bilhões de pessoas no planeta, a maioria veste , lava e passa roupas. Uma mesma roupa é lavada diversas vezes. Essa etapa do uso gera impacto quanto ao consumo de água com sabão, descartada sem tratamento, bem como consumo de energia, sendo responsável por mais de 50% do impacto ambiental no ciclo de vida da roupa. Portanto, os consumidores sendo mais cuidadosos para não sujar e reaproveitar as roupas, reduzindo a necessidade de lavar e passar roupas, já estarão contribuindo muito”, explica.
“Uma mesma roupa é lavada diversas vezes. Essa etapa do uso gera impacto quanto ao consumo de água com sabão, descartada sem tratamento, bem como consumo de energia, sendo responsável por mais de 50% do impacto ambiental no ciclo de vida da roupa”, comenta Ana Cândido Zanesco, fundadora do Instituto Ecotece
Moda impactante • 160 g de agrotóxicos são utilizados para produzir algodão suficiente para confeccionar uma camiseta que pesa 250 g • A produção do algodão convencional consome mais de 10% dos pesticidas fabricados no mundo • 25% dos inseticidas produzidos no mundo são utilizados na plantação do algodão convencional • Um hectare de lavoura de algodão utiliza oito vezes mais agrotóxicos do que um hectare de lavoura de alimentos • O gasto com agrotóxicos na plantação de algodão despende, anualmente, US$ 2,6 bilhões • 25 milhões de pessoas por ano se envenenam pelo uso excessivo, ou incorreto, de agrotóxicos na agricultura • O Brasil é o terceiro maior consumidor de agrotóxicos no mundo Fonte: Instituto Ecotece
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Empreendedorismo
Projeto Fio Ecológico / Cocamar
Vestir Consciente • No Brasil, há um grupo que não só estimula o uso das roupas sustentáveis, como informa, ensina e dá o exemplo de como isso pode ser mais do que um diferencial na indústria. O Instituto Ecotece, criado em 2005, é o local onde se prega o Vestir Consciente – uma maneira de pensar no planeta e na sociedade na hora de trocar de roupa. “Vestir é um ato cotidiano. Todo dia, a maioria das pessoas passa por esse ato, muitas vezes de maneira automática, e nossa proposta é que a consciência possa ser cotidiana também de maneira que uma camiseta não seja apenas um produto, mas um conteúdo de histórias de quantas e tantas mãos que foram necessárias para que aquela camiseta pudesse nos servir, além de todas as matérias-primas e processos necessários para que as roupas sejam confeccionadas. A partir do momento que temos essa visão mais ampla da cadeia produtiva, podemos buscar as origens dos produtos, os impactos socioambientais que são gerados. As roupas são bens de consumo indispensáveis que podem gerar ativos sociais e ambientais”, explica a fundadora-presidente do Instituto Ecotece, Ana Cândida Zanesco. Segundo Ana, o Vestir Consciente vai muito além da moda ecológica. “Um dos significados da palavra moda é passageiro, a moda é fundamen40
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tada em tendências. Já o vestir é cotidiano, independentemente das tendências da moda, e assim também pode ser nossa consciência, presente diariamente. A consciência para produzir, consumir e demandar da natureza nos tempos atuais não é algo que veio como uma tendência e será passageiro, é questão de sobrevivência”, analisa. Um dos trabalhos realizados pelo Ecotece é o desenvolvimento social, afinal, como explica Ana Cândido, a consciência no ato de vestir deve chegar a todos e não somente àqueles que podem adquirir os produtos ecológicos - geralmente mais caros do que os convencionais. Para isso, funciona no instituto o projeto Retece, que tem como objetivo levar a proposta do Vestir Consciente para um grupo de mulheres da periferia de Santo André, no ABC Paulista. “Por meio de roupas doadas, retalhos e técnicas do retecer, que são reparos, retoques e reformas, promovemos benefícios sociais, ambientais e pessoais de prolongar a vida das roupas”, explica Ana. O grupo de mulheres que faz parte do projeto fabrica novos produtos, os quais geram renda, e repassam aquilo que aprendem sobre a consciência na hora de vestir. O Ecotece também vende produtos, que são camisetas feitas com materiais ou processos ecológicos, que geram renda às mulheres do Retece e servem como veículo de comunicação dos valores
do instituto. “As camisetas são cartazes ambulantes e podem levar a proposta do Vestir Consciente que é mais um convite de reconexão com a Mãe Terra do que um grito de alerta”, conta Ana. As camisetas trazem frases como: “Desperte para o silêncio”, “Respire bem bem bem”, “Vou a pé, voa pé”, “Viva sempre sua luz”, “Tudo que você amar será” e “ Viver é feito andar de bicicleta”.
Empreendimentos que dão o exemplo • Para provar que a moda pode sobreviver apenas do conceito sustentável, os irmãos Edilaine e Adilson Filipaki inauguraram em junho deste ano a loja Joyful – a primeira loja do Brasil de moda feminina e decoração que é 100% sustentável. “Hoje, há várias marcas e lojas trabalhando com o conceito, mas desconheço quem faça de forma integrada, como temos aqui na Joyful”, diz Edílson. A loja que conta com a marca Malha Eco Chic tem em suas vitrines peças que usam como base o algodão orgânico e o tencel (fibra de viscose ecológica), tingidas naturalmente com corantes provenientes de folhas, frutos, cascas de árvore, raízes e serragem de madeira. Segundo Adilson, o projeto da Malha Eco Chic foi desenvolvido em parceria com o curso de Moda do Senai Paraná, depois de ter sido aprovado no Edital Senai de Inovação. “A ideia de abrir uma loja de produtos verdes surgiu há alguns anos, a partir de uma conversa com a coordenação do curso de moda do Senai Paraná. Queríamos oferecer algo diferente ao mercado e começamos a analisar uma pesquisa de tendência de moda, não só do Brasil, mas no mundo”, explica Adilson. Hoje, Filipak está em processo de certificação e, por isso, faz um trabalho em conjunto com toda a cadeia de fornecedores. “É um trabalho minicioso, mas que vale a pena”, garante. Para ele, a certificação é uma garantia ao mercado e ao consumidor de que seu produto é realmente diferenciado. Para manter a sustentabilidade no seu negócio, Adilson diz que é um processo complexo, que lida com várias frentes. “Para mim é um
planejamento no consumo de energia, de água, além de manter envolvimento e articulação com os fornecedores para que sejam coerentes com esse processo. É também fazer uso de matérias-primas renováveis ou recicladas, além de trabalhar a questão social, consumindo produtos de pequenas comunidades. A ideia é permitir que a gerações futuras possam usufruir esse início de trabalho realizado hoje”, analisa. A Joyful não só vende produtos ecologicamente corretos como está instalada em um ambiente que segue a mesma linha. A iluminação interna usa uma luminária que capta a claridade solar por meio de um duto espelhado, que conduz a luz para o interior da loja. Os móveis, a janela e a fachada foram feitos com madeira de demolição. Todos os objetos de decoração, tanto os próprios da loja como os colocados à venda, usam materiais ecologicamente ou socialmente corretos, como fibras, raízes, árvores tombadas e resíduos.
Moda verde vai se sustentar • Segundo Adilson Filipak, para se estabelecer no ramo têxtil é preciso inovar sempre. “Busquei a sustentabilidade por necessidade mesmo. Com o preço praticado nos produtos da China, fica quase impossível querer competir”, diz. Para Ana Cândido, do Ecotece, o custo tão baixo de roupas somente é possível porque os custos ambiental e social que a indústria da moda gera, pensando em todos os elos da cadeia produtiva, não está incluso no preço final do produto. “Ainda estamos no início do processo de desenvolvimento de um vestir consciente. Praticamente, tem tudo a ser feito, por isso essa nova área requer pessoas com atitudes empreendedoras, que pensem criativamente, dispostas a encontrar soluções, a inovar, a buscar informações, desenvolver pesquisas. No Brasil, ainda temos poucas iniciativas, com tantas terras cultiváveis, algodão orgânico é raridade, quase um mito por aqui”, diz. Adilson diz que o Brasil caminha junto com o restante do mundo na questão da tecnologia voltada à moda verde. “Estamos todos caminhando
“Busquei a sustentabilidade por necessidade mesmo. Com o preço praticado nos produtos da China, fica quase impossível querer competir”, destaca Adilson Filipak, da loja Joyful
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juntos”, garante. Ana Cândido também diz que o interesse pelo tema é aumentado a cada dia. “Recebemos semanalmente o contato de diversas pessoas interessadas a se engajarem nessa área, que ainda é a minoria no mundo da moda, mas o número de interessados é crescente, porque cada vez mais pessoas, empresários, estudantes estão despertando para a realidade de que sustentabilidade não se trata de uma tendência”, analisa.
Tudo começa no campo e na cooperação • A moda verde brasileira teve início muito longe das passarelas. Um dos grandes responsáveis por esse impulso foi o trabalho desenvolvido no meio rural, especificamente por agricultores cooperados. Afinal, cooperativa tem tudo a ver com sustentabilidade. Entre os pioneiros está a Cooperativa de Produção Têxtil e Afins do Algodão do Estado da Paraíba (CoopNatural), fundada em meados de 2000, na Paraíba, quando recebeu parceria da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para começar a produzir algodão orgânico colorido. A produção, tão antiga quanto a do algodão comum, ganhou tecnologia e os produtores passaram a plantar algodão nos tons marrom, vermelho e verde, dando uma excelente solução aos estra-
gos causados pelo tingimento químico. Desenvolvida pela Embrapa, por meio do melhoramento genético da planta, a nova espécie (que só cresce na Paraíba) é produzida por cooperativas que valorizam a agricultura familiar e o artesanato local. Hoje, a iniciativa reúne 30 cooperados, 23 deles microempresas têxteis, com média de 15 funcionários cada, que fabricam roupas sob a marca Natural Fashion. Com uma produção de entre 5 mil e 10 mil peças por mês, de artigos tão variados quanto moda masculina, feminina e infantil, itens de decoração e bichos de pano, a CoopNatural abriu este ano suas três primeiras lojas com marca própria, pelo sistema de franquia, em São José do Rio Preto, João Pessoa e Osasco. E mantém negociações com empresários em Palmas e Campinas, para a abertura de outras duas unidades. Toda a cadeia produtiva da Natural Fashion está organizada no sistema de cooperativa. Cerca de 230 famílias em 25 cidades da Paraíba cultivam o algodão naturalmente colorido, cuja venda gera mais de R$ 420 mil em renda para as famílias a cada ano.
Da garrafa para o fio • Outra iniciativa que abastece o mercado da moda sustentável é o pro-
Grandes marcas e a Eco Fashion A busca pela sustentabilidade cresce a cada dia entre as grandes marcas de roupas nacionais e internacionais. As iniciativas são diversas, como linhas experimentais de produtos ecológicos, produtos com lucro revertido a campanhas ou instituições beneficentes e ainda linhas de produtos que estimulam o bem-estar. Há também aquelas que resolveram tentar arcar com o prejuízo que já deram ao planeta, revertendo suas ações, e claro, aproveitando para fazer o chamado marketing verde. Conheça algumas iniciativas: • As fabricantes de calçados Nike e Timberland anunciaram, no final de julho de 2009, que não utilizarão mais couro proveniente de animais criados em áreas recém desmatadas na Amazônia. A medida atende a um pedido do Greenpeace, formalizado em Commit or Cancel. A Nike quer agora que o mercado de calçados reestruture sua cadeia produtiva e passou a solicitar, por escrito, uma declaração de seus fornecedores atestando que o couro vendido por eles não é oriundo da floresta. • A marca Goóc fabrica de sapatos e chinelos feitos com solado de borracha reciclada de pneu. A empresa também utiliza lonas de caminhões recicladas em peças de roupa e acessórios. • No mercado de calçados e roupas esportivas está a Rainha, que há alguns anos lançou uma linha chamada Organic System com camisetas de algodão orgânico naturalmente colorido e a Rainha Autêntico AmazonLife, compostas de bolsas em couro vegetal. • Também é iniciativa brasileira a Amazon Life, que desenvolveu o couro vegetal Treetap – um material a base de látex natural extraído de seringueiras nativas da floresta Amazônica por cooperativas. • A Coexis é pioneira no Brasil na fabricação de jeans e outras malhas com algodão orgânico e tingimentos naturais. • A Cantão criou o projeto Reciclagem Cantão, que apresenta soluções que cuidam do lixo têxtil. Materiais descartados como tecidos, refugo de calçados e embalagens são reformulados para virarem novos produtos. • A Grendene também aderiu à sustentabilidade, quando convidou Oskar para redesenhar a sandália Ipanema. Além de criar um produto feito com material reciclado e 0% de resíduo na produção, o diretor de criação encontrou uma maneira de ajudar também a comunidade.
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jeto Fio Ecológico, realizado pela Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar), no Noroeste do Paraná. A cooperativa fabrica o fio de poliéster, obtido com a reciclagem do Poli Etileno Tereftalato (PET). Por ser feito a partir de garrafas de refrigerante, óleo, e outros ingredientes, o material ainda tem um forte apelo ecológico junto ao consumidor. Após ser coletado por cooperativas de catadores de produtos recicláveis, o plástico é moído e descontaminado para ser transformado em fardos de fibras de poliéster. Estas passam por quatro processos de torção e alongamento para virar um fio. Depois de colocados em bobinas, o fios são vaporizados para receber de volta a umidade natural que perderam durante o procedimento. Na Cocamar, o Fio Ecológico representa cerca de 10% de toda produção de fios de algodão, mistos e sintéticos, que é de 650 a 700 toneladas de fios mensais. Isso significa um consumo de, pelo menos, 40 toneladas de PET por mês, segundo a gerente comercial de fibras, Elaine Lopes Xavier Leite. Ela lembra que quando o processo iniciou na Cocamar, há cerca de sete anos, o Fio Ecológico representava apenas 1% da produção de fios. “A demanda veio aumentando durante os anos porque as empresas se interessaram cada vez mais em ter produtos com esse apelo ambiental”, diz Elaine. A Cocamar fornece ao comprador um selo que é a garantia de que ele está levando um produto ecológico. “Fazemos toda a rastreabilidade do plástico que consumimos, para garantir que vem da reciclagem”, diz. Segundo a gerente, o uso do fio derivado do PET não é nenhum favor ao ambiente – apesar de que cada camiseta fabricada a partir do fio significa uma garrafa PET a menos do meio ambiente. Além do custo competitivo, ele apresenta vantagens, como qualidade, maciez, resistência e durabilidade. “Transformar PET em tecido revela-se um negócio muito interessante”, diz ela. Outro aspecto a se considerar é a inclusão social. Afinal, esse material gera renda para a população, pois é recolhido nas ruas por recicladores. Outra vantagem ambiental oferecida pelo Fio Ecológico, segundo Elaine, é que oferece economia de químicos durante o tingimento. “Por ter melhor absorção, o gasto com produtos é menor nessa etapa da produção do tecido”, explica. Na fiação da Cocamar, o produto final, com 50% de poliéster derivado de PET e 50% de algodão, é comercializado com algumas das principais malharias do Sul e Sudeste, entre elas empresas como a Hering, Sticle Comércio de Tecidos e a Marisol. “A gestão ambiental não é novidade na Marisol, mas a utilização do fio com mistura de poliéster reciclado nos ajudou a atuar com as questões ambientais também no âmbito comercial, proporcionando aos nossos clientes um contato mais concreto e direto com uma de nossas grandes preocupações, que é a de minimizar os impactos ambientais causados pela indústria da moda”, diz o coordenador de marcas da Marisol, Arthur Ladenthin.
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EENDEDO R P M R E jerÔnimo mendes Administrador de Empresas, Consultor, Escritor e Mestre em Organizações e Desenvolvimento
Em busca da oportunidade
D A busca da oportunidade para empreender deve ser um exercício constante, fruto da ousadia, do planejamento e do trabalho bem elaborado
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e acordo com o Relatório do GEM (Global Entrepreneurship Monitor) 2008, o Brasil continua entre as nações com o maior número de empreendedores, portanto, onde mais se criam negócios. Paulo Okamoto, Diretor-Presidente do Sebrae, afirma no relatório que, em nove anos de pesquisa sobre o tema, muita coisa mudou no perfil e na postura empreendedora dos brasileiros. Empreendedores e empresários de negócios de pequeno e médio porte já entenderam que, para iniciar e gerenciar um empreendimento com sustentabilidade, o melhor caminho é sempre o do conhecimento. Quanto maior o volume de informações do empreendedor, maior o nível de competitividade da empresa. Durante os seis primeiros anos da pesquisa, iniciada pelo GEM em 1999, a relação de empreendedores por oportunidade e empreendedores por necessidade sempre esteve próxima de 50/50. Ou seja, para cada negócio iniciado por necessidade surgia outro por oportunidade. Diferente dos anos anteriores, um ponto relevante da pesquisa, por exemplo, é a melhoria observada no nível de empreendedorismo por oportunidade. Em 2008, para cada negócio gerado por necessidade, foram registrados dois negócios por oportunidade, um dado extremamente promissor considerando o período da crise mundial, que também afetou, em menor proporção, a economia brasileira. Embora o principal alvo do Sebrae continue sendo o empreendedorismo por oportunidade, em razão da opção escolhida e do próprio perfil do empreendedor que se apresenta mais seguro e determinado para realizar um negócio, os empreendedores por necessidade ainda precisam de apoio e, principalmente, de capacitação, portanto, não podem ser esque-
cidos. Outro ponto importante da pesquisa foi o aumento da atividade empreendedora na faixa etária de 18 a 24 anos, que foi de 25%, superada apenas pelo Irã (29%) e pela Jamaica (28%), o que representa uma geração de jovens empreendedores que vislumbram um futuro mais promissor como patrão do que como empregado. Essa é a faixa etária onde o empreendedor tem mais condições de arriscar e levantar com facilidade. O Brasil ocupa o 13º lugar no ranking do empreendedorismo mundial, com uma população empreendedora estimada em 14,6 milhões. Em números absolutos, ficamos apenas atrás da Índia, com 76 milhões, e dos Estados Unidos, com 20 milhões. Em números relativos, ocupamos a 3ª posição entre os países do Grupo do G-20 que participaram da pesquisa, com uma taxa empreendedora (TEA) de 12,02%. Ou seja, de cada 100 brasileiros em idade economicamente ativa, 12 realizam alguma atividade empreendedora, seja por oportunidade ou por necessidade. Penso que o dado mais animador da Pesquisa GEM 2008 é o registro do aumento do número de empreendedores por oportunidade. Quase 10 milhões de brasileiros (66,8% do total registrado na pesquisa) empreendem por conta própria e risco, sinal de maturidade e de fortalecimento das iniciativas empreendedoras. Por fim, não existe a menor dúvida de que empreender por conta própria é uma atividade arriscada e, por essa razão, a maioria prefere a lógica da pseudo-segurança dos empregos. Entretanto, a busca da oportunidade para empreender deve ser um exercício constante, fruto da ousadia, do planejamento e do trabalho bem elaborado, no qual a sorte favorece os que são persistentes e determinados a vencer todos os obstáculos.
Responsabilidade Ambiental
divulgação
Consciência ecológica também dentro de casa Ana Letícia Genaro
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ma casa pode ser sustentável não só por contar com estruturas que visam à economia de energia ou o reaproveitamento de água. O conceito pode ser estendido também aos móveis que decoram os espaços. É o que a loja Madeira e Flor oferece aos seus clientes. Localizada em Curitiba, cerca de 90% dos produtos à venda no estabelecimento são considerados “móveis verdes”. Trata-se do Biomóvel, um produto projetado especialmente para minimizar os impactos ambientais em todo o seu ciclo de vida. “É um novo conceito de móveis que, além de atender aos requisitos de qualidade e bom gosto, procura respeitar o meio ambiente”, explica Valdenir Prates, sócio-proprietário da loja.
A ideia • O conceito do Biomóvel abrange todos os níveis de desenvolvimento do produto, desde o nascimento, a vida, a morte de um produto e seu renascimento, com a reciclagem ou reuso de suas partes. No processo produtivo, opta-se pelo uso de materiais e tecnologias naturais, como madeiras provenientes de reflorestamento e tratamentos e acabamentos menos nocivos à saúde. “São utilizados princípios da chamada biomarcenaria, que baseia sua filosofia na recuperação de critérios e técnicas do passado”, diz Prates. Uma das regras do Biomóvel é criar produtos com design inteligente que favoreça a economia de matéria-prima, durabilidade, fácil manutenção, reutilização, reciclagem e eliminação segu-
ra. “Tudo é pensado para não haver problemas depois que o móvel é comprado ou descartado”, afirma Liliane Prates, sócia-proprietária da loja.
Mercado brasileiro • O conceito de móveis com menor impacto ambiental foi lançado no mercado brasileiro pelos fabricantes da região Norte de Santa Catarina, um dos grandes pólos moveleiros, responsável por 50% das exportações de móveis do Brasil. É de lá que todos os móveis da Madeira e Flor Móveis e Decorações são trazidos. “Esses produtores já estavam adaptados para atender aos exigentes padrões do mercado europeu e norte-americano e, recentemente, por conta da crise financeira mundial, focaram-se nos mercado internos, com produtos de design atual e qualidade”, diz Prates. Selo Biomóvel • A iniciativa de certificar os produtos é do Arranjo Produtivo Local Madeira e Móveis do Alto Vale do Rio Negro, organização criada com o objetivo de melhorar e desenvolver a cadeia produtiva da região. O projeto conta com o apoio do SEBRAE-SC e SENAI (Serviço Nacional da Indústria) que avalia se as empresas seguem todas as premissas do Biomóvel. A iniciativa está sendo levada a outros pólos moveleiros do Brasil.
Madeira e Flor Móveis e Decoração A Madeira e Flor iniciou as atividades em 2007 com uma pequena loja de presentes e artesanatos dentro de um hipermercado de Curitiba. “Os clientes demonstravam muito interesse pelos móveis onde as peças estavam expostas. Por isso, resolvemos comercializá-los”, explica afirma Liliane Prates, proprietária da loja. Em 2009, a loja mudou o foco de atuação, comercializando principalmente móveis e objetos de decoração, foi preciso um espaço maior e que comportasse todos os produtos adequadamente. Hoje, a nova loja conta com uma estrutura de 240 metros quadrados e oferece cerca de 600 itens. Para 2010, o projeto principal é o ecommerce, a loja virtual que oferecerá mais opções e comodidade aos clientes. Serviço: Rua João Palomeque, 85 Novo Mundo, Curitiba, PR (41) 3022-5155 www.madeiraflor.com.br
Responsabilidade Ambiental
opinião Valdenir Ecskstein C. Prates Empresário
Sustentabilidade dentro de casa “Tudo é pensado para não haver problemas depois que o móvel é comprado ou descartado”, afirma Liliane Prates, sóciaproprietária da loja Madeira e Flor
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Houve um tempo em que o tema consumo sustentável simplesmente não encontraria ouvidos no meio empresarial, mas, hoje, sustentabilidade é sinônimo de oportunidade de negócios e lucros, isso sim faz toda a diferença. Alguns setores, como a indústria moveleira, ainda buscam o enfoque certo para adotar de vez o padrão sustentável em toda a cadeia produtiva até o descarte do produto final. Em nosso ramo de atuação, o comércio varejista de móveis, estamos tentando quebrar a resistência do consumidor. Esbarramos numa barreira cultural que continua valorizando o uso de madeiras de lei ilegais ou comercialmente inviáveis, como se fossem sinônimo de qualidade, quando o inverso é o mais coerente. Temos ao nosso alcance uma excelente reserva de madeiras sustentáveis, diversas variedades de pinus, eucalipto e outras madeiras. Temos pólos de produção moveleira altamente qualificados, tanto em tecnologia de equipamentos quanto em conhecimento. Falta a popularização do móvel de madeira com produção ecologicamente correta. Nossas indústrias contam com experiência obtida em mais de quatro décadas, exportando móveis de qualidade para os EUA, Canadá e Europa. Durante muitos anos, o mercado interno foi deixado de lado, em fa-
vor dos dólares e euros da exportação. Mas veio a crise financeira mundial e a instabilidade do câmbio que forçaram a indústria moveleira a voltar seus olhos e esforços para o mercado interno. Finalmente, temos as grandes fábricas dispostas a conquistar o mercado brasileiro de móveis. Elas colocam à nossa disposição maior variedade em móveis de madeira maciça, com qualidade e design, aliados a um processo sustentável, uma antiga exigência dos países desenvolvidos. Em nossa recente experiência no comércio, temos notado o interesse cada vez maior do consumidor pela temática sustentabilidade aplicada aos móveis e objetos de decoração. Os materiais ditos ecologicamente corretos detêm a preferência, fabricados com madeiras de reflorestamento, madeira de demolição, fibras naturais, folhas e sementes. Esse novo olhar do consumidor, aliado à redescoberta do mercado interno pelas fábricas de móveis, traduz-se em oportunidade para comerciantes e consumidores. Acredito que esse movimento de mercado é uma tendência que resultará em grande evolução na qualidade dos móveis e na valorização da madeira por conta dos consumidores, atualmente acostumados ao MDF em detrimento do material vivo mais nobre da natureza: a madeira.
Quem quer ser um milionário? sil (pré-sal), qual a expectativa de investimento nacional em energias renováveis, ou seja, em sustentabilidade energética? Não sabemos. E seguimos inseguros, cada vez mais tomando decisões equivocadas. Será que apenas eu estou com esta estranha sensação? Então um questionamento recorrente: como tomar decisões gerenciais sem dados confiáveis que sirvam de parâmetro para a escolha mais correta? Bem, no meio dessa confusão posso até justificar a escolha da “verdade”, que mais se aproxime da minha expectativa de resposta, manipulando informações. Mas até que ponto isso é sustentável? Millôr Fernandes fez uma pesquisa na internet que pode ser utilizada (emprestadinha) como metáfora para esse paradoxo de acesso total à informação. Ele pegou uma frase em português erudito e utilizou em uma ferramenta de tradução online. De uma língua para outra até voltar novamente para a língua original (português). E lá estava a frase final, totalmente modificada. E nada erudita. Onde tudo esta ligado a tudo, faz sentido manipular informação? Mas voltemos ao livro Quem quer ser um milionário? Ele acertou as respostas porque viveu as perguntas. Porque prestou atenção. Não sei se o efeito estufa é mito ou realidade. Mas percebo que teríamos perfeitas condições de diminuir a emissão de poluentes atmosféricos por meio da implementação de tecnologias adequadas (leia-se aqui ecológica e socialmente adequadas). Percebi que nossa sociedade está – no individual e no coletivo - extremamente vulnerável a agentes epidemiológicos. E isso pode ser fatal. No mais, não tenho certeza de nada. Nem se o petróleo é nosso. E a pior crise é a da desinformação.
Especialista em diagnóstico e planejamento sistêmico
Meio Ambiente
O
livro Sua Resposta Vale um Bilhão do escritor indiano Vikas Swarup (foi para a telinha do cinema na direção de Danny Boyle com o título Quem quer ser um milionário?) conta uma história de ficção bastante instigante: por um motivo pessoal muito forte o protagonista da história, um menino pobre das favelas de Mumbai, inscreve-se num programa de perguntas na TV para ganhar 10 milhões de rúpias. No decorrer da história, que intercala presente e passado, o leitor descobre como o jovem menino indiano teve acesso à informação que permitiu que ele acertasse cada uma das perguntas do programa até se tornar o vencedor do desafio. Esse livro foi libertador para mim. Não pelo clichê da pobreza que alcança o sucesso de forma inesperada, regenerando nossa fé de classe quase-média. Mas, sim, pela simples ideia de que, de alguma forma, poderia me libertar da avalanche de informações que recebemos todos os dias e continuar viva. Talvez vivendo melhor. Algumas notícias são tão contraditórias que não sabemos mais o que fazer ou em quem acreditar. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com o caso da pandemia da gripe A. Não peguei a tal gripe, mas tive uma contaminação aguda de insegurança. Por motivo de convalescença psicológica fiquei em casa, parei e pensei: e as contaminações crônicas? Vejamos alguns exemplos de dúvidas recentes: o efeito estufa e as mudanças climáticas são mito ou realidade? Considerando que a mortalidade da gripe comum (que não é considerada pandemia) é igual a da Influenza A, por que a segunda foi considerada uma pandemia? O maior poluidor da nação é mesmo o estado? Com a descoberta de tantas fontes de energia não-renováveis no Bra-
rosimery de fátima oliveira
antonio cláudio de figueiredo demeterco
Destaque Jurídico
Advogado e Mestre em Direito e Professor de Direito Empresarial
O capital social subdivide-se em quotas, costumeiramente iguais, que são bens imateriais que o sócio recebe em contrapartida ao investimento realizado
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As Sociedades Limitadas
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s sociedades limitadas compreendem o tipo societário mais adotado pela empresarialidade brasileira, notadamente porque, além da relativa facilidade de constituição, que não exige sequer comprovação do capital social declarado, muito menos sua efetiva adequação às atividades compreendidas no objeto social, afeiçoa-se a pequenos, médios e grandes empreendimentos e, ao mesmo tempo, confere responsabilidade limitada aos sócios participantes, minimizando os riscos da atividade empresarial. Com o registro do contrato social na Junta Comercial, desponta a sociedade empresária enquanto sujeito de direito inanimado e personificado. Em outras palavras, passa a agir regularmente por si, como um centro referencial de direitos e obrigações, com nome (firma social ou denominação) e domicílio empresariais, por intermédio de seus administradores, sempre pessoas-físicas, sócias ou não. As consequências mais expressivas da personificação são a separação patrimonial e a responsabilidade limitada. O patrimônio dos sócios não se confunde com o da sociedade e vice-versa. Não é admissível, por exemplo, que seja denegada a emissão de Certidão Negativa de Débitos - CND à uma sociedade limitada pelo simples fato de ela ser sócia de outro empreendimento que apresente pendências tributárias, seja em âmbitos municipal, estadual e/ou federal. Muito menos que um sócio volte a apoderar-se livremente, como queira, de bem cuja titularidade já tenha transferido para a composição, originária ou não, do fundo patrimonial societário. E a sociedade, com todas as suas forças patrimoniais, há de fazer frente a seus compromissos, respondendo, portanto, ilimitadamente. A responsabilidade de seus sócios é que se apresenta circunscrita aos valores e/ou bens aportados para a composição do fundo patrimonial, salvo em havendo, por exemplo, desconsideração judicial da personalidade jurídico-societária, distribuição de lucros ilícitos ou fictícios, em prejuízo ao capital social,
e participação de sócios em deliberações ilícitas, sejam contrárias à lei e/ou em desrespeito aos termos contratados. O capital social subdivide-se em quotas, costumeiramente iguais, que são bens imateriais que o sócio recebe em contrapartida ao investimento realizado. Não há exigência legal de capital social mínimo ou de integralização inicial mínima, nem acesso a recursos no mercado de capitais. Em relação às deliberações, é comum no dia a dia social que se deem informalmente, até mesmo porque se trata, aqui, de um tipo societário quase sempre constituído em razão da proximidade e das qualidades subjetivas das pessoas envolvidas, com acentuada “affectio societatis”. Algumas matérias, consideradas de maior importância, exigem deliberação formal, como por exemplo todas aquelas que importem em alteração do contrato social. O quorum necessário à aprovação é o estabelecido contratualmente, sendo a maioria simples a regra geral e inadmissível qualquer estipulação de vontade que relativize os quoruns mínimos entabulados por lei. Nas sociedades limitadas contratadas por prazo indeterminado, o sócio descontente com deliberação que inobserve, por exemplo, preceitos sustentáveis, poderá exercer o direito de recesso, formalizando junto ao órgão da administração seu interesse em se retirar do quadro associativo e promover a liquidação, para pagamento, de sua participação social. E, se nela quiser permanecer, mesmo se contratada por prazo determinado, poderá empreender iniciativa judicial de expulsão do sócio majoritário faltante. Entretanto, é de todo modo conveniente que conste estipulação específica sobre o assunto no contrato social, evitando-se maiores discussões jurídicas. Tem-se aqui importantes instrumentos legais à disposição de sócios minoritários, para que seja mantida sob estrita vigilância a prática empresarial das sustentabilidades ambiental, social e econômica. A sociedade, não só a empresária, mas a de todos nós, agradece.
Publicações e Eventos
José Carlos Barbieri Jorge Emanuel Reis Cajazeira
ade social, empresarial e empresa sustentável
• A L A N B RY D E N
geral da ISO – International Organization for Standardization
ça o site do livro e as demais novidades do nosso catálogo no endereço:
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Responsabilidade social, empresarial e empresa sustentável
agem usada pelos autores é muito abrangente, na infletir sua complexidade, corre-se o risco de tratar o perficialidade. Se os autores focam demais em uma m um grupo pequeno de temas, fica difícil transmitir ral da ampla gama de conceitos envolvidos. Entretandeste livro foram hábeis em evitar essas duas armadiguiram comunicar toda a riqueza que o verdadeiro o do conceito de responsabilidade social requer, tanto ade quanto na abrangência.
José Carlos Barbieri Jorge Emanuel Reis Cajazeira
bre Responsabilidade Social é um verdadeiro desanda não existe um consenso universal sobre o real sigrmo e os assuntos que estão inseridos no conceito ainda trução. De fato, nós da ISO temos dado uma contribuiate por meio do grupo de trabalho sobre Responsabiliue desenvolve a futura norma ISO 26000 para orientar variado, complexo e quase sempre controverso.
Responsabilidade Social Empresarial e Empresa Sustentável Da teoria à prática
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E EMPRESA SUSTENTÁVEL José Carlos Barbieri e Jorge Emanuel Reis Cajazeira
José Carlos Barbieri é mestre e doutor em Administração, é professor do Departamento de Administração da Produção e Operações da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP-POI) desde 1992. Foi professor em renomadas instituições de ensino superior, como a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Foi pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). É professor do programa de pós-graduação stricto sensu da EAESP, da linha de pesquisa em gestão ética, socioambiental e de saúde. Pesquisador e coordenador de diversos projetos de pesquisa nas áreas de gestão da inovação, do meio ambiente e da responsabilidade social. Coordenador do Centro de Estudos de Gestão Empresarial e Meio Ambiente da FGV/EAESP. Membro do Fórum de Inovação da FGV/EAESP. Participou da comissão do INMETRO para criação de normas sobre certificação de sistemas de responsabilidade social. Participa de comitês científicos de diversas revistas e congressos científicos, nacionais e internacionais, e de várias agências de fomento. CONTATO COM O AUTOR:
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barbieri@editorasaraiva.com.br
Jorge Emanuel dos Reis Cajazeira. Engenheiro mecânico pela Universidade Federal da Bahia,mestre e doutor pela FGV/EAESP. Executivo da área de competitividade da Suzano Papel e Celulose, onde trabalha desde 1992. Eleito pela revista Exame, em 2005, como um dos quatro executivos mais inovadores do Brasil. Foi expert nomeado pela ABNT para a redação das normas ISO 9001 e ISO 14001 (1995-2004), coordenou os trabalhos para a criação da norma NBR 16001 – Responsabilidade Social e presidiu a comissão do INMETRO para criação de um sistema nacional para certificação socioambiental. Em 2004, foi eleito o primeiro brasileiro a presidir um comitê internacional da ISO, o Working Group on Social Responsibility (ISO 26000). É membro do comitê de critérios da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), coordenador do comitê de inovação e ativos intangíveis (FNQ) e ex-presidente do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre).
Editora SARAIVA
CONTATO COM O AUTOR:
cajazeira@editorasaraiva.com.br
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Pelo quarto ano consecutivo, a RECICLAÇÃO – Feira Brasileira de Reciclagem, Preservação e Tecnologia Ambiental conseguiu dar visibilidade às soluções sustentáveis, apresentando empresas, tecnologias e instituições nacionais preocupadas com a preservação do meio ambiente. Pela movimentação de público, que chegou a 6.900 visitantes, e pela expectativa de geração de negócios após a realização da feira, que gira em torno dos R$ 10 milhões, ficou evidente que a reciclagem aliada à tecnologia e preservação é hoje em todo o mundo um negócio altamente lucrativo, de grande interesse econômico e impacto social, voltadas às empresas preocupadas com o desenvolvimento sustentável. Entre os dias 8 e 11 de julho, no Expo Unimed Curitiba, um total de 68 empresas demonstraram maquinários, equipamentos, tecnologias e serviços utilizados para fins de reciclagem, preservação, saneamento ambiental, além de produção de energias alternativas. Foram apresentados produtos feitos com matéria prima reciclada, empresas criadoras ou fornecedoras de tecnologias limpas para os mais variados segmentos industriais, além de organizações certificadoras em normas ambientais, materiais que auxiliam na redução e produção de resíduos tóxicos, e instituições financeiras com linhas de crédito específicas para reciclagem, saneamento ambiental e bioenergias. Fonte: Novo Conceito - Assessoria em Comunicação
Foto 1: Ao centro, a presença do vice-governador do Paraná, Orlando Pessuti. Foto 2: Vereador Omar Sabbag, palestra de abertura, seminário de Saneamento Ambiental. Foto 3: a esq. Ney Vieira (Banco do Brasil), Pedro Salanek Filho (Geração Sustentável) e Ademar Moreira (Banco do Brasil)
2ª Feira de Fornecedores de Produtos, Equipamentos, Tecnologias e Serviços para o Agronegócio Data: 04 a 06/11/09 Local: Expo Unimed Curitiba, Rua Profº. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 - Campo Comprido - Curitiba - PR Informações: 3203-1189 - e-mail: montebello@montebelloeventos.com.br - site: www.montebelloeventos.com.br
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fotos: divulgação
RECICLAÇÃO demonstra que mercado da reciclagem é extremamente lucrativo
NOVEMBRO
Econom a SUSTENTÁVEL
Gestão Pública e Desenvolvimento Local
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odos os agentes (sociedade, Estado, empresários) esperam alcançar uma melhora de qualidade de vida – que depende de uma percepção e realidade positiva sobre a comunidade em que se vive e sobre a sua própria vida. A questão é: o que estamos fazendo para isso? Essas breves considerações buscam resgatar a importância do planejamento público e da participação da sociedade nesse processo para efetivamente tornar a espera em realidade. Primeiro cabe a reflexão individual sobre o que e onde queremos chegar. O que é uma melhora de padrão de vida? Sem termos claro quais são os nossos objetivos, teremos dificuldade de compartilhá-los e defendê-los com os outros. Partindo da ideia de que sabemos responder a essa questão, seguramente a resposta envolverá direta ou indiretamente a comunidade em que vivemos, inclusive por sermos seres que necessariamente se relacionam. Isso demanda uma ação conjunta; um pensar conjunto. Este é outro problema. O fato é que sem saber onde queremos chegar, teremos dificuldade, inclusive, para sair do lugar. Temos uma ação de espera e de entrega ao som da música “... deixa a vida me levar...”, mas isso, na prática, não leva a nenhum lugar almejado e possivelmente temos nossos esforços e recursos desperdiçados, inclusive o nosso tempo – o qual sempre reclamamos estar em falta. O caminho para resolver esse problema, importantíssimo para a melhoria da nossa condição de vida e a de nossos filhos, é tornarmonos efetivamente pessoas mais instruídas pelo coletivo e planejarmos onde pretendemos chegar. Parece demandar um nível de instrução ou de capacidade incompatível com a realidade da maioria dos brasileiros, mas engana-se quem pensa isso. Essas questões são triviais e temos condição de responder e defender, pois depende daquilo que esperamos. Contudo, para um nível de planejamento do desenvolvimento local almejado, a informação torna-se relevante e crucial para o alcance do resultado esperado. Nesse caso, precisamos desprender esforços para conhecer cada vez
mais os anseios de nossa comunidade, os nossos e a situação do nosso município ou bairro. Parece necessário, para isso, desenvolver novos mecanismos e instrumentos que permitam realizar esse levantamento e procedimento de discussão. Mas, novamente, este é outro engano. O princípio da gestão democrática, reforçado pela necessidade de aprovação dos instrumentos orçamentários em audiência pública, e estes próprios instrumentos são canais de comunicação entre o desejo individual e o coletivo. Compreensão, disseminação e desmistificação desses instrumentos orçamentários (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual), em conjunto com a execução orçamentária, é uma ação importante de um governo comprometido com o processo de gestão democrática. Ao contrário disso, nota-se que muitos municípios não têm esse conhecimento entre os funcionários da prefeitura, o que dirá a maioria da população. Não se devem procurar culpados, mas capacitar os servidores e a comunidade para tornar a gestão pública cada vez mais participativa e direcionada a partir dos anseios locais. Deve-se compreender que as políticas e a gestão pública devem ser de Estado e não de governo. Essas políticas e a gestão devem ter interesses de longo prazo, pautados nesses fundamentos da gestão democrática e, por isso, não devem ser modificadas radicalmente conforme o governo, se não for de interesse da própria comunidade. Quanto mais nos inserirmos em processos decisórios, mais teremos uma gestão compartilhada e democrática, mais teremos um caminho a percorrer. Assim, partilharemos de um processo de amadurecimento da nossa democracia, o que é fundamental para um desenvolvimento sustentável. Por isso, esperamos muito do Estado, mas antes temos que fazer a nossa parte. No segundo semestre, temos as discussões dos Planos Plurianuais nos municípios (2010-2013) e da Lei Orçamentária Anual para 2010. Não deixe passar mais tempo: busque seus objetivos e participe das discussões para transformar o que hoje em muitos municípios é uma mera formalidade, em um processo de definição democrática dos rumos da cidade.
CHRISTIAN LUIZ DA SILVA Economista com Pós-Doutorado em Agronegócios
Quanto mais nos inserirmos em processos decisórios, mais teremos uma gestão compartilhada e democrática, mais teremos um caminho a percorrer. Assim, partilharemos de um processo de amadurecimento da nossa democracia, o que é fundamental para um desenvolvimento sustentável
GERAÇÃO SUSTENTÁVEL
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Indicadores
de Sustentabilidade
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio Governo Federal lança nova edição do prêmio para reconhecer projetos brasileiros
O
Prêmio ODM Brasil é uma iniciativa governamental que busca incentivar diversas ações e projetos que contribuem com o cumprimento dos Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. O lançamento dessa nova edição do prêmio conta com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e de um conjunto de empresas e associações do setor privado. Nas duas edições anteriores, o prêmio teve 920 projetos e 1.062 em 2005 e 2007 respectivamente. Entre as principais finalidades do prêmio estão o incentivo a praticas focadas nos 8 objetivos do milênio, o desenvolvimento de um banco de dados de práticas bem sucedidas para utiliza-
ção como referência para governos e sociedade e o reconhecimento público de ações locais que promovem o desenvolvimento socioambiental. Poderão participar do prêmio prefeituras e demais organizações. Na categoria prefeitura, todas as prefeituras de qualquer cidade do Brasil podem se inscrever, inclusive as entidades municipais ligadas às prefeituras (secretarias, departamentos, unidades de atendimento e prestação de serviços ao público, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista). Já na categoria organizações podem se inscrever organizações públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos. As inscrições estão abertas até o dia 02 de outubro.