Concurseiros

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índice

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motivos 30 para ler! Mais que um aprendiz

Carta do leitor

pag. 10

Clodoaldo Araújo, vencedor do Aprendiz 5, dá dicas para quem deseja empreender e alcançar o topo na carreira profissional.

De fraldas e na escola?!

pag. 12

Minha história

pag. 14

Decidir a hora certa de matricular o filho na escolinha tira o sossego de muitos pais. Saiba o que é importante fazer.

Conheça um pouco da história de superação e dedicação de Marcos Taira, contada pela sua esposa Liria Matsukura.

Amigo, mas imaginário

pag. 16

Novo passo, nova vida

pag. 20

Escolha o companheiro ideal pag. 24

Homens de vida

pag. 8

O animal de estimação pode representar uma mudança na vida da criança, mas deve-se ter cuidado para que não se torne um problema.

O novo consumidor

pag. 26

Deu B.O.!

pag. 36

Exame indispensável

pag. 32

Anualmente cerca de 50 mil mulheres são vítimas do câncer de mama, sendo que 11 mil vêm a óbito.

pag.28

Fruto de ideais surgidos no Corpo de Bombeiros, a Salvare desenvolve projetos que mesclam disciplina, base cristã e melhorias sociais.

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Dança Contemporânea?

pag. 44

Miniadultos em risco

pag. 39

Incubadora de ideias

pag. 52

Vestir o bebê de “hominho” ou a menina com “modinha”, mais do que bonitinho, pode provocar grandes alterações comportamentais.


Há oito anos, moradores de municípios brasileiros sofrem as consequências do contato inadequado com o urânio das minas.

pag. 42

Concurseiro e não desisto nunca! No Brasil, a cada 23 brasileiros, um é funcionário público. Em MS, eles somam 162 mil, sendo que os cargos municipais são os que mais empregam.

pag. 46

Orgânicos ou hidropônicos Gestação segura

pag. 56

pag. 60

O acompanhamento médico logo no início da gestação garante qualidade de vida tanto para a futura mamãe quanto para o filho.

Nelson Rodrigues: a consagração de Doroteia

pag. 62

Desenvolvimento Sustentável

pag. 64

Como anda a sua?

pag. 68

Também é assunto de mulher Eles disseram Crítica de Mídia

pag. 72 pag. 74

pag. 76

Uma questão de escolha!

pag. 78

Ano novo... Novidade de vida?

pag. 80

E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve, porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. (Apocalipse 21:5)

pag. 84 Do Oiapoque ao Chuí, não! De Sonora a Juti pag. 86 Das aldeias aos estúdios pag. 90 pag. 94 Alto Astral! Alto Verão! Caminhos do Brasil na Copa

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edição anterior

y editorial

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Caros Leitores,

DIRETORIA EXECUTIVA: João dos Santos / Ailton Dias DIRETOR ADMINISTRATIVO: João dos Santos DIRETORIA FINANCEIRA: Claudete dos Santos CONSELHO EDITORIAL: Ailton Dias / João dos Santos Claudete dos Santos REDAÇÃO: Maria Alice Campagnoli Otre / Caroline Oliveira / Ellen Kotai COLABORADORES: Andressa Mello / Adriano Moretto/ Claudia Ruas / Esmael Machado / Indira de Brito / Luiz Eduardo Gasperin / Joyce Marques REVISÃO: Rafaela Bonardi FOTOGRAFIA: Ellen Kotai CAPA FOTO-MONTAGEM: Thomas Henrique DIREÇÃO DE ARTE: Acácio Junior / Thomas Henrique CHEFE DE IMPRESSÃO: Fernando Hoston DIAGRAMAÇÃO: Acácio Junior / Thomas Henrique ASSINATURAS: Ozeni Silva Ferbonio - 67•3425-7264 CARTAS À REDAÇÃO: redacao@revistahaley.com.br

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A Revista Haley é uma publicação mensal da Marindress Editora Gráfica. É proibida a reprodução de reportagens e anúncios sem autorização. Os anúncios e ofertas são de inteira responsabilidade dos anunciantes. Os artigos publicados refletem as opiniões dos articulistas. AVULSO: R$ 9,50. ASSINATURA ANUAL: R$ 100,00

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Chegou 2010! O ano que por muito tempo representou o futuro, em que acreditávamos que os carros voariam e que os robôs fariam parte do nosso dia a dia. De tudo que imaginamos, muitas coisas se realizaram, algumas superaram as expectativas e outras ainda são planos. Porém, o que era futuro já é presente. E o presente que vivemos neste 2010 traz ainda consigo a esperança de sentimentos que se renovam, de dias mais humanos e fraternos, de tecnologia que se alia à solidariedade em favor do homem. Com esse desejo, apresentamos na primeira edição deste ano, 29 motivos para você ler a Haley. Aqui você tem um encontro com Clodoaldo Araújo, vencedor do Aprendiz 5, que dá dicas exclusivas de como vencer profissionalmente. A entrevista do mês casa muito bem com a matéria de capa, a busca pela estabilidade profissional e financeira e a vida difícil que os concurseiros levam para atingir seus objetivos. Ainda no ramo dos empreendimentos, você acompanha o trabalho das incubadoras de empresas tecnológicas e empreendimentos sociais, que vêm alavancando iniciativas solidárias e empresariais na região de Dourados. Além das questões profissionais, temos dado ainda atenção especial às famílias, e nesse sentido, trouxemos para você discussões sobre amigos imaginários infantis, sobre como escolher o melhor animal de estimação para seu filho, os obstáculos ao decidir pela primeira escolinha da criança e a mudança da moda infantil influenciando diretamente no comportamento dos pequenos. Para as mulheres, chamamos a atenção para um tema que embora pareça batido, mata ainda 11 mil mulheres por ano: o câncer de mama e a importância da mamografia. O pré-natal também é enfatizado, como garantia de saúde para a mãe e para o bebê, e por fim, a relação entre mulheres e carros, que se dá cada vez de maneira mais intensa. Além desses temas, você acompanha ainda como o novo universitário que chega a Dourados sobrevive e movimenta a cidade, destaques sobre o turismo alternativo no MS, a relação entre a pintura corporal indígena e as tatuagens, a importância do desenvolvimento sustentável, os perigos do urânio e a diferença entre produtos orgânicos ou hidropônicos. Direitos do consumidor, o trabalho da associação Salvare do Corpo de Bombeiros e as alterações da tireoide completam suas possibilidades de informação com qualidade. Com tanto conteúdo e variedade, queremos iniciar este ano ao seu lado. E, para isso, trazemos Carlos Drummond de Andrade que deixa a dica: “Para sonhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” Para este 2010, força total! Vem com a gente!


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entrevista y

Mais que um aprendiz Clodoaldo Araújo, vencedor do Aprendiz 5 da Rede Record, fala sobre as experiências, a participação no programa e dá dicas para quem deseja empreender e alcançar o topo na carreira profissional Andressa Mello

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o Brasil, o empreendedorismo está ligado à juventude. Pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor 2008 (GEM) mostra que o País ocupa o terceiro lugar no ranking de pessoas com idade entre 18 e 24 anos que mais empreendem. São 3,2 milhões de jovens, o que equivale a 25% dos que estão nessa faixa etária. Mas se sobra força de vontade, falta criatividade! No que se refere ao lançamento de produtos novos e do uso de techaley - Como foi sua carreira profissional antes do programa e como ela o ajudou a chegar ao Aprendiz 5?

Clodoaldo Araújo - Eu sempre fui uma pessoa bastante determinada, o que é algo que ajuda em qualquer lugar. Venho de uma família bastante pobre e tínhamos como grande meta vencer. Eu fiz engenharia mecânica, mudei para os Estados Unidos para fazer MBA com ênfase em empreendedorismo, voltei para o Brasil, fiz engenharia civil, gestão estratégica de negócios e gestão industrial. Fiz também um curso no Sebrae, que treina as características do comportamento do empreendedor. Na carreira, trabalhei dez anos em uma empresa e seis anos na minha própria empresa.

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nologias disponíveis, há menos de um ano no mercado, o Brasil é o 42º colocado na pesquisa. Somente 3,3% dos empreendimentos inovam. Se você é um empreendedor ou deseja se tornar um, fique de olho! Nesta entrevista, o empresário de sucesso Clodoaldo Araújo, vencedor do Aprendiz 5 e sócio de Roberto Justus, dá algumas dicas de como vencer no trabalho. A vida inteira foi importante a somatória de todas as coisas que aconteceram... Fui até candidato a vereador, engoli sapo que até Deus duvida! haley - O que você aprendeu no programa e trouxe para seus negócios? Clodoaldo Araújo - Nesses quatro meses, eu aprendi que com foco você consegue tudo, mas tuuudo meeesmo! Uma meta clara e bem definida faz a diferença. Você precisa associar visão, determinação e capacidade de mobilizar recursos e pessoas. Acho que isso foi o aprendizado que eu acabei tendo, o resumo que eu fiz.


haley - O que mudou na sua vida depois de ganhar esse prêmio?

Clodoaldo Araújo - Negligência a qualquer detalhe. Tem que estar atento e monitorar tudo.

Clodoaldo Araújo - Hoje eu não tenho mais tempo (risos). Eu fazia happy hour na sexta-feira em minha casa, não faço mais. Aprendi muito. Conheci quase todo o Brasil com as palestras. Acho que eu vivi uns 30 anos nesses dois anos. O pessoal acha que, ganhou dois milhões, é sócio do Roberto Justus, é famoso, é tudo lindo e maravilhoso, mas não é bem assim. Tem muita coisa acontecendo, a gente se estressa bastante também, é uma correria danada.

haley - O que é preciso observar na hora de fechar grandes negócios?

haley - Durante o programa, você colocou a ansiedade como seu ponto fraco. Até que ponto você acredita que ela seja prejudicial? Clodoaldo Araújo - A ansiedade é algo que atrapalha quando inibe. Quando você tem alguns medos. Mas ansiedade para fazer um bom negócio, algo perfeito, bacana, acaba sendo uma mola propulsora. Na verdade, é uma questão de bom senso, é uma linha tênue... haley - Você coloca também que o seu ponto forte é o perfil empreendedor. O que uma pessoa precisa ter para se caracterizar dessa forma nos dias de hoje? Clodoaldo Araújo - Meta bem clara e definida. Se você não sabe aonde quer chegar, qualquer lugar serve. Acho que a questão é querer e ter atitude. Não adianta nada pensar: ‘eu quero montar um posto ali porque acho que vai dar certo’. Daí eu passo e vejo, ‘hum, montaram um posto ali e deu certo’. Sou um visionário? Sim. Mas não tenho atitude. Então não adianta nada. Acho que é esse conjunto. Quanto mais clara a meta, maior e melhor é a capacidade de transpor obstáculos, isso é diretamente proporcional. haley - Você chegou à final do aprendiz 5 ao lado do empresário Henrique Sucasas, candidato que ficou conhecido durante todo o programa como ‘o polêmico’, o fato de você ter sido mais carismático, ter um bom relacionamento, foi determinante para sua vitória? Clodoaldo Araújo - Acho que sim. Para qualquer tipo de empreendimento tem que ter uma capacidade grande de mobilização de pessoas. Você tem que ter um time, tem que ter uma equipe. As pessoas são únicas. Cada um tem seus sonhos, seus objetivos, anseios, medos, desejos... E como líder, você tem que conhecer a capacidade de cada pessoa. haley - O que você destacaria como pontos fundamentais para que uma empresa cresça? Existe uma receita? Clodoaldo Araújo - Eu ainda sou bem cético quanto a isso. Muitas vezes as pessoas não crescem porque não sabem aonde querem chegar. Isso é um problema. Qual a receita? A empresa só vai ter sucesso mobilizando pessoas, tendo atitude, monitorando, delegando funções, tendo organograma bem montado, uma série de detalhes que contribuem para essa vitória ou para esse fracasso. haley - E o que não pode existir?

Clodoaldo Araújo - Um milhão de coisas. É importante saber os seus limites e ser estratégico. Que vantagem que eu quero? Até que ponto eu posso ceder? Qual é o meu posicionamento estratégico quanto a esse negócio? Precisa estar preparado para todas as perguntas, colocar-se no lugar do seu interlocutor. Ele vai colocar alguma objeção, então, esteja preparado para tudo. Um bom planejamento é essencial para se fechar um bom negócio. haley - Em sua opinião, há algum setor de destaque para se investir? Clodoaldo Araújo - Na verdade, não. Claro que você tem o pré-sal, copa, olimpíadas... Mas tudo é uma questão de estar atento. O que é empreender? É você dançar conforme a música. Não tem setor que é melhor que outro, tem pessoas que são melhores que outras. Tem gente que ganha dinheiro fabricando lenço até hoje. É a maneira de se fazer. O importante é inovar, é estar atento! haley - Com uma equipe já montada, qual é a melhor forma de fazer com que todos os funcionários trabalhem bem e tragam benefícios para a empresa? Clodoaldo Araújo - Acho que o importante é alinhar o sonho das pessoas aos sonhos das empresas. Algumas empresas que não têm grandes líderes acabam negligenciando isso. Se eu sei o seu sonho, eu posso ajudar na realização disso. É uma via de mão dupla. haley - E quando o investimento não dá certo. O que é preciso fazer? Clodoaldo Araújo - Sair correndo, chorar, sentar (risos). Porque a gente erra. Fundei várias empresas e afundei algumas. Isso é normal. Thomas Edison descobriu a lâmpada na etapa de número mil, perguntaram: ‘Você não se cansou de tanto errar? Não, descobri 999 maneiras de como não fazer, na milésima vez eu acertei’. Na verdade, o importante não é quantos tombos você cai, mas saber levantar e gerir essa crise. Bill Gates fala isso, “problemas todo mundo tem, quem melhor resolvê-los é que terá sucesso”. haley - MS tem sua economia ligada à agroindústria. Como aproveitar esse setor para crescer? Clodoaldo Araújo - Aí fora no mundo tem tanto espaço pra se vender, pra se fazer fusão. Fiquei sabendo que tem pessoas de fora buscando parcerias nesse setor com o Brasil. O importante é entender que o mundo está globalizado, pensar grande. Você tem que ver o mundo maior que Mato Grosso do Sul, maior que Dourados, maior que o Brasil. haley - Quais conselhos você daria para quem quer ser um aprendiz profissional?

Clodoaldo Araújo - Saber exatamente aonde se quer chegar. Acho que o importante para o aprendiz, o cara que está começando a carreira, é ter metas claras e correr atrás, ter atitude! y

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carta do leitor “Quero parabenizar a toda equipe da Haley por esta revista de qualidade e que nunca se viu aqui em Dourados. São assuntos muito interessantes... Não é sensacionalista, nem atrelada à política, o que é muito importante. Mas, enfim, quero dizer que além do bom conteúdo, tem um colorido todo especial, material também de muita qualidade. Estou fazendo tratamento dentário em uma clínica e sempre que vou para minhas consultas não deixo de ler a revista. Parabéns a todos!”

Joana Romero, fiscal de Obras da Prefeitura Municipal.

“Prezados amigos da Haley, gostaria de parabenizá-los pelo trabalho realizado de forma profissional e sem o uso de sofismas, enfatizando a importância da publicação de matérias referentes à saúde e a demais temas proeminentes. Como sugestão de pauta, recomendo a produção de materiais a cerca da cultura regional, tão questionada e desconhecida por muitos naturais da região, ou estudantes vindos de várias partes do País. É importante e um desejo pessoal, como estudante de comunicação que sou, que fatos relacionados à promoção de trabalhos sociais – sem conotação política – sejam expostos com maior constância e destaque nas edições da revista.” André Bento, acadêmico de jornalismo da Unigran.

“Diante de inúmeras revistas e jornais impressos que surgem no mercado a cada ano, a 9ª edição da revista Haley vem como prova de que este importante veículo de comunicação veio para ficar, afinal, já é quase um ano de informações com credibilidade e responsabilidade.” João Pires, jornalista

“Acompanhamos a Haley desde a sua primeira edição e parabenizamos pela diversidade de assuntos, atendendo aos diferentes tipos de leitores. Entretanto, temos algumas sugestões, como por exemplo, seções direcionadas ao público jovem. O assunto educação e cultura poderiam ter abordagens amplas e também localizadas, uma vez que esta revista tem sido base de leitura por estudantes do Ensino Médio.” Fátima e Corali Frota, leitoras.

seja qual for o assunto a haley quer saber!!! 10

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“A revista já impressiona pela qualidade gráfica pouco vista em outras revistas. O conteúdo está bem elaborado, com temas que realmente chamam a atenção do leitor. Como sou da área da publicidade, a maioria dos anúncios está realmente interessante e espero que isso leve outros anunciantes a “instigar” a vontade do cliente, e não somente indo direto ao assunto. Por fim, gostaria de propor como tema alguns assuntos que acontecem em Dourados e pouca gente sabe na área de projeto de pesquisa, onde alunos de faculdades fazem alguns trabalhos aproximando a sociedade da universidade. No mais, está de parabéns toda equipe e que em 2010, a Haley continue com a mesma eficácia.” Naldo Rocha, produtor de áudio.

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redacao

revistahaley.com.br


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educação

De fraldas e

na na escola?! escola?!

Decidir a hora certa de matricular o filho na escolinha tira o sossego de muitos pais. A fase de adaptação, então, nem se fala. O importante é conhecer as escolas, vencer a insegurança e pesar o que será melhor para a criança

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Maria Alice Otre

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ue os filhos não ficarão para sempre na barra da saia ou calça dos pais, é fato. Todos sabem. Aceitar, porém, os momentos em que eles começam a se distanciar, já é outra história que exige muito preparo, controle emocional e um período de adaptação. Medo, insegurança e incertezas sobre como os filhos serão cuidados são as primeiras sensações que tomam conta dos pais que procuram uma escolinha. O período pré-escolar, neste contexto, deixa marcas de como foram os primeiros dias de aula e, antes disso, como escolher o local em que as crianças passarão boa parte dos dias. Nesse momento, preocupações com a grade curricular, proposta pedagógica ou o nível de desenvolvimento intelectual que a escola proporcionará valem menos do que como as crianças serão cuidadas, se terão atenção suficiente, se correm muitos riscos de se machucar, ou ainda, se estarão felizes no novo ambiente. Cinco meses após a chegada do primeiro filho, Carla Silvana Fabbro Francelino voltou ao trabalho e passou pela árdua tarefa de decidir onde deixar o pequeno Gustavo para voltar à rotina. Entre a babá e a escolinha, ela preferiu a escola. “Primeiro conversei com pessoas que já deixavam seus filhos na escola, a partir daí fiz a opção. Também pela segurança que a escola me passou e pelo fato de serem vários profissionais cuidando dele”, garante a mãe. Durante a pesquisa em Dourados, ela usou vários critérios para escolher a melhor opção. “Passei a visitar as escolas, ver o funcionamento de uma forma geral. Visitei três locais que aceitavam bebês. Analisei se o número de funcionários era compatível para o número de crianças, o ambiente onde ele ficaria e se a escola me permitia entrar a hora que eu quisesse para ver meu filho”. Nas visitas, algumas coisas foram fundamentais para garantirem a decisão da mãe. “Fui a uma escola e conversei com a diretora, ela me explicou o funcionamento e na hora de conhecer o local, eu não pude entrar, apenas seria permitida a visita quando as crianças não estivessem mais lá, isso me causou muita insegurança”, conta. Positivamente, o que mais pesou na decisão foram as conversas com pais que deixavam ou haviam deixado seus filhos na escola. Além disso, o tempo em que a instituição está na cidade contou positivamente. Por fim, garante Carla, “os profissionais envolvidos no contato com as crianças como psicopedagoga, nutricionista e odontopediatra me pareceram satisfatórios”. Os estudiosos da Educação Infantil apontam ainda que avaliar se a escola oferece atividades diferenciadas

e educativas, que estimulem o desenvolvimento motor e social das crianças é importante. A infraestrutura deve dar conta de brinquedos, áreas verdes e locais seguros, em que a criança possa desenvolver sua autonomia. A forma como a criança irá se alimentar e qual a qualidade dos alimentos também é importante, tanto quanto a qualidade e a quantidade dos professores. Avaliado todo o check list, os pais passam então a uma nova fase: a de adaptação dos filhos na escola, dos pais sem os filhos e dos filhos sem os pais. Nem sempre esse processo acontece sem imprevistos. “Foram difíceis os primeiros dias, mas aí eu o deixava apenas por uma hora, no outro dia, deixei um pouco mais, fiz esse procedimento por três dias. Depois voltei a trabalhar e sempre ligava pra saber como ele estava”, conta Carla. Junto a essas estratégias, ela desenvolveu um esquema que atestasse que o filho estava sendo bem cuidado. “Além de passar na escola de surpresa, com certeza o humor dele é a resposta mais concreta que temos. Quando chega à escola ele se joga no colo das tias e fica super feliz em ver os amiguinhos.” Para a pedagoga e diretora de uma escola que atende crianças de 0 a 5 anos em Dourados, Márcia Suzuki Pimenta dos Reis, cada um dos pequenos responde a esse período de adaptação de uma maneira. “Tem crianças que choram por mais tempo, outras, nunca choraram.” O mais importante nesta fase, garante ela, é que os pais estejam preparados e seguros de que colocar seu filho na escola é o melhor para ele. “Se a mãe está insegura, não há quem agrade a criança e o nosso trabalho não rende. A partir do momento que os pais começam a se tranquilizar, a criança muda radicalmente e se adapta. É engraçado, mas é assim que funciona”, conta Márcia. Dentre os benefícios que a escolinha pode trazer para os pequenos, a pedagoga aponta a questão da socialização; disciplina, já que a criança passa a conviver com regras e limites; rotina de alimentação; desenvolvimento da coordenação motora; desinibição em público, pois desde cedo se apresenta para a comunidade escolar; e o próprio processo educativo da alfabetização. A partir do momento em que os pais percebem que a criança está sendo estimulada no respeito a seus limites e que aquele passo pode ajudá-la futuramente, o processo de aceitação da família é muito maior. Um ano após a escolha, Carla tem a certeza de que tantos cuidados ao decidir a escolinha e no acompanhamento do Gustavo durante a adaptação, apesar do sofrimento, valeram a pena. “Agora quando ele está na escola eu estou tranquila”.

Débora Beni, pedagoga, orienta no site “Guia do bebê” quanto a informações importantes sobre o processo de adaptação da criança.

• A decisão de colocar seu filho na escola deve resultar de atitude pensada, consciente e segura; • A ida da criança para a escola deve ser preparada; entretanto, evite longas explicações para ela, pois isso pode despertar suspeitas e insegurança; • O choro na hora da separação é frequente e nem sempre significa que a criança não queira ficar na escola; • Cabe à mãe entregar a criança ao educador, colocando-a no chão e incentivando-a a ficar na escola. Não é recomendável deixar o educador com o encargo de retirar a criança do colo

da mãe;

• Nunca saia escondido de seu filho. Despeça-se naturalmente. • Incentive a criança a procurar a ajuda do seu educador quando necessitar algo, para que crie laço afetivo com ele; • Se os pais confiam na escola, sentirão segurança na separação e esse sentimento será transmitido à criança, que suportará melhor a nova situação; • A adaptação das crianças de período integral inicialmente deve ser feita em um turno (manhã ou tarde). y dezembro 2009 • haley

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eu nome é Liria Matsukura, tenho 34 anos de idade e estive no Japão desde meus 18, onde conheci meu marido, Marcos Taira. Ele tem 38 anos e morou desde os 19 lá. Voltamos para o Brasil em janeiro deste ano, para realizar um trabalho motivacional a todos os brasileiros. Quando conheci Marcos, ele já fazia esse trabalho e entendendo a sua história, passei a admirar o seu trabalho e o ser humano especial que ele é. Marcos é sansei (terceira geração de japoneses), teve paralisia infantil quando bebê e tem deficiência na perna direita, por isso, tem dificuldades para andar. Além disso, teve descolamento da retina do olho direito, o que fez perder 100% de sua visão. Houve muita dificuldade quando ele decidiu ir para o Japão, pois nenhuma agência queria financiar sua passagem e nem arcar com a responsabilidade de enviar um trabalhador com deficiência física. Mesmo assim, Marcos queria ir conhecer o país, a tecnologia, a cultura. Então, vendeu seu carro e outros bens e, sozinho, foi

para o Japão, onde ficou desempregado por vários meses. Lá, mesmo sem saber falar a língua, bateu na porta de muitas empresas pedindo emprego, mas os japoneses faziam gestos como ‘não temos nada’, ‘vá embora’. E ele, muito triste, chorava, porém, não queria desistir de seu sonho e mostrar sua capacidade. Por isso, começou a estudar a língua japonesa e pensava: “Vou aprender essa bendita língua!”. Assim, com a ajuda de dicionários, escreveu frases mais ou menos assim: “Senhor empresário, me dê uma chance de trabalhar e se meu trabalho não for satisfatório, não precisa me pagar!”. Um dia, um japonês comovido deu uma chance a ele permitindo que mostrasse sua capacidade. Muito agradecido, Marcos se esforçou o dia inteiro e, no final do dia, o japonês bateu em suas costas e disse que poderia voltar amanhã. Assim, Marcos conseguiu seu primeiro emprego no Japão. A partir daí, observando a cultura e os costumes, ele aprendeu a língua e se tornou intérprete, depois gerente de grandes empresas como Sharp e Sony e até chegou à vice-presidência do Sindicato dos Trabalhadores. Conviveu ainda por 15 anos com advogados japoneses, quando aprendeu e trabalhou com as leis da área criminal, civil e trabalhistas do país. Baseado em sua experiência adquirida no dia a dia e facilidade de comunicação, criou um tipo de metodologia para que as pessoas, realmente, entendessem o que ele queria mostrar e nasceu o que chamamos de método Junban, que significa: ‘na ordem’, ‘em sequência’. As pessoas que Marcos atendia ficavam impressionadas com a visão que ele tinha e a forma, tão simples, de explicar e ensinar. O resultado era o reconhecimento das pessoas em agradecimento à mudança na vida após o ensinamento de Marcos e aplicação por elas mesmas. Coisas tão simples que nem eram notadas e que são esses detalhes que fazem a grande diferença entre ter e não ter problemas. Hoje, de volta ao Brasil, estamos espalhando o projeto iniciado no Japão com o objetivo de contribuir também na vida dos brasileiros. Não importa como e em quanto tempo, o que queremos é somente fazer o trabalho para que todos vivam melhor. Buscamos diminuir falhas de comunicação entre as pessoas, evitar brigas, discussões, assim, desaparece o ato de julgar e culpar os outros e ao ajudar as pessoas a ficarem mais humildes e responsáveis pelos seus próprios pensamentos, ações e atitudes, o clima no trabalho e na vida fica mais tranquilo e, com certeza, mais feliz para cada um de nós, amenizando-se o famoso estresse. Agradecemos à revista Haley pela oportunidade e aos seus leitores. Um abraço a todos!

A próxima pode ser a sua, envie-nos com algumas fotos

redacao@revistahaley.com.br 14

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comportamento

Amigo, mas Caroline Oliveira

Para as crianças, ele existe, tem nome e precisa ser tratado com carinho. O amigo imaginário é tido como fiel companheiro para conversas e brincadeiras. Além disso, é o primeiro contato que ela tem para entender o significado da palavra amigo 16

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imaginรกrio

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educação

Novo passo,

nova vida

nova vida

Após a temporada de vestibulares, os novos universitários chegam com a bola toda movimentando suas vidas com novas experiências, desafios e ideais, mas também o comércio, o mercado e a economia da cidade

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Ellen Kotai

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aneiro chegou! Junto com o mês que abre o ano, muitas novidades e planos. Para os universitários calouros que acabam de ingressar na universidade é época, sobretudo, de novidade. Passando do Ensino Médio para o Ensino Superior, tudo se torna diferente e atrativo. Porém, como nada é feito de mil maravilhas, logo vêm dificuldades e atribulações. Vai estudar fora? “Simbora”! Dourados espera receber cerca de 4.000 novos alunos em diversas faculdades e cursos, número estimado na quantidade de vagas disponíveis pelas universidades da cidade. Mayra Ferreira Maris, 17 anos, que mora em Maracaju, está prestes a viver uma nova vida por aqui. Disposta a se mudar para Dourados para cursar uma faculdade, ela diz que decidiu encarar essa mudança por falta de opção de cursos em sua cidade. “O que eu pretendo estudar está disponível só em Dourados”, diz. Por isso a necessidade da mudança. A estudante prestou vestibular para dois cursos em diferentes universidades; Engenharia Ambiental, em uma, e Biotecnologia em outra, e decidirá qual fazer assim que for aprovada. Dentre as dificuldades que Mayra imagina ter, a distância da família será a mais intensa. “Morar longe dos meus pais, com toda certeza, vai ser a pior coisa, pois nunca fiquei muito tempo longe deles”, declara, porém acrescenta que nesta nova fase vai buscar encontrar soluções e superações para esses problemas. “Vou ter que me acostumar, afinal vou fazer 18 anos daqui uns meses. Já estou ficando bem crescidinha”, brinca a

garota. Sarah Gonçalves, universitária vinda de Mundo NovoMS, mora há três anos em Dourados. Ela concorda com Mayra quanto às dificuldades impostas pela distância. “O fato de eu nunca ter saído de casa e ser muito ligada à minha mãe e avó ajudaram a tornar as coisas mais difíceis”, diz. Ela relata ainda que no início tinha poucas amizades, e pensou até em desistir, mas encontrou forças em sua vontade de vencer. As dificuldades do dia a dia ainda assustam Mayra, que acredita que terá que fazer tudo sozinha sem a presença da mãe daqui pra frente. Ela comenta que isso nunca aconteceu antes, mas que este período servirá, sim, para ela adquirir mais experiência e responsabilidade, tanto pessoalmente quanto na profissão que pretende seguir. Dividir casa com amigos, aprender a cozinhar, lavar roupas e cuidar da casa são alguns desafios que muitos universitários encaram, além de arcar com responsabilidades de pagamento de contas e organização financeira. Tudo isso e mais a intenção de estudar e conseguir boas notas se encontrando na profissão escolhida. Tarefas nem tão simples como imaginam os pais, porém, não tão difíceis e complicadas como imaginam os filhos. Sarah, a acadêmica já mais acostumada ao ritmo imposto pela vida universitária, diz que já se sente uma vencedora. “Morar longe de casa, ter de conciliar estudos e trabalho, às vezes, conseguir manter o saldo bancário no azul, tudo isso é um sentimento inexplicável”, e acrescenta: “e pen-

sar que falta apenas um ano para realizar meu sonho! Já me sinto realizada pelo tanto que evolui, cresci e aprendi”, enfatiza. Prestes a sair de Maracaju exclusivamente para se dedicar aos estudos, Mayra confessa que se sente muito insegura com esses novos desafios e mudanças, mas também determinada a cumprir seus deveres. “Espero ir muito bem no curso, pois quero me formar para poder exercer minha profissão”, diz.

No centro das atenções Período de muitas mudanças para estudantes como Mayra, mas que vai ao encontro dos planos de Souza Dias, dono de uma lanchonete nos arredores de uma universidade. A movimentação dos estudantes é essencial para o sucesso de seu negócio que é exclusivamente voltado para o público jovem e universitário. Um comércio sazonal, que funciona em períodos específicos, pois quando a faculdade fecha, a lanchonete é também fechada. Porém, já acostumado com os períodos de férias, Souza se planeja durante o ano para não ficar no prejuízo. “Quando iniciamos o ano e começamos a trabalhar, já vamos separando alguma coisa para este período sem alunos”, explica, e dessa maneira faz da movimentação dos alunos o seu sustento. Numa lógica simples, Souza Dias não teria seu comércio não fossem os alunos na cidade. E assim, acontece com muitos comerciantes que se voltam exclusivamente

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para o público universitário, principalmente donos de restaurantes e lanchonetes ao redor das universidades. No minimercado próximo à Unigran, o funcionamento é constante e não é influenciado pela sazonalidade, atendendo além de estudantes, moradores do bairro e de outras regiões. Neusa Minohara, proprietária do minimercado, enfatiza que os estudantes representam cerca de 30% dos fregueses do estabelecimento, uma quantia muito representativa para a receita do comércio. Sarah Gonçalves utiliza bastante dos serviços próximos à faculdade. “Isso facilita muito a vida, pois os alunos que vêm de fora, como eu, não têm locomoção na cidade, além disso, a correria das aulas faz com que não tenhamos muito tempo para ir a lugares longes, por isso a praticidade sempre é a melhor opção”, diz. No mercado imobiliário, os estudantes também estão com tudo e têm uma parcela de imóveis voltada para eles. Hoje, cerca de 30% dos imóveis alugados estão sendo ocupados por universitários e mais de 60 apartamentos, além dos já existentes, estão sendo acabados nos arredores de universidades para recebêlos. Uma opção para Mayra, entrevistada no início desta matéria, que declarou estar desesperada com a situação de ainda não saber onde e com quem vai morar. A procura por moradias estudantis e de professores significa um aumento de 100% nas locações nesta época do ano, comenta Tatiana Medeiros,

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do setor de locações numa imobiliária da cidade. Isso modificou até mesmo as datas de trabalho da equipe que agora fica disponível, inclusive, no período entre as festas de final de ano. “Estudantes são muito importantes para a movimentação imobiliária, e são na maioria das vezes bons clientes que têm como fiadores, seus pais. Professores também acrescentam bastante nesta época, pois muitos vêm de fora para trabalhar e buscam casas nesta época do ano”. A locadora de imóveis afirma que o público universitário é diferencial para a empresa, que usa de estratégias direcionadas para melhor atendê-lo. “Quando os estudantes chegam aqui, fazemos uma análise do perfil dos moradores, no caso se vão morar em três num apartamento, por exemplo. Vemos qual lugar ele se encaixaria melhor de acordo com os moradores e faixa de preço e só então indicamos a moradia”. Hoje existem condomínios de prédios destinados somente a estudantes, com regimento interno adaptado a esse público. “É necessário modificar alguns itens do regimento, pois o público é diferente de famílias, por exemplo”. A locadora dá uma dica para aqueles que estão à procura de um lugar agradável para morar, mas que não abrem mão do objetivo principal dos estudantes, que é se dedicar aos estudos. “O bom senso deve sempre ser utilizado”, diz. Algo importante numa nova fase com tantas pessoas na mesma situação, agir com discernimento e bom senso é algo essencial. y


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bichos

Escolha o Andressa Mello

companheiro

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er um animal em casa pode ser determinante para a vida de muitas pessoas. No desenvolvimento infantil, a tarefa de criar um animal de estimação pode ser fundamental. “Através da interação com o bichinho escolhido a criança poderá desenvolver, além das noções de higiene e cuidados, o senso de responsabilidade, que é fundamental para a vida adulta. Não adianta cobrarmos de um adolescente, ou até mesmo de um adulto, aquilo que não lhe foi ensinado enquanto criança”, afirma a psicóloga Marinez

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Gimenes. A dúvida surge não só na decisão de ter, ou não, um animal, mas também em saber que tipo escolher. “Hoje existe um leque muito grande de animais de estimação que você pode ter em casa. Em São Paulo, tem registros até de suínos em apartamentos”, afirma a médica veterinária Maria Teresa Pietramale. “Com quase 24 anos de experiência, eu acredito que para crianças o mais indicado são cães e gatos. A própria natureza fisiológica deles está mais adaptada à proximidade com o ser humano. Os animais exóticos exigem um cuidado muito maior”, complementa. Mas esse desafio não assusta Leonardo Melo. O adolescente de 15 anos se diz apaixonado pelos bichos, principalmente os exóticos. “Gosto da maioria dos animais, incluindo os ‘convencionais’, mas sempre gostei de animais exóticos. Cobras são minhas preferidas. Já tive muitos bichos, hoje tenho uma tartaruga, um lagarto e um cachorro”. Mas ele não nega que dão muito trabalho. “O cuidado é maior, temos que reproduzir um ambiente no qual eles se sintam na natureza, isso exige mais responsabilidade”. Assumir qualquer animal dentro de casa é uma tarefa difícil, por isso é preciso paciência por parte dos pais. “Não adianta querer que logo de início a criança assuma sozinha, pois ela pode não ter a maturidade necessária para isso. É preciso ajudar neste processo”, afirma a psicóloga. “As ligações afetivas que as crianças estabelecem com seus animais de estimação auxiliam no desenvolvimento e crescimento emocional. Uma pesquisa feita no Estado do Kansas nos USA aponta que crianças que possuíam animal em casa apresentaram desenvolvi-


ideal mento cognitivo, social e emocional superior àquelas que não tinham um bichinho de estimação”, complementa. Manter uma relação de carinho com o animal também é importante tanto para o dono quanto para o bichinho, mas quando ela chega ao exagero é hora de se preocupar. Para a médica veterinária, tratar cães e gatos como filhos ainda é um tabu. “É preciso ter cautela. Os animais têm contato com chão, cheiram tudo. Você tem que arrumar uma maneira de educar essa criança a não ficar dando nada na boca, não deixar o contato excessivo e evitar que o cachorro lamba a criança”. De acordo com a especialista, manter esses animais de estimação com a saúde totalmente íntegra também é importante. A partir do momento em que se têm todos esses cuidados o risco de acontecer algo negativo é quase nulo. “A criança tem que entender que os animais têm seus hábitos e, por isso, devem ser tratados como animais. O relacionamento afetivo com seu bichinho não pode substituir o relacionamento com pais, irmãos, amigos, etc. Caso a criança extrapole os limites e exagere na relação com seu animal de estimação, os pais devem procurar ajuda de um especialista, pois ela pode estar usando o bichinho como fuga para algum problema que esteja passando”, alerta a psicóloga.

Exóticos, mas carinhosos Há quem goste e diga que os animais exóticos têm sim uma relação de carinho com seu dono. Para Leonardo Melo, que tem paixão por esses animais, a relação é mútua. “Tento agradá-los e transmitir o máximo de cuidados possíveis com eles. Pra mim, os exóticos conseguem transmitir mais carinho, a seu modo, é claro”. A médica veterinária concorda com a opinião de Leonardo e diz ser testemunha de casos semelhantes. “Uma cliente que teve um iguana comentou que o animal tinha um carinho especial tanto por ela quanto pelo filho. O iguana até atendia ao chamado. Não é aquela afetividade que o cão e o gato têm, é diferente, eles são mais independentes, mas

existe sim uma reciprocidade. Quem tem esses animais dá opiniões positivas em relação a isso”, afirma a médica veterinária.

Qual o melhor bichinho? Para as crianças, os mais indicados pelos especialistas são: passarinhos, tartarugas e peixes, além de cães e gatos. Iguanas, cobras, lagartos e aranhas são indicados para adolescentes e adultos, pois requerem cuidados especiais. Mas atenção! É preciso cuidado também na escolha de cães e gatos, peça ajuda a um médico veterinário na indicação da melhor raça pra você, com certeza haverá alguma que se encaixe mais com seu temperamento e ambiente! y

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artigo

O novo consumidor consumidor

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década de 90 marcou a mudança no perfil do comportamento do consumidor. Primeiro porque, em 1991, entra em ação o Código de Defesa do Consumidor, uma lei abrangente que trata das relações de consumo em todas as esferas: civil, definindo as responsabilidades e os mecanismos para a reparação de danos causados; administrativa, definindo os mecanismos para o poder público atuar nas relações de consumo; e penal, estabelecendo novos tipos de crimes e as punições para os mesmos. A legalização do Código fez com que as empresas começassem a estruturar de forma profissional os seus SACs (Serviço de Atendimento ao Consumidor), que passaram a ser um canal de comunicação entre a empresa e seus clientes, com o objetivo de ouvir atentamente este novo consumidor e transformar suas informações em base para desenvolvimento de novas ações estratégicas. Esse poder atribuído ao consumidor fez com que se tornasse mais exigente, mais criativo, consciente dos seus direitos, com percepção afinada de qualidade e com conhecimento das opções existentes no mercado. Com as novas tecnologias, em poucos segundos, podem estar em suas mãos todos os tipos de produtos, preços, condições de pagamento e, o mais importante, não só locais, mas de qualquer lugar do mundo. Em meio a esta situação, as empresas também precisaram mudar. A chamada “clientela” não existe mais. A esta nova era demos o nome de “one-to-one customer”, onde é vital para a empresa identificar as necessidades dos clientes, reconhecendo que cada um deles tem sua individualidade e aspirações, diferenciadas. Compreender e comprometer-se com esta individualidade é o grande desafio das empresas deste século, pois representa a possibilidade da descoberta de novas oportunidades. Quanto mais uma empresa conhece seu cliente, mais valor a empresa tem para eles. Quanto mais a organização entende e responde às suas necessidades, mais seus produtos e serviços são percebidos como diferenciados.

Claudia Ruas Professora UCDB e publicitária.

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Muitas empresas têm entendido que buscar esse conhecimento – através da estruturação de um banco de dados planejado para o seu negócio – é vital para a sua sobrevivência neste mercado, altamente competitivo. Tais empresas, por isso, são admiradas e reconhecidas como sendo de excelência, mas ainda são poucas. A grande maioria, em pleno século XXI, acredita que basta ter um produto ou serviço com qualidade, colocá-lo à venda e depois esperar, que o cliente aparecerá. É difícil para nossas empresas entenderem que isso não é mais suficiente, que hoje, além de fazer uma melhor combinação de ofertas e dispor o produto certo, na hora certa, no lugar certo e com comunicação certa, é preciso estabelecer um relacionamento íntimo com os novos consumidores, de modo a fidelizá-los. Conquistar o cliente apenas uma vez já não é mais suficiente. Manter clientes é o diferencial na estratégia para se criar vantagem competitiva frente à concorrência. É preciso conquistá-lo sempre, e mantê-lo fiel o maior tempo possível, preferencialmente durante todo o seu ciclo como cliente. Este novo consumidor, que se relaciona todo o tempo através das redes sociais (Orkut, Facebook, Twitter), espera das empresas a mesma coisa. Não quer mais e mais produtos/serviços a todo momento. Espera, isto sim, um relacionamento diferenciado, que tenha como prioridade conhecê-lo e compreendê-lo, para que – na medida do possível – possa lhe oferecer um atendimento mais prestativo, com mais valor agregado, qualidade e PERSONALIZAÇÃO. Portanto, implementar estratégias para conhecer seu estilo, sua percepção e seu comportamento sobre tudo o que o cerca é um objetivo que deve estar na missão da empresa moderna e de toda a sua equipe de trabalho; da alta administração ao nível operacional, todos devem estar comprometidos. Administrar este relacionamento com os clientes é fundamental no mundo de hoje. Trata-se de uma vantagem competitiva: o diferencial. y


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serviço

Homens de

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Maria Alice Otre

um País tão carente de heróis, homens e mulheres se destacam pelo trabalho que fazem em prol da vida: combatendo e prevenindo incêndios, atendendo emergências hospitalares, se colocando em risco para ajudar o próximo. Mas esse lado dos Bombeiros todo mundo já conhece. O desejo de ir além, porém, motiva voluntários da corporação e da sociedade civil a se unirem para atender a sociedade de mais formas, para isso, criaram a Associação Beneficente Salvare. Pois, como disse o sargento e gestor social da entidade, Valdomiro Cardoso Filho, “sempre podemos fazer mais do que fazemos”.

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Fruto de ideais surgidos no Corpo de Bombeiros, a Associação Beneficente Salvare desenvolve projetos que mesclam disciplina militar, base cristã e melhorias sociais


Apesar de nova, a Salvare já atendeu diretamente mais de 300 pessoas com seis projetos que atingem desde recém-nascidos a idosos. O diferencial, garante o sargento, está em se unir à disciplina militar, o desejo de mostrar ao outro que ele tem uma oportunidade de mudar de vida e a base espiritual. A entidade não é composta apenas por Bombeiros, porém, a figura desse profissional é importantíssima para o trabalho desenvolvido. Num dos projetos, intitulado “Bombeiro esperança”, a Associação trabalha com jovens de 15 e 16 anos, considerados problemáticos. Dentre os objetivos, está o de resgatá-los para novas possibilidades, para que enxergassem que o mundo é mais do que o que eles vivem. No projeto, a disciplina é importantíssima, “é sim, senhor e não, senhor!”, garante o sargento. A base cristã e espiritual também ajuda muito. E os resultados têm sido os melhores possíveis. “Esses jovens já estão diferentes. Seis deles estão empregados, e todos estão solícitos em ajudar o próximo, educados, disponíveis à comunidade”, disse Valdomiro. Para o sargento Marcos Antônio Borges, que acompanha os adolescentes de segunda a sexta-feira há seis meses, o respeito que eles passaram a ter foi uma transformação perceptível. “Eles chegaram aqui rebeldes. No começo, eu pensei que não ia aguentar, era muita bagunça, mas agora pegaram nosso ritmo”. Mais gratificante para ele foi perceber que a visão deles sobre os Bombeiros mudou muito e ainda a evolução que tiveram como pessoas. “Os familiares sempre apontam que eles respondem menos e respeitam mais em casa também”. Desde alterações em pequenos atos até grandes mudanças, os Bombeiros acompanham o dia a dia dos jovens nas amizades, famílias, escola. E se alegram com os frutos que colhem. “Temos uma adolescente de 16 anos que já tem dois filhos e nos deu um testemunho interessante. Após uma palestra de drogas, ela disse que se não fosse o projeto, estaria vendendo droga na esquina ou presa”. De acordo com Borges, a adolescente, que teve que voltar a estudar por exigência do projeto,

disse ter descoberto que só por meio da educação poderá mudar a vida dela. “Como diz o comandante, a gente salvando um é uma grande coisa”. Dentre os jovens, que batem continência e seguem as regras militares impostas pela corporação, muitos manifestam o desejo de serem Bombeiros. Porém, diversas outras áreas são incentivadas. Eliton Quinones Couto, por exemplo, aos 16 anos diz ter vontade de estudar filosofia. Ele garante que pegou gosto pela área por meio de leituras que foram incentivadas no “Bombeiro esperança”. E quem vê esse interesse pelo mundo filosófico nem imagina que há pouco tempo o garoto passava as tardes dando “rolê” pelas ruas, tomando tereré e em contato com más influências, como ele mesmo conta. “Agora eu estou aqui pra aprender e crescer na carreira profissional”, afirma. Couto destaca que o que mais gosta no projeto é das aulas de cidadania e o reforço de matemática e português. “Depois que comecei a participar aqui, melhorei muito na escola, na relação com os amigos e família”. Para Priscila Cerdeira dos Santos, o interesse foi outro. “O que eu mais gostei foi das aulas de Atendimento Pré-Hospitalar (APH)”, disse demonstrando seu interesse prévio pela área da saúde. “Quero ser médica e já aprendi que tenho que estudar muito para atingir esse objetivo”. Priscila passou agora para o 1º ano do Ensino Médio e comemora o fato de, pela primeira vez, passar de ano sem pegar nenhum exame. Além do serviço oferecido aos jovens e a todos os atendidos nos outros projetos (ver Box), um dos objetivos da Salvare é promover o voluntariado, por isso, todos os envolvidos dedicam gratuitamente um tempo ao projeto que mais lhes interessa. Ao ser questionado quanto ao que é mais fácil, combater o fogo e tragédias ou as desigualdades sociais, sargento Valdomiro finaliza: “Eu acho mais fácil o incêndio porque a gente vai lá e combate. Para resolver os problemas sociais, depende de muitas coisas, de muita gente”. Fica o convite para unir forças.

Projetos da Salvare Bombeiro esperança - Atende jovens carentes de Dourados, de 15 e 16 anos, e é desenvolvido em três etapas. Na primeira, recebem instruções ligadas à disciplina militar, de combate a incêndios, primeiros socorros, prevenção de acidentes domésticos, civismo e cidadania, educação no trânsito, higiene pessoal, educação familiar e ambiental, reforço escolar e práticas esportivas. Na segunda fase, os jovens são inscritos em cursos profissionalizantes, o que lhes garante novas alternativas de trabalho e na terceira etapa, concretiza-se a inserção do jovem no mercado de trabalho.

so musical e capacitá-los para tocar em recitais. Criança no esporte cidadão do futuro - Juntamente com o Grêmio Recreativo e Esportivo 8 de Novembro e com a Fundação de Desporto e Lazer do Mato Grosso do Sul (Fundesporte), tem como finalidade incentivar a prática de esportes em Dourados, oferecendo os benefícios do esporte para a saúde física e mental, além de socializar. Participam crianças de 5 a 12 anos.

Bombeiro amigo da amamentação - Trabalho de conscientização das mulheres em período de amamentação, da importância de doarem o leite materno no auxílio a bebês internados. Com a participação do 2º Grupamento de Bombeiros de Dourados, atualmente se colhe 24 litros de leite materno por mês, o que antes representava apenas 2 litros por mês.

Doando vida - Feito em parceria com o Hemocentro de Dourados, o projeto visa a fidelizar pessoas, criando uma rede de doadores regulares, já que o Hemocentro está sempre sofrendo com o baixo estoque de sangue. Os participantes do projeto e seus familiares diretos, em contrapartida, têm a provisão de sangue facilitada, caso necessitem, além de disporem dos exames de sorologia completa e pré-triagem em saúde.

Tocando em frente - Uma parceria com a Funced proporciona o aprendizado gratuito de violão a um público diversificado, a partir dos 7 anos. O projeto, que busca integrar ainda mais Corpo de Bombeiros e comunidade, pretende fortalecer o cenário musical em MS, ensinar teorias musicais, desenvolver a audição acústica para formação de alunos sensíveis ao univer-

Viver melhor - Projeto direcionado à melhor idade, proporciona ao idoso a participação em atividades educativas, ocupacionais, sociais e recreativas, aproveitando sua capacidade e prevenindo o isolamento. O projeto oferece orientações por meios de palestras, com geriatras, nutricionistas, educadores físicos, assistentes sociais, psicólogos, entre outros. y dezembro 2009 • haley

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mamografia

Exame

indispensável Anualmente cerca de 50 mil mulheres são vítimas do câncer de mama, sendo que 11 mil vêm a óbito. Medidas como autoexame e, principalmente, a mamografia podem diminuir em 90% a taxa de mortalidade por ser detectado precocemente Maria Alice Otre

A

técnica de enfermagem e esteticista Maria Aparecida Palmeira desfrutava de uma vida tranquila, rodeada do carinho dos netos e da felicidade de ter seu filho recém-casado, quando, em 2007, descobriu que tinha câncer de mama. Ela enfrentou uma cadeia de sentimentos comuns nesses casos, como o medo, raiva e por fim, a decisão de enfrentar a doença com o que fosse preciso. “Durante o autoexame, percebi um nódulo no seio esquerdo. Procurei um médico, mas já tendo em mente de que se tratava de um câncer. Após a mamografia, o resultado deu positivo. Fiquei revoltada e foi muito difícil contar para minha família”. Cida, como gosta de ser chamada, conta que regularmente fazia o exame de mamografia e nada nunca foi detectado, além disso, não há casos da doença na família, talvez por isso, o motivo do choque. No caso dela, o diagnóstico foi radical, pois havia ocorrido uma metástase em toda a mama, sendo então submetida a uma mastectomia (amputação completa da mama). “Tudo

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isso aconteceu muito rápido, por volta de 90 dias. Não conseguia olhar no espelho e me fechei em um mundo particular. Sentia-me deformada e com minha feminilidade afetada”. Casada há 11 anos e mãe de dois filhos, ela diz que se não fosse o apoio que recebeu dos familiares não teria encontrado forças para superar a doença. “Meu marido me surpreendeu, pensei que após a cirurgia ele fosse me abandonar e não foi o que aconteceu, durante todo o tratamento permaneceu firme ao meu lado. Minhas duas netinhas também foram um dos motivos pela minha luta, não podia deixar de vê-las crescer. Por isso, busquei forças e estou vencendo essa batalha, pois o câncer vai te matando aos poucos, ainda mais se você se entregar. Minha família acabou ficando doente comigo e não podia deixar isso acontecer”. Dois anos após a retirada da mama, Cida continua o tratamento de quimioterapia. Ela confessa o sonho de colocar uma prótese de silicone e ressalta: “o autoexame, assim como a mamografia, são indispensáveis para a mulher. Para aquelas que não fazem por medo da dor, eu digo que é melhor sentir essa dor do que perder uma mama ou a vida, essas sim são dores maiores”. A presidente da Associação de Combate ao Câncer da Grande Dourados (ACCGD), Virgínia Magrini, que luta para a construção do Hospital do Câncer na cidade, também foi vítima da doença. “Descobri aos 45 anos durante o banho quando fazia o autoexame. Fui ao médico e quando foi constatado que era câncer, quase morri. Fiquei 15 dias sem contar para ninguém, apenas três dias antes de me submeter à primeira cirurgia é que contei para minha família”, relembra. Ela conta que havia feito o exame de mamografia 30 dias antes de descobrir a doença. “Ele não foi diagnosticado no exame, porque era muito pequeno, tinha apenas oito milímetros, e estava fora da área da mama. Fui submetida a duas cirurgias, uma para a retirada do nódulo e outra para o esvaziamento da axila, pois havia dois gânglios afetados”. Virgínia diz que a parte mais complicada do tratamento foi quando houve a queda dos cabelos. “Eles caíram de uma vez. Lembro que estava no banheiro e não conseguia nem olhar no espelho e muito menos sair de lá. Eu sentia que estava se deteriorando”. Ao todo, foram seis sessões de quimioterapia no ciclo de 21 dias e 33 sessões diárias de radioterapia para ela conseguir a cura. “Quando o câncer foi vencido, eu nasci de novo, mas ainda convívio com o fantasma do medo de ter de novo. Quando vai chegando os dias de fazer meus exames de rotina, eu nem durmo direito e só quando sai o resultado é que tenho aquela sensação de graças a Deus, mais uma etapa vencida”. Maior causador de mortes no Brasil, o câncer de mama é, provavelmente, o mais temido pelas mulheres. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), anualmente são confirmados cerca de 50 mil novos casos. E este câncer é também o que mais mata, são 11 mil óbitos por ano. Além disso, os efeitos psicológicos causados afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem pessoal da mulher. Para combater esses tristes números, entrou em vigor, em abril do ano passado, a lei que garante a mulheres acima de 40 anos a realização de mamografias pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O exame é fundamental para a prevenção da doença, aliado ao autoexame, que deve sempre ser feito pela mulher, seja durante o banho ou até após acordar. A rede pública de saúde do País conta com 1.246 mamógrafos. De acordo com Ministério da Saúde, houve aumento

Cida Palmeira venceu a doença há dois anos.

Virginia Magrini descobriu aos 45 anos de idade a doença.

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de 118% dos exames realizados pelo SUS nos últimos sete anos, sendo que a previsão é que sejam realizadas 3,5 milhões de mamografias este ano e 4,4 milhões em 2011. E apesar de cada 10 brasileiras já terem se submetido à mamografia, levantamento realizado pelo ministério apontou que o exame não é feito com a devida periodicidade. Por isso que a maioria dos casos da doença é descoberta quando já está em estágio avançado. Nessas condições, as chances de cura giram em torno de 25%. Se, no entanto, o tumor é detectado em fase inicial, 90% das mulheres conseguem se livrar da doença. Segundo o médico mastologista Antônio Carlos Gasparotto Hindo, adiar a realização da mamografia só traz malefícios à mulher. “O exame deve ser feito anualmente a partir dos 40 anos, pois ele é o único que pode detectar o câncer em estágio inicial, quando o nódulo não é palpável”. Dados do Ministério da Saúde mostram que 30 anos atrás, 70% dos tumores eram diagnosticados já em fases adiantadas da doença, quando havia pouco ou nada a se fazer. Hoje, 30% são descobertos em tais condições. Mesmo assim, ainda são baixos os números de exames de mamografias realizados no País, os motivos, segundo Gasparotto, são que “muitas mulheres não possuem a orientação adequada da importância da mamografia, além disso, elas alegam que se trata de um exame doloroso, mas digo que é uma dor suportável que pode salvar vidas”.

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Mamografia:

por que aos 40? • É a partir desta idade que cresce o risco das mulheres desenvolverem o câncer de mama. Sendo três vezes maior de acontecer nesta idade do que com mulheres de 30 anos. • Aos 40 anos, o câncer de mama costuma ser mais agressivo, por isso, a necessidade do exame para o diagnóstico precoce. • A cada três meses, o tumor dobra de tamanho em 70% dos casos após atingir um centímetro de diâmetro. Por isso, é alta a probabilidade de acontecer a metástase em dois anos. • Se o câncer for descoberto aos 40 anos, as chances dele estar na fase inicial são de 50% e a cura é garantida em 90%. • A mamografia reduz a mortalidade em 25% das mulheres entre 40 a 49 anos de idade e 14% das que estão acima dos 50. Se você pensa que é pouco, engana-se, pois são cerca de sete mil mulheres que poderiam ser salvas no Brasil. y


artigo

Ano novo tudo tudo novo! novo!

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ais um ano começa, e é comum ouvir a famosa frase: “Ano novo, tudo novo”. Na verdade, dizer essa frase, que ano novo será vida nova, ou que tudo se renova pode parecer mais uma que alimenta a esperança de que tudo será diferente e que o ano que inicia fará com que os sonhos, a paz, a felicidade, tudo acontecerá e realizar-se-á. Vemos muitas pessoas cheias de esperanças e com suas energias e forças renovadas, por conta do ano que se inicia. Mas também vemos pessoas desmotivadas e que não acreditam em mais nada e que essa frase de “ano novo, tudo novo”, nada mais é do que crendice popular. Mas fazer com que o ano novo torne as coisas verdadeiramente novas é uma tarefa que exige de todos nós uma avaliação pessoal e profissional. Rever metas e objetivos é fundamental para ter novas metas e realizações no ano que nasce, e essas metas têm que ser feitas com muito entusiasmo e principalmente comprometimento para a suas realizações. Quando você leitor estipula uma meta ou objetivo e não tem entusiasmo e comprometimento ficará muito difícil realizar ou

cumprir tais metas ou objetivos. Muitas pessoas quando estão no final e começo do ano dizem que neste novo ano irão conseguir voltar a estudar, comprar um carro, construir ou reformar suas casas ou fazer aquela viagem dos sonhos, enfim, realizar a meta que já foi estabelecida, e que no ano que passou não conseguiram realizar. Mas o que é muito difícil é dizer para si mesmo que a maioria das metas e objetivos que não foram realizados é porque faltou comprometimento e entusiasmo, você não pode desviar do seu alvo e tem que acreditar sem dúvida de que conseguirá atingir metas e objetivos. Sendo assim, quando você atingir, irá ao final do ano poder dizer que será ano novo com objetivos e metas novas, e verá muitas coisas novas na sua vida, pois quem deseja obter sucesso com certeza chega ao final de um ano com a sensação de tarefa cumprida e no início do ano com a sensação de que uma nova tarefa se inicia. Agora é só comemorar e realizar a autoavaliação e acreditar que você é capaz de realizar metas e objetivos no novo ano, pense nisso e Feliz Ano-Novo e Sucesso! y

Flavio Fagundes

Profissional em venda, consultor e palestrante, instrutor comercial do Sesc.

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serviço

Deu B.O.! Sem filas nem banco de espera, a delegacia virtual vem caindo no gosto e conhecimento da população. A Polícia Civil registrou no Estado um aumento de 61,5% de registros online no último ano 36

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Ellen Kotai Situações desagradáveis nos surpreendem vez ou outra num mundo regido pela desigualdade. Assaltos, furtos, roubos, sequestros e outras ações ilegais e de coação geram medos e traumas nas vítimas, que buscam um contato imediato com a polícia visando melhor resolver o caso. Resultado? Além do sentimento de impotência, longa espera nas delegacias para registrar o Boletim de Ocorrências (B.O.). Porém, enfrentar essas longas filas na espera para poder registrar B.O. não é mais necessário. Para os casos como furtos ou extravio de documentos, celulares, palms handheld e outros pequenos objetos, atualmente, existe disponível um serviço de registro de boletins de ocorrência online, que facilita todo o processo. Através da Polícia Civil de diversas regiões do Brasil, essa maneira de registrar B.O.s vem sendo cada dia mais utilizada pelos cidadãos. Em Mato Grosso do Sul, o serviço

é uma realidade desde 2006, afirma o delegado titular da 1ª Delegacia de Polí-

cia de Dourados, Sandro Márcio Pereira. Com o objetivo de facilitar a vida do cidadão que necessita do documento Boletim de Ocorrência, além de ‘desafogar’ as entradas de B.O.s nas delega-


cias é que o serviço foi implantado, garante. Trata-se de uma planilha online a ser preenchida com os dados e relatos do fato ocorrido, assim como aconteceria em uma delegacia convencional. “Na ocasião desses acontecimentos, geralmente, quem foi furtado não tem informações para repassar à polícia e que possam levar a uma investigação, portanto, nada vai esclarecer e por isso a melhor opção é o registro do boletim online”, declara o delegado. Ele afirma que o sistema é seguro e simples. “A pessoa registra o boletim no site, cumprindo todos os passos exigidos, que são a identificação do declarante, quando ocorreu o fato, onde, e o que realmente ocorreu. Em seguida, os dados passam por um sistema de gerenciamento e o delegado responsável analisa e aceita o boletim que é gerado e encaminhado no e-mail da pessoa que utilizou o serviço”, explica. Em média, aqui no Estado, esse processo demora menos de 24 horas, enfatiza Sandro Márcio Pereira. A Polícia garante a segurança do sistema, assegurando que ao acessar a página da Delegacia Virtual, o IP (Protocolo de Interconexão), que identifica os computadores ligados à internet, é reconhecido e identificado no site a fim de que ninguém utilize o site para denúncias falsas ou brincadeiras, crime previsto no Artigo 340 do Código Penal Brasileiro. Segundo o delegado, com a utilização do sistema, as delegacias podem desenvolver melhor outras funções ao invés de trabalhar com o registro de pequenos furtos e extravios durante todo o dia. Dessa maneira, o investigador poderia sair da base para investigar a autoria de assaltos e outras ocorrências mais graves e verificar pormenores de outros casos. “A exemplo de um dia de queixas comuns. Considerando das 8h às 18h, período de horário comercial, foram registrados 26 boletins de ocorrência nesta delegacia, dentre os quais, 19 poderiam ter sido gerados pelo serviço online”, ressalta. Segundo dados da Devir do Mato Grosso do Sul, delegacia virtual da Polícia Civil, o número de registros online no Estado

cresceu 61,5% em 2009 em relação ao último ano. No ano passado, foi registrado um total de 13.297 boletins de ocorrência pelo sistema online, contra 5.109 em 2008. O estudante Fernando de Souza Barbosa alegou que não efetuou seu Boletim de Ocorrência online por falta de conhecimento da disponibilidade do serviço. “A ocasião foi a perda do meu celular, que não consegui identificar se foi furto ou perda mesmo”, esclarece. No caso, o estudante poderia ter feito a ocorrência através do site, pois precisava apenas registrar que não tinha mais o celular como seu para cancelar a linha. Esse serviço já se espalhou por todo o Brasil. Em outros estados, além de registros de furtos e extravios de documentos e objetos, há disponível o B.O. para roubo de carros e outros. O entrevistado identificado como Challenge, de Brasília, relata que ao registrar seu Boletim de Ocorrência na delegacia, uma senhora o indicou o site da delegacia virtual. “Na delegacia eletrônica você faz o B.O. e várias outras coisas, e por incrível que pareça é muito melhor que na delegacia convencional”, diz. Ele relata que preencheu tudo rapidinho e em cinco minutos ligaram da delegacia para confirmar. Em seguida, recebeu em sua caixa de e-mails o boletim em formato PDF. O Delegado Titular da 1ª Delegacia de Polícia de Dourados explica outro fator que favoreceu o uso do serviço, a isenção da taxa de Boletins de Ocorrência e extravios. “Antes, muita gente não registrava o ocorrido porque tinha que pagar uma taxa estipulada, porém, com a isenção deste pagamento, aumentou a procura pela realização de B.O.s”, diz. “Após a disponibilidade do Boletim de Ocorrência online, diminuiu, em parte, a procura pela delegacia, pois, embora ainda seja pouco divulgado, esse serviço tem sido utilizado pelas pessoas com mais esclarecimento e acesso à internet”, declara o delegado, que espera um crescimento ainda maior para os próximos anos. Acreditando que o serviço tenha a cada ano um aumento significativo, ele aposta num trabalho de divulgação à população. y

Esse serviço é totalmente online e gratuito e pode ser acessado através do site da Polícia Civil do Mato Grosso do Sul, disponível no link www.pc.ms.gov.br. dezembro 2009 • haley

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comportamento

Miniadultos

em risco

Vestir o bebê de “hominho” ou a menina com “modinha”, mais do que bonitinho, pode provocar grandes alterações comportamentais, dentre elas, a erotização precoce Maria Alice Otre

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eninas de 2, 3, 4 anos de idade que não saem de casa sem os sapatos combinando com a roupa, maquiagem ou sem pulseiras! É cada vez mais difícil fazer com que as crianças se sujeitem às roupas, presentes e brinquedos que os pais escolhem. “Vemos aqui que as crianças impõem o que vestir. Elas determinam tudo! O jeito de se vestir e de calçar”, conta Marlei Medina de Souza, que trabalha há seis anos com o comércio de moda infantil em Dourados. A enxurrada informacional a que estão expostas contribui para a fixação de marcas, modelos e padrões que antes diziam respeito aos jovens e adultos, mas hoje fazem a cabeça da garotada. Se por um lado a publicidade vem batendo forte contra o público infantil, por outro, os pais também incentivam a produção do miniadulto, já que é inegável, eles ficam bonitinhos demais vestindo as tendências da moda! Contrariando a queixa de muitos pais de que não se acha mais roupa infantilizada, Marlei destaca que em sua loja não tem só roupa de mocinha ou hominho, porém, o comércio vive da oferta e da procura. “Nossa preferência é pelas roupas infantis, mas dependemos das vendas e acabamos comprando mais o que vende mais. Algumas vezes precisamos trocar os vestidos floridos e mais tradicionais que não saem. O que mais vende é o estilo ‘modinha’”, garante. A comerciante destaca que a mudança na indústria da moda foi muito rápida e os pais e crianças seguem a tendência. “A partir de seis anos já tem estampa de oncinha, ombro caído. Antes, essas roupas vinham para maiores de 10 anos. Cada dia diminui mais a idade. Para se ter uma noção, segundo ela, há dois anos chegava roupa juvenil com estilo infantil. Agora é só o inverso”.

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Quando não são as crianças que decidem a compra da “modinha”, são as mães as arrebanhadas pela indústria de moda infantil. “As mães se encantam e se imaginam naquela roupa”, destaca. “Temos casos aqui de mães com filhas de um ano e meio que compram bolsas para as pequenas. A criança acabou de aprender a andar e já carrega bolsa! São as pequenas mulheres”, brinca. Para a psicóloga Ângela Márcia Miranda, o adulto é um espelho para a criança e nessa relação entre pais e filhos, duas questões influenciam muito. “Pode haver a projeção da mãe na criança, em que ela não pode usar aquelas roupas e projeta nos filhos esse desejo, ou ainda, tem a mãe que usa esse estilo e também incentiva a filha a se vestir assim, estimulando a competitividade com as colegas. Ex: a minha filha é a mais bonita”. O problema que se verifica, porém, é que ao mesmo tempo em que se atinge o “bonitinho” e o “engraçadinho”, destacase uma alteração social no que diz respeito ao comportamento infantil. E as mais prejudicadas são as meninas que se apropriam não só da roupa, mas também da sensualidade que as peças femininas trazem consigo. Shorts, saias e vestidos curtos, blusinhas de um ombro só ou tomara-que-caia, roupas com as costas de fora, são alguns dos exemplos que podem ser dados. “Um dia minha filha perguntou por que eu tinha comprado um short comprido pra ela, que ela não gosta, queria curto!”, conta Cláudia Regina Malicheski, mãe de duas meninas (4 e 1 ano) e um menino (16). A mãe, que diz sempre buscar fugir das roupas tradicionais, começa a repensar o estilo de vestir a filha. “Estou vendo nela uma erotização muito precoce. Ela já tem um corpo sensual aos 4 anos e quer chamar a atenção. Percebo minha culpa, sempre a vesti com roupas e calçados de mocinha. Isso influenciou o comportamento dela e aos poucos estou tentando mudar, me atentando pra isso”, diz Cláudia. Com a filha mais nova já tem sido diferente, porém, as crianças estão expostas o tempo todo também a influências externas: televisão, escola e coleguinhas, por exemplo. A médica especialista em adolescentes (hebiatria) Carmen Lúcia de Almeida Santos aponta que a sociedade no geral tem refletido e estimulado um amadurecimento precoce nas crianças. “Vivemos em uma sociedade cada vez mais sem limites. Crianças assumem a postura de adolescentes. Aos 5 anos, andam maquiadas, frequentam salões de beleza, usam química no cabelo. São muitos estímulos exteriores somados à falta de limite”. Com tanto estímulo, fica difícil controlar qual a relação que as crianças estão tendo com o mundo. Cláudia Malicheski relembra que há dias perguntaram para a filha dela de 4 anos se ela gostava de dançar musiquinhas infantis. “Sabe o que ela respondeu? Gosto de dançar funk! Disse a mãe, que garante que em sua casa não se ouve esse estilo musical. O fato de ter que estar atento a todas as esferas que as crianças frequentam é uma das dificuldades do processo de educação. “Na educação dos filhos, você tem que aprender todo dia. Não existe um livrinho com as dicas de como fazer. Até porque, cada filho é diferente”, comenta Cláudia. A Dra. Carmen concorda com a mãe. “Educar não é fácil. A linha que separa o que pode ser bom e o agravante é muito tênue. A dica é direcionar as crianças para o esporte, cultura, lazer, mais do que o estímulo de transformá-las em jovens antes da hora”.

Vitrines infantis exibem salto alto, brilho e até oncinha

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Para tentar diminuir a vontade de crescer e agir como gente grande, Cláudia começou a tomar algumas medidas, dentre elas, a menor exposição possível a programas de televisão que parecem inofensivos, mas não são, pois além da moda, passam hábitos, costumes, modos de agir. “A Maísa por exemplo. As crianças copiam muito o que ela faz. O mesmo acontece com o programa da Hannah Montana. Copiam seu jeito de falar,

sua roupa”. Os desenhos também trazem estímulos que favorecem a redução da infância. Ângela, psicóloga, exemplifica com o desenho ‘As três espiãs demais’. “Elas usam salto, maquiagem, cores intensas no cabelo, roupas sensuais e também com cores vivas. As crianças veem, mas não conseguem interpretar que haverá a fase pra isso”, afinal, as heroínas são adultas.

Para a psicóloga Ângela Miranda, o adulto é um espelho para criança

Prejuízos à infância

Também vale destacar que roupas curtas, salto alto, unhas feitas, penteados, calças e camisas sociais, brilhos e lantejoulas, por fazerem parte do universo adulto, limitam a criança no ato de ser criança, impedindo-a muitas vezes de brincar, correr, se sujar e assim por diante. Além de se interromper a fase infantil, quando adulto, a pessoa pode sentir falta do que não viveu, garante a psicóloga. Além disso, para a médica Carmen Lúcia, a criança pode ter prejuízos quanto à saúde física ou mental. “Atendo várias crianças anoréxicas que, com 4 ou 5 anos, relatam não querer comer para não engordar.” Outros problemas podem aparecer com o tempo. “Imaturidade, hipervalorização da estética, decepção ao ver que podem não ter o corpo ideal e, por exemplo, vir a desenvolver uma depressão”. Outro ponto importante apontado pela médica é a ante-

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cipação dos fenômenos pubertários, causando a menstruação precoce e uma antecipação da atividade sexual, que a expõe mais às DSTs e à gravidez fora de hora. Caso você, pai ou mãe, se veja identificado nesta reportagem, é sempre tempo de rever conceitos e, se achar necessário, voltar atrás. Afinal, a infância traz consigo recordações e experiências que são eternizadas. Não vale a pena tirar de uma criança a oportunidade de bagunçar o cabelo (que aos 6 anos não estará escovado), brincar na terra e sujar a unha (que não estará pintada pela manicure), estragar a roupa e se lambuzar de manga (porque roupa de criança serve pra isso!), poder subir em brinquedos e sentar-se no chão (porque aos 5 anos não se usa saia curta!). Vida longa à infância! y


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greenpeace

Os perigos D

e uns tempos para cá, a indústria nuclear vem usando uma estratégia de marketing para convencer a sociedade e os tomadores de decisão de que ela é uma energia nuclear limpa por não emitir gases do efeito estufa e assim, não contribuir para o problema do aquecimento global, mas isso não é verdade. As usinas atômicas podem até ser menos poluentes do que usinas a carvão mineral ou óleo combustível, mas elas têm índice de emissões indiretas de gás carbônico (CO2) cinco vezes mais alto do que a energia solar fotovoltáica (solar) e eólica. Além disso, para construir uma usina, extrair e enriquecer o urânio utilizado como combustível nuclear, armazenar os rejeitos nucleares e desativar a usina ao final de sua vida útil é necessário uma grande quantidade de energia. Esse processo todo significa a emissão de muitos gases, inclusive CO2. Assim, ao se considerar todo o ciclo produtivo da indústria nuclear, se tem uma energia que emite muito mais gases de efeito estufa do que qualquer tipo de energia renovável. Estudo do Massachusetts Institute

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Há oito anos, moradores de municípios brasileiros sofrem as consequências do contato inadequado do urânio das minas. Enquanto isso, as usinas nucleares se mobilizam para duplicar a produção no País of Technology (MIT) mostrou que para resolver o problema das mudanças climáticas seria necessário construir, pelo menos, mil novos reatores em curto prazo, o que é impossível, tanto econômica, quanto fisicamente. Por fim, o argumento de energia limpa não se sustenta porque a energia nuclear utiliza um combustível de disponibilidade finita e gera toneladas de lixo radioativo, poluição perigosa que, assim como o aquecimento global, será herdada pelas próximas gerações e permanece perigosa por centenas de milhares

de anos. Outro fator é a quantidade de dinheiro público empregado em usinas nucleares. Isso representa um obstáculo concreto à implementação de medidas efetivas de mitigação do aquecimento global. O Greenpeace constatou, após análise na água consumida pelas pessoas que vivem no entorno da mina de Caetité, na Bahia, que existe contaminação por urânio em níveis muito acima dos aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e da legislação brasileira do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Co-


desta energia nama). As amostras foram coletadas em um raio de 20 km da área de influência direta da mina e encaminhadas a um laboratório independente no Reino Unido. A comprovação da contaminação da água nesta região por urânio reforça a necessidade urgente de uma investigação sobre as condições de saúde da população local, a qualidade da água consumida e a extensão da contaminação ambiental por urânio. Exige também uma resposta clara e imediata por parte da estatal ‘Indústrias Nucleares do Brasil (INB)’, responsável pela exploração de urânio e também dos órgãos que licenciam e fiscalizam a atividade. A exploração da mina de urânio de Caetité, ou “Projeto Lagoa Real”, foi licenciada pelo Ibama e pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) em 2002. Até hoje, a INB não cumpriu a obrigação prevista na licença de operação do Ibama, que é de monitorar a saúde dos trabalhadores e da população que vive no raio de 20 km no entorno

da mina. Já a Autorização de Operação Inicial (AOI), concedida pela CNEN, foi renovada pelo menos seis vezes, contrariando regras da própria Comissão, que permitem apenas duas renovações da autorização provisória. A pesquisa em Caetité mostrou ainda que existem divergências sobre as conclusões dos estudos hidrogeológicos entre o Ibama e o Instituto de Gestão das Águas do Estado da Bahia. Esses relatórios apontam, justamente, os riscos de contaminação da água subterrânea no entorno da mina e estavam previstos como condicionantes na licença ambiental. Uma vez liberado no meio ambiente, o urânio entra na cadeia alimentar humana através da água ou de alimentos contaminados, como leite e vegetais. De acordo com bibliografia médica e científica disponível, a ingestão contínua de urânio, ainda que em pequenas doses, pode causar diversos danos à saúde, tais como ocorrência de câncer e problemas

nos rins. Enquanto os verdadeiros impactos da mineração de urânio em Caetité permanecem desconhecidos, o setor nuclear planeja duplicar a capacidade produtiva da INB de 400 para 800 toneladas de yellow cake (concentrado de urânio) por ano e se mobiliza para iniciar a exploração da mina de urânio de Santa Quitéria, no Ceará. O interesse comercial na mineração do urânio e na fabricação do combustível nuclear é um fator de peso na atual retomada de políticas de incentivo à energia nuclear no País. Há oito anos, municípios do sertão baiano sofrem com os nocivos impactos socioambientais causados pela INB. Nesse período, a estatal liderará em número de denúncias, inquéritos, autuações e multas ambientais e trabalhistas, devido a acidentes (mais de uma dezena de ‘eventos nucleares usuais’) e várias paralisações, indicadores dos problemas técnico-operacionais que caracterizam a mineradora. y

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Caroline Oliveira e Maria Alice Otre

O exemplo vem de berço. Tanto o pai como a mãe são servidores públicos. Aos 24 anos de idade, Mariana Simões, formada em direito, tomou a decisão de entrar na vida e rotina dos concursos públicos. “Financeiramente falando, a estabilidade dos meus pais, com certeza, foi um exemplo, afinal, poder se programar todo mês com o salário, ter o esforço devidamente recompensado por meio do cargo escolhido, férias, décimo terceiro e outros direitos, é muito tentador. A advocacia também é um ramo interessantíssimo, porém, sempre quis ter estabilidade financeira e meus pais me apoiam muito”.

Em tempos de crise, a palavra estabilidade, aliada aos altos salários que podem chegar até R$ 21 mil (houve um aumento de 254% em relação ao setor privado), mais a carga horária atraente e a possibilidade de crescimento profissional e pessoal são fortes aliadas para aumentar a demanda dos concursos públicos. Isso sem mencionar que raramente um servidor público é demitido, menos de 1% a cada ano. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil possui em torno de 8,2 milhões de funcionários públicos. As áreas de maior atuação são saúde e educação, com 4,2 milhões de concursados. Os dados fazem parte do relatório ‘Presença do Estado no Brasil’, realizado em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que concluiu que a cada grupo de 23 brasileiros, um é servidor público. O Distrito Federal é o lugar onde há o maior número de concursados, pois a cada 6,4 brasilienses, um tem carreira pública. Mato Grosso do Sul possui ao todo mais de 162 mil funcionários que escolheram o governo como patrão. Deste total, 9.471 atuam na esfera federal, já 70.729 no Estado e 81.778 exercem cargos municipais. De acordo com a pesquisa, as administrações municipais são as que mais empregam funcionários

públicos. Em Dourados, eles somam mais de cinco mil, segundo o MTE. Para o economista Roberson da Rocha Buscioli, o aumento do número de concursos trata-se na verdade de uma reestruturação do serviço público, amplamente necessário em um País com as características do Brasil (grande dimensão territorial acompanhado de alto índice de concentração da renda, regional e pessoal). “Ao analisar o emprego público versus o privado é necessário destacar o grau de instrução do trabalhador. Já que o primeiro conta com 22% de pessoas com o Ensino Fundamental completo e cerca de um terço com nível superior completo. Entretanto, no setor privado, 27,7% dos trabalhadores estão com o Ensino Fundamental incompleto e 17,8%, completo. Os com Ensino Superior totalizam 11,4%”. Na medida em que o grau de instrução aumenta, ocorre uma diferença no nível de salário do setor público e privado, como explica Buscioli. “Se considerarmos todo setor – federal, estadual e municipal –, a diferença média de salários é de 56% a favor do serviço público, sendo que em 1998 essa diferença era de apenas 33%”. No entanto, para fazer parte desse número, o caminho é demorado, requer preparação e porque não dizer que é ‘cheio de pedras’, como explica Mariana, que pretende seguir carreira

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pública no setor trabalhista. “Já senti na pele várias experiências pesadas. Fui fazer uma prova em Belo Horizonte (MG) onde houve 60 mil inscritos para apenas duas vagas”. Além disso, a jovem confessa que a rotina de estudos é bastante puxada. “É uma luta diária contra si. É muito difícil abrir mão de boa parte da minha vida social, mas é importante não bitolar, pois ter foco é diferente de paranoia. Eu tenho um objetivo e isto é o mais importante”. Decidida a passar, a jovem se dedica, desde 2009, exclusivamente, à preparação. “Estudar para concurso tem que ser de forma bem antecipada, senão dificulta pelo alto grau de concorrência. Faço cursinho, pois existem algumas matérias que eu não vi na faculdade”. Além de dedicação, estudar para concurso público requer despesas extras. “O que encarece são os livros, as taxas de inscrições (difícil achar uma abaixo dos R$100 para nível superior), as viagens, o cursinho e deixar algumas coisas da minha vida de lado para estudar também não é barato, porém, com certeza, haverá compensação”. Quando perguntamos se ela está

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preparada para tais mudanças, caso passe no concurso, a resposta está na ponta da língua: “caso passe não, eu vou passar! Pode não ser agora, mas uma hora vai ser. Penso no concurso como uma fila na qual eu entrei e tenho que esperar a minha vez. Existem horas que eu fico sonhando com esse momento. Agora, se estou preparada para mudanças, não sei, mas serão bem-vindas. Com certeza, elas serão importantes, como independência financeira e a grande responsabilidade de ser uma pessoa que terá um compromisso social”. Mariana Simões faz parte das estatísticas, já que ela está dentro dos 43% de candidatos que irão prestar concurso até o final do ano. Sem falar que a procura por cursos preparatórios cresce 15% todos os anos. Número que triplicou nos últimos dez anos. Pesquisa da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac) revelou que, a cada ano, meio milhão de pessoas se matriculam em cursos especializados. Em uma escola que oferece cursos preparatórios, em Dourados, foram mais de 450 alunos em 2009 e, este ano, a estimativa é que esse número cresça

para 700. Muitos desses alunos estão há algum tempo frequentando aulas, lendo apostilas e fazendo dezenas de provas. O perfil? Ele é muito variado, pois tem homem, mulher, gente com menos de 20 anos de idade, outros com mais de 30 e até mesmo com 50 anos. Pessoas comuns e de diferentes profissões como administradores de empresas, analistas de sistemas, auxiliares administrativos. “No primeiro dia de aula tentamos explicar para os alunos que ser candidato à vaga é diferente de ser um concorrente, pois aquele que quer passar, realmente, se dedica. São 4 horas de aula por dia e nos finais de semana é possível, às vezes, ter até 10 aulas. E sempre trabalhamos com as provas já aplicadas anteriormente”, ressalta o professor e coordenador, Alexandre Baziqueto. Um fato peculiar dos concurseiros de Dourados é que a maioria prefere disputar vagas em concursos de Mato Grosso do Sul. Além disso, a preparação quase sempre fica para a última hora. “É comum os douradenses deixarem para começar a estudar quando o edital do concurso é publicado e isso prejudica toda a parte pedagógica. É preciso


transformar essa mentalidade, porque nos grandes centros, aquele que é concurseiro está há, pelo menos, dois anos se preparando e quando isso acontece, a concorrência não assusta”, explica o

diretor pedagógico Paulo Roberto de Sousa. E se você é um desses que prefere trabalhar para o Estado em busca de melhores salários e da tão sonhada esta-

bilidade, boa sorte, estude, se dedique e não pare na primeira tentativa. Afinal, como bom brasileiro, você não desiste nunca e com o concurso não será diferente.

Unidos no desafio

O casal Leonardo Simonato e Denise Akagui conseguiram juntos entra no concurso em SP

Trabalhando há um ano como delegados de polícia, Leonardo Simonato e Denise Akagui, casados, carregaram por alguns anos o título de “concurseiros”. Atualmente trabalham na cidade de São Paulo e conseguiram entrar juntos no mesmo concurso que tinha 21 mil inscritos para 154 vagas. Eles contam que as dificuldades de um concurseiro são enormes. Para Denise, “primeiro tem o alto custo de se manter estudando, fazendo cursinhos, comprando livros. Depois tem a questão da concorrência estar cada vez mais acirrada; as constantes mudanças nas legislações; a cobrança da família; e assim por diante”. E Leonardo ainda acrescenta que “durante todo o tempo de preparação o candidato fica muito estressado, aflito e pressionado por todos, inclusive e principalmente pelos próprios familiares, muito dos quais acham que estudar é coisa para desocupado. É lamentável! Isso desgasta muito o candidato. É nesse momento que devemos ter Deus no coração e pedir sua bênção para nos dar muita paz e dedicação”. Na busca por fazer o que gosta, com bons salários e a tão sonhada segurança no emprego, Denise e o marido estudavam de 10 a 12 horas por dia. É ele quem conta sobre o dia a dia: “A rotina

era bastante intensa. Levantava por volta das 6h20, depois iniciava os estudos, parando para o almoço por volta das 12h. Retornava às 12h30 e só parava por volta das 23h, antes, porém, fazia pequeníssimos intervalos para ir ao banheiro e tomar água”. Após cinco anos de estudos – dois deles fazendo cursinho e outros três estudando em casa –, ela ainda comemora a aprovação. “A carreira de delegado de polícia é muito interessante. É uma profissão dinâmica, onde o delegado está em contato direto com as partes e tem que tomar decisões no calor dos fatos. Além disso, a estabilidade de ser funcionária pública é muito boa”, conta. Apesar dos pontos positivos da vida de funcionário público, outras motivações ainda impulsionaram Leonardo a lutar pelo cargo. “A estabilidade e o salário nunca foram os pontos determinantes desta empreitada. O que sempre me motivou a prestar o concurso foi a vontade de ver realizado um sonho profissional de infância. Desde muito jovem ouvia meu pai (que também é delegado de polícia) dizer da felicidade de ajudar as pessoas que se encontram nas situações mais difíceis de suas vidas, como a mãe que rogava ajuda à Autoridade Policial, Delegado de Polícia, para ver seu

filho livre dos efeitos das drogas, dentre outras situações gratificantes”. Durante os anos de concurseira, Denise já havia feito quatro provas e não havia passado. “Ficava sempre na segunda fase”, lamenta. Leonardo também passou por decepções. “Reprovei duas vezes, uma no Mato Grosso e outra no Estado de São Paulo”. Mesmo assim, ao serem questionados sobre a vontade de desistir diante dos resultados insatisfatórios, ela garante: “Não. Em concurso público, só não passa quem desiste!” A postura otimista também fez parte da rotina de Leonardo: “nunca pensei em desistir. Mesmo diante de todas as dificuldades, sempre tive pensamentos positivos e acreditava que o meu momento chegaria. No dizer de Thomas Edson: ‘Nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez’”. Atualmente com um salário inicial de R$5.500,00, além das vantagens de serem concursados, Denise e Leonardo dão a dica aos que buscam por uma vaguinha no serviço público. “Ser disciplinado e não desistir nunca”, diz ela. “Seja perseverante e peça a Deus a permissão para a realização de seus sonhos. Isso, penso eu, é infalível”, completa ele. Aí está a receita! y dezembro 2009 • haley

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empreendimentos Em Dourados, três instituições acolhem projetos empreendedores que desenvolvem autoestima e cidadania, garantem empregos diretos, benefícios sociais e movimentam a economia local

Incubadora

de ideias Maria Alice Otre

A

explicação é esta: elas são como as incubadoras de bebês, que auxiliam na formação do recém-nascido prematuro. São incubadoras de ideias, que surgiram com a missão de gerar e disseminar o empreendedorismo, assessorando os interessados em abrir o negócio próprio, possibilitando a abertura de novos campos de trabalho, fortalecendo famílias e comunidades e realizando sonhos. Em Dourados, elas já somam três, duas voltadas para empreendimentos solidários e outra para tecnológicos. Dando suporte às iniciativas empreendedoras da sociedade, a Incubadora Fênix, vinculada à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), atua há oito anos com a missão de “gerar e disseminar o empreendedorismo, viabilizando projetos inovadores voltados para as vocações regionais e incentivando a transformação de ideias e conhecimentos em produtos que valorizem o homem”. Janete Genetris Soares, gerente da Incubadora Fênix, aliás, uma das primeiras do Estado, conta que a função da Universidade neste caso não é a de formar empregados, mas sim empregadores, contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e cultural. Nesses anos de atuação, a Incubadora já atendeu diversas empresas que hoje estão se destacando no mercado. Na Fênix, os futuros empresários recebem noções de estratégias de gestão de empresa, administrativa, financeira, de marketing, enfim, têm um assessoramento completo para estarem mais preparados para o mercado. E quem pode ser empreendedor? Tanto uma empresa que já esteja no mercado, quanto pessoas da comunidade em geral, que tenham ideia de um produto, serviço, ou processo de fabricação e que precisam de um suporte para iniciar uma empresa.

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Para participar, os interessados precisam estar de olho nos editais e quando abertos, propõem o empreendimento que querem abrir, detalhando custos, públicoalvo, os processos de produção. Isso passa por uma comissão técnica que é formada para esse fim, e verifica se essa proposta tem viabilidade técnica, financeira, se tem mercado. “A gente sempre pede um diferencial de mercado e um perfil mais inovador”, diz Janete. A empresa selecionada tem a assessoria e consultoria da incubadora para formatar o plano de negócio e a parte gerencial, e tem ainda assessoria de marketing com contratação de consultor que vai criar a logomarca, ver o público-alvo, mensagem, layout, enfim, toda a identidade visual da empresa. Outra incubadora presente na Uems é a Elos, que tem núcleos nas unidades de Dourados, Ponta Porã, Naviraí e Maracaju. Com uma proposta diferenciada, a Incubadora de Tecnologia Social


para Cooperativas Populares (ITCP) é focada na economia solidária, uma nova forma de trabalho pautada na solidariedade, autogestão e cooperativismo. Dentre seus focos está a geração de emprego e renda. “Com a crise do emprego, as pessoas procuram novas formas de trabalho; a economia solidária seria uma alternativa”, afirma Cândida Propheta Erbano, educadora e coordenadora do Núcleo de Dourados.

A Elos funciona desde 2005 e hoje presta assessoria a vários empreendimentos sociais. A coordenadora explica que diante de demandas sociais tão grandes, a incubadora optou por selecionar várias experiências e assessorá-las, como num período de pré-incubação. Segundo ela, muitos critérios precisam ser considerados antes de se incubar um empreendimento solidário, dentre eles, se a verba disponibilizada à Incubadora vai atender a demanda, a viabilidade do projeto, a comprovação de que existe carência financeira e social do atendido, e a certeza de que a incubadora terá pessoal qualificado nas áreas exigidas para atender o projeto. Outra instituição que mantém uma incubadora solidária é a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Coordenada por Marisa de Fátima Lomba de Farias, professora do curso de Ciências Sociais, a ITCP/UFGD já atingiu diretamente cerca de 100 pessoas e indiretamente, 280. São aproximadamente 35 professores envolvidos, quatro alunos bolsistas e seis voluntários que auxiliam nos projetos da região do distrito de Picadinha (com a comunidade quilombola), Itaquiraí (Assentamento Santa Rosa e Guaçu), Itahum (Assentamento Lagoa Grande) e Rio Brilhante (Assentamento São Judas). De acordo com Marisa, os projetos, além dos benefícios econômicos, buscam melhorar a qualidade de vida das comunidades, são mecanismos para revalorizar suas histórias e dignificar as famílias por meio de um trabalho do qual elas são parte. Procura-se conscientizar as pessoas envolvidas sobre a importância da coletividade, fortalecendo a discussão de gênero e criando redes de colaboração e identidades. A professora aponta a importância de ouvi-los durante a implantação do empreendimento. “Eles dizem o que querem fazer. Em Itaquiraí, por exemplo, eles produziam farinha antigamente e tinham vontade de voltar a fazer isso que faz parte da história deles”. Dentre os problemas apontados nos projetos solidários, Marisa destacou a dificuldade de se trabalhar em grupo. “Não é um processo fácil. Temos que desconstruir princípios colocados pela sociedade capitalista e conscientizar o grupo, que ninguém é melhor ou pior. Mesmo assim, os conflitos existem e são trabalhados no interior dos grupos”. É importante que fique claro que essas incubadoras buscam promover os esforços pessoais e coletivos. As ações vêm deles. Cândida Erbano lembra que “eles se autogestionam. É um processo de mudança postural e construção. Queremos que eles trabalhem por si mesmos e numa construção coletiva, num projeto participativo”, conclui. Para ilustrarmos os trabalhos desenvolvidos pelas incubadoras, nas duas universidades, confira a história de dois projetos. dezembro 2009 • haley

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Rapidex Restaurante Uma das empresas incubadas pela Fênix, da Uems, a Rapidex Restaurante vem dando indícios de que veio pra ficar. Apostando no público universitário, a empresa que em 2008 vendia 40 refeições por dia, em setembro, outubro e novembro de 2009 chegou à marca de 100 refeições diárias, aumentando o faturamento bruto, no trimestre, de seis para 14 mil reais. De acordo com Raquel de Carvalho Bueno, empreendedora do restaurante, a importância de ter passado pela experiência é incalculável. “Tivemos muitas facilidades porque com as consultorias nós conseguimos prever alguns erros que poderiam acontecer e fomos tomando as providências antes mesmo de começar a funcionar. Começamos a trabalhar com os ‘pés no chão’, cientes dos riscos e das possibilidades”, aponta Raquel. Dentre as especificidades de seu empreendimento está o fato de o público-alvo diminuir no mês de julho e de dezembro a fevereiro, já que os estudantes voltam para suas casas. Mas com os problemas previstos e com um plano bem preparado, estratégias fazem com que o empreendimento se mantenha firme. “Ocorre uma queda nas vendas de cerca de 20% devido à sazonalidade provocada pelas férias universitárias. Essa queda só não é maior pelo aumento do consumo das nossas refeições por trabalhadores do comércio que trabalham em um

ritmo mais acelerado na época das festas (Natal e Ano-Novo) e como o tempo para almoço torna-se curto, eles acabam fazendo suas refeições em seu local de trabalho”, explica Raquel. Além disso, diferenciais foram importantes para atender e cativar esse público, dentre eles, a entrega em domicílio e os pedidos que podem ser feitos pelo site da empresa ou pelo MSN, por exemplo. “É muito difícil começar uma empresa hoje em dia, sem nenhum apoio, então, fica quase impossível. Vale a pena tentar entrar em uma incubadora para quem quer começar a empreender”, finaliza Raquel.

Horta Orgânica

Há um ano sendo assessorados pela ITCP/UFGD, seis famílias do Picadinha, cerca de 22 pessoas, desenvolvem uma horta orgânica da rede solidária. A maioria das famílias já tem rendas complementares, a de seu Ramão Castro de Oliveira não: é da horta que ele vive. Com a ajuda da esposa, filho e sobrinho, ele já cultiva produtos variados, dentre eles: mandioca, milho, feijão, frutas, alface, tomate, cheiro verde, cenoura, beterraba, abobrinha, quiabo e maxixe. Além do apoio quanto aos sistemas de plantio e irrigação, as famílias recebem orientações ambientais de professores da UFGD que garantem um produto de qualidade e sem agressões ambientais. Seu Ramão garante não usar agrotóxicos nas plantações e

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ainda brinca dizendo que tem uma parceria com os bichos. “Às vezes eles ficam com 50% de tudo o que é plantado, mas o que sobra tem qualidade”. Preocupado com as ações que desenvolvem, seu Ramão demonstra satisfação em oferecer os produtos orgânicos. “Só de saber que você está vendendo um produto sem veneno e não está prejudicando a saúde de outras pessoas, é muito gratificante”, destaca. Durante a semana, ele vai até Dourados, em algumas instituições públicas, e oferece os kits prontos da feirinha orgânica. Ele, que já trabalhou como empregado, aprovou o trabalho independente. “Nós colhemos o que é nosso. Tudo é da gente, pra gente”, conclui. y


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saúde

Orgânicos ou Em voga nos últimos tempos, os alimentos de cultivo alternativo vêm ganhando espaço e conquistando o consumidor. Descubra seus benefícios e diferenças

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hidropônicos? Ellen Kotai

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odos sabem que um prato colorido e cheio de verduras e legumes é sinônimo de saúde, porém, o que poucos sabem é que os agrotóxicos contidos nos alimentos, além de modificarem o sabor natural, deixam resíduos que podem influenciar negativamente no sabor e qualidade da alimentação das pessoas. Como alternativa aos alimentos convencionais cultivados com agrotóxicos, tem se popularizado o cultivo de orgânicos, com a principal característica de não usar adubos químicos ou agrotóxicos, e de hidropônicos, que minimizam o uso desses defensivos e não contaminam o alimento pelo solo. Os orgânicos, por se tratarem de produtos limpos e que respeitam as leis da natureza, são extremamente saudáveis, mantendo também respeito ao meio ambiente e à preservação dos recursos naturais. Para produzir alimentos bonitos e que façam jus aos de cultivo convencional, é necessário tomar alguns cuidados com a terra, que é a base do cultivo orgânico. Restos de verduras, folhas, esterco e outros resíduos em decomposição se transformam em nutrientes que enriquecem o solo. A resposta vem na qualidade natural dos alimentos. Tomates vermelhinhos, frutas vistosas, legumes e verduras, embora não muito grandes, apetitosos e saudáveis. Com um mercado crescente e extremamente ligado à consciência ambiental e à saúde, os orgânicos também caíram no gosto do douradense, que tem tido mais opções de comprá-los em redes de supermercados, lojas de produtos naturais ou mesmo de agricultores varejistas da cidade. Embora ainda não sejam a maioria na mesa das famílias, esses alimentos vêm convencendo de que são mais apropriados para uma boa saúde. Bárbara Faição Mendes Graciano, profissional da área da saúde e dona de uma loja de produtos naturais em Dourados, ressalta a importância de se alimentar com produtos de boa qualidade e em conformidade com a saúde. “Os alimen-


tos cultivados com agrotóxicos têm relação com alergias e doenças. Acredita-se que sejam válvulas de engate com doenças como, por exemplo, o câncer”, relata. A agricultora Lenice Leite Arendt, que hoje cultiva alimentos orgânicos junto com seu marido, concorda. “Quando se cultiva alimentos com agrotóxicos, esse veneno ‘entra’ no alimento e isso é prejudicial”, afirma. Ela conta que tempos antes deles se preocuparem com a saúde do alimento e das pessoas, produziam verduras e legumes da forma convencional, com o uso de aditivos e agrotóxicos, mas que foi uma decisão certeira ter mudado a maneira de produção. O contato dos alimentos com produtos químicos artificiais que evitam pragas e prometem aumento de produtividade influenciam sim, no gosto dos alimentos, afirma Bárbara Faição. Lenice Arendt acrescenta que algumas crianças, filhos de freguesas, dizem que não apreciam e não comem alguns tipos de alimentos convencionais por causa da diferença de sabor. “O gosto é modificado pelo veneno”, diz. O Gestor de Projetos em Agronegócio do Sebrae, Vamilton Furtado dos Santos Júnior, explica que através do projeto Território da Cidadania, Produção Agroecológica no MS, muitos produtores aderiram à plantação de alimentos orgânicos. “Procuramos trabalhar com o que cada local tem de potencial e o cultivo de orgânicos é uma tendência”, explica.

Segundo dados do portal Ambiente Brasil, os principais alimentos orgânicos produzidos no nosso País são representados pela soja com 31%, seguida de hortaliças, 27% e café, 25%. Em Dourados, os dados ainda não são oficiais, e o Sebrae, através dos cursos e capacitações nos atendimentos aos agricultores, trabalha para em 2010 certificar as lavouras e hortas de orgânicos da região. “Os produtores da Grande Dourados já estão trabalhando nos critérios estabelecidos para ter a certificação, porém, ainda não conseguiram esse reconhecimento, afirma. Entre os alimentos orgânicos cultivados em Dourados estão: alface, rúcula, couve, salsinha, cebolinha, almeirão, quiabo, pepino, tomate-cereja, vagem, pimenta doce, abobrinha, brócolis, cenoura, beterraba, rabanete, milho, chicória e outros mais. Lenice Arendt diz que trabalhar e se alimentar com esse tipo de produto é, sem dúvida, uma satisfação pessoal, pois são, sobretudo, produtos que fazem bem ao ser humano. Outro tipo de agricultura alternativa é a hidroponia, que é o cultivo na água e sem o uso do solo. Existem diversos tipos de cultivos hidropônicos, porém, o mais comum é o NFT (Nutrient Film Technique) ou Técnica do Fluxo Laminar, em que os nutrientes são dissolvidos na água e passam para a planta durante o cultivo, que é feito em canos com água corrente. dezembro 2009 • haley

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Carlos Banho, administrador e membro da Equipe Hidrogood, uma Horticultura de Taboão da Serra, SP, explica que nesse tipo de plantação o uso de defensivos químicos e agrotóxicos é feito em menor quantidade que o convencional, já que, crescendo na água os alimentos não estão em contato com o solo, que muitas vezes é o canal para as pragas e doenças e, “desta forma, a planta cresce saudável e mais rapidamente, com um índice muito menor de infestações de pragas e doenças”, diz. Num experimento de hidroponia desenvolvido por uma universidade de Dourados, os resultados têm sido satisfatórios. Cezesmundo Gomes, professor responsável técnico pelo laboratório da universidade explica que por o alimento estar em constate contato com a água, suas células são maiores e mais hidratadas e o alimento se torna mais macio. Agrião, rúcula, salsinha, cebolinha, hortelã e alface já foram testados nesse método de cultivo e obtiveram sucesso. Além de preservação do solo e diminuição de agrotóxicos nos alimentos, o cultivo hidropônico permite uma economia de água, já que não é necessário efetuar a irrigação da horta. Com baixa concentração de aditivos e agrotóxicos, é menos agressivo à saúde. “Quanto aos agrotóxicos, quando são usados, é sempre em quantidade muito baixa, quase insignificante, e são diluídos na água junto às soluções como o anticloro, antialga e a solução nutritiva”, declara o professor. Ele esclarece também que é possível cultivar na hidroponia sem agrotóxicos, pois em estufas fechadas, as plantas não têm contato com nada, somente com o ar e raramente com gotículas de chuva, diminuindo a possibilidade de desenvolverem fungos ou doenças. Carlos Banho reitera que o alimento hidropônico é extre-

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mamente saudável, pois é produzido dentro de normas de higiene, com a utilização de água de boa qualidade, ao contrário do que algumas vezes acontece com alimentos em contato com o solo, que são irrigados com águas de rios possivelmente poluídos. Segundo a coordenadora do curso de Nutrição de uma universidade pública em Dourados, professora Maria Cristina Corrêa Souza, os alimentos orgânicos, sendo isentos de contaminação de produtos tóxicos ao organismo, são muito interessantes na prevenção de doenças. Já os hidropônicos, que podem ser orgânicos ou não (fazerem o uso de substâncias tóxicas ou não), ainda não têm estudos conclusivos no que se refere à melhoria nutricional. Agora que a Haley já esclareceu a diferença entre orgânicos e hidropônicos, é hora de decidir qual dos dois experimentar. Bateu uma fominha? Então escolha sempre pratos coloridos e com alimentos, sobretudo, saudáveis. y


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pré natal

Gestação Caroline Oliveira

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momento da gravidez é mágico, de plena felicidade e expectativas para as futuras mamães. E, quando se trata da saúde da gestante e do bebê, não há espaço para dúvidas ou erros. Foi esse pensamento que a jornalista Ana Paula Amaral Moreira teve durante os nove meses de gestação da primeira filha Gabriela. “Filhos sempre foram um propósito de vida e um assunto que sempre esteve em pauta desde os tempos de namoro. Estava casada há apenas quatro meses, quando a menstruação atrasou, já tinha certeza que estava grávida”. Após a confirmação, a vida de Ana Paula mudou. “Foi aquela festa, realmente, um momento muito feliz. O engraçado é que, desde aquele momento, eu já sabia que estava grávida de uma menina, que se chamaria Gabriela”. Mãe de primeira viagem e preocupada com a saúde da filha, ela logo iniciou o pré-natal, ou seja, acompanhamento médico que o obstetra faz desde os primeiros dias da gravidez até o momento do parto. “Quando o exame deu positivo, iniciei o pré-natal efetivamente. As consultas eram sempre um momento muito esperado, já que podia ouvir os batimentos cardíacos do bebê e saber se estava tudo bem dentro da minha barriga e também com a minha saúde”.

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Além das consultas mensais também foram realizados vários exames de ultrassonografia, momento que era aguardado com muita ansiedade. “Olhar o bebê, ver seu corpinho se desenvolvendo e saber que estava tudo bem era muito emocionante para uma mãe de primeira viagem”. O pré-natal foi primordial para que o nascimento da pequena Gabriela ocorresse tranquilo e que, principalmente, as dúvidas e medos de Ana Paula fossem amenizados. “Nossa, as dúvidas eram muitas, e continuam existindo. É muito difícil não ficar ansiosa e insegura diante do desconhecido. Eu nunca havia cuidado de um bebê e tinha muito medo de fazer algo errado, de não dar conta, de ser uma mãe desastrada ou incompetente. Também tinha muito medo de problemas de má-formação, mas como fiz vários exames e um acompanhamento médico bastante rigoroso, fiquei tranquila porque, mês a mês, percebia que minha filha estava se desenvolvendo normalmente e que sua saúde era perfeita”. Segundo ela, mesmo com o nascimento, as dúvidas continuam existindo e, inclusive, se intensificaram. “Ainda tenho receio de algumas coisas, por isso, faço acompanhamento com o pediatra e também, com as orientações de mamães mais experientes, como


segura

O acompanhamento médico logo no início da gestação garante qualidade de vida tanto para a futura mamãe quanto para o filho. É nesse período que doenças podem ser prevenidas e que a gravidez pode ser planejada minha própria mãe, irmã, tias, avós”. Hoje, vendo a filha crescer com saúde e se tornando cada dia mais esperta, Ana Paula afirma: “não consigo me imaginar grávida, e não saber exatamente como está seu desenvolvimento. Mesmo porque, em alguns casos de doenças ou anomalias, dá tempo de fazer alguma intervenção mesmo dentro da barriga. Com certeza, o pré-natal é fundamental não somente para a saúde do bebê, mas também para a minha saúde, já que preciso estar bem para gerar uma vida. Nos próximos filhos, todo esse processo será repetido com muita satisfação”. Atitudes como essas devem ser seguidas por todas as futuras mamães. Segundo o médico obstetra Antônio Falcão, é nesse período que é possível identificar e reduzir muitos problemas de saúde que costumam atingir tanto a mãe quanto o bebê. “O pré-natal deve ser iniciado nos primeiros meses (12 semanas), esses são os principais meses e não os últimos, como muitos pensam, pois assim, o médico tem a chance de junto com a mãe planejar a gestação e trabalhar também o emocional e o físico da paciente”.

De acordo com o obstetra, são realizados mais de 25 exames para prevenir doenças que podem ser diagnosticadas precocemente e, assim, tratadas de forma rápida. “Por isso é fundamental as mães iniciarem o pré-natal logo quando descobrem a gravidez. Problemas como pré-eclampsia, anemia, infecções ou ainda doenças transmissíveis (Aids e sífilis) são algumas das hipóteses que podem ser identificadas e tratadas logo no início. É claro que na hora do parto podem acontecer coisas imprevisíveis, mas nós obstetras trabalhamos com a presivibilidade, garantida no pré-natal”. É tentando incentivar e garantir que todas as futuras mamães tenham condições de fazer acompanhamento médico para uma gestação saudável que o Ministério da Saúde lançou em 2000 o programa de ‘Política de Humanização do Pré-Natal e Nascimento, para que todas as Unidades Básicas de Saúdes do Sistema Único de Saúde (SUS) possam oferecer assistência médica adequada e frequente, além da realização de exames laboratoriais, vacinas e entrega de medicamentos gratuitamente. Segundo a cartilha distribuída pelo Governo Federal, o objetivo é humanizar o pré-natal desde as primeiras consultas e o neonatal. y dezembro 2009 • haley

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artigo

Nelson Rodrigues:

a consagração de Doroteia D

oroteia coloca para o espectador/leitor, desde a classificação que lhe deu Nelson Rodrigues de “farsa irresponsável em três atos”, uma série de armadilhas. Farsa ou tragédia? Se lembrar que a comédia e a tragédia tiveram a mesma origem, no culto grego ao deus Dionísio, a pergunta a propósito de dúvida envolvendo realidades aparentemente opostas não parecerá tão absurda. Iniciava-se 1947 como data de fatura do texto, embora certamente ele só recebesse o ponto final meses antes da estreia, ocorrida no dia 7 de março de 1950, no Teatro Fênix do Rio, sob a direção de Ziembinski. Por que incluir Doroteia entre as peças míticas? Nelson recorreu a personagens arquetípicas, avessas às oscilações psicológicas, e apelou para simbolizações de admirável poder sintético. As primas D. Flávia, Carmelita e Maura são mulheres comuns. Na rubrica inicial, Nelson indica serem viúvas, de luto, “num vestido longo e castíssimo, que esconde qualquer curva feminina”. Nenhuma nunca dormiu “para jamais sonhar” – isto é, todas reprimiram qualquer possibilidade de abandono, de fantasia, de desejo que não fosse rigidamente subjugado pela razão. A essa casa feita só de salas, sem nenhum quarto (o quarto simbolizaria a perigosa privacidade, o recolhimento individual, que dá rédeas à imaginação), chega a prima Doroteia, vestida de vermelho, “como as profissionais do amor, no princípio do século”. O confronto entre Doroteia e as primas estabelece um primeiro conflito, que será a mola inicial da peça. Por que Doroteia, que se desviara, procura de novo o reduto familiar? O motivo está expresso no diálogo: ao perder um filho, ela jurou que havia de ser uma senhora de bom conceito, refugiando-se então no abrigo das primas. A visão do filho morto não a convencera a separar-se dele. Tiveram de amarrá-la, para levar o corpo: “Enterrar, só porque morreu?”

Doroteia ainda se embala no narcisismo, do fundo do qual exclama: “Sou tão linda que, sozinha num quarto, seria amante de mim mesma...” Esta altura, porém, as chagas pedidas a Nepomuceno já desabrocharam. Ao voltar-se para a plateia, ela exibe uma máscara hedionda. Consumou-se a purificação. O jarro é tirado de cena e as botinas (único objeto que simboliza a figura masculina) se afastam. Com extraordinária habilidade cênica, o dramaturgo “se esmera em explorar praticamente uma cena só, que se enriquece, no correr dos três atos, de alguns episódios, mas, sobretudo, da sua própria substância íntima”. O espectador vê, estarrecido, “a inexorável vitória da morte sobre a vida”. Sob muitos aspectos, inclusive o da linguagem, Nelson “realizou em Doroteia uma tragédia clássica”. Em nenhuma outra obra Nelson levou tão longe a liberdade criadora. A partir de uma só situação, vista sob múltiplos ângulos, ele levantou um painel sobre os contrastes fundamentais da existência. A imaginação trabalhou solta, transpondo os empecilhos de qualquer ordem, para compor uma síntese brilhante. O realismo, às voltas com a representação quanto possível fiel da realidade, parecia ter relegado a máscara ao território da convenção sepulta no tempo. A reivindicação ficcional dos novos ismos trouxe de novo à baila o recurso, reaproveitado de várias maneiras por um Eugene O’Neill, dramaturgo com quem Nelson revelou sempre maior afinidade. O estilo, as personagens, a trama, a imaginação de Doroteia fugiam totalmente aos moldes do teatro praticado nos anos cinquenta, dificultando que a crítica e o público apreciassem o que o texto contém de inovador. Mais uma vez Nelson Rodrigues expiou com o insucesso a criatividade vanguardista. Em compensação, embora sem perder o viço perturbador, Doroteia merece ser encarada hoje como peça clássica. y

Indira Delabio de Brito Acadêmicos do 2º semestre de Artes Cênicas da UFGD

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meio ambiente

Desenvolvimento Sustentável

Ellen Kotai

De pequenas ações em favor do verde a grandes organizações que transformam a sociedade. Faça você também a sua parte! 64

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Paula Vanessa Souza Rizzo, 24 anos, tendo como formação a biologia, se preocupa com o meio ambiente. Em sua rotina diária ela estabelece regras e limites de ações buscando contribuir com o bem do planeta. Pequenos gestos como escovar os dentes com a torneira desligada, evitar o desperdício de água durante o banho, ir a pé a locais próximos ou mesmo usar bolsas de pano em compras, fazem parte de sua rotina. “Sempre cuidei para não desperdiçar água, pois sei o quanto ela é preciosa e me sinto mal vendo ir embora sem qualquer uso, dói no coração ver água tratada potável ser despejada quando alguém escova os dentes, faz a barba, limpa o carro ou a calçada e deixa a torneira ligada”, diz. Porém, seus cuidados não se resumem somente a esses, preocupada com a procedência dos produtos que consome, ela procura sempre dar preferência às empresas com


responsabilidade ambiental, alegando que é bom investir em empresas que cuidam do planeta. Embora poucas pessoas ajam como Paula, os ecologicamente corretos ou preocupados com o excesso de lixo e resíduos em rios e aterros têm crescido em número por todo o País. Num levantamento em comunidades de um site de relacionamento podemos encontrar diversos grupos que se denominam “ecochatos com orgulho” e que fazem parte de ONGs ambientais. “Já passou da hora de valorizarem anos de pesquisas sobre o meio ambiente e fingirem que nada está acontecendo”, enfatiza a bióloga. Ela reitera que somos responsáveis por manter nossas casas limpas e não deve ser diferente com nossa cidade, Estado, País, e com o mundo. “Se cada um administrar seus resíduos de forma responsável e com preocupação ambiental, o nosso ambiente e, principalmente, a qualidade de vida vão melhorar muito”, finaliza. O estudante dos cursos de direito e história em universidades de São Paulo, Yuri Rocha Fernandes, 20 anos, não se atenta tanto a atividades de bem com o verde como Paula. Embora tenha consciência da necessidade de modificar suas ações, diz não ter paciência. “Antes, quando me mudei para São Paulo, eu separava lixos orgânicos dos não-orgânicos” diz, e admite que era mais atento às questões que refletem diretamente na preservação do meio ambiente, porém, hoje, aos poucos, perdeu os bons hábitos que tinha. O estudante enfatiza, porém, que acha ‘muita sacanagem’ o uso excessivo de sacolinhas plásticas, pois “você fica com 40 sacolinhas que não usa e vai jogando fora, e aquele plástico ali durando sabe-se Deus quantos séculos para se decompor”, comenta. Ele relata que em São Paulo, cidade onde reside, felizmente, muitos supermercados já fazem sacolinhas biodegradáveis ou disponibilizam a sacola de papel, mas que devido a questão de custos e gastos, essa distribuição ainda não virou ‘regra’. Uma sacola plástica demora mais de 450 anos para se decompor. Levando em consideração que a popularidade das sacolinhas no Brasil ocorreu nos últimos 20 anos, nenhuma das sacolas que você (e toda a população brasileira e mundial) descartou no lixo em toda a vida, se decompôs. Além desse descontrole com o excesso e desperdício de materiais prejudiciais à natureza, outros dados com relação direta à destruição da natureza são alarmantes. Segundo o Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia, em outubro de 2009 o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) registrou 194 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal, o que representa um aumento de 90% em relação a outubro do ano anterior. Em decorrência de tantas ações prejudiciais ao meio ambiente, o descontrole do clima, fenômenos como ‘el niño’, ‘la niña’, além de furacões, enchentes e secas vêm ocorrendo com mais frequência e têm assustado todo o mundo.

Propostas e estudos sobre necessidades e possíveis ações de vários países foram discutidos na última conferência de Copenhague (2009), a fim de reduzir entre 15% e 30% a emissão de gases prejudiciais à natureza e à camada de ozônio até 2020. O Brasil participou desta conferência e apresentou, dentre outras, uma pesquisa sobre a “Estimativa de Emissões Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuária no Brasil”, que estimou a quantidade de emissões de CO2 associada à pecuária no Brasil e buscou estimar a emissão de gases de efeito estufa vinculada à pecuária bovina no Brasil entre 2003 e 2008, a partir do desmatamento para formação de pastagens; queimadas de pastagem; e fermentação entérica do gado. Com tantos prejuízos ocorrentes ao ser humano e à natureza, o homem tem buscado ações para, senão reverter situações em que se encontra o planeta, prevenir desastres maiores. Você também pode se juntar aos “ecochatos” ou aos atentos e preocupados com a natureza e dar uma forcinha ao planeta, praticando os três ‘eRRRes’, Redução, Reutilização e Reciclagem de embalagens, plásticos e vidros. dezembro 2009 • haley

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Reutilizando ideias Ações baseadas no Desenvolvimento Sustentável têm sido desenvolvidas aqui em Dourados. Um exemplo é a Rede de Economia Solidária que comercializa produtos artesanais feitos por mulheres, em sua maioria, pertencentes a famílias de baixa renda. Organizadas, elas reaproveitam materiais como vidro, plástico, pano, papelão, entre outros, que são modificados e reutilizados em novos produtos. Também preocupadas com a conservação dos recursos naturais, promovem a conscientização do consumo sustentável, um consumo preocupado com o desenvolvimento social, com a preservação do meio ambiente, na redução do volume de produtos e do não desperdício. O trabalho é regido por princípios imprescindíveis e que caracterizam esse tipo de empreendimento, como a autogestão, cooperação, solidariedade e igualdade de gêneros. “Todos esses princípios unidos possibilitam que o grupo tome decisões, fortalecendo o processo coletivo, pois há a consciência de que sozinho não se chega a lugar nenhum”, afirma a empreendedora e membro da equipe da Loja Solidária, Elisamar Brambila Salbego, principalmente quando o que se quer é uma transformação do cenário social. Ela explica que esse tipo de trabalho mexe com a visão de mundo das pessoas que passam a ver que o capitalismo por si só não é a única alternativa. “É uma visão a partir das pessoas, não a partir do progresso, da degradação do meio ambiente, do mercado. É um outro mundo baseado na solidariedade”, acrescenta. Nesse tipo de empreendimento, é necessário que se fortaleça uma consciência diferente, tanto de quem quer se tornar um empreendedor, quanto dos consumidores. “Muitos querem lucros e rapidez, por isso desistem deste trabalho, e hoje quem compra já tem uma consciência diferenciada, pois age desta maneira pensando na contribuição com o meio ambiente e com as questões sociais e econômicas envolvidas”, relata Elisamar. O projeto Economia Solidária existe em nível nacional. Cada região se organiza de acordo com suas necessidades e capacidades. Em Dourados, há nove anos a Loja Solidária vem se estruturando e se fortalecendo. “Vamos até onde a gente alcançar e ainda temos muitos desafios, mas não é de uma hora pra outra que conseguimos. Hoje é uma grande satisfação trabalhar com a Loja Solidária. Muda muita coisa na consciência de consumo, na natureza, e precisamos estar abertos a mudanças. É legal sabermos que estamos agindo para a mudança do mundo e na relação com outras pessoas, além disso, acredito que é possível mudar essa visão de mercado de capitalismo”, finaliza a empreendedora.

Reciclando valores

Outro exemplo do compromisso com o trabalho justo e responsável com o meio ambiente é desenvolvido pela Agecold, Associação dos Agentes Ecológicos de Dourados, que coleta materiais recicláveis por toda a cidade. Partindo dos mesmos princípios da economia solidária, que são a autogestão, a cooperação, a solidariedade e a igualdade de gêneros, a Agecold tem, entre outros objetivos, foco na agregação de renda e possibilidade de melhoria da qualidade de vida e de trabalho dos catadores de papelão e membros da Associação. Segundo Ivete Pedroso, membro da equipe que dá apoio à Associação, é muito importante, além de resgatar os materiais descartados pela população, buscar com que esses trabalhadores se sintam importantes pelo tipo de trabalho que fazem. “Eles recolhem materiais dos quais eles não foram responsáveis por descartar na natureza, e com esse trabalho evitam zoonoses para a população, porém, o catador não usufrui disso”. Ela explica que esses profissionais são normalmente aqueles encontrados à margem da sociedade, que assumem o papel de inferioridade perante as outras profissões.

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Não se veem como trabalhadores socioambientalistas, porém, buscam retirar da natureza aquilo que a prejudica transformando o ‘lixo’ dos outros em geração de renda e trabalho em busca de um mundo melhor. A Agecold coleta por mês cerca de 30 a 50 toneladas de material reciclável. Porém, se levarmos em conta que Dourados produz, segundo estimativa, de 30 a 40 toneladas de material reciclável por dia, concluímos que ainda há muito trabalho a ser feito e muitas outras famílias podem ser envolvidas neste projeto. Ivete finaliza com um provérbio africano que acredita ser dos mais verdadeiros. “Muita gente pequena em lugares pequenos fazendo coisas pequenas podem mudar o mundo”. E se a transformação social, econômica e ambiental não é eficaz dependendo só de um, a matemática diz que de um em um é possível chegar ao máximo da soma, totalizando, quem sabe, em breve, a maioria. y


artigo

Dança

Contemporânea? Contemporânea?

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coreógrafo e bailarino norte-americano Merce Cunningham, responsável por promover mudanças significativas na dança moderna nos anos 60 e que viveu até seus 90 anos dirigindo sua companhia, a Merce Cunningham Dance Company, dizia que “Se um bailarino dança já está lá tudo. Quando danço significa: Isto é o que eu estou a fazer. Uma coisa que é justamente a coisa que aqui está.” Podemos destrinchar essa afirmação de Cunningham e descobrir que Dança é Dança, ela é uma arte autônoma, que pode sim ter a colaboração de outras artes, como a música, o teatro, as artes plásticas, entre outras, mas ela independe de qualquer outra arte. Como assim, dançar sem música? Essa é uma pergunta frequente dentre o público quando assiste, por exemplo, a um espetáculo de dança contemporânea, em que os bailarinos podem realizar movimentos, que não são exatamente aqueles que os olhares estão acostumados a ver, e no silêncio, ou ao som de ruídos, ou até mesmo permeados por vozes. Esses olhares, esses ouvidos, geralmente, acostumados a procurar significado nas coisas que veem, também ficam confusos quando assistem a um espetáculo de dança contemporânea e descobrem que ali não há uma história pronta, não há gestos significando algo, mas sim movimentos que são o que são. Movimentos que são a dança, não querem significar nada, mas que, dentro de um contexto, querem questionar o público, estimular quem vê a pensar, a se perguntar, a levantar hipóteses sobre a obra. Isso é de extrema importância para a dança contemporânea, que não está interessada em unificar técnicas e formas e nem em estabelecer padrões de movimentos entregando

tudo pronto ao público para que ele não precise pensar, apenas divirta-se e diga depois que gostou ou que não gostou. Ela está sim interessada em fazer vias de mão dupla com o público, e essas vias são nada mais do que os questionamentos que determinada obra traz e que os espectadores fazem a si mesmos e à obra, e é nesse caminho de ida e volta, nesse fluxo de questionamentos que se encontra a dança contemporânea. E é aqui, exatamente nesse ponto que, quem produz dança, tem que tomar cuidado, para que os questionamentos não se transformem em adivinhações, pois o trabalho não deve mesmo entregar tudo pronto, mas também não pode se tornar algo sem propósito, indecifrável, deve ter certo nível de compreensão, indicar que há algo a mais a ser descoberto. Não deve somente confirmar as expectativas de quem vê, mas deve propor algo a mais, algo que provoque, instigue e que faça com que a obra não acabe com seu fim. A partir disso, podemos começar a pensar a dança contemporânea de uma forma diferente, pois ela pode ser muito mais do que estamos acostumados a pensar que ela é. Ela não é, como muitos pensam, simplesmente uma dança em que cabem muitas referências e que se pode misturar um monte de danças e artes, e não é também contorcer-se, rolar no chão e fazer coisas estranhas com o corpo, até mesmo porque a dança contemporânea pode ser tudo, mas não pode ser qualquer coisa. E dançar na contemporaneidade é muito mais do que repetir passos e copiar movimentos, é ir além, é buscar, com ética e respeito, pelo bailarino e pelo espectador, novas formas de pensar e de viver a dança. y

Joyce Marques Terapeuta ocupacional e pósgraduanda em Dança pela UCDB.

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tireoide

Como anda Cinco em cada dez pessoas sofrem com alterações na tireoide, glândula responsável em regular o funcionamento do corpo, sendo que as principais vítimas são mulheres com mais de 30 anos de idade Caroline Oliveira

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la pesa pouco mais de 30 gramas, fica na frente da laringe, na região mais conhecida como gogó, e sua forma lembra uma borboleta. A tireoide é a glândula responsável para o funcionamento hormonal do organismo. Se ela não trabalhar direito, todos os órgãos ficam comprometidos, como explica o médico especialista em cirurgia de cabeça e pescoço, Rafael Simionato Susin. “Os hormônios liberados pela tireoide são responsáveis por uma série de funções orgânicas. Eles garantem que coração, cérebro e muitos outros órgãos exerçam suas funções adequadamente”. A tireoide trabalha obedecendo ordens da hipófise que chegam na forma do hormônio TSH (sigla inglesa de hormônio estimulador da tireoide). O resultado é a produção de dois hormônios tireoidianos, o T3 e o T4, que estimulam o metabolismo. O problema é que cinco em cada dez pessoas sofrem alterações na tireoide, e não se sabe bem o porquê, mas são as mulheres com mais de 30 anos de idade as principais vítimas desse descontrole hormonal. A glândula da tireoide pode apresentar dois distúrbios: o hipotireoidismo (baixa ou nenhuma produção de hormônios) e o hipertireoidismo (produção excessiva de hormônios). O primeiro atinge, hoje, cerca de cinco milhões de brasileiros, sendo que a grande maioria não sabe da doença. Por não produzir a quantidade de hormônios suficiente, muitas vezes, o portador sente-se cansado e deprimido, tendo mais propensão a ganhar peso. Esses

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sintomas acabam afetando a autoestima, o trabalho e a vida social da pessoa. “A atividade cerebral e a frequência do batimento cardíaco caem. A pessoa pensa mais lentamente, tem tendência à depressão e à sonolência. Há também maior deposição de líquidos no corpo e a pele fica fria e seca e os reflexos mais vagarosos. Além disso, verificam-se alterações menstruais e na potência e libido dos homens”, diz Susin. Infelizmente, o hipotireoidismo não tem cura, é preciso fazer a reposição hormonal diariamente ao longo da vida. Já o hipertireoidismo é mais comum em mulheres jovens. É comum a perda de peso, embora a pessoa esteja se alimentando bem, ansiedade e frequência cardíaca elevada. “Há uma hiperativação do organismo. A pessoa fica nervosa e irritada, dorme pouco, tem taquicardia. Apresenta ainda intolerância ao calor, por exemplo, numa sala em que todos estão com frio, ela transpira muito”, explica o especialista. É importante que os sintomas sejam tratados para que não ocorram sérias complicações, pois a doença, se não tratada, pode levar à arritmia cardíaca (taxa irregular de contrações musculares do coração). Em mulheres com menopausa, aumenta o risco de desenvolver osteoporose. Em vários países do mundo, ocorreu um aumento nos casos de alterações na tireoide, nos últimos 30 anos, inclusive no Brasil. Nos Estados Unidos, o avanço foi de 6,3% ao ano. Pesquisa feita pelo Ministério da Saúde em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) revelou que 20% da população de SP tinha problemas com a tireoide, já no estado crônico. Sendo que o padrão internacional é de 7%. A evolução dessas disfunções tireoidianas pode resultar no crescimento exagerado de nódulos, formando ‘caroços’. Nódulos de tireoide são extremamente comuns. Cerca de 90 a 95% deles são provocados por alterações benignas, ou seja, não cancerígena. “A pessoa portadora de um nódulo, na maioria das vezes, nem desconfia da presença dele, a menos que ele cresça e comece a produzir sintomas. Eles podem ser encontrados durante exame na glândula ou por meio de ultrassom. Mas 50% dos indivíduos adultos podem apresentar algum tipo de nodulação – se submetidos a um exame de ultrassom – entretanto, a maioria deles sem qualquer significado clínico”, disse Susin. Dr. Rafael explica ainda que a cirurgia de tireoide compreende procedimentos para retirada parcial ou completa da glândula, dependendo da situação. “Retirada total é apenas realizada quando há suspeita de malignidade, sinais de compressão ou desconforto no pescoço, ou quando há um problema estético gerado pelo aumento da glândula”. Segundo ele, a cirurgia têm baixo índice de complicações, em torno de 0,4 a 5%, mas como qualquer outra intervenção cirúrgica, envolve riscos. “Os mais comuns são alterações na voz, aparecimento de hematoma e cicatriz no local da cirurgia”. Atualmente em Dourados esse tipo de cirurgia é realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital Universitário, no caso de doenças benignas, e no Hospital Evangélico, quando é detectado câncer de tireoide. y

Dr. Rafael Susin explica as disfunções na tireóide

Hipotireoidismo •Cansaço e sonolência; •Depressão; •Falta de iniciativa; •Pele seca e fria •Prisão de ventre; •Diminuição da frequência cardíaca e atividade cerebral; •Diminuição do apetite, •Reflexos mais vagarosos, •Intolerância ao frio, •Alterações menstruais e na potência e libido dos homens.

Hipertireoidismo

•Hiperativação do metabolismo; •Nervosismo e irritação; •Aumento da frequência cardíaca; •Intolerância ao calor com sudorese abundante; •Perda de peso resultante da queima de músculos e proteínas; •Tremores; •Olhos saltados.

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carros

Também é

assunto

Hoje em dia, as mulheres já entendem muito bem de automóveis e são maioria na decisão da compra de um veículo

de mulher Andressa Mello

N

ão foram somente os costumes que mudaram ao longo dos anos, os gostos também. Hoje a mulher é figura participativa em diversos segmentos, inclusive quando o assunto é carros. A empresária Cleuza Zornitta é um bom exemplo dessa nova versão feminina, ela não só tomou gosto pelos automóveis como trabalha com eles há pouco mais de 20 anos. “Meu marido sempre gostou muito de carro antigo e, por causa desse amor, comecei a participar. Esse prazer acabou me encantando e hoje eu posso dizer que gosto muito desse mundo dos carros, ele me dá satisfação e alegria no meu trabalho”. Com a independência financeira e o aumento de poder de compra das mulheres, a indústria automobilística também precisou se adequar às exigências desse público. Hoje, empresas investem em conforto, comodidade e designer nos veículos. Johnis Faker, gerente de vendas de uma concessionária em Dourados, afirma que elas estão comprando bem mais. “Nós temos um carro que é xodó da mulherada, porque atende as necessidades delas. Tem designer, porta-objeto... Elas gostam bastante. Sempre são as mulheres que decidem, mesmo quando o carro é para o homem, elas dão a palavra final. Em cerca de 70% dos casos a decisão é da mulher”. O consultor de vendas da concorrência, Marcelo Cunha, concorda com Faker. “Hoje, a procura das mulheres por carros é muito maior. O que elas mais desejam são conforto, visibilidade e dirigibilidade. Na hora da compra, quem manda mesmo é a mulher, e isso não é de hoje”. Cleuza, que trabalha com instalação e recuperação na linha de acessórios automotivos, diz que investiu nas mulheres dentro da empresa e não se arrepende. “Nós temos um maior número de mulheres vendedoras do que homens. Elas já mostraram que têm uma compreensão muito maior das coisas e mais sensibilidade. Com isso, atendem melhor a necessidade do cliente e são mais eficazes”. Mas ainda há uma grande resistência do sexo masculino quanto à participação das mulheres nesse setor. “O homem quando é interpelado no balcão por uma vendedora tem dificuldade de dizer o que quer. Ele acha que a mulher não vai entender, então, pede de uma forma mais simples, dá mais detalhes. Mas é totalmente o contrário, elas têm muita facilidade em conhecer o produto”. Para a empresária que tem conhecimento no meio dos automóveis, a mulher ganhou seu espaço não só atrás do volante, mas também nos consertos e montagens de veículos. “Hoje nós encontramos em Dourados mulheres não só vendedoras de peças, como também colocadoras de insulfilm, montadoras de som e até mulheres que fazem motor de veículo. E o que a gente percebe é que elas são mais organizadas, fazem mais coisas ao mesmo tempo, têm mais facilidade de gravar situações, então conseguem detectar facilmente problemas no veículo”. O relacionamento da mulher com o automóvel também é diferente.

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Enquanto os homens observam mais o lado “carrão”, com foco na potência, ronco do motor e outros detalhes externos, a mulher se preocupa com itens funcionais, como porta-objeto ou tecidos. Essa percepção da mulher no setor de automóveis passou a impulsionar o mercado “cor-de-rosa” dos veículos. Hoje, as montadoras se preocupam com acabamentos internos e acessórios específicos para esse público. “A primeira coisa que eu faço quando adquiro um carro


é trocar o banco, coloco bancos mais confortáveis, sempre com controle de regulagem de altura. O revestimento de couro eu acho indispensável. Quando se tem filhos sempre cai alguma coisa e, com ele, é só passar um paninho que está limpo. Gosto de colocar uma proteção no porta-malas, para que, caso derrame algum produto do supermercado, não venha a estragar o veículo. O insulfilm é muito importante porque detém os raios solares e protege a pele”, afirma Cleuza Zornitta. E se os “machões” pensam que intimidam o público feminino, estão enganados. As mulheres querem sim ganhar seu espaço e ter o direito de gostar daquilo que, antigamente, era “coisa de homem”. “O que nós mulheres queremos não é ser melhor que os homens, nós queremos ajudar, participar desse mundo e mostrar, não só a eles, mas também às mulheres, que nós temos competência. Não é porque usamos batom vermelho e salto alto que não podemos atender esse mercado”, declara a empresária apaixonada por carros.

Mas nem tudo é oposição. Os homens estão se rendendo aos benefícios da mulher nesse mundo automobilístico. Cleuza não sofreu com o companheiro, mas os amigos ainda acham estranho essa mania de entender de carro. “Meu marido sempre costuma dizer que eu sou uma mulher muito diferente. Porque, quando ele fala de motor, de carro, de barulho de escapamento, eu consigo falar de igual para igual. Ele gosta desse mundo e me torno uma amiga e parceira. Vou aos encontros de carros antigos, viajo com ele, consigo perceber alguns detalhes que pra ele ficam despercebidos, como um verniz diferente, por exemplo. O meu conhecimento sobre carros só ajuda a nossa vida. Os amigos é que estranham um pouquinho”, conta aos risos. y dezembro 2009 • haley

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eles disseram... “EU QUERO TIRAR O POVO DA M... EM QUE ELE SE ENCONTRA” PRESIDENTE LULA SOLTA PALAVRÃO DURANTE CERIMÔNIA DO PROGRAMA”, ‘MINHA CASA, MINHA VIDA’.

“POSSO FICAR AQUI DEZ ANOS, AQUI TENHO MEU VIOLÃO”, AFIRMOU O PRESIDENTE DEPOSTO DE HONDURAS MANUEL ZELAYA, QUE CONTINUA HOSPEDADO NA EMBAIXADA BRASILEIRA.

“PARA MIM É JESUS EM PRIMEIRO LUGAR, MINHA FAMÍLIA EM

“ÀS VEZES OS ‘INSTRUMENTOS DA GUERRA’ SÃO NECESSÁRIOS PARA ATINGIR A PAZ”, FRASE DITA PELO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS BARACK OBAMA, EM CERIMÔNIA DO PRÊMIO NOBEL DA PAZ.

SEGUNDO E O TRABALHO EM TERCEIRO, SEM DÚVIDA”, DISSE

JOANA PRADO, EX-FEITICEIRA, EM ENTREVISTA AO SITE EGO.

“FIZ ISSO PARA ELEVAR A AUTOESTIMA E PARA AJUDAR OS MEUS COMPANHEIROS A GANHAR OS TÍTULOS DA PRÓXIMA TEMPORADA”, DISSE O JOGADOR SÃO-PAULINO

RICHARLY-

SON SOBRE O APLIQUE QUE FEZ NOS CABELOS.

“A MAIORIA DOS JORNALISTAS ESPORTIVOS SÃO PESSOAS QUE NÃO SABEM ESCREVER, ENTREVISTANDO QUEM NÃO SABE FALAR, PARA LEITORES QUE NÃO SABEM LER!”, ESCREVEU O ESPECIALISTA EM MARKETING WALTER LONGO EM SEU TWITTER.

NA TELEVISÃO TEM MUITA GENTE BONITA. EU SOU MAIS PRA ESQUISITA. NÃO SOU PERFEITA, TENHO CONSCIÊNCIA DISSO. SOU UMA MULHER INTERESSANTE” AFIRMOU A ATRIZ BÁRBARA PAZ, A RENATA DA NOVELA ‘VIVER A VIDA’ (REDE GLOBO). 74

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“É PARA ELA NÃO PERDER O ANO”, JUSTIFICOU O ADVOGADO DE GEISY ARRUDA [CASO UNIBAN] QUANTO AO PEDIDO DE INDENIZAÇÃO NO VALOR DE

R$ 1 MILHÃO.


Incomparável A dupla Elvis & Junior se prepara para o lançamento do primeiro CD ao vivo, e se destaca como a nova promessa do sertanejo universitário. Com a música ‘Incomparável’ – carro-chefe da dupla – o CD possui 13 faixas que trazem releituras de grandes sucessos, entre eles, ‘Saudade dela’, ‘De cara cheia’ e ‘Amor demais’. Sucessos que não vão deixar você parado. O CD foi gravado pela Companhia Disc, mixado e masterizado por Cláudio Abuchan, teve arranjo musical e produção de Heverton Gaido (Amarelo) e conta com apoio do Auto Posto Costa Matos de Deodápolis. Elvis e Junior estão há três anos na estrada e vêm realizando uma série de apresentações. Se você quer saber mais informações da dupla acesse:

www.elvisejunior.com.br contatos para shows (67)9921-9084 ou (67)9611-2825

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crítica de mídia

O quinto

O quinto Maria Alice Otre

C

arregamos, no presente e futuro, as marcas das ações passadas. Isso é fato. Talvez por isso, remoamos tanto o que devíamos ou não ter feito em determinadas circunstâncias. O ano de 2009, certamente, deixará marcas importantes à comunicação e mais, especificamente, ao jornalismo. Em nome da “luta contra a ditadura”, além da derrubada da Lei de Imprensa, do diploma que agora voltou a ser discutido por meio de Projetos de Emendas Constitucionais (PECs), após a censura legitimada judicialmente contra o Estadão e contra nossa própria mídia regional, o mês de dezembro selou a primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), levando à discussão três segmentos (sociedade civil, empresarial e poder público). Alguma luz se viu no fim do túnel. Durante o evento, 672 propostas foram aprovadas e, embora não tenham caráter de lei, servirão como consulta pública sobre o assunto. Dentre elas, está a criação de um código de ética do jornalismo brasileiro, que asseguraria, por exemplo, o direito de

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resposta de pessoas lesadas por matéria jornalística, definindo os limites dos direitos de liberdade de imprensa e as penalidades em caso de desvio de conduta. Vale lembrar que na mesma semana em que a Conferência aconteceu, duas pessoas que haviam sido acusadas sem provas por meios de comunicação perderam as ações indenizatórias que estavam asseguradas pela Lei de Imprensa. Ou seja, todo poder à imprensa (que, diga-se de passagem, é forte aos que se ligam aos monopólios) e nenhum poder à população? Que pseudoluta “contra a ditadura” é essa? Defendemos o jornalismo, mas não o jornalismo porco. Esqueceram que jornalismo é pautado no interesse público? Então cadê o público na história? Talvez seja hora de voltar a localizá-lo no processo. Muito se ouve falar que os meios de comunicação dão ao público o que ele quer ver. E a partir dessa “máxima”, vêse na mídia violência, banalização do corpo e do sexo, apelações de todos os lados. Pergunto a você, colega, que até agora parou para ler esse texto: é realmente isso o que você


poder? poder?

O seu! seu! O

quer ver? A ‘bundalização’ e a sensacionalização do jornalismo e qualquer conteúdo midiático? Erramos ao nos excluirmos do sentido da palavra “povo”. “É o que o povo gosta de ver”, repetimos e repetimos. E dessa forma, reforçamos ainda mais a má qualidade das nossas mídias e a idiotização do “povo”, do qual fazemos parte. E a culpa é da televisão, rádio, internet, jornal ou revista? Certamente não. Mas do uso que se faz deles. A culpa então seria dos produtores de conteúdo informacional ou de entretenimento, que fazem mau uso dos veículos? Ou ainda, a culpa é do “povo” que quer ver lixo informacional e nada além? São nesses argumentos que o senso comum se pauta a todo o momento, pois são mais cômodos. Além disso, eu tiro de mim uma responsabilidade que pesa. Mas há que se enxergar. A culpa é minha, sua e de cada um de nós, povo. Que somos capazes o suficiente para enxergar além, que reconhecemos muitas vezes o que há de ruim e mesmo assim garantimos a audiência. Que percebemos a má qualidade da apuração jornalística ou pior, o “rabo preso” entre veículos e poderes e continuamos prestigiando os materiais. Que assistimos aos “Pânicos” ou “Balanços gerais” da vida e achamos graças quando as crianças repetem os estereótipos lá apresentados ou ainda repercutimos o conteúdo mostrado para nossos familiares, vizinhos, amigos. Num País com analfabetos comuns, funcionais, digitais

e de tantas outras formas, é você, leitor crítico, que faz a diferença, num simples ato de mudar de canal ou boicotar um site, por exemplo. Qual foi sua contribuição ao povo ou à mídia em 2009? Vale a pena, povo, parar para pensar sobre qual sociedade queremos e, assim, revermos qual mídia estamos produzindo e o que aceitamos em nossas casas. Esse tal quarto poder realmente existe, não podemos negar. Porém, reconheço o quinto poder. Que se não funcionou com afinco em 2009, certamente se fortalecerá em 2010, é o que esperamos. O quinto poder é do receptor. É você quem tem o controle, o mouse, o lixo para devolver o conteúdo informacional que não lhe faz bem, o que não lhe faz crescer, o que não lhe faz refletir. E se você ainda está aqui, fazendo comigo um balanço do jornalismo em 2009 e, mais ainda, do seu papel como receptor de informação, é porque realmente se preocupa com a qualidade do que entra em sua casa. Como merecimento por você estar preocupado com a relação entre comunicação e sociedade, está lançado o desafio: os dois primeiros leitores dessa coluna que mandarem um e-mail para a redação da Haley, com uma opinião sobre a coluna, ganharão uma assinatura grátis da revista, por seis meses. Ta esperando o que? Eu estou esperando por você. redacao@revistahaley.com.br. y

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artigo

Uma questão

de de escolha! escolha!

P

odemos mudar a direção! Essa frase tem sido veiculada em um canal de notícias que acompanha 119 chefes de Estado e de Governo na conferência que aconteceu na capital da Dinamarca, Copenhague, para discutir as mudanças climáticas do planeta (COP15). Aliás, foi dizendo algo semelhante – Yes, we can – que um certo rapaz, o Barack Obama, foi eleito presidente dos Estados Unidos. Assim, enquanto se ouvia frases de efeito – inclusive do ‘governator’ Arnold Schwarzenegger –, a terra realizava seus últimos movimentos de rotação em direção a 2010. Para dar ação às frases e para que os debates surtam efeito, amenizando e/ou revertendo os danos causados ao planeta, o desafio é conhecido: deseja-se a preservação do modo de vida atual, eliminando incongruências entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental. Para esse fim, o enredo da nossa história vai estar centrado na preocupação em converter o desenvolvimento econômico para um modo de produção capaz de promover, de maneira equilátera, o bem-estar social, mitigando os danos ao meio ambiente. Agora, pergunto: nós podemos mudar? Estocolmo, capital da Suécia, foi palco em 1972 da primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Humano. A partir daquela reunião foram elencados 26 princípios (alguém sabe quais são?), os quais tornaram-se metas de negociação (ou seja, não houve consenso sobre sua aplicabilidade!). Mas não sejamos pessimistas. Foi a partir desta Conferência que algumas nações passaram a contemplar um Ministério para o Meio Ambiente. Ainda assim, a emissão de poluentes aumentou, principalmente, nos países em desenvolvimento.

Esmael A. Machado Professor do Curso de Ciências Contábeis da UEMS

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Falando da nossa gente, apenas em 1992 o Brasil passou a contar com um Ministério do Meio Ambiente. Não por acaso, o capítulo da história reservou para 1992 a vez do Brasil sediar a ECO92 – como ficou conhecida a conferência do clima daquele ano. Posteriormente (1997), os chefes de Estado e Governo reuniram-se em Kioto (Japão) para debater o problema climático. Lá nasceu o conceito de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, passíveis de certificação para geração dos créditos de carbono. Desde aquela época, o desenvolvimento do Brasil é relacionado ao (des)equilíbrio do clima em função de aspectos da ocupação da amazônia legal. Até pode-se concordar que a exploração sustentável (ainda precisamos aprender a resolver o antagonismo implícito na união dessas duas palavras) da amazônia deve ser alvo da ação governamental. Mas, e os efeitos da poluição gerada em outras regiões do mundo (com reflexo no fenômeno do el niño e as alterações nas correntes do atlântico) que têm contribuído para um colapso do ecossistema amazônico? Não custa lembrar que os países que mais poluem recusam-se a pactuar tratados que representem limitação ao seu desenvolvimento. Como se vê, depende da ação coletiva. Logo, deseja-se que haja consenso sobre o que fazer e, principalmente, se espera que aquele rapaz, o Obama, coloque em prática seu slogan de campanha “Yes, we can” para os assuntos do clima, incluindo seu país entre os signatários do documento final da COP15. A partir de então, caro leitor, você precisa ter consciência de que, para tornar o desenvolvimento sustentável, nós precisamos mudar! y


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bíblia

Ano novo...

Novidade

“E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve, porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. (Apocalipse 21:5)”.

A

palavra novo é derivada do latim novu, definida em nossos dicionários na forma de adjetivo como: que tem pouco tempo de existência; de pouca idade; moço; de pouco tempo; recente; que é visto pela primeira vez; moderno, recente; original. E como substantivo masculino: o que é recente; o ano próximo; a próxima colheita.

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Por sua vez, novidade, derivada do latim novitate, sendo um substantivo feminino: qualidade ou caráter de novo; aquilo que é novo; coisa nova; inovação; originalidade, singularidade, etc... Ou seja, novo é tudo aquilo que é contrário ao velho, ao antigo, ao antiquado, etc. Faz necessário, antes de tudo, deixar claro que nem tudo


de vida? que é antigo/velho não tenha mais nenhum valor ou nenhum uso, sendo que poderíamos citar milhares de exemplos que comprovam isso, mas faltaria espaço para tal. Sem falar dos nossos queridos idosos, que popularmente são considerados velhos, mas suas experiências e seus trabalhos foram e ainda são de mui valia para nossos dias. Por outro lado, nem toda novidade deve ser acatada, por exemplo, essas “novas ondas” de inversão ou supressão de valores que por muitas décadas foram ensinados, tais como busca pelos caminhos do SENHOR, comunhão e alegria entre as famílias, respeito dos pais para com os filhos, obediência destes para com aqueles, etc. O certo é que pretendemos trazer aqui uma pequena meditação/explanação à luz da Palavra de Deus, sobre algumas coisas velhas em nossas vidas que devemos deixar de lado para que as novas bênçãos de Deus que estão reservadas para nós assumam o devido lugar em nosso ser. Uma geração vai e outra vem... Quando ainda estamos em fase de concepção, nossos preocupadíssimos pais fazem diversos planos e projetos para

nossa vida futura e não medem esforços, na grande maioria das vezes, para que tais projetos sejam estabelecidos, prevendo assim uma felicidade maior em nossos caminhos. O engraçado é que mesmo quando alcançamos a idade adulta, com nossas vidas e famílias formadas, aos olhos deles, ainda assim somos aquelas crianças que tanto eles zelaram, protegeram, ensinaram, e mesmo após tanto tempo ainda planejam coisas para nós. Infelizmente, muitos não conseguem incutir em seus filhos seus ensinamentos, vindo a causar grande decepção, e quantos exemplos negativos poderiam ser citados? Milhares, creio eu. Talvez por culpa dos próprios pais, que não ouvem os ensinamentos bíblicos que dizem: “Beijai o filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a sua ira. Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam (Salmo 2:12); Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele (Provérbios 22: 6); Não retires a disciplina da criança, porque, fustigando-a com vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrará a sua alma do inferno (Provérbios 23:13-14)”. Ou talvez a culpa seja dos filhos, pois a Bíblia Sagrada também

ensina assim: “Honra ao teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá. (Êxodo 20:12); Honra ao teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra (Efésios 6:2-3)”. O fato é que o apóstolo Tiago (4:14) nos declara que nossa vida é um vapor; e o Senhor Jesus profetizou que os últimos dias seriam abreviados, por causa dos escolhidos, daqueles que realmente procuram servir a Deus (Mt 24:22; Mc 13:20). Já por sua vez, diz o sábio Salomão: “Vaidade de vaidades! – diz o pregador, vaidade de vaidades! É tudo vaidade. Que vantagem tem o homem de todo o seu trabalho, que ele faz debaixo do sol? Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, de onde nasceu. O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento e volta fazendo os seus circuitos. Todos os ribeiros vão para o mar, e, contudo, o mar não se enche; para o lugar para onde os ribeiros vão, para aí tornam eles a ir. Todas essas coisas se cansam tanto, que ninguém o pode declarar; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir. O que foi isso é o que há de ser; e o que se fez isso se tornará a fazer. De modo que nada há novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós. Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, nos que hão de vir depois. (Eclesiastes 1:2-11)”. No salmo de Moisés (90:10-12) também está escrito: “A duração de nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente, e nós voamos... Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio”. Por causa de todas essas revelações bíblicas, muitos se sentem incomodados, alguns gostariam de nunca envelhecer, ou melhor, como dizem: “nunca saírem da moda!” Mas isso é apenas uma ostentação de uma fantasia que de nenhum jeito poderá ser levada a efeito total. Vejamos bem o ano de 2009, já ficou para trás, com ele também muitos sonhos, projetos, realizações, etc... Quantos estão almejando/esperando que 2010 seja um ano diferente, que possam conquistar aquilo que sempre sonharam, que vão trabalhar mais, lutar mais... Empregam seus esforços, suas faculdades mentais, seu suor..., Principalmente nos primeiros meses de cada ano, mas quando menos se espedezembro 2009 • haley

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ra estamos lá no fim do ano novamente, olhamos pra trás e novamente damos conta que não conseguimos, parece que fracassamos, mas, de repente, alegramos ao ouvir, um ano novo vem aí... A verdade é que ninguém gosta de se sentir ultrapassado, atrasado, ou mesmo que não ouve isso de outros, mas muitas vezes ouve de si próprio. A Bíblia Sagrada diz: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor. (Romanos 6:23)”. Desde que o homem pecou, esta monotonia é uma parte bem real de nossas vidas, hoje somos uns bebês/crianças carregados por nossos pais, quando nossos avós e tios costumam “apertar nossas bochechas”, logo já nos sentimos grandes quando passamos a pertencer a um seguimento da sociedade (escola, universidade, exército, trabalho, cursos, etc.) Recebemos até alguns títulos (profissionais, doutores, mestres, etc.) e quando pensamos que estamos na “flor da idade”, na verdade já é hora de preparar nossos sucessores, verificar bem quais são os nossos legados que estamos deixando... “O justo ficará em memória eterna (Salmo 112:6); O justo é um guia para o seu companheiro, mas o caminho dos ímpios os faz errar (Provérbios 12:26); Do homem são as preparações do coração, mas do SENHOR, a resposta da boca. Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o SENHOR pesa os espíritos (Provérbios 16:12)”. Vindo por último o nosso encontro com a eternidade, junto ou não com o Senhor. Assim andemos nós também em novidade de vida. (Romanos 6:4) “Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a rotura. Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás, rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam (Mateus 9:16-17)”. Essa foi a resposta de Jesus, quando interrogado a cerca do jejum, pois os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuavam muitas vezes, mas os discípulos de Jesus não jejuavam. O Senhor explicou através de uma simples parábola, comparando os seus seguidores como convidados de uma boda, mostrando que enquanto há festa não teriam porque demonstrarem tristezas, mas que chegaria o dia em que seus servos necessitariam jejuar com mais intensidade e frequência... O fato é que os fariseus e seus discípulos seguiam à risca a prática do jejum, mas não eram transformados por dentro, em contraste disso os discípulos de Jesus Cristo estavam passando pelo processo de transformação, até ao dia em que o próprio Cristo pronunciou: “Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado (João 15:3)”. Assim também já havia pronunciado o Pai da Glória, através do profeta Isaías (58:4-7): “Eis que para contendas e de-

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bates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo; não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto. Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias a isto jejum e dia aprazível ao SENHOR? Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?” Esta novidade de vida que o apóstolo Paulo falou se resume no fato de não mais andarmos segundo o curso de nossa própria vontade, lembrando-nos que Cristo Jesus levou sobre Si os nossos pecados e que devemos deixar de lado a nossa velha natureza, nesta parte sim, o Velho homem não serve mais pra nada: “Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja


desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado (Rm 6:6)”. “Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; E vos revistais do novo homem, que segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade (Efésios 4:22-24)”. “Mas agora, despojaivos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos, E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou (Colossenses 3:8-10)”. Foi por isso que o Senhor Jesus disse a Nicodemos: “... Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo... Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3:3; 5; 6; 7; 16)”. Pois então, mediante isso, agora temos novamente uma oportunidade, um novo ano, em que nossos projetos serão revistos, muitas coisas novas aprendemos, muitas coisas velhas estamos deixando para trás; outra vez o Deus nos concede a oportunidade de mudança de vida, não apenas no fim ou começo de um ano, mas enquanto a porta da graça se

encontra aberta através do sangue de Jesus Cristo que foi derramado na cruz do calvário. O título deste artigo é uma profecia do próprio Senhor Jesus, mostrando que um dia tudo isto aqui passará, e que Ele fará novas todas as coisas, fará um céu novo, uma terra nova, etc. Ali não haverá choro, nem pranto, nem lágrima, nem morte, nem clamor; somente alegria com o próprio Deus reinando e iluminando através de Sua luz majestosa, um lindo lugar onde os servos do Cordeiro viverão para todo sempre, conforme é descrito nos capítulos 21 e 22 de Apocalipse: “E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro. (Ap 21:27)”. Mas para chegar lá é necessário estar inscrito neste livro da vida do Cordeiro e somente através de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29) é que vamos conseguir. Neste novo ano, hoje mesmo ainda, Jesus Cristo quer fazer novas coisas em sua vida, não “criar um remendo” como muitos estão criando por aí, mas sim uma nova vestidura, uma nova vida, devolver alegria à sua família, alegria de viver, uma nova esperança não neste mundo, porque este mundo passará (1º Co 7:31; 1º Jo 2:17), mas sim a alegria de ter a certeza da vida eterna, a certeza de que vai morar nos céus, a certeza de que vai contemplar a face do Deus vivo. São os nossos mais sinceros votos. Que o Senhor Jesus, através de sua infinita graça, vos conceda uma nova vida! y

Thiago Rodrigues Teixeira

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artigo

Caminhos do

Brasil Brasil na na Copa Copa É

comum criarmos expectativas ao início de cada ano. A esperança de um período melhor, esquecer o que de ruim aconteceu no passado e a procura por dias melhores, além de paz, saúde e amor são os sentimentos que nos cercam de perspectivas a cada virada de ano. Além de sentimentos, temos também expectativas concretas quanto a quem será nossos representantes na esfera política, tanto na estadual, quanto na federal, já que 2010 é ano eleitoral. Mas deixando de lado perspectivas e política, há outro fato que irá mexer com o emocional do brasileiro, a Copa do Mundo de futebol, que acontecerá no meio do ano, na África do Sul. A competição começa no dia 11 de junho, com a anfitriã enfrentando a seleção mexicana. A dúvida existe em relação ao desempenho da seleção brasileira na competição, e perguntas como: “Vamos passar fácil pela primeira fase?”. Ou então: “Chegaremos à final ou vamos perder como em 2006?”, serão frequentes até o meio do ano. Vamos fazer então uma análise, dos caminhos que o Brasil poderá enfrentar para chegar a mais uma final de Copa do Mundo. O Brasil está no ‘Grupo G’ e estreia em 15 de junho, contra a Coreia do Norte em Johannesburgo, mas para quem pensa que será moleza enfrentarmos os asiáticos no primeiro jogo, está enganado. O grupo é complicado, além dessas duas seleções, tem o futebol ‘gingado’ da Costa do Marfim, considerado por especialistas como a melhor seleção africana da atualidade e a europeia Portugal, que há tempos vem dando trabalho aos brasileiros. Mas voltando ao primeiro jogo, sabemos que a Coreia do Norte irá excursionar durante a competição. Ela será a seleção que poderá definir os dois classificados do grupo, jogará sem pressão, e por isso estará mais tranquila em campo. Seguindo o raciocínio que a estreia em qualquer campeona-

Adriano Moretto Jornalista

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to é sempre muito difícil (prova disso é que nas últimas nove Copas do Mundo, o Brasil só conseguiu vencer seu primeiro jogo por diferença de dois gols contra a Rússia em 1994), a seleção poderá ter problemas na ordem da classificação, principalmente levando em consideração que um dos critérios de desempate é o de gols marcados. Contando com a classificação brasileira para a próxima fase, uma vitória por um placar mínimo contra a Coreia do Norte pode deixar o Brasil em segundo lugar no grupo, tendo que disputar (na teoria) as oitavas de final contra a seleção da Espanha, campeã da última Copa Europeia de seleções e que deverá classificar-se em primeiro no seu grupo. Ficando em segundo lugar a chave do Brasil, até a final será de verdadeiras decisões. Passando pela seleção espanhola, a seleção teria pela frente, provavelmente, a tetracampeã Itália, nas quartas de final. Na semifinal, poderíamos enfrentar França, Argentina, Inglaterra ou Alemanha. Quer dizer, o Brasil teria antes de disputar a grande final, três partidas contra prováveis candidatos ao título. Tirando a Espanha, as outras seleções possuem conquistas mundiais em sua história, tornando cada partida uma verdadeira “guerra” para cada seleção. Por isso, o primeiro jogo dos brasileiros se torna peça fundamental para sua evolução na Copa do Mundo, ele poderá definir os caminhos brasileiros durante a competição, um mais tortuoso ou um teoricamente mais fácil. Classificando em primeiro, o Brasil teria teoricamente um chaveamento mais tranquilo, jogando contra seleções menos badaladas como Chile, Holanda e Estados Unidos, deixando que as outras grandes seleções eliminemse entre si em confrontos diretos. y


utilidade pública

Dicas de Segurança Segurança

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso do Sul, através do 2° Grupamento de Bombeiros de Dourados-MS, alerta para o aumento das chuvas neste período do ano – quando há maior incidência de ocorrência de alagamentos, inundações e desabamentos – e dá algumas dicas de segurança sobre o assunto, para que todos fiquem em alerta. Antes das chuvas Faça limpeza dos telhados; Desobstrua as calhas; Mantenha limpos ralos, esgotos, galerias, valas, etc.; Retire entulhos dos quintais, áreas, becos e ruas; Providencie a poda ou corte de árvores com risco de queda; Reforce (ou escore) muros e paredes pouco confiáveis. Durante chuvas intensas Mantenha um membro da família atento e vigilante ao nível de subida das águas, mesmo à noite; Tenha sempre lanternas e pilhas em condições de uso;

Armazene água potável; Mantenha os objetos de maior valor em partes mais elevadas; Desligue a energia elétrica; Procure abrigo em local alto e seco. Se estiver no carro Procure um local alto e espere o nível da água baixar; Não pare o carro próximo de postes ou árvores; Poças de água podem ocultar crateras; Ao atravessar poças, mantenha a aceleração contínua em primeira marcha; Dirija devagar, fique longe do carro da frente e evite locais baixos.

Sob risco de inundações ou desabamento Nos casos de maior gravidade (havendo infiltração, rachadura ou barulhos estranhos), abandone sua residência; Quem mora às margens de rios e próximo a encostas também deve sair de casa; Procure manter a calma acima de tudo; Providencie a evacuação do local e retirada de pessoas que ainda estão correndo risco; Transmita alarme aos vizinhos em caso de súbita elevação das águas; Na iminência de ser levado pelas águas, procure se agarrar em algum obstáculo ou flutuar. y dezembro 2009 • haley

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turismo

Do Oiapoque ao Chuí, não! De Sonora a Juti

Turismo de pesca, de aventura ou de negócios, ecoturismo, arqueologia. Em qual você mais se encaixa? Saiba que todos são oferecidos no Mato Grosso do Sul, aproveite e fuja do tradicional!

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Ellen Kotai

s belezas de Mato Grosso do Sul sempre estiveram um pouco escondidas do mundo e fora dos eixos do turismo nacional, não sendo evidenciadas perante o País. Porém, isso tende a mudar. As riquezas e belezas naturais, as características culturais, as peculiaridades gastronômicas, entre tantos outros atrativos, têm garantido à região do MS potencial para vários tipos de turistas. Conciliando a proximidade com a natureza de maneira a preservar o meio ambiente e conscientizar da importância dessa preservação, além da exploração de locais pouco conhecidos, o Ecoturismo – um dos tipos de turismo mais forte no Estado – permite o contato direto e íntimo com os recursos naturais. Hoje, quando falamos em Ecoturismo, o destino mais conhecido é Bonito, que foi a primeira cidade a se destacar no MS, no cenário nacional e até internacional, e, devido à popularidade, se tornou o cartão postal do Estado. Dessa maneira, o Mato Grosso do Sul passou a ser sinônimo de belezas naturais. Porém, embora Bonito seja uma referência para o Estado, não é a única cidade com atrativos naturais. Pertencente à mesma região da Serra da Bodoquena, Guia Lopes da Laguna tem particularidades culturais que chamam a atenção. Todos os anos a cidade reproduz a “Retirada da Laguna”, fato histórico da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai que marcou a história do Brasil. Conhecer os aspectos históricos e culturais desse fato assistindo a uma encenação é uma das atrações da cidade. Outros seis municípios fazem parte da Serra da Bodoquena, que é cortada por rios de águas cristalinas, aquários naturais, grutas, lagoas de águas transparentes, animais e plantas selvagens, e muita experiência cultural. Explorar

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essa região, além de ser garantia de belas fotos, agrega uma bagagem cultural imensa para o turista. Seguindo a Política Nacional de Turismo, a Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul divide o Estado em dez regiões, cada qual com potencialidades em tipos de turismo a serem enfatizados. Durante última reunião do Fórum de Turismo do Mato Grosso do Sul, ocorrido este ano em Campo Grande, a Fundação apresentou um plano para a expansão do turismo sul-matogrossense, traçado para os anos de 2009 a 2020. No documento são evidenciadas não só as potencialidades e possibilidades de implantação e melhor desenvolvimento do turismo nas regiões do MS, mas possibilidades de estratégias de construção, estruturação e viabilização de serviços turísticos. Patrícia Cristina Statella Martins, coordenadora do curso de turismo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems) de Dourados, participou do evento e relata que é uma tendência do turismo sul-mato-grossense valorizar cada região do Estado. “Há um programa de regionalização do turismo que visa a desenvolver não apenas cidades isoladas, mas regiões. Como o MS se divide em 10 regiões, há muito o que conhecer”, garante a coordenadora. Há também muito que se fazer para a efetiva divulgação desses turismos. A agenciadora de viagens Flávia Acampos Palermo afirma não haver procura dos sul-mato-grossenses para viagens pelo Estado. “As viagens pelo MS são todas vindas de São Paulo e com destino certo a Bonito, seja com estadia somente na cidade, ou no passeio com o Trem do Pantanal que passa por Bonito e Miranda”. Ela relata ainda que não existem paco-


Alcinópolis - Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari

Sonora - pôr-do-sol

Alcinópolis - Pata da Onça. Passeio nas serras

Alcinópolis - Gruta do Pitoco - serras e cavernas

Sonora

Alcinópolis - Templo dos Pilares sítio arqueológico - estrada Buriti pinturas epestres

Sonora Bela Vista - Minicachoeira da Fazenda Bomfim - Situada na Rodovia Apaporé, distante 42 km

Bela Vista Córrego Azul - Fazenda Margarida - Situada na Rodovia Jardim / Porto Murtinho

Bela Vista

Bela Vista - Regimento Antonio João

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tes para ser vendidos aos sul-mato-grossenses devido à procura por destinos de outras regiões. “A maior procura de pacotes de viagens é para o Nordeste”, afirma. Justamente na busca por reverter esse quadro que a Fundação de Turismo do Estado desenvolveu novos roteiros para divulgar o MS, que merece ser representado nacional e internacionalmente, afirma Patrícia Martins. Ela explica que a valorização da cultura, das belezas e de todo esse potencial, aumenta a geração de renda e a qualidade de vida das populações. “Uma alternativa para desenvolvimento das regiões que repercute na vida das pessoas”, acrescenta. E já que o Estado é riquíssimo em belezas naturais, culturais, em gastronomia e tantos outros aspectos, a Haley, baseada nas informações obtidas pela Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul, traz algumas opções para se ‘descobrir’ essas terras. Embora não muito popularizada perante o Estado, a região Rota Norte possui belezas naturais, históricas e culturais que vale a pena serem conhecidas. Para quem gosta de aventura, observação de pássaros, pesca e safári por águas, a Rota Norte é recomendada. As cidades de Alcinópolis, Bandeirante, Camapuã,

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Costa Rica, Coxim, entre outras, todas de pequeno porte, compõem a região que é marcada pela forte influência indígena dos bravos Caiapós e Coroados. A região ostenta rochas de mais de 400 milhões de anos lapidadas pelo tempo e pelo vento, rios, vegetação rasteira e dourada nos campos, e uma natureza pantaneira intocada, ideal para quem quer tranquilidade e contato com a natureza sem luxo, porém, num ambiente agradável e com população hospitaleira. Algo que surpreende os turistas são os artesanatos feitos a partir do barro, bambu, couro, algodão, madeira, palha e outros, e que transformam a natureza em arte. Para quem acredita que Ponta Porã se restringe somente ao turismo de compras, se engana. A região do Caminho da Fronteira, que inclui o município e outras oito cidades como Coronel Sapucaia, Antônio João, Amambai, Sete Quedas, entre outras, é repleta de quedas d’água, trilhas com grande diversidade de árvores e plantas, e uma gastronomia riquíssima devido ao contato com a fronteira com o Paraguai e a migração de brasileiros de diversas partes do País. “A Região Caminho da Fronteira, além de ser rica pelo turismo de compras, tem

potencialidades na área cultural e gastronômica. As cidades pertencentes a essa região estão buscando o fortalecimento de outros tipos de turismo além do comercial, querem que o turista fique mais que um dia, que vá, sim, às compras, mas também aos parques culturais, ao Museu da Erva-Mate, e conheça a história, o artesanato e a comida local”, enfatiza a coordenadora Patrícia Martins. Além dessas três regiões já citadas, existem outras sete. As regiões do Caminho dos Ipês, com forte tendência para a pesca; o Cone-Sul, com cachoeiras e grutas; a Costa Leste e Região, sendo todos os municípios banhados pelo Rio Paraná; Grande Dourados, com turismo de negócios; Pantanal, com riquezas e diversidades naturais como animais e plantas; Vale das Águas, com importantes unidades de conservação do meio ambiente e culinária característica; e Vale do Aporé, potencial para a prática do ecoturismo, turismo científico, de esportes, de aventura, de contemplação, entre outros. Com tantas riquezas e alternativas pelo Mato Grosso do Sul, ter o Nordeste como destino é só mais uma opção. Aqui, de Sete Quedas a Buriti, ainda tem muito que se conhecer. y


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cultura

Das aldeias aos estúdios As pinturas corporais, que marcam, entre outras coisas, a identidade das tribos indígenas, ganharam a selva de pedras sob a forma de tatuagens. Algo as une? Maria Alice Otre

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prática moderna e atual de pessoas de qualquer idade tatuarem seus corpos ou fazerem o uso de piercings traz em sua história algo nem tão atual assim. Afinal, qualquer caracterização indígena, desde que os conhecemos em 1500, passa antes de tudo pela pintura e adornos corporais. Além da estética, a forma de se pintar, os locais e as imagens usadas trazem significados que refletem a cultura, faixa etária e fase pela qual o indígena está passando. Contextos particulares também são responsáveis por diferenciar as pinturas. De acordo com o guarani-nhandeva Aguilera de Souza, professor universitário e gestor da educação escolar indígena em Dourados, os conflitos existentes entre as tribos, no passado, e entre indígenas e não-indígenas, atualmente, exigem características próprias. “Com a pintura, o índio não pode ser reconhecido e nenhum mal poderá cair sobre ele”, destaca. Além disso, Aguilera explica que o Brasil possui ainda 210 etnias que se diferenciam, além de outras coisas, pela pintura. O significado da proteção para eles e o respeito pelo que a pintura representa é tão grande que durante apresentações culturais na cidade, eles usam tinta comum. “Lá é um espetáculo, é para alegrar as pessoas”. As tintas de verdade, entre elas a mais conhecida o urucum – de coloração vermelha –, são usadas apenas para festas culturais ou rituais indígenas, como os batizados por exemplo. Diante disso, o ato de pintar o corpo tem sido estudado pelos professores indígenas e levados novamente às escolas. “A nova política educacional escolar indígena valoriza dentro da sala de aula, músicas e rituais, por isso estamos estudando novamente os significados das pinturas”. Em Dourados, Jaguapiru e Bororó ainda guardam indígenas que se pintam como antigamente. “Geralmente são

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os mais velhos, os pajés, que se pintam e fazem artesanato. Mas precisamos lembrar que nossa cultura é dinâmica, não é estática, e vai se transformando também”, lembra o guarani-nhandeva. A professora Lelian Chalub Amin Paschoalick, autora do livro “A Arte dos Índios Kaiowá da Reserva Indígena de Dourados-MS: Transformações e permanências, uma expressão de identidade e afirmação étnica”, que estudou a arte dos guaraniskaiowás concorda com Aguilera. “Acredito que ao longo do tempo os Kaiowás buscaram novas respostas para as situações que se apresentaram, e assim, vão sobrevivendo e se afirmando etnicamente como índios”. Quanto aos mais jovens não se pintarem como antigamente, ela completa dizendo que “não pintar mais o corpo não significa que não sejam mais índios”. Caracterizam os guaranis-nhandevas as pinturas com a cor branca, vermelha e preta, juntas, composta por traços e triângulos. Entre os triângulos podem aparecer o baracá (instrumento musical utilizado em festas), quadrados (simbolizando a demarcação do território da aldeia), o sol, dentre outras imagens, cada qual com um significado que remete ao que eles consideram cultural ou sagrado. E as tatuagens não-indígenas? Para Lelian, os significados das tatuagens foram se alterando com o tempo e com o grupo em que estão inseridos. “Acredito que fazer uma tatuagem, atualmente, seja um ato voltado à estética. Provavelmente, quando os jovens revolucionários do movimento Hippie se tatuavam, não tinham a mesma motivação que os jovens de hoje! Algumas pessoas vão pelo ‘modismo’”. A professora lembra que a tatuagem passou por vários momentos. “Antigamente apenas os prisioneiros eram tatuados. Na década de 60, ela representou um grupo, uma ideologia, uma estética. Foi marginalizada até aproximadamente a década de 90. Atualmente, ela se popularizou, qualquer pessoa, independente de idade, classe social ou grupo se tatua”. Dentro das próprias comunidades indígenas é possível se ver as tatuagens. Aguilera conta que na aldeia as tattoos começaram a entrar por meios dos jovens que eram presos, fase que também ocorreu entre os não-indígenas e foi ressaltado por Lelian. Para Aguilera, os símbolos ali representados não agradam, “são códigos do mal”, diz. Além disso, ele aponta também a influência da mídia para a entrada das tatuagens nas aldeias, “Muitas vezes os adolescentes inocentemente veem os desenhos e querem fazer igual”. Para o tatuador Eder Thiago de Oliveira, há 11 anos no ramo, “algumas pessoas procuram a tattoo apenas como um adorno para o corpo, uma forma de ficar diferente, mas muitas fazem com significados ou objetivando marcar uma fase de sua vida ou acontecimento”. Dentre os desenhos mais comuns, estão estrelas, borboletas, letras japonesas e fadinhas, mas, além disso, “são procuradas muitas tattoos fora desse tipo padrão, como tatuagens grandes que exigem um processo de criação e

aperfeiçoamento do desenho” Para Lígia da Silva Leite, 22 anos, o ato de se tatuar tinha significados como o de posicionar-se positivamente no grupo de amigos. “Fiz duas tatuagens aos 18 anos, porque no meu grupo quem tinha tatuagem era o tal, era corajoso”. Quanto ao que os desenhos representavam, ela deixa claro que muito pouco. “Escrevi o nome da minha mãe em um braço e fiz um olho egípcio nas costas, mas eu faria qualquer desenho, não importa o significado. O que eu queria mesmo era ter as tatuagens para mostrar”, destaca dizendo que isso acontece comumente. “Tem pessoas que fazem só por moda. Às vezes chegam à loja e pedem pra eu escolher o desenho. Outras chegam querendo fazer algo que está relacionado à sua história como homenagem a entes queridos que já morreram, tipo fotos, nomes, etc”. A jovem que se tatuou sabendo que os desenhos durariam “para sempre”, um ano depois havia se arrependido. “Eu olho e acho feio, se tivesse dinheiro, tiraria”, conta. Vários são os motivos que causam esse “desgosto” no cliente. Segundo o tatuador, algumas pessoas fazem nomes de namorados (as) que logo passam, ou, por impulso, fazem algum desenho sem pensar muito. “Com o tempo as pessoas mudam e talvez uma tattoo que ela faça agora, ela não irá gostar tanto daqui a alguns anos também”, lembra. Para evitar problemas assim, Eder garante que orienta os clientes quando vê que o desenho não vai ficar legal ou que a pessoa poderá se arrepender depois. Os laços que unem a estética e significados particulares das pinturas corporais indígenas e das tatuagens, às vezes se confundem, às vezes se opõem. Já na briga entre o definitivo ou não, vale lembrar que as pinturas corporais indígenas duram cerca de 15 dias e as tattoos são definitivas. Aos que não estão certos de que querem levar consigo significados e marcas para sempre, têm ainda a alternativa das tatuagens de henna. Vale a experiência, sem peso na consciência. y

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Vinde a mim, todos os que estão cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Mateus 11-28 - Leia a Bíblia

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moda

Alto Produção: Caroline Oliveira

Calçados e acessórios: Arezzo

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Calçados e acessórios vão fazer a diferença neste verão. A característica principal: versatilidade! Desde looks românticos aos mais causais e, porque não, os que requerem um pouco mais de requinte 94

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verão pede, por isso, abuse das sandálias, ou das tradicionais rasteirinhas. Ainda mais com detalhes em tramas naturais que dão a cara da estação. Destaque ainda para as com tornozeleiras que são leves, ousadas e três vezes mais fashion.

Modelo: Keila Lemes


Astral! VerĂŁo!

Plataformas nelas! Saltos com detalhes de cetim, corda, juta, mas a alegria estĂĄ nas cores fortes e vivas.

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Fotografia: A. Frota / Locação: Studio A

Os peep toe chegam redesenhados com muitas tirinhas e tranças coloridas.

Modelo: Driele Medeiros

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Verão! Bolsas pequenas, mini, máxi ou grandes são acessórios que fazem parte do visual do dia a dia no verão.

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