REVISTA INTERIOR DECOR ED. 03

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INTERIOR DECOR | ED. 03 | JUN | JUL| AGO | 2018

A ARTE DOS MUROS



ENTRE SEM PEDIR LICENÇA, MAS CUIDADO PARA NÃO SE PERDER









CONFESSION Nesta nova encruzilhada de minha existência dou meu grito Caminhando alegre na liberdade das avenidas o meu ser também exige liberdade que se alia amorosamente à canção da minha vida Mas eis que surgem os homens que envolvidos pela hipocrisia da retórica gentil querem anestesiar meu coração. Tão livre! Fora daqui, seus falsos alcunhadores de moedas! O lugar dos Senhores é no mercado das consciências. Lá farão bom negócio. Prefiro minha cela estreita e úmida, o asfalto. A pedra por travesseiro e a esperança atrás dos ferros de minha prisão Valem muito mais que a traição que a aceitação dos compromissos esbulhos: Rejeito a demissão à vida. Poesia de André Martin Louis Neptune publicada na coletânea “Poesies Haitiennes”. Organizada e editada por Maurice A.Lubin, Rio de Janeiro, 1956 – Livraria e Editora da Casa do Estudante do Brasil


SUMÁRIO #ED. 03 | JUN |JUL | AGO | 2018 | ANO 01

14 Expediente 15 Realidade Aumentada 16 Colaboradores 19 Editorial 20 Mural PROGRAMAÇÃO CULTURAL, LANÇAMENTOS E SHOPPING

26 DBureau Design & Lifestyle

86

DANIELA CHERFEN

28 Especial Cozinha ACESSÓRIOS INDISPENSÁVEIS

20 40 35 DESTAQUE 36 Grafite A ARTE DOS MUROS

40 Cobogó INVENÇÃO BRASILEIRA

46 Coworking EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

50 Gastronomia VISTA GASTRONÔMICA

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54 ÁREA EXTERNA 56 Paisagismo MUITO ALÉM DO JARDIM

60 Fachadas A PELE QUE HABITO

64 Horto UM OÁSIS NAS REDONDEZAS

90

64 70 PRANCHETA 72 Coretos REMINISCÊNCIAS

78 Arquitetura REFÚGIO VERDE ISIS CHAULON

82 Arquitetura HORIZONTE PAULISTA CARLOS MOTTA

86 Iluminação LUZ, CÂMERA, AÇÃO!

36 CAPA 90 Diário de viagem FREETOWN

A ARTE DOS MUROS

GRAFITE DE APOLO TORRES, LOCALIZADO NA ZONA OESTE DA CIDADE DE SÃO PAULO. FOTO: DIVULGAÇÃO

96 Ponto Final MULTIFACETADO - BETO GOZZO

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ED. 03 | JUN | JUL | AGO | 2018 | ANO 01

GUI NEPTUNE MARCON gui.neptune@interiordecor.com.br THIAGO HIDEKI IHA comercial@interiordecor.com.br

ANA LÚCIA ARRUDA redacao@interiordecor.com.br FERNANDA CARVALHO

GUI NEPTUNE MARCON JOÃO BITENCOURT CARLOS EDUARDO MANARINI

ANA PAULA NOGUEIRA apnogueira@interiordecor.com.br KEILA FERRINI kferrini@interiordecor.com.br ANA CAROLINA LIMA, BETO GOZZO, DANIELA CHERFEN, PAULA QUEIROZ, NATHALIA GIORDANO, SAMIA MALAS LOG PRINT GRÁFICA E LOGÍSTICA ENFOX DISTRIBUIDORA DE MATERIAIS PUBLICITÁRIOS

Esta é uma publicação com distribuição gratuita da GNM DESIGN - ME. Cópias e reproduções somente com autorização. Todos os direitos reservados. Rua Coronel Melo de Oliveira, nº 417 - ap 73, Perdizes – São Paulo, SP – CEP 05011-040 | + 55 11 99662-0255 14 INTERIOR DECOR


INFORMATIVO INTERIOR DECOR

REALIDADE AUMENTADA

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CADASTRO

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USANDO O APP

CADASTRE-SE E SIGA O PERFIL INTERIOR.DECOR

A INTERIOR DECOR DISPÕE DAS TECNOLOGIAS DE REALIDADE AUMENTADA (RA) E QR CODE EM SUAS PÁGINAS, PERMITINDO TOTAL INTERATIVIDADE DO LEITOR COM O CONTEÚDO DAS MATÉRIAS EM VÍDEO E TAMBÉM ON-LINE.

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COLABORADORES

SAMIA MALAS jornalista “Sou caiçara de origem, mas moro no interior de São Paulo há mais de 20 anos. A praia continua sendo meu refúgio favorito. Apesar de ter experiência internacional, com mestrado em jornalismo pela Sorbonne e curso de urbanismo pela Paris 8, e amar viagens, escolhi construir minha carreira em meu país.”

FERNANDA CARVALHO revisora de textos “Canceriana, itinerante e doida por revistas e livros (acabei de ler Anna Karenina, de Liev Tolstói, e estou apaixonada pela história). Trabalho com eles há dez anos e não consigo largá-los! Ensino inglês por hobby. No meu tempo livre, vale de tudo: de chás e cafés da tarde a baladas.”

JOÃO BITENCOURT

photoshopper “Sempre fui tão encantado pela arte de retocar imagem que resolvi me especializar na área e fazer dela a minha profissão. Estou no mercado desde 1996 e já passei por redações de importantes revistas, como Polo e Vogue. Hoje também dedico parte do meu tempo ao desenho e à escultura – hobbies que me relaxam e me completam.”

ANA PAULA NOGUEIRA gerente comercial “Sou administradora de empresas por formação, mas foi na publicidade que encontrei meu verdadeiro talento. Minha jornada começou na revista Casa Vogue, onde fiquei por quase 20 anos. Agora inicio uma nova trajetória na Interior Decor: revista linda e inovadora, que me conquistou logo de cara.”

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fonte: issuu.com

ACESSADA EM MAIS DE 70 PAĂ?SES

ANUNCIE CONOSCO: apnogueira@interiordecor.com.br / kferrini@interiordecor.com.br

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FALE COM A REDAÇÃO PARA ELOGIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES

GUI.NEPTUNE@INTERIORDECOR.COM.BR

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EDITORIAL

erta vez li uma matéria sobre “20 coisas que poderiam acabar nos próximos anos”. Lembro de algumas interessantes, como câmeras digitais, notas de compras, mapas de papel, agências de viagem, entregadores de encomendas, telefone público, fax, despertador, contas pelo correio, cheque, dicionário, controle remoto, parquímetro e, claro, revistas, livros e jornais impressos. Ufa! Bom, com exceção do fax, nenhuma das citadas acima foi totalmente aposentada. Mas sim, caminhamos para uma nova era. Recentemente, uma das revistas brasileiras mais prestigiadas de arquitetura e decoração foi descontinuada. Que revés para o mercado editorial! Realmente, não está fácil para ninguém. Mas seguimos na luta. A ID, além da versão impressa, conta também com a digital – que é um sucesso só! Acessos no mundo inteiro (confira na página 17). Pode ser que num futuro não tão distante nos dediquemos somente à versão digital e não mais à impressa. Mas continuamos tentando! Quando uma edição é finalizada, ficamos tão contentes e orgulhosos do trabalho realizado pela nossa equipe, que envolve repórteres, ilustradores, tratadores de imagens e designers, que pensamos: “Ah, essa não dá para não ser impressa! Olha a qualidade!”. Então, nosso lema é: avante, camarada! Cada dia é um novo dia! Nesta edição há matérias singulares sobre fachadas de prédios, coretos do interior de São Paulo, uma viagem à cidade livre de Christiania, na Dinamarca, um paradisíaco Horto Florestal em Nova Odessa, SP, e muito mais. Boa leitura, porque a leitura... ah, essa sim nunca vai ser aposentada! ANA LÚCIA ARRUDA

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MURAL por Samia Malas

fotos Divulgação / Animal Planet

JÁ PENSOU EM ADAPTAR SUA CASA PARA MELHOR ACOMODAR O PET? O NOVO PROGRAMA DA ANIMAL PLANET MOSTRA COMO ISSO É POSSÍVEL

No alto, à dir., apresentador do programa, o designer de interiores Antonio Ballatore, e seu braço direito, o buldogue Chewie Acima, reforma em porão com 19 habitats, que acomodou 22 animais: a iluminação do ambiente foi melhorada, o espaço organizado por espécies e terrários foram instalados nas paredes, feito nichos

Fazer com que uma casa se torne pet friendly é o tema da nova série do canal Animal Planet, “Um lar para pets” (em inglês, Animal Cribs). No ar desde 12 de junho, os nove episódios são comandados pelo designer de interiores novaiorquino Antonio Ballatore, que une sua bagagem de 30 anos na profissão com sua paixão por pets para transformar lares com animais em verdadeiros paraísos. “Animais são considerados membros da família e as casas não foram construídas para acomodá-los. É excitante ter o desafio de mudar essa realidade”, aponta Antonio, que conjuga funcionalidade e aparência agradável às soluções que encontra em cada projeto. Ele, sua equipe e seu braço direito, o buldogue Chewie, encaram desafios como a casa de Tara e Alex, de Seattle, o caso mais complicado nesta temporada. O casal tinha 22 animais, entre chinchilas, ouriço, degu, tartarugas, teiús, lagartos, etc., a maioria vivendo no porão da casa. As gaiolas estavam amontoadas, eram de difícil acesso e complicadas para limpar. As soluções encontradas por Antonio você confere assistindo ao programa exibido sempre às terças-feiras, às 23h10.

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OIE!

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MURAL COZINHA MODERNA

por Paula Queiroz fotos Divulgação

A unidade do Shopping D&D da marca Dell Anno foi renovada para apresentar os lançamentos de 2018 e 2019 da empresa que é expert em móveis planejados. O espaço conta com quatro cozinhas, dois closets e um home theater que imprimem sofisticação, design e qualidade. Destaque para a ilha de cozinha com acabamento Rosé Gold, de polímero com tecnologia alemã resistente à corrosão e ao impacto. dellanno.com.br

À MODA DA CASA A marca À La Garçonne, de Fábio Souza, com direção criativa do estilista Alexandre Herchcovitch, acaba de lançar uma coleção de objetos de decoração e cozinha. Feita em parceria com a marca Ewel, a linha é toda esmaltada em ágata e conta com bandejas, vasos, jogos de café, chaleiras, canecas, açucareiros, pimenteiros, pratos e caçarolas, que foram divididos em estampas de esqueleto, âncora e corrente. alagarconne.com.br

PAREDE RENOVADA A marca de papel de parede Bepaper foi buscar inspiração nos maiores hotéis de luxo do mundo para criar a coleção Lounge Luxe, com toque vintage e influência das décadas de 1920 e 1960. Destaque para o modelo Whistler, do hotel canadense de mesmo nome, com tons terrosos que remetem ao clima outonal, e do modelo Pigalle, que traz o charme e a elegância do hotel de mesmo nome na capital francesa. bepaperpapeldeparede.com.br

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GRAFISMOS O designer de interiores Bruno Rangel se inspirou na tradição e na beleza da cultura indígena para criar a sua nova coleção de móveis Pinhim, disponível na Dpot. Composta por bufê, móvel para som e TV, criado-mudo e móvel alto, a linha parte das pinturas corporais indígenas, que foram cuidadosamente transportadas para a madeira por meio de frisos milimétricos e sobrepostos que geram um efeito gráfico e delicado. dpot.com.br

ME AQUEÇA NESTE INVERNO A novidade da Docol é perfeita para deixar o banheiro muito mais moderno e confortável. Trata-se do toalheiro com acabamento de aço inox polido disponível nos formatos quadrado e redondo. O produto tem sistema de aquecimento seguro e timer para programar os ciclos e desligar automaticamente, garantindo segurança e praticidade. A temperatura varia entre 370C e 420C para aquecer os tecidos sem danificá-los. docol.com.br

VIDA EM FAMÍLIA Inspirada pela vida em família, a equipe da Breton lança nova coleção de móveis com design sofisticado e muito conforto. Doze estúdios renomados de design foram convidados para criarem linhas para áreas internas e externas. “O resultado é um mix completo de produtos que revelam a nossa diversidade cultural e intelectual. Fomos buscar profissionais do norte ao sul do Brasil para que eles pudessem interpretar a nossa marca com diferentes olhares”, conta o gerente de estilo e produtos Daniel Pegoraro. breton.com.br

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MURAL MINIMALISMO O badalado designer Jader Almeida lança mais de 30 produtos, entre cadeiras, mesas, bufês, sofás e poltronas. “Para 2018, não pensamos na individualidade dos produtos ou de soluções – já que cada produto carrega valores duráveis, individualidade e atributos de atemporalidade”, conta Jader. As peças autorais foram apresentadas em 23 ambientes pensados e ambientados pelo designer para interpretar as mais variadas cenas do cotidiano. sollos.ind.br

CERÂMICA BACANA A Aros é a nova coleção de cerâmicas assinadas pela ceramista mineira Léa Diegues, com curadoria do estúdio Nada se Leva, dos designers André Bastos e Guilherme Leite Ribeiro. A linha, lançada pela Lider Interiores, foi inspirada na cultura e nos acessórios africanos. “Os colares que adornam as mulheres e contam sobre as tradições da África formam a base dos produtos”, explica a artista. Ao todo são 12 modelos diferentes, entre vasos, pratos e centros de mesa, em duas tonalidades. liderinteriores.com.br

HORA DA LEITURA Novidade para os amantes do design, o novo livro Móvel Moderno Brasileiro é o lançamento da editora Olhares, que classifica de forma extensiva o trabalho dos principais designers do período. O texto da professora Maria Cecília Loschiavo, grande especialista do assunto, em colaboração com Tatiana Sakurai, traça uma análise do tema a partir do ponto de vista atual. O extenso ensaio fotográfico, de André Nazareth e Felipe Varanda, permite transmitir a dimensão da obra dessa geração do design nacional. editoraolhares.com.br

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MUNDO AFORA No mês de junho foi inaugurado na cidade de Nîmes, ao sul da França, o Musée de la Romanité. O novo museu, que foi projetado pela arquiteta e urbanista brasileira Elizabeth de Portzamparc, apresenta um tesouro arqueológico de 25 mil peças, que cobrem 25 séculos de história, a partir de escavações arqueológicas feitas na região. Por lá, o público poderá ver belas obras como mosaicos, vasos e detalhes arquitetônicos dos períodos romano, pré-romano e medieval. A arquiteta homenageou Oscar Niemeyer e a arquitetura brasileira no terraço do museu, que permite uma visão de 360 graus da cidade. museedelaromanite.fr

PISO E PAREDE Marca do grupo Portobello, a Pointer lança coleção de revestimentos chamada Morada Brasileira – Em Casa, que foi criada em parceria com o arquiteto Maurício Arruda. As criações, com design, grandes formatos e novos acabamentos, reproduzem mármores, madeiras, pedras naturais e cimentos. Destaque para a linha Singular, que traz um olhar contemporâneo para o ladrilho usado nos anos 1950.

OUTONO INVERNO Para deixar a casa mais confortável e quentinha sem perder o estilo, conheça a nova coleção da Trussardi, que foi inspirada nas províncias europeias. A linha Complementi, um dos destaques da coleção, traz mantas e peseiras de jacquard, com opções de desenhos e cores inspirados nos alpes italianos. As novidades deixam os ambientes mais sofisticados e elegantes, além de aquecer e trazer aconchego para a estação. Para completar, almofadas, porta-travesseiros e colchas compõem esse mix de produtos em sete texturas coordenáveis com os demais itens da coleção. trussardi.com.br

pointer.com.br

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DBUREAU

DESIGN E LIFESTYLE A DESIGNER DANI CHERFEN APONTA AS BOAS NOVAS DO MERCADO E OS NOVOS EVENTOS DO ESPAÇO DBUREAU, EM CAMPINAS. CONFIRA! fotos Divulgação

RECEBER BEM... A HORA DO CAFÉ NUNCA FOI TÃO ESPECIAL. CAFÉ ÁRABE COM DESIGN! Até o século 18, o café era considerado uma preciosidade pelos árabes que sabiam de seu potencial (eles também eram os únicos que cultivavam a planta e dominavam a produção da bebida). Depois, o fruto cafeeiro percorreu a Europa e chegou à América do Norte, para então ficar conhecido em todo o mundo. O café faz parte da conhecida hospitalidade árabe, é sinal de que a visita é bem-vinda e honrada por seu anfitrião. A preparação é feita de forma muito especial, seguindo um ritual muito charmoso, cheio de detalhes e cuidados que fazem os convidados se encantarem. Elaborado com especiarias como hail (cardamomo), é servido em bules decorados chamados de Raqui, que acompanham pequenas xícaras sem alça. A receita do café árabe está disponível através do QR CODE.

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MADEIRAS NATURAIS CERTIFICADAS − TRENDY, COZY E ARTESANAL Lindos, elegantes e naturais, os móveis de madeira natural roubaram a cena nas últimas mostras e feiras internacionais que ditam as tendências do high decor. Além de proporcionarem conforto, eles conferem elegância e personalidade aos espaços. Uma única peça é capaz de mudar totalmente a linguagem do ambiente. Mas não é tão fácil coordená-las. Aliar suas fortes características a materiais mais delicados como sofás e cortinas de linho ou veludo, peças contemporâneas de linhas bem retas, é uma ótima dica. E atenção: devem possuir certificado de compromisso com o desenvolvimento sustentável. Por aqui, sugiro como exemplo a estante Bossa, design Dbureau, que alia a força da madeira em seu estado natural à leveza do vidro. A inspiração na musicalidade, nas doces notas da Bossa Nova e no ritmo do Rio de Janeiro, trazem à peça personalidade e muita poesia. O conceito artesanal e sustentável da madeira certificada Pequiá, aliada à leveza dos nichos de vidro, refletem o caráter easy chic da peça. Cada lado apresenta uma linguagem, possibilitando outras opções de uso.


ALESSANDRO ZAMBELLI E A LINHA ESTETICO QUOTIDIANO Designer aclamado, o italiano Alessandro Zambelli já foi premiado com sua linha Estetico Quotidiano – criada para a italiana Seletti. Zambelli teve como escopo desenvolver uma coleção cujos objetos simples do cotidiano, como garrafas de supermercado, caixas de ovos e latas, por exemplo, tivessem seu design valorizado. Ele limpou toda a comunicação visual e desenhou peças de porcelana esmaltada fine bone. O resultado ficou bem cool, com desenhos cleans, funcionais e também elegantes. As peças estão disponíveis no Dbureau. Quem quiser conferir a entrevista que fizemos com ele, é só acessar nosso QR CODE. Palácio Tangará móveis e objetos L’oeil

AGENDA DBUREAU DESIGN E LIFESTYLE 13/09 - Curso Gourmet sabores tailandeses

22/09 - Workshop de fotografia (como fazer fotos incríveis com o celular); show de jazz e food trucks.

Para garantir sua presença em qualquer um dos eventos, envie um e-mail para eventos@dbureaudesign.com.br

VASOS EM ARENITO E TERRACOTA! A L’oeil, gigante de móveis de São Paulo, arrasou na última CASACOR SP. A marca, que é fornecedora de mobiliário para hotéis como Hyatt e Palácio Tangará – e também para o restaurante P.F. Chang’s – apresentou suas novidades na maior mostra de decoração do Brasil. As peças estavam espalhadas por ambientes assinados por nomes de peso como Roberto Migotto, Débora Aguiar, Triplex Arquitetura, João Armentano e muito outros. Outra novidade: a terceira loja L’oeil foi aberta recentemente, agora no interior de São Paulo, em Campinas.

@dbureaudesign

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ESPECIAL COZINHA

ACESSÓRIOS INDISPENSÁVEIS por Paula Queiroz

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fotos Divulgação

ara deixar a cozinha com muito mais estilo, aposte em itens com design assinado. O liquidificador da Oster tem estilo clássico com jarra de vidro e encaixe metálico. Quem gosta de um estilo mais moderno vai adorar a nova linha Colors das batedeiras Cadence. Por sua vez, a nova cor Ice White, do frigobar retrô da Brastemp, agrada os amantes do minimalismo. Para um toque de tecnologia, invista na nova Nespresso Expert, com conexão via Bluetooth que facilita o agendamento do preparo da bebida a distância. Por fim, a clássica batedeira Stand Mixer, da KitchenAid, ganha versão 25% mais leve e 20% menor, perfeita para as cozinhas compactas.

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LIQUIDIFICADOR MODELO CLÁSSICO, OSTER

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ESPECIAL COZINHA

MÁQUINA DE CAFÉ MODELO EXPERT, NESPRESSO

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BATEDEIRA PLANETÁRIA DA LINHA COLORS, CADENCE

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ESPECIAL COZINHA

FRIGOBAR RETRÔ, COR ICE WHITE, BRASTEMP

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BATEDEIRA STAND MIXER, COR BLACK MATTE, KITCHENAID

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GRAFITE por Paula Queiroz

fotos e vídeos Divulgação

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A ARTE DOS MUROS COM TINTA NA MÃO, MUITAS REFERÊNCIAS NA CABEÇA E DIFERENTES ESTILOS E TÉCNICAS, UM TIME DE ARTISTAS ESTÁ MUDANDO A CARA DAS CIDADES POR ONDE PASSA. COM FORMAÇÃO EM ARTE E DESIGN OU COM CONHECIMENTO ADQUIRIDO DE FORMA AUTODIDATA, SUAS EXPRESSÕES ARTÍSTICAS ESTÃO GANHANDO AS PAREDES, OS MUROS E ATÉ AS TELAS. CONVERSAMOS COM DECO FARKAS, O TRECO, CAROL MACIEL, A MAGRELA, APOLO TORRES, RAFAEL SLIKS, MARCIO PENHA, O PRESTO, E A DUPLA RENATO RENO E DOUGLAS DE CASTRO, QUE FORMAM O DUO BICICLETA SEM FREIO. EM COMUM, ELES TÊM A CONSTANTE PREOCUPAÇÃO EM NÃO PARAR DE PESQUISAR, DE BUSCAR REFERÊNCIAS, DE APRENDER, DE EXPERIMENTAR, DE ERRAR E ACERTAR E, ASSIM, ENCONTRAR A SUA PRÓPRIA EVOLUÇÃO

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SLIKS Nascido na região central de São Paulo, o artista Rafael Sliks ficou conhecido pelas sobreposições de suas assinaturas nos muros da cidade. “Eu comecei a pintar nas carteiras da escola e quando fui ver estava pichando pelas ruas do centro de São Paulo no final de 1996”, revela. Ele trabalha com diferentes tintas, como a óleo, acrílica e spray, utiliza diversos suportes, como parede e tela e faz experimentos de forma intuitiva, entendendo os seus erros e os seus acertos. Suas referências vêm dos elementos da natureza e do caos das cidades e esses dois universos o inspiram a criar a sua arte.

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@rafaelsliks

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DECO FARKAS Através do app, escaneie a foto para acessar o vídeo

O paulistano da Vila Madalena Deco Farkas, formado em Artes Plásticas, começou a pintar ainda criança e sempre recebeu o apoio da família. “Minha carreira iniciou quando eu comecei a pintar na rua. No começo era um espaço de experimentação e isso fez com que o meu trabalho surgisse de forma leve e despreocupada. Depois de um tempo pintando no espaço público com o codinome Treco, comecei a ser notado e alguns trabalhos foram surgindo”, conta o artista. Ele conta que se inspira nas obras de Picasso, Matisse, Cézanne e Van Gogh e não procura passar uma mensagem com o seu trabalho, quer apenas que as pessoas sintam algo de diferente.

@decotreco

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GRAFITE BICICLETA SEM FREIO Surgido em 2004, o Bicicleta Sem Freio é um projeto criado por um grupo de alunos do curso de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiânia. Nos dias de hoje, Renato Reno e Douglas de Castro estão no comando desse duo que mistura diferentes técnicas e conta com um processo muito manual. “Somos dois caras que gostam muito de desenhar, fazemos isso todos os dias, e topamos qualquer parada. Para nós, o lance é sempre estarmos abertos a novas referências. No geral, somos dois amigos simples e vivemos do nosso desenho”, conta Renato.

MAGRELA A artista autodidata Carol Maciel, que assina como Magrela, é de São Paulo e trabalha com arte desde 2007, quando fez uma oficina de grafite com os amigos e não parou mais. “No meu processo de criação, eu gosto de me alimentar com música, livros, histórias reais, fotografias e deixo isso maturando dentro de mim. Tenho muitas referências, mas uma que lembro que me encantou quando eu era pequena foi o trabalho da Tarsila do Amaral”, revela. Nas paredes, telas, bordados e esculturas, Carol comunica a história de seus ancestrais e, também, as suas histórias pessoais, como mulher brasileira em meio a todas as alegrias e tristezas do dia a dia.

@magmagrela

@bicicletasemfreio

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APOLO O pintor e muralista Apolo Torres, de Diadema, começou a desenhar quando criança, depois se formou em Desenho Industrial e estudou pintura a óleo na cidade de Nova York. Apolo cria imagens bidimensionais em telas, com tinta a óleo, e em murais, com tinta acrílica. “Na hora de criar, eu costumo utilizar referências fotográficas e faço testes de cor em pintura digital no Photoshop, sempre que possível. Gosto de trabalhar com um projeto bem-definido, pois assim garanto a qualidade do resultado e consigo visualizar a obra antes de executá-la. Mas tenho me forçado cada vez mais a fazer trabalhos de maneira mais espontânea e tenho gostado do desafio”, conta o artista.

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@apolotorres

PRESTO Autodidata, o artista paulistano Marcio Penha ficou conhecido pelo codinome Presto quando começou a grafitar em 1996. Ele trabalha com diferentes técnicas e suportes, mas, no geral, utiliza spray e látex em paredes para interferir na paisagem da cidade, criando imagens repletas de cor e fantasia. “Vejo as minhas referências como uma busca constante. Imagens interessantes podem vir de um filme ou de quadrinhos, mas nem sempre são oriundas de uma produção artística. Através do app, escaneie a foto para acessar o vídeo

Eu me inspiro muito na natureza, em @presto_sp

suas formas e cores”, revela o artista.

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COBOGÓS

Foto: Josivan Rodrigues

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INVENÇÃO BRASILEIRA Cobogó, solução construtiva criada em Pernambuco, é um símbolo da arquitetura moderna nacional e ressurge como tendência por Ana Carolina Lima

fotos Divulgação

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COBOGÓS

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Foto: Josivan Rodrigues

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Acima, Caixa-d’água de Olinda (PE), projeto de Luiz Nunes de 1935, considerada a primeira edificação expressiva com aplicação de cobogó; ao lado, Instituto de Antibióticos (1952), no Campus da Universidade Federal de Pernambuco. Projeto de Mário Russo. À dir., aplicação de cobogó em construção vernacular na Rua Bispo Coutinho, em Olinda (PE)

uem visita a turística Caixa-d’água de Olinda, na cidade histórica de Pernambuco, depara-se com a primeira edificação expressiva de cobogó, projeto de 1935 assinado por Luiz Nunes. Também conhecido popularmente como “combogó”, essa solução construtiva surgiu no estado nordestino nos anos de 1920 e virou um dos símbolos da arquitetura moderna brasileira. A invenção do revestimento vazado, pensado inicialmente para locais quentes e úmidos, é de dois comerciantes e um engenheiro que residiam em Recife: o português Amadeu Oliveira Coimbra, o alemão Ernest August Boeckmann e o brasileiro Antonio de Góes, cujas iniciais dos sobrenomes (Co – Bo – Gó) deram nome ao produto. “O cobogó foi concebido como um simples elemento pré-fabricado, próprio a ser construído em série, baseado na vazadura de uma retícula modular sobre uma placa prismática de concreto. Na prática, se utilizado como elemento de composição de septos verticais, permitiria a passagem da ventilação natural, ao mesmo tempo em que reduziria a incidência da luz solar”, explica a pesquisa de Josivan Nunes, Antenor Vieira e Cristiano Borba, coautores do livro “Cobogó de Pernambuco”. Segundo os pesquisadores, relatos da família Boeckmann indicam que a ideia surgiu em uma viagem de Ernest August às Índias, quando “encontrou nos elementos vazados, presentes nas treliças de madeira indianas, a solução para a circulação do ar, enxergando nisso uma grande oportunidade de negócio. Para esta empreitada, além do já sócio Coimbra, o engenheiro Góes foi convidado para viabilizar tecnicamente o artefato.” Patenteada em 1929, a solução inovadora concedeu uma linguagem à arquitetura nacional da época, em sinergia com o discurso da Semana de Arte Moderna de 1922. O cobogó foi popularizado nas décadas de 1940 e 1950, e grandes nomes modernistas como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer e seus seguidores foram seus adeptos em construções icônicas do Brasil. Como exemplos, há o Parque Eduardo Guinle (Rio de Janeiro) projetado por Costa, o Copan (São Paulo) e a Biblioteca Nacional (Brasília), de Niemeyer.


Foto: Josivan Rodrigues

Na capital brasileira, inclusive, o cobogó foi muito aplicado em casas e prédios do plano piloto da cidade. Além da utilização estética e poética na arquitetura erudita, vale ressaltar que a criação do item estava ligada ao barateamento das construções. Isso porque, além de permitir a entrada de luz e ventilação naturais e ter ótimo desempenho em regiões tropicais, contém menos materiais que os tijolos. O revestimento realmente se popularizou nas construções vernaculares, ao ser utilizado na decoração de fachadas e muros baixos de casas comuns. “O cobogó merece respeito por ter retornado às suas origens populares, tendo se difundido massivamente por apropriação do usuário construtor, que escolhe o elemento vazado como solução imediatamente eficaz para suas iniciativas espontâneas, sem, necessariamente, a interveniência do arquiteto formal”, explicam os pesquisadores. Dentre as funções, o produto pode ser utilizado para “anteparo solar, cruzamento de ventilação, divisões ambientais, janelas de respiro, elementos de visualização, proteção em áreas públicas e privadas. É composto como participante de controle e diminuidor do gasto de energia elétrica por condicionamento de ar, iluminação interna intensa e ventilação mecânica. Um componente original do baixo impacto arquitetônico e da sustentabilidade ambiental, atualmente requerida”, complementa o estudo.

A pioneira A Caixa-d’água do Alto da Sé, em Olinda, é um projeto de 1935, do arquiteto Luiz Nunes, considerado um marco da arquitetura nacional. Embora mineiro, Nunes era radicado no Recife e participou da criação da equipe da Diretoria de Arquitetura e Urbanismo da Prefeitura do Recife – DAU-PCR, na década de 1930. O profissional, no entanto, interpretou o cobogó e o aplicou na construção a fim de otimizar questões estruturais e financeiras. “O conceito do modernismo de utilizar materiais industriais com toda a sua verdade, deixando-os expostos como são e, ao mesmo tempo, tentando fazer uma arquitetura econômica, encontra no cobogó um material de aplicação para a arquitetura nova que se pretendia fazer”, comenta o arquiteto e pesquisador Cristiano Borba. A Caixa-d’água “é um prisma puro, sem rebuscamentos. Seus dois planos principais e mais estreitos foram erguidos em cobogó, com a função de proteger a escada interna que leva ao reservatório de água, mas que precisava de ventilação”, complementa.

Foto: Josivan Rodrigues

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COBOGÓS

O cobogó hoje Com o passar do tempo, a influência da arquitetura internacional e dos novos materiais, como o vidro e o aço, contribuiu para que o cobogó ficasse esquecido por algumas décadas. Porém, devido a questões estéticas e até mesmo ambientais voltadas para a sustentabilidade, uma vez que permite a entrada de luminosidade natural e melhor circulação de ar, o produto tem ganhado espaço novamente. Marcas de revestimentos apresentam novidades no mercado e arquitetos contemporâneos passaram a utilizar cada vez mais o elemento em soluções simples e esteticamente viáveis, principalmente na decoração de interiores.

Foto: Hesíodo Góes/Tempo Conteúdo

Um Sertão de cobogós A arquitetura idealizada por Marcelo Ferraz é um dos pontos altos do Cais do Sertão, em Recife, e foi planejada para reproduzir o ambiente sertanejo, desde o concreto amarelado até a utilização dos cobogós. Inaugurado em maio de 2014, o museu propõe a interatividade dos visitantes com objetos representativos do Sertão e da figura de Luiz Gonzaga. “O espaço dialoga com as tradições do universo sertanejo em um prédio de concreto aparente, propositalmente pensado pela ótica da durabilidade, simplicidade e manutenção. Tudo isso protegido por um véu de cobogós, que filtra a luz e diminui o impacto da pigmentação do concreto na cidade”, explica a secretária executiva do Prodetur (Programas Regionais de Desenvolvimento do Turismo), envolvido na obra, Manuela Marinho. Esses cobogós que revestem o Cais - mais de 2 mil foram produzidos manualmente e diariamente por cerca de 20 pessoas. Os desenhos das peças aplicadas na fachada do equipamento cultural recriam galhadas das árvores da região e a incidência da luz natural sobre elas gera uma sombra no interior do espaço, que remete à vegetação da caatinga. 44 INTERIOR DECOR

No alto, cobogós da área externa do Cais do Sertão, em Recife (PE), produzidos manualmente. Acima, em sentido horário, cobogós de Guto Requena, de porcelana, para Manufatti; Imbuí, de concreto, da Gauss; Itacoá Corner, de concreto, da Gauss; Angolo, de concreto, para Palazzo; Itacoá Cube, de concreto, da Gauss; Finestra, de Calu Fontes para Decortiles; Abeto, de argila, da Manufatti


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Foto: Josivan Rodrigues


COWORKING

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL ESCRITÓRIOS COMPARTILHADOS GANHAM FORÇA NO CENÁRIO DE ATIVIDADES FREELANCERS E REVOLUCIONAM AMBIENTES E RELAÇÕES DE TRABALHO por Nathalia Giordano

fotos Divulgação

Conhecidos como coworkers, os profissionais de ofícios das mais distintas áreas que partilham escritórios já provaram não fazer parte de um mero modismo. Segundo um levantamento da comunidade Coworking Brasil, esse modelo cresceu 114% no último ano. No momento da difusão dos freelancers e dos autônomos, da necessidade de redução de custos e da urgência de estruturas de trabalho, os coworkings ganharam espaço. Além do enfraquecimento do antigo sonho de criar carreiras sólidas em empresas seguras, as novas gerações carregam anseios de empreender e manter-se livres para dar vida às novas ideias. Todavia, não é simples sustentar essa mudança de perspectiva. Os escritórios compartilhados vêm em boa hora, pois surgem driblando os altos valores de aluguel em centros comerciais, os contratos e burocracias do mercado imobiliário e os orçamentos inviáveis para compor uma boa estrutura. No que diz respeito à questão social, o ambiente costuma ter atmosfera mais leve por não carregar hierarquias e fomenta o networking e o surgimento de ideias.

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SPACES Direto de Amsterdã, o Spaces é um coworking dos grandes. Não apenas em tamanho, mas em potência. A primeira filial no Brasil – justamente a da imagem da matéria – foi inaugurada em 2017 e está localizada no charmoso bairro paulista Vila Madalena. Após um ano, aproximadamente, já possui mais três unidades no país. O lema principal da casa é “sucesso gera mais sucesso”, e fica mesmo difícil discordar. O destaque da primeira unidade brasileira é o rooftop que oferece vista privilegiada para a cidade, além de espantar a atmosfera corporativista. Os eventos do Spaces costumam ser atrativos, como foi o caso da parceria com o Velocity, na qual ofereceram um treino intenso de spinning no rooftop – além de trabalhar, já é possível queimar calorias no escritório. www.spacesworks.com


COMPLEXO MOFO Em Sorocaba, desde 2016, o Complexo Mofo rouba a cena de coworkings no interior. Projetado pela Bruna Paschoarelli, com o intuito de promover e fomentar a circulação de ideias e a economia colaborativa, o espaço oferece estrutura completa de trabalho com atmosfera inspiradora e despojada. Por lá, o perfil dos freelancers é marcado pela diversidade – tanto de idade quanto de área de especialidade. O Complexo Mofo abriga desde advogados até filmmakers. Além dos atributos habituais de coworkings, a singularidade do espaço se dá pelo estúdio de música. “Oferecemos o nosso estúdio para ensaios e gravações. Na parte da gravação (produção musical), fazemos todo o trabalho de concepção do material junto com a banda ou artista, captação e até mesmo pósprodução”, explica Marcio Bertasso, fundador do Complexo Mofo. www.complexomofo.com.br

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COWORKING WIKILAB Liberdade de criação é ponto-chave no Wikilab. Grande parte da infraestrutura do espaço permite alterações e mudanças enriquecedoras: “No caso do mobiliário, por exemplo, todas as mesas foram projetadas para que uma única pessoa consiga desmontá-las e mudar o layout da casa toda, além do aspecto ergonômico e harmônico com o restante das peças”, conta José Eduardo Calijuri Hamra, arquiteto responsável pelo projeto e cofundador do Wikilab. Situado em São Carlos, a 230 km de distância de São Paulo, o espaço também traz a calmaria do interior em pátios internos e no jardim – os tons verdes naturais criam uma atmosfera de descompressão para os coworkers. www.coworkingsaocarlos.com

OSMOSE Um ambiente de compartilhamentos, para dividir experiências, desafios e conquistas. Foi pensando nessa troca que surgiu a inspiração para o nome OSMOSE. Norteado pelo minimalismo que traz leveza e sensação de acolhimento, o espaço abriga ambientes multifuncionais que incitam a criatividade. O arquiteto Diogo Cortês Luz comenta que, no projeto, o conforto dos usuários foi priorizado e a escolha dos materiais foi guiada pelo custo-benefício e a baixa manutenção, por isso o uso de cimento queimado e paredes de tijolos. Cadeiras modernas e sofás vintage dão charme ao ambiente. O perfil dos coworkers não segue regras: “Somos muito ecléticos, mas falamos a mesma língua, todos interagem muito bem”, completa Diogo. www.osmosecoworking.com.br

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AHOY BERLIN O design importado, criado pelo alemão Axel Schiermeyer, transfere para a unidade de São Paulo a sinergia da matriz Ahoy! situada em Berlim. Dentre os destaques, o pé-direito alto desponta ao conferir significativa sensação de amplitude em ambiente arejado. Além de proporcionar espaço para coworkers, o Ahoy! Berlin também colabora com startups e empreendedores, conectando-os com a comunidade, os investidores e até com o mercado europeu. “Procuramos promover meet-ups e cursos, movimentando o espaço com conteúdo de qualidade e relevância. Este ano estamos trabalhando também na divulgação, acompanhamento e realização da etapa brasileira do The Falling Walls Lab, um evento que premia ideias inovadoras no campo das ciências, sociedade, negócios, política e/ou artes”, comenta Giuliana Rovai, Community Manager da Ahoy! Berlin São Paulo. www.ahoyberlin.com.br

UFO O conceito da chegada de algo desconhecido que provoca curiosidade e interesse é relacionado ao nome UFO. Não é só o nome que remete ao espaço, a fachada marcante formada por um muro de gabião construído com base modular metálica e preenchido com pedras flutuantes faz alusão direta ao espaço sideral. Concepções terrestres também serviram como inspiração, é o caso do design industrial e da arquitetura sueca e escandinava. A MOV.IN Arquitetos uniu as referências singulares de forma radiante, projetando um espaço que mescla também diferentes atividades e grupos de pessoas em um mesmo ambiente. A conexão é o foco principal, e unir empreendedores com o mundo é o objetivo dessa empreitada que se inicia com o UFO Space Canoas. Atualmente, já foram feitas parcerias com instituições de educação nacional e internacional, além do vínculo com outros empreendedores de diferentes partes do mundo. “UFRGS e instituições da Suécia, como a Linköping University, são alguns dos convênios já firmados”, revela Walker Massa, Diretor de Inovação do projeto. www.ufospace.com.br

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GASTRONOMIA

VISTA GASTRONÔMICA No rooftop do MAC-USP, projetado por Niemeyer, é possível comer e beber bem, além de contemplar cartões-postais de São Paulo por Ana Carolina Lima

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fotos Rubens Kato

arquitetura sinuosa de Oscar Niemeyer proporciona uma poética particular ao Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC-USP). O prédio, criado nos anos de 1950, abriga o centro de referência de arte moderna e contemporânea, com cerca de 10 mil obras, entre pinturas, gravuras, fotografias, arte conceitual, objetos e instalações. Trabalhos históricos de artistas como Kandinsky, Marc Chagall, Pablo Picasso, Joan Miró, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Victor Brecheret fazem parte do acervo. Nesse mesmo local, no ponto mais alto do prédio - 8° andar -, está o Vista Restaurante, especializado em comida brasileira, com assinatura do chef paranaense Marcelo Corrêa Bastos. Do rooftop, contempla-se o Parque Ibirapuera, o Obelisco dos Heróis da Revolução de 32, o Pavilhão da Bienal, a Oca, o Auditório Ibirapuera, o Instituto Biológico e o skyline da metrópole. Durante o dia, é possível observar com clareza o local e a movimentação característica de veículos da cidade nas ruas. Do lado externo do Vista, inaugurado em abril, há mesas para espera, onde o público pode tomar vinho e drinks observando a paisagem. Nos dias mais frios, o restaurante oferece uma manta para colocar sobre as pernas. À noite, o clima fica mais intimista e romântico, com o céu escuro e as luzes da capital acesas. Conhecido pelas receitas que serve desde 2012 em seu outro restaurante paulistano, o Jiquitaia, o chef se associou ao grupo Indústria de Entretenimento, de Leo Sanchez, Eduardo Papel, Jairo Chansky, Walace Giuzio e Felipe Bellim. Os empresários são donos de empreendimentos como o bar Rey Castro, o pub The Sailor e a lanchonete e steakhouse Sailor Burger.

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“O Vista é um restaurante de comida brasileira. Dispenso o rótulo de comida brasileira contemporânea, porque meu trabalho é muito calcado nas tradições. Mas não é por isso que eu me privo de fazer releituras de pratos típicos e incluir toques autorais em clássicos”, explica Marcelo. Entre os pratos tradicionais, que vão além do cardápio fixo, estão a moqueca capixaba de peixe e camarão, e a feijoada exclusiva dos almoços de sábado. Nos almoços de domingo, é possível degustar o leitão à pururuca. Outras receitas foram aprimoradas, como o pato no tucupi (R$ 99), composto pelas carnes da ave (um magret malpassado e uma coxa confitada) servidas sobre um leito de verduras refogadas (jambu, chicória, agrião, coentro e espinafre) e, à parte, um recipiente com o molho, para adicionar de acordo com a preferência.


Dentre as sugestões do chef estão o frango desossado com quirera de milho e legumes (R$ 62) e a copa lombo suína com redução de caldo de suã, batatasdoces e hortaliças (R$ 68). Para os vegetarianos, há os raviólis veganos em caldo de cogumelos (R$ 62), com massa de farinha e água e recheados de abóbora, batata-doce e pamonha de milho. O cardápio também oferece petiscos para serem compartilhados, como as croquetas de pupunha com maionese de pimenta-de-cheiro (R$ 29), os bolinhos de siri com salada de ervas frescas (R$ 31) e o tempurá de cambuquira (broto de chuchu, abóbora ou abobrinha) com milho verde e pimenta jiquitaia (R$ 29). De sobremesa, o chef indica o terrine de chocolate com calda de caramelo e compota de laranjinha kinkan (R$ 25), a torta de caramelo com sorvete de castanha-do-pará (R$ 28) e a pavlova com curd de limão e sorvete de cambuci (R$ 25).

Acima, área externa do restaurante onde é possível degustar bebidas e observar a vista panorâmica

Do rooftop, contempla-se o Parque Ibirapuera, o Obelisco dos Heróis da Revolução de 32, o Pavilhão da Bienal, a Oca, o Auditório Ibirapuera, o Instituto Biológico e o skyline da metrópole

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GASTRONOMIA Os drinques são assinados pelo mixologista baiano Laércio Silva, conhecido como Zulu, especialista na utilização de ingredientes genuinamente brasileiros em seus coquetéis. “A proposta aqui no Vista é que a coquetelaria siga os moldes da gastronomia, com brasilidade, simplicidade e esmero. Desenvolvi drinques inspirado nas minhas raízes regionais, colocando em destaque elementos como a cachaça e frutas como o umbu e o cambuci”, conta. O profissional já participou de cursos sobre irish whiskeys na Irlanda, de workshops sobre gins na Inglaterra e ainda produz uma linha exclusiva de bitters artesanais. Zulu criou seis drinques exclusivos para o Vista, entre eles o Sertanejim (que mistura cachaça Leblon, pitaya vermelha, mix de especiarias, suco de limão e mel e é finalizado com chips de mandioca e um coquinho de licuri – R$ 28,90), o Mangadinha (feito com gim, purê de manga, cardamomo, água gaseificada, suco de limão, laranja Bahia e um raminho de endro dill – R$ 31,90) e o Umbu Sour, elaborado com cachaça Leblon, compota de umbu, clara de ovo e suco de limão (R$ 29,90). No mezanino do MAC funciona também o Vista Café, para antes, depois ou até para o intervalo das visitas às exposições. O local serve bolos, doces, salgados e bebidas típicas de um café. No almoço, das 12h às 16h, há o Convescote, com três opções sazonais de entrada, prato principal e sobremesa (R$ 35 a R$ 65). Além disso, aos domingos, das 10h às 16h, é oferecido um brunch. Dos mesmos sócios do grupo Indústria Entretenimento, o rooftop do prédio abriga ainda o Bar Obelisco. Além disso, está prevista para setembro a inauguração do Bar do Mar, um raw bar – especializado em comidas cruas – de frutos do mar. Niemeyer com nova roupagem! Tudo começou com uma visita técnica dos sócios Leo Sanchez, Eduardo Papel, Jairo Chansky, Walace Giuzio e Felipe Bellim ao local para um evento que estavam produzindo. “Nos apaixonamos pela vista do lugar e começamos a desenvolver a ideia do projeto – o nome já tinha nascido ali. O conceito e a proposta do Vista Ibirapuera são ocupar um espaço inutilizado por anos e poder oferecer uma nova opção de gastronomia e entretenimento”, contam. Então iniciaram as pesquisas e as parcerias. O ateliê Prototyp&, do arquiteto Felipe Protti, foi escolhido para dar nova roupagem ao 8º andar 52 INTERIOR DECOR

do MAC, uma cobertura com mais de 2.400 m² de área, cujo terraço ocupa cerca de 1.400 m². A arquitetura original de Niemeyer foi respeitada e, sem grandes intervenções, o novo projeto destacou elementos dos anos 50 e 60, influências e proporções vintage, mas com referências atuais. Cadeiras, mesas, luminárias e acessórios foram desenhados pelo próprio Felipe, que criou ambientes neutros e elegantes com tons de branco e off-white. Ladrilhos hidráulicos com volumetria e uma parede de cobogós – que separou diferentes recintos – complementam o visual do espaço. O piso existente foi lixado até aparecerem pedras, então lapidadas, que receberam acabamento em resina, dando ares de granilite. Além disso, o forro de gesso foi retirado e houve um ganho de mais 20 cm de pé-direito. “Foi um prazer realizar um projeto de interiores em um prédio com arquitetura assinada pelo mestre Niemeyer. Fiz uma extensa pesquisa sobre seus projetos, principalmente dos interiores, em que a mistura do simples com o design prevalecia, sem muita interferência na arquitetura, sintetizando bem o ambiente. Tivemos que criar uma circulação nova para a proposta do espaço, que abrange restaurante e um lounge para eventos e espera, com divisórias em cobogós de concreto bem simples, com uma geometria simétrica”, explica Protti.

Acima, projeto de interiores do Prototyp& destaca elementos dos anos 1950 e 60, mas inclui referências contemporâneas. Ao lado, Marcelo Corrêa Bastos assina o cardápio do restaurante, que tem pratos típicos brasileiros com toques autorais À dir., o cordeiro com molho de maniva, criado pelo chef, é acompanhado por banana-da-terra; Banzeiro, drink da casa criado pelo mixologista Zulu, tem cachaça Leblon, xarope de açúcar, suco de limão, vinho tinto e espuma de gengibre


vistasaopaulo.com.br

Cordeiro com molho de maniva, por Marcelo Corrêa Bastos Ingredientes • 1kg de carré de cordeiro • 2 bananas-da-terra • 10 minicebolas • azeite para untar o cordeiro Para a marinada • 200ml de vinho branco • 800ml de água • 35g de sal • 10g de açúcar • 1 dente de alho • 5g de pimenta-do-reino • 1 pimenta-de-cheiro • 1 folha de louro • 1 raiz de coentro Para o molho • 500g de maniva moída e pré-cozida • 80g de coentro (inteiro com raiz) • 10g de gengibre ralado • 20g de alho • 30g de pimenta-de-cheiro • 30ml de dendê • 50ml de azeite • 2g de cominho • 10g de gergelim • 100ml de demi glace Modo de preparo Bata todos os ingredientes da marinada no liquidificador e coe. Marine os carrés por 8 horas, seque e deixe descansar por, pelo menos, 3 horas. Para o molho, refogue no azeite com dendê todos os ingredientes, exceto o demi glace e a maniva. Deixe que murchem bem. Adicione a maniva e o demi glace, deixe ferver e processe tudo. Volte ao fogo até chegar ao ponto (deve ser pastoso, mas ainda fluido, algo entre um pesto e um molho espesso). Grelhe os carrés untados em um pouco de azeite até que estejam ao ponto. Deixe descansar por alguns segundos. Enquanto isso, doure as minicebolas e as fatias de banana (de aproximadamente 5 mm) em frigideira antiaderente. Sirva tudo sobre o molho aquecido. Rendimento: 4 porções INTERIOR DECOR 53


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NONONONO PAISAGISMO

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MUITO ALÉM DO JARDIM Paisagista de estrelas da televisão e de grandes empresários do Brasil, Gilberto Elkis divide com a ID os projetos e experiências mais marcantes de sua carreira por Samia Malas

fotos Renato Elkis

G Mais de 20 espécies de plantas foram colocadas neste jardim residencial, à esquerda, que tem ambiente de estar próximo à horta feita em vasos. Como os clientes gostam de cozinhar, há uma variedade grande de temperos e chás. Na pág. ao lado, projeto realizado em parceria com a arquiteta Zize Zink. O revestimento da piscina foi trocado por pedras pretas. As espécies vegetais são bem tropicais. As principais são Phoenix roebelinni, Cycas revoluta, Thunbergia erecta, Plumeria glabra (jasmim-manga), e forrações tropicais como a barba de serpente, o clorofito, maranthas e calateias

ilberto Elkis, que assina projetos paisagísticos (e paradisíacos) em residências de personalidades como Marília Gabriela e Malu Mader e de empresários brasileiros, tem 30 anos de trabalho. O paulistano, autodidata, aprendeu a profissão em livros, viagens – seu principal hobby –, e em cursos com nomes como Evergreen e Springtime Growers, nos Estados Unidos, e Manequinho Lopes, em São Paulo. Agrega-se a isso, claro, seu lado observador e atento à natureza, sua paixão desde criança. “Ao aprender a clássica experiência do feijãozinho que germina no algodão, produzi nada menos do que 180 mudinhas em casa”, revela. Aos 10 anos de idade, Elkis se encantou de vez pelas belezas naturais quando o carro de seu pai quebrou durante uma viagem rumo ao litoral Norte de São Paulo. “Adentrei na Mata Atlântica enquanto esperávamos por socorro e me encantei com a complexidade e a beleza dela. Voltei falando para meu pai que trabalharia com paisagismo”, relembra ele, que ainda hoje busca inspiração na natureza bruta.

elkispaisagismo.com.br

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PAISAGISMO Gilberto frequenta tantos lugares para observá-la que não consegue eleger um especial. “O mais importante é levar a Natureza em consideração em meus trabalhos”, conta o paisagista, que não gosta de falar em tendências. “Trabalho para deixar a natureza mais próxima do homem, trazendo conforto para dentro de casa”. Exemplo do seu lema é o seu escritório na Vila Madalena, um lugar descrito pelo dono como “vivo e cheio de personalidade”. Estilo multidisciplinar Fora do Brasil, Elkis se encanta por algumas escolas clássicas do paisagismo como a italiana, francesa, inglesa e a japonesa, com seus jardins zen. “Adotei um mix de todas essas escolas, cuja valoração da história e cultura eu admiro. Isso resultou em meu estilo, que classifico como multidisciplinar. Acredito bastante numa combinação de texturas, luzes, cores...”, conta. A água é um elemento que está bastante presente em seus trabalhos. “Ela é um componente vital, não existe ser vivo sem a água. Além disso, ela aguça nossos cinco sentidos”, explica o paisagista, que costuma realizar o projeto exatamente como foi aprovado pelo cliente. “Não gosto de surpresas ou de dar surpresas ao meu cliente”.

Pergolado do espaço gourmet, um ambiente de estar e de refeição próximo à área da cozinha gourmet, onde os proprietários fazem suas refeições nos finais de semana. No muro, jardim vertical com diversas espécies de samambaias. O pergolado tem uma cobertura de tecido retrátil

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Sobre os trabalhos recentes, Elkis destaca o de uma residência em São Paulo, em parceria com a arquiteta Zize Zink. Em uma área de 1.500 m², Elkis reformou o jardim da casa, trocou os revestimentos da piscina e, em conjunto com o escritório de arquitetura, construiu um espaço gourmet. A lista das plantas do projeto é extensa, mas vale mencionar espécies como grama-amendoim, asplênio, calateia-zebra, dracenaarbórea, grama-preta, pândano-rasteiro, filodendro, além de samambaias, árvores frutíferas e suculentas variadas. Para o futuro, Elkis segue com sua trinca de sucesso: inovar, criar e surpreender.

Projetos Elkis já fez trabalhos no Marrocos, Estados Unidos, África, Chile, entre outros países. Contudo, o mais marcante de sua carreira é nacional. O profissional considera o projeto que fez em 2004 para o Hotel Unique, em São Paulo, assinado pelo Ruy Ohtake, um grande diferencial na sua trajetória. Com ele, foi premiado pela revista inglesa Wallpaper com o título de “Melhor Piscina do Mundo”. Isso porque a piscina – que fica ao lado do bar e do restaurante do hotel – é o grande destaque do projeto. Com 25 m de comprimento, ela foi feita na cor vermelha, provocando diferentes reações nas pessoas. “Me inspirei no curso dos rios e usei muitas formas geométricas nesse trabalho. Fiz a piscina vermelha por ousadia”, revela. Suculentas, cactos, pândanos e Beaucarnea recurvata, comumente chamada de pata-de-elefante, estão entre as plantas que foram selecionadas para o lugar.

Acima, vista aérea da entrada do Hotel Unique, projeto em que o paisagista usou e abusou de formas geométricas. Foi feito um jardim de pedras (mosaico português) e o desenho sinuoso é de um rio com água corrente. A vegetação conta com Pandanus utilis e agave angustifolia. Ao lado, piscina vermelha do Hotel Unique, em São Paulo, cujo efeito é dado pela pastilha de vidro transparente – que já é vermelha – e que rendeu a Gilberto Elkis o prêmio de “Melhor Piscina do Mundo”, pela revista inglesa Wallpaper. Ao redor, suculentas, cactos, pândanos, Beaucarnea recurvata, entre outras espécies de plantas INTERIOR DECOR 59


FACHADAS por Paula Queiroz fotos Divulgação

A PELE QUE HABITO SELECIONAMOS SEIS EDIFÍCIOS NA CIDADE DE SÃO PAULO COM PROJETOS INOVADORES

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cada ano, novos projetos arquitetônicos são inaugurados na cidade de São Paulo e, entre eles, alguns se destacam pela inovação, conceito, sustentabilidade, tecnologia e muito mais. Arquitetos consagrados como Guto Requena, Paulo Mendes da Rocha, Kengo Kuma, Andrade Morettin, FGMF, Marcelo Rosenbaum e Isay Weinfeld fazem parte dessa mudança no cenário da cidade.

JAPÃO CONTEMPÔRANEO Com o intuito de apresentar o Japão do século 21, a Japan House une arte, gastronomia, design e tecnologia. Inaugurado na Avenida Paulista, o espaço projetado pelo arquiteto japonês Kengo Kuma, em parceria com o escritório brasileiro FGMF, se destaca pela sua imponente fachada de madeira. Feita com seis toneladas de Hinoki, uma espécie de pinheiro nativo do Japão, extraído de manejo sustentável, a estrutura foi construída por uma equipe de cinco artesãos japoneses especializados na arte de encaixes de madeira. Ainda do lado de fora, uma parede de cobogós de concreto foi desenhada por Kuma, que fez uma releitura desses clássicos elementos da arquitetura brasileira.

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FACHADAS

INSPIRADO NA NATUREZA A convite da construtora WZarzur, Marcelo Rosenbaum projetou o Edifício Brasil, feito em coautoria com Guto Requena. Localizado na região do Baixo Augusta, na esquina da Rua Martinho Prado com a Rua Santo Antônio, o prédio ficou conhecido pela sua fachada em degradê de tons verdes e azuis, inspirados na natureza brasileira. Marcelo Rosenbaum traz uma reflexão sobre a brasilidade, identidade e o impacto da construção no processo de requalificação do Centro Histórico. Entre os materiais selecionados estão itens tradicionais brasileiros, como o ladrilho São Paulo, o cobogó, o cimento queimado, o concreto aparente e a madeira.

FACHADA INTERATIVA O jovem arquiteto Guto Requena é o responsável pelo projeto da fachada do WZ Hotel, localizado na Avenida Rebouças. O antigo edifício, construído na década de 1970, ganhou uma fachada interativa que faz do prédio um ótimo candidato a se tornar um ícone do século 21 na cidade de São Paulo. O arquiteto criou um processo paramétrico, gerado por computador, que analisa a paisagem sonora do entorno e cria padrões gráficos coloridos como resposta a esses sons. Outros sensores captam a qualidade do ar e modificam as cores da fachada de acordo com o resultado obtido, com cores quentes em dias mais poluídos e tons frios em dias com boa qualidade do ar.

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PROJETO SUSTENTÁVEL A nova unidade do Instituto Moreira Salles, localizada na Avenida Paulista, tem projeto assinado pelo escritório Andrade Morettin Arquitetos e já conquistou o prêmio de melhor obra de arquitetura de São Paulo em 2017, concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, na Categoria Arquitetura e Urbanismo. O edifício foi desenvolvido a partir de conceitos sustentáveis, com o uso de lâmpadas de LED, áreas com iluminação e ventilação naturais, elevadores e escadas que reutilizam sua própria energia, aquecimento solar e captação de água de chuva.

ARQUITETURA ESTRELADA Localizado no centro de São Paulo, o novo Sesc 24 de Maio tem cerca de 28 mil m2 e conta com projeto assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, um dos nomes mais importantes da arquitetura brasileira, em parceria com o escritório MMBB Arquitetos. Um dos destaques do projeto final é a piscina construída no topo do edifício, com vista panorâmica para a cidade. A fachada moderna, toda revestida com vidros espelhados, se contrapõe ao interior todo feito de concreto nas paredes e no piso.

PLANO E VOLUMES Na agitada esquina da Alameda Santos com a Rua Augusta fica o Santos Augusta. O novo empreendimento da REUD é um misto de escritórios, teatro, restaurante, bar e café. O edifício, assinado pelo arquiteto Isay Weinfeld, compõe-se de quatro volumes de tamanhos, texturas e alinhamentos distintos. Entre um volume e outro há andares intermediários em que o perímetro da área fechada é recuado das bordas e inteiramente circundado por terraços ajardinados. Um dos destaques é o espaço público arborizado, com projeto paisagístico de Rodrigo Oliveira.

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UM OÁSIS NAS REDONDEZAS Em Nova Odessa, o maior jardim botânico da América Latina supera expectativas e oferece refúgio e saberes científicos por Nathalia Giordano fotos Leandro Veiga e Jardim Botânico Plantarum

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Acima, o cactário do jardim botânico; no alto, Jardim das Palmeiras e espelho d’água com a escultura “Índio na Canoa”; à direta, outro ângulo do Jardim das Palmeiras e gramado com a escultura “Boitatá”; ao lado, lago das ninfeias com as esculturas “Ipupiara” e “Crianças Indígenas”. As quatro esculturas citadas são do artista Mello Witkowski Pinto

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ustentando o título de maior jardim botânico da América Latina, o Plantarum é centro de referência em pesquisa e conservação da flora brasileira e abriga um acervo com mais de quatro mil variedades vegetais – muitas delas em iminência de extinção. Esta poderia ser mais uma reportagem de turismo imperdível que demanda amplo planejamento de itinerário e organização para viagem. Longe disso. O espaço em questão está localizado na região metropolitana de Campinas – na cidade de Nova Odessa. Instalado em um lote de aproximadamente nove hectares, o Jardim hoje ocupa o local em que antes funcionava uma fábrica de lançadeiras. O espaço abriga jardins temáticos, lagos, bosques, estruturas técnicas e coleções científicas – até de plantas medicinais e alimentícias. Não é só a natureza que decora o local, por lá a arte também tem vez. Pelo jardim, as esculturas do artista Mello Witkowski Pinto saltam ao olhar, retratando o homem brasileiro e seus mitos. Nos espaços internos, inspiradas na flora brasileira, as telas de Margherita Leoni transportam as flores para as paredes. Por iniciativa do agrônomo e botânico Harri Lorenzi, o Instituto Plantarum foi idealizado no começo dos anos 1990. Durante um longo período – mais de 35 anos –, com o objetivo de colaborar com a conservação da flora brasileira, Lorenzi conduziu inúmeras expedições pela maior parte dos ecossistemas brasileiros, levantando dados, catalogando e coletando plantas nativas.


plantarum.org.br

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Jardim da Ninfa, um dos destaques do Plantarum

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A compilação desse árduo trabalho resultou na publicação de importantes livros sobre o assunto. O material teórico – mesmo com mais de vinte títulos – não supriu o desejo de apresentar um acervo botânico real. No final dos anos 1990, o terreno foi escolhido e passou a receber cuidados para a estruturação. Nesse período, foram realizados tratamentos paisagísticos e também ambientais. Em 2007, um grupo de indivíduos se associou em prol do projeto e no formato de uma organização sem fins lucrativos deram início ao Jardim Botânico Plantarum. Hoje, o espaço tem reconhecimento da Comissão Nacional de Jardins Botânicos e também foi qualificado pelo Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. O Plantarum tem atuação importante na conservação de espécies, intercâmbio científico botânico, publicação de artigos sobre o tema e também na educação ambiental para a população. A Doutora Ana Maria Girotti Sperandio, professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, especialista em saúde pública e planejamento urbano, relata três grandes benefícios que um jardim botânico traz à cidade: a preservação ambiental, o contato da população com a natureza, além de ser um espaço para pesquisas de diversas escalas. Uma cidade que abriga um jardim botânico já possui um requisito significativo para ser uma cidade sustentável. “É importante, pois esse espaço traz no interior de si um ar mais límpido e uma série de quesitos positivos que tornam seu entorno um ambiente mais saudável”, explica a doutora. Todavia, por mais que pareça, nem tudo são flores por lá. Segundo a relações-públicas do Plantarum, Vanessa Brochini, “as dificuldades de se manter um jardim botânico do setor privado no Brasil são inúmeras. Nosso espaço é voltado não somente para a visitação de pessoas que procuram o lazer contemplativo, mas principalmente para a educação ambiental de crianças do ensino infantil, fundamental e médio e para a pesquisa botânica e conservação da flora brasileira. Apesar da certificação de OSCIP [Organização da Sociedade Civil de Interesse Público] conferida pelo Ministério da Justiça no ano de 2015 como entidade de meio ambiente, não temos nenhum apoio oficial, apenas imunidade tributária federal”. 68 INTERIOR DECOR


A relações-públicas do espaço também relata que o único incentivo recebido são as renúncias fiscais, por isso, a solução que o jardim adotou para manter a organização é apostar na eficiência. Ainda assim, mesmo munido de tanques que permitem enorme armazenamento de água de chuva – cerca de 14 milhões de litros – e com o domínio de técnicas de reaproveitamento, os recursos financeiros seguem como um obstáculo significativo para o projeto.

Em sentido horário; prédio da recepção; lago das flores; vista do jardim do interior do salão de eventos; lago das carpas; lago das ninfeias

Seja para fins acadêmicos ou de lazer, o jardim atende às expectativas de maneira majestosa. Os exemplares raros costumam chamar atenção: a Butia leptospatha – pequena palmeira tida como extinta – e até um pinheiro amazônico. Os jardins temáticos também abrigam espécies inusitadas, a árvore-do-imperador é uma delas. Priorizando a flora brasileira, divulgando conhecimento, o jardim tem estrutura do mesmo nível dos jardins botânicos mais aclamados de toda a Europa. O passeio, além de unir beleza ao saber, renova a energia em um contato entorpecente com a natureza. INTERIOR DECOR 69


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CORETOS

REMINISCÊNCIAS Ícones da arquitetura, os coretos – relevantes guardiões de lembranças – resistem ao tempo e à desvalia por Nathalia Giordano fotos Divulgação

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passado já não existe mais, embora deixe resquícios - seja na memória ou em amostras materiais. Os coretos, por exemplo, são relevantes marcas monumentais capazes de invocar lembranças e contar histórias de outros tempos. Assim como eles, outras recordações têm sido soterradas pela vigente era digital que propiciou a comodidade das telas e deixou os olhares desatentos. Ainda mais relevante do que lembranças individuais são as memórias coletivas que, diversas vezes, encontram morada em locais ou estruturas simbólicas. É o caso dos saudosos coretos, que guardam história e vivem em ligação direta com o pretérito, com a música e com a vida em sociedade. Por ser um elemento central da cidade, está fundamentalmente localizado no espaço em que o urbano pulsa. É o monumento marcante do coração da cidade. Seu papel como mobiliário urbano foi responsável pela união de pessoas, pela democratização da música, pela ocupação do espaço público. O coreto é também um elemento identitário da população. Em Portugal, os coretos surgem no século XIX, época das revoluções liberais, momento em que novos hábitos de comportamento social ganham força – entre eles a noção de pertencimento ao lugar de morada.


Atração turística da cidade, o coreto de Poços de Caldas fica na Praça Pedro Sanches e foi protagonista do documentário “Coreto – Memórias e Saudades”

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CORETOS

O Brasil, carregado de heranças europeias – particularmente de Portugal, que foi referência forte no âmbito da cultura – absorveu os modismos da metrópole na época, os coretos, embora seja pertinente frisar que as culturas europeias que os popularizaram se inspiraram também em outras culturas – especificamente as orientais. No caso brasileiro, adotamos as tendências que vinham de Portugal, todavia, nossos coretos são reinvenções que assumem nossos conceitos e também sustentam os nossos próprios materiais. Não foi só nas grandes cidades que os coretos estiveram e seguem presentes, a sua difusão no Brasil se deu com o desenvolvimento das organizações musicais que buscavam novos espaços. Além disso, durante os séculos XIX e XX, a modernidade despontava sobretudo na expansão das linhas férreas (em especial nas regiões do interior), que foi agente fundamental desse espargimento dos coretos. No interior de São Paulo, eles fizeram história. Seja com maior ou menor monumentalidade, eles estiveram sempre, ou quase sempre, presentes como ponto de encontro, palco para eventos culturais ou até como cenário de brincadeiras de crianças ou de casais apaixonados.

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Em São Manuel, cidade interiorana a 250 km de São Paulo, a praça central – chamada Dr. Pereira Rezende – abriga um jardim público e um simpático coreto. Até os dias de hoje o espaço recebe uma banda aos domingos. Um dos eventos recorrentes é o pula banda: as crianças pulam e se divertem em volta do coreto ao som que ecoa da banda acomodada no espaço. Ao mesmo tempo, lá do jardim e com olhos atentos, os pais apreciam a festa. No início da década de 1990, o costume se repetia no mesmo formato. É o que conta Jacqueline Aguiar Jordão, moradora de São Manuel na época: “Quando se fala em coreto, as lembranças voltam intensas. Não havia muitas opções de atividades na cidade, mas fizesse sol ou chuva, todos os domingos após a missa as crianças corriam até o coreto, parecia até um evento marcado em agendas. Com as roupinhas da missa, todos engomadinhos, se divertiam em volta do coreto e lá criavam várias brincadeiras. Faziam do coreto espaços da imaginação – às vezes era um foguete ou um submarino, às vezes palco para apresentações daqueles pequenos artistas. Era um ponto de encontro cativante”.

No alto, coreto da cidade de Caconde; acima, atração da praça do coreto em Artur Nogueira; à esquerda, o charmoso coreto de Batatais, no interior de São Paulo

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CORETOS

Na região nordeste do Estado de São Paulo, Brodowski – cidade do pintor Cândido Portinari – abriga um coreto antigo, construído em 1922 pelo prefeito e farmacêutico Antônio Leite de Oliva. Localizado no centro, na Praça Martim Moreira, foi cenário de amantes, encontros e desencontros nos eventos festivos e nos domingos musicais. Por lá, os moradores relatam não esquecer do cheiro da pipoca, da atmosfera de paquera, do burburinho dos diálogos, do som da Ave Maria em tristes anúncios de falecimento. Entre pulsos de vida e lamentações da morte, a história acontecia em volta do coreto. Na praça Cornélio Procópio, a 230 km de São Paulo, em Porto Ferreira, um coreto também carrega lembranças. Sua presença mantém a cidade viva e as memórias por perto. Em sua infância, na década de 1990, Gabriela Mutter conta que lá era um local fantástico para encontrar os amigos e mergulhar em brincadeiras até esquecer da hora de voltar para casa. “Eu brincava muito por lá sim, principalmente depois da missa ou antes de começar algum casamento. Lembro bem dos meus irmãos e eu escorregando em lugares em frente à Igreja. A gente fazia o coreto de palquinho para apresentações. Eu sempre imaginava comigo mesma que eu era uma fada ali. Minha avó e minha mãe contam que iam ao coreto para paquerar. Os homens andavam ao redor dele em sentido anti-horário e as mulheres em sentido horário. Hoje em dia, pelo que sei, às vezes bandas com integrantes ferreirenses fazem shows por lá”. A despeito de viver com tanto vigor na memória da população, os coretos hoje costumam passar despercebidos. Competindo com inúmeros eventos bandeirosos, com aparatos tecnológicos de diversão e outras ocupações atrativas para tempos de lazer, eles têm sido esquecidos. Em vista disso, atualmente muitos desses mobiliários urbanos apresentam sinais de abandono e são amplamente desvalorizados. Sendo responsabilidade municipal, é necessário que o povo faça o uso dos coretos para provocar pressão para que os dirigentes exerçam o cuidado e vigilância desse espaço. Além disso, é fundamental lembrar – e relembrar – a sua importância cultural, social e arquitetônica. 76 INTERIOR DECOR


Acima, coreto de Jundiaí; na extrema esquerda, o monumento histórico da cidade de São Manuel; ao lado, o coreto da cidade de Lindóia; abaixo, retrato da praça de Bocaina

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ARQUITETURA

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REFÚGIO VERDE Com uma arquitetura pautada no uso de materiais locais e em medidas sustentáveis, Isis Chaulon garante o mínimo impacto no entorno e o máximo conforto aos moradores desta residência em Porto Feliz (SP) por Raquel Guanaes fotos Romulo Fialdini

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ma casa de campo para ser desfrutada por duas gerações da família, a Residência batizada de VD, localizada em Porto Feliz, interior de São Paulo, é tanto um refúgio da vida urbana, como também um espaço que incita à reflexão, ao convívio e ao contato mais íntimo com a natureza. Esses conceitos orientaram a concepção do projeto assinado por Isis Chaulon, que se inspirou em grandes nomes da arquitetura modernista brasileira para suprimir vigas e eliminar barreiras, de modo que os ambientes

isischaulon.com.br

de sua obra se tornassem amplos para o convívio, abertos para a iluminação e ventilação naturais,

Os materiais naturais foram, sem dúvida, elementos de destaque no projeto de Isis Chaulon. Painéis de venezianas em madeira formaram os caixilhos

e com materiais que tivessem o mínimo impacto no entorno. “Se eu fosse definir o escritório Isis Chaulon Arquitetura, seria como um ateliê, que faz uso de materiais locais e de design

das suítes de hóspedes que, por

brasileiro em projetos autorais, desenhados

sua vez, se abrem para o deck da

com exclusividade para cada cliente”, ressalta Isis.

piscina com piso em mármore.

Com 1.480 m² de área construída, a residência tem

Já a iluminação foi direcionada para que fossem criados efeitos de luz e sombra das lâminas,

as áreas sociais organizadas em torno do lazer com piscina que, por sua vez, se abre inteiramente para

destacando assim a atmosfera

o grande jardim, pensado para ser uma extensão

aconchegante da casa

da exuberante vegetação da fazenda. INTERIOR DECOR 79


ARQUITETURA

Tudo na casa, aliás, traz a ideia de harmonia com o entorno, e de uma arquitetura feita e pensada para que o bem-estar promovido pela natureza fosse uma máxima no cotidiano de seus usuários. Do interior ao exterior, Isis empregou cores, materiais e texturas que se integram ao colorido da paisagem com naturalidade. Entre as soluções que merecem destaque, estão o granito bruto utilizado nas paredes, e muita madeira nos caixilhos das fachadas. “Para chegar no resultado da parede e das aletas, foram necessários vários protótipos”, conta. Contudo, a complexidade de desenvolvimento e execução do projeto é imperceptível aos olhos de quem por ali passa como usuário ou observador. Tudo na residência se conversa, inclusive no design de interiores foram selecionados móveis, tecidos, luminárias e objetos decorativos que favorecessem uma atmosfera acolhedora e confortável e que ao mesmo tempo dialogassem com a arquitetura da obra. 80 INTERIOR DECOR


Sustentabilidade já O projeto também se destaca por soluções sustentáveis, como a economia de energia, com todos os ambientes fartos em iluminação natural. “Onde não foi possível implantar janelas, utilizamos domus e jardins internos para a captação de luz”, conta a arquiteta. O living, com um generoso vão livre de 12 m, recebe constante ventilação cruzada, dispensando o uso de ar-condicionado. Além disso, o aquecimento da piscina é feito com a energia obtida das placas solares instaladas estrategicamente na cobertura da casa, “para que a área verde do jardim não fosse diminuída”, completa a profissional. Foram criados sistemas de captação de água da chuva para que atividades usuais, como a lavagem da casa ou a

Acima, as fachadas são de granito bruto e os pilares de aço corten, piso em mosaico português e aletas de madeira natural, também utilizada no hall de entrada banhado por iluminação natural, à esquerda. Os caixilhos de madeira natural promovem perfeita integração entre as áreas internas e externas da casa. Na página ao lado, acima, a sala de ginástica se conecta com o lazer e o deck da piscina

rega de plantas, fossem supridas. Uma casa aconchegante e engajada, com certeza! INTERIOR DECOR 81


ARQUITETURA

HORIZONTE PAULISTA Em São Carlos, interior de São Paulo, Carlos Motta projeta morada unificando passado e presente por Nathalia Giordano

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fotos Acervo pessoal


Acima, fachada dá luz ao átrio da residência, as cores quentes destacam o uso da madeira e oferecem atmosfera intimista; à esquerda, ambientes integrados unem requinte e funcionalidade mesclando materiais elementares

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ercada pela natureza, a fazenda de orgânicos projetada pelo arquiteto Carlos Motta dialoga com a paisagem bucólica e a reverencia. A casa, embora térrea, é sustentada por pilotis de madeira que permitiram sua construção sem alterar a topografia do terreno. O princípio ecológico de respeito à natureza é lei dentro do escritório de Motta e está estampado em diferentes projetos. “O arranque de tudo é determinado pela natureza, pelo terreno, pela insolação, pela vista”, explica o arquiteto. A casa foi pensada para ser morada e não um refúgio de lazer. Dessa forma, o espaço atende às necessidades usuais de um lar comum – embora com atmosfera rústica – e foi chamada por Motta de “casa brasileira atual”. Para abrigar a família, a fazenda rústica também é contemporânea e conta com comodidades modernas – conforto acústico e térmico, por exemplo. Considerando as características dos moradores, a residência seguiu um projeto simples, que faz a casa ser funcional em todos os aspectos.

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ARQUITETURA

carlosmotta.com.br

Ao lado, técnicas de pilotis permitem a construção sem interferências topográficas; na extrema direita, a paisagem decora o espaço que é contemplado pela luz natural; abaixo e à esquerda, o espaço da piscina dialoga com o cenário; abaixo e à direita, a utilização de madeira ganha relevância em peças assinadas por Carlos Motta

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Todavia, não se deve pensar que a estética foi negligenciada. Pelo contrário, o simples abriga em si toda a sofisticação. O escritório de Motta foi responsável pelo desenho da maior parte dos mobiliários: da cozinha até o banheiro, as mesas e cadeiras, as camas e varandas. Foi na década de 70 que Carlos Motta abriu seu ateliê na Vila Madalena, charmoso bairro de São Paulo. Desde o início, o arquiteto manteve algumas características. Junto com outras singularidades como a busca inconstante pelo simples e duradouro, a madeira faz parte do universo de Motta – e, pode-se dizer, ocupa posição de destaque. É, inclusive, o material principal na construção da fazenda e se faz presente em todos os ângulos, só se ausenta ao liberar espaço para a alvenaria de tijolo e de pedra – outros materiais que dialogam com a atmosfera rústica do local. A sensação de habitar o passado se faz presente, a vida na fazenda adentra no cotidiano e, ainda assim, o design contemporâneo de Carlos Motta – em diálogo com o cenário – faz a modernidade cintilar. INTERIOR DECOR 85


ILUMINAÇÃO

Ao lado, destaque para o abajur de mesa com haste inclinada, que tem cinco opções de cores. Na página ao lado, acima, abajur de mesa com cúpula inclinável e interruptor fixo ao difusor. Abaixo, abajur de piso para leitura com cúpula orientável e LED integrado

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LUZ, CÂMERA, AÇÃO! A Reka completa 45 anos de história e se consagra como uma das empresas de iluminação mais importantes do segmento por Paula Queiroz

fotos Divulgação

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ma fábrica de 2.600 m² na Rodovia Raposo Tavares, um showroom na Vila Madalena, diversos prêmios na prateleira e parcerias de sucesso. A Reka, que tem mais de 380 famílias de produtos, se consolida no mercado nacional de iluminação com seu estilo minimalista. “As linhas sem excessos, que visam o resultado e não o exagero nas formas, caracterizam o produto Reka”, comenta Rene Heder – responsável pela área comercial. Rene está no comando da empresa ao lado dos irmãos, Renata Heder, que cuida do setor financeiro, e Ricardo Heder, à frente do desenvolvimento de produtos, manufatura e projetos. Nos seus 45 anos de história, a Reka vem passando por inovações que visam aumentar a sua atuação no mercado e internalizar processos que antes eram terceirizados, o que acabou conferindo maior controle e mais qualidade. “Acredito que a participação do designer Ricardo Heder no desenvolvimento de produtos fez com que o nosso portfólio fosse notadamente uma evidência do porquê a marca vem se fortalecendo em um mercado tão competitivo como é o da iluminação”, revela Rene.

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ILUMINAÇÃO

Além das luminárias, ele conta que a empresa também desenvolve itens sob demandas específicas, que são geradas de solicitações externas de iluminadores e de clientes que buscam uma solução ainda não existente no mercado. Entre as inovações mais recentes, também está o desenvolvimento do departamento de projetos luminotécnicos, que é encarregado de orientar e de oferecer as melhores soluções nas aplicações dos produtos oferecidos. Como resultado de todos esses esforços, vemos algumas premiações e participações em importantes projetos arquitetônicos. O conceituado Prêmio Design, do Museu da Casa Brasileira, já premiou algumas peças da Reka, como as luminárias Isis, em 2015, Olivia, em 2016, e Clip, em 2017. Entre os projetos corporativos mais recentes que contam com luminárias da marca, se destacam a Japan House, de Kengo Kuma e FGMF, e o novo Instituto Moreira Salles, com projeto do escritório Andrade Morettin, ambos localizados na Avenida Paulista, em São Paulo.

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Ao lado, pendente de alumínio com cúpula de tecido e sistema deslocador. Na página ao lado, o pendente Olivia para leitura, com altura regulável, que recebeu o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira

A história da Reka começa em 1973 quando Rene Heder, pai dos atuais sócios, e Karl Smalhofer, se uniram para criar a empresa focada em iluminação, cujo nome surgiu por meio da junção das iniciais de Rene e Karl. Num primeiro momento, o objetivo da empresa, com apenas oito funcionários, era atender o mercado de fornecimento de luminárias para áreas comuns de condomínios. A fábrica ocupava um armazém de apenas 600 m² localizados na divisa com o município de Taboão da Serra, e a venda direta para o consumidor era feita em uma escala muito menor, através de um pequeno showroom montado na própria fábrica. A área atual, de 2.600 m², abriga além da fábrica os setores de pintura, armazenagem, expedição e

reka.com.br

administração. Já o departamento comercial, que atende consumidores finais e arquitetos, fica situado em um showroom no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. A grade de funcionários também acompanhou as mudanças da empresa, que hoje conta com 54 colaboradores.

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DIÁRIO DE VIAGEM

FREETOWN No miolo da capital dinamarquesa, Copenhague, uma comunidade independente abriga moradores alternativos e encanta turistas de todas as partes por Nathalia Giordano 90 INTERIOR DECOR

fotos Divulgação


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asas pequenas inusuais espalham-se por um território verde, cercadas por muros coloridos no coração da cidade de Copenhague, principal centro comercial da Dinamarca. Lá, está localizada a comunidade anarquista, independente e autogerida de Christiania, que hoje abriga cerca de 900 moradores. A história teve início na década de 70, quando um grupo de hippies, artistas, músicos e anarquistas ocuparam uma base militar abandonada nas proximidades de Christianshavn – subúrbio da capital. A tomada de posse do local ocorreu como maneira de protesto ao governo da Dinamarca, resposta direta à falta de moradia popular e às instalações sociais da época. Os primeiros ocupantes da área carregavam um ideal de rejeição aos valores morais do período, em especial às tendências capitalistas que tomavam conta da Europa nesse momento pós-Segunda Guerra Mundial. Levou pouco tempo para esse assenhoramento ser permeado por valores hippies e anarquistas – contrapondo-se à proposta inicial, que visava o apoderamento do espaço como forma de refúgio e resistência. Após seu assentamento, a região foi declarada como “Freetown” e então iniciou-se um plano de construção de uma sociedade a partir do zero.

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Os muros e fachadas de Christiania ostentam rica paleta de cores vibrantes, e os grafites muitas vezes remetem à psicodelia. Os espaços públicos são repletos de manifestações artísticas. As moradias também não seguem estilo tradicionalista – como a casa-barco que se destaca com tonalidade vermelha diante das cores sóbrias da natureza local

Por decisão em conjunto, a comunidade adotou uma política de responsabilidade e propriedade coletiva. Os moradores deixaram de pagar impostos e tomaram iniciativas liberais, como a permissão do consumo de drogas “leves” – o que, para eles, compreende maconha e haxixe. Em 1972, quando a comunidade obteve o título de semilegal, os moradores acordaram em pagar um valor coletivo pela utilização de energia elétrica e água. O planejamento feito para a região definiu que o aquecimento das casas seria descentralizado – para evitar o gasto de energia, as residências são aquecidas com lenhas de segunda mão. Já o aquecimento da água fica como tarefa do calor solar. As reformas e construções que aconteceram na época foram de responsabilidade dos próprios ocupantes. Assim, Christiania se tornou um local atrativo para os amantes da arquitetura, pois as residências foram projetadas muitas vezes sem arquitetos e sem seguir regras rígidas. Como o governo da Dinamarca não legitimava a comunidade, as normas de zoneamento não foram cumpridas. INTERIOR DECOR 93


DIÁRIO DE VIAGEM

Christiania é reduto de uma vasta variedade da arquitetura vernacular – abriga diversas construções ecológicas, algumas futuristas e até outras mais tradicionais do estilo escandinavo. Por lá, as residências são funcionais e seguem conceitos experimentais – boa parte é construída com material reaproveitado. Todavia, embora seja dona de uma diversidade notável, todas carregam ousadia, inovação e liberdade. Outra característica comum é o uso de madeira e grandes peças de vidro – escolha provável para uma região que costuma dispor de um clima nublado. A busca pela luz natural é carro-chefe nas construções e projetos do local. Apesar de ser um território livre, a construção de novas casas é proibida. O acolhimento de novos habitantes também não é um processo simples; há tempos não há espaço para novatos. Os interessados precisam apresentar interesse e aguardar a liberação de um local vago – em uma moradia já existente. Aqueles que não obtiveram sucesso no processo de mudança podem aproveitar como mais uns dos milhares de turistas que se encantam com o estilo arquitetônico criativo e com as inúmeras atividades artísticas e culturais oferecidas pela comunidade. 94 INTERIOR DECOR


As comunidades sustentáveis, como Christiania, aparecem no momento das grandes críticas às utopias do urbanismo do século XX – a cidade vertical e a cidade-jardim. Foram impulsionadas pelo movimento hippie e se caracterizam pelas dimensões reduzidas e propósito quase puramente residencial

A arquitetura na região segue impulso libertário, as regras de zoneamento não foram acatadas. Os projetos são inovadores, as casas se sobressaem na paisagem – seja pelo modelo vernacular ou pela junção de cores vivas. O hangar – grande galpão – de Christiania foi construído originalmente em 1891, e na década de 1970 virou um foco de eventos culturais

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MULTIFACETADO Beto Gozzo é o autor das ilustrações que abrem os cadernos desta edição. O começo, segundo ele, foi em meados de 2000, quando criou um cartaz para uma festa do curso de arquitetura, que frequentou por três anos. “Implementei conceitos de design gráfico mesmo sem ter conhecimento técnico, tudo foi feito em uma folha A3 e multiplicado por meio de cópias, o Xerox”, lembra o designer. Após essa primeira experiência, Beto apostou no universo do Design. Ingressou na primeira turma de Design da Facamp, em Campinas, para depois migrar para o Design Gráfico da Faculdade Belas Artes, em São Paulo. O que te inspira? Meus filhos, a vontade de fazer a diferença e reais talentos ao redor do mundo. Como define o seu estilo? Detalhista e multifacetado, reflexos de uma mente “semi” esquizofrênica ;). Num processo de criação, o que mais gosta de fazer? Tudo. Em especial os traços iniciais, a definição do conceito e a montagem final do projeto, quando geralmente surge algo inusitado e de valor. O que não pode faltar na criação de uma nova marca? Pesquisa, aprofundamento conceitual, croquis e originalidade.

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AO SAIR, MANTENHA A PORTA ABERTA, E VOLTE SEMPRE




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