Revista Linhas 03

Page 1

ISSN 1645-8923

universidade de aveiro revista da universidade de aveiro ano 2 ¡ abril ‘05

03Linhas




04

16

fábrica – centro de ciência viva de aveiro um projecto em crescimento Prof. Paulo Trincão

almeida garrett (1799-1854) uma efeméride esquecida Prof. Pedro Calheiros

08 literacia, educação e desenvolvimento novos desafios à formação Prof. Idália Sá Chaves

20 casos de sucesso antigos alunos da ua com carreiras bem sucedidas

32 projecto rimar erosão ameaça futuro da costa portuguesa geociência aponta soluções Prof. Cristina Bernardes


35

44

60

prémio gulbenkian da ciência 2004 docente da ua estuda as redes que dominam o mundo

prémio delta recém-licenciadas em design pela ua vencem concurso

v semana aberta da ciência e tecnologia expectativas superadas

38

46

62

projecto colcat biblioteca da ua disponibiliza inovador motor de pesquisa

publicações da comunidade académica

31º aniversário da ua

40

56

estimulo à excelência atribuído a 11 investigadores da UA

abertura do ano reitora anunciou novo programa de formação inicial

42

58

CESAM ministério concede estatuto de laboratório associado

dia isca-ua entrega de diplomas e assinatura de protocolos marcaram o dia

64 associações académicas novos órgãos directivos

66 programa aveiro norte entrega dos primeiros diplomas


Linhas

abril ‘05

Paulo Trincão Professor do Departamento de Geociências – UA e Director da Fábrica – Centro de Ciência Viva de Aveiro

o crescimento da fábrica – centro de ciência viva de aveiro Um projecto em crescimento A “Fábrica de Ciência Viva” teve, desde a primeira hora, a “pretensão” de se auto definir como um espaço em crescimento permanente, mas o ritmo de transformação das instalações e mentalidades têm vindo a superar as previsões mais optimistas. A Fábrica cresce a olhos vistos: em número de visitantes, em actividades, em envolvimento da universidade e da região. Todas as semanas chegam novas propostas. São projectos inovadores, parcerias, ideias para exposições, e um sem números de iniciativas que nunca tínhamos imaginado. A Fábrica fervilha de vida e entusiasmo começando a ser um local “onde se passam coisas…”. Do ponto de vista académico, este projecto também já começou a despertar as atenções para além das fronteiras da UA, daqueles que estudam os fenómenos de promoção e difusão da cultura científica e tecnológica e dos processos de aprendizagem informal, tendo sido iniciadas parcerias com o ISCTE de Lisboa. Vale a pena destacar alguns marcos importantes no crescimento deste projecto:

· Semana da Cultura Científica e Tecnológica (22 a 27 de Novembro ‘04) A Fábrica de Ciência Viva participou activamente nas iniciativas levadas a cabo por toda a universidade, contribuindo para o aprofundamento do excelente trabalho que desde há vários anos tem vindo a ser coordenado pelos Serviços de Relações Externas da UA. As mais valias mútuas resultantes desta parceria são um exemplo a seguir e a aprofundar. Com os seus cerca de 5 mil visitantes a Fábrica de Ciência Viva foi o centro de ciência com mais actividades e com mais visitantes a nível nacional. · O estabelecimento de uma estreita parceria de trabalho com o Projecto Matemática Ensino (Pmate), do Departamento de Matemática da UA Este projecto tem vindo a tornar-se numa convergência estratégica, cada dia mais potente e efectiva. A presença constante da matemática constitui uma mais valia decisiva para o futuro da Fábrica. Por outro lado, a assunção conjunta do projecto “Teatro para comunicar ciência”, conjuntamente com outras actividades de difusão dos dois projectos têm-se materializado em visitas a Escolas tão distintas como


4 5

Pampilhosa da Serra, Izeda (Macedo de Cavaleiros) ou Maceira (Leiria).

actividade. Actualmente estão a ser apresentados os seguintes filmes:

· Parceria com o Teatro da Trindade A realização de uma parceria com o Teatro da Trindade, materializada na construção e equipamento de um espaço adaptado à actividade teatral, com capacidade para cerca de 100 pessoas, veio dotar a Fábrica de novas instalações que permitem desenvolver projectos permanentes utilizando esta forma de comunicação. Desde Novembro trabalham neste projecto quatro professores do primeiro ciclo do Ensino Básico que diariamente apresentam uma peça de teatro, resultado do seu seminário final do curso realizado na UA.

“Viagem ao interior da célula” Prémio Pixel INA 2000 na categoria do filme 3D, com duração de 8’15’’

Este projecto visa dotar este espaço de uma programação regular de teatro sobre temas de ciência a definir e a implementar pelas duas instituições. O que há de novo · Filmes a 3 dimensões Conforme estava planeado, estão em exibição, desde o fim de Novembro, filmes a três dimensões, sendo a Fábrica o único centro de ciência em Portugal, que apresenta este tipo de

“5.000m debaixo do mar” Contemplado em Novembro de 2001 com o “Prémio Originalidade” no XXVIII Festival de Imagens Subaquáticas. Duração de 8’37’’ A partir de Maio: “Hélios, rumo ao sol!” “Expedição ao interior da Célula” · Centro Mindstorm da Lego Num espaço especialmente preparado segundo as normas da Lego, foi criado um local onde as crianças podem programar robots desportistas, construídos a partir de peças da Lego, para que estes executem pequenas tarefas com vista à realização de jogos. O desafio proposto é o de levar o robô a marcar o maior número de golos no menor tempo possível. Para isso as crianças têm de preparar o robô, de escolher, programar e testar as suas estratégias e decidir o percurso a seguir no campo de jogo. Para atingir

o crescimento da fábrica de ciência viva

esses objectivos é utilizado software de linguagem simples, essencialmente visual, para programação do robô. As actividades propostas são acompanhadas por monitores que estão presentes para assistir e treinar as crianças. Esta estrutura tem capacidade para receber simultaneamente 16 participantes. ·Exposição temporária: Os bichos que andam por aí… Uma das surpresas mais agradáveis que temos tido na Fábrica são as frequentes visitas de grupos de crianças do ensino pré-escolar. Face a este inesperado público desenvolveu-se um conceito de exposição que através da procura de fotografias de animais colocadas em locais inusuais, os leva a conhecer um pouco do edifício. A presença de um caracol gigante (que serve de auditório) contribui para criar uma atmosfera de fantasia que ajuda a criar a vontade de descobrir o meio envolvente. Os bichos que andam por aí… são animais mais, ou menos, simpáticos que vivem no interior ou nas periferias das nossas vilas e cidades. Alguns vivem nas nossas casas por convite nosso, como o cão e o gato.


Linhas

abril ‘05

Outros, também lá vivem sem serem convidados, como a aranha ou a mosca. A lagartixa aparece quando o calor chega, enquanto os mochos e corujas só se vêem à noite, ou melhor, a maior parte das vezes só se ouvem... Muitos outros menos vulgares poderão ser vistos na exposição “Os bichos que andam por aí…” Sem sobressaltos, propomos um jogo de descoberta dos animais e procuramos criar condições para que as pessoas conheçam um pouco melhor os animais que vivem perto de si, estabeleçam com eles uma relação mais calma e amigável porque afinal… Os bichos andam por aí… É uma maneira divertida de aprender através das imagens captadas pelo fotógrafo da vida selvagem, João Cosme e com a história de bichos contada dentro da carapaça de um caracol gigante…

e é representada por: Ana Ferreira, Ana Poças, Gabriel Silva e Joana Maia. Nesta peça, os professores aceitaram o desafio de se representarem a si mesmos concretizando a ideia de aplicação dos processos teatrais à comunicação do conhecimento científico. Eles não actuam como verdadeiros actores, assumindo-se “em palco” como professores que estão a representar. A peça, propositadamente concebida para ser representada com reduzidos elementos cénicos pode ser vista na Fábrica e, em circunstâncias a definir caso a caso, pode ser mesmo levada às Escolas em colaboração com o Pmate. As próximas peças a apresentar vão ser “Da Vinci” e “Falha de Cálculo”. Ocorrem representações teatrais todos os dias da semana mediante marcação, e nos primeiro e último domingos de cada mês, às 16h.

· Teatro para comunicar ciência O primeiro trabalho agora em representação, é a peça “RPIP – Reunião de Professores que interpretam planetas”, adaptada do texto de Luís Mourão com o título original “O Homem que via passar as Estrelas”. Foi encenada por Carlos António (Teatro da Trindade)

· Poesia com ciência Ciclo de poesia organizado pela Fundação João Jacinto de Magalhães em colaboração com a “Fábrica de Ciência Viva”. Embora ligadas a domínios diferentes de conhecimento e valor, Poesia e Ciência pertencem a uma mesma busca humana. A visão poética emana da

intuição criativa, da experiência humana singular e do conhecimento do poeta. A Ciência gira em torno do concreto, da construção de projectos comuns, de experiências compartilhadas e da construção do conhecimento colectivo sobre o mundo que nos rodeia. A Ciência, ao contrário da Poesia, deve representar adequadamente o comportamento material. No entanto, a proximidade entre Ciência e Poesia revela-se muito rica, se a olharmos à luz de um mesmo sentimento do mundo. A criatividade e a imaginação são o húmus comum de que se alimentam. Através destas duas perspectivas, as incertezas de uma realidade complexa podem transformar-se em versos, ou serem representadas por formas matemáticas. A poesia habita os espaços como se fossem seus. As vivências, as histórias, as alegrias e os dramas nunca deixam de viver caladas no espaço das nossas memórias. A porta que as pode deixar sair pode ser aberta em qualquer lugar. Com a sua libertação, a vida é transmitida ao invólucro físico a que nós, com carinho, chamamos património. Para ilustrarmos este discurso, realiza-se um ciclo de recitais, na primeira


6 7

segunda-feira de cada mês, nos quais são declamados poemas de vários autores que falam do mundo, das coisas concretas e da Ciência. Pontualmente a sessão é aberta à comunidade com a participação de intervenientes seleccionados em audição prévia. Estão já programadas as próximas sessões que se realizarão nos dias 4 de Abril, 2 de Maio, e 6 de Junho. · Da Fábrica já se vêem as estrelas É assim denominada a valência de astronomia que se pretende vir a desenvolver na Fábrica. Para já, contamos com a organização de um Ciclo de Conferências denominado “Dos Planetas ao Big Bang”. Ao longo de oito conferências distribuídas por sete meses, pretendemos completar uma viagem ao princípio do tempo e levar as pessoas a descobrir como são os planetas, o céu nocturno, as constelações, a esfera celeste, o que haverá dentro de um buraco negro. Cada sessão é seguida da observação nocturna do céu de cada mês. Até ao fim do ano escolar ainda serão realizadas na Fábrica as seguintes sessões: “As outras Galáxias” Catarina Lobo, 5 de Maio, às 21h00. “Cosmologia” Domingos Barbosa, 2 de Junho, às 21h00. O que dizem de nós Do nosso Livro de Honra e dossier de imprensa seleccionámos as seguintes opiniões: Notas do Livro de Honra “É muito grato verificar que este edifício da Companhia Aveirense de Moagem seja preservado e destinado a Museu. Quanto à exposição, adorei. Parabéns às entidades promotoras de tal evento.” José Paula, 21 setembro ‘04 “Se o Homem sonha, a obra nasce é o que este centro nos mostra. Parabéns pelo tempo recorde de implementação e pela funcionalidade e dimensão do

centro no futuro.” M. Gomes, 22 setembro ‘04 “O mundo mágico das ciências revelase magnificamente! A interpretação dos sentidos e das artes muito bem conseguida.” Carolina, 22 setembro ‘04 “Um excelente trabalho de aproveitamento de um espaço “perdido”, recuperado através da originalidade, numa atmosfera que une o passado e o futuro.” J. Gregório “Achei fantástico, desde o edifício como património da nossa história e aproveitamento como Museu da Ciência Viva. Assim os nossos jovens e todas as idades aprendemos mais… Parabéns.” M. Augusto, 24 outubro ‘04 “Aprender, fazendo – Maravilha…! Parabéns.” EB1 de Cale de Vila, 25 novembro ‘04 “Descobrimos todos os bichos que andavam por aqui e para casa levamos aranhas, moscas, morcegos, ratos, louva-a-deus e outros mais. Para sempre, levamos um bom momento de ciência divertido. Continuem! Para o ano queremos vir outra vez! Ana, Alice “As grandes caminhadas começam sempre com um primeiro passo. Esta Fábrica é um exemplo e será certamente esse primeiro passo. O Turismo, a região do Turismo passou por aqui, por esta mais valia, por este ‘produto’.” Região do Turismo – Rota da Luz, 15 dezembro ‘04 “Eu gostei muito de tudo, mas o que eu gostei mais foi a experiência, os filmes 3D e os legos. Espero que continuem assim, porque todos são muito simpáticos. Um beijo da Mariana” “A Fábrica está a ser um momento único para eu melhorar as minhas capacidades como professor. Considero esta experiência uma mais

o crescimento da fábrica de ciência viva

valia para a minha profissionalidade e associar de forma interdisciplinar a arte dramática à Ciência. Aprendo muito. Obrigado.” Gabriel “Com simplicidade, uma exposição científica com todo o rigor e objectividade. Os meus parabéns.” 06 outubro ‘04 Algumas opiniões do dossier de imprensa “Muita imaginação, criatividade e poucos recursos conseguiram despertar os mais novos para questões científicas relacionadas com o sistema solar e com a astronomia. A tarefa não era fácil mas foi levada a bom termo pela equipa da “Fábrica de Ciência Viva”, da Universidade de Aveiro.” Mensageiro de Bragança, 04 março ‘05 “Ensinar ciência através do Teatro? Esta é uma das formas de comunicar Ciência na Fábrica de Ciência Viva.” Ciência Hoje, Ciência e Tecnologia em Directo, 03 fevereiro ‘05 “Inaugurada há pouco mais de meio ano, a Fábrica de Ciência Viva, instalada nas antigas Moagens a vapor de Aveiro, já recebeu muitos milhares de visitantes. Trata-se de um espaço de descobertas científicas destinadas a toda a população, independentemente das idades ou formação académica.” Diário de Aveiro, 12 janeiro ‘05 “O melhor centro de Ciência Viva da região Centro e um dos mais inovadores do país abriu em Maio, em Aveiro, numa antiga Fábrica – as Moagens de Aveiro – numa iniciativa da Universidade de Aveiro.” Jornal de Notícias, 29 dezembro ‘04


Linhas Linhas

abril ‘05

Idália Sá-Chaves Professora do Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa – UA

literacia, educação e desenvolvimento:

novos desafios à formação* 1. Literacia e desenvolvimento Ao colocar em agenda uma década para a Literacia, a Assembleia Geral das Nações Unidas e a Unesco1 procuram tornar relevante a ideia segundo a qual o desenvolvimento das competências literácitas, por todos os cidadãos, constitui uma condição imprescindível ao desenvolvimento das pessoas, das sociedades, ou seja, da humanidade como um todo. Os objectivos de uma tal iniciativa, inscrita nos processos mais genéricos do fenómeno da globalização, deixam clara uma intenção de estimular o debate cívico. O intuito é despertar e ampliar a consciência social acerca da importância e da imprescindibilidade desse combate como forma de generalizar o acesso ao conhecimento e, desse modo, melhorar as condições e a qualidade de vida de todos os cidadãos. A necessidade de dedicar a este objectivo toda uma década, na perspectiva de uma ideia de bem projectada para a humanidade no seu todo, alerta também para algumas constatações que importa relevar. Uma primeira ideia revela-nos que os conceitos de “sociedade da informação” e “sociedade do conhecimento” não são equivalentes apesar de, nos

discursos contemporâneos, aparecerem frequentemente associados. Ou seja, constata-se que não é pela simples existência e disponibilização da informação que ficam garantidas as condições de construção de conhecimento, quer singularmente por cada pessoa, quer pelas sociedades em processos colectivos mais ou menos organizados e formalizados. O que medeia essa transformação e que se encontra no cerne da questão do desenvolvimento é a capacidade de apropriação e de interpretação crítica da informação, de modo a que esta se possa inscrever nos quadros de referência e, ao fazê-lo, os reoriente à luz dos contributos que a própria informação possa veicular e suscitar. É, portanto, nesta questão fulcral que o desenvolvimento das competências literácitas ganha a pertinência que justifica que toda uma década lhe seja dedicada2. De facto, sem que aos cidadãos em geral estejam garantidas as condições educacionais de aprendizagem, de formação e de desenvolvimento pessoal, que lhes permitam este acesso à informação e a sua apropriação crítica, dificilmente a sociedade do conhecimento poderá instituir-se de forma


8 9

justa, equitativa e generalizada. E, no entanto, percebe-se que apenas assim estariam reconhecidos os direitos fundamentais e os valores que os fundamentam, num processo superior de legitimação e de real reconhecimento da dignidade de todo o ser humano. Por isso, tudo quanto possa ser feito nesse sentido, quer ao nível da conceptualização das questões do desenvolvimento (aliadas às questões educacionais e de formação)3 quer das estratégias de acção em cada recanto do planeta, constitui um contributo de inegável valor no esforço de operacionalização dessa mesma ideia de bem. A segunda constatação que nos parece estar subentendida nesta medida de tão longo alcance social e de tão elevado desígnio ético, prende-se com o conceito de literacia no seu sentido mais amplo. Trata-se de uma abordagem que, ao abranger os diferentes tipos e níveis de competência literácita dos cidadãos, se percebe como complexa, já que o seu desenvolvimento (inscrito no quadro do desenvolvimento pessoal ao longo de todo o percurso de vida) coloca questões e desafios específicos e diferenciados em cada uma das suas fases. Com efeito, são muito distintos os problemas inerentes ao desenvolvimento das competências básicas de literacia na infância, na adolescência ou, aqueles outros que se colocam para os adultos, tendo em conta não apenas o factor de diferença geracional, mas também o nível de formação básica que, à partida, marca singularmente cada pessoa, não obstante a sua relação de pertença a uma mesma geração. Nesta perspectiva, a resposta educacional e formativa que possa ser dada não é linear e, pela sua amplitude, transcende muito as questões da escolarização formal e da formação de professores, situando-se a um nível de conceptualização que exige uma resposta social, também ela muito mais crítica, complexa e exigente. Trata-se de uma resposta conjugada na qual as instâncias governamentais e a sociedade civil saibam definir prioridades e critérios, consensualizar

esforços, assumir e partilhar responsabilidades, regulando colegiadamente os processos de desenvolvimento social de modo a evitar redundâncias e incongruências, minimizar conflitos e optimizar os recursos materiais e humanos. É, pois, nesta nova arquitectura das estratégias de desenvolvimento (correspondente a novas modelizações dos problemas) que a ideia de regulação/descentralização ganha sentido. O poder local reconhece-se como instância crucial no desenho das políticas que melhor se ajustem às especificidades de cada contexto, no quadro dos princípios reguladores que cada país tem como referente e como instrumento de coesão e de identidade. Trata-se de uma abordagem colectiva e coerentemente organizada da sociedade na detecção dos problemas e das possíveis soluções da qual nenhum cidadão poderá alhear-se e, portanto, (se consciente das implicações sociais, culturais e éticas desse alheamento) lavar daí as suas mãos. Importa, pois, aprofundar os significados que esta ideia de literacia comporta. Apenas nessa compreensão profunda se poderão encontrar razões e argumentos que permitam passar de uma primeira fase de consciencialização à fase de implicação e compromisso com a mudança. O mesmo é dizer, com a possibilidade de sermos todos co-autores daquilo que, de um modo simples, gostamos de chamar um mundo melhor. Alguns desses significados passam pelo esforço de maior entendimento acerca das consequências de ser-se (ou não) literado; quem é literado e quem apenas parece ser, ou mesmo de quem, não parecendo, afinal é. Essa clarificação passa por aprofundar o conceito de literacia, procurando compreendê-lo como uma competência que pode e deve ser percebida e desenvolvida a vários níveis de complexidade, conforme o contexto, a área científica ou tecnológica pertinente e o nível de formação dos sujeitos considerados. E compreender, também, que esse desenvolvimento se reconhece como

formação de professores na ua

um direito fundamental, que tem como primeiro objectivo garantir a todos o correspondente direito ao conhecimento através da capacidade de aceder e mobilizar os diferentes tipos de informação disponível. Constitui portanto uma meta que, pela sua generosidade e dimensão social, comporta uma intenção cujo alcance está longe de ser cabalmente compreendido, assumido e tido em devida conta. É na luta por este mesmo direito, que estes “Diálogos com a Literacia”, procuram concretizar uma mais vasta compreensão acerca das implicações de ser (ou não ser) literado, nomeadamente na sua relação directa com os fenómenos da exclusão social e da pobreza. Estes constituem uma oportunidade de fazer confluir perspectivas, procurando, em cada cidadão e em cada organização, a consciência clara e a indignação suficientes para que, juntos, possamos opormo-nos à ferida ética, que as gritantes desigualdades constituem no tecido social da humanidade. Pela nossa parte, o contributo cívico que modestamente possamos aduzir a este desiderato de mais consciência para melhor intervenção passa por trazer ao debate alguns detalhes que possam ajudar à (re)afirmação e (re)fundação dos princípios subjacentes à ideia de uma humanidade mais humana para poder reconhecer-se como mais digna de si própria. 2. O conceito de Literacia (uma perspectiva abrangente) Neste enquadramento, parece-nos então ser possível equacionar a relação entre literacia e formação, partindo de uma primeira abordagem através da qual procuraríamos desvelar as múltiplas literacias, que se escondem (e se entrelaçam) sob esta designação mais ampla e mais genérica. De facto, a reflexão sobre este conceito (pela crescente complexidade que se tece na teia de relações que a partir dele se interpenetram com as ideias de educação e de formação como instrumentos de desenvolvimento) abre hipóteses de compreensão quer


Linhas

abril ‘05

a velhos e persistentes problemas sociais, quer a problemas novos emergentes de forma constante nas dinâmicas do quotidiano. É, pois, neste esforço de compreensão, que importa atermo-nos às questões da literacia como competência e, portanto, como dimensão formativa directamente conotada com as finalidades da educação. Pode, assim, ser percebida como uma (meta)competência na qual se reconhecem componentes de natureza técnica, relacional, crítica e ética, pressupondo, desde logo, que o seu desenvolvimento constitui uma difícil e longa aprendizagem correspondente ao processo global de formação ao longo da vida e não apenas linearmente vinculado à dimensão escolarizada e formal do processo educativo com vista à alfabetização básica. Importa, portanto, compreender esta dimensão multifacetada do conceito, para que se torne possível aprofundar a reflexão acerca de como formar as pessoas, os grupos profissionais e as sociedades para assumirem e equacionarem o seu próprio desenvolvimento numa perspectiva de educação para todos. É, pois, necessário fazer esse aprofundamento indo para além da ideia de boa consciência, no sentido de consciência alertada e crítica, tornando-se fundamental perceber que esse objectivo não constitui, por si só, condição suficiente. São as componentes de acção e de intervenção crítica e solidária, que operacionalizam os desenvolvimentos práticos (pessoais, profissionais e sociais) que, quando enraizadas numa visão lúcida, crítica e afectuosa da humanidade, conferem poder e sentido a este contínuo (re)fazer do mundo. Apenas assim, articulando visão, conhecimento e acção, num pensamento integrado de mútua e recíproca legitimação, parece ser possível iluminar o lado sombrio desta modernidade, tomando como referente a metáfora de Giddens (1996)4 ou olhar de frente o nosso lado lunar ou a nossa face negra como, entre nós, contam e cantam Carlos Tê e Rui Veloso.

2.1. Literacia como competência técnica Retomando as ideias que, durante todo o século XX, foram sendo construídas a partir da reflexão sobre os caminhos possíveis das sociedades rumo ao desenvolvimento, deparamo-nos com uma crescente complexificação do conceito, que se traduz, até hoje, na procura incessante dos seus significados e dos seus contributos para esse mesmo desenvolvimento. Uma primeira ideia, ainda hoje muito comum, refere o conceito de literacia como a capacidade para descodificar símbolos, nomeadamente nas múltiplas formas de escrita, ideia que, também numa leitura muito linear, se veio a traduzir pelas capacidades de ler e escrever e contar5. É, todavia, a partir da segunda metade do século e a partir dos contributos das diversas ciências sociais e humanas, que o conceito vem a sofrer uma evolução sem precedentes. Associado desde sempre ao factor escolarização, em alguns momentos, a proximidade entre as ideias de literacia e de alfabetização quase as confundiu. São, no entanto, os próprios desenvolvimentos sociais e a investigação sobre os mesmos, que vêm a estabelecer as diferenças ao verificar-se que, a um determinado nível de escolarização, nem sempre corresponde, com carácter de permanência, o pressuposto nível de literacia. Ou seja, mantendo-se como adquiridas as competências técnicas relativas à descodificação dos símbolos, não é, ainda assim, garantido o seu uso adequado em contextos e situações que, apesar de correntes, aparecem como um pouco mais complexos relativamente à competência em causa. Entre nós, são fundamentalmente os estudos de Benavente, Rosa, Costa e Ávila (1996), que contribuem para colocar estas questões em outros níveis de compreensão, retomando o conceito de literacia funcional, enquanto capacidade de uso das já referidas competências para resolver problemas práticos (correntes e simples) da vida no seu quotidiano.

Relativamente a esta questão, os resultados dos estudos quer em termos nacionais, quer internacionais, sugeriam (e continuam a sugerir) que a Escola está longe de cumprir uma das suas finalidades mais elementares, ou seja, capacitar os alunos para o exercício da vida, dando-lhes as ferramentas de compreensão e de interacção que lhes permitam exercer as profissões, inserir-se nos tecidos sociais e contribuir para o seu desenvolvimento, mas sobretudo, exercer a vida com reconhecida dignidade, isto é, dispor das condições que lhes garantam o exercício de uma cidadania responsável e plena. Torna-se, então, evidente que esta primeira ideia de literacia, enquanto domínio das competências básicas, de natureza técnica, constitui a chave que abre e faculta o acesso ao conhecimento e ao desenvolvimento continuado, mesmo quando terminada a fase de escolarização. Mas, também, que a sua ausência empurra inevitavelmente os cidadãos para as margens das sociedades, excluindo-os da interacção com os sistemas de educação, de formação, de trabalho, de produção, de saúde, de convivialidade, negando-lhes, em suma, as oportunidades que, apenas a educação e a formação a todos os níveis, pressupõem. Estudos desenvolvidos neste âmbito reconhecem que esta ruptura se correlaciona directamente com os níveis de desenvolvimento económico e social dos países, ou seja, com a relação riqueza/pobreza, sendo particularmente discriminados os mais pobres (países, sociedades, pessoas) e, entre estes, os grupos das mulheres, das crianças e das minorias culturais e étnicas.6 É, portanto, nesta profunda ferida social das desigualdades, que se desenha e se acentua o lado sombrio de nós mesmos numa espiral de desencanto, de onde não param de emergir sinais desta violência inicial, que urge compreender e atalhar nas suas raízes e implicações mais profundas. Pela sua natureza, o desenvolvimento deste tipo/nível de competência, e no


10 11

quadro da actual organização educativa, pertence preferencialmente à escola e, portanto, aos professores. Por isso, e pela importância deste tipo de ferramenta cognitiva como instrumento básico de acesso à informação com a qual o conhecimento pessoal se (re)constrói de forma continuada, o seu desenvolvimento terá de permanecer como um velho (mas inquestionável) desafio nas práticas curriculares e de cidadania destes profissionais. No entanto, e apesar da importância e indispensabilidade deste nível de competência, percebe-se hoje que se trata de uma perspectiva muito simplista das questões da literacia. Apenas como exemplo, parece fundamental referir dois novos tipos de desafio que, quer em termos de formação, quer em termos de investigação merecem uma atenção mais detalhada e previdente. O primeiro tem a ver com a clara emergência de novos saberes básicos que, um pouco por todo o lado, se compreendem como necessidades prementes dos cidadãos para (con)viverem equilibradamente nas condições de instabilidade, incerteza, cosmopolitismo, pluriculturalismo e multilinguismo das sociedades contemporâneas.

A questão reside em determinar qual o perfil de competências que deverá ser desenvolvido pelos professores para que sejam capazes de desenvolver, com e nos seus alunos, as novas literacias que os saberes básicos (aprender a aprender, aprender a comunicar, aprender a conviver, resolver problemas, desenvolver o pensamento crítico, aprender a ser, …) configuram e que ultrapassam de longe as dimensões técnicas mais elementares. Embora ainda longe das respostas, a simples colocação destas questões constitui um dos novíssimos desafios que as sociedades não param de colocar à Educação.7 O segundo dos desafios é de natureza muito subtil e tem a ver com um (apenas aparente) detalhe. Com efeito, apesar dessa subtileza e aparente minimização, tem implicações profundas no desenvolvimento das competências literácitas. Trata-se, exactamente, da natureza tecnicista que as abordagens didácticas mais tradicionais relevam e que, por se apresentarem como aprendizagens pouco significativas para os alunos, constituem a principal razão para o seu apagamento terminada a fase de escolarização.

formação de professores na ua

Com efeito se, de par com essas mesmas capacidades, não for aprendido e desenvolvido o gosto pelo conhecer e o gosto pelos modos como se conhece dificilmente os “adquiridos” permanecerão. Perdem-se, porque, ao não ser encontrado pelos aprendentes um sentido para elas no quadro da sua vida pessoal, não serão valorizadas, exercitadas e mantidas. Nessas condições, o motor da alegria de conhecer não é activado em tempo devido e a possibilidade do deslumbre fica perdida talvez para sempre. O desafio é, então, como formar professores cuja competência profissional e pessoal possa permitir aos seus alunos desenvolver este saber e este gosto? Como se faz aprender o fascínio e o entusiasmo, o valor das coisas e os seus significados, o sentido, o risco e aventura que correm por entre o saber e o não saber? Enfim, como ir além da dimensão técnica das aprendizagens dos alunos e das competências dos professores, introduzindo-lhes novos desafios que as possam levar para além de si mesmas, ganhando significado e perenidade? Parece então claro que, esta aposta


Linhas

abril ‘05

na generalização da literacia é uma espécie de resposta ao futuro, que se antecipa naquilo que puder ser feito hoje de modo a garantir a todas as crianças e jovens, de todos os países, o desenvolvimento das competências básicas que lhes permitam aceder, compreender e apropriar-se, de forma significativa, da informação disponível como um bem sem preço para exercer a vida.

são da diversidade e da riqueza humanas. Constitui, por isso, um outro nível de literacia, que se traduz já não apenas no sentido quase literal (do lat. littera, letra), mas no quadro das leituras simbólicas, que os quadros de cultura pessoal permitem (ou não). Mas, é também a ausência desta capacidade, mesmo nas pessoas com níveis de literacia académica (ou outra) pressupostamente mais elevados, que desvela e evidencia as enormes manchas de não saber que, mesmo as mais seleccionadas elites apresentam, ainda que nem sempre de forma totalmente assumida e consciente. Por isso, importa dar atenção não apenas às lacunas mais gritantes daqueles que, no fim da linha, não dispõem das condições básicas de acesso à informação e à transformação desta em conhecimento, mas também, no outro extremo, a esta (mais subtil) iliteracia que, disfarçada em cultura de especialização, impede (ou pelo menos dificulta) a compreensão do turbilhão de sentidos, que se entrecruzam nos tecidos sociais e culturais que compõem a humanidade. Reconhecendo naturalmente que, sendo o desenvolvimento científico e tecnológico os factores decisivos dos processos de evolução e de progresso das sociedades pelo manancial, sempre renovado, de informação e de artefactos que disponibilizam, é também aí que se instala o paradoxo traduzido na vida real pela impossibilidade de acesso por todos a essas mesmas fontes de informação, enquanto condição de construção de conhecimento. Por um lado, e ao nível pessoal, pelas limitações instrumentais ao nível das competências literácitas para utilizar as fontes e, por outro, ao nível sociológico, pelas limitações económicas impeditivas do acesso aos recursos materiais através dos quais a procura se torna possível. Uma vez mais, a relação estreita entre literacia(s), educação e desenvolvimento económico se evidencia, apontando para a impossibilidade de sucesso das abordagens centradas numa visão

2.2. Literacia como competência relacional Relevada a enorme pertinência e actualidade do conceito de literacia, mesmo quando pensado na sua configuração mais básica, convém no entanto estar atentos a que, sob a sua designação mais genérica, se inscrevem outros níveis e tipos de competência percebida como leitura da vida, que não passam apenas pela decifração de textos e documentos escritos8. Trata-se da capacidade de compreensão de outros (e imensos) saberes, codificados em cartografias próprias dos diferentes sistemas culturais, áreas de conhecimento e formas de expressão (científica, tecnológica, artística, etc.), capacidade essa, que se situa nas fronteiras da possibilidade de comunicação do homem com os outros e, por essa via, de compreensão do mundo que o rodeia. Deste ponto de vista, a literacia pode também ser entendida como linguagem, no sentido mais lato, pressupondo a possibilidade de, não apenas, comunicar, mas de estabelecer a (inter)compreensão entre as pessoas e entre os povos, que é como quem diz, a possibilidade de aceitação, de inclusão e de pertença como contraponto aos múltiplos fenómenos através dos quais a exclusão social se manifesta. Esta capacidade de leitura, percebida como linguagem, que vai muito para além do domínio técnico das diferentes línguas, pressupõe a possibilidade de interpretação simbólica das expressões culturais na procura do entendimento dos sentidos ocultos que comportam e, assim, de um mais profundo entendimento e compreen-

fragmentada e estanque dos problemas e para a necessidade da sua compreensão integrada, abrangente e eticamente regulada, tendo em atenção o carácter sistémico, dialéctico e recursivo das suas relações. Importa portanto relevar que, à semelhança do que se passa com os níveis mais elementares de literacia, também este gosto pela cultura como matriz de leitura da vida em todas as suas manifestações, tem inquestionavelmente a sua génese nas vivências e nas experiências escolares iniciais. Escolas culturalmente pobres, ambientes formativos redutores, paradigmas e estratégias de acção fechados sobre si mesmos, climas pouco estimulantes e pouco questionantes não podem ser geradores de cidadãos reflexivos, críticos e abertos ao conhecimento e aos seus deslumbres. 2.3. Literacia como competência crítica e ética Partindo então da ideia de literacia como linguagem capaz de (des)codificar as mensagens cifradas, que atravessam todos os campos de conhecimento e todas as formas como estes se exprimem e manifestam, confrontamo-nos com a vida em sociedade e com toda a sua complexa teia de significados explícitos e ocultos. Não há, pois, como escapar a esse confronto com as múltiplas alternativas e modos de comunicar e de agir no quadro dos processos de socialização. A natureza crítica deste nível de competência refere-se, então, não apenas à possibilidade de comunicar no sentido técnico e estrito do termo, mas sim à capacidade de o fazer no respeito pelos valores e pelos direitos que, humanamente, legitimam as ideias de desenvolvimento, equidade, justiça, liberdade e visão fraterna do Outro, remetendo por isso para uma cultura ética e para o desenvolvimento do pensamento crítico com vista à intervenção social consciente e lúcida quanto aos valores e quanto às consequências a curto, médio e longo prazo das decisões que se tomam. Reconhecendo-se, hoje, a constante


12 13

formação de professores na ua

…repensar a questão da qualidade de formação de professores só pode ser uma tarefa percebida no âmbito de uma compreensão mais global do devir social…

incerteza de todos os contextos é de uma (meta)competência reflexiva que se trata e cuja ênfase se centra nas pessoas organizadas em grupos que aceitam partilhar uma missão que dê sentido às vidas respectivas, por ser de carácter transformador e inovador. É também esta ideia de visão fundamentadora e legitimadora das estratégias e dos caminhos que, localmente, possam vir a ser trilhados, que se enquadra na perspectiva das Nações Unidas, quando propõe an expanded vision of basic education9, referindo-a como uma proposta educacional que pretende o desenvolvimento das necessidades básicas de aprendizagem para todos (crianças, jovens, adultos) e durante toda a vida, considerando esta acção dentro e fora da escola. Nesta perspectiva, salienta-se que a literacia constitui uma das necessidades educativas fulcrais, situando-se por isso on the very heart of basic education, ou seja, nas suas dimensões formal, informal e não formal e, constituindo uma tarefa a ser considerada como competência em desenvolvimento, pertinente a cada pessoa ao longo de toda a sua vida e independentemente dos níveis de formação escolar. Falar, então, de literacia e de formação

de professores é também retomar o significado primordial desta função, fazendo-a retornar à sua dimensão essencial de educar para além de instruir, ou seja, para além das aprendizagens de natureza técnica. Como se observa, é também na separação entre as diferentes instâncias a quem incumbe a função educativa, sobretudo na separação entre família e escola, que as rupturas, as quebras de sentido e as situações desorientantes acontecem. Por isso, repensar a questão da qualidade de formação de professores só pode ser uma tarefa percebida no âmbito de uma compreensão mais global do devir social, e das responsabilidades que, de forma integrada e cooperada, possam ser assumidas por cada subsistema integrador das comunidades. 3. Literacia como direito O conceito de literacia como competência (simultaneamente individual e colectiva) deixa antever a ideia de literacia como direito fundamental, quer ao nível individual (em nome da dignidade da pessoa), quer ao nível social e cultural, quer ainda ao nível da própria humanidade (em nome da

salvaguarda dos valores patrimoniais e culturais que transcendem cada indivíduo na sua singularidade). É, aliás, esse mesmo direito que se reconhece nas razões que as Nações Unidas apontam como justificação para dedicar uma década à causa da literacia: Porque a universalização da Literacia – das crianças e dos adultos – constitui o maior desafio quer para os países desenvolvidos, quer em desenvolvimento. Porque a Literacia é um direito fundamental do ser humano, uma necessidade básica de aprendizagem e a chave para aprender a aprender. Porque a Literacia desenvolve a identidade cultural, a participação democrática e a cidadania, a tolerância e o respeito pelos outros, o desenvolvimento social, a paz e o progresso.10 4. Literacia como compromisso Do ponto de vista sociológico, um olhar atento ao mundo (quer numa perspectiva de proximidade, quer de maior distanciamento) não é, hoje, encorajante. Por todo o lado as contradições entre uma perspectiva generosa e solidária do relacionamento humano e as realidades que todos os dias nos são cruamente reveladas, acarretam uma


Linhas

abril ‘05

outra visão menos idílica e menos promissora, mais violenta e interpeladora que desafia e apela ao que de melhor possa existir em cada pessoa: a capacidade para fazer esta leitura do mundo e para se comprometer com a alteração dos rumos desta tão difícil, quanto fascinante, história. Trata-se, talvez, da possibilidade de reencontrar, como guião, o caminho das grandes narrativas perdidas, como ideia de bem que se persegue e que é possível concretizar através de pequenas narrativas construídas nos contextos e nas condições particulares de cada comunidade. Hipótese, que permite uma outra possível conceptualização da ideia de literacia como compromisso com o mundo, a partir de todas as suas muitas (e imensas) perplexidades. Poderíamos então encontrar o nosso lugar e o nosso tempo nesta década abrangente e desafiadora fazendo-o, todavia, como cidadãos literados de um certo país, de uma certa região, de uma certa cidade, de uma certa aldeia, de uma certa comunidade, de um certo local de trabalho, de uma certa família, de uma certa relação, de si com os outros, de si com si. No âmago desta consciência, cada qual confrontar-se-ia, então, com o significado e o sentido da sua própria vida e com os rumos que legitimam as suas práticas quer profissionais, quer pessoais. Ou seja, confrontar-se-ia não apenas com os tipos e níveis de literacia dos outros mas, sobretudo, com a sua própria capacidade de ler o mundo e de intervir com consciência cívica na regulação do seu devir. Esta concepção de literacia como competência reflexiva e crítica ao nível pessoal, institucional, local ou universal faz com que o seu sentido inicial de descodificação de textos possa ser entendido como a parte técnica desta complexa aprendizagem, isto é, como uma pequena parte daquilo que é necessário ter em conta num programa de literacia concebido como potenciador de liberdade.11

5. A literacia como projecto A globalização da literacia como projecto constitui, portanto, o desafio de se passar dos níveis da consciência e do compromisso à acção comprometida com os valores que a Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra sob a forma de princípios. E, tal, como foi acordado no Fórum Mundial de Educação para Todos (Dakar, 2000), o focus para o desenvolvimento da literacia ao nível de toda a humanidade, é uma tarefa que deve partir das instâncias nacionais, através da promoção de debates acerca das diferentes conceptualizações (e implicações) do termo literacia. Apenas assim, será possível repensar um problema com esta magnitude, desafiar velhos mitos e construir novas hipóteses de pensamento e de acção. Perceber a globalização da literacia como um fenómeno estrutural, que sustenta a globalização da solidariedade, pressupõe a capacidade de cada país responder por si aos desafios que a Nações Unidas sistematizam e deixam em aberto à concretização e ao desenvolvimento estratégico, caso a caso. De entre muitos outros, importa salientar as capacidades que, localmente, permitam: · Repensar as abordagens e intenções educativas numa perspectiva mais abrangente quanto às suas finalidades. · Criar ambientes literados (escolas, famílias, comunidades, sociedades), significando com essa designação ambientes sociais cultos e preocupados com os destinos das suas próprias comunidades e da humanidade em geral. · Ter uma visão do desenvolvimento literácito das populações que vá desde a infância à velhice e, tendo para cada caso uma perspectiva estratégica diferenciada. · Compreender a literacia como aprendizagem (funcional e sustentada). · Convocar e fazer confluir com coerência organizacional os esforços da acção educativa dentro e fora da escola. · Estabelecer, ao nível mais genérico das políticas educacionais, uma visão

enquadradora holística e compreensiva da complexidade e importância dos problemas, bem como um pensamento estratégico que operacionalize de forma contextualizada e coerente essa mesma perspectiva globalizante. · Reconhecer o papel central das aprendizagens básicas como condição inalienável do desenvolvimento continuado e sustentável dos cidadãos. · Repensar o desenvolvimento curricular, quer ao nível da reorganização dos planos de estudo com vista à reequacionação das finalidades educativas e da formação dos professores, quer ao nível da sua implementação em cada escola e em cada sala de aula.12 Deste ponto de vista, é de uma outra cultura que se precisa, fundamentada numa compreensão social que não exclua ninguém da responsabilidade de agir em nome do bem comum e que seja capaz de, passo a passo, ir concertando debates, mudanças e práticas profissionais e sociais nas quais uma ideia solidária e fraterna de futuro se reconheça e concretize.


14 15

1

Resoluções 54 (2000) e 56 (2001) da Assembleia-

formação de professores na ua

Bibliografia

Actas do Fórum “Qualidade e Avaliação da

Geral das Nações Unidas.

ARCHER, D. (2003), Literacy as Freedom in

Educação”, Lisboa,105 116.

2

“Literacy as Freedom”, MAMTIP AKSORNKOOL

O Programa Education for All proposto no World

Education Forum (Dakar, 2000) aponta, para alguns

(org.), http://unesdoc.unesco.org/.

SÁ- CHAVES, I. (2003).Formação de Professores.

dos objectivos, um prazo que vai até 2015.

Literacy for All – a United Nations Literacy Decade,

Interpretação e Apropriação da Mudança nos

3

A este respeito Sim-Sim (2002:34) refere que

in www.unesco.org (pesquisa efectuada em

Quadros Conceptuais de Referência. Separata da

escolaridade, domínio da linguagem escrita e

Novembro de 2004).

Revista Intercompreensão. Revista de Didáctica

desenvolvimento são elos da mesma cadeia... e,

AAVV, The American Heritage Dictionary of English

das Línguas. Escola Superior de Educação de

ainda, que é por essa razão que a UNESCO e a

Language, (2000), in http://www.bartleby.com/61/

Santarém.

primeiros para apreciar o desenvolvimento das

ÁVILA, P., COSTA, A., GOMES, M., SEBASTIÃO, J.

SÁ -CHAVES, I. e AMARAL, M. J. (2000)

comunidades.

(2000) Novas análises dos níveis de literacia em

Supervisão Reflexiva: a passagem do “eu solitário”

4

In Crespo, Gonçalves e Coimbra, 2001.

Portugal: comparações diacrónicas e internacio-

ao “eu solidário”. In Alarcão,I. (org.) Escola Reflexiva

5

In The American Heritage Dictionary of the English

OCDE utilizam os indicadores referentes aos dois

nais, IV Congresso Português de Sociologia,

e Supervisão. Uma Escola em Desenvolvimento e

Language, Fourth Edition: 2000 e, também,

Coimbra. in www.aps.pt/ivcong-actas/ (pesquisa

Aprendizagem. Porto Editora, 79 85.

Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea,

efectuada em Novembro de 2004).

Academia de Ciências de Lisboa e Editorial Verbo,

SÁ- CHAVES, I. (2000)Formação, Conhecimento e

II volume, 2001:2283.

CACHAPUZ, A., SÁ- CHAVES, 1. e PAIXÃO, F.

Supervisão. Contributos nas áreas de formação de

6

In “Literacy for All. A United Nations Literacy

(2002). Os Desafios da Complexidade e a Definição

Professores e de outros Profissionais, Unidade de

Decade”, discussion paper, p. 2

de Novos Saberes Básicos. In Periódico do

Investigação em Didáctica e Tecnologia na

7

Programa de Mestrado em Educação da Universi-

Formação de Formadores (UIDTFF), Universidade

No sentido de aprofundar o conhecimento acerca

destas questões, foi constituída uma rede de

dade Católica Dom Bosco, Campo Grande, Brasil,

de Aveiro, SÁ CHAVES, IInformação, Formação e

investigação no âmbito do curso de Doutoramento

Série Estudos, n° 14, Julho Dezembro 2002.

Globalização: Novos ou Velhos Paradigmas? In

de Base Curricular em Didáctica, da Universidade

Alarcão, I. (org.) Escola Reflexiva e Nova Racionali-

de Aveiro, englobando oito projectos de investiga-

COIMBRA, J., CRESPO, C., GONÇALVES, C.,

ção conducentes a doutoramento e a mestrado,

(2001) A formação no mundo global: um dispositivo

dade, Artmed Editora, Porto Alegre, Brasil, 2001.

cujo título é “Novos Saberes Básicos, Novas

na promoção de competências transversais, in

SÁ -CHAVES, I., ( et al ) What makes a “good

Competências dos Professores” e que integra

www.psicologia.com.pt. (pesquisa efectuada em

teacher” good? In Anthropological Notebooks, Year

outras instituições de formação.

Novembro de 2004).

VI, n° 1, Slovene Anthropological Society, Lyubliana,

8

Conforme Paulo Freire, 1991, (cit. por Sim-Sim,

2000, p.71 80.

2002:37), ”o acto de ler não se esgota na mera

DELGADO-MARTINS, M. R.; RAMALHO, G. e

descodificação da palavra ou da linguagem escrita,

COSTA, A. (2000)( org.) Literacia e Sociedade.

mas antes antecipa e alarga o conhecimento do

Contribuições pluridisciplinares, Lisboa, Editorial-

in: TRINDADE, M. (coord.), Literacia e Cidadania:

mundo.”

Caminho.

convergências e interfaces, Actas do 1.º Congresso

9

World Declaration on Education for Al l (Jomtien,

Internacional sobre Literacias, Évora, Universidade

Thailand, 1990).

MORIN, E. e LE MOIGNE, L. (2001) A inteligência

10

do Futuro. S. Paulo, Brasil: Cortez Editora.

Literacy for All. A United Nations Literacy Decade

(discussion paper), p. 3. 11

A UNESCO Round-Table, Literacy as Freedom,

p. 40. 12

de Évora, 2002.

* Texto da conferência com o mesmo título MORIN, E. (2000) Os sete saberes necessários à

proferida pela autora, no âmbito da iniciativa

educação do futuro. S. Paulo, Brasil: Cortez Editora.

“Diálogos com a literacia”, promovido pela Civitas e

Adaptado de A UNESCO Round-Table, Literacy

as Freedom, p. 5 e 6.

SIM-SIM, I.., Literacia, (des)conhecimento e poder

que decorreu na Fundação Mário Soares, Lisboa, SÁ- CHAVES, I. (2005) “Os portfolios Reflexivos (também) trazem gente dentro.Reflexões em torno do seu uso na humanização dos processos Educativos”, Colecção Cidine,17; Porto: Porto Editora.

SÁ- CHAVES, I. (2002) A Construção de Conhecimento pela Análise Reflexiva da Praxis. Tese de Doutoramento, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e Tecnologia, Lisboa.

SÁ- CHAVES, I. (2002). A Qualidade em Educação: Um conceito necessário à Mudança. In Conselho Nacional de Educação, Seminários e Colóquios,

de 9 a 20 de Dezembro de 2004.


Linhas

abril ‘05

Pedro Manuel Calheiros Professor do Departamento de Línguas e Culturas – UA

almeida garrett (1799-1854)

uma efeméride esquecida Passou quase despercebido, graças ao tradicional desleixo lusitano, o sesquicentenário da morte de um dos patriarcas do nosso romantismo. O centenário do falecimento de Eça foi muito, muitíssimo, – talvez até demais –, festejado, com eventos mal preparados e celebrando mais os seus organizadores do que a personalidade homenageada. Tanta sorte não tiveram outros parentes pobres – e tão ricos! – das nossas letras. A criação literária, o seu estudo, ensino e divulgação, também sofrem da mesma incúria a que é votado o nosso património artístico, arquitectónico, cultural e paisagístico. A provável casa natal – ou pelo menos da infância – de E. de Queirós em Verdemilho, nos confins do campus da UA, não mereceu cuidado que valha. Exemplo da desafeição literária é o tratamento diferenciado dado à celebração de efemérides – ou a sua total ausência – ligadas à vida e obra de grandes vultos das letras pátrias. Elos fundamentais da cadeia literária, muito festejados em vida, são cobertos posteriormente pela lama do esquecimento, ou sumariamente condenados à insignificância pelo triunfo excessivo de algum ataque virulento de que foram alvo, e de que

comodistamente se vai repetindo o consabido refrão, sem serem alvo de análises novas, fora do contexto de guerrilha geracional e estética em que esse bota-abaixo foi proclamado. Muito recentemente, em 2000, por ocasião do centenário da morte de A. Nobre, do bicentenário do nascimento de Castilho ou do sesquicentenário natalício de G. Junqueiro, Gervásio Lobato, S. de Magalhães Lima, entre outros, pouco ou nada se fez para assinalar tais datas. Muita oportunidade houve para revivificar a presença de grandes escritores que não foi aproveitada. Na passada década, ainda em 2000, ocorreram esquecidos os centenários da morte de Luciano Cordeiro, de Eugénio de Castilho, e quase ou inteiramente olvidados os centenários de nascimento de J. Gomes Ferreira e de J. Osório de Oliveira. Em 1999, além do bicentenário do nascimento de Garrett, poder-se-ia ter celebrado ainda o bicentenário da morte do autor do Hissope, Cruz e Silva, e o centenário do nascimento de A. Aleixo, Maria Archer, Edmundo Bettencourt, J. de Araújo Correia, etc. Em 1998, pouco ou nada se festejou – a não ser na nossa e sua região – o centenário de Ferreira de Castro, outro tão grande


16 17

vulto da literatura portuguesa e tão exemplar cidadão! Em 1997, também um século havia passado sobre a vinda ao mundo de A. Botto, Reinaldo Ferreira e David Ferreira. Em 1996, não se festejou, como se devia, o centenário do falecimento de João de Deus. O mesmo sucedeu, em 1995, com a efeméride da morte de Pinheiro Chagas e, em 1994, com a da desaparição de Oliveira Martins. Em 1992 e 1991 ocorreu obscuramente o centenário de nascimento de Irene Lisboa e de Cortes-Rodrigues, respectivamente. Em 2001, cem anos passaram sobre o nascimento de Rodrigues Miguéis, Nemésio e Régio; um século decorreu também desde a morte de Tomás Ribeiro. O levantamento não é exaustivo; apenas regista datas assinaláveis mais próximas deste virar de século e de milénio, dando uma breve amostragem da indiferença generalizada. Que se fez para aproveitar esses “comboios”, como agora se diz, já que é preciso pretextos e locomotivas para tudo o que devia e poderia acontecer sem muletas? Quem se lembra de algo de bem significativo respeitante a essas efemérides? Na maioria dos casos nem sequer se reeditaram obras suas, mesmo daqueles que estão

totalmente fora do mercado livreiro. Quem pode ir a uma livraria comprar reedições de Cruz e Silva, Agostinho de Macedo, Castilho, Gervásio Lobato e de tantos outros com idêntica fortuna? Seria impossível ou cansativo tanta celebração? Ora, o comércio e a corrupção futebolísticos festejam-se a toda a hora, desenfreada, acéfala e selvaticamente e a infantilização alienadora e descerebrante de Fátima (também mercantilista) celebra-se quase todos os diabólicos santos dias. Celebrar é pesar na balança, inexistente, da glória efémera, ou dos conceitos aferidores da permanência ou impermanência das obras; problema que tanto preocupou Pessoa, que tantos e significativos fragmentos nos deixou sobre as suas ideias nesta matéria. O proteico poeta observa que a competição entre os mortos é mais terrível do que a competição entre os vivos; os mortos são mais numerosos, escreve ele, acrescentando: Alguns poetas e prosadores sobreviverão, não pelo seu valor absoluto, mas pela absoluta relatividade. Todavia, certas efemérides podiam e deviam ser ocasião para universidades, editores, as autarquias a que estão mais directamente ligados os vultos a celebrar, a Imprensa Nacional,

almeida garrett

o Instituto Nacional do Livro, a Biblioteca Nacional, os Minist. da Cultura, da Educação, da Ciência e Tecnologia, a FNCT, ou ainda louváveis associações culturais, fazerem o mais que puderem para tornar viva a presença dos escritores desaparecidos, para transmitir o seu legado criativo, para evitar que a memória cultural não perca os contributos que acrescentaram à herança colectiva da Nação. Seriam tentativas meritórias, independente do grau de sucesso atingido, de lutar contra o império cada vez mais avassalador dos três FF – Fátima, Fado e Futebol, que afinal não foram exclusividades salazarentas –, soberania reforçada, infelizmente, pelos novos e já velhos três DD – Desfiles (de Moda, de Mediáticas Estrelas cadentes e maquiavélicos Políticos decadentes, etc.), Discotecas e Drogas duras, proibidas e legais, trágicas ou pobres conquistas democráticas –, predomínios cada vez mais viçosos e influentes no paupérrimo panorama cultural, privilegiado pelos órgãos de comunicação social. Mas voltemos ao olvido em que caiu a efeméride de uma das mais fortes e proteicas personalidades da literatura pátria. O liberal, o cosmopolita, o poliglota, o mação, o vaidoso e dissi-


Linhas

abril ‘05

mulado Garrett, o dândi, que se chamou originariamente João Leitão da Silva, depois de acrescentar Baptista ao nome e de inverter os apelidos, virá a dar-se fumos de fidalguia adicionando aos seus patronímicos Almeida Garrett, pseudónimo ou heterónimo pelo qual ficou célebre; publicou uma recolha de poesias de juventude de cariz arcádico, com laivos de incipiente romantismo, atribuídas a um heterónimo embrionário, de sua graça João Mínimo (Cf. Lírica de João Mínimo – 1829 –, publicada anonimamente). Mudou o seu registo de baptismo para se vingar, talvez, dos que brincando com o seu apelido lhe chamavam Bacorinho e logrou que outros, e não dos menores homens do seu tempo, lhe dessem o cognome de O Divino. Entre estes seus fervorosos admiradores conta-se o génio brasileiro, primeiro Papa das letras d’ além Atlântico, Machado de Assis. Garrett quis fazer-se admirar calorosamente nos salões, nos teatros, nos jornais e no Parlamento, na literatura e na vida, por todos e em todos os lugares, e satisfez uma boa parte do seu intento. Homem de sucesso, foi poeta, dramaturgo, novelista, folclorista, orador político, deputado, legislador, cantor da liberdade e da democracia, combatente liberal, pedagogo – foi autor de uma Carta de Guia para Eleitores –, diplomata, estadista e acérrimo defensor da monarquia constitucional. Do seu carácter sensual, que o levou a recusar a carreira eclesiástica a que o destinaram – chegou a receber ordens menores – brotaram dois poemas da mocidade, Retrato de Vénus e Roubo das Sabinas, onde canta sem freios o desejo e o prazer libidinais; o tumulto erótico e o deísmo iluminista e voltaireano do primeiro, julgados contrários ao dogma e à moral convencional, levaram-no a tribunal, do qual saiu absolvido, depois de acesa polémica; provavelmente intimidado, deixou inédito o segundo, onde os pecados de que o acusavam eram ainda mais manifestos. No Retrato de Vénus, a deusa do Amor é considerada do Universo criador princípio, e não só Mãe do

Amor, mas também Mãe de tudo, o que não poderia deixar de escandalizar a sociedade católica, conservadora e reaccionária do seu tempo, pela manifesta impiedade e indomada sensualidade. Esta propensão erótica e este arrojo anticonformista culminarão na exaltação da voluptuosidade e no atiçar dos sentidos que se manifestam nas Folhas Caídas, recolha poética publicada um ano antes da sua morte. Erótico temperamental lhe chamou João Mendes, por o achar incapaz de se fixar nas suas paixões sucessivas. Em Inglaterra compreendeu melhor Shakespeare e admirou, com enlevo, o ainda vivo W. Scott, e Byron; aí visitou templos góticos, saudosas ruínas e castelos medievais, que o predispuseram para trilhar a nova senda do romantismo. Em França, Musset estimula-lhe o sentimentalismo; Nodier sugere-lhe a exploração da rica veia do maravilhoso de raiz folclórica; Vigny e Lamartine encorajam-no a explorar o culto das grandes e arrebatadas personalidades; Chateaubriand, de quem fez uma inacabada adaptação teatral do seu Atala, encoraja-o a valorizar a fé católica; Mme. de Staël ajuda-o a apreciar a cultura germânica; Thierry vai-lhe abarrotando o celeiro medievalista, enquanto o vulcão hugoliano lhe alimenta o fogo erótico; aí compôs e publicou os elegíacos poemas Camões e D. Branca, em 1825 e 1826, respectivamente, abrindo assim as portas ao romantismo nas letras lusas. Fortemente impressionado pela leitura de Notre Dame de Paris de V. Hugo, ao amigo Gomes Monteiro confessou que gostaria de escrever uma obra idêntica, o que irá fazer, decalcando este romance no Arco de Sant’Ana, no qual dá largas ao seu anticlericalismo, ou pelos menos à sua aversão pela oligarquia eclesiástica enfeudada aos miguelistas exaltados e maquiavélicos. Em Bruxelas, onde esteve como Encarregado de Negócios e CônsulGeral, aproveitou essa estadia para ler Herder e Schiller, de quem arremedou Os Salteadores nos seus Namorados Extravagantes, mas lá devorou sobretudo Goethe, como confessa, em 1843,

na sua Autobiografia. Foi chefe da Secção da Instrução Pública do Ministério do Reino, primeira experiência administrativa, que a Vilafrancada interrompe, levando-o ao exílio, começo dos dissabores que as reviravoltas políticas da revolução liberal lhe acarretaram, incessantemente; cedo viu ameaçados os seus sonhos vintistas; depois de múltiplas e tumultuosas tempestades, assistiu ao naufrágio dos seus ideais com o caciquismo cabralista, que definiu como um lodo de utilitários e agiotas, o que mutatis mutandis se poderia, infelizmente, aplicar hoje à deriva consumista que brotou do 25 de Abril, arregimentada por corruptos barões do futebol, pela comunicação social conivente, comercialona e inculta, e pelas comédias de políticos politiqueiros e venais. A reflexão pedagógica lá começada terá continuidade no tratado Da Educação, publicado em Londres, onde se mede com o Rousseau do Emílio, ousando criticá-lo, como fará, mais tarde, sub-repticiamente com o Hugo do “Prefácio” do Cromwell, na “Memória” ao Conservatório do Frei Luís de Sousa. Aí publicou igualmente Portugal na Balança da Europa, ensaio de geo-estratégia política, onde, a par da defesa do Evangelho liberal em que firmemente acreditava, e pelo qual combatia, dá mostras de ter estudado com afinco a história lusa e europeia, alardeando que se preparara para os cargos diplomáticos que virá a exercer e para a pasta de ministro dos Negócios Estrangeiros que assumirá mais tarde. Analisando os motivos da decadência de Portugal, ousa propor a unidade política da Península Ibérica, em último recurso, como forma de perpetuar o exercício das liberdades constitucionais no nosso país. Antero escreveu as Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, certamente, com o ensaio garrettiano em mente, pois se as conclusões são diferentes, idênticos são os métodos de análise e as preocupações. Fundou ou ajudou a criar jornais, da folha para a valorização feminina, O Toucador, ao humorístico O Chaveco


18 19

O trabalho heurístico e hermenêutico que uma figura com a dimensão de Garrett merece está ainda por fazer, tarefa interdisciplinar que daria ocupação a uma teoria de universitários e de intelectuais

Liberal, do Percursor até ao Português Constitucional, que abriu caminho à revolução setembrista, do quotidiano O Português ao semanário O Cronista, que redigia quase sozinho, como Eça virá a fazer com o Distrito de Évora. Fundou o Teatro Nacional, o Conservatório de Arte Dramática e a Inspecção-Geral dos Teatros; a ele se deve também a criação do Panteão Nacional. Assentou as bases do teatro e tratou de lhe oferecer repertório – iniciado com Um Auto de Gil Vicente, levado à cena em 1838, Amor e Pátria, posteriormente rebaptizado D. Filipa de Vilhena, ou ainda O Alfageme de Santarém ou A Espada do Condestável, datado de 1842, trabalho que culminará, em 1844, no vértice piramidal da sua dramaturgia, o Frei Luís de Sousa, tida por Otto Antscherl como a obra mais brilhante que o teatro romântico produziu. J. do Prado Coelho considera-o o grande iniciador, o grande semeador de ideias-forças do Portugal liberal e romântico, outorgando-lhe, também, o papel de iniciador da prosa literária moderna em língua portuguesa, a partir das Viagens na Minha Terra, novela e crónica de viagem que o exílio escalabitano de Passos Manuel lhe dá ensejo de compor, com uma

liberdade formal herdada do Cervantes do Dom Quixote, do Sterne da Vida e Opiniões de Tristam Shandy ou da Viagem Sentimental, do Diderot de Santiago o Fatalista e o seu Mestre, para não falar do matreiramente evocado por Garrett, no limiar da sua obra-prima, o X. de Maistre da Viagem à Roda do meu Quarto. A prosa queirosiana muito deve às inovações estilísticas de Garrett e A Cidade e as Serras – o A Rebours de Eça – são uma outra forma de reescrever As Viagens na Minha Terra. O mesmo se poderia dizer do Só, do esteta dândi finissecular António Nobre, neo-garrettiano que já achou aberto o caminho para o discurso poético polifónico e que não hesitou em recorrer aos registos coloquiais, populares ou às corrupções ortográficas e morfológicas, etc., que Garrett já ousara utilizar. G. Le Gentil viu Garrett como um génie tempéré, équilibré, não hesitando em considerá-lo voisin de Musset par l’espièglerie, prophète du libéralisme au même titre que Lamartine, incarnant, comme Hugo, avec une moindre puissance, toute une génération littéraire, o que fez do escritor luso o initiateur et modérateur du romantisme portugais. Explicando a larga projecção

almeida garrett

de Garrett na nossa cultura, Ofélia Paiva Monteiro assegura que foi referência para a sua contemporaneidade e que continuou a sê-lo até à nossa, o que a leva a escrever também: A Garrett cabe um lugar marcante no nosso devir cultural por ter sido o grande pioneiro do romantismo e um arguto e activo participante do difícil tempo que viveu, o da implementação do regime liberal. Ora o sequiscentenário da morte de um tal vulto lusitano pouco deu que falar e muito menos que escrever. Ainda hoje não dispomos de uma edição crítica das suas obras, tarefa anunciada, mas que tarda a ver a luz do dia e que muita falta faz para o ensino actualizado da sua criação literária, revisitada e reavaliada com olhares menos dependentes do que se foi dizendo e escrevendo durante quase dois séculos, telecomandados pelo próprio escritor e seus acérrimos, e algo indulgentes, ou vesgos, comentadores. O trabalho heurístico e hermenêutico que uma figura com a dimensão de Garrett merece está ainda por fazer, tarefa interdisciplinar que daria ocupação a uma teoria de universitários e de intelectuais a quem fosse incumbida tão salutar, urgente e necessária ocupação, se por artes mágicas se criasse um programa nacional de investigação científica, apoiado pelos ministérios com créditos privilegiados para essa orientação de pesquisa. Mas sonhar com o Reino da Dinamarca é devaneio inspirado por Shaskespeare e que morrerá nas vasas economicistas dos gabinetes ministeriais…


Linhas

abril ‘05

carreiras bem sucedidas


20 21

carreiras bem sucedidas

Celso Assunção, Maria João Fonseca, Ricarda Moura, Ricardo Ferraz e Conceição Silva. São cinco jovens antigos alunos da Universidade de Aveiro. Formaramse há relativamente pouco tempo mas já são notícia. Empreendedores q.b., Celso, Maria João e Ricarda arriscaram lançar-se por contra própria. Ricardo passou pela experiência Erasmus e, de Liège, partiu logo para Barcelona, onde trabalha há quatro anos. Conceição estudou no ISCA-UA e foi convidada a integrar uma empresa nova que sente como sua. A “Linhas” conversou com estes antigos alunos de diferentes áreas de formação da Universidade e dá-lhe a conhecer os seus percursos profissionais.


Linhas

abril ‘05

Maria João Fonseca criou empresa de turismo de natureza para observação de golfinhos Maria João Fonseca, 32 anos, saiu da Universidade de Aveiro, em 1996, licenciada em Gestão e Planeamento em Turismo. Dois anos depois, a realização em Portugal da Expo 98 deu-lhe o empurrão necessário para lançar a Vertigem Azul, Turismo de Natureza, Lda. – uma empresa sedeada em Setúbal que proporciona circuitos de

Se está a pensar ir a Setúbal aceite a proposta da Vertigem Azul e parta à descoberta de golfinhos em estado selvagem. No estuário do Sado reside uma população com cerca de 30 golfinhos-roazes que a empresa da antiga aluna da UA, Maria João Fonseca, lhe dá a conhecer, proporcionando-lhe, simultaneamente, uma experiência inesquecível.

barco para a observação, no estuário do Sado, da comunidade residente de golfinhos-roazes.

O Programa da visita tem início com uma sessão de slides. Os monitores da Vertigem Azul começam por fazer uma breve exposição e explicação sobre a população de golfinhos-roazes residente no estuário do Sado. Só depois começa a viagem. São cerca de três horas a bordo de uma embarcação semi-rígida, equipada com hidrofone, para visitar o estuário, observar os golfinhos e ainda partilhar os encantos da costa da Arrábida: praias e enseadas, o Forte do Outão, o Convento da Arrábida e a Fortaleza de Nossa Senhora da Arrábida. Se a visita se realizar no Verão, a empresa propõe-lhe ainda uma paragem para mergulhos em apneia.


22 23

Foi o facto de residir em Setúbal e o prazer que lhe dava observar os golfinhos que levou Maria João a aliar os conhecimentos adquiridos no curso de Gestão e Planeamento em Turismo ao seu gosto pessoal e avançar com a criação de uma empresa, que acreditou poder tornar-se numa actividade economicamente viável e com potencial turístico para a cidade de Setúbal. “Com o Pedro Narra, o outro sócio-gerente da Vertigem Azul, lancei a empresa em 1998, aproveitando a realização, em Portugal, da Expo 98. Para além de alertar e dar a conhecer o estado da população de golfinhos-roazes residente no estuário do Sado, que é, de resto, caso único em Portugal, o nosso objectivo era proporcionar aos visitantes desta região, circuitos de barco para a sua observação, sem interferir nem prejudicar a vida quotidiana destes golfinhos. A criação da empresa era uma inovação em Portugal continental, já que existia apenas nos Açores, e na Europa, apenas se conhecem populações residentes em estuários, casos semelhantes ao Sado, na Escócia (Moray Firth) e Irlanda (estuário de Shannon). Hoje, a Vertigem Azul tem também em curso um programa educativo de visita aos golfinhos-roazes do Sado. Dirige-se a crianças de todas as idades e visa informá-las, educá-las e sensibilizá-las para o interesse pelos mamíferos marinhos e para a conservação da Natureza, explorando de uma forma dinâmica um conjunto de actividades. “Este programa está em prática há cinco anos, com sucesso, e é único no território nacional”, explica Maria João, adiantando que até aos anos 60 existia uma comunidade destes golfinhos no Estuário do Tejo, que desapareceu graças à insuficiência de alimento e ao aumento do tráfego marítimo e poluição industrial. Seis anos de intensas experiências Apesar de estar envolvida numa actividade sazonal, o que lhe permite tirar algum tempo para pensar e

executar novos projectos, o dia-a-dia de Maria João é tão preenchido que não consegue contabilizar o número de horas que dedica à empresa. “Quando temos um negócio próprio e gostamos do que fazemos, nem pensamos que estamos a trabalhar.”.

carreiras bem sucedidas

Algumas características dos golfinhos-roazes O roaz é um mamífero marinho que tem sangue quente e cuja temperatura ronda os 36 graus C. Para respirar precisa de usar o espiráculo (orifício que se encontra no topo da cabeça) fora da água, pelo que vêm à superfície de 5 em 5 minutos, embora a sua capacidade lhes permita aguentar mais tempo sem respirar.

Ao fim de seis anos, a Vertigem Azul quer melhorar ou pelo menos manter a qualidade do serviço que tem vindo a prestar. “Estamos apostados em crescer com qualidade e adquirir novos equipamentos. Para além de uma nova embarcação, gostaríamos de editar um livro sobre esta população de golfinhos e, quem sabe, um dia, dotar a cidade de Setúbal de um museu dedicado ao estuário e aos Golfinhos do Sado”.

Os golfinhos dormem em posição vertical e com o cérebro dividido em dois hemisférios, descansam alternadamente cada uma das partes: isto quer dizer que podem estar a dormir e estar ao mesmo tempo alerta, e conscientes para poderem emergir à superfície e respirar.

Os golfinhos vivem em grupo. São muito sociáveis e muito sensíveis ao contacto directo. Quando nascem têm entre 75-150cm e pesam cerca de 30 kg. Em adultos medem 3-4m e o seu peso oscila

Assumindo-se como realizada profissionalmente, Maria João não tem dúvidas em afirmar que se, por algum motivo, tivesse de se desvincular da Vertigem Azul poderia dizer que tinha vivido seis anos de intensas experiências e de enorme enriquecimento pessoal. Para esta sensação de realização e sucesso profissionais, a Universidade de Aveiro teve a sua quota-parte de responsabilidade. “Ter tirado Gestão e Planeamento em Turismo na UA foi uma mais-valia para o meu percurso profissional. Além disso, ainda hoje recordo muitos dos bons episódios vividos na UA, sobretudo os de carácter pessoal na companhia de amigos que conheci em Aveiro e que muito estimo”.

entre os 300 e os 500kg, podendo atingir

Quando se candidatou ao ensino superior, a licenciatura em Gestão e Planeamento em Turismo, em Aveiro, foi a sua primeira opção. “No entanto, candidatei-me também à Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (Privado) onde fui colocada. Era o primeiro ano em que a Escola ia funcionar no Estoril, por isso a abertura das aulas só estava marcada para Fevereiro. Optei por me inscrever em Aveiro e comecei a frequentar as aulas. Ao fim dos primeiros meses decidi ficar na Universidade de Aveiro. Estava a gostar do curso, da cidade e da Universidade”.

Estes golfinhos são cinzento-escuro no dorso,

excepcionalmente os 650kg.

Os roazes alimentam-se de vários tipos de peixes, moluscos e crustáceos. No estuário do Sado, os roazes têm uma especial predilecção por chocos e taínhas, alimentando-se também lulas, linguados, caranguejos, camarões, entre outros. O roaz ingere diariamente cerca de 20kg de alimento. Passam grande parte do seu tempo à procura de alimento e utilizam várias técnicas de caça.

As fêmeas têm uma gravidez de 11 a 12 meses e dão à luz apenas uma cria com cerca de 80cm. Assim que nasce, a cria é levada à superfície para aprender a respirar. As crias são amamentadas até aos 18 meses e são-lhes ensinadas desde logo algumas técnicas de caça.

diminuindo de intensidade perto da barriga, que é branca ou rosa muito claro. O seu corpo é muito robusto, bem como a sua cabeça. O seu bico tem uma força espantosa, capaz de provocar ferimentos muito graves num adversário. São muito activos e frequentemente acompanham os barcos à proa. Em velocidade de natação chegam a atingir mais de 40km/h. Em liberdade, os roazes podem viver até aos 45 anos, tendo as fêmeas geralmente maior longevidade.


Linhas

abril ‘05

Ricarda Manuela Moura consultora em geotecnia, geofísica e controlo de qualidade Em 1995, Ricarda Manuela Moura, 34 anos, licenciou-se em Engenharia Geológica na UA. Hoje é sócia-fundadora da GeoSonda – uma empresa de consultadoria em geotecnia, geofísica e controlo de qualidade, sedeada em Santa Maria da Feira – que, em 1998, constituiu com o então colega de curso, António Machado, e com Paulo Resende, estudante de Engenharia Civil, também desta Universidade.


24 25

Quando em Vila Nova de Famalicão se candidatou ao ensino superior, Ricarda Moura não fazia ideia de como seria marcante para a sua vida profissional e pessoal, a sua entrada em Engenharia Geológica na UA. Na época, foi o interesse pela área da Geologia, aliada ao trabalho de campo, que a conduziu a Aveiro. Queria exercer uma actividade que lhe permitisse estar em contacto com a natureza, mas nunca imaginou que tal vontade, associada à entrada na Universidade de Aveiro, viesse a ser o ponto de partida para uma grande aventura. Na verdade, foi na UA que conheceu os colegas António Machado, 33 anos, também licenciado em Engenharia Geológica e Paulo Resende, 29 anos, estudante de Engenharia Civil, que viriam a ser os seus sócios na GeoSonda, empresa que, em conjunto, lançaram em 1998. “Frequentámos a mesma Universidade e quando obtivemos alguma experiência profissional resolvemos aliar os conhecimentos adquiridos pelas actividades que exercíamos (geotecnia e geofísica) e desenvolver a ideia de criar uma empresa nossa que apresentasse estes dois serviços. Na altura, o António Machado exercia funções numa empresa de geotecnia, eu era bolseira de investigação científica na área de geofísica, enquanto o Paulo estudava engenharia civil. A GeoSonda tem como principal actividade a consultadoria em geotecnia, geofísica e controlo de qualidade. Está sedeada em Santa Maria da Feira, local onde Ricarda Moura optou por ficar a residir, e tem como principais clientes projectistas, construtores civis, câmaras municipais, empresas que exercem a sua actividade na área do ambiente e arqueólogos. A GeoSonda é constituída apenas pelos três sócios, que exercem a sua actividade a nível nacional. Conta Ricarda Moura que quer ela quer os seus dois colegas trabalham sem obedecer a uma estrutura rígida de

carreiras bem sucedidas

funções. “Nas áreas em que a empresa actua, as tarefas são complementares e flexíveis”, justifica, acrescentando que, como sócia-gerente, é responsável pelos trabalhos de prospecção geofísica.

e Cortegaça” e no da “Delimitação da intrusão salina com métodos eléctricos e electromagnéticos no âmbito do projecto de reflorestação da Reserva Nacional de S. Jacinto.”

“O meu dia-a-dia é, por isso, muito diversificado. Tem uma componente de campo, onde executo levantamentos geofísicos (eléctrica, magnética, sísmica de refracção e electromagnética), o que me permite adquirir os dados em campo, e uma componente de gabinete, onde trato do processamento dos dados e procedo à sua interpretação. Como a GeoSonda abrange todo o território nacional, tenho que ter uma enorme flexibilidade em termos de horários.”

Entre Abril de 1996 e Março de 1998, obteve uma Bolsa de Investigação Cientifica, atribuída pela então Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT). Realizei o meu trabalho no Departamento de Geociências da UA, sob o tema Recursos Hídricos na Orla Costeira, sob orientação do Professor Catedrático Senos Matias.”

Ricarda Moura lembra ainda hoje o primeiro trabalho realizado pela GeoSonda, como algo que lhe deu um enorme gozo: “Foi o início de um projecto idealizado por nós. Realizámo-lo em conjunto com a UNAVE – Associação para a Formação Profissional e Investigação da Universidade de Aveiro – e consistiu na avaliação do potencial arqueológico do sub-solo da Praça 1º de Maio e da Praça Joaquim António Aguiar, em Évora.” A UA foi o ponto de partida para a nossa aventura Embora aos 34 anos admita ter já alcançado uma das etapas da sua carreira profissional, Ricarda Moura diz não se sentir ainda totalmente realizada. Como projectos futuros para a GeoSonda aponta a sua consolidação a nível nacional, a aquisição de novos equipamentos e a prestação de novos serviços. Importa referir, no entanto, que a experiência profissional de Ricarda Moura não se resume à actividade que exerce na GeoSonda. Quando terminou o curso, participou, em colaboração com o Departamento de Geociências, em alguns estudos, designadamente no da “Determinação da profundidade do bedrock com recurso ao método de resistividade eléctrica para o estudo da zona costeira na área entre Furadouro

É por tudo isto que não tem dúvidas em afirmar que a sua passagem pela UA “foi marcante. A Universidade de Aveiro foi o ponto de partida para a nossa aventura e não tenho a mais pequena dúvida de que também os docentes do Departamento de Geociências tiveram um papel preponderante na minha carreira profissional e no sucesso da minha empresa. Foi na UA que eu e os meus sócios adquirimos toda a nossa formação académica, que se tornou de todo essencial ao exercício da nossa actividade.” De resto, Ricarda Moura é da opinião de que a Universidade onde estudou apresenta um conjunto de infraestruturas, tecnologia, e pessoal docente excelente, que contribui para o seu reconhecimento a nível nacional e internacional.


Linhas

abril ‘05

Ricardo Ferraz aveiro-barcelona com passagem por liège Ricardo Filipe Lopes Ferraz, 26 anos, foi um dos primeiros licenciados em Engenharia Civil pela UA. No último ano do curso, ao abrigo do programa ERASMUS, partiu para Liège, onde fez o último semestre do ano.

Em Setembro voltou à Bélgica para apresentar o projecto final de curso e de lá seguiu directamente para Barcelona, em busca do seu primeiro emprego. Pouco depois passou a integrar a equipa de engenheiros responsável pelo cálculo de pontes e estruturas da PEDELTA, SL – uma das mais prestigiadas empresas especializadas em estruturas, da região da Catalunha.


26 27

Chegada a altura de se candidatar ao ensino superior, a opção por Engenharia Civil não foi uma decisão simples. Com inclinação para várias áreas, Ricardo Ferraz chegou, durante o secundário, a estudar desde Expressão Dramática a Psicologia. Foi o gozo pela disciplina de Física, no 12º ano, aliado ao facto de estar simultaneamente a estudar no Conservatório de Música de Aveiro, que o fez pensar seguir Engenharia Civil na Universidade de Aveiro e não noutra qualquer Universidade com mais tradição na área. A decisão acabou por ser tomada, reforçada pela ideia de que “por se tratar de um curso novo, numa Universidade moderna, a desumanização no ensino seria menor. Para mim, o melhor de ter estudado em Aveiro, para além de me ter divertido e trabalhado q.b., foi o facto de ter estado quase sempre em turmas pequenas, o que nos permitia a todos uma aprendizagem muito mais próxima dos docentes e dos materiais disponíveis.”. Mas a grande aventura começou para Ricardo Ferraz precisamente no momento em que decidiu aproveitar o Programa Erasmus para viver uma experiência única. “Até Fevereiro de 2001 vivi com os meus pais, em Aveiro, mas queria passar pela experiência Erasmus. Fui parar a Liège, quase por acaso. Na altura, Engenharia Civil na UA era um curso muito recente e ainda não havia protocolos com outras universidades. Valeu-me o contacto de um professor de Aveiro com um docente da Universidade de Liège, que acabou por me propor um projecto bastante interessante. Assim, contra as minhas expectativas iniciais, decidi ir para a Bélgica. O facto de viver num país estrangeiro durante uma temporada e conhecer pessoas de todas as partes do mundo é, no mínimo, muito enriquecedora”. Ricardo Ferraz recorda que durante a sua estada em Liège conheceu inúmeros colegas espanhóis. Mais por gozo

pessoal, começou a falar em castelhano e acabou mesmo por aperfeiçoar o idioma. “Já tinha ficado encantado com Barcelona quando visitei a cidade pela primeira vez. Ao aprender castelhano na Bélgica pensei: Porque não tentar ir trabalhar para Barcelona? Sempre fui da opinião de que as fronteiras de um país não devem ser um limite e sempre achei que viajar é viver duas vezes.”. Já em Barcelona, Ricardo Ferraz conseguiu alguns contactos em gabinetes de arquitectura. Na sequência de uma entrevista percebeu que era aos arquitectos que competia a responsabilidade pelo cálculo estrutural da maioria dos edifícios, não havendo por isso espaço para engenheiros civis no mundo da edificação espanhola. No entanto, por terem apreciado o seu projecto de fim de curso, forneceram-lhe contactos de empresas de engenharia. “Como queria trabalhar na área de projecto de estruturas indicaram-me uma empresa especializada neste campo. Nessa mesma semana fui a uma entrevista com os sócios fundadores da PEDELTA. Seleccionaram-me no dia seguinte! Apenas tive tempo de ir a Portugal tratar de uns assuntos pendentes.” Fechar portas seria um erro Ricardo Ferraz acabou por integrar a PEDELTA em Outubro de 2001, onde foi encontrar uma equipa jovem e competente de engenheiros civis (em Espanha, denominados Engenheiros de Caminhos, Canais e Portos). Hoje é um dos engenheiros seniores da empresa, competindo-lhe idealizar e calcular estruturas para diversos fins. “Para executar as tarefas que estão a meu cargo é essencial saber trabalhar em equipa. Estamos em colaboração permanentemente com pessoas da nossa e de outras áreas tanto em Espanha como na América do Sul, onde a empresa tem escritórios.”. Apesar do esforço suplementar que admite ter que fazer, periodicamente, na empresa, Ricardo Ferraz diz que o seu dia-a-dia é bastante normal para

carreiras bem sucedidas

um habitante de Barcelona. “Como é uma cidade relativamente grande, com muitas possibilidades a todos os níveis, o mais difícil é encontrar tempo para tudo o que há para fazer. Tento aproveitar ao máximo a oferta desta cidade. No Verão é óptimo poder andar de bicicleta ou patins, ir à praia ao fim do dia, desfrutar do maravilhoso clima mediterrânico e do ambiente fantástico que se respira pelos bairros da cidade, quando começa o calor. No Inverno, bastante rigoroso mas soalheiro, a cidade apresenta um encanto muito especial e, além disso, em pouco mais de duas horas pode estar-se nos Pirinéus e desfrutar a neve. Em suma, tem sido uma experiência pessoal e profissional que está a ser muito positiva para mim”. Com muitos projectos em mente, entre os quais regressar a Portugal ou experimentar outros países, Ricardo Ferraz confessa que ficaria muito preocupado caso se sentisse totalmente realizado aos 26 anos. Estou contente com o que estou a fazer, mas não tenciono fechar nenhuma porta. Seria um erro”.


Linhas

abril ‘05

Conceição Silva no comando administrativo e contabilístico da costa verde Maria da Conceição Domingues Santos Silva, 38 anos, licenciou-se em Auditoria Contabilística, em 1992, no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro (desde 2000 integrado na Universidade de Aveiro). Hoje é responsável pelos Serviços Administrativos e Contabilísticos das Porcelanas Costa Verde, S.A., onde se sente perfeitamente realizada e integrada numa equipa de trabalho altamente profissionalizada.


28 29

Chegou do Porto em 1985 para estudar no ISCA de Aveiro como sempre quis. Começou por tirar o Bacharelato em Contabilidade e Administração para pouco tempo depois avançar para a licenciatura em Contabilidade e Auditoria. “Desde o 9º ano que, das várias opções existentes, a que mais se identificava com a minha personalidade era contabilidade. A escolha pelo ISCA de Aveiro deveu-se ao facto de ter tido boas referências desta escola no ensino da contabilidade”.

ser vendida, em 1990, ao Grupo Cerexpor e, posteriormente, ao Grupo Vista Alegre.

E foi no ISCA-UA que Conceição Silva confessa ter vivido um dos melhores períodos da sua vida. “Éramos poucos alunos, conhecíamos todos os professores e funcionários. Sentíamo-nos uma família. Esta relação de amizade, facilmente se percebe num breve episódio: depois da desistência colectiva de um exame de contabilidade geral, toda a turma foi com os professores descontrair para a Feira de Março.”. De resto, os professores do ISCA-UA tiveram sempre um papel fundamental na nossa adaptação à vida profissional. A sua disponibilidade para nos ajudar nas dúvidas que iam surgindo no dia-a-dia foi sempre incondicional”.

A par da actividade profissional que foi desenvolvendo, Conceição Silva voltou ao ISCA-UA para se licenciar. No mesmo ano em que concluiu Contabilidade e Auditoria, entrou como responsável dos serviços administrativos e contabilísticos para as Porcelanas da Costa Verde S.A, – uma empresa de fabrico de artigos de porcelana, que se dedica fundamentalmente à produção de louça, situada na Zona Industrial de Vagos. “Como estou na empresa desde o início da sua actividade (1992), posso dizer que participei na organização dos vários serviços administrativos, contabilísticos e informáticos, assim como dei o meu contributo para a certificação de qualidade ao abrigo da ISO 9001/2000 e certificação ambiental ao abrigo da ISO 14001/1999.”.

Em 1988 a procura de contabilistas estava em alta e quem se formava não precisava de procurar emprego, já que os próprios professores facultavam aos seus alunos várias opções de trabalho. Já com o bacharelato concluído, Conceição Silva fixou residência em Aveiro e começou então por ter a sua primeira experiência profissional na Agência Comercial Ria, representante da Mercedes e da Seat, em Aveiro. Esteve nesta agência durante um ano, até que lhe surgiu a oportunidade de ir trabalhar para a empresa Porcelanas da Quinta Nova, onde ficou durante três anos. “No último ano que estive nesta empresa já estava a exercer as funções de responsável pelos serviços administrativos e contabilisticos. Mas a empresa passou por vários processos de alteração social, começando por

Os anteriores gerentes e sócios das Porcelanas Quinta Nova, acabaram por me convidar a integrar os quadros de uma empresa que pretendiam lançar com o objectivo de reunir os maiores armazenistas e distribuidores de porcelana a nível nacional. Aceitei e é nesta empresa – Porcelanas da Costa Verde. S.A. – que trabalho agora.

Conceição Silva está actualmente envolvida na organização do processo de certificação no âmbito do Sistema de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho NP 4397/2001 e aproveita para salientar que a “Porcelanas da Costa Verde, S.A. é a mais moderna empresa do sector, tendo-lhe sido atribuído pela revista Exame, em 2004, o prémio de melhor PME do seu sector de actividade. O segredo é sentir a empresa como minha Para além da realização periódica de auditorias à contabilidade geral, o seu dia-a-dia na empresa divide-se entre a coordenação de todas as tarefas administrativas e contabilísticas, a

carreiras bem sucedidas

execução de algum desse trabalho, e a coordenação e supervisão do trabalho realizado pelo departamento de recursos humanos e contabilidade geral. “A tudo isto alio uma preocupação constante: o permanente melhoramento dos elementos de informação que forneço aos órgãos de gestão. Conceição Silva começa o dia com a análise, via Internet, da situação bancária (saldos dos bancos, transferências bancárias e liquidações de clientes), dando de tudo isto conhecimento ao administrador financeiro. “Como responsável pela informação contabilística, implementei, com o apoio de uma software-house, o sistema de controlo de custos, não só para efeitos de cumprimento de disposições fiscais, mas principalmente para a obtenção de informação para a gestão da empresa”. Este processo não está ainda completamente terminado, apesar de estar a decorrer a alguns anos, mas a justificação é simples: o processo produtivo Costa Verde é complexo e o número de artigos a controlar ronda os 15 mil. Todas estas tarefas e responsabilidades são cumpridas por Conceição Silva com muito gozo. “O segredo é gostar do trabalho que realizo diariamente, sentir a empresa como minha e estar integrada numa equipa de trabalho altamente profissionalizada, na qual incluo a administração da empresa”. A realização que diz sentir não é sinónimo de acomodação ou estagnação. “Pretendo continuar sempre a melhorar os meus conhecimentos de gestão, principalmente no âmbito da auditoria contabilística”.


Linhas

abril ‘05

Celso Assunção um verdadeiro designer da nova geração Com apenas 26 anos, Celso Filipe Bastos Assunção tem uma experiência profissional invejável. Terminou a licenciatura em Design, na UA, em 2003, e desde então não tem parado. Aveirense de gema, apresentou em Março de 2004 a sua

Dorme pouco mais de cinco horas por noite mas sente-se lindamente com as diferentes actividades em que está envolvido. Dinâmico, empreendedor, prosseguidor dos seus sonhos, amigo do seu amigo e humilde, Celso Assunção é uma lufada de ar fresco na nova geração de designers portugueses.

primeira colecção de moda, lançando assim a marca CELSUS, composta por vestuário feminino e masculino, calçado e acessórios.

Para além de estilista e gestor de imagem da sua própria marca, Celso Assunção é ainda Designer de Comunicação numa empresa de Oliveira de Azeméis, e continua a trabalhar na imagem do Núcleo de Economia da UA e na da Magna Tuna Cartola.

Diz que o dom para a área já nasceu com ele e o gosto pela moda despertou aos 16 anos, quando começou a transformar a sua roupa e a pintar t-shirts para as tornar únicas. Para ele a moda faz todo o sentido se for aliada ao design. Parte de conceitos para criar peças e dá aos materiais um fim diferente do habitual, transformando-os e proporcionando-lhes uma nova vida. Apesar de ter sempre querido seguir Design, a elevada média de acesso a este curso da UA obrigou-o a entrar em Engenharia Cerâmica e Vidro. “Cagaréu de nascença e fiel à cidade – longe da ria sinto-me insignificante, o que só entende quem realmente é de Aveiro – nunca me vi a ir estudar para fora. Como tinha uma oportunidade futura de emprego no ramo da Engenharia Cerâmica, acabei por entrar no curso mas batalhei tanto que consegui


30 31

os créditos necessários à mudança para a licenciatura em Design que tanto desejava.” Ainda nos tempos de estudante, Celso Assunção procurou sempre seguir por caminhos que lhe abrissem horizontes para novos conhecimentos e experiências. “Para que estou eu numa Universidade? Para estudar? Não só! Para aprender a viver numa sociedade que desenvolve o futuro, que nos faz perceber que somos muito mais do que aquilo que imaginamos e que, principalmente, nos ajuda a viver em comunidade” afirma, avançando que foi por isso mesmo que em 1999/2000, resolveu fazer parte da Direcção da Associação Académica, tendo estado ligado ao Sector Cultural e organizado entre outros eventos, a Semana do Enterro, a Semana do Caloiro e o Baile de Gala dos finalistas da UA. O seu envolvimento nas diversas actividades extra-curriculares durante o tempo em que estudou na Universidade, levou-o também a aceitar o convite endereçado pelo Núcleo de Economia para desenvolver toda a identidade visual do núcleo e o seu jornal. Mas há mais: em 2001 entrou para a Magna Tuna Cartola, núcleo cultural da Associação Académica, onde para além de músico, veio a desenvolver e dinamizar a imagem da Tuna para o exterior. “O feedback dessa mesma imagem foi bastante positivo e muito apreciado por um público-alvo mais selectivo. Esta experiência acabou por me valer imensos contactos externos e a Magna Tuna Cartola passou a ter outra postura e outra credibilidade em termos de imagem”. Com o ritmo e intensidade com que viveu a vida de estudante, acabar o curso foi, como ele próprio diz, “apenas uma etapa”. Mal saiu da UA começou a desenvolver trabalhos como freelancer para empresas que já conheciam o seu trabalho e, a partir daí, “foi como uma bola de neve”. Como designer de comunicação prestou

carreiras bem sucedidas

serviços para variadíssimas empresas, o que lhe permitiu trabalhar para clientes como a Compal, Sumol, Nestlé, Águas S. Cristóvão, Companhia da Água, entre muitas outras. Em Outubro de 2004 aceitou integrar a equipa da “Arte Virtual” e, desde então, está a exercer o cargo de Designer de Comunicação nesta empresa de Oliveira de Azeméis. Quer isto dizer que é apenas depois das 18h00 e aos fins-de-semana que Celso Assunção se dedica à sua mais recente aposta: o desenho das colecções da CELSUS, a gestão de imagem da própria marca e ainda a Direcção de Design e Multimédia do evento de moda “FASHION-ME” e outros trabalhos que vai aceitando como designer freelancer.

resultou a produção de catálogos, cuja apresentação pública decorreu em Dezembro passado, no Olaria Bar e na Estação da Luz”.

Estilista e gestor de imagem da CELSUS Este seu mais recente percurso como estilista e gestor de imagem da marca CELSUS começou mais a sério em Março de 2004, com o lançamento da colecção Primavera-Verão. “Participei no desfile “Novos Criadores 2004” englobado no projecto “MODA 2004”, organizado por uma agência de moda de Aveiro, onde estiveram presentes nomes sonantes da moda nacional e onde foi também apresentada a colecção do consagrado estilista Aveirense Joel Reigota”. Logo depois, Celso Assunção lançou o catálogo da colecção e uma linha de t-shirts com 58 desenhos.

A chave para conciliar todas as actividades em que está envolvido com sucesso é para Celso Assunção, “muita dedicação, muito amor à camisola, humildade e força de vontade”. Realizado com o trabalho que tem desenvolvido, admite, no entanto, ainda haver muito a fazer e quanto a projectos futuros fica-se por um “viver o dia-a-dia. Devagar se vai ao longe…”

Com o objectivo de promover as suas colecções e as da dupla ilhavense de estilistas Fernando Portugal – Célia Barroso, dando simultaneamente destaque à moda Aveirense no panorama nacional, Luís Marinheiro (direcção executiva) e Celso Assunção (direcção de design) promoveram a 1ª edição do FASHION-ME – mostra de moda. “Neste evento, apresentei a colecção Outono-Inverno 04’05, a que chamei “Mutations” e que inclui calçado e chapelaria por mim desenhados e produzidos em S. João da Madeira, numa tentativa de alargar a produtividade da marca a esse nível. Daqui

A colecção tem preços acessíveis e está disponível no site oficial da CELSUS (www.celsustyle.com). “Tem tido uma excelente aceitação, principalmente as peças femininas (vestidos, carteiras, calçado), talvez porque os homens não ligam tanto a estas questões da moda. Temos modelos exclusivos e outros quase exclusivos, já que a mesma peça não é produzida em grandes quantidades. O negócio está a correr bem, mas tenho que admitir que ainda é cedo para me dedicar 100% à CELSUS.”

Da Universidade de Aveiro, à qual ainda, de alguma forma, continua ligado através da sua participação na Magna Tuna Cartola, guarda excelentes recordações. “Tenho que salientar os meus primeiros colegas ainda do curso de Cerâmica, a família Cartola e os BRAU – um grupo de sete colegas de Design com quem partilhei noitadas de trabalho mas também muita diversão”.


Linhas

abril ‘05

erosão ameaça futuro da costa portuguesa geociências aponta soluções Ainda está na memória de todos o recente “Tsunami” que atingiu a Ásia e que abalou o mundo. A tragédia trouxe a discussão diversos assuntos directamente relacionados com estes fenómenos e retomou outros que, embora tenham resultados menos catastróficos, colocam em risco as populações que todas as manhãs dão os bons dias às águas azuis do mar. A Revista Linhas foi falar com uma especialista da Universidade de Aveiro na área da erosão, a Prof. Doutora Cristina Bernardes, e dá-lhe a conhecer os riscos naturais que afectam a costa portuguesa e, mais concretamente, a costa entre Aveiro e Mira.

A zona costeira é sem dúvida um dos locais mais dinâmicos do planeta. A sua fisionomia muda constantemente, a várias escalas temporais, devido a um conjunto de factores naturais e intrinsecamente relacionados com a dinâmica costeira, como a variação do nível do mar, a acção dos temporais, a sobreelevação de origem meteorológica ou a dispersão de sedimentos, e factores humanos, originados pela ocupação urbana e o desenvolvimento industrial e recreativo. A pressão sobre os sistemas costeiros provoca mudanças substanciais na morfologia costeira, as quais, por sua vez, obrigam à adopção de medidas de protecção cada vez mais invasivas, contribuindo para uma quase total arteficialização da costa. Os riscos associados àqueles dois tipos de factores têm sido alvo de estudos e de análise por parte do grupo da Geologia Costeira do Centro de Estudos de Ambiente e Mar do Departamento de Geociências da UA, desde Janeiro de 1996. Quase 10 anos de investigações que permitem apresentar já conclusões importantes da evolução da zona costeira entre a Praia do Furadouro e a Praia de Mira, com especial ênfase na zona a sul da Barra/Costa Nova, onde o fenómeno


32 33

da erosão tem sido bastante sério com tendência para piorar, e apontar medidas para travar este fenómeno. Os projectos de investigação mais recentes, “Rimar - Riscos Naturais Associados a Variações do Nível do Mar” e “CROP – Processos Transversais em Ambientes Contrastantes” foram desenvolvidos em parceria com as Universidades do Algarve, Porto, Évora, Lisboa e Coimbra, e os Institutos Hidrográfico, de Meteorologia e das Ciências da Terra e do Espaço. Com o objectivo de estudar, de forma integrada, os quatros principais fenómenos indutores de riscos naturais, nomeadamente, a elevação secular do nível médio do mar, os temporais, a elevação de índole meteorológica e os tsunamis, foi feita uma comparação entre duas zonas do litoral português energeticamente distintas, situadas em Aveiro e no Algarve. O contexto destas duas zonas é diferente, explicou a Prof. Cristina Bernardes. «No Algarve estudou-se o sistema de ilha-barreira, um conjunto de ilhas móveis, de natureza arenosa, que se estende ao longo da costa e que tem sofrido profundas alterações morfológicas ao longo do tempo, devido a processos naturais ou à ocupação

urbanística desordenada e muitas vezes ilegal. Na zona de Aveiro, estamos em presença de uma barreira que protege a laguna do mar aberto através de um canal artificial, que é a entrada do Porto de Aveiro». O objectivo geral era comparar os processos causa-efeito em resposta aos factores naturais, mesmo sendo relativamente diferentes em termos de condições hidrodinâmicas. “É mais fácil estudar no Algarve as consequências da acção de um temporal, por exemplo, e de que forma os sistemas, neste caso, as praias e as dunas se comportam, e tentar transpor para a zona de Aveiro, salvaguardando as devidas diferenças”, acrescentou a investigadora. Por outro lado, explicou, “no Algarve conseguimos fazer um conjunto de medições como quantificar o volume de sedimento que é transportado pela deriva litoral, as trocas transversais, num perfil contínuo, entre a praia e a plataforma adjacente e alguns parâmetros físicos, o que em Aveiro é praticamente impossível, devido às condições altamente energéticas que caracterizam a costa ocidental portuguesa. A título de exemplo, refira-se que nesta última, um temporal é definido quando as ondas ao largo

erosão ameaça futuro da costa

atingem alturas superiores a cinco metros; na costa algarvia considera-se um evento de temporal quando as ondas chegam aos três metros”. No projecto “CROP” os estudos incidiram não só sobre a praia emersa, mas estenderam-se também à plataforma adjacente, até uma profundidade de 30-40m, para melhor perceber como é que as morfologias aí presentes, barras arenosas, se comportam e transferem o sedimento para a praia. Este estudo é particularmente importante para a zona de Aveiro dado tratar-se uma costa muito artificializada. Os esporões e os molhes do Porto de Aveiro trazem problemas adicionais ao reterem um volume significativo de sedimentos que “viaja” ao longo da costa, impedindo que as praias localizadas a sul destas estruturas sejam alimentadas, reduzindo-as e provocando a destruição das dunas quando há temporais. Erosão na Costa de Aveiro com tendência para aumentar “A tendência da erosão na nossa costa é para um aumento crescente. Um dos estudos por nós realizado recorreu à análise temporal de fotografias aéreas numa estação fotogramétrica, desde 1958 até 2002. Neste período, entre o


Linhas

abril ‘05

Furadouro e a Praia de Mira, registámos nalguns pontos recuos de 230 metros correspondente a uma perda efectiva do sistema praia-duna e um recuo médio da linha de costa de 6 m/ano. Há dois anos, por exemplo, registou-se em algumas zonas, durante um único temporal com duração de 72 horas, recuos da linha de costa de 15 metros”, conforme explicou a docente. A erosão está muitas vezes relacionada com causas naturais, no entanto, actualmente, é devido, basicamente, a causas antropogénicas. Cada vez há menos sedimento disponível para ser transportado pelas correntes da deriva litoral. As causas, essas estão a montante, como referiu a Prof. Cristina Bernardes. “A tendência na zona de Aveiro é para uma erosão muito séria e continuação do recuo da linha da costa. Os rios trazem cada vez menos sedimentos até à foz. Para esta zona, o Rio Douro é o principal contribuinte de sedimentos, mas devido às barragens uma grande quantidade fica aí retido, factor ao qual se associa as extracções de areias. As correntes estão artificialmente desnutridas de sedimento e se não têm o que depositar, dissipam a sua energia na erosão das praias e das dunas. Por outro lado, os molhes do Porto de Aveiro, os esporões e enrocamentos presentes em todo o sector acabam por ser armadilhas para o pouco sedimento disponível”.

exemplo, há estados onde é totalmente proibido construir esporões. Os que já tinham sido construídos foram retirados, substituindo estas intervenções invasivas pela re-alimentação artificial e periódica das praias, e realmente verificou-se uma recuperação nítida das mesmas. Estas medidas têm os seus encargos mas se avaliarmos os custos da construção de um esporão e a sua manutenção, acaba por ficar mais barato fazer a re-alimentação. Foi com esta opção que se recuperaram as praias da Costa Nova e da Barra na década de 70/80”. Os esporões resolvem o problema pontualmente, no entanto, transferem o problema para sul. Pensava-se, até há algum tempo atrás, que os esporões eram um mal necessário, uma vez que a partir do momento em que ficassem colmatados, os sedimentos transponham a estrutura e nutriam a praia a jusante. Verificou-se, entretanto, que este processo não ocorre. Os esporões normalmente não se colmatam porque há um volume reduzido de sedimentos na deriva litoral e, por outro lado, há uma tendência para fazer esporões cada vez mais extensos. A projecção mar a dentro é cada vez maior. Os esporões recentemente construídos na Praia do Areão, na Vagueira, e na Praia do Poço da Cruz, em Mira, por exemplo, têm cerca de 230 metros, embora apresentem uma inclinação de 30º para sul, com o objectivo de facilitar a passagem dos sedimentos transportados pelas correntes litorais. A re-alimentação das praias é uma medida mais eficaz. “Na zona de Aveiro, poderia ser feita a transposição dos sedimentos acumulados no molhe norte para a zona a sul, através de um processo de “by-passing”, ou fazer a re-alimentação artificial com sedimentos de granolumetria adequada, provenientes do desassoreamento dos canais da laguna, e não a partir da areia depositada na zona submersa das próprias praias, como se tem vindo a fazer. Também a manutenção dos diques arenosos que substituíram, em mais de 80%, o sistema de dunas frontais entretanto erodido, não está a

Soluções viáveis pressupõem vontade política No entanto, este não é um problema sem solução. Segundo os especialistas, havendo vontade política e condições económicas, o fantasma da erosão pode ser atenuado. Os eventos geológicos são cíclicos e podem ser ampliados pelos factores humanos, mas a tendência pode ser invertida. Algumas das soluções apontadas passam pela transferência artificial dos sedimentos do molhe norte para o sul ou pela destruição dos esporões substituindo-os pela re-alimentação artificial das praias. “Actualmente, são estas as soluções que se têm vindo a adoptar em outras partes do mundo. Nos EUA, por

ser feita da forma mais adequada. Quando se fazem estas intervenções, o que acontece durante e após os períodos de temporal, a areia é retirada directamente da praia através de um processo de “raspagem”, provocando não só uma diminuição na largura da mesma mas, também, um profundo desequilíbrio entre a morfologia artificialmente criada e as condições hidrodinâmicas do meio. Neste contexto, se as condições de maior agitação marítima se repetirem, o que é frequente dado o carácter repetitivo dos temporais na nossa costa, a zona de espraio das ondas desloca-se em direcção a “terra” alcançando e erodindo o dique recém reconstruído”. A elaboração de mapas de vulnerabilidade e de risco é o próximo desafio da equipa de investigação do Departamento de Geociências. Através de um projecto submetido para aprovação à Fundação para a Ciência e Tecnologia, propõe-se quantificar os factores de risco desta zona tão vulnerável à erosão. “Baseando-nos num conjunto de geo-indicadores que incluem aspectos ligados ao uso do solo, características topográficas, variação da posição da linha de costa ao longo do tempo, taxas médias de erosão, susceptibilidade ao galgamento, entre outros, pretendemos definir perfis e níveis de risco a partir de matrizes de vulnerabilidade que mais tarde serão incorporadas num sistema de informação geográfica”.


34 35

distinguido com prémio gulbenkian de ciência 2004

A publicação do único livro no mundo e de um dos artigos de revisão mais citados sobre a emocionante e ainda inexplorada área das redes complexas valeram a atribuição, em 2004, do Prémio Gulbenkian de

distinguido com prémio gulbenkian de ciência 2004 docente da ua estuda as redes que dominam o mundo Ciência ao Prof. Doutor José Fernando F. Mendes. A Revista Linhas esteve à conversa com este docente e investigador do Departamento de Física da UA e dá-lhe a conhecer algumas das conclusões que já conseguiu apurar num campo de investigação que tem pouco mais de cinco anos.


Linhas

abril ‘05

O mundo é pequeno! Esta expressão corre mundo de boca em boca, mas quem a utiliza está longe de imaginar que por detrás dela está um recentíssimo campo de investigação que ocupa actualmente as mentes mais curiosas de alguns físicos. O Professor José Fernando F. Mendes é um deles!

O interesse dos físicos por este tipo de estudos é recente. A entrada da Física num campo dominado pela Matemática e a sua teoria dos grafos dá-se apenas no final da década de 90, com um interesse particular na exploração de redes reais, tanto naturais como artificiais e na compreensão das suas propriedades. Os estudos na área da Matemática eram motivados por problemas fundamentais; contudo, os que levaram à formulação da teoria dos grafos não eram mais do que simples puzzles. O Professor José F. F. Mendes começou pela descoberta das redes que nos rodeiam, da sua forma e estrutura, das leis a que obedecem e dos mecanismos que as controlam. “Da Sociologia à Internet, passando pela Biologia, muitos são os exemplos reais que apresentam uma estrutura complexa”, acentuou, acrescentando que “foi o aparecimento de resultados intrigantes nestas áreas da Ciência que chamaram a atenção dos físicos e os levaram ao desenvolvimento de modelos teóricos que se ajustassem bem aos resultados empíricos”.

Professor e investigador no Departamento de Física da Universidade de Aveiro, este físico iniciou a sua aventura pelo complexo sistema das redes há apenas cinco anos, mas o seu “avanço no estudo das redes biológicas, redes de comunicações, como a Internet, uma matéria que, apesar dos avanços significativos dos últimos anos, continua a apresentar-se como um desafio em aberto” já foi reconhecido, em 2004, ao ser distinguido com o Prémio mais antigo atribuído em Portugal na área da Ciência: o Prémio Gulbenkian de Ciência. Foi inspirado num artigo de Ducan Watts e Steve Strogatz sobre a experiência realizada por Stanley Milgram, em 1967, da qual resultou o conceito “six degrees of separation” e a expressão “small world”, que José F. F. Mendes, com a colaboração de Sergey N. Dorogovtsev, partiu à descoberta da profundidade desta teoria e escreveu então o primeiro livro no mundo sobre redes modeladas como gráficos aleatórios, descrevendo algumas das suas propriedades estruturais fundamentais e apresentando um conjunto de exemplos do mundo real. “Tudo o que se possa imaginar tem uma rede por trás”, explicou o Professor. “É um campo muito abrangente. Vivemos num Mundo rodeado por redes, onde tudo está espantosamente perto de tudo. O conceito de “rede” tornou-se um conceito central hoje em dia. A Internet e WWW mudaram o nosso estilo de vida e a nossa existência física está dependente de várias redes biológicas, económicas, sociais, etc”, mesmo nas situações mais elementares do nosso dia-a-dia como a simples movimentação num supermercado”, acrescentou.

Durante cerca de dois anos muitos foram os papers publicados pelo investigador com as conclusões do estudo, que depois de confrontadas com os resultados das investigações efectuadas por outros especialistas, acabaram colectadas num artigo de revisão. A sua publicação teve grande impacto e, a par de um outro da autoria de Albert Barabási, um dos maiores experts no assunto, é actualmente um dos papers mais citados sobre a matéria. Mais tarde, é publicado o livro “Evolution of Networks: from biological nets to the Internet and WWW”, o primeiro a nível mundial sobre a temática. Publicação pioneira Num verdadeiro “voo” desde a Física até ao novo campo interdisciplinar das redes, “Evolution of Networks: from biological nets to the Internet and WWW” expõe os mais recentes progressos sobre o crescimento e as

estruturas de redes aleatórias, explicando os mecanismos subjacentes que norteiam a evolução dos gráficos e discutem o impacto que uma propriedade estrutural de um gráfico pode ter no desempenho, tais como a propagação de um vírus ou a robustez da mesma. Questões como: quais são os princípios gerais da organização e evolução de redes? Como é que as leis da natureza funcionam nas redes de comunicações, biológicas ou sociais? Quanto robusta é uma rede contra ataques?, etc, são postas e respondidas neste livro. A obra está escrita de uma forma introdutória, onde os conceitos são apresentados de uma forma clara e pedagógica. Como o autor explicou, “o trabalho tem tido muito impacto. O nosso grupo está certamente entre os três primeiros ao nível mundial e a prova disso é o livro, que não tem concorrente. Ele faz um apanhado da maior parte das redes que já são conhecidas, como sejam os circuitos electrónicos, as leis de potência dos cabos eléctricos e as suas derivações, as redes que estruturam os blogs, a World Wide Web, o negócio do sexo ou o mundo dos actores… e apresenta um desenvolvimento das várias teorias já existentes”. O desafio é cada vez mais interessante e já não se coloca apenas ao nível da estrutura das redes. As perguntas vão sendo mais cada vez mais específicas e direccionadas. Mais importante do que as ligações, é, actualmente, para o Prof. José F. F. Mendes, “descobrir o peso dessas ligações, os tipos de relações, o seu efeito quando são mais fortes ou mais fracas ou a vulnerabilidade para perceber quanto robusta é uma rede. Parece simples mas não é, porque tentamos aplicar este conhecimento a modelos matemáticos; formulamos o problema matematicamente, tentamos resolvê-lo e comparamo-lo com outros dados para tentarmos descobrir a linha orientadora dos vários sistemas”. A área da biologia é a que está a atrair mais atenções. Esta vai ser certamente a ciência deste século, assim como a


36 37

Quais são os princípios gerais da organização e evolução de redes? Como é que as leis da natureza funcionam nas redes de comunicações, biológicas ou sociais? Quanto robusta é uma rede contra ataques?

Física o foi no anterior, segundo o docente, que salientou que o objectivo das suas próximas investigações vai centrar-se precisamente nessa área, para tentar perceber alguns dos fenómenos relacionados com as redes do genoma e de proteoma. As empresas farmacêuticas têm em mãos o projecto de desenhar medicamentos personalizados, uma vez que cada indivíduo tem um DNA específico. Como explicou, “no futuro não se comprará um medicamento genérico específico para cada doença, mas sim para determinada pessoa, com um determinado DNA. A física e, em particular, o campo das redes, poderá dar um grande contributo porque permite simular a biologia do corpo humano”.

O prémio A acção da Fundação no campo da Ciência desenvolve-se em três grandes linhas de intervenção: o estímulo à criatividade e à investigação científica, a promoção da divulgação científica de qualidade e o fortalecimento da interacção entre a ciência e a sociedade. São vários os programas, prémios e iniciativas conduzidas pelo Serviço de Ciência para a consecução destes objectivos, muitos dos quais em cooperação com instituições de âmbito público e privado (universidades, laboratórios de investigação, associações científicas e museus).

O Prémio Gulbenkian de Ciência é atribuído anualmente em Portugal desde 1976, como forma de reconhecimento pelo trabalho dos investigadores incentivando, simultaneamente, o desenvolvimento da ciência. Este galardão, no valor de 25 mil euros, é atribuído rotativamente nas categorias de Ciências Básicas, Ciências Aplicadas a Tecnologias e Ciências Sociais e Humanas.

Na 28ª edição, que teve lugar em 2004, a área

José Fernando Ferreira Mendes

contemplada foi a das Ciências Básicas. Neste ano,

José Fernando Ferreira Mendes licenciou-se em

foram distinguidos três trabalhos realizados por

Física na Faculdade de Ciências da Universidade

cinco investigadores de um total de 63 candidaturas.

do Porto, em 1987, ficando aí a leccionar como

Para além da investigação em torno das proprie-

Assistente. Após os seu doutoramento passa a

dades topológicas e dinâmicas das redes complexas

Professor Auxiliar, lugar que mantém até 2002, ano

desenvolvida pelo Professor da UA, José Fernando

em que vem para a Universidade de Aveiro. Ainda

Ferreira Mendes, com a colaboração de Sergey

no Porto, faz o Mestrado e, posteriormente, o

Dorogovtsev, foram premiados também os estudos

Doutoramento em Física em 1995, no mesmo ano

“On Hyperbolic Variational Inequalities of First Order

ruma para Boston, onde faz o seu Pós-doutoramento.

and Some Applications” de José Francisco

Em 2002, vem para a Universidade de Aveiro, onde

Rodrigues, da Universidade de Lisboa, e “Time-

é actualmente Professor Associado com Agregação.

Dependent Orbifolds and String Cosmology”, de

Um artigo de Watts e Strogatz na revista Nature

Miguel Costa, da Universidade do Porto, e de

despertou-lhe a atenção para o tópico das redes e,

Lorenzo Cornalba, do Instituto de Física Teórica da

juntamente com Sergey Dorogovtsev, inicia a sua

Universidade de Amesterdão.

investigação neste campo. Embora estejam actualmente centenas de cientistas a trabalhar neste tópico, foi um dos primeiros físicos a investigar esta área, contando já no seu currículo com o primeiro livro publicado sobre redes e com um dos artigos de revisão mais citados sobre a

Para além desta área, o Professor foi convidado a integrar um projecto de uma equipa finlandesa ao nível do Planeamento Urbano, para planeamento de cidades e estudo do tráfego e integra outro a nível europeu no estudo do comportamento humano através do estudo da dinâmica de redes sociais.

distinguido com prémio gulbenkian de ciência 2004

matéria, factores determinantes para a obtenção do Prémio Gulbenkian de Ciência em 2004. Para um futuro próximo, o interesse do investigador está virado para a área da biologia e a importância das redes para o seu desenvolvimento.


Linhas

abril ‘05

disponível em acesso livre e gratuito “Colcat” é o nome do mais recente motor de pesquisa bibliográfica desenvolvido pelos Serviços de Documentação da UA. Mais rapidez e eficácia no processo de procura de informação e um leque abrangente de bibliotecas a pesquisar são as mais-valias deste projecto, pioneiro a nível nacional.


38 39

Cento e oitenta mil livros na biblioteca e Mediateca dava e não encontra precisamente aquele que precisa. Lá se vai um dia a pesquisar nos catálogos de outras bibliotecas, outro para a deslocação, outro ainda para devolver o livro e quando se dá conta já lhe resta muito pouco tempo para entregar o trabalho ou para estudar para o teste. Até agora era assim, mas a UA desenvolveu um novo motor de pesquisa bibliográfica que vem pôr fim a este problema. O Colcat é um sistema de pesquisa meta-bibliográfica distribuída, desenvolvido pelos Serviços de Documentação da UA, que permite executar, apenas com um clique, uma pesquisa simultânea e integrada nos catálogos de um

mente a página de resultados de cada um dos servidores remotos à medida que os vai recebendo e apresenta os resultados de uma forma sumária. Numa única página é apresentada uma lista com as bibliotecas onde existe o livro pretendido ou a quantidade de obras que cada biblioteca tem sobre um assunto, com um determinado título ou de um determinado autor, fazendo as ligações às respectivas páginas de resultados. Adicionalmente e para alguns desses catálogos, é recolhida e mostrada a informação bibliográfica dos 10 primeiros registos, tendo cada um destes uma ligação directa ao registo completo no catálogo dessa biblioteca. Em pouco tempo e sem precisar de

projecto colcat

ção dada pelo sistema sobre os dados da obra e sua localização. Este projecto está inserido no contexto de um investimento continuado dos SDUA na cooperação inter-institucional. A participação de outras instituições, visando a implementação de diversas funcionalidades extras, algumas já planeadas, e de um modo geral o seu desenvolvimento sustentado, é desejada e fulcral para o alcance desses objectivos a médio/longo prazo. Para os potenciar este serviço está disponível em acesso livre e gratuito na web.

biblioteca da ua disponibiliza inovador motor de pesquisa conjunto de bibliotecas nacionais e estrangeiras. Disponível em acesso livre e gratuito em http://cc.doc.ua.pt, este serviço tem como pontos fortes a rapidez na apresentação dos resultados, a eficácia no processo de procura de informação e a disponibilização de um leque bastante variado de fontes de informação. Para além da Biblioteca da UA, o sistema faculta ao utilizador uma busca nas Bibliotecas das Universidades de Lisboa, Minho, Católica, Coimbra e das Faculdades de Letras, Economia, Engenharia e de Medicina da Universidade do Porto, na Biblioteca Nacional (Porbase) e Assembleia da República (Parlamento) e, ainda, na California Digital Library (Melvyl) e na U.K., Irlanda – COPAC (union catalogue), com a vantagem de não ser necessário conhecer os métodos de pesquisa de cada catálogo, tarefa a cargo do ColCat. Ao receber um pedido, o motor de pesquisa desenvolvido para este sistema carrega as parametrizações de cada catálogo a consultar, executa as pesquisas sequencialmente nos vários servidores remotos, analisa individual-

saber o título da obra ou a referência bibliográfica completa. Se for docente, investigador(a) ou aluno(a) de pós-graduação poderá ter, ainda, a obra nas suas mãos no espaço de 15 dias, se quiser optar pelo Serviço de Empréstimo Interbliotecas (http:// www.doc.ua.pt/Servicos/eib.asp). O ColCat é um modelo simplificado do serviço preconizado pelo Grupo de Estudo “Arquitectura e Serviços do Catálogo Distribuído” para implementação de um motor de busca de informação bibliográfica, descrito no relatório final deste grupo e apresentado à Comissão Instaladora da RUBi, Rede Universitária de Bibliotecas e Informação (http:// rubi.ua.pt), em Maio de 1999. Dada a natureza deste projecto, perspectiva-se a construção de um vasto leque de funcionalidades extras como complemento ao serviço base agora oferecido. Umas dessas funcionalidades é a de potenciar o Empréstimo Inter-Bibliotecas, através de um processo de comunicação integrada, via ColCat, entre o utilizador e a biblioteca onde este está registado, submetendo automaticamente a informa-


Linhas

abril ‘05

distinção entregue em lisboa onze investigadores da ua premiados com estímulo à excelência A excelência da investigação que se produz na UA foi mais uma vez reconhecida. Onze investigadores da Universidade de Aveiro foram contemplados com o prémio “Estímulo à Excelência”, atribuído pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A assinatura dos contratos resultantes desta distinção decorreu a 25 de Novembro, no Palácio das Laranjeiras em cerimónia pública com a presença da Ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior.


40 41

Amadeu Maia Soares, Andrei Kholkine, Artur Soares Silva, Fernando Marques, João Carlos Rocha, Jorge Ribeiro Frade, José Cavaleiro, José Teixeira Dias, Luís Dias Carlos, Vladislav V. Kharton e Yevgeniy Naumovich, docentes/investigadores nos departamentos de Biologia, Cerâmica e Vidro, Química e Física da Universidade de Aveiro, estão entre os cerca de 70 investigadores nacionais merecedores do “Estímulo à Excelência”, que este ano abrangeu as áreas das ciências, engenharia, química, física, ciências biológicas e biotecnologia, e ciências da saúde. Este prémio, a que os investigadores se candidataram a título individual, vem reforçar o percurso de reconhecida qualidade que a Universidade de Aveiro tem vindo a trilhar ao nível da investigação, evidenciado pelos resultados das sucessivas avaliações externas e internacionais das Unidades de Investigação desta Universidade (75% das unidades estão classificadas com “Excelente” ou “Muito Bom”, um valor claramente acima da média nacional). Reafirma-se uma posição de liderança que a UA tem conseguido manter no panorama da investigação científica em Portugal. Sendo a investigação um vector essencial da missão da Universidade e revestindo-se de decisiva importância para o desenvolvimento da sociedade, a promoção da sua qualidade mantém-se como aposta estratégica da Universidade de Aveiro. “É com imenso agrado que felicito os investigadores da UA que foram contemplados com este Estímulo à Excelência, refere a Reitora da UA, adiantando: “Estamos conscientes que a manutenção do elevado nível de qualidade da investigação produzida só é sustentável através da adopção de medidas organizacionais, financeiras e infra-estruturais de apoio à investigação. Temos feito substanciais apostas nesse sentido, podendo referir, como exemplo, a concessão de bolsas de mestrado e doutoramento, a contratação de investigadores de especial mérito,

o financiamento de projectos de investigação nas áreas das ciências e tecnologias da saúde e a assinatura de contratos programa com as nossas Unidades de Investigação. O Estímulo à Excelência é mais um reconhecimento do trabalho dos nossos investigadores e do esforço da instituição”.

estimulo à excelência

isto atesta claramente que a Universidade de Aveiro está entre as instituições que lideram a investigação científica em Portugal. Só não vê quem não quer!

Prof. Amadeu Soares, Departamento de Biologia da UA A atribuição do Prémio Estímulo à Excelência significa o reconhecimento público, nacional, do

Estímulo à Ciência De acordo com o regulamento (http:// www.fct.mct.pt/pt/concursosabertos/ Estimulo/), as condições de acesso ao prémio exigem aos investigadores no activo a satisfação de vários requisitos como o exercício, desde há pelo menos cinco anos, de carreira profissional ligada directa ou indirectamente à investigação científica e tecnológica, Curriculum vitae de excepcional mérito no respectivo domínio de investigação (especificando índices em termos de publicação e de orientação de doutoramentos) e residência em Portugal. A atribuição do Estimulo à Excelência resulta num financiamento (no valor de 5.000 euros/ano, durante dois anos, podendo ser renovado por mais dois), concedido a título excepcional à instituição onde o investigador exerce a sua actividade, para o financiamento das suas próprias actividades de investigação e divulgação científica. Segundo os seus promotores, visa estimular a promoção da excelência e da competitividade do nosso sistema científico face à dinâmica crescente de internacionalização da ciência.

trabalho que tenho vindo a desenvolver na área das Ciências Biológicas, mais especificamente na área da Ecotoxicologia. Mais do que o seu valor monetário, que é despiciendo, pois infelizmente nem sequer me permite contratar um mero técnico de laboratório (função que reputo de essencial para o bom funcionamento de um grupo de investigação forte), estou certo que este prémio constitui um grande incentivo para todos os jovens alunos de pós-graduação que tenho o prazer de ter a trabalhar no meu grupo de investigação e que, no fundo, são a base do sucesso científico e consequente atribuição deste prémio. O prémio servirá também, obviamente, como cartão de visita da investigação que fazemos, nesta área, na Universidade de Aveiro. Devo confessar que para mim é um motivo de orgulho e grande satisfação pessoal saber que estou acompanhado por cientistas de grande vulto e reconhecimento nacional e internacional, como sejam os Professores António Coutinho, Maria de Sousa, António Amorim e Sobrinho Simões, que dispensam apresentações, para falar apenas na área das Ciências Biológicas. O facto de a Universidade de Aveiro possuir, nos seus quadros, um total de 11 investigadores é um reflexo da inequívoca qualidade das actividades de investigação que aqui se fazem, resultado não só das capacidades individuais e de grupo de cada um dos laureados mas também do ambiente e

Prof. João Rocha, Director do CICECO e

condições de trabalho que a própria UA oferece. A

docente do Departamento de Química da UA

atribuição destes 11 prémios de Estímulo à

Fico contente com a atribuição deste prémio.

Excelência coloca a UA a par dos melhores centros

Espero que a divulgação deste Estímulo à Excelência

do país, o que poderá e deverá ser devidamente

ajude a melhorar significativamente a imagem do

capitalizado, reforçando a característica de

cientista português junto do grande público, que

Universidade de Investigação e de Pós-graduação

estimule o interesse dos jovens pelas carreiras de

que, num futuro próximo (e já no presente), penso

investigação, e que acorde de vez os políticos. É

que será o factor principal que distinguirá o que é

muito grato para mim verificar que, entre as cerca

uma Universidade de excelência das outras.

de sete dezenas de cientistas premiados a nível nacional, se encontram onze membros da Universidade de Aveiro, oito dos quais integrados no Laboratório Associado que me orgulho de dirigir – o Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos (CICECO). A par de outros indicadores,


Linhas

abril ‘05

Depois do “Estímulo à Excelência”, atribuído a 11 investigadores da casa, a UA vê, uma vez mais, a sua investigação ser reconhecida com mais uma das suas unidades de investigação a receber o estatuto de Laboratório Associado. Desta vez, a concessão de tal estatuto é atribuída ao Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM). A cerimónia, presidida pela então Ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior, Graça Carvalho, teve lugar no passado mês de Dezembro, em Lisboa.

reconhecimento atribuído em lisboa ministério concede estatuto de laboratório associado ao cesam O CESAM é um dos seis novos Laboratórios Associados que desde o dia 3 de Dezembro, passou a fazer parte dos 15 já existentes no país. Depois do Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos – CICECO (http://www.ciceco.ua.pt/) e do Instituto de Telecomunicações – IT (http://www.it.pt/capa.asp), o CESAM vem aumentar para três o número de Laboratórios Associados existentes na Universidade de Aveiro. A atribuição de tal estatuto ao Centro de Estudos do Ambiente e do Mar decorreu no Palácio das Laranjeiras, em Lisboa. A cerimónia foi presidida pela Ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior e contou com a presença do Vice-Reitor da UA, Prof. Francisco Vaz e do coordenador do CESAM, Prof. Doutor Casimiro Adrião Pio. Para este docente da UA, a atribuição do Estatuto de Laboratório Associado ao CESAM representa o reconhecimento da capacidade científica da Universidade de Aveiro e dos investigadores desta unidade, em particular. “Não podemos esquecer que a UA foi a primeira Universidade nacional a lançar a área do ambiente e esta notícia vem

reconhecer o investimento que a UA tem feito na área do ambiente e do mar.” Importa salientar que o Estatuto de Laboratório Associado é atribuído a instituições de mérito elevado reconhecido em avaliações externas, na sequência de requerimento apresentado pela instituição e com base na avaliação da sua capacidade para cooperar, de forma estável, competente e eficaz, na prossecução de objectivos específicos da política científica e tecnológica nacional. Em virtude da atribuição deste estatuto, o CESAM vai receber aproximadamente 2,5 milhões de euros para os próximos cinco anos. A missão do CESAM O Laboratório Associado CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar tem por missão desenvolver investigação e assegurar actividades na área do ambiente costeiro, entendido de uma forma integrada envolvendo a atmosfera, a bioesfera, a hidroesfera e a litosfera. Inclui a criação e a divulgação de novos conhecimentos científicos na área da qualidade do ambiente, ecologia, ecotoxicologia, geologia e

recursos em zonas de ecossistemas de transição, na orla costeira e na plataforma continental; o desenvolvimento e promoção de programas de formação e de investigação; a prestação de serviços especializados na área do ambiente costeiro. Refira-se que actualmente existem 15 Laboratórios Associados que envolvem 31 instituições de investigação. Em conjunto estas unidades de investigação integram mais de 880 doutorados num total de mais de 2200 investigadores.



Linhas

abril ‘05

Duas recém-licenciadas em Design pela UA, Catarina Simões e Ana João Silva, venceram o I Concurso de Design lançado pela Delta, sob o tema “Campanha de Natal da Delta Cafés 2004”.

mais um prémio para a ua Destinado a estudantes e recémlicenciados nas áreas de design e publicidade, este concurso tinha por objectivo o desenvolvimento conceptual e gráfico da campanha de Natal, a criação de uma assinatura e a sua aplicação em diversos suportes, tais como: página de imprensa, outdoor, pack de café, decoração de caneca e chávena, pacotes de açúcar, cartazes 50x70, decoração de caixa em cartão para oferta a fornecedores e colaboradores, postal de natal, envelope e enfeites de natal (destinados aos pinheirinhos oferecidos à restauração). Entregues as propostas a 15 de Setembro de 2004, os resultados da 1ª fase foram conhecidos no dia 30 do mesmo mês. Entre os seis finalistas estavam Catarina Simões e Ana Silva, assim como uma outra antiga aluna da UA, Ana Catarina Sobral. Terminada a fase de exposição oral dos trabalhos pelos seis finalistas, na sede da Delta, em Campo Maior, a boa nova chegou em Outubro. Catarina Simões e Ana João Silva tinham sido as grandes vencedoras, com a atribuição de um prémio no valor de 4000 euros. “Como parte do prémio, a Delta decidiu ainda oferecer duas máquinas de café à Universidade


44 45

prémio delta

Foi uma experiência bastante interessante e motivadora que nos deu mais força para avançarmos

recém-licenciadas em design pela ua vencem concurso delta design do grupo vencedor, pelo que a Universidade de Aveiro foi a contemplada”, adiantam. A proposta vencedora O ponto de partida da proposta/mensagem natalícia de Catarina Simões e Ana João Silva baseou-se nos princípios de causa e responsabilidade social e de compromisso ambiental, patentes na missão da Delta. “Desenvolvemos a campanha, nomeadamente os elementos de maior impacto social (média) de modo a sensibilizar a sociedade, fazendo-a reflectir sobre questões pertinentes do interesse público. Optámos por uma das questões ambientais mais problemáticas que o país atravessa – os incêndios florestais. Assim, recorremos a um ícone desta quadra – o pinheirinho de Natal – fazendo a analogia entre este e a situação actual anteriormente referida, aproveitando uma época de maior sensibilidade, reflexão e balanço para todos”, explicam. “Como elemento figurativo que representa o pinheirinho de Natal, recorremos ao símbolo triangular existente no logótipo da marca Delta, de modo a

que o público-alvo fizesse a associação da mensagem implícita nos suportes à marca em questão. Nos restantes suportes optámos por mensagens de carácter mais íntimo e personalizado, de modo a que cada cliente Delta se sentisse especial e destinatário das mesmas mensagens. Catarina Simões e Ana João Silva contam, ainda, que recorreram à estrela de Natal como símbolo mágico e celestial da época: “a estrela como elemento de orientação que ilumina, guia, aquece, fascina e até concretiza desejos do mundo imaginário; um elemento especial que transporta uma mensagem especial numa ocasião também especial. A estrela do desejo Delta – votos feitos de um modo sublime, reforçando o desejo da marca em estar presente no Natal do seu público-alvo”. Outro dos elementos utilizados nesta campanha pelas antigas alunas da UA foi o pinheirinho de Natal, simbolizado pela silhueta e cor do símbolo Delta, com a mensagem textual disposta de maneira a que se identifique o tronco: “Este ano a Delta Cafés quer fazer parte do seu Natal.”.

As vencedoras Catarina Simões e Ana João Silva têm ambas 24 anos. Licenciaram-se em Design – ramo industrial na UA, em 2002/2003, e actualmente têm vindo a desenvolver um conjunto de trabalhos como freelancers. À notícia de que tinham sido as grandes vencedoras do concurso reagiram com um enorme entusiasmo: “Foi uma experiência bastante interessante e motivadora que nos deu mais força para avançarmos para um projecto que já tínhamos em mente há algum tempo: começarmos a trabalhar por conta própria. A Duodesign está ainda em fase de arranque, pois falta-nos alguma experiência e o apoio financeiro necessário a quem está a dar os primeiros passos no lançamento de um gabinete de design”.


Linhas

abril ‘05

publicações

Guia de Graduação

Agenda UA 2005

Com 240 páginas e um anexo com informação sobre as condições de acesso aos cursos da UA, o Guia de Graduação da UA, agora re-editado e actualizado, é um instrumento indispensável para todos quantos desejam conhecer melhor o universo que constitui a Universidade de Aveiro. Nele são apresentadas as duas cidades onde a UA lecciona os seus cursos, Aveiro e Águeda, bem como naturalmente a própria Universidade, os seus departamentos e escolas do ensino politécnico, as suas infraestruturas e os principais recursos ao dispor dos seus alunos e da restante comunidade académica. Ensino, condições de ingresso, alojamento, alimentação, bibliotecas, actividades desportivas e culturais, recursos informáticos e eventos académicos são apenas alguns dos tópicos abordados nesta publicação. Papel de destaque para o grande capítulo dedicado aos 82 cursos de graduação, universitários e politécnicos, oferecidos pela Universidade de Aveiro, que inclui não só o plano de estudos e a descrição dos objectivos e saídas profissionais de cada curso, mas também depoimentos de docentes e de actuais e antigos alunos. Uma forma de conhecer a UA na primeira pessoa.

Foi editada a Agenda UA para 2005, encontrando-se disponível nos Serviços de Relações Externas e na Livraria da Universidade. Esta agenda de secretária, em papel couché com as dimensões de 26x16cm, é uma publicação bilingue (Português e Inglês), contendo um vasto conjunto de fotografias do Campus, seleccionadas a partir da obra Universidade de Aveiro – Trinta Anos de Arquitectura, um texto sobre a UA, o mapa do campus e alguns factos e números mais relevantes da instituição. A Agenda da UA, torna-se, por tudo isto, uma boa oferta que qualquer pessoa, pertencendo ou não à Academia Aveirense, vai gostar de receber ou de oferecer. Esta oferta custa apenas 17 euros e poderá ser adquirida nos Serviços de Relações Externas ou na Livraria da Universidade de Aveiro.

Concepção geral, redacção e organização de conteúdos Serviços de Relações Externas da UA Edição Universidade de Aveiro Páginas 240

Edição White & Blue Edições Lda ISBN 972-8650-08-6


46 47

Universidade de Aveiro: Trinta Anos de Arquitectura Referência nacional e internacional em termos arquitectónicos e uma marca distintiva desta instituição, o Campus Universitário de Aveiro reúne um conjunto de obras dos mais conceituados arquitectos nacionais, reflectindo, no seu conjunto, a imagem de modernidade que anima e identifica o projecto da UA. “Universidade de Aveiro: Trinta Anos de Arquitectura” é um retrato desta verdadeira sala de exposições da moderna arquitectura portuguesa para os milhares de arquitectos e estudantes de arquitectura de todo o mundo que a visitam por ano. É, também, nas palavras da Reitora da UA, Prof. Maria Helena Nazaré, “um evocar de todos os que o tornaram possível. É, ainda, um convite ao percurso através da rota de arquitectura que apresenta”. As fotografias são da autoria de Rui Morais de Sousa, e os textos de Jorge Arroteia, Doutor em Ciências Sociais e Professor Catedrático e Investigador da UA, Nuno Portas, Coordenador da Consultoria Urbanística do Centro de Estudos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto desenvolvida desde 1985 junto da UA e Michel Toussaint, docente na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa e na Universidade Lusíada. Esta obra pode ser adquirida nos Serviços de Relações Externas ou na Livraria da UA por 42,5 euros. Edição White & Blue Edições Lda Fotografias Rui Morais de Sousa Textos Jorge Arroteia, Doutor em Ciências Sociais e Professor Catedrático e Investigador da UA, Nuno Portas, Coordenador da Consultoria

publicações

Escultura no Campus

Urbanística do Centro de Estudos da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto desenvolvida desde 1985 junto da UA e Michel Toussaint, docente na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa e na Universidade Lusíada Páginas 168 ISBN 972-8650-05-1

Para perpetuar as sete grandes esculturas realizadas no âmbito do I Simpósio Internacional de Escultura em Madeira, que decorreu em Junho de 2004, em Oliveira de Azeméis, e que, de Outubro até Janeiro, não passaram despercebidas a quem passou pelo edifício da Reitoria da Universidade de Aveiro, a Universidade de Aveiro aproveitou as comemorações do seu 31º aniversário e lançou o catálogo “Escultura no Campus”. Uma forma de as registar para a posteridade, conforme afirmou o Prof. Doutor Manuel Assunção, Vice-Reitor da UA. “Estas obras têm sempre um carácter efémero. É bom que assim seja, mas, ao mesmo tempo, é bom que fique um repositório do que se fez. O catálogo é isso mesmo”. Depois de poder usufruir das peças artísticas de António Matos, Paco Pestana, Manuel Patinha, Paulo Neves, João Antero Guimarães, Filomena Almeida e Panaite Chifu, in loco, tem agora a oportunidade de, através das fotografias de Pedro Tavares e de breves apresentações de cada uma das obras e seus respectivos autores, recordar um grande acontecimento sócio-cultural de Verão e um momento alto de cultura, reflexão e promoção artística como foi o I Simpósio Internacional de Escultura em Madeira, organizado pelo Rotary Club de Oliveira de Azeméis e a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, com o apoio da UA. Edição Universidade de Aveiro ISBN 972-789-143-8


Linhas

abril ‘05

Challenges in Teaching & Learning in Higher Education “Challenges in Teaching & Learning in Higher Education” é uma publicação conjunta da UA e do Institute for Curriculum Development (SLO), editada na sequência do congresso realizado na UA, em 2003, sob o tema “Teaching and Learning in Higher Education. New Trends and Innovations”. Este livro vai mais além do que a conferência em si. Ele é mais do que um mero relato da conferência. Através de um equilíbrio entre algumas das mais importantes palestras apresentadas na conferência, “Challenges in Teaching & Learning in Higher Education” apresenta material estimulante para um debate internacional acerca de uma aprendizagem e de um ensino eficazes no ensino superior. Transições, Processos de ensino e aprendizagem, Desenvolvimento profissional e Respostas institucionais a desafios são as quatro secções apresentadas ao longo das suas 226 páginas, incluindo ainda um resumo dos estudos realizados em Portugal. Com edição dos Professores Doutores Victor M. S. Gil e Isabel Alarcão, da UA, e de Hans Hooghoff, da Netherlands National Institute for Curriculum Development (SLO), a publicação conta ainda com o contributo de dois bem conhecidos participantes da conferência, o Professor Craig McInnis, do Centre for the Study of Higher Education of University of Melbourne, e do Professor Peter Powell, Director of Education of The Roosevelt Academy, que amigavelmente aceitaram a preparação da introdução e de um resumo final do livro. As instituições de ensino superior precisam de muita reflexão e de auto-avaliação perante os desafios que enfrentam actualmente.

Retrato Político da Saúde – Dependência do Percurso e Inovação em Saúde: da Ideologia ao Desempenho Apesar das mudanças que as universidades têm sofrido, a sua missão essencial continua a ser o ensino e a aprendizagem num ambiente de investigação. As profundas mudanças na sociedade global, o crescente desenvolvimento da ciência e da tecnologia e a complexidade dos problemas actuais estimulam novas formas de abordar os processos de produção e disseminação do conhecimento e o impacto sobre os sistemas de ensino e aprendizagem. Não é de estranhar então que este tema tenha sido seleccionado como o assunto central de uma conferência internacional, que teve lugar na UA, em Abril de 2003. Peritos de 24 países de cinco continentes e de várias áreas de estudo estiveram presentes transformando a iniciativa num evento transdisciplinar e transnacional. Sob consideração estiveram três sub-temas: os desafios de uma população estudantil crescente e a sua diversidade (estilos de aprendizagem diversos, transição de ensino secundário, internacionalização, lifelong learning…); as inovações em actividades de ensino e de aprendizagem para a obtenção de competências; e, finalmente, as respostas institucionais às tendências actuais. Edição Victor M. S. Gil e Isabel Alarcão, docentes da Universidade de Aveiro, e Hans Hooghoff, SLO – Netherlands Institute for Curriculum Development Páginas 226 ISBN 972-789-108-X

Da autoria de Jorge Simões, docente da Escola Superior de Saúde da UA, Retrato Político da Saúde – Dependência do Percurso e Inovação em Saúde: da Ideologia ao Desempenho é um contributo qualificado para o conhecimento de um sector necessitado de análises científicas consistentes e de acompanhamento pela investigação do ritmo da decisão política. Qual a origem e como evoluíram os sistemas de saúde nos países mais desenvolvidos do mundo? Quais as fases mais marcantes do sistema de saúde português, desde 1974 até à actualidade e qual o grau de ruptura ou de continuidade nas políticas de saúde? Como evoluiu o hospital público português e como se pode avaliar o seu desempenho? Como se desenvolveu a Administração Pública, em Portugal, e como influenciou o modelo de hospital do Serviço Nacional de Saúde? Ao longo das suas 346 páginas, este livro, editado pela Almedina, pretende responder a estas questões e constituir um contributo qualificado para o conhecimento de um sector necessitado de análises científicas consistentes e de acompanhamento pela investigação do ritmo da decisão política. O autor é licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra e doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade de Aveiro, onde é professor. Jorge Simões é, também, docente em cursos de pós-graduação nas Faculdades de Medicina, Direito e Economia da Universidade de Coimbra e na Universidade Católica de Lisboa.


48 49

publicações

Nas Colinas do Esquecimento

Foi administrador hospitalar e é consultor do Presidente da República para os assuntos da Saúde, desde 1996. Autor Jorge Simões, docente na Escola Superior de Saúde da UA Edição Almedina ISBN 9724023427 Páginas 346

“Nas Colinas do Esquecimento”, da editora Campo das Letras, é o quarto livro de poesia do Dr. Luís Serrano, docente e Investigador-Auxiliar na UA até 2001, que conta já com outras três obras no seu currículo: “Poemas do Tempo Incerto” (Vértice, 1983). “Entre Sono e Abandono” (1990) e “As Casas Pressentidas” (1999, Prémio Nacional Guerra Junqueiro). “Nas Colinas do Esquecimento” oferece uma profunda reflexão em forma de poesia acerca do esquecimento, que segundo o autor, “é, naturalmente, o agente corrosivo da nossa sociedade e do nosso tempo”. Um livro ainda mais desencantado do que os anteriores no qual nem Deus nem a humanidade tomada no seu todo têm nele lugar, como refere o Dr. Luís Serrano. “Por um lado, gostaríamos de esquecer alguns grandes dramas de que diariamente nos dão conhecimento: as guerras com o seu cortejo de ignomínia, de asco, de impotência nossa para nos opormos ao sadismo, à violência gratuita quantas vezes programada em instituições de países ditos democráticos. Por outro lado não deveríamos esquecer aquele que precisa de nós, às vezes apenas de uma palavra nossa, não deveríamos esquecer aquilo que de melhor herdámos de nossos pais, de nossos avós, dessa cadeia da qual somos o último anel ou o anel mais recente. É disso que fala, modestamente embora, o meu livro. Estão lá certamente umas tantas pessoas que ao longo da vida me têm ajudado depositando em mim a confiança sem a qual não é possível viver e às quais por isso mesmo estou gratíssimo. O resto é trabalho de cinzel: aparando

daqui, ajeitando dali até que no poema não caiba mais nenhuma palavra ou dele se não possa retirar nenhuma sem correr o risco da estrutura se desmoronar… como um puzzle, diria eu. Também a natureza está neste livro como já estava nos outros, de resto, natureza que não vejo com a perspectiva de Sá de Miranda ou de Bernardim ou de Gil Vicente mas como alguém que até por razões profissionais a conhece um pouco por dentro e não apenas por alguns traços exteriores, significativos sem dúvida, mas não suficientes para ajuizar da sua importância para a humanidade e até mesmo com a consciência de que a natureza pôde existir até há cerca de 3 milhões de anos atrás sem a presença do homem. A natureza não precisa dele. É o homem que precisa da natureza. Diz-se frequentemente que estamos a destruir a natureza. Obviamente que sim. Terá a natureza capacidade de se regenerar? Penso que sim. Basta que a natureza “se vingue” e mate o próprio homem, enquanto espécie. Adeus humanidade, adeus a não sei quantos séculos de arte, de ciência, de cultura numa palavra. Por isso, se torna absolutamente necessário encontrar o tal equilíbrio muito difícil para que a natureza possa servir o homem sem ultrapassar os limites a partir dos quais os mecanismos de evolução são irreversíveis; é o equilíbrio do “fio da navalha” ou o de uma “faca só lâmina” para citar João Cabral de Melo Neto. Sartre diz algures que “o rigor científico reclama em cada um de nós outro rigor mais difícil, que o equilibra: o rigor poético” sublinhando que se trata de duas formas culturais “complementares”.


Linhas

abril ‘05

Poezz: Jazz na Poesia em Língua Portuguesa Entendo esse rigor ou tenho pretendido levá-lo a cabo através de uma linguagem substantiva, sem “rodriguinhos” como antigamente lhe chamávamos, sem concessões aos processos fáceis que fazem por vezes as delícias dos não iniciados. É uma linguagem de grande contenção, de grande austeridade. Ornamentações, costumo dizer, só nas obras de Johann Sebastian Bach. A poesia é uma coisa séria e exige muito trabalho: semanas à procura de uma palavra, correcção de um poema seis meses depois de ter sido escrito reduzindo-o a um terço, etc. etc. mas isso, isso são os ossos do ofício. O operador fundamental desta poesia é a metáfora (ao nível do significado) mas sempre com conta, peso e medida, isto é, sem transformar o poema num cacho de metáforas que teria por consequência a sua diluição e o consequente enfraquecimento do seu sentido. Ao nível do significante, eu diria que há uma vigilância muito aturada para que os mesmos sons se não repitam de modo a comprometer o equilíbrio da música, da prosódia. Se atentarem bem, verão que os grupos vocálicos variam continuamente e o ritmo é escolhido por forma a servir uma ideia que se pretende transmitir. Desse modo, julgo eu, ultrapasso aquela antinomia forma-conteúdo que fez correr rios de tinta nas páginas literárias dos anos 50 e 60 e que não tinha qualquer sentido. Se há alguma coisa de verdadeiramente extraordinário na arte, e na poesia em particular, é o seu carácter unitário, aquela qualidade que faz dele um todo único e harmonioso. (Tenho consciência de como

posso ser mal entendido ao falar de harmonia em arte, mas sei do que estou a falar).” Autor Luís Serrano, docente e investigadorauxiliar na UA aposentado Edição Campo das Letras ISBN 972-610-845-4 Páginas 72

“Poezz: jazz na poesia em língua portuguesa” é uma antologia constituída pelo conjunto de poemas que José Duarte (docente no Departamento de Comunicação e Arte da UA) e por Ricardo António Alves (Director do Museu Ferreira de Castro) melhor conhecem e mais lêem. Poezz assinala a significativa representação nesta colectânea de quase todos os movimentos estéticos e geracionais do século do Jazz: futuristas, presencistas, neo-realistas, surrealistas e seus derivados, até à singularidade isolada de muitas vozes coevas. Perto de duas centenas de poesia de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, José Craveirinha e Agostinho Neto, passando por Ana Hatterly, Almada Negreiros, Fernando Grade, Herberto Hélder, Fernando Assis Pacheco e Tolentino Mendonça, entre outros, preenchem as 459 páginas deste livro que une duas artes gémeas: a arte e a música. Autores José Duarte, docente no Departamento de Comunicação e Arte da UA e Ricardo António Alves Edição Almedina Páginas 459 ISBN 972-402-203-X


50 51

Argumentar

“Argumentar” é o título da mais recente obra da Dra. Maria José Veiga e da Prof. Maria Manuel Baptista, docentes no Departamento de Línguas e Culturas. Um documento teórico-prático interactivo e dirigido ao leitor que oferece a oportunidade de se aceder progressiva e autonomamente a conhecimentos que envolvam a compreensão e a produção de textos argumentativos. A competência argumentativa é uma das capacidades mais requeridas e valorizadas na cultura e no mundo contemporâneo, quer nas relações entre os indivíduos ou grupos, quer em trabalhos escolares ou académicos, mas também nos mais variados contextos técnicos, profissionais, políticos ou económicos. Este livro é, desde a sua génese, um documento teórico-prático interactivo e dirigido ao leitor, oferecendo a oportunidade de se aceder progressiva e autonomamente a conhecimentos que envolvam a compreensão e a produção de textos argumentativos. No desenvolvimento dos diversos capítulos, o leitor encontrará com frequência quadros-síntese, resumos da matéria, exercícios e respectivas soluções e ainda formas de auto-avaliar a progressão nos conhecimentos. Maria José Alves Veiga nasceu em Mirandela (1966), licenciou-se em Português/Inglês na Universidade de Aveiro, completou o curso de mestrado em Estudos Anglo-Americanos na Universidade do Porto e encontra-se a realizar investigação para a dissertação de doutoramento no âmbito da Tradução do Humor para Legendagem. É docente na área da Linguística Portuguesa no Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro. Tem vários artigos

publicações

Gestão Curricular: Percursos de Investigação publicados no campo das produções literárias portuguesa e anglo-americana, sobre didáctica da língua estrangeira e sobre estudos tradutológicos. Em 2003, publicou o seu primeiro livro de contos “Os dias que contam”. Maria Manuel Rocha Teixeira Baptista nasceu em 1964. Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Mestre em Psicologia da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, é doutorada em Filosofia da Cultura pela Universidade de Aveiro, onde exerce funções docentes desde 1993. Lecciona, entre outras, disciplinas nas áreas da Cultura Portuguesa, Introdução às Ciências Humanas e Metodologia da Investigação. Desde 1996 que vem publicando trabalhos da sua especialidade, debruçando-se, nos últimos anos, particularmente sobre a obra de Eduardo Lourenço, autor de que é hoje uma das maiores especialistas. É autora, entre outros, do livro “Eduardo Lourenço: A paixão de compreender”. Edição Ver o Verso Autoras Maria José Veiga e Maria Manuel Baptista, docentes no Departamento de Línguas e Culturas da UA ISBN 972-993-171-2

O livro “Gestão Curricular: Percursos de Investigação” é o resultado de trabalhos desenvolvidos no quadro da primeira edição do Mestrado em Gestão Curricular (1999-2001), da responsabilidade dos Departamentos de Ciências da Educação e de Didáctica e Tecnologia Educativa, da Universidade de Aveiro. Apresenta-se como espaço de divulgação de percursos de reflexão e de investigação sobre as questões curriculares nos Sistemas Educativos. De realçar que a temática do currículo, sua relação com os diferentes modos de funcionamento das organizações escolares e com as diferentes áreas disciplinares, tem ocupado um lugar de destaque na investigação em matéria de educação, particularmente em situações de obrigatórias reformas educativas, quando o papel da escola e da educação é objecto de atenção e de discussão. Encontram-se, nesta obra, catorze trabalhos da autoria de mestres que frequentaram e concluíram a sua dissertação em co-autoria com os respectivos orientadores, percorrendo diferentes níveis de ensino (do Pré-escolar ao Ensino Secundário), diferentes contextos nacionais (de Portugal a Moçambique, passando pelo Brasil) e diferentes temáticas. Estes estudos permitem, assim, construir conhecimento sobre algumas problemáticas de interesse actual: a (des)articulação curricular entre níveis de ensino; a relação, nem sempre coerente, entre concepções, práticas e discursos dos educadores e professores; o lugar de determinadas áreas nas concepções e práticas curriculares dos educadores e professores (as questões da linguagem, da matemática, das novas tecnologias, dos valores e das aprendizagens em


Linhas

abril ‘05

Sob o Olhar de Minerva. A Escola e o Ensino na Literatura ciências); a construção de projectos curriculares de turma e de escola; e o papel dos educadores/professores, dos departamentos curriculares, da colaboração docente e das culturas de escola na mudança educativa. Coordenação Nilza Costa, docente no Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa da UA, Jorge Adelino Costa, Ana Isabel Andrade e António Neto-Mendes, docentes no Departamento de Ciências da Educação da UA Edição Universidade de Aveiro ISBN 972-789- 128-4 Páginas 240

Coordenado por António Manuel Ferreira, o livro “Sob o olhar de Minerva: a Escola e o Ensino na Literatura” foi publicado em Novembro de 2004 e reúne catorze ensaios. As relações entre a literatura e o ensino são, normalmente, adstritas à didáctica do texto literário. Uma abundante bibliografia procura averiguar o modo como a literatura pode ser ensinada “na escola”. São menos copiosos os trabalhos que reflectem acerca das formas de representação da escola “na literatura”. Sob o olhar de Minerva apresenta alguns exemplos que nos permitem acompanhar a maneira como, ao longo do tempo, a escola e o ensino foram sendo modulados enquanto tema literário. A variedade de ensaios coligidos neste livro propicia uma visão alargada, tanto em termos temporais, como em tipologias textuais: desde o Protágoras, de Platão, até ao romance português do século vinte. Os testemunhos provindos de outras literaturas – nomeadamente a latina, a francesa e a espanhola – expandem o catálogo exemplificativo, sinalizando, ao mesmo tempo, confluências e dissemelhanças. Há uma visão eufórica da escola, traduzida em recordações emocionadas, liricamente filtradas pelo tempo; mas há também uma memória amarga, feita de medo e de aversão. O ensino pode ser um meio de crescimento e libertação; mas pode ser igualmente uma força prepotente e castradora. A literatura tem transmitido, ao longo dos séculos, tanto a euforia como a amargura, havendo, no entanto uma nítida preponderância das representações mais ensombradas, como se pode confirmar em Sob o olhar de Minerva. Este livro é dedicado à memória da Doutora

Maria Saraiva de Jesus, docente do Departamento de Línguas, recentemente falecida. Coordenação António Manuel Ferreira, docente no Departamento de Línguas e Culturas da UA Edição Universidade de Aveiro ISBN 972-789- 142-X Páginas 220


52 53

(semi)-Breves. Notas sobre Música do Século XX Em “(semi)-Breves, Notas Sobre a Música do Século XX” são abordados alguns dos aspectos técnicos, estilísticos e estéticos, autores e obras da música do século XX que, no entender das autoras, são significativos, procurando despertar o interesse do leitor pela nova música. Nesse sentido, Helena Santana e Rosário Santana foram as investigadoras que, trabalhando e estudando o fenómeno sonoro, desenvolvendo trabalho de pesquisa em vários domínios do conhecimento científico e artístico, contribuiram para a divulgação e sistematização de conhecimentos, que permitem metodizar e clarificar a abordagem de novos mundos sonoros por parte tanto do criador como do ouvinte. A designação de novos mundos sonoros não se refere unicamente aos universos mais contemporâneos, mas também àqueles que, independentemente da época histórica em que se inserem, ainda não são do conhecimento absoluto do sujeito que os aborda. A produção de conhecimento, relativo ao mundo e ao fenómeno sonoro, aos processos de concepção, produção e difusão sonoras, permite inovar no processo de criação. Para as autoras, neste caso, o processo de criação engloba, tanto o acto compositivo, como o acto interpretativo. Revela-se ainda necessário um conhecimento profundo das técnicas composicionais e discursivas para que a interpretação da obra, e o objecto criado, se revelem no espaço e tempo de forma única, concebendo uma arquitectura de som, manifestação de uma presença, de uma existência espáciotemporal única e pessoal. “(semi)-Breves – Notas Sobre Música do

publicações

A História da Arte no Contexto Escolar Português. Repensar os Currículos Século XX” desenvolve, na primeira parte, alguns aspectos relativos à música do século XX. Em seguida, revela-se a análise de um conjunto de obras maiores da história da música ocidental onde as técnicas, os modelos e os processos de formalização discursiva se descobrem na arte de organizar e fruir os sons. Autoras Helena Santana, docente no Departamento de Comunicação e Arte da UA, e Rosário Santana Edição Universidade de Aveiro ISBN 972-789- 139-X Páginas 104

Perante uma conjuntura de mudança no contexto escolar português e face à importância que a História da Arte poderá, efectivamente, desempenhar nos curricula do ensino secundário; dado que se trata igualmente de matéria na área da educação artística, tema da próxima Conferência Mundial, que será efectuada em Portugal no ano de 2006 (Março), a dinamizar pela Direcção Geral da Unesco e Comissão Nacional desta organização, esta reflexão enforma algumas problemáticas críticas em relação às dificuldades detectadas na disciplina, bem como lança já um olhar crítico sobre as hipotéticas dificuldades que é possível detectar nos programas que vão ser lançados pelo Ministério da Educação – História das Artes B e História da Cultura e das Artes. Nesta visão, o Autor inclui os pareceres de docentes do ensino secundário de escolas e colégios do distrito de Aveiro, numa amostragem significativa de pluralidade de opiniões que reflectem competências críticas que poderiam ter sido ouvidas, se solicitadas, bem como a outros estabelecimentos de ensino, quando do desenho dos aludidos curricula. Este Caderno foi apresentado no 9º Encontro Nacional das Escolas Associadas da Unesco, pelo Autor e por Teresa Soares. O CIFOP é membro do SEA – Unesco, sendo cumulativamente o representante da rede no Conselho Consultivo mesma. Este Encontro decorreu em Lisboa e foi organizado com a colaboração do CIFOP, tendo o livro merecido franco acolhimento.


Linhas

Autor José Maria da Silva Lopes, docente da Faculdade de Arquitectura do Porto, tendo efectuado a profissionalização e serviço no CIFOP – UA, e doutorando na área de Desenho do Corpo. Edição Universidade de Aveiro ISBN 972-789-138-1 Páginas 42

abril ‘05

Avaliação das Aprendizagens – uma Carta de Princípios. Cenários de Avaliação

Das Filosofias ao Filosofar: Exercício Propedêutico e Práticas Didácticas

Na época em que se implementa uma nova organização curricular, importa discutir a avaliação das aprendizagens e seus princípios fundamentais, fazendo-o em estreita relação com as novas orientações curriculares, emanadas do Ministério da Educação. Neste livro apresentam-se os princípios subjacentes à nova avaliação dos alunos do ensino básico, consoante despacho daquele Ministério. Evidenciam-se igualmente possíveis implicações do seu cumprimento em práticas de avaliação dirigidas à aprendizagem. Eugénia Correia é Docente do Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa e tem investigado nos âmbitos da inovação educacional, didáctica da matemática e avaliação, sobre as quais tem publicado diversos trabalhos. Este é o quarto livro publicado pela Autora nesta colecção.

“Das Filosofias ao Filosofar: Exercício Propedêutico e Práticas Didácticas” é uma reflexão crítica sobre os programas das disciplinas de Filosofia do 10º, 11º e 12º anos, e apresenta, em consequência, interrogações especulativas sobre os curricula e respectivos métodos de transposição didáctica, na primeira parte do estudo. Na segunda parte, a proposta é uma perspectiva didáctica baseada em casos práticos, que partem da identificação do problema filosófico, da estrutura dos ensaios filosóficos e sugere orientações para leituras, análise e interpretação de textos do mesmo teor. O Autor propõe ainda outras obras de estudo, que não as que são utilizadas em geral pelos docentes da disciplina em questão, reportando-se às épocas medieval, moderna e contemporânea. Apresenta ainda extensa bibliografia, que pode constituir um ponto de partida gerador de mudanças e inovações no ensino de uma área complexa. António Nogueira efectua pós-doutoramento na Universidade de Aveiro (DEGEI), sendo Doutor por esta Universidade. É autor de várias obras, tendo obtido em 2001 o Prémio José Régio pela peça O Mestre de K., inspirada nos últimos dias de Immanuel Kant, trabalho que foi publicado em Dezembro de 2004 pelo Centro de Estudos Regianos.

Autora Eugénia Soares Lopes Correia, docente no Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa da UA Edição Universidade de Aveiro ISBN 972-789-130-6 Páginas 37

Autor António de Vasconcelos Nogueira, Doutorado em Filosofia pela Universidade de Aveiro. Foi Professor Convidado do Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da UA. Edição Universidade de Aveiro ISBN 972-789-140-3 Páginas 44


54 55


Linhas

abril ‘05

A entrega de 42 prémios escolares aos melhores alunos da UA, as intervenções da Reitora, do Presidente da Fundação para a Ciência e Tecnona cerimónia de abertura do ano académico reitora anunciou novo logia, do Prof. Adriano Moreira e da Presidente da Associação Académica, assim como a abertura de duas exposições marcaram as comemorações da abertura do ano lectivo 2004/2005.


56 57

abertura do ano

programa de formação inicial em medicina e ciências biomédicas Perante alguns membros da comunidade académica, convidados e representantes das empresas, autarquias, fundações e entidades bancárias patrocinadoras dos prémios que distinguiram os melhores alunos da Universidade de Aveiro, a Reitora deu, em Outubro passado, início à cerimónia de abertura do ano lectivo. Da sua intervenção (http://www.adm.ua. pt/sre/textos/ua_online/abertura_ano_ discurso_reitora.doc) destaque-se o anúncio da preparação, por parte da UA, de um Programa de Formação Inicial em Medicina e Ciências Biomédicas, e as questões orçamentais das universidades. Por seu lado, ao usar da palavra em representação da Ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior, o Presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, Prof. Ramôa Ribeiro, assegurou que transmitiria ao Ministro das Finanças esta profunda preocupação da Reitora da Universidade de Aveiro. Salientou o facto de a Universidade de Aveiro ser uma Universidade de referência, que sempre soube escolher os seus Reitores, e frisou a forma sábia com que tem gerido a sua investigação. “Muitas das Unidades de Investigação da UA receberam a

classificação de excelente e o Laboratório Associado CICECO é do que melhor existe em qualquer parte da Europa. Esperamos criar mais um novo laboratório associado aqui na UA, já em Novembro”, o que se veio a confirmar com a passagem do CESAM a laboratório associado. A Presidente da Associação Académica, Rosa Nogueira, colocou a tónica na necessidade de se construir um Ensino Superior moderno, alargado, participativo, acessível e igual para todos. Neste sentido, afirmou ser injusta a cobrança de uma taxa de frequência, pois ela não passa de uma garantia para o funcionamento da Universidade. “Uma completa desresponsabilização do Estado compromete e penaliza fortemente os estudantes, as suas famílias e o próprio país”, disse (http:/ /www.adm.ua.pt/sre/textosua_online/ abertura_rosa_nogueira.doc). Por fim, o Presidente do Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior e Professor Emérito da Universidade Técnica de Lisboa, voltou a aceitar o convite endereçado pela UA para proferir a tradicional Lição de Abertura. As respostas das Ciências Sociais foi o título que o Prof. Adriano Moreira escolheu desta vez para brindar a

assistência (http://www.adm.ua.pt/sre/ textos/ua_online licao_de_abertura.doc). A atribuição dos prémios aos melhores alunos da Universidade encerrou a cerimónia. Terminada a cerimónia, foi no átrio do edifício da Reitoria que se procedeu à inauguração da exposição de painéis sobre as Tecnologias Emergentes e à visita da exposição “Escultura em Madeira”, da autoria de sete escultores nacionais e estrangeiros, e que esteve patente na UA até Janeiro.


Linhas

abril ‘05

O ISCA-UA comemorou em Outubro passado o Dia do Instituto. A cerimónia, presidida pelo Vice-Reitor, Prof. Fernando Marques, em representação da Reitora, incluiu a assinatura de protocolos de colaboração com o Instituto Politécnico de Tomar, ISMAI, e Instituto Superior Dom Afonso III, bem como com a Associação Comercial de Aveiro (ACA), Associação Comercial e Industrial da Bairrada (ACIB) e empresa Próxima – Serviços de Informática, Lda. Um dos momentos mais altos do dia foi a entrega de diplomas aos 70 graduados presentes, dos 160 que concluíram o curso no ano lectivo 2003/2004.

dia do isca-ua

entrega de diplomas e assinatura de protocolos marcaram as comemorações O Prof. Fernando Marques abriu a cerimónia referindo-se ao sucesso de integração do ISCA na UA. “A integração do Instituto Superior de Contabilidade e Administração na Universidade de Aveiro, em 2000, foi, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade, que se saldou em sucesso. Na UA, olha-se para o ISCA como um instituto de ensino politécnico de grande prestígio. Por isso, o ISCA-UA faz parte dos sucessos da Universidade de Aveiro, uma instituição líder a nível nacional”. O Vice-Reitor lembrou aos presentes que a Universidade de Aveiro recebeu neste último ano dois importantes galardões: o ECTS Label e a responsabilidade de liderar um dos mestrados europeus criados recentemente no âmbito do programa Erasmus Mundus. “Estes galardões são sinónimo de um prestígio inquestionável, tanto a nível nacional como internacional”. O Desafio de Bolonha, a diminuição do número de jovens a ingressar no ensino superior, o enorme rigor de gestão a que o orçamento atribuído às Universidades obriga, foram as preocupações apontadas pelo Vice-Reitor, que alertou, contudo, para as oportunidades que se colocam às instituições

de ensino superior: a aposta nas formações pós-secundária e pósgraduada. Quanto ao papel da UA e do ISCA-UA na região, o Vice-Reitor não hesitou em afirmar: “a região reclamou ensino superior de qualidade e nós estamos a cumprir essa missão”. No final da sua intervenção, o Prof. Fernando Marques dirigiu uma palavra aos docentes, funcionários e antigos alunos do ISCA-UA. Aos recém diplomados lembrou que o início de uma carreira traz novas preocupações mas acrescentou: “A educação é uma espécie de remédio que se deve tomar regularmente. Por isso, gostaríamos que voltassem ao ISCA-UA para fazerem formação contínua ou à UA para fazerem Mestrado”. Aos órgãos de gestão do ISCA-UA, e face às contingências provocadas pelos cortes orçamentais, deu os parabéns por estar a tentar sobreviver, com qualidade. “O ISCA-UA tem condições para ser uma escola de referência a nível nacional e é para isso que vamos trabalhar”. Igual ideia defendeu a Presidente do Conselho Directivo do Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro. A encerrar a cerimónia e dirigindo-se aos diploma-


58 59

dos presentes, a Prof. Fátima Pinho disse esperar que “continuem ligados ao ISCA-UA e a vê-lo sempre como o seu local de aprendizagem”. No seu discurso (http://www.adm.ua. pt/sre/textos/ua_online/Presid_Cons Directivo_ISCA.doc), a Prof. Fátima Pinho referiu-se também à caminhada traçada pelo ISCA-UA nos últimos 33 anos, à importância da existência de docentes com grau de doutor e à crescente ligação do ISCA-UA às suas congéneres e ao meio empresarial, que se reflectiu com a assinatura de seis novos protocolos de cooperação. A Presidente do Conselho Directivo salientou, ainda, as indefinições existentes nas reestruturações dos cursos e deu a conhecer os projectos que o Instituto tem em mãos: o lançamento de dois cursos de especialização tecnológica, de cursos de preparação para os exames de inscrição na Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, e o alargamento da oferta de formação pós-graduada. Quem também interveio na cerimónia do Dia do Instituto foi o presidente da Associação de Estudantes do ISCA-UA. Em resumo, Gabriel Lopes referiu-se à qualidade de ensino e dos diplomados pelo ISCA-UA e ao aumento das

propinas “que fazem os estudantes recear o futuro e ponderar o ingresso no ensino superior” (http://www.adm. ua.pt/sre/textos/ua_online/Presidente_ da_AEISCA.doc). Para além dos 70 novos graduados que se deslocaram ao ISCA-UA para receberem os seus respectivos diplomas, o Dia do Instituto levou também ao auditório do Instituto os representantes das escolas superiores politécnicas e instituições representativas do tecido empresarial da região. O motivo foi a assinatura de seis novos protocolos de cooperação com o Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro. O Instituto Politécnico de Tomar (IPT), o Instituto Superior da Maia (ISMAI) e do Instituto Superior Dom Afonso III (INUAF) passaram a integrar a rede de Escolas que utiliza o projecto de simulação empresarial interactivo e que conta já com a Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova do Instituto Politécnico de Castelo Branco e da Escola Superior de Ciências Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal. Na mesma ocasião, o ISCA-UA formalizou, ainda, colaborações com a Associação Comercial de Aveiro

dia do isca-ua

(ACA), a Associação Comercial e Industrial da Bairrada (ACIB) e a empresa Próxima – Serviços de Informática, Lda., com o objectivo mútuo de obter sinergias nas áreas de interesse comum e contribuir para uma maior aproximação do Ensino Superior ao tecido empresarial.


Linhas

abril ‘05

v semana aberta da ciência e tecnologia expectativas superadas: mais de 11 mil inscrições! A 5ª edição da Semana Aberta da Ciência e da Tecnologia da UA superou as melhores expectativas. Mais de onze mil inscrições deram entrada nos Serviços de Relações Externas da UA para visitar as inúmeras iniciativas que preencheram o extenso programa da Semana e poderem observar, experimentar e interagir de perto com a Ciência e a Tecnologia

Entre 22 e 28 de Novembro, a Universidade de Aveiro voltou a possibilitar, uma vez mais, o contacto in loco com a ciência e tecnologia a todos quantos quiseram deslocar-se à UA para observar, experimentar e interagir com este fascinante mundo. Nascida há cinco anos por iniciativa dos Serviços de Relações Externas da UA com o objectivo fundamental de promover a ciência e a tecnologia e despertar o interesse dos jovens estudantes para estas áreas do saber, a Semana Aberta da Ciência e da Tecnologia rapidamente se transformou na “grande festa da ciência e tecnologia da UA” por excelência, envolvendo todos os departamentos, unidades e serviços da UA. Desde então, o sucesso tem sido crescente. Em 2000 logo se revelou uma experiência muito positiva. Iniciou-se esta aventura com cerca de 4 mil interessados em conhecer o dinamismo científico da Universidade. A grande adesão do público e a qualidade das iniciativas foi reforçada em 2001, ano em que se recebeu o dobro das visitas. Em 2002, quase 9 mil pessoas aceitaram o convite da UA e em 2003 atingiu-se quase as 10 mil. Este ano, a UA foi mais longe e ultra-


60 61

passou as 11 mil inscrições, um aumento de 14% em relação ao ano passado e quase três vezes mais do que na primeira edição. Para além de participantes de escolas dos distritos de Aveiro, Porto, Coimbra, Viseu, Leiria, Castelo Branco e Santarém, este ano, pela primeira vez, marcaram presença também escolas de Barcelos, Proença-a-Nova, Sabugal, Cascais, Arganil, Azambuja, Fátima, Lourinhã, Alvaiázere e Lisboa. Mas a ciência não fascinou apenas estudantes. Nesta edição, os Serviços de Relações Externas receberam mais de duas centenas de inscrições individuais de investigadores, universitários, docentes, enfermeiros, psicólogos e público em geral para visitar as 35 actividades experimentais/em laboratório, 13 apresentações de projectos, seis ateliers/workshops, 44 palestras/ conversas, quatro espectáculos, 14 exposições, quatro filmes e 17 visitas guiadas que preencheram o extenso programa da Semana Aberta. Com ramificações de amplitude tão vasta quanto as áreas do conhecimento, a ciência é, sem dúvida, o tipo de conhecimento mais omnisciente da idade moderna. Vivê-la é uma experiência inesquecível. Prova disso são os depoimentos de Rita Rodrigues, Tânia Lima e Ana Margarida Ferreira, três alunas às quais a UA deu a oportunidade de com ela contactarem directamente.

Rita Rodrigues, estudante do 9º ano em Oliveira do Hospital Gostei muito da Semana Aberta Foi a nossa professora de Ciências que nos disse que a Universidade de Aveiro estava a promover a Semana Aberta da Ciência e Tecnologia e que seria interessante virmos cá participar nas actividades relacionadas com geologia, robótica e física. A primeira impressão que tive não me entusiasmou muito, mas à medida que fomos fazendo experiências fui achando esta visita muito interessante. Acabamos por sair daqui com a impressão de termos alargado os nossos horizontes. Gostei muito. Devia haver mais universidades a promover iniciativas como esta. É que nos ajuda a descobrir o que se pode aprender nos cursos que podemos vir a seguir. Embora eu esteja a pensar seguir a carreira militar, na Escola Naval, não ponho de parte a ideia de tirar um curso relacionado com tecnologias ou línguas. Tânia Lima, aluna do 10º ano A UA tem espaços muito agradáveis A nossa turma veio à Universidade de Aveiro visitar fundamentalmente as actividades das áreas da electrónica e da física. Foram ambas muito interessantes mas gostei mais de ver os robots a trabalhar, na Fábrica da Ciência Viva, até porque talvez venha a seguir Engenharia Electrónica. Não sei ainda em que universidade. Não conhecia a de Aveiro e achei-a muito bonita, com espaços muito agradáveis e amplos. Lá na Escola, soubemos da realização da Semana Aberta da Ciência e Tecnologia através das nossas professoras. São iniciativas muito importantes para nós, alunos do ensino secundário, uma vez que nos ajudam a decidir o que queremos vir a fazer no futuro. Na minha opinião devia haver mais iniciativas semelhantes a esta. Ana Margarida Ferreira, estudante do 12º ano Voltei à Semana Aberta para ver tudo com mais pormenor Estou a pensar seguir Engenharia Química ou Engenharia do Ambiente,

semana aberta da ciência e tecnologia

aqui em Aveiro. Como sou de cá, já conhecia a Universidade e acho-a uma universidade excelente. Tem óptimas condições e estou convencida de que quem cá estuda fica com um bom futuro assegurado. À Semana Aberta vim de manhã com a minha turma visitar algumas das actividades mas resolvi voltar agora à tarde sozinha para ver tudo com mais pormenor. Estas experiências que estão a decorrer no Departamento de Física são extremamente interessantes. Adorei, por exemplo, a parte dos hologramas. Na verdade, não tenho dúvida de que estas iniciativas são óptimas para nós. Até acho que devia haver mais. Com estas actividades aprendemos e ficamos motivados a estudar e a querer sempre saber mais… até a investigar. Gostei mesmo muito. A próxima edição acontecerá em Novembro deste ano. Estamos a contar consigo para fazer dela mais um sucesso! Por isso, a partir de Setembro, já sabe, procure-nos em http://event.ua.pt/semct/


Linhas

abril ‘05

no dia 17 de dezembro ua festejou 31 anos de excelência O reduzido financiamento que tem sido atribuído pela tutela à Universidade de Aveiro foi a tónica dominante dos discursos da Reitora da UA, Prof. Maria Helena Nazaré, e da Presidente da Associação Académica da UA, Rosa Nogueira, na sessão comemorativa dos 31 anos da instituição. Uma cerimónia que ficou marcada, ainda, pelo Doutoramento Honoris Causa do Prof. Doutor João José Pedroso de Lima, pela entrega da Medalha de Ouro da Universidade de Aveiro a D. António Marcelino, Bispo de Aveiro e pela inauguração do Painel Cerâmico “Voar Mais Alto”, da autoria do artista-residente da UA Zé Penicheiro.

O contraste entre os reduzidos apoios financeiros atribuídos à UA pela tutela nestes últimos anos e a excelência que lhe é reconhecida actualmente marcou a intervenção da Reitora da UA (http://www.adm.ua.pt/sre/textos/ ua_online/31_aniv_reitora.doc), Prof. Doutora Maria Helena Nazaré, na Cerimónia Comemorativa do 31º aniversário desta instituição que teve lugar em Dezembro passado. Um sentimento de desilusão que, segundo a Prof. Doutora Maria Helena Nazaré, reforça o orgulho do empenho de todos quantos contribuíram para o centro de excelência na criação, transmissão e divulgação do saber que a UA é hoje, como o demonstra a actual posição de liderança na avaliação das actividades de investigação, a recente atribuição de 11 bolsas de estímulo à excelência a cientistas da UA e a criação do novo Laboratório Associado CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar. A palavra de ordem para os anos que se avizinham é, por isso, de “trabalhar arduamente para sustentar o projecto da UA e desse modo poder, com qualidade, contribuir para o desenvolvimento do País”.

A curto prazo, a UA prepara-se para seleccionar cinco excelentes projectos que, conjugados com a contratação de cientistas de elevado mérito, nacionais e estrangeiros, permitirá consolidar a excelência em algumas áreas de investigação; reafirmar a importância da declaração da Sorbonne, e da reorganização nela implícita, para viabilizar uma leitura clara e coerente dos diferentes graus conferidos por Instituições de Ensino Superior na Europa; e arrancar com o Programa de Formação Inicial em Medicina e Ciências Biomédicas e o primeiro curso de formação politécnica da Escola Superior Aveiro-Norte, em Oliveira de Azeméis. Rosa Nogueira, Presidente da Associação Académica da UA, também pautou o seu discurso pela crítica ao financiamento atribuído à UA, considerando “ser incompreensível para todos os que constituem a universidade e principalmente para os estudantes desta universidade, a disciplicência, certamente não aleatória, com que a UA é absorvida pelo ministério da tutela”, lamentando que “ao invés de se reconhecer e premiar o desenvolvimento e a maturidade que a instituição


62 63

agrega-se e anula umas das principais fontes de crescimento e afirmação: o financiamento”. Doutoramento Honoris Causa e Medalha de Ouro distinguem personalidades No ano em que celebrou o seu 31º aniversário e numa altura em que a sua grande aposta se vai centrar no ensino das áreas da Medicina e Ciências Biomédicas, foi ao Prof. Doutor João José Pedroso de Lima, Professor Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, que a UA concedeu o Grau de Doutor Honoris Causa. Personalidade de relevo na ciência e na investigação e “cientista reconhecido internacionalmente nas áreas da BioEngenharia e BioMedicina, que conseguiu congregar em seu torno e sob sua orientação equipas multidisciplinares, que têm vindo a produzir trabalho científico de elevada qualidade”, o Prof. Doutor João José Pedroso de Lima foi reconhecido pela sua elevada competência científica e pedagógica, bem como pela sua visão estratégica no desenvolvimento dessas mesmas áreas. Ao Prof. Doutor António Sousa Pereira, na qualidade de padrinho do homenageado, coube a tarefa de apresentar a excelência das suas qualidades a nível humano, científico e pedagógico. “Uma personalidade que para além da excelência a nível humano, científico e pedagógico (http://www.adm.ua.pt/ sre/textos/ua_online/31_aniv_PhD_ Honoris_Causa_padrinho.doc). Realçou ainda que a UA muito lhe deve, “pela contribuição que deu na formação de elementos da sua comunidade e no seu reconhecimento nacional e internacional de qualidade e excelência, e pela colaboração que aceitou prestar na elaboração do programa estratégico para o desenvolvimento da área das Ciências da Saúde desta instituição”. Depois da Reitora investir o Prof. Doutor João José Pedroso de Lima na dignidade de Doutor Honoris Causa e

de lhe entregar a Insígnia, o Livro e o Diploma, Prof. Doutor João José Pedroso de Lima teve a oportunidade de agradecer a atribuição do título (http://www.adm.ua.pt/sre/textos/ ua_online/31_aniv_discurso_prf_ honoris_causa.doc). Demonstrando a sua grande satisfação por lhe ter sido reconhecida “uma participação digna de nota na construção desta excelente e jovem Universidade”, salientou que “na mistura de sentimentos que me ocorrem neste momento transcendente da minha carreira, sobressai uma grande gratidão à UA e às pessoas que promoveram este evento e, também, um grande orgulho por usufruir do privilégio de me tornar um membro desta universidade” e prometeu “lutar por aumentar ainda mais a interacção entre a Universidade de Aveiro e a Universidade de Coimbra nas áreas que domino”. Para além do Doutoramento Honoris Causa, foi também um dos momentos altos das comemorações a entrega, pela primeira vez, da Medalha de Ouro da Universidade de Aveiro. Este galardão, instituído pelo Senado da Universidade, no ano 2003, por ocasião do 30º aniversário da Instituição, pretende distinguir, anualmente, personalidades e instituições que se destaquem pela sua acção e mérito em favor da Universidade e, ou, da região de Aveiro. D. António Marcelino, Bispo de Aveiro, e o Prof. Doutor João Lopes Baptista foram as personalidades agraciadas com esta Medalha. Durante a Cerimónia foram ainda entregues as 14 bolsas de estudo aos melhores caloiros da UA 2004/05, o Prémio ao Melhor Caloiro da Licenciatura em Engenharia Geológica e assinado um Protocolo entre a UA e a Associação de Antigos Alunos da UA (http://www.adm.ua.pt/sre/textos/ ua_online/31_aniv_protocolo_ associacao_antigos_alunos.doc) para a manutenção e reforço dos laços existentes entre a Universidade e os seus antigos alunos mediante múltiplas actividades de cooperação. A encerrar a sessão e já em frente à

aniversário da ua

Reitoria da UA, foi inaugurado o Painel Cerâmico Voar mais Alto da autoria de Zé Penicheiro, a obra plástica concebida pelo artista-residente da UA para assinalar os 30 anos de vida da Universidade de Aveiro e do seu universo no ensino superior, na formação e investigação cientifica, nos horizontes do conhecimento. Um acto que assinalou o encerramento das comemorações dos 30 anos da UA através de uma obra que, segundo o Vice-Reitor Prof. Doutor Manuel Assunção (http:www.adm.ua.pt/sre/textosua_ online/31_aniv_Prof_assuncaoCS.doc), a UA pretende que fique a marcar as primeiras três décadas de existência desta universidade. Ainda no âmbito das comemorações do seu 31º aniversário, a Universidade de Aveiro ofereceu, uma vez mais, a toda a comunidade o Concerto de Aniversário. No mesmo dia, às 21h30, no Auditório da Reitoria, o Orfeão Universitário de Aveiro, sob Direcção do Maestro Artur Pinho, apresentou-se com a Orquestra e Solistas do Departamento de Comunicação e Arte da UA e executou Sinfonia em Si Bemol Maior de Carlos Seixas e Misa Cubana de José Maria Vitíer.


Linhas

abril ‘05

A realização de uma auditoria consultiva, a recuperação do Solar Académico, o reinício do processo de revisão estatutária, a implementação e cumprimento de regulamentos, a criação de um Portal On-line da Academia de Aveiro e a reactivação da UNIVA são os desafios que os novos membros da AAUAv, que tomaram posse em Janeiro deste ano, se preparam para enfrentar durante o próximo ano.

novos órgãos directivos da aauav tomaram posse Foi com um espírito de renovação de sinergias que Rosa Nogueira tomou posse por mais um ano da presidência da AAUAv. A vontade de fortificar um projecto, dando seguimento aos projectos iniciados durante o anterior mandato, de desafiar novas lutas e trilhar novos caminhos, introduzir motivações renovadas e assegurar que a própria AAUAv assuma um percurso de consolidação reconduziram Rosa Nogueira ao lugar que já vem ocupando há um ano. Assumindo uma promessa de missão, de responsabilidade e sobretudo de humildade, a renovada equipa que no passada mês de Janeiro tomou posse reafirmou, através da sua líder, a sua disponibilidade e a sua intenção de continuar a trabalhar para e em prol dos estudantes, dando continuidade ao caminho iniciado, há um ano atrás. “No final, depois de um ano volvido, a direcção que termina hoje o seu mandato, está mais pequena, mas mais forte. (…) Foi-se criando na direcção da AAUAv o efeito consequente desta fortificação dentro da própria direcção eleita. As acções, o envolvimento do fazer acontecer e também o deleite dos resultados, instituiu para todo este grupo de trabalho, condicionantes

que se declararam e impeliram o nosso mandato. Deste conjunto de aforismos resultou o início de um caminho de consolidação financeira que culmina este mandato com a realização da auditoria consultiva, resultou também no renascer do projecto do Solar Académico, no reinício do processo de revisão estatutária, na implementação e cumprimento de regulamentos, na criação de um Portal On-line da Academia de Aveiro, na reactivação da UNIVA, na reafirmação da AAUAv junto de entidades internas e externas, e principalmente, na creditação do nome: Associação Académica da Universidade de Aveiro”. Para além da sua equipa, Rosa Nogueira espera contar, conforme referiu no seu discurso (http://www.adm.ua.pt/ sre/textos/ua_online/discurso_tomada_ de_posse_rosa_nogueira.doc), com o apoio institucional interno, nomeadamente a Reitoria, os Serviços de Acção Social e os próprios núcleos e associações representativas dos alunos da UA. Presente na cerimónia, o Prof. António Ferrari aproveitou a ocasião para reafirmar o apoio da reitoria da UA aos novos Órgãos Directivos, salientando a sua importância na afirmação da UA


64 65

nova associação académica

rosa nogueira renova sinergias para mais um ano de trabalho no panorama português e internacional. “A Reitoria da UA encara como essencial para esta universidade ter uma comunidade estudantil activa, atenta aos desafios que hoje em dia se colocam ao ensino superior português, num espaço mais alargado. Para que a UA se possa continuar a afirmar no panorama português e europeu como uma universidade de qualidade capaz de atrair alunos e de lhes dar uma formação actual que os torne membros actuantes da sociedade é necessário ter uma comunidade académica dinamizada e para isso a Direcção da Associação tem um papel essencial a desempenhar, papel que a instituição reconhece e para o qual desenvolverá todos os esforços necessários para o possibilitar e facilitar”. Durante a sua tomada de posse, Rosa Nogueira referiu-se ainda às políticas de ensino governamentais, sublinhando que “altercaremos sempre um ensino justo, gratuito e acessível a todos e não deixaremos que impunemente a responsabilidade de financiamento das instituições seja progressivamente concedida aos estudantes e a factores dúbios de avaliação. (…) A Direcção estará atenta às mudanças governamentais, aos desvios da génese dos

processos de harmonização europeia, às imposições de leis desajustadas da realidade, às promessas, às propostas e sobretudo à impugnação da inércia de um governo”. De referir que foram mil cento e quarenta e nove os votos, 64 por cento dos 1784 votantes, que deram a vitória à Lista S nas eleições para a Direcção da Associação Académica da UA que decorreram no passado dia 16 de Dezembro, reconduzindo Rosa Nogueira ao lugar de Presidente desta Associação, por mais um ano. Rosa Nogueira tem 24 anos e é natural de Águeda. Em 1999/2000 entrou na UA na Licenciatura em Português/ Inglês, mas foi a Licenciatura em Línguas e Relações Empresariais que mais tarde lhe suscitou interesse, curso para o qual mudou e que actualmente frequenta. O contacto com a realidade da AAUAv enquanto Secretária de Direcção do mandato de José Ricardo Alves foi o grande impulsionador da sua candidatura à presidência da Associação em 2003. Consolidar o trabalho aí iniciado foi o objectivo principal da sua recandidatura à liderança da Associação Académica.

Direcção Presidente: Rosa Isabel Nogueira Vice-Presidente: Hugo Manuel Rodrigues Vice-Presidente: João Miguel Cabral Tesoureiro: Tiago André Figueiredo Pelouros Administrativo: Miguel Dias, Cindy Sofia Sabença, Carlos Filipe Bastos Pedagógico: Bruno Viriato Veloso, Alzira Socorro Peixoto, Carlos Manuel Rêgo Desportivo: Luís Filipe Jesus, Jacqueline Fernandes, João Miguel Vieira Informativo: Tito Joel Lemos, Luís Peixoto, Victor Manuel Rodrigues Acção Social: Mónica Catarina Canha, Raul Junqueiro Cultural: Luís Ricardo Ferreira, Iolanda Silva, António Mário Antunes Mesa da Assembleia Geral Presidente: José Eduardo Freitas Secretário: Bruno Manuel Coimbra Secretário: Rui Miguel Ramalhadeiro Conselho Fiscal Presidente: Jorge Humberto Pratas Secretário: Ricardo Jorge Baptista Relator: Sandra Maricato


Linhas

abril ‘05

nuno pires dirige destinos da aeisca-ua A 19 de Janeiro tomou posse a nova Associação de Estudantes do ISCA-UA. À frente dos destinos desta Associação está agora Nuno Pires, 23 anos, estudante da Licenciatura bi-etápica em Contabilidade e Administração. A restante equipa é constituída por: Direcção Presidente: Nuno Pires Tesoureiro: Pedro Rodrigues Área do Desporto Hugo Henriques, Pedro Almeida Área do Recreativo e Cultural: Cândida Fernandes, António Bicho Área da Acção Social: Telma Pescada, Ana Bela Martins Área da Formação Pedagogia e Emprego: Filipe Sousa, António João

Antunes, Rui Barroso Área das Relações Publicas: João Duque, Sara Lima Área do Equipamento e Instalações António Rosa, Luís Tribuna Assembleia Geral Presidente: João Afonso 1º Secretario: Manuela Castro 2º Secretario: Vera Domingues Conselho Fiscal Presidente: Xavier Martins Secretário: Dinarte Silva Relator: Hugo Santos Suplentes: Nelson Carvalho, Nuno Santiago, Carlos Silva


66 67

programa aveiro norte

em dezembro primeiros alunos do programa aveiro norte receberam diplomas A Cerimónia de Entrega de Diplomas e Certificados aos primeiros alunos que concluíram os três primeiros Cursos de Especialização Tecnológica (CET) e o primeiro Curso de Actualização e Especialização do Programa Aveiro Norte da Universidade de Aveiro realizou-se a 11 de Dezembro, no Complexo Pedagógico da UA.


Linhas

abril ‘05

Presidida pela Reitora, a cerimónia reuniu os primeiros formandos dos CET em Tecnologia Mecatrónica; Desenvolvimento de Produtos Multimédia; e Instalação e Manutenção de Redes e Sistemas Informáticos, assim como os do Curso de Actualização e Especialização em Logística e Gestão Industrial, 101 ao todo. À cerimónia não faltaram também as várias entidades que têm vindo a estabelecer uma estreita relação de cooperação com o Programa Aveiro Norte.

sagem de alerta para o longo caminho que o Programa ainda tem para percorrer. “O programa é ainda muito frágil. Gostava de deixar aqui essa mensagem e esse alerta. A estrutura da UA que leva por diante esta iniciativa (o grupo de trabalho Aveiro-Norte) é um grupo ainda muito reduzido e que se multiplica em inúmeras actividades, desde a angariação de financiamentos, até ao ensino, até ao pensar como vamos ocupar o 7º andar do edifício Rainha, ou os 20 hectares da Quinta do Comandante em Oliveira de Azeméis e milhentas outras questões que no dia-a-dia se nos vão colocando. Como fazemos chegar a informação de que o programa existe a quem dele precisa, aos alunos, formandos que estão nas escolas secundárias, nas empresas, às suas famílias, aos seus professores. Tudo isto são desafios que temos pela frente. Ainda há muito a fazer”.

Usando da palavra, a Reitora da UA, Prof. Maria Helena Nazaré, disse que “o projecto da Universidade de Aveiro para o Norte do distrito tem a preocupação de articular diferentes níveis de formação e promover em simultâneo parcerias entre instituições de ensino, formação, empresas, associações empresariais e autarquias. É um projecto assente no conceito de aprendizagem ao longo da vida, nos pressupostos de formação em alternância, e, sempre que possível, do reconhecimento de competências não escolares”. Com a conclusão bem sucedida das primeiras edições dos Cursos de Especialização Tecnológica e dos Cursos de Actualização e Especialização, o lançamento de outras edições e a previsão do início das actividades da Escola Superior Aveiro-Norte no próximo ano lectivo, a Reitora afirmou estarem já dados os primeiros passos “da longa caminhada que há ainda a percorrer para vencer os desafios a que nos propusemos”. Na cerimónia intervieram ainda o Presidente do Comissão Instaladora do Programa Aveiro Norte, Prof. Doutor Manuel de Oliveira Duarte, o Presidente do Conselho Empresarial de Entre Douro e Vouga, Dr. Eduardo Costa, e do Presidente da Associação Empresarial do Concelho de Oliveira de Azeméis, Comendador António Rodrigues. Da intervenção do Presidente do Comissão Instaladora do Programa Aveiro Norte, Prof. Doutor Manuel de Oliveira Duarte, destaca-se a sua men-

Recorde-se que o Programa Aveiro Norte da Universidade de Aveiro (http://www.aveiro-norte.ua.pt/) teve início em Janeiro de 2003 com o arranque dos primeiros Cursos de Especialização Tecnológica nas Unidades de Formação Especializada resultantes de parcerias com diversas entidades dos Concelhos de Ovar (Escola Secundária Macedo Fragateiro), S. João da Madeira (Centro Tecnológico do Calçado e Escola Secundária Serafim Leite) e Oliveira de Azeméis (Escola Secundária Soares Basto). Depois deste arranque outros Cursos se seguiram nomeadamente os Cursos de Actualização e Especialização para quadros empresariais, estando ainda previsto, a curto prazo, o seu alargamento a outros concelhos, como referiu o Prof. Doutor Manuel de Oliveira Duarte. “O programa está hoje presente em quatro concelhos de forma activa mas quer chegar a mais concelhos. Estes processos são longos. Para começarmos a trabalhar nos primeiros quatro concelhos andamos cinco anos. Sei que em Arouca há alguma impaciência neste momento,

mas gostava de deixar aqui uma palavra de compromisso de que a nossa intenção e vontade é fazer em Arouca aquilo que temos feito nos outros concelhos, na medida daquilo que conseguirmos e que entendermos que é desejável para Arouca”. Para além de Arouca, também estão a ser analisadas as pretensões dos concelhos de Albergaria, Sever do Vouga, Estarreja, Vale de Cambra e Espinho.


ficha técnica título Linhas, Revista da Universidade de Aveiro

direcção Maria Helena Nazaré

impressão Norprint

edição e propriedade Universidade de Aveiro

edição Ana Bela Dias

ISSN 1645-8923

redacção Serviços de Relações Externas Constança Mendonça Liliana Oliveira

n.º de depósito legal 209269/04

design e produção Gabinete de Imagem Fundação João Jacinto Magalhães

tiragem 3000 exemplares periodicidade Três edições/ano

Linhas

ficha de assinatura

Desejo receber um exemplar da próxima edição da Linhas – Revista da Universidade de Aveiro, anexando para o efeito esta ficha de assinatura.

nome

Revista Linhas Serviços de Relações Externas da Universidade de Aveiro Campus Universitário de Santiago 3810-193 Aveiro Portugal

morada

localidade

código postal

país

telefone

e-mail

data de nascimento

habilitações literárias

profissão

é antigo aluno da Universidade de Aveiro?

sim

sre@adm.ua.pt não


uaagenda 2ª a 4ª feira | 2 › 4 Maio Congresso Internacional Educação e Trabalho Auditório da Reitoria da UA 2ª a 6ª feira | 2 › 6 Maio Semana do Enterro 2005 Auditório da Reitoria e Parque de Feiras e Exposições 2ª a 6ª feira | 2 › 26 Maio Peça de Teatro “Da Vince” Auditório da Reitoria da UA 3ª feira | 3 Maio Peça de Teatro “Concerto para Einstein” Largo da Reitoria da UA 4ª feira | 4 Maio Competição matemática EQUAmat ‘05 Campus Universitário de Santiago 5ª a 6ª feira | 5 › 6 Maio Oficina de matemática “M@TIC – as TIC como promotoras de mudanças no ensino e na aprendizagem da matemática” Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa da UA

Serviços de Relações Externas http://www.ua.pt/uaonline tel. 234 370 211

3ª feira | 10 Maio Made in DeCA Hotel Imperial 5ª feira | 12 Maio Conferência “Teleportação: magia ou ciência?” Auditório da Reitoria da UA 3ª a 5ª feira | 17 › 19 Maio Fórum 3E – Empresas, Emprego e Empreendedorismo Campus Universitário de Santiago 6ª feira | 27 Maio Competição matemática MINImat ‘05 Campus Universitário de Santiago sábado | 28 Maio Dia da Universidade Campus Universitário de Santiago 2ª feira | 30 Maio Competição matemática MAISmat ‘05 Campus Universitário de Santiago


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.