Manuel António Assunção Reitor da Universidade de Aveiro
editorial
A Universidade de Aveiro organiza-se e trabalha em rede – em múltiplas redes – potenciando o cruzamento dos saberes e a capacidade de agir, mais qualificadamente, com e sobre a sociedade. Desde logo internamente, através da rede de departamentos e escolas que serve de matriz à organização de programas de ensino, atividades de investigação e de cooperação com a sociedade. Uma rede que se projecta para o exterior, com ligações fortes, mas flexíveis, a autarquias, empresas, associações e indivíduos, fomentando a reflexão e a ação conjunta na região, justamente uma das nossas marcas identitárias. Uma rede que se estende pelo País, com 21 pós-graduações oferecidas em conjunto com outras universidades portuguesas, e que traduz uma visão de cooperação e racionalização. E a UA é, também, parte de uma rede com uma marcada dimensão internacional, em todos os domínios da sua atuação. O ambiente internacional da UA é feito pelas pessoas, diariamente, e está bem patente numa comunidade que integra 1035 estudantes estrangeiros, bem como 50 docentes, 43 investigadores, 44 pós-doutorados e 3 elementos de pessoal administrativo de várias nacionalidades, num mosaico de línguas, de culturas e de vivências. Comunidade que adquire ainda maior expressão através dos antigos alunos estrangeiros ou com experiências internacionais e que queremos envolver, de forma acrescida, no projeto da UA. Temos vindo a acentuar a internalização da oferta formativa, de que são exemplos sete pós-graduações Erasmus-Mundus e a cooperação com universidades da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (Cabo Verde, Timor Lorosa’e, Moçambique, Brasil, Angola). A obtenção dos selos de qualidade ECTS e Suplemento ao Diploma, e do selo EURACE para os mestrados integrados em engenharia electrónica e telecomunicações e em engenharia química, ilustra a qualidade do trabalho realizado. No domínio da investigação, e para além da participação e coordenação de projetos internacionais, a UA é uma das universidades com maior proporção de publicações em co-autoria com investigadores de outros países, como revela um estudo da Universidade de Leiden que nos situa em 9.º lugar entre 500 universidades. A dinâmica internacional é reforçada através da participação institucional em redes como o European Consortium of Innovative Universities, European University Association, Columbus, Campus do Mar, Campus Europae, European Association for University Lifelong Learning, e, mais recentemente, International Association of Science Parks. O aumento contínuo da visibilidade internacional ganha tradução em rankings como o do Times Higher Education, em que a UA alcançou a 345.ª posição e primeira entre as universidades portuguesas. Estamos empenhados em continuar a afirmar a Universidade de Aveiro como uma instituição de referência, aberta, com impacto na região, no País e internacionalmente, para o que contamos com a colaboração de todos!
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EDITORIAL manuel antónio assunção reitor da ua
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OPINIÃO uma discussão inquinada andré azevedo alves
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os dias da água armando silva afonso
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PERCURSO SINGULAR maria helena nazaré
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PERCURSOS ANTIGOS ALUNOS antigos alunos da ua falam das suas carreiras de sucesso
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DISTINÇÕES recebidas pela comunidade académica
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INVESTIGAÇÃO dez projetos research day
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capacidade para o trabalho dos portugueses ENTREVISTA COM… madeira luís: as coleções e o acervo doado à ua
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ENSINO escola doutoral
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COOPERAÇÃO estreitar laços com o tecido empresarial e promover o empreendedorismo
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empresa ieua – bit box
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CULTURAL química das coisas
50 50 48
museu de arte nova
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publicações da comunidade académica
CAMPUS EXEMPLAR novos edifícios para a era da sustentabilidade
acervo e prémio aldónio gomes ESCAPARATE apresentação do livro “Mário Soares: um político assume-se” Luís Machado de Abreu
ACONTECEU NA UA… alguns momentos que marcaram a vida académica
opinião
uma discussão inquinada LINHAS
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André Azevedo Alves Docente do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da UA
O recente relatório da OCDE sobre as políticas e práticas de avaliação no sistema de ensino português (“OECD Reviews of Evaluation and Assessment in Education: Portugal 2012”) veio, mais uma vez, lançar para o debate público a controvérsia em torno dos métodos de avaliação dos alunos.
Entre as principais conclusões gerais apresentadas no relatório da OCDE, destacam-se as recomendações de maior interligação e coerência entre os vários tipos de avaliação (de alunos, professores, escolas e do próprio sistema de ensino); de maior associação entre os resultados da avaliação e processos de melhoria do desempenho; da simplificação da avaliação dos docentes; do fortalecimento do papel e autonomia das lideranças de cada escola; além da necessidade de atenção acrescida à avaliação consistente do funcionamento do sistema de ensino na sua globalidade. No que diz respeito, mais especificamente, à avaliação dos alunos, o relatório assume uma postura crítica face ao que considera ser uma excessiva ênfase na avaliação sumativa em detrimento da formativa e da auto-avaliação por parte dos alunos. Na mesma linha, critica as práticas docentes que qualifica como “tradicionais” e recomenda maior atenção aos aspectos pedagógicos, assim como maior interacção e partilha de responsabilidades no processo de ensino e de avaliação. Como corolário, o relatório considera prioritária a redução das taxas de retenção e, apesar de não ter avaliado o programa Novas Oportunidades, considera que este deveria servir como inspiração e guia de vários conceitos e práticas de avaliação a introduzir no sistema de ensino regular. Ora, se boa parte das recomendações gerais do relatório serão relativamente consensuais (até pelos termos genéricos nos quais estão formuladas), é precisamente no que diz respeito à avaliação dos alunos que elas se apresentam como mais controversas. A ideia de que os “chumbos” são traumatizantes e estigmatizantes para os alunos encontra-se amplamente
difundida na literatura que serve de suporte aos autores do relatório, mas nem por isso deve deixar de ser objecto de reflexão crítica. O relatório critica a reprovação por ser uma prática que supostamente leva os professores a reduzir as suas expectativas sobre o desempenho dos alunos. Mas, mesmo admitindo-se como válido o argumento, não se deveria igualmente concluir que as crescentes pressões de ordem sistémica para aumentar as taxas de aprovação empurram os professores no sentido de aprovarem alunos cujo desempenho, conhecimentos e competências não satisfazem patamares mínimos exigíveis? E não terão essas pressões um efeito desresponsabilizador ainda mais devastador? Mais: a prazo, os principais prejudicados não serão precisamente os alunos que progridem em nome da auto-estima, da não estigmatização e do sucesso estatístico, mas sem assimilarem competências e conhecimentos essenciais para a sua inserção social, cívica, cultural e profissional num mundo cada vez mais exigente? Questões merecedoras de cuidada reflexão. Só que, infelizmente, a discussão raramente consegue evitar enviesamentos que a inquinam logo à partida. Ao não dar conta de que o mais importante não é discutir qual a (melhor) solução a impor de forma uniforme ao sistema de ensino, mas contrastar o actual modelo centralizado com alternativas mais descentralizadas. Uma metodologia que nos obrigaria a prestar mais atenção às reformas levadas a cabo em países como a Suécia, a Holanda ou a Nova Zelândia, as quais têm progressivamente aberto mais espaço à autonomia local e à liberdade de escolha das famílias. Daí que uma verdadeira via alternativa passe por compreender, como muito bem sintetiza Ângelo Ferreira (“A Educação e os Desafios de E. G. West para a Situação Portuguesa”, p.116) que “a concorrência entre escolas diversas, proporcionada pela liberdade de escolha, é fundamental para gerar uma educação de qualidade, inovadora, dinâmica, ajustada aos interesses do público que serve e do País”.
os dias da água
os dias da água Enunciado há 25 anos (“Our Common Future”, ONU, 1987), o conceito de “desenvolvimento sustentável”, apesar de banalizado pela sua utilização na economia, mantém-se um mandamento atual. Armando Silva Afonso Docente do Departamento de Engenharia Civil da UA
Os mais pessimistas, todavia, defendem que o mundo ultrapassou já os seus limites e que a sustentabilidade ambiental já não será viável… Outros, mais inconformados, defendem uma “revolução da sustentabilidade” urgente e indispensável (Meadows et.al , “Além dos Limites”, 1993). Analisando o problema da água, a sua utilização e poluição crescentes parecem dar razão aos pessimistas… Como refere a WWF, no seu Relatório Planeta Vivo 2008, “o uso insustentável da água é um problema crescente no mundo e o declínio dos ecossistemas hídricos é mais acentuado que o declínio da biodiversidade marítima e terrestre”. Atualmente 884 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a uma água potável de qualidade. Uma criança morre a cada 15 segundos por falta de água potável. Em 29 de Julho de 2010, a Assembleia Geral da ONU entendeu reconhecer que o acesso a uma água de qualidade é também um Direito do Homem! Mas só depois de 15 anos de debates e com 41 abstenções… e talvez tarde demais. Na verdade, a água doce é um recurso limitado, pelo que, em resultado do crescimento exponencial da população no planeta e do atual modelo de crescimento económico, o seu consumo global aumenta de ano para ano de
forma muito significativa. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, cada habitante do nosso planeta dispunha de 9.000 m3 de água doce há cerca de 20 anos, 7.800 m3 há cerca de 10 anos e disporá apenas 5.100 m3 em 2025. Estes valores podem parecer, ainda assim, elevados, mas não podemos esquecer a sazonalidade, a irregularidade da distribuição nem os prováveis efeitos das alterações climáticas. Isto justifica que cerca de 40% da população do planeta viva atualmente em áreas com stress hídrico e que esta percentagem suba previsivelmente para 65% em 2025. Segundo a World Water Council, Portugal terá parte significativa do seu território nestas áreas… Em termos globais, a nossa utilização de água (10 km3) é ainda inferior à nossa disponibilidade (16 km3), mas, mais uma vez, a sazonalidade e a irregularidade da distribuição espacial deste recurso (para além das prováveis alterações climáticas) leva a que em algumas regiões do país se verifiquem situações crescentes de carência. Mais preocupante é a questão da poluição crescente associada às utilizações, que reduz de forma significativa a disponibilidade. Como referia Meadows et.al (op. cit.), “em termos globais, há um grande excesso de água mas, devido aos limites operacionais e à poluição, só será suportável na realidade uma duplicação da procura, coisa que ocorrerá entre vinte e trinta anos”. Todos nós nos apercebemos, por exemplo, de que os nossos sistemas de abastecimento de água são cada vez mais condicionados à disponibilidade e qualidade nas origens, o que nos conduz a sistemas públicos de dimensões cada vez maiores e com origens cada vez mais afastadas (e com custos mais elevados). Já se perdeu na memória o tempo das nascentes e das origens locais onde todos podiam beber e que até os poetas inspirava (Miguel Torga. “À água”. Odes, 1946): Água impoluta da nascente, és a pura poesia Que se dá de presente Às arestas da humana penedia... Pela graça infantil da vossa mão
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opinião
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A poluição mais perigosa não é talvez aquela de que nos apercebemos por via organolética. O uso crescente de pesticidas e biocidas na produção agrícola (em muitos casos químicos persistentes e tóxicos, de elevada perigosidade para o Homem) que, infelizmente, se tornou inevitável para aumentar a produção e assim poder alimentar os mais de sete mil milhões de habitantes do planeta, está a ter consequências extensas e preocupantes na qualidade da água, parecendo dar razão aos pessimistas em termos de sustentabilidade ambiental. Por exemplo, um estudo efetuado em pescado da nossa costa – sardinha, carapau e sarda (A. Campos, Saúde Pública 7, FMUC, 2005), revelou a existência de pesticidas organoclorados nessas espécies, tendo mesmo uma amostra de sardinha ultrapassado em 10 vezes o ADI (ingestão máxima admissível) de aldrina, um pesticida agrícola tóxico e cancerígeno! A água é, naturalmente, o veículo deste processo de contaminação. Mas as águas interiores também não escapam a esta problemática… Um outro estudo (L. Santos, op. cit.), sobre as práticas de truticultura no interior de Portugal, revelou a presença de antibióticos (cloranfenicol) nas águas rejeitadas, configurando um grave problema de saúde pública, por contribuir para o desenvolvimento da resistência bacteriana no Homem. A resolução do problema alimentar será compatível no futuro com a preservação da qualidade das águas? Será inevitável abdicar de uma destas necessidades? Com que consequências ou com que custos? Ou já ultrapassámos efetivamente os limites da sustentabilidade?... A relativamente recente Diretiva Quadro da Água (Diretiva 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outubro de 2000) denota uma óbvia preocupação face a esta realidade. Citem-se, a título de exemplo, alguns dos seus considerandos: “(27) O objetivo último da presente diretiva é conseguir a eliminação das substâncias poluentes prioritárias e contribuir para a consecução de valores próximos dos de fundo quanto às substâncias naturalmente presentes.”
“(24) A boa qualidade da água assegurará o abastecimento das populações com água potável.” “(1) A água não é um produto comercial como outro qualquer, mas um património que deve ser protegido, defendido e tratado como tal.” Infelizmente, a transposição para a nossa Lei da Água (Lei n.º 58/2005, de 29/12), prestou mais atenção ao princípio do valor económico da água… Em síntese: mais do que em qualquer outro recurso, a “revolução da sustentabilidade” torna-se necessária e urgente em relação à água. Para além, naturalmente, do controlo da poluição, o aumento da eficiência no uso da água torna-se hoje imperioso. Recorde-se que, em termos de ineficiências no uso da água, a estimativa em Portugal é superior a 3 x 109 m3/ano, correspondendo a cerca de 39% do valor global da procura de água no país. A maior parte destas ineficiências verificam-se na agricultura, mas, em termos de valor económico, o setor urbano representa uma parcela muito importante. A eficiência nas redes públicas (redução de fugas, etc.) e a eficiência hídrica nos edifícios têm uma importância crescente, que, infelizmente, escapa à maioria dos cidadãos. Vivemos a época da “eficiência energética nos edifícios”, mas temos rapidamente de passar para a “eficiência hídrica nos edifícios”, como aliás salientou recentemente Johannes Hahn, o Comissário Europeu da Política Regional. Infelizmente, não temos ideia da água que gastamos. Se perguntarem a um habitante de uma das nossas cidades qual o seu consumo de água, ele provavelmente indicará, com base na sua fatura de água, um valor inferior a 150 litros por dia. Na verdade, ele está muito errado. Estudos realizados em Inglaterra (“Hidden Waters”, Waterwise, 2007), mostram que o consumo efetivo dos ingleses corresponde à multiplicação deste valor por um fator próximo de 23, ou seja, deverá ser próximo de 3400 litros por dia. Mais de um milhão e duzentos mil litros por ano e por habitante! Este valor inclui, não só o
consumo doméstico direto da rede pública, mas toda a água “embebida” no seu consumo de bens: alimentação, roupas, automóvel… Em Portugal, que tem a 6ª maior pegada hídrica (volume total de água usado globalmente para produzir os bens e serviços que consumimos) do mundo, este valor é significativamente mais elevado. Cerca de 65% desta água, também designada como “virtual”, está na nossa alimentação. Um bife de 150 g “tem” cerca de 2400 litros de água virtual; uma bica, 140 litros; uma cerveja, 100 litros; um ovo, 135 litros; 200 g de batatas fritas, 185 litros: uma maçã, 70 litros. Enfim, poder-se-á concluir que um só almoço pode representar uma “pegada hídrica” de mais de 3 m3! No que se refere ao consumo de outros bens, sabemos que uma T-shirt precisa de 2,7 m3 de água para ser fabricada; umas jeans, 11 m3; um circuito impresso, 13 m3; um automóvel, 400 m3… Tal como no caso da “pegada energética” ou da “pegada de carbono”, os cidadãos precisam também de ter informação sobre a sua “pegada hídrica”, para que possam, também neste aspeto, refletir sobre os seus hábitos de consumo e sobre os seus possíveis contributos para minorar o problema. Como refere a Waterwise (op. cit.), “desperdiçamos imensa água todos os dias. Se cada um de nós fizer pequenas mudanças nos comportamentos e hábitos de consumo, então poderemos poupar diariamente milhões de litros de água”. No caso da Universidade de Aveiro, encontramos, entre os seus objetivos estratégicos, o desenvolvimento de um “Campus Exemplar”. Terá que ser, obviamente, um “Campus Sustentável” e deverá ser também exemplar no que se refere ao uso da água. O aproveitamento de escorrências que já hoje é feito para a rega do Campus mostra que as preocupações neste sentido já têm tradição na UA… Mas são vários os projetos em curso que procuram dar respostas para as questões de sustentabilidade, muitos deles envolvendo a água.
os dias da água
Para os novos edifícios do CICFANO e da TELEMÁTICA, por exemplo, que já se encontram em construção, está a ser estudada a possibilidade de aplicar sistemas de aproveitamento de água da chuva, seguindo o exemplo do Departamento de Engenharia Civil, onde já está instalado um pequeno aproveitamento de águas pluviais para o seu Laboratório de Hidráulica. Em edifícios futuros, haverá que interiorizar nos projetistas a necessidade de considerarem, logo no projeto, a aplicação de produtos eficientes, rotulados, pelo menos, com a letra A de eficiência hídrica. Após uma recente auditoria de eficiência hídrica efetuada ao edifício da Reitoria da UA, no âmbito de um projeto de eficiência hídrica em edifícios públicos na região da CIRA (Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro), apoiado pelo QREN, obteve-se uma economia potencial de 23,7 % no consumo de água. Estas auditorias foram conduzidas pela ANQIP (Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais), uma associação portuguesa não-governamental, dedicada às questões de qualidade e eficiência hídrica em edifícios, que engloba empresas, universidades, entidades gestoras e técnicos do sector. A ANQIP foi criada em 2007, tendo a Universidade de Aveiro como um dos incentivadores e fundadores, a qual tem mantido também uma presença constante na Direção da associação. Para além de ter desenvolvido em Portugal um sistema de certificação e rotulagem da eficiência hídrica de produtos, para apoio aos consumidores, a ANQIP tem promovido a elaboração e Especificações Técnicas, por exemplo, para o aproveitamento de águas pluviais e de águas cinzentas em edifícios. O reconhecimento internacional da associação é notável, com divulgação dos seus trabalhos e resultados em países como os EUA, a Austrália ou a Índia e a participação, como perito convidado, no grupo de peritos em eficiência hídrica da Comissão Europeia. Recentemente, a Grécia manifestou interesse em adotar medidas
semelhantes às implementadas em Portugal pela ANQIP e em criar uma associação análoga. Neste momento, mais seis edifícios do Campus estão a ser objeto de auditorias de eficiência hídrica, realizada por alunos da disciplina de Gestão Sustentável da Água com o suporte da ANQIP, intervenção que será alargada no futuro aos restantes edifícios do Campus. As medidas de eficiência aplicadas são relativamente simples (aplicação de redutores de caudal nas torneiras, regulação ou substituição de mecanismos de acionamento de autoclismos, etc.), com períodos de retorno do investimento de poucos meses. Não especificamente no domínio da eficiência hídrica, mas no âmbito do binómio água-energia, outras intervenções de sustentabilidade no Campus podem ser referidas. Em alguns dos novos edifícios, por exemplo, vai ser aplicada uma solução de estruturas termo-ativas, ou seja, uma rede de tubagens no interior dos elementos estruturais, que efecturá a transferência de calor entre o edifício e o terreno, através da circulação de água. Esta solução baseia-se no aproveitamento do gradiente geotérmico, que se traduz num aumento da temperatura de cerca de 1ºC por cada 33m de avanço em profundidade, que é independente da temperatura atmosférica. No CICFANO vai ser aplicada uma outra tecnologia análoga, que se batizou de hidrobiotermia. Trata-se, neste caso, do aproveitamento da energia térmica das águas residuais, aproveitando o facto de o Campus de Santiago ser atravessado por um emissário sob pressão da rede pública administrada pela ADRA (Águas da Região de Aveiro). Falando de Portugal, refere a WWF que “seriam necessários dois planetas para manter o padrão médio de consumo de cada português, dado que o país tem uma pegada ecológica média de 4,4 hectares e uma biocapacidade de apenas 1,2 hectares. Em relação especificamente à pegada hídrica, a situação é também preocupante, com um indicador de 2,26
milhões de litros por habitante e por ano…” “…A mudança de hábitos no consumo de água será fundamental para evitar o colapso deste recurso”. Os ingleses dizem que a água será, no futuro, “the blue gold”. Os franceses preferem chamar-lhe “huile blanche”. Seja como for, ao contrário do petróleo, para a água não haverá alternativas…
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percurso singular
Uma carreira a transbordar do papel
LINHAS
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Em março passado tornou-se presidente da Associação Europeia de Universidades (EUA). A cerimónia da tomada de posse da primeira mulher a assumir aquele cargo realizou-se na Universidade de Warwick, em Coventry, no Reino Unido, durante a Conferência Anual da EUA. Aplaudiram Helena Nazaré 900 representantes de universidades associadas, oriundos de 44 países europeus. Foi ‘tãosomente’ mais uma etapa da fulgurante viagem que Helena Nazaré tem feito da vida. Por isso, resumir o currículo da antiga reitora da Universidade de Aveiro é matéria ingrata. O papel nunca chega para retratar os grandes viajantes. Entre a licenciatura em Física pela Universidade de Lisboa, o doutoramento no King’s College, em Londres, e a chegada à UA para liderar o grupo de investigação em Espectroscopia de Semicondutores no Departamento de Física, onde foi diretora, Helena Nazaré cedo se envolveu nas questões do Ensino Superior. A antiga diretora da Escola Superior de Saúde da UA é membro da direção da EUA desde março de 2009, associação da qual foi vice-presidente até às respetivas eleições do ano passado. Foi presidente do Comité para a Investigação e Transferência de Conhecimento do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e membro do grupo de investigação da EUA. É desde 2004, membro do EUA – Institucional Evaluation Programme (IEP) tendo participado na avaliação de Universidades em Espanha, Turquia, Palestina, Eslovénia e Cazaquistão. Pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico conduziu também avaliações na Catalunha e na Lombardia e na European Association for Quality Assurance in Higher Education fez avaliações em universidades da Galiza e da Finlândia. Atualmente é também coordenadora da 3ª Comissão Especializada Permanente do Conselho Nacional de Educação, membro do Conselho de Administração da Portugal Telecom, presidente do Conselho Consultivo da Fundação Galp Energia e presidente da Sociedade Portuguesa de Física. O mandato de Helena Nazaré na presidência da EUA termina em meados de 2015. Será, certamente, o fim de mais uma etapa e o princípio de outra viagem.
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Helena Nazaré – a professora globetrotter
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Qual é a diferença entre a avó do Francisco e as avós dos amigos dele? A resposta é tão fácil quanto evidente para o pequeno de 10 anos: a mochila. Não fosse a avó chamar-se Helena Nazaré e dir-se-ia que a criança exagera quando na escola garante a pés juntos que tem uma avó que, tal como ele, anda “sempre, sempre” com a mochila às costas. Na inocência que a idade vai deixando para trás, o Francisco já começa a perceber que não são livros da escola que a avó carrega. Antes sim umas quantas mudas de roupa e o atarefado passaporte carimbado vezes sem conta.
Não se lhe pergunte em quantos países já esteve. Os dedos das mãos não chegam, mesmo quando multiplicados por três ou quatro. “É preferível perguntar-me aonde é que ainda não estive”. E onde foi? “Nos pólos”. Ri-se. O exagero da resposta é simbólico. Mas, de facto, Helena Nazaré já assentou pé nos cinco continentes e quase, quase que no pólo Norte. “Já estive na Islândia que é lá bem perto”. Atira para cima do mapa o dedo indicador, sem rumo, sem ordem alfabética, e coloca-o nos países onde já esteve: Costa do Marfim, Gabão, Etiópia, Japão, China, Vietname, Brasil, ex-colónias, Malawi, a Europa de fio a pavio, Austrália, Cazaquistão, Argentina, África do Sul e mais e mais e mais… Os quilómetros já há muito que os trata por tu. Calcorreou-os quase sempre em trabalho, fosse como estudante, como conferencista e investigadora na área da Física, como vice-reitora e reitora da Universidade de Aveiro ou como avaliadora internacional da Associação Europeia das Universidades (EUA). Neste momento, enquanto estas linhas estiverem a ser lidas, Helena Nazaré estará certamente nalgum ponto do globo, agora na condição de presidente da EUA. Viajar! Perder países! Tinha quatro anos quando tirou pela primeira vez os pés do chão. No batismo de voo atravessou África com a família. Moçambique, onde o pai, engenheiro, havia sido colocado em trabalho, recebeu-a ainda sem capacidade para reter memórias. Mas no passaporte do subconsciente ficava carimbada a vontade de muitas mais linhas do horizonte. Aos 15 anos carregou sozinha, pela primeira vez, a mochila. “A partir daí não parei mais”. Esperava-a a metrópole. Lisboa acolheu-a para continuar os estudos. Na Universidade de Lisboa licenciou-se em Física em 1972. Regressou depois a Moçambique para lecionar na Universidade Eduardo Mondlane. Em 1975, mais um carimbo no passaporte, desta vez com sotaque britânico. Doutorou-se no King’s College, em Londres. Entre idas e voltas para
visitar a família, carimbo atrás de carimbo, o folhear do pequeno livro inseparável dos viajantes começou a ganhar um ritmo intenso. Depois do doutoramento, em 1978, veio para a UA trabalhar no Departamento de Física. “Nesta área é muito natural que as pessoas se desloquem com frequência em trabalho”. E assim foi. As conferências internacionais não pararam de chamar por Helena Nazaré. Especialista em espectroscopia de semicondutores, representou pela Europa fora a investigação que na academia de Aveiro, nessa área, se começava a afirmar como referência europeia ainda a UA dava os primeiros passos. Ser outro constantemente As culturas, as paisagens, os fusos horários, os hotéis, a vida em mudança a cada saída do avião. Não, Helena Nazaré ainda não teve tempo para refletir sobre a velocidade das paisagens que viu e que vê passar diante os olhos e da forma como elas lhe tocam e a transformam tal como as mãos moldam o barro, serenamente ou de forma estrondosa como a imensa pobreza que viu em África, na China… Até lá brilham-lhe os olhos quando fala da Turquia, “um museu a céu aberto” onde tem vontade de regressar sempre. Aliás, turismo fora de Portugal só uma vez, precisamente para visitar Istambul, cidade onde já esteve dias sem conta, seja como representante da EUA, seja como professora convidada para falar em conferência sobre o Ensino Superior. De resto, as férias são passadas entre a ria de Aveiro e o Alentejo. Mas já lá iremos. Regressemos por agora aos países que, de uma forma ou de outra, tocaram Helena Nazaré. “Qualquer um dos países africanos”, garante. “Mas gostei muito de Cabo Verde. É uma terra maravilhosa e um dos meus países africanos preferidos”. Descreve o fascínio que lhe causou a cultura “daquele povo afável”. Fala com o mesmo carinho de São Tomé e Príncipe. Atravessa o Atlântico para sublinhar o clima e os cheiros do Brasil, um país que,
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percurso singular
“sem dúvida nenhuma”, traz no coração. A viajem da memória continua para oeste. Faz um desvio para sul e diz que de Melbourne e de Sydney, onde em tempos visitou as universidades locais, uma das vezes já como reitora da UA, não guarda grandes recordações. “Talvez as dozes horas de avião até Singapura e mais sete até à Austrália deixem qualquer mortal abananado”, justifica.
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Para norte, fascina-a o Japão “por causa da organização e da capacidade de reação e de trabalho daquele povo, que são notáveis”. Isto apesar de ter confirmado, logo na primeira vez que tocou no país do sol nascente, que “o semblante dos japoneses é fechado” e muito difícil de ser descodificado por um ocidental: “Quando os japoneses transmitem qualquer tipo de emoção é porque as coisas estão muito, muito graves. Ou então sou eu que não sou capaz de perceber o tipo de emoção que é transmitida quando se conversa com eles”. Na Ásia, recorda o Vietname. “Gostei muito. Talvez tenha sido o país asiático de que mais gostei. Cativou-me a abertura das pessoas. Apesar de não falarem a nossa língua, tentam comunicar connosco, talvez mais até que na China”. Por a alma não ter raízes O Francisco tem mesmo razão. A avó é inseparável da mochila. Nem pensar em malas para serem carregadas no porão dos aviões. Não pode arriscar-se a que as companhias aéreas lhe deixem para trás a mala quando faz transbordo. No aeroporto de Roma, por exemplo, é certo e certeiro que tal acontece. Por isso Helena Nazaré – e isto é um conselho que dá a todos os viajantes – voa sempre e apenas com a mochila que leva junto de si, na cabine de voo. Assim, nunca a perde de vista. E o espaço da malinha chega para o que tem de levar? “Até um limite de 15 dias, consigo levar tudo dentro da mala”, garante, ou não fosse Helena Nazaré uma “pessoa prática”. A mochila não está sempre pronta. Nem podia, pois uma camisola de gola alta para levar para a Noruega não teria
utilidade térmica na Etiópia. Mas na hora da pressa para apanhar o avião, “arrumo tudo e saio de casa em meia hora sem me esquecer de nada”. Faz uma pausa, pensa melhor e corrige a afirmação para “habitualmente não me esqueço de nada”. Medo de andar de avião? “Não tenho medo nenhum”. Custa-lhe passar o tempo quando vai lá em cima, nas nuvens? “Durmo se for hora de dormir, trabalho no meu computador se for hora de trabalhar. Calmamente. Acho que o trabalho, no avião, até me rende muito”. É uma viajante de fazer inveja. Nunca apanhou nenhum susto aéreo, dorme com muita facilidade em qualquer hotel e nunca ficou doente – uma conjuntivite em Londres bem resolvida com umas gotas compradas na farmácia não conta. “Sou muito resistente e rija. Nem as doenças tropicais me afetam pois os mosquitos não querem nada comigo”. Ri-se. Ri-se muito. É uma mulher que faz exatamente o que gosta. Esqueça-se também a sensação de insegurança que se imagine Helena Nazaré a ter em Abis Abeba, a caótica capital da Etiópia, no Rio de Janeiro, foco da grande criminalidade brasileira, ou na Costa do Marfim, onde a morte paira a cada esquina. A regra de ouro para que nada de inesperado aconteça – e isto é outro conselho que dá – é a de, “numa terra que não se conhece, não sair do hotel depois de anoitecer”. E, por falar em ouro, “andando por esse mundo fora percebe-se realmente que há pessoas que têm grandes necessidades financeiras e, portanto, não vale a pena andar com fios ao pescoço”. Curiosamente, ou não, foi roubada pela primeira e única vez na Europa. No metropolitano londrino, “por culpa própria”, pois levava aberta a viajada mochila, roubaram-lhe a carteira. “Por acaso tinha o bilhete de avião guardado noutro sítio e regressei a Portugal sem problemas”. Tem também a sorte que não estranhar as mil e uma gastronomias mundiais. Ou quase. O leite de camelo e de cavalo que lhe deram a provar no Cazaquistão “é uma coisa horrível”. Para fazer a simpatia
aos anfitriões teve de fazer “um esforço titânico para beber aquilo”. Na China, uma cabeça de galinha, “com bico, crista e tudo”, que lhe apareceu a boiar numa sopa tirou-lhe, literalmente, o apetite: “Deu-me uma náusea tão forte que tive de pegar num cigarro e vir para a janela, senão teria acontecido um desastre autêntico”. De viver de ver somente! E para onde viaja no verão quem viaja tanto ao longo do resto do ano? “As minhas férias são em Aveiro. Quem faz esta vida, quando chega a agosto, quer é paz e sossego”, responde cabalmente. É à ria, principalmente, que Helena Nazaré se refere apaixonadamente. Nem o Alentejo, terra dos avós e ao qual regressa durante uns dias todos os anos, tem estatuto de refúgio anual da viajante. “Não, o meu refúgio é a ria de Aveiro. Temos um barco já há muitos anos no qual passeio muito com a minha família”.
Um episódio para (não) esquecer Às voltas com histórias, quando o tema são as viagens, há uma que Helena Nazaré elege como a mais trágico-cómica de todas. E não, não aconteceu longe de casa. Foi mesmo na Universidade de Aveiro que a então vice-reitora recebeu um reitor de uma academia tchetchena. A visita tinha por mote uma conferência mas o visitante quis tudo menos conferenciar com Helena Nazaré. “Por ser mulher, o senhor não gostou nem percebeu que eu fosse a Vice-reitora”, lembra. O preconceito do reitor tchetcheno veio à tona logo nas apresentações. Azar dos azares, para o responsável tchetcheno e respetivo tradutor, também pouco avesso a traduções para mulheres, o então Reitor Júlio Pedrosa não pôde levar a jantar o seu homólogo. A quem coube a missão de fazer as honras da casa? Exatamente, a Helena Nazaré que, antevendo o incómodo do visitante, e o dela própria, fez-se acompanhar pelo marido à mesa de um conhecido restaurante de Aveiro. Resumindo: durante todo o jantar o reitor, sempre que se dirigi-a a Helena Nazaré, fazia-o de forma indireta. “O reitor falava, o tradutor perguntava as coisas ao meu marido, o meu marido perguntava-me a mim e eu respondia”, recorda entre risos.
Helena Nazaré – a professora globetrotter
A melhor Universidade do mundo
Xiamen
Foi ao serviço da Associação Europeia de Universidades (EUA) que Helena Nazaré mais viajou. Enquanto responsável pelo Programa de Avaliação Institucional daquela associação, a antiga reitora da Universidade de Aveiro visitou dezenas de universidades europeias para, localmente e com cada uma delas, trabalhar em prol de uma cultura de qualidade e de gestão estratégica no Ensino Superior. A sua experiência na EUA valeu-lhe também as portas abertas de múltiplas universidades por todo o mundo. À custa da intransigência que cultiva pela melhoria do Ensino Superior conferenciou nas reitorias dos cinco cantos do mundo.
· China
Que melhor pessoa poderá responder então à pergunta utópica: Se as universidades fossem feitas de legos, que melhores peças de cada uma delas aproveitaria Helena Nazaré para construir a universidade ideal? A resposta chega depois de algum silêncio. “As universidades dependem muito do contexto cultural em que estão inseridas. E uma coisa que funciona aqui em Aveiro poderá não funcionar em França ou em Itália. É preciso haver atenção a estes pormenores”, diz. Depois, acaba por desvendar: “Queria a flexibilidade de gestão que existe na Holanda e talvez juntasse a ela o ensino em inglês que se pratica na Noruega”. Às duas peças juntava-lhe a da “atenção à cultura que há em Itália”. Mas, cuidado, “se eu tirar estas coisas do contexto elas deixariam de fazer sentido”.
O Francisco sabe do que fala a avó. Aos quatro meses de idade já navegava com os avós para a ria. O neto do meio, o João que tem dois anos, já foi iniciado nos prazeres da laguna. E a Sofia, a mais pequena ainda de meses, que se prepare. “Com o avô pescam e comigo nadam em plena ria à frente de São Jacinto. É uma maravilha”. Suspira.
Assim, arrisque-se uma questão mais terrena: Qual foi a Universidade que gostou mais de conhecer? Nesta, Helena Nazaré não tem dúvidas e responde célere: “Gostei da Universidade da Rovira i Virgili, porque é de Tarragona, cidade espanhola que adoro por causa do clima, das pessoas, da comida e do ambiente cultural. E porque foi das primeiras Universidades onde participei num projeto de avaliação”.
É mesmo dos netos que, naturalmente, mais saudades tem quando está longe. “Principalmente quando são muito pequenos porque evoluem muito depressa”. Mas Helena Nazaré habitou-se a vê-los um palmo ou dois com mais altura de cada vez que lhes bate à porta nos regressos. E eles, na doce inocência de terem uma superavó que está constantemente a voar, já sabem que na mochila há sempre uma ou outra lembrança de lugares distantes.
A Rovira i Virgili tem também muito da Universidade Aveiro, por isso a escolha de Helena Nazaré não é inocente. “A Universidade tem uma implantação no terreno muito parecida com a de Aveiro, é muito virada para a região. Tal como nós, desenvolveu-se à custa de um planeamento cuidadoso”, refere.
Talvez a maior das recordações que o Francisco, o João e a Sofia podem um dia tirar da mochila de Helena Nazaré seja compreenderem que, pelas andanças entre os povos, a avó ganhou a feroz convicção de que “o Homem é basicamente bom e procura relacionar-se de uma forma agradável e construtiva com o seu semelhante”.
UA com o coração e a razão E a Universidade de Aveiro é muito diferente das que tem visitado? Tocou-se-lhe no coração: a UA. “De um modo geral a nossa universidade ombreia com a grande maioria das universidades mundiais. Há coisas que fazemos aqui que têm nível mundial”. O que acaba de afirmar tem garantia da razão: “Não estou a dizer isto cega pelo orgulho. Estou a dizer isto com a convicção do conhecimento”. Sim, diz Helena Nazaré, “há áreas da nossa universidade que são de topo, que foram construídas com sangue suor e lágrimas e que hoje se podem ver”. Claro que a UA “não se pode comparar ao Massachusetts Institute of Technology, muito embora, proporcionalmente, nós tenhamos a mesma dimensão”. Só que... “temos um décimo do orçamento deles”. A receita é pois o antigo e sempre atual financiamento: “Há coisas que dependem também do dinheiro e é escusado taparmos o sol com uma peneira. Se quisermos estar uns lugares à frente, tem de haver dinheiro para isso”.
Ansiedade de partir cada vez que chega? Não teve ainda tempo de o saber. “Talvez um dia, quando me reformar, sinta essa ânsia”. Por agora, olha para o relógio. O tempo é o de sair outra vez a voar.
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Miguel Casal em apenas oito anos passou de estagiário a sócio gerente. Em 1992, concluiu o curso de Engenharia de Cerâmica e do Vidro na Universidade de Aveiro e salienta que os conhecimentos adquiridos foram “bastante importantes” para a sua formação pessoal e profissional. Na altura, não percebia a pertinência de algumas disciplinas difíceis como a matemática ou a física”. Atualmente, constata que todo o esforço exigido permitiu-o “evoluir tanto na capacidade de raciocínio como de organização do mesmo”.
Miguel Casal
a importância de inovar
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O trajeto de Miguel Casal na UA preparou o empresário para “um mundo novo, um mundo a sério.” Terminado o curso, inicia a sua vida profissional como estagiário na Aquatis SA, passando a adjunto do diretor de produção. Já noutra empresa, a Vitricer, assume, de 1996 a 1997, a função de técnico-comercial. Passa ainda pela direção de produção e direção geral da Icer, empresa do Grupo Mota e Cª em Angola. É, no ano de 1999, que decide entrar na sociedade da Grestel adquirindo 50% do capital. Logo, na fase inicial, traça um objetivo para a empresa que fabricava utensílios de cozinha em grés: “O desenvolvimento e produção de artigos com valor acrescentado”. Nesta época, colaboravam cerca de 30 trabalhadores. Este número aumentou, demonstrando a expansão e o crescimento da mesma. Hoje, a realidade é bem distinta. “Trabalhamos em nichos de mercado, num segmento médio/alto, exportamos 98% dos nossos produtos para mais de 30 países e empregamos 240 funcionários nas duas unidades fabris de Vagos e já produzimos uma gama completa de louças e utensílios de cozinha. Este ano, esperamos faturar 9 milhões de euros”. Procurando sempre inovar, presentemente, existe um departamento de design com capacidade para a criação dos seus produtos. “Estamos a investir na criação e desenvolvimento de marcas próprias com vista a uma maior criação de valor.” As marcas exclusivas da empresa, além da Grestel,
são a Costa Nova e Arenito que já se encontram registadas em 50 países. O sucesso de Miguel Casal em muito se deve ao seu espírito empreendedor. Sendo o empreendedorismo um agente fomentador na criação de valor para o individuo e para a sociedade, elemento que estimula a inovação e o crescimento económico e que gera autoemprego, o antigo aluno ressalva “o valor da experiência profissional antes de começar um processo de criação do próprio emprego”. Neste âmbito, no incremento de projetos empreendedores, diz ainda que “as universidades devem contribuir para a aproximação dos seus alunos às empresas e estar muito atentas aos desenvolvimentos do conhecimento nos diferentes setores à escala global, pois a concorrência é universal e todos os dias se materializam novas ideias.” Outro conselho a ter em conta, é a passagem obrigatória dos estudantes, docentes e empresários pela feiras internacionais, como momentos de contacto direto com as realidades, as tendências e a evolução dos mercados. Tendo enveredado pelo curso de Engenharia Cerâmica e do Vidro pelo facto de existir uma forte presença da indústria cerâmica na região, este antigo aluno da UA é agora um dos agentes dinamizadores dessa indústria, da sua modernização e capacitação, promovendo igualmente o emprego.
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helga esperança LINHAS
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Tem 33 anos e conquistou o prémio “The Young Achiver of the Year”, atribuído anualmente pela Associação Women in Business. “Este prémio traz-me a motivação necessária para continuar empenhada em partilhar experiências com a comunidade, apoiar todos aqueles que valorizam o diálogo e as preocupações atuais, com um toque crítico e de sabedoria”. É desta forma humana que Helga Esperança, antiga aluna do curso de Engenharia e Gestão Industrial da Universidade de Aveiro, comenta a distinção.
Helga Esperança
young achiver of the year
O galardão “The Young Achiver of the Year”visa distinguir o trabalho e a carreira das mulheres em diferentes áreas, reconhecer as mais variadas formas de empreendedorismo e valorizar o balanço entre a vida familiar e a profissional. Estas distinções têm o apoio da Associação Asiática de Mulheres de Negócios (EPWS) e são patrocinados pela Ernest Young, pelo Wall Steet Journal e pelo Stant on Chase e Abbott. Quando terminou o liceu, ainda não tinha definido a profissão que gostaria de exercer. Mas paixões por várias áreas sempre a acompanharam. A arte e o design aliados ao fascínio pelo mundo da tecnologia e da inovação na gestão foram perentórios no curso a seguir. “O facto de UA ter à disposição estas vertentes e o curso de Engenharia e Gestão Industrial fez com que a minha decisão final fosse mais fácil”, revela a antiga aluna. Na UA, “uma universidade de vanguarda e aberta às novas tendências”, Helga Esperança tomou uma decisão, em apenas 24 horas, que mudou por completo o caminho da sua vida académica e profissional. Por incentivo do Prof. Arménio Rego, na altura coordenador dos programas de mobilidade internacional no Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da UA, integrou o programa Erasmus e rumou para Itália. Ali “enriqueci e alarguei os conhecimentos e perspetivas já oferecidas pela UA.” Por Itália ficou e aceitou o desafio de trabalhar no Departamento de Compras da Airbus para a secção central do
maior avião comercial de passageiros, o A380. Aqui encontrou estímulos e saltou barreiras na negociação e coordenação com os fornecedores para a produção do gigante nas diversas fábricas na Alemanha e em França. Colaborou ainda na Stola, no Departamento de Qualidade, uma empresa que desenvolve protótipos para muitas marcas automóveis conceituadas. Até que, em 2004, inicia uma nova etapa da sua carreira. Começou a trabalhar na Case New Holland (CNH), uma empresa global que pertence ao grupo Fiat e é líder mundial em equipamento agrícola e de construção. Primeiramente, assumiu a função de Industrial Controller e, passado apenas um ano, tinha o papel de gestora de planeamento com responsabilidade para nas atividades de benchmarking para tratores, coordenação do plano negócios e desenvolvimento de introdução de novos produtos. A Alemanha foi o destino seguinte. Nas mãos levava a responsabilidade de integrar a equipa de marketing. “Fiz o lançamento de um novo trator no mercado europeu e implementei um novo sistema de incentivos para os distribuidores da marca no mercado alemão, fazendo com que a CNH poupasse 5% em incentivos, no ano de 2006, e mantivesse os distribuidores mais atentos e reativos às mudanças de estratégia da empresa”, recorda. Numa altura em que muitos objetivos tinham sido alcançados, aceita mais um desafio e muda-se para a China como Gestora de Projetos e Produto da CNH, cargo que mantém até hoje. Um
projeto aliciante num país que parece “abranger vários países”. Vive na cidade de Xangai que caracteriza como excitante e que nunca dorme, verdadeiramente multicultural, na qual a tradição é vista lado a lado com o desenvolvimento galopante. Quanto às pessoas, evidencia “a simpatia e a curiosidade”, bem como “a ambição de crescer e desenvolver que fazem com que coisas fantásticas aconteçam de imediato. Aqui, o imprevisível aliado a momentos de extrema excitação e frustração são uma constante, por isso, há que ter sempre em mente que o equilíbrio se encontrará algures e que basta que o balanço final seja positivo. E assim tem sido. Um contínuo aprender e aceitar a diversidade”. Apoiada no percurso que conquistou em tão poucos anos, alerta os jovens licenciados que “é fulcral serem flexíveis, aceitarem os desafios e adaptarem-se, não deixarem de sonhar, olhando sempre para o lado positivo das situações quotidianas, para assim poderem tirar o melhor partido delas”. Helga Esperança fala da emigração como uma opção positiva a adotar pelos recém-licenciados no panorama da conjuntura económica nacional. “É essencial o desenvolvimento de mentes empreendedoras que possam, mais tarde, tornar-se empreendedores de sucesso em território nacional”. Na sua opinião um licenciado em Engenharia e Gestão Industrial está apto a “integrar uma empresa, tanto industrial como de serviços; a perceber as necessidades e ter uma visão dinâmica e global dos processos e dependências entre os departamentos numa empresa” e deverá ter o dinamismo para “aprofundar o seu conhecimento e especializações de acordo com as necessidades organizacionais e estratégicas, quer da empresa, quer pessoais”. No seu caso já avançou para um Executive MBA pelas Norwegian Business School-Handelshøyskolen, Oslo, e Management School of Fudan University, Xangai. Pela vontade que expressa, não vai parar de procurar novos conhecimentos e experiências em qualquer parte do mundo.
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conceição neves LINHAS
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Ser médica, profissão que sempre lhe suscitou muita curiosidade, fez parte dos seus sonhos enquanto criança, mas foram as experiências e o fascínio pelo mundo dos “tubos de ensaio” que a motivaram a estudar Química, na Universidade de Aveiro. Com 40 anos, Conceição Neves é Diretora da Fábrica do Porto da Nestlé, que se dedica à produção de cafés torrados muito conhecidos pelo portugueses e além-fronteiras.
Conceição Neves
da engenharia química à direção de uma multinacional 17
Desde 2011, o dia a dia de Conceição Neves na direção da Fábrica da Nestlé, no Porto, é muito diversificado. “Asseguro a produção com a qualidade que é reconhecida aos produtos da marca, com toda a segurança e respeito pelo meio ambiente. Faço ainda a gestão de prioridades e de problemas, comunicação com os colaboradores e a gestão de expectativas”, refere. As suas tarefas não acabam por aqui pois, também, tem a responsabilidade de coordenação dos departamentos entre a unidade de negócios e a sede (Recursos Humanos, Comercial, Marketing). No entanto, o seu percurso profissional não começou aqui. Depois de terminar o curso, em 1997, começou por lecionar a disciplina de físico-química, no ensino secundário, até que surgiu a proposta irrecusável: a oportunidade estagiar na Nestlé – Longa Vida. Ingressar no ramo industrial sempre foi um objetivo e iniciou o seu percurso nesta empresa na área de controlo de qualidade. A partir daqui foram muitos outros os papéis desempenhados. “Após a experiência em qualidade, seguiu-se a área da produção de cafés torrados no Porto, a direção de fábrica na Nestlé Waters e a gestão do sistema integrado de gestão na fábrica de Avanca”, recorda. Para além da azáfama do dia a dia, Conceição Neves, apesar do pouco tempo livre que lhe resta, adora cinema, literatura, os momentos vividos entre amigos e as atividades realizadas em família. Mas, às vezes, como os dias, as horas e os minutos passam a correr,
gosta, pura e simplesmente, de “não fazer nada”. Reportando-se à época em que frequentou o curso de Química (ramo Analítica), a antiga aluna afirma que “a exigência pedagógica do corpo docente e a especificidade do curso foram as armas ideais para enfrentar a realidade do mundo do trabalho, aliada a uma grande força de vontade na procura da melhoria e de aumentar as suas competências. Passados quinze anos do término do curso, recorda todas as amizades que, até hoje, mantém. “Naquela altura, o ambiente que existia e que se vivia na UA era quase familiar e de grande empatia e entreajuda”, diz. Atualmente, reconhece que, com o desemprego a atingir picos máximos, a integração no mercado de trabalho para os jovens licenciados é mais difícil. Contudo, acredita que nada é impossível: “devem continuar a lutar com perseverança, não desistirem ao primeiro obstáculo que apareça e devem cultivar a sua curiosidade e confiança. Acima de tudo, mostrar que se “veste a camisola” e que se está preparado para tudo.” Mediante o panorama económico, Conceição Neves acredita que ser empreendedor é da maior importância nos tempos de incerteza que o país atravessa e fala da necessidade e urgência das universidades colaborarem não só na transmissão de conhecimento, mas também, na investigação e desenvolvimento de novas ideias e produtos destinados aos diversos
setores da economia. “A falta de emprego pode e deve ser combatida por ideias inovadoras, bem como iniciativas que promovam a criação do próprio emprego. O ato de empreender deve, por isso, ser acarinhado e promovido. As Universidades podem atuar como incubadoras de ideias, promotoras do associativismo e do aparecimento de novas empresas a constituir pelos seus alunos”.
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Helena Nazaré tomou posse como presidente da Associação Europeia de Universidades A Prof. Helena Nazaré, reitora da Universidade de Aveiro (UA) entre 2002 e 2010, tomou posse como presidente da Associação Europeia de Universidades (EUA) no dia 23 de março. A cerimónia da tomada de posse da primeira mulher a assumir aquele cargo realizou-se na Universidade de Warwick, em Coventry, no Reino Unido, no segundo e último dia da Conferência Anual da EUA. O encontro reuniu representantes das 900 universidades associadas, oriundas de 44 países europeus.
Manuel Coimbra é editor associado da revista Carbohydrate Polymers O Prof. Manuel Coimbra, diretor da Licenciatura em Bioquímica do Departamento de Química da Universidade de Aveiro (UA), desde dezembro, é o novo editor associado da revista Carbohydrate Polymers. Esta publicação da editora Elsevier é uma referência mundial na área da química aplicada, nomeadamente no que diz respeito aos estudos sobre polissacarídeos. “Já fazia parte do quadro editorial da revista desde 1999. Este é um passo muito maior porque agora faço parte da decisão de aceitar ou não os artigos e, por isso, escolher quais devem figurar na revista”, refere o Prof. Manuel Coimbra salientando a satisfação que sente por a Elsevier o ter convidado a assumir a função de editor associado. Segundo o Journal Citation Reports, índice que vai ser usado pela UA para a avaliação do desempenho dos seus docentes, a Carbohydrate Polymers está classificada como a 3ª de maior fator de impacto na classificação de Química Aplicada, tendo esta categoria 70 revistas indexadas.
Dois docentes da UA no Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia Os professores da Universidade de Aveiro, André Azevedo Alves e João Rocha tomaram posse, em Fevereiro, como membros do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, órgão consultivo do Governo para a área científica e tecnológica. Os novos conselheiros têm como missão orientar o Governo em matérias transversais de ciência e tecnologia, numa perspetiva de definição de políticas e estratégias nacionais, de médio e longo prazo, sempre que para tal solicitado.
Rui Jordão dos Reis: “ O galardão projetou o meu nome para o futuro” Pelo seu estágio realizado na empresa Automação Industrial, Lda (ATENA ) para a admissão como membro da Ordem dos Engenheiros, de forma a poder usar o título de Engenheiro, Rui Jordão dos Reis, antigo aluno da Universidade de Aveiro, foi distinguido pelo Colégio de Engenharia Mecânica da Ordem dos Engenheiros com o prémio de melhor estágio a nível nacional. Este também já sido galardoado como o melhor estágio de Região Centro da OE.
Robôs da UA brilham no RoboCup Dutch Open 2012 A equipa de futebol robótico FC Portugal, projeto conjunto da Universidade de Aveiro do Porto e do Minho, e a equipa CAMBADA do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática e do Instituto de Engenharia Eletrónica e Telemática de Aveiro da Universidade de Aveiro subiram ao primeiro e terceiro lugar do pódio do campeonato Europeu de Futebol Robótico (RoboCup Dutch Open 2012), respetivamente. O evento decorreu no mês de Abril, na cidade de Eindhoven, Holanda. Muitos outros projetos de investigação da UA obtiveram excelentes resultados.
Ruben Bettencourt premiado no “III Omis Guitar Festival” Ruben Bettencourt, doutorando pela Universidade de Aveiro, obteve, no mês de abril, o 3º Prémio em ex-aequo no “III Omis Guitar Festival”, na Croácia.
Carla Lopes ganhou prémio internacional sobre ciliopatia Carla Lopes, investigadora da UA, ganhou o prémio internacional do Journal of Cell Science 2011 pelo trabalho intitulado “Centriolar satellites are assembly points for proteins implicated in human ciliopathies, including oral-facial-digital syndrome 1”. O estudo desenvolvido pela investigadora ao longo dos quatro anos do seu
doutoramento no grupo de Andrew Fry na Universidade de Leicester, Reino Unido.
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Aluno de Design distinguido na Índia Pedro Monteiro, aluno do Departamento de Comunicação e Arte da UA, foi distinguido no concurso internacional “Typography Day 2012”, organizado pelo Centro de Design Industrial da Índia, que consistia na realização de um cartaz que expressasse uma palavra favorita através da tipografia. O premiado foi um dos 33 selecionados entre cerca de 600 candidaturas.
Dissertação de Doutoramento de aluna da UA destaca-se na PROPOR 2012 Chama-se Liliana Ferreira, é estudante da Universidade de Aveiro e recebeu o prémio para a melhor dissertação de Doutoramento dedicada ao processamento da língua Portuguesa atribuído na 10ª Conferência Internacional em Processamento Computacional da Língua Portuguesa (PROPOR 2012).
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Investigação do Departamento de Química distinguida no Salão Internacional de Agro-Negócios O projeto WineSulFree de “Produção de vinho sem sulfuroso utilizando uma película de quitosana”, desenvolvido por investigadores do Departamento de Química da Universidade de Aveiro, venceu o prémio Investigação do AGROFOOD iTECH. Esta iniciativa, enquadrada no Salão Internacional de Agro-Negócios, o maior evento nacional a nível de negócios e contactos nos setores agrícola, agroindustrial e florestal, que decorreu em Santarém nos dias 28 e 29 de março, pretendeu selecionar, divulgar e premiar projetos tecnológicos inovadores com potencial de comercialização. A investigação premiada da UA, selecionada entre as 80 que se apresentaram a concurso oriundas de instituições nacionais de Ensino Superior, desenvolveu uma forma de produzir vinho branco sem recurso à adição de anidrido sulfuroso. A inovação da equipa, liderada pelos investigadores Manuel Coimbra e Cláudia Nunes, consiste na adição, durante a produção do vinho, de uma película constituída por um polissacarídeo chamado quitosana que é extraído, por exemplo, das cascas dos caranguejos e dos camarões ou de fungos, e que substitui o sulfuroso.
José Manuel Moreira eleito secretário da Mesa da Assembleia Geral da APCP O Prof. José Manuel Moreira, Professor Catedrático de Ciências Sociais e Políticas na Universidade de Aveiro, foi eleito Secretário da Mesa da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Ciência Política (APCP). A eleição do coordenador da Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas da UA ocorreu em março durante o VI Congresso da APCP.
Simulador de consumos energéticos e de qualidade do ar vence Prémio Galp 20-20-20 Um simulador dinâmico de Consumo Energético e de Qualidade do Ar Interior (QAI) em edifícios venceu o Prémio Galp 20-20-20 na Universidade de Aveiro. O autor, Marco Passarelli, fez o curso de formação avançada em Eficiência Energética e Energias Renováveis e o mestrado em Sistemas Energéticos Sustentáveis na UA. Em segundo lugar, ficou a medição e verificação dos consumos de gasóleo (metodologia do IPMVP), da autoria de Emiliana Fonseca e, em terceiro lugar, medidas de otimização energética apoiadas por simulação computacional de fluidos e transferência de calor (CFD), na Indasa, de Milton Grácio.
Alunos do DeCA distinguidos no IX Concurso Ibérico de Piano do Alto Minho Três alunos da licenciatura em Música da Universidade de Aveiro foram laureados, no IX Concurso Ibérico de Piano do Alto Minho, organizado anualmente pela Academia de Música Fernandes Fão. Luís Costa arrecadou o primeiro prémio, o de melhor interpretação e o monetário. Ema Garrochinho e António Dias foram distinguidos com uma menção honrosa. Os estudantes do Departamento de Comunicação e Arte destacaram-se num grupo de 30 participantes tendo impressionado o júri composto por representantes de Espanha, França, Itália e Portugal.
Formou-se na UA e venceu prémio APCADEC/Universidades Ivo Matos, antigo aluno do Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro, foi distinguido pela Associação Portuguesa de Compras e Aprovisionamento, na área Gestão de Stocks, pela sua tese de mestrado “Procurement para peças de substituição em fim de vida: Caso de Estudo”. Este projeto surgiu no âmbito do estágio curricular desenvolvido, no Departamento de Logística da Bosch Termotecnologia, em Cacia.
Departamento de Engenharia Mecânica assume papel de destaque em associação científica internacional Os professores Robertt Valente, Ricardo Sousa e António AndradeCampos, docentes do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro e membros do grupo de investigação GRIDS, do Centro de Tecnologia Mecânica e Automação foram eleitos membros dos comités da European Scientific Association for Material Forming (ESAFORM). Robertt Valente foi eleito membro do Board of Directors da ESAFORM, tornando-se o mais jovem membro da direção desta associação. Ao especialista da UA em simulação numérica e desenvolvimento de software de análise de comportamento de materiais, juntam-se ainda Ricardo Sousa e António Andrade-Campos, que passam a integrar a comissão científica do mesmo órgão. Docentes da UA na nova equipa do Centro Hospitalar do Baixo Vouga O Centro Hospitalar do Baixo Vouga, que compreende os hospitais de Aveiro, Estarreja e Águeda conta na sua nova direção com dois professores da Universidade de Aveiro. A equipa iniciou funções a 25 de fevereiro. José Abrantes Afonso foi nomeado pelos ministros da Saúde e das Finanças como Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Baixo Vouga. O docente José Abrantes Afonso exerce funções na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda desde setembro de 2009, lecionando a disciplina “Aspetos Legais em Saúde” do Ramo de Secretariado Clínico da Licenciatura em Técnico Superior de Secretariado. Também o enfermeiro-diretor Carlos Cardoso Simões é docente da UA, neste caso da Escola Superior de Saúde.
Inês Meireles premiada pela Associação Portuguesa de Recursos Hídricos Inês Meireles, Professora Auxiliar do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, foi distinguida com o Prémio APRH 2010/2011 – Secção de Engenharias, em ex aequo com uma investigadora do LNEC. A distinção foi atribuída pela Associação Portuguesa de Recursos Hídricos (APRH) à tese de doutoramento intitulada “Hidráulica dos descarregadores em degraus: estudo experimental-numéricoteórico”, desenvolvida sob a orientação dos professores Jorge Matos, do Instituto Superior Técnico, e Armando Silva Afonso, do DECivil. No seu trabalho de investigação a docente da UA combinou, pela primeira vez, três técnicas para aprofundar o estudo do escoamento em descarregadores de cheias em degraus: a experimental, a numérica e a analítica. Esta abordagem permitiu validar a simulação numérica do escoamento neste tipo de estruturas, técnica que tem conquistado cada vez mais recetividade na área da engenharia hidráulica.
Novo diretor da Turismo de Coimbra foi aluno da UA O antigo aluno Miguel Pinheiro, licenciado em Gestão e Planeamento em Turismo pela Universidade de Aveiro, é desde o dia 1 de fevereiro o novo diretor executivo da Turismo de Coimbra, empresa municipal responsável pela coordenação das atividades turísticas do município conimbricense. A escolha, através de concurso público, da entidade turística de Coimbra recaiu em Miguel Pinheiro, natural de Coimbra, com 31 anos e antigo aluno da Universidade de Aveiro, licenciado em Gestão e Planeamento em Turismo. O novo diretor executivo da Turismo de Coimbra referiu que pretende aumentar o reconhecimento turístico da cidade e criar condições para atrair mais visitantes, tarefas que terá em mãos no seguimento da escolha para diretor executivo.
Projeto da UA é considerado exemplo de boas práticas na Europa As Competições Nacionais de Ciência, um projeto do PmatE da Universidade de Aveiro, que todos os anos mobilizam cerca de 20 mil alunos dos vários graus de ensino, foram apontadas como exemplo de boas práticas de Inovação em Ensino/Aprendizagem na Europa. Apenas dois projetos portugueses mereceram a distinção deste organismo europeu. No relatório anual de 2011, recentemente publicado pela STENCIL – Science Teaching European Network for Creativity and Innovation in Learning –, as Competições Nacionais de Ciência surgem em destaque na rubrica Novas Abordagens Pedagógicas – Inovação em Ensino/Aprendizagem enquanto “projeto de vanguarda”.
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Composição de docente do DeCA nomeada para “Prémio Autores” A obra “Nise Lacrimosa” para orquestra, uma composição do docente do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, Prof. Luís Carvalho, foi nomeada para o “Prémio Autores”, promovido pela Sociedade Portuguesa de Autores, na categoria de “Melhor trabalho em música erudita”.
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Método de geração de diagramas de olho em modo assíncrono foi o vencedor da UA O trabalho vencedor da sessão final do CEBT Ibérico 2011 – Competências Empreendedoras de Base Tecnológica, realizada a 22 de fevereiro, foi o “Método de geração de diagramas de olho em modo assíncrono”, desenvolvido por uma equipa do Instituto de Telecomunicações – polo de Aveiro. Dos 23 trabalhos apresentados na cerimónia de encerramento do CEBT Ibérico 2011, 10 são da autoria de participantes da Universidade de Aveiro. A tecnologia premiada consiste na conceção e processamento de imagens, em duas dimensões, do sinal de telecomunicações, permitindo uma correta avaliação quantitativa e qualitativa, em quase tudo semelhante a um diagrama de olho. A invenção visa desenhar um meio de diagnóstico do estado do sinal sem recorrer a técnicas dispendiosas. As vantagens deste processo, relativamente a soluções existentes, são assim o potencial baixo custo e a simplicidade de implementação, uma vez que não requer um complicado mecanismo de processamento de sinal. Entre as várias aplicações possíveis estão a monitorização de redes de telecomunicações, com vista a testar a qualidade de serviço fornecida ao cliente de internet, TV ou outro meio de comunicação digital.
Domingos Cardoso eleito presidente da Associação Portuguesa de Investigação Operacional Em janeiro, o Prof. Domingos Moreira Cardoso, do Departamento de Matemática da Universidade de Aveiro, foi eleito, para o próximo biénio, presidente da Associação Portuguesa de Investigação Operacional (APDIO). A APDIO é uma associação científica, sem fins lucrativos, de âmbito nacional, fundada em 1978, que visa contribuir para o desenvolvimento da comunidade científica e profissional da Investigação Operacional. Esta associação é membro nacional da Federação Internacional das Sociedades de Investigação Operacional e da Associação das Sociedades de Investigação Operacional Europeias. Os seus associados têm uma forte implantação no conjunto das universidades portuguesas e nos centros de decisão de grandes empresas, contando com uma predominância de matemáticos, engenheiros, gestores e economistas.
Análise inovadora de alimentos contaminados por ácaros dá prémio a investigador do DQ Ângelo Salvador, aluno de doutoramento no Departamento de Química da Universidade de Aveiro, ganhou a 2ª edição do prémio atribuído ao melhor trabalho em Solid Phase Microextraction no ano 2011 no 7º Congresso Nacional de Cromatografia, organizado pela Sociedade Portuguesa de Química, que decorreu em janeiro na Universidade do Porto. O trabalho intitula-se “Can Volatile Organic Metabolites Be Used to Simultaneously Assess Microbial and Mite Contamination Level of Cereal Grains and Coffee Beans?” e resulta da colaboração entre uma equipa do DQ, coordenada pela Prof. Sílvia Rocha, e uma equipa do Departamento de Biologia, coordenada pela Prof. Adelaide Almeida. A investigação premiada reporta o desenvolvimento de uma nova abordagem baseada na aplicação de SPME (microextracção em fase sólida) combinada com GC × GC – ToFMS (cromatografia abrangente bidimensional) para a avaliação do grau de contaminação por ácaros em cereais e grãos de café.
Composição de aluno da UA distinguida em concurso O jovem compositor português Nuno Figueiredo, aluno de Música no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, foi o único participante distinguido no I Concurso de Composição Caravelas, decorrido em Lisboa. O autor conquistou uma Menção Honrosa com a obra “Zoey: Duas Imagens Poéticas”. A composição, para sexteto e soprano, integra texto de Fernando Pessoa e foi interpretada publicamente a 11 de fevereiro, no âmbito do último concerto do Congresso “A Língua Portuguesa em Música”, iniciativa da Escola Superior de Música de Lisboa, uma das entidades promotoras do concurso. Depois deste concerto, a peça “Zoey: Duas Imagens Poéticas” foi comercialmente publicada pela editora AVA – Musical Editions. Primeiro título de Especialista em Engenharia na UA atribuído a docente da ESTGA André Fernando Ribeiro de Sá, docente da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda da Universidade de Aveiro, defendeu a 11 de janeiro as provas públicas para a atribuição do título de Especialista na UA, na área de Engenharia Eletrotécnica. As provas do primeiro Especialista em Engenharia, e o segundo de todas as áreas na UA, integraram duas sessões dedicadas à apreciação curricular e à apresentação e discussão pública de um trabalho de âmbito profissional com o tema “Guia de aplicações de gestão de energia e eficiência energética”.
Magna Tuna Cartola arrecadou o prémio de Melhor Tuna Levou na voz dois novos temas “Mostrengo” e a serenata “Dez Canções de Amor”, subiu ao palco do emblemático Theatro Circo e encantou o público bracarense. A Magna Tuna Cartola (MTC) da Universidade de Aveiro participou no XVIII Certame Lusitano de Tunas Académicas (CELTA), considerado o melhor festival de tunas do país, e trouxe para casa, pelo segundo ano consecutivo, o prémio de Melhor Tuna. Antigo aluno da UA no Conselho de Administração da Águas de Portugal Manuel Fernandes Thomaz, 45 anos, licenciado em Engenharia Eletrónica e Telecomunicações pela Universidade de Aveiro, empresário e gestor, foi nomeado membro do Conselho de Administração da Águas de Portugal. O gestor e antigo aluno da UA vai participar no Conselho de Administração liderado por Afonso Lobato de Faria.
Associação Acredita Portugal premiou antigo aluno da UA A equipa de Bruno Lamelas, licenciado em Design na Universidade de Aveiro, foi a grande vencedora da 2ª edição do concurso de empreendedorismo “Realiza o teu sonho” promovido pela Associação Acredita Portugal. Coordenado pelo antigo aluno da UA, o projeto vitorioso na categoria de Start-Up dá pelo nome de BoomSell e arrecadou 76 mil euros em dinheiro e serviços para ser implementado. A ideia do BoomSell é simples e parte do princípio de que uma página na internet e uma vasta rede de utilizadores são suficientes para aumentar o negócio e acelerar as vendas de uma empresa.
Química traz para a UA dois prémios da República Checa Angélica Rocha e Élia Maricato, investigadoras do Departamento de Química da Universidade de Aveiro, foram premiadas, respetivamente, com o 1º e o 2º prémio no Young Glyco-Scientist competition da 7th International Conference on Polysaccharides-Glycoscience que, decorreu em Praga, na República Checa.
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investigação de vanguarda made in ua
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Os assinaláveis progressos científicos dos vários grupos de investigação nas distintas áreas da Universidade de Aveiro vão ser celebrados com o Research Day, a 13 de junho, que se poderá designar como uma montra do novo conhecimento made in UA. Neste dia, alguma da mais notável investigação produzida será partilhada por estudantes de pós-graduação, investigadores e professores.
Os investigadores da UA estão envolvidos numa vasta gama de trabalhos de investigação de ponta com elevado impacto na sociedade, acima dos objetivos da European Research Area. No Research Day pretende-se estravasar experiências e avanços da “bancada de cada um dos laboratórios” para uma grande sala de partilha e intercâmbio de conhecimentos, propiciando o estabelecimento de pontes e redes de novas interações: durante todo o dia centenas de estudos serão apresentados em forma de poster, protótipo ou palestra. Pretende-se estimular a interação e a colaboração entre as diversas áreas de investigação e, ao mesmo tempo, promover o contacto entre estas e o tecido empresarial, sendo o Research Day uma oportunidade imperdível para conhecer o que de melhor se faz na Universidade em termos de investigação e desenvolvimento. Serve, por outro lado, de estímulo aos mais jovens, promovendo a sua integração na grande comunidade científica da UA. No ano passado, ao longo da primeira edição desta festa do conhecimento, perto de 900 professores, investigadores e doutorandos dos quatro laboratórios associados e das 14 unidades de investigação da Universidade de Aveiro, deram a conhecer o que de melhor se fez, abrangendo um total de 113 trabalhos apresentados. Na edição de 2012, haverá duas palestras de honra com convidados externos. A primeira, durante a manhã será com Mário Almeida Santos, Diretor das OGMA - Indústria Aeronáutica de Portugal, sector de Engenharia de Qualidade e Desenvolvimento, e a segunda, a abrir a sessão da tarde, com Roland Y. Siegwart, vice-presidente para a Investigação e Relações Institucionais do Swiss Federal Institute of Technology Zurich (ETH). Este ano, foram escolhidas dez palestras temáticas ilustrativas de projetos ou linhas de investigação de alguns dos laboratórios ou unidades de investigação da UA. No espaço expositivo do Research Day serão apresentados diversos protótipos e 157 posters.
Unidade de Investigação em Governaça, Competitividade e Políticas Públicas – GOVCOPP
Demografia economicamente sustentável: Reverter o declínio em áreas periféricas
Centro de Línguas e Culturas – CLC
Charles Dickens e a Modernidade
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O projeto DEMOSPIN, coordenado por Eduardo Anselmo de Castro, a decorrer com financiamento da FCT, tem como principal objetivo a construção de uma ferramenta de apoio à definição de políticas de desenvolvimento de regiões demograficamente deprimidas. Partindo do argumento de que a economia e a demografia evoluem em conjunto, influenciando-se reciprocamente, o projeto adotou como metodologia combinar técnicas de projeção demográfica com modelos de crescimento e desenvolvimento regional. Assim, desenvolveu modelos integrados para a estimação das implicações demográficas da variação de indicadores económicos, como o emprego e o VAB, com reflexos tanto nos fluxos migratórios como na dimensão e estrutura da população e da evolução económica necessária para garantir populações demograficamente sustentáveis. A construção e avaliação de diferentes cenários, resultantes da coevolução económico-demográfica referida, permitirá propor estratégias para contrariar o declínio demográfico em curso nas regiões do interior.
No preciso momento em que a Inglaterra e o mundo comemoram o bicentenário do seu nascimento, pretende-se realçar na comunicação proferida por Anthony Barker a importância de Charles Dickens como figura literária e intelectual, com dimensão internacional, e como profeta de um mundo moderno no qual nós continuamos, afinal, a viver. E também um espaço e uma oportunidade para revisitar uma obra memorável cuja atualidade parece afirmar-se à medida que o tempo passa. Charles Dickens nasceu na cidade de Portsmouth há dois séculos, em 1812 (ano da retirada de Napoleão de Moscovo). A sua vida encontra-se, no entanto, intimamente ligada à cidade de Londres. O período da sua maturidade, como romancista, ocupa o arco temporal constituído por quatro décadas, no meio do século (18301870), numa época de profundas transformações políticas, sociais e económicas, altura em que ele surge como o primeiro escritor a enfrentar os problemas sociais relacionados com os processos de urbanização, de industrialização e de burocratização do estado moderno. Dickens, o mais popular dos romancistas ingleses no século XIX, foi reconhecido pelos seus contemporâneos Karl Marx e Frederick Engels como um aliado no combate contra a pobreza e a injustiça, embora de um ponto de vista politicamente mais liberal.
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Em boa verdade, o célebre criador de Oliver Twist ou David Coperfiel afirmou-se, desde cedo, como uma incontornável referência literária mas também como um símbolo e um farol de justiça e de liberdade. Autor de narrativas onde desenvolve uma crítica acérrima contra o desenvolvimento, em plena revolução industrial, fator de exclusão e gerador de pobreza e marginalidade, contra a estratificação da sociedade, contra a voracidade do capitalismo.
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Instituto de Engenharia Eletrónica e Telemática de Aveiro – IEETA
Identificação de veículos com marcadores RFID com garantias de privacidade
do marcador para todas as chaves que conhece, o que lhe permite identificar o marcador como aquele que possui uma dada chave. Nesse cálculo o fornecedor pode usar arquiteturas de computação massivamente paralela; neste trabalho foi usado fundamentalmente um Tesla S1070 da Nvidia. Para avaliar o desempenho da solução idealizada foram identificados requisitos realistas. Sabe-se, por exemplo, que em 2008 havia nos EUA quase 256 milhões de veículos capazes de circular numa autoestrada. Consequentemente, foram usadas 250 milhões de chaves, cada uma com 128 bits. Usando apenas um dispositivo do Tesla (tem 4), a descoberta de uma chave conhecida demora entre 0.09 e 408 milissegundos. Este resultado é suficientemente bom para tornar viável um sistema de cobrança de portagens em larga escala com alguns (poucos) destes dispositivos. A solução estudada é aplicável em qualquer tipo de sistema de identificação de marcadores RFID em que não exista necessidade de transferência de posse sobre os identificadores.
Os marcadores RFID (Radio Frequency IDentifier) têm vindo a ser cada vez mais usados para identificar os mais variados tipos de objetos, nomeadamente veículos (v.g. Via Verde). Porém, a identificação de veículos com RFID sem restrições cria diversos tipos de problemas de segurança e privacidade, pelo queos marcadores dos veículos não deveriam possuir identificadores constantes, tal como acontece hoje em dia. O trabalho realizado pelos investigadores Rui Figueiredo, André Zúquete e Tomás Oliveira e Silva consistiu no estudo do uso de identificadores pseudoaleatórios para os marcadores RFID [2]. Cada marcador possui uma chave secreta única, conhecida apenas por este e por quem o fornece, que serve para gerar um identificador pseudoaleatório de cada vez que é ativado. O fornecedor do marcador faz um cálculo similar ao
Centro de Estudos do Ambiente e do Mar – CESAM
Integrated water resources and coastal zone management in European lagoons in the context of climate change – LAGOONS
No contexto das alterações climáticas, a questão ambiental de fundo do projeto LAGOONS centra-se nos efeitos antropogénicos e nos impactos das mudanças climáticas, especialmente
os efeitos dos eventos climáticos extremos, nas massas de água de superfície e nos serviços ecológicos prestados pelos ecossistemas lagunares costeiros. O objetivo principal do LAGOONS é contribuir para uma gestão integrada dos sistemas lagunares costeiros, envolvendo o “trinómio” Ciência, Políticas e Atores-chave. Neste contexto, o projeto irá contribuir para a integração de vários instrumentos da UE, nomeadamente, a DiretivaQuadro da Água, a Diretiva Habitats, a Recomendação para a Gestão Integrada das Zonas Costeiras, e a Diretiva-Quadro Estratégia Marinha. O LAGOONS tem a coordenação científica de Ana Isabel Lillebø, investigadora do Departamento de Biologia da UA e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), laboratório associado, e co-coordenação de Per Stålnacke (Bioforsk, Noruega). O consórcio conta com a participação de nove instituições de oito países e financiamento do 7º Programa-Quadro de I&DT (tema Ambiente, incluindo Alterações Climáticas). O projeto teve inicio em outubro de 2011 e terá a duração de 36 meses. Foram seleccionados quatro sistemas lagunares costeiros, com características particulares, que no seu conjunto apresentam uma ampla e equilibrada distribuição geográfica: Ria de Aveiro, Mar Menor (Mar Mediterrâneo, Espanha), Laguna de Vístula (Mar Báltico, Polónia e Rússia) e laguna de Tyligulskyi (Mar Negro, Ukrânia). Em cada sistema, o conhecimento multidisciplinar produzido será combinado e integrado com a visão das partes interessadas e aplicado na elaboração de possíveis cenários qualitativos e quantitativos futuros. Ao nível europeu, será aplicada uma abordagem “da base para o topo”, promovendo uma melhor integração dos resultados de investigação nas políticas comunitárias, no contexto das alterações climáticas.
O LAGOONS irá criar cenários integrados para a formulação de estratégias e metodologias de suporte à decisão e recomendações para o uso adequado dos serviços dos ecossistemas, potenciando a ecoeficiência dos serviços e soluções ecoinovadoras para a mitigação, no âmbito das alterações ambientais. Em termos de gestão, o LAGOONS irá contribuir para o estabelecimento de metodologias de apoio à decisão no âmbito de uma abordagem orientada para a Diretiva-Quadro da Água e para a Diretiva-Quadro Estratégia Marinha. Para além disso, o LAGOONS irá recomendar medidas para combater os impactos das alterações climáticas em linha com os atuais objetivos europeus, consubstanciados na Estratégia UE2020.
O PFEEC foi criado pelo Ministério da Educação (ME), biénio 2006-2008, tendo-lhe sido dada continuidade no biénio 2008-2010. A Comissão TécnicoConsultiva de Acompanhamento do Programa foi responsável pela sua conceção e plano de desenvolvimento e, ainda, pela elaboração dos guiões didáticos de apoio. A finalidade última do PFEEC visava a melhoria das aprendizagens dos alunos relativas ao trabalho experimental em Ciências, pelo que o desenvolvimento de boas práticas de ensino, aprendizagem e avaliação, baseadas em investigação, foi considerado fundamental. Na concretização do PFEEC foram envolvidas 4 Universidades e 14 Institutos Politécnicos, todos protocolados com o ME.
Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores – CIDTFF
O estudo aqui apresentado, de âmbito nacional, teve como finalidade avaliar o impacte do PFEEC: nas práticas dos professores envolvidos; – nas aprendizagens dos alunos dos referidos professores; na dinâmica das Escolas; nos cursos de formação de professores; e nos Manuais Escolares e recursos associados.
O ensino experimental das ciências no 1.º Ciclo do Ensino Básico: avaliação do impacte de um programa nacional de formação de professores
O estudo de avaliação do impacte do Programa de Formação em Ensino Experimental das Ciências para Professores do 1.º CEB (PFEEC), desenvolvido no Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF), situa-se na interface das 3 linhas de investigação em que o Centro se organiza: desenvolvimento profissional de professores, ensino das ciências e avaliação do impacte.
O estudo conduzido pelas investigadoras Patrícia Sá e Celina Tenreiro Vieira e pela professora Isabel Martins, do Departamento de Educação da Universidade de Aveiro, permitiu obter: – indicadores da valorização feita pelos professores sobre propostas de ensino e de aprendizagem experimental das Ciências. Em particular, para estes professores a participação no PFEEC proporcionou um aumento nas abordagens didáticas com enfoque na construção de conhecimento pela via experimental; – indicadores da relevância que os autores de ME reconhecem ao Programa e, em particular, aos Guiões Didáticos que os suportam. Os dados resultantes da análise evidenciaram impacte dos Guiões do PFEEC no conteúdo dos ME e nos RA produzidos por outros autores; – indicadores acerca do papel ativo desempenhado por professores que frequentaram o Programa na criação de dinâmicas de escola geradoras de ambientes que relevam a importância da
educação em Ciências nos primeiros anos; – indicadores de articulação entre os objetivos e competências preconizadas no PFEEC e as enunciadas nas unidades curriculares relacionadas com Didática das Ciências, nos Cursos de Licenciatura. Quanto ao impacte do PFEEC nas aprendizagens dos alunos, a análise dos dados recolhidos permitiu concluir que, tanto para os alunos cujo professor frequentou o PFEEC (GE) como para os alunos cujo professor não frequentou o Programa (GC), a pontuação média alcançada no questionário administrado foi modesta. Contudo, focando a atenção nas subamostras de topo, 25% das melhores classificações no GE e no GC, verifica-se existir diferença significativa entre os resultados alcançados nos dois grupos, a favor do GE, um resultado muito promissor.
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Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação – Física de Semicondutores em Camadas Optoelectrónicas e Sistemas Desordenados – I3N-FSCOSD
Propriedades físicas e aplicações de nanopartículas de silício
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Nanopartículas de materiais semicondutores inorgânicos são pequenos cristais com dimensões tipicamente inferiores a 50 nm com propriedades óticas e eletrónicas que dependem do seu tamanho. As nanopartículas de silício reúnem várias características que as tornam particularmente interessantes do ponto de vista tecnológico quando comparadas com nanopartículas de outros semicondutores, por exemplo são baseadas numa espécie química abundante, não tóxica e compatível com a tecnologia eletrónica atual. Nanopartículas de silício com tamanho controlado podem hoje em dia ser produzidas em grandes quantidades e a baixo custo a partir da fase gasosa num plasma de silano. As perspetivas de nanopartículas de silício suportarem tecnologias baratas e versáteis, combinadas com as características físicas deste material (por exemplo, espectro de absorção de luz controlável, produção múltipla de excitões e a possibilidade de dopagem), fazem delas excelentes candidatos para aplicação em várias tecnologias, tais como células fotovoltáicas e dispositivos emissores de luz. Nanopartículas de silício podem ser dispersas numa solução,
abrindo assim caminho a uma nova tecnologia de dispositivos impressos a partir de soluções. Uma vantagem fundamental dos processos de impressão relativamente a processos convencionais de deposição de semicondutores inorgânicos consiste na possibilidade de deposição em substratos que requerem baixas temperaturas de processamento, como por exemplo plásticos flexíveis. No entanto, para que aplicações tecnológicas se tornem uma realidade, muitos avanços científicos são necessários, nomeadamente ao nível da compreensão das propriedades físicas fundamentais das nanopartículas de silício. Nesta apresentação mostra-se o contributo do trabalho desenvolvido por investigadores do I3N-Aveiro, liderados pelo investigador Rui N. Pereira, para a compreensão das propriedades físicas de nanopartículas de silício, por exemplo no que respeita à influência da superfície sobre o transporte de carga, propriedades dielétricas e dopagem atómica, que se revela uma forma de controlar as propriedades eletrónicas, óticas e magnéticas para uso em futuras aplicações. Devido à dimensão reduzida das nanopartículas, a superfície e compostos que lhe estão ligados química ou fisicamente têm um impacto muito superior que no caso de cristais macroscópicos. Desta forma, a interação entre o núcleo da nanopartícula e a sua superfície dominam as propriedades físicas das nanopartículas de silício Na apresentação será também abordado o trabalho levado a cabo no I3N-Aveiro no âmbito da aplicação de nanopartículas de silício em dispositivos (opto)eletrónicos fabricados a partir de soluções, nomeadamente no desenvolvimento de transístores de filme fino e células fotovoltaicas. A equipa de investigadores envolvidos inclui, para além de Rui N. Pereira, José Coutinho, António J. Almeida, Wenbin You, Filipe Rodrigues, Ricardo Vieira, Alexandra I. Carvalho, Maria Rosário Correia, Luís Rino, António F. da Cunha, Luiz Pereira (investigadores do Departamento de Física e I3N, Universidade de Aveiro), Sabrina Niesar,
André R. Stegner, Nadine Erhard, Martin S. Brandt, Martin Strutzmann (todos do Walter Schottky Institut, Technische Universität München), Hatmut Wiggers (da Universitä t Duisburg-Essen) e David J. Rowe, Rebecca J. Anthony, Uwe Kortshagen, (investigadores da University of Minnesota). Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos – CICECO
Microscópios eletrónicos no século XXI: não só para ver mas também para mexer!
Desde a década de 90 que as chamadas Nanotecnologias têm vindo a ter uma crescente presença na nossa sociedade. Hoje, o prefixo Nano é de tal forma popular que pode ser encontrado em produtos tão díspares como leitores de música (iPod Nano) ou automóveis (Tata Nano). Para o desenvolvimento deste recente ramo de Ciência e Engenharia têm sido centrais os contínuos melhoramentos efetuados nos equipamentos analíticos de que dispomos. Observar e manipular estruturas cujas dimensões são frequentemente dez mil vezes menores que a espessura de um fio de cabelo humano, exige um nível muitíssimo elevado de resolução e estabilidade instrumental. De facto, algo tão trivial como as vibrações mecânicas induzidas num equipamento pelo ato de falarmos junto deste podem ser suficientes para comprometer a análise em curso. Um dos métodos de caracterização mais comuns em Nanotecnologias é a microscopia eletrónica. Estas “lupas” acionadas por eletrões permitem,
no limite, visualizar e identificar um único átomo suportado numa fina película. São também extremamente versáteis. Hoje, é possível utilizar estes microscópios para filmar, em tempo-real e em alta-resolução, o comportamento e alterações de nanoestruturas expostas a variados fatores ambientais (temperatura, atmosfera...) ou estímulos (aplicação de força, voltagem...). Por exemplo, se se comprimir uma folha com uma espessura de um átomo como é que esta se deformará? Por conseguinte, para além de uma extensão dos olhos, os microscópios eletrónicos tornaram-se também no prolongamento das mãos permitindo trabalhar peça-a-peça as estruturas que preenchem o mundo das Nanotecnologias. Nesta palestra, proferida pelo investigador do CICECO Pedro Miguel Costa, serão ilustradas várias das capacidades possibilitadas pelo desenvolvimento da nova geração de microscópios eletrónicos de transmissão e componentes afins. Nomeadamente, serão exemplificadas algumas experiências resolvidas no tempo passíveis de providenciar um manancial de informação inacessível até há relativamente poucos anos. Serão também abordadas questões frequentes que se impõem neste tipo de experiências como sejam custos, contaminação e degradação.
Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações – CIDMA
Inversão da transformada de Radon em SO(3) com ruído por meio de frames de Gabor e princípios de recuperação esparsa
computacional graças à construção de novos blocos básicos (ditos, frames esféricos de Gabor) que permitem o uso de princípios de recuperação esparsa (apenas um número reduzido de blocos básicos possui coeficientes não-nulos) e mantendo, ao mesmo tempo, a estabilidade da aproximação da transformada esférica de Radon. O método proposto combina diferentes ideias matemáticas (e.g. teoria de espaços de co-órbitas, construção de frames de Gabor, princípios variacionais para recuperação esparsa). A eficiência da aproximação iterativa final foi estudada em várias experiências. Foi igualmente provado que o novo método é estável na presença de ruído.
O problema abordado neste trabalho, coordenado por Uwe Kähler, investigador do CIDMA, é o de identificação das estruturas cristalinas de uma dada amostra geológica, para efeitos de determinar se a concentração de certos materiais justifica o investimento mineiro. O método mais atual envolve a aplicação de tomografia por difração de raios X, onde, para cada raio incidente, é medido o padrão de difração. A partir deste, pretende-se então determinar a estrutura cristalina correspondente. Matematicamente, tal corresponde à inversão da dita transformada esférica de Radon, a qual é um problema mal-posto. Acresce ainda dizer que a tomografia por raios X de estruturas cristalinas com recurso a experiências de difração é uma tarefa de alto custo computacional. Para dar uma ligeira ideia da complexidade do problema, atente-se a que a simples medição de 100 raios incidentes por 100 raios dispersivos conduz a um total de 10 mil medidas. No presente trabalho foi proposto e desenvolvido um novo método para obtenção de aproximações estáveis da transformada de Radon em SO(3) com ruído, com aplicações em tomografia de raios X de materiais policristalinos. O método numérico desenvolvido pela equipa reduz consideravelmente o esforço
Nesta investigação participam ainda Paula Cerejeiras , Milton Ferreira, da Universidade de Aveiro, e Gerd Teschke, do Institute for Computational Mathematics in Science and Technology, Alemanha.
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Geobiociências, Geotecnologias e Geo-engenharias – GEOBIOTEC
Remoção de Azul de Metileno e Laranja II por caulino e metacaulino: atividade de absorção e fotocatalítica
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O impacto ambiental de corantes nos solos naturais é considerado como um perigo grave quando lançado por várias indústrias, assim, têm vindo a ser conduzidosensaios recentes para desenvolver processos de minimização ou neutralização. Este estudo investigou a remoção de matérias corantes de águas residuais sintéticas (Methylene Blue and Orange II) por adsorção e fotocatálise usando caulinos naturais (provenientes de explorações mineiras da região de Barracão, Pombal, Portugal) e comerciais (VWR Prolabo, Bélgica) e metacaulinos (MK-1200S, França). com base de azul de metileno e laranja II. O processo de adsorção foi eficiente com a retenção de praticamente 100% dos dois corantes usando caulinos não tratados. Por outro lado, quando combinados com TiO2 P25 ou “pillared” (TiCl4), os substratos de caulino e de metacaulino mostraram uma fotodegradação dos corantes superior a 20%. A investigação está a ser desenvolvida pelos investigadores F. Rocha (e S. Andrejkovčová do Geobiotec e W. Hajjaji (Geobiotec/CICECO), D. Tobaldi (CICECO), J. A. Labrincha (CICECO).
Instituto de Telecomunicações – Polo de Aveiro (IT-Aveiro)
Engenharia de Sistemas de Comunicação Quântica
O projeto “Engenharia de Sistemas de Comunicação Quântica” procura desenvolver novos métodos capazes de gerar de forma eficiente fotões únicos e pares de fotões entrelaçados em fibras óticas, para implementação de protocolos de comunicação quântica em sistemas de distribuição de chave quântica. Está prevista a execução de testes reais de distribuição de fotões únicos e pares de fotões entrelaçados em fibras óticas instaladas na cidade de Aveiro. A duração prevista para a execução destes objetivos é de dois anos. O projeto é desenvolvido pelos investigadores do Instituto de Telecomunicações – Polo de Aveiro, Armando N. Pinto, Nuno A. Silva, Nelson J. Muga, Gil G. Fernandes, Paulo S. André, Álvaro J. Almeida, sendo os três primeiros ainda professores do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro (UA) e, os dois últimos, professores do Departamento de Física da UA. A crescente dependência da sociedade atual das redes de telecomunicações tornou a segurança uma das questões centrais nos modernos sistemas de comunicações. De forma a responder a estes desafios a criptografia quântica, nomeadamente, a distribuição de chaves quânticas (DCQ), surge como uma forma segura de codificar e transmitir informação. Neste contexto, a geração de fotões únicos e pares de fotões entrelaçados, essenciais em muitos dos protocolos de comunicação quântica, tornou-se um ponto crucial em sistemas de DCQ. O processo não linear de mistura de quatro ondas (MQO) em fibras óticas possibilita uma solução natural para a geração de fotões únicos e pares de fotões entrelaçados no interior da própria fibra, evitando assim perdas de acoplamento.
Neste projeto, são discutidos pontos críticos na implementação de sistemas de comunicação quântica em fibras óticas já instaladas. No regime estimulado, utilizou-se o processo de MQO num regime de baixas potências óticas por forma a obter fotões únicos. O número médio de fotões obtidos pode ser ajustado, alterando apenas a separação entre o sinal ótico e o sinal de bombeamento ótico. Efetuou-se a caracterização estatística da fonte de fotões únicos e verificou-se que esta evoluiu de térmica para Poissoniana, com o aumento da potência ótica. Implementou-se um sistema de comunicação em fibra ótica com fotões únicos usando dois estados de polarização não-ortogonais, medindo-se a taxa de erro quântica. Foi também desenvolvido um modelo teórico para a taxa de erro quântica. No regime espontâneo, utilizamos o processo de MQO para gerar pares de fotões entrelaçados na polarização, verificando experimentalmente a violação da desigualdade de Bell. Estudou-se teoricamente o impacto do espalhamento de Raman, atenuação e parâmetro não-linear na geração de pares de fotões entrelaçados, encontrando-se regimes ótimos para a violação da desigualdade de Bell.
Para mais informações sobre cada um dos projetos e, ou, sobre o evento Research Day, consultar: http://www.ua.pt/research/PageText aspx?id=15254
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figura 1 Implementação de um sistema de DCQ usando dois estados de polarização não ortogonais.
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investigação dá meios para aumentar a produtividade e diminuir o absentismo maior estudo sobre a capacidade para o trabalho dos portugueses realizado pela universidade de aveiro É o maior estudo alguma vez realizado em Portugal sobre a capacidade dos portugueses para o trabalho. A investigação realizada pela Universidade de Aveiro, com financiamento da FCT, envolveu 4162 trabalhadores, do norte a sul do país, e, para além de avaliar a perceção que cada indivíduo tem da sua capacidade para responder às exigências do trabalho, foi ainda mais longe e concentrou-se também no estudo dos fatores psicossociais que influenciam os trabalhadores, tais como exigências cognitivas e emocionais, recompensas, significado do trabalho, conflito trabalho-família, stress e saúde geral. A investigação da UA, liderada pelo psicólogo Carlos Fernandes, esteve no terreno entre 2008 e dezembro de 2011 e utilizou dois instrumentos internacionalmente reconhecidos e recomendados pela Organização Mundial de Saúde: o Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT), que atesta a perceção que os trabalhadores têm da própria capacidade para desempenharem as suas funções laborais, e o Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ), que permite aos trabalhadores apontarem as condições psicossociais que os rodeiam. Os instrumentos utilizados foram, antes do estudo avançar para o terreno, adaptados para a realidade portuguesa pela equipa de investigação.
“Finalmente temos disponíveis em língua portuguesa, e adaptados à nossa realidade, dois instrumentos internacionalmente aconselhados para uso de profissionais ligados à saúde ocupacional, à medicina no trabalho e à psicologia das organizações”, aponta Carlos Fernandes, investigador responsável pela investigação. “Estes instrumentos permitem que, na posse dos dados, os técnicos deem as diretrizes necessárias aos empresários, dirigentes e até responsáveis políticos de modo a que estes ajustem as condições de trabalho dos trabalhadores no sentido de diminuírem o absentismo, aumentarem a produtividade e evitarem reformas antecipadas”, explica o docente da UA.
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Portugueses têm boa capacidade para o trabalho Os questionários foram aplicados a trabalhadores distribuídos por seis setores de atividade: saúde, educação, comércio e serviços, indústria, administração pública e forças policiais. A investigação conclui que o ICT dos portugueses é de 40,42 (numa escala de 7 a 49) o que corresponde a uma boa capacidade para o trabalho.
Mulheres sentem mais exigências e insegurança Através do COPSOQ, os investigadores concluíram que os homens, em relação às mulheres, têm no local de trabalho mais influência, mais reconhecimento, mais apoio dos superiores, mais sentido de grupo e de comunidade, percecionam a chefia com mais qualidade, sentem mais justiça e respeito, têm uma perceção de si como mais auto eficaz e sentem mais satisfação.
“Os portugueses possuem, em média, boa capacidade para o trabalho. Contudo, se formos ver em termos de divisão de categorias temos 2,2 por cento da população portuguesa com pobre capacidade para o trabalho, cerca de 20 por cento com moderada, temos 44,7 por cento com boa e 33,2 por cento com excelente capacidade para trabalhar”, aponta Pedro BemHaja, assistente de investigação.
Por outro lado, as mulheres referem terem mais ritmo de trabalho, mais exigências emocionais, maior insegurança em relação a ficarem desempregadas, mais burnout, mais stress e mais sintomas depressivos. “Temos uma comparação com claro prejuízo para as mulheres”, evidencia a assistente de investigação Vânia Amaral.
As forças policiais com 41,29 pontos em 49 possíveis, concluiu o estudo, é o setor com maior capacidade para o trabalho em Portugal. Segue-se o setor da indústria com 41,29 pontos e o do comércio e serviços com 40,91. A administração pública atingiu 40,67 pontos e a saúde 39,45. O ensino, como 38,91 pontos em 49, é o setor em estudo onde os trabalhadores têm menor capacidade para o trabalho. Entre homens e mulheres, os resultados demonstram que o género masculino possui em média maior capacidade para o trabalho, cerca de 41 pontos em 49 possíveis, o que representa boa capacidade para o trabalho. O género feminino obteve 39,76 pontos, valor que também se situa no setor da boa capacidade para o trabalho. No que toca à idade, os investigadores concluíram que, à semelhança dos resultados atingidos em estudos internacionais, a capacidade para o trabalho vai descendo com o avançar da idade. “Perante as análises vemos que a capacidade máxima para o trabalho acontece entre os 25 e os 29 anos. Aos 45 há uma viragem descendente importante até atingir um mínimo aos 65 anos”, aponta Pedro Bem-Haja.
Ao nível da comparação por idade, aponta Vânia Amaral, “vemos que o grupo de trabalhadores com menos de 38 anos [homens e mulheres] tem mais carga e ritmo de trabalho, mais exigências cognitivas ao nível da atenção constante, tem mais conflitos de papéis laborais [não sabem exatamente quais são as suas responsabilidades], tem mais insegurança no posto de trabalho e mais stress. No entanto sentem mais confiança e apoio dos colegas”. Em contraponto, os trabalhadores com mais de 38 anos sentem que têm mais influência no trabalho, maior clareza e transparência dos papéis desempenhados, mais recompensas, mais sentido de comunidade, mais justiça e respeito, retiram mais significado naquilo que fazem, mas também têm mais problemas em dormir! Quando comparados os trabalhadores entre os seis setores de atividade em estudo, conclui-se que são os trabalhadores do comércio e serviços que mais temem ficar desempregados e que na área da saúde é onde existem maiores exigências emocionais, uma maior previsibilidade nas tarefas a desempenhar e onde os trabalhadores atribuem mais significado às funções que desempenham.
No setor do ensino há maiores exigências quantitativas, maiores exigências cognitivas, maiores conflitos do papel laboral, mais stress, mais burnout, mais sintomas depressivos e maior conflito entre o conciliar do trabalho e da família. O ensino é também o setor que revela mais possibilidades de progressão na carreira, maior influência no tipo de tarefas que se pode desempenhar e também maior confiança nos colegas. Por outro lado a administração pública é o setor que revela mais recompensas no sentido do reconhecimento e mais autoeficácia. A polícia é o setor que revela maior sentido de comunidade de grupo, mais apoio tanto dos colegas como da chefia, mais justiça e respeito, mais transparência no papel e mais satisfação no trabalho. A equipa do psicólogo Carlos Fernandes contou com uma equipa de investigadores da Universidades de Aveiro (Anabela Pereira), Coimbra (Vitor Rodrigues), Minho (Jorge Silvério) e Técnica de Lisboa (Teresa Cotrim), bem como três bolseiros de investigação (Vânia Amaral, Alexandra Pereira e Catarina Cardoso) e um assistente de investigação (Pedro Bem-Haja).
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entrevista
LINHAS
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Uma vida enorme dedicada à cultura
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nestes 15 anos de vida criei uma nova identidade: a de aveirense!
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Francisco Madeira Luís tem 79 anos e foi à Universidade de Aveiro que doou um espólio onde constam milhares de peças que retratam a produção pré-industrial portuguesa nos domínios do vidro, da cerâmica e do ferro fundido. Os objetos remontam à segunda metade do séc. XIX e à primeira metade do séc. XX, havendo alguns de finais do séc. XVIII e princípios do séc. XIX. Trata-se de uma coleção constituída por peças de sopragem livre, sopradas em moldes, e peças prensadas, algumas a evidenciar técnicas decorativas. Reunidos também ao longo da vida, e doados igualmente à academia de Aveiro, dezenas de milhares de cartazes testemunham as últimas décadas da vida política, cultural, associativa e desportiva portuguesa.
“
Filho de agricultores, ambos emigrados para Lisboa em busca de melhor vida, cedo começou a juntar a essa origem rural uma outra cultura mais intelectual e dada às artes por via da influência da família burguesa para quem a mãe tinha trabalhado antes do casamento. Se as férias de verão passadas no meio rural contribuíam para a manutenção da marca de origem, o emprego precoce aos 16 anos, os professores da escola particular nocturna de liceu para a qual se mudara depois de tirar um curso comercial (docentes que eram quase todos impedidos de desempenhar em escolas públicas por razões politicas) e os primeiros quatro anos de serviço militar, dois dos quais no ‘Estado da Índia’ interrompendo o 2º ano do curso de Direito, constituíram achegas decisivas para o seu perfil cultural.
entrevista francisco madeira luís
francisco madeira luís Depois de um interregno de readaptação pós-Índia, com 28 anos, Madeira Luís inicia uma nova etapa da sua vida: independência completa da família, abandono da função pública iniciada aos 16 anos em troca, de novo, pela vida militar e um projecto para a conclusão do curso universitário que tinha escolhido. Mas em vez disso, dos seis anos que durou esta segunda experiência castrense, o que fez foi empenhar-se cada vez mais na vida associativa possível, no lugar de residência, em Algés, onde dirigiu a sua primeira galeria de artes plásticas e em outros projectos sedeados em Lisboa, como a cooperativa Gravura, cuja direcção integrou durante alguns anos. A segunda tentativa de acabar o curso de Direito não durou muito. Foi vencida, já não pelas artes plásticas, mas pela música. Pela primeira vez foi-lhe possível ter uma profissão na área dos seus interesses vendendo em consignação, a baixo preço e a crédito, discos de música erudita. Teve então o benefício de passar a conhecer o meio dos amantes profissionais ou simples curiosos desta arte. Começava, na altura, a sua tendência de animador e sobrava-lhe muito tempo para o acompanhamento de um projecto fundamental para Algés no fim dos anos 60 em Algés com repercussão em Lisboa: o Primeiro Acto - Clube de Teatro. A partir daqui todas as suas profissões passaram a desenvolver-se nas áreas da cultura. O curso de Direito tornou-se secundário. Entre trabalho, militância e consumo artístico a fronteira era diminuta. A iniciação deste modo de vida, em que o social e o emocional também participam, faz-se em 1971 na galeria “Opinião”, um
espaço de livraria, galeria de arte, discoteca e bar, que alargou a tradição das tertúlias do século XIX em livrarias. A direcção da galeria, a segunda da sua vida, e a discoteca herdeira da actividade anterior, permitem a Madeira Luís alargar o círculo da sua inserção cultural. É também nesta época que desenvolve a sua recolha de cartazes, começada na Gravura, entretanto alargada ao cartaz político emergente do 25 de abril. A terceira profissão desta sequência, resultante da insustentabilidade económica da “Opinião”, é a de técnico de acção cultural na Secretaria de Estado da Cultura. Este organismo considerou, em 1976, a experiência de associativismo de Madeira Luís uma condição importante para o trabalho do gabinete de animação ali existente e que era centrado, principalmente, no projecto de criação de centros culturais regionais em zonas periféricas às grandes cidades do país. Desempenhando uma função de assessoria do director do gabinete, passou a substituí-lo quando este abandonou o cargo. Madeira Luís manteve ao longo das vicissitudes daquele projecto a responsabilidade do seu desenvolvimento. Extinto este projecto dos anos 80, foi nomeado pelo ministro da cultura de então para refazer a sua colecção de cartazes (cerca de 20 mil exemplares) perdida num incêndio da Galeria Nacional de Arte Moderna, em Belém, onde esta se achava depositada e por ele gerida conjuntamente com a sua terceira galeria. Depois de ser o ‘Madeira dos Discos’, e o ‘Madeira da Opinião’, passou a ser conhecido como o ‘Madeira dos Cartazes’. O título valeu-lhe o convite da Comissão Nacional de Eleições para colaborar na
criação seu arquivo com a última tarefa duma carreira de funcionário público. Se este texto é um discurso de uma vida de 79 anos, e através dele sobre factos e coisas relevantes de um tempo, aquilo que o seu protagonista considera mais valioso na sua vida são as inúmeras pessoas que conheceu: “Entre elas vale a pena citar as que não necessitam de ser apresentadas porque fazem parte do património do país. Para as outras seria necessário organizar uma enciclopédia pessoal”.
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entrevista
O que entende por Cultura e Património? Numa resposta sintética, diria que Cultura é o conjunto dos consensos fundamentais e de factos ou ideias tidas como significativas de um grupo humano e que Património, material ou imaterial, é a memória conservada em objectos ou registos desses consensos.
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Qual é o papel que as Universidades têm nesses campos? Dado o seu carácter de centros de saber de ponta, e da sua maior independência possível dos interesses particulares, podem ter um papel decisivo por várias razões. Quer enumerá-las? Primeiro pela maior capacidade das Universidades de criar consensos e de encontrar sínteses de saberes que facilitem esses consensos. Depois, porque esses consensos e sínteses podem, nesse ambiente, ser ancorados em diversidade, método e sentido crítico que os tornam mais fiáveis. E isto tanto mais quanto as Universidades se vão abrindo ao conhecimento das ciências ditas humanas e, nomeadamente, daquelas que abordam as questões do funcionamento emocional. E por último, porque são instituições eminentemente votadas à transmissão. Considera que a Universidade de Aveiro (UA) cumpre esses desígnios? Partindo do princípio que a avaliação das Universidades a nível mundial teve também em conta estes vectores, a posição da UA no grupo das consideradas melhores, reflectem-se em todos os itens dessa avaliação. Como é que o próprio Madeira Luís classifica a UA na criação desses consensos e sínteses? A avaliação de mais de uma dúzia de anos feita por mim, isoladamente, não será muito profícua. É claro que gostaria que muitas coisas tivessem sido mais rápidas ou mais próximas das minhas perspectivas, mas como participei no processo da sua execução não posso culpabilizar disso só os outros. E, por outro lado, se lamento, por exemplo, que a inventariação, e
portanto a visibilidade, dos acervos por mim doados à UA, não esteja mais adiantada, ou mesmo, em alguns casos, não começada, a verdade é que não conheço outras instituições que, durante este período, tenham feito com acervos iguais ou semelhantes mais ou melhor trabalho do que já se fez na UA com as colecções de cartazes, de vidro ou de cerâmica. Que imagem tem da sua experiência de trabalho na UA? No curto espaço desta entrevista é impossível relatar todas as vicissitudes de um projecto que, à data, é o segundo mais longo da minha vida. Talvez um dia ainda possa relatar essa experiência de uma forma mais analítica. Como é o meu hábito, vou guardando a documentação. Por agora limito-me a referir as etapas para mim mais decisivas. E a primeira etapa foi… A primeira foi quando cheguei há 15 anos à UA na sequência de uma escolha com três hipóteses, depois de uma avaliação segundo parâmetros, para mim, muito conscientes. Encontrei uma aquiescência tal ao projecto que propunha, por parte do então ViceReitor, Professor Manuel Assunção, que me decidi pela hipótese de realização desse projecto na UA. Depois, durante os dois anos de contactos que se seguiram, foi ficando claro, para mim, que aceitara uma tarefa de longo prazo e de grande empenhamento. Que projecto inicial propôs à UA? Esse projecto consta do protocolo celebrado por mim e a Universidade. Em breves termos, pretendia colaborar através das várias colecções por mim depositadas para futura doação à UA, num entendimento mais abrangente da transição entre a cultura material pósRevolução Industrial e uma outra que diríamos ‘virtual’ ou do ‘automatismo’ pós-Segunda Guerra Mundial.
Com certeza que o desenrolar do
entrevista francisco madeira luís
seu trabalho no Campus terá tido um efeito de aprendizagem mútua, quer para si, que sempre diz estar permanentemente a aprender, quer para a própria UA. O meu trabalho começou com as tentativas de ajudar o Centro Vidreiro do Norte de Portugal, em Oliveira de Azeméis, a desenvolver um projecto de reconversão que abrangia a criação de um núcleo museológico e que tinha sido pedido pela empresa à Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, de que eu era sócio e membro do grupo do vidro. A partir daí, e por minha sugestão, o Centro Vidreiro passou a contar também com a UA. Como reagiu a academia a essa experiência inédita? Da melhor maneira! Um símbolo desse entendimento foi o da descoberta do então Vice-reitor, presente na primeira reunião sobre o projecto, e do gerente do Centro Vidreiro, o Eng. José Luís Magalhães, que já tinham tido uma anterior relação: a de docente e de aluno no Departamento de Cerâmica e do Vidro da UA. Mas se o projecto não atingiu o seu objectivo de então, foi possível por de pé uma colaboração entre empresa, associação e Universidade, que serviu de modelo a outra intervenção cultural da UA: a tentativa de musealização das Minas do Pejão, igualmente gorada mas não esquecida por quem nela trabalhou. Em que outras novas acções o Madeira Luís envolveu a UA? Na altura da liquidação da Expo 98, o Pavilhão do Conhecimento do Mar propôs-me a mediação com a UA para um eventual destino de alguns elementos do seu discurso museológico, o que foi concretizado, embora com menor impacto do que se previa.
Depois desse projecto ultrapassado, o que se seguiu? Em março de 1999 passei a trabalhar regularmente na Fundação João Jacinto Magalhães com as funções de colaborar no tratamento dos acervos que ia depositando para doação à Universidade e, por outro lado, assessorando-a em questões culturais quando necessário. Em breve comecei a tomar consciência de alguns aspectos de certo modo inesperados. Que eram? Por um lado, que a UA tinha, na área em que me propunha trabalhar, mais actividades do que eu julgara e, por outro, que algumas delas se inseriam em projectos de grande importância. A isto havia a acrescentar as que se situavam noutras áreas, nomeadamente as ligadas à promoção de uma cultura científica, naturalmente mais enraizadas no percurso da UA. Como se adaptou a essa realidade? A esta distância, e também em resultado da reflexão a que vou sendo obrigado, diria que fui ‘indo a todas’ e pressionando a UA ao mesmo, frustrando-me com os insucessos e aprendendo com eles, rejubilando com os avanços enquanto duram. O saldo é mais uma experiência. O pior é o défice de interlocução. Projectos como o Polis para a lota de Aveiro, a Fábrica na antiga Moagem Aveirense, a musealização das Minas do Pejão com uma estrutura que perspective quase 500 anos de produção do vidro, uma política de aquisição de acervos que continue a que foi possível executar até agora, são caminhos que deverão, tarde ou cedo, dar novos ou diferentes passos. É uma grande diversidade… Ao longo de 15 anos, alguns dos projectos ficaram no caminho. Outros foram acolhidos. A diversidade foi condicionada por escassez de espaços, de meios humanos especializados e de recursos económicos. A melhoria parece que se vai encontrando na estruturação de centros especializados nas várias áreas, de que são exemplo o Centro de Ciência Viva ou a criação, nos Serviços de Documentação, de um Núcleo de Museologia.
E o seu projecto inicial? Continuo a achar que escolhi bem quando decidi vir para a UA. Também aqui se evidencia a necessidade de criar consensos. Seria impossível esperar que ele se cumprisse tal e qual como eu o via antes de aqui chegar. Fez-se o possível e esse possível acrescido de tudo o mais que ganhei é muito. Não me limitei a cumprir um projecto. Nestes 15 anos de vida criei uma nova identidade: a de aveirense!
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ensino
programas doutorais da ua no trilho da excelência quer fazer um doutoramento? a escola doutoral dá a mão LINHAS
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Mil e uma pesquisas, mil e um contactos. Papéis, papéis e mais papéis para ler e assinar. Emails dia sim, dia sim enviados para o orientador – quando já se o tem – com pedidos de conselhos, de informações e de reuniões para avançar não só com a pesquisa científica, mas também com burocracia, contactos, financiamentos e parcerias. Noites mal dormidas, crises nervosas e muitas dores de cabeça até ao grande alívio final, que, se tudo tiver corrido bem, acontecerá ao fim de quatro anos de muito trabalho. O alívio que se segue à defesa da tese é momentâneo. Em seguida, a pergunta “e agora, que vou fazer com este Doutoramento?” faz regressar a velha conhecida úlcera nervosa. A receita é antiga mas a tradição já era. A partir do próximo mês de setembro a Escola Doutoral da UA vai abrir portas para alterar a dosagem dos ingredientes necessários para a confeção de um Programa Doutoral. A nova receita abre espaço para reforçar o sabor no qual se pretende que recaia o principal foco de atenção do doutorando e do seu orientador: a investigação científica e a estruturação do respetivo futuro depois da defesa da tese. “Queremos simplificar o acompanhamento aos doutorandos. É que os orientadores, até hoje, gastam muito tempo na procura de respostas às questões administrativas e burocráticas relacionadas com os seus orientandos”, aponta o Prof. Helmuth Malonek.
O coordenador da Escola Doutoral quer que seja a nova unidade da UA “a fazer esse trabalho mais burocrático para libertar doutorando e orientador dessa parte, dando-lhes assim mais tempo para se concentrarem apenas no projeto científico”. Por outro lado, sublinha o responsável, “a Escola Doutoral vai dizer ao aluno que este tem responsabilidades e deveres e que não pode estar sempre dependente do orientador”. A obrigação de ir estruturando o próprio futuro, de modo a ter um rumo depois de concluído o programa doutoral, será uma das premissas que a Escola Doutoral quer fomentar entre os investigadores. Passo a passo Simplificar a realização de um doutoramento e otimizar todas as energias para o avanço científico são as palavras de ordem da Escola Doutoral da UA. E não são para menos. Quem já está a pensar em fazer um doutoramento na academia de Aveiro pode saber que na página online da UA tem acesso a toda a informação que necessita para avançar. Assim, e num primeiro passo que está à distância de um clique, “os candidatos podem-se informar-se no espaço da UA na Internet sobre as áreas onde há programas doutorais, dos quais haverá descrições muito detalhadas, e sobre as condições do acesso e da admissão”. A lista de informações à disposição dos candidatos engloba também a menção aos contactos mais diretos
programas doutorais da ua no trilho da excelência
dos responsáveis de cada um dos programas, nomeadamente dos respetivos diretores, junto dos quais será possível obter todo e qualquer esclarecimento adicional. “O nosso objetivo é também garantir toda a ajuda logística a pessoas de outros países”, lembra o Prof. Helmuth Malonek, ou não fosse missão da UA atrair cada vez mais investigadores estrangeiros para o Campus de Santiago. Assim, e para quem venha de fora de Aveiro, portugueses incluídos, haverá um acompanhamento personalizado, por exemplo na procura de alojamento, “para que a estadia seja o mais agradável possível para toda a gente que mostre vontade de se doutorar na UA”. Adicionalmente, a Escola Doutoral vai fornecer todas as informações aos alunos que pretenderem realizar um doutoramento fora da UA através de links que, online, reencaminharão os candidatos para o passaporte certo. Responsabilizar o doutorando Depois das informações pesadas e medidas, a hora é a da inscrição. A partir de casa, em frente ao ecrã do computador, sem filas, horas marcadas ou papéis, os candidatos inscrevem-se comodamente online. Quanto às informações sobre as condições de financiamento, uma tarefa até agora prestada por orientadores, passam a ser dadas pela Escola Doutoral que, assim, libertará mais uma vez o professor responsável pelo acompanhamento do aluno para o que é essencial, o trabalho científico. “Mas não vamos esquecer”, salienta o Prof. Helmuth Malonek, “as exigências que uma orientação deve ter em todos os aspetos”. Com o financiamento aprovado, seguem-se 3 a 4 anos de trabalho, durante as quais o doutorando é igualmente acompanhado. Pretende a Escola Doutoral que, nesta fase do arregaçar das mangas, o doutorando sinta que o futuro depende essencialmente dele. “O aluno tem de ir procurando soluções para o seu futuro. E isso vai estar explicitamente expresso na carta de compromisso que o doutorando, o seu orientador, o diretor
do departamento a que o estudante pertença e a Escola Doutoral vão assinar”, diz o responsável garantindo, no entanto, toda a ajuda da Escola na estruturação do amanhã. Nesse sentido, e depois da aprovação da tese, a Escola Doutoral dirá presente para ajudar o recém-doutorado a encontrar uma solução de continuidade do trabalho, seja dentro ou fora da academia. “Nas condições em que o país está de momento, um doutorando tem de ganhar tanta autoconfiança e preparação para que possa, se for necessário, fazer um pós-doutoramento noutro país. Isto é totalmente normal e as ofertas ao nível europeu são grandes”, aponta o Prof. Helmuth Malonek que não tem dúvidas: “Essas trocas internacionais de experiências científicas e pessoais são muito positivas”. A receita da Escola Doutoral está pronta em setembro. Doutoramento e dores de cabeça não voltam a andar de mãos dadas na UA.
EDUA – Nascida para o futuro Monitorar e avaliar os programas doutorais da UA de modo a contribuir para elevar os padrões de qualidade ao nível da orientação e da lecionação, contribuir para que a academia de Aveiro seja reconhecida como centro de excelência na formação do terceiro ciclo de estudos e incrementar a visibilidade da formação doutoral para trazer para o Campus candidatos de mérito são os principais objetivos a que se propõe atingir a Escola Doutoral da Universidade de Aveiro (EDUA). Pelo meio, a nova unidade tem o desejo de colocar em funcionamento mecanismos que, numa primeira fase, facilitem o financiamento dos doutorandos e, posteriormente, lhes abram as portas do mercado de trabalho. Criada em 2011 para acompanhar as melhores experiências realizadas ao nível do Ensino Superior europeu, a EDUA, coordenada pelo Prof. Helmuth Malonek, vai abrir portas já a partir do próximo ano letivo. O trabalho de casa, para que isso aconteça, já há muito que avança nesta unidade transversal de ensino e investigação cujo nascimento tem o propósito de coordenar todas as atividades ao nível do terceiro ciclo de estudos promovendo, para isso, as condições adequadas ao desenvolvimento de programas doutorais de excelência na UA. Assim, no início do próximo ano letivo, a EDUA vai apresentar-se aos candidatos nas suas quatro secções: a das Artes, Humanidades e Ciências Socias (coordenada pela Prof. Otília Martins); a das Ciências da Engenharia e Tecnologias (coordenada pelo Prof. José Grácio); a das Ciências da Vida e da Saúde (coordenada pelo Prof. Helmuth Malonek) e a das Ciências Naturais e Matemática (coordenada pela Prof. Ana Gil). Cada uma destas secções engloba os 42 programas doutorais que existem atualmente. “Antigamente os departamentos e unidades de investigação criavam os cursos doutorais mas não tinham este acompanhamento que a EDUA pretende dar. Estou convencido que no passado todos fizeram o melhor possível mas com a Escola a apoiar e a promover todas as iniciativas o sucesso da UA nesta matéria só pode melhorar bastante”, prevê o Prof. Helmuth Malonek.
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cooperação
estreitar laços com o tecido empresarial e promover o
empreendedorismo LINHAS
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O Portal Sapo, o Vital Jacket (Biodevices) ou a primeira impressora desktop 3D portuguesa (Bitbox) são apenas três exemplos de inovações desenvolvidas a partir do conhecimento adquirido na Universidade de Aveiro, que depois se tornaram produtos com valor comercial e serviram de suporte à criação de empresas.
A ampliação da Incubadora de Empresas da Universidade, o Creative Science Park (PCI) em parceria estreita com a região, os programas de formação em contexto de empresa, como o recém-lançado Pré-Master Program da Bosch, a formação em empreendedorismo que tem vindo a ser ampliada, o lançamento do portfólio de competências e serviços da Universidade… Estas e outras iniciativas demonstram uma preocupação permanente e transversal a todas as dimensões da missão da UA no sentido de o saber produzido estar ao serviço da inovação e do desenvolvimento económico e social.
A formação e investigação na UA permitiu ainda a criação de empresas inovadoras como a idtour, que analisa os fatores críticos da restauração, a 2CTech, que atua na área da bioquímica e saúde, a FoodMetric, para análises químicas do setor agroalimentar, a Edubox, de soluções informáticas para a educação, ou ainda a Micro I/O, em sistemas e eletrónica, entre várias outras. No entanto, o conhecimento adquirido na UA tem sido útil não só na criação de spin offs, mas também na gestão e administração de empresas já existentes. A Universidade de Aveiro tem duas unidades funcionais que promovem e apoiam de forma integrada o empreendedorismo e a transferência de tecnologia e conhecimento desenvolvido na sua comunidade: a Incubadora de Empresas de Empresas da Universidade de Aveiro (IEUA) e a Unidade de Transferência de Tecnologia (UATEC). A IEUA, através do seu programa de incubação, o IEUA Start Incubation Program, incentiva e promove a criação, o desenvolvimento e o crescimento sustentado de projetos empresariais inovadores. Este programa está dividido em cinco fases que incluem ações de
promover o empreendedorismo
Equipa IEUA em janeiro de 2012: projetos empresariais instalados, serviços e gestão da própria IEUA. 41
capacitação para o empreendedorismo, a disponibilização de espaços para a incubação de empresas, um conjunto de serviços e uma rede de parceiros orientados para a criação de valor e para a concretização de ideias de negócio. As duas primeiras fases, Ideia e Pre-Start (pré-incubação), são suportadas a 100% pela IEUA, com exceção dos espaços, sendo as seguintes, Start Up (criação da empresas e inicio de atividade), Star Play (fase de comercialização dos produtos ou serviços) e Start Go suportadas a 70%. A última fase pressupõe o crescimento da produção e das vendas (preferencialmente a nível externo) e a capacitação para a viabilização e sustentabilidade sem o apoio da IEUA. Estas cinco fases têm uma duração mínima de 25 semanas e máxima de 150 semanas. Desde 1996, foram criadas 47 empresas na IEUA, estando, atualmente, 14 empresas no edifício 1 do Campus Universitário de Santiago. À capacidade instalada no edifício 1, 550 m2, juntar-se-ão mais 450 metros quadrados da antiga Fábrica de Moagens. Esta nova área incluirá 11 gabinetes de 16 a 115 metros para que seja possível manter o apoio a toda a comunidade UA – e não só a negócios de base tecnológica, mas também a toda a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro. Estas duas valências estão inseridas na Incubadora de Empresas da Região de Aveiro (IERA), totalizando assim cerca de 2000 metros quadrados orientados para a incubação de empresas na Região de Aveiro.
As empresas associadas à IEUA transformam o conhecimento e a investigação em atividade económica e criam as condições que facilitam e estimulam processos de inovação que permitem o crescimento e a afirmação de uma rede de inovação na região de Aveiro. As empresas que concluem com sucesso o programa de incubação estão capacitadas para desenvolver a sua atividade com autonomia da IEUA, adquirindo nesse momento o estatuto de Empresa IEUA Graduada. Apoio à propriedade intelectual e formação A Universidade de Aveiro dispõe, na UATEC – Unidade de Transferência de Tecnologia (www.ua.pt/uatec), de uma equipa dedicada à proteção e gestão da propriedade intelectual, à valorização dos resultados de investigação, à promoção do empreendedorismo e apoio à criação de empresas, e ainda ao apoio à promoção da inovação empresarial. Entre 1994 e 2011, a inovação da Universidade de Aveiro já proporcionou o pedido de registo de 173 marcas, 131 patentes nacionais e 65 patentes internacionais. O LABE – Laboratório de Empreendedorismo da Universidade de Aveiro, operacionalizado pela equipa da UATEC, visa promover a formação empreendedora dos alunos da academia que querem empreender as suas próprias ideias. A metodologia utilizada no LABE Start Up Programme da Junior Achievement Portugal, é utilizada em 120 países e envolveu já mais de nove milhões de
alunos. Programa em que alunos vão trabalhar a sua ideia e desenvolver um plano de negócios e uma Proposta de Investimento. A metodologia compreende três competições: a Regional, a Nacional e a Europeia. A UA dispõe também de formação em empreendedorismo no âmbito dos seus ciclos de estudos: no 1º Ciclo – disciplinas de “Empreendedorismo” e “Gestão de Projetos Empreendedores” –, no 2º Ciclo – disciplinas de “Empreendedorismo e Criação de Empresas”, Bioempreendedorismo”, “Empreendedorismo para ERASMUS” – e no 3º Ciclo “Empreendedorismo”, “Inovação e Empreendedorismo”. Para além da formação integrada nos ciclos de estudos habituais, a Universidade de Aveiro promove o Curso de Empreendedorismo de Base Tecnológica (CEBT), distinguido com o 2º lugar na categoria “Promoção do Empreendedorismo” da fase portuguesa dos Prémios Europeus de Iniciativa Empresarial em 2010. O CEBT, para além de promover a cultura empreendedora da academia, visa valorizar a investigação científica produzida nas unidades de investigação através da constituição de empresas de base tecnológica (Spin-offs). As ideias/tecnologias são propriedade da UA e são trabalhadas por equipas multidisciplinares (docentes, investigadores, alunos, empresários), culminando com a apresentação de um Plano de Licenciamento ou um Plano de Negócios. A edição deste ano está integrada no projeto INESPO, e é uma
cooperação
parceria das Universidades de Aveiro, Coimbra e Beira Interior, do Conselho Empresarial do Centro/Câmara de Comércio e Indústria do Centro e, do lado espanhol, da Fundación General de la Universidad de León y la Empresa, Fundación General de la Universidad de Salamanca, Fundación General de la Universidad de Valladolid e Universidad Pontificia de Salamanca.
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Concursos e estágios nas empresas Na trilogia das atividades de promoção do empreendedorismo – formação, concursos e mobilidade – o concurso Poliempreende, que começou como iniciativa de empreendedorismo das instituições de ensino polítécnico à qual se associou a UA, pela sua vertente de ensino politécnico, é outra peça fundamental. Visa, através de um concurso de ideias e de planos de negócios, avaliar e premiar projetos desenvolvidos e apresentados por alunos, diplomados ou docentes do ensino politécnico. Pretende incutir nos alunos o espírito de iniciativa, a vontade de empreender que possa conduzir à criação da própria empresa e gerar postos de trabalho, explorando o caráter eminentemente prático e profissionalizante da sua formação. Ao nível das iniciativas de mobilidade associadas à promoção do empreendedorismo, destaca-se “Erasmus para jovens empreendedores” (Erasmus for Young Entrepreneurs) que possibilita aos empreendedores portugueses a oportunidade de realizar um estágio de até seis meses numa instituição internacional. Às empresas nacionais é oferecida a oportunidade de acolher um empreendedor estrangeiro por igual período de tempo. Na edição deste ano do Fórum 3E foi apresentado o Consórcio RUEAM – Rede Universidade Empresas de Aveiro para a Mobilidade. Apoiada pelo Programa Erasmus, a RUEAM pretende promover um conjunto de oportunidades para estágios internacionais, numa rede constituída por empresas e instituições, e contribuir para melhorar as ações de cooperação entre o ensino superior e as empresas
portuguesas através da criação, em conjunto, de oportunidades de estágios curriculares e extracurriculares de alta qualidade noutros países da União Europeia. Aproximação às empresas e o exemplo da Bosch “(…) As universidades devem atuar também como parceiras ativas da sociedade. É imperioso que se torne evidente aos potenciais parceiros – empresas, autarquias, outros agentes – o que temos para lhes oferecer em matéria de prestação de serviços e de transferência de tecnologia, mas também no que respeita à divulgação científica, à dinamização social, à promoção da cultura. (….)”, afirmou o Reitor da UA, Prof. Manuel Assunção, a propósito do lançamento do Portfólio de Competências e Serviços da UA (portfolio.ua.pt). A presença de três empresas no campus da UA – PT Inovação, Nokia e Sapo – é também sugestiva do empenho na inovação, empreendedorismo e no estreitar de relações com o exterior, o tecido empresarial e com a sociedade, princípios que fazem parte integrante do seu código genético desde o primeiro momento, em 1973. Estes princípios estão também na base do Pre-Master Program da Bosch, um programa de estágios na empresa, recém-apresentado no Forum 3E a 20 de abril. Este é um programa de estágios entre o primeiro e o segundo ciclos de formação universitária, para licenciados pós-Bolonha, procurando tornar-se uma fase mais prática na vida
do aluno. É principalmente dirigido às Engenharias, mas também às áreas de Gestão, Economia, Finanças, Compras. O curso de 2º ciclo, mestrado, pode ser iniciado até dois anos após iniciar o estágio na empresa. Na Bosch, um elemento da direção assumirá o papel de mentor e outro elemento dos recursos humanos acompanhará o aluno. A Bosch pretende, afirmou João Paulo Oliveira, administrador da empresa e professor convidado na Universidade de Aveiro, na sessão de apresentação do programa, “encontrar e reter os melhores, não só em termos de média escolar, mas também considerando fatores como a interação com os outros, e também promover um ensino universitário mais aplicável nas empresas”. Na perspetiva do administrador e ao contrário que, frequentemente, os portugueses pensam, “os jovens formados nas universidades portuguesas têm uma qualidade média superior aos outros e são, muitas vezes, convidados para desafios fora de portas”. No entanto, o Pre-Master Program ds Bosch é apenas um aspeto da aproximação entre a empresa multinacional e a UA. Para além da intenção anunciada de aumentar o número de estágios e de dissertações de mestrado, em ambiente empresa, recentemente foi estabelecido um plano de ação que definirá, até final de 2012, três projetos que serão desenvolvidos em parceria.
bitBOX quer revolucionar o mercado
bitBOX quer revolucionar mercado primeira impressora 3D portuguesa construída na universidade de aveiro É a primeira impressora 3D desktop a ser fabricada em Portugal. E o que faz uma impressora 3D? Serve para dar corpo ao que a necessidade e a imaginação conceberem. O equipamento surgiu das mãos de dois estudantes da Universidade de Aveiro, ocupa o espaço de uma comum impressora de papel e, ligado ao computador pessoal, funciona de forma tão simples que até uma criança pode imprimir os seus próprios brinquedos. O preço da máquina made in UA é apenas uma das vantagem. Será bastante mais baixo que as impressoras 3D desktop de referência no mercado mundial, tornando muito mais acessível um equipamento cuja utilidade “tem o céu como limite”. Quem o garante é um dos criadores da primeira impressora 3D portuguesa. Francisco Mendes aponta a possibilidade de se inventarem “coisas fantásticas” para a utilização da impressora. “As aplicações são as mais variadas possíveis e as potencialidades aumentam a cada dia que passa”, diz o estudante do mestrado em Automação Industrial da UA. Exemplos para tirar partido da impressora não faltam. Um simples puxador de gaveta, um brinquedo ou mesmo um protótipo de uma pequena peça que um empresário queira vender a um cliente são apenas algumas das múltiplas aplicações à
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Jorge Pinto e Francisco Mendes junto da prova de conceito da impressora.
espera da impressora 3D. “Um designer ou um arquiteto que precise de fazer uma peça para uma maquete pode tê-la na mão sem sair do gabinete e uma criança que tenha perdido uma peça de lego pode produzi-la para conseguir acabar a construção”, exemplifica Francisco Mendes. Fácil de utilizar O funcionamento da impressora, que permite gerar objetos leves mas muito resistentes, não tem muitos segredos. O utilizador pode fazer download de qualquer um dos milhares de objectos existentes em sites sociais (por exemplo em http://www.thingiverse. com/) ou “pode desenhar a peça no seu computador pessoal, através de um qualquer programa informático de modelação 3D, e de seguida dá a ordem para a impressora imprimir, camada por camada, o modelo desenhado até ele se transformar num corpo sólido”, explica. E que material usa a invenção dos dois alunos? Se uma normal impressora de documentos utiliza papel, a 3D faz uso de dois materiais baratos: o ABS, um tipo de plástico normalmente utilizado nos eletrodomésticos e que pode assumir várias cores, e o PLA, um polímero feito à base de milho e, por isso, biodegradável.
Dependendo do volume e da complexidade da geometria da peça à qual se quer dar vida, assim o tempo de impressão, naturalmente, varia: um objeto de tamanho médio, com o volume de um telemóvel, pode demorar 30 minutos a ter corpo; um objeto grande, que ocupe o espaço de um livro de mil páginas, pode demorar até 5 horas. Em todo o caso, diz Francisco Mendes, “é um processo que demora muito menos tempo do que é gasto usando os serviços tradicionais de impressão de peças porque implica sempre um tempo de trânsito grande entre fazer a encomenda e ter a peça na mão”. Concebida por Francisco Mendes, de 37 anos, e por Jorge Pinto, de 33 anos, licenciado em Eletrotecnia pela Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda, uma das escolas politécnicas da UA, a impressora 3D nasceu na bitBOX, uma empresa criada pelos dois jovens inventores e alojada dentro da Incubadora de Empresas da Universidade de Aveiro.
campus exemplar
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novos edifĂcios para a era da
sustentabilidade
Futura ESAN
expansão do campus universitário
Novo edifício da ESSUA 45
A preocupação com a eficiência energética, a redução dos custos de manutenção e, em última análise a sustentabilidade, inspiram os novos edifícios em construção no campus da Universidade de Aveiro. Mais do que a eficiência energética, no caso das futuras instalações da Escola Superior Aveiro Norte (ESAN) da UA, em Oliveira de Azeméis, a sustentabilidade baseou a intervenção desde o primeiro momento. Estes princípios estão também presentes na nova Escola Superior de Saúde da UA (ESSUA), projetada pelo gabinete AT93 na sequência de concurso nacional, e que deverá entrar em funcionamento no início do próximo ano letivo. Estas boas práticas inspiram ainda outras obras desenhadas pela Estrutura de Projeto de Arquitetura e Desenvolvimento Físico da Universidade de Aveiro. É também o caso do Complexo Interdisciplinar de Ciências Físicas Aplicadas à Nanotecnologia e à Oceanografia (CICFANO), em construção entre os Departamentos de Economia, Gestão e Engenharia Industrial e o de Física, e do edifício da antiga Fábrica de Moagens que terá entrada pela Baixa de Santo António, no contexto do chamado Parque da Sustentabilidade de Aveiro. A solução de regularização da temperatura interna do edifício através da geotermia foi também usada, embora de modo menos amplo do que na ESAN, nos edifícios da ESSUA – em conclusão no campus, área do Crasto –,
e no CICFANO, inserido no campus de Santiago e em fase adiantada de construção. A temperatura das profundezas do solo ajuda a controlar termicamente o edifício. No caso do CICFANO, o controlo térmico é também feito com o contributo de um sistema que capta a temperatura da uma conduta de efluentes urbanos que passa no subsolo do campus. A ESSUA tem uma área construída de 10.800 m2 e 2.700 m2 de arranjos exteriores e arruamentos. Estes novos edifícios são expressivos contributos para o chamado Campus Exemplar, versão UA do campus sustentável, conceito que já foi adotado por várias universidades e levou o Consórcio Europeu de Universidades Inovadoras (ECIU) a criar um grupo de trabalho em que a Universidade de Aveiro participa.
Um paradigma no Campus Exemplar A ESAN, em Oliveira de Azeméis, é mesmo um caso paradigmático em Portugal: “Este novo edifício Parque do Cercal – Campus para a Inovação, Competitividade e Empreendedorismo Qualificado é uma máquina energética concebida para navegar ao longo dos anos numa relação calculada e equilibrada entre qualidade ambiental e consumo”, explica a memória descritiva. Para além de outras soluções inspiradas pelo conceito de
sustentabilidade, a temperatura captada do subsolo aquece ou arrefece (consoante a temperatura exterior) a água que corre nas tubagens existentes nas perfurações a 120 metros de profundidade e que estão ligadas ao sistema de climatização do edifício. A metodologia e tecnologia a utilizar são inéditas em Portugal, apesar de sobejamente utilizadas nos países do norte da Europa. Trata-se de uma obra da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis que se insere no contexto do projeto Parque do Cercal – Campus para a Inovação, Competitividade e Empreendedorismo Qualificado. Inclui as novas instalações da Escola Superior da UA e um conjunto de iniciativas de apoio e articulação com o tecido económico da região. A estrutura pretende constituir-se também uma referência no âmbito das áreas de Acolhimento Empresarial e Inovação, com as valências de: ensino e formação; investigação e desenvolvimento tecnológico; apoio à incubação de novas empresas; estímulo ao empreendedorismo; promoção do emprego qualificado; apoio ativo ao tecido económico local e regional. A obra é financiada pelo “ON.2 – O Novo Norte” (Programa Operacional Regional do Norte. O edifício foi concebido pela Estrutura de Projeto de Arquitetura e Desenvolvimento Físico da Universidade de Aveiro, coordenada pelo arquiteto Joaquim Oliveira, e por um conjunto de técnicos especialistas em eficiência energética – contribuindo para a investigação de ponta da UA.
campus exemplar
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Baixa de Santo António com nova entrada para a Fábrica da Ciência Viva
Porta para o Parque da Sustentabilidade Os antigos edifícios do complexo da Fábrica de Moagens que já constituíam um interface de ligação entre a Universidade e a cidade pelas funções que desempenhavam e desempenham, nomeadamente por albergar a Fábrica da Ciência Viva e o Centro de I&D da Nokia Siemens Networks, estão, neste momento, a ser submetidos a obras de reabilitação e readaptação que consolidarão ainda mais o seu papel marcante e de charneira com a cidade. O complexo é composto pelos edifícios A e B, pelo edifício onde está instalado o centro de I&D da Nokia Siemens e pelo C que continuará a albergar exclusivamente a Fábrica da Ciência Viva. Esta obra, no edíficio C é financiada pelo Mais Centro (QREN). A readaptação proposta pela Estrutura de Projeto de Arquitetura e Desenvolvimento Físico da UA, nos chamados edifícios A e B deste complexo (ao longo da Rua dos Santos Mártires), cria espaço e condições para acolher a ampliação da Incubadora de Empresas da UA,
assim como para receber a equipa do Projeto Matemática Ensino – PMate. A nova estrutura em construção, na Baixa de Santo António, dará forma à entrada da Fábrica da Ciência. Esta nova estrutura integra um túnel com receção, quiosque e bar, e ligação ao chamado edifício de “animação e formação artístico-científica”. Surge no contexto e é financiada pelo Parque da Sustentabilidade de Aveiro. Também com projeto do mesmo grupo de trabalho, as futuras instalações do Instituto de Telecomunicações (IT) - Aveiro, deverão estar concluídas em meados de 2013. Terão cerca de 3100m2, duplicando a área atual do polo do IT em Aveiro, com um orçamento de quase dois milhões de euros, cuja construção será cofinanciada com verbas do QREN. Neste edifício, onde se destacam os 480m2 de área laboratorial, 300m2 distribuídos por 4 salas de bolseiros do tipo open space e 20 gabinetes, será concentrada a investigação nas áreas das Comunicações Óticas e Comunicações Rádio. A obra inclui ainda um pavilhão para provas de robótica.
cultural
Sabia que o amor e a paixão resultam da ação de algumas substâncias químicas sobre o cérebro? E que o vulgar sal de cozinha, também conhecido por cloreto de sódio, é um dos compostos químicos há mais tempo utilizado pelo Homem, pela sua capacidade para conservar alimentos? Os computadores portáteis, os post-it, as lentes de contacto ou os detergentes são também exemplos de aplicações químicas que, sem darmos conta, fazem parte do quotidiano de todos nós.
ua lançou programa de divulgação de ciência na rtp 2
“a química das coisas” desvenda a química escondida em objetos inesperados A química que se esconde por detrás de cada um dos mais comuns conceitos e objetos é desmascarada no programa televisivo “A Química das Coisas”, da autoria do Departamento de Química da Universidade de Aveiro, produção da Science Office e Duvideo e apresentação de Cláudia Semedo, cuja primeira série teve honras de estreia, em março, na RTP2. Ao longo de 13 episódios, de três minutos cada, foram desvendados os segredos da química que se escondem no dia a dia, no que comemos, bebemos, vestimos e utilizamos e demostrado o modo como as evoluções recentes daquela ciência contribuem para o bem-estar e desenvolvimento das sociedades modernas. Paulo Ribeiro Claro, coordenador da iniciativa, afirma que esta tem sido uma “experiência totalmente nova” e um “enorme desafio”. “Eu faço investigação em Química-Física usando, por exemplo, radiação laser e computadores e, apesar de ter já alguma experiência em atividades de comunicação de ciência, não foi fácil a transição para um projeto multimédia com esta ambição”. O programa vai continuar, numa segunda série também de 13 episódios, a ser exibido na televisão, e promete revelar tudo sobre a química presente nas pastilhas elásticas, no chocolate, no dinheiro ou no pão.
Ainda assim, “A Química das Coisas” constitui um projeto mais amplo do que a série televisiva (também transmitida na RDP África e Internacional) e estende-se a outras plataformas, como o iPad e a Internet, através da página oficial (http://www.aquimicadascoisas. org/) e das redes sociais. Brevemente, os 26 temas apresentados conhecem a forma de desdobrável e serão distribuídos gratuitamente com um jornal nacional. O programa foi produzido no âmbito do Ano Internacional da Química 2011 e é um dos 29 projetos financiados pelo Programa Media Ciência, uma iniciativa do COMPETE – Programa Operacional Fatores de Competitividade e Ciência Viva. Recorde-se que “A Química das Coisas” constitui apenas uma das múltiplas iniciativas de divulgação de ciência que a UA promove junto dos seus públicos. Neste âmbito, e relacionadas com esta área do conhecimento, são organizados também os Espetáculos de Química e um conjunto de alargado de atividades, maioritariamente destinadas aos públicos escolares, protagonizadas por investigadores e docentes do Departamento de Química da Universidade de Aveiro. Inscrevem-se nesta oferta, as Olimpíadas da Química, as dinâmicas inseridas quer na Academia de Verão, quer na Semana Aberta da Ciência e Tecnologia e os programas científicos oferecidos pela Fábrica – Centro Ciência Viva de Aveiro.
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cultural
casa major pessoa é um paradigma das mudanças entre os séculos XIX e XX
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museu de arte nova pela mão de francisco providência Vestida ao gosto das mudanças na viragem do século XIX para o XX, rosto esbelto e delicado a olhar o canal, apesar da idade, a Casa Major Pessoa reabriu assumindo a sua condição de exemplo supremo da Arte Nova. Manifestação notável de uma arquitetura que é, simultaneamente, cosmopolita e sensível à natureza envolvente, a casa é agora a sede de um Museu com ramificações pela cidade e centro interpretativo da Arte Nova.
museu de arte nova pela mão de francisco providência
O enleio macio da vegetação conduz o desenho das janelas, das vedações em ferro e fixa-se na pedra da fachada. Os animais e aves da ria, os patos bravios, a pesca nos esteiros, surgem nos painéis coloridos em azulejo. A águia que vigia os campos encima a fronte. Silva Rocha, talvez ajudado pelo suíço Korrodi, soube levar a natureza do Baixo Vouga para arquitetura da Casa Major Pessoa, posta em permanente diálogo com o canal central, marca da ria na cidade Aveiro. Hoje, centro interpretativo do Museu Arte Nova com vários exemplares arquitetónicos espalhados pela cidade, a Casa Major Pessoa é a ria na arquitetura de Aveiro e paradigma do movimento Arte Nova, marcado pelo apelo da biologia e pelas pontes que estabeleceram entre arte e ciência na viragem dos séculos XIX e XX. Se existe alguma confluência entre o que poderia designar como uma expressão regional da arquitetura, por um lado, e um movimento artístico mundial, por outro, ele encaixará na perfeição no número 9 da Rua Barbosa de Magalhães. O centro interpretativo, sede do Museu Arte Nova de Aveiro, abriu a 3 de março, na sequência do trabalho do designer e professor da Universidade de Aveiro, Francisco Providência, desenvolvido ao longo de quatro anos, e do arquiteto e professor da Universidade de Coimbra, Paulo Providência. O professor da Universidade de Aveiro concebeu a museologia do espaço.
Embora não haja consenso sobre a autoria do projeto original, nomeadamente sobre a participação do arquiteto de origem suíça Ernesto Korrodi, tudo aponta para que Silva Rocha, que foi professor e diretor da então Escola de Desenho Industrial de Aveiro, tenha tido um papel determinante na conceção do edifício. Silva Rocha e outros autores conceberam diversos outros edifícios representativos da Arte Nova na cidade de Aveiro e que estão patentes na sala de exposições temporárias.
Casa explica a Arte Nova em Portugal e no mundo O antigo edifício foi reabilitado na sua arquitetura e estrutura interior, mas preterindo a vida anterior como casa de família. Pretende-se que o Museu Arte Nova seja um museu aberto, constituído pelos vários edifícios representativos e disseminados pela cidade de Aveiro e, por isso, foi montada uma mesa que funciona como maquete da cidade, com os vários elementos Arte Nova assinalados. Um aparelho áudio, com a explicação de cada exemplar, pode ser requisitado para elucidar o visitante ao longo dos dois percursos possíveis. O centro interpretativo, explica Francisco Providência, procura apresentar não só um panorama do estilo Arte Nova, mas também a inserção no contexto das mudanças sociais que ocorreram na transição do século XIX para o XX, no contexto das pontes que então se estabeleceram
entre arte e ciência. A pianola (piano que toca sozinho através de matriz em papel perfurado enrolado), à entrada, simboliza a democratização no acesso à música que então se empreendeu, patente no percurso de compositores como Erik Satie que também tocou em bares e cabarets e explorou a presença da mecânica na música. Esse contexto é mostrado no primeiro andar da casa, onde são explicados conceitos e termos como “geometria da vida”, “energia do crescimento, as “artérias de ferro” que se estenderam para o transporte a vapor de pessoas e mercadorias, a beleza do corpo natural expresso no vestuário “Belle Époque” e nos rótulos dos vinhos Ramos Pinto, os planos higienistas, os programas de lazer e o termalismo, a observação da biologia como ponto de partida para o biodesign e para a dedução de formas. No segundo andar, mostra-se parte do “Dicionário Arte Nova”, onde se destacam os nomes dos autores que marcaram o movimento em vários países, arquitetos, pintores, escultores, joalheiros, músicos, e os quatro principais arquitetos que intervieram na cidade de Aveiro: Ernesto Korrodi (1870 -1944); Francisco Silva Rocha (1864-1957); Jaime Inácio dos Santos (1874-1942); José de Pinho (1874-1964). O Museu Arte Nova dispõe ainda de um café/salão de chá com entrada para a chamada Praça do Peixe. Está aberto de terça a sexta, das 9h30 às 12h30 e das 14h00 às 18h00. Aos sábados e domingos, funciona das 14h00 às 18h00.
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cultural
espólio bibliográfico aldónio gomes será o núcleo central da coleção “expansão portuguesa e países de língua oficial portuguesa” LINHAS
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O espólio de Aldónio Gomes, composto por milhares de livros, revistas e outros objetos foi doado à Universidade de Aveiro pela viúva do estudioso das literaturas de língua portuguesa, divulgador e exgovernante. Cerca de cinco mil livros e revistas já foram entregues à UA e têm vindo a ser catalogados nos Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia. Para além de livros e revistas, o espólio inclui ainda selos, moedas e fotografias. O protocolo de doação do espólio foi assinado a 21 de março, entre Fernanda Cavacas, especialista em literaturas de língua portuguesa e viúva de Aldónio Gomes, e a Universidade de Aveiro, no âmbito do Colóquio do Movimento Festlatino. O colóquio decorreu na UA, com a participação de representantes nacionais e internacionais de associações e instituições que laboram em prol da lusofonia e foi um dos pontos altos do
Festival das Letras que teve início em fevereiro, decorreu ao longo de todo o mês de março com iniciativas em abril. O objetivo desta doação, afirma Fernanda Cavacas, é partilhar o percurso de décadas, traçado pelo casal de estudiosos e divulgadores que foi reunindo obras editadas nos vários países de língua portuguesa, algumas raras ou mesmo esgotadas há muito, ou ainda, noutros casos, que dificilmente se poderão encontrar fora dos países onde foram editadas. Aliás, alunos, professores e investigadores de diferentes países contactavam o casal, com frequência, a pedir edições que não encontravam nos seus países. “Só assim, com espírito de partilha, se pode trabalhar em prol da língua portuguesa”, salienta a professora e ex-consultora da Fundação Calouste Gulbenkian na área da cooperação com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Entre 1985 e 1995, com o Projeto de Expansão e Melhoria Qualitativa do Ensino da Língua Portuguesa (da Fundação Calouste Gulbenkian), coordenado por Aldónio Gomes e em que participou Fernanda Cavacas, foram preparados manuais, da primeira classe ao último nível do ensino secundário e selecionados textos literários em cada país para adequar a edição às especificidades nacionais. Para cada país lusófono havia uma edição diferente, o que resultou em uma centena de manuais, aproximadamente. Com esse trabalho de recolha, os dois investigadores organizaram, mais tarde, o “Dicionário de autores africanos de língua portuguesa”.
Coleção sobre a grande família lusófona Dado que, neste espólio, existe um grande número de obras que se debruçam sobre temas ou são de autores de países de língua oficial portuguesa, o conjunto irá integrar uma grande coleção, em preparação nos Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia da UA, que se intitulará “Expansão Portuguesa e Países de Língua Oficial Portuguesa”. A coleção integrará, para além de edições relacionadas com países africanos de expressão portuguesa, outras relacionadas com Brasil, Timor, Macau e Índia. Nesta coleção vão ser integradas obras sobre estas temáticas que já fazem parte do acervo bibliográfico da UA, às quais se juntará um outro espólio doado pela Caixa Geral de Depósitos, no final do ano passado, que inclui publicações da primeira metade do século XX das antigas colónias portuguesas. Em abril passado, estavam catalogados quase 1.500 unidades das 5.000 já recebidas no âmbito do espólio de Aldónio Gomes. Dele fazem parte edições de literatura, onde se destacam autores pouco ou nada conhecidos do público português, mas também sobre linguística e pedagogia do português, entre outros temas. Por isso, prevê-se que seja de grande interesse para os estudantes dos cursos do Departamento de Línguas e Culturas, mas também para os docentes e investigadores envolvidos nos projetos ligados à lusofonia e ainda para todos os interessados nestas matérias em qualquer parte do mundo.
apresentação da obra “Mário Soares: um político assume-se”
apresentação da obra “mário soares: um político assume-se – ensaio autobiográfico, político e ideológico”
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Mário Soares, antigo Presidente da República, foi o convidado de honra do encerramento do Colóquio do Movimento Festlatino que decorreu na Universidade de Aveiro, a 21 de março. Antes da sua intervenção, intitulada “Portugal e Europa”, Luís Machado de Abreu, professor aposentado do Departamento de Línguas e Culturas da UA apresentou o mais recente livro do histórico dirigente socialista e “o mais mundialmente conhecido dos políticos portugueses vivos”. Sobre Mário Soares: um político assume-se – ensaio autobiográfico, político e ideológico”, o professor considerou-a uma “obra que é magistral lição de entrega total à paixão política. Paixão afirmada com coragem e frontalmente contrária à onde de descrédito da política e dos políticos”. A viagem pela “vida política das últimas seis ou sete décadas” em Portugal é feita nas linhas que se seguem, num roteiro proposto por Luís Machado de Abreu.
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1. Muito poucas apresentações de um livro serão tão redundantes como esta me parece ser. Redundante, sim. Pois não é seu autor, porventura o mais mundialmente conhecido dos políticos portugueses vivos!? Redundante ainda pela matéria que é, nem mais nem menos, a vida política portuguesa das últimas seis ou sete décadas, em grande parte vivida e participada por muitos dos que aqui nos encontramos. Redundante também, pela dupla polaridade do título, onde o autor e a personagem da narrativa se confundem. Mário Soares, além de autor, é ele mesmo o político que se assume, desde a primeira até à última página, como ator da vida nacional sempre, da política europeia com frequência, e da cena política mundial algumas vezes. Tudo isso condiz com a classificação de “ensaio autobiográfico” atribuída ao escrito. Estaremos então em presença de um exercício de narcisismo mais ou menos desinteressante e supérfluo!? Nem pensar. Aqui, o elemento biográfico não passa afinal de território existencial onde se ensaiam algumas das questões políticas e ideológicas hoje mais decisivas, tanto no plano nacional como no internacional. Através do itinerário de uma personalidade de eleição somos convidados a interpretar e a reviver as transformações maiores da história do povo português, desde a I República até hoje. E assim é, porque perante o nosso olhar curioso de leitores se encontra uma obra que é magistral lição de entrega total à paixão política. Paixão afirmada com coragem e frontalmente contrária à onda de descrédito da política e dos políticos. A obra apresenta-nos, passo a passo, um invulgar caso de estudo que deve ser lido como contraponto e aplicação prática de Elogio da Política, outro livro publicado pelo mesmo autor em 2009. Embora Elogio da Política declare liminarmente que “não é obra de ciência política”, certo é que se inscreve em registo claramente teórico. E não é por acaso que o primeiro capítulo de Um político assume-se se intitula exatamente “A importância da política”, sendo a política logo identificada, para desfazer equívocos
e interpretações malévolas, como “missão pública, extremamente honrosa e desinteressada, para quem a exerce com [...] espírito [de] servir os outros e a sua Pátria...”(23) 1 Sublinhada em teoria a dignidade e nobreza da atividade política, temos o direito de esperar que estas mais de cinco centenas de páginas nos mostrem, no concreto da história vivida, como essa dignidade e nobreza foram e são demonstradas pela prática de intervenção na oposição ao regime de Salazar e Caetano, na militância partidária dentro do socialismo democrático, na ação governativa em democracia, na presidência da República e na colaboração com inúmeras instituições europeias e mundiais. E a leitura não nos deixa dececionados. Àqueles de nós a quem o rodar dos anos fez mergulhar no rio da história deste País, muitas páginas avivam a memória, aprofundam interpretações, completam com pormenores desconhecidos o mosaico dos acontecimentos e robustecem sempre o amor pela liberdade e por Portugal democrático. 2. Há certamente diferentes maneiras de entender o rito social de apresentação de um livro. Uma delas, de que faço questão de me distanciar completamente, consiste em esboçar o resumo da obra. Neste caso, em vez da síntese que pode sempre alimentar a preguiça ou o comodismo fácil de quem se dispensa de ler, passarei antes a sublinhar aqueles pontos que, através da minha leitura, mais interesse, enriquecimento e fascínio despertaram em mim. E esses pontos são: um testemunho exaltante de paixão política; o triunfo da coerência de alguém que sabe o que quer; um livro que respira saúde.
1 Todos os números entre parênteses remetem para as páginas do livro.
2.1. Testemunho exaltante de paixão política. O que no fluir sereno destas páginas se narra é a travessia recheada de desafios e imprevistos de alguém que nasceu para a política, que a abraçou como projeto de vida e por ela travou, sem desfalecimento, as duras batalhas da liberdade, da democracia e dos direitos humanos. Pode o leitor procurar a descrição de acontecimentos, instituições e figuras. E não sairá frustrada a sua expectativa, porque são abundantes e saborosos os episódios com que nos deparamos. Em muitos casos, o conhecimento difuso que deles tínhamos torna-se real e preciso. Outras vezes, uma nota de humor dá colorido a pequenos segredos de bastidores. Para estimular o apetite, lembro aqui algumas dessas peripécias. Ficamos a saber que foi uma portuguesíssima “cunha” ao então Ministro da Educação, Professor Leite Pinto, que autorizou finalmente o jovem Mário Soares a exercer a profissão de professor num colégio privado (19). E com o leitor vai partilhando o que foi a participação atribulada na candidatura do general Norton de Matos (50-52); a influência determinante e determinada de Alain Oulman na escrita e publicação de Portugal Amordaçado (144-146); a preparação em Paris de um doutoramento em História da I República (166); o episódio do “cavalo branco” ocorrido no Palácio das Necessidades, em agosto de 1974 (220); a reação de espanto e desconforto perante o insólito das palavras de Kadafi dirigidas a Mário Soares: “o Senhor é árabe!” (235); os nacos de crónica de bastidores a propósito de Gorbatchev em Moscovo (390), Vaclav Havel em Praga (391), e, em novembro de 1995, o assassinato de Yitzhak Rabin no próprio dia em que tinha acabado de almoçar com ele em Jerusalém (422); e muitas, muitas curiosas peripécias mais. Mas o que realmente encanta por dentro da informação esclarecida que nos vai sendo transmitida é a voz da testemunha sempre atenta e interventiva ao longo de quase setenta anos de política portuguesa: trinta e oito desde a
apresentação da obra “Mário Soares: um político assume-se”
Revolução dos Cravos, e anteriormente mais de trinta como opositor ao salazarismo e ao marcelismo. Observador participante que escreve com alma sobre aquilo que viveu. E mais do que observador interessado, sentinela sempre pronta a denunciar os perigos que corre a Pátria. Quando se julgaria que o ator na ribalta da política portuguesa durante décadas, se iria remeter finalmente ao sossego de uma vida de reformado, ei-lo que aos oitenta anos ainda se assume candidato a terceiro mandato presidencial. Tinha dito “Basta!” à política partidária e institucional no Jantar de Amigos reunidos na FIL, no dia 7 de dezembro de 2004. Então, entre muitas outras coisas que disse, desabafou: “Portugal vai mal! Tivemos uma revolução de sucesso, internacionalmente reconhecida como tal. Vivemos em paz e democracia. Houve incontestável progresso material. Mas estamos de novo – embora noutro patamar de desenvolvimento – pessimistas quanto ao futuro, bloqueados, sem horizonte e sem esperança.” (469-470) E menos de um ano depois, a situação política tinha-se agravado em Portugal e na União Europeia. Não podia nessas condições fugir às dificuldades e desafios que o País teria de enfrentar. Habituado a ganhar e a perder, soube aceitar a derrota eleitoral de janeiro de 2006 com naturalidade, mas mantendo-se na frente de luta pela defesa dos valores em que sempre acreditou. Passados alguns meses do que chamou o nojo, após a derrota, tempo de silêncio mas não de inércia reflexiva, retomou pela palavra a função política de sentinela dos valores democráticos e de resistente. Senhor de lucidez profética avalia a evolução atual da política portuguesa, europeia e internacional. E do seu posto de sentinela proclama: “Os europeus responsáveis têm de abrir os olhos e reagir contra a situação a que chegaram. Os mercados continuam à solta e não têm regras éticas. [...] Se não houver uma reação que regulamente a situação dos mercados e os obrigue a respeitar os Estados nacionais, vamos assistir a um recuo
civilizacional sem precedentes.” (485486) E logo a seguir vem o brado do resistente infatigável: “Há que resistir,obviamente, ao que seria uma catástrofe irreparável [...] Por mim fá-loei, pela palavra e pela escrita, as únicas armas de que disponho...” (487) Até aqui o testemunho vibrante de paixão política. Testemunho reforçado pela prática indefectivel de coerência. 2.2. Coerência de alguém que sabe o que quer. O livro mostra-nos um homem que, desde muito cedo, revela com segurança e persistência saber exatamente o que quer e para onde vai. É um caso feliz em que o instinto da liberdade se pôs ao comando da paixão política. Paixão esclarecida pela perspicácia e sagacidade quanto ao tempo oportuno para fazer o que tinha de ser feito. E afirma-o com clareza e frontalidade nos momentos onde tudo é novo e envolto em incertezas. Vejamos o que diz a respeito da tomada de posse como Ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Provisório: “Eu não conhecia o Ministério nem os diplomatas. Mas não tinha dúvidas quanto à política que queria realizar [...] tratava-se, para mim, de promover uma política externa diametralmente diferente do passado, mas indo mais longe: porque pensava que sem resolver o problema colonial não haveria democracia pluralista possível nem desenvolvimento económico. Era, portanto, a minha prioridade das prioridades. Isto é: tinha uma visão coerente não só para uma nova política externa como para o sistema político que, quanto a mim, deveria substituir o mais depressa possível [...] a política retrógrada do salazarismo” (194-195). A mesma linha de clareza quanto aos objetivos a alcançar é reivindicada para o rumo a seguir pelo PS nos duríssimos combates políticos que o aguardavam a partir de 1974: “quando cheguei a Portugal, tinha uma visão clara – e coerente – da linha a seguir pelo PS de que nunca me afastei. [...] Facilmente se constata que, desde o início, o PS tinha uma linha política – que acabou
por vencer – a que sempre fui fiel, não obstante alguns pequenos desvios táticos que as diferentes conjunturas impuseram.” (202-203) Ainda sobre a coerência e desassombro com que o autor afirma e confirma, em todas as oportunidades, a sua indefetível identidade política e ideológica, lembro um episódio ocorrido na apresentação da candidatura ao segundo mandato presidencial em que teve o apoio do PSD. No discurso de apresentação no Hotel Altis, fez questão de repetir “que era, como sempre, ‘republicano, socialista e laico’. Umas senhoras muito bem, que estavam na sala, interpelaram-me: ‘Mas para que é que o Senhor foi dizer que era republicano, socialista e laico? Não era preciso dizer isso...’ Respondi: ‘Porque sou, e para que não haja equívocos...’” (382-383) A coerência e fidelidade aos ideais e valores em que acredita não se confunde, no entanto, com radicalismo nem com intransigência. Pratica uma cultura de abertura ao outro, de diálogo e de promoção da tolerância e da liberdade. Exemplo disto mesmo foi a oposição liminar aos setores revanchistas que queriam excluir o PC do sistema partidário nacional. (282) E o mesmo se deve dizer do agnóstico que, depois de 1974 e ao invés do que aconteceu na I República, soube evitar uma funesta guerra religiosa e, mais recentemente, aceitou a presidência da Comissão para a Liberdade Religiosa (483) e a participação no diálogo interreligioso para a paz. (461) 2.3. Livro que respira saúde. Foi escrito por quem está de bem com a vida. Não há azedume nem ressentimento. Só espírito crítico e distanciamento. Veja-se o sorriso de pessoa feliz recorrente nas fotografias encartadas na obra, e de que o quadro impressivo de Júlio Pomar, na galeria de Presidentes da República em Belém, constitui síntese magnífica. Não faltaram decerto nesta aventura humana tempos de incerteza, de dificuldade e sacrifício. Mas os
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momentos sombrios e mesmo aqueles em que a coragem do político pôs a vida em risco ocupam lugar de pouco destaque, como se fossem despiciendos acidentes de percurso. Os incómodos e privações da prisão, da situação de deportado e de exílio são vistas, afinal, como oportunidades de aprendizagem e enriquecimento pessoal. Considero sintomático o agradecimento a Marcelo Caetano feito nestes termos: “‘Por muitos anos que viva, nunca poderei agradecer suficientemente a Marcelo Caetano ter-me expulsado de Portugal.’ Na verdade, quando regressei era outro: mais informado, experiente, culto e maduro...” A mesma atitude sadia e construtiva vem ao de cima na lição que tirou da já referida derrota nas presidenciais de 2006. Consciente dos tempos de crise, tanto no plano nacional como no europeu, que estavam para vir, e não o tendo ocultado, pensou mesmo que “os portugueses talvez tenham chegado à conclusão de que foi, para mim, uma benção ter perdido as eleições.” E com visível satisfação, acrescenta : “Por isso me tratam hoje com tanto afeto.” (482) Seria de estranhar que em vida tão preenchida, agitada e competitiva não tivessem surgido fortes tensões e rivalidades ou não fossem cometidos erros de avaliação. Existiram, é claro, e como tais foram assumidos. Um deles, erro grave, foi ter constituído o I Governo Constitucional, em julho de 1976: “um Governo minoritário sem exigir à Assembleia da República a votação de uma moção de confiança, para lhe dar uma maior legitimidade e consistência Ou então não ter proposto ao PPD ou ao CDS – ou aos dois – qualquer forma de coligação. Foi um erro devido à minha falta de experiência política e administrativa que, passado um ano, facilmente reconheci.” (293) Saber reconhecer os erros, descomplexadamente e sem artimanhas, usando a autocrítica, é mais uma virtude democrática deste livro. De igual modo, retoma-se uma lição salutar de coexistência na democracia pluralista onde é normal que haja adversários mas não inimigos, e onde
as eleições “não devem ser um ajuste de contas...”(364) Outra lição cheia de sabedoria contida neste itinerário político é que assim como não existem vitórias antecipadas nem conquistas asseguradas para sempre, também as perdas e derrotas sofridas no jogo político nunca devem ser encaradas como irreversíveis. Pois, como este resistente gosta de repetir, “só é vencido quem desiste de lutar”. (354) É por estas e muitas mais manifestações de lucidez, espírito positivo, serenidade e “força tranquila”, robusta resiliência, que a escrita de Mário Soares vende saúde. Atrevo-me mesmo a lembrar que, em tempos de Portugal cabisbaixo, a leitura deste livro merece ser recomendada como eficaz antidepressivo. 3. O autor de Um político assume-se classificou o seu trabalho, em subtítulo, como “Ensaio autobiográfico, político e ideológico”. Sendo isso, é também muito em particular uma obra de história e para a história de Portugal no século XX e primórdios do século XXI. Ao invés da historiografia académica, encontrámo-nos aqui em presença de um historiador que é ele prórpio fazedor da história que escreve. Os fazedores de história também ensinam. Ensinam pela palavra oral e escrita, e sobretudo pela prática, pelo exemplo, pelo testemunho, e incitam-nos a que nela participemos também. É esse o sentido pedagógico de Um político assume-se. A política é uma atividade nobre de serviço público. E deve cada um de nós assumi-la como prática crítica e responsável de cidadania participativa. É por isso que este livro-testemunho pode e deve ser lido também como livrotestamento de um cidadão emérito cuja aventura de vida não parou nem pára de nos surpreender. Luís Machado de Abreu 21 de março de 2012
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Grupos Profissionais, Profissionalismo e Sociedade do Conhecimento: Tendências, Problemas e Perspectivas Autoria Teresa Carvalho e Rui Santiago, docentes no Departamento de Ciências Sociais, Politicas e do Território da UA, e Telo Caria, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Edição Afrontamento ISBN 9789723612127 Ano 2012
Risco Financeiro – Medida e Gestão Autoria Carlos Pinho e Mara Madaleno, docentes no Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial, Elisabete Vieira, professora no Instituto Superior de Contabilidade e Administração da UA e Ricardo Valente, docente na Faculdade de Economia da Universidade do Porto Edição Sílabo ISBN 9789726186588 Ano 2012
Memória das políticas educativas em Timor-Leste: A consolidação de um sistema (2007-2012) Autoria Ana Margarida Ramos, docente no Departamento de Línguas e Culturas, e Filipe Teles, docente no Departamento de Ciências Sociais, Politicas e do Território da UA Edição Universidade de Aveiro ISBN 9789892029863 Ano 2012
Árvores e arbustos das ruas de Díli Autoria Ana João Sousa, Helena Silva e Paulo Silveira, investigadores e docentes no Departamento de Biologia da UA, Jorge Paiva, professor aposentado da Universidade de Coimbra Edição Afrontamento/ Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro ISBN 9789723911670 Ano 2011
Manual de Gerontologia Autoria Óscar Ribeiro, docente na Escola Superior de Saúde da UA, e Constança Paúl, professora no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto Edição Lidel ISBN 9789727577996 Ano 2012
Atomic Layer Deposition of Nanostructured Materials Autoria Nicola Pinna, investigador do Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos da UA, Mato Knez , do Max Planck Institute for Microstructure Physics, Alemanha Edição Wiley-VCH ISBN 9783527327973 Ano 2011
Química – Física: uma introdução Autoria José J. C. Teixeira Dias, professor no Departamento de Química da UA Edição Fundação Calouste Gulbenkian ISBN 9789724739557 Ano 2012
Direito Industrial. Noções fundamentais Autoria Pedro Sousa e Silva, docente no Instituto Superior de Contabilidade e Administração da UA Edição Royal Society of Chemistry Edição Coimbra Editora ISBN 9789723219975 Ano 2011
Dragagens: Fundamentos, Técnicas e Impactos Autoria Carlos Coelho, Paulo Silva, Luís M. Pinheiro e Daniela S. Gonçalves, docentes nos Departamentos de Engenharia Civil, Física e Geociências da UA Edição Universidade de Aveiro ISBN 9789727893461 Ano 2011 Liderança – A Virtude está no Meio Autoria Arménio Rego, docente no Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da UA, e Miguel Pina e Cunha, professor na School of Business and Economics de Lisboa Edição Conjuntura Actual ISBN 9789896940249 Ano 2011 O Percurso da Saúde: Portugal na Europa Autoria Jorge Simões, docente na Secção Autónoma de Ciências da Saúde da UA e António Correia de Campos, professor na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa Edição Almedina ISBN 9789724047096 Ano 2011 Wear of Advanced Material Autoria Paulo Davim, Docente no Departamento de Engenharia Mecânica da UA Edição Wiley ISBN 9781848213524 Ano 2011 7 pomegranate seeds – cd Autoria Sara Carvalho Edição Numérica NUM 1206 Ano 2012
aconteceu na ua
ESSUA: 10 anos de formação de excelência
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A Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro celebrou, no passado de 16 de dezembro, o seu 10º aniversário. Num ambiente de abertura e cooperação, os antigos alunos, em conjunto com os atuais atores da ESSUA, decidiram comemorar esta efeméride, num programa onde, sob o tema “Olhar o Percurso, Preparar o Futuro”, se pretendeu refletir e partilhar experiência e conhecimento, com a presença de convidados particularmente influentes na evolução da Escola. A ESSUA ministra cinco cursos de licenciatura, todos adaptados ao modelo de Bolonha: Enfermagem, Fisioterapia, Radiologia, Terapia da Fala e Gerontologia. Até à data, a ESSUA já diplomou 882 profissionais, sendo a Enfermagem (351), a Radiologia (157) e a Fisioterapia (135) os cursos com maior número de diplomados.
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História(s)”, do dramaturgo Armando Nascimento Rosa. Assinou-se o protocolo de doação do espólio de Aldónio Gomes, entre Fernanda Cavacas, especialista em literaturas de língua portuguesa e viúva daquele estudioso e divulgador, e a UA.
O “Festival das Letras” incluiu ainda a 1ª Conferência Internacional em Estudos Culturais “Políticas Públicas para a Cultura”. No debate estiveram presentes vários ex-ministros, dirigentes e responsáveis políticos, nacionais e estrangeiros. O DLC promoveu, também, a exposição “Os Irmãos Grimm – Vida e Obra”, na Sala de Exposições Hélène de Beauvoir da Biblioteca da UA.
Línguas e Culturas promoveram “Festival das Letras” O “Festival das Letras”, um programa com cerca de 30 atividades, foi dinamizado pelo Departamento de Línguas e Culturas (DLC) da Universidade de Aveiro (UA). As atividades começaram a 28 de fevereiro e prolongando-se até abril. O programa incluía congressos, colóquios, conferências e palestras, workshops, exposições, cinema e teatro, concursos e prémios, investigação e projetos e o Dia Aberto do DLC.
II edição do Campus Júnior : Um novo olhar sobre o percurso académico
No colóquio Festlatino foi anunciado o vencedor do Prémio Literário Aldónio Gomes 2012, promovido pela UA, e atribuído à obra “Duas peças com
A segunda edição do Campus Júnior decorreu de 28 e 31 de março. A Universidade de Aveiro acolheu 40 alunos do ensino básico, até então com percurso escolar irregular, com o
objetivo de lhes despertar vocações e novos interesses na área da ciência e da tecnologia. Os estudantes, oriundos das escolas do concelho de Aveiro e da Fundação Mão Amiga (Sever do Vouga), participaram em atividades científicas e de desenvolvimento pessoal, assim como em momentos de lazer. Ficaram alojados nas residências da UA e foram universitários por quatro dias.
Fórum 3E aproxima estudantes e empresas Entre os dias 17 e 20 de abril, a Universidade de Aveiro promoveu a 12ª edição do Fórum 3E – Emprego | Empresas | Empreendedorismo. Desta forma, a instituição proporcionou aos seus alunos a possibilidade de contactar de forma privilegiada com algumas das melhores empresas e instituições e trocar os seus currículos por oportunidades de emprego e estágios. Na maior feira de emprego de sempre, estiveram presentes, para além das 33 empresas/instituições, unidades da UA: a Incubadora de Empresas e o Gabinete de Estágios e Saídas Profissionais da UA. O último dia do Fórum foi voltado para os estágios internacionais e o empreendedorismo. Foi lançado o IEUA Start Incubation Program da Incubadora de Empresas da UA e apresentado o Bosch Pre-Master Program (programa de estágios na Bosch) e a Rede UniversidadeEmpresas de Aveiro para a Mobilidade. Apoiada pelo Programa Erasmus, esta rede de empresas/instituições promove um conjunto de oportunidades para estágios internacionais.
Enterro: a maior festa dos estudantes da UA A Semana do Enterro 2012, organizada pela Associação Académica da Universidade de Aveiro, decorreu de 20 a 26 de abril, no Estádio Municipal, e contou com a presença de Gentleman, Croockers, Xutos e Pontapés, Richie Campbell, entre muitos outros nomes sonantes do panorama musical. Nos festejos de encerramento de mais um ano letivo, não faltou música e animação naquela que é considerada a maior festa dos estudantes da UA.
Competições Nacionais de Ciência reuniu mais de 13 mil alunos de todo o país O Campus Universitário de Santiago transformou-se numa sala de aula gigante, nos dias 23, 24 e 26 de abril, onde mais de 13 mil alunos, de vários níveis de ensino, provenientes de cerca de 370 escolas de todo o país, realizaram provas de matemática, português, física, biologia, geologia, físico-química e ciências da natureza, para disputarem as Competições Nacionais de Ciência organizadas pelo Projeto Matemática Ensino, em colaboração com a Caixa Geral de Depósitos.
Decorreu em maio, dias 4 e 5, na Universidade de Aveiro, o primeiro congresso português sobre o Luto, com organização da Sociedade Portuguesa de Estudo e Intervenção do Luto, a UA, o Observatório do Luto em Portugal e o Espaço do Luto. O evento “O Luto em Portugal” foi uma iniciativa inédita no nosso país que visou trazer para o debate público descomplexado e para a análise científica rigorosa a temática das perdas pessoais profundas.
FITUA agitou Aveiro Um dos mais antigos festivais de tunas de toda a Península Ibérica regressou à cidade de Aveiro. O Festival Internacional de Tunas da Universidade de Aveiro (FITUA), organizado pela Tuna Universitária de Aveiro, decorreu nos dias 20 e 21 de abril, e subiram ao palco do Centro Cultural e de Congressos de Aveiro dez tunas de vários pontos do país, com muita garra, alegria e, acima de tudo, com muita música. A XXII edição do certame foi batizada com o tema “Liberdade”, neste ano em que se assinalam 25 anos da morte de Zeca Afonso, e contou com o apoio da Associação José Afonso.
UA recebeu congresso inédito sobre perdas pessoais profundas
CICECO assinalou dez anos nas IX Jornadas com sessão especial “Materiais e sociedade” O maior instituto português no domínio da Ciência e Engenharia dos Materiais, o Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos, Laboratório Associado sedeado na Universidade de Aveiro, assinalou dez anos de atividade. Para isso, promoveu as suas IX Jornadas, nos dias 2 e 3 de maio, com uma sessão dirigida à comunidade em geral, para além do programa científico que decorreu nos restantes períodos. Para além de reputados cientistas, que participaram no programa científico, a sessão “ Materiais e Sociedade” reuniu convidados especiais como Lisa Young, conservadora do Smithsonian National Air & Space Museum, Washington, o alpinista português João Garcia e Marta Menezes, pioneira em Bioarte. O trabalho do Laboratório Associado subdivide-se em 3 linhas de investigação: materiais nano e microestruturados para as tecnologias da informação e comunicação; materiais para aplicações em energia e na indústria; sustentabilidade e biomateriais.
UA, Porto de Aveiro, CIRA e Câmara de Ílhavo juntos no Fórum do Mar Desenvolver a economia ligada ao mar e sensibilizar o público para os benefícios que podem ser obtidos a partir da exploração sustentável dos oceanos. Estes foram os grandes objetivos da 2ª edição do Fórum do Mar, no qual a Universidade de Aveiro esteve presente no âmbito de uma representação conjunta com o Grupo de Ação Costeira da Região de Aveiro, liderado pela Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, Comunidade Portuária de Aveiro e Câmara Municipal de Ílhavo. O Fórum do Mar decorreu de 10 a 12 de maio na Exponor – Feira Internacional do Porto, em Matosinhos, e foi organizado pela Associação Oceano XXI – Cluster do Conhecimento e Economia do Mar, em parceria com a Associação Empresarial de Portugal.
Mais informações sobre as iniciativas promovidas pela UA: http://uaonline.ua.pt
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