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Coincide a saída deste número da Linhas
A escolha do Professor Onésimo Teotónio
com o nosso quadragésimo aniversário.
de Almeida – académico prestigiado
Quatro décadas de construção e
de uma grande Universidade norte-
consolidação de um projecto que enche de
-americana, cidadão português desde
orgulho todos os que nele participaram mais
sempre empenhado no seu país e amigo da
diretamente, mas também os muitos amigos
UA – como nosso homenageado Honoris
da UA que nos acompanharam e foram
Causa nesta efeméride tem muito a ver
ajudando nesta já longa caminhada: é deles,
com o nosso percurso: aberto e atento
igualmente, o nosso êxito.
ao mundo, internacional, medindo-se por padrões universais de qualidade; implicado
Um projeto com diversas etapas.
ativamente no progresso da região e do
Uma primeira, com a escolha de cursos
país, e ambicionando ter impacto nas suas
que representaram singularidade e
ações; e com preocupações pelo ambiente
complementaridade face à oferta existente ao
humano e coesão da sua comunidade.
tempo; e, desde logo, com um grande ênfase
Manuel António Assunção Reitor da Universidade de Aveiro
na formação, na altura fora de Portugal, de
O Doutoramento Honoris Causa a
docentes que pudessem fazer a diferença,
atribuir em breve ao Engenheiro José
que fossem capazes de sustentar Aveiro pela
Formigli e ao Professor Manuel Ferreira
competência demonstrada no levar a cabo
de Oliveira, para além de uma justa
a missão universitária. Uma segunda, em
homenagem ao enorme desafio humano
que se cimentou o modelo organizacional,
que a extração de petróleo do pré-sal
também ele original e único no país, e em
constitui e a dois dos seus ilustres
que se levantou a maior parte do edificado,
representantes, insere-se nesse realçar da
idealizado com grande sentido estratégico e
importância das relações internacionais
recorrendo aos melhores arquitetos nacionais,
sem as quais não há boas universidades.
Editorial
o que nos permite dispor do belíssimo Campus onde estudamos, trabalhamos e
A Linhas foi criada, gosto de recordar,
vivemos. Seguiu-se uma fase de atenção
para servir de elo entre a UA e os seus
acrescida à qualidade do que fazíamos, à
antigos estudantes e, de modo mais
organização que constituíamos e às pessoas
geral, de ponte com o mundo.
que formavam a nossa gente. Uma fase
Queria, por isso, destacar dois momentos
marcada, também, pela consolidação
relevantes da nossa vida enquanto
das nossas apostas na pesquisa, pelo
comunidade alargada. Um, já anunciado
intensificar da cooperação com a sociedade,
no número anterior, foi o concretizar do
pelos primeiros estudos sobre a inserção
primeiro Dia do Antigo Aluno, com um
profissional dos diplomados, pela abertura
sucesso que vai exigir a sua repetição
ao ensino politécnico e a Escolas em Águeda
nos anos vindouros. O outro foi a entrega,
e Oliveira de Azeméis. A última década
pelo Presidente da República, do Prémio
assistiu ao contínuo alargar da missão da
COTEC para o Caso Exemplar de Relação
UA, ao maior envolvimento na Cultura e na
com a Indústria que a nossa associação,
divulgação da Ciência, ao aprofundar das
desde o primeiro instante, com a Portugal
questões da avaliação e informatização,
Telecom Inovação (e o seu antecessor
ao desenvolvimento da cooperação com a
Centro de Estudos de Telecomunicações
região, à estruturação de vias relacionais com
dos CTT) representa.
os antigos alunos, à passagem a Fundação como testemunho da nossa capacidade de
São exemplos bem demonstrativos desta
obtenção de fundos próprios; e ao esforço
nossa aventura, consciente, ambiciosa e
acrescido de internacionalização, através de
vibrante, de 40 anos. Valeu a pena, valeu
estudantes, projetos e redes, fundamental
muito: foi possível construir uma grande
para afirmar a Universidade de Aveiro no
Universidade em Aveiro, um Campus que
ambiente universitário global e garantir um
Pensa. Que os próximos 40 tragam outro
melhor futuro.
tanto; ou ainda mais!
linhas
dez 2013
03
EDITORIAL Manuel António Assunção
18-23
DOSSIER
24-28
PERCURSO SINGULAR
As empresas precisam? A UA tem!
Reitor da UA
06-09
OPINIÃO 40 anos da UA: Testemunhos da comunidade
10-14 15-17
Júlio Pedrosa
29
EDIÇÕES
ENTREVISTA COM... Veiga Simão
PERCURSOS HONORIS CAUSA
PERCURSOS ANTIGOS ALUNOS
30-35
Fernando Ramos Paula Leitão José Mendes
“Leitor omnívoro e viajante incansável” Honoris Causa pela UA Onésimo Teotónio Almeida
36-41
DISTINÇÕES
José Formigli e Ferreira de Oliveira recebem Honoris Causa
42-48
INVESTIGAÇÃO Buçaco: viagem para outra dimensão de vida, de património e do espírito Geologia médica, um novo “filão” nas Geociências
5
49
COOPERAÇÃO Gabinete de Apoio ao Consumidor Endividado
50-51 52-53
ENSINO UA: um campus multicultural
CAMPUS EXEMPLAR Fotoreportagem do novo edifício da ESAN
54-56
CULTURAL Tesouros desconhecidos do Museu da UA mostram-se ao público
57-58
ACONTECEU NA UA
40 anos da UA Testemunhos da comunidade
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dez 2013
José Veiga Simão Ex-ministro Ministro da Educação Nacional (1970-1974), da Indústria e Energia (1983-1985) e da Defesa Nacional (1997-1999) A Universidade de Aveiro, fiel à sua génese e a 40 anos com realizações de sucesso, é exemplo de como o sonho se confundiu com a ação em prol da soberania do conhecimento, a que nos resta. Parabéns aos seus obreiros.
Victor Gil Antigo Reitor da UA Que emoções há numa brisa Que moliceiros há numa escola Quantas aves há num abraço Quantas marés há no espaço Que saberes pedem esmola Afinal a quem precisa Ao todo oito gerações Quantos frutos diplomados Da ignorância avarenta Alegremente roubados Ou levados aos empurrões Oito vezes cinco são oitenta O dobro do que devia Quantos sonhos sobem a ria.
D. Carlos Filipe Ximenens Belo Bispo Emérito de Díli e Prémio Nobel da Paz Na ocorrência dos 40 anos da Universdiade de Aveiro, seja-me permitido endereçar os meus Parabéns e o meu grande apreço pela existência da Universidade. Em nome de todos os Timorenses, quero agradecer às autoridades académicas pela colaboração com a República de Timor-Leste e com a Universidade Timor Loro Sae de Díli. Muitos timorenses têm sido beneficiados com ajuda e apoio da UA. Daqui vai o meu sincero agradecimento. Bem-haja, e muito obrigado.
D. António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro Dois momentos maiores marcaram o século XX em Aveiro: a restauração da Diocese e a criação da Universidade. Revivemos, agora, esses momentos com júbilo. A UA alargou as fronteiras da nossa Terra, abriu amplos e belos caminhos ao saber e desenhou nova fisionomia em Aveiro. A UA é âncora do futuro que, em comum, queremos construir. Parabéns.
Bendito dos Santos Freitas Ministro da Educação, República Democrática de Timor-Leste Em nome do Ministério da Educação de Timor-Leste felicito a Universidade de Aveiro pelo seu 40º aniversário. Aproveito esta ocasião para elogiar a excelente cooperação estabelecida na reforma curricular do ensino secundário geral, na formação de professores e ainda na integração de inúmeros jovens estudantes timorenses que nesta Universidade cumprem o seu sonho académico.
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Eugénio Lisboa Doutor Honoris Causa e Professor aposentado do Departamento de Línguas e Culturas Regressado de dezassete anos em Londres, a UA foi aquela que, sem hesitar, me abriu a porta e disse: ‘Entra!’. Eu entrei e comecei a ser feliz. Talvez tenha ensinado alguma coisa, mas aprendi, certamente, imenso! Sobretudo, ganhei amigos e uma espécie de segunda casa. Não preciso de mais.
José Ribau Esteves Presidente da Câmara Municipal de Aveiro UA, 40 anos de Vida Em nome da Câmara Municipal de Aveiro e dos Cidadãos do Município de Aveiro quero saudar com jubilo a Universidade de Aveiro pelos seus 40 anos de vida. Parabéns e que conte muitos, tendo sempre por perto o seu Município e a sua Região de Aveiro. A aposta na UA tem sido ganha, sendo agora tempo de aprofundarmos mais a estratégia de eficiência coletiva da Região de Aveiro, na qual a UA tem um lugar especial para continuar a cumprir. Bem Haja.
António Correia e Silva Ex-Reitor da Universidade de Cabo Verde e atual Ministro de Ensino Superior, Ciência e Inovação de Cabo Verde A Universidade de Aveiro é uma realização notável no panorama universitário português e lusófono. Neste último círculo ela tem-se posicionado como um dos mais importantes players da cooperação interuniversitária, sendo um exemplo altamente inspirador e a sua acção estimuladora das novas universidades dos países de língua portuguesa, nomeadamente as africanas e timorenses. Este sucesso no mundo da cooperação é em grande parte devido à lucidez estratégica do seu corpo dirigente. Que ela tenha vida longa!
opinião
Fernando Paiva de Castro Presidente da Associação Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA)
Isabel Jonet Presidente do Banco Alimentar e Membro de Conselho de Curadores da UA
Completados 40 anos de existência à Universidade de Aveiro é-lhe reconhecido, pelo meio empresarial, o prestígio de um longo percurso de trabalho, exponenciando o capital do conhecimento e competências ao dispor das empresas, cuja extensão vai além-fronteiras. Por isso, a AIDA felicita a UA com votos de um futuro promissor.
A Universidade de Aveiro tem feito ao longo destes 40 anos um percurso de excelência onde a preocupação pela inovação é uma constante. A transmissão do saber, numa busca incessante da aplicação do conhecimento, tem sido apanágio desta Escola à qual muito Portugal deve. Felicito tanto o corpo docente como os alunos por estes 40 anos e desejo que a UA continue a ser um exemplo no meio académico, formando, ousando, interpelando, inquietando. Parabéns.
Testemunhos sobre os 40 anos da Universidade de Aveiro
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dez 2013
Fernando Caçoilo Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo É pelo espírito inovador e crescente investimento em I&D que a UA se distingue na Região imprimindo-lhe uma cadência evolutiva sólida. A articulação com o Município de ílhavo é, sem dúvida, uma forte aposta conjunta. Este é momento em que a nossa interação se afirma como um mecanismo de promoção do desenvolvimento socioeconómico da Região através do estabelecimento de plataformas de colaboração e intercâmbio de competências, com claros benefícios para empresas e população.
Vasco Lagarto Diretor da Rádio Terra Nova A Universidade de Aveiro, pela sua capacidade de inovação e contributo para o desenvolvimento socioeconómico da Região de Aveiro, é uma das fontes de informação incontornável que diariamente nos anima e incita a ter esperança e confiança no futuro, contribuindo inclusivamente, e de forma notória, para a promoção da nossa região para além fronteiras. A UA é um ator fundamental no processo de transformação de uma “terra” em “terra nova”, no qual a rádio Terra Nova se sente orgulhosa em participar. Que estes 40 anos, que agora se comemoram, sejam apenas uma pequena amostra do que os próximos 40 anos de atividade da Universidade irão contribuir para o desenvolvimento e qualidade de vida da nossa Região de Aveiro.
Cristina Boia CEO da Extrusal, Companhia Portuguesa de Extrusão, licenciada e pós graduada pela UA A existência da Universidade de Aveiro teve um grande e positivo impacte na Extrusal, e acreditamos que o contrário também se terá passado, até porque as duas organizações cresceram em paralelo – a Extrusal tem 41 anos desde a Fundação, e 39 desde que começou a laborar! Ao longo dos anos houve uma estreita colaboração entre as duas instituições, entre outros aspetos na resolução de problemas industriais concretos e ambientais. Esta colaboração foi potenciada pelo facto de uma vintena dos quadros superiores da Extrusal de hoje se terem licenciado na Universidade de Aveiro, em muitos domínios diferentes, desde várias engenharias (Ambiente, Química, Materiais, Eletrónica, Mecânica) até áreas de contabilidade e gestão. Parabéns, UA !”
9
Alcino Lavrador CEO da PT Inovação Uma das caraterísticas que distingue a UA é a sua relação com as empresas. A relação privilegiada que mantém com a PT Inovação nasceu há 40 anos e é, hoje, um caso exemplar de cooperação universidadeempresa na transformação de conhecimento fundamental em valor para a economia e beneficiando a sociedade.
António Sousa Nunes Diretor do Departamento de Inovação, Desenvolvimento e Sustentabilidade da Galp A elevada qualidade académica e o espírito de inovação focado no progresso industrial sustentável marcam o ADN da frutuosa e já longa história de cooperação entre a Galp Energia e a Universidade de Aveiro. As nossas expectativas futuras passam por aprofundar esta relação de colaboração, conducente à formação de capital humano altamente qualificado e de iniciativas de I&D que contribuam para o desenvolvimento sustentado de Portugal.
opinião
Ivan Silva Diretor Executivo do Diário de Aveiro
Hermínio Loureiro Presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis
Gil Nadais Presidente da Câmara Municipal de Águeda
A nossa Universidade de Aveiro assinala 40 anos. Nasceu como um projeto ambicioso e, hoje, é uma certeza no ensino em Portugal e no Mundo. Falar da Universidade de Aveiro é sinónimo de liderança, de investigação e de parceria com e ao serviço das empresas e de docência de superior qualidade. Na nossa UA se concebe conhecimento e se constrói o futuro. Com orgulho, o Diário de Aveiro acompanha o seu dia-a-dia - através da página diária “Vida Académica” - e esteve, com regozijo, em todos os passos importantes que deu nos últimos anos. Uma palavra final de bemhaja a todos os intervenientes - e aos seus Reitores -, ao longo das quatro décadas.
A Universidade de Aveiro é hoje uma das mais prestigiadas universidades do país pela sua capacidade científica, pedagógica e pela visão estratégica que tem do ensino superior. É de realçar ainda a sua aposta na formação politécnica, destacando-se, aqui, o projeto da Escola Superior Aveiro Norte, em Oliveira de Azeméis, que, em breve, entrará em funcionamento, integrando o Parque do Cercal - Campus para a Inovação, Competitividade e Empreendedorismo Qualificado. Ao longo de quatro décadas esta instituição tem servido exemplarmente o país formando técnicos altamente especializados e competentes. Aos seus responsáveis parabéns pelo sucesso alcançado.
No seu 40º Aniversário felicito, em nome do Município de Águeda, a Universidade de Aveiro pelo inegável papel no progresso e avanço do território onde se insere, e que tem sido alcançado através da dinamização de sinergias e desafios, rumo a um futuro assente na inovação e no desenvolvimento sustentável.
António Jorge Franco Presidente da Fundação Mata do Buçaco Os 40 anos de existência da UA comprovam o sucesso de uma instituição, com qualidade, quer na área de ensino, quer da investigação. É um orgulho para a Mata Nacional do Buçaco receber diariamente, e há mais de uma década, investigadores da UA, que muito têm contribuído para o conhecimento científico do local. Parabéns!
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dez 2013
Veiga Simão, ex-ministro e referência nas questões de educação, ciência e inovação"
"As universidades têm de desafiar o governo para novas alternativas!"
Foi chamado para o Governo antes do “25 de Abril”, tendo sido autor de uma reforma que marcou a história do ensino em Portugal, e depois, tutelando outras pastas ministeriais e exercendo funções no âmbito da estratégia educativa e científica. Sendo essa peculiaridade sugestiva da sua forma de lidar com a causa pública, José Veiga Simão é ainda dos poucos portugueses agraciados com várias ordens honoríficas, continuando, hoje, a contribuir ativamente para a competitividade e inovação no país, agora coordenando a elaboração da Carta Magna da Competitividade de Portugal e das Cartas Regionais de Competitividade. Crítico da atual situação política na área do ensino superior, deixa pistas e considera que as universidades têm um papel crucial a desempenhar na situação em que o país se encontra.
11
entrevista
Quando criou, em 1973, as chamadas
a de começar a Reforma logo no dia
de diagnóstico e de prospetiva -
novas universidades no litoral e
da minha tomada de posse em 15 de
demográficos, sociais, culturais e
interior - Universidades de Aveiro,
janeiro de 1970. A Reforma, como alguns
económicos -; a urgência em nos
Minho, Nova de Lisboa, Instituto
sugerem, não começou em 1973. Esta
rodearmos de colaboradores de prestígio
Universitário de Évora e institutos
situação está, aliás, expressa no parecer
(equipa de onde saíram vários ministros,
politécnicos noutras localidades
da Câmara Corporativa no qual se
e altos funcionários anos depois, na
- tinha como objetivo combater
refere, a propósito da Lei de Bases do
democracia); a perceção de que era
o centralismo e seria isso uma
Sistema Educativo, que mais de 50 por
crucial levar a mensagem à população -
sequência lógica dos Planos de
cento do que ela propõe está realizado
houve um debate nacional que demorou
Fomento anteriores?
ou em curso.
sete meses -; a aliança com professores co-autores da Reforma e ainda, a de
Essa questão tem uma dimensão que
No ensino superior, entre muitas das
assegurar financiamentos a curto,
ultrapassa largamente o ensino superior.
medidas tomadas, saliento a grande
médio e longo prazos. A carência de
O centralismo percorre os diversos
importância da nova carreira docente
quadros superiores, cientistas, técnicos
regimes políticos, da 1ª República
universitária e o reconhecimento em
e professores e a sua participação no
passando pelo Estado Novo de Salazar e
Portugal dos doutoramentos obtidos no
desenvolvimento do País emergia como
pelo Estado Social de Marcello Caetano,
estrangeiro. Foram também criados novos
prioridade nacional.
até à atual democracia tutelada por
cursos nas universidades existentes, a
uma “troika” que limita, de algum modo,
Universidade Católica foi reconhecida e
É importante lembrar que, antes,
a nossa soberania. Agora temos um
criado o ISCTE, hoje Universidade.
se tinha avançado com a expansão do ensino secundário e dos vários
centralismo de outra natureza. …De outro modo seria impossível Por outro lado, se analisar as
níveis anteriores de ensino.
responder a esse grande desafio…
Constituições da República Portuguesa,
Com certeza. Não há universidade sem
- a de 1933 e a de 1976 nas suas diversas
Sim, porque as quatro universidades
escola primeira, disse eu. No debate
revisões - percebe-se que, a par das
então existentes - as Universidades de
nacional então realizado intervieram
dificuldades na operacionalização de
Lisboa, Técnica de Lisboa, Coimbra
cerca de 60 mil pessoas com textos
poderes regionais, permanece insolúvel
e Porto - não teriam capacidade nem
escritos! Esse apoio foi decisivo para
um magno problema que se traduz no
meios para responder ao grande desafio
vencer o conservadorismo vigente que
desequilíbrio entre a voz dos cidadãos -
da democratização e modernização
colocava sérios obstáculos à Reforma.
expressa em atos eleitorais - e a voz
do ensino superior. Na Universidade
Não cabe aqui citar a legislação
das regiões, que não é expressa por
de Lourenço Marques, como fundador
produzida e as experiências pedagógicas
via democrática.
e Reitor, consegui criar uma equipa
criativas que foram objeto de intensas
docente, técnica e administrativa
polémicas desde o pré-escolar até o
O Plano de Expansão e Diversificação
de eleição; foram doutorados mais
chamado ensino médio.
do Ensino Superior tem esse
docentes e investigadores em sete
pano de fundo, mas integra-se,
anos, em centros de investigação
E em relação à localização das
fundamentalmente, numa outra
europeus e dos Estados Unidos com
instituições de Ensino Superior?
estratégia: a da democratização do País
prestigio reconhecido, do que nas quatro
pela e da educação. “Um povo que não
universidades portuguesas em domínios
Os estudos já referidos fundamentaram-
cultiva a sua inteligência está perdido”,
equivalentes em 50 anos! A Universidade
-se num conjunto de critérios rigorosos
afirmava o filósofo e matemático
de Aveiro veio a tornar-se, após a
em relação à localização das novas
Whitehead, em 1910. Acontece que a
descolonização, uma grande beneficiária
instituições de ensino superior. Não foi
minha aceitação do convite de Marcello
desses doutorados - alguns reitores -, e
pela pressão de grupos de influência, que
Caetano para ministro da Educação
de funcionários.
também se evidenciaram. Em relação a
Nacional, dependeu de uma condição
Aveiro, tive mesmo um problema afetivo.
básica que foi aceite: iniciar uma
Mas, na base do Plano de Expansão
Um setor prestigiado da Universidade
reforma educativa global extensiva
e Diversificação do Ensino Superior
de Coimbra, pela qual nutro um grande
a todo o País, na qual se integrava o
estavam pressupostos essenciais:
amor, que me ensinara, tal como
Plano de Expansão e Diversificação do
o conhecimento dos labirintos da
em Cambridge, que devia cultivar a
Ensino Superior. Uma outra condição
Administração Pública; a necessidade
independência de pensamento, entendia
determinante, igualmente aceite, foi
de fundamentar o Plano em estudos
que o território de Aveiro estava sob a sua
linhas
dez 2013
“suserania”. Cometia uma traição à alma
às Escolas Superiores de Educação
não curada acentuada por “variâncias
mater se criasse a Universidade de Aveiro.
e a serem integradas nos Institutos
contraditórias” do poder político. Só
Isso deu origem a acesa polémica com os
Politécnicos, por razões apenas do
assim se explicam preâmbulos de
meus colegas, amigos pessoais.
financiamento do Banco Mundial.
decretos-leis em que a linguagem é a da
No entanto, a dinâmica do
Uma decisão com efeitos negativos na
“promoção” de institutos politécnicos
desenvolvimento da região de Aveiro,
evolução do ensino politécnico.
a institutos universitários e, mais tarde,
associada ao “aveirismo” de José Estevão
a universidades. Leviandades de
e, naquela altura interpretado por Vale
Esse sistema que idealizou assentava,
legisladores prolongando o “drama” da
Guimarães, a força com que o progresso
portanto, numa tríade, e não num
dicotomia entre status social - o qual deve
da região se afirmava no contexto
sistema binário (ensino universitário /
ser igual - e a diversidade curricular, que
demonstrado pelos estudos elaborados,
ensino politécnico) como o que existe
deve ser aprofundada correspondendo
exigiam em Aveiro uma universidade
atualmente e cujas especificidades
à evolução científica e tecnológica.
aberta à criatividade, a qual, sendo
nem sempre são claras…
Recordo-me que no ensino secundário, para minimizar essa visão dicotómica,
diferente da de Coimbra, era imprescindível numa rede de instituições coerente,
Sem querer minimizar o que muito de
propus no início da Reforma Educativa as
consistente e sustentável.
bom se tem feito na estruturação das
designações de “liceu clássico”, de “liceu
instituições de ensino superior houve
técnico” e de “liceu artístico”, no sentido
Reorganização e reestruturação
de transmitir à sociedade a igualdade
precisam-se
de status social, mas nas conclusões do debate nacional esta minha ideia não
Esse estudo apontava para a criação
vingou. Hoje, temo que, com o processo
de instituições de ensino superior em
de Bolonha nem sempre bem aplicado,
Aveiro, Braga e à volta de Lisboa…
mais uma vez se caminhe no sentido errado de pretender uma “igualdade
No caso de Lisboa, a incidência era
curricular”, destruindo até os então
na margem sul do Tejo, onde veio a
bacharelatos profissionais; uma evolução
ser instalado apenas um dos polos da
perniciosa ao desenvolvimento do País.
Universidade Nova, ao contrário do Universidade e território:
projeto inicial.
que estratégia? No contexto do eixo Braga-Guimarães As mais recentes colocações na
emergiu a Universidade do Minho. um retrocesso em termos conceptuais,
sequência do concurso de acesso ao
Os estudos apontavam para a criação
em relação a princípios que definiram
ensino superior são pouco animadoras
de três universidades, não incluindo
os objetivos da rede de ensino superior
para as instituições portuguesas e
uma universidade em Évora. No
criada em 1973, dotada de três tipos de
menos ainda para o ensino politécnico,
entanto, o facto de Évora já ter tido uma
instituições. As universidades aparecem
suscitando dúvidas sobre o futuro de
Universidade - extinta no tempo do
como instituições de grande abrangência
várias instituições tal como existem
Marquês de Pombal, devido ao conflito
do saber e como “oficinas da criação e
hoje. A Universidade de Aveiro, neste
com os Jesuítas -, a necessidade daquela
transformação do conhecimento” onde
aspeto, adotou uma via sui generis
região dever competir com Espanha, a
a trilogia de ensino/investigação e a
ao congregar o ensino universitário e
possibilidade de a associar ao Instituto
ligação à sociedade se desenvolvem
politécnico. O futuro pode passar por
Superior Económico e Social de Évora,
em vertentes humanísticas, científicas
esta solução?
justificaram a criação do Instituto
e experimentais de grande amplitude.
Universitário de Évora, com o mesmo
Os institutos politécnicos atuavam no
A Universidade de Aveiro apresenta, no
status de universidade.
sentido de uma ligação mais direta ao
caso do binómio ensino superior - ensino
universo de empresas e serviços, sem
politécnico, um modelo interessante,
Ao mesmo tempo, fazendo jus a
prejuízo de uma formação científica
flexível e inteligente, maximizando os
uma descentralização, foram criados
de base, concretizando-se em cursos
meios disponíveis.
institutos politécnicos e Escolas Normais
superiores de curta duração. A
Superiores, designação herdada da Iª
problemática do ensino universitário
Quando analisamos a atual rede
República. Estas, vieram a dar origem
versus ensino politécnico é uma ferida
de ensino superior verifica-se que,
13
entrevista
De qualquer modo, a racionalização dos cursos é urgente - e, no aspeto, da sua acreditação a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) tem feito um excelente trabalho… A questão dominante que se deve colocar na racionalização da rede deve poder centrar-se numa visão estratégica do modelo de desenvolvimento do País. Ora esse modelo da responsabilidade do poder político não existe e a articulação intramuros e inter-instituições não tem objetivo. Assim, as populações do interior veem-se despojadas de serviços públicos - e não só -, uns atrás dos outros, impondo cada Ministério modelos institucionais globais desarticulados. Caminhamos para o desastre total no que respeita ao desenvolvimento do interior e, mais tarde, teremos de reerguer o País de ruínas. As universidades devem apresentar pelo estudo e por propostas baseadas no domínio do atualmente, em número de instituições
Na osmose entre o ensino secundário e o
“conhecimento” modelos alternativos.
e em número de cursos (revelando uma
ensino superior o número de perdas não
Na falta de pensamento governamental
imaginação prodigiosa) há afastamentos
pode ser da dimensão existente. Mas a
espera-se uma posição das universidades
duma equilibrada empregabilidade e da
este propósito devo mencionar que sou
até, porque nelas está a soberania do
realidade económica social e cultural,
partidário da “avaliação pelo mérito” e
conhecimento, a única que nos resta. A
designadamente a nível regional.
da “existência de exames”. Verdade seja
Universidade é acima de tudo a “oficina
Os partidos políticos atuaram a certa
dita que a forma como atualmente estão
da criação” e a “oficina da liberdade”.
altura de forma incoerente na pretensa
a ser implementados, a diversos níveis,
defesa de interesses regionais. A rede
estes conceitos revelam precipitação
Mas para terem capacidade de
atual precisa de ser reestruturada e
dominada por cego economicismo. A
atuação, as universidades têm de se
racionalizada. A questão é: como fazê-lo?
tudo isto acresce, no que respeita à
adaptar ao novo contexto…
A evolução demográfica aponta para
frequência do Ensino Superior, que os
uma diminuição de candidatos ao ensino
conhecimentos evoluem e, em muito
É urgente definir o contexto.
superior. O retrocesso, há vários anos,
países, os funcionários das empresas
Estão afinal em causa as “Hélices
em termos de política de natalidade e
e serviços são obrigados a atualizar
Triplas” do desenvolvimento em que,
da família é fortemente censurável. No
permanentemente os conhecimentos.
por exemplo, a Universidade de Aveiro
entanto as consequências no ensino
Aliás, faz cada vez mais sentido a
tem potencialidades ímpares. E, embora
superior podem não ser tão dramáticas
“formação ao longo da vida”. Devo referir
possa haver pontos de partida diferentes,
como muitos apresentam! É necessário
que tive o prazer de abrir as portas da
há que substituir “esferas rígidas
dar maior atenção ao abandono escolar,
universidade através de exames ad hoc
de competências” por “espaços de
acompanhando criativamente os
a cidadãos com 25 anos de idade. Hoje,
cooperação” entre a universidade, a
alunos em maiores dificuldades, numa
nos exames equivalentes, a idade limite
empresa em sentido lato, e as instituições
perspetiva sociológica, psicológica e de
são os 23 anos - a experiência de vida é
autónomas públicas e privadas, dado que
atratividade na apreensão e utilização de
menor do que com 25 anos - utiliza-se
muitas delas produzem conhecimento.
conhecimentos. As taxas de abandono
esta “abertura” como porta de entrada
devem ser diminuídas, sem perder o rigor
para as universidades, em muitos casos
Os espaços de cooperação devem ser
e a qualidade de “educare” no sentido
sem garantir uma avaliação correta
privilegiados, desde que se defina uma
de Cícero como “alimentar”, “treinar”,
dos portefólios de competências
base ética e de responsabilidade social.
“formar”, “conduzir para longe”…
dos candidatos.
linhas
dez 2013
Perguntava se, com várias medidas
do mar (de que se fala muito e faz pouco),
já concretizadas de aproximação à
as indústrias criativas, e os imperativos
sociedade, empresas e aos agentes
da Cultura e do Ambiente em prol do
económicos e sociais, o estreitamento
desenvolvimento e da felicidade humana.
ainda maior dessa relação estará em
Como já referi, o European Innovation
risco no atual contexto económico?
Score Board carateriza uns países como
Ou pelo contrário, ele constitui uma
mais ligados à criação do conhecimento
oportunidade?
e outros mais ligados à transformação e utilização do conhecimento em
A Universidade de Aveiro adotou uma
bens económicos e culturais. É esse o
estratégia em que privilegiou, logo de
desafio que temos de vencer! Se não
início, a sua ligação à sociedade dando
o vencermos, Portugal nunca pagará
sinais de primazia da componente
quaisquer dívidas e não terá futuro.
tecnológica e do imperativo da cultura.
Ora as Universidades existem para ganhar
Não foi por acaso que a Universidade
o futuro! A Universidade de Aveiro estará
de Aveiro surgiu em estreita ligação
na linha da frente desse combate.
com os CTT/TLP e com o seu centro de investigação. Nesse binómio
Daí ser fundamental reforçar
universidade-empresa, a Universidade
a ligação das universidades
de Aveiro tem-se afirmado de uma forma
à sociedade e empresas…
significativa, está na sua génese e agora na vanguarda desse relacionamento com
Intensificar essa ligação segundo
Portugal entre os últimos na
realizações criativas na industrialização
o conceito de que o alimento da
transformação do conhecimento
da era do conhecimento. Assim acontece
mudança é o conhecimento e de que
no caso de indústrias tradicionais
as universidades são essenciais na
No estudo que fez para a Universidade
com excelentes aplicações de “novas
afirmação da soberania do conhecimento.
de Aveiro, concluído em 1997, apontam-
tecnologias”, em sentido amplo.
-se vários caminhos para concretizar
Só que é preciso um contexto de
essa cooperação entre instituições de
Num trabalho que estou a coordenar
confiança em que os agentes possam
caráter diferente. Ao longo dos anos,
na Associação Industrial Portuguesa,
apostar, o qual neste momento apresenta
foram seguidos em termos mais ou
a propósito das Cartas Regionais de
fragilidades enormes. Espera-se que
menos próximos das formulações
Competitividade, verificamos que, na
as Universidades no seu conjunto
apontadas no estudo…
região litoral desde o Minho passando
perspetivem um novo modelo de
pelo Porto até Aveiro, a ligação das
sociedade. Se essa confiança for
…Sim, mas em relação a isso não pode
universidades às empresas privilegia as
restabelecida, se não teimarmos em criar
haver dogmas. Eu diria que nem a Lei de
de bens transacionáveis, enquanto que,
conflitos entre gerações e se apostarmos
Bases que eu protagonizei, nem a que
no sul, essa ligação é mais intensa com
em perspetivas de um emprego com
está em vigor, se adequam aos desafios
empresas de bens não transacionáveis.
novas profissões, dado que a “fábrica”
dos nossos tempos. Mais do que uma
A forte ligação com empresas de bens
produz cada vez mais com mão-de-
Lei de Bases do Sistema Educativo,
transacionáveis tem de ser potenciada,
obra qualificada reduzida, podemos
devíamos ter uma Lei de Qualificação
inclusive nos aspetos da conectividade e
ultrapassar a crise. Têm a palavra o
dos Portugueses. O passado serve para
mobilidade da Região. Seria um crime -
ambiente, a cultura, as profissões
alimentar o futuro, não para ser repetido.
até no domínio do pensamento - se não
derivadas de um relacionamento criativo
É necessário recordar que Portugal,
fortalecermos a intensidade dessa ligação.
entre gerações. E se a riqueza aumenta
no European Innovation Score Board,
com menos intérpretes, ela não pode ser
está entre os primeiros países da União
O grau de orientação exportadora do
concentrada em alguns e o poder político
Europeia na criação do conhecimento,
País só aumentará se diversificarmos
não pode ser dominado pelo poder
mas nos últimos na transformação deste
mercados, se melhorarmos a qualidade
económico. Afinal temos de contribuir
em bens económicos e culturais.
dos produtos e os tornarmos mais
para que os cidadãos portugueses vivam
atrativos… Mas também precisamos de
uma vida digna de ser vivida como já nos
uma nova vaga exportadora que deve
dizia Marcuse.
integrar o desenvolvimento da economia
15
percursos honoris causa
Onésimo Teotónio Almeida “Leitor omnívoro e viajante incansável” Honoris Causa pela UA
fotógrafo: Tiago Patrício
“Rideo, ergo sum” - “Eu rio, logo existo” afirma, sobre si próprio, Onésimo Teotónio Almeida no título de uma das suas crónicas. A Universidade de Aveiro atribui o Honoris Causa a 16 de dezembro, no dia em que comemora o 40º aniversário, a este professor da Brown University. A madrinha será Isabel Alarcão, antiga Reitora e professora aposentada do Departamento de Educação.
“Gosto de humor em qualquer situação. É uma ótima ferramenta
impressivo conhecimento que procede quer do “diálogo”
para sublinhar uma ideia, torna-a mais interessante”, esclareceu
privilegiado que mantém com autores - designadamente com
o autor e investigador numa entrevista ao jornal “i”. “Dotado de
José Rodrigues Miguéis, de que é o grande especialista”,
uma personalidade complexa e multifacetada, “sincrónico e
entre outros expoentes máximos da literatura portuguesa, e da
diacrónico”, conversador inveterado, “devorador de paisagens”,
literatura açoriana em particular. Em “O Pensamento Português
professor de cultura e “passador” de culturas, idiossincrático,
Contemporâneo (1890-2010)”, de Miguel Real, o ensaísta e
irónico, impossível de catalogar, Onésimo Teotónio Almeida é,
professor pertence, com Teófilo Braga, Antero de Quental e
segundo Eugénio Lisboa, “um infatigável viajante, no mais lato
José Enes, ao grupo de quatro pensadores de origem açoriana
sentido da palavra “viajante”: atravessa oceanos, rios, lagos,
e é analisado em mais de trinta páginas.
continentes, países, cidades, praias, mas atravessa, com igual ímpeto e brio, livros, línguas, culturas, literaturas e filosofias. De
Há vários anos que colabora com a Universidade de Aveiro.
tudo isso nos dá depois conta nas suas crónicas ou diacrónicas,
Leciona aulas ou seminários a convite de docentes da UA,
nas quais, com uma desenvoltura fácil ou com uma força leve,
participa em colóquios, integra o Conselho Científico da RUA-L,
nos oferta, aos baldes, sabedoria séria assim como quem se
desempenha o papel de conselheiro no âmbito da elaboração
diverte (e nos diverte)”, explica o texto que justifica a atribuição
de projetos de investigação e integra o Painel Internacional de
do título de Doutor Honoris Causa pela UA.
Acompanhamento da Escola Doutoral. O professor de História Cultural e Intelectual Portuguesa na Brown University fundou e
Académico, ensaísta, autor de contos e crónicas, cultiva e
dirige a editora Gávea-Brown dedicada a obras, em inglês, de
vive, através da escrita e da sua atividade de divulgação e de
literatura e cultura portuguesas.
investigação, a teia que estabeleceu entre as suas raízes nos Açores, a comunidade portuguesa emigrada nos EUA, a vida
Onésimo Teotónio Almeida é um açoriano de S. Miguel,
académica, Portugal e o mundo. Onésimo Teotónio Almeida é
nascido em 1946. Está radicado nos EUA desde 1972 e
autor de várias obras e de mais de duas centenas de ensaios
é professor no Departamento de Estudos Portugueses e
publicados em Portugal, EUA, Brasil, França e Inglaterra,
Brasileiros da Brown University, Departamento que ajudou
“surgindo, incontornavelmente, no espaço cultural português,
a fundar e que dirigiu. Naquela universidade americana
como um dos grandes pensadores e prosadores da atualidade”,
completou o MA e o PhD, ambos em Filosofia, após a
refere-se também no texto justificativo da atribuição do
licenciatura na Universidade Católica Portuguesa em 1972.
Doutoramento Honoris Causa. Neste texto, considera-se
Entre várias distinções e prémios, recebeu o título Oficial da
ainda que “no seu labor crítico-interpretativo, conflui um
Ordem do Infante D. Henrique.
linhas
dez 2013
Petrobrás e Galp Energia em destaque na UA
José Formigli e Ferreira de Oliveira recebem Honoris Causa É um Doutoramento Honoris Causa inédito no país. A distinção vai ser atribuida pela Universidade de Aveiro a um projeto que é
de Santa Catarina, no Brasil, apontava para a existência de
hoje o maior desafio para a engenharia e gestão industrial do planeta - a Exploração de Recursos Energéticos no Pré Sal Brasileiro. A atribuição do título - em Engenharia e Gestão Industrial - a José Formigli e a Manuel Ferreira de Oliveira, administradores, respetivamente, da Petrobrás e da Galp Energia, pretende homenagear o empreendimento das duas empresas que, em parceria, têm a cargo a exploração de grande parte daqueles recursos naturais do Brasil. Os títulos vão ser entregues a 9 de janeiro.
uma nova e extraordinária província petrolífera em terra de Vera
Gestão e Engenharia Industrial (DEGEI). Por isso, aponta
Cruz. Atualmente calcula-se que essas reservas energéticas
o responsável, a proposta de entrega dos graus de Honoris
possam permitir ao país atingir a produção média diária de
Causa a José Formigli e a Ferreira de Oliveira, uma ideia de
aproximadamente 3,4 milhões de barris por dia de petróleo em
Joaquim Borges Gouveia, investigador no DEGEI e diretor
2017. Um número que tornará o Brasil no sexto maior produtor
do Departamento até meados de 2012, “é uma homenagem
mundial de petróleo.
ao maior projeto do mundo, o da exploração de petróleo
A descoberta, em 2007, de acumulações de petróleo e gás natural em reservatórios situados na camada do Pré Sal, uma área submersa que se estende do litoral do Espírito Santo ao
no Pré Sal brasileiro”. Um empreendimento que tem nos No entanto, os 300 quilómetros que separam a localização
gestores de ambas as companhias, impulsionadores de
das reservas da linha de costa e os 5 a 7 mil metros de
relevo na sua consolidação.
profundidade a que se encontram os depósitos são apenas alguns dos desafios que separam os reservatórios de uma
As distinções, apoiadas não só pelo DEGEI mas também pelos
exploração que, financeiramente, compense. A trabalharem em
departamentos de Química, Engenharia Mecânica, Engenharia
conjunto em várias frentes no campo da energia, a brasileira
de Materiais e Cerâmica, Geociências, Biologia e Ambiente e
Petrobrás e a Galp Energia são atualmente parceiras na
Ordenamento pretendem sublinhar também duas empresas
exploração de petróleo em vastas áreas no Pré Sal.
que, por forte ação dos dois administradores, são responsáveis pela estreita cooperação científica e técnica com as
“Trata-se de um projeto de enorme arrojo para a Engenharia,
universidades portuguesas e brasileiras no desenvolvimento de
e que engloba muitas das suas especialidades, e um desafio
conhecimento avançado e na formação qualificada de recursos
para a Gestão nas suas componentes mais relevantes”,
humanos para que a Galp Energia seja um parceiro
lembra Carlos Costa, diretor do Departamento de Economia,
de relevo da Petrobrás.
17
percursos honoris causa
A complexidade tecnológica que está associada ao empreendimento, que em quase todas as fronteiras está no limiar do desenvolvimento de novas tecnologias, a base logística necessária para explorar aquela área geográfica, a necessária articulação com fornecedores de bens, serviços e ciência e o grande interesse económico e tecnológico que este desafio desperta na comunidade científica e industrial de ambos os países fazem deste projeto um precioso campo para atrair tudo o que de melhor produz a Engenharia e Gestão Industrial. No ano em que o Departamento assinala José Miranda Formigli Filho
Manuel Ferreira de Oliveira
Carlos Costa, “com estas distinções
É um dos nomes maiores da Petrobrás,
Presidente Executivo da Galp Energia
podemos comemorar condignamente
a empresa brasileira que é uma das
desde 2006, Ferreira de Oliveira é
a data e prestigiar esta área disciplinar
potências mundiais no setor energético.
licenciado em Engenharia Eletrotécnica
da UA que tão importante tem sido
Administrador com o pelouro de
pela Universidade do Porto, tem o grau
para dotar as empresas, não só do país
Exploração e Produção, a maior Unidade
de Master of Science e é doutorado em
como também da restante Europa, de
de Negócios da Petrobrás, José Formigli
energia pela Universidade de Manchester.
quadros especializados com excelente
entrou para a empresa em 1983, trilhando
Tem também formação em gestão no IMD
formação académica”.
desde então um percurso na área da
(Lausanne, Suíça), bem como em Harvard
exploração e produção petrolífera.
e na Wharton Business School (EUA).
o 25º aniversário da criação do curso de Engenharia e Gestão Industrial, sublinha
“A área de Engenharia e Gestão Industrial
Viveu 15 anos entre a Venezuela e o Reino
é, hoje em dia, um ramo científico
José Formigli é engenheiro civil formado
Unido ao serviço da PDV - Petróleos de
autónomo com afirmação mundial e
pelo Instituto Militar de Engenharia,
Venezuela e da BP.
encarna a integração de conhecimento
pós-graduado em análise matricial de
que se exige para qualquer projeto
estruturas pela Universidade do Estado do
Enquanto responsável pela Galp, Ferreira
de dimensão relevante, seja ao nível
Rio de Janeiro e tem um MBA em Gestão
de Oliveira tem sido um impulsionador de
individual seja ao nível da empresa”,
Empresarial pela Universidade Federal do
relevo na consolidação da Galp e na sua
lembra Joaquim Borges Gouveia. “A
Rio de Janeiro. Com uma experiência de
parceria com a Petrobrás e um promotor
Engenharia e Gestão Industrial tem por
três décadas na empresa brasileira, José
no espaço lusófono de estreitas relações
base a análise, o projeto, o desempenho
Formigli já ocupou diversas posições de
de cooperação científica e técnica com as
e o controlo de sistemas integrados
gerência, todas relacionadas com a área
universidades portuguesas e brasileiras,
de pessoas, materiais, equipamentos
de Exploração e Produção.
seja no desenvolvimento de conhecimento
e energia”, acrescenta o investigador.
avançado, seja na formação qualificada de
Assim, no projeto do Pré Sal, “adquirem
Em 2008, José Formigli foi nomeado
enorme relevância áreas científicas em
gerente executivo da área criada para
que a academia de Aveiro tem vindo a
o planeamento e desenvolvimento
Professor catedrático convidado do
revelar uma grande capacidade científica
das descobertas do pré sal, ficando
Departamento de Economia e Gestão
e um prestígio mundial como é o caso da
responsável pela gestão de todo o
Industrial da Universidade de Aveiro
Química, dos Materiais, da Geologia, do
programa de desenvolvimento da
- desde 2007/2008 e a título gracioso
Ambiente ou da Biodiversidade”.
produção dessas áreas. Um cargo que
- Ferreira de Oliveira é presidente do
recursos humanos.
é um dos de maior responsabilidade na
Conselho Científico e Tecnológico do
Assim, e mais uma vez, a UA diz
empresa, já que foi responsável pelo
Instituto de Petróleo e Gás e membro
“presente” quando os verbos são inovar,
desenvolvimento da exploração na
do Conselho Geral do Fórum de
transferir conhecimento e cooperar.
camada do PRÉ SAL na Bacia de Santos.
Administradores de Empresas.
linhas
dez 2013
As empresas precisam? A UA tem! No princípio era o verbo. Na Universidade de Aveiro eram as empresas. Numa região onde há 40 anos atrás o tecido empresarial estava sôfrego de profissionais especializados e de novas metodologias para inovar, crescer e multiplicar-se, a certidão de nascimento da academia de Aveiro foi carimbada especificamente para colmatar essas lacunas. Se no princípio eram as empresas ligadas à cerâmica, à eletrónica, às telecomunicações e ao ambiente quem mais carecia dos recém-diplomados da UA, hoje não só o leque se desdobrou para os materiais e a nanotecnologia, o mar, a mecânica, a química e o setor agrolimentar, o turismo, o ordenamento do território ou a saúde, como a academia deixou de ser apenas um viveiro de quadros especializados orientados para as necessidades socioeconómicas da região. Quatro décadas depois de nascer, pelo cordão umbilical que liga
Na cooperação com os atores das empresas, a UA
hoje a UA ao - literalmente - mundo empresarial, a academia não
tem, atualmente, nas suas fileiras uma dezena de
só forma profissionais que se espalham por empresas de todo
unidades de interface, cuja principal missão é fomentar o
o planeta, como transfere conhecimento e tecnologia, apoia o
empreendedorismo e transferir o conhecimento produzido nos
empreendedorismo e a inovação e presta serviços e estudos. Tal
laboratórios, convertendo-o em valor económico, quer para as
como no princípio, os verbos continuam a ser inovar, transferir e
empresas, quer, naturalmente, para a própria academia.
cooperar sempre e cada vez mais e melhor.
A Incubadora de Empresas da Universidade de Aveiro (IEUA) e a Unidade de Transferência de Tecnologia (UATEC) surgem à
“A UA nasceu para ser um centro de saber aberto ao
cabeça dessas unidades.
tecido económico, social e cultural e para contribuir para o desenvolvimento da região de Aveiro e do país”, reforça Carlos
Uma incubadora para o século XXI
Pascoal Neto, Vice-reitor da academia. E a missão primordial
A IEUA, criada em 1996, tem inscrito no seu ADN uma
está bem presente nas grandes dimensões da instituição:
missão de peso. “A IEUA incentiva e apoia a criação,
ensinar, investigar e transferir conhecimento. “No ensino sempre
o desenvolvimento e o crescimento sustentado de projetos
tivemos uma oferta muito orientada para as necessidades do
empresariais inovadores, através da promoção de ações
tecido empresarial e para a investigação, coabitando com a
de capacitação para o empreendedorismo e da disponibilização
que é fundamental a qualquer entidade que se dedica à ciência,
de espaços para a incubação de empresas, de serviços de
temo-la muito direcionada para a aplicação, desenvolvimento
apoio ao empreendedorismo e de uma rede de parceiros
de produtos e processos para a inovação tendo em vista a
orientados para a criação de valor e para a concretização
transferência desse conhecimento para o tecido empresarial”,
de ideias de negócio”, explica o diretor-geral da IEUA,
aponta o responsável.
Celso Carvalho.
19
dossier
Ao longo dos seus 17 anos de atividade a IEUA apoiou a criação
enfoque à valorização e comercialização de conhecimento
de 54 empresas, sendo que 18 ainda estão incubadas e serão
produzido no seio da comunidade académica. “Os resultados
responsáveis, numa previsão para 2013, pela criação de 103
da investigação científica, cada vez mais orientada para as reais
postos de trabalho e por uma faturação superior a 4,5 milhões de euros anuais. “Os indicadores de desempenho de 2013, face a 2010, (mais 106 por cento de empresas em incubação, mais de 212 por cento de postos de trabalho das empresas em incubação e mais de 425 por cento do volume de negócios das empresas em incubação) e o número crescente de ideias de negócio em pré-incubação (atualmente são sete) e de candidaturas à IEUA permitem concluir que o apoio prestado é relevante e aporta valor para a sociedade”, garante Celso Carvalho. O suporte da Incubadora é concretizado através do IEUA
necessidades das empresas, podem e devem ser absorvidos
Start, um programa de incubação que tem a duração mínima
por estas, com vista a aumentar a sua competitividade,
de 25 semanas e máxima de 150 semanas, e que inclui
possibilitando-lhes vingar num mercado cada vez mais
um período de pré-incubação para ideias de negócio. As
exigente”, diz José Paulo Rainho.
empresas que concluem com sucesso este programa, as denominadas empresas IEUA Graduadas, ficam capacitadas
Outra área de intervenção, na qual a ligação da academia com
para desenvolverem a sua atividade de forma autónoma. No
as empresas está bem visível, prende-se com “a inovação e
entanto, estas têm ainda a possibilidade de se candidatarem ao
o desenvolvimento de projetos em cooperação, copromoção
IEUA Graduate, um programa de 100 semanas orientado para a
e prestações de serviços, nos quais a UATEC tem um papel
alavancagem de empresas.
preponderante, não só na auscultação das necessidades das empresas, mas também na identificação dos membros
Os inúmeros prémios entregues às empresas em incubação e
da academia com competências técnico-científicas para dar
o terceiro lugar alcançado pela IEUA nas categorias “Fastest
resposta às referidas necessidades”.
Growth” e “Self Sustainability” do Best Science Based Incubator Award 2013, que decorreu em novembro último, atestam o
No futuro, antevê o diretor da unidade, “a estratégia da UATEC
precioso trabalho da estrutura da academia em prol da criação
passa por dar continuidade ao trabalho já iniciado, dando sempre
de um tecido empresarial mais inovador, mais competitivo e
a conhecer às empresas o que de melhor se faz na Universidade,
gerador de mais riqueza e emprego.
não só ao nível da investigação científica, mas também ao nível dos projetos realizados em parceria com a indústria”.
Soluções para todas as indústrias Em relação à UATEC, criada em 2006, esta tem como principal
A Associação para a Formação Profissional e Investigação
papel apoiar os direitos de propriedade intelectual de invenções
da Universidade de Aveiro, a Fábrica Centro Ciência Viva
resultantes de trabalhos de investigação da academia e
de Aveiro, o Gabinete de Estágios e Saídas Profissionais,
cativar as empresas para a sua aquisição. Paralelamente, a
o Instituto do Ambiente e Desenvolvimento, o Laboratório
UATEC fomenta e apoia o empreendedorismo na comunidade
Central de Análises, o Laboratório Industrial da Qualidade e
académica, com especial enfoque para o de base tecnológica,
a Unidade Integrada de Formação Continuada completam
fazendo ainda de elo de ligação entre as necessidades das
a lista das unidades de interface com que a UA abre os
empresas e as soluções da academia.
braços não só às empresas mas às instituições em geral e à qual se junta ainda o Creative Science Park – Aveiro
Só nos últimos anos, através da UATEC, foram dinamizados cerca
Region. Formação profissional, ajuda na disseminação de
de uma centena de projetos que correspondem a 11 milhões de
novas áreas de conhecimento e do empreendedorismo,
euros de investimento apoiados pelos diferentes programas de
apoio às necessidades ambientais, análise de projetos
financiamento nacionais e internacionais.
elétricos, equipamentos desportivos e maquinaria industrial, promoção da aprendizagem permanente e ao longo da
“A ligação da UA com o tecido empresarial é um dos principais
vida entre a sociedade e prestação de serviços de análises
propósitos da Unidade”, aponta José Paulo Rainho, diretor da
físico-químicas são apenas alguns dos objetivos destas
UATEC. No cumprimento da missão, o responsável dá especial
unidades. Se as empresas precisam, a UA tem.
linhas
dez 2013
A PORTA DE ENTRADA DAS EMPRESAS NA ACADEMIA
É por excelência o balcão de acesso das empresas à UA. Dá pelo nome de Gabinete Universidade-Empresa (GUE) e tem por missão receber os empresários e, dependendo das necessidades apresentadas, encaminhá-los para as unidades de interface mais apropriadas.
“O GUE é a ‘via verde’ para a entrada das entidades externas, nomeadamente das empresas, na UA”, explica Paula Seabra, responsável pelo Gabinete. Ao GUE as solicitações dos empresários chegam diariamente. A lista, descreve Paula Seabra, vai desde “o desenvolvimento de projetos de investigação à realização de análises e serviços de consultadoria”. Na área da formação e emprego, por exemplo, “recebemos constantemente um número muito significativo de ofertas de estágios extracurriculares e curriculares e de vagas para os quadros das empresas”.
O volume crescente de solicitações com o endereço do GUE, aponta a responsável, “é fruto dos contactos realizados pelo
Plataformas Tecnológicas: agrupar para melhor distribuir
Gabinete com o setor empresarial e, também, do facto da UA
A mais recente aposta da UA para reforçar a ligação
ter decidido criar em 2011 um interlocutor privilegiado para as
ao tecido empresarial surgiu em 2012. Sob o nome
empresas, o Portefólio de Competências e Serviços da academia”. Em dois anos de existência o respetivo site (http://portefolio.ua.pt/)
de Plataformas Tecnológicas, foram criadas para dar
já teve dezenas de milhares de visitas. Cerca de 12 por cento das
resposta às necessidades concretas dos setores chave
pesquisas realizadas ao Portefólio online foram efetuadas fora de
da economia nacional. Acompanhadas e apoiadas
Portugal, a partir de 72 países.
pela Reitoria, através da UATEC, e dinamizadas
Dinamizado pelo GUE, o Portefólio de Competências e Serviços
por equipas multidisciplinares de investigadores e
da UA resulta de um levantamento exaustivo do vasto leque de
docentes, as Plataformas têm em mãos a missão de
competências e de serviços instalados na academia. Na prática, trata-se de um catálogo integrado e de fácil acesso a todas as
desenvolverem projetos, produtos e serviços para as
valências existentes na Universidade. No portal do Portefólio de
empresas associadas às três plataformas já criadas:
Competências e Serviços são disponibilizados às empresas e
a Agroalimentar, a do Mar e a dos Moldes. Seguir-
demais entidades do tecido económico as competências e serviços
se-á, muito em breve, a criação de novas plataformas
de cada departamento, escolas politécnicas, unidades de investigação e unidades de interface da UA.
tecnologicas em áreas estratégicas da UA e de relevo para e economia da Região.
Concebido a pensar sobretudo nas empresas, autarquias e outras entidades públicas e privadas que pretendam conhecer e usufruir
No caderno de missões das Plataformas surge
das competências e dos serviços que a UA disponibiliza, o Portefólio
como prioritário o reforço da ligação da UA ao
pretende facilitar e dinamizar a interação entre a UA e as entidades
setor empresarial nas áreas estratégicas do
externas. “Pretendemos [com o Portefólio] reforçar a nossa ligação
futuro Parque de Ciência e Inovação, reforçar a
aos agentes económicos. Tal só é possível na medida em que as empresas tenham conhecimento cabal dos nossos serviços,
visibilidade das competências da academia em
infraestruturas, peritos e capacidades”, aponta Carlos Pascoal Neto.
Investigação e Desenvolvimento Tecnológico e
Não menos importante neste contexto, sublinha o Vice-reitor, “é a
promover o aparecimento de projetos de investigação
divulgação dos serviços da UA no que diz respeito ao apoio à inserção profissional dos diplomados junto destas entidades”.
aplicada em consórcio, com potencial para originar processos e tecnologias inovadoras que possam ser endogeneizadas pelo tecido empresarial.
21
dossier
Mar Portugal tem uma das Zonas Económicas Exclusivas e uma das plataformas continentais mais extensas do mundo. Por isso, inevitavelmente, a criação da Plataforma Tecnológica do Mar era um imperativo, ainda para mais numa Universidade que tem nas Ciências e Tecnologias do Mar um dos polos de desenvolvimento estratégico. “Sendo a economia do mar uma das áreas estratégicas de desenvolvimento económico e social do país, existem Agroalimentar
Moldes
enormes oportunidades de investigação,
“A Universidade de Aveiro conta com
Oitavo maior produtor mundial de
de desenvolvimento tecnológico e de
um grupo de investigação em Química e
moldes, com exportações para mais
inovação neste domínio que exigem uma
Bioquímica dos Alimentos reconhecido a
de 70 países, Portugal é um importante
aproximação multidisciplinar e uma forte
nível nacional”, aponta Ivonne Delgadillo,
ator internacional neste setor. A indústria
ligação entre as Universidades, Institutos
responsável pela Plataforma Tecnológica
nacional dos moldes tem mais de
de Investigação, o setor empresarial e a
Agroalimentar e investigadora do
500 empresas e emprega cerca 7500
Administração Central, Regional e Local”,
Departamento de Química. E se a
pessoas. “As empresas do setor, de
aponta Luis Menezes Pinheiro, coordenador
eles se juntarem “o elevado número
modo a garantirem a sua sustentabilidade
da Plataforma Tecnológica do Mar. Nesta
de docentes e investigadores que
a longo prazo, precisam de continuar a
área, indica o investigador do Departamento
desenvolvem trabalhos, nas mais
evoluir técnica e tecnologicamente e de
de Geociências, a UA já navega em mar
diversas áreas científicas suscetíveis
reforçar a aposta na qualificação dos
alto sustentada “numa série de valências
de serem utilizados ao longo de toda
seus recursos humanos”, diz Mónica
interdisciplinares bem afirmadas a nível
a fileira agroalimentar”, começa-se a
Oliveira, investigadora do Departamento de
nacional e internacional, que vão desde
desenhar o porquê da aposta da UA
Engenharia Mecânica da UA e responsável
o estudo integrado e multidisciplinar de
numa plataforma tecnológica neste
pela Plataforma Tecnológica dos Moldes.
sistemas, recursos e riscos estuarinos,
campo. A justificação final vem do
Neste contexto, a Plataforma, para além
costeiros e do mar profundo, à sua avaliação
próprio Ministério da Economia - “a
de reforçar a missão da UA enquanto
ambiental e desenvolvimento sustentável”.
agricultura foi o setor que mais contribuiu
entidade associada na gestão do Pólo de
para a criação de postos de trabalho
Competitividade Engineering & Tooling
Assim, esta Plataforma quer maximizar
do primeiro para o segundo trimestre
que operacionaliza o Plano Estratégico
não só as valências existentes na
de 2013” - e do retrato das indústrias
para Setor de Moldes e Ferramentas
UA nos vários domínios do saber
transformadoras portuguesas onde 16
Especiais em Portugal, “é um agente
aplicados às Ciências e Tecnologias
por cento são alimentares.
dinamizador e facilitador dos diferentes
do Mar, governação e desenvolvimento
intervenientes deste setor industrial, de
sustentável, como também
“Os objetivos imediatos da Plataforma
forma a alavancar de forma sustentável a
estabelecer parcerias com o setor
Agroalimentar passam por estruturar e
sua competitividade”.
empresarial, entidades portuárias e da
coordenar as diversas atividades que
Administração. Para além de numerosos
são desenvolvidas na UA e que podem
Enquanto agente da academia,
trabalhos de investigação já em curso
ser utilizadas pelo setor agroalimentar
diz Mónica Oliveira, a Plataforma
com os parceiros da Plataforma,
por forma a conseguir oferecer serviços
“disponibiliza-se para reunir equipas
esta está já a lançar candidaturas a
e produtos ao longo da cadeia produtiva,
multidisciplinares recetivas aos
financiamento de projetos conjuntos,
desde os produtos agrícolas até ao
desafios de uma indústria competitiva
desenvolveu atividades de formação
consumidor”, explica a investigadora. As
e inovadora”. Para ajudar a cumprir
de recursos humanos em ambiente
ações de divulgação das capacidades
essa premissa “temos procurado
empresarial e lecionou cursos
da academia no setor junto dos
compreender as necessidades do
avançados para a indústria do setor, em
produtores e empresários nacionais já
setor” através de visitas a empresas e
particular nos domínios da aquicultura,
estão em marcha.
organização de seminários.
portos e recursos energéticos.
linhas
dez 2013
Aula dos 1.os alunos da UA no Anfiteatro do Bloco Escolar do Centro de Estudos de Telecomunicações
Telecomunicações e Cerâmica: as parteiras da academia Em 1973 Veiga Simão, Ministro da Educação, assinou
Desde logo, a parceria resultou na primeira oferta formativa
o decreto que autorizava a cidade de Aveiro a erguer a
da UA na área das Tecnologias de Informação, Comunicação
Universidade. O objetivo do documento não deixava margem
e Eletrónica e no Bacharelato em Telecomunicações que,
para dúvidas quanto ao porquê de fazer nascer entre as
rapidamente, evoluiu para licenciaturas, mestrados e
universidades seculares de Coimbra e do Porto uma instituição
doutoramentos nesses domínios.
de ensino superior. Em mãos, Veiga Simão tinha estudos que apontavam que o tecido empresarial da região centro, mais
UA e PT Inovação, uma parceria exemplar
concretamente o ligado à eletrónica e telecomunicações e
No contexto da relação UA/PT Inovação salienta-se a
à cerâmica, precisava de ajuda, na forma de profissionais
criação, em 1993, de uma infraestrutura determinante
qualificados, para crescer. Por isso, a semente da nova
na relação das duas instituições e na evolução das
academia só foi plantada muito por força dessas empresas.
Telecomunicações na Região de Aveiro e em Portugal,
E com elas germinou e cresceu.
o Instituto de Telecomunicações (IT) e, em particular o Polo de Aveiro. Desde então, foram inúmeros os projetos
A criação, no início da década de 70, do Centro de Estudos de
de investigação e desenvolvimento tecnológico (I&DT),
Telecomunicações (CET) - a instituição que daria origem à PT
nacionais e europeus, em que a UA/IT e a PT Inovação
Inovação - foi decisiva para conquistar a assinatura de Veiga
foram pioneiros, nomeadamente no desenvolvimento e
Simão tal era o potencial económico para o país de se apostar
implementação de infraestruturas de banda larga e redes
no mercado mundialmente emergente das telecomunicações,
de fibra ótica, bem como de produtos e serviços avançados
assim houvesse especialistas à altura. A missão de os formar
de telecomunicações e serviços digitais de apoio às áreas
constituiu o primordial papel da UA.
económica, social, cultural e administrativa.
A empresa serviu mesmo de berçário à nova academia que
Cerca de 50 dissertações de mestrado e 20 de doutoramento
teve nas suas instalações as primeiras salas de aula. De forma
com orientação conjunta e uma centena de estágios
decisiva, o CET influenciou a estruturação do núcleo inicial dos
profissionais só nos últimos dez anos ajudam também
departamentos e das áreas académicas e de investigação.
a justificar a escolha da COTEC Portugal - Associação
23
dossier
Empresarial para a Inovação que, em novembro último, entregou à UA e à PT Inovação o 1º lugar do concurso Casos
SOARES DOS SANTOS APELA AOS EMPRESÁRIOS:
Exemplares de Cooperação Universidade-Empresa.
“DEIXEM-SE CONTAGIAR POR ESTA DINÂMICA”
A associação terá tido também em conta os 140 milhões de
É um caso único no ensino politécnico português quando o tema
euros de investimento em projetos de I&DT, com financiamento
é a formação de profissionais à medida da exata necessidade das
externo, e os 4,8 milhões de euros de contratos de
empresas. Num trabalho conjunto, a UA e o Grupo Jerónimo Martins
transferência de tecnologia, com financiamento direto da PT
(JM) adaptaram o plano de estudos da Licenciatura em Comércio da
Inovação à academia de Aveiro, ao longo dos últimos 40 anos.
Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda (ESTGA) de forma a que os estudantes adquiram as competências apontadas pelos
Para a história, quer da UA quer da PT Inovação, fica o
empregadores como importantes para o exercício da profissão de
simbolismo da criação de uma Universidade dentro de
gestor comercial. A parceria entre as duas instituições, assinada em
uma empresa, um cenário sem paralelo em Portugal, e que
2012, corresponsabiliza também a JM pelo próprio funcionamento
acabaria por ditar um destino conjunto recheado de sucesso.
do curso da academia de Aveiro. Nesse sentido, e anualmente, a multinacional portuguesa acolhe
Do barro se fez a força dos materiais
nas suas empresas os alunos da Licenciatura em Gestão Comercial
Fortemente implantada na região de Aveiro, também a
(em regime de estágio), nomeia quadros de topo para acompanharem
indústria cerâmica mereceu especial atenção da jovem
individualmente os estudantes em programas tutoriais e disponibiliza
academia. Uma atenção que, mais uma vez, foi recíproca.
65 mil euros para financiar uma cátedra internacional convidada.
O Departamento de Cerâmica e do Vidro (DCV), criado
“A crescente colaboração entre as Empresas e as Universidades é
em 1976 para responder às necessidades decorrentes do
absolutamente crucial para o desenvolvimento da sociedade e da
desenvolvimento tecnológico que o processo de fabrico de
economia do país como um todo”, aponta Alexandre Soares dos
produtos cerâmicos e vítreos exigia, rapidamente se envolveu
Santos, presidente do conselho de administração da JM. “É preciso
em parcerias com a indústria do setor.
criar um novo paradigma de envolvimento entre o mundo universitário e o mundo empresarial, aproximando-os numa colaboração mais ativa
A Associação de Apoio à Cerâmica (AAC), a primeira
com vista à formação daqueles que, potencialmente, virão a ser os seus
associação em Portugal a juntar uma instituição de
futuros colaboradores”, acrescenta o empresário.
ensino superior à indústria, e que envolveu inicialmente
E foi a partir dessa convicção que a JM e a ESTGA desenvolveram
a UA e 25 empresas, foi um dos grandes motores para
o trabalho conjunto de revisão e alteração de conteúdos
o desenvolvimento do DCV e, consequentemente, para
programáticos da Licenciatura em Gestão Comercial, “inspirados
catapultar o setor. Em contrapartida ao apoio financeiro
pela visão de contribuir para uma melhor adequação do ensino à
prestado pela Associação ao DCV na hora de equipar os
realidade e às necessidades do mundo das empresas”. Em suma,
laboratórios, o Departamento passou a prestar consultadoria
acrescenta Soares dos Santos, “pretende-se que os alunos aliem
e ensaios laboratoriais às empresas sócias da AAC.
os seus conhecimentos teóricos e a aprendizagem dos conteúdos curriculares a experiências concretas de learning by doing que
“Do apetrechamento do Departamento recordo, pela
facilitem a integração no mercado de trabalho, com benefícios ao
importância, a compra do primeiro microscópio eletrónico de
nível do aumento dos índices de produtividade”.
varrimento adquirido no país - o precursor dos laboratórios
E os resultados começam a saltar à vista. “Num contexto nacional de
atuais de microscopia eletrónica da UA - adquirido com 50 por
redução do número de alunos que se candidataram ao ensino superior,
cento de participação da AAC e 50 por cento de participação
a Licenciatura de Gestão Comercial lecionada nesta Escola preencheu
da Fundação Gulbenkian”, aponta João Lopes Batista.
[este ano letivo] todas as vagas disponíveis, o que contraria a tendência registada em anos anteriores”, lembra Soares dos Santos.
Encarregado de desenvolver o DCV desde o nascimento
Por outro lado, o empresário sublinha que “também para as
da UA, o professor, que haveria de ocupar o cargo de
empresas a proximidade com a comunidade académica é de suma
Vice-reitor, lembra que “a Associação teve também um papel
importância, na medida em que lhes permite acompanhar de perto
fulcral na inserção dos alunos na indústria, primeiro na forma
os mais recentes progressos na investigação e no conhecimento”.
de estágios e depois na integração dos recém-formados nos
Nessa certeza, Soares dos Santos deixa um recado: “Apelo
quadros empresariais”.
às empresas para que se deixem contagiar por esta dinâmica e procurem formas de cooperação com as universidades que resultem em claras vantagens para ambas as partes e se traduzam em progresso para Portugal”.
linhas
dez 2013
É filho das dificuldades de um país desigual. Apesar disso – ou por causa disso – cresceu descontraído com o futuro. O que tivesse que acontecer, aconteceria que Júlio Pedrosa daria certamente conta do recado. Assim fez ontem, assim calcorreia hoje a viagem da vida. Nas incontáveis oportunidades que lhe surgiram ou que soube criar, abraçou a Química, foi Reitor da Universidade de Aveiro e Ministro da Educação. Este é o telegrama possível, que muito peca por escasso, de uma jornada de 67 anos dedicada ao Ensino e à Investigação mas também à ação cívica em prol dos outros. Poderia ter sido pedreiro, filósofo ou economista com a mesma naturalidade com que hoje é um pensador de referência quando o assunto é a Educação. O vinho que começou a produzir recentemente na quinta que tem na Lapinha, no concelho de Armamar, serve para reafirmar “a ligação ao mundo da aldeia”. Afinal, um estado de alma que nunca abandonou.
Júlio Pedrosa
40 anos ao serviço da UA
Nasceu em 1945 perto de Cadima, uma aldeia do concelho de
que, para um menino de qualquer aldeia, estudar representava
Cantanhede, num pequeno lugar chamado Estação de Lemede,
um esforço financeiro para as economias domésticas.
espaço de despedidas e receções, onde via o pai, ferroviário, partir e regressar a casa de comboio uma vez por semana.
“Da minha turma, só eu e um colega é que fomos além da
Com a mãe, professora do ensino primário, descobriu cedo que
quarta classe”. Júlio e o irmão tiveram sorte. Júlio Pedrosa
a Educação era um mundo bem maior do que aquele que os
guarda bem as memórias de um sistema de ensino com malhas
olhos de menino viam na sala de aula e no recreio. Um mundo
demasiado apertadas para acolher os meninos pobres.
que podia ser extremamente injusto para com os meninos do Portugal rural e atrasado de meados do século XX.
“Não era uma vida fácil”, sublinha. Mas nunca quis fugir da terra que o viu nascer. “Sempre achei que devia fazer parte
“Uma ou outra vez fui com a minha mãe para a escola onde ela
e ser solidário com o mundo em que vivia estando com eles
trabalhava, que era uma das mais pobres da freguesia, e ficou-me
e trabalhando com eles”, aponta. “Ainda hoje encaro assim a
sempre na memória aquilo que era realmente uma escola de uma
vida, continuo a ter bem presente a nossa aldeia”.
aldeia isolada do nosso país”. O futuro era um verbo que todos os alunos da mãe conjugavam de pés descalços na agricultura,
Do pai recorda uma frase lapidar dita aos dois pequenos
ao lado dos pais. Em casa o pequeno Júlio aprendeu desde cedo
herdeiros que se pode traduzir assim: “Se quiséssemos
25
percurso singular
ascender na vida pela via educativa, o que para os meus pais
durante a semana, era à mãe que cabia o papel de educadora.
era um sacrifício financeiro enorme, tínhamos que fazer o
“Foi muito rigorosa na educação que me deu até a uma certa
nosso esforço porque a alternativa seria trabalhar no mundo da
idade”, relembra. A partir da adolescência tudo mudou: “Senti
construção civil”.
que ela me deixou ser aquilo que eu entendia que era, passou
Os livros nunca deixaram as mãos dos dois irmãos. Mas a alternativa, a de trabalhar na construção civil, jamais assustou ou pressionou Júlio Pedrosa. “Nunca tive durante a vida qualquer problema com esse assunto”, refere. “Sempre pensei que se não conseguisse por uma via seria bem sucedido por outra. A possibilidade de ter de ir trabalhar para a construção civil nunca foi para mim um pesadelo, por isso, sempre fiz a minha vida de estudante descontraído e fazendo sempre outras atividades”, recorda. Ativista, solidário e, afinal de contas, pedreiro Interessado pela vida fora das salas de aula, nunca os estudos foram a única preocupação, muito menos a isolada prioridade de Júlio Pedrosa. “Na véspera de fazer a prova oral de Cálculo Infinitesimal na Universidade de Coimbra (UC), com um professor muito exigente, não prescindi de estar na
Júlio Pedrosa, em Coimbra, com o seu supervisor de doutoramento Robert Gillard
minha aldeia a gerir aquilo que eram as primeiras competições de motociclos da terra”, afirma. Claro que no dia seguinte a
a confiar em mim de uma maneira muito clara e isso deu-me
prestação perante o docente “não foi perfeita” mas suficiente
forma de ir escolhendo sem ter o enquadramento familiar que
para cumprir os dois objetivos, passar e ver Cadima em festa.
me levasse a ir por aqui ou por ali”.
“Isso foi uma constante. Sempre procurei compatibilizar aquilo
Foi também em Coimbra que encontra no MOJAF -
que eram os meus envolvimentos cívicos ou de outra natureza,
Movimento Juvenil de Ajuda Fraterna um bom motivo para
com aquilo que eram as minhas obrigações académicas, até
arregaçar as mangas e dar largas à cada vez maior vontade
porque tinha de apresentar bons desempenhos para continuar a
de dar, de ajudar, de se colocar ao serviço do outro. O
ter a bolsa de estudo”, diz. Manteve essa postura a vida inteira.
Movimento, do qual chegou a ser presidente, construía casas para famílias pobres num terreno cedido por uma
Fez o ensino secundário em Coimbra, no Liceu D. João III. E foi em
pessoa bem conhecida de Coimbra (e afinal, a construção
Coimbra que seguiu para a Universidade em direção à Engenharia
civil passou mesmo pela vida de Júlio Pedrosa). O mesmo
Química. O comboio para lá e para cá, ainda o carregou todos os
grupo de estudantes, aos fins de semana, chamou também
dias entre Cadima e Coimbra. Só no segundo ano da Faculdade,
a si a missão de levar ajuda a pessoas necessitadas do
acreditando que estava garantida a continuação de uma bolsa de
concelho de Coimbra.
estudo da Gulbenkian, alugou um quarto na cidade. Próximas paragens: Universidade de Coimbra e serviço Mas a aldeia não ficava para trás. A Associação Recreativa
militar em Angola
de Cadima que ajudou a dinamizar continuou a contar com a
Em criança sonhava ser, tal como a mãe, professor do ensino
mão amiga de Júlio Pedrosa. Teatro e desporto foram apenas
primário. Mas no final do liceu outro comboio passou e entrou.
algumas das áreas que ajudou a implementar na aldeia. A
A estação seguinte era a da Engenharia Química na Faculdade
Associação e a Juventude Agrária Católica - “sempre fui e sou
de Ciências da UC.
católico” - foram duas das coletividades às quais se vinculou de alma e papel assinado. A independência é um valor do qual não
“Numa conversa com um amigo que tinha escolhido Ciências
abdica. Sempre.
Físico-Químicas, ele falou-me da Engenharia Química como uma área interessante”. Foi o suficiente para se matricular sem
“Talvez seja por não ter tido nunca o enquadramento para sentir
saber muito bem ao que ia. O pai, veio a saber muitos anos
que me devia alinhar por qualquer coisa que limitasse a minha
depois, teria gostado de ver o filho no curso de Economia. “Mas
autonomia”, diz quando questionado sobre o porquê de nunca
ele nunca me fez referência a isso”, refere. Em casa, o jovem
se ter filiado em partidos políticos. Em casa, com o pai ausente
Júlio já era senhor do seu destino.
linhas
dez 2013
No final do 2º ano, durante uma prova oral de Química Orgânica, uma das mais bem sucedidas que teve, o professor desafia-o a mudar para o curso de Físico-Químicas. Acabado de chegar da Alemanha com uma nova área para implementar em Coimbra, a da Química Têxtil, o docente via em Júlio Pedrosa a pessoa ideal para a trabalhar a seu lado. “Aceitei, até porque teria de ir para o Porto ou para Lisboa se quisesse continuar a estudar Engenharia Química”. As finanças sim, que não eram favoráveis a que fosse viver para tão longe de casa, mas, principalmente e mais uma vez, a rede de atividades sociais onde estava metido também pesaram muito na tomada de decisão. Mudou e, já no 3º ano, começou a trabalhar como monitor do investigador. Em 1967, concluído o curso com 22 anos, torna-se assistente
Uma das equipas de futebol da UA em 1978 (Júlio Pedrosa, em baixo, é o 2º à esquerda)
eventual na UC. Com planos para fazer um doutoramento na UC, Júlio Pedrosa “Mas como nunca tinha pensado na vida académica, não
repensa a vida, para na primeira estação à sua frente e
sabia sequer o que queria fazer daí para a frente”. A ausência
apanha novo comboio, desta vez em direção à cidade da
de planos académicos não o preocupava. Mais cedo ou mais
ria. As condições eram claras. A UA dava-lhe luz verde para
tarde, outro comboio haveria de passar rumo a algum lugar.
tirar em Inglaterra um doutoramento em Química, na área da atividade ótica inorgânica, uma especialidade nova em
Certezas, certezas, só o Estado tinha para Júlio Pedrosa: serviço
Portugal e que Victor Gil queria desenvolver em Aveiro. No
militar. Em setembro de 1968 foi para a Marinha. De 1969 até
regresso, com a bagagem carregada de novos caminhos para
1971 esteve em Angola a patrulhar o rio Zaire e a atividade
a ciência, Júlio Pedrosa teria a missão de ajudar à criação do
pesqueira ao largo de Luanda. Um naufrágio na foz daquele rio
Departamento de Química (DQ) e do seu plano estratégico e
devido a um tornado, e ao qual sobreviveu “por grande sorte”, e
de formar uma equipa de investigação em Química Inorgânica.
a solidariedade entre a população são as lembranças africanas
Assim aconteceu. Já com dois filhos, Júlio Pedrosa chega
que lhe saltam num primeiro exercício de memória.
definitivamente à UA em 1977, depois de em 1974, antes de embarcar para a Universidade de Cardiff, aqui ter dado
Universidade de Aveiro, um desafio irrecusável
algumas aulas a trabalhadores dos CTT que eram candidatos
De regresso a Coimbra e à docência, inscreve-se nos dois
ao primeiro curso da academia em Eletrónica
últimos anos da licenciatura em Química - Ramo Científico
e Telecomunicações.
para compensar os três anos de inatividade académica em Angola. É nessa altura que conhece o professor Victor Gil,
Pouco tempo depois é convidado para integrar a comissão
criador do Laboratório de Ressonância Magnética Nuclear da
instaladora do Centro Integrado de Formação de Professores
UC. “Publiquei com ele o meu primeiro artigo científico”, diz.
da UA, cargo que exerceu conjuntamente com o de professor
E isso foi apenas um pequeno pormenor da jornada que esse
no DQ até 1986. “Nesse ano fui para Inglaterra com a
encontro lhe provocou rumo à Universidade de Aveiro.
intenção de fazer um ano sabático e reativar assim a vida na investigação”, lembra. Já estava em Inglaterra quando o
“Um dia o professor Victor Gil diz-me que vai para Aveiro e
telefone toca. Do outro lado da linha Renato Araújo, o terceiro
pergunta-me se não quero ir com ele”, relembra. Convidado
Reitor da UA, queria-o para seu Vice-reitor.
em 1973 pelo então Ministro da Educação Veiga Simão para presidir à comissão instaladora da Universidade, Victor Gil,
“As oportunidades sempre me foram aparecendo ao longo
que haveria de ser o primeiro Reitor da jovem academia, queria
da vida. Limitei-me a escolher as que mais me interessavam”,
desbravar novas áreas científicas em Aveiro. Entre elas a
afirma. Aceitou o convite e regressou a Aveiro em 1987 para
Bioquímica, onde Júlio Pedrosa poderia ter um papel de peso
assumir a vice-reitoria para os assuntos pedagógicos.
na sua implementação. O desejo de Victor Gil em criar “uma universidade que rompesse com aquilo que era até então o
Nascida muito centrada na Formação de Professores, na Eletrónica
modo de entender as universidades em Portugal, que criasse
e Telecomunicações, no Ambiente e na Cerâmica e Vidro, a UA
áreas novas e que respondesse e preenchesse as lacunas que
tinha de crescer para outras áreas. “O professor Renato Araújo
existiam no país” convenceu-o.
entendeu que se devia aumentar o leque dos cursos, portanto, foi
27
percurso singular
nessa altura que se criaram as licenciaturas em Química Industrial
isso, tinha uma noção bastante clara do que estava aí lançado e
e Gestão, em Engenharia e Gestão Industrial, em Gestão e
do que precisava de ser reforçado”, afirma.
Planeamento em Turismo e em Música ”, recorda. Júlio Pedrosa lembra que não foi por acaso que a UA começou No segundo mandato de Renato Araújo, Júlio Pedrosa assume
nesse período a financiar projetos de investigação com fundos
a Vice-reitoria para os assuntos científicos com a grande
retirados do próprio orçamento. A academia de Aveiro foi de
preocupação de fazer crescer a infraestrutura científica da
facto a primeira universidade portuguesa a ter um programa
Universidade.
de financiamento a bolsas de estudo para pós-graduação com fundos do próprio orçamento. “Isso ajudou a consolidar a
Um Reitor para a continuidade.
afirmação da UA no plano científico”, lembra o responsável.
Um Reitor para a consolidação. Mas “já estava há demasiado tempo na Reitoria”. O DQ, os
No caderno das grandes apostas, Júlio Pedrosa tinha também a
assistentes que faziam doutoramento ou preparavam provas sob
frente pedagógica e do ensino. Enquanto Reitor iniciou algumas
sua orientação e o trabalho de consolidação da investigação
experiências, “algumas delas infelizmente interrompidas”,
científica ganhavam peso. No último ano do mandato sai
como foi o caso da implementação do primeiro ano comum de ciência e tecnologia. Júlio Pedrosa aponta igualmente o trabalho realizado em torno dos currículos. “Repensá-los foi um excelente exercício de debate interno e de escolhas, o que constituiu claramente um passo de antecipação da UA a Bolonha já que, quando o processo europeu surgiu, a academia já estava preparada para fazer mudanças”. Foi igualmente durante o mandato de Júlio Pedrosa que a cidade de Águeda viu concretizada uma proposta que nascera no mandato do Professor Renato Araújo, afirmando-se como local ideal para realizar “uma abordagem inovadora para o ensino politécnico, de natureza profissionalizante, inscrito sobre aquilo que é o saber fazer”. Assim, em 1997, nasceu a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda (ESTGA) da UA que se assume atualmente como um centro de ensino superior politécnico único em Portugal.
Em 1994, durante a tomada de posse para o 1º mandato enquanto Reitor da UA
Finalmente, recorda, “houve o trabalho de se pensar a para regressar - definitivamente, julgava Júlio Pedrosa - à
organização da UA de uma forma distinta”. A esse propósito,
vida académica. Mas os colegas da Química fizeram-lhe
ainda hoje Júlio Pedrosa pensa que “esse foi um projeto inovador
uma “malandrice”. Nas eleições para o conselho diretivo do
que consistiu em criar um Instituto de Investigação, que já vinha
departamento elegeram-no presidente sem lhe dizer nada.
do tempo do professor Renato Araújo, e consolidá-lo”. E, ao
A nova viagem pelos laboratórios, curta, tem um desenlace
mesmo tempo, criar também um Instituto para a Formação
inesperado, mais uma vez fora dos planos que tinha traçado.
Inicial, um Instituto para a Formação Pós-Graduada e uma estrutura para a cooperação com a sociedade, “porque na
Com o final do mandato de Renato Araújo, em março de 1994,
altura se acreditou que uma universidade com organização
a cadeira maior da UA ficava vazia. Na academia, várias vozes
departamental precisava de ter estruturas intermédias de
apontavam Júlio Pedrosa como o sucessor ideal para o lugar:
governança por funções”.
“Tive muita gente a encorajar-me para avançar, por isso resolvi reunir com essas pessoas para saber o que achavam que
Das boas memórias dos primeiros passos da UA rumo ao
deveria fazer o próximo reitor”. Concordou com os desígnios
mundo, pouco esforço faz para trazer à superfície “o sentido
apontados. Avançou e foi eleito Reitor.
de comunidade universitária que se foi construindo entre docentes, não docentes e estudantes, sem nunca se prescindir
Que o projeto da UA, que em 1994 já se tinha afirmado no
da capacidade de debater as diferenças de opinião”.
país, fosse reforçado e consolidado. Esse era o caminho. “Tinha exercido funções como Vice-reitor para os assuntos
Essa é-lhe a memória mais rica que guarda duma UA que
pedagógicos, científicos e cooperação com a sociedade, e, por
ajudou a construir desde que aportou em Aveiro. “Era uma
linhas
dez 2013
comunidade feita de diferenças mas alinhada com o projeto,
o país e de compreender também que as pessoas com o meu
e isso acabou por ter reflexos no próprio ambiente que aqui
tipo de percurso precisam de ser mais chamados pois têm uma
se vivia e que me parece que era grato para todos”, diz. Unida
compreensão do país real, nas suas diferentes determinações
que estava a comunidade académica foi meio caminho andado
e, por isso, contributos a dar”.
para se aproveitarem as oportunidades de financiamento que existiram a partir de 1986, com a entrada de Portugal para a
“Portugal é um país brutalmente diversificado, sempre
Comunidade Económica Europeia, “selecionando muito bem o
conduzido esquecendo, ou mesmo excluindo, uma parte do
que precisávamos para sermos uma Universidade competitiva
território”, aponta Júlio Pedrosa. “Infelizmente o nosso modo
ao nível da investigação”.
de conduzir o país sempre foi pensado com o foco no mundo urbano, sobretudo para Lisboa, e eu não me revejo nisso”.
Ser Ministro da Educação, uma experiência curta
Júlio Pedrosa tem outra postura que não se cansa de referir:
mas enriquecedora
“Continuo a estar mais interessado por quem está de fora
Julho de 2001. As malas estavam já preparadas para uma
desse modo de entender e conduzir o país e por isso, ainda
deslocação ao Brasil, numa viagem que serviria para visitar
hoje, continuo mais ligado à aldeia do que à cidade”.
uma escola exemplar de Medicina Dentária - “tínhamos a ideia de abrir na UA esse curso”. Recebe um telefonema. António
Crise financeira obriga a UA a reprogramar-se para resistir
Guterres, então Primeiro-Ministro, convida-o para Ministro da
Regressa a casa, à UA e ao seu Departamento de sempre.
Educação. Júlio Pedrosa, que sempre assumiu a independência
Em 2005 é eleito presidente do Conselho Executivo da
partidária, fica surpreso com o desafio.
Fundação das Universidades Portuguesas (cargo que ocupa até 2007) e presidente do Conselho Nacional de Educação
Estaria o convite ligado ao sucesso que a UA já exibia no
(onde se mantém até 2009).
panorama do Ensino Superior nacional? “Essa pergunta terá de ser feita ao Engenheiro António Guterres”, responde. Até hoje
Hoje, Júlio Pedrosa, aposentado desde 2009, com missões
não sabe exatamente quais os motivos que levaram o chefe do
e programas em educação e ciência, está envolvido nos
Governo a convidá-lo para assumir a pasta da Educação. Já no
conselhos das Fundações Bissaya Barreto, Ilídio de Pinho, Jorge
Brasil, decide afirmativamente.
Álvares e no conselho fiscal da Bial. O antigo Reitor é ainda membro do Register Committee do EQAR - European Quality
“Foi uma decisão difícil, tomada depois de ter consultado
Assurance Register e faz parte do grupo de avaliadores do
algumas pessoas e de ter garantido que alguém assumiria a
Programa de Avaliação Institucional da Associação Europeia
Reitoria plenamente”, lembra Júlio Pedrosa. Esses requisitos
de Universidades através da qual tem feito parte ou presidido a
estavam preenchidos: “Tínhamos uma equipa reitoral muito
equipas de avaliação de várias universidades.
coesa que se manteve e a professora Isabel Alarcão assumiu a Reitoria, motivos mais do que suficientes para saber que o
Quatro décadas depois de ter ajudado a nascer a UA, “um
projeto que tínhamos para a UA não sairia beliscado com a
projeto que ganhou reconhecimento nacional e internacional
minha saída”.
porque foi sendo construído sem esquecer os elementos fundamentais e fundadores”, Júlio Pedrosa aponta para o
Em agenda o Governo tinha a reforma do Ensino Básico e, já
futuro da academia. “Estamos num período que eu gostaria
em adiantado estado de preparação, quando Júlio Pedrosa
que fosse tomado para fazer uma reflexão séria sobre o
chega a Lisboa, a reforma do Ensino Secundário. “Havia a ideia
que é preciso fazer para que este projeto ganhe ainda mais
de transformar o Secundário numa fase do desenvolvimento
capacidade de se afirmar”, afirma. Um repensar que, no atual
educativo das pessoas que valesse por si, ou seja, que
cenário de crise financeira que atravessa o país, “e que não
permitisse a qualquer cidadão, depois de o concluir, entrar na
vai desaparecer rapidamente”, servirá para que a academia
vida ativa se assim o quisesse”, lembra. Esses eram os dois
de Aveiro “tenha capacidade para se pensar como um projeto
pontos críticos na agenda do novo Ministro Júlio Pedrosa,
que tem de resistir, de continuar a afirmar-se e a desenvolver-
pontos esses que geravam no país uma enorme contestação.
se, consolidando ainda mais o que se conseguiu alcançar”.
Em dezembro de 2001, seis meses depois de assumir a pasta
Na Lapinha, numa pequena quinta vinícola no distrito de Viseu
da Educação, António Guterres demite-se e com ele cai o
- bem no interior do país como não podia deixar de ser - tem
Governo. Graceja: “Costumo dizer que fui ao Ministério da
agora em mãos um projeto novo, a produção de vinho e azeite.
Educação”. Valeu a pena a curta experiência? “Sim, foi o tempo
A técnica aprendeu-a ao longo da vida: escolher uma terra
suficiente para ganhar uma compreensão diferente do que é
fértil, semear, cuidar, colher e saborear.
29
percurso singular
EDIÇÕES A UNIVERSIDADE DE AVEIRO E OS SEUS
LIDERANÇA PARA A SUSTENTABILIDADE
TRENDS IN EUROPEAN TOURISM PLANNING
CONTEXTOS
- A VOZ DE QUEM LIDERA EM PORTUGAL
AND ORGANISATION
Autoria Jorge Carvalho Arroteia, professor
Autoria Arménio Rego, docente no
Organização de Carlos Costa, docente no
aposentado da UA
Departamento de Economia, Gestão
Departamento de Economia, Gestão
Edição UA Edições
e Engenharia Industrial da UA, Miguel Pina
e Engenharia Industrial da UA
ISBN 978-972-789-390-4
e Cunha, docente na Universidade Nova de
Edição Channel View Publications
Ano 2013
Lisboa, e Maria da Glória Ribeiro, consultora
ISBN 9781845414115
Edição Actual Editora
Ano 2013
ESTRUTURAS DE BETÃO - BASES
ISBN 9789896940614
DE CÁLCULO
Ano 2013
Autoria Paulo Barreto Cachim e Miguel Monteiro
MENTE DE COMBATE: COMO VENCER NO RINGUE E NA VIDA
de Morais, docentes
CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS
Autoria Dulce Pires, estudante de Doutoramento
no Departamento de Engenharia Civil da UA
Autoria Ana Macedo, antiga aluna no Instituto
em Psicologia na UA
Edição Publindústria
Superior de Contabilidade
e atleta de Kickboxing, e Bruno Santos, treinador
ISBN 9789897230400
e Administração da UA, Graça Azevedo e Jonas
de Kickboxing
Ano 2013
Oliveira, docentes no mesmo Instituto
Edição Prime Books
Edição Escolar Editora
ISBN 9789896551735
FERTILE LINKS? CONNECTIONS BETWEEN
ISBN 9789725924044
ANO 2013
TOURISM ACTIVITIES, SOCIOECONOMIC
Ano 2013
CONTEXTS AND LOCAL DEVELOPMENT
PALUI - CD
IN EUROPEAN RURAL AREAS
TURISMO NOS PAÍSES LUSÓFONOS:
Autoria Helena Caspurro, docente
Organização de Elizabete Figueiredo, docente
CONHECIMENTO, ESTRATÉGIA
no Departamento de Comunicação
no Departamento de Ciências Sociais, Políticas
E TERRITÓRIOS
e Arte da UA
e do Território da UA, e de António Raschi
Autoria Carlos Costa, Rui Costa, Zélia Breda
Edição Mulher Avestruz Produções e Eventos,
Edição Firenze University Press
(docentes) e Filipa Brandão (estudante de
Lda.
ISBN 9788866553885
doutoramento), do Departamento de Economia,
Num 003.013
Ano 2013
Gestão
Ano 2013
e Engenharia Industrial da UA SHAPING RURAL AREAS IN EUROPE:
Edição Escolar Editora
RUA-L - REVISTA DA UNIVERSIDADE DE
PERCEPTIONS AND OUTCOMES ON THE
ISBN 9789725924112
AVEIRO-LETRAS, N.º 1 DA II. SÉRIE: «O(S)
PRESENT AND THE FUTURE
Ano 2013
ROSTO(S) DA EUROPA»
Organização de Elizabete Figueiredo, docente
Coordenação Ana Maria Ramalheira
no Departamento de Ciências Sociais, Políticas
PRODUTOS E COMPETITIVIDADE DO
Edição Universidade de Aveiro - Departamento
e do Território da UA
TURISMO NA LUSOFONIA
de Línguas e Culturas / Centro de Línguas
Edição Springer
Autoria Carlos Costa, Rui Costa, Zélia Breda
e Culturas
ISBN 9789400767966
(docentes) e Filipa Brandão (estudante de
ISSN 0870-1547
Ano 2013
doutoramento), do Departamento de Economia,
Ano 2012
Gestão e Engenharia Industrial da UA UMA CANÇÃO AO VENTO - A POESIA
Edição Escolar Editora
TROIX MORCEAUX INTROSPECTIVES
DE EUGÉNIO DE ANDRADE
ISBN 9789725924105
POUR HARPE À PEDALES (ÉDITION
Autoria João de Mancelos, docente dos cursos
Ano 2013
DE ZORAIDA ÁVILA) - CD
livres de Escrita Criativa I e II, no Departamento
Autoria Vasco Negreiros, Departamento
de Línguas e Culturas da UA
de Comunicação e Arte
Edição Colibri
Dois ciclos de obras para harpa céltica e harpa
ISBN 9789896893200
de pedais
Ano 2013
Edição Harposphère Ano 2013
dez 2013
Fernando Ramos
linhas
O aluno número 16 da UA Nascido e criado em Aveiro, Fernando Manuel dos Santos Ramos, 57 anos, tinha o sonho de ser arquiteto. Mas a revolução de abril de 1974 veio trocar-lhe as voltas. No verão desse ano as universidades estavam fechadas, mas em Aveiro nascia uma nova instituição de ensino: a Universidade de Aveiro. Assim, entre ficar um ano à espera para ir para a Universidade do Porto estudar arquitetura ou continuar os estudos num outro curso, na sua cidade natal, escolheu ficar em Aveiro.
31
percurso antigo aluno
De entre as opções possíveis escolheu
Fernando Ramos acabou o curso em
Formação Profissional e Investigação
Engenharia Eletrónica e Telecomunicações
1979, esteve dois anos a trabalhar em
da Universidade de Aveiro (UNAVE);
porque tinha algum interesse nessa
empresas privadas e, depois, concorreu
foi eleito para a assembleia estatutária
área e porque o seu pai também era
para assistente na UA. Iniciou a sua
da Universidade que tomou a decisão
engenheiro. Mas, acima de tudo, porque
carreira docente em maio de 1982. Fez
de esta se tornar numa “fundação
era um curso com o qual depois poderia
todo o percurso académico no DETI:
pública de direito privado”; coordena
pedir equivalências, caso conseguisse a
provas de passagem a assistente em
uma equipa de consultores portugueses
transferência para arquitetura no Porto.
1984, doutoramento em engenharia
nomeada pelo Conselho de Reitores
Foi o aluno nº 16 da UA.
eletrotécnica, em 1992, e em 1994 foi
das Universidades Portuguesas
eleito presidente do conselho diretivo.
para prestar apoio à Universidade
A transferência nunca chegou a
Este cargo foi uma experiência “muito
Nacional de Timor Leste; coordena e
acontecer. A vida trocou-lhe os planos
interessante e um desafio pessoal
participa em projetos de investigação
e o gosto pelos estudos na UA cedo
muito grande”. O assumir destas
nacionais e internacionais e em
surgiu: “A UA começou com um grupo
funções coincidiu com o período em
projetos de cooperação com países
de professores muito interessante.
que Júlio Pedrosa foi Reitor da UA, uma
de língua portuguesa, entre muitas
Alguns foram recrutados a laboratórios
época “de grande desenvolvimento da
outras atividades. Tudo isto além da
do Estado, outros tinham vindo das
Universidade não tanto do ponto de
docência, que atualmente acontece nos
antigas colónias. Isto permitiu criar um
vista físico, mas mais do ponto de vista
programas doutorais em Informação e
ambiente muito interessante em termos
do conceito da Universidade”, explica.
Comunicação em Plataformas Digitais e
culturais e científicos. Por isso acabei
“Isso marcou-me muito também.
Multimédia em Educação. Pontualmente
por ficar”, explica.
Convivi com ele e aprendi muito sobre
leciona também no Mestrado em
gestão universitária”, acrescenta.
Comunicação Multimédia.
de estar envolvido “na grande aventura
Fez toda a sua carreira no DETI até 1999,
Assim, o seu dia-a-dia é passado na
que é criar uma universidade nova,
ano em que o Reitor Júlio Pedrosa o
UA, normalmente entre as 09h00 e as
praticamente do zero, o estar tudo
desafiou a ajudar a desenvolver a área de
18h00 ou 19h00, “com muito trabalho de
em aberto, todas as escolhas para a
ciências e tecnologias de comunicação
orientação de teses de doutoramento e
instituição”. “Lembro-me do conselho
no Departamento de Comunicação e Arte
dissertações de mestrado” e o trabalho
pedagógico do meu curso, em que
(DeCA), “uma área ainda embrionária”.
nos outros projetos.
o ambiente era agitado e havia até,
Assim, ao fim de quase 20 anos no DETI,
talvez, tendência para algum excesso
considerou que era altura de enfrentar
Com 57 anos de idade, Fernando Ramos
de democraticidade… Uma vez
novos desafios e aceitou o repto para
tem-se envolvido “muito na vida da UA”
comunicámos pela janela com colegas
lecionar no curso de Novas Tecnologias
nos 40 anos da instituição. E apesar
que estavam lá fora… Era um ambiente
da Comunicação.
de ainda não pensar na aposentação,
Mas o que mais o marcou foi a ideia
completamente aventureiro, e isso
começa a entrar noutra etapa da vida
marcou-me muito! Por tudo isto, mantive
Passado pouco tempo foi eleito
profissional: “Estou a entrar naquela fase
sempre a ideia de que as instituições se
presidente do conselho diretivo do
em que acho que estas coisas devem ser
fazem com os contributos das pessoas
DeCA, cargo que ocupou entre 2001
feitas por colegas mais novos. Estou-me
que lá estão”, frisa.
e 2005. Ajudou a criar o “conselho de
a preparar aos poucos para passar o
estratégia”, uma estrutura informal “muito
testemunho”, explica.
Outra pessoa que não esquece é Jorge
importante numa fase em que o DeCA
de Carvalho Alves, professor catedrático
estava com alguma crise de identidade” e
E quando sair, sai “completamente
no Departamento de Eletrónica,
que serviu para refletir sobre o futuro do
descansado”: “Acho que dei um bom
Telecomunicações e Informática (DETI):
departamento.
contributo. Dei, pelo menos, um contributo
“Marcou-me muito enquanto meu
empenhado para a UA, por isso,
professor. Na altura tinha acabado
Depois disso, tem-se envolvido em
quando sair, sairei com a consciência
de regressar de Inglaterra, onde fez
muitas outras atividades: entre 1999 e
absolutamente tranquila relativamente
o doutoramento, e trazia uma cultura
2009 foi diretor do “Centro Multimédia
ao contributo que dei à Universidade, do
completamente diferente da que existia
de Ensino a Distância” da UA; desde
ponto de vista pedagógico, científico, da
cá. Continuo a manter com ele uma sólida
2004 que é presidente da comissão
gestão, entre outros”.
amizade que já leva 30 e tal anos”.
executiva da Associação para a
dez 2013
Paula Leitão
linhas
Do Ambiente para a previsão do estado do tempo É uma cara conhecida da televisão onde apresenta, desde 2007, o Boletim Meteorológico nos programas “Bom Dia Portugal” e “Portugal em Direto” da RTP. Paula Leitão tem um percurso invulgar: passou pela Engenharia Eletrónica e Telecomunicações, licenciou-se em Engenharia do Ambiente e desempenha funções de meteorologista no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Os dados que recolheu e estudou fizeram luz sobre um fenómeno meteorológico quase desconhecido em Portugal até 2000: os tornados.
33
percurso antigo aluno
Apesar de dominar a ideia, no início do
Cara conhecida do boletim
– nos cursos de Letras a proporção dos
século XXI, de que não existiam tornados
meteorológico da RTP
géneros era inversa. Em Engenharia
em Portugal - e na Europa -, uma
Quando iniciou o estudo, um outro colega
do Ambiente encontrou uma maneira
meteorologista a trabalhar no Centro de
do então Instituto de Meteorologia vinha
diferente de estar na vida que considerou
Análise e Previsão do Tempo do Instituto
recolhendo informações sobre várias
mais próxima da sua. Trabalhou ainda,
Português do Mar e da Atmosfera achou
ocorrências, embora sem análise e
durante dois anos, como investigadora na
que os factos contrariavam a corrente
sistematização, que foram importantes
equipa do professor Carlos Borrego, na
e foi ao encontro dos tornados. A
para o trabalho posterior de Paula Leitão.
área da poluição atmosférica e dispersão
meteorologista chama-se Paula Leitão,
Os casos ocorridos em Viana do Castelo,
de poluentes, até decidir ir viver para
licenciou-se em Engenharia do Ambiente
a 21 de abril de 1999, e em Castelo
Lisboa. Aí, concorreu ao então Instituto de
na Universidade de Aveiro em 1987 e
Branco, a 6 de novembro de 1954, que
Meteorologia - na mesma ocasião em que
começou, em 1999, o estudo sistemático
destruiu o parque de instrumentos da
foram admitidos colegas de Engenharia
desses eventos extremos do clima:
estação meteorológica, tornaram-se
do Ambiente e de Física formados na UA -
violentas tempestades em rotação de
dois dos primeiros objetos de estudo.
e fez um ano de estágio de especialização,
pequeno diâmetro que aparecem como
Desde a roupa que sai pela janela - efeito
para o qual terão sido fundamentais os
uma nuvem em forma de funil, descendo
de sucção provocado pelo tornado -,
conhecimentos adquiridos em Dinâmica
da base de um tipo de nuvem chamado
passando por uma criança de 13 anos
e Composição da Atmosfera, assim como
cumulonimbo para o solo, a que estão
levantada no ar, composições ferroviárias
as cadeiras Termodinâmica, Mecânica dos
associados ventos muito fortes. A este
que saem dos carris, a camiões
Fluidos, Hidrologia, Eletromagnetismo,
fenómenos está também associado um
tombados, ou efeitos mais difíceis de
Física, Matemática, Funcionamento de
efeito de sucção, que deixa marcas ao
observar e quase cirúrgicos como uma
Aparelhos Eletrónicos e Sensores, entre
longo da trajetória do tornado.
pequena árvore cortada, vários têm
várias outras.
sido os sinais provocados por estes O estudo e arquivo sistemático das
fenómenos atmosféricos registados pela
A evolução da Ciência e Tecnologia
ocorrências, incluindo a pesquisa de
meteorologista ao longo dos anos.
obriga a atualização constante com
casos no passado, desenvolvido por Paula
participação em inúmeras ações de
Leitão, tornou evidente que, afinal, esses
Para além desse estudo sistemático dos
formação, em projetos, à elaboração de
fenómenos também existem em Portugal e
tornados e da previsão do estado do
muitos casos de estudo e a uma troca
na Europa, embora não com a frequência
tempo, a faceta mais visível e constante
permanente de informação. "Em previsão
e dimensão que atingem noutros pontos
do trabalho da meteorologista Paula
do tempo só se trabalha a nível global e
do globo, como em certas zonas dos EUA.
Leitão é a comunicação da previsão do
em tempo real", assinala Paula Leitão.
Estima-se que nos EUA há dez vezes mais
tempo e a apresentação, desde 2007, do
"Durante os últimos 15 anos a evolução
tornados que na Europa. Mas a grande
Boletim Meteorológico nos noticiários
nos modelos numéricos, na observação
diferença reside no registo sistemático
“Bom Dia Portugal” e “Portugal em
por satélite e por radar, foi enorme e
que se realiza nos EUA, há cerca de 100
Direto” da RTP. Trabalha no Instituto
introduziu novas abordagens teóricas
anos, enquanto na Europa os dados estão
Português do Mar e da Atmosfera
para a compreensão dos fenómenos
compartimentados, há descontinuidade de
(IPMA) desde 1989. Para quem ainda
meteorológicos", acrescenta.
país para país e nem sempre houve troca
tem dúvidas entre tempo e clima, como
de informação: a II Guerra Mundial e o
já alguém disse e registou, a resposta
Em 1991, foi colocada no Centro de
período de domínio soviético na Europa de
é clara: “O estado do tempo determina
Análise e Previsão do Tempo com
Leste foram duas dessas fases em que a
a roupa que tu tens vestida, o clima
funções que tem desempenhado quase
informação não circulou.
determina a roupa que compras”.
sem interrupção.
Em 2000, em toda a Europa, estava a
Da dinâmica da atmosfera para
Trabalhando por turnos, o tempo que
ser estudado o fenómeno de ocorrência
a previsão do tempo
tinha livre foi usado, por exemplo, para
de tornados, por “cientistas curiosos”,
Paula Leitão concluiu a licenciatura em
o estudo dos tornados em Portugal, em
instituições não governamentais e, por
Engenharia do Ambiente em 1987, não
trabalhos de voluntariado na Quercus
vezes, com o apoio de “institutos de
sem antes ter sido aluna de Engenharia
e acompanhamento da vida familiar,
meteorologia oficiais”. Este foi um dos temas
Eletrónica e Telecomunicações, durante
nomeadamente nas tarefas inerentes a
fundamentais da conferência de 2002 em
três anos, onde era acompanhada por 56
uma mãe de três filhos.
Praga, em que Paula Leitão participou.
colegas rapazes e outras três raparigas
dez 2013
José Mendes
linhas
Com o empreendedorismo no ADN José Manuel Tavares Mendes, 36 anos, nasceu e cresceu em Couto de Esteves, Sever do Vouga, onde foi dirigente associativo e membro da Assembleia de Freguesia. Talvez tenha sido aqui que começou a surgir o seu espírito empreendedor. Anos mais tarde, já depois de ter frequentado a licenciatura em Gestão e Planeamento em Turismo, entre 1995 e 2000, na Universidade de Aveiro, é um dos fundadores da empresa IDTour, a convite da pessoa que mais o marcou no curso: o professor Carlos Costa.
35
percurso antigo aluno
Aos 18 anos, José Mendes apenas sabia
O projeto IDTour
Muitas horas de trabalho são passadas
que queria tirar um curso na área da gestão
Depois de alguns anos em Lisboa,
na rua “a bater à porta de organizações
ou economia. Um amigo falou-lhe do curso
regressa a Aveiro em finais de 2006, após
institucionais e empresariais a apresentar
de Gestão e Planeamento em Turismo
um convite do professor Carlos Costa
a IDTour, as suas competências e
e o interesse por esta área despertou
para liderar um projeto que iria surgir
serviços, a concorrer a concursos, a fazer
imediatamente: “Quando era aluno do
através da Incubadora de Empresas da
propostas, enfim… uma luta contínua”.
secundário não tinha a ideia de estudar
Universidade de Aveiro: a IDTour.
turismo. Ninguém tem esse sonho em
A empresa conta com seis sócios, para
Atualmente a empresa encontra-se a
criança. Mas quando vi este curso nem
além da UA, através da GrupUnave. José
crescer em volume de negócios e em
sequer fui verificar o currículo. Achei logo
Mendes é o líder operacional (CEO).
recursos humanos, “o que é um bom
muito interessante. Coloquei-o como primeira opção e entrei!”, explica.
indicador na conjuntura atual”. A trabalhar no mercado interno, a IDTour opera em duas áreas. A primeira
Os desafios para o futuro passam por
As suas expectativas não foram goradas
é o segmento institucional: câmaras
discutir e consensualizar onde querem
nos cinco anos em que tirou o curso.
municipais, organizações nacionais
estar: “Estamos a equacionar se entramos
Apaixonou-se muito rapidamente pelas
e regionais de turismo, associações
na área operacional: se podemos criar
matérias, pelos colegas… “Era um curso
institucionais e organizações
uma micro-empresa dentro da IDTour
com poucas pessoas. Gostei muito do
empresariais. Para estas entidades
que possa fazer a gestão de pequenas
que lá aprendi e tinha uma postura muito
fazem projetos relacionados com o
unidades de alojamento, como hostels,
séria enquanto aluno: entendia o curso
planeamento estratégico, ações de
gerir um restaurante com conceito
como um objetivo de vida. Sentia que os
desenvolvimento estrutural, projetos de
próprio. Estamos a estudar outra área
meus pais estavam a fazer um esforço e,
investigação aplicada (um dos exemplos é
de negócio que passa pela gestão e
portanto, levava aquilo a sério”.
o Restaurante do Futuro, para a AHRESP,
comercialização de ativos turísticos;
onde se procura antecipar as tendências
a internacionalização e exportação de
Em termos académicos o que mais
que poderão pautar o subsetor da
serviços para a Lusofonia são também
o marcou foi, “sem dúvida”, o professor
restauração no futuro).
estratégicas no modelo de expansão
Carlos Costa “por todos os motivos
da IDTour”.
e mais alguns: pela forma como
O outro segmento é o empresarial:
lecionava, pela forma inteligente como
hotelaria, restauração, empresas de
O sucesso do projeto que lidera não
conseguia enganar-nos nas aulas,
animação, parques temáticos, etc. “Para
teria sido possível sem a formação que
porque quando sentia que estava
este target desenhamos e ajudamos a
obteve na UA, frisa, virada já na altura
a perder a turma, dizia umas piadas
operacionalizar modelos de negócios:
para os desafios do futuro: “Acho que a
e conseguia novamente conquistar-nos.
olhar para um negócio e construir um
UA cedo soube entender que tinha de
E porque ia buscar a sua experiência
plano de ação que permita projetar o
formar e capacitar os seus alunos com
no terreno e partilhava-a connosco”.
volume de vendas da empresa, estudos
competências na área dos negócios,
de mercado, de viabilidade económico-
porque não basta ser um bom técnico
A sua licenciatura, sem ter uma disciplina
financeira. Ou seja, documentos mais
para ser um bom empresário. E isto
chamada “empreendedorismo”, tinha
operacionais que ajudam a responder a
aconteceu desde logo porque esta
um conjunto de outras ligadas à gestão
ploblemas em concreto das organizações
Universidade nasceu ligada ao tecido
estratégica e economia, que capacitavam
empresariais”, explica José Mendes.
empresarial da região: pensou os seus
os alunos para avançar para a
cursos para responder às necessidades
constituição de um negócio próprio. “Mas
No seu dia a dia, o CEO da IDTour tem a
o entendimento que faço, é que o curso
responsabilidade de “administrar a casa,
é uma grande plataforma que capacita o
procurar e fidelizar novos clientes, garantir
aluno a escolher o caminho quando sai cá
que ficam satisfeitos com o trabalho,
para fora”, explica.
procurar que eles paguem, mobilizar
A UA já respirava empreendedorismo há
a equipa para os desafios que temos
muitos anos atrás, foi das primeiras a
entre mãos e potenciar a capacidade
trilhar esse caminho”.
empreendedora de cada colaborador: eles são a base do nosso sucesso”.
específicas do território onde se insere. A UA tem esse cunho, esse ADN.
linhas
set 2013
DISTINÇÕES
COTEC PREMEIA “COOPERAÇÃO EXEMPLAR” DA UA COM A PT INOVAÇÃO O historial de cooperação de quatro décadas entre a
de novas universidades no país viradas para a cooperação com o
Universidade de Aveiro e a PT Inovação é o vencedor da
tecido económico”, congratula-se Carlos Pascoal Neto, Vice-reitor
primeira edição do concurso Casos Exemplares de Cooperação
da academia de Aveiro.
Universidade-Empresa promovido pela COTEC Portugal Associação Empresarial para a Inovação. O prémio foi entregue
“Em todos os parâmetros de cooperação universidade-
a 27 de novembro durante o 10º Encontro Nacional de Inovação
empresas a cooperação entre a UA e a PT Inovação está
COTEC que se realizou na Culturgest, em Lisboa, com a
evidenciada de uma forma extremamente positiva sob o
presença do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
ponto de vista qualitativo e quantitativo”, diz Pascoal Neto. O responsável aponta “os projetos de investigação conjuntos
Com o concurso, aberto às 15 universidades que integram
com um volume de financiamento muito significativo, a
o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, a
produção de patentes, a inserção profissional (mais de
COTEC pretende premiar e incentivar a cooperação de forma
metade dos atuais quadros da PT Inovação são formados
continuada entre as universidades e o tecido empresarial e com
na UA), o aparecimento de novos negócios e produtos e,
resultados benéficos para ambas as partes.
sobretudo a criação de um cluster e de um ecossistema inovador e empreendedor à volta das telecomunicações,
“A parceria entre a UA e a PT Inovação é o exemplo da excelência
centrado em Aveiro, onde os dois pilares fundamentais são
associada à dinâmica que esteve na base da criação, em 1973,
a UA e a PT Inovação”.
37
Tavares da Costa, cujo estágio tem o título “Influência de fatores ambientais e de descarga na contaminação fecal do estuário do Tejo”. BIOMEDICINA FARMACÊUTICA DA UA CONSIDERADA “EXCELENTE” O “Training Programme in
distinções
um consórcio de 22 universidades, 11
Engenharia, Ciências da Vida, Ciências
associações profissionais, públicas e
Naturais e Ciências Sociais - e 14 áreas
privadas, e 15 parceiros privados da
de produção científica.
indústria farmacêutica, todos europeus. O seu objetivo é certificar cursos na
Destas, registaram-se subidas,
área da medicina farmacêutica que
em relação à avaliação feita pela
vão ao encontro das necessidades
Universidade Nacional de Taiwan no
dos profissionais que trabalham no
ano passado, nas áreas de Ciência dos
desenvolvimento de medicamentos.
Materiais, Química, Engenharia Civil e
UA MEMBRO HONORÁRIO DA ORDEM DOS ENGENHEIROS
Agricultura. Na Química, a UA surge em 2º lugar nacional, a seguir à Universidade do Porto, em 74º lugar da Europa e no
Pharmaceutical Medicine” (que inclui o
A Universidades de Aveiro é, desde
194º lugar a nível mundial. Na Engenharia
Mestrado em Biomedicina Farmacêutica
23 de novembro, Membro Honorário
Civil, a instituição aveirense surge em 92ª
e o Curso de Especialização em
da Ordem dos Engenheiros, em
posição europeia e na 269ª mundial e,
Medicina Farmacêutica) da Universidade
simultâneo com as Universidades do
na Agricultura, está na 100ª posição da
de Aveiro foi considerado um
Minho e Nova de Lisboa, um galardão
Europa e na posição 247 mundial.
“PharmaTrain Centre of Excellence”.
atribuído na cerimónia do Dia Nacional
A UA junta-se, assim, ao grupo restrito
do Engenheiro.
de 11 universidades estrangeiras que detêm esta classificação.
Na mesma sessão foi distinguido,
Este galardão contribui ainda
enquanto vencedor de Melhor Estágio
para a valorização dos formandos no
de Admissão à Ordem, na Especialidade
mercado de trabalho nacional
de Engenharia do Ambiente, o antigo
e internacional, junto das indústrias
aluno Ricardo André Tavares da Costa,
farmacêutica e biofarmacêutica,
cujo estágio tem o título “Influência de
centros de investigação
fatores ambientais e de descarga na
e autoridades reguladoras.
contaminação fecal do estuário do Tejo”.
Esta atribuição, que resulta de uma
ÁREA DOS MATERIAIS DA UA ESTÁ
COORDENA GRUPO DE ANÁLISE
avaliação e auditoria que a PharmaTrain
NAS MELHORES DA EUROPA
DO ENSINO SUPERIOR PORTUGUÊS
fez ao curso, é “muito gratificante”
A área de Ciência dos Materiais da
Júlio Pedrosa, ex ministro da Educação e
porque foi obtida apenas ao fim de
Universidade de Aveiro é primeira a
antigo Reitor da Universidade de Aveiro,
quatro anos de existência do mesmo,
nível nacional, a 20ª a nível europeu
foi convidado para liderar um grupo de
considera o diretor do curso, Luís
e a 114ª no mundo, de acordo com o
trabalho que tem por objetivo apresentar
Almeida, acrescentando: “É a prova de
ranking produzido pela Universidade
sugestões de aplicação ao ensino
que, quando planeamos adequadamente
Nacional de Taiwan. Nesta área está
superior Português das recomendações
e somos rigorosos e determinados na
contabilizada a produção científica em
do estudo elaborado pela European
implementação da estratégia definida,
biomateriais, materiais cerâmicos, teste e
University Association (EUA) a pedido do
os objetivos são sempre alcançáveis,
caraterização, películas e revestimentos,
Conselho de Reitores das Universidades
mesmo os mais ambiciosos”. O título
materiais compósitos, papel e madeira,
Portuguesas (CRUP).
de “Centre of Excellence” vai “acentuar
têxteis, engenharia metalúrgica e
a pressão para que continuemos o
produção científica multidisciplinar
O CRUP decidiu recentemente criar
esforço de limar arestas e aperfeiçoar
associada aos materiais.
uma comissão para fazer um trabalho
PROFESSOR JÚLIO PEDROSA
continuamente os nossos conteúdos”, explica o responsável pelo curso.
de análise das recomendações do Os critérios usados pela Universidade
estudo que encomendou à EUA. “Este
Nacional de Taiwan fundamentam‑se
estudo, apresentado em fevereiro de
A medicina farmacêutica foca-se
em três pilares fundamentais:
2013, apresentava um conjunto de
no desenvolvimento pré-clínico e
“produtividade”, “impacte da
recomendações relativamente ao ensino
clínico, avaliação e comercialização
investigação” e “excelência da
superior em Portugal. O que o CRUP fez
de medicamento e outros produtos de
investigação”. O ranking considera seis
agora foi criar um grupo de trabalho para
saúde. PharmaTrain é um projeto de
domínios - Agricultura, Medicina Clínica,
estudar o melhor modo de se aplicarem
linhas
set 2013
essas recomendações à realidade
conceção do trabalho. “Uma vez que
Portuguesa”, explicou Júlio Pedrosa.
a minha formação de base é a Biologia procurei imprimir um cunho especial às
Os resultados do trabalho desta equipa
minhas ilustrações, tentando atualizar
devem ser apresentados em 2014.
não só o design, como mostrar em todos eles um pormenor da sua ecologia ou biologia, indo além da clássica figuração da espécie em causa, em corpo inteiro.” FERNANDO CORREIA ILUSTRA SELOS DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE
MIT E ISCTE DISTINGUEM PROJETOS
ESPÉCIES AMEAÇADAS
COM CHANCELA UA
Fernando Correia, docente do
O projeto WATGRID, dinamizado
Departamento de Biologia da
por docentes e investigadores da
Universidade de Aveiro e diretor do
Universidade de Aveiro (UA), e o
Laboratório de Ilustração Científica, foi
MeshApp, que integra na sua equipa
INVESTIGADOR DO IT À FRENTE
um dos ilustradores convidados para
antigos alunos da academia, foram dois
DA DISCUSSÃO EUROPEIA SOBRE
ilustrar quatro dos 12 selos lançados dia
dos grandes vencedores da Semifinal do
TRANSMISSÃO DE ENERGIA SEM FIOS
10 de outubro, no mercado americano e
concurso Building Global Innovators, nas
Nuno Borges Carvalho é o coordenador
internacional, pela United Nations Postal
categorias Cidades Inteligentes e Outros
do recém criado Wireless Power
Administration/UNPA (NY, USA; http://
Produtos e Serviços. Os dois projetos
Transmission for Sustainable Electronics
unstamps.un.org/unpa/index.html). As
arrecadaram um prémio de 100 mil
(WIPE), um consórcio europeu que
quatro ilustrações científicas são das
euros cada. Para além destes prémios
pretende ser um fórum de discussão,
espécies: Asian tapir (Tapirus indicus),
foram ainda distinguidos, com menção
de promoção e de realização de
Mongoose lemur (Eulemur mongoz), Flat-
honrosa, três projetos dinamizados
atividades na área da transmissão
headed cat (Prionailurus planiceps) e Aye-
por membros da UA: Endeavour Lab,
de energia sem fios. O investigador
aye (Daubentonia madagascariensis).
BikeEmotion e The Smart Tongue.
e do Departamento de Eletrónica,
Esta emissão filatélica representa a 21º
O WATGRID pretende fornecer soluções
Telecomunicações e Informática da
edição de selos subordinados à coleção
para a rede de distribuição de água
Universidade de Aveiro assumiu as novas
das espécies ameaçadas (Endangered
doméstica em cidades ou ambientes
funções a 24 de outubro, em Bruxelas.
species), desde que se registou o primeiro
rurais. A grande mais-valia da solução é
O consórcio representa 21 países
lançamento, em 1993, e constituiu uma
a possibilidade de saber em tempo real a
europeus, os EUA e o Japão e tem um
das mais apetecíveis séries filatélicas por
quantidade e qualidade da água por cada
orçamento de 600 mil euros
colecionadores de todo mundo.
habitação. Com esta solução é possível
do Instituto de Telecomunicações
para promover o tema dentro da comunidade europeia.
gerir melhor os desperdícios de água a nível A edição de 2013 foi dedicada a
mundial, permitindo poupanças de água nas
vertebrados noturnos que estão
empresas distribuidoras de até 50 por cento.
“Termos sido escolhidos para
apontados como algumas das espécies
coordenar este consórcio significa
que poderão desaparecer em breve,
A MeshApp deu a conhecer uma
um reconhecimento da nossa qualidade
passando assim de extantes a extintas,
nova aplicação para computadores,
e excelência nesta área de sistemas
caso não sejam tomadas medidas
telemóveis etablets que funciona como
de rádio frequência em toda a Europa”,
urgentes em prol da sua conservação.
agregador de informação, que permite
congratula-se Nuno Borges Carvalho.
Com estas emissões filatélicas a UNPA
reunir numa única página o conteúdo
“O Instituto de Telecomunicações,
procura, de forma ativa, sensibilizar
e as interações das contas nas redes
DETI e UA irão coordenar este projeto
o mundo para a necessidade de se
sociais, feeds de notícias e e-mails.
nos próximos quatro anos, realizando
protegerem as espécies animais e
dois fórum de discussão por ano na
plantas que um pouco por todo lado
A Endeavour Lab, empresa sediada na
Europa e ainda uma escola de verão
se encontram à beira da extinção,
Incubadora de Empresas da Universidade
orientada a alunos de doutoramento e
principalmente por razões diretamente
de Aveiro (IEUA), apresentou um sensor de
a funcionários de diversas empresas”,
ligadas a ações do Homem. Fernando
captura 3D para a reabilitação motora de
desvenda Nuno Borges Carvalho.
Correia explica a lógica por detrás da
pacientes que sofreram um AVC.
39
distinções
O BikeEmotion é um projeto desenvolvido
de revestimentos inteligentes para
O prémio foi entregue pelo Alcaide
pela Ubiwhere e a Micro I/O (Empresas
proteção anticorrosiva e que podem ter
de Badajoz, Francisco Martínez, em
IEUA Graduadas) em cooperação com
aplicações, como sensores, noutros
nome do Comité Executivo da FECIEX,
a UA e a Ponto C, que visa desenvolver
campos”, congratula-se Mário Ferreira.
numa cerimónia onde estiveram
um sistema de quarta geração de partilha
presentes diversas individualidades da
social de bicicletas, equipado com a
Investigador na UA desde 2001,
mais moderna tecnologia de localização,
Mário Ferreira, Doutorado em
Extremadura e de Portugal.
pagamento e reserva de bicicletas,
Ciência e Engenharia da Corrosão,
De relembrar que o docente e
mantendo a simplicidade de utilização.
aponta que o prémio, criado em 1972
investigador obteve em maio de 2013 o
para reconhecer a excelência na
prémio “Investigação em Caça”. Carlos
The Smart Tongue apresentou um sensor
investigação e contribuições técnicas
Fonseca é licenciado em Biologia e
eletrónico para degustação e controlo
relevantes para o campo da ciência
mestre em Ecologia pela Universidade de
de alimentos. A concurso estava ainda
da corrosão, “é um reconhecimento
Coimbra e doutor em Biologia, pela UA.
a Be.uBi (Empresa IEUA), a competir na
pelo trabalho realizado pelo DEMAC/
categoria de Tecnologias de Informação,
CICECO”. O investigador dedica
ARTIGO DE INVESTIGADORES DA UA
Internet e Produtos, com o projetoSoftware
mesmo a distinção a todos os seus
DESTACADO NA CAPA DA REVISTA
with Emotion, uma solução para a
colaboradores, passados e presentes.
CHEMPLUSCHEM
otimização de experiências de compra.
“Foi devido a eles que eu consegui
O trabalho realizado por investigadores
obter este prémio”, reconhece.
da Universidade de Aveiro, da unidade Química Orgânica, Produtos Naturais e Agroalimentares (QOPNA), sobre a capacidade de deteção de iões metálicos (mercúrio, zinco, cádmio, etc.) nas fases sólida, líquida e gasosa por parte de benzoporfirinas e de porfirinas funcionalizadas na posição beta-pirrólica com unidades de tipo piridina foi destacado na capa da revista ChemPlusChem. Este trabalho abre portas à criação de novos
MÁRIO FERREIRA RECEBE
indicadores de poluentes do ar, água ou
PRÉMIO H. H. UHLIG
DOCENTE DA UA RECEBE “PRÉMIO
mesmo de sistemas orgânicos, eficazes e
O diretor do Departamento de
IBÉRICO FECIEX 2013”
fáceis de usar.
Engenharia de Materiais e Cerâmica
Carlos Fonseca, docente no Departamento
(DEMAC) da Universidade de Aveiro,
de Biologia (DBio) e investigador no
O ChemPlusChem é um periódico
Mário Ferreira, ganhou o Prémio H.
Centro de Estudos do Ambiente e do
associado da prestigiada Angewandte
H. Uhlig da Divisão de Corrosão da
Mar (CESAM) da UA, recebeu o “Prémio
Chemie International Edition e da Chemistry
Sociedade Americana de Eletroquímica
Ibérico FECIEX 2013”. Este galardão é
- A European Journal. A publicação em
(ECS). O prestigiado troféu foi entregue
atribuído a personalidades, instituições ou
destaque resulta de trabalho realizado
durante o 224º Encontro da ECS que
organizações que se tenham destacado
por investigadores do Departamento
juntou em São Francisco, nos EUA,
pelo trabalho desenvolvido em prol da
de Química (QOPNA), e BIOSCOPE, da
os melhores investigadores mundiais
potenciação dos valores ibéricos da caça,
Universidade Nova de Lisboa, tendo
na área da Eletroquímica. Durante o
da pesca e da conservação da natureza
contado ainda com a colaboração de um
encontro Mário Ferreira proferiu uma
e que tenha fomentado o encontro entre
investigador do Centro de Investigação
Award Lecture em Ative Corrosion
Espanha e Portugal nestas áreas.
em Materiais Cerâmicos e Compósitos
Protection By Ldhs.
(CICECO), laboratório associado da A distinção, entregue a 19 de setembro,
Universidade de Aveiro.
“Este prémio representa um
em Badajoz, foi atribuída na XXIII edição
reconhecimento internacional do
da FECIEX - Feira de Caça, Pesca
O artigo foca a capacidade de
trabalho que tenho vindo a desenvolver
e Natureza Ibérica, a maior do género
benzoporfirinas e de outras porfirinas
nas áreas da corrosão e proteção
em toda a Península Ibérica e que contou
funcionalizadas com grupos de tipo
de metais, nomeadamente nestes
com forte presença de expositores
piridina detetarem iões metálicos
últimos anos com o desenvolvimento
Portugueses, explicou o galardoado.
em fase sólida, líquida e gasosa.
linhas
set 2013
Os compostos sintetizados são
INVESTIGADORES DA UA
estruturalmente afins de compostos
DISTINGUIDOS PELA TECNICELPA
naturais como os do grupo heme
POR NOVOS PRODUTOS
de hemoproteínas. Este trabalho
Um revestimento que permite melhor
é um importante contributo para o
qualidade de impressão em papel
desenvolvimento de novos materiais
de escritório, uma pasta celulósica
passíveis de serem utilizados como
resistente à humidade e ao fogo,
indicadores, quer em aplicações
utilizável como material isolante na
ambientais, quer como biomarcadores. SISTEMA DE GESTÃO SUSTENTÁVEL DE TRÁFEGO VALE PRÉMIO A INVESTIGADOR DA UA Jorge Bandeira, doutorando no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, foi o único português premiado no Concurso de Inovação, promovido pelo Instituto Europeu de Patentes. O estudante da UA apresentou um sistema de informação e apoio à decisão focado na gestão sustentável de tráfego e, com isso, venceu numa das categorias do concurso, dirigido a estudantes e investigadores
INVESTIGADORA DA UA VENCE PRÉMIO SANTANDER DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA FCSH Filipa Lã é uma das vencedoras do Prémio Santander de Internacionalização da Produção Científica, na categoria Investigadores, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. A docente e investigadora do Departamento de Comunicação e Arte (DECA) da Universidade de Aveiro recebeu a distinção durante a sessão comemorativa do 35.º Aniversário da FCSH.
construção civil, ou ainda um suporte de catalisadores para a purificação de ar poluído, estão a ser desenvolvidos por uma equipa da UA. O trabalho de investigação, a decorrer no Departamento de Química e no Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos (CICECO), laboratório associado da UA, já mereceu várias distinções. A última foi o prémio TECNICELPA (Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel). A diferença no rigor da impressão a
“Este prémio, para além de ter sido uma completa surpresa para mim, representa o reconhecimento a nível nacional de uma das funções determinantes de uma universidade: a produção de conhecimento com projeção internacional”, congratula-se Filipa Lã. “Claro que o prémio também mostra igualmente um reconhecimento mais concreto da minha contribuição para a área da música, nomeadamente da pedagogia vocal e de áreas de fronteira como aquela que a música estabelece com a medicina”, adianta.
jato de tinta, usando um papel comum
O Prémio Santander de
A equipa de Dmitry Evtyugin, Inês
Internacionalização da produção
Portugal e José Gamelas foi também
O sistema de informação e apoio à
Científica da FCSH visa distinguir os
distinguida com o prémio de melhor
decisão focado na gestão sustentável
docentes e investigadores que mais
comunicação oral. Há quase 10 anos que
de tráfego, criado no Departamento
tenham contribuído para a notoriedade
os prémios não coincidiam na mesma
de Engenharia Mecânica da UA, foi o
internacional da produção científica
equipa de investigação. Já no encontro
vencedor absoluto na categoria D (uma
daquela faculdade. Filipa Lã recebe o
científico que decorreu em 2005, a
das quatro a concurso): Smart transport
prémio na condição de investigadora do
equipa constituída por Carlos Pascoal
and traffic management systems.
pólo da UA do Instituto de Etnomusicologia
Neto, Dmitry Evtyugin e Armando
- Centro de Estudos em Música e
Silvestre, fora distinguida com o prémio
Dança, uma unidade de investigação
de melhor trabalho na área.
universitários dos estados membros. A proposta de investigação submetida a concurso incide no desenvolvimento de um sistema de informação e de apoio à decisão, focado na gestão sustentável de tráfego. O que o “Eco-indicator for route choice, traffic assignment and policy analyses” (assim se designa o projeto) pretende fazer é calcular os custos dos principais impactes do tráfego rodoviário, como o ruído, poluentes ou os gases com efeito de estufa.
multidisciplinar sediada na FCSH.
e outro com revestimento de uma formulação contendo sílica, ao olhar para o gráfico, é evidente. O papel revestido com uma pequena camada à base sílica, de 2-3 gramas por metro quadrado, permite não só um maior rigor na impressão, mas também maior resistência à humidade, sublinha Dmitry Evtyugin, coordenador da equipa de investigadores e professor do Departamento de Química da UA.
41
distinções
DOCENTE DA UA ELEITA
CAPACETE DE CORTIÇA RECEBE
PLATAFORMA TURÍSTICA DE
COORDENADORA DA REDE
PRÉMIO INOVAÇÃO DA APCOR
ANTIGOS ALUNOS DA UA VENCE
EUROPEIA DE SOCIOLOGIA
Ricardo Sousa é o vencedor do Prémio
COVILHÃ STARTUP WEEKEND
DAS PROFISSÕES
Inovação atribuído pela Associação
Uma startup de dois antigos alunos
A docente e investigadora do
Portuguesa de Cortiça (APCOR).
da Universidade de Aveiro (UA) e de
Departamento de Ciências Sociais,
A distinção que homenageia o trabalho
mais cinco jovens empreendedores
Políticas e do Território (DCSPT)
do investigador do Departamento de
portugueses, recentemente criada durante
da Universidade de Aveiro, Teresa
Engenharia Mecânica da Universidade
o "Covilhã Startup Weekend", distinguiu-se
Carvalho, foi eleita coordenadora
de Aveiro foi entregue a 4 de outubro,
entre um conjunto de ideias, concorrendo
da Rede Europeia de Sociologia das
durante a 4ª edição da Gala Anual da
na final mundial - o Champions Circle
Profissões, uma das várias áreas da
Cortiça que decorreu no Hotel Convento
da Global Startup Battle. Apresenta-se
European Sociological Association
do Espinheiro, em Évora. Ricardo Silva
ao mercado uma plataforma na qual os
(ESA). A eleição decorreu na conferência
cativou a APCOR com o trabalho de
players turísticos dão resposta à procura
da ESA, realizada de agosto, em Turim.
investigação sobre a utilização da cortiça
específica de cada utilizador.
no revestimento de capacetes. O cargo para o qual a docente e
Resultante de 54 horas de trabalho
investigadora foi eleita tem vigência
A equipa de investigação de Ricardo
intensivo na criação de um plano de
de dois anos. Entre várias funções a
Sousa provou que, em relação à esferovite
negócios e de um protótipo funcional,
desempenhar, a coordenadora da rede
utilizada em exclusivo por todos os
o projecto iTravey, de Pedro Caleiro,
europeia de sociologia das profissões
fabricantes mundiais de capacete, a
antigo aluno de Engenharia Eletronica
gere a rede, coordena a organização
presença da cortiça no revestimento
e Telecomunicações da UA, e Carlos
de conferências, reuniões e workshops
interno dos capacetes não só confere
Carvalho, licenciado em Engenharia de
temáticos, participa na organização
ao material maior capacidade para
Computação e Telemática também na UA,
da grande conferência bienal da ESA
absorver um impacto, como também essa
e de mais cinco jovens empreendedores,
e também na organização conferência
característica permanece intacta no caso
foi o grande vencedor da edição
intermédia. Antes, a docente da UA já
do motociclista sofrer na cabeça múltiplas
portuguesa do Startup Weekend.
tinha sido eleita membro da comissão
pancadas. A técnica já está patenteada e
executiva desta rede na conferência da
aguarda pelo interesse da indústria para
Para quem procura marcar férias
ESA, em 2010, em Genebra.
conquistar, principalmente, os desportos
comodamente, à distância de uma
motorizados sujeitos a apertadas medidas
simulação que conjuga as melhores
de segurança.
ofertas aos melhores preços, a iTravey
Teresa Carvalho leciona unidades curriculares na área da sociologia e das
aposta na economia de tempo e de
políticas públicas na licenciatura em
“Receber este prémio é para mim uma
recursos, dispensando navegações
Administração Pública, no Mestrado
honra e um estímulo para continuar a
pelos canais tradicionais de
em Administração e Gestão Pública,
investir na área”, congratula-se Ricardo
agendamento turístico.
no Mestrado de Ciência Política e
Sousa. ”A cortiça é um produto ecológico
no Programa Doutoral em Políticas
português que movimenta boa parte da
Depois de ter vencido com a melhor ideia
Públicas. É investigadora no CIPES
economia. Por isso, faz todo o sentido que
em Portugal, a iTravey avança agora para
(Centro de Investigação e Políticas
se procurem aplicações inovadoras para
a Global Startup Battle uma competição
do Ensino Superior).
esse material e que cada vez mais indústria
mundial de startups que consiste em
e academia se aliem na busca de novos
cinco desafios simultâneos patrocinados
produtos e ideias”, aponta.
pelas maiores empresas online como a Microsoft, a Amazon ou a Google.
linhas
dez 2013
Parceria da UA revela dimensões escondidas do antigo eremitério Carmelita
Buçaco: viagem para outra dimensão de vida, de património e do espírito Conhecer o Buçaco só pela água, pelo Palace Hotel, Vale dos Fetos, ou pela Via Sacra, é não perceber esta pérola de património natural, histórico, militar e religioso. A parceria entre a Fundação Mata do Buçaco e a UA, já com mais de 10 anos, tem sido fundamental para manter viva a chama da descoberta e conservar o património ainda ferido pelo ciclone do início de 2013 (fotografias de Lísia Lopes).
Adernal na Mata do Buçaco
43
investigação
Só um olho bem treinado perscrutando os tons
A grande diversidade de cogumelos não é estranha
secos da folhagem do chão, numa paleta que vai
à variedade de espécies arbóreas e é apenas um
do amarelo ao castanho ou carmim, ocres e beges vários, pode descobrir aquelas formas delicadas
aspeto da notável biodiversidade do Buçaco, assinalada na tese doutoramento de Milene Matos, hoje investigadora
que se erguem numa cúpula e escondem um verso estriado. A
da Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia
cada passo, na folhagem, rasgando o silêncio ou o canto das
da UA e responsável pelo Serviço Educativo da Mata. A tese
aves, pode surgir uma surpresa na forma, no tamanho e na cor,
da investigadora tornou evidente a interessante biodiversidade
com par no enorme conjunto de referências impresso num A4.
da Mata Nacional do Buçaco, quando comparada com os
O jovem micologista Eduardo Batista regista as coordenadas
ecossistemas circundantes e fez luz sobre a, até então, pouco
geográficas, fotografa, mede, compara tons, analisa mais tarde
conhecida fauna da zona. “Já cá ando há dez anos e continuo a
ao microscópio e faz testes em laboratório. Demora-se em
descobrir coisas novas!”, exclama, surpreendida com os curiosos
pequenas áreas da mata à volta dos retorcidos adernos, dos
“chapéus” observados por Eduardo Batista.
vetustos carvalhos e dos frutificados castanheiros. Sabiamente, os Carmelitas Descalços, ao pretenderem reproduzir Mais à frente, atenta-se no solo, junto a um aderno de porte
neste seu “deserto”- nome muitas vezes atribuído aos espaços
arbóreo, “relíquia” que remonta à original paisagem do
de reclusão Carmelitas - o que conheciam em Jerusalém, foram
Buçaco, muito antes dos Carmelitas Descalços se recolherem
plantando, mas mantiveram zonas da floresta original, com
ali, no século XVII, e começarem a construir a Mata que
carvalhos, azereiros e loureiros e outras em que domina o aderno.
serviu de “quadro rústico à paixão de Cristo”, como escreveu
A espécie disponível que mais se aproximava do cedro-do-Líbano
Jaime Cortesão. Eduardo está perto do Passo de Caifás,
em Jerusalém era o chamado cedro-do-Buçaco que veio de
um dos 20 Passos da completíssima Via Sacra iniciada
conventos em Espanha. Estranho? Não, porque a designação foi
pelos monges, que inclui seis Passos da prisão de Cristo, já
erroneamente atribuída por um botânico que visitou o Buçaco,
considerada melhor que a original por visitantes israelitas.
talvez já demasiado deslumbrado pela beleza da paisagem.
Os elementos naturais, pela violenta mão do ciclone Gong, no início do ano, pregaram uma estranha partida a esta
Com enorme tristeza, os investigadores e todos aqueles de
tríplice harmonia de religião, património construído e
frequentam e que zelam por este espaço, como é o caso de
natureza, ao fazerem tombar árvores, sobretudo gigantescos
jardineiros – a trabalharem na Mata ao abrigo de um protocolo
cedros-do--Buçaco, em cima de algumas destas capelas já
com o Estabelecimento Prisional de Coimbra – receiam que
construídas no século XIX.
o cedro-do Buçaco mais antigo de Portugal, o “cedro de S. José”, plantado em 1644, agonize após o corte de um dos dois
À volta de Eduardo Batista surge um sem número destes
ramos provocado pela queda de outro cedro devido ao ciclone
pequenos e delicados chapéus de tons outonais que brotam
de janeiro. O arboreto, que ocupa cerca de 80 por cento da
do chão forrado a folhas e herbáceas. Na parte final da sua
Mata, para além destes gigantes com “pés de barro”, ou seja,
licenciatura em Biologia na UA, o jovem escolheu investigar
com raízes relativamente superficiais para a dimensão que
os cogumelos desenvolvendo a curiosidade que já tinha e
atingem, inclui outras espécies com origem nos quatro cantos
descobrindo mais sobre os cogumelos da Mata do Buçaco.
do mundo. Um exemplar de eucalipto, Eucaliptus regnans, de
Talvez também por razões familiares, já que recorda com
74 metros, é a árvore mais alta da Mata.
saudade os míscaros cozinhados pela avó. Relíquia de aderno a conservar Infindável fonte de surpresas
A chamada floresta relíquia ocupa apenas uma pequena – mas
O estudo dos cogumelos na Mata do Buçaco começou com o
fundamental para a conservação da natureza – fração no extremo
biólogo André Aguiar que monitorizava a fauna, como bolseiro
sudoeste da mata, albergando três habitats diferentes: o carvalhal
do Departamento de Biologia, no âmbito de um projeto
de carvalho-alvarinho e carvalho-negral, o loureiral, dominado pelo
financiado pelo Life +, designado BRIGHT (Recuperação do
loureiro, com presença frequente do medronheiro, folhado e do
Buçaco das invasões que geram ameaças de habitat), que
azevinho, e um outro conjunto vegetal dominado pelos adernos de
ainda decorre. André, enquanto desenvolvia os seus trabalhos
porte arbóreo. Os investigadores da UA defendem que este último
de campo, montava armadilhas para mamíferos, escutava aves
habitat é um subtipo de mato termomediterrânico pré-desértico
e identificava morcegos, contou 121 espécies de cogumelos.
não previsto no Anexo 1 da Diretiva Habitats e que deve ser
Eduardo Batista aprofunda agora este trabalho, sob orientação
incluído neste documento orientador da conservação da natureza
de Rosa Pinho, responsável pelo Herbário da UA, e Anabela
na Europa. Rosa Pinho, responsável pelo Herbário da UA, explica
Martins, investigadora do Instituto Politécnico de Bragança.
que, ao contrário do subtipo de habitat já previsto na Diretiva em
linhas
dez 2013
Trabalho de campo de Eduardo Batista e medronheiro (à direita)
que domina o medronho, no “adernal” é o aderno que domina,
já feito pelas equipas da Mata e por voluntários, as espécies
algo que se verifica apenas em certas zonas (mais pequenas) da
invasoras espreitam permanentemente. É o caso da acácia,
Serra da Arrábida.
da falsa-árvore-do-incenso e do louro-cerejo, nas árvores, e da tradescância, ou erva-da-fortuna, no coberto vegetal
A diversidade da Mata providencia alimento, abrigo e refúgio
mais rasteiro. O louro-cerejo não é considerado uma invasora
para mais de centena e meia de espécies de vertebrados,
noutros locais, mas, no Buçaco, tem comportamento de
entre as quais, algumas de grande valor para a conservação
invasora, afirma Rosa Pinho.
da natureza, como endemismos ibéricos (espécies exclusivas da Península) ou espécies protegidas. O bom tempo atrai
Controlar invasoras, reflorestar e reconstruir
diversos répteis, como o lagarto-de-água, endémico, ou
As equipas da Mata têm vindo a trabalhar no sentido de
a cobra-de-escada e um olhar atento às linhas de água
controlar as invasoras, no âmbito do projeto BRIGHT, usando
permitirá identificar anfíbios tão distintos como a salamandra-
métodos mecânicos (arranque manual ou descasque), métodos
-lusitânica e o tritão-de-ventre-laranja, dois sensíveis
químicos (aplicação de herbicidas) ou ainda uma combinação
endemismos. O crepúsculo pode revelar morcegos, como o
de ambos, dependendo da zona e das condições. Neste
raro morcego-de-ferradura-mediterrânico, ou o musaranho-
sentido, decorre um estudo pelas investigadoras da UA, Sónia
-de-água, recentemente observados pela primeira vez na
Guerra, Lísia Lopes e Rosa Pinho, sobre o controlo de invasoras
Mata. Nos cursos de água os investigadores já registaram a
e o potencial de regeneração da Mata. Em certas zonas, o
presença do bordalo, um pequeno peixe em risco de extinção
terreno foi marcado em quadrados de 1 e de 100 metros. No
e endémico da Península Ibérica.
primeiro caso, foi limpo de herbáceas invasoras e, no segundo, as árvores invasoras (acácias, sobretudo) foram descascadas
No decurso de um projeto de investigação desenvolvido por
para morrerem, em certos locais sem recurso a químicos que
alunos de licenciatura da UA – Tatiana Pinhal, Ricardo Mocito,
poderiam influenciar a regeneração da vegetação autóctone.
Cátia Paredes, Sofia Jervis – e uma aluna de mestrado (Daniela Maia) tem vindo a ser registada a ocorrência de centenas
Decorre ainda um outro trabalho de investigação, de Lúcia
de espécies de insetos e aranhas, algumas nunca antes
Pereira, Milene Matos, Ana Vasques e Paula Maia, sobre a
associadas ao Buçaco.
germinação de sementes e desenvolvimento das plantas (sobretudo, invasoras) propagadas pelas fezes dos mamíferos
Esta “obra de arte total” (designa o IGESPAR), que inclui
(raposa e fuinha). Faz-se o acompanhamento da germinação
também o Palace Hotel, bem no centro do Buçaco, peça
das sementes do desenvolvimento das plantas, em estufins.
notável do chamado estilo neomanuelino do início do século
Suspeita-se que as fezes facilitem a germinação de certas
XIX, não está livre de ameaças. Para além do rasto de
sementes, como é o caso das de louro-cerejo e que este facto
destruição deixado pelo ciclone Gong, ainda visível em vários
está relacionado com o comportamento do louro-cerejo, como
locais, nomeadamente em capelas, não obstante o trabalho
invasor, no Buçaco.
45
investigação
O Buçaco tem vindo a servir também como palco privilegiado para a aplicação de outros saberes da UA e não apenas na área da Biologia. A parceria com a UA começou, em 2002, com o Buçaco ainda sob tutela da Direção-Geral dos Recursos Florestais e por impulso de Carlos Fonseca, professor e responsável pela Unidade de Vida Selvagem, coordenador do projeto BRIGHT na UA e membro do Conselho Geral da Fundação Mata do Buçaco (FMB). A equipa da Estrutura de Projeto de Arquitetura e Desenvolvimento Físico da UA (EPARQ), coordenada pelo arquiteto Joaquim Oliveira, tem em curso um projeto para recuperação do edificado da Mata, nomeadamente, do convento, capelas, ermidas de habitação, incluindo ordenamento do trânsito e estacionamento, em articulação com a Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva que define as metodologias de intervenção na área da conservação e restauro. Numa primeira fase, o projeto permitiu a recuperação de estufas e a reabilitação da casa das Portas de Coimbra. A extinta Fundação João Jacinto de Magalhães, entidade da esfera da UA, definira toda a linha gráfica da FMB. UA é parceira fundamental no trabalho desenvolvido Há também duas dissertações de mestrado em curso, sob orientação de Ana Velosa, professora do Departamento de Engenharia Civil, relacionadas com as construções do Buçaco: uma sobre o tipo de material usado na construção das antigas capelas e no convento e a argamassa mais adequada numa eventual intervenção e ainda outra sobre avaliação de risco nas antigas capelas da Via Sacra, designadamente, associado à vegetação mais próxima, à humidade e à água capilar. Com o trabalho final de curso em Arquitetura na Escola Universitária
O Palace Hotel e o convento são dois dos ex-líbris do Buçaco
das Artes de Coimbra (ARCA), intitulado Reabilitação do Património Arquitetónico da Via Sacra, Ana Carina Gomes, já
regulares, promovidas pelo Serviço Educativo da Fundação
então colaboradora da EPARQ, venceu o Prémio Conservação
Mata do Buçaco e em que participa o Departamento de
e Restauro do Património Arquitetónico, promovido pela
Biologia da UA, através da sua investigadora de pós-
Teixeira Duarte.
-doutoramento, Milene Matos. O projeto “Duendes na Mata” surge neste âmbito.
Na tentativa de acelerar a recuperação da mata, Nelson Matos, ex-aluno de Planeamento Regional e Urbano na UA
O presidente da FMB, António Jorge Franco, sublinha que
e coordenador operacional do projeto BRIGHT, sugeriu
a parceria com a UA tem sido “fundamental desde que a
ajudar à reflorestação através de um sítio na Internet em
Fundação Mata do Buçaco foi constituída em 2009”, quer
desenvolvimento com apoio do Laboratório SAPO da UA e
quanto ao estudo da biodiversidade, do património construído
da Fundação PT. O protótipo surgiu no âmbito das aulas da
e da recuperação de todo o património da Mata, “um apoio
disciplina de Laboratórios Multimédia 4 do curso de Novas
extraordinário, sem o qual o sucesso alcançado não seria
Tecnologias da Comunicação (Departamento de Comunicação
possível”. O Buçaco passou a ser, desde o início de outubro,
e Arte), sob orientação do docente Carlos Santos, e permite
a primeira mata nacional a receber o certificado de gestão
tarefas como comprar plantas e fazer donativos, saber o local
florestal, implementando os requisitos do Forest Stewardship
da árvore e onde está, fazer uma dedicatória. Terá também uma
Council – FSC®, com apoio da empresa Unimadeiras. A
aplicação para comunicações móveis e deverá estar disponível,
Fundação Mata do Buçaco considera que o trabalho realizado
para o público, até ao segundo trimestre de 2014.
pelo Departamento de Biologia da UA, desde há uma década, e a informação científica reunida a partir desse trabalho, terá tido
A Mata tem vindo a ser palco de um programa de educação
“importância fundamental para a certificação da Mata como
ambiental e educação para a sustentabilidade com atividades
Floresta de Alto Valor de Conservação”.
linhas
dez 2013
Geologia médica, um novo “filão” nas Geociências A saúde também brota das entranhas dos Açores Quando se diz que o Eldorado está agora nos fundos marinhos, vê-se apenas uma parte da questão. As entranhas da Terra continuam a surpreender. Os romanos já sabiam. O pioneirismo da Universidade de Aveiro na área da Geologia Médica deu frutos na forma de sabonetes esfoliantes que se assemelham a calhaus rolados das praias dos Açores, e pode vir a dar géis dermoterapêuticos com inhame e cremes hidratantes com lamas das Caldeiras da Ribeira Grande.
As argilas e as areias usadas para aplicação direta sobre o
quantidades, são fundamentais para a saúde humana, mas
corpo com o objetivo de prevenir e tratar diversos problemas
cuja dosagem excessiva desses mesmos elementos pode ser
de saúde, ou a água mineral usada sob diversas formas, são
altamente prejudicial. O iodo foi uma das primeiras substâncias
apenas alguns exemplos de utilizações dos recursos naturais
inorgânicas para a qual se estabeleceu este tipo de elo”,
da Terra na saúde humana com origens que se perdem no
escreve Nuno Pinto, na dissertação de mestrado “Tradução
tempo. No entanto, a investigação e o uso médico dos recursos
de um glossário de Geologia Médica“ (2010), sob orientação
geológicos no âmbito de uma área científica emergente
científica de Maria Teresa Roberto, Professora Auxiliar do
designada geologia médica ou geomedicina é algo de bastante
Departamento de Línguas e Culturas da UA, e de Eduardo Silva,
mais recente, sobretudo em Portugal.
Professor Catedrático do Departamento de Geociências da UA.
Pode considerar-se que, em muitos destes casos, a ciência veio
No Porto Santo alguns desses recursos, caso da areia
séculos depois do conhecimento empírico e popular, tendo em
especial (carbonatada biogénica) da tão conhecida praia, da
conta que há registos históricos e arqueológicos de aplicações
argila bentonitica, da água do mar e da água de nascente
ainda antes da romanização e que o estudo científico e
da Fontinha, foram objeto de uso tradicional, mas empírico,
sistemático nestas áreas – e noutras - começou a ser mais
ao longo de muitos anos, com reconhecidos benefícios
comum a partir do século XIX. Foi nesse período, por exemplo,
na terapêutica de certas afeções de saúde. O trabalho
que se construíram balneários termais em vários pontos do
conduzido pelos investigadores da unidade de investigação
país. “Aquilo que se pode classificar como a era moderna
Geobiociências, Geotecnologias e Geoengenharias
da Geologia Médica, e em que começa a fazer sentido falar,
(GeoBioTec), sedeada no Departamento de Geociências a partir
efetivamente, de Geologia Médica, tem início no século XIX. Isto
desse conhecimento tradicional e popular abriu a porta a um
ocorre numa altura em que se começa finalmente a perceber
conjunto de outros projetos, nesta área, com enfoque em Porto
que existem certos elementos inorgânicos que, em pequenas
Santo, na Madeira, mas também no arquipélago dos Açores.
47
investigação
Estes recursos começaram a ser estudados dos pontos de vista técnico, científico e clínico, em 1995, por uma equipa multidisciplinar, para o seu aproveitamento e aplicação local em Clínicas de Geomedicina, em Centros de Talassoterapia e em SPA, com coordenação dos investigadores Celso de Sousa Figueiredo Gomes e João Baptista Pereira Silva. A partir de 2006, com outros investigadores da GeoBioTec e também do Centro de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, trabalharam em formulações de dermofármacos e dermocosméticos, tendo por base areia carbonatada biogénica, argila do tipo bentonite, água do mar e água de nascente do Porto Santo. Posteriormente, foram construídas duas clínicas na ilha que aplicam os produtos desenvolvidos. Produtos diferenciados com origem “Açores” Nos Açores, a parceria do GeoBioTec/Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP) e, mais recentemente, com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, financiada pelo INOVA-Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores, e no âmbito do projeto Termaz (Programa Pró-Convergência), desenvolve-se em três frentes. Uma delas é o uso da pedra-pomes como esfoliante em sabonetes, outra é a aplicação da seiva do caule e da folha do inhame, cultivado em larga escala no arquipélago, na cicatrização de feridas, e ainda uma outra relacionada com a aplicação de lamas termais para tratamento da psoríase e de doenças osteoarticulares, por exemplo. O objetivo é criar produtos com aplicação dermoterapêutica e em dermocosmética, diferenciados e com marca e identidade Açores. Os estudos envolveram técnicas analíticas para comprovar o uso clínico da aplicação tradicional e, no caso do sabonete esfoliante que está mais avançado e prestes a entrar no mercado, envolveu teste em cerca de 300 voluntários e pacientes. Para além do uso dermocosmético, os estudos concluíram que os pacientes com a pele bem esfoliada e preparada (sem sujidade, células mortas,…) reagiam melhor à eficácia dos tratamentos naturais (peloterapia, arenoterapia, talassoterapia), afirma o investigador João Baptista Silva, dado que a esfoliação também contribuiu para uma melhor eficácia na absorção dos medicamentos utilizados em adesivos ou
João Baptista Silva testa geomateriais em sabonetes esfoliantes
pensos transdérmicos (anti tabagismo, anti concepcional, anti inflamatório, entre outros).
moderado a suave para serem utilizadas no corpo e no rosto, e numa terceira entram as micas da região de Aveiro, para o
Como produto final, os sabonetes que resultaram desta
rosto. Os três tipos de recurso geológico (geomateriais) existem
investigação tomando a forma e a cor de calhaus rolados
em grande quantidades na natureza e, mesmo no caso em que
das praias dos Açores e exalando fragâncias de aerossóis
as quantidades em meio natural são menores, relativamente
marinhos, apresentam-se sob vários graus de esfoliação, ou
falando, como a pedra-pomes, as questões de sustentabilidade
de abrasividade. Numa das formulações entra a pedra-pomes,
estão salvaguardas, considera Fernando Tavares Rocha,
de abrasividade forte a moderada, para uso da remoção das
professor e diretor da unidade de investigação GeoBioTec:
calosidades da planta dos pés e da palma das mãos, noutra
“Qualquer que seja a formulação, estes recursos nunca entram
entram as areias carbonatadas de Porto Santo, de grau
em mais de 10 por cento em cada sabonete”.
linhas
dez 2013
No caso concreto da pedra-pomes, antes extraída na Graciosa e
mordedura pelos cães pastores (cão de fila de São Miguel),
S. Miguel, para além do uso direto como esfoliante, era sobretudo
e a folha do inhame é utilizada para embrulhar o queijo fresco
usada como componente do cimento na construção civil.
e o requeijão e evitar que azedem durante três a cinco dias.
A aplicação que foi possível com esta investigação, à indústria química e à dermocosmética, proveniente agora da saibreira
Neste caso, a investigação, com a colaboração da FFUP e do
do Pisão, explorada pela Cimpor/Secil, no sítio de Água d`Alto,
laboratório associado REQUIMTE (Universidade do Porto),
também em S. Miguel, representa um acréscimo de centenas de
incidiu sobre várias partes/componentes da planta do inhame
vezes na valorização do produto, assinala João Baptista Silva. Ou
em diferentes estádios vegetativos, da qual existem cinco
seja, também por esta via o caminho é a sustentabilidade no uso
variedades, entre cultivos de água quente, água fria e sequeiro.
destes recursos, salienta.
A planta nunca foi objeto de fertilização artificial.
Aplicação de lamas termais e plantação de inhame (à direita)
Lamas termais em cremes
Foram identificados 32 compostos fenólicos não conhecidos
“As principais aplicações da argila/lamas em Peloterapia têm
antes nesta planta. O trabalho deu origem a artigos em
lugar sob a forma de aplicações diretas no tratamento de
publicações de grande impacto, como a Elsevier e o Jornal
afeções da pele, tais como, psoríase (Trespolli et al., 1996),
Americano de Agricultura.
seborreia (Torresani, 1990, in Gomes, 2002) e acne ou sob a forma de cataplasmas no tratamento de afeções reumáticas
No caso dos sabonetes esfoliantes com pedra pomes, já
(Messini, 1960), antropatias, e em processos pós-traumáticos
surgiram três empresas interessadas em comercializar, tendo
e luxações (Letizia, 1975, in Gomes, 2002)”, escreve Denise
uma delas mostrado a intenção de colocar o produto numa loja
Lara Terroso na dissertação “Argilas/ Lamas e Águas Termais
de referência do circuito internacional, em Londres.
das Furnas (Açores): Avaliação das Propriedades Físicas e Químicas relevantes para a utilização em Peloterapia”,
Na Madeira e nos Açores começa, assim, a juntar-se a
apresentada à UA, sob a orientação de Fernando Tavares
dimensão do turismo de saúde às dimensões de turismo
Rocha e de Eduardo Silva. Nesse sentido, estuda-se a
de natureza e a outras já conhecidas nas ilhas. O trabalho
aplicação em cremes das lamas termais, nomeadamente as
realizado no Porto Santo deu origem a várias publicações, com
do antigo Balneário da Coroa, em S. Miguel, criado no início
particular destaque para o livro lançado na UA, em 2012: «Ilha
do século XIX, lamas essas que eram aplicadas tal qual com
do Porto Santo: Estância Singular de Saúde Natural / Porto
fins terapêuticos.
Santo Island: Unique Natural Health Resort», de Celso Gomes e João Baptista Silva. Este último investigador é também autor
Para melhorar ainda as propriedades terapêuticas, consideram-se
de um conjunto de trabalhos de divulgação técnica, científica
formulações com percentagem de seiva retirada do caule do
e pedagógica, nomeadamente duas séries de documentários
inhame, cultivado em grandes áreas na freguesia das Furnas na
televisivos exibidas pela RTP (“O tempo escrito nas rochas”,
ilha de S. Miguel. A seiva do caule é tradicionalmente usada na
em 2007, e “Pedras que Falam”, em 2012) nas áreas das
cicatrização de feridas, por exemplo, nas patas do gado após a
geociências e da geoengenharia do arquipélago da Madeira.
Consumidor endividado conta com gabinete de apoio na UA A Universidade de Aveiro possui, desde o início de novembro, um
o apoio sem sobrecarregar o seu orçamento familiar, e isso é
novo serviço, totalmente gratuito, que ajuda os cidadãos a gerir
extremamente importante. Temos o apoio do Banco de Portugal
dívidas e a prevenir o seu incumprimento. O Gabinete Extrajudicial
e da Direção Geral do Consumidor e gostaríamos de não ter
de Apoio ao Consumidor Endividado (GEACE), funciona no Campus
muitas solicitações, o que significaria que as pessoas não teriam
Universitário, três dias por semana, mediante marcação prévia.
problemas financeiros”, afirmou Clara Magalhães, docente da UAe coordenadora do GEACE.
A crise e a austeridade continuam a deixar marcas nas carteiras dos portugueses. Créditos acumulados, a súbita redução do
“Ficamos muitos satisfeitos pelo facto de a UA ter sido convidada
orçamento familiar ou o aumento das despesas de casa são
a integrar esta rede”, salientou a responsável, que reconhece
fatores que podem contribuir para o endividamento. Consumidores
no convite o apreço pelo “vasto trabalho que a UA tem feito na
em situação de risco ou cidadãos que precisem de ajuda para gerir
divulgação da literacia financeira, concretizada através do Projeto
as suas finanças podem contar agora com um serviço de apoio.
Matemática-Ensino (PmatE), do projeto europeu Dolceta (cuja coordenação esteve a cargo de Clara Magalhães) e das várias
O Gabinete recentemente criado integra a Rede de Apoio ao
iniciativas promovidas pelo Departamento de Economia, Gestão e
Consumidor Endividado, um consórcio nacional, composto
Engenharia Industrial e pelo Instituto Superior de Contabilidade e
por 17 entidades devidamente reconhecidas, e que vão apoiar
Administração da Universidade de Aveiro (ISCA-UA)”.
clientes bancários com dificuldades no cumprimento de contratos de crédito. O seu trabalho é informar, aconselhar
O GEACE – UA é composto por uma equipa de cerca de
e acompanhar esses clientes em risco de incumprimento ou
15 membros da comunidade académica, entre docentes,
que já tenham prestações de crédito em atraso.
investigadores, alunos de pós-graduação e funcionários da UA.
Uma das funções do GEACE – UA é a de informar os clientes
Este novo serviço foi apresentado no ISCA-UA, a 31 de outubro,
bancários sobre os seus direitos e deveres, em caso de risco
data em que se assinalou o dia mundial da poupança e da
de incumprimento de contratos de crédito, no âmbito do
formação financeira. O gabinete é apoiado pelo Banco de Portugal
Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações
e pela Direção Geral do Consumidor.
de Incumprimento e do regime extraordinário de proteção de devedores em situação económica muito difícil. COMO FUNCIONA
Quem recorrer ao Gabinete poderá obter, também, ajuda
O atendimento realiza-se às segundas, quartas e sextas, das 17h00
na avaliação da sua capacidade de endividamento. Ou seja,
às 20h00. Fora deste horário as chamadas serão gravadas e, caso
a equipa de aconselhamento está apta a apoiar um cliente
os interessados deixem os seus contatos, serão contactados
bancário na análise das propostas, apresentadas pelas
posteriormente. O GEACE-UA está instalado no Campus
instituições de crédito, e na adequação de tais propostas
Universitário de Santiago, na Zona Técnica e Comercial.
à situação financeira, objetivos e necessidades. Um cliente
O gabinete também pode ser contactado por e-mail (geace@
bancário em dificuldades pode também fazer-se acompanhar
ua.pt) e por telefone (234 247154). Para ser acompanhado, cada
por representantes do GEACE – UA se necessitar de negociar
consumidor tem de preencher um formulário com as informações
(com as instituições de crédito) as propostas apresentadas.
sobre os vários empréstimos e dívidas que possui. O apoio é dirigido a toda a população e pode prolongar-se durante o tempo
“Com a criação deste gabinete, os cidadãos da região de Aveiro sabem que têm um sítio onde se dirigir, que lhes presta todo
que for necessário, consoante cada situação.
linhas
dez 2013
Reda, Egito
Pegah, Irão
Stanley, Nigéria
“O Departamento de Química faz um trabalho
“Aqui os professores são muito mais próximos
“As pessoas têm ideias estereotipadas sobre o ensino na Grã
reconhecido e os professores estão sempre
dos alunos, preocupam-se muito connosco”
Bretanha e nos EUA… Não conhecem Portugal nem o ensino
dispostos a ajudar os alunos!”
praticado aqui. É um país que tem evoluído muito nesta área!”
UA: um campus Multicultural Um passeio pelo campus da
e Pegah e Anahita não usam véu,
Materiais. Passou por outros países,
Universidade de Aveiro revela
pelo menos em Aveiro. Explicam que
mas regressou para um doutoramento
uma grande diversidade de caras,
o véu é árabe e eles são persas, mas
na mesma área. A família juntou-se a
roupas, estilos… de pessoas.
reconhecem que quando regressam
ele no início de 2013: a mulher, a tirar
A UA está cada vez mais internacional,
“a casa” usam-no.
um doutoramento no Departamento
com alunos e investigadores oriundos
de Biologia, e dois filhos, um menino
dos “quatro cantos do mundo”. Vêm
Gostam muito de estar em Aveiro, do
de sete anos e uma menina de seis. E
de paragens mais “próximas”, como
campus, das pessoas. Só não gostam
é através dos filhos que é "obrigado"
o Brasil, Moçambique, Cabo Verde
muito do clima… “Hoje está muito frio”,
a falar português: “A minha filha já
ou Timor Leste, mas também mais
diz Ali. “No Irão podemos ir ao norte e
fala muito bem, melhor do que eu!
longínquas, como a Índia, Bangladeche,
ter chuva, neve nas montanhas e muito
Surpreende-me vê-la a comunicar com
Irão, Paquistão ou Nigéria. São inúmeras
calor no sul. Mas aqui temos muito
as pessoas! O menino teve um pouco
as origens daqueles que estão
vento!”, lamenta Anahita. “Com o vento
mais de dificuldades, uma vez que está a
ou já passaram pela UA nos últimos
não se vê ninguém na rua. No Irão há
aprender a escrever e a ler numa língua
40 anos, fazendo deste um campus
sempre muita gente na rua, mesmo com
que não é a sua. Com os trabalhos
verdadeiramente multicultural.
neve”, acrescenta Pegah.
de casa, por vezes vamos ao Google
Anahita Malek, iraniana, já percorreu
Frequentam aulas de português
boa parte do mundo e ainda não vai
mas preferem falar em inglês para
Mohamed Karmaoui, da Argélia, também
ficar por aqui. Está em Aveiro a fazer um
comunicarem. Como fazem para ir
já está em Aveiro há vários anos, desde
pós-doutoramento em Turismo, depois
ao supermercado? Ou para ler
2006, e é um “homem do mundo”: saiu do
do doutoramento feito na Malásia, onde
as placas nas ruas? “Estamos a
seu país para estudar em França e depois
viveu seis anos. Ali Zadeh, estudante do
aprender, mas a língua é muito difícil”,
foi para a Alemanha tirar um mestrado.
Programa Doutoral em Engenharia de
afirma Anahita. “E a maior parte das
Fez o doutoramento em Química na UA
Materiais, e a esposa, Pegah Mirzadeh,
pessoas fala inglês, pelo menos na
e agora está num pós-doutoramento.
aluna do Programa Doutoral em
Universidade”, sublinham.
Assim, a língua de Camões já não lhe é
traduzir certas frases!”
Engenharia Física, estão em Aveiro há dois anos.
completamente estranha. O mesmo não pode dizer Stanley Ofoegbu, nigeriano, que chegou
O que ainda não conseguiu “entranhar”
Os três apresentam-se fisicamente
à UA em 2008 com uma bolsa de
é a burocracia: “Por exemplo, para
muito longe dos estereótipos em relação
estudos para o mestrado Erasmus
tratar da renovação da autorização de
aos muçulmanos: Ali não tem bigode
Mundus em Ciência e Engenharia de
residência tenho de apresentar muitos
51
ensino
Mohamed, Argélia
Anahita, Irão
Ali, Irão
Sasmita, Índia
“Sou Portista há 25 anos, ainda antes de
“As pessoas em Portugal de início são um
“Portugal tem os melhores vinhos
“Esta universidade dá oportunidades a todos
vir para cá, desde o tempo em que Madjer
pouco fechadas, mas depois são muito mais
que já provei!”
os estudantes independentemente das origens
jogou no Futebol Clube do Porto!”
simpáticas do que noutros países Europeus!”
dos alunos e da sua religião ou cultura.”
mais papéis do que noutros países! Mas
de Química, que faz um trabalho
Todos são unânimes em afirmar que os
não é algo problemático, aprende-se a
reconhecido a nível internacional”, frisa.
portugueses são muito simpáticos, o que
viver com isso”, explica. Reda Ahmed,
“Os professores estão sempre dispostos
facilita a integração e o desejo de muitos
do Egito, aluno do Programa Doutoral
ajudar-nos. E a diversidade de culturas
em continuarem cá. “Nestes quase três
em Química, diz mesmo que essa é “a
na universidade é enorme! Isso também
anos aqui, aprendi uma coisa: se queres
única queixa” que tem.
facilitou a integração”.
ser feliz, começa a relacionar-te com as pessoas, a conhecê-las. Inicialmente
Os dois estão sozinhos em Aveiro:
A indiana Sasmita Mohanti veio para
era muito reservado. Mais tarde, fiz bons
Mohamed ainda espera encontrar uma
a UA com o marido, que está a tirar
amigos. Isso fez-me mais feliz e tornou
namorada portuguesa. Reda deixou a
um doutoramento no Departamento
a minha adaptação muito mais fácil”, diz
mulher e uma filha no Cairo.
de Eletrónica, Telecomunicações e
Reda. Porque a amizade não conhece
Informática. Fez cá um mestrado e
línguas nem etnias.
Sozinhos, como matam as saudades
agora é aluna do Programa Doutoral
de casa? Passeiam com os amigos
em Marketing e Estratégia. Tem
A UA abriu-lhes as portas. Eles serão
portugueses, celebram as datas especiais
amigos indianos que já cá tinham
embaixadores desta casa pelo mundo fora…
com colegas do mesmo país ou religião e
estudado; sabia que as instalações
vão passar férias a casa quando possível.
e a investigação eram boas e que a
Reda vê filmes egípcios.
universidade tem prestígio. Por isso,
No presente ano letivo 2013/2014, a UA
escolheu a UA. “Esta Universidade dá
integra estudantes, docentes, não docentes
Outra forma de diminuir a distância
oportunidades a todos os estudantes
e investigadores de 77 nacionalidades:
é através da gastronomia. Anahita,
independentemente das suas origens,
Pegah, Ali, Mohamed e Reda vão
religião ou cultura”, destaca.
ao Porto, sempre que podem, a um
Afeganistão, Alemanha, Angola, Argélia, Argentina, Áustria, Bangladesh, Bélgica, Brasil, Botswana, Bósnia e Herzegovina, Bielorrússia, Bulgária, Cabo Verde, Camarões, Canadá,
talho muçulmano. Mas os restantes
Quando as saudades de casa apertam,
China, Chile, Chade, Cazaquistão, Colômbia,
ingredientes encontram-nos facilmente
Sasmita concentra-se nos estudos e
Croácia, Cuba, Egito, Equador, Eslováquia,
em Aveiro. Os amigos portugueses
aproveita as férias para passear com
pedem para fazer pratos típicos dos
amigos e o marido: “Às vezes tenho
seus países e eles aprendem também a
saudades de casa. Mas se focarmos a
confecionar alguns portugueses. De entre
nossa atenção nos estudos e passarmos
Líbia, Lituânia, Luxemburgo, Marrocos,
os preferidos destaca-se o bacalhau, o
uns bons momentos livres, supera-se bem”.
México, Moçambique, Nepal, Níger, Nigéria,
Eslovénia, Espanha, EUA, Estónia, Etiópia, Finlândia, França, Grécia, Guiné Bissau, Holanda, Ilhas Virgens Britânicas, Índia, Irão, Iraque, Irlanda, Itália, Japão, Jordânia, Letónia,
Noruega, Nova Zelândia, Paquistão, Polónia,
cozido à portuguesa e a francesinha. Apesar de estar longe de casa, consegue
Reino Unido, República Checa, República da Moldávia, Roménia, Rússia, São Tomé
Reda não conhecia ninguém em Aveiro
celebrar as “suas” datas especiais,
nem nunca tinha vindo a Portugal,
juntamente com outros indianos. Organizam
Tanzânia, Timor-Leste, Trinidad e Tobago,
mas escolheu a UA pela “qualidade da
festivais na universidade, em casa de
Tunísia, Turquia, Ucrânia, Uruguai e Venezuela.
educação, pelo clima e pelo Departamento
colegas ou em espaços livres da cidade.
e Príncipe, Sérvia, Sudão, Suécia, Suíça,
linhas
dez 2013
ESAN Uma escola para o futuro A Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologia de Produção Aveiro Norte (ESAN) da Universidade de Aveiro conta com novas instalações no Parque do Cercal - Campus para a Inovação, Competitividade e Empreendedorismo Qualificado, em Oliveira de Azeméis. Inaugurado a 16 de dezembro de 2013, este edifício é
vida deste equipamento, sendo esta zona quase de uso exclusivo
unanimemente classificado como criativo, original, inovador
dos professores. O outro eixo de circulação faz a distribuição
invulgar em termos arquitectónicos.
para as salas de aulas e para os laboratórios, albergando os maiores fluxos diários de circulação, que são dos alunos.
O novo imóvel tem 180 metros de comprimento e o formato de uma ponte suspensa, uma vez que pousa sob os dois extremos
Estas duas circulações cruzam-se apenas nas zonas em
do terreno, respeitando a topografia do espaço. Com uma área
que foram introduzidos equipamentos de uso coletivo,
de implantação e área bruta de construção de 4206.00 m2, o
nomeadamente caixas de escadas e instalações sanitárias.
edifício conta com laboratórios, oficinas, um auditório, biblioteca,
Nas extremidades do imóvel localizam-se os espaços sociais,
salas de aula, salas de formação, salas de reuniões, bar e
bar, auditório e biblioteca.
gabinetes de docentes. O edifício é inovador também ao nível da eficiência energética, A acessibilidade ao interior do imóvel é feita pelos dois extremos
pois recorre à energia geotérmica (captada no solo) e à biotermia
(os pontos de contacto com o solo), e através de três caixas de
para o aquecimento.
escadas que vêm do edifício até ao terreno. As novas instalações da ESAN resultam da assinatura, em No interior existe uma série de gabinetes associados a um
setembro de 2009, de um protocolo entre a autarquia de
corredor, de modo criar uma zona mais reservada ao bulício da
Oliveira de Azeméis e a UA. O projeto de arquitetura é da
53
responsabilidade de Joaquim de Oliveira (Estrutura de Projeto de Arquitetura e Desenvolvimento Físico da UA). Atualmente a ESAN desenvolve atividade nas áreas do design e desenvolvimento de produto, da organização industrial, das tecnologias e sistemas da produção e das tecnologias e sistemas de informação e comunicação, quer através de oferta de ensino de nível superior,quer através de oferta de ensino e formação pós-secundária de natureza técnica e profissionalizante. O edifício da ESAN está integrado no Parque do Cercal - Campus para a Inovação, Competitividade e Empreendedorismo Qualificado, um projeto da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis que, além da componente de ensino, envolve valências como investigação e desenvolvimento tecnológico, apoio à incubação de novas empresas, estímulo ao empreendedorismo, promoção do emprego qualificado e apoio ao tecido económico local e regional.
campus exemplar
linhas
dez 2013
Cerâmicas, gravuras, vidros, discos e instrumentos musicais formam uma coleção em crescimento
Tesouros desconhecidos do Museu da UA mostram-se ao público São quatro décadas de história, mas também de dinâmica e de sensibilidade cultural que se espraiam em quatro espaços da Universidade de Aveiro. Os tesouros escondidos no Museu da UA assumem a forma de cerâmicas, gravuras, vidros, discos e instrumentos musicais e revelam-se ao público, a partir de 16 de dezembro, formando uma “coleção em crescimento”. Fazê-la expandir-se é, também, difundir o património desta instituição que, desde há 40 anos, faz da riqueza do passado a matéria-prima para a construção do futuro. Atento à sua função de preservar e divulgar o património da UA, o Núcleo de Museologia da Universidade promove, através desta pequena mostra, o conhecimento de uma parte das coleções museológicas da Universidade, abarcando as áreas de cerâmica, gravura, música e vidro. Distribuídas por quatro espaços do Campus Universitário (Sala de Exposições Hélène de Beauvoir da Biblioteca, Galeria de Exposições da Livraria, Átrio da Reitoria e Espaço Museológico da Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro), alguns dos artefactos incorporam o conjunto de mais de 10 mil objetos museológicos doados à UA, particularmente nestes dez últimos anos. São peças, raras algumas, a maioria das quais nunca antes exposta publicamente. Grande parte delas data dos séculos XIX e XX, mas é possível encontrar, igualmente, exemplares que recuam ao século XV e, mais curioso ainda, a períodos pré-históricos e geograficamente ligados ao campus da UA e que, pela primeira vez, se trazem a público. Com inauguração agendada para o dia do 40º Aniversário da UA, a exposição “O Museu da UA … uma coleção em crescimento” reúne trabalhos inéditos Almada Negreiros, Cruzeiro Seixas, Manuel Cargaleiro e Julião Sarmento, entre muitos outros artistas consagrados, que construíram a história das artes em Portugal, nos últimos séculos. No acervo selecionado cabem obras obtidas por via de aquisições e de doações de artistas e colecionadores. Para conhecer estes “tesouros” basta passar pelos espaços identificados, de segunda a sábado, das 9h00 às 18h00, até 31 de janeiro de 2014.
55
cultural
A coleção de cerâmica contemporânea Foi constituída a partir da doação de Francisco Madeira Luís, o colecionador que entregou à UA grande parte das suas coleções. É composta por cerca de três mil objetos e comporta, essencialmente, cerâmica de equipamento: loiças para refeições, armazenamento de alimentos, higiene e peças decorativas. Existem também alguns objetos de cerâmica de revestimento e moldes. ensinasse o seu ofício. A Gravura As peças foram fabricadas entre os
Sociedade Cooperativa de Gravadores
séculos XIX e XX, tendo sido recolhidas
Portugueses (SCGP) é fundada em
pelo doador na década de 70. São, na
Lisboa, nesse mesmo ano, tendo
sua maioria, portuguesas e provenientes
como pano de fundo contributos de
de várias unidades industriais do país,
artistas como, entre outros, Vieira da
sendo que, grande parte destas já não
Silva, Almada Negreiros e Júlio Pomar,
A coleção de vidros
se encontra em funcionamento. Marcam
e os apoios da Fundação Calouste
Doada à UA em 2001, a “coleção de vidros
uma época de forte tradição de fabrico
Gulbenkian. O seu exercício tornou-se
Madeira Luís” é constituída por mais de
cerâmico influenciado por técnicas,
numa das mais fecundas e determinantes
três mil exemplares de vidro vulgar, de
estilos e motivos estrangeiros.
experiências artísticas da cultura plástica
fabrico português e, na sua maior parte, de
portuguesa do século XX.
natureza utilitária. A coleção contém ainda
Serão expostos exemplares de diversas
algumas peças de luxo. O âmbito temporal
fábricas já extintas, com destaque para
Com mais de 1400 associados - entre os
abrange a segunda metade do séc. XIX e
a Fábrica de Loiça de Sacavém, com
quais o colecionador e sócio fundador
a primeira do séc. XX havendo, no entanto,
grande representatividade na coleção, a
Francisco Madeira Luís - a SCGP
alguns objetos dos finais do séc. XVIII e
Fábrica Lusitânia (unidade de Coimbra),
contribuiu para lecionar cursos práticos
princípios do século seguinte, assim como
a Fábrica do Desterro (Lisboa), a
de gravura onde se abordaram técnicas
outros posteriores a 1950.
Fábrica de Massarelos (Porto), a de São
novas como a xilogravura, a linogravura,
Roque (Aveiro) e a Fábrica de Louça de
a litogravura, ou a talhe-doce. Exposições
Trata-se de uma mostra de vidros de uso
Alcântara, que estão representadas com
em Paris, Madrid, Rio de Janeiro,
quotidiano, a maior parte fabricada em
louças para refeições, bebidas, peças de
Nápoles, Buenos Aires, Tóquio, Barcelona
Portugal, embora haja algumas peças
higiene e decorativas.
decorreram, então, com a participação
reconhecidamente estrangeiras.
de obras produzidas pelos gravadores
Na coleção encontram-se objetos tão
A mostra vai integrar, ainda, peças de
da SCGP. Entre 1956 e 2004, ano
variados como garrafas de bebidas,
outras unidades industriais em atividade,
marcado pelo encerramento da SCGP,
garrafas e frascos de comércio
como é o caso da Fábrica da Vista
foram criados cerca de 640 exemplares
farmacêutico, perfumes e cosméticos,
Alegre (Ílhavo), de grande valor histórico
únicos, que marcaram a produção de
frascos e boiões de alimentos conservados
nacional e internacional, e a Fábrica Aleluia
arte moderna em Portugal. Desse raro
e temperos, salvas de pé, galheteiros ou
(Aveiro), reconhecida essencialmente pela
conjunto, 257 integram agora o acervo
até bebedouros para pássaros que, já no
azulejaria tradicional e outros revestimentos
da UA, graças à doação que Francisco
séc. XVIII, saíram da Real Fábrica de Vidros
cerâmicos. Mas haverá, também, um
Madeira Luís fez, em 2012, à academia.
da Marinha Grande.
destacam pelo seu curioso aspeto utilitário
Almada Negreiros, João Abel Manta,
Existem também exemplares associados
e histórico, como é o caso da bacia de
Maria Gabriel, Júlio Pomar, José de
a hábitos sociais relativamente recentes,
barba e da faiança ratinha.
Guimarães, Cruzeiro Seixas ou Emília
como é o caso do consumo de ginjinha,
Nadal são alguns dos nomes sonantes,
popularizada nos meados do séc. XIX,
A coleção de gravuras
de um período neorrealista e modernista
ou a ingestão de porções calculadas,
Até 1956, não havia em Portugal
de produção artística, associados às
mediante o uso de copos graduados,
quem produzisse gravuras, nem quem
obras que se expõem.
em estâncias termais.
conjunto de peças sem marcação que se
linhas
dez 2013
Esta coleção é formada por peças
nomeadamente no Porto e em Lisboa,
obtidas pelo método de sopragem
outros há, que foram gravados em
livre, sopragem em moldes e peças
cidades como Londres, Paris, Berlim,
prensadas.
Rio de Janeiro ou Nova Iorque.
A coleção de Discos Goma-laca
Temas como o Fado Hylario ou Oh Júlia,
José Moças
ambos de 1900, ou gravações retiradas,
Esta vasta coleção de discos Goma-laca
por exemplo da revista Ahi… Pá, fazem
78rpm de música portuguesa foi doada
parte da nossa história. Estes registos
pelo colecionador José Moças, proprietário
são fruto e imagem sonora duma época,
da editora Tradisom. É constituída por
o findar do século XIX e a entrada no
cerca de seis mil discos, na sua maioria
século XX, um período de revoluções
gravações de fado. Predominam também,
tecnológicas, ideológicas e politicas.
entre outros registos, temas de música
Um outro exemplo que estará patente
tradicional portuguesa, música para
nesta mostra é a gravação Comício
teatro de revista, monólogos, gravações
Republicano n’aldeia, de 1908, onde é
referentes à implantação da República em
notória a agitação popular desses tempos.
Portugal ou ópera. A coleção de instrumentos musicais Os discos mais antigos desta
Os sete instrumentos musicais incluídos
coleção datam de 1900. São quatro
nesta exposição, construídos em madeiras
discos gravados no Porto, quando
nobres, testemunham a mestria do seu
os funcionários de Émile Berliner
construtor, o “violeiro” Joaquim Domingos
promoviam o Gramofone na Europa.
Capela, ao longo de várias décadas.
Apesar dos exemplares a expor terem sido todos gravados em Portugal,
Desta coleção pessoal, da qual fazem parte 135 instrumentos, o artesão doou mais de duas dezenas à Coleção Museológica da UA. Outros artefactos foram igualmente doados, quer a museus internacionais quer a museus nacionais, tais como o Royal Academy of Music de Londres, o Stradivari Museum, em Cremona, e o Museu da Música, em Lisboa, entre outros. Destaca-se a oferta pessoal a Amália Rodrigues, em 1986, de uma guitarra portuguesa. Nesta mostra pode ser apreciada uma cópia do violino gravado “Greffuhle” de 1709; uma viola do período romântico, de 1820, original de Grobert; e uma viola de amor, inspirada na do violeiro Johann Ulrich Eberle, de 1739. Além destes, a mostra integra ainda uma bandola, um bandolim napolitano (modelo português), um alaúde e, curiosamente, o primeiro violino (tamanho ¼), que Joaquim Domingos Capela construiu com apenas nove anos de idade, uma pequena relíquia que juntou aos instrumentos que doou à UA.
57
aconteceu cultural na ua
ACONTECEU NA UA Eventos passados de destaque
UA CRIA GRUPO DE TRABALHO PARA
MINISTROS DE PORTUGAL E
AJUDAR NA GESTÃO DA RIA DE AVEIRO
BRASIL NA UA PARA IMPULSIONAR
Chama-se Grupo uariadeaveiro e
AQUACULTURA E PARCERIAS DO MAR
pretende mobilizar o conhecimento
As novas oportunidades para investir
produzido sobre a Ria de Aveiro na
na aquacultura e o longo caminho
Universidade para facilitar o diálogo com
que há para percorrer nesta área
FESTIVAIS DE OUTONO 2013:
os parceiros da região e ajudar na gestão
dominaram o seminário “Aquacultura
DO ERUDITO AO JAZZ SEM
deste grande conjunto de ecossistemas
e Pescas, Oportunidades de Negócio,
ESQUECER AS CRIANÇAS
que se estende por cerca de 45
Portugal-Brasil”, dia 25 de novembro,
A diversidade e a qualidade reforçou-se na
quilómetros paralelamente ao mar.
com a presença de governantes,
edição de 2013 dos Festivais de Outono
nomeadamente os dois ministros
(FO), de 18 de outubro a 22 de novembro,
Teresa Fidélis, professora do
de Portugal e Brasil que tutelam o
iniciativa anual da Universidade de Aveiro.
Departamento de Ambiente e
setor, para além de entidades oficiais,
Procurando servir a região e o país com
Ordenamento e coordenadora, espera
investigadores e empresários. A ministra
uma oferta musical e cultural para gostos
que o Grupo, com a evolução do
Assunção Cristas, recordou à assistência
distintos, da edição deste ano dos FO
trabalho, possa vir a contribuir para a
brasileira a porta de entrada, que
constaram a música clássica, o jazz,
gestão da Ria e a disponibilizar um site
Portugal pode vir a constituir, para um
espetáculos que cruzam música e teatro
com “o mais importante acervo sobre a
mercado de 500 milhões de habitantes.
e criações especialmente dirigidas às
Ria de Aveiro no país”.
crianças, eventos em formato de concerto
A governante referiu as novas
sinfónico, de recital (música de câmara ou
O Grupo uariadeaveiro está a promover,
condições existentes para apoio ao
a solo) e outros pensados para músicos
em conjunto com o Cine Clube de Avanca
investimento, nomeadamente a recém
e investigadores, como conferências e
e o Teatro Aveirense, um ciclo de cinema
reprogramação do PROMAR para
masterclasses. Estas foram orientadas
com sessões acompanhadas de debate
projetos de aquacultura, às quais
por referências dos panoramas musicais
e obras todas elas filmadas na Ria, de
não será estranha a entrada de 13
nacional e internacional.
autores portugueses. O Grupo promove
projetos com investimento previsto
ainda o ciclo de conversas “Quintas da
de 18 milhões de euros, entre 24 de
O programa para 2013 reforçou a
Ria”, em colaboração com a Fábrica
agosto e 30 de setembro, no Algarve.
“intenção das edições mais recentes de
Centro Ciência Viva de Aveiro, como
Por outro lado, está em discussão, na
providenciar espaço de palco para artistas
o objetivo de incentivar a partilha de
Assembleia da República, a proposta
portugueses de alto valor”, caraterizou
conhecimentos sobre a Ria de Aveiro e,
de Lei de Bases do Ordenamento
António Chagas Rosa, professor do
em conjunto com a sociedade, contribuir
Marítimo que, se aprovada, enquadrará
Departamento de Comunicação e Arte
para a construção de valores e a proteção
a concessão de zonas para aquacultura
(DeCA) e programador dos Festivais.
e valorização.
com licenciamento preparado e
linhas
dez2013 2013 set
questões ambientais incorporadas, ou
aprendizagem, sempre em contacto com
seja, oportunidades “chave na mão”.
a ciência que por cá se faz. No total, contaram-se cerca de 90 atividades
Perspetivam-se, na sequência deste
e quase 400 sessões, abrangendo
encontro, parcerias que envolvem,
inúmeras áreas do saber.
entre outras vertentes, tecnologia de ponta usada por empresas da região
Pela primeira vez, o Departamento
de Aveiro no setor da aquacultura e
de Economia, Gestão e Engenharia
pescas e também novos investimentos
Industrial propôs atividades:
para a região. No caso concreto da UA,
“Economicando”, um jogo on line
ISCA-UA ASSINALOU 42 ANOS
espera-se o reforço do trabalho em
sobre economia, e ainda uma reflexão
COM SEMANA REPLETA
rede, afirmou Amadeu Soares, diretor
promovida pela equipa do projeto
DE ATIVIDADES
do Departamento de Biologia da UA
GenTour sobre se “Poderá a igualdade
O programa de comemorações do 42º
e organizador, pela UA, do encontro,
de género impulsionar a criação de
aniversário e Dia do Instituto Superior de
e ainda o incremento da colaboração
formas inovadoras de crescimento
Contabilidade e Administração (ISCA-UA)
já existente ao nível da formação,
económico no setor do turismo?”.
arrancou a 19 de outubro, com a sessão
investigação e ligação às empresas,
de homenagem ao falecido professor
que incluem, por exemplo, a aplicação
CICLO “HAVÍAMOS DE FALAR DISSO”
Domingos Cravo e prolongou-se por
de “know how” da UA no estudo do
JUNTA CIENTISTAS, ARTISTAS
uma semana.
cultivo de espécies brasileiras ainda não
E PENSADORES PORTUGUESES
usadas em aquacultura, de espécies
O Centro de Investigação em Materiais
Realizou-se ainda, neste âmbito, a
ornamentais e de iscos vivos.
Cerâmicos e Compósitos (Laboratório
2ª edição do Scientia, o seminário
Associado da Universidade de Aveiro)
de investigação que contou com a
e a Fábrica Centro Ciência Viva de
apresentação de trabalhos de alguns
Aveiro recebe alguns dos mais notáveis
professores do ISCA-UA, assim como
cientistas, artistas e pensadores
com a especial participação de Marta
portugueses para conversas mensais
Guerreiro, do Instituto Politécnico de
sobre diferentes áreas do saber, sob o
Viana do Castelo. O dia seguinte esteve
título “Havíamos de falar disso…”.
reservado para as escolas secundárias. Na quarta-feira as línguas tomaram
Dirigidas aos públicos jovem e
conta do Instituto. A 24 de outubro
adulto, as conversas têm entrada
teve lugar o momento de convívio
livre e integram o programa das
da AEISCAA, com o tradicional “porco
SEMANA ABERTA DA CIÊNCIA E
comemorações dos 40 anos da UA.
no espeto”. A festa teve início às 19h00,
TECNOLOGIA DA UA PROPÕE QUASE
A moderação das conversas é feita
no jardim do ISCA-UA. Sexta-feira,
90 ATIVIDADES E 400 SESSÕES
por Nuno Camarneiro, investigador no
25 de outubro, foi um dia de reflexão
A Semana Aberta da Ciência e
CICECO e Prémio Leya 2012.
partilhada entre professores, estudantes
Tecnologia da Universidade de Aveiro
e investigadores. Esteve patente,
decorreu de 18 a 22 de novembro,
As conversas decorrem no Teatro
paralelamente, na Biblioteca do
com atividades para todos os gostos.
Aveirense, no inicio de cada mês.
ISCA-UA, a exposição fotográfica
Departamentos e escolas politécnicas
Os temas em destaque , entre janeiro
“Lost”, da autoria de João Batista.
da UA abriram as portas a escolas e
e abril são: tempo, Deus, medo, sexo
famílias para momentos de diversão e
e morte.
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cultural
linhas
dez 2013