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Coincide a saída deste número da Linhas

A escolha do Professor Onésimo Teotónio

com o nosso quadragésimo aniversário.

de Almeida – académico prestigiado

Quatro décadas de construção e

de uma grande Universidade norte-

consolidação de um projecto que enche de

-americana, cidadão português desde

orgulho todos os que nele participaram mais

sempre empenhado no seu país e amigo da

diretamente, mas também os muitos amigos

UA – como nosso homenageado Honoris

da UA que nos acompanharam e foram

Causa nesta efeméride tem muito a ver

ajudando nesta já longa caminhada: é deles,

com o nosso percurso: aberto e atento

igualmente, o nosso êxito.

ao mundo, internacional, medindo-se por padrões universais de qualidade; implicado

Um projeto com diversas etapas.

ativamente no progresso da região e do

Uma primeira, com a escolha de cursos

país, e ambicionando ter impacto nas suas

que representaram singularidade e

ações; e com preocupações pelo ambiente

complementaridade face à oferta existente ao

humano e coesão da sua comunidade.

tempo; e, desde logo, com um grande ênfase

Manuel António Assunção Reitor da Universidade de Aveiro

na formação, na altura fora de Portugal, de

O Doutoramento Honoris Causa a

docentes que pudessem fazer a diferença,

atribuir em breve ao Engenheiro José

que fossem capazes de sustentar Aveiro pela

Formigli e ao Professor Manuel Ferreira

competência demonstrada no levar a cabo

de Oliveira, para além de uma justa

a missão universitária. Uma segunda, em

homenagem ao enorme desafio humano

que se cimentou o modelo organizacional,

que a extração de petróleo do pré-sal

também ele original e único no país, e em

constitui e a dois dos seus ilustres

que se levantou a maior parte do edificado,

representantes, insere-se nesse realçar da

idealizado com grande sentido estratégico e

importância das relações internacionais

recorrendo aos melhores arquitetos nacionais,

sem as quais não há boas universidades.

Editorial

o que nos permite dispor do belíssimo Campus onde estudamos, trabalhamos e

A Linhas foi criada, gosto de recordar,

vivemos. Seguiu-se uma fase de atenção

para servir de elo entre a UA e os seus

acrescida à qualidade do que fazíamos, à

antigos estudantes e, de modo mais

organização que constituíamos e às pessoas

geral, de ponte com o mundo.

que formavam a nossa gente. Uma fase

Queria, por isso, destacar dois momentos

marcada, também, pela consolidação

relevantes da nossa vida enquanto

das nossas apostas na pesquisa, pelo

comunidade alargada. Um, já anunciado

intensificar da cooperação com a sociedade,

no número anterior, foi o concretizar do

pelos primeiros estudos sobre a inserção

primeiro Dia do Antigo Aluno, com um

profissional dos diplomados, pela abertura

sucesso que vai exigir a sua repetição

ao ensino politécnico e a Escolas em Águeda

nos anos vindouros. O outro foi a entrega,

e Oliveira de Azeméis. A última década

pelo Presidente da República, do Prémio

assistiu ao contínuo alargar da missão da

COTEC para o Caso Exemplar de Relação

UA, ao maior envolvimento na Cultura e na

com a Indústria que a nossa associação,

divulgação da Ciência, ao aprofundar das

desde o primeiro instante, com a Portugal

questões da avaliação e informatização,

Telecom Inovação (e o seu antecessor

ao desenvolvimento da cooperação com a

Centro de Estudos de Telecomunicações

região, à estruturação de vias relacionais com

dos CTT) representa.

os antigos alunos, à passagem a Fundação como testemunho da nossa capacidade de

São exemplos bem demonstrativos desta

obtenção de fundos próprios; e ao esforço

nossa aventura, consciente, ambiciosa e

acrescido de internacionalização, através de

vibrante, de 40 anos. Valeu a pena, valeu

estudantes, projetos e redes, fundamental

muito: foi possível construir uma grande

para afirmar a Universidade de Aveiro no

Universidade em Aveiro, um Campus que

ambiente universitário global e garantir um

Pensa. Que os próximos 40 tragam outro

melhor futuro.

tanto; ou ainda mais!


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dez 2013

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EDITORIAL Manuel António Assunção

18-23

DOSSIER

24-28

PERCURSO SINGULAR

As empresas precisam? A UA tem!

Reitor da UA

06-09

OPINIÃO 40 anos da UA: Testemunhos da comunidade

10-14 15-17

Júlio Pedrosa

29

EDIÇÕES

ENTREVISTA COM... Veiga Simão

PERCURSOS HONORIS CAUSA

PERCURSOS ANTIGOS ALUNOS

30-35

Fernando Ramos Paula Leitão José Mendes

“Leitor omnívoro e viajante incansável” Honoris Causa pela UA Onésimo Teotónio Almeida

36-41

DISTINÇÕES

José Formigli e Ferreira de Oliveira recebem Honoris Causa

42-48

INVESTIGAÇÃO Buçaco: viagem para outra dimensão de vida, de património e do espírito Geologia médica, um novo “filão” nas Geociências


5

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COOPERAÇÃO Gabinete de Apoio ao Consumidor Endividado

50-51 52-53

ENSINO UA: um campus multicultural

CAMPUS EXEMPLAR Fotoreportagem do novo edifício da ESAN

54-56

CULTURAL Tesouros desconhecidos do Museu da UA mostram-se ao público

57-58

ACONTECEU NA UA


40 anos da UA Testemunhos da comunidade

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dez 2013

José Veiga Simão Ex-ministro Ministro da Educação Nacional (1970-1974), da Indústria e Energia (1983-1985) e da Defesa Nacional (1997-1999) A Universidade de Aveiro, fiel à sua génese e a 40 anos com realizações de sucesso, é exemplo de como o sonho se confundiu com a ação em prol da soberania do conhecimento, a que nos resta. Parabéns aos seus obreiros.

Victor Gil Antigo Reitor da UA Que emoções há numa brisa Que moliceiros há numa escola Quantas aves há num abraço Quantas marés há no espaço Que saberes pedem esmola Afinal a quem precisa Ao todo oito gerações Quantos frutos diplomados Da ignorância avarenta Alegremente roubados Ou levados aos empurrões Oito vezes cinco são oitenta O dobro do que devia Quantos sonhos sobem a ria.

D. Carlos Filipe Ximenens Belo Bispo Emérito de Díli e Prémio Nobel da Paz Na ocorrência dos 40 anos da Universdiade de Aveiro, seja-me permitido endereçar os meus Parabéns e o meu grande apreço pela existência da Universidade. Em nome de todos os Timorenses, quero agradecer às autoridades académicas pela colaboração com a República de Timor-Leste e com a Universidade Timor Loro Sae de Díli. Muitos timorenses têm sido beneficiados com ajuda e apoio da UA. Daqui vai o meu sincero agradecimento. Bem-haja, e muito obrigado.

D. António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro Dois momentos maiores marcaram o século XX em Aveiro: a restauração da Diocese e a criação da Universidade. Revivemos, agora, esses momentos com júbilo. A UA alargou as fronteiras da nossa Terra, abriu amplos e belos caminhos ao saber e desenhou nova fisionomia em Aveiro. A UA é âncora do futuro que, em comum, queremos construir. Parabéns.

Bendito dos Santos Freitas Ministro da Educação, República Democrática de Timor-Leste Em nome do Ministério da Educação de Timor-Leste felicito a Universidade de Aveiro pelo seu 40º aniversário. Aproveito esta ocasião para elogiar a excelente cooperação estabelecida na reforma curricular do ensino secundário geral, na formação de professores e ainda na integração de inúmeros jovens estudantes timorenses que nesta Universidade cumprem o seu sonho académico.


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Eugénio Lisboa Doutor Honoris Causa e Professor aposentado do Departamento de Línguas e Culturas Regressado de dezassete anos em Londres, a UA foi aquela que, sem hesitar, me abriu a porta e disse: ‘Entra!’. Eu entrei e comecei a ser feliz. Talvez tenha ensinado alguma coisa, mas aprendi, certamente, imenso! Sobretudo, ganhei amigos e uma espécie de segunda casa. Não preciso de mais.

José Ribau Esteves Presidente da Câmara Municipal de Aveiro UA, 40 anos de Vida Em nome da Câmara Municipal de Aveiro e dos Cidadãos do Município de Aveiro quero saudar com jubilo a Universidade de Aveiro pelos seus 40 anos de vida. Parabéns e que conte muitos, tendo sempre por perto o seu Município e a sua Região de Aveiro. A aposta na UA tem sido ganha, sendo agora tempo de aprofundarmos mais a estratégia de eficiência coletiva da Região de Aveiro, na qual a UA tem um lugar especial para continuar a cumprir. Bem Haja.

António Correia e Silva Ex-Reitor da Universidade de Cabo Verde e atual Ministro de Ensino Superior, Ciência e Inovação de Cabo Verde A Universidade de Aveiro é uma realização notável no panorama universitário português e lusófono. Neste último círculo ela tem-se posicionado como um dos mais importantes players da cooperação interuniversitária, sendo um exemplo altamente inspirador e a sua acção estimuladora das novas universidades dos países de língua portuguesa, nomeadamente as africanas e timorenses. Este sucesso no mundo da cooperação é em grande parte devido à lucidez estratégica do seu corpo dirigente. Que ela tenha vida longa!

opinião

Fernando Paiva de Castro Presidente da Associação Industrial do Distrito de Aveiro (AIDA)

Isabel Jonet Presidente do Banco Alimentar e Membro de Conselho de Curadores da UA

Completados 40 anos de existência à Universidade de Aveiro é-lhe reconhecido, pelo meio empresarial, o prestígio de um longo percurso de trabalho, exponenciando o capital do conhecimento e competências ao dispor das empresas, cuja extensão vai além-fronteiras. Por isso, a AIDA felicita a UA com votos de um futuro promissor.

A Universidade de Aveiro tem feito ao longo destes 40 anos um percurso de excelência onde a preocupação pela inovação é uma constante. A transmissão do saber, numa busca incessante da aplicação do conhecimento, tem sido apanágio desta Escola à qual muito Portugal deve. Felicito tanto o corpo docente como os alunos por estes 40 anos e desejo que a UA continue a ser um exemplo no meio académico, formando, ousando, interpelando, inquietando. Parabéns.


Testemunhos sobre os 40 anos da Universidade de Aveiro

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dez 2013

Fernando Caçoilo Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo É pelo espírito inovador e crescente investimento em I&D que a UA se distingue na Região imprimindo-lhe uma cadência evolutiva sólida. A articulação com o Município de ílhavo é, sem dúvida, uma forte aposta conjunta. Este é momento em que a nossa interação se afirma como um mecanismo de promoção do desenvolvimento socioeconómico da Região através do estabelecimento de plataformas de colaboração e intercâmbio de competências, com claros benefícios para empresas e população.

Vasco Lagarto Diretor da Rádio Terra Nova A Universidade de Aveiro, pela sua capacidade de inovação e contributo para o desenvolvimento socioeconómico da Região de Aveiro, é uma das fontes de informação incontornável que diariamente nos anima e incita a ter esperança e confiança no futuro, contribuindo inclusivamente, e de forma notória, para a promoção da nossa região para além fronteiras. A UA é um ator fundamental no processo de transformação de uma “terra” em “terra nova”, no qual a rádio Terra Nova se sente orgulhosa em participar. Que estes 40 anos, que agora se comemoram, sejam apenas uma pequena amostra do que os próximos 40 anos de atividade da Universidade irão contribuir para o desenvolvimento e qualidade de vida da nossa Região de Aveiro.

Cristina Boia CEO da Extrusal, Companhia Portuguesa de Extrusão, licenciada e pós graduada pela UA A existência da Universidade de Aveiro teve um grande e positivo impacte na Extrusal, e acreditamos que o contrário também se terá passado, até porque as duas organizações cresceram em paralelo – a Extrusal tem 41 anos desde a Fundação, e 39 desde que começou a laborar! Ao longo dos anos houve uma estreita colaboração entre as duas instituições, entre outros aspetos na resolução de problemas industriais concretos e ambientais. Esta colaboração foi potenciada pelo facto de uma vintena dos quadros superiores da Extrusal de hoje se terem licenciado na Universidade de Aveiro, em muitos domínios diferentes, desde várias engenharias (Ambiente, Química, Materiais, Eletrónica, Mecânica) até áreas de contabilidade e gestão. Parabéns, UA !”


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Alcino Lavrador CEO da PT Inovação Uma das caraterísticas que distingue a UA é a sua relação com as empresas. A relação privilegiada que mantém com a PT Inovação nasceu há 40 anos e é, hoje, um caso exemplar de cooperação universidadeempresa na transformação de conhecimento fundamental em valor para a economia e beneficiando a sociedade.

António Sousa Nunes Diretor do Departamento de Inovação, Desenvolvimento e Sustentabilidade da Galp A elevada qualidade académica e o espírito de inovação focado no progresso industrial sustentável marcam o ADN da frutuosa e já longa história de cooperação entre a Galp Energia e a Universidade de Aveiro. As nossas expectativas futuras passam por aprofundar esta relação de colaboração, conducente à formação de capital humano altamente qualificado e de iniciativas de I&D que contribuam para o desenvolvimento sustentado de Portugal.

opinião

Ivan Silva Diretor Executivo do Diário de Aveiro

Hermínio Loureiro Presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis

Gil Nadais Presidente da Câmara Municipal de Águeda

A nossa Universidade de Aveiro assinala 40 anos. Nasceu como um projeto ambicioso e, hoje, é uma certeza no ensino em Portugal e no Mundo. Falar da Universidade de Aveiro é sinónimo de liderança, de investigação e de parceria com e ao serviço das empresas e de docência de superior qualidade. Na nossa UA se concebe conhecimento e se constrói o futuro. Com orgulho, o Diário de Aveiro acompanha o seu dia-a-dia - através da página diária “Vida Académica” - e esteve, com regozijo, em todos os passos importantes que deu nos últimos anos. Uma palavra final de bemhaja a todos os intervenientes - e aos seus Reitores -, ao longo das quatro décadas.

A Universidade de Aveiro é hoje uma das mais prestigiadas universidades do país pela sua capacidade científica, pedagógica e pela visão estratégica que tem do ensino superior. É de realçar ainda a sua aposta na formação politécnica, destacando-se, aqui, o projeto da Escola Superior Aveiro Norte, em Oliveira de Azeméis, que, em breve, entrará em funcionamento, integrando o Parque do Cercal - Campus para a Inovação, Competitividade e Empreendedorismo Qualificado. Ao longo de quatro décadas esta instituição tem servido exemplarmente o país formando técnicos altamente especializados e competentes. Aos seus responsáveis parabéns pelo sucesso alcançado.

No seu 40º Aniversário felicito, em nome do Município de Águeda, a Universidade de Aveiro pelo inegável papel no progresso e avanço do território onde se insere, e que tem sido alcançado através da dinamização de sinergias e desafios, rumo a um futuro assente na inovação e no desenvolvimento sustentável.

António Jorge Franco Presidente da Fundação Mata do Buçaco Os 40 anos de existência da UA comprovam o sucesso de uma instituição, com qualidade, quer na área de ensino, quer da investigação. É um orgulho para a Mata Nacional do Buçaco receber diariamente, e há mais de uma década, investigadores da UA, que muito têm contribuído para o conhecimento científico do local. Parabéns!


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dez 2013

Veiga Simão, ex-ministro e referência nas questões de educação, ciência e inovação"

"As universidades têm de desafiar o governo para novas alternativas!"

Foi chamado para o Governo antes do “25 de Abril”, tendo sido autor de uma reforma que marcou a história do ensino em Portugal, e depois, tutelando outras pastas ministeriais e exercendo funções no âmbito da estratégia educativa e científica. Sendo essa peculiaridade sugestiva da sua forma de lidar com a causa pública, José Veiga Simão é ainda dos poucos portugueses agraciados com várias ordens honoríficas, continuando, hoje, a contribuir ativamente para a competitividade e inovação no país, agora coordenando a elaboração da Carta Magna da Competitividade de Portugal e das Cartas Regionais de Competitividade. Crítico da atual situação política na área do ensino superior, deixa pistas e considera que as universidades têm um papel crucial a desempenhar na situação em que o país se encontra.


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entrevista

Quando criou, em 1973, as chamadas

a de começar a Reforma logo no dia

de diagnóstico e de prospetiva -

novas universidades no litoral e

da minha tomada de posse em 15 de

demográficos, sociais, culturais e

interior - Universidades de Aveiro,

janeiro de 1970. A Reforma, como alguns

económicos -; a urgência em nos

Minho, Nova de Lisboa, Instituto

sugerem, não começou em 1973. Esta

rodearmos de colaboradores de prestígio

Universitário de Évora e institutos

situação está, aliás, expressa no parecer

(equipa de onde saíram vários ministros,

politécnicos noutras localidades

da Câmara Corporativa no qual se

e altos funcionários anos depois, na

- tinha como objetivo combater

refere, a propósito da Lei de Bases do

democracia); a perceção de que era

o centralismo e seria isso uma

Sistema Educativo, que mais de 50 por

crucial levar a mensagem à população -

sequência lógica dos Planos de

cento do que ela propõe está realizado

houve um debate nacional que demorou

Fomento anteriores?

ou em curso.

sete meses -; a aliança com professores co-autores da Reforma e ainda, a de

Essa questão tem uma dimensão que

No ensino superior, entre muitas das

assegurar financiamentos a curto,

ultrapassa largamente o ensino superior.

medidas tomadas, saliento a grande

médio e longo prazos. A carência de

O centralismo percorre os diversos

importância da nova carreira docente

quadros superiores, cientistas, técnicos

regimes políticos, da 1ª República

universitária e o reconhecimento em

e professores e a sua participação no

passando pelo Estado Novo de Salazar e

Portugal dos doutoramentos obtidos no

desenvolvimento do País emergia como

pelo Estado Social de Marcello Caetano,

estrangeiro. Foram também criados novos

prioridade nacional.

até à atual democracia tutelada por

cursos nas universidades existentes, a

uma “troika” que limita, de algum modo,

Universidade Católica foi reconhecida e

É importante lembrar que, antes,

a nossa soberania. Agora temos um

criado o ISCTE, hoje Universidade.

se tinha avançado com a expansão do ensino secundário e dos vários

centralismo de outra natureza. …De outro modo seria impossível Por outro lado, se analisar as

níveis anteriores de ensino.

responder a esse grande desafio…

Constituições da República Portuguesa,

Com certeza. Não há universidade sem

- a de 1933 e a de 1976 nas suas diversas

Sim, porque as quatro universidades

escola primeira, disse eu. No debate

revisões - percebe-se que, a par das

então existentes - as Universidades de

nacional então realizado intervieram

dificuldades na operacionalização de

Lisboa, Técnica de Lisboa, Coimbra

cerca de 60 mil pessoas com textos

poderes regionais, permanece insolúvel

e Porto - não teriam capacidade nem

escritos! Esse apoio foi decisivo para

um magno problema que se traduz no

meios para responder ao grande desafio

vencer o conservadorismo vigente que

desequilíbrio entre a voz dos cidadãos -

da democratização e modernização

colocava sérios obstáculos à Reforma.

expressa em atos eleitorais - e a voz

do ensino superior. Na Universidade

Não cabe aqui citar a legislação

das regiões, que não é expressa por

de Lourenço Marques, como fundador

produzida e as experiências pedagógicas

via democrática.

e Reitor, consegui criar uma equipa

criativas que foram objeto de intensas

docente, técnica e administrativa

polémicas desde o pré-escolar até o

O Plano de Expansão e Diversificação

de eleição; foram doutorados mais

chamado ensino médio.

do Ensino Superior tem esse

docentes e investigadores em sete

pano de fundo, mas integra-se,

anos, em centros de investigação

E em relação à localização das

fundamentalmente, numa outra

europeus e dos Estados Unidos com

instituições de Ensino Superior?

estratégia: a da democratização do País

prestigio reconhecido, do que nas quatro

pela e da educação. “Um povo que não

universidades portuguesas em domínios

Os estudos já referidos fundamentaram-

cultiva a sua inteligência está perdido”,

equivalentes em 50 anos! A Universidade

-se num conjunto de critérios rigorosos

afirmava o filósofo e matemático

de Aveiro veio a tornar-se, após a

em relação à localização das novas

Whitehead, em 1910. Acontece que a

descolonização, uma grande beneficiária

instituições de ensino superior. Não foi

minha aceitação do convite de Marcello

desses doutorados - alguns reitores -, e

pela pressão de grupos de influência, que

Caetano para ministro da Educação

de funcionários.

também se evidenciaram. Em relação a

Nacional, dependeu de uma condição

Aveiro, tive mesmo um problema afetivo.

básica que foi aceite: iniciar uma

Mas, na base do Plano de Expansão

Um setor prestigiado da Universidade

reforma educativa global extensiva

e Diversificação do Ensino Superior

de Coimbra, pela qual nutro um grande

a todo o País, na qual se integrava o

estavam pressupostos essenciais:

amor, que me ensinara, tal como

Plano de Expansão e Diversificação do

o conhecimento dos labirintos da

em Cambridge, que devia cultivar a

Ensino Superior. Uma outra condição

Administração Pública; a necessidade

independência de pensamento, entendia

determinante, igualmente aceite, foi

de fundamentar o Plano em estudos

que o território de Aveiro estava sob a sua


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dez 2013

“suserania”. Cometia uma traição à alma

às Escolas Superiores de Educação

não curada acentuada por “variâncias

mater se criasse a Universidade de Aveiro.

e a serem integradas nos Institutos

contraditórias” do poder político. Só

Isso deu origem a acesa polémica com os

Politécnicos, por razões apenas do

assim se explicam preâmbulos de

meus colegas, amigos pessoais.

financiamento do Banco Mundial.

decretos-leis em que a linguagem é a da

No entanto, a dinâmica do

Uma decisão com efeitos negativos na

“promoção” de institutos politécnicos

desenvolvimento da região de Aveiro,

evolução do ensino politécnico.

a institutos universitários e, mais tarde,

associada ao “aveirismo” de José Estevão

a universidades. Leviandades de

e, naquela altura interpretado por Vale

Esse sistema que idealizou assentava,

legisladores prolongando o “drama” da

Guimarães, a força com que o progresso

portanto, numa tríade, e não num

dicotomia entre status social - o qual deve

da região se afirmava no contexto

sistema binário (ensino universitário /

ser igual - e a diversidade curricular, que

demonstrado pelos estudos elaborados,

ensino politécnico) como o que existe

deve ser aprofundada correspondendo

exigiam em Aveiro uma universidade

atualmente e cujas especificidades

à evolução científica e tecnológica.

aberta à criatividade, a qual, sendo

nem sempre são claras…

Recordo-me que no ensino secundário, para minimizar essa visão dicotómica,

diferente da de Coimbra, era imprescindível numa rede de instituições coerente,

Sem querer minimizar o que muito de

propus no início da Reforma Educativa as

consistente e sustentável.

bom se tem feito na estruturação das

designações de “liceu clássico”, de “liceu

instituições de ensino superior houve

técnico” e de “liceu artístico”, no sentido

Reorganização e reestruturação

de transmitir à sociedade a igualdade

precisam-se

de status social, mas nas conclusões do debate nacional esta minha ideia não

Esse estudo apontava para a criação

vingou. Hoje, temo que, com o processo

de instituições de ensino superior em

de Bolonha nem sempre bem aplicado,

Aveiro, Braga e à volta de Lisboa…

mais uma vez se caminhe no sentido errado de pretender uma “igualdade

No caso de Lisboa, a incidência era

curricular”, destruindo até os então

na margem sul do Tejo, onde veio a

bacharelatos profissionais; uma evolução

ser instalado apenas um dos polos da

perniciosa ao desenvolvimento do País.

Universidade Nova, ao contrário do Universidade e território:

projeto inicial.

que estratégia? No contexto do eixo Braga-Guimarães As mais recentes colocações na

emergiu a Universidade do Minho. um retrocesso em termos conceptuais,

sequência do concurso de acesso ao

Os estudos apontavam para a criação

em relação a princípios que definiram

ensino superior são pouco animadoras

de três universidades, não incluindo

os objetivos da rede de ensino superior

para as instituições portuguesas e

uma universidade em Évora. No

criada em 1973, dotada de três tipos de

menos ainda para o ensino politécnico,

entanto, o facto de Évora já ter tido uma

instituições. As universidades aparecem

suscitando dúvidas sobre o futuro de

Universidade - extinta no tempo do

como instituições de grande abrangência

várias instituições tal como existem

Marquês de Pombal, devido ao conflito

do saber e como “oficinas da criação e

hoje. A Universidade de Aveiro, neste

com os Jesuítas -, a necessidade daquela

transformação do conhecimento” onde

aspeto, adotou uma via sui generis

região dever competir com Espanha, a

a trilogia de ensino/investigação e a

ao congregar o ensino universitário e

possibilidade de a associar ao Instituto

ligação à sociedade se desenvolvem

politécnico. O futuro pode passar por

Superior Económico e Social de Évora,

em vertentes humanísticas, científicas

esta solução?

justificaram a criação do Instituto

e experimentais de grande amplitude.

Universitário de Évora, com o mesmo

Os institutos politécnicos atuavam no

A Universidade de Aveiro apresenta, no

status de universidade.

sentido de uma ligação mais direta ao

caso do binómio ensino superior - ensino

universo de empresas e serviços, sem

politécnico, um modelo interessante,

Ao mesmo tempo, fazendo jus a

prejuízo de uma formação científica

flexível e inteligente, maximizando os

uma descentralização, foram criados

de base, concretizando-se em cursos

meios disponíveis.

institutos politécnicos e Escolas Normais

superiores de curta duração. A

Superiores, designação herdada da Iª

problemática do ensino universitário

Quando analisamos a atual rede

República. Estas, vieram a dar origem

versus ensino politécnico é uma ferida

de ensino superior verifica-se que,


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entrevista

De qualquer modo, a racionalização dos cursos é urgente - e, no aspeto, da sua acreditação a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) tem feito um excelente trabalho… A questão dominante que se deve colocar na racionalização da rede deve poder centrar-se numa visão estratégica do modelo de desenvolvimento do País. Ora esse modelo da responsabilidade do poder político não existe e a articulação intramuros e inter-instituições não tem objetivo. Assim, as populações do interior veem-se despojadas de serviços públicos - e não só -, uns atrás dos outros, impondo cada Ministério modelos institucionais globais desarticulados. Caminhamos para o desastre total no que respeita ao desenvolvimento do interior e, mais tarde, teremos de reerguer o País de ruínas. As universidades devem apresentar pelo estudo e por propostas baseadas no domínio do atualmente, em número de instituições

Na osmose entre o ensino secundário e o

“conhecimento” modelos alternativos.

e em número de cursos (revelando uma

ensino superior o número de perdas não

Na falta de pensamento governamental

imaginação prodigiosa) há afastamentos

pode ser da dimensão existente. Mas a

espera-se uma posição das universidades

duma equilibrada empregabilidade e da

este propósito devo mencionar que sou

até, porque nelas está a soberania do

realidade económica social e cultural,

partidário da “avaliação pelo mérito” e

conhecimento, a única que nos resta. A

designadamente a nível regional.

da “existência de exames”. Verdade seja

Universidade é acima de tudo a “oficina

Os partidos políticos atuaram a certa

dita que a forma como atualmente estão

da criação” e a “oficina da liberdade”.

altura de forma incoerente na pretensa

a ser implementados, a diversos níveis,

defesa de interesses regionais. A rede

estes conceitos revelam precipitação

Mas para terem capacidade de

atual precisa de ser reestruturada e

dominada por cego economicismo. A

atuação, as universidades têm de se

racionalizada. A questão é: como fazê-lo?

tudo isto acresce, no que respeita à

adaptar ao novo contexto…

A evolução demográfica aponta para

frequência do Ensino Superior, que os

uma diminuição de candidatos ao ensino

conhecimentos evoluem e, em muito

É urgente definir o contexto.

superior. O retrocesso, há vários anos,

países, os funcionários das empresas

Estão afinal em causa as “Hélices

em termos de política de natalidade e

e serviços são obrigados a atualizar

Triplas” do desenvolvimento em que,

da família é fortemente censurável. No

permanentemente os conhecimentos.

por exemplo, a Universidade de Aveiro

entanto as consequências no ensino

Aliás, faz cada vez mais sentido a

tem potencialidades ímpares. E, embora

superior podem não ser tão dramáticas

“formação ao longo da vida”. Devo referir

possa haver pontos de partida diferentes,

como muitos apresentam! É necessário

que tive o prazer de abrir as portas da

há que substituir “esferas rígidas

dar maior atenção ao abandono escolar,

universidade através de exames ad hoc

de competências” por “espaços de

acompanhando criativamente os

a cidadãos com 25 anos de idade. Hoje,

cooperação” entre a universidade, a

alunos em maiores dificuldades, numa

nos exames equivalentes, a idade limite

empresa em sentido lato, e as instituições

perspetiva sociológica, psicológica e de

são os 23 anos - a experiência de vida é

autónomas públicas e privadas, dado que

atratividade na apreensão e utilização de

menor do que com 25 anos - utiliza-se

muitas delas produzem conhecimento.

conhecimentos. As taxas de abandono

esta “abertura” como porta de entrada

devem ser diminuídas, sem perder o rigor

para as universidades, em muitos casos

Os espaços de cooperação devem ser

e a qualidade de “educare” no sentido

sem garantir uma avaliação correta

privilegiados, desde que se defina uma

de Cícero como “alimentar”, “treinar”,

dos portefólios de competências

base ética e de responsabilidade social.

“formar”, “conduzir para longe”…

dos candidatos.


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dez 2013

Perguntava se, com várias medidas

do mar (de que se fala muito e faz pouco),

já concretizadas de aproximação à

as indústrias criativas, e os imperativos

sociedade, empresas e aos agentes

da Cultura e do Ambiente em prol do

económicos e sociais, o estreitamento

desenvolvimento e da felicidade humana.

ainda maior dessa relação estará em

Como já referi, o European Innovation

risco no atual contexto económico?

Score Board carateriza uns países como

Ou pelo contrário, ele constitui uma

mais ligados à criação do conhecimento

oportunidade?

e outros mais ligados à transformação e utilização do conhecimento em

A Universidade de Aveiro adotou uma

bens económicos e culturais. É esse o

estratégia em que privilegiou, logo de

desafio que temos de vencer! Se não

início, a sua ligação à sociedade dando

o vencermos, Portugal nunca pagará

sinais de primazia da componente

quaisquer dívidas e não terá futuro.

tecnológica e do imperativo da cultura.

Ora as Universidades existem para ganhar

Não foi por acaso que a Universidade

o futuro! A Universidade de Aveiro estará

de Aveiro surgiu em estreita ligação

na linha da frente desse combate.

com os CTT/TLP e com o seu centro de investigação. Nesse binómio

Daí ser fundamental reforçar

universidade-empresa, a Universidade

a ligação das universidades

de Aveiro tem-se afirmado de uma forma

à sociedade e empresas…

significativa, está na sua génese e agora na vanguarda desse relacionamento com

Intensificar essa ligação segundo

Portugal entre os últimos na

realizações criativas na industrialização

o conceito de que o alimento da

transformação do conhecimento

da era do conhecimento. Assim acontece

mudança é o conhecimento e de que

no caso de indústrias tradicionais

as universidades são essenciais na

No estudo que fez para a Universidade

com excelentes aplicações de “novas

afirmação da soberania do conhecimento.

de Aveiro, concluído em 1997, apontam-

tecnologias”, em sentido amplo.

-se vários caminhos para concretizar

Só que é preciso um contexto de

essa cooperação entre instituições de

Num trabalho que estou a coordenar

confiança em que os agentes possam

caráter diferente. Ao longo dos anos,

na Associação Industrial Portuguesa,

apostar, o qual neste momento apresenta

foram seguidos em termos mais ou

a propósito das Cartas Regionais de

fragilidades enormes. Espera-se que

menos próximos das formulações

Competitividade, verificamos que, na

as Universidades no seu conjunto

apontadas no estudo…

região litoral desde o Minho passando

perspetivem um novo modelo de

pelo Porto até Aveiro, a ligação das

sociedade. Se essa confiança for

…Sim, mas em relação a isso não pode

universidades às empresas privilegia as

restabelecida, se não teimarmos em criar

haver dogmas. Eu diria que nem a Lei de

de bens transacionáveis, enquanto que,

conflitos entre gerações e se apostarmos

Bases que eu protagonizei, nem a que

no sul, essa ligação é mais intensa com

em perspetivas de um emprego com

está em vigor, se adequam aos desafios

empresas de bens não transacionáveis.

novas profissões, dado que a “fábrica”

dos nossos tempos. Mais do que uma

A forte ligação com empresas de bens

produz cada vez mais com mão-de-

Lei de Bases do Sistema Educativo,

transacionáveis tem de ser potenciada,

obra qualificada reduzida, podemos

devíamos ter uma Lei de Qualificação

inclusive nos aspetos da conectividade e

ultrapassar a crise. Têm a palavra o

dos Portugueses. O passado serve para

mobilidade da Região. Seria um crime -

ambiente, a cultura, as profissões

alimentar o futuro, não para ser repetido.

até no domínio do pensamento - se não

derivadas de um relacionamento criativo

É necessário recordar que Portugal,

fortalecermos a intensidade dessa ligação.

entre gerações. E se a riqueza aumenta

no European Innovation Score Board,

com menos intérpretes, ela não pode ser

está entre os primeiros países da União

O grau de orientação exportadora do

concentrada em alguns e o poder político

Europeia na criação do conhecimento,

País só aumentará se diversificarmos

não pode ser dominado pelo poder

mas nos últimos na transformação deste

mercados, se melhorarmos a qualidade

económico. Afinal temos de contribuir

em bens económicos e culturais.

dos produtos e os tornarmos mais

para que os cidadãos portugueses vivam

atrativos… Mas também precisamos de

uma vida digna de ser vivida como já nos

uma nova vaga exportadora que deve

dizia Marcuse.

integrar o desenvolvimento da economia


15

percursos honoris causa

Onésimo Teotónio Almeida “Leitor omnívoro e viajante incansável” Honoris Causa pela UA

fotógrafo: Tiago Patrício

“Rideo, ergo sum” - “Eu rio, logo existo” afirma, sobre si próprio, Onésimo Teotónio Almeida no título de uma das suas crónicas. A Universidade de Aveiro atribui o Honoris Causa a 16 de dezembro, no dia em que comemora o 40º aniversário, a este professor da Brown University. A madrinha será Isabel Alarcão, antiga Reitora e professora aposentada do Departamento de Educação.

“Gosto de humor em qualquer situação. É uma ótima ferramenta

impressivo conhecimento que procede quer do “diálogo”

para sublinhar uma ideia, torna-a mais interessante”, esclareceu

privilegiado que mantém com autores - designadamente com

o autor e investigador numa entrevista ao jornal “i”. “Dotado de

José Rodrigues Miguéis, de que é o grande especialista”,

uma personalidade complexa e multifacetada, “sincrónico e

entre outros expoentes máximos da literatura portuguesa, e da

diacrónico”, conversador inveterado, “devorador de paisagens”,

literatura açoriana em particular. Em “O Pensamento Português

professor de cultura e “passador” de culturas, idiossincrático,

Contemporâneo (1890-2010)”, de Miguel Real, o ensaísta e

irónico, impossível de catalogar, Onésimo Teotónio Almeida é,

professor pertence, com Teófilo Braga, Antero de Quental e

segundo Eugénio Lisboa, “um infatigável viajante, no mais lato

José Enes, ao grupo de quatro pensadores de origem açoriana

sentido da palavra “viajante”: atravessa oceanos, rios, lagos,

e é analisado em mais de trinta páginas.

continentes, países, cidades, praias, mas atravessa, com igual ímpeto e brio, livros, línguas, culturas, literaturas e filosofias. De

Há vários anos que colabora com a Universidade de Aveiro.

tudo isso nos dá depois conta nas suas crónicas ou diacrónicas,

Leciona aulas ou seminários a convite de docentes da UA,

nas quais, com uma desenvoltura fácil ou com uma força leve,

participa em colóquios, integra o Conselho Científico da RUA-L,

nos oferta, aos baldes, sabedoria séria assim como quem se

desempenha o papel de conselheiro no âmbito da elaboração

diverte (e nos diverte)”, explica o texto que justifica a atribuição

de projetos de investigação e integra o Painel Internacional de

do título de Doutor Honoris Causa pela UA.

Acompanhamento da Escola Doutoral. O professor de História Cultural e Intelectual Portuguesa na Brown University fundou e

Académico, ensaísta, autor de contos e crónicas, cultiva e

dirige a editora Gávea-Brown dedicada a obras, em inglês, de

vive, através da escrita e da sua atividade de divulgação e de

literatura e cultura portuguesas.

investigação, a teia que estabeleceu entre as suas raízes nos Açores, a comunidade portuguesa emigrada nos EUA, a vida

Onésimo Teotónio Almeida é um açoriano de S. Miguel,

académica, Portugal e o mundo. Onésimo Teotónio Almeida é

nascido em 1946. Está radicado nos EUA desde 1972 e

autor de várias obras e de mais de duas centenas de ensaios

é professor no Departamento de Estudos Portugueses e

publicados em Portugal, EUA, Brasil, França e Inglaterra,

Brasileiros da Brown University, Departamento que ajudou

“surgindo, incontornavelmente, no espaço cultural português,

a fundar e que dirigiu. Naquela universidade americana

como um dos grandes pensadores e prosadores da atualidade”,

completou o MA e o PhD, ambos em Filosofia, após a

refere-se também no texto justificativo da atribuição do

licenciatura na Universidade Católica Portuguesa em 1972.

Doutoramento Honoris Causa. Neste texto, considera-se

Entre várias distinções e prémios, recebeu o título Oficial da

ainda que “no seu labor crítico-interpretativo, conflui um

Ordem do Infante D. Henrique.


linhas

dez 2013

Petrobrás e Galp Energia em destaque na UA

José Formigli e Ferreira de Oliveira recebem Honoris Causa É um Doutoramento Honoris Causa inédito no país. A distinção vai ser atribuida pela Universidade de Aveiro a um projeto que é

de Santa Catarina, no Brasil, apontava para a existência de

hoje o maior desafio para a engenharia e gestão industrial do planeta - a Exploração de Recursos Energéticos no Pré Sal Brasileiro. A atribuição do título - em Engenharia e Gestão Industrial - a José Formigli e a Manuel Ferreira de Oliveira, administradores, respetivamente, da Petrobrás e da Galp Energia, pretende homenagear o empreendimento das duas empresas que, em parceria, têm a cargo a exploração de grande parte daqueles recursos naturais do Brasil. Os títulos vão ser entregues a 9 de janeiro.

uma nova e extraordinária província petrolífera em terra de Vera

Gestão e Engenharia Industrial (DEGEI). Por isso, aponta

Cruz. Atualmente calcula-se que essas reservas energéticas

o responsável, a proposta de entrega dos graus de Honoris

possam permitir ao país atingir a produção média diária de

Causa a José Formigli e a Ferreira de Oliveira, uma ideia de

aproximadamente 3,4 milhões de barris por dia de petróleo em

Joaquim Borges Gouveia, investigador no DEGEI e diretor

2017. Um número que tornará o Brasil no sexto maior produtor

do Departamento até meados de 2012, “é uma homenagem

mundial de petróleo.

ao maior projeto do mundo, o da exploração de petróleo

A descoberta, em 2007, de acumulações de petróleo e gás natural em reservatórios situados na camada do Pré Sal, uma área submersa que se estende do litoral do Espírito Santo ao

no Pré Sal brasileiro”. Um empreendimento que tem nos No entanto, os 300 quilómetros que separam a localização

gestores de ambas as companhias, impulsionadores de

das reservas da linha de costa e os 5 a 7 mil metros de

relevo na sua consolidação.

profundidade a que se encontram os depósitos são apenas alguns dos desafios que separam os reservatórios de uma

As distinções, apoiadas não só pelo DEGEI mas também pelos

exploração que, financeiramente, compense. A trabalharem em

departamentos de Química, Engenharia Mecânica, Engenharia

conjunto em várias frentes no campo da energia, a brasileira

de Materiais e Cerâmica, Geociências, Biologia e Ambiente e

Petrobrás e a Galp Energia são atualmente parceiras na

Ordenamento pretendem sublinhar também duas empresas

exploração de petróleo em vastas áreas no Pré Sal.

que, por forte ação dos dois administradores, são responsáveis pela estreita cooperação científica e técnica com as

“Trata-se de um projeto de enorme arrojo para a Engenharia,

universidades portuguesas e brasileiras no desenvolvimento de

e que engloba muitas das suas especialidades, e um desafio

conhecimento avançado e na formação qualificada de recursos

para a Gestão nas suas componentes mais relevantes”,

humanos para que a Galp Energia seja um parceiro

lembra Carlos Costa, diretor do Departamento de Economia,

de relevo da Petrobrás.


17

percursos honoris causa

A complexidade tecnológica que está associada ao empreendimento, que em quase todas as fronteiras está no limiar do desenvolvimento de novas tecnologias, a base logística necessária para explorar aquela área geográfica, a necessária articulação com fornecedores de bens, serviços e ciência e o grande interesse económico e tecnológico que este desafio desperta na comunidade científica e industrial de ambos os países fazem deste projeto um precioso campo para atrair tudo o que de melhor produz a Engenharia e Gestão Industrial. No ano em que o Departamento assinala José Miranda Formigli Filho

Manuel Ferreira de Oliveira

Carlos Costa, “com estas distinções

É um dos nomes maiores da Petrobrás,

Presidente Executivo da Galp Energia

podemos comemorar condignamente

a empresa brasileira que é uma das

desde 2006, Ferreira de Oliveira é

a data e prestigiar esta área disciplinar

potências mundiais no setor energético.

licenciado em Engenharia Eletrotécnica

da UA que tão importante tem sido

Administrador com o pelouro de

pela Universidade do Porto, tem o grau

para dotar as empresas, não só do país

Exploração e Produção, a maior Unidade

de Master of Science e é doutorado em

como também da restante Europa, de

de Negócios da Petrobrás, José Formigli

energia pela Universidade de Manchester.

quadros especializados com excelente

entrou para a empresa em 1983, trilhando

Tem também formação em gestão no IMD

formação académica”.

desde então um percurso na área da

(Lausanne, Suíça), bem como em Harvard

exploração e produção petrolífera.

e na Wharton Business School (EUA).

o 25º aniversário da criação do curso de Engenharia e Gestão Industrial, sublinha

“A área de Engenharia e Gestão Industrial

Viveu 15 anos entre a Venezuela e o Reino

é, hoje em dia, um ramo científico

José Formigli é engenheiro civil formado

Unido ao serviço da PDV - Petróleos de

autónomo com afirmação mundial e

pelo Instituto Militar de Engenharia,

Venezuela e da BP.

encarna a integração de conhecimento

pós-graduado em análise matricial de

que se exige para qualquer projeto

estruturas pela Universidade do Estado do

Enquanto responsável pela Galp, Ferreira

de dimensão relevante, seja ao nível

Rio de Janeiro e tem um MBA em Gestão

de Oliveira tem sido um impulsionador de

individual seja ao nível da empresa”,

Empresarial pela Universidade Federal do

relevo na consolidação da Galp e na sua

lembra Joaquim Borges Gouveia. “A

Rio de Janeiro. Com uma experiência de

parceria com a Petrobrás e um promotor

Engenharia e Gestão Industrial tem por

três décadas na empresa brasileira, José

no espaço lusófono de estreitas relações

base a análise, o projeto, o desempenho

Formigli já ocupou diversas posições de

de cooperação científica e técnica com as

e o controlo de sistemas integrados

gerência, todas relacionadas com a área

universidades portuguesas e brasileiras,

de pessoas, materiais, equipamentos

de Exploração e Produção.

seja no desenvolvimento de conhecimento

e energia”, acrescenta o investigador.

avançado, seja na formação qualificada de

Assim, no projeto do Pré Sal, “adquirem

Em 2008, José Formigli foi nomeado

enorme relevância áreas científicas em

gerente executivo da área criada para

que a academia de Aveiro tem vindo a

o planeamento e desenvolvimento

Professor catedrático convidado do

revelar uma grande capacidade científica

das descobertas do pré sal, ficando

Departamento de Economia e Gestão

e um prestígio mundial como é o caso da

responsável pela gestão de todo o

Industrial da Universidade de Aveiro

Química, dos Materiais, da Geologia, do

programa de desenvolvimento da

- desde 2007/2008 e a título gracioso

Ambiente ou da Biodiversidade”.

produção dessas áreas. Um cargo que

- Ferreira de Oliveira é presidente do

recursos humanos.

é um dos de maior responsabilidade na

Conselho Científico e Tecnológico do

Assim, e mais uma vez, a UA diz

empresa, já que foi responsável pelo

Instituto de Petróleo e Gás e membro

“presente” quando os verbos são inovar,

desenvolvimento da exploração na

do Conselho Geral do Fórum de

transferir conhecimento e cooperar.

camada do PRÉ SAL na Bacia de Santos.

Administradores de Empresas.


linhas

dez 2013

As empresas precisam? A UA tem! No princípio era o verbo. Na Universidade de Aveiro eram as empresas. Numa região onde há 40 anos atrás o tecido empresarial estava sôfrego de profissionais especializados e de novas metodologias para inovar, crescer e multiplicar-se, a certidão de nascimento da academia de Aveiro foi carimbada especificamente para colmatar essas lacunas. Se no princípio eram as empresas ligadas à cerâmica, à eletrónica, às telecomunicações e ao ambiente quem mais carecia dos recém-diplomados da UA, hoje não só o leque se desdobrou para os materiais e a nanotecnologia, o mar, a mecânica, a química e o setor agrolimentar, o turismo, o ordenamento do território ou a saúde, como a academia deixou de ser apenas um viveiro de quadros especializados orientados para as necessidades socioeconómicas da região. Quatro décadas depois de nascer, pelo cordão umbilical que liga

Na cooperação com os atores das empresas, a UA

hoje a UA ao - literalmente - mundo empresarial, a academia não

tem, atualmente, nas suas fileiras uma dezena de

só forma profissionais que se espalham por empresas de todo

unidades de interface, cuja principal missão é fomentar o

o planeta, como transfere conhecimento e tecnologia, apoia o

empreendedorismo e transferir o conhecimento produzido nos

empreendedorismo e a inovação e presta serviços e estudos. Tal

laboratórios, convertendo-o em valor económico, quer para as

como no princípio, os verbos continuam a ser inovar, transferir e

empresas, quer, naturalmente, para a própria academia.

cooperar sempre e cada vez mais e melhor.

A Incubadora de Empresas da Universidade de Aveiro (IEUA) e a Unidade de Transferência de Tecnologia (UATEC) surgem à

“A UA nasceu para ser um centro de saber aberto ao

cabeça dessas unidades.

tecido económico, social e cultural e para contribuir para o desenvolvimento da região de Aveiro e do país”, reforça Carlos

Uma incubadora para o século XXI

Pascoal Neto, Vice-reitor da academia. E a missão primordial

A IEUA, criada em 1996, tem inscrito no seu ADN uma

está bem presente nas grandes dimensões da instituição:

missão de peso. “A IEUA incentiva e apoia a criação,

ensinar, investigar e transferir conhecimento. “No ensino sempre

o desenvolvimento e o crescimento sustentado de projetos

tivemos uma oferta muito orientada para as necessidades do

empresariais inovadores, através da promoção de ações

tecido empresarial e para a investigação, coabitando com a

de capacitação para o empreendedorismo e da disponibilização

que é fundamental a qualquer entidade que se dedica à ciência,

de espaços para a incubação de empresas, de serviços de

temo-la muito direcionada para a aplicação, desenvolvimento

apoio ao empreendedorismo e de uma rede de parceiros

de produtos e processos para a inovação tendo em vista a

orientados para a criação de valor e para a concretização

transferência desse conhecimento para o tecido empresarial”,

de ideias de negócio”, explica o diretor-geral da IEUA,

aponta o responsável.

Celso Carvalho.


19

dossier

Ao longo dos seus 17 anos de atividade a IEUA apoiou a criação

enfoque à valorização e comercialização de conhecimento

de 54 empresas, sendo que 18 ainda estão incubadas e serão

produzido no seio da comunidade académica. “Os resultados

responsáveis, numa previsão para 2013, pela criação de 103

da investigação científica, cada vez mais orientada para as reais

postos de trabalho e por uma faturação superior a 4,5 milhões de euros anuais. “Os indicadores de desempenho de 2013, face a 2010, (mais 106 por cento de empresas em incubação, mais de 212 por cento de postos de trabalho das empresas em incubação e mais de 425 por cento do volume de negócios das empresas em incubação) e o número crescente de ideias de negócio em pré-incubação (atualmente são sete) e de candidaturas à IEUA permitem concluir que o apoio prestado é relevante e aporta valor para a sociedade”, garante Celso Carvalho. O suporte da Incubadora é concretizado através do IEUA

necessidades das empresas, podem e devem ser absorvidos

Start, um programa de incubação que tem a duração mínima

por estas, com vista a aumentar a sua competitividade,

de 25 semanas e máxima de 150 semanas, e que inclui

possibilitando-lhes vingar num mercado cada vez mais

um período de pré-incubação para ideias de negócio. As

exigente”, diz José Paulo Rainho.

empresas que concluem com sucesso este programa, as denominadas empresas IEUA Graduadas, ficam capacitadas

Outra área de intervenção, na qual a ligação da academia com

para desenvolverem a sua atividade de forma autónoma. No

as empresas está bem visível, prende-se com “a inovação e

entanto, estas têm ainda a possibilidade de se candidatarem ao

o desenvolvimento de projetos em cooperação, copromoção

IEUA Graduate, um programa de 100 semanas orientado para a

e prestações de serviços, nos quais a UATEC tem um papel

alavancagem de empresas.

preponderante, não só na auscultação das necessidades das empresas, mas também na identificação dos membros

Os inúmeros prémios entregues às empresas em incubação e

da academia com competências técnico-científicas para dar

o terceiro lugar alcançado pela IEUA nas categorias “Fastest

resposta às referidas necessidades”.

Growth” e “Self Sustainability” do Best Science Based Incubator Award 2013, que decorreu em novembro último, atestam o

No futuro, antevê o diretor da unidade, “a estratégia da UATEC

precioso trabalho da estrutura da academia em prol da criação

passa por dar continuidade ao trabalho já iniciado, dando sempre

de um tecido empresarial mais inovador, mais competitivo e

a conhecer às empresas o que de melhor se faz na Universidade,

gerador de mais riqueza e emprego.

não só ao nível da investigação científica, mas também ao nível dos projetos realizados em parceria com a indústria”.

Soluções para todas as indústrias Em relação à UATEC, criada em 2006, esta tem como principal

A Associação para a Formação Profissional e Investigação

papel apoiar os direitos de propriedade intelectual de invenções

da Universidade de Aveiro, a Fábrica Centro Ciência Viva

resultantes de trabalhos de investigação da academia e

de Aveiro, o Gabinete de Estágios e Saídas Profissionais,

cativar as empresas para a sua aquisição. Paralelamente, a

o Instituto do Ambiente e Desenvolvimento, o Laboratório

UATEC fomenta e apoia o empreendedorismo na comunidade

Central de Análises, o Laboratório Industrial da Qualidade e

académica, com especial enfoque para o de base tecnológica,

a Unidade Integrada de Formação Continuada completam

fazendo ainda de elo de ligação entre as necessidades das

a lista das unidades de interface com que a UA abre os

empresas e as soluções da academia.

braços não só às empresas mas às instituições em geral e à qual se junta ainda o Creative Science Park – Aveiro

Só nos últimos anos, através da UATEC, foram dinamizados cerca

Region. Formação profissional, ajuda na disseminação de

de uma centena de projetos que correspondem a 11 milhões de

novas áreas de conhecimento e do empreendedorismo,

euros de investimento apoiados pelos diferentes programas de

apoio às necessidades ambientais, análise de projetos

financiamento nacionais e internacionais.

elétricos, equipamentos desportivos e maquinaria industrial, promoção da aprendizagem permanente e ao longo da

“A ligação da UA com o tecido empresarial é um dos principais

vida entre a sociedade e prestação de serviços de análises

propósitos da Unidade”, aponta José Paulo Rainho, diretor da

físico-químicas são apenas alguns dos objetivos destas

UATEC. No cumprimento da missão, o responsável dá especial

unidades. Se as empresas precisam, a UA tem.


linhas

dez 2013

A PORTA DE ENTRADA DAS EMPRESAS NA ACADEMIA

É por excelência o balcão de acesso das empresas à UA. Dá pelo nome de Gabinete Universidade-Empresa (GUE) e tem por missão receber os empresários e, dependendo das necessidades apresentadas, encaminhá-los para as unidades de interface mais apropriadas.

“O GUE é a ‘via verde’ para a entrada das entidades externas, nomeadamente das empresas, na UA”, explica Paula Seabra, responsável pelo Gabinete. Ao GUE as solicitações dos empresários chegam diariamente. A lista, descreve Paula Seabra, vai desde “o desenvolvimento de projetos de investigação à realização de análises e serviços de consultadoria”. Na área da formação e emprego, por exemplo, “recebemos constantemente um número muito significativo de ofertas de estágios extracurriculares e curriculares e de vagas para os quadros das empresas”.

O volume crescente de solicitações com o endereço do GUE, aponta a responsável, “é fruto dos contactos realizados pelo

Plataformas Tecnológicas: agrupar para melhor distribuir

Gabinete com o setor empresarial e, também, do facto da UA

A mais recente aposta da UA para reforçar a ligação

ter decidido criar em 2011 um interlocutor privilegiado para as

ao tecido empresarial surgiu em 2012. Sob o nome

empresas, o Portefólio de Competências e Serviços da academia”. Em dois anos de existência o respetivo site (http://portefolio.ua.pt/)

de Plataformas Tecnológicas, foram criadas para dar

já teve dezenas de milhares de visitas. Cerca de 12 por cento das

resposta às necessidades concretas dos setores chave

pesquisas realizadas ao Portefólio online foram efetuadas fora de

da economia nacional. Acompanhadas e apoiadas

Portugal, a partir de 72 países.

pela Reitoria, através da UATEC, e dinamizadas

Dinamizado pelo GUE, o Portefólio de Competências e Serviços

por equipas multidisciplinares de investigadores e

da UA resulta de um levantamento exaustivo do vasto leque de

docentes, as Plataformas têm em mãos a missão de

competências e de serviços instalados na academia. Na prática, trata-se de um catálogo integrado e de fácil acesso a todas as

desenvolverem projetos, produtos e serviços para as

valências existentes na Universidade. No portal do Portefólio de

empresas associadas às três plataformas já criadas:

Competências e Serviços são disponibilizados às empresas e

a Agroalimentar, a do Mar e a dos Moldes. Seguir-

demais entidades do tecido económico as competências e serviços

se-á, muito em breve, a criação de novas plataformas

de cada departamento, escolas politécnicas, unidades de investigação e unidades de interface da UA.

tecnologicas em áreas estratégicas da UA e de relevo para e economia da Região.

Concebido a pensar sobretudo nas empresas, autarquias e outras entidades públicas e privadas que pretendam conhecer e usufruir

No caderno de missões das Plataformas surge

das competências e dos serviços que a UA disponibiliza, o Portefólio

como prioritário o reforço da ligação da UA ao

pretende facilitar e dinamizar a interação entre a UA e as entidades

setor empresarial nas áreas estratégicas do

externas. “Pretendemos [com o Portefólio] reforçar a nossa ligação

futuro Parque de Ciência e Inovação, reforçar a

aos agentes económicos. Tal só é possível na medida em que as empresas tenham conhecimento cabal dos nossos serviços,

visibilidade das competências da academia em

infraestruturas, peritos e capacidades”, aponta Carlos Pascoal Neto.

Investigação e Desenvolvimento Tecnológico e

Não menos importante neste contexto, sublinha o Vice-reitor, “é a

promover o aparecimento de projetos de investigação

divulgação dos serviços da UA no que diz respeito ao apoio à inserção profissional dos diplomados junto destas entidades”.

aplicada em consórcio, com potencial para originar processos e tecnologias inovadoras que possam ser endogeneizadas pelo tecido empresarial.


21

dossier

Mar Portugal tem uma das Zonas Económicas Exclusivas e uma das plataformas continentais mais extensas do mundo. Por isso, inevitavelmente, a criação da Plataforma Tecnológica do Mar era um imperativo, ainda para mais numa Universidade que tem nas Ciências e Tecnologias do Mar um dos polos de desenvolvimento estratégico. “Sendo a economia do mar uma das áreas estratégicas de desenvolvimento económico e social do país, existem Agroalimentar

Moldes

enormes oportunidades de investigação,

“A Universidade de Aveiro conta com

Oitavo maior produtor mundial de

de desenvolvimento tecnológico e de

um grupo de investigação em Química e

moldes, com exportações para mais

inovação neste domínio que exigem uma

Bioquímica dos Alimentos reconhecido a

de 70 países, Portugal é um importante

aproximação multidisciplinar e uma forte

nível nacional”, aponta Ivonne Delgadillo,

ator internacional neste setor. A indústria

ligação entre as Universidades, Institutos

responsável pela Plataforma Tecnológica

nacional dos moldes tem mais de

de Investigação, o setor empresarial e a

Agroalimentar e investigadora do

500 empresas e emprega cerca 7500

Administração Central, Regional e Local”,

Departamento de Química. E se a

pessoas. “As empresas do setor, de

aponta Luis Menezes Pinheiro, coordenador

eles se juntarem “o elevado número

modo a garantirem a sua sustentabilidade

da Plataforma Tecnológica do Mar. Nesta

de docentes e investigadores que

a longo prazo, precisam de continuar a

área, indica o investigador do Departamento

desenvolvem trabalhos, nas mais

evoluir técnica e tecnologicamente e de

de Geociências, a UA já navega em mar

diversas áreas científicas suscetíveis

reforçar a aposta na qualificação dos

alto sustentada “numa série de valências

de serem utilizados ao longo de toda

seus recursos humanos”, diz Mónica

interdisciplinares bem afirmadas a nível

a fileira agroalimentar”, começa-se a

Oliveira, investigadora do Departamento de

nacional e internacional, que vão desde

desenhar o porquê da aposta da UA

Engenharia Mecânica da UA e responsável

o estudo integrado e multidisciplinar de

numa plataforma tecnológica neste

pela Plataforma Tecnológica dos Moldes.

sistemas, recursos e riscos estuarinos,

campo. A justificação final vem do

Neste contexto, a Plataforma, para além

costeiros e do mar profundo, à sua avaliação

próprio Ministério da Economia - “a

de reforçar a missão da UA enquanto

ambiental e desenvolvimento sustentável”.

agricultura foi o setor que mais contribuiu

entidade associada na gestão do Pólo de

para a criação de postos de trabalho

Competitividade Engineering & Tooling

Assim, esta Plataforma quer maximizar

do primeiro para o segundo trimestre

que operacionaliza o Plano Estratégico

não só as valências existentes na

de 2013” - e do retrato das indústrias

para Setor de Moldes e Ferramentas

UA nos vários domínios do saber

transformadoras portuguesas onde 16

Especiais em Portugal, “é um agente

aplicados às Ciências e Tecnologias

por cento são alimentares.

dinamizador e facilitador dos diferentes

do Mar, governação e desenvolvimento

intervenientes deste setor industrial, de

sustentável, como também

“Os objetivos imediatos da Plataforma

forma a alavancar de forma sustentável a

estabelecer parcerias com o setor

Agroalimentar passam por estruturar e

sua competitividade”.

empresarial, entidades portuárias e da

coordenar as diversas atividades que

Administração. Para além de numerosos

são desenvolvidas na UA e que podem

Enquanto agente da academia,

trabalhos de investigação já em curso

ser utilizadas pelo setor agroalimentar

diz Mónica Oliveira, a Plataforma

com os parceiros da Plataforma,

por forma a conseguir oferecer serviços

“disponibiliza-se para reunir equipas

esta está já a lançar candidaturas a

e produtos ao longo da cadeia produtiva,

multidisciplinares recetivas aos

financiamento de projetos conjuntos,

desde os produtos agrícolas até ao

desafios de uma indústria competitiva

desenvolveu atividades de formação

consumidor”, explica a investigadora. As

e inovadora”. Para ajudar a cumprir

de recursos humanos em ambiente

ações de divulgação das capacidades

essa premissa “temos procurado

empresarial e lecionou cursos

da academia no setor junto dos

compreender as necessidades do

avançados para a indústria do setor, em

produtores e empresários nacionais já

setor” através de visitas a empresas e

particular nos domínios da aquicultura,

estão em marcha.

organização de seminários.

portos e recursos energéticos.


linhas

dez 2013

Aula dos 1.os alunos da UA no Anfiteatro do Bloco Escolar do Centro de Estudos de Telecomunicações

Telecomunicações e Cerâmica: as parteiras da academia Em 1973 Veiga Simão, Ministro da Educação, assinou

Desde logo, a parceria resultou na primeira oferta formativa

o decreto que autorizava a cidade de Aveiro a erguer a

da UA na área das Tecnologias de Informação, Comunicação

Universidade. O objetivo do documento não deixava margem

e Eletrónica e no Bacharelato em Telecomunicações que,

para dúvidas quanto ao porquê de fazer nascer entre as

rapidamente, evoluiu para licenciaturas, mestrados e

universidades seculares de Coimbra e do Porto uma instituição

doutoramentos nesses domínios.

de ensino superior. Em mãos, Veiga Simão tinha estudos que apontavam que o tecido empresarial da região centro, mais

UA e PT Inovação, uma parceria exemplar

concretamente o ligado à eletrónica e telecomunicações e

No contexto da relação UA/PT Inovação salienta-se a

à cerâmica, precisava de ajuda, na forma de profissionais

criação, em 1993, de uma infraestrutura determinante

qualificados, para crescer. Por isso, a semente da nova

na relação das duas instituições e na evolução das

academia só foi plantada muito por força dessas empresas.

Telecomunicações na Região de Aveiro e em Portugal,

E com elas germinou e cresceu.

o Instituto de Telecomunicações (IT) e, em particular o Polo de Aveiro. Desde então, foram inúmeros os projetos

A criação, no início da década de 70, do Centro de Estudos de

de investigação e desenvolvimento tecnológico (I&DT),

Telecomunicações (CET) - a instituição que daria origem à PT

nacionais e europeus, em que a UA/IT e a PT Inovação

Inovação - foi decisiva para conquistar a assinatura de Veiga

foram pioneiros, nomeadamente no desenvolvimento e

Simão tal era o potencial económico para o país de se apostar

implementação de infraestruturas de banda larga e redes

no mercado mundialmente emergente das telecomunicações,

de fibra ótica, bem como de produtos e serviços avançados

assim houvesse especialistas à altura. A missão de os formar

de telecomunicações e serviços digitais de apoio às áreas

constituiu o primordial papel da UA.

económica, social, cultural e administrativa.

A empresa serviu mesmo de berçário à nova academia que

Cerca de 50 dissertações de mestrado e 20 de doutoramento

teve nas suas instalações as primeiras salas de aula. De forma

com orientação conjunta e uma centena de estágios

decisiva, o CET influenciou a estruturação do núcleo inicial dos

profissionais só nos últimos dez anos ajudam também

departamentos e das áreas académicas e de investigação.

a justificar a escolha da COTEC Portugal - Associação


23

dossier

Empresarial para a Inovação que, em novembro último, entregou à UA e à PT Inovação o 1º lugar do concurso Casos

SOARES DOS SANTOS APELA AOS EMPRESÁRIOS:

Exemplares de Cooperação Universidade-Empresa.

“DEIXEM-SE CONTAGIAR POR ESTA DINÂMICA”

A associação terá tido também em conta os 140 milhões de

É um caso único no ensino politécnico português quando o tema

euros de investimento em projetos de I&DT, com financiamento

é a formação de profissionais à medida da exata necessidade das

externo, e os 4,8 milhões de euros de contratos de

empresas. Num trabalho conjunto, a UA e o Grupo Jerónimo Martins

transferência de tecnologia, com financiamento direto da PT

(JM) adaptaram o plano de estudos da Licenciatura em Comércio da

Inovação à academia de Aveiro, ao longo dos últimos 40 anos.

Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda (ESTGA) de forma a que os estudantes adquiram as competências apontadas pelos

Para a história, quer da UA quer da PT Inovação, fica o

empregadores como importantes para o exercício da profissão de

simbolismo da criação de uma Universidade dentro de

gestor comercial. A parceria entre as duas instituições, assinada em

uma empresa, um cenário sem paralelo em Portugal, e que

2012, corresponsabiliza também a JM pelo próprio funcionamento

acabaria por ditar um destino conjunto recheado de sucesso.

do curso da academia de Aveiro. Nesse sentido, e anualmente, a multinacional portuguesa acolhe

Do barro se fez a força dos materiais

nas suas empresas os alunos da Licenciatura em Gestão Comercial

Fortemente implantada na região de Aveiro, também a

(em regime de estágio), nomeia quadros de topo para acompanharem

indústria cerâmica mereceu especial atenção da jovem

individualmente os estudantes em programas tutoriais e disponibiliza

academia. Uma atenção que, mais uma vez, foi recíproca.

65 mil euros para financiar uma cátedra internacional convidada.

O Departamento de Cerâmica e do Vidro (DCV), criado

“A crescente colaboração entre as Empresas e as Universidades é

em 1976 para responder às necessidades decorrentes do

absolutamente crucial para o desenvolvimento da sociedade e da

desenvolvimento tecnológico que o processo de fabrico de

economia do país como um todo”, aponta Alexandre Soares dos

produtos cerâmicos e vítreos exigia, rapidamente se envolveu

Santos, presidente do conselho de administração da JM. “É preciso

em parcerias com a indústria do setor.

criar um novo paradigma de envolvimento entre o mundo universitário e o mundo empresarial, aproximando-os numa colaboração mais ativa

A Associação de Apoio à Cerâmica (AAC), a primeira

com vista à formação daqueles que, potencialmente, virão a ser os seus

associação em Portugal a juntar uma instituição de

futuros colaboradores”, acrescenta o empresário.

ensino superior à indústria, e que envolveu inicialmente

E foi a partir dessa convicção que a JM e a ESTGA desenvolveram

a UA e 25 empresas, foi um dos grandes motores para

o trabalho conjunto de revisão e alteração de conteúdos

o desenvolvimento do DCV e, consequentemente, para

programáticos da Licenciatura em Gestão Comercial, “inspirados

catapultar o setor. Em contrapartida ao apoio financeiro

pela visão de contribuir para uma melhor adequação do ensino à

prestado pela Associação ao DCV na hora de equipar os

realidade e às necessidades do mundo das empresas”. Em suma,

laboratórios, o Departamento passou a prestar consultadoria

acrescenta Soares dos Santos, “pretende-se que os alunos aliem

e ensaios laboratoriais às empresas sócias da AAC.

os seus conhecimentos teóricos e a aprendizagem dos conteúdos curriculares a experiências concretas de learning by doing que

“Do apetrechamento do Departamento recordo, pela

facilitem a integração no mercado de trabalho, com benefícios ao

importância, a compra do primeiro microscópio eletrónico de

nível do aumento dos índices de produtividade”.

varrimento adquirido no país - o precursor dos laboratórios

E os resultados começam a saltar à vista. “Num contexto nacional de

atuais de microscopia eletrónica da UA - adquirido com 50 por

redução do número de alunos que se candidataram ao ensino superior,

cento de participação da AAC e 50 por cento de participação

a Licenciatura de Gestão Comercial lecionada nesta Escola preencheu

da Fundação Gulbenkian”, aponta João Lopes Batista.

[este ano letivo] todas as vagas disponíveis, o que contraria a tendência registada em anos anteriores”, lembra Soares dos Santos.

Encarregado de desenvolver o DCV desde o nascimento

Por outro lado, o empresário sublinha que “também para as

da UA, o professor, que haveria de ocupar o cargo de

empresas a proximidade com a comunidade académica é de suma

Vice-reitor, lembra que “a Associação teve também um papel

importância, na medida em que lhes permite acompanhar de perto

fulcral na inserção dos alunos na indústria, primeiro na forma

os mais recentes progressos na investigação e no conhecimento”.

de estágios e depois na integração dos recém-formados nos

Nessa certeza, Soares dos Santos deixa um recado: “Apelo

quadros empresariais”.

às empresas para que se deixem contagiar por esta dinâmica e procurem formas de cooperação com as universidades que resultem em claras vantagens para ambas as partes e se traduzam em progresso para Portugal”.


linhas

dez 2013

É filho das dificuldades de um país desigual. Apesar disso – ou por causa disso – cresceu descontraído com o futuro. O que tivesse que acontecer, aconteceria que Júlio Pedrosa daria certamente conta do recado. Assim fez ontem, assim calcorreia hoje a viagem da vida. Nas incontáveis oportunidades que lhe surgiram ou que soube criar, abraçou a Química, foi Reitor da Universidade de Aveiro e Ministro da Educação. Este é o telegrama possível, que muito peca por escasso, de uma jornada de 67 anos dedicada ao Ensino e à Investigação mas também à ação cívica em prol dos outros. Poderia ter sido pedreiro, filósofo ou economista com a mesma naturalidade com que hoje é um pensador de referência quando o assunto é a Educação. O vinho que começou a produzir recentemente na quinta que tem na Lapinha, no concelho de Armamar, serve para reafirmar “a ligação ao mundo da aldeia”. Afinal, um estado de alma que nunca abandonou.

Júlio Pedrosa

40 anos ao serviço da UA

Nasceu em 1945 perto de Cadima, uma aldeia do concelho de

que, para um menino de qualquer aldeia, estudar representava

Cantanhede, num pequeno lugar chamado Estação de Lemede,

um esforço financeiro para as economias domésticas.

espaço de despedidas e receções, onde via o pai, ferroviário, partir e regressar a casa de comboio uma vez por semana.

“Da minha turma, só eu e um colega é que fomos além da

Com a mãe, professora do ensino primário, descobriu cedo que

quarta classe”. Júlio e o irmão tiveram sorte. Júlio Pedrosa

a Educação era um mundo bem maior do que aquele que os

guarda bem as memórias de um sistema de ensino com malhas

olhos de menino viam na sala de aula e no recreio. Um mundo

demasiado apertadas para acolher os meninos pobres.

que podia ser extremamente injusto para com os meninos do Portugal rural e atrasado de meados do século XX.

“Não era uma vida fácil”, sublinha. Mas nunca quis fugir da terra que o viu nascer. “Sempre achei que devia fazer parte

“Uma ou outra vez fui com a minha mãe para a escola onde ela

e ser solidário com o mundo em que vivia estando com eles

trabalhava, que era uma das mais pobres da freguesia, e ficou-me

e trabalhando com eles”, aponta. “Ainda hoje encaro assim a

sempre na memória aquilo que era realmente uma escola de uma

vida, continuo a ter bem presente a nossa aldeia”.

aldeia isolada do nosso país”. O futuro era um verbo que todos os alunos da mãe conjugavam de pés descalços na agricultura,

Do pai recorda uma frase lapidar dita aos dois pequenos

ao lado dos pais. Em casa o pequeno Júlio aprendeu desde cedo

herdeiros que se pode traduzir assim: “Se quiséssemos


25

percurso singular

ascender na vida pela via educativa, o que para os meus pais

durante a semana, era à mãe que cabia o papel de educadora.

era um sacrifício financeiro enorme, tínhamos que fazer o

“Foi muito rigorosa na educação que me deu até a uma certa

nosso esforço porque a alternativa seria trabalhar no mundo da

idade”, relembra. A partir da adolescência tudo mudou: “Senti

construção civil”.

que ela me deixou ser aquilo que eu entendia que era, passou

Os livros nunca deixaram as mãos dos dois irmãos. Mas a alternativa, a de trabalhar na construção civil, jamais assustou ou pressionou Júlio Pedrosa. “Nunca tive durante a vida qualquer problema com esse assunto”, refere. “Sempre pensei que se não conseguisse por uma via seria bem sucedido por outra. A possibilidade de ter de ir trabalhar para a construção civil nunca foi para mim um pesadelo, por isso, sempre fiz a minha vida de estudante descontraído e fazendo sempre outras atividades”, recorda. Ativista, solidário e, afinal de contas, pedreiro Interessado pela vida fora das salas de aula, nunca os estudos foram a única preocupação, muito menos a isolada prioridade de Júlio Pedrosa. “Na véspera de fazer a prova oral de Cálculo Infinitesimal na Universidade de Coimbra (UC), com um professor muito exigente, não prescindi de estar na

Júlio Pedrosa, em Coimbra, com o seu supervisor de doutoramento Robert Gillard

minha aldeia a gerir aquilo que eram as primeiras competições de motociclos da terra”, afirma. Claro que no dia seguinte a

a confiar em mim de uma maneira muito clara e isso deu-me

prestação perante o docente “não foi perfeita” mas suficiente

forma de ir escolhendo sem ter o enquadramento familiar que

para cumprir os dois objetivos, passar e ver Cadima em festa.

me levasse a ir por aqui ou por ali”.

“Isso foi uma constante. Sempre procurei compatibilizar aquilo

Foi também em Coimbra que encontra no MOJAF -

que eram os meus envolvimentos cívicos ou de outra natureza,

Movimento Juvenil de Ajuda Fraterna um bom motivo para

com aquilo que eram as minhas obrigações académicas, até

arregaçar as mangas e dar largas à cada vez maior vontade

porque tinha de apresentar bons desempenhos para continuar a

de dar, de ajudar, de se colocar ao serviço do outro. O

ter a bolsa de estudo”, diz. Manteve essa postura a vida inteira.

Movimento, do qual chegou a ser presidente, construía casas para famílias pobres num terreno cedido por uma

Fez o ensino secundário em Coimbra, no Liceu D. João III. E foi em

pessoa bem conhecida de Coimbra (e afinal, a construção

Coimbra que seguiu para a Universidade em direção à Engenharia

civil passou mesmo pela vida de Júlio Pedrosa). O mesmo

Química. O comboio para lá e para cá, ainda o carregou todos os

grupo de estudantes, aos fins de semana, chamou também

dias entre Cadima e Coimbra. Só no segundo ano da Faculdade,

a si a missão de levar ajuda a pessoas necessitadas do

acreditando que estava garantida a continuação de uma bolsa de

concelho de Coimbra.

estudo da Gulbenkian, alugou um quarto na cidade. Próximas paragens: Universidade de Coimbra e serviço Mas a aldeia não ficava para trás. A Associação Recreativa

militar em Angola

de Cadima que ajudou a dinamizar continuou a contar com a

Em criança sonhava ser, tal como a mãe, professor do ensino

mão amiga de Júlio Pedrosa. Teatro e desporto foram apenas

primário. Mas no final do liceu outro comboio passou e entrou.

algumas das áreas que ajudou a implementar na aldeia. A

A estação seguinte era a da Engenharia Química na Faculdade

Associação e a Juventude Agrária Católica - “sempre fui e sou

de Ciências da UC.

católico” - foram duas das coletividades às quais se vinculou de alma e papel assinado. A independência é um valor do qual não

“Numa conversa com um amigo que tinha escolhido Ciências

abdica. Sempre.

Físico-Químicas, ele falou-me da Engenharia Química como uma área interessante”. Foi o suficiente para se matricular sem

“Talvez seja por não ter tido nunca o enquadramento para sentir

saber muito bem ao que ia. O pai, veio a saber muitos anos

que me devia alinhar por qualquer coisa que limitasse a minha

depois, teria gostado de ver o filho no curso de Economia. “Mas

autonomia”, diz quando questionado sobre o porquê de nunca

ele nunca me fez referência a isso”, refere. Em casa, o jovem

se ter filiado em partidos políticos. Em casa, com o pai ausente

Júlio já era senhor do seu destino.


linhas

dez 2013

No final do 2º ano, durante uma prova oral de Química Orgânica, uma das mais bem sucedidas que teve, o professor desafia-o a mudar para o curso de Físico-Químicas. Acabado de chegar da Alemanha com uma nova área para implementar em Coimbra, a da Química Têxtil, o docente via em Júlio Pedrosa a pessoa ideal para a trabalhar a seu lado. “Aceitei, até porque teria de ir para o Porto ou para Lisboa se quisesse continuar a estudar Engenharia Química”. As finanças sim, que não eram favoráveis a que fosse viver para tão longe de casa, mas, principalmente e mais uma vez, a rede de atividades sociais onde estava metido também pesaram muito na tomada de decisão. Mudou e, já no 3º ano, começou a trabalhar como monitor do investigador. Em 1967, concluído o curso com 22 anos, torna-se assistente

Uma das equipas de futebol da UA em 1978 (Júlio Pedrosa, em baixo, é o 2º à esquerda)

eventual na UC. Com planos para fazer um doutoramento na UC, Júlio Pedrosa “Mas como nunca tinha pensado na vida académica, não

repensa a vida, para na primeira estação à sua frente e

sabia sequer o que queria fazer daí para a frente”. A ausência

apanha novo comboio, desta vez em direção à cidade da

de planos académicos não o preocupava. Mais cedo ou mais

ria. As condições eram claras. A UA dava-lhe luz verde para

tarde, outro comboio haveria de passar rumo a algum lugar.

tirar em Inglaterra um doutoramento em Química, na área da atividade ótica inorgânica, uma especialidade nova em

Certezas, certezas, só o Estado tinha para Júlio Pedrosa: serviço

Portugal e que Victor Gil queria desenvolver em Aveiro. No

militar. Em setembro de 1968 foi para a Marinha. De 1969 até

regresso, com a bagagem carregada de novos caminhos para

1971 esteve em Angola a patrulhar o rio Zaire e a atividade

a ciência, Júlio Pedrosa teria a missão de ajudar à criação do

pesqueira ao largo de Luanda. Um naufrágio na foz daquele rio

Departamento de Química (DQ) e do seu plano estratégico e

devido a um tornado, e ao qual sobreviveu “por grande sorte”, e

de formar uma equipa de investigação em Química Inorgânica.

a solidariedade entre a população são as lembranças africanas

Assim aconteceu. Já com dois filhos, Júlio Pedrosa chega

que lhe saltam num primeiro exercício de memória.

definitivamente à UA em 1977, depois de em 1974, antes de embarcar para a Universidade de Cardiff, aqui ter dado

Universidade de Aveiro, um desafio irrecusável

algumas aulas a trabalhadores dos CTT que eram candidatos

De regresso a Coimbra e à docência, inscreve-se nos dois

ao primeiro curso da academia em Eletrónica

últimos anos da licenciatura em Química - Ramo Científico

e Telecomunicações.

para compensar os três anos de inatividade académica em Angola. É nessa altura que conhece o professor Victor Gil,

Pouco tempo depois é convidado para integrar a comissão

criador do Laboratório de Ressonância Magnética Nuclear da

instaladora do Centro Integrado de Formação de Professores

UC. “Publiquei com ele o meu primeiro artigo científico”, diz.

da UA, cargo que exerceu conjuntamente com o de professor

E isso foi apenas um pequeno pormenor da jornada que esse

no DQ até 1986. “Nesse ano fui para Inglaterra com a

encontro lhe provocou rumo à Universidade de Aveiro.

intenção de fazer um ano sabático e reativar assim a vida na investigação”, lembra. Já estava em Inglaterra quando o

“Um dia o professor Victor Gil diz-me que vai para Aveiro e

telefone toca. Do outro lado da linha Renato Araújo, o terceiro

pergunta-me se não quero ir com ele”, relembra. Convidado

Reitor da UA, queria-o para seu Vice-reitor.

em 1973 pelo então Ministro da Educação Veiga Simão para presidir à comissão instaladora da Universidade, Victor Gil,

“As oportunidades sempre me foram aparecendo ao longo

que haveria de ser o primeiro Reitor da jovem academia, queria

da vida. Limitei-me a escolher as que mais me interessavam”,

desbravar novas áreas científicas em Aveiro. Entre elas a

afirma. Aceitou o convite e regressou a Aveiro em 1987 para

Bioquímica, onde Júlio Pedrosa poderia ter um papel de peso

assumir a vice-reitoria para os assuntos pedagógicos.

na sua implementação. O desejo de Victor Gil em criar “uma universidade que rompesse com aquilo que era até então o

Nascida muito centrada na Formação de Professores, na Eletrónica

modo de entender as universidades em Portugal, que criasse

e Telecomunicações, no Ambiente e na Cerâmica e Vidro, a UA

áreas novas e que respondesse e preenchesse as lacunas que

tinha de crescer para outras áreas. “O professor Renato Araújo

existiam no país” convenceu-o.

entendeu que se devia aumentar o leque dos cursos, portanto, foi


27

percurso singular

nessa altura que se criaram as licenciaturas em Química Industrial

isso, tinha uma noção bastante clara do que estava aí lançado e

e Gestão, em Engenharia e Gestão Industrial, em Gestão e

do que precisava de ser reforçado”, afirma.

Planeamento em Turismo e em Música ”, recorda. Júlio Pedrosa lembra que não foi por acaso que a UA começou No segundo mandato de Renato Araújo, Júlio Pedrosa assume

nesse período a financiar projetos de investigação com fundos

a Vice-reitoria para os assuntos científicos com a grande

retirados do próprio orçamento. A academia de Aveiro foi de

preocupação de fazer crescer a infraestrutura científica da

facto a primeira universidade portuguesa a ter um programa

Universidade.

de financiamento a bolsas de estudo para pós-graduação com fundos do próprio orçamento. “Isso ajudou a consolidar a

Um Reitor para a continuidade.

afirmação da UA no plano científico”, lembra o responsável.

Um Reitor para a consolidação. Mas “já estava há demasiado tempo na Reitoria”. O DQ, os

No caderno das grandes apostas, Júlio Pedrosa tinha também a

assistentes que faziam doutoramento ou preparavam provas sob

frente pedagógica e do ensino. Enquanto Reitor iniciou algumas

sua orientação e o trabalho de consolidação da investigação

experiências, “algumas delas infelizmente interrompidas”,

científica ganhavam peso. No último ano do mandato sai

como foi o caso da implementação do primeiro ano comum de ciência e tecnologia. Júlio Pedrosa aponta igualmente o trabalho realizado em torno dos currículos. “Repensá-los foi um excelente exercício de debate interno e de escolhas, o que constituiu claramente um passo de antecipação da UA a Bolonha já que, quando o processo europeu surgiu, a academia já estava preparada para fazer mudanças”. Foi igualmente durante o mandato de Júlio Pedrosa que a cidade de Águeda viu concretizada uma proposta que nascera no mandato do Professor Renato Araújo, afirmando-se como local ideal para realizar “uma abordagem inovadora para o ensino politécnico, de natureza profissionalizante, inscrito sobre aquilo que é o saber fazer”. Assim, em 1997, nasceu a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda (ESTGA) da UA que se assume atualmente como um centro de ensino superior politécnico único em Portugal.

Em 1994, durante a tomada de posse para o 1º mandato enquanto Reitor da UA

Finalmente, recorda, “houve o trabalho de se pensar a para regressar - definitivamente, julgava Júlio Pedrosa - à

organização da UA de uma forma distinta”. A esse propósito,

vida académica. Mas os colegas da Química fizeram-lhe

ainda hoje Júlio Pedrosa pensa que “esse foi um projeto inovador

uma “malandrice”. Nas eleições para o conselho diretivo do

que consistiu em criar um Instituto de Investigação, que já vinha

departamento elegeram-no presidente sem lhe dizer nada.

do tempo do professor Renato Araújo, e consolidá-lo”. E, ao

A nova viagem pelos laboratórios, curta, tem um desenlace

mesmo tempo, criar também um Instituto para a Formação

inesperado, mais uma vez fora dos planos que tinha traçado.

Inicial, um Instituto para a Formação Pós-Graduada e uma estrutura para a cooperação com a sociedade, “porque na

Com o final do mandato de Renato Araújo, em março de 1994,

altura se acreditou que uma universidade com organização

a cadeira maior da UA ficava vazia. Na academia, várias vozes

departamental precisava de ter estruturas intermédias de

apontavam Júlio Pedrosa como o sucessor ideal para o lugar:

governança por funções”.

“Tive muita gente a encorajar-me para avançar, por isso resolvi reunir com essas pessoas para saber o que achavam que

Das boas memórias dos primeiros passos da UA rumo ao

deveria fazer o próximo reitor”. Concordou com os desígnios

mundo, pouco esforço faz para trazer à superfície “o sentido

apontados. Avançou e foi eleito Reitor.

de comunidade universitária que se foi construindo entre docentes, não docentes e estudantes, sem nunca se prescindir

Que o projeto da UA, que em 1994 já se tinha afirmado no

da capacidade de debater as diferenças de opinião”.

país, fosse reforçado e consolidado. Esse era o caminho. “Tinha exercido funções como Vice-reitor para os assuntos

Essa é-lhe a memória mais rica que guarda duma UA que

pedagógicos, científicos e cooperação com a sociedade, e, por

ajudou a construir desde que aportou em Aveiro. “Era uma


linhas

dez 2013

comunidade feita de diferenças mas alinhada com o projeto,

o país e de compreender também que as pessoas com o meu

e isso acabou por ter reflexos no próprio ambiente que aqui

tipo de percurso precisam de ser mais chamados pois têm uma

se vivia e que me parece que era grato para todos”, diz. Unida

compreensão do país real, nas suas diferentes determinações

que estava a comunidade académica foi meio caminho andado

e, por isso, contributos a dar”.

para se aproveitarem as oportunidades de financiamento que existiram a partir de 1986, com a entrada de Portugal para a

“Portugal é um país brutalmente diversificado, sempre

Comunidade Económica Europeia, “selecionando muito bem o

conduzido esquecendo, ou mesmo excluindo, uma parte do

que precisávamos para sermos uma Universidade competitiva

território”, aponta Júlio Pedrosa. “Infelizmente o nosso modo

ao nível da investigação”.

de conduzir o país sempre foi pensado com o foco no mundo urbano, sobretudo para Lisboa, e eu não me revejo nisso”.

Ser Ministro da Educação, uma experiência curta

Júlio Pedrosa tem outra postura que não se cansa de referir:

mas enriquecedora

“Continuo a estar mais interessado por quem está de fora

Julho de 2001. As malas estavam já preparadas para uma

desse modo de entender e conduzir o país e por isso, ainda

deslocação ao Brasil, numa viagem que serviria para visitar

hoje, continuo mais ligado à aldeia do que à cidade”.

uma escola exemplar de Medicina Dentária - “tínhamos a ideia de abrir na UA esse curso”. Recebe um telefonema. António

Crise financeira obriga a UA a reprogramar-se para resistir

Guterres, então Primeiro-Ministro, convida-o para Ministro da

Regressa a casa, à UA e ao seu Departamento de sempre.

Educação. Júlio Pedrosa, que sempre assumiu a independência

Em 2005 é eleito presidente do Conselho Executivo da

partidária, fica surpreso com o desafio.

Fundação das Universidades Portuguesas (cargo que ocupa até 2007) e presidente do Conselho Nacional de Educação

Estaria o convite ligado ao sucesso que a UA já exibia no

(onde se mantém até 2009).

panorama do Ensino Superior nacional? “Essa pergunta terá de ser feita ao Engenheiro António Guterres”, responde. Até hoje

Hoje, Júlio Pedrosa, aposentado desde 2009, com missões

não sabe exatamente quais os motivos que levaram o chefe do

e programas em educação e ciência, está envolvido nos

Governo a convidá-lo para assumir a pasta da Educação. Já no

conselhos das Fundações Bissaya Barreto, Ilídio de Pinho, Jorge

Brasil, decide afirmativamente.

Álvares e no conselho fiscal da Bial. O antigo Reitor é ainda membro do Register Committee do EQAR - European Quality

“Foi uma decisão difícil, tomada depois de ter consultado

Assurance Register e faz parte do grupo de avaliadores do

algumas pessoas e de ter garantido que alguém assumiria a

Programa de Avaliação Institucional da Associação Europeia

Reitoria plenamente”, lembra Júlio Pedrosa. Esses requisitos

de Universidades através da qual tem feito parte ou presidido a

estavam preenchidos: “Tínhamos uma equipa reitoral muito

equipas de avaliação de várias universidades.

coesa que se manteve e a professora Isabel Alarcão assumiu a Reitoria, motivos mais do que suficientes para saber que o

Quatro décadas depois de ter ajudado a nascer a UA, “um

projeto que tínhamos para a UA não sairia beliscado com a

projeto que ganhou reconhecimento nacional e internacional

minha saída”.

porque foi sendo construído sem esquecer os elementos fundamentais e fundadores”, Júlio Pedrosa aponta para o

Em agenda o Governo tinha a reforma do Ensino Básico e, já

futuro da academia. “Estamos num período que eu gostaria

em adiantado estado de preparação, quando Júlio Pedrosa

que fosse tomado para fazer uma reflexão séria sobre o

chega a Lisboa, a reforma do Ensino Secundário. “Havia a ideia

que é preciso fazer para que este projeto ganhe ainda mais

de transformar o Secundário numa fase do desenvolvimento

capacidade de se afirmar”, afirma. Um repensar que, no atual

educativo das pessoas que valesse por si, ou seja, que

cenário de crise financeira que atravessa o país, “e que não

permitisse a qualquer cidadão, depois de o concluir, entrar na

vai desaparecer rapidamente”, servirá para que a academia

vida ativa se assim o quisesse”, lembra. Esses eram os dois

de Aveiro “tenha capacidade para se pensar como um projeto

pontos críticos na agenda do novo Ministro Júlio Pedrosa,

que tem de resistir, de continuar a afirmar-se e a desenvolver-

pontos esses que geravam no país uma enorme contestação.

se, consolidando ainda mais o que se conseguiu alcançar”.

Em dezembro de 2001, seis meses depois de assumir a pasta

Na Lapinha, numa pequena quinta vinícola no distrito de Viseu

da Educação, António Guterres demite-se e com ele cai o

- bem no interior do país como não podia deixar de ser - tem

Governo. Graceja: “Costumo dizer que fui ao Ministério da

agora em mãos um projeto novo, a produção de vinho e azeite.

Educação”. Valeu a pena a curta experiência? “Sim, foi o tempo

A técnica aprendeu-a ao longo da vida: escolher uma terra

suficiente para ganhar uma compreensão diferente do que é

fértil, semear, cuidar, colher e saborear.


29

percurso singular

EDIÇÕES A UNIVERSIDADE DE AVEIRO E OS SEUS

LIDERANÇA PARA A SUSTENTABILIDADE

TRENDS IN EUROPEAN TOURISM PLANNING

CONTEXTOS

- A VOZ DE QUEM LIDERA EM PORTUGAL

AND ORGANISATION

Autoria Jorge Carvalho Arroteia, professor

Autoria Arménio Rego, docente no

Organização de Carlos Costa, docente no

aposentado da UA

Departamento de Economia, Gestão

Departamento de Economia, Gestão

Edição UA Edições

e Engenharia Industrial da UA, Miguel Pina

e Engenharia Industrial da UA

ISBN 978-972-789-390-4

e Cunha, docente na Universidade Nova de

Edição Channel View Publications

Ano 2013

Lisboa, e Maria da Glória Ribeiro, consultora

ISBN 9781845414115

Edição Actual Editora

Ano 2013

ESTRUTURAS DE BETÃO - BASES

ISBN 9789896940614

DE CÁLCULO

Ano 2013

Autoria Paulo Barreto Cachim e Miguel Monteiro

MENTE DE COMBATE: COMO VENCER NO RINGUE E NA VIDA

de Morais, docentes

CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS

Autoria Dulce Pires, estudante de Doutoramento

no Departamento de Engenharia Civil da UA

Autoria Ana Macedo, antiga aluna no Instituto

em Psicologia na UA

Edição Publindústria

Superior de Contabilidade

e atleta de Kickboxing, e Bruno Santos, treinador

ISBN 9789897230400

e Administração da UA, Graça Azevedo e Jonas

de Kickboxing

Ano 2013

Oliveira, docentes no mesmo Instituto

Edição Prime Books

Edição Escolar Editora

ISBN 9789896551735

FERTILE LINKS? CONNECTIONS BETWEEN

ISBN 9789725924044

ANO 2013

TOURISM ACTIVITIES, SOCIOECONOMIC

Ano 2013

CONTEXTS AND LOCAL DEVELOPMENT

PALUI - CD

IN EUROPEAN RURAL AREAS

TURISMO NOS PAÍSES LUSÓFONOS:

Autoria Helena Caspurro, docente

Organização de Elizabete Figueiredo, docente

CONHECIMENTO, ESTRATÉGIA

no Departamento de Comunicação

no Departamento de Ciências Sociais, Políticas

E TERRITÓRIOS

e Arte da UA

e do Território da UA, e de António Raschi

Autoria Carlos Costa, Rui Costa, Zélia Breda

Edição Mulher Avestruz Produções e Eventos,

Edição Firenze University Press

(docentes) e Filipa Brandão (estudante de

Lda.

ISBN 9788866553885

doutoramento), do Departamento de Economia,

Num 003.013

Ano 2013

Gestão

Ano 2013

e Engenharia Industrial da UA SHAPING RURAL AREAS IN EUROPE:

Edição Escolar Editora

RUA-L - REVISTA DA UNIVERSIDADE DE

PERCEPTIONS AND OUTCOMES ON THE

ISBN 9789725924112

AVEIRO-LETRAS, N.º 1 DA II. SÉRIE: «O(S)

PRESENT AND THE FUTURE

Ano 2013

ROSTO(S) DA EUROPA»

Organização de Elizabete Figueiredo, docente

Coordenação Ana Maria Ramalheira

no Departamento de Ciências Sociais, Políticas

PRODUTOS E COMPETITIVIDADE DO

Edição Universidade de Aveiro - Departamento

e do Território da UA

TURISMO NA LUSOFONIA

de Línguas e Culturas / Centro de Línguas

Edição Springer

Autoria Carlos Costa, Rui Costa, Zélia Breda

e Culturas

ISBN 9789400767966

(docentes) e Filipa Brandão (estudante de

ISSN 0870-1547

Ano 2013

doutoramento), do Departamento de Economia,

Ano 2012

Gestão e Engenharia Industrial da UA UMA CANÇÃO AO VENTO - A POESIA

Edição Escolar Editora

TROIX MORCEAUX INTROSPECTIVES

DE EUGÉNIO DE ANDRADE

ISBN 9789725924105

POUR HARPE À PEDALES (ÉDITION

Autoria João de Mancelos, docente dos cursos

Ano 2013

DE ZORAIDA ÁVILA) - CD

livres de Escrita Criativa I e II, no Departamento

Autoria Vasco Negreiros, Departamento

de Línguas e Culturas da UA

de Comunicação e Arte

Edição Colibri

Dois ciclos de obras para harpa céltica e harpa

ISBN 9789896893200

de pedais

Ano 2013

Edição Harposphère Ano 2013


dez 2013

Fernando Ramos

linhas

O aluno número 16 da UA Nascido e criado em Aveiro, Fernando Manuel dos Santos Ramos, 57 anos, tinha o sonho de ser arquiteto. Mas a revolução de abril de 1974 veio trocar-lhe as voltas. No verão desse ano as universidades estavam fechadas, mas em Aveiro nascia uma nova instituição de ensino: a Universidade de Aveiro. Assim, entre ficar um ano à espera para ir para a Universidade do Porto estudar arquitetura ou continuar os estudos num outro curso, na sua cidade natal, escolheu ficar em Aveiro.


31

percurso antigo aluno

De entre as opções possíveis escolheu

Fernando Ramos acabou o curso em

Formação Profissional e Investigação

Engenharia Eletrónica e Telecomunicações

1979, esteve dois anos a trabalhar em

da Universidade de Aveiro (UNAVE);

porque tinha algum interesse nessa

empresas privadas e, depois, concorreu

foi eleito para a assembleia estatutária

área e porque o seu pai também era

para assistente na UA. Iniciou a sua

da Universidade que tomou a decisão

engenheiro. Mas, acima de tudo, porque

carreira docente em maio de 1982. Fez

de esta se tornar numa “fundação

era um curso com o qual depois poderia

todo o percurso académico no DETI:

pública de direito privado”; coordena

pedir equivalências, caso conseguisse a

provas de passagem a assistente em

uma equipa de consultores portugueses

transferência para arquitetura no Porto.

1984, doutoramento em engenharia

nomeada pelo Conselho de Reitores

Foi o aluno nº 16 da UA.

eletrotécnica, em 1992, e em 1994 foi

das Universidades Portuguesas

eleito presidente do conselho diretivo.

para prestar apoio à Universidade

A transferência nunca chegou a

Este cargo foi uma experiência “muito

Nacional de Timor Leste; coordena e

acontecer. A vida trocou-lhe os planos

interessante e um desafio pessoal

participa em projetos de investigação

e o gosto pelos estudos na UA cedo

muito grande”. O assumir destas

nacionais e internacionais e em

surgiu: “A UA começou com um grupo

funções coincidiu com o período em

projetos de cooperação com países

de professores muito interessante.

que Júlio Pedrosa foi Reitor da UA, uma

de língua portuguesa, entre muitas

Alguns foram recrutados a laboratórios

época “de grande desenvolvimento da

outras atividades. Tudo isto além da

do Estado, outros tinham vindo das

Universidade não tanto do ponto de

docência, que atualmente acontece nos

antigas colónias. Isto permitiu criar um

vista físico, mas mais do ponto de vista

programas doutorais em Informação e

ambiente muito interessante em termos

do conceito da Universidade”, explica.

Comunicação em Plataformas Digitais e

culturais e científicos. Por isso acabei

“Isso marcou-me muito também.

Multimédia em Educação. Pontualmente

por ficar”, explica.

Convivi com ele e aprendi muito sobre

leciona também no Mestrado em

gestão universitária”, acrescenta.

Comunicação Multimédia.

de estar envolvido “na grande aventura

Fez toda a sua carreira no DETI até 1999,

Assim, o seu dia-a-dia é passado na

que é criar uma universidade nova,

ano em que o Reitor Júlio Pedrosa o

UA, normalmente entre as 09h00 e as

praticamente do zero, o estar tudo

desafiou a ajudar a desenvolver a área de

18h00 ou 19h00, “com muito trabalho de

em aberto, todas as escolhas para a

ciências e tecnologias de comunicação

orientação de teses de doutoramento e

instituição”. “Lembro-me do conselho

no Departamento de Comunicação e Arte

dissertações de mestrado” e o trabalho

pedagógico do meu curso, em que

(DeCA), “uma área ainda embrionária”.

nos outros projetos.

o ambiente era agitado e havia até,

Assim, ao fim de quase 20 anos no DETI,

talvez, tendência para algum excesso

considerou que era altura de enfrentar

Com 57 anos de idade, Fernando Ramos

de democraticidade… Uma vez

novos desafios e aceitou o repto para

tem-se envolvido “muito na vida da UA”

comunicámos pela janela com colegas

lecionar no curso de Novas Tecnologias

nos 40 anos da instituição. E apesar

que estavam lá fora… Era um ambiente

da Comunicação.

de ainda não pensar na aposentação,

Mas o que mais o marcou foi a ideia

completamente aventureiro, e isso

começa a entrar noutra etapa da vida

marcou-me muito! Por tudo isto, mantive

Passado pouco tempo foi eleito

profissional: “Estou a entrar naquela fase

sempre a ideia de que as instituições se

presidente do conselho diretivo do

em que acho que estas coisas devem ser

fazem com os contributos das pessoas

DeCA, cargo que ocupou entre 2001

feitas por colegas mais novos. Estou-me

que lá estão”, frisa.

e 2005. Ajudou a criar o “conselho de

a preparar aos poucos para passar o

estratégia”, uma estrutura informal “muito

testemunho”, explica.

Outra pessoa que não esquece é Jorge

importante numa fase em que o DeCA

de Carvalho Alves, professor catedrático

estava com alguma crise de identidade” e

E quando sair, sai “completamente

no Departamento de Eletrónica,

que serviu para refletir sobre o futuro do

descansado”: “Acho que dei um bom

Telecomunicações e Informática (DETI):

departamento.

contributo. Dei, pelo menos, um contributo

“Marcou-me muito enquanto meu

empenhado para a UA, por isso,

professor. Na altura tinha acabado

Depois disso, tem-se envolvido em

quando sair, sairei com a consciência

de regressar de Inglaterra, onde fez

muitas outras atividades: entre 1999 e

absolutamente tranquila relativamente

o doutoramento, e trazia uma cultura

2009 foi diretor do “Centro Multimédia

ao contributo que dei à Universidade, do

completamente diferente da que existia

de Ensino a Distância” da UA; desde

ponto de vista pedagógico, científico, da

cá. Continuo a manter com ele uma sólida

2004 que é presidente da comissão

gestão, entre outros”.

amizade que já leva 30 e tal anos”.

executiva da Associação para a


dez 2013

Paula Leitão

linhas

Do Ambiente para a previsão do estado do tempo É uma cara conhecida da televisão onde apresenta, desde 2007, o Boletim Meteorológico nos programas “Bom Dia Portugal” e “Portugal em Direto” da RTP. Paula Leitão tem um percurso invulgar: passou pela Engenharia Eletrónica e Telecomunicações, licenciou-se em Engenharia do Ambiente e desempenha funções de meteorologista no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Os dados que recolheu e estudou fizeram luz sobre um fenómeno meteorológico quase desconhecido em Portugal até 2000: os tornados.


33

percurso antigo aluno

Apesar de dominar a ideia, no início do

Cara conhecida do boletim

– nos cursos de Letras a proporção dos

século XXI, de que não existiam tornados

meteorológico da RTP

géneros era inversa. Em Engenharia

em Portugal - e na Europa -, uma

Quando iniciou o estudo, um outro colega

do Ambiente encontrou uma maneira

meteorologista a trabalhar no Centro de

do então Instituto de Meteorologia vinha

diferente de estar na vida que considerou

Análise e Previsão do Tempo do Instituto

recolhendo informações sobre várias

mais próxima da sua. Trabalhou ainda,

Português do Mar e da Atmosfera achou

ocorrências, embora sem análise e

durante dois anos, como investigadora na

que os factos contrariavam a corrente

sistematização, que foram importantes

equipa do professor Carlos Borrego, na

e foi ao encontro dos tornados. A

para o trabalho posterior de Paula Leitão.

área da poluição atmosférica e dispersão

meteorologista chama-se Paula Leitão,

Os casos ocorridos em Viana do Castelo,

de poluentes, até decidir ir viver para

licenciou-se em Engenharia do Ambiente

a 21 de abril de 1999, e em Castelo

Lisboa. Aí, concorreu ao então Instituto de

na Universidade de Aveiro em 1987 e

Branco, a 6 de novembro de 1954, que

Meteorologia - na mesma ocasião em que

começou, em 1999, o estudo sistemático

destruiu o parque de instrumentos da

foram admitidos colegas de Engenharia

desses eventos extremos do clima:

estação meteorológica, tornaram-se

do Ambiente e de Física formados na UA -

violentas tempestades em rotação de

dois dos primeiros objetos de estudo.

e fez um ano de estágio de especialização,

pequeno diâmetro que aparecem como

Desde a roupa que sai pela janela - efeito

para o qual terão sido fundamentais os

uma nuvem em forma de funil, descendo

de sucção provocado pelo tornado -,

conhecimentos adquiridos em Dinâmica

da base de um tipo de nuvem chamado

passando por uma criança de 13 anos

e Composição da Atmosfera, assim como

cumulonimbo para o solo, a que estão

levantada no ar, composições ferroviárias

as cadeiras Termodinâmica, Mecânica dos

associados ventos muito fortes. A este

que saem dos carris, a camiões

Fluidos, Hidrologia, Eletromagnetismo,

fenómenos está também associado um

tombados, ou efeitos mais difíceis de

Física, Matemática, Funcionamento de

efeito de sucção, que deixa marcas ao

observar e quase cirúrgicos como uma

Aparelhos Eletrónicos e Sensores, entre

longo da trajetória do tornado.

pequena árvore cortada, vários têm

várias outras.

sido os sinais provocados por estes O estudo e arquivo sistemático das

fenómenos atmosféricos registados pela

A evolução da Ciência e Tecnologia

ocorrências, incluindo a pesquisa de

meteorologista ao longo dos anos.

obriga a atualização constante com

casos no passado, desenvolvido por Paula

participação em inúmeras ações de

Leitão, tornou evidente que, afinal, esses

Para além desse estudo sistemático dos

formação, em projetos, à elaboração de

fenómenos também existem em Portugal e

tornados e da previsão do estado do

muitos casos de estudo e a uma troca

na Europa, embora não com a frequência

tempo, a faceta mais visível e constante

permanente de informação. "Em previsão

e dimensão que atingem noutros pontos

do trabalho da meteorologista Paula

do tempo só se trabalha a nível global e

do globo, como em certas zonas dos EUA.

Leitão é a comunicação da previsão do

em tempo real", assinala Paula Leitão.

Estima-se que nos EUA há dez vezes mais

tempo e a apresentação, desde 2007, do

"Durante os últimos 15 anos a evolução

tornados que na Europa. Mas a grande

Boletim Meteorológico nos noticiários

nos modelos numéricos, na observação

diferença reside no registo sistemático

“Bom Dia Portugal” e “Portugal em

por satélite e por radar, foi enorme e

que se realiza nos EUA, há cerca de 100

Direto” da RTP. Trabalha no Instituto

introduziu novas abordagens teóricas

anos, enquanto na Europa os dados estão

Português do Mar e da Atmosfera

para a compreensão dos fenómenos

compartimentados, há descontinuidade de

(IPMA) desde 1989. Para quem ainda

meteorológicos", acrescenta.

país para país e nem sempre houve troca

tem dúvidas entre tempo e clima, como

de informação: a II Guerra Mundial e o

já alguém disse e registou, a resposta

Em 1991, foi colocada no Centro de

período de domínio soviético na Europa de

é clara: “O estado do tempo determina

Análise e Previsão do Tempo com

Leste foram duas dessas fases em que a

a roupa que tu tens vestida, o clima

funções que tem desempenhado quase

informação não circulou.

determina a roupa que compras”.

sem interrupção.

Em 2000, em toda a Europa, estava a

Da dinâmica da atmosfera para

Trabalhando por turnos, o tempo que

ser estudado o fenómeno de ocorrência

a previsão do tempo

tinha livre foi usado, por exemplo, para

de tornados, por “cientistas curiosos”,

Paula Leitão concluiu a licenciatura em

o estudo dos tornados em Portugal, em

instituições não governamentais e, por

Engenharia do Ambiente em 1987, não

trabalhos de voluntariado na Quercus

vezes, com o apoio de “institutos de

sem antes ter sido aluna de Engenharia

e acompanhamento da vida familiar,

meteorologia oficiais”. Este foi um dos temas

Eletrónica e Telecomunicações, durante

nomeadamente nas tarefas inerentes a

fundamentais da conferência de 2002 em

três anos, onde era acompanhada por 56

uma mãe de três filhos.

Praga, em que Paula Leitão participou.

colegas rapazes e outras três raparigas


dez 2013

José Mendes

linhas

Com o empreendedorismo no ADN José Manuel Tavares Mendes, 36 anos, nasceu e cresceu em Couto de Esteves, Sever do Vouga, onde foi dirigente associativo e membro da Assembleia de Freguesia. Talvez tenha sido aqui que começou a surgir o seu espírito empreendedor. Anos mais tarde, já depois de ter frequentado a licenciatura em Gestão e Planeamento em Turismo, entre 1995 e 2000, na Universidade de Aveiro, é um dos fundadores da empresa IDTour, a convite da pessoa que mais o marcou no curso: o professor Carlos Costa.


35

percurso antigo aluno

Aos 18 anos, José Mendes apenas sabia

O projeto IDTour

Muitas horas de trabalho são passadas

que queria tirar um curso na área da gestão

Depois de alguns anos em Lisboa,

na rua “a bater à porta de organizações

ou economia. Um amigo falou-lhe do curso

regressa a Aveiro em finais de 2006, após

institucionais e empresariais a apresentar

de Gestão e Planeamento em Turismo

um convite do professor Carlos Costa

a IDTour, as suas competências e

e o interesse por esta área despertou

para liderar um projeto que iria surgir

serviços, a concorrer a concursos, a fazer

imediatamente: “Quando era aluno do

através da Incubadora de Empresas da

propostas, enfim… uma luta contínua”.

secundário não tinha a ideia de estudar

Universidade de Aveiro: a IDTour.

turismo. Ninguém tem esse sonho em

A empresa conta com seis sócios, para

Atualmente a empresa encontra-se a

criança. Mas quando vi este curso nem

além da UA, através da GrupUnave. José

crescer em volume de negócios e em

sequer fui verificar o currículo. Achei logo

Mendes é o líder operacional (CEO).

recursos humanos, “o que é um bom

muito interessante. Coloquei-o como primeira opção e entrei!”, explica.

indicador na conjuntura atual”. A trabalhar no mercado interno, a IDTour opera em duas áreas. A primeira

Os desafios para o futuro passam por

As suas expectativas não foram goradas

é o segmento institucional: câmaras

discutir e consensualizar onde querem

nos cinco anos em que tirou o curso.

municipais, organizações nacionais

estar: “Estamos a equacionar se entramos

Apaixonou-se muito rapidamente pelas

e regionais de turismo, associações

na área operacional: se podemos criar

matérias, pelos colegas… “Era um curso

institucionais e organizações

uma micro-empresa dentro da IDTour

com poucas pessoas. Gostei muito do

empresariais. Para estas entidades

que possa fazer a gestão de pequenas

que lá aprendi e tinha uma postura muito

fazem projetos relacionados com o

unidades de alojamento, como hostels,

séria enquanto aluno: entendia o curso

planeamento estratégico, ações de

gerir um restaurante com conceito

como um objetivo de vida. Sentia que os

desenvolvimento estrutural, projetos de

próprio. Estamos a estudar outra área

meus pais estavam a fazer um esforço e,

investigação aplicada (um dos exemplos é

de negócio que passa pela gestão e

portanto, levava aquilo a sério”.

o Restaurante do Futuro, para a AHRESP,

comercialização de ativos turísticos;

onde se procura antecipar as tendências

a internacionalização e exportação de

Em termos académicos o que mais

que poderão pautar o subsetor da

serviços para a Lusofonia são também

o marcou foi, “sem dúvida”, o professor

restauração no futuro).

estratégicas no modelo de expansão

Carlos Costa “por todos os motivos

da IDTour”.

e mais alguns: pela forma como

O outro segmento é o empresarial:

lecionava, pela forma inteligente como

hotelaria, restauração, empresas de

O sucesso do projeto que lidera não

conseguia enganar-nos nas aulas,

animação, parques temáticos, etc. “Para

teria sido possível sem a formação que

porque quando sentia que estava

este target desenhamos e ajudamos a

obteve na UA, frisa, virada já na altura

a perder a turma, dizia umas piadas

operacionalizar modelos de negócios:

para os desafios do futuro: “Acho que a

e conseguia novamente conquistar-nos.

olhar para um negócio e construir um

UA cedo soube entender que tinha de

E porque ia buscar a sua experiência

plano de ação que permita projetar o

formar e capacitar os seus alunos com

no terreno e partilhava-a connosco”.

volume de vendas da empresa, estudos

competências na área dos negócios,

de mercado, de viabilidade económico-

porque não basta ser um bom técnico

A sua licenciatura, sem ter uma disciplina

financeira. Ou seja, documentos mais

para ser um bom empresário. E isto

chamada “empreendedorismo”, tinha

operacionais que ajudam a responder a

aconteceu desde logo porque esta

um conjunto de outras ligadas à gestão

ploblemas em concreto das organizações

Universidade nasceu ligada ao tecido

estratégica e economia, que capacitavam

empresariais”, explica José Mendes.

empresarial da região: pensou os seus

os alunos para avançar para a

cursos para responder às necessidades

constituição de um negócio próprio. “Mas

No seu dia a dia, o CEO da IDTour tem a

o entendimento que faço, é que o curso

responsabilidade de “administrar a casa,

é uma grande plataforma que capacita o

procurar e fidelizar novos clientes, garantir

aluno a escolher o caminho quando sai cá

que ficam satisfeitos com o trabalho,

para fora”, explica.

procurar que eles paguem, mobilizar

A UA já respirava empreendedorismo há

a equipa para os desafios que temos

muitos anos atrás, foi das primeiras a

entre mãos e potenciar a capacidade

trilhar esse caminho”.

empreendedora de cada colaborador: eles são a base do nosso sucesso”.

específicas do território onde se insere. A UA tem esse cunho, esse ADN.


linhas

set 2013

DISTINÇÕES

COTEC PREMEIA “COOPERAÇÃO EXEMPLAR” DA UA COM A PT INOVAÇÃO O historial de cooperação de quatro décadas entre a

de novas universidades no país viradas para a cooperação com o

Universidade de Aveiro e a PT Inovação é o vencedor da

tecido económico”, congratula-se Carlos Pascoal Neto, Vice-reitor

primeira edição do concurso Casos Exemplares de Cooperação

da academia de Aveiro.

Universidade-Empresa promovido pela COTEC Portugal Associação Empresarial para a Inovação. O prémio foi entregue

“Em todos os parâmetros de cooperação universidade-

a 27 de novembro durante o 10º Encontro Nacional de Inovação

empresas a cooperação entre a UA e a PT Inovação está

COTEC que se realizou na Culturgest, em Lisboa, com a

evidenciada de uma forma extremamente positiva sob o

presença do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.

ponto de vista qualitativo e quantitativo”, diz Pascoal Neto. O responsável aponta “os projetos de investigação conjuntos

Com o concurso, aberto às 15 universidades que integram

com um volume de financiamento muito significativo, a

o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, a

produção de patentes, a inserção profissional (mais de

COTEC pretende premiar e incentivar a cooperação de forma

metade dos atuais quadros da PT Inovação são formados

continuada entre as universidades e o tecido empresarial e com

na UA), o aparecimento de novos negócios e produtos e,

resultados benéficos para ambas as partes.

sobretudo a criação de um cluster e de um ecossistema inovador e empreendedor à volta das telecomunicações,

“A parceria entre a UA e a PT Inovação é o exemplo da excelência

centrado em Aveiro, onde os dois pilares fundamentais são

associada à dinâmica que esteve na base da criação, em 1973,

a UA e a PT Inovação”.


37

Tavares da Costa, cujo estágio tem o título “Influência de fatores ambientais e de descarga na contaminação fecal do estuário do Tejo”. BIOMEDICINA FARMACÊUTICA DA UA CONSIDERADA “EXCELENTE” O “Training Programme in

distinções

um consórcio de 22 universidades, 11

Engenharia, Ciências da Vida, Ciências

associações profissionais, públicas e

Naturais e Ciências Sociais - e 14 áreas

privadas, e 15 parceiros privados da

de produção científica.

indústria farmacêutica, todos europeus. O seu objetivo é certificar cursos na

Destas, registaram-se subidas,

área da medicina farmacêutica que

em relação à avaliação feita pela

vão ao encontro das necessidades

Universidade Nacional de Taiwan no

dos profissionais que trabalham no

ano passado, nas áreas de Ciência dos

desenvolvimento de medicamentos.

Materiais, Química, Engenharia Civil e

UA MEMBRO HONORÁRIO DA ORDEM DOS ENGENHEIROS

Agricultura. Na Química, a UA surge em 2º lugar nacional, a seguir à Universidade do Porto, em 74º lugar da Europa e no

Pharmaceutical Medicine” (que inclui o

A Universidades de Aveiro é, desde

194º lugar a nível mundial. Na Engenharia

Mestrado em Biomedicina Farmacêutica

23 de novembro, Membro Honorário

Civil, a instituição aveirense surge em 92ª

e o Curso de Especialização em

da Ordem dos Engenheiros, em

posição europeia e na 269ª mundial e,

Medicina Farmacêutica) da Universidade

simultâneo com as Universidades do

na Agricultura, está na 100ª posição da

de Aveiro foi considerado um

Minho e Nova de Lisboa, um galardão

Europa e na posição 247 mundial.

“PharmaTrain Centre of Excellence”.

atribuído na cerimónia do Dia Nacional

A UA junta-se, assim, ao grupo restrito

do Engenheiro.

de 11 universidades estrangeiras que detêm esta classificação.

Na mesma sessão foi distinguido,

Este galardão contribui ainda

enquanto vencedor de Melhor Estágio

para a valorização dos formandos no

de Admissão à Ordem, na Especialidade

mercado de trabalho nacional

de Engenharia do Ambiente, o antigo

e internacional, junto das indústrias

aluno Ricardo André Tavares da Costa,

farmacêutica e biofarmacêutica,

cujo estágio tem o título “Influência de

centros de investigação

fatores ambientais e de descarga na

e autoridades reguladoras.

contaminação fecal do estuário do Tejo”.

Esta atribuição, que resulta de uma

ÁREA DOS MATERIAIS DA UA ESTÁ

COORDENA GRUPO DE ANÁLISE

avaliação e auditoria que a PharmaTrain

NAS MELHORES DA EUROPA

DO ENSINO SUPERIOR PORTUGUÊS

fez ao curso, é “muito gratificante”

A área de Ciência dos Materiais da

Júlio Pedrosa, ex ministro da Educação e

porque foi obtida apenas ao fim de

Universidade de Aveiro é primeira a

antigo Reitor da Universidade de Aveiro,

quatro anos de existência do mesmo,

nível nacional, a 20ª a nível europeu

foi convidado para liderar um grupo de

considera o diretor do curso, Luís

e a 114ª no mundo, de acordo com o

trabalho que tem por objetivo apresentar

Almeida, acrescentando: “É a prova de

ranking produzido pela Universidade

sugestões de aplicação ao ensino

que, quando planeamos adequadamente

Nacional de Taiwan. Nesta área está

superior Português das recomendações

e somos rigorosos e determinados na

contabilizada a produção científica em

do estudo elaborado pela European

implementação da estratégia definida,

biomateriais, materiais cerâmicos, teste e

University Association (EUA) a pedido do

os objetivos são sempre alcançáveis,

caraterização, películas e revestimentos,

Conselho de Reitores das Universidades

mesmo os mais ambiciosos”. O título

materiais compósitos, papel e madeira,

Portuguesas (CRUP).

de “Centre of Excellence” vai “acentuar

têxteis, engenharia metalúrgica e

a pressão para que continuemos o

produção científica multidisciplinar

O CRUP decidiu recentemente criar

esforço de limar arestas e aperfeiçoar

associada aos materiais.

uma comissão para fazer um trabalho

PROFESSOR JÚLIO PEDROSA

continuamente os nossos conteúdos”, explica o responsável pelo curso.

de análise das recomendações do Os critérios usados pela Universidade

estudo que encomendou à EUA. “Este

Nacional de Taiwan fundamentam‑se

estudo, apresentado em fevereiro de

A medicina farmacêutica foca-se

em três pilares fundamentais:

2013, apresentava um conjunto de

no desenvolvimento pré-clínico e

“produtividade”, “impacte da

recomendações relativamente ao ensino

clínico, avaliação e comercialização

investigação” e “excelência da

superior em Portugal. O que o CRUP fez

de medicamento e outros produtos de

investigação”. O ranking considera seis

agora foi criar um grupo de trabalho para

saúde. PharmaTrain é um projeto de

domínios - Agricultura, Medicina Clínica,

estudar o melhor modo de se aplicarem


linhas

set 2013

essas recomendações à realidade

conceção do trabalho. “Uma vez que

Portuguesa”, explicou Júlio Pedrosa.

a minha formação de base é a Biologia procurei imprimir um cunho especial às

Os resultados do trabalho desta equipa

minhas ilustrações, tentando atualizar

devem ser apresentados em 2014.

não só o design, como mostrar em todos eles um pormenor da sua ecologia ou biologia, indo além da clássica figuração da espécie em causa, em corpo inteiro.” FERNANDO CORREIA ILUSTRA SELOS DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE

MIT E ISCTE DISTINGUEM PROJETOS

ESPÉCIES AMEAÇADAS

COM CHANCELA UA

Fernando Correia, docente do

O projeto WATGRID, dinamizado

Departamento de Biologia da

por docentes e investigadores da

Universidade de Aveiro e diretor do

Universidade de Aveiro (UA), e o

Laboratório de Ilustração Científica, foi

MeshApp, que integra na sua equipa

INVESTIGADOR DO IT À FRENTE

um dos ilustradores convidados para

antigos alunos da academia, foram dois

DA DISCUSSÃO EUROPEIA SOBRE

ilustrar quatro dos 12 selos lançados dia

dos grandes vencedores da Semifinal do

TRANSMISSÃO DE ENERGIA SEM FIOS

10 de outubro, no mercado americano e

concurso Building Global Innovators, nas

Nuno Borges Carvalho é o coordenador

internacional, pela United Nations Postal

categorias Cidades Inteligentes e Outros

do recém criado Wireless Power

Administration/UNPA (NY, USA; http://

Produtos e Serviços. Os dois projetos

Transmission for Sustainable Electronics

unstamps.un.org/unpa/index.html). As

arrecadaram um prémio de 100 mil

(WIPE), um consórcio europeu que

quatro ilustrações científicas são das

euros cada. Para além destes prémios

pretende ser um fórum de discussão,

espécies: Asian tapir (Tapirus indicus),

foram ainda distinguidos, com menção

de promoção e de realização de

Mongoose lemur (Eulemur mongoz), Flat-

honrosa, três projetos dinamizados

atividades na área da transmissão

headed cat (Prionailurus planiceps) e Aye-

por membros da UA: Endeavour Lab,

de energia sem fios. O investigador

aye (Daubentonia madagascariensis).

BikeEmotion e The Smart Tongue.

e do Departamento de Eletrónica,

Esta emissão filatélica representa a 21º

O WATGRID pretende fornecer soluções

Telecomunicações e Informática da

edição de selos subordinados à coleção

para a rede de distribuição de água

Universidade de Aveiro assumiu as novas

das espécies ameaçadas (Endangered

doméstica em cidades ou ambientes

funções a 24 de outubro, em Bruxelas.

species), desde que se registou o primeiro

rurais. A grande mais-valia da solução é

O consórcio representa 21 países

lançamento, em 1993, e constituiu uma

a possibilidade de saber em tempo real a

europeus, os EUA e o Japão e tem um

das mais apetecíveis séries filatélicas por

quantidade e qualidade da água por cada

orçamento de 600 mil euros

colecionadores de todo mundo.

habitação. Com esta solução é possível

do Instituto de Telecomunicações

para promover o tema dentro da comunidade europeia.

gerir melhor os desperdícios de água a nível A edição de 2013 foi dedicada a

mundial, permitindo poupanças de água nas

vertebrados noturnos que estão

empresas distribuidoras de até 50 por cento.

“Termos sido escolhidos para

apontados como algumas das espécies

coordenar este consórcio significa

que poderão desaparecer em breve,

A MeshApp deu a conhecer uma

um reconhecimento da nossa qualidade

passando assim de extantes a extintas,

nova aplicação para computadores,

e excelência nesta área de sistemas

caso não sejam tomadas medidas

telemóveis etablets que funciona como

de rádio frequência em toda a Europa”,

urgentes em prol da sua conservação.

agregador de informação, que permite

congratula-se Nuno Borges Carvalho.

Com estas emissões filatélicas a UNPA

reunir numa única página o conteúdo

“O Instituto de Telecomunicações,

procura, de forma ativa, sensibilizar

e as interações das contas nas redes

DETI e UA irão coordenar este projeto

o mundo para a necessidade de se

sociais, feeds de notícias e e-mails.

nos próximos quatro anos, realizando

protegerem as espécies animais e

dois fórum de discussão por ano na

plantas que um pouco por todo lado

A Endeavour Lab, empresa sediada na

Europa e ainda uma escola de verão

se encontram à beira da extinção,

Incubadora de Empresas da Universidade

orientada a alunos de doutoramento e

principalmente por razões diretamente

de Aveiro (IEUA), apresentou um sensor de

a funcionários de diversas empresas”,

ligadas a ações do Homem. Fernando

captura 3D para a reabilitação motora de

desvenda Nuno Borges Carvalho.

Correia explica a lógica por detrás da

pacientes que sofreram um AVC.


39

distinções

O BikeEmotion é um projeto desenvolvido

de revestimentos inteligentes para

O prémio foi entregue pelo Alcaide

pela Ubiwhere e a Micro I/O (Empresas

proteção anticorrosiva e que podem ter

de Badajoz, Francisco Martínez, em

IEUA Graduadas) em cooperação com

aplicações, como sensores, noutros

nome do Comité Executivo da FECIEX,

a UA e a Ponto C, que visa desenvolver

campos”, congratula-se Mário Ferreira.

numa cerimónia onde estiveram

um sistema de quarta geração de partilha

presentes diversas individualidades da

social de bicicletas, equipado com a

Investigador na UA desde 2001,

mais moderna tecnologia de localização,

Mário Ferreira, Doutorado em

Extremadura e de Portugal.

pagamento e reserva de bicicletas,

Ciência e Engenharia da Corrosão,

De relembrar que o docente e

mantendo a simplicidade de utilização.

aponta que o prémio, criado em 1972

investigador obteve em maio de 2013 o

para reconhecer a excelência na

prémio “Investigação em Caça”. Carlos

The Smart Tongue apresentou um sensor

investigação e contribuições técnicas

Fonseca é licenciado em Biologia e

eletrónico para degustação e controlo

relevantes para o campo da ciência

mestre em Ecologia pela Universidade de

de alimentos. A concurso estava ainda

da corrosão, “é um reconhecimento

Coimbra e doutor em Biologia, pela UA.

a Be.uBi (Empresa IEUA), a competir na

pelo trabalho realizado pelo DEMAC/

categoria de Tecnologias de Informação,

CICECO”. O investigador dedica

ARTIGO DE INVESTIGADORES DA UA

Internet e Produtos, com o projetoSoftware

mesmo a distinção a todos os seus

DESTACADO NA CAPA DA REVISTA

with Emotion, uma solução para a

colaboradores, passados e presentes.

CHEMPLUSCHEM

otimização de experiências de compra.

“Foi devido a eles que eu consegui

O trabalho realizado por investigadores

obter este prémio”, reconhece.

da Universidade de Aveiro, da unidade Química Orgânica, Produtos Naturais e Agroalimentares (QOPNA), sobre a capacidade de deteção de iões metálicos (mercúrio, zinco, cádmio, etc.) nas fases sólida, líquida e gasosa por parte de benzoporfirinas e de porfirinas funcionalizadas na posição beta-pirrólica com unidades de tipo piridina foi destacado na capa da revista ChemPlusChem. Este trabalho abre portas à criação de novos

MÁRIO FERREIRA RECEBE

indicadores de poluentes do ar, água ou

PRÉMIO H. H. UHLIG

DOCENTE DA UA RECEBE “PRÉMIO

mesmo de sistemas orgânicos, eficazes e

O diretor do Departamento de

IBÉRICO FECIEX 2013”

fáceis de usar.

Engenharia de Materiais e Cerâmica

Carlos Fonseca, docente no Departamento

(DEMAC) da Universidade de Aveiro,

de Biologia (DBio) e investigador no

O ChemPlusChem é um periódico

Mário Ferreira, ganhou o Prémio H.

Centro de Estudos do Ambiente e do

associado da prestigiada Angewandte

H. Uhlig da Divisão de Corrosão da

Mar (CESAM) da UA, recebeu o “Prémio

Chemie International Edition e da Chemistry

Sociedade Americana de Eletroquímica

Ibérico FECIEX 2013”. Este galardão é

- A European Journal. A publicação em

(ECS). O prestigiado troféu foi entregue

atribuído a personalidades, instituições ou

destaque resulta de trabalho realizado

durante o 224º Encontro da ECS que

organizações que se tenham destacado

por investigadores do Departamento

juntou em São Francisco, nos EUA,

pelo trabalho desenvolvido em prol da

de Química (QOPNA), e BIOSCOPE, da

os melhores investigadores mundiais

potenciação dos valores ibéricos da caça,

Universidade Nova de Lisboa, tendo

na área da Eletroquímica. Durante o

da pesca e da conservação da natureza

contado ainda com a colaboração de um

encontro Mário Ferreira proferiu uma

e que tenha fomentado o encontro entre

investigador do Centro de Investigação

Award Lecture em Ative Corrosion

Espanha e Portugal nestas áreas.

em Materiais Cerâmicos e Compósitos

Protection By Ldhs.

(CICECO), laboratório associado da A distinção, entregue a 19 de setembro,

Universidade de Aveiro.

“Este prémio representa um

em Badajoz, foi atribuída na XXIII edição

reconhecimento internacional do

da FECIEX - Feira de Caça, Pesca

O artigo foca a capacidade de

trabalho que tenho vindo a desenvolver

e Natureza Ibérica, a maior do género

benzoporfirinas e de outras porfirinas

nas áreas da corrosão e proteção

em toda a Península Ibérica e que contou

funcionalizadas com grupos de tipo

de metais, nomeadamente nestes

com forte presença de expositores

piridina detetarem iões metálicos

últimos anos com o desenvolvimento

Portugueses, explicou o galardoado.

em fase sólida, líquida e gasosa.


linhas

set 2013

Os compostos sintetizados são

INVESTIGADORES DA UA

estruturalmente afins de compostos

DISTINGUIDOS PELA TECNICELPA

naturais como os do grupo heme

POR NOVOS PRODUTOS

de hemoproteínas. Este trabalho

Um revestimento que permite melhor

é um importante contributo para o

qualidade de impressão em papel

desenvolvimento de novos materiais

de escritório, uma pasta celulósica

passíveis de serem utilizados como

resistente à humidade e ao fogo,

indicadores, quer em aplicações

utilizável como material isolante na

ambientais, quer como biomarcadores. SISTEMA DE GESTÃO SUSTENTÁVEL DE TRÁFEGO VALE PRÉMIO A INVESTIGADOR DA UA Jorge Bandeira, doutorando no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, foi o único português premiado no Concurso de Inovação, promovido pelo Instituto Europeu de Patentes. O estudante da UA apresentou um sistema de informação e apoio à decisão focado na gestão sustentável de tráfego e, com isso, venceu numa das categorias do concurso, dirigido a estudantes e investigadores

INVESTIGADORA DA UA VENCE PRÉMIO SANTANDER DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA FCSH Filipa Lã é uma das vencedoras do Prémio Santander de Internacionalização da Produção Científica, na categoria Investigadores, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. A docente e investigadora do Departamento de Comunicação e Arte (DECA) da Universidade de Aveiro recebeu a distinção durante a sessão comemorativa do 35.º Aniversário da FCSH.

construção civil, ou ainda um suporte de catalisadores para a purificação de ar poluído, estão a ser desenvolvidos por uma equipa da UA. O trabalho de investigação, a decorrer no Departamento de Química e no Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos (CICECO), laboratório associado da UA, já mereceu várias distinções. A última foi o prémio TECNICELPA (Associação Portuguesa dos Técnicos das Indústrias de Celulose e Papel). A diferença no rigor da impressão a

“Este prémio, para além de ter sido uma completa surpresa para mim, representa o reconhecimento a nível nacional de uma das funções determinantes de uma universidade: a produção de conhecimento com projeção internacional”, congratula-se Filipa Lã. “Claro que o prémio também mostra igualmente um reconhecimento mais concreto da minha contribuição para a área da música, nomeadamente da pedagogia vocal e de áreas de fronteira como aquela que a música estabelece com a medicina”, adianta.

jato de tinta, usando um papel comum

O Prémio Santander de

A equipa de Dmitry Evtyugin, Inês

Internacionalização da produção

Portugal e José Gamelas foi também

O sistema de informação e apoio à

Científica da FCSH visa distinguir os

distinguida com o prémio de melhor

decisão focado na gestão sustentável

docentes e investigadores que mais

comunicação oral. Há quase 10 anos que

de tráfego, criado no Departamento

tenham contribuído para a notoriedade

os prémios não coincidiam na mesma

de Engenharia Mecânica da UA, foi o

internacional da produção científica

equipa de investigação. Já no encontro

vencedor absoluto na categoria D (uma

daquela faculdade. Filipa Lã recebe o

científico que decorreu em 2005, a

das quatro a concurso): Smart transport

prémio na condição de investigadora do

equipa constituída por Carlos Pascoal

and traffic management systems.

pólo da UA do Instituto de Etnomusicologia

Neto, Dmitry Evtyugin e Armando

- Centro de Estudos em Música e

Silvestre, fora distinguida com o prémio

Dança, uma unidade de investigação

de melhor trabalho na área.

universitários dos estados membros. A proposta de investigação submetida a concurso incide no desenvolvimento de um sistema de informação e de apoio à decisão, focado na gestão sustentável de tráfego. O que o “Eco-indicator for route choice, traffic assignment and policy analyses” (assim se designa o projeto) pretende fazer é calcular os custos dos principais impactes do tráfego rodoviário, como o ruído, poluentes ou os gases com efeito de estufa.

multidisciplinar sediada na FCSH.

e outro com revestimento de uma formulação contendo sílica, ao olhar para o gráfico, é evidente. O papel revestido com uma pequena camada à base sílica, de 2-3 gramas por metro quadrado, permite não só um maior rigor na impressão, mas também maior resistência à humidade, sublinha Dmitry Evtyugin, coordenador da equipa de investigadores e professor do Departamento de Química da UA.


41

distinções

DOCENTE DA UA ELEITA

CAPACETE DE CORTIÇA RECEBE

PLATAFORMA TURÍSTICA DE

COORDENADORA DA REDE

PRÉMIO INOVAÇÃO DA APCOR

ANTIGOS ALUNOS DA UA VENCE

EUROPEIA DE SOCIOLOGIA

Ricardo Sousa é o vencedor do Prémio

COVILHÃ STARTUP WEEKEND

DAS PROFISSÕES

Inovação atribuído pela Associação

Uma startup de dois antigos alunos

A docente e investigadora do

Portuguesa de Cortiça (APCOR).

da Universidade de Aveiro (UA) e de

Departamento de Ciências Sociais,

A distinção que homenageia o trabalho

mais cinco jovens empreendedores

Políticas e do Território (DCSPT)

do investigador do Departamento de

portugueses, recentemente criada durante

da Universidade de Aveiro, Teresa

Engenharia Mecânica da Universidade

o "Covilhã Startup Weekend", distinguiu-se

Carvalho, foi eleita coordenadora

de Aveiro foi entregue a 4 de outubro,

entre um conjunto de ideias, concorrendo

da Rede Europeia de Sociologia das

durante a 4ª edição da Gala Anual da

na final mundial - o Champions Circle

Profissões, uma das várias áreas da

Cortiça que decorreu no Hotel Convento

da Global Startup Battle. Apresenta-se

European Sociological Association

do Espinheiro, em Évora. Ricardo Silva

ao mercado uma plataforma na qual os

(ESA). A eleição decorreu na conferência

cativou a APCOR com o trabalho de

players turísticos dão resposta à procura

da ESA, realizada de agosto, em Turim.

investigação sobre a utilização da cortiça

específica de cada utilizador.

no revestimento de capacetes. O cargo para o qual a docente e

Resultante de 54 horas de trabalho

investigadora foi eleita tem vigência

A equipa de investigação de Ricardo

intensivo na criação de um plano de

de dois anos. Entre várias funções a

Sousa provou que, em relação à esferovite

negócios e de um protótipo funcional,

desempenhar, a coordenadora da rede

utilizada em exclusivo por todos os

o projecto iTravey, de Pedro Caleiro,

europeia de sociologia das profissões

fabricantes mundiais de capacete, a

antigo aluno de Engenharia Eletronica

gere a rede, coordena a organização

presença da cortiça no revestimento

e Telecomunicações da UA, e Carlos

de conferências, reuniões e workshops

interno dos capacetes não só confere

Carvalho, licenciado em Engenharia de

temáticos, participa na organização

ao material maior capacidade para

Computação e Telemática também na UA,

da grande conferência bienal da ESA

absorver um impacto, como também essa

e de mais cinco jovens empreendedores,

e também na organização conferência

característica permanece intacta no caso

foi o grande vencedor da edição

intermédia. Antes, a docente da UA já

do motociclista sofrer na cabeça múltiplas

portuguesa do Startup Weekend.

tinha sido eleita membro da comissão

pancadas. A técnica já está patenteada e

executiva desta rede na conferência da

aguarda pelo interesse da indústria para

Para quem procura marcar férias

ESA, em 2010, em Genebra.

conquistar, principalmente, os desportos

comodamente, à distância de uma

motorizados sujeitos a apertadas medidas

simulação que conjuga as melhores

de segurança.

ofertas aos melhores preços, a iTravey

Teresa Carvalho leciona unidades curriculares na área da sociologia e das

aposta na economia de tempo e de

políticas públicas na licenciatura em

“Receber este prémio é para mim uma

recursos, dispensando navegações

Administração Pública, no Mestrado

honra e um estímulo para continuar a

pelos canais tradicionais de

em Administração e Gestão Pública,

investir na área”, congratula-se Ricardo

agendamento turístico.

no Mestrado de Ciência Política e

Sousa. ”A cortiça é um produto ecológico

no Programa Doutoral em Políticas

português que movimenta boa parte da

Depois de ter vencido com a melhor ideia

Públicas. É investigadora no CIPES

economia. Por isso, faz todo o sentido que

em Portugal, a iTravey avança agora para

(Centro de Investigação e Políticas

se procurem aplicações inovadoras para

a Global Startup Battle uma competição

do Ensino Superior).

esse material e que cada vez mais indústria

mundial de startups que consiste em

e academia se aliem na busca de novos

cinco desafios simultâneos patrocinados

produtos e ideias”, aponta.

pelas maiores empresas online como a Microsoft, a Amazon ou a Google.


linhas

dez 2013

Parceria da UA revela dimensões escondidas do antigo eremitério Carmelita

Buçaco: viagem para outra dimensão de vida, de património e do espírito Conhecer o Buçaco só pela água, pelo Palace Hotel, Vale dos Fetos, ou pela Via Sacra, é não perceber esta pérola de património natural, histórico, militar e religioso. A parceria entre a Fundação Mata do Buçaco e a UA, já com mais de 10 anos, tem sido fundamental para manter viva a chama da descoberta e conservar o património ainda ferido pelo ciclone do início de 2013 (fotografias de Lísia Lopes).

Adernal na Mata do Buçaco


43

investigação

Só um olho bem treinado perscrutando os tons

A grande diversidade de cogumelos não é estranha

secos da folhagem do chão, numa paleta que vai

à variedade de espécies arbóreas e é apenas um

do amarelo ao castanho ou carmim, ocres e beges vários, pode descobrir aquelas formas delicadas

aspeto da notável biodiversidade do Buçaco, assinalada na tese doutoramento de Milene Matos, hoje investigadora

que se erguem numa cúpula e escondem um verso estriado. A

da Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia

cada passo, na folhagem, rasgando o silêncio ou o canto das

da UA e responsável pelo Serviço Educativo da Mata. A tese

aves, pode surgir uma surpresa na forma, no tamanho e na cor,

da investigadora tornou evidente a interessante biodiversidade

com par no enorme conjunto de referências impresso num A4.

da Mata Nacional do Buçaco, quando comparada com os

O jovem micologista Eduardo Batista regista as coordenadas

ecossistemas circundantes e fez luz sobre a, até então, pouco

geográficas, fotografa, mede, compara tons, analisa mais tarde

conhecida fauna da zona. “Já cá ando há dez anos e continuo a

ao microscópio e faz testes em laboratório. Demora-se em

descobrir coisas novas!”, exclama, surpreendida com os curiosos

pequenas áreas da mata à volta dos retorcidos adernos, dos

“chapéus” observados por Eduardo Batista.

vetustos carvalhos e dos frutificados castanheiros. Sabiamente, os Carmelitas Descalços, ao pretenderem reproduzir Mais à frente, atenta-se no solo, junto a um aderno de porte

neste seu “deserto”- nome muitas vezes atribuído aos espaços

arbóreo, “relíquia” que remonta à original paisagem do

de reclusão Carmelitas - o que conheciam em Jerusalém, foram

Buçaco, muito antes dos Carmelitas Descalços se recolherem

plantando, mas mantiveram zonas da floresta original, com

ali, no século XVII, e começarem a construir a Mata que

carvalhos, azereiros e loureiros e outras em que domina o aderno.

serviu de “quadro rústico à paixão de Cristo”, como escreveu

A espécie disponível que mais se aproximava do cedro-do-Líbano

Jaime Cortesão. Eduardo está perto do Passo de Caifás,

em Jerusalém era o chamado cedro-do-Buçaco que veio de

um dos 20 Passos da completíssima Via Sacra iniciada

conventos em Espanha. Estranho? Não, porque a designação foi

pelos monges, que inclui seis Passos da prisão de Cristo, já

erroneamente atribuída por um botânico que visitou o Buçaco,

considerada melhor que a original por visitantes israelitas.

talvez já demasiado deslumbrado pela beleza da paisagem.

Os elementos naturais, pela violenta mão do ciclone Gong, no início do ano, pregaram uma estranha partida a esta

Com enorme tristeza, os investigadores e todos aqueles de

tríplice harmonia de religião, património construído e

frequentam e que zelam por este espaço, como é o caso de

natureza, ao fazerem tombar árvores, sobretudo gigantescos

jardineiros – a trabalharem na Mata ao abrigo de um protocolo

cedros-do--Buçaco, em cima de algumas destas capelas já

com o Estabelecimento Prisional de Coimbra – receiam que

construídas no século XIX.

o cedro-do Buçaco mais antigo de Portugal, o “cedro de S. José”, plantado em 1644, agonize após o corte de um dos dois

À volta de Eduardo Batista surge um sem número destes

ramos provocado pela queda de outro cedro devido ao ciclone

pequenos e delicados chapéus de tons outonais que brotam

de janeiro. O arboreto, que ocupa cerca de 80 por cento da

do chão forrado a folhas e herbáceas. Na parte final da sua

Mata, para além destes gigantes com “pés de barro”, ou seja,

licenciatura em Biologia na UA, o jovem escolheu investigar

com raízes relativamente superficiais para a dimensão que

os cogumelos desenvolvendo a curiosidade que já tinha e

atingem, inclui outras espécies com origem nos quatro cantos

descobrindo mais sobre os cogumelos da Mata do Buçaco.

do mundo. Um exemplar de eucalipto, Eucaliptus regnans, de

Talvez também por razões familiares, já que recorda com

74 metros, é a árvore mais alta da Mata.

saudade os míscaros cozinhados pela avó. Relíquia de aderno a conservar Infindável fonte de surpresas

A chamada floresta relíquia ocupa apenas uma pequena – mas

O estudo dos cogumelos na Mata do Buçaco começou com o

fundamental para a conservação da natureza – fração no extremo

biólogo André Aguiar que monitorizava a fauna, como bolseiro

sudoeste da mata, albergando três habitats diferentes: o carvalhal

do Departamento de Biologia, no âmbito de um projeto

de carvalho-alvarinho e carvalho-negral, o loureiral, dominado pelo

financiado pelo Life +, designado BRIGHT (Recuperação do

loureiro, com presença frequente do medronheiro, folhado e do

Buçaco das invasões que geram ameaças de habitat), que

azevinho, e um outro conjunto vegetal dominado pelos adernos de

ainda decorre. André, enquanto desenvolvia os seus trabalhos

porte arbóreo. Os investigadores da UA defendem que este último

de campo, montava armadilhas para mamíferos, escutava aves

habitat é um subtipo de mato termomediterrânico pré-desértico

e identificava morcegos, contou 121 espécies de cogumelos.

não previsto no Anexo 1 da Diretiva Habitats e que deve ser

Eduardo Batista aprofunda agora este trabalho, sob orientação

incluído neste documento orientador da conservação da natureza

de Rosa Pinho, responsável pelo Herbário da UA, e Anabela

na Europa. Rosa Pinho, responsável pelo Herbário da UA, explica

Martins, investigadora do Instituto Politécnico de Bragança.

que, ao contrário do subtipo de habitat já previsto na Diretiva em


linhas

dez 2013

Trabalho de campo de Eduardo Batista e medronheiro (à direita)

que domina o medronho, no “adernal” é o aderno que domina,

já feito pelas equipas da Mata e por voluntários, as espécies

algo que se verifica apenas em certas zonas (mais pequenas) da

invasoras espreitam permanentemente. É o caso da acácia,

Serra da Arrábida.

da falsa-árvore-do-incenso e do louro-cerejo, nas árvores, e da tradescância, ou erva-da-fortuna, no coberto vegetal

A diversidade da Mata providencia alimento, abrigo e refúgio

mais rasteiro. O louro-cerejo não é considerado uma invasora

para mais de centena e meia de espécies de vertebrados,

noutros locais, mas, no Buçaco, tem comportamento de

entre as quais, algumas de grande valor para a conservação

invasora, afirma Rosa Pinho.

da natureza, como endemismos ibéricos (espécies exclusivas da Península) ou espécies protegidas. O bom tempo atrai

Controlar invasoras, reflorestar e reconstruir

diversos répteis, como o lagarto-de-água, endémico, ou

As equipas da Mata têm vindo a trabalhar no sentido de

a cobra-de-escada e um olhar atento às linhas de água

controlar as invasoras, no âmbito do projeto BRIGHT, usando

permitirá identificar anfíbios tão distintos como a salamandra-

métodos mecânicos (arranque manual ou descasque), métodos

-lusitânica e o tritão-de-ventre-laranja, dois sensíveis

químicos (aplicação de herbicidas) ou ainda uma combinação

endemismos. O crepúsculo pode revelar morcegos, como o

de ambos, dependendo da zona e das condições. Neste

raro morcego-de-ferradura-mediterrânico, ou o musaranho-

sentido, decorre um estudo pelas investigadoras da UA, Sónia

-de-água, recentemente observados pela primeira vez na

Guerra, Lísia Lopes e Rosa Pinho, sobre o controlo de invasoras

Mata. Nos cursos de água os investigadores já registaram a

e o potencial de regeneração da Mata. Em certas zonas, o

presença do bordalo, um pequeno peixe em risco de extinção

terreno foi marcado em quadrados de 1 e de 100 metros. No

e endémico da Península Ibérica.

primeiro caso, foi limpo de herbáceas invasoras e, no segundo, as árvores invasoras (acácias, sobretudo) foram descascadas

No decurso de um projeto de investigação desenvolvido por

para morrerem, em certos locais sem recurso a químicos que

alunos de licenciatura da UA – Tatiana Pinhal, Ricardo Mocito,

poderiam influenciar a regeneração da vegetação autóctone.

Cátia Paredes, Sofia Jervis – e uma aluna de mestrado (Daniela Maia) tem vindo a ser registada a ocorrência de centenas

Decorre ainda um outro trabalho de investigação, de Lúcia

de espécies de insetos e aranhas, algumas nunca antes

Pereira, Milene Matos, Ana Vasques e Paula Maia, sobre a

associadas ao Buçaco.

germinação de sementes e desenvolvimento das plantas (sobretudo, invasoras) propagadas pelas fezes dos mamíferos

Esta “obra de arte total” (designa o IGESPAR), que inclui

(raposa e fuinha). Faz-se o acompanhamento da germinação

também o Palace Hotel, bem no centro do Buçaco, peça

das sementes do desenvolvimento das plantas, em estufins.

notável do chamado estilo neomanuelino do início do século

Suspeita-se que as fezes facilitem a germinação de certas

XIX, não está livre de ameaças. Para além do rasto de

sementes, como é o caso das de louro-cerejo e que este facto

destruição deixado pelo ciclone Gong, ainda visível em vários

está relacionado com o comportamento do louro-cerejo, como

locais, nomeadamente em capelas, não obstante o trabalho

invasor, no Buçaco.


45

investigação

O Buçaco tem vindo a servir também como palco privilegiado para a aplicação de outros saberes da UA e não apenas na área da Biologia. A parceria com a UA começou, em 2002, com o Buçaco ainda sob tutela da Direção-Geral dos Recursos Florestais e por impulso de Carlos Fonseca, professor e responsável pela Unidade de Vida Selvagem, coordenador do projeto BRIGHT na UA e membro do Conselho Geral da Fundação Mata do Buçaco (FMB). A equipa da Estrutura de Projeto de Arquitetura e Desenvolvimento Físico da UA (EPARQ), coordenada pelo arquiteto Joaquim Oliveira, tem em curso um projeto para recuperação do edificado da Mata, nomeadamente, do convento, capelas, ermidas de habitação, incluindo ordenamento do trânsito e estacionamento, em articulação com a Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva que define as metodologias de intervenção na área da conservação e restauro. Numa primeira fase, o projeto permitiu a recuperação de estufas e a reabilitação da casa das Portas de Coimbra. A extinta Fundação João Jacinto de Magalhães, entidade da esfera da UA, definira toda a linha gráfica da FMB. UA é parceira fundamental no trabalho desenvolvido Há também duas dissertações de mestrado em curso, sob orientação de Ana Velosa, professora do Departamento de Engenharia Civil, relacionadas com as construções do Buçaco: uma sobre o tipo de material usado na construção das antigas capelas e no convento e a argamassa mais adequada numa eventual intervenção e ainda outra sobre avaliação de risco nas antigas capelas da Via Sacra, designadamente, associado à vegetação mais próxima, à humidade e à água capilar. Com o trabalho final de curso em Arquitetura na Escola Universitária

O Palace Hotel e o convento são dois dos ex-líbris do Buçaco

das Artes de Coimbra (ARCA), intitulado Reabilitação do Património Arquitetónico da Via Sacra, Ana Carina Gomes, já

regulares, promovidas pelo Serviço Educativo da Fundação

então colaboradora da EPARQ, venceu o Prémio Conservação

Mata do Buçaco e em que participa o Departamento de

e Restauro do Património Arquitetónico, promovido pela

Biologia da UA, através da sua investigadora de pós-

Teixeira Duarte.

-doutoramento, Milene Matos. O projeto “Duendes na Mata” surge neste âmbito.

Na tentativa de acelerar a recuperação da mata, Nelson Matos, ex-aluno de Planeamento Regional e Urbano na UA

O presidente da FMB, António Jorge Franco, sublinha que

e coordenador operacional do projeto BRIGHT, sugeriu

a parceria com a UA tem sido “fundamental desde que a

ajudar à reflorestação através de um sítio na Internet em

Fundação Mata do Buçaco foi constituída em 2009”, quer

desenvolvimento com apoio do Laboratório SAPO da UA e

quanto ao estudo da biodiversidade, do património construído

da Fundação PT. O protótipo surgiu no âmbito das aulas da

e da recuperação de todo o património da Mata, “um apoio

disciplina de Laboratórios Multimédia 4 do curso de Novas

extraordinário, sem o qual o sucesso alcançado não seria

Tecnologias da Comunicação (Departamento de Comunicação

possível”. O Buçaco passou a ser, desde o início de outubro,

e Arte), sob orientação do docente Carlos Santos, e permite

a primeira mata nacional a receber o certificado de gestão

tarefas como comprar plantas e fazer donativos, saber o local

florestal, implementando os requisitos do Forest Stewardship

da árvore e onde está, fazer uma dedicatória. Terá também uma

Council – FSC®, com apoio da empresa Unimadeiras. A

aplicação para comunicações móveis e deverá estar disponível,

Fundação Mata do Buçaco considera que o trabalho realizado

para o público, até ao segundo trimestre de 2014.

pelo Departamento de Biologia da UA, desde há uma década, e a informação científica reunida a partir desse trabalho, terá tido

A Mata tem vindo a ser palco de um programa de educação

“importância fundamental para a certificação da Mata como

ambiental e educação para a sustentabilidade com atividades

Floresta de Alto Valor de Conservação”.


linhas

dez 2013

Geologia médica, um novo “filão” nas Geociências A saúde também brota das entranhas dos Açores Quando se diz que o Eldorado está agora nos fundos marinhos, vê-se apenas uma parte da questão. As entranhas da Terra continuam a surpreender. Os romanos já sabiam. O pioneirismo da Universidade de Aveiro na área da Geologia Médica deu frutos na forma de sabonetes esfoliantes que se assemelham a calhaus rolados das praias dos Açores, e pode vir a dar géis dermoterapêuticos com inhame e cremes hidratantes com lamas das Caldeiras da Ribeira Grande.

As argilas e as areias usadas para aplicação direta sobre o

quantidades, são fundamentais para a saúde humana, mas

corpo com o objetivo de prevenir e tratar diversos problemas

cuja dosagem excessiva desses mesmos elementos pode ser

de saúde, ou a água mineral usada sob diversas formas, são

altamente prejudicial. O iodo foi uma das primeiras substâncias

apenas alguns exemplos de utilizações dos recursos naturais

inorgânicas para a qual se estabeleceu este tipo de elo”,

da Terra na saúde humana com origens que se perdem no

escreve Nuno Pinto, na dissertação de mestrado “Tradução

tempo. No entanto, a investigação e o uso médico dos recursos

de um glossário de Geologia Médica“ (2010), sob orientação

geológicos no âmbito de uma área científica emergente

científica de Maria Teresa Roberto, Professora Auxiliar do

designada geologia médica ou geomedicina é algo de bastante

Departamento de Línguas e Culturas da UA, e de Eduardo Silva,

mais recente, sobretudo em Portugal.

Professor Catedrático do Departamento de Geociências da UA.

Pode considerar-se que, em muitos destes casos, a ciência veio

No Porto Santo alguns desses recursos, caso da areia

séculos depois do conhecimento empírico e popular, tendo em

especial (carbonatada biogénica) da tão conhecida praia, da

conta que há registos históricos e arqueológicos de aplicações

argila bentonitica, da água do mar e da água de nascente

ainda antes da romanização e que o estudo científico e

da Fontinha, foram objeto de uso tradicional, mas empírico,

sistemático nestas áreas – e noutras - começou a ser mais

ao longo de muitos anos, com reconhecidos benefícios

comum a partir do século XIX. Foi nesse período, por exemplo,

na terapêutica de certas afeções de saúde. O trabalho

que se construíram balneários termais em vários pontos do

conduzido pelos investigadores da unidade de investigação

país. “Aquilo que se pode classificar como a era moderna

Geobiociências, Geotecnologias e Geoengenharias

da Geologia Médica, e em que começa a fazer sentido falar,

(GeoBioTec), sedeada no Departamento de Geociências a partir

efetivamente, de Geologia Médica, tem início no século XIX. Isto

desse conhecimento tradicional e popular abriu a porta a um

ocorre numa altura em que se começa finalmente a perceber

conjunto de outros projetos, nesta área, com enfoque em Porto

que existem certos elementos inorgânicos que, em pequenas

Santo, na Madeira, mas também no arquipélago dos Açores.


47

investigação

Estes recursos começaram a ser estudados dos pontos de vista técnico, científico e clínico, em 1995, por uma equipa multidisciplinar, para o seu aproveitamento e aplicação local em Clínicas de Geomedicina, em Centros de Talassoterapia e em SPA, com coordenação dos investigadores Celso de Sousa Figueiredo Gomes e João Baptista Pereira Silva. A partir de 2006, com outros investigadores da GeoBioTec e também do Centro de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, trabalharam em formulações de dermofármacos e dermocosméticos, tendo por base areia carbonatada biogénica, argila do tipo bentonite, água do mar e água de nascente do Porto Santo. Posteriormente, foram construídas duas clínicas na ilha que aplicam os produtos desenvolvidos. Produtos diferenciados com origem “Açores” Nos Açores, a parceria do GeoBioTec/Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP) e, mais recentemente, com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, financiada pelo INOVA-Instituto de Inovação Tecnológica dos Açores, e no âmbito do projeto Termaz (Programa Pró-Convergência), desenvolve-se em três frentes. Uma delas é o uso da pedra-pomes como esfoliante em sabonetes, outra é a aplicação da seiva do caule e da folha do inhame, cultivado em larga escala no arquipélago, na cicatrização de feridas, e ainda uma outra relacionada com a aplicação de lamas termais para tratamento da psoríase e de doenças osteoarticulares, por exemplo. O objetivo é criar produtos com aplicação dermoterapêutica e em dermocosmética, diferenciados e com marca e identidade Açores. Os estudos envolveram técnicas analíticas para comprovar o uso clínico da aplicação tradicional e, no caso do sabonete esfoliante que está mais avançado e prestes a entrar no mercado, envolveu teste em cerca de 300 voluntários e pacientes. Para além do uso dermocosmético, os estudos concluíram que os pacientes com a pele bem esfoliada e preparada (sem sujidade, células mortas,…) reagiam melhor à eficácia dos tratamentos naturais (peloterapia, arenoterapia, talassoterapia), afirma o investigador João Baptista Silva, dado que a esfoliação também contribuiu para uma melhor eficácia na absorção dos medicamentos utilizados em adesivos ou

João Baptista Silva testa geomateriais em sabonetes esfoliantes

pensos transdérmicos (anti tabagismo, anti concepcional, anti inflamatório, entre outros).

moderado a suave para serem utilizadas no corpo e no rosto, e numa terceira entram as micas da região de Aveiro, para o

Como produto final, os sabonetes que resultaram desta

rosto. Os três tipos de recurso geológico (geomateriais) existem

investigação tomando a forma e a cor de calhaus rolados

em grande quantidades na natureza e, mesmo no caso em que

das praias dos Açores e exalando fragâncias de aerossóis

as quantidades em meio natural são menores, relativamente

marinhos, apresentam-se sob vários graus de esfoliação, ou

falando, como a pedra-pomes, as questões de sustentabilidade

de abrasividade. Numa das formulações entra a pedra-pomes,

estão salvaguardas, considera Fernando Tavares Rocha,

de abrasividade forte a moderada, para uso da remoção das

professor e diretor da unidade de investigação GeoBioTec:

calosidades da planta dos pés e da palma das mãos, noutra

“Qualquer que seja a formulação, estes recursos nunca entram

entram as areias carbonatadas de Porto Santo, de grau

em mais de 10 por cento em cada sabonete”.


linhas

dez 2013

No caso concreto da pedra-pomes, antes extraída na Graciosa e

mordedura pelos cães pastores (cão de fila de São Miguel),

S. Miguel, para além do uso direto como esfoliante, era sobretudo

e a folha do inhame é utilizada para embrulhar o queijo fresco

usada como componente do cimento na construção civil.

e o requeijão e evitar que azedem durante três a cinco dias.

A aplicação que foi possível com esta investigação, à indústria química e à dermocosmética, proveniente agora da saibreira

Neste caso, a investigação, com a colaboração da FFUP e do

do Pisão, explorada pela Cimpor/Secil, no sítio de Água d`Alto,

laboratório associado REQUIMTE (Universidade do Porto),

também em S. Miguel, representa um acréscimo de centenas de

incidiu sobre várias partes/componentes da planta do inhame

vezes na valorização do produto, assinala João Baptista Silva. Ou

em diferentes estádios vegetativos, da qual existem cinco

seja, também por esta via o caminho é a sustentabilidade no uso

variedades, entre cultivos de água quente, água fria e sequeiro.

destes recursos, salienta.

A planta nunca foi objeto de fertilização artificial.

Aplicação de lamas termais e plantação de inhame (à direita)

Lamas termais em cremes

Foram identificados 32 compostos fenólicos não conhecidos

“As principais aplicações da argila/lamas em Peloterapia têm

antes nesta planta. O trabalho deu origem a artigos em

lugar sob a forma de aplicações diretas no tratamento de

publicações de grande impacto, como a Elsevier e o Jornal

afeções da pele, tais como, psoríase (Trespolli et al., 1996),

Americano de Agricultura.

seborreia (Torresani, 1990, in Gomes, 2002) e acne ou sob a forma de cataplasmas no tratamento de afeções reumáticas

No caso dos sabonetes esfoliantes com pedra pomes, já

(Messini, 1960), antropatias, e em processos pós-traumáticos

surgiram três empresas interessadas em comercializar, tendo

e luxações (Letizia, 1975, in Gomes, 2002)”, escreve Denise

uma delas mostrado a intenção de colocar o produto numa loja

Lara Terroso na dissertação “Argilas/ Lamas e Águas Termais

de referência do circuito internacional, em Londres.

das Furnas (Açores): Avaliação das Propriedades Físicas e Químicas relevantes para a utilização em Peloterapia”,

Na Madeira e nos Açores começa, assim, a juntar-se a

apresentada à UA, sob a orientação de Fernando Tavares

dimensão do turismo de saúde às dimensões de turismo

Rocha e de Eduardo Silva. Nesse sentido, estuda-se a

de natureza e a outras já conhecidas nas ilhas. O trabalho

aplicação em cremes das lamas termais, nomeadamente as

realizado no Porto Santo deu origem a várias publicações, com

do antigo Balneário da Coroa, em S. Miguel, criado no início

particular destaque para o livro lançado na UA, em 2012: «Ilha

do século XIX, lamas essas que eram aplicadas tal qual com

do Porto Santo: Estância Singular de Saúde Natural / Porto

fins terapêuticos.

Santo Island: Unique Natural Health Resort», de Celso Gomes e João Baptista Silva. Este último investigador é também autor

Para melhorar ainda as propriedades terapêuticas, consideram-se

de um conjunto de trabalhos de divulgação técnica, científica

formulações com percentagem de seiva retirada do caule do

e pedagógica, nomeadamente duas séries de documentários

inhame, cultivado em grandes áreas na freguesia das Furnas na

televisivos exibidas pela RTP (“O tempo escrito nas rochas”,

ilha de S. Miguel. A seiva do caule é tradicionalmente usada na

em 2007, e “Pedras que Falam”, em 2012) nas áreas das

cicatrização de feridas, por exemplo, nas patas do gado após a

geociências e da geoengenharia do arquipélago da Madeira.


Consumidor endividado conta com gabinete de apoio na UA A Universidade de Aveiro possui, desde o início de novembro, um

o apoio sem sobrecarregar o seu orçamento familiar, e isso é

novo serviço, totalmente gratuito, que ajuda os cidadãos a gerir

extremamente importante. Temos o apoio do Banco de Portugal

dívidas e a prevenir o seu incumprimento. O Gabinete Extrajudicial

e da Direção Geral do Consumidor e gostaríamos de não ter

de Apoio ao Consumidor Endividado (GEACE), funciona no Campus

muitas solicitações, o que significaria que as pessoas não teriam

Universitário, três dias por semana, mediante marcação prévia.

problemas financeiros”, afirmou Clara Magalhães, docente da UAe coordenadora do GEACE.

A crise e a austeridade continuam a deixar marcas nas carteiras dos portugueses. Créditos acumulados, a súbita redução do

“Ficamos muitos satisfeitos pelo facto de a UA ter sido convidada

orçamento familiar ou o aumento das despesas de casa são

a integrar esta rede”, salientou a responsável, que reconhece

fatores que podem contribuir para o endividamento. Consumidores

no convite o apreço pelo “vasto trabalho que a UA tem feito na

em situação de risco ou cidadãos que precisem de ajuda para gerir

divulgação da literacia financeira, concretizada através do Projeto

as suas finanças podem contar agora com um serviço de apoio.

Matemática-Ensino (PmatE), do projeto europeu Dolceta (cuja coordenação esteve a cargo de Clara Magalhães) e das várias

O Gabinete recentemente criado integra a Rede de Apoio ao

iniciativas promovidas pelo Departamento de Economia, Gestão e

Consumidor Endividado, um consórcio nacional, composto

Engenharia Industrial e pelo Instituto Superior de Contabilidade e

por 17 entidades devidamente reconhecidas, e que vão apoiar

Administração da Universidade de Aveiro (ISCA-UA)”.

clientes bancários com dificuldades no cumprimento de contratos de crédito. O seu trabalho é informar, aconselhar

O GEACE – UA é composto por uma equipa de cerca de

e acompanhar esses clientes em risco de incumprimento ou

15 membros da comunidade académica, entre docentes,

que já tenham prestações de crédito em atraso.

investigadores, alunos de pós-graduação e funcionários da UA.

Uma das funções do GEACE – UA é a de informar os clientes

Este novo serviço foi apresentado no ISCA-UA, a 31 de outubro,

bancários sobre os seus direitos e deveres, em caso de risco

data em que se assinalou o dia mundial da poupança e da

de incumprimento de contratos de crédito, no âmbito do

formação financeira. O gabinete é apoiado pelo Banco de Portugal

Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações

e pela Direção Geral do Consumidor.

de Incumprimento e do regime extraordinário de proteção de devedores em situação económica muito difícil. COMO FUNCIONA

Quem recorrer ao Gabinete poderá obter, também, ajuda

O atendimento realiza-se às segundas, quartas e sextas, das 17h00

na avaliação da sua capacidade de endividamento. Ou seja,

às 20h00. Fora deste horário as chamadas serão gravadas e, caso

a equipa de aconselhamento está apta a apoiar um cliente

os interessados deixem os seus contatos, serão contactados

bancário na análise das propostas, apresentadas pelas

posteriormente. O GEACE-UA está instalado no Campus

instituições de crédito, e na adequação de tais propostas

Universitário de Santiago, na Zona Técnica e Comercial.

à situação financeira, objetivos e necessidades. Um cliente

O gabinete também pode ser contactado por e-mail (geace@

bancário em dificuldades pode também fazer-se acompanhar

ua.pt) e por telefone (234 247154). Para ser acompanhado, cada

por representantes do GEACE – UA se necessitar de negociar

consumidor tem de preencher um formulário com as informações

(com as instituições de crédito) as propostas apresentadas.

sobre os vários empréstimos e dívidas que possui. O apoio é dirigido a toda a população e pode prolongar-se durante o tempo

“Com a criação deste gabinete, os cidadãos da região de Aveiro sabem que têm um sítio onde se dirigir, que lhes presta todo

que for necessário, consoante cada situação.


linhas

dez 2013

Reda, Egito

Pegah, Irão

Stanley, Nigéria

“O Departamento de Química faz um trabalho

“Aqui os professores são muito mais próximos

“As pessoas têm ideias estereotipadas sobre o ensino na Grã

reconhecido e os professores estão sempre

dos alunos, preocupam-se muito connosco”

Bretanha e nos EUA… Não conhecem Portugal nem o ensino

dispostos a ajudar os alunos!”

praticado aqui. É um país que tem evoluído muito nesta área!”

UA: um campus Multicultural Um passeio pelo campus da

e Pegah e Anahita não usam véu,

Materiais. Passou por outros países,

Universidade de Aveiro revela

pelo menos em Aveiro. Explicam que

mas regressou para um doutoramento

uma grande diversidade de caras,

o véu é árabe e eles são persas, mas

na mesma área. A família juntou-se a

roupas, estilos… de pessoas.

reconhecem que quando regressam

ele no início de 2013: a mulher, a tirar

A UA está cada vez mais internacional,

“a casa” usam-no.

um doutoramento no Departamento

com alunos e investigadores oriundos

de Biologia, e dois filhos, um menino

dos “quatro cantos do mundo”. Vêm

Gostam muito de estar em Aveiro, do

de sete anos e uma menina de seis. E

de paragens mais “próximas”, como

campus, das pessoas. Só não gostam

é através dos filhos que é "obrigado"

o Brasil, Moçambique, Cabo Verde

muito do clima… “Hoje está muito frio”,

a falar português: “A minha filha já

ou Timor Leste, mas também mais

diz Ali. “No Irão podemos ir ao norte e

fala muito bem, melhor do que eu!

longínquas, como a Índia, Bangladeche,

ter chuva, neve nas montanhas e muito

Surpreende-me vê-la a comunicar com

Irão, Paquistão ou Nigéria. São inúmeras

calor no sul. Mas aqui temos muito

as pessoas! O menino teve um pouco

as origens daqueles que estão

vento!”, lamenta Anahita. “Com o vento

mais de dificuldades, uma vez que está a

ou já passaram pela UA nos últimos

não se vê ninguém na rua. No Irão há

aprender a escrever e a ler numa língua

40 anos, fazendo deste um campus

sempre muita gente na rua, mesmo com

que não é a sua. Com os trabalhos

verdadeiramente multicultural.

neve”, acrescenta Pegah.

de casa, por vezes vamos ao Google

Anahita Malek, iraniana, já percorreu

Frequentam aulas de português

boa parte do mundo e ainda não vai

mas preferem falar em inglês para

Mohamed Karmaoui, da Argélia, também

ficar por aqui. Está em Aveiro a fazer um

comunicarem. Como fazem para ir

já está em Aveiro há vários anos, desde

pós-doutoramento em Turismo, depois

ao supermercado? Ou para ler

2006, e é um “homem do mundo”: saiu do

do doutoramento feito na Malásia, onde

as placas nas ruas? “Estamos a

seu país para estudar em França e depois

viveu seis anos. Ali Zadeh, estudante do

aprender, mas a língua é muito difícil”,

foi para a Alemanha tirar um mestrado.

Programa Doutoral em Engenharia de

afirma Anahita. “E a maior parte das

Fez o doutoramento em Química na UA

Materiais, e a esposa, Pegah Mirzadeh,

pessoas fala inglês, pelo menos na

e agora está num pós-doutoramento.

aluna do Programa Doutoral em

Universidade”, sublinham.

Assim, a língua de Camões já não lhe é

traduzir certas frases!”

Engenharia Física, estão em Aveiro há dois anos.

completamente estranha. O mesmo não pode dizer Stanley Ofoegbu, nigeriano, que chegou

O que ainda não conseguiu “entranhar”

Os três apresentam-se fisicamente

à UA em 2008 com uma bolsa de

é a burocracia: “Por exemplo, para

muito longe dos estereótipos em relação

estudos para o mestrado Erasmus

tratar da renovação da autorização de

aos muçulmanos: Ali não tem bigode

Mundus em Ciência e Engenharia de

residência tenho de apresentar muitos


51

ensino

Mohamed, Argélia

Anahita, Irão

Ali, Irão

Sasmita, Índia

“Sou Portista há 25 anos, ainda antes de

“As pessoas em Portugal de início são um

“Portugal tem os melhores vinhos

“Esta universidade dá oportunidades a todos

vir para cá, desde o tempo em que Madjer

pouco fechadas, mas depois são muito mais

que já provei!”

os estudantes independentemente das origens

jogou no Futebol Clube do Porto!”

simpáticas do que noutros países Europeus!”

dos alunos e da sua religião ou cultura.”

mais papéis do que noutros países! Mas

de Química, que faz um trabalho

Todos são unânimes em afirmar que os

não é algo problemático, aprende-se a

reconhecido a nível internacional”, frisa.

portugueses são muito simpáticos, o que

viver com isso”, explica. Reda Ahmed,

“Os professores estão sempre dispostos

facilita a integração e o desejo de muitos

do Egito, aluno do Programa Doutoral

ajudar-nos. E a diversidade de culturas

em continuarem cá. “Nestes quase três

em Química, diz mesmo que essa é “a

na universidade é enorme! Isso também

anos aqui, aprendi uma coisa: se queres

única queixa” que tem.

facilitou a integração”.

ser feliz, começa a relacionar-te com as pessoas, a conhecê-las. Inicialmente

Os dois estão sozinhos em Aveiro:

A indiana Sasmita Mohanti veio para

era muito reservado. Mais tarde, fiz bons

Mohamed ainda espera encontrar uma

a UA com o marido, que está a tirar

amigos. Isso fez-me mais feliz e tornou

namorada portuguesa. Reda deixou a

um doutoramento no Departamento

a minha adaptação muito mais fácil”, diz

mulher e uma filha no Cairo.

de Eletrónica, Telecomunicações e

Reda. Porque a amizade não conhece

Informática. Fez cá um mestrado e

línguas nem etnias.

Sozinhos, como matam as saudades

agora é aluna do Programa Doutoral

de casa? Passeiam com os amigos

em Marketing e Estratégia. Tem

A UA abriu-lhes as portas. Eles serão

portugueses, celebram as datas especiais

amigos indianos que já cá tinham

embaixadores desta casa pelo mundo fora…

com colegas do mesmo país ou religião e

estudado; sabia que as instalações

vão passar férias a casa quando possível.

e a investigação eram boas e que a

Reda vê filmes egípcios.

universidade tem prestígio. Por isso,

No presente ano letivo 2013/2014, a UA

escolheu a UA. “Esta Universidade dá

integra estudantes, docentes, não docentes

Outra forma de diminuir a distância

oportunidades a todos os estudantes

e investigadores de 77 nacionalidades:

é através da gastronomia. Anahita,

independentemente das suas origens,

Pegah, Ali, Mohamed e Reda vão

religião ou cultura”, destaca.

ao Porto, sempre que podem, a um

Afeganistão, Alemanha, Angola, Argélia, Argentina, Áustria, Bangladesh, Bélgica, Brasil, Botswana, Bósnia e Herzegovina, Bielorrússia, Bulgária, Cabo Verde, Camarões, Canadá,

talho muçulmano. Mas os restantes

Quando as saudades de casa apertam,

China, Chile, Chade, Cazaquistão, Colômbia,

ingredientes encontram-nos facilmente

Sasmita concentra-se nos estudos e

Croácia, Cuba, Egito, Equador, Eslováquia,

em Aveiro. Os amigos portugueses

aproveita as férias para passear com

pedem para fazer pratos típicos dos

amigos e o marido: “Às vezes tenho

seus países e eles aprendem também a

saudades de casa. Mas se focarmos a

confecionar alguns portugueses. De entre

nossa atenção nos estudos e passarmos

Líbia, Lituânia, Luxemburgo, Marrocos,

os preferidos destaca-se o bacalhau, o

uns bons momentos livres, supera-se bem”.

México, Moçambique, Nepal, Níger, Nigéria,

Eslovénia, Espanha, EUA, Estónia, Etiópia, Finlândia, França, Grécia, Guiné Bissau, Holanda, Ilhas Virgens Britânicas, Índia, Irão, Iraque, Irlanda, Itália, Japão, Jordânia, Letónia,

Noruega, Nova Zelândia, Paquistão, Polónia,

cozido à portuguesa e a francesinha. Apesar de estar longe de casa, consegue

Reino Unido, República Checa, República da Moldávia, Roménia, Rússia, São Tomé

Reda não conhecia ninguém em Aveiro

celebrar as “suas” datas especiais,

nem nunca tinha vindo a Portugal,

juntamente com outros indianos. Organizam

Tanzânia, Timor-Leste, Trinidad e Tobago,

mas escolheu a UA pela “qualidade da

festivais na universidade, em casa de

Tunísia, Turquia, Ucrânia, Uruguai e Venezuela.

educação, pelo clima e pelo Departamento

colegas ou em espaços livres da cidade.

e Príncipe, Sérvia, Sudão, Suécia, Suíça,


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dez 2013

ESAN Uma escola para o futuro A Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologia de Produção Aveiro Norte (ESAN) da Universidade de Aveiro conta com novas instalações no Parque do Cercal - Campus para a Inovação, Competitividade e Empreendedorismo Qualificado, em Oliveira de Azeméis. Inaugurado a 16 de dezembro de 2013, este edifício é

vida deste equipamento, sendo esta zona quase de uso exclusivo

unanimemente classificado como criativo, original, inovador

dos professores. O outro eixo de circulação faz a distribuição

invulgar em termos arquitectónicos.

para as salas de aulas e para os laboratórios, albergando os maiores fluxos diários de circulação, que são dos alunos.

O novo imóvel tem 180 metros de comprimento e o formato de uma ponte suspensa, uma vez que pousa sob os dois extremos

Estas duas circulações cruzam-se apenas nas zonas em

do terreno, respeitando a topografia do espaço. Com uma área

que foram introduzidos equipamentos de uso coletivo,

de implantação e área bruta de construção de 4206.00 m2, o

nomeadamente caixas de escadas e instalações sanitárias.

edifício conta com laboratórios, oficinas, um auditório, biblioteca,

Nas extremidades do imóvel localizam-se os espaços sociais,

salas de aula, salas de formação, salas de reuniões, bar e

bar, auditório e biblioteca.

gabinetes de docentes. O edifício é inovador também ao nível da eficiência energética, A acessibilidade ao interior do imóvel é feita pelos dois extremos

pois recorre à energia geotérmica (captada no solo) e à biotermia

(os pontos de contacto com o solo), e através de três caixas de

para o aquecimento.

escadas que vêm do edifício até ao terreno. As novas instalações da ESAN resultam da assinatura, em No interior existe uma série de gabinetes associados a um

setembro de 2009, de um protocolo entre a autarquia de

corredor, de modo criar uma zona mais reservada ao bulício da

Oliveira de Azeméis e a UA. O projeto de arquitetura é da


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responsabilidade de Joaquim de Oliveira (Estrutura de Projeto de Arquitetura e Desenvolvimento Físico da UA). Atualmente a ESAN desenvolve atividade nas áreas do design e desenvolvimento de produto, da organização industrial, das tecnologias e sistemas da produção e das tecnologias e sistemas de informação e comunicação, quer através de oferta de ensino de nível superior,quer através de oferta de ensino e formação pós-secundária de natureza técnica e profissionalizante. O edifício da ESAN está integrado no Parque do Cercal - Campus para a Inovação, Competitividade e Empreendedorismo Qualificado, um projeto da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis que, além da componente de ensino, envolve valências como investigação e desenvolvimento tecnológico, apoio à incubação de novas empresas, estímulo ao empreendedorismo, promoção do emprego qualificado e apoio ao tecido económico local e regional.

campus exemplar


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dez 2013

Cerâmicas, gravuras, vidros, discos e instrumentos musicais formam uma coleção em crescimento

Tesouros desconhecidos do Museu da UA mostram-se ao público São quatro décadas de história, mas também de dinâmica e de sensibilidade cultural que se espraiam em quatro espaços da Universidade de Aveiro. Os tesouros escondidos no Museu da UA assumem a forma de cerâmicas, gravuras, vidros, discos e instrumentos musicais e revelam-se ao público, a partir de 16 de dezembro, formando uma “coleção em crescimento”. Fazê-la expandir-se é, também, difundir o património desta instituição que, desde há 40 anos, faz da riqueza do passado a matéria-prima para a construção do futuro. Atento à sua função de preservar e divulgar o património da UA, o Núcleo de Museologia da Universidade promove, através desta pequena mostra, o conhecimento de uma parte das coleções museológicas da Universidade, abarcando as áreas de cerâmica, gravura, música e vidro. Distribuídas por quatro espaços do Campus Universitário (Sala de Exposições Hélène de Beauvoir da Biblioteca, Galeria de Exposições da Livraria, Átrio da Reitoria e Espaço Museológico da Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro), alguns dos artefactos incorporam o conjunto de mais de 10 mil objetos museológicos doados à UA, particularmente nestes dez últimos anos. São peças, raras algumas, a maioria das quais nunca antes exposta publicamente. Grande parte delas data dos séculos XIX e XX, mas é possível encontrar, igualmente, exemplares que recuam ao século XV e, mais curioso ainda, a períodos pré-históricos e geograficamente ligados ao campus da UA e que, pela primeira vez, se trazem a público. Com inauguração agendada para o dia do 40º Aniversário da UA, a exposição “O Museu da UA … uma coleção em crescimento” reúne trabalhos inéditos Almada Negreiros, Cruzeiro Seixas, Manuel Cargaleiro e Julião Sarmento, entre muitos outros artistas consagrados, que construíram a história das artes em Portugal, nos últimos séculos. No acervo selecionado cabem obras obtidas por via de aquisições e de doações de artistas e colecionadores. Para conhecer estes “tesouros” basta passar pelos espaços identificados, de segunda a sábado, das 9h00 às 18h00, até 31 de janeiro de 2014.


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cultural

A coleção de cerâmica contemporânea Foi constituída a partir da doação de Francisco Madeira Luís, o colecionador que entregou à UA grande parte das suas coleções. É composta por cerca de três mil objetos e comporta, essencialmente, cerâmica de equipamento: loiças para refeições, armazenamento de alimentos, higiene e peças decorativas. Existem também alguns objetos de cerâmica de revestimento e moldes. ensinasse o seu ofício. A Gravura As peças foram fabricadas entre os

Sociedade Cooperativa de Gravadores

séculos XIX e XX, tendo sido recolhidas

Portugueses (SCGP) é fundada em

pelo doador na década de 70. São, na

Lisboa, nesse mesmo ano, tendo

sua maioria, portuguesas e provenientes

como pano de fundo contributos de

de várias unidades industriais do país,

artistas como, entre outros, Vieira da

sendo que, grande parte destas já não

Silva, Almada Negreiros e Júlio Pomar,

A coleção de vidros

se encontra em funcionamento. Marcam

e os apoios da Fundação Calouste

Doada à UA em 2001, a “coleção de vidros

uma época de forte tradição de fabrico

Gulbenkian. O seu exercício tornou-se

Madeira Luís” é constituída por mais de

cerâmico influenciado por técnicas,

numa das mais fecundas e determinantes

três mil exemplares de vidro vulgar, de

estilos e motivos estrangeiros.

experiências artísticas da cultura plástica

fabrico português e, na sua maior parte, de

portuguesa do século XX.

natureza utilitária. A coleção contém ainda

Serão expostos exemplares de diversas

algumas peças de luxo. O âmbito temporal

fábricas já extintas, com destaque para

Com mais de 1400 associados - entre os

abrange a segunda metade do séc. XIX e

a Fábrica de Loiça de Sacavém, com

quais o colecionador e sócio fundador

a primeira do séc. XX havendo, no entanto,

grande representatividade na coleção, a

Francisco Madeira Luís - a SCGP

alguns objetos dos finais do séc. XVIII e

Fábrica Lusitânia (unidade de Coimbra),

contribuiu para lecionar cursos práticos

princípios do século seguinte, assim como

a Fábrica do Desterro (Lisboa), a

de gravura onde se abordaram técnicas

outros posteriores a 1950.

Fábrica de Massarelos (Porto), a de São

novas como a xilogravura, a linogravura,

Roque (Aveiro) e a Fábrica de Louça de

a litogravura, ou a talhe-doce. Exposições

Trata-se de uma mostra de vidros de uso

Alcântara, que estão representadas com

em Paris, Madrid, Rio de Janeiro,

quotidiano, a maior parte fabricada em

louças para refeições, bebidas, peças de

Nápoles, Buenos Aires, Tóquio, Barcelona

Portugal, embora haja algumas peças

higiene e decorativas.

decorreram, então, com a participação

reconhecidamente estrangeiras.

de obras produzidas pelos gravadores

Na coleção encontram-se objetos tão

A mostra vai integrar, ainda, peças de

da SCGP. Entre 1956 e 2004, ano

variados como garrafas de bebidas,

outras unidades industriais em atividade,

marcado pelo encerramento da SCGP,

garrafas e frascos de comércio

como é o caso da Fábrica da Vista

foram criados cerca de 640 exemplares

farmacêutico, perfumes e cosméticos,

Alegre (Ílhavo), de grande valor histórico

únicos, que marcaram a produção de

frascos e boiões de alimentos conservados

nacional e internacional, e a Fábrica Aleluia

arte moderna em Portugal. Desse raro

e temperos, salvas de pé, galheteiros ou

(Aveiro), reconhecida essencialmente pela

conjunto, 257 integram agora o acervo

até bebedouros para pássaros que, já no

azulejaria tradicional e outros revestimentos

da UA, graças à doação que Francisco

séc. XVIII, saíram da Real Fábrica de Vidros

cerâmicos. Mas haverá, também, um

Madeira Luís fez, em 2012, à academia.

da Marinha Grande.

destacam pelo seu curioso aspeto utilitário

Almada Negreiros, João Abel Manta,

Existem também exemplares associados

e histórico, como é o caso da bacia de

Maria Gabriel, Júlio Pomar, José de

a hábitos sociais relativamente recentes,

barba e da faiança ratinha.

Guimarães, Cruzeiro Seixas ou Emília

como é o caso do consumo de ginjinha,

Nadal são alguns dos nomes sonantes,

popularizada nos meados do séc. XIX,

A coleção de gravuras

de um período neorrealista e modernista

ou a ingestão de porções calculadas,

Até 1956, não havia em Portugal

de produção artística, associados às

mediante o uso de copos graduados,

quem produzisse gravuras, nem quem

obras que se expõem.

em estâncias termais.

conjunto de peças sem marcação que se


linhas

dez 2013

Esta coleção é formada por peças

nomeadamente no Porto e em Lisboa,

obtidas pelo método de sopragem

outros há, que foram gravados em

livre, sopragem em moldes e peças

cidades como Londres, Paris, Berlim,

prensadas.

Rio de Janeiro ou Nova Iorque.

A coleção de Discos Goma-laca

Temas como o Fado Hylario ou Oh Júlia,

José Moças

ambos de 1900, ou gravações retiradas,

Esta vasta coleção de discos Goma-laca

por exemplo da revista Ahi… Pá, fazem

78rpm de música portuguesa foi doada

parte da nossa história. Estes registos

pelo colecionador José Moças, proprietário

são fruto e imagem sonora duma época,

da editora Tradisom. É constituída por

o findar do século XIX e a entrada no

cerca de seis mil discos, na sua maioria

século XX, um período de revoluções

gravações de fado. Predominam também,

tecnológicas, ideológicas e politicas.

entre outros registos, temas de música

Um outro exemplo que estará patente

tradicional portuguesa, música para

nesta mostra é a gravação Comício

teatro de revista, monólogos, gravações

Republicano n’aldeia, de 1908, onde é

referentes à implantação da República em

notória a agitação popular desses tempos.

Portugal ou ópera. A coleção de instrumentos musicais Os discos mais antigos desta

Os sete instrumentos musicais incluídos

coleção datam de 1900. São quatro

nesta exposição, construídos em madeiras

discos gravados no Porto, quando

nobres, testemunham a mestria do seu

os funcionários de Émile Berliner

construtor, o “violeiro” Joaquim Domingos

promoviam o Gramofone na Europa.

Capela, ao longo de várias décadas.

Apesar dos exemplares a expor terem sido todos gravados em Portugal,

Desta coleção pessoal, da qual fazem parte 135 instrumentos, o artesão doou mais de duas dezenas à Coleção Museológica da UA. Outros artefactos foram igualmente doados, quer a museus internacionais quer a museus nacionais, tais como o Royal Academy of Music de Londres, o Stradivari Museum, em Cremona, e o Museu da Música, em Lisboa, entre outros. Destaca-se a oferta pessoal a Amália Rodrigues, em 1986, de uma guitarra portuguesa. Nesta mostra pode ser apreciada uma cópia do violino gravado “Greffuhle” de 1709; uma viola do período romântico, de 1820, original de Grobert; e uma viola de amor, inspirada na do violeiro Johann Ulrich Eberle, de 1739. Além destes, a mostra integra ainda uma bandola, um bandolim napolitano (modelo português), um alaúde e, curiosamente, o primeiro violino (tamanho ¼), que Joaquim Domingos Capela construiu com apenas nove anos de idade, uma pequena relíquia que juntou aos instrumentos que doou à UA.


57

aconteceu cultural na ua

ACONTECEU NA UA Eventos passados de destaque

UA CRIA GRUPO DE TRABALHO PARA

MINISTROS DE PORTUGAL E

AJUDAR NA GESTÃO DA RIA DE AVEIRO

BRASIL NA UA PARA IMPULSIONAR

Chama-se Grupo uariadeaveiro e

AQUACULTURA E PARCERIAS DO MAR

pretende mobilizar o conhecimento

As novas oportunidades para investir

produzido sobre a Ria de Aveiro na

na aquacultura e o longo caminho

Universidade para facilitar o diálogo com

que há para percorrer nesta área

FESTIVAIS DE OUTONO 2013:

os parceiros da região e ajudar na gestão

dominaram o seminário “Aquacultura

DO ERUDITO AO JAZZ SEM

deste grande conjunto de ecossistemas

e Pescas, Oportunidades de Negócio,

ESQUECER AS CRIANÇAS

que se estende por cerca de 45

Portugal-Brasil”, dia 25 de novembro,

A diversidade e a qualidade reforçou-se na

quilómetros paralelamente ao mar.

com a presença de governantes,

edição de 2013 dos Festivais de Outono

nomeadamente os dois ministros

(FO), de 18 de outubro a 22 de novembro,

Teresa Fidélis, professora do

de Portugal e Brasil que tutelam o

iniciativa anual da Universidade de Aveiro.

Departamento de Ambiente e

setor, para além de entidades oficiais,

Procurando servir a região e o país com

Ordenamento e coordenadora, espera

investigadores e empresários. A ministra

uma oferta musical e cultural para gostos

que o Grupo, com a evolução do

Assunção Cristas, recordou à assistência

distintos, da edição deste ano dos FO

trabalho, possa vir a contribuir para a

brasileira a porta de entrada, que

constaram a música clássica, o jazz,

gestão da Ria e a disponibilizar um site

Portugal pode vir a constituir, para um

espetáculos que cruzam música e teatro

com “o mais importante acervo sobre a

mercado de 500 milhões de habitantes.

e criações especialmente dirigidas às

Ria de Aveiro no país”.

crianças, eventos em formato de concerto

A governante referiu as novas

sinfónico, de recital (música de câmara ou

O Grupo uariadeaveiro está a promover,

condições existentes para apoio ao

a solo) e outros pensados para músicos

em conjunto com o Cine Clube de Avanca

investimento, nomeadamente a recém

e investigadores, como conferências e

e o Teatro Aveirense, um ciclo de cinema

reprogramação do PROMAR para

masterclasses. Estas foram orientadas

com sessões acompanhadas de debate

projetos de aquacultura, às quais

por referências dos panoramas musicais

e obras todas elas filmadas na Ria, de

não será estranha a entrada de 13

nacional e internacional.

autores portugueses. O Grupo promove

projetos com investimento previsto

ainda o ciclo de conversas “Quintas da

de 18 milhões de euros, entre 24 de

O programa para 2013 reforçou a

Ria”, em colaboração com a Fábrica

agosto e 30 de setembro, no Algarve.

“intenção das edições mais recentes de

Centro Ciência Viva de Aveiro, como

Por outro lado, está em discussão, na

providenciar espaço de palco para artistas

o objetivo de incentivar a partilha de

Assembleia da República, a proposta

portugueses de alto valor”, caraterizou

conhecimentos sobre a Ria de Aveiro e,

de Lei de Bases do Ordenamento

António Chagas Rosa, professor do

em conjunto com a sociedade, contribuir

Marítimo que, se aprovada, enquadrará

Departamento de Comunicação e Arte

para a construção de valores e a proteção

a concessão de zonas para aquacultura

(DeCA) e programador dos Festivais.

e valorização.

com licenciamento preparado e


linhas

dez2013 2013 set

questões ambientais incorporadas, ou

aprendizagem, sempre em contacto com

seja, oportunidades “chave na mão”.

a ciência que por cá se faz. No total, contaram-se cerca de 90 atividades

Perspetivam-se, na sequência deste

e quase 400 sessões, abrangendo

encontro, parcerias que envolvem,

inúmeras áreas do saber.

entre outras vertentes, tecnologia de ponta usada por empresas da região

Pela primeira vez, o Departamento

de Aveiro no setor da aquacultura e

de Economia, Gestão e Engenharia

pescas e também novos investimentos

Industrial propôs atividades:

para a região. No caso concreto da UA,

“Economicando”, um jogo on line

ISCA-UA ASSINALOU 42 ANOS

espera-se o reforço do trabalho em

sobre economia, e ainda uma reflexão

COM SEMANA REPLETA

rede, afirmou Amadeu Soares, diretor

promovida pela equipa do projeto

DE ATIVIDADES

do Departamento de Biologia da UA

GenTour sobre se “Poderá a igualdade

O programa de comemorações do 42º

e organizador, pela UA, do encontro,

de género impulsionar a criação de

aniversário e Dia do Instituto Superior de

e ainda o incremento da colaboração

formas inovadoras de crescimento

Contabilidade e Administração (ISCA-UA)

já existente ao nível da formação,

económico no setor do turismo?”.

arrancou a 19 de outubro, com a sessão

investigação e ligação às empresas,

de homenagem ao falecido professor

que incluem, por exemplo, a aplicação

CICLO “HAVÍAMOS DE FALAR DISSO”

Domingos Cravo e prolongou-se por

de “know how” da UA no estudo do

JUNTA CIENTISTAS, ARTISTAS

uma semana.

cultivo de espécies brasileiras ainda não

E PENSADORES PORTUGUESES

usadas em aquacultura, de espécies

O Centro de Investigação em Materiais

Realizou-se ainda, neste âmbito, a

ornamentais e de iscos vivos.

Cerâmicos e Compósitos (Laboratório

2ª edição do Scientia, o seminário

Associado da Universidade de Aveiro)

de investigação que contou com a

e a Fábrica Centro Ciência Viva de

apresentação de trabalhos de alguns

Aveiro recebe alguns dos mais notáveis

professores do ISCA-UA, assim como

cientistas, artistas e pensadores

com a especial participação de Marta

portugueses para conversas mensais

Guerreiro, do Instituto Politécnico de

sobre diferentes áreas do saber, sob o

Viana do Castelo. O dia seguinte esteve

título “Havíamos de falar disso…”.

reservado para as escolas secundárias. Na quarta-feira as línguas tomaram

Dirigidas aos públicos jovem e

conta do Instituto. A 24 de outubro

adulto, as conversas têm entrada

teve lugar o momento de convívio

livre e integram o programa das

da AEISCAA, com o tradicional “porco

SEMANA ABERTA DA CIÊNCIA E

comemorações dos 40 anos da UA.

no espeto”. A festa teve início às 19h00,

TECNOLOGIA DA UA PROPÕE QUASE

A moderação das conversas é feita

no jardim do ISCA-UA. Sexta-feira,

90 ATIVIDADES E 400 SESSÕES

por Nuno Camarneiro, investigador no

25 de outubro, foi um dia de reflexão

A Semana Aberta da Ciência e

CICECO e Prémio Leya 2012.

partilhada entre professores, estudantes

Tecnologia da Universidade de Aveiro

e investigadores. Esteve patente,

decorreu de 18 a 22 de novembro,

As conversas decorrem no Teatro

paralelamente, na Biblioteca do

com atividades para todos os gostos.

Aveirense, no inicio de cada mês.

ISCA-UA, a exposição fotográfica

Departamentos e escolas politécnicas

Os temas em destaque , entre janeiro

“Lost”, da autoria de João Batista.

da UA abriram as portas a escolas e

e abril são: tempo, Deus, medo, sexo

famílias para momentos de diversão e

e morte.


59

cultural


linhas

dez 2013


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