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OLIVIA AILA MARINHO DA SILVA - Ananindeua, PA

OLIVIA AILA MARINHO DA SILVA - Ananindeua, PA Escritora, editora e professora

A ANCESTRALIDADE DOS FATOS

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Mais um churrasco de família chegou ao seu fim, num domingo de Sol com cara de muita chuva por vir, e a chuva veio. A chuva molhou que molhou por horas quase sem fim, alagando umas partes aqui e acolá da cidade e das cidades vizinhas. O rio que corta a ponte para Marituba deve ter alagado mais uma vez, mas eu não estava lá para ver, apenas suponho. As Ruas da Mauriti ficaram entupidas de carros com as rodas afundadas em água, mas eu não estava lá pra ver, apenas suponho.

Chega a fazer parte do folclore contemporâneo prever o que se passa nas redondezas da cidade em que se vive. A gravidade é real, não porque Isaac Newton me disse, mas porque eu vi uma manga cair e deixar uma pessoa ou desmaiada ou com uma hemorragia interna ou com uma fratura cranial. Os fatos não se negam, principalmente quando são vividos. Vívidos!

Talvez na tua cidade haja um fato único que não ocorra nas outras, altamente previsível quando se chega a época que o fato geralmente chega. Faz parte da cultura local prever uma chuva ou alagamento ou jeito único de se comer algo para evitar dores ou doenças ou o lado que se deve dormir para que não se tenham pesadelos. Eu não sei, não estou aí para saber, mas suponho.

A existência de fatos únicos da minha cidade comprova a existência de fatos únicos da tua cidade, já que toda cidade se comporta parecido, tem seus costumes e tradições que sempre lembrados a movem para frente. Há o progresso e há a ancestralidade de cada canto de cada país. Olha-se para frente respeitando o que já foi olhado para trás.

Se me dizem para não deixar a mochila no chão, pois vou perder dinheiro, é aí que eu agarro minha mochila. Nunca fiquei mais rica, mas não quero ficar mais pobre. Se me dizem para não virar as sandálias (ou chinelos ou outra forma que tu conheces), pois minha mãe morreria, eu jamais deixaria minhas sandálias desse jeito, não quero a morte de minha mãezinha tão cedo.

Os fatos inegáveis de nossos cantos carregam verdades altamente questionáveis, mas movem nossas vidas sem nem percebermos. Nossos amuletos que talvez nem funcionem, funcionam pelo simples acreditar que funcionam. Nossas verdades criadas todos os dias, foram sempre assim, criadas todos os dias no passado, deixando de herança para cada canto, casa, cidade, centro e interior, os jeitos únicos de se viver.

A chuva aqui passou e me fez ver que muitas verdades são inquestionáveis por mais questionáveis que possam ser. Carregam história e a história precisa ser conservada. Uma última verdade: jamais esqueça as roupas no varal em dia de chuva.

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