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Alessandra Cotting Baracho
Alessandra Cotting Baracho Maceió/AL
A cor da penitência
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Dizem que quanto mais avermelhado o céu, mais seco será o dia seguinte. “Nenhum sinal de chuva hoje.” Diana murmurou pra garota que passou por ela feito um raio. “Vem, quero te mostrar uma coisa.” De onde eu a conheço? Não consigo me lembrar, filha de alguém, talvez... “Vem comigo!” Devo estar sonhando. Vamos, lembre: apertar os olhos, beliscar o braço e abrir os olhos de uma vez. Estava à beira de um penhasco. “Olha, Frigilliana, a cidade branca da Espanha.” Pôde ver um emaranhado de casinhas alvas que desciam recobrindo a serra, em algumas partes pareciam brotar pelas frestas. “É linda, mas tenho que ir agora.” Desceram, não conseguindo se desvencilhar do convite “Você ainda tem tempo, vem, vou te levar na catedral.” Seguiram por uma rua estreita até chegar a uma construção de pedra marmorizada. Na parte superior, uma porta semiaberta chamou a atenção dela. “Chamam de quarto da penitência.” se apressou a menina. No cubículo havia uma cama e uma vela branca apagada sob a janela, dela se via uma parede montanhosa. Nenhuma cor, nenhuma luz. Uma clausura. De repente estavam no litoral – Um sonho dentro do sonho –Viu-se correndo atrás da garota desconhecida, outra vez a sensação de estar fora da realidade. “Vem ver que lindo.” A garota saiu em disparada. Chegaram a uma praia de areia escura, o mar escorrendo dentre as formações rochosas. Diana tentava alcançá-la, mas ela parecia cada vez mais distante, a voz se tornando um eco que se fundia ao som das ondas. A garota olhou pra trás, o sorriso se transformado numa expressão de dor. Então ela percebeu que a menina tinha a fisionomia da filha. Acordou exacerbada, o cabelo carapinha empapado de suor e lágrimas azedas. O mesmo gosto
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salobro, o mesmo embrulho no estômago, a mesma paisagem do pátio que nada lembrava o cenário do seu martírio, já a água presente em cada pesadelo estava lá, era de verdade, impunha-se aos jorros pelo chafariz que adornava o banho de sol estático. Podia sentir os respingos no braço, a umidade trazendo a lembrança da filha sendo tragada pelo mar. Trinta anos se passaram sem que nenhum consolo houvesse pra ela, apenas a bruma espessa, a brancura que não a deixava se desvencilhar do passado.