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Cleidirene Rosa Machado

Cleidirene Rosa Machado Catalão/GO

Sobre um velho couro de boi, uma canção, uma estória

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E hoje algo me chamou muito a atenção. As vezes tenho problemas com meus sapatos, as fôrmas no meu pé sempre oscilam. Tenho números desde 35 até 38 e quando algum deles me aperta, levo em um sapateiro aqui na minha cidade para que resolva meu problema. Na verdade, são dois, e sempre os mesmos sapateiros. São velhinhos, mas me parecem bastante espertos.

Então hoje, fui buscar um de meus sapatos que foram para lá com o fim de que amaciassem o couro e quando cheguei, notei que por algum aparelho de som ao fundo, tocava aquela velha música de sertanejo caipira:

"Para o senhor se mudar, meu pai, eu vim lhe pedir:

Hoje, aqui da minha casa, o senhor tem que sair

Leve este couro de boi que eu acabei de curtir

Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir."

Bem, durante o desenrolar da música, um dos senhorzinhos trouxe de dentro de um cômodo privativo onde trabalhavam, um pequeno pedaço de couro preto, ainda com todos os pelinhos rústicos próprios da pele da vaca, colocou-o aberto em uma mesa diante de mim.

Voltei para a casa, mas essa cena ficou em minha mente.

Ruminei mais uma vez tudo o que vi e fiz as minhas próprias ligações situacionais me baseando em evidências.

Na verdade, aqueles dois sapateiros, não são meramente sapateiros comuns, mas, eles também fazem sapatos artesanais, sandálias e botinas, algo pouco visto hoje em dia, mas, tudo feito perfeitamente bem e com uma riqueza de detalhes incrível.

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E o que isso tem a ver com a velha música: "Couro de Boi"? Pois bem. Tem tudo a ver.

Imagine que o velhinho que foi expulso de casa pelo próprio filho, (conforme a música) e ainda ganhou apenas um pedaço de couro para cobrir a noite do sono frio... Imagine também que ele teve que dividir a metade desse couro com o neto, pois, houve o argumento de que entregaria a outra metade a seu pai futuramente, quando esse também seria expulso de casa...

Bem, é possível ainda imaginar que esse velhinho que foi embora, olhou cabisbaixo e notou que tinha belos pés para andar por uma longa estrada e que por ironia do destino ele poderia e seria capaz de criar um sapato para esses pés.

Provavelmente talvez, foi o que aconteceu, em explicação, ao ganhar um pedaço de couro, diante das necessidades, e ele também ganhou um novo ofício para sobrevivência, cobriu de inteligência outros pés que ainda estavam descobertos ou que precisavam de algo novo para serem realçados.

Sem perguntas diretas ou indagações naquele ressinto, o que dizer? Apenas, que o empreendedorismo também é vida, também é arte.

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