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DéboraSConsiglio

DéboraSConsiglio Jacareí/SP

Quinze Anos, Um Adeus.

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Tentei encontrar o que você escondeu no sorriso sem graça, nas palavras mal colocadas, nas explicações imaturas. Quinze anos juntos, um molho de chaves deixado em cima da mesa. Simples assim. Meus fantasmas de adolescente voltaram. O abandono deixou de ser medo para se tornar companhia, do momento em que vejo as primeiras horas do dia no celular até à noite, quando tento dormir. Hoje abro os olhos assustada pela imagem que não reconheço refletida no espelho em frente à cama e ando até o banheiro como se fosse o quilômetro final de uma maratona. Minhas pernas pesam. Mudei a pasta de dentes, a marca que você usava passou a me dar aftas (o coração arde há dias) e joguei fora suas antigas escovas antes que embolorassem na gaveta. Não tenho nada para fazer. Alguém disse, ou li em algum lugar que o domingo é o pior dia depois que uma relação acaba. Tudo se estende, as horas, a preguiça, o tédio, a duração do Luciano Huck e do Fantástico. Acordei depois da uma. Eu não saí ontem e nem dormi tarde, só não tinha motivo pra levantar mais cedo, pra mais um dia de saudade me escorrendo pelas mãos, deslizando pelos pisos que você escolheu enquanto eu criava a ilusão de que éramos para sempre e não deixaríamos ninguém se meter entre nós. Onde você está agora? Solto meus cabelos oleosos e entro no chuveiro aquecido com a maior temperatura que meu corpo pode aguentar. Braços, pernas, barriga, costas ensaboadas em câmera lenta, demoro para não ter que voltar para a sala, a sacada, a cozinha e perceber que não caibo mais nelas e nem nas transformações a que sua partida me obriga todos os dias.

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Sento no chão do box e rezo como não fazia em décadas. Peço a Deus forças e segurança para carregar meu corpo cansado de uma mulher de quase quarenta anos pelas estações que virão, pelas novidades da vida que agora me assusta. E imploro para que Ele entenda minha covardia, pois quero morar aqui, encolhida pelos meus espaços como um bebê que não quer sair da barriga da mãe porque o mundo é um lugar muito cruel. Assim como minha casa agora também é. Duvido que um dia terei coragem de colocar tudo à venda, de partir, fechar a porta de uma felicidade que construí com a certeza de que nunca desmoronaria. Já não sei se nesse universo ainda haverá um lugar para mim.

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