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Guilherme Hernandez Filho

Guilherme Hernandez Filho Santos/SP

Bairro d’antanho

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Sempre que vejo crianças correndo em playgrounds, rindo e gritando, recordo-me de minha infância solta em nossa cidade de tempos atrás.

Depois de mais de quarenta anos fora, voltamos a morar no mesmo bairro, um pouco mais próximos da praia.

Naquele tempo morávamos em frente a uma pracinha, onde já há anos construíram uma igreja, acabando com o jardim. Será que as necessidades espirituais do povo seriam maiores que a distração, as brincadeiras, a alegria da meninada? Não sei.

O largo era gramado, com caminhos cimentados tortuosos que o cruzavam, ladeados por árvores variadas. Bancos de cimento ofereciam descanso, estrategicamente colocados nas sombras das árvores, que, em sua maioria, tinham flores amarelas, quase douradas, que se penduravam em cachos parecendo uvas. Suas sementes ficavam protegidas dentro de uma vagem comprida e redonda, como um salame, e quando secas eram de um marrom escuro profundo. Brincávamos muito com estas vagens, quebrando-as só para observar o conteúdo, que eram duras semente.

Algumas goiabeiras e pitangueiras nos colocavam mais perto de uma natureza diferente da que vemos hoje na cidade, e o gramado gostoso, diariamente, era logo transformado num pequeno campo de futebol, onde começamos a nos exercitar no chamado “esporte bretão”. Nossa turminha era até grande, conseguíamos montar dois times, mais alguns torcedores.

Não havia playground, nos moldes que hoje vemos, feitos artificialmente. O nosso era natural. Era subir em árvores, correr pelo gramado, trepar em bancos e muros, e onde a grama deixasse

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exposta a terra, cavávamos ou jogávamos “bolinhas de gude”.

Poucos carros circulavam pelas ruas e nossos pais nos deixavam sair de casa sozinhos para nos reunirmos com outros amigos da vizinhança, sem problemas.

Hoje já não se pode deixar as crianças tão livres, e por isso vemos a disseminação destes playgrounds “artificiais" em locais cercados onde a segurança passou a ser prioridade. Alguns até tentam, dentro do possível, reproduzir condições naturais, com toras de madeira, redes, e lonas, mas elas precisam de pouco e se divertem de qualquer maneira. Viva a inocência e a alegria natural da garotada.

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