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Joedyr Bellas
Joedyr Bellas São Gonçalo/RJ
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Tirei o carro da garagem e fui rodando pela cidade, pegar a estrada, a intenção era subir a Serra e aterrissar em Friburgo. Fiquei na intenção. Desvios, curvas, encruzilhadas e Silvia fez sinal para que eu parasse. Não a conhecia. Era uma moça muito bonita e, mais tarde, depois de uns goles, soube que o nome dela era Silvia. O sinal que ela havia feito era um sinal de angústia, percebi que ela não estava bem. Agitada. Olhava para os lados, como se fugisse de alguém ou de alguma coisa. Os fantasmas, nesta época, infestavam as mentes e as cidades. Pensei um ou dois minutos se eu me intrometeria na vida da moça. O som no carro era uma flauta doce, não me lembro do nome da banda. Era um rock progressivo. Piano, flauta doce, guitarra, bateria e um som que pedia estrada, que me arrastava para a Serra de Friburgo, onde eu iria tomar mais um chocolate quente na casa de Fernanda. Começávamos com um chocolate quente, rolavam outras coisas e tudo acontecia. Ou aconteceria. Mas houve Silvia. Parei o carro, desci e perguntei se estava tudo bem, pergunta retórica, para começar um papo, para oferecer ajuda. Ela ficou quieta e me olhou meio assustada. Fiz que ia embora, disse que minha intenção não era assustá-la, virei as costas e ela me agarrou pelo braço. Pensei no verbo segurar. Mas não foi segurar, foi agarrar mesmo como se eu fosse uma tábua de salvação no meio de um naufrágio. Ela estava naufragada. Pelo menos, foi a ideia que me passou naquele momento. Cabelos desgrenhados, um suor hemorrágico brotando dos poros, o girar da cabeça. Os olhos esbugalhados. Eu, já arrependido, pensei em me livrar daquele aperto no braço. Ela não chegava a enfiar a unha na minha carne, mas eu percebi que eu não conseguiria me livrar daquele aperto se eu não desse um puxão no meu
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braço ou segurasse no braço dela e o arrancasse de mim. Não consegui. Fiquei olhando pra ela, sem nada falar, só olhando nos olhos dela, e ela foi relaxando. Afrouxou a pressão dos dedos no meu braço e chegou até sorrir. Perguntei se queria beber alguma coisa. Um suco? Uma vitamina? Uma água? Um refrigerante? Ela me pediu que eu estacionasse o carro e fôssemos andar um pouco. Sem rumo. Que tal? Beleza. Pra mim, tudo bem, mas e você, está legal, parecia fora de si? Tudo bem. Foi um momento. Sei lá, parecia que estava sendo seguida, vigiada, olhos de tocaia em mim, garras querendo me sequestrar, querendo me levar para um lugar desconhecido. Mas passou. Está com medo? Estava. Eu morria de medo, sem deixar transparecer, mas era uma vontade de sair correndo. Não saí. Fiquei e fui me acalmando. A vontade de correr era por conta dos pensamentos que me assaltavam a mente. Ela vai surtar. Vai se jogar na frente de um caminhão, um ônibus, um carro em disparada, um trator, sei lá. Vai se jogar e como eu explicaria aquele corpo esmigalhado no chão. Estava com o senhor, diria um policial já querendo me enquadrar. Alguém diria que até me viu empurrando a menina para a rua. Coitada. Um louco, um assassino. Corre, pega. Não houve nada disso. Ocultei os meus medos para ela e seguimos. Passo sobre passo. Paramos em um bar, ao acaso, ela pediu para ler a minha mão, não leu, ficou segurando a minha mão entre as mãos dela. Aquele toque macio, aveludado. Pediu um Martíni pra ela com azeitona e duas pedrinhas de gelo, pedi um uísque sem gelo, pra arranhar a garganta. Meu nome é Silvia, ela disse, o meu ela não perguntou e eu esqueci de dizer. Só me lembrei de como antigamente se dizia. Qual é a sua graça? E ficamos rindo. Esquecidos do tempo, esquecidos da vida. Talvez, um dia, eu suba a Serra para tomar mais um chocolate quente com Fernanda.