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Mônica Monnerat
Mônica Monnerat Santos/SP
A Amiga Bobinha ( ou Ingênua Adolescência )
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Conheci Marcinha nas férias escolares. Eu era novíssima na turma da rua, e havia acabado de completar 13 anos. Ela completaria 15 na semana seguinte. Logo fizemos amizade e ela me falou de seu grande amor por Cadu. Só que ele havia terminado com minha nova amiga no fim do verão anterior.
O que me chamou a atenção em Marcinha, foi a forma intensa como entendia sua paixão por ele. Eu e as outras meninas dávamos conselhos a ela para que não chorasse, não valia a pena sofrer por menino algum. No dia de sua festa de aniversário, ela voltou com seu “príncipe”. Dizia-se feliz, mas volta e meia chorava quando brigavam.
Durante aquele mês de férias, de convivências e descobertas, notei que alguma coisa sempre me deixava intrigada com relação ao seu modo de ser, mas naquela época não conseguiria analisar nada. Ainda não tinha maturidade para isso.
No meio de janeiro, certos comentários surgiram a seu respeito por parte dos meninos. Diziam que ela estava quase sempre com uma roupa normal e que quando o Cadu chegava ao prédio, punha outra bem decotada... Nós, suas fiéis escudeiras, não concordávamos com essas acusações... Como o discurso dela tinha a marca do sofrimento (ela era a coitadinha que amava e perdoava com todas as forças), nós a defendíamos calorosamente. Sim, ela era tontinha, por sofrer por amor, mas não era dissimulada, isso não combinava com sua personalidade.
No finalzinho da temporada, Cadu terminou com minha amiga sofredora, que, muito abalada, retornou para sua cidade. Lá, conheceu Patrick, que já tinha 22 anos e trabalhava. Muito triste por conta de Cadu, começou a ficar com ele para tentar esquecer sua eterna paixão. Fez amizade com as suas duas irmãs, e mesmo triste, seguiu a vida. Ficou sabendo que Patrick estava indo bem na firma em que trabalhava.
Ela, sempre tão atenciosa com as amigas, sugeriu às irmãs fazerem uma faxina no quarto dele, já que era tão esforçado. No meio do trabalho, Marcinha encontrou uma caixa de preservativos e cortou as pontinhas. Nos dias que se seguiram, deu um jeito de visitá-lo, sem que os pais dele percebessem (as irmãs a ajudavam, também a achavam bobinha)... E assim foi.
Nas férias de verão do ano seguinte, ela não apareceu na praia. Chegou, porém, o seu convite de casamento, o que surpreendeu a todas nós, pois Marcinha estava com apenas 16 anos. Ela e Patrick se casaram, em uma cerimônia simples, na qual ostentava uma nada discreta barriguinha.
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Quando Beatriz, sua filha, completou seis meses, minha amiga bobinha foi morar em outro estado. Só depois de 12 anos, fomos nos reencontrar, com ela de volta a sua cidade. Continuamos amigas e notava como sua personalidade era surpreendente. Um dia me disse: — Tenho uma novidade pra você. — Já sei, você está grávida novamente. — Eu não, a Bia.
Eu congelei. Bia mal tinha completado 13 anos... — Não posso expulsá-la de casa. Mas a família do rapaz tem posses, então ela se sacrifica durante uns cinco anos e quando tiver dezoito vai viver a vida dela...
Dali a uns meses, nasceu um garotão. E minha amiga mais uma vez chorou de emoção ao ser avó com menos de 30 anos.
Minha amiga bobinha mudou-se novamente e perdemos o contato. Cheguei à conclusão de que vários aspectos da personalidade são formados na adolescência, mas a compreensão deles pode ser muito equivocada nesse período.
Confesso que durante muito tempo admirei sua habilidade em passar imagens dúbias para as pessoas. Seu amor infinito por Cadu, o qual foi facilmente substituído por outra pessoa; e a menina calculista e já bem amadurecida para sua idade, a qual só era percebida desta forma pelos meninos.
Quando terminei a crônica, questionei o título e me vi várias vezes tentada a alterá-lo. Depois, pensando bem, concluí que não poderia ter sido outro, pois retratou fielmente a amiga bobinha, que acredito, foi facilmente identificada pelo leitor...
(Crônica premiada com Menção Honrosa no IVConcurso Literário Beleza e Simplicidade)
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