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Mayara Lopes da Costa

Mayara Lopes da Costa Santos/SP

Minha Metamorfose

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Me disseram para não ser artista. Que era uma realidade distante, muito longe da minha, que não me permitia viver de sonhos. Que era uma quase utopia, uma fantasia criada, uma tremenda ilusão, e quem sabe até uma histeria. Tentaram interromper a minha metamorfose, quiseram que eu ignorasse a minha veia artística, e que todas as minhas ideias eu abandonasse, por isso me contaram todas essas mentiras.

Disseram que ser artista não dá dinheiro. Que eu deveria apegar-me à razão o tempo inteiro, abandonar os meus apelos e silenciar minhas inquietações. Que eu não deveria ser como sou. Não deveria me doar muito nem deveria dormir menos. Que deveria pregar meus pés no chão, viver uma sina desvairada, que não deveria me importar, mas sim me contentar. Que não deveria viver indignada, e foi no que me fizeram acreditar... por um longo período.

Em resumo, me ditaram todas as regras, cujas determinações eu já tinha escutado falar. As que eu ignorava, as tais das regras que ditam o padrão ao qual eu deveria urgentemente me acostumar. Ou melhor, me adequar. Me disseram tudo que eu deveria ou não deveria ser e fazer. Mas, ninguém se importou com o que eu queria, ninguém me disse para ser quem sou, ou ao menos feliz. Ninguém pensou se eu conseguiria ser outra coisa a não ser eu mesma. A todo momento aparece alguém para me dizer que não devo ser artista. Mas ninguém nunca parou para pensar se um artista consegue deixar de ser um artista.

É assim que seguimos presos dentro de nós mesmos. E nessa linha, as pessoas não se dão ao “luxo” de serem quem são, pois, se assim fosse, ninguém gostaria delas. Sim, ser de verdade virou luxo. Porque seres humanos não gostam de outros seres humanos, mas sim do padrão que criaram, quase como se fossem um experimento de vida e não a própria existência. Como se só

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existisse isto ou aquilo, como se houvesse apenas “A” ou “B”, mas não “C”, “Z” e uma infindável combinação disso tudo. Como dar margem a essas limitações, se os seres humanos são tão mais complexos? Quem inventou as regras, o tal padrão? O que sai desse padrão os assusta. O diferente, então, os enlouquece.

A tentativa de ser quem se é por si só já custa um preço caro demais, e gera uma tormenta generalizada, quando deparada com uma série de seres que quase nunca se questionam. Afinal, para que algo se torne comum, é necessário que alguém vá e comece a fazer, pelo menos, algumas vezes. Para os que se inquietam comigo, eu gostaria de dizer que também me assombram. É que a banalidade da comodidade contemporânea tem me incomodado. E presenciar as sombras do próprio medo me apavora. Ou seria eu, excessivamente excêntrica, cheia de obsessões e manias, a impossibilitada de habitar neste mundo?

@itismemayara

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