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Maciel Moura da Silva

Maciel Moura da Silva

Pau dos Ferros/RN

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UMÁRIO

Mário estava cansado, deitado em seu quarto escuro, refletindo, pensando como mudaria sua situação. Morava sozinho, tinha perdido os pais ainda na adolescência, fazia seis meses que o tinham despedido do último emprego. Seu apartamento sem energia, água também cortada, parecia que estava abandonado há muitos anos; roupas sujas, garrafas e plásticos por todos os lados, na pia uma mistura de lodo escuro, pratos cinzas e restos de comida estragada, o zumbido do moscaral verde e os objetos derrubados pelas ratazanas rompia o silêncio daquele lugar sombrio.

Os amigos tinham sumido, ninguém queria estar perto de Mário. Três anos antes companhia não faltava para beber, fumar, farras na lancha nas noites claras em alto mar, drogas e orgias sem fim. Naquela época, o dinheiro ganhado na loteria parecia ser infinito, mas a cada manhã seguinte Mário se sentia mais triste e incompleto, nada o deixava tão sensível do que a sensação de abandono, um vazio incompreensível, era como estar no meio de uma multidão em um show incrível de rock, vozes loucas gritando, bebidas jogadas para cima, som muito alto e nada ver, ouvir, só sentir as batidas do próprio coração e da respiração alterada.

Aos poucos o mundo de luxúria e ostentação foi dando vez às drogas, isolamento e abandono. Ele se deu conta da sua real importância para os que o rodeavam-no. A depressão chegou e fez moradia. Os choros constantes não eram mais supridos por nenhuma substância tóxica ou álcool, a vontade de se matar estava crescendo. -Será que misturar remédios e drogas daria certo? Essa dúvida não saía de sua cabeça.

Pensamentos confusos, na boca o gosto de cerveja amarga, cabeça girando lentamente, o quarto se movendo, as paredes amareladas esverdeando-se, com

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medo, um frio intenso, cobria-se, as mãos tremendo, aquilo não tinha fim. Deu vontade de pular da janela do apartamento, desistiu. Criou coragem, misturou vários remédios com álcool e bebeu, cheirou o pó viciante, procurou algo cortante, não achou, viu aquela corda no chão, pegou e amarrou no que restava do ventilador do teto.

Os minutos seguintes seriam o fim da sua tristeza. Amarrou a corda no pescoço, o ar sumiu rapidamente, a vista ficou embaçada, pensou em tudo que tinha vivido, lembrou-se dos pais, veria eles em outro mundo? Se perguntou. Agarrou a corda, não aguentava mais segurar o próprio corpo, as mãos caíram, findava o ar, a língua perdeu o vermelho, finalmente fechava os olhos pela última vez e o escuro eterno chegava. Era o fim da dor humana...ninguém sentiu sua falta, quem liga para alguém que nada tinha mais para oferecer? O corpo foi achado três dias depois.

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